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DETERMINANTES AMBIENTAIS PARA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES FÍSICAS NOS PARQUES URBANOS DE CURITIBA: UMA ABORDAGEM SÓCIO-ECOLÓGICA DA PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS Por Rodrigo Siqueira Reis Orientador: Prof. Dr. Edio Luiz Petroski _______________________ Dissertação Apresentada ao Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina Como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Mestre em Educação Física Área de Concentração de Atividade Física Relacionada à Saúde Fevereiro de 2001

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DETERMINANTES AMBIENTAIS PARA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES FÍSICAS NOS PARQUES URBANOS DE CURITIBA: UMA ABORDAGEM

SÓCIO-ECOLÓGICA DA PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS

Por

Rodrigo Siqueira Reis

Orientador: Prof. Dr. Edio Luiz Petroski

_______________________

Dissertação Apresentada ao

Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina

Como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Mestre em Educação Física

Área de Concentração de Atividade Física Relacionada à Saúde

Fevereiro de 2001

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DEDICATÓRIA

Para Marisa, mãe querida, a quem

devo os melhores exemplos e

ensinamentos de vida e aos meus

alunos que tem sido a maior

motivação para o estudo...obrigado.

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AGRADECIMENTOS

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná e ao Centro Federal de Educação

Tecnológica do Paraná pelo apoio e suporte necessários para a conclusão do

curso.

Ao Centro de Desportos e ao Programa de Mestrado em Educação Física da

Universidade Federal de Santa Catarina por oferecer condições de extrema

qualidade para a condução do curso.

Ao Prof. Dr. Edio Luiz Petroski pela orientação e principalmente a tranqüilidade e

amizade nos momentos mais necessários.

Aos mestres e amigos Dr. Juarez Vieira do Nascimento e Adair da Silva Lopes e

suas famílias pela acolhida sempre carinhosa e sincera.

Aos professores do programa de mestrado em especial Dr. Markus Nahas, Dra.

Maria de Fátima Duarte e Dr. Sidnei Farias pelos conselhos e ensinamentos.

Aos amigos e companheiros Alexandre Carriconde Marques e Marcelle Martins

por toda paciência, companheirismo e amizade nestes dois anos.

Aos colegas de turma Adriana, Ana, Edna, Edson e Agripino pelos momentos de

discussão acadêmica e companheirismo inesquecíveis.

Aos companheiros do NuCIDH e colegas do NuPAF por todo o apoio acadêmico.

Ao amigo Jairo João Luiz pela imensa generosidade e paciência.

Aos colegas Mario Pires, Mauro Barros, José Cazuza, Wallace, Gelcemar, Cléia,

Ana Pimentel e Loi pelo carinho e amizade.

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RESUMO

Determinantes Ambientais para a Realização de Atividades Físicas nos

Parques Urbanos de Curitiba: Uma Abordagem Sócio-Ecológica da Percepção dos Usuários

Rodrigo Siqueira Reis

Orientador: Edio Luiz Petroski

Os benefícios que uma vida ativa proporciona à saúde e a elevada prevalência de sedentarismo na população têm aumentado o interesse sobre o estudo dos fatores que influenciam a prática regular de atividades físicas. Estudos têm utilizado diferentes abordagens para investigar estes fatores. No entanto, poucos estudos tem sido desenvolvidos a partir de abordagens ecológicas, que investigam a relação sujeito-ambiente. A Cidade de Curitiba é reconhecida como modelo de ecologia e qualidade de vida, em parte pelo grande número de áreas verdes, especialmente parques e praças. Todavia, pouco se sabe sobre a utilização destes locais para a realização de atividades físicas. Este estudo de natureza descritiva, realizado em duas etapas, buscou identificar as formas de utilização e os determinantes ambientais para a prática de atividades físicas no Jardim Botânico de Curitiba-PR. Na primeira etapa, foram entrevistados usuários do Jardim Botânico (n=843), local escolhido por atender a critérios da pesquisa. No segundo momento, foram enviados questionários (n=721). A taxa de retorno foi de 34,95% (n=252). Após a análise inicial de dados, optou-se pela estatística não-paramétrica utilizando-se o programa SPSS, versão 9.0. O nível de significância adotado foi p < 0,05. Os resultados demonstraram que: a) os usuários são predominantemente adultos, residentes próximos ao parque, de ambos os sexos, com elevado nível sócio-econômico e prática de atividades físicas acentuada; b) a proximidade é o principal motivo para freqüentar o parque; c) a caminhada é a atividade mais realizada em todas as faixas etárias; d) a maior parte dos usuários atinge as recomendações para a prática de atividades físicas; e) os fatores tecnológico/arquitetônicos e valores/atitudes e ainda a beleza do local estimulam a prática de atividades físicas; f) os fatores políticos/normativos não exercem influência sobre a prática; g) as condições climáticas inibem a realização de atividades físicas; h) existe diferença na percepção do ambiente entre indivíduos com diferentes níveis de prática de atividade física quando controladas as variáveis sócio-demográficas. Os achados sugerem ainda que o parque é um local valorizado para a prática de atividades física. Finalmente, os resultados demonstram que a utilização de modelos ecológicos para o estudo de comportamentos relacionados à atividade física podem ser utilizados em investigações que buscam compreender influência de características ambientais na adoção de um estilo de vida ativo.

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ABSTRACT

Environment Determinants Related to Physical Activity at Curitiba’s Urban Parks: A Social-Ecological Approach from Users View Point

Rodrigo Siqueira Reis

Advisor: Edio Luiz Petroski

The health benefits of physical actvity and the prevalence of inactivity in population have rising the researchers interest on physical activity determinants. Differents aproachs have been applyed in order to undestand this issue but very few studies have focused subject-environment association or ecological models design. Curitiba is a city worlwide recognized by urban quality of life, because of his green open areas as urban parks and gardens. Unfortunately very little is known about the ocupation of this place for physical activity performance. This investigation, wich is characterized as descriptive, was developed on two phases and intented to identify the utilizations as well the environment determinants of physical activity at Curitiba’s Botanic Garden. First, 843 subjects were interviewed at park wich was selected after some criterias. On second step, 721 questionnairs were mailed. The response rate was 34,95% (n=252). After the inicial analysis non-parametric statistics was choose to analyze the data on 9.0, SPSS programme. The level of confidence adopted was p < 0,05. The results showed that: a) subjects are mainly adults, male and female, wich live near of the park and with high economic status; b) proximity is main motivator to use the park; c) walking is the most conduced activity at all ages; d) the most part of subjects perform physical activity at recommendate levels; e) technological factor and believes are motivators to physical activity; f) political factor are not influent to physical activity; g) weather conditions are negatives to physical activity pratics; h) there are differences between subjects with differents physical activity levels after adjust by demographics and economics variables. The park is recognized by the users as a place with meaningfullness to physical activity habits. Finally, the results show that ecological models can be applyed to physical activity determinats studies in order to understand the environment influence in adoption of active lifstyle.

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ÍNDICE

Página

LISTA DE ANEXOS ............................................................................................... ix LISTA DE FIGURAS .............................................................................................. x LISTA DE QUADROS ........................................................................................... xii LISTA DE SIGLAS ............................................................................................... xiii LISTA DE TABELAS............................................................................................. xiv Capítulos I. O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA ............................................................ 1

Objetivo Geral Objetivos Específicos Questões a Investigar Delimitação do Estudo Definição de Termos

II. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 13

Atividade Física e Promoção de Saúde A Transição Epidemiológica no Século XX Promoção de Saúde: Uma Mudança de Contexto Atividade Física e Saúde: Estudos de Associação Padrões de Atividade Física em Diferentes Populações e Determinantes

Modelos de Estudo do Comportamento Relacionado à Saúde Teorias Aplicadas no Estudo da Atividade Física Modelos Ecológicos

Os Parques Como Espaço de Lazer: Benefícios O Caso de Curitiba

III. METODOLOGIA ........................................................................................... 26

Modelo do Estudo População do Estudo Amostragem Coleta de Dados Instrumentos de Pesquisa Testagem dos Instrumentos Tratamento Estatístico Limitações do Método

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IV. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................. 37

Descrição dos usuários entrevistados na primeira fase da pesquisa Características demográficas Descrição sobre a ocupação do parque Análise de dados na abordagem ecológica

Descrição e percepção dos usuários na segunda fase da pesquisa Características sócio-econômicas Estágios de mudança de comportamento e prática de atividade física Percepção do ambiente para a realização de atividades físicas

O modelo ecológico e a prática de atividades físicas no parque Dimensões múltiplas influenciam o comportamento Interações entre as dimensões Múltiplos níveis de influência do ambiente O ambiente influencia diretamente o comportamento

V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES......................................................... 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 97 ANEXOS ............................................................................................................ 103

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LISTA DE ANEXOS Anexo

Página

1. Mapa de áreas verdes de Curitiba ................................................ 103

2. Mapa de parque e bosques de Curitiba ........................................ 105

3. Entrevista de caracterização dos usuários e da ocupação do parque (primeira fase de pesquisa) .....................................

107

4. Questionário enviado na segunda fase da pesquisa...................... 110

5. Critério de Classificação Econômica Brasil ABA/ANEPE –ABIPEME .............................................................................

113

6. Relatório de desenvolvimento da escala de percepção sobre o ambiente relacionado à atividade física ...............................

117

7. Normas para a aplicação do questionário utilizado na primeira fase de pesquisa ..................................................................

136

8. Tabela de bairros citados nas entrevistas da primeira fase de pesquisa ...............................................................................

138

9. Tabela de correlações entre indicadores do ambiente físico e idade, nível sócio-econômico e grau de instrução ...............

141

10. Tabela de correlações entre indicadores do ambiente físico e idade, nível sócio-econômico e grau de instrução ...............

143

11. Esquema inicial da matriz teórica de análise ............................... 145

12. Carta aos especialista participantes na primeira fase de validação da matriz teórica de análise .................................

147

13. Carta aos especialista participantes na segunda fase de validação da matriz teórica de análise .................................

153

14. Esquema final da matriz teórica de análise ................................... 155

15. Escala de percepção do ambiente relacionado à atividade física nos parques urbanos .................. ........................................

157

16. Esquema da matriz teórica de análise com as questões da escala de percepção do ambiente .......................................

159

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17. Tabela de correlações inter-ítens da dimensão física na validação de constructo .......................................................

161

18. Tabela de correlações inter-ítens da dimensão sócio-cultural na validação de constructo .................................................................

163

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LISTA DE FIGURAS

Figura Página

1. Caracterização da amostra segundo gênero ................................ 38

2. Distribuição etária de homens da população de Curitiba e da amostra ........................................................

40

3. Distribuição etária de mulheres da população de Curitiba e da amostra ..................................................................................

40

4. Distribuição de usuários quanto a local de residência .................. 42

5. Número de ocorrências quanto a tipo de freqüência sozinho ou acompanhado ........................................................................

46

6. Distribuição dos usuários quanto a tipo de atividade..................... 48

7. Distribuição média do número de casos para cada atividade segundo a faixa etária ............................................................

49

8. Distribuição de freqüência dos usuários segundo categoria de atividades realizadas ..............................................................

51

9. Distribuição de freqüência quanto aos dias de freqüência ao parque por categorias de atividade ........................................

53

10. Distribuição de freqüência dos usuários sobre o tempo de ocupação segundo categorias de atividade ..........................

54

11. Distribuição de freqüência dos usuários que realizam atividades ativas segundo categorias de tempo de ocupação do parque e freqüência de utilização .....................................

55

12. Dendograma das variáveis demográficas dos usuários e de ocupação do parque ..............................................................

59

13. Caracterização da amostra na segunda fase segundo gênero ..... 62

14. Distribuição de renda em salários mínimos dos chefes de família de Curitiba e da amostra ........................................................

64

15. Caracterização da amostra na segunda fase segundo o grau de instrução .................................................................................

65

16. Distribuição de freqüência da amostra Curitiba e Brasil segundo anos de estudo .......................................................................

66

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17. Distribuição de freqüências cada estágio de mudança de comportamento ......................................................................

67

18. Distribuição de freqüências de ativos e inativos segundo classificação do EMC .............................................................

68

19. Classificação (mediana) dos indicadores da dimensão física .......

79

20. Classificação (mediana) dos indicadores da dimensão sócio-cultural ....................................................................................

79

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LISTA DE QUADROS

Quadro Página

1. Anos de vida ajustado pela descapacidade em países de alta, média e baixa renda, atribuídos a doenças não comunicáveis ...............................................

15

2. Indicadores e fatores da dimensão física do ambiente relacionado à prática de atividades física nos parques .......

71

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LISTA DE TABELAS

Tabela Página

1. Distribuição conjunta de freqüências por faixa etária, segundo gênero .....................................................................

39

2. Distribuição de freqüências segundo o motivo de utilização ......... 43

3. Distribuição conjunta de freqüências para motivo de ocupação segundo região de residência ................................................

44

4. Associação entre motivo de utilização e região de moradia ......... 45

5. Distribuição conjunta de freqüências segundo tipo freqüência – sozinho/acompanhado ...........................................................

47

6. Distribuição conjunta de freqüências segundo tipo de atividade ...

48

7. Correlação entre idade, tempo de ocupação e freqüência semanal ..................................................................................

57

8. Associação entre variáveis dos agrupamentos 1, 2 e 3 ................ 60

9. Distribuição de freqüências segundo o classe econômica ............ 63

10. Correlação entre idade, NSE, grau de instrução e EMC ............... 69

11. Distribuição de freqüências dos indicadores da dimensão física segundo categorias na escala de percepção .........................

72

12. Distribuição de freqüências dos indicadores da dimensão sócio-cultural segundo categorias de escala de percepção ............

73

13. Distribuição de freqüências dos indicadores segundo pólos da escala de percepção e classificação das correlações com variáveis sócio-demográficas .................................................

75

14. Comparação da classificação (mediana) de indivíduos ativos e inativos segundo variáveis de controle (idade, NSE, grau de instrução) e indicadores da dimensão física ..........................

81

15. Comparação da classificação (mediana) de indivíduo ativos e inativos segundo variáveis de controle (idade, NSE, grau de instrução) e indicadores da dimensão sócio-cultural .............

82

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CAPÍTULO I

O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA

A atividade física tem sido considerada importante componente de um

estilo de vida saudável, devido particularmente a sua associação com diversos

benefícios para a saúde física e mental (Pate et al., 1995). No entanto, os níveis

de atividade física em diferentes países continuam baixos. Aproximadamente 1/3

das populações do Canadá, Austrália, Estados Unidos e Inglaterra são

consideradas moderadamente ativas, enquanto entre 1/4 a 1/3 dessas

populações são consideradas sedentárias (Canadian Fitness and Lifestyle

Institute, 1998).

No Brasil, levantamentos estimam que de 60 a 65% da população é

fisicamente inativa (Data Folha, 1997; IBGE,1998). Além disso, estudos

realizados por Miranda (1999) e Martins (2000) em grupos populacionais no sul

do Brasil também demonstram uma prevalência de inatividade elevada.

Miranda (1999), num estudo com mulheres de diferentes origens étnicas do

Estado de Santa Catarina, encontrou valores em torno de 40% de sedentarismo.

Em um outro estudo, com Professores da Universidade Federal de Santa

Catarina, Martins (2000) encontrou uma prevalência de 10% sedentários e 49%

de pouco ativos.

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Essas evidências reforçam a necessidade de se investigar os diferentes

fatores associados à realização de atividade física na população, e em especial

na população Brasileira, que possui poucos estudos desta natureza

desenvolvidos.

A atividade física apresenta diferentes formas ou manifestações, o que tem

representado uma barreira para os pesquisadores da área. Na verdade, a

atividade física apresenta-se como um fenômeno complexo em que uma gama

diferente de comportamentos podem teoricamente ser classificados (Sallis &

Owen, 1999). Diferentes dimensões como a freqüência, a intensidade, a duração

e, ainda, o tipo de atividade podem ser consideradas. Sendo assim, é possível

encontrar desde o exercício, a forma estruturada e com propósito definido de

atividade física, até aquelas atividades realizadas no cotidiano ou atividades da

vida diária.

A compreensão da atividade física, como um aspecto do comportamento

humano que tem um significado especial para a saúde, tem sido uma

preocupação em diversas pesquisas, como salientam Sallis e Owen (1999),

Compreender a atividade física é uma tarefa tão desafiadora, quanto como qualquer outro aspecto do comportamento humano. Devido aos graves efeitos de um estilo de vida inativo para a saúde pública, é válido despender recursos intelectuais e monetários para compreender as forças que afetam o comportamento de saúde (p.110)

A investigação dos fatores que influenciam e determinam a realização de

atividades físicas tem sido uma preocupação dos pesquisadores, na medida que

a compreensão desses fatores podem fornecer informações que levem a uma

intervenção mais efetiva. Neste sentido, diversos modelos teóricos têm sido

formulados na tentativa de compreender e investigar as variáveis mais influentes

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para a atividade física. Estas variáveis, que podem ser classificadas como

psicológicas, sociais ou ambientais, são apresentadas com maior ou menor

ênfase em determinados modelos. Esta ênfase pode explicar algumas das

diferenças encontradas nos estudos que aplicam este ou aquele modelo (Sallis &

Owen, 1999).

Dishman (1994) relata que alguns modelos teóricos têm sido relevantes para

compreender as influências psicológicas da atividade física, e entre diversos

modelos, alguns relativamente novos têm sido estudados nos últimos anos, como

o auto-esquema, a teoria social cognitiva e o transteorético ou estágios de

mudança de comportamento. Entre as diversas abordagens destacam-se aquelas

que enfatizam: a) os resultados percebidos do comportamento; b) a influência da

percepção de controle sobre o comportamento; c) o papel da influência social.

Embora esses modelos teóricos caracterizem-se por considerar a influência de

características intrapessoais, tais como a auto-eficácia, e as características

interpessoais, como a influência de amigos e da família, a maior parte dessas

abordagens não destacam a influência do ambiente sobre o comportamento de

saúde (U.S. Department of Health and Human Service, 1996).

Hultsman (1999) apresenta 4 fatores associados ao envolvimento com a

atividade física: a) os demográficos; b) os individuais; c) os interpessoais e d) os

ambientais. Enquanto a educação e a informação têm tido apenas um impacto

limitado, as intervenções sobre as variáveis ambientais que afetam a prática de

atividade física, têm sido particularmente bem sucedidas (Sallis & Owen, 1999).

A influência do ambiente sobre o comportamento tem sido estudada a partir

de modelos ecológicos, que procuram entender tanto como o ambiente afeta o

comportamento como quanto o ambiente é afetado pelo comportamento. Na

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promoção da saúde, a abordagem sócio-ecológica de Stokols (1992), foi proposta

na tentativa de aprimorar a eficiência de programas que tem este objetivo.

Algumas premissas são reconhecidas na aplicação de uma abordagem

sócio-ecológica para a promoção de saúde (Sallis & Owen, 1997).

Inicialmente, considera-se que a saúde é influenciada por múltiplas facetas

físicas e sociais do ambiente, mas o papel dos atributos pessoais também é

reconhecido como influente no comportamento de saúde.

Outra premissa reconhece a complexidade dos ambientes, onde os

esforços para compreender os efeitos do ambiente sobre a saúde devem

considerar as suas múltiplas dimensões. Neste sentido, o ambiente pode ser

descrito como social ou físico, o existente e o percebido, ou ainda como um

atributo discreto ou um constructo.

A possibilidade dos participantes dos ambientes serem descritos em vários

níveis de agregação constitui a terceira premissa. Ela estabelece que a

compreensão do comportamento no ambiente pode ser melhorada ao serem

estudados os diferentes níveis de agregação a partir da aplicação de

metodologias.

A quarta premissa entende que há múltiplos níveis de resposta através dos

diferentes níveis de ambientes e agregados de pessoas. As transações pessoas-

ambiente ocorrem em ciclos, nas quais as influências ocorrem nos dois sentidos.

Uma característica encontrada nos modelos ecológicos, que os diferem de

outros modelos é a identificação dos fatores físicos, sociais e culturais do

ambiente. Estes fatores, em conjunto com fatores intrapessoais, influenciam o

comportamento de saúde. Os modelos ecológicos também têm sido propostos

como uma abordagem mais abrangente e uma possibilidade para o estudo da

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atividade física como comportamento de saúde (Sallis & Owen, 1999; U.S.

Department of Health and Human Services, 1999). Enquanto diversas

características intrapessoais e interpessoais têm sido relacionadas com a

atividade física em adultos e crianças (Dishman, 1994; Sallis & Owen, 1997; U.S.

Departament of Health and Human Services, 1996), as características do

ambiente físico relatadas como influentes no comportamento da atividade física

(Dishman, 1994), têm sido um dos fatores determinantes do comportamento

menos estudados (Sallis & Owen, 1997).

Sallis et al. (1990) procurou investigar a relação entre a existência de

instalações para realização de exercícios e distância do lar com a freqüência de

realização de exercícios.

Em um outro estudo Sallis et al. (1997) apresentou uma tentativa de

construção de um instrumento que mensurasse o ambiente percebido e a

realização de exercícios de força, caminhada e aeróbios intensos.

Apesar dessas aplicações, ainda pouco se sabe sobre o efeito que a

arquitetura da cidade, o desenvolvimento urbano, o sistema de transporte e outras

características da cidade têm sobre a prática de atividade física.

A justificativa da utilização de modelos ecológicos para o estudo de

comportamentos relacionados à saúde também é reforçada pela premissa de que

o comportamento acontece em diferentes cenários ou locais, com características

distintas, características estas que podem afetar cada comportamento de maneira

diferente (Sallis & Owen, 1997). Na abordagem ecológica, a atividade física

poderia então ser investigada dentro do contexto em que esta ocorre,

possibilitando a análise dos fatores que influenciam a sua prática.

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Os parques urbanos surgiram no final do século XIX como conseqüência

das modificações sociais e econômicas advindas da industrialização, onde houve

pela primeira vez uma clara distinção entre trabalho e lazer (Edginton et al.,1995).

Na metade do século XX viu-se o desenvolvimento da era da tecnologia ou da

informação, impulsionada especialmente pelo surgimento do computador e pela

mudança na força de trabalho. Cada vez mais se observa uma sociedade em que

os indivíduos trabalham mais com informação e menos com produção de bens.

Os programas de lazer, tradicionalmente desenvolvidos e fundamentados na

revolução industrial, deveriam atender às necessidades e características

provenientes das mudanças ocorridas nos últimos anos (Edginton et al., 1995).

Os parques urbanos têm sido valorizados como um espaço que tem um

significado especial para a comunidade. Diversos benefícios têm sido associados

à presença de parques, como a diminuição da criminalidade, a redução dos

custos de saúde, o aumento da produtividade, o controle da poluição entre outros

(Activeliving, 1997).

Na cidade de Curitiba, o aumento de espaços urbanos tem se destacado,

enquanto que na Cidade de São Paulo tem ocorrido uma diminuição de áreas

verdes públicas, decorrente da urbanização acentuada, do crescimento

demográfico, da especulação imobiliária e do não cumprimento de legislação

específica. Curitiba apresenta situação inversa, os espaços urbanos aumentaram

em torno de 50 vezes nos últimos 25 anos, comparando-se com o aumento

populacional de 2,4 vezes. Proporcionalmente, houve aumento de 22 vezes na

relação m2 por habitante (Oliveira, 1996). Todavia, o desenvolvimento dos

parques urbanos tem atendido causas variadas, especialmente aquelas ligadas

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às necessidades ambientais e ecológicas, mas também como uma alternativa de

transporte e de lazer (Oliveira, 1996; Menezes, 1996).

Apesar da valorização dos parques sobre diferentes aspectos da

comunidade, sua criação e desenvolvimento parece estar mais ligada a questões

como educação ambiental e preservação do meio ambiente do que propriamente,

para atender às expectativas das pessoas que os utilizam. Cada vez mais as

pessoas têm procurado os “shopping centers” e os clubes esportivos como

espaço de lazer e recreação, deixando os parques de lado. Entretanto, há a

necessidade de se combinar as atrações físicas dos parques com as atividades

que atraiam as pessoas, valorizando o espaço do parque na comunidade (Urban

Parks Institute, 1999). Além disso, considerando a atenção que o sedentarismo

tem despertado, e o impacto que a prevalência elevada da inatividade física tem

causado na saúde, a oferta de espaços e de oportunidades para a ocupação ativa

de parques pode servir como uma ferramenta para o aumento da população

fisicamente ativa.

A despeito do aumento de áreas verdes e de lazer na Cidade de Curitiba,

ainda muito pouco se conhece a respeito dos seus usuários. Da mesma forma,

pouco se sabe sobre a forma de utilização e sobre os fatores que podem facilitar

ou impedir a utilização dos parques de maneira ativa. Neste sentido, compreender

os fatores que possam intervir na ocupação fisicamente ativa de parques urbanos

enquanto espaço de lazer, passa a ser uma questão de importante investigação,

especialmente ao se considerar que poucas investigações desta natureza têm

sido desenvolvidas.

Esta investigação foi realizada no sentido de fornecer uma valiosa

contribuição para as políticas públicas no atendimento das necessidades da

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comunidade, e na implantação e desenvolvimento dos parques enquanto

ambientes para a prática de atividade física. Como relata Menezes (1999) cabe

aos governantes locais uma política que coloque em prática um conjunto de

medidas, que estimulem uma mudança de percepção de valores em relação ao

meio ambiente urbano, levando os diversos agentes que atuam na cidade a se

tornarem co-responsáveis pela melhoria da qualidade de vida da cidade.

O presente estudo também foi realizado para fornecer um instrumento de

avaliação sobre o ambiente existente, e desta maneira, contribuir para a

investigação na área de estudos de comportamento relacionado à atividade física.

A aplicação de modelos ecológicos específicos é necessária para guiar a

pesquisa e intervenção para cada comportamento de saúde (Sallis & Owen,

1996). Nesta perspectiva, a abordagem ecológica para prática de atividades

físicas em parques, adotada nesta investigação, apresenta-se como uma tentativa

de atender a necessidade de desenvolvimento de modelos específicos de estudo.

Objetivo Geral

Identificar as formas de utilização e os determinantes ambientais para a prática da

atividade física dos usuários no parque Jardim Botânico de Curitiba-PR.

Objetivos Específicos 1. Identificar as características sócio-demográficas dos usuários do parque.

2. Caracterizar a ocupação do parque segundo as atividades realizadas e os

motivos para utilização.

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3. Identificar as características ambientais físicas e sociais existentes no parque

que podem influenciar a prática de atividades física.

4. Identificar a percepção dos usuários sobre o ambiente existente no parque em

relação a realização de atividades físicas.

5. Analisar a percepção dos usuários sobre o ambiente físico e social existente

no parque considerando: a) nível de prática de atividade física; b)

características sócio-demográficas; e c) estágios de mudança de

comportamento relacionado à atividade física.

Questões Investigadas

1. Quais as características demográficas das pessoas que freqüentam o parque?

2. Quais os motivos que levam as pessoas a freqüentarem o parque?

3. Quais as atividades mais realizadas pelas pessoas que freqüentam o parque?

4. Quais as características ambientais físicas existentes no parque que podem

facilitar ou impedir a realização de atividades físicas?

5. Quais as características ambientais sociais existentes no parque que podem

facilitar ou impedir a realização de atividades físicas?

6. Como os usuários percebem as características ambientais físicas existentes

no parque que podem facilitar ou impedir a realização de atividades físicas?

7. Como os usuários percebem as características ambientais sociais existentes

no parque que podem facilitar ou impedir a realização de atividades físicas?

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8. Há correlação entre as características intrapessoais levantadas e a percepção

do ambiente para a realização de atividades físicas?

9. Há diferenças na percepção do ambiente entre usuários com níveis de prática

de atividade física diferentes?

Delimitação do Estudo

A pesquisa foi conduzida com moradores de Curitiba que usualmente

freqüentam parques públicos. Desta maneira, os resultados deste estudo não

podem ser generalizados para populações residentes em outros municípios e que

não sejam usuários de parques públicos.

O Município de Curitiba conta atualmente com 14 parques, o que dificulta a

realização de estudo em todos esses locais. As dificuldades encontradas

conduziram à seleção de um único parque, no qual a investigação será

desenvolvida. Entre os parques existentes, foram observados os critérios que

seguem:

1) existência de equipamentos de lazer;

2) existência de equipamentos para a realização de exercícios;

3) controle das vias de acesso de entrada e saída dos usuários;

4) valorização e representatividade para a comunidade da Cidade.

Entre os parques existentes, o Jardim Botânico Municipal, o Parque São

Lourenço e o Passeio Público atendem aos três critérios iniciais. Na escolha final,

optou-se pelo Jardim Botânico Municipal, por este melhor atender ao quarto

critério, o de representatividade para a comunidade local, uma vez que este tem

sido freqüentemente associado como um dos símbolos da Cidade de Curitiba.

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Portanto, as conclusões encontradas não são aplicáveis em parques com

características diferentes.

A pesquisa foi desenvolvida durante a primavera, portanto diferenças sazonais

não foram consideradas. Desta maneira, não é possível a generalização dos

resultados para outras épocas do ano.

Participaram do estudo, usuários do Jardim Botânico. Os usuários de outros

parques podem apresentar características diferentes, o que dificulta a

generalização do estudo. No entanto, deve-se ressaltar que estudos que utilizam

este tipo de abordagem (ecológica) procuram desenvolver modelos específicos

para cada cenário em que ocorre o comportamento em questão (atividade física).

Definição de Termos Atividade Física: qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos

esqueléticos, que resulta em gasto energético maior do que os níveis de repouso

(Carspensen et al, 1985).

Exercício Físico: movimento corporal repetitivo, estruturado e planejado que

resulta em uma melhora ou manutenção de um ou mais componentes da aptidão

física (Caspersen et al, 1985).

Determinantes: atitudes, conhecimentos, comportamento e habilidades sociais

associadas com a adoção e manutenção de exercício regular (Dishman, 1994).

Parques Urbanos: parques localizados dentro do perímetro urbano.

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Ecologia: termo derivado da ciência biológica que refere-se às inter-relações

entre organismos e seus ambientes (Stokols, 1992).

Perspectiva Ecológica: uma abordagem utilizada pela sociologia, psicologia,

economia e saúde pública, que tem o foco sobre a natureza das transações das

pessoas com seu arredores socio-culturais e físicos (Sallis & Owen, 1996).

Ambiente: embora seja possível conceber o ambiente psicológico existente

dentro do indivíduo, nos modelos ecológicos de comportamento o ambiente

significa o espaço que se encontra fora da pessoa (Sallis & Owen, 1996).

Cenário de Comportamento (Behavior Setting): situações sociais e físicas em

que os comportamentos ocorrem (Barker, 1968).s

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CAPÍTULO II

REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura concentrou-se no desenvolvimento de três temas

principais, a saber:

1) Atividade Física e Promoção de Saúde;

2) Modelos de Estudo de Comportamento Relacionados à Saúde;

3) A Questão dos Parques Urbanos em Curitiba

A estrutura adotada nos capítulos procura atender a organização da

formulação do problema de pesquisa, assim como dos objetivos e questões do

estudo, levando a melhor fluência na leitura de todo o trabalho.

O desenvolvimento da revisão possui como eixo central a importância da

promoção de um estilo de vida ativo, utilizando os Parques Urbanos de Curitiba

como ferramenta nesta estratégia. Além disso apresenta as teorias e modelos de

estudo de comportamento, destacando os modelos ecológicos, como uma

possibilidade de investigação e promoção de atividade física à partir das

interações sujeito-ambiente.

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Atividade Física e Promoção de Saúde

A Transição Epidemiológica no Século XX

As grandes mudanças ocorridas ao longo deste século, têm alterado de

maneira drástica a relação do homem com o meio em que vive. Apesar de

avanços tecnológicos que têm trazido maior conforto para a população, e do

desenvolvimento marcante no campo da medicina e telecomunicações, também

tem-se convivido com diversos problemas provenientes das mudanças ocorridas.

O século XX tem sido marcado por avanços na tecnologia de saúde e pelas

mudanças nas causas de mortalidade.

O aumento da renda das populações, a diminuição da taxa de natalidade,

juntamente com um avanço da tecnologia na área de saúde teve um efeito na

taxa de mortalidade, elevando a expectativa de vida da população. Por exemplo,

a Inglaterra e o País de Gales, apresentavam uma expectativa de vida em torno

de 40 anos no século XIX, e já no início do século XX era em torno dos 50 anos,

atingindo 77 anos, aproximadamente, em 1998. O mesmo fenômeno foi

observado em outros países (World Health Organization, 1999). A conseqüência

desta alteração é uma mudança demográfica, com o aumento da idade nas

populações.

Estas mudanças levaram a uma transição epidemiológica, com alteração

das maiores causas de morte e incapacidade de doenças contagiosas para

doenças não-comunicáveis (World Health Organization, 1999). A incidência

destas doenças tem comprometido a qualidade de vida de populações como

demonstra o quadro 1.

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Quadro 1

Anos de Vida Ajustado pela Descapacidade em Países de Alta, Média e

Baixa Renda, atribuídos a doenças não comunicáveis.

Renda baixa e média Renda alta

Condições Neuro-Psiquiátricas 10 % 23%

Doenças Cardiovasculares 10% 18%

Neoplasmas Malignos 5% 15%

Fonte: World Health Organization (1999)

As causas de morte estão cada vez mais associadas a fatores

comportamentais, como o uso de tabaco, os padrões de atividade física e de

dieta, o consumo de álcool, o comportamento sexual, além de lesões evitáveis

(McGinnis & Foege, 1993). Além disto, o ressurgimento de doenças infecciosas

como tuberculose, e o desenvolvimento da AIDS também são amplamente

afetados pelo comportamento humano (Glanz et al., 1997). Esta transição

epidemiológica levou os profissionais da área da saúde a mudarem a abordagem

sobre o processo saúde-doença, com uma maior valorização na promoção de

saúde

Promoção de Saúde: Uma Mudança de Contexto

Durante este século a abordagem sobre a prevenção de doenças têm

sofrido grandes mudanças. O foco na redução da exposição ambiental sobre a

qual o indivíduo tinha pouco controle pessoal, como o fornecimento de água

potável, tem sido direcionado sobre a ênfase em comportamentos, tais como

evitar o estilo de vida sedentário (Breslow, 1999). Para Glanz et al. (1997), o

interesse na prevenção de doenças e incapacidades associadas ao estilo de vida

tem aumentado não apenas pela transição epidemiológica, mas também, devido

aos elevados custos de saúde e aos dados que relacionam comportamentos

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individuais ao aumento do risco de morbidade e mortalidade. Desta mudança de

foco emergiu um novo conceito, a promoção de saúde.

A promoção de saúde pode ser entendida como uma combinação de educação para saúde e apoio organizacional, econômico e ambiental relacionados, para a condução do comportamento de um indivíduo, grupo ou comunidade para a saúde (Green & Kreuter, 1991)

Como conseqüência deste interesse, programas governamentais têm sido

implementados no sentido de promover a saúde e monitorar os padrões de

comportamentos populacionais. Um exemplo é o programa “Healthy People

2000”, nos Estados Unidos, que identifica 22 áreas prioritárias de ação dentro de

três grandes objetivos: a) aumentar o alcance de uma vida saudável; b) diminuir

as disparidades de saúde entre diferentes grupos populacionais; e c) fornecer o

acesso universal aos serviços preventivos (Winnet, 1995).

Atividade Física e Saúde: Estudos de Associação

A atividade física e as manifestações nela compreendidas, como o

exercício e o esporte, têm sido relacionados com uma vida saudável ao longo da

história humana. Na pré-história, ancestrais incorporavam a atividade física no

seu dia a dia, em atividades religiosas, sociais e culturais. Nos povos da China,

Índia, Grécia e África, a atividade física e os exercícios eram considerados

componentes importantes de uma vida mais saudável (U.S. Department of Health

and Human Services, 1996)

Nas últimas décadas, estudos que buscam associar a atividade física com

longevidade (Paffenbaerger et al., 1986) ou a aptidão física com a longevidade

(Blair et al., 1989) têm demonstrado uma associação positiva. Estudos também

têm demonstrado uma associação entre a atividade física com a doença

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cardiovascular (U.S. Department of Health and Human Service, 1996), câncer de

cólon (Powell & Blair, 1994), osteoporose (Drinkwater, 1994) e diabetes (Powell &

Blair, 1994). Cada vez mais os estudos epidemiológicos têm demonstrado que

indivíduos ativos, quando comparados com sedentários, tendem a desenvolver e

manter altos níveis de aptidão física, além de demonstrar um efeito protetor sobre

diversas doenças crônico-degenerativas (Pate et al., 1995; Department of Health

and Human Service, 1996; U.S. Sallis & Owen, 1999)

Padrões de Atividade Física na População e seus Fatores Determinantes

Apesar dos benefícios para a saúde e qualidade de vida associados a uma

vida mais ativa, o número de pessoas que são ativas na população continua

baixo. Estudos realizados em diferentes países confirmam esta afirmação. Nos

Estados Unidos apenas 22% dos adultos atingem níveis de atividade física

recomendados (Pate et al., 1995). Em outros países, a prevalência de baixos

níveis de atividade física apresenta-se igualmente elevada, 26,5% na Austrália,

43% no Canadá e 16% na Finlândia (Dishman, 1994). Levantamentos recentes

efetivados nestes países indicam que apenas 10% dos adultos engajam-se em

atividades genuinamente vigorosas, ao menos 3 vezes na semana durante 20min

a cada vez (Stephens & Caspersen, 1994).

No Brasil, estudos têm demonstrado uma elevada prevalência de

inatividade. Barros (1999) num estudo com industriários do Estado de Santa

Catarina, encontrou 60% de inativos. Valores similares, 59% e 40% foram

encontrados, respectivamente, em estudos com professores universitários

(Martins, 2000) e mulheres de diferentes etnias (Miranda, 1999) também em

Santa Catarina. Apesar da participação em atividade física regular ter

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gradualmente aumentado ao longo dos anos das décadas de 1960 e 1970,

aparentemente um platô estabeleceu-se nos últimos anos (Pate et al., 1995).

Alguns fatores têm sido associados à adoção de um estilo de vida ativo.

Estes fatores, ou determinantes da atividade física, são compreendidos por

características intrapessoais, interpessoais e ambientais (Sallis & Owen, 1999).

A educação, a renda, o gênero masculino e a idade apresentam uma

consistente correlação com hábitos de atividade física (Dishman, 1994). A

prevalência do exercício parece decrescer com a idade, a atividade física de lazer

é mais comum entre grupos com maior nível educacional (Stephens & Caspersen,

1994).

A influência social, apesar de pouco estudada, também é relatada como

um fator de influência sobre a atividade física. O apoio da família e dos amigos

têm sido consistentemente relacionada à atividade física (Dishman, 1994).

Os fatores ambientais também são considerados como determinantes para

a atividade física (Sallis & Owen, 1999), embora poucos estudos tenham sido

realizados buscando investigar esta associação. Apesar de uma única variável

não explicar os padrões de atividade física, a compreensão de cada variável pode

ajudar na investigação dos determinantes.

Modelos de Estudo do Comportamento Relacionado a Saúde

O comportamento é a preocupação central da promoção de saúde e é

incluído ou sugerido nas definições de promoção e educação para a saúde. Glanz

et al. (1997) destacam que o comportamento de saúde refere-se, num sentido

amplo, a:

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ações de indivíduos, grupos e organizações, e as conseqüências e determinantes destas ações, incluindo mudança social, implementação e desenvolvimento de políticas, melhora de habilidades de compreensão e aumento da qualidade de vida (p 9).

Kasl e Cobb (apud Glanz et al., 1997) definem três categorias de

comportamento de saúde: a) comportamento preventivo de saúde, aquela

atividade que o indivíduo realiza por acreditar saudável com o propósito de

prevenir a doença; b) comportamento de doença, a atividade que o indivíduo

realiza ao perceber-se potencialmente doente; e c) comportamento do

adoecimento, a atividade que o indivíduo realiza quando se considera doente,

com o propósito de se restabelecer.

Teoria e modelos têm sido desenvolvidos para a investigação e aplicação

do conhecimento na promoção da saúde. As teorias que foram aplicadas com

maior freqüência, segundo Glanz et al. (1997), foram a Teoria de Aprendizagem

Social, a Teoria da Ação Planejada e o Modelo de Crença na Saúde. No entanto,

desde o início da década de 1990, outros modelos têm sido empregados e

divulgados, como o Modelo Transteorético e os Modelos Ecológicos.

Teorias Aplicadas na Atividade Física

A baixa prevalência de atividade física regular na população e o potencial

efeito para a saúde que o estilo de vida ativo apresenta, têm aumentado o

interesse na aplicação de modelos teóricos no estudo da atividade física como um

comportamento saudável.

A teoria mais antiga é o modelo de crença na saúde. Este modelo postula

que a adoção de um comportamento adequado para o controle ou prevenção de

uma doença, depende da percepção individual de saúde e na convicção que

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determinado tratamento será eficiente (Godin, 1994). A teoria do comportamento

planejado também é uma teoria quase exclusivamente orientada na psicologia

(Sallis & Owen, 1999), com a diferença de que a opinião que outras pessoas têm

sobre a saúde do indivíduo também pode determinar o seu comportamento.

O modelo proposto por Bandura (1986), a teoria da aprendizagem

cognitiva-social, destaca a influência que a interação entre o ambiente

intrapessoal, social e físico tem sobre o comportamento (Sallis & Owen, 1999).

Nesta abordagem, a auto-eficácia é considerada um mecanismo comum que

media todas as mudanças de comportamento (Godin, 1994).

Recentemente, o modelo transteorético ou estágios de mudança,

desenvolvido inicialmente para o estudo com fumantes, tem sido utilizado com

mais destaque no estudo da adoção do estilo de vida ativo. O modelo

transteorético propõe que o processo de mudança aconteça em estágios, com o

indivíduo atingindo determinado estágio ou recaindo para estágios anteriores

(Prochaska & Marcus, 1994). Os estágios propostos são: a) pré-contemplação; b)

contemplação; c) preparação; d) ação; e e) manutenção.

Modelos Ecológicos

Apesar de psicólogos estudarem os efeitos do ambiente sobre o

comportamento desde o início deste século, foi somente a partir da década de 60

que os modelos ecológicos de estudo do comportamento tiveram um maior

desenvolvimento (Stokols, 1995). Embora possa ser considerado o ambiente

psicológico existente dentro dos indivíduo, nos modelos ecológicos de

comportamento, o ambiente é tipicamente pelo espaço fora do indivíduo (Sallis &

Owen, 1997).

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Numa perspectiva ecológica, a promoção de saúde, aqui representada por

um estilo de vida fisicamente ativo, é vista não apenas pelos comportamentos

específicos de saúde. A abordagem sócio-ecológica requer uma compreensão da

interação do indivíduo e dos grupos com os recursos disponíveis no ambiente, e

com o estilo de vida dos indivíduos que ocupam o mesmo (Stokols, 1992).

Stokols (1992) desafiou pesquisadores a aprimorar os serviços de

promoção de saúde, numa abordagem sócio-ecológica, com quatro premissas

básicas: a) a saúde é influenciada por múltiplas facetas do ambiente físico e

social, mas os atributos do indivíduo desempenham um importante papel neste

processo; b) os ambientes são complexos e podem ser descritos em vários níveis

de análise, como o existente e o percebido; c) os participantes do ambiente

também podem ser descritos em vários níveis de agregação; e c) existem

diferentes níveis de resposta na interação entre os diversos ambientes e

agregações.

A contribuição dos modelos ecológicos para o estudo do comportamento

relacionado a atividade física está na valorização do impacto que a interação

pessoa-ambiente tem sobre a adoção do estilo de vida ativo. Apesar disto poucos

estudos têm sido realizados nesta abordagem. Sallis et al. (1997) relacionaram

algumas variáveis ambientais, como a existência de equipamentos e espaços

para atividade física no lar e nas proximidades com a realização de exercícios.

Sallis e Owen (1997,1999) destacam que outros fatores ambientais, como a

arquitetura das construções e das cidades, e o transporte público, podem afetar a

atividade física. No entanto, mais estudos investigando o impacto de outras

variáveis ambientais, utilizando metodologias adequadas, precisam ser realizados

(Sallis & Owen, 1997).

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Os Parques Como Espaço de Lazer: Benefícios

O termo lazer tem origem no Latim, com a palavra licere, ou ser livre. Os

gregos utilizavam os termos scol ou scole para definir lazer. Estes usos

resultaram na palavra latina, scola, ou escola, que segundo Dare, Welton e Coe

(apud Edginton et al.,1995) pode ser entendido como o estado ou condição de

estar livre do trabalho. Para Dumazedier (1976) o lazer pode ser entendido como:

Conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações, familiares e sociais (p 34).

Desta maneira, o lazer sempre esteve ligado a uma concepção de tempo, o

do trabalho e o de descanso; a relação destes tempos têm uma evolução

histórica.

Para Edginton et al. (1995), quatro eras distintas podem ser identificadas:

a) sociedade pré-literária; b) era da agricultura; c) era industrial; e c) era da

informação. Sem dúvida as maiores modificações ocorreram a partir da era

industrial, com o surgimento de novas necessidades econômicas, políticas e

sociais, necessidades estas reguladas pelo tempo do trabalho.

Como resultado destas necessidades, os primeiros parques foram criados

como uma maneira de oferecer lazer para os trabalhadores e desta maneira

aumentar a sua produtividade (Edginton et al., 1995). Ao longo do tempo,

parques urbanos e de preservação têm sido criados e o seu desenvolvimento,

nos últimos anos, está ligado a questões de preservação ambiental. Para Rogers

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(1999), um sistema de parques bem planejado e de outros espaços verdes é

importante para a habitabilidade nas cidades.

Diversos benefícios para a sociedade têm sido associados a existência de

parques como: a) melhora no status de saúde; b) desenvolvimento humano; c)

qualidade de vida; d) redução do comportamento anti-social; e) construção de

comunidades saudáveis; f) redução em custos de cuidados de saúde, serviços

sociais e de segurança pública; g) geração de recursos econômicos na

comunidade; e h) sobrevivência ecológica (Benefits of Parks and Recreation

Catalogue, 1997).

Para a “The Academy of Leisure Sciences” (2000), as pessoas também

podem desfrutar de benefícios econômicos, fisiológicos, ambientais, psicológicos

e sociais com o lazer. Apesar dos benefícios relatados, os parques parecem não

estar atendendo a combinação adequada para tornarem-se espaços atraentes

para as pessoas. As pessoas cada vez mais procuram atividades realizadas em

“shoping centers” e outros espaços fechados (Urban Parks Institute, 2000).

Para que as pessoas desfrutem dos benefícios do lazer realizado nos

parques, elas deveriam ser atraídas para realizar atividades neste ambiente.

Alguns atributos podem ser considerados para tornar um parque mais valorizado

pela comunidade. O parque deveria combinar a oferta de: a) atividades sociais;

b) acesso adequado e fácil; e c) conforto e imagem atraentes, tornando-o um

ambiente atrativo para as pessoas (Urban Parks Institute, 2000).

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O Caso de Curitiba

As previsões sobre a localização dos aglomerados urbanos nos próximos

decênios indica que a maior parte estará localizada nos países do hemisfério sul,

sendo que a metade da população desses países viverá em cidades (Menezes,

1996). Estas previsões indicam a necessidade das cidades adequarem seus

espaços às novas necessidades sociais e ambientais. Neste contexto, a Cidade

de Curitiba tem experimentado um aumento considerável de espaços públicos

destinados a preservação ambiental, especialmente parques e bosques.

A construção deste novo cenário para a cidade iniciou com uma

reordenação do seu crescimento. Esta reordenação foi traduzida na adoção de

uma nova estrutura de crescimento e desenvolvimento das cidades, integrando as

funções urbanas de: a) sistema viário; b) transporte coletivo; c) uso do solo; d)

lazer; e) preservação da memória histórica e outros (Menezes, 1996). Neste

panorama, a Cidade experimentou o crescimento no número de parques e na

área de preservação.

Houve um aumento dos espaços verdes urbanos nos últimos 25 anos, em

torno de 50 vezes comparando-se com o aumento populacional de 2,4 vezes. De

acordo com Oliveira (1996), proporcionalmente houve aumento de 22 vezes na

relação m2 por habitante (Anexo 1). Dados divulgados pelo IPPUC (1996), a

Cidade de Curitiba conta atualmente com 14 parques, 12 bosques, 346 praças,

287 jardinetes, 52 largos, 11 núcleos ambientais, 14 eixos de animação, 6 jardins

ambientais e 2 centros esportivos (Anexo 2).

Os parques têm sido construídos como uma alternativa para diferentes

necessidades da Cidade, apresentando-se como locais de lazer e novos pontos

de encontro entre os habitantes, mas também projetados para evitar a habitação

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nos fundos de vale, preservar as matas ciliares e regular a vazão dos rios em

períodos de enchente (Menezes, 1996).

Esta combinação de necessidades determinou a localização dos parques em

regiões que nem sempre atendem a características desejadas, como a facilidade

de acesso e mesmo a existência de um ambiente que possibilite a realização de

atividades físicas e recreativas nestes locais.

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CAPÍTULO III

METODOLOGIA

Modelo de Estudo

Este estudo caracteriza-se como descritivo, uma vez que buscou levantar

informações para a descrição de uma situação ou condição (Thomas & Nelson,

1996). Ao realizar o levantamento sistemático de informações de respondentes

com o propósito de compreender algum aspecto do comportamento de

determinada população, esta pesquisa também caracteriza-se como sendo um

levantamento ou survey (Mitra & Lankford, 1999).

População

A população deste estudo foi formada por moradores da cidade de Curitiba

e região metropolitana, usuários do parque Jardim Botânico. A cidade, segundo a

contagem populacional realizada pelo IBGE em 1996, conta com 1.476.253

habitantes, em uma área de 432,41km2.

Curitiba tem sido reconhecida entre as cidades do mundo que melhor vem

sabendo equacionar o binômio desenvolvimento urbano/meio ambiente. Este

reconhecimento tem se dado pela ausência de grandes problemas sócio-

ambientais e pelo sucesso de um planejamento racional e tecnicamente perfeito,

fatos que não são verificados em outras metrópoles (Menezes, 1996).

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Os parques urbanos são freqüentemente considerados os grandes

responsáveis pelo sucesso no planejamento urbano de Curitiba e do seu

reconhecimento como cidade modelo para o Brasil e para o mundo nesta área. O

Jardim Botânico Municipal é um parque localizado no bairro Jardim Botânico,

próximo ao centro da cidade, o qual conta com uma população estimada em

6.670 pessoas. Este bairro faz parte da Administração Municipal Regional da

Matriz (IPPUC, 1996).

O parque tornou-se referência na cidade, ficando em segundo lugar no

plebiscito realizado para escolha do monumento símbolo de Curitiba. Atualmente

é considerado roteiro obrigatório para aqueles que visitam a região. Estas

características fazem do Jardim Botânico o parque modelo da cidade, que é

considerada referência internacional na área de planejamento urbano e meio

ambiente.

Amostragem

O processo de amostragem foi desenvolvido em duas etapas distintas. A

primeira de maneira acidental e a segunda de maneira intencional, conforme a

descrição seguinte:

1. Primeira etapa: amostragem do tipo acidental, realizada através de entrevista

estruturada com os freqüentadores do parque (n = 843). As entrevistas foram

desenvolvidas durante o horário de funcionamento do parque, entre as 08:00 e

19:00 horas. Esta estratégia foi utilizada para que a amostra pudesse

representar de forma mais abrangente a população usuária do parque.

2. Segunda etapa: amostragem intencional, na qual foram incluídos todos os

usuários entrevistados na primeira etapa que aceitaram participar do segundo

momento da pesquisa (n = 721; ou 85,52% do total). Os visitantes residentes

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em outras cidades foram excluídos da amostra. Foram enviados questionários

via correio para os participantes da segunda etapa (n = 721). Houve retorno de

256 (35,50%) questionários e, após a primeira verificação, 252 questionários

(34,95%) foram considerados adequados para a análise e outros quatro

(0,005%) foram excluídos.

A taxa de retorno encontrada no estudo (35,50) pode ser considerada

adequada uma vez que valores de retorno próximas de 30% são

considerados muito satisfatórios em estudos de levantamento por correio

(Mitra e Lankford, 1999). Desta maneira, não houve a necessidade de reforço

via correio ou telefone, também denominado controle de amostra (Mitra &

Lankford, 1999).

Coleta de Dados

A coleta de dados ocorreu em duas etapas, a saber: a) caracterização dos

usuários e b) levantamento via correio.

a) Caracterização dos Usuários: realizada através de entrevista com

roteiros de perguntas sobre dados sócio-demográficos e características

de ocupação do parque. As entrevistas foram desenvolvidas entre os

dias 01 e 14 de outubro de 2000. Neste momento os usuários foram

convidados a participar da segunda fase da pesquisa.

b) Levantamento via Correio: O instrumento utilizado nesta etapa buscou

determinar a percepção do ambiente existente nos parques, estágios de

mudança de comportamento relacionados a atividade física e o nível

sócio-econômico dos usuários. Na segunda etapa da pesquisa houve o

envio de questionário via correio, no dia 24 de outubro de 2000, para os

usuários selecionados do levantamento inicial. Foram remetidos,

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juntamente com o questionário, um envelope selado e uma carta de

orientação para preenchimento e retorno dos mesmos. Foram

analisados todos os questionários recebidos até dia 14 de novembro,

tendo sido considerado, portanto, um período de três semanas de

espera.

Instrumentos de Pesquisa

Nesta pesquisa foram utilizados dois instrumentos distintos, empregados

nas diferentes etapas da pesquisa, a saber:

1. Entrevista (padronizada)

2. Questionário (auto-administrável)

Entrevista

A entrevista realizada na primeira etapa da pesquisa (Anexo 3) apresentou

questões abertas, fechadas, e possibilidades de outra opinião (Mitra & Lankford,

1999). Ela foi composta de duas partes principais, identificadas em diferentes

campos de anotação.

O primeiro campo de anotação destinou-se às características de

ocupação do parque por parte do usuário, como descreve-se a seguir :

a) dias por semana: questão aberta, com escala numérica, em que o

usuário informou qual a freqüência semanal, nos últimos 6 meses, que

utilizou o parque. Para caracterizar uma estabilidade na freqüência ao

parque, foi adotado o período de seis meses (ou mais), considerando

premissas relatadas na literatura.

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b) tempo: questão aberta, com escala numérica. Neste item o usuário

respondeu qual o tempo médio, em minutos, que costuma permanecer

no parque a cada dia;

c) atividade: questão fechada com possibilidade de outra opção, com

variável nominal, em que o entrevistado escolheu apenas uma entre

cinco opções quanto ao tipo de atividade que realiza com mais

freqüência no parque. A codificação adotada foi (1) caminhada, (2)

corrida ou jogging, (3) jogos esportivos e/ou recreativos, (4) atividades

passivas como leitura e descanso, e (5) para outras atividades que não

se enquadram nesta classificação. Quando o entrevistado optou pela

resposta (5), o mesmo foi convidado a informar a atividade.

d) motivo: questão fechada com possibilidade de opção, com variável

nominal, em que o entrevistado pôde escolher apenas uma entre seis

opções quanto ao motivo que o leva a realizar a atividade no parque. A

codificação adotada seguiu uma adaptação das características

sugeridas por Katz (1998) como desejáveis para que os parques sejam

atrativos para as pessoas : (1) proximidade do parque não maior que

5min caminhando, (2) facilidade das vias de acesso público ao parque,

(3) segurança e conforto, (4) existência de equipamentos adequados à

atividade realizada, (5) estética e beleza do ambiente, e (6) para outros

motivos que não se enquadram nesta classificação. Quando o

entrevistado optou pela resposta ”outros” ou (6), o mesmo foi solicitado

a informar o motivo.

e) companhia: questão fechada, em escala nominal. Neste campo foi

anotada a informação quanto ao acompanhamento de outra pessoa

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quando da utilização do parque. A codificação adotada foi (1) quando

freqüentou o parque sozinho e (2) quando acompanhado.

O segundo campo de anotação compreende os dados de identificação do

entrevistador e também a hora e dia da coleta. A segunda parte, que destina-se

aos dados do entrevistado, está subdividida em dois campos: a) características

sócio-demográficas e b) características de ocupação do parque. O campo de

características sócio-demográficas do usuário foi constituído das questões

descritas a seguir:

a) sexo: questão fechada, em escala nominal, com codificação 1 para

gênero masculino e 2 para gênero feminino;

b) idade: questão aberta, com escala numérica, o entrevistado informa a

idade relatando o valor inteiro, que melhor representar a sua idade;

c) bairro: questão aberta, com escala nominal, em que é anotado o nome

do bairro da Cidade de Curitiba que o usuário reside. Foi adotada a

codificação RMC, quando o usuário reside em Município da Região

Metropolitana, mas fora do município de Curitiba, e MOR, quando

morador de Município de Outra Região ou Estado;

d) fone: questão aberta, em que o usuário foi convidado a participar da

segunda fase da pesquisa informando o seu telefone. Foi adotada a

codificação NAP, quando o mesmo informou não desejar participar, e

NPT, quando informou não possuir telefone;

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Questionário

O segundo questionário utilizado (Anexo 4), foi aplicado na forma de auto-

resposta e é composto de quatro partes, descritas a seguir:

a) dados de identificação: apresenta questões fechadas com escala

nominal (sexo e estado civil) e abertas com escala numérica (idade), o

que permitiu a caracterização sócio-demográfica da população;

b) classificação sócio-econômica: com o objetivo de identificar a classe

econômica da população, foi utilizado o Critério de Classificação

Econômica Brasil (Anexo 5), adotado ABA/ANEPE –ABIPEME (ANEP,

1997). A partir de questões fechadas, o critério categoriza o indivíduo

numa escala ordinal de acordo com as pontuações atingidas. As

classes econômicas descritas são A1 (30-34 pontos), A2 (25-29

pontos), B1 (21-24 pontos), B2 (17-20 pontos), C (11-16 pontos), D (06-

10 pontos), e E (00-05 pontos);

c) estágios de mudança de comportamento e prática de atividade física:

Foi utilizada a escala de respostas categóricas desenvolvidas por

Prochaska e Marcus (1994), que permite classificar o estágio de

comportamento relacionado à atividade física em que se encontra o

indivíduo. Neste procedimento, questões fechadas com respostas

categóricas, “sim” ou “não”, permitem a classificação em um dos

estágios que podem ser Pré-Contemplação, Contemplação,

Preparação, Ação e Manutenção. Foi adotada uma categorização do

nível de prática de atividade física, a partir da classificação dos

participantes em estágios de mudança de comportamento. Nesta

classificação foram considerados ativos aqueles que se encontravam

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nos estágios de manutenção e ação. A classificação inativos foi

utilizada para aqueles categorizados nos estágios de preparação,

contemplação e pré-contemplação. A fase de recaída não foi utilizada

para esta classificação, sendo considerado o estágio em que o

indivíduo se encontrava no momento de resposta.

d) escala de percepção do ambiente existente: Esta escala foi construída e

testada a partir do desenvolvimento de uma matriz de análise conforme

relatório apresentado no Anexo 6. O instrumento elaborado resultou em

um questionário com 42 questões das quais 16 foram selecionadas

para desenvolvimento desta investigação. As perguntas questionam o

sujeito sobre indicadores do ambiente que “inibem ou estimulam a

realização de atividades físicas no parque”. As respostas são

apresentadas em uma escala ordinal de 1 a 4, na forma de diferencial

semântico, em que o polo negativo é composto pela categorias “inibe

bastante” (1) e “inibe” (2) e o polo positivo compreendido pelas

categorias “estimula” (3) e “estimula bastante” (4). O sujeito deve

assinalar a categoria que melhor corresponde à sua percepção sobre o

indicador ambiental.

Testagem dos Instrumentos

O roteiro da entrevista foi aplicado em estudo piloto realizado no Parque

São Lourenço com o objetivo de testar a clareza e aplicabilidade das questões. O

estudo piloto também serviu como meio para treinar os entrevistadores quanto ao

tempo de resposta e forma de abordagem, de acordo com a padronização

apresentada no Anexo 7, para a aplicação das entrevistas.

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Para a testagem do questionário 2 foi desenvolvido um estudo piloto no

período de 13 a 20 de outubro de 2000. A qualidade deste questionário foi

verificada através dos seguintes procedimentos:

a) Validade de Conteúdo: desenvolvimento de matriz de análise à partir de

revisão de literatura que por sua vez foi submetida à avaliação de

especialistas na área de Educação Física e de Meio Ambiente;

b) Validade de Constructo: as questões originadas da matriz de análise

foram submetidas à análise de correlações entre indicadores, fatores e

dimensão de acordo com a classificação apresentada na validação de

conteúdo;

c) Reprodutibilidade (estabilidade): o questionário foi submetido a teste-

reteste, com uma semana de intervalo, para medida de estabilidade dos

escores.

Tratamento Estatístico

Para assegurar a qualidade na entrada de dados foi efetuado o controle

automático dos erros de digitação na planilha eletrônica, assim como a

conferência manual após a digitação de todos questionários.

A organização e registro dos dados foi realizada com o programa Excel97.

A elaboração dos relatórios estatísticos foi efetuada utilizando o programa SPSS

versão 9.0.

Para a escolha da técnica estatística verificou-se: a) a natureza dos dados;

b) as escalas de medidas; c) a linearidade da relação das variáveis; d) a

normalidade na distribuição dos dados. A partir destes critérios verificou-se que:

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a) a maior parte das variáveis é de natureza categórica e utiliza escalas de

medidas ordinais e nominais; b) as variáveis, em sua maioria, não apresentaram

linearidade de relação; e c) a totalidade dos dados não apresentou uma

distribuição normal.

Considerando estes achados, optou-se por utilizar as técnicas estatísticas

não-paramétricas na análise da maior parte das variáveis. Para a estatística não-

paramétrica descritiva, foram utilizadas medidas de tendência central e de

dispersão (mediana e moda) e coeficientes de correlação (Correlação de

Spearmann e Qui-quadrado). Na estatística não paramétrica indutiva foi utilizada

a Teste U da Mann-Whitney.

As variáveis numéricas: a) idade (anos); b) tempo de ocupação do parque

(min/dia); e c) freqüência semanal (dias/semana), apresentam uma escala

numérica em amostra grande (n=843). Por este motivo, foram analisadas através

da estatística paramétrica descritiva (média e desvio padrão) e indutiva

(correlação linear de Pearson). O nível de significância adotado em todos os

procedimentos foi de ≤ 5%.

Para a exploração dos dados utilizou-se ainda o procedimento multivariado

“análise hierárquica de clusters”, para identificar grupos homogêneos ou

interdependência de variáveis. Nesta análise foi adotado o método de Ward como

índice de distância e a ligação de grupamentos foi realizada através do percentual

de discordância. Pestana e Gageiro (2000) sugerem que este é o procedimento

adequado para variáveis de natureza categórica. Esta técnica foi adotada devido

à limitação que a natureza dos dados, categóricos na maior parte, impõem na

utilização de testes estatísticos paramétricos.

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Limitações do Método

No presente estudo são admitidas as seguintes limitações:

1. Amostragem não-probabilística: o modelo de seleção do parque e dos sujeitos

que participaram do estudo, que se caracteriza como não-probabilístico, limita

a generalização dos resultados a ambientes e indivíduos com características

similares àquelas que foram encontradas nesta pesquisa.

2. Sazonalidade: A realização do estudo durante a primavera apresenta-se como

uma limitação à validade externa, uma vez que o ambiente em que o estudo

foi aplicado é sujeito a fatores ligados ao clima, como temperatura, umidade e

pluviometria próprios desta estação. Portanto, os resultados somente deverão

ser válidos para estudos realizados também nesta mesma estação.

3. Utilização de questionários: A utilização de questionários apresenta limitações

quanto à reprodução de fatos acontecidos anteriormente, efeito de

memorização, e à falta de controle sobre a veracidade das respostas.

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CAPÍTULO IV

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo concentrou-se na apresentação e discussão dos resultados

da investigação. A organização desta seção procurou atender os objetivos e

questões norteadoras da investigação, de maneira a apresentar as características

e a percepção dos usuários do parque sobre o ambiente relacionado à atividade

física. Também procurou-se facilitar a fluidez do texto e sua leitura. Sendo assim

a estrutura está organizada em:

1 – Descrição dos usuários entrevistados na primeira fase da pesquisa

a) características demográficas;

b) descrição sobre a ocupação do parque;

c) análise de dados na abordagem ecológica.

2 – Descrição e percepção dos usuários na segunda fase da pesquisa

a) características sócio-econômicas;

b) estágios de mudança de comportamento e prática de atividades

físicas;

c) percepção do ambiente para a realização de atividades físicas.

3 – O modelo ecológico e a prática de atividades físicas no parque

a) dimensões múltiplas influenciam o comportamento;

b) interações entre as dimensões;

c) múltiplos níveis de influência do ambiente;

d) ambiente influencia diretamente o comportamento.

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1 - Descrição dos usuários entrevistados na primeira fase da pesquisa

Esta seção está dividida em dois tópicos. O primeiro destina-se à

apresentação dos dados demográficos sobre gênero, idade e bairro de

residência dos entrevistados. No segundo tópico será descrita a ocupação do

parque com a apresentação dos dados sobre o motivo, companhia, atividade

realizada, freqüência de uso e tempo de ocupação do parque.

a) Características demográficas dos usuários

Fizeram parte desta fase 843 sujeitos, os quais se apresentaram em uma

distribuição relativamente equilibrada quanto ao gênero. Observou-se uma

freqüência ligeiramente maior para o gênero masculino, com 434 sujeitos (51,5%

do total), enquanto o gênero feminino, com 409 sujeitos, constituiu 48,5% do total

(Figura 1).

homens51,5%

mulheres48,5%

Figura 1. Caracterização da amostra segundo gênero

A média de idade encontrada nesta amostra foi de 43,78 anos (±15,22),

com valores mínimos e máximos de 5 e 88 anos, respectivamente. Para verificar

qual a faixa etária que concentra a maior proporção de indivíduos, optou-se por

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uma estratificação dos indivíduos em faixas decenais de idade, com início em

menores de 15 anos até a faixa superior a 65 anos, divididos segundo o gênero

(GEN) na Tabela 1:

Tabela 1 Distribuição conjunta de freqüências por faixa etária, segundo gênero

Homens Mulheres Total da Amostra Faixa Etária

n % n % n % < 15 anos 2 0,24 7 0,83 9 1,07

16 a25 anos 51 6,06 53 6,29 104 12,35

25 a 35 anos 67 7,96 91 10,81 158 18,76

36 a 45 anos 89 10,57 91 10,81 180 21,38 46 a 55 anos 99 11,76 97 11,52 196 23,28 56 a 65 anos 78 9,26 48 5,7 126 14,96

> 65 anos 47 5,58 22 2,61 69 8,19

Total 434 51,43 409 48,57 843 100

Os dados da Tabela1 demonstram que a maior percentagem de indivíduos

encontra-se nas faixas etárias de 46 a 55 anos (23,28 %) e de 36 a 45 anos

(21,28%), tanto no grupo dos homens quanto no grupo das mulheres. No entanto,

ao agrupar as faixas etárias menores de 35 anos, 36 a 55 anos, e maiores de 56

anos, observa-se maior percentagem de mulheres nas faixas menores de 45 anos

(28,74%) quando comparadas com os homens (24,83%). Em contrário, a

percentagem de homens é maior nas faixas etárias acima de 55 anos (14,84%)

quando comparados com as mulheres (8,31%).

Ao comparar a distribuição etária da população de Curitiba (IPPUC, 1996)

com a amostra (Figura 2) é possível verificar que os homens de Curitiba

concentram-se nas faixas etárias idades menores que 35 anos.

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1 1 ,7 6

2 1 1 9 ,8 41 8 ,2 1

1 3 ,3 3

5 ,5 8

9 ,2 61 0 ,5 77 ,9 6

6 ,0 6

0 ,2 4

5 ,3 68 ,1 8

3 ,8

< 1 5 1 6 a 2 5 2 6 a 3 5 3 6 a 4 5 4 6 a 5 5 5 6 a 6 5 > 6 5J a rd im B o tâ n ic o C u r i t ib a

Figura 2. Distribuição etária de homens da população de Curitiba e da amostra

A população de mulheres de Curitiba (IPPUC, 1996) pode ser comparada

com a amostra na Figura 3. Neste caso, também é possível verificar que a

mulheres de Curitiba encontram-se nas faixas etárias de menores de 15 anos,

entre 16 e 25 anos e de 26 a 35 anos.

1 6 ,0 71 9 ,4 8 1 8 ,8 1

1 3 ,8

5 ,1 9

1 1 ,5 2

5 ,7

1 0 ,8 11 0 ,8 16 ,2 9

0 ,8 3 2 ,6 16 ,0 68 ,5 7

< 1 5 1 6 a 2 5 2 6 a 3 5 3 6 a 4 5 4 6 a 5 5 5 6 a 6 5 > 6 5

J a rd im B o tâ n ic o C u r i t ib a

Figura 3. Distribuição etária de mulheres da população de Curitiba e da amostra

Os dados apresentados demonstram que embora haja uma distribuição

relativamente homogênea nos freqüentadores do Jardim Botânico quanto ao

gênero, há uma percentagem maior de indivíduos nas faixas etárias de mais

idade quando comparados com a distribuição etária de Curitiba, onde de maneira

geral predominam adultos jovens e crianças.

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Estes resultados sugerem que o parque é freqüentado,

predominantemente, por adultos com mais de 35 anos. Acredita-se que nesta

faixa etária podem ser encontradas maiores possibilidades para a organização do

tempo no cotidiano e desta maneira acesso maior ao tempo livre, uma vez que

situações como o tempo diário dedicado à educação formal e instabilidade

profissional, podem não apresentar-se como fatores que dificultem esta

organização. Edginton et al. (1995) apontam que indivíduos na faixa etária entre

30 e 50 anos de idade encontram-se em um momento de transição onde a

perspectiva de perda de qualidade de vida e de proximidade com a morte torna-se

mais aparente e, portanto, acabam priorizando e reordenando suas atividades

cotidianas. Os indivíduos acima de 50 anos experimentam uma mudança

gradativa da dedicação do tempo do trabalho para o lazer, especialmente com a

proximidade da aposentadoria (Edginton et al., 1995).

Sendo assim, o parque enquanto espaço de lazer, representa uma opção

satisfatória e adequada para pessoas que tenham mais tempo disponível e que

dêem prioridade ao lazer, características que são mais facilmente encontradas em

pessoas mais velhas. Estas características são novamente discutidas na

descrição sobre o nível sócio-econômico e grau de instrução dos usuários

Quanto ao bairro de residência dos sujeitos constatou-se maior proporção

de indivíduos residentes nos bairros: Jardim Botânico (17,1%), Cristo Rei (15,3%),

Cajuru (10,4%), Centro (4,6%) e Capão do Imbúia (4,5%), num total de 65 bairros

declarados nas entrevistas (Anexo 8). Estes dados sugerem uma procedência

bem diversificada dos sujeitos, uma vez que Curitiba apresenta 75 bairros e 65

(86,6%) foram identificados nas entrevistas. A diversidade na procedência

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também demonstra a importância do parque na cidade, pois para este local

convergem pessoas de quase todos os locais da zona urbana.

Apesar desta diversidade observou-se uma concentração de indivíduos

residentes nos bairros próximos ao parque. Para identificar a distância de

residência do parque buscou-se, na Figura 4, classificar os locais de residência

em 5 regiões segundo a proximidade ou distância com o parque: 1 - bairro Jardim

Botânico; 2 - bairros com divisas ao bairro Jardim Botânico, que são 9 ao todo;

3 - demais bairros que não apresentam divisas com o bairro Jardim Botânico;

4 - região metropolitana de Curitiba; e 5 - outras cidades e/ou estados.

17,2%

47,6%

29,1%

2,0%4,2%

Jardim Botânico

Próximos

Outros bairros

Região metropolitana

Outras cidades

Figura 4. Distribuição de usuários quanto a local de residência (n = 839)

Os dados apresentados na Figura 4 mostram que 29,1% dos usuários

entrevistados residem no bairro Jardim Botânico e outros 47,6% residem em

bairros que fazem divisa com o mesmo. Esta informação sugere que a maior

proximidade do local de residência com o parque pode ser um dos fatores

determinantes para a sua utilização uma vez que 77% dos entrevistados residem

em regiões próximas ao parque.

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b) Descrição da ocupação do Parque

Quanto à descrição dos motivos para a utilização do Jardim Botânico

(Tabela 2), observou-se que a “proximidade do local” é o motivo que apresenta a

maior freqüência (57,7%) de respostas, seguido de “outros motivos” (16,0%), a

“estética ou beleza do parque” (10,1%), a “segurança e/ou conforto” (9,3%), a

“facilidade de acesso” (5,5%) e a “existência de equipamentos adequados”

(1,4%). Houve um indivíduo (0,1%) que não respondeu a esta pergunta.

Tabela 2 Distribuição de freqüências segundo o motivo de utilização

MOTIVO Freqüência Porcentagem Proximidade 486 57,7

Outros 135 16,0

Estética 85 10,1

Segurança/conforto 78 9,3

Facilidade 46 5,5

Equipamentos 12 1,4

não-resposta 1 0,1

Total 842 100

Estes dados reforçam a “proximidade” como um fator importante no uso do

parque, como é observado na Figura 4. Para melhor compreensão da interação

destas variáveis, buscou-se uma descrição mais detalhada distribuindo os

motivos de utilização do parque segundo a região de residência dos sujeitos

(Tabela 3).

A proximidade foi o motivo mais citado por indivíduos residentes no bairro

Jardim Botânico (80,6%), em bairros próximos ao Jardim Botânico (68,2%) e

também para aqueles que residem em outros bairros que não fazem divisas com

o bairro Jardim botânico (35,7%). Estes dados parecem confirmar que, tanto para

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os sujeitos que residem próximos quanto para aqueles que residem em bairros

mais distante do parque, a proximidade é o principal motivo para utilizá-lo.

Tabela 3 Distribuição conjunta de freqüências para motivo de ocupação segundo região de residência

Região

Motivos Jardim

Botânico Bairros

Próximos Outros Bairros

Região Metropolitana

Outras Cidades

Total

Proximidade 116(80,6%) 272(68,2%) 87(35,7%) 7(20,0%) 1(6,3%) 483(57,6%)

Facilidade de acesso

2(1,4%) 16(4,0%) 21(8,6%) 5(14,3%) 1(6,3%) 45(5,4%)

Segurança e conforto

4(2,8%) 31(7,8%) 36(14,8%) 6(17,1%) 1(6,3%) 78(9,3%)

Equipamentos 1(0,7%) 4(1,0%) 7(2,9%) 12(1,4%)

Estética 3(2,1%) 34(8,5%) 38(15,6%) 6(17,1%) 4(25,0%) 85(10,1%)

Outros 18(12,5%) 42(10,5%) 55(22,5%) 11(31,4%) 9(56,3%) 135(16,1%)

Total 144(100%) 399(100%) 244(100%) 35(100%) 16(100) 838(100%)

A categoria “outros” foi a mais citada como motivo de utilização do parque

para sujeitos residentes na região metropolitana de Curitiba (31,4%) e residentes

em outras cidades (56,3%). Os motivos “estética” e “segurança/conforto”

aparecem com maior percentagem entre os sujeitos que residem em bairros

próximos do Jardim Botânico (8,5% e 7,8%) e residentes em outros bairros que

não fazem divisas com o bairro Jardim Botânico (15,6% e 14,8%) quando

comparados com moradores do bairro Jardim Botânico (2,1% e 2,8%). Tal fato

sugere que a beleza e a segurança/conforto do Jardim Botânico são mais

percebidas por sujeitos que não residem no próprio bairro em que se localiza o

parque, e que este motivos podem representar importante fatores para a

ocupação do parque.

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Tabela 4 Associação entre motivo de utilização e região de moradia

Teste Variável Estatística Valor de p Associação Qui-quadrado Motivo & Região X2 157,11 0,000 Sim

Os resultados apresentados na Tabela 4, além de confirmarem a existência

de associação (p<0,05) entre o motivo de utilização e a região de moradia,

demonstram correlação significativa entre as duas variáveis.

A análise dos resultados demonstra também que o Jardim Botânico,

especificamente, é freqüentado por indivíduos que percebem e apreciam a

segurança/conforto e a beleza estética que o parque oferece. Estes dois fatores

parecem ser importantes principalmente para quem não reside nas regiões

adjacentes. Em se tratando da utilização do parque Jardim Botânico, estes dois

motivos, quando somados, superam “outros” para todos os demais locais de

residência, com exceção dos residentes do próprio bairro onde se localiza o

parque.

Esta constatação aponta para a importância dos fatores segurança/conforto

e beleza estética, na captação de indivíduos residentes em bairros mais distantes

(mesmo que a distância não possa ser apontada como um fator que dificulte a

ocupação deste parque, uma vez que a proximidade foi o motivo mais citado em

todos os casos). As preferências e características levantadas nesta investigação

parecem confirmar os atributos apontados, na literatura, como desejáveis para

tornar um parque mais valorizado pela comunidade e atrativo para as pessoas: a

combinação da oferta de atividades sociais, acesso adequado e fácil, conforto e

imagem atraentes (Urban Parks Institute, 2000).

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Quanto à forma de utilização, procurou-se identificar se os sujeitos utilizam

o parque sozinhos ou acompanhados. A distribuição quanto à freqüência com ou

sem companhia (Figura 5), demonstrou que 434 sujeitos (51,5%) freqüentam o

parque desacompanhados e 409 sujeitos (48,5%) o fazem acompanhados.

0 100 200 300 400 500

Sozinhos

Acompanhados

Figura 5. Número de ocorrências quanto a tipo de freqüência sozinho ou

acompanhado (n = 843)

A análise dos resultados quanto à associação entre tipo de freqüência e

faixa etária foi confirmada pelo teste Qui-quadrado (p<0,05), como é demonstrado

na distribuição de freqüência de companhia segundo a faixa etária apresentada

na Tabela 5.

Nesta distribuição é possível verificar que as faixas etárias menores de 15

anos, 16 a 25 anos e 26 a 35 anos, são aquelas que apresentam a maior

percentagem de usuários acompanhados. Por outro lado, as faixas etárias de 36

a 45 anos, 46 a 55 anos, 56 a 65 anos e maiores de 65 anos apresentam a maior

percentagem de indivíduos que freqüentam o parque desacompanhados.

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Tabela 5 Distribuição conjunta de freqüências segundo tipo freqüência - sozinho/acompanhado*

Desacompanhado Acompanhados Total da Amostra Faixa Etária

n % N % n % < 15 anos 9 2,2 9 1,1

16 a 25 anos 49 11,3 55 13,4 104 12,3

26 a 35 anos 76 17,5 82 20,0 158 18,7

36 a 45 anos 94 21,7 86 21,0 180 21,4

46 a 55 anos 108 24,9 88 21,5 196 23,3

56 a 65 anos 70 16,1 57 13,9 127 15,1

> 65 anos 37 8,5 32 7,8 69 8,2

Total 434 100 409 100 843 100

* X2 = 12,93; p = 0,04 Edginton et al. (1995) sugerem que para indivíduos entre 31 e 65 anos

prevalece a importância das interações sociais nas atividades de lazer, o que leva

à escolha de atividades realizadas em grupo, situação que não é observada nos

dados da Tabela 5. No entanto, os dados desta investigação parecem corroborar

a afirmação de Edginton et al. (1995) de que entre indivíduos acima de 65 anos

predomina a realização de atividades realizada de maneira mais solitárias.

No que se refere ao tipo de atividade realizada no parque, a distribuição

de freqüências apresentada na Figura 6 demonstra que a caminhada é a

atividade mais realizada com 697 casos (82,7%), seguido de atividades passivas

com 65 casos (7,7%), corrida (45 casos ou 5,3%), outras atividades (25 casos ou

3,0%) e jogos (8 casos ou 0,9%). Neste item, 3 sujeitos não responderam à

entrevista (0,4%).

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Figura 6. Distribuição dos usuários quanto a tipo de atividade (n=840) 83,0%

3,0%5,4%

7,7%

1,0%

caminhadapassivacorridaoutrasjogos

Para melhor descrever esta característica encontrada na amostra buscou-

se detalhar o tipo de atividade de acordo com a faixa etária, como pode ser

observado na Tabela 6.

Tabela 6 Distribuição conjunta de freqüências segundo tipo de atividade

caminhada corrida jogos passiva outras Total Faixa Etária

n % n % n % n % n % n % < 15 anos 4 44,5 2 22,2 2 22,2 1 11,1 9 100

16 a 25 anos 69 67,0 17 16,5 2 1,9 11 10,7 4 3,9 103 100

26 a 35 anos 112 71,8 10 6,4 3 1,9 25 16,0 6 3,8 156 100

36 a 45 anos 149 82,8 10 5,6 13 7,2 8 4,4 180 100

46 a 55 anos 175 89,3 7 3,6 1 0,5 11 5,6 2 1,0 196 100

56 a 65 anos 119 93,7 1 0,8 3 2,4 4 3,1 127 100

> 65 anos 69 100 69 100

Total 697 45 8 65 25 840 100

A distribuição encontrada demonstra que a caminhada é a atividade mais

realizada em todas as faixas etárias. As atividades passivas são o segundo tipo

de atividade mais realizada em todas as faixas etárias, excetuando a faixa etária

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de 16 a 25 anos, em que a corrida é a segunda atividade mais realizada (16,5%),

e da faixa etária menor de 15 anos, em que as atividades passivas (22,2%)

assumem a mesma importância que os jogos (22,2%). Os resultados também

destacam que a prática de jogos no parque é mais importante para jovens de até

15 anos, quando comparados com outras faixas etárias. A Tabela 6 e Figura 7

demonstram ainda que a percentagem de sujeitos, que fazem a caminhada como

atividade, aumenta progressivamente com a idade chegando a atingir 100% na

faixa acima de 65 anos, enquanto a corrida e as atividades passivas diminuem

com o aumento da faixa etária.

A escolha de atividades de lazer em cada faixa etária, observada na Figura

7, parece corresponder às características descritas por Edginton et al. (1995), o

qual sugere que indivíduos mais jovens, de 13 a 30 anos, valorizam os jogos ou

esportes organizados, enquanto que à partir dos 30 anos as atividades de menor

intensidade começam a ser mais valorizadas, em especial a caminhada à partir

dos 66 anos.

0

20

40

60

80

100

<15 16-25 25-35 36-45 46-55 56-65 >65

caminhadacorrida jogospassivaoutras

Figura 7. Distribuição média do número de casos para cada atividade segundo a

faixa etária

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Henderson e Frelke (2000) apontam para uma diferenciação no

entendimento sobre o conceito de espaço e local. Nesta proposta os espaços

possuem dimensões absolutas e relativas, assim como delimitações concretas,

como é o caso de um parque. Mas um espaço físico torna-se um local apenas

quando passar a possuir algum sentido metafísico. Em outras palavras, um local

existe somente na mente das pessoas.

Para que o espaço exista enquanto local, experiências afetivas e temporais

e de significado são necessárias, e dependem também das atividades realizadas

no espaço (Henderson & Frelke, 2000). Neste sentido, os dados apresentados

também demonstram que, para estes sujeitos, o parque é valorizado como um

local para a prática de atividades físicas, uma vez que este é o tipo de atividade

mais realizada em todas as faixas etárias.

Observa-se ainda, entre os sujeitos, uma tendência ao aumento de prática

de atividade física nos indivíduos mais velhos, constatada pelo tipo de atividade

realizada em cada faixa etária, o que difere do que foi encontrado em outros

estudos. Apesar de Dishman (1994), Sallis e Owen (1999) e ainda Stephens e

Caspersen (1994) relatarem estudos demonstrando que a prática de atividades

físicas diminui com o idade, este fato não foi verificado na população que

freqüenta o parque.

Embora não se tenha utilizado uma medida da atividade física habitual,

impedindo comparações mais precisas, é possível considerar que por ser

valorizado como local para a prática de atividades físicas, o parque atraia pessoas

para a prática, o que pode explicar em parte a tendência observada na Figura 7.

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Para descrever a prática de atividades físicas no parque buscou-se

classificar as atividades realizadas em três categorias: 1 – ativas, compreendendo

caminhada, corrida e jogos; 2 - passivas; e 3 – outras, na Figura 8.

������������������������������������������������������������������

750

6525

0

200

400

600

800

ativa����������

outraspassiva

Figura 8. Distribuição de freqüência dos usuários segundo categoria de atividades

realizadas (n=840)

A partir desta classificação constatou-se uma maior percentagem de

sujeitos que realizam atividades ativas (750 casos ou 89,3% do total), enquanto

65 sujeitos (7,7%) realizam atividades passivas e 25 (3,0%) realizam outras

atividades.

Estes dados parecem indicar uma maior prática de atividades físicas entre

os sujeitos da amostra quando comparados com estudos sobre a prática de

atividades físicas na população brasileira. Em estudo recente, com amostragem

probabilistica da população do Nordeste e Sudeste do Brasil, constatou-se que

80% das pessoas relataram realizar algum exercício físico (IBGE, 1997).

Ao considerar dados disponíveis sobre a população da região sul do Brasil,

verifica-se uma prática ainda maior entre os usuários do Jardim Botânico. Estudo

realizado com industriários do Estado de Santa Catarina encontrou uma

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percentagem de 53,4% de sujeitos que relataram realizar alguma atividade física

no tempo de lazer (Barros, 2000). No entanto, um outro estudo realizado com

professores universitários de Santa Catarina constatou que 90% dos sujeitos

praticam atividades físicas no tempo livre de trabalho remunerado (Martins, 2000),

sugerindo uma prática de atividades físicas similar àquela encontrada entre os

usuários do parque.

Todavia, comparações entre estes estudos podem ser limitadas pelas

características da metodologia empregada e da população investigada em cada

pesquisa. Enquanto que em pesquisas populacionais é permitida uma maior

heterogeneidade na amostra, nas pesquisas com populações específicas, como

nos dois estudos citados anteriormente, a amostragem é mais homogênea e não

representa a população como um todo.

Não obstante, uma possível explicação para a similaridade com os dados

do estudo de Martins (2000) é a distribuição etária da amostra, a qual se

assemelha com os sujeitos da presente pesquisa.

Para descrição mais detalhada sobre a prática de atividades físicas no

parque, buscou-se descrever a freqüência de utilização e o tempo despendido

pelos mesmos. Este item foi respondido por 97,3% dos entrevistados ou 820

pessoas.

Os sujeitos, na sua maior parte, utilizam o parque 3 vezes por semana

(Mediana = 3; Média = 3,38; Desvio Padrão = 2,13; Amplitude = 1 - 7 ). Quando

se considera os resultados apresentados na Figura 8, os quais demonstram que a

maioria dos usuários realiza atividade do tipo ativa, os dados encontrados

sugerem uma prática semanal de atividades físicas satisfatória, adequada e

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próxima aos padrões recomendados na literatura (American College of Sports

Medicine, 2000; U. S. Department of Health and Human Services, 1999).

Para confirmar esta característica verifica-se, na Figura 9, a distribuição de

usuários em 3 categorias de freqüência semanal: a) até 2 vezes; b) de 3 a 5

vezes; e c) acima de 5 vezes, segundo o tipo de atividade.

Esta categorização foi adotada para uma comparação com as

recomendações para a prática de atividade física recentemente publicadas (Pate

et al, 1995; U.S Department of Health and Human Service, 1996; U.S Department

of Health and Human Service, 1999; American College of Sports Medicine, 2000).

Tais recomendações sugerem a realização de atividades físicas vigorosas 3

vezes na semana e atividades moderadas, no mínimo 30 min, 5 vezes na

semana.

������������������������������������������ �������������

248

354

141

55

215 2 20

75

150

225

300

375

até 2 d ias 3-5 d ias >5 dias

ativa������������

outraspassiva

Figura 9. Distribuição de freqüência quanto aos dias de freqüência ao parque por

categorias de atividade (n = 819)

Foi possível verificar que 354 sujeitos (43,22%) realizam atividades do tipo

ativa 3 a 5 vezes na semana, enquanto que entre aqueles que realizam atividades

do tipo passiva 55 pessoas ou 6,71%, freqüentam o parque até duas vezes na

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semana. Entre os usuários que freqüentam mais de 5 vezes na semana, 141

pessoas ou 17,21% realizam atividades do tipo ativa.

O tempo médio de ocupação do parque, ou o tempo que o sujeito

permanece no parque quando o freqüenta, é de 69,3 min (±37,04) com valor

mínimo e máximo de 10 min e 300 min, respectivamente.

Na comparação desta variável com as recomendações para a prática de

atividades físicas encontrada na literatura da área (Pate et al, 1995; U.S

Department of Health and Human Service, 1996; U.S Department of Health and

Human Service, 1999; American College of Sports Medicine, 2000), o tempo de

ocupação foi classificado em: a) até 15 min; b) 16 a 30 min; c) 31 min a 45 min; e

d) acima de 45 min.

����������� ���������� ���������������������������������7

6399

580

2 6 849

1 7 1 15

0

150

300

450

600

0-15m in 16-30m in 31-45m in >45m in

ativa����

outras

passiva

Figura 10. Distribuição de freqüência dos usuários sobre o tempo de ocupação

segundo categorias de atividade (n=838)

A análise dos dados da Figura 10 indica que 580 sujeitos (69,21%)

permanecem mais de 45 min no parque realizando atividades do tipo ativas. Entre

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aqueles que permanecem de 16 a 30 min e de 31 a 45 min a prática de atividades

do tipo ativas são também as mais realizadas. Estes dados sugerem que a maior

parte dos sujeitos atingem as recomendações para a prática de atividades físicas

no que diz respeito ao tempo de atividade, sendo que 99 (11,81%) as realizam

entre 31 e 45 min e 580 (69,21%) por mais de 45 min.

Para maior compreensão dos padrões de prática de atividades físicas dos

sujeitos optou-se, na Figura 11, por descrever os sujeitos que realizam atividades

ativas (n=819) segundo as categorias de freqüência de utilização e categorias de

tempo de ocupação.

���������������������� ����������� �����������

���������������������������������

��������������������������������������������

����������������������

4 2 1

4124

832

55

17

242

117

276

0

60

120

180

240

300

até 2 dias 3-5 dias >5 dias

������������

16-30m in������

>45m in

até 15m in

31-45m in

Figura 11. Distribuição de freqüência dos usuários que realizam atividades

ativas segundo categorias de tempo de ocupação do parque e

freqüência de utilização (n = 819)

Os resultados demonstram que, entre os sujeitos que realizam as

atividades ativas, a maior parte permanece mais de 45 min no local, sendo que

276 (36,6%) freqüentam 3 a 5 vezes e 117 (15,49%) freqüentam mais de 5 vezes

na semana. Entre os sujeitos que realizam estas atividades por até 45 min, 55

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(7,4%) o fazem até 5 vezes na semana, enquanto que entre aqueles que as

realizam por mais de 45 min, 17 (2,29%) freqüentam mais de 5 vezes na semana.

Os dados mostram que entre aqueles que praticam atividades físicas no

parque, 459 sujeitos, ou 61,85% do total, realizam estas atividades dentro das

recomendações para a prática de atividade física.

Ao comparar estes dados com informações de estudos realizados em

amostragens da população brasileira e americana constata-se uma tendência a

maior prática de atividades físicas no tempo de lazer entre os freqüentadores do

Jardim Botânico. Brownson (2000), em levantamento realizado em 50 estados

americanos, constatou que somente 38% daquela população atinge as

recomendações. Martins (2000) constatou que somente 17,8% dos indivíduos

entrevistados, entre professores universitários, realizam atividades dentro das

recomendações para a prática de atividades físicas.

Esta característica reforça a valorização do parque como local para a

prática da atividades físicas. No entanto, uma análise crítica sobre a característica

de prática elevada de atividades físicas observada no parque leva a considerar

que o local pode atrair pessoas que são intrinsecamente motivadas (Iso-Ahola &

Clair, 2000) e possuem rotina maior de prática de atividade física independente

da utilização do parque com este propósito. Em outro plano de análise, é possível

considerar que as características do ambiente sejam positivamente percebidas e

desta maneira, estimulam a realização de atividades físicas, mesmo para as

pessoas que não são intrinsecamente motivadas (Iso-Ahola & Clair, 2000) ou não

possuam rotina de prática de atividades físicas.

Tal observação carece de argumentação empírica uma vez que as

informações ora apresentadas não permitem determinar o nível de atividade física

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dos sujeitos ou a regularidade da prática, mas apenas a realização de atividade

física no parque. Portanto, buscou-se descrever a regularidade da prática de

atividades físicas dos sujeitos na próxima seção através da classificação dos

estágios de mudança de comportamento para a realização de atividades físicas,

que parece oferecer critério mais confiável para determinar regularidade.

No sentido de compreender a relação dos fatores que intervêm na

realização de atividades físicas no parque, buscou-se descrever a interação entre

as variáveis idade (anos), tempo de ocupação do parque (min/dia) e freqüência

semanal (dias/semana) através da correlação linear de Pearson com um nível de

significância de p<0,05. Estes resultados são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7 Correlação entre idade, tempo de ocupação e freqüência semanal

Variáveis r p* n Tempo & Freqüência -0,12 0,001 819

Tempo & Idade -0,23 0,000 839

Idade & Freqüência 0,30 0,000 820

* p < 0,05

Os resultados demonstram associações negativas significativas (p < 0,01),

ainda que baixas, entre as variáveis tempo e freqüência (-0,12) e tempo e idade

(-0,23). Ainda foi encontrada uma associação positiva significativa (p = 0,001) e

um pouco mais expressiva entre idade e freqüência (0,30). Os dados sugerem

que:

a) o aumento no tempo de permanência no parque parece estar inversamente

relacionado à freqüência semanal de uso;

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b) o tempo de permanência no parque está inversamente relacionado com a

idade dos usuários, sugerindo que as pessoas mais velhas permanecem

por menos tempo no parque. Esta informação sugere que a prática de

atividades físicas entre os sujeitos mais velhos pode não estar adequada

às suas necessidades e condições. Recomenda-se, nesta faixa de idade,

aumento na duração da atividade e não na intensidade. Todavia, como não

foi determinada a intensidade das atividades esta suposição necessita de

estudos ulteriores.

c) a freqüência de utilização parece estar diretamente relacionada à idade,

sugerindo que as pessoas mais velhas freqüentam o parque mais vezes.

Como foi anteriormente levantado (Figuras 2 e 3), o parque parece ser

freqüentado por indivíduos em idade maduras (acima de 35 anos) e que

possuem uma maior disponibilidade de organização para o tempo livre.

Esta característica é mais uma vez reforçada ao indicar que a maior

freqüência ao parque é observada entre aqueles indivíduos que tem mais

idade.

Deve se destacar que as baixas correlações encontradas sugerem que outros

fatores também possam estar influenciando estas associações e, portando,

determinando a prática de atividades físicas no parque.

Para a exploração dos dados utilizou-se ainda o procedimento multivariado de

análise hierárquica de clusters para identificar grupos homogêneos de variáveis.

O resultado desta análise é apresentado na Figura 12.

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Figura 12. Dendograma das variáveis demográficas dos usuários e de

ocupação do parque

Dis

tânc

ia d

e Li

gaçã

o

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

TCAT FXID CATF REG GEN COM ATD MOT

A análise das variáveis por agrupamentos demonstrou que:

a) agrupamento 1, formado pelas variáveis motivo (MOT), categorias de

atividades (ATD), companhia e gênero (COM & GEN), sugerindo que

estas variáveis possam estar associadas e determinando o tipo de

atividade realizada;

b) agrupamento 2, formado pelas variáveis categorias de freqüência

(CATF) e região de residência (REG), sugere que a freqüência ao

parque possa estar associada à região que os usuários residem;

c) agrupamento 3, formado pelas variáveis categorias de tempo de

ocupação (TCAT) e faixa etária (FXID), sugere que a idade possa estar

associada ao tempo de ocupação do parque.

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Para confirmar possíveis associações levantadas na análise por

agrupamentos (Figura 12), utilizou-se o teste Qui-quadrado e o coeficiente de

correlação de Spearman (ordenação em ranking) com nível de significância de

p < 0,05, conforme o apresentado na Tabela 8.

Tabela 8 Associação entre variáveis dos agrupamentos 1, 2 e 3

Variáveis X2 P Associação Agrupamento 1 MOT & COM 0,741 0,389 Não

MOT & GEN 0,741 0,389 Não

MOT & ATD 1081,9 0,000 Sim

COM e GEN 0,741 0,389 Não

COM & ATD 0,741 0,389 Não

ATD & GEN 1186,2 0,000 Sim

Agrupamento 2

REG & CATF 96,0

- 0,26*

0,000

0,000

Sim

Sim

Agrupamento 3

TCAT & FXID 216.2 0,000 Sim

* Valor da correlação através de ordenação em ranking de Spearman (rs)

Os testes sugerem que:

a) No agrupamento 1 motivo e gênero são as variáveis que estão associadas

com categorias de atividade e portanto, influenciam na escolha do tipo de

atividade realizada no parque;

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b) Nos agrupamento 2 foi confirmada a associação entre categorias de

freqüência e região de residência, sugerida na Figura 12, e demonstrada

uma correlação negativa e significativa entre as variáveis, demonstrando

que a maior distância entre a região de residência e o parque pode

determinar menor freqüência de utilização deste parque mesmo;

c) No agrupamento 3 confirmou-se a associação entre tempo de permanência

no parque e idade dos usuários conforme o apresentado e discutido na

Tabela 7.

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2 - Descrição dos usuários entrevistados na segunda fase da pesquisa

Esta seção foi dividida em três tópicos para apresentar os dados sobre os

usuários participantes na segunda fase da pesquisa. O primeiro destinou-se à

apresentação e discussão dos dados sócioeconômicos indicando gênero, idade,

classe econômica e grau de instrução. No segundo momento são

apresentados os estágios de mudança de comportamento relacionado à

atividade física. Finalmente, no terceiro tópico, os resultados sobre percepção

do ambiente relacionado à prática de atividade física

a) características sócioeconômicas

Nesta etapa de pesquisa participaram 253 sujeitos de ambos os sexos. O

gênero com maior freqüência observada foi o masculino, com 136 casos (54% do

total da amostra), enquanto as mulheres, com 116 casos, constituíram 46% da

amostra (Figura 13).

Homens54,0%

Mulheres46,0%

Figura 13. Caracterização da amostra na segunda fase segundo gênero

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Os dados mostram uma maior predominância de indivíduos do sexo

masculino nesta amostra, quando se considera os dados apresentados na

primeira fase da pesquisa (Figura 1), que embora também tenha demonstrado

uma proporção maior de homens apresentou uma distribuição mais equilibrada.

A média de idade encontrada nesta etapa foi de 44,49 anos (±14,52), com

valores mínimos e máximos de 14,6 e 70,5 anos, respectivamente. Estes dados

demonstram características similares àquelas encontradas na primeira fase da

pesquisa. No entanto, observou-se diminuição na idade máxima e aumento da

idade mínima na segunda fase. Esta característica pode ser resultado da

investigação por questionários via correio que limita os respondentes àqueles com

capacidade de leitura e autonomia para utilizar o correio.

A classificação sócio-econômica da amostra (Tabela 9) foi realizada de

acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil (ANEP, 1997). Os dados

demonstram que a amostra caracteriza-se como sendo de bom nível sócio-

econômico (NSE) uma vez que a maior parte dos indivíduos (58,4%) encontram-

se nas categorias B1 e A2.

Tabela 9 Distribuição de freqüências segundo o classe econômica (n=252)

Classe Econômica Freqüência Porcentagem Porcentagem Classe Agrupada D (D) 08 3,2 3,2

C (C) 30 11,9 12,0

B2 (B) 44 17,5 48,5

B1 (B) 78 31,0

A2 (A) 69 27,4 36,1

A1 (A) 22 8,7

não-resposta 01 0,4 0,4

Total 252 100 100

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Ao considerar as classes agrupadas, a Tabela 9 mostra maior proporção

de indivíduos na classe B (48,6%), seguido das classes A (36,3%), C (12,0%) e D

(3,2%), confirmando o elevado NSE da amostra quando comparados ao padrão

brasileiro.

Para melhor descrição dos dados, buscou-se comparar o NSE dos sujeitos

à partir da distribuição de renda dos chefes de família (salários mínimos) de

Curitiba, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto de Planejamento

Urbano de Curitiba (1997) baseados no censo populacional de 1991 (Figura 14).

46,89

18,1911,9

3127,4

8,73,285,267,43

18,95 17,5

3,2

0 a 3 3 a 5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 >Salários Mínimos

% CuritibaAmostra

Figura 14. Distribuição de renda em salários mínimos dos chefes de família de

Curitiba e da amostra (n=252)

Os dados mostram que a população de Curitiba concentra-se, em maior

proporção, nas faixas de renda até 10 salários mínimos (84,09%). A amostra, por

sua vez, encontra predomínio nas faixas de renda maior que 10 salários mínimos

(67,10%).

Para descrever o grau de instrução da amostra, os indivíduos foram

classificados em 6 grupos de escolaridade, seguindo as denominações

estabelecidas pela LDB/96 (Figura 15).

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������������������������������

7,5

5,2

5,2

15,5

14,7

51,6

0 10 20 30 40 50 60

básico inc.

básico

médio inc.

médio

superior inc.

superior

percentual

Figura 15. Caracterização da amostra na segunda fase segundo o grau de

instrução (n=252)

Observa-se que a maior parte da amostra nesta fase da pesquisa tem um

nível de escolaridade elevado uma vez que possuem o nível superior completo

(51,6%). Ainda é possível destacar que 30,2% dos sujeitos têm escolaridade

intermediária, com nível médio completo ou superior incompleto, e que 17,9%

possui escolaridade mais baixa, com o nível básico incompleto, básico completo e

médio incompleto.

Para uma melhor compreensão desta informação, buscou-se comparar a

escolaridade da amostra com alguns dados da população brasileira e de Curitiba.

A Figura 16 demonstra a escolaridade em anos de estudo das pessoas com idade

acima de 10, segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios

(IBGE, 1999).

Os dados demonstram que a amostra apresenta um nível de escolaridade

elevado quando comparada com a população de Curitiba e do Brasil. Enquanto

que a população do Brasil e de Curitiba concentra-se na faixa que possui 1 a 7

anos de estudo (34,2% e 33,9% respectivamente), a maior parte da amostra

(82,1%) possui mais de 11 anos de estudo.

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������������������������������

���������������������������������

19,618,334,2

14,8 19,012,626,7

33,9

82,1

3,6

40,0

10,3

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

1 a 3 4 a 7 8 a 10 > 11anos de estudo

%

����������

CuritibaAmostra

Brasil

Figura 16. Distribuição de freqüência da amostra Curitiba e Brasil segundo anos

de estudo (n=252)

Os dados apresentados demonstram que a população que freqüenta o

parque representa um grupo específico da população de Curitiba, tanto

economicamente (Figura 14) quanto social e culturalmente.

b) estágios de mudança de comportamento e prática de atividades físicas

A Figura 17 demonstra a distribuição de freqüências para cada estágio de

mudança de comportamento (EMC) e permite identificar que o estágio de

manutenção é o que apresenta o maior número de casos com 136 registros

(55,06%), seguido dos estágios: ação, com 53 casos (21,45%); preparação

(10,52%); contemplação (12,55%); e pré-contemplação (0,4%). Nesta variável 5

sujeitos (2,0%) não puderam ser classificados em qualquer estágio.

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Estes dados demostram que a amostra apresenta elevada regularidade de

prática de atividades físicas quando comparada com outros estudos. A

percentagem de pessoas na população dos Estados Unidos que se encontram no

estágio de manutenção e ação é de 36% e 7,4%, respectivamente (U.S

Department of Health and Human Service, 1999). No Canadá, 34% da população

encontra-se no estágio de manutenção e 42% no estágio de ação (Canadian

Fitness and Lifestyle Research Institute, 1998). Entre professores universitários do

estado de Santa Catarina, 32% de sujeitos encontram-se no estágio de

manutenção (Martins, 2000).

0 ,4

12 ,6

10 ,5

21 ,5

55 ,1

p re -contem p lação

contem p lação

preparação

ação

m anutenção

Figura 17. Distribuição de freqüências (percentual) para cada estágio de mudança

de comportamento (n=247)

Para caracterizar a prática de atividades físicas os sujeitos foram

classificados, a partir do EMC, em: a) ativos, para aqueles que se encontram nos

estágios de ação e manutenção; e b) inativos, para aqueles que se encontram

nos estágios de pré-contemplação, contemplação e preparação, como pode ser

observado na Figura 18.

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Inativos23%

Ativos77%

Figura 18. Distribuição de freqüências de ativos e inativos segundo classificação

do EMC (n=247)

Com esta classificação, somente 23% (58 casos) dos sujeitos são

considerados inativos, enquanto que 77% (189 casos) são regularmente ativos.

Os dados demonstram maior prática regular de atividades físicas na amostra

quando comparada à prática regular da população americana, com 38%

(Brownson, 2000), e com professores universitários de Santa Catarina, que é de

17,4% (Martins, 2000).

Esta informação, juntamente com aquelas levantada na seção anterior,

parecem demonstrar que o parque é um ambiente que atrai pessoas que estão

previamente motivadas para a prática de atividades físicas, uma vez que o local é

freqüentado em grande parte por indivíduos considerados regularmente ativos, e

podem estar praticando atividades físicas, independentemente do uso do parque

para tal finalidade. Esta constatação pode explicar a elevada preferência pela

prática de atividades físicas quando comparada com outras atividades realizadas

no parque (Figura 8).

Conforme descrito na seção anterior, a prática de atividades físicas no

parque está associada à idade (Tabela 7) e região de moradia (Tabela 8). No

entanto, os baixos valores de correlação encontrados sugerem a interferência de

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outras variáveis nesta associação. Fatores demográficos como idade, nível

sócioeconômico e ¨status¨ matrimonial têm sido relatados como determinantes na

prática de atividades físicas (Dishmann, 1994; Sallis & Owen, 1999; Stephens e

Caspersen, 1994).

Para melhor compreensão sobre a prática de atividades físicas no parque,

a Tabela 10 mostra a associação entre variáveis consideradas determinantes

para a atividade física. Para tanto, foi utilizada a correlação de Spearman

(ordenação em ranking) com nível de significância p < 0,05, para analisar a

interação entre as variáveis: a) EMC; b) NSE; c) grau de instrução; e d) idade.

Tabela 10 Correlação entre idade, NSE, grau de instrução e EMC

Variáveis rs p n EMC & Idade 0,252 0,001 246

EMC & NSE 0,250 0,013 247

EMC & Grau de Instrução 0,091 0,155 246

NSE & Grau de Instrução 0,377 0,000 250

NSE & Idade 0,220 0,000 250

Grau de Instrução & Idade 0,001 0,983 250

Os dados mostram que EMC está correlacionado positiva e

significativamente com a idade (rs=0,252; p=0,001) e com o nível sócio-econômico

(rs=0,250; p=0,013). Estes resultados sugerem que a prática de atividades físicas

aumenta com a idade e com a renda. Dishman (1994) e ainda Stephens e

Caspersen (1994) relatam que hábitos de atividade física tem sido

consistentemente relacionados de maneira positiva com nível educacional e

econômico (renda), o que é observado na Tabela 10.

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Todavia, os mesmos autores citam que a atividade física tem sido associada de

maneira negativa com a idade, o que não é confirmado no presente estudo.

Novamente, como o sugerido na Figura 7, destaca-se a prática elevada de

atividade física entre os sujeitos mais idosos da amostra.

Os dados da Tabela 10 mostram ainda que NSE está correlacionado de

maneira positiva com grau de instrução (rs=0,377; p<0,001), e idade (rs=0,220;

p<0,001), sugerindo que o grau de instrução aumenta com a renda e idade. Estes

resultados podem explicar em parte a maior prática de atividades físicas

observada nos indivíduos com maior idade e não corroborada na literatura

(Dishman, 1994; Stephens & Caspersen, 1994) uma vez que são os mais idosos

que possuem maior renda e esta por sua vez é considerada um determinante

para a prática regular de atividades físicas (Sallis & Owen, 1999).

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c) percepção do ambiente para a realização de atividades físicas

Neste tópico são apresentados os fatores que compõem as dimensões da

matriz analítica desenvolvida para esta investigação (Anexo 6), foram

considerados para análise somente os indicadores que apresentaram validade e

fidedignidade adequadas (Quadro 2).

Quadro 2 Indicadores e fatores da dimensão física do ambiente relacionado à prática de atividades físicas nos parques

Indicador Fator Dimensão

Incidência de chuvas no parque

Poluição do ar no parque

Beleza geográfica do parque

Localização geográfica do parque

Geográfico

Pista de caminhada/corrida no parque

Equipamentos disponíveis (bancos, espaldares, barras)

Estacionamento no parque

Beleza arquitetônica das estruturas construídas no parque

Tecnológico e

Arquitetônico

Física

Programas públicos no parque para a prática de atividades

físicas

Cartazes ou quadros informativos no parque sobre

atividades físicas

Serviços de atendimento de emergência no parque

Segurança pública nas imediações do parque

Regulamentação de trânsito nas imediações do parque

Político

Normativo

Comportamento freqüentemente observado dos usuários

no parque

Apoio e incentivo de amigos

Valor atribuído ao parque pela comunidade em geral

Valores e

Atitudes

Sócio-

Cultural

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Buscou-se identificar fatores da dimensão física que estimulam ou inibem a

prática de atividades físicas, observando-se a distribuição de freqüências dos

indicadores segundo as categorias presentes da escala de percepção (Tabela

11).

Tabela 11 Distribuição de freqüências dos indicadores da dimensão física segundo categorias na escala de percepção

Indicadores n

Inibe

Bastante Inibe Estimula

Estimula

Bastante

Incidência de chuvas no parque 249 39,4 48,6 10,4 1,6

Poluição do ar no parque 246 27,2 43,9 16,7 12,2

Beleza geográfica do parque 252 0,4 0,8 24,6 74,2 Localização geográfica do parque 250 0,8 3,2 30,4 65,6 Pista de caminhada/corrida no parque 251 0,8 4,4 41,8 53,0 Equipamentos disponíveis 246 6,5 19,1 43,9 30,5 Estacionamento no parque 252 4,0 13,1 43,3 39,7 Beleza arquitetônica das estruturas

construídas 252 x 3,6 42,5 54,0

Os dados demonstram que para a maior parte dos sujeitos os indicadores:

a) incidência de chuvas (48,6%); b) poluição do ar (43,9%) inibem a prática de

atividades físicas no parque.

Por outro lado, foram considerados indicadores que estimulam bastante a

prática de atividades física: a) beleza geográfica (74,2%); b) localização

geográfica do parque (65,6%); c) pista de caminhada/corrida (53%); e d) a beleza

arquitetônica das estruturas (54%).

Os indicadores que estimulam a prática para a maior parte dos sujeitos são

os equipamentos disponíveis (43,9%) e estacionamento no parque (43,3%).

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Na Tabela 12 são apresentadas as distribuições de freqüências dos

indicadores do ambiente sócio-cultural segundo categorias da escala de

percepção.

Tabela 12 Distribuição de freqüências dos indicadores da dimensão sócio-cultural segundo categorias de escala de percepção

Indicadores N

Inibe

Bastante Inibe Estimula

Estimula

Bastante

Programas públicos no parque para a prática de atividades físicas

247 15,8 23,9 30,8 29,6

Cartazes ou quadros informativos 245 23,3 18,4 36,7 21,6 Serviços de atendimento de emergência no parque

245 26,9 23,3 27,8 22,0

Segurança pública nas imediações do parque 246 17,9 26,0 28,9 27,2 Regulamentação de trânsito nas imediações do parque

249 8,0 20,1 47,0 24,9

Comportamento freqüentemente observado dos usuários no parque

248 3,6 8,9 53,2 34,3

Apoio e incentivo de amigos 249 2,4 6,2 50,6 37,3 Valor atribuído ao parque pela comunidade em geral

248 1,2 4,8 39,5 54,0

Nesta dimensão o valor atribuído pela comunidade estimula bastante a

prática de atividades físicas no parque para a maior parte dos sujeitos (54%).

Os indicadores que estimulam a prática de atividades físicas são: a) os

programas públicos (30,8%); b) cartazes/quadros informativos (36,7%); c)

regulamentação de trânsito nas imediações (47,0%); d) comportamento dos

usuários (53,2%); e ainda e) apoio e incentivo de amigos (50,6%).

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Os serviços de atendimento de emergência aparecem com distribuição

equilibrada nas categorias da escala, com percentagem similares em estimula

(27,8%) e inibe bastante (26,9%).

A segurança pública nas imediações também se apresenta com

distribuição de freqüências equilibrada, porém com maior percentagem para

estimular (28,9%), seguido de estimular bastante (27,2%) e inibir (26,0%) a

prática de atividades físicas.

Para melhor compreensão sobre a percepção dos indicadores, optou-se

por apresentar na Tabela 13, a distribuição de freqüência dos dados agrupados

segundo o estímulo: a) positivo (estimula bastante e estimula); e b) negativo (inibe

bastante e inibe), classificação das correlações (ordenação de ranking de

Spearman com p < 0,05) entre os indicadores ambientais e as variáveis: a) idade;

b) NSE; c) grau de instrução; e d) EMC, demonstradas nos Anexos 8 e 9.

Os valores de correlação foram classificados de acordo com o critério

adotado por Mitra e Lankford (1999) para investigações no campo da sociologia e

do lazer (Anexo 5).

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Tabela 13 Distribuição de freqüências dos indicadores segundo pólos da escala de percepção e classificação das correlações com variáveis sócio-demográficas

Indicadores Pólo

Negativo

Pólo

Positivo

Associação com variáveis sócio-demográficas

(idade, NSE, grau de instrução) Incidência de chuvas no parque

88,0% 12,0% Muito Fraca

Poluição do ar no parque

71,1% 28,9% Muito Fraca

Beleza geográfica do parque

1,2% 98,8% Muito Fraca

Localização geográfica do parque

4,0% 96,0% Muito Fraca

Pista de caminhada/corrida no parque

5,2% 94,8% Muito Fraca

Equipamentos disponíveis

25,6% 74,4% Não

Estacionamento no parque

17,1% 82,9% Não

Beleza arquitetônica das estruturas construídas

3,6% 96,4% Não

Programas públicos no parque para a prática de atividades físicas

39,7% 60,3% Não

Cartazes ou quadros informativos

41,7% 58,3% Muito Fraca

Serviços de atendimento de emergência no parque

50,2% 49,8% Não

Segurança pública nas imediações do parque

43,9% 56,1% Não

Regulamentação de trânsito nas imediações do parque

28,1% 71,9% Muito Fraca

Comportamento freqüentemente observado dos usuários no parque

12,5% 87,5% Não

Apoio e incentivo de amigos

8,6% 91,4% Não

Valor atribuído ao parque pela comunidade em geral

6,0% 94,0% Não

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Quanto ao fator geográfico, os dados agrupados demonstram que podem

ser considerados:

a) negativos, os indicadores incidência de chuvas (88,0%) e poluição do ar

no parque (71,1%);

b) positivos, beleza geográfico do parque (98,8%) e a localização

geográfica do parque (96,0%). Neste fator os indicadores apresentaram

fraca associação com idade, NSE e grau de instrução.

Estes resultados sugerem que as condições climáticas são consideradas

barreiras para a prática de atividades físicas no parque. Sallis & Owen (1999)

relatam que condições climáticas inadequadas têm sido associadas

negativamente com o nível de atividade física. Desta maneira, a prática de

atividade física no parque parece estar associada com condições climáticas

adequadas.

A localização e a estética parecem representar estímulos para a prática de

atividades físicas no parque. A falta de prazer ao realizar atividade tem sido

relatada como uma barreira para a prática regular de atividade física (U. S.

Department of Health and Human Services, 1999). Portanto, a maior prática de

atividade física observada entre os sujeitos pode estar, em parte, associada à

percepção positiva que os mesmo tem destas condições (beleza e localização),

tornando a atividade realizada mais prazeirosa.

O fator tecnológico e arquitetônico demonstra ser considerado positivo

para a prática de atividades físicas uma vez que: a) pista de caminhada (94,8%);

b) equipamentos disponíveis (74,4%); c) estacionamentos no parque (83,0%); e d)

beleza arquitetônica das estruturas (96,5%), que são a totalidade dos indicadores,

foram classificados positivamente. A pista de caminhada apresentou associação

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muito fraca com as variáveis sócio-demográficas não sendo verificada nenhuma

associação entre os indicadores deste fator.

Os resultados também sugerem que os equipamentos instalados no parque

são considerados estímulos para a prática de atividades físicas naquele ambiente.

Alguns estudos têm relatado que o acesso às instalações adequadas para a

prática de exercícios está associado com maiores níveis de atividade física (Sallis

et al. 1997; Sallis & Owen, 1999; U. S. Department of Health and Human

Services, 1999). Neste sentido, os equipamentos instalados no parque contribuem

de maneira positiva para a realização de atividades físicas naquele ambiente.

Quanto ao fator político-normativo, os dados demonstram que o

indicador regulamentação de trânsito nas imediações (71,9%) é considerado

positivo para a prática de atividades.

Os valores de concordância dos indicadores: a) programas públicos

(60,3%); b) cartazes/quadros informativos (58,3%); e c) segurança pública nas

imediações do parque (56,1%), estão concentrados no pólo positivo. Hill e Hill

(2000) sugerem que valores de concordância inferior a 60% são considerados

moderados. Portanto, é possível ponderar que estes indicadores representam

fraco estímulo para a prática de atividades físicas, uma vez que todos foram

inferiores ou iguais a 60%.

Os serviços de atendimentos de emergência não possuem concordância e

um único pólo, e podem ser considerados estímulos negativos (50,2%) ou

positivos (49,8%) para a prática de atividades físicas. Foi identificada associação

muito fraca entre variáveis sócio-demográficas e: a) cartazes/quadro informativos;

e b) regulamentação de trânsito nas imediações do parque.

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Os resultados demonstram que os aspectos ligados às políticas públicas

como segurança, trânsito e programas de intervenção não apresentam estímulo

para a prática de atividades físicas no parque. No entanto, o desenvolvimento e

implantação de ambientes pode resultar em locais adequados ou em barreiras

para a prática de exercícios (Canadian Lifestyle Institute, 1998). Esta afirmação,

sugere que a oferta destes serviços deve ser reestruturada de maneira que

possam representar estímulo à realização de atividades físicas.

O fator valores e atitudes pode ser considerado positivo para a prática de

atividade físicas no parque uma vez que os indicadores: a) comportamento dos

usuários (87,5%); b) apoio/incentivo dos amigos (91,4%); e c) valor atribuído pela

comunidade (94%), possuem concordância elevada (>80%) neste pólo. No

entanto não foram encontradas associações com variáveis sócio-demográficas.

Os aspectos ligados ao suporte social, como o apoio de outros e o contato

com pessoas que realizam atividade física (modelo de conduta), tem demonstrado

associação positiva com a prática de atividades físicas (Canadian Lifestyle

Institute, 1998; Sallis & Owen, 1999; U. S. Department of Health and Human

Services, 1999). Neste sentido, os resultados demonstram que o fator valores e

atitudes contribui para a prática de atividades físicas no parque e pode,

parcialmente, explicar o nível adequado de atividade física local.

Para compreender os fatores ambientais que determinam a prática de

atividades físicas no parque, buscou-se identificar diferenças quanto a percepção

sobre o ambiente entre os sujeitos ativos e inativos. Para tal análise utilizou-se o

teste não-paramétrico U de Mann-Whitney (p<0,05), comparando a classificação

(mediana) entre indicadores da dimensão física (Figura 19) e sócio-cultural

(Figura 20).

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es

95 100 105 110 115 120 125 130 135

incidência de chuvas

poluição do ar

beleza geográfica

localização do parque

pista de caminhada

equipamentos disponíveis

tacionamentos

beleza arquitetônica

ativosinativos

P = 0,04

Figura 19. Comparação na classificação (mediana) dos indicadores da dimensão

física

105 110 115 120 125 130 135 140

programas públicos

cartazes informativos

serviços de emergência

segurança pública

regulamentação de trânsito

comportamento dos usuários

apoio dos amigos

valor atribuído pela comunidade

ativosinativos

Figura 20. Comparação na classificação (mediana) dos indicadores da dimensão

sócio-cultural

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O dados demonstram que existe diferença significativa (p<0,05) na

percepção sobre a pista de caminhada entre os sujeitos ativos e inativos,

sugerindo que para os indivíduos mais ativos a pista de caminhada é um fator de

estímulo para a prática de atividades físicas. Não foram encontradas diferenças

significativas entre os sujeitos ativos e inativos nos demais indicadores presentes

nas dimensões física e sócio-cultural.

Os achados apresentados anteriormente na Tabela 10, demonstram que

EMC, NSE e idade são variáveis inter-relacionadas (associação significativa com

p<0,005) e estas, por sua vez, são variáveis consideradas determinantes para a

realização de atividades físicas (Sallis & Owen, 1999; U. S. Department of Health

and Human Services, 1999). Estes achados sugerem que as características

sócio-demográficas dos sujeitos podem influenciar a percepção sobre o ambiente

para a prática de atividades físicas.

Neste sentido, buscou-se verificar a diferença de percepção do ambiente

nas dimensões física (Tabela 14) e sócio-cultural (Tabela 15), entre sujeitos ativos

e inativos (Prova U de Mann-Whitney com p<0,05) com controle das variáveis

NSE, idade e grau de instrução.

Os resultados demonstram diferenças significativas (p<0,05) entre ativos e

inativos nos indicadores do ambiente físico (Tabela 14) e sócio-cultural (Tabela

15), sugerindo que a percepção sobre alguns indicadores é influenciada por

características sócio-demográficas como idade, NSE e grau de instrução.

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Tabela 14 Comparação na classificação (mediana) de indivíduos ativos e inativos segundo variáveis de controle (idade, NSE, grau de instrução) e indicadores da dimensão física

Variável de Controle Idade NSE Grau Instrução

Indicadores Ativos Inativos Ativos Inativos Ativos Inativos Incidência de chuvas no parque Rank médio Nível de significância (p)

5376,3

5443,2 0,322

389,26 0,567

379,29

590,5 0,357

571,2

Poluição do ar no parque Rank médio Nível de significância (p)

5393,8 0,000

4977,2

390,78 0,097

360,89

596,3 0,004

553,3

Beleza geográfica do parque Rank médio Nível de significância (p)

5415,2

5697,4 0,000

386,55 0,106

410,53

578,5

629,4 0,004

Localização geográfica Rank médio Nível de significância (p)

5437,3 0,095

5334,5

393,0 0,324

377,15

589,0 0,727

582,9

Pista de caminhada/corrida Rank médio Nível de significância (p)

5639,6 0,000

4651,0

406,7 0,000

335,6

607,7 0,000

521,8

Equipamentos disponíveis Rank médio Nível de significância (p)

5338,4

5615,8 0,000

377,5 0,121

405,2

565,0

614,8 0,021

Estacionamento no parque Rank médio Nível de significância (p)

5480,0 0,378

5419,3

393,7 0,676

386,2

592,9 0,630

582,5

Beleza arquitetônica Rank médio Nível de significância (p)

5464,9

5477,2 0,851

392,7 0,954

391,7

588,4

597,0 0,678

Page 95: DETERMINANTES AMBIENTAIS PARA A REALIZAÇÃO DE … · 2011-08-23 · Atividade Física e Saúde: Estudos de Associação Padrões de Atividade Física em Diferentes Populações

Tabela 15 Comparação na classificação (mediana) de indivíduo ativos e inativos segundo variáveis de controle (idade, NSE, grau de instrução) e indicadores da dimensão sócio-cultural

Variável de Controle Idade NSE Grau Instrução

Indicadores Ativos Inativos Ativos Inativos Ativos Inativos Programas públicos no parque para a prática de atividades físicas Rank médio Nível de significância (p)

5228,0

5677,86 0,000

374,3

413,7 0,031

565,4

624,3 0,008

Cartazes ou quadros informativos Rank médio Nível de significância (p)

5184,4

5556,0 0,000

372,4

407,5 0,53

555,9

638,2 0,000

Serviços de atendimento de emergência no parque Rank médio Nível de significância (p)

5200,2

5772,5 0,000

370,8

419,7 0,008

559,5

624,7 0,003

Segurança pública nas imediações do parque Rank médio Nível de significância (p)

5200,2

5768,8 0,000

368,7

429,9 0,001

548,4

658,4 0,000

Regulamentação de trânsito nas imediações do parque Rank médio Nível de significância (p)

5217,5

6025,8 0,000

372,5

435,5 0,000

560,3

662,1 0,000

Comportamento freqüentemente observado dos usuários no parque Rank médio Nível de significância (p)

5365,0

5489,9 0,061

385,6 0,877

382,9

578,1

592,4 0,494

Apoio e incentivo de amigos Rank médio Nível de significância (p)

5395,5

0,516

5352,3

387,7 0,842

384,3

577,6

597,9 0,329

Valor atribuído ao parque pela comunidade em geral Rank médio Nível de significância (p)

5378,6

5459,2 0,216

384,450,599

383,3

572,8

617,8 0,028

Page 96: DETERMINANTES AMBIENTAIS PARA A REALIZAÇÃO DE … · 2011-08-23 · Atividade Física e Saúde: Estudos de Associação Padrões de Atividade Física em Diferentes Populações

Os resultados mostram que para os indivíduos ativos, considerando as

características sócio-demográficas, os indicadores que estimulam a prática de

atividades físicas são:

a) baixa poluição do parque, quando controladas as variáveis idade ou

grau de instrução;

b) pista de caminhada/corrida, quando controladas as variáveis idade,

NSE ou grau de instrução;

Entre os indivíduos inativos, considerando as variáveis idade, NSE e grau

de instrução, os indicadores que estimulam a prática de atividade física são:

a) beleza geográfica do parque e equipamentos disponíveis para a

realização de exercícios, quando controladas as variáveis idade ou grau

de instrução;

b) programas públicos, serviços de emergência, segurança pública e

regulamentação do parque, quando controladas as variáveis idade,

NSE ou grau de instrução;

c) cartazes/quadros informativos, quando controladas as variáveis idade

ou grau de instrução;

d) valor atribuído ao parque, quando controlada a variável grau de

instrução.

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3 – O modelo ecológico e a prática de atividades físicas no parque

Esta seção destina-se à apresentação dos dados relativos aos princípios

dos modelos ecológicos de investigação sobre o comportamento na promoção da

saúde.

Sallis e Owen (1996), após uma revisão dos conceitos e modelos na

abordagem ecológica, desenvolveram alguns princípios com o objetivo de orientar

a pesquisa na área de promoção da saúde. Estes princípios, que podem ser

aplicados à atividade física, são: a) dimensões múltiplas influenciam o

comportamento; b) interações entre as dimensões; c) múltiplos níveis de

influências ambientais; d) o ambiente influencia diretamente o comportamento.

a) Dimensões múltiplas influenciam o comportamento

Os modelos ecológicos especificam que fatores intrapessoais e o

ambientes sócio-cultural e físico podem influenciar os comportamentos de saúde.

A inclusão destas três categorias de análise, particularmente o ambiente físico,

diferencia esta abordagem de outros modelos e teorias de estudo de

comportamento que, invariavelmente, enfatizam a análise sob a influência de um

único fator (Sallis & Owen, 1996; 1999).

Neste estudo foram analisadas apresentadas variáveis intrapessoais,

interpessoais e ambientais, reconhecendo a influência de múltiplas dimensões.

Estas dimensões podem ser consideradas determinantes para a prática de

atividades físicas no parque, como é demonstrado a seguir.

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A dimensão intrapessoal; os dados demonstraram que idade, gênero e

motivação estão associados com: a) freqüência de uso; b) tempo de ocupação do

parque; c) tipo de atividade realizada no parque. Os achados também mostram

que NSE e idade estão diretamente relacionados com nível de prática de

atividade física.

A dimensão interpessoal; os resultados mostram que o uso do parque

desacompanhado é mais freqüente entre os indivíduos mais idosos e que a

atividade física no parque pode ser estimulada através de: a) apoio e incentivo

dos amigos; e b) comportamento observado entre os demais usuários.

Ambiente físico; os resultados do estudo sugerem a influência do

ambiente para a realização de atividades físicas no parque: a) a distância entre

local de residência e o parque está associada com a freqüência de utilização; b) a

existência e disponibilidade de instalações equipamentos no parque como

estacionamentos, equipamentos para exercícios e pista de caminhadas são

considerados estímulos para a prática de atividades físicas; c) as condições

climáticas são fator de inibição para realização de atividades físicas.

b) Interações entre as dimensões

A contribuição dos modelos ecológicos não reside apenas em destacar os

diversos níveis ou dimensões de influência. A característica deste tipo de

abordagem é procurar entender não apenas os fatores que influenciam o

comportamento, mas também como estes fatores interagem entre si (Sallis &

Owen, 1997). A análise de dados, demonstrada a seguir, sugere a existência

Page 99: DETERMINANTES AMBIENTAIS PARA A REALIZAÇÃO DE … · 2011-08-23 · Atividade Física e Saúde: Estudos de Associação Padrões de Atividade Física em Diferentes Populações

desta interação entre as dimensões e variáveis investigadas e sua influência na

realização de atividades físicas no parque.

Ambiente social e freqüência ao parque; os resultados demonstram que

o parque é freqüentado por pessoas com renda e educação elevados e ainda que

têm a prática de atividade física como rotina. Estas características podem

contribuir para a construção da “imagem” do parque como local para a prática de

atividades físicas. Por outro lado, também pode ser considerado local freqüentado

por pessoas que pertencem a determinado grupo sócioeconômico.

Este imaginário pode representar uma barreira para que outras pessoas

passem a utilizar o parque. Henderson e Frelke (2000) sugerem que a escolha de

locais e atividades de lazer, é determinada por valores, preferências e aspirações.

Quando estas características não são encontradas contribuem para o sentimento

de “não pertencer” ou “deslocamento” do indivíduo em relação ao ambiente.

Neste contexto, enquanto local valorizado para a prática de atividades

físicas, o parque pode atrair pessoas que desejem realizar tais atividades. Por

outro lado, considerando que é local freqüentado por pessoas com determinadas

características sócioeconômicas, pode ser considerado atraente somente para

indivíduos que se sintam “pertencentes” àquele grupo social.

Desta maneira, indivíduos que reconhecem o parque como local para a

prática de atividades físicas, mas não pertencem ao grupo social predominante,

podem sentir-se “excluídas” do ambiente e portanto diminuírem ou mesmo evitar

a freqüência ao local.

Idade, renda e prática de atividades físicas; resultados do estudo

também demonstram que freqüentadores do parque caracterizam-se por

apresentar idade e elevada prática de atividades físicas.

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Em primeira análise, a maior prática de atividades físicas pode ser

considerada influência direta da valorização do ambiente existente. No entanto,

deve-se considerar que o maior nível sócioeconômico encontrado pode

representar melhor acesso às condições e equipamentos adequados para a

prática, como roupas, calçados e mais tempo livre. O acesso a estas condições

tem sido relatado como positivamente associado com níveis de atividade física

(Sallis et al. 1997; U.S. Department of Health and Human Services, 1996) e

representam determinantes para a realização de atividades físicas.

Os resultados do estudo demonstram que a prática de atividades físicas e

a renda aumentam com a idade. Esta informação não é totalmente corroborada

pela literatura que relata a consistente associação negativa entre idade e níveis

de atividade física (Dishman, 1994; Stephens & Caspersen, 1994; Sallis & Owen,

1999). Todavia, considerando a associação entre as dimensões, observa-se que

os indivíduos mais idosos são também mais ativos porém apresentam a melhor

condição sócio-econômica, que por sua vez é associada positivamente com os

níveis de atividade física (Dishman, 1994; Stephens & Caspersen, 1994; Sallis &

Owen, 1994).

Percepção do ambiente e características intrapessoais; os dados

apresentados demonstram que: a) os indicadores do ambiente relacionado à

atividade física não estão associados com níveis de prática de atividade física,

avaliada pelo EMC; b) parece não haver diferença na percepção sobre o

ambiente entre indivíduos ativos e inativos.

Tal informação sugere, inicialmente, que a percepção sobre o ambiente

não influencia diretamente a prática de atividades físicas no parque. No entanto,

quando a percepção dos grupos ativo e inativo foi comparada controlando as

Page 101: DETERMINANTES AMBIENTAIS PARA A REALIZAÇÃO DE … · 2011-08-23 · Atividade Física e Saúde: Estudos de Associação Padrões de Atividade Física em Diferentes Populações

variáveis NSE, grau de instrução e idade, foram constatadas diferenças

significativas (p<0,05), sugerindo que a percepção do ambiente entre grupos com

diferentes níveis de atividade física é mediada por características sócio-

demográficas dos sujeitos.

d) Múltiplos níveis de influência do ambiente

O reconhecimento de que as instituições, a comunidade e as políticas

públicas influenciam os comportamentos é um conceito desenvolvido nas

abordagens ecológicas (Glanz et al.1996; Stokols, 1992). Estes níveis de

influência ambientais determinam a construção, arquitetura e uso dos locais e,

portanto, exercem influência sobre os comportamentos manifestados.

Sallis e Owen (1996) sugerem que este conceito pode ser aplicado à

atividade física, o que é demonstrado nos resultados sobre influências dos fatores

ambientais sobre a prática de atividades físicas no parque.

Nível institucional; embora o estudo não tenha levantado informações

específicas sobre o suporte das indústrias, empresas e escolas para a prática de

atividades físicas, alguns apontamentos sugerem a influência neste nível. A

elevada prática e freqüência da atividade física entre os idosos no parque sugere

que os mesmos possuem mais tempo disponível, o que pode ser resultado de

condições sócio-econômicas melhores, o que é reforçado pelo maior NSE entre

estes sujeitos.

Políticas públicas e a comunidade; a disponibilidade de equipamentos e

espaços na comunidade é resultado direto das decisões tomadas em nível

político. A grande disponibilidade de: a) espaços públicos de lazer com

equipamentos para realização de atividades físicas; e b) ciclovias e linhas de

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transporte urbano entre os parques, são exemplos de estímulos ambientais para

a prática de atividades físicas na cidade de Curitiba.

No entanto, o estudo aponta alguns fatores que podem exercer influência

negativa para a prática de atividades físicas nos parque como: a) legislação de

trânsito; b) segurança pública; c) programas de intervenção; d) serviços de

emergência; e) cartazes e folhetos informativos.

Os resultados sugerem que, embora a comunidade tenha recursos físicos

que podem estimular a prática de atividades físicas, o uso dos parques para tal

finalidade pode ser reforçado através da modificação das características sócio-

ambientais, que são diretamente determinadas por ações do poder público

municipal, estadual e federal.

e) O ambiente influencia diretamente o comportamento

Os resultados do estudo demonstram que os indicadores percebidos no

ambiente não estão associados com a prática regular de atividades físicas, o que

tem sido corroborado na literatura. Sallis et al. (1990), em estudo sobre fatores

percebidos no ambiente, não encontraram associação com a probabilidade de

tornar-se mais fisicamente ativo.

Todavia, no mesmo estudo (Sallis et al. 1990) após ajustes das variáveis

sócio-demográficas, foram confirmadas associações significativas, sugerindo que

a percepção do ambiente é mediada por características individuais.

Tal informação é corroborada nos resultados da presente pesquisa e

reforça a necessidade de novas investigações e instrumentos de medida que

possibilitem o estudo da associação atividade física e ambiente.

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CAPÍTULO V

CONCLUSÕES, CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

Conclusões

Os resultados encontrados no presente estudo permitem que, de acordo com os

objetivos do estudo, as seguintes conclusões sejam apresentadas;

1. Quanto às características sócio-demográficas dos usuários, observou-se

que os mesmos são predominantemente:

• adultos com mais de 35 anos de idade;

• homens e mulheres, em igual proporção;

• pertencentes às classes econômicas mais altas (A e B) e elevado grau de

instrução;

• residentes próximos ao parque;

• com prática de atividades físicas elevada.

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2. Quanto às características de ocupação do parque, segundo as atividades

realizadas e os motivos para utilização, constatou-se que:

a) a proximidade é o principal motivo para a utilização do parque e a distância

da residência está inversamente relacionada com a freqüência de uso do

parque;

b) a segurança/conforto e a beleza estética do parque são motivos mais

considerados por aqueles que residem mais afastados do parque;

c) a distribuição de casos sobre a freqüência ao parque acompanhado por

outra pessoa ou sozinho, demonstrou que, na maior parte, os usuários:

• mais jovens (< 35 anos) freqüentam o parque acompanhados;

• mais velhos (> 35 anos) freqüentam o parque sozinhos;

d) a distribuição de casos sobre a freqüência de atividades realizadas no

parque indica que:

• a caminhada é a atividade mais realizada no parque em todas as faixas

etárias, e é muito praticada entre os idosos;

• Os jogos são mais valorizados pelos jovens (< 15 anos) enquanto a

corrida é mais praticada entre os adultos jovens (16 a 25 anos).

• a prática de atividades físicas predomina entre os usuários do parque e

a maior parte as realiza dentro das recomendações indicadas para a

saúde;

• as mais idosos têm maior freqüência semanal de atividade física no

parque que os mais jovens, porém realizam por menos tempo.

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3. Quanto às características ambientais físicas e sociais existentes no parque

que podem influenciar na prática de atividades físicas, observou-se que:

a) “incidência de chuvas”; “poluição do ar”; “beleza geográfica e das estruturas

construídas”; “localização”; “pista de caminhada/corrida”; “equipamentos

disponíveis para realização de exercícios”; e ainda “estacionamentos”; são as

características ambientais físicas que podem influenciar a prática de atividades

físicas;

b) “os programas públicos para a prática de atividades físicas”; “cartazes ou

quadros informativos”; “serviços de atendimento de emergência”; “a segurança

pública e regulamentação de trânsito nas imediações”; “o comportamento

observado entre os usuários”; “o apoio e incentivo de amigos”; e ainda “o valor

atribuído ao parque pela comunidade em geral“ são as características

ambientais sociais que podem influenciar a prática de atividades físicas:

4. Quando à percepção dos usuários sobre o ambiente existente no parque

em relação a realização de atividades físicas, constatou-se que:

a) os freqüentadores consideram que no ambiente físico a “incidência de

chuvas e a “poluição do ar”, são fatores que inibem a prática de atividades

físicas no parque;

b) no ambiente físico são considerados, pela maior parte dos freqüentadores,

estímulos para a prática de atividades físicas: “a beleza geográfica e das

estruturas construídas”; “a localização do parque”; “pista de

caminhada/corrida”; “equipamentos disponíveis”; “estacionamentos”;

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c) no ambiente social, a maior parte dos freqüentadores consideram

estímulos a prática de atividades físicas, os fatores: “regulamentação de

trânsito nas imediações do parque”; “comportamento dos usuários”;

“apoio/incentivo dos amigos”; e “o valor atribuído pela comunidade”;

d) Os aspectos ligados às políticas públicas, como: “segurança na

imediações”; “programas de intervenção”; “serviços de emergência no

parque”; e “cartazes informativos”, parecem não afetar positiva ou

negativamente a prática de atividades físicas no parque, sugerindo que a

oferta de serviços deva ser reformulada.

5. Quanto à análise da percepção dos usuários sobre o ambiente físico e social

existente no parque considerando: a) nível de prática de atividade física; b)

características sócio-demográficas; e c) estágios de mudança de

comportamento relacionado à atividade física, conclui-se que:

a) os indicadores do ambiente físico e social não demonstram associação

com idade, NSE, EMC ou com o grau de instrução dos sujeitos;

b) os sujeitos mais ativos percebem mais positivamente a existência da pista

de caminhada/corrida para a prática de atividades físicas do que os

sujeitos inativos;

c) os indivíduos ativos, comparados aos inativos, consideram que estimulam

mais a prática de atividades físicas:

• poluição do parque, quando controladas as variáveis idade ou grau de

instrução;

• pista de caminhada/corrida, quando controladas as variáveis idade,

NSE ou grau de instrução;

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d) os indivíduos inativos, comparados aos ativos, consideram que estimulam

mais a prática de atividades físicas :

• beleza geográfica do parque e equipamentos disponíveis para a

realização de exercícios, quando controladas as variáveis idade ou grau de

instrução;

• programas públicos, serviços de emergência, segurança pública e

regulamentação do parque, quando controladas as variáveis idade, NSE ou

grau de instrução;

• cartazes/quadros informativos, quando controladas as variáveis idade

ou grau de instrução; valor atribuído ao parque, quando controlada a

variável grau de instrução.

Finalmente, conclui-se que o parque é um local valorizado para a prática de

atividades físicas e que atrai pessoas que parecem anteriormente motivadas para

a prática. As características que podem atrair pessoas para a realização de

atividades físicas no parque, parecem estar mais ligados a imagem que estas

pessoas fazem do parque e das que o utilizam. Os fatores ambientais existentes

no parque parecem ser importantes para a realização de atividades físicas mas a

sua percepção, enquanto estímulo ou barreira, depende essencialmente das

condições econômicas, sociais e culturais e ainda dos sujeitos.

Considerações

A utilização de espaços públicos para a prática de atividades físicas parece

uma alternativa com grande aplicabilidade para a promoção de um estilo de vida

mais ativo na população. Devido, particularmente, ao grande número de pessoas

atingidas pelo ambiente. Na cidade de Curitiba esta constatação tem especial

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valor uma vez que são vários e diversificados os espaços públicos que podem ser

utilizados para esta finalidade.

Todavia, o que se percebe é que a construção e localização destes locais

não atende de maneira equilibrada a população, especialmente no caso do

Jardim Botânico, que embora valorizado e reconhecido por toda a comunidade

como um símbolo da cidade, é freqüentado predominantemente por pessoas que

pertencem às classes sociais mais privilegiadas.

Os projetos de construção dos parques parecem atender às condições

físicas necessárias para a realização de atividades físicas. No entanto, a sua

implantação parece não ser acompanhada por programas públicos adequados

que visem atender as condições de segurança, informações e educação para a

prática regular de atividades físicas.

Neste sentido, esforços devem ser realizados pelo poder público para

implementar programas que visem não apenas a construção de espaços de lazer

mas também a ocupação ativa e democrática destes locais.

Os profissionais da área da atividade física também devem reconhecer na

crescente demanda por espaços públicos de lazer uma oportunidade para a

intervenção/promoção de um estilo de vida ativo e também um campo de

investigação promissor.

Esta demanda crescente também destaca a aplicação e desenvolvimento

de modelos para o estudo do comportamento que reconheçam as características

físicas e sociais do ambiente como determinantes na adoção de um estilo de vida

ativo. Neste sentido, os modelos ecológicos de estudo do comportamento

parecem possuir uma grande aplicação, uma vez que vão além do

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reconhecimento das características individuais e interpessoais como

determinantes para a realização de atividades físicas.

Recomendações

As limitações do estudo e as conclusões apresentadas permitem destacar

as seguintes recomendações:

• Estimular o uso de espaços públicos para a realização de atividades físicas

através da disponibilidade de locais esteticamente atraentes e com

equipamentos adequados para a realização de atividades físicas;

• Construir parques e praças em regiões e bairros onde sejam inexistentes;

• Elaborar e implementar programas públicos que visem aprimorar: a segurança

pública; meios de informação; e ainda os atendimentos nos espaços públicos

como meio de atrair as pessoas para a prática de atividades físicas nestes

locais;

• Oferecer, nos locais já existentes e naqueles a serem construídos, áreas

cobertas e protegidas;

• Realizar novas investigações, com esta abordagem, na tentativa de

compreender a influência do ambiente sobre a prática de atividade física entre

os indivíduos que “não utilizam” os parques e praças públicas;

• Aprimorar as medidas sobre o ambiente “percebido” e o “existente”,

construindo e testando novos instrumentos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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