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Imersão Apologética Deus, sua existência e natureza

Deus, Sua Existência e Natureza

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Imersão ApologéticaDeus, sua existência e natureza

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Definição de apologética

Etimologicamente, a palavra apologética (do grego apologèticos, apologia) significa justificação, defesa. Apologética é, pois, a justificação e defesa da fé católica.

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DivisãoComo as relações entre Deus e o homem são o fundamento da religião católica, a apologética deve tratar de Deus, do homem e das suas relações mútuas. Ora, a solução dos problemas, que dizem respeito a este tríplice objeto, pertence ao domínio da filosofia e da história. Daí as duas grandes divisões: a parte filosófica e a parte histórica.

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Parte filosófica da apologéticaPertencem à filosofia os problemas relativos:

- A Deus: Esta trata da existência de Deus, da sua natureza e da sua ação (Criação e Providência).

- Às suas relações mútuas: Parte da natureza de Deus e do homem, e tem por fim provar, não só as suas relações mútuas e necessárias, mas ainda aquelas cuja existência é possível presumir-se. As três seções da primeira parte constituem o que se chama preâmbulos racionais da fé.

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Parte histórica da apologéticaNa segunda parte entramos na questão de fato. Ora, os fatos pertencem à história. É portanto com documentos históricos que o apologista deve provar a existência da revelação primitiva e mosaica, e finalmente da revelação cristã feita por Jesus Cristo, da qual a Igreja é depositária.

A parte histórica subdivide-se, pois, em duas seções: a demonstração cristã (aula 3), e a demonstração católica (aula 4).

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Parte histórica da apologéticaDemonstração cristã: Nesta primeira seção trata-se de provar a origem divina da religião cristã, por sinais ou critérios, que nos levem ai assentimento. São de duas espécies:

- Critérios externos ou extrínsecos, isto é, todos os fatos, milagres e profecias que, não podendo ter outro autor senão Deus, nos foram dados por Ele mesmo, para determinar e confirmar a nossa fé;

- Critérios internos ou intrínsecos, isto é os que são inerentes à doutrina revelada.

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Parte histórica da apologéticaDemonstração católica: Uma vez provada a origem divina da religião cristã, o apologista deve demonstrar que só a Igreja Católica possui as notas da verdadeira Igreja fundada por Jesus Cristo.

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Métodos da apologéticaMétodo apologético é o conjunto de processos que os apologistas empregam para demonstrar a verdade da religião cristã.

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Segundo a natureza do assuntoO método filosófico ou racional na parte filosófica, onde se trata de comprovar pela razão a existência e a natureza de Deus e da alma humana, e estabelecer as suas relações;

O método histórico na segunda parte, onde é mister provar historicamente o fato da revelação. O método histórico tem ainda diversos nomes, segundo o processo que o apologista seguir.

Segundo o ponto de partida que se adotar, há o método ascendente e o descendente.

No método descendente, segue-se o caminho que indicamos no n.o 8: vai da causa ao efeito, de Deus à sua obra. Remontando às origens do mundo, aduz sucessivamente as provas da tríplice revelação divina: primitiva, mosaica e cristã.

No método ascendente, segue-se a ordem inversa exposta no n.o 9: vai de efeito à causa, da obra ao autor. Partindo do fato atual da Igreja, estabelece os títulos que lhe dão direito à nossa crença. Depois disso, falta apenas ouvir o seu testemunho acerca da revelação.

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Segundo a natureza dos argumentosO método extrínseco toma este nome, porque o seu ponto de partida é extrínseco, isto é, tomado fora do homem, e porque se serve quase exclusivamente de critérios extrínsecos.

O método intrínseco, pelo contrário, parte do homem para se elevar até Deus e liga mais importância aos critérios extrínsecos. Considerando o homem sob o ponto de vista individual e social, este método mostra que a religião sobrenatural satisfaz os desejos da alma.

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Método imanentistaCom o método intrínseco está relacionado o método da imanência. Os seus defensores tomam como ponto de partida o pensamento e a ação do homem. O homem, dizem eles, sente um desejo insaciável de felicidade: tem fome e sede do ideal, do infinito, do divino. Em certas horas de melancolia e tristeza, sente, como diz Santo Agostinho, uma inquietação que não o deixa sossegar. Estes estados da alma, que são obra da graça, devem dispor o homem de boa vontade a aceitar a revelação cristã, pois só ela é capaz de saciar o coração. Desta forma, as aspirações internas e imanentes (do latim in manere, immanens, que reside dentro), i.e., que estão no fundo do nosso ser, provam que a natureza do homem precisa dum complemento, e que postula (postular = pedir, trazer como conseqüência, ter necessidade de.), por assim dizer, o sobrenatural, o transcendente, o divino, que a revelação cristã nos oferece.

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História da apologéticaA história apologética na prática se divide em duas:

- Apologética tradicional - Apologética moderna

- Apologética modernista

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Apologética TradicionalÉ aquela que sempre esteve e ainda está em uso na Igreja e que forma deste modo como uma tradição continuada. É caracterizada pela importância que atribui aos critérios externos. Tem em vista sobretudo a inteligência, mas não se desinteressa das disposições morais.

Basta um rápido exame dos principais apologistas para nos convencermos que souberam harmoniosamente combinar o método intrínseco como método extrínseco. Tivemos desde a antiguidade até os tempos mais próximos grandes apologistas como São Justino de Roma, Tertuliano, Santo Irineu de Lião, Santo Agostinho, Santo Anselmo, São Tomás de Aquino, Pascal, etc

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Apologética ModernaDistingue-se pela importância que dá aos critérios internos. Sob pretexto de que as provas históricas e os critérios externos - milagres e profecias - carecem de valor para convencer os espíritos imbuídos de idéias modernas no campo da filosofia e das ciências, os apologistas atendem sobretudo à preparação moral.

Apresentam as maravilhas do Cristianismo, a perfeita harmonia que existe entre o culto católico e a estética (Chateaubriand), o seu valor e virtude intrínseca (Ollé Laprune, Yves lê Querdec), a transcendência (P. de Broglie), as belezas íntimas e os efeitos admiráveis, como é levar a consolação aos que sofrem (método íntimo de Mons. Bougaud). Ou então consideram a religião e a autoridade da Igreja, como o fundamento da ordem moral e social (Lacordaire, Balfour, Brunetière, etc.). Esse método, de si excelente, ficaria, como já dissemos, incompletos, se omitisse totalmente os critérios externos: milagres e profecias.

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Apologética ModernistaFoi condenada pelo decreto Lamentábili (3 de julho de 1907) pela encíclica Pascendi (8 de setembro de 1907). Tem como representantes mais notáveis na França, Loisy (L´Évangile et l´Église, Autour d´un petit livre), Le Roy (Dogme et Critique); na Inglaterra, Tyrrel (De Sila a Caribdes); na Itália, Fogazzaro (Il Santo). As idéias principais são:

Na parte filosófica. Pode considerar-se sob dois aspectos: positivo e negativo.

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Apologética ModernistaSob o aspecto negativo é agnóstica. O modernismo, baseado nos sistemas modernos, são como o subjetivismo de Kant, o positivismo de A. Comte e o intuicionismo de H. Bérgson, defende que a razão pura é impotente para sair do círculo de experiências e dos fenômenos, e, portanto, incapaz de demonstrar a existência de Deus, ainda que seja pelas criaturas.

Sob o aspecto positivo, é constituída pela doutrina da imanência vital ou religiosa (imanentismo). Segundo essa doutrina. Nada se manifesta ao homem, que nele não esteja já previamente contido. “Deus não é um fenômeno que se possa observar fora de si, nem uma verdade demonstrável por um racionalismo lógico. Quem o não sente no coração, jamais o encontrará fora. O objeto do conhecimento religioso só se revela pelo próprio conhecimento religioso” (Sabatier). Deste modo não é a razão que demonstra a existência de Deus, mas a intuição (do latim intueri, contemplar, ver, i.e. o conhecimento direto dos objetos, sem intermédio e sem raciocínio.) que o descobre no fundo da alma, ou, como eles dizem, nos abismos da subconsciência onde o encontramos vivo e ativo.

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Problema da certezaLogo no começo da apologética, surge um grave problema. Poderá a inteligência humana conhecer a realidade das coisas e alcançar a certeza objetiva? E, sendo a razão o principal instrumento do apologista, qual é o seu valor para chegar à verdade? Podemos confiar nela? Poder-nos-á conduzir à certeza?

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Notação de CertezaCerteza é o estado da mente em que está intimamente persuadida de possuir a verdade. Estar certo é, portanto, formular um juízo, que exclui totalmente a dúvida e o temor de errar.

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EspéciesA certeza não admite graus; ou é, ou não é. Por menor que seja o temor de errar, se existe, desvanecesse a certeza e dá lugar á opinião, ou à dúvida. Contudo, conforme os aspectos sob que se considere, é possível distinguir diversas espécies de certeza. Vamos demonstrar brevemente dois aspectos: segundo a natureza das verdades e segundo o modo do conhecimento

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Segundo a natureza das verdadesA certeza metafísica, que se funda na relação necessária entre os termos do juízo. Quando digo que “o todo é maior que a parte”, o atributo convém de tal modo ao sujeito que é impossível conceber o contrário. Ao formularmos um juízo desses, o nosso espírito não só não admite a possibilidade de dúvida, mas afirma que a contraditória é absurda e não se pode conceber;

A certeza física, que se baseia na constância das leis do universo. Só a experiência nos pode dar esta certeza. Assim, quando dizemos que “os corpos tendem a cair para o centro da terra”, julgamos que a proposição contrária é falsa, por contradizer os fatos observados, mas não absurda, pois as leis poderiam ser de outro modo; A certeza moral, que se funda no testemunho dos homens, quando este se apresenta com todas as garantias de verdade. As verdades históricas e, portanto, as religiosas são objeto da certeza moral.

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Segundo o modo do conhecimento- Imediata, direta ou intuitiva, quando se apresenta à inteligência sem o

intermédio de outra verdade; ex.: o todo é maior que a parte;

- Mediata, indireta ou discursiva, quando a conhecemos indiretamente por meio do raciocínio; ex.: a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois retos.

Com relação à evidência, a certeza pode ser:- Intrínseca, se a evidência é, direta ou indiretamente, apreendida do próprio

objeto;- Extrínseca, se provém da autoridade daquele que a afirma. No primeiro caso,

há ciência propriamente dita: no segundo, crença ou fé moral, como acontece nas verdades históricas.

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Critério da verdadeEm geral chama-se critério o sinal distintivo com que se reconhece uma coisa e que nos impede de a confundir com outra. O critério da verdade é, portanto, o sinal pelo qual podemos reconhecer que uma coisa é verdadeira e dela estar certos. Por conseguinte, o problema da verdade reduz-se a saber qual é sinal por onde podemos conhecer que estamos em posse da verdade. Foram propostos vários critérios: a revelação divina (Huet, de Bonald), o consenso universal (Lamennais), o senso comum (Reid, Hamilton), o sentimento (Jacobi). Nenhum deles é admissível, porque todos são insuficientes e provém duma injustificada desconfiança da razão humana em geral, ou da razão individual em particular. O critério ou sinal infalível e universal da verdade é a evidência.

Mas, que é a evidência? O termo evidente, como a etimologia o indica, significa que a verdade está revestida duma claridade que a faz brilhar aos nossos olhos. Desse modo a evidência exerce no espírito uma espécie de violência, coloca-o na impossibilidade de não ver. Estou certo porque vejo que a coisa é assim, e não pode ser de outro modo; e vejo que é assim, ou por intuição direta, ou por meio da demonstração, ou finalmente por um testemunho irrefragável que não me permite julgar o contrário.

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Falsas soluções para o problemaVárias são as escolas filosóficas que negam a possibilidade de conhecer a verdade e repousar na certeza. Só encaramos o problema sob o ponto de vista da missão que a inteligência deve desempenhar na descoberta da verdade.

Os céticos, criticistas, positivistas e intuicionistas negam ou deprimem o valor da razão. Examinemos rapidamente esses sistemas.

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Falsas soluções para o problemaCeticismo - Defendem os céticos que o homem é incapaz de distinguir o verdadeiro do falso, e portanto que deve abster-se de julgar. Para prova desta tese, aduzem quatro motivos: a ignorância, o erro, a contradição e o dialelo.

A ignorância. É manifesta a ignorância humana a respeito de diversos assuntos. Demais, como as coisas estão concatenadas entre si, a ignorância de um aspecto qualquer de um ser faz que não possamos conhecer a fundo e tal como é; não sabemos “le tout de rien”, como diz Pascal.

O erro. O homem engana-se freqüentemente e, o que é pior, quando se engana, julga possuir a verdade. Como há-de saber então quando alcançou a verdade?

A contradição. Os homens raramente estão de acordo.

O dialelo (do grego di allêlôn, um pelo outro - é sinônimo de círculo vicioso). É o argumento mais especioso do ceticismo. Pode formular-se: Para provar o argumento da razão não há outro meio além da razão. Ora, isso é evidentemente um círculo vicioso; logo, tanto por esse motivo como pelos precedentes, o ceticismo defende com todo o direito que a dúvida é o estado legítimo da inteligência.

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As verdadeiras soluçõesDogmatismo - Chama-se dogmatismo (do grego dogmatizo, afirmo) o sistema filosófico, que afirma que a razão pode conseguir a certeza, e que esta corresponde à realidade das coisas, isto é, que as nossas idéias são realmente objetivas.

O dogmatismo invoca em seu favor as seguintes razões:

- A falsidade dos sistemas opostos; - A intuição imediata da verdade objetiva dos primeiros princípios;- As exigências do censo comum.

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Deus - Sua existênciaSerá demonstrável a existência de Dens?

Esta questão subdivide-se em duas :

- É possível prová-la? - Qual o caminho que se há de seguir?

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É possível demonstrar Sua existência?

Ante o problema da existência de Deus, há trêsatitudes possíveis : De afirmação, negação, ou propósito de não aceitar.

Ao primeiro grupo pertencem os teístas ou crentes; ao segundo, os materialistas ou ateus; ao terceiro, os agnósticos ou indiferentes.

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É possível demonstrar Sua existência?Teísmo - Os teístas afirmam que é possível demostrar a existência de Deus.

Materialismo - O ateu, seja qual for o nome que se lhe atribua, — materialista, naturalista ou monista, — afirma que não se pode provar a existência de Deus, porque Deus não existe. Julga que não é preciso recorrer a um criador para explicar o mundo e que por isso Deus é uma hipótese inútil, A matéria eterna e dotada de energia é a única realidade que existe e basta para resolver todos os enigmas do universo.

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É possível demonstrar Sua existência?Agnosticismo - De um modo geral, o positivista ou agnóstico declara que a existência de Deus pertence ao domínio do incognoscível. A razão teórica não pode ir além dos fenómenos; o ser em si, as substâncias e as causas, o substracto ou fundamento das aparências são inacessíveis à razão. “o problema da causa última da existência, escrevia HUXLEY em 1874, parece-me que está definitivamente fora do âmbito das minhas débeis faculdades”. LITTRÉ (1801-1881) dizia que o infinito é “como um oceano que vem bater contra a praia”, e para o explorar, “não temos barco nem vela” (Aug. Comte et la philosophie positive).

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De quantos modos se demonstra a existência de Deus?Quais os argumentos para demonstrar a existência de Deus? As provas da existência de Deus tiram-se da razão, do sentimento e da consciência. É bom notar desde já que, ainda que a razão não seja o único instrumento, é contudo o essencial. Podemos sem dúvida ir até Deus por outras vias, mas com a condição de não rejeitar esta, nem a deprimir como um meio defeituoso e impróprio do pensamento moderno. O Concílio Vaticano I declarou que “a Santa Madre Igreja defende e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, mediante os seres criados. Porque, desde a criação do mundo, a inteligência humana conhece as suas perfeições invisíveis por meio dos seres que Ele criou”.

Depois, a Encíclica Pascendi chama de novo a atenção para a decisão do Concílio. O juramento antimodernista, prescrito pelo Motu Próprio de 1 de Setembro de 1910, confirmou e completou o texto do Concílio: “E em primeiro lugar, professo, diz o texto, que Deus, princípio e fim de todos os seres, pode ser conhecido e, portanto, também demonstrado com certeza pela luz natural da razão, por meio das coisas que foram feitas, isto é, pelas obras visíveis da criação, como a causa pelos seus efeitos”.

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De quantos modos se demonstra a existência de Deus?E conveniente notar as duas importantíssimas adições do juramento antimodernista ao texto do Concílio. Este último afirmava claramente que Deus pode ser conhecido; mas, como podia dar lugar a disputas a respeito das vias que nos levam ao conhecimento, o juramento antimodernista precisou o que se devia entender pelas palavras; “Deus pode ser conhecido e portanto também demonstrado”; logo, cognoscível e demonstrável. Demonstrável, de que modo? Pelas luzes naturais da razão, que, partindo dos seres criados, e apoiando-se no princípio de causalidade, se eleva dos efeitos à causa.

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De quantos modos se demonstra a existência de Deus?Por meio destas decisões a Igreja tinha em vista condenar:

- ontologistas (Malebranche e outros) e os intuicionistas (Bergson) que defendem a indemonstrabilidade da existência de Deus pela razão. É certo que nos seus sistemas não é necessária esta demonstração, porque temos ou a ideia inata, ou a intuição direta de Deus;

- os fideístas (J, De Maistre, De Bonald, Lamennais) que, afirmando ou exagerando a incapacidade da razão, pretendem que a existência de Deus não pode ser demonstrada por meio da razão, e que somente tivemos dela conhecimento pela fé ou pela revelação primitiva, transmitida de idade em idade por meio da tradição, Este erro foi condenado pelo Concilio do Vaticano I (Sess. III, cap, II, can. 1)

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De quantos modos se demonstra a existência de Deus?- os criticistas com Kant, que, fazendo distinção entre a razão teórica e

a razão prática, negam o valor da primeira e consideram o conhecimento da existência de Deus como um postulado da lei moral;

- os modernistas, que só admitem a experiência individual, como única prova da existência de Deus, afirmando que as demais não têm valor, ou, ao menos, são incompatíveis com a filosofia contemporânea. Segundo eles, Deus não se pode demonstrar pela razão, mas pode encontrar-se pelo coração: a experiência religiosa basta e resolve o problema da existência de Deus, a origem da revelação e da religião.

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De quantos modos se demonstra a existência de Deus?Convém observar que a Igreja não condenou a teoria modernista da imanência, por usar a prova do sentimento, alas por causa de reduzir todos os motivos de crer unicamente à presença de Deus na alma, De fato a Igreja admite que Deus pode fazer sentir a sua presença e a sua ação nas almas de boa vontade e tornar-se, em certo modo, imanente; mas a Igreja não pensa que a imanência de Deus seja sempre conhecida diretamente pela consciência e pelo sentimento. Estes estados místicos são raros, são favores que não nos criam direitos e que não podem, por conseguinte, ser considerados como único meio de chegarmos ao conhecimento de Deus.

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Há vários modos de apresentar as provas da existência de Deus. Alguns não as classificam e contentam-se com apresentá-las umas após outras. Santo Tomás distingue cinco provas.

Pela observação dos seres do mundo chega a cinco atributos que se relacionam com a existência de Deus. Dizem-nos os sentidos que há seres que são movidos, que são causados por outros, que podem existir ou não, que possuem maior ou menor perfeição, que operam em conformidade com o seu fim, apesar de não possuírem inteligência. Ora, todo o ser movido só se explica pela existência de um ser imóvel (argumento do primeiro motor); o causado, pela causa primeira (arg. das causas eficientes, ou da causa primeira); o contingente, pelo ser necessário (arg. da contingência); o imperfeito, pelo ser perfeito (arg. da gradação dos seres); o ordenado, por um ordenador (arg. da ordem do mundo). Logo é necessário subir até ao primeiro motor, até à causa primeira etc., que chamamos Deus.

Provas da existência de Deus

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Outros classificam as provas em grupos distintos. Immanuel Kant divide os argumentos em teóricos e morais. Os primeiros encaminham-se a dar uma explicação racional, os segundos são simples motivos de crer. Depois divide os argumentos teóricos em argumentos a priori e a posteriori conforme o ponto de partida for uma ideia encontrada em nós ou um facto determinado, ou indeterminado. A classificação mais seguida é a que divide as provas segundo a natureza do facto que serve de ponto de partida. Obtêm-se assim três espécies de provas: metafísicas, físicas e morais. As metafísicas apoiam-se numa ideia racional, as físicas num facto físico, e as morais num facto moral. Infelizmente esta classificação presta-se a equívocos, porque as subdivisões das três classes não estão nitidamente demarcadas; por exemplo: o argumento da contingência, considerado por uns como físico, para outros é metafísico.

Provas da existência de Deus

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Nós, porém, guiados pelas palavras do Concílio Vaticano I e do juramento antimodernista, começamos pelos seres visíveis e obtemos assim duas classes de argumentos. Com efeito, entre as obras visíveis da criação só duas podem ser objeto do nosso estudo: o que existe em nós e o que está fora de nós. Ora o duplo conhecimento do mundo externo e do mundo interno deve conduzir-nos ao conhecimento de Deus. Daí, duas espécies de argumentos: cosmológicos, fundados no estudo do cosmos ou mundo, e psicológicos e morais, baseados no estudo da alma humana. A estas duas classes acrescentaremos, como confirmação, o fato do consenso universal dos povos.

Provas da existência de Deus

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Exposição: Se interrogamos a nossa inteligência, responde-nos que tudo o que vemos é incompleto, limitado, dependente, numa palavra, imperfeito. Ora, para reconhecer que as coisas são imperfeitas, precisamos da ideia de um ser perfeito; porque só podemos julgar a imperfeição de um ser, comparando-o com outro ser perfeito. Logo o ser perfeito existe, porque, se não existisse, não seria perfeito. Este argumento é diversamente apresentado por Santo Anselmo, Descartes e Bossuet.

Prova ontológica

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Argumento de Santo Anselmo: Depois de citar as palavras da S. Escritura: “Dixit insipiens in corde suo: non Deus” (“Disse o insensato no seu coração: não há Deus”), Santo Anselmo quer convencer o ímpio de que é loucura negar a existência de Deus. O homem, diz ele, tem a ideia dum ser tal que não pode conceber outro mais perfeito. Logo esse ser existe realmente . Porque, se existisse, só na inteligência, podia conceber outro mais perfeito, atribuindo-lhe a existência real; ora isto seria contraditório, visto que o concebe como o mais perfeito. Logo, Deus existe

na inteligência e na realidade.

Prova ontológica

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O argumento ontológico foi apresentado por Santo Anselmo nos capítulos II e III do seu texto “Proslogium”, escrito em 1077 - 1078.

“Efetivamente nós cremos que Vós sois um ser maior do que qualquer outro que possamos conceber [...] e portanto não pode existir somente no entendimento. Com efeito, suponha que ele exista somente no entendimento; mas então ele pode ser concebido como existindo tambem na realidade, que é mais [um ser maior]. [...]. Portanto não há dúvida que existe um ser que é maior que qualquer outro que possa ser concebido e que existe tanto no nosso entendimento como na realidade”

Prova ontológica

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O argumento ontológico foi apresentado por Santo Anselmo nos capítulos II e III do seu texto “Proslogium”, escrito em 1077 - 1078.

“Efetivamente nós cremos que Vós sois um ser maior do que qualquer outro que possamos conceber [...] e portanto não pode existir somente no entendimento. Com efeito, suponha que ele exista somente no entendimento; mas então ele pode ser concebido como existindo tambem na realidade, que é mais [um ser maior]. [...]. Portanto não há dúvida que existe um ser que é maior que qualquer outro que possa ser concebido e que existe tanto no nosso entendimento como na realidade”

Prova ontológica

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1 - Pode-se pensar num ser maior do que qualquer outro;2 - Sabemos que a existência na realidade é maior do que a existência somente na nossa mente; 3 - Se o ser de (1) existir somente na nossa mente, não será o maior que se pode pensar;4 - Portanto o ser pensado maior que qualquer outro (1) deve existir na realidade;5 - Se ele não existir na realidade, não seria o maior ser que se pode conceber;6 - Portanto o maior ser que se pode conceber deve existir, e nós o chamamos “Deus”.

Prova ontológica

Page 43: Deus, Sua Existência e Natureza

Se o maior dos seres que se pode pensar não existir necessariamente, não é de fato o maior dos seres que se pode pensar. Portanto Deus tem que existir, porque do contrario a lógica se tornaria absurda. “Se existe somente na mente, pode ser pensado existindo também na realidade, que é maior”.

Prova ontológica

Page 44: Deus, Sua Existência e Natureza

Gaunilo de Marmoutiers vai contra o argumento ontológico de Santo Anselmo afirmando que pode provar a existência de qualquer coisa.A ideia de uma “ilha perfeita” afirma necessariamente a existência da ilha perfeita. Porém o argumento de Santo Anselmo fala de um “ser necessário” e isso basta pra refutar a objeção de Gaunilo.

Prova ontológica

Page 45: Deus, Sua Existência e Natureza

● Prova do movimento● Prova da causalidade eficiente● Prova da contingência● Dos graus de perfeição dos entes● Prova da existência de Deus pelo governo do

mundo

As 5 vias de Santo Tomás de Aquino

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1 - A primeira via é o argumento do primeiro motor, onde sua premissa parte de que pelos sentidos é possível observar que algo é movido neste mundo, e que tudo o que se move é movido por outro, e como é impossível uma série infinita de motores; logo, deve haver um primeiro motor, um motor imóvel, que o chama de Deus.

As 5 vias de Santo Tomás de Aquino

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2 - A segunda via é a causa eficiente, onde Aquino parte de que nada do que existe é causa de si mesmo, pois todas as coisas existentes são efeitos de uma causa anterior, e isto remete a uma causa primeira que não tenha sido causada por ninguém, que é Deus.

As 5 vias de Santo Tomás de Aquino

Page 48: Deus, Sua Existência e Natureza

3 - A terceira via é da contingência, onde o filósofo parte da premissa de que os seres são contingentes, pois podem existir e deixar de existir, porém é impossível que todos os seres sejam contingentes, pois do contrário alguma vez nada teria existido, e como do nada nada vem, deve haver um ser necessário que explique e fundamente a existência dos demais seres, e este ser é Deus.

As 5 vias de Santo Tomás de Aquino

Page 49: Deus, Sua Existência e Natureza

4 - A quarta via são os graus de perfeição, onde é possível verificar que há um grau de perfeição nas criaturas, como no caso das árvores que são mais perfeitas que as pedras, os animais que são mais perfeitos que as àrvores, o homem que é mais perfeito que os animais; logo, deve haver um ser sumamente perfeito que é Deus.

As 5 vias de Santo Tomás de Aquino

Page 50: Deus, Sua Existência e Natureza

5 - A quinta via tomista é a do finalismo, onde se verifica que há uma ordem no universo, e que todas as coisas tendem para um fim, logo, existe algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas a um fim, e a isso se chama Deus. Importa observarmos que as cinco vias tomistas partem de uma realidade concreta, verificável e sensível, bem como do princípio da causalidade, onde se torna possível a construção empírica e racional da argumentação.

As 5 vias de Santo Tomás de Aquino