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"Dinheiro chega nestasemana às empresas",garante Rui Constantino
"Se eu pago por conta,devia poder receber porconta", diz João Duque
"Investimento no digitalnão pode parar",defende Jorge Portugal
"Banca não é ainda parteda solução", lamentaAntónio Saraiva
DEBATE
Dinheiro dasUnhas Covid-19vai chegar àsempresas a partirdesta semanaGarantia é do Santander. Para a CIP, o governo e abanca são culpados por um mês sem oxigénio. JorgePortugal diz que é preciso financiar o investimento.—CARLA AGUIAR
O dinheiro da linha de crédito es-
pecial de 6,2 mil milhões de euros
para as empresas afetadas pela Co-vid-19 vai começar a chegar esta
semana aos destinatários, mais de
um mês após a declaração do Esta-do de Emergência. A garantia é deRui Constantino, economista-che-fe do Santander Portugal. A partirdesta semana "podemos já come-
çar a ver uma parte deste dinheiroa chegar às empresas", especificouo responsável, que falava esta
quarta-feira no Estado da Nação, o
programa da TSF e Dinheiro Vivo,em parceria com o Santander, em
que participaram também o presi-dente da CIP, António Saraiva, o
diretor-geral da COTEC, Jorge Por-
tugal, e o professor do ISEG, João
Duque.A chegada do dinheiro peca por
tardia, segundo o presidente daCIP. António Saraiva culpa direta-mente o governo e a banca pela de-
mora com que os apoios estão a
chegar, acusando-os de deixar a
economia sem oxigénio. "Há mo-
mentos em que não podemos ser
politicamente corretos. Aqui há
culpados. Podemos culpar o gover-no por não ter disponibilizado logoo montante que se exigia, porquedesde o princípio que toda a gentesabia que 200 milhões não seriam
suficientes, para acabarmos, afinal,em 6,2 mil milhões", que conti-nuam a não chegar, acusa AntónioSaraiva.
"A banca e o Governo estão a co-locar-se na linha da frente do odio-
so e, eventualmente, sem necessi-
dade. Estamos há um mês com fal-ta de oxigénio e já ninguém enten-de esta demora", disparou. Até por-que "esta crise corre o risco de teruma magnitude insustentável emtermos sociais". Face aos 6,2 milmilhões de euros anunciados, o lí-der da CIP observou que "há
marketing político nestes anún-cios do governo", mas "o que que-remos saber é quanto é que a ban-ca colocou nas empresas? Qual é a
percentagem que efetivamenteentrou na tesouraria das empre-sas?" Uma pergunta que ficou sem
resposta.A segunda farpa lançou-a à banca,
que "começou a fazer exigências
completamente absurdas e excessi-
vas, que acabaram por levar o Go-verno a proibir o pedido de garan-tias pessoais". Para o líder da CIP, "a
banca deveria ter sido parte da solu-
ção e até agora não foi". E , prosse-guiu, bem podemos culpar a buro-cracia ou a regulação, mas "o que é
certo é que quando alguém tem co-vid e corre risco de vida é imediata-mente ligado ao ventilador para ser
oxigenado e as empresas estão, al-
gumas desde finais de fevereiro,sem oxigénio". Saraiva referiu quei O diretor-geral da COTEC, Jorge
Portugal, defende que é urgentesalvar a tesouraria das empresas,sob pena de, não o fazendo, elas jánão existirem quando for possívelacordar a economia.
Os convidadosde mais um
programa Esta-do da Nação.2 O presidenteda Confedera-
ção Empresarialde Portugal,António Sarai-
va. 3 Rui Cons-
tantino, econo-mista-chefe do
Santander Por-
tugal. 4 João
Duque, econo-mista e profes-sor do ISEG.
na sexta-feira passada entraram naSodedade Portuguesa de GarantiaMútua 16 mil processos para avalia-
ção em cinco horas. "Porque é quea banca deixou acumular estes pro-cessos?", questionou.
Rui Constantino lembrou que"já vimos os resultados da primei-ra linha covid e o número signifi-cativo de empresas apoiadas noplano dos 400 milhões de euros"
e, agora, "estamos a ver na novalinha de 6,2 mil milhões (que faz
hoje dez dias), um número signi-ficativo de pedidos". O economis-ta explicou que depois da medidaanunciada pelo governo, há quematerializá-la em termos de do-
cumentação e prestar toda a in-
formação. "Até termos a fichatécnica demorou uma semana",precisou.
Por outro lado, Rui Constantinoaludiu a um conjunto de critérios
legais exigidos pelo Banco de Por-
tugal que não facilitam a rapidez."Estamos num ambiente de extre-ma pressão para reagir o mais rapi-damente possível, mas dentro de
uns meses, quando regressarmos à
normalidade, haverá um esqueci-mento deste ambiente anormal e
alguém virá pedir toda a docu-
mentação", a fundamentar as de-cisões. E realçou que, em simultâ-
neo, os bancos estão a fazer o tra-tamento de todos os pedidos das
moratórias.Também o economista João Du-
que justificou a posição defensivada banca: "Os bancos estão commedo de ter de entrar no ventila-dor, porque mais cedo ou mais tar-de vão ficar sobrecarregados porincumprimentos. Há empresasque não vão recuperar nem emtrês meses nem em nove meses demoratórias. Não vão! Se consegui-rem reativar a sua atividade daquia um ano, excelente. Outras, nempensar! Nós sabemos isso, os ban-cos também sabem isso."
Estado deveria pagar"por conta"
Qual seria então a forma de con-tornar este legítimo receio dabanca? Para João Duque, "o Go-
verno deveria dizer aos bancos
que se daqui a seis, nove meses,um ano começarem a ter proces-sos de incumprimento relaciona-dos diretamente com estas em-
presas que tiveram aprovadas as
moratórias de acordo com a lei,então nós estamos dispostos a ad-
quirir estes créditos e removê-losdo vosso balanço". Para o econo-
mista, esta garantia permitiria re-mover os atuais obstáculos. "Por-
que anunciaram-se medidas do
ponto de vista político e mediáti-co, para agradar à ânsia dos portu-gueses, mas não estavam mini-mamente regulamentadas. Ora,os clientes chegavam aos bancos e
eles ainda nem sabiam os deta-lhes fundamentais". A nossa ad-
ministração central é muito pesa-da e garantista. Eu sancionariamuitíssimo uma indisciplina,mas agilizaria a injeção de liqui-dez.
Para garantir a necessária injeçãoimediata de dinheiro na econo-
mia, João Duque considera, por ou-tro lado, que o Estado deveria terseguido outro caminho e fazer
"pagamos por conta", tal como
pede aos contribuintes. "Se háuma coisa que o Estado sabe é a
nossa morada financeira, o nosso
NIB, e o Fisco tem dos sistemas in-formáticos mais desenvolvidos em
Portugal, com acesso aos resulta-dos das empresas, fluxos de caixa,
trabalhadores, etc". Ora "se eu
faço pagamentos por conta, tam-bém posso receber por conta, o Fis-
co pode transferir para as contasdas empresas quando e quanto
quiser e depois, noutra fase, corri-
gir, para mais ou para menos, talcomo faz com o IRC", conclui.
Investimento no digitalnão pode pararJorge Portugal defende igual-mente ser preciso rapidez noapoio à tesouraria das empresas,mas alerta para a necessidade de
não se esquecer que é tambémimperioso "continuar a financiaro investimento, nomeadamenteno digital, porque essa é a viapara as empresas se reinventa-rem nestes tempos de crise". O
diretor-geral da COTEC defen-deu políticas de incentivo emáreas que tenham procura, pois"não vale a pena investir agoraem setores onde há constrangi-mentos". Mas chamou a atençãopara áreas de investimento in-dustrial que continuam a ser viá-veis e para a importância crucialde investir no digital.
"A presença digital, os e-market
places, vender através da Amazonou do Alibaba é mais importantedo que nunca", referiu, lembrandocontudo que, para isso, "é preciso
apostar nos canais de distribui-
ção". Para uma empresa vender naAmazon não basta apenas criar
uma loja na Amazon. "É preciso teruma logística adequada, ter toda a
gestão do seu serviço de vendas di-
gitalizado e automatizado. E é esse
investimento que nós defende-mos que não pode parar", conside-
rou Jorge Portugal".
O regresso dasgolaen-shareg?O presidente da CIP defendeu,por seu lado, o uso das golden sha-
res para proteger as empresas de
"compras abutre". A disparidadeentre os apoios que estão a ser
concedidos às empresas em Por-
tugal e noutros países europeusvai deixar as portuguesas em des-
vantagem no jogo da competiti-vidade global e mais expostas a
"compras abutre", acusou. Por
essa razão, António Saraiva con-sidera que "faz sentido voltar a
falar de golden shares", uma ques-tão equacionada esta semana naAlemanha, como medida de pro-teção das empresas e da econo-mia europeia face a ataques ex-ternos.
Habitualmente, as empresasde setores relacionados com in-fraestruturas críticas ou setores
estratégicos, como energia, co-
municações e media, entre ou-
tros, são as que mais preocupamos governos. Entre as possibilida-des a nível teórico está o impedi-mento do investimento direto
estrangeiro, sem autorização pré-via, em determinados setores e a
partir de determinados montan-tes no capital das empresas. A Es-
panha já legislou, de resto, nesse
sentido, em meados de março úl-timo, no âmbito das medidas de
contingência para lidar com a Co-vid-19.
Em causa, para a CIP, está a par-ticular "desvantagem das empre-sas portuguesas que vão beneficiarde apoios correspondentes a 7% do
PIB, quando em Espanha os apoiossão de 10%, na França e Itália maisde 20%, e na Alemanha cerca de
50%".É que "se não acautelarmos o fu-
turo das empresas e do empregoestamos na iminência de uma cri-
se social de contornos inimaginá-veis", disse António Saraiva, no
quarto debate da série de progra-mas Estado da Nação.