DESENHO NO SÉCULO XXI - NO ESGOTAMENTO TÉCNICO, AS RE-SIGNIFICAÇÕES

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    Entre Territrios 20 a 25/09/2010 Cachoeira Bahia Brasil

    DESENHO NO SCULO XXI:NO ESGOTAMENTO TCNICO, AS RE-SIGNIFICAES

    Joedy Luciana Barros Marins BamonteDARG FAAC/UNESP

    RESUMO:

    O presente trabalho aborda a questo da representao atravs do desenho e de suaconceituao no sculo XXI. Resulta de pesquisa em andamento pela autora que aborda adiversidade interpretativa da linguagem decorrente de convenes adotadas, mtodos etcnicas vinculados ao pensamento e ao desenvolvimento tecnolgico nos diferentes

    perodos histricos. Investiga-se o estudo do conceito de desenho em favor dessas vises equal sua relao como um dos pilares das artes visuais no decorrer dos tempos. Destaforma, busca a compreenso dessa linguagem frente s complexidades estilsticas atuaisnas artes visuais, destacando-se o contexto na universidade. Nos procedimentos variados eelementos constitutivos da obra procura as re-significaes que afirmam o desenho comoessncia permevel transformao humana.

    Palavras-chave: desenho; conceito; sculo XXI

    ABSTRACT:

    The present work approaches the representation through drawing and its concept in the 21stcentury. It results from an ongoing research conducted by this author in which it is studiedthe interpretative diversity of the language derived from adopted conventions, methods andtechniques linked to the thought and technological development in the different historicalperiods. The concept of how drawing was developed according to those views and its role asone of the pillars of visual arts are investigated. Therefore the comprehension of thislanguage through the current stylistic complexities in the visual arts, mainly in the universitycontext, is sought. The re-meanings which assert the drawing as a permeable essence to thehuman transformation are analyzed through the procedures and constitutive elements of thiswork.

    Key words: drawing, concept, 21stCentury

    1. Introduo

    Apesar do desenho no mundo ocidental tender racionalidade enraizada no

    pensamento greco-romano, no mundo oriental vemos um desenho que prioriza a

    liberdade de expresso. Enquanto o desenho ocidental foi desenvolvido em favor do

    pensamento matemtico e da geometria descritiva, o desenho oriental buscou outras

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    possibilidades de registro da realidade, interpretaes que distinguiam das buscadas

    pelo ocidente para a representao do universo tridimensional.

    Desde a Antiguidade Clssica os gregos inseriram propores geomtricas parabuscar o ideal de beleza e transmitiram a toda cultura ocidental seus conhecimentos

    matemticos para a arte, cabendo a esse fato a influncia preponderante para que

    se procure nas obras o pensamento lgico, a identificao do tema trabalhado

    conforme os padres exatos previstos pelas leis da perspectiva. O escoro estudado

    pelos gregos na Antiguidade deu incio ao que os renascentistas, ao investigarem as

    escavaes arqueolgicas nos sculos XV e XVI, utilizaram para formular a

    estrutura para as tcnicas ensinadas para o desenho nas academias desde esse

    perodo.

    Apesar da influncia preponderante da viso greco-romana no Ocidente, a Histria

    da Arte registrou a presena da expresso materializando novas vises da natureza

    em obras contextualizadas nas mais variadas culturas.

    Atravs do desenho, novos estilos e procedimentos podem ser observados nos

    diversos perodos, estendendo-se possibilidades de interpretao e conceitos. Nas

    variadas formas de se fazer, trabalhar, realizar o desenho, investiga-se no somente

    sua existncia como tambm sua aparncia tanto na produo do objeto artstico

    quanto nos mtodos de ensino. Entretanto, independente dos procedimentos

    aplicados para se efetuar a obra, o fato que estes sempre foram meios para se

    alcanar um objetivo maior: a essncia da mensagem da obra de arte. Qualquer

    tentativa de conceituao do desenho no sculo XXI deve estar pautada no fato de

    que tcnicas e mtodos so ferramentas para se aguar os sentidos a captarem

    informaes, sensibilizar o indivduo para que transforme aquilo que percebe, que

    capta, em interpretaes de seu mundo exterior e interior. Torna-se importante

    cuidar para a compreenso da linguagem no tenha como foco essas ferramentas e

    mtodos, mas sim uma leitura destas como canais para se expressar fisicamente

    uma idia atravs da imagem no-verbal.

    Com base nessas consideraes, procurou-se, na investigao junto aos mtodos

    de trabalho aplicados com alunos do curso de Educao Artstica e no grupo deestudos coordenado pela autora, GRAVA Grupo de Estudos em Artes Visuais e

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    Audiovisuais, o exerccio do processo criativo em diferentes dimenses e usos de

    materiais e mtodos. Em ambos os casos, a autora procura dar continuidade s

    pesquisas que desenvolve tanto em nvel terico quanto prtico.

    A pesquisa foi iniciada em funo do conceito de desenho ao perceber as

    dificuldades existentes para se incentivar a produo visual na disciplina e no grupo

    de estudos e se proceder a leitura da produo contempornea.

    O contraste existente entre a as obras atuais e o exerccio tcnico das academias de

    arte representa uma das maiores dificuldades para se trabalhar a produo plstica

    com artistas em formao (graduao). H um abismo entre a liberdade de

    expresso buscada nos mtodos contemporneos e as tcnicas acadmicas que

    trabalham o desenho. Permanecer somente em um desses extremos negar-se a

    alcanar a amplitude da linguagem.

    Em um perodo em que o exerccio da tcnica se torna o exerccio conceitual, a

    explorao de mtodos diversos em desenho representa a explorao da

    flexibilidade e da extenso entre fronteiras, de maneira que nessa dinmica a prpria

    essncia da arte seja beneficiada.

    2. Consideraes sobre o Desenho no Sculo XXI: mtodos de trabalho

    Aps vinte anos de contato com o ensino do desenho, observa-se o compromisso

    com a realidade, aparncias relacionadas a uma determinada forma de

    representao. Para se trabalhar contedos na disciplina o docente sempre se

    depara com questes voltadas viso que se tem da disciplina, da linguagem.

    Ao se fazer propostas para a prtica do desenho vises dspares so encontradas,

    decorrentes de expectativas vinculadas ao repertrio de cada indivduo. No grupo,

    obtm-se respostas diferentes ao se aplicar os mtodos de trabalho e o docente ou

    coordenador do grupo necessita estar atento a esse contexto para que as propostas

    se adequem constantemente em favor de um despertar para a arte. Ao considerar

    as diferenas e integr-las em suas estratgias de trabalho, o processo de

    autoconhecimento priorizado.

    Salienta-se que o desenho precisa ser apresentado como uma grafia, uma

    interpretao de mundo, aberta a infinitas possibilidades, materiais e suportes e

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    sujeita ao olhar de seu autor. Entretanto, o profissional em formao precisa

    conhecer e dominar todas as possibilidades de tcnicas existentes para que formule

    a sua prpria, medida que sujeita esse domnio s suas necessidades

    expressivas. Dessa forma, sua leitura e interpretao de mundo dirigiro os

    aspectos materiais que ter sua frente. Aspectos imateriais dirigem os materiais e

    no o contrrio. E isso inclui no somente as ferramentas, como tambm os

    mtodos abordados.

    Considerando-se a importncia da criatividade para que o desenho seja um suporte

    para a impresso de vises originais e inovadoras da realidade, destaca-se as

    investigaes feitas em torno do funcionamento dos dois hemisfrios cerebrais.

    Aplicado em procedimentos para o desenvolvimento do desenho por pela Betty

    Edwards em Desenhando com o Lado Direito do Crebro, a teoria estruturada na

    necessidade de se aplicar tcnicas que beneficiem o uso das caractersticas

    encontradas no lbulo direito, j que h uma predominncia das caractersticas

    encontradas no lbulo esquerdo dentro do pensamento ocidental.

    De acordo com Solange Weschsler, em sua obra Criatividade: Descobrindo e

    Encorajando (1993), observa-se a importncia de ambos hemisfrios para que asoperaes mentais sejam processadas de maneira mais completa, principalmente

    no que diz respeito criatividade, conforme citao abaixo:

    Os resultados de vrias pesquisas (McCallum & Glynn, 1979; Katz, 1978;Torrance e Mourad, 1979, etc.) vieram questionar a noo de que opensamento criativo s se daria no hemisfrio direito e confirmam queexiste o envolvimento dos dois hemisfrios cerebrais na criatividade. Nasetapas iniciais de resoluo de um problema, o hemisfrio direito apresentapapel primordial no que se refere a intuir solues originais de problemas,

    ser fluente e flexvel nas idias, sendo a aprendizagem criativa realizadaatravs de ao, explorao, manipulao ou questionamentos. Nas etapasposteriores, o hemisfrio esquerdo se caracteriza, essencialmente, pelaanlise detalhista dos fatos e das solues encontradas, comparando-as,analisando-as, testando-as, modificando-as e criticando-as para obterresultados finais.

    Ao destacar a importncia da teoria citada e priorizar as dinmicas de trabalho que

    favoream o desenho dentro de um processo contnuo de percepo e interpretao

    original da realidade, considerou-se para os procedimentos de trabalho em sala de

    aula, uma abordagem metodolgica que contemplasse as caractersticas presentes

    nos dois hemisfrios, aplicando-se, por conseguinte, mais de uma abordagem do

    desenho.

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    3. Desenhar: entre o conceito e contexto

    Inicialmente, a proposta feita aos alunos parte do princpio que os alunos esto mais

    habituados a operaes mentais lgicas, decorrentes do processo de codificao domtodo ocidental de aprendizagem e por isso o primeiro mtodo apresentado est

    pautado na geometria descritiva. A tcnica proposta de maneira a se alcanar a

    compreenso das ferramentas que se tem disposio quando se utiliza as leis

    matemticas. No entanto, ao mesmo tempo em que se exercita o desenho nesse

    mtodo tambm enfatizado para o aluno que deve acreditar no que seus sentidos

    captam e que a tcnica deve servir somente como um instrumento de aferio para

    se alcanar seus objetivos.

    Essa primeira fase trabalhada com os alunos constitui 25% do total dos contedos

    trabalhados. Nela os alunos devem enxergar uma das formas de registro e

    investigao grficos. Desta forma, a proposta feita para que explore as

    possibilidades para encontrar seu prprio desenho, apropriando-se dos recursos que

    lhe so oferecidos. Ele coordenar no futuro o que lhe ser til para registrar sua

    interpretao de mundo, medida que encontrar sua prpria grafia, seu prprio

    trao e de que maneira seu repertrio compatvel com as linguagens de artevisuais e plsticas.

    O percurso a ser explorado pelo aluno constantemente chamado de pesquisa,

    processo criativo. Torna-se importante despertar no aluno e no artista a curiosidade

    sobre seu objeto de estudo, a apropriao do tema que est sua frente. Para isso,

    os sentidos so destacados como as nicas cinco portas de acesso ao

    conhecimento, aptos a absorver e enviar novas informaes ao crebro. Nas

    palavras de Merleau-Ponty: Na construo de um objeto est implcita a captura de

    uma forma que revela um ato constitutivo do pensamento e da percepo.

    (Merleau-Ponty, 1975)

    Atravs do exerccio da observao o olhar se estende ao outro, sensibilizao.

    Da mesma forma que ocorre com os materiais, as tcnicas so disponibilizadas ao

    artista como ferramentas para solucionar seus problemas e materializar suas idias.

    Ao serem experimentadas no chegam a ser determinantes ao ponto de escravizarquem as usa, mas para isso devem ser vistas sempre como opes disposio da

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    mente. Nesse aspecto, todo processo de estudo de um artista at alcanar seu estilo

    pode ser lido como a Preparao dentro das fases lgicas do processo criativo1,

    uma fase preparatria, na qual se indaga, ouvem-se sugestes, discute-se e se

    explora, permitindo mente perambular para desembocar na problemtica a

    resolver, segundo o terico e artista plstico Jlio Plaza (1998).

    Para que o aluno no se prenda a tcnicas como solues lgicas apenas, os

    procedimentos so apresentados de modo a intercalar formas para se chegar aos

    resultados. Se em um primeiro instante encorajado a utilizar as leis da perspectiva,

    em um segundo momento encorajado a desenhar de maneiras no convencionais,

    como as utilizadas no mtodo de Betty Edwards para se trabalhar o exerccio da

    transio entre a modalidade esquerda para a direita. Ao utilizar a mo com a qual

    no est acostumado a desenhar ou realizando um desenho cego, sem olhar para o

    papel, a ludicidade vinculada proposta, favorecendo a abertura experincia

    sem uma cobrana excessiva de resultados. Assim, verifica que sua percepo

    responsvel por um desenho mais sincero e menos tenso.

    Gradativamente a tcnica d lugar percepo, convidando o olhar e os demais

    sentidos a participarem. Se as tcnicas iniciais lhe do segurana racional, osensorial lhe d a convico da experincia. Para uma compreenso melhor disso,

    sero apresentadas a seguir duas propostas desenvolvidas com os graduandos em

    Artes Plsticas (UNESP, campus de Bauru-SP).

    3. Duas Propostas

    3.1. Bolsas: Uma srie aparentemente repetitiva

    Uma das maneiras utilizadas para se trabalhar os contedos citados foi denominada

    Srie Bolsas. Partindo de algo familiar, pessoal e corriqueiro para os alunos,

    props-se uma produo de sete trabalhos a serem realizados com sete materiais

    diferentes. Sem priorizar a tcnica, props-se a utilizao de materiais e suportes

    acessveis financeiramente para que no se despertasse no aluno o medo de

    desperdiar e, consequentemente, aguar o medo de errar. O fato de no se

    enfatizar a tcnica justifica-se pela busca de uma liberdade maior para que o aluno

    afinasse seu olhar e exercitasse o desprendimento de tcnicas pr-concebidas,

    buscando a sua prpria.

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    Enquanto esse exerccio foi visto pelo aluno como uma repetio simplesmente,

    representando momentos de cansao. Entretanto, o que significa para a bailarina os

    momentos constantes de alongamento para se alcanar a flexibilidade necessria

    para se expressar? O que pode possibilitar o virtuosismo no pianista seno horas

    incessantes de exerccio sobre seu instrumento musical? Desses exerccios nascem

    a expresso artstica, do conhecimento e experimentao do instrumento de

    trabalho advm a maturidade e a apropriao do fazer, originando a convico do

    ser. O que o artista faz deriva do que ele e vice-versa.

    Props-se o desenvolvimento da srie da seguinte forma: todos os desenhos

    deveriam ser feitos a partir da observao do objeto sobre papel A3. Os materiais a

    serem utilizados sem compromisso com tcnicas puristas, exceto o primeiro, que

    deveria buscar a maior preciso possvel atravs do grafite sobre o papel sulfite A3.

    O segundo trabalho deveria ser produzido em carvo, de maneira que o aluno

    pudesse ter mais liberdade, com traos menos minuciosos que no primeiro trabalho.

    A terceira proposta foi desenvolvida em giz de cera. A quarta, em caneta

    hidrogrfica utilizada pela mo que o aluno menos utiliza. A quinta etapa da srie foi

    composta em caneta esferogrfica, a sexta em nanquim e a stima em guache.

    Ao se propor essa srie, os objetivos a serem alcanados priorizavam o

    distanciamento da tcnica a partir da repetio e da incorporao sensorial e

    emocional de um objeto pessoal. O fato de se apresentar materiais simples e que os

    alunos ainda no dominavam tecnicamente dentro de uma viso purista, acadmica,

    tambm foi planejado para que a intuio fosse beneficiada ao se desenhar. A

    maioria dos alunos no percebeu a transio ocorrida do primeiro para o ltimo

    trabalho, j que o elemento destacado por eles foi o cansao, entretanto, aoobservarem no conjunto dos trabalhos os resultados obtidos, valorizaram a

    produo, mesmo ao enfatizar o trabalho do colega.

    A seguir foram colocadas as imagens de dois trabalhos de uma aluna,

    respectivamente o primeiro e o ltimo da srie. Nesses, pode-se observar o

    contraste existente na composio, salientando-se o fato de que a aluna afirmou

    sentir-se liberta para recriar sua mochila no ltimo, realizado em guache.

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    Figura 1: Bolsa 1, Patrcia Rodrigues Breda, 297 x 420 cm, grafite sobre papel.

    Figura 2: Bolsa 7, Patrcia Rodrigues Breda, 297 x 420 cm, guache sobre papel.

    3.2. Microcosmos e Macrocosmo: universos pessoais

    A segunda srie proposta aos alunos foi efetuada para que exercitassem o olhar de

    uma maneira nova, buscando universos no quotidiano. Permitiu-se que cmeras

    fotogrficas fossem utilizadas para a captao de imagens, as quais seriam

    investigadas e trabalhadas posteriormente. A imagem digitalizada foi destacada

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    como um recorte e desenho iniciais, como procedimentos intrnsecos ao processo

    constitutivo da obra grfica. Ao faz-la, o olho j estava construindo um universo,

    uma idia a ser revelada. Dentro desse contexto, cita-se um texto de Edith Derdyk,

    ao falar da natureza do ato criador, em sua obra Linha do Horizonte: por uma

    potica do ato criador (2001, p.25):

    Estado de suspenso: recortes e inseres no tempo e no espao onde

    algo se diferencia. o toque que subtrai, multiplica, soma, divide, aglutina,

    justape, sintetiza, nega, afirma, sinaliza; o toque que lembra, esquece,

    projeta, imagina, observa; o toque que lembra, esquece, projeta, imagina,

    observa; o toque que esculpe, modela, compes, escreve, inscrevendo

    nossas vivncias cotidianas em outros vetores de significao.

    Nesses trabalhos, pode-se observar momentos de surpresa durante a elaborao,

    ao transporem as imagens para outra linguagem. Para tanto,utilizou-se o lpis

    aquarelvel sobre papel A3 e A2, gramatura 200g/m. Houve um empenho maior em

    funo da apropriao da criao que envolveu o sentimento da autoria, da

    redescoberta.

    A partir da figurao, os alunos fizeram o recorte para um universo prprio e nesse

    universo caminharam rumo a uma abstrao. Durante a produo dos dois trabalhos

    j foi possvel verificar a contemplao do que faziam, mesmo em momentos de

    execuo meticulosa, como ocorreu em vrios casos. Nesses momentos, viu-se o

    empenho da execuo para se finalizar algo que traz prazer ao criador.

    Para a visualizao de parte desse processo, a seguir dois trabalhos digitalizados

    so apresentados. O primeiro foi realizado visando o Microcosmos a partir de um

    brinquedo e o segundo, visando o Macrocosmos em um universo descoberto emmeio vegetao presente na universidade. Ambos representam recortes de objetos

    e paisagens vivenciadas por cada uma das alunas em seu dia a dia, como previu a

    proposta.

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    Figura 3: Microcosmos, Raisa Ariane Bonani, 297 x 420 cm, lpis aquarelvel sobre papel.

    Figura 4: Macrocosmos, Estefnia Paula Panegossi, 297 x 420 cm, lpis aquarelvel sobre papel.

    Consideraes Finais

    Dentro do contexto apresentado, estudou-se contedos referentes expectativa de

    produo e leitura do desenho como linguagem. Procurando-se incentivar o fazer

    artstico atravs do registro grfico houve uma preocupao em se aproximar a

    realidade do aluno ingressante na universidade, enquanto artista/ profissional emformao, das infinitas possibilidades de interpretao que o desenho artstico lhe

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    concede. Ao explorar tcnicas de maneira intuitiva e, por isso, original, destacou-se

    a criatividade e a expressividade sem ignorar a importncia do olhar sobre a

    realidade. Dentro dessa viso, d-se continuidade para o estudo da re-significao

    do desenho dentro de um caminho que o liberte, transcenda-o, em favor da idia,

    mesmo que isso signifique o esgotamento da explorao tcnica.

    1 Para autores que estudam o processo criativo como George Kneller, Abraham Moles ou Jlio Plaza, entreoutros, o processo criativo descrito em fases, as fases lgicas do processo criativo. Para Jlio Plaza, esseprocesso passa por seis fases: Apreenso (da idia a ser realizada ou do problema a ser resolvido); Preparao(documentao ou assimilao do conhecido); Incubao (fase inconsciente para que haja conexes para ofechamento da idia); Iluminao (estgio no qual o criador encontra a soluo do problema); Verificao(realizao, materializao da idia); Comunicao (insero da criao no social).

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    Joedy Luciana Barros Marins Bamonte

    Graduada em Educao Artstica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1991); Mestreem Comunicao e Poticas Visuais pela UNESP (1998); Doutora em Cincias daComunicao (rea: Comunicao e Esttica do Audiovisual/ Linha: Sistemas deSignificao em Imagem e Som) pela USP - ECA (2004). Professora Assistente Doutora emRDIDP da FAAC-UNESP/ Bauru. e-mail: [email protected]