DIAGNÓSTICO DO VALE DE ALCÂNTARA

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  • 7/31/2019 DIAGNSTICO DO VALE DE ALCNTARA

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    Ficha Tcnica

    Ttulo

    Diagnstico Scio-Demogrfico e Econmico do Vale de Alcntara 2008

    Entidade responsvel

    Projecto Alkantara Associao de Luta Contra a Excluso Social

    Entidades executoras

    Projecto Alkantara Associao de Luta Contra a Excluso SocialCidater, Cooperativa de Ensino e Cultura, Crl.

    Autores

    Jos Zaluar Nunes Baslio (coordenao cientfica)Simo Cardoso Leito (coordenao tcnica)Gustavo PereiraJoaquim Ramos

    Outras colaboraes

    Filipe SantosMaria Belm LeitoFtima TremooMarta RodriguesMnica SantosMaria do Cu FrancoMyriam Zaluar Baslio

    Data

    Novembro de 2008

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    NDICE

    INTRODUO...........................................................................................................................1

    CAPTULO 1 - VALE DE ALCNTARA UM DIAGNSTICO.......................................41. Pobreza, marginalidade e excluso social........................................................................................42. Nota metodolgica...........................................................................................................12

    CAPTULO 2 TERRITRIO E DEMOGRAFIA..............................................................141. Localizao e acessibilidades..........................................................................................142. Evoluo demogrfica 2002/2008...................................................................................153. Estrutura demogrfica actual e tipos de famlia..............................................................19

    CAPTULO 3 ESCOLARIDADE, FORMAO PROFISSIONAL E EMPREGO......231. Qualificao escolar e profissional da populao...........................................................23

    2. Perspectivas sobre a economia nacional e o mercado de emprego.................................27

    CAPTULO 4 SADE NO VALE DE ALCNTARA.......................................................321. Recursos disponveis.......................................................................................................322. Estado de sade da populao.........................................................................................35

    CAPTULO 5 O VALE DE ALCNTARA VISTO POR DENTRO................................38

    1. O Vale de Alcntara visto por dentro aspectos positivos e negativos dos bairros.......38

    CAPTULO 6 POLTICAS E PRTICAS DE INTERVENO NO VALE DEALCNTARA............................................................................................................................43

    1. Vale de Alcntara, uma zona privilegiada de interveno?............................................43

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    2. Problemas e necessidades do Vale de Alcntara a viso das instituies....................503. Polticas e prticas de interveno no Vale de Alcntara o estado da arte...................54

    CONCLUSO............................................................................................................................58

    BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................62

    ANEXOS....................................................................................................................................66Inqurito Populao dos Bairros Ceuta-Sul, Loureiro e CabrinhaEntrevista s Associaes Locais

    ndice de quadros

    Quadro 1: Sistemas sociais bsicos.............................................................................................7Quadro 2: Tipos de excluso.......................................................................................................8Quadro 3: Modos de vida (marginais).........................................................................................10Quadro 4: Datas de construo e ocupao dos bairros do Ncleo Central do Vale de Alcntara

    .......................................................................................................................................................1Quadro 5: Tipos de resposta local disponveis............................................................................45Quadro 6: Foras, oportunidades, fraquezas e ameaas no Vale de Alcntara (2008)................60

    ndice de grficos

    Grfico 1:Estimativa da evoluo demogrfica do Vale de Alcntara (2002-2008), por gnero(N).................................................................................................................................................1Grfico 2:Estimativa da evoluo demogrfica do Vale de Alcntara (2002-2008), por escaloetrio (%).......................................................................................................................................1Grfico 3:Estimativa da evoluo demogrfica do Vale de Alcntara (2002-2008), por bairro deresidncia (%)...............................................................................................................................1

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    Grfico 4:Distribuio da populao residente no Vale de Alcntara (2002/2008), por bairro deresidncia (%)...............................................................................................................................1Grfico 5:Distribuio da populao residente por grandes grupos etrios (%).........................19Grfico 6:Distribuio da populao residente por gnero e bairro de residncia (%)..............20Grfico 7:Distribuio da populao residente por grandes grupos etrios e bairro de residncia(%).................................................................................................................................................2Grfico 8:Distribuio da populao residente por grandes grupos etrios 2006/2008 (%)......21Grfico 9:Distribuio da populao residente por nvel de escolaridade (%)...........................23Grfico 10:Populao activa e inactiva do Vale de Alcntara (%).............................................24Grfico 11:Populao empregada do Vale de Alcntara por profisso (Grandes Grupos CNP)(%).................................................................................................................................................2

    Grfico 12:Distribuio da populao desempregada por ciclo de ensino completo (%)..........26Grfico 13:Distribuio da populao residente por conhecimento e utilizao de servios desade (2006) (%)...........................................................................................................................3Grfico 14:Distribuio dos agregados domsticos por tipo de doena presente (2006) (%)....35Grfico 15:Distribuio da populao residente pelo gosto pelo bairro, por bairro de residncia(%).................................................................................................................................................3Grfico 16:Principais aspectos positivos do Vale de Alcntara, por bairro de residncia (%)...39Grfico 17:Principais problemas do Vale de Alcntara, por bairro de residncia (%)...............40Grfico 18:Principais medidas para atenuar os problemas existentes (%).................................41Grfico 19:Principais servios que fazem falta no Vale de Alcntara (%).................................41Grfico 20:Principais lojas e servios que fazem falta no Vale de Alcntara (%).....................42

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    INTRODUO

    Desde meados do sculo XVIII, acompanhando as grandes transformaes sociais ocorridas pvia da revoluo francesa e da revoluo industrial, que o estudo da realidade social temconstitudo uma crescente preocupao dos poderes polticos, seja como forma de gerconhecimento passvel de permitir um maior controlo das populaes, ou como forma dcontribuir para a resoluo de problemas sociais emergentes.

    a partir do momento em que as sociedades passam a ter conscincia da possibilidade d

    interferir na realidade social, ao mesmo tempo que reconhecida a dureza que caracterizava circunstncias de vida de algumas populaes, que a ideia dediagnstico social do estudo dascondies de vida dos indivduos passa a ser tida em conta.

    Mas se nos primeiros tempos a elaborao de diagnsticos se encontrava frequentemendissociada da ideia deintervir ou da auscultao das populaes relativamente aos seus problemas, hoje em dia a sua realizao tende cada vez mais a ser entendida como parteintegrante dos processos de interveno social.

    Como refere Ins Pacheco, por interveno social deve entender-se umprocesso metodolgicode actuao sobre a realidade social que tem como finalidade desenvolver, transformar ou

    melhorar situaes colectivas ou individuais de pessoas que vivem determinados problemas,

    para facilitar a sua incluso social e/ou participao activa no sistema social, a nvel individual,

    econmico-laboral, cultural e poltico (Pacheco, 1999: 4.4).

    Ora, ao contrrio de tempos passados, actualmente qualquer processo de interveno sobrerealidade social exige o desenvolvimento de um processo de diagnstico, no sentido de melhor promover o conhecimento objectivo da realidade e dos problemas sobre os quais se pretenintervir e que se quer, em ltima anlise, transformar.

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    Seja concebida como uma tarefa inicial a desenvolver no princpio da interveno (naquilo que poderia definir como um modelolinear de diagnstico) ou como um processo que acompanha aexecuo da interveno at ao fim, alimentado e alimentando-se no mbito das transformaesoperar (modelodinmico de diagnstico), a realizao de diagnsticos (sociais) passou aconstituir um elemento fundamental de qualquer processo interventivo, assumindo a forma duma espcie de mecanismo de investigao aplicada um instrumento de anlise e sntese determinada realidade social em que se pretende intervir, num determinado contexto sociaespacial e temporal e no mbito de uma ou vrias situaes problemticas (Pacheco, 1999: 4.4.7).

    No presente caso, o Diagnstico Scio-Demogrfico e Econmico do Vale de Alcntara - 2008

    surge no contexto do trabalho que o Projecto Alkantara Associao de Luta Contra a ExclusoSocial tem vindo a desenvolver desde 1999 junto da populao residente naquela zongeogrfica, a vrios nveis1. No se trata portanto de um trabalho especificamente aplicado aqualquer interveno em vias de ser desencadeada junto daquela comunidade, ou mesmo de ulevantamento de uma zona ainda inexplorada2, mas sim de um trabalho de continuidade e deavaliao do estado do territrio num contexto particularmente propcio ao reajustamento destratgias e intenes de interveno operantes na zona o Ncleo Central do Vale dAlcntara, constitudo pelos bairros Quinta do Cabrinha, Ceuta-Sul e Ceuta-Norte3.

    Dada a natureza fortemente inesttica das sociedades, assim como a evoluo constante dcincias sociais, um diagnstico social nunca uma entidade acabada e totalmente definiddevendo antes a realidade ser entendida comouma construo social que se vai elaborando por aproximaes sucessivas (Pacheco, 1999: 4.10). O presente momento temporal consequentemente em que se conjuga a data de trmino efectivo do Programa de IniciativComunitria (PIC) URBAN (fim de 2008) e de arranque do terceiro ano do Quadro de Refern

    1 Ocupao de tempos livres para idosos, apoio domicilirio, alfabetizao de adultos, mediao para o empregoapoio psicolgico e social, sade preventiva, actividades comunitrias, apoio a reclusos e ex-reclusos.2 O Vale de Alcntara e, em particular, os bairros que constituem o seu Ncleo Central e que aqui so tomados comobjecto de anlise, tm sido alvo, desde a sua criao, de vrias intervenes de carcter social, a vrios nveis, tend j sido realizados alguns trabalhos sobre as condies de vida dos seus habitantes. A este respeito ver, por exemploProjecto Alkantara, 2001 e, mais recentemente, Leitoet al , 2008.3 Ou bairro da Quinta do Loureiro , ou aindabairro do Loureiro , como tambm frequentemente designado o bairroCeuta-Norte.

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    Estratgia Nacional (QREN) 2007-2013 afigura-se como uma altura particularmente propciaum exerccio do gnero.

    O grande objectivo do presente diagnstico , neste sentido, contribuir para a actualizao dinformao disponvel sobre aquela zona prioritria de interveno, procedendo identificado estado dos seus principais problemas e necessidades, assim como dos recursos oportunidades disponveis para potenciar a sua resoluo e ultrapassagem, fornecendo-se assimtodas as instituies que intervm ou venham a intervir no Vale de Alcntara um instrumentessencial para o desenvolvimento da sua aco de uma forma coerente com a realidade dcomunidade.

    Neste enquadramento, o presente documento apresenta uma anlise detalhada e multidimensionda zona-alvo circunscrita e das dinmicas externas pertinentes, focando a sua ateno naquestes demogrficas e de empregabilidade da comunidade local, sem deixar de prestar atena outros aspectos fundamentais da integrao dos indivduos e das famlias, como a sade, sistema de respostas sociais actuante na comunidade, ou a prpria forma como os sujeito percepcionam os constrangimentos com que se defrontam.

    O texto encontra-se estruturado em seis captulos distintos. No primeiro captulo faz-se a revisdos principais conceitos em jogo no campo da anlise social sobre excluso social e apresenta-a metodologia de investigao seguida; no segundo captulo procede-se anlise da populao ponto-de-vista da sua localizao espacial e evoluo demogrfica; no terceiro captulo discutese as questes da escolaridade, formao e empregabilidade; no quarto captulo aborda-setemtica da sade; no quinto captulo apresenta-se a perspectiva da populao sobre o secontexto residencial; e, finalmente, no sexto captulo d-se conta do estado da rede de respostsociais que abrange a zona em anlise. J depois do sexto captulo, em jeito conclusivo

    apresenta-se ainda uma nota final, onde se procede-se ao balano da investigao realizada e d conta, de forma sistematizada, os seus principais resultados.

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    Captulo 1

    VALE DE ALCNTARA UM DIAGNSTICO

    1. Pobreza, marginalidade e excluso social

    Como se encontra inerente a qualquer processo de diagnstico da realidade social, previamenao incio do processo de recolha de informao propriamente dito, a investigao procurou, e primeiro lugar, discutir os termos de referncia sobre os quais esse processo devia assentadiscusso essa mormente situada em torno dos conceitos de pobreza , marginalidade e excluso

    social que importa aqui apresentar sucintamente como forma de tornar inteligveis, tanto o passos seguidos durante o desenvolvimento subsequente da pesquisa, como os prprioresultados que dela surgiram e que aparecem explicitados nos captulos seguintes do presendocumento.

    Se a populao residente nos bairros Quinta do Cabrinha, Ceuta-Sul e Ceuta-Norte frequentemente descrita como uma populao excluda, a vrios nveis, habituada a recorreactividades ilcitas para financiar o seu modo de vida, e se o objectivo assumido do presentrabalho em certo sentido proceder identificao, de forma objectiva e cientificamenorientada, da medida e configurao da excluso (ou excluses) de que tal populao objectento para onde olhar que dimenses da vida comunitria observar, que indicadores recolher para apreender tal realidade?

    A verdade que tanto ao nvel do senso comum, como ao nvel da discusso poltica, mobilizao dos termos pobreza e excluso social no tem sido feita sem ambiguidade alis,

    como a do termomarginalidade sendo tais conceitos frequentemente utilizados para descrever realidades muito variadas, as quais muitas vezes no configuram as situaes inicialmencontempladas na acepo tcnica dos mesmos.

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    No querendo entrar aqui em pormenor acerca das origens desse debate, importante esclarecque, de facto, se tratam de duas formas de abordar o estudo da situao dos indivduos nsociedade, formas essas cujo potencial interpretativo singular deve ser resguardado, pois aremeterem para diferentes maneiras de observar a realidade dos indivduos, so produtoras uma viso mais abrangente e completa dessa mesma realidade, o que pode traduzir-se nummaior coerncia das estratgias de interveno delimitadas para a sua transformao.

    Assim, enquanto o conceito de excluso social, na perspectiva de Robert Castel, remete parafase extrema daquilo que o autor entende como por um processo de marginalizao dosindivduos , devendo este ser compreendido como um percursoao longo do qual se verificam

    sucessivas rupturas na relao do indivduo com a sociedade rupturas essas que podem

    ocorrer tanto em relao ao mercado de trabalho, como no mbito da vida familiar ou darelaes afectivas e de amizade (Castel, Robert in Bruto da Costa, 2002: 9-10), j o conceito pobreza, de acordo com Alfredo Bruto da Costa, traduz uma situao dinmica de privao por falta de recursos (Bruto da Costa, 2002: 18-19), ou ainda, segundo Lus Capucha, dedeficientes condies materiais de existncia, ou da insuficincia de recursos de ordem

    econmica, social ou cultural (Capucha, 1998: 211).

    Ambos os autores portugueses, alis, consideram que a pobreza pode constituir uma formespecfica de produo de excluso social, j que, privado de recursos, o pobre pode no reunircondies necessrias a uma participao eficaz nas estruturas e instituies sociais correntes sociedade em que vive (Bruto da Costa, 2002: 19 e Capucha, 1998: 217).

    A integrao social , como refere Lus Capucha, est associada ideia de que a sociedadeconstitui um todo em que as diferentes partes e indivduos devem estar articulados, participando

    de um conjunto mnimo de benefcios que definem a qualidade membro de pleno direito dessa

    sociedade. A integrao social no implica a anulao das diferenas, das clivagens e dos

    conflitos sociais, mas tem por base a ideia de que tais diferenas, clivagens e conflitos no

    coloquem certos grupos ou categorias sociais fora das estruturas correntes da sociedade, isto ,

    de que as diferenas no se tornem moralmente intolerveis e contraditrias em relao as

    normas. E o autor acrescenta que acoeso social atingidaquando se conseguem produzir

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    sociedades coesas, em que todos se insiram em padres de vida tidos como dignos (Capucha,1998: 213-214).

    No fundo, a questo tanto da integrao como da excluso sociais encontram-se profundamenligadas noo decidadania , sendo que se uma a integrao pode ser aferida quando existeuma insero bem sucedida dos indivduos em padres de vida tidos como dignos, a outra excluso verifica-se precisamente quando indivduos ou grupos de indivduos no consegueaceder satisfatoriamente a esses padres de vida.

    Qualquer sociedade compreende umconjunto de direitos e deveres normativamente inscritosnas estruturas sociais , direitos e deveres esses quefundam os compromissos existentes entre

    os seus membros e cujo usufruto e exerccio confere aos indivduos o estatuto de cidados. Enesses direitos e deveres encontram-se direitos e deverescvicos , mas tambm sociais e culturais ,sendo que as situaes de excluso se verificam porquea sociedade no oferece a todos os seusmembros a possibilidade de beneficiar de todos esses direitos nem de cumprir alguns deveres

    que lhes esto associados (Capucha, 1998: 210-211).

    Para Alfredo Bruto da Costa o exerccio da cidadania implica e traduz-se no acesso doindivduos a um conjunto de sistemas sociais bsicos, os quais, apesar das diferenas que possaser encontradas entre sociedades, podem ser agrupados em cinco domnios essenciais: o social , oeconmico , o institucional , o territorial e o dasreferncias simblicas . As situaes de exclusosocial surgem quando os indivduos tm dificuldades em aceder eficazmente a esses sistemaquer de uma forma total, quer de uma forma parcial (Bruto da Costa, 2002: 16).

    De referir que os sistemas designados, tal como os cinco grandes tipos de sistemas atrdefinidos, no constituem realidades estanques mas encontram-se profundamente relacionad

    uns com os outros, podendo verificar-se, em alguns casos, situaes de sobreposio entre mesmos.

    Por outro lado, preciso tambm salientar que a questo da excluso no se coloca apenas nsimples acesso ou no acesso aos sistemas, na sua totalidade ou em parte, mas sim n

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    relacionamento mais ou menos facilitado os sujeitos tm com um ou vrios componentes dsistema global. Neste sentido e j aqui se havia chamado a ateno para o carcter de processodos fenmenos de excluso social existem vrios tipos de relao que os indivduos podemanter com os sistemas, o que configurar tambm graus diversos de excluso socirelativamente a um ou mais sistemas. neste sentido que Castel se refere ao processo demarginalizao enquanto percurso ou caminho.

    QUADRO 1 Sistemas sociais bsicosDomni

    o Tipos de sistema social Sistema social

    Social

    Grupos, comunidades e redes sociais imediatos FamliaVizinhana

    Grupos, comunidades e redes sociais

    intermdios

    EmpresaAssociao desportiva ouculturalGrupo de amigosComunidade cultural

    Grupos, comunidades e redes sociais amplosComunidade localMercado de trabalhoComunidade poltica

    Econmico

    Mecanismos geradores de recursos

    Mercado de trabalho (salrios)Sistema de segurana social(penses)Activos

    Mercado de bens e servios Mercado de bens e serviosSistema bancrio e de crditoSistema de poupanas Poupana

    Institucional

    Sistemas prestadores de servios pblicos ou

    semi-pblicos

    EducaoSade

    JustiaInstituies ligadas ao exerccio dos direitoscvicos e polticos

    Sistema burocrticoInstituies ligadas participao poltica

    Territorial Territrio

    HabitaoEquipamentos sociaisAcessibilidadesActividade econmica

    Simblico Referncias simblicas

    Referncias simblicas doindivduo

    Fonte: Bruto da Costa, 2002.

    neste sentido que se pode falar deexcluses sociais no plural ou seja, de vrios tipos(ideais) de excluso, os quais configuram relaesdiferenciadas dos indivduos com os sistemassociais, relaes essas cuja natureza emboradeficitria em todos os casos, j que deexclusoque falamos apresenta caractersticas particulares de grau, de configurao que as tordiscernveis umas das outras.

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    Uma dessas distines ao nvel das suascausas , j que situaes diferentes podem tambmcontribuir para forjar tipos de excluso diferentes. O quadro 2 apresenta essa relao.

    QUADRO 2 Tipos de exclusoExclus

    o Caractersticas Causas

    Econmico

    Ms condies materiais de vidaSituao de privao mltipla por falta derecursos - pobreza

    Baixos nveis de instruo equalificao profissionalEmprego precrioActividade no domnio da economiainformal

    Social

    Privao relacional Privao relacional resultante do estilo devida de familiares e amigos, falta deservios de bem-estar, insero emculturas individualistas e pouco solidrias,falta de recursos

    Isolamento do indivduoFalta de auto-suficincia e autonomiapessoal

    Cultural Difcil integrao laboral, residencial,comunitria, etc.

    Racismo, xenofobia, preconceitos de ordensvrias

    Patolgic

    a

    Rupturas familiares por problemaspsic./mentais Factores patolgicos de natureza

    psicolgica ou mentalSituao de sem abrigoComp.auto-destrutivos

    Difcil integrao laboral, familiar,comunitria, etc. Toxicodependncia, alcoolismo,

    prostituio, etc.Situao de sem abrigo

    Fonte: Bruto da Costa, 2002.

    Mais uma vez, os tipos de excluso assim definidos encontram-se muitas vezes interligados, nsendo possvel definir barreiras estanques entre eles. Tambm as causas mais imediatas de ucerto tipo de excluso tm frequentemente por trs causas mais profundas que importa torn

    inteligveis se pretende que a interveno no se quede apenas pela minorao dos seus efeitmais visveis.

    Para alm disso, importa ainda salientar que a excluso social e a pobreza constituem problemas sociais cujas causas devem ser procuradas na prpria forma como a sociedade se encontrorganizada e que geradora dos mecanismos sociais que so os seus promotores e cujeliminao no se faz semmudanas sociais (Bruto da Costa, 2002: 38-39).

    Em Portugal, por exemplo, a pobreza que ainda constitui a forma de excluso mais marcante pas tem estado fortemente associada a determinadas franjas populacionais, como osidosos , oscamponeses e indivduos assalariados da agricultura, da indstria e dos servios menosqualificados e mal remunerados . J na dcada de noventa, Lus Capucha dava conta daemergncia de ento novas categorias de pobres, como osdesempregados de longa durao ,

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    sintomas que eram visveis atravs do aumento progressivo da taxa de desemprego e d prolongamento do tempo de desemprego (Capucha, 1998: 217-218).

    Em particular, do ponto de vista da excluso, o fenmeno do desemprego apresenta-se despecial gravidade quando as populaes afectadas possuembaixos nveis de escolaridade equalificao profissional . Do mesmo modo, quando a quebra com o universo laboral e os laos ereferncias identitrios a ele associados no total, d-se lugar a situaes de insero

    profissional precria , onde o indivduo alterna entre situaes de desemprego e de emprego em profisses sem qualidade e mal remuneradas, frequentemente inseridas em sistemas de econom paralela, configurando situaes altamente favorveis reproduo da pobreza e da exclussocial (Capucha, 1998: 219).

    Outros grupos vulnerveis em crescimento eram ainda os jovens em risco , grupos tnicos eculturais minoritrios , toxicodependentes , reclusos e ex-reclusos , assim como famliasmonoparentais nomeadamente aquelas que dispem de poucos recursos eindivduos

    portadores de deficincia , uma populao cuja taxa de emprego da populao activa era, queladata, bastante reduzida (Capucha, 1998: 220-221).

    J um outro conceito que nos parece de extrema importncia quando se discute a questo excluso social de indivduos ou grupos o conceito demodos de vida e, dentro deste, em particular, a discusso que Lus Capucha faz acerca dos modos de vida que agrupa sob designao demarginais (Capucha, 1998: 229-233).

    Se atrs tnhamos visto, com Castel, que o processo de marginalizao remete para um percursono qual se verificam sucessivas rupturas na relao do indivduo com a sociedade (Castel, Robin Bruto da Costa, 2002: 9-10), j o conceito demodos de vida se refere ao cruzamento das

    condies objectivas de existncia das populaes configuradas pelas dinmicas ocorrentes nvel societal e seu impacto nos fenmenos da pobreza e da excluso com asrefernciasculturais , os sistemas de valores e as representaes sociais que os indivduos produzem ereproduzem no seu dia-a-dia e que, no fundo, acabam por constituir a dimenso subjectivaconstruda pelos agentes no contexto daquelas condies (Capucha, 1998: 229).

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    Tendo em conta a diversidade de situaes e configuraes possveis no mbito da exclustambm os modos de vida dos actores que a vivem so muito diversificados e permeados pmltiplas variaes e sobreposies, no deixando no entanto de existir proximidades entresituao de indivduos confrontados com tambm muito prximas condies materiais dexistncia. O quadro 3 identifica alguns desses modos de vida para populaes em situavrias de excluso, de acordo com a proposta de Lus Capucha.

    QUADRO 3 Modos de vida (marginais)Modo de

    vida Tipo de populao Caractersticas do modo de vida

    Destituio

    Imigrantes campo/cidademal sucedidos, famliasmonoparentais em zonasurbanas ou rurais

    Famlias extensas com desvantagens vrias (sociais,profissionais, escolares, econmicas, culturais, fsicas,mentais). A pobreza e excluso associam-se a outras

    problemticas como toxicodependncia, alcoolismo,deficincia, doena crnica. Vivem nos limites dasobrevivncia e sem capacidade e meios para prover oseu sustento autnomo, vivendo da caridade pblica eparticular. Tm muitas dificuldades para aceder sinstituies ou estabelecer relaes se sociabilidadeduradouras. No apresentam estratgia de vida, nemuma percepo do tempo como projecto, mas apenascomo ciclo de reproduo fatal da situao presente

    Marginal

    Sem abrigo, meninos derua, toxicodependentessem laos familiares,certos sectores dosdelinquentes

    Apresentam caractersticas muito semelhantes s domodo de vida da destituio , mas adoptam geralmenteuma atitude activa perante o meio, mesmo quandoessa atitude perturbadora e problemtica. D-se aperda de laos estveis com a famlia, a comunidade, otrabalho, as instituies ou outros contextos deintegrao

    Restrio

    Operrios e empregadosdos servios com baixasqualificaesprofissionais e escolares,empregos instveis erendimentos escassos eirregulares,desempregados,reformados com pensesbaixas e assalariadosagrcolas

    Os bens que consomem e as maneiras como o fazemvisam quase exclusivamente a sobrevivncia. Estogeralmente conscientes da sua situao de carncia,gerando-se por vezes situaes de pobrezaenvergonhada e dependncia de patronos, instituiesou autarquias. Quando se manifesta, o ressentimentoem relao sua situao raramente se transformaem energia para o envolvimento num projecto deruptura com a pobreza. Os recursos so totalmenteafectados estratgia de sobrevincia quotidiana,sendo escassos para sustentar processos demobilidade ascendente. O passado tem uma conotaonegativa, o presente resignado e o futuro sem

    grandes perspectivas ou esperanasPoupana Campesinato ecampesinato parcial

    Compresso do consumo reduzindo-o tanto quantopossvel aos produtos do prprio patrimnio da casacamponesa. O peclio que se pretende acumularresulta do excedente da produo agrcola e doplurirrendimento resultante do assalariamento a tempoparcial de alguns membros da famlia, das remessasde imigrantes e das transferncias da seguranasocial. A estratgia de vida visa garantir asobrevivncia da famlia. O passado valorizado no

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    plano simblico, mas identificado com a privaomaterial. O presente prolonga esse passado e o futuroenvolve um projecto defensivo garantir a velhice e atransmisso do patrimnio familiar. A perseverana e oesforo podem estar na origem de projectos deinvestimento capazes de funcionar como instrumentosde mobilidade social

    Convivialidade

    Famlias de rendimentosincertos e relaoprecria e atpica com omercado de trabalho,recurso frequente aproventos de origem nolegal, muitas vezessustentados e protegidospor economias de basecomunitria. Geralmenteforma-se a partir decomunidades residentesem bairros antigos dascidades, em bairros debarracas ou em bairrosde habitao social

    Valorizao das dimenses ldicas da existncia,sociabilidades excessivas e intensas, atraco porobjectos simblicos da modernidade e o sentido agudodas desigualdades sociais, remetendo muitas vezespara o reforo de laos de solidariedade no contextode redes identitrias que so produtoras de culturaspopulares e de contraculturas que marcam presenaactiva na vida societria. Assenta no desenvolvimentode competncias sociais e instrumentais expeditas incluindo a dramatizao da situao de pobreza quepermitem a obteno de recursos, apoios e subsdiosque chegam a constituir parte significativa dos meiosde vida. Tem uma relao positiva com o passado doponto de vista simblico e afectivo, embora sejanegativa no que respeita carncia material e culpabilizao do destino. O presente vivido comintensidade, em detrimento da preparao de futurosdiferentes

    Fonte: Capucha, 1998.

    Mais uma vez, tambm aqui, deve chamar-se a ateno para o facto dos tipos (ideais) assidefinidos para osmodos de vida no constiturem realidades estanques ou puras masapresentaram por vezes sobreposies e justaposies que, no limite, podem dificultar identificao clara da situao em presena nas categorias aqui consideradas e a cria

    (eventual) de outras categorias mais pertinentes do ponto de vista explicativo.

    Por outro lado, muitas pessoas colocadas em situao precria por motivos imprevistos ou aacidentais no chegam a estruturar os sistemas de referncia, as disposies e as estratgias vida ajustadas s novas situaes em que se encontram, pelo que acabam por se situar numespcie de modo de vidatransitrio que, ou se retra para o modo de vida anterior caso novosacontecimentos permitam o regresso s circunstncias originais do indivduo ou, quando

    precariedade se prolonga, tende a transformar-se nos percursos de vida dadestituio oumarginalidade (Capucha, 1998: 233).

    Qualquer que seja o caso, no querendo prolongar mais do que o pertinente uma discusso eque muito mais haveria por dizer, fundamentalmente nos conceitos deexcluso social , pobrezae modos de vida , assim definidos, que se estrutura o modelo de investigao que foi mobilizad

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    populao local, e que, em funo do contacto privilegiado que tm com a comunidadapresentam um profundo conhecimento emprico do terreno de interveno.

    Por fim, toda esta informao foi tratada atravs do recurso s tcnicas e instrumentoapropriados, como aanlise estatstica (inqurito por questionrio) e aanlise de contedo(entrevistas). Os dados, j trabalhados, so os que se apresentam j de seguida.

    Captulo 2

    TERRITRIO E DEMOGRAFIA

    1. Localizao e acessibilidades

    Situado no concelho de Lisboa e dividido entre as freguesias de Alcntara e Santo Condestvel Ncleo Central do Vale de Alcntara congrega os bairros Quinta do Cabrinha (Alcntara), CeutSul e Ceuta-Norte (Santo Condestvel), bairros residenciais construdos no mbito do ProgramEspecial de Realojamento (PER) com financiamento do Programa de Iniciativa Comunitr

    (PIC) URBAN que acolheram as famlias anteriormente residentes no entretanto demolidoCasal Ventoso .

    Os trs bairros situam-se paralelamente ao extremo sul da Avenida de Ceuta pouco antes desta desembocar na freguesia de Alcntara tendo o primeiro sido construdo no lado oeste avenida, em 1998, para realojar as famlias do Casal Ventoso de Baixo, e os restantes no lado es

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    da avenida, em 2001 e 2002 respectivamente, para albergar as famlias oriundas do CasVentoso de Cima e das vilas outrora existentes na zona da Rua Maria Pia.

    QUADRO 4 Datas de construo e ocupao dos bairros do Ncleo Central do Vale de Alcntara

    Bairro Data deconstruo

    Data derealojamento

    N deedifcios

    N defogos Zona de origem dosresidentesQuinta doCabrinha 1998 1999 10 248 Casal Ventoso de Baixo

    Ceuta-Sul 2001 2001 8 205 Casal Ventoso de Cima eRua Maria Pia

    Ceuta-Norte 2002 2002 18 395 Casal Ventoso de CimaFonte: Documentos fornecidos pela Gebalis.

    Mais precisamente, em termos geogrficos, o Ncleo Central do Vale de Alcntara encontra-localizado entre as freguesias de Alcntara (a sul e a oeste), da Ajuda (a norte), de SanCondestvel (a este) e ainda de Prazeres (a sudoeste), e possui como principais eixos virios prpria Avenida de Ceuta com ligao Avenida Calouste Gulbenkian a Avenida da ndiacom ligaes Avenida 24 de Julho e Avenida Marginal e ainda o Eixo Norte-Sul (IP7) com ligaes Circular Regional Interna de Lisboa (CRIL/A36/IC17), Auto-Estrada do Oe(A8), Auto-Estrada de Sintra/Buraca (A37), 2 Circular e, finalmente, Ponte 25 de Abril eAuto-Estrada do Sul (A2).

    Em termos de acessibilidades, portanto, o Vale de Alcntara parece situar-se numa zon privilegiada, com ligao facilitada a algumas das principais vias da rede viria da cidade Lisboa, tendo este elemento do bairro, inclusivamente, sido considerado um dos seus principaaspectos positivos durante o inqurito realizado5.

    2. Evoluo demogrfica 2002/2008

    A nvel demogrfico, os dados mais precisos que se encontram disponveis datam de 2002, tensido recolhidos pelo j extintoGabinete de Reconverso do Casal Ventoso (GRCV) por altura em

    5 De acordo com os dados recolhidos por via do inqurito realizado, os trs aspectos mais positivos do Vale dAlcntara seriam, por ordem decrescente de importncia, aQualidade e condies das habitaes (42,6%), as

    Acessibilidades, localizao e transportes do bairro/que servem o bairro (37,5%) e, em terceiro lugar, as Relaesentre as pessoas/vizinhos (20,6%).

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    que se verificou o processo de realojamento, e apontam para a existncia de 2105 indivduresidentes nos trs bairros que compem o Ncleo Central do Vale de Alcntara, dos quais 11(52,9%) seriam do gnero feminino.

    De acordo com as estimativas que foi possvel realizar a partir do inqurito aplicado em 2008nmero de indivduos residentes no Vale de Alcntara parece ter aumentado ligeiramente des2002, situando-se agora nos 2352 efectivos (mais 247, portanto), entre os quais 1240 smulheres (52,7%).

    Atentando no saldo final desse aumento, constata-se que ele foi positivo na grande maioria descales etrios definidos pelo GRCV para a anlise da populao no ano de 2002, tendo sid

    particularmente impulsionado pelo acrscimo do nmero de indivduos comidades iguais ou superiores aos 66 anos , que conjuntamente contabilizaram 30,1% do aumento absoluto registado.

    GRFICO 1 Estimativa da evoluo demogrfica do Vale de Alcntara (2002-2008), por gnero (N)

    21052352

    1113 1240992 1112

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    2002 2008

    Populao total Populao feminina Populao masculina

    Fonte: Gabinete de Reconverso do Casal Ventoso, 2002 e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Tendo em linha de conta ataxa de variao da populao por escalo etrio no perodo detempo em anlise, verifica-se que excepo da taxa de variao registada no escalo doindivduos commenos de 10 anos , que alcanou os 15,8 p.p., foram os escales etrios mais

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    avanados que apresentaram variaes (positivas) mais significativas, nomeadamente aqueles qenglobam os indivduos com idades superiores aos 60 anos.

    GRFICO 2 Estimativa da evoluo demogrfica do Vale de Alcntara (2002-2008), por escalo etrio (%)

    13,39,8

    16,413,3 12,9

    30,1

    4,3

    0

    15,8

    3,7

    10,015,7 13,9

    31,1

    22,5

    -2,3-10

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    0 aos 10 11 aos 19 20 aos 30 31 aos 40 41 aos 50 51 aos 60 61 aos 65 66 e mais

    Escales etrios

    Distribuio do acrscimo populacional verificado Taxa de variao da populao

    Fonte: Gabinete de Reconverso do Casal Ventoso, 2002 e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Este facto, na ausncia de outros dados mais precisos sobre o assunto, pode significar queaumento populacional registado esteve relacionado tanto com o ligeiro aumento da populainfantil do Vale de Alcntara, como com a manuteno e reproduo, por insero de novo

    moradores, da sua populao em idade mais avanada.

    J noutra perspectiva, se em termos de gnero o aumento populacional registado forelativamente equilibrado com taxas de variao na ordem dos 11,4 p.p. para o gnero feminie 12,1 p.p. para o masculino j ao nvel do bairro de residncia as coisas passaram-se dmaneira diferente, tendo os bairros Ceuta-Sul e Ceuta-Norte sido os nicos responsveis peaumento populacional verificado, enquanto o bairro Quinta do Cabrinha sofreu um decrscim populacional efectivo na ordem dos 4,7 p.p..

    GRFICO 3 Estimativa da evoluo demogrfica do Vale de Alcntara (2002-2008), por bairro de residncia (%)

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    0

    63,8

    36,3

    -4,7

    9,9

    43,4

    -20

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    Qta. Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Bairro de residncia

    Distribuio do acrscimo populacionalabsoluto por bairro de residncia

    Taxa de variao da populao2002/2008 por bairro de residncia

    Fonte: Gabinete de Reconverso do Casal Ventoso, 2002 e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Em particular, destaque-se aqui que o bairro Ceuta-Sul, o menor dos trs bairros em anlisaparece como o bairro que registou um maior aumento de populao durante o perodo de temestudado 63,8% do total de novos habitantes, como uma taxa de variao 2002/2008 de 43 p.p. situao que, de acordo com informaes recolhidas junto da Gebalis6, no estarrelacionada com quaisquer decises administrativas tomadas por aquela empresa em refernciagesto dos bairros do Vale de Alcntara, mas sobretudo com a prpria dinmica populacional qcaracteriza a comunidade ali residente, que seria dotada de uma extremamobilidade residencial

    interna .

    A este respeito, alis, ser conveniente realar que embora no haja dados concretos quindiquem que tal condio constitui um factor explicativo objectivo da situao atrs apresenta 70,0% dos moradores que responderam ao inqurito realizado referiram que possuem familiaa residir noutras habitaes nos bairros do Ncleo Central do Vale de Alcntara, situaes qutal como a eventual ocorrncia/prevalncia de fenmenos deendogamia espacial na comunidade, podem sem dvida desempenhar um papel estruturante nas dinmicas demogrficas daquela zohabitacional.

    Qualquer que seja o caso, o resultado mas visvel desta situao a transformao do pes populacional relativo dos bairros no conjunto do Vale de Alcntara.6 A Gebalis Gesto dos Bairros Municipais de Lisboa, EM , uma empresa pblica, de mbito municipal, que temcomo objecto principal a gesto social, patrimonial e financeira dos bairros municipais de Lisboa.

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    Assim, se em 2002 o bairro da Quinta do Cabrinha surgia indisputavelmente como o segund bairro mais povoado daquela zona de residncia, albergando 32,0% do total da popularesidente, actualmente essa situao encontra-se significativamente alterada, encontrando-se bairro Ceuta-Sul com um efectivo populacional j muito prximo (25,0%) da percentagem indivduos actualmente residentes no primeiro bairro (27,3%).

    GRFICO 4 Distribuio da populao residente no Vale de Alcntara (2002/2008), por bairro de residncia (%)

    32,0 27,319,5 25,0

    48,5 47,7

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    2002 2008

    Ano

    Qta. Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Fonte: Gabinete de Reconverso do Casal Ventoso, 2002 e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Por outro lado, se tiver em conta a diferente capacidade de lotao dos diferentes bairros do Vade Alcntara, assim como a baixa taxa de fogos em estado de sobrelotao identificada em 20 para a zona 4,0% ento esta situao pode tambm ser indicativa da presena, eventualmenmais premente no bairro Quinta do Cabrinha do que nos restantes bairros, de um conjunto dfogos que actualmente no so habitados.

    3. Estrutura demogrfica actual e tipos de famlia

    J ao nvel da configurao desta populao no contexto demogrfico nacional e regionaverifica-se que ao nvel do gnero o Vale de Alcntara apresenta uma situao muito parecidcom a situao verificada em finais de 2007 com a populao global do Distrito de Lisboa, eque taxa de feminizao ligeiramente superior aos 52% (52,7% para o Vale de Alcntar

    19

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    52,1% para o distrito de Lisboa), um valor mais elevado que a mesma taxa a nvel nacion(51,6%), mas que inferior quele que conhecido, para a mesma data, a nvel municip(54,5%).

    O Municpio de Lisboa, alis, tambm a nvel etrio, destaca-se do panorama nacional e region(distrital) por apresentar uma populao claramente mais envelhecida, onde a percentagem indivduos com65 ou mais anos atinge os 24,2% da populao e a populao commenos de 14anos no passa dos 13,7%.

    GRFICO 5 Distribuio da populao residente por grandes grupos etrios (%)

    15,2

    13,7

    15,7

    15,3

    65,7

    62,2

    66,8

    67,2

    19,1

    24,2

    17,5

    17,4

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Vale de Alcntara 2008

    Municpio de Lisboa 2007

    Distrito de Lisboa 2007

    Portugal 2007

    0-14 15-64 65 +

    Fonte: INE, I.P., 2008A e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Neste mbito, o Vale de Alcntara apresenta-se posicionado entre a situao verificada a nvnacional e distrital bastante similar e a situao que caracteriza o seu concelho de inserapresentando tambm uma populao mais envelhecida do que a mdia nacional (19,1%) mque no chega aos valores calculados para o Municpio de Lisboa o ndice de envelhecimencalculado para Lisboa de 177,0%, enquanto, que o do Vale de Alcntara de 125,4%.

    Mais uma vez, tambm ao nvel da composio da populao os trs bairros do Vale de Alcntaapresentam configuraes distintas. Em termos de gnero, por exemplo, os bairros Quinta dCabrinha e Ceuta-Norte seguem de perto a tendncia nacional, com percentagens de populafeminina na ordem dos 51%, enquanto o bairro Ceuta-Sul apresenta uma taxa de representao populao feminina mais elevada, 55,6%.

    GRFICO 6 Distribuio da populao residente por gnero e bairro de residncia (%)

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    51,9

    55,6

    51,5

    52,7

    51,6

    48,1

    44,4

    48,5

    47,3

    48,4

    0 50 100

    Ceuta-Norte

    Ceuta-Sul

    Qta. Cabrinha

    Vale de Alcntara 2008

    Portugal 2007

    Feminino Masculino

    Fonte: INE, I.P., 2008A e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Ao nvel da idade, o bairro Ceuta-Norte acompanha de perto a tendncia central do Vale dAlcntara, enquanto o bairro Quinta do Cabrinha aparece como o bairro mais envelhecidapresentando tanto uma maior percentagem de indivduos com idadesiguais ou superiores aos65 anos de idade (23,5%) como a menor percentagem de indivduos com idadesinferiores aos15 anos (12,3%). J o bairro Ceuta-Sul aparece como o bairro menos envelhecido dos trsdando-se inclusivamente o caso curioso de inverter a tendncia geral da evoluo demogrfica populao, apresentando uma maior percentagem de indivduos jovens (at aos 14 anos de idad19,0%) do que de idosos (com 65 ou mais anos, 14,3%).

    GRFICO 7 Distribuio da populao residente por grandes grupos etrios e bairro de residncia (%)

    14,8

    19,0

    12,3

    15,2

    15,3

    66,0

    66,7

    64,2

    65,7

    67,2

    19,2

    14,3

    23,5

    19,1

    17,4

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Ceuta-Norte 2008

    Ceuta-Sul 2008

    Qta. Cabrinha 2008

    Vale de Alcntara 2008

    Portugal 2007

    0-14 15-64 65 +

    Fonte: INE, I.P., 2008A e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

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    Independentemente das diferenas que se possam estabelecer em termos da origem residencdos seus habitantes, em termos globais h que destacar que, a par do aumento significativo dnmero de efectivos populacionais desde 2002 (um aumento de 11,7 p.p.), a populao residendo ncleo central do Vale de Alcntara apresenta uma percentagem de idosos superior mdnacional e, sobretudo, trata-se de uma populao que tem vindo a envelhecer, tal como demonsa comparao destes dados com os dados recolhidos em 2006 por um projecto local.

    GRFICO 8 Distribuio da populao residente por grandes grupos etrios 2006/2008 (%)

    15,2

    19,2

    65,7

    64,2

    19,1

    16,6

    0 20 40 60 80 100

    Vale de Alcntara2008

    Vale de Alcntara2006

    0-14 15-64 65 +

    Fonte: Leitoet al , 2008 e Inqurito populao do Vale de Alcntara 2008.

    J no que diz respeito composio dos agregados familiares presentes no Vale, j aqui se disque o nmero de fogos em situao de sobrelotao relativamente reduzido, quedando-se pel4,0% do total de fogos existentes. Em termos do nmero de indivduos presentes nos agregadosmdia de 2,8 indivduos/fogo sendo mais comuns os agregados com2 ou 3 indivduos (52,9%),com1 indivduo (19,9%) ou com4 indivduos (15,8%) do que com5 ou mais indivduos (11,4%).

    Ao nvel do tipo de famlias presentes, o tipo mais significativo afamlia nuclear (46,3%), namaioria dos casoscom filhos (28,7%), ao que se segue os agregados domsticos constitudos porindivduos isolados (19,9%) e ainda as famlias monoparentais (15,4%).

    De destacar, a este nvel, por um lado, a percentagem elevada de indivduos a viver de formisolada, j que se tratam sobretudo deindivduos com 65 ou mais anos (55,6%) e que podemapresentar necessidades de sade especiais e, por outro lado, o facto das famlias monoparentsimples serem sobretudo, do ponto de vista do progenitor, famlias femininas (80,8% dos casos),configurando situaes clssicas de monoparentalidade, em que a figura masculina a princip

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    ausncia do quadro familiar, e que, em situaes de baixo nvel de rendimentos, tendem configurar cenrios altamente permeveis a situaes de falta de recursos e excluso.

    Captulo 3

    ESCOLARIDADE, FORMAO PROFISSIONAL E EMPREGO

    1. Qualificao escolar e profissional da populao

    O acesso a um emprego que permita um retorno econmico regular e suficiente para reproduo, por parte do indivduos e sua famlia, das condies de vida consideradas normaiem determinada sociedade, constitui um dos mecanismos fundamentais de inclussimultaneamente econmica e social dos cidados. Actualmente, e talvez mais do que nuncaformao escolar e profissional so factores essenciais para esse processo, factores esses q

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    quando descurados podem limitar fortemente as hipteses de insero profissional bem sucedi por parte dos sujeitos.

    De acordo com os dados recolhidos por via do inqurito realizado (2008), em termos escolare populao residente no Ncleo Central do Vale de Alcntara caracteriza-se na sua generalida pela posse de qualificaes escolares muito baixas, com 67,3% da populao a apresentar nvde escolaridade inferiores ao 3 ciclo (escolaridade mnima obrigatria) e somente 7,5% dindivduos a apresentar nveis idnticos (6,7%) ou superiores (0,8%) ao ensino secundrio.

    GRFICO 9 Distribuio da populao residente por nvel de escolaridade (%)

    2,5 0,8

    8,4

    36,3

    19,325,1

    6,70,8

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    No sabe lernemescrever

    Semgrau deensino

    Menos que o1 ciclo

    1 ciclo 2 ciclo 3 ciclo Ensinosecundrio

    Ensinosuperior

    Fonte: Inqurito ao Vale de Alcntara, 2008.

    Para alm disso, de acordo com dados recolhidos por via de um inqurito realizado em 2006grande maioria da populao inquirida no tinha tido qualquer tipo de formao de carct profissional (83,3%), nem tinha tambm qualquer interesse em faz-lo (84,1%), ou apresentasequer um tipo de contacto com meios informticos que permitisse antever um conhecimen bsico dos mesmos na altura 85,4% dos indivduos que respondeu ao inqurito afirmou qutilizava raramente ou nunca qualquer tipo de equipamentos informticos, nomeadamente ocomputador (Simoet al , 2008).

    Por outro lado, das 65 crianas e jovens do Vale de Alcntara que at finais de 2007 tinham siacompanhadas por um projecto de interveno, cerca de 90,2% daquelas a respeito das quais dispunha de informao escolar tinham j reprovado pelo menos 1 ano durante o seu percur

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    escolar, o que pode ser indicativo da presena de taxas elevadas de insucesso escolar n populao infanto-juvenil daquela zona residencial.

    GRFICO 10 Populao activa e inactiva do Vale de Alcntara (%)

    59,0

    1,7 8,3

    28,1

    2,8

    62,7

    6,0 8,4

    19,4

    3,5

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    Populao activa Domsticos Estudantes Reformado Outros inactivos

    Vale de Alcntara 2008 Portugal 2008

    Fonte: INE, I.P., (2008B) e Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    J a anlise da relao dos indivduos com o universo laboral, tomada em referncia populacom 15 ou mais anos de idade, permite que se constate que o Vale de Alcntara apresenta umataxa de actividade inferior mdia nacional em 3,7 p.p., e compreende uma percentagem elevade reformados (28,1%) comparativamente ao cenrio nacional verificado no 2 trimestre de 200situao apenas parcialmente pode ser explicada pela maior taxa de indivduos com idades iguaou superiores aos 65 anos, j que, entre a populao reformada do Vale de Alcntara conta-uma percentagem significativa de indivduos que ainda no atingiram essa idade 25,8% do tode indivduos reformados tm menos de 65 anos (INE, I.P., 2008B).

    Relativamente populao empregada, de forma coerente com as baixas qualificaes escolare profissionais que caracterizam estes indivduos, as profisses mais recorrentes so geralmen profisses pouco exigentes do ponto de vista das qualificaes e da especializao e com baixndices de remunerao, encontrando-se entre as mais representativas profisses que envolvetrabalhadores no qualificados (31,1%) nomeadamente empregados domsticos e de limpeza

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    pessoal dos servios e vendedores (30,4%) vendedores, assistentes familiares, vigilantes decrianas, empregados de mesa ou balco, cozinheiros e ajudantes de cozinha e aindaoperrios,artfices e trabalhadores similares (14,0%) trabalhadores da construo civil, operadoresgrficos, electromecnicos e electricistas, etc.

    GRFICO 11 Populao empregada do Vale de Alcntara por profisso (Grandes Grupos CNP) (%)

    1,1 1,1 2,1

    6,3

    30,4

    0,4

    14,0

    8,0

    31,1

    0,4

    5,2

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    Quadrossuperiores daadministrao

    pblica,dirigentes e

    quadrossuperiores de

    empresas

    Especialistasdas profissesintelectuais ecientficas

    Tcnicos eprofissionais

    de nvelintermdio

    Pessoaladministrativo

    e similares

    Pessoal dosservios e

    vendedores

    Agricultores etrabalhadores

    qualificados daagricultura e

    pescas

    Operrios,artfices e

    trabalhadoressimilares

    Operadores deinstalaes emquinas e

    trabalhadoresda montagem

    Trabalhadoresno

    qualificados

    Membros dasforas

    armadas

    Outros

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Para alm desta situao, ao nvel do emprego, o Vale de Alcntara caracteriza-se tambmactualmente, por apresentar uma taxa de desemprego muito elevada, na ordem dos 23,7%, istomais do que o triplo da taxa de desemprego registada, a nvel nacional, no 3 trimestre de 200(7,7%) (INE, I.P., 2008C).

    O bairro de residncia parece no ter influncia na situao relativamente ao emprego do

    moradores, com os bairros a apresentarem poucas variaes na sua taxa de desemprego (Quindo Cabrinha, 23,5%, Ceuta-Sul, 23,8% e Ceuta-Norte, 23,7%). J ao nvel do gnero, contrariamente tendncia nacional, no Vale de Alcntara so sobretudo os homens que se estmais em risco de se encontrarem numa situao de desemprego, apresentando 28,0% contra umtaxa de 19,6% entre a populao feminina. Do mesmo modo, em termos etrios, a popula jovem que est mais permevel ao desemprego (26,5%).

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    Ao nvel da escolaridade, as categorias que apresentam um ndice de desemprego mais elevado que a taxa global registada so aquelas que integram os indivduos com menorequalificaes, nomeadamente aqueles que tm nveis de escolaridade inferiores ou iguais ao ciclo (taxas de 35,7% e 29,2%, respectivamente), enquanto a categoria que apresenta um ndimais baixo a do ensino secundrio, com uma taxa de desemprego (ainda assim elevada) d12,5%7.

    GRFICO 12 Distribuio da populao desempregada por ciclo de ensino completo (%)

    35,729,2

    14,518,9

    12,5

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    Nenhum 1 Ciclo 2 Ciclo 3 Ciclo Secundrio

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Dito isto, atente-se agora no panorama global do emprego, a nvel nacional, assim como n

    perspectivas para a economia global para o futuro prximo, como forma de contextualizar dados at agora apresentados.

    2. Perspectivas sobre a economia nacional e o mercado de emprego

    De acordo com as Estatsticas do Emprego do Instituto Nacional de Estatstica (INE) para o 3trimestre de 2008, Portugal registou uma contraco de 0,3% da populao activa relativamenao trimestre homlogo de 2007 e de 0,2% face ao trimestre anterior (INE, I.P., 2008C).

    Para a diminuio homloga contribuiu tanto a diminuio da populao empregada, qudecresceu 0,1% face ao mesmo trimestre de 2007, como a reduo da populao desempregad7 A categoria que engloba os indivduos com o ensino superior no foi aqui contemplada dado o nmero reduzido defectivos para que remete.

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    onde se registou uma diminuio homloga de 2,4%, apesar de ter aumentado 5,8% face ao trimestre de 2008 (idem).

    No que se refere populao empregada, a diminuio registou-se sobretudo ao nvel d populao masculina, que diminuiu 0,2% enquanto a populao feminina empregada aument0,1%, da populao empregada com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, que sofreudecrscimo mais acentuado de todas as categorias etrias em contraco (3,5%), e da populacujo nvel de escolaridade completo corresponde, no mximo, ao 3 ciclo do ensino bsico, cudiminuio foi de 2,0% enquanto a populao empregada com nveis de escolaridade ao nvel ensino secundrio e superior aumentou (3,0% e 6,3% respectivamente) (ibidem).

    O sector de actividade que registou uma maior perda homloga foi o daindstria, construo,energia e gua , que decresceu 4,7% (perda em muito explicada pela diminuio empregada nindstria transformadora , que perdeu 54,1 mil indivduos), enquanto o sector daagricultura,

    silvicultura e pesca o emprego diminuiu apenas 0,5%. O nico sector que registou um ganho aonvel da populao empregada foi o dos servios , com um aumento homlogo de 2,4%, comdestaque para os ganhos registados ao nvel da populao empregada nas actividades deducao (15,1%) e doalojamento e restaurao (12,9%). A populao empregada nasactividades de sade e aco social decresceu 12,2% (INE, I.P, 2008C).

    Esta situao, alis, tem vindo a ser recorrente pelo menos desde 1998, com os sectores dindstria, construo, energia e gua e da agricultura, silvicultura e pesca a perderem progressivamente peso, em termos de emprego, para o sector dosservios , sector que, em 2007,dava j trabalho a 57,6% do total da populao empregada (OEFP, 2008).

    J ao nvel do desemprego, o INE estima que no 3 trimestre de 2008 estivessem em Portug

    433,7 mil indivduos em situao de desemprego, tendo-se registado um decrscimo homlode 2,4% e um crescimento trimestral de 5,8%. A taxa de desemprego registada para o perodo tempo em anlise foi, como j aqui se disse, de 7,7%, o que configura um decrscimo de 0,2 p.face ao mesmo perodo de 2007 e um aumento de 0,4 p.p. face ao 2 trimestre de 2008 (INE, I2008C).

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    A diminuio homloga registada na taxa de desemprego ocorreu tanto na populao masculi(- 0,2 p.p.) como feminina (- 0,1 p.p.), mas a taxa registada para os homens foi bastante inferiquela que foi registada para as mulheres (6,5% e 9,1% respectivamente). O desemprego entre populao jovem (15 a 24 anos) parece estar a aumentar em Portugal, tendo-se registado, no trimestre de 2008, uma taxa de 17,1%, valor que representa quer um crescimento homlogrelativamente a 2007 (+ 1,1 p.p.) quer um aumento relativamente ao 2 trimestre do mesmo a(+ 2,8 p.p.). O nmero de desempregados jovens representava, na data em anlise, 20,1% do tode indivduos desempregados, percentagem que superior registada para o trimestre anteri(17,6%) e do trimestre homlogo de 2007 (18,8%) (idem).

    Ao nvel da escolaridade, de salientar que, em termos de variao homloga e em contexto abaixamento da taxa de desemprego, todas as categorias contempladas pelo INE apresentaraquebras menos 0,2 p.p. na populao com oensino bsico , menos 0,3 p.p. na populao com oensino secundrio ou ps-secundrio e menos 0,1 p.p. na populao com oensino superior enquanto ao nvel da variao trimestral somente a taxa de desemprego dos indivduos conveis de escolaridade correspondentes aoensino secundrio ou ps-secundrio sofreu umadiminuio, ainda que ligeira (- 0,1 p.p.). Em termos lquidos, de facto somente a populao conveis de escolaridade correspondente ao3 ciclo do ensino bsico decresceu, tendo o nmero deindivduos nesta situao diminudo 4,4%, enquanto o nmero de indivduos comensino

    secundrio/ps-secundrio se manteve praticamente inalterado e a populao desempregada comensino superior aumentou 6,2% (ibidem).

    Em termos regionais, a Regio de Lisboa apresentou, no 3 trimestre de 2008, o maiodecrscimo absoluto na populao desempregada verificado no pas (13,3%, 17,6 mil indivduoface ao trimestre homlogo de 2007. Do mesmo modo, a maior variao da taxa de desempre

    verificada ao nvel das NUTS II do pas foi em Lisboa, tendo a respectiva taxa passado de 9,2no 3 trimestre de 2007 para 7,9% no trimestre homlogo de 2008. Apesar disso, em Lisboresidem 26,4% do total de desempregados existentes no pas (INE, I.P., 2008C).

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    A par da variao homloga registada ao nvel do desemprego, convm tambm ter em contatendncia de longo prazo, j que esta, em perodo de grande incerteza quanto ao funcionamenda economia e dos mercados, poder dar uma perspectiva mais slida do estado do mercado trabalho nacional.

    A este nvel, importante ter-se em conta que a taxa de desemprego em Portugaindependentemente do valor mdio que assumir em 2008, aumentou progressivamente de 20at 2007, com uma variao total de 4,0 p.p. nesse perodo de tempo, e que no ano de 2007 estaxa (8,0%) foi pela primeira vez superior taxa de desemprego mdia registada na UniEuropeia a 27 (7,1%) tendncia que, a ter em linha conta os dados actualmente disponveis, provvel que se mantenha em 2008 de acordo com os dados do Eurostat a taxa de desemprego

    da UE 27 em Setembro de 2008 era de 7,0%, valor idntico registado no trimestre homlogo 2007 (OEFP, 2008 e Eurostat, 2008).

    Por outro lado, de acordo um estudo recentemente divulgado, Portugal era em 2005 um do pases da OCDE onde o fosso entre ricos e pobres, em termos de rendimento, era mais elevadoa percentagem de portugueses em situao de pobreza relativa era tambm superior mdia d pases daquela organizao. Entre as populaes em maior risco de incorrer numa situao pobreza (ou de um acesso a menores rendimentos em geral) encontram-se os indivduos em idaidosa (nomeadamente pessoas com mais de 75 anos de idade), adultos jovens (18 aos 25 anofamlias monoparentais e indivduos com baixos nveis de escolaridade e parcos nveis despecializao/formao profissional (OECD, 2008).

    Finalmente, a conjuntura econmica actual caracteriza-se por um forte perodo de crise financeque dever afectar fortemente as economias da UE e, em particular, o comportamento dmercado de emprego.

    As previses econmicas do Outono para 2008-2010 da Comisso Europeia no obstante elevados riscos inerentes a qualquer anlise prospectiva em contexto de crise do conta quecrescimento da economia mundial dever abrandar fortemente, devendo vir a situar-se, na Uni

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    Europeia, volta dos 1,4%, em 2008, e em 0,2%, em 2009, antes de recuperar ligeiramente e2010 (1,1%) (European Comission, 2008).

    O investimento dever cair gravemente e o consumo dever manter-se relativamente fraco, sende esperar uma descida do Produto Interno Bruto na UE no terceiro trimestre de 2008 e espera-tambm que vrias economias da unio entrem em recesso ou evoluam para uma situa prxima. O dfice das finanas pblicas dever aumentar tanto na UE como na rea do euro, ma taxa de inflao, pelo contrrio, dever comear a diminuir em 2009 e 2010 (idem).

    Neste contexto, a previso da comisso preconiza que a criao de emprego na UE ser reduzinos prximos dois anos milho de empregos na UE e milho na rea do euro no perod

    2009-2010 e que a taxa de desemprego dever aumentar cerca de 1,0 p.p. no referido perodatingindo os 7,8% na UE j em 2009 (ibidem).

    Neste contexto das coisas, de contraco das economias, de parca criao de emprego e de uexpectvel aumento das taxas de desemprego, ser portanto de esperar um agravamento ddificuldades que se colocam ao nvel das condies das famlias e, em particular, daquelas que partida se encontram em condies econmicas e materiais frgeis e que dispem de menrecursos (nomeadamente escolares e profissionais) para fazer face aos constrangimentos com qse debatem.

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    Captulo 4

    SADE NO VALE DE ALCNTARA

    1. Recursos disponveis

    De acordo com o levantamento efectuado para o presente diagnstico, uma das grandereivindicaes da populao do Vale de Alcntara, por altura do processo de realojamento, estarelacionada com a instalao de um Centro de Sade no ento recm-criado parque habitacionlocal (cf. entrevista V10).

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    A princpio, a Cmara Municipal de Lisboa procurou corresponder a tais necessidades, tendo siconstrudo um edifcio especificamente para o efeito no extremo sul do bairro Ceuta-Norte. Esconstruo, no entanto, acabaria por nunca chegar a albergar qualquer organismo de sade dServio Nacional de Sade (SNS), tendo permanecido desocupada at Julho de 2004, data emque a sua gesto atribuda Santa Casa da Misericrdia de Lisboa (SCML) e que o seu espao passa a ser utilizado pelos servios sociais e efectivamente de sade desta instituio (idem).

    Actualmente, portanto, no tendo sido satisfeitas pelo menos por completo as pretensiniciais da populao, o Vale de Alcntara, por via da Santa Casa da Misericrdia de Lisboa, paalm dos servios de apoio social que ocupam parte do edifcio referido, dispe de uma Unidade Sade com vrias valncias sade infantil e juvenil , sade de adultos e idosos , sade mental

    (tambm infantil/juvenil/adultos ), sade materna/planeamento familiar/ginecologia e apoiodomicilirio e que abrange uma vasta rea residencial que ultrapassa, em muito, o prprio Val freguesias deSta. Isabel , Sto. Condestvel , Santos-o-Velho , Alcntara , Ajuda , Sta. Maria de Belm , S. Francisco Xavier , Campolide , Lapa e Prazeres .

    No se sabe se, assim estruturado, este tipo de servio veio responder s necessidades originais populao dos bairros do Vale de Alcntara, ainda mais porque apesar de contemplar vritipos de apoio a utentes em situaes social ou economicamente desfavorecidas no se trata partida de um servio gratuito, pelo que, tanto por esse facto, como pelo desconhecimento dreais condies (e potenciais facilidades) de acesso ao servio por parte da populao, algumoradores continuam no recorrer a este recurso disponvel na sua rea residencial.

    Pode-se adiantar, no entanto, que de acordo com os dados recolhidos por via do inquritrealizado, somente uma pequena percentagem da populao total continua a consideractualmente que umCentro Mdico constitui um dos servios cuja necessidade no Vale se faz

    mais sentir (4,0%).

    Por outro lado, e independentemente do desconhecimento que alguns residentes possam ainda trelativamente Unidade de Sade existente na zona, tambm um facto que, em funo da s

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    localizao, mais de 50% dos seus utilizadores8 tem como origem residencial os bairroscircundantes, nomeadamente aqueles que esto integrados no Ncleo Central do Vale dAlcntara.

    GRFICO 13 Distribuio da populao residente por conhecimento e utilizao de servios de sade (2006) (%)

    70,7

    47,5

    34,8

    9,4

    59,2

    39,8

    20,914,1

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    Centro deSade

    Unidade deSade da

    SCML

    Hospital Outros Centro desade

    Hospital Unidade deSade da

    SCML

    Outros

    Servios de sade que conhece Servios de sade que utiliza

    Fonte: Simoet al , 2008.

    Apesar disso, dados obtidos em 2006 permitem que se constate que, no obstante a conscinc

    demonstrada ao nvel dos recursos disponveis na sua rea de residncia, o equipamento de samais utilizado pela populao local, em caso de necessidade, , em primeiro lugar, oCentro deSade 9 (59,2%), ao qual se segue o Hospital 10 (39,8%) e, somente em terceiro lugar e apesar desurgir em segundo em termos de conhecimento, aUnidade de Sade da SCML (20,9%) (Simoet al , 2008).

    8 Relativamente ao ano de 2007 o servio d conta de 4168 utentes inscritos, 6903 consultas mdicas, 10360consultas de enfermagem e 204 consultas de psicologia.9 Dado que a rea residencial a que nos referimos se encontra dividida por duas freguesias distintas Alcntara Santo Condestvel quando a populao inquirida de diferentes bairros se refere aocentro de sade , est no fundo areferir-se, apesar da uniformidade da designao utilizada, a dois lugares fsicos diferentes, sendo que, no caso d populao residente no bairro Quinta do Cabrinha esse lugar oCentro de Sade de Alcntara , e no caso da populao residente nos bairro Ceuta-Sul e Ceuta-Norte a invocao remete j para oCentro de Sade de SantoCondestvel.10 Hospital Egas Moniz e Hospital S. Francisco Xavier.

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    Mas para alm da utilizao desses servios, sabe-se tambm que, a par da SCML, outrainstituies e projectos que intervm no Vale11 desenvolvem tambm regularmente actividades nombito da sade, seja ao nvel da sade preventiva rastreios ao colesterol, glicemia, tensarterial, sesses de esclarecimento e informao e workshops/grupos de discusso no mbito sade ou acompanhamento especializado de casos acompanhamento psicolgico, terapia fala, psicomotricidade o que configura, portanto, no local, a existncia, para alm dos recurscorrentes no mbito da sade, de todo um conjunto de servios, com carcter eminentemengratuito, de diagnstico, esclarecimento, acompanhamento e encaminhamento da populao qutanto quanto nos foi possvel avaliar, tem tido pelo menos a alguns nveis uma forte adeso populao residente12.

    No obstante, e como o inqurito realizado permitiu apurar, para alm das dificuldades qualguns moradores em idade mais avanada (nomeadamente do bairro Ceuta-Norte) tm edeslocar-se para o Centro de Sade de Sto. Condestvel (por falta de um transporte directo paralocal), um servio deapoio domicilirio para idosos continua a ser sentido como umanecessidade para uma parte significativa da populao (36,4%), especialmente onde a presende indivduos daquela faixa etria mais representativa e, talvez por isso, mais visvel, o bairQuinta do Cabrinha, onde a percentagem de inquiridos que sentem essa necessidade chega a50,6%.

    Para alm dessa carncia, entre os inquiridos que consideraram que a introduo delojas e servios constitui uma necessidade fundamental do vale (60,3%), o maior consenso gerado foi etorno da abertura de uma farmcia na zona (47,7%), que permitisse o acesso mais facilitadomedicamentos por parte da populao.

    2. Estado de sade da populao

    11 Projecto Alkantara, Associao Crescer na Maior, Linadem, Mdicos do Mundo, projecto Crescer em Rede projecto Fazer a Ponte.12 Uma das instituies que realiza regularmente actividades de sade preventiva no Vale de Alcntara contava, emOutubro de 2008, com 134 utentes inscritos.

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    J em termos do estado de sade da populao, de acordo com uma das instituies locais dreferncia na matria, no parecem existir no Vale de Alcntara grandes diferenas, em termos problemas de sade, relativamente s problemticas que caracterizam as populaes oriundas outras zonas habitacionais do concelho de Lisboa (cf. entrevista V10).

    Em 2006 um projecto local dava conta da situao global de sade do Vale de Alcntaradestacando que mais de metade dos agregados domsticos locais (55,3%) incluam, pelo menum indivduo com problemas de sade , problemas esses que se situavam, na maior parte doscasos, ao nvel das doenas do forocardiovascular (48,7%),metablico (27,0%),osteoarticular (23,4%) e/ourespiratrio (13,5%) (Simoet al , 2008).

    GRFICO 14 Distribuio dos agregados domsticos por tipo de doena presente (2006) (%)

    48,7

    27,0

    6,3 8,1

    23,4

    6,3 5,413,5 12,6

    2,7

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    Cardiovasculares Metablicas Neurolgicas Oncolgicas Osteoarticulares Psicolgicas Renais Respiratrias Outras doenas Problema noidentificado

    Fonte: Simoet al , 2008.

    Para alm disso, outros dados apresentados indicavam ainda que a populao do Vale dAlcntara apresentava ainda uma auto-imagem da sua condio de sade pouco positiva, ainque esta no se distanciasse muita auto-imagem que a generalidade da populao portugueapresentava tambm, a este respeito, em 2005 (idem).

    De qualquer modo, de acordo com outra instituio local com interveno na rea da sad

    (entrevista V4), os principais problemas ao nvel da sade do Vale de Alcntara no estardirectamente relacionados com os problemas de sade que afectam a populao, em si, mas cooutras situaes problemticas, de ordem social e econmica, que acabam por ter uma influncdeterminante na estrutura dentro da qual os indivduos e as famlias fazem a gesto das questda sade e da doena.

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    O que eu noto desemprego, falta de ocupao, baixos rendimentos e tudo isso associado a determinadoscomportamentos, no ? E depois aquilo que a pessoa faz quando est desocupada, desempregada (...). Ofacto, por exemplo, dos idosos terem baixos rendimentos ou terem famlias disfuncionais implica que,

    muitas vezes, as pequenas atenes que tm da famlia ou dos netos, sendo necessrias, no so suficientes,e depois no tm dinheiro para os medicamentos (entrevista V4).

    Um outro indicador claro deste tipo situaes aquele que se relaciona com a falta de limpezdos bairros. Sendo aparentemente mais sentido na Quinta do Cabrinha do que nas restantes zonresidenciais do Vale, a falta de limpeza parece constituir actualmente, do ponto de vista dosresidentes, o principal problema do Vale de Alcntara (43,3% para o Ncleo Central do Vale dAlcntara, 55,7% para o bairro Quinta do Cabrinha)13, constituindo um elemento visvel

    marcante dos bairros e que, conjuntamente com adegradao dos prdios , muitos moradoresrelacionam com falta de civismo de alguns residentes.

    Ora, esta questo fundamental, j que pode ser indicativa do modo como os indivduoencaram a dimenso da gesto da ocupao do (novo) espao residencial, em geral, mas tambdas prticas de higiene e sade (pblica), em particular. Deixando de parte a omnipresena ddejectos caninos em algumas zonas dos bairros, o aparecimento de piolhos em algumas criando bairro Quinta do Cabrinha, por exemplo, tem sido um problema relativamente recorrentdesde pelo menos 2006, e de difcil tratamento, j que a situao frequentemente ignorad pelos seus cuidadores, e a abordagem directa das situaes existentes pelos tcnicos presentcorre o risco de ser por estes mal entendida.

    Tratam-se portanto de situaes estruturais, seja do ponto de vista econmico, seja do ponto dvista das competncias bsicas de higiene e sociabilidade, mas que, mais do que a estrutura drecursos mdicos disponveis para os indivduos, configuram situaes passveis de ter um

    impacto (potencial ou efectivo) muito significativo no estado sade da populao.

    13 Sobre esta questo ver Captulo 5.

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    Captulo 5

    O VALE DE ALCNTARA VISTO POR DENTRO

    1. O Vale de Alcntara visto por dentro aspectos positivos e negativos dos bairros

    De acordo com dados de um inqurito realizado em 2006, a populao residente no NcleCentral do Vale de Alcntara oriunda sobretudo ou do antigo Casal Ventoso (64,3%) ou doutra zona de Alcntara ou Santo Condestvel (27,2%). Trata-se, sobretudo, de uma populaque veio residir para o Vale de Alcntara logo que os bairros foram construdos (84% doinquiridos afirmaram no inqurito que residiam naquele lugar desde o processo de realojament

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    e que, em grande parte, tem familiares a viver na mesma rea de residncia (64,8% em 20070,0% em 2008) (Simoet al , 2008).

    Ao contrrio de outros contextos de realojamento, em que frequentemente se verifica, na populaes realojadas, um sentimento dedesgosto pelo bairro e, simultaneamente, de satisfao pelas condies proporcionadas pela nova habitao. A maioria da populao do Vale deAlcntara refere que gosta de morar no bairro em que vive (62,8%), uma realidade se reflecte de bairro para bairro, ainda que com algumas variaes.

    GRFICO 15 Distribuio da populao residente pelo gosto pelo bairro, por bairro de residncia (%)

    66,956,062,8 62,5

    37,537,233,1

    44,0

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    Vale de Alcntara Quinta do Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Gosta do bairro

    No gosta do bairro

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Assim, so os indivduos que moram no bairro Ceuta-Norte aqueles que em maior grau gostamdo bairro onde residem (66,9%) e os da Quinta do Cabrinha aqueles que em menor grau referem

    gostar do seu bairro (56,0%). Coerentemente com aquela teoria, no entanto, est o facto de seremmuito mais os que referem que gostam da casa em que vivem (94,3%) do que os que gostam do bairro em que vivem.

    No que diz respeito aos principaisaspectos positivos evidenciados pela populao a respeito dosda sua zona de residncia encontram-se, por ordem decrescente de importncia, aqualidade e ascondies das habitaes (42,6%), asacessibilidades, transportes e localizao (37,5%) e,finalmente, asrelaes entre as pessoas/vizinhos (20,6%). Por outro lado, so muitos, aquelesque consideram que no vem nada de positivo na zona em que vivem (19,1%).

    GRFICO 16 Principais aspectos positivos do Vale de Alcntara, por bairro de residncia (%)

    39

  • 7/31/2019 DIAGNSTICO DO VALE DE ALCNTARA

    45/73

    37,542,6

    20,6 18,4 19,1

    40,5

    31,6

    17,7

    26,620,3

    32,327,7

    23,1

    9,2

    33,838,3

    57,0

    21,1 18,010,9

    0

    10

    20

    30

    40

    5060

    70

    80

    90

    100

    Acessibilidades, localizao,transportes

    Qualidade e condies dashabitaes

    Relaes entre aspessoas/vizinhos

    Rendas acessveis Nada

    Vale de Alcntara Qta. Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    J entre os principais problemas sentidos pela populao esto sobretudo a falta de limpeza(48,4%), adegradao dos prdios (29,8%), atoxicodependncia/trfico de drogas (19,9%), obarulho (19,5%) e ainda adelinquncia juvenil (11,4%).

    A falta de limpeza alis, aparece como o problema mais referenciado pelos habitantes dos trs

    bairros do Vale de Alcntara, sendo mais premente no bairro Quinta do Cabrinha (55,7%) do qnos bairros Ceuta-Norte e Ceuta-Sul (39,1% e 36,9%, respectivamente).

    Outros problemas bastante referenciados de forma transversal aos bairros de interveno sodegradao dos prdios Ceuta-Sul(38,5%), Quinta do Cabrinha (35,4%), Ceuta-Norte (21,9%) e a toxicodependncia/trfico de droga , o barulho e a delinquncia juvenil , especialmentesentidos no bairro Ceuta-Norte (26,6%, 25,8% e 18,0%, respectivamente).

    GRFICO 17 Principais problemas do Vale de Alcntara, por bairro de residncia (%)

    40

  • 7/31/2019 DIAGNSTICO DO VALE DE ALCNTARA

    46/73

    43,4

    29,8

    19,9 19,511,4

    55,7

    35,4

    13,9 16,58,9

    36,9 38,5

    13,8 10,8

    1,5

    39,1

    21,926,6 25,8

    18,0

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    Falta de limpeza Degradao dos prdios Toxicodependncia/trficode drogas

    Barulho Delinquncia juvenil

    Vale de Alcntara Qta. Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    Finalmente, quando se trata de indicar as principais medidas a tomar que poderiam contribuir para atenuar os problemas verificados , os maiores consensos formados so gerados em torno deum maior desempenho e proximidade das principais entidades com responsabilidades pelosbairros (principalmente a Cmara Municipal de Lisboa e a Gebalis) (39,3%), de umamaior regularidade e frequncia na limpeza dos bairros (28,3%), daconstruo e melhoramento deinfraestruturas (27,9%), de umreforo quantitativo e qualitativo da interveno policial nosbairros (23,9%), e ainda dacriao de servios e comrcio (22,4%) e mais civismo dosresidentes (21,3%).

    GRFICO 18 Principais medidas para atenuar os problemas existentes (%)

    41

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    39,328,3 27,9 23,9 22,4 21,3

    45,6

    29,1 25,3

    15,28,9

    24,135,4

    27,7

    55,4

    16,9

    43,1

    9,2

    37,528,1

    15,6

    32,8

    20,325,8

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    Maior desempenho eproximidade de entidades

    comresponsabilidadespelos bairros

    Maior regularidade efrequncia na limpeza dos

    bairros

    Construo emelhoramento de

    infraestruturas

    Maior e melhorinterveno da polcia nos

    bairros

    Criao de servios ecomrcio

    Mais civismo dosresidentes

    Vale de Alcntara Qta do Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

    J no que diz respeito aos servios que mais falta faz na zona de residncia em que habitam,maior parte dos inquiridos considera que so sobretudolojas e servios (60,3%),apoio escolar acrianas e adolescentes (40,1%),apoio domicilirio (36,4%), servios deapoio procura deemprego (29,4%) eateliers e cursos de educao/formao (17,3%).

    GRFICO 19 Principais servios que fazem falta no Vale de Alcntara (%)

    60,3

    40,136,4

    29,4

    17,3

    39,2

    51,9 50,6

    30,4

    17,7

    66,2

    32,3 29,2 26,2

    12,3

    70,3

    36,731,3 30,5

    19,5

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    Lojas e servios Apoio escolar paracrianas e adolescentes

    Apoio domicilirio Apoio na procura deemprego

    Ateliers e cursos deeducao/formao

    Vale de Alcntara Qta. Cabrinha Ceuta-Sul Ceuta-Norte

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

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    Entre as lojas e servios elencados encontram-se fundamentalmente uma farmcia (51,9%),estabelecimentos comerciais de produtos variados (65,8%) supermercado (33,5%),minimercado/mercearia (32,3%) e ainda, j para uma menor parte da populao, umtalho(16,1%), uma peixaria (12,3%) ou uma padaria (10,3%).

    GRFICO 20 Principais lojas e servios que fazem falta no Vale de Alcntara (%)

    47,7

    33,532,3

    16,112,3 10,3

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    Farmcia Supermercado Minimercado/mercearia Talho Peixaria Padaria

    Fonte: Inqurito populao do Vale de Alcntara, 2008.

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    Captulo 6

    POLTICAS E PRTICAS DE INTERVENONO VALE DE ALCNTARA

    1. Vale de Alcntara, uma zona privilegiada de interveno?

    Como se tem vindo a dar conta no presente relatrio de investigao, a zona do Vale de Alcntae, em particular, o seu Ncleo Central, constitudo pelos bairros aqui emdiagnstico Quinta doCabrinha, Ceuta-Sul e Ceuta-Norte no constitui um terreno desconhecido no mbito d

    interveno social , isto , da aco que visa como j se disse anteriormente promover aintegrao, a vrios nveis, dos indivduos e famlias/grupos domsticos ali residentes

    considerados em situao de excluso social.

    Desde logo, trata-se da zona habitacional que alberga a populao outrora residente no antigCasal Ventoso e que ali foi realojada aps o processo de demolio daquele bairromarcadamente conotado com o trfico de droga e a criminalidade.

    Trata-se tambm de uma zona integrada pelo programa de iniciativa comunitria URBAN, tendsido caracterizada como uma zona com elevados nveis de excluso social e sido aprovados, enos anos 2000 e 2008, vrios projectos/iniciativas que visam exactamente promover desenvolvimento social e urbanstico da zona.

    Do mesmo modo, e no que se refere somente ao seu Ncleo Central, bastar um passeio pedon pela zona para se dar conta do nmero volumoso (por rea) de instituies de cariz associatique tm sede naquele lugar ou nas suas proximidades.

    De acordo com o levantamento efectuado, foram identificadas 43 instituies, de naturezasobjectivos muito diversos, desde associaes e clubes desportivos, organizaes ngovernamentais para o desenvolvimento (ONGD), instituies particulares de solidarieda

    44

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    social (IPSS), associaes de doentes, de cidados portadores de deficincia, associaes sindicatos de profissionais de diferentes reas, associaes culturais ou cientficas ou associade imigrantes.

    Para alm disso, assentes em parcerias formadas por instituies locais e em alguns casos nlocais, foram tambm recenseados pelo menos 6 projectos de interveno, actualmente em cursno Vale de Alcntara, com naturezas e fontes de financiamento diversas, que focamessencialmente pblicos infanto-juvenis (no caso de 5 dessas iniciativas) ou institucionais projecto).

    Saliente-se, no entanto, ainda ao nvel das instituies presentes no Vale, que para alm de algu

    espaos ocupados nos bairros se encontrarem frequentemente encerrados ou, em alguns, amesmo numa situao relativo abandono (facto que, em certos contextos, tem merecido crtic por parte da populao residente, que considera que os espaos deviam ser reutilizados paradisponibilizao de servios teis populao14), outras organizaes sedeadas no local ou nodesenvolvem actividades junto da populao residente, ou fazem-no somente de forma muiespordica. Por outro lado, verifica-se tambm o caso de instituies cujo mbito de intervenno se restringe ao Vale de Alcntara, mas tem uma abrangncia maior que em alguns casos poser ao nvel da freguesia, ou de parte ou totalidade do Concelho de Lisboa, de vrios municpido distrito ou ainda a nvel nacional.

    Para alm disso, em certas instituies, deu-se ainda o caso da interveno local se proporcionada justamente pela prpria implementao geogrfica da organizao no Vale, oseja, a instituio no veio para o Vale de Alcntara para intervir, mas comeou a intervir no Vade Alcntara justamente porque se deu conta das necessidades existentes a partir dconhecimento do terreno, aps a sua implementao no local.

    14 Vieram para aqui todas as associaes de Lisboa. O Dr. hoje no tem que ter dvidas, quando ouvir falar deuma associao ou quando tiver que se deslocar a uma associao, pode ter a certeza que est aqui na Quinta do

    Loureiro. (...) No entanto aquilo que fazia falta aqui s pessoas no h. Um minimercado que vendesse peixe, quevendesse carne... (Entrevista V7)

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    uma lgica de espao (...) a autarquia cedeu-nos este espao porque era o que estava disponvel na altura... provavelmente... e portanto... no teve objectivo nenhum relativamente a interveno no prprio bairro (...)estvamos no bairro... as coisas extrapolaram-se para a comunidade... (Entrevista V6)

    Feitas as devidas ressalvas, portanto, a partir destas instituies e dos projectos delas imanentesVale de Alcntara, ao nvel da aco social, apresenta-se, por altura da realizao destdiagnstico, como um lugar que congrega vrios tipos de resposta para a populao local.

    QUADRO 5 Tipos de respos