DicasdeJornalismo

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    1/13

    MANUAL TERICO DE JORNALISMO

    IA Notcia e o jornal

    1)O que uma notciaA notcia um fato natural (terremotos, erupes vulcnicas), poltico, social,econmico, cultural considerado relevante e merecedor de ser divulgado atravs de suapublicao em um ou mais tipos de mdia. A eleio de um presidente em qualquerparte do globo, Jogos Olmpicos, uma grande festa ou tragdia so consideradosnotcia e costumam ser acessveis a um nmero restrito de pessoas. Quem est defora, tambm quer tomar conhecimento daquela situao. a que entra o papel do

    jornalista: que vai colher aquelas informaes in loco, no momento que ocorreram, etransforma-las em textos que sero divulgados aos que no tiveram acesso quelemomento (ou que ali estavam, mas querem mais informaes acerca daquele evento).Esses textos so notcia.

    2)O que um jornalO jornal o espao fsico onde so publicadas as notcias apuradas pelos jornalistas.Sua funo levar, atravs dos textos noticiosos, o cidado a espaos que ele no podeentrar. E fala para um publico heterogneo, sem rosto, nem perfil definido. Em tese, eleentra na casa das pessoas e deve atingir todos os membros daquela famlia hipottica.H registros de jornais desde a Roma antiga. E o surgimento dessas publicaes semprecoincidiu com algum movimento poltico ou social. O jornal como conhecemosatualmente nasceu no sculo 18, depois da Revoluo Industrial.O primeiro jornal brasileiro, foi o Correio Brasiliense, lanado em 1808 e impresso emLondres. Com a chegada de Dom Joo 6, nesse mesmo ano, fundada a imprensaoficial e inicia-se a publicao da Gazeta do Rio de Janeiro, jornal totalmenteproduzido em terras brasilis.Produzido com papel jornal, mais barato, essa publicaes costumam ter trs tamanhos:Standart, o maior e mais antigo deles, presente em todos os pases e, no Brasil,adotado por ttulos como O Globo,Jornal do Brasil, Correio Brasiliense, O Estado de

    S.Paulo, Folha de S.Paulo,Jornal da Tarde,Agora! entre outros;tablide, criado na Inglaterra, ainda muito popular naquele pas, na Europa e EstadosUnidos. o formato de jornais como o The Sun (Inglaterra), El Pas (na Espanha),

    Bild-Zeitung (Alemanha), The Enquirer(Estados Unidos), entre outros. Desde o incioda dcada de 1990, tornou-se febre na China. Na grande imprensa brasileira usadopelo jornalZero Hora, do Rio Grande do Sul;berliner, berlinense ou tablide europeu ligeiramente maior do que o formatotablide surgido na Inglaterra. o tamanho usado pelo jornal francs Le Monde, peloitalianoLa Repubblica, e, desde 2005, pelo ingls The Guardian. No primeiro semestredo ano passado passou a ser o formato adotado pelo peridico cariocaJornal do Brasil.

    II

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    2/13

    Como a notcia aparece no jornal:

    1)O leadFerramenta terica sistematizada na primeira metade do sculo passado, a partir de umafrase do escritor e jornalista ingls Rudyard Kipling, que dizia que: Tenho seis criadoshonestos, que me ensinaram tudo o que sei: O Qu, Por Qu, Quando, Como, Onde eQuem. O lead norte-americano manda que o reprter, diante de um fato, busque respostapara essas cinco questes. A partir dessas respostas, ele monta seu texto. O resultado doescrito a partir dessas respostas o que chama de pirmide invertida: em que asinformaes mais relevantes acerca daquele fato apurado se concentram no primeiropargrafo do texto.Meio sculo atrs, nos primeiros tempos de prtica da tcnica do texto jornalstico, noBrasil, exigia-se que cada um dos dois primeiros pargrafos fosse escrito numa frase s,sem ponto. Eram o leade o sublead, de preferncia com cinco linhas, cada. A quebra

    paulatina dessa rigidez ajuda a explicar a mudana de leadpara abertura.Qualquer que seja a designao, entretanto, continua a valer o princpio de que asprimeiras linhas de um texto jornalstico devem prender a ateno do leitor. Depois dottulo e do subttulo, pela abertura que se agarra o leitor, mas s vezes esquecemosisso, na correria do fechamento, como se v nos exemplos abaixo:

    ORIGINALDe hoje at o dia 28, a Universidade do Sagrado Corao (USC) sediar a 2. Bienal doLivro de Bauru, um dos maiores eventos culturais do interior paulista. Escritoresconsagrados como Pedro Bandeira, Moacyr Scliar e Carlos Heitor Cony so algumasdas personalidades convidadas para participar de Cafs Literrios, conferncias,

    palestras e bate-papos com o pblico.

    ALTERADOEscritores consagrados como Carlos Heitor Cony, Moacyr Scliar e Pedro Bandeira estoentre as personalidades convidadas para a 2. Bienal do Livro, um dos maiores eventosculturais do interior paulista, que pela segunda vez ter Bauru como sede, de hoje at odia 28, na Universidade do Sagrado Corao (USC). Os visitantes podero ter contatocom as celebridades em Cafs Literrios, conferncias, palestras, bate-papos.

    COMENTRIOSe temos notcia, deve ser dada logo no comeo, para agarrar o leitor, como est no

    texto alterado. O verbo sediar deve ser evitado - embora conste de dicionrios, aindano foi assimilado pelo texto jornalstico. Na relao dos escritores consagrados,devemos comear pelos que so mais conhecidos. Data e local, nesse caso, podem virno final do pargrafo, pois so informaes de menos impacto.

    ORIGINALA Loteria da Cultura, parceria da Secretaria de Estado da Cultura e Nossa Caixa, est venda nas principais casas lotricas do Estado, a partir de hoje.

    ALTERADO

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    3/13

    A Loteria da Cultura, parceria da Secretaria de Estado da Cultura e Nossa Caixa, est venda nas principais casas lotricas do Estado, a partir de hoje, com prmios entre R$1,00 e R$ 50 mil.

    O nome da loteria forte, tem impacto, mas a primeira frase da matria no pode se

    limitar informao de que se trata de parceria entre a Secretaria e a Nossa caixa. Pelanatureza do assunto, necessrio falar tambm de valores.

    2)O ttuloMuitos chefes de arte fazem questo do ttulo, na hora de criar o projeto grfico de umapgina. A partir do ttulo, eles se sentem mais seguros para escolher a fonte, para decidironde vo jogar as ilustraes, para definir o tratamento geral da matria.De fato, o ttulo a chave de um texto jornalstico. O ndice de leitura de uma notciadepende da qualidade do ttulo. fundamental que resuma o que est no texto, que sejaverdadeiro e que, alm do mais, que seja bonito, atraente, de entendimento imediato ouprovocativo.Nos jornais dirios, recomenda-se que o ttulo tenha verbo no presente do indicativo.Por qu? Porque o jornal dirio fala sobretudo do que aconteceu ontem e, em menorescala, do que est previsto para hoje. Se usamos o verbo no passado para a maioria dasnotcias (do que aconteceu ontem), o jornal fica parecendo velho. O artifcio consagrado de dar ttulos com o verbo no presente. No subttulo j podemos usar o verbo nopassado. No texto ficaria forado, artificial, o verbo no presente.A seguir, alguns exemplos de ttulos feitos sem os cuidados necessrios:

    ORIGINALFila nica de transplantes a garantia do doador

    ALTERADOFila nica garantia de transplantes com segurana

    Doador, num transplante de corao, quem morreu. A famlia dele pode querer algumagarantia. Ele, no mais. Melhor, ento, jogar no ttulo a garantia de transplante comsegurana.

    ORIGINALProjeto leva oficinas culturais aos Centros de Integrao da Cidadania

    ALTERADOPeg Livro leva oficinas culturais aos Centros de Integrao da Cidadania

    Projeto vago. J o nome do projeto, Peg Livro, d a fora que o ttulo deve ter.

    3)A linha finaPresume-se que o leitor de jornal algum que tem pouco tempo. Precisa da informaomas no pode demorar muito at saber o que lhe interessa. A linha fina, ou subttulo,

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    4/13

    exerce essa funo de facilitar a vida do leitor, ao completar o que est no ttulo, aoacrescentar mais um dado. Juntamente com o ttulo, a linha fina tem ainda a funo deatrair o leitor para o texto. Deve portanto ser direto, claro, alm de atraente.Muitos redatores, entretanto, do impresso de que, para eles, o subttulo apenasaquela linha fina que fica logo abaixo do ttulo, com funo apenas esttica, um

    capricho do pessoal da arte. Esquecem que o subttulo pea fundamental no esforo detodo jornal para garantir a fidelidade de seus leitores.A seguir, alguns casos de mau aproveitamento da linha fina, ou subttulo:

    ORIGINALHospitais notificam a OPO os pacientes em morte enceflica. Organizao procura afamlia, se ela concordar, a equipe mdica inicia os exames(141 toques)

    ALTERADO

    Centrais de notificao e organizaes de procura eliminam o perigo de trfico dergos, mas muitas famlias ainda se recusam a autorizar doaes(146 toques)

    O ttulo dessa matria foi Fila nica garantia de transplantes com segurana. Osubttulo linha fina deve completar o ttulo e tem que ser claro e, de preferncia, numafrase s, sem ponto. hermtico, no original, o uso da sigla OPO. Melhor falar emorganizaes de procura e dar nmeros que ajudem a sustentar e tornar mais atraente ainformao do ttulo.

    ORIGINALPromover o hbito da leitura e melhorar o acervo das bibliotecas pblicas por meio dadistribuio de cheques-livro so objetivos do evento(139 toques)

    ALTERADOAutores famosos e mais de 30 mil ttulos estaro disposio de um pblico previsto de80 mil pessoas na 2. Bienal do Livro, a partir de hoje(143 toques)

    O ttulo da matria foi: O mundo dos livros volta a Bauru. O subttulo original eraburocrtico. Se temos notcia, deve ser dada logo no comeo e com informaes queajudem a agarrar o leitor, como est no subttulo alterado.

    4)O olhoTrata-se de uma frase ou um trecho do texto, que se coloca em posio destacada napgina, em corpo maior, eventualmente em cor diferente. Tem o objetivo de chamar aateno do leitor para o ponto, ou os pontos, de mais relevo que aquela matria contm. relativamente recente (menos de 40 anos) o uso do olho nos jornais e revistas, no

    Brasil. Chama-se tambm destaque ou, nas revistas, olho de continuao (quando usadoem pgina na qual aquele texto continua).

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    5/13

    Por exemplo, numa reportagem que informe sobre detalhes da vida de celebridades, umolho de canto de pgina, ou de rodap, poderia dizer o seguinte:NA NOITE DE NPCIAS, O JOGADOR KAK USOU UM PIJAMA VERDE,PARA AGRADAR SUA NOIVA, QUE PALMEIRENSE

    5)O interttuloQuando as tcnicas americanas de texto jornalstico foram implantadas no Brasil, nasdcadas de 1940 e 1950, o interttulo vinha logo depois dos dois primeiros pargrafos (oleade o sublead), que por sua vez obedeciam regra de ter cinco linhas, cada. Abaixodesse interttulo, entravam no mximo quatro pargrafos de cinco linhas, cada. Se amatria exigia mais espao, abria-se um segundo interttulo (que tambm no podiaabrigar mais que quatro pargrafos de tamanho igual).

    A imprensa brasileira quebrou esse desenho rgido na dcada de 1960, principalmenteo Jornal da Tarde. Nas dcadas de 1970 e 1980, quando a "ditadura do copidesque"veioa ser confrontada pela "ditadura da diagramao", ficou mais ou menos estabelecido queo interttulo entra onde o desenho da pgina pede.Deixou de existir, na prtica, uma regra para a colocao do interttulo. H mesmo casosem que o interttulo, em vez da funo de ajudar a prender a ateno do leitor, acabadispersando. Seria melhor, porm, que se observasse o mnimo de balizamento, como seprope a seguir:

    ORIGINALVantagem competitiva O diretor de criao acredita que a formao de umalogomarca pode fornecer vantagem competitiva, seja para vender meias ou carros.

    Muitas vezes...Se a marca ficar velha ou (...)H designers que chegam a predeterminar um tempo de existncia para elas. Pode sercriada tambm marca atemporal, como a da Nike e da Coca-Cola. Durante vriosanos...

    ALTERADOMarca atemporal O diretor de criao acredita que a formao de uma logomarcapode fornecer vantagem competitiva, seja para vender meias ou carros. Muitas vezes...Se a marca ficar velha ou (...)H designers que chegam a predeterminar um tempo de existncia para elas. Pode ser

    criada tambm marca atemporal, como a da Nike e a da Coca-Cola. Durante vriosanos...

    A boa tcnica manda usar, para interttulo, palavra ou expresso que esteja pelo menosum pargrafo adiante. Melhor ainda se vier no final do texto, ou do pargrafo que venhalogo antes do interttulo seguinte. Dessa maneira, atramos o leitor mais para o final dotexto, como est proposto na foram alterada. No original, faltou o artigo antes de daCoca-Cola. Sem o artigo, fica parecendo que Nike e Coca-Cola tm a mesma marca.

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    6/13

    6)A ilustraoAt a dcada de 1990, a ilustrao no jornalismo brasileiro se limitava aos grficos etabelas, com a funo de informar visualmente o que estava dito no texto. A partir dosanos 90 e, sobretudo, a partir do uso cada vez mais intenso da computao grfica,

    entramos na era dos infogrficos. So ilustraes bem mais abrangentes, que muitasvezes chegam a ocupar uma pgina inteira. O ideal que os infogrficos tenham vidaprpria. Isto : passem informao de tal maneira completa que, se o leitor no tivertempo ou interesse especial pelo assunto, baste olhar o infogrfico que estarsatisfatoriamente informado. Os grficos e tabelas continuam a ter grande utilidade, masde um modo geral so hoje bem mais sofisticados que as barras e pizzas que constituamas nicas formas utilizadas antigamente.

    7)

    A fotoO fotgrafo de jornal e revista chamado de reprter fotogrfico, no Brasil, desde ofinal da dcada de 1950, quando a reforma feita no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro,serviu de modelo para o restante da imprensa brasileira. Antes, pensava-se na fotografiaapenas para a pgina no ficar pesada demais, s com texto. Ou s com chumbo, comose dizia nos tempos em que os jornais eram impressos a quente, com letras de chumboderretido e moldado com base no que era digitado nas mquinas de linotipo. Hoje, todo

    jornalista tem conscincia de que a fotografia parte integrante da informao. Comgrande freqncia, h fotografias mais importantes que o ttulo ou qualquer outroelemento da matria jornalstica.

    8)A legendaTem a funo de completar a informao constante da fotografia. Gerealmente umalinha s de texto, logo abaixo da fotografia. Excepcionalmente usa-se a legenda acimaou ao lado da foto. A legenda deve ser direta, objetiva e, acima de tudo, informativa.Em alguns jornais, a legenda simplesmente repete o que est exposto na fotografia. Porexemplo a personalidade fotografada ao lado de seu cachorro de estimao e, nalegenda, vem escrito Fulano de Tal ao lado de seu cachorro de estimao. O ideal, emcasos assim, acrescentar algum dado, como o nome do cachorro, a raa, se foi um

    presente dizer quem presenteou.

    9)O texto-legenda usado naqueles casos em que a informao jornalstica se resume ao que aparece nafotografia. como uma legenda maior, de trs ou quatro linhas, em que se conta ahistria que a fotografia ilustra. Pode ser considerado, tambm, como uma matria maiscurta, de poucas linhas, que vem no jornal junto com uma fotografia.

    10)

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    7/13

    A assinaturaIdentifica o autor do texto. Na maioria dos casos, quem assina os textos o autor dareportagem. Mas s vezes o redator quem assina, ou o editor, ou o subeditor, ouqualquer outro integrante da redao. O importante que a assinatura informa ao leitorque aquele texto tem um autor, diferentemente de outros textos de um jornal, sem

    identificao de autoria; nesses casos, entende-se que o autor , por assim dizer, oprprio jornal. A vantagem da matria assinada que confere mais credibilidade, aosolhos do leitor.

    IIIOs tamanhos de texto (porque h textos grandes e textos pequenos):

    a)

    A reportagem a alma do jornalismo. a concretizao do testemunho do jornalista que foi ao local,viu, anotou e depois redigiu para o leitor se informar. Numa cobertura de um fato degrande repercusso a recente tragdia com o Airbus da TAM no Aeroporto deCongonhas, por exemplo , os jornais costumam destacar uma equipe de reprteres. Oconjunto das reportagens feitas, em casos assim, leva ao leitor uma informaocompleta, abrangente. O que a reportagem tem de mais relevante a funo que oreprter exerce, em nome do pblico: ele o representante do pblico, algum dopblico que presencia, testemunha e depois relata, informa de maneira que a maioria daspessoas entenda de imediato.

    b)O texto noticiosoPode ser uma pesquisa, que entra na edio ao lado das reportagens, artigos, fotografias,ilustraes. basicamente uma informao, sem opinio. Deve ser escrito emlinguagem simples, sem rodeios.

    c)A entrevistaExistem dois tipos clssicos de entrevista. A mais usada a que tem a forma de

    perguntas e respostas. No linguajar das redaes, o que se chama de pingue-pongue:feita a introduo para dizer quem o entrevistado, que assunto ele domina, vem umapergunta e, logo abaixo, a resposta e assim at a ltima pergunta com a ltimaresposta. A outra forma de entrevista aquela em que as respostas do entrevistado sodiludas no correr do texto, geralmente com algum verbo que indique a autoria daquelafrase (diz Fulano, afirma Fulano, esclarece Fulano, e assim por diante). O segredo dasmelhores entrevistas est na preparao que o entrevistador faz antes de ir ao encontrodo entrevistado. Se o entrevistador estuda bem o assunto, informa-se antes a respeito doentrevistado, aumenta sua chance de fazer uma entrevista boa. O ideal que oentrevistador tenha pelo menos uma idia da resposta correta de toda pergunta que viera fazer. Assim, dificilmente ele ser enganado pelo entrevistado.

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    8/13

    d)O comentrioAo contrario do texto noticioso, o comentrio tem como referencia principal a opinio.No comentrio o jornalista d o seu ponto de vista, sempre com o objetivo deenriquecer a informao, acrescentar mais dados para bem orientar o leitor. Os mais

    conhecidos so os comentaristas esportivos, polticos e econmicos, aqueles que, apropsito da notcia, do fato, comentam sobre as origens e conseqncias, de maneiraque o leitor, o ouvinte, o telespectador passe a ter uma viso mais completa, maisabrangente.

    III

    Estrutura de um jornal

    > O editorial a opinio do jornal. Em muitos casos, quem redige o editorial o prprio diretor do

    jornal, ou at mesmo o dono do jornal. Mesmo quando redige algum integrante daequipe de editorialistas, o que sai publicado reflete obrigatoriamente a opinio do jornala respeito daquele assunto. Citando uma vez mais a recente tragdia com o Airbus daTam no Aeroporto de Congonhas, todos os jornais publicaram reportagens, artigosassinados, notas em colunas, mas tambm publicaram editoriais que estamparam aopinio do jornal. De um modo geral, o editorial sai sempre na mesma pgina,

    juntamente com o expediente do jornal, aquele quadro em que aparecem o nome da

    empresa proprietria, o endereo, os nomes dos principais integrantes da equipejornalstica. comum que essa pgina tenha mais de um editorial, focalizando assuntosdiferentes.

    > ColunistasSo jornalistas especializados em determinados assuntos, ou setores, aos quais a direodo jornal reserva espaos fixos em suas edies, para publicao de colunas assinadas.

    H coluna que saem todos os dias. H colunas dirias em que a cada dia aparece umcolunista diferente. H colunas que s saem em determinado dia da semana. O quecaracteriza a coluna o fato de ser assinada por algum que tem conhecimento dedeterminado setor, de determinado assunto.

    > As editorias dirias (Poltica, Economia, Internacional, Esportes,Cidades/Cotidiano, Cultura)A editoria outra criao relativamente recente (menos de 50 anos) no jornalismobrasileiro. At a primeira metade do sculo XX, no se usava nas redaes o termo

    editoria. Falava-se na seo de Esportes, na seo de Poltica, na seo de Economia, eassim por diante. Quem mais fortemente disseminou o uso do termo editoria foram as

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    9/13

    revistas semanais de informao, a partir da primeira delas, a Veja. O que caracteriza aeditoria a formao de uma equipe, sob o comando de um editor, que se especializa nacobertura de determinado assunto. O editor de Cidades, por exemplo, tem sob suasordens, um subeditor, um pauteiro, um time de reprteres, um time de redatores, todoseles cuidando unicamente do noticirio referente cidade onde o jornal publicado.

    Outros assuntos urbansticos, referentes a outras cidades, tambm vo para essa editoriaque cuida de Cidades. O raciocnio vale para as demais editorias que os jornaiscostumam ter Poltica, Esportes, Artes e Espetculos, Cultura, Internacional,Economia, etc.

    > Os cadernos semanais ou suplementosA maioria vem encartada nas edies dominicais, as mais recheadas de todo jornal, porse tratar do dia em que presumivelmente o leitor tem mais tempo. So cadernos (compginas no mesmo tamanho do jornal) ou suplementos (pginas em tamanho menor, s

    vezes em papel diferente) que tratam de assuntos diferentes daqueles tratados pelaseditorias normais do jornal. So feitos por equipes prprias, que no entram nofechamento normal do jornal. Esses cadernos ou suplementos tm nomes que osidentificam de imediato, de maneira que os leitores interessados naquele assunto logo osseparem. muito comum que leitores colecionem esses cadernos ou suplementos.

    > As revistas de jornal semelhana dos cadernos e suplementos, tm equipe prpria, que no participa do

    fechamento do jornal. Sua caracterstica principal a forma de revistas, inclusive comcapa em papel mais encorpado. De um modo geral vm encartadas na edio dominicale sua pauta dominada por assuntos mais permanentes, mais duradouros ao contrrioda notcia comum, que tem vida curta, geralmente de apenas 24 horas. As revistas falamde tendncias, de evoluo no comportamento das pessoas, de transformaes queestejam ocorrendo nessa ou naquela rea.

    > A importncia do jornalismo (e o poder do jornalista, que tem umaprocurao do cidado comum para apurar os fatos)Muitos jornalistas demoram a entender que o importante o jornalismo, o veculo da

    informao jornalstica. De um modo geral, esses jornalistas pensam que importantesso eles. Alguns nunca entendem que a atividade jornalstica uma delegao dasociedade, da comunidade. Assim como o professor tem a misso de ensinar, o mdicotem a misso de cuidar da sade, outros profissionais tm as suas misses, de acordocom a sua especialidade. O jornalista recebe da sociedade a misso de informar sobretudo de relevante que esteja acontecendo na cidade, no estado, no pais, no mundo. Eles importante na medida em que cumpre essa misso de apurar e transmitir ainformao que a sociedade precisa ter.

    > A fonte

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    10/13

    a origem da notcia. a pessoa que fornece ao jornalista a informao em primeiramo. O jornalista assume o compromisso de manter sob sigilo o nome de sua fonte deinformaes. A lei protege o direito que o jornalista tem de no revelar quem so assuas fontes. Esse direito essencial para que o jornalista obtenha informaesexclusivas, que interessam aos leitores. Sob essa garantia, a fonte passa ao jornalista

    informaes sigilosas, que ajudam a esclarecer casos em que estejam envolvidaspessoas poderosas. Depois, por mais que essas pessoas pressionem, o jornalista no obrigado a dizer que lhe deu tais informaes.

    > As aspasUm problema comum, nos textos dos jornais, so as aspas indevidas ou porque sesuperpem a outras que vm logo a seguir, na declarao enfocada, ou porque nopassam de escudo que o reprter (o jornal?) usa para se proteger de eventual reclamaodo entrevistado.A reproduo exata do que o entrevistado declarou um dos dogmas da profisso de

    jornalista. Para o texto jornalstico, entretanto, mais importante que reproduzir ipsislitteris uma declarao transmitir ao leitor, com exatido, o que o entrevistado quisdizer.O que vem entre aspas, ento, deve ser aquilo que o entrevistado falou, do jeito que elefalou desde que faa sentido. Se no faz sentido, o melhor decifrar, traduzir adeclarao sem usar aspas. Ou s deixar entre aspas o pedao que faz sentido.Ainda com relao ao uso das aspas: se a declarao no tem nada de novo, nada derevelador, nada de peculiar, no merece esse destaque.Outro cuidado: se ao enunciar uma declarao o texto sem aspas j antecipa o que vaiser declarado, no h necessidade de um (o enunciado) ou da outra (a declarao).Mais um: recomenda-se identificar o autor da frase entre aspas, com dois pontos antesou um verbo depois. Quando s h um entrevistado na matria, admite-se (mas no serecomenda) que as aspas no tenham dono.A seleo a seguir mostra alguns casos de textos publicados em que o autor usou mal asaspas ou deixou de us-las:

    ORIGINALSegundo explicou o chefe do Departamento, a diferena pode ser atribuda instabilidade do mercado externo. "Tem muita volatilidade no mercado", disse. " umagangorra terrvel",completou.

    ALTERADOSegundo explicou o chefe do Departamento, a diferena pode ser atribuda instabilidade do mercado externo, que ele define como "uma gangorra terrvel".

    D para eliminar a primeira frase do entrevistado e assim evitar a repetio dainformao (instabilidade sem aspas = volatilidade com). D para juntar todo opargrafo numa frase s, eliminando assim o disse e o completou.

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    11/13

    ORIGINAL"Embora eu seja altamente partidrio de tudo o que diz respeito ao meio ambiente, nestemomento no podemos utilizar formalidades para atrapalhar e dificultar o

    licenciamento",disse o diretor.

    ALTERADOEmbora se declarasse "altamente partidrio de tudo o que diz respeito ao meioambiente", o diretor ressaltou que no momento no se pode permitir que formalidadesdificultem o licenciamento.

    No original, a frase do diretor capenga. Nesses casos, melhor tirar as aspas e traduzira frase, aproveitando para capar expresses apenas retricas como atual momento eatrapalhar e dificultar.

    > A tica do jornalistaPelo fato de ter uma procurao tcita da sociedade para apurar, investigar, o jornalista talvez o profissional de quem mais se exige o respeito aos princpios ticos. O principaldesses princpios o respeito verdade. Havendo qualquer dvida, por menor que seja,o jornalista no deve publicar uma denncia. Outro princpio tico fundamental aobrigao de ouvir ou pelo menos tentar ouvir a pessoa ou instituio que vai serdenunciada pelo jornal. Nessa mesma linha, preciso seguir o princpio tico de ouvir aoutra parte. Ou seja: se A faz uma denncia contra B, na mesma notcia deve constartambm a palavra de B. Constam da tica jornalstica, ainda, o cuidado de evitar o tomalarmista ao divulgar uma informao, o respeito pela legislao, a ateno s normasvigentes quanto a sade, segurana. Enfim, o jornalista tico necessariamente umprofissional consciente das possveis conseqncias daquilo que publica.

    IVComo feito um jornal (a rotina de uma redao)

    > A pr-pauta

    a relao simplificada e provisria com os possveis assuntos que os reprteres dojornal vo apurar a cada dia. Dentro de cada editoria, o pauteiro anota o que lhe parecemais interessante no noticirio j publicado pelo seu e pelos demais jornais, oudivulgado pelas rdios, pelas televises. Ouve tambm os reprteres da editoria. Junta,em suma, o mximo possvel de anotaes e sugestes, antes de chegar seleo queresultar na pauta definitiva.

    > A pautaA pauta definitiva de um jornal vem de uma reunio com os pauteiros de todas aseditorias, geralmente sob o comando de um editor-executivo. Nessa reunio, evitam-se

    as superposies, aqueles casos em que duas editorias vo cobrir o mesmo assunto,entrevistar a mesma pessoa. nessa reunio, ainda, que se decide quais so os assuntos

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    12/13

    mais importantes daquele dia, os que exigem a mobilizao de equipes maiores, os quedependem da contratao de consultorias. Nos jornais, essa pauta definida o mais cedopossvel, pela manh. No final da tarde, uma outra reunio define o que efetivamenteser publicado pelo jornal, pois muitos assuntos selecionados na reunio matinal norenderam o que deles se esperava, outros assuntos surgiram no correr do dia. De um

    modo geral, a reunio vespertina comandada por outro editor-executivo, ou peloprprio diretor da redao, e os pauteiros so substitudos pelos editores.

    > A apurao da informaoUltimamente, usam-se mais o telefone e a internet, no levantamento das informaesque constam da pauta definitiva. Mas ainda se usa muito ir ao local. Essa expresso irao local tem sentido bem amplo: estar pessoalmente com o entrevistado, comparecer estria ou ao lanamento, deslocar-se at o ponto onde houve o incndio, o alagamento,o acidente, o crime. A apurao da informao todo o esforo que o jornalista faz parareunir o mximo possvel de dados, para depois selecionar os melhores, os que mais fiel

    e completamente contem a notcia.

    > O fechamento o final do trabalho de cada dia, em cada editoria. o momento em que a pgina ficapronta, na redao, e vai para a grfica, para a impresso. O horrio de fechamentovaria, de acordo com a hierarquia estabelecida pela pauta definitiva de cada dia. Muitasvezes as pginas que fecham por ltimo so as de Esporte, porque algum jogo vaiterminar mais tarde, ou as de Artes e Espetculos, porque preciso esperar o final deuma estria teatral. O normal que feche por ltimo a primeira pgina, a principal do

    jornal, a capa que sai com a manchete do dia e com textos resumidos (as chamadas decapa) dos assuntos mais importantes das diferentes editorias. A presso do horrio defechamento uma das maiores razes para que os jornalistas estejam sempre no topodas listas dos profissionais mais estressados.

    > Os clichsTambm chamado de lugar-comum ou chavo, o clich aquela frase pronta, aquelaexpresso consagrada, aquela palavra repetida que em geral funciona bem na linguagemfalada, mas que devemos evitar no texto jornalstico. Dizer, por exemplo, que o artistafechou com chave de ouro a sua apresentao pode ficar bem no correr de um bate-papo

    entre amigos, mas no texto escrito deixa a impresso de que o redator no se esforoupara encontrar um jeito mais criativo de informar que o artista encerrou o espetculocom uma surpresa, uma atuao fora do comum. Dizer cobras e lagartos, crivar de balas,preencher uma lacuna, agradvel surpresa, calor escaldante, suculenta feijoada todosesses so clichs. A lista dos lugares-comuns na verdade imensa. Convm evit-los.Ou s us-los conscientemente, tendo noo de que vo empobrecer aquele trecho dotexto. Uma observao de ordem prtica: na correria do fechamento de um jornal, nemsempre o redator tem tempo e cabea de procurar um substituto criativo e eficiente parao clich. A o jeito usar e contar com a compreenso do leitor (que em geralcompreende).

    > A distribuio do jornal

  • 7/31/2019 DicasdeJornalismo

    13/13

    Como acontece com todo produto industrializado, preciso fazer o jornal at as mosdo leitor, que o seu consumidor. Tambm no caso da indstria jornalstica, existe todauma logstica interna e externa para que o produto chegue ao consumidor na melhorocasio possvel. A logstica externa semelhante do restante da produo industrial:a partir da grfica que imprime o jornal, caminhes e vans transportam at os centros de

    distribuio, que por sua vez fazem chegar at as bancas de jornais e revistas.Excepcionalmente, e s na cidade onde se imprime o jornal, algumas bancas vo buscaro jornal na boca da mquina, isto , no setor de expedio da grfica. A logsticainterna, para que a distribuio seja bem sucedida, tem algumas peculiaridades. Aprincipal delas est nos diferentes horrios de fechamento, cada um correspondendo auma edio especfica. A edio nacional, destinada ao restante do pas, a que fechamais cedo. No inclui, portanto, as notcias de ltima hora. Informa-se, por exemplo,que determinado julgamento comeou a tal hora, desenvolveu-se de tal maneira e at ofechamento desta edio ainda no havia o resultado. Assim, sucessivamente, ocorrecom a edio estadual, que pega as regies mais distantes do Estado; as ediesregionais, destinadas s cidades mais prximas; at finalmente a edio local, que vai

    para a prpria cidade inclui todas as notcias de ltima hora.

    > No existe notcia paga em jornalUma frase qu sempre se diz nas redaes eticamente corretas a seguinte: notcia notcia, publicidade publicidade. Desde cedo o jornalista aprende que uma publicaosria nunca vende o editorial. Isso quer dizer que a notcia veiculada corresponderigorosamente verdade e tem o objetivo primordial de atender aos interesses do leitor.Existem jornais mais afinados com essa ou aquela linha de pensamento e que dodestaque maior aos temas e fatos mais em sintonia com tal maneira de pensar. Nessecaso, o jornal eticamente correto adota essa linha editorial de maneira transparente e, sefor do interesse do leitor, publica at artigos e notcias de pessoas que pensam demaneira oposta. O que no se admite o jornal que aceita pagamento para publicar,como se fosse notcia, matrias de interesse de uma empresa, um grupo empresarial, umgoverno. Os que fazem isso e na verdade alguns fazem no merecem o respeito domeio editorial.