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Desigualdade numa Desigualdade numa escola em mudança escola em mudança Trajetórias e embates na Trajetórias e embates na escolarização pública de escolarização pública de jovens pobres jovens pobres

Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

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Page 1: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

Desigualdade numa escola Desigualdade numa escola em mudançaem mudança

Trajetórias e embates na Trajetórias e embates na escolarização pública de escolarização pública de

jovens pobresjovens pobres

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o ensino fundamental vem se expandindo, universalizando-se, desde a década de 90, permitindo o acesso de grupos antes excluídos dos processos de

escolarização, em especial no ginásio, numa expansão que na verdade tem seu início na década de 70. Em todos os países capitalistas ocidentais, a

expansão dos sistemas públicos de ensino , dentro das devidas particularidades referentes às formações sociais determinadas,produz uma

contradição: como expandir tornando universal, um tipo de capital institucional que encontra valor exatamente na possibilidade de sua distribuição desigual? E

em especial, como esse movimento se realiza num país como o Brasil, país marcado por violentas desigualdades econômicas, políticas e sociais?

O problemaO problema

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Em que e em quem me fundamento ? Quais Em que e em quem me fundamento ? Quais são os limites de minha fundamentação? Em são os limites de minha fundamentação? Em

que sentidos busco avançar sobre estes que sentidos busco avançar sobre estes limites?limites?

Para a interpretação das desigualdades escolares, em primeiro lugar, Bourdieu e sua teoria da reprodução (teoria eixo.)

É necessário, porém, ampliar e ao mesmo tempo particularizar a noção de reprodução. (Lê Fébvre)

José de Souza Martins, e sua perspectiva de “exclusão integrativa”, ou, da “incorporação precária das margens”/ Francisco de Oliveira e sua perspectiva

da “recusa da incorporação” das maiorias no Brasil

Por fim, a expansão da escola como negação do direito à escolarização. (Anísio Teixeira, Luís Antonio Cunha e Eveline Algebaile)

Com isso busco construir, em um dos primeiros capítulos, um quadro teórico que posiciona o objeto no âmbito das preocupações relativas às relações

entre educação e sociedade no Brasil

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O desafio metodológico: tirar conclusões O desafio metodológico: tirar conclusões gerais a partir de um objeto particulargerais a partir de um objeto particular

Devemos estudar os lugares, espaços, instituições, assim como os arquitetos do século XIX “que faziam admiráveis esboços a carvão do conjunto do edifício no interior do qual estava situada a parte que eles queriam figurar em pormenor”- O “caso particular do possível”- Bourdieu, recuperando Bachelard.

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A pesquisa de campo: análise das desigualdades numa escola em

mudança

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Primeira parte da pesquisa: as marcas das Primeira parte da pesquisa: as marcas das desigualdades em três décadasdesigualdades em três décadas

análise das décadas: Objetivo – construir um quadro das desigualdades que demarcaram o processo de entrada dos jovens pobres na escola pública, nas

décadas de 70, 80 e 90.para isso foram realizados:

•Um levantamento de pouco mais de mil fichas do arquivo morto da escola, recortando as trajetórias percorridas pelos jovens estudantes do ginásio em

quatro anos seguidos de escolarização em cada uma das décadas.

•Um tratamento para os dados que me permitisse identificar desigualdades de origem entre os estudantes. Foram usados como critérios de diferenciação: os

locais de moradia (separados de forma mais ampla entre moradias dentro e fora das favelas) e as profissões dos pais dos alunos da escola (separados de forma mais ampla em trabalhadores manuais e não manuais).Para a década de 70 foi

usado ainda um terceiro critério: a presença (ou ausência) de atestado de pobreza.

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Categorias ProfissionaisCategorias Profissionais

Ano de Ano de referêncireferência 1973a 1973

Percentuais / Percentuais / 7373

Ano de Ano de referêncireferência 1984a 1984

Percentuais / Percentuais / 8484

Ano de Ano de referêncireferência 1995a 1995

Percentuais / Percentuais / 9595

1)Profissional de nível 1)Profissional de nível superiorsuperior 1313 5%5% 33 0,80%0,80% 22 0,80%0,80%

2) Professor2) Professor 1212 5%5% 33 0,80%0,80% 11 0,40%0,40%

3) Comerciante3) Comerciante 1313 5%5% 1212 3,40%3,40% 77 3%3%

4) Militar4) Militar 2020 8%8% 77 2%2% 22 0,80%0,80%

5) Bancário5) Bancário 1717 7%7% 22 0,60%0,60% 22 0,80%0,80%

6) Funcionário Público6) Funcionário Público 3939 15%15% 66 1,70%1,70% 33 1,30%1,30%

7) Trabalhador não 7) Trabalhador não manual de nível médiomanual de nível médio 1313 5%5% 2929 8,30%8,30% 2020 8,50%8,50%

Total de trabalhadores Total de trabalhadores não manuaisnão manuais 127127 50%50% 6262 17%17% 3737 15%15%

8) Trabalhador manual 8) Trabalhador manual do comércio e serviçosdo comércio e serviços 5050 19%19% 180180 52%52% 128128 55%55%

9) Trabalhador manual 9) Trabalhador manual na indústriana indústria 2121 8%8% 3939 11%11% 2121 9%9%

10) Trabalhador de 10) Trabalhador de sobrevivênciasobrevivência 4141 16%16% 5555 16%16% 3939 17%17%

11) Inativos11) Inativos 1616 7%7% 1414 4%4% 99 4%4%

Total de trabalhadores Total de trabalhadores manuaismanuais 128128 50%50% 288288 83%83% 197197 85%85%

Fonte : Arquivo da escola

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Proporção de moradias em favelas e asfalto na escola: décadas de 1970,1980 e 1990

Ano de referênciaAno de referência moradiamoradia frequênciafrequência percentuaispercentuais

19731973 favelafavela 8181 24%24%

asfaltoasfalto 262262 76%76%

19841984 favelafavela 210210 67%67%

asfaltoasfalto 102102 33%33%

19951995 favelafavela 176176 72%72%

asfaltoasfalto 6868 28%28%

Fonte: Arquivo da escola

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materialização das desigualdades nas categorias “extremos” e “não-extremos”, permitindo a identificação de desigualdades sociais dentro do

conjunto de estudantes da escola

Extremos e não-Extremos e não-extremos nas extremos nas

décadasdécadasExtremosExtremos Não-Não-

extremosextremos

Ano referência 1973Ano referência 1973 frequênciafrequência 109109 242242

percentuaispercentuais 30%30% 70%70%

Ano referência 1984Ano referência 1984 frequênciafrequência 201201 165165

percentuaispercentuais 55%55% 45%45%

Ano referência 1995Ano referência 1995 frequênciafrequência 139139 116116

percentuaispercentuais 55%55% 45%45%

Fonte : Arquivo da escola

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Através do cruzamento dos dados indicativos:•das desigualdades sociais

• das faixas etárias •dos percursos realizados pelos alunos (agora identificados por suas idades e

condição social), foi possível a construção de diagramas...

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Ano/Ano/nasc.nasc. classificaçãoclassificação

501/1501/1tt

502/502/1t1t

503/503/1t1t

504/504/1t1t

505505/1t/1t

506/506/2t2t

507/507/2t2t

508508/2t/2t

509/509/2t2t

510/510/2t2t

511/511/3t3t

19581958 ExtremosExtremos 11 33 22 11 11 1212

19581958 N/extremosN/extremos 11 11 33 22 11 11

19591959 ExtremosExtremos 44 33 55 22 33 33 22 22

19591959 N/extremosN/extremos 11 55 22 11 11 22

19601960 ExtremosExtremos 22 11 11 55 11 11 22 11 99 22

19601960 N/extremosN/extremos 66 77 55 77 22 55 66 55 44 55

19611961 ExtremosExtremos 11 11 11 11 11 33 11 44 33

19611961 N/extremosN/extremos 88 55 33 44 33 99 88 44 44 77

19621962 ExtremosExtremos 11 11

19621962 N/extremosN/extremos 1212 22 55 22 88 22 77 11

19631963N/extremosN/extremos

11 22

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AnonascAnonasc ClassClass601/601/3t3t

602/602/3t3t

603/603/3t3t

604/604/2t2t

605/605/2t2t

606/606/1t1t

607/607/1t1t

608/608/1t1t

609/609/1t1t

610/610/2t2t

611/611/1t1t

612612/2t/2t

19571957 ExtremosExtremos    11                              

19571957 N/extremosN/extremos                                    

19581958 ExtremosExtremos 77 77 66 11    11                  

19581958 N/extremosN/extremos 33 22 11 11       11 11 11 22      

19591959 ExtremosExtremos 44 33 55 11 22 11 22 22 22 33 33   

19591959 N/extremosN/extremos 11 44 22 11       22 22 11       22

19601960 ExtremosExtremos 11       99 11 11 77 33 11 33 22 11

19601960 N/extremosN/extremos       11 88 66 22 77 55 1111 77 44 55

19611961 ExtremosExtremos          44 11 22 22 11 11 44 11 11

19611961 N/extremosN/extremos    11 22 88 77 66 44 33 66 77 1212 1111

19621962 ExtremosExtremos                            11    11

19621962 N/extremosN/extremos       11 22 55 22 11 55 33 44 1212 88

19631963 N/extremosN/extremos             22                   11

Fonte: Arquivo da escola

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Ano Ano nascnasc ClassClass 701/2t701/2t 702/1t702/1t 703/2t703/2t 704/1t704/1t 705/2t705/2t 706/3t706/3t 707/1t707/1t 708/2t708/2t 709/3t709/3t 710/3t710/3t 711/3t711/3t

19571957 ExtremosExtremos                               11

19571957 N/N/extremosextremos    11                         11

19581958 ExtremosExtremos             11 11    11 11 1010 99

19581958 N/N/extremosextremos 11                   44    22 66

19591959 ExtremosExtremos    11 11          44 55 1515 22   

19591959 N/N/extremosextremos                   55 77 66 22   

19601960 ExtremosExtremos          22 99 88 66 33         

19601960 N/N/extremosextremos       11 66 1515 1010 1616 1313         

19611961 ExtremosExtremos       66 55 22 22 11            

19611961 N/N/extremosextremos    1616 2424 1717 77 66 11 11         

19621962 ExtremosExtremos 33                              

19621962 N/N/extremosextremos 2525 2121 11 22 11                  

19631963 N/N/extremosextremos 22                              

Fonte: Arquivo da escola.

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Ano nascAno nasc ClassificaçãoClassificação 801/2t801/2t 802/1t802/1t803/2803/2

tt 804/1t804/1t805/3805/3

tt806/3806/3

tt807/3807/3

tt808/3808/3

tt 809/3t809/3t 810/3t810/3t

19571957 ExtremosExtremos                            11

19571957 N/extremosN/extremos                              

19581958 ExtremosExtremos             11    11 11 22 1616

19581958 N/extremosN/extremos       11             22 22 55

19591959 ExtremosExtremos    11 22    11 11 11 33 1515 11

19591959 N/extremosN/extremos    11 22 33    22 55 66 55 11

19601960 ExtremosExtremos 22    22 33 77 77 44 22      

19601960 N/extremosN/extremos 44 33 55 1111 1313 77 1010 1313 11   

19611961 ExtremosExtremos       77 33 44 22 11         

19611961 N/extremosN/extremos 11 1717 2525 1515 66 77    11      

19621962 ExtremosExtremos 33                           

19621962 N/extremosN/extremos 2424 1818    66 33               

19631963 N/extremosN/extremos 22                           

Fonte: Arquivo da escola

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Evolução da distribuição de extremos e não-extremos por séries e turnos/ década de 1970

      5a.série5a.série    6a.série6a.série    7a.série7a.série    8a.série8a.série   

     extremextremoo

ñ/ñ/extremoextremo

extremextremoo

ñ/ñ/extremoextremo

extremextremoo

ñ/ñ/extremoextremo

extremextremoo

ñ/ñ/extremoextremo

1o. 1o. TurnoTurno freq.freq. 3737 8282 3333 9090 1919 8585 77 7474

   percent.percent. 31%31% 69%69% 26%26% 74%74% 18%18% 81%81% 8%8% 92%92%

2o. 2o. TurnoTurno freq.freq. 3838 8383 3333 8787 3131 110110 1616 6464

   percent.percent. 31%31% 69%69% 27%27% 73%73% 22%22% 78%78% 20%20% 80%80%

3o.Turn3o.Turnoo freq.freq. 1212 33 3434 1818 4949 3333 7171 8989

   percent.percent. 80%80% 20%20% 65%65% 35%35% 60%60% 40%40% 44%44% 56%56%

TotalTotal freq.freq. 8787 167167 100100 195195 9999 228228 9494 227227

SériesSéries percent.percent. 34%34% 66%66% 33%33% 67%67% 30%30% 70%70% 29%29% 71%71%

Fonte: Arquivo da escola.

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•As desigualdades estabelecem trajetórias no interior das instituições.

•Essas trajetórias percorrem não só turmas como também turnos.

•Em todas as décadas pesquisadas, as trajetórias desiguais são a expressão de pressões, também desiguais, feitas sobre os grupos

sociais que habitam a escola, sendo o grupo dos “extremos” o mais atingido, em todas as décadas do levantamento.

•Finalmente, além da pressão seletiva sobre os extremos, foi constatada uma tendência à segregação dos desiguais , em turnos na

década de 70, em turmas na década de 80 e numa combinação de ambos na década de 90, que se inicia nos primeiros anos do ginásio,

mantendo-se (e acirrando-se) nos anos subseqüentes.

A identificação dos desiguais na escola e o acompanhamento A identificação dos desiguais na escola e o acompanhamento de suas trajetórias nos “espaços” escolares (turmas e turnos) de suas trajetórias nos “espaços” escolares (turmas e turnos)

permitiram a percepção de que:permitiram a percepção de que:

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Esse movimento “interno”, de mudança nas formas de selecionar e segregar, mantendo uma intensa pressão sobre os extremos ganha

sentido, no capítulo, na relação:

• com as mudanças mais amplas pelas quais as relações sociais, a dinâmica política, as políticas públicas que regulam o campo, a

organização e a valorização / desvalorização dos espaços da cidade, acontecem. Neste caso o que se buscou foi mostrar que as

mudanças na escola estão ligadas às mudanças do fluxo da história.

• É aqui que o recorte do “caso particular do possível” ganha mais força, ao buscar “transformar” aquilo que poderia ser o estudo

específico de uma instituição em particular numa singular posição de observação , de outras escolas e da sociedade.

Page 18: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

Segunda parte: a multiplicação das Segunda parte: a multiplicação das desigualdades e das precariedades desigualdades e das precariedades

escolares (o ano de 2005)escolares (o ano de 2005)

O que foi feito: O que foi feito:

Levantamento das fichas do arquivo de cada um Levantamento das fichas do arquivo de cada um dos 670 alunos matriculados no ginásio no dos 670 alunos matriculados no ginásio no período, para a construção de um quadro das período, para a construção de um quadro das desigualdades que se multiplicam na escola, desigualdades que se multiplicam na escola, segmentando e tornando complexo aquilo que segmentando e tornando complexo aquilo que vemos como um todo indistinto. Nele são vemos como um todo indistinto. Nele são construídas duas categorias analíticas:construídas duas categorias analíticas:

Page 19: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

Modos de escolarizaçãoModos de escolarização Modo pleno (ou contínuo)Modo pleno (ou contínuo) - média de anos de escolarização compatível com o número de séries cursadas, - média de anos de escolarização compatível com o número de séries cursadas,

fluxo contínuo pelas séries do curso primário, sem freqüência importante aos fluxo contínuo pelas séries do curso primário, sem freqüência importante aos projetos compensatórios de alfabetização ou de aceleração da aprendizagem, projetos compensatórios de alfabetização ou de aceleração da aprendizagem, com um número residual de repetências e abandonos escolares durante um com um número residual de repetências e abandonos escolares durante um curso ginasial feito em trajetória contínua;curso ginasial feito em trajetória contínua;

Modo precárioModo precário - média de anos de escolarização muito acima do número de séries cursadas, - média de anos de escolarização muito acima do número de séries cursadas,

descontinuidade e fragmentação como marcas de um curso primário descontinuidade e fragmentação como marcas de um curso primário entrecortado por repetências, rupturas, ingresso em projetos inorgânicos entre entrecortado por repetências, rupturas, ingresso em projetos inorgânicos entre si e em suas relações com a tradição das séries, configurando trajetórias que se si e em suas relações com a tradição das séries, configurando trajetórias que se destacam pela multiplicidade das formas e pela concatenação inusitada de destacam pela multiplicidade das formas e pela concatenação inusitada de seriação, ingresso em projetos e repetências. Trajetórias essas que encontram seriação, ingresso em projetos e repetências. Trajetórias essas que encontram continuidade num curso ginasial feito de repetências múltiplas, coroadas por continuidade num curso ginasial feito de repetências múltiplas, coroadas por abandonos.abandonos.

Esses modos se distribuíam de formas desiguais em turnos e turmas. As Esses modos se distribuíam de formas desiguais em turnos e turmas. As “últimas” turmas de cada série ginasial assim como o segundo dentre os “últimas” turmas de cada série ginasial assim como o segundo dentre os turnos, acumulavam índices alarmantes de alunos marcados por modos turnos, acumulavam índices alarmantes de alunos marcados por modos precários de escolarização. Ao mesmo tempo, as “primeiras” turmas em cada precários de escolarização. Ao mesmo tempo, as “primeiras” turmas em cada série, assim como o primeiro turno congregavam conjuntos de alunos de série, assim como o primeiro turno congregavam conjuntos de alunos de trajetórias de modo contínuo trajetórias de modo contínuo

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EnraizamentoEnraizamentoFoi com o intuito de entendermos melhor o fenômeno (de agregação de valor ao

lugar ocupado e aos ocupantes do lugar) que, no decorrer desta pesquisa, formulamos

um “índice”, cujo objetivo era o de descortinarmos as relações entre o “valor” do lugar ocupado (encarnado na turma) e o tempo de ocupação do mesmo. A esse “índice” demos o nome de “enraizamento”. Ele foi configurado a partir do traçado das trajetórias

escolares, tomando o ano de 2005 como referência. Ele expressa, por um lado, o número de vezes que cada um dos alunos do ginásio freqüentou o mesmo “tipo de turma”. Por outro lado, ele também expressa a extensão da ocupação do aluno na

escola.Por isso sentimos necessidade de dar ao “índice” duas dimensões: a uma delas

demos o nome de “enraizamento na turma”, e contava o número de vezes que cada um dos alunos havia ocupado turma da mesma “categoria” daquela ocupada por ele no ano de 2005, de maneira contínua. A outra delas leva aqui o nome de “enraizamento na escola” e busca demarcar a extensão da ocupação da instituição em relação a cada um dos alunos, para cada turma do ginásio.

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Enraizamento (institucional /turma) por turma /2005

TurmasTurmas

EnraizameEnraizamento na nto na turmaturma

EnraizameEnraizamento na nto na escolaescola

T.501T.501 2,22,2 0,90,9

T.502T.502 1,71,7 0,60,6

T.503T.503 1,51,5 0,80,8

T.504T.504 11 0,50,5

T.505T.505 11 0,80,8

T.506T.506 11 0,30,3

T.601T.601 2,52,5 0,60,6

T.602T.602 1,91,9 0,30,3

T.603T.603 1,31,3 0,60,6

T.604T.604 1,21,2 0,20,2

T.605T.605 1,31,3 0,70,7

T.701T.701 3,43,4 0,70,7

T.702T.702 1,91,9 0,20,2

T.703T.703 1,91,9 0,60,6

T.704T.704 1,41,4 0,20,2

T.801T.801 4,14,1 0,80,8

T.802T.802 2,62,6 0,20,2

T.803T.803 1,91,9 1,11,1

T.804T.804 2,32,3 0,40,4

Fonte: Arquivo da escola.

Média do índice de enraizamento institucional por turno /2005

Enraizamento na escola/ Enraizamento na escola/ turnosturnos

MédiasMédias

Média /turno da manhãMédia /turno da manhã 0,80,8

Média /turno daMédia /turno datardetarde

0,30,3

Fonte : Arquivo da escola

Média dos índices de enraizamento(institucional/ turma)/ comparação entre turnos/ 2005

00,5

11,5

22,5

média/turnoda manhã

enraizamentona turma

enraizamento naturma

enraizamento naescola

Fonte: Arquivo da escola

Page 22: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

ConclusõesConclusões- A escola manteve e mantém, durante todo o tempo coberto pela - A escola manteve e mantém, durante todo o tempo coberto pela

pesquisa, altos níveis de seletividade, atingindo o seu pico na pesquisa, altos níveis de seletividade, atingindo o seu pico na década de 80 e consolidando a tendência na década de 90, década de 80 e consolidando a tendência na década de 90, mesmo em face das políticas que vem buscando atenuar os mesmo em face das políticas que vem buscando atenuar os

efeitos da seletividade sobre a evasão escolar, criando, neste efeitos da seletividade sobre a evasão escolar, criando, neste processo uma “novidade”: a multiplicação e a complexificação processo uma “novidade”: a multiplicação e a complexificação

das desigualdades entre sistemas , instituições e no interior das das desigualdades entre sistemas , instituições e no interior das unidades escolares.unidades escolares.

- Em todas as décadas cobertas pelo levantamento, a Em todas as décadas cobertas pelo levantamento, a segregaçãosegregação dos desiguaisdos desiguais precedeu a seleção: precedeu a seleção:

Na década de 70, um dos turnos acumulava conjuntos Na década de 70, um dos turnos acumulava conjuntos desproporcionais de alunos pertencentes às camadas mais desproporcionais de alunos pertencentes às camadas mais vulneráveis dos grupos sociais representados na escola, no vulneráveis dos grupos sociais representados na escola, no

primeiro ano do segundo segmento do segundo grau (80% dos primeiro ano do segundo segmento do segundo grau (80% dos alunos da 5ª. série no terceiro turno da escola pertenciam à alunos da 5ª. série no terceiro turno da escola pertenciam à categoria dos extremos que somava apenas 30% do total de categoria dos extremos que somava apenas 30% do total de alunos do ginásio da escola). A seleção, no decorrer do curso alunos do ginásio da escola). A seleção, no decorrer do curso

ginasial, tornava ainda mais dramática a situação, “empurrando” ginasial, tornava ainda mais dramática a situação, “empurrando” para o terceiro turno os alunos de pior desempenho, tornando o para o terceiro turno os alunos de pior desempenho, tornando o primeiro e segundo turnos exclusivos para os estudantes mais primeiro e segundo turnos exclusivos para os estudantes mais “destacados”. Ao final da 8ª série , pertenciam à categoria dos “destacados”. Ao final da 8ª série , pertenciam à categoria dos

não-extremos: 92% dos alunos do primeiro turno, 80% dos alunos não-extremos: 92% dos alunos do primeiro turno, 80% dos alunos do segundo turno e 56% dos alunos do terceiro).do segundo turno e 56% dos alunos do terceiro).

Page 23: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

Seleção e segregação em 80 e Seleção e segregação em 80 e 9090

Na década de 80, num quadro configurado pela composição da ação Na década de 80, num quadro configurado pela composição da ação significativa dos mecanismos de seletividade escolar, aliado à significativa dos mecanismos de seletividade escolar, aliado à

circunscrição da escola pública fundamental aos pobres, testemunhamos circunscrição da escola pública fundamental aos pobres, testemunhamos significativas modificações nas estratégias de segregação dos desiguais na significativas modificações nas estratégias de segregação dos desiguais na

escola. A constituição de turmas (uma ou duas em cada série desde as escola. A constituição de turmas (uma ou duas em cada série desde as primeiras séries do ginásio) articulando os conjuntos de alunos de primeiras séries do ginásio) articulando os conjuntos de alunos de

melhores condições sociais garantia a separação destes da “massa” de melhores condições sociais garantia a separação destes da “massa” de vulneráveis distribuídos de maneira predominante no restante das turmas.vulneráveis distribuídos de maneira predominante no restante das turmas.

A década de 90 testemunha a atenuação dos mecanismos de seletividade A década de 90 testemunha a atenuação dos mecanismos de seletividade escolar a partir dos decretos que determinam processos de “aprovação escolar a partir dos decretos que determinam processos de “aprovação

automática”, “progressão” e “aceleração da aprendizagem”, numa escola automática”, “progressão” e “aceleração da aprendizagem”, numa escola pública fundamental que consolida sua circunscrição aos pobres. A pública fundamental que consolida sua circunscrição aos pobres. A

segregação dos desiguais se deu por uma complexa composição dos segregação dos desiguais se deu por uma complexa composição dos mecanismos já apontados em décadas anteriores. O primeiro turno, e as mecanismos já apontados em décadas anteriores. O primeiro turno, e as primeiras turmas de cada série (e, em especial as primeiras turmas do primeiras turmas de cada série (e, em especial as primeiras turmas do primeiro turno) passam a aglutinar os mais destacados e socialmente primeiro turno) passam a aglutinar os mais destacados e socialmente

menos vulneráveis dos alunos da escola, ficando o restante das turmas menos vulneráveis dos alunos da escola, ficando o restante das turmas assim como a maior parte do segundo turno da escola compostos, por assim como a maior parte do segundo turno da escola compostos, por proporções variadas mas sempre predominantes, de alunos sujeitos às proporções variadas mas sempre predominantes, de alunos sujeitos às mais extremas condições sociais, em relação ao universo de alunos da mais extremas condições sociais, em relação ao universo de alunos da

escola no período.escola no período.

Page 24: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

Desinstitucionalização e Desinstitucionalização e repactuação das legitimidadesrepactuação das legitimidades

- A consolidação dos processos anteriormente descritos nos dias atuais vem provocando alguns efeitos sobre as escolas, para além daqueles referentes aos processos e modos de escolarização. São

eles:•Perda, por parte da instituição, de autonomia técnica, política e

administrativa. A escola já não consegue, nos tempos que correm, autonomia suficiente para estabelecer critérios para a regulação de

suas inúmeras atividades e funções, passando a recorrer ativamente, ou mesmo ficando inadvertidamente submetida , a fontes de poder e

legitimidade exógenos a ela.•* Por fim, essa verdadeira “desinstitucionalização da escola” acaba por produzir um outro efeito, esse provavelmente o mais sentido no

cotidiano da instituição, fenômeno ao qual damos o nome de “repactuação das legitimidades”.

Page 25: Desigualdade numa escola em mudança Trajetórias e embates na escolarização pública de jovens pobres

FinalmenteFinalmente a fragilidade institucional vem fazendo com que a a fragilidade institucional vem fazendo com que a

instituição passe a tomar um aspecto “misto”, instituição passe a tomar um aspecto “misto”, operando, em seu interior, com “zonas” de “baixa operando, em seu interior, com “zonas” de “baixa institucionalidade”, onde as “leis escolares” institucionalidade”, onde as “leis escolares” (sejam as da seleção, sejam as do controle) não (sejam as da seleção, sejam as do controle) não são capazes de regular a instituição.são capazes de regular a instituição.

Instalando, assim,na escola, uma “nova” forma Instalando, assim,na escola, uma “nova” forma de desigualdade, que busca inserir os extremos, de desigualdade, que busca inserir os extremos, as margens, as misérias; criando no interior dos as margens, as misérias; criando no interior dos espaços institucionais zonas variáveis e múltiplas espaços institucionais zonas variáveis e múltiplas de despossessão, marcadas por mecanismos que de despossessão, marcadas por mecanismos que não apenas colocam a institucionalidade em não apenas colocam a institucionalidade em crise, mas também interrogam sua legitimidade e crise, mas também interrogam sua legitimidade e colocam em xeque seus próprios critérios de colocam em xeque seus próprios critérios de regulação.regulação.