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1 Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira DEFICIÊNCIA FÍSICA DESENVOLVIMENTO MOTOR E APRENDIZAGEM DE HABILIDADES MOTORAS INTRODUÇÃO A educação do portador de deficiência física requer cuidados e atenções especiais. Para tanto, é importante para as pessoas que lidam direta ou indiretamente com esta problemática, que entendam o sentido da relação pedagógica, como processo de interlocução entre professores e alunos, na busca da produção e assimilação crítica do conhecimento. A seguir, analisaremos procedimentos relativos ao processo de organização de aulas, bem como dos objetivos que devem direcionar o planejamento. Na elaboração de uma aula ou atividade com pessoas portadoras de deficiência, é preciso ter em mente que, apesar de sua limitação, podem ser desenvolvidas potencialidades. Cabe ao professor respeitar as barreiras que lhe são impostas pela estrutura do corpo ou pelos comprometimentos decorrentes das características que o portador de deficiência apresenta. Poderão ser utilizados jogos e brincadeiras diversas, entretanto, o professor não deve alimentar no aluno expectativas em torno de um eventual sucesso ou, quem sabe, de uma probabilidade de rendimento absoluto, logo de início. Da mesma forma que deve ter cautela nas atividades propostas, para que não ultrapasse os limites do aluno de forma brusca e instantânea. Caso isso ocorra, o MEDO e a INSEGURANÇA, obstáculos a serem superados, tornar-se-iam companheiros inseparáveis dos participantes do processo educativo. São questões das quais devemos refletir tendo em vista a ação pedagógica no planejamento da aula para portadores de deficiência física: - Quais as limitações impostas pela deficiência? - Quais as atividades que proporcionam mais alegria, prazer e motivação? - Que materiais são os mais adequados? - Que objetivo deve ser alcançado? - Qual o nível intelectual e motor da criança/adulto?

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Texto de apoio ao curso de Especialização

Atividade física adaptada e saúde

Prof. Dr. Luzimar Teixeira

DEFICIÊNCIA FÍSICA

DESENVOLVIMENTO MOTOR E APRENDIZAGEM DE HABILIDADES MOTORAS

INTRODUÇÃO

A educação do portador de deficiência física requer cuidados e atenções especiais. Para

tanto, é importante para as pessoas que lidam direta ou indiretamente com esta problemática, que

entendam o sentido da relação pedagógica, como processo de interlocução entre professores e

alunos, na busca da produção e assimilação crítica do conhecimento.

A seguir, analisaremos procedimentos relativos ao processo de organização de aulas, bem

como dos objetivos que devem direcionar o planejamento.

Na elaboração de uma aula ou atividade com pessoas portadoras de deficiência, é preciso

ter em mente que, apesar de sua limitação, podem ser desenvolvidas potencialidades. Cabe ao

professor respeitar as barreiras que lhe são impostas pela estrutura do corpo ou pelos

comprometimentos decorrentes das características que o portador de deficiência apresenta.

Poderão ser utilizados jogos e brincadeiras diversas, entretanto, o professor não deve

alimentar no aluno expectativas em torno de um eventual sucesso ou, quem sabe, de uma

probabilidade de rendimento absoluto, logo de início. Da mesma forma que deve ter cautela nas

atividades propostas, para que não ultrapasse os limites do aluno de forma brusca e instantânea.

Caso isso ocorra, o MEDO e a INSEGURANÇA, obstáculos a serem superados, tornar-se-iam

companheiros inseparáveis dos participantes do processo educativo.

São questões das quais devemos refletir tendo em vista a ação pedagógica no

planejamento da aula para portadores de deficiência física:

- Quais as limitações impostas pela deficiência?

- Quais as atividades que proporcionam mais alegria, prazer e motivação?

- Que materiais são os mais adequados?

- Que objetivo deve ser alcançado?

- Qual o nível intelectual e motor da criança/adulto?

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- Quais as atividades que oferecem riscos?

- Qual o nível de adequação do espaço físico à atividade?

É importante traçar paralelos entre o universo dos portadores de deficiência e o dos não-

portadores de limitação física. A partir daí, novos caminhos poderão surgir como alternativas a

serem utilizadas, de modo a favorecer os avanços que se fizerem necessários. Questões como

PRECONCEITO, EGOÍSMO, MEDO E INSEGURANÇA irão nortear a execução do planejamento

das atividades.

Assim, surge a questão principal:

• que atividades físicas ou esportivas poderão ser praticadas pelos portadores de deficiência

física?

Quase todas as atividades físicas ou esportivas poderão ser praticadas pelos portadores de

deficiência física, desde que, se necessário, sejam adaptados às suas limitações e características

materiais, equipamentos e regras. Vejamos alguns exemplos: ginástica geral (com e sem

aparelhos), futebol (praticada principalmente pelos amputados e paralisados cerebrais), atletismo,

basquete em cadeira de rodas, atividades aquáticas (a natação é a mais utilizada), dança, voleibol

(sentado ou de pé), tênis de mesa, tênis de campo, halterofilismo, arco e flecha, tiro, hipismo,

esgrima, maratona, peteca, entre outras.

OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DOS ESPORTES NA RELA ÇÃO PEDAGÓGICA COM

AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA.

Os objetivos que orientam a prática pedagógica da Educação Física e/ou dos esportes

neste contexto constroem-se a partir das limitações e potencialidades individuais do aluno, bem

como de sua relação com as atividades propostas.

As perspectivas oferecidas pelas atividades propostas numa aula devem sugerir:

- oportunidade de novos movimentos

- lazer e recreação

- oportunidade de competição

- auxílio na terapia

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- interação com novas pessoas

- aprendizagem de novos jogos.

Para a formulação dos objetivos que norteiam o planejamento da ação educativa, são

citados:

1. integração consigo mesmo e conseqüente eliminação ou minimização de barreiras com o

seu “eu próprio”;

2. contato e confronto com outras pessoas, deficientes ou não;

3. desenvolvimento de potencialidades;

4. vivência de situações de sucesso, possibilitando a melhoria do processo de auto-

valorização e auto-confiança;

5. combate ao sedentarismo;

6. melhoria das condições organo-funcionais, envolvendo os aparelhos circulatório,

respiratório, etc.;

7. aprimoramento das qualidades físicas (resistência, força, velocidade, etc);

8. desenvolvimento de habilidades físicas (coordenação, ritmo, equilíbrio, ec);

9. alegria e prazer pela realização da atividade física/esporte;

10. possibilidade de acesso à prática do esporte como lazer, reabilitação e competição;

11. desenvolvimento da autonomia e da independência locomotora na cadeira de rodas (tocar

a cadeira em vários ritmos, direções e formas);

12. estímulo às funções do tronco e membros superiores;

13. adaptação dos movimentos de acordo com as limitações;

14. prevenção e deficiências secundárias;

15. estímulo à superação, frente a situações de frustação.

ATIVIDADES ESPORTIVAS PARA A PESSOA PORTADORA DE DE FICIÊNCIA FÍSICA

Dentre os esportes mais praticados no Brasil estão:

Natação

Basquetebol em cadeira de rodas

Atletismo

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Futebol de paralisados cerebrais e amputados

Tênis de mesa

NATAÇÃO

A natação oferece a muitos tipos de deficientes físicos, na maioria das vezes, a única

possibilidade de se movimentarem sozinhos, independentes do auxílio de outra pessoa ou de

qualquer instrumento como: perna ou braço mecânico (prótese), bengala, muletas ou cadeiras de

roda (órtese).

Além da sensação de liberdade, destaca-se ainda a importância da água sobre o

organismo no que se refere ao sistema de regulação de calor e aos aparelhos circulatório,

respiratório e locomotor (melhoria da função dos músculos e articulações funcionais do

deficiente).

Quanto ao sistema de regulação de calor, obtém-se através da temperatura da água, maior

resistência do organismo às intempéries do meio-ambiente, evitando-se resfriados, pneumonias,

etc.

Os exercícios na água melhoram a irrigação da musculatura do coração, fortalecendo-a, de

modo a tornar a atividade do aparelho circulatório mais eficiente.

A pressão da água no tronco e abdômem possibilita o aumento do volume e da elasticidade

da caixa toráxica e o exercício correto da respiração. Assim, evita o aparecimento de

determinadas enfermidades e trata de doenças respiratórias como a asma, a bronquite, etc.

As propriedades da água (viscosidade, empuxo, eliminação quase total da gravidade)

propiciam execução mais fácil de movimentos, melhoria da resistência muscular pela

movimentação ativa, educação e reeducação de movimentos, relaxamento muscular e melhoria

do equilíbrio postural, pela correção, contribuindo para o desenvolvimento geral da motricidade e

da força muscular.

Para ensinar uma pessoa portadora de deficiência física a nadar, deve-se ter em vista a

limitação que ela apresenta e sua experiência na água. Alguns cuidados para orientar a ação

educativa também devem ser tomados:

- existem vários tipos de deficiência física, e, mesmo quando aparentam ser semelhantes,

precisam ser encaradas de forma diferenciada;

- deve-se observar o aluno muito mais pela potencialidade que pode desenvolver do que

pela deficiência que apresenta;

- o conhecimento da deficiência apresentada pelo aluno é importante, sendo fundamental

saber se existem exercícios que não são indicados para algum tipo de deficiência;

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- é imprescindível conhecer as experiências anteriores do aluno na água.

Alguns princípios devem ser enfatizados:

- todos os alunos são diferentes

- as experiências individuais não são iguais

- as limitações e potencialidades são específicas de cada um.

Ao elaborar um programa de natação para as pessoas portadoras de deficiência física, é

necessário definir com clareza os objetivos a serem alcançados, no que se refere à terapia,

recreação e competição. Na terapia a natação é utilizada como fator de reabilitação. No campo do

lazer e da recreação, como forma de divertimento e prazer. Na competição, como meio de se

obter premiação. Na natação competitiva, o atleta deve ser classificado de acordo com suas

potencialidades. Para isto, existe o sistema de classificação funcional da natação.

São procedimentos pedagógicos necessários para o desenvolvimento de uma boa aula de

natação:

PRIMEIRA FASE: Adaptação e segurança na água.

- exercícios passivos e ativos na água;

- formas de entrada e saída da água;

- adaptação da água no rosto;

- flutuação;

- pequenos mergulhos;

- pequenos deslocamentos, etc.

SEGUNDA FASE: domínio e deslocamento seguro na água.

- controle do corpo sobre e sob a água;

- deslocamento sobre a água;

- perfeito controle da respiração;

- controle de rotações (ventral, horizontal);

- domínio de pelo menos um estilo, etc.

TERCEIRA FASE: Aprendizagem da técnica e do estilo.

- desenvolvimento de exercícios educativos

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- utilização da demonstração como forma de aprendizagem do estilo;

- treinamento do estilo.

Obs: A escolha do estilo depende principalmente do comprometimento da lesão.

NORMAS DE SEGURANÇA NAS AULAS DE NATAÇÃO

- realização de exame médico para diagnosticar problemas orgânicos e de pele, entre

outros;

- realização de uma avaliação funcional para diagnosticar as potencialidades dos alunos;

- arquitetonicamente ser uma piscina que facilite a entrada do deficiente na mesma e com

corrimão em torno das bordas ou em locais estratégicos;

- conhecimento e eliminação das barreiras arquitetônicas (locais escorregadios, retirar da

borda da piscina materiais que ofereçam riscos como muletas, bengalas, cadeiras de roda,

etc);

- utilização de flutuadores sempre ao alcance do deficiente com facilidade;

- observação dos alunos com falta de sensibilidade, para evitar queimaduras e escoriações;

- observação permanente dos alunos portadores de epilepsia e convulsões.

ATIVIDADES NA ÁGUA

Efeitos Fisiológicos

- temperatura da pele = 33,5 C;

- temperatura da água = 28 a 31 C podendo, em casos mais graves, ser mais elevada;

- aumenta o metabolismo;

- melhora a circulação;

Efeitos terapêuticos

- alívio da dor e dos espasmos musculares;

- relaxamento;

- manutenção ou aumento do arco de movimento;

- re-estimulação de músculos atrofiados;

- fortalecimento dos músculos e desenvolvimento de sua força e resistência;

- melhora das atividades funcionais da marcha;

- aumento da circulação (e assim da elasticidade da pele) ;

- reforço da moral do paciente pelas atividades recreativas;

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- desenvolvimento da auto-confiança e independência;

- execução de movimentos pela diminuição dos efeitos da gravidade.

BASQUETEBOL EM CADEIRA DE RODAS

Sua origem vem das atividades esportivas praticadas pelos mutilados da segunda guerra

mundial, como forma de lazer. Com o tempo algumas regras foram sendo adaptadas e várias

equipes se formaram.

Este esporte é praticado pelo mesmo número de jogadores do basquete convencional

(cinco jogadores de cada lado), divididos e classificados pelo nível de lesão e pela potencialidade

que apresentam. O tempo de jogo, o valor das cestas e dos laterais também correspondem aos

do basquete convencional, prevalecendo a tabela de tamanho normal. As cadeiras devem

obedecer, na sua estrutura, a determinadas regras específicas, conforme consta no livro de

regras.

ATLETISMO

Assim como o basquete, o atletismo necessita algumas adaptações tanto nas regras

quanto no material a ser utilizado pelos portadores de deficiência física. As regras seguidas são

as da Federação Internacional de Atletismo.

Os materiais adaptados são cadeiras de roda em forma de triciclo, que dão maior

velocidade e estabilidade ao atleta na pista.

Nas provas de campo (arremesso e lançamento) são utilizadas cadeiras sem roda, fixadas

no solo.

O atletismo é a modalidade de esportes que oferece maiores opções para todos os tipos de

deficientes.

OUTROS ESPORTES

O futebol pode ser praticado por pessoas amputadas, que usam suas muletas para auxiliar

seus passes no desenvolvimento do jogo, como também pelos paralisados cerebrais. Neste caso,

as regras são as mesmas do esporte convencional.

Já o tênis de mesa pode ser praticado pelo paraplégico, tetraplégico e por alguns

amputados, com a finalidade de lazer ou de competição.

No Brasil, o esporte praticado por portadores de deficiência física encontra-se organizado

por entidades relacionadas ao tipo de deficiência, tais como: ABRADECAR (Associação Brasileira

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de Desporto em Cadeira de Roda), ABDA (Associação Brasileira de Amputados) etc. As

associações municipais são filiadas às entidades nacionais.

De quatro em quatro anos, logo após as Olimpíadas mundiais, são realizadas, no mesmo

local, as Para-Olimpíadas, das quais participam todos os tipos de deficientes, que obtiveram as

melhores colocações nas competições realizadas em seus países.

METODOLOGIA

A imagem que temos dos portadores de deficiência física é de pessoas indefesas,

desmotivadas e dependentes, porém isso é um estereótipo que devemos combater. As PPDF,

dentro das suas limitações, são extremamente capazes de realizar diversas tarefas. Quando são

motivado e estimulados de maneira adequada e de diversas formas, eles rendem além do

esperado e fornecem respostas simples, precisas e específicas aos desafios dados a eles.

Através da prática de atividade física e esportes, além de construir um meio de evitar o

tédio, a pessoa portadora de deficiência física estimula o movimento do corpo, dos seus órgãos e

busca o equilíbrio orgânico geral indispensável para a sobrevivência do homem. Além disso,

estimula o aspecto sócio-afetivo, o domínio cognitivo e o seu potencial psicomotor, todos

deficitários e prejudicados pela deficiência. Por isso, os objetivos das atividades nunca devem ser

eminentemente motores, sendo esses três domínios estimulados ao mesmo tempo, dentro das

atividades.

Realizar tarefas por eles, protegê-los demasiadamente, não vai ajudá-los em nada. O que

devemos fazer é permitir e fornecer subsídios para que eles, de alguma forma, se descubram e

busquem soluções para as tarefas e os problemas do dia-a-dia.

Os PPDF podem se relacionar bem com qualquer pessoa, principalmente com aqueles que

os entendem. E para entendê-los não é preciso pré-requisitos, e sim tratá-los da mesma forma

como tratamos qualquer outra pessoa: sem distinções, pena ou protecionismo, e sobretudo

acreditando em suas potencialidades.

Para que a atividade física alcance realmente números significativos e cumpra seu papel

na formação do PPDF é necessário que ela seja facilitada no seu acesso, no material, e

incentivada desde cedo. E a atividade física para essa população deve ter fins formativos,

voltados ao desenvolvimento, e não pragmática, como percebemos na maior parte das vezes.

Para a prática, o aluno deve estar seguro perante a turma. Devido às defasagens que

possui fisicamente e que não podemos ignorar, ele sente dificuldades em realizar certas

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atividades com o seu corpo. Por isso, é preciso haver um entrosamento por parte do professor

com as dificuldades cinestésicas do aluno, e ter uma dimensão real do nível dessas desordens

motoras.

É preciso também que haja persistência e motivação no trabalho com o PPDF, já que são

muitos os obstáculos. A motivação é um agente psicológico transformador que de estar presente

e ser constante, tanto no professor quanto no aluno, para despertar a participação e atrair o

interesse dos alunos para uma conseqüente mudança de atitude, que lentamente vai propiciar um

clima adequado para a aprendizagem.

APRENDIZAGEM MOTORA E CAPACIDADE DE RENDIMENTO

Rizzo refere-se à aprendizagem como a capacidade do indivíduo em receber, interpretar,

analisar e reagir corretamente aos estímulos que agem sobre ele, interna ou externamente. A

percepção do movimento, sua análise e fixação na área da memória, dando como resposta uma

execução mais perfeita do movimento, faz com que o processo se adapte dentro de um circuito

fechado.

O “circuito fechado” da aprendizagem motora

ANÁLISE CONSERVAÇÃO MEMORIAL

PERCEPÇÃO EFETUAÇÃO DO MOVIMENTO

(Rizzo)

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Shoot, outro autor que dissertou sobre o assunto, enfatiza que a educação física para a

criança deficiente exige trabalho diferenciado, específico e intencionado, e seu ensinamento se

orienta principalmente na transitória capacidade de seu rendimento. Para esquematizar a

capacidade de rendimento, Shoot cita quadro de Breil:

Capacidades psíquicas

Capacidades físicas Possibilidades de rendimento

Ganhos

Capacidade de rendimento

Emoções Esforços para obter

Circunstâncias

Motivos rendimento exteriores

Afetos

Atitude ante Tipo de trabalho

resultado Condições de trabalho

Meio

Motivação Disposição para alcançar

Vontade rendimento

Finalidades Rendimento

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(Breil)

Existem também outras reações em cadeia que acabam por prejudicar o rendimento. A não

correção de um estímulo ou a sua aplicação em momento indevido implica no erro de

assimilação, que é dessa forma armazenado em nosso compartimento de memória a curto prazo.

Quando essa informação precisa ser transferida para qualquer outra situação da vida de relação,

vai ser apresentada da mesma forma errada pela qual foi assimilada anteriormente. O erro logo

se tornará transparente e o aluno se desmotivará e, conseqüentemente, diminuirá seu

rendimento.

Estímulo não corrigido Memória cinética Armazenamento

Transferência

para outras situações

Diminuição do rendimento Desmotivação Erro

(Rosadas)

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Outro exemplo ocorre quando o estímulo é muito complexo. Pela necessidade de acerto e

auto-preservação de sua imagem, o aluno com problemas entra em estado de super-excitação,

desgaste emocional e conseqüente diminuição de rendimento. O erro já é esperado, pois no início

do ciclo foi notado estímulo das expectativas individuais do executante.

Estímulo muito complexo Ansiedade pré-execução

Necessidade de acerto Autopreservação

Estado de supra-excitação

Erro esperado Diminuição de rendimento Desgaste emocinonal

(Rosadas)

Haider, também citado por Shoot demonstra que as modificações de atitude, se não

controladas, também interferem na capacidade de rendimento:

A = perturbação de rendimento por comportamento apático.

B = rendimento ótimo.

C = perturbação do rendimento devido a um estímulo emocional muito forte.

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(Haider)

Dentre os aspectos que podem interferir negativamente no sucesso de programas para

PPDF, os que mais necessitam de imediata transformação são: formas motivadoras, resistências

individuais e meio ambiente. Forças motivadoras podem ser proporcionadas pelas atividades que

despertem interesse, que correspondam ao desempenho do papel de cada um, que proporcionem

ajustamento, interação, integração e, conseqüentemente, participação ativa.

As resistências individuais são diminuídas no PPDF pelo seu fraco desempenho orgânico-

funcional, podendo ocorrer gripes, pneumonias, restrição respiratória, etc, prejudicando a

continuidade do programa, assim como fatores do meio, como carência sócio-econômica, briga

familiar, etc., podem dificultar também dificultar sua aderência e manutenção.

Transformar esses fatores é muito difícil, mas podemos tornar menos atuantes aqueles

mais difíceis de serem transformados, e neutralizar aqueles mais fáceis, facilitando assim o

processo de aprendizagem.

LIMITAÇÕES E CUIDADOS A SEREM OBSERVADOS QUANDO DA PRÁTICA DE ATIVIDADE

FÍSICA PELOS PORTADORES DE RESTRIÇÕES FÍSICAS:

1-) Exames periódicos;

2-) Avaliações posturais periódicas, face a característica assimétrica imposta pelas lesões físicas

como as amputações, paralisias unilaterais, poliomielites, entre outras;

3-) Limitações de movimentos amplos e contatos com parceiros de atividades, pelo portador de

descalcificação óssea, passível de fraturas intermitentes;

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4-) Limitações na amplitude de movimentos articulares, pela paralisia cerebral espástica, rigidez e

distrofias musculares;

5-) Estados convulsivantes descontrolados;

6-) Limitações impostas pela distrofia muscular progressiva quanto a atividades mais intensas e

que exigem maior velocidade de transmissão sináptica;

7-) No uso das próteses, principalmente nos amputados, limitações afetivo-sociais referentes à

imagem corporal;

8-) Limitações articulares pela dor osteoarticular, no caso das leucemias linfocíticas;

9-) Limitações do movimento voluntário, conseqüência de paralisias cerebrais graves, com

quadros de tetraplegias, geralmente acompanhadas de espasticidade;

10-) Nos estados epiléticos do tipo psicomotor, por apresentar sérias alterações da conduta e, em

alguns casos, agressividade;

11-) Com os portadores de estados epiléticos durantes a prática física no meio líquido;

12-) Outras complicações de saúde, como hipertensão, obesidade, paralisia da bexiga, doenças

cardíacas, doenças respiratórias, etc.

ACIDENTES VASCULARES CEREBRAIS (AVC)

CONCEITO

Acidente Vascular Cerebral (AVC): é uma interrupção na circulação cerebral, levando a

lesão de células de áreas sensoriais e/ou motoras, deixando seqüelas correspondentes à área

lesada.

Muitas deficiências são causadas por lesões do sistema nervoso. Para entender o porquê é

necessário lembrar como ele funciona. Cada área do encéfalo controla uma função específica: a

audição, a memória e a visão, por exemplo, tendo cada uma , a sua localização certa. O cerebelo

coordena e facilita os nossos movimentos musculares.

O cérebro é como um computador que recebe e nvia mensagens para o resto do corpo

sobre o mundo exterior. Ele classifica um grande número de informações por segundo e envia

sinais a cada órgão, mostrando o que deve fazer. Tanto as mensagens que chegam ao cérebro

(via nervos sensoriais), como as instruções que ele envia às diversas partes do corpo (via nervos

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motores) , passam pelos nervos como pequenos impulsos elétricos. Qualquer desordem nos

neurônios pode resultar numa deficiência física.

O cérebro é um mecanismo intricado, extremamente dependente do fluxo sanguíneo

adequado. Qualquer interrupção maior da circulação sanguínea no cérebro geralmente resulta

num acidente vascular cerebral (AVC), vulgarmente chamado de “derrame”. O sinal físico do

acidente vascular geralmente é hemiplegia (paralisia total de um lado do corpo) ou hemiparesia

(paralisia parcial de um lado do corpo). Lembrando que o lado direito do cérebro controla o lado

esquerdo do corpo e vice-versa, qualquer lesão do lado direito do cérebro resultaria numa

hemiplegia direita (paralisia do lado direito do corpo).

Qualquer interrupção do suprimento sanguíneo ao cérebro geralmente é causada por uma

trombose cerebral, hemorragia ou embolismo. Uma trombose é um coágulo que se forma dentro

de um grande vaso sanguíneo do cérebro e que gradualmente diminui ou pára o suprimento de

sangue a uma determinada área. Uma hemorragia cerebral é a ruptura de um vaso sanguíneo,

geralmente uma artéria do cérebro, resultando numa hemorragia e num aumento de pressão na

área afetada do cérebro. Uma embolia cerebral é o resultado da entrada de um coágulo ou de

gordura na corrente sanguínea arterial, dentro do sistema circulatório, e que eventualmente se

localiza num vaso do cérebro, interrompendo então o suprimento sanguíneo à área irrigada por

esse vaso.

Alguns dos problemas que se pode observar em pacientes que sofreram um AVC são:

incontinência urinária e intestinal, perda parcial da memória, problemas psicológicos,

normalmente na forma de depressão. Algumas vítimas de AVC terão hemianopsia (perda da visão

de meio campo visual). Os hemiplégicos direitos tendem a perder metade do campo visual à

direita e os hemiplégicos à esquerda tendem a perder a metade do campo visual esquerdo.

Muitos pacientes aprendem a lidar com esse problema girando a cabeça. No entanto, na maioria

dos casos eles não podem fazer essa adaptação. Começa a haver uma certa negligência do lado

afetado. Por exemplo: eles podem não reconhecer seus prórpios braços e pernas como partes de

seus corpos.

Os pacientes após o AVC têm dificuldades em aprender novas situações e geralmente

terão problemas, generalizando as informações de uma situação à outra, mas normalmente são

capazes de lembrar situações familiares. Alguns pacientes apresentam instabilidade emocional e

mesmo a perda do controle emocional. Eles podem rir ou chorar sem razão aparente e

geralmente não existe uma relação óbvia entre o que está acontecendo no momento e a sua

resposta emocional.

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Apesar de haver sinais similares entre os pacientes que sofreram um AVC há também um

grande número de sinais não similares. Não há características comuns nos hemiplégicos direitos

ou nos sinistros. Entretanto, há sinais básicos que são claramente observados. Os hemiplégicos à

esquerda tendem a ter mais problemas de negligenciamento do que os hemiplégicpos à direita.

Eles tendem a ter mais dificuldades com as tarefas especiais e perceptuais e com a compreensão

e mesmo em interpretar os estímulos visuais provenientes do ambiente. Muitos tendem a ser

agressivos, impulsivos e relaxados em suas ações e com frequência, parecem desconhecer seus

déficits.

Os hemiplégicos à direita sofrem amis fasia (problemas com a linguagem). Muitas vezes os

pacientes têm problemas para falar, mas são capazes de compreender instruções que lhes são

dadas. Os hemiplégicos à direita tendem ser lentos, precavidos e algumas vezes desorganizados,

especialmente quando se lhes apresenta uma situação não familiar.

O AVC causa uma incapacidade marcante. Não é preciso dizer que ele não é fatal, mas as

lesões cerebrovasculares são a terceira causa mais comum de mortes nos EUA. Felizmente

alguns estudos mostram que há uma diminuição na quantidade de mortes entre as vítimas de

AVC, bem como um declínio também na incidência de AVC.

INCIDÊNCIA

A incidência exata do AVC é difícil de determinar. Estimativas indicam que numa amostra

populacional de um milhão de pessoas pode-se esperar encontar de 2000 a 2500 vítimas de AVC

a cada ano; desse total, aproximadamente 1000 morrerão após um mês. Novamente uma

estatística aproximada nos sugere que em cada 100 pessoas que sobrevivem ao AVC, ao redor

de 10 serão capazes de retornar a uma vida normal sem maiores lesões; 40 estarão gravemente

deficientes e necessitarão de aparelhos especiais e 10 necessitarão de tratamento especial. As

vítimas de AVC podem ser observadas em todas as faixas etárias; no entanto, a frequência

aumenta com a idade avançada e a incidência maior é observada nas pessoas entre 60 e 65 anos

de idade.

TRATAMENTO

Imediatamente após o AVC a preocupação maior é a sobrevivência do paciente. Os sinais

vitais devem estar estáveis e vários testes são feitos para diagnosticar o tipo de AVC que o

paciente sofreu, de modo que o tratamento possa ser começado imediatamente.O tratamento

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pode ter várias formas, entres elas estão a administração de medicamentos anticoagulantes, anti-

hipertensivos e algumas vezes cirúrgicos. A reabilitação de pacientes após o AVC, deve ser

iniciada o mais cedo possível, após o controle dos sinais vitais. A reabilitação é melhor realizada

por uma equipe de reabilitação, que deve contar com médicos, enfermeiros, terapeuta

ocupacional, fisioterapeuta, especialista em recreação terapêutica, assistente social,

fonoaudiólogo, psicólogo, e em alguns casos um conselheiro vocacional.

Os movimentos ativos e passivos dentro de uma amplitude de movimentos possíveis,

devem ser iniciados logo após o AVC. Eles podem ser feitos com o auxílio do fisioterapeuta e

devem ser realizados no leito. Ao mesmo tempo, deve-se observar cuidadosamente a pele e

treinar o controle da bexiga e do intestino.

Tão logo seja possível, o paciente deve ser colocado na posição sentada e na cadeira de

rodas. Só assim ele pode orientar-se em relação ao ambiente e realizar adequadamente as

sessões de terapia.

O objetivo da equipe de reabilitação é tentar superar o máximo possível as funções

perdidas e treinar o paciente nas áreas deficientes. O treinamento deve ser feito nas atividades de

vida diárias, na função motora cognitiva / perceptual e em alguns casos, nas funções de

linguagem. Muitos pacientes não se recobram das perdas que sofreram e alguns continuam a

depender de aparelhos como cadeira de rodas, muletas, bengalas.

Às vezes ocorre alguma recuperação espontânea e é responsabilidade do fisioterapeuta

ajudar no treinamento e reintegrar a habilidade funcional que retornou. Se os membros

permanecerem flácidos por muito tempo após o AVC o prognóstico de um retorno à função é pior.

Se nenhum retorno motor voluntário acontecer num período de 3 a 4 semanas, o tratamento é

interrompido e outras técnicas são iniciadas, de modo a ensinar ao paciente a compensação pela

perda da função daquele membro.

IMPLICAÇÕES NO PROGRAMA

Na programação do tratamento do paciente após AVC não se pode comparar dois

pacientes hemiplégicos, e programas individuais de tratamento, com objetivos próprios devem ser

estabelecidos e modificados, se necessário. Os pacientes após AVC necessitam de muito

feedback do fisioterapeuta, para realizar qualquer atividade. O profissional precisa sempre

lembrar o paciente que sofreu um AVC de brecar sua cadeira de rodas, de desviar de coisas pelo

caminho quando estiver se locomovendo e de evitar as paredes, pois os hemiplégicos ficam um

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pouco absortos. Eles podem precisar usar cintos para mantê-los seguros em suas cadeiras.

Alguns esquecendo que não podem andar, tentam levantar-se da cadeira e caem, outros

escorregam da cadeira. Outros têm articulações dolorosas e subluxações (geralmente do ombro e

contraturas musculares).

Por causa desse problema o fisioterapeuta e o professor de Educação Física devem

trabalhar muito para melhorar a resistência e a força. Inicialmente, as atividades precisam ser

limitadas e gradualmente podem ser aumentadas em intensidade. Assim que a função muscular

começa a retornar para a perna, todas as suas funções tornam-se importantes. Os pacientes

podem começar a trabalhar inicialmente sentados e lentamente podem ser levados para a

posição a posição bípede com o auxílio de um andador ou outro aparelho. Os movimentos que

representam um “chute numa bola” são importantes em termos da reintegração das funções

neuromusculares na perna. Se o equilíbrio do paciente for bom, andar numa bicicleta de três

rodas é um excelente tratamento para o fortalecimento da perna, aumentando a sua amplitude de

movimentos e melhorando o movimento recíproco da outra perna.

Os membros superiores, como observado anteriormente, demorarão mais para melhorando

que os membros inferiores. As atividades iniciais geralmente enfatizam os movimentos motores

grosseiros e devem ser melhorar a força e a amplitude de movimentos. Se outros movimentos

surgirem, o paciente deve começar a realizar movimentos mais finos. Ao se trabalhar tanto com

os membros superiores quanto com os inferiores, especialmente naqueles pacientes que

negligenciam um lado do corpo é importante incluir atividades que façam com que o paciente

cruze a linha média do corpo em ambos os lados. Como regra geral, ao se tratar um paciente

hemiplégico, deve-se começar pelo lado afetado. Isso faz com que ele ajude a treiná-lo.

Muitas atividades ajudam no treinamento das habilidades motoras cognitivas/perceptuais e

na orientação espacial do paciente hemiplégico. Devem ser utilizadas as atividades que

requeiram a discriminação figura/chão, a análise da tarefa, a generalização do aprendizado e as

habilidades de fala. Inicialmente o paciente hemiplégico é muito distraído e precisa ser tratado

num ambiente calmo e sem ruídos, e somente com o terapeuta. Quando possível no entanto, o

paciente deve envolver-se em atividades mais sociais. Isso é importante, pois o paciente

hemiplégico tende a ficar isolado e ignorado.

Ao selecionar as atividades específicas para o paciente hemiplégico, o professor de

Educação Física e o fisioterapeuta devem sempre ter em mente a idade do paciente e o tipo de

atividade mais recomendável para seu caso e sua idade. Os terapeutas não devem se

desestimular quando os pacientes hemiplégicos apresentam-se depressivos ou com

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temperamentos inconstantes, pois isso é o processo normal das reações desse tipo de pacientes.

É preciso paciência quando se trabalha com as vítimas de AVC.

À medida que o paciente começa a atingir o retorno máximo de sua função e encaminha-se

para a alta, o fisioterapeuta deve esforçar-se para que ele se interesse por atividades que possam

ser feitas em casa.

EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS

Uma vez que o problema clínico característico na paralisia cerebral é uma deficiência do

controle motor, os exercícios terapêuticos tem por finalidade ajudar o indivíduo a adquirir ou

aprender novas capacidades motoras e a desenvolve-las até um nível funcional de desempenho.

O tratamento dos indivíduos com paralisia cerebral deve abranger a atenção profissional

não só para o crescimento e desenvolvimento físico, mas também para a destreza, a

personalidade, a capacidade cognitiva, as atitudes pessoais e sociais, as emoções e as

interações da família.

Todos estes fatores juntamente com os fatores da personalidade (amor próprio,

perseverança, relacionamento, capacidade da família para suportar, reforçar e conduzir um

regime terapêutico) devem ser considerados no programa total de cuidados terapêuticos. Muitas

vezes eles constituem determinantes potentes do conteúdo básico do programa, porque

modificam de forma significativa as condições sob as quais a aprendizagem pode ser mais bem

feita, bem como o nível final que se pode atingir.

Os exercícios terapêuticos são utilizados para fortalecer e estirar determinados músculos ou

grupos musculares e manter ou aumentar a amplitude de movimentos. Os exercícios para os

membros superiores, inferiores, região cervical e lombar podem ser ativos, ativos assistidos,

passivos e contra-resistidos. O tipo de exercício depende da intensidade da paralisia e das áreas

de envolvimento. O uso de exercícios terapêuticos deve ser autorizado pelo médico.

APARELHOS DE CORREÇÃO / APOIOS ARTIFICIAIS

Talas e suportes têm vez na ajuda ao deficiente físico. São úteis nma paralisia cerebral,

para superar as deformações musculares. A deformidade é corrigida pelo estiramento gradual dos

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músculos contraídos, que são mantidos em posição por três meses. Depois disso usam-se

indefinidamente talas ou suportes desmontáveis, para evitar que a deformação volte.

São feitos hoje em dia teclados especiais em computadores, com grandes teclas, de modo

que o deficiente possa usar as mãos em vez dos dedoos. Algumas crianças com paralisia

cerebral podem não falar, mas muitas pessoas que sofrem deste mal são brilhantes e possuem

excelente memória. Logo, elas podem dipsor de um computador com teclado em que figuras

representam palavras. Então, pressionando as figuras elas podem formar frases e se

necessário, um sintetizador de voz fala em seu lugar.

PARALISIA CEREBRAL

CONCEITO

Paralisia Cerebral é definida como uma lesão permanente no cérebro, particularmente na

área motora, o que leva a distúrbios do tônus muscular e, conseqüentemente, das funções

motoras. Por quase sempre vir acompanhada de outras disfunções, é muitas vezes considerada

uma deficiência múltipla. Sua classificação é feita segundo:

# a natureza do tônus muscular apresentado:

• espástico;

• atetóide;

• atáxico;

• flácido.

# a topografia dos membros afetados:

• monoplegia;

• diplegia;

• triplegia;

• quadriplegia;

• hemiplegia;

• dupla hemiplegia.

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# a gravidade do acometimento:

• leve;

• moderada;

• grave.

Esses indivíduos não podem ser generalizados porque normalmente apresentam situações

bem particulares, necessitando assim de uma avaliação mais criteriosa das capacidades e

habilidades motoras.

A paralisia cerebral é uma perturbação da função muscular que surge após uma destruição

ou uma ausência congênita dos neurônios motores superiores. Essa alteração frequentemente é

complicada pela ocorrência de convulsões, alterações do comportamento ou retardo mental.

PARALISIA CEREBRAL INFANTIL

As crianças podem adquirir ou nascer com uma série de problemas que resultam em

deficiência física, conhecidos como doenças congênitas. A paralisia cerebral infantil é um termo

genérico que designa diversos estados resultantes de lesões no cérebro na hora do nascimento

ou pouco depois, freqüentemente associada a tipos de retardamento mental, quando uma ou mais

partes do corpo ficam paralisadas. Ela produz espasmos musculares acentuados e rigidez. A

criança doente parece perfeitamente normal até começar a se mover ou se sentar. Às vezes, a

paralisia cerebral provém de dificuldades de parto. Se o bebê ficar sem oxigênio por muitos

minutos, poderá perder neurônios essenciais que não serão repostos. Fraturas do crânio e

hemorragias cerebrais a elas associadas também causam paralisia cerebral, se não forem

operadas.

CAUSAS

Sabe-se que uma doença, lesão ou malformação das células do cérebro podem produzir

efeitos idênticos aos da paralisia cerebral. Desde que a sua causa exata é desconhecida, a

paralisia cerebral frequentemente é classificada pelo período da vida em que apareceu. Causas

diversas existem e são passíveis de acontecer, não importa em que idade.

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PRÉ-NATAL

1. Distúrbios funcionais da mãe, como hipertensão sanguínea, doença renal, diabetes,

que podem causar hemorragias ao cérebro da criança.

2. Incompatibilidade entre o ssangue da mãe e do feto – fator Rh.

3. Infecções nos primeiros meses da gravidez.

4. Doenças do plasma que causam desenvolviemnto anormal do cérebro.

NATAL(frequentes)

1. Lesão cerebral durante o parto, por trabalho de parto prolongado ou dificulatado, ou

qualquer outra alteração que leve à falta de oxigênio ao bebê por mais que alguns

minutos durante o parto;

2. Parto prematuro.

PÓS-NATAL (menos frequentes)

1. Doenças como a encefalite e tosse.

2. Oxigenação insuficiente no sangue, como um envenenamento gasoso.

3. Trauma, como AVC, tiros de revólver ou lesões-cranianas.

TIPOS DE PARALISIA CEREBRAL

Há sete tipos de paralisia cerebral, porém três são os principais, os quais serão descritos

abaixo: espástica, ateóide, e atáxica. As características de todos os grupos podem ocorrer juntas

numa só vítima.

• Espástica – a espasticidade ocorre em aproximadamente metade de todos os casos de

paralisia cerebral , é caracterizada por reflexos hipereativos e músculos flexosres

contraídos, o que produz um movimento duro e sem plasticidade. A deficiência mental

frequentemente está associada a esse tipo de paralisia cerebral.

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• Atetóide – a atetose é observada em ¼ de todos os casos e é caracterizada por

movimentos involuntários, incordenados e sem propósito com vários graus de tensão.

Esses movimentos fazem com que a pessoa se contraia constantemente. Os

movimentos extenuantes são menos graves quando o indivíduo está relaxado.

• Atáxica – A ataxia, um tipo menos comum de paralisia cerebral, é caracterizada pela

incoordenação da atividade ou função, ou ambas por causa do distúrbio do senso

cinestésico. O atáxico tem que se concentrar para não cair e sua marcha assemelha-se

àquela de uma pessoa intoxicada. Na maioria dos casos, o tônus muscular é fraco.

O grau de desenvolvimento na paralisia cerebral determina as capacidades do movimento

e a capacidade funcional. As ataxias são classificadas de acordo com as extremidaes afetadas:

Monoplegia - um membro

Paraplegia - membros inferiores

Hemiplegia - ambos os membros de um lado

Diplegia – envolvimento de ambas as pernas, com leve envolvimento dos braços

Triplegia – três membros, com frequência as duas pernas e um braço

Quadriplegia – quatro membros, as pernas geralmente espásticas e os braços discinéticos.

Embora a mentalidade dessas crianças possa estar afetada, a maioria tem inteligência

normal. Com educação e treinamento especial, elas podem tornar-se pessoas úteis para a

sociedade. Há uma discrepância óbvia nas pesquisas e dados sobre a paralisia cerebral com

retardo mental. A maioria dos prontuários médicos indica que de 35 a 50% das pessoas com

paralisia cerebral sõa intelectualmente deficientes. Mesmo aquelas com inteligência abaixo do

normal podem ser treinadas para trabalhar de alguma forma ou pelo menos cuidar de si próprias.

INCIDÊNCIA

O quadro geralmente aceito da incidência de paralisia cerebral ao nascimento é de 7 por

100.000 desse número estima-se que uma criança morre, duas são hospitalizadas e 4 necessitam

de tratamento especial.

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TRATAMENTO

O curso do tratamento depende da extensão da lesão cerebral, de sua natureza e da idade

em que se desenvolveu. As características físicas, emocionais e mentais de cada indivíduo

devem ser consideradas, pois existe uma diferença entre a idade cronológoica e a idade mental e

o desenvolviemnto físico da pessoa. A terapia deve ser iniciada precocemente, preferivelmaente

tão logo a alteração seja diagnosticada.

A integração sensório-motora é um novo conceito no tratamento de crianças com PC. A

criança é avaliada através de uma série de testes, feitos para detectar a natureza da disfunção

sensório-motora e visual-motora. Além dos testes padronizados, a observação clínica e o

julgamneto representam um papel importante na avaliação.

O tratamento para a PC geralmente combina técnicas de neuro-desenvcolvimento,

facilitação neuromuscular proprioceptiva e técnicas de integração sensório motora. A atividades

no colchonete que consistem em rolar, engatinhar e andar de joelhos ou de “quatro”. O tratamento

visa também uma melhora no equilíbrio, nas reações de endireitamento e nos reflexos primitivos.

A técnica de integração sensório-motora é relativamente nova e mais pesquisa é preciso

para certificar o seu valor real como tratamento de pessoas com PC.

Nenhum tratamento pode restaurar um cérebro lesado ao nascimento à sua função normal.

O objetivo da fisioterapia é a habilitação . Novos hábitos têm que ser estabelecidos ao invés de

substitutir suas funções preferidas. Os objetivos são treinar a potencialidade e capacidasde

restantes ao indivíduo e concentrar-se nelas, de modo a criar uma pessoa que seja útil e tão

adaptada quanto for possível.

Um objetivo importante é o tratamento das atividades de auto-higiene. Várias

especialidades, como ofisioterapia, a terapia ocupacional e a recreação terapêutica são utilizadas

visando uma melhora da função motora. Cada uma das especialidades pode complementar a

outra, motivando a criança a adquirir destreza nos movimentos.

A visão e a audição são examinadas e se necessários tratadas.

O treinamento da fala com freqüência é recomendado para permitir que a criança se faça

entender e para ddesenvolver o seu relacionamento com outras pessoas.

Os coletes e os splints são prescritos para pacientes para auxiliar na manutenção da

posição bípede e na marcha. Muitas das crianças com PC participam de atividades com o auxílio

de coletes e splints. Os procedimentos cirúrgicos dependem do tipo e da presença ou ausência de

contraturas. Os objettivos da intervenção cirúrgica são:

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1) diminuir os espasmos musculares através de procedimentos cirúrgicos nos nervos

motores.

2) Correção das deformidades e contraturas ortoarticulares ;

3) Restauração do equilíbrio muscular, pela equalização da força dos músculos

oponentes. O resultado final é a melhora do movimento articular.

4) Estabilização das articulações mal controladas através de processos cirúrgicos (por

exemplo: fusão). Uma artrodese ou uma osteotomia geralmente é usada para tratar alterações

estruturais incontroláveis do pé. Isso é feito com frequência quando a cirurgia de tecidos moles

falhar em manter o equilíbrio e a estabilização.

A educação representa um papel importante na habilitação total da criança e deve ser

enfatizada junto com outros aspectos de tratamento. Muitas metrópoles têm escolas especiais

para o portador de PC, enquanto outras têm clases e salas especiais dentro das escolas públicas.

O tratamento deve começar na escola maternal, se não mais cedo, e deve ser adapatado à

capacidade da criança de modo que ela se alegre ao conseguir o que se espera dela.

IMPLICAÇÕES NO PROGRAMA

O grau no qual a criança pode participar com sucesso depende da extensão de suas

deficiências fícas e mentais. Os fisiopterapeutas, os professores de educação física e os

terapeutas de recreação precisam programar atividades que tenham como objetivos superar as

incapacidades específicas da criança, inclusive:

1) As anormalidades no tônus (rigidez muscular e desequilíbrio);

2) Problemas de feedback sensorial (inabilidade em conhecer onde estão seus

membros no espaço);

3) Incoordenação do movimento. Muitas crianças com envolvimentos graves

necessitarão de aparelhos para assistência para compensar a falta de força e o

inadequado desenvolvimento neuromuscular. As crianças com hemiplegia podem ser

capazes de praticar esportes regulares com algum grau de sucesso.

As deficiências motoras e perceptuais são características comuns no paralítico cerebral.

Por isso, uma sequência de atividades motoras deve ser introduzida de modo a dar uma melhor

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destreza de movimentos. O professor de Educação Física e o fisioterapeuta devem enfatizar os

movimentos lentos e repetititvos, pois a criança precisa de treinamento paciente na realização de

destreza motora. Os músculos devem ser usados para funções novas e este treinamento deve ser

satisfatório ao invés de ser um processo frustante para a criança. As insuficiências perceptuais

podem ser documentadas, administrando-se o teste de desenvolvimento da percepção visual (test

frostig) e/ou teste de integração sensorial do Sul da Califórnia.

Sabendo-se que a maoria das crianças com PC são dispersivas, comparando-se com

crianças da mesma idades, várias atividades devem ser feitas e nunca se deve chegar ao ponto

de fadiga. Com frequência essas crianças tornam-se visualmente preocupadas com outros

estímulos que não a habilidade motora que necessitam realizar. Para evitar isso, as atividades

físicas devem ser feitas em um ambiente livre de diustúrbios visuais ou auditivos. Os espaço para

as atividades deve ser relativamenbte grande para permitir uma liberdade de movimentos.

Muito pouca informação tem sido documentada no que diz respeito ao planejmaneto do

programa para crianças com PC e que precisam de cuidados no que se refere às alterações

visuais e motoras. A incidência de lesões visuais e oculares nas crianças com paralisia cerebral

situa-se entre 60- 80%. O estrabismo é o defeito mais comum e ocorre en 40-50% dos casos. O

estrabismo é uma alteração onde os músculos extra-oculares não estão equilibrados, dessa

forma, os olhos não podem funcionar em uníssono. Outros problemas associados ao estrabismo

são: 1) um olho é mais usado do que o outro, resultando numa visão inadequada no olho usado

com maior frequência; 2) uma imagem dupla, resultante da ausência da fusão; 3) Problemas

emocionais.

Diversos tipos de estrabismo produzem efeitos diferentes nos olhos. O problema, com

freqüência, é corrigido antes que a criança vá à escola, mas nem sempre isso acontece.

As crianças estrábicas apresentam uma instabilidade distinta em distinguir um objeto de

seu fundo. O movimento do olho para seguir um objeto móvel também é difiícil para elas,

principalmente quando se quer seguir pequenos objetos móveis. Se o oftalmologista recomendar,

professor de Educação Física e o o fisioterapeuta podem auxiliar a fortalecer o olho fraco,

colocando um tampão no olho mais forte. O treinamento da coordenação motora-visual, é uma

specto importante do programa de educação física adaptada para o paralítico cerebral. As

atividadees de treinamento podem ser introduzidas enfatizando a fixação exata de alvos a

pequena, média, e grande distância. As crianças podem desenvolver sistemas eficazes para se

orientarem visualmente, usando ambos os lados do corpo para arremessar, empurrar e chutar

bolas nos alvos colocados, seja nas paredes e no chão, e que podem estar localizados a várias

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distâncias. É importante observar que o treinamento de percepçã o das posições do corpo,

como um ponto de referência a partir do qual os obj etos são localizados.

A função neuromuscular na aula de Educação Física depende do nível e da qualidade da

performance sensoriomotora da criança, do estado de seus reflexos posturais e de seu tônus

muscular. Apesar da gravidade nas lesões todo aluno integra a informação sensorial sobre o

ambiente, através da visão, tato e propriocepção. Essa integração fornece à criança a base para o

reconhecimento de seu corpo, a sua posição e o seu equilíbrio. É também a base para o

planejamento motor e para o desenvolvimento da forma e da percepção do espaço.

O método Bobath de tratamento de alterações neurológicas está se tornando uma forma

popular de terapia motora. O método é orientado para inibição da atividade reflexa anormal e a

facilitação do movimento automático normal. O tratamento do desenvolvimento neural é um

campo altamente especializado. Várias opiniões existem sobre a possibilidade do professor de

Educação Física ou do especialista em recreação terapêutica seguir este tipo de programa

durante as sessões de atividade física. Muitas autoridades concordam que a Educação Física e a

programação da recreação física devem focar duas áreas gerais:

1) estimular o desenvolvimento físico através da exploração dos segmentos do corpo;

2) enfatizar o crescimento psicossocial, em vez de se apoiar estritamente nos métodos de

desenvolvimento neural que elicitam movimentos desejados através da manipulação da

posição.

É imprescindível, no entanto que o professor de Educação física entenda alguns conceitos

básicos dessa técnica. Geralmente, a criança deve ser posicionada confortavelmenete de modo

que o controle de cabeça, tronco e pélvis preceda os movimentos dos membros. O

posicionamento postural adequado é importante pois facilita os padrões normais de movimento e

inibe os padrões reflexos posturais anormais. Os objetivos do programa, especialmente aqueles

que incluem várias formas de jogos e recreações, podem auxiliar a criança no desenvolvimento

psíquico-social, uma parte importante que pode evitar uma eventual perda da auto-estima.

Muitas crianças com envolvimento de moderado a grave necessitarão de alterações

estruturais para compensar a falta de força e o inadequado desenvolvimento neuromuscular.

Finnie fornece várias sugestões práticas para a estruturação do ambiente, de modo que a criança

com PC possa explorar confortavelmente as coisas ao seu redor, e começar a brincar. Ela sugere

que uma criança que tenha restrição de movimentos seja colocada numa tábua inclinada, pois

isso permite que a criança deite sobre o estômago, com a cabeça para cima e os braços para a

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frente, numa posição de uso funcional das mãos. A criança necessitará de auxílio e estímulos

contínuos dos membros da família para tocar, segurar e manipular os brinquedos.

As experiências com os movimentos para as crianças com PC são essenciais.

Normalmente com 6 e 7 anos a criança parece ter movimentação constante: correr com outras

crianças, lutar e brincar no playground. Infelizmente as crianças com PC, geralmente

apresentarão um movimento limitado, causado por vários graus de envolvimento motor. O

envolvimento com jogos deve ser estimulado, parcialmente pelos membros da família.

Muitas crianças com PC não aprendem somente com a curiosidade espontânea.

Consequentemente, elas necessitam de estímulos se suas habilidades cognitivas tiverem que ser

melhoradas.

Os programas de jogos de desenvolvimento e treinamento sensoriomotor podem ser

incorporados à recreação terapêutica e às atividades de Educação Física adaptada. Vários

objetos podem ser usados (como blocos de diversos tamanhos e texturas). Um triciclo é um

auxiliar excelente para estimular os músculos flexores e extensores do quadril e desenvolver os

padrões de reciprocidade nos membros inferiores. Por menos afetada que a criança esteja, uma

bola fixa com uma corda à cadeira de rodas da criança tem várias vantagens; por exemplo, uma

criança pode atirar um objeto no alvo e depois trazê-lo de volta. Isso incorpora habilidades de

integração bilateral.

Os hemiplégicos necessitam de uma consideração particular, pois as aulas de Educação

Físca, nas seções de competição normalmente os colocam em situações que requerem um

relacionamento normal com seus companheiros. A maioria dos hemiplégicos estão integrados

regularmente nas escolas, pois suas deficiências físicas, emocionais e intelectuais são tão

pequenas que o tratamento especial e as técnicas educaionais são desnecessários.

Os hemiplégicos têm paralisia ou fraqueza unilateral. Ocasionalmente, os reflexos

patológicos estão presentes no lado afetado. Um problema físico mais importante do membro

inferior pode ser a adução da perna ao nível da articulação, causando uma deformidade em flexão

do quadril. Os músculos da panturrilha geralmente são muito espásticos e os flexores dorsais do

pé geralmente são fracos, causando uma deformidade em flexão plantar do pé. Ocasionalmente,

uma órtese curta é usada até que a criança tenha o controle da dorsiflexão e eversão do pé.

No membro superior, as principais deficiências são a flexão do antebraço ao nível do

cotovelo, e a hiperextensão dos rotadores do antebraço e dos dos flexores do punho e dos dedos.

Ao avaliar uma criança muitas observações podem ser feitas durante uma sessão inicial de

Educação Física ou de Recreação Terapêutica. Por exemplo: a mão afetada é usada para

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segurar, ajudar, trasnferir, jogar auxiliar a mão dominatnte ou é completamente ignorada? Isto

também é um índicio da inteligência do paciente e sua cooperação, inteligência e motivação.

Ao selecionor as atividades para as crianças da escola elementar, os objetivos básicos são

a aventura e a competência social. As atividades com as duas mãos devem ser estimuladas tal

como transpor obstáculos. As habilidades locomotoras tais como pular e o saltar são boas para

ensinar ritmo e melhorar o equilíbrio. O chutar a bola é um treinamento excelente, pois a criança

tem que chutar a bola com o pé afetado, enquanto o pé não afetado apóia o seu peso, ou chutar a

bola com o pé não afetado equanto o outro apóia o seu peso.

O hemiplégico deve particpoar da aula de Educação Física e de esportes que estejam

dentro de sua capacidadee. Basquetebol, ciclismimo, equitação e bilhar são atividades que

estimulam o uso de ambas as mãos. Arremessar, chutar e segurar bolas grandes estimulam a

atividade bimanual e as reações de equilíbrio da perna afetada.

Cada indivíduo irá responder diferentemente a cada situação bimotora. Uma vez que a

criança atinge a idade escolar, programas devem ser providenciados de modo que o paralítico

cerebral possa participar com sucesso nas situações de grupo que estimulam o aprendizado, a

auto-expressão e a interação social da criança com outras.

1) Atividades altamente competitivas não são recomendadas. A excitação e a tensão

devem ser evitadas, pois os objetivos são de obter controle muscular voluntário em conjunção

às técnicas de relaxamento. Os padrões reflexos anormais geralmente são produzidos por um

barulho súbito, por stress, ou por um susto.

2) O sucesso inicial é importante. Simplifique a atividade de modo que a criança com

PC possa realizar a tarefa. Por exemplo: um jogo de argola pode ser ajustado na distância. Se

o indivíduo não puder segurar ou arremessar a argola, coloque o alvo sobre o pé e

simplesmente permita que ele deixe cair a argola sobre o alvo. Use argolas mais pesadas ou

mais leves, conforme a necessidade. Os padrões exagerados do reflexo de estiramento

frequentemente estão presentes. Em certas situações é preciso um professor de Educação

Física e/ou Fisioterapeuta para cada criança.

3) Os movimentos grosseirors livres que auxiliam na exploração de um movimento são

bem melhores do que aqueles que envolvem movimentos finos dos dedos. A perfeição da

habilidade não deve ser enfatizada, e sim o programa sem regras e regulamentos

complicados, onde a relação corpo-objeto-espaço é enfatizada. A criança espástica típica

mantém o punho e os dedos curvados por causa dos músculos flexores hipertônicos. É

importante não usar atividades que estimulem esse posicionamento da mão. A equitação está

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se tornando um dos esportes terapêuticos mais populares para crianças com PC. O auto-

controle e o domíunio de um animal em movimento são importantes para as crianças com PC.

Além disso, a manutenção do equilíbrio na posição sentada estimula os reflexos e as

respostas posturais. A boa simetria do corpo e o alinhamento da cabeça são pré-requisitos;

dessa forma, o paciente deve ser capaz de controlar a sua postura antes que ele possa

desenvolver os padrões de coordenação necessários para uma equitação perfeita.

A natação é uma atividade execlente para pessoas com PC. Obviamente, o treinamento de

técnicas de relaxamento, enquanto se está na água, é muito importante e isso é feito

frequentemente com o auxílio de bóias, enquanto um nadador permanece na posição supina. São

estimuladas as reações de endireitamento e de apoio, e a resistência da água estimula o controle

muscular estático e ativa os movimentos dinâmicos resistidos.

Os problemas na função muscular de um atleta com PC geralmente consistem em

espasticidade e/ou atetose. Os sintomas apresentados por esses fatores são lentidão de

movimentos e incoordenação. O indivíduo com PC pode ter muita força e massa muscular, porém

seu movimento é lento, colocando-o em grande desvantagem na maioria das atividades que

requerem movimentos rápidos, força explosiva ou uma coordenação exata.

A criança com PC pode ser várias vezes hospitalizada, para que se avalie o diagnóstico e

receba os cuidados ortopédicos e médicos. Um especialista em recreação terapêutica deve ser

integrante do programa. O terapeuta pode colocar o paciente em atividades recreativas e ainda

obter os objetivos específicos do tratamento.

Freqüentemente, o tratamento cirúrgico faz com que a criança com PC permaneça no

hospital por um determinado período. Um dos principais objetivos da terapia é superar a

persistência de reflexos infantis por meio do posicionamento e do relaxamento. Em seguida, o

terapeuta foca sua tensão nos objetivos psicológicos e físicos. Se ficar em pé é o objetivo

principal para o paciente recém-operado, jogos podem ser feitos enquanto o paciente estiver em

pé. A posição bípede com frequência é facilitada pelo uso do colete, órteses, muletas e outros

aparelhos. As atividades manipulativas que envolvem o controle ativo do membro superior e a

extensão da articulação devem ser estimuladas no paciente dependente de cadeira de rodas.

ATIVIDADES FÍSICAS COM PARALISADOS CEREBRAIS

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De forma geral, os portadores de deficiências motoras devem ser estimulados a praticar

atividades físicas desde cedo, procurando assim tomar consciência de suas limitações e também

de suas potencialidades. Cada patologia possui características particulares que podem ser tanto

um impedimento como também podem ser facilmente superadas.

Atividades para paralisados cerebrais mais comuns são bocha, natação, atletismo, futebol

de salão, ciclismo, além de atividades desenvolvidas especificamente para esses indivíduos.

A interação professor/aluno e aluno/aluno, promove novas descobertas que somente

situações particulares desse entrosamento é que farão surgir novas possibilidades dos alunos

expressarem ao máximo suas potencialidades e os professores de soltarem a imaginação e

criatividade.

EDUCAÇÃO FÍSICA E DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS DEFICIENTES

“Ao passo que na escola pública predomina o ensino científico, na escola para

excepcionais deve prevalecer o ensino que visa à educação, fortalecimento, adaptação social e

exercícios terapêuticos, a fim de possibilitar na escola primária a criação de uma base para uma

escolaridade produtiva” (BLÄSIG, W. in ZHURT, R. Desenvolvimento Motor na Criança

Deficiente, p. 1)

Carl Diem define exercício físico como uma atividade com efeito biológico estimulante, ou

seja, movimentos que melhoram a capacidade de performance do corpo, reduzem o cansaço e

estimulam positivamente o crescimento.

Crianças com paralisia cerebral infantil freqüentemente estabelecem falsos modelos de

movimento, porque lhes falta sensibilidade e sensibilidade profunda, ou seja, a percepção para a

seqüência de movimentos e ação muscular normal. Por isso faltam-lhes, mais do que às crianças

normais, as “experiências decisivas de movimento”. A intenção pedagógica de Konrad Paschen é

que as crianças “se auto-ajudem intensiva e objetivamente por meio de aparelhos e obstáculos,

colhendo experiências de movimento, principalmente através de aparelhos pequenos,

manipulados em liberdade e ordem.” (PASCHEN, K. in ZHURT, R. Desenvolvimento Motor na

Criança Deficiente, p. 2)

Exercícios básicos para alcançar tais experiências de movimento: correr, lançar – pegar,

equilíbrio, subir – escalar – lançar longe – balançar – nadar – pular. Os principais pequenos

equipamentos são: bola, sacos de feijão, aros, bastões e corda.

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Tanto para criança com ou sem deficiência, para haver o desenvolvimento é preciso aliar a

motricidade e a percepção. ( WIELAND, A. in ZHURT, R. Desenvolvimento Motor na Criança

Deficiente, p. 18).

No programa de exercícios para deficientes físicos podem-se estabelecer princípios com o

auxilio de quatro colunas.

1. Melhora geral da motricidade no sentido amplo, considerando as deficiências e distúrbios

da percepção. (ex.: criar um quadro permanente no espaço com a disposição dos objetos,

bem como um espaço livre, que aumente aos poucos. Iniciar com pouco material e

aumentar lentamente a quantidade e as diferenças).

2. Colocar a linguagem nos exercícios e jogos, como fenômeno de percepção da ação. Se a

criança verbaliza o que sabe, isso se torna consciente.

3. A consciência de ser capaz, dá prazer, ajudando a vencer o medo e outras emoções,

colocando em ação mecanismos positivos.

4. Influir conscientemente sobre a regulação do tônus. Partindo do setor motor, até o aumento

da pulsação; frear o excesso dinâmico e hipertônico; estabilizar o equilíbrio psíquico.

EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS

A PC é uma alteração onde a criança pode ter vários graus de envolvimento. Para

complicar ainda mais o programa de exercícios há vários tipos de PC, como citado incialmente.

O espaldar é bom para subir e segurar com as mãos. A criança pode “andar” com suas

mãos nas barras e endireitar seu corpo e pernas como se estivesse na posição bípede. Isso é

denominado técnica de estabilização, pois estimula as várias reações neurológicas. Porém, todos

os exercícios no espaldar devem ser autorizados pelo médico.

Os exercícios gerais e o treinamento com peso podem ser usados para a criança que

esteja gravemente incapacitada.

NASCP (Associação Nacional de Esportes para Paralis ia Cerebral)

Foi criada por representantes da Associação Unida de Paralisia Cerebral de Detroit.

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Dedica-se à assitstência local e estadual a grupos de pessoas com PC que querem

participar de encontros esportivos e seleciona os ganhadores para as competições internacionais.

Dentre as competições citamos: arco-e-flecha, tênis de mesa, levantamento de peso, natação,

bilhar, boliche, futebol, equitação, tiro ao alvo e atletismo.

Todo atleta compete com outros que estejam na mesma classificação e todos são testados

por um juiz que os coloca na classe apropriada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

ADAMS,R.C., Daniel, A., N.,CUBBIN, J.A.MC,RULLMAN, L. Jogos, Esporte e Exercícios para o

Deficiente Físico. Editora Manole, 1985.

SHENKMAN, J. Conviver com a Deficiência Física. Editora Scipione, 1994.

BASMAJIAN, John V. Terapêutica por Exercícios; Terceira Edição, editora Manole Ltda; São

Paulo, 1980.

ROSADAS, S. C., Atividade Física Adaptada e Jogos Esportivos para o Deficiente: Eu Posso.

Vocês Duvidam?, Livraria Atheneu, São Paulo e Rio de Janeiro, 1989.

CAD – Curso de Atividade Física e Desportiva para pessoas portadoras de Deficiência. Educação

à Distância. Unidade de Estudo 4. Universidade Gama Filho – Ensino Superior.

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