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10 | | Vitória, 10 de junho de 2010 | Vitória, 10 de junho de 2010 | 11 EM TORNO DE UM SONHO JOHANNESBURGO nn O interessante é ver que, assim como aconteceu em 1995, na Copa do Mundo de Rugby, a África do Sul se fechou em torno de um sonho. A nova união entre brancos e negros em torno dos Bafana Bafana e do progresso da equipe nacional vale mais do que qual- quer título. Vencendo ou não, mais uma vez eles fi- zeram história. E prometem fazer muito mais festa. A começar por hoje, quando acontece no Estádio do Orlando Pirates um festa para o povo sul-africano, uma espécie de primeira abertura, também em Johan- nesburgo, com a presença de artistas como Shakira, e organizado pelo mesmo grupo que fez o Live 8 e Live Earth. ESTIVEMOS LÁ Participando do vuvuzelaço, é impossível não se con- tagiar. Milhares de pessoas foram declarar apoio ao time da casa. E o técnico Carlos Alberto Parreira se emocio- nou, dizendo só ter visto coisa parecida quando o Brasil foi campeão. Mesmo assim, em uma cidade problemá- tica e violenta, fui recomendado a guardar os objetos de trabalho no meio da multidão, já que o número de furtos é muito grande. Mais tarde, já depois da multidão se disperssar, pude conhecer quatro sul-africanos que participaram da fes- ta. Aí sim rolou fotos e até vídeos, que vocês acompa- nham no Gazeta Online, hoje. @gazetaesportes gazetaesportes gazetaonline.com.br/bloggol ( ENVIADO ES P EC I A L ) TREINO DO BRASIL Fomos pela pri- meira vez ao hotel em que a Seleção Brasileira está hos- pedada. E o Fairway realmente é belíssi- mo. O campo de golfe impressiona. Mas o que chama mais a atenção é que muitos dos mi- lionários de Johan- nesburgo “batem sua bolinha” e não estão nem aí para o time canarinho. O rugby, e até o cri- cket, são esportes muito populares por aqui. ATÉ PERDER O Protagonistas da história. Brancos e negros, juntos, fizeram festa ontem para a seleção do técnico Parreira, que desfilou em carro aberto Vuvuzelas entram no lugar de lápis e borracha SEM PROBLEMA. Thembi Ngobeni e sua amiga Julie Sebitio usaram vuvuzelas de Portugal, que são mais baratas JOHANNESBURGO nn O evento ocorreu em to- da a África do Sul. A ordem era para que todos, em casa, na escola, ou no trabalho, tocassem suas vuvuzelas a partir do meio-dia. E elas não fizeram diferente. As- sim que saíram da Escola Média de Fourways, trata- ram de comprar duas vuvu- zelas e as tocaram no meio da rua, enquanto caminha- vam para a casa. Mas se engana quem pen- sa que Thembi Ngobeni, de 15 anos, e Julie Sebitio, de 16, acompanham o futebol só por conta da partida em si. A primeira, por exemplo, não vai em nenhum jogo. Preci- sa ajudar o pai na loja da fa- mília. Já Julie tem “apenas” o ingresso da final. Elas que- rem mesmo é saber da bele- za dos jogadores. “Eu gosto do Cristiano Ronaldo e do Kaká. Mas não pelo futebol deles. E sim pelo rosto. Pela beleza”, brincou Julie. Mas se fizeram de tudo para participar da festa do vuvuzelaço, mesmo fora de hora, ambas não seguiram completamente o ritual por dois motivos. Primeiro por- que a vuvuzela com as co- res ou bandeira dos Bafana Bafana é bem mais cara. Por isso usaram a de Portugal (também por causa do Cris- tiano Ronaldo). A da África do Sul sai por R 80 randes, R$ 20, enquanto a de Portu- gal foi comprada por R 30 randes, R$ 8. JOHANNESBURGO nn Dois “Maracanãs” de tor- cedores saíram às ruas de Johannesburgo ontem. Não, a Copa do Mundo ainda não começou. Mas a festa do po- vo da África do Sul bem que lembrou a comemoração de um título mundial. A dois dias da grande abertura, e tal- vez no momento mais emo- cionante da contagem re- gressiva até agora, quase 200 mil sul-africanos se reuni- ram para tocar suas vuvuze- las em apoio aos Bafana Ba- fana (tradução livre meni- nos, meninos), a seleção na- cional, no “vuvuzelaço”, e fi- zeram história de novo. Na parte rica da cidade, no bairro de Sandton, milhares de nativos tocaram suas vu- vuzelas até perder o fôlego. Brancos e negros, juntos, sem qualquer resquício do regime do Apartheid, se abraçaram e protagonizaram cenas que estarão em qual- quer filme que for gravado sobre a Copa do Mundo da África do Sul. Quando sete jogadores da seleção deixa- ram a sacada do hotel em que estão hospedados, junta- mente com o técnico brasi- leiro Carlos Alberto Parreira, e desfilaram em carro aberto, todos foram ao delírio. Quem participou do dia histórico foi Phillip Peterson, de 23 anos, morador de North West, nos arredores de Johan- nesburgo. Ele trabalha na par- te da tarde em um posto de ga- solina, e ao meio-dia, horário em que começou o vuvuzela- ço, deu uma passada por lá com o amigo Kenneth More- ne, 22 anos, que também tra- balha no posto. Como não po- derão acompanhar os jogos dos Bafana Bafana, já que es- tarão trabalhando, aproveita- ram para torcer ontem. “Essa Copa do Mundo vai fazer a diferença para a Áfri- ca do Sul. Você viu a festa que fizemos? A Copa vai ser boa para unir o país de novo e também para mover a nossa economia”, disse Phillip. Já Kenneth simplesmente resumiu o porque da felicidade do povo sul-africano, apesar de todas as dificuldades, crimina- lidade e pobreza. “Sou feliz porque estou vivo. E porque a Copa do Mundo está vindo pe- la primeira vez para o meu pais”, garantiu Kenneth. FOTOS: THIERRY GOZZER DUPLA. Phillip Peterson e Kenneth Morese trabalham em um posto de gasolina e não poderão assistir aos jogos dos Bafana Bafana no estádio Alunas sul-africanas, logo após deixarem a escola, foram apoiar sua seleção nas ruas

Dia 10 junho

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DUPLA. Phillip Peterson e Kenneth Morese trabalham em um posto de gasolina e não poderão assistir aos jogos dos Bafana Bafana no estádio nn Dois “Maracanãs”de tor- cedores saíram às ruas de Johannesburgo ontem. Não, aCopa doMundo aindanão começou.Mas afesta dopo- vo daÁfrica do Sulbem que lembroua comemoraçãode um título mundial. A dois dias da grande abertura, e tal- vez nomomento maisemo- cionante da contagem re- gressiva até agora, quase 200 mil sul-africanos se reuni-

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10 | | Vitória, 10 de junho de 2 010 | Vitória, 10 de junho de 2010 | 11

EM TORNO DEUM SONHOJ O H A N N ES B U RG O

nn O interessante é ver que, assim como aconteceuem 1995, na Copa do Mundo de Rugby, a África do Sulse fechou em torno de um sonho. A nova união entrebrancos e negros em torno dos Bafana Bafana e doprogresso da equipe nacional vale mais do que qual-quer título. Vencendo ou não, mais uma vez eles fi-zeram história. E prometem fazer muito mais festa.

A começar por hoje, quando acontece no Estádiodo Orlando Pirates um festa para o povo sul-africano,uma espécie de primeira abertura, também em Johan-nesburgo, com a presença de artistas como Shakira, eorganizado pelo mesmo grupo que fez o Live 8 e LiveEarth.

ESTIVEMOS LÁParticipando do vuvuzelaço, é impossível não se con-

tagiar. Milhares de pessoas foram declarar apoio ao timeda casa. E o técnico Carlos Alberto Parreira se emocio-nou, dizendo só ter visto coisa parecida quando o Brasilfoi campeão. Mesmo assim, em uma cidade problemá-tica e violenta, fui recomendado a guardar os objetos detrabalho no meio da multidão, já que o número de furtosé muito grande.

Mais tarde, já depois da multidão se disperssar, pudeconhecer quatro sul-africanos que participaram da fes-ta. Aí sim rolou fotos e até vídeos, que vocês acompa-nham no Gazeta Online, hoje.

@gazetaespor tesgazetaespor tes g a zeta o n l i n e.co m . b r/b l o g g o l(ENVIADO ES P EC I A L)

TREINO DO BRASILFomos pela pri-

meira vez ao hotelem que a SeleçãoBrasileira está hos-pedada. E o Fairwayrealmente é belíssi-mo. O campo degolfe impressiona.Mas o que chamamais a atenção éque muitos dos mi-lionários de Johan-nesburgo “bate msua bolinha” e nãoestão nem aí para otime canarinho. Orugby, e até o cri-cket, são esportesmuito popularespor aqui.

ATÉ PERDER O

Prota g o n i sta sda história.Brancos e negros,juntos, fizeramfesta ontem para aseleção do técnicoParreira, quedesfilou em carroaber to

Vuv uzelasentram nolugar de lápise borracha

SEM PROBLEMA. Thembi Ngobeni e sua amiga Julie Sebitiousaram vuvuzelas de Portugal, que são mais baratas

J O H A N N ES B U RG O

nn O evento ocorreu em to-da a África do Sul. A ordemera para que todos, em casa,na escola, ou no trabalho,tocassem suas vuvuzelas apartir do meio-dia. E elasnão fizeram diferente. As-sim que saíram da EscolaMédia de Fourways, trata-ram de comprar duas vuvu-zelas e as tocaram no meioda rua, enquanto caminha-vam para a casa.

Mas se engana quem pen-sa que Thembi Ngobeni, de15 anos, e Julie Sebitio, de 16,acompanham o futebol sópor conta da partida em si. Aprimeira, por exemplo, nãovai em nenhum jogo. Preci-sa ajudar o pai na loja da fa-mília. Já Julie tem “apenas”oingresso da final. Elas que-rem mesmo é saber da bele-za dos jogadores. “Eu gostodo Cristiano Ronaldo e doKaká. Mas não pelo futeboldeles. E sim pelo rosto. Pelab e l e za ”, brincou Julie.

Mas se fizeram de tudopara participar da festa dovuvuzelaço, mesmo fora dehora, ambas não seguiramcompletamente o ritual pordois motivos. Primeiro por-que a vuvuzela com as co-res ou bandeira dos BafanaBafana é bem mais cara. Porisso usaram a de Portugal(também por causa do Cris-tiano Ronaldo). A da Áfricado Sul sai por R 80 randes,R$ 20, enquanto a de Portu-gal foi comprada por R 30randes, R$ 8.

J O H A N N ES B U RG O

nn Dois “M a ra c a n ã s ” de tor-cedores saíram às ruas deJohannesburgo ontem. Não,a Copa do Mundo ainda nãocomeçou. Mas a festa do po-vo da África do Sul bem quelembrou a comemoração deum título mundial. A doisdias da grande abertura, e tal-vez no momento mais emo-cionante da contagem re-gressiva até agora, quase 200mil sul-africanos se reuni-

ram para tocar suas vuvuze-las em apoio aos Bafana Ba-fana (tradução livre meni-nos, meninos), a seleção na-cional, no “v uv uzelaço”, e fi-zeram história de novo.

Na parte rica da cidade, nobairro de Sandton, milharesde nativos tocaram suas vu-vuzelas até perder o fôlego.Brancos e negros, juntos,sem qualquer resquício doregime do Apartheid, seabraçaram e protagonizaram

cenas que estarão em qual-quer filme que for gravadosobre a Copa do Mundo daÁfrica do Sul. Quando setejogadores da seleção deixa-ram a sacada do hotel em queestão hospedados, junta-mente com o técnico brasi-leiro Carlos Alberto Parreira,e desfilaram em carro aberto,todos foram ao delírio.

Quem participou do diahistórico foi Phillip Peterson,de 23 anos, morador de North

West, nos arredores de Johan-nesburgo. Ele trabalha na par-te da tarde em um posto de ga-solina, e ao meio-dia, horárioem que começou o vuvuzela-ço, deu uma passada por lácom o amigo Kenneth More-ne, 22 anos, que também tra-balha no posto. Como não po-derão acompanhar os jogosdos Bafana Bafana, já que es-tarão trabalhando, aproveita-ram para torcer ontem.

“Essa Copa do Mundo vaifazer a diferença para a Áfri-ca do Sul. Você viu a festa quefizemos? A Copa vai ser boapara unir o país de novo etambém para mover a nossae co n o m i a ”, disse Phillip.

Já Kenneth simplesmenteresumiu o porque da felicidadedo povo sul-africano, apesar detodas as dificuldades, crimina-lidade e pobreza. “Sou felizporque estou vivo. E porque aCopa do Mundo está vindo pe-la primeira vez para o meupa i s ”, garantiu Kenneth.

FOTOS: THIERRY GOZZER

DUPLA. PhillipPeterson e KennethMorese trabalhamem um posto degasolina e nãopoderão assistir aosjogos dos BafanaBafana no estádio

Alunas sul-africanas,logo após deixarem aescola, foram apoiarsua seleçãonas ruas