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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA KLENIA FELIX DE OLIVEIRA BEZERRA Dieta e carcinoma de células escamosas oral: um estudo caso-controle Campina Grande 2012

Dieta e carcinoma de células escamosas oral: um estudo ...tede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/1941/1/PDF - Klenia Felix... · Odontologia pelo agradável convívio e aprendizado

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  • 0

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA

    CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE

    DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ODONTOLOGIA

    KLENIA FELIX DE OLIVEIRA BEZERRA

    Dieta e carcinoma de clulas escamosas oral:

    um estudo caso-controle

    Campina Grande

    2012

  • 1

    KLENIA FELIX DE OLIVEIRA BEZERRA

    Dieta e carcinoma de clulas escamosas oral:

    um estudo caso-controle

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Odontologia da Universidade

    Estadual da Paraba, em cumprimento s

    exigncias para a obteno do ttulo de

    Mestre em Odontologia. rea de

    concentrao: Clnica Odontolgica.

    Orientador: Prof Dr. Gustavo Pina Godoy

    Co-orientadora: Prof Dr Maria Letcia Ramos Jorge

    Campina Grande

    2012

  • 2

    B574d Bezerra, Klenia Felix de Oliveira. Dieta e carcinoma de clulas escamosas oral

    [manuscrito] : um estudo caso-controle / Klenia Felix de

    Oliveira Bezerra. 2012.

    113 f. : il. color.

    Digitado

    Dissertao (Mestrado em Odontologia)

    Universidade Estadual da Paraba, Pr-Reitoria de Ps-

    Graduao e Pesquisa, 2012.

    Orientao: Profa. Dr. Gustavo Pina Godoy,

    Departamento de Odontologia.

    Co-Orientao: Profa. Dra. Maria Letcia Ramos

    Jorge, Universidade Federal de Minas Gerais.

    1. Cncer oral. 2. Neoplasias. 3. Alimentao. 4.

    Carcinoma. I. Ttulo.

    21. ed. CDD 616.07

    expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrnica.

    Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na

    reproduo figure a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da dissertao.

  • 3

  • 4

    DEDICATRIA

    *Aos meus pais, Trajano e Socorro, meus exemplos de vida, que com muita sabedoria, jamais

    mediram esforos ou se importaram com os sacrifcios para ajudar na minha formao

    profissional e humana.

    *Ao meu querido esposo, Fernando Augusto, com amor e gratido por sua compreenso,

    carinho e incansvel apoio ao longo do perodo de elaborao deste trabalho. Por dividir

    comigo lindos momentos de alegria e sonhos.

    *Aos meus filhos, Yasmin, Letcia e Lucas, meus amores, minha razo de viver! DEDICO.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pois sem a sua permisso no seria possvel realizar este sonho.

    Universidade Estadual da Paraba (UEPB), instituio que me acolheu, de forma gratuita, e

    disponibilizou todas as instalaes, professores e funcionrios, necessrios para realizao

    deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Gustavo Pina Godoy, meu querido orientador, por ter acreditado em mim, pela

    pacincia, pelo conhecimento transmitido, pela disposio em ouvir e construir. Serei

    eternamente grata pelo investimento em meu crescimento profissional e pessoal.

    A Prof. Dra. Maria Letcia Ramos Jorge, minha doce co-orientadora, pela imensa disposio,

    pacincia e carinho na tabulao dos dados, contribuies fundamentais na finalizao deste

    trabalho.

    A Dra. Daliana e Dra. Edna, referncia na oncologia oral da Paraba, por toda orientao,

    colaborao na seleo dos pacientes para entrevista, etapa de extrema importncia para o

    estudo. Agradeo por me receberem sempre com tanto carinho.

    Agradeo aos pacientes com cncer do Hospital Napoleo Laureano e da Fundao

    Assistencial da Paraba (FAP) que, na angstia da incerteza e da dor, se dispuseram a

    responder a um extenso questionrio. Vocs me deram a oportunidade de aprender sobre esta

    patologia, compreender sua realidade e de me apaixonar e me envolver, acreditando que o

    trabalho com amor ajuda no processo de cura.

    Agradeo aos entrevistados que participaram desta pesquisa, por colaborarem com seu

    precioso tempo, pela confiana, ao abrirem a porta de suas casas, sem vocs nenhuma dessas

    pginas estaria completa.

    Tambm sou grata aos entrevistadores, Antnio, Amanda, Anderson, Belisse, Flaubert e

    Raphael, que com boa vontade, esforo e competncia partilharam as dificuldades prticas

    envolvidas na realizao de um trabalho como este.

  • 6

    A todos os colegas, funcionrios e professores do Departamento da Ps-Graduao em

    Odontologia pelo agradvel convvio e aprendizado.

    No caminho percorrido at atingir esta etapa, muitas e muitas pessoas passaram e deixaram,

    alm de muitas saudades, estmulo e incentivo. Eu no teria conseguido completar mais esta

    etapa de vida se no tivesse recebido o carinho, a ateno e a valiosa contribuio dessas

    pessoas: Jadson (meu irmo do corao), Mrcia (secretria do mestrado), Eullia (enfermeira

    do Laureano), e toda equipe tcnica, Maria Jos, Vnia, Nilda, Flvia (FAP). A vocs, meus

    anjos, muito obrigada!

  • 7

    Ando devagar, porque j tive pressa

    E levo esse sorriso, porque j chorei demais.

    Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe.

    Eu s levo a certeza, de que muito pouco sei, ou nada sei.

    (Renato Teixeira e Almir Satter)

  • 8

    RESUMO

    Bezerra, KFO. Dieta e carcinoma de clulas escamosas oral: um estudo caso-controle.

    [dissertao de mestrado]. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraba; 2012.

    O cncer uma das principais causas de morte no mundo e a dieta tem sido reconhecida como

    tendo um papel importante na etiopatognese do carcinoma de clulas escamosas de cavidade

    oral (CCEO). Neste estudo caso-controle de base populacional, investigou-se o risco de

    grupos alimentares para o desenvolvimento de CCEO, a partir de um questionrio

    quantitativo de frequncia alimentar (QQFA) previamente validado para uso no Brasil.

    Participaram 665 indivduos, sendo 133 casos incidentes de CCEO, selecionados de hospitais

    de referncia para o cncer na Paraba e 532 controles, pareados por idade, gnero,

    localizao geogrfica e hbito de fumar. O consumo alimentar de casos e controles foi

    avaliado por grupos alimentares. Os valores da Odds ratio (OR) e intervalos de confiana de

    95% (IC95%) foram calculados por regresso logstica mltipla condicional e ajustada para os

    potenciais fatores de confuso. Verificou-se que o consumo de sopas (OR= 2,58; IC95%:

    1,14-5,86), produtos lcteos (OR= 6,93; IC95%: 2,81-17,11) e bebidas no alcolicas (OR=

    8,59; IC95%: 3,36-21-96) apresentaram risco para a ocorrncia de CCEO. O consumo

    intermedirio de vegetais (OR= 0,48; IC95%: 0,22-1,04) e leos e gorduras (OR= 0,37;

    IC95%: 0,17-0,79) atuou como fatores de proteo para o CCEO. Diante desses achados, os

    dados desta pesquisa sugerem que indivduos que ingerem gordura animal, alimentos ricos em

    sal, carboidratos refinados e bebidas no alcolicas apresentam maior risco para o

    desenvolvimento do CCEO.

    Palavras-chave: Neoplasias de cabea e pescoo; Cncer oral; Carcinoma de Clulas

    Escamosas; Dieta; Estudos caso-controle.

  • 9

    ABSTRACT

    Bezerra, KFO. Diet and oral squamous cell carcinoma: a case-control study.

    [dissertation]. Campina Grande: State University of Paraba; 2012.

    Cancer is one of the main causes of death in the world and diet has been recognized as having

    an important role concerning the etiopathogenesis of squamous cells carcinoma in the oral

    cavity (OSCC). In this case-control study of populations basis the risk of food groups for

    development OSCC was surveyed from a quantitative food frequency questionnaire (QFFQ)

    previously validated. A total of 665 individuals, 133 of these being incident cases of oral

    squamous cell carcinoma (OSCC), selected from reference hospitals for cancer in Paraba and

    532 being part of a control group, paired by age, gender, place and smoking habit took part in

    the study. Food consumption related to cases and control groups was evaluated by food

    groups. The odds ratio (OR) values and confidence intervals of 95% (CI95%) were calculated

    by means of conditional multiple logistic regression and adjusted for potential confounding

    factors. It was found that the soup consumption (OR= 2,58; CI95%: 1,14-5,86), dairy

    products (OR= 6,93; CI95%: 2,81-17,11) and non-alcoholic beverages (OR= 8,59; CI95%:

    3,36-21-96) presented a risk for the occurrence of OSCC. The intermediary consumption of

    vegetables (OR= 0,48; CI95%: 0,22-1,04) and oils and fats (OR= 0,37; CI95%: 0,17-0,79)

    acted as protection factors for OSCC. Given these findings, the data from this research

    suggest that individuals the ingestion of animal fat, food rich in salt and refined carbohydrates

    and non-alcoholic beverages are at increased risk for the development of OSCC.

    Keywords: Head and Neck Neoplasm, Oral Cancer, Squamous Cell Carcinoma; Diet, Case-

    control studies.

  • 10

    LISTA DE MAPAS E ILUSTRAES

    Figura 1- Mapa das meso e microrregies do estado da Paraba.............................................37

    Figura 2- Delineamento de um estudo caso-controle..............................................................39

    Figura 3- Descrio da operao matemtica para determinar o valor da ingesto do grupo

    alimentar....................................................................................................................................49

    Figura 4- Mapa de distribuio dos municpios do estado da Paraba.....................................55

  • 11

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Classificao topogrfica dos tipos de neoplasias considerados em estudos sobre

    cncer oral.................................................................................................................................21

    Quadro 2- Definio e codificao das variveis de pareamento e scio-

    demogrficas.............................................................................................................................43

    Quadro 3- Definio e codificao das variveis de confundimento......................................44

    Quadro 4- Definio e codificao das variveis relacionadas

    dieta...........................................................................................................................................45

    Quadro 5- Concentrao alcolica em cada dose de bebida....................................................48

    Quadro 6- Esquema representativo das perdas do estudo-piloto...............................................53

  • 12

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Indivduos no includos na anlise segundo o motivo. Campina Grande, Paraba,

    Brasil.........................................................................................................................................58

    Tabela 2- Distribuio de frequncia dos participantes que compuseram os grupos de caso e

    de controle. Campina Grande, Paraba, Brasil..........................................................................59

    Tabela 3- Distribuio de frequncia dos casos de carcinoma de clulas escamosas oral,

    segundo o stio anatmico. Campina Grande, Paraba, Brasil..................................................59

    Tabela 4- Distribuio de frequncia dos casos de carcinoma de clulas escamosas oral,

    segundo a faixa etria e o gnero. Campina Grande, Paraba, Brasil.......................................60

    Tabela 5- Distribuio de frequncia dos casos de carcinoma de clulas escamosas oral,

    segundo a atividade. Campina Grande, Paraba, Brasil............................................................61

    Tabela 6- Distribuio de frequncia dos casos de carcinoma de clulas escamosas oral,

    segundo as variveis de pareamento e scio-demogrficas. Campina Grande, Paraba,

    Brasil.........................................................................................................................................62

    Tabela 7- Distribuio de frequncia dos casos de carcinoma de clulas escamosas oral,

    segundo as variveis confundidoras. Campina Grande, Paraba, Brasil...................................64

    Tabela 8- Distribuio de frequncia dos casos de carcinoma de clulas escamosas oral,

    segundo as variveis relacionadas dieta. Campina Grande, Paraba, Brasil..........................66

    Tabela 9- Resultados das anlises obtidas por regresso logstica condicional univariada para

    variveis de pareamento e scio-demogrficas. Campina Grande, Paraba,

    Brasil.........................................................................................................................................68

    Tabela 10- Resultados das anlises obtidas por regresso logstica condicional univariada

    para variveis confundidoras. Campina Grande, Paraba, Brasil..............................................69

  • 13

    Tabela 11- Resultados das anlises obtidas por regresso logstica condicional univariada

    para variveis relacionadas dieta. Campina Grande, Paraba, Brasil....................................70

    Tabela 12- Resultados das anlises obtidas por regresso logstica condicional mltipla para

    variveis investigadas Campina Grande, Paraba, Brasil..........................................................72

  • 14

    LISTA DE SIGLAS

    INCA- Instituto Nacional do Cncer

    DNA- cido Desoxirribonuclico

    GST- Genes Supressores de Tumor

    CCE- Carcinoma de Clulas Escamosas

    CCEO- Carcinoma de Clulas Escamosas Oral

    OMS- Organizao Mundial de Sade

    MS- Ministrio da Sade

    HNSCC- Carcinoma de Clulas Escamosas de Cabea e Pescoo

    HPV- Papilomavrus Humano

    FAP- Fundao Assistencial da Paraba

    CID- Classificao Internacional de Doenas

    QFA- Questionrio de Frequncia Alimentar

    QQFA- Questionrio Quantitativo de Frequncia Alimentar

    IMC- ndice de Massa Corporal

    G- Gramas

    L- Litros

    UFPB- Universidade Federal da Paraba

    DOS- Disk Operating System

    TCLE- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    CNS- Conselho Nacional de Sade

    CEPSH- Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos

    ACS- Agente Comunitrio de Sade

    SPSS- Statistical Package for Social Science

    2

    qui-quadrado

    SUS- Sistema nico de Sade

  • 15

    SUMRIO

    LISTA DE MAPAS E ILUSTRAES..................................................................................

    LISTA DE QUADROS..............................................................................................................

    LISTA DE TABELAS................................................................................................................

    LISTA DE SIGLAS....................................................................................................................

    1 INTRODUO....................................................................................................................17

    2 REVISO DA LITERATURA...........................................................................................19

    2.1 Cncer.................................................................................................................................19

    2.2 Carcinoma de Clulas Escamosas.......................................................................................20

    2.3 Epidemiologia do Carcinoma de Clulas Escamosas Oral.................................................23

    2.4 Fatores associados ao CCEO..............................................................................................25

    2.4.1 Dieta e cncer geral..........................................................................................................28

    2.4.2 Dieta e CCEO..................................................................................................................32

    3 OBJETIVOS.........................................................................................................................35

    4 HIPTESE...........................................................................................................................36

    5 MATERIAL E MTODOS.................................................................................................37

    5.1 Desenho do estudo..............................................................................................................37

    5.2 Populao do estudo............................................................................................................39

    5.3 Tamanho da amostra...........................................................................................................39

    5.4 Critrios de elegibilidade....................................................................................................40

    5.5 Seleo da amostra..............................................................................................................41

    5.6 Elenco de variveis.............................................................................................................42

    5.7 Instrumento da coleta de dados..........................................................................................49

    5.8 Equipe de trabalho e treinamento........................................................................................51

    5.9 Princpios ticos..................................................................................................................52

    5.10 Estudo piloto.....................................................................................................................52

    5.11 Estudo principal................................................................................................................54

    5.12 Processamento dos dados.................................................................................................55

  • 16

    5.13 Anlise Estatstica.............................................................................................................56

    5.13.1 Anlise descritiva...........................................................................................................56

    5.13.2 Anlise univariada..........................................................................................................56

    5.13.3 Anlise multivariada......................................................................................................56

    5.14 Fluxograma explicativo da metodologia empregada........................................................57

    6 RESULTADOS....................................................................................................................58

    6.1 Estatstica descritiva............................................................................................................58

    6.2 Anlise Univariada..............................................................................................................67

    6.3 Anlise Multivariada...........................................................................................................71

    7 DISCUSSES.......................................................................................................................73

    7.1 O mtodo.............................................................................................................................73

    7.2 Os Resultados......................................................................................................................76

    8 CONCLUSES....................................................................................................................81

    9 REFERNCIAS...................................................................................................................82

    APNDICES...........................................................................................................................

    ANEXOS....................................................................................................................................

  • 17

    1. INTRODUO1

    O cncer, em especial, o de cabea e pescoo, considerado um problema de sade

    pblica, decorrente de sua expressiva incidncia e mortalidade, particularmente nos pases em

    desenvolvimento. Dentre os 6,4 milhes de neoplasias malignas diagnosticadas no mundo,

    aproximadamente 10% acometem a boca, sendo esse o sexto tipo de cncer mais incidente em

    vrios pases do mundo (AUGUSTO, 2007 e MELO et. al., 2010).

    O cncer oral uma categoria abrangente de localizao para neoplasias, e inclui

    tumores de diferentes etiologias e perfis histolgicos, embora a maioria se refira ao carcinoma

    de clulas escamosas (CCE) (PERES e ANTUNES, 2006).

    A incidncia do cncer oral, especificamente o CCE, tem aumentado no Brasil nas

    ltimas dcadas, acompanhando o aumento no consumo de tabaco e de bebidas alcolicas

    (GUERRA, GALLO, MENDONA, 2005). Segundo o Instituto Nacional do Cncer INCA

    (INCA, 2011), estima-se, para o ano 2012-2013, a ocorrncia de 518.510 casos novos de

    cncer no Brasil, sendo que 14.170 desses acometeriam a cavidade oral (localizao

    primria).

    Os dados estatsticos do INCA indicam que, no Brasil, alm da alta incidncia do

    cncer, cerca de 30% dos pacientes portadores de neoplasias de cabea e pescoo, apresentam

    taxa de sobrevida de no mximo cinco anos (INCA, 2011). Acredita-se que este fato esteja

    relacionado, principalmente, a um diagnstico tardio. No entanto, inmeras evidncias

    cientficas apontam que a preveno, a adoo de hbitos saudveis como reduo no

    consumo de lcool e tabaco, alm de cotrole alimentar e o diagnstico precoce, podem reduzir

    a morbidade e mortalidade do cncer oral (SCULLY, 2011).

    O desenvolvimento das vrias formas de cncer, incluindo o carcinoma de clulas

    escamosas oral (CCEO), resulta de uma interao entre fatores internos como predisposio

    gentica e fatores exgenos, como ambientais e comportamentais, de cuja integrao pode

    resultar a manifestao da doena, sendo a dieta o mais notvel desses fatores (GARFOLO

    et. al., 2004). H vrias evidncias de que a alimentao tem um papel importante nos

    estgios de iniciao, promoo e propagao do cncer. Entre as mortes pelos diversos tipos

    de cncer atribudos a fatores ambientais, a dieta alterada contribui com cerca de 35-55%,

    seguida pelo tabaco (30%), e outros, como condies de trabalho, lcool, poluio e aditivos

    alimentares, os quais contribuem com menos de 5%. Os fatores relacionados predisposio 1 Segui as normas da ABNT-NBR 14724

  • 18

    gentica contribuem com os 10% restante (GARFOLO et. al., 2004; TAGHAVI e YAZDI,

    2007).

    A maioria das pessoas consome uma grande variedade de alimentos, com uma

    combinao de diversos nutrientes, e cujos padres dietticos, muitas vezes, mudam ao longo

    do tempo e de acordo com as diferentes regies do Brasil. A alimentao da populao

    nordestina, em especial, da Paraba, tem suas razes mergulhadas no tempo da colonizao

    (MAIOR, 1984): rica em gordura animal, carboidratos (arroz, inhame, mandioca e farinha),

    carne vermelha (processada) e doces, hbitos alimentares considerados potencialmente

    favorveis para o desenvolvimento do cncer oral. Estudos revelam uma associao positiva

    entre a baixa ingesto de frutas e vegetais frescos, e o alto consumo de aucares, leos e carne

    processada, com o risco aumentado de cncer oral (FRANCESCHI et. al., 1999;

    WARNAKULASURIYA, 2009). Assim, acredita-se que os padres dietticos adotados por

    um indivduo, famlia ou populao determinaro seu estado de sade (LIMA, et. al., 2003).

    Do ponto de vista epidemiolgico, as escolhas alimentares e os nutrientes podem

    representar um conjunto de exposies simultneas na dieta. Assim, ora os nutrientes podem

    atuar como protetores ora como coadjuvantes na ocorrncia de doenas. Por isso, avaliar a

    exposio dieta complexo e representa um desafio para aqueles que pretendem estudar a

    associao entre nutrio e doenas, em especial o cncer (MARCHIONI et. al., 2005). Isso

    se deve ao fato de que o resultado da pesquisa depende, sobretudo, da qualidade da

    informao, atravs do uso de um instrumento de registro validado e especfico para

    populao em estudo (registro de consumo alimentar), do controle dos possveis vieses

    (seleo e de informao) e dos possveis efeitos de confuso (anlise das co-variveis como

    etilismo e tabagismo) (MARCHIONI et. al., 2005; MATARAZZO et. al., 2006).

    Em virtude da alta taxa de incidncia e mortalidade pelo cncer, bem como da

    participao dos fatores ambientais na etiopatognese da leso, o propsito do presente estudo

    consiste em: avaliar se existe associao entre a dieta e o CCEO em uma populao brasileira.

  • 19

    2. REVISO DA LITERATURA

    2.1 CNCER

    De acordo com a literatura, o conceito de neoplasia significa crescimento novo,

    enquanto neoplasma definido como uma massa de tecido anormal, cujo crescimento

    descontrolado e ultrapassa o tecido normal, persistindo de maneira excessiva aps o termino

    dos estmulos que provocaram a alterao (STRICKER E KUMAR, 2009).

    Na terminologia mdica, neoplasma reportado como um tumor, e seu estudo

    chamado de oncologia (oncos, tumor e logos, estudo de). Na oncologia as neoplasias so

    divididas em duas categorias: benignas e malignas. Tumores benignos geralmente apresentam

    caractersticas relativamente inofensivas. Enquanto os tumores malignos tambm conhecidos

    como cnceres (termo derivado do latim, a partir da palavra caranguejo) so leses mais

    agressivas, que se adere a qualquer parte, podem invadir e destruir estruturas adjacentes,

    disseminar para locais distantes (metstase) e causar a morte (STRICKER E KUMAR, 2009).

    O cncer definido como uma enfermidade multifatorial crnica caracterizada por

    alteraes genticas e epigenticas que determinam um crescimento celular desordenado e

    no controlado pelo organismo (SOUZA JNIOR, 2006). A manifestao de um fentipo

    neoplsico completo envolve mutaes herdadas, derivadas de clulas germinativas e

    mutaes somticas em classes de genes denominados Oncogenes e Genes Supressores de

    Tumor (GST). As mutaes herdadas representam uma pequena frao de todas as mutaes

    verificadas em cnceres, pois sua maioria de origem somtica, causadas espontaneamente

    ou induzidas por fatores ambientais (SOUZA JNIOR, 2006). .

    A gnese e o desenvolvimento do tumor dependem de inmeras alteraes

    moleculares que ocorrem no DNA, onde os oncogenes esto envolvidos. Os Oncogenes so

    genes que codificam protenas reguladoras de crescimento e de diferenciao celular, quando

    esto ativados (SALAS et. al., 2003). Nas clulas normais, os Oncogenes esto inativos ou

    sub-expressos, sendo ento denominados de Proto-oncogenes (COLOMBO e RAHAL, 2009).

    Os Oncogenes so classificados de acordo com a funo de seus produtos em: fatores de

    crescimento, receptores transmembrnicos, mensageiros citoplasmticos e fatores nucleares

    de transcrio (SOUZA JNIOR, 2006).

    A literatura relata que no s a ativao dos Oncogenes capaz de dar origem a uma

    clula neoplsica. A inativao dos Genes Supressores de Tumor (GST) tambm pode ser

    considerada como um dos eventos iniciais da carcinognese. Tais genes agem ora

  • 20

    interrompendo o ciclo celular, ora levando a clula a apoptose, impedindo, portanto, a

    perpetuao de mutaes incompatveis com o funcionamento celular (SOUZA JNIOR,

    2006).

    O cncer pode se originar do tecido mesenquimal ou de seus derivados, sendo

    classificados como sarcomas, ou do tecido epitelial quando so denominados carcinomas. Os

    carcinomas podem ser ainda mais especificados de acordo com o tecido epitelial de origem

    em: adenocarcinomas, que apresentam origem glandular e carcinomas de clulas escamosas,

    que se originam nas clulas do epitlio de revestimento das mucosas (STRICKER E

    KUMAR, 2009).

    2.2 CARCINOMA DE CLULAS ESCAMOSAS

    O carcinoma da cabea e pescoo constitui um grupo heterogneo de doenas com

    uma complexidade de anormalidades moleculares, e so responsveis pela alta morbidade-

    mortalidade de cncer. Eles podem se originar a partir de leses pr-malignas, devido a um

    processo de expanso clonal com a acumulao de alteraes genticas. Estas alteraes

    resultam na inativao dos genes supressores de tumor e na ativao de Proto-oncogenes,

    (LOSI-GUEMBAROVSKI et. al., 2009).

    Dentre os carcinomas de clulas escamosas da cabea e pescoo, o mais comum est

    localizado na boca (AUGUSTO, 2007). Os principais Oncogenes relacionados com o

    carcinoma de clulas escamosas oral (CCEO) so o hras (Harvey rat sarcoma) e o myc

    (myelocytomatosis viral oncogene) (SOUZA JNIOR, 2006). Sabe-se que as protenas

    codificadas por genes da famlia RAS esto relacionadas com o controle mittico, enquanto

    que as mutaes no gene MYC, esto relacionadas a um comportamento tumoral mais

    agressivo e a um pior prognstico da doena (STRICKER e KUMAR, 2009).

    Embora em nmero reduzido, as alteraes nos genes supressores de tumor so vistas

    como as mais significativas na promoo da carcinognese. Tais alteraes no GST p53,

    ocorrem devido produo de uma protena de 53 KD, que est presente em quase todas as

    neoplasias humanas e em 33 a 76% dos casos de cncer oral. Alm do p53, os genes cdkN2A

    (cyclin-dependent kinases) e rb1 (retinoblastoma gene) tambm foram observados em

    porcentagens elevadas, correspondendo entre 19% a 89% e 6% a 74% respectivamente

    (SOUZA JNIOR, 2006).

  • 21

    O termo cncer de boca engloba um conjunto de neoplasias que acometem a cavidade

    oral em suas mais variadas etiologias e aspectos histopatolgicos (DEDIVITIS et. al., 2004).

    O carcinoma de clulas escamosas (CCE), tambm denominado carcinoma epidermide,

    carcinoma escamocelular e carcinoma espinocelular de boca corresponde entre 90% a 95%

    dos casos de cncer na boca (BRENER et al., 2007). A percentagem restante refere-se a

    sarcomas, melanomas e tumores malignos de glndulas salivares (adenocarcinomas)

    (AUGUSTO, 2007).

    Os termos cncer de boca, cncer bucal e cncer oral so muito abrangentes e

    podem gerar confuses, devido falta de especificaes. Ao se referir ao cncer bucal, alguns

    autores excluem tumores nos lbios e/ou glndulas salivares, outros estudos, ampliam o

    recorte temtico e incluem os tumores de amgdala e orofaringe, e ainda outros, abordam o

    termo cncer de boca em conjunto com o cncer de faringe (MOORE et. al., 2000). Tambm

    bastante frequente a abordagem em conjunto das neoplasias de hipofaringe e laringe, em

    funo da dificuldade em diferenciar a localizao primria desses tumores (BIAZEVIC e

    ANTUNES, 2006). Tendo em vista multiplicidade dos recorte anatmicos nos estudos,

    convm ressaltar a prevalncia da caracterizao histopatolgica do carcinoma de clulas

    escamosas para ambas topografias (TEIXEIRA et. al., 2009) (QUADRO 1).

    QUADRO 1: Classificao topogrfica dos tipos de neoplasias considerados em estudos sobre cncer

    oral.

    Autores, ano Local do estudo Topografias consideradas

    Pindborg, 1977 Vrios pases Lbios, lngua e cavidade bucal.

    Nandakumar et. al.,

    1990

    Bangalore, ndia. Lbios, lngua (exceto a base), alvolo e cavidade bucal.

    Chen et. al., 1991 Connecticut, EUA Lngua e cavidade bucal

    Neves, 1994 So Paulo, Brasil. Lbios, lngua, cavidade bucal, glndulas salivares,

    amgdala, orofaringe, nasofaringe e hipofaringe.

    La Vecchia et. al.,

    1997

    Vrios pases Lbios, lngua, glndulas salivares, boca, orofaringe,

    nasofaringe e hipofaringe.

    Oliveira, Ribeiro-Silva

    e Zucoloto, 2006.

    So Paulo, Brasil. Lbios, palato duro, gengiva, mucosa jugal e alveolar,

    assoalho, regio retromolar e 2/3 anteriores da lngua.

    Naganuma et. al., 2008 Miyagi, Japo Lbios e cavidade oral.

    Teixeira et. al., 2009 Fortaleza, Brasil Lbios, lngua, rebordo gengival, assoalho, palato duro,

    mucosa jugal e rea retromolar.

    Sharma, Saxena e

    Aggarwal, 2010.

    Uttar Pradesh, ndia. Lngua, assoalho, palato duro, mucosa bucal, mucosa labial

    e rea retromolar.

  • 22

    Assim, de fundamental importncia a distino da cavidade bucal (tero anterior da

    lngua, lbios, assoalho bucal e palato duro) da regio da orofaringe, que inclui palato mole,

    base da lngua, regio tonsilar e faringe posterior, onde as caractersticas clnicas, o

    prognstico da leso e a sensibilidade radioterapia so distintos (OLIVEIRA, RIBEIRO-

    SILVA E ZUCOLOTO, 2006).

    O CCEO e de orofaringe apresenta um comportamento bastante agressivo,

    apresentando metstase cervical precoce e com frequncia, geralmente contralateral, j que,

    sobretudo em orofaringe, os vasos linfticos cruzam a linha mdia. O cncer da orofaringe

    ainda tem como agravante ser oligossintomtico no incio, seja devido ao padro de inervao

    sensitiva, dada pelo glossofarngeo, ou devido superfcie irregular da mucosa, em especial a

    das tonsilas palatinas, com suas criptas, onde um pequeno carcinoma pode ficar oculto ao

    exame clnico, ou ainda pelo padro de inspeo do paciente, nem sempre muito atento

    (DEDIVITIS et. al., 2004).

    O CCEO uma neoplasia maligna que se origina no epitlio de revestimento,

    especificamente na membrana basal da mucosa oral, sendo considerada a neoplasia maligna

    mais comum da cavidade oral (BRENER et. al., 2007). histopatologicamente caracterizado

    por ilhas e cordes invasivos de clulas epiteliais malignas, que mostram direo a uma

    morfologia escamosa (NEVILLE et. al., 2009).

    A leso apresenta-se clinicamente de forma mais frequente como uma lcera

    sintomtica ou assintomtica e esta, geralmente, progridem para uma nodulao exoftica

    sintomtica ou assintomtica ou para um tumor com superfcie ulcerada. A maioria comea

    com uma ulcerao superficial e progride para uma invaso direta de estruturas mais

    profundas, tornando-se uma massa mais firme, imvel e endurecida (SIQUEIRA et. al.,

    2010).

    Em relao localizao, o stio anatmico de maior envolvimento no CCEO a

    lngua, principalmente as superfcies pstero-lateral e ventral, que corresponde a 44% dos

    casos em boca, seguido do assoalho bucal com 16% destes (NEVILLE et. al., 2009; BRENER

    et al., 2007). Segundo Augusto (2007) a localizao anatmica do CCEO depende dos tipos

    de fatores de risco, destacando, por exemplo, o cncer de palato que mais comum em

    fumantes de cachimbo, na mucosa jugal e assoalho, mais frequente em mascadores de fumo,

    enquanto na lngua, assoalho e gengiva inferior, nos fumantes e alcolatras. J o cncer na

    regio de lbio, principalmente na regio inferior, depender da intensidade e da frequncia de

    exposio luz solar.

  • 23

    A localizao anatmica considerada um fator de influncia no plano de tratamento e

    prognstico, visto que os tumores apresentam comportamento clnico diferente, conforme sua

    localizao e fator de risco associado (BRENER et. al., 2007).

    O tratamento do CCEO guiado pelo estgio clnico da doena e consiste em:

    cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou uma combinao de terapias (NEVILLE et. al., 2009).

    A cirurgia deve permanecer como terapia de escolha para o CCEO, sendo que a modalidade

    varia de acordo com a extenso clnica ou estadiamento da doena no diagnstico, e pode

    variar de uma exciso local at uma remoo ampla. A radioterapia deve ser indicada quando

    o paciente no apresentar condies clnicas para ser submetido cirurgia ou no aceitar as

    possveis sequelas que esta possa deixar. A quimioterapia adjuvante ou paliativa deve ser

    indicada em leses muito grandes ou irressecveis. Enquanto a terapia combinada (cirurgia e

    radioterapia) pode ser indicada para os casos em que a leso no pode ser removida

    cirurgicamente com margem de segurana ou quando o tumor se apresenta em fase avanada

    no momento do diagnstico (BRENER et. al., 2007).

    Apesar da natureza radical do tratamento do CCEO, as recorrncias so comuns,

    havendo a necessidade de novos indicadores de prognstico, que possam ser utilizados no

    diagnstico e na seleo do mtodo de tratamento mais eficaz (ZYGOGIANNI et. al., 2011).

    2.3 EPIDEMIOLOGIA DO CARCINOMA DE CLULAS ESCAMOSAS ORAL

    As neoplasias malignas da cavidade oral constituem-se em srio problema de sade

    pblica no Brasil e no mundo. A Organizao Mundial da Sade (OMS) estimou que, no ano

    de 2008, haveria 264 mil casos novos de cncer oral e 128 mil bitos, sendo o maior efeito do

    aumento dos casos de cncer oral em pases subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como

    as populaes do centro-sul Asitico, Europa Oriental e Central, frica e Amrica Central

    (INCA, 2011).

    Seguindo a tendncia mundial, o Brasil, a partir dos anos 60, tem passado por

    processos de transio que produziu importantes mudanas no perfil das enfermidades que

    acometem a populao. Houve uma progressiva ascenso da incidncia e mortalidade das

    doenas crnico-degenerativas, em detrimento das doenas infecciosas e parasitrias,

    denominada transio epidemiolgica (INCA, 2011). Tal passagem teve como principal fator

  • 24

    o envelhecimento da populao, resultante do intenso processo de industrializao e das aes

    de promoo e recuperao da sade (PEREZ et. al., 2007).

    O CCEO encontra-se na stima colocao entre as neoplasias malignas mais

    prevalentes no Brasil (PEREZ et. al., 2007). Sem considerar os tumores da pele no

    melanoma, o CCEO em homens o quarto mais frequente na regio Nordeste, nas regies

    Sudeste e Centro-Oeste, ocupa a quinta posio, enquanto, nas regies Sul e Norte, o sexto

    mais frequente. Para as mulheres, o CCEO o oitavo mais frequente na regio Nordeste, o

    nono, nas regies Sudeste e Norte, enquanto, nas regies Centro-Oeste e Sul, ,

    respectivamente, o 12 e o 15 mais incidente (INCA, 2011).

    Estimam-se em 2012, para a Regio Nordeste 2.550 novos casos de CCEO, dos quais

    250 estariam localizados no Estado da Paraba. A estimativa dos novos casos por gnero, na

    Paraba, acompanha a predominncia pelo gnero masculino dos outros estados brasileiros,

    com estimativa de 160 novos casos para o gnero masculino, enquanto 90 novos casos

    acometeriam as mulheres (INCA, 2011).

    As taxas de incidncia e mortalidade do CCEO variam de um pas para outro, assim

    como dentro do Brasil, de acordo com as cinco regies do pas (BRENER et. al., 2007).

    Estudos recentes sobre tendncias do CCEO destacam alm das variaes por localizao

    geogrfica, as variaes por gnero, idade e raa (SHARMA, SAXENA e AGGARWAL,

    2010). Por esta razo, torna-se importante conhecer o perfil do CCEO, no s do ponto de

    vista da patogenia e da epidemiologia, mas para auxiliar no direcionamento de campanhas de

    preveno, especialmente em populaes com caractersticas socioeconmicas e culturais

    especficas (ANJOS HORA et. al., 2003; BRENER et. al., 2007).

    Em relao ao gnero, as taxas de mortalidade do CCEO apresentam certo declnio na

    populao masculina na maioria dos pases, diferente da populao feminina. No Brasil, com

    a mudana no comportamento feminino, que passou a se expor mais a associao lcool-

    tabaco, houve um aumento do CCEO nas mulheres, com consequente reduo da razo

    homem: mulher (BRENER et. al., 2007). A estimativa mais recente do Instituto Nacional do

    Cncer prev uma razo de 2,39 casos em homens para cada mulher diagnosticada (INCA,

    2011).

    No passado, o CCEO, assim como outros tipos de carcinomas, apresentava maior risco

    de acordo com o aumento da idade, principalmente em homens idosos, em decorrncia de

    fatores de risco, como o tabaco e o uso excessivo do lcool (ZYGOGIANNI et. al., 2011). De

    acordo com Neville et. al., 2009 os homens brancos com mais de 65 anos, apresentavam

    maior risco que qualquer outro grupo. Segundo Oliveira, Ribeiro-Silva e Zucoloto (2006) o

  • 25

    CCEO mais frequente em homens, com mais de 75% dos casos diagnosticados na faixa

    etria dos 60 anos. Estudos recentes tm demonstrado um aumento na incidncia de CCEO

    em pacientes menores de 40 anos, principalmente estudos caso-controle, que indicaram o

    CCEO apresentando similaridade nas faixas etrias de menos e mais de 40 anos

    (ZYGOGIANNI et. al., 2011).

    Em relao raa, a incidncia do CCEO tem aumentado significativamente,

    principalmente em pessoas de meia-idade, sendo mais prevalente nos afro-americanos,

    enquanto as mulheres brancas ou no brancas apresentam uma incidncia muito menor que os

    homens, independente da faixa etria (NEVILLE et. al., 2009).

    Brener et. al., (2007) ressaltaram que o conhecimento da distribuio das taxas de

    incidncia e de mortalidade de tumores malignos, inclusive do CCEO, de grande

    importncia para o estabelecimento de diretrizes de polticas pblicas e para o planejamento

    de aes de preveno e controle do cncer.

    2.4 FATORES ASSOCIADOS AO CCEO

    A causa do CCEO no depende de um fator causador (carcingeno) isolado, mas da

    atuao conjunta de vrios fatores (NEVILLE et. al., 2009).

    A exposio a fatores de risco ambientais (extrnsecos) relacionados com o processo

    de urbanizao e desenvolvimento tecnolgico, como o tabagismo, o etilismo, alm de outros

    fatores relacionados com as disparidades sociais contribuem para a distribuio

    epidemiolgica dos diversos tipos de cncer no Brasil (PEREZ et. al., 2007). Para Siqueira et

    al., (2010) so raros os casos de CCE de cavidade oral e faringe que se devem exclusivamente

    a fatores hereditrios, familiares ou tnicos (fatores intrnsecos), pois a hereditariedade no

    exerce papel importante na oncognese. Apenas 5-10% dos casos de cncer so devidos a

    defeitos genticos, 90-95% so associados a fatores de estilo de vida ou a agentes ambientais

    (fatores modificveis), que envolvem o tabagismo, a dieta, o lcool, a exposio ao sol e

    poluentes (LA VECCHIA, RANDALL e WYNDER, 1988; GONZALEZ e RIBOLI, 2010).

    O tabaco e o lcool tm sido relatados na literatura como os principais fatores de risco

    para o CCEO (BIAZEVIC e ANTUNES, 2006). A combinao destes dois fatores

    responsvel por 65% a 90% das neoplasias orais (SOUZA JNIOR, 2006). Estudos relatam

    que o risco de desenvolvimento de CCEO em indivduos que consomem tabaco sob a forma

  • 26

    de cigarro, charuto, cachimbo ou mascado chega a 90%, e entre os que relatam nunca ter

    fumado, a proporo homem: mulher se inverte, com as mulheres representando a maioria do

    grupo (BRENER et. al., 2007).

    De acordo com o risco de desenvolvimento de CCEO em fumantes de cigarro

    industrializado 6,3 vezes maior do que em no-fumantes. Este risco aumenta para para sete

    vezes em consumidores de cigarro de palha, e para 14 vezes em usurios de cachimbo, sendo

    raros os casos de portadores de CCEO que relataram nunca terem fumado (BRENER et. al.,

    2007). Os autores afirmaram que a reduo do risco de desenvolvimento do cncer oral em

    um nvel prximo ao dos que nunca fumaram percebida dez anos aps a interrupo do

    hbito de fumar. Essa reduo do risco pode ser de 15 anos para ex-fumantes de cigarro

    industrializado e 20 anos para ex-fumantes de cigarro feito com fumo de rolo.

    Em relao ao consumo de bebidas, este tem sido identificado como um fator

    associado ao cncer esfago e laringe. Para estes tipos de neoplasias, o lcool atuaria no

    apenas como fator de risco independente, mas associado ao tabaco, aumentando em at 100

    vezes o risco da doena (BIAZEVIC e ANTUNES, 2006). O lcool sozinho no pode ser

    associado fase iniciadora da carcinognese oral, acredita-se que ele possa promov-la ao

    potencializar os efeitos carcingenos do tabaco, proporcionando aumento na incidncia em

    faixas etrias mais precoces, tanto nas mulheres quanto nos homens (BRENER et. al., 2007).

    Adicionalmente h tambm evidncias de que hbitos alimentares com baixos padres

    nutricionais associados a estilo de vida podem ser fatores coadjuvantes na etiologia do CCEO

    (TEIXEIRA et. al., 2009). Estudos epidemiolgicos relataram que o consumo de frutas e

    vegetais ricos em vitaminas A e C esto inversamente relacionados ao risco de CCEO,

    enquanto o consumo excessivo de protenas, gorduras, carboidratos, conservantes e aditivos

    so considerados fatores de risco (COLOMBO e RAHAL, 2009).

    O Relatrio Mundial sobre Cncer (WORLD CANCER REPORT) da OMS e da

    Agncia Internacional para Pesquisa sobre Cncer (AICR) apontou o fumo, o consumo de

    lcool e fatores relacionados dieta como os principais fatores de risco para o CCEO

    (BIAZEVIC e ANTUNES, 2006). Alm desses, outros cofatores de risco adicionais podem

    contribuir na carcinognese do CCE de cabea e pescoo (CCECP) (TEIXEIRA et al., 2009).

    Com relao aos fatores ocupacionais de risco para o CCEO e orofaringe, h

    indicaes na literatura apontando sua prevalncia mais elevada em trabalhadores com

    reduzida qualificao profissional (BIAZEVIC e ANTUNES, 2006). Trabalhadores de

    oficinas mecnicas e industriais, como a metalurgia e petroqumica, configuram-se como uma

    situao de risco para esse tipo de tumor, independente da idade e do consumo de lcool e

  • 27

    tabaco, assim como pintores, aougueiros e condutores de veculos a motor. Esse achado

    provavelmente se deve exposio a diversos produtos (vapores, cidos e solventes)

    decorrentes do seu processo de trabalho (ANDREOTTI et. al., 2006; COLOMBO e RAHAL,

    2009).

    A exposio frequente a luz solar tambm tem sido relatada como elemento que

    favorece o aumento do risco de CCEO, principalmente para o CCE de lbio inferior

    (TEIXEIRA et al., 2009). A leso referida inicia-se a partir de uma leso cancerizvel crnica,

    chamada queilite actnica, e se transforma em CCE (BRENER et. al., 2007), e que afeta, em

    especial, pessoas que trabalham em ambiente externo, como estivadores, porturios,

    marinheiros, agricultores e trabalhadores da pesca e da construo civil (BIAZEVIC e

    ANTUNES, 2006).

    Os agentes biolgicos tambm tm sido apontados entre os fatores de risco para o

    CCECP, tais como: a infeco na regio de orofaringe pelo papilomavrus humano (HPV),

    transmitido sexualmente ou no momento do parto, principalmente os subtipos 16 e 18

    (COLOMBO e RAHAL, 2009); e a infeco pelo vrus Epstein-Barr, importante na infeco

    do cncer na regio de nasofaringe (BIAZEVIC e ANTUNES, 2006).

    H evidncias substanciais que o refluxo gstrico aumenta o risco do CCEO. Alguns

    estudos tm encontrado que o refluxo laringo-farngeo, aquele onde o cido do estmago

    retorna para cima, para a laringe e / ou faringe, pode causar danos e inflamao crnica na

    cavidade oral e est implicado entre os fatores de risco do CCEO, de faringe e de laringe

    (WORLD CANCER RESEARCH FUND, 2007).

    Um das principais formas de preveno do CCEO so o conhecimento e a eliminao

    dos fatores de risco envolvidos na sua etipatogenia (SIQUEIRA et. al., 2010). Embora tenham

    ocorrido avanos quanto compreenso dos fatores associados ao cncer, sua incidncia

    projetada para aumentar nas prximas dcadas. Assim, existe a necessidade de estratgias

    eficazes de preveno, lembrando que os hbitos alimentares so reconhecidos como fatores

    modificveis que podem influenciar no risco para o cncer (ROSS, 2010).

  • 28

    2.4.1 DIETA E CNCER GERAL

    Uma boa nutrio e dieta so fatores essenciais na promoo e na manuteno da

    sade durante todo o curso da vida (MARCHIONI et. al., 2005). A nutrio refere-se ao

    estado das clulas do corpo em relao aos nutrientes necessrios para seu crescimento

    fisiolgico e metabolismo (TAGHAVI e YAZDI, 2007). A alimentao no se resume

    apenas aos nutrientes. O ato de comer e a dieta so influenciados por diversos fatores como os

    valores culturais, sociais, afetivos, sensoriais, o conhecimento cientifico, as religies e a

    condio econmica do individuo (RODRIGUES et. al., 2007).

    A OMS ressalta que cerca de 35 a 55% dos diversos tipos de cncer e

    aproximadamente 15% dos cnceres de orofaringe ocorrem em razo de dietas inadequadas

    (SOUZA JNIOR, 2006). A relao entre a dieta e o cncer ocorre a partir de dois diferentes

    aspectos: o efeito direto das substncias cancergenas presentes nos alimentos (carcinognese

    direta) e na sntese in vivo de agentes cancergenos causados por alteraes no metabolismo,

    devido a dietas alteradas, conhecida como carcinognese indireta (TAGHAVI e YAZDI,

    2007). A estes efeitos da dieta se somam o consumo energtico, o sedentarismo, o risco de

    obesidade como principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, envolvidos em

    muitas doenas sistmicas, incluindo o cncer (PALACIOS; JOSHIPURA e WILLET, 2009).

    O ltimo relatrio sobre as substncias cancergenas para seres humano produzido

    pela Agncia Internacional para Pesquisa sobre o Cncer (IARC) classificou os contaminantes

    dos alimentos em trs tipos: carcinognico, possvel carcinognico e provavelmente

    carcinognico para humanos. Dentre os carcingenos humanos mais conhecidos destacam-se

    as aflatoxinas, que so uma classe de metablitos txicos produzidos por uma espcie de

    fungo (Aspergillus flavus), que pode infectar amendoim, nozes e gros e considerado uma

    das principais causas de cncer de fgado. Outro carcingeno conhecido por causar cncer de

    boca, faringe, laringe, esfago e fgado o etanol, encontrado em bebidas alcolicas

    fermentadas e destiladas. O etanol, por sua vez, pode produzir em humanos, aps sua

    ingesto, um metablito conhecido por acetaldedo, que pode ser considerado a base para o

    aumento dos cnceres relacionados com o lcool (ABNET, 2007).

    Em relao aos contaminantes possivelmente carcinognicos para humanos destacam-

    se: as nitrosaminas, responsveis por tumores no fgado, rim, pulmo e cavidade nasal, e so

    encontradas em alimentos defumados, carnes em conserva e algumas bebidas alcolicas; as

    fumonisinas (metablito produzido pelo fungo Fusariun verticilliodes), encontradas no milho

    e geralmente associadas ao CCE de esfago; e o caf, associado ao cncer de bexiga e o de

  • 29

    pncreas. J os carcingenos provavelmente carcinognicos para humanos, podem ser

    caracterizados: pelo benzopireno (hidrocarboneto aromtico policclico), encontrado nos

    alimentos cozidos utilizando carvo e que so responsveis por tumores de pulmo, fgado,

    mama e tero; pelo mate, erva muito usada no sul do Brasil, responsvel provavelmente por

    tumores de boca, orofaringe e esfago; pela acrilamida, resultante do cozimento em altas

    temperaturas ou fritura da batata (JAN-SALAS et. al., 2003; PELUCCHI et. al., 2003;

    ABNET, 2007).

    Uma dieta rica em gorduras, lcool e ferro e/ou pobre em protenas, vitaminas (A, E,

    C, B2) e alguns minerais (tais como clcio e selnio) so considerados importantes fatores de

    risco para o cncer em geral (AUGUSTO, 2007). Uma dieta caracterizada pelo consumo

    freqente de frutas, verduras, carboidratos, legumes e peixe, baixo consumo de carne e queijo,

    e uso abundante de azeite para tempero, chamada dieta mediterrnea, tm sido relacionada a

    um risco reduzido no apenas de doenas cardiovasculares, mas tambm de cncer

    (BOSETTI, PELUCCHI e LA VECCHIA, 2009).

    Tal dieta inclui um complexo de dieta padres com componentes diferentes em vrias

    regies do Mediterrneo. Sugere-se que at 25% de cncer colorretal, 15% de cncer de

    mama e 10% de cncer de prstata, pncreas e cncer do endomtrio podem ser prevenidos

    atravs da adeso a uma dieta mediterrnea (LA VECCHIA, 2009). No entanto, as sociedades

    mediterrnicas tambm esto sendo cada vez mais influenciadas pelo padro da dieta

    ocidental, que rica em gros refinados, gorduras animais, acar, carne processada e pobre

    em verduras, frutas e cereais. Entre as explicaes possveis para tal mudana na qualidade da

    alimentao destacam-se as mudanas sociais, a acessibilidade e o preo crescente de alguns

    itens alimentares, que afetam negativamente no consumo alimentar, no ndice de massa

    corporal e, por sua vez, aumenta a incidncia dos vrios tipos de cnceres ( KRUKOWSKI e

    WEST, 2010; BONACCIO et. al., 2012).

    H fortes evidncias de que a alta ingesto de carne vermelha aumenta no s o risco

    de cncer colorretal, mas tambm de outros stios, como a cavidade oral e faringe, esfago,

    estmago, pulmo, mama, prstata, bexiga e rim (WORLD CANCER RESEARCH FUND,

    2007; AUNE et. al., 2009). Tal efeito negativo pode ser explicado pela presena da gordura

    saturada e do colesterol na carne. Sabe-se que a maior ingesto de gorduras aumenta a

    formao de cidos biliares secundrios (carcingenos para o clon e reto), mas tambm

    aumenta os nveis de estrgeno e andrgenos no plasma, diminui a resposta imune e aumenta

    o risco de sobrepeso e obesidade, que so fatores de risco para vrios tipos de cncer (SOUZA

    JNIOR, 2006; AUNE et. al., 2009).

  • 30

    Evidncias epidemiolgicas demonstraram que dietas ricas em gordura saturada (fonte

    de protena animal), especialmente a carne processada, aumentam o risco de cncer de mama

    em mulheres jovens. Isso ocorre em funo da presena de aminas heterocclicas,

    hidrocarbonetos aromticos e compostos nitrosos, que so considerados potencialmente

    cancergenos para o ser humano (LIMA et. al., 2008; PALACIOS; JOSHIPURA e WILLET,

    2009). Dietas ricas em gorduras mono e poli-insaturadas, principalmente na forma de azeite

    de oliva e manteiga (dieta mediterrnea tradicional) podem reduzir o risco de cncer de mama

    e de ovrio (BOSETTI et. al., 2002; BOSETTI, PELUCCHI, LA VECCHIA, 2009).

    H algumas dcadas o efeito protetor da fibra alimentar contra o cncer de clon e reto

    vem sendo evidenciado. Burkitt em 1971 relacionou a elevada ingesto de fibras com a baixa

    incidncia desse tipo de cncer entre a populao do leste da frica (SOUZA JNIOR,

    2006). Comparado com gros refinados, os cereais integrais possuem maior teor de fibras

    insolveis e diversos micronutrientes ricos em antioxidantes, flavonoides, isotiocianatos e

    fitoestrognios, importantes na reduo do risco do cncer colorretal (CHATENOUD et. al.,

    1998; LA VECCHIA, 2009). No entanto, a dificuldade em avaliar a relao entre a fibra da

    dieta e o cncer pode estar relacionada aos diversos tipos de fibras encontrados na

    composio dos alimentos (fibra vegetal, fibra das frutas e fibra dos cereais), bem como

    classe social e ao estilo de vida dos indivduos (CHATENOUD et. al., 1998; GARFOLO et.

    al., 2004; LA VECCHIA, 2009).

    As frutas e hortalias tm assumido posio de destaque nos estudos que envolvem a

    preveno do cncer. Aune e colaboradores em 2009 relacionaram a elevada ingesto de

    frutas e vegetais com o risco reduzido de cncer de esfago, pulmo, mama e prstata em uma

    populao do Uruguai. Evidncias epidemiolgicas j apontam que pessoas que consomem

    uma quantidade adequada diria de frutas frescas (principalmente as ctricas) e vegetais

    apresentam 50% de reduo no risco de cncer oral, do aparelho digestivo e trato respiratrio

    superior (WARNAKULASURIYA, 2009; FOSCHI et. al., 2010). Assim, tendo por base os

    resultados das vrias pesquisas avaliadas, os comits World Cancer Research Fund (WCRF) e

    The American Institute Cncer Research (IARC) foram unnimes em recomendar o aumento

    da ingesto de frutas e hortalias, devido ao seu efeito protetor na preveno do cncer em

    geral (AUNE, 2009).

    Recentemente alguns pesquisadores tm estudado sobre o papel de certos

    micronutrientes contidos nas frutas e vegetais e o risco para o desenvolvimento do cncer.

    Observou-se que a ingesto de carotenoides, flavonides, vitaminas E e D, clcio e cido

  • 31

    ascrbico foram inversamente relacionados com o risco de cncer de mama, cncer do trato

    digestivo, respiratrio e gstrico (LA VECCHIA, 2009).

    Os produtos lcteos so alimentos ricos em clcio, fsforo, potssio, vitaminas A e D,

    algumas vitaminas B e protenas, nutrientes benficos sade (PALACIOS; JOSHIPURA e

    WILLET, 2009). No entanto, os produtos lcteos tambm fornecem gorduras saturadas, por

    isso estudos recentes indicaram que o consumo elevado de leite e produtos lcteos (cerca de

    mais de 3 pores por dia) podem aumentar o risco de cncer de prstata (WORLD CANCER

    RESEARCH FUND, 2007).

    Outro aspecto a ser considerado na relao entre a dieta e o cncer, so os mtodos de

    preparo e conservao dos alimentos, visto que ambos podem colaborar de forma direta ou

    indireta no desenvolvimento de certos tipos de neoplasias (GARFOLO et. al., 2004). Para o

    autor o mtodo de conservao de conservas, picles e defumados, pode ocasionar a formao

    de nitratos e nitritos (carcingenos), responsveis em aumentar o fator de risco para tumores

    de estmago e esfago.

    A dieta humana e sua complexidade representa um desafio para aqueles que

    pretendem estudar a sua relao com doenas, principalmente o cncer. Isto se d porque a

    dieta tem sido tradicionalmente estudada em termos de nutrientes, no entanto, convm

    destacar que os alimentos contm outros compostos qumicos, alguns bem conhecidos, alguns

    pouco caracterizados e outros totalmente desconhecidos. Alm disso, a diversidade de

    combinao de alimentos pode levar ao antagonismo da concorrncia, ou seja, a relao real

    entre um grupo de alimentos e uma doena pode ser erroneamente atribuda a um nico

    componente. Do ponto de vista epidemiolgico, a dieta representa um complexo conjunto de

    exposies altamente correlacionadas que podem estar associadas ao risco de uma doena

    (MARCHIONI et. al., 2005; AMTHA et. al., (2009).

  • 32

    2.4.2 DIETA E O CCEO

    A dieta alimentar um tpico em evoluo na oncologia, porm de acordo com

    Augusto (2007) as deficincias nutricionais tornam o indivduo susceptvel a outros fatores de

    risco. O baixo risco de desenvolvimento de cncer oral verificado entre indivduos que

    consomem altos ndices de frutas ctricas, verduras (ricos em betacaroteno), peixes e leos

    vegetais outro ponto que enfatiza a importncia dos fatores nutricionais (FRANCESCHI et.

    al., 1999; AUGUSTO, 2007).

    Os efeitos de uma dieta desequilibrada e montona, rica em sopas, bolos, carne

    processada e ovos pode levar aos indivduos apresentarem maior chance de desenvolver um

    cncer de cavidade oral e faringe (FRANCESCHI et. al., 1999). Segundo Garavello e

    colaboradores (2008) o consumo de uma dieta mais variada, independente da sua frequncia e

    quantidade, pode ser considerado um indicador de proteo para o cncer de boca e

    orofaringe, pois indivduos que comem alimentos variados so mais propensos a consumir um

    nmero maior de componentes da dieta benfica, composta por frutas, vegetais e protenas.

    Estudos sobre a etiopatogenia do cncer oral revelaram o papel protetor de certos

    elementos da dieta, que so os fitoqumicos ou os micronutrientes. Inmeros fitoqumicos,

    como isoflavonas (genistena, daidzena), lignanas (matairesinol, secoisolariciresinol),

    terpenos e carotenides entre outros, presentes em diversos alimentos de origem vegetal, so

    identificados como tendo papel preventivo, pois atuam como antioxidantes, antimutagnicos

    ou na reduo da proliferao de clulas cancergenas (GARFOLO et. al., 2004; ROSSI et.

    al., 2007).

    Em uma recente reviso de evidncia realizada pelo WORLD CANCER RESEARCH

    FUND (2007) sobre o provvel efeito protetor de frutas e hortalias para cncer oral, foi

    destacado que o consumo dirio de uma poro de frutas ou vegetal foi associado com uma

    reduo de risco de 50% para o cncer de boca e de faringe. O efeito preventivo do cncer

    pelo consumo de frutas e legumes pode estar relacionado com a presena de alguns

    micronutrientes, tais como: caroteno, cido flico e vitaminas C, E e A e sua ao

    antioxidante nas clulas tumorais (NEGRI et. al., 2000; SUZUKI et. al., 2006). A vitamina A

    encontrada na natureza sob duas formas: em certos vegetais (couve e cenoura), conhecida

    como betacaroteno e em forma de vitamina pura, armazenada no fgado (JAN-SALAS et.

    al., 2003).

  • 33

    Os retinides (vitamina A) impedem a promoo e progresso tumoral de vrias

    maneiras: eles sequestram radicais livres, limitando assim a sua produo, atravs da ativao

    de processos de diferenciao celular; estimulam a sntese de glicoprotenas, que so

    mediadores de adeso celular e crescimento, bem como os receptores hormonais e

    estimuladores do sistema imunolgico sistema (TOLEDO et. al., 2010).

    As leguminosas tambm tm recebido destaque na literatura cientfica recente.

    Segundo Marchioni et. al., (2007), o feijo apresenta-se como fator protetor para o cncer

    oral, com tendncia significativa para diminuio do risco com o aumento do consumo.

    Atualmente seu consumo vem sendo recomendado por organizaes de sade, pois

    aparentemente colabora para a reduo de riscos das doenas crnicas no transmissveis.

    Esses gros so uma fonte de fibras dietticas, amido-resistente, oligossacardeos e

    carboidratos fermentveis. So tambm ricos em antioxidantes, incluindo minerais traos,

    compostos fenlicos, alm de cido ftico. Os gros integrais tm uma digesto e absoro

    mais lenta do que, por exemplo, alimentos refinados, e diminuem a resposta glicmica

    sangnea ps-prandial. Esses mecanismos, isoladamente ou em conjunto, poderiam explicar

    o efeito protetor atribudo a esse alimento, nas vrias fases do processo carcinognico

    (MARCHIONI et. al., 2007).

    O consumo regular, praticamente dirio, do prato brasileiro de diferentes classes

    econmicas, arroz e feijo, pode diminuir os riscos associados com o cncer oral,

    independente do consumo de lcool, tabaco, do grau de instruo e do local de nascimento.

    Essa mistura tradicional fornece protena de bom valor biolgico, com a vantagem de aportar

    fibras dietticas, carboidratos complexos, ser baixa em gorduras saturadas e no possuir

    colesterol (MARCHIONI et. al., 2007).

    Devido ao amplo consumo de caf em vrias populaes, inclusive no Brasil, vrios

    estudos epidemiolgicos tm sido realizados para analisar a relao entre o caf e o risco de

    cncer oral. A evidncia sobre o efeito do caf sobre o cncer de boca e orofaringe

    considerado como limitado- sem concluso, pois o caf no mencionado entre os outros

    fatores alimentares como modificvel para o risco de cncer de esfago. No entanto, em altas

    temperaturas, ele pode ser julgado como limitado- sugestivo (WORLD CANCER

    RESEARCH FUND, 2007; TVERDAL, HJELLVIK e SELMER, 2011).

    Alguns autores sugerem que a associao inversa entre o consumo de caf e o cncer

    oral pode estar relacionada com a presena de muitos produtos qumicos na bebida com

    propriedades antioxidantes e anti-mutagnica, cuja concentrao varia dependendo do tipo de

    cultivo do caf (Arbica ou Robusta- Conillon), torrefao e preparao (NAGANUMA et.

  • 34

    al., 2008; TURATI et. al., 2011). Em particular, o caf contm vrios compostos fenlicos

    (cido clorognico, cafico, ferlico e cido cumrico), melanoidinas e diterpenos (cafestol),

    que so utilizados para reduzir a genotoxicidade dos vrios cancergenos (TURATI et. al.,

    2011; AL-DAKKAK, 2011).

    A relao entre os vrios tipos de fibras e o cncer, em especial o de clon e reto, j

    foi amplamente investigada e discutida, no entanto, sobre o cncer de boca e faringe pouco se

    sabia (CHATENOUD et. al., 1998). Por isso, em 1997, um estudo foi realizado na Itlia, para

    verificar a relao inversa entre consumo de fibras e o cncer oral. Os resultados apontaram

    que as fibras so conhecidas por retardarem a digesto, a absoro dos carboidratos e a

    consequente resposta glicmica. Assim, os autores concluram que os diversos tipos de fibras

    (solveis e ou insolveis em lignina) tambm exerce uma proteo aparente contra o cncer

    oral, de faringe e de esfago, independente do hbito de fumar e beber (CHATENOUD et. al.,

    1998). As fibras tambm podem se ligar a certos cancergenos e limitar seu contato com o

    epitlio do trato digestivo alto, por isso uma dieta rica em fibras tende a ter um maior teor de

    antioxidantes (SOLER et. al., 2001).

    Uma dieta rica em alimentos fritos est relacionada com o aumento do risco de cncer

    do trato digestivo superior e de laringe (BOSETTI et. al., 2002). Mas uma explicao

    plausvel para ao direta das frituras sobre a cavidade oral ainda no tinha sido evidenciada.

    Galeone e colaboradores (2005) demonstraram que a fritura de alimentos ricos em protenas,

    como carnes, ovos e peixes, contribuem para formao das aminas heterocclicas, compostos

    cancergenos e mutagnicos, formados a partir do cozimento (fritura), em altas temperaturas

    em um tempo de cozimento prolongado. Tal alimentao confirmou a importncia da dieta na

    etiologia das neoplasias, incluindo o cncer oral.

    A abordagem do CCEO complexa, devido principalmente, ao desconhecimento e a

    falta de recursos dos profissionais de sade, alm de envolver o medo e o preconceito dos

    pacientes. Essas intercorrncias so prejudiciais, pois acabam atrasando o diagnstico e

    tratamento, e piorando o prognstico (BRENER et. al., 2007).

  • 35

    3. OBJETIVOS

    3.1 Objetivo Geral:

    Identificar o grupo alimentar no desenvolvimento de CCEO no estado da Paraba.

    3.2 Objetivos Especficos:

    -Identificar os grupos de alimentos que possuem risco para o desenvolvimento do

    CCEO;

  • 36

    4. HIPTESE

    Indivduos que consomem determinados grupos de alimentos, em frequncia e

    quantidade maior, apresentam um aumento no risco de desenvolvimento do CCEO, quando

    comparados a indivduos sem histrico de cncer.

    4.1 Hiptese nula:

    O consumo de determinadas alimentos no interfere no risco de desenvolvimento do

    CCEO na Paraba.

  • 37

    5. MATERIAL E MTODOS

    5.1 Desenho do estudo

    De acordo com o ltimo Censo Populacional em 2010 (IBGE, 2011) a Paraba, uma

    das 27 unidades federativas do Brasil, localizada na regio nordeste do Brasil, possui uma

    populao total de 3.766.528 habitantes, dispostos em uma rea de 56.469,466 km2 e tem

    como capital o municpio de Joo Pessoa. O Estado possui 223 municpios, distribudos em 4

    grandes mesorregies: Agreste paraibano, composto por 8 microrregies; Borborema, com 4;

    Mata paraibana, com 4; e Serto paraibano, com 7 microrregies, conforme FIGURA 1.

    AGRESTE

    PARAIBANO

    BORBOREMA MATA

    PARAIBANA

    SERTO

    PARAIBANO

    Brejo paraibano Cariri Ocidental Joo Pessoa Cajazeiras

    Campina Grande Cariri Oriental Litoral Norte Catol do Rocha

    Curimata Ocidental Serid Ocidental

    Paraibano

    Litoral Sul Itaporanga

    Curimata Oriental Serid Oriental

    Paraibano

    Sap Patos

    Esperana Pianc

    Guarabira Serra do Teixeira

    Itabaiana Souza

    Umbuzeiro

    FIGURA 1: Mapa do Estado da Paraba, caracterizado por suas mesorregies e microrregies.

    Fonte: http://portal.tce.pb.gov.br/institucional/auditoria-regionalizada/

    http://portal.tce.pb.gov.br/institucional/auditoria-regionalizada/

  • 38

    Foi realizado um estudo de abordagem metodolgica quantitativa, observacional, de

    natureza e analtica, do tipo caso-controle pareado de base populacional. A escolha deste tipo

    de estudo (FIG.2) deveu-se ao fato de este ser uma forma de pesquisa na qual os fatores de

    risco para a ocorrncia do evento so detectados de modo extremamente eficiente em termos

    de tempo e custo (PEREIRA, 2000).

    Estudos de caso-controle referem-se a uma modalidade de pesquisa epidemiolgica

    que se inicia com a seleo de um grupo de indivduos portadores de doena (casos) e de um

    ou mais grupos (controle), constitudo (s) por indivduos que se sabe no portarem o mesmo

    desfecho de sade e que so provenientes da mesma base populacional de origem dos casos.

    O ponto-chave dos estudos de caso-controle a seleo do grupo controle. Em estudos de

    base populacional os controles so selecionados a partir da populao em geral como

    vizinhos, familiares ou acompanhantes ao servio de sade no qual os casos foram atendidos.

    Em estudos de base hospitalar, os controles so selecionados na mesma unidade de sade na

    qual os casos recebem o atendimento. Os controles devem ser semelhantes aos casos na

    maioria de suas caractersticas para que a comparao do efeito diferencial dos fatores de

    exposio possa ser referida sua diferena fundamental, a de portarem ou no a condio de

    sade investigada. O estudo considerado pareado quando se controla uma ou mais

    caractersticas de exposio para a alocao dos sujeitos de pesquisa no grupo controle

    (PERES E ANTUNES, 2006).

    A opo pelo estudo de caso-controle pareado de base populacional para a realizao

    desta pesquisa surgiu da necessidade de se avaliar a relao causa-efeito entre o consumo de

    determinados alimentos e o risco aumentado de se desenvolver um carcinoma de clulas

    escamosas oral no estado da Paraba.

    A escolha dos casos foi realizada nos dois hospitais de referncia para o cncer na

    Paraba (Nordeste do Brasil): o Hospital Napoleo Laureano, localizado no municpio de Joo

    Pessoa, e no Hospital FAP (Fundao Assistencial da Paraba), localizado no municpio de

    Campina Grande.

  • 39

    FIGURA 2: Delineamento de um estudo de caso-controle

    Fonte: Bonita, Beaglehole, Kjellstrm (2010), p. 45.

    5.2 Populao do estudo

    A populao do estudo foi constituda por indivduos adultos e idosos com idades

    entre 29 e 92 anos, residentes no estado da Paraba, selecionados no perodo de agosto de

    2011 a maro de 2012.

    O grupo caso foi constitudo por novos pacientes com diagnstico de carcinoma de

    clulas escamosas oral, histologicamente comprovado, que chegaram ao ambulatrio dos

    referidos hospitais no perodo da seleo. Para o grupo controle foram selecionados

    indivduos clinicamente saudveis, vizinhos dos indivduos do grupo caso, pareados por

    gnero, idade e hbito de fumar.

    Para garantir que os grupos tivessem as mesmas caractersticas de exposio o estudo

    foi pareado por gnero e hbito de fumar. J para facilitar o pareamento por idade, foram

    considerados pares de pessoas cujas idades diferissem em at 5 anos (PERES e ANTUNES,

    2006).

    5.3 Tamanho da amostra

    Para se testar estatisticamente a hiptese terica anunciada, foi realizado o clculo do

    tamanho da amostra para estudo de caso-controle pareado a partir dos seguintes parmetros:

    - Nvel de confiana (1 - ) = 95%; ( = 0,05 ou 5%). Significa que haver 5% de

    probabilidade de resultado falso-positivo (erro tipo I), ou seja, de concluir que h risco

    aumentado quando de fato no h.

    Expostos

    Casos (Doentes)

    No Expostos

    Expostos

    No Expostos

    Controles (No Doentes)

    Populao

  • 40

    - Poder do teste (1 - ) = 80%. Significa que haver 20% de probabilidade de resultado

    falso-negativo (erro tipo II), ou seja, concluir que no h risco aumentado quando de

    fato existe risco.

    - A razo de chances ou odds ratio= 2,0. Significa que um OR inferior a 2 no foi

    considerado clinicamente relevante.

    - O Teste de hiptese= bicaudal. O objetivo do teste bicaudal testar se as propores

    so iguais ou diferentes.

    - Proporo de expostos entre os casos= 25% (MARCHIONI et. al., 2005). Equivale

    proporo de pessoas expostas ao fator de risco no grupo de doentes. O fator de

    exposio o grupo de alimento. Sendo assim, esse valor corresponde proporo de

    pessoas com cncer que consumiram determinado grupo de alimento.

    - Proporo de expostos entre os controles= 14% (TOLEDO et. al., 2010). Equivale

    proporo de pessoas expostas ao fator de risco no grupo controle. Esse valor

    corresponde proporo de pessoas sadias que consumiram determinado grupo de

    alimento.

    - Nmero de controles por caso= 4

    O tamanho da amostra foi calculado atravs do software Lee

    (http://www.lee.dante.br/index.html), resultando em uma amostra mnima de 133 casos e

    532 controles. Para compensar possveis perdas, acrescentou-se 50% de indivduos ao

    grupo caso (n=133+67=200) e 22% de indivduos ao grupo controle (n=532+116=648),

    totalizando 848 indivduos para serem convidados e triados quanto aos critrios de

    elegibilidade.

    5.4 Critrios de elegibilidade

    Para participao dos indivduos no estudo, no grupo caso, foram considerados os

    seguintes critrios de incluso:

    -Paciente com confirmao histolgica de carcinoma de clulas escamosas oral,

    incidentes, que no tinham iniciado o tratamento adjuvante (radioterapia ou quimioterapia).

    - Diagnstico de cncer classificados com os cdigos C00 a C06 (cavidade oral) e

    C09-C14 (orofaringe) de acordo com a Classificao Internacional de Doenas/ CID-10

    (BRASIL, 2008).

  • 41

    Foram excludos da pesquisa os indivduos do grupo caso que apresentavam uma ou

    mais das seguintes caractersticas:

    -Pacientes com CCEO recorrente;

    -Pacientes que estivessem na terapia adjuvante antes da cirurgia;

    -Pacientes com histria anterior de cncer oral ou de outros tipos de cncer.

    -Os casos de cncer classificados como C00.0-C00.2 (lbio externo), C07-C08

    (glndulas salivares), C11 (nasofaringe) e C45-C49 (neoplasias malignas de origem

    mesenquimal). A excluso destes cdigos baseou-se na literatura, que postula que os cnceres

    nesses stios no compartilham os mesmos fatores de risco das demais regies da cavidade

    oral (MARCHIONI et. al., 2007).

    Para serem includos no grupo controle, foram considerados os seguintes critrios:

    -Indivduos emparelhados por mesmo sexo, idade (at 5 anos de diferena) e hbito de

    fumar com o grupo caso;

    -No apresentar histria ou suspeita de carcinoma de clulas escamosas ou outro tipo

    de neoplasia maligna nessa regio no momento da entrevista;

    -No apresentar patologias que causem alteraes significativas na dieta (como gota,

    doenas renais, hepticas).

    5.5 Seleo da amostra

    Todos os 133 indivduos com diagnstico comprovado de CCEO foram selecionados a

    partir dos ambulatrios de oncologia oral dos hospitais de referncia, com periodicidade

    semanal ou diria, variando de acordo com o nmero de pacientes na instituio, bem como

    da triagem para terapia adjuvante. A incluso da triagem anteriormente referida ocorreu em

    funo de que alguns pacientes aps diagnstico, e avanado estadiamento da doena,

    poderiam ser encaminhados terapia sem passar por avaliao odontolgica. Para isso,

    realizou-se, com auxlio da enfermeira responsvel pelo setor de terapia, avaliao minuciosa

    de todas as fichas clnicas, protocolo da terapia, esclarecimento das dvidas quanto aos

    critrios de elegibilidade e incio do tratamento, a fim de selecionar os indivduos para

    comporem a amostra do grupo caso.

    Os pacientes portadores de carcinoma de clulas escamosas na cavidade oral ou na

    orofaringe que apresentavam dificuldade na fala, poderiam responder o instrumento da coleta

    dos dados na forma escrita, destacando-se que no foram aceitos o preenchimento ou

    respostas verbais de acompanhantes ou familiares.

  • 42

    Todos os 532 controles foram selecionados a partir do registro residencial dos casos e

    localizados na mesma rea de abrangncia. Tambm foram utilizados como grupo controle

    familiares, amigos, acompanhantes pareados com os indivduos do grupo caso em relao ao

    gnero, idade e hbito de fumar.

    O emparelhamento por sexo e faixa etria (emparelhamento por freqncia)

    considerado, segundo Moraes e Souza (1998), um emparelhamento grosseiro, visto que

    qualquer controle desde que do mesmo sexo e faixa etria, est apto a compor um par com

    o respectivo caso. Esta situao, segundo os autores, difere do emparelhamento fino

    (utilizado no desenho de estudo desta pesquisa), quando so consideradas variveis como

    parentesco ou vizinhana (a partir da populao em geral), que restringem a indivduos

    especficos a aptido para compor os pares com os respectivos casos.

    5.6 Elenco de variveis

    5.6.1 Varivel dependente

    A varivel dependente (evento-resposta) foi representada pelo carcinoma de clulas

    escamosas oral (CCEO). Essa varivel foi dicotomizada do seguinte modo:

    0 = Indivduos que no apresentavam a doena (Controles = 0)

    1 = Indivduos que apresentavam a doena (Casos = 1).

    5.6.2 Variveis Independentes

    As variveis independentes (variveis de exposio), categorizadas nos QUADROS 2,

    3 e 4 foram elencadas seguindo trs categorias de referncia:

    1) Variveis scio-demogrficas de pareamento( gnero, idade, regio da Paraba) e

    outras variveis scio-demogrficas: estado civil, cor, escolaridade, religio, renda, ocupao,

    tipo de moradia e hbito de fumar.

    2) Variveis de confundimento (necessrias para controlar o desfecho): perodo como

    fumante, tipo de fumo, frequncia do hbito, se fumante passivo, hbito de beber, tempo de

    etilismo, tipo de bebida, consumo alcolico e frequncia da bebida.

    3) Variveis relacionadas dieta e ao questionrio quantitativo de frequncia

    alimentar (QQFA): IMC, prtica diettica e grupos alimentares.

  • 43

    QUADRO 2 - Definio e codificao das variveis de pareamento e scio-demogrficas .

    Tipo de

    Varivel Desmembramento da varivel

    Agrupamento e

    categorizaes

    Gnero Dicotmica: Tipo de sexo 0=Feminino

    1= Masculino

    Idade

    Categorizada em tercis

    0= 29 a 55 anos

    1= 56 a 68 anos

    2= 69 a 92 anos

    Regio da Paraba

    Categorizada em Mesorregies do estado

    da Paraba

    0= Borborema

    1= Serto paraibano

    2=Agreste paraibano

    3= Mata

    Estado civil Presena ou no de companheiro 0= com companheiro

    1= sem companheiro

    Cor Dicotmica: Branca ou no branca 0= Branca

    1= No branca

    Escolaridade Categorizada em anos de estudos

    0= > 4 anos

    1= de 1 a < 4anos

    2= sem estudo

    Religio Categorizada em 3 categorias: crists, no

    crists e sem religio.

    0= Crist

    1= No crist

    2= sem religio

    Renda Dicotmica: em salrios mnimos. 0= 2 salrios

    1= > 2 salrios

    Ocupao Categorizada em agrupamentos

    profissionais

    0= Indstria

    1=Autnomo

    2= Atividade domstica

    3= Servio de sade, social

    4=Servio pblico

    5= Comrcio

    6=Transporte

    7= Construo civil

    8= Agricultura

    9= Desempregado

    Tipo de moradia Categorizada de acordo com o tipo e a

    caracterstica da moradia.

    0= Casa prpria

    1= Casa no prpria

  • 44

    QUADRO 3 Definio e codificao das variveis de confuso.

    Tipo de

    Varivel Desmembramento da varivel

    Agrupamento e

    categorizaes

    Hbito de fumar

    Condio atual em relao ao hbito:

    no fuma, parou h anos ou fuma.

    0= No fumante

    1= Ex-fumante

    2= Fumante

    Perodo como fumante

    Tempo do hbito categorizado em

    anos (tercis).

    0= 0 a 26 anos

    1= 27 a 38 anos

    2= 39 a 80 anos

    Tipo de fumo

    Categorizada em 3 categorias: cigarro,

    cigarro de palha e cachimbo.

    0= Cigarro

    1= Cigarro de palha

    2= Cachimbo

    Frequncia do hbito Quantidade de vezes de prtica do

    hbito por dia.

    0= 0 a 12 vezes por dia

    1= 13 a 120 vezes por dia

    Fumante passivo

    Dicotomizada quanto presena de

    fumante na residncia.

    0= No

    1= Sim

    Hbito de beber

    Condio atual em relao ao hbito:

    no, parei e sim.

    0= No

    1= Parei

    2= Sim

    Tipo de bebida Categorizada quanto ao tipo mais

    citado.

    0= Cerveja

    1= Aguardente

    Consumo alcolico

    (g/L/dia)

    Categorizada em trs nveis, de acordo

    com a frequncia, a unidade de tempo

    e a poro em g/L/dia.

    0= 0-0,8

    1= 0,9-14

    2= 15-382

    Frequncia da bebida

    Categorizada em nveis de frequncia

    em relao ao tempo: baixa (anual,

    mensal, quinzenal), moderada

    (semanal) e alta (diria).

    0= Baixa

    1= Moderada

    2= Diria

  • 45

    QUADRO 4 - Definio e codificao das variveis relacionadas dieta.

    Tipo de

    Varivel Desmembramento da varivel

    Agrupamento e

    categorizaes

    IMC

    ndice de massa corporal classificado em 4

    categorias: de 18,5 a 24,9, de 0 a 18,5; de 25 a

    29,9; acima de 30.

    0= Normal

    1= Baixo Peso

    2= Peso em excesso

    3= Obesidade

    Prtica diettica Dicotomizada quanto prtica de dieta 0= No faz dieta

    1= Faz dieta

    Sopas e massas

    Grupo composto por: sopa, macarronada, pizza e

    pastelaria. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 640 (consumo

    mximo).

    0= 0-18

    1= 19-36

    2= 37-208

    Carne branca

    Grupo composto por: por peixe e frango cozido

    ou frito. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 640 (consumo

    mximo).

    0= 0-18

    1= 19-33

    2=34-144

    Carne vermelha

    Grupo composto por: carne de boi, de charque, de

    sol e bife. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 480 (consumo

    mximo).

    0= 0-16

    1= 17-36

    2= 37-126

    Embutidos e

    miudezas

    Grupo composto por: carne processada, mido de

    frango e fgado de boi. Categorizada em tercis

    quanto frequncia, unidade de tempo e poro,

    variando de 0 (ausncia de consumo) a 480

    (consumo mximo).

    0= 0-3

    1= 4-14

    2=15-96

    Leguminosas e ovos

    Grupo composto por: feijo, ovos, milho e ervilha

    em conserva. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 480 (consumo

    mximo)..

    0= 0-18

    1= 19-40

    2= 41-156

  • 46

    Cereais, razes e

    tubrculos

    Grupo composto por: arroz, batata frita,

    mandioca, salada de maionese, abbora, farinha,

    cuscuz e aveia. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 1280 (consumo

    mximo).

    0= 0-39

    1= 40-71

    2= 72-366

    Produtos lcteos

    Grupo composto por: leite, iogurte, vitamina e

    queijos. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, 0

    (ausncia de consumo) a 800 (consumo mximo).

    0= 0-14

    1= 15-36

    2= 37-252

    Vegetais

    Grupo composto por: alface, tomate, couve,

    beterraba, cenoura e pepino. Categorizada em

    tercis quanto frequncia, unidade de tempo e

    poro, variando de 0 (ausncia de consumo) a

    960 (consumo mximo)..

    0= 0-26

    1= 27-59

    2= 60-420

    leos e gorduras

    Grupo composto por: leo, azeite, catchup e

    maionese. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 480 (consumo

    mximo).

    0= 0-6

    1= 7-16

    2= 17-129

    Frutas e sucos

    Grupo composto por: laranja, banana, mamo,

    ma, melancia, manga, abacaxi, goiaba e sucos

    naturais de frutas. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro,

    variando de 0 (ausncia de consumo) a 1920

    (consumo mximo).

    0= 12-49

    1= 50-96

    2= 97-568

    Pes e biscoitos

    Grupo composto por: po, biscoito salgado,

    biscoito recheado, margarina e manteiga.

    Categorizada em tercis quanto frequncia,

    unidade de tempo e poro, variando de 0

    (ausncia de consumo) a 800 (consumo mximo).

    0= 0-16

    1= 17-36

    2= 37-268

    Bebida alcolica

    Grupo composto por: cerveja, aguardente, vinho

    e vodka. Categorizada em tercis quanto

    frequncia, unidade de tempo e poro, variando

    de 0 (ausncia de consumo) a 480 (consumo

    mximo).

    0= 0

    1= 1-22

    2= 23-216

  • 47

    Bebida no

    alcolica

    Grupo composto por: caf com acar ou

    adoante e refrigerantes. Categorizada em tercis

    quanto frequncia, unidade de tempo e poro,

    variando de 0 (ausncia de consumo) a 480

    (consumo mximo)..

    0= 0-15

    1= 16-33

    2= 34-169

    Doces e bolos

    Grupo composto por: chocolate, doce de fruta,

    bolo, sorvete, adoante e acar. Categorizada em

    tercis quanto frequncia, unidade de tempo e

    poro, variando de 0 (ausncia de consumo) a

    960 (consumo mximo).

    0= 0-15

    1= 16-33

    2= 34-169

    O hbito de fumar foi definido em trs categorias: no-fumante, ex-fumante e fumante.

    Na categoria ex-fumante foram includos os indivduos que deixaram de fumar h pelo

    menos 1 ano antes da pesquisa, conforme sugere Suzuki et. al., (2006).

    A varivel, tipo de bebida, foi categorizada a partir dos respondentes em trs

    categorias: cerveja (referncia), vodka e/ou vinho e aguardente. No entanto, em funo da

    baixa frequncia de casos e controles que consumiam a segunda categoria (vodka e/ou vinho)

    e no consumiam cerveja ou aguardente, a varivel foi recategorizada, excluindo 14

    indivduos da amostra, restando apenas duas categorias: cerveja e aguardente. O consumo

    alcolico foi categorizado atravs da converso de mililitros em gramas por litro, utilizando

    como referncia a concentrao de lcool para cada bebida (VARGAS, 2012), a fim de se

    obter a unidade-equivalente, que no instrumento corresponde poro media, conforme

    QUADRO 5. Para tal resultado preciso multiplicar a quantidade da bebida em mililitros por

    sua concentrao alcolica. Foram utilizados depois para tal converso, os percentis de cada