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SWECO & Associados Governo da República de Moçambique Governo da República de Zimbabwe Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (Asdi) DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA CONJUNTA PARA A GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ RELATÓRIO DA MONOGRAFIA Relatorio Principal VERSÃO FINAL Abril 2004 P:/1113/1116/1150447000 Pungue IWRM Strategy - Sida/Original/Monograph Report/Main Report/Portuguese/Monograph Phase Report.doc

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SWECO & Associados

Governo da República de Moçambique Governo da República de Zimbabwe Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (Asdi)

DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA CONJUNTA PARA A GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ

RELATÓRIO DA MONOGRAFIA Relatorio Principal VERSÃO FINAL Abril 2004 P:/1113/1116/1150447000 Pungue IWRM Strategy - Sida/Original/Monograph Report/Main Report/Portuguese/Monograph Phase Report.doc

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Cliente: Governo da República de Moçambique Governo da República do Zimbabwe Agência Sueca para o Desenvolvimento

Internacional (ASDI) Projecto: DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA

CONJUNTA PARA A GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ

Titulo do relatório: Relatório da Monografia Subtítulo: Relatório Principal Fase do relatório: Final N. Projecto da SWECO: 1150447 Data: Abril 2004 Equipa de Projecto: SWECO International AB, Suécia (líder) ICWS, Holanda OPTO International AB, Suécia SMHI, Suécia NCG AB, Suécia CONSULTEC Lda, Moçambique IMPACTO Lda, Moçambique Universidade Católica de Moçambique Interconsult Zimbabwe (Pvt) Ltd, Zimbabwe

Aprovado por:

Lennart Lundberg, Project Director

SWECO INTERNATIONAL AB

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Estratégia de GIRH para o Desenvolvimento da Bacia do Rio Pungué A Monografia do Pungué

ÍNDICE

1 O AMBIENTE NATURAL 1 1.1 Geografia 1 1.2 Clima 4 1.3 Flora e fauna 6

2 CONDIÇÕES SOCIOECONÓMICAS 13 2.1 Demografia 14 2.2 Assentamentos 16 2.3 Saúde 18 2.4 HIV/SIDA 19 2.5 Educação 20 2.6 Género e pobreza 21 2.7 Principais actividades económicas 23 2.8 Infra-estruturas 28

3 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 33 3.1 O ambiente facilitador 33 3.2 Recursos Hídricos 42 3.3 Procura de água 54 3.4 Estruturas hidráulicas 57 3.5 Qualidade da água e transporte 61 3.6 Problemas a abordar 65 3.7 Opções de desenvolvimento 66

4 O CAMINHO A SEGUIR 69

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1 O AMBIENTE NATURAL

1.1 Geografia O Rio Pungoé nasce nas Terras Altas Orientais no Zimbabwe e corre para Este, atravessando as províncias moçambicanas de Manica e Sofala, no seu caminho para o Oceano Índico, na Beira. Com uma extensão de 400 km de extensão, o rio drena uma bacia hidrográfica de 31 151 km2, dos quais 1 461 km2 (4,7%) no interior do território zimbabueano e 29 690 km2 (95,3%) no interior de Moçambique. Os principais afluentes, da nascente para a foz, são os rios Honde, Nhazónia, Txatora, Vunduzi, Nhangungue, Urema e Muda.

O Rio Pungoé: • É partilhado pelo Zimbabwe e Moçambique; • Tem 400 km de comprimento; • Drena 31 151 km2, 5% dos quais localizados no Zimbabwe.

A parte mais a montante do Rio Pungoé, na área das Cataratas do Pungoé no Zimbabwe, tem uma altitude de cerca de 1 500 m acima do nível do mar, com picos mais elevados até 2 500 m. A este destas montanhas, o rio corre por um planalto a uma altitude de 1 000 a 300 m, descendo para a confluência com o Rio Vunduzi. A partir daqui e a jusante, o planalto desce rapidamente para uma altitude de menos de 100 m. A bacia inferior localiza-se a apenas alguns metros acima do nível do mar, sendo as planícies frequentemente inundadas durante a estação das chuvas. A água do mar entra pelo rio dentro até 80 -100 km da foz durante os períodos de maré alta.

Esboço altimétrico da bacia do Rio Pungoé (Fonte: Tinley, k. 1977 – Framework of Gorongosa System, University of Pretoria)

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R. VunduziR. Nhandugue

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A bacia do Rio Pungoé

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A bacia do Rio Pungoé tem um elevado potencial agrícola, pois pouca terra arável está a ser utilizada e a floresta, classificada como floresta de miombo caduca ou semi-caduca, não é muito intensa. Nas zonas da bacia de baixa altitude, a vegetação é do tipo savana ou prado. O Parque Nacional da Gorongosa, um dos maiores parques nacionais da África Austral, localiza-se na zona nordeste da Bacia do Pungoé.

O granito e gneisses predominam na parte alta da bacia zimbabueana. As formações de granito maciço por acção atmosférica transformaram-se em cumes desnudados, resultando num cenário rochoso. A parte moçambicana da Bacia do Rio Pungoé pode ser caracterizada, grosso modo, por formações do Complexo de Base nas terras altas e da Bacia Sedimentar nas terras baixas. O Complexo de Base cobre a parte ocidental da região central e consiste nas montanhas, terras altas e planaltos médios. Paisagens de inselbergs são comuns nas áreas planálticas, onde as rochas aparecem profundamente erodidas. A Bacia Sedimentar, principalmente de grés, situa-se nas planícies de Sena e no Planalto de Cheringoma, dividida pelo vale de Chire-Urema, de orientação N-S, que é uma continuação do Sistema do Rift da África Oriental.

Na parte zimbabueana da bacia do Rio Pungoé o granito maciço transforma-se por acção atmosférica em cumes desnudados

O solo vermelho-argiloso típico da parte ocidental da bacia do rio pode ser usado para fabricação de tijolos.

As partes ocidentais da bacia consistem em solos vermelho-argilosos de considerável profundidade. Nas áreas montanhosas, os solos são mais superficiais, podendo atingir maiores profundidades nos vales, enquanto na região abaixo do planalto, os solos são mais variados, classificando-se em solos escuros fluviais argilo-arenosos, solos fluviais férteis ou solos superficiais sem potencial agrícola.

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1.2 Clima A bacia do Rio Pungoé estende-se por dois tipos de clima. A parte ocidental tem um clima húmido de montanha. Nesta região, a pluviosidade média anual pode ultrapassar os 2 000 mm, sendo a temperatura significativamente mais baixa que nos arredores, nas áreas não-montanhosas.

Na região oriental, próximo da Beira, o clima classifica-se como tropical húmido, com uma variação térmica de 22ºC em Julho a 29ºC em Janeiro. Aqui, a pluviosidade média varia entre 300 mm em Fevereiro e 20 mm em Setembro. As chuvas são claramente sazonais, com uma pronunciada concentração na estação quente, de Novembro a Abril. Normalmente, há muito pouca precipitação de Junho a Outubro.

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A pluviosidade difere muito entre a parte alta da bacia no Zimbabwe

(Nhangane Luleche) e a parte baixa (Beira)

O Rio Pungoé é, de um modo geral, um rio permanente com um baixo grau de desenvolvimento no que concerne às abstracções e transferências de água e à regulação. A grande variação temporal da precipitação na região provoca, no entanto, grandes variações anuais nos caudais. Verificam-se quer períodos de cheia quer períodos de seca. Como não há grandes barragens, os impactos negativos dessas ocorrências são difíceis de controlar e mitigar.

A elevada pluviosidade em Janeiro e Fevereiro causa frequentemente inundações na parte baixa da bacia do rio Pungoé

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A distribuição espacial das chuvas ao longo da bacia do rio dá também origem a grandes diferenças na disponibilidade dos recursos hídricos. Embora cobrindo apenas uns 5% da área, estima-se que a parte zimbabweana gere 25 a 30% do escoamento natural total. A razão para este facto deve-se à grande variação no escoamento gerado, quando se passa das partes ocidentais moçambicanas para as áreas montanhosas do Zimbabwe.

A repentina subida de altitude, quando se entra nas Terras Altas Orientais cria um efeito orográfico, isto é, o ar húmido proveniente do Oceano Índico é forçado a subir, arrefece e cai sob forma de chuva. As chuvas aumentam rapidamente, para depois diminuírem ainda mais rapidamente nas encostas ocidentais, localizadas na chamada sombra da chuva. Efeito similar ocorre igualmente nas montanhas da Gorongosa, conhecidas pela sua grande pluviosidade.

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Ilustração do princípio do efeito orográfico nas Terras Altas Orientais nas zonas altas da bacia do Rio Pungoé. Os pontos azuis indicam as estações de medição de caudal e os pontos negros indicam os pluviómetros.

Devido a este fenómeno, a variação nas chuvas vai de 1 300 – 1 400 mm/ano na fronteira a 2 700 mm/ano nas vertentes orientais, descendo para 1 200 mm/ano nas vertentes ocidentais das Terras Altas Orientais no Zimbabwe.

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A precipitação varia drasticamente nas partes altas da bacia do Rio Pungoé. Os pontos vermelhos indicam as estações pluviométricas.

1.3 Flora e fauna Principal vegetação e habitat

De um modo geral, podem ser cartografados na Bacia do Pungoé 17 tipos de vegetação (incluindo mangais), sendo dominante a floresta aberta de Miombo que cobre aproximadamente 50% da bacia. Os tipos de vegetação que suscitam maior preocupação em termos de conservação, directamente dependentes de um caudal regular, são os seguintes:

• Os tandos da Gorongosa, com inundações sazonais, que ligam o Vale do Zambeze ao sistema do Pungoé, através da depressão do Urema (Vale do Rift);

• Os prados sazonalmente inundados das planícies de inundação do Baixo Pungoé/Búzi, compreendendo aproximadamente 4 500 km2 de terras húmidas.

• Os mangais estuarinos.

Estas terras húmidas são de fundamental importância, proporcionando uma miríade de habitat para a fauna, algumas espécies das quais endémicas e/ou ameaçadas. Alguns pequenos mas importantes tipos/habitat de vegetação estão dependentes dos rios ou das pequenas linhas de água, como são, por exemplo, a floresta ribeirinha e os lodaçais e dambos montanhosos ou sub-montanhosos.

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Ecossistemas únicos

A considerável elevação das Terras Altas Orientais onde nasce o Rio Pungoé, associada à elevada pluviosidade, cria microclimas e ecossistemas que são únicos no Zimbabwe. Diferente do resto do país, um ligeiro chuvisco localmente conhecido como guti, ocorre aqui regularmente na estação seca. As temperaturas relativamente baixas que prevalecem nas maiores elevações reduzem as perdas de evapotranspiração. Estes factores têm o efeito de evitar que grande parte da superfície do solo seque completamente, mantendo assim verde a folhagem de muitas espécies vegetais na estação seca. As florestas e pastagens de montanha, apoiadas por este aumento de precipitação local, possuem muitos elementos de flora e fauna que não se encontram em mais nenhum lugar no Zimbabwe.

Esta região compreende a área de maior altitude e de chuvas mais constantes do Zimbabwe, sendo, consequentemente, adequada para o uso intensivo da terra, particularmente para a silvicultura e a horticultura. Grande parte da vegetação original e da biodiversidade associada a tipos muito limitados de habitat, tem sido drasticamente reduzida nestas zonas (especialmente as pastagens de montanha e as florestas das terras baixas e matas), que têm sido convertidas ao uso agrícola.

O Lago Urema e as planícies de cheias no Parque Nacional da Gorongosa têm aspectos completamente diferentes entre as estações húmida e seca. Durante a estação húmida, vastas áreas são inundadas e aparecem pastos flutuantes e notáveis florações de lírios aquáticos. Há um crescimento generalizado, luxuriante e verdejante. Em contrapartida, na estação seca, não há águas superficiais a não ser nos rios e no lago. O capim murcha e torna-se castanho.

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Espécies especiais protegidas que podem ser encontradas na bacia do Rio Pungoé são:

• Lírios fogo: Pastagens nas fraldas das quedas do

Pungoé • Nyanga “fireball” Florestas na borda da escarpa a

sul da Montanha de Nyangani em direcção às Cataratas de Mtarazi

• Lírios “Flame” Florestas ribeirinhas entre fetos e a floresta aberta na alta savana

• Fetos arbóreos: O desfiladeiro do Pungoé / Parque Nacional de Nyanga

• Orquídeas: Mata de miombo e florestas, especialmente ao longo dos rios; + vleis, lodaçais e pastagens de montanha.

• Cicadas: Parque Nacional de Nyanga/Desfiladeiro do Pungoé/Montanha de Gorongo

Há comunidades de mangais nas ilhas inter-ribeirinhas e nos lodos do estuário do Pungoé - Búzi. Pelo menos 11 espécies de mangais aparecem no estuário, oito das quais são verdadeiras espécies de mangal e quatro são espécies associadas a mangais.

Vegetação não indígena

A vegetação não indígena localiza-se principalmente na área superior da bacia. Estas árvores cultivadas comercialmente estão a ameaçar os ecossistemas das terras altas, invadindo-as com sementes levadas pelo vento e eliminando a vegetação indígena. No Zimbabwe, cerca de 53 km2 estão cobertos com as duas principais espécies de Caniço Preto e Pinheiro Mexicano. Também algumas espécies florestais da Austrália está a estabelecer-se em vários locais no Parque Nacional Nyanga, tendendo, no entanto, a ficar em pequenos aglomerados de lenta expansão.

Em Moçambique, a Província de Manica tem a mais vasta área de plantações de árvores exóticas em Moçambique. São áreas que cobrem hoje aproximadamente 11 km2 e se localizam principalmente em distritos no sul da província. As principais espécies são o pinheiro e o eucalipto.

Áreas de conservação protegidas

As duas principais áreas de conservação protegidas na Bacia do Pungoé são o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, que cobre 20% da bacia do Pungoé e o Parque Nacional de Nyanga no Zimbabwe, que ocupa menos

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de 1% da bacia. Em Moçambique, coutadas (áreas de caça protegida) ocupam outros 20% da bacia.

O Parque Nacional da Gorongosa, área de conservação âncora em Moçambique tem uma área total de 5 370 km2, foi criado em 1960 e está totalmente localizado no vale do Urema. Vários rios provenientes de terras mais elevadas adjacentes correm para o Parque, resultando em extensas terras pantanosas que proporcionam diversos habitats para a vida selvagem. No centro do Parque Nacional da Gorongosa fica o Lago Urema, receptor intermediário de quase toda a drenagem da bacia do Urema, que depois prossegue para jusante para o Rio Pungoé. O tempo de duração dos caudais na planície de inundação e a sua eventual saída são cruciais para a manutenção nesta planície, de condições que sirvam de base a uma vida selvagem variada e potencialmente abundante. Um insuficiente volume de água proveniente das bacias hidrográficas a montante ou um escoamento demasiado rápido provocarão uma planície mais seca e consequentemente, alterações nos habitats e na fauna.

O Parque Nacional da Gorongosa:

• Constitui a secção do extremo sul do vale do Grande Rift da África Oriental

• Situa-se inteiramente na bacia do Rio Pungoé • Cobre 5 370 Km2 • Foi criado em 1960 • Foram inventariadas 46 espécies de mamíferos • Existem cerca de 200 espécies de aves

A riqueza ecológica e a biodiversidade do Parque Nacional da Gorongosa foram reconhecidas por exploradores de outros países há mais de um século atrás, embora caçadores estrangeiros tenham lá estado pelo menos 300 anos antes. No entanto, muito antes, já a população local, estava bem consciente do significado da planície de inundação para os grandes animais selvagens. Foi nos anos 70, que a planície de inundação do parque teve a mais notável concentração de grandes mamíferos conhecidos em Moçambique.

O parque foi famoso em círculos africanos de conservação. Antes de o país se tornar independente de Portugal, em 1975, era anualmente visitado por milhares de turistas da Rodésia (agora Zimbabwe) e da África do Sul, e por caçadores desportivos da Europa e da América do Norte.

Infelizmente, o Parque da Gorongosa foi muito prejudicado durante a guerra civil, quando soldados o ocuparam e fizeram nele um centro de caça para alimentação e para obter marfim. Assinado o acordo de cessar-fogo em Outubro de 1992, os soldados foram desmobilizados e voltaram para o que

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tinha ainda ficado para caçar. Desde 1997 que o Governo de Moçambique tem estado a restaurar o parque com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) através do Projecto de Gestão dos Recursos Florestais e Faunísticos - o projecto GERFFA.

O Rio Pungoé cria rápidos e quedas de água no Parque Nacional de Nyanga

O Parque Nacional de Nyanga localiza-se nas Terras Altas Orientais do Zimbabwe e cobre actualmente uma área de 330 km2, com mais de 50% do Parque na bacia hidrográfica do Pungoé. O Parque inclui o Monte de Nyangani, o pico mais alto do Zimbabwe (2 592 m acima do nível do mar), e as Cataratas de Mtarazi, as quedas de água mais elevadas do país (762 metros).

As terras húmidas e as pastagens de montanha da área suportam diversas aves. As espécies de grandes mamíferos são o antílope, o cudo, a palapala, o cabrito azul (o mais pequeno antílope do Zimbabwe) e o macaco Samango (as Terras Altas Orientais é a única área no Zimbabwe onde esta espécie de macaco ocorre).

A região de Nyanga é um dos primeiros destinos de férias no Zimbabwe e oferece uma vasta gama de condições de alojamento para pescadores, observadores de pássaros e amantes de caminhadas, incluindo hotéis de qualidade, residências com cama e pequeno-almoço, instalações self catering, assim como locais de campismo no Parque Nacional.

Vida selvagem

Os grandes mamíferos restringem-se principalmente a áreas de conservação protegidas. Foram registados 46 mamíferos no Parque Nacional da

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Gorongosa, embora se acredite que 4 espécies estejam localmente extintas (rinoceronte branco, chita, palapala vermelha e o Mezanze (antílope tsessebe)). Antes do conflito armado (1980 a 1992) a planície de cheia do Parque apoiou mais de cinco toneladas de biomassa animal por quilómetro quadrado (principalmente grandes ungulados).

Leões e elefantes são hoje comuns no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique

A maior parte dos grandes mamíferos comuns na África Austral encontra-se no Parque da Gorongosa, incluindo, por exemplo, carnívoros como o Leão, a Hiena Malhada, o Leopardo, e herbívoros como o Elefante Africano, o Rinoceronte Negro, o Hipopótamo, a Zebra, o Grande Cudo, o Inhacoso, o Boi-cavalo e o Búfalo do Cabo.

A área mais importante para aves aquáticas fora dos parques nacionais são as planícies de inundação do Baixo Pungoé/Búzi que apoiam diversas espécies cuja situação ameaçada constitui preocupação geral, incluindo os Grous Carunculado, a Cegonha episcopal, o jabiru e a Gaivina de bico vermelho. De interesse especial é Grou Carunculado, um residente globalmente em risco em toda a África Subsariana.

O Crocodilo do Nilo, o Varano e Pitões estão entre os grandes répteis mais comuns da Bacia do Pungoé. Os únicos vertebrados endémicos conhecidos na Bacia do Pungoé são a Cobra Serpente do Pungoé e três espécies de peixes (o Gorongosa “Kneria”, o Pungoé “Chiselmouth” e o Beira “Killifish”).

Existem algumas espécies de peixe raras e vulneráveis no Rio Pungoé. Estas espécies encontram-se principalmente nos cursos de água superiores do rio. Estas espécies de água fria dominam as partes superiores do rio onde a água é na generalidade clara e de baixa produtividade. As espécies de peixes de águas quentes e marinhas tornam-se mais comuns nos cursos de água no Baixo Pungoé.

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A fauna piscícola nas linhas de água da planície de inundação é dominada por espécies marinhas e de água salobra. O estuário da Beira é também um habitat para camarões jovens e quase adultos, não havendo, no entanto, dados disponíveis que permitam avaliar a importância do estuário como viveiro para as reservas de camarão ao longo da costa e no banco de Sofala.

O camarão é comum no estuário do Rio Pungoé, onde pode ser capturado mesmo a 75 km a montante da foz do rio, na Ponte sobre o Pungoé, situada na EN 6.

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2 CONDIÇÕES SOCIOECONÓMICAS

Os recursos hídricos desempenham um papel estratégico no desenvolvimento das comunidades. Uma sólida gestão ou a ausência desta têm um profundo impacto sobre a pobreza, a saúde da comunidade e a equidade na distribuição da riqueza. Para um desenvolvimento sustentável, a gestão de recursos hídricos exige que se contemple sistematicamente a questão do género, incorporando preocupações e experiências de mulheres e homens em quaisquer das acções planeadas, incluindo os aspectos da política e da legislação. Esta abordagem aumentará a criação de riqueza em geral, assegurando simultaneamente que as mulheres e os homens beneficiem de modo igual.

As mulheres desempenham um importante papel na gestão da água

As actividades económicas na Bacia do Pungoé baseiam-se largamente na produção agrícola, na produção de gado comercial e em pequena escala, na utilização de recursos faunísticos e florestais e na pesca. A agricultura é sobretudo de sequeiro para subsistência e de regadio para a produção de culturas de rendimento. Com excepção de plantações comerciais de chá, da actividade florestal de larga escala no Zimbabwe e da plantação de cana-de-açúcar de Mafambisse, no estuário do Pungoé em Moçambique, a maior parte da população da bacia tem a agricultura de subsistência como seu modo de vida.

Uma abundante disponibilidade de água na bacia, bons solos e ricos ecossistemas dependentes de água, proporcionam uma boa base para o

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desenvolvimento social e económico, desde que se faça uma prudente gestão da água.

2.1 Demografia Em 2003, a população total na bacia do Pungoé foi estimada em 1 199 567 habitantes, dos quais 8% residem no Zimbabwe. Projecções do crescimento populacional revelam que em 20 anos (2023), a população total da bacia do Pungoé poderá atingir cerca de dois milhões de pessoas, isto é, terá praticamente duplicado.

Uma análise demográfica revela que a população masculina é maior nas cidades comparativamente às áreas rurais. Alguns distritos rurais na província de Sofala, tais como os distritos de Dondo, Inhaminga e Muanza, revelam uma população masculina superior à feminina, o que provavelmente se deve à sua proximidade às áreas metropolitanas da Beira/Dondo e à Açucareira de Mafambisse, que oferecem maiores oportunidades de emprego a homens.

População na bacia do Rio Pungoé em 2003:

• Zimbabwe 95 869 (8%) • Moçambique 1 103 698 (92%) • Total 1 199 567

A existência de uma população feminina geralmente mais elevada nas áreas rurais pode ser devido à migração dos homens para as cidades e para outros países. Esta migração ocorreu em Moçambique durante a guerra pela independência e a guerra civil que se lhe seguiu. A migração interna pode ser devida à migração masculina para as cidades em busca de emprego formal e informal. As mulheres que ficam nas áreas rurais são responsáveis pela produção alimentar e o sustento da família em geral.

Em Moçambique, há uma tendência crescente das famílias migrarem para as grandes áreas urbanas, como as cidades da Beira/Dondo e Chimoio e para outros distritos situados ao longo do Corredor da Beira e que tenham condições adequadas para a agricultura. Em muitos casos, a deslocação envolve parte da família, normalmente esposas. O rendimento da produção agrícola complementa o que é obtido através de emprego formal ou informal pelos membros da família do sexo masculino que ficam na cidade.

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Outro padrão de migração observado diz respeito à movimentação de pessoas dentro ou para outros distritos em busca de emprego nas grandes cidades ou para procurar mercados para culturas. Nos distritos de Nhamatanda, em Moçambique, e Mutasa, no Zimbabwe, as cheias resultaram frequentemente na migração de pessoas para outros distritos vizinhos. No Zimbabwe, o exercício de reassentamento ao abrigo do programa de distribuição da terra conduziu também a migrações populacionais.

Na bacia do Rio Pungoé, as mulheres, de um modo geral, ficam nas áreas rurais e são responsáveis pela produção alimentar e pelo sustento da família.

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2.2 Assentamentos Os assentamentos populacionais na bacia do Pungoé consistem em comunidades rurais, alguns centros urbanos dispersos, pequenas cidades, pólos de desenvolvimento, assim como as fazendas comerciais. A cidade da Beira (400 000 habitantes) em Moçambique é o principal centro urbano e industrial.

Não há grandes cidades industriais no lado zimbabueano da bacia, com excepção do pólo de desenvolvimento de Hauna, um centro de actividade comercial no vale do Honde Em Moçambique, Chimoio (170 000) fica fora da bacia, mesmo junto à fronteira. Outras cidades com alguma importância são Gondola (190 000), Nhamatanda (140 000) e Gorongosa (80 000), mas a maior parte da população encontra-se em áreas suburbanas que pouca diferença fazem das áreas rurais circundantes.

Administrativamente, a bacia cobre parte das províncias de Sofala e Manica, em Moçambique e uma grande parte do distrito rural de Mutasa, no Zimbabwe, assim como o Parque Nacional de Nyanga. Uma pequena parte da bacia encontra-se igualmente no distrito rural de Nyanga.

Os assentamentos populacionais concentram-se ao longo dos vales dos rios, planícies de inundação e zonas com solos adequados para a agricultura, assim como nas proximidades de infra-estruturas existentes, tais como estradas e centros ou postos administrativos.

A cidade da Beira, noestuário do Pungoé

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4778847788

4209042090

152093152093

689496894987758775

80629806291492914929

621176621176

1881618816

4136341363

7017170171

3278732787

UREMAUREMA

VUNDUZIVUNDUZI

NHAZONIANHAZONIANHANDUGUENHANDUGUE

LOWER PUNGUELOWER PUNGUE

MUDAMUDA

PUNGUE ESTUARYPUNGUE ESTUARY

HONDEHONDE

LOWER MIDDLE PUNGUELOWER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUE

UPPER PUNGUEUPPER PUNGUE

PUNGWE ZIMBABWEPUNGWE ZIMBABWE

Population

�0 60 12030 Kilometers

Main rivers

SubbasinPopulation

621176

152093

80629

70171

68949

47788

42090

41363

32787

18816

14929

8775

A população nas principais sub-bacias da bacia do Rio Pungoé

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2.3 Saúde

Em Moçambique, cinco dos 11 distritos na bacia são servidos por um hospital distrital. O número de centros e postos de saúde é um pouco mais elevado, com a província de Sofala a ser melhor servida que Manica. Consequentemente, graves doenças e ferimentos estão portanto consideravelmente desprovidas de condições de tratamento. No Zimbabwe, o acesso a estabelecimentos de saúde é comparativamente melhor, mas o fornecimento de serviços de saúde está a degradar-se devido à falta de medicamentos e de pessoal de saúde qualificado.

As doenças mais comuns na bacia do Pungoé em Moçambique, a diarreia e a cólera, estão relacionadas com o acesso à água potável segura. Estatísticas nacionais revelam que crianças até aos quatro anos de idade são o grupo mais vulnerável. A cidade da Beira, e os distritos de Nhamatanda e Manica são as áreas mais afectadas pela cólera.

Em geral, o maior problema concernente à saúde em Moçambique diz respeito aos seguintes factores

• acesso a serviços e qualidade destes;

• acesso a água limpa e a saneamento adequado;

• falta de educação no que respeita a prevenção de doenças;

• baixos níveis de literacia;

• pobreza e as suas ligações à deficiente dieta e nutrição.

As principais doenças na bacia do Rio Pungoé no Zimbabwe são DTSs, infecções respiratórias, diarreia, HIV/SIDA e cólera. O acesso a água segura tem melhorado ao longo dos anos devido à construção de várias condutas que fornecem água tratada a aldeias. Não existem, no entanto, dados relativos ao número de casos destas doenças. É possível que aumentem as infecções e mortes devido à deterioração dos serviços de saúde. O Zimbabwe tem uma extensa rede de saúde, mas não tem os recursos adequados para o seu funcionamento com eficácia.

As instalações sanitárias na bacia são ainda básicas, de um modo geral, e largamente baseadas em latrinas com fossa melhorada ou poços no mato. A cobertura é variável, com mais instalações no Zimbabwe em comparação com Moçambique. Os principais obstáculos à melhoria do saneamento são a pobreza e a falta de instrução.

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A Política Nacional da Água (PNA, 1995) de Moçambique proporciona o quadro legal e institucional para a criação de condições para a implementação de intervenções sustentáveis nos sectores de água e saneamento. Continua, no entanto, lento o progresso no aumento do acesso a água segura nas áreas rurais. No Zimbabwe, o programa de abastecimento de água rural registou significativos avanços na provisão de água potável segura na bacia, mas, lamentavelmente, o impulso vivido nos anos 80 tem agora desvanecido devido à diminuição de recursos.

2.4 HIV/SIDA A pandemia do HIV/SIDA está a acrescentar considerável pressão aos já saturados serviços de saúde existentes na bacia. Estima-se que actualmente cerca de 20% da população seja seropositiva.

No Zimbabwe, a prevalência de HIV e de doenças relacionadas estava a aumentar nos últimos anos. Em Moçambique, estima-se que entre 1990 e 2000 a taxa de infecção de HIV na região centro do país tenha crescido de 3% para 16,5%. É mais elevada que a da região sul, que se situava em 12,2%, enquanto a região norte do país registava uma taxa de infecção de 5,7%. As províncias de Manica e Sofala situavam-se respectivamente em primeiro e terceiro lugar no país em termos de prevalência de HIV, com taxas de 21,1% e 18,7%, respectivamente (Ministério da Saúde, 2002).

Em 2000, 45 000 pessoas morreram devido a doenças relacionadas com o HIV em Moçambique. Cerca de 33 300, ou 74% dessas mortes ocorreram na região central. Estima-se que em 2001 o número de mortes em Moçambique tenha aumentado para 57 000. Destas, 38 900, ou 68%, ocorreram na região central .

HIV/SIDA na bacia do Rio Pungoé: • Cerca de 20% da população é seropositiva. • Até 2010, estima-se que a esperança de

vida caia para 36,5 anos de idade.

Mulheres e crianças são os mais afectados pela pandemia do HIV/SIDA. Em Moçambique, mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos têm uma taxa de infecção de HIV mais elevada. Estima-se que em 2000 havia 60 mil casos de novos órfãos devido a morte de mãe provocada por HIV, 43,7% das quais ocorreram na região centro (idem em 2002). Deve notar-se que alguns destes órfãos são também seropositivos, outros não, se bem que todos eles requeiram atenção especial.

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Caso à actual tendência nas incidências da infecção prossiga, o HIV/SIDA terá maior impacto nas dinâmicas da população na bacia do Rio Pungoé. De acordo com o Ministério da Saúde e Bem-estar da Criança do Zimbabwe, uma criança que nasça agora tem uma probabilidade de morte devido à SIDA em alguma fase da sua vida na ordem dos 50%. A esperança de vida no Zimbabwe, que aumentou antes do aparecimento do HIV/SIDA, está agora em declínio. Em Moçambique prevê-se que esperança de vida decaia de 43,5 anos de idade em 1999 para 36,5 em 2010. Estima-se que, caso não houvesse o HIV/SIDA, a esperança vida seria de 50,3 anos em 2010.

2.5 Educação Em Moçambique, a rede de educação formal está ainda a desenvolver-se, havendo áreas remotas deficientemente servidas. Comparativamente, 90% das crianças no Zimbabwe frequentam a escola primária. A província de Manicaland, onde se localiza a bacia no Zimbabwe, tem uma das populações com mais escolaridade no país. Estas disparidades no nível de educação entre os países da bacia teriam de ser abordadas para se assegurar um desenvolvimento equitativo a longo prazo.

O número de escolas inseridas no Sistema Nacional de Educação nas províncias de Sofala e Manica é de 360 escolas primárias e 10 escolas secundárias. Infelizmente, o número de escolas do Nível 1 (1ª à 5.ª classes) é muito mais elevado do que o de escolas do Nível 2 (6ª e 7ª classes), consequentemente, um grande número de alunos termina a escola primária sem avançar para o Nível 2 e assim completar o nível escolar primário. A taxa de insucesso no Nível 1 e Nível 2 varia entre 60% e 70%. A taxa de abandono, particularmente nas raparigas, constitui grande preocupação para o Governo e seus parceiros, que conceberam programas específicos para a reduzir, com atenção especial para estudantes do sexo feminino.

Muitos alunos na parte moçambicana da bacia do rio não completam o nível escolar primário

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Situação semelhante enfrentam os graduados do Nível 2, pois o reduzido número e a escassa distribuição de escolas restringem a sua entrada no primeiro nível do ensino secundário. As poucas escolas secundárias que existem estão normalmente localizadas nas capitais distritais. Consequentemente, os estudantes das áreas rurais ficam em desvantagem, uma vez que normalmente não conseguem assegurar recursos para cobrir as despesas de frequentar escolas que ficam longe das suas habitações.

Jovens graduados da 12.ª classe que não tiveram formação para ensinar no ensino primário preenchem o quadro da maior parte das escolas nas áreas rurais. Para abordar a falta de pessoal para o ensino, o Ministério da Educação está a implementar cursos de formação de curta duração para estes professores, com o apoio de parceiros como o UNICEF, o GTZ e outros, ou usando fundos do orçamento do Estado.

A bacia do Pungoé no Zimbabwe tem 41 escolas primárias e 14 escolas secundárias. Das 14 escolas secundárias, quatro oferecem o nível 'A'. Cada circunscrição na bacia tem uma escola primária. De momento, não há planos para se construírem mais escolas. Cerca de 90% das crianças frequentam a escola primária. As restantes não frequentam a escola por motivos religiosos ou devido à pobreza. Membros da Igreja Apostólica desencorajam as suas crianças de frequentarem a escola, sendo as raparigas as mais afectadas. Na maioria dos casos, a taxa de frequência escolar é de 100% no primeiro período, ocorrendo os abandonos ao longo do ano. Para reforçar o rendimento familiar, algumas crianças têm de realizar actividades agrícolas como a apanha do chá nas plantações, em prejuízo da sua educação.

O Ministério da Educação no Zimbabwe tem professores qualificados, apesar de nos últimos anos estar a tornar-se cada vez mais difícil reter pessoal experiente. Apesar dos problemas de pessoal, a taxa de aprovação é muito elevada. Muitos estudantes chegam à escola secundária, sendo razoável o número dos alunos que avançam para o nível 'A'.

2.6 Género e pobreza Embora o género diga respeito a homens e mulheres, o papel desempenhado pelas mulheres como gestoras de recursos naturais, das actividades domésticas e da geração de receitas deve merecer uma atenção especial. Estratégias de desenvolvimento e programas de redução da pobreza invariavelmente cambaleiam nos seus estágios iniciais por não tratarem explicitamente o género. O sucesso destas estratégias reside na gestão de interesses de género em conflito perante limitados recursos e diferentes prerrogativas. A recolha de água é uma actividade principalmente feminina. 95% das pessoas envolvidas no transporte de água são mulheres e raparigas.

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Em média, os membros da família de um agregado familiar fazem quatro viagens por dia durante sete dias da semana, para acarretar 20/25 litros de água (um balde/uma lata de 20/25 litros é o contentor mais vulgarmente utilizado para o transporte de água).

95% das pessoas envolvidas no transporte de água são mulheres e raparigas

No Zimbabwe, embora a representação nos órgãos de tomada de decisão, como o Conselho da Bacia do Save e o Conselho da Sub-bacia do Pungoé, favoreça os homens, as poucas mulheres que estão nesses comités continuam a desempenhar um papel fundamental em questões de gestão da água. O sector da água em Moçambique recomenda a inclusão de mulheres em comités de água escolhidos pelas comunidades para assegurar a correcta gestão e manutenção de fontes de água. Há, portanto, campo para o projecto assentar nessas iniciativas e políticas para promover a participação de mulheres na gestão da água.

A pobreza continua a ser um flagelo na África Subsariana. A pobreza é generalizada em ambos os países, especialmente nas áreas rurais. Cerca de 75% dos agregados familiares rurais têm níveis de rendimento que ficam abaixo do nível de satisfação das necessidades básicas. Para as províncias de Manica e Sofala, as necessidades de consumo mínimo mensal per capita foram calculadas em cerca de 6 dólares nas áreas rurais e 10 dólares nas áreas urbanas. Água e outros recursos daí derivados poderão ser a chave para a erradicação da pobreza.

A maioria dos agregados familiares rurais na bacia do Rio Pungoé têm níveis de rendimento que ficam abaixo do nível de satisfação das suas necessidades básicas.

Estatísticas nacionais indicam que a Província de Sofala tem a mais elevada taxa de pobreza em Moçambique (88%). Nas áreas rurais, a taxa de pobreza estimada é de 92%. Os níveis de pobreza em áreas urbanas e rurais na Província de Manica são muito mais baixos que os níveis nacionais. Na província de Manica, 63% da população rural é considerada pobre, o que se deve mais provavelmente à prevalência de clima e solos férteis, adequados para a produção agrícola ao que se associam maiores oportunidades devido ao dinâmico comércio como o vizinho Zimbabwe.

No Zimbabwe é a pobreza é generalizada e está a crescer. Cerca de 61% dos agregados familiares têm um rendimento per capita abaixo de um nível que satisfaça suficientemente as necessidades básicas. Elevados níveis de pobreza são mais acentuados nas áreas rurais, com 75% dos agregados familiares rurais classificados como pobres, comparados com 39% dos agregados urbanos.

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O vale do Honde tem uma mistura de agregados familiares ricos e pobres. Em comparação com outras partes do Zimbabwe, o vale do Honde tem abundantes recursos hídricos e terra fértil, que proporcionam numerosas fontes de rendimento através da agricultura.

2.7 Principais actividades económicas A mais elevada percentagem (~65%) da população das comunidades urbanas e rurais residente na bacia do Rio Pungoé em Moçambique pratica agricultura, silvicultura e pesca. A principal actividade nas áreas rurais é a agricultura (~90%). É de notar que cerca de 40% dos habitantes de áreas urbanas estão envolvidos na agricultura, silvicultura ou pesca. Na maior parte dos casos, há pessoas que vivem nas cidades, mas têm a agricultura, como principal ocupação, usando terra nas zonas verdes das cidades e em distritos localizados ao longo do corredor da Beira. O comércio e as finanças são os segundos maiores sectores em Moçambique, tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais.

As actividades económicas na bacia do Pungoé no Zimbabwe são quase inteiramente baseadas na agricultura devido à natureza rural das suas comunidades. Os principais subsectores incluem chá comercial de larga escala, café, plantações florestais e a irrigação de pequena escala para diversas culturas, incluindo chá, café, fruta e vegetais. O Parque Nacional de Nyanga desempenha um importante papel nas actividades turísticas da bacia.

A média do rendimento mensal resultante da agricultura rural de pequena escala em Moçambique estima-se em 37 dólares para o milho, 43 dólares para a banana, 113 dólares para o algodão e 125 dólares para o sésamo. O rendimento obtido de emprego é, em média, de 57 dólares a 86 dólares.

Agricultura

Os padrões de uso da terra na Bacia do Pungoé são fortemente influenciados por condições ecológicas e pela distribuição de recursos naturais. Os subsectores agrícolas na área da bacia são a agricultura tradicional de pequena escala e as actividades comerciais de larga escala. A primeira é largamente de subsistência, com produção centrada principalmente em culturas alimentares, fruta e vegetais para venda.

No Zimbabwe, o sector de pequena escala também cultiva chá e café para venda nas terras altas. São praticadas culturas de irrigação e de sequeiro devido à presença de numerosos cursos de água permanentes. O sector comercial de larga escala compreende plantações de chá e café, fruta e vegetais.

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Há três zonas agrícolas em Moçambique:

• O Alto Pungoé, incluindo o Vale Nhandungue, no norte, os vales de Nhacangara e Messambize na área de Catandica, e o vale de Mavuzi no sudoeste.

• O Médio Pungoé, que cobre Gondola, Macossa, Chimoio e planaltos da Gorongosa, assim como partes do Sistema do Alto Muda.

• O Baixo Pungoé, maioritariamente na planície de inundação, compreendendo Bué Maria, Metuchira, Muda, Mecumbeze e Dondo e onde se localizam grandes plantações de cana-de-açúcar. A região foi designada como prioritária para o futuro desenvolvimento agrícola.

Actualmente, a terra arável com infra-estruturas de rega em Moçambique é de aproximadamente 8 758 hectares. São culturas de regadio a cana-de-açúcar, o milho, o tabaco, o girassol, a batata rena, diversos vegetais e fruta. A maior parte das áreas com infra-estruturas de rega na província de Sofala é actualmente usada para a produção de cana-de-açúcar. São 8.093 ha, pertencendo às plantações da Açucareira de Moçambique, em Mafambisse. O principal tipo de rega praticado é a rega por escorrimento superficial. A água é transportada das barragens ou dos rios para canais tanto por gravidade como por sistemas de bombagem movidos a diesel ou a electricidade. Uma menor proporção da terra irrigada tem sistemas de rega por aspersão.

A agricultura tradicional de pequenaescala centrada em culturasalimentares, fruta e vegetais paravenda é comum na Bacia do RioPungoé.

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Desde que as primeiras estradas foram construídas na parte norte do vale do Pungoé e no vale adjacente do Honde no Zimbabwe, a agricultura nas terras baixas utilizando os elevados valores da precipitação subtropical tornou-se evidente. Como resultado, desenvolveram-se na área plantações de café e chá em larga escala.

A cana-de-açúcar representa mais de 95% das culturas de regadio na bacia do Pungoé em Moçambique

Novas culturas, tais como algodão e tabaco burley foram também introduzidas com sucesso, mas este já não é mais cultivado na bacia do Rio Pungoé. A produção de amendoim era também popular, mas tem sido substituída continuamente por milho. O milho é agora cultivado em provavelmente 90% de toda a terra arável, mas a maior cultura de exportação para as cidades é a banana, que compete com a cana-de-açúcar em termos de espaço ao longo dos canais. Existe igualmente algumas pequenas culturas de inhame para consumo doméstico.

Outra importante cultura é a mangueira, assim como a papaieira. Há um bom potencial para citrinos com a ajuda de rega na planície de Hauna. Excelentes goiabeiras crescem de forma bravia entre Hauna e o rio Ruda e ainda não foram atacadas pela mosca da fruta.

Pecuária

A população de gado bovino na bacia do Pungoé em Moçambique é de 4,5 % do número total de cabeças do país. Pequenos ruminantes representam 5,4% do total do país. As famílias singulares possuem mais de 75 % da população pecuária da bacia.

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O clima e o solo fértil permitem grandes plantações de chá e café na parte alta da bacia do Rio Pungoé.

O vale do Honde não é adequado para a actividade pecuária devido à falta de terras de pastagem, razão pela qual apenas algumas famílias possuem animais. O Honde Valey Dairy Milk Scheme é o único projecto do tipo na área. Foi iniciado em 1985, com 150 membros de três circunscrições participantes. Presentemente, apenas 26 são membros activos. Fornecem leite fresco, leite coalhado e iogurte à Unidade de Desenvolvimento de Hauna.

No ano 2000, o total da população pecuária era de 25 500 cabeças de gado bovino, 45 800 ruminantes, 12 000 porcos e 508 000 aves de capoeira.

Silvicultura

A silvicultura comercial na bacia do Rio Pungoé está principalmente concentrada nas partes altas do Zimbabwe. A Stapleford Forest Estate, próxima de Penhalonga é a principal propriedade da Comissão de Florestas na bacia do Rio Pungoé no Zimbabwe. Foi primeiramente uma propriedade privada que foi comprada há muitos anos atrás pela Comissão de Florestas que plantou pinheiros até à área elevada do planalto. Na secção sub-tropical do vale Nhamucuarara, foram também plantados alguns pinheiros. A Estação de Pesquisa John Meikle que se localiza na orla do Vale Nhamucuarara, serve de centro de reprodução e produção de sementes da Comissão de Florestas.

Grande parte da empresa Erin Forest no distrito de Nyanga faz parte oficialmente parte do Parque Nacional de Nyanga, mas mediante arrendamento à Comissão de Florestas é utilizada na produção comercial de madeira.

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Grandes plantações florestais dominam partes da bacia do Rio

Pungoé no Zimbabwe

Pesca

Faz-se pesca de pequena escala ao longo da maior parte do Rio Pungoé, mas não há dados disponíveis sobre os valores de captura de peixe. Vende-se algum peixe em mercados locais, mas a maior parte da pesca é provavelmente para subsistência. Em tempos de cheia, os esforços de pesca aumentam drasticamente, podendo a comercialização de peixe proporcionar um rendimento significativo. Com base na informação de outros rios tropicais, pode-se calcular que a produtividade da pesca na planície de cheia do Rio Pungoé (4 500 Km2) seja de 4 a 6 toneladas por km2, quer dizer, cerca de 20 000 toneladas. Este valor está provavelmente muito acima do que é pescado hoje.

A pesca no estuário do Pungoé é uma importante fonte de rendimento

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Turismo

O turismo está muito mais desenvolvido no Zimbabwe do que em Moçambique, uma situação que se deve ao longo período de conflito armado em Moçambique, durante o qual a ausência de turismo foi quase total. Na parte moçambicana da bacia do Pungoé, a área da Beira é a mais desenvolvida no que respeita ao turismo: estão registadas no Ministério do Turismo 757 camas relativas à área da Beira, de um total de 1 297 camas em toda a área da bacia do Pungoé.

Nas Terras Altas Orientais do Zimbabwe, os vários hotéis, estalagens e lodges de reputação internacional e local. A natureza prístina do Parque Nacional de Nyanga, com a sua vegetação natural e o belo cenário das cataratas e do desfiladeiro do Pungoé, atrai em tempos normais milhares de turistas locais, regionais e estrangeiros. A espectacular vista do vale de Honde é uma atracção favorita para os que visitam área.

O Parque Nacional da Gorongosa é a principal atracção turística em Moçambique. No entanto, até se fazer uma restauração completa do Parque, continua baixo o número de camas.

2.8 Infra-estruturas Abastecimento de Água e Saneamento

A área urbana da Beira/Dondo é abastecida por um sistema de abastecimento de água moderno, com todas as condições de tratamento. O ponto de captação no Rio Pungoé para abastecimento em água bruta localiza-se a cerca de 75 km a montante da foz do rio. Apesar de ficar a relativamente longa distância da foz, a influência das marés provoca intrusão salina quando os caudais são baixos, afectando a qualidade da água captada.

A captação de água e a instalação de tratamento para abastecer a cidade da Beira localizam-se 75 km a montante da foz do rio

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O sistema de abastecimento de água serve cerca de 19% da população total residente nas cidades da Beira e do Dondo, através de ligações domésticas e fontanários públicos. O principal consumidor de água é o sector doméstico, representando o uso não-doméstico, largamente associado a indústrias e instituições, 30% do consumo doméstico total. Actualmente, a rede está degrada devido a falta de manutenção. Desde 1999 que o sistema é operado sob contrato de gestão pela empresa Águas de Moçambique, uma empresa privada que tem contrato para fazer a sua gestão até 2013.

A cidade de Mutare localiza-se fora da Bacia do Pungoé, na bacia do Rio Odzi. É, todavia, abastecida pela água do Rio Pungoé através de um sistema hidráulico feito para transferência de água entre bacias. A captação foi construída a montante das quedas do Pungoé tendo sido projectada para um máximo de extracção de 0,7 m3/s.

O abastecimento de água às áreas rurais da bacia compreende pequenos sistemas canalizados que servem as vilas, pólos de desenvolvimento, plantações comerciais, centros de serviços e algumas aldeias, bem como extracção directa dos rios por comunidades ribeirinhas não ligadas aos outros sistemas. A bacia do Pungoé em Moçambique tem seis pequenos sistemas canalizados em Nhamatanda, Muanza, Gorongosa, Gondola, Macossa e Barué. Os sistemas canalizados na Gorongosa, em Gondola e em Barué são abastecidos a partir de águas superficiais, dependendo os restantes de água subterrânea. A maior parte destes sistemas de abastecimento de água estão em más condições, muitos deles não funcionam, ou funcionam abaixo da capacidade projectada. Normalmente não são controlados.

Em geral, é pequena a percentagem da população da bacia em Moçambique abastecida por sistemas canalizados ou qualquer outro sistema de água formal

As instalações de saneamento na bacia baseiam-se no geral em latrinas com fossa melhorada no que respeita a aldeias, e fossas sépticas em áreas mais urbanizadas, como Hauna, no Zimbabwe. A cidade da Beira é uma excepção, com sistemas de saneamento para água da chuva e para as águas residuais. No entanto, o sistema de esgotos públicos cobre apenas 3% da população, com a maioria dos utentes nas principais áreas urbanas ligada a fossas sépticas. A área peri-urbana não é servida por qualquer sistema de águas residuais, nem está ligada ao sistema principal de abastecimento de água. As pessoas têm tendência para defecar ao ar livre. Em 2003, a cobertura global estimada foi de 46%.

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Energia

A principal infra-estrutura de fornecimento de energia em Moçambique está sob a gestão da EDM - Electricidade de Moçambique. As principais origens de energia eléctrica são a Barragem de Cahora Bassa, no rio Zambeze e as barragens de Chicamba e Mavuzi no rio Revué (bacia do Rio Búzi). Existem também diversas pequenas centrais eléctricas térmicas.

A maior parte dos habitantes da bacia do Pungoé em Moçambique vive em áreas rurais, onde não se dispõe de energia eléctrica. As pessoas utilizam lenha para as suas necessidades, aumentando grandemente o problema da desflorestação.

A lenha é, de longe, a maior fonte de energia no Zimbabwe, particularmente nas áreas rurais. A bacia do Pungoé no Zimbabwe não tem instalações térmicas ou hidroeléctricas de produção de energia. A sua electricidade é fornecida a partir da rede nacional, que recebe energia do Kariba Hidroelectric Scheme, da central eléctrica térmica de Hwange e de outras instalações de menor dimensão. Os planos para o desenvolvimento futuro incluem uma possível estação hidroeléctrica de pequena escala no Rio Duru, com uma capacidade de 2,3 MW.

Estradas

As estradas em Moçambique são geridas pela ANE - Administração Nacional Estradas. São classificadas em estradas primárias, secundárias e terciárias. Há também estradas não classificadas (estradas vicinais). Na bacia do Pungoé na província de Manica há cerca de 900 km de estradas classificadas, quase todas transitáveis todo o ano. Mais de 50% destas estradas classificadas são estradas alcatroadas. Na província de Sofala, há cerca de 2 865 km de estradas classificadas, das quais cerca de 500 km são estradas alcatroadas. Em Sofala, muitas estradas são vulneráveis a inundações, incluindo a importantíssima EN 6, que liga o Porto da Beira ao Zimbabwe.

No Zimbabwe, o Departamento de Estradas e o Fundo de Desenvolvimento Distrital administram a rede de estradas. A rede na bacia está bem desenvolvida, com grandes centros acessíveis por estradas revestidas, estradas ensaibradas transitáveis em todas as estações do ano ou estradas mais pequenas e picadas.

Caminhos-de-ferro

Em termos de caminhos-de-ferro, é importante referir a linha férrea que liga o Porto da Beira ao Zimbabwe (Beira - Machipanda - Mutare). Esta linha está presentemente a registar diminuição de carga transportada, possivelmente devido aos problemas que afectam a economia do Zimbabwe. Outra

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importante linha férrea, Beira - Dondo - Sena - Moatize, fica dentro da bacia apenas na secção inicial, após o que contorna a bacia para este.

O único porto na Bacia do Pungoé é o Porto da Beira. É uma importante infra-estrutura, que serve interesses nacionais e internacionais, particularmente o Zimbabwe, o Malawi e a Zâmbia. Cerca de 60% do tráfego de carga é de e para o Zimbabwe.

Telecomunicações

As rede de telecomunicações em Moçambique, quer a rede fixa quer a rede móvel, são bastante limitadas em extensão, cobrindo praticamente apenas a cidade da Beira, o Dondo e vilas ao longo do corredor da Beira. Também na parte zimbabueana da bacia a cobertura é muito limitada.

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Scale

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R. Pungue

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R. Pungue

R. Muda

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R. Mavuzi

R. Muazi

R. Vunduzi

R. Messam

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R. Nhandugue

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R. VunduziR. Nhandugue

Gondola

Nhamatanda

Gorongosa

Macossa

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Manica

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Dondo

Muanza

BEIRABEIRA

ChimoioChimoio

BœziBœzi

DondoDondo

MuanzaMuanza

GondolaGondola

MacosseMacosse

MaringueMaringue

GorongosaGorongosa

CatandicaCatandica

NhamatandaNhamatanda

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Zim-babwe

Sth. Africa

A F R I C AA F R I C A

Mad

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Moz

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que

Pungwe River BasinPungwe River Basin

Legend

Roads and Railway

River Basin

Pungue/Pungwe

Other Rivers

Primary

Secondary

Railway

0 10 20 30 405Km.

Principal rede de estradas na bacia do Rio Pungoé

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3 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

3.1 O ambiente facilitador No novo mundo globalizado, a água é considerada um recurso natural que deve ser compartilhado equitativamente, o que requer cooperação ao abrigo de um quadro de interdependência e gestão conjunta pelos estados ribeirinhos. O quadro legal para a gestão de rios internacionais pelo Zimbabwe e por Moçambique é abordado em convenções e declarações globais e regionais, principalmente:

• a Convenção das Nações Unidas sobre a Utilização dos Cursos de Água Internacionais para Fins Diferentes da Navegação, 1997.

• o Protocolo Revisto sobre os Cursos de Água Compartilhados na região da SADC, 2000.

O Zimbabwe e Moçambique partilham cinco rios internacionais, nomeadamente o Pungoé, o Búzi, o Save, o Zambeze e o Limpopo, sendo Moçambique o estado ribeirinho de jusante em todos os casos. A aplicação dos princípios sublinhados nos documentos legais acima referidos é da maior importância para a utilização e protecção de cursos de água assim como para a mais ampla questão de uma cooperação benéfica entre os dois países. O Protocolo Revisto obriga os estados membros a aplicarem-no em "futuros" acordos sem rectificações. (Artigo 6 (3)). Os princípios contidos no protocolo internacional têm de ser ratificados pelos estados participantes para se tornarem leis nacionais.

Moçambique e o Zimbabwe estabeleceram uma Comissão Conjunta para Água (Joint Water Commission) em Harare em Dezembro de 2002. Nos termos do artigo 1(2), o objectivo da Comissão é:

"... actuar como conselheiro técnico para as Partes em matérias relacionadas com a conservação, desenvolvimento e utilização dos recursos de água de interesse comum (bilateral) para as Partes e desempenhar outras funções do género relativas à conservação, desenvolvimento e utilização desses recursos, que as Partes eventualmente, de comum acordo, atribuírem à Comissão”.

Segundo o Artigo 3 (1), as funções da Comissão são de aconselhar as partes sobre medidas e disposições para determinar a água potencialmente

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disponível, os níveis de utilização existentes, a procura razoável, dados e informação relevante, critérios de conservação, distribuição e utilização sustentável e prevenção da poluição de recursos hídricos comuns.

Os quadros legais nacionais para a gestão da água são apresentados na Lei da Água, lei n.º 16 de 1991, em Moçambique, e no capítulo 20:24-25 da Lei da Água de 1998, no Zimbabwe.

O Sector da Água de Moçambique

As principais instituições envolvidas na gestão dos recursos hídricos em Moçambique são:

• o Conselho Nacional da Água (CNA)

• o Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH);

• a Direcção Nacional de Águas (DNA)

• as Administrações Regionais da Água (ARAs)

O CNA integra todos os ministérios responsáveis por questões relacionadas com a água e funciona como órgão consultivo do Conselho de Ministros. Reúne-se ordinariamente cada três meses sob a presidência do Ministro das Obras Públicas e Habitação. O Conselho é assistido por um Comité Técnico e Secretariado, presidido e administrado pelo Director Nacional de Águas.

Legislação nacional relativa à água em Moçambique e no Zimbabwe:

Moçambique: Lei de Águas, Lei n.º 16/91

Zimbabwe: Lei de Águas (Capítulo 20:24), Lei N.º 31/98

Lei da Autoridade Nacional da Água,

n.º 11/98 (Capítulo 20:25)

Outras importantes autoridades regionais associadas à gestão da água são as Direcções Provinciais de Obras Públicas e Habitação (DPOPH). Estas entidades governamentais implementam as políticas ministeriais a nível provincial. No que respeita a questões relativas à água, são responsáveis pela promoção e supervisão do abastecimento de água urbano e rural e por sistemas de saneamento através dos seus departamentos de água.

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National Water Council

Technical Council

Water & Sanitation Professional Training Center

Consultative Council

ARA – Centro Norte North-central Province Regional

Water Administration

ARA – SulSouthern Regional Water

Administration

ARA- CentroCentral Regional Water

Administration

ARA- ZambezeZambeze Regional Water

Administration

ARA- Norte Northern Regional Water

Administration

Council of Ministers

DAF Administration and

Finance

DAS Sanitation

DAU Urban Water

DHR Human Resources

GRI International

Rivers

DAR Rural Water

DGRH Water Resources

Management

GOH Office of Hydraulic

Infrastructure

GPS Office of Planning

and Control

Provincial Directorate of Public Works & Housing

Provincial Governments

Water Departments

Ministry of Public Works & Housing

National Directorate of Water (DNA) National Director

Estrutura Institucional da Gestão dos Recursos Hídricos em Moçambique

A autoridade governamental mais elevada na bacia do Rio Pungoé são os governos provinciais de Sofala e Manica.

A DNA é a principal instituição moçambicana responsável pela planificação e gestão do sector da água. O seu mandato estatutário é o seguinte, em linhas gerais:

1. Formular políticas promovendo o desenvolvimento dos recursos hídricos, o abastecimento de água potável e o saneamento do meio.

2. Criar e gerir o inventário de recursos hídricos e as necessidades em água por forma a assegurar o seu equilíbrio permanente a nível nacional, regional e por bacia hidrográfica.

3. Promover investimentos em estudos e projectos de desenvolvimento relacionados com a água e supervisionar a construção de obras hidráulicas primárias, como, por exemplo, barragens.

4. Gerir e manter obras hidráulicas primárias existentes por forma a assegurar o seu correcto funcionamento.

5. Promover a formulação de legislação sobre questões relativas à água respeitantes ao uso, protecção e qualidade da água, bem como aos rios internacionais e supervisionar a sua aplicação.

A Lei da Água de Moçambique, que foi promulgada em 1991, adoptou o princípio de descentralização da gestão de recursos hídricos, particularmente a nível operacional, que foi implementado através da criação das

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Administrações Regionais da Água (ARAs) organizadas com base em uma ou mais bacias hidrográficas contíguas. Em 1991, foram oficialmente criadas cinco ARAs, incluindo a ARA-Centro, responsável pela administração dos recursos hídricos das bacias do Save, Búzi e Pungoé, assim como todas as outras pequenas bacias hidrográficas entre as bacias do Save e do Zambeze.

A Ara-Centro tornou-se operacional em 1998 e tem a sua sede oficial na Beira. É responsável pelas seguintes funções na sua área de jurisdição:

• A formulação, implementação e revisão dos planos hidrológicos das bacias na sua área de jurisdição.

• A administração e controlo das águas públicas na sua área de jurisdição.

• A criação e manutenção de um registo de utentes.

• A cobrança de taxas de água e multas.

• O licenciamento de usos de água e de descargas de efluentes, incluindo a sua monitorização.

• A aprovação e supervisão de novas infra-estruturas hidráulicas.

• A planificação, concepção e construção de obras hidráulicas, assim como a sua operação e manutenção.

• A projecção, operação e manutenção de redes hidrometeorógicas.

• A implementação de programas de controlo de cheias.

O sector da água do Zimbabwe

Todas as suas águas superficiais e subterrâneas no Zimbabwe cabem por direito ao presidente do Estado. Com excepção de usos primário de água, todos os outros usos devem ser aprovados pelo Estado.

O Departamento para o Desenvolvimento da Água (DWD – Departament of Water Development), a Autoridade Nacional da Água no Zimbabwe (ZINWA – Zimbabwe National Water Authority) e os sete conselhos de bacia são os órgãos oficialmente responsáveis pela gestão sustentável dos recursos hídricos. Todos eles têm por tutela o Ministério do Desenvolvimento dos Recursos Rurais e da Água .

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THE WATER SECTOR OF ZIMBABWE

ZINWA ACT CAP 20:25

PRESIDENT/PARLIAMENT

MINISTER

Six Others

Policy, Regulations, International Water Courses

Department of Water Development (DWD) Director

ZINWA BOARDChief Executive Officer

ZINWA HEAD OFFICE

CATCHMENT COUNCILS (7)e.g. Save Catchment Council

SUBCATCHMENT COUNCILS(elected)

e.g. Pungwe Subcatchment Council

WATER STAKEHOLDERSZINWA SAVE

Catchment Manager

Technical, Administration, Finance

SI 209 of 2000Water Act [Cap 20:2424

Estrutura institucional da gestão dos recursos hídricos no Zimbabwe

Para efeitos de gestão dos recursos hídricos, o Zimbabwe está dividido em sete bacias hidrográficas, que são predominantemente as principais bacias dos rios no país, a saber, o Save, o Runde, o Mazowe, o Sanyati, o Gwayi, e o Manyame. Embora não faça parte da bacia do Rio Save, a gestão da bacia do Rio Pungoé está dentro da bacia do Save.

O Departamento do Desenvolvimento da Água foi criado nos termos do Capítulo [20:24] Nº 31/98 da Lei da Água. O seu principal papel consiste em assistir o Ministro do Desenvolvimento de Recursos Rurais, Irrigação e Água, realizando as funções regulamentares abaixo apresentadas:

• O desenvolvimento de políticas, legislação e regulamentos de água, bem como de orientações gerais que norteiem a planificação ordeira e integrada dos recursos hídricos nacionais com vista a assegurar o seu desenvolvimento, utilização e protecção óptimos.

• Assegurar a disponibilidade de água para propósitos primários de todos os cidadãos, dando a devida atenção a questões ambientais.

• Assegurar a distribuição equitativa e eficiente da água disponível a todos os utilizadores.

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Para além de assistir o Ministro nas funções acima, foi atribuído ao DWD o seguinte mandato:

• Executar qualquer acordo internacional relativo à água de que o Zimbabwe seja parte;

• Determinar os critérios para a distribuição da água e a questão das licenças atribuídas pelos conselhos de bacia do hidrográfica.

A lei da água concede ao Ministro poderes para declarar Sistemas Hidrográficos, mais conhecidos como bacias, que recaem então sob o controle de um conselho de bacia e a supervisão técnica geral da ZINWA (Autoridade Nacional da Água no Zimbabwe).

O funcionário que responde perante o Ministério do Desenvolvimento dos Recursos Naturais, Irrigação e Água é o Secretário Permanente, a quem prestam contas os três directores de Desenvolvimento de Recursos Rurais, Irrigação e Água. O director do Departamento de Desenvolvimento das Águas é responsável por todas as questões da água, complementado por um corpo técnico de sete elementos.

A ZINWA foi criada nos termos do Capítulo 20:25 da Lei n.º 11/98, Lei da ZINWA. Tem como principais funções:

• Assessorar o Ministro na formulação de políticas nacionais e normas sobre todas as questões relativas à água.

• Explorar, gerir e conservar os recursos hídricos nacionais por forma a garantir segurança de fornecimento e facilitar o acesso equitativo de todos os sectores à água e a sua utilização eficiente, minimizando simultaneamente os impactos de seca, cheias e outros riscos.

• Proporcionar aconselhamento especializado e assistência técnica às autoridades locais e conselhos de bacia em matérias concernentes ao desenvolvimento, gestão e protecção ambiental de recursos hídricos.

• Proporcionar projecto e serviços de construção para novas obras hidráulicas e operar e manter os sistemas de abastecimento de água pertencentes à ZINWA ou por esta geridos.

• Realizar pesquisas hidrológicas e geográficas, incluindo pesquisa relativa à água, para efeitos de planificação, desenvolvimento e exploração de recursos hídricos e publicar os resultados.

• Efectivar a gestão conjunta de recursos hídricos internacionais, conforme determinado pelo Ministro.

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A principal fonte de financiamento do funcionamento da ZINWA são receitas de taxas resultantes da venda de água de rios e os sistemas de abastecimento de água pertencentes à ZINWA, pagamentos relativos a programas de controlo de poluição e taxas cobradas por assistência técnica, pessoal, formação, informação e outros serviços a departamentos estatais, autoridades locais, conselhos de bacia, que tenham a ver com exploração, desenvolvimento, gestão e distribuição de recursos hídricos.

As necessidades de financiamento de despesas de capital para o desenvolvimento das infra-estruturas de recursos hídricos que são da responsabilidade do Governo Central através do Programa de Investimento no Sector Público.

A sede da ZINWA está estabelecida em Harare. Cada Gabinete de Bacia da ZINWA é chefiado por um Gestor de Bacia, normalmente um profissional com qualificação no domínio de águas. O Gestor de Bacia foi estabelecido nos termos do capítulo [20: 24] da Lei da Água, com as seguintes funções conferidas ao posto.

• Gerir e administrar assuntos do conselho de bacia.

• Assumir as funções do conselho de bacia com os poderes que lhe forem delegados.

O Gestor de Bacia desempenha as suas funções sob a direcção do conselho de bacia, e sob a supervisão da ZINWA. O Gabinete do Gestor de Bacia proporciona serviços técnicos e secretariado aos respectivos conselhos. Fornece também água bruta e limpa aos utentes: fazendeiros, minas, vilas, pólos de desenvolvimento e outros assentamentos comunitários.

O Gestor de Bacia para a Bacia do Save, que é responsável pela bacia do Rio Pungoé, tem o seu gabinete em Mutare.

O conselho de bacia (CC) foi instituído por um diploma ministerial ao abrigo da Lei de Águas, através da declaração de um Sistema Hidrográfico pelo Ministro e em consulta com a ZINWA. Sete Conselhos de Bacia foram até agora criados pelo diploma ministerial IS 209 de 2000. Um conselho de bacia é composto por membros dos conselhos de sub-bacias. Tem como principais funções:

• Preparar o Esboço de um Plano de Bacia para o seu sistema hidrográfico, conjuntamente com a ZINWA, a ser aprovado pelo ministro.

• Determinar e conceder licenças de uso de água mediante critérios estabelecidos pelo DWD.

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• Regular e supervisionar o exercício dos direitos de água e o uso desta no que se refere ao seu sistema hidrográfico.

• Assegurar o cumprimento adequado da lei e supervisionar conselhos de sub-bacia.

Um conselho de sub-bacia é criado pelo ministro por diploma ministerial nos termos da Lei de Águas, para qualquer parte de um sistema hidrográfico declarado, que integre um conselho de bacia. Compõe-se de representantes eleitos pelo grupo de interessados e afectados na sua área. Os conselhos de sub-bacia existentes foram criados ao abrigo do diploma ministerial 47 de 2000, Regulamento da Água (conselhos do sub-bacia) relativos aos sete sistemas hidrográficos declarados no Zimbabwe, que substituem as antigas Administrações de Rios.

O Conselho de Sub-bacia é o braço operacional do Conselho de Bacia. Tem como principal função regular e supervisionar o exercício de direitos a água na área para o qual foi criado. Desempenha também quaisquer outras funções que lhe possam ser conferidas nos termos da Lei de Águas. O conselho de sub-bacia é financiado por contribuições impostas aos que possuem licenças, e por taxas cobradas por quaisquer serviços que preste.

A principal actividade do Conselho da Sub-bacia do Pungoé é a recolha de taxas por licenças de água

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Interessados e afectados na Bacia do Rio Pungoé

A noção de que os interessados e afectados devem ter algo a dizer na gestão dos recursos hídricos de que dependem é um dos principais suportes do conceito de gestão integrada de recursos hídricos. Este conceito e consequentemente o da participação de interessados e afectados, ganhou forma nas políticas nacionais da água e nas leis de águas de muitos países, como são também os casos do Zimbabwe e de Moçambique.

No Zimbabwe, o conceito do papel de interessados e afectados na tomada de decisões relativas à gestão de recursos hídricos foi incorporado na Lei de Águas de 1998 através dos Conselhos de Bacia, constituídos por interessados e afectados, aqueles que em última análise tomam decisões sobre a atribuição de licenças de água na bacia.

Em Moçambique, a Lei da Água de 1991 preconizou um limitado papel para interessados e afectados. A principal forma de participação dos interessados e afectados é através dos Comités de Bacia. Estes Comités de Bacia têm apenas um papel consultivo, pois a ênfase é dada à tomada de decisões pela administração pública, sob a forma das Administrações Regionais de Água ou ARAs. Aos interessados e afectados foi dado igualmente a sua representação no Conselho de Gestão das ARAs. Na prática, estes conselhos de gestão nunca foram criados.

Os interessados e afectados na Bacia do Rio Pungoé podem ser classificados em três diferentes categorias:

1. Instituições governamentais que têm responsabilidades na gestão de recursos naturais relacionados com a água (agricultura, minas, ambiente, etc.) ou de algum modo directamente envolvidas com a água (saúde). Este grupo pode incluir algumas instituições governamentais de nível mais elevado na medida em que tenham alguma participação na gestão de recursos naturais relacionados com a água na bacia;

2. Utentes de água. Este grupo inclui todos os utilizadores de água na bacia, essencialmente todas as pessoas que vivem na bacia, mas representados pelas instituições ou por indivíduos que são os gestores directos da água que eles utilizam. Aqui se incluem empresas de abastecimento de água, fazendas comerciais, cooperativas agrícolas, etc.;

3. Organizações da sociedade civil ou organizações não governamentais. Aqui se incluem associações de agricultores, grupos ambientais, ONGs orientadas para o desenvolvimento em geral, etc.

Um inventário recente na parte moçambicana da Bacia do Rio Pungoé identificou 150 interessados e afectados, a maioria dos quais utilizadores de água. No Zimbabwe, cerca de 100 utilizadores de água estão registados no Conselho da Sub-bacia do Pungoé como possuidores de licenças de água.

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3.2 Recursos Hídricos Rede de monitorização

As redes hidrometeorológicas são instrumentos fundamentais para uma sólida planificação e para uma gestão integrada e eficiente dos recursos hídricos da bacia. Estas redes reúnem, numa base diária ou contínua, os dados necessários para os efeitos de planeamento e gestão da água. Em Moçambique, os dados relativos à pluviosidade são coligidos principalmente pelo INAM (o Instituto de Meteorologia) e pela DNA e as suas instituições filiadas (sectores hidrométricos e mais recentemente, as ARAs). Dados relativos a caudais são coligidos pela DNA e pelas estruturas regionais. Até à data, os arquivos de dados digitais geridos pela DNA ainda não são inteiramente fiáveis.

De acordo com os dados disponíveis na Bacia do Rio Pungoé, é de 95 o número total de estações pluviométricas identificadas:

• 77 estações em Moçambique

• 18 estações no Zimbabwe

Os pluviómetros são importantes instrumentos para monitorizar os recursos hídricos disponíveis e as possíveis mudanças climáticas

Várias destas estações, no entanto, têm apenas dados relativos a alguns anos ou apresentam muitas falhas nas suas observações. A maior parte das estações não funciona desde início da guerra civil. A grande maioria das estações foram instaladas ao longo das principais estradas - EN6, da Beira para o Zimbabwe, EN102, de Chimoio para Tete, EN1, que passa pela Gorongosa.

Desde a criação da ARA-Centro que têm sido reinstaladas estações pluviométricas no centro de Moçambique. No período 1999-2002 nove estações foram postas em operação na bacia ou na sua proximidade. (P 96 Dondo, P 1272 Metuchira, P 93 Vila Manica, P 375 Pungoé Sul, P 1273 Nhazonia, P 862 Catandica, P 502 Macossa, P 373 Chitengo, P 812 Gorongosa).

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Estas estações são fundamentais para futura actualização dos recursos hídricos na bacia do rio e para monitorizar as mudanças climáticas. As estações são ainda um pré-requisito para a futura utilização de modelos hidrológicos de avisos de cheia. No Zimbabwe, todas as dezoito estações pluviométricas estão presentemente em funcionamento.

R. HondeR. Pungu

e

R. N

hazonia

R Txatora

R. Metuchira

R Pungue

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R. Vunduzi

R. Nhandugue

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GondolaChimoio

MacosseMaringue

Catandica

Gorongosa

Muanza

Nhamatanda

Dondo

Búzi

As estações pluviométricas existentes na bacia do Pungoé (actuais e históricas)

De acordo com os arquivos da DNA, existem 33 estações hidrométricas na bacia do Pungoé em Moçambique, às quais foi dado um número de referência, embora não haja detalhes sobre algumas delas e não seja seguro que alguma vez tenham sido completamente instaladas. No Zimbabwe, existem quatro estações de medição de caudais na bacia do Rio Pungoé.

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No total, são 22 as estações com dados disponíveis em Moçambique e quatro no Zimbabwe. A maior parte dos registos de caudais de Moçambique são do período de 1960 a 1980. Muito poucas estações têm qualquer dado antes de 1955 ou depois do início da década de 80. Seis das estações moçambicanas estão presentemente activas, em termos de possuírem um observador e registos do nível de água feitos mais ou menos regularmente. No Zimbabwe, estão em funcionamento 3 das 4 estações.

No Zimbabwe, a recolha, o processamento e a gestão de dados de pluviosidade e caudais são respectivamente da responsabilidade do Departamento dos Serviços Meteorológicos (Serviços de Meteorologia) e da ZINWA.

F14 - Cataratas do Pungoé

Nova estação em Bué Maria

As estações hidrométricas utilizam uma relação entre caudais e níveis de água para permitir uma monitorização contínua do rio

Em Moçambique, a ARA-Centro enfrenta grandes dificuldades para manter a funcionar a rede hidrometeorológica na sua área de jurisdição, mesmo com o pequeno número de estações pluviométricas e hidrométricas em operação. Os principais problemas são os constrangimentos financeiros e o número limitado de trabalhadores com formação.

Uma análise qualitativa dos dados indica que F14 Pungoé Falls, E64 Pungoé Fronteira e E65 Pungoé Sul são as estações com dados registados mais fiáveis sobre os caudais do rio. Também F22 Katijo, E72 Nhazónia e E81 Urema têm registos razoavelmente fiáveis. A fiabilidade, no entanto, varia consideravelmente quando se passa do escoamento anual médio para os dados diários e para os picos. Os registos de chuvas na bacia do Rio são em geral de boa qualidade.

Existem dados de evaporação em nove estações na bacia do rio Pungoé, três no Zimbabwe e seis em Moçambique. Os dados são resultado de observações diárias com tinas de evaporação.

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As estações hidrométricas existentes na bacia do Pungoé (actuais e históricas)

Recursos hídricos superficiais

As águas superficiais são a principal origem de água na África Austral. Um desenvolvimento correcto e sustentável da utilização da água na bacia do rio Pungoé só é possível, se soubermos qual a quantidade total de água superficial disponível e como os recursos hídricos superficiais variam no tempo e no espaço.

Foram calculadas actualizações dos recursos hídricos superficiais do rio através de modelos hidrológicos (Pitman e HBV). Com base no período de observação de 1960 a 1980, os resultados da modelização revelaram que:

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• Embora relativamente pequena, a área de bacia hidrográfica no Zimbabwe gere 28% do escoamento total da bacia do Rio Pungoé. Um valor total de 4 200 milhões de metros cúbicos de água é anualmente gerado como escoamento natural na bacia do Rio Pungoé. A maior parte do escoamento ocorre durante a estação das chuvas, entre Novembro e Abril, enquanto o mês mais seco é normalmente Outubro.

• Durante o mês mais seco, Outubro, o caudal no Rio Pungoé na fronteira entre Moçambique e o Zimbabwe é em média de 16,7 Mm3, o que pode ser comparado com o valor máximo actual extraído no Pungoé para a cidade de Mutare, que é de 1,8 milhões de m3/mês. Os caudais normais de Outubro junto à captação para abastecimento de água à Beira são de 48,4 Mm3/mês.

Uma simulação do modelo com limitados dados de pluviosidade, baseados nos anos hidrológicos de 1954-2002 revelou que durante as épocas mais extremas de 1991- 92, os caudais mensais mais baixos na fronteira foram estimados em apenas 4,4 milhões de m3/mês. O valor captado na captação da Empresa Águas da Beira é 9,4 milhões de m3/mês.

Uma análise climática dos valores das águas superficiais disponíveis indicou que os valores obtidos são razoáveis. Foi também feita uma apreciação da fiabilidade das estatísticas relativas a águas superficiais calculadas, por comparação com longos registos de chuvas em Nyangani Luleche e Chimoio, assim como por comparação com escoamento natural simulado para o mais longo período 1954-2002. A conclusão é que o escoamento anual médio e a pluviosidade estimada para as diferentes sub-bacias do Rio Pungoé são considerados entre bons e fiáveis para o período Outubro de 1960 a Setembro de 1981. No entanto, dado que o período de cálculo de 21 anos pode ser ligeiramente mais húmido do que uma série de longo prazo, o escoamento anual médio pode estar ligeiramente sobrestimado (5-15%) relativamente ao escoamento de longo prazo.

Distribuição da disponibilidade de águas superficiais em Moçambique e no Zimbabwe para a bacia do Rio Pungoé com base no período de 1960-80. Crê-se que os recursos hídricos disponíveis no longo prazo sejam 5-15% inferiores aos valores apresentados nesta tabela. Local Area (km2) Natural MAR

(Mm3/ano)Natural MAR

(mm/ano) Percentagem

do total

Zimbabwe 1 463 1 191 814 28%

Moçambique 29 687 3 004 101 72%

Total 31 150 4 195 135 -

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Os caudais extremos com base no período de 1960-80 são menos fiáveis principalmente devido aos relativamente curtos períodos de cálculo. Deve ter-se em conta que para futuras opções de desenvolvimento, os caudais extremos mais baixos que se apresentam estão provavelmente sobrestimados.

TOTAL OUTFLOW TO THE INDIAN OCEAN

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

Oct Nov Dec Jan Feb Mar Apr May Jun Jul Aug Sep

Ave

rage

flow

(Mm

3/m

onth

)

Exceedance of 20% (Wet year)

Exceedance of 50% (Medium year)

Exceedance of 75% (Dry year)

Distribuições mensais de escoamento natural na foz do Rio Pungoé com base no período de 1960-80.

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UREMAUREMA

VUNDUZIVUNDUZI

NHAZONIANHAZONIANHANDUGUENHANDUGUE

LOWER PUNGUELOWER PUNGUE

MUDAMUDA

PUNGUE ESTUARYPUNGUE ESTUARY

HONDEHONDE

LOWER MIDDLE PUNGUELOWER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUE

UPPER PUNGUEUPPER PUNGUE

PUNGWE ZIMBABWEPUNGWE ZIMBABWE

5959

5959

7777

6464

6060

128128

8888

166166

6666

328328

477477

11951195

Mean Annual Runoff

�0 60 12030 Kilometers

Main rivers

SubbasinMAR [mm/yr]

1195

477

328

166

128

88

77

66

64

60

59

Escoamento médio anual (MAR) expresso em mm/ano para as sub-bacias do Pungoé com base no período de 1960-80

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UREMAUREMA

VUNDUZIVUNDUZI

NHAZONIANHAZONIANHANDUGUENHANDUGUE

LOWER PUNGUELOWER PUNGUE

MUDAMUDA

PUNGUE ESTUARYPUNGUE ESTUARY

HONDEHONDE

LOWER MIDDLE PUNGUELOWER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUE

UPPER PUNGUEUPPER PUNGUE

PUNGWE ZIMBABWEPUNGWE ZIMBABWE

900900950950

850850

10501050

11401140

900900

11801180

11401140

11301130

10501050

13401340

20202020

Mean Annual Precipitation

�0 60 12030 Kilometers

Main rivers

SubbasinMAP [mm/yr]

2020

1340

1180

1140

1130

1050

950

900

850

Precipitação média anual expressa (MAP) em mm/ano para a sub-bacias do Pungoé com base no período de 1960-80

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UREMAUREMA

VUNDUZIVUNDUZI

NHAZONIANHAZONIANHANDUGUENHANDUGUE

LOWER PUNGUELOWER PUNGUE

MUDAMUDA

PUNGUE ESTUARYPUNGUE ESTUARY

HONDEHONDE

LOWER MIDDLE PUNGUELOWER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUEUPPER MIDDLE PUNGUE

UPPER PUNGUEUPPER PUNGUE

PUNGWE ZIMBABWEPUNGWE ZIMBABWE

15901590

15901590

14501450

13801380

14001400

1400140014501450

14501450

14501450

13801380

14501450

14501450

Mean Annual Evaporation

�0 60 12030 Kilometers

Main rivers

SubbasinMAE [mm/yr]

1380

1400

1450

1590

Evaporação potencial anual média (MAE) expressa em mm /ano para as bacias do Pungoé

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Recursos hídricos subterrâneos

Durante o projecto do Pungoé, as fontes subterrâneas na bacia do Pungoé foram cartografadas com um detalhe ao nível de reconhecimento. Os principais objectivos consistiam em avaliar o potencial da utilização sustentável das águas subterrâneas.

A avaliação de aptidão foi feita tendo em vista a sustentabilidade do abastecimento de água municipal. Incluiu-se "utilização para abastecimento municipal" nos objectivos por este objectivo ser mais exigente no que se refere à qualidade e quantidade de água, apontando assim para uma base mais rígida de julgamento sobre o que é "elevado", "moderado" e "baixo" em termos de potencial de águas subterrâneas. Portanto, pode-se dizer que áreas que foram classificadas como "moderadas" podiam ser adequadas para outros fins, tais como abastecimento de água rural com mais baixa procura em termos de quantidade.

Águas subterrâneas são as origens mais comuns para o abastecimento de água nas áreas rurais

A abordagem seleccionada teve por base a utilização de todos os dados digitais disponíveis em ambiente GIS, o qual permite a colocação de hipóteses e simulações do modo como os diferentes parâmetros físicos afectam o recarga e a possibilidade de extracção de águas subterrâneas. Os conjuntos de dados dos parâmetros disponíveis são:

• Perfis de bacias e hidrologia de superfície

• Geologia e hidrogeologia

• Declive

• Solos

• Qualidade das águas subterrâneas

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Foi usada uma metodologia de classificação e ponderação. O objectivo da classificação de parâmetros e a ponderação das diferentes categorias hidrogeológicas foi avaliada (em três passos):

• a magnitude da recarga das águas subterrâneas numa base sustentável a longo prazo.

• o potencial de extracção de curto prazo, regido pelas características do aquífero.

• a aptidão da água subterrânea a longo prazo para o abastecimento de água doméstico, regido pelo potencial de recarga e pela extracção de águas subterrâneas, mas também pela qualidade destas.

Os resultados indicam que grandes áreas da bacia hidrográfica tem um potencial de águas subterrâneas, de moderado a baixo e muito poucas áreas apresentam evidências de grande potencial em águas subterrâneas. Apenas em parte do Alto Pungoé e em algumas pequenas áreas nas partes centrais da bacia hidrográfica que se encontrou um maior potencial de águas subterrâneas. O mapeamento da aptidão mostra uma imagem geral da bacia. As pequenas áreas cuja investigação é de mais interesse ficam provavelmente próximas dos rios, em que infiltração induzida através das margens contribuiu consideravelmente para a qualidade e quantidade das águas subterrâneas.

No trabalho de modelação, foi difícil ter em conta o facto de que algumas das áreas de baixo potencial beneficiarem de extracções reais de água subterrânea. Tal extracção criaria um cone de depressão e uma maior distância para a água subterrânea, que promoveria a infiltração, o que poderia então mudar a classificação daquela área como sendo mais apta. Além disso, sabe-se a partir de entrevistas e de medições no terreno, que a qualidade da água subterrânea pode variar consideravelmente em curtas distâncias. Não se conhecem muitos pormenores, pelo que foi difícil levá-lo em linha conta no mapeamento da aptidão que se realizou.

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��

��

��

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����

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����

BEIRA

MUTARE

Chimoio

Bœzi

Dondo

Muanza

Gondola

Macosse

Maringue

Watsomba Gorongosa

Catandica

Nhamatanda

Tica

Chœa

SœbwŁ

Sofala

Inchope

Cafumpe

Vanduzi

Mavonde

Vundœzi

Matsinho

Nhamadze

Nguawala

Nhamagua

Amatongas

Nhampassa

Mafambisse

Groundwater Availability and Suitability Map

Groundwater Availabilityand Suitability

Classification

High

Medium

Low

Rivers

Roads

Railway

Subbasins

Mozambique Towns

�� Province cap.

�� District cap.

Zimbabwe Towns

�� Larger

�� Smaller0 30 60 90 12015

Km

A disponibilidade e aptidão das águas subterrâneas na Bacia do Rio Pungoé

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3.3 Procura de água Procura de água para abastecimento

A actual procura de água do sistema de abastecimento de água da Beira/Dondo, que inclui as áreas de Mutua e Mafambisse, estima-se em 25 339 m3/dia, esperando-se que aumente para 74 640 m3/dia em 2023.

A cidade de Mutare localiza-se fora da bacia do Pungoé, na bacia do Odzi, mas é abastecida pela água do Rio Pungoé através de um sistema de transferência de água entre bacias. As quantidades de água transferidas estão limitadas a um máximo de 0,7 m3/s, estabelecido pela actual licença de água e pela própria concepção do sistema. Além disso, a 27 de Setembro de 1995 foi acordado, num encontro entre os ministros de Moçambique e do Zimbabwe responsáveis por questões da água, que podia ser extraída água até limite máximo de 1 m3/s, no Rio Pungoé para abastecer a cidade de Mutare (localizada fora da bacia do Pungoé). Além disso, a cidade de Mutare tem uma segunda origem de água na Barragem de Odzani, na bacia do Odzi. Consequentemente, foi adoptada uma extracção fixa de água do Rio Pungoé de 60 480 m3/dia de água para a cidade de Mutare. O distrito rural de Mutasa também retira água da conduta do Pungoé para abastecer aldeias ao longo do seu trajecto.

Procura de abastecimento de água 2003:

Urbana: Beira /Dondo 25 339 m3/dia Mutare 60 480 m3/dia Rural: Moçambique 10 306 m3/dia Zimbabwe 1 962 m3/dia Total 98 087 m3/dia ou 35,8 milhões m3/ano

O abastecimento de água às áreas rurais da bacia compreende pequenos sistemas canalizados e bombas manuais que servem pequenas vilas, pólos de desenvolvimento, plantações comerciais, centros de serviços e algumas aldeias, assim como extracções directamente dos rios feitas pelas comunidades ribeirinhas não ligadas a sistemas desenvolvidos.

A bacia do Pungoé em Moçambique contém seis pequenos sistemas canalizados em Nhamatanda, Muanza, Gorongosa, Gondola, Macossa e Barué. Os sistemas canalizados na Gorongosa, em Gondola e Catandica são abastecidos a partir de águas superficiais, sendo os restantes dependentes de águas subterrâneas. A maior parte destes sistemas de abastecimento de água estão em más condições. Alguns não estão mesmo a funcionar ou funcionam abaixo da capacidade projectada.

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A percentagem de habitantes da bacia em Moçambique abastecidos por sistemas canalizados ou qualquer outro sistema de água formal é muito pequena. A procura de água actual de sistemas canalizados foi estimada partindo-se do princípio de que 40% da população está servida por sistemas canalizados, no que respeita a vilas, e fontanários em áreas rurais. Isto dá uma procura de água actual estimada de 10 306 m3/dia em Moçambique, incluindo a extracção directa informal (2 022 m3/dia).

Quanto à bacia do Pungoé nas áreas rurais de Moçambique, estimativas preliminares indicam uma procura de água de aproximadamente 24 049 m3/dia em 2023.

A bacia do Pungoé no Zimbabwe tem um total de sete pequenos a médios sistemas de água canalizados em Hauna, Sachisuko, Honde Army, Zindi, Samanga, Mpotedzi e Sahumani. Além disso, há sistemas de abastecimento de água mais pequenos sem medição que servem várias aldeias e escolas.

A procura de água actualmente estimada em pequenos sistemas canalizados e abastecimento não convencional na bacia do Pungoé no Zimbabwe é de aproximadamente 1 962 m3/dia, dos quais 428 m3/dia são de extracções canalizadas e 1 534 m3/dia de extracções mais directas e informais. Os números excluem desvio para a cidade de Mutare.

Como conclusão, a actual procura de água urbana e rural na bacia do Pungoé está estimada em 98 086 m3/dia. A situação poderá mudar futuramente com a reabilitação dos sistemas de abastecimento de água existentes e o desenvolvimento de novos pequenos sistemas canalizados em Moçambique, assim como com o possível desenvolvimento de novas indústrias, tanto no Zimbabwe como em Moçambique.

Abastecimento de água para indústria e minas

O desenvolvimento industrial e mineiro na bacia do Pungoé é, em geral, muito baixo. A actividade económica primária é a agricultura. A actividade industrial na bacia está concentrada na Beira. A cidade de Mutare, que se situa fora da bacia e retira água da bacia do Pungoé, tem um próspero sector industrial. A procura de água para estes centros foi incluída no abastecimento de água urbano.

Para além da Beira, a Açucareira de Mafambisse é a única grande indústria na bacia directamente abastecida pelo Rio Pungoé. Quanto ao resto da bacia, a actividade industrial limita-se a indústrias de pequena escala nas pequenas vilas e pólos desenvolvimento que não tem qualquer impacto na procura de água. São abastecidos a partir de sistemas canalizados existentes ou furos. A sua procura de água está incluída no consumo doméstico para cada centro.

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Garimpeiros informais de ouro no rio Nhamucuarara realizam actividades mineiras. Em Moçambique, uma empresa malaio-australiana está a fazer prospecção de ouro utilizando técnicas modernas e métodos de gravidade. A procura actual de água para as actividades mineiras é insignificante dado que quase toda a água volta para o canal principal.

Irrigação e consumo florestal

Em Moçambique, plantações de árvores não indígenas cobrem uma área de aproximadamente 2 496 perto da cidade de Gondola, no distrito de Gondola. Estima-se que a utilização indirecta de água seja na ordem de aproximadamente 7,5 a 10 milhões de m3/ano. No Zimbabwe, plantações de árvores não indígenas cobrem uma área de aproximadamente 5 254 ha, o que resulta numa extracção indirecta de 15,8 a 21 milhões de m3/ano.

Em 1975, a população pecuária foi estimada em 45 190 cabeças de gado bovino, 46 194 pequenos ruminantes e 19 559 porcos, do que resulta uma extracção de água estimada em aproximadamente 0,7 Mm3 por ano. Até ao ano 2000, a população animal tinha diminuído para 23 515 cabeças de gado bovino, 45 769 pequenos ruminantes, 11 990 porcos e 507 523 aves, com a respectiva redução do consumo de água para 0,5 Mm3/ano.

Procura de água para irrigação e florestas em 2003: Florestas: Moçambique 7,5 - 10 milhões de m3/ano Mutare 16 - 21 milhões de m3/ano Criação animal: Moçambique 0,5 milhões de m3/ano Zimbabwe - Irrigação: Moçambique 80 - 190 milhões de m3/ano Zimbabwe 38 milhões de m3/ano Total 146 - 260 milhões de m3/ano

Uma área de 8 798 ha está actualmente equipada com infra-estruturas de rega, a partir das quais estão a ser irrigados 8 310 hectares. De longe a maior parte da terra irrigada, com 8 133 ha, é a plantação de cana-de-açúcar de Mafambisse, no distrito do Dondo, província de Sofala. O sector de irrigação tem um consumo anual que varia entre 189,5 Mm3 nos anos mais secos e 84 Mm3 nos anos mais húmidos. O consumo médio anual de água relativo ao sector de irrigação é de aproximadamente 120 Mm3 .

A agricultura de regadio no Zimbabwe, com uma área estimada em 2 120 ha resulta num máximo de extracção de água anual de aproximadamente 37,8 Mm3.

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Na sequência das tendências de desenvolvimento actuais em Moçambique, espera-se um futuro crescimento nos três sectores. Para o sector pecuário, espera-se crescimento da população animal até ao ano 2025, resultando em consumo de água de cerca de seis milhões de m3/ano.

É difícil estimar-se o crescimento quer para o sector da agricultura quer para o sector de florestas. Em termos de potencial, há um total de 244 000 hectares de solos agrícolas para agricultura de regadio. Se toda a área fosse usada, o resultado seria uma extracção média anual na ordem dos 3 400 milhões de m3. Se as mesmas tendências fossem adoptadas para sector de florestas, isto é, um desenvolvimento na ordem dos 200 000 ha, o resultado seria uma extracção anual indirecta na ordem dos 800 milhões de m3.

O montante total para todos os três sectores montaria a um número na ordem de 4 200 milhões de m3, o que fica ligeiramente acima de toda a água disponível na bacia. No entanto, esta situação não é realmente crítica porque as estimativas correspondem ao pleno desenvolvimento do potencial existente e não a propostas de desenvolvimento efectivo.

Recursos hídricos totais vs procura no Rio Pungoé: Disponibilidade de águas superficiais no longo prazo: 3 600–4 000 milhões de m3/ano Procura total de abastecimento de água 2003: 36 milhões de m3/ano Procura total de abastecimento de água 2023: 60 milhões de m3/ano Procura total de irrigação 2003 : 146 - 260 milhões de m3/ano Procura total de irrigação se todas as áreas potenciais forem irrigadas: 4 200 milhões m3/ano

3.4 Estruturas hidráulicas O Rio Pungoé pode ser considerado um rio natural em virtude de serem poucas as estruturas de extracção, desvio ou regulação na sua bacia hidrográfica. As actuais infra-estruturas hidráulicas não tem influência significativa na alteração do regime natural de caudais.

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A infra-estrutura hidráulica de maior dimensão na parte moçambicana da bacia do Pungoé é a estação de captação e o sistema de bombagem da Açucareira de Mafambisse. Com uma capacidade de extracção de 7,4 m3/s, esta estação de bombagem abastece a empresa de Mafambisse, assim como o sistema de abastecimento de água às cidades da Beira e do Dondo.

Nenhumas outras grandes infra-estruturas hidráulicas, como por exemplo obras de controlo de cheias, existem na bacia. Há, no entanto, um grande número de sistemas de abastecimento de água rural baseados em bombas manuais. As sedes distritais normalmente têm pequenos sistemas de abastecimento de água canalizada

A estação de captação e o sistema de bombagem da Açucareira de Mafambisse é a maior infra-estrutura hidráulica existente na Bacia do Pungoé

Do lado moçambicano, foram identificadas 19 pequenas barragens, principalmente para irrigação. Há seis sistemas de bombagem e algumas captações de água instaladas directamente no rio ou em albufeiras. Foi dada aprovação para a construção de três novas pequenas barragens nos distritos de Nhamatanda e Gorongosa. O projecto foi concluído, esperando-se que o processo de construção se inicie em breve. A DNA está também a planear reabilitar e construir outras pequenas barragens na bacia do Pungoé.

No Zimbabwe, na época pré-independência não havia praticamente nenhum desenvolvimento formal de abastecimento de água nas áreas comunais até ao advento da guerra pela independência. Sistemas de água, baseados em sistemas de tanques gémeos e filtros de pressão, foram rapidamente instalados para servir os chamados Keeps (campos de ocasião onde todos os camponeses eram mantidos ao abrigo de um sistema de recolher obrigatório, como parte da estratégia de guerra rodesiana).

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Esboço esquemático do sistema de abastecimento de água Pungoé - Mutare

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Um total de sete sistemas de irrigação pequena escala com captação directamente do rio foram desenvolvidos em afluentes do Rio Pungoé, no vale do Honde, sob tutela do STABEX Coffee Reserch and Training Trust (SCORT). São sistemas por gravidade, que exploram a existência de rápidos e quedas de água nos rios permanentes para transferir água para áreas irrigadas a jusante através de condutas. O objectivo dos sistemas é promover o cultivo de café em pequena escala pelas comunidades locais. As condições climáticas e a existência de cursos de água permanentes são ideais para o cultivo de café.

A maior infra-estrutura hidráulica na bacia do Pungoé no Zimbabwe é o sistema que fornece água à cidade de Mutare, através de uma captação, túnel de desvio e conduta. A represa de captação tem uma capacidade máxima de 0,7 m3/s, embora o túnel para fornecer a cidade de Mutare esteja projectado para caudais até 1,2 m3/s.

Pequenas barragens existentes na bacia do rio Pungoé

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3.5 Qualidade da água e transporte A base geológica e os solos, a vegetação e os assentamentos humanos influenciam a qualidade da água. Os usos associados de terra e água para as actividades domésticas, de mineração, industriais, de transporte e agricultura alteram o estado natural da qualidade da água. Consequentemente, é necessário analisar a dinâmica dos assentamentos humanos, tendo em vista o potencial de poluição, por forma a caracterizar-se a qualidade da água da bacia.

A bacia do Pungoé é predominantemente rural. Os assentamentos são concentrados ao longo dos vales fluviais, em zonas com solos adequados à agricultura, na planície de cheia e nas proximidades de infra-estruturas existentes, tais como estradas e centros administrativos. As cidades da Beira e Dondo, em Moçambique, são os principais centros urbanos e industriais existentes na bacia. O padrão geral dos assentamentos nas áreas rurais da bacia é um misto de agricultura de larga escala, exploração florestal e empresas agrícolas com a actividade de comunidades de agricultores comunais e de subsistência.

O Rio Pungoé nasce na montanha de Nyanga, corre pelo Parque Nacional de. Nyanga onde são proibidos assentamentos e as condições ecológicas são praticamente primitivas. Ao sair do Parque Nacional, atravessa predominantemente terras de agricultura de subsistência até entrar no Oceano Índico, na Beira. O rio Nhamucuarara, um afluente menor, atravessa áreas de mineração de ouro aluvial onde operações informais poluem de um modo intenso a rede hidrográfica.

Assim, foram identificadas na bacia as seguintes potenciais fontes de poluição:

1. Agricultura comercial em larga escala através de poluição pontual e difusa;

2. Agricultura de subsistência, predominantemente através de poluição difusa;

3. Assentamentos urbanos;

4. Assentamentos rurais, devido a saneamento inadequado resultando em poluição difusa;

5. Intrusão salina na área do estuário do Pungoé;

6. Florestação;

7. Peneiramento de ouro no rio Nhamucuarara e nos seus arredores.

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A fonte mais evidente de poluição identificada está associada a mineração de ouro aluvial praticada nas áreas montanhosas na parte alta e média da bacia. A mineração de ouro tem lugar no Rio Nhamucuarara e seus arredores imediatos. O rio nasce em Moçambique, passa pelo Zimbabwe para entrar no rio Honde em Moçambique.

Presentemente, são garimpeiros informais que realizam a maior parte da mineração do ouro, utilizando uma tecnologia rudimentar de mineração. Além disso, uma empresa mineira australo-malaia estabeleceu uma unidade de produção com pequenos reservatórios e equipamento para a extracção gravitacional de ouro. O minério triturado alimenta crivos onde as partículas de ouro são separadas por gravidade.

As actividades de mineração de ouro informais em Moçambique a montante da fronteira com o Zimbabwe foram confirmadas por visitas. Informação oral obtida da área de mineração indicou que estas actividades também se expandem para o território zimbabueano. No entanto, isto não foi confirmado pelas visitas ao Zimbabwe, nas quais não se observaram quaisquer actividades de mineração directa.

Localização de áreas de mineração de ouro confirmadas na parte alta da bacia do Pungoé

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As actividades mineiras implicam a remoção da vegetação para facilitar a escavação, que são aproveitadas para lenha. Esta actividade expõe o solo à erosão provocada pelo vento e pela chuva, conduzindo à perda superficial de solo fértil. O solo superficial movido e os sedimentos provenientes das escavações são arrastadas para as linhas de água durante as chuvas provocando a obstrução da rede hidrográfica por sedimentação. Portanto, as actividades de mineração de ouro na área do Rio Pungoé estão a provocar um aumento significativo na carga de sedimentos a jusante das áreas mineiras. Devido à fina textura do solo erodido, os efeitos do transporte de sedimentos são francamente visíveis durante a estação de baixos caudais mesmo até à estação de Bué Maria, no Rio Pungoé, uns 200-300 km a jusante das áreas mineiras.

Encostas montanhosas erodidas devido a escavação para obtenção de sedimentos ricos em ouro

A extracção de ouro é realizada por amalgamação com mercúrio. Nesta abordagem, o concentrado de ouro passa por um prato coberto de mercúrio. A mistura de mercúrio e ouro amalgamada é então separada do excedente de mercúrio líquido espremendo-o com um tecido de couro ou similar. O mercúrio é evaporado da amálgama para separar o ouro por aquecimento num contentor adequado.

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O mercúrio é um líquido prateado-esbranquiçado pesado à temperatura ambiente, como um ponto de fusão de -38,89 ºC a temperaturas ambiente. O mercúrio purificado exposto ao ar vaporiza a uma taxa horária de 0,007 mg/ cm2. A Organização Mundial de Saúde recomenda níveis médios de 0,05 mg/cm2 e 0,015 mg/ cm2, respectivamente para exposição profissional em seres humanos e para a exposição ambiental contínua. Em estado líquido, o metal pesado vaporiza facilmente devido à sua tendência para se fragmentar em pequenas gotas. Consequentemente, o seu uso para recuperação de ouro traz perigo para a saúde do mineiro e pode vir a comprometer a cadeia alimentar aquática.

Não há, infelizmente, dados para clarificar o nível de mercúrio que provém das áreas de mineração de ouro. Algumas amostras recentes confirmaram a existência de mercúrio na água e nos sedimentos no leito do rio a jusante das áreas de mineração. Medições revelam altos níveis de mercúrio numa amostra colhida sugerindo que os efeitos ambientais de operações de mineração de ouro podem ser graves ou pelo menos constituir uma potencial ameaça à saúde do homem e integridade da ecologia aquática. No entanto, são necessárias mais amostras para se monitorizar a situação. Embora as cargas de sedimentos derivadas de operações de mineração de ouro na área do rio Nhamucuarara sejam elevadas para a pequena bacia hidrográfica local, não terão provavelmente afectado significativamente o transporte médio de carga de sedimentos no sistema no longo prazo. A erosão natural e o transporte de sedimentos nas áreas altas da bacia hidrográfica é grande (615 toneladas por km2 e ano) graças às abruptas vertentes e à grande intensidade das chuvas.

Os mineiros informais recorrem ao peneiramento e ao mercúrio

para extrair o ouro

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No que respeita a outros constituintes para além do mercúrio, os dados existentes na bacia relativos à qualidade da água, são muito escassos, com séries de medições muitas curtas na maioria das estações. Não é, pois, possível neste fase caracterizar inteiramente a qualidade da água na bacia com razoável grau de confiança. Foram analisados dados históricos e dados recentes para se ter uma primeira apreciação do estado da qualidade da água na bacia.

Os dados indicam que a qualidade da água na parte alta da bacia no Zimbabwe estão geralmente em conformidade com as directivas sobre a qualidade da água sul-africanas (que Moçambique têm usado como referência) na maior parte dos constituintes para uso doméstico, ecológico e de irrigação, bem como para os padrões do Zimbabwe. Há uma acentuada deterioração da qualidade da água do Rio Pungoé depois da confluência com o Rio Honde, resultante de operações de mineração de ouro no Rio Nhamucuarara. Há, contudo, um melhoramento acentuada na turvação no rio Pungoé depois da confluência com o sistema Nhazónia - Vunduzi, embora a concentração do constituinte exceda ainda significativamente as directrizes relativas ao uso doméstico.

3.6 Problemas a abordar Apesar de ser baixa a actual procura de água e a maior parte dos afluentes da bacia do Pungoé serem mais ou menos permanentes, existem alguns problemas que devem ser abordados. O potencial para irrigação é muito elevado e a procura não pode ser plenamente satisfeita pelo actual sistema do Rio Pungoé. No entanto, os desafios mais imediatos para a gestão da água na bacia do rio são como lidar com a variação espacial e temporal dos caudais superficiais.

A avaliação dos recursos hídricos revelou que grande parte do escoamento é gerado nas pequenas áreas montanhosas da parte alta da bacia, o que é particularmente acentuado na estação seca, quando quase metade da água é gerada nas sub-bacias da parte alta do Zimbabwe.

A variação temporal é igualmente grande. Caudais baixos, muito inferiores aos normais, podem ocorrer, como se verificou nos anos secos de 1991-92, quando, em Outubro, o caudal na captação do abastecimento de água à Beira era de apenas uns 9 milhões de m3/mês. Por outro lado, as grandes cheias em Janeiro e Fevereiro de 2000 e 2001 provocaram grandes inundações na parte baixa da bacia do Rio Pungoé.

Outra questão preocupante é a qualidade da água. As actividades de mineração de ouro na parte superior da bacia podem ser uma séria ameaça ao uso de água para uso quer doméstico quer de irrigação. Informações recentes indicam que também estão a despontar em outras partes da bacia do Rio Pungoé as actividades de garimpeiros no peneiramento de ouro.

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Não obstante a poluição natural, a intrusão salina relacionada com os baixos caudais causa problemas à captação de água em Mafambisse.

A vida aquática da bacia e do estuário do Pungoé está bastante adaptada às variações ambientais extremas provocadas por cheias e secas sazonais. Variação futura no período das cheias sazonais, o conteúdo de silte e dos sedimentos na água, as concentrações de fertilizantes e matéria orgânica, devidos a actividades do homem, podem contudo influenciar a vida aquática. Para além de afectar o ambiente, pode ter também consequências socioeconómicas; por exemplo, se a fauna piscícola e a produtividade das pescas diminuírem.

A vida selvagem do Parque Nacional da Gorongosa conta grandemente com um equilíbrio muito sensível no Lago Urema, que anualmente inunda parte do parque. São preocupantes os indícios de desenvolvimento agrícola nas bacias dos afluentes que nascem nas montanhas da Gorongosa e alimentam o Lago Urema. O futuro desenvolvimento do turismo relacionado com actividades no Parque Nacional da Gorongosa depende de caudais regulares no Lago Urema.

3.7 Opções de desenvolvimento Para aumentar o desenvolvimento económico e reduzir a pobreza na bacia do Rio Pungoé, são provavelmente necessárias diversas opções de como utilizar as águas superficiais e subterrâneas. Os principais objectivos seriam assegurar o abastecimento de água e a irrigação durante os períodos secos, para controlar os caudais e a intrusão salina ou mitigar a poluição, por exemplo de actividades de mineração de ouro. É, no entanto, essencial que todas as opções de desenvolvimento sejam feitas tendo em consideração os aspectos ambientais e socioeconómicos.

Existe um grande potencial para a construção de grandes e pequenas barragens na Bacia do Pungoé, assim como outras infra-estruturas hidráulicas. Há bons locais para barragens e significativo potencial de escoamento. A procura actual de água é muito baixa e a natureza permanente da maior parte dos afluentes da bacia do Pungoé permite satisfazer a maioria das necessidades apenas com extracções directamente fora do rio.

O maior projecto de desenvolvimento de recursos hídricos previamente identificado na região foi a construção da Barragem de Bué Maria. Esta grande barragem, prevista com 70 metros de altura e uma capacidade de armazenamento de cerca de 987 Mm3 pode representar uma solução para alguns dos principais problemas da parte baixa da bacia do Pungoé, nomeadamente relacionados com cheias, baixos caudais e intrusão salina.

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Esta barragem pode ser igualmente uma importante contributo para o desenvolvimento socioeconómico da região, com o incremento da produção agrícola através de irrigação, controlo de cheias e produção de energia. No entanto, levantam-se preocupações sobre possíveis impactos ambientais negativos de tal barragem.

Também foram identificados outros locais de grandes barragens. Em 1973, a empresa de consultoria COBA realizou um estudo abrangente, apresentado em 23 volumes, propondo um plano de desenvolvimento integrado para a bacia do Rio Pungoé. Este estudo propôs a construção de 40 grandes barragens, duas das quais para a agricultura, 31 principalmente para produção hidroeléctrica e sete para múltiplos usos. O estudo avaliou uma área de 827 000 ha de boas terras aráveis e mais de 938 000 ha de terras aráveis ou de certa forma aráveis. O estudo propôs uma área de irrigação de 245 000 ha. A partir deste Esquema Geral, a COBA propôs que se desse prioridade à construção de 13 grandes barragens e quatro diferentes áreas de irrigação.

Além disso, como resultado da última situação de seca na bacia do Pungoé, a DNA elaborou um plano de acção de emergência para a construção de pequenas barragens nas províncias de Manica e Sofala. Numa avaliação preliminar, foi seleccionada para estudos futuros uma lista de 28 pequenas barragens. Deu-se prioridade ao desenvolvimento do projecto detalhado de três pequenas barragens, a Barragem da Gorongosa, a Barragem de Metuchira e a Barragem de Chitunda. O projecto destas três barragens foi concluído e a construção começará muito em breve, financiada pela DNA. A operação e a manutenção das barragens serão da responsabilidade do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural.

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Locais propostos em estudos anteriores para a construção de barragens prioritárias na bacia do Rio Pungoé

Bué Maria

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4 O CAMINHO A SEGUIR

A conclusão do Projecto do Pungoé está programada para Fevereiro de 2006.

Com base nas conclusões da fase de monografia, que se apresentam parcialmente neste relatório, serão identificados e avaliados diferentes cenários de desenvolvimento em termos de viabilidade económica, ambiental e socioeconómica. Três principais cenários de desenvolvimento serão apresentados e discutidos com os interessados e afectados bem como com as instituições de gestão da água em Moçambique e no Zimbabwe. Com base na opção de desenvolvimento escolhida, será desenvolvida uma estratégia para a gestão integrada da água e para a sua implementação.

A capacitação institucional é uma parte importante deste projecto, tendo em vista preparar as agências de implementação em Moçambique e no Zimbabwe e para porem a estratégia na prática. Do mesmo modo, a mobilização de interessados e afectados e uma maior comunicação entre os dois países são aspectos fortemente desejados pelo projecto.

A bacia do Rio Pungoé tem um grande potencial natural que proporciona as condições básicas para um adequado desenvolvimento social e económico. O único caminho é seguir em frente.