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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO DE PESQUISA EM VIROLOGIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE RT-PCR EM TEMPO REAL PARA VESICULOVIRUS BRASILEIROS Aline Lavado Tolardo Orientador: Prof. Dr. Luiz Tadeu Moraes Figueiredo Ribeirão Preto 2015

DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE RT-PCR EM TEMPO REAL …€¦ · PCR em tempo real para Vesiculovirus mostrou-se capaz de diagnosticar e quantificar o VSV Alagoas nas amostras séricas

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

CENTRO DE PESQUISA EM VIROLOGIA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA

DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE RT-PCR EM

TEMPO REAL PARA VESICULOVIRUS BRASILEIROS

Aline Lavado Tolardo

Orientador: Prof. Dr. Luiz Tadeu Moraes Figueiredo

Ribeirão Preto

2015

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ALINE LAVADO TOLARDO

Desenvolvimento e aplicação de RT-PCR em tempo real

para Vesiculovirus brasileiros

Dissertação de mestrado a ser apresentada ao curso de Pós-Graduação em Clínica Médica – Investigação Biomédica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Ciências

Orientador: Prof. Dr. Luiz Tadeu Moraes Figueiredo

Ribeirão Preto, SP

2015

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,

PARA FINS DE ESTUDO DE PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação na Publicação

Serviço de Documentação

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Tolardo, Aline Lavado

Desenvolvimento e aplicação de RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus

brasileiros/ Aline Lavado Tolardo; orientador: Prof. Dr. Luiz Tadeu Moraes

Figueiredo - Ribeirão Preto, 2015.

58p: il; 30 cm

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto da Universidade de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em

Clínica Médica – Investigação Biomédica, 2015.

1.Vesiculovirus 2.RT-PCR em tempo real 3.Diagnóstico

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Nome: Aline Lavado Tolardo

Título: Desenvolvimento e aplicação de RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus brasileiros

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade

de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de

São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Clínica

Médica – Investigação Biomédica.

Apresentada em 06/02/2015

Banca Examinadora

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Tadeu Moraes Figueiredo

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Eurico de Arruda Neto

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Aramis Augusto Pinto

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual

Paulista

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais e

meu irmão, por me mostrarem que sonhos

podem ser reais e me ajudarem a realizá-los.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Prof. Dr. Luiz Tadeu, por, primeiramente, ter me aceito

como sua aluna, por sua orientação, todos os ensinamentos e pela dedicação a

este trabalho. Agradeço também pelos momentos de música, cultura e boas

histórias no laboratório.

A todos os funcionários e docentes do Departamento de Clínica Médica

e de outros departamentos nos quais cursei minhas disciplinas, obrigada pelo

conhecimento transmitido.

Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. Aramis por aceitar meu

convite, pela disponibilidade em analisar este trabalho e por todas as

sugestões feitas e ao Prof. Dr. Eurico por todas essas razões e também pela

alegria do convívio diário e pelos bons momentos que compartilhamos na

Virologia.

Aos Profa. Dra. Roberta Vieira de Moraes Bronzoni, Prof. Dr. Mauricio

Lacerda, Prof. Dr. Benedito da Fonseca, Prof. Dr. Victor Hugo Aquino Quintana

e Prof. Dr. Eduardo Flores por terem gentilmente disponibilizado as amostras

usadas neste estudo.

A todos os amigos do Centro de Pesquisa em Virologia, obrigada pelos

bons momentos que passamos juntos, pelos cafés que compartilhamos e pelas

risadas e pela acolhida nesses anos de trabalho. Que venham mais!

Aos colegas de laboratório Gilberto, Felipe, Luzia e Priscila, agradeço

pelo bom convívio de sempre. Em especial ao Luciano, pela ajuda no

delineamento experimental e confecção dos primers escolhidos neste estudo.

Aos amigos, já não mais presentes no laboratório, Dani, Vinicius e

Michelly, obrigada pela amizade e pela convivência no tempo em que

passamos juntos.

Aos amigos Marília e William, obrigada pelo companheirismo e por toda

a ajuda neste trabalho e em todos os outros que estamos envolvidos no

laboratório. Essa dissertação também é um pouquinho de vocês.

À Soraya e Pitty, que não chamo só de amigas, mas também um pouco

de mães, quando preciso. Obrigada por serem essas pessoas incríveis e por

sempre estarem ao meu lado nesses anos, vocês moram no meu coração.

Aos meus pais e meu irmão, por todo o amor, carinho e educação que

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me deram ao longo da vida e, especialmente, todo o apoio nesses anos de

mestrado. Vocês são a parte mais importante da minha vida, meu eterno amor

e gratidão.

Às minhas avós, tios, tias, primos, família, obrigada por sempre

acreditarem em mim e pelo incentivo na persistência e busca de ideais.

Aos amigos que fiz em Ribeirão e que carregarei pela vida, em especial

Luiza, Hudson e Milena, minha gratidão e amizade pelos momentos que

passamos juntos, pela amizade e por sempre estarem presentes na minha

vida.

Aos amigos de longa data, que não deixaram a distância se fazer

presente e sempre estiveram comigo, de perto ou de longe, obrigada pela

amizade, pelo amor e pelo apoio.

À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo pela bolsa e o

financiamento deste estudo.

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“Eu quero ser tudo que sou capaz de me tornar.”

Katherine Mansfield

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TOLARDO, A.L. Desenvolvimento e aplicação de RT-PCR em tempo real

para Vesiculovirus brasileiros. 2015-58f. Dissertação (Mestrado) Faculdade

de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

RESUMO

Os Vesiculovirus são um gênero de vírus de RNA da família

Rhabdoviridae que inclui os sorotipos Carajás, Cocal, Marabá, Piry, Alagoas e

Indiana. Estes são causadores de estomatite vesicular em ruminantes e

doença febril humana no Brasil. As vesiculoviroses e suas epidemiologias são

pouco conhecidas em seres humanos. Ainda, os Vesiculovirus (VSV) são pouco

diagnosticados no homem e em animais pela escassez de métodos

laboratoriais diagnósticos. Por isso, objetivamos neste trabalho desenvolver e

testar uma RT-PCR em tempo real, pelo método SYBR Green, visando à

detecção de VSV brasileiros. Primers que amplificam parte do gene da proteína

G dos VSV foram utilizados no teste o qual mostrou-se capaz de detectar

genomas dos VSV Piry, Indiana, Alagoas e Carajás. O método foi usado para

testar amostras séricas de pacientes com doença febril aguda, de bovinos, de

equinos e de macerados de artrópodos. A RT-PCR em tempo real mostrou-se

100 vezes mais sensível que a RT-PCR convencional para Vesiculovirus e

também, permitiu detectar até 10 cópias de RNA do vírus Piry. Ainda, a RT-

PCR em tempo real para Vesiculovirus mostrou-se capaz de diagnosticar e

quantificar o VSV Alagoas nas amostras séricas de bovinos e de equinos.

Portanto, a RT-PCR em tempo real desenvolvida neste trabalho,

provavelmente, será muito útil no diagnóstico e também, em futuras pesquisas,

que permitirão ampliar o conhecimento epidemiológico, ainda pouco conhecido,

sobre os Vesiculovirus.

Palavras Chaves: Vesiculovirus, RT-PCR em tempo real, diagnóstico

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TOLARDO, A.L. Development and application of a real-time RT-PCR for

brazilian Vesiculovirus. 2015-58f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

ABSTRACT

The Vesiculovirus is a Rhabdoviridae family genre of RNA virus that includes

serotypes Carajás, Cocal, Maraba, Piry, Alagoas and Indiana. These are

causes of vesicular stomatitis in ruminants and human febrile illness in Brazil.

The vesiculoviroses and its epidemiology are little known in humans. Still,

Vesiculovirus (VSV) are poorly diagnosed in humans and laboratory animals by

the lack of diagnostic methods. Therefore, we proposed in this work to develop

and test a real-time RT-PCR by SYBR Green method, focusing on the detection

of Brazilian VSV. Primers that amplify part of the VSV G protein gene were

used in the test which proved capable of detecting genomes of VSV Piry,

Indiana, Alagoas and Carajás. The method was used to test serum samples

from patients with acute febrile disease, cattle, horses and macerated

arthropods. Real time RT-PCR showed to be 100 times more sensitive than

conventional RT-PCR for Vesiculovirus and also was possible to detect up to 10

RNA copies of the Piry virus. Also, the real-time RT-PCR for Vesiculovirus

proved able to diagnose and quantify Alagoas VSV in serum samples from

cattle and horses. Therefore, the real-time RT-PCR developed in this work will

probably be very useful in the diagnosis and in future research, which will

increase the epidemiological knowledge, as it is still little known about the

Vesiculovirus.

Key-words: Vesiculovirus, diagnostic, real-time RT-PCR.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação esquemática da estrutura dos Vesiculovirus. ................... 18 Figura 2. Replicação dos Vesiculovirus. ................................................................... 19 Figura 3. Localização dos surtos de VSV no Nordeste do Brasil............................. 32 Figura 4. Ensaio de plaque para titulação do vírus Piry ........................................... 35 Figura 5. Genoma esquemático dos Vesiculovirus ................................................. 36 Figura 6. RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus .............................................. 37 Figura 7. Gráfico de amplificação e temperatura de melting para os primers Piry Fwd/Piry Rev ...................................................................................................... 38 Figura 8. Curva de amplificação e temperatura de melting utilizando diferentes sistemas SYBR Green .............................................................................................. 39 Figura 9. Curva de amplificação e temperatura de melting obtidas pela RT-PCR em tempo real de Vesiculovirus utilizando o vírus Alagoas .............................. 40 Figura 10. RT-PCR em tempo real (A) e convencional (B) com os primers testando diferentes diluições do vírus Carajás de acordo com sua diluição a partir da titulação ....................................................................................................... 41 Figura 11. Mapa do Plasmídeo pET28a e sequência do vírus Piry sintetizada e inserida no plasmídeo pET28a .................................................................................. 42 Figura 12. Gel de agarose a 1% mostrando amplicon obtido com os primers da T7 polimerase e do RNA transcrito ........................................................................... 44 Figura 13. Curva padrão (A), curva de amplificação (B) e temperatura de melting (C) construídas a partir das diluições decimais do transcrito associada ao parâmetro Ct ........................................................................................................ 45 Figura 14. Quantificação da carga viral dos vírus utilizados na padronização da RT-PCR em tempo real ............................................................................................. 46 Figura 15. Quantificação da carga viral das amostras de bovinos e equinos quantificadas por RT-PCR em tempo real ................................................................. 47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Vírus utilizados. ......................................................................................... 24 Tabela 2. Kits de SYBR Green para PCR avaliados para este trabalho . ................. 28 Tabela 3. Carrapatos do gênero Rhipichephalus capturados em Ribeirão Preto, SP. .................................................................................................................................. 33 Tabela 4. Carrapatos do gênero Amblyomma capturados em Ribeirão Preto, SP. .................................................................................................................................. 34 Tabela 5. Tempo de incubação para o processamento das microplacas e títulos virais obtidos pela técnica de ensaio de plaque. ....................................................... 35 Tabela 6. Primers utilizados na RT-PCR para Vesiculovirus .................................... 36 Tabela 7. Quantificação do transcrito . ..................................................................... 43 Tabela 8. Quantificação dos vírus Piry, Carajás, Alagoas e Indiana por RT-PCR em tempo real . ......................................................................................................... 46 Tabela 9. Carga de VSV Alagoas nas amostras séricas de bovinos e equinos . ...... 48

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LISTA DE ABREVIATURAS/SIGLAS

cDNA – DNA complementar

CMC – Carboximetilcelulose

CPV – Centro de Pesquisa em Virologia

DC – Célula Dendrítica

DNA – Ácido Desoxirribonucléico

FAPESP- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FMRP- Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

G- Glicoproteína

M- Proteína de matriz viral

MEM – Meio mínimo essencial

MT – Estado do Mato Grosso

N- Proteína do nucleocapsídeo

NCBI- National Center of Biotechnology Information

ORF – Janela de leitura aberta (Open Reading Frame)

P- Fosfoproteína

PBS – Tampão fosfato salino (phosphate buffered saline)

PCR – Reação em cadeia da Polimerase

PFU- Plaque-forming unit

pH – Potencial hidrogeniônico

RdRP – RNA polimerase dependente de RNA

RNA – Ácido Ribonucléico

RT-PCR – Reação em cadeia da Polimerase precedida de Transcrição

Reversa

RT- Transcrição Reversa

SP- Estado de São Paulo

SFB – Soro Fetal Bovino

SNC – Sistema Nervoso Central

Tm- Temperatura de melting

USP – Universidade de São Paulo

UTR – Região não-traduzida (unstranslated region)

VSV- Vesiculovirus

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Sumário 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16

1.1. Estrutura, genoma e replicação dos Vesiculovirus ............................................... 17

1.2 Epidemiologia e patogênese ................................................................................. 20

1.3 Diagnóstico laboratorial......................................................................................... 21

2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 23

3. OBJETIVOS ........................................................................................................... 23

3.1 Objetivos específicos ............................................................................................ 23

4. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 24

4.1 Vírus ..................................................................................................................... 24

4.2 Estoques virais ..................................................................................................... 24

4.2.1. Preparação dos estoques virais em cérebro de camundongos ......................... 24

4.2.2. Preparação de estoques virais em células C6/36 .............................................. 25

4.3 Título viral ............................................................................................................. 25

4.4. RT-PCR ............................................................................................................... 26

4.4.1 Extração do RNA sérico e dos estoques ............................................................ 26

4.4.2 Primers .............................................................................................................. 26

4.4.3 Transcrição reversa (cDNA) ............................................................................... 27

4.4.4 PCR ................................................................................................................... 27

4.5 Padronização da PCR em Tempo Real ................................................................ 27

4.5.1 Avaliação comparativa entre a RT-PCR convencional e a em tempo real com

base nos teores de VSV determinados por método biológico que determina vírus

viáveis ........................................................................................................................ 28

4.5.2 Síntese de fragmento do gene da proteína G do VSV Piry ................................ 29

4.5.3.Transformação de células competentes e purificação dos plasmídeos. ............. 29

4.5.4. PCR da Região da T7 polimerase ..................................................................... 30

4.5.5. Purificação do produto da PCR convencional ................................................... 30

4.5.6. Transcrição in vitro ............................................................................................ 30

4.5.7. Curva Padrão .................................................................................................... 31

4.5.8. Limite de detecção e especificidade .................................................................. 31

4.6 Amostras .............................................................................................................. 31

4.6.1 Amostras de bovinos e equinos ......................................................................... 31

4.6.2 Amostras séricas ............................................................................................... 32

4.6.3 Carrapatos ......................................................................................................... 33

4.6.4 Pool de insetos .................................................................................................. 34

5. RESULTADOS ....................................................................................................... 34

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5.1 Estoques virais ..................................................................................................... 34

5.2 Extração de RNA .................................................................................................. 35

5.3 Padronização da RT-PCR convencional ............................................................... 36

5.4 Padronização da RT-PCR em tempo real ............................................................. 38

5.4.1 Temperatura de Melting (TM) .............................................................................. 41

5.4.2 Síntese de gene ................................................................................................. 42

5.4.3 Transformação de células competentes e purificação dos plasmídeos .............. 43

5.4.4 Transcrição in vitro ............................................................................................. 43

5.4.5 Curva-padrão ..................................................................................................... 44

5.4.6 Limite de detecção e especificidade ................................................................... 45

5.4.7 Quantificação dos vírus utilizados ...................................................................... 46

5.4.8 Resultados obtidos pela RT-PCR de Vesiculovirus com amostras de distintas

origens. ....................................................................................................................... 47

6. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 48

7. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 55

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um país continental, com diferentes condições ambientais e

que possui enorme variedade de flora, fauna e nos seus múltiplos nichos

ecológicos são mantidas muitas zoonoses. Portanto, aqui existem amplas

oportunidades de investigação básica e clínica a respeito de agentes

causadores de doença humana, animal ou vegetal (IVERSSON, 1989). As

arboviroses (viroses transmitidas por artrópodos) podem produzir epidemias,

epizootias ou casos esporádicos e o quadro clínico de arboviroses pode variar

de formas brandas com natureza febril, até formas graves, caracterizadas por

manifestações hemorrágicas ou alterações neurológicas (PINHEIRO et al.,

1991; FIGUEIREDO et al., 2002).

Fatores como, o crescimento populacional, a devastação de áreas

silvestres, o transporte rápido entre regiões distantes, entre outros, fizeram com

que diversas arboviroses, anteriormente desconhecidas, aumentassem suas

incidências nas últimas duas décadas, e até mesmo, algumas delas se

tornaram sérios problemas de saúde pública (FIGUEIREDO, 2007;

VASCONCELOS et al., 1998). Entre os arbovírus, denominação

eminentemente epidemiológica, encontram-se vírus pertencentes à diferentes

famílias, Rhabdoviridae, Flaviviridae, Togaviridae, Bunyaviridae, Reoviridae e

Asfarviridae, responsáveis por doenças humanas e veterinárias (MURPHY,

1999; FIGUEIREDO, 2007).

A família Rhabdoviridae tem por protótipo um vírus de conhecimento

muito antigo pela humanidade, o vírus da raiva. Trata-se de uma família de

vírus de RNA da ordem Mononegavirales e pode ter estado presente durante

toda a evolução, tanto de plantas, quanto de animais. Os Vesículovirus (VSV)

são um gênero desta família, juntamente com os Lyssavirus, Ephemerovirus,

Novirhabdovirus, Cytorhabdovirus, e Nucleorhabdovirus (IWASAKI et al, 2004).

Pertencem ao gênero Vesiculovirus, nove espécies de vírus, Piry, Carajás,

Marabá, Cocal, VSV-Indiana, VSV-New Jersey, VSV-Alagoas, Chandipura e

Isfahan (TRAVASSOS DA ROSA, 1984).

Os VSV tem ocorrência mundial, infectando animais, plantas, insetos e

têm grande importância em medicina veterinária por causarem a estomatite

vesicular, uma doença bovina que causa redução na produção de leite e carne,

com prejuízos de ordem econômica (BLOOD, 1983). São causadores de

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estomatite vesicular os vírus VSV-New Jersey, VSV-Indiana, VSV-Alagoas e

Cocal. Diferentemente, os vírus Piry, Chandipura e Isfahan, causam doença

febril aguda e em alguns casos, podem acometer o sistema nervoso central,

produzindo meningoencefalite em seres humanos (TESH, 1977).

1.1. Estrutura, genoma e replicação dos Vesiculovirus

Os VSV são vírus envelopados, com formato de projétil, medindo de

150-180 nm de comprimento e cerca de 75 nm de largura (HOWATSON &

WHITMORE, 1962). No envelope dos VSV, a glicoproteína (G) possui os

principais determinantes antigênicos, com características tipo-específicas,

sendo alvo da neutralização viral por anticorpos do indivíduo infectado

(WAGNER, 1990). G se apresenta em espículas na superfície do envelope viral

ligada à proteína da matriz viral (M). Ainda, os VSV possuem duas outras

proteínas estruturais, a L e a P (fosfoproteína), que atuam juntas como

polimerase (RdRp - RNA dependent RNA polymerase) e estão associadas ao

nucleocapsídeo viral (HOWATSON & WHITMORE, 1962).

A fita simples de RNA viral possui polaridade negativa e cerca de 11160

nt. Neste genoma viral, existe uma região líder na extremidade 3’, com 50

bases e uma região não traduzida na extremidade 5’, com 60 nt (BANERJEE,

1992). Com base no vírus New Jersey, a proteína N é codificada em 1333 nt, M

em 838 nt, G em 1672 nt e P em 822 nt (BANERJEE, 1977). Portanto, o RNA

viral codifica a fosfoproteína (P), nucleocapsídeo (N), proteína de matriz (M),

glicoproteína (G) e a proteína L (RdRp). A extremidade de cada um destes

genes inclui uma cauda poli-A em suas extremidades (BRUN, 1995; LYLES,

2007).

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Figura 1. Representação esquemática da estrutura dos Vesiculovirus e de sua fita de

RNA polaridade negativa com as cinco proteínas codificadas. O vírus é envelopado,

com formato de projétil, tendo 180 nm de comprimento e 75 nm de largura. A

Glicoproteína (G) é apresentada com seu formato em espículas. A proteína de Matriz

(M), a Fosfoproteína (P), a Polimerase (L), e a Nucleoproteina (N), também, estão

representadas. (Figura adaptada de www.viralzone.expasy.org)

Os VSV são de replicação fácil, rápida e alcançam altos títulos quando

inoculados em culturas celulares ou animais de laboratório (FIGUEIREDO,

2011).

A replicação tem início com a ligação do VSV à membrana plasmática

pela proteína G, dando, assim, início ao processo de endocitose seguida de

fusão do envelope com as membranas endocíticas, permitindo ao

nucleocapsídeo invadir o citoplasma para a replicação viral (CARNEIRO et al.,

2002). Dentro do citoplasma da célula hospedeira, os seguintes passos

acontecem: desnudamento, transcrição do RNA mensageiro, formação das

proteínas e ao final, a maturação para que se forme o virion. A glicoproteína

cliva a membrana lipoproteica da célula hospedeira e esta é então roubada da

célula durante o precesso de brotamento dos vírions. O número de partículas

Glicoproteína (G) Proteína de Matriz (M)

Fosfoproteína (P)

Polimerase (L)

RNA genômico

Nucleoproteína (N)

Ribonucleocapsídeo

(RNP)

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virais cresce geometricamente, infectando novas células sucessivamente

(DAS, 1998).

Figura 2. Replicação dos Vesiculovirus. Os passos ilustrados incluem a

adsorção do vírus e sua penetração por endocitose; a fusão do envelope com

membranas endossomais, a liberação do nucleocapsídeo contendo genomas

parentais para o citoplasma; a primeira transcrição das proteínas virais e a

replicação do genoma para produzir nucleocapsídeos contendo anti genomas e

genomas da progênie, e ainda, uma segunda transcrição e montagem e saída

por brotamento a partir da membrana plasmática da célula do hospedeiro.

(adaptado de: Lichty et al., 2004)

O genoma dos VSV transcreve cinco RNAs mensageiros

monocistrônicos utilizando a RNA polimerase presente no próprio virion. As

proteínas L e P têm atividade catalítica e P funciona como fator de transcrição

para que L exerça sua função (DAS, 1998). A transcrição dos RNAs

mensageiros acontece na mesma ordem do genoma (N, P, M, G, L), formando

transcritos separados devido a sequências intergênicas que flanqueiam os

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genes e são responsáveis pelo término e reinício das transcrições (WAGNER &

ROSE, 1996). Os aminoácidos da região carboxi-terminal da proteína N

regulam a mudança de transcrição das proteínas do vírus para a síntese dos

RNAs complementares de polaridade positiva, que servem como molde à

polimerase, para a síntese dos RNAs da progênie viral (DAS, 1998). Dessa

forma, N, P e L, associam-se, depois de sintetizadas, ao RNA no citoplasma,

formando a ribonucleoproteína, que se associa à proteína M, que, por sua vez,

condensa a ribonucleoproteína e induz o brotamento da membrana

citoplasmática para a liberação de novos vírus. (WAGNER & ROSE, 1996).

1.2 Epidemiologia e patogênese

A estomatite vesicular foi primeiramente descrita em 1862, nos Estados

Unidos, em cavalos. Alguns anos depois, notificou-se um surto em cavalos na

África do Sul. Os animais eram provenientes da América (HANSON, 1952). Os

sorotipos Indiana e New Jersey foram isolados pela primeira vez, de bovinos,

em 1927. O vírus Chandipura foi o primeiro a ser isolado de seres humanos, no

ano de 1967 e, em seguida, ocorreu o isolamento do vírus Isfahan, em 1975

(TAVARES NETO, 1992; BHATT & RODRIGUEZ, 1967; TESH et al., 1977)

Diversos VSV foram descritos no Brasil, dentre eles os vírus Indiana, Cocal

e Alagoas, causadores de estomatite (MURPHY, 1995; FIGUEIREDO, 2011).

Em Ribeirão Preto, o vírus Indiana foi isolado de bovinos com estomatite

vesicular. Outros VSV foram isolados de bovinos, equinos, suínos, caprinos e

ovinos, nos estados de Minas Gerais, Alagoas, Ceará, São Paulo, Rio Grande

do Sul, entre outros (ARITA & ARITA, 1983).

Foram notificados, pelo menos, uma centena de focos de estomatite em

bovinos, equinos e suínos no Brasil até o ano de 1992 (TAVARES NETO,

1992). Testes sorológicos foram realizados em diversos estudos em diferentes

regiões do Brasil, encontrando sorologia positiva e mostrando a importância

desses vírus como causadores de doença em animais (ANDRADE, 1974)

O vírus Piry foi isolado, em 1960, a partir do sangue de um marsupial

(Philander opossum) capturado na Floresta de Utinga, em Belém, na região

amazônica do Brasil (FIGUEIREDO, 2011). Sua infecção foi diagnosticada

posteriormente em um técnico de laboratório que apresentou doença febril

aguda após infecção acidental (KARABATSOS, 1985). Neste caso, a doença

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começou abruptamente, com febre alta, dor de cabeça, calafrios, fotofobia,

mialgia, artralgia, tonturas, fraqueza e os sintomas perduraram por dois dias

(PINHEIRO, 1986). A doença possuía características muito parecidas com

dengue ou gripe. Isso poderia ser um indício da razão pela qual a doença pelo

vírus Piry nunca ter sido diagnosticada ou notificada pelo sistema de saúde

pública.

Altas taxas de anticorpos neutralizantes para Piry foram observadas em

imigrantes do Sul e Sudeste do Brasil vivendo na região amazônica. Por isso,

fez-se a suposição de que o vírus teria chegado à região oriundo do Sul ou

Sudeste do Brasil, durante a construção da rodovia Transamazônica, quando o

fluxo migratório para essa região era muito intenso (VASCONCELOS, 1998).

Em pesquisa sorológica divulgada em 1985, na região de Ribeirão Preto,

observou-se que 12,1% da população estudada tinha anticorpos neutralizantes

para o vírus Piry, indicando que este vírus ou outro antigenicamente

relacionado circularia endemicamente nessa região (FIGUEIREDO, 1985).

Também, em levantamento sorológico realizado no ano de 1992 em

Catolândia, na Bahia, observou-se que 16% dos 1.274 participantes

apresentavam anticorpos neutralizantes para o vírus Piry (TAVARES NETO,

1992).

1.3 Diagnóstico laboratorial

Comumente, o diagnóstico de infecções por VSV é feito por técnica de

neutralização, visando detectar anticorpos vírus-específicos. Outra forma é o

método por fixação do complemento, que detecta anticorpos associados à

infecção no indivíduo acometido. Métodos mais modernos também são

utilizados, como os de imunofluorescência ou imunoenzimáticos, este último

utilizado em inquéritos sorológicos para pesquisa de níveis de anticorpos

populacionais (VERNON & WEBB, 1984; FERNANDEZ, 1988).

Quanto ao isolamento viral, este parece ser difícil em seres humanos,

como no caso do vírus Piry (TAVARES NETO, 1992). Nos animais, devido às

lesões, ricas em partículas virais, o isolamento torna-se mais viável e pode ser

realizado em culturas celulares e também em animais de laboratório

(KARABATSOS, 1985).

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O diagnóstico, também, pode ser feito por amplificação do genoma viral

utilizando a Reação em Cadeia da Polimerase precedida por Transcrição

Reversa (RT-PCR) (BONUTTI, 2005). Diversos estudos já demonstraram a

detecção de VSV por RT-PCR, a exemplo do VSV New Jersey em animais,

seguido de estudo filogenético (RODRIGUEZ, 1993). Além disso, uma multiplex

RT-PCR permite diferenciar em suínos e outros animais, a febre aftosa,

causada pelo Vírus da Febre Aftosa e que também produz vesículas nesses

animais (NUNEZ et al., 1998).

A RT-PCR em tempo real provê vantagens sobre a PCR convencional

por permitir quantificar a carga viral nas amostras clínicas. Na PCR em tempo

real, em contraste com a PCR convencional, o amplicon pode ser visualizado

durante a progressão da amplificação porque monitora o acúmulo de

fluorescência. Entres os principais fluoróforos disponíveis no mercado para

PCR em tempo real ressaltam-se as sondas Taqman e o SYBR Green. O

SYBR Green é uma molécula intercalante da fita dupla do DNA e uma vez que

ocorra amplificação, a molécula SYBR Green liga-se ao produto amplificado,

emitindo sinal (fluorescência) que é captado pelo aparelho. Ao final dos ciclos

térmicos a curva de dissociação e a curva térmica (Temperatura de Melting)

discriminam produtos virais específicos daqueles não específicos. A vantagem

principal da molécula SYBR Green comparada às sondas TaqMan é o seu

baixo custo (BUSTIN, 2000; MACKAY; ARDEN; NITSCHE, 2002). Tem como

desvantagem a capacidade de ligação da molécula SYBR Green em todo DNA

de dupla fita, o que inclui produtos não específicos. Contudo, isto pode ser

solucionado quando a RT-PCR em tempo real segue-se do sequenciamento

nucleotídico, que permite conhecer, pelo genoma, o vírus infectante

(SCHMITTGEN, 2001; MACKAY, 2002).

O sequenciamento nucleotídico é empregado para identificação de

diversos microrganismos e sua importância se deve à especificidade genômica,

além disso, a técnica permite identificar mutações, deleções e realizar estudos

filogenéticos (SCHMITTGEN, 2001).

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2. JUSTIFICATIVA

São pouco conhecidos os mecanismos de transmissão e de infecção

pelos VSV americanos, bem como sobre a fisiopatologia das doenças

produzidas pelos mesmos. Poucos são os casos descritos de doença humana

causada por vírus Piry e outros VSV. Sabemos que a doença causada por

vírus Piry, por ser febril aguda, pode ser confundida com dengue, gripe ou

outras viroses. Isso poderia explicar porque eventuais casos de febre do Piry

ou de outros VSV não são diagnosticadas ou notificadas e, portanto, estas

doenças são desconhecidas pelo sistema de saúde. Assim, reconhecendo que

na região de Ribeirão Preto estudos epidemiológicos prévios observaram que

12% dos habitantes teriam se infectado pelo vírus Piry, decidimos procurar por

VSV nesta região e em outras partes do Brasil, em soro de pacientes com

doença febril aguda, carrapatos e mosquitos. Neste contexto, desenvolvemos,

testamos e validamos, com amostras sabidamente positivas de equinos e

bovinos, uma RT-PCR em tempo real para o diagnóstico de Vesiculovirus

brasileiros.

Em suma, uma investigação sobre os VSV e, particularmente, sobre o

vírus Piry, utilizando modernas armas diagnósticas, deve contribuir para a

melhor compreensão da clínica e da epidemiologia destas viroses praticamente

desconhecidas pela saúde pública humana no Brasil.

3. OBJETIVOS

Desenvolver e testar RT-PCR convencional e RT-PCR em tempo real

para a detecção de Vesiculovirus brasileiros em amostras de mosquitos,

carrapatos, bovinos, equinos e soro de pacientes com doença febril aguda.

3.1 Objetivos específicos

Desenvolver e padronizar uma RT-PCR em tempo real com a

metodologia SYBR-green para a detecção e quantificação genômica de

Vesiculovirus brasileiros;

Procurar por genoma de VSV pela RT-PCR em tempo real, no soro de

pacientes com quadro clínico de doença febril aguda, oriundos de

localidades distintas do Brasil;

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Procurar por genoma de VSV em soros de bovinos, equinos, em

carrapatos e em mosquitos utilizando a RT-PCR em tempo real;

4. MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado no Centro de Pesquisa em Virologia da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (CPV-

FMRP-USP). Todos os procedimentos adotados no trabalho foram aprovados

pela Comissão de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Processo nº. 2013/ 164.277).

4.1 Vírus

Os VSV utilizados neste trabalho encontram-se listados na Tabela 1.

Tabela 1. Vírus utilizados

VÍRUS CEPA ORIGEM VIRAL

PIRY Be An 41191

INSTITUTO EVANDRO CHAGAS – BELÉM DO

PARÁ CARAJÁS

Be An 411459 INSTITUTO EVANDRO CHAGAS – BELÉM DO

PARÁ ALAGOAS

Bn/64

CENTRO PANAMERICANO DE FEBRE AFTOSA - RJ

INDIANA 1 Bn/79

CENTRO PANAMERICANO DE FEBRE AFTOSA - RJ

NEW JERSEY WHO/ATCC 8971

USA

4.2 Estoques virais

4.2.1. Preparação dos estoques virais em cérebro de camundongos

Os vírus utilizados na padronização dos testes e também, como

controles positivos da RT-PCR em tempo real desenvolvida, foram propagados

em cérebro de camundongos recém-nascidos. Para tanto, inoculou-se

camundongos Balb/C recém-nascidos, por via intracerebral, com 20μl da

semente de cada VSV citado na Tabela 1. Os camundongos foram observados

diariamente, por 1 ou 2 dias pós-inoculação, visando a detectar sinais de

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encefalite. Os animais doentes foram sacrificados e tiveram os cérebros

removidos, por sucção com seringa estéril. Cada cérebro foi macerado em

500μl de solução fisiológica, a 4ºC e em seguida, centrifugado a 5000 RPM por

10 minutos. Sobrenadantes foram aliquotados e armazenados a -70ºC.

4.2.2. Preparação de estoques virais em células C6/36

Estoques de VSV foram produzidos, a partir daqueles em cérebro de

camundongos, utilizando células C6/36 de Aedes albopictus (IGARASHI,

1978). As células foram mantidas a 28º C, em frascos de 75 cm2 (Corning,

USA) contendo meio Leibovitz-15 (L-15) (GIBCO BRL) suplementado com 10%

de Soro Bovino Fetal (SBF) (Nutricell BRL), 1% L-Glutamina 200Mm (GIBCO

BRL), 1% de solução antibiótica (penicilina 100U/mL, estreptomicina 1mg/mL)

(GIBCO BRL) e 10% de fosfato de triptose (Nutricell BRL). Os frascos contendo

monocamadas celulares foram infectados com 100µl da semente viral e

mantidos em estufa por 1 hora para adsorção, adicionando-se, em seguida, o

meio L-15 com 2% de SBF e incubando-se a 28ºC. Após período de 48 a 72

horas, o sobrenadante foi retirado, juntamente com a monocamada de células

e centrifugado a 1000 rpm, a 4ºC e por 20 minutos. Ao final, o sobrenadante da

cultura celular infectada foi aliquotado em tubos devidamente identificados que

foram armazenados a -70ºC.

4.3 Título viral

O título de cada um dos vírus estudados (Tabela 1) foi determinado por

ensaio de plaques. Para tanto, frascos com monocamada confluente de células

VERO em meio MEM foram lavados por duas vezes com PBS para remover

fragmentos celulares. Em seguida, adicionou-se 1ml de solução contendo

0,0025% de Tripsina EDTA (Vitrocell, Campinas) à cultura celular. As células

foram suspensas em 50 ml de MEM (Vitrocell, Campinas) e homogeneizadas.

Em continuação, 300µl da suspensão foram adicionados a cada poço de placa

com 24 orifícios e esta foi incubada por 24 horas a 37ºC, em atmosfera

contendo 5% de CO2, para formação de monocamada celular. Para o teste de

plaques, adicionaram-se diluições decimais, de 101 a 1010, de todos os

estoques virais produzidos, em placas de 24 poços, que foram incubadas por 1

hora em estufa, a 37ºC, sob leve agitação, para adsorção viral. Em seguida,

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26

adicionaram-se aos orifícios 1ml de overlay, uma solução a 3% de

Carboximetilcelulose estéril (Sigma-Aldrich, EUA) contendo 2,5% de soro fetal

bovino, em MEM. Incubou-se a placa a 37°C com 5% de CO2. A observação

diária das placas incubadas evidenciou placas de lise 1 a 2 dias após a

infecção. Para a revelação das placas, o overlay foi descartado, lavaram-se os

poços com PBS e suas células foram fixadas com solução de formol a 10% em

PBS, incubando-se por uma hora a temperatura ambiente. Ao final, as células

foram coradas com Preto de Naftaleno (Sigma-Aldrich, EUA).

Para o cálculo de títulos virais, contaram-se os plaques individualizados

e claramente visíveis. Com base nos números de plaque de lise celular

produzidos pela infecção com volumes conhecidos das diferentes diluições

virais, calculou-se o título da semente viral em unidades formadoras de plaques

por mililitro (PFU/ml).

4.4. RT-PCR

4.4.1 Extração do RNA sérico e dos estoques

O RNA dos estoques virais e o das amostras utilizadas foi extraído

utilizando o QIAamp Viral RNA Mini Kit (Qiagen, EUA), seguindo

recomendações do fabricante. Os precipitados foram suspensos em 50 µl da

solução tampão AVE.

4.4.2 Primers

Os primers gênero específicos para os Vesiculovirus foram desenhados

em regiões conservadas da glicoproteína viral. Portanto foram coletadas 39

sequências da proteína G completa dos Vesiculovirus disponíveis no GenBank

do National Center of Biotechnology Information (NCBI), existentes em 02 de

março de 2014. Os vírus coletados foram: Piry (GenBank Nº.D26175) Jurona

(GenBank Nº. NC_025392) Chandipura (GenBank Nº.KF468775; KF468774;

KF468773; KF468772; J04350; NC_020805; GU212856; GU212858;

HM627187; HM627186) Isfahan (GenBank Nº. AJ8810084; NC_020806)

Perinet vírus (GenBank Nº. NC_025394), Yug Bogdanovac (GenBank

Nº.NC_025378); VSIV (GenBank Nº. NC_001560; J02428; AF473864;

AF473865; AF473866), Maraba (GenBank Nº.NC_025255); Cocal (GenBank

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Nº.EU373657; AF045556), VSAV (GenBank Nº. EU373658; NC_025353),

VSNJV (GenBank Nº. NC_024473; JX121109; JX121112; JX121111;

KM012169; JX121110; JX121108; JX121104; JX121106; JX121105;

JX121107), Carajas (GenBank Nº. HW243161; FW339542). Estas sequencias

nucleotídicas foram alinhadas utilizando o programa MAFFT v7.158b (KATOH;

STANDLEY, 2013) e posteriormente, o alinhamento foi visualizado no

programa Geneious v.8.0.1, e selecionadas as regiões conservadas para o

desenho de primers gênero específicos.

4.4.3 Transcrição reversa (cDNA)

A transcrição reversa (RT) dos extratos de RNA dos estoques virais, das

amostras séricas humanas, de animais domésticos, bem como os de insetos e

artrópodos, foi feita com 200 unidades da enzima SuperScript III First-Strand

Synthesis System (Invitrogen), seguindo as orientações do fabricante.

4.4.4 PCR

As PCRs foram realizadas para ambos os pares de primers utilizando 2,0

μL do cDNA, 2 unidades da enzima Taq DNA Polymerase (Invitrogen) 10,0 μM

de cada primer (Sigma), 10X PCR Buffer minus Mg (Invitrogen), 10 mM dNTP

mixture (Invitrogen), 50 mM MgCl2 (Invitrogen), incubando-se a reação a 94°C

por 3 minutos, seguido de 45 ciclos de 94°C por 45 segundos, 55°C por 30

segundos e 72°C por 1 minuto e meio, seguidos de incubação a 72ºC por 10

minutos. Os produtos amplificados foram submetidos à eletroforese em gel de

agarose a 1,5% e visualizados em transiluminador, para confirmar a

amplificação do genoma viral.

4.5 Padronização da PCR em Tempo Real

Foram avaliados cinco sistemas SYBR Green para a padronização da

técnica, como mostrado na Tabela 2. Na padronização das RT-PCR em tempo

real para ambos os gêneros, utilizou-se o equipamento StepOnePlus™ Real-

Time PCR Systems (Applied Biosystems, Foster City, EUA).

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Tabela 2. Kits de SYBR Green para PCR avaliados para este trabalho.

Kits Fabricante

SYBR® Green PCR Master Mix Applied Biosystems, Foster City, EUA

SYBR® Select Master Mix Applied Biosystems, Foster City, EUA

SuperScript III Platinum SYBR® Green

One-Step

Invitrogen, Carlsbad, EUA

Power SYBR Green PCR Master Mix Applied Biosystems, Foster City, EUA

KAPA SYBR® FAST Universal 2X qPCR

Master Mix

Kapa Biosystems, Massachusetts EUA

Com o intuito de otimizar as reações foram avaliados o volume de

reação, a concentração e volume dos primers, além do número de ciclagens

térmicas. Diferentes diluições virais foram submetidas à técnica para avaliar

sua sensibilidade em relação à PCR convencional, onde o mesmo foi feito. A

especificidade dos produtos amplificados foi analisada por curva de

dissociação (ou temperatura de melting- TM), que demonstra a temperatura de

dissociação da dupla fita de DNA no momento em que o fluoróforo SYBR

Green é liberado na desnaturação, resultando em decréscimo do sinal de

fluorescência. Assim, sabe-se que a amplificação das amostras positivas

ocorre naquela TM específica. Todas as reações foram realizadas, em

duplicata, em placas de 96 poços MicroAmp (Applied Biosystems, Foster City,

EUA). Como controle do sinal de SYBR Green, utilizou-se um corante de

referência interno (ROX), cuja função é evitar flutuações inespecíficas de

fluorescência. Calculou-se o ∆Rn com base no sinal de fluorescencia do SYBR

Green normalizado para o mesmo sinal da referência passiva (ROX), em cada

reação. Os resultados foram analisados pelo programa StepOne 2.1 (Applied

Biosystems, Foster City, EUA). Todas as amplificações obtidas durante a

padronização da técnica foram submetidas à eletroforese em gel de agarose a

1,5% para confirmar o tamanho do produto amplificado.

4.5.1 Avaliação comparativa entre a RT-PCR convencional e a em tempo real

com base nos teores de VSV determinados por método biológico que

determina vírus viáveis

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Para realizarmos a avaliação comparativa entre a RT-PCR convencional

e a em tempo real os teores de VSV previamente determinados por método

biológico, em PFU, foram utilizados. Para tanto, diluições decimais de 10-1 a 10-

10 PFUs, dependendo do VSV em estudo, foram testadas pela RT-PCR em

tempo real e pela convencional. Na RT-PCR em tempo real avaliamos a curva

de amplificação e a da temperatura de melting. Para a RT-PCR convencional a

presença de amplicons no gel de eletroforese.

4.5.2 Síntese de fragmento do gene da proteína G do VSV Piry

A sequência de interesse na proteína G dos VSV foi inserida no

plasmídeo pET28a (FastBio, Ribeirão Preto, Brasil). O plasmídeo contendo a

sequência foi centrifugado a 6000 x g, por 1 minuto, a 4°C e suspenso em 20µL

de água DEPC, sendo homogeneizado por 1 minuto. Este plasmídeo clonado

foi utilizado para transformar células competentes de Escherichia coli.

4.5.3.Transformação de células competentes e purificação dos plasmídeos.

O plasmídeo contendo o inserto foi utilizado na transformação de células

competentes das cepas de Escherichia coli Dh5α (Invitrogen, Carlsbad, EUA).

Para tanto, adicionou-se 1µL do DNA plasmidial em tubo contendo as células

competentes e incubou-se em gelo por 30 minutos. Após este procedimento,

fez-se um choque térmico a 42°C, por 90 segundos. O tubo foi novamente

colocado em gelo, por mais 2 minutos. Adicionaram-se 250µL de meio S.O.C.

ao tubo e incubou-se o mesmo em homogeneizador a 225 rpm, a 37°C, por 1

hora. Por espalhamento, 50µL da solução transformada foi semeada em placas

contendo 5mL do meio Luria Bertani (LB) contendo Ampicilina (50µg/mL), 40µL

de X-Gal (40mg/ml) e 7µL de IPTG (Isopropyl β-D-1-thiogalactopyranoside

100mM) e estas placas foram incubadas a 37°C, por 14 horas. A seleção das

colônias transformadas com o plasmídeo foi realizada com base na coloração

das mesmas. Colônias azuis não contém plasmídeo com inserto, pois neste

caso o IPTG induz a expressão da β-galactosidase que degrada o X-Gal,

resultando na cor azul. As colônias brancas foram selecionadas por conterem o

plasmídeo com o inserto. Isto porque, o plasmídeo, inserido em meio ao gene

da β-galactosidase, não permite que esta degrade o X-Gal e mude de cor,

mantendo-se branca. As colônias que continham o inserto foram adicionadas

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em 10 ml de meio LB contendo Ampicilina (50μg/ml) e foram incubadas a 37º

C, sob agitação de 200 rpm, durante 14 horas. Após a expansão das colônias

bacterianas, os plasmídeos foram purificados utilizando o kit QIAprep Spin

Miniprep (Qiagen, Hilden, Alemanha) e em seguida, foram quantificados em

NanoDrop Spectrophotometer 2000 (Thermo Scientific, San Jose, EUA).

4.5.4. PCR da Região da T7 polimerase

O plasmídeo anteriormente expandido e purificado foi submetido à uma

PCR convencional com primers da região T7, esses primers

(T7promoter/T7terminator) amplificam toda a região da T7 polimerase

plasmidial presente no plasmídeo peT28a, incluindo os genes de interesse para

este estudo, como mostra a Figura 9. Para tanto, utilizou-se 1µl do plasmídeo

em PCR com os primers T7promoter/T7terminator (Exxtend, Paulínia, Brasil) e

a enzima Taq DNA polimerase (Invitrogen, Carlsbad, EUA), seguindo as

instruções do fabricante.

4.5.5. Purificação do produto da PCR convencional

Os produtos da PCR convencional com os primers T7 foram purificados

utilizando o QIAquick PCR Purification Kit (Qiagen, Hilden, Alemanha) de

acordo com as instruções do fabricante.

4.5.6. Transcrição in vitro

Após sua purificação, o produto de PCR foi submetido à uma reação de

transcrição in vitro utilizando o MEGAscript® T7 Transcription Kit (Invitrogen,

Carlsbad, EUA), segundo o protocolo do fabricante. O volume final da reação,

de 20μl, foi então mantido a 37ºC por 4 horas e, em seguida, acrescentou-se

30 unidades da enzima Turbo DNA free (Invitrogen, Carlsbad, EUA) incubando-

se a reação por mais 4 horas para degradar todo o DNA plasmidial, de acordo

com o protocolo do fabricante. Após estes procedimentos, o RNA transcrito foi

purificado com o Kit RNeasy Mini Kit (Qiagen, Hilden, Alemanha) e em seguida,

quantificado no equipamento Qubit® Fluorometric Quantitation (Invitrogen,

Carlsbad, EUA), aliquotado e estocado a -70°C. Para confirmar a transcrição,

esse RNA transcrito dos VSV foi submetido à eletroforese em gel de agarose

1% contendo isotiocianato de guanidina. Todo o material utilizado foi

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previamente descontaminado com a solução RNase Away (Invitrogen,

Carlsbad, EUA).

4.5.7. Curva Padrão

A curva padrão avalia e quantifica possíveis VSV detectados nas

amostras. Para a construção desta curva utilizamos o RNA viral, produzido pela

transcrição in vitro anteriormente descrita. Utilizou-se a concentração do RNA

transcrito no cálculo da quantidade de cópias do RNA viral, pela fórmula:

Quantidade de cópias = [Concentração (g/mL) / (nº de pares de base do inserto

e de toda a região amplificada pela T7 polimerase x 340)] x Constante de

Avogadro (6,02 × 1023)

Após o cálculo do número de cópias de RNA transcritos fez-se diluição

na base 10, de 1013 a 10-2 de cópias de RNA por µl, e estas diluições foram

submetidas à RT-PCR em tempo real visando a determinar uma curva padrão

para os VSV que permita, por analogia, quantificar o RNA viral presente em

cada amostra testada.

4.5.8. Limite de detecção e especificidade

Para conhecer o limite de detecção da RT- PCR em tempo real para

Vesiculovirus realizamos ensaios em duplicata com diluições decimais do RNA

transcrito. Neste ensaio verificamos os valores de TM, slope e R2 de cada

reação.

4.6 Amostras

4.6.1 Amostras de bovinos e equinos

Para validar a RT-PCR em tempo real, 18 amostras do soro de bovinos e

equinos, sabidamente positivas para VSV, foram gentilmente cedidas pelo Prof.

Dr. Eduardo Furtado Flores e pela Dra. Juliana Cargnelutti, da Universidade

Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Nos meses de junho a agosto

de 2013, casos de doença vesicular afetando cavalos e gado foram notificados

ao Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, PB,

Brasil. Esses surtos aconteceram nas cidades de Paulista (Paraíba), São Bento

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(Paraíba), Umarizal (Rio Grande do Norte) e Patos (Paraíba) (Figura 3). Para

confirmar a identidade dos espécimes clínicos, as amostras foram submetidas

a uma RT-PCR (PAUSZEK, 1968) capaz de diferenciar entre os subtipos

Indiana e Alagoas. Dessa forma, o vírus encontrado nas amostras foi o

Alagoas, que inclusive, foi posteriormente sequenciado e teve suas sequências

depositadas no GenBank (CARGNELUTTI, 2014).

Figura 3. Localização dos surtos de VSV no nordeste do Brasil. (Retirado de:

CARGNELUTTI, 2014)

4.6.2 Amostras séricas

Avaliando a RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus, foram testadas

410 amostras séricas de pacientes com doença febril aguda oriundas das

cidades de Sinop, MT, São José do Rio Preto, SP e Ribeirão Preto, SP.

Amostras séricas de 167 pacientes com doença febril aguda foram coletadas

em 2011, no Serviço Municipal de Emergência da cidade de Sinop, MT. Estas

amostras foram cedidas gentilmente pela Profª Drª Roberta Vieira de Morais

Bronzoni, da Universidade Federal do Mato Grosso. O Prof. Dr. Maurício

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33

Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto –

FAMERP, cedeu 88 amostras séricas obtidas durante epidemias de dengue em

2011 e 2013. Estas amostras tiveram diagnóstico negativo para DENV segundo

o Instituto Adolfo Lutz. Também, de Ribeirão Preto, foram gentilmente cedidas

60 amostras séricas coletadas durante epidemias de dengue ocorridas em

2007 e 2008, pelo Prof. Dr. Benedito Antônio Lopes da Fonseca, da Faculdade

de Medicina de Ribeirão Preto. Ainda, o Prof. Dr. Victor Hugo Aquino Quintana,

da Faculdade de Farmácia de Ribeirão Preto nos cedeu 95 amostras séricas

coletadas durante a epidemia de DENV em 2006. Todas as amostras

encontravam-se armazenadas a -70oC.

4.6.3 Carrapatos

Neste estudo, os carrapatos submetidos à pesquisa de VSV foram

coletados entre Março e Setembro de 2014, na área urbana de Ribeirão Preto,

SP. Agentes de Controle de Vetores do Centro de Controle de Zoonoses da

Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto fizeram estas coletas e os artrópodos

foram preliminarmente identificados pelas Biólogas Roberta D’Angelo Azevedo

e Sarah Cristina Andrade Silva, no Laboratório de Entomologia e Animais

Peçonhentos do mesmo Centro. Os carrapatos coletados, eram de vida livre ou

parasitavam animais domésticos. Lotes dos artrópodos foram homogeneizados

no TissueLyser II (Qiagen, Hilden, Alemanha), em Solução Balanceada de

Hank´s (HBSS) (Gibco, Life Techologies, USA). Posteriormente, o

homogeneizado foi centrifugado a 10.000 rpm, por 10 minutos, a 4ºC. O

sobrenadante foi transferido para novos tubos e em seguida, submetido a

extração do RNA com o Kit QIAamp Viral RNA (Qiagen, Alemanha).

Tabela 3. Carrapatos do gênero Rhipichephalus capturados em Ribeirão Preto, SP. Rhipichephalus sp.

Lotes N Coleta Endereço Bairro 1 100 05.05.14 R. Paranaguá, n.848 Vila Albertina 2 16 16.06.14 R. Paulo Roberto Komar, n.1665 Jd Branca Sales 3 15 30.06.14 R. Guarani, n 281 Santa Cruz 4 44 01.07.14 R. Palmiro Tavares de Souza, n. 110 Simioni 5 10 29.07.14 R. Guaporé, n.1524 Ipiranga 6 9 30.07.14 R. Humberto de Campos, n.162 Campos Elíseos 7 12 08.09.14 R. João Franscisco S. Nóbrega, n.83 Pq.Res. Emir Garcia 8 13 08.09.14 R. Ariranha, n.640 Jd. Salgado Filho 9 11 18.09.14 R. Heraldo Fernandes, n.140 Herculano

Fernandes 10 06 24.09.14 R. Pedro Ferrarezi, n.865 Paulo G. Romeu

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Tabela 4. Carrapatos do gênero Amblyomma capturados em Ribeirão Preto, SP.

Amblyomma sp.

Lotes N Coleta Endereço Bairro 1 5 18.06.14 Av. Manoel Antônio Dias, s/nº Jd Marchesi 2 173 03.07.14 Parque Maurílio Biagi Centro 3 7 29.07.14 Av.Café, 2447.1 Vila Amália 4 4 05.08.14 Av. Bandeirantes, n.1360 Vila Virgínia 5 60 14.08.14 R. Cananéia, n.97 Vila Virgínia 6 13* 14.08.14 Av. Bandeirantes, n.384 Vila Virgínia 7 122** 14.08.14 Av. Bandeirantes, n.384 Vila Virgínia 8 34 14.08.14 Av. Bandeirantes, n.1300 Vila Virgínia 9 31 24.09.14 Capivara atropelada na Av. Eduardo A.

Matarazzo com R. Pernambuco Campos Elíseos

Legenda: *Ninfas, ** Larvas

4.6.4 Pool de insetos

Cinquenta e sete pools de insetos foram coletados no inverno (estação

seca) de 2002, em diferentes regiões do Estado de Rondônia, Brasil. Esses

incluíam, duas espécies de Diptera, o Psychodidae e Tabanidae e 7 gêneros

de Culicidae: Anopheles, Deinocerites, Mansonia, Coquillettidia, Psorophora,

Culex e Trichoprosopon. Os mosquitos foram capturados utilizando dois tipos

de armadilhas luminosas, CDC automático (Centers for Disease Control and

Prevention) e Shannon (1939), com a ajuda de um tubo de sucção oral. Os

mosquitos foram identificados com base na aparência morfológica, de acordo

com chaves taxonômicas.

5. RESULTADOS

5.1 Estoques virais

Para a preparação dos estoques de VSV produzidos em células C6/36,

aguardou-se período de 1 a 2 dias até o aparecimento do efeito citopático

característico dos VSV, que inclui a formação de células atípicas ou

arredondadas, desorganização celular e apoptose com consequente

observação de células em suspensão.

A quantificação viral nos estoques foi feita por teste de plaque. Plaques,

individualizados e claramente visíveis à diluição 1: 100.000, foram contados,

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como mostra a Figura 5. Observaram-se títulos entre 3,2 x 1010 PFU/ml, para o

vírus Alagoas e 2,8 x 107 PFU/ml, para vírus Indiana, como mostra a Tabela 5.

Figura 4. Ensaio de plaque para titulação do vírus Piry. As diluições decimais da

semente viral, em duplicata, permitiram contar os plaques e determinar o título de 6,0 x

108 PFU/mL.

Tabela 5. Tempo de incubação para o processamento das microplacas e títulos virais

obtidos pela técnica de ensaio de placa.

Vírus Título (PFU/mL) Tempo de

incubação (dias)

Piry 6,0 x 108 1,5

Indiana (VSVI) 2,8 x 107 2

Alagoas (VSVA) 3,2 x 1010 2

Carajás (CARV) 2,6 x 109 1,5

5.2 Extração de RNA

Foi extraído o RNA de 410 soros humanos oriundos de pacientes com

suspeita de Dengue das regiões de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e

SINOP e também de 18 amostras de soros de bovinos e equinos, utilizando o

QIAamp Viral RNA Mini Kit (Qiagen, USA). Ainda, após processamento pelo

TissueLyser (Qiagen, USA), extraiu-se RNA dos pools de mosquitos e

carrapatos provenientes de Ribeirão Preto e Roraima.

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36

5.3 Padronização da RT-PCR convencional

Dois pares de primers que, teoricamente, seriam amplificadores genômicos

de VSV, foram previamente selecionados na região do gene da proteína G,

como mostra a Figura 3 e a Tabela 2. A posição do conjunto de primers Piry

(Forward e Reverse) foi baseada na sequência do vírus Piry (GenBank Nº.

D26175), e a posição do conjunto de primers Indiana (Forward e Reverse) foi

baseada na sequência do vírus Indiana (GenBank Nº. NC001560). Estes

primers foram avaliados por RT-PCR convencional e tempo real para a escolha

do melhor conjunto.

Tabela 6. Primers utilizados na RT-PCR para Vesiculovirus.

Primers Sequência Amplicon

PIRY-FWD 5’CAGGTGGTATGGRCCSAAATA3’ 221

PIRY-REV 5’ATCCAGTGACCTCTATAATCATC3’ 221

INDIANA-FWD 5’CCGCTGGTACGGACCSAAGTA3’ 271

INDIANA-REV 5’ACCCATTCTCCTGTGTATTCATC3’ 271

Primer forward Primer reverse

Figura 5. Genoma esquemático dos Vesiculovirus e região de amplificação dos

primers.

Testamos desta forma, extratos de RNA dos vírus Indiana, Carajás, Piry

e Alagoas. A eletroforese em gel de agarose evidenciou que diferentes primers

amplificaram diferentes vírus. Os primers Piry-Fwd/Piry-Rev amplificaram os

vírus Piry, Alagoas e Carajás e não o vírus Indiana. Isto era esperado pela

divergência nucleotídica entre a sequência deste vírus e a do vírus Piry,

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referência para o desenho destes primers. Em contrário, os primers Indiana-

Fwd/Indiana-Rev amplificaram apenas o vírus Indiana.

Figura 6. RT-PCR convencional para Vesiculovirus. A- RT-PCR convencional para

Vesiculovirus utilizando os primers Piry fwd e Piry rev. O amplicom de 221 pares de

bases corresponde a parte do gene da proteína G de VSV. B- RT-PCR convencional

para Vesiculovirus com os primers Indiana fwd e Indiana rev, mostrando amplificação

de porção parcial do gene da proteína G do vírus Indiana. Em ambas as RT-PCRs o

Orthobunyavirus, Oropouche, utilizado como controle negativo da reação, não teve

genoma amplificado.

Na RT-PCR em tempo real, ambos os pares de primers foram capazes

de amplificar os genomas dos quatro vírus utilizados (Indiana, Carajás, Alagoas

e Piry), porém a amplificação pelo par de primers Piry Fwd/Piry Rev se mostrou

capaz de amplificar o material genético com um número menor de ciclos e foi

escolhido para padronizar a RT-PCR em tempo real.

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Figura 7. Gráfico de amplificação e de temperatura de melting na RT-PCR em tempo

real para o vírus Piry com os primers Piry Fwd/Piry Rev e Indiana Fwd/Indiana Rev,

respectivamente, em A e B.

5.4 Padronização da RT-PCR em tempo real

Para avaliar a eficiência e especificidade dos primers gênero-

específicos, selecionados para detecção dos VSV, estes foram submetidos à

RT-PCR em tempo real. Para tanto, diferentes sistemas SYBR Green foram

avaliados e ao analisar a fluorescência emitida e a curva de melting dos obtidas

com os diferentes sistemas, concluiu-se que o SYBR® FAST Universal 2X

qPCR Master Mix (KAPA BIOSYSTEMS, EUA) foi o mais adequado. Na Figura

8 observam-se as diferenças entre sistemas SYBR Green, que permitiram, pela

curva de amplificação e a curva de melting, escolher o mais adequado à RT-

PCR de Vesiculovirus. Esta análise levou em consideração, amplitude da curva

de temperatura e formação de dímeros de primers, que são fatores essenciais

na padronização de uma RT-PCR em tempo real.

A

B

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39

Figura 8. Curva de amplificação e temperatura de melting da RT-PCR utilizando diferentes sistemas SYBR Green. A- Curva de amplificação e temperatura de melting para o Vesiculovirus Piry, utilizando o Power SYBR Green PCR Master Mix (Applied Biosystems, EUA). B- Curva de amplificação e temperatura de melting para o vírus Piry utilizando o SYBR® FAST Universal 2X qPCR Master Mix (KAPA BIOSYSTEMS, EUA).

Ensaios foram realizados utilizando diferentes concentrações e

quantidades de primers. Observou-se como ideal, a concentração de 2,5 mM

em um volume de 1uL. Assim, determinou-se que a reação ideal para

amplificação de VSV deve conter: 2 µl de amostra de cDNA; 1,0 µl do primer

Piry fwd (2.5 mM); 1,0 µl do primer Piry rev (2.5 mM); 10 µl de SYBR buffer

(2x); 0,4 µl de ROX; 5,6 µl de água DEPC para um volume final de 20 µl. A

PCR foi realizada utilizando o ciclo térmico: 95°C por 10 minutos para separar a

dupla fita de DNA, 45 ciclos de 95°C por 15 segundos seguido por 60°C por 1

minuto (leitura da fluorescência), no qual ocorre a amplificação do DNA.

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Figura 9. Curva de amplificação e temperatura de melting obtidas pela RT-PCR em

tempo real de Vesiculovirus utilizando o vírus Alagoas. O melhor volume dos primers

definidos para o teste foi 1,0 µL de Piry fwd e 1µL de Piry rev, ambos em concentração

de 2,5 mM.

Ensaios utilizando diferentes diluições de VSVs foram realizados, tanto

para a RT-PCR em tempo real quanto para a convencional, o que permitiu uma

comparação entre as curvas de amplificação e temperatura de melting na RT-

PCR em tempo real e a presença de amplicom na convencional, como mostra

a Figura 10. Na curva de amplificação bem como na da Temperatura de

melting, observa-se que houve amplificação até a diluição 10-9 que continha 10

PFUs do VSV Carajás. Na eletroforese dos amplicons observou-se a

amplificação deste vírus até a diluição 10-7 que continha 1000 PFUs. Portanto,

a RT-PCR em tempo real mostrou-se 100 vezes mais sensível que a RT-PCR

convencional. Ensaios comparativos similares foram realizados para os outros

3 VSV em estudo, com resultados semelhantes.

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Figura 10. RT-PCR em tempo real (A) e convencional (B) com os primers testando diferentes diluições do vírus Carajás de acordo com sua diluição a partir da titulação. A- Curva de amplificação e temperatura de melting da RT-PCR em tempo real analisando diluições decimais, de 10-1 a 10-9 e para identificar a diluição máxima em que houve amplificação viral. B- Gel de agarose a 1,5% da RT-PCR convencional exibindo amplicons de 221 pb. Nota-se em A amplificação viral até a diluição 10-9 e em B até 10-7.

5.4.1 Temperatura de Melting (TM)

A curva de melting mostra a temperatura em que ocorreu a dissociação

da dupla hélice de DNA. A TM foi utilizada para avaliar a especificidade da RT-

PCR considerando seu amplicon de 221 pb. No ensaio com os estoques de

10-1 10-2 10-3 10-4 10-5 10-6

10-7

C+

A

B

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VSV, os resultados demonstram que o genoma-alvo foi amplificado em TM de

81,4°C.

5.4.2 Síntese de gene

Para a determinação da carga viral obtida pela RT-PCR em tempo real

de VSV, sintetizou-se o fragmento do gene da proteína G do vírus Piry,

amplificado pelos primers Piry Fwd/ Piry Rev (221 pb). A sequência foi inserida

em plasmídeo pET28a, na região amplificada pela T7 polimerase, entre os

sítios de restrição NcoI e HindIII, como ilustrado na Figura 11.

Sequência nucleotídica de parte do gene da proteína G do Vírus Piry

amplificada com os primers Piry Fwd/ Piry Rev

NcoI.

CCATGGGCAGGTGGTATGGGCCGAAATACATCACTCATTCAATACATCATCTGAGACCGACAACATCAGACTGTGAG

ACAGCTCTCCAAAGGTATAAAGATGGGAGCTTAATCAATCTTGGATTCCCCCCAGAATCCTGCGGTTATG

CAACAGTCACAGATTCTGAGGCAATGTTGGTCCAAGTGACTCCCCACCACGTTGGGGTGGATGATTATAG

AGGTCACTGG [**include stop codon**] TAGAAGCTT

HindIII

Figura 11. Mapa do Plasmídeo pET28a e local de inserção da sequência do

vírus Piry mostrada acima no plasmídeo pET28a.

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43

5.4.3 Transformação de células competentes e purificação dos plasmídeos

Os plasmídeos pET28a contendo as sequências de VSV foram

expandidos em células competentes de Escherichia coli linhagem Dh5-α

(Invitrogen, EUA), segundo recomendações do fabricante. Após a

transformação, as colônias em placas contendo meio LB com antibiótico, X-Gal

e IPTG foram selecionadas segundo a coloração: brancas contendo o inserto e

azuis negativas. As colônias brancas foram submetidas a PCR para confirmar

presença do inserto e expandidas em meio LB líquido, para formar a biblioteca.

Posteriormente o plasmídeo com inserto foi purificado utilizando o QIAprep

Spin Miniprep Kit (Qiagen).

5.4.4 Transcrição in vitro

Os plasmídeos purificados e quantificados no NanoDrop

Spectrophotometer 2000 (Thermo Scientific), foram submetidos a PCR

utilizando os primers T7promoter e T7terminator. Um amplicom de 489pb para

Vesiculovirus (221pb Prot. G VSV + 268pb T7) foi obtido, como mostra a Figura

12. Amplicons frescos foram utilizados para a transcrição in vitro. Após a

transcrição, os RNAs produzidos, purificados e quantificados (mostrados na

Tabela 7), foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1% com

isotiocianato de guanidina, como observado na Figura 12.

Tabela 7. Quantificação do transcrito

Quantificação em ug/mL antes e após purificação

Antes Após

930ug/mL 232ug/mL

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Figura 12. Gel de agarose a 1% mostrando amplicon obtido com os primers da T7 polimerase e do RNA transcrito. Pode-se observar amplicon de 489pb para Vesiculovirus.

5.4.5 Curva-padrão

Para a construção da curva-padrão dos VSV, o número de moléculas do

RNA viral transcrito foi calculada, resultando em 1 x 1013 cópias por mL.

Diluições seriadas do RNA viral transcrito foram utilizadas para construir essa

curva. Os parâmetros da RT-PCR em tempo real foram: slope de -3.036,

percentual de eficiência (EFF) de 113.50% e coeficiente de correlação (R2)

0.978 (sendo considerado ideal o valor <1,0), conforme apresentado na Figura

13A.

O nível de ΔRn determina o ciclo limiar (threshold cycle - CT), o qual é

fixado como o nível acima da linha de base suficiente para o crescimento

exponencial da curva de amplificação. Para a curva padrão, este limiar foi de

1,636. Nota-se que quanto maior a quantidade de ácidos nucléicos alvo, menor

será o número de ciclos necessários para a amplificação, como mostra a

Figura 13B.

CT é o número de ciclos necessários para o sinal de fluorescência ser

emitido, sendo superior ao limite basal do sistema. Os níveis de CT são

inversamente proporcionais à quantidade de ácido nucléico alvo na amostra, ou

seja, o nível mais baixo do CT relaciona-se à maior quantidade de ácido

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nucléico alvo na amostra, como indica a Figura 13A. A Figura 13C indica a

temperatura de melting, em 81,68°C, obtida na confecção da curva padrão.

A

C

Figura 13. A- Curva padrão construída a partir das diluições decimais do transcrito associada ao parâmetro CT. B- Curva de amplificação construída com diluições de 108 a 104 cópias por mL do RNA transcrito. C- Curva de melting a partir das diluições decimais do transcrito.

5.4.6 Limite de detecção e especificidade

Para avaliar a sensibilidade da técnica foram realizadas reações em

duplicata, incluindo diluições decimais do RNA transcrito de VSV, entre

1013 e 10-2cópias/mL. O limite de detecção desta RT-PCR em tempo real foi de

10 cópias/mL para os vírus Alagoas, Carajás, Piry e Indiana. Esta carga viral foi

inserida na curva padrão, com variação inferior a 1%, mostrando-se confiável.

Curva Padrão Slope: -3.036 Y-Inter: 39.28 R²: 0.978 Eff%: 113.508

108

107

106 105 104

B

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46

5.4.7 Quantificação dos vírus utilizados

Os vírus Indiana, Carajás, Piry e Alagoas utilizados na padronização da

técnica também foram quantificados como demonstra a tabela 8 e a figura 14.

Tabela 8. Quantificação em cópias de RNA/ml dos vírus Piry, Carajás,

Alagoas e Indiana por RT-PCR em tempo real.

Vírus Quantificação

(cópias de

RNA/mL)

Piry 2,3x106

Indiana (VSVI) 1,8x105

Alagoas (VSVA) 1,2x106

Carajás (CARV) 1,4x106

A

B

Vírus Carajás, Indiana,

Alagoas e Piry

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Figura 14. A- Amostras dos vírus Carajás, Indiana, Piry e Alagoas quantificados por RT-PCR em tempo real com curva padrão construída a partir das diluições decimais do transcrito. B- Curva de amplificação e de melting das amostras.

5.4.8 Resultados obtidos pela RT-PCR de Vesiculovirus com amostras de

distintas origens.

Dentre as 17 amostras séricas de bovinos e equinos, observou-se RNA

do VSV Alagoas em 15 e também, nestes soros, foi possível determinar a

carga de VSV, como mostram a Figura 15 e a Tabela 9. Não houve diferença

entre as cargas virais observadas nos equinos (1,5x101 a 1,2x106 cópias de

RNA/mL) com aquela dos bovinos (1,4x101 a 1,2x105 cópias de RNA/mL).

A

B

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Figura 15. A- Amostras de bovinos e equinos quantificadas por RT-PCR em tempo real com base na curva padrão. B- Curvas de amplificação e de melting das amostras de bovinos e equinos.

Tabela 9. Carga de VSV Alagoas nas amostras séricas de bovinos e

equinos.

Amostra Carga viral

(cópias de RNA/mL)

01 Equino 1,2x106

02 Equino 1,3x104

03 Equino 1,9x101

04 Equino 2,6x101

05 Equino 1,3x104

06 Equino 2,3x104

07 Equino 1,5x101

08 Equino 1,5x101

09 Equino 5,5x102

10 Equino 5,7x102

01 Bovino 1,2x105

02 Bovino 2,1x102

03 Bovino 8,3x103

04 Bovino 1,4x101

05 Bovino 9,1x103

Não foi detectado genoma de VSV nas 410 amostras de soro testadas

pela RT-PCR em tempo real. Também não foi encontrado VSV nos lotes de

carrapatos e de mosquitos.

6. DISCUSSÃO

Diversos inquéritos sorológicos já demonstraram a circulação de VSV.

Em Ribeirão Preto, no ano de 1984, encontrou-se que 12,1% da população

estudada tinham anticorpos neutralizantes para o vírus Piry (FIGUEIREDO,

1985). Em Catolândia, município da Bahia, observou-se 16% de soro

positividade para VSV, em grande parte para o vírus Piry (TAVARES NETO,

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49

1992). Andrade e colaboradores, 1974, observaram alta positividade em

cavalos, para os vírus Indiana, Alagoas e Cocal, sendo 9,7%, 25,2% e 7,7%

respectivamente. Resultado que demonstra a importância do vírus Alagoas

como causador de doença nesses animais. Em Ribeirão Preto, foi isolado do

epitélio lingual de um equino, o VSV Cocal (cepa Ribeirão) e em 1979 – 1980,

o VSV Alagoas, também, foi isolado nesta região (ARITA & ARITA, 1983;

ANDRADE, 1980). Em Minas Gerais e no Ceará, isolaram o VSV Alagoas e no

Rio Grande do Sul, o VSV Cocal. Recentemente, em agosto de 2014, em

Castanheiras, Mato Grosso, foram identificados e confirmados 36 casos de

bovinos com estomatite vesicular e por isso 135 fazendas foram interditadas.

Esses recentes resultados comprovam que os VSV continuam circulando em

nosso país.

Os mecanismos de transmissão e de infecção pelos VSV bem como a

fisiopatologia das doenças produzidas pelos mesmos são pouco conhecidos.

Sabe-se que o vírus Piry causa uma doença febril aguda no homem que pode

ser facilmente confundida com dengue, gripe ou outras viroses. Sabendo que

na região de Ribeirão Preto estudos epidemiológicos prévios observaram que

12% dos habitantes teriam se infectado pelo vírus, a procura por VSV nesta

região e em outras partes do Brasil, em soro de pacientes com doença febril

aguda se mostrou interessante, mas não foram encontradas amostras positivas

na população aqui estudada.

O modo pelo qual os VSV são mantidos na natureza durante os surtos

endêmicos e epidêmicos não é totalmente esclarecido.

Apesar de existirem métodos diagnósticos que permitem detectar

presença viral em materiais clínicos, na rotina laboratorial costumam ser mais

utilizados os métodos sorológicos indiretos. As vantagens dos métodos

sorológicos encontram-se, em sua maioria, em relação ao menor custo por

amostra, simplicidade e oferta de kits comerciais padronizados. A RT-PCR em

tempo real, utilizando primers específicos para gênero, como para os VSV,

representa um avanço nos métodos para detecção viral utilizados no Brasil. A

detecção de múltiplas espécies de um mesmo gênero, permite reconhecer

vários vírus que são ignorados pela falta de abordagens laboratoriais

diagnósticas.

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Técnicas de biologia molecular e em especial as de amplificação do

ácido nucléico, particularmente a reação em cadeia pela polimerase (PCR),

vêm sendo gradativamente aceitas e estabelecidas nos laboratórios clínicos e

de pesquisa. Alguns dos motivos para a maior aceitação dessas técnicas

seriam a alta sensibilidade, especificidade e rapidez, demandando menor

tempo para a liberação do resultado, o que pode ser decisivo no tratamento de

muitas doenças.

Neste estudo, desenvolvemos e testamos uma RT-PCR em tempo real

com os primers genéricos Piry Fwd e Piry Rev, que permite amplificar parte da

sequência da proteína G dos VSV Alagoas, Carajás, Indiana e Piry. Os primers

foram desenhados e selecionados a partir de alinhamentos das sequências

nucleotídicas do gene da proteína G desses vírus, em região de alta

homologia. A proteína G é uma das mais importantes proteínas virais dos

Vesiculovirus sendo responsável pela ligação do vírus à célula hospedeira por

ser uma proteína transmembrana. A mesma é a responsável pela endocitose

viral e a fusão do envelope às membranas vesiculares (WALTER &

KONGSUWAN, 1999). Essa proteína também é responsável pela produção de

anticorpos neutralizantes, sendo um importante antígeno viral (WAGNER &

ROSE, 1996). O uso de RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus brasileiros é

inédito e estes primers demonstram eficiência na amplificação do genoma

destes vírus.

O menor custo em relação à técnica de Taqman, aliado ao fato de

estarmos desenvolvendo uma PCR genérica, levou-nos à escolha do método

em tempo real por SYBR Green. Assim, mutações pontuais em determinados

nucleotídeos do genoma de alguns vírus ou diferenças entre as sequências dos

mesmos, poderiam não permitir a ligação de sondas TaqMan, o que não ocorre

com testes feitos pelo sistema SYBR Green (BUSTIN, 2000; MACKAY, 2004;

MACKAY et al., 2002). Embora menos específico que o TaqMan, o SYBR

Green permitiu uma identificação genérica específica dos Vesiculovirus

estudados, já que a técnica permitiu amplificar os quatro vírus de forma

específica e eficiente e não amplificou outros vírus testados, como por

exemplo, o Orthobunyavirus Oropouche e o Flavivirus Febre Amarela.

Diversos parâmetros foram avaliados na padronização desta RT-PCR

em tempo real por SYBR Green. Isto foi necessário por sabermos que este

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marcador se liga a qualquer dupla fita de DNA, podendo fornecer resultados

inespecíficos quando ligado a sequências inespecíficas ou a dímeros formados

pelos primers (MACKAY, 2004; MACKAY, 2002). Entretanto, mostramos pela

curva de dissociação (TM) do teste que era possível detectar e desconsiderar

resultados obtidos por dímeros de primers ou pela amplificação de produtos

inespecíficos. Portanto, a RT-PCR em tempo real mostrou-se específica para

os diferentes vírus testados com a curva de melting variando entre 81,11 –

82,03°C. Neste trabalho, até onde pudemos investigar, desenvolvemos uma

inédita RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus utilizando o SYBR Green.

Nossos ensaios comparativos entre a RT-PCR em tempo real e a

convencional, utilizando VSV quantificados por método biológico, em PFU/ml,

mostraram que a primeira é 100 vezes mais sensível que a segunda. Estes

resultados são corroborados pela quantificação dos RNAs transcritos,

resultados mostrados abaixo.

Como além de obtermos genomas de VSV, pretendíamos quantificá-los,

optamos pela comparação dos resultados destes com diferentes teores do

RNA de produtos clonados de transcrição in vitro plotados em uma curva

padrão logarítmica. Buscamos obter uma curva-padrão de cinco pontos e esta

foi construída utilizando diluições decimais de RNAs transcritos entre 108 a 104

cópias de RNA por mL. Por esta comparação foi possível estimar a quantidade

de cópias do RNA amostral. A curva se mostrou adequada, uma vez que

permitiu quantificar os VSV estudados e o VSV Alagoas nas amostras de

animais que foram testadas.

Também, avaliamos o limite de detecção da nossa RT-PCR em tempo

real, utilizando diluições decimais dos RNAs transcritos, de 1013 a 10-2.

Observamos que nossa RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus é capaz de

detectar até 10 cópias do RNA para os vírus Indiana, Carajás, Piry e Alagoas.

A alta sensibilidade desta RT-PCR permite que a detecção de VSV em

amostras clínicas seja possível, mesmo naqueles casos em que ocorrem

baixas viremias. Esta alta sensibilidade foi confirmada nos testes com as

amostras do VSV Alagoas de bovinos e equinos, onde as cargas virais

variaram de 106 a 101. A não detecção de VSV em 2 amostras, que eram tidas

previamente como positivas, provavelmente, deveu-se à degradação do RNA

viral, porque boa parte destas amostras, após longa viagem, chegaram

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descongeladas a nosso laboratório. Pela mesma razão, nas amostras que

foram positivas, suas cargas reais de VSV Alagoas poderiam ser ainda mais

elevadas. Existem poucos estudos utilizando PCR em tempo real para os VSV

e nenhum deles, com a metodologia SYBR Green. Em 2008, Kumar e

colaboradores padronizaram uma RT-PCR em tempo real por metodologia

TaqMan para o vírus Chandipura, grande causador de epidemias de encefalite

aguda em crianças na Índia. A técnica possui um limite de detecção de

1,2x100 PFU/ml e se mostrou bem mais sensível que a RT-PCR convencional

utilizada no trabalho (KUMAR, 2008). Em 2010, Hole et al. padronizaram uma

RT-PCR em tempo real também TaqMan capaz de identificar e diferenciar os

VSV Indiana e New Jersey, dois vírus importantes causadores de estomatite

vesicular em animais. O estudo, no entanto, não estabeleceu limite de

detecção e nem quantificação das amostras testadas (HOLE, 2010).

Neste trabalho, demonstrou-se que a RT-PCR em tempo real, utilizando

os primers confeccionados a partir da seqüência do gene da proteína G, foi

capaz de amplificar o material genético nas amostras dos quatro vírus

estudados.

Também, o genoma do VSV Alagoas foi detectado em amostras de

equinos e bovinos, sabidamente positivas. Este se trata do agente causador de

estomatite vesicular mais presente em nosso país. A alta positividade mostra a

eficiência que a técnica possui e a alta capacidade de detecção desses vírus

em amostras de animais, tais como bovinos e equinos. Portanto, a utilização

dessa RT-PCR mostra-se uma boa opção diagnóstica por detectar um

importante VSV causador de estomatite em bovinos e equinos. Assim, a RT-

PCR em tempo real para Vesiculovirus poderá ser uma ferramenta útil para

solver o diagnóstico diferencial de vesiculoviroses com outras doenças do tipo

“foot and mouth”, como a Febre Aftosa.

Em nosso trabalho, a viremia de Alagoas observada nos equinos e nos

bovinos, foi similar. Entretanto, não dispomos de informações adicionais sobre

a ocorrência e a gravidade da estomatite vesicular nesses animais e que

poderiam ser correlacionadas com a viremia.

A pesquisa de genoma viral de VSV em soros humanos se mostrou

interessante, pois, em 1985, Figueiredo e colaboradores encontraram 12% de

positividade para anticorpos neutralizantes específicos para o vírus Piry no soro

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de indivíduos residentes na região de Ribeirão Preto. No entanto, foram

testadas 410 amostras séricas de pacientes com doença febril aguda,

negativas para o vírus da Dengue, pela RT-PCR em tempo real padronizada,

mas não foi possível encontrar genoma viral em nenhuma delas. Foram

testados também lotes de carrapatos e artrópodes, o que se mostrou

interessante, pois, os ciclos de manutenção dos VSV na natureza são muito

pouco conhecidos, e alguns desses vírus já foram descritos infectando

mosquitos, como o vírus Indiana, New Jersey e Cocal, flebotomíneos, como os

vírus Alagoas, Indiana, New Jersey, Maraba e Chandipura e carrapatos, onde

já foi descrita infecção pelo vírus Infahan (TRAVASSOS DA ROSA, 1984;

TESH, 1987; HUBÁLEK, 2014). Não foi possível detectar Vesiculovirus nas

amostras de artrópodos e carrapatos, uma hipótese é de que, apesar de haver

descrição de VSV, como o vírus Marabá infectando flebotomíneos na região

amazônica do Brasil (TRAVASSOS DA ROSA, 1984), esses artrópodes, em

geral, não costumam estar infectados por estes vírus.

Acreditamos que esta RT-PCR em tempo real para diagnosticar VSV

representa importante avanço nesta área. A técnica, muito sensível, poderá ser

empregada no diagnóstico das infecções por VSV em todo o país, seja em

humanos ou em animais. Também, sendo capaz de detectar, provavelmente,

todos os VSV conhecidos, deverá permitir o diagnóstico de infecções por novos

vírus do gênero, incluindo aqueles ignorados pela falta de abordagens

laboratoriais adequadas. Enfim, a RT-PCR em tempo real desenvolvida neste

trabalho deverá ser muito útil no diagnóstico e também, em futuras pesquisas,

que permitirão ampliar o conhecimento epidemiológico, ainda pouco conhecido,

sobre os Vesiculovirus.

7. CONCLUSÃO

Desenvolveu-se uma inédita RT-PCR em tempo real por SYBR Green,

que é capaz de detectar genomas dos VSV Piry, Indiana, Alagoas e

Carajás.

A RT-PCR em tempo real mostrou-se 100 vezes mais sensível que a

RT-PCR convencional para Vesiculovirus.

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A RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus mostrou-se sensível,

porque permitiu detectar até 10 cópias de RNA do vírus Piry.

A RT-PCR em tempo real para Vesiculovirus mostrou-se capaz de

diagnosticar e quantificar o VSV Alagoas em amostras séricas de

bovinos e de equinos.

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