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Devaneio entre nuvens. Personagens: Ele Lua Homem Velha Apolo 1

Desvaneios Entre Nuvens

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para escola

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Page 1: Desvaneios Entre Nuvens

Devaneio entre nuvens.

Personagens:

Ele

Lua

Homem

Velha

Apolo

Texto por: Mau Souza

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Lua — Por que você não me deixa esquecer?

Velha — Esse é o meu papel.

Lua — Eu não entendo vocês.

Ele —Luxuria, é essa a palavra. Luxuria é como um intenso fogo na alma de um poeta decadente e doente. Um poeta sem poesia e sem amor, vendo prazer e sexo em tudo que o cerca. Mulheres, carros, drogas, bebidas. Bebidas o melhor modo de sonhar quando a decadência de uma cadeia aberta te encontra. Luxuria é o que tem para o jantar e sem ela não há o que comer.

Prazer sem beleza mesmo com a mais bela mulher ou o mais belo rapaz. Quando não se tem amor então se procura a felicidade no que você tem e o que temos para hoje é Luxuria, Luxuria da melhor enquanto sua alma se sente pior e sua mente finge que é bom. É mentira, é poesia, é provisoriamente um engano para a tristeza.

Só agora eu vejo a mulher na janela a me olhar. Acho que bebi demais. Estou no terceiro andar, não há como ter uma mulher na janela. Ignoro a imagem na janela como uma alucinação, desligo a luz, caminho tateando o escuro até a porta de me quarto, não acendo a luz, meus olhos aos poucos se acostumam a semi-escuridão e eu encontro minha cama, deito e escuto sua voz no meu ouvido.

Lua — Boa noite!

Ele —Adormeço. De manhã há um sino que insiste em tocar em algum lugar de minha cabeça que pesa uma tonelada a mais que meu corpo. Tento abraçar a imagem turva de meu sonho, mas não me recordo de nada além de uma imagem daquela mulher.

O dia passa entre bebidas e folhas jogadas no lixo a noite chega. Saio, cambaleio pela rua e brinco de poeta para a Lua. Rio da minha decadência e caio na sarjeta.

Lua — Belas palavras.

Ele — Você gostou disso.

Lua — Não sei se gostei. Achei bonito.

Ele — “Não sei se gostei. Achei bonito.”

Lua — É triste ver alguém caído.

Ele — O que posso fazer?

Lua — Levantar?

Ele — É difícil levantar quando o peso do mundo está em cima de você.

Lua — Chamam isso de gravidade?

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Ele — É a gravidade dos fatos que me faz ficar assim.

Lua — Eu não entendo vocês, qualquer perda é como única e para sempre, como se fosse a maior pedra do universo e totalmente irremovível.

Ele — O que você entende sobre mim?

Lua — Nada, mas o que você sabe sobre o mundo?

Ele — “Os apaixonados não se molham na chuva.

Não choram, não temem.

Só cantam e coram com a lua.”

Lua — Belas palavras.

Ele — Caminho novamente na noite a procura dela, a procura de um alguém para me guiar, me ensinar novamente a acreditar no amor, acreditar nas pessoas, uma nova inspiração para um coração seco e ali na mesmas esquina de todas as noite eu paro. Contemplo a noite e as estrelas, comprimento a lua que inspira paixões e melancolias. Uma nuvem que novamente se esconde atrás de nuvens.

Lua — Não parece ter bebido hoje.

Ele — Bebi pouco, estou sóbrio.

Lua — Está?

Ele — Qual seu nome?

Lua — Para que os nomes servem?

Ele — Para termos como nos comunicar.

Lua — Eu não entendo vocês.

Ele — Nós?

Lua — Vocês reclamam que o mundo é muito complicado só que vivem inventando regras para complicar ele.

Ele — Verdade.

Lua — Os nomes são mais uma regra.

Ele — Eu sou...

Lua — Não me diga seu nome.

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Ele — Eu havia me esquecido disso, que há coisas mais importantes que os nomes. O que é importante hoje foge ao meu conhecimento, isso é poesia? Acho que é loucura.

Lua — Você é complicado.

Ele — Sou um poeta.

Lua — Não estou te acusando.

Homem— “é verdade que sonho, é musica e poesia. Canções de guerras das espadas que não empunhei. Ouço seu som, é o vento, água e folhas. O grito dos órfãos e das viúvas, os corvos e os cães a caçar. A felicidade da guerra, o metal a brilhar no sol, um quadro em vermelho sangue. Todos esperam a noite chegar, para esconder a beleza da vitória e a tristeza da derrota. Obrigado lua pela luz, nas lanças a refletir e brilhar não nos deixando esquecer o pouco que restar. Espólios de vidas, honra e reputação tudo esquecido para que os corvos possam brincar. Lua não fuja do céu, deixe a luz se espalhar para que todos vejam enquanto o vento faça o cheiro espalhar, essa é a miséria humana que todos repetem fingindo ignorar, matando uns aos outros por ouro e terra, ignorância e orgulho enquanto na verdade deveriam se amar.”

Lua — Você escreveu tudo isso?

Ele — Sim, como você entrou aqui?

Lua — Pela luz da janela.

Ele — Eu estou sonhando.

Lua —Não.

Ele — Esses são textos ruins que eu joguei fora, você não vai gostar.

Lua — Como pode saber? Algumas pessoas gostam do calor e outras gostam do frio. Nunca se sabe se não vão gostar do que você escreveu ou não.

Ele — Eu já fui um bom escritor, mas o dom me abandonou e meus textos estão tão sujos e ignorados quanto ao lixo nesse quarto. Não há pessoas que gostem de lixo.

Lua — Há os que vivem dele.

Ele — Eu trabalho nele. Se eu soubesse que você viria aqui hoje eu teria arrumado essa bagunça. Ainda não sei como você entrou.

Lua — É bonita essa bagunça?

Ele — Eu não gosto.

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Lua — Por que deixa bagunçado?

Ele — Ninguém vem me ver, não tem por que eu arrumar.

Lua — Preguiça.

Ele — Não é bem isso, estou com fome quer comer algo?

Lua — Sim.

Ele — O que você quer?

Lua — Algo para comer.

Ele — Vou lavar a louça e fazer o jantar, fique a vontade.

Lua — Precisa de ajuda?

Ele — Não.

Lua — Eu nunca comi ou bebi, nunca senti frio ou calor. Não sei se já amei, não conheço esse sentimento só sinto algo diferente em meu peito. A respiração está diferente, o coração batendo mais rápido, o suor frio do medo de dizer algo errado e essa noite eu não tenho pressa de voltar para o lugar aonde vivo. Acho que esse é o prazer do aprendizado.

Leio alguns dos textos que estão jogados no chão, imagino ele me dizendo aquelas palavras. A única coisa que não quero que diga é que será para sempre. Nunca é para sempre é a única coisa que sei. É a única coisa que aprendi com os homens. Nunca é para sempre.

Homem— Você é real?

Lua — Sou.

Homem— Achei que eu estivesse sonhando.

Lua — Não pareço real?

Homem— Parece sim, mas... Eu nunca pensei que você me amaria.

Lua — O amor engana.

Homem— O amor verdadeiro não engana.

Lua — Por que as pessoas dizem que nunca mais amaram? O amor é algo ruim?

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Homem— O amor é maravilhoso. As vezes sofremos por amar a pessoa errada e por isso que perdemos a fé, depois de tanto sofrer temos que aprender a nos defender.

Lua — Não quero amar.

Homem— O amor é um sentimento único, se você amar uma vez nunca mais vai querer ficar sem.

Lua — O amor machuca e mente.

Homem— O amor vicia, o homem mente por instinto, auto-preservação, medo.

Lua — Você já mentiu para mim?

Homem— Não.

Lua — Então me promete que nunca ira em borá?

Homem— Eu prometo, nosso amor será eterno.

Velha — Você o enganou o tempo todo, até mesmo eu acreditei em você.

Ele — Hoje a noite está escura, acho que ira chover.

Lua — Dizem que quando o céu está nublado e sem chuva é por que a lua fugiu do céu.

Ele — Você acredita?

Lua — Sim.

Ele — Gosto da lua.

Lua — Eu gosto da terra, mas ela fica muito longe.

Ele — A lua é brilhante e inspira amor.

Lua — A Lua é cinza, enquanto a terra tem todas as cores.

Ele — A Lua controla as marés.

Lua — O mar fica na terra.

Ele — Há inúmeras lendas sobre a Lua.

Lua — E muita beleza real sobre a terra, a lua pode ser apenas uma lenda e uma lenda não passa de sonhos criados pela mente dos loucos.

Ele — Ela é real, já pisamos nela.

Lua — É o que dizem, mas ninguém sabe ao certo, os homens sempre mentem.

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Ele — Nem sempre mentem.

Lua — Sobre tocar a lua eles mentem.

Ele — Você fala com tanta certeza...

Lua — Quero dançar. Ballet.

Ele — Você não aparece uma bailarina, mas deve ser maravilhosa dançando.

Lua — Vou te deixar curioso.

Ele — Sonhei com você na noite anterior ao dia em que te conheci.

Lua — E o que você sonhou.

Ele — Vou deixá-la curiosa, até o dia em que você dançara para mim.

Homem—“...Por isso não amo os humanos lua, mas uma mulher única virá me amar. Uma divindade talvez, que não traga guerras, nem desastres e queira apenas felicitar e rir lutando por um quadro de beleza incomum de terras raras, águas e arvores em uma paisagem que já foi coberta pelo reflexo das lanças ensangüentadas no luar.”

Ele — Aquela noite eu olhei para o céu como você pediu e fiquei olhando as nuvens até uma fenda surgir entre elas para que eu pudesse ver a lua.

Lua — Eu estava linda não estava?

Ele — Lua crescente, crescendo como os sentimentos em meu peito.

Lua — Hoje a noite está nublado novamente.

Ele — Não poderemos ver a lua.

Lua — Você acredita em Deuses?

Ele — É difícil saber no que acreditar hoje em dia, está tudo mesclado a mídia.

Lua — Você me disse que os deuses vivem no céu, eu vivo no céu. Se eu for uma deusa talvez seja mais simples explicar tudo isso.

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Ele — Eu gostaria de explicações... Não sobre deuses, mas sobre você.

Lua — Eu ouvi sua poesia, posso ouvir seu coração.

Ele — o que ele te fala?

Lua —Havia uma poesia em seu coração, foi ela que me chamou. Era triste, era bonita, eu ouvi ela me chamando e respondi ao chamado. Quando estava bêbado seu coração cantava uma canção desesperada e alta de quem tenta não ouvir algo, mas ao fundo insistentemente estava a poesia. Hoje eu ouço a confusão...

Ele — Entre a confusão e a razão eu sempre pendi para a confusão. Não me surpreende que meu coração seja assim.

Lua — Eu conheci alguém como você.

Homem— Entre se ficar nessa chuva vai pegar um resfriado.

Não lembro de tê-la visto por aqui antes, é nova por aqui?

tome pode se secar com isso.

Tenho apenas roupas de homem aqui, mas se quiser posso emprestar-te uma,

Meu nome é...

Lua — Obrigada.

Homem— Não agradeça, eu apenas não poderia...

Lua — Você é gentil.

Homem— Eu apenas não poderia deixá-la na chuva. Já está tarde, é incomum uma mulher na rua esse horário.

Lua — Gosto da noite.

Homem— Temos algo em comum... A noite é linda. Você ira na festa de São Fernam na próxima lua?

Lua — Não sei.

Homem— Vários artistas se apresentarão, tenho que escrever um novo poema até lá...

Lua — Você apresentara?

Homem— O rei é um homem frio, tenho medo de minha poesia não agradá-lo, mesmo assim irei.

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Lua — O que é “poesia”?

Homem— Poesia é um texto lindo, rítmico e que geralmente falam de coisas belas. Os grandes heróis do reino ou até mesmo o amor, mas esse me abandonou.

Lua — O amor?

Homem— Sim

Lua — Eu não entendo o que é o amor, é alguém?

Homem— É visto em alguém, mas não é alguém.

Lua — É confuso.

Homem— E o tempo passou assim, toda noite eu a sua espera.

Lua — “Sonha comigo?”

Homem— é um pedido?

Lua — Não, é uma ordem.

Homem— Sonharei acordado ou não, embriagado ou são. Dança comigo e recita meus medos.

Lua — “Eu te amo”

Homem— não tão banal.

Lua — Cada frase inesquecível, cada verso intangível que diz...

Homem— Eu a vejo como criação de mim, o que eu preciso e muito mais do que preciso. As luzes se ofuscam diante de sua beleza, é clichê e é verdade. Quantos amantes se sentam para vê-la e esperam por um brilho e se espantam quando se esconde na noite. Que jamais suma novamente.

Ela — Signos, sinais, semelhanças, sentimentos... Você me ensinou tudo isso.

Homem— Os poetas falavam de ti a milhares de anos e eu a conheço tão bem, é coincidência, destino, verdades... Se nubla diante de indagações e promessas, mas se desnuda em felicidade ao receber cada bem dizer.

Lua — Tão pálido, cinza, vermelho amante, cada cor minha te faz suspirar e criar lendas.

Homem— Quero a ti, mas não sei voar.

Lua — Está bêbado.

Homem— Estou louco.

Lua — Pensei ser verdade, mas mente. Não é poeta.

Homem— Sou amante. Dança comigo?

Lua — Meu Ballet é para sinceridade.

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Homem— Sou sincero.

Lua — Espero não vê-lo mais criador de palavras.

Homem— “Espero não vê-lo mais” Aquelas palavras ecoaram em minha mente com um imenso sino, fiquei parado olhando a Lua da janela e minha inspiração que vinha dela simplesmente desapareceu.

Em menos de uma semana ela voltou.

Lua — O Ballet ontem estava incrível.

Ele — Foi a primeira vez que assisti.

Lua — Você não gosta tanto de musica, eu percebi isso.

Ele — O que mais você percebeu?

Lua — Você é atencioso, carinhoso, adora massas e não gosta de peixe e sua bebida favorita é cerveja.

Ele — Se não tiver cerveja eu bebo qualquer coisa.

Lua — Cerveja é amarga.

Ele — Cerveja é a bebida dos deuses, aposto que no Elísio a cerveja é Open bar.

Lua — Open bar?

Ele — Bar aberto, cerveja liberada o quanto você quiser.

Lua — Que horror, não quero conhecer esse tal de Elísio.

Ele — Eu só quero conhecer se ele for assim.

Lua — Você disse que o Elísio é o céu.

Ele — Sim.

Lua — Você me ensinou tanta coisa.

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Lua — Vamos no castelo hoje?

Homem— Vai você, eu não vou poder ir hoje.

Lua —Por que?

Homem— Estou com dor de cabeça.

Lua — ficarei cuidando de você.

Homem— Vá assistir os dançarinos no castelo.

Lua — Algo me diz para não ir.

Homem— Por favor. Os bardos não esperaram muito antes de começarem a tocar, os poetas a recitar e os dançarinos, bufões.

Lua — Você quer mesmo que eu vá?

Homem— Sim.

Em meio a muitas lembranças ruins, terei inúmeras lembranças boas. Te amei mais do que a terra amou o mar e muito mais que as nuvens amaram ao céu. Fui seu herói e isso para mim já basta, isso é o que preciso para algum dia me lembrar e sorrir.

Lua — Por que está me dizendo isso?

Homem— Lembra do quanto você riu dos bufões naquele primeiro dia no salão?

Lua — Lembro.

Homem— Foi incrível, você ria como se o mundo fosse acabar.

Lua — Como você conseguiu beber tanto?

Homem— É um segredo passado de pai para filho.

Lua — Então não pode me dizer?

Homem— Com esse seu sorriso você quase me convenceu.

Lua — Quando tivermos um filho, ficarei junto dele até descobrir o seu segredo.

Homem— Quer ter um filho comigo?

Lua — Catariana.

Homem— Catarina é feio que tal Laura?

Lua — Será Catarina.

Homem— Está bem, mas se for menino se chamara Renato.

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Velha — E assim nasceram as esperanças.

Eu esperei você, Dois dias...

Ele — Vai ser para sempre.

Lua — Um outro poeta disse isso “Vai ser para sempre”, e pouco tempo depois ele sumiu. Esperei ele sem saber o porquê eu esperava. Busquei respostas e descobri que ele havia morrido, não sabia o que era isso, mas descobri que é quando você para de se mover, as pessoas te colocam em uma caixa e jogam terra em cima dizendo que com isso você vai para o céu. O seu céu é de baixo da terra?

Ele — Não...

Lua — Se não é, então por que colocaram ele de baixo da terra?

Ele — É difícil de explicar... Nós acreditamos que dentro de nós existe um espírito, uma alma. Ao morrer a alma se sapara do corpo e voa até o céu para encontrar com Deus.

Lua — Deus vive no céu?

Ele — Sim

Lua — Como alguém pode viver no céu?

Ele — A lua vive no céu.

Lua — Não, eu vivo na imensidão negra da noite.

Ele — O céu que falam quando alguém morre não é o mesmo céu que você vê. É um céu místico aonde está a entrada para o paraíso, um lugar aonde passaremos a eternidade em paz.

Lua — Paz? Eu não entendo vocês.

Ele — É difícil explicar...

Lua — Não explique.

Lua — Ele pediu para que eu o esperasse na frente do castelo e não mais ir encontrar ele em sua casa. Eu o esperei por uma semana ou mais, toda vez que tinha um espetáculo eu estava lá esperando. Dançarinos, palhaços, bardos, poetas... Eu comecei a gostar do que via, foi por causa dele que eu comecei a dançar. Então o desespero veio e eu sentia a falta dele, por mais que eu tentasse escutar sua voz, não havia nada, não havia mais sua poesia. Eu esperei em vão.

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Velha — Esperava que não viesse mais aqui. Alguns aqui tinham inveja de vocês, inveja de seu amor explicito. Era tudo fachada não era? Estava com ele por que? Para poder se mostrar ao rei? Para isso não seria mais fácil encontrar um herói, um guerreiro?

Lua — Não. Eu o amo.

Velha — Amava? Afinal ele não está mais aqui. Seu amor foi tão grande que não te deixou ir ao velório? Que pena de você. Diga a verdade, você não o amava.

Lua — Velório? Ele está nesse tal de velório? É por isso que ele não vem me ver? Quando ele volta?

Velha — Sua falsa inocência me convenceu uma vez, não ira me convencer novamente.

Lua — O que é um velório?Diga. O que é?

Velha — Eu esperei você, Dois dias. Por dois dias eu estive sozinha te esperando, acreditando que a mulher que estivera por todos esses anos ao lado dele o amasse. Era interesse não era? Você sabia sobre a ligação dele e a minha, sabia do sangue real que corria em suas veias, você queria se tornar uma nobre, mas ele não queria não é? E você insistiu, o tentou, mas ele odeia os nobres tanto quanto odeia sua própria vida.

Lua — Eu amo ele, sinto sua falta. Me diga aonde é esse velório?

Ele — Te vejo amanhã.

Lua — Não.

Ele — Você não está bem, está calada de mais. Eu não percebo mais sua curiosidade infantil e inocente das semana que se passaram.

Lua — Meu pai.

Ele — Seu pai?

Lua — Ele quer que eu volte eu sinto isso.

Ele — Visite ele e depois venha me ver.

Lua — Não posso.

Ele — Por que?

Lua — Ele não me deixaria voltar.

Ele — Me leve com você.

Lua — Eu não posso.

Ele — Por que?

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Lua — Por que eles o matariam.

Ele — Eu preciso correr esse risco, por você.

Lua — Não, você jamais entenderá o que está acontecendo. Não quero te perder, não quero perder mais um poeta, não quero perder mais um... Não quero.

Ele — Então fica.

Lua — Eu não quero ir, mas eu preciso.

Ele — Isso é um adeus?

Velha — Ele está morto.

Lua — Morto?

Velha — Ele dormiu para sempre e foi levado ao céu. É bonito ver como deus é misericordioso com os amantes.

Lua — Aonde ele está?

Velha — Venha eu te levo até ele.

Lua — Sim. Não quero ver você morrer.

Ele — Nós envelheceremos juntos.

Lua — Eu não envelheço.

Ele — O que eu sinto não envelhecerá, é para sempre.

Lua — Não existe nada eterno nos humanos.

Ele — A fé é eterna.

Lua — A sua fé é mais uma mentira.

Ele — Acredite em mim.

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Lua — Eu não acredito. Não há verdade no que vocês criam, não há amor ou felicidade. Vocês mentem até se convencer que estão certos, esses são vocês.

Ele — Esses somos nós, as mulheres são iguais aos homens e você é uma mulher, então esses somos nós.

Lua — Eu queria ser.

Ele — você é.

Lua — Queria ser igual a você e viver essa mentira enquanto experimento diariamente um novo sabor. Alguns poucos anos são quase eternos para vocês e você é um herói por viver tão bem em uma vida tão curta. Adeus.

Apolo — Diana.

Lua — Esse não é o meu nome.

Apolo — Prefere o nome que os humanos te deram?

Eu vim te buscar.

Lua — Eu quero ficar.

Apolo — O pai mandou eu vir te buscar.

Lua — Eu quero ficar.

Apolo — Você não tem escolha.

Lua — Eu vou ficar.

Ele — Não sei se ela era realmente a lua, mas a amei como se fosse.

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