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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR INSTITUTO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
Carolina Vieira Bezerra
DESENVOLVIMENTO DE LIPDIOS ESTRUTURADOS OBTIDOS A PARTIR DE LEOS E GORDURAS AMAZNICAS.
BELM PAR
Fevereiro/2016
CAROLINA VIEIRA BEZERRA
DESENVOLVIMENTO DE LIPDIOS ESTRUTURADOS OBTIDOS A PARTIR DE LEOS E GORDURAS AMAZNICAS.
Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Cincia e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Par como requisito parcial para obteno do grau de Doutor em Cincia e Tecnologia de Alimentos.
Orientadora:
Prof. Dr. Luiza Helena Meller da Silva
Co-orientador Prof.Dr. Antonio Manoel da Cruz Rodrigues
BELM PAR
Fevereiro/2016
Bezerra, Carolina Vieira, 1982- Desenvolvimento de lipdios estruturados obtidos apartir de leos e gorduras amaznicas. / Carolina VieiraBezerra. - 2016.
Orientadora: Luiza Helena Meller da Silva; Coorientador: Antnio Manoel da CruzRodrigues. Tese (Doutorado) - Universidade Federal doPar, Instituto de Tecnologia, Programa dePs-Graduao em Cincia e Tecnologia deAlimentos, Belm, 2016.
1. leos e gorduras- Anlise. 2. Lipdios.3. leos vegetais- Amaznia. I. Ttulo.
CDD 22. ed. 664.3
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)Sistema de Bibliotecas da UFPA
CAROLINA VIEIRA BEZERRA
DESENVOLVIMENTO DE LIPDIOS ESTRUTURADOS OBTIDOS A PARTIR DE LEOS E GORDURAS AMAZNICAS.
BANCA EXAMINADORA
Prof.Dr. Luiza Helena Meller da Silva (Faculdade de Engenharia de Alimentos/FEA-UFPA)
(Orientadora)
Prof. Dr. Antonio Manoel da Cruz Rodrigues (Faculdade de Engenharia de Alimentos/FEA-UFPA)
(Co-orientador)
Prof. Dr. Raul Nunes de Carvalho Junior (Faculdade de Engenharia Alimentos / FEA-UFPA)
(Membro)
Prof. Dr. Gabriela Alves Macedo (Faculdade de Engenharia de Alimentos/ FEA - UNICAMP)
(Membro)
Prof. Dr. Davi do Socorro Barros Brasil (Faculdade de Engenharia Qumica/ UFPA)
(Membro)
Prof. Dr. Jos Otvio Carreira Jnior (Faculdade de Farmcia /UFPA)
(Membro)
BELM-PAR
Fevereiro/2016
Se enxerguei mais longe porque estava sobre os ombros de gigantes
Issac Newton
AGRADECIMENTOS
A Deus por est sempre do meu lado e por ter me guiado em mais essa etapa.
A minha orientadora, A Prof. Dra. Luiza Helena Meller da Silva, que no mediu
esforos para a execuo deste trabalho e o qual divido todos os mritos, obrigada pelas
oportunidades, pelos valiosos ensinamentos, conversas e orientaes que com toda a
certeza contriburam muito para o meu desenvolvimento profissional e pessoal.
Ao Prof. Dr. Antonio Manoel da Cruz Rodrigues por todo o suporte e apoio
dado durante esses 4 anos.
Meu eterno agradecimento aos meus pais, Ubiratan Holanda Bezerra e Maria
Evanilce Vieira Bezerra e ao meu esposo Jos Joo Alves Moreira pelo apoio
incondicional, pelas palavras de incentivo e conduo de minhas dvidas e incertezas.
A AGROPALMA em especial a Liliane Vasconcelos pela parceria e
colaborao na realizao das anlises.
Nenhum trabalho executado sozinho e esta Tese fruto de vrias colaboraes.
Deixo aqui o meu agradecimento a toda a equipe LAMEFI, em especial a Rebeca Costa,
Jzica, Yasmin, Dayala, Caroline, Wasley, Mrlia, Mrcio, Evelyn, Aline Nakata entre
tantos outros pelo apoio na realizao de muitas anlises. Ao grande amigo Danilo
Oliveira pelo apoio e pelas discusses sobre o tema que culminavam sempre para um
melhor entendimento sobre o assunto.
A todos os outros amigos pela amizade e pelas palavras de incentivo,
encorajamento e otimismo. Obrigada!
SUMRIO
INDICE DE TABELAS
INDICE DE FIGURAS
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
RESUMO................................................................................................................. 14
ABSTRACT........................................................................................................ 15
INTRODUO.................................................................................................. 16
CAPTULO 1 Reviso bibliogrfica............................................................ 19
1. Teoria lipdica a mudana no consumo de gorduras................................. 20
2. Frutos oleaginosos da Amaznia.............................................................. 22
2.1. Palma (Elaeis guineensis).......................................................................... 22
2.2. Cupuau (Theobroma grandiflorum)............................................................ 23
2.3. Pracaxi (Pentaclethra macroloba)................................................................ 25
2.4. Maracuj (Passiflora edulis)....................................................................... 26
3. Interesterificao...................................................................................... 27
3.1. Interesterificao Quimica.......................................................................... 27
4. Propriedades fisico-quimicas.................................................................. 31
4.1. Ponto de fuso.......................................................................................... 31
4.2. Cristalizao............................................................................................. 33
4.3. Contedo de gordura slida........................................................................ 38
4.4. Consistncia.............................................................................................. 41
5. Tecnicas analticas aplicadas em lipdios.................................................. 42
5.1. Calorimetria diferencial de varredura........................................................... 42
5.2. Ressonncia magntica nuclear................................................................... 44
5.3. Ponto de fuso.......................................................................................... 44
5.4 Consistncia............................................................................................. 45
6. Concluso.......................................................................................................... 45
Referencias
CAPTULO 2 Avaliao Da Qualidade Nutricional A Partir Do Perfil De
cidos Graxos De leos E Gorduras No Convencionais Extradas De
Sementes Da Regio Amaznica.
Resumo.......................................................................................................................... 104
1. Introduo........................................................................................................ 104
2. Materiais e Mtodos........................................................................................ 105
2.1. leos e Gorduras Amaznicas.................................................................... 105
2.2. Composio em cidos Graxos.................................................................. 105
2.3. Indice de Aterogenicidade e Trombogenicidade............................................... 106
2.4 Anlise Estatstica..................................................................................... 106
3 Resultado e Discusso...................................................................................... 106
4. Concluso.......................................................................................................... 113
Referncias
CAPTULO 3 - Potential and Applications of Amazonian Oils and Fats and
Their Blends
Abtract......................................................................................................................... 55
1 Introduction...................................................................................................... 55
2 Material and Methods..................................................................................... 56
2.1 Material and blend preparation.......................................................................... 56
2.2 Acidity and peroxide......................................................................................... 56
2.3 Iodine................................................................................................................. 57
2.4 Melting point determination.............................................................................. 57
2.5 Oxidative stability index ................................................................................... 57
2.6 Fatty acids determination................................................................................... 57
2.7 Atherogenicity and Trombogenicity Indexes.................................................... 58
2.8 Solid fat contente determination........................................................................ 58
2.9 Consistency measurement................................................................................. 58
2.10 Crystallization measurement............................................................................. 59
2.11 Differencial Scanning Calorimetry Analysis (DSC). 59
2.12 Statistical analysis.............................................................................................. 59
3. Results and Discussion.................................................................................... 60
3.1. Melting pont....................................................................................................... 61
3.2. Oxidative stability.............................................................................................. 61
3.3 Fatty acid composition....................................................................................... 62
3.4 Solid fat contente............................................................................................... 66
3.5. Consistency........................................................................................................ 69
3.6 Crystallization Kynectics................................................................................... 70
3.7 Differencial Scanning Calorimetry 73
4. Conclusion....................................................................................................... 75
Acknowledgements.....................................................................................................
References
75
CAPTULO 4 - Effect of Chemical Interesterification on the Physicochemical
Properties of Blends between Amazonian Oils and Fats
Abstract........................................................................................................................ 81
1. Introduction..................................................................................................... 81
2. MATERIAS E MTODOS............................................................................ 81
2.1. Experimental Procedures.................................................................................. 82
2.2. Acidity and Peroxide........................................................................................ 83
2.3. Chemical Interesterification.............................................................................. 83
2.4. Fatty acids composition..................................................................................... 83
2.5. Triacylglycerol composition.............................................................................. 84
2.6. Melting point determination.............................................................................. 84
2.7. Solid fat contente............................................................................................... 84
2.8. Consistency measurement................................................................................. 84
2.9. Oxidative stability index (OSI)......................................................................... 85
2.10. Crystallization kinectics determination............................................................. 85
2.11. Statistical analysis............................................................................................. 85
3. Result and Discussion..................................................................................... 86
3.1. Acidity and Peroxide......................................................................................... 86
3.2. Fatty acids composition..................................................................................... 87
3.3. Melting point..................................................................................................... 89
3.4. Solid fat content................................................................................................ 92
3.5. Consistency....................................................................................................... 95
3.6. Oxidative stability.............................................................................................. 96
3.7. Crystallization kinectics.................................................................................... 97
4. Conclusion........................................................................................................ 99
Referencias
CONCLUSES GERAIS
99
APENDICES
Comportamento Reolgico De Suco Misto Elaborado Com Frutas Tropicais.
Nutritional Potential Of Green Banana Flour Obtained By Dryoing In Spouted
Bed
A Modeling Study For Moisture Diffustivies Coeficients In Drying Of Passion
Fruit Peel.
Pupunha (Bactris Gasipaes): General And Consuption Aspects.
LISTA DE TABELAS
CAPTULO 1
Tabela 1. Produo mundial de palma................................................................... 21
Tabela 2. Os dez maiores produtores de maracuj................................................ 25
Tabela 3. Inativao de catalisadores de interesterificao qumica..................... 27
Tabela 4. Catalisadores que podem ser utilizados na interesterificao qumica.. 28
Tabela 5. Tamanho da cadeia carbnica e ponto de fuso..................................... 31
Tabela 6. Classificao de alguns leos e gorduras de acordo com a
cristalizao............................................................................................ 35
Tabela 7. Valores do expoente de Avrami (n) para diferentes tipos de nucleao
e crescimento.......................................................................................... 37
Tabela 8. Contedo de gordura slida do leo de soja totalmente hidrogenado... 38
Tabela 9. Perfil de slidos de acordo com o tipo de produto................................. 38
Tabela 10. Classificao de produtos gordurosos segundo yield value............... 40
CAPTULO 2
Tabela 1 Perfil de cidos graxos (%) das gorduras de murumuru, ucuba,
bacuri e cupuau.............................................................................. 58
Tabela 2 Perfil de cidos graxos (%) dos leos de Buriti, Pracaxi, Pataua
Maracuj e Castanha do Par............................................................ 61
Tabela 3 Valores do ndice de aterogenicidade (IA) e trombogenicidade (IT) das amostras.................................................................................... 62
CAPTULO 3
Table 1 Physical and chemical characteristics of the pure oils and their
respective blends 73
Table 2 Fatty acid profile of pracaxi oil, palm stearin, and cupuassu fat and
their respective blends 76
Table 3 Fatty acid profile of passion fruit oil, palm stearin, and cupuassu fat
and their respective blends. 77
Table 4 Applications of the blends prepared according to the similarity of their
solids profiles with that of several commercial products.. 81
Table 5 Consistencies of the blends with pracaxi and passion fruit oils with
palm stearin and cupuassu fat 82
Table 6 Induction time (t(SFC); Avrami constant (k), Avrami exponent (n),
and coefficient of determination (R2) of the blends at 20 C. 85
CAPTULO 4
Table 1 Values of acidity and peroxide of the blends before (NIE) and after
(IE) chemical interesterification. 99
Table 2 Fatty acid profile of the blends with pracaxi and passion fruit oils with
palm stearin and cupuassu fat 101
Table 3 Triacylglycerol composition of pracaxi oil and palm stearin blends
before (NIE) and after (IE) chemical interesterification... 104
Table 4 Multiple regression coefficients calculated from the experimental
results for the melting point before (NIE) and after (IE)
interesterification
104
Table 5 Multiple regression coefficients calculated from the experimental
results for the solid fat content before (NIE) and after (IE)
interesterification. 108
Table 6 Blend consistency before (NIE) and after (IE) interesterification.. 109
Table 7 Blend oxidative stability before (NIE) and after (IE) interesterification 110
LISTA DE FIGURAS
CAPTULO 1
Figura 1 Produo de cupuau no estado do Par no perodo de 2003 a 2012. 23
Figura 2 Sementes de pracaxi (Pentaclethra macroloba).................................. 24
Figura 3 Mecanismo de interesterificao qumica.......................................... 28
Figura 4 Formas polimrficas dos cristais....................................................... 33
Figura 5 Dinmica da transformao dos cristais (A) e a energia de Gibbs para
cada estrutura polimrfica (B)........................................................... 35
Figura 6 Representao da curva de DSC com os fenmenos............................. 42
CAPTULO 3
Figure 1 Solid fat content in blends with pracaxi oil and palm stearin (A);
pracaxi oil and cupuassu fat (B); passion fruit oil and palm stearin (C)
and passion fruit oil and cupuassu fat (D).. 79
Figure 2 Crystallization curves of the blends with pracaxi-stearin (A), pracaxi-cupuassu (B), passion fruit-stearin (C), and passion fruit-cupuassu (D) at 20 C
84
Figure 3 Crystallization curves of blends with pracaxi oil and palm stearin (A);
pracaxi oil and cupuassu fat (B) 86
Figure 4 Crystallization curves of blends with passion fruit oil and palm stearin
(A); passion fruit oil and cupuassu fat (B). 87
CAPTULO 4
Fig 1 Blend melting point before (NIE) and after (IE) chemical
interesterification
103
Fig 2 Solid fat content of the blends before (NIE) and after (IE) chemical
interesterification.
106
Fig 3 Crystallization curves before (NIE) and after (IE) interesterification of
the blends with pracaxi oil+ + palm stearin (A), pracaxi oil + cupuassu
fat (B), passion fruit oil + palm stearin (C) and passion fruit oil +
cupuassu fat (D) at 20 C. .
111
LISTA DE ABREVIATURAS
n- Expoente de Avrami
K Constante de Avrami
R2 Coeficiente de Determinao
SFC Contedo de gordura slida
NIE No Interesterificada
IE Interesterificada
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
LDL Low Density Lipoprotein
HDL High Density Lipoprotein
SEDAP Secretaria de Desenvolvimento Agropecurio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
TAG Triacilgliceridio
m/m massa/massa
RMN Ressonncia Magntica Nuclear
DSC Differential Scanning Calorimetry
MUFA cidos graxos monoinsaturados
PUFA cidos graxos polinsaturados
IA ndice de aterogenicidade
IT ndice de trombogenicidade
PE Pracaxi /Estearina
PC Pracaxi/ Cupuau
ME Maracuj/ Estearina
MC Maracuj/Cupuau
IP Perodo de induo
P/S Razo polinsaturado/ saturad
RESUMO
A necessidade de mtodos que modifiquem lipdios sem produzir gorduras nocivas incentivou pesquisadores a buscar por novas formas de modificao, sendo a interesterificao o processo de maior tendncia. Os lipdios obtidos, chamados de lipdios estruturados, podem apresentar caractersticas fsicas adequadas sem produzir as isomerizaes das duplas ligaes dos cidos graxos insaturados. Apesar do reconhecimento da qualidade dos leos e gorduras provenientes da regio amaznica no so observados, com exceo da estearina de palma, trabalhos utilizando essas matrizes para obteno de lipdios estruturados, portanto este trabalho teve como objetivo desenvolver lipdios estruturados a partir de matrizes amaznicas brutas (leo de pracaxi/ maracuj e gordura de cupuau e estearina de palma) aplicando-se a interesterificao qumica. Foram desenvolvidas misturas binrias entre os leos e as gorduras nas propores 40-60, 50-50, 60-40 e 70-30. A essas misturas foram realizadas anlises de acidez, perxido, ndice de iodo, saponificao, ponto de fuso, perfil de cidos graxos, estabilidade oxidativa, consistncia, cintica de cristalizao e anlise trmica (DSC) antes (NIE) e aps (IE) a reao. A interesterificao aplicada foi capaz de promover a modificao das caractersticas fsico-quimicas de todas as misturas avaliadas. Houve um efeito significativo na diminuio do ponto de fuso de 75% das amostras, com redues mais acentuadas nas misturas entre maracuj e estearina de palma. Em geral foi observado tambm uma queda no contedo de gordura slida das amostras interesterificadas mas essa reduo no limitou suas aplicaes, apresentando teor de slidos compatveis para aplicao em shortenings como margarina de mesa, margarina funcional, margarina macia, margarina em tablete e gordura de cobertura. Nas misturas entre pracaxi-cupuau e maracuj-cupuau a queda de slidos a partir de 20C no foi to intensa, ficando demostrado que a interesterificao qumica nestas amostras gerou comportamentos mais plsticos. O efeito positivo da interesterificao qumica sobre a consistncia foi observada principalmente nas misturas entre pracaxi-cupuau (50-50; 60-40; 70-30); pracaxi-estearina (40-60) e pracaxi-cupuau (40-60; 50-50 e 60-40), transformando as consistncia de uma classificao de muito dura (antes da interesterificao) para plstica e espalhvel (aps a interesterificao). O efeito no comportamento cristalizao tambm foi observado, houve um aumento na velocidade de cristalizao (K) e uma reduo bem expressiva do tempo inicial para a formao dos primeiros cristais. Com as matrizes amaznicas utilizadas neste trabalho foi possvel obter lipdios estruturados com diversas caractersticas fsico qumicas que atendem a parmetros de muitos produtos manufaturados, principalmente produtos do tipo shortenings, aumentando desta forma as possibilidades de utilizao dos leos e gorduras no convencionais utilizadas neste trabalho.
Palavras-chaves: Interesterificao qumica, lipdios estruturados, leos amaznicos, gorduras amaznicas.
ABSTRACT
INTRODUO
A indstria de alimentos tem enfrentado um mercado cada vez mais competitivo, a
exigncia do consumidor por produtos mais saudveis, associado s descobertas
cientficas sobre o efeito na sade humana de diversos alimentos tem motivado a busca
por processos adequados a produo de alimentos e ou produtos com caractersticas
especficas, agregando valor aos mesmos utilizando-se para isso de desenvolvimento
tecnolgico (ROUSSEAU, HILL, MARANGONI, 1996).
A sade e o bem estar se transformou em critrios de deciso de compra o que
justifica a grande variedade de produtos alimentcios funcionais que tem sido
desenvolvido (RACT, 2006).
A hidrogenao um processo de modificao lipdica que foi inicialmente
utilizado tambm com a alegao de gerar gorduras mais saudveis com
caractersticas tecnolgicas atrativas como cremosidade, textura, espalhabilidade e
estabilidade e que se destacou por muito tempo dentro da indstria alimentcia. Porm
estudos demostraram que as gorduras trans, geradas durante o processo de
hidrogenao parcial, no eram to atrativas sob o ponto de vista nutricional, devido a
sua nocividade.
A necessidade de mtodos que modifiquem lipdios sem produzir gorduras nocivas
incentivou pesquisadores a buscar por novas formas de modificao, sendo a
interesterificao o processo de maior tendncia. Os lipdios obtidos, chamados de
lipdios estruturados, podem apresentar caractersticas fsicas adequadas sem produzir as
isomeraes das duplas ligaes dos cidos graxos insaturados, (DALLA-VECCHIA,
NASCIMENTO, SOLDI, 2004).
Uma diversidade de leos e gorduras vem sendo utilizados para a elaborao de
lipdios estruturados. Com exceo da estearina e a olena de palma, so escassos os
trabalhos na rea de desenvolvimento de lipdios estruturados utilizando outras matrizes
da regio amaznica.
O bioma da Amaznia concentra muitas espcies com potencial oleaginoso de onde
podem ser extrados leos e gorduras de composio qumica e propriedades fsico-
qumicas diversas e que em muitos casos so pouco conhecidos e que poderiam ser
16
utilizadas pela indstria alimentcia como base para elaborao de produtos, dentre eles
base para lipdios estruturados (BEZERRA, 2008; PESCE, 2009).
Um dos grandes desafios, alm de se conhecer as potencialidades da regio
amaznica, agregar valor aos produtos da sua biodiversidade. Um aspecto a ser
analisado que na regio, a maioria dos agronegcios no utiliza a biodiversidade
nativa. Sob esse contexto o incentivo atividades de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) torna-se importante para identificar, caracterizar e avaliar as aplicaes das
espcies vegetais regionais (VAL, SANTOS, 2008).
Desta forma este trabalho teve como objetivo desenvolver e caracterizar lipdios
estruturados obtidos a partir da aplicao da interesterificao qumica utilizando como
base leos e gorduras da regio Amaznica mostrando o potencial de aplicao dessas
matrizes lipdicas.
A apresentao deste trabalho est organizada em 5 captulos, descritos a seguir:
O captulo 1 consiste de uma reviso da literatura e inicia contextualizando a
utilizao do processo de interesterificao dentro da rea de alimentos sendo em
seguida realizada uma breve apresentao dos leos e gorduras estudados. Destaca-se
ainda a reao de interesterificao qumica de forma detalhada, seus objetivos,
utilizaes e condies de processo que devem ser avaliadas. Finalizando com uma
abordagem sobre algumas propriedades fsico-qumicas importantes como ponto de
fuso, contedo de gordura slida, comportamento cristalino e consistncia e suas
respectivas metodologias analticas.
Nos captulos 2, 3 e 4 so apresentados os artigos: Potential and Applications of
Amazonian Oils and Fats and Their Blends; Effect of Chemical Interesterification on
the Physicochemical Properties of Blends between Amazonian Oils and Fats e
Avaliao da qualidade nutricional a partir do perfil de cidos graxos de leos e
gorduras no convencionais extradas de sementes da regio Amaznica.
Integrando a parte final desta tese so apresentadas as concluses gerais e os anexos
constando as produes desenvolvidas em paralelo com as atividades do doutorado.
17
CAPTULO 1
REVISO BIBLIOGRFICA
18
1. Teoria lipdica e a mudana no consumo de gorduras
A informao de que a gordura saturada, proveniente, principalmente, da gordura
animal faz mal a sade e que esta associada a riscos cardiovasculares parte integrante
da nossa cultura at os tempos atuais e essa ideia veio de um estudo publicado em 1953
pelo fisiologista Ancel Keys.
Alcen Keys realizou um levantamento em 6 pases comparando o consumo de
gordura per capita com os eventos cardiovasculares, observando uma forte correlao.
Trs anos depois, em 1956, a American Heart Association (AHA) comunicou a tese
lipdica que propunha evitar alimentos com gordura saturada e colesterol. Mesmo
recebendo fortes crticas da comunidade cientifica que questionava os resultados
conclusivos do trabalho de Keys pelos vieses apresentados, a teoria lipdica ganhou
mdia e se estabeleceu fortemente a nvel mundial e a cada reviso peridica das
diretrizes da AHA havia um incentivo a reduo do consumo de gorduras saturadas, de
origem animal, e colesterol, em contrapartida, a uma valorizao de espcies vegetais,
fibras e gordura insaturada como promotores de hbitos saudveis (THOMAZELLA,
2010; ALMEIDA, 2015).
A partir de ento os consumidores comearam a se posicionar de uma forma
diferente quanto ao consumo de gordura saturada. Nesse contexto, e com a alegao de
produo de gorduras mais saudveis, a modificao lipdica baseada na
hidrogenao ganhou fora. O apelo mais saudvel era inicialmente entendido uma
vez que as gorduras hidrogenadas derivavam de leos vegetais (ricos em cidos graxos
insaturados). Alm do aspecto nutricional, a hidrogenao gerava bases lipdicas com
adequadas propriedades fsico-qumicas, como cremosidade, palatabilidade e
estabilidade. Diante dessas vantagens esses leos vegetais modificados ou
hidrogenados ganharam mercado e acabaram substituindo as gorduras animais na dieta
dos brasileiros (RIBEIRO et al., 2007).
A hidrogenao foi largamente utilizada pela indstria alimentcia at surgir os
primeiros trabalhos que avaliaram os efeitos metablicos na sade humana das gorduras
trans, sendo demostrado por pesquisadores que, devido sua semelhana estrutural com
as gorduras saturadas, os ismeros trans poderiam modificar as funes metablicas das
gorduras polinsaturadas e competir com os cidos graxos essenciais em vias
19
metablicas complexas, sendo prejudicial sade humana (SABARENSE, 2003;
PROENA, SILVEIRA, 2012).
No ano 2000, os cidos graxos trans presentes nos leos parcialmente
hidrogenados chegaram a contribuir com cerca de 80 a 90% de todos os ismeros trans.
Provenientes da dieta, sendo comumente encontrados em produtos como chocolate,
bolos e margarinas (PADOVESE, MANCINI-FILHO, 2002).
Perante as evidncias cientficas, os cidos graxos trans foram includos entre os
lipdios dietticos que atuam como fatores de risco para doena coronariana,
contribuindo para o aumento do LDL-colesterol e para a diminuio do HDL-colesterol
(MENSINK, KATAN, 1990; MENSINK et al., 1992; ARO et al., 1997; ASCHERIO et
al., 1999; DHAKA et al., 2011).
Em 2003 a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) colocou em
vigor a resoluo RDC n 360 que obrigou as indstrias instaladas no Brasil a
informarem no rtulo de seus produtos a quantidade de cidos graxos trans. Muitas
indstrias vm retirando ou minimizando a quantidade desses dos seus produtos como
uma medida boa para sade. No entanto, alm dos produtos apresentarem baixo teor ou
zero trans eles tambm devem ter pequenas quantidades de gordura saturada e uma boa
relao de cidos graxos polinsaturados mega 3 e mega 6 (GLAGIARDI, MANCINI
FILHO; SANTOS, 2009).
Diante desses efeitos indesejveis da hidrogenao parcial de leos vegetais, um
grande nmero de tecnologias tem sido desenvolvido para permitir a gerao de lipdios
com boas caractersticas fsico-qumicas e nutricionais, porm com produo mnima ou
zero de gordura trans, dentre eles podem ser citados os processos de mistura;
fracionamento e a interesterificao (TARRAGO et al., 2003).
Muitas matrizes podem ser combinadas e direcionadas para a interesterificao a
citar misturas compostos por: gordura do leite e leo de girassol; estearina de palma e
leo de peixe; estearina de palma e azeite de oliva, estearina de palma e leo de soja;
gordura do leite e leo de milho (GAMBOA, GIOIELLI, 2003; RODRIGUES,
GIOIELLI, 2003; RIBEIRO et al., 2009b; RODRIGUES-RACT et al.,2010; SILVA et
al., 2010).
20
Segundo Gunstone, Harwood, Dijkstra (2007) as matrizes mais utilizadas incluem
leo de soja, algodo, milho, girassol, palma, leite, coco, oliva, linhaa, amendoim.
Com as mudanas observadas nos padres alimentares e com o aumento do
interesse das indstrias, seja alimentcia, cosmtica ou farmacutica por leos e
gorduras, novas matrizes ou outras possibilidades de misturas acabam sendo
valorizadas, e sob esse aspecto a Amaznia se destaca como uma regio que pode
disponibilizar diversas espcies vegetais com elevado potencial oleaginoso (PESCE,
2009).
2. Frutos oleaginosos da Amaznia Segundo Montfar et al. (2010) a Amaznia pode apresentar mais de 150 rvores
com potencial oleaginoso oferecendo grandes oportunidades na descoberta de novos
produtos com potencial comercial. Aqui sero enfatizadas as espcies utilizadas neste
trabalho a citar: estearina de palma, gordura de cupuau, leo de pracaxi e leo de
maracuj.
2.1 Palma (Elaeis guineenses)
O Brasil, em 2011, produziu cerca de 300 mil toneladas de palma por ano, sendo a
maior parte proveniente do territrio paraense, ocupando a 9 posio no cenrio de
produo mundial (Tabela 1).
Por tcnicas de fracionamento podem ser separados fraes lipdicas distintas de
palma, denominadas de olena (70-80%) e estearina (20-30%) (NASSU,
GONALVES, 1994).
Tabela 1. Produo mundial de palma
Pas Toneladas 1 Indonesia 25.400.000 2 Malsia 18.480.000 3 Tailndia 1.510.000 4 Colmbia 930.000 5 Nigria 910.000 6 Papau N. Guin 510.000 7 Equador 500.000 8 Costa do Marfim 315.000 9 Brasil 300.000
21
10 Honduras 290.000 Outros 2.718.000 Fonte: USDA Foreing Agrculture Service (2011).
A estearina de palma a frao slida da palma, conhecida pelo seu alto
percentual de cidos graxos saturados (>40% cido palmtico), elevado ponto de fuso
(44C- 56C) e alta estabilidade trmica (CHU, GIOIELLI, 2002). Sua utilizao
isoladamente e em estado bruto se torna difcil dentro da rea alimentcia
principalmente quando o objetivo a fabricao de produto com baixa plasticidade
(SILVA et al., 2010).
O problema da plasticidade da estearina de palma vem sendo melhorada com a
combinao com outros lipdios (leos) e essa combinao est tornando possvel a
utilizao da estearina como base para produo de shortenings e margarinas. Os
produtos que incluem essas formulaes so shortenings para bolos, margarinas
macias e para massas folhadas e fraes com reduo de gordura. Outros usos dos
produtos de palma so: sorvete, queijo, leos para salada e confeitaria (BERGER,
IDRIS, 2005).
Lai et al., (2000) citam algumas pesquisas com gorduras obtidas por
interesterificao de misturas de estearina de palma com leos vegetais como linhaa,
algodo e mostarda. Com essas misturas foi possvel obter gorduras com caractersticas
fsicas e nutricionais desejadas para alimentos. Foi observado tambm que a utilizao
da estearina nas misturas possibilitou obter menores custos de produo devido ao
menor valor da estearina de palma e de no necessitar do processo de hidrogenao.
Outra vantagem da utilizao da estearina em misturas com leos vegetais
lquidos a formao de misturas que no contm gordura trans (ANGELO, 2007).
2.2 Cupuau (Theobroma grandiflorum)
Dentre as frutas regionais da Amaznia, o cupuau destaca-se como uma das
mais apreciadas pelos habitantes desta regio. No Par no ano de 2003 at o ano de
2012, houve um crescimento de 145% na quantidade produzida (Figura 1). A parte do
fruto mais comumente utilizada a polpa, mas as cascas e as sementes tambm podem
ser utilizadas para a elaborao de alguns subprodutos. Das cascas podem ser feito
doces e das sementes pode ser extrada a gordura (NAZAR, BARBOSA, VIGAS,
1990).
22
Figura 1. Produo de cupuau no estado do Par no perodo de 2003 a 2012.
Fonte: SEDAP (2011)
A gordura de cupuau muito utilizada na indstria cosmtica para elaborao
de shampoos, condicionadores, cremes para cabelo dentre outros produtos, na rea de
alimentos ainda pouco utilizada, porm com boas perspectivas de utilizao industrial.
Possui cerca de 29% triacilgliceris do tipo SOS (esterico-olico-esterico) e 46% de
cidos graxos insaturados. O seu elevado teor de cidos graxos do tipo monoinsaturado
lhe confere maciez, caracterstica esta muito apreciada pelos consumidores
(PUGLIESE, 2010). Segundo Gilabert-Escriv (2002) uma gordura naturalmente
desprovida de gordura trans podendo substituir a gordura hidrogenada em formulaes
de bolos e sorvetes.
A gordura de cupuau vem sendo utilizada na elaborao de chocolates em
substituio a manteiga de cacau. Apesar de apresentar composio de cidos graxos
um pouco diferente quando comparado gordura de cacau, so muito similares quando
se analisa o comportamento cristalino. Em estudo realizado por Luccas (2001) assim
como na manteiga de cacau, foram encontradas 5 formas polimrficas na gordura de
cupuau.
23
2.3 Pracaxi (Pentaclethra maeroloba)
O Pentaclethra macroloba popularmente conhecido como pracaxi, uma planta
oleaginosa encontrada em todo o norte do Brasil e em algumas partes da Amrica
Central. Seu fruto apresenta-se sob a forma de vagem onde so encontrados entre 4 a 8
sementes (Figura 2).
Figura 2. Sementes de pracaxi (Pentaclethra macroloba)
Fonte: Google imagens (2015).
O leo extrado das sementes apresenta diversas aplicaes medicinais
(cicatrizao de ulceras, erisipela, dores de ouvido, tratamento de leishmaniose), efeitos
possivelmente associados presena de saponinas e aplicaes estticas e cosmticas
(tratamento de estrias, ingredientes de sabonetes, shampoo, produtos para maquiagem),
devido sua excelente propriedade de molhagem (COSTA et al., 2014).
Em comunidades do interior do estado do Par muito comum a utilizao do
leo de pracaxi como meio de fritura, mas segundo Pesce (2009) o leo tem boas
caractersticas para o preparo de manteigas vegetais se misturado a gorduras em ponto
de fuso mais elevado.
Seu perfil de cidos graxos demostra uma predominncia de cido oleico
(44,32%), seguido de cido graxo lignocrico (14,81%) e linolnico (2,30%). Outros
cidos graxos como esterico (2,14%), palmtico (2,04%), linoleico (1,96%), mirstico
(1,21%), lurico (1,3%) tambm so encontrados porm em quantidades menores. Um
destaque do leo de pracaxi para o cido behnico (19%), valor este que pode ser at
seis vezes maior do que a concentrao deste cido no leo de amendoim (MORAIS,
2009).
O cido behnico (22:0) na dieta tem baixa absoro, essa caracterstica faz com
que suas fontes possam ser utilizadas para compor misturas para elaborao de produtos
gordurosos de baixa caloria. Assim como o cido behnico, cidos graxos de cadeia
mdia (caprlico; caprico, cprico e lurico) apresentam tambm um grande interesse,
24
sob o ponto de vista nutricional, se comparados com os de cadeia longa, pois no so
reesterificado na estrutura do triacilgliceris, no participando do processo de deposio
de gordura (BEBARTA et al., 2013).
2.4 Maracuj (Passiflora edulis)
Maracuj o nome popular que recebem as espcies do gnero Passiflora.
Cerca de 90% das 400 espcies deste gnero so originrias de regies tropicais e
subtropicais do planeta, sendo o maior foco de distribuio geogrfica o centro-norte do
Brasil, onde so encontradas pelo menos 79 espcies (ZERAIK et al., 2010).
Segundo dados do IBGE, em 2012, os estados que lideraram a produo de
maracuj foram Bahia, Cear e Minas Gerais (Tabela 2), estando o estado do Par na 7
posio com 26,837 mil toneladas produzidas por ano.
O maior valor econmico do fruto encontra-se na polpa, sendo utilizada como
matria prima para a extrao do suco. Cascas e sementes que eram consideradas como
resduos no aproveitveis, podem ser utilizadas para extrao de pectina e leo
respectivamente (MELETTI, 2011).
Tabela 2. Os dez maiores produtores do Brasil de maracuj.
Estado Produo (Toneladas) 1 Bahia 320.945 2 Cear 179.243 3 Minas Gerais 39.373 4 Sergipe 35.977 5 Espirito Santo 35.700 6 So Paulo 28.182 7 Par 26.837 8 Gois 15.291 9 Pernambuco 14.512 10 Mato Grosso 12.659
Fonte: IBGE Produo Agrcola Municipal, 2012.
Dando nfase aos estudos com as sementes, Ferrari, Colussi e Ayub (2004),
observaram aproximadamente 27,6% de leo, sendo o principal cido graxo presente o
linoleico (68,79%), valores estes bem prximos aos encontrados por Ferreira et al
(2011) (72,6%). Esses estudos sugerem que as sementes podem representar uma nobre
25
fonte de leo comestvel de grau premium com variados nveis de cidos graxos
insaturados (NYANZI, CARSTENSEN, SCHWACK, 2005).
3. Interesterificao A interesterificao, tambm conhecida como transesterificao, promove uma
mudana na distribuio dos cidos graxos nos triacilgliceris, afetando as
caractersticas fsicas e o comportamento geral dos lipdios obtidos, porm sem gerar
cidos graxos trans (GIOIELLI, 2002; SHAHIDI, 2005).
Vem sendo aplicada para modificar o comportamento de fuso, obtendo-se
consistncia desejada em temperaturas especficas (ambiente ou refrigerao); para
reduzir a recristalizao durante a vida til do produto e para facilitar os processos de
produo modificando ou melhorando o comportamento cristalino (RIBEIRO et al.,
2007).
A interesterificao especialmente til quando se deseja combinar gorduras
slidas (ricas em cidos graxos do tipo saturado) com gorduras lquidas (ricas em cidos
graxos do tipo insaturados) (ROBINSON et al., 2009). As indstrias podem aplicar dois
tipos distintos de interesterificao, a enzimtica que utiliza enzimas do tipo lipase para
fazer o rearranjo dos cidos graxos na molcula de triacilglicerol,; e a interesterificao
qumica, tipo mais utilizado dentro da indstria de alimentos.
3.1 Interesterificao qumica
A interesterificao qumica considerada um processo barato e fcil de
aumentar a escala, segundo Akoh (2002) seu custo de produo pode ser at 150 vezes
mais barato quando comparado a interesterifcao enzimtica, sendo, portanto muito
atrativa dentro da indstria de alimentos.
A proposta da interesterificao no apenas para obter propriedades de fuso
satisfatrias, mas tambm um comportamento cristalino desejvel, de preferncia
cristais do tipo ` ou -prima, de modo a produzir lipdios estruturados de alta
qualidade, sem exsudao de leo ou sensao de arenosidade na boca (ZHANG,
SMITH, ADLER-NISSEN, 2004) .
As reaes so realizadas, geralmente, em temperaturas acima do ponto de fuso
das misturas, em faixas que podem ir de 70C a 110C (SITI, NORIZZAH, ZALIHA,
2013). Uma das caractersticas da reao a utilizao de catalisadores qumicos
(AGOSTINI, 2001).
26
A utilizao de catalisadores garante um processo mais rpido com utilizao de
temperaturas mais baixas. As primeiras interesterificaes eram realizadas sem a
utilizao de catalisadores, porm era um processo muito lento e devido aplicao de
temperaturas elevadssimas (300C) outras reaes ocorriam como reaes de
polimerizao e isomerizao (GIOIELLI, 2000).
Os leos e gorduras, isentos de umidade, so aquecidos, sob vcuo, e o
catalisador adicionado sob constante agitao magntica, para ocorrer a disperso
rpida e completa na matria-prima. A reao conduzida por intervalos de tempo pr-
determinado e finalizada com adio de gua para promover a inativao do catalisador
(CCERES, 2008).
Os alquilatos metlicos (metxido ou etxido de sdio) so os mais utilizados
devido a algumas caractersticas como: baixo custo; poder atuar, dependendo das
caractersticas iniciais da amostra, em concentraes de at 0,1%; iniciar sua ao em
temperaturas mais baixas (50 a 60C) e ser facilmente removido por lavagem com
gua. Apesar de utilizado normalmente nas concentraes de 0,2 a 0,4%, existe registro
de utilizao na concentrao de at 2%, o que vai variar de acordo com a caracterstica
da amostra (acidez, perxido, umidade) (AGOSTINI, 2001). A quantidade de
catalisador necessria para neutralizar esses venenos catalticos est descrita na Tabela 3
e deve ser utilizada como base para calcular a quantidade de catalisador para a
interesterificao de acordo com as caractersticas iniciais da amostra.
Tabela 3. Inativao de catalisadores de interesterificao qumica.
Veneno Cataltico Catalisador inativado (Kg/1000 kg de leo) Tipo Nvel
Na NaOCH3 NaOH gua 0,01% 0,13 0,3 -
cido Graxo 0,05% (em cido oleico)
0,04 0,1 0,07
Perxido 1 (meq O2/kg) 0,023 0,054 0,04 Total 0,193 0,454 0,11
Fonte: Gioielli (2008).
A reao de interesterificao inicialmente caracterizada pela formao do
nion diglicerinato, a partir do catalisador metxido de sdio. Em funo da polaridade
o nion diglicerinato se aproxima de uma ligao ster de um triacilglicerol, formando
27
um complexo instvel com cinco cidos graxos, este complexo, ao regenerar o
triaclglicerol e o nion diglicerinato, pode promover a troca ao acaso dos radicais acil
presentes provocando a interesterificao. Este rearranjo prossegue at que seja atingido
o equilbrio qumico (Figura 3).
Figura 3. Mecanismo de interesterificao qumica.
Fonte: Shahidi (2005).
Alm dos alquilatos metlicos outros catalisadores tambm podem ser utilizados
tais como metais de sdio, liga slido potssio, hidrxidos de sdio e ou potssio
(Tabela 4) (AGOSTINI, 2001).
Tabela 4. Catalisadores que podem ser utilizados na interesterificao qumica.
Catalisadores (%) Temperatura (C) Tempo (min) Alquilatos metlicos (Metxido de sdio)
0,2-2 50-120 5-120
Metais alcalinos (Na, K, LigaNa/K)
0,1 -1 25-270 3-120
Hidrxidos alcalinos + Glicerol
0,1-0,2 60-120 30-45
Fonte: Agostini (2001).
A ocorrncia da interesterificao qumica pode ser comprovada pela observao
de alguns fatores como: alterao da cor; do ponto de fuso; do contedo de gordura
slida e da composio de acilgliceris (GIOIELLI, 1998).
A alterao na cor marcada por um tom marrom que se intensifica com o
progresso da reao e esta associada ou a formao do on enolato como intermedirio
28
do triacilglicerol ionizado logo aps a adio do catalisador ou a formao de um
complexo entre o catalisador e o grupo carbonila do triacilglicerol. Em ambos os
mecanismos um produto intermedirio do tipo cetoster ser formado. A carbonila
polarizada produz um diglicerinato intermedirio, o qual reage com outro diglicerinato
pela retirada de um cido graxo e com isso se forma um triacilglicerol novo. A repetio
deste processo atravs de uma srie de reaes em cadeia continuar at que todos os
grupos de AG tenham mudado de posio e a randomizao seja completa (ALMEIDA,
2008).
O ponto de fuso uma das mais simples e rpidas tcnicas aplicadas, porm no
deve ser a nica forma de avaliao da ocorrncia da reao, pois em alguns casos as
mudanas so to pequenas que podem estar na faixa do erro experimental (AGOSTINI,
2001).
O contedo de gordura slida um bom parmetro uma vez que reflete as
mudanas na estrutura dos triacilgliceris provocadas pela interesterificao,
principalmente mudanas nos contedos de trissaturados e dissaturados-monoinsaturado
(AGOSTINI, 2001).
E o padro ouro para ocorrncia da reao de interesterificao a anlise da
composio dos triacilgliceris realizada ou por cromatografia em camada delgada ou
por cromatografia em fase gasosa, porm ainda um mtodo, muitas vezes, de difcil
acesso e de alto custo (AGOSTINI, 2001).
Dependendo da temperatura utilizada no momento da reao podem existir dois
tipos de interesterificao qumica: ao acaso e a direcionada. As reaes que acontecem
acima do ponto de fuso do triacilglicerol de maior ponto de fuso resultam em
redistribuio completa dos cidos graxos ao acaso entre todos os triacilglicerois, porm
se a reao ocorrer a temperaturas abaixo do ponto de fuso do triacilglicerol de maior
ponto de fuso o resultado final ser uma mistura rica neste componente. A
interesterificao direcionada vista como uma combinao de interesterificao e
fracionamento (WILLS, LENCKI, MARAGONI, 1998).
Sob a perspectiva de custo e aplicao em larga escala a interesterificao
qumica parece ser um dos mtodos mais atrativos para a elaborao de bases
gordurosas para margarinas e produtos similares (WILLS, LENCKI, MARANGONI,
1998), porm antes de ser aplicada, recomendado que o processo seja otimizado.
Alguns autores citam condies de reao, porm a prtica diz que os mesmo so
29
inerentes aos equipamentos e matrias primas utilizados (GRIMALDI, GONALVES,
ANDO, 2005).
Muitos estudos tm sido realizados para avaliar a influncia da interesterificao
qumica nas propriedades fsico-qumicas de diversas misturas a citar estudos
desenvolvidos por Siti, Norizzah, Zaliha (2013) trabalhando com misturas entre
estearina de palma, leo de palmiste e leo de soja; Silva et al. (2010) utilizando azeite
de oliva e leo de palma; Silva, et al. (2009) utilizando banha e leo de soja; Rodrigues
e Gioielli (2003) trabalhando com misturas de gordura de leite e leo de milho, dentre
outros.
As caractersticas fsico-qumicas adquiridas aps a interesterificao dependem
das propores relativas aos componentes glicricos aps o rearranjo dos cidos graxos.
O conhecimento dessas propriedades de extrema importncia para demostrar potencial
de aplicao de um produto interesterificado dentro da rea de alimentos sendo
fundamental obter informaes sobre: ponto de fuso, contedo de gordura slida,
comportamento cristalino e consistncia (KOK, 1999; SILVA, et al., 2009 ; SOARES,
2010).
.
4. Propriedades fsico-qumicas
4.1 Ponto de fuso
O ponto de fuso representa a temperatura em que a lipdios apresentam-se
visualmente lquidos. Devido ser composta por centenas de triacilgliceris diferentes,
cada qual com um comportamento especfico de fuso, os lipdios comestveis podem se
fundir dentro de uma ampla faixa de temperatura (CHIU, GIOIELLI, 2002;
RODRIGUES et al., 2007).
Alguns parmetros influenciam diretamente no ponto de fuso dos lipdios a
citar o comprimento da cadeia dos cidos graxos que compe a estrutura do
triacilglicerol; o grau de insaturao e a posio do cido graxo na molcula de glicerol
(MISKANDAR, et al., 2005).
Na natureza podem ser encontrados cidos graxos com 3 at 24 carbonos.
Quanto maior a cadeia carbnica maior ser seu ponto de fuso, pois com a extenso da
cadeia ocorre um aumento da superfcie de contato entre as molculas e do numero de
ligaes moleculares, necessitando de uma quantidade de energia maior para provocar a
mudana de estado fsico (OETTERER, 2006).
30
Na tabela 5 pode ser observada a relao entre comprimento de cadeia e ponto
de fuso. Os cidos graxos de cadeia curta (4 a 6 carbonos) apresentam ponto de fuso
na faixa de -7C a 16C, j os cidos graxos de cadeia mdia (8 a 12 tomos de
carbono) apresentam ponto de fuso entre 31C a 54C e cidos graxos de cadeia longa
(acima 12 tomos de carbono) podem apresentar temperaturas de fuso na faixa de 62C
a 84C (OETTERER, 2006).
Tabela 5. Tamanho da cadeia carbnica e ponto de fuso
N de tomos de carbonos Temperatura de fuso (C) 4:0 - 7,9 6:0 -3,9 8:0 16,3 10:0 31,3 12:0 44 14:0 54,4 16:0 62,9 18:0 69,6
C20:0 75,4 Fonte: adaptado Nawar (1996).
Saber o comportamento de fuso da amostra direciona melhor o seu uso. Para
fabricao de massas folhadas e biscoitos ou para elaborao de manteigas especiais
para uso em pases de clima quente de especial interesse da indstria que essa gordura
tenha um elevado ponto de fuso (ALMEIDA, 2008). J para a fabricao de
chocolates, a utilizao de gorduras com elevado ponto de fuso pode comprometer a
qualidade final do produto, uma vez que desejvel que haja o derretimento do mesmo
ao entrar em contato com a boca gerando uma satisfatria caracterstica sensorial
(DAMODARAN, PARKIN, FENNEMA, 2010).
Na maioria dos casos de interesterificao observa-se um aumento do ponto de
fuso do produto obtido justificado pela introduo de cidos graxos saturados na
posio sn2- do glicerol bem como aumento dos nveis de triacilgliceris do tipo
disaturado e trisaturado (CCERES, 2008).
Porm efeitos na diminuio do ponto de fuso tambm podem ser observados e
j foram relatados por muitos pesquisadores. Ribeiro et al. (2009b) aps
interesterificao de leo de soja com leo de soja totalmente hidrogenado observaram
uma alterao de 63C para 50,9 a 53,7C. Norizzah et al. (2004) estudaram a
interesterificao de misturas de estearina de palma (PS) e olena de palmiste (PKOo),
31
nas propores de PS:PKOo relativas a 20:80, 40:60, 60:40 e 80:20 (m/m) observando
em todas as propores a diminuio no ponto de fuso. Karabulut et al. (2004)
estudaram o processo de interesterificao em escala laboratorial utilizando misturas de
estearina de palma totalmente hidrogenada ou estearina de palma com leos de canola e
de algodo, em propores variando de 30:70 a 70:30, observando tambm reduo da
temperatura de fuso. Kok (1999) realizou interesterificao entre leo de soja
altamente saturado, contendo 23,3% de cido palmtico e 20,0% de cido esterico, na
preparao de margarina sem cidos graxos trans, o produto interesterificado
apresentou ponto de fuso igual a 34,5C em contraste com o ponto de fuso do leo de
partida, que era igual a 9,5C.
4.2 Cristalizao
O comportamento de cristalizao de lipdios tem implicaes importantes,
principalmente no processamento industrial de produtos cujas caractersticas fsicas
dependem, em grande parte, de cristais de gordura, como chocolates, margarinas e
shortenings, assim como na separao de fraes especficas a partir de gorduras
naturais atravs do fracionamento (SILVA, ESCOBEDO, GIOIELLI, 2008).
Conhecer a estrutura e o comportamento cristalino se torna essencial na rea de
alimentos uma vez que cada forma cristalina apresenta propriedades nicas em relao
plasticidade, textura, solubilidade e aerao (OBRIEN, 1998). Produtos com alto teor
lipdico devem apresentar proporo adequada entre as fraes slida e lquida para que
o produto tenha a textura e a funcionalidade desejada pelos consumidores (TORO-
VAZQUEZ et al., 2000).
O processo de cristalizao dividido nas fases de super-resfriamento
nucleao, crescimento dos cristais e eventos pscristalizao.
No super-resfriamento os lipdios podem persistir na forma lquida em
temperaturas inferiores as do ponto de fuso por um perodo considervel antes que as
cristalizaes de fato sejam observadas. Isso ocorre devido a energia de ativao
associada a formao de ncleos (G) ser ultrapassada antes da ocorrncia da transio
de fase lquido-slido. Se a intensidade da energia for alta o suficiente em comparao a
energia trmica, a cristalizao no ocorrer e o sistema existir em um estado
metaestvel. A intensidade da energia de ativao vai depender da capacidade de
32
formao de ncleos de cristais em leo lquido os quais devem ter estabilidade o
suficiente para que possam crescer e iniciar a segunda fase que a nucleao
(HARTEL, 2001).
A nucleao envolve a formao de agregados de molculas que excederam um
tamanho crtico e so, portanto, estveis. Uma vez que o ncleo cristalino se formou,
este comea a crescer pela incorporao de outras molculas no cristal em crescimento.
A taxa de nucleao diretamente proporcional ao grau de resfriamento at uma
determinada temperatura, aps a qual diminui com ocorrncia do resfriamento
adicional. Esse comportamento justificado pelo aumento da viscosidade que
observado naturalmente durante o resfriamento, baixando a difuso de molculas
lipdicas em direo a interface lquido-ncleo (AKOH, MIN, 2002; DAS, GIOIELLI,
2006; SILVA, ESCOBEDO, GIOIELLI, 2008, DAMODARAN; PARKIN,
FENNEMA, 2010).
Quando h a formao de um ncleo estvel ir ocorre posteriormente o
crescimento desse cristal pela incorporao de molculas do leo lquido a interface
slido-lquido. Os cristais lipdicos podem apresentam muitas faces diferentes, sendo
que cada face pode crescer a taxas que variam muito entre si, o que justifica as muitas
formas de cristais (Figura 4) (DAMODARAN, PARKIN, FENNEMA, 2010).
Figura 4. Formas polimrficas dos cristais de gordura.
Fonte: Maragoni (2005).
Condies ambientais ou do sistema como viscosidade, condutividade trmica,
estrutura dos cristais, perfil de temperatura e agitao mecnica podem influenciar nos
processos de transferncia de calor e massa e na taxa de crescimento dos cristais. O
nmero e tamanho dos cristais formados nessa fase sero ditados pelas diferenas entre
taxa de nucleao e taxa de crescimento, por exemplo, se um leo resfriado com
33
rapidez a uma temperatura em que a taxa de nucleao menor que a taxa de
crescimento, ento haver formao de poucos cristais grandes, por outro lado, se o leo
for resfriado a uma temperatura em que a taxa de crescimento for menor que a taxa de
nucleao, haver formao de muitos cristais pequenos (DAMODARAN, PARKIN,
FENNEMA, 2010).
Essa informao sobre a organizao tridimensional dos cristais lipdicos
extremamente til para indstria farmacutica tambm para empregar tcnicas de
encapsulamento de princpios ativos. Das formas apresentadas acima a hexagonal a
mais indicada quando o objetivo a liberao do principio ativo, devido essa estrutura
apresentar um grau de empacotamento lipdico menor (SOUTO et al, 2011).
A ltima fase do processo de cristalizao representada pela fase denominada
ps-cristalizao. Nesta pode ser observada uma mudana da forma polimrfica menos
estvel para uma mais estvel, devido a reorganizao das molculas de triacilgliceris
dentro dos cristais. Se um lipdio forma cristais mistos pode haver alteraes na
composio dos cristais durante armazenamento em decorrncia da difuso de
molculas de trialcilglicerol entre os cristais. Essas transformaes podem exercer
influncias significativas sobre as propriedades fsico-qumicas e sensoriais dos
alimentos. muito comum que ocorra aumento do tamanho dos cristais em lipdios e
esse fato acaba sendo indesejvel em muitos casos pois leva a uma percepo arenosa
durante o consumo (GHOTRA, DYAL, NARINE, 2002).
A cristalizao dos triacilgliceris pode ocorrer em 3 formas principais,
denominadas de , ou -prima e . A maioria das gorduras apresenta polimorfismo
monotrpico, ou seja, quando ocorre uma transio entre as formas, porm essas
transies ocorrem somente na direo da forma mais estvel, passando de um estado de
energia livre de Gibbs mais elevado para outro mais baixo (Figura 5) (MARAGONI,
2005; GARTY, YANO, 2001).
34
Figura 5. Dinmica da transformao dos cristais (A) e a energia de Gibbs para cada estrutura polimrfica (B). Fonte: adaptado: Sato (2001).
Em geral pode-se afirmar que as gorduras de composio homognea tendem a
apresentar a forma , enquanto as de composio heterognea tendem forma -prima.
Dentre as trs formas polimrficas, a a mais estvel, -prima metaestvel e a a
menos estvel. A forma mais densamente empacotada, o que implica em maiores
consistncia e ponto de fuso (TIMMS, 1995). Os tipos de cristalizao de alguns leos
e gorduras podem ser observados na tabela 6.
Tabela 6. Classificao de alguns leos e gorduras de acordo com a cristalizao.
Cristal tipo Cristal tipo ` Soja Algodo
Crtamo Palma Girassol Sebo Milho Colza Canola Gordura bovina Oliva Coco
Palmiste Banha
Manteiga de cacau Fonte: Woerfel (1995).
`
40C 50C 60C
Liquido
Temperatura
G
Lquido
A B
35
A forma polimrfica requerida para a matria graxa depende de qual seja o
produto desejado. Gorduras com formao de cristal do tipo ` so mais macias,
propiciam boa aerao e propriedades de cremosidade ao produto final, caractersticas
desejveis para produtos como bolos, sorvetes e margarinas. Contrariamente as formas
tendem a produzir cristais largos e com baixo potencial de aerao sendo indicados
para aplicados na produo de gorduras para pastelaria (HERRERA, 2005).
importante destacar que muitas gorduras apresentam como tendncia natural a
cristalizao sob a forma mais atrativa, ou seja, forma `, entretanto em alguns casos,
devido sua composio de trialcilglicerois podem apresentar uma baixa velocidade de
cristalizao e tendncia ao ps-endurecimento fazendo com que seu uso isolado seja
prejudicado pois poder resultar em produtos quebradios. Essas caractersticas so
observadas, por exemplo, com a gordura de palma, podendo ser solucionado com a
aplicao da interesterificao, fazendo uma associao com leos com elevado teor de
cido lurico (LIDA, ALI, 1998).
Alm do tipo de cristal formado importante tambm conhecer o
comportamento de cristalizao das gorduras e essa informao pode ser obtida atravs
do modelo de Avrami linearizado (equao 1).
1 ()()
= + Eq.1
Onde:
SFC(t) = contedo de gordura slida em funo do tempo
SFC() = contedo de gordura slida mxima obtida quando a cintica foi finalizada.
k = Constante de Avrami (min-1);
t = tempo (min);
n = Expoente de Avrami
A equao foi desenvolvida para o estudo da cintica de mudana de fase e seus
princpios foram aplicados pela primeira vez na cristalizao de polmeros na dcada de
50. No estudo de gorduras a equao descreve um evento no qual h um perodo lag
inicial, onde a cristalizao ocorre muito lentamente, e subsequentemente um rpido
aumento da massa cristalina. A teoria de Avrami considera que a cristalizao ocorre
tanto pela nucleao quanto pelo crescimento dos cristais e assume que as condies de
transformao so isotrmicas, que a nucleao ocorre espacial e arbitrariamente e que a
36
cintica de crescimento linear em que a velocidade de crescimento da nova fase
depende apenas da temperatura e no do tempo (WRIGHT et al., 2000).
Os parmetros de Avrami fornecem informaes sobre a natureza do processo de
cristalizao. A constante k leva em considerao tanto a nucleao quanto a taxa de
crescimento dos cristais. O expoente de Avrami n, s vezes chamado de ndice de
cristalizao, indica o mecanismo de crescimento dos cristais. Este parmetro uma
funo combinada da dependncia do tempo por parte da nucleao e do nmero de
dimenses em que o crescimento ocorre. A nucleao pode ser instantnea, com os
ncleos surgindo todos de uma s vez no incio do processo, ou espordica com o
nmero de ncleos aumentando linearmente com o tempo. O crescimento ocorre
tomando formas de agulhas, discos ou esferulitos, em uma, duas ou trs dimenses,
respectivamente, a tabela 7 mostra o valor do expoente de Avrami, n, esperado para
vrios tipos de nucleao (1, 2 ou 3) e crescimento (0 ou 1) (WRIGHT et al., 2000).
Tabela 7. Valores do expoente de Avrami, n, para diferentes tipos de nucleao e
crescimento.
Tipo de crescimento
Tipo de nucleao
n Tipo de crescimento do cristal e nucleao esperado
3 1 3+1=4 Crescimento esferultico a partir de ncleos espordicos
3 0 3+0=0 Crescimento esferultico a partir de ncleos instantneos
2 1 2+1=3 Crescimento em forma de disco a partir de ncleos espordicos
2 0 2+0=2 Crescimento em forma de disco a partir de ncleos instantneos
1 1 1+1=2 Crescimento em forma de agulha a partir de ncleos espordicos
1 0 1+0=1 Crescimento em forma de agulha a partir de ncleos instantneos
Fonte: Ract (2006).
4.3 CONTEDO DE GORDURA SLIDA
O contedo de gordura slida (CGS), ou Solid Fat Content (SFC), representa a
frao (0-1) ou a porcentagem (0-100%) de lipdios que se encontram em estado slido
em uma dada temperatura e tem uma relao muito importante com a consistncia e
37
plasticidade (espalhabilidade) das gorduras (KARABULUT, TURAN, ERGIN 2004;
CHIU, GIOIELLI, 2002; DAMODARAN, PARKIN, FENNEMA, 2010).
Gorduras com pequena variao no teor de slidos em uma ampla faixa de
temperatura so definidas como gorduras plsticas e esta desejada em muitos produtos
dentro da rea de alimentos pois podem sofrer oscilaes de temperaturas sem haver
perdas da capacidade de aerao e nem de consistncia (GRIMALDI, GONALVES,
ESTEVES, 2000).
O leo de soja totalmente hidrogenado um exemplo de gordura plstica. Silva
(2009), oscilando a temperatura de 10C para 45C observou uma diminuio de apenas
1,2% no contedo de gordura slida (Tabela 8).
Tabela 8. Contedo de gordura slida do leo de soja totalmente hidrogenado.
Gordura Vegetal Contedo de gordura slida (%) 10C 21,1C 26,7C 33,3C 37,8C 45C
leo de Soja Totalmente
Hidrogenado
99
98,8
98,4
98,2
98,2
97,8
Fonte: Silva (2009).
O contedo de gordura slida pode ser um parmetro utilizado para definir as
aplicaes de uma gordura, ou de misturas de gorduras, em um determinado produto.
Dependendo do valor apresentado a uma dada temperatura as gorduras podem ser
utilizadas para a elaborao de: margarina funcional; margarina macia; margarina de
mesa; margarinas para utilizao em bolos, em pastelaria, massas folhadas dentre outros
(Tabela 9).
Tabela 9. Perfil de slidos de acordo com o tipo de produto.
Tipo de produto 10C 20C 25C 30C 35C Margarina funcional 13-16 8-12 5-10 0-4
Segundo Rosseau et al. (1996) o contedo de gordura slida para uma margarina
ter espalhabilidade ideal de aproximadamente 30% a uma temperatura de 15C. A
espalhabilidade uma propriedade fsica fortemente influenciada pelo contedo de
gordura slida. Quanto maior for CGC e o teor de cidos graxos saturados na gordura,
mais firme e menos espalhvel ela ser, comprometendo sua aceitao.
Lida, Ali (1998) apontaram algumas caractersticas especiais das gorduras em
diferentes faixas de temperatura dependendo do teor de slidos apresentado. Contedo
de gordura slida a 10C pode determinar caracterstica de espalhabilidade na
refrigerao sendo ideal que esse valor no ultrapasse 32%. J em temperaturas entre
20-25C pode demostrar a resistncia a exsudao do leo, no devendo esse valor ser
inferior a 10% e a temperatura de 30-35C esta relacionado s caractersticas sensoriais
na boca.
As transformaes no teor de slidos em funo da aplicao da
interesterificao so resultados das variaes nos contedos dos triacilgliceris,
principalmente trisaturados e disaturados (RIBEIRO et al., 2009b).
Chiu, Gioielli (2002) atravs do CGS verificaram que as misturas
interesterificadas entre estearina de palma e gordura de toucinho apresentavam
indicaes de utilizao na panificao e confeitaria.
Gamboa, Gioielli (2003) trabalhando com a interesterificao entre gordura de
palma e leo de peixe observaram um perfil de slidos adequado das amostras 80-20 e
60-40 para aplicao em margarinas cremosas enquanto que a proporo 40-60 seria
mais bem direcionada para a elaborao de margarinas lquidas.
Ribeiro et al. (2009a) observaram que as amostras interesterificadas entre leo
de canola com leo de algodo totalmente hidrogenado na proporo 80:20 apresentou
caractersticas compatveis para fabricao de margarinas cremosas, e a proporo
75:25 poderia ser aproveitada para elaborao de base para spreads (produtos utilizados
para consumo junto com pes e biscoitos, como manteiga, margarinas, cremes vegetais
e ou outros produtos com a mesma funo).
O teor de slidos tambm pode ser utilizado no estudo de compatibilidade de
gorduras em diferentes sistemas, atravs do comportamento observado graficamente na
curva de iso-slidos, diagrama que representa a temperatura constante, o contedo de
slidos de vrias composies gordurosas. A solubilidade incompleta dos
triacilgliceris no estado slido caracteriza um tipo de incompatibilidade conhecida
39
como interao euttica, que tende a ocorrer quando as gorduras diferem em volume
molecular, forma ou polimorfo (NOOR LIDA et al., 2002; BALBO, GIOIELLI, 1991).
4.4 Consistncia
A reologia de um sistema de gordura determinada por sua textura e
consistncia (GHOTRA, DYAL, NARINE, 2002).
A textura definida como a manifestao sensorial da estrutura de um alimento
e a maneira na qual esta reage aplicao de uma fora. Alguns dos atributos sensoriais
identificados como descritivos da textura de alimentos slidos so: consistncia, dureza,
elasticidade, coesividade e mastigabilidade, destes atributos, as informaes de
consistncia so as mais utilizadas quando a matriz a ser aplicada uma gordura
(CHIU, GIOIELLI, 2002).
A mudana da consistncia em uma faixa de temperatura denominada
plasticidade e ser ditada pela relao entre as fases slido-lquida e o seu carter
cristalino (ERICKSON, ERICKSON, 1995).
Segundo Haghton (1959), possvel classificar as gorduras desde muito macias
at muito duras, a determinada temperatura de aplicao, em funo da propriedade
subjetiva da espalhabilidade (Tabela 10).
Tabela 10. Classificao de produtos gordurosos segundo Yield value.
Yield value (kgf/cm2) Consistncia 1,5 Muito dura Fonte: Haighton (1959)
O parmetro yield value influenciado diretamente pela cristalizao das
gorduras e corresponde resistncia da gordura deformao, ou seja, a fora
aplicada por unidade de rea capaz de causar deformao na gordura. As gorduras
40
comportam-se como slidos rgidos at que a tenso de deformao exceda o yield
value, quando fluem como um lquido viscoso (MING, GIOIELLI, 2002).
A consistncia de gorduras influenciada pelo contedo de gordura slida do
material e observada uma relao sempre direta, ou seja, quanto maior for o teor de
slido do material maior ser sua consistncia, apesar de ser sempre direta no
necessariamente ser linear e como regra a consistncia diminui com o aumento da
temperatura uma vez que o aquecimento provoca a fuso gradual dos cristais e
consequentemente a destruio da rede cristalina (CHIU, GIOIELLI, 2002).
colocada como um parmetro especialmente importante para elaborao de
spreads como margarinas. As margarinas para fins culinrios so utilizadas como
shortenings, sendo aplicadas em diversos produtos como bolos, biscoitos, pes,
folhados e outros produtos de confeitaria. Geralmente esta margarina bastante firme e
no requer refrigerao. As margarinas de mesa podem ser de dois tipos: refrigeradas e
no refrigeradas, ambas espalhveis em temperatura ambiente. As refrigeradas podem
estar em potes ou em blocos. As margarinas suaves em potes devem apresentar
espalhabilidade em temperatura de refrigerao e no devem sofrer exsudao do leo,
enquanto as do tipo em blocos devem ser suficientemente firmes para no perderem o
formato de empacotamento (MISKANDAR et al., 2005).
5. Tcnicas analticas aplicadas em lipdios Para que as fraes lipdicas possam ser direcionadas a aplicao na indstria de
alimentos, alm das tcnicas consideradas rotineiras de composio de cidos graxos,
acidez, perxido, outras tcnicas como calorimetria diferencial de varredura,
ressonncia magntica, textura medida por texturmetro devem ser aplicadas.
5.1 Calorimetria diferencial de varredura
A Calorimetria Diferencial de Varredura ou Differential Scaning Calorimetry
(DSC) uma tcnica termo analtica que pode fornecer informaes importantes sobre
formas de cristalizao durante a fuso de gorduras. uma tcnica fcil de ser utilizada
e considerada de alta sensibilidade (TAN, CHE MAN, 2002).
A figura 6 apresenta uma curva tpica de DSC com os principais fenmenos
observados durante a anlise. Os fenmenos trmicos que ocorrem na amostra se
apresentam na forma de desvio de linha de base na direo exotrmica ou endotrmica.
41
As respostas endotrmicas apresentam variao de energia positivas e podem est
relacionada a eventos de transio slida ou fuso, assim como eventos de desidratao
e decomposio, j as exotrmicas apresentam variao de energia negativa e
correlacionam-se com eventos de cristalizao, algumas transies slidas,
decomposio e transio vtrea (WADA, 2007).
Figura 6. Representao da curva de DSC com os fenmenos.
Quando uma gordura aquecida esta pode exibir mltiplas fases de fuso, sendo
que cada etapa de recristalizao representa a transio de uma forma polimrfica
menos estvel para uma mais estvel. A temperatura de transio de pico pode ser
indicador da forma polimrfica de um cristal, pois a forma cristalina mais estvel possui
ponto de fuso maior (WADA, 2007).
Vrios trabalhos vm reportando a caracterizao de leos e gorduras pela
tcnica de DSC. Luccas, Kieckbusch (2006) estudando o comportamento cristalino por
DSC encontraram 4 formas polimrficas diferentes na gordura de cupuau e 5 formas
diferentes na manteiga de cacau. Nassu, Gonalves (1994) observaram nos grficos de
fuso e cristalizao do leo de palma 2 picos endotrmicos e 1 pico exotrmico.
42
As informaes sobre cristalizao obtidas pelo DSC sempre que possvel
devem ser confirmadas por outras tcnicas complementares tais como a difrao de raio
X e ou microscopia, por exemplo (NASSU, GONALVES, 1994).
5.2 Ressonncia magntica nuclear
A espectrometria de Ressonncia Magntica Nuclear (RMN) um mtodo de
escolha para a determinao do contedo de gordura slida, apesar de o mesmo tambm
poder ser determinado por tcnicas de dilatometria (MING, GIOIELLI, 2002).
O mtodo de RMN baseado nas diferenas entre os decaimentos de energia de
fases slida e lquida de uma gordura quando submetida a um intenso pulso de
radiofrequncia. O mtodo de ressonncia magntica nuclear mais rpido, mais
preciso e fornece resultados mais prximos ao teor absoluto de gordura slida em
relao a tcnicas como dilatometria e anlise trmica diferencial. (CHIU, GIOIELLI,
2002).
A aplicao da Ressonncia Magntica Nuclear para anlise do contedo de
gordura slida em funo do tempo para uma determinada temperatura de anlise
previamente fixada pode gerar informaes importantes quanto ao comportamento
cristalino (cintica de cristalizao) (GRIMALDI, 2000).
5.3 Ponto de fuso
Os mtodos para determinao do ponto de fuso de gorduras so considerados
relativamente simples. Os dois mtodos mais utilizados para a determinao da fuso
das gorduras utilizam os conceitos de capilaridade, conhecidos como capillary melting
point e o softening point ou ponto de amolecimento, ambos padronizados pela
American Oil Chemists Society (AOCS) (RIBEIRO, et al., 2009b).
Em ambos os mtodos, a amostra aquecida e este calor gerado convertido em
energia cintica. medida que o movimento das molculas vai aumentando, as foras
atrativas intermoleculares so superadas, perdendo-se progressivamente o estado
ordenado das molculas em estrutura cristalina. As molculas passam ento para um
estado de maior liberdade de movimento, transitando a substncia do estado slido para
o estado lquido, podendo ser observado o movimento da coluna lipdica dentro do
capilar. As taxas de aumento at 2C / min so razoveis para determinaes de rotina.
43
Taxas mais elevadas s so recomendadas para determinaes rpidas de substncias
com pontos de fuso desconhecidos (MEIRELES, PEREIRA, 2013).
A diferena entre os mtodos consiste em que o primeiro utiliza capilares
fechados em uma das extremidades e o segundo capilares abertos. Os capilares abertos
caracterizam-se por apresentar melhor reprodutibilidade dos resultados (RIBEIRO, et
al., 2009).
Outra forma de determinao do ponto de fuso atravs do contedo de gordura
slida. Segundo Timms (1995) a gordura escorre no tubo capilar quando h
aproximadamente 5% de gordura slida, o que permite caracterizar o ponto de fuso
quando o teor de slidos ou contedo de gordura slida estiver entre 1 e 5%.
5.4 Consistncia
A consistncia de alguns produtos gordurosos pode ser avaliada por diferentes
mtodos sendo a anlise atravs do cone penetrmetro a mais utilizada. Consiste na
medida da profundidade de penetrao do cone na amostra em um tempo pr-
determinado. Os resultados so apresentados como profundidade de penetrao em
unidades de 0,1mm e os valores so convertidos, baseado na formula sugerida por
Haighton (1959), em yield value (gf/cm2) (Equao 2) que corresponde tenso
absorvida antes da deformao permanente o qual se correlaciona com a textura e
espalhabilidade da amostra. (Equao 2)
= 1,6
(Equao 2)
Onde: C = yield value (gf/cm2); K = fator dependente do ngulo do cone; W =
fora de compresso (gf); p = profundidade da penetrao (mm/10)
(HAIGHTON,1959).
Atravs do yield value obtido da equao de Haighton (1959) verifica-se a faixa
em que se encontra a amostra e ento se define a caracterstica do produto.
Segundo OBrien (1998) a funcionalidade de uma gordura pode ser determinada a
partir de medidas de consistncia realizadas em ampla faixa de temperatura, geralmente
entre 5 a 40C em intervalos de 5C.
44
6 Concluso A aplicao da interesterificao qumica para obteno de lipdios estruturados
um processo utilizado em larga escala na indstria alimentcia, principalmente na
indstria de margarinas e shortening e a busca por misturas que possam atender a
exigncia nutricional, com adequadas propores de cidos graxos, e a tecnolgica
(plasticidade, fuso, estabilidade) constante. Apesar de existirem muitos trabalhos
empregando a interesterificao qumica para obteno de lipdios estruturados, so
escassos os trabalhos, com exceo da estearina e oleina de palma, que utilizam outras
matrizes oleaginosas proveniente da Amaznia e diante de um mercado em crescente
expanso o estudo sobre lipdios no convencionais acaba despertando o interesse de
muitos pases e o Brasil, especialmente a Amaznia, se destaca por ser uma regio rica
em matrias-primas renovveis. Desenvolver lipdios estruturados com leos e gorduras
no convencionais pode ser uma oportunidade importante de fomento e valorizao dos
mesmos no mercado brasileiro e mundial.
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