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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 16 DE MAIO DE 2012 Vida A17 Câmara aprova redução de área protegida Projeto transforma em lei MP do governo que viabiliza construção de quatro usinas em unidades de conservação da Amazônia; texto segue para o Senado Recepção na Rio+20 preocupa presidente PLANETA } DESCOBRINDO O MUNDO DANIEL REINHARDT/AFP REPRODUÇÃO Tânia Monteiro / BRASÍLIA Preocupada com a recepção e os serviços que serão presta- dos às autoridades e a todos que desembarcarão para a Rio +20, a presidente Dilma Rous- seff convocou uma reunião com todos os órgãos envolvi- dos com o setor na segunda-fei- ra, no Palácio do Planalto para saber do funcionamento de cada um e cobrar providências. Dilma não quer que os 110 che- fes de Estado e de governo que confirmaram presença no encon- tro tenham qualquer problema na sua chegada ao Brasil. Dilma chamou todos os repre- sentantes da Secretaria de Avia- ção Civil, Infraero, Departamen- to de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronáutica (Decea) e até o comandante da Base Aérea do Galeão. Represen- tantes da Receita Federal, Polí- cia Federal, Anvisa e outros ór- gãos que atuam nos aeroportos brasileiros também tiveram que dar explicações. A Base Aérea do Galeão será usada pelas autoridades para de- sembarque, assim como a de San- ta Cruz, se houver necessidade. Palestina. A Autoridade Palesti- na ameaça fazer um “boicote ve- lado” à Rio+20, cancelando a vin- da do presidente Mahmoud Ab- bas, caso Ramallah não seja trata- da como Estado na cúpula. Essa queda de braço dividiu a ONU em 2011. OproblemadeAbbasnãoéapo- sição do Brasil – que reconheceu a Palestina ainda no governo Lu- la –, mas a das Nações Unidas. Sob forte pressão dos EUA e de Israel,aONUafirmaqueRamal- lah não é membro pleno da As- sembleia-Geral e, portanto, nãopodesertratadocomoEsta- do na Rio+20. Facebook. Ontem, foi lança- do o jogo Game Change Rio, no Facebook, com os mesmos princípios dos games que inundam as plataformas so- ciais – gerenciamento da situa- ção, troca de informações e acompanhamento dos resul- tados. Nesse caso, o objetivo é fazer do mundo um lugar mais limpo, que cresça sem poluir, onde todos têm o que comer e que, enfim, sobreviva ao desenvolvimento indus- trial. O melhor pontuador ga- nha uma viagem para a Rio+20. / COLABORARAM ROBERTO SIMON e JOÃO COSCELLI Na rede. Interface do jogo lançado: internautas vão conceber políticas de sustentabilidade Giovana Girardi A Câmara dos Deputados aprovou ontem projeto que converte em lei a polêmica medida provisória 558, que re- duz o tamanho de unidades de conservação na Amazônia. A medida havia sido decre- tada pelo governo federal em janeiro para viabilizar a cons- trução de quatro usinas hidre- létricas. Na forma do projeto do relator Zé Geraldo (PT- PA), o texto reduz o tamanho de oito UCs, num total de mais de 164 mil hectares de área voltada para proteção. A redução ocorre nas Flores- tas Nacionais de Itaituba 1, Itai- tuba 2, do Crepori e do Tapajós, na Área de Proteção Ambiental (APA) Tapajós e nos parques na- cionais dos Campos Amazôni- cos, da Amazônia e Mapinguari. Geraldo incluiu ainda a exclu- são de duas áreas da Floresta Na- cional do Tapajós, em um total de 17.851 hectares, para regulari- zar problemas agrários de duas comunidades. O texto segue ago- ra para apreciação no Senado. A medida vem sendo criticada por ambientalistas por ir na con- tramão das metas assumidas pe- lo governo federal de diminuir as emissões de gás carbônico li- berado pelo desmatamento. Estudo divulgado na semana passada pelo Instituto do Ho- mem e Meio Ambiente da Ama- zônia (Imazon) estimou que mais de 150 milhões de tonela- das de CO 2 serão emitidos caso a área de mais de 100 mil hectares na Bacia do Tapajós – composta 85% por floresta intacta – seja ala- gada, desmatada ou degradada. Para Paulo Barreto, diretor da ONG de pesquisas baseada em Belém, a aprovação, aliada à mo- dificação do Código Florestal, “mostra que o Congresso e a pre- sidência da República estão des- montando coisas que deram cer- to na questão ambiental”. As UCs são consideradas cru- ciais para frear o desmatamento. “O governo deixou de criar no- vas UCs e agora está reduzindo as que têm. É preocupante.” O relatório, lançado antes da votação na Câmara, alertava que a conversão da MP em lei abriria precedente para que outras redu- ções de áreas protegidas ocor- ram, além de tornar o processo de licenciamento ambiental questionável juridicamente. O texto também pedia rapidez do Supremo Tribunal Fede- ral, que analisa se é constitu- cional reduzir UCs por MP. Mas, para impedir o avanço da lei, a ação direta de inconstitu- cionalidade tem de ser votada antes de o Senado votar. “O problema é que o gover- no disse que seriam criadas novas UCs para compensar es- sa redução, mas por enquanto não há nenhuma sinalização. Eles já deveriam ter criado an- tes de reduzir”, diz Barreto. O filhote de anta Parima caminha pela primeira vez ao ar livre desde seu nascimento no início do mês no zoológico Tierpark Hagenbeck, no norte da Alemanha.

Dilma Rousseff e a Rio+20

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 16 DE MAIO DE 2012 Vida A17

Câmara aprova redução de área protegidaProjeto transforma em lei MP do governo que viabiliza construção de quatro usinas em unidades de conservação da Amazônia; texto segue para o Senado

Recepção na Rio+20preocupa presidente

PLANETA } DESCOBRINDO O MUNDO

DANIEL REINHARDT/AFP

REPRODUÇÃO

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Preocupada com a recepção eos serviços que serão presta-dos às autoridades e a todosque desembarcarão para a Rio+20, a presidente Dilma Rous-seff convocou uma reuniãocom todos os órgãos envolvi-

dos com o setor na segunda-fei-ra, no Palácio do Planalto parasaber do funcionamento de cadaum e cobrar providências.

Dilma não quer que os 110 che-fes de Estado e de governo queconfirmaram presença no encon-tro tenham qualquer problemana sua chegada ao Brasil.

Dilma chamou todos os repre-sentantes da Secretaria de Avia-ção Civil, Infraero, Departamen-to de Controle do Espaço Aéreodo Comando da Aeronáutica(Decea) e até o comandante daBase Aérea do Galeão. Represen-tantes da Receita Federal, Polí-cia Federal, Anvisa e outros ór-gãos que atuam nos aeroportosbrasileiros também tiveram que

dar explicações.A Base Aérea do Galeão será

usada pelas autoridades para de-sembarque, assim como a de San-ta Cruz, se houver necessidade.

Palestina. A Autoridade Palesti-na ameaça fazer um “boicote ve-lado” à Rio+20, cancelando a vin-da do presidente Mahmoud Ab-bas, caso Ramallah não seja trata-

da como Estado na cúpula. Essaqueda de braço dividiu a ONUem 2011.

OproblemadeAbbasnãoéapo-sição do Brasil – que reconheceu a

Palestina ainda no governo Lu-la –, mas a das Nações Unidas.Sob forte pressão dos EUA e deIsrael,aONUafirmaqueRamal-lah não é membro pleno da As-sembleia-Geral e, portanto,nãopodesertratadocomoEsta-do na Rio+20.

Facebook. Ontem, foi lança-do o jogo Game Change Rio,no Facebook, com os mesmosprincípios dos games queinundam as plataformas so-ciais – gerenciamento da situa-ção, troca de informações eacompanhamento dos resul-tados. Nesse caso, o objetivoé fazer do mundo um lugarmais limpo, que cresça sempoluir, onde todos têm o quecomer e que, enfim, sobrevivaao desenvolvimento indus-trial. O melhor pontuador ga-nha uma viagem para aRio+20. / COLABORARAM

ROBERTO SIMON e JOÃO COSCELLI

Na rede. Interface do jogo lançado: internautas vão conceber políticas de sustentabilidade

Giovana Girardi

A Câmara dos Deputadosaprovou ontem projeto queconverte em lei a polêmicamedida provisória 558, que re-duz o tamanho de unidadesde conservação na Amazônia.

A medida havia sido decre-tada pelo governo federal emjaneiro para viabilizar a cons-trução de quatro usinas hidre-létricas. Na forma do projetodo relator Zé Geraldo (PT-

PA), o texto reduz o tamanho deoito UCs, num total de mais de164 mil hectares de área voltadapara proteção.

A redução ocorre nas Flores-tas Nacionais de Itaituba 1, Itai-tuba 2, do Crepori e do Tapajós,na Área de Proteção Ambiental(APA) Tapajós e nos parques na-cionais dos Campos Amazôni-cos, da Amazônia e Mapinguari.

Geraldo incluiu ainda a exclu-são de duas áreas da Floresta Na-cional do Tapajós, em um total

de 17.851 hectares, para regulari-zar problemas agrários de duascomunidades. O texto segue ago-ra para apreciação no Senado.

A medida vem sendo criticadapor ambientalistas por ir na con-tramão das metas assumidas pe-lo governo federal de diminuiras emissões de gás carbônico li-berado pelo desmatamento.

Estudo divulgado na semanapassada pelo Instituto do Ho-mem e Meio Ambiente da Ama-zônia (Imazon) estimou que

mais de 150 milhões de tonela-das de CO2 serão emitidos caso aárea de mais de 100 mil hectaresna Bacia do Tapajós – composta85% por floresta intacta – seja ala-gada, desmatada ou degradada.

Para Paulo Barreto, diretor daONG de pesquisas baseada emBelém, a aprovação, aliada à mo-dificação do Código Florestal,“mostra que o Congresso e a pre-sidência da República estão des-montando coisas que deram cer-to na questão ambiental”.

As UCs são consideradas cru-ciais para frear o desmatamento.“O governo deixou de criar no-vas UCs e agora está reduzindoas que têm. É preocupante.”

O relatório, lançado antes davotação na Câmara, alertava quea conversão da MP em lei abririaprecedente para que outras redu-ções de áreas protegidas ocor-ram, além de tornar o processode licenciamento ambientalquestionável juridicamente.

O texto também pedia rapidez

do Supremo Tribunal Fede-ral, que analisa se é constitu-cional reduzir UCs por MP.Mas, para impedir o avanço dalei, a ação direta de inconstitu-cionalidade tem de ser votadaantes de o Senado votar.

“O problema é que o gover-no disse que seriam criadasnovas UCs para compensar es-sa redução, mas por enquantonão há nenhuma sinalização.Eles já deveriam ter criado an-tes de reduzir”, diz Barreto.

O filhote de anta Parima caminha pelaprimeira vez ao ar livre desde seunascimento no início do mês no zoológicoTierpark Hagenbeck, no norte da Alemanha.