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1 37º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS ST 02: O pensamento social latinoamericano e os desafios do século XXI Desenvolvimentismo x neodesenvolvimentismo na América Latina: continuidade e/ou ruptura? Roberta Sperandio Traspdini 1 Thiago Marques Mandarino 2 Águas de Lindóia, setembro de 2013 1 Professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Membro do Grupos de Estudos de Crítica da Economia Política (GECEP). 2 Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Membro do Grupos de Estudos de Crítica da Economia Política (GECEP).

Desenvolvimentismo x neodesenvolvimentismo na América ... · obscurece a realidade e as reais possibilidades de superação do subdesenvolvimento e seus componentes históricos mais

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37º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

ST 02: O pensamento social latinoamericano e os desafios do século XXI

Desenvolvimentismo x neodesenvolvimentismo na América Latina:

continuidade e/ou ruptura?

Roberta Sperandio Traspdini1

Thiago Marques Mandarino2

Águas de Lindóia, setembro de 2013

1 Professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

Membro do Grupos de Estudos de Crítica da Economia Política (GECEP). 2 Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

Membro do Grupos de Estudos de Crítica da Economia Política (GECEP).

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Introdução

O debate sobre as concepções de desenvolvimento retornou com relativa incidência no

cenário nacional, principalmente na segunda metade dos anos 2000. Todavia, a materialidade

objetiva de tal conceito e o avanço do debate só podem ser consolidados se feitos à luz de alguns

elementos: o entendimento do papel e do que é o Estado, a luta de classes e de frações de classes e o

padrão de acumulação vigente, mais especificamente, as reestruturações produtivas do capital e seus

desdobramentos na América Latina. Ao partir do entendimento de ciência como não neutra, a

concepção teórico-prática do desenvolvimento carrega em si mesma, a perspectiva de sociedade que

se defende e os mecanismos políticos que projetam sua execução concreta, seja tal concepção de

esquerda ou de direita.

Se desprovido dos elementos acima citados, o debate sobre desenvolvimento enquadra-se

perfeitamente nos moldes científicos inerentes à decadência ideológica do pensamento burguês,

obscurece a realidade e as reais possibilidades de superação do subdesenvolvimento e seus

componentes históricos mais perversos, como a dependência externa e a desigualdade social

interna. Nesse sentido, expressões do pensamento econômico e seu significado teórico, por mais

que se assemelhem em alguns pontos, não podem transcender o obscurantismo e a arbitrariedade, se

descoladas de seus contextos históricos.

As teorias tradicionais tomam o desenvolvimento não no sentido ontológico e/ou marxiano

do termo, que o concebem como movimento, mudança e permanência, transformação ao longo do

tempo, dinâmica e funcionamento, historicidade e processualidade e, portanto, possibilidade de um

futuro radicalmente distinto do presente. Diferentemente, as teorias burguesas de desenvolvimento

econômico – como a cepalina -, sejam as imperantes no pós Segunda Guerra (desenvolvimentismo

ou nacional-desenvolvimentismo), sejam as que pleiteiam o status de teoria mais recentemente

(neodesenvolvimentismo), têm como limite de apreensão e ação o capitalismo em si, isto é,

vislumbram o capitalismo como inexorável ponto de chegada da história da humanidade.

O presente artigo não pretende realizar uma análise do conceito marxiano ou marxista do

desenvolvimento. Mas é a partir do referencial teórico marxiano e da dialética que objetiva-se

investigar as raízes estruturais, os pontos de continuidade-ruptura e as reais possibilidades de

transformação de duas correntes localizadas em momentos históricos distintos: o

desenvolvimentismo e o neodesenvolvimentismo.

O desenvolvimentismo, identificado com os processos de industrialização por substituição de

importações de vários países latinoamericanos no imediato pós Segunda Guerra, enquadra-se na

utópica tentativa de “domar o capitalismo” e dotar a periferia, via internalização dos centros da

indústria e do progresso técnico, de maior competitividade no mercado internacional e melhor

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relação lucros-salários para o trabalho, minorando assim a dependência externa com escassez de

divisas e a desigualdade social interna dos países periféricos. Em outras palavras, vislumbrava-se a

possibilidade de alçar o status de país desenvolvido com forte conteúdo Republicano clássico.

A consolidação das revoluções burguesas atrasadas e o avanço do desenvolvimento

industrial dos países latinoamericanos como capitalismos dependentes e subdesenvolvidos,

evidenciam o papel subordinado desse continente na divisão internacional do trabalho e na

reprodução ampliada do capital. A heteronomia efetiva-se como funcional para acumulação do

capital em âmbito global e para os interesses de uma burguesia anti-democrática e anti-nacional.

Isto é, o modo de produção capitalista mostra, desde seu nascimento, o esgotamento de qualquer

papel civilizatório no mundo ou na América Latina, exacerbando suas contradições com a ascensão

do neoliberalismo e com a hipertrofia do capital financeiro e fictício como contratendência à queda

da taxa de lucro evidenciada pela crise dos anos 70.

A década de 90 é marcante para o continente latinoamericano. Os aumentos dos níveis de

desemprego, de miséria e de concentração de renda, a perda de elos da cadeia produtiva, de

autonomia dos Estados nacionais e de setores industriais estratégicos, a iminência e eclosão de

diversas crises, sob a ideologia da concorrência como mecanismo de consolidação do bem coletivo

via interesses individuais, levam à necessidade de repensar o desenvolvimento da América Latina

ontem e hoje.

É nesse interim, e mediante melhorias pontuais de indicadores sociais de alguns países

(destaque para Brasil e Argentina), que surge o neodesenvolvimentismo. Reivindicando o papel de

aparato teórico do momento presente, e de guia prático de políticas econômicas que negam as

mazelas do desenvolvimentismo e do neoliberalismo, o neodesenvolvimentismo pressupõe a

possibilidade de uma terceira via para a retomada do “desenvolvimento”.

Alguns autores têm se dedicado a evidenciar como o neodesenvolvimentismo é, na verdade,

uma negação/inversão e um esvaziamento dos pilares básicos do nacional-desenvolvimentismo, e

uma aproximação teórica mais ou menos “disfarçada” do neoliberalismo, como é o caso de

Gonçalves (2011; 2012) e Sampaio Jr (2012).

O presente artigo, apoia-se em uma análise do Brasil atual e caminha em um outro sentido.

Parte-se da ideia de que tanto o desenvolvimentismo quanto o neodesenvolvimentismo configuram-

se como apreensões teóricas e propostas de política econômica limitadas aos marcos do capitalismo

em seus diferentes momentos históricos e padrões de reprodução ampliada do capital. A partir disto,

evidencia-se que o neodesenvolvimentismo guarda forte semelhança com alguns escritos e

apreensões teóricas da Cepal em três textos clássicos lançados respectivamente nos anos 40, 60 e

90, e com as sucessivas reinterpretações do debate, frente às reestruturações do capital e dos blocos

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de poder no Estado. Por isso, o neodesenvolvimentismo acaba se aproximando politicamente tanto

da teoria cepalina pós anos 60 quanto do neoliberalismo, com o agravante de partir da compreensão

da possibilidade civilizatória do capitalismo, em plena era de conformação da barbárie social

inerente ao mesmo. Portanto, enquanto o desenvolvimentismo conseguia fazer uma análise crítica e

originária sobre a histórica relação desigual das relações econômicas internacionais ancorada na

crítica à lei das vantagens comparativas, o neodesenvolvimentismo se atém muito mais aos

instrumentos de política macroeconômica, sem questionamentos aos nexos causais da dependência

e da desigualdade. Nesse sentido, obscurece a realidade e, consequentemente, em nada contribui

para apreensões que possibilitem um avanço teórico e de politicas econômicas que alterem a

heteronomia nacional.

Para refletir sobre a continuidade-ruptura do neodesenvolvimentismo com as clássicas ideias

da CEPAL, este artigo está dividido em duas partes: 1) recuperação dos principais conceitos

cepalinos, a partir de 3 textos clássicos que são apresentados como subtítulos do item 1; 2) o

neodesenvolvimentismo brasileiro e sua estreita relação, ou não, com os desdobramentos das teses

cepalinas.

1.A teoria do (sub)desenvolvimento da CEPAL

A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), nasceu em 1948 a partir do

enfoque planejador da Organização das Nações Unidas (ONU), sob a égide inquestionável da

hegemonia capitalista dos Estados Unidos, para a conformação no continente latinoamericano, de

um diagnóstico sobre a situação das economias e posterior execução política de um modelo de

desenvolvimento orquestrado desde fora, com base nas condições internas encontradas nas

formações particulares.

Para analisar dita elaboração, à luz dos acontecimentos do século XXI, é preciso apreender a

teoria do subdesenvolvimento da CEPAL, tomando como base dois momentos históricos chaves e

seus respectivos acontecimentos: 1) o período entre guerras (1914-1945) e a situação do comércio

internacional; 2) o fim dos anos 60, as novas condições das relações econômicas internacionais e o

debate da dependência; 3) a década de 90, a era neoliberal e a caixa negra do progresso técnico e o

conjunto vazio, enquanto elemento analítico da atrofia do desenvolvimento industrial

latinoamericano.

Para isto, serão trabalhados três textos chaves da CEPAL, como forma de visualizar suas

principais contribuições, bem como as modificações no enfoque relativas às formas de condução da

industrialização na América Latina. Cabe destacar, a importância das interpretações sobre as

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insuficiências do modelo de desenvolvimento realizadas e como, à luz crítica de uma superação,

tanto nos anos 60, como nos anos 90, a CEPAL vai passando de uma leitura menos, para outra mais

explícita sobre o desenvolvimento associado.

1.1. O desenvolvimento econômico da América Latina e alguns de seus principais problemas

Este texto foi o primeiro documento lançado por Prebisch, em 1949, já nos marcos

referenciais da CEPAL, no qual o autor tratava dois temas importantes, a seu modo de ver, sobre o

comércio internacional desigual: a) a tônica do subdesenvolvimento da América latina na divisão

internacional do trabalho, ancorado na crítica à lei das vantagens comparativas de Ricardo; b) a

industrialização, como alternativa ao subdesenvolvimento, enquanto necessidade de reversão da

forma de condução do modelo primário exportador, caracterizado como processo de produção

voltado para fora.

Sobre o desequilíbrio no comércio exterior, sustentava Prebisch que:

A realidade está destruindo na América Latina aquele velho esquema da

divisão internacional do trabalho que, após haver adquirido grande vigor

no século XIX, seguiu prevalecendo, doutrinariamente, até bem pouco

tempo. Nesse esquema correspondia à América Latina, como parte da

periferia da economia mundial, o papel específico de produzir alimentos e

matérias primas para os grandes centros industriais. Não cabia, ali, a

industrialização dos países novos. Não obstante, os fatos a estão impondo.

Duas guerras no curso de uma geração, e uma profunda crise econômica

entre elas demonstraram aos países da América Latina, suas possibilidade,

abrindo-Ihes, positivamente, o caminho da atividade industrial”

(PREBISCH, 1949, p.47)

E seguia:

(...) as grandes vantagens do desenvolvimento da produtividade não

chegaram à periferia em medida comparável ao que lograram desfrutar as

populações dos grandes países. Daí as diferenças tão acentuadas entre os

níveis de vida das massas nestes e naquela, e as notórias discrepâncias entre

suas respectivas forças de capitalização, uma vez que a margem de

poupança depende, primordialmente, do aumento da produtividade. Existe,

portanto, manifesto desequilíbrio e qualquer que seja a explicação ou a

maneira de justifica-lo, trata-se de um fato certo, que destrói a premissa

básica do esquema da divisão internacional do trabalho. (p.48).

A estrutura desigual do comércio internacional é visualizada na conformação interna da

produção destas economias: a periferia foca sua produção em produtos primários com baixo valor

agregado, baixa produtividade técnica e dificuldade de poupança interna. Os centros, por sua vez,

conformam uma estrutura produtiva baseada em bens industrializados com alto valor agregado,

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ampliação permanente da produtividade técnica do trabalho e geração de poupança interna a ser

reinvestida no ciclo produtivo tecnológico seguinte.

Em outras palavras, a configuração desigual no comércio internacional, é o resultado da

dinâmica interna de produção destas economias.

Dita discrepância no modelo de desenvolvimento das Nações, explicitava a dinâmica da

deterioração dos termos de troca para América Latina, além da transferência permanente de parte de

suas inversões para as economias tecnologicamente mais avançadas, dadas as diferenças existentes

entre os baixos preços dos produtos primários, frente aos crescentes preços dos produtos

industrializados. Assim, os produtos das nações subdesenvolvidas não conseguiam desfrutar de uma

posição vantajosa no comércio internacional na mesma magnitude que os países desenvolvidos, o

que dimensionava para os primeiros a continuidade de uma situação de atraso e pauperização nas

condições de vida das massas, em uma análise comparativa com as condições internas dos últimos.

O subdesenvolvimento se apresentava assim como a característica do atraso na absorção do

progresso técnico de algumas economias (periféricas), em contrapartida ao avanço ordenado e bem

sucedido do desenvolvimento econômico em outras (centrais), resultado da progressiva

incorporação tecnológica de seu parque produtivo.

A diferenciação via progresso técnico, permitiu à CEPAL designar termos que mostravam a

relação interna de produção desigual entre economias mais e menos industrializadas e que

culminava em um comércio internacional desequilibrado com prejuízos para as economias da

América Latina.

As periferias tinham como característica produtiva serem heterogêneas e especializadas, ou

seja, a produção estava centrada nos produtos primários para a exportação, cuja incorporação

tecnológica era baixa, e consequentemente, a produtividade do trabalho e os níveis de vida das

massas ficavam muito abaixo das condições encontradas nas economias industrializadas.

Os centros, por sua vez, entendidos como países qualitativa e quantitativamente

desenvolvidos, dirigiam sua produção de forma homogênea e diversificada, no quesito incorporação

tecnológica, o que lhes proporcionava êxito na produtividade e na quantidade de bens industriais

que comercializavam no âmbito internacional.

Desenvolvimento e subdesenvolvimento eram termos que designavam situações particulares

sobre as condições concretas de propagação do progresso técnico com melhoria do arranjo social:

para fora, isto significava a melhoria dos termos de troca no âmbito internacional, advinda do

aumento da produtividade técnica destas economias e, para dentro, a melhoria nas condições de

vida das massas destas Nações.

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À luz desta denominação, a única forma de romper com o subdesenvolvimento, entendido

como atraso, gerador do desequilíbrio na divisão internacional do trabalho, advinha da

internalização do progresso técnico. A industrialização, assim, era entendida como única saída

viável de desenvolvimento econômico para as economias periféricas. Nas palavras de Prebisch:

“(...) a industrialização é o único meio de que dispõem os países da América Latina para aproveitar

amplamente as vantagens do progresso técnico” (p.61).

A magnitude econômica explicitada na mudança no enfoque produtivo abria, segundo

Prebisch, passo para discutir outras duas necessidades centrais: 1) conciliar a produção primária (e

reestruturá-la) com a incorporação dos setores tecnológicos, o que evidencia a necessidade de

cooperação internacional; 2) analisar a histórica configuração política da desorganização das

massas trabalhadoras nas economias periféricas, dada sua trajetória histórica de não participação

nas negociações produtivas.

Quanto ao primeiro ponto, relação entre o setor primário e a internalização do progresso

técnico, Prebisch sustentava que:

A industrialização da América Latina não é incompatível com o

desenvolvimento eficaz da produção primária. Pelo contrário, uma das

condições essenciais para que o desenvolvimento da indústria possa cumprir

o fim social de elevar o nível de vida, é dispor dos melhores equipamentos,

de maquinaria e instrumentos, e aproveitar prontamente o progresso da

técnica em sua regular renovação. A mecanização da agricultura implica na

mesma exigência. Necessitamos de uma considerável importação de bens de

capital, e também necessitamos de exportar produtos primários para

consegui-la. Quanto mais ativo for o comercio exterior da América Latina,

tanto maiores serão as possibilidades de aumentar a produtividade de seu

trabalho mediante intensa formação de capitais. A solução não está em

crescer às custas do comércio exterior, e sim saber extrair de um comércio

exterior cada vez maior, os elementos propulsores do desenvolvimento

econômico (p.48-49)

Sobre o segundo ponto, relações políticas trabalhistas desiguais entre centro e periferia, sustenta

Prebisch:

A desorganização característica das massas operárias na produção

primária, especialmente na agricultura dos países da periferia, impede-lhes

de conseguir aumentos de salários comparáveis aos alcançados nos países

industriais, ou de conservá-los com a mesma efetividade.(...) a maior

capacidade das massas nos centros cíclicos para conseguir aumentos de

salários na crescente e defender seu nível na minguante, e a aptidão desses

centros, em razão do papel que desempenham no processo cíclico, para

deslocar a pressão cíclica para a periferia, obrigando a comprimir suas

remunerações mais intensamente do que nos centros, explicam porquê as

remunerações nestes tendem, persistentemente, a subir com mais força que

nos países da periferia, segundo se torna patente na experiência da América

Latina (p.59)

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E mais, sobre a questão da participação do capital estrangeiro: “...Ninguém discute o

desenvolvimento econômico de certos países da AL e sua rápida assimilação de técnica moderna, e

tudo que possa ser proveitoso, depende em alto grau dos investimentos estrangeiros" (p.75).

Estes três elementos nos mostram, já nos documentos dos nos anos 40’s que a abordagem

cepalina caracteriza o problema do atraso sem especificar o necessário debate sobre a formação

histórica e social da América Latina.

A reforma agrária, quando assumida, aparece sob o viés da mecanização do campo, melhoria

da produtividade técnica do trabalho, sem nenhuma referência ao gigantesco problema agrário da

posse da terra e da efetivação do modelo de desenvolvimento vinculado à mesma. Isto, associado à

leitura da desorganização das massas trabalhadoras em que o trabalho assalariado precarizado no

campo, não nos remete à análise sobre a continuidade, em outras bases políticas, do processo

colonial-escravocrata e suas ramificações posteriores, demonstram, desde o nascimento, os limites e

fins objetivados pela CEPAL em sua concepção de subdesenvolvimento-desenvolvimento. Além

disso, situar a participação das multinacionais no desenvolvimento latino como cooperação, já

explicitava desde o nascimento, a viabilidade da América Latina em participar de maneira menos

perversa da dinâmica geral da acumulação de capital.

O contexto internacional do pós 2ª. Guerra exigiu às então economias centrais – Japão e

Alemanha - que disputavam ou conciliavam suas hegemonias com a dos EUA, uma recuperação de

seus territórios, o que culminou em um contexto internacional extremamente protecionista, cuja

centralidade estava em reorganizar, econômica, política e culturalmente, suas Nações, após os

desastrosos efeitos de uma guerra tecnológica sem precedentes na história do capitalismo.

A tal ponto que, de maneira complementar ao diagnóstico que se montava, o contexto

externo favorecia as reestruturações internas propostas pela CEPAL. É importante reforçar este

fato: o protecionismo no processo de industrialização substitutiva de importações, associado ao

forte papel do Estado interventor, tem relação direta com o cenário internacional deste período em

que as potências, fragilizadas pela guerra, se fechavam para retomar, anos depois, a disputa de uma

posição concorrencial monopolista frente aos processos político-militares abertos pelos Estados

Unidos no final da guerra.

Em síntese: industrialização via substituição de importações; Estado planejador-produtor;

cooperação internacional (financeira e produtiva); mecanização do campo, eis os elementos centrais

propostos pela CEPAL para que as economias subdesenvolvidas rompessem com o desequilíbrio no

cenário internacional.

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À luz do pensamento cepalino, América Latina, passará por um processo de incorporação

tecnológica, - guardadas as devidas diferenças entre as economias do continente - em que países

como México, Brasil, Chile e Argentina, internalizarão indústrias conformadas nas economias

centrais, sem levar em conta as especificidades internas de seus contextos históricos e sociais,

intensificando os volumes de empréstimos tomados para a conformação de seus reestruturados

modelos de desenvolvimento.

O relatório da CEPAL de 1949, ao expor suas teses principais sobre o desenvolvimento

como um continumm industrial, conforma seu referencial entendido o subdesenvolvimento como

uma fase primário exportadora, pré-industrial. A industrialização assumia neste referencial um

duplo papel: - romper com o desequilíbrio no comércio internacional; - diminuir as disparidades

sociais no interior das nações.

O diagnóstico sobre o subdesenvolvimento e a projeção política para romper a situação

desigual manifesta nas relações internacionais, foram conformados em um contexto histórico de

reestruturação técnico científica dos Estados Unidos e de consolidação dos organismos financeiros

internacionais, que dariam a linha do desenvolvimento no Pós 2ª. Guerra: Fundo Monetário

Internacional (FMI) e Banco Mundial (BIRD), ambos, assim como a CEPAL, vinculados à ONU.

Foi, portanto, em plena década de 50 que a proposição de desenvolvimento cepalina

encontrou eco na ideologia política do desenvolvimentismo. No caso brasileiro, a ascensão da

burguesia industrial pôs em movimento concreto o receituário cepalino relativo à industrialização.

Na era Juscelino Kubtshek se efetivou de forma política o desenho do modelo de

desenvolvimento cepalino no Brasil, com novos vieses relacionados ao contexto internacional, em

que a participação do capital privado na cooperação do desenvolvimento tanto para fora, quanto

para dentro, foi redimensionada.

Vale destacar, ainda, como este referencial teórico se disseminou na projeção política dos

partidos comunistas no continente, abrindo um amplo debate sobre reforma-revolução. A

constituição desta “esquerda não comunista”, cujo eco teórico se reflete nos postulados da CEPAL,

abre, no bojo da Guerra Fria, uma leitura de desenvolvimento enquanto avanço das forças

produtivas, cujos desdobramentos concretos se fazem sentir na atualidade: dependência,

pauperização, intensificação do desenvolvimento desigual e combinado.

O limiar da década de 60 anunciava o que seriam os próximos 20 anos no continente.

Foram tempos de guerra aberta entre dois modelos distintos de desenvolvimento, em que a

hegemonia norte-americana foi questionada nos quatro cantos do mundo pela contra-hegemonia

russa. A América Latina viveu, neste período do modelo de desenvolvimento cepalino, a história

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das despóticas atrocidades políticas da intervenção direta do governo norte-americano sobre o

continente: as ditaduras. Iniciadas no Brasil em 1964 e concluídas em disseminação no Chile, as

ditaduras manifestavam a face da coerção em pleno processo de questionado consenso político por

parte dos povos latinos, sobre o suposto bem estar capitalista, em especial após o exitoso advento da

revolução cubana.

É nesse período conturbado para os povos da América latina, mas projetado pelo capital no

afã de manter sua ostentosa máquina de fazer dinheiro em sua reprodução ampliada pelo mundo,

que Prebisch vai publicizar a continuidade de suas ideias, revendo alguns pontos centrais a serem

ressignificados: o protecionismo; a planificação de Estado nos moldes socialistas; e, a participação

do capital estrangeiro no território.

1.2.Hacia uma política económica de desarrollo latinoamericano: con un apendice sobre el falso

dilema entre desarrollo económico y estabilidad monetária.

Neste texto, de 1963, Prebisch retoma as particularidades internas e as necessidades

externas.

Sobre as primeiras – particularidades internas - reforça que o processo de internalização do

progresso técnico se forjou baseado numa estrutura social complexa e atrofiada cujas principais

características eram: baixa mobilidade social com homens, com tino empresarial, não assumindo o

risco de um novo modelo de desenvolvimento tecnológico; privilegio da distribuição de riqueza e

de renda, com debilidade para a ascensão de novos trabalhadores com melhores remunerações, à luz

da incorporação tecnológica; baixa acumulação de capital em contrapartida aos exageros do

consumo dos extratos sociais superiores, em detrimento da sobrevivência limite das massas de

trabalhadores.

Sobre as segundas – necessidades externas - refunda o debate sobre a cooperação entre

capital nacional e capital internacional, dadas as particularidades internas mencionadas, e sustenta a

seguinte observação sobre a participação privada nos investimentos produtivos:

(..).en estos tiempos de aliento a la planificacion se discurre mucho acerca

del papel primordial de la iniciativa privada en América Latina y sobre la

necesidad de preservala. Pero, ?Que és lo que significa en definitiva? ?Se

trata de preservar el sistema presente, que comprime las fuerzas de la

iniciativa individual por la estratificacion social o el privilegio? ?o hay que

abrirle ancho cauce mediante estas transformaciones estructurales para dar

al sistema la plena validez dinámica de que ahora carece? (p.5)

Com uma análise crítica sobre os entraves da política protecionista do período anterior,

Prebisch sustenta que a insuficiência dinâmica das economias latinas requer uma melhor e maior

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acumulação de capital nos países periféricos, como forma de aumentar o produto interno global, à

luz das condições reais de emprego e renda necessários para romper o circulo vicioso do

subdesenvolvimento. Nas palavras de Prebisch:

(...)libre iniciativa y competencia son dos aspectos inseparábles pues

aquella sin esta languidesce fatalmente en el privilegio. Si ambas llegan a

conjugarse, habrá ancho campo para la iniciativa individual y para su

participación vigorosa en la planeación del desarroll (p.65).

Ainda sobre o papel do Estado nesta nova fase de desenvolvimento latinoamericano, vale

citar o autor na íntegra:

...el Estado no necessita tener todo en sus manos para regir las fuerzas del

desarrolloy el progreso social. Pero es explicable que todavia exista mucha

confusión en cuanto al significado de su acción planificadora para cumplir

ese designio, pues hasta hace pocos años solo se había plania concepción

socialista de economia (...).

Insiste Prebisch que, mesmo quando se justifique a forte presença planificadora do Estado

latinoamericano para impedir as desmesuras da concentração monopolista de capital e os arrochos

sociais, este pode conduzir a planificação para o êxito econômico-social, incentivando o capital

privado a investir mais intensamente nos polos dinâmicos do desenvolvimento. Em suas palavras, o

Estado:

puede conseguir eficazmente sus objetivos de desarrollo mediante incentivo

y desalentos a la iniciativa privada. Y desde ese punto de vista, su gestión

directa se justificaria cuando esos instrumientos no dieron los resultados

que se persiguen (p.76-77).

A tônica do discurso de Prebisch, já nos anos 40, mas em especial nos anos 60 está

associada à atrofia no modelo de desenvolvimento via substituição de importações que culminou na

continuidade dos entraves da periferia, tanto na posição da América Latina no comércio

internacional – dependência -, quanto na agudização dos contrastes sociais em termos de riqueza e

renda no interior destas economias.

Uma reorientação do papel do Estado, leia-se, reorientação na condução do desenvolvimento

associado entre capital nacional e internacional, com potencialização dos investimentos em bens de

capitais, tornaram-se, assim, a nova forma de execução do planejamento de Estado.

Esta interpretação do desenvolvimento com centralidade para o planejamento de uma

economia mista, a partir do conceito de cooperação, permite visualizar a direta conexão entre o

pensamento cepalino dos anos 60 e as ideias de desenvolvimento associado. Neste período a

participação do capital multinacional na economia latinoamericana é forte e institui, em pleno

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processo de retomada expansionista das grandes potências industriais – Japão e Alemanha – uma

reinterpretação sobre as particularidades históricas do desenvolvimento industrial latinoamericano,

a partir das conformações internas das economias latinoamericanas.

Segundo Sawaya (2006), o Brasil possuía no final de seu ciclo de crescimento da década de

60, com um parque industrial que equivalia a 2/3 das 1000 maiores empresas que operavam no País.

Na divisão, 12% eram empresas transnacionais, responsáveis por 50% do valor das vendas e por

43% do estoque de capital. A década de 60 era assim, enquanto abre alas do milagre econômico, um

território operacional do capital internacional.

A participação intensiva do capital multinacional no continente latinoamericano da década

de 60 em adiante, e a dificuldade internacional de recuperação das altas taxas de lucratividade do

capital realizados nos anos dourados do capitalismo, exigia uma nova rodada internacional sobre a

linha política, tanto do financiamento, quanto do desenvolvimento associado entre economias

centrais e periféricas.

A crise dos anos 70 na economia mundial que representou, ao mesmo tempo, a perda do

poderio único norteamericano no controle do mundo e a nova reconfiguração das relações

internacionais para a compensação das perdas de lucratividade do capital monopolista,

conformaram na América Latina, uma nova dinâmica da dependência externa.

A era Reagan abriu o horizonte da tentativa de retomada da hegemonia americana no

mundo, a partir de uma politica econômica de corte neoliberal e de uma estratégia bélica como

forma de jogar para a defensiva a URSS e de instituir, no imaginário coletivo internacional, sua

supremacia na arte tecnológica da guerra. Segundo Araújo (2009), o tema central das duas gestões

de Reagen (80-88) foi o de “recuperar a dignidade e o brio norte-americanos”.

Essa dupla dimensão da estratégia do governo norteamericano de conformar uma

superioridade bélica, via indústria armamentista e retomar a competitividade do capital nacional no

mundo, permitiu um redesenho tanto da política interna, quanto da política externa norteamericana.

A política interna centrou-se em alguns elementos chaves: supremacia dos gastos públicos

no investimento produtivo de armamentos e redução dos gastos sociais; incentivo aos monopólios

produtivos com redução de impostos sobre a produção e aumento dos gastos militares;

intensificação da desvalorização do dólar combinada com o aumento do protecionismo comercial;

elevação da taxa de juros como mecanismo de atração dos capitais estrangeiros; estímulo à

recuperação da relação lucro-salário através da pressão sobre os salários e a quebra dos direitos

trabalhistas.

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A política externa focou-se no incentivo à importação das mercadorias americanas e nos

empréstimos para a alavancagem produtiva das multinacionais. Elemento que refundou a América

Latina como território vital de reprodução ampliada da hegemonia norte-americana.

Com o objetivo de viabilizar a transferência de recursos do sul para o norte do continente,

potencializando a reestruturação produtiva e financeira do capital monopolista americano, os

organismos criados em Bretton Woods que tinham, no período anterior, a função de subsidiar a

industrialização destas economias, agora eram entendidos como irradiadores diretos da política

econômica no território latino.

A pretensão de Reagan era retomar o crescimento produtivo norte-americano e sua

capacidade de irradiar, na concorrência com os capitais monopolistas europeus e japoneses, sua

aparente supremacia em uma era de intensa recessão econômica como a vivida em 74-75.

No entanto, esta proposta gerou, no interior dos EUA, uma contradição ainda mais aguda

entre os ganhos do capital portador de juros que, aparecia com possibilidades de remuneração, fora

da esfera produtiva, em que os bancos, sócios majoritários do capital produtivo, criaram uma

condição particular de hegemonia que colocava em xeque o próprio processo de possível

crescimento continuado. Isto, associado ao ataque aos direitos trabalhistas com a quebra do Estado

do bem Estar Social, ainda quando permitisse uma retomada da melhoria da relação lucro-salario

para o capital, não criava as bases materiais concretas de superação da recessão na qual todo o

mundo, sob a hegemonia americana, estava submerso.

A economia norteamericana consolidou neste período um padrão de consumo superior à sua

capacidade de poupança e investimento, o que deflagrou o novo processo de endividamento

individual, familiar e estatal como o centro de sua nova dinâmica produtiva, sob a égide do fictício,

caracterizado por alguns intelectuais latinoamericanos como capital especulativo parasitário.

Em 1984 os EUA se consagravam como a nação mais endividada do mundo. Na América

Latina, a política de controle do continente pelo processo de austeridade instituído por Reagan, o

processo foi ainda mais perverso.

A drenagem de recursos, oriunda da queda nos preços dos produtos primários e no aumento

do investimento direto estrangeiro americano no território, combinada com a austeridade

macroeconômica com altas taxas de juros, foi o mecanismo político realizado desde o norte, para

contrarrestar a tendência à queda da taxa de lucro dos capitais americanos e da hegemonia mundial

dos EUA, a partir da apropriação privada do continente, via multinacionais, sobre novas bases,

como propriedade privada americana.

14

Dita drenagem dos recursos gerou, segundo Araújo (2009), um processo de estagflação em

que a falência de empresas nacionais, a desestatização e desnacionalização das empresas públicas

estatais e a queda dos produtos primários recompuseram a participação da América Latina na

divisão internacional do trabalho, pós crise dos 70, sob condições ainda mais duras para a classe

trabalhadora do continente.

No final dos anos 80 já se lia o panorama real do continente latinoamericano em sua relação

dependente e subordinada à hegemonia do norte, como um processo deflagrador de uma crise ainda

maior que a anterior, no que seria caracterizado como a década perdida, em que o crescimento débil

e a agudização dos problemas sociais, colocavam em questão a possibilidade real de retomada do

crescimento, como nos anos dourados, e de uma pax americana, aparentemente inquestionável em

seu poderio mundial.

Quando Bush assumiu em 1989, defendeu uma plataforma política, segundo seus

argumentos, de consolidação de uma alternativa para as Américas. O argumento relativo à crise

não superada no período anterior centrava-se na excessiva intervenção do Estado nas relações

comerciais entre capitais e nações, leia-se Estado e mercado.

Desta leitura sobre a configuração da crise mundial, realizou-se o Consenso de Washington,

reunião ocorrida entre intelectuais, representantes políticos do Estado, capitais privados nacionais e

órgãos financeiros de fomento mundial. Um dos principais expoentes deste processo foi

Williamson, autor responsável por esmiuçar os 10 pontos3 do debate do grupo, tanto sobre a crise,

quanto sobre as medidas a serem efetivadas para contê-la.

Vale ressaltar, que as políticas propostas pelo Consenso de Washington, foram estruturadas

e pensadas para a readequação do Terceiro Mundo, em especial da América. Latina, em sua relação

com o decadente capital produtivo monopolista americano, como forma de compensação,

3Os 10 pontos do chamado Consenso de Washington foram: Abertura comercial e fim das barreiras protecionistas no

comércio internacional; 2) Desestatização e controle produtivo (inter)nacional das principais empresas públicas

estatais, via investimento direto estrangeiro nos países periféricos; 3) Desregulamentação financeira para a livre

mobilidade dos capitais em suas formas funcionais, produtiva-comercial- bancária; 3) Flexibilização das relações de

trabalho, com quebra de direitos e instauração de contratos, com o objetivo de melhorar a relação lucro-salário e

retomar a elevação das taxas de lucro estimuladoras da inversão do capital produtivo; 5) Disciplina fiscal na tomada

de empréstimo, com ajustes austeros no câmbio comercial; 6) Prioridade nos gastos públicos em subsídios à

reestruturação da infra-estrutura logística e da educação e saúde básicas, sem a preferência voltada para o requisito

técnico-científico; 7) Reforma tributária com maior incidência de impostos sobre a renda e o consumo e menor

incidência sobre a produção e os empréstimos; 8) Livre determinação da taxa de juros pelo mercado, com a não

intervenção dos bancos centrais na economia; 9) Incentivo ao investimento direto estrangeiro na produção interna das

economias em relação comercial e; 10) Reforço do direito à propriedade, como mecanismo “democrático” de

participação política em sociedades que violam o direito de índios, camponeses, povos originários.

15

superação, de suas perdas irreversíveis internamente, com possibilidades de mudança no controle do

plano mundial.

Foi literalmente uma política pensada de dentro dos EUA em sua relação comercial

imperante para fora, em especial na irradiação de seu poder sobre o continente latinoamericano.

Os elementos do Consenso de Washington instituíam, via política econômica dos EUA, um

novo redimensionamento de seu papel na divisão internacional do trabalho no final do século XX,

em que a retomada ideológica neoliberal imprimia, à histórica dependência do capitalismo latino,

um novo processo de reprimarização da economia, com ênfase na desnacionalização dos recursos e

dos direitos trabalhistas criados na primeira fase da industrialização latinoamericana.

Para Araújo (2009), esta política demarcava a era das corporações e a consolidação política

do livre comércio continental, tanto pela necessidade do capital norte-americano de possuir

mercados para destinar seus produtos finais, quanto pela regra inerente ao funcionamento do capital

de baratear os custos de produção (matéria-prima e trabalho), tornando mais competitivo o capital

monopolista americano no âmbito mundial.

Um exemplo notório da execução desta política foi a conformação do Tratado de Livre

Comércio da América do Norte (Nafta), processo precursor do que se tentaria estabelecer como área

de Livro Comércio para as Américas (ALCA) em todo o continente. No México, as maquiladoras

tinham dois fundamentos como principio produtivo: servir de linha de montagem de parte da

produção norte-americana e, trabalhar majoritariamente com mão-de-obra feminina jovem,

responsável por aproximadamente 60% do trabalho nesse processo, com possibilidades concretas de

intensificação da superexploração do trabalho frente a outros grupos de trabalhadores no País. Em

outras palavras, o custo médio do trabalho que no México já era bem inferior ao do trabalho nos

EUA, com a implementação das maquilas gerou a melhoria substantiva da relação lucro-salário das

corporações americanas, com base na consolidação da área de livre comércio.

Neste novo redimensionamento da divisão internacional do trabalho, América Latina

cumpria a função clara de ser um mecanismo de compensação tanto da queda da taxa de lucro do

capital monopólico americano, através da redução dos salários e da precarização das condições de

trabalho no continente, além de ser um alicerce central da retomada da hegemonia americana

mundial, liderada pelos grandes capitais em disputa comercial com a Europa e o Japão.

O aumento do investimento direto estrangeiro no continente e das exportações dos produtos

industriais americanos para este território, fez da América Latina, a única região em que os EUA,

conseguiram um superávit comercial no período de recuperação dos anos 80, quando 43% das

exportações eram destinadas para ela (ARAÚJO, 2009).

16

A diplomacia da força, segundo Araújo (2009), associada à direta intervenção americana

pelos instrumentos de financiamento à produção, comercialização, reestruturação internas – FMI,

BIRD, BID – foram os reais mecanismos que a política econômica do Reaganomics forneceu à

gestão Clinton, como forma de recuperar sua plataforma hegemônica no cenário mundial.

O resultado desta política na América Latina foi a acentuação da vulnerabilidade externa, a

reprimarização da economia em condições ainda mais precárias do trabalho, e a agudização dos

conflitos sociais, resultantes da flexibilização do trabalho e da quebra do capital nacional – privado

e estatal -, sob o controle do capital monopólico americano.

O final da década de 80 e o inicio da década de 90 reconfigurou a hegemonia mundial da

tríade do capital monopolista – EUA-Japão –Alemanha - sob o desenho dos grandes blocos de

irradiação direta do poder territorial destes capitais monopólicos.

1.3. A era neoliberal e a “Industrialización em América Latina: de la “cajá negra” al

“Casillero vacio”

Toussaint (2002) reforça que o receituário neoliberal que vai vigorar na década de noventa,

encontrará nas privatizações, enquanto centralidade do capital transnacional na economia periférica,

e na abertura comercial atrelada ao endividamento externo, os elementos constitutivos da

agudização dos vínculos estruturais de dependência na economia mundial entre centro e periferia.

Além disto, o encolhimento do mercado interno exigirá a importação para a satisfação das

necessidades de parte expressiva da população, o que trará um pacto indissociável entre o novo

desenvolvimento econômico e o capital transnacional.

A reprimarização das economias latinoamericanas será caracterizada por uma exportação de

produtos com menor valor agregado na concorrência via relações internacionais, o que ocasionará

uma reestruturação interna em três linhas centrais: retirada do Estado da intervenção direta na

produção; reconfiguração das disputas no campo com abertura à ação do capital monopólico

transnacional em terras com vultosos recursos minerais e energéticos e desregulamentação do

trabalho, permitindo um processo ainda mais acentuado de superexploração do trabalho na periferia.

O resultado desta dinâmica foi uma década de 90 ainda mais vulnerável que a anterior ,em

que a sangria dos recursos estava associada à pauperização de parte expressiva da população, além

do esgotamento sem limites da utilização dos recursos naturais, ainda em disputa no continente

latino diretamente com os povos originários.

17

Essa dinâmica de aceleração da pobreza e da sangria dos recursos levou o FMI e o BIRD a

reestruturarem suas políticas de ajuste a partir do que classificaram como “Quadro estratégico para

a luta contra a pobreza”, que, segundo sua fetichista relação de liberdade na aparente política

cooperada, instituía a supremacia do capital privado como motor do desenvolvimento, a

necessidade do capital público como financiador do novo desenvolvimento e a reestruturação

produtiva com a retomada da economia primário exportadora da periferia, agora centralizada nas

mãos do capital monopolista internacional.

Mas, se por um lado, a política de abertura para fora, exigia todo um pacto de maior

compromisso do capital e do Estado latinoamericano, com seu tutor americano, por outro lado, o

protecionismo desta economia e de suas fronteiras, dava a real dimensão dicotômica entre o

neoliberalismo de EUA para a América Latina, e o protecionismo dos EUA para com o mundo.

A questão central neste período dirige-se para a indagação sobre como foi possível a

industrialização ser conciliada com um desequilíbrio social muito mais intenso do que o decorrente

do desenvolvimento das economias centrais.

Com base nisto, em uma reflexão autocrítica, a CEPAL, no inicio dos anos 90, divulga o

texto de Fernando Fajnzylber - Industrialización em América Latina: de la “cajá negra” al

“Casillero vacio”-, com novos elementos explicativos acerca da particularidade do

desenvolvimento na América Latina e as possíveis formas de superá-lo. Neste texto Fajnzylber

explicita que a industrialização deve ser entendida como eixo vital do desenvolvimento econômico,

a partir do aporte ao progresso técnico, e da elevação da produtividade. Elementos que associam a

aprendizagem tecnológica à inovação técnico científica.

Com base no progresso técnico, o autor argumenta que o que caracterizou a industrialização

latinoamericana foi a assimetria entre a imitação e a marginal inovação econômico-social. Em

outras palavras, à industrialização latinoamericana corresponde uma heterogeneidade estrutural.

A caixa negra do progresso técnico significa a capacidade de reprodução das técnicas

estrangeiras, de forma imitativa, sem se ater à aprendizagem e autonomia na produção do

conhecimento tecnológico. Portanto, a indústria latinoamericana possui uma insuficiente

incorporação do progresso técnico à produção e uma insuficiente confomração técnico-científica do

trabalho, correspondente à baixa inovação característica dos processos produtivos. O “casillero

vacio”, estaria, assim, relacionado à incapacidade interna de abrir a caixa negra do progresso

técnico.

Fajnzylber define cinco características comuns no desenvolvimento da América Latina: -

inserção internacional centrada na divisão internacional do trabalho, como economia primário-

18

exportadora; - industrialização voltada para dentro, concebida para abastecer o mercado interno; -

reprodução dos padrões de consumo americanos, com uma base interna muito diversa da americana,

em que a exportação monocultora e a ausência de um mercado interno dinâmico são os centros da

relação desigual em relação ao mercado americano, imitado; e, - escassa valorização social e

precária liderança do empresariado nacional.

Estes elementos configuram a particularidade histórica da industrialização latinoamericana,

em que o processo de desenvolvimento endógeno com dinamização tecnológica centrou-se na

modernização tardia, na acomodação do mercado interno estruturado na desigualdade social, na

continuidade da condição primário-exportadora e na precariedade inovadora do empresário

nacional.

Dos anos 70 em adiante, América Latina reviverá sua histórica condição de dependência sob

o controle do desenvolvimento desigual e combinado, em que a disputa pela hegemonia e pela

retomada dos índices de lucratividade dos anos dourados do capitalismo, exigirão um permanente

desdobramento político-cultural para a efetivação do controle econômico desde o norte.

O caso brasileiro chama a atenção por remeter a discussão ou à nostalgia dos anos da

industrialização substitutiva de importações, desenvolvimento para dentro, ou à confusão sobre a

continuidade, ou não, do receituário cepalino na atualidade. À luz destes elementos é que se

conforma o debate sobre o neodesenvolvimentismo e suas (des)continuidades no Brasil. Passa-se

agora, a análise desta situação particular.

2. O Neodesenvolvimentismo brasileiro:

O desenvolvimentismo situa-se historicamente no processo da específica revolução burguesa

no Brasil e, como tal, tinha forte consonância com os objetivos de avanço das forças produtivas e da

internalização dos aspectos positivos da concorrência e do aumento da produtividade. Enquadra-se

assim na “utopia de um capitalismo domesticado, subordinado aos desígnios da sociedade nacional”

(SAMPAIO JR., 2012, p.4). Todavia, as românticas 4 possibilidades apresentadas pelo

desenvolvimentismo esbarraram na reestruturação produtiva do capital, no movimento de

internacionalização, na ofensiva estadunidense rumo ao imperialismo total5 e na consolidação da

4 Esse romantismo teve possibilidade, pelo menos enquanto concepção teórica, em virtude do conturbado período que

Hobsbawm caracterizou como “breve século XX” e seus desdobramentos: crise de 1929, economia européia destruída,

Guerra Fria, necessidade de barrar qualquer avanço do comunismo pelo capital e forte articulação da classe

trabalhadora, apenas para citar alguns elementos. 5

Fernandes (2005) utiliza o termo imperialismo total para caracterizar o período que se inicia em meados dos anos 50

do século XX quando, segundo o autor, os processos de dominação passam a se dar também de dentro para fora.

19

revolução burguesa brasileira como uma contrarrevolução permanente, que mantêm inalterados e dá

grande funcionalidade à heteróclita estrutura econômica nacional.

É por isso que o período neoliberal exacerba as expressões da questão social no Brasil e

intensifica os nexos causais de dependência, com apoio de significativas frações da burguesia

brasileira e do aparato ideológico atrelado a essa nova estrutura de reprodução do capital. Os

aumentos nos níveis de desemprego, a precarização das relações de trabalho, a perda de direitos

trabalhistas, o crescimento da informalidade e da concentração funcional e pessoal de renda, a

subordinação das políticas econômicas nacionais aos interesses do capital financeirizado, tornam

cada vez mais explícitos os efeitos deletérios do capitalismo em sua nova fase, com destaque para

década de 90. Isso, atrelado às recorrentes crises, à ascensão de um novo Partido à Presidência da

República, à nova correlação de forças no Estado, às pequenas melhorias no poder de compra dos

salários, legitimaram, de acordo com seus autores, a concepção de que houvera iniciado e da

possibilidade de aprofundamento de um “novo-desenvolvimentismo6”.

O Plano Real consegue estabilizar os preços da economia. Todavia, apoiado em âncora

cambial e de juros, juntamente com a adoção das políticas de cunho neoliberal da cartilha do

Consenso de Washington, a mundialização do capital e o movimento de financeirização, assiste-se a

uma reestruturação regressiva de vários setores da indústria nacional, privatizações, déficits na

balança comercial cobertos pela entrada maciça de capitais rentistas, e perversas mudanças

estruturais no mundo do trabalho. Esse quadro permanece sem alterações perceptíveis até início dos

anos 2000, levando a alguns questionamentos por parte dos que atrelavam o neoliberalismo à

“ausência” do Estado, ao rentismo e à exacerbação da liberdade dos mercados.

Concomitantemente, leves melhorias nas taxas de crescimento econômico, nos níveis de

emprego, no poder de compra do salário mínimo e na distribuição de renda em meados dos anos

2000 (o que leva muitos autores a criar uma identidade entre o governo Lula e um

neodesenvolvimentismo), passam a pautar os que propagavam a necessidade de se retomar/manter a

rota do “desenvolvimento”.

O neodesenvolvimentismo está intimamente vinculado à experiência brasileira recente de

condução de uma determinada estratégia de desenvolvimento socioeconômico, iniciada com o

advento do Governo Lula em 2003. Isso não significa que ele não seja fruto de um esforço de

teorização, de concepções ideológicas e de escolhas políticas. Significa apenas que a sua

formatação final decorre de uma interação dialética entre teoria e práxis. Com efeito, entende-se que

uma compreensão mais satisfatória do neodesenvolvimentismo não pode estar dissociada nem do

6 Tal termo tem origem nos escritos de Bresser Pereira (2003; 2006) e ganhou mais notoriedade com o trabalho de

Sicsú, Paula & Michel (2005).

20

seu aspecto teórico, nem de um juízo a respeito da evolução concreta da economia brasileira no

período mais recente.

Em sua visão, as políticas de liberalização e de redução do papel do Estado na economia,

representadas, especialmente, pelas aberturas financeira e comercial e pelas privatizações,

produziram, entre outras consequências, uma ampliação da vulnerabilidade externa, uma

fragilização fiscal crescente do Estado brasileiro e um enfraquecimento do setor produtivo, com

perdas de elos das cadeias produtivas e de capacidade competitiva e exportadora. Como corolário,

disseminou-se ao longo daquela década um comportamento econômico errático, que se notabilizou

por um baixo crescimento econômico.

Buscando escapar dos aspectos considerados negativos do nacional-desenvolvimentismo e

do neoliberalismo, bem como, aproveitando-se do maior planejamento estatal de um e da

estabilidade macroeconômica e financeira de outro; é dessa forma que o “novo-

desenvolvimentismo 7 ” busca lidar com os desafios estratégicos da contemporaneidade

(CARNEIRO et all, 2012) e “reativar” a rota do desenvolvimento, entendido como “(...) um

conjunto de valores, ideias, leis e políticas orientadas para o desenvolvimento econômico que leva à

criação de oportunidades para que empresários dispostos à assumir os riscos possam investir e

inovar.” (BRESSER PEREIRA, 2010, p.29).

Como ficará bem claro no texto a seguir, não estamos propondo um “retorno

ao passado” – como alguns economistas da ortodoxia brasileira “acusam” os

keynesianos-desenvolvimentistas – mas sim um novo modelo de

desenvolvimento, no qual Estado e Mercado são vistos como elementos

complementares no processo de desenvolvimento econômico. Mais

especificamente, não defendemos o retorno a um “modelo de substituição de

importações”, a volta da inflação, o calote sobre as dívidas interna e externa,

e o descontrole fiscal. Alternativamente, defendemos um modelo econômico

no qual a promoção de exportações é um elemento fundamental para o

desenvolvimento do setor industrial, a política fiscal não só garante a

solvência inter-temporal do governo como permite o auto-financiamento do

7 Carneiro (2007; 2012) e Oliva (2010) têm utilizado o social-desenvolvimentismo como sendo uma alternativa à

proposta do novo-desenvolvimentismo. De acordo com esses autores, que se identificam muito mais como uma

contribuição ao debate partidário e de políticas do governo do que como reflexões inseridas no debate acadêmico, há

uma estratégia inovadora de desenvolvimento em curso. Para o social-desenvolvimentismo, o consumo de massas

operado pela distribuição de renda aparece como sendo capaz de dinamizar um círculo virtuoso de aumento do

consumo, dos investimentos, da produtividade, dos salários, e assim por diante. A esse respeito ver Bielschowsky

(2012) e Bastos (2012) Cabe ressaltar, porém, que o novo-desenvolvimentismo e o social-desenvolvimentismo

compartilham basicamente dos mesmos pressupostos, a saber, uma terceira via entre o nacional-desenvolvimentismo e

o neoliberalismo no que concerne à relação entre Estado e mercado, identificando equivocadamente o nacional-

desenvolvimentismo como total preponderância do Estado e o neoliberalismo como a total ausência deste. Ademais,

em ambas as concepções há um “desaparecimento” da luta de classes fora e dentro do Estado, bem como, dos nexos

estruturais causais da dependência externa e da desigualdade interna. Por essa razão, recorreremos no presente artigo

ao termo neodesenvolvimentismo, conforme Sampaio Jr (2012), ou novo-desenvolvimentismo como representando

ambas as correntes uma vez que para o objetivo proposto no artigo isso nada afeta e, na concepção dos autores, a

distinção entre tais correntes não passa de escolástica.

21

investimento público e a inflação é mantida sob controle (OREIRO &

PAULA, 2009, p.1).

Assim, enquanto o mundo passa por uma profunda crise, advoga-se no país a ideia de

continuidade de melhoria dos indicadores sociais como uma possibilidade concreta de um modelo

neodesenvolvimentista, concebendo o mesmo como uma terceira via. Isto é, um modelo que apoia-

se na estabilidade monetária e dos indicadores macroeconômicos típicos do período neoliberal, ao

mesmo tempo em que defende um Estado que corrija as falhas de mercado e alie-se com um

nacionalismo moderado ao capital estrangeiro para promover o crescimento econômico e a

consequente melhora nos indicadores sociais (BRESSER PEREIRA, 2003). Ou, “(...) um terceiro

discurso, entre o populismo da esquerda burocrática e o neoliberalismo da ortodoxia convencional”

(BRESSER PEREIRA, 2006, p.5)

Acima de suas diferenças e idiossincrasias de ordem teórica e prática, os

economistas que reivindicam o novo desenvolvimentismo compartilham um

denominador comum: procuram uma terceira via que evite o que consideram

o grave problema do neoliberalismo - a cumplicidade com o rentismo – e o

que atribuem como as inevitáveis perversidades do velho desenvolvimentismo

– o nacionalismo anacrônico, a complacência com a inflação e o populismo

fiscal (SAMPAIO JR, 2012, p.11).

Portanto, parte-se do pressuposto de complementaridade e correlação equitativa de forças

entre Estado e mercado, cabendo ao primeiro corrigir falhas e fortalecer o segundo na busca de

taxas elevadas e contínuas de crescimento (SICSÚ et all, 2007).

Trata-se de uma teoria que vê o capital especulativo, o rentismo, a exacerbação do poder do

mercado e a ausência de um Estado forte como os grandes males do neoliberalismo e, por isso,

acreditam na possibilidade da junção moderada e modificada do que consideram ser aspectos

positivos de dois períodos históricos distintos, o nacional-desenvolvimentismo e o neoliberalismo,

como saída para um novo-desenvolvimentismo (SICSÚ et all, 2007). Em outras palavras, rejeita-se

o globalismo/entreguismo alienado, tanto quanto o nacionalismo retrógrado, vislumbrando a

viabilidade de políticas econômicas que alavanquem interesses nacionais e estrangeiros ao mesmo

tempo. Isto é, a relação centro x periferia não é necessariamente negativa (BRESSER PEREIRA,

2003).

No plano das políticas públicas, os aspectos que definem o Estado novo-

desenvolvimentista são o papel estratégico do Estado, a prioridade dada ao

desenvolvimento econômico, uma taxa de câmbio competitiva, a

responsabilidade fiscal e o aumento da carga tributária para financiar os

gastos sociais. No plano político, o Estado novo-desenvolvimentista supõe a

formação de um pacto político ou coalizão de classes associando

empresários, à burocracia pública e à classe trabalhadora, coalizão esta que

tem como adversários os capitalistas rentistas, inclusive os proprietários de

empresas e concessões públicas monopolistas, os exportadores de

commodities e os interesses estrangeiros (BRESSER PEREIRA & THEUER,

2012, p. 814).

22

Apesar da discordância em relação à política monetária e fiscal do período nacional-

desenvolvimentista, e da concordância com a estabilidade macroeconômica típica do

neoliberalismo, os defensores do novo-desenvolvimentismo advogam que, assim como no período

pretérito, almeja-se a formação de uma verdadeira nação. Vista como a solidariedade interna de

classes que, apesar de conflitantes, compartilham de um destino comum, a nação seria o espaço das

decisões em prol do interesse e da soberania nacionais na concorrência internacional (SICSÚ et all,

2007). Conforme explicita Bresser Pereira (2006, p.11):

(...) o processo de definição do novo desenvolvimentismo é também o da

retomada da idéia de nação no Brasil e nos demais países da América Latina.

Implica, portanto, uma perspectiva nacionalista no sentido de que as políticas

econômicas e as instituições passam a ser formuladas e implementadas, tendo

como critério principal o interesse nacional e, como autores, os cidadãos de

cada país.

A consecução dos objetivos propostos pelos novo-desenvolvimentistas só seria possível

através dessa terceira via, desse discurso conciliador entre os interesses do Norte hegemônico, da

ortodoxia (neoliberalismo) e da esquerda burocrática (nacional-desenvolvimentismo), orientando as

políticas econômicas por meio de uma verdadeira e consensual estratégia nacional de

desenvolvimento. Grosso modo, entendem que o fortalecimento fiscal, administrativo e político do

Estado, bem como, o das empresas nacionais, pavimentariam o caminho para o sucesso na

competição internacional, típica do período contemporâneo de globalização. Isto é, para o novo-

desenvolvimentismo é possível uma inserção nacionalista, soberana e autônoma no mundo

globalizado, bastando para isso equilíbrio macroeconômico, monetário, fiscal, fortalecimento do

Estado, do mercado e das empresas nacionais.

Por esse meio seriam viabilizados elevados níveis de crescimento econômico e,

consequentemente, mais empregos, melhores salários e distribuição mais equitativa de renda,

lançando mão ainda de políticas de incentivo à educação e à P&D. Os elementos necessários a isso

passariam, dentre outras coisas, por:

(i) uma maior abertura da conta comercial do país, que deve ser feita de

forma negociada e com reciprocidades; (ii) um novo papel do Estado, com um

planejamento mais estratégico; (iii) preocupação com a estabilidade

macroeconômica, incluindo não só estabilidade de preços como também

equilíbrio do balanço de pagamentos e busca do pleno emprego; (iv) uma

nova política macroeconômica, que permita inverter a equação perversa juros

elevados e câmbio apreciado; (v) não aceitar a estratégia de crescimento com

poupança externa, visando alternativamente financiar o desenvolvimentismo

com recursos próprios de cada nação (SICSÚ et all 2007, p. 508).

Pelo sumarizado até o momento percebe-se a âncora para estabilizar o sucesso do novo-

desenvolvimentismo, segundo seus autores: geração de poupança interna, fortalecimento do Estado,

estabilidade macroeconômica, disciplina fiscal, intolerância à inflação, estímulo às exportações e à

23

concorrência (SICSÚ et all, 2007). Ademais, via controle de taxa de câmbio, de capitais e da taxa

de juros é que se lograria êxito nessa estratégia de estímulo à indústria e ao crescimento e

desestímulo ao capital especulativo/rentista (BRESSER PEREIRA, 2006).

Esses aspectos seriam a síntese da “macroeconomia estruturalista do desenvolvimento”, ou

do novo-desenvolvimentismo, como meio de lidar com duas tendências estruturais dos países em

desenvolvimento que solapam a demanda interna e externa por seus produtos: crescimento dos

salários abaixo do incremento da produtividade e sobrevalorização cíclica da taxa de câmbio

(BRESSER PEREIRA, 2010). Contrapor-se-ia, assim, à fraqueza do Estado neoliberal, ao rentismo

típico da contemporaneidade, ao protecionismo prejudicial à indústria no longo prazo e ao

desequilíbrio das contas nacionais, que vigoraram no nacional-desenvolvimentismo.

A retomada de uma participação ativa do Estado na vida econômica nacional pressupõe uma

reconstrução e uma revisão da capacidade de gasto e de arrecadação da máquina pública. Nesse

sentido, para o neodesenvolvimentismo, fontes de financiamento internas devem ser mobilizadas

para atingir tal fim e diminuir a dependência de recursos externos. Para tanto, o crescimento

econômico, embora importante no incremento da capacidade de arrecadação, deveria vir

acompanhado de outras medidas, tais quais: reorientação de fundos como o Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço (FGTS) e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e de instrumentos como o

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal e

a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); melhoria na gestão das receitas e racionalização das

despesas administrativas; diminuição gradual dos encargos financeiros; adoção de parcerias com o

setor privado e outros níveis de governo e a integração de programas.

Outro ponto que merece destaque na caracterização do neodesenvolvimentismo é o da

política externa e de comércio exterior. Nesse aspecto, a orientação é buscar um maior

protagonismo internacional e fortalecer os mecanismos de integração regional. Adicionalmente,

uma diversificação das parcerias econômicas e comerciais é recomendada com o intuito de

relativizar constrangimentos internacionais, atenuar a vulnerabilidade externa e fornecer as bases

para uma inserção internacional mais ativa.

(...) embora contenha elementos nacionalistas, dada a sua ênfase política na

soberania nacional e na eliminação da dependência e da vulnerabilidade

externa, é decididamente mais internacionalista que o velho nacional-

desenvolvimentismo, pois apoia a construção da nação na integração

regional, em uma diversificação cada vez maior de parcerias comerciais e

diplomáticas e em um protagonismo intenso nos foros de governança global e

no cenário internacional (OLIVA, 2010, p.33).

Concluindo e sumarizando o exposto nessa seção, o crescimento econômico mais elevado,

com uma relativa estabilidade macroeconômica, fortalecimento do poder de compra do salário

24

mínimo, diminuição das taxas de desemprego, da pobreza e da concentração da renda, em um

cenário político democrático e com uma preocupação com a sustentabilidade ambiental, faz com

que o neodesenvolvimentismo se apresente como uma singularidade histórica no longo processo de

desenvolvimento capitalista no Brasil.

Portanto, é tendo como pressuposto o interrupto êxito do nacional-desenvolvimentismo e o

fracasso do neoliberalismo para a resolução dos problemas brasileiros e latinoamericanos, e é tendo

como exemplo o grande crescimento via exportação de manufaturados dos países asiáticos, que o

neodesenvolvimentismo se propõe como alternativa passível de superar o subdesenvolvimento e

estruturar o Brasil enquanto Nação capitalista autônoma e democrática.

Considerações Finais

O neodesenvolvimentismo apresenta-se como uma terceira via, entre o nacional-

desenvolvimentismo e o neoliberalismo, para retomar e pôr em prática um projeto de

desenvolvimento aos patamares de consumo, renda, inovação e produção típicos dos países centrais.

Para tanto, nega o que denomina como um Estado “forte demais” perante o mercado, enquanto

gestor irresponsável na condução da política monetária e fiscal, bem como, nega a possibilidade do

mercado por si só ser capaz de engendrar o desenvolvimento brasileiro. Em outras palavras, o

neodesenvolvimentismo identifica, equivocadamente, o período do desenvolvimentismo com

“muito Estado” e “pouco mercado”, ao passo que identifica o neoliberalismo com “muito mercado”

e “pouco Estado”. É por isso que almeja a via do Estado e mercado fortes.

O período do nacional-desenvolvimentismo, ou desenvolvimentismo, insere-se no imediato

pós Segunda Guerra, momento de rearticulação e reestruturação da hegemonia dos Estados Unidos,

de reconstrução da Europa, de preocupação ocidental com o avanço da influência do modelo russo

sobre outros países e de grande articulação e reivindicação da classe trabalhadora devastada pela

guerra. Também é o período de expansão das grandes empresas multinacionais, em especial as

estadunidenses, e de consolidação dos processos de revolução burguesa de vários países

latinoamericanos. É somente levando-se em consideração esses pontos que se compreende a

industrialização latinoamericana nesse período e a matriz teórica que lhe corresponde, através da

CEPAL. Escapar a isto é, erroneamente, tomar como possibilidade concreta a anacrônica e

saudosista tentativa de um Estado keynesiano de industrialização e bem estar social sem evidenciar

o caráter eminentemente desigual do modo de produção capitalista.

Da mesma forma, o neoliberalismo não se constitui como período histórico comandado

pelas livres forças de mercado, em superação. Pelo contrário, o neoliberalismo caracteriza-se por

um Estado forte o bastante para garantir elementos essenciais ao movimento de reprodução do

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capital em escala ampliada, com destaque para capital financeiro e fictício, hipertrofiados: a

propriedade privada; os recursos financeiros drenados para a ampliação da dívida pública e dos

superávits fiscais e primários; o ambiente estável favorável, via condução das políticas econômicas

preocupadas com a estabilidade; a destruição dos direitos trabalhistas; a intensificação da

exploração do trabalho no âmbito mundial e nacional; e, a capacidade de estimular e financiar a

iniciativa privada, tanto em momentos de expansões cíclicas, quanto nas inerentes crises

capitalistas.

Partindo de uma apreensão equivocada do processo histórico e do momento presente,

qualquer proposta “teórica” tende muito mais a obscurecer e mistificar a realidade, do que criar

mecanismos de superação dos entraves estruturais identificados, cabendo questionar, portanto, se

pode conclamar o status de teoria. É nesse erro que incorre o neodesenvolvimentismo.

Como demonstrado no presente artigo, através dos escritos de Prebisch e Fajnzylber, há

grande proximidade entre o neodesenvolvimentismo e o nacional-desenvolvimentismo,

principalmente no que concerne ao papel das exportações no processo de industrialização, do

Estado na condução dos interesses da iniciativa privada, à importância do mercado e da

concorrência como mecanismos de incrementos de eficiência, à inovação tecnológica para

aumentos de produtividade, à relevância da contribuição do capital estrangeiro nesse processo, à

necessidade de se estimular a poupança interna e ao mercado interno como capazes de engendrar

um círculo virtuoso de crescimento, investimento e aumento salarial e de lucros.

De modo semelhante, o neodesenvolvimentismo aproxima-se bastante da raiz ortodoxa

neoliberal, vide Consenso de Washington, indicando políticas econômicas que em tese estimulam o

desenvolvimento nacional, desde que não ponham em risco a estabilidade dos principais preços da

economia e o controle das contas públicas, leia-se, todo o necessário para garantir caixa suficiente e

aparato legal adequado à extração e extradição de mais-valia. O que se propõe é a “eutanásia do

rentista” em favor do setor produtivo, separação absolutamente questionável no momento presente,

mormente quando não se quer fazer frente ao capital estrangeiro.

Assim, o neodesenvolvimentismo distancia-se de qualquer via de desenvolvimento

originária. Pelo contrário, aproxima-se da teoria cepalina e suas mudanças atreladas às próprias

reestruturações produtivas do capital, sem questionar profundamente os interesses ligados à

expansão do capitalismo sob a égide do ideário neoliberal. É, portanto, expressão teórica objetiva da

decadência ideológica burguesa, do fim das potencialidades civilizatórias do modo de produção

capitalista e do atual padrão de reprodução do capital, que requerem a fetichização da realidade

através de teorias supostamente científicas com finalidade de aprofundar a produção social de mais

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valia e sua apropriação privada, além de garantir maior peso ao capital financeiro, atacando ainda

mais intensamente o trabalho, como meio de contrarrestar a tendência decrescente da taxa de lucro.

Ademais, o neodesenvolvimentismo ignora o movimento da história em dois sentidos: 1-

toma o modo de produção capitalista como ponto final da história da humanidade; 2- não toca na

particularidade das revoluções burguesas atrasadas, do capitalismo dependente e subdesenvolvido,

da funcionalidade da estrutura econômica heteronômica e social desigual latinoamericana,

transformando tais questões de cunho estrutural como naturalmente superáveis pelo

aprofundamento do modo de produção capitalista ou, na melhor das hipóteses, insistindo na

possibilidade de um capitalismo “domado” para os interesses nacionais. Revela-se assim, o

neodesenvolvimentismo, em todo seu potencial ilusório e anacrônico.

Dessa forma, por mais que desenvolvimentismo e neodesenvolvimentismo compartilhem em

grande medida das propostas práticas para o mesmo ponto de chegada no tocante ao

desenvolvimento, não se pode ignorar que a teoria cepalina partia de uma compreensão mais

originária sobre a desigual divisão internacional do trabalho, com deterioração permanente para a

periferia, no que caracterizou como teoria do subdesenvolvimento. Já o neodesenvolvimentismo

desconhece e/ou ignora tais entraves e suas modificações ao longo do último meio século e,

portanto, torna ainda mais distante a ligação entre a realidade concreta e o futuro proposto.

Pretendeu-se, com este artigo, dar uma contribuição ao debate sobre desenvolvimento e à

crítica ao neodesenvolvimentismo, localizando tal matriz teórica no tempo e no espaço. Longe de

afirmações conclusivas, as apreensões aqui esboçadas abrem uma série de questões que fogem ao

escopo do presente trabalho e, são capazes de fomentar o aprofundamento do debate:

1- Seja no desenvolvimentismo, seja no neodesenvolvimentismo, esse último em maior grau, qual o

papel da luta de classes, enquanto motor da história? De tal monta, que em ambas as construções

teóricas, os aumentos de produtividade parecem transformar-se automaticamente em melhorias

salariais. Não é minimamente necessário considerar a dinâmica e a especificidade da luta de classes

antes de tais afirmações?

2- É possível tratar o Estado como um ente representativo dos interesses da coletividade e, portanto,

instrumento facilmente manipulável a partir de recomendações políticas? Ou o Estado é palco da

luta de classes e do provimento dos interesses do capital?

3- O que se entende por desenvolvimento é somente uma leitura de via única, ou seja,

desenvolvimento capitalista? Ou na dialética do concreto, na disputa manifesta entre dois projetos

civilizatórios antagônicos – capitalismo x comunismo – é possível relatar o movimento da

totalidade, enquanto explicação referencial da história concreta?

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4- Ligado à última, é possível falar em desenvolvimento nacional sem passar pela compreensão do

que é Nação? Ou ainda, é pertinente falar em desenvolvimento nacional partindo-se do pressuposto

de que Nação é apenas o marco espacial da origem e/ou atuação do capital, sem questionar a relação

dicotômica entre interesses nacionais e interesses do capital estrangeiro?

Por fim, vale destacar que a explicitação destas questões em tempos de barbaridade social

capitalista, nos coloca como desafio, assim como na era originária do pensamento da cepal e do

posterior debate da dependência, repensar a centralidade da política nas disputas teórico-acadêmicas

atuais.

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