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11/3/2016 Jornalismo nos novos meios: ou muda ou morre | Diálogos Políticos https://dialogospoliticos.wordpress.com/2013/06/15/jornalismonosnovosmeiosoumudaoumorre/ 1/4 Diálogos Políticos A RTE & CULTURA , ATUALIDADES , ECONOMIA E NEGÓCIOS , INOVAÇÃO E TECNOLOGIA , SAÚDE E COMPORTAMENTO , SOCIEDADE Jornalismo nos novos meios: ou muda ou morre J UNHO 15, 2013 | DIALOGOSPOLITICOS | DEIXE UM COMENTÁRIO Por Emerson Urizzi Cervi | Pensata (http://www.agralha.com.br/pensata‑inner.php? id=138&token=013d407166ec4fa56eb1e1f8cbe183b9#) Bastaram chegar os novos meios de comunicação para os catastrofistas assegurarem que a imprensa estava com os dias contados. A internet engoliria a acabaria com tudo o que conhecemos até então como jornalismo no século XX, por ser mais rápida, barata e ágil. Não foram poucos os movimentos de boicote, no início, de jornais tradicionais e jornalistas aos novos meios. Porém, derrotados, todos aceitaram o lento e arrebatador trem da história. Os jornais migraram suas plataformas para a web, em especial para a interface internet. Alguns, rendidos economicamente, encerraram a circulação em papel e permanecem apenas como meios eletrônicos. Isso acabou gerando um efeito contrário ao que fora previsto pelos catastrofistas: o jornalismo se ampliou, diversificou suas fontes, tornou‑se mais democrático e, principalmente, os jornalistas dos meios tradicionais passaram a enfrentar uma concorrência real – pela primeira vez na história da imprensa – de outra fonte de informação de massa, a dos produtores independentes de informações, também chamados de blogueiros.

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Diálogos Políticos

ARTE & CULTURA, ATUALIDADES, ECONOMIA E NEGÓCIOS, INOVAÇÃO ETECNOLOGIA, SAÚDE E COMPORTAMENTO, SOCIEDADE

Jornalismo nos novos meios: ou muda oumorre

JUNHO 15, 2013 | DIALOGOSPOLITICOS | DEIXE UM COMENTÁRIO

Por Emerson Urizzi Cervi | Pensata (http://www.agralha.com.br/pensata‑inner.php?id=138&token=013d407166ec4fa56eb1e1f8cbe183b9#)

Bastaram chegar os novos meios de comunicação para os catastrofistas assegurarem que aimprensa estava com os dias contados. A internet engoliria a acabaria com tudo o queconhecemos até então como jornalismo no século XX, por ser mais rápida, barata e ágil. Nãoforam poucos os movimentos de boicote, no início, de jornais tradicionais e jornalistas aosnovos meios. Porém, derrotados, todos aceitaram o lento e arrebatador trem da história. Osjornais migraram suas plataformas para a web, em especial para a interface internet. Alguns,rendidos economicamente, encerraram a circulação em papel e permanecem apenas comomeios eletrônicos. Isso acabou gerando um efeito contrário ao que fora previsto peloscatastrofistas: o jornalismo se ampliou, diversificou suas fontes, tornou‑se mais democrático e,principalmente, os jornalistas dos meios tradicionais passaram a enfrentar uma concorrênciareal – pela primeira vez na história da imprensa – de outra fonte de informação de massa, a dosprodutores independentes de informações, também chamados de blogueiros.

 

O que seria motivo para a crise final do jornalismo acabou se transformando no principal fator

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11/3/2016 Jornalismo nos novos meios: ou muda ou morre | Diálogos Políticos

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O que seria motivo para a crise final do jornalismo acabou se transformando no principal fatorde renovação da produção jornalística. Agora, não são mais as notícias produzidas nasredações dos jornais tradicionais as únicas fontes de informação. Aliás, foi preciso umarevolução como essa para muitos profissionais entenderem que notícia é um produto cujamatéria‑prima é a informação, porém, não dá para acreditar as que se trata da mesma coisa. Éverdade que não existe notícia sem informação, porém, nem toda informação está contida nasnotícias. O noticiário nada mais é do que uma formatação específica, dada por profissionais etécnicas próprias, de informações. O que significa que qualquer pessoa é capaz de produzirinformação de interesse público. Porém, só os jornalistas o fazem a partir da produção denotícias. Até o advento da internet essa diferenciação era difícil de ser materializada, pois nãoexistiam meios com poder suficiente para difundir informações na sociedade que não fosseatravés das notícias, portanto, mediadas pelos profissionais e instituições jornalísticas. Aprincipal mudança promovida pela internet foi permitir o acesso a informações que nãoreceberam tratamento jornalístico. São diferentes de notícias, mas, ainda assim, dotadas deinformação.

 

A consequência das mudanças promovidas pela internet foi que a sociedade passou a ter umamaior diversidade de visões de mundo nas informações que recebe e faz circular no espaçopúblico. Para a sociedade que demanda informações isso não é melhor, nem pior que omomento anterior. É apenas diferente. Para o jornalismo tradicional, trata‑se de um desafio. Osinformantes sociais independentes, na internet chamados de blogueiros, concorremdiretamente com o jornalismo profissional. Foi essa concorrência que nos mostrou a verdadeiracrise do jornalismo contemporâneo. Uma crise que não está relacionada com o meio de difusãodos conteúdos, mas sim com a forma de produzi‑los.

 

O padrão de jornalismo dos anos 50 do século passado não se sustenta mais por ser um modeloinapropriado de produção de informações para a sociedade que tem formas alternativas de seinformar. São necessários novos métodos, novas hierarquias, novas rotinas produtivas. Enfim,novas organizações informativas. Esse desafio é o motor para uma nova etapa do jornalismo nainternet. A primeira delas foi a rejeição ao novo meio. Depois, veio a adaptação dos meiostradicionais ao formato da interface específica da web. O resultado foi uma mudança naroupagem das notícias, mas com preservação de um modelo de produção insustentável. Aterceira etapa é a do surgimento de veículos noticiosos específicos da internet, sem existênciafora da rede mundial de computadores. Desses “novos jornais” esperam‑se práticas deprodução e difusão de notícias mais próximas dos blogs do que dos jornalões tradicionais. Senão for assim, Não estarão cumprindo o papel de atualizar o jornalismo aos novos meios e aosnovos tempos. A Gralha tem esse desafio à frente. O de produzir um jornalismo atualizado,não só pelo meio de difusão, mas principalmente pelas formas de produção da notícia. Umbom ponto de partida seria a diferenciação temática e de fontes de informação presentes nosmeios de comunicação tradicionais. Se não fizer isso, estará apenas reproduzindo um modeloem crise.

 

Os gráficos a seguir são resultado de uma pesquisa realizada em 2011 por alunos dos cursos de

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11/3/2016 Jornalismo nos novos meios: ou muda ou morre | Diálogos Políticos

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Os gráficos a seguir são resultado de uma pesquisa realizada em 2011 por alunos dos cursos decomunicação social da Universidade Estadual de Ponta Grossa e de ciências sociais daUniversidade Federal do Paraná. É um estudo da tematização dos impressos brasileiros. Paraisso, foram coletadas as informações de todas as chamadas de primeira página publicadasentre janeiro e outubro de 2011 em seis jornais diários brasileiros, dois com circulação nacional(Folha de São Paulo e Estado de São Paulo), dois com circulação regional (Gazeta do Povo eFolha de Londrina) e dois com circulação local, apenas na região dos Campos Gerais do Paraná(Diário dos Campos e Jornal da Manhã). Ao todo, os seis jornais publicaram mais de 18 milchamadas de notícias nos 10 meses analisados. Os assuntos dessas chamadas foramclassificados em função do tema predominante em “partidos políticos”, quando tratavam davida partidária; em “ético e político institucional”, quando falavam das instituições estataisbrasileiras; em “políticas públicas”, quando predominava um tema de qualquer uma dasprincipais políticas públicas, tais como educação, segurança, saúde, etc…; em “internacional”,quando o assunto se referia a outro país; em “variedade e esportes”, quando tratava deassuntos sem importância para o debate público, como vida de esportistas, resultados de jogos,celebridades, etc…; e “outro” caso não se enquadrasse em nenhuma das categorias anteriores.

 

 

A primeira informação extraída do gráfico é que de maneira geral os jornais ocupam suasprimeiras páginas mais ou menos com a mesma proporção de determinada temática.Excetuando a presença do tema “internacional” nos dois jornais de circulação nacional (FSP eOESP), os veículos de comunicação reproduziram de forma muito similar os temas geraisapresentados ao debate público. A maior proporção foi de chamadas sobre “políticas públicas”,seguidas muito de perto das chamadas sobre “variedades e esportes”. Em terceiro lugar vem“ético e político institucional”. Uma conclusão possível a partir desse gráfico é que o tema“políticas públicas” não predomina nas capas dos periódicos. Ele tem uma participação maiornos jornais de circulação local do que nos nacionais, é verdade. No entanto, continua girandoem torno da metade do total de chamadas nos jornais de circulação limitada e em torno de 1/3nos de circulação nacional. Além disso, a proporção de chamadas sobre “variedades eesportes” manteve‑se estável em todos os jornais analisados, girando em torno de ¼ do total,ou seja, 25% do espaço nobre das capas dos diários tradicionais é ocupado por temas comapelo comercial e nenhuma relevância para o debate público.

 

Além da tematização, que pode ser mais ou menos concentrada em determinado conjunto deassuntos, outro indicador da qualidade do serviço prestado pelo jornalismo é a presença defontes no noticiário. Quanto maior a diversidade daqueles que “falam” nas notícias, maisplural está sendo a cobertura jornalística. Seguindo uma classificação presente na literaturainternacional a pesquisa coletou informações sobre todas as fontes citadas nas primeiraspáginas dos seis jornais durante o período analisado. Essas fontes foram categorizadas em trêstipos: “fontes oficiais”, são as que falam em nome de uma instituição, são representantesinstitucionais, pode ser o presidente da república ou o presidente da associação de moradoreslocal; “fontes disruptivas”, são as que falam por serem identificadas com algum distúrbiosocial, como manifestantes em vias públicas, grevistas, etc…; e “cidadão individualizado”, é afonte citada não por promover algum distúrbio social, nem por representar uma instituição.

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11/3/2016 Jornalismo nos novos meios: ou muda ou morre | Diálogos Políticos

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fonte citada não por promover algum distúrbio social, nem por representar uma instituição.Ela é procurada pelos jornalistas por ser especialista em determinado assunto. A primeirainformação importante extraída da pesquisa é que apenas 10% das chamadas de capa dosjornais citam alguma fonte externa aos jornalistas, ou seja, a capa é o espaço por natureza davisão de mundo do próprio jornalista.

 

 

Ao considerarmos apenas as chamadas com presença de fontes, percebemos que em todos osjornais há um predomínio das fontes oficiais. Esse predomínio é maior nos jornais de circulaçãolocal, representando 90% do total. Nos jornais de circulação nacional as fontes oficiais sãoresponsáveis por 50% do total e nos jornais de circulação regional, por cerca de 30% do total.Nos jornais de circulação regional há predomínio de fontes disruptivas sociais. Mas, em todoseles os especialistas (cidadão individualizado) têm presença secundária ou irrelevante.

 

O resultado, válidos para as capas dos seis jornais no período analisado, é que os periódicos decirculação local dão mais espaço proporcional para temas de política pública, porém, restritos àvisão das fontes oficiais. Já os periódicos de circulação regional falam menos de políticaspúblicas e dão mais espaço para eventos factuais que envolvem algum transtorno no cotidianoda sociedade. Enquanto isso, os jornais de circulação nacional dão mais espaço paraespecialistas, porém, para falar sobre outros temas que não políticas públicas. Isso ajuda aentender porque houve uma redução na qualidade do debate público a partir dos meiosjornalísticos tradicionais. O desafio do novo jornalismo, o jornalismo que não precisa respeitaras hierarquias, práticas e rotinas produtivas tradicionais e produzir notícias que sejam maissocialmente relevantes, menos dependentes do mercado e com maior pluralidade de visões demundo. Esse é o desafio do A Gralha.

 

Emerson Urizzi Cervi é cientista político e professor da UFPR.