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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE ENGENHARIA
DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE CONTROLE DE
ROTAÇÃO DE UMA TURBINA EÓLICA EM ESCALA
Porto Alegre, 11 de dezembro de 2017.
Autor: Carlos Alberto Hambsch Bublitz
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Curso de Engenharia de Controle e Automação
Av. Ipiranga 6681, - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS - Brasil
Email: [email protected]
Orientador: Prof. Rubem da Cunha Reis
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Av. Ipiranga 6681, - Prédio 30 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS- Brasil
Email: [email protected]
RESUMO
A grande demanda por energia no mundo expande a busca por energia provindas de
fontes renováveis como a energia eólica. Em busca de um melhor rendimento na produção de
energia elétrica, diferentes estratégias de controle vêm sendo utilizados em turbinas eólicas a
fim de otimizar esta geração. Neste contexto, o presente trabalho apresenta a aplicação de um
controlador de rotação de uma turbina eólica em escala. O controlador do tipo proporcional-
integral (PI) aplicado neste sistema, mantém constante a rotação da turbina em diferentes
velocidades de vento. A partir da rotação constante da turbina eólica, por meio do controle de
passo, a geração de energia se torna constante e mais eficiente. Para esta aplicação, foi
construído um protótipo de turbina eólica, utilizando pás de um aerogerador comercial. O
protótipo apresenta um mecanismo que atua por meio de um servo motor para realizar o
controle proposto pela mudança do ângulo das pás em relação ao vento. Os objetivos de
construir um protótipo e realizar o controle de rotação foram atingidos com sucesso apesar do
protótipo em escala não ser de uma turbina real.
Palavras-chave: energia eólica, controladores PI, turbina eólica em escala,
controle do ângulo de passo
2
ABSTRACT
The great demand for energy in the world expands the search for energy from
renewable sources such as wind energy. Searching for a better efficiency in energy
generation, controls have been used in wind turbines in order to optimize this generation. In
this context, this work presents the application of a rotation controller of a wind turbine in
scale. The proportional-integral (PI) controller applied in this system keeps turbine rotation
constant at different wind speeds. Based on constant rotation of the wind turbine, by the step
control, the power generation becomes constant and more efficient. For this application, a
wind turbine prototype was built using blades from a commercial wind turbine. The prototype
presents a mechanism that acts by with a servo motor to develop the proposed control through
the change of the pitch angle of the blades. The purpose of building a prototype and
performing the rotation control were successfully achieved despite the scale prototype won´t
be a real turbine, as planned.
Key-words: wind energy, PI controller, scale wind turbine, pitch control
1 INTRODUÇÃO
A busca por fontes renováveis na produção de energia vem se tornando uma tendência
mundial e, dentre essas energias, a eólica tem se provado uma grande opção. A energia eólica,
provinda de uma fonte renovável e limpa, o vento, é considerada uma das soluções para o
conflito entre a geração de energia e a preservação do meio ambiente, devido ao seu bom
rendimento e baixo impacto ambiental [1].
Com o passar dos anos esta tecnologia vem sendo aprimorada, se tornando mais viável
e eficiente. Hoje, este tipo de energia está presente em diversos países do mundo e a tendência
é que sua utilização aumente nos próximos anos. Aqui no Brasil, o Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas (PROINFA) prevê que até 2022, pelo menos 10% da energia gerada no
país provenha das fontes renováveis [2]. Este tipo de programa surge devido ao fato de que o
Brasil possui um grande potencial eólico na região litorânea que ainda deve ser explorado.
Esse potencial eólico brasileiro pode ser analisado na Figura 1 que apresenta o fluxo de
potência eólica anual de vento para 50 metros de altura [3]. Dessa forma, pode-se perceber
que, em um futuro breve, a energia eólica será, responsável por grande parte da produção
energética de muitos países, como o Brasil.
3
Figura 1 – Potencial eólico brasileiro
Fonte: Atlas do potencial eólico brasileiro [2001]
1.1 Tema de Pesquisa
O desenvolvimento dessa forma de conversão de energia necessita de conhecimento
em diferentes áreas, como meteorologia e engenharias. Na construção de aerogeradores, por
exemplo, são utilizados conhecimentos de engenharia civil e estrutural para a construção da
torre; da engenharia mecânica, para o desenvolvimento dos mecanismos de transmissão e a
aerodinâmica das pás; da engenharia elétrica, para a elaboração do gerador elétrico e o
sistema de distribuição de energia e da engenharia de controle e automação, para o controle da
turbina [4].
O controle da turbina é de extrema importância em um aerogerador de grande porte.
Existem diferentes tipos de controle que são empregados, tanto para a proteção como para o
posicionamento do rotor e das pás visando a otimização da produção de energia. Para a
produção ótima de energia em turbinas eólicas de grande porte é aplicado um controle de
velocidade do rotor, através da rotação das pás, chamado de controle do ângulo de passo. Um
dos principais objetivos deste controle é comandar a quantidade de energia que a turbina está
produzindo para determinada velocidade do vento [5].
4
1.2 Justificativa do Tema
Compreendendo a importância da energia eólica na produção energética mundial e seu
papel para a preservação ambiental, são necessárias pesquisas para aprimorar essa tecnologia.
Dessa forma, é de extrema importância o estudo de métodos de controle afim de produzir
aerogeradores mais eficientes.
Buscando adquirir conhecimento nas técnicas de controle de turbinas eólicas este
trabalho foi realizado com o intuito de testar o controle da rotação de um aerogerador em
pequena escala.
1.3 Objetivo do Trabalho
O objetivo deste trabalho é aplicar um controle de passo em uma turbina eólica
construída a partir de um aerogerador comercial em escala reduzida. O presente trabalho irá
desenvolver esse controle a fim de manter fixa a velocidade rotacional do aerogerador
independente da oscilação do vento incidente. Com a estabilização desta rotação, o torque e a
potência do aerogerador também se tornam estáveis, já que os mesmos dependem da rotação
da turbina [6].
Com a elaboração do protótipo de aerogerador, o mesmo será testado em túnel de
vento, a fim de obter os parâmetros do sistema para a realização de um modelo em software
de simulação. A partir disso, o controle de passo será projetado e implementado no protótipo
com o intuito de posicionar as pás do aerogerador no melhor ângulo possível para atingir a
rotação ideal do sistema.
1.4 Delimitações do Trabalho
Com a busca pelo conhecimento das técnicas de controle aplicadas em energia eólica,
estratégias de controle de rotação de aerogeradores foram pesquisadas. A partir de referenciais
teóricos foram observados controles que atuam de diferentes formas a fim de controlar a
velocidade de rotação ou produção de energia de turbinas eólicas. Existem controles que
atuam no gerador elétrico, no rotor inteiro ou no posicionamento das pás, sendo esse último, a
principal ideia para a realização do trabalho.
Dessa forma, o trabalho deverá se ater à construção do protótipo do aerogerador em
escala reduzida, ensaio em túnel de vento, elaboração e implementação do controle no
protótipo. A respeito da construção do protótipo de aerogerador serão levadas em
consideração apenas as pás de um aerogerador já existente. Os demais componentes do corpo
do protótipo serão desenvolvidos buscando o funcionamento do mecanismo de controle de
5
passo das pás. Conhecendo-se os parâmetros da pá real, não será apresentado nesse trabalho o
estudo da aerodinâmica da mesma.
O controle aplicado no presente trabalho será elaborado para manter a rotação
constante do aerogerador. Dessa forma, não serão utilizadas nem consideradas as caixas de
transmissão e gerador elétrico. Assim, o controle utilizará sensores apenas para a leitura da
rotação, sem controlar a geração de energia deste aerogerador.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A energia eólica
A energia eólica é a energia fornecida pela força dos ventos, uma fonte renovável. Os
ventos são resultado do aquecimento do ar, por meio do sol, produzindo massas de ar com
diferentes níveis de pressão. A diferença de pressão causa a movimentação destas massas de
ar, produzindo energia cinética que é convertida em energia mecânica ou elétrica com o uso
de máquinas eólicas [4].
Os benefícios obtidos pela utilização de energia eólica são, por exemplo, a fonte
renovável, considerada limpa e que produz baixos impactos ambientais; a eficiência, que está
sendo obtida com os avanços tecnológicos; e o tamanho necessário para sua instalação. As
turbinas ocupam pouco espaço se comparadas com outros métodos de geração, possibilitando
a utilização do solo próximo à sua torre e permitindo a geração em locais remotos. As
desvantagens que podem ser observadas são a grande variação de produção, dependendo da
ocorrência de vento, além da poluição sonora e visual que as turbinas podem provocar [6].
2.2 As turbinas eólicas
As turbinas eólicas, também chamadas de aerogeradores ou sistema de geração eólica,
são máquinas construídas para a conversão da energia cinética do vento em energia elétrica
[7]. Atualmente, existem diversos tipos de máquinas eólicas, de diferentes tamanhos, números
de pás e com eixos horizontais ou verticais, que produzem diferentes quantidades de energia.
Sendo, o aerogerador mais comum, o modelo de eixo horizontal composto por três pás já que,
nesta configuração, permite uma maior eficiência na produção de energia [4]. Isso ocorre
devido à possibilidade de construir torres elevadas e com grandes diâmetros de rotor, obtendo
mais vento, já que a quantidade do vento aumenta com a altura [6]. Alguns exemplos dos
principais tipos de turbinas eólicas podem ser observados na Figura 2.
6
Figura 2 – Exemplos de turbinas eólicas
Fonte: Wind turbine types.Disponível em:<http://www.build.com.au/wind-turbine-types>
As turbinas eólicas podem ser classificar pela sua produção de energia em turbina de
pequeno, médio e grande porte [8]. Os aerogeradores de pequeno porte produzem até 10 kW
e, geralmente, são utilizadas para residências e locais remotos. As turbinas de médio porte,
por sua vez, produzem de 10 a 250 kW e são utilizadas pequenas redes ou sistemas híbridos
de energia. Já as turbinas de grande porte produzem energias acima de 250 kW e são as mais
conhecidas, utilizadas em parques eólicos [8].
2.3 Componentes das turbinas eólicas
Os principais componentes dessas máquinas são [4]:
Torre: é o componente estrutural que sustenta o rotor e a nacele do
aerogerador;
Nacele ou nacela: é o corpo que envolve todos os equipamentos de
transmissão, gerador, freios e controlador do aerogerador;
Rotor: é o componente em que são posicionadas as pás, sendo responsável pela
rotação do eixo do gerador;
Caixa de transmissão: é o componente que atua em conjunto com o eixo do
rotor para a transmissão do movimento para o rotor do gerador;
Pás: são responsáveis pelo contato com vento para a transformação da energia
cinética do vento em energia mecânica;
Gerador: é o componente que converte a energia mecânica em energia elétrica;
7
Controlador: é responsável pela busca da potência ideal que será gerada pelo
aerogerador;
Anemômetro: é o equipamento responsável pela medição da velocidade do
vento incidente no aerogerador;
Dentre os principais componentes dos aerogerador pode-se citar as pás como um dos
mais importantes para o funcionamento da máquina. Ao entrar em contato com o vento, as pás
convertem a energia cinética em rotação no eixo do rotor. A rotação deste eixo é transmitida
por meio da caixa de transmissão ou caixa de velocidades, que aumenta a rotação para o
gerador elétrico. Este gerador utiliza os campos magnéticos gerados pela rotação e quando
acionado produz eletricidade [9]. As pás possuem perfis aerodinâmicos desenvolvidos
especialmente para esta finalidade, tirando o maior proveito possível do vento incidente [4].
Os principais componentes das turbinas eólicas convencionais podem ser observados na
Figura 3.
Figura 3 – Componentes de uma turbina eólica
Fonte: COSTA, Nailson. Saiba como funciona o aerogerador, que transforma vento em
eletricidade. Disponível em: <https://pt.linkedin.com/pulse/saiba-como-funciona-o-
aerogerador-que-transforma-vento-nailson-costa>.
2.4 Operação da turbina eólica
A produção de energia elétrica depende tanto da velocidade do vento incidente, quanto
das características do aerogerador, como o diâmetro do rotor e o rendimento do sistema.
8
Dessa forma, podemos identificar as regiões de operação das turbinas eólicas de acordo com a
velocidade do vento incidente, apresentadas na Figura 4 [4].
Figura 4 – Modos de operação
Fonte: MANWELL, J. F.; MCGOWAN, J. G.; ROGERS, A. L. Wind energy
explained: theory, design and application. [S.l.]: John Wiley & Sons, 2010.
Quando a velocidade do vento é muito pequena, o vento consegue vencer a inércia das
pás, não conseguindo rotacionar o rotor. Após atingir uma velocidade mínima, o rotor começa
a girar. Em seguida, se alcança a velocidade denominada Cut-in, onde a produção de energia
começa, geralmente entre 2,5 m/s e 4,0 m/s em média. A partir desta velocidade mínima, a
potência aumenta até atingir uma potência nominal, que ocorre entre 9,5 m/s e 15 m/s,
geralmente [4]. A velocidade dita nominal, onde a potência é nominal, é o ponto de operação
dos controles que buscam a produção ideal de energia. Ao atingir velocidades acima da
nominal, geralmente, existem mecanismos de proteção que impedem a operação da máquina a
fim de evitar acidentes ou danos. Esta última velocidade é conhecida como cut-out, que
representa a velocidade onde a turbina é desligada e um freio atua [6].
2.5 Controle das turbinas eólicas
Os controles implementados nas turbinas eólicas são responsáveis pela limitação da
potência produzida pela máquina. Esses controles devem controlar a rotação das pás da
turbina eólica a fim de manter a potência desejada. Atualmente, existem dois métodos de
controle conhecidos, o controle de estol ou stall e controle de passo ou controle de ângulo
pitch [6].
O controle de estol é um controle do tipo passivo, onde as pás são fixas e projetadas a
fim de não movimentar-se em altas velocidades. Isso ocorre, através do deslocamento do
escoamento de ar sobre a superfície da pá, aumentando as forças de arrasto e reduzindo as
9
forças de sustentação, o que gera turbulências em torno da pá, freando a mesma. Este
fenômeno de descolamento do ar é conhecido como estol [6]. A vantagem deste método de
controle é a simplicidade do sistema. Por outro lado, a produção de energia só ocorre com
velocidades de vento acima da nominal e a aerodinâmica das pás deve ser cuidadosamente
projetada [9].
O controle de passo das pás, também conhecido como controle de ângulo pitch, atua
na zona de velocidade de vento nominal visando à otimização do sistema. O controle de passo
é um método ativo que consiste em alterar o ângulo das pás, buscando a melhor incidência
com o vento a fim de obter uma rotação ideal, gerando a potência nominal da turbina [6]. As
pás do rotor giram em torno de seu eixo longitudinal a fim de controlar as forças
aerodinâmicas que atuam na pá. Quando as velocidades do vento são elevadas, o ângulo das
pás é alterado para manter a produção da potência nominal. Este método tem como vantagem
a produção de energia em diferentes velocidades de vento. Como desvantagem, pode-se
identificar o elevado custo, já que as pás necessitam de atuadores para fazer a regulagem do
ângulo de passo [9].
2.6 Controladores Proporcional-Integral-Derivativos (PID)
O controlador PID é o controlador mais empregado no mundo, cerca de 90 a 95% das
implementações de controle são realizadas com este tipo de controlador. Este tipo de controle
atua com a ação de três componentes somados, a ação proporcional, a parte integral e a
componente derivativa [9]. Assim, a lei de controle PID é descrita pela Equação (1):
(1)
Onde é a saída do controlador que será aplicada no sistema.
são as componentes proporcional, integral e derivativa,
respectivamente. O controle proporcional (P) representa um ganho ajustável que é aplicado ao
erro de regime do sistema. Ele representa uma relação entre a saída e a entrada do
compensador e ajusta o ganho original do sistema. Este ganho se for elevado pode tornar o
sistema instável, porém torna o sistema mais rápido, diminuindo o tempo de acomodação.
Esta parte proporcional pode ser descrita pela Equação (2):
(2)
Onde o e(t) é considerado o erro de controle e K é um ganho aplicado ao sistema. Este
erro é definido como a diferença entre os valores de referência e da saída do sistema. A ação
do componente integral (I) atua na resposta em regime permanente, a fim de eliminar o erro
do sistema. Esta ação integral representa uma taxa de variação entre o sinal de saída com o de
10
entrada. Este controle acrescenta um polo na origem do sistema, podendo instabilizar o
sistema e aumentar o tempo de acomodação. A componente integral pode ser definida pela
Equação (3):
(3)
Da união da ação proporcional com a ação integral, surge o controlador PI que pode
atuar no sistema tanto na resposta transitória como eliminando o erro no regime permanente.
Por outro lado, a ação derivativa, acrescenta um zero ao sistema, melhorando o regime
transitório, reduzindo o tempo de acomodação. Entretanto, a ação derivativa aumenta o tempo
de subida e amplifica ruídos, podendo saturar os atuadores do sistema [10]. A parte derivativa
pode ser definida da seguinte forma:
(4)
Por fim, o controlador PID une as componentes proporcional, integral e derivativa
atuando tanto no regime transitório como no regime permanente. Este controlador adiciona
um polo na origem e dois zeros no sistema. A equação que define este controlador pode ser
observada na Equação (1).
3 METODOLOGIA
O trabalho, como já citado, teve como objetivo a elaboração de um controle de
velocidade de uma turbina eólica em escala. Para isso, o trabalho possui diversas etapas nas
quais foi projetado um aerogerador, foram realizados ensaios e foi implementado o controle
projetado, a fim de atingir o objetivo proposto. As etapas do trabalho podem ser observadas
no fluxograma apresentado na Figura 5.
Figura 5 – Fluxograma do trabalho
Fonte: Autoria própria
Projeto e montagem do aerogerador
Ensaio em malha aberta
Elaboração do modelo
computacional
Elaboração e Implementação
do controle
Resultados e discussões
11
3.1 Projeto e montagem do aerogerador
O trabalho começou com a etapa de criação de um protótipo de aerogerador. O
aerogerador foi elaborado com a ajuda da equipe do Laboratório de Energia Eólica já que
havia limitações referentes ao túnel de vento que seria utilizado nas etapas de ensaios. Outro
fator que foi muito importante para o desenvolvimento da turbina eólica foi a ideia do
mecanismo que utiliza um servo motor para movimentar as três pás da turbina eólica. Com as
dimensões do túnel de vento e do mecanismo que seria projetado para movimentação das pás,
algumas ideias de aerogeradores foram desenhadas em ambiente 3D.
Primeiramente, um modelo foi construído em impressora 3D, mas foi descoberta uma
grande dificuldade para imprimir os pequenos detalhes da pá já que a impressora não tinha
resolução suficiente. Dessa forma, o projeto sofreu um redesenho do protótipo a fim de
utilizar segmentos de pás de um aerogerador comercial que já existia no laboratório. O
modelo do protótipo criado pode ser observado na Figura 6, onde é apresentada a vista frontal
(a) e a vista lateral (b).
Figura 6 – Modelo do protótipo
Fonte: Autoria própria
As pás utilizadas foram do aerogerador Air 403 Marine Industrial 12V da empresa
Southwest WindPower. Essas pás são feitas de compósitos reforçados com fibra de carbono e
projetadas com ângulos que permitem atingir os valores de tensão e potência esperados. Esse
12
efeito de torção na pá permite o controle de estol, já citado anteriormente, limitando a
velocidade de rotação da turbina e evitando danos em rajadas fortes de vento [11].
A turbina eólica Air 403 Marine Industrial 12V possui as seguintes características
[11]:
Diâmetro total do rotor = 1,14 metros;
Velocidade de início de produção (Cut-in) = 3 m/s;
Velocidade nominal = 12,5 m/s;
Potência nominal = 400 Watts;
A Figura 7 apresenta uma foto da turbina eólica Air 403 Marine Industrial 12V
instalada e em operação.
Figura 7 – Air 403 Marine Industrial 12V
Fonte: [11] ECODIRECT. Southwest WindPower Air 403 Marine Industrial 12V
Wind Turbine. Disponível em: <http://www.ecodirect.com/SWWP-Air-403-Marine-12V-
p/swwp-air-403-marine-12v.htm>
Na ideia inicial do trabalho foi projetada uma torre que seguisse o padrão cônico de
uma torre convencional, porém essa ideia acabou sendo descartada devido à instalação no
túnel de vento do laboratório. Foi então utilizada uma torre fixada ao solo, que posicionava a
turbina eólica no centro da saída do túnel de modo que o vento incidisse de maneira
homogênea em todas as partes do rotor.
A criação da nacele do protótipo foi realizada visando à utilização dos componentes
responsáveis pela fixação do rotor e da movimentação das pás. Dessa forma, a nacele foi
13
Servo motor
Encoder
Eixos de transmissão
construída em forma de caixa para facilitar o posicionamento do servo motor, eixos, sensor de
rotação e do mecanismo de movimentação das pás. O modelo criado para nacele contendo os
componentes pode ser observado na Figura 8.
Figura 8 – Modelo da nacele
Fonte: Autoria própria
Visando um motor que pudesse realizar o movimento sem dificuldades, foi escolhido
o servo motor HS-805BB+ da marca Hitec. Pesando apenas 152 gramas, possui um torque de
19,8 kgf /cm, operando com 4,8 V e 24,7 kgf/cm, operando com 6 V. Esse servo motor possui
conexão digital e é comandado por modulação por largura de pulso (PWM) [12].
Figura 9 – Servo motor HS-805BB+
Fonte: EuroRC. Hitec HS 805 MG servo. Disponível em:
<https://www.eurorc.com/product/13114/hitec-hs-805-mg-servo?change_country=br>
O micro controlador escolhido para este trabalho foi o Arduino Uno, uma plataforma
open source desenvolvido pela empresa italiana Arduino. O Uno é uma placa com
microcontrolador baseado no microprocessador ATmega328, alimentada com 5 Volts e
velocidade (clock) de 16 MHz. Com conexão via USB, possui 14 entradas/saídas digitais e 6
14
entradas analógicas [13]. Esta placa foi utilizada com a finalidade de alimentar e ler o sensor
de rotação utilizado para monitorar a rotação do aerogerador. Outra finalidade da placa é a
comandar o servo motor por meio das portas digitais. A placa do microcontrolador Arduino
Uno pode ser observada na Figura 10.
Figura 10 – Arduino Uno
Fonte: Arduino Store. ARDUINO UNO REV3. Disponível em:
<https://store.arduino.cc/arduino-uno-rev3>
O sensor escolhido para monitorar a rotação da turbina eólica foi o interruptor óptico
TCST 2103 da marca Vishay Semiconductors. Este sensor possui um emissor infravermelho e
um foto-transistor localizados frente a frente, separados por 3 milímetros, sendo assim, um
sensor compacto que pode ser implementado e configurado de forma simples para ser
utilizado como um encoder. Encoders, também chamados de transdutores de posição angular,
são dispositivos que tem como função a contagem de pulsos elétricos [14]. A Figura 11
apresenta o interruptor óptico TCST 2103 utilizado como sensor para monitorar a rotação do
aerogerador.
Figura 11 – Interruptor óptico TCST 2103
Fonte: Conrad. Vishay TCST 2103. Disponível em:
<http://www.conrad.com/ce/en/product/184250/Vishay-TCST-2103-CNY-37-Photoelectric-
Fork-Sensor>
Dessa forma, o TCST 2103 foi acoplado à um disco de acrílico preto fixado no eixo.
Esse disco possui 12 divisões que possibilitam a passagem da luz provinda do emissor do
sensor apenas nas divisões com cortes do disco. A medida que o eixo rotaciona, o disco passa
15
na frente do sensor hora bloqueando o emissor, hora possibilitando a passagem da luz do
emissor. A cada vez que o receptor do sensor recebe a luz proveniente do emissor, um valor
de tensão é enviado para a saída do sensor, de modo que seja possível monitorar as mudanças
de estado do sensor por este pino. A mudança de estado foi observada pelo microcontrolador
Arduino por meio de uma porta digital. A Figura 12 apresenta o disco utilizado no encoder (a)
e a montagem proposta do disco no sensor (b).
Figura 12 – Disco e montagem do encoder e montagem
(a) (b)
Fonte: Autoria própria
Para realizar a movimentação das pás foi desenhado um mecanismo composto por
braços e eixos, com base no trabalho desenvolvido por [15]. A ideia principal do mecanismo é
a realização do movimento de rotação das pás em torno de seu próprio eixo longitudinal,
criando um ângulo de pitch de até 90º. A fim de realizar esse movimento, um eixo menor foi
fixado no rotor e realiza rotação e translação, o outro eixo maior só realiza movimento de
rotação. O eixo menor atravessa o eixo maior, em uma das extremidade é fixado no rotor e na
outra é fixado em um rolamento ligado ao braço do servo motor. Este eixo menor é o
responsável pela transmissão do movimento do servo motor para a movimentação das pás. O
eixo maior é fixado junto ao disco e sensor de encoder e, na outra extremidade deste eixo, são
posicionados os braços que movimentam as pás.
O mecanismo de movimentação das pás da turbina eólica pode ser observado na
Figura 13 (a). Na Figura 13 (b) é apresentado o mecanismo na posição inicial de 0º, onde a pá
permanece em maior contato com o vento, permitindo a maior rotação da turbina eólica. Já a
Figura 13 (c), apresenta o mecanismo retraído, com ângulo pitch de 90º, onde a menor área da
pá entra em contato com o vento e a rotação diminui drasticamente.
16
Figura 13 – Mecanismo de movimentação das pás
(a)
(b)
(c)
Fonte: Autoria própria
3.2 Ensaio em malha aberta
O ensaio foi realizado em um túnel de vento no Laboratório de Energia Eólica da
PUCRS. Este laboratório, localizado no bloco F do prédio da Faculdade de Engenharia, é um
laboratório para pesquisa e desenvolvimento de projetos voltados para a área de energia
eólica. O túnel já possuía um sistema calibrado de aquisição de dados que permitia a obtenção
em tempo real dos dados de velocidade do vento, temperatura, umidade e pressão.
Dessa forma, o ensaio em malha aberta para identificação do sistema foi realizado por
meio de um degrau no posicionando das pás em relação ao vento incidente. O túnel foi
configurado para uma velocidade constante e as pás foram posicionadas com um ângulo de
pitch em que a velocidade angular se mantivesse baixa e constante. Enquanto eram
monitoradas a velocidade do vento e a resposta de rotação do aerogerador, um degrau na
posição do motor foi aplicado de modo que o ângulo de passo das pás fosse alterado
17
drasticamente. Esse degrau resulta em uma variação na rotação da turbina eólica,
representando a dinâmica desse sistema.
A velocidade do vento foi obtida por meio do software do Laboratório de Energia
Eólica enquanto que a rotação da turbina foi monitorada por um programa desenvolvido no
software próprio do microcontrolador Arduino. A movimentação do eixo do servo motor foi
programada a partir do microcontrolador de modo que respeitasse os limites estruturais do
sistema. Dessa forma, o degrau não desrespeitou as condições de saturação do sistema.
3.3 Elaboração do modelo computacional
Com estes dados obtidos a partir do ensaio em malha aberta, foi elaborado um modelo
do sistema no software MATLAB a fim de facilitar a simulação e projeto do controle da
turbina. O modelo computacional foi elaborado com a identificação do sistema e,
posteriormente, foi possível desenvolver um ambiente de simulação onde o modelo poderia
ser testado e validado de acordo com o sistema real.
A identificação de um sistema é realizada a partir das variáveis da planta, resultando
em uma função que representa o sistema de forma bem aproximada ao sistema real. Para
realizar essa identificação foi considerada a velocidade angular como a variável de entrada do
sistema, enquanto que para a variável de saída foi adotado o ângulo das pás.
Existem diversos métodos de identificação de sistemas que podem ser implementados
para buscar uma função de transferência do sistema. A identificação por mínimos quadrados
(MQ) é um exemplo e consiste em realizar cálculos matriciais a partir dos valores de entrada e
saída do sistema. Neste tipo de identificação devemos conhecer ou supor a ordem do sistema
a fim de construir a matriz de regressores e identificar os parâmetros do sistema. Se o sistema
for de terceira ordem, por exemplo, pode ser utilizada uma função de transferência candidata
do tipo apresentado na Equação (5):
(5)
Esta função descreve uma equação de recorrência da forma discreta apresentada na
Equação (6),
(6)
Onde representa a saída do sistema e representa a entrada. Descrevendo esta
função na forma matricial por meio da Equação (7):
18
(7)
Para uma série de N medidas, a equação deve ser representada na forma da Equação
(8):
(8)
Simplificando temos a Equação (9):
(9)
Para encontrar os valores desejados, basta isolar resultando na Equação (10):
(10)
Com os valores de encontrados é possível identificar a função de transferência da
forma apresentada na Equação (5) que representa o sistema real. Esta função de transferência
representa o modelo criado e pode ser utilizada para o desenvolvimento do controle do
sistema. A partir deste modelo, diversas simulações podem ser realizas no ambiente de
simulação criado no software MATLAB [16].
3.4 Elaboração e implementação do controle
A partir do modelo computacional obtido por meio da identificação do sistema, um
controle pode ser projetado a fim de comandar a planta. Para realizar o controle do sistema
foram utilizadas, além do modelo criado, algumas informações sobre a intensidade do vento e
o ângulo atual das pás vindas do controlador Arduino. Dessa forma, foi proposta uma malha
de controle que possa representar o sistema com o controlador e realimentação com o sensor
que mede a velocidade angular. A malha proposta pode ser observada na Figura 15.
Figura 15 – Malha de controle proposta
Fonte: Autoria própria
19
A partir do modelo do sistema e da malha de controle proposta, é possível projetar um
controle que atue na turbina eólica a fim de regular a posição das pás. Um controle é
desenvolvido a fim de modificar a dinâmica natural de um sistema por meio das variáveis
deste sistema [17]. O controle que pode ser implementado a fim de manter uma velocidade
angular constante da turbina para diferentes velocidades do vento, é o controle do tipo PI
(proporcional-integral), um submodelo do controlador proporcional-integral-derivativo (PID).
Dessa forma, o controle do tipo PI pode ser implementado para o projeto da turbina
eólica em questão, já que o controle visado necessita buscar uma referência de rotação
independente do vento incidente. O controle do tipo PI pode ser projetado para buscar a
referência e tornar o sistema mais rápido, estabilizando mais rapidamente que o sistema
original.
A partir da função de transferência do controle projetado é possível chegar em uma
equação de recorrência que relaciona o erro medido entre o sensor e referência, com o valor
sinal de entrada no motor. O controle então atua no motor movimentando o eixo de acordo
com o valor calculado pela equação de controle. O movimento do eixo é transmitido para as
pás através do mecanismo projetado, transformando o movimento rotacional do eixo em
translação do eixo do rotor e posteriormente em movimento rotacional das pás. Dessa forma,
o controle não leva em consideração o ângulo pitch das pás, pois atua no eixo do motor de
forma com que esse ângulo seja alterado para atingir a velocidade angular de referência.
4 RESULTADOS
A aplicação do trabalho seguiu a sequência do organograma projetado para o mesmo,
como já foi descrito na metodologia. Com o desenvolvimento do trabalho foram adquiridos
resultados referentes a cada uma das etapas do projeto.
4.1 Projeto e montagem do aerogerador
Como já descrito anteriormente o projeto inicial baseava-se na elaboração de um
protótipo de turbina eólica em escala porém, devido às dificuldades encontradas, diversas
partes do protótipo foram alteradas a fim de obter os resultados esperados do projeto. A
construção da torre de sustentação da turbina foi substituída pela estrutura disponibilizada
pelo Laboratório de Energia Eólica e as pás projetadas para impressão em 3D tiveram de ser
substituídas pelas pás da turbina Air 403 Marine. Além disso, com a realização dos testes
também foi notada a necessidade de alteração do servo motor utilizado para movimentação do
mecanismo das pás.
20
A partir destas modificações a montagem do aerogerador foi realizada de modo que
pudesse desenvolver os objetivos do trabalho. A nacele foi construída com a utilização da
impressora 3D disponível no Laboratório de Ensino de Eletrônica (LEE) da PUCRS. O
desenho da nacele foi todo construído visando armazenar o sensor de encoder e os
mecanismos para movimentação das pás. As pás disponibilizadas pelo Laboratório de Energia
Eólica foram posicionadas no hub do rotor junto com os braços que realizam a movimentação
das mesmas. Os eixos que realizam a transmissão do movimento das pás e servem de apoio
para o disco do encoder, foram usinados em aço e latão nos Laboratórios de Usinagem da
PUCRS. Os braços do mecanismo das pás, disco do encoder e demais componentes de
fixação foram construídos em acrílicos ou MDF, cortados à laser, também do Laboratório de
Usinagem.
O protótipo de turbina eólica em escala concluído pode ser observado na Figura 16. A
Figura 16 (a) apresenta uma vista frontal do protótipo, a Figura 16 (b) exibe o detalhe do
mecanismo utilizado para a movimentação das pás, a Figura 16 (c) mostra a lateral do
protótipo enquanto a Figura 16 (d) apresenta uma vista superior com o mecanismo que
transmite o movimento do motor para as pás.
Figura 16 – Protótipo de turbina eólica em escala
(a) (b)
21
(c) (d)
Fonte: Autoria própria
Após a montagem do protótipo deu-se início à implementação do encoder elaborado
para a leitura da velocidade angular da turbina eólica. O disco projetado possui 12 divisões e o
sensor utilizado é o foto-interruptor TCST 2103. O esquema elétrico utilizado para a
instalação do sensor segue diversos exemplos de utilização deste sensor e pode ser analisado
na Figura 17. O sensor é alimentado com 5 V pela porta do microcontrolador Arduino, são
utilizados resistores para limitar a corrente no sensor e o sinal out foi lido por uma porta
analógica do microcontrolador. O valor medido depende da incidência da luz do emissor
recebida no receptor. Caso o sensor esteja desobstruído, sem qualquer objeto entre o emissor e
o coletor, o valor medido é um sinal baixo. Por outro lado, se algo obstruir a passagem de luz
entre o sensor, o valor medido é um sinal alto.
Figura 17 – Esquema elétrico TCST 2103
Fonte: Heliosoph. Photointerrupter basics. Disponível em: http://heliosoph.mit-
links.info/photointerrupter-basics/
Após alguns testes de leitura do sinal obtido pelo foto-interruptor, foi elaborado uma
programação em Arduino para a leitura e conversão em RPM. A programação foi
desenvolvida com base nos exemplos de uso de tacômetros no site do Arduino, disponível em
22
[18]. O código utiliza uma taxa de amostragem de 500 ms, faz a leitura do sensor no pino
analógico A0 do microcontrolador e faz o cálculo da rotação em RPM. O cálculo é realizado
com base na contagem de bordas de subida ou descida, ou seja, a diferença entre os sinal
baixo e alto que são observadas entre cada revolução do disco do encoder. Conhecendo-se
este número de bordas, o número de divisões do disco e o tempo de amostragem o código
envia o valor de rotação para a porta serial que é monitorada por meio do software do Arduino
no computador.
O código para monitor a velocidade angular da turbina eólica foi validado a partir da
comparação com um tacômetro externo modelo DT2236 da marca Lutron. Esse tacômetro
tem precisão de 0,05% com faixa de operação de 0,5 até 100.000 RPM. Para realizar a
validação as pás foram travadas em uma determinada posição e a velocidade do vento no
túnel foi fixada 5 m/s. Nestas configurações o sensor de encoder calculou uma velocidade
angular do protótipo de aproximadamente 125 RPM, enquanto que a medida lida com o
tacômetro externo foi próximo de 378 RPM para as três pás. Se esse valor medido no
tacômetro for divido por três temos que a rotação é de 126 RPM. Entretanto, como o disco
utilizado possuía apenas 12 divisões, a escala era de 5 RPM, ou seja, para essa faixa de
operação as medidas poderiam ser 120, 125 ou 130 RPM. Apesar disto, podemos determinar
que a velocidade angular medida com o sensor projetado atende bem os parâmetros do
projeto, apresentando um erro pequeno. A Figura 18 mostra a medida de rotação adquirida
com o sensor em comparação com o tacômetro externo para efeitos de validação dos dados
obtidos.
Figura 18 – Validação dos dados do sensor
Fonte: Autoria própria
23
4.2 Ensaio em malha aberta e identificação do sistema
Após a instalação do sensor de rotação deu-se início a etapa ensaio em malha aberta
para realizar a identificação do sistema. Para isso, primeiramente o servo motor foi instalado
no protótipo. O servo motor escolhido na etapa de projeto do sistema foi o servo HS-805BB+,
Este servo foi alimentado com 5 V por meio de uma fonte e o comando PWM para
movimentação do eixo foi enviado através de uma porta digital do microcontrolador Arduino.
Utilizando a biblioteca “Servo.h” disponível dentro do próprio software computacional
do Arduino, foi elaborado um código de programação para aplicar um degrau no servo. Para
isso, foram primeiramente testados os limites de movimentação do motor, limitando um
trecho de atuação do servo. O programa projetado operava dentro desses limites de modo o
degrau fosse dado da posição mínima para a posição máxima.
Para aplicar o degrau no sistema foi aplicada uma velocidade de vento constante de
modo que a rotação se mantivesse fixa para determinada posição da pá. O código enviava a
posição inicial do motor para que as pás tivessem um elevado ângulo de passo, mantendo uma
rotação baixa, e então outra posição era enviada para o motor de modo que o ângulo
diminuísse, aumentando a rotação da turbina.
Dessa forma, a dinâmica do sistema foi adquirida levando em consideração a rotação
como variável de saída e a posição do servo motor como variável de entrada. A partir disso,
foi realizada a coleta dos dados para o ensaio de degrau em malha aberta. Para atenuar as
variações que ocorriam devido à escala das medidas de rotação foi elaborado no software
MATLAB um filtro Butterworth. A Figura 19 mostra os dados obtidos no ensaio em malha
aberta e os dados filtrados.
Figura 19 – Ensaio em malha aberta
Fonte: Autoria própria
24
A partir dos dados obtidos no ensaio em malha aberta foi desenvolvido um modelo
computacional por meio do software MATLAB para que representasse o sistema real. Esse
modelo foi posteriormente aplicado um ambiente de simulação onde foi testado e validado de
acordo com o sistema real.
Para realizar o modelo deste sistema foram utilizadas duas técnicas de identificação de
sistemas. A primeira é a ferramenta IDENT, própria do MATLAB para realizar esta tarefa de
identificação. Nesta ferramenta deve-se inserir os valores de entrada e saída obtidos do
sistema, além da taxa de amostragem utilizada no ensaio. A partir disso é possível escolher os
números de polos e zeros que nosso sistema possui para obter uma função de transferência
que represente aproximadamente o sistema real.
A segunda técnica utilizada para identificação do sistema é o método de mínimos
quadrados. Nesta técnica utilizamos os mesmos dados de entrada e saída do sistema em forma
de vetores e matrizes para obter os parâmetros da função de transferência do sistema.
Entretanto, para a identificação por mínimos quadrados aplica-se o sinal de saída filtrado já
que desta forma são obtidos parâmetros mais fiel ao sistema real. A diferença entre os dois
métodos de identificação utilizados pode ser observada na Figura 20.
Figura 20 – Modelos computacionais do sistema
Fonte: Autoria própria
25
A partir da análise do gráfico entre os dois métodos de identificação de sistemas, foi
escolhido o modelo identificado por mínimos quadrados para representar o sistema real. Esse
método se aproxima muito bem do sistema real, como pode ser observado na Figura 21 que
compara os dados reais com o modelo por mínimos quadrados.
Figura 21 – Sistema real x Modelo
Fonte: Autoria própria
A partir do método dos mínimos quadrados foi obtida a função de transferência que
representa o sistema real. Esta função de transferência representa a dinâmica do protótipo em
forma de uma equação que pode ser observada na Equação (11). Por meio desta função foi
possível projetar o controlador que implementava a dinâmica desejada para o sistema.
(11)
4.3 Implementação de controle e validação
Com o modelo computacional obtido por meio da identificação por mínimos quadrados,
um controle foi projetado a fim de comandar o sistema real. O controle deveria atuar nas pás
por meio do mecanismo ligado ao motor de modo que uma rotação de referência fosse
buscada e mantida, independente da velocidade do vento incidente. A partir disto, o controle
projetado para o sistema foi um controlador proporcional-integral já que este controle serve
para este propositivo de buscar uma referência.
26
Para projetar o controlador foi utilizada a ferramenta RLTOOL do software MATLAB.
Nesta ferramenta insere-se a equação de transferência discreta do modelo e através da
inserção e posicionamento de polos e zeros no sistema podemos projetar uma saída para o
sistema controlado. O controlador PI possui a ação integral que representa um polo real na
origem do sistema. Dessa forma, foi obtida uma função de transferência do controlador, que
pode ser observada na Equação (12):
(12)
Utilizando a ferramenta Simulink do MATLAB foi possível simular a implementação
desse controle no sistema. Utilizando a função do modelo computacional, a função do
controlador, uma entrada de referência e um limitador foi possível analisar a simulação da
utilização do controle no sistema. O limitador foi utilizado para saturar a atuação do controle
já que os motores possuíam limites de movimentação para não danificar a estrutura do
protótipo. O ambiente de simulação projetado para ensaiar o controle pode ser observado na
Figura 22.
Figura 21 – Ambiente de simulação
Fonte: Autoria própria
Onde o step representa a nossa medida de referencia e o scope apresenta o gráfico de
resposta do sistema. A partir de uma simulação com rotação de referência de 250 RPM foi
ensaiado o controle do sistema. Nas Figuras 22 e 23 pode-se analisar a simulação do sinal do
controlador, que era entrada do sistema, e da saída do sistema já com o controlador atuando
para manter a velocidade angular na referência.
27
Figura 22 – Simulação da entrada do sistema
Fonte: Autoria própria
Figura 23 – Simulação da saída do sistema com controlador
Fonte: Autoria própria
28
Estes gráficos representam como é a atuação do sistema projetado via simulação. É
possível notar que a posição do motor varia de 15 que representa o limite mínimo para
movimentação, até 85 que representa o limite máximo de movimentação. Na posição 85 a
saturação do movimento impede que as pás rotacionem mais do que o sistema físico permite,
já que no controle existe um sobressinal. Este sobressinal pode ser analisado na Figura 23,
próximo ao instante de 20 amostras e foi implementado para aumentar a velocidade do
sistema, diminuindo o tempo de acomodação. O tempo de acomodação foi de
aproximadamente 40 amostras que representam aproximadamente 20 segundos. Após este
momento, a rotação se torna estável em 250 RPM e a posição do motor não sofre alteração.
Dessa forma, foi possível simular o que deveria ser obtido com a implementação deste
controlador no sistema real.
A partir da simulação realizada no software MATLAB deu-se início a etapa de
implementação do controle no servo motor. Para implementar o controle foi adicionado ao
programa que realiza a leitura da velocidade do vento e da rotação, um código para realizar a
movimentação do motor de acordo com o controle. A velocidade do vento foi monitorada por
meio de uma porta analógica que estava ligada à uma saída de um CLP utilizado pelo
Laboratório de Energia Eólica para controlar a velocidade do túnel de vento.
Neste código para implementar o controle no motor foram recebidos os valores de
referência e da leitura do sensor de encoder como o sinal de saída do sistema. Com esses
dados foi calculado o erro do controle e a partir destes valores de erro o controle atuava no
motor para corrigir a rotação, zerando o erro. Este programa foi, então, implementado no
microcontrolador Arduino junto com os limites já utilizados para a saturação do movimento
do motor.
Um ensaio foi realizado com uma referência de 220 RPM e com velocidade de vento
inicial de 5 m/s e, após 150 amostras a velocidade do vento foi elevada para 8 m/s. O
resultado deste ensaio pode ser observado na Figura 24.
29
Figura 24 – Ensaio com R=220 RPM e velocidade do vento variando de 5 à 8 m/s
Fonte: Autoria própria
Com a realização deste ensaio, foi possível analisar que o sistema reage de acordo com
o projetado e simulado no MATLAB. É possível notar que, após a alteração da velocidade do
vento no instante de 150 amostras, a rotação o sistema estabiliza após 40 amostras, como
havia sido simulado. Com essa mudança de velocidade do vento a posição do motor teve de
ser alterada para compensar este distúrbio, aumentando o ângulo de pitch e, depois de
estabilizar a rotação em 220 RPM, a posição se mantém quase constante.
Em seguida foi realizado um novo ensaio com uma referência de 350 RPM para uma
velocidade de vento inicial de 8 m/s e final de 10 m/s. A alteração da velocidade do vento
incidente atua como um degrau no sistema próximo da amostra 150. Na Figura 25 é
apresentado o resultado deste ensaio.
30
Figura 25 – Ensaio com R=350 RPM e velocidade do vento variando de 8 à 10 m/s
Fonte: Autoria própria
Da mesma forma como no ensaio anterior, a rotação da turbina eólica se mantém
constante em aproximadamente 340 RPM e após a alteração da velocidade do vento, o
sistema leva quase 40 amostras para estabilizar a rotação. Sendo que, para compensar esta
mudança na velocidade do vento, a posição das pás teve de ser alterada, aumentando o ângulo
de pitch das pás.
A partir destes resultados é possível perceber que o controle atua no sistema como foi
projetado. O controle fez com que a posição do servo motor mudasse para compensar a
velocidade de vento incidente que foi alterada. Entretanto, é possível notar que existe um
pequeno erro no valor regime que mantém a rotação abaixo da referência mesmo após o
tempo de acomodação. Este erro pode ter sido causado pela alta taxa de amostragem do
código de 500 ms e pela resolução do encoder. Estes dados são responsáveis pela medida da
rotação do sistema e entram no cálculo do erro do controlador. Apesar deste erro, o controle
atua perfeitamente no sistema e mantem estável a rotação da turbina eólica.
31
5 CONCLUSÃO
O trabalho demonstrou como pode ser realizado o projeto de uma turbina eólica em
escala e o desenvolvimento de um controle de rotação para a mesma. O objetivo inicial de
construir um aerogerador real em escala não foi alcançado devido à limitação da impressora
3D que não conseguiu imprimir as pás, além de que os componentes para movimentação das
pás tiveram de ser alterados. Dessa forma, a turbina em escala foi desenvolvida e, mesmo
após algumas modificações no projeto, conseguiu ser desenvolvida para a finalidade proposta.
A partir do desenvolvimento do trabalho foi possível analisar como pode ser
implementado um controlador em um sistema como uma turbina eólica. O objetivo de
controlar a rotação de uma turbina eólica em escala foi atingido e foi identificado que este
controle pode ser utilizado a fim de otimizar a geração de energia de um aerogerador. Isso se
deve ao fato de que uma rotação ótima pode ser obtida com este tipo de controle, resultando
em uma geração ótima de energia. Este controle atende as expectativas propostas embora
ainda seja possível notar algumas dificuldades em atingir a exata rotação de referência e
possuir pequenas oscilações no regime transitório.
Foi observado que o sistema mecânico possui folgas na movimentação que podem
prejudicar a movimentação do mecanismo. Também foi analisado que a medida de rotação
adquirida pelo sensor encoder poderia ser aperfeiçoada com a utilização de um disco com um
maior número de divisões, permitindo, assim, uma resolução e uma taxa de amostragem
maior para o sistema.
Para trabalhos futuros algumas alterações podem ser realizadas a fim de aprimorar o
projeto. O mecanismo pode ser redesenhado para que as folgas que existem sejam reduzidas
ou até extintas. Outros modelos de controle poderiam ser testados com a intenção de alcançar
resultados superiores, buscando um controle mais rápido, por exemplo. Da mesma maneira,
diferentes modelos de pás podem ser ensaiados no protótipo com o intuito de testar outras
dinâmicas no rotor, podendo atingir rotações superiores com a mesma velocidade de vento
incidente.
Um estudo de produção de energia pode ser desenvolvido para testar a energia que
poderia ser produzida por um sistema deste tipo. Com isso, seria possível analisar a atuação
do controle a fim de compensar cargas que fossem aplicadas no sistema. Assim, pode ser
analisado o rendimento que este tipo de controle pode proporcionar. Desta forma, o trabalho
pode ser muito expandindo permitindo diversos estudos com base neste projeto desenvolvido.
32
AGRADECIMENTOS
À minha familia pelo apoio e incentivo nos momentos mais complicados
desta jornada.
Aos meus amigos e companheiros do curso que fizeram parte da minha
formação e me instruíram muito.
Aos professores que me transmitiram o conhecimento e me ensinaram
tudo que sei para minha profissão.
Aos colegas do Grupo de Automação e Controle de Sistemas (GACS)
pela ajuda e pelos ensinamentos.
Finalmente, gostaria de agradecer aos funcionários e amigos do Laboratório
de Energia Eólica pela auxílio nos ensaios, pela disposição do laboratório e pela
ajuda na montagem do protótipo.
6 REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://www.assimquefaz.com/energia-eolica-alternativa-para-o-futuro>
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[4] ROSSI, P. H. Jochims; OLIVEIRA, C. P. de. Perguntas Frequentes sobre Energia
Eólica. Disponível em: <http://www.pucrs.br/ce-eolica/> Acesso em: 13 set. 2017
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para um sistema eólico, 2012, 122p. Projeto Final (Graduação em Engenharia Elétrica)
33
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Modelagem de uma turbina eólica em escala reduzida e controle da velocidade de
rotação via planicidade diferencial, 2016, 106p. Dissertação de Mestrado
[10] ARAÚJO, F. M. U. de. UNIVERSISDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO
NORTE. Centro de Tecnologia. Sistema de Controle, 2007, 101p. Apostila
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Tecnológico. Simulação de Escoamento em dutos por caracterização de eventos, 2002,
85p. Dissertação de mestrado.