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CAPTIVE DIDIER COSTET APRESENTA S ele c ç ã o O f i cial

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CAPTIVE

DIDIER COSTET APRESENTA

Selecção Oficial

SINOPSE CURTANum resort de praia da ilha filipina de Palawan, 20 hóspedes, a maioria dos quais turistas estrangeiros, são raptados pelo grupo separatista islâmico Abu Sayyaf.Levado numa jornada pelo mar até à selva montanhosa, o grupo é mantido cativo durante mais de um ano. Ao longo desse tempo, tanto os raptores como os raptados lutam por se esquivar a ataques frequentes por parte do exército filipino.

Uma aventura inacreditável baseada em factos verídicos assinada pelo realizador de “Kinatay” (Melhor Realizador no Festival de Cannes 2009), “Lola” e “Serviço”.

SINOPSENum resort de praia da ilha filipina de Palawan, 20 hóspedes, a maioria dos quais turistas estrangeiros, são raptados pelo Grupo Abu Sayyaf (GAS), separatistas islâmicos que lutam pela independência de outra ilha, Mindanao. Na confusão, a assistente social francesa Therese Bourgoine e a sua colega filipina Soledad são colocadas na companhia do alvo original dos raptores.Os reféns são transportados num barco de pesca lotado para a ilha de Basilan, numa viagem de vários dias e centenas de quilómetros através do Mar de Sulu. Durante a perigosa viagem marítima, todos são entrevistados para determinar o valor dos respectivos resgates.2

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Na ilha de Basilan, o grupo é perseguido de imediato pelos militares. O refúgio no hospital da cidade de Lamitan é curto, pois estala uma violenta batalha armada. Os elementos do GAS conseguem escapar com os seus reféns, levando também com eles três enfermeiras e uma assistente hospitalar.Depois de uma cansativa caminhada pela selva, na qual tanto os reféns como os captores enfrentam os elementos da natureza, o grupo estabelece um campo escondido nas colinas do Pico Basilan. Os membros do GAS e os seus apoiantes, assim como os civis amigos da sua causa, vão e vêm, trazendo mantimentos e munições. Therese e os outros testemunham o compromisso do grupo perante a sua causa e a atracção pelo combate.Com as forças militares no seu encalço, reféns e captores encontram-se constantemente em fuga, deixando para trás vários campos temporários. Devido ao fogo indiscriminado dos militares, os reféns não têm outra opção a não ser manter-se com os seus raptores. Conforme os ataques de artilharia ficam cada vez mais fortes, torna-se evidente que os reféns foram apanhados no meio de uma guerra total.Therese e os outros reféns tentam não perder a esperança, mas percebem que, apesar da perseguição contínua, os militares não estão a fazer muita coisa para realmente os salvar. Mal sabem que o seu penoso calvário emocional e físico irá durar mais de um ano...

COMENTÁRIOS DE

BRILLANTE MA. MENDOZAORIGEM DO FILMEOs eventos mostrados em “Cativos” são baseados em situações de crise de reféns que ocorreram nas Filipinas, como os raptos de Dos Palmas em Palawan (2001) e outros sequestros pelo Grupo Abu Sayyaf (GAS) e diversas organizações separatistas semelhantes. Os relatos oficiais variam, mas durante o período de cerca de um ano, houve numerosos raides e mais de 100 pessoas foram raptadas e mantidas cativas à espera de resgate em diversos locais. Dezenas de reféns, soldados e raptores foram mortos durante toda esta experiência penosa. Em “Cativos”, tratei todo o filme como se fosse um único evento real. O argumento foi baseado na minha pesquisa intensiva de determinados raptos e onde estes realmente aconteceram, assim como nos testemunhos de sobreviventes, captores, militares e outras pessoas que assistiram e/ou fizeram parte das crises. Cerca de 25 por cento do filme consiste em elementos ficcionais; a maioria dos quais personagens e cenas que achei serem necessárias para fins de intensificação e dramatização.

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A JORNADAA jornada completa de “Cativos” é semelhante ao caminho seguido nos raptos de Dos Palmas. O filme começa com o sequestro de um grupo de pessoas num resort, que tentei retratar da forma mais fiel ao que sucedeu em Palawan. Os reféns foram transportados num barco lotado para a ilha de Basilan, situada na meridional Mindanao, atravessando centenas de quilómetros do Mar de Sulu ao longo de vários dias. Na cidade de Lamitan, um cerco violento resulta em negociações mal conduzidas entre os militares e o GAS. Como resultado, os captores forçam o grupo a dirigir-se para o coração do Parque Nacional de Basilan (uma região montanhosa de selva no centro da ilha), onde se mantêm em movimento constante para evitar ataques militares.Não filmámos mesmo em Palawan, Lamitan, Basilan ou qualquer outra parte de Mindanao, onde os acontecimentos tiveram realmente lugar, sobretudo por razões de logística e segurança. Rodámos durante 25 dias em diversos locais no interior e perto de Luzon, incluindo o meu próprio jardim na área metropolitana de Manila.

A SEQUÊNCIARodei o filme intencionalmente em sequência – começando no resort de praia, seguindo para a viagem no mar por barco; do cerco militar no hospital da cidade para as montanhas; e das viagens constantes de um local para outro até às diversas batalhas armadas no entretanto, que conduzem ao final propriamente dito. Fiz isto porque queria deixar os actores sentirem o medo e a essência de serem raptados. Queria que eles tivessem a experiência “do rapto” o mais próxima possível da realidade e os acontecimentos que se sucedem enquanto estão em cativeiro. Fui capaz de concretizar esta rodagem cronológica manipulando ligeiramente a cadeia de acontecimentos para que estes coincidissem com a localização dos sítios da acção. Tal como nos meus filmes anteriores, usei uma abordagem de documentário ao fazer “Cativos”. Filmei a história de uma forma honesta, mantendo o conceito de realidade tal como este surge no material. Para o formato do filme, optei pela sofisticada Alexa, uma câmara de alta definição, tanto pela comodidade como pela precisão, especialmente nas cenas no barco e nas situações de perseguição na selva.

SEPARAÇÃO DOS ACTORESAntes de começar a rodagem, separei os actores que interpretam os raptores do Abu Sayyaf dos que fazem de reféns. Fiz isso de propósito porque queria criar um muro cultural entre os dois grupos. Portanto, a actriz Isabelle Huppert, tal como os outros actores, nunca se encontrou com os seus colegas até ao primeiro dia de rodagem, no exacto momento em que se dá a cena do sequestro. Foi a primeira vez que eles se viram, todos vestidos para a recriação do rapto.

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ISABELLE HUPPERT COMO THERESE BOURGOINEA actriz Isabelle Huppert interpreta Therese Bourgoine, uma francesa que trabalha como assistente social em regime de voluntariado para uma organização não-governamental sedeada em Palawan. A personagem foi acrescentada para dar um olhar microscópico sobre a estrutura interior do GAS e o sequestro. Embora ficcional, aquilo que é a experiência de Therese em “Cativos” baseia-se em numerosos testemunhos que recolhi durante a minha pesquisa. As observações de Therese dão-nos alguns conhecimentos acerca da identidade muçulmana dos raptores – as suas interpretações pessoais do Corão, as suas ambições, os seus medos, as suas fraquezas. Em Mindanao, ela observa também a pobreza e a falta de educação da comunidade islâmica.

TODOS ESTÃO CATIVOSO Abu Sayyaf é um grupo de separatistas islâmicos a funcionar na região sul de Mindanao, nas Filipinas. Desde a sua fundação, no início da década de 1990, o GAS tornou público que luta por um estado ou sub-estado independente no país. O mesmo grupo assumiu a responsabilidade por muitos sequestros, bombas, assassinatos e actividades de extorsão.O meu retrato dos raptores do GAS é claramente multidimensional. Tal como qualquer outra pessoa, eles podem ser vistos como tipos normais – podem por vezes ser divertidos, zangados e violentos noutras, até mesmo bondosos e compassivos em determinadas circunstâncias. Como cineasta, tento sempre trabalhar como um jornalista. Tento mostrar o maior número possível de versões de determinada situação, independentemente das minhas crenças e causas pessoais. Como cineasta, não devo interferir com a verdade. Se a verdade vai contra a filosofia do cineasta, ele continua a ter de a mostrar independentemente do resto.De qualquer maneira, não estou a tentar defender o GAS e a sua causa. Nem estou a

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tentar justificar o que quer que seja com o filme. “Cativos” não é um filme sobre a causa deles. É sobre humanidade – o GAS, os reféns, até mesmo os militares como um braço armado do governo ou da chamada ordem estabelecida. Penso que está muito claro no filme o porquê de ter escolhido este tema. Apesar da sua controvérsia e do conflito por resolver, “Cativos” mostra algo sobre o que não costuma ser visto, o “cenário completo” – que todas as pessoas estão cativas das suas próprias causas.

CONTROVÉRSIA E CONFLITONo caso de Dos Palmas e em outros sequestros, existiram acusações de políticos e militares coniventes, omissões ou distorções da verdade pelos meios de comunicação social e certas ligações a apoio estrangeiro. Nunca foi emitida nenhuma declaração oficial sobre qualquer resgate, mas algumas fontes afirmaram que diversos políticos e oficiais militares filipinos tinham lucrado com o controverso exercício (militar).Hoje, o Grupo Abu Sayyaf continua a vaguear pelas muralhas de Mindanao no sul das Filipinas, uma região rica em recursos naturais que se recusa a ser conquistada. A partir do século XVI, quando os colonizadores espanhóis se instalaram na maior parte do arquipélago, até hoje, com os imperialistas norte-americanos que insistem em estabelecer e impor a sua autoridade estrangeira na área, Mindanao e o seu povo foram apanhados numa teia hostil. Tal como nos abastados países do Próximo e Médio Oriente cujas permanentes crises parecem surgir e desaparecer de acordo com a disponibilidade ou indisponibilidade do petróleo, aquilo que na verdade capta a atenção das forças beligerantes em Mindanao são as suas vastas riquezas naturais. Uma mão invisível impera nas Filipinas e o seu povo está a ser usado e abusado para servir determinados objectivos egoístas. Sabemos isso, vemos isso, sentimos isso, cheiramos isso e ouvimos falar sobre isso, mas, como povo, temos sido insensíveis e submetidos a uma pobreza abjecta em termos materiais, mentais e espirituais.“Cativos” é sobre auto-preservação, sobre sobrevivência perante privações e situações que estão para além do controle das pessoas.

A REPRESENTAÇÃO DOS TIROTEIOSA representação dos tiroteios foi orquestrada tão próxima quanto possível dos conflitos reais entre o GAS e os militares, graças aos conselhos e orientação de especialistas em combate de ambos os lados. Várias dezenas de soldados reais foram misturados com actores para interpretar os militares usando armas genuínas e balas de pólvora seca. É muito mais fácil mostrar soldados a usar armas verdadeiras a interpretarem-se a si próprios à frente de uma câmara do que treinar actores para interpretar soldados de forma autêntica. Mas alguns actores tiveram de ser submetidos a treino militar básico para parecerem e agirem como soldados reais. Sob a supervisão de duplos experientes, os actores aprenderam a mover-se de forma adequada e a protegerem-se, sobretudo das quedas. Alguns militares estiveram presentes durante a rodagem de modo a observar se os actores tinham um aspecto convincente.

NO MARAs sequências aquáticas demoraram cinco dias inteiros a filmar. Afastámo-nos relativamente da costa. Frequentemente, as ondas tornavam-se mais fortes e o movimento do barco causava-me náuseas.Foi física, emocional e mentalmente exigente para todas as pessoas envolvidas.É bastante difícil rodar uma cena num barco, sobretudo no mar alto, porque os barcos movem-se constantemente. Antes de darmos por isso, as ondas afastavam-nos uns dos outros, perturbando o espaço e a cena que estávamos a rodar.Numa das cenas mais difíceis, se não mesmo perigosa, que rodámos no mar alto, tivemos de nos assegurar que não víamos qualquer ilha que pudesse aparecer no filme para poder registar essa sensação de distância e incapacidade entre os reféns. Em termos de

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ângulos de câmara, tudo o que tivemos de fazer foi seguir o sol e render-nos ao momento.Globalmente, tivemos de usar várias câmaras, incluindo aquelas com que filmámos as partes aéreas. Utilizámos também diversos barcos, além daquele que estava a ser filmado. Os barcos de apoio, incluindo os da Guarda Costeira, estavam situados a uma distância razoável para que não se intrometessem nas filmagens e nos orientassem e protegessem de tudo aquilo que pudesse acontecer no meio do mar.

MÚSICA TRADICIONALPara a banda sonora do filme, usei música tradicional muçulmana de Mindanao, ainda que moderadamente para obter um efeito minimal. Escolhi esta música pelo seu som único, utilizando dois dos instrumentos mais básicos e indígenas: o agong (um xilofone formado por gongos) e o kulintang (um instrumento de cordas que se assemelha a uma guitarra).

VIDA E SOBREVIVÊNCIAQuis integrar no filme muitos pequenos detalhes que estão intimamente relacionados com a vida em si e a sobrevivência. A cena do nascimento verdadeiro de um bebé estava no argumento e foi planeada. Visto como parte do cerco em Lamitan, no meio da troca de tiros contínua entre os membros do Abu Sayyaf e os militares, o nascimento é uma lembrança da perpetuação da vida. A cena da serpente a comer uma galinha demorou bastante tempo a filmar. Esperámos durante horas de pé, para aproveitar o momento exacto e captar o longo acto da serpente a engolir. Representando o cativeiro em todas as suas formas, a aranha e a sua teia foram filmadas no meu próprio jardim, na cidade de Mandaluyong City, na área metropolitana de Manila.

O SARIMANOKO sarimanok é um pássaro lendário do povo de Maranaw, em Mindanao. É representado com asas coloridas e cauda emplumada e considerado um símbolo de boa fortuna. Crê-se também que o sarimanok teve origem numa lenda islâmica. Brilhante e belo, o sarimanok parece simbolizar o mundo original e as esperanças dos muçulmanos em todo o lado. Na agitada Mindanao, ele simboliza a ilusão da paz e, tal como um mito, é esquivo e inacessível, consequentemente inatingível. Em “Cativos”, o encontro de Therese com o sarimanok, a ave mítica dos muçulmanos, foi possível através da magia da tecnologia informática durante o trabalho de pós-produção.

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O REALIZADORBRILLANTE MA. MENDOZANascido a 30 de Julho de 1960, em San Fernando, nas Filipinas, Brillante Ma. Mendoza estudou Belas-Artes com especialização em Publicidade na Universidade de Santo Tomas, em Manila. Começou a sua carreira como director artístico em cinema, televisão, teatro e em publicidade para televisão. O seu trabalho de direcção artística está presente em filmes aclamados no seu país, como “Flirting with Temptation” (1986), “Private Show” (1986), “Olongapo” (1987), “The Great American Dream” (1987), entre muitos outros.Das longas-metragens, Mendoza mudou-se de seguida para a produção de publicidade televisiva, tornando-se um dos mais solicitados directores artísticos do país. Trabalhou em anúncios para empresas multinacionais como San Miguel Brewery, Asia Brewery, McDonalds, Procter & Gamble e Unilever. Isto valeu-lhe relações de trabalho privilegiadas com políticos e alguns dos grandes nomes da indústria do entretenimento filipina.Em 2005, Mendoza fundou uma pequena empresa de produção independente, a Centerstage Productions. A sua primeira longa-metragem, “The Masseur”, venceu o Leopardo de Ouro no Festival de Locarno de 2005, bem como o Prémio Interfaith em Brisbane e o Prémio do Público em Turim. Os seus filmes seguintes conquistaram vários prémios internacionais de relevo. “Foster Child” foi apresentado na Semana dos Realizadores de Cannes 2007. “Serbis”, co-produção franco-filipina, esteve na Competição Oficial de Cannes 2008, tornando-se o primeiro filme filipino nesta desde 1984. Com “Kinatay”, Brillante Ma. Mendoza conquistou o prémio de Melhor Realizador em Cannes 2009. No mesmo ano, “Lola” foi apresentado na Competição de Veneza e venceu o galardão de Melhor Filme no Festival de Cinema do Dubai.

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FILMOGRAFIA & PRÉMIOS2012 CATIVOSBerlim 2012 – Selecção Oficial, Competição

2009 LOLAVeneza 2009 – Selecção Oficial, CompetiçãoDubai IFF 2009 – Melhor FilmeMiami IFF 2010 – Prémio Especial do JúriLas Palmas – Melhor Filme / Melhor Actriz ex-aequo para Anita Linda & Rustica Carpio / Melhor FotografiaFriburgo IFF 2010 – Prémio do Júri Ecuménico

2009 KINATAYCannes 2009 – Selecção Oficial, Melhor RealizadorSitges IFF 2009 – Melhor Realizador / Melhor Banda Sonora Original (Teresa Barrozo)

2008 SERBISCannes 2008 – Selecção Oficial, CompetiçãoVladivostok IFF 2008 – Melhor Realizador / Melhor ActrizBanguecoque IFF 2008 – Kinnara de Ouro

2007 TIRADOR (SLINGSHOT)Marraquexe IFF 2007 – Prémio Especial do JúriBerlim IFF 2008 – Prémio CaligariSingapura IFF 2008 – Melhor Filme / Melhor Realizador, Prémio Netpac

2007 FOSTER CHILDCannes 2007 – Semana dos RealizadoresNova Déli 2007 – Melhor ActrizEurasia 2007 – Prémio Especial do JúriLas Palmas 2008 – Prémio Signis

2006 KALELDO (SUMMER HEAT)JeonJu IFF 2007 – Prémio NetpacDurban IFF 2006 – Melhor Actriz

2006 MANORO (THE TEACHER) - documentárioTurim 2006 – Prémio CinemAvenirCinemanila 2006 – Melhor Filme / Melhor Realizador

2005 MASAHISTA (THE MASSEUR)Locarno 2005 – Leopardo de OuroTurim GLFF 2006 – Prémio do PúblicoBrisbane IFF 2006 – Prémio Interfaith10

NOTAS DE

ISABELLE HUPPERTA primeira vez que encontrei Brillante Ma. Mendoza foi na cerimónia de encerramento do Festival de Cannes 2009, no qual fui presidente do júri. O seu filme “Kinatay” tinha conquistado o prémio para o Melhor Realizador. Já conhecia o seu filme anterior “Serbis”. Gostei da sensação de liberdade de “Kinatay”, uma espécie de atitude cinematográfica primitiva que não se prendia a qualquer tipo de restrições. Depois, por pura coincidência, voltei a ver novamente Brillante Ma. Mendoza poucos meses depois, em São Paulo, onde estava a representar “Quartet” no teatro, sob a direcção de Bob Wilson, e ele a mostrar “Kinatay”. Mendoza estava também a preparar o seu filme seguinte, “Cativos”, e ofereceu-me um papel.Durante os primeiros dias de rodagem, Brillante Ma. Mendoza assegurou-se de que os actores não se cruzavam, dividindo-os entre os “terroristas” e os “reféns”, de modo a conseguir preservar uma determinada atmosfera para as filmagens. Quando cheguei, não conhecia ninguém e os actores que interpretavam os terroristas eram particularmente assustadores. Os actores não se encontravam na psicologia das respectivas personagens, pois estávamos a seguir a sequência de eventos da forma mais fiel possível. Conforme íamos sendo filmados, dia após dia, de acordo com a cronologia da história, o filme ia captando uma estrutura de progressão. Durante a rodagem, li o magnífico livro de Ingrid Betancourt, o que foi formando a minha personagem: a exaustão absoluta, a sensação de que nunca iria acabar, o ser continuamente movimentada de um sítio para outro. Filmámos em locais diferentes, a cinco horas de Manila, e terminámos numa antiga base norte-americana no coração da selva, na qual Coppola terá supostamente rodado algumas cenas de “Apocalypse Now”.Brillante é um realizador que recria todas as condições de um documentário, até ao limite da insanidade e do inesperado. Conforme a história se desenrola, e com a narração, ele é capaz de esculpir o tempo, pois contrai-o e por vezes estica-o... Houve cenas espectaculares, por exemplo a tomada dos reféns, na qual ficámos todos apinhados num barco minúsculo algo afastado da praia debaixo de um calor escaldante; outras cenas foram ou violentas ou centradas no medo. Estávamos a partilhar a experiência das personagens e, como actores, reagimos às situações, aos locais, ao frio, à chuva, às condições físicas esgotantes, dia após dia. O conforto durante a rodagem era, no mínimo, muito precário. Filmámos à noite, na lama, em rios, em locais montanhosos e irregulares que eram difíceis de atingir.Basicamente, desde que comecei a minha carreira como actriz, sempre imaginei esta profissão como sendo algo capaz de me dar a possibilidade de cruzar fronteiras, levando-me o mais longe possível. Filmar em qualquer outro sítio, com realizadores com outros horizontes, reforça a jornada interior. Quanto mais longe uma pessoa viaja no 11

mundo exterior, mais tem a sensação de ultrapassar os limites daquilo que pode atingir interiormente. Sinto-me atraída por cineastas que estão muito distantes de onde eu me encontro, pois considero que esta combinação pode produzir coisas inesperadas. É quase orgânico, resultante do simples facto de ser transportada para outro universo.Além disso, estar com pessoas que não me conhecem bem dá-me ainda mais liberdade. Uma pessoa pode achar que isso pode ser uma restrição, ou intimidante, mas é o contrário. Isso corresponde ao meu conceito de fazer cinema, que consiste numa pessoa criar o seu próprio território, tanto real como fictício, em que a sua imaginação pode ser totalmente desfraldada. Sou capaz de me abrir totalmente com mais facilidade, e com muito maior liberdade, neste território quando se trata de um cenário desconhecido. Até certo ponto, preciso regularmente de me colocar nesta posição de forma a levar mais longe o meu trabalho. Se estivesse apenas integrada numa estrutura francesa não apreciaria tanto o meu trabalho como o faço.

Excertos de uma entrevista dada a Charles Tesson para “Les Cahiers du Cinema”

ISABELLE HUPPERT - FILMOGRAFIA SELECCIONADA

CATIVOS de Brillante Ma. Mendoza

LOVE / AMOUR de Michael Haneke (em pós-produção)

EU NÃo SOU A TUA PRINCESA de Eva Ionesco

COPACABANA de Marc Fitoussi

HOME - LAR DOCE LAR de Ursula Meier

MINHA MÃE de Christophe Honore

8 MULHERES de François Ozon

A PIANISTA de Michael Haneke

AMATEUR de Hal Hartley

MADAME BOVARY de Claude Chabrol

AS PORTAS DO CÉU de Michael Cimino12

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NOTAS DA CRÍTICA“É extremamente comovente que um filme tão desumano possa ser também tão rico em nuances.”

Bénédicte Prot – Cineuropa

“A interpretação de Isabelle Huppert como um dos elementos do grupo de reféns servirá como porta de entrada principal neste duro e inatacavelmente sério trabalho para os devotos do cinema de autor de Mendoza fora do circuito dos festivais.”

Justin Chang – Variety

“Mendoza retrata os terroristas com um equilíbrio e humanidade incomuns numa história que Hollywood teria transformado num simples conflito do bem contra o mal. Huppert é sempre fascinante.”

Mike Goodridge – Screen Daily

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DIDIER COSTETFILMOGRAFIA COMO PRODUTORDidier Costet criou em 1992, em Paris, a Swift Productions, com o objectivo de se especializar na produção, compra e distribuição de filmes de qualidade.Além da distribuição para televisão (200 títulos) e de uma editora de vídeo, a distribuição dos filmes em sala é feita através da empresa irmã Equation.Em 2008, Didier Costet produziu “Serbis”, de Brillante Ma. Mendoza. Foi o primeiro filme filipino seleccionado para a Competição Oficial de Cannes desde 1984. Em 2009, produziu dois filmes de Mendoza, “Kinatay” (que venceu o prémio de Melhor Realizador em Cannes) e Lola (seleccionado para a Competição Oficial de Veneza).Em 2011, produziu “Beauty” do jovem sul-africano de 27 anos Oliver Hermanus, que passou na secção Un Certain Regard de Cannes. Foi o primeiro filme africânder exibido no festival e a primeira co-produção oficial franco-sul-africana. No mesmo ano, produziu “Cativos”, o mais recente filme de Mendoza, protagonizado por Isabelle Huppert, que fez a sua estreia mundial na Competição Oficial do Festival de Berlim 2012.

2012 CATIVOS de Brillante Ma. Mendoza

2011 BEAUTY de Oliver Hermanus

2009 LOLA de Brillante Ma. Mendoza

2009 KINATAY de Brillante Ma. Mendoza

2008 SERBIS de Brillante Ma. Mendoza

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ELENCOTherese Bourgoine ISABELLE HUPPERT

Sophie Bernstein KATHY MULVILLE

John Bernstein MARC ZANETTA

Soledad Carpio RUSTICA CARPIO

Abu Azali RONNIE LAZARO

Marianne Agudo Pineda MARIA ISABEL LOPEZ

Olive Reyes ANGEL AQUINO

Abu Mokhif SID LUCERO

Abu Saiyed RAYMOND BAGATSING

Hamed TIMOTHY MABALOT

Emma Policarpio MERCEDES CABRAL

EQUIPA TÉCNICARealização BRILLANTE MA. MENDOZA

Argumento BRILLANTE MA. MENDOZA, PATRICK BANCAREL, BOOTS AGBAYANI PASTOR, ARLYN DE LA CRUZ

Produção DIDIER COSTET, SWIFT PRODUCTIONS

Co-Produção BRILLANTE MA. MENDOZA (Centerstage), ANTONIO EXACOUSTOS (B.A. Produktion), JAMIE BROWN & ALEX BROWN (Studio Eight Productions)

Produtor Executivo LARRY CASTILLO

Fotografia ODYSSEY FLORES

Música TERESA BARROZO

Montagem YVES DESCHAMPS, GILLES FARGOUT, KATS SERRAON

Direcção Artística SIMON LEGRÉ, BENJAMIN PADERO

Direcção de Som LAURENT CHASSAIGNE, STÉPHANE DE ROCQUIGNY, ALBERT MICHAEL IDIOMA, ADDISS TABONG

Produzido por SWIFT PRODUCTIONS

Em associação com ARTE FRANCE CINÉMA, CENTERSTAGE PRODUCTIONS, B.A. PRODUKTION, STUDIO EIGHT PRODUCTIONS

França, Filipinas, Reino Unido, Alemanha | 2012 | 120 minutos

distribuído por Alambique 16