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1 DIAGRAMAS ESTRATIGRÁFICOS: UMA BREVE INTRODUÇÃO Astolfo G. M. Araujo Pequeno Histórico Diagramas estratigráficos são meios esquemáticos de se representar a estratigrafia de um sítio arqueológico. O termo “estratigrafia” denota as relações espaciais e cronológicas entre as diferentes camadas que compõe um depósito. A utilização de diagramas estratigráficos em Arqueologia é relativamente recente, tendo sido introduzida por Edward Harris em 1979. Harris deu seu nome à “invenção”, chamando-a de “Matriz de Harris” e escreveu um livro sobre “estratigrafia arqueológica 1 ” (Harris 1979). Esta maneira esquemática de se representar uma estratigrafia é inteligente e bastante prática, principalmente em se tratando de estratigrafias complexas, mas definitivamente a técnica está longe de ser uma revolução no pensamento arqueológico, como gosta de afirmar o próprio Harris (Harris et al. 1993: 1). A bem da verdade, apesar das afirmações de ineditismo e independência total da Geologia, os diagramas de Harris são muito parecidos com as legendas que aparecem comumente nas laterais de mapas geológicos, onde a estratigrafia regional é mostrada por meio de “caixas” ordenadas de baixo para cima, o mais recente aparecendo no alto. Em suma, se jogarmos fora toda a parte “teórica” do livro Principles of Archaeological Stratigraphy de Harris, o que sobra pode ser ainda útil. O Raciocínio Básico Concordando ou não com as opiniões de Harris, vários autores se utilizaram da técnica como meio de representar a estratigrafia de seus sítios (p. ex., Stein 1992). A maneira mais tradicional de se ilustrar a estratigrafia de um sítio é por meio de perfis, e tais perfis 1 Um dos principais pontos de discussão entre Harris e geoarqueólogos, estes dizendo que a estratigrafia é universal, e Harris propondo uma “nova ciência”.

DIAGRAMAS ESTRATIGRÁFICOS

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Diagramas estratigraficos

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DIAGRAMAS ESTRATIGRÁFICOS: UMA BREVE INTRODUÇÃO

Astolfo G. M. Araujo

Pequeno Histórico

Diagramas estratigráficos são meios esquemáticos de se representar a estratigrafia de um

sítio arqueológico. O termo “estratigrafia” denota as relações espaciais e cronológicas

entre as diferentes camadas que compõe um depósito.

A utilização de diagramas estratigráficos em Arqueologia é relativamente recente, tendo

sido introduzida por Edward Harris em 1979. Harris deu seu nome à “invenção”,

chamando-a de “Matriz de Harris” e escreveu um livro sobre “estratigrafia

arqueológica1” (Harris 1979). Esta maneira esquemática de se representar uma

estratigrafia é inteligente e bastante prática, principalmente em se tratando de

estratigrafias complexas, mas definitivamente a técnica está longe de ser uma revolução

no pensamento arqueológico, como gosta de afirmar o próprio Harris (Harris et al. 1993:

1). A bem da verdade, apesar das afirmações de ineditismo e independência total da

Geologia, os diagramas de Harris são muito parecidos com as legendas que aparecem

comumente nas laterais de mapas geológicos, onde a estratigrafia regional é mostrada por

meio de “caixas” ordenadas de baixo para cima, o mais recente aparecendo no alto. Em

suma, se jogarmos fora toda a parte “teórica” do livro Principles of Archaeological

Stratigraphy de Harris, o que sobra pode ser ainda útil.

O Raciocínio Básico

Concordando ou não com as opiniões de Harris, vários autores se utilizaram da técnica

como meio de representar a estratigrafia de seus sítios (p. ex., Stein 1992). A maneira

mais tradicional de se ilustrar a estratigrafia de um sítio é por meio de perfis, e tais perfis

1 Um dos principais pontos de discussão entre Harris e geoarqueólogos, estes dizendo que a estratigrafia é

universal, e Harris propondo uma “nova ciência”.

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são realmente meios bastante limitados. Várias camadas e feições arqueológicas são

perdidas por não calharem de ser interceptadas pelo perfil. Bibby (1993:108) cita o caso

de um sítio arqueológico do período histórico na Alemanha, onde 40% das camadas

arqueológicas registradas não apareceram em nenhum perfil. Com a forma esquemática

de um diagrama, é possível registrar a posição estratigráfica de uma camada sem ter que

necessariamente ter milhares de perfis desenhados (ou publicados). O raciocínio básico

por trás da ordenação de estratos dentro do diagrama é o bom e velho “Princípio da

Superposição de Camadas”, proposto por Nicolaus Steno em meados do século XVII,

segundo o qual dada uma sucessão de camadas geológicas, a que está em baixo é sempre

mais antiga do que a que está em cima.

Algumas Vantagens

Algumas das principais vantagens de se utilizar diagramas estratigráficos são:

a) Exige o uso explícito de um raciocínio lógico por parte das pessoas que estão

escavando e interpretando a estratigrafia.

b) Garante que feições pequenas, camadas lenticulares ou de pouca expressão e outros

contextos importantes do ponto de vista interpretativo sejam registrados, mesmo que não

estejam presentes nos perfis estratigráficos.

c) Permite a apresentação de uma estratigrafia complexa de maneira simples.

d) Facilita a leitura dos conteúdos culturais de cada camada (se o diagrama estiver

informatizado), a escolha de amostras a serem analisadas e a interpretação do sítio.

Principais Exigências

A técnica apresenta vantagens e tem suas exigências. A principal delas talvez seja a

necessidade de se realizar um monitoramento constante, por parte de quem está

escavando, do comportamento das camadas à medida em que a escavação procede. Isto é

o que estamos realizando em campo, por meio da ficha de escavação e respectivo croqui.

Outra exigência é o registro das relações entre estas camadas em algum tipo de ficha, que

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é o que se pretende introduzir a partir daqui. Este registro vinha sendo feito por uma só

pessoa, mas talvez o mais sensato seja passar esta incumbência aos próprios responsáveis

pela quadra escavada.

Sugestões de Implementação

Até agora estamos nomeando as diferenças observadas na textura/estrutura/cor dos

sedimentos do sítio em seqüência alfabética, por quadra. Estas diferenças definem facies

distintas. Deixaremos o termo camada para uso futuro, quando as estratigrafias das facies

observadas nas diferentes quadras forem integradas em um esquema mais amplo,

tomando o sítio como um todo. Falaremos então de camadas distintas que se

desenvolvem ao longo do sítio. O termo facies é mais descritivo, quer dizer que houve

uma mudança na “cara” do sedimento, nada além disso. Por exemplo, podemos chegar à

conclusão que duas ou mais facies fazem parte de uma mesma camada, por questões de

mudança de cor induzida por maior ou menor umidade, concrecionamento etc. Do

mesmo modo, uma pequena lente de carvão e cinzas pode ser descrita como facies, mas

não como camada. O mesmo vale para um buraco de esteio (vertical) etc.

Exemplos de Aplicação

A seguir serão mostrados alguns exemplos de quadras vistas em perfil, e como sua

estratigrafia seria apresentada em forma esquemática.

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Figura 1: Três relações entre estratos e suas notações dentro do sistema de matriz

estratigráfica. A) Duas unidades sem conexão estratigráfica; B) Duas unidades com

relação de superposição; C) Duas unidades correlacionáveis, mas interrompidas (Harris

1979).

Exercício: Tente fazer uma matriz estratigráfica dos casos A, B, C e D, que são quatro

perfis de uma mesma escavação.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibby, D.I.

1993 Building stratigraphic sequences on excavations: an example from Kontanz,

Germany. Practices of Archaeological Stratigraphy, editado por E. C. Harris,

M.R. Brown III e G.J. Brown. Academic Press, Londres, pp. 104-121.

Harris, E.C.

1979 Principles of Archaeological Stratigraphy. Academic Press, Londres, 136 pp.

Harris, E.C.; Brown III, M. R. & Brown, G.J.

1993 Practices of Archaeological Stratigraphy. Academic Press, Londres, 292 pp.

Stein, J.K.

1992 Deciphering a Shellmidden. Academic Press,