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1 Carta das Centrais Brasileiras para a “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” - Rio + 20 “DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COM TRABALHO DECENTE” O movimento sindical internacional está fortemente empenhado em obter um resultado na Rio + 20 que possa começar a mudar a vida dos trabalhadores. Diante disso, e tendo como base os diversos fóruns de discussão que geraram a “Declaração Sindical das Américas”, em São Paulo - 11/11/2011, “Trabalhadores do Mundo: Protagonismo e Propostas para Enfrentar a Crise”, no Fórum Social Temático, em Porto Alegre – 24/01/2012 e a “Declaração de Buenos Aires”, em março de 2012, as centrais sindicais brasileiras: FORÇA SINDICAL, UGT, NCST e CTB, manifestam-se no sentido de que os governos de todo o mundo, reunidos no Rio de Janeiro, têm a oportunidade de mostrar que há uma maneira de sair desse modelo predatório e que podemos começar a construir, em conjunto, uma sociedade global sustentável, próspera, inclusiva e equitativa, superando o atual modelo onde o lucro e a ganância foram colocados acima do progresso social e da proteção ambiental. Questionamos, por ser insuficiente, a ideia de propor, 20 anos depois da Eco 92, que esse debate se realize em torno da ideia de “economia verde”. Convocamos a recuperar a noção de desenvolvimento lançada na Eco 92 há 20 anos atrás e agregar-lhe, explicitamente, a denominação de “ambiental e socialmente sustentável” para que se convertam as prioridades nitidamente na estratégia de avanço social de nossos países, transformando o conceito para uma “economia verde inclusiva”. Nesse sentido, é importante que os governos assumam compromissos com a sociedade que representam, incorporando nossas aspirações no documento oficial que deverá ser aprovado ao final da Conferência. O documento deve expressar o reconhecimento por parte dos governantes de que a promoção universal do acesso a serviços sociais pode contribuir significativamente para consolidar e alcançar ganhos de desenvolvimento. Sistemas de proteção social que abordem e reduzam a desigualdade e a exclusão social são essenciais para erradicar a pobreza e promover a realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Chamamos a atenção para a necessidade do lançamento de um programa de proteção social global, em apoio aos esforços internacionais em curso, incluindo a recomendação da Conferência Internacional do Trabalho sobre o Piso de Proteção Social, que leve em conta os três pilares do desenvolvimento sustentável o social, o econômico e o ambiental, com o objetivo de alcançar a proteção social para todos até 2020, pelo menos ao nível dos pisos nacionais de proteção social (acesso aos serviços de saúde, nele incluídos o saneamento básico e água potável, segurança alimentar e nutricional saudável, garantia de renda quando confrontados com o desemprego, doença, maternidade, criação dos filhos, deficiência e idade avançada).

Desenvolvimento sustentável com trabalho decente

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Carta das Centrais Brasileiras para a “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” - Rio + 20

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Carta das Centrais Brasileiras para a “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” - Rio + 20

“DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COM TRABALHO DECENTE”

O movimento sindical internacional está fortemente empenhado em obter um resultado na Rio + 20 que possa começar a mudar a vida dos trabalhadores. Diante disso, e tendo como base os diversos fóruns de discussão que geraram a “Declaração Sindical das Américas”, em São Paulo - 11/11/2011, “Trabalhadores do Mundo: Protagonismo e Propostas para Enfrentar a Crise”, no Fórum Social Temático, em Porto Alegre – 24/01/2012 e a “Declaração de Buenos Aires”, em março de 2012, as centrais sindicais brasileiras: FORÇA SINDICAL, UGT, NCST e CTB, manifestam-se no sentido de que os governos de todo o mundo, reunidos no Rio de Janeiro, têm a oportunidade de mostrar que há uma maneira de sair desse modelo predatório e que podemos começar a construir, em conjunto, uma sociedade global sustentável, próspera, inclusiva e equitativa, superando o atual modelo onde o lucro e a ganância foram colocados acima do progresso social e da proteção ambiental.

Questionamos, por ser insuficiente, a ideia de propor, 20 anos depois da Eco 92, que esse debate se realize em torno da ideia de “economia verde”. Convocamos a recuperar a noção de desenvolvimento lançada na Eco 92 há 20 anos atrás e agregar-lhe, explicitamente, a denominação de “ambiental e socialmente sustentável” para que se convertam as prioridades nitidamente na estratégia de avanço social de nossos países, transformando o conceito para uma “economia verde inclusiva”.

Nesse sentido, é importante que os governos assumam compromissos com a sociedade que representam, incorporando nossas aspirações no documento oficial que deverá ser aprovado ao final da Conferência. O documento deve expressar o reconhecimento por parte dos governantes de que a promoção universal do acesso a serviços sociais pode contribuir significativamente para consolidar e alcançar ganhos de desenvolvimento. Sistemas de proteção social que abordem e reduzam a desigualdade e a exclusão social são essenciais para erradicar a pobreza e promover a realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Chamamos a atenção para a necessidade do lançamento de um programa de proteção social global, em apoio aos esforços internacionais em curso, incluindo a recomendação da Conferência Internacional do Trabalho sobre o Piso de Proteção Social, que leve em conta os três pilares do desenvolvimento sustentável ─ o social, o econômico e o ambiental, com o objetivo de alcançar a proteção social para todos até 2020, pelo menos ao nível dos pisos nacionais de proteção social (acesso aos serviços de saúde, nele incluídos o saneamento básico e água potável, segurança alimentar e nutricional saudável, garantia de renda quando confrontados com o desemprego, doença, maternidade, criação dos filhos, deficiência e idade avançada).

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Esperamos dos Governos o comprometimento com a Transição Justa e para alcançar Trabalho Decente para todos até 2030 – incluindo a erradicação da pobreza no trabalho, excluindo o trabalho escravo e infantil, e outras formas precárias de emprego, reduzindo o desemprego, aumentando a quota de empregos verdes na economia e garantindo a igualdade de gênero no trabalho. Entendidos os empregos verdes, segundo definição da OIT em estudo encomendado pelo PNUMA em 2008, como aqueles que “reduzem o impacto ambiental das empresas e dos setores econômicos até alcançar níveis sustentáveis”, onde se estabelece a necessidade de que eles sejam dignos, com direitos dentro e fora da empresa.

Também é necessário que conste no documento oficial o reconhecimento pelos Governos de que os trabalhadores têm direito ao acesso à educação de qualidade, ao desenvolvimento de suas habilidades com qualificação profissional e tecnológica, a cuidados de saúde, previdência social, à garantia dos direitos fundamentais no trabalho com proteções sociais e jurídicas, incluindo saúde e segurança no trabalho e igualdade de oportunidades e a importância de estratégias de Transição Justa, com programas para ajudar os trabalhadores a se ajustarem às novas condições do mercado de trabalho.

A Transição Justa deve incluir uma serie de políticas e medidas para garantir que o resultado da evolução para uma economia mais sustentável ambientalmente tenha como resultado uma maior coesão e justiça social. Esta é a forma na qual o sindicalismo internacional entende o objetivo de uma “economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” que é discutida na cúpula do Rio+20. A Transição Justa dever ser construída com políticas públicas de caráter normativo, fiscal e de apoio seletivo que favoreçam o “enverdecimento” da atividade econômica e o desenvolvimento de novas jazidas de empregos, verdes e dignos.

O pacto desejável entre as Nações deve expressar como objetivo o Trabalho Decente para todos através da adoção de uma estratégia global de catalisar os existentes esforços mundiais ─incluindo o Pacto Global para o Emprego da OIT─, visando a redução do desemprego em pelo menos 30% em 2030, promovendo adequadamente o emprego devidamente remunerado, erradicar a pobreza no trabalho e aumentando a quota de emprego digno e verde na economia, no pleno respeito pelos direitos dos trabalhadores e com a participação dos empregadores, os trabalhadores e suas respectivas organizações, dando especial atenção aos problemas do desemprego estrutural, a longo prazo e o subemprego da juventude, mulheres, pessoas com deficiência e todos os outros grupos e indivíduos desfavorecidos.

Consideramos que os mecanismos de financiamento inovadores podem dar uma contribuição positiva em ajudar os países em desenvolvimento a mobilizar recursos adicionais no mercado interno e externo para o financiamento do desenvolvimento. Esse financiamento deve ser complementar e não ser um substituto para as fontes tradicionais de financiamento. Nesse sentido, é fundamental que os Governos decidam lançar um processo de pôr em prática a nível global um imposto sobre as transações financeiras.

Os Governos devem ressaltar a importância da participação dos trabalhadores e dos sindicatos para a promoção do desenvolvimento sustentável. Os legítimos representantes dos trabalhadores ─os sindicatos─ são parceiros fundamentais para facilitar a concretização do desenvolvimento

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sustentável em suas três dimensões: social, econômica e ambiental. Informação, educação e formação sobre a sustentabilidade em todos os níveis, inclusive no local de trabalho, são cruciais para reforçar a capacidade dos trabalhadores e dos sindicatos para apoiar o desenvolvimento sustentável.

O diálogo social permanente e o tripartismo devem ser mecanismos privilegiados pelos governantes para estabelecer negociações com respeito à proteção, promoção e realização dos direitos humanos; negociações para melhorar o bem estar das mulheres, crianças e grupos desfavorecidos; a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens; em abordar as desigualdades entre e dentro de países e a concentração da riqueza, bem como para a construção de pisos de proteção social e de agendas nacionais de Trabalho Decente.

Encorajamos cada país a defender e conduzir um crescimento econômico sustentável, inclusivo e equitativo, com a criação de postos de trabalho dignos e ambientalmente responsáveis. Nesse sentido, voltamos a enfatizar a importância de assegurar que os trabalhadores sejam preparados com as habilidades necessárias, nomeadamente através da educação e capacitação profissional, que devem ser providas juntamente com a saúde e segurança no ambiente de trabalho e com a proteção social necessária. A esse respeito, nós encorajamos todas as partes interessadas, incluindo empresas e indústria, para contribuir, de forma apropriada.

Consideramos ainda que os governos devam melhorar o conhecimento e capacidades estatísticas sobre as tendências de emprego, suas restrições e desenvolvimentos, assim como integrar os dados pertinentes em estatísticas nacionais, com o apoio de agências relevantes das Nações Unidas, constituindo observatórios do mercado de trabalho.

As Centrais Brasileiras que assinam estão convencidas da necessidade de construir um modelo de desenvolvimento universalizável, que respeite os limites ambientais do planeta, que reverta a mercantilização e degradação do patrimônio natural, em que os esforços e as oportunidades para fazê-lo sejam repartidos equitativamente de acordo com as distintas responsabilidades e capacidades de cada país. Um modelo solidário pelo imperativo moral e porque o desafio da sustentabilidade compromete as expectativas de toda a humanidade.

A Rio + 20, portanto, deveria buscar a renovação do compromisso dos líderes mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta, conceito que deve ser entendido como objetivo integrador, capaz de conciliar as preocupações ambientais com as necessidades sociais, sem perder de vista o desenvolvimento econômico. O grande desafio para esta Conferência é estabelecer um novo paradigma de sustentabilidade da vida humana, entendida como relação dinâmica e harmônica entre humanidade e natureza, entre humanos e humanas. Isto requer pensar o equilíbrio entre produção e reprodução, no qual o cuidado com a vida humana seja a preocupação central e que seja compartilhado entre homens e mulheres.

É chegada a hora da soberania alimentaria, do bem viver, de valorizar os saberes dos povos originários e das mulheres, da garantia e consolidação de direitos e da democracia participativa.

Rio de Janeiro, Brasil, 11 de Junho de 2012.

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Miguel Torres Ricardo Patah

Presidente da Força Sindical Presidente da UGT

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José Calixto Ramos Wagner Gomes

Presidente da NCST Presidente da CTB

Demais Dirigentes e Autoridades: Entidade/Cargo

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