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´ Diplomatica BUSINESS & DIPLOMACY With English & French Texts Textos dos Embaixadores: Alemanha, Bélgica, Chipre, França, Itália, Kuwait, Malta, Reino Unido, Rússia e Turquia Nº13 Abril/Junho 2012 4 (Cont.) Diplomática 13 • abril/junho 2012 China Ilumina Portugal Zhang Beisan Entrevista exclusiva Dossier África Memória 25 Abril Em Destaque: Paul Schmit Luxemburgo Bernarda Gradišnik Eslovénia Bouza Serrano Portugal

Diplomática 13

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China Ilumina Portugal Zhang Beisan Entrevista exclusiva

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Page 1: Diplomática 13

1 • Diplomática - Junho/Julho 2008

´Diplomaticabusiness & Diplomacy

With English & French Texts

Textos dos Embaixadores:Alemanha, Bélgica, Chipre, França, Itália, Kuwait, Malta, Reino Unido, Rússia e Turquia

Nº13Abril/Junho 2012€4 (Cont.)

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br

il/j

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12

China Ilumina Portugal

Zhang BeisanEntrevista exclusiva

Dossier África

Memória 25 Abril

Em Destaque:Paul SchmitLuxemburgo

Bernarda GradišnikEslovénia

Bouza SerranoPortugal

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4 • Diplomática - abril/junho 2012

DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. av. Engº Duarte pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 lisboa.

MARkETINg & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: madeira & madeira, S.a. DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45

iSSn 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395

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AssuntosSummary

Espaço Diplomático – convidados, os embaixadores da alemanha, bélgica, chipre, França, itália, malta, reino unido, russia, turquia e Kuwait fizeram questão de evidenciar, através dos seus textos, a importância da evolução da política mundial.Diplomatic area – invited, the ambassadors of Germany, belgium, cyprus, France, italy, malta, uK, russia, turkey and Kuwait made a point of showing, through their texts, the importance of the evolution of world politics

presidente da república na Finlândia – construindo novas pontespresident of portugal in Finland – building new bridges

Embaixador da china em portugal – china pode ser o portal privilegiado da expansão de portugal na ásiaambassador of china in portugal – china may be the privileged site of the expansion of portugal in asia

Durão barroso – Doutor honoris causa pela utlDurão barroso – Doctor honoris causa by utl

Economia -patrick Siegler-lathrop – inverno ou primavera?Economy -patrick Siegler-lathrop – Winter or spring?

mariano rajoy e pedro passos coelho – portugal e Espanha analisam combate à crisemariano rajoy, and pedro passos coelho – portugal and Spain analyze combat to the crisis

Embaixador josé de bouza Serrano – o guardião dos embaixadores acreditados em portugalambassador josé bouza Serrano – the guardian of the ambassadors accredited in portugal

Embaixadores de portugal apresentam cumprimentos ao presidente da repúblicaambassadors of portugal presented greetings to the president of portugal

Embaixador do luxemburgo – representante de um país com uma história muito rica e antigaambassador of luxembourg – representative of a country with a rich and ancient history

Embaixadora da Eslovénia – Fala-nos de si, do mundo e de maribor, capital Europeia da culturaambassador of Slovenia – Speaks abaut herself, the world and maribor

presidente cavaco recebe credenciais de novos embaixadorescavaco president receives credentials of new ambassadors

nelson mandela, aos 93 anos, continua a irradiar uma surprendente vitalidadenelson mandela, age 93, continues to irradiate a surprising vitality

a sede permanente da cplp – uma aposta para o futurothe permanent headquarters of the cplp – a bet for the future

passos coelho em moçambique – Em foco cahora bassapassos coelho in moçambique – Focus cahora bassa

lusofonia – palmira tjipilica - um resgate afirmativo da mundialização das identidadeslusofonia – palmira tjipilica - a positive rescue of the globalization of identities

ipDal comemora Vi aniversárioipDal celebrates Vi anniversary

le palais de Santos na embaixada de Françale palais de Santos in the french embassy

made in portugal -tapeçarias Ferreira de Sámade in portugal -tapestries Ferreira de Sá

Dia nacional -Emiratos árabes unidos – 40 anos a caminho da uniãonational day -united arab Emirates – 40 years on the road to union

Gastronomia -carlos medeiros – os segredos do auraGastronomy -carlos medeiros – the secrets of aura

os portugueses na orquestra de jovens da união Europeia the portuguese in the Youth orchestra of the European union

memória: a arte do 25 de abrilmemory: the art at the 25th of april

traduçõestranslation

Page 5: Diplomática 13

5abril/junho 2012 - Diplomática •

Russia

Reino Unido

Alemanhã

Itália

Malta

Turquia

Kuwait

França

Bélgica

Chipre

Invited to comment on the events of 2011 and possible forecasts for the current year, the

ambassadors of Germany, belgium, cyprus, France, italy, malta, uK, russia,turkey and

Kuwait explained through their statements the important policy developments of the year.

the texts are undoubtedly essential reading in order to understand clearly the social and

economic policy of their respective countries. ➤

Convidados a pronunciarem-se sobre os acontecimentos de 2011 e possíveis

previsões para o corrente ano, os Embaixadores da Alemanha, bélgica, Chipre,

França, Itália, Malta, Reino Unido, Russia, Turquia e kuwait fizeram questão de

evidenciar, através dos seus depoimentos, a importância da evolução da política,

em textos que são, indubitavelmente, de leitura indispensável, para entendermos,

de modo claro, a politica social e económica dos seus respectivos países. ➤

2011 Odisseia no Mundo

Page 6: Diplomática 13

6 • Diplomática - abril/junho 2012

Mesmo para os tempos atribulados que vive-

mos, 2011 foi um ano invulgar, que exigiu muito

da política externa e definiu algumas direções

novas na política interna. Foi um ano de altera-

ções profundas também para nós na Europa.

crises agudas e situações de risco em diversas

regiões do mundo colocaram a diplomacia pe-

rante missões particulares. um acontecimento

que, para além disso, também teve consequên-

cias políticas no meu país – a república Fede-

ral da alemanha – foi o terrível acidente com o

reator de Fukushima. na sua sequência, o go-

verno federal anunciou o fim da energia atómi-

ca na alemanha até ao ano 2022. a alemanha

pretende, assim, abandonar a energia nuclear

mais rapidamente do que estava planeado.

a revolta no mundo árabe - e, assim, na nos-

sa vizinhança imediata - constitui uma enorme

oportunidade, mas também um enorme desafio.

Os acontecimentos mais marcantes 2011

Helmut Elfenkämper - Embaixador da Alemanha

o desfecho deste processo histórico ainda está

em aberto. a Europa procura dar o seu con-

tributo, de forma a que as oportunidades que

advêm deste levantamento sejam positivamente

aproveitadas. temos um interesse próprio e

elementar em que existam sociedades abertas

e prósperas a Sul do mediterrâneo. o governo

federal fez ofertas atraentes para apoiar estas

sociedades, através de parcerias de transfor-

mação abrangentes. para o nosso empenho

nestes países, necessitaremos de muita persis-

tência. ➤

Espaço Diplomático

Page 7: Diplomática 13

7abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ Desde o início do ano 2011 que a alemanha

tem, em conjunto com portugal, responsabili-

dades particulares, na qualidade de membro

não-permanente do conselho de Segurança

das nações unidas, nomeadamente em ques-

tões tão importantes como a independência do

Sul do Sudão, nos esforços para a obtenção

de estabilidade e segurança no novo Estado e

na região, ou no âmbito do desarmamento e da

não-proliferação, temas que a alemanha tem

acompanhado de forma particularmente ativa.

atualmente concentramos todas as nossas for-

ças, juntamente com portugal, para demover o

regime sírio de persistir na impiedosa opressão

do seu próprio povo.

contudo, especialmente marcante para um

Embaixador alemão em lisboa em 2011 foram

os desenvolvimentos no âmbito da crise da

dívida na Europa. o governo federal contribuiu

significativamente, durante todo o ano, não

apenas para superar a crise aguda, como ainda

para elaborar uma perspetiva para a Europa do

futuro, um caminho para uma união de estabili-

dade. Este será um trabalho para continuar. o

trabalho que se faz de uma cimeira para a outra

constitui um esforço contínuo, de perseverança,

com vista a construir as novas bases para uma

Europa da competitividade, da solidez e da so-

lidariedade. para a alemanha, na qualidade de

maior economia da Europa, isto significa uma

responsabilidade particular, que o país assume.

para mim, como Embaixador alemão em lisboa,

isto também significa uma comunicação contí-

nua e uma mediação ininterrupta das nossas

posições, face a uma opinião pública, em parte,

também crítica. não existem soluções simples

e rápidas para problemas que foram criados ao

longo de muitos anos, apesar de estas serem

frequentemente exigidas. a alemanha também

se tem mostrado solidária para com a Europa –

só para o programa de apoio a portugal, con-

tribui com 17,4 mil milhões de euros – e assim

continuará no futuro. contudo, a solidariedade,

por um lado, tem de ser acompanhada pelos

esforços de consolidação pelo outro.

o governo português partilha das nossas opi-

niões de base e deu passos corajosos, no

sentido de tornar portugal mais competitivo

e solucionar a sua crise da dívida. temos um

grande respeito pelos esforços envidados. isto

tem sido constantemente sublinhado por políti-

cos alemães nas suas visitas a portugal no ano

passado, contribuindo para encorajar o país

a prosseguir este caminho. não pretendemos

com isto exigir aos nossos parceiros condições

demasiado rigorosas para aumentar a discipli-

na orçamental, nem negligenciar a questão do

crescimento. a nossa estratégia não se esgota

na austeridade, mas aposta em impulsos inteli-

gentes para um crescimento sustentado, o que

inclui, em primeira linha, o alargamento do mer-

cado interno a novos campos, a criação de um

fundo de crescimento europeu e a celebração

de mais acordos de comércio livre.

a mensagem que, na minha opinião, mais im-

portou transmitir no ano 2011, assim como nos

próximos anos, é que não poderá haver um bom

futuro para o meu país sem a integração euro-

peia. não queremos uma Europa alemã, mas

sim uma alemanha europeia. a Europa tem de

continuar a consolidar-se na crise, e continuará,

e no fim sairá desta crise fortalecida. n

A nossa estratégia não se esgota na

austeridade, mas aposta em impulsos

inteligentes para um crescimento susten-

tado, o que inclui, em primeira linha, o

alargamento do mercado interno a novos

campos, a criação de um fundo de cres-

cimento europeu e a celebração de mais

acordos de comércio livre

Page 8: Diplomática 13

8 • Diplomática - abril/junho 2012

Ali Kaya Savut - Embaixador da Turquia

Há certos momentos em que as pessoas decidem

tomar as rédeas do destino nas suas próprias

mãos e deixar a sua marca na história. 2011, um

ano já por si agitado, pode ser facilmente rotula-

do como um ano assinalável, simplesmente pela

perceção do quanto foram profundas as ondas de

mudança que afetaram o médio oriente e o norte

de áfrica. ainda que os protestos do povo, nas

ruas e praças das cidades, já tenha redesenhado

o mapa político da região, a transformação arabe

continua a ser um trabalho em progresso em prol

da democracia e espera-se que dê os seus frutos

a longo prazo, independentemente do quanto a

situação pareça ser caótica neste momento.

neste momento de conjuntura crítica da história,

a turquia, situada numa geografia peculiar, onde

a brisa das ondas de mudança também foi real-

mente sentida, esforçou-se para fazer eco da

voz do povo nas ruas, e manter a mensagem de

esperança para a democracia na região. inspirada

pelo lema de Kemal atatürk "paz em casa, paz

no mundo", a turquia acredita que, para servir de

fonte de inspiração ás pessoas da região, tem de

manter, dentro das suas fronteiras, uma democra-

cia estável, um estado de direito forte, o respeito

pelos direitos humanos e uma economia de mer-

cado que funcione bem.

nesse sentido, em 2011, a turquia organizou elei-

ções legislativas, nas quais votaram mais de 43

milhões de pessoas. as reformas continuaram a

ser implementadas num vasto espectro de áreas,

incluindo o sistema judicial, direitos das minorias

e direitos humanos.

a turquia também mostrou uma performance eco-

nómica muito forte em 2011. após um ➤

A União Europeia e a Turquia: Um futuro comum

Espaço Diplomático

Page 9: Diplomática 13

9abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ crescimento de 8,9% em 2010, estima-se que

a economia turca apresente de novo um cresci-

mento significativo de 7,5%, en 2011. Este cres-

cimento também reduziu a taxa de desemprego

de 11,4% para 9,2%, criando mais de 1 milhão de

novos empregos. as exportações da turquia atin-

giram o seu nível mais alto, 134 mil milhões de

euros, apesar da retração do principal mercado de

destino de exportação da turquia, nomeadamente

a Europa. toda esta expansão foi atingida com

uma rigorosa disciplina fiscal, mantendo um défice

orçamental de 1,5% e uma dívida pública de 40%.

apesar de todos estes desenvolvimentos positi-

vos, existe uma área na qual a turquia não con-

seguiu fazer qualquer progresso significativo em

2011, foi no seu processo de adesão à uE. até

2011, a turquia conseguiu abrir 14 capítulos de

negociação e só fechou um único capítulo. no ano

passado, nenhum novo capítulo foi acrescentado

a essa lista durante as presidências húngara e

polaca da uE.

a questão não resolvida de chipre, continuou

a ser usada como pretexto para bloquear vários

capítulos, apesar do forte estímulo e apoio da

turquia para que as negociações em curso pu-

dessem alcançar uma solução justa e duradoura

na ilha. mais importante ainda, derivado às preo-

cupações políticas de curto prazo, alguns grandes

Estados-membros continuaram a sua resistência

ao processo de adesão da turquia. a Europa,

confusa face ao agravamento da sua própria crise

financeira, não tem sido capaz de mostrar uma

visão política suficiente, nem vontade para lidar

com a adesão da turquia.

na verdade, se o problema fosse tratado com uma

perspetiva de visão de longo prazo, a situação

seria diferente. ter-se-ia percebido que o grande

e crescente mercado doméstico da turquia, a

maturidade e a dinâmica do setor privado, o am-

biente de investimento liberal e seguro, a oferta

de alta qualidade e o custo efetivo da força de

trabalho, assim como a infraestrutura desenvol-

vida, negam todas as preocupações de que uma

eventual adesão turca, seria um fardo para a uE.

também ajudaria a uE a alcançar uma vantagem

competitiva, em relação a mercados emergentes

na ásia e américa, que seria benéfica para ali-

viar a crise económica actual.

para além disso, a adesão da turquia à uE, seria

uma resposta significativa para o aumento preo-

cupante da xenofobia, do racismo, dos preconcei-

tos contra outras culturas e religiões na Europa.

como membro, a turquia, com o seu valioso pa-

trimónio histórico e cultural, aproximaria a união

Europeia do cáucaso, da ásia central e do médio

oriente e seria um importante contributo para

a promoção dos valores da uE nessas regiões,

onde presenciamos uma grande transformação

neste momento.

Em 2012, esperamos que, uma atmosfera cres-

cente de confiança prevaleça entre os dois lados

e que novos passos visionários serão feitos para

tornar a integração uma realidade. n

Neste momento de conjuntura crítica da

história, a Turquia, situada numa geogra-

fia peculiar, onde a brisa das ondas de

mudança também foi realmente sentida,

esforçou-se para fazer eco da voz do

povo nas ruas, e manter a mensagem de

esperança para a democracia na região.

Page 10: Diplomática 13

10 • Diplomática - abril/junho 2012

On 23rd january 2012, the maltese prime minister,

the hon. lawrence Gonzi, in a short but significant

ceremony, formally returned two libyan air Force

mirage jets to the chief of the libyan armed Forces,

brigadier Sager adam al Giroshi. Eleven months

earlier, on 21st February 2011, just four days after

the start of the revolution, the pilots of these jets had

defied orders by the regime to bomb protestors and

instead flew low to avoid radar detection and defected

to malta. this incident made world news because it

confirmed, beyond any doubt, that the Gaddafi regime

was targeting innocent civilians indiscriminately. Even

though at that time the un sanctions had not yet been

approved and the international community had not yet

intervened, malta felt morally bound by its traditional

friendship to the libyan people and resisted persistent

pressure from the libyan regime to return the planes.

this incident, which fortified the aspirations of the

libyan people, encapsulates the position taken by

malta from the very start of the crisis. the maltese

Malta and the new Libya

authorities denounced the atrocities committed by the

Gaddafi regime, made it clear that Gaddafi’s departu-

re was inevitable and were among the first to recog-

nise the ntc as the sole and legitimate interlocutor

of the libyan people and eventually as the ad hoc

government of libya.

in the same spirit, malta took all necessary action to

ensure the effective application of the no-fly zone on

libya as imposed by the united nations Security cou-

ncil without joining in the military operations and parti-

cipated actively in the international contact Group on

libya, which was set up to provide leadership and an

overall political direction to international efforts to find

lasting solutions to the then-evolving crisis in libya.

undoubtedly, the biggest impact of the libyan uprising

was on the humanitarian side. it started with a mass

exodus of the terrified migrant population and conti-

nued with a protracted armed struggle with substantial

casualties. the maltese Government acted swiftly and

effectively by providing humanitarian aid and assis-

Simon Pullicino – Embaixador de Malta

Espaço Diplomático

Page 11: Diplomática 13

11abril/junho 2012 - Diplomática •

tance. With the crisis at its very early stages, malta

assisted 100 of the 193 un countries evacuating over

21,000 foreigners from libya through malta. it also

authorised a semi-military operation in transporting li-

byan refugees and injured from tunisia to misrata and

benghazi. as the struggle intensified, malta transfor-

med itself into a hub of humanitarian activity, evacua-

ting the wounded, providing urgent medical assistan-

ce, ferrying people and critical supplies and serving as

a base for several international humanitarian agencies

to deliver aid to the libyan people.

in spite of its limited resources, but living up to its re-

putation of being a truly hospitable nation at the cross

roads of the mediterranean, malta treated numerable

cases of wounded people but some cases stand out,

such as the case of Shwejga mullah, an Ethiopian

nanny, who was discovered weak and alone in the

home abandoned by muammar Gaddafi’s son han-

nibal. many newspapers claimed that hannibal’s wife

threw boiling water on her, causing horrific scalds and

burns, when she did not manage to stop hannibal’s

daughter from crying and eventually refused to beat

the child. the maltese Government brought her to

malta, gave her all the treatment and attention she

required at hospital and also offered her asylum.

malta’s stance earned the appreciation of the most

prominent ntc representatives who visited malta on a

number of occasions. besides providing medical and

humanitarian assistance, the maltese authorities also

offered an assistance package to the new libyan ad-

ministration consisting mainly of a number of scholar-

ships. malta was also one of the very first countries to

have a fully operational Embassy in tripoli, apart from

the office in beghazi, as a further gesture of support

to a free libya. in november, prime minister lawren-

ce Gonzi became the first prime minister to hold talks

with the then-newly appointed interim prime minister

El Keib during which it was agreed the maltese-libyan

joint commission will be reconvened soon to tackle a

number of priority areas including stability and secu-

rity in libya, the setting up of democratic institutions,

economic affairs and illegal immigration.

With this crisis, malta’s reputation as the nurse of

the mediterranean, (earned at the height of the First

World War, when it was transformed into a hospital to

treat some 80,000 wounded soldiers from the Gallipoli

campaign) was reaffirmed and many foreign gover-

nments, whose nationals were evacuated through

malta, expressed their appreciation.

the uS Secretary of State, hilary clinton, in a letter

to malta’s Foreign minister acknowledged malta’s

“significant and generous contribution” and continued

that “malta’s steadfast commitment to the protection

of human rights, the libyan people, and the mediter-

ranean region is laudable”.

maltese attitude to the crisis is best summed up by

remarks made by the Deputy prime minister and mi-

nister of Foreign affairs, the hon. tonio borg: our atti-

tude to our neighbouring country at the dawn of a new

era should not be inward-looking, searching for what

advantages can be gleaned from this situation, but

must be directed by a genuine attempt at assisting our

neighbours with the necessary tool-kit for constructing

a democratic state; as the nearest Eu member state,

this should be our natural vocation and mission not

in any condescending or patronising way, but our of

sincere wish to help libya to help itself.

2011 will remain forever linked with the arab Spring.

the prevailing vulnerability to the long-standing dic-

tatorships in tunisia, Egypt and libya was abruptly

and unexpectedly overpowered by the unwavering

determination of the masses to defend their legitimate

ambitions for a better future. the same countries are

now faced with new realities and enormous challen-

ges as they begin to address the complex and sensi-

tive task of rebuilding their countries. no stone should

be left unturned to ensure that in 2012 their genuine

aspirations of peace, democracy and prosperity beco-

me reality.

The Maltese Government acted swiftly and

effectively by providing humanitarian aid and

assistance. With the crisis at its very ear-

ly stages, Malta assisted 100 of the 193 UN

countries evacuating over 21,000 foreigners

from Libya through Malta. It also authorised a

semi-military operation in transporting Libyan

refugees and injured from Tunisia to Misrata

and Benghazi

Page 12: Diplomática 13

12 • Diplomática - abril/junho 2012

No plano internacional o ano de 2011 foi rico em

acontecimentos, incluindo os de carácter ambí-

guo, e em alguns casos mesmo dramáticos. basta

mencionar o aprofundamento da crise económico-

-financeira global, queda de regime de muammar

Kaddafi, agravamento da situação em torno da

Síria e irão, avaria na central atómica japonês

“Fukushima”. todavia, na minha opinião, em

geral o ano de 2011 não foi mal. o nosso país vai

lembrá-lo por causa duma série de êxitos na esfe-

ra da política externa. Venho enumerar só alguns

deles.

Foi muito significante a adesão da rússia à orga-

nização mundial de comércio. Estamos convenci-

Resultados da política externa da Rússia em 2011

dos que estamos no início duma etapa qualitativa-

mente nova da integração da rússia no sistema

económico mundial.

um êxito muito importante para a rússia foi o

avanço dos processos de integração no espa-

ço da comunidade dos Estados independentes

(cEi). Em particular, na base da união aduaneira

formou-se o Espaço Económico uno (EEu) de

rússia, bielorrússia e cazaquistão.

É de destacar positivamente a consolidação das ➤

Pavel Petrovskiy – Embaixador da Rússia

Espaço Diplomático

Page 13: Diplomática 13

13abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ posições dos países do grupo bricS (brasil,

rússia, Índia, china, áfrica do Sul). uma asso-

ciação, que no início teve um carácter informal

observando somente os assuntos económicos e

financeiros, agora bricS está a adquirir um cará-

ter muito mais diversificado passando a discutir

as questões da política atual.

no campo das relações russo-americanas conse-

guimos fazer bastante: entraram em vigor o tra-

tado sobre a redução das armas estratégicas e o

acordo sobre a cooperação na esfera da energia

atómica. a comissão presidencial bilateral rus-

so-americana, o papel importante de coordenação

da qual desempenham Serguey lavrov e hillary

clinton, tem trabalhado intensamente.

Devemos destacar o progresso na matéria de

transição gradual ao regime sem vistos entre

a rússia e a união Europeia. Durante a cimei-

ra rússia-uE realizada 14-15 de Dezembro de

2011 em bruxelas foi dada a luz verde para a

realização duma série dos passos conjuntos, a

implementação dos quais dará a possibilidade de

começar a elaboração do acordo sobre o regime

sem vistos.

lamentamos o facto que uma séria de problemas

internacionais, nos quais a rússia está diretamen-

te envolvida, foram deixados para o ano 2012.

antes de mais nada é o tema da defesa antimíssil

na Europa. não conseguiremos nos livrar deste

problema caso não chegarmos ao acordo com os

Eua (para já é a situação de impasse por cau-

sa da falta da vontade de Washington tomar em

consideração os nossos interesses nacionais),

ou realizarmos um conjunto de meios de carácter

técnico-militar anunciados pelo presidente Dmitriy

medvedev no dia 23 de novembro de 2011.

Estamos preocupados cada vez mais com o que

está a acontecer em torno do programa nuclear

iraniano. achamos que tanto teerão como a aiEa

precisam de envidar esforços conjuntos para e

muito mais para livrar-se de todos os problemas

não resolvidos. no entanto, o caminho de pressão

dura e sanções ao irão, na nossa opinião, leva ao

impasse.

Quanto à “primavera árabe”, olhamos com a

compreensão a expressão de vontade dos povos

árabes, queremos ver os Estados da região está-

veis, independentes e prósperos. infelizmente, os

acontecimentos na região de médio oriente, em

particular, na Síria e no Egito, adquirem o caráter

cada vez mais imprevisível e perigoso.

Deixe-me sugerir com uma certa parte de otimis-

mo que no 2012 vai aumentar significativamente

o número de acontecimentos positivos e animado-

res tanto para a rússia como para a comunidade

mundial em geral. n

É de destacar positivamente a consolidação

das posições dos países do grupo BRICS

(Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul).

Uma associação, que no início teve um

carácter informal observando somente os

assuntos económicos e financeiros, agora

BRICS está a adquirir um caráter muito mais

diversificado passando a discutir as ques-

tões da política atual.

Page 14: Diplomática 13

14 • Diplomática - abril/junho 2012

A revista Diplomática propôs-me escolher um tema

que marcou o ano de 2011. a meu ver, no plano

mundial, o ano transato foi marcado pelas revoluções

no mundo árabe, a queda de vários tiranos ou presi-

dentes autoritários, que esperemos, tenha continuida-

de no decorrer do ano de 2012, no sentido de serem

substituídos por democracias eleitas e tolerantes para

com as minorias religiosas e outras.

mas como já existem muitos comentários acerca

deste assunto, permitam-me pronunciar sobre o meu

país. Formações de novos governos verificam-se no

mundo quase todas as semanas mas, no caso da

bélgica, tem sido um pouco diferente. muitos amigos

têm-me colocado a mesma questão: como é que um

país ocidental pode funcionar, durante esta interminá-

vel crise, 544 dias sem governo? E sem violência...

É do conhecimento de todos que a bélgica é com-

posta por duas comunidades linguísticas de tamanho

2011, Ano da Formação de um novo Governo na Bélgica

quase igual: os Flamengos que representam cerca de

60% da população e os Valões 40%. Existe também

uma pequena comunidade de língua alemã. os Fla-

mengos, que vivem no norte do país, falam a mesma

língua (o neerlandês) que os holandeses, embora

com um sotaque diferente (como os portugueses e

os brasileiros) e os Valões, do sul, o françês, a língua

valã tendo praticamente desaparecido. as duas

grandes comunidades opõem-se por razões económi-

cas, culturais e históricas quase desde que a bélgica

conquistou a sua independência dos holandeses, em

1830. portanto, a independência da bélgica apenas

consagrou um estado de fato: os belgas, já desde a

idade média, viviam juntos, dependentes de reis ou

imperadores longínquos: espanhóis, austríacos, fran-

ceses ou holandeses.

a bélgica foi o único país da Europa a ser ocupado

duas vezes pela alemanha durante as duas Guerras ➤

Jean-Michel Veranneman de Watervliet – Embaixador de Bélgica

Espaço Diplomático

Page 15: Diplomática 13

15abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ mundiais, o que contribuiu ainda mais para o agra-

vamento das relações entre as duas comunidades

dado que a perceção em relação a estes trágicos

acontecimentos foi diferente.

o Estado belga, criado em 1830, era unitário e cen-

tralizador, tendo como único idioma oficial o francês.

no entanto, a partir do final do Século XiX, o neerlan-

dês fez um impressionante come back na Flandres,

tendo-se tornado a língua oficial nessa região. Desde

os anos 70 do Século XX, a Flandres e a Valónia

conquistaram paulatinamente uma autonomia políti-

ca e económica. É possível estabelecer um grau de

comparação entre esta autonomia e a dos Estados

americanos relativamente ao governo federal. ou

seja, abrange quase todos os aspetos da vida em

comum, como a educação (inclusive a universitária),

a cultura, os transportes, a promoção das exporta-

ções e determinados poderes fiscais e económicos.

a competência do governo federal belga é limitada

às finanças, à justiça, à defesa, às relações exterio-

res e a uma parte das competências económicas. as

restantes pastas são da competência das regiões da

Flandres, da Valónia ou de bruxelas. como a capital

tem uma grande maioria de francófonos, existe uma

autoridade competente para a educação e para a cul-

tura de toda a população francófona da bélgica, seja

de bruxelas ou da Valónia.

a crise política que estalou após as eleições de ju-

nho de 2010 e que se alastrou até aos últimos dias de

2011 foi, de fato, um record, mesmo para a bélgica,

país que assistiu, no passado, a outras crises demo-

radas na formação do governo (federal). no entanto,

o fato de ser limitado ao governo central, não se

estendendo, por isso, às comunidades flamenga ou

valã, as quais têm os seus próprios governos, parla-

mentos, orçamentos e eleições - que não coincidem

com as eleições federais – explica, em parte, a razão

da bélgica ter continuado a funcionar relativamente

bem.

Do meu ponto de vista, funcionou muito bem, na ver-

dade, tendo em conta que na ausência de um orça-

mento, as despesas eram limitadas às do orçamento

de 2010, não sendo possível, por isso, fazer ajustes

inflacionários, o que obrigou a limitar as despesas

públicas.

outro fator de estabilidade, mesmo na ausência de

um governo formalmente instalado com plenos pode-

res, foi o fato do novo parlamento, eleito em 2010, ter

prestado juramento, assumindo, de imediato, o con-

trolo democrático dos assuntos correntes do governo

federal. Este, sob pressão dos acontecimentos, teve

que asumir a presidência rotativa da uE, que foi um

sucesso, e foi levado a tomar determinadas decisões

importantes, tais como o envio de aviões de combate

F16, os quais contribuíram para o bloqueio das forças

aéreas de Kadafi em conformidade com a resolução

relevante do conselho de Segurança da onu.

o governo federal que se instalou (finalmente) em

novembro tem duas tarefas: cumprir as medidas

drásticas impostas a todos pela crise do Euro e

alargar ainda mais o leque de competências a se-

rem exercidas pelas regiões, tais como, os assuntos

sociais.

Desta feita, o maior fator de estabilidade é o prag-

matismo e o espírito pacífico dos belgas que, apesar

de conflitos eternos entre francófonos e flamengos,

sempre resolveram os seus problemas sem violência,

com soluções políticas e “creatividade constitucional”,

soluções que causam, eventualmente, estranheza

nos observadores estrangeiros. no entanto, ao con-

trário do que se verificou, infelizmente, no país basco,

na irlanda do norte ou na ex-Yugoslávia – limitando

os casos apenas ao espaço europeu –, a bélgica

nunca assistiu a atos de terrorismo, assassinatos ou

violência política.

apesar de ter sido um país que foi palco de eternas e

sangrentas guerras entre os seus vizinhos europeus

(sendo possível ainda hoje visitar campos de batalha

como Waterloo, Ypres e bastogne), é, para o povo

belga, um motivo de orgulho viver num país pacífico

e tolerante que acolhe a sede das principais insti-

tuições europeias, fruto da integração europeia, a

grande realização da segunda metade do século XX,

para a qual os belgas contribuiram muito. n

Outro fator de estabilidade, mesmo na

ausência de um governo formalmente

instalado com plenos poderes, foi o fato

do novo Parlamento, eleito em 2010, ter

prestado juramento, assumindo, de ime-

diato, o controlo democrático dos assun-

tos correntes do governo federal.

Page 16: Diplomática 13

16 • Diplomática - abril/junho 2012

Como Embaixadora britânica em portugal agradeço

a oportunidade que a revista Diplomática me dá para

através deste artigo falar aos portugueses sobre o

que faz do reino unido um ótimo lugar para se viver,

trabalhar, estudar ou simplesmente para visitar duran-

te o ano de 2012.

Este é um ano marcado por acontecimentos excecio-

nais que são verdadeiramente históricos para o reino

unido. Em primeiro lugar porque comemoramos os 60

anos do reinado de Sua majestade a rainha isabel

ii. o jubileu de Diamante da rainha será uma opor-

tunidade para expressarmos a nossa gratidão pelo

extraordinário serviço que a rainha tem prestado ao

nosso país durante o seu longo reinado, tendo sido

um fator de estabilidade em tempos de verdadeira

mudança. o seu reinado já abrangeu 12 primeiros

ministros diferentes – incluindo Winston churchill -,

sendo o segundo mais longo a seguir à rainha Vitória

(que reinou durante 63 anos). muitas pessoas aqui

Um ano de oportunidades e desafios para o Reino Unido

em portugal guardarão certamente as suas memórias

pessoais das duas visitas que a rainha realizou a

portugal em 1957 e em 1985.

Depois a cidade de londres irá acolher os jogos

olímpicos e paralímpicos de 2012, a 27 de julho e a

29 de agosto. É um orgulho para nós que esta seja a

terceira vez que londres acolhe as olimpíadas (de-

pois de 1908 e 1948), um espetáculo maravilhoso que

ajuda a promover a proximidade entre os povos numa

altura em que esta se torna cada vez mais necessária

para que consigamos ultrapassar os conflitos que nos

dividem. os jogos de londres 2012 serão os mais

ecológicos de sempre (por ex: novos métodos de re-

ciclagem e construção que reduzem a pegada de car-

bono), e deixarão um legado importante em termos

de regeneração urbana (por ex: o parque olímpico

será transformado num dos maiores parques urbanos

da Europa). a construção está a decorrer dentro dos

prazos e orçamento previstos. a minha Embaixada ➤

Jill Gallard – Embaixadora do Reino Unido

Espaço Diplomático

Page 17: Diplomática 13

17abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ tem mantido um estreito contato com os comités

olímpico e paralímpico de portugal no âmbito dos

seus esforços para garantir uma boa representação

portuguesa nas olimpíadas de londres e assegurar a

maxima visibilidade possível para londres 2012 entre

a população portuguesa.

Será também uma ocasião para festejar a riqueza e a

diversidade da nossa cultura no contexto do “london

Festival 2012” que irá assinalar o final das olimpía-

das culturais; e para prestar homenagem a duas das

nossas maiores figuras literárias, William Shakespe-

are e charles Dickens, cujas obras têm estabelecido

laços entre as pessoas por esse mundo fora e têm

sido amplamente traduzidas para português.

penso que estes são motivos suficientes para que os

portugueses aproveitem esta oportunidade para co-

nhecer melhor o reino unido e os aspectos que têm

contribuido para que o nosso país tenha hoje-em-dia

centros de pesquisa de excelência que nos ajudaram

a ganhar mais de 80 prémios nobel; grandes atletas

que têm ganho medalhas de ouro; uma cultura, músi-

ca e televisão que são famosas no mundo inteiro; um

ambiente propício aos negócios que é considerado o

mais favorável na Europa; e ainda algumas das me-

lhores universidades do mundo que foram frequenta-

das por 2.745 estudantes portugueses durante o ano

de 2009-2010.

porém, não posso deixar de reconhecer que muitos

dos nossos leitores se sentirão apreensivos pelas ad-

versidades que também teremos de enfrentar ao lon-

go deste ano. tenho plena consciência de que este

será um ano muito difícil para todos nós, não só em

portugal, mas também no reino unido. o custo de

vida está a aumentar; o desemprego também; e esta-

mos a chegar à conclusão de que muitas das regalias

a que nos habituámos não são sustentáveis. Senti-

mos na pele o impacto das medidas de austeridade

que os nossos Governos têm tido que implementar

para consolidar as suas finanças públicas e encetar

as reformas estruturais com vista a criar as condições

necessárias para que as nossas economias voltem

a crescer. o mundo mudou muito e nós na Europa

temos que nos esforçar cada vez mais para enfrentar

os desafios da globalização. É uma tarefa dificil mas

estou convencida de que com o esforço e empenha-

mento de todos conseguiremos alcançar os nossos

objetivos, voltando a criar oportunidades profissionais

e bem estar para um numero de pessoas cada vez

maior.

ouvimos muito falar da velha aliança que há séculos

tem constituído um elo de ligação entre portugal e

o reino unido. porém, considero que mais impor-

tante do que o passado será projetarmos no futuro

uma colaboração melhor adaptada aos desafios dos

tempos atuais – não apenas unindo esforços em prol

do crescimento económico na união Europeia, mas

também estabelecendo parcerias em outras zonas

do mundo para além da Europa, nomeadamente em

áfrica e na américa latina. Entre janeiro de 2011 e

Dezembro de 2012 o reino unido e portugal mantêm

um relacionamento particularmente próximo no âm-

bito do conselho de Segurança das nações unidas,

onde portugal cumpre um mandato de 2 anos como

membro não permanente.

Entre os nossos dois países existe efetivamente

um bom entendimento a todos os níveis. a prová-

-lo estão as cerca de 400 empresas britânicas com

atividade em portugal e 100 investidores portugueses

no reino unido; aproximadamente 1,6 milhões de

britânicos que visitam portugal todos os anos – uma

tendência que se prevê que volte a aumentar este

ano; e os cerca de 80.000 britânicos que aqui re-

sidem. pode dizer-se que portugal é tão popular

entre os diplomatas britânicos que aqui procuram ser

colocados, como entre os turistas e as famílias que

procuram portugal para um estilo de vida mais calmo

e com mais sol.

tudo isto me leva a concluir que este período de

grandes acontecimentos e desafios serão para o

reino unido um enorme incentivo para olharmos

em frente com coragem e determinação decididos a

retomar um bom ritmo de crescimento económico e a

continuar a desempenhar um papel efetivo na procura

de um mundo melhor, mais justo e mais próspero. n

Considero que mais importante do que o pas-

sado será projetarmos no futuro uma colabora-

ção melhor adaptada aos desafios dos tempos

atuais – não apenas unindo esforços em prol

do crescimento económico na União Europeia,

mas também estabelecendo parcerias em ou-

tras zonas do mundo para além da Europa,

Page 18: Diplomática 13

18 • Diplomática - abril/junho 2012

Fiquei muito honrado com o vosso convite e com a

iniciativa da vossa revista Diplomática de me dar a

oportunidade de me dirigir diretamente aos vossos

estimados leitores, sem rodeios e com muita es-

pontaneidade, longe da linguagem da diplomacia,

considerada como língua de cortesia e até de meias

verdades!

assim, e antes de mais, quero agradecer e manifestar

a minha consideração e estima à revista Diplomá-

tica e aos seus colaboradores pelo fato de nela me

concederem um espaço neste mês de festividades

e celebração do Estado do Kuwait, por ocasião dos

cinquenta e um anos da sua independência e do

vigésimo primeiro aniversário da sua libertação, que

tiveram lugar nos dias 25 e 26 do mês de Fevereiro.

E por falar em grandes acontecimentos, comecemos

pelos ocorridos na região árabe durante o passa-

do ano de 2011. a denominada “primavera árabe”

permitiu a muitos países árabes inaugurarem uma

nova etapa de transição no seu percurso evolutivo em

Cinco décadas de vida Constitucional

termos políticos, sociais e económicos. isto aplica-se

às manifestações e revoluções que nasceram na tu-

nísia e que se propagaram ao Egito, líbia e iémen, e

às manifestações contínuas levadas a cabo pelo povo

sírio. São revoluções que estabeleceram um novo

lema de liberdade, justiça e de participação ativa na

governação através da mudança.

na verdade, as revoluções árabes tiveram e têm uma

caraterística que assenta na perseverança, conse-

guindo surpreender muitos observadores atentos ao

mundo árabe, incluindo os serviços de informação.

Só que, no meu entender, era inevitável que elas

viessem a acontecer, porque esses regimes árabes

não se aperceberam nem assimilaram que o mundo

de hoje vive uma mudança profunda influenciada pe-

los meios de comunicação social, e que nós fazemos

parte deste tecido homogéneo do mundo que partilha

o mesmo pensamento e ambição, assente em mais

liberdade, mais justiça e numa vida digna.

Gostaria muito que esses regimes tivessem tido uma ➤

Sulaiman Ibrahim Sulaiman Almurjan – Embaixador Estado do Kuwait

Espaço Diplomático

Page 19: Diplomática 13

19abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ visão proativa ou antecipadora dos acontecimentos,

e tivessem tomado a iniciativa de reformar as suas

respetivas constituições, permitindo assim a partici-

pação dos cidadãos de uma forma ordeira e pacífica,

sem recorrer à violência e ao confronto armado, que

custou a vida a milhares de pessoas no caso da lí-

bia. ou, pelo menos, que os responsáveis por esses

regimes se tivessem retirado da cena política, como

aconteceu na tunísia.

contudo, apesar da magnitude dos sacrifícios e das

perdas, vemos hoje nesses países uma nova era da

vida política, assente em constituições que protegem

as liberdades e garantem a justiça, e permitem aos

povos manifestarem as suas vontades e elegerem os

seus representantes com mais liberdade, longe de

pressões. Quero frisar aqui que, independentemen-

te dos resultados das eleições nos países árabes,

devemos aceitar a vontade dos povos, desde que o

processo seja livre e transparente e que as liberdades

estejam protegidas, e a alternância no poder também

assegurada pelos mecanismos democráticos. Sabe-

mos que o modelo democrático que estudamos é o

modelo menos mau de todos os sistemas políticos,

por isso, para poder resolver os problemas da demo-

cracia é preciso mais democracia.

Sei que muitos se questionam sobre o meu país,

o Kuwait, e onde se situa nesta “primavera árabe”.

responderei com objetividade que o Kuwait vive uma

“primavera Kuwaitiana” permanente desde há cinco

décadas, quando foi eleito o conselho para redigir a

constituição em 1961 e estabelecida a constituição

em 1962, que alterou o regime político, adotando dois

sistemas: o presidencial e o parlamentar. Esse novo

sistema permitiu organizar as primeiras eleições em

1963, as quais deram ao parlamento amplos poderes

legislativos, e permite a existência de uma oposição

responsável.

Desde então, o parlamento do Kuwait, a “assembleia

nacional”, tem conseguido exercer os seus poderes

constitucionais, convocando os ministros para os ple-

nários, e também o primeiro-ministro para o debate

político, de forma muito exigente. o parlamento do

Kuwait é considerado único no médio oriente, devido

aos poderes que lhe estão atribuídos, sobretudo a

nível legislativo.

realizaram-se eleições parlamentares no passado

dia 2 de Fevereiro, depois de o anterior governo ter

sido obrigado a apresentar a sua demissão por não

conseguir colaborar com o parlamento. Sua alte-

za, o príncipe, exerceu o seu poder constitucional,

dissolvendo o governo e convocando novas eleições

antecipadas. neste momento, foi nomeado o novo

primeiro-ministro que formou um novo governo que

irá interagir com o parlamento recém-eleito.

podemos dizer que, desde a elaboração da cons-

tituição em 1962, que salvaguardou as liberdades,

a vida política no Kuwait vive uma dinâmica política

permanente entre o parlamento e o governo. a co-

municação social tem sido também um protagonista

de primeira linha, desempenhando ao longo de todos

estes anos o seu papel de criticar construtivamente a

vida política. além disso, foram criados vários meios

de informação que, por sua vez, permitem enriquecer

o diálogo político.

por várias vezes no passado, o sistema político do

Estado do Kuwait foi alvo de duras críticas de alguns

regimes políticos árabes, devido ao espaço dado às

liberdades e ao papel de destaque que a assembleia

Geral tem na vida política.

no entanto, a “primavera árabe” vivida por alguns

países árabes no ano passado fez com que esses

países e outros entendessem melhor a visão dos

líderes do Kuwait ao optarem pela concretização da

vida parlamentar e ao insistirem nessa via logo após

a independência, isto apesar das dificuldades e das

crises que o país atravessou.

por último, quero mencionar que o Kuwait teve duas

experiências parlamentares, ainda antes da sua in-

dependência. a primeira aconteceu em 1921, quando

foi constituído o conselho consultivo, e a segunda

em 1938, quando foram realizadas eleições para a

constituição do conselho legislativo, a fim de ajudar o

governador do Kuwait a gerir os assuntos do país. no

entanto, este último conselho durou apenas 6 meses,

devido às pressões exercidas pelo protetorado.

por esta razão, digo que foi natural, depois de acabar

com o acordo do protetorado em 1899, e após o país

ter conseguido a independência em 1961, o Estado

do Kuwait ter-se dotado de uma constituição e ter

inaugurado uma nova vida parlamentar baseada na

constituição de 1962. Esta lei fundamental é consi-

derada das mais avançadas da região, na medida em

que confere ao povo amplo espaço para participar na

gestão dos assuntos do país. n

Na verdade, as revoluções árabes tiveram

e têm uma caraterística que assenta na

perseverança, conseguindo surpreender

muitos observadores atentos ao mundo

árabe, incluindo os serviços de informação.

Page 20: Diplomática 13

20 • Diplomática - abril/junho 2012

O ano de 2011 ficou marcado por dois proces-

sos de uma grande importância: a continuação

da crise das dívidas soberanas na zona euro e

as “primaveras árabes”. Eles não estão de modo

algum relacionadas mas tanto um como o outro,

irão modificar profundamente o futuro – o que é

especialmente o caso dos países do sul da Euro-

pa, como a França e portugal, membros da uE e

da zona euro, geograficamente e historicamente

próximos do mundo árabe.

a crise das dívidas soberanas na zona euro é

uma consequência indirecta da crise financeira

que eclodiu em 2007-2008 nos Estados unidos.

Foi pelo facto de os nossos Estados terem de

intervir em massa para salvar os bancos (como

na irlanda) ou para limitar a recessão injetando

dinheiro público na economia, que os déficit e as

dívidas públicas desapareceram. mas este mesmo

choque incidiu de maneira diferente sobre os paí-

ses e foi revelador de um duplo problema: a nível

O ano de 2011

nacional, os países cuja situação financeira (do

Estado, das empresas e das famílias) e económi-

ca (em termos de crescimento, de produtividade,

de competitividade e de contas externas) era mais

frágil resistiram menos bem e, por vezes, tiveram

de pagar caro – três dos quais foram obrigados a

recorrer à ajuda europeia e internacional; a nível

europeu, esta crise mostrou a insuficiência do

pilar económico da união económica e monetária

(o que aumentou as divergências no seio da zona

euro) e a inexistência de mecanismos de gestão

de crise.

Face a esta tormenta, foi necessário agir a dois

níveis: tratar dos casos especiais e dos proble-

mas sistémicos; intervir em situação de urgência

e criar instituições, mecanismos e meios para o

futuro. Em 2011, portugal foi o terceiro país da

zona euro a beneficiar de um plano de ajuda que

tem como contrapartida um ajustamento orçamen-

tal e reformas estruturais. no plano geral, a zona ➤

Pascal Teixeira da Silva – Embaixador de França

Espaço Diplomático

Page 21: Diplomática 13

21abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ euro foi consolidada e assenta desde então em

quatro pilares: solidariedade (com a criação do

mecanismo europeu de estabilidade que pereniza

o Fundo europeu de estabilidade financeira), dis-

ciplina (com o “semestre europeu”, o “six-pack”,

e o tratado sobre a estabilidade, a coordenação

e a governança adotado em janeiro passado

mas cujas bases foram lançadas em Dezembro

de 2011), governança (com a realização de uma

cimeira regular da zona euro) e crescimento ( com

o pacto euro mais e a declaração do conselho

europeu sobre o crescimento e o emprego). os

fundamentos estão, portanto, ao dispor para refor-

çar a convergência das nossas economias e as

tornar mais fortes num mundo globalizado e com-

petitivo, marcado pelo desenvolvimento rápido de

potências emergentes.

a Europa pode ter parecido hesitante, lenta e

dividida. mas trata-se de 27 Estados nações (17

na zona euro) soberanos. cada Estado-membro

tem a sua história, as suas caraterísticas e é uma

democracia com as suas tradições e as suas

dificuldades. contrariamente ao que se diz, muito

foi feito, e muito mais do que se podia imaginar

quando a crise rebentou. Se se comparar com o

processo de decisão no caso de outras entidades

políticas, a união Europeia, que é uma constru-

ção sui generis, menos do que uma federação

mas bem mais do que uma organização regional,

conseguiu agir e inovar.

nem tudo está resolvido porque, para além da

ação em caso de urgência, os nossos países

devem adaptar a sua economia à nova partilha

mundial e os seus sistemas sociais a esta última

assim como às evoluções demográficas. o exem-

plo de portugal mostra que é necessário agir em

várias frentes, com determinação e espírito de

sacrifício, para o bem das gerações futuras.

na margem sul do mediterrâneo, 2011 foi um ano

de transformações formidáveis. as revoluções

árabes mostraram ao mesmo tempo a universali-

dade das aspirações à liberdade, à dignidade, à

justiça e à democracia e o poder espantoso das

redes sociais e dos meios de comunicação que

foram os seus vectores. certas revoluções foram

rápidas e relativamente pouco violentas e outras,

pelo contrário, provocaram – e ainda provocam,

como na Síria – repressões ferozes e confrontos

mortíferos. tem de se prestar homenagem à cora-

gem desses povos que defendem e reclamam os

seus direitos, muitas vezes, com o risco da pró-

pria vida. a intervenção na líbia, de apoio a uma

população entregue à pior sorte, foi a ocasião

para que a coligação que uniu Europeus, árabes

e americanos pusesse em prática o princípio da

“responsabilidade de proteger”. Quem poderá di-

zer que esta ação, limitada quanto ao seu propó-

sito e ao tempo, não salvou vidas e não esteve ao

serviço do povo líbio?

logo que os regimes opressores sejam derrota-

dos, é necessário construir a democracia. os Eu-

ropeus estão bem colocados para saber o que é

um processo exigente e longo. os povos recupe-

raram o seu direito a decidir sobre o seu destino,

não serão os outros a dizer em seu nome o que

lhes convém ou não. os povos árabes não se in-

surgiram para substituir uma opressão por outra.

tenhamos confiança neles para que o pluralismo,

a tolerância, os direitos das minorias e os direitos

fundamentais do indivíduo sejam respeitados.

no que diz respeito às relações entre as duas

margens do mediterrâneo, abre-se um novo

capítulo de cooperação cuja parceria proposta

em Deauville, na primavera de 2011, lançou as

suas bases. os campos de ação são numerosos:

comércio, ambiente, mobilidade, educação. as jo-

vens democracias firmar-se-ão na medida em que

elas souberem responder às aspirações da popu-

lação, em especial da juventude. É da sua res-

ponsabilidade, mas também do nosso interesse.

2011 foi um ano tumultuoso e perigoso, que ter-

minou com perspetivas encorajantes que o ano de

2012 deverá prosseguir e aprofundar. n

A Europa pode ter parecido hesitante,

lenta e dividida. Mas trata-se de 27 Esta-

dos nações (17 na zona euro) soberanos.

Cada Estado-membro tem a sua história,

as suas caraterísticas e é uma democra-

cia com as suas tradições e as suas difi-

culdades. Contrariamente ao que se diz,

muito foi feito, e muito mais do que se

podia imaginar quando a crise rebentou.

Page 22: Diplomática 13

22 • Diplomática - abril/junho 2012

2011 foi um ano que os italianos recordarão por muito

tempo. iniciou-se como o 150º aniversário da unidade

da itália. um ano de comemorações, debates e refle-

xões sobre o passado e sobre o futuro do país. Sobre

a sua histórica identidade nacional e sobre a sua nova

identidade europeia. ninguém teria imaginado que se

tornaria o ano da maior emergência económica expe-

rimentada pelo país na sua história recente bem como

do início do maior processo de reforma que a repúbli-

ca já viveu.

os primeiros sinais da chamada crise da dívida

tinham-se manifestado durante o Verão. o Governo

no poder, presidido por Silvio berlusconi e apoiado por

uma maioria de centro-direita, tinha começado a tomar

as primeiras medidas. Era preciso convencer os mer-

cados que, apesar do alto nível da sua dívida pública,

a itália tinha uma economia sólida e estava bem deter-

minada para pôr em ordem as suas finanças levando

também a cabo as necessárias reformas estruturais.

a crise porém tornou-se repentinamente mais aguda

e os acontecimentos aceleraram-se de tal forma que a

resposta do Governo foi insuficiente para reconquistar

a confiança dos mercados. começou a prospectar-se

o fantasma de um default financeiro italiano. um de-

sastre económico que, dadas as dimensões da nossa

economia, nenhum plano de salvação teria podido

evitar. além do mais, com o risco de que, num meca-

nismo em cadeia, a queda financeira italiana pudesse

arrastar consigo a Espanha e toda a zona euro. o

próprio processo de integração europeia parecia já

estar em risco.

os desenvolvimentos do quadro político sofreram por

sua vez uma viragem brusca. já não havia tempo para

enfrentar a crise com novas eleições, nem existiam

no parlamento os números para alcançar uma nova

maioria. a única solução era um “Governo técnico”

que, apoiado por uma coligação de união nacional,

lançasse imediatamente um pacote de reformas muito

vastas. E assim foi.

o presidente da república napolitano confiou a difícil

missão ao Senador mario monti, economista de longa

experiência e de grande prestígio na cena europeia.

já transcorreram alguns meses, a crise ainda não

passou e há ainda muito a fazer, mas a itália retomou

o controlo da sua situação. os italianos recomeçaram

a ter confiança em si próprios e acreditam que os seus

sacrifícios não só salvarão o seu país, mas darão um

contributo fundamental para o relançamento de toda a

economia europeia.

o que é que foi feito?

a ação do Governo italiano desenvolveu-se em três

pilares: a consolidação orçamental; o crescimento e a

equidade social.

o processo de consolidação fiscal, já levado a cabo

pelo Governo berlusconi, foi confirmado e mesmo

intensificado. Forte por um superavit primário de 5,5%

do pnb, a itália antecipará para 2013 o objectivo do

equilíbrio orçamental, inicialmente programado para

2015. a tal fim, a reforma do sistema pensionístico

revestiu-se de uma particular importância. a introdu-

ção imediata de um método de cálculo das pensões

baseado nos descontos que cada trabalhador fez ao

longo da sua vida laboral em vez do último ordenado

recebido, tornarão logo o sistema pensionístico italiano

mais sustentável. o mesmo sucedeu com a medida

paralela do aumento da idade de reforma. É agora

possível dizer que a itália tem um dos modelos pensio-

nísticos mais avançados da Europa.

Depois, existem as medidas decisivas para favorecer o

crescimento e a criação de postos de trabalho. a ideia

de fundo foi a de identificar e remover sem atrasos os ➤

Renato Varriale – Embaixador de Itália

Espaço Diplomático

Page 23: Diplomática 13

23abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ nós e os obstáculos que por mais de dez anos atra-

saram o desenvolvimento do país e causaram a perda

de competitividade dos seus produtos. uma tarefa

difícil a realizar também porque se choca com os in-

teresses de determinados grupos sociais e categorias

profissionais.

trata-se portanto de medidas destinadas a melhorar

o clima produtivo, reforçar os investimentos em infra-

estruturas e garantir a protecção dos consumidores

através de processos de liberalização e desregula-

mentação dos mercados. a par disto, existem tam-

bém novas normas destinadas a simplificar de forma

radical os processos administrativos, a fim de que a

administração pública deixe de pesar na eficiência do

sistema produtivo. o próximo passo será a reforma do

mercado de trabalho com o objectivo de lhe reduzir a

segmentação e favorecer os que, sobretudo entre os

jovens e as mulheres, têm mais dificuldade a inserir-se

num mundo produtivo, onde são muitas as garantias

para quem já está empregado, mas bem menores são

as facilidades para quem procura o primeiro emprego.

por outras palavras, um sistema que saiba encontrar a

justa medida de equilíbrio entre a segurança do posto

de trabalho típica do modelo social democrata e a

mobilidade e flexibilidade típicas dos modelos liberal

democratas.

o terceiro pilar é o da equidade. os sacrifícios devem

ser distribuidos equitativamente entre a população. De

outro modo a credibilidade de todo o sistema reformis-

ta e as medidas de austeridade são recebidas como

injustas e desnecessárias. neste campo, o Governo

está cada vez mais empenhado numa dura luta contra

a evasão fiscal, uma praga que retira ao Estado enor-

mes recursos e que gera fortes desiquílibrios sociais.

todo este conjunto de medidas foi aprovado por dois

decretos, designados de forma emblemática “Decreto

Salva-itália” e “Decreto cresce-itália”. uma linguagem

simples e clara que quis explicitamente recordar aos

italianos que a salvação do país só podia assentar

em dois factores entre eles indissolúveis: o rigor e o

crescimento.

tal mensagem foi plenamente recebida pela opinião

pública e pode-se dizer que em itália já persiste larga-

mente a consciência da necessidade da totalidade do

dito “pacote” de reformas. a grande parte das forças

políticas presentes no parlamento acolheu por sua vez

este modo de sentir dos eleitores que aliás contribuiu

para que o Governo monti recebesse o indispensável

crisma democrático do apoio parlamentar. um apoio

feito através de um diálogo contínuo com o “Gover-

no técnico” e virado para uma procura contínua da

convergência sobre os temas substanciais da política,

numa visão mais estratégica e menos táctica do que

o que tinha acontecido nos últimos anos. a “gover-

nance” do sistema está a ser cada vez mais o centro

do debate, independentemente do problema de quem

virá a receber a herança do Governo-monti no final da

legislatura em 2013.

E como reagiu a Europa?

a Europa felizmente começou a sentir a itália já não

como “um problema, mas como parte da solução”. É

o que o primeiro ministro monti gosta justamente de

repetir. a itália demonstrou humildade e consciência

das próprias fraquezas. E não exitou em arregaçar

as mangas para finalmente remediar a situação. Se

a dívida pública é um problema e sê-lo-à ainda por

alguns anos, existem já todas as premissas para que

essa, finalmente refreada, deixe de crescer e antes

diminua. Entretanto, as reformas deverão reconquis-

tar a confiança dos mercados e voltar a dar compe-

titividade ao Sistema-itália. a nação pode de fato

contar com alguns pontos fortes que não o deixaram

de ser mesmo durante a crise: um defict baixo e já

com tendência para zero; uma dívida pública alta

mas que em mais de 52% está nas mãos dos bancos

e das famílias italianas; uma dívida privada entre as

mais baixas dos países industrializados; uma rique-

za acumulada (net wealth) per-capita segunda no

mundo; uma indústria em plena actividade e capaz

de inovar e exportar (se se excluirem as importações

energéticas, a balança comercial italiana está habitu-

almente em superavit).

Em conclusão, a crise que por ironia da história se

instalou precisamente no 150º aniversário da unidade

do país, foi o motor de arranque para dar início a uma

renovação radical, que será não só económica, mas

também política, social e cultural. a itália quer sair da

crise mais moderna, mais produtiva, mais justa e mais

europeia.

Que me seja permitido escrever ainda mais algumas

linhas sobre a Europa. o Governo italiano está con-

vencido de que a fórmula vencedora para ultrapassar

a crise é composta por diversos factores: rigor finan-

ceiro, mas também crescimento; crescimento, mas

na equidade social; equidade social, mas de modo

sustentável. também são necessários solidariedade

e verdadeiro espírito de integração. reafirmação do

método comunitário, como único método de formação

de um consenso convicto, sólido e duradouro entre os

povos da Europa. E por último: não percamos o desejo

de sonhar de que no fim do caminho esteja uma Euro-

pa verdadeiramente unida. n

Page 24: Diplomática 13

24 • Diplomática - abril/junho 2012

Dos inúmeros eventos que marcaram o ano passado

à escala mundial, o mais alarmante foi a catástrofe

nuclear no japão. no rescaldo do terramoto e do

tsunami ocorridos a 11 de março de 2011, o derreti-

mento que teve lugar na central nuclear Fukushima

Daiichi foi considerado o pior acidente nuclear desde

a explosão em chernobyl em 1986. Vinte e cinco

anos depois de chernobyl e dos seus efeitos trágicos

e devastadores, as consequências a longo prazo para

o ambiente e para a vida humana ainda se encontram

sob avaliação, numa altura em que o estudo do im-

pato de Fukushima Daiichi revela diariamente o lado

mais sinistro da energia nuclear.

juntamente à contínua incapacidade de aprender

com os erros e de reduzir significativamente a pos-

sibilidade de ocorrerem acidentes nucleares que

carateriza a comunidade industrial, o desastre de

Fukushima Daiichi constituiu um sério golpe para o

renascimento nuclear. (Esta expressão foi criada na

década de 90, quando o interesse na energia nucle-

ar ressurgiu na Europa e nos Eua, na sequência do

aumento das preocupações ambientais devidas à

Acontecimentos mais marcantes durante o ano 2011

utilização de combustíveis fósseis e às regras mais

rígidas impostas às centrais baseadas neste tipo de

energia). como W. j. nuttall referiu no seu genial livro

'nuclear renaissance' (2005), o percurso da energia

nuclear está repleto de histórias sobre custos descon-

trolados, atrasos de construção, riscos de segurança

e acidentes ocasionais.

há alguns anos atrás, visitei a central nuclear de

olkiluoto, na Finlândia, bem como o colossal local de

construção da fase três do projeto. ainda tenho uma

sensação avassaladora provocada pela paisagem

rural finlandesa, calma e serena, dominada por uma

beleza industrial silenciosa de dimensões surreais;

sem dúvida uma obra de arte surrealista. Foi-me en-

tão revelado o grande desafio de gerir o combustível

gasto e os outros resíduos radioativos. infelizmente,

como foi novamente comprovado pelo desastre no

japão, a energia nuclear está longe de ser segura ou

limpa.

porém, ao nível nacional e ainda no âmbito da ener-

gia, posso salientar uma evolução otimista ao longo

do ano passado. a preocupação com a segurança

energética e vários anos de planeamento cuidadoso

proporcionaram os primeiros resultados promisso-

res em Dezembro de 2011, quando uma unidade de

perfuração de exploração ao largo de chipre con-

firmou a descoberta de 7 triliões de pés cúbicos de

gás natural. a descoberta foi anunciada pela "noble

Energy", uma das maiores empresas norte-america-

nas de exploração de gás e petróleo, que realizou a

perfuração no bloco 12 na zona económica exclusiva

de chipre. É um resultado importante para o futuro

do nosso crescimento e desenvolvimento económico,

aliado aos nossos esforços redobrados no sentido de

expandirmos a utilização das fontes de energia reno-

váveis, sobretudo a energia solar.

para concluir a minha reflexão sobre as questões

energéticas e os eventos do ano passado, quero elo-

giar as conquistas portuguesas no uso das fontes de

energia renovável. o facto de 52% do total da eletri-

cidade é produzida por este tipo de energias, é sem

dúvida um exemplo a seguir. n

Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre

Espaço Diplomático

Page 25: Diplomática 13
Page 26: Diplomática 13

26 • Diplomática - abril/junho 2012

Anibal cavaco Silva visitou a Finlândia, concretamente, a ci-

dade de helsínquia, onde teve uma agenda intensa, pois para

além de participar na reunião do Grupo de arraiolos (que reuniu

9 chefes de Estado da união Europeia sem funções executi-

vas), antecipou a viagem para uma visita bilateral, cujo objetivo

se centrou na nanotecnologia, na economia do mar, estabelecer

alianças e atrair investidores.

neste âmbito, cavaco Silva visitou uma série de empresas e

instituições, nomeadamente a nokia Siemens e a própria nokia,

que já emprega, em portugal, mais de 2000 pessoas, a Finpro,

a congénere finlandesa da aicEp, o laboratório micronova e a

universidade de aalto. cavaco Silva visitou também a empresa ➤

ViaGENs DE EstaDo

Presidente da República na FinlândiaConstruindo novas pontes

Page 27: Diplomática 13

27abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ picosun, onde se fazem aplicações de nanotecnologia.

o presidente da república destacou “ser esta uma boa opor-

tunidade para mostrar a estas empresas que o nosso país é

um lugar de investimentos sofisticados”. cavaco Silva destacou

que as relações políticas entre os dois países são excelentes

e que há um potencial a preservar a aproveitar no campo da

cooperação.

Quanto à tradicional reunião anual do “Grupo de arraiolos”, foi

naturalmente debatida a situação na união Europeia, mas tam-

bém a tolerância e a luta contra a discriminação e a situação

nos países na margem sul do mediterrâneo. tema este apre-

sentado pelo próprio cavaco Silva. n

Page 28: Diplomática 13

28 • Diplomática - abril/junho 2012

Zhang Beisan, Embaixador da china em portugal, por maria bragança e josé leite

China pode ser o portal privilegiado da expansão de Portugal na Ásia

O embaixador da China em Portugal, Zhang Beisan, um diplomata que fala

português e com uma carreira ligada a questões lusófonas, foi antigo

embaixador em Angola, esteve colocado em Cabo Verde e fez parte do grupo

de ligação – Conjunto Luso-Chinês – orgão que acompanhou o processo

de transição de Macau para a administração chinesa. ➤

Diplomacia Na 1ª pEssoa

Page 29: Diplomática 13

29abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ Como se traduz a entrada de

capital da China Three gorges

Corporation na EDP, no que

respeita, ao desenvolvimento

das relações entre a China e

Portugal?

a china e portugal tiveram uma

relação diplomática de 33 anos

sem sobresaltos. Em 1999, os

dois países resolveram a ques-

tão de macau através de uma

negociação amistosa, o que

constituiu um sólido alicerce

para o avanço do nosso relacio-

namento no Século 21. Em 2005,

durante a visita do primeiro-mi-

nistro da china, Sr. Wen jiabao,

foi estabelecida uma parceria

Estratégica Global Sino-portu-

guesa, que marcou a entrada

duma nova fase da nossa coo-

peração amistosa. como uma

parte importante desta parceria,

a cooperação económico-co-

mercial tem demostrado um bom

crescimento nos últimos anos. o

comércio bilateral tem mantido

um rápido crescimento apesar

das dificuldades da crise das

dívidas soberanas na Europa,

em que a exportação de portugal

para a china cresceu 68% no

ano passado, um desempenho

de destaque tanto no comércio

entre a china e os países da

união Europeia, como na ex-

portação portuguesa em geral.

portanto, a cooperação entre a

ctG e a EDp, da mesma forma

como a cooperação entre a State

Grid e a rEn, são frutos naturais

do amadurecimento deste rela-

cionamento económico-comercial

e uma prova da parceria Estra-

tégica no domínio económico.

a china sempre atribui muita

importância às suas relações

com portugal e está contente

com os êxitos já alcançados na

cooperação económico-comer-

cial bilateral. Estamos dispostos

a apoiar a parte portuguesa para

a promoção da cooperação sino-

-portuguesa nas áreas política,

económico-comercial, científico-

-tecnológica e cultural.

Acha possível que mais com-

panhias chinesas possam

investir em Portugal? Em que

setores considera isso ser

possível e se esse facto pode-

rá ser benéfico, especialmente

nos mercados internacionais?

na época de globalização em

que vivemos, empresas de

diferentes países fazem investi-

mentos mútuos e se fundem uns

com os outros. acompanhando o

desenvolvimento económico da

china, e em especial com o for-

talecimento das suas empresas,

será cada vez mais frequente

e normal ver empresas chine-

sas com peso a ampliar o seu

investimento no exterior. para

todos os potenciais investidores,

incluindo os chineses, uma eco-

nomia avançada e um mercado

maduro como o de portugal são

naturalmente atraentes. tenho

confiança, de que desde que

portugal mantenha um desenvol-

vimento económico e uma aber-

tura do seu mercado, vai haver

cada vez mais empresas chine-

sas interessadas em investir em

portugal.

para falar dos benefícios das

cooperações sino-portuguesas

no mercado internacional, basta

olhar para o caso ctG-EDp. am-

bas as empresas têm importan-

tes influências no setor de ener-

gia limpa, mas cada uma possui

vantagens diferentes em pesqui-

sas tecnológicas, administração

interna e ocupação no mercado.

isso torna a sua cooperação

uma fórmula de “1+1>2”, que

é certamente benéfico para o

crescimento conjunto das duas

empresas, criando melhores

condições para estas se expan-

direm no mercado internacional.

Esperamos e encorajamos as

empresas dos dois países a rea-

lizarem mais cooperações desta

natureza.

Qual o ponto de situação da

balança comercial entre a Chi-

na e Portugal? Produtos que

são mais exportados e impor-

tados entre os dois países,

pode revelar-nos alguns núme-

ros?

há uma pequena diferença entre

os números chineses e os nú-

meros portugueses, mas ambos

demonstram um bom desenvol-

vimento do comércio bilateral,

e que a exportação portuguesa

para a china vem apresentando

um rápido crescimento apesar da

crise da dívida soberana euro-

peia. De acordo com os números

recentemente publicados pelo

inE, o comércio de produtos

entre a china e portugal chegou

a um valor de 1,99 mil milhões

de euros em 2011, obtendo um

crescimento de 4,6%. a expor-

tação chinesa para portugal foi

1.49 mil milhões, uma redução

de 4,9%, enquanto a exporta-

ção portuguesa para a china

foi 395 milhões de euros, um

impressionante crescimento de

67,9%. as primeiras categorias

de produtos chineses importados

por portugal são: maquinaria e

equipamento elétrico (22,94%),

maquinaria mecânica (10,13%)

e aço e ferro (7,05%), enquanto

na exportação para a china são

sal mineral e pedras (15,2%),

maquinaria e equipamento elé-

trico (13,31%) e pasta de papel

(13,09%). Fora destes produtos,

nota-se na exportação portugue-

sa um significativo crescimento

de produtos de cortiça, vinho tin-

to e azeite. Gostariamos de ver

cada vez mais empresários ➤

Page 30: Diplomática 13

30 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ portugueses a exportarem e a

investirem no mercado chinês.

A entrada de capitais chineses

na banca será o próximo pas-

so, especialmente no banco

Comercial Português(bCP) e

no banco Espírito Santo(bES)?

nos últimos anos, com o apro-

fundamento das relações

económico-comerciais sino-por-

tuguesas em geral, e o estrei-

tamento de cooperações entre

as suas empresas, há cada vez

mais contactos e intercâmbios

na área financeira. Em alguns

casos já há projetos concretos.

Desde o início da

crise da dívida

soberana, alguns

bancos portugue-

ses apostaram

no investimento

estrangeiro como

forma de fortale-

cer a solidez do

capital e amenizar

a falta de liquidez.

neste contexto, alguns respon-

sáveis das instituições financei-

ras chinesas visitaram portugal a

convite de instituições e bancos

portugueses para conhecerem

melhor o mercado e fazerem

intercâmbios. com um melhor

conhecimento e intercâmbio

mútuo, especialmente conheci-

mentos sobre as condições do

mercado e das políticas e regu-

lamentos financeiros em cada

país, a potencialidade de coope-

ração financeira entre a china e

portugal será explorada.

Em contrapartida, este acordo

entre a China Three gorges

Corporation e o governo de

Passos Coelho pode poten-

ciar a internacionalização de

empresas portuguesas para

o mercado chinês, especial-

mente das Pequenas e Médias

Empresas? Há alguma forma

de apoio à internacionalização

para as empresas chinesas?

primeiro quero lembrar que, a

compra de ativos da EDp pela

china three Gorges foi uma

operação comercial como outras

operações normais. o Governo

português colocou as suas con-

dições para a venda dos respeti-

vos ativos de uma maneira trans-

parente e imparcial. a empresa

chinesa, bem como empresas de

outros países, participaram nes-

te concurso de forma transparen-

te e imparcial, e a empresa chi-

nesa acabou sendo a vencedora.

acho que não

devemos atribuir

a esta operação

um significado que

não lhe cabe. por

outro lado, tanto a

ctG e a EDp são

grandes empresas

com muita influ-

ência nos seus

respetivos países,

e têm empresas fornecedoras

de produtos e serviços, que são

sobretudo pequenas e médias

empresas. neste sentido, acredi-

to que a operação entre a ctG e

a EDp ajudará ao estreitamento

da cooperação entre pequenas e

médias empresas dos dois paí-

ses, criando oportunidades para

empresas portuguesas entrarem

no mercado chinês. além disso,

a futura cooperação entre a ctG

e a EDp servirá também como

exemplos e estímulos às pmEs.

a china é membro da omc. o

mercado chinês é aberto, mas

também é muito disputado. Es-

pero que as empresas portugue-

sas possam ganhar a sua parte

neste mercado com produtos e

serviços de excelente qualida-

de.

respondendo à segunda parte

da pergunta, a internacionaliza-

ção das empresas é uma exi-

gência e consequência natural

do processo da globalização

económica. o desenvolvimento

económico fez com que as liga-

ções entre a china e o mundo

ficassem cada vez mais estrei-

tas. com o Governo português, o

Governo chinês sempre encoraja

e apoia empresas chinesas com

potencialidade para investir no

exterior, explorando o mercado

internacional. na china, des-

crevemos a internacionalização

das empresas com a palavra

“saída”. mas questões como em

que forma sair, com quais em-

presas estrangeiras cooperar e

em que área investir são deci-

sões independentes e da total

responsabilidade das empresas,

como ditam as regras vigentes

no mercado internacional. o que

determina o sucesso ou fracasso

da estratégia de internacionali-

zação das empresas chinesas é

a sua própria decisão e imple-

mentação.

A China pode ser o portal pri-

vilegiado da expansão comer-

cial de Portugal na Ásia?

como eu acabei de dizer, o

mercado chinês tem estado

sempre aberto aos produtos

portugueses. Vemos com bons

olhos e apoiamos as empresas

portuguesas a virem competir

no mercado chinês ou até asiá-

tico com produtos e serviços de

excelente qualidade. nos últimos

dois anos, a exportação portu-

guesa para a china tem crescido

a um ritmo bastante acelerado, o

que para nós é motivo de satis-

fação. ainda há muito espaço

para este crescimento, mas isso

exige um esforço acrescido dos

empresários dos dois países,

especialmente dos empresários

portugueses.

O que levou a segunda maior ➤

Zhang Beisan

O comércio bilateral

tem mantio um rápide

crescimento, apesar das

dificuldades da crise das

dívidas soberanas na

Europa, em que a expor-

tação de Portugal para

a China cresceu 68% no

ano passado

Page 31: Diplomática 13

31abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ economia do mundo, atual-

mente em grande expansão a

interessar-se por um pequeno

país com uma economia perifé-

rica e fragilizada localizada no

extremo da Europa? A possibi-

lidade de servir como platafor-

ma para outros mercados onde

Portugal tem tradição, como o

é, o caso dos mercados africa-

no e brasileiro?

as empresas chinesas não

são as únicas a interessar-se

por portugal. Sei que, grandes

empresas internacionais, como

Volkswagen, a Siemens da

alemanha, a pSa, Danone da

França, canon do japão, entre

outras, já têm investimentos em

portugal. não acho o investimen-

to chinês em portugal um fato a

estranhar, mas antes uma fato

natural. aliás, a existência de

tantos investimentos estrangei-

ros monstrou que estes inves-

tidores, incluindo os chineses,

acreditam no futuro do mercado

português a longo prazo. portu-

gal é um país com uma história

e cultura gloriosas, é membro da

união Europeia e da Zona Euro.

É um país que hoje conta com

uma população com um nível de

educação avançado. tudo isso

são uma base importante para

um desenvolvimento económico

próspero. Sempre acredito que,

as dificuldades que portugal

enfrenta são temporárias. Espe-

ro que portugal saia o mais cedo

possível da crise e que a sua

economia volte ao caminho do

desenvolvimento.

para responder à segunda

parte da pergunta, vou recor-

rer a alguns números. angola

hoje em dia é o segundo maior

parceiro comercial da china na

áfrica. Em 2010, o comércio

bilateral entre a china e angola

foi 24,8 mil milhões de dólares

americanos. os dois países

assinaram, ao longo dos anos,

28,4 mil milhões de dólares em

contratos de empreitadas. há

mais de 80 empresas chinesas

a operarem em angola, totali-

zando um investimento de 350

milhões de dólares. a china é

hoje o maior parceiro comercial

do brasil no mundo. Em 2010,

o comércio entre os dois países

chegou a 62,6 mil milhões de

dólares. Empresas chinesas in-

vestiram 860 milhões de dólares

no brasil, e empresas brasileiras

390 milhões na china. os dois

países ainda celebraram acor-

dos de cooperação financeira no

valor de cerca de 10 mil milhões

de dólares. É verdade que as

últimas cooperações entre a

ctG e EDp, entre a State Grid e

rEn contêm projetos de traba-

lhar em conjunto nos mercados

africano e sul-americano, que

considero decisões naturais que

vão favorecer os seus próprios

interesses. mas os números que

referi aqui já falaram por si, pois

antes destas últimas coopera-

ções entre empresas chinesas

e portuguesas, já havia canais

fluídos de investimento e uma

base bastante sólida de coopera-

ção entre empresas

da china e empre-

sas de angola, e do

brasil. conclusão: a

áfrica e o brasil não

foram os principais

motivos de investi-

mentos chineses em

portugal.

O Sr. Embaixador

esteve como di-

plomata em Macau e acompa-

nhou o processo de transição

do antigo território português

para a China. Na sua opinião,

a forma muito positiva como

esse processo evoluiu tornou

possível o estabelecimento

destas parcerias económicas

entre os dois países?

Queria corrigir um erro na sua

pergunta. macau sempre foi

território chinês durante toda a

história. Esteve sob administra-

ção do Governo português, mas

a sua soberania nunca foi trans-

ferida.

admito que a solução pacífica da

questão de macau foi, de fato,

um grande acontecimento na

história das relações sino-por-

tuguesas. ofereceu uma base

sólida não apenas para a suces-

so da transição e posteriormente

ao desenvolvimento de macau,

mas também para o avanço das

relações entre a china e portu-

gal no novo século. Depois da

transição, macau tem mantido

uma conjuntura política estável,

uma economia próspera, o povo

satisfeito com a sua vida, o que

comprovou que as políticas de

“um país, dois sistemas” e “ma-

cau administrado pelo povo de

macau” estão corretas. o gover-

no central da china e o próprio

governo da região administra-

tiva Especial de macau também

atribuiram atenção à exploração

da vantagem de macau ter liga-

ções estreitas com

os países lusófo-

nos. Em 2003, foi

fundada em macau

o Fórum de coope-

ração Económico-

-comercial entre a

china e os países

da língua portu-

guesa, uma plata-

forma importante

para as relações económico-

-comerciais entre a china e os

países lusófonos. Em 2011, o

comércio entre a china e os

países lusófonos já ultrapassou

100 mil ➤

Tenho confiança, de

que desde Portugal

mantenha um desen-

volvimento económico

e uma abertura do seu

mercado, vai haver

cada vez mais empre-

sas chinesas interes-

sadas em Portugal"

Page 32: Diplomática 13

32 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ milhões de dólares americanos,

o investimento mútuo também

está em rápido crescimento. a

china vai continuar a aproveitar

as ligações linguístico-culturais

e legislativas entre macau e os

países lusófonos para promover

uma cooperação de maior esca-

la, maior abrangência e melhor

nível.

A propósito, o que pensa o

Sr. Embaixador da escolha do

antigo governador de Macau,

general Rocha Vieira, para o

Conselho de Supervisão da

EDP?

o General rocha Vieira é meu

amigo pessoal, mas julgo que

não é minha função nem a minha

vontade comentar uma nomea-

ção da EDp, uma empresa de

funcionamento independente.

A que se deve o “milagre eco-

nómico” chinês?

para mim nunca houve quais-

quer milagres . o êxito que a

china obteve nos últimos anos

deve-se ao trabalho duro da toda

a nação chinesa sob a liderança

correta do Governo. a china é

uma país em desenvolvimento

com uma grande população mas

uma base económica bastante

fragil, que tem que satisfazer a

crescente demanda material e

espiritual da sua população que ➤

Zhang Beisan

Page 33: Diplomática 13

33abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ representa 20% da população

mundial com apenas 7,9% de

terra lavrável e 6,5% da água

doce da planeta. Este ambiente

deu ao povo chinês uma virtu-

de de trabalhar duro, poupar a

riqueza e depender antes de

tudo da sua própria força. a

história recente da china depois

da Guerra de Ópio entre a china

e a Grã-bretanha era uma histó-

ria repleta de guerra, derrota e

pobreza. por isso o povo chinês

sabe valorizar a estabilidade

conseguida depois da formação

da nova china, especialmen-

te durante as três décadas de

reforma e abertura. o que o

Governo precisa fazer é defen-

der esta estabilidade política

e harmonia social, criando um

ambiente favorável ao desen-

volvimento económico para que

o povo possa trabalhar em paz

e tranquilidade. actualmente, o

desenvolvimento da china ainda

enfrenta desafios como o dese-

quilíbio regional e urbano-rural,

fraca capacidade de inovação

tecnológica, um sistema de se-

gurança social imperfeito, etc..

a economia chinesa, que já é

considerada a segunda maior do

mundo, ainda tem um pib per

capita de 4400 dólares, muito

inferior aos países desenvolvi-

dos incluindo portugal. hoje, o

Governo e o povo chinês estão

a concentrar-se confiantemente

no caminho do desenvolvimento

sustentável que beneficie toda a

sua população, acelerando a for-

mação de uma economia amiga

do meio ambiente, fazendo uma

maior contribuição à paz e ao

desenvolvimento do mundo.

O que falta fazer em termos de

um relacionamento mais profí-

cuo no relacionamento cultural

entre Portugal e a China, onde

existem tradições seculares?

o intercâmbio cultural é uma par-

te importante do relacionamento

entre os países. como referi,

existem tradições seculares

de intercâmbio cultural entre a

china e portugal, o que desem-

penhou um papel de relevância

para promover o conhecimento

mútuo e aprofundar a amizade

entre os nossos povos. a Embai-

xada da china em portugal sem-

pre atribui muita importância aos

assuntos culturais, tem realizado

nos últimos anos exposições de

carácteres chineses, pintura,

instrumentos musicais, entre ou-

tras. a Embaixada também tem

organizado actividades culturais

centralizadas em festivais de

importância tradicional, como o

Festival da primavera, incluindo

o convite de grupos artísticos

chineses a visitarem portugal.

Estas atividades tiveram grandes

repercurssões no público por-

tuguês. como se sabe, hoje em

dia em portugal está na moda

aprender a língua chinesa, mas

poucas pessoas sabem que

aprender a língua portuguesa,

também está na moda na china.

mais de 20 universidades chine-

sas já oferecem cursos de por-

tuguês, e o público chinês está

cada vez mais interessado em

conhecer a cultura e a história de

portugal. São condições favo-

ráveis aos futuros intercâmbios

culturais. uma base importante

para qualquer intercâmbio cultu-

ral é o respeito mútuo, não impor

os valores de um lado ao outro.

a china tem uma cultura e tradi-

ção única, e um sistema de valo-

res milenar. analisar os assuntos

da china com visão ocidental

sem levar em consideração esta

tradição, pode causar muitos

preconceitos e maus-entendi-

mentos. hoje, com a reforma e

abertura na china a aprofundar-

-se, os chineses conhecem muito

melhor sobre o ocidente do que

os ocidentais sobre a china. cla-

ro, isso não impede que a china

melhore os seus esforços de

divulgar a sua imagem ao exte-

rior, para que o mundo conheça

melhor a realidade da china.

historicamente, portugal sempre

foi um pioneiro entre potências

marítimas ocidentais em enten-

der outras culturas e em integrar-

-se na sociedade local. Espero

que portugal possa explorar bem

esta tradição histórica, e tornar-

-se outra vez pioneiro na grande

integração cultural do mundo

neste novo século.

Uma pergunta de caráter mais

pessoal: qual a impressão que

o Sr. Embaixador tem de Por-

tugal e dos portugueses? O

que mais aprecia?

Estou em portugal há um ano e

meio. portugal é um país lindís-

simo e o povo português mos-

tra sempre muita hospitalidade,

o que tornou este período de

trabalho e vida muito agradá-

veis. tive oportunidade de viajar

para muitos lugares de portugal,

impressionaram-me a tradição e

a cultura de lisboa e do porto,

os traços históricos do minho, a

vinicultura do Douro, a beleza

natural de trás os montes, a

riqueza agrícola do alentejo, o

sol e as praias do algarve e a

paisagem insular da madeira e

dos açores. portugal é em geral

um país de clima agradável e

com excelentes condições para

agricultura e turismo. o povo

português foi o povo que iniciou

a Grande navegação e os Des-

cobrimentos, uma página impor-

tantíssima na história de toda a

humanidade. apesar das dificul-

dades temporárias, tenho plena

confiança no futuro do vosso

país. n

Page 34: Diplomática 13

34 • Diplomática - abril/junho 2012

No âmbito da cerimónia solene de encerra-

mento das comemorações dos 80 anos da

utl, no instituto de ciências Sociais e po-

líticas, o presidente da comissão Europeia,

josé manuel Durão barroso, foi homenageado

com a atribuição do Grau de Doutor honoris

causa. o Doutoramento honoris causa foi,

na verdade, o reconhecimento da contribuição

dada por Durão barroso à investigação cientí-

fica no quadro europeu, que reforçou o papel

que este desempenha enquanto presidente da

uE.

josé manuel Durão barroso nasceu em lis-

boa, no dia 23 de março de 1956. Em termos

da sua formação académica, após a conclu-

são da licenciatura em Direito, na universida-

de de lisboa, continuou o seu percurso aca-

démico na Suíça. Foi diplomado com distinção

em Estudos Europeus, no instituto universitá-

rio de Estudos Europeus da universidade de

Genebra. na mesma instituição universitária

e, também com distinção, foi no Departamento

de ciência política da Faculdade de ciências

Económicas e Sociais da universidade de Ge-

nebra que obteve o grau de mestre em ciên-

cia politica, com o tema “le système politique

portugais face à l’intégration européenne”.

a sua carreira académica deixou marcas em

várias universidades do mundo. Em 1979,

fundou a associação universitária de Estudos

Europeus. Enriqueceu o seu curriculum aca-

démico com vários estudos e cursos realiza-

dos nas universidades americanas: na uni-

versidade de columbia, de nova iorque e na

universidade de Georgetown, em Washington.

já no continente europeu frequentou o institu-

to universitário internacional do luxemburgo e

o instituto universitário Europeu de Florença.

Em portugal, foi assistente na Faculdade de

Direito da universidade de lisboa, onde se li-

cenciou. para além das fronteiras académicas

nacionais, foi assistente assíduo no Depar-

tamento de ciência politica da universidade

de Genebra. Entre 1996 e 1998, foi professor

convidado no centro de Estudos Germânicos

e Europeus da universidade de Georgetown,

em Washington. Durante 4 anos, desempe-

nhou ainda o cargo de Diretor do Departamen-

to de relações internacionais da universidade

lusíada, em lisboa, para o qual foi nomeado

em 1995.

no início dos anos 1980, Durão barroso

começa a sua carreira política com a adesão

ao partido Social Democrata (pSD). Em 1999,

foi eleito presidente do partido, sendo ree-

leito nos três mandatos seguintes. Foi nesta

altura nomeado vice-presidente do partido

popular Europeu. na qualidade de Secretário

de Estado dos negócios Estrangeiros e da

cooperação distinguiu-se no papel de me-

diador dos acordos de paz para angola, que

foram assinados em bicesse (Estoril), no início

dos anos 90 (1991). já ministro dos negócios

Estrangeiros, entre 1992 e 1995, levou a cabo

o processo de autodeterminação de timor-

-leste.

a política de Durão barroso trouxe ao pSD a

vitória nas eleições legislativas e, em abril de

2002, foi nomeado primeiro-ministro de portu-

gal. Desempenhou o cargo durante dois anos,

até que, em 2004, foi nomeado e ➤

Durão BarrosoDoutor Honoris Causa pela UTL

HomENaGEm

Page 35: Diplomática 13

35abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ assumiu as funções de presidente da comis-

são Europeia. por unanimidade, em Setembro

de 2009, ganhou o segundo mandato da presi-

dência europeia, o que lhe conferiu ainda mais

projeção na agenda política internacional e na

agenda do desenvolvimento científico.

Foram estes alguns dos pontos referidos no

dia da condecoração honoris causa, realiza-

da no instituto Superior de ciências Sociais e

politicas da universidade técnica de lisboa,

perante uma plateia que contou com a pre-

sença de várias personalidades, entre elas, o

professor adriano moreira, o primeiro-ministro

pedro passos coelho, paulo portas e outros

membros do Governo e do corpo diplomáti-

co. Entre os convidados, palavras de elogio

foram feitas por adriano moreira, que afirmou

que “é na conjuntura do presente que o saber

das relações internacionais e o saber fazer,

nos estadistas, se enquadra a intervenção

do presidente da cE, que chamou o apreço

desta universidade técnica pela sua reitoria,

através dos seus discursos que remetem para

um futuro solidário dos cidadãos europeus”.

na sua intervenção de agradecimento, Durão

barroso discursou sobre a situação atual da

união Europeia. Falou na crise económica

e na necessidade de partilhar a soberania.

concluiu que “quando se cede soberania,

pode ganhar-se também com a soberania dos

outros” e argumentou que a Europa precisa da

“Europa a trabalhar com determinação para

defender o euro e para defender a estabilida-

de financeira”.

relativamente à situação do Euro, o presi-

dente da união Europeia mostrou-se otimista.

como o próprio admitiu, “o euro não é apenas

uma forma de pagamento, como tem sido

dito por muitos - nomeadamente a chanceler

merkel que, ainda recentemente, o disse no

parlamento alemão. o euro é também um

símbolo da própria construção europeia, mas

um símbolo não apenas abstrato, um símbolo

concreto que tem a ver com a vida concreta

dos cidadãos em toda a nossa Europa, por

isso eu, contra o pessimismo dominante, que-

ro aqui hoje, mais uma vez reafirmar a minha

confiança de que, através de um caminho lon-

go e complexo, vamos conseguir ultrapassar

esta crise”. Durão barroso finalizou que para

a Europa sair mais forte da crise “ é neces-

sária a iniciativa política e a vontade política.

não basta as instituições, não basta a decisão

económica. É necessário que haja um com-

promisso político”- argumentou o presidente

da uE.

a crise é um tema que preocupa todos os

governos da zona euro. Em todos eles existe

a “consciência da dificuldade da situação e

a vontade de lhe dar uma resposta. Existe a

consciência da interdependência em que esta-

mos no quadro da união Europeia” – finalizou

Durão barroso. mas, para o caso português,

em particular, afirmou que um dos fatores

responsáveis pelo atraso da economia portu-

guesa se prende com os setores fechados e

os privilégios: “em alguns setores da econo-

mia há interesses instalados, há interesses

que resistem à mudança, que beneficiam de

um acesso especial ao Estado, de garantias

que lhes são dadas por uma legislação de

proteção. assim, quando há setores fechados,

quando há privilégios, quando há interesses

que vivem à sombra do Estado, isso impede

a inovação, impede uma concorrência mais

leal e uma modernização” – confessou Durão

barroso aos jornalistas, à margem da cerimó-

nia de condecoração.

com um curriculum académico e político

vastos, Durão barroso, além do presen-

te título, foram-lhe concedidos mais títulos

honoris causa. Entre estes destacam-se o da

universidade de Georgetown, Washington,

D.c. em 2006; o da universidade de Génova,

itália no mesmo ano; o da universidade de

Kobe (2006); o da universidade de Edimburgo

(2006); o da universidade Sapienza de roma

em 2007; o da universidade de Varsóvia

(2007); o da pontifícia universidade católica

de S. paulo em 2008; o da universidade de

nice Sophia antipolis (2008), o da universida-

de de chemnitz em 2009; o da universidade

de Genebra em 2010 e o da universidade de

Ghent em 2011. n ➤

reportagem: roman buzut

Page 36: Diplomática 13

36 • Diplomática - abril/junho 2012

1 2 3

4

5

7

6

8

1. o presidente da comissão Europeia, Durão barroso e adriano moreira 2. reitora helena pereira a homenagear Durão barroso

3. professores e convidados a irem para a cerimónia 4. passos coelho a cumprimentar o secretário-geral antónio almeida ribeiro

5. Embaixador helmut Elfenkämper e antónio almeida ribeiro 6. heitor romana e antónio Sousa lara 7. antónio Santana carlos e

joão cruz 8. Francisco treichler Knopfli e joão pereira neto

Durão Barroso

Page 37: Diplomática 13

37abril/junho 2012 - Diplomática •

Europe:Winter, or spring?

patrick Siegler-lathrop is a wealth manager and consultant living in

portugal, with a more than 35-year career as a Wall Street investment

banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at

inSEaD and paris university, Dauphine. he is a founding member of

the international nGo action contre la Faim. he can be contacted at

[email protected].

EcoNomia & FiNaNças

(* the opinions expressed herein are those of the author, and do

not necessarily represent those of Diplomatica)

(* as opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor

e não representam necessariamente as da Diplomática.)

As we approach Easter, 2012, the euro-zone

still exists, with the same 17 members, and

although everyone agrees the euro-crisis has

not left us, newspapers are less filled every

day with gloom and doom predictions of the

demise of the euro.

What has happened to calm the storm?

First, a number of positive financial decisions

and measures have been taken at the

European level:

- the European central bank (“Ecb”)

offered more than €1 trillion in cheap three-

year loans to banks, averting a major credit

crunch and providing liquidity which the

banks can use to:

• purchase sovereign debt, lowering the

cost of borrowing for most European

Governments,

• continue to finance business, and

• generate profits to strengthen their

balance sheets,

- European union leaders and private lenders

agreed to restructure Greek debt and provide

Greece with new funding,

- European Governments agreed to put into

place the European Financial Safety Facility

(EFSF), with guarantees of €780 billion, not

quite the €1 trillion markets hoped for, but

nevertheless substantial resources to provide

for needy European Governments.

Secondly, most individual countries in Europe,

and much of the rest of the world, have come

to accept the German recipe: that austerity is

the answer to resolve the crisis. if we apply

enough austerity, rapidly and dramatically

reducing Government deficits, markets will

reward such action by offering lower interest

rates, confidence will return, and we will all

return to healthy equilibrium.

it was difficult to counter German insistence

that massive austerity was the only approach

- the vulnerable French didn’t have a choice, if

they disagreed, they risked market sanctions,

so the “merkozy” approach, imposing radical

fiscal adjustment, was promoted aggressively

by Germany, with France somewhat reluctantly

following.

countries across Southern Europe have

applied the recipe, become “good” students,

drastically increasing Government taxes and

reducing expenditures. For example, in its

agreement with the troika1 to provide €78 ➤

Page 38: Diplomática 13

38 • Diplomática - abril/junho 2012

Europe:Winter, or spring?

➤ billion in financing in may, 2011, portugal

committed to reduce its Government fiscal

deficit from a rate of around 10% of GDp in

2009-2010, to 5.9% in 2011, 4.5% in 2012 and

3% in 2013.

Southern European countries have applied the

medicine rigorously, and are to be commended

for the steps they have taken to put their house

in order. portugal accomplished a structural

adjustment of 4% of GDp in its government

budget in 2011, a remarkable achievement in

a single year. but in spite of such encouraging

progress, markets remain very nervous, and

countries such as portugal, Spain and italy,

continue to be viewed as extremely vulnerable.

is the auterity recipe going to work? You

do not have to be a Keynesian to know that

increasing taxes and lowering government

expenditures, particularly in European

countries where the share of government

contribution to GDp is high, triggers a decline

in economic activity, which in turn leads to

lower government tax receipts, higher payouts

in unemployment benefits, and an increase in

government deficits. the nobel laureate and

professor at columbia university in new York

joseph E. Stiglitz states the case succinctly:

“it is clear that austerity alone is a recipe for

stagnation and decline. the likelihood that

things would work out well is extraordinarily

small.’’

in other words, “austerity alone” just doesn’t

work. We are witnessing this situation today

in Spain, and will see it repeated in other

countries, where deficit targets are unlikely to

be met.

but there is even greater risk. in my view

the cost of current policies outweighs the

advantages, and that cost has one name:

maSSiVE unEmploYmEnt.

already there are 16.9 million unemployed

in the 17-country euro-zone and 24.3 million

in the European union. Staggering figures,

bearing witness to enormous human suffering

and providing fertile ground for dangerous

political drift towards extremism.

the effect is particularly devastating for young

people. What answer can we provide to the

49.6% of people under 25 who are unemployed

in Spain, the 46.6% in Greece, or the 35.1%

in portugal? What hope do so many young

people have of ever being able to find fulfilling

work? how can we countenance a system

where even the prime minister of portugal is

led to encourage young, talented portuguese

to leave the country to seek employment in

healthier economies such as brazil or angola.

and what is the current German-inspired

answer to this situation? more of the same

medicine, more austerity, with calls for

another round of deficit reduction, under the

watchful eye of financial markets and austerity

watchdogs, prolonging recession and bringing

certain, even higher unemployment.

i am dismayed by the indifference of our

political leaders to the consequences of such

massive joblessness. it is easy to see how the

electorate in Greece, portugal, Spain, italy,

and others, could become attracted to radical

politicians, who will rightly claim that austerity

measures are unjust and unfair.

Why should the governments of portugal,

Spain or italy want to subject their citizens to

endless depression? and witness an ever-

widening difference between their struggling

Southern European nations and healthier

northern ones? i am afraid that continued

application of current policies has a high risk of

leading to such a depressing scenario.

is there an alternative? of course there is.

in fact, this is a moment of great opportunity,

for Europe, a moment when we can move

forward, following the path set out for us by

the founders of the European ideal. how? by

pushing for a change of priorities, by insisting

that our principal concern must shift to creating

jobs, particularly for the young, by putting

forward solidarity within Europe as a path back

to good health.

i am not suggesting that we should relinquish

measures to reduce excessive Government

debt, nor that we abandon basic structural

reforms. measures that are being implemented

in portugal, Greece, italy and Spain to

render labor market more open and flexible,

to improve legal systems, to privatize

Government-owned companies and open the

economy to more balanced competition, are

an essential part of the process, and are to

be encouraged. but structural reform plus

austerity will not be enough.

We need to launch a major investment ➤

Page 39: Diplomática 13

39abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ program, to promote employment in Southern

European countries, perhaps financed by

the proposed financial transactions tax

in the euro-zone. Such a program should

focus on investing in research, promoting

entrepreneurship, boosting exports, and

investing in new technologies, for example

inspired by newly elaborated concepts of

sustainable development. the European

union, and such institutions as the European

investment bank and in the European bank

for reconstruction and Development, where

considerable know-how exists, should be

essential partners to define an investment

program to create employment and bridge the

difference between north and South. European

bureaucracy is viewed as complacent and

callous, unconcerned with the wellbeing of

people? let them promote creative ideas to

generate jobs, helping change our perception

of their contribution, bringing to bear their

expertise in this major new initiative, which

can be another important step in the gradual

political integration of Europe.

Such a major investment program will require

that Germany and other northern European

countries accept that we postpone deficit

reduction, permitting selective Government

job-creating stimulus programs in the most

vulnerable countries, accepting that deficit

reduction, which remains essential, is to be

reached gradually and over the medium term,

rather than immediately. Even the imF, the

flag-bearer of orthodoxy, has argued that

high public debt and high government deficits

should be reduced through a steady, gradual

process.

“look after the unemployment, and the budget

will look after itself”, stated john maynard

Keynes in 1933.

“it is time for European leaders to save the

historic European project by telling the truth:

that the European union and the euro are

as essential as ever to the well-being of

Europeans.”2 but the long-term sustainability

of the euro, and of the European project,

requires that the gap between north and South

be narrowed.

tim Geithner, the u.S. Secretary of treasury,

may have enraged European counterparts last

fall by telling them “you need stimulus”, but he

was right.

if positive momentum can be generated in

the economies of Southern Europe, that will

do more to re-establish confidence, providing

hope both to markets and to Europeans

suffering through the current downturn.

the key to such any such new investment

program lies with Germany, the current

uncontested leader of the European union and

the euro-zone. Germany has been the euro’s

greatest beneficiary, its exports to Eu partners

are up 9% per year since the euro was

introduced, as compared to 3% beforehand,

and its exports to the 10 countries that joined

the Eu after 2004 have increased by €80

billion. the Eu customs union has permitted

Germans to have the jobs less competitive

Southerners lack. a major new initiative in

Southern Europe will help promote growth

throughout Europe.

During this transition phase, Germany must

overcome its reticence to allow the Ecb to

become the “lender of last resort”, operating

in the same manner as the u.S. Federal

reserve and the bank of England, to maintain

the banking system and give time for fiscal

adjustments to be made.

angela merkel has clearly indicated that she

thinks the solution to the euro crisis will come

from “more Europe, not less”. if she is to be

“more European”, she will have to show that

her country embraces solidarity within the

union. hopefully, she will have the strength

and the foresight to overcome resistance in

her own party and her country, go against their

conventional thinking, to lead Europe on a

new, more optimistic path. n

1 the European union (Eu), the European central bank (Ecb) and the international monetary

Fund (imF)

2 this quote, and certain figures and concepts in this article, are inspired by an article in options

politiques, February 2012, by my good friend jeremy Kinsman, who served as canada’s ambas-

sador to the European union, russia, the uK, and 12 other countries or organizations.

Page 40: Diplomática 13

40 • Diplomática - abril/junho 2012

Mariano rajoy esteve em lisboa, em visita oficial,

onde a situação económica e a preparação do próximo

conselho Europeu dominaram a agenda do encontro

entre os dois líderes, o primeiro-ministro português e o

presidente do Governo espanhol.

Esta visita surge na sequência da recente viagem a

madrid de passos coelho, em que os dois estadistas

analisaram a situação de ambos os países ibéricos, no-

meadamente na área económica, e nas formas de sair

da crise que assola a Europa e quais as possibilidades

de “concertar visões” para o futuro.o primeiro-ministro

português, no final do encontro, que durou cerca de

uma hora, fez questão de esclarecer que trocara im-

pressões alargadas com mariano rajoy sobre a situa-

ção que se vive, hoje em dia, tanto em portugal como

em Espanha. uma situação que, infelizmente ambos os

países partilham em muitos aspetos, como ambos os

estadistas concluíram.

passos coelho foi ainda mais assumido, ao referir que

portugal e Espanha estão a viver uma das mais graves

crises de que há memória. E foi neste contexto que

os dois responsáveis políticos analisaram os “aspe-

tos recessivos” que as medidas de combate ao défice

possam vir a ter, tendo trocando impressões quanto à

forma de sair da crise.

já em lisboa, e depois do encontro passos coelho/ra-

joy, durante a conferência conjunta, o primeiro-ministro

português reiterou que o país “não pedirá a renego-

ciação do programa que está a executar”, sublinhando

ainda que não será pedido nem “mais tempo, nem mais

dinheiro” à troika e que “o acordo está a ser cumprido

dentro das suas metas”.

apesar de admitir que os resultados destas políticas

de austeridade demorarão algum tempo a manifestar-

-se, o primeiro-ministro português considera que, sem

elas, não será possível voltar a ganhar a confiança dos

mercados e dos investidores. recordando os casos de

portugal e da irlanda (países ao abrigo de um pro-

grama de ajustamento), manifestou a sua confiança

de que, desde que as metas sejam cumpridas, “não

deixarão de ter o auxílio da Eu e do Fmi se, por razões

externas não conseguissem regressar aos mercados”.

adiantou ainda que “o nosso programa não pode falhar

por razões internas e, é isso que me interessa como ➤

Mariano Rajoy e Pedro Passos CoelhoPortugal e Espanha analisam combate à crise

Visitas DE EstaDo

Page 41: Diplomática 13

41abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ chefe de Estado”.

no encontro com mariano rajoy ficou definido o re-

tomar dos encontros bilaterais entre os dois países,

devendo o próximo decorrer já na primavera. o objetivo

é que, tal como sucedeu nesta última reunião, portugal

e Espanha concertem posições para levar aos encon-

tros comunitários.

as estratégias, tanto políticas como económicas, entre

os dois países foram os pontos mais destacados pelos

dois políticos. mariano rajoy adiantou mesmo que,

em Espanha, será feito “algo parecido com o que tem

sido feito em portugal”. recordamos que a Espanha

se prepara para aprovar a nova lei laboral e a lei do fi-

nanciamento bancário e está disposta a fazer os cortes

necessários para cumprir o défice de 4,4% este ano.

o primeiro-ministro espanhol, falando aos jornalistas,

comentou as previsões do Fmi de que a Espanha irá

sofrer uma forte recessão este ano e que a sua econo-

mia irá continuar a contração em 2013, considerando

que essas projecções “são um estímulo para continuar

a trabalhar” e acrescentou que o país vai cumprir o

objetivo de défice de 4,4% para este ano.

recorde-se que, ainda em madrid, pedro passos

coelho afirmou que “portugal e Espanha têm muitas

afinidades e boas condições para concertar algumas

visões sobre o que pode ter interesse para os dois

países”. temas como o caso da operação de comparti-

cipação da pt na Vivo e os projetos de infraestruturas,

como o tGV, foram também debatidos. pedro passos

coelho e mariano rajoy já se tinham encontrado, uma

primeira vez, em bruxelas, dando indicações de grande

sintonia entre os dois. pedro passos coelho reafirmou

o interesse dos dois países em manter um contacto

próximo, sobretudo porque “há um nível de integra-

ção económica muito grande entre os dois países

ibéricos e a situação de fraco crescimento económico

coloca problemas para os empresários portugueses e

espanhóis”.a terminar, o primeiro-ministro português

sublinhou que “tudo o que possa ser feito em termos

de reformas estruturais nos dois países, para ajudar a

recuperação do emprego e ao crescimento económico,

é decisivo para os dois países, que têm, nesta altura,

entre outros problemas graves, uma taxa de desempre-

go muito elevada”. n

Page 42: Diplomática 13

42 • Diplomática - abril/junho 2012

Embaixador José de Bouza Serrano, por maria da luz de bragança, fotos roman buzut

O Guardião dos Embaixadores acreditados em Portugal

Após uma carreira importante, a representar Portugal, o Embaixador José de

Bouza Serrano voltou há três anos ao seu país, como Chefe do Protocolo do

Estado, donde vai partir em breve para Embaixador na Holanda. ➤

Diplomacia Na 1ª pEssoa

Page 43: Diplomática 13

43abril/junho 2012 - Diplomática •

Agraciado com o oficialato da

ordem do infante Dom henri-

que e a Grã-cruz da ordem de

mérito e dezenas de distin-

ções estrangeiras pelo mundo

fora, tais como a Grã cruz da

ordem de São Gregório mag-

no, da Santa Sé, a Grã-cruz da

real ordem do Dannenborg, da

Dinamarca, Grã-cruz de Graça

e Devoção da ordem Soberana

e militar de malta entre muitas

outras, apresentou recente-

mente um completíssimo livro

de ensinamentos sobre os

preceitos, práticas e rituais do

protocolo oficial de Estado e do

protocolo social.: “ O livro do

Protocolo”, de leitura e saber

imprescindível.

Senhor Embaixador, não vim

falar consigo só pelo livro, re-

centemente apresentado, mas

também pela estima e impor-

tância que tem junto de todas

as embaixadas.

Eu não, minha querida amiga,

quem tem importância é o ser-

viço do protocolo do Estado .

nós, no fundo, somos os “anjos

da Guarda” do corpo Diplomá-

tico acreditado em portugal.

É o chefe do protocolo que

recebe os novos Embaixadores

que chegam e vêm entregar

as cópias das cartas, antes de

fazerem a entrega solene dos

originais ao Senhor presidente

da república e sou eu que, nor-

malmente, explico a cada um

deles como será a cerimónia, o

traje e como tudo se vai passar.

temos uma pequena diferença

entre os Embaixadores resi-

dentes e os não residentes. os

Embaixadores residentes têm

uma guarda de honra a cavalo

da Gnr mas todos, ao serem

recebidos no pátio, escutam

os hinos de cada um dos paí-

ses. Só depois entram para o

palácio de belém e são acom-

panhados para a audiência com

o Senhor presidente, que os

recebe juntamente com outras

entidades, como por exemplo

o Senhor ministro de Estado

e dos negócios Estrangeiros,

o Secretário Geral do ministé-

rio, o assessor Diplomático do

Senhor presidente da repú-

blica e, eu próprio, o chefe do

protocolo.

após esta audiência, onde são

igualmente apresentados aos

chefes das casas civil e militar

e ao Secretário –Geral da pre-

sidência da república, os che-

fes de missão passam a estar

em funções e quando saíem do

palácio de belém, já ostentam

a bandeirinha do seu país no

automóvel.

Eu ia perguntar-lhe o que era

o Protocolo de Estado e quais

as suas funções…mas por

favor continue…

para além de servir o Senhor

presidente da república, o

Senhor primeiro-ministro, o

ministro dos negócios Estran-

geiros e os outros membros

do Governo e organizar as

cerimónias relativas à posse do

Senhor presidente e do Gover-

no, outras celebrações nacio-

nais, como por exemplo o 10 de

junho, são organizadas aqui no

protocolo de Estado.´

Também tratam da posse do

Senhor Presidente da Repú-

blica?

a posse é dada na assembleia

da república, pelo presidente

da assembleia, e nós tratamos

das cerimónias em conjunto.

para além disso, temos todo

o expediente relativo aos

membros de todas as missões

diplomáticas acreditadas em

portugal. os cartões de identi-

dade dos diplomatas estrangei-

ros, assim como os do pessoal

administrativo ou doméstico das

embaixadas passam por nós.

Somos nós que os emitimos,

juntamente com o Serviço de

Estrangeiros e Fronteiras.

Por tudo isso pode ver-se

como todos os Embaixadores

o conhecem bem e a enorme

estima que têm por si…

o que acontece é isso…nós

somos as primeiras pessoas

que eles conhecem e a quem

recorrem. Depois, quando têm

dúvidas ou necessitam de au-

torizações para fazerem obras

nos edifícios das Embaixadas,

das matrículas dos carros, ou

das licenças de importação…

somos nós que agenciamos os

contactos ou as emitimos. tam-

bém assuntos de justiça, que

podem ocorrer, sejam assuntos

laborais, acidentes de viação

etc., quando há problemas com

a justiça eles não são direta-

mente interpelados pelo tribu-

nal, os expedientes vêm para

nós, que fazemos de mail-box

e de mediadores entre a imuni-

dade diplomática que têm e o

sistema judicial português.

temos também obrigação de

estar presentes (representan-

do o mnE)em todas as festas

nacionais, para as quais sou

normalmente convidado, o

que muitas vezes acaba por

ser trabalho, porque vêm falar

comigo com pequenos proble-

mas para resolver, enchendo

os meus bolsos com recados,

ou porque necessitam de uma

carta de condução que ainda

não foi enviada, ou há um erro

no nome de um dos filhos ou de

alguém, no cartão de identidade

ou precisam de um esclareci-

mento ou duma diligência espe-

cial…tudo isso somos nós ➤

Page 44: Diplomática 13

44 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ que tratamos. nós fomos o pri-

meiro impacto e somos os anjos

tutelares do corpo Diplomático.

É tão simples quanto isso...

É a Chefia do Protocolo de

Estado…

É uma Direção Geral. Eu sou

equiparado a Diretor Geral; a

Sub-chefe de protocolo é Sub-

-Diretora Geral, temos também

uma Direção de Serviços de

cerimonial, que agora também

engloba a antiga Divisão dos

privilégios das imunidades.

tudo isso para os diplomatas

estrangeiros e para os diploma-

tas portugueses, para os mem-

bros do governo e para todos

os cidadãos nacionais que têm

direito a passaporte diplomá-

tico, somos nós que também

emitimos esse documento aqui

neste Serviço.

Quem e como se tem direito a

passaporte diplomático?

Vem na lei. o senhor presiden-

te da república, naturalmente,

tem direito, o presidente da

assembleia da republica, o

primeiro-ministro, os membros

do governo, os deputados…

Perdem direito se deixam de

ser membros do governo?

perdem sim. a não ser que

tenham sido presidentes da re-

pública, primeiros-ministros ou

presidentes da assembleia da

república. os outros perdem

o privilégio, mas para tudo há

uma burocracia. por exemplo:

os diplomatas podem importar

bens isentos de impostos, mas

têm que ter franquias que são

passadas pelo Serviço de pro-

tocolo de Estado. por vezes,

vêm centenas de produtos para

venda a favor de onGs por-

tuguesas, como para a venda

do “bazar dos Diplomatas”, ou

agora, no caso da princesa da

tailândia, que veio a portugal,

pela comemoração dos 500

anos das relações diplomáti-

cas, inaugurar o templo que

ofereceu e que foi construído

junto ao rio tejo. tratámos em

conjunto com a câmara mu-

nicipal de todas as licenças

para implantação do templo,

assim como com as Finanças

da importação dos materiais

para construção que, como

eram oferta, vieram sem passar

pela alfândega. Essa é uma das

principais funções do protoco-

lo; depois temos toda a parte

cerimonial da organização das

visitas de Estado do presidente

da república ao estrangeiro ou

do primeiro ministro, e também

organizamos e preparamos

todas as visitas dos chefes do

Estado e de Governo estrangei-

ros a portugal.

O que pensa das futuras gera-

ções e da prevalência das tra-

dições diplomáticas? Haverá

continuidade ou tendência

para se apagarem?

apesar das dificuldades econó-

micas que o nosso país atra-

vessa, e não são as primeiras

quando entrei na carreira há 32

anos também havia algumas

dificuldades e nós fomos su-

perando e, mais tarde, tivemos

um período de esplendor. pes-

soalmente estou convencido e

tenho esperança que o nosso

país possa voltar a ter uma voz

ativa e respeitada no mundo e

na união Europeia.

o protocolo tem uma vanta-

gem: pode encurtar ou expandir

os recursos disponíveis. Quer

dizer, podemos manter a dig-

nidade, que o que interessa é

manter a dignidade do Estado,

podemos reduzir as cerimónias,

mas sempre mantendo a sua

elevação e o seu brilho. corta-

mos um certo número de cele-

brações, como por exemplo: há

dois anos que, nos cumprimen-

tos ao senhor presidente da

republica, cancelámos o ban-

quete em honra do corpo Diplo-

mático no palácio da ajuda, e o

concerto. Este ano a recepção

fez-se igualmente em Queluz.

Foi servido um porto de honra

muito simples, mantendo-se a

cerimónia institucional com mui-

ta dignidade, em que o núncio

apostólico fez um discurso e o

senhor presidente respondeu-

-lhe em português. a seguir,

começando exactamente por

monsenhor Don rino passiga-

to, iniciámos os cumprimentos,

seguido do Embaixador de San

marino ( decano não residente)

e pelo Embaixador da argenti-

na, que é o Embaixador que há

mais tempo está aqui acredita-

do. Depois passaram todos os

chefes de missão e Encarrega-

dos de negócios e colaborado-

res a cumprimentar.

O Núncio Apostólico

está sempre presente?

nos cumprimentos ao corpo

Diplomático, e está nas prin-

cipais cerimónias do Estado e

em muitas visitas de chefes de

estado estrangeiros ao nosso

país.. Sendo nós um país tra-

dicionalmente católico, o nún-

cio assiste como o Decano do

corpo Diplomático e há sempre,

antes de entrarem, uma cerimó-

nia protocolar: Eu recebo o Se-

nhor núncio apostólico, levo-o

à Guarda de honra, ouvimos os

hinos da Santa Sé e de portu-

gal e depois passa revista ao

pelotão da Guarda nacional

republicana, acompanhado por

mim...

No mundo inteiro haverá paí-

ses onde não existe o Proto-

colo de Estado?

não. não porque é difícil ➤

José de Bouza Serrano

Page 45: Diplomática 13

45abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ viver sem ele. pode é haver,

em certos países, quando têm

côrte, dois ou três protocolos.

normalmente, os monarcas têm

o seu próprio protocolo que

se distancia do protocolo do

governo. por exemplo, o meu

primeiro posto foi como Secre-

tário da Embaixada em madrid

e aí havia o protocolo do rei, o

protocolo do presidente do Go-

verno e o protocolo do ministé-

rio dos negócios Estrangeiros.

nós somos um país que co-

bre tudo através do protocolo

do Estado. É difícil um Esta-

do, uma nação, não ter um

protocolo, porque é a forma de

coagular, concentrar e manter

as tradições.

Todos então têm, de certo ➤

Page 46: Diplomática 13

46 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ modo, mantido as tradi-

ções?

De uma maneira geral, sim.

Quando há golpes de estado

ou revoluções, a tendência é

para as pessoas prescindirem

de um certo cerimonial mas o

protocolo, pela sua caraterísti-

ca de organização e disciplina,

tem resistência própria e é o

último a desaparecer. recordo

um dos meus primeiros che-

fes: esta sala era o gabinete

dele, o Embaixador mendonça

e cunha. Depois da revolução,

conseguiu restabelecer, duran-

te a presidência do General

Eanes, que a entrega das cre-

denciais passasse a ser de tra-

je de cerimónia, já não usando

a casaca porque tinha havido

a revolução, mas o fraque. E

nós, desde o tempo dele, que

continuamos a usar o fraque

com colete preto, quando os

Embaixadores vão a belém

apresentar as credenciais ao

senhor presidente da repúbli-

ca. passou-se pelo fato escuro,

e por várias outras modalida-

des, mas ele conseguiu que o

“rio voltasse ao seu leito” de

tradição.

Quando eu entrei no ministério

não havia a lei das precedên-

cias, mas uma lista indicativa,

que se ia aplicando casuistica-

mente. mas agora, pela primeira

vez, temos uma lei das prece-

dências, feita na assembleia

da república, com valor de lei

e aplicável a todo o território

nacional e a todas as nossas

embaixadas no estrangeiro,

para que todos sejam ordenados

pela ordem protocolar que lhes

corresponde, sendo isso uma

grande vantagem de que nós

dispomos e que foi um dos mo-

tivos que me levou até a escre-

ver o livro sob essa perspectiva

nova.

Qual foi o país onde gostou

mais de estar?

Durante a minha carreira, estive

sempre na Europa e penso que

tive a sorte de estar nos países

certos na idade certa. Quando

tinha os filhos pequenos, está-

vamos em madrid e era óptimo.

Depois fui para bruxelas e foi

estupendo, se bem que esti-

vesse colocado legalmente na

embaixada bilateral, mas acre-

ditado e a trabalhar na união

Europeia. Em madrid estive

cinco anos e meio, em bruxelas

três anos e meio, alternando

com cargos aqui em portugal.

Depois cinco anos no Vaticano,

e adorei. Vinha dum problema

de saúde que já tinha supera-

do e foi uma fase importante e

um momento espiritual forte na

minha vida.

Quer falar-me do seu percur-

so? O que fazia quando ini-

ciou até chegar a Chefe do

Protocolo de Estado?

a nossa carreira é uma escada

onde vamos subindo os vários

degraus com a passagem do

tempo (e a ajuda de Deus!).

comecei como Secretário da

Embaixada em madrid, como ➤

um livro que reúne tudo o que se deve saber sobre os

preceitos, práticas e rituais do protocolo oficial de Estado

e do protocolo social

José de Bouza Serrano

Page 47: Diplomática 13

47abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ disse; em bruxelas já era

conselheiro, em roma, no

Vaticano, fui conselheiro e

ministro conselheiro; quando

regressei fui Vice presidente do

instituto camões, que era o bra-

ço cultural do ministério, depois

fui como Embaixador para a Di-

namarca, onde estive três anos

e meio e donde voltei para ser

chefe do protocolo. agora, se

Deus quiser, parto como Embai-

xador para a holanda.

Está contente por ir para a

Holanda? Vamos ter todos

muitas saudades suas…

Estou contente por ir. Estou

muito satisfeito. Daqui a uns

três anos e tal (aos 65) estarei

já reformado e voltarei se Deus

quiser para o meu país, de que

gosto muito. tenho cá os meus

filhos, os meus netos e muitos

amigos.

Que recado poderá deixar a

quem inicía a careira diplo-

mática?

recados…É difícil dar recados.

conselhos serão, sem preten-

são, os seguintes: Se entrarem,

interessa muito que criem um

amor especial a esta carreira,

porque ela é diferente de tudo

o resto que existe na Função

pública e nas saídas profissio-

nais. mas, que para quem gos-

ta, está cheia de oportunidades

e é fascinante. Fascinante, não

só para quem gosta de viajar,

apreciar a cultura de outros

países e aprender facilmente

outras línguas, mas sobretudo

para representar bem o nosso

país podendo intervir, dum cer-

to modo, no desenvolvimento

das relações de portugal com

outros Estados e poder ajudar

quem nos governa, com a in-

formação que recolhemos , nos

documentos que elaboramos,

no preparar duma série de

apontamentos e dossiers, para

quando os nossos governan-

tes vão participar em reuniões

internacionais ou recebem os

seus homólogos em portugal.

também tem que saber se

gostará mais de diplomacia

multilateral, em que pode estar

na onu em nova Yorque, ou

em Genebra, no conselho da

Europa, em Estrasburgo, ou na

união Europeia, em bruxelas,

ou se prefere a Diplomacia tra-

dicional bilateral, em que está

num país e desenvolve prefe-

rencialmente as relações com

esse país e não com todos os

países que fazem parte da or-

ganização onde são colocados.

Eu, ao fim de 32 anos, acho

que não saberia fazer outra

coisa. Fiz o concurso ao minis-

tério quando já tinha 28 anos, o

que não me impediu de chegar

a Embaixador e ter tido postos

ótimos e realmente uma vida

muito interessante, ao serviço

do meu país, em que aprendi

muito sobre as pessoas e os

países onde estive colocado

e vivi grande parte da minha

existência. até no protocolo

pude aprofundar os meus co-

nhecimentos, porque vivendo e

trabalhando em monarquias o

protocolo é diferente e apren-

de-se imenso. o protocolo do

Vaticano é uma perfeição, eles

têm uma diplomacia extraor-

dinária devido à sua forma de

informação; desde o padre

no burundi, a um na austrá-

lia, toda essa informação, das

dioceses e das paróquias, vai

para roma e é sintetizada por

um pequeno grupo de pessoas.

É das carreiras diplomáticas

mais bem informadas do que

se passa internacionalmente,

porque têm essas antenas da

igreja católica espalhadas por

todo mundo. a forma como tra-

balham essa informação é mes-

mo uma escola de diplomacia.

Eu gostei muito do Vaticano

também por isso mesmo. por-

que é uma escola de diploma-

cia em que a síntese é feita na

perfeição e com relativamente

poucos meios.

E também as cerimónias que

envolvem o Santo padre, se

bem que, hoje em dia, diga-

mos que o protocolo está muito

simplificado, são sempre mag-

níficas. os espaços históricos

deslumbrantes, todos aqueles

palácios esplendorosos, as

igrejas, as basílicas onde se

desenrolam as cerimónias e

a forma como se organizam e

recebem o corpo Diplomático,

são notáveis. o Vaticano foi ex-

traordinário. aprende-se muito,

como referi.

mais conselhos… será desfrutar

o mais possível desta profissão

que é tão original e gratificante.

um desfrute do mundo, mas

sempre com a convição de que

somos portugueses, que temos

um país muito antigo com uma

grande história e uma grande

tradição e que, apesar destes

avatares da economia e das

dificuldades que temos quoti-

dianamente, algumas que po-

dem ser estruturais, devemos

ter sempre presente este peso

da cultura, da história e duma

língua que é falada por mais de

duzentos milhões de pessoas,

o que é um grande trunfo na

vida de uma nação e no seu

futuro.

Senhor Embaixador, dese-

ja acrescentar mais alguma

coisa?

posso unicamente concluir que

estou muito satisfeito e realiza-

do por ter escolhido esta profis-

são. n

Page 48: Diplomática 13

48 • Diplomática - abril/junho 2012

No âmbito do Seminário Diplomá-

tico, que decorreu, recentemente

em lisboa, os Embaixadores de

portugal acreditados junto de

vários Estados e organizações

internacionais, estiveram no palá-

cio de belém, onde apresentaram

cumprimentos ao presidente da

república.

Durante a recepção, em que esti-

veram também presentes o minis-

tro de Estado e dos ➤

Embaixadores de Portugal apresentam cumprimentos ao Presidente da República

mala Diplomática

Page 49: Diplomática 13

49abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ negócios Estrangeiros, paulo

portas, os Secretários de Es-

tado dos assuntos Europeus,

dos negócios Estrangeiros e da

cooperação e das comunidades

portugueses, bem como o Secre-

tário-Geral do mnE.

o ministro paulo portas apresen-

tou os desejos de um bom ano

novo ao presidente, que encerrou

a cerimónia com uma breve inter-

venção de agradecimento. n

Page 50: Diplomática 13

50 • Diplomática - abril/junho 2012

Embaixador Paul Schmit por maria de bragança, fotos de roman buzut

Na Rua das Janelas Verdes, onde habitou Eça de Queiroz, encontra-se o

acolhedor palacete da Embaixada do Grão Ducado do Luxemburgo, com

salões e jardim debruçados sobre o Tejo, onde fomos recebidos pelo

Embaixador Paul Schmit, que sublinhou durante a entrevista a importância

que tem para o Grão Ducado as relações com Portugal. ➤

Diplomacia Na 1ª pEssoa

Page 51: Diplomática 13

51abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ Paul Schmit, 45 anos, casado com

nadine Schmit-Konsbruck e pai de

três filhos, licenciou-se em Direito pela

universidade robert Schuman de Es-

trasburgo e posteriormente em ciências

políticas pela universidade de paris ii.

chegou a portugal em Setembro de

2010, tendo apresentado as cartas

credênciais ao presidente da república

portuguesa em 15 de outubro do mesmo

ano. Da sua carreira podemos ainda as-

sinalar que, entre 1991 e 1992, foi adido

do seu Governo no ministério da “Force

publique” no luxemburgo; em 1995,

foi Secretário de legação nos Serviços

do Secretário Geral do ministério dos

negócios Estrangeiros; de 1995 a 2000

foi representante permanente adjunto

na representação do luxemburgo junto

da nato, em bruxelas; de março 2000

a Dezembro 2001, “détaché” na repre-

sentação permanente do luxemburgo

junto da união Europeia, encarregue dos

dossiers de política estrangeira da u.E.;

de 2002 a 2007 foi chefe de missão ad-

junto da Embaixada do luxemburgo nos

Estados unidos, com co-acreditações

para o canadá e para o méxico e, de

Setembro de 2007 a 2010 foi Diretor

dos assuntos jurídicos e culturais no

ministério dos negócios Estrangeiros do

luxemburgo.

Senhor Embaixador, estando o lu-

xemburgo no ponto de encontro

entre a Europa Românica e a Europa

germânica, e integrando ambas tra-

dições, gostaria que nos falasse um

pouco da história do luxemburgo…

obrigado pela ocasião de poder apre-

sentar o meu país, que tem uma história

muito rica e muito antiga.

a Fundação da cidade do luxembur-

go remonta a 963, com a conquista de

lucilinburhuc (hoje castelo do luxem-

burgo) por Siegfried , conde de ardenas

.Em torno desta fortaleza, foi crescendo

um Estado de grande importância, valor

estratégico e influência na Europa, uma

vez que 4 membros da dinastia da casa

do luxemburgo reinaram, tendo sido

imperadores do Sacro-império-romano.

a partir dai, o luxemburgo viveu suces-

sivamente sob soberania borgonha, fran-

cesa, espanhola, austriaca e holandesa.

após a derrota de napoleão, no con-

gresso de Viena de 1815, o luxemburgo

foi aceite e ratificado como Grão Duca-

do. mas só no 1º tratado de londres, em

1839,foi reduzido o território e ficaram

definidas as fronteiras tal como são até

aos dias de hoje, tendo sido festejado o

centenário em 1939 e tendo-se feito a

comemoração solene do 150º aniversá-

rio da sua independência, em 1989.

o luxemburgo é realmente um país an-

tigo pela sua influência na Europa, mas

também é um país jovem na configura-

ção actual de 1839.

aconselho a leitura do livro do histo-

riador Gilbert trausch - “a história do

luxemburgo”- já traduzido em português

para a comunidade lusófona que repre-

senta hoje quase 20% da população do

luxemburgo.

um dos marcos a assinalar na história

do luxemburgo, e que também marca

a sua ligação com portugal, é a relação

entre as suas casas reais. até 1890,

o rei dos paises baixos era também

Grão-Duque do luxemburgo, mas a lei

sálica obrigou à mudança da dinastia

dos orange-nassau para a dos nassau-

-Weilbourg, que levou mais tarde ao ➤

Page 52: Diplomática 13

52 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ trono o Grão-Duque herdeiro

Guilherme iV. Este foi casado

com maria ana de portugal, a

filha de D.miguel i, princesa de

bragança e infanta de portugal

que, após a morte do Grão-

-Duque foi regente do Grão-

-Ducado, até entregar o trono a

sua filha maria adelaide, que em

1919 o entregou a sua irmã, a

Grã-Duquesa carlota. Em 1940,

a Grã-Duquesa e a sua família

foram acolhidos em portugal, jun-

tamente com vários membros do

seu governo, após o luxemburgo

ter sido invadido e ocupado pela

alemanha nazi. o luxemburgo,

abandonando de facto a sua po-

lítica de neutralidade, juntou-se

aos aliados na luta contra a ale-

manha e o seu governo, exilado

em portugal e em londres, criou

um pequeno grupo de voluntários

que participaram na invasão da

normandia. De notar que após

a guerra e a resistência contra

a ocupação nazi, o luxemburgo

foi, em 1945, membro fundador

da organização das nações

unidas; tornou-se membro da

nato em 1949 e, em 1957, um

dos 6 países fundadores da cEE,

mais tarde união Europeia, tendo

adoptado o Euro em 1999.

Sendo o luxemburgo um dos

países com um dos maiores

PIb per capita do mundo e ten-

do o senhor Embaixador dito

que a comunidade lusófona

representa 20% da população

local, gostaria muito que me

falasse do fenómeno da emi-

gração para o seu país.

o fenómeno da emigração teve

início na década de 60, o que

quer dizer que os portugueses

já estarão na 3ª e 4ª gerações.

Vieram ajudar a construir o país

e, principalmente, trabalhar na

contrução e na siderurgia. Entre

1960/70 tivemos necessidade ➤

Embaixador Paul Schmit

Page 53: Diplomática 13

53abril/junho 2012 - Diplomática •

Page 54: Diplomática 13

54 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ de mão de obra, ao ponto de acolher-

mos 85.000 portugueses!

hoje, a população do luxemburgo conta

com 43% de estrangeiros, sendo 20%

lusófonos e 17% portugueses.

o luxemburgo tem recebido muitos

emigrantes do montenegro, da Sérvia,

da bosnia-herzegovina e do Kosovo.

anualmente, milhares de novos emigran-

tes chegam ao luxemburgo.

no entanto, é necessário dizer que o

luxemburgo não é hoje um “El Dorado”.

muitos pensam que o luxemburgo está

fora da crise, o que não é o caso. So-

mos um país solidário, convencidos do

ideal comunitário e pela ideia europeia,

mas somos também um país que conhe-

ce o aumento do desemprego, onde o

rendimento por habitante é muito eleva-

do, mas é necessário não esquecer os

140.000 "frontaliers" franceses, belgas

e alemães que vêm todos os dias traba-

lhar no luxemburgo, mas que não estão

refletidos nas estatísticas do rendimento

"per capita".

É necessário fazer compreender a situa-

ção real do nosso país a portugal e aos

portugueses que hoje, em consequência

da crise que se vive no país, desejam

emigrar para o luxemburgo.

Existe no luxemburgo um ministério

que se ocupa da emigração?

temos um ministério do trabalho, cujo

ministro se ocupa do desemprego e da

administração para o emprego. relati-

vamente à imigração, a sua tutela cabe

ao ministério dos negócios Estrangeiros

luxemburguês. com a ideia de que o

luxemburgo é muito próspero, estamos

a ter agora muitos emigrantes vindos

nomeadamente de portugal, havendo

também muitos desempregados na co-

munidade portuguesa no luxemburgo.

Tendo em consideração a enorme

quantidade de emigrantes portugue-

ses, há alguma escola portuguesa no

luxemburgo?

não, não existe uma escola só portu-

guesa. o luxemburgo é sede de várias

instituições e organismos da união

Europeia, tal como o tribunal Europeu

de justiça, o banco Europeu de inves-

timento ou o tribunal Europeu de con-

tas. temos também a Escola Europeia

e, nessa escola europeia, existe uma

secção portuguesa onde muitos jovens

portugueses são escolarizados, temos

igualmente uma escola internacional e

uma escola francesa, mas a maior parte

dos filhos dos emigrantes portugueses

adotam o sistema escolar luxemburguês

que é, provavelmente, a melhor maneira

de se integrarem no nosso país, apren-

dendo desde jovens os 3 idiomas admi-

nistrativos do luxemburgo: o luxembur-

guês, o alemão, o francês e mais tarde

o inglês; caso desejem podem sempre

estudar o português nos cursos parale-

los ou integrados. Em alternativa, alguns

podem estudar na secção portuguesa da

Escola Europeia.

Falando de Escola Europeia…Como é

que o senhor Embaixador vê o papel

de Portugal nas relações económi-

cas, no âmbito do contexto europeu?

portugal é um país muito rico sob o

ponto de vista histórico, cultural e eco-

nómico. É um país que hoje conhece

algumas dificuldades, mas que já de-

monstrou, na sua história, que sabe

ultrapassar os desafios, como o fez

quando o brasil se tornou independente

e, em várias outras ocasiões, tendo sido

sempre capaz de se levantar, vencen-

do problemas e desafios. portugal é

um país com um enorme potencial, se

pensarmos na sua abertura ao mundo,

em especial na sua ligação aos países

lusófonos como o brasil, angola, mo-

çambique ou mesmo cabo Verde, este

último onde tenho a honra de ser tam-

bém Embaixador acreditado.

acreditando na sua capacidade e na

solidariedade europeia, estou certo que

portugal irá cumprir e ultrapassar as difi-

culdades que se lhe estão a apresentar

Portugal virado para o Atlântico? Ou

virado para a Europa?

Esse problema não se poderá colocar.

não se deve escolher. a Europa é impor-

tante para portugal e portugal é importan-

te para a Europa e para o mundo. ➤

Embaixador Paul Schmit

Page 55: Diplomática 13

55abril/junho 2012 - Diplomática •

A senhora Embaixatriz, Nadine Schmit, está em Por-

tugal há pouco mais de um ano. Se tivesse que nos

deixar amanhã, que recordações levaria consigo?

levaria comigo a recordação da gentileza dos portugue-

ses, muito abertos, expansivos e calorosos…a beleza e a

luminosidade de lisboa… um país onde é bom viver, de

fácil adaptação, onde há oportunidade de conhecer pes-

soas muito simpáticas e interessantes em todos os meios,

um país com uma história e uma cultura muito ricas e

extremamente interessantes.

os meus filhos de 10, 14 e 16 anos, que estão no liceu

charles lepierre em lisboa, estão muito felizes e adoram

portugal…Se fosse amanhã, creio que teria mesmo sauda-

des deste país!

Pensou alguma vez que casaria com um Diplomata?

antes de casar, sabia que ele iria lançar-se na carreira

diplomática, portanto... algumas de nós, mulheres de

diplomatas, renunciamos às nossas carreiras quando os

acompanhamos. ocupamo-nos entre outras coisas da

organização da residência e do seu pessoal, de modo a

que todas as atividades que aí têm lugar corram da melhor

forma possível. também podemos apoiar obras caritativas,

bazares por boas causas e Fundações. Estudamos idio-

mas, recebemos convidados, etc…

muitas vezes deixamos a nossa profissão mas, por outro

lado, é enriquecedor. não estou nada arrependida, porque

é uma experiência formidável.

E o senhor Embaixador, o que mais gosta particular-

mente em Portugal?

portugal é um país que nos é muito próximo, com o qual

temos laços muito fortes, sejam históricos, sejam laços

via emigração, havendo todos os dias qualquer coisa de

muito concreto no domínio consular, do domínio social ao

económico. Gosto mesmo da franqueza e do contato direto

com os portugueses. no luxemburgo, temos muitos por-

tugueses, mas nem sempre temos lá os laços que poderí-

amos ter (talvez seja recíproco), talvez não nos conheça-

mos suficientemente bem. aqui descobri um portugal que

não é aquele que tinha descoberto através dos portugue-

ses que vivem no luxemburgo. aqui descobri um portugal

muito diversificado e muito mais rico do que eu imaginava,

histórica, económica e culturalmente falando. tenho um

enorme interesse pela história e acho que a cultura de

portugal é muito rica. a cultura, os monumentos, os pa-

lácios… gosto de ir descobrindo diversos locais extrema-

mente interessantes. n

Nadine e PaulEncantados com Portugal

➤ Como é que o senhor Embaixador

definiria o luxemburgo?

o luxemburgo é um país que teve muita

sorte. um país que foi ocupado e sofreu

as consequências das guerras entre os

seus vizinhos europeus em quase todas

as gerações, mas que tirou um enorme

partido da construção europeia, tendo

beneficiado muitíssimo dessa constru-

ção. conheceu a sua prosperidade com

o setor siderúrgico e mais tarde o sector

bancário, mas também graças a empre-

sas igualmente prósperas, tais como a

cargolux e a luxair ou ainda a Société

Européenne des Satélites. na união

Europeia conseguimos trabalhar em paz,

prosperar em paz, fazer mercado no

quadro da união Europeia e não só, ten-

do conseguido construir uma economia

diversificada, que vai desde o comércio

eletrónico ao ramo químico e da borra-

cha. o crescimento no setor financeiro

corresponde aproximadamente a 22% do

pib.

Quanto à balança comercial entre o lu-

xemburgo e portugal, ela não reflete as

estreitas relações entre os dois países,

sendo portugal o 24º parceiro em termos

de exportação e o 19º, em termos de

importação. Depois de 2009, a balança

comercial está ligeiramente a favor de

portugal, mas na realidade deveremos

melhorar a balança de trocas comer-

ciais, que apenas constituiu 0,27% das

importações em 2010.

Entre Portugal e o luxemburgo ,

quais os aspetos que julga fundamen-

tais de desenvolver?

por um lado, melhorar as relações

económicas, cujas trocas comerciais

poderão ser realmente mais elevadas;

por outro lado (que levo muito a peito) é

dar a conhecer uma imagem mais rea-

lísta do luxemburgo, que não é um "El

Dorado", e onde o desemprego também

aumentou. neste momento, a taxa de

desemprego dos imigrantes portugueses

é bastante mais elevada em percenta-

gem do que a sua presença em termos

reais. n

Page 56: Diplomática 13

56 • Diplomática - abril/junho 2012

Bernarda Gradišnik, Embaixadora da EslovéniaFala-nos de si, do mundo e de Maribor, Capital Europeia da Culturapor maria Dulce Varela, fotos roman buzut

Vive em Portugal há pouco mais de um ano e tem uma carreira política

notória. Nascida em Liubliana, casada e mãe de gémeos, tem conseguido

conciliar, de forma exemplar, estas três funções. Registamos a conversa

que manteve com a Diplomática. ➤

Diplomacia Na 1ª pEssoa

Page 57: Diplomática 13

57abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ Embaixadora gradišnik, é um

prazer tê-la aqui em Portugal. É a

primeira vez que veio a Portugal,

desde que iniciou a sua carreira

política?

muito obrigada, o prazer é todo

meu. comecei a minha carreira no

ministério dos negócios Estrangei-

ros em 1991, durante o período em

que a Eslovénia estava a conquistar

a sua independência. Gostaria de

sublinhar que não sou uma nomea-

da política, nem tão pouco membro

de qualquer partido político. cheguei

aqui em novembro de 2010. tinha

visitado portugal antes, em agosto

de 2010, tentando obter uma perce-

ção do país.

Sabemos que nasceu em liublia-

na, é casada e mãe de gémeos.

É difícil conciliar estas três ativi-

dades – ser esposa, mãe e profis-

sional?

onde está o coração, é onde fica

a nossa casa. Somos muito unidos

enquanto família. Sou também muito

devota ao meu trabalho. Felizmente,

tenho um marido que ajuda imenso.

Ele é um escritor e tradutor free-lan-

cer, por isso pode decidir quando

trabalhar. ainda assim, de vez em

quando, o meu marido e os géme-

os ficam zangados comigo, porque

assim que chego a casa, recomeço

a trabalhar de novo – especialmente

os papéis para os quais não exis-

te tempo suficiente durante o dia.

Existem ainda os eventos ao fim do

dia que me impedem de estar mais

com a minha família. mas os géme-

os têm agora 15 anos, por isso creio

que serei progressivamente menos

necessária.

Tem uma longa experiência em di-

ferentes setores. Desde 1990 até

hoje: uma editora literária, depois

o Ministério dos Negócios Estran-

geiros, trabalhar num grupo para

Política Externa e de Segurança

Comum, Relações Económicas,

Embaixadora Adjunta em Zagreb,

e agora – Embaixadora em Portu-

gal. Consegue descrever-nos as

diferenças e pontos em comum

entre todos estes sectores?

apenas o primeiro é verdadeira-

mente diferente. todos os outros

se desenvolveram sob os auspícios

do ministério dos negócios Estran-

geiros, onde estava gradualmente a

construir a minha carreira profissio-

nal. ao longo de todos estes anos,

e já estamos a falar de vinte anos,

tenho estado a adquirir conhecimen-

to e experiência, a par e passo, até

me tornar finalmente embaixadora.

E devo dizer que estou muito feliz

pelo meu primeiro posto como em-

baixadora ser aqui, no seu país.

Teve tempo suficiente para formar

uma opinião sobre o nosso país,

o nosso povo, a nossa forma de

vida?

Estou aqui há 14 meses, por isso

diria que é tempo suficiente para

formar uma opinião geral. claro

que não levei assim tanto tempo

para compreender como portugal é

bonito em termos de natureza, as

suas brisas oceânicas e surf, o seu

clima generoso, os seus deliciosos

produtos alimentares, a sua exce-

lente cozinha e os seus cidadãos

delicados e prestáveis. E eu sou

uma juíza implacável, tendo vindo

eu própria de um belo país.

a única coisa que me perturba en-

quanto recém-chegada é a abun-

dância, na minha opinião, de muitas

e desnecessárias estradas. após

um ano ainda me posso encontrar

completamente perdida em lisboa,

e o meu GpS (nüvi) perde-se com

igual rapidez.

E, para se poder virar à esquerda

praticamente em todo o lado em

lisboa, tem que se contornar uma

rotunda ou virar três vezes à direi-

ta. É por isto que cada carro anda

às voltas e permanece muito mais

tempo em circulação. o tráfego fica

congestionado por causa disto. E

para prevenir virar à esquerda, têm

que se construir ainda mais saídas

desnecessárias à direita, e ramos de

ligação, e autoestradas com porta-

gens e túneis.

mas, mesmo perdendo-me algu-

mas vezes, existem portugueses de

quem posso depender. as pessoas

são extremamente amáveis e estão

sempre prontas a ajudar. E ficam

muito felizes (e orgulhosas) quando

ouvem um estrangeiro falar, ou ao

menos, tentar falar português. É

por isso que tenho feito um enorme

esforço de aprendizagem. Gosto

imenso da língua, mas é difícil de

aprender. Vocês falam tão rápido e

“comem” metade de cada palavra. E

o meu marido está a tentar encon-

trar um editor na Eslovénia interes-

sado em publicar os lusíadas. Ele

é um tradutor de renome em poesia

em rima, entre outras coisas. Espe-

remos que alguém se interesse.

Como Embaixadora, como está a

enfrentar esta terrível crise na

Europa?

a minha prioridade como Embaixa-

dora é agir positivamente no campo

da diplomacia económica. Esta tem

sido a nossa (eslovena) prioridade

já há algum tempo. tento encora-

jar empresas eslovenas a virem a

portugal – tarefa nada fácil. nas

mentes dos eslovenos, portugal fica

muito distante, para além de não

conhecerem a língua e a situação

em que portugal se encontra neste

momento, também não ajuda. ao

mesmo tempo promovo a Eslovénia,

o mercado esloveno, procurando

aumentar o interesse em empre-

sas portuguesas. Vejo futuro para

os nossos países, trabalhando em

conjunto, conseguindo assim pene-

trar em países terceiros, onde cada

um de nós tem melhores relações.

posto isto, devo dizer que a cultura,

e outras áreas de promoção, são

também importantes para nós. a

Eslovénia ainda não é ➤

Page 58: Diplomática 13

58 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ suficientemente reconhecida, as

pessoas aqui tendem a confundi-la

com a Eslováquia e mesmo a Estó-

nia. maribor, a nossa segunda maior

cidade, é este ano, em conjunto com

Guimarães, capital Europeia da cul-

tura. Espero que isto ajude.

Sim, falemos um pouco sobre Ma-

ribor, escolhida para ser Capital

Europeia da Cultura. Porquê esta

escolha? Porquê Maribor e não

outra cidade eslovena? Pensa

que é importante para redefinir a

imagem da cidade, uma vez que

era industrial e não tanto o centro

cultural da Eslovénia?

maribor é a segunda maior cida-

de da Eslovénia. a sua economia

baseia-se na indústria pesada, uma

herança da jugoslávia, a perda dos

anteriores mercados jugoslavos,

tornou muito tensa a economia da

cidade, resultando em níveis record

de desemprego. a situação me-

lhorou desde meados dos 90 com

o desenvolvimento de pequenas e

médias empresas e indústria, mas

ultimamente tem vindo novamente a

piorar devido à recessão.

maribor enfrenta uma crise, tensão

social a aumentar, e as pessoas têm

menos visão. o projeto de capital

Europeia da cultura pode ajudar

a ganhar um novo amor-próprio e

uma nova identidade aos olhos dos

outros. maribor 2012 tem todo o

potencial para se posicionar como

uma capital Europeia da cultura

reconhecida, com a imposição de

elevados padrões, com ambição, ao

mesmo tempo que abrange toda a

sociedade através da criatividade.

não é que maribor fosse isenta de

cultura, sabe? Existem vários pro-

jetos válidos, como o lent Festival

(lent é a parte antiga da cidade e

o festival realiza-se em finais de

junho), e o mais conhecido escri-

tor esloveno, Drago jan€ar, é um

nativo de maribor. tal como Zlatko

Zahovic, quem todos sem dúvida

conhecem e recordam como jogador

de futebol do porto e do benfica! E,

sabem que mais?! Ele iniciou a sua

carreira em Guimarães!

Poderia descrever Maribor? Ou-

vimos dizer que possui lindos edi-

fícios históricos, sinagogas, etc.,

perto do rio Drava. Por detrás da

torre da catedral, pode-se ver o

que resta do castelo que deu o

nome antigo a Maribor – Marburg

no drau…

Eu gosto muito de maribor, se não

pelo resto, por razões pessoais. a

família alargada original do meu ma-

rido ainda hoje vive em maribor, de

onde o seu pai veio para liubliana

após a Segunda Guerra mundial.

É uma cidade muito verde e eu diria

que é isso que, predominantemen-

te, a torna tão bela. rodeada de

colinas e vinhedos sobretudo para

norte e flanqueada pelas magnificas

montanhas ondulantes pohorje (com

cerca de mil metros de altitude, com

florestas verdes muito densas), tem

também um rio, Drava, que é sem-

pre bom uma cidade possuir, com

muitos espaços recreativos. por

isso, eu enquanto visitante, não iria

tanto pela arquitetura e artes – mas

quem é que vai mesmo? – preferiria

aproveitar um passeio dentro dos

eventos culturais especiais des-

te ano. Quanto aos monumentos

históricos, temos que recordar que

os aliados bombardearam a cidade

durante a Segunda Guerra mundial,

por isso mais de metade dos edifí-

cios foram arrasados. Do que so-

brou, os comunistas apropriaram-se,

arruinando à sua maneira, através

da negligência dos tesouros burgue-

ses. mas temos a sinagoga que é

uma das mais antigas da Europa e

que merece a pena mencionar como

memória dos brandos costumes

eslovenos. apesar dos judeus terem

sido expulsos por maximiliano (o pri-

meiro dos habsburgos) através de

um edital em finais do século XV e

não lhes ter sido permitido regressar

até 1861, ninguém tocou na sinago-

ga durante aquele tempo.

um pouco mais de história: maribor

recebeu privilégios de cidade em

meados do século Xiii, por isso é

considerada uma velha cidade de

acordo, pelo menos, com os pa-

drões eslovenos. até 1918 conti-

nuou sob a monarquia dos habsbur-

gos. Em 1918, 80% da população

declarava-se austríaca, mas como

toda a envolvente era de eslovenos,

foi mais tarde atribuída à Eslovénia,

naquela época parte do reino dos

Sérvios, croatas e Eslovenos. após

a Segunda Grande Guerra encon-

trávamo-nos sob tito e os seus

seguidores “tito após tito” até 1991

quando nos erguemos, agarrando o

muro de berlim aproveitando a opor-

tunidade para sair da jugoslávia e

da era comunista.

Pensa que após duas décadas de

Independência, e a meio de uma

crise, a escolha de Maribor como

Capital Europeia da Cultura che-

gou no momento certo?

certamente! a resposta para a

crise não é um fecho total, mas um

esforço para relançar as empresas

da cidade. a capital Europeia da

cultura tem que ser vista como

uma oportunidade para restaurar

e manter uma identidade comum.

Só com a revitalização da cidade,

como um organismo com diversas

funções, poderá haver crescimento

económico. os benefícios diretos do

turismo e outras indústrias de servi-

ços, postos de trabalho expectáveis,

novos investimentos são todos as-

petos muito importantes da capital

Europeia da cultura, especialmente

nestes tempos difíceis. uma das

mais influentes páginas de turismo

na internet, tripadvisor, já declarou

maribor como uma vencedora na

captação da atenção dos turistas –

existem agora 6 vezes mais turistas

a visitar que há um ano. ➤

Bernarda Gradišnik

Page 59: Diplomática 13

59abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ para este ano especial, sabemos

que maribor tem programados mais

de 500 eventos, entre eles, óperas,

a criação de novos edifícios e jar-

dins para os mais idosos…

bem, de acordo com o programa da

capital Europeia da cultura – ma-

ribor 2012, existem 412 projetos e

muitos mais eventos e processos.

tudo se desenrola à volta de 4 pila-

res programáticos:

terminal 12 que nos traz arte de

qualidade de topo, com especial

ênfase nas novas abordagens e na

criatividade local. the Keys of the

city que mantém o diálogo entre o

dialogo entre a cidade e a arte. the

urban crases que trabalham nas

margens da sociedade, através de

uma busca activa de tópicos sociais

e ecológicos que estabelecem a

importância da coexistência e res-

saltam formas práticas de conseguir

uma sociedade criativa e tolerante.

lifetouch que representa um lugar

multimédia de reflexão, através de

eventos da capital Europeia da

cultura na cidade e região até se

estender a um contexto europeu

mais alargado.

Ouvimos dizer que os eslovenos

são chamados “Uma nação de

poetas”?

bem, hoje em dia os jovens prefe-

rem as máquinas de jogos ou nave-

gar na internet, ou... para os seus 5

minutos de fama através de reality

shows ou Youtube ou redes sociais,

por isso penso que o velho ditado já

não é válido. mas uma vez que era

apenas a língua e as suas formas

culturais que nos mantinham como ➤

maribor, capital Europeia da cultura 2012

Page 60: Diplomática 13

60 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ uma entidade étnica viva durante

os tempos de pressões nacionalis-

tas dos nossos vizinhos – nomina

sunt odiosa – ainda pensamos, de

forma enlevada, sobre a cultura e,

inclusivamente, temos um dia sem

trabalho, feriado nacional, da cultura.

Estranhamente, decidimos celebrá-lo

na data em que o nosso mais famo-

so poeta, France prešeren, morreu

em 1848. provavelmente porque

“nemo propheta in sua pátria” – ele

teve que morrer para ser devida-

mente reconhecido pelo génio que

efectivamente era. Deixe-me só citar

duas estrofes do seu famoso poema

“canção do brinde” que o meu país

transformou em hino nacional (mas

uma vez que o cantamos em eslove-

no, ninguém aprecia devidamente a

mensagem de prešeren). também

penso que mostra um prešeren, tal

como alguém que vocês conhecem,

que continha em si próprio “todos os

sonhos do mundo”.

My friends, this is the hour

(meu amigo esta é a hora)

of sweet new wine that once again

(de doce novo vinho uma vez mais)

Makes eyes bright, hearts recover,

(faz os olhos brilhantes, corações recuperar)

Puts fire into every vein,

(faz fervilhar cada veia)

And everywhere

(e por todo lado)

Drowns dull despair

(torna velado o desespero)

With hope where there was care.

(com esperança onde antes havia preocupação)

Let God bless every nation

(Que Deus abençoe cada nação)

Who strive to see the brightest day

(que luta para ver o dia mais brilhante)

When wars will all be ancient,

(quando todas as guerras forem anciãs)

long past and gone away;

(Há muito passadas e afastadas)

Who yearn to see

(que deseja ver)

Peoples all free,

(todos os povos em liberdade)

No foes, just neighbourly.

(Não inimigos, apenas vizinhos amigáveis)

Sim, a Eslovénia é também um ➤

Bernarda Gradišnik

Page 61: Diplomática 13

61abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ reconhecido produtor de excelen-

tes vinhos. a beber uma gota oca-

sional do nosso pinot ou teran, nem

prešeren era adverso à ideia.

a mensagem de prešeren parece

espantosa, tendo em consideração

que foi escrita numa época em que,

historicamente, não existiam muito

boas relações de vizinhança. tal-

vez a relação Guimarães-maribor

seja uma herança dele, digamos de

orientação uE?

posso falar-vos de pelo menos dois

projetos que serão levados a cabo

nas duas cidades gémeas. jovens

de portugal irão visitar a Eslovénia

e vice-versa, de modo a familiari-

zarem-se com ambas as culturas,

trabalhando em conjunto em diferen-

tes projectos, bem como diferentes

workshops que serão organizados.

um dos projectos é chamado cartas

do mundo. a ideia é ligar jovens,

e até mesmo crianças, através da

expressão da sua criatividade na

escrita de cartas. as dez melhores

cartas serão premiadas e os seus

autores terão a oportunidade de

viajar e conhecer o mundo.

ouvimos também falar do musical

carmina Slovenica. pode falar-nos

mais sobre este espectáculo, com

jovens, tanto quanto sabemos…?

críticos muito respeitáveis têm este

coro em elevada consideração.

carmina Slovenica estão a intro-

duzir um teatro vocal coreografado

e estou com algumas dificuldades

em explicar o significado de “coreo-

grafado”, mas sei que consiste em

juntar num mesmo palco, música,

voz, movimento, actuação e outras

artes performativas. Eles estão à

frente na sua área.

Está à espera que muitos es-

lovenos vão a Maribor durante

este ano? Existe um fato que nos

deixa curiosos. É verdade que os

habitantes de liubliana ainda não

gostam dos de Maribor?

não sei quem vos disse isto – mas

parece-me que têm bons informado-

res. Sim, existe rivalidade entre as

duas cidades. Em tempos antigos,

os habitantes de maribor tinham

o direito de ressentir a falta de

compaixão em dirigir e explorar da

capital, sem que com isso recebes-

sem muito de volta. mas penso que

hoje em dia a situação está muito

melhor. Existem muitas instituições

governamentais em maribor. a cida-

de tem a sua própria universidade.

a rivalidade permanece claro, mas

é muito similar à rivalidade entre o

porto e lisboa, ou entre o porto e o

benfica. tudo o resto são “incorrec-

ções políticas”, que são muito mais

suaves do que por exemplo, nos

Estados unidos. na realidade, na

Eslovénia, ninguém se importa com

um comentário num jogo de futebol

ou numa anedota. Espero since-

ramente que não só os habitantes

de liubliana, mas também pessoas

do mundo inteiro visitem maribor

e participem e aproveitem os seus

eventos culturais. E obviamente,

muitos portugueses!

Suponho que a crise económica

europeia tenha afectado o orça-

mento para o programa cultural

em Maribor este ano…

a sua suposição está obviamente

correcta mas, independentemente,

maribor fará o seu melhor com os

recursos disponíveis, esta é uma

grande oportunidade. no entanto,

existe uma nuvem ameaçadora a

pairar sobre o próximo projecto de

maribor – a 16ª edição da univer-

síada de inverno, competição para

estudantes universitários de 2013.

Existem sérios entraves, porque a

cidade não pode “por dinheiro onde

a boca estava”. talvez esta seja a

altura ideal para provar que existe

solidariedade entre cidades eslo-

venas, uma vez que a organização

internacional aceitaria que o evento

fosse financiado e deslocalizado por

toda a Eslovénia se esta medida ob-

viasse o problema de financiamento.

tudo estará decidido até ao final de

Fevereiro.

Voltemos ao tema das relações

entre a Eslovénia e Portugal.

Disseram-me que existem alguns

projectos culturais em comum

a ser desenvolvidos, nomeada-

mente entre Maribor e guimarães.

Pode elucidar-nos?

Estou satisfeita com a oportunidade

que as duas cidades têm de ganhar

visibilidade. ambas vão cooperar em

diversos campos, nomeadamente

da arte, criatividade, participação do

público, “forma de pensar” e cultura

popular. para além dos dois projec-

tos antes mencionados, dedicados

à juventude, existem ainda projectos

comuns no campo musical, dança,

teatro e artes visuais. a ideia é tam-

bém apresentar o poder e criativida-

de da poesia (e trocar antologias) e

a riqueza da cultura popular. Será

ainda estabelecida cooperação en-

tre onG’s e as duas universidades.

As cidades de Maribor e guima-

rães estão ligadas através do

futebol e esta também será uma

área de cooperação. O Zlatko

Zahovic, que iniciou a sua carrei-

ra em guimarães, foi nomeado

pela Fundação Cidade de guima-

rães como Embaixador da Capital

Europeia da Cultura.

a nossa embaixada também está a

fazer a sua parte. no dia 8 de

Fevereiro organizou-se um evento,

o antes mencionado dia da cultura,

que ao mesmo tempo foi dedicado

às capitais Europeias da cultura.

nesta ocasião, representantes de

maribor e Guimarães foram convi-

dados para promover a sua progra-

mação, por isso terá oportunidade

de ouvir mais sobre este tema.

convido-os desde já – e não me re-

firo só à Diplomática, mas os leitores

também – a juntarem-se a nós nesta

ocasião. muito obrigada

muito obrigada nós, Excelência. n

Page 62: Diplomática 13

62 • Diplomática - abril/junho 2012

No início do ano, o presidente da república recebeu, no palácio de belém,

as cartas credenciais dos novos embaixadores em portugal: o Embaixador

de moçambique, jacon jeremias nyambir, Embaixador do perú, nestor

Francisco popolizio barales, o Embaixador do Qatar, adel ali mohamed al

Khal, e da Embaixadora de cabo Verde, maria madalena brito neves.

na mesma cerimónia apresentaram as credencias ao presidente da repú-

blica os Embaixadores não-residentes: o Embaixador da tanzânia, begum

Karim-taj, Embaixador de S. Vicente e Grenadinas, celnio Elwin lewis, o

Embaixador das Seychelles claude morel, a Embaixadora maria ubach Font,

de andorra, Embaixador agron budjaku, da antiga república jugoslava da

macedónia e o embaixador do Vietname, Duong chi Dung. n

Presidente Cavaco Silva recebe credenciais de novos Embaixadores

Diplomacia

Page 63: Diplomática 13

No rescaldo de golpes e conflitos, debaixo de fogo, a Guiné-bissau procura o

seu espaço, num continente africano marcado por feridas abertas…

a Guiné-bissau é a maior “dor de cabeça” da cplp. Vivendo permanente

instabilidade, com exceção do curto período de liderança de luís cabral, o

primeiro presidente da república, e uma “normalidade” forçada pelo punho

firme do primeiro consulado de nino Vieira, a pátria de amílcar cabral parece

marcada pelo selo de tragédia da morte violenta do seu inspirador e pai da

independência.

Golpe atrás de golpe, os militares guineenses têm marcado a agenda política

do país, transformando a sociedade civil em mera espetadora dos desmandos

de uma tropa prenhe de autoritarismo antidemocrático e das perigosas forças

do tráfico de estupefacientes.

a Guiné-bissau, aparentemente, parece ingovernável, a não ser que fosse

possível inventar uma nova instituição militar nos destroços desta e reinven-

tar-se um conceito de democracia que correspondesse com mais equidade à

multiplicidade étnica e cultural de que enforma o país: uma manta de retalhos

criada pela ocupação colonial e desenhada a régua e esquadro numa lógica

de partilha do continente africano pelas potências europeias.

os problemas da Guiné-bissau, para além das dores domésticas desse povo

sofrido, são feridas profundas gravadas a escopro na má consciência daque-

les que procuram receitas iguais para coisas diferentes. ou seja, o concerto

das nações só é possível se gizado sobre as diferenças que fazem deste

nosso mundo uma manta de multiculturalidades.

as receitas do ocidente “civilizado” e “democrático”, às tantas, não farão

muito sentido num continente que tem de reinventar novos conceitos e novas

formas de organização política e social. a “chapa 5” dos regimes democrá-

ticos da Europa e do continente americano já provou não servir nem ajudar

uma áfrica que, de tanto ser “ajudada”, só tem vindo a atrasar o seu desen-

volvimento e o progresso social dos seus povos. ➤

63abril/junho 2012 - Diplomática •

africa

DossiEr

Page 64: Diplomática 13

´ +Africa64 • Diplomática - abril/junho 2012

A 21 de Fevereiro passaram 22 anos sobre a liberta-

ção de nelson mandela, sem dúvida a personalidade

ainda viva com mais prestígio internacional, tendo

até um dia mundial assinalado em sua homenagem,

o mandela Day, comemorado anualmente na data do

seu aniversário, a 18 de julho.

corria o ano de 1990 quando Frederik de Klerk, o

então presidente do regime do apartheid, pôs termo a

mais de 27 anos de prisão do líder sul-africano. a 11

de Fevereiro desse ano, de mão dada com Winnie, na

altura sua mulher, madiba – como é carinhosamente

tratado pelo seu povo – transpôs os portões do com-

plexo prisional de Victor Verster.

Estava traçado o fim da segregação racial e aberto o

caminho da liberdade. ao contrário do que seria su-

posto, pese embora os longos anos de cárcere, nelson

mandela, ao invés de querer vingança ou instigar ao

ódio, apelou à reconciliação, democracia e igualdade.

na tomada de posse como primeiro presidente negro

da áfrica do Sul, madiga enfatizou a mensagem que

norteou toda a sua vida: “justiça, paz, trabalho, pão,

água e sal, para todos”.

mandela uniu gente de todas as cores.

Este ano, a cidade do cabo foi escolhida para as ➤

Nelson Mandela, aos 93 anos continua a irradiar uma surpreendente vitalidade

“Se o mundo pudesse ter apenas um pai, nós escolheríamos Nelson Mandela”… disse um dia Peter Gabriel.

E tem razão: Madiba faz-nos acreditar no que de melhor a Humanidade transporta no seu seio

GraNDEs FiGuras

Page 65: Diplomática 13

´ +Africa 65abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ comemorações nacionais que assinalaram o fim de

um cativeiro de 27 anos, imposto pelo regime racista

da minoria branca, com direito a um ato oficial na casa

parlamentar e com a presença de mandela que, aos

91 anos e apesar de se encontrar bastante debilitado,

pareceu readquirir um surpreendente vigor, ao ser

efusivamente aclamado pela esmagadora maioria dos

deputados.

o discurso oficial coube ao atual presidente, jacob

Zuma, defendendo que a áfrica do Sul continua a

inspirar-se na visão, na inteligência e na sensibilida-

de do seu primeiro líder negro, que cumpriu a maior

parte da sua pena na prisão de robben island, ao

largo da cidade do cabo e, posteriormente, na prisão

de pollsmor. no entanto, à data da sua libertação,

nelson mandela, estava detido numa casa de campo,

no complexo da prisão de Victor Verster, uma zona

rural a cerca de 50 quilómetros da cidade do cabo.

actualmente o complexo é conhecido como prisão

de Drakenstein, erguendo-se no local uma estátua

de homenagem ao líder africano, de punho erguido,

assinalando a luta de toda uma vida pela libertação do

povo sul-africano.

aliás, o local foi, nesse dia, palco de uma ➤

Mandela luta e ascenção

Page 66: Diplomática 13

´ +Africa66 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ reconstituição da “marcha da libertação”, o dia em

que mandela transpôs os portões do complexo prisio-

nal, a 11 de Fevereiro de 1990, mas na qual o velho

líder, por razões de saúde, não participou. mas a sua

ausência não impediu que milhares de pessoas partici-

passem neste ato simbólico. poppy Shabalala, resi-

dente a poucos metros da prisão, disse aos jornalistas

que nelson mandela “fez o impensável, uniu negros e

brancos e terminou com o apartheid”, adiantando estar

ali para manifestar a sua gratidão.

no parlamento, o presidente Zuma referiu que se

celebrava ontem um “dia para assinalar um momento

divisor de águas” que mudou por completo a áfrica do

Sul e que mandela uniu o país na construção de um

Estado “não sexista e não racista”.

madiba recebeu mais de 250 prémios, entre eles o no-

bel da paz. a sua tenacidade, a sua força de vontade e,

fundamentalmente, a sua intrínseca bondade têm feito

mudar o mundo e transmitir uma mensagem de espe-

rança a toda a humanidade. como, certo dia, disse o

músico peter Gabriel: “se o mundo pudesse ter apenas

um pai, nós escolheríamos nelson mandela”… n

Na tomada de posse como primeiro presidente negro da África

do Sul, Madiba enfatizou a mensagem que norteou toda a sua

vida: “justiça, paz, trabalho, pão, água e sal, para todos”

Nelson Mandela

Page 67: Diplomática 13

´ +Africa 67abril/junho 2012 - Diplomática •

Passaram poucos meses desde a assinatura

pública do protocolo de cedência e aceitação

do palácio do conde de penafiel, em Setem-

bro de 2011, para a instalação permanente da

sede da comunidade dos países de língua

portuguesa. institucionalizada em 1996, a

comunidade concluiu em 2011 o processo de

negociação que incentivou a sua fundação.

a primeira ideia de criação da cplp surgiu

no final dos anos 1980, com a primeira reu-

nião dos chefes de Estado e de Governo dos

países de língua portuguesa; angola, brasil,

cabo Verde, Guiné-bissau, moçambique,

portugal e São tomé e príncipe, em São luís

do maranhão a convite do então presidente

brasileiro: josé Sarney.

a 6 de Fevereiro de 2011 lisboa passou a

acolher a sede permanente da cplp situada

no palácio do conde de penafiel. lisboa é a

única capital onde existem Embaixadas de

todos os países que integram a comunidade

dos países de língua portuguesa. a defesa

da liberdade, da democracia, dos Direitos

humanos, do desenvolvimento económico e

social dos povos, os fatores que integram a

comunidade, o envolvimento da sociedade

civil de cada um dos países membros - foram

alguns dos objetivos da cplp realçados pelo

presidente português.

o evento de inauguração foi assinalado na

presença de várias personalidades dos 8

países membros da comunidade e outros

convidados especiais. Destacou-se a presen-

ça dos antigos presidentes: jorge Sampaio e

mário Soares (portugal), joaquim chissano

(moçambique), pedro pires e antónio masca-

renhas monteiro (cabo Verde); o atual presi-

dente da república portuguesa, aníbal ca-

vaco Silva e o Vice – presidente de angola,

Fernando da piedade Dias dos Santos - em

representação do chefe do Estado angolano;

o Secretário Executivo da cplp, Domingues ➤

A sede permanente da CPLPUma aposta partilhada e ambiciosa para o futuro

inauguração da cplp

lusoFoNia

Page 68: Diplomática 13

´ +Africa68 • Diplomática - abril/junho 2012

CPLP

➤ Simões pereira; o primeiro-ministro de por-

tugal: pedro passos coelho; o ministro dos

negócios Estrangeiros, paulo portas e os mi-

nistros dos países membros da comunidade.

Em Fevereiro de 2012 o chefe do Estado por-

tuguês e o Vice - presidente de angola tiveram

a honra de cortar a fita e descerrar a placa

da inauguração que marcou a cerimónia de

abertura da nova casa da cplp. na cerimónia

foi destacado o percurso evolutivo que a cplp

fez nos seus 15 anos de vida. o presidente

da república portuguesa apreciou o empenho

e o contributo da presidência angolana que

atualmente preside a cplp. Fez referência ao

processo de cooperação que tornou possível

a escolha da capital portuguesa para albergar

a casa comum dos países de língua portu-

guesa. cavaco Silva afirmou que a despeito da

sua juventude a comunidade é hoje um eixo

central da política externa dos Estados que a

integram, o que permite a valorização do papel

de cada um dos seus membros no contexto

regional e internacional em que se inserem.

no seu discurso, na Sessão Solene de inaugu-

ração da Sede, o chefe do Estado português

destacou ainda a importância da lusofonia no

mundo. referiu-se à língua portuguesa como

a sexta mais falada do mundo, e como um dos

idiomas em maior expansão. na opinião de

cavaco Silva a lusofonia traz consigo uma re-

alidade que constitui um ativo estratégico, em

termos políticos e económicos, o que faz com

que seja indispensável apostar na educação e

na formação em língua portuguesa, apresen-

tando-se a cplp como uma aposta partilhada

e ambiciosa para o futuro.

no dia da inauguração da sede da comunida-

de, realizada na semana comemorativa dos ➤

presidente da republica portuguesa, aníbal cavaco Silva; Vice-presidente da república de angola, Fernando da piedade

dos Santos; e Secretário executivo da cplp, Domingos Simões pereira

Page 69: Diplomática 13

´ +Africa 69abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ 15 anos de existência da cplp teve lugar

a Vii reunião Extraordinária do conselho de

ministros da cplp. os oito representantes dos

países membros reuniram-se para se pronun-

ciarem sobre a agenda a cumprir em 2012. na

reunião do conselho, presidido por S. Excelên-

cia o ministro das relações Exteriores de an-

gola, Dr. Georges chicoti, oito pontos importan-

tes foram referidos como temas de destaque: a

elaboração dos Vocabulários ortográficos na-

cionais e do Vocabulário ortográfico comum;

o reforço da cooperação Económica e Empre-

sarial na cplp; a apresentação da Estratégia

regional de Segurança alimentar e nutricional

da cplp; o apoio ao processo de estabiliza-

ção política da Guiné-bissau; realizar até maio

um conselho de ministros Extraordinário para

uma avaliação dos progressos alcançados e

elaboração de um relatório exaustivo no quadro

dos avanços registados na implementação do

programa de adesão da Guiné-Equatorial à

cplp; a proposta de orçamento de funciona-

mento do Secretariado Executivo para 2012;

a criação do conselho Económico e Social da

cplp; e a aceitação do centro internacional

de investigação climática e aplicações para os

países de língua portuguesa e áfrica (ciicla)

por cabo Verde como centro da cplp através

de um projecto de resolução para aprovação ad

referendum no conselho de ministros a realizar

em julho, em maputo.

o ministro Georges chicoti associou a nova

sede da cplp no palácio de penafiel à casa

da lusofonia com a sua vocação de fórum

multilateral para o aprofundamento da amiza-

de mútua, da concertação político-diplomática

e da cooperação entre os seus membros. n

1. Vice presidente da república de angola, Fernando da piedade dos Santos e primeiro-ministro pedro passos coelho 2. Vice-

-presidente da república de angola, Fernando da piedade dos Santos 3. Secretário executivo da cplp, Domingos Simões pereira

4. jorge Sampaio e o ministro de Estado e dos negócios Estrangeiros paulo portas. 5. Vice presidente da república de angola,

Fernando da piedade dos Santos; presidente da republica portuguesa, aníbal cavaco Silva; primeiro-ministro de portugal, pedro

passos coelho; e Secretário executivos da cplp, Domingos Simões pereira

2 3

4

5

1

reportagem: roman buzut

Page 70: Diplomática 13

´ +Africa70 • Diplomática - abril/junho 2012

A hidroeletrica de cahora bassa

(hcb), o maior e o mais poderoso

produtor de eletricidade em mo-

çambique, voltou a destacar-se

no mapa político-económico inter-

nacional. acompanhado pelo mi-

nistro dos negócios Estrangeiros,

paulo portas e pelo ministro da

Economia, álvaro Santos pereira,

o primeiro–ministro português,

pedro passos coelho, deslocou-

-se à capital de moçambique,

maputo, para chegar a um acor-

do sobre a alienação do capital

português na hcb. nas palavras

do ministro dos negócios Estran-

geiros moçambicano, henrique

banze, no seguimento desta

visita espera-se um reforço das

“relações entre os dois países”

face a cahora bassa. as expeta-

tivas assentaram na transferência

do capital português da hidroe-

létrica de cahora bassa para as

mãos dos moçambicanos. até ao

fim de abril de 2012, o Estado

português detinha 15% na hidro-

elétrica de cahora bassa (hcb).

recorda-se, que, até 2006, na

posse de portugal estavam 82%

de ações, mas que a partir de

2007, após negociações entre os

dois governos, foram reduzidas

para 15%.

na sua visita de dois dias a mapu-

to, o primeiro-ministro português,

passos coelho, e o presidente de

moçambique, armando Guebuza, ➤

Passos Coelho em MoçambiqueAcordo sobre Cahora Bassa

ViaGENs DE EstaDo

Page 71: Diplomática 13

´ +Africa 71abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ chegaram a um acordo. portu-

gal transferiu o capital que detinha

na hcb. a empresa portuguesa

parpública, detentora do empreen-

dimento, vendeu os 15% por cerca

de 97 milhões de dólares: 7,5%

foram para a empresa pública

moçambicana cEZa, cujo capital

é detido pela EDm, e 7,5% para a

empresa portuguesa rede Elétrica

nacional (rEn). com a assinatu-

ra deste acordo, a rEn reforçou

a sua política energética sobre o

mercado moçambicano. a empre-

sa portuguesa aposta no transpor-

te de energia no continente africa-

no. alcançou mesmo um conjunto

de garantias de participação em

vários projetos energéticos. Entre

os maiores, destaca-se o proje-

to de Desenvolvimento regional

de transporte de Energia entre

o centro e o Sul de moçambique

(cesul). num valor superior aos

2 milhões de dólares, o projeto,

constituído por duas redes de alta

tensão entre matola e tete, tem

como objetivo escoar energia na

região do vale do Zambeze.

após várias negociações, mo-

çambique passou a deter 92.5%

do capital da hcb. nas palavras

do primeiro-ministro português,

tratou-se da resolução de um pro-

blema do passado, que hoje abriu

caminho para “novas oportunida-

des no campo da energia”. n

roman buzut

Page 72: Diplomática 13

´ +Africa72 • Diplomática - abril/junho 2012

A cultura excedeu as espetativas de uma repetição subjeti-

va e anacrónica cada vez mais comunicante e comunicativa.

o “atllântico” outrora berço dos navegantes europeus em

busca de outras paragens, é traçado pelo sociólogo paul

Gilroy, na sua perspetiva antiessencialista e afirmativa, que

nos leva ainda mais longe: diria mesmo, até à “casa Grande

e Senzala” de Gilberto Freire do séc. 20, tendo-se catapulta-

do para o que é atualmente uma cultura global e globalizante,

que deste lado do atltântico, se eleva do exótico e expressivo

batuque à instrumentos musicais mais sofisticados, dentro

da filosofia e dimensão africana. Da literatura, à dança e à

música, as fronteiras esbatem-se, a partir do momento em

que, as orquestras de música sinfónica entram em cena,

num diálogo apressado, cada vez mais conseguido, em que

os desaires de uns são a tristeza de outros e as vitórias são

celebradas como de uma só identidade se tratasse.

contudo, os povos distanciaram-se de acordo com suas

realidades geográficas e linguísticas, quer pela força da

diferença, quer pela força do que nos é comum como hu-

manos, na corrida de um mundo melhor e mais conseguido

em que a transfronteiricidade tem regras. tal como o Egito

se sagrou como uma sociedade da primeira civilização e a

Europa como o berço do iluminismo, chegados ao sec. XXi,

a tendência é esbater as diferenças e os ressentimentos

das emancipações e independências, pelas aproximações

culturais e económicas de outros paradigmas e propósitos,

consubstanciados no equilíbrio de forças: força política,

económica e cultural, o que pressupõe o desenvolvimento

acelerado do diálogo norte-Sul, que sem ambiguidades,

devem privilegiar a livre circulação de pessoas e bens das

populações baptizadas pela lusofonia.

nada mais pode ser tão brilhante, senão o avanço da intelec-

tualidade através da técnica e da ciência, através da criação

de mais universidades e institutos de formação profissio-

nal aprimorada, no sentido de melhor funcionamento das

LusofoniaUm resgate afirmativo da mundialização das identidades

palmira tjipilicaprofessora universitária - luanda, angola

cróNica

instituições de resgate, do que deveria ter sido melhor,nos

tempos que passaram à história, mas que enquadrados no

devido momento e época, não poderam ser diferentes, em

termos de mentalidades e práticas. milénios antes de cristo,

também houve distanciamentos entre o atlântico norte e

o atlântico sul, em termos do domínio técnico e científico,

favoráveis para os do norte, que encorajados pelo clima frio

e durezas invernais, avançaram para as etapas do desenvol-

vimento económico e industrial, hoje ameaçados de res-

sessão financeira. a lusofonia dos nossos dias, remete-nos

para a recuparação das vivências do tropicalismo africano

da diáspora da idade moderna e, da herança racializada

expalhada pelo “atlântico negro”, como conquista a partir das

experiências de diferentes formas de sentir e de saberes. Dir-

-se-ia que, de uma ou de outra maneira, a doutrina das idéias

platónicas, onde o objeto do conhecimento se distingue das

coisas naturais, colocam o humano de hoje, no patamar da

sabedoria que se traduz na filosofia das belíssimas obras de

arte, quer na arquitetura, quer noutros manifestações da vida

social, cultural e política em que, as boas obras inacabadas,

são eternizadas pela memória daqueles que a completam,

quer em termos materiais e imateriais em que o domínio da

escrita, é uma opção obrigatória. a partir das independências

dos países de língua oficial portuguesa, as experiências daí

decorrentes e as relações internacionais daí resultantes,

guidaram os novos países para o desenvolvimento humano,

mais maduro e as antigas potências coloniais, para uma

revisão das relações entre estados, com o objetivo de maior

coesão e sustentabilidade das nações e países que falam a

mesma língua.

chegados ao séc. 21, as práticas migratórias bem controla-

das, não só enriquecem as nações, como também colocam

os humanos num constante diálogo económico, técnico e

científico. E porque assim é, nos estados outrora subjuga-

dos, desenha-se um luso-tropicalismo que invoca o passado

numa perspetiva mais avançada de respeito pela história de

cada um à medida que as reaproximações ganham sentido.

nada mais permanece igual, numa corrida em que a com-

ponente a não perder é o constante resgaste das identidades

entre africanos e europeus, para os equilíbrios desejados,

com base na filosofia civilizacional. para que isso seja factível

ao longo das próximas gerações, precisamos de “utopias” ou

ideias avançadas contra os arrastamentos da estagnação e

estgmatização.

assim sendo, só os grupos humanos organizados, têm como

saber dar e apropriar-se do melhor dos outros, sem o esva-

siamento e a anulação de si mesmos. É assim que eu vejo o

luso-tropicalismo, ou seja a lusofonia deste século, em que a

comunicação social pode exercer um papel preponderante

inescedível. n

Page 73: Diplomática 13

´ +Africa 73abril/junho 2012 - Diplomática •

A alma de um povo, para quem acredita que ela exis-

te, deve ser entendida como um conceito integrador,

sem o qual os seres se desunem da própria existência

humana.

Da mesma forma que um ramo arrancado brusca-

mente de um pé de eucalipto ou de uma outra árvore

qualquer está esconjurado a morrer aos poucos, por

ter perdido a ligação à sua fonte de sustento, um povo

que assassina a sua alma, sujeita-se a ser castigado

ao infortúnio e à desgraça imutável por ter abjurado a

sua fonte de (inspiração) alimentação.

Quem sabe!

na verdade, esvoaça no ar a sensação e o marasmo

de que o povo da Guiné-bissau vive o seu dia-a-dia

sob o signo da maldição e do pecado mortal, desde o

dia 20 de janeiro de 1973, data do desumano assassi-

nato daquele que foi a sua “alma, luz e guia”, ou seja,

o seu espírito luz de nome amílcar lopes cabral.

aquele que deixou tudo de material para se dedicar

única e exclusivamente à libertação do seu povo, o

povo da Guiné-bissau, do colonialismo e do obscuran-

tismo, como fez cristo em relação ao povo de israel.

Entretanto, assim como sucedeu a Este, desgraça-

damente, aquele que foi a “alma, luz e guia” do povo

da Guiné-bissau, ou seja, amílcar lopes cabral, foi

assassinado no solo pátrio guineense por aqueles a

favor dos quais tudo consentiu à nobre causa da sua

libertação e emancipação como homem.

É como que dizer: quando não somos os únicos res-

ponsáveis do nosso destino, cada ato que praticamos

é, por si só, uma punição ou compensação.

assim sendo, independentemente do método que se

utilizar para se apurar a verdade: ciência ou religião,

é inquestionável hoje que sem amilcar lopes cabral,

a Guiné-bissau “nada tem sido”, e com amilcar lopes

Guiné-Bissau e o signo da maldição e do pecado mortal

adriano pires

major (na reserva) das Forças

armadas de cabo Verde

Na verdade, esvoaça no ar a sensação e o

marasmo de que o povo da Guiné-Bissau

vive o seu dia-a-dia sob o signo da maldição

e do pecado mortal, desde o dia 20 de Janei-

ro de 1973, data do desumano assassinato

daquele que foi a sua “alma, luz e guia”,

ou seja, o seu espírito luz de nome Amílcar

Lopes Cabral

cabral certamente “seria tudo”.

Quem sabe!

ou seja, a impressão que fica é que no dia em que

os militares guineenses o assassinaram em plena

luta de libertação nacional, a própria alma da Guiné-

-bissau foi como que assassinada também. tal qual

sucedeu com a Grécia a partir do dia em que delibe-

rou envenenar Sócrates.

a partir dessa data, nunca mais a Guiné-bissau teve

paz, concórdia e felicidade. o seu dia-a-dia passou a

ser marcado por sangue, equívocos e mal-entendidos

entre os guineenses - militares - “discípulos” de amíl-

car lopes cabral, há data de hoje.

como se não bastasse, passados trinta e nove anos

sobre a data do seu assassinato, nenhum outro gui-

neense atingiu, na Guiné-bissau, a mesma honra, a

mesma luz, o mesmo entendimento, a mesma respon-

sabilidade e o mesmo sentido do dever para com a

Guiné-bissau.

isto é, o assassinato de amilcar lopes cabral foi

como que o azar da Guiné-bissau. aliás, verdade de

muito fácil confirmação. basta ver o semblante dos

guineenses face a cada ato de bestialidade perpetua-

do pelos militares guineenses contra a Guiné-bissau,

sua gente e suas instituições legitimamente constituí-

das.

ora bem, se os militares da Guiné-bissau tivessem

ouvido amilcar lopes cabral em vez de o matarem,

hoje a Guiné-bissau não estaria… seguramente na

situação difícil em que se encontra, ou seja, vivendo

sob o espectro da maldição e do pecado mortal que

pesam sobre os ombros dos membros da Direcção

das suas Farp.

Quem sabe!

paz ao povo da Guiné-bissau. ➤

Page 74: Diplomática 13

74 • Diplomática - abril/junho 2012

O instituto para a promoção e De-

senvolvimento da américa latina

ofereceu uma recepção, no Grémio

literário de lisboa, por ocasião do

seu sexto aniversário. no passado

dia 27 de janeiro, cerca de 70 con-

vidados acederam ao convite do

ipDal, destacando-se a presença

do Secretário de Estado da agri-

cultura, josé Diogo albuquerque.

Estiveram presentes vários amigos

do ipDal e membros do protocolo

de Estado, deputados, empresá-

rios, académicos e políticos.

Durante a cerimónia, decorreu ain-

da a entrega dos prémios ipDal-

-Vista alegre. na terceira edição

desta homenagem, o instituto ➤

IPDAL Comemora VI Aniversário

1. maria da luz bragança e paulo neves 2. iwan e jeunesse brunner 3. jorge costa e miguel Guedes 4. José luis ma-

chado do Vale, paulo ramos, ribau Esteves, jorge costa, Filipe Domingues e alexandre barata 5. luis miguel henrique

a receber o prémio

1 2 3

4 5

Nossos parabéNs

Page 75: Diplomática 13

75abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ distinguiu, o liDE-portugal e a

antiga embaixadora da república

Dominicana, ana Silvia reynoso. o

prémio ipDal-Vista alegre preten-

de homenagear personalidades e

instituições que se tenham desta-

cado na aproximação de portugal

e da américa latina, bem como

instituições que tenham colaborado

de forma estreita com o ipDal.

o instituto para a promoção e De-

senvolvimento da américa latina

(ipDal) é uma instituição privada,

pluralista e independente de gover-

nos e partidos políticos. Surgiu na

sequência de um projeto iniciado

pelo jornalista e professor universi-

tário paulo neves, em 2004. ➤

6. Embaixador do perú, paulo pisco, antónio Galamba, jorge abrantes e josé luis machado do Vale 7. maria da luz de

bragança, Embaixador da moldávia e ilona thykier 8. josé Diogo albuquerque, Secretario de Estado da agricultura; paulo

neves com o Embaixador da república Dominicana a receber o prémio 9. pedro machado, ribau Esteves e manuel correia

de Jesus 10. Gonçalo rebelo de almeida e jorge abrantes

6 7

8 9 10

Page 76: Diplomática 13

76 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ com o apoio dos Embaixadores

do chile, do brasil, da argentina,

do panamá, de cuba, do peru, da

Venezuela e do Encarregado de

negócios do paraguai, o projeto

foi apresentado no final de 2004

e posto em prática. É um instituto

que inclui as representações diplo-

máticas latino-americanas em por-

tugal; universidades, empresas e

outras organizações cujo interesse

assenta na américa latina. Quando

se fala em diplomacia é importante

referir a importância da diplomacia

económica como fator essencial

nas trocas comerciais entre os dois

polos. o seu financiamento é ga-

rantido pelas iniciativas que ➤

11 12 13

14 15 16

17

11. Embaixadores da Venezuela com o Embaixador da república Dominicana 12. maria da luz de bragança e o Embaixador do

brasil 13. joão novais paula e josé honorato Ferreira 14. alexandre barata e carlos rito 15. luis Ferreira Santos e luis miguel

henrique 16. Filomena oliveira e nuno Fernandes tomás 17. carlos mamede e antonio monteiro

IPDAL - Comemora VI Aniversário

Page 77: Diplomática 13

77abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ organiza e cujo objetivo é conso-

lidar as relações entre portugal e a

américa latina. Dois anos mais tar-

de, no dia 12 de janeiro de 2006,

foi efetuado o registo legal do insti-

tuto para a promoção e Desenvolvi-

mento da américa latina. trata-se

de objetivos possíveis mediante o

desenvolvimento de “atividades de

assessoria e lóbi, cursos, confe-

rências, viagens e mesas redondas

sobre a américa latina, a media-

ção de contatos e interesses latino-

-americanos entre todas as partes

envolventes, oferecendo serviços

de apoio e iniciativas em movimen-

tos de aproximação. n

18 19 20

21 22 23 24

25 26 27

18. Embaixadores da Venezuela, colombia e panamá com Embaixatriz do panama 19. paulo pisco, antónio Galamba e o Embaixador

do peru 20. Embaixadores do brasil 21. maria carlota machado mendes e caetano pestana 22. rosa canning clode e assis correia

23. Embaixatrizes do panamá e Venezuela 24. josé Diogo albuquerque, jeunesse brunner, Embaixador do peru e paulo pisco 25. mar-

zio tartini e sua mulher com maria renee Gomes 26. clotilde camara pestana, Elida paredes e berta ribeiro 27. Embaixador da argentina

Fotos: roman

Page 78: Diplomática 13

78 • Diplomática - abril/junho 2012

Por ocasião do lançamento do livro “le

palais de Santos” e da inauguração

da nova iluminação da capela e da

sacristia do palácio de Santos, sede

da embaixada francesa, o Embaixador

de França organizou uma recepção

solene, em que estiveram presentes

representantes de várias instituições.

no seu discurso, o Embaixador pascal

teixeira da Silva reconheceu o contri-

buto dado pelas empresas portuguesas

e estrangeiras e pelas pessoas que

fizeram parte do projeto.

o Embaixador agradeceu ao autor,

jean pierre Samoyault – conservador

do património e ex-diretor do castelo

de Fontainebleau e ex-administrador do

mobiliário nacional, a Kenton tatcher

–responsável pelas fotografias; ao

editor alain Finet e à tradutora, patricia

roman. relativamente às empresas,

o embaixador de França destacou a

importância do banco Espírito Santo e

da caixa Geral de Depósitos e refe-

riu ainda as empresas francesas: air

France, alcatel, axa, citroën, Essilor,

GDF Suez, Gefco, macif, pernod-

-ricard, peugeot, Sanofi-aventis,

Saint-Gobain,thalès. por fim salientou

o contributo pessoal de Guérand-her-

mès.

o livro, da autoria de jean pierre Sa-

moyault, conta a história do palácio.

começa por fazer referência à época

romana, para depois contar a história

da ilustre família lencastre e a luta

pela posse do edifício. Faz referência

à realeza e à corte da classe mo-

nárquica portuguesa que habitou no

palácio. Entre as muitas curiosidades

relatadas no livro destaca-se, como

muitos a chamam, a última ceia de D.

Sebastião antes de partir para lagos,

de onde saiu para marrocos para

travar a batalha de alcácer Quibir. o

edifício que, há 142 anos atrás, em

1948, passou a ser a sede da embai-

Le Palais de Santos

1 2

3 4

1. mercedes balsemão, pascale teixeira da Silva, maria da luz de bragança

2. antónio Gaivão, Didier Gonzalez 3. nuno rogeiro e sua mulher, Daniela

bokor com Samuel richard 4. jean-pierre courtiat e sua mulher, cordula

courtiat com custódia Domingues

reportagem:roman buzut

cultura

xada de França, em portugal

foi comprado pelo estado fran-

cês em 1909. Veja algumas

das muitas personalidades

que estiveram presentes no

evento. n ➤

Page 79: Diplomática 13

5 6 7

7 8

9

10 11 12

5. ricardo Salgado, Francisco balsemão e rui Vilar 6. ana Godinho e josé Gil 7. paul Schmit e nadine Schmit com custódia Domin-

gues e catherine astorg Gonzalez. 8. isabel cruz de almeida e rui Vilar 9. pierre Guibert e isabel Silveira Godinho. 10. ricardo Salgado

e maria da luz de bragança 11. Fernando Faria de oliveira e rui Vilar 12. os Embaixadores de França com alain Finet (Editor do livro)

Page 80: Diplomática 13

80 • Diplomática - abril/junho 2012

Sendo uma das empresas portugue-

sas mais antigas a produzir tapeçarias

tradicionais de qualidade e de luxo, a

tapeçarias Ferreira de Sá, que de-

tém o espólio original de desenhos do

ponto português, beiriz, é a empresa

portuguesa de referência, em qualida-

de, inovação e recuperação de técni-

cas tradicionais.

após diversos projetos desenvolvidos ➤

Tapeçarias Ferreira de Sá

maDE iN portuGal

Page 81: Diplomática 13

81abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ entre as tapeçarias Ferreira de Sá e

o arquiteto álvaro Siza, de referir, por

exemplo, o “pacific amore” na coreia

, e o teatro “auditorium revellin”, em

ceuta, eis que surgiu a tão aguardada

coleção de tapetes, lançada em tai-

pei, numa exposição de Siza Vieira, ,

intitulada “the beauty of Function”, que

estará patente, no Xue Xue institute,

até finais de abril deste ano. ➤

hotel Sheraton

álvaro Siza - colecção “hand-tufted”

Page 82: Diplomática 13

82 • Diplomática - abril/junho 2012

➤ a coleção de álvaro Siza é composta

por nove tapetes em “hand-tufted” e

um em “portuguese hand-Knotted”,

que recriam, com expressão, o de-

senho e a intensidade de cada traço.

uma seleção que resulta na escolha de

duas pinturas (uma das quais tratando-

-se de um tríptico) e seis desenhos de

traço, recriadas em tapeçarias. hoje,

com quase 100 trablhadores, a pro-

dução em nó manual (hand-knotted),

tecelagem manual (hand-woven) e

tufado manual (hand-tuffed), conferem

à Ferreira de Sá um enorme prestígio

nacional e internacional.

lojas como Dior, louis Vuitton e

nespresso fazem parte da carteira de

clientes da Ferreira de Sá (cuja fábrica

e o showroom estão localizados em

Silvade, concelho de Espinho), no que

se refere a instalação em lojas. para

além da península ibérica (o Vidago

palace hotel, Grupo Sheraton, altis,

cS e intercontinental), as tapeçarias

Ferreira de Sá está também presente

o hotel alfonso Xiii, em Sevilha, as-

sim como também em hotéis de luxo

no Dubai, em moscovo como o Swis-

sôtel, edifícios empresariais, como a

Sonangol, em angola, e museus como

o amsterdam historisch museu, na ho-

landa, the mercedes-benz museum ou

o Vitra Design museu na alemanha.

Diversos decoradores, designers e

arquitetos, como álvaro Siza Vieira,

escolhem-na no momento de mobiliar

os seus interiores, desenvolver uma

colecão, desenhar um tapete original ➤

Tapeçarias Ferreira de Sá

Vidago palace hotel

Page 83: Diplomática 13

83abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ ou substituir uma antiga tapeçaria.

a tapeçarias Ferreira de Sá esteve

presente, recentemente, no evento

internacional EXport homE 2012,

onde apresentou, pela primeira vez,

ao país, a conceituada álvaro Siza

collection, tendo vencido o prémio

Design Export home 2012, na cate-

goria dos têxteis-lar, com o aplauso

unânime do júri. De destacar o tapete

em “portuguese hand-Knotted, chama-

do “reine”, assim como o tapete em

3d “tufted”, chamado “braids!, ambos

da orbi collection. Foram também

apresentados ao júri diversas peças de

mobiliário, produzidas a partir de ta-

petes de “hand-woven” e “portuguese

hand-Knotted”. igualmente de destacar

o “bench”, um ergonómico banco com

tapeçaria Ferreira de Sá. tratando-

-se de um tapete em “hand-woven”

(tecelagem manual) em lã, que cobre

a estrutura ondulada, formando um

banco, já apresentado em janeiro, na

“maison&object, em paris.

a orbi collection é a mais recente co-

leção de tapetes datapeçarias Fereira

de Sá, lançada, em janeiro passado,

na “maison & object. E oferece uma

imensa diversidade de técnica, mate-

riais, desenhos, cores, dimensões, vo-

lumetria e e formas para o seu tapete,

uma proposta da conceituada designer

da Ferreira de Sá, carlota Verde. n

Vidago palace hotel Willet holthuysen museum - holanda

www.tfs-sa.com • [email protected]

Rua Ferreira de Sá, 50 - Silvalde - Espinho

Telf.: 227 333 070

Page 84: Diplomática 13

84 • Diplomática - abril/junho 2012

No dia 2 de Dezembro de 2011, os Emi-

rados árabes unidos celebram quatro

décadas desde a criação do Estado em

1971. não é por isso de surpreender que

a ocasião esteja a ser marcada por cele-

brações em todos os sete emirados, abu

Dhabi, Dubai, Sharjah, ras al Khaimah,

ajman, um al-Qaiwain e Fujairah. os sete

emirados foram conhecidos como “Esta-

dos da trégua”, tendo-se relacionado com

a Grã-bretanha através de uma série de

tratados durante mais de 150 anos. Em

1971, os governantes dos Emirados, lide-

rados pelo seu fundador, o Xeque Zayed

bin Sultan al nahyan, decidiram formar

uma federação para trabalharem juntos

no caminho da prosperidade e do desen-

volvimento para o seu povo. apoiados

pela visão de S. a. o Xeque Zayed, que

acreditava que as receitas provenientes

dos recursos de petróleo e do gás do seu

próprio emirado, abu Dhabi, deveriam ser

colocadas ao serviço dos habitantes de

todo o país, os Eau emergiram conse-

quentemente como um dos países mais

estáveis e com desenvolvimento mais

rápido da região.

os princípios-guia que distinguem o

êxito do Estado, originalmente iniciado

há quarenta anos, continuam a ser os

elementos fundamentais nas políticas

governamentais dos Eau. primeiro, os

recursos originados do petróleo e do gás

de abu Dhabi devem ser partilhados por

todo o país no desenvolvimento das suas

infra-estruturas. Segundo, tal como S.a.

o Xeque Zayed asseverou, “a verdadeira

riqueza do país está no seu povo” e, por

isso deve ser feito um esforço particular

para garantir que o povo possa beneficiar

do melhor acesso à educação, saúde e

serviços sociais, de forma a proporcionar,

tanto aos homens como às mulheres, a

possibilidade de fazerem parte do cresci-

mento do país.

um terceiro princípio, no reconhecimento

do fato dos Eau como país que iria atrair

muitas nacionalidades, é o dever ser um

país onde o espírito de tolerância entre as

pessoas de diferentes comunidades e cre-

dos deveria permanecer, princípio em que

a sua própria cultura e herança deveria

ser acarinhada e protegida.

há um esforço do Governo na melhoria

continuada dos serviços sociais e na

expansão desses serviços da economia

que representarão a maior contribuição

para a criação de emprego para os jovens

emiradenses, tanto homens como mulhe-

res. hoje, as mulheres representam cerca

de 70% de todas as licenciaturas universi-

tárias do país e ocupam cerca de dois ter-

ços das funções governamentais, sendo

4 membros do Gabinete, Embaixadoras e

até pilotos da força aérea, uma prova do

êxito do país em dar poder às mulheres.

o trabalho continuou a ser realizado em

planos para desenvolver o museu nacio-

nal do Xeque Zayed. Estão a ser planea-

dos vários dos museus mais importantes,

incluindo louvre e Guggenheim, de modo

a formar o centro de um novo complexo

cultural. também tem sido dada atenção

à proteção ao ambiente dos Eau, a par

do património cultural, que são conside-

radas as componentes importantes da

identidade nacional.

na linha com a sua política tradicional de

procurar, através de uma ação coletiva,

oferecer apoio aos povos de países que

sofrem com os conflitos, os Emirados de-

sempenharam um papel ativo na campa-

nha aérea aprovada pela onu no sentido

de proteger os civis na líbia do impacto

do conflito no país, bem como fornecer

assistência humanitária substancial aos

que foram afetados. Sempre fieis ao seu

empenho na paz, estabilidade e seguran-

ça da região, os Emirados árabes unidos

procuram resolver os conflitos por meios

pacíficos e através da mediação interna-

cional. n

Os Emirados Árabes Unidos40 anos a caminho da união

mala Diplomática

Page 85: Diplomática 13

85abril/junho 2012 - Diplomática •

1. Saqer nasser alraisi, Embaixador dos Emirados árabes unidos com a Embaixadora de argélia 2. Saqer

nasser alraisi e allan Katz, Embaixador dos E.u.a. 3. Saqer nasser alraisi e monsenhor rino passigato

4. Saqer nasser alraisi com nuno crato, ministro da Educação e das ciências 5. Saqer nasser alraisi e

nuno rogeiro 6. Saqer nasser alraisi; Sultan al merjan, Embaixador do Kuwait e hisham alqahtani, Em-

baixador do reino da arabia Saudita 7 e 8. nuno crato, Embaixador dos Emirados árabes unidos e paulo

portas, ministro negócios Estrangeiros

1 2

3 4

5 6

7 8

Page 86: Diplomática 13

86 • Diplomática - abril/junho 2012

“Em menos de um ano, o Aura já se tornou um espaço de referência da gastronomia lisboeta”

Carlos Medeiros revela alguns dos trunfos e segredos do restaurante Aura

Naquele que, durante muitos anos, foi um espaço cinzento dedicado apenas a Ministérios que, mais

ou menos discretamente, o utilizavam, existe agora uma vida renovada com restaurantes, belíssimas

esplanadas e a vista de um Tejo que encanta e fascina. Bem no centro de Lisboa, a magnífica Praça

do Comércio é agora um local, não apenas de passagem rápida, mas antes de eleição, tanto para

estrangeiros quanto para portugueses, e transformou-se, num curto espaço de tempo, num dos locais

mais apetecíveis da Europa.

Imbuídos da vontade de ajudar na mudança para esta nova realidade, Carlos Medeiros e os seus só-

cios tiveram a felicidade de ser os vencedores do concurso público que lhes atribuiu o local que viria

a ser, de há menos de um ano a esta parte, o multifacetado Aura – restaurante, esplanada e lounge. ➤

GastroNomia

Page 87: Diplomática 13

87abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ Foi certamente um momento

muito especial saber que iria ser

um dos responsáveis por esta fan-

tástica criação gastronómica…

Foi muito especial, mas também o

constatar de uma grande responsa-

bilidade, pois não é em vão que se

é atribuída a transformação de um

espaço nobre numa praça, que é, por

certo, uma das mais emblemáticas

de toda a Europa, uma praça capaz

de fazer frente à de São marcos ou

qualquer outra por esse mundo fora.

claro está que, associado a este

privilégio, surgiram muitas questões

e, como é inerente, muito trabalho.

no entanto é muito bom saber que

em menos de um ano, o aura já se

tornou um espaço de referência da

gastronomia lisboeta.

Uma das coisas que mais vezes

é realçada quando se conhece o

Aura é o ecletismo originalidade

da decoração. Como surgiu esta

escolha?

ao contrário do que se possa pensar,

nada neste espaço foi deixado ao

acaso. tanto eu quanto o Fabrice

marescaux, um dos sócios e com

quem trabalho mais diretamente,

fomos à procura de cada peça,

dedicámo-nos a cada recanto, tendo

em mente algo de muito específico, a

saber, podermos apresentar ao públi-

co um espaço agradável, multifaceta-

do e capaz de ser utilizado de acordo

com as necessidades específicas de

cada dia. assim, para além de peças

únicas que tanto foram adquiridas

em feiras internacionais, quanto em

antiquários portugueses ou chegaram

dos nossos próprios acervos, conse-

guimos apresentar ao público um es-

paço de restauração em que podem

ser concebidos espaços para os mais

diversos eventos: de discretos almo-

ços de business a festas de apresen-

tação de produtos para 200 ou mais

pessoas, ou até mesmo festas de

aniversário com dancing pós-festa.

tudo isto, procurando ter em mente

que estamos situados num local de

excelência, numa ala do palácio de

D. josé, e sem desejarmos desvirtuar

essa realidade. Sem irmos diretos ao

barroco, mas também sem sentirmos

que estávamos num espaço excessi-

vamente despojado. E, verdade seja

dita, o melhor de tudo é que temos

clientes que já nos confessaram

que, para além de adorar a comida,

gostam de vir ao aura porque, graças

ao seu ambiente e sua decoração,

cada vez que cá chegam, se “sentem

de férias, quase como se estivessem

em paris, monte carlo ou miami”. ou

seja, antes de mais pretendíamos

requalificar este espaço e esta zona

nobre da cidade e creio que o conse-

guimos de uma forma bastante positi-

va tornando-o cosmopolita e possível

de agradar a qualquer cliente nacio-

nal ou internacional.

Foi fácil avançar com este negócio

em plena altura de crise no país e a

nível mundial?

Sempre que se decide montar um

negócio tem de se ter muita certeza

do que se vai fazer e planear, ao

mínimo pormenor, tudo o que se faz.

uma vez aberto o espaço, há que

ter em conta que um restaurante

não é uma loja como outra qual-

quer das 9 às 5. São muitas horas

diárias, sete dias por semana, e

temos de estar sempre presentes se

queremos ser bem sucedidos. claro

está que as experiências de traba-

lho anteriores, mormente os meus

quase 30 anos de restauração em

particular com a cateri, a minha em-

presa de catering e serviços, foram

primordiais para me dar a “estaleca”

necessária para um projeto deste

cariz. todavia, há que dizer que o

que está aqui em questão é uma

verba de um milhão de euros. para

sermos bem sucedidos é também

essencial que este espaço tenha al-

gum mediatismo, por forma a poder

recuperar este investimento.

E este espaço sofre de sazonalidade?

De todo. trabalhamos para mercados

diferentes e preparámo-nos para as

diversas áreas de negócio ao longo

do ano. Estamos a trabalhar para o

turismo profissional, depois para os

congressos, seguem-se os eventos

“corporate” das empresas e, depois,

as festas de natal. Entre janeiro e

Fevereiro é possível que o negócio

esteja um pouco mais calmo, mas

também é altura de arrumar a casa

e de repensar as cartas e tudo isto,

deve dizer-se, que acresce ao movi-

mento regular de todos os dias das

pessoas de lisboa e arredores que

vêm cá almoçar ou jantar. Estamos

a trabalhar de forma específica para

nunca sofrer do síndroma da época

baixa. por exemplo, enquanto es-

tiver bom tempo, a esplanada está

colocada na rua, mas assim que o

frio chegar será montada no claustro

interior do páteo da Galé, coberto e

com aquecedores e assim a espla-

nada continua cosy e apetecível no

inverno.

Por último gostaria de saber a sua

opinião relativamente ao abrir de

um novo negócio, na área da res-

tauração ou outra, neste momento.

acredito que o mais importante é

saber-se muito bem o que se está

fazer e decidir fazer tudo com muita

qualidade. tal como já referi, no

caso do aura, estamos a falar de

quase um milhão de euros, o que

implica disponibilidade financeira e

de tempo, pois não se recupera este

tipo de investimento de um dia para

o outro. a palavra-chave a reter é

profissionalismo: em tudo, em todas

as áreas de atuação e sempre – do

mínimo pormenor às questões mais

abrangentes. E, claro está, rodear-

mo-nos sempre dos melhores cola-

boradores, disponibilizarmos sempre

formação e jamais dormir à sombra

dos louros. um negócio é como um

organismo vivo e necessita de uma

atenção constante para sobreviver e

ser frutuoso. n

Page 88: Diplomática 13

88 • Diplomática - abril/junho 2012

O número de músicos portugueses na

orquestra de jovens da união Europa

(ojuE), por onde já terá passado mais

de uma centena, desde 1986, nunca foi

tão elevado. À data em que este artigo

é redigido ainda não são conhecidos os

resultados [divulgados no final de abril]

das audições de seleção para integrar,

na temporada de 2012/2013, o elenco

da mais importante orquestra juvenil

europeia, que esteve recentemente em

digressão pelos Estados unidos, tocan-

do com alguns dos mais conceituados

solistas de música erudita da atualidade.

«a ojuE é considerada, pela crítica

internacional, uma das melhores do

mundo, pelo seu nível artístico, pelos

maestros e solistas com quem trabalha

e, evidentemente, pelos palcos que pisa.

Era e continua a ser o sonho de qual-

quer jovem músico poder um dia fazer

parte deste grupo», afirma abel ➤

Os portugueses na Orquestra de Jovens da União Europeia

cultura

À esquerda violoncelista

antónio novais

Foto: tomasz ogrodowczyk

Foto tiago Santos Euyo crop

Page 89: Diplomática 13

89abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ pereira (n. 1978), que desde 2001 faz

parte do júri português das audições de

pré-seleção e que foi membro da or-

questra entre 94 e 2000.

abel pereira sublinha que «a participa-

ção dos jovens músicos portugueses

numa orquestra deste género é da maior

importância». E explica: «a estrutura

ojuE funciona ao mais alto nível, com

maestros e solistas que todos nós esta-

mos habituados a ver e ouvir somente

nos cds e dvds» e o contato com estas

individualidades, «para além da apren-

dizagem técnica/interpretativa e riqueza

cultural, pode ser uma grande mais-valia

na abertura de portas no futuro, tanto

a nível académico como profissional»,

uma vez que, «por razões geográficas e

culturais, portugal está bastante afas-

tado do centro da Europa», onde «a

convivência com os mais conceituados

músicos, maestros e orquestras é per-

manente». na orquestra «é dada a opor-

tunidade aos jovens de poderem usufruir

desse mundo durante algumas semanas

por ano».

num universo de 100/140 músicos,

portugal tem tido em média, nos últimos

anos, 5/6 participantes efetivos e mais

entre 8 e 13 como reservas na ojuE, ao

nível de países de maiores tradições mu-

sicais como áustria, holanda, hungria,

Dinamarca ou bélgica. E os candidatos

portugueses à ojuE, que no passado

se contavam pelos dedos da mão, são

agora «centenas», refere Dulce brito, da

Direção-geral das artes, entidade que,

juntamente com o instituto camões, con-

tribui para a orquestra com uma quota

anual.

o aumento das entradas «mostra que

realmente o nosso nível está a melhorar

bastante», acrescenta a técnica da DG

artes, que sublinha o nível de exigência

no acesso e na manutenção na orques-

tra. pese o fato de muitos dos jovens

selecionados tocarem na orquestra 4/5

anos, a posição tem de ser "defendida"

todos os anos. E os jovens músicos

portugueses, embora prestem provas a

nível nacional, concorrem de fato com

executantes de 26 outros países.

mais de metade dos jovens portugue-

ses que se candidatam à orquestra são

alunos de nível superior de escolas do

norte do país. mas há também jovens

oriundos da Escola Superior de artes

aplicadas (ESartE) de castelo branco

e de várias pequenas academias, conso-

ante os instrumentos tocados, diz Dulce

brito.

o que possibilitou o maior sucesso das

candidaturas portuguesas à ojuE nos

últimos anos foram alterações no perfil

dos candidatos, na explicação da técnica

da DG artes. a seleção para a orquestra

está muito condicionada pelo instrumen-

to que se toca. os instrumentistas de

cordas entram mais do que os outros.

ora, no passado, muitos dos jovens

músicos portugueses começavam a sua

aprendizagem pelas bandas e filarmó-

nicas, onde predominam os metais.

hoje em dia, para além de haver mais

jovens a aprender a tocar um instrumen-

to, muitos já começam a sua formação

em escolas de música, podendo optar

por outros instrumentos. Em paralelo,

o investimento feito na contratação de

professores de música do leste europeu,

nomeadamente russos e ucranianos, au-

mentou o nível técnico dos executantes.

«tem sido realmente enriquecedor poder

admirar de uma forma geral a evolução

artística dos participantes e o súbito

acréscimo de novos estudantes de mú-

sica que se fez sentir nos últimos anos»,

afirma abel pereira. mas estas mudan-

ças não bastariam, provavelmente, se

não fosse o empenho direto de muitos

professores e, obviamente dos próprios

jovens. n

i.c. i.p.

Page 90: Diplomática 13

90 • Diplomática - abril/junho 2012

Trinta e oito anos passaram sobre o 25 de abril de

1974. tantos, que muitos esqueceram pormenores im-

portantes, tais como os partidos concorrentes às primei-

ras eleições, a seguir à revolução e queda do Governo

de marcelo caetano.

Foram eles: a aliança operária camponesa (aoc), o

centro Democrático Social (cDS), a Frente Socialis-

ta popular (FSp), a liga comunista internacionalista

(lci), o movimento de Esquerda Socialista (mES), o

movimento reorganizativo do partido do proletariado ➤

mEmória

A arte do 25 de Abril

Page 91: Diplomática 13

91abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ (mrpp), o partido comunista português (pcp), o par-

tido comunista de português (marxista-leninista, pcp

(m-l), o partido da Democracia cristã (pDc), o partido

popular Democrático (ppD), que viria a ser o ppD-pSD,

o partido popular monárquico (ppm), o partido revolu-

cionário dos trabalhadores (prt), o partido Socialista

(pS) e, finalmente a união Democrática popular (uDp).

imagens revolucionárias enchiam os muros e as casas

de portugal.

E portugal mudou! n

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Page 93: Diplomática 13

93abril/junho 2012 - Diplomática •

6. Elfenkämpfer Helmut - German ambassadorEven in the troubled times we have ived in 2011 this was an unusual year, which required a focus on foreign policy and which

set some new directions in domestic policy. it was a year of major changes for us in Europe.

acute crises put diplomacy before special missions. .an event that had political consequences in my country was the terrible

accident with the reactor of kushima. Following this, the federal government announced the end of atomic energy in Germany

until 2022. the revolt in the arab world is a challenge, whose outcome is still open. Since 2011 Germany has, together with

portugal, particular responsibilities, acting as non-permanent member of the Security council of the united nations on such

important issues as the independence of South Sudan. actually, we concentrate all our forces together with portugal, to

dissuade the Syrian regime to persist in the ruthless oppression of his own people.

however, especially remarkable for a German ambassador in lisbon in 2011 were the developments in the debt crisis in

Europe. the federal government contributed throughout the year, not only to overcome the acute crisis but also to developp a

vision for the future Europe, a union of a path to stability. For Germany, as Europe’s biggest economy, this means a particular

responsibility, which the country takes.

the portuguese government shares our basic opinions and has made bold steps to make portugal more competitive. our stra-

tegy is not limited to austerity, but to sustained growth, which includes widening the internal market to new fields, the creation

of a European growth fund and the signing of more free trade, agreements. the message for 2011, and in the coming years, is

that there cannot be a good future for my country without European integration. Europe must continue to consolidate during the

crisis and this will continue. and in the end, will come out strengthened from this crisis. n

6. Elfenkämpfer Helmut - Ambassadeur d’AllemagneMême pour les périodes troublées que nous vivons,2011 était une année inhabituelle, qui a exigé beaucoup de la politique

étrangère et a defini de nouvelles orientations à cE qui concerne à politique intérieure. c’était une année de changements

majeurs pour nous en Europe. les crises aiguës mettre la diplomatie avant les missions spéciales. un événement qui a eu des

conséquences politiques dans mon pays était un terrible accident avec le réacteur de Fukushima.Suite à cela, le gouvernement

fédéral a annoncé la fin de l'énergie atomique en allemagne jusqu'en 2022. la révolte dans le monde arabe est une énorme

opportunité, mais aussi un défi dont l'issue est encore ouverte. Depuis 2011 que l'allemagne a, avec le portugal, des

responsabilités particulières, agissant comme membre non permanent du conseil de Sécurité de l'organisation des nations

unies sur les questions importantes telles que l'indépendance du Sud-Soudan.

cependant, d'autant plus remarquable pour un ambassadeur d'allemagne à lisbonne en 2011 étaient l'évolution de la crise de

la dette en Europe.le gouvernement fédéral a contribué, tout au long de l'année, non seulement pour surmonter la crise aiguë,

mais aussi de développer une vision pour l'avenir de l'Europe, l'union d'un chemin vers la stabilité. pour l'allemagne, comme la

plus grande économie d'Europe, cela signifie une responsabilité particulière, dont le pays prend.

le gouvenement portugais est d’accord avec nos opinions basiques et a donné des mesures audacieuses pour faire le

portugal plus compétitif. notre stratégie ne se limite pas à l'austérité, mais dans inteligents impulsions vers une croissance

soutenue, ce qui comprend l'élargissement du marché intérieur à de nouveaux domaines, la création d'un fond de croissance

européenne et la signature de plusieurs accords commerciaux libres.le message qui a importé, plus en avant, en 2011, et

dans les années futures, c'est qu'il ne peut pas avoirun bon avenir pour mon pays, sans l'intégration européenne. l'Europe doit

continuer à se consolider dans la crise et va poursuivre. Et, à la fin, sortira en force de cette crise. n

8. Ambassador of Turkey - The European Union and TurkeyDespite all the positive developments, particularly in the field of democracy, there is still an area where turkey has failed to

make any meaningful progress. that is the process of Eu accession. the cyprus issue has continued to be used as a pretext

to block several chapters. Despite the strong encouragement of turkey to move forward on the negotiations they could achieve

a just and lasting settlement on the island. n

8. Ambassadeur de la Turquie - L’Union européenne et la TurquieMalgré tous les développements positifs, notamment dans le domaine de la démocratie, il est encore un domaine où la turquie

n’a pas réussi à faire des progrès significatifs, qui était dans le processus d’adhésion de l’uE. la question de chypre a continué

à être utilisé comme un prétexte pour bloquer plusieurs chapitres, en dépit de la forte incitation de la turquie à guérir les

négociations pour arriver à un règlement juste et durable sur l’île. n

10. Simon Pullicino - Ambassadeur de Malte – Malte et la Libye nouvelleSans aucune doute, le plus grand impact de l’insurrection libyenne a eu lieu dans le domaine humanitaire. tout a commencé

avec un exode massif de la population migrante, complète de la peur, et s’est poursuivie avec une lutte prolongée armé avec

des conséquences importantes. le gouvernement maltais a agi rapide et efficacement, en fournissant l’aide humanitaire et

d’assistance. avec la crise dans un stade initiel, malte a soutenu 100 des 139 membres de l’onu, en évacuant plus de 21.000

étrangers de la libye via malte. n

English & French texts

Page 94: Diplomática 13

94 • Diplomática - abril/junho 2012

English & French texts

12. Pavel Petrovskiy - Russian Ambassador - Results of Russia’s foreign policy in 2011He regretted the fact that a number of international problems, in which russia is directly involved, were left for 2012. First and

foremost is the issue of missile defense in Europe. We cannot resolve this problem, if we do not reach agreement with the u.S.

or accomplish a set of technical means of military announced by president medvedev at the end of last year. as for the “arab

Spring”, we understand the expression of the will of the arab people. We want to see a stable, independent and prosperous

region. n

12. Petrovskiy Pavel - Ambassadeur de RussieRésultats de la politique étrangère de la Russie en 2011Désolé, le fait qu›un certain nombre de problèmes internationaux, dans lequel la russie est directement impliqué, ont été

laissés pour cette année. D’abord et avant tout, c’est la question de la défense antimissile en Europe. nous ne pouvons pas

nous délivrer de ce problème, si on arrivent pas a un accord avec les États-unis, ou de faire remplir un ensemble de moyens

techniques militaires, annoncées par le président medvedev à la fin de l’année dernière. Quant à la «arab printemps», nous

regardons avec compréhension l’expression de la volonté des peuples arabes, que nous voulons voir stables, indépendants et

prospères. n

14. Ambassador of Belgium - 2011, the year of formation of a new government in BelgiumAt the global level, the year 2011 was marked by revolutions in the arab world, the downfall of many tyrants or authoritarian

presidents. this is something we hope to have continued this year with their replacement by elected democracies tolerant of

religious minorities. nationally, the federal government, which finally took office in belgium in november last year, after much

instability, has two tasks: to fulfill. it hasto deal with the drastic measures imposed by the crisis of the Euro and further extend

the range of powers to be exercised by the regions, especially in social affairs. n

14. Ambassadeur de Belgique 2011, l’année de la formation d’un nouveau gouvernement en BelgiquePartout dans le monde, l’année 2011 a été marquée par les révolutions dans le monde arábe, la chute des tyrans et de

nombreux présidents autoritaires, quelque chose que nous espérons voir continué cette année, pour être remplacé par

les démocraties élus et tolérant des minorités religieuses et d’autres . À l’échelle nationale, je dois mentionner le fact du

gouvernement fédéral, qui se a installé définitivement en belgique en novembre l’année dernière, après beaucoup d’instabilité,

et que a deux missions: répondre à toutes les mesures draconiennes imposées par la crise de l’euro et élargir encore plus la

gamme de compétences a être exercé par les régions, tels que les affaires sociales. n

16. Jill Gallard - Ambassador of the United Kingdom - A year of opportunities and challengesThis is a year marked by natural events, that are truly historic for the united Kingdom. Firstly, because we celebrate 60 years

of the reign of her majesty Elizabeth ii. the city of london will host the olympic and paralympic Games, which will be more

ecological than ever and which will help to promote closeness between peoples, in a time when it is increasingly necessary to

overcome the conflicts that opposes us. n

16. Jill Gallard - Ambassadeur du Royaume-Uni - Une année de défis et opportunitésIl s’agit d’une année marquée par des événements naturels, qui sont véritablement historique pour le royaume-uni. tout

d’abord, parce que nous célébrons 60 ans de règne de Sa majesté Elizabeth ii. puis la ville de londres accueillera les jeux

olympiques et les jeux paralympiques, qui seront plus vert que jamais et qui aideront à promouvoir un rapprochement entre

les peuples, dans un moment où il est, de plus en plus, nécessaire pour surmonter les conflits qui nous opposent. n

18. Suliaman Ibrahim Almurjan - Ambassador of the State of KuwaitFive decades of constitutional lifeHonored by the invitation, the ambassador of Kuwait spoke about the “arab spring”, which enabled many arab countries to start

a new transition in its evolutionary path in political, social and economic development. in fact, the arab revolutions had, and

have, one characteristic, which is based on perseverance, which surprised many observers aware of what is happening in the

arab world. the “arab Spring”, experienced by some arab countries has made these countries and others understand better the

vision of the leaders of Kuwait that opt for a parliamentary system, despite the difficulties the country went through. n

18. Suliaman Ibrahim Almurjan - Ambassadeur de l’Etat du KoweïtCinq décennies de la vie constitutionnelleHonoré par l’invitation, l’ambassadeur du Koweït a commencé à parler de certains “printemps arabe, qui a permis à de

nombreux pays arabes inaugurer une étape de transition dans sa nouvelle voie d’évolution dans les domaines politique,

social et économique. En fait, les révolutions arabes ont eu une caractéristique, qui est basé sur la persévérance, e a surpris

nombreux observateurs au courant de ce qui se passe dans le monde arabe. le «printemps arabe», vécue par certains pays ➤

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95abril/junho 2012 - Diplomática •

➤ arabes, a fait ces pays et d’autres, de mieux comprendre la vision des dirigeants du Koweït à opter pour la vie parlementaire,

malgré les difficultés qui se sont passés au pays. n

20. Ambassador of France - Pascal Teixeira da Silva The year 2011The year 2011 was marked by two processes of great importance: the pursuit of sovereign debt crisis in the euro area and

the “arab spring”. they are in no way related and yet they will, the one as the other, profoundly change the future - and

this is particularly true for countries of southern Europe such as France and portugal, members Eu and the Euro area and

geographically and historically close to the arab world. the sovereign debt crisis in the Euro area is an indirect consequence of

the financial crisis that erupted in 2007-2008 in the united States. this is because our governments have intervened massively

to save the banks (as in ireland) or to limit the recession by injecting public money into the economy and deficits and public

debts have soared. but that same shock hit countries differently and it was the developer of a dual problem: at the national level,

countries whose financial situation (state, enterprises and households) and economic situation (in terms of growth, productivity,

competitiveness and external accounts) were the most fragile are less resilient and sometimes had to pay a high price - three

of them having to resort to European and international aid; at European level, this crisis has shown the inadequacy of the

economic pillar of the economic and monetary union (which was allowed to increase the divergences within the Euro area) and

the lack of mechanisms for crisis management. n

22. Ambassador of Italy, Renato Varriale“The debt crisis in Italy: a difficult moment, but also an opportunity for major reforms”2011 was a year that the italians will remember for a long time. it began as the 150th anniversary of the unity of italy. a year

of celebrations, debates and reflections about the past and the future of the country. nobody would have imagined what would

become the year of greatest economic emergency experienced by the country in recent history and the onset of major reform

process that the republic has ever lived. the first signs of so-called debt crisis had manifested itself during the summer, it was

urgent to convince the markets that, despite the high level of public debt, italy had a strong economy and was very determined

to put their finances in order taking also the necessary structural reforms. but suddenly, the crisis became more acute and

events speeded up so that the Government’s response was insufficient to regain market confidence. the very process of

European integration seemed to be already in risk. the only solution was a “technical government” which, supported by a

coalition of national unity, immediately launch a far-reaching package of reforms. and so it happens.

the president napolitano entrusted the difficult mission to Senator mario monti, an economist with long experience and high

prestige in the European scene, and italy begins to regain control of the situation and accept the need for structural reform plans

and the fight against tax evasion. n

22. Ambassadeur de l’Italie, Renato Varriale“La crise de la dette en Italie: un moment difficile, mais aussi une opportunité pour des réformes majeures”2011 était une année que les italiens se souviendront pendant longtemps. il a commencé avec le 150e anniversaire de l’unité

d’italie. l’ année de célébrations, de débats et de réflexions sur le passé et l’avenir du pays. personne n’aurait jamais imaginé

ce qui allait devenir l’année plus urgent en ce qui concerne l’économie que le pays a connu dans l’histoire récente, bien comme

l’apparition de processus de réforme majeure que la république ait jamais vécu. les premiers signes de crise de la dette se

sont manifestée au cours de l’été. il faut convaincre les marchés que, malgré le niveau élevé de la dette publique, l’italie avait

une économie forte et a été très déterminés à mettre leurs finances en ordre, en prenant également les réformes structurelles

nécessaires. mais, soudainement, la crise devenu plus aigu et a accéléré les événements de telle sorte que la réponse du

gouvernement était insuffisante pour regagner la confiance du marché. même le processus d’intégration européenne semble

déjà être en risque. la seule solution était un “gouvernement technique” qui, soutenu par une coalition d’unité nationale, a

lancer immédiatement une ensemble de mesures ambitieuses de réformes. Et, ainsi, de suite.

le president napolitano a confié la difficile mission au sénateur mario monti, un économiste ayant une longue expérience et

d’un grand prestige sur la scène européenne. l’italie commence déjà à reprendre le contrôle de la situation et a accepter la

nécessité de plans de réformes structurelles et la lutte contre l’évasion fiscale. n

24. Thalia Petrides, Ambassador of CyprusOf the various events that marked the past year on a global scale, the most alarming was the nuclear disaster in japan. twenty-

five years after chernobyl and its tragic and devastating effects, the consequences in the long run on the environment and

human life are still being evaluated. however, nationally and in the field of energy, one can point out optimistic trends over the

last year. concerns about energy security and several years of careful planning have provided the first promising results in late

2011, when 7 trillion cubic feet of natural gas was discovered off the coast of cyprus. n

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96 • Diplomática - abril/junho 2012

English & French texts

24. Thalia Petrides, Ambassadeur de ChypreParmi les différents événements qui ont marqué le dernier année à l’échelle mondiale, la plus alarmante a été la catastrophe

nucléaire au japon. Vingt-cinq ans après tchernobyl et ses effets tragiques et dévastateurs, les conséquences, à long terme,

pour l’environnement et la vie humaine , sont encore en cours d’évaluation. cependant, à l’échelle nationale et dans l’énergie,

on peut souligner les tendances optimistes au cours de l’année dernière. les préoccupations concernant la sécurité énergétique

et de plusieurs années de planification minutieuses ont fourni des premiers résultats prometteurs à la fin 2011, lorsqu’il aura été

confirmé, au large des côtes de chypre, la découverte de 7 billions de cf du gaz naturel. n

28. Beisan Zhang, China’s ambassador to Portugal, debated the new framework of rela-tions between the two countries: “China has always given great importance to its relations with PortugalZhang beisan, has been for a year and a half head of the diplomatic mission of china to portugal. he believes that for potential

investors, including chinese, an advanced economy and a mature market like ours, are naturally attractive,. he emphasized

his conviction that, if our country is able to maintain economic development and the opening of its market, there will be

more and more chinese companies interested in investing in portugal. recently, we have noted the importance of china’s

investments in portugal, specifically in companies related to electricity, such as EDp, among others. n

28. Zhang Beisan, l’ambassadeur de Chine au Portugal, débate le nouveau cadre des re-lations entre les deux pays:"La Chine a toujours donnée beaucoup d’importance à ses relations avec PORTUGAL"Un an et demi en tant que chef de la mission diplomatique au portugal, Zhang beisan estime que pour les investisseurs

potentiels, y compris les chinois, une économie avancée et un marché mature comme le notre, sont naturellement attractif,

mettant l’accent sur sa conviction qui se notre pays reussi à mantenir une développement économique et l’ouverture de son

marché, il y aura de plus en plus d’entreprises chinoises intéressées à investir au portugal. récemment, nous avons noté

l’importance des investissements de la chine au portugal, plus précisément, les entreprises liées à l’électricité, entre autres. n

34. Durão Barroso, Doctor Honoris Causa by UTLDuring the solemn closing ceremony of the celebration of 80 Years of utl (universidade técnica de lisboa ), at the institute

of Social and political Sciences, the president of the European commission, josé manuel barroso, was honored with the

award of the Degree of Doctor honoris causa. the honorary Doctorate was in fact the recognition of his contribution to the

scientific research in the European framework, which strengthened the role he plays as Eu president. With a full academic and

political curriculum, in his speech of thanks, barroso refered to the actual situation of the European union. he spoke on the

economic crisis and the need to share sovereignty. he concluded that “when a country is sharing its sovereignty, can also win

with the sovereignty of others” and argued that Europe needs “to work with determination to defend the Euro and to advocate its

financial stability”. although the crisis is an issue that concerns many governments, he was optimistic towards the subject. on

the sidelines of the conference, the president of the European commission was making a particular reference about portugal.

he said that one of the factors responsible for the delay of the portuguese economy is related to the closed sectors and

privileges that resist changes. n

34. Barroso: Docteur Honoris Causa par l’UTL (Université Technique de Lisbonne)En vertu de la cérémonie de clôture solennelle de la célébration de 80 ans de l’utl (institut des sciences sociales et

politiques), le président de la commission Européenne, jose manuel barroso, a été honoré avec le prix du degré de Docteur

honoris causa, que fut, en fait, la reconnaissance de la contribution apportée par m. barroso pour la recherche scientifique

dans le cadre européen, qui a renforcé le rôle qu’il joue en tant que président de l’uE. avec un fond académique et politiqye

exceptonnel, m. barroso, dans son discours de remerciement, a parlé de la situation actuelle de l’union européenne. il a parlé

de la crise économique et la nécessité de partager la souveraineté. il a conclu que «quand il donne la souveraineté, peut aussi

gagner avec la souveraineté des autres” et a fait valoir que «l’Europe doit travailler avec détermination pour défendre l’euro et

pour defendre la stabilité financière» et s’avait dit optimiste sur la situation, même si la crise est une question qui concerne de

nombreux gouvernements. En marge de la conférence, il a appelé au portugal, en particulier, indiquant que l’un des facteurs

responsables du retard de l’économie portugaise est liée à des secteurs fermés et les privilèges dans certains secteurs

d’intérêts acquis de l’économie et car il ya des intérêts qui résistent au changement qui bénéficient d’un accès privilégié à l’État

et des les garanties qui sont données par la législation de protection. n

40. Mariano Rajoy, and Pedro Passos CoelhoPortugal and Spain analyzes combat the crisisMariano rajoy who was in lisbon, on an official visit, where the economic situation and preparations for the forthcoming

European council dominated the agenda of the meeting between the two leaders, rajoy and passos coelho. the visit tokk ➤

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➤ place after the recent visit to madrid of passos coelho. the two statesmen discussed the situation of both iberian countries,

particularly the economic situation, the ways out of crisis in Europe and the possibilities of forming a vision for the future. passos

coelho said that even though portugal and Spain are experiencing one of the most serious crises one can remember, it was in

this context that the two politicians discussed the political aspects that the measures to combat the deficit may have in lisbon.

in the joint press conference with rajoy, passos coelho said the agreements with the troika were being implemented within

their targets. n

40. Mariano Rajoy et Pedro Passos CoelhoPortugal et l’Espagne analyse la crise de combatmariano rajoy a été à lisbonne, en visite officielle, où la situation économique et les préparatifs pour le prochain

conseil européen ont dominé l’ordre du jour de la réunion entre les deux dirigeants, mariano rajoy e passos coelho.

une visite dans lla suite de la récente visite à madrid de passos coelho, dans lequel les deux politiques ont examiné

la situation des deux pays ibériques, en particulier dans le domaine économique, les moyens de sortir de la crise en

Europe et les possibilités de fixer des visions pour le future. passos coelho a dit même que le portugal et l’Espagne

connaissent une des crises les plus graves qu’on se souvient et fut dans ce contexte que les deux ont discuté des

aspects politiques que ses mesures récessives pour lutter contre le déficit peut avoir. a lisbonne, et à la conférence

conjointe avec rajoy, passos coelho dit que l’accord avec la troïka est respectée au sein de leurs objectifs. n

42. Ambassador José Bouza SerranoGuardian of Ambassadors accredited in PortugalAfter a distinguished career, representing portugal, ambassador josé bouza Serrano returned to portugal three years

ago, as chief of protocol. he will soon be posted as ambassador to the netherlands. having recently published , the

very complete “book of protocol,” in an interview with Diplomatic, he said that what matters is the State protocol, since

he believes that the members of the State protocol are the “Guardian angels” of the Diplomatic corps accreditions to

portugal. he explains that is the chief of protocol that receives the letters from the new ambassadors, before making

the formal delivery to the president. ambassador bouza Serrano says his close relationship with all the ambassadors

is because they are the first persons they know and who help them to assist any questions or help in dealing with

problems, for instances, with the law. josé bouza Serrano believes that, despite the economic difficulties we are

experiencing, he is hopeful that our country may return to an active and respected voice in the world and the European

union. n

42. Ambassadeur José Serrano BouzaGardien de ambassadeurs accrédités au PortugalAprès une grande carrière, représentant le portugal, l’ambassadeur josé Serrano bouza, retourné, il ya trois ans,

à son pays, en tant que chef du protocole, mais ill sera, bientôt, l’ambassadeur du portugal aux pays-bas. ayant

publié, récemment, le très complet “livre du protocole,” dans une interview avec diplomatique, il dit que ce qui importe

est le protocole d’État, car il estime que, en définitive, sont le «Guardian angels» du corps Diplomatique accrédité

au portugal. il explique que c’est le chef du protocole qui reçoit les nouveaux ambassadeurs, reçois les lettres de

creditation, ayant d’être presenté officiellement au président. ambassadeur bouza Serrano parle de sa relation étroite

avec tous les ambassadeurs parce que « nous sommes les premières personnes qu’ils connaissent et qui utilisent

quand ils ont des questions ou besoin d’aide pour faire face aux problèmes avec la loi. josé Serrano bouza estime qui,

malgré les difficultés économiques que nous connaissons, a l´espoir que notre pays peut recupere une voix active et

respectée dans le monde et l’union Européenne. n

50. Ambassador Paul SchmitThe diplomatic representative of the Grand Duke of luxembourg, in an interview to the Diplomatica, talked about the

importance of luxembourg relations with portugal. ambassador paul Schmit indicated which aspects he judges are

fundamental to develop between portugal and luxembourg; first of all, to improve economic relations whose trade may

actually be higher and, moreover, is to present a true picture of luxembourg, which is no longer the El Dorado of other

times, with a negative unemployment negative. currently, the unemployment rate of portuguese immigrants is much

higher as a percentage of their presence in real terms. n

50. Ambassadeur Paul Schmitle représentant diplomatique du Grand-Duché du luxembourg, dans l’interview pour la Diplomatique, a souligné

l’importance des les relations du luxembourg avec le portugal. ambassadeur paul Schmit a indiqué quels sont les aspects

jugés comme essentiels a développer entre le portugal et le luxembourg, D’une part, améliorer les relations économiques,

dont le commerce pourrait être plus élevé et, par ailleurs, donner à connaisser une image fidèle du luxembourg, qui n’est ➤

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English & French texts

➤ plus l’El Dorado d’autres temps, en atteindre un taux de chômage très inconfortable. actuellement, le taux de chômage

des immigrants portugais est beaucoup plus élevé en pourcentage de leur présence en termes réels. n

56. Bernarda Gradisnik, Ambassador of SloveniaBernarda Gradisnik, ambassador of Slovenia, has lived in portugal for 14 months. She began her political career in the

ministry of Foreign affairs in 1991, when Slovenia gained its independence, it was not not a political appointment and she

said that she does not belong to any political party.

She said that she is very happy that her first post is as ambassador is in portugal, where people are extremely friendly and

ready to help. She sees her priority as ambassador,is to act positively in the field of economic diplomacy and she has tried to

encourage Slovenian. n

56. Bernarda Gradisnik, ambassadeur de la SlovénieBernarda Gradisnik, ambassadeur de la Slovénie, est au portugal il ya 14 mois et a commencé sa carrière politique au

sein du ministère des affaires étrangères en 1991, lorsque la Slovénie a été indepente en 1991, mais ce n’est pas une

nomination politique car elle assure qui ne fait part d’un parti politique . Elle s’afirme très heureux que son premier poste

en tant qu’ambassadeur être ici au portugal, où les gens sont extrêmement chaleureux et prêt à aider. Voit sa priorité en

tant qu’ambassadeur, agissant positivement dans le domaine de la diplomatie économique et a essayé d’encourager les

entreprises slovènes à venir au portugal. l’ambassadeur est optimiste et voit un avenir pour nos pays, de travailler ensemble.

cette année, maribor, deuxième plus grande ville de la Slovénie, a été choisie pour être capitale européenne de la culture.

un choix qui est venu au bon moment, parce que ce doit être vu comme une occasion de rétablir et de maintenir une identité

commune. n

67. The permanent headquarters of the CPLPIt was this year that lisbon hosted the permanent seat of the cplp, located in the palace of the count of penafiel. lisbon is

the only capital where there are embassies of all countries belonging to the community of portuguese language countries.

the president of portugal and the vice-president of angola had the honor to inaugurate the headquarters and unveil the

commemorative plaque.

president cavaco Silva emphasized the importance of the lusophone language in the world and it brings a reality that

constitutes a strategic asset in political and economic terms, which makes it essential to invest in education and training in the

portuguese language, presenting the cplp as a shared commitment and ambition for the future. n

67. Le siège permanent de la CPLPIl a été cette année que lisbonne a accuuelli le siège permanent de la cplp, situé dans le palais du comte de penafiel.

lisbonne est la seule capitale où il ya des ambassades de tous les pays appartenant à la communauté des pays de langue

portugaise. le président cavaco Silva et le vice-président de l’angola ont eu l’honneur d’inaugurer le siège et desserer

une plaque commémorative. cavaco Silva a souligné l’importance du monde lusophone et qu’elle apporte une réalité qui

constitue une connexion stratégique en termes politiques et économiques, ce qui fait essentiel d’investir dans l’éducation et la

formation dans la langue portugaise, en présentant la cplp comme engagement commun et ambitieux pour l’avenir. n

86. Carlos Medeiros presented AURACarlos medeiros, owner of the restaurant aura, believes that, in less than a year, the site is already a point of reference

for the gastronomy of lisbon. he confesses that this was a risk of great responsibility, as the restaurant is located in one of

the most emblematic squares in Europe. nothing was left to chance in this space, whose objective is to provide a pleasant,

multifaceted restaurant, where the cuisine is exquisite and frankly original. the result of previous experiences, such as cateri,

says medeiros, were vital for giving him the strength needed for a project of this magnitude. in this new season, medeiros and

his partners will present innovative gastronomic dishes. n

86 Carlos Medeiros a présenté son projet AURACarlos medeiros, propriétaire de l’aura restaurant, estime que, autant d’un an, le place est déjà une zone de référence

de la gastronomie de lisbonne. il avoue que ce fut un act de courage de grande responsabilité, car le restaurant est situé

dans l’une des places les plus emblématiques de l’Europe. rien n’a été laissé au hasard dans cet espace, dont l’objectif

est de fournir au public un cadre agréable, à multiples facettes, où la cuisine est franchement raffinée et originale. le

résultat des expériences précédentes, telles que cateri, étaient vitales pour lui donner la force nécessaire pour un projet

de cette amplitude. Dans cette nouvelle saison, medeiros et ses partenaires présenteront des propositions gastronomiques

diversifées. n

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