100
Diplomatica ´ Diplomatica ´ With English & French Texts Nº7 Julho/Setembro 2010 4 (Cont.) Diplomática 7 • julho/setembro 2010 Lula vai deixar saudades Em destaque Embaixadores: Tunísia e Cuba Rússia A grande vitória Entrevistas Luís Palha da Silva - J. Martins José Joaquim Oliveira - IBM Afonso Varela - C.A. Seguros José Minguez - Air Europa Dossier Europa BUSINESS & DIPLOMACY

Diplomática n.º7

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Negócios e Diplomacia

Citation preview

Page 1: Diplomática n.º7

Diplomatica´Diplomatica´

With English & French Texts

Nº7 Julho/Setembro 20104 (Cont.)

Dip

lo

tic

a 7

• ju

lh

o/s

et

em

br

o 2

01

0

Lulavai deixar saudades

Em destaqueEmbaixadores:Tunísia e Cuba

RússiaA grande vitória

EntrevistasLuís Palha da Silva - J. Martins

José Joaquim Oliveira - IBMAfonso Varela - C.A. Seguros

José Minguez - Air Europa

Dossier Europa

business & Diplomacy

Page 2: Diplomática n.º7
Page 3: Diplomática n.º7

3julho/setembro 2010 - Diplomática •

Querido José Manuel,

Conhecemo-nos desde a nossa chegada... foi durante um jantar na Embaixada de França... De longe, vi chegar um casal tão bonito, tão sorridente... e no fim dessa noite, era como se nos conhecêssemos há anos...Juntos fizemos projectos: uma viagem à Turquia que desconheciam e sobretudo uma viagem a Chipre, onde tinhas sido correspondente de guerra...Quando vieste fazer uma reportagem sobre o meu marido e sobre mim, sentiste, certamente, a minha pena de não poder continuar a minha profissão... e de maneira tão simpática, convidaste-me a escrever, sempre que quisesse, para a “Diplomática”...Para além da vossa presença e do vosso apoio a cada evento que organizámos, tornámo-nos ainda mais próximos, graças a esta relação tão especial de colegas...Querido Colega,Com o teu coração enorme, fizeste que adorássemos Portugal e os portugueses, e agora partiste e deixaste-nos mais pobres, desfalcados da tua amizade, da ajuda que tão prontamente nos davas sempre que necessário.Não consigo habituar-me à tua partida silenciosa. Sinto falta de tantas coisas... e sobretudo das nossas discussões políticas...Partiste no momento em que também nós vamos partir para Chipre...No outro lado do Mediterrâneo ou onde quer que estejamos, estarás sempre nos nossos pensamentos, nas nossas recordações. E ainda que fisicamente não estejas lá, quando a nossa Querida Maria da Luz estiver connosco em Chipre, também tu estarás presente.Bem Hajas, José Manuel, por nos teres dado a possibilidade de te conhecer, por tudo o que nos deste,

Até Sempre,Nurdan

Memória

Em homenagem ao Dr. José Manuel Teixeira, embaixatriz da turkia em portugal, Nurdan turkmen, ex-jornalista do le monde

Dear José Manuel,We met since our arrival... it was during a dinner at the French embassy... From a distance, i saw a couple so beautiful, so happy... and so smiling... at the end of that night, it was as if we had known each other for years... together we made projects: a trip to turkey which you did not know and especially a trip to cyprus, where you have been a war correspondent... When you come to do a story about my husband and myself, you felt, indeed, my pain of not being able to continue with my profession... and so nice, invited me to write, whenever i wanted for the “Diplomática”... apart from your presence and your support at every event that we held, we became even closer, thanks to this special relationship as colleagues... Dear Colleague, With your huge heart, you make us adore portugal and the portuguese, and now you leave us poorer, defalcated of your friendship and from the help you would so instantly give us whenever necessary. i cannot accustom myself to your silent departure. i miss so many things... and especially our political discussions ... You left at the moment in which we will also leave to cyprus... across the mediterranean or wherever we are, you will be always in our thoughts, our memories. and even if you’re not physically here when our Dear maria da luz is with us in cyprus, you will be also present.Well, bless you, josé manuel teixeira, for the opportunity to meet you, for everything you have given us,Farewell, Nurdan

Cher José Manuel,Nous nous sommes rencontrés depuis notre arrivée... c’ était à dîner à l’ambassade française... De loin, j’ai vu un couple si beau, si... et souriant... et à la fin de cette nuit-là, c’était comme si nous nous etions connu depuis des années...ensemble, nous avons fait des projets: un voyage en turquie qui ne s’est pás fait et surtout un voyage à chypre, où tu avais été correspondant de guerre...lorsque vous arrivez à faire un reportage sur mon mari et moi-même,vous avez estimes en effet, ma douleur de ne pas être en mesure de continuer mon métier... et si gentillement, m’avez invité à écrire, quand je le voulait pour la «Diplomatica»...en dehors de votre présence et votre soutien à tous les événements que nous avons tenues, nous sommes devenus encore plus proches, merci pour cette relation privilégiée en tant que collègues...Cher Collègue,avec votre grand cœur, vous m'avez fait adorer le portugal et les portugais, et maintenant partir et laisser les plus pauvres de nous, "defalcated" de votre amitié, de l'aide que si facilement vous donniez chaque fois que nécessaire.je ne peux pas m’habituer à votre départ silencieux. je m’ennuie tellement de choses... et surtout de nos discussions politiques...broke au moment où nous partirons aussi pour chypre...l’ensemble de la méditerranée ou partout où nous serons, vous serez toujours dans nos pensées, nos souvenirs. et même si vous n’est pas physiquement la, maria da luz será avec nous à chypre, et vous serait également présent.eh bien hajas, josé manuel teixeira, car tu as donné l’occasion de vous rencontrer pour tout ce que vous nous avez donné,jusqu’à toujours, Nurdan

A la memoire de José Manuel Texeira, par: Nurdan Türkmen, Ambassadrice de Turquie au Portugal ancienne journaliste au Monde

memories

In honor of Dr. José Manuel Teixeira, by: Turkey's "Embaixatriz" in Portugal, Nurdan Turkmen ex-journalist from Le Monde

Page 4: Diplomática n.º7

4 • Diplomática - julho/setembro 2010

DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 editor nº 211 326. rua ramalho ortigão, 43 a – 1070-228 lisboa.

MARkETIng & PUblICIDADE: anabela pelicano - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: multiponto DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45

issN 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação social com o nº 125395

3

6

22

28

33

36

42

46

52

60

62

64

68

76

82

87

88

94

Assuntossummary

résumé

carta ao leitor. letter to the reader.lettre au lecteur.

Dossier. “Que soberania para a europa no contexto económico, político, diplomático e defesa?”Dossier. “What sovereignty to europe in economic, political, diplomatic and defense?” Dossier. «Quelle souveraineté à l’europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?”

Visita Diplomática. presidente lula da silva em portugal. Diplomatic Visit. president lula da silva in portugal.Visite diplomatique. le président lula da silva au portugal.

Visita papal. uma viagem capaz de mudar a imagem de bento XVi.papal visit. a journey that can change the image of bento XVi.Visite du pape. un voyage qui peut changer l’image de benoît XVi.

Visita ao magrebe. portugal de olhos postos no Norte de áfricaVisit to the maghreb. portugal looking to North africaVisite du maghreb. portugal cherche à ameliorer ses liens avec l’afrique du Nord

mohamed ridha Farhat. embaixador da república da tunísia.Farhat mohamed ridha. ambassador of the republic of tunisia.ridha Farhat mohamed. ambassadeur de la république de tunisie.

por uma áfrica livre e segura. Da ineficaz oua à esperança da ua.For an africa free and safe. the oau ineffective to the hope of au.pour une afrique libre et sûr. De l’ inefficace oua à l’ua l’espoir.

65 anos da Grande Vitória. embaixador da rússia em portugal - pavel petrovsky.65 Years of Great Victory. ambassador of portugal in russia - pavel petrovsky.65 ans après la grande victoire. ambassadeur du portugal à la russie - pavel petrovsky.

eduardo González lernes. embaixador de cuba em portugaleduardo Gonzalez lerner. cuban ambassador in portugaleduardo Gonzalez lerner. ambassadeur de cuba au portugal

união europeia. presidência espanhola marcada pela crise. european union. spanish presidency marked by the crisis.union européenne. présidence espagnole marquée par la crise.

enrique santos. um olhar da presidência espanhola da união europeia. enrique santos. a look at the spanish presidency of the european union.enrique santos. un regard sur la présidence espagnole de l’union européenne.

josé mínguez. Delegado da air europa em portugal. josé mínguez. officer of air europa in portugal.josé mínguez. officier de air europa au portugal.

luís palha da silva. presidente da comissão executiva jerónimo martins.luís palha da silva. chief executive jerónimo martins.luís palha da silva. jerónimo martins chef exécutif.

josé joaquim oliveira. administrador Delegado e presidente da ibm portugaljosé joaquim oliveira. managing Director and chairman of ibm portugaloliveira joaquim josé. Directeur Général et président d’ibm portugal

Varela afonso. presidente da crédito agrícola seguros.afonso Varela. president of agricultural credit insurance.Varela afonso. président de l’assurance-crédit agricole.

mala Diplomática. Dias Nacionais de paquistão, itália e Noruega.Diplomatic bag. National Day of pakistan, italy and Norway.Valise Diplomatique. journée nationale du pakistan, l’italie et la Norvège.

embaixadora da polónia Katarzyna skórzynska. chopin um artista universalambassador of poland Katarzyna skórzynska. chopin a universal artistambassadeur de skórzynska Katarzyna pologne. chopin un artiste universel

traduçõestranslationstraductions

Foto da capa: ricardo oliveira - Gpm

2º Aniversário

Page 5: Diplomática n.º7
Page 6: Diplomática n.º7

6 • Diplomática - julho/Setembro 2010

“Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e de defesa?”

“Que soberania para a Europa no contexto económico, político,

diplomático e de Defesa?”

A Diplomática lançou mais um desafio ao Corpo Diplomático (europeu)

acreditado em Portugal. Quisemos saber qual a opinião dos

Embaixadores acerca da soberania a seguir pelo continente europeu.

Que economia? Que política? Que diplomacia? Que Defesa? Saiba

quais os pareceres da República Checa, França, Itália, Bélgica, Grécia,

Filândia, Ucrania e Turquia. ➤

Dossier

Page 7: Diplomática n.º7

7julho/Setembro 2010 - Diplomática •

Europa, no sentido geográfico, que começa no

ural e acaba no cabo da roca, não é um espa-

ço homogéneo – nem do ponto de vista político

e económico, nem do cultural, religioso, etc. a

história do continente europeu é complexa, cheia

de conflitos entre os países ou blocos, facto esse

que marcou profundamente os seus participan-

tes e deixou consequentes ressentimentos que

continuam a projectar-se até hoje nas relações

políticas entre os elementos individuais.

por isso, falar da “soberania para a europa” não

é fácil. todos entendem em geral no que consis-

te a soberania de um estado, de um elemento

de poder, ou até de um grupo de estados, como

é o caso da união europeia. aí, a questão da

soberania, ou melhor dizer, a possível perda de

soberania dos membros foi largamente discutida,

mas o facto é que esses países decidiram livre-

mente ceder parte da sua soberania para agirem

como uma só entidade no plano externo e para

juntarem-se a um projecto comum de coopera-

ção na área da política, economia, segurança,

cultura, educação e outras.

mas “soberania” de um continente com tanta

diversidade, que ao mesmo tempo tem que

encontrar relações equilibradas com as potências

Markéta Šarbochová - Embaixadora República Checa

do resto do mundo, necessita primeiro de uma

definição clara daquilo que sem dúvidas une a

europa, aquilo que lhe tinha permitido atingir o

nível actual do seu desenvolvimento e a posi-

ção que ocupa no mundo e que ainda hoje a

torna atraente para muitos imigrantes de outros

continentes. e isso a meu ver - são os valores

ou princípios essenciais das quais a europa é

portadora e defensora – entre os mais importan-

tes obviamente - democracia e respeito pelos

direitos humanos, promoção de oportunidades

iguais, respeito pelo meio ambiente, a tolerância

religiosa e a defesa de princípios de cooperação

vantajosa para os elementos participantes. por

outro lado, esta definição de princípios deveria

abranger a rejeição clara de todo tipo de extre-

mismo, terrorismo, etc.

A União Europeia, a meu ver, tem o papel es-

sencial neste processo. Deveria ser por isso

ela a definir bem em primeiro lugar as suas

relações para com os países europeus não mem-

bros da ue e consequentemente desenvolver

projectos concretos de cooperação, no âmbito

das suas políticas de vizinhança (leste europeu,

balcãs, mediterrâneo). uma vez alcançado o ní-

vel satisfatório de balanço das relações políticas

e económicas dentro do continente, (incluindo os

seus extremos geográficos) e atingida assim uma

maior homogeneidade política e económica, a

seguir a europa deveria assim procurar encontrar

este mesmo balanço em relação a outras potên-

cias fora da mesma – estados unidos, china,

brasil, Índia e outros. assim, europa poderia

defender a sua “soberania” em todos os planos

– político, económico ou de defesa - no mundo

actual.

Governar num sistema democrático é sempre

mais difícil do que governar no regime totalitá-

rio. Democrata aos olhos de autocrata pode ser

visto como fraco, indeciso, hesitante, impotente.

analogicamente, os que não partilham os valores

democráticos podem considerar nula a soberania

daquele que aja segundo estes princípios. Não

obstante, isso não deve ser razão para deixar de

ser democrático, por isso: o modelo para o conti-

nente europeu é simplesmente democracia... n

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 8: Diplomática n.º7

8 • Diplomática - julho/Setembro 2010

A palavra soberania é difícil de aplicar no

contexto da europa, porque a soberania é

um atributo dos estados, codificada pelo

direito internacional, não sendo a europa

um estado. podemos realmente dizer que

o tratado de lisboa esclareceu as coisas,

definiu a distribuição de competências

entre a ue e os estados unidos, através do

princípio da subsidiariedade, e fortaleceu

as instituições e os métodos que permitem

à europa falar a uma só voz e agir de forma

coordenada nos casos a tratar com o resto

do mundo.

É, portanto, uma forma de soberania polí-

tica que está em questão para a europa:

os países que a compõem, e é a união

que lhes permite, em conjunto, defender os

seus valores e interesses, permanecerão

colectivamente mestres e actores do seu

destino, ou permitirão a imposição de com-

promisso negociado por outros no contexto

de novas relações do poder global, abran-

gendo potências emergentes?

para atingir este objectivo, a europa preci-

sa, sobre todos os assuntos, conhecer duas

condições: primeiro atingir um nível de go-

Denis Delbourg - Embaixador da França

vernação interna que transcende os confli-

tos de interesse e as diferenças de padrão

entre os países membros e, em seguida,

exercer uma influência diplomática que lhe

permita pesar realmente sobre a solução

dos problemas globais. para a soberania,

no mundo actual, não significa autonomia

ou isolamento: mas sim independência e

liberdade de acção para construir um multi-

lateralismo eficaz e cooperativo.

Nem sempre é fácil reunir estas duas con-

dições ao mesmo tempo. Na luta contra as

mudanças climáticas, vimos na conferên-

cia de copenhaga uma europa dotada de

metas internas à altura da situação, mas

a força do seu exemplo não foi suficiente

para influenciar um resultado conveniente

aos outros.

Face à crise financeira e económica, a

europa tinha a capacidade de assumir a

liderança, à frente do G20, para lançar uma

revisão do quadro regulamentar e de super-

visão. No entanto, dada a situação financei-

ra da Grécia, foi confrontada com a questão

da governação interna da zona euro, que

continua a desenvolver mecanismos ➤

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 9: Diplomática n.º7

9julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ sustentáveis para a prevenção de crises.

a estabilização das taxas de câmbio inter-

nacionais, a eficácia das regras da con-

corrência na europa e, especialmente, a

competição justa com o resto do mundo,

em que muitos países não cingem a sua

produção às mesmas normas sociais e

ambientais, o futuro da nossa indústria,

da nossa segurança energética, são algu-

mas das questões que exigem da ue uma

“diplomacia económica” coerente e proac-

tiva. a principal potência económica que é

a europa, o comércio mais aberto e livre, a

principal fonte de ajuda ao desenvolvimen-

to, o modelo de referência que combina o

crescimento e a protecção social, não pode

resignar-se a ser solúvel na globalização.

em termos de segurança, a política da ue

tem tido, em poucos anos, um progresso

notável que não deve ser subestimado, a

união europeia pode contribuir como tal na

manutenção da paz nos balcãs, em áfrica

ou realizar uma operação de combate à pi-

rataria ao largo da costa somali. o tratado

de lisboa abriu o caminho para o conceito

de solidariedade colectiva e uma coopera-

ção mais estreita. podemos falar de “sobe-

rania” da europa em matéria de defesa? as

coisas são mais complexas. a complemen-

taridade entre a otaN e a política europeia

de defesa, como a França sublinhou em

juntar totalmente as estruturas integradas

na otaN, é um pilar da nossa segurança.

a construção de uma melhor organização

da segurança no continente europeu está

aberta, tendo em conta realidade da rús-

sia como um parceiro, quando os estados

unidos e a rússia assinaram um novo

acordo para reduzir arsenais nucleares.

além disso, a dimensão europeia da defesa

é o resultado combinado de mecanismos

que ela implementa em conjunto, tais como

as suas próprias forças de intervenção, e o

compromisso nacional de países-membros,

por exemplo, no afeganistão.

a chave para esta arquitectura pragmática

e cooperativa, é que a europa não é obri-

gada a um acordo sobre as garantias da

sua própria segurança, é suficientemente

forte para responder a crises ou ameaças

assimétricas locais que a afectam directa-

mente, e suficientemente credível para ser

respeitada pelos outros poderes, como um

verdadeiro actor de equilíbrio estratégico.

Sem dúvida que para a atingir plenamen-

te, os esforços da defesa têm de ser mais

sustentados e compartilhados entre os

estados-membros.

mais, a soberania para a europa no mundo

de hoje, não é uma utopia. É uma condição

de sobrevivência para o nosso modelo de

sociedade e nossos valores. actualmente,

a diferença entre as realidades mundiais e

uma europa que luta para permanecer na

corrida parece alarmante. Se eles estão

cientes destas questões, os europeus são

ainda capazes de as preencher. n

Actualmente, a diferença

entre as realidades mundiais

e uma Europa que luta

para permanecer na corrida

parece alarmante

Denis Delbourg

Page 10: Diplomática n.º7

10 • Diplomática - julho/Setembro 2010

Para poder enfrentar com maior eficácia a

crise económica dos nossos dias, a itália, tal

como os outros estados membros da união

europeia, actua para o constante reforço da

nossa governancia comum. os últimos acon-

tecimentos na Grécia de facto dizem respeito

a toda a europa, sem excluir ninguém. está

em causa a credibilidade da zona euro e por-

tanto o nosso empenho deve ser total, não

só a nível económico mas também político.

Na realidade, os desafios globais do mundo

contemporâneo não se limitam à economia

mas referem-se também aos aspectos po-

líticos e sociais da nossa vida institucional.

o ministro dos Negócios estrangeiros da

república italiana, Franco Frattini, defen-

deu recentemente a importânica de uma

política comum europeia se se quiser dar à

união europeia um papel activo no domínio

internacional. Não nos devemos esquecer,

nessa óptica, que também uma política da

cidadania comum constitui um dos pila-

res da construção da casa da europa. De

facto, definimos com o tratado de lisboa,

o mandato do novo presidente estável da

união europeia, reforçamos os poderes da

Luca del Balzo di Presenzano - Embaixador de Itália

comissão e aumentamos os do parlamento

europeu. portanto, devemos reforçar agora

a identidade europeia, explorar mais apro-

fundadamente as raízes comuns dos nossos

povos, confirmar os seus direitos comuns

fundamentais num espírito de tolerância e em

conformidade com a tradição humanista que

sempre caracterizou, ao longo dos séculos, a

acção da europa no mundo.

No que se refere à segurança, em particular,

a união europeia deve poder contar com

uma política comum da defesa, isto é, com

um exército de alcance europeu, para que

se possam incrementar as suas capacidades

de intervenção e a sua presença em vários

teatros de crise do xadrez internacional. pa-

rece de facto ser preciso dotar-se de meios

válidos para poder intervir eficazmente em

defesa dos nossos valores comuns e da paz

nas áreas mais críticas do planeta. Se qui-

sermos de facto ser crediveis na luta contra o

terrorismo internacional, se se quiser contri-

buir para a segurança nuclear e para a esta-

bilização dos países em conflito entre eles, a

europa deve poder agir unida, para garantia

da soberania dos seus estados membros, ➤

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 11: Diplomática n.º7

11julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ incrementando o nível da própria seguran-

ça sem estar confiante só na potência militar

dos estados unidos na salvaguarda e no re-

forço do imprescindível vínculo transatlântico.

a posição da itália é a de que a europa deve

reforçar a própria coesão se quiser evitar um

abrandamento progressivo do seu papel na

sociedade moderna a nível global, onde o

centro de gravidade das relações políticas e

económicas internacionais se está a afastar

do mundo ocidental e atlântico. Nenhum dos

estados membros da ue escapará a um pro-

cesso de decadência confiando apenas nas

suas próprias forças nacionais.

a itália tem a intenção de desfrutar da melhor

forma as inovações introduzidas pelo tratado

de lisboa para reforçar de maneira decisiva

o nosso processo de integração comum. mas

precisamente para poder conseguir apro-

veitar ao máximo as possibilidades que nos

são oferecidas pelo tratado e pelo desen-

volvimento de políticas comuns em todos os

sectores chave do processo de integração

– o da imigração que consideramos que o

factor decisivo do nosso destino é constitui-

do por uma maior vontade política comum.

Não nos podemos render a uma espécie de

“integration fatigue” mas devemo-nos va-

ler, em qualquer circunstância, das razões

objectivas, cada vez mais urgentes, que nos

empurram para a estrada da integração.

Neste sentido, a itália tem especial confiança

no papel desenvolvido pela comissão e pelo

parlamento tratando-se de instituições supra-

nacionais que cooperam activamente com o

conselho para a consolidação do papel da

união europeia no mundo e para o reforço da

soberania e da segurança de todos os seus

estados membros.

Se me é permitido, gostaria de concluir re-

cordando as palavras de jean monet, um dos

pais Fundadores da europa moderna: - “a

cooperação entre os estados, por si só, não

resolve nada. o que devemos ter em mira é

a fusão entre os interesses dos povos euro-

peus”. n

“A cooperação entre os Estados,

por si só, não resolve nada. O

que devemos ter em mira é a

fusão entre os interesses dos

povos europeus.”

Luca del Balzo di Presenzano

Page 12: Diplomática n.º7

12 • Diplomática - julho/Setembro 2010

Cada vez mais,desde 1945, o estado-Nação

soberano, homogéneo e centralizado, com

um só aparelho de estado que administra a

economia, a justiça, a polícia, a educação, a

defesa, os transportes, as finanças públicas

etc., aparece como uma forma ultrapassada de

organização da sociedade. constata-se que

não corresponde mais aos desafios da socieda-

de moderna com os seus problemas financeiros

internacionais, a defesa do meio ambiente, a

pirataria etc. e daqui em diante será a vários

níveis que se tomarão as decisões da forma

mais apropriada e se exercerá o controlo demo-

crático.

a oNu é um embrião de governo mundial e

será chamada a tomar cada vez mais decisões

que eram antigamente da competência exclu-

siva dos estados, por exemplo na manutenção

da paz interna, na repressão das violações dos

direitos humanos. Na nossa época, caracteri-

zada pela globalização, um estado só não pode

legislar os fluxos financeiros, os direitos de

autor, a utilização da internet, a poluição do ar

e dos oceanos. esse é o papel das instituições

especializadas da oNu.

a europa foi a pioneira da integração dos

Jean-Michel Veranneman de Watervliet - Embaixador da BélgicaReflexões sobre o conceito de Estado-Nação soberano

estados a um nível nacional. a união europeia,

da qual o euro e Schengen são as realizações

mais tangíveis, estendeu as suas competências

em quase todos os aspectos da vida em socie-

dade. as receitas do seu extraordinário sucesso

são imitadas em todos os continentes. aSeaN,

oea, mercoSul e outros são transposições

a outros continentes de estruturas suprana-

cionais. No inicio são somente zonas de livre

comércio mas pela força das circunstâncias

e para o interesse comum dos membros, os

estados poderão ser levados a transferir, cada

vez mais, a sua soberania para as instituições

supranacionais.

isto não significa no entanto, que o estado-

Nação esteja, por definição, condenado a de-

saparecer. em diversos casos, ainda é a mais

concreta referência, a base onde o cidadão se

sente mais estável, mais seguro. Nos países

culturalmente mais homogéneos e relativamen-

te reduzidos, pode ser o nível mais apropriado

para a tomada de decisões, para o controle

democrático, para todas as competências que

não dependam do supranacional. Questões re-

lativas à nacionalidade, à imigração ou à polícia

dependerão, sem dúvida, e ainda por muito ➤

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 13: Diplomática n.º7

13julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ tempo do “nacional”, isto é do estado-Nação.

os estados-Nação soberanos sucederam-se às

monarquias absolutas (dirigidas por um sobe-

rano) depois da revolução Francesa. as suas

fronteiras raramente têm em conta as aspira-

ções das populações locais e, na maioria dos

casos, foram traçados em função de tratados

internacionais, de guerras ganhas ou perdidas.

raramente são homogéneos, em muitos casos

não respondem às aspirações regionais que se

fazem ouvir cada vez mais, à vontade de cada

grupo humano de resolver seus problemas.

em muitos casos estas aspirações regionais

manifestam-se como expressão de um senti-

mento de “eu colectivo” e aqueles que o expri-

mem optam para que as decisões que dizem

respeito a uma região, a uma comunidade

linguística, se tomem a esse nível. isso acon-

tece na bélgica, mas também na catalunha,

na bavária, na córsega, no pais basco e na

escócia. a ex-Yugoslavia, as guerras no cáu-

caso lembram-nos as catástrofes que podem

trazer nacionalismos locais mal geridos, explo-

rados ou exacerbados. em áfrica, as fronteiras

herdadas da colonização não têm em conta as

particularidades étnicas locais e são cada vez

mais postas em causa, à posteriori quando os

estados não têm os meios materiais de exercer

as suas soberanias.

a língua é uma importante referência cultu-

ral. Não se pode limitar a língua a um simples

status de veículo de informações pois ela cria

modos de pensar comuns àqueles que a usam

e comunicam subtilezas que nem sempre

serão entendidas por aqueles que se exprimam

noutra língua. É incontestável e compreensível

que muitos britânicos se sintam mais próximos

da língua e da cultura dos outros países angló-

fonos do que dos seus vizinhos continentais. a

Francofonia, a comunidade dos países de lín-

gua portuguesa e a commonwealth são exem-

plos das ligações criadas pela língua, entre

aqueles que a falam e que podem desenvolver-

se para além do simples facto cultural. Faz-se

muitas vezes confusão entre nação e língua. e,

no entanto, uma língua exclusiva não é indis-

pensável para a existência de um sentimento

de “eu colectivo”, ou até mesmo de sentimento

nacional ou de patriotismo. todos sabem o

quanto os Suíços adoram a sua independência

e, no entanto, falam quatro línguas diferentes.

Ninguém ousaria afirmar que os americanos ou

os brasileiros não têm sentimento nacional ou

patriótico mas usam as línguas dos seus anti-

gos colonizadores, sendo esse o caso de todos

os países desse continente americano.

pode-se prever que o nosso século virá a de-

senvolver uma organização piramidal da so-

ciedade humana. Às Nações unidas e às suas

organizações especializadas a nível mundial

serão atribuídos mais poderes, aos organismos

regionais como a união europeia também.

os estados-Nação não desaparecerão, pelo

menos não a maioria, mas entregarão cada vez

mais poderes de decisão a órgãos internacio-

nais, regiões e poderes locais.

esta evolução terá muitas implicações políti-

cas e jurídicas. causará problemas, sendo os

principais a legitimidade e o controlo democrá-

tico destas entidades globais, continentais ou

regionais, cujos poderes executivos deverão

poder ser levados a prestar contas através de

eleições. De momento as eleições são orga-

nizadas quase exclusivamente ao nível dos

estados-Nação. também teremos o problema

dos poderes e dos meios de coação, dos quais

essas novas autoridades poderão dispor, a

nível judicial, polícial, de defesa, etc… as que

existem hoje são quase sempre exclusivamente

nacionais. n

Os Estados-Nação não desaparecerão,

pelo menos não a maioria,

mas entregarão cada vez mais poderes

de decisão a órgãos internacionais,

regiões e poderes locais.

Jean-Michel Veranneman de Watervliet

Page 14: Diplomática n.º7

14 • Diplomática - julho/Setembro 2010

Quando os estados-membros aderiram

à união europeia, renunciaram volunta-

riamente a uma parte importante da so-

berania, em prol das tomadas de decisão

comuns. Nesse aspecto, a u.e. é uma

comunidade única de estados soberanos.

a integração europeia tem avançado gra-

dualmente e a amplitude da tomada de

decisões comuns tem vindo a ser alargada.

o tratado de lisboa é o mais recente e

importante passo neste processo. No longo

processo de ratificação do tratado, a ques-

tão da soberania foi debatida em muitos

países membros. a entrada em vigor do

tratado de lisboa, significa também nesta

complexa questão, que todos os estados-

membros chegaram à derradeira conclusão

que o tratado serve os seus interesses vi-

tais, bem como os interesses da ue, como

um todo.

hoje em dia vivemos num mundo globaliza-

do em que a interdependência dos estados

e das economias é muito alta e em cres-

cimento contínuo. perante este cenário,

a soberania é um conceito muito relativo.

o presidente do conselho europeu, Sr

Asko Numminen - Embaixador da FilândiaA U.E. e a soberania no mundo globalizado

herman van rompuy, referiu que o maior

desafio da ue, neste momento, será quan-

to à forma de lidar com o resto do mundo,

enquanto europa. a ue, tal como outros

intervenientes internacionais, têm que ter

em linha de conta este ambiente global,

nas suas acções. tal não significará que os

estados devam apenas limitar-se a ajustar

passivamente as suas políticas às realida-

des globais existentes. a ue e os outros

membros da comunidade internacional

podem, aliás devem desenvolver esforços

para alterar as realidades do mundo actual,

para o bem comum. a alteração climática

é um claro exemplo desta necessidade. as

sociedades de todos os países são afecta-

das pelas alterações climáticas e, perante

esta realidade, temos que criar soluções

comuns para impedir o aumento da tempe-

ratura global, causada pelo homem. a crise

financeira global tem sido mais um desafio,

para o qual são requeridas soluções glo-

bais. perante o desenvolvimento destes

esforços, as soberanias renunciam ao seu

lugar perante a responsabilidade comum.

Nas instituições europeias, os ➤

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 15: Diplomática n.º7

15julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ estados-membros da ue exercem os

seus próprios poderes de decisão, a sua

soberania em políticas comuns da união

europeia, mas tal exercício não poderá

ocorrer de forma isolada relativamente ao

resto do mundo exterior. o cenário mundial

encontra-se em constante mutação, as no-

vas economias emergentes têm assumido

uma posição muito mais forte do que ante-

riormente. estamos claramente a caminhar

na direcção de um mundo multipolar. tudo

isto é positivo. há décadas que a união

europeia tem vindo a trabalhar de forma

activa no desenvolvimento sustentável e

no desenvolvimento económico, dos países

em desenvolvimento. os novos centros de

poder emergentes vão proporcionar novas

oportunidades para a cooperação eco-

nómica e de negócios. É também natural

que estas alterações no poder económico

se reflictam nas estruturas de tomada de

decisão das instituições multilaterais. ao

mesmo tempo, a ue tem que melhorar a

sua própria competitividade e a sua capaci-

dade de inovar. a união europeia adoptou

recentemente uma nova estratégia para

encarar este desafio - eu 2020. esta estra-

tégia proporcionará um novo instrumento à

ue, no sentido de promover o crescimento

e o emprego, de forma sustentável, levan-

do em conta as necessidades económicas,

ambientais e sociais.

esta estratégia de crescimento e emprego

é vital não só, para o bem-estar das suas

empresas e dos seus cidadãos, mas tem

também uma dimensão política. o desem-

penho económico da união europeia tam-

bém vai determinar em larga escala, a sua

posição no mundo. Durante muito tempo, a

ue desenvolveu esforços para uma presen-

ça mais forte no palco internacional. o tra-

tado de lisboa vai reforçar a capacidade da

união europeia na política externa comum

e nas políticas de segurança, para falar a

uma só voz. o tratado é uma resposta à

necessidade de melhorar a eficácia interna

da ue e para fortalecer a sua capacidade

como actor internacional. a história e a ge-

ografia desempenham sempre um papel na

política externa e é por isso natural que os

estados-membros por vezes têm algumas

diferenças nestas questões. acredito que

o tratado de lisboa vai ajudar os estados

membros a encontrarem mais facilmente

o consenso e promover a unidade nestas

questões vitais. n

Vivemos num mundo globalizado

em que a interdependência dos

estados e das economias é muito

alta e em crescimento contínuo.

Perante este cenário, a soberania

é um conceito muito relativo

Asko Numminen

Page 16: Diplomática n.º7

16 • Diplomática - julho/Setembro 2010

A definição tradicional do conceito de seguran-

ça centrava a sua atenção no controlo e na uti-

lização da força militar por parte dos países. No

entanto, na época pós-guerra fria, a natureza

dos riscos e das ameaças externas à seguran-

ça nacional dum país não é só militar e não se

podem enfrentar só com meios militares. tam-

bém, a natureza variável dos conflitos constitui,

aparentemente, a característica predominante

do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que

decorrem em cada vez mais pontos do planeta

são mais «intra-estatais» (intra-state conflict)

e menos «inter-estatais» (inter-state conflict).

consequentemente, devido à natureza trans-

nacional de muitos problemas de segurança,

torna-se indispensável a cooperação interna-

cional relacionada com o desenvolvimento de

organizações internacionais. Neste contexto,

as organizações internacionais e regionais,

constituem o espaço preferencial da coope-

ração multilateral em assuntos de defesa e

segurança.

Dum modo geral, o aumento das organizações

regionais no período pós-guerra (Nato, ue,

oSce, conselho da europa) e a sua presença

activa na cena internacional não seguiu um

Vassilios Costis - Embaixador da Grécia

rumo independente ao dos estados de modo a

impô-los como factores autónomos da realidade

internacional. por outro lado, no entanto, não se

devem desprezar os aspectos positivos do fe-

nómeno da constituição e do funcionamento de

organizações regionais na cena internacional.

um destes aspectos é o facto de que no âmbito

das organizações regionais foram desenvolvi-

das redes de laços operacionais que reduziram

as tensões nacionalistas e melhoraram, em

geral, as relações político-económicas a nível

regional. por outro lado, as organizações regio-

nais conseguiram controlar certos conflitos e

impedir a expansão de outros.

por fim, mais um ponto positivo da actividade

das organizações regionais constitui o facto de

que a sua participação nas relações internacio-

nais pôs em dúvida a bipolarização e a lógica

da guerra fria. Sem sobrevalorizar a importân-

cia destes fenómenos, o seu contributo para o

melhoramento da situação internacional é uma

realidade.

a Grécia, sendo um dos membros mais antigos

da Nato e da união europeia, carrega um

intenso sentimento de responsabilidade para a

consolidação dum clima de confiança na região ➤

Dossier

Que soberania para a Europa

As Organizações internacionais

regionais, constituem

o espaço preferencial da cooperação

multilateral em assuntos de

defesa e segurança.

Page 17: Diplomática n.º7

17julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ euro-atlântica e trabalha com base num plano

e num programa a fim de contribuir para enfren-

tar os novos desafios em matéria de segurança.

Neste âmbito, Grécia é membro fundador do

Grupo de contacto para a luta contra a pira-

taria, constituído por decisão do conselho de

Segurança (1851/16.12.2008). No grupo acima

referido participam países com um forte papel

regional, forças marítimas, assim como países

que enviaram formações marítimas para a re-

gião onde se manifestam os ataques de piratas.

o Grupo de contacto para a luta contra a pi-

rataria trata, em grupos de trabalho sectoriais,

de quatro assuntos no total: a) coordenação

operacional e apoio das infra-estruturas de

segurança dos países regionais, b) aspectos de

repressão penal à pirataria, c) autoprotecção

dos navios comerciais e d) estratégia de comu-

nicação.

o trabalho do Grupo de contacto não prejudica,

em caso algum, a autonomia tanto das acções

isoladas dos estados assim como, também, dos

restantes esforços colectivos (ue, Nato) para

a eliminação do problema da pirataria. Funciona

como mecanismo informal de troca de ideias e

propostas que dá a possibilidade aos 45 países

participantes até ao momento, organizações

internacionais e associações de armadores, de

avaliarem a eficácia dos meios utilizados para a

luta contra a pirataria. No dia 28 de janeiro de

2010 teve lugar, em Nova iorque, a 5ª cimeira

do Grupo de contacto que atribuiu à Grécia a

presidência do próximo plenário, cujos tra-

balhos serão realizados no dia 25 de maio de

2010, em Nova iorque.

Numa conjuntura em que a obtenção da segu-

rança na região euro-atlântica se torna cada

vez mais complicada, a Grécia assumindo a

presidência da oSce em 2009, herdou uma

crise e uma oportunidade. uma crise de con-

fiança e uma oportunidade para a inversão do

clima. tendo como objectivo a restituição do

clima de confiança entre os parceiros, como

condição principal para a resolução dos verda-

deiros problemas de segurança que continuam

a preocupar a europa, assim como fazer face

aos novos desafios para a segurança do espa-

ço euro-atlântico e euro-asiático, a presidência

grega inaugurou um diálogo informal, aberto,

e sincero que hoje em dia é conhecido como

«processo de corfu». a iniciativa da presidên-

cia grega tornou-se comum para todos os «56»

com a adopção na reunião de ministros de

atenas, em Dezembro de 2009, da Declaração

para o processo de corfu e da Decisão para a

sua continuação. com a referida Declaração os

ministros reconheceram os problemas princi-

pais que deverão ser combatidos com base nos

princípios e no acervo da oSce enquanto que

com a Decisão definiram como vai continuar o

processo durante 2010.

Sem dúvida, o processo de corfu tem objec-

tivos ambiciosos: restituição da confiança,

resolução de problemas pendentes, luta co-

mum contra novas ameaças. No entanto, tem

como principal objectivo reanimar o espírito de

unidade do objectivo (commonality of purpose)

que constituiu a base na qual foi construído

o processo de helsínquia há 35 anos. obvia-

mente, tal processo será longo e não irá avan-

çar sempre a um ritmo estável. No âmbito do

processo de helsínquia, foram debatidas mais

de 4600 propostas e realizaram-se milhares de

encontros entre delegações. como foi compro-

vado na altura, o elemento mais importante é

a fermentação e a osmose que se realiza no

âmbito destas consultas, a criação de condi-

ções para a compreensão e o entendimento de

todas as partes.

o processo de corfu continua, a um ritmo satis-

fatório, no quadro da oSce. a Grécia acredita

que dispõe da dinâmica para dar soluções a

assuntos críticos. contudo, todos os parcei-

ros deverão demonstrar paciência, boa fé e

disposição sincera de ouvir e compreender as

posições e pontos de vista com os quais não

concordam necessariamente.

estamos num período de mudança, num pe-

ríodo de transição. os desafios com que nos

deparamos são complicados e inéditos mas te-

mos razões para esperar conseguir um mundo

melhor e mais seguro com os nossos esforços. n

Vassilios Costis

Page 18: Diplomática n.º7

18 • Diplomática - julho/Setembro 2010

Tocando a questão de segurança europeia,

gostaria de destacar a posição do presiden-

te da ucrânia, Viktor Yanukovich, de que

a ucrânia está disposta a se engajar acti-

vamente nas discussões sobre o futuro da

segurança europeia, considerando a oSce

como uma plataforma adequada para esse

diálogo. o presidente da ucrânia, particular-

mente, enfatizou a importância da reflexão

em qualquer novo documento sobre a segu-

rança europeia e da prestação de garantias

de segurança, juridicamente vinculativas,

para os estados que renunciaram volunta-

riamente as armas nucleares, bem como

para os estados que, como a ucrânia, não

são membros de qualquer bloco político e

militar. outro ponto importante é o direito

fundamental dos estados de escolherem os

próprios meios para garantir a segurança

nacional.

como uma contribuição prática para a segu-

rança europeia e mundial, a ucrânia assu-

miu um compromisso na recente cúpula de

Segurança Nuclear em Washington Dc, de

se livrar de todos os seus stocks de urânio

altamente enriquecido, até 2012. assim,

Rostyslav Tronenko - Embaixador da Ucrânia

a ucrânia juntou se aos esforços interna-

cionais, transformando os seus centros de

pesquisa nuclear civil para funcionarem com

urânio pouco enriquecido, confirmando as-

sim sua reputação do parceiro internacional

coerente e previsível e, simultaneamente,

reforçando a segurança europeia e mundial

através da remoção de materiais perigosos,

expostos a potenciais impactos ambientais e

as ameaças de ataques terroristas.

outra questão que continua a ser prioridade

para o meu país é a segurança energética. a

parte ucraniana está comprometida com o diá-

logo amigável e mutuamente benéfico com

a Federação russa, a fim de persuadir os

nossos amigos russos a reconsiderarem os

acordos assinados pelo Governo anterior da

ucrânia, em janeiro de 2009, contratos de

gás, que foram altamente penalizantes para

a economia ucraniana e ainda continuam a

ser um obstáculo para a restauração do seu

crescimento económico. estou também con-

vencido de que a segurança energética da

europa deve ser baseada nos princípios de

uma transparência total das relações entre

os responsáveis pela produção, trânsito e ➤

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 19: Diplomática n.º7

19julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ consumo de fontes de energia. Sendo um

país de trânsito importante do gás natural

russo para os países da união europeia,

a ucrânia é obrigada a efectuar todas as

reformas necessárias no domínio da moder-

nização do seu sistema de transporte de gás

e fazer mais eficaz a utilização dos investi-

mentos e recursos, para poder utilizar a ca-

pacidade total do seu potencial económico.

É de conhecimento comum que a segurança

europeia inclui também tais ameaças con-

temporâneas como o tráfico de drogas, o

terrorismo, a pirataria e os cyber-ataques.

No que diz respeito ao tráfico ilícito de dro-

gas, não pude deixar de mencionar o memo-

rando de entendimento entre o observatório

europeu da Droga e da toxicodependência

(oeDt) e o ministério da Saúde da ucrânia,

assinado em Kyiv em janeiro de 2010, para

lançar a cooperação no domínio de controlo

de uso ilícito de drogas. a autoridade com-

petente ucraniana, responsável directamen-

te pela manutenção das relações com esta

instituição da união europeia, é o observa-

tório ucraniano da Droga e álcool, que tem

vindo a utilizar a metodologia da ue e dispo-

nibiliza um considerável banco nacional de

dados sobre esta problemática. Segundo o

acordo com o oeDt, a instituição da eu,

com sede em lisboa, permite que as partes

troquem as informações sobre os tipos de

drogas e substâncias psicotrópicas novas, o

aparecimento no mercado de drogas ilícitas

e das tecnologias utilizadas na sua produ-

ção, que acompanhem, em conjunto, a situ-

ação de drogas e que organizam a formação

e o intercâmbio de especialistas e de resul-

tados da investigação científica.

há também o interesse entre as institui-

ções ucranianas em continuarem o reforço

da cooperação com a agência europeia de

Segurança marítima, com sede em lis-

boa, especialmente na questão da troca de

informações sobre a luta contra a pirataria

marítima.

Quanto ao terrorismo, a ucrânia tem sempre

condenado a manifestação do mesmo em

todas as suas formas. a fim de evitar tais

atrocidades, deve ser elaborado um melhor

mecanismo de coordenação e de troca de

informações entre as instituições de segu-

rança na europa.

este material vai ser lançado nos dias quan-

do a ucrânia comemora o 24 º aniversário

do trágico desastre na central Nuclear de

chernobyl, que resultou em uma contami-

nação com radioactividade a qual trouxe

consequências graves, incluíndo mortes e

prolongados problemas sérios de saúde em

centenas de milhares de pessoas na ucrâ-

nia e no exterior. as consequências da erup-

ção do material radioactivo do quarto reactor

da central Nuclear de chernobyl, foram

iguais a quatrocentos bombardeios atómicos

de hiroshima, mas não foram avaliadas com

precisão até hoje. a área próxima passou a

ser uma zona fechada, com controlo rigo-

roso de entrada, e não apropriada para as

actividades vitais durante décadas. a este

respeito, é muito importante reiterar um ape-

lo aos parceiros europeus para que partici-

pem activamente na acumulação das contri-

buições para a Fundação de chernobyl, com

objectivo de construir um novo “Sarcófago”.

isto é extremamente importante pois vai ser

a garantia de evitar repetição de catástrofes

nucleares no futuro e preservar a segurança

do continente europeu. n

A Ucrânia assumiu um compromisso

na recente Cúpula de Segurança

Nuclear em Washington DC,

de se livrar de todos os seus stocks

de urânio altamente enriquecido,

até 2012

Rostyslav Tronenko

Page 20: Diplomática n.º7

20 • Diplomática - julho/Setembro 2010

Com o tratado de lisboa, a ue entrou

numa nova fase da sua trajectória histórica.

o tratado dotou a ue com o quadro jurídico

necessário para enfrentar os desafios futu-

ros. a ue está, portanto, melhor equipada,

mais eficiente no processo de tomada de

decisão, com mais responsabilidade demo-

crática, assim como uma maior coerência na

política externa. poderá obviamente, levar

tempo para que a nova estrutura institu-

cional seja plena e eficazmente posta em

prática. No entanto, o que é importante nes-

ta fase, é garantir o funcionamento eficaz

do novo sistema. outro ponto importante

a ter em mente, é que a entrada em vigor

do tratado de lisboa, irá resolver o debate

institucional num futuro próximo. isto permi-

tirá que a ue se concentre numa série de

questões importantes da sua agenda. espe-

ro também, que o argumento, alegando que

a incerteza institucional constitui um obstá-

culo para o alargamento, chegue ao fim.

a ue está a assumir uma responsabilidade

cada vez maior nos assuntos internacionais,

como nunca na sua história, e certamen-

te contribui para um mundo mais seguro e

melhor. particularmente, no que diz respeito

à entrada em vigor do tratado de lisboa, é

minha convicção de que a união se torna-

rá mais eficaz e visível através do mundo.

para isso, terá certamente de ser apoiada

pelos recursos necessários e por vontade

política.

Deixem-me partilhar a minha visão para

o futuro da europa: a europa actuando

como um actor global eficaz e poderoso.

uma europa que se torne uma força motriz

da economia global e que preserve o seu

dinamismo económico. uma europa onde a

diversidade é uma fonte de enriquecimento,

de acordo com a ideia a “unidade na diver-

sidade”. uma europa, que responda eficaz-

mente às expectativas dos seus cidadãos.

em termos da economia europeia, acredito

que preservar o seu dinamismo económico

e revitalizar a sua economia será vital para

o futuro da ue, interna e externamente.

espero que os desafios económicos sejam

superados e que a europa saia reforçada,

da crise financeira e económica global. Não

há dúvida de que uma ue mais forte interna-

mente, é o requisito para uma ue mais ➤

Kaya Türkmen - Embaixador da Turquia

Dossier

Que soberania para a Europa

Page 21: Diplomática n.º7

21julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ eficaz e mais visível no cenário global.

a maior conquista da ue tem sido a instau-

ração de um período de paz e estabilidade

na europa. através da ue, a europa foi

capaz de deixar para trás os conflitos do

passado, graças à cultura do diálogo e do

compromisso. hoje, a europa enfrenta cada

vez mais uma situação complexa e interliga-

da de ameaças e desafios. No entanto, nem

a ue nem qualquer país sozinho tem capa-

cidade para lidar com os problemas globais

de hoje. há ameaças e desafios comuns e

a cooperação internacional é uma necessi-

dade. o alargamento tem desempenhado

um papel fundamental, e contribuiu para a

democracia e a prosperidade no continente.

os valores e as políticas europeias, terão

certamente, um alcance e um impacto muito

mais global, com a continuação do processo

de alargamento.

a adesão à união europeia é o objectivo

estratégico da turquia. para nós, isso não

tem outra alternativa. o processo de ne-

gociação, que começou a 3 de outubro de

2005, continua com o objectivo da plena

adesão, com base em decisões tomadas

por unanimidade da ue. as estreitas rela-

ções de longa data entre a turquia e a ue

baseiam-se no respeito pelos valores co-

muns, bem como nos objectivos comuns e

interesses estratégicos. tendo em conta os

desafios e ameaças globais, estou absoluta-

mente convencido de que a turquia e a ue

devem trabalhar em conjunto, mais de perto,

e unir forças com uma visão comum. a tur-

quia está em condições de contribuir para

a formulação e execução da política externa

da ue, assim como para a sua credibilidade

e eficácia. para a paz regional e global, pre-

cisamos uns dos outros. a turquia emprega

uma política multi-dimensional, centrada nos

objectivos e numa política externa equili-

brada, com vista a restabelecer e manter a

paz, e reforçar a estabilidade e a prospe-

ridade na região e no mundo. a geografia

da turquia, a história e os laços culturais,

ligam-nos aos balcãs, ao médio oriente, ao

cáucaso, à Àsia central e a todo o sistema

global. a turquia é um factor de estabilidade

na região e um actor estratégico importante,

que contribui para a segurança da europa e

dos seus vizinhos. estou convencido de que

a adesão da turquia será uma mais-valia em

vez de um fardo. a adesão de uma turquia

democrática e moderna com a sua localiza-

ção geoestratégica única e um grande po-

tencial económico, trará benefícios conside-

ráveis para a ue. como país de negociação,

assim como actor estratégico na procura

da paz regional e mundial, a turquia tem a

vontade política e um potencial para contri-

buir ainda mais para o papel global da ue,

criando uma sinergia dinâmica. n

A UE está a assumir uma

responsabilidade cada vez maior

nos assuntos internacionais, como

nunca na sua história,

e certamente contribui para um

mundo mais seguro e melhor.

Kaya Türkmen

Page 22: Diplomática n.º7

22 • Diplomática - julho/Setembro 2010

O estreitamento dos laços económicos

e o aumento do universalismo da língua

portuguesa foram os principais temas

abordados na passagem do presidente

brasileiro por lisboa.

Nos meses finais dos dois mandatos de

oito anos e com a aprovação popular

recorde no seu país, o ocupado pre-

sidente brasileiro, luiz inácio lula da

Silva, finalizou em lisboa uma expedi-

ção de oito dias por cinco países dos

continentes europeu e asiático.

No último 19 de maio, uma quarta-feira

ensolarada, o primeiro esquerdista

eleito presidente do brasil foi recepcio-

nado em terras lusas para uma visita,

após passar pela rússia, catar, irão e

espanha.

o político, que tem elevado a voz aos

países e blocos continentais mais

poderosos e ainda dado mais visibilida-

de aos países emergentes acabara de

apresentar em espanha, numa cúpula

da própria união europeia, um seminá-

rio sobre a economia brasileira. No seu

discurso de quarenta e cinco minutos

em madrid, lula repetiu inúmeras vezes

a palavra “óbvio”: “um inventor pode

inventar o que quiser, mas um gover-

nante tem que fazer o óbvio”, insistiu ao

explicar o porquê do sucesso económi-

co e da previsão de 6% para o cresci-

mento do país sul-americano num ano

em que os países europeus lutam para

que o défice das suas economias seja o

menor possível.

ainda antes da sua lição de moral em

espanha, luiz inácio assinou um impor-

tante acordo nuclear em teerão com o

irão e a turquia, que causou um certo

incómodo em Washington e ressaltou a

relevância que o presidente canarinho

alcançou no cenário mundial. tanto

que, momentos antes da assinatura do

acordo, a secretária americana hillary

clinton ligou pessoalmente ao chance-

ler turco recep tayylp erdogan para

desencorajá-lo da até então ideia do

acordo onde o seu país servirá como

base para o enriquecimento do urânio

que virá do irão – até então, o país não

aceitara nenhuma outra proposta de

enriquecimento fora do seu território,

o que resulta até hoje em ameaças

norte-americanas ao país do presidente

mahmoud ahmadinejad.

após as suas contundentes passagens

nos países já citados, o destino final

fora lisboa. a passos apertados, o pri-

meiro encontro aconteceu no palácio de

belém, numa reunião com o presidente

aníbal cavaco Silva onde diversos as-

suntos foram abordados, principalmente

relacionados com as questões culturais

e comerciais, como a iniciativa dos dois

países em elevar a língua portuguesa

mundo afora e o estreitamento ainda

maior de laços empresariais.

Digamos que o tom optimista de luiz

inácio lula da Silva deva ter contrasta-

do com o conservadorismo de cavaco e

o delicado momento em que vive portu-

gal, até mesmo numa possível aposta

sobre o resultado do futuro encontro

entre as nações no mundial 2010.

apostamos que o brasileiro apostou em

um 4-1 para a selecção canarinha e um

mais comedido português 1-1 como um

óptimo resultado para portugal.

Depois da reunião e da possível dis-

cussão sobre o placar da partida a ser

realizada na áfrica do Sul no dia 25 de

junho, lula participou, agora também

ao lado do primeiro-ministro josé Só-

crates, na entrega do prémio camões

- o mais importante galardão literário da

língua portuguesa - cujo vencedor foi

arménio Vieira, o primeiro cabo-verdia-

no a ser honrado com tal distinção.

Na cerimónia, o presidente brasileiro foi

responsável por discursar a retrospec-

tiva da trajectória do poeta, escritor e

jornalista de cabo Verde e reiterou que

arménio Vieira é mais uma das figuras ➤

A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal

Visita de estado

Page 23: Diplomática n.º7

23julho/Setembro 2010 - Diplomática •

1

2

3

1, 2 e 3. o presidente lula da Silva a ser recebido

pelo presidente da república cavaco Silva, primei-

ro-ministro josé Sócrates e ministro dos Negócios

estrangeiros luís amado

Fo

tos:

ric

ard

o o

live

ira

- G

pm

Page 24: Diplomática n.º7

24 • Diplomática - julho/Setembro 2010

➤ responsáveis pelo “universalismo da

civilização lusófona e do seu idioma”.

ainda nessa celebração, discursaram

cavaco Silva e josé Sócrates, sempre

a reforçar o discurso do companheiro

político e a pontuar a importância do

país africano ter tido, pela primeira vez,

um vencedor do prémio fundado em

1988 e que já consagrou um escritor

moçambicano e dois outros angolanos,

além de diversos portugueses e brasi-

leiros.

a maratona de luiz inácio lula da Silva

em lisboa teve um factor que ajudou e

muito no seu deslocamento: a pequena

distância entre todos os seus compro-

missos. após o palácio de belém, a

cerimónia do prémio camões foi logo

ali ao lado, no museu dos coches. e

a sua última paragem formal, antes de

um jantar oferecido por Sócrates, foi no

palácio das Necessidades, onde decor-

reu a 10ª cimeira brasil e portugal, que

integra uma série de reuniões

anuais para a discussão de

acções comuns entre os dois

países, com líderes políticos e

empresários.

os principais pontos abor-

dados na conferência pelo

mandatário brasileiro rela-

cionavam-se com a cooperação nas

áreas económico-comercial, científico-

tecnológico, cultural e da energia, além

da ampliação de uma relação triangu-

lar com os países africanos de língua

portuguesa, que será detalhada em

julho, na cimeira de chefes de estado

e de Governo da cplp (comunidade

dos países de língua portuguesa), a

realizar-se no próximo mês de julho em

luanda.

No seu discurso, lula exaltou o mo-

mento que o seu país vive, reflexo

do franco crescimento económico e,

nas palavras do próprio, do seu árduo

trabalho: “o brasil vive um momento

mágico no plano económico. Dizem que

eu tenho muita sorte, mas trabalho mui-

to”, bradou com sua voz rouca o futuro

candidato a uma cadeira de secretário-

geral na oNu ou à presidência do

banco mundial, conforme informam as

agências de notícias mundiais. e se o

facto se concretizar, lula já conta com

o apoio de josé Sócrates e de alguns

outros líderes para alcançar um dos

postos.

ainda no seu discurso, luiz inácio

disse que a vez agora é dos países que

não tiveram oportunidade nos últimos

tempos: “penso que o século XXi será

o século dos países que não tiveram

oportunidade no século passado. Desde

sempre se dizia que o brasil era o país

do futuro e esse futuro nunca chega-

va.”. e o futuro chegou, com o prestígio

de um presidente que em 2002 assu-

mira a presidência de uma república

dividida entre a esperança da popu-

lação menos prestigiada e a

desconfiança da alta camada

social, que não via com bons

olhos um ex-metalúrgico com

nove dedos nas mãos – fruto

de um acidente de trabalho -,

ex-sindicalista com os estudos

incompletos assumir a cadeira

mais alta na hierarquia política brasilei-

ra.

Na cadeira ao lado, o primeiro-ministro

Sócrates escutara com atenção as

indagações do presidente lula sobre o

processo burocrático do G-20, do qual

o próprio faz parte, em relação à não

aplicação das decisões que são toma-

das.

“eu faço parte do G-20, Sócrates, e as

coisas têm sido muito lentas. as nos-

sas decisões não são implementadas

porque nós não temos uma governação

global, nenhuma instituição multilateral

que possa obrigar que as coisas sejam

cumpridas”, disse ele. ➤

A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal

"O Brasil vive um mOmentO mágicO nO planO ecOnómicO"

lula

Page 25: Diplomática n.º7

25julho/Setembro 2010 - Diplomática •

4 5

6

7

4 e 5. presidente lula da Silva

entrega prémio camões ao cabo-

verdiano arménio Vieira

6 e 7. lula da Silva reune-se com

os mais altos dignatários da nação

Fo

tos:

ric

ard

o o

live

ira

- G

pm

Page 26: Diplomática n.º7

26 • Diplomática - julho/Setembro 2010

➤ “os prejuízos são globais, as políticas

comerciais são globais, os bancos cen-

trais têm decisões que são globais, mas

na verdade a aplicação dessas medidas

são no plano individual”, finalizou.

lula também criticou a demora da

união europeia na ajuda à Grécia e a

actuação dos estados unidos durante a

crise aliada à falta de regulamentação

do sistema financeiro.

“eu, sinceramente, não conheço um

economista que me explique porque é

que a união europeia demorou três me-

ses para tratar da questão da Grécia”.

“eu não consigo compreender porque

deixaram o lehman brothers quebrar,

ficaria muito mais barato tentar encon-

trar uma saída enquanto ele estava

em actividade. Não consigo entender

porque os países ricos não têm uma

regulamentação do sistema financeiro

mais dura, como por exemplo no bra-

sil, onde o sistema financeiro não pode

alavancar mais de dez vezes o seu

património líquido.”

já o primeiro-ministro português apelou

para que os portugueses e a comunida-

de internacional confiem na economia

de portugal. o apelo foi feito enquan-

to o conselho de ministros do país

aprovava o programa de estabilidade

e crescimento, cuja meta é reduzir o

défice orçamental de 9,3 para 7,3 por

cento. além do programa, foram apro-

vadas outras medidas que visam com-

bater os avanços da crise.

No final da cúpula, o presidente bra-

sileiro assinou juntamente com josé

Sócrates sete acordos bilaterais que

visam o estreitamento ainda maior en-

tre os países, principalmente no âmbito

energético e cultural.

o principal é o projecto de produção de

biocombustíveis entre a petrobrás e a

Galp, que prevê a entrada da petrolífe-

ra brasileira na refinaria de Sines, com

capacidade em produzir 260 mil tonela-

das de biodiesel por ano, num investi-

mento total de 530 milhões de dólares a

ser dividido igualmente entre as empre-

sas. a estratégia, além de vislumbrar

uma entrada no mercado ibérico, tam-

bém visa fortalecer a imagem da estatal

verde e amarela no continente europeu,

já que a matéria-prima do biocombustí-

vel, a palma, será cultivada no estado

do pará na região norte do país.

os outros actos assinados dizem res-

peito à aquisição da empresa brasileira

Geovision pela construtora mota-engil,

um acordo para a formação de profissio-

nais e prospecção de petróleo em águas

profundas, um memorando sobre a

igualdade de género e um protocolo de

cooperação sobre doping aliado a um

acordo de cooperação técnica para o

saneamento e tratamento de resíduos

urbanos para o rio de janeiro, já com

vista para o mundial de 2014 e os jogos

olímpicos de 2016.

o documento final da cimeira de lisboa

reitera que o “governo português nota,

com satisfação, o papel que o brasil e

o seu presidente vêm desempenhando,

em particular no actual momento, na

gestão de várias questões de interesse

crucial para a manutenção da paz e da

segurança internacionais”. o texto ain-

da cita que ambos insistem na análise

das consequências da crise financeira

internacional, das políticas aplicadas

para enfrentá-la e das medidas que

deverão ser tomadas para reformar o

sistema financeiro internacional, a fim

de “relançar a economia e promover o

emprego”.

o último compromisso de luiz inácio

lula da Silva em portugal foi um jan-

tar oferecido por josé Sócrates, cujo

palpite para o já citado jogo do dia 25

de junho no mundial 2010 deve ter sido

favorável a portugal: 1-0, com muito

suor e luta. n

K. lara cury

A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal

Page 27: Diplomática n.º7
Page 28: Diplomática n.º7

28 • Diplomática - julho/Setembro 2010

Tornaram-se, visivelmente, controversas as

visitas dos papas nos últimos anos. as visitas de

bento XVi, eleito em 2005, têm recebido resistên-

cias várias por parte de minorias, posteriormente

amplificadas pelos diferentes meios de comuni-

cação. Serão resistências plausíveis? racionais?

Neutras? o que realmente se pode dizer desta

visita de bento XVi a portugal?

a visita de um papa a um estado é um aconteci-

mento por si mesmo. bento XVi, ao sair do esta-

do mais pequeno do planeta, traz sempre consigo

dois cargos com implicações espirituais, por ser

bispo de roma e garante da unidade e pureza da

fé cristã, e também diplomáticas com os diferen-

tes estados. a própria concordata entre a Santa

Sé e o estado italiano pressupõe uma relação

diplomática de segurança. ao sair da basílica de

São pedro, diante da praça, em qualquer acto, a

segurança é da responsabilidade do estado italia-

no, mas a partir daquela porta para dentro é já da

competência da segurança do Vaticano.

o que é mais notável, do ponto de vista da comu-

nicação, na visita deste chefe de estado a outros

estados, são as medidas de segurança. a opera-

ção que se tem de levar a cabo para receber um

papa, como aconteceu com bento XVi, tem pro-

blemas acrescidos às operações normais para re-

ceber os chefes de estado de outros países. em

primeiro lugar, porque é preciso segurança para a

pessoa de bento XVi – garante da fé católica e lí-

der do estado do Vaticano – e, em segundo lugar,

porque o papa arrasta sempre consigo multidões

que precisam de segurança mínima. por isso,

mesmo sendo um estado laico, qualquer que ele

seja, tem de proteger todos os que legitimamente

se encontram.

mas, dirão alguns, não comprometerá a laicidade

do estado o facto de ter de fazer gastos acres-

cidos com um “homem” religioso? Sendo bento

XVi membro da igreja católica. Sendo a igreja

católica constitutiva da cultura da maioria dos

portugueses. Sendo o estado laico constituído

por uma sociedade religiosa que recebe dos seus

contribuintes os impostos, poderemos dizer que é

justo que a laicidade do estado esteja submetida

aos cidadãos a quem ele próprio serve.

mais do que racional a comunicação é emotiva

centrando-nos na visita particular de bento XVi

a portugal, teremos, à distância, a capacidade

de perceber as linhas mestras que sobressaíram

desses dias. Não há a menor dúvida de que a

emoção foi a figura mestra de um papa profunda-

mente racional. bento XVi apresenta-se em por-

tugal no ano em que se comemora a instauração

da república e frisa esse aspecto no seu primeiro

discurso. Diplomaticamente apaga os fantasmas

que estavam nas cabeças de alguns por, daí a

umas horas, se celebrar a eucaristia na praça

onde o regicídio teve acontecimento.

Dentro e fora da igreja subestimava-se a figura

desta papa. Não é carismático! Não é joão paulo

ii! Não é um homem de massas! tímido, frio, ale-

mão, racional! o percurso entre o aeroporto e a

Nunciatura poderia denunciar um enfraquecimen-

to da igreja católica em portugal ou o enfraque-

cimento da relação dos portugueses com bento

XVi. o gelo quebrou-se e percebeu-se logo à

chegada. os portugueses não esperam bento XVi

ou joão paulo ii, mas aguardam o sucessor de

São pedro. eles revêem-se naquele que sucedeu

a joão paulo ii, tão ligado ao Santuário de Fáti-

ma. aliás, os ataques sucessivos que este papa

tinha sofrido faziam prever um apoio incondicional

dos católicos. os mais novos provaram-no em

lisboa: quinze mil jovens participam nas activida-

des e alguns vão até Fátima; cinco mil crianças

dirigiam-se para a missa; mais de cem mil pesso-

as acolhem o papamóvel que transporta o chefe

de estado do Vaticano. De facto, esta visita de

estado é bem diferente das outras visitas de es-

tado de outros chefes que se dirigem a portugal.

Não há memória, em portugal, de se receber um

chefe de estado com um acolhimento caloroso

como aquele que aconteceu com o papa.

mas não foram apenas os portugueses que tive-

ram a capacidade de colocar a emoção na visita

do papa e de fazer mudar a opinião pública mun-

dial sobre a figura do papa. o próprio bento XVi,

que em 2000, tinha interpretado a terceira parte

do segredo de Fátima, dá-lhe, agora, um novo

sentido. a igreja, no século XX, era perseguida

pelos regimes totalitários, hostis à própria igreja e

aos seus membros – desde clérigos a religiosos e

religiosas até aos próprios leigos. o simples acto

de acreditar era motivo de perseguição. agora

a igreja é perseguida por causa do seu próprio

pecado. em Fátima, bento XVi abre um novo

projecto da mensagem de Fátima para ➤

Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVIedgar clara: [email protected]

Visitas de estado

Page 29: Diplomática n.º7

29julho/Setembro 2010 - Diplomática •

Page 30: Diplomática n.º7

30 • Diplomática - julho/Setembro 2010

➤ o panorama internacional e diz: “iludir-se-ia

quem pensasse que a missão profética de Fátima

esteja concluída”.

a terceira parte do segredo de Fátima esteve

sempre muito ligada ao Santo padre, ao Vigário

de cristo, ao sucessor de pedro, ao papa, “ao

homem vestido de branco”, como refere o texto.

pensou-se, em tempos, que este homem seria

joão paulo ii, ou os papas do século XX. porém,

percebe-se que bento XVi ao chegar a portugal

vem com tanto sofrimento na alma como qualquer

dos papas do século XX que aqui se apresenta-

ram ou sobre Fátima falaram. bento XVi deixa um

gesto notável para o, então, considerado intelec-

tual, racionalista, alemão, tímido e homem frio.

como um filho, aos pés da mãe, entrega uma rosa

de ouro nas mãos da imagem de Nossa Senhora

de Fátima. mais uma vez, a emoção deixa falar a

razão e a imagem de bento XVi vai-se esfriando.

uma nova racionalidade capaz de encontrar a

verdade.

No encontro com o chamado mundo da cultura,

bento XVi está diante de cientistas, professores

universitários, músicos, compositores, bailarinos,

pintores, escultores, homens das letras e das

artes. aos 83 anos de idade entra no centro cul-

tural de belém e cumprimenta todos os que estão

no palco. No final dá um tempo para cumprimen-

tar todos os líderes ou representantes das princi-

pais religiões representadas em portugal e várias

personalidades do mundo da cultura.

ao entrar é efusivamente aplaudido por crentes e

descrentes, homens de fé ou agnósticos, católi-

cos ou homens de outras religiões. É o peso da ➤

Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI

Page 31: Diplomática n.º7

31julho/Setembro 2010 - Diplomática •

➤ humilde sabedoria que se apresenta diante dos

homens de cultura. palavras? essas eram previ-

síveis: a verdade. trata-se da luta maior de bento

XVi, desde que se encontrava como professor

universitário e depois como cardeal. combater

toda e qualquer ideia que vá contra a razão e, por

conseguinte, que não procure a verdade.

porém, a palavra vem depois do gesto mais

eloquentemente aplaudido pela assembleia.

Depois do discurso de manuel de oliveira,

bento XVi levanta-se e dirige-se ao lugar do

cineasta para lhe agradecer as suas palavras.

o papa não é de facto um professor tradicional.

ele gosta de escutar o outro, de o respeitar,

de o cumprimentar e de o abraçar. o outro é o

princípio do diálogo que bento XVi tanto tem

procurado fazer. Depois lança-se aos papéis e

discursa o que antes tinha preparado.

Não há dúvida. a imagem do papa depois de

portugal não mais será a mesma na opinião

pública nacional e internacional. primeiro, porque

toda a viagem mostrou a simplicidade de um dos

homens mais inteligentes, segundo, porque a sua

figura é significativa e os portugueses souberam

perfeitamente seguir a sombra de pedro que

cura, por fim, em terceiro, bento XVi ficará para

a história como o papa que não quis nunca fugir

à verdade e aos problemas, mas que gosta não

só dos problemas, como também de os enfrentar.

por isso, a edição dos seus discursos esgotou

em três dias, porque não sendo um homem de

imagem a sua palavra faz pensar e mudar as ima-

gens que temos de Deus, do mundo, do homem e

da própria realidade. nFotos: luís catarino

Page 32: Diplomática n.º7

Com o Verão à porta e o bom tempo a sugerir aproveitar as melhores coisas da vida, sentir-se bem com o seu corpo é mais que uma vontade, é um imperativo. Por isso, o celeirodieta desenvolveu o Plano Boa Forma, um guia completo de dicas e informações para diferentes tipos de preocupações: perder barriga e eliminar os quilos a mais, combater a celulite, cuidar da pele, limpar o organismo, entre outros.

Mas porque o bem-estar deve ser uma constante, este plano sugere, ensina e recomenda bons hábitos que não terminam com o fim do Verão.

Peça já o seu em qualquer loja celeirodieta.

www.celeirodieta.ptServiço ao cliente: 210 306 030

A MELHORFORMA

DE FICAREM FORMAPlano Boa Forma CeleiroPeso • Pele • Celulite • Desintoxicação

GRÁTIS,porqueo bem-estar não tem preço.

Page 33: Diplomática n.º7

33julho/setembro 2010 - Diplomática •

Visita ao MagrebePortugal de olhos postos no Norte de África

Sócrates visitou a Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos e apontou a re-

gião norte africana como “uma nova prioridade na sua política exter-

na”. Os laços económicos e a presença portuguesa saíram reforçados.

“Apostar nas exportações, na internacionalização da nossa economia,

apoiar as nossas empresas que estão a lutar pelas exportações em todos

estes mercados”, foram os desejos manifestados pelo primeiro-ministro,

em rabat, em jeito de balanço geral da viagem a quatro países do magre-

be. josé sócrates deslocou-se à líbia, argélia, tunísia e marrocos para

mostrar a “nova prioridade na sua política externa” e os objectivos econó-

micos com aqueles países – centrados na transmissão da experiência e

das tecnologias portuguesas de energias renováveis -, num mercado que

representa 2% das vendas portuguesas ao exterior e que portugal quer in-

crementar, de forma a compensar o défice comercial criado pelas compras

de petróleo à líbia e de gás natural à argélia, mas também a equilibrar os

superavites com marrocos e a tunísia.

sócrates destacou a importância geoestratégica das relações bilaterais

e defendeu também que os empresários portugueses deverão assumir

uma atitude de confiança no investimento e na internacionalização, tirando

partido dos desenvolvimentos em curso nos mercados do Norte de áfrica,

que “são uma boa oportunidade (de negócios) para os empresários por-

tugueses”, frisou. esta relação visa, entre outros objectivos, reforçar as

relações comerciais para diversificar as exportações e criar mercado para

as empresas portuguesas, em especial na área das energias renováveis,

participarem no desenvolvimento destes países vizinhos.

Nesta visita de três dias, o chefe do Governo português fez-se acompa-

nhar pelos ministros dos Negócios estrangeiros, da economia e da ciência

e pelos secretários de estado do comércio, do orçamento, do consumi-

dor, do turismo e da energia. a comitiva empresarial compôs-se por 25

empresas. ➤

Visitas de estado

Page 34: Diplomática n.º7

34 • Diplomática - julho/setembro 2010

Líbia – reforço da cooperação económica bilateralA aposta nas relações comerciais com a região do magrebe não se resume apenas ao sector das energias renováveis. Na líbia,

onde iniciou a sua visita e se encontrou com o seu homólogo líbio, mahmoudi baghdadi, e com muammar Khadafi, sócrates apontou

que “as empresas portuguesas estão muito interessadas no mercado líbio, em muitos sectores - no sector dos cimentos, no sector

do petróleo, também da construção civil -, e tenho a certeza que destes contactos vão resultar muitas oportunidades para as empre-

sas portuguesas”. “tive oportunidade de colocar (os problemas que as empresas portuguesas enfrentam) ao Governo líbio e ao seu

líder e tenho a certeza que, a partir de agora, correrá melhor”, acrescentou.

apesar da “relação política normalizada com a líbia”, a balança comercial entre os dois países é desfavorável para portugal, que em

2009 importou 332,2 milhões de euros e vendeu 35,4 milhões de euros, um valor baixo, mas que representa um crescimento consi-

derável, pois em 2007 as exportações nacionais não ultrapassavam os 500 mil euros. “importamos muito petróleo e vendemos ainda

poucos produtos; por isso a nossa aposta é diversificar mais o comércio com a líbia e eu tenho muita esperança que esta minha

visita abra novas oportunidades de negócios a empresas portuguesas”, afirmou convicto josé sócrates.

Argélia – gás e energias renováveisA energia marcou a passagem do pm pela argélia. Num encontro com o presidente da república argelino, , e outro com o primeiro-ministro

ahmed ouyahia, josé sócrates salientou a importância geoestratégica das relações bilaterais: “da argélia vem grande parte da segu-

rança do nosso abastecimento energético. só há duas formas de abastecer de gás a europa - da rússia ou da argélia. Nós temos,

portanto, de ter uma especial relação com este país” - que fornece 40 por cento do gás natural consumido em portugal, representando

cerca de 97 por cento das compras portuguesas. em 2009, portugal importou da argélia, 274,9 milhões de euros e exportou 197,4

milhões.

“a argélia é um bom exemplo de um dos países do magrebe para onde as nossas exportações mais aumentaram nos últimos anos.

É um mercado com grandes potencialidades”, declarou o pm. a argélia tem em curso plano de investimento público para cinco anos

(até 2014), no valor de 250 mil milhões de dólares, dos quais 20 mil milhões para estradas, 2 mil milhões para novas habitações, 20

barragens, 6000 quilómetros de caminhos-de-ferro, infra-estruturas energéticas e redes de água potável, e no qual estão já presen-

tes empresas portuguesas, havendo ainda outras, algumas das quais acompanharam a deslocação, interessadas em aproveitar as

oportunidades do plano. ➤

Visita ao Magrebe

1. josé sócrates com mahmoudi baghdadi e muammar Khadafi 2. josé sócrates e muammar Khadafi

3. josé sócrates com ahmed ouyahia 4. josé sócrates e abdelaziz bouteflika

Page 35: Diplomática n.º7

35julho/setembro 2010 - Diplomática •

Tunísia – cimeira anual Luso-TunisinaA delegação portuguesa e o primeiro-ministro da tunísia, mohamed Ghannouchi, acompanhado de vários

membros do seu governo, reuniram-se na cimeira luso-tunisina. os dois chefes de Governo presidiram tam-

bém a um seminário empresarial sobre energias renováveis, uma aposta importante para a economia tunisina

e na qual portugal quer ser um parceiro.

portugal é, presentemente o quarto maior investidor no país, excluindo o sector da energia, mas há ainda

espaço para aumentar as trocas comerciais, que, em 2009, atingiram 116,3 milhões de euros nas exportações

e 19,1 milhões nas importações de produtos tunisinos. josé sócrates reuniu com o presidente da república

tunisino, Zine el abidine ben ali, e elogiou a relação política entre os dois estados, “a vontade de trabalharem

juntos para desenvolver uma cooperação frutuosa”, e a admiração pelos “esforços de abertura e de ambição da

economia tunisina”.

Marrocos – cimeira Luso-Marroquina“Portugal tem uma relação política muito especial com todos os países do magrebe, e em particular com marrocos”,

“sem nenhum problema, mas temos também uma relação económica que dá aos dois países especial responsabili-

dade”, afirmou sócrates. uma reunião de trabalho com o seu homólogo, abbas el Fassi, permitiu adiantar ainda a

agenda da próxima cimeira luso-marroquina, que decorre em marrocos em junho. No magrebe, marrocos é o maior

mercado para os produtos portugueses: em 2009, portugal exportou para o mercado marroquino 197,8 milhões de

euros, importando 52,6 milhões. portugal importa de marrocos máquinas e aparelhos, minerais e minérios e produ-

tos de madeira e cortiça, e exporta metais, máquinas e aparelhos, madeira e cortiça, minerais e minérios e matérias

têxteis.

o primeiro-ministro marroquino agradeceu a portugal e ao Governo português “o apoio quando a união europeia nos

deu na atribuição do estatuto avançado” em 2008, que permite a marrocos integrar-se gradualmente nas políticas

europeias e aprofundar os acordos de comércio livre. n

Fotos: ricardo oliveira - Gpm

5. josé sócrates com Zine al-abidine ben ali e mohamed Ghannouchi 6. mohamed Ghannouchi e josé sócrates

7. Vieira da silva, luís amado, josé sócrates, abbas el Fassi 8. josé sócrates e abbas el Fassi

Page 36: Diplomática n.º7

36 • Diplomática - julho/setembro 2010

Mohamed Ridha Farhat - embaixador da república da tunísia

“Incentivar os empresários de ambos os países a trabalharem juntos” entrevista de maria de bragança

Em Lisboa desde 2005, Mohamed Ridha Farhat elogia o relacionamento, a história comum e

as relações bilaterais entre a Tunísia e Portugal.

O Embaixador da Tunísia iniciou a sua carreira de diplomata em 1980 no Ministério dos

Negócios Estrangeiros do seu país. Exerceu os vários cargos, passando por todos os esca-

lões. Antes de vir para Portugal, desempenhou cargos diplomáticos em Bruxelas e Paris,

mas o seu primeiro posto como Embaixador foi em Lisboa.

Mohamed Farhat recebeu-nos gentilmente na sua residência oficial, brindando-nos com es-

peciais iguarias tunisinas, para uma entrevista em que se abordaram temáticas históricas,

políticas, económicos, entre outras. ➤

Diplomacia na 1ª pessoa

Page 37: Diplomática n.º7

37julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ Vamos começar por falar no

seu percurso. Como chegou até

Portugal?

sou diplomata de carreira. Fui

para o ministério dos Negócios

estrangeiros em 1980 depois de ter

completado os estudos superiores,

e entrei por concurso no ministé-

rio tendo sido aprovado. Durante

os trinta anos de experiência fui

Diplomata, chefe de Divisão, sub-

Director e Director. exerci funções

na qualidade de diplomata, nomea-

damente, em bruxelas e em paris,

antes de ocupar o primeiro posto

de embaixador aqui em portugal.

sua exa. o presidente da repúbli-

ca, Zine el abidine ben ali, con-

fiou-me este cargo e eu tento ser

bem sucedido nesta missão.

Está no nosso país desde 2005.

Quais são os principais resulta-

dos registados no plano diplo-

mático e político?

as relações entre portugal e a

tunísia são excelentes. primeiro,

porque temos a mesma história,

pertencemos ao mesmo espaço

geoestratégico. partilhamos alguns

aspectos da nossa herança gra-

ças aos Fenícios que chegaram à

tunísia por volta do ano 800 a.c.

e foram fundadores de cartago,

um pólo de comércio mediterrâni-

co muito importante, e mais tarde

graças aos romanos.

as relações bilaterais não param

de evoluir positivamente depois

das visitas presidenciais: as visitas

de s.e. o senhor presidente da

república tunisina ben ali, em

1993 e 2000, a portugal, as visitas

dos senhores presidentes soares

e sampaio à tunísia respectiva-

mente, em 1995 e 2002, e ainda, a

participação do nosso presidente

da república nos trabalhos da 2ª

cimeira ue-áfrica, realizada em

lisboa em Dezembro de 2007 sob

a presidência portuguesa da união

europeia. em 2006, um tratado de

amizade, de boa vizinhança e co-

operação, que é o quadro jurídico

mais elevado para regulamentar as

relações entre os dois países que

entrou em vigor. este tratado é a

prova de que consideramos portu-

gal um dos nossos parceiros mais

importantes. este tratado de ami-

zade permitiu-nos organizar reuni-

ões a nível dos primeiros-ministros

dos dois países. organizamos a

primeira cimeira em lisboa em

2007 e a segunda realizou-se em

março de 2010 em tunes. estas

reuniões permitem-nos aprofundar

as relações no plano jurídico, ao ní-

vel da concertação política e diver-

sificar as relações de cooperação

com portugal, que são excelentes.

portugal é realmente importante

enquanto parceiro económico. Vou

dar um único número: portugal

é o quarto investidor na tunísia,

exceptuando na energia. existe

uma firme determinação das duas

partes em desenvolver cada vez

mais as relações bilaterais.

Portugal poderá ser importante

para a Tunísia fortalecer as rela-

ções com a UE, ou não necessa-

riamente?

a tunísia sempre manteve rela-

ções privilegiadas com a europa

depois dos vários acordos que

assinámos com a união europeia.

o primeiro acordo é de 1969 com

a cee. mais recentemente, desde

janeiro de 2008, fomos o primeiro

país da margem sul do mediterrâ-

neo a entrar em zona de comércio

livre com a ue. Nestes últimos tem-

pos, já foram encetadas discussões

sobre o estatuto avançado que

será concedido à tunísia nas suas

relações com a união europeia.

tudo isto prova a importância que

damos às relações com os nos-

sos parceiros europeus e, parti-

cularmente, com portugal, que é

um parceiro privilegiado porque é

membro do nosso espaço geográ-

fico imediato, ou seja, o mediterrâ-

neo ocidental.

É certo que, enquanto membro da

ue, e tendo em conta as afinidades

que existem entre nós, portugal é

sensível às expectativas da tunísia

no quadro das suas relações com

a união europeia. portugal tam-

bém necessita da tunísia, porque

ocupamos um lugar importante na

região do magrebe, ao nível dos

países árabes e africanos.

Em que situação se encontra a

balança comercial entre os dois

países?

o que devemos notar é a tendên-

cia destes últimos anos. as trocas

comerciais estão a progredir duma

forma importante. os números

mais recentes indicam um aumen-

to de 56,3 por cento das trocas

comerciais, em 2009. a tunísia

vem logo a seguir à Venezuela, na

classificação dos países com os

quais as exportações portuguesas

registaram um maior aumento. a

balança comercial é deficitária em

detrimento da tunísia. mas isto é

compensado pelo volume importan-

te dos investimentos portugueses

na tunísia.

E as energias renováveis e a

construção?

as energias renováveis foram um

dos temas abordados durante a

primeira cimeira (reunião de alto

Nível). Quanto à construção, os

operadores portugueses devem

melhorar a sua aproximação do

mercado tunisino e investir mais,

sabendo que a tunísia é um país

que se desenvolve rapidamente e

que oferece muitas oportunidades

para as empresas estrangeiras.

Falou da visita do Primeiro-

ministro português à Tunísia.

Como foi esta visita? O que de-

vemos reter desta visita?

a nossa acção inscreve-se com

o objectivo de desenvolver ainda

mais as relações bilaterais e de ➤

Page 38: Diplomática n.º7

38 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ reforçar e diversificar as diferen-

tes áreas de cooperação. Dedica-

mo-nos, particularmente, a incen-

tivar os empresários de ambos os

países a trabalharem juntos. Neste

âmbito implementamos vários

instrumentos: o primeiro, o tratado

de amizade que dá um impulso em

todas as áreas de cooperação. por

outro lado, o quadro jurídico entre

os dois países foi consideravelmen-

te reforçado. uma linha de crédito

de 100 milhões de euros foi imple-

mentada para desenvolver a par-

ceria. para concluir, tanto durante

a primeira cimeira, realizada em

lisboa em 2007, como na segunda,

na tunísia em março de 2010, as

delegações de empresários parti-

ciparam nestas importantes reuni-

ões. as relações entre os dois pa-

tronatos foram institucionalizadas e

estabeleceram-se acordos. para a

cimeira realizada no passado mês

de março na tunísia, o primeiro-

ministro português foi acompanha-

do por uma grande delegação de

empresários multissectorial. De

sublinhar nesta ocasião, a criação

de um comité misto de negócios

que é presidido pelos dois vice-

presidentes das organizações dos

patronatos. trata-se de uma medi-

da complementar para desenvolver

ainda mais as relações económicas

entre os dois países. há cerca de

50 empresas multissectoriais que

operam na tunísia. os empre-

sários vêem a tunísia como um

mercado interessante, seja para

operações comerciais, seja para

exportações e/ou importações.

Foi criada uma dinâmica e ambos

sabemos que há oportunidades a

explorar. em conclusão, estamos a

fazer o que é necessário dos dois

lados, tunisino e português, para

dar mais substância à cooperação

económica e comercial.

Como decorreu a Cimeira Luso-

Tunisina?

Durante a 2ª reunião da cimeni-

ra de alto Nível (cimeira), o sr.

primeiro-ministro sócrates reuniu-

se com o presidente ben ali, o

primeiro-ministro e o presidente

da câmara dos Deputados. os

primeiros-ministros dos dois países

também presidiram uma reunião

que juntou um número importan-

te de ministros e de secretários

de estado para examinar as vias

e meios capazes de reforçar as

relações bilaterais. Neste âmbito,

foram assinados 14 acordos de

cooperação.

os dois primeiros-ministros tam-

bém procederam ao encerramento

de um encontro económico que

juntou empresários dos dois paí-

ses.

para resumir, podemos afirmar que

a cimeira foi um sucesso.

E a crise económico-financeira

que o mundo atravessa, a Tuní-

sia também está a ser afectada?

se me referir aos números que

foram publicados o ano passado

pelos organismos internacionais, a

tunísia foi classificada como o sex-

to país no mundo a conviver melhor

com esta crise. como sabemos, a

tunísia é um país reputado pela

sua boa governação, e as finanças

públicas são muito bem geridas.

contudo, é preciso relembrar que

80 por cento do nosso comércio

realiza-se com a ue. se a europa,

que atravessa um momento difícil,

não consegue ultrapassar a crise,

nós também acabamos por ser

afectados. para terem uma noção,

antes da crise a nossa previsão de

crescimento era de 6,3 por cento,

a qual se alterou para os 3,5 por

cento. portanto, há uma incidência

sobre a economia real porque as

nossas relações são muito estrei-

tas com a europa.

Não há muito tempo, a questão

de uma União para o Mediterrâ-

neo foi muito discutida, preci-

samente por Sarkozy. O que diz

disso?

o processo de barcelona remonta

a 1995. todos reconheciam que

deveriam existir relações muito

mais importantes entre os países

do espaço euro-mediterrânico. a

tunísia fazia parte dos primeiros

países que saudaram o projecto da

união para o mediterrâneo. este

projecto visa redinamizar e desen-

volver o processo de barcelona

que não conseguiu alcançar os

objectivos que lhe foram atribuídos,

e isto, devido ao conflito israelo-pa-

lestiniano que bloqueou o processo

e que coloca entraves actualmente

à concretização do projecto da

união para o mediterrâneo.

por outro lado, não estamos de

braços cruzados principalmente

no mediterrâneo ocidental. esta-

mos todos empenhados: os cinco

países do sul – magrebe – tunísia,

líbia, argélia, marrocos e mauri-

tânia; e os cinco países do Norte

– portugal, espanha, itália, França

e malta no âmbito do diálogo 5 + 5

para reforçar ainda mais a coope-

ração entre os vários parceiros. a

primeira cimeira do diálogo 5 + 5

realizou-se em tunes em 2003, e

recentemente, também teve lugar

em tunes, a 8ª conferência dos

ministros dos Negócios estrangei-

ros dos países do diálogo 5 + 5

A nível interno, como se desen-

rola a política nacional? Quantos

partidos existem na Tunísia?

Desde a mudança (changement)

de 1987 e a subida ao poder do

presidente ben ali, a constata-

ção foi nítida: a tunísia é um país

estável, que não cessa de reforçar

o pluralismo político, que realiza

performances no plano económico

e que consolida o progresso social.

No que diz respeito ao pluralismo,

há nove partidos políticos activos

na tunísia dos quais sete estão

representados no parlamento. ➤

Mohamed Ridha Farhat

Embaixador da República da Tunísia

Page 39: Diplomática n.º7

39julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ tivemos eleições legislativas

e presidenciais no passado mês

de outubro, onde muitos partidos

e candidatos competiram. mas,

o mais importante é que há uma

vontade de poder político e do

presidente da república, em de-

senvolver constantemente o siste-

ma democrático. o presidente da

república é o chefe do executivo e

indica o caminho a seguir. há sem-

pre um projecto para os próximos

cinco anos. temos sempre uma

visibilidade sobre o nosso futuro.

o partido que está no poder tem

uma grande tradição histórica. Foi

o partido que levou o país à inde-

pendência, e é necessário compre-

ender este fenómeno. É um partido

muito bem implantado e tem mais

de dois milhões de militantes. se ➤

mohamed ridha Farhat

Page 40: Diplomática n.º7

40 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ as eleições fossem realizadas

segundo o modelo ocidental, todos

os lugares da assembleia perten-

ceriam a este partido. o presidente

bem ali fez adoptar uma lei que

impede que o partido maioritário

de ocupe mais de 75 por cento dos

lugares, para permitir a presença

de outros partidos. por outro lado,

temos que lembrar que a tunísia

tem uma longa tradição em matéria

de democracia. tentamos respei-

tar todos os valores e princípios

universais, mas sempre nos inspi-

ramos na nossa história, na nossa

realidade e na nossa especificida-

de. a nossa democracia não é de

hoje e o povo tem tido sempre um

papel activo. cartago foi criado em

800 anos a.c. e aristóteles escre-

via no seu livro “o político” que

cartago tinha uma boa constituição

anterior à dos gregos, e de acordo

com os testemunhos da época,

a separação dos poderes existia:

poder executivo – uma assembleia

deliberante e poder judicial. Nisso

não se fala muitas vezes porque

os cartagineses esqueceram-se de

escrever a sua própria história.

Por razões históricas, a Tunísia é

um país ligado à França. Como é

a relação entre as duas nações ?

a França é um dos nossos prin-

cipais parceiros comerciais. está

à frente da itália, da alemanha,

da espanha e de portugal. com a

França temos relações históricas.

Os franceses ocuparam a Tuní-

sia por razões económicas ?

como sempre, quando há um

período de desordem num país.

estávamos no século XiX, o poder

central estava economicamente

fraco, tínhamos perdido a nossa

soberania, como muitos países na

época. a ocupação não foi bem

aceite pelos tunisinos e sobretudo

pelas elites.

No século XiX, o reformismo foi

a principal escola de pensamento

que marcou as elites. isso explica

o consenso nacional em assegurar

as bases de uma sociedade moder-

na e aberta, nomeadamente, pela

emancipação da mulher. em 1956

acedemos à independência e o pri-

meiro acto importante foi o código

do estatuto pessoal que concedeu

a liberdade à mulher. em 1987, sob

o comando do presidente ben ali,

foram promulgados outros actos

para conceder mais liberdade à

mulher, a participação efectiva na

vida política: hoje, a mulher ocupa

25% dos lugares no parlamento. o

presidente da república declarou

recentemente num discurso que “a

dignidade da nação é sinónima da

dignidade da mulher, a sua invul-

nerabilidade depende da dela”. isto

significa o quanto é importante o

estatuto da mulher no nosso país,

a tunísia.

a sociedade civil portuguesa não

conhece esta realidade de um país

árabe-muçulmano.

em portugal talvez. somos um país

que regista realizações e perfor-

mances, que é eficaz, mas que

pode ser discreto. hoje, a mulher

na tunísia é um exemplo na nossa

área geográfica árabe-muçulmana.

Ninguém pode por em causa estes

direitos adquiridos. hoje as mu-

lheres estão presentes em todos

os sectores de actividades. isto

é tanto mais importante porque a

tunísia não é um país laico. mas, a

nossa leitura da tradição islâmica é

moderna e aberta. a nossa leitura

inspira-se na escola reformista. o

véu branco ou preto, por exemplo,

não é uma tradição tunisina de

vestuário. temos uma juventude

muito bem formada, 80 por cento

dos tunisinos faz parte da classe

média e têm casa própria. a po-

breza recuou graças à educação,

à formação e ao emprego. No

aspecto social, a solidariedade é

um valor essencial na tunísia. a

tunísia é o país mais competitivo,

em áfrica. somos um país muito

bem gerido. temos uma população

jovem, bem formada. entre 300 a

400 mil estudantes continuam os

seus estudos nas universidades

na tunísia. relativamente à quali-

dade de vida, somos os melhores

classificados no mundo árabe. No

magrebe e em áfrica, a tunísia é o

primeiro país em matéria de pro-

moção das tic. a tunísia é o 1º

país do Norte de áfrica em matéria

de boa governação e o país mais

tranquilo do continente africano.

Quem julga isso?

as agências de notação, as institui-

ções internacionais reputadas pela

sua neutralidade e objectividade:

o relatório sobre a competitivida-

de global, o relatório mundial de

Davos sobre a competitividade, o

relatório anual “Doing business”

sobre enquadramento de negócios,

o relatório “Global peace Índex”,

etc.

E quais são as relações com os

EUA ?

mantemos boas relações com os

e.u.a.. o nosso ministro dos Negó-

cios estrangeiros reuniu-se recen-

temente com hillary clinton. temos

excelentes relações praticamente

com todos os países.

Ainda não falámos do sector

turístico…

as nossas vantagens neste sector

são inegáveis : a nível geográfico

somos um país situado mesmo no

centro do mediterrâneo, com um

clima favorável ; um país estável e

muito moderno, muito aberto e que

tem uma qualidade de vida exce-

lente. apostamos na qualidade e

na excelência dos nossos serviços.

como sabem na área da talasso-

terapia, somos o segundo destino

no mundo. recebemos anualmente

perto de 40 mil turistas portugue-

ses. e há cada vez mais tunisinos

a visitar portugal. n

Mohamed Ridha Farhat

Embaixador da República da Tunísia

Page 41: Diplomática n.º7
Page 42: Diplomática n.º7

42 • Diplomática - julho/setembro 2010

Por uma África livre e seguraDa ineficaz OUA à esperança da UA

O desejo não se verificou. Quando a 25 de

maio de 1963, 32 países africanos indepen-

dentes assinaram a constituição da organi-

zação da unidade africana (oua), em addis

ababa, etiópia, por iniciativa do imperador

etíope haile selassié, este proclamou: “que

esta convenção dure 1.000 anos!” contudo,

tal não viria a acontecer. bastaram apenas 39

anos para a unidade se desmanchar.

Numa altura em que o continente africano

ainda estava longe da descolonização, a oua,

assente numa presidência rotativa, decidida

em cimeiras anuais regulares, surgiu para

acabar com essa situação e libertar os povos

da áfrica austral sujeitos ao domínio branco.

angola, moçambique (na altura governados

por portugal), rodésia e sudoeste africano

(actualmente Zimbabwe e Namíbia, respecti-

vamente) ambicionavam seguir as pisadas da

liberdade de países já independentes, como o

Gana e o senegal. Forças especializadas de

libertação como o mpla, a sWapo, a Frelimo

e o aNc eram financiadas, treinadas e abas-

tecidas com armas, por esses países livres e

pelo comité coordenador da libertação de

áfrica, para lutarem pela descolonização.

para além deste primordial objectivo, a or-

ganização expressou na constituição pro-

mover a unidade e solidariedade, coordenar

e intensificar a cooperação entre os estados

africanos; coordenar e harmonizar as políticas

dos estados membros nas esferas política, ➤

AliAnçAs

Page 43: Diplomática n.º7

43julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ diplomática, económica, educacional, cultu-

ral, da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de

defesa, entre outros.

mesmo com a associação de todos os países

africanos (a seguir à sua independência) as

intenções da oua nem sempre se revelaram

eficazes, sendo incapaz de evitar os inúme-

ros conflitos que assolaram o continente e de

exercer pressão junto da comunidade interna-

cional.

perante esta ineficácia e inoperância, os

chefes de estado e de Governo decidiram na

38ª, e última, cimeira da oua, realizada em

Durban, áfrica do sul, a 8 de julho de 2002,

colocarem um ponto final na organização

e erguerem uma nova união, presidida pelo

sul-africano thabo mbeki. Nasce formalmente

a união africana (ua), que vinha a ser prepa-

rada desde o ano de 1999, e que teve a sua

primeira cimeira nos dias 9 e 10 de julho de

2002.

a mais recente organização pan-africana, co-

mandada actualmente pelo diplomata gabonês

jean ping, segue a linha da sua antecesso-

ra, mas assumindo outro nível de ambição e

valorização de áfrica na cena mundial, “essen-

cialmente por via da ajuda pública ao Desen-

volvimento e do estabelecimento de estraté-

gias de prevenção e resolução de conflitos

regionais”. Na base dos objectivos continuam

o reforço da promoção da paz, da segurança

e da estabilidade, dos Direitos humanos e da

Democracia, e de uma integração económica

regional no continente africano, apoiados pelo

programa de desenvolvimento – “New partner-

ship for africa’s Development”.

ainda recentemente foi assinado um acor-

do entre esta organização e a comissão da

união europeia (ue), relativo à luta contra a

corrupção e à violação dos Direitos humanos

e a favor do reforço da ajuda aos deslocados

nos países africanos.

No novo acordo de cooperação assinado

pelo presidente da comissão europeia, josé

manuel Durão barroso, e pelo presidente da

comissão da ua, jean ping, as duas organi-

zações intergovernamentais comprometem-se

a lutar juntos contra a corrupção, a má gover-

nação e a violação dos direitos humanos. o

tratado obriga ainda a ua a obter o compro-

misso político dos seus 53 estados-membros

sobre a necessidade de lutar contra a violação

dos direitos humanos e a elaborar um plano

de acção sobre a maneira de obter apoio polí-

tico no quadro deste objectivo.

a ua, numa transição gradual, cinge a oua

e a comunidade económica africana para

uma organização única, convergindo o espí-

rito de uma unidade política, económica e de

segurança. Neste capítulo da segurança e da

defesa, a criação das asF, que congregam

actualmente cinco brigadas, constitui-se como

um forte mecanismo de reacção rápida da

ua para a prevenção e, especialmente, para

a resolução de conflitos regionais em áfrica.

rotula-se como a melhor aposta para gerir

as múltiplas crises regionais que teimam em

persistir.

a nova organização africana apresenta-se

agora mais parecida com o modelo de integra-

ção europeu, assente numa estrutura em que

se destaca o secretariado ou a comissão afri-

cana, o parlamento pan-africano e o tribunal

de justiça africano.

atendendo à complexa realidade dos estados

africanos, que ainda se encontram entre os

menos desenvolvidos e pacíficos de todos, a

união tem conseguido alcançar alguns êxitos.

um deles está no próprio nome da organi-

zação, a união. e refira-se que não é fácil

conseguir congregar praticamente todos os

países de áfrica em torno das mesmas causas

e a ua concebeu essa proeza. 53 estados

independentes associados, à excepção de

marrocos que ficou de fora da organização.

ainda, fez com que as organizações “não

africanas” vissem na ua o parceiro ideal para

desenvolverem as suas políticas africanas e

tem-se revelado um mecanismo estabilizador

de conflitos regionais e entre estados, real-

çando, também, o apoio ao desenvolvimento

sustentado e a aplicação da diplomacia.

Não se sabe quantos anos esta união vai

durar, mas, por enquanto, é um organismo

inviolável em áfrica e respeitado pela comuni-

dade internacional, que o classifica como um

relançamento refinado da oua.

O dia de África (25 de Maio) foi comemorado

pelo Embaixador da Tunísia, Mohamed

Ridha Farhat que recebeu todos os diplomatas

de países africanos acreditados em portugal,

presenteando-os com um magnífico cocktail ➤

Page 44: Diplomática n.º7

44 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ acompanhado de típicas iguarias tunisinas.

o estado português também se fez represen-

tar pelo secretário de estado dos Negócios

estrangeiros. joão Gomes cravinho, e todos

os presentes, ouviram o embaixador Farhat a

discursar sobre a ocasião, tendo citado algumas

frases do discurso do presidente da comissão

da união africana. Ficam então alguns excertos

de jean ping, proferidos por mohamed Farhat:

“todos os anos celebramos nesta data o Dia

de áfrica. este ano, queríamos que o tema

fosse “o da consolidação e manutenção da

paz através do desporto”. a algumas semanas

da 19ª edição do mundial de Futebol, organi-

zado pela primeira vez na sua história no nos-

so continente, este tema assume a sua plena

dimensão. mete em evidência, a vontade afri-

cana em exercer todos os esforços possíveis

para cumprir a visão de uma áfrica que goza

de paz, integrada, próspera e desempenhando

um papel dinâmico no concerto das Nações.”

(…) “o desporto é um símbolo de encon-

trar unidade, de reconciliação nacional,

um meio por uma nação, além de todas as

divisões, de comungar com fervor, com a

graça da “união sagrada” atrás da equipa

nacional. o presidente Nelson mandela

disse que “o futebol, assim como o râguebi,

o críquete e os outros desportos colectivos,

têm o poder de curar as feridas”. É um le-

gado que o continente, como toda a popula-

ção da áfrica do sul, pode dar não somente

orgulho mas também ensinamentos.”

(…) “Num continente que continua a ser um

terreno privilegiado de conflitos apesar de

a operacionalização de muitos dos nossos

instrumentos e nossos esforços incansáveis,

numa região do mundo com o maior número

de refugiados e pessoas deslocadas e onde

num número de processo de reconstrução

pós-conflito estão envolvidos, o desporto tam-

bém é uma ferramenta essencial, que, por um

lado, cria laços e vínculos entre as comunida-

des que foram divididas pelo conflito e tam-

bém melhora a relação de forças e missões de

paz com os povos civis.”

(…) “pela minha parte, neste novo contexto de

globalização da qual áfrica é definitivamente

uma parte integrante e agente e, neste ano de

2010, durante o qual vários estados africanos

comemoraram o cinquentenário da sua inde-

pendência, estou confiante que vai finalmente

realizar este sonho por tanto tempo acalenta-

do por nossos pais fundadores duma áfrica

independente, unida, próspera e em paz. tal

como sugerido no lema olímpico, não pode-

mos definir os limites do nosso esforço colecti-

vo para estabelecer o desenvolvimento sus-

tentável do nosso continente. Não prescrevemos

limites no nosso continente. permanecermos

sempre campeões ambiciosos e altamente efi-

cientes para garantir todo o futuro e a paz do

continente. Citius, Altus, Fortius! mais rápido,

mais alto, mais forte! Vamos permanecer uni-

dos para uma áfrica que sabe como ganhar!” n

Por uma África livre e segura

Da ineficaz OUA à esperança da UA

presidente da comissão da ua, jean ping

altino pinto

Page 45: Diplomática n.º7
Page 46: Diplomática n.º7

46 • Diplomática - julho/setembro 2010

O próximo aniversário da Vitória na segunda Guerra

mundial é o mais importante evento político. para nós,

como repetidamente destacou o presidente da rússia,

Dmitry medvedev, essa data é sagrada. uma menção

ao Dia da Vitória inadvertidamente faz com que aperte

dolorosamente o coração de cada cidadão da rússia.

como se diz na canção dedicada a essa Vitória, “Dia

da Vitória é um feriado com as lágrimas nos olhos.” É

pouco provável que até agora -– 65 anos depois – na

rússia, haja uma família que não tivesse sido afectada

pelas chamas da guerra. Grande Vitória é uma herança

espiritual comum a todos os povos da antiga união so-

viética. Nossos pais e avós não só defenderam a nossa

liberdade e salvaram a pátria – eles libertaram a europa

da escravidão nazista.

os factos históricos indicam que o papel decisivo na

derrota do nazismo foi desempenhado pela união sovié-

tica. em 1944, o comprimento da frente soviético-alemã

foi quatro vezes mais do que todas as frentes somadas

em que os aliados da união soviética lutaram contra a

alemanha. Na segunda frente na europa ocidental, em

junho de 1944, o número de tropas alemãs não exce-

deu os 560 mil. ao mesmo tempo, na frente soviética, o

número de tropas alemãs chegou a 4,5 milhões. as suas

baixas maiores as tropas nazistas sofreram lutando con-

tra o exército soviético: 70 por cento de pessoal e 75 ➤

65 Anos da Grande Vitória artigo do embaixador da rússia em portugal pavel petrovsky

Предстоящий юбилей Победы во Второй мировой

войне – важнейшее общественно-политическое

событие. Для нас, как неоднократно подчеркивал

Президент Российской Федерации Д.А.Медведев,

эта дата священна. Одно упоминание Дня Победы

невольно заставляет сжиматься сердце каждого

россиянина. Как поется в посвященной ей песне,

«это – праздник со слезами на глазах». Вряд ли даже

сейчас – 65 лет спустя – в России найдется семья,

которую не опалило бы пламя войны. Великая Победа

– общее духовное достояние всех народов бывшего

Советского Союза. Наши отцы и деды не только

отстояли нашу свободу и спасли Отечество – они

освободили Европу от фашистского порабощения.

Исторический факты свидетельствуют, что решающую

роль в разгроме нацизма сыграл Советский Союз.

В 1944 году протяженность советско-германского

фронта была в 4 раза больше, чем всех фронтов,

где воевали союзники СССР, вместе взятых. На

втором фронте в Западной Европе в июне 1944 года

численность немецких войск составила не более 560

тысяч. В то же время на советско-германском фронте

их количество достигало 4,5 млн. человек. Свои

основные потери гитлеровские войска понесли в боях

против Советской Армии: 70% живой силы и 75% всей

военной техники. Советский Союз с его территорией, ➤

65 ЛЕТ ВЕЛИКОЙ ПОБЕДЫ

Histórias e vitórias

Page 47: Diplomática n.º7

47julho/setembro 2010 - Diplomática •

polónia. monumento em homenagem dos soldados soviéticos e polacos que perderam as vidas nas batalhas para libertar a Varsóvia

Page 48: Diplomática n.º7

48 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ por cento de todos os equipamentos militares. a união

soviética no seu território, nas suas cidades e vilas en-

frentou o impacto principal da invasão de hitler.

as batalhas decisivas, que determinaram o resultado da

guerra, também ocorreram na parte da frente soviética:

a batalha de moscovo (Dezembro de 1941 - janeiro de

1942), a derrota do exército de paulus em estalinegrado

(Novembro de 1942 - Fevereiro de 1943), e finalmente

a batalha do arco de Kursk (julho-agosto de 1943).

estas e outras vitórias foram conseguidas com enormes

custos. centenas de milhares de soldados e oficiais sovi-

éticos arriscaram as suas vidas nos campos de batalha.

mesmo os nossos aliados ocidentais não poderiam dei-

xar de reconhecer esses factos óbvios: “Foi precisamen-

te o exército russo que rasgou as entranhas da máquina

de guerra alemã” (Winston churchill).

24 países do mundo inteiro declararam 27 de janeiro

como o Dia da memória das Vítimas do holocausto. Foi

precisamente nesse dia que as tropas soviéticas liber-

taram um dos mais horríveis campos de morte – aus-

chwitz, no qual os nazistas tinham assassinado quatro

milhões pessoas. por além disso, o exército soviético

libertou também o campo de extermínio de majdanek, na

polônia, onde os nazistas tinham exterminado 360 mil

pessoas; belzec na polónia, onde os nazistas extermi-

naram 602 mil pessoas; trostenets na bielorrússia, onde

os nazistas tinham queimado e torturado mais de 207 mil

pessoas; salaspils na letónia, onde os nazistas assassi-

naram as crianças, utilizando o sangue dos miúdos para

os soldados nazistas feridos.

para um céu pacífico sobre a europa, a união soviética

pagou um preço muito alto – na segunda Guerra mundial

nós perdemos 26,6 milhões de pessoas. só no território

da rússia actual foram destruídas 1710 cidades, mais

de 70 mil aldeias... pensem bem sobre esses números.

Não é por acaso que, durante a celebração, em junho

de 2009, do aniversário do desembarque dos aliados no

norte da França, o presidente dos estados unidos, bara-

ck obama enfatizou a contribuição da união soviética na

Vitória sobre o nazismo.

No entanto, os anos passam, e muitas das testemunhas

vivas dos acontecimentos da segunda Guerra mundial já

não estão connosco. e agora, para agradar à conjuntura

política, ganha força uma tendência crescente para a

livre interpretação, ou mesmo para a revisão da história

da segunda Guerra mundial. com isso estão a ser pos-

tos em dúvida os resultados daqueles eventos trágicos

que estão consagrados na carta das Nações unidas e

noutros documentos legais internacionais.

Nas interpretações politizadas que estão a ser introduzi-

das na sociedade internacional vê-se claramente o ➤

➤ с его городами и деревнями принял на себя

основной удар гитлеровского нашествия.

Решающие сражения, предопределившие исход

войны, также произошли на советско-германском

фронте: битва под Москвой (декабрь 1941г.-январь

1942г.), разгром армии Паулюса под Сталинградом

(ноябрь 1942г.-февраль 1943г.) и, наконец, сражение

на Курской дуге (июль-август 1943г.). Эти и другие

победы доставались огромной ценой. Сотни тысяч

советских солдат и офицеров положили свои жизни

на полях сражений. Даже наши западные партнеры

не могли не признать очевидных фактов: «Именно

русская армия выпустила кишки из германской

военной машины» (У.Черчилль).

24 страны мира объявили 27 января Днем памяти

жертв Холокоста. Именно в этот день советские

войска освободили один из страшнейших лагерей

смерти – Освенцим, в котором нацисты уничтожили

4 миллиона человек. Советской армией были

освобождены также лагеря смерти Майданек

на территории Польши, в котором нацистами

были уничтожены 360 тысяч человек, Белжец в

Польше, в котором нацистами были уничтожены

602 тыс. человек, Малый Тростенец в Белоруссии,

в котором нацистами было сожжены и замучены

207 тыс. человек, Саласпилс в Латвии, в котором

убивали маленьких детей, забирая у них кровь для

гитлеровских солдат.

За мирное небо над Европой Советский Союз

заплатил очень высокую цену – во Второй мировой

войне мы потеряли 26,6 миллионов человек. На

территории только нынешней России было разрушено

1710 городов, уничтожено более 70 тысяч деревень…

Вдумайтесь в эти цифры. Не случайно, что во

время празднования в июне 2009 года юбилея

высадки союзников на Севере Франции Президент

Соединенных Штатов Б.Обама особо отметил вклад

Советского Союза в победу над фашизмом.

Однако годы идут, и многих из живых свидетелей

событий Второй мировой войны уже нет с нами. И

теперь в угоду политической конъюнктуре нарастает

тенденция к вольной трактовке, а то и вовсе ревизии

истории Второй мировой войны. При этом сомнению

подвергаются закрепленные в Уставе ООН и других

международно-правовых документах итоги тех

трагических событий.

В насаждаемых в международном сообществе

политизированных трактовках истории явно видно

стремление пересмотреть итоги Нюрнбергского

процесса, на котором были четко определены

инициаторы и виновники этой войны, дана ➤

65 Anos da Grande Vitória

Page 49: Diplomática n.º7

49julho/setembro 2010 - Diplomática •

1. Vítimas do campo de

extermínio

2. as tropas soviéticas

vencedoras

1

2

Page 50: Diplomática n.º7

50 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ desejo de rever os resultados dos julgamentos de Nu-

remberga, que foram claramente definidos pelos iniciado-

res e perpetradores dessa guerra, foi dada a qualificação

da ideologia nazista e dos crimes nazis. rússia sempre

repudiou e vai repudiar as tentativas de se fazer uma al-

teração da história do século XX, incluindo as tentativas

de alteração das decisões da conferência de potsdam e

do veredicto do tribunal de Nuremberga.

alguns dos nossos vizinhos acentuam a “partilha” da

europa oriental na véspera da guerra entre a urss e

a alemanha. e, além do mais, ninguém faz caso da po-

lítica de apaziguamento da alemanha nazista realizada

pelas potências ocidentais, o que resultou no fim de con-

tas no acordo de munique. ao pronunciar o discurso em

1 de setembro de 2009 em Gdansk, na cerimónia que

marcou o 70º aniversário do início da segunda Guerra

mundial, o primeiro-ministro da rússia, Vladimir putin,

afirmou nomeadamente “que qualquer cooperação com

os extremistas, relativamente à segunda Guerra mun-

dial, com os nazistas e os seus colaboradores, por mais

que ela seja motivada, leva à tragédia. Na realidade, isto

não é cooperação, mas uma colusão a fim de resolver os

seus problemas por conta dos outros. então, temos que

admitir que todos os esforços empenhados entre os anos

1934 e 1939 para apaziguar os nazistas, ao concluir com

eles vários tipos de acordos e pactos eram de ponto de

vista moral inaceitáveis e, do ponto de vista prático e

político, absurdos, prejudiciais e perigosos. Foi o conjun-

to de todas essas acções que levou a esta tragédia – ao

início da segunda Guerra mundial”.

Na realidade, tudo o que aconteceu na europa nos anos

precedentes à guerra é uma tragédia sem heróis, em que ➤

➤ квалификация нацистской идеологии и нацистских

преступлений. Россия давала и будет давать отпор

попыткам провести ревизию истории ХХ века, в т.ч.

пересмотреть решения Потсдамской конференции и

приговор Нюрнбергского трибунала.

Некоторые наши соседи делают упор на “разделе”

Восточной Европы накануне войны между СССР и

Германией. При этом начисто игнорируется политика

умиротворения фашистской Германии западными

державами, вылившаяся в конечном итоге в

Мюнхенский сговор. Выступая 1 сентября 2009 г. в

Гданьске на церемонии, посвященной 70-й годовщине

начала Второй мировой войны, Председатель

Правительства Российской Федерации В.В.Путин,

в частности, сказал, «что любое сотрудничество с

экстремистами, а применительно ко Второй мировой

войне – с нацистами и их приспешниками, чем бы

это сотрудничество ни мотивировалось, ведет к

трагедии. По сути, это и не сотрудничество вовсе, а

сговор с целью решить свои проблемы за счет других.

Значит, надо признать, что все предпринимавшиеся

с 1934 года по 1939 год попытки умиротворить

нацистов, заключая с ними различного рода

соглашения и пакты, были с моральной точки зрения

– неприемлемы, а с практической, политической точки

зрения – бессмысленными, вредными и опасными.

Именно совокупность всех этих действий и привела к

этой трагедии, к началу Второй мировой войны».

По сути, все, что происходило в Европе в

предвоенные годы, – трагедия без героев, в которой

даже жертвы на определенном этапе выступали как

пособники агрессора. И теперь, спустя 65 лет, ➤

“chamas eternas” – símbolo

da Grande Vitória

65 Anos da Grande Vitória

Page 51: Diplomática n.º7

51julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ mesmo as vítimas, em certo momento, eram cúmplices

do agressor. e agora, 65 anos passados, certos círculos

percebem que não têm nada de que podem estar orgu-

lhosos durante aquela batalha histórica entre o bem e o

mal, a luta dos povos contra o nazismo – eles percebem

isto e sentem os acessos dolorosos da russofobia e

recorrem à falsificação da história.

Gostaria de lembrar a essas pessoas que a memória

não é um meio de vingança, mas um instrumento criador,

que pode e deve ser utilizado exclusivamente para fins

pacíficos, para construir uma base sólida para a europa

do futuro, e não para acertar as contas e tirar o proveito

político de cada minuta. para a europa contemporânea

os desfiles de homens da ss realizados nos países que

“pretendem em respeitar os valores democráticos” são

amorais e antinaturais.

Nós não dividimos a vitória em percentuais nem em

1945, nem hoje. juntamente com os nossos aliados da

coligação antifascista celebrámos o aniversário da aber-

tura da segunda frente, e juntamente celebraremos os 65

anos da Vitória em moscovo. a segunda Guerra mun-

dial foi ganha por todos os participantes da campanha

anti-hitler. Foi a nossa Vitória comum. mas ninguém tem

direito de menosprezar o preço pago pelo nosso país

e pelo nosso povo durante a guerra, nem subestimar a

escala dos crimes dos nazis, e muito menos heroizá-los.

o nosso dever perante aqueles que pagaram com o seu

próprio sangue pela salvação da humanidade do fas-

cismo consiste, antes de tudo, em colocar uma barreira

segura no caminho de proliferação das ideias de intole-

rância, supremacia racial, nacional ou religiosa, quais es-

condem as pretensões para o domínio mundial e servem

de base para novas ameaças.

o 65º aniversário da Vitória não se deve tornar o moti-

vo de confronto, servir como meio de acertar as velhas

contas e ofensas mútuas. É simbólico que a organização

das Nações unidas declarou 8 e 9 de maio os Dias da

memória e reconciliação. e é neste âmbito que serão

realizadas as celebrações em moscovo. o vindouro

aniversário da Vitória é em primeiro lugar o tributo à me-

mória e ao profundo reconhecimento de todos aqueles

que deram as suas vidas pela independência da nossa

pátria e trouxeram a esperada liberdade aos povos da

europa escravizados pelo nazismo. as comemorações

do aniversário da Vitória deverão servir de lembrete

daquele enorme potencial espiritual que têm a rússia e o

seu povo. por isso a história da Grande Guerra patriótica

e da segunda Guerra mundial são para nós uma fonte

incessante de força e confiança no futuro. para todas as

pessoas honestas o feriado da Vitória permanecerá um

dia luminoso e sagrado. n

➤ определенные круги понимают, что им особенно

нечем гордиться в период той исторической битвы

добра со злом, борьбы народов против нацизма –

понимают и испытывают болезненные комплексы

русофобии и прибегают к фальсификациям истории.

Хотелось бы напомнить этим деятелям, что память

– это не орудие мести, а созидательный инструмент,

использовать который можно и нужно исключительно

в мирных целях, для строительства прочного

фундамента Европы будущего, а не для сведения

счетов и получения ежеминутной политической

выгоды. Для современной Европы аморальны и

противоестественны парады бывших эсэсовцев,

проводящиеся в странах, претендующих на

приверженность демократическим ценностям.

Мы не делили Победу на проценты в 1945 году, не

делим ее и сейчас. Вместе с нашими союзниками

по антигитлеровской коалиции мы отмечали

годовщину открытия второго фронта, вместе будем

праздновать и 65-летний Юбилей Победы в Москве.

Вторую мировую войну выиграли все участники

антигитлеровской кампании. Это была наша общая

Победа. Но никто не вправе ни принижать цену,

которую заплатили наша страна и наш народ в ходе

войны, ни приуменьшать масштабы преступлений

нацистов, и тем более их героизировать.

Наш долг перед теми, кто своей кровью заплатил за

спасение человечества от фашизма, состоит прежде

всего в том, чтобы поставить надежный барьер на

пути распространения идей нетерпимости, расового,

национального или религиозного превосходства,

за которыми скрываются претензии на мировое

господство, служащие почвой для новых угроз.

60-летие Победы не должно становиться поводом

для конфронтации, служить целям сведения

старых счетов и взаимных обид. Символично, что

Организация Объединенных Наций объявила 8 и 9

мая Днями памяти и примирения. В этом ключе будут

проведены и праздничные мероприятия в Москве.

Приближающийся юбилей Победы – это прежде всего

дань памяти и глубочайшей признательности тем, кто

отдал жизнь за независимость нашего Отечества и

принес долгожданное освобождение порабощенным

фашизмом народам Европы. Юбилейные торжества

должны послужить напоминанием о том огромном

внутреннем духовном потенциале, которым обладают

Россия и российский народ. В этом плане история

Великой Отечественной и Второй мировой войн

является для нас неиссякаемым источником силы

и уверенности в будущем. Для всех честных людей

Праздник Победы останется светлым и святым Днем. n

Page 52: Diplomática n.º7

52 • Diplomática - julho/setembro 2010

Eduardo González Lernes por josé manuel teixeira

Embaixador de Cuba em Portugal

Foi membro activo na pré-Revolução cubana e continua a sê-lo no pós-Revolução. Eduardo Lernes repre-

senta pela primeira vez o seu país, como Embaixador, no continente europeu e considera Portugal um país

amigo, realçando os 90 anos de relações entre os dois países.

O Embaixador falou em exclusivo à Diplomática das relações bilaterais que aproximam cada vez mais

os dois Estados nos planos político, comercial, da saúde e do investimento, e analisou o relacionamento

divergente Cuba/EUA no primeiro ano da era Obama: “as expectativas e esperanças apontavam para uma

melhoria no relacionamento. Infortunadamente isso não se verificou.” ➤

Mala diploMática

Page 53: Diplomática n.º7

53julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ Senhor Embaixador, conte-nos

um pouco do seu percurso de vida.

Vivi a pré-revolução e agora o

pós-revolução. Na minha infân-

cia estudei em escolas públicas e

mesmo antes da revolução estudei

numa escola de formação católi-

ca – maristas. No primeiro ano da

revolução incorporei-me no exército

para defender o país das agressões

estrangeiras. recebi treino de arma-

mento de artilharia anti-aérea, como

quase toda a minha geração. Depois

de passarem estes primeiros anos

mais violentos retomei os estudos e

ingressei na universidade para me

formar em jornalismo e em relações

internacionais. também, durante

esse período em que estudava,

trabalhei na aviação civil de cuba.

a carreira diplomática comecei-a no

ano de 1975 a trabalhar no ministério

das relações exteriores e passei

por todos os graus que existem na

diplomacia. o meu primeiro posto foi

na líbia, como terceiro secretário.

No final de cada missão voltávamos

a cuba para tomar conta da reali-

dade. Depois estive no líbano (dois

anos) e na síria (três anos). evoluía

um grau diplomático à medida que ia

para outro país. Fui então para outra

região, brasil, como conselheiro,

onde estive durante quatro anos e

pouco. regressei a cuba ao ministé-

rio das relações exteriores. a minha

primeira missão como embaixador

foi em moçambique (2001-05), tendo

posteriormente regressado ao meu

país, e em setembro do ano pas-

sado comecei a missão em portu-

gal. tenho seguido uma trajectória

que começou nos países do médio

oriente, américa latina, áfrica e

agora europa (portugal). houve uma

estratégia de adaptação à língua

e cultura. a “má língua” que falo

estudei no brasil. a culpa não foi dos

brasileiros nem dos professores, mas

minha. porque nós temos um proble-

ma, falamos espanhol e não somos

corrigidos pelos portugueses, porque

nos tentam entender. assim é mais

difícil melhorar. aquele que fala uma

língua totalmente diferente aprende

melhor a falar o português.

Qual a importância da Embaixa-

da de Cuba, neste momento, em

Portugal.

a importância da embaixada é pre-

cisamente a presença da represen-

tação de um país num país amigo e

esta embaixada tem muitos anos. a

história das relações entre portugal e

cuba têm já 90 anos. a embaixada é

o que permite um diálogo, uma apro-

ximação, analisar e pesquisar todas

as possibilidades de cooperação, de

comércio e relacionamento, e manter

viva essa amizade que existe entre

o povo de portugal com o povo de

cuba.

Como têm sido esses 90 anos

de relacionamento entre os dois

países?

posso dizer que o mais importante

é que o relacionamento nunca foi

interrompido. tem-se mantido sem-

pre e para nós é muito importante

nestes 50 anos de revolução termos

mantido sempre as relações. podem

ter tido altos e baixos, mas são mais

os altos que os baixos. tem existido

sempre um vínculo e um diálogo

franco e aberto entre as altas autori-

dades dos países.

Concretamente, neste momento,

quais são as relações entre Portu-

gal e Cuba nos aspectos político

e económico? E se a Embaixada

em Lisboa poderá ser uma antena

para a União Europeia ou se há

mais a tendência em ser Bruxelas

a ter diálogo com Havana?

Nós mantemos relações com a

união europeia (ue), como ue, mas

damos muita importância às relações

bilaterais com cada um dos países.

Neste caso, com portugal temos tido,

nos últimos tempos, uma aproxima-

ção ainda maior no plano bilateral

e, no meio desta crise, que todo o

mundo atravessa, estamos a anali-

sar as possibilidades de comércio,

de investimento em cuba, em áreas

que são de muito interesse. tem-se

desenvolvido o turismo de portugal

para cuba, algo muito importante,

e esperamos que ainda haja possi-

bilidades de um maior crescimento.

portugal dentro da ue tem tido uma

posição relevante. No ano passado

assinou o reatamento da cooperação

que tinha sido suspensa, em 2003,

por parte de toda a ue, com aquela

posição comum que se manteve des-

de 2003. ainda não está eliminada

definitivamente, ainda está suspen-

sa, mas tanto espanha como portu-

gal assinaram a declaração conjunta

para o reatamento da cooperação

com cuba. Nesta etapa estamos

precisamente na identificação de

possibilidades de aumentar os negó-

cios. o que acontece é que estamos

a atravessar uma crise na economia

mundial e é uma situação que tem

dilatado um pouco essas possibilida-

des. mas todos temos confiança que

vamos sair dessa crise e, precisa-

mente, por isso, continuamos essa

pesquisa para possíveis negócios.

Cuba tem na América Latina um

papel preponderante. Há uma ten-

dência para os países daquela re-

gião se aproximarem mais de uma

política cubana do que de uma

política americana. Nesse sentido,

o que é que acha que Cuba poderá

representar para Portugal como

antena (já temos o Brasil) de rela-

ções bilaterais?

acho que cuba poderia contribuir na

linha de aproximação entre portu-

gal e os países da américa latina.

logicamente que portugal tem um

estreito relacionamento com o brasil

por vínculos históricos, pela língua e

cultura, mas cuba poderá contribuir

na aproximação às caraíbas, à amé-

rica central e a todos aqueles países

com os quais cuba tem um estreito

relacionamento, que são ➤

Page 54: Diplomática n.º7

54 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ também uma prioridade para por-

tugal. Nós estamos nessa posição de

criar essa possibilidade de diálogo.

evidentemente que portugal já es-

tabelece contacto com países como

a Venezuela, méxico, argentina ou

outros países da região. cuba está

disponível para ajudar nesse objec-

tivo. eu penso que portugal poderia

desempenhar um papel importante

na região, tanto que portugal é um

país ibero-americano, compartilha-

mos lugares nessa organização nas

cimeiras que se realizam. No ano

passado foi aqui em portugal, ambos

somos fundadores desse movimento

e esse é o lugar específico para co-

laborarem ambas as partes. temos

um nível de identificação grande com

portugal na esfera internacional, lo-

gicamente que também há aspectos

com que não coincidimos, mas existe

o diálogo para procurar a aproxima-

ção. Nas Nações unidas, portugal

tem sempre votado contra o bloqueio

económico a cuba, sendo a favor de

uma resolução, tal como a ue que

tem tomado a mesma posição. por-

tanto, a posição de portugal contribui

para que haja essa unanimidade.

sabemos que também tem boas

relações com a Venezuela, assim

como nós, e caberia até a possibili-

dade de no futuro se realizarem ope-

rações triangulares em algum dos

nossos países. como existe também

a possibilidade de se fazerem em

países de áfrica, ou outros de língua

portuguesa, nos quais cuba participa

juntamente com portugal. estamos

então a estudar essa possibilidade

de cooperação triangular.

Com Angola sobretudo?

angola, quem sabe se não é o mais

indicado. angola tem um nível de

desenvolvimento maior e poder-se-ia

desenvolver uma cooperação trian-

gular ao nível do comércio ou inves-

timento.

Numa visita que o Senhor Embai-

xador fez a Viana do Castelo visi-

tou um parque eólico e manifestou

a intenção de um possível negócio

entre Cuba e a empresa de Viana

para o investimento nas energias

renováveis.

antes da visita a Viana do castelo

já era para cuba uma prioridade

de identificar as possibilidades de

comércio e cooperação de portugal

com cuba na área das energias

renováveis. É uma prioridade para

o nosso país. Na visita a Viana vi

uma grande planta duma indústria

para parques eólicos e pensámos

na possibilidade de investir nessa

cooperação. Devo realizar uma nova

visita a Viana já concretamente para

ir ver a planta de construção daque-

les equipamentos. creio que sim,

que haverá possibilidade de coo-

peração a esse nível porque reitero

que é uma prioridade para ambos os

países, tanto para importar estes ele-

mentos como para analisar a possibi-

lidade de desenvolver uma planta em

cuba. Funcionará como uma energia

alternativa. Não poderemos depen-

der só da energia eólica porque as

características meteorológicas não o

permitem. temos também o objecti-

vo de investir na energia hidráulica,

na qual portugal possui também tec-

nologia e experiência e tem, ainda, a

possibilidade de participar em algum

investimento. já na área do petróleo

existem projectos para a prospecção

dessa matéria-prima em cuba. e es-

tamos abertos para cooperar noutras

áreas com portugal.

Como funciona a política exterior

de Cuba?

primeiro de tudo respeitamos todos

os países do mundo. a maioria dos

países têm relacionamentos com

cuba. temos embaixadas em mais

de 119 países e 30 consulados

gerais e existem mais de 100 embai-

xadas dos mais variados países do

mundo em cuba. só aquele país que

não quer ter um relacionamento nor-

mal com cuba, que neste momento

são apenas os estados unidos da

américa (eua). cuba nunca rompeu

relacionamentos com ninguém. o

único país do mundo que tivemos

a iniciativa de romper relações foi

com israel no ano de 1973, devido

às agressões entre os povos árabes

e palestinianos. mas com o resto do

mundo nunca tivemos problemas.

cooperamos com vários países,

inclusive com países terceiro mundis-

tas. em áfrica temos uma presença

muito grande, contribuindo com mé-

dicos e professores em mais de vinte

países. em alguns países da ásia

temos também cooperação deste

tipo e na américa latina, na maioria

dos países, temos um relacionamen-

to muito amplo. cuba faz parte de

uma nova estrutura regional – alba

– aliança bolivariana para as amé-

ricas, e que foi criada por cuba e

Venezuela, às quais se têm juntado

mais países, permitindo um comércio

e uma cooperação sem nenhum tipo

de exploração. por exemplo: temos

uma cooperação na área da saúde –

a operação milagros – uma ope-

ração oftalmológica a pessoas que

estão quase cegas pelas cataratas.

Foram já submetidas a uma interven-

ção mais de um milhão de pessoas

que depois recuperaram a visão.

E a que cidadãos portugueses

também têm recorrido muito!?

sim, têm ido muitos portugueses

a cuba fazer essa operação. Nós

também criámos vários centros

oftalmológicos em vários países da

américa latina para que as pessoas

não tenham que se deslocar todas a

cuba. e assim é possível usufruir do

serviço no equador, peru, Venezue-

la, bolívia, onde temos seis centros

oftalmológicos que operam pessoas

que vêm da argentina e das caraí-

bas. mas a maioria das pessoas vem

a cuba. este é um programa que

na realidade constitui um milagre.

pessoas que não viam praticamente

nada e depois de operadas voltam ➤

Eduardo González Lernes

Embaixador de Cuba em Portugal

Page 55: Diplomática n.º7

55julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ a ter visão. municípios de portugal

fizeram acordos com estes centros

em cuba e possibilitaram a alguns

utentes a operação.

Essa é também uma recente coo-

peração no ramo da saúde entre

os dois países.

sim, e também temos outros acordos

nessa área, tal como a presença

de médicos em território português.

temos 44 médicos na região do

alentejo e algarve. aqui em portugal

alguma imprensa tem feito críticas a

essa presença, ao que nós pergun-

tamos porque é que por 44 médicos

cubanos se faz tanto alarido quando

existem tantos médicos de outros pa-

íses e em muito maior quantidade?

Mas continua a existir falta de

médicos…

sim, sabemos que existe essa lacu-

na. mas aqui conhecerão melhor as

razões desse défice do que eu. ago-

ra nós não vemos nada contra essa

cooperação. se nós temos médicos

e em portugal precisão deles, então

não vejo por que não cooperar. e

se precisarem de mais, nós temos

e estamos dispostos a chegar a

acordo. temos médicos em mais de

70 países, o que corresponde a mais

de 37 mil médicos no exterior. só na

Venezuela temos quase 30 mil e em

áfrica também temos muitos. mas

não só colocamos médicos nesses

países como, também, estamos lá a

formar profissionais para futuramente

diminuirmos a presença médica. É

mais económico para todos enviar

os professores para formar médicos

no próprio país. assim estamos a

fazer em alguns países de áfrica.

cuba tem uma escola internacional

de medicina onde se formam por ano

entre quatro mil a cinco mil novos

médicos, sobretudo da américa

latina, que usufruem de bolsas de

estudo. alguns governos contribuem

economicamente para manter essa

faculdade.

Mudando um pouco de assunto, ➤

eduardo González lernes

Page 56: Diplomática n.º7

56 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ há sensivelmente um ano atrás

haviam muitas esperanças com

a eleição de Barack Obama. Hoje

que balanço faz?

as expectativas e esperanças com

a administração obama apontavam

para uma melhoria no relacionamen-

to divergente entre os eua e cuba,

produto do discurso de obama na

sua campanha. infortunadamen-

te isso não se verificou. mudaram

pequenas coisas com medidas ainda

tomadas na administração bush,

como o permitir que os cubanos resi-

dentes nos eua fizessem remessas

económicas para a família residente

em cuba, que pudessem viajar cada

ano para o país (porque bush tinha

proibido isso) e retomou o diálogo

migratório existente entre os dois

países, que começou mas não ainda

como deveria ser. Digo não como

deveria ser porque não tem explica-

ção colocar novamente cuba na lista

de países patrocinadores do terro-

rismo, quando os norte-americanos

sabem que cuba não tem nenhuma

participação no terrorismo. bem pelo

contrário, temos combatido o terro-

rismo. e por combatermos o terro-

rismo e descobrirmos actos temos

cinco cubanos presos nos eua, que

injustamente trabalhavam dentro de

grupos terroristas que operavam con-

tra cuba. ou seja, o que eles dizem

para o resto do mundo não é aplicá-

vel ao nosso caso. contudo, ainda

temos esperança que as coisas

possam mudar, que obama tome

a decisão correcta em cada caso e

em cada passo que dê em relação

a cuba. mas o que demonstrou até

agora não é positivo. o bloqueio con-

tinua igual, agora fomos colocados

na lista de terroristas e não permitem

que os cidadãos norte-americanos

viagem para cuba, a base de Guan-

tánamo continua igual, sem nenhum

objectivo estratégico militar, sendo

para eles uma forma de agredir poli-

ticamente um país. No entanto, nós

continuamos numa posição aberta

para o diálogo em qualquer tema

com as autoridades norte-america-

nas. Nós continuamos à espera e a

bola de pingue-pongue está do lado

de lá. eu também sei reconhecer

que para os eua é difícil ter um país

pequenino próximo das suas costas

que tem vivido sem depender deles

durante 50 anos. É para eles um fe-

nómeno político. primeiro diziam que

éramos um país satélite da união ➤

Eduardo González Lernes

Embaixador de Cuba em Portugal

Page 57: Diplomática n.º7

57julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ soviética e ficou demonstrado que

a união soviética e o campo socialis-

ta acabaram nos finais dos anos 80

e princípios dos anos 90. passaram

mais de 20 anos e cuba continua a

caminhar sozinha, pelo meio saiu de

crises que viveu produto da queda

do campo socialista e teve uma

resistência muito grande, com base

no povo, que permitiu hoje estarmos

bem. tivemos um decrescimento

económico muito grande até ao ano

de 1994 e, a partir daí, começámos a

crescer. a recuperar de uma queda

de 85 por cento que tivemos nas re-

lações comerciais entre 1989 e 1993.

ou seja, temos demonstrado que

com vontade e unidade, e a pensar

no bloqueio, podemos ir em frente.

Neste momento todos os países so-

freram a crise internacional, mas nós

estamos muito mais preparados do

que antes para enfrentar esta crise.

O senhor Embaixador falou que

com a queda do Bloco Socialista

as relações comerciais tinham

caído 85 por cento. Tiveram que

parar com a construção social

para fazer hotéis como aposta no

Turismo?

sim, foi uma decisão económica es-

tratégica. ao perder 85 por cento do

comércio internacional priorizámos

o turismo para podermos ter uma

recuperação mais rápida. parámos o

desenvolvimento social durante um

período, que já trazia um ritmo muito

alto, para darmos prioridade ao tu-

rismo. e foi o que marcou a diferença

dos 200 mil turistas que recebíamos

para os 2 milhões e 400 que rece-

bemos em 2009, e continuamos a

trabalhar para receber mais. pois

esta é uma indústria que tem um

retorno rápido. cuba tem tudo aquilo

que os turistas procuram: tranquilida-

de, segurança, boas praias, cultura e

uma história muito rica.

Fale-nos um pouco da comemora-

ção dos 50 anos da Revolução e

porque é que esta Revolução era

tão necessária.

cuba esteve mais de 400 anos sob

a colonização espanhola, depois

mais de 60 anos sob influência do

neo-colonialismo norte-americano

e, por fim, deu-se o triunfo de uma

revolução social, em janeiro de

1959. cumpriu recentemente 51

anos e com um projecto social

desenvolvido que mudou todas as

características do nosso país. Deixou

de ser um país colonizado e depen-

dente, em que o único produto que

tinha para exportação era o açúcar.

hoje em dia, nesse aspecto, temos

também o níquel que antes estava

na posse norte-americana e agora é

nossa propriedade, e tem-se de-

senvolvido com parcerias de capital

estrangeiro, fundamentalmente do

canadá. temos ainda desenvolvido

um campo científico muito alto, para

um país de terceiro mundo como é

cuba, com uma produção de vaci-

nas bastante elevada e uma inves-

tigação biotecnológica de primeiro

mundo. há produtos que apenas

cuba produz, mais nenhum país no

mundo o faz, na área da biotecno-

logia, sendo uma fatia importante

de ingressos para o país. primeiro,

para chegarmos a este nível apos-

támos fortemente na política social

– educação gratuita e obrigatória até

ao 9º grau, eliminámos totalmente

o analfabetismo no segundo ano

da revolução, e implantámos um

sistema de saúde comparável ao de

qualquer país desenvolvido. cuba

tem, sensivelmente, um médico por

cada 156 habitantes e um total de

80 mil médicos formados a partir

de 1960. cuba perdera metade

dos médicos ao emigrarem para os

eua no primeiro ano da revolução,

produto da campanha do governo

norte-americano para nos tirarem

esses profissionais. em 1959, cuba

tinha seis mil médicos, emigraram

para os eua três mil. actualmente,

resultante do plano da revolução,

formam-se, cada ano, mais médicos

do que aqueles que ficaram no país

em 59. mais de três mil médicos por

ano, cubanos, sem contar mil/dois

mil que formamos anualmente de ou-

tros países. ou seja, temos dedicado

fundamentalmente os nossos recur-

sos para desenvolver algo que cuba

não tinha – o capital humano forma-

do. Não educamos apenas médicos.

Nas várias áreas das ciências somos

um dos países que maior quantidade

de estudantes (per capita) tem nas

universidades. isto porque o ensino

em cuba é gratuito, tendo toda a

gente o direito de estudar. essas são

as causas fundamentais, que por

um bloqueio tão violento, com actos

terroristas tão fortes contra nós, se

tem mantido a revolução cubana.

Durante muitos anos estivemos

isolados porque a maioria dos países

da américa latina tinham obedecido

às ordens americanas e romperam

os seus laços com cuba. hoje, pelo

contrário, não existe um país da

américa latina que não estabeleça

relações com cuba. el salvador, que

era o único país que faltava até ao

ano passado, também já reatou as

relações connosco. Falo na américa

latina, se falar no continente ameri-

cano todo, só um país não tem rela-

ções com cuba, que são os eua.

O senhor Embaixador tinha tam-

bém falado da importância da

Cimeira Ibéro-Americana…

a cimeira ibéro-americana é com-

posta por todos os países da améri-

ca latina e mais dois países ibéricos

– portugal e espanha. portanto, mais

uma razão para que exista uma boa

identificação entre cuba, ou países

latino-americanos, com portugal. e,

também, dos países da ue, os paí-

ses com que temos melhores víncu-

los são precisamente com portugal e

espanha.

Agora na situação actual, a gera-

ção que fez a Revolução está a

terminar o seu mandato de vida. ➤

Page 58: Diplomática n.º7

58 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ As novas gerações estão prepa-

radas para continuar a Revolução

cubana começada há 51 anos?

eu não diria que é a geração que fez

a revolução, mas sim a geração que

iniciou a revolução. a que iniciou a

revolução já completou 50 anos e

começaram entre os 20 e 30 anos

de idade, mas as gerações que se

seguiram são as que têm continua-

do a mantê-la, porque a revolução

não foi só o assalto ao Quartel de

moncada em 1953, ou a ida para a

sierra maestra. Foi um gesto herói-

co de derrubar uma ditadura militar.

contudo, a verdadeira revolução

começou a partir do primeiro dia de

1959, porque como já referi antes,

não era possível manter um país

subdesenvolvido, dependente, só

com uma luta de um exército rebelde

formado na guerra, ao qual se juntou

o povo todo para levar em frente

um processo em que a revolução

começou. portanto, têm participado

neste movimento tantas gerações

como as que têm vivido durante

estes 50 anos. eu entendo o sentido

da pergunta porque é precisamente

uma estratégia dos eua. pois, eles

falam que o fim biológico dos diri-

gentes da revolução acabará com a

mesma. acho que estes últimos três

anos têm demonstrado o contrário a

quem pensava que com a retirada de

Fidel castro não se poderia manter

mais esta luta. primeiro pensou-se

que cuba sem a união soviética não

se poderia manter. Depois que com

a saída de Fidel do poder, cuba não

resistiria. Fidel não está a dirigir os

destinos do país, indiscutivelmente

que é um líder histórico e uma refe-

rência em cuba, mas outras gera-

ções têm participado e a revolução

e o partido comunista cubano têm-

se preocupado por transladar para

as novas gerações a realidade que o

país tem vivido. a história, até agora,

tem sido vivida pelos pais, avós e

filhos dessa geração. considero que

em cuba vão haver mudanças, aliás,

já estão a haver, mas isso é uma

característica do desenvolvimento da

vida e da situação internacional. lo-

gicamente que cuba não pode viver

isolada do resto do mundo e tem que

estar atenta aos problemas que se

passam no mundo. o importante é

que temos de estar preparados para

enfrentar esses problemas. prova

disso é a crise financeira internacio-

nal que afecta todo o mundo. Nós

estávamos afortunadamente mais

preparados neste momento para en-

frentar essa crise do que se tivesse

acontecido há alguns anos atrás. ao

dizer isto não quer dizer que temos

uma economia forte, mas porque

temos um povo preparado, um nível

de educação muito alto e condições

para tentarmos resolver os nossos

próprios problemas sem dependên-

cia exterior. para termos tudo isto,

sem aplicar a força sobre os cida-

dãos, é porque o povo matem uma

unidade. e estou a falar de um povo

que mais de 60 por cento nasceu

depois da revolução.

O senhor Embaixador já é fruto da

Revolução.

eu era um fruto já maduro antes da

revolução porque tinha já 14 anos.

Não tive uma participação, antes

da ida para a sierra maestra, e isso

era um trauma que a minha geração

tinha, por não ter participado nessa

etapa. mas tivemos o privilégio de

poder participar na continuação. Foi

uma revolução muito forte. tive-

mos invasões externas, agressões

militares, actos terroristas. aí sim,

ainda na minha adolescência, tive

a possibilidade de participar. por

isso me sinto parte da revolução.

os nossos filhos têm a possibilida-

de de participar, de estudar, de se

formar e de contribuir para outros

países com médicos, professores,

soldados, entre outras coisas. ou

seja, é uma geração que tem vivido

um produto revolucionário e todos

têm tido a possibilidade de fazer

algo a favor dessa revolução. isto

desmente muito aqueles que dizem

que em cuba se vive uma ditadura

em que é usada a força. eu acho

que para qualquer pessoa que tenha

dois dedos de testa poderá perceber

muito facilmente que o povo cubano

nunca aceitou nem ditaduras nem

colonialismos, e como poderia acei-

tar um regime de força para manter

este nível de desenvolvimento e

sobretudo de participação e coope-

ração com outros países do mundo?

Nós temos isso como um princípio

e classificamos de pátria a huma-

nidade e não apenas o território

onde nascemos. um exemplo disso

é o que estamos a fazer no haiti.

Fala-se muito pouco da participação

de cuba naquele país, mas nós já

lá estávamos presentes antes do

terramoto e aumentámos ainda mais

a presença depois da tragédia. cuba

tem e continuará a ter no haiti uma

alta presença de médicos porque o

problema desse país não se resolve

em dois dias. haiti teve dois terramo-

tos: um histórico, de ser um país de-

plorado durante muitos anos porque

foi o primeiro país independente da

américa latina, e o outro catastrófi-

co que aconteceu no passado dia 12

de janeiro, que ainda não se sabe

ao certo quantas pessoas morreram.

então se somos e podemos ser

assim tão solidários, podemo-nos

questionar como é que é possível

isso acontecer num país que dizem

funcionar à base da força? isso não

tem cabimento. É só ir a cuba e até

perguntar a turistas que visitam o

nosso país. Não somos um paraíso,

mas também não somos o inferno

que alguns pintam. cuba tem pro-

blemas tal como tem qualquer país

do mundo. problemas económicos,

sociais, mas não paramos de traba-

lhar para os resolver e para termos

uma democracia socialista cada vez

mais justa. n

Eduardo González Lernes

Embaixador de Cuba em Portugal

Page 59: Diplomática n.º7
Page 60: Diplomática n.º7

60 • Diplomática - julho/setembro 2010

Chegou ao fim o legado espanhol sobre a presidência da

união europeia. Foi um semestre negro e atormentado pelo

agravamento da crise económico-financeira na Zona euro. À

partida para o mandato rotativo, josé luis rodríguez Zapa-

tero, sabia que seriam meses difíceis, agora, não esperaria

que fossem tão difíceis.

o presidente socialista do Governo espanhol tinha em mãos

um novo e prioritário dossiê a aplicar no espaço europeu dos

27 – o tratado de lisboa – aprovado a 1 de Dezembro de

2009 durante o mandato português. aliás, esse era um dos

pontos definidos no programa político da presidência espa-

nhola da ue, considerado como “um marco jurídico reforçado

para impulsionar a nova europa, a europa que necessitamos,

num momento extraordinário de significado político”.

um tratado que trouxe também novidades na liderança da

presidência. começando logo pelo próprio poder do líder da

presidência que ficou condicionado pelo cargo do presidente

do conselho europeu – herman van rompuy. É ele uma das

personagens principais da europa e que preside às ➤

Presidência espanhola marcada pela crise

lideranças - união europeia

josé luis rodríguez Zapatero

Page 61: Diplomática n.º7

61julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ cimeiras europeias, tendo colocado Zapatero apenas no

papel de primeiro-ministro espanhol, e não como presidente.

mas o assunto principal que marcou a presidência espanhola

foi a crise. as expectativas iniciais, que iam no sentido duma

“maior coordenação das políticas económicas para gerir as

estratégias de saída da crise, para acelerar a recuperação,

para promover uma nova etapa de crescimento, para vol-

tar a criar emprego e para manter altos níveis de protecção

social”, foram por água abaixo à medida que no contexto

europeu se sucedeu precisamente o contrário. a dificuldade

em os estados acederem ao crédito e o consequente declí-

nio das suas economias, com o desemprego a aumentar em

flecha, colocaram a europa em sobressalto. Grécia entrou

na banca rota e espanha e portugal viram as suas taxas

de desemprego a baterem recordes, 19,7 e 10,8 por cento,

respectivamente. primeiro e quarto classificados, numa lista

publicada em abril pela organização para o Desenvolvimento

e cooperação económica (ocDe), em que constam também

a eslováquia (14,1 por cento) e irlanda (13,2 por cento). uma

Zona euro em alerta laranja com o desemprego nos 10,1 por

cento.

ainda no plano económico, espanha e Zapatero estiveram

sempre em cheque devido à possibilidade da ue e do Fundo

monetário internacional (Fmi) terem que recorrer a um plano

de apoio para ajudar o país, tendo essa possibilidade sido

negada por bruxelas e madrid.

já na última cimeira o tema não mudou. os chefes de esta-

do e de Governo dos 27 países-membros da união reuniram-

se em bruxelas para propor um governo económico europeu,

no sentido de impor uma disciplina orçamental, com sanções

agravadas aos estados mais imersos em endividamento.

outra das metas era o reforço da coordenação das políticas

económicas para uma maior cooperação na recuperação

económica.

o fortalecimento da unidade da europa no exterior foi outra

das aspirações de josé Zapatero que também saiu abalada

deste cenário.

Devido à crise foi uma presidência marcada pelo retrocesso

na recuperação económica da europa e em que a imagem do

governante sai fragilizada. No entanto, a liderança rotativa

do bloco europeu à bélgica também não se adivinha fácil, já

que começará com um Governo de gestão. o novo executivo

só deverá estar formado em setembro, conforme as palavras

do líder dos nacionalistas flamengos, bart De Wever, que

conquistou recentemente uma vitória histórica nas eleições

gerais da bélgica. n

Page 62: Diplomática n.º7

62 • Diplomática - julho/setembro 2010

Enrique Santos - presidente da câmara de comércio e indústria luso espanhola

Um olhar da Presidência Espanhola da União Europeia

Agradeço à revista Diplomática - prestigiosa publicação que conta com uma

importante componente dedicada às relações internacionais - o convite que me

dirigiu para fazer um breve comentário à actuação da Presidência espanhola

da União Europeia, exercício com algumas dificuldades de abordagem dadas as

circunstâncias que a Presidência rotativa espanhola tem enfrentado desde a

sua tomada de posse em Janeiro deste ano. ➤

lideranças - união europeia

Page 63: Diplomática n.º7

63julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ Desde logo existem duas fortes

condicionantes que inevitavelmente

têm dificultado a actuação da pre-

sidência espanhola. por um lado, a

recente entrada em vigor do tratado

de lisboa, após vários anos de du-

ras negociações, exigirá tempo para

implementar um novo modelo de

desenvolvimento económico para os

próximo anos fazendo uso das novas

competências e instrumentos deste

tratado, e a segunda condicionante

é a forte crise económica que assola

a europa e os mercados internacio-

nais.

É inquestionável que a espanha é

um país de forte vocação europeísta

e a presidência espanhola, apesar

das dificuldades que tem enfrenta-

do, tem dado sinais políticos claros

e valentia suficiente para ajudar a

criar uma união mais coesa, mais

solidária, com uma maior coordena-

ção entre as suas diversas institui-

ções, indo ao encontro dos cidadãos

europeus, princípios programáticos

do novo tratado e tem sido uma tó-

nica permanente nas declarações e

acções desenvolvidas pelos respon-

sáveis políticos espanhóis, nomea-

damente do presidente do Governo

espanhol.

Dito isto, fazer qualquer apreciação

sobre a actuação e resultados da

presidência espanhola em matéria

económica parece-me prematuro, até

porque só a partir da recente reunião

dos chefes de estado de março foi

discutido o chamado governo econó-

mico comum e debatidas as medidas

de vigilância e estímulo da estratégia

“europa 2020”, que ficará definitiva-

mente aprovada no conselho euro-

peu de junho deste ano, data que

coincidirá com o culminar da presi-

dência espanhola. É importante, no

entanto, destacar que este documen-

to conta já com os trabalhos efectua-

dos durante a presidência espanhola

pelos conselhos sectoriais da com-

petitividade, economia, educação,

Finanças, meio ambiente, politica

social e emprego e, desde o inicio

do ano, a presidência espanhola tem

dado provas de empenho e resposta

à crise económica e financeira na

europa, nomeadamente no combate

ao desemprego, apoio às pme´s,

fortalecimento do euro, promoção da

inovação empresarial, etc., colocan-

do a europa económica como actor

na cena internacional.

como presidente da câmara de co-

mercio luso espanhola não poderia

deixar de fazer referência às rela-

ções luso-espanholas na sua verten-

te económica e comercial, também

elas tiveram um forte dinamismo e

crescimento nos últimos anos gra-

ças, em grande medida, ao processo

de construção europeu. Desde a

integração dos dois países na união

europeia em 1986 que as relações

económicas e comerciais não para-

ram de crescer até ao ultimo quadri-

mestre de 2008, quando se inicia um

ciclo de forte desaceleração eco-

nómica em consequência da crise

económica e financeira internacional.

por exemplo, em 2009, as vendas

espanholas para portugal tiveram

uma quebra de 13,5 por cento e

as vendas portuguesas para espa-

nha de 22 por cento. teríamos que

recuar cinco anos para encontrar

volumes de transacções semelhan-

tes àquelas que se registaram em

2009. também nos investimentos se

verificou uma acentuada quebra, por

exemplo, nos investimentos brutos

espanhóis em portugal, em 2009, a

quebra foi de 65 por cento, em rela-

ção ao ano anterior.

perante estas dificuldades estou

convencido que os empresários,

verdadeiros motores da economia,

saberão encontrar as soluções e

retomar de novo a senda do progres-

so e do desenvolvimento e contribuir

para o fortalecimento de um mercado

ibérico mais consolidado no contexto

europeu e mundial. n

Os empresários,

verdadeiros motores

da economia, saberão

encontrar as soluções

e retomar de novo a

senda do progresso e

do desenvolvimento

Page 64: Diplomática n.º7

64 • Diplomática - julho/setembro 2010

“A maior luta é dar a conhecer a companhia aérea e que o público perceba os nossos modos de trabalho”

José Mínguez - Delegado da air europa

Delegado da companhia aérea Air Europa em Portugal desde o ano passado, José

Mínguez tem uma experiência de 23 anos no sector do Turismo. Natural de Madrid,

nasceu a 20 de Abril de 1964 e estudou na Faculdade de Ciências Económicas e Em-

presariais. Começou a trabalhar, em 1987, nas Viagens Marsans, onde desempenhou

tarefas em vários departamentos relacionados com o grande público e directamente

com a direcção de empresas. Entretanto passou também pelo Carlson Wagonlit Travel

Espanha em 1998. Em 2002 começa a carreira na corporação onde ainda hoje se en-

contra – Globalia – para a Divisão Aérea da Corporação Air Europa.

Agora com o desafio de lançar a Air Europa no nosso país, José Mínguez falou-nos dos

vários planos em marcha. ➤

Gestores internacionais

Page 65: Diplomática n.º7

65julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ A Companhia tem frota pró-

pria?

sim, tem. estamos a operar

três voos diários com frota

própria – lisboa ligação ma-

drid -, a partir de madrid temos

ligação com todo o mundo.

além do mais, o avião que faz

essa rota é ultra-moderno, com

tecnologia de ponta – embraer

195 – e tem capacidade para

122 passageiros. para cobrir-

mos a parte norte de portu-

gal temos a ligação de Vigo a

madrid.

É uma Companhia que opera

em viagens de pequeno, mé-

dio e longo curso. Também

têm viagens low-cost?

Não, e aliás, o mercado portu-

guês percebe que a air euro-

pa não é uma low-cost. para

termos uma ideia, a air europa,

enquanto dimensão, é pratica-

mente do mesmo tamanho que

a tap. a tap transportou em

2009 cerca de nove milhões

de passageiros, assim como a

air europa. e relativamente à

frota de aviões, se lhe descon-

tarmos a portugália, temos o

mesmo número de aparelhos

que a tap. contudo, somos

um pouco diferentes no que diz

respeito ao produto. o nosso

concorrente, aqui em portugal,

são todos, mas especificamen-

te é a ibéria que tem o mes-

mo produto que nós. util iza a

ligação a madrid, para a partir

de madrid fazer a ligação com

todo o mundo.

Que tipo de serviços tem a

Air Europa para oferecer aos

seus passageiros?

Fomos uns dos primeiros do

mercado europeu, dentro da

nossa companhia, a instalar o

check-in online, que é um ser-

viço bastante importante sobre-

tudo para os empresários, além

de um conjunto de outras van-

tagens, tais como: as classes

de voo business ou económica,

que são cada vez mais procu-

radas; outro serviço importante

é o cartão de fidelização. a

air europa pertence ao grupo

sky team, desde 2007, e ao

fazer parte do Grupo tivemos

que eleger um ramal de fideli-

zação com as companhias que

formam a sky team. e a air

europa elegeu junto da Klm

e da air France o Flying blue.

ou seja, é possível coleccionar

pontos com todas as compa-

nhias da sky team que de-

pois poderão ser trocados por

viagens, ou viajar em classe

superior. a nossa aliança, sky

team, é a mais importante da

europa e tem bons produtos

acessíveis a todos os passa-

geiros, e para os empresários

que estão acostumados a viajar

duas ou três vezes por sema-

na são vantagens importantes.

além mais, percebemos que

em portugal não se desagrega

em demasiado o mercado cor-

porativo do resto do mercado

do grande público. Nessa linha

estamos a fazer um esforço

junto das agências de viagens,

porque aqui em portugal se ca-

naliza tudo através das agên-

cias, estabelecendo acordos e

tarifários para que os clientes

possam usufruir das melhores

oportunidades.

Há mais algum tipo de parce-

rias? Por exemplo com ca-

deias hoteleiras, países, ou

outro!?

a esse nível teremos de falar

da corporação. a air euro-

pa é uma divisão aérea duma

holding de empresas que é

a Globalia. Dentro da Globa-

lia existem empresas como a

halcon Viagens, travelplan,

cadeias hoteleiras – hotéis oá-

sis, Grandforce (em espanha),

entre outras. além de diversas

parcerias que podem ser es-

tabelecidas por cada uma das

divisões a nível peninsular.

Para futuro haverá alguma

tendência para explorar o

mercado dos países de Lín-

gua Portuguesa? É que há

companhias que não voam

para esses países porque

não lhes dá lucro, a não ser a

TAP que tem obrigações. Têm

algum projecto futuro para

fazerem ligação, a partir de

Portugal, com os PALOP’s?

Quem sabe, mas por agora

seria demasiado precipitado.

estamos aqui desde 21 de

setembro unicamente a operar

uma rota e para esses efeitos

tem de ser uma companhia com

uma infra-estrutura sólida para

poder abrir mercados. Num

primeiro momento queremos

consolidar a ligação lisboa/

madrid e mais adiante porque

não pensarmos outros merca-

dos. mas em concreto ainda

não existe nada. Durante o ano

de 2009, a air europa cresceu

enquanto estrutura pelo que a

nível estratégico, no decorrer

deste ano, pensamos abrir no-

vas rotas. em 2009 criámos as

rotas de lisboa, Nova iorque,

entre outras, no mês passado

começámos a voar para lima

(peru) e durante este mês co-

meçaremos a voar para miami

e em junho, a nível da penín-

sula ibérica, começaremos com

quatro frequências diárias para

oviedo. Dentro deste contexto ➤

Page 66: Diplomática n.º7

66 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ macroeconómico mundial

convém não ficarmos parados

no tempo, senão corremos o

risco de não nos expandirmos.

Outros projectos? Falou-nos

dos objectivos a curto prazo,

e a médio e longo prazo exis-

tem alguns?

a médio prazo vamos também

começar a voar para o pana-

má. somos uma companhia aé-

rea com grande vocação para

a américa latina. É algo muito

importante tanto para espanha

como para portugal. penso que

devemos sempre ter um olho

do outro lado do atlântico.

Portanto a América Latina é

um dos objectivos!

sim, os nossos voos de longo

curso são na maioria para a

américa latina: buenos aires,

caracas, lima, panamá, cara-

íbas, havana, santo Domingo,

punta cana, cancun.

E Brasil?

para o brasil temos ligações

com salvador da bahia até ao

final do mês de abril, mas já

temos acordado o recomeço

dos voos para Novembro deste

ano.

A crise financeiro-económica

afectou muito o mercado da

aviação? Falo a nível empre-

sarial. Há pouco disse que

muitos estão a passar para

a classe turística, mas, além

disso, sentiu-se uma quebra ➤

José Mínguez

Delegado da Air Europa

Page 67: Diplomática n.º7

67julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ de passageiros?

sim, mas temos vindo a rees-

truturar-nos para responder a

esse contexto. uma companhia

aérea tem de estar sempre

preparada para esses contex-

tos. apesar de não sermos uma

companhia tão grande como a

british ou a ibéria, mas a nível

da estrutura é preciso modifi-

car certos aspectos, como por

exemplo, ajustar tarifas, ana-

lisar se é rentável voar para

certos sítios. como consequên-

cia dessa crise este ano temos

transportado menos passagei-

ros que no ano anterior, mas a

nível de ingressos temos esta-

do muito próximos.

Mas não sentiram a crise

como, por exemplo, a Air Lu-

xor que teve de encerrar.

os problemas são os mesmos,

tal como comentávamos acerca

dos voos low-cost. o concei-

to low-cost é um conceito de

marketing, porque a estrutura

da low-cost na aviação são os

mesmos que para as outras

companhias. o que eles fazem

é que voam para aeroportos

de segunda categoria e assim

podem cobrar menos taxas por-

que é mais barato, cortam nos

serviços, conseguindo assim

tarifas mais baixas. se as com-

panhias low-cost voassem para

aeroportos de primeira, pres-

tassem os serviços normais,

a tarifa que daria seria igual

às praticadas pela tap, ibéria

ou air europa. as companhias

low-cost cobram a tarifa de em-

barque e os serviços abordo.

No fundo se usufruíres de to-

dos os serviços e tudo somado

dá a tarifa de uma companhia

aérea regular.

aliás, nesta época de crise, em

2009, o Grupo Globalia obteve

lucros de 30 milhões de euros,

e dessa quantia, a maior parte

foram gerados pela companhia

aérea. portanto, em época de

crise apresentar estes resulta-

dos dá para ter uma ideia do

trabalho desenvolvido, que foi

óptimo.

Para combater essa crise

têm planos estratégicos para

cativar passageiros, tal como

coleccionar milhas!? Que ou-

tras iniciativas têm?

Depende, se falarmos da ca-

tegoria business, em espanha

temos já um cartão próprio

para empresas que no futuro

tentaremos adaptá-lo ao mer-

cado português e para o mer-

cado geral a estratégia passa

por acordos com as

agências de via-

gens. À medida que

vão experimentando

o nosso produto os

clientes vão ficar sa-

tisfeitos com a sua

qualidade. É uma

frota que tem cerca

de três anos e meio,

com aviões muito novos, e algo

muito importante a que o pas-

sageiro português, que é muito

viajado, dá muito valor é à pon-

tualidade. e nesse aspecto a

air europa está bem classifica-

da, com média de 96 por cento,

que é algo muito importante.

Ultimamente têm acontecido

algumas companhias greves

de pilotos. Quer comentar?

efectivamente para as gran-

des companhias aéreas, se

têm problemas de estrutura,

é mais difícil de controlar que

isso aconteça, ao contrário do

que acontece nas companhias

médias. mas na air europa têm

manifestado o seu agrado para

com a estrutura.

Como classifica o trabalho

desenvolvido em Portugal?

Na verdade é que estamos a

trabalhar muito bem, relativa-

mente ao tempo que estamos cá.

a maior luta é dar a conhecer a

companhia aérea e que o públi-

co perceba os nossos modos de

trabalho. pois somos uma linha

aérea regular, com serviços aé-

reos regulares. Queremos que os

clientes fiquem satisfeitos e que

recomendem a companhia a ou-

tras pessoas. inicialmente o nos-

so principal objectivo é consolidar

a ligação lisboa/madrid e madrid/

lisboa e a partir daí desenvolver

os voos de longo curso.

O mais importante para um

passageiro que

viaja nestes voos

de ligação é o

tempo de espera

entre voos. Como

funciona isso?

a air europa, tal

como a tap, opera

no mesmo aero-

porto de madrid,

no terminal 1, 2 e 3. a ibéria

opera apenas no terminal 4,

junto de companhias low-cost.

Nós estamos nos terminais

principais que são muito mais

acessíveis. por exemplo, num

voo para palma de maiorca, o

passageiro chega ao terminal 3

e fica muito perto da porta de

embarque, esperando sensi-

velmente 25 minutos pelo voo.

Fica ainda muito próximo dos

terminais 1 e 2. essa vantagem

não é possível no terminal 4,

sendo necessário ir de trans-

porte, passar por controlos,

entre outras desvantagens. n

FOMOS UNS DOS PRIMEIROS A INSTALAR O CHECK-IN ONLINE, IMPOR-TANTE PARA OS EMPRESÁRIOS

j. m. teixeira e a. pinto

Page 68: Diplomática n.º7

68 • Diplomática - julho/setembro 2010

Luís Palha da Silva - presidente da comissão executiva jerónimo martins

Luís Palha da Silva é Presidente da Comissão Executiva de um dos maiores grupos

portugueses com projecção internacional que actua no ramo alimentar, nos sectores

da Distribuição e da Indústria – Jerónimo Martins -, desde 2004.

Há nove anos na empresa, o Gestor e Administrador teve antes uma passagem pelo

Governo – na secretaria de Estado do Comércio -, e por uma cimenteira.

Em entrevista à Diplomática, Luís Silva fala da dimensão do Grupo e do seu sucesso

nos mercados do Leste. ➤

217 anos - tem sido um caminho de sucesso enorme e crescimento, muito importante”

Gestores InternacIonaIs

Page 69: Diplomática n.º7

69julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ Foi importante ter sido membro

do Governo para a sua carreira

como Gestor e Administrador?

Não julgo que tenha sido particu-

larmente importante. acho que foi

mais importante para ser membro

do Governo ter alguma experiên-

cia empresarial do que o contrário.

em qualquer caso é sempre uma

experiência enriquecedora e os

curriculums das pessoas não ser-

vem só para se escrever os cargos

desempenhados, mas para se dizer

a riqueza das experiências que se

têm, os diferentes ângulos com que

se olham os problemas e nesse

sentido também não considero que

tenha sido tempo perdido e, de

alguma forma, teve alguns contri-

butos para as áreas onde depois

vim a trabalhar. Depois de sair no

Governo estive num sector com-

pletamente diferente daquele que

tinha regulado, estive no cimento. e

eu tinha estado na secretaria de es-

tado do comércio, onde uma parte

importante dos problemas tinha

a ver com o comércio alimentar.

cimento não tinha nada a ver com

o comércio alimentar. só passados

muitos anos, provavelmente mais

cerca de 6 ou 7 anos depois é que

vim para esta área. um conjunto de

fenómenos que tinha encontrado,

entre 1991 e 1995 que foi quando

estive no Governo, já era completa-

mente diferente e já vim encontrar

situações que praticamente não

conhecia do desenvolvimento do

sector e nesse sentido não houve

nenhuma transferência directa de

Know-how. agora são experiências

enriquecedoras, são experiências

que nos ajudam a não considerar

os casos que temos de resolver

como problemas a começar do prin-

cípio. tenho sempre alguma vanta-

gem em já ter trabalhado em alguns

dos temas. mas que se possa dizer

que tenha sido directamente impor-

tante não creio. É uma experiência

muito enriquecedora sim do ponto

de vista humano e cultural, mas do

ponto de vista técnico diria que não

foi um contributo especialmente

importante. Foi um contributo que

dei à causa pública.

E a carreira universitária?

Fui assistente na universidade

católica depois de ter acabado o

curso, mas nunca tive uma carreira

académica, foi apenas ocasional.

a universidade na altura, como

ainda hoje um bocadinho, tinha a

ideia para se ter uma boa escola

de Gestão também se têm de ter

pessoas que trabalhem na vida ac-

tiva empresarial. as vantagens são

muitas quer pelas experiências que

se trazem, pelos casos que podem

ajudar a trazer para cada uma das

discussões que se faz na universi-

dade, quer ainda porque depois há

uma ligação da própria universida-

de às empresas onde se trabalha,

e como sabe as universidades são

aquilo que ensinam e que ajudam a

criar empregos no futuro e, portan-

to, daí haver uma certa ligação que

a católica sempre teve a pessoas

que estavam colocadas em empre-

sas. portanto foi de interesse mútuo

que estivesse 5 ou 6 anos a dar au-

las, mas eu não tencionava seguir

carreira académica, obviamente

que tive de dar o lugar àqueles que

pensavam mesmo nessa vida.

Em regra, no seu sector de Ges-

tão e Economia conseguem uma

carreira académica e no sector

privado e vão para a banca ou

para os seguros. Consigo isso

não aconteceu, foi para um ramo

completamente diferente.

sim, normalmente são os sectores

mais visíveis e acaba-se por estar

com os holofotes em cima, mas

também tenho encontrado muita

gente noutras áreas. tenho colegas

com muita visibilidade pública que

estão nos mais variados secto-

res. aliás diria que a universidade

católica nesse aspecto tem contri-

buído bastante para a criação de

algumas.

Mais que a Universidade de ori-

gem, não é?

pois. Quer dizer agora já nem sei

muito bem qual a minha univer-

sidade de origem. tenho duas, a

primeira é o instituto superior de

economia e a universidade ca-

tólica, talvez por ter sido a última

tenhamos ficado mais ligados.

Porquê a Polónia como base para

a expansão económica do grupo

Jerónimo Martins?

a polónia foi onde tivemos mais

sucesso e onde adquirimos uma

posição de grande liderança no

mercado, que ainda conservamos.

Nós por volta do meio dos anos

90 com as dificuldades a que se

ia começando a assistir ao cresci-

mento do grupo em diversas áreas,

mas nomeadamente no retalho em

portugal, olhámos além fronteiras.

Foi também a altura da internacio-

nalização das empresas portugue-

sas e o jerónimo martins fez exac-

tamente aquilo que se esperava,

que era alargar os seus horizontes.

Não fomos exclusivamente para a

polónia, estudámos muitos outros

mercados. Na altura os países da

europa do leste estavam todos a

abrir e nós fomos estudar esses

mercados todos. a polónia, não

querendo desconsiderar os outros

países porque de facto fizeram par-

te do leque de oportunidades que

andámos a estudar, mas tinha uns

encantos muito especiais. o primei-

ro e importantíssimo, diferentemen-

te de alguns dos outros países da

europa do leste, era um país que

estava habituado à iniciativa pri-

vada, não era por grandes grupos

nem com enorme visibilidade, mas

nunca deixou de haver uma inicia-

tiva privada muito importante, até

de cariz quase agrícola em alguns

casos, mas sempre muito ligado à ➤

Page 70: Diplomática n.º7

70 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ área alimentar. mas portanto, uma

grande abertura aos novos investi-

mentos foi na altura importantíssi-

mo. um segundo ingrediente que

contou para a nossa decisão foi o

facto de ser o maior país, em popu-

lação, de toda a europa do leste

que se abriu e que saiu na altura da

esfera da rússia.

Já com algum poder de compra!?

muito limitado na altura. Quando

visitámos a polónia, o grupo teve

um enorme choque, comparado

com portugal, na altura a poló-

nia não era um país exactamente

sofisticado, moderno, embora fosse

um país nalgumas áreas, como a

educação das pessoas, riquíssi-

mo e, provavelmente, ao nível ou

melhor que portugal. mas do ponto

de vista económico havia, de facto,

uma situação incipiente de desen-

volvimento. o facto de ser o maior

país, aliás depois quando houve o

alargamento dos 15 para os 25 e

posteriormente para os 27 da união

europeia, a polónia, com a exclu-

são da roménia nesta última, era

maior que os outros países todos

juntos que entraram para a europa

dos 25. 40 milhões de habitantes,

uma área de facto onde se podia

expandir toda a nossa actividade

se tivéssemos uma estratégia de

grande crescimento como na altura

tivemos. a polónia não foi o úni-

co país por onde entrámos. Nós

fizemos alguns investimentos e em

áreas interessantíssimas, como no

estado de são paulo no brasil. um

investimento visionário acho que te-

ria tido enormes hipóteses de gran-

de sucesso dentro do grupo, se o

nosso balanço também tivesse sido

suficientemente forte para estarmos

em todas as oportunidades que

criámos na altura ao mesmo tempo.

tivemos uma posição muito interes-

sante no estado de são paulo com

os supermercados c, as coisas até

nem corriam nada mal, mas era ne-

cessário continuar a investir muito

em todas as áreas onde estávamos

e os anos 2000 marcaram a dife-

rença em relação aos 90. come-

çaram a ser necessários recursos

financeiros vultuosos para poder

estar em muitas oportunidades ao

mesmo tempo. portanto, estivemos

no brasil, em inglaterra estivemos

com uma cadeia – a lillywhites-,

de enorme visibilidade, também

um projecto de grande ambição do

grupo, que correu bem mas que

necessitava igualmente de grandes

investimentos. e na polónia estive-

mos presentes em vários formatos

que temos em portugal e onde so-

mos líderes, como supermercados,

tivemos uma presença em hiper-

mercados e nos cash and carry’s.

mas a partir de 2001 – 2002 decidi-

mos concentrar-nos na companhia

onde já éramos os maiores do país

em retalho e expandir essa presen-

ça e distanciarmo-nos muito dos

outros que trabalhavam na mesma

área que nós, no retalho alimentar e

naquele formato em particular. hoje

temos a maior cadeia retalhista da

polónia. temos tantas ou mais lojas

como todos os outros retalhistas

modernos juntos no país – cerca de

1450 lojas.

Quem são os rivais mais direc-

tos?

são todas as grandes companhias

da europa que estão lá presentes.

Nós estamos à frente deles e acho

que é um motivo de orgulho para

o grupo, e deveria ser também um

motivo de orgulho para portugal.

O grupo não tem nenhuma joint-

venture com outra empresa!?

Não, nós temos cem por cento do

capital da empresa. mas são os

grandes grupos franceses, ingle-

ses, alemães, entre outros, que lá

se instalaram e sobre os quais nós

tentamos manter-nos à frente.

E há mercado?

Vamos ver. o mercado polaco é

um mercado relativamente menos

desenvolvido do que a generalidade

dos países da europa ocidental em

relação às estruturas modernas de

comércio. posso dizer-lhe que, ao

que nós costumamos chamar-lhes

comerciantes tradicionais que em

portugal já não devem represen-

tar mais do que 25 por cento, na

polónia ainda representam 50 por

cento do total. portanto ainda com-

pram em pequenas mercearias, em

pequenas lojas de rua, quiosques,

mercados livres, mercados muni-

cipais, cooperativas, etc. há uma

grande oferta instalada de grandes

empresas com grandes supermer-

cados e inúmeros hipermercados,

pelas nossas contas há mais de

320 grandes hipermercados na po-

lónia e nem sempre estão cheios.

Daí que se pode levantar a ques-

tão: não é capacidade a mais? para

o momento talvez seja, mas de

facto o potencial é muito grande. a

polónia vai continuar a crescer, os

formatos modernos são modernos

não porque tenham betão ou vidro,

mas porque estão muito atentos às

necessidades dos consumidores e

paulatinamente vão conquistando

esses consumidores. e, portanto,

chegará o dia, se não houver muito

mais crescimento de oferta, em

que essas capacidades vão ser

cheias pelo consumidor. Não me

parece que isso seja um problema.

Nós vamos continuar a abrir lojas,

continuamos a considerar uma das

grandes razões por que alguns con-

sumidores polacos não compram

nas nossas lojas é devido ao facto

de não as terem perto deles. há

sítios que não estão a ser servi-

dos por biedronkas e têm que ser.

posso apresentar-lhe uma medida:

nós estamos em todas as cidades

do país com mais de dez mil habi-

tantes e, praticamente, em todas

com mais de cinco mil habitantes.

Vamos continuar a crescer ➤

Luís Palha da Silva

Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

Page 71: Diplomática n.º7

71julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ naquelas mais pequenas, mas

ainda muito mais do que isso va-

mos ter uma presença mais intensa

nas grandes cidades onde ainda

temos um número de lojas relativa-

mente pequeno.

O Jerónimo Martins coloca mui-

tos produtos portugueses nos

seus supermercados da Polónia?

há duas situações. a primeira é

que nos produtos alimentares e, so-

bretudo, nos supermercados e lojas

que nós gerimos, quer em portugal

quer na polónia, o tipo de produtos

que vendemos, normalmente, não

viaja com facilidade. muitos produ-

tos alimentares, muitos produtos

frescos no caso português. esse é

o primeiro ponto, enviar detergen-

tes e champôs daqui para a polónia

não é fácil porque não viajam muito

bem esses produtos. É natural que

nas nossas lojas vendamos pro-

dutos da unilever, mas produzidos

pela unilever alemanha ou poló-

nia, provavelmente polónia porque

eles têm uma óptima indústria. um

segundo ponto muito importante

é que nós não tentamos impingir

nada aos nossos clientes, tudo

depende daquilo que eles gostam

efectivamente. Na polónia tivemos

sempre uma preocupação muito

grande que foi desenhar o nosso

tipo de produtos à medida que os

polacos querem. mas têm em nós

uns amigos para os ajudar a co-

nhecer o mercado, as nossas lojas,

os tipos de consumidores que nos

visitam, etc.

E têm conseguido?

têm conseguido com alguma fre-

quência. se calhar não tanta como

seria desejável para portugal. É

estranho que tendo uma companhia

que venda cerca de 3,5 milhões de

euros na polónia, que tenhamos

relativamente poucos empresários

a querer visitar-nos e conhecer as

nossas lojas e os nossos clientes.

temos mais um conjunto de pes-

soas que nos quer vender aqui em

portugal uns contentores para man-

darmos para lá. isso não vai funcio-

nar. Não é maneira de trabalhar o

mercado polaco. Quem quiser estar

no mercado polaco não pode re-

pousar nos esforços da nossa com-

panhia lá. tem de ir lá estudar e em

conjunto com a nossa companhia,

eventualmente, criar uma parceria.

Nem sempre é possível. há produ-

tos que nos têm vindo tentar ofere-

cer e por muito que nos esforcemos

em conjunto encontrar soluções

não vai ser possível. por exemplo,

coisas da área não-alimentar, as

pessoas por vezes não compreen-

dem, mas nas nossas cadeias da

polónia não temos produtos perma-

nentemente da área não-alimentar.

Nós só vendemos produtos ali-

mentares (95 por cento), depois há

produtos que rodam mas não estão

permanentemente. as pessoas só

compreendendo no local a nossa

presença e a maneira como esta-

mos lá instalados é que conseguem

compreender o mercado polaco e

daí tirar alguma vantagem em haver

esta presença portuguesa. mas de

facto, e como ponto final para esta

exposição, temos tido um cuida-

do enorme em colaborar com as

empresas portuguesas que querem

conhecer o mercado polaco e na

medida do possível fazemos um es-

forço grande para colaborar mesmo

activamente.

O Governo polaco ajuda os em-

presários estrangeiros?

Não ajuda materialmente. agora,

no mercado polaco sentimos que os

investidores estrangeiros são bem

tratados e nesse sentido já é uma

grande ajuda.

E ao nível fiscal, a Polónia tem

menos carga de impostos?

a taxa básica de impostos é mais

baixa na polónia do que em por-

tugal. isso obviamente pondera-se

quando se fazem determinado tipo

de investimentos, ou quando se tem

de optar de investir num lado ou

noutro, e é um factor que também

acaba por ter o seu peso.

Tal como as leis laborais?

tal como as leis laborais. hoje as

pessoas escolhem os investimen-

tos e onde os irão fazer em função

de um conjunto de factores de

competitividade. competitividade

fiscal, competitividade no campo da

legislação laboral, são ingredientes

tradicionais de uma boa competiti-

vidade.

Há quantos anos se encontra no

Jerónimo Martins?

estou na empresa há quase nove

anos. sou presidente da comissão

executiva desde 2004.

Portanto, de 2004 para cá houve

um salto qualitativo.

Não, têm havido enormes saltos

neste grupo que já tem 217 anos.

um dos grandes saltos foi dado nos

anos 50. Fizemos a nossa joint-ven-

ture com a unilever em 1949 e daí

para a frente tem sido um caminho

de sucesso enorme e crescimento

muito, muito importante para o gru-

po. Nos anos 80 toda a revolução

da área do retalho e da distribuição

alimentar em portugal foi uma fonte

de crescimento enorme para o gru-

po e deu um salto e aí a verdadeira

revolução. eu diria que a presença

na bolsa acabou por dar ainda mais

visibilidade a essa revolução que

aconteceu nos anos 80-90. acede-

mos à bolsa em 1989. De 2000-01

para cá deu-se um salto qualitativo

interessante, mas o crescimento

não foi muito maior ou muito menor

do que já tinha acontecido nos anos

50 e 80. portanto, considero mais

um ciclo de bom desenvolvimen-

to do grupo. Neste momento, as

pessoas salientam o bom desenvol-

vimento da empresa no mercado de

capitais e no desenvolvimento do

valor da acção. É, talvez, essa evo-

lução qualitativa que as pessoas ➤

Page 72: Diplomática n.º7

72 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ têm hoje mais presente, mas o

grupo tem de facto símbolos enor-

mes na sua história de 217 anos,

com uma enorme cultura de provo-

car a revolução e a mudança e este

é apenas mais um capítulo.

Dá-me a ideia também que quan-

do vocês, por necessidades

de mercado também, durante a

Guerra criaram a Fima e depois

essa parte industrial parece que

se foi esbatendo ao longo dos

anos, dedicando-se mais à parte

do comércio.

É verdade que numa determinada

altura representou uma parte mais

importante em percentagem do

volume de negócios da empresa.

Na altura tínhamos de facto ali uma

área de grande presença e grande

crescimento, e o nosso relaciona-

mento com unilever deu-nos até

uma quase presença internacional

que na altura nos faltava. a partir

dos anos 80 e, realmente com este

decisão estratégica de estar no ne-

gócio da distribuição alimentar, foi

perdendo espaço. mas apesar de

tudo a nossa associada, em parce-

ria com a unilever, continua a ser

líder de mercado em praticamente

todas as áreas onde está presente.

Nós somos sempre o número um

e com forte liderança no mercado,

forte sentido de inovação, forte

sentido de satisfação dos clientes

e de transferência a nível de todo

o Know-how a nível mundial para

o mercado português. De maneira

que, hoje, todos os lançamentos de

grandes produtos continuam a ser

lidos em portugal em linha do que

é feito no resto do mundo. Nesse

sentido tem uma presença fortís-

sima. pode crescer para além do

que é portugal? claro que isso não.

estamos confinados a este relacio-

namento com unilever em portugal,

enquanto que na distribuição do

alimentar nos temos sentido mais

libertos. temos um parceiro em

portugal, que é a empresa holande-

sa old, mas não estamos condicio-

nados para investir noutros lados.

ora, neste momento, só a polónia

representa cinquenta por cento do

nosso volume de negócios e isso

obviamente reflecte-se na percen-

tagem que a nossa área industrial

tem. Não significa que estejamos

hoje menos empenhados do que

alguma vez estivemos na indústria,

continuamos empenhadíssimos em

fazê-la desenvolver e fazê-la conti-

nuar a ser a maior área industrial no

país no negócio alimentar. há uma ➤

➤ coisa que a indústria traz também

para o grupo jerónimo martins, e

que nos ajuda a dizer aquilo em

que temos imenso orgulho, é que

somos o maior grupo do alimentar

do país. sem a nossa componente

alimentar não sei se poderíamos

dizer com esta forma tão aberta e

tão orgulhosa que somos o maior

grupo alimentar do país.

Falou há pouco do Brasil, que

não foi um falhanço, não houve

foi capacidade para estar em vá-

rios lados ao mesmo tempo, e a

Inglaterra o mesmo caso, porquê,

quando toda a gente fala que o

el dorado é Angola, o Jerónimo

Martins não investe em Angola?

cada grupo tem de encontrar um

filão, não vale a pena quando

se tem filão de sucesso andar a

procurar por todos os lados. e, tem

de se procurar coisas que este-

jam em perfeita consonância com

aquilo que já sabemos fazer. Nós

estamos presentes em portugal na

área dos supermercados de onde

somos de longe os maiores, temos

esta relação com a unilever, temos

a nossa área de cash & carrys’s

que é também a área líder no país,

temos a nossa presença na poló-

nia e temo-nos interrogado muito

sobre qual é o filão. o filão que nós

sentimos que há actualmente é en-

contrar áreas onde a complemen-

taridade com o que temos, neste

momento, se possa desenvolver.

uma das áreas que temos procura-

do é a europa de leste, ou a pró-

pria polónia, explorando diferentes

possibilidades: ou a distribuição ou

mesmo nalgumas circunstâncias a

indústria, mas alavancando a nossa

posição de completa liderança do

mercado polaco. por isso temos

gasto muito tempo a estudar os

outros países à volta e é um estudo

que já vem desde há anos, como

lhe disse não estudámos na altura

apenas a polónia. Fomos estudan-

do a hungria, a república checa,

os países bálticos, a eslováquia,

mais recentemente a ucrânia, a

roménia e a rússia têm de certa

maneira absorvido grande parte da

nossa atenção. Não quer dizer que

não tenhamos estudado angola,

mas angola coloca desafios para

os quais nem toda a gente não tem

de momento o Know-how total. a

nós não assusta andar à procura de

Know-how para entrar em angola,

mas são desafios muito diferentes

daqueles que temos, por exemplo,

se quiséssemos expandir a bie-

dronka para outros lados. isso nós

sentimos que podíamos fazer com

um conjunto de recursos financei-

ros relativamente limitado e indo

directamente ao formato que tem

tido sucesso na polónia. começar

qualquer coisa de novo em angola

é um caminho que é difícil de ver a

complementaridade que tem com

o que já fazemos neste momento,

é também mais uma outra ponte

para uma parte distante do plane-

ta e com formatos com que nós,

neste momento, não trabalhamos.

Não nos parece possível, neste

momento, um formato normalíssi-

mo pingo Doce em angola, mas

parece-me possível, com algumas

dificuldades logísticas evidentes no

país, começar uma actividade de

dimensão noutro qualquer formato

Luís Palha da Silva

Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

Page 73: Diplomática n.º7

73julho/setembro 2010 - Diplomática •

como os cash & carry’s e, por isso,

embora não estejamos assustados

com as dificuldades, bate muito

mais certo aquilo que é preciso

fazer noutros mercados com aquilo

que já sabemos fazer. portanto,

angola não me parece que possa

estar nas nossas prioridades, pois é

preciso desenvolver um conjunto de

competências que neste momento

não estamos em condições de as

desenvolver.

E Espanha?

espanha está sempre presente.

Nós, nem quase damos por isso

mas, competimos permanentemen-

te com espanha. as pessoas que

passam a fronteira de um lado para

o outro são muitas e nós temos

de estar preparados para isso. No

entanto entrar em espanha tam-

bém levanta os seus problemas.

Numa determinada altura porque o

conjunto de empresas que traba-

lhavam no mercado era demasiado

poderoso e conhecedor do mercado

espanhol, neste momento com a

crise não é a melhor altura para

entrar naquele mercado. estamos

atentos mas as oportunidades não

têm surgido.

Falando do mercado nacional.

Há fornecedores que se queixam

de colegas do Jerónimo Martins,

de outros grandes grupos, que

estão a ser explorados por eles.

Por enquanto não se tem ouvido

falar no Jerónimo Martins, é uma

política diferente que têm em

relação aos fornecedores?

eu acho que o sistema da distri-

buição alimentar em portugal tem

vindo a evoluir. evoluiu numa deter-

minada altura, nos anos 80, de uma

forma muito rápida, mais recente-

mente, com leis mais liberais e com

a entrada de novos operadores,

também deu um salto importante

no desenvolvimento, e quando

acelera nem toda a gente reage

positivamente e começam a surgir

alguns descontentamentos. eu

acho que não há motivos para os

descontentamentos. o consumidor

tem motivos globais de desconten-

tamento. o consumidor tem vindo a

beneficiar de uma distribuição cada

vez mais sofisticada, mais moderna

e de acordo com os seus interesses

e, se pensar bem, os consumidores

têm beneficiado, nos últimos anos,

de um grande desenvolvimento de

um conjunto de produtos que hoje

está banalizado, mas que há uns

tempos atrás eram coisas quase de

luxo. o salmão, entre outros. ➤

luís palha da silva

Page 74: Diplomática n.º7

74 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ são produtos trazidos pelo desen-

volvimento do comércio moderno

e que tem contribuído muito para

que as pessoas acedam a níveis

superiores de satisfação. os preços

dos produtos são hoje 20 ou 30 por

cento mais baratos, nalguns casos,

estou a dizer mesmo em termos

reais, não apenas nominais, do que

eram há dez anos. e, portanto, tem

havido um grande desenvolvimento.

claro que num processo de desen-

volvimento muito acelerado há uns

ou outros que sofrem um bocadinho

mais que, aqui e ali,

têm algumas dificul-

dades em manter

a competitividade

e, eventualmente,

queixar-se-ão. eu não

acho que, e falo em

termos do sector não

exactamente em nome

do nosso grupo, a dis-

tribuição moderna ou a distribuição

das grandes empresas tenha tido

esse papel perdatório que alguns

dizem. tem feito o que é possível

e desejável para o cada vez melhor

bem-estar do consumidor. Nalguns

casos, o preço dos produtos im-

portados, por alguns grupos que

estão presentes, forçam a que as

negociações com os produtores

nacionais se encaminhem para uma

exigência de cada maior eficiência

e melhor preço para as empresas,

que as empresas de distribuição

depois canalizam para os consu-

midores. a alternativa para quem

compra um produto qualquer que

não baixa de preço é comprá-lo no

exterior e trazê-lo, e por isso mes-

mo, por vezes, nas fronteiras há um

comércio muito grande que resulta

da ineficiência do próprio sector

da indústria e da distribuição e do

relacionamento com o consumidor.

portanto, as queixas, do meu ponto

de vista, são naturais mas nunca

revelaram ser uma ultrapassagem

de relações éticas de negociação

entre distribuidores e fornecedo-

res. aqui e ali é preciso dizer que

algumas empresas se colocaram

elas próprias fornecedoras numa

situação de alguma dependência.

se uma pessoa passa a ter um

distribuidor com 60 ou 70 por cento

das suas vendas fica numa situa-

ção de grande dependência. Não

é uma situação que a distribuição,

ela própria, também goste de ter,

porque depois vai ter essas queixas

caso aconteça alguma coisa. mas

o distribuidor hoje tem

de ser um advogado

permanente dos seus

consumidores. se os

produtos não têm a

qualidade e o preço que

devem ter a distribuição

tem também a obriga-

ção de continuar a lutar

com a indústria para se

alcançar um nível de eficiência que

é normal noutros mercados. por

isso geram-se muitos descontenta-

mentos sim. eu acho que a distri-

buição alimentar moderna, assim

como a indústria, em portugal, não

tem nenhum comportamento que

vá para além dessa evolução, no

sentido de cada vez melhor serviço

prestar ao consumidor.

A questão do leite!

o leite é um caso típico. o preço

reduziu em toda a europa e portu-

gal seguiu esse caminho. a quali-

dade do leite, hoje, é insofismável,

ninguém a põe em causa. trata-se

de um assunto que tem muito a

ver com o preço. o preço tem que

seguir aquilo que é normal. há um

excesso de oferta em toda a euro-

pa e estão a fazer-se reestrutura-

ções no sector? sim. sofre portu-

gal como sofrem todos os outros

países. No fim de contas feitas vai

ter de se encontrar uma solução

que beneficie o consumidor. Quem

é que sofre pelo meio? todos um

pouco. o produtor e o distribuidor.

o distribuidor nas margens do leite

tem percentagens que não dariam

para trabalhar em circunstâncias

normais. são fazes de adaptação.

o nosso grupo orgulha-se de ter um

relacionamento saudável, aliás faz

parte do nosso código de ética ter

um relacionamento saudável com

os produtores. Quer isso dizer que

não somos exigentes? Não. Quer

isso dizer que num qualquer caso

não temos de abandonar algum

produto ou algum fornecedor?

Não. Às vezes temos que abando-

nar porque não corresponde aos

nossos critérios de preço ou não

corresponde aos nossos padrões

de qualidade. mas mantemos

uma relação o mais saudável e

mais estável que podemos com os

nossos fornecedores. Daí que eu

sinta, embora num caso ou noutro

possa haver queixas, não creio

que sejam queixas significativas de

mal-estar num relacionamento. De

uma maneira geral, creio que hoje

todos os industriais compreendem

que a distribuição vive processos

de concorrência muito violentos e

que nenhum grupo pode deixar de

exigir o melhor para si e para os

seus clientes.

Que apreciação faz às leis labo-

rais? Acha que estão bem ou que

poderiam ser mais abertas para

beneficiar o funcionamento do

comércio?

o grupo tem no seu código genético

uma paixão muito grande que é a

liberdade de poder trabalhar. Quan-

to mais liberais forem as leis, em

todos os aspectos, obviamente que

as consideramos mais favoráveis

para a competitividade do país. mas

devo dizer que nós também somos

um grupo com uma forte raiz familiar

e com uma forte raiz pela preocu-

pação social. mesmo antes das

leis acontecerem, nós temos essas

preocupações. o desemprego ➤

O GRUPO TEM

NO SEU CÓDIGO

GENÉTICO UMA

PAIXÃO MUITO

GRANDE QUE É A

LIBERDADE DE

PODER TRABALHAR.

Luís Palha da Silva

Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

Page 75: Diplomática n.º7

75julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ é a solução para alguns dos

problemas que afectam a econo-

mia das empresas? por exemplo, o

nosso presidente, quando esta crise

começou a tornar-se uma coisa

óbvia e violenta, desde o princípio

disse que a solução para nós não

passaria pelo desemprego. Noutros

casos e noutras empresas é quase

sempre essa a primeira solução.

Nós aqui preferimos imaginar outras

coisas antes de usar a liberdade de

fazer seja o que for no que respeita

à redução dos custos de trabalho.

temos uma preocupação que tenta-

mos compatibilizar entre obviamente

em cada momento termos os recur-

sos com a qualidade e quantidade

que queremos de trabalho, com uma

outra grande preocupação que, de

facto no nosso grupo a única coisa

verdadeiramente importante que

temos para nos ajudar a ter suces-

so nos mercados, são as pessoas.

Nem sempre é possível compatibi-

lizar tudo. eu diria que nós temos

ido por vezes mais à frente que as

próprias leis nesta preocupação so-

cial. por isso, não considero que as

leis sejam muito, muito condiciona-

doras da nossa actividade, embora,

em certos casos, assuntos como a

polivalência, a flexibilidade, a capa-

cidade de transferir pessoas e etc.,

pudessem eventualmente serem

mais favoráveis. contudo, não sinto

que seja a nossa principal preocu-

pação. julgo, por exemplo, numa

determinada altura outro tipo de leis

como licenciamento comercial foram

muito mais restritivas da nossa acti-

vidade do que as leis laborais. e, aí

tem até menos sentido que o estado

intervenha dessa forma. condicio-

nar o aparecimento de lojas porque

acha que já há muitas parece-nos

uma orientação tonta e sem qual-

quer sentido de longo prazo.

E o relacionamento com as au-

tarquias em relação aos grandes

espaços?

as autarquias têm um papel ime-

diatamente ligado ao licenciamen-

to comercial, mas, a maior parte

das vezes, fazem-no duma forma

quase automática. a capacidade

que têm de intervir diz respeito

ao cumprimento de determinadas

regras e não exactamente ao pro-

cesso de poder abrir ou não um

espaço, embora tenha uma certa

intervenção. eu julgo que passa-

dos uns anos de desenvolvimento

comercial do país, a maior parte

das autarquias começaram a ver

que também a área da distribui-

ção alimentar não é só mantendo

o comércio mais altivo que se traz

riqueza para os concelhos. e é

provavelmente numa certa com-

plementaridade, que eu acho bem

que haja alguns esforços pelas

autarquias para que se mante-

nham, que, se calhar, se encon-

trará um equilíbrio saudável. Não

me parece que, neste momento,

haja muitos municípios que defen-

dam a total presença do mercado

tradicional e sem a presença de

um mercado de instalações mais

modernas. já se viu em termos

de preço, em termos de qualidade

e diversidade dos produtos que

haver lojas mais modernas é um

grande benefício para as popula-

ções e evita até que migrem para

outras zonas pela ausência de

mínimo de bem-estar na compra

de produtos alimentares. portanto,

como a maior parte das câmaras

do país já têm esta filosofia nós

não temos sentido muita dificulda-

de. aquilo que existe muitas ve-

zes é a discussão de pormenores

de instalação ou de funcionamen-

to. sentimo-nos, a maior parte das

vezes, bem-vindos nos municípios

portugueses.

Seja ele de que cor for?

sim, a cor não é uma coisa muito

relevante nessa problemática.

Aquela vossa experiência de liga-

ção com o BCP em alguns super-

mercados ainda continua?

Nós ainda temos alguma presença,

mas não institucional. tínhamos

uma presença 50/50 num banco

que funcionava dentro das nos-

sas lojas, mas isso acabou. Neste

momento existe uma colaboração

normal com o bcp como podería-

mos ter com outro banco qualquer.

em alguns supermercados ainda

existem alguns bancos, mas que

nos pagam uma pequena renda e

nada mais que isso.

Foi uma experiência falhada?

Foi uma experiência que teve o seu

tempo. o bcp também achou que

não era uma área que quisesse de-

senvolver muito. para nós era uma

área que condicionava um pouco a

nossa actividade. Ficámos ambos

satisfeitos da maneira como foi

feita. Foi uma situação que amadu-

receu de uma maneira que não foi

no sentido do crescimento

uma coisa que me parece muito

importante, uma vez que se diri-

gem a um mercado que para nós

tem muita importância, é o grande

impacto que pode ter uma pre-

sença diplomática num país onde

estão presentes as empresas por-

tuguesas. temos podido contar,

por exemplo na polónia, com um

grande empenhamento das mis-

sões diplomáticas ali presentes.

É um descanso que temos muito

grande e é isso que sentimos que

também pode ser feito no esforço

diplomático. É grande esforço eco-

nómico que é, muitas vezes, de

mero acompanhamento. Não há

nada que possa ser directamente

realizado pela presença diplomáti-

ca, mas sentir o acompanhamento

é uma coisa que ajuda muitos os

grupos portugueses. Nós temos

tido essa sorte, esperemos que

seja essa a filosofia de todos os

embaixadores pelo mundo fora. n

j. m. teixeira

Page 76: Diplomática n.º7

76 • Diplomática - abril/maio 2009

José Joaquim Oliveira - administrador Delegado e presidente da ibm portugal

O Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal é um profundo conhecedor

da realidade da empresa, onde leva já três décadas de serviço. Antes de assumir a

chefia da representação americana em Lisboa foi responsável pela área de negócio

na divisão de software da IBM para a Península Ibérica.

Natural de Lisboa, José Joaquim Oliveira fala-nos da presença da IBM em terras lu-

sas e das novas áreas de negócio para o futuro: cidades, energia e saúde. ➤

“Os clientes são a nossa razão de ser no mercado e o sucesso dos clientes orienta a nossa actuação no mercado”

gestores internacionais

Page 77: Diplomática n.º7

77abril/maio 2009 - Diplomática •

➤ Faça-me uma breve biografia

sua. Como surgiu na empresa?

Estou na ibm há muitos anos. a ibm

foi o meu primeiro e único emprego.

Entrei, andava ainda a estudar. Fiz

formação em engenharia, mas não

acabei o curso. tenho uma carreira

de mais de três décadas ao serviço

da empresa, passando por várias

etapas. comecei na parte técnica a

trabalhar como programador, ana-

lista de sistemas informáticos, entre

outras coisas; a determinada altura

passei para a área comercial como

vendedor de sistemas informáti-

cos para computadores e fiz uma

evolução progressiva nessa área,

passando a director de marketing e

de vendas, acumulando ainda outras

funções de chefia ao longo da minha

vida na área comercial; noutra fase

da carreira tive algumas responsa-

bilidades internacionais, mas sem

nunca ter trabalhado por um período

extenso noutro país, deslocava-me

apenas esporadicamente; assumi

também a área de negócio da ibm

para a península ibérica na divisão

de software e, finalmente, dessa

posição passei para o cargo de ad-

ministrador Delegado e presidente

da ibm portugal, em 1998. Nestes

últimos 12 anos tenho estado na

liderança da empresa. tenho 59

anos, nasci e estudei em lisboa.

Sou alfacinha de gema. Sou casado

e tenho um filho.

A presença da IBM em Portugal e

também no mundo.

a ibm corporation (internacional) vai

fazer 100 anos para o ano. Nasceu

nos Estados Unidos da américa e

começou por ser uma empresa a

nível local, transformando-se depois

numa multinacional e, hoje, é uma

empresa que actua numa lógica de

gestão global e não multinacional.

a ibm corporation obteve, no ano

passado, uma receita de 103 mil

milhões de dólares. No que diz

respeito ao capital humano, somos

380 mil funcionários que operam em

todo o mundo, sobretudo em quatro

continentes: Europa, américa, ásia,

oceânia e, também, já estamos pre-

sentes em áfrica. temos 170 locali-

zações em mais de 100 países. Em

portugal estamos desde 1938, va-

mos fazer 72 anos, e somos líderes

a nível nacional, tal como acontece a

nível mundial, neste sector da tecno-

logia de informação. portanto, desde

1938 que nós ajudámos a construir e

a criar aquilo que é o mercado de in-

formática no país. tudo o que existe

hoje de tecnologia de informação no

mundo e, naturalmente, em portugal

se deve em muito em larga medida

àquilo que a ibm fez.

Em Portugal têm uma delegação

em Lisboa e outra no Porto?

temos uma delegação no porto

e em lisboa temos a sede e mais

três escritórios. Somos em portugal

cerca de 1200 empregados e temos

no sector uma posição cimeira de

liderança.

Qual a visão, missão e valores da

IBM?

Nós temos uma gestão global e os

valores são também únicos e aplica-

dos em portugal. os nossos méto-

dos assentam no plano de sucessão

de valores para os nossos clientes.

ajudar os nossos clientes a resol-

ver os seus problemas através das

soluções informáticas. temos um

enfoque absoluto nesse domínio. o

cliente, para nós, é sagrado e está

acima de todos os outros aspectos

e condiciona em todas as vertentes

a nossa actuação e o nosso desen-

volvimento enquanto organização.

Somos, hoje, uma empresa muito

focada na criação de tecnologia

neste sector de marca de computa-

dores, hardware, software e, ainda,

no desenvolvimento de serviços e

de prestação de serviços de valor

para os nossos clientes. procuramos

implementar sucessões de valor,

utilizando a nossa tecnologia e capa-

cidade de serviços.

Quais são esses produtos e

serviços que têm ao dispor dos

clientes?

Em matéria de produtos temos uma

oferta diversificadíssima e vastíssi-

ma de software (programas) para

fazer as mais variadas tarefas. Na

área de hardware temos servidores.

apesar de termos sido, em determi-

nado período da nossa história, os

criadores da computação pessoal –

pc’s –; hoje, já não temos essa linha

de negócio, alienamo-la porque em

certa altura fizemos uma evolução

estratégica e fizemos escolhas ao

apostar em determinadas áreas e

desinvestir noutras. Uma das quais

em que desinvestimos foi precisa-

mente a dos pc’s, porque é uma

área de baixo valor, não tem valor

acrescentado, e nós focámo-nos nas

funções de valor acrescentado – ser-

vidores de todo o tipo para soluções

informáticas. Nesta categoria temos

ao dispor dos clientes servidores de

hardware e sucessões de armazena-

mento de dados. No software temos

uma gama muito diversificada de

programas para correrem nos nos-

sos computadores e em computado-

res de outras marcas. Nos serviços

temos ofertas que vão desde da

implementação de sucessões tecno-

lógicas à consultoria de negócio que

faz a ligação entre o negócio e as

soluções informáticas até serviços

de outsourcing das infra-estruturas

tecnológicas até a outsourcing de

processos e ou de aplicações. te-

mos uma oferta completa e abran-

gente de alternativas de outsourcing,

mas sobretudo de consultoria e de

serviços de implementação de su-

cessões tecnológicas.

Esta é uma área em constante mu-

tação. Quer avançar algum produ-

to que estejam a desenvolver?

Nós estamos em permanente evolu-

ção. Este é um sector muito dinâmi-

co e de desenvolvimento acelerado. ➤

Page 78: Diplomática n.º7

78 • Diplomática - abril/maio 2009

➤ Neste momento, produtos há

muitos e a saírem com relativa fre-

quência: novas versões de produtos

já existentes, novas máquinas com

processadores mais potentes e com

maior capacidade para se poderem

fazer coisas ainda mais desafiantes.

Hoje, o mundo está muito dependen-

te da informática e dos sistemas de

informação.

Isso acontece num curto espaço

de tempo. O novo produto des-

valoriza imediatamente a versão

anterior.

É verdade, mas isso é uma coisa

boa. os clientes, os utilizadores,

não são obrigados a irem a correr

comprar a última moda. tal como

aconteceu ainda agora com a apple,

com o lançamento do ipad, em

que foi uma correria para comprar

o produto. mas isso são gadgets e

nesse sector é um pouco diferente.

Há os fanáticos dos gadgets que

adquirem a última moda de um

computador ou telemóvel. Não tem

de ser assim, e nos computadores e

sistemas informáticos das empresas

isso pode acontecer porque nós, a

cada três meses, lançamos produ-

tos novos. agora, as empresas não

são obrigadas a estar a actualizar

os seus sistemas ao ritmo que o

sector lança novos produtos. isso é

a loucura. mas é bom que o de-

senvolvimento se mantenha a este

ritmo porque isso produz inovação,

melhoria e novas capacidades à

disposição do mercado e das empre-

sas uma capacidade de evolução,

que de outra forma provavelmente

não teria. Não é desejável que haja

limitação nessa euforia criativa e

nesse desenvolvimento acelerado.

Não é bom que isso se retraia, pelo

contrário, nós alimentamos isso e

vamos lançando novos produtos. a

ibm investe, por ano, em desenvolvi-

mento tecnológico e em investigação

e desenvolvimento cerca de 6 mil

milhões de dólares. É muito dinhei-

ro. isto para criar novos produtos e

desenvolver nova tecnologia. pro-

duzimos com isso, por ano, à volta

de 4500 patentes de produtos que

resultam desse investimento e que

são criadas nos nossos laboratórios.

É muita patente e muita criativida-

de. Grande parte depois demora

algum tempo até se transformar em

melhoria de produtos e soluções

tecnológicas comercializáveis e que

resolvam problemas da vida comum.

têm de ser testados, experimenta-

dos, colocados no mercado, tem de

haver um período de habituação no

mercado, absorção. mas esse ritmo

é saudável, é desejável que seja

assim, porque se não for assim, o

contrário disto é estagnar, e estag-

nar é mau. Nos dias de hoje, de

facto, há essa ideia de que é difícil o

mercado acompanhar este ritmo de

desenvolvimento, mas é o mercado

que acompanha ao seu próprio ritmo

e não ao ritmo da criação. mas é

bom que assim seja, porque a his-

tória prova que o desenvolvimento

e este aumento de capacidade, que

este sector tem colocado à disposi-

ção das organizações e do mercado,

tem sido um dos principais motores

de desenvolvimento da sociedade.

o mundo existe tal como o conhece-

mos e temos ao nosso dispor muita

coisa nesta era pós-industrial, nesta

era moderna, exactamente porque

alguns sectores industriais propor-

cionaram esse conforto e bem-estar

de que dispomos. E um dos sectores

que mais contribuiu para isso foi cla-

ramente o sector das novas tecno-

logias da informação. a internet tem

a ver connosco, assim como os com-

putadores, os telemóveis e todas

essas maravilhas que sem as quais,

hoje, não somos capazes de viver

resultam desta euforia inovadora que

tem caracterizado este sector.

O que distingue a IBM dos seus

concorrentes?

Nós somos uma empresa iminente-

mente criativa e temos tido sempre,

ao longo da nossa existência e da

nossa história, uma capacidade de

criar e inovar que nos tem colocado

à frente dos nossos concorrentes.

Nós temos marcado o ritmo (acho

que podemos dizer isso) de de-

senvolvimento da indústria. Esta

indústria tem, de facto, a nossa

marca e fazemos isso de uma forma

já muito natural. E é um facto que

esta indústria tem-se baseado muito

nesta postura da ibm, de permanen-

te criatividade e inovação. Demos

até origem a todas as maravilhas e,

as empresas que existem no merca-

do, e que algumas hoje são nossas

parceiras e concorrentes, muitas

delas nasceram do nosso seio e

daquilo que nós fizemos no sector.

o que nos tem distinguido também é

a nossa postura perante os clientes.

os clientes são a nossa razão de ser

no mercado e o sucesso dos clientes

orienta a nossa actuação no merca-

do. Há outras coisas que poderiam

ainda ser referidas, mas aquilo que

tem sido mais distintivo na ibm, no

meu entender, é isto: o enfoque no

cliente e a inovação que fazemos no

nosso desenvolvimento.

Neste momento como avalia o

mercado nacional e global, tendo

em conta que estamos a atraves-

sar uma crise económico-financei-

ra? Pelos valores que já referiu, a

IBM tem passado ao lado dessa

crise.

Não, temos sentido. Eu acho que

toda a gente tem sentido a crise,

agora há formas diferentes de a sen-

tir. a ibm tem apresentado, nestes

últimos anos – no ano passado e em

2008, o período mais aguda desta

suposta crise, bons resultados, no

global. Naturalmente que as receitas

ressentem-se porque as empresas

estão a gastar menos dinheiro. Em

todos os sectores se está a gastar

menos dinheiro e a investir menos.

Sendo assim, não há milagres. Se ➤

José Joaquim Oliveira

Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal

Page 79: Diplomática n.º7

79abril/maio 2009 - Diplomática •

ses programas da responsabilidade

social que, no fundo, consiste em

doarmos a jardins-de-infância um

sistema informático – um computa-

dor com software apropriado para

crianças dos três aos seis anos. isto

propícia a essas crianças o contacto

inicial com computadores e com a

informática numa idade tão tenra,

mas é uma idade em que do ponto

de vista cognitivo é muito importan-

te. É um sistema que temos vindo

a desenvolver no nosso país já há

vários anos e que abrange mais de

250 jardins-de-infância.

Têm outras iniciativas do género?

Sim, temos outros programas deste

tipo dirigidos à educação. Na área

da responsabilidade social damos

muita importância à educação e

temos mais programas dirigidos a

outras idades e faixas etárias de

desenvolvimento, como por exem-

plo: ao ensino secundário. No fundo

estes programas têm como objectivo

ajudar os jovens a desenvolver as

suas capacidades na área das ciên-

cias. para as raparigas entre os 11

e 13 anos temos um programa que

tem o objectivo de as motivar para

as disciplinas da ciência. as mu-

lheres têm mais tendência para as

letras e diz-se que a ciência é mais

para rapazes. isso é um mito que ➤

➤ em todos os sectores se investe

menos e há menos despesa cor-

rente, naturalmente que quem vive

disso ressente-se. E, portanto, nós

ressentimo-nos, tal como todos se

ressentem. agora, apesar disso, nós

apresentámos belíssimos resultados

do ponto de vista de rentabilidade

e melhorámos o nosso desempe-

nho em todos os outros indicadores

financeiros, porque temos uma

estrutura e uma organização que

nos dá grande flexibilidade para nos

ajustarmos constantemente. temos

uma organização preparada para

isso e estamos mentalmente prepa-

rados. Há um conjunto de factores

físicos e emocionais que nos permi-

tem ajustar com rapidez àquilo que

são as vicissitudes, nuances e mu-

danças do mercado. Deste modo,

nós ajustámo-nos e adaptámo-nos

à realidade e conseguimos, por

incrível que pareça, melhorar até os

nossos resultados numa situação de

crise como temos vivido. isto quer

a nível global, quer a nível nacional.

os resultados em portugal são o

espelho dos resultados globais. Não

temos números individuais porque

não fazemos a divisão. temos

apenas os resultados totais, mas

acompanhamos.

Falando agora em projectos e

parcerias da empresa com outras

instituições, li que a IBM está

envolvida no projecto “Centro de

Aprendizagem KidSmart”. Em que

consiste?

isso é um projecto da nossa área de

responsabilidade social, um domí-

nio em que as grandes empresas

vêem também como um importante

enfoque. Nesse aspecto somos

igualmente os campeões da susten-

tabilidade e responsabilidade social.

praticamos programas de responsa-

bilidade social praticamente desde

que existimos e que fizeram escola

no mundo, sendo até exemplos a

seguir. Esse “KidSmart” é um des-

José Joaquim oliveira

Page 80: Diplomática n.º7

80 • Diplomática - abril/maio 2009

➤ nós procuramos combater. temos

ainda outros programas que visam

melhorar a relação dos jovens com

os sistemas de informação e ajudar

no seu próprio desenvolvimento.

outros programas interessantes são

os de mentoring, em que nós somos

mentores e ajudamos, já na fase

final universitária, alguns estudantes

no seu desenvolvimento académico

e na sua preparação para o futuro

profissional, entre outros programas

deste tipo na área da responsabilida-

de social. as parcerias com o ensino

universitário são também uma das

nossas marcas. Essa relação consis-

te em variadíssimos aspectos: desde

um prémio científico que temos em

portugal há 20 anos que premeia

os jovens cientistas portugueses até

programas que passam por doação

de tecnologia às universidades e

prémios para os estudantes.

Recuperando duas deixas que

referiu durante a nossa conversa,

uma no início, da relação ibérica

da qual foi responsável, e a outra

sobre o mercado de África, que é

bastante apetecível de momento.

Comecemos pela questão ibérica,

como vê esse mercado entre Por-

tugal e Espanha e a relação entre

as empresas dos dois países?

No nosso caso operamos numa or-

ganização do Sul da Europa, da qual

faz parte Espanha e portugal, e que,

neste caso, os dois países formam

uma espécie de organização única,

que trata do desenvol-

vimento do negócio na

península ibérica, mas

com independência. por-

tanto, temos uma ibm

em portugal e outra em

Espanha e trabalhamos

em estreita colaboração,

pode dizer-se, muito

íntima mesmo. Nesta colaboração

materializa-se mais numa ajuda de-

les a nós porque a dimensão do país

e da própria ibm é maior e têm mais

recursos. Depois no nosso grupo do

Sul da Europa temos outros países

também com a sua organização

local, como a itália, França, Grécia,

benelux, entre outros. Vamos lá ver,

o mercado ibérico, no nosso con-

texto, não existe. cada organização

local actua no seu mercado. mas

colaboramos imenso e acaba por

haver aqui alguma sinergia, sobretu-

do no desenvolvimento de projectos

conjuntos ou de uma oportunida-

de de negócio. agora, o mercado

espanhol, mais no contexto para as

empresas portuguesas do que para

a ibm, é essencial para portugal.

É como uma extensão do nosso

mercado. É fundamental para nós

sermos bem sucedidos no mercado

espanhol por várias razões: porque

há uma questão de proximidade

geográfica, cultural e emocional que

deve ser aproveitada.

E a observação do mercado afri-

cano na óptica da IBM? Angola

desperta mais interesse ou há

outros países?

os americanos, de um modo geral,

estão a começar a descobrir áfrica.

até aqui tinham estado um pouco de

costas voltadas para aquele conti-

nente por razões históricas ou por

razões específicas de muitos países

africanos que, de facto, não são

atractivos e atravessam ou atra-

vessaram situações difíceis, o que

afugentou os americanos e fez com

que não fossem em força para áfrica

como foram para outros

continentes. mas, neste

momento, a situação

alterou-se e há um mo-

vimento pró-áfrica vindo

dos EUa. E isto não tem a

ver com o facto do presi-

dente obama ter raízes

africanas, porque esse

movimento já começou antes dele.

É reconhecido um potencial enorme

a áfrica e, agora, começam a existir

melhores condições de investimento:

situações políticas mais clarificadas,

pacificação, a questão da corrupção

é muito sensível e muito importante

e que tem sido uma das razões pe-

las quais as empresas americanas, e

no caso a ibm, não têm ido de peito

tão aberto para os países africanos,

e mesmo nesse aspecto começa a

haver mais transparência. Neste mo-

mento, a ibm está a entrar de uma

forma mais determinada e já temos

uma presença muito forte na áfrica

do Sul. a ibm tem uma tradição de

presença na áfrica do Sul já de há

muitos anos, mas que interrompeu

ao vender a subsidiária aos sul-afri-

canos aquando o apartheid. Voltou

depois desses problemas resolvidos

e estamos lá há mais de dez anos.

actualmente, é o país onde a ibm

está a actuar com maior força, mas

estamos a começar a instalar-nos

noutros países, nomeadamente nos

países lusófonos: angola, porque

tem um potencial enorme e tem hoje

condições que não existiam antes, e

outros países de áfrica onde a ibm

já desenvolve negócio. o conti-

nente africano é uma oportunidade

excelente onde existe espaço para

progredir e trabalhar, em que empre-

sas como a ibm e outras empresas

americanas têm uma palavra a dizer,

quer do ponto de vista que isso

representa uma oportunidade de

negócio para elas, quer do ponto de

vista que os países africanos podem

beneficiar de empresas tão desen-

volvidas como estas.

Outros projectos futuros para a

IBM?

como já referi, faz parte da nossa

estratégia investir em soluções que

resolvam problemas de mercado aos

nossos clientes e temos, hoje, um

enfoque muito grande e que marca

a nossa estratégia actual no merca-

do que tem a ver com o “Smarted

planet” – o “planeta inteligente”. isto

parte duma premissa para atingir um

objectivo. a premissa é: hoje ➤

O CONTIMEN-TE AFRICANO É UMA OPORTUNI-DADE EXCELEN-TE PARA PROGRE-DIR E TRABALHAR

José Joaquim Oliveira

Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal

Page 81: Diplomática n.º7

81abril/maio 2009 - Diplomática •

➤ existe no mundo uma capacidade

de computação imensa. o mundo

está instrumentalizado. Existem

computadores ou micro-chips com

capacidade de processamento de in-

formação em praticamente todos os

objectos: nos telefones, telemóveis,

frigoríficos, televisões, automóveis, e

muito outros. Estamos rodeados de

transístores e chips em tudo o que

é objecto. portanto, isso representa

uma capacidade digital imensa e

uma capacidade de computação

como nunca tivemos na nossa

história. por outro lado, vivemos

também todos ligados e conectados.

Há redes de comunicação por todo o

lado. a grande rede digital mundial,

a internet, permite que o mundo todo

esteja em contacto permanente, mas

também outras redes que se ligam

à própria internet e que fazem com

que tenhamos uma capacidade de

comunicação como nunca tivemos.

Estes dois mundos – capacidade de

computação e capacidade de comu-

nicação – permitem criar soluções

cada vez mais inteligentes e podero-

sas para resolver os mais variados

problemas no mundo. E é com base

nesta premissa que estamos foca-

dos em resolver, juntamente com os

nossos clientes e parceiros, proble-

mas reais da vida em sociedade.

a energia vai ser o nosso grande

desafio nas próximas décadas. re-

solver problemas como o consumo

e a produção de energia eléctrica, a

criação de alternativas ao petróleo,

de fontes energéticas diversificadas

e a racionalização da utilização da

energia da electricidade, mas não

só. Estamos com variadíssimas ini-

ciativas que vão desde os isqueiros

inteligentes de consumo de electri-

cidade e distribuição eléctrica até ao

desenvolvimento da tecnologia para

aperfeiçoar as energias renováveis

alternativas (a energia foto-voltaica

ou a térmica). Dentro deste sector

estamos a trabalhar com parceiros

de energia foto-voltaica, novas tur-

binas da energia eólica, em pratica-

mente todas as áreas das energias

renováveis. a escassez da água

potável é outro problema que atinge

o mundo e em que nós estamos

também empenhados na racionali-

zação do consumo e, também, na

dessalinização da água salgada para

se poder tornar potável e poder ser

consumida. as “Smart cities” são

outra nossa grande aposta. a cidade

é, hoje, o grande pólo de desenvol-

vimento da sociedade, e

dizem os sociólogos que

dentro de poucos anos

70 ou 80 por cento da

população mundial viverá

em cidades em detrimento

da vida no campo ou dos

subúrbios das cidades. as

cidades são, portanto, o

que mais vai impactar a nossa vida e

é importante que a vida nas cidades

seja confortável, saudável e susten-

tável, sobretudo. E nós temos va-

riadíssimos programas que visam a

sustentabilidade, o aumento de con-

forto e da melhoria das condições

de vida nas cidades, que vão desde

a questão da poluição, da gestão do

tráfego, dos edifícios inteligentes, do

consumo da electricidade e da água,

da gestão das cidades, da seguran-

ça e do policiamento nas cidades.

temos sistemas informáticos que

já são usados por polícias de Nova

iorque ou chicago e que os ajudam

a ser mais eficazes na segurança

dos cidadãos. Há uma imensidão

de projectos que caiem dentro deste

grande chapéu das “Smart cities”,

que dentro daquilo que nós cha-

mamos o “mundo inteligente”, seja

talvez a área de maior enfoque e em

que estamos a desenvolver vastas

soluções, utilizando a nossa tecno-

logia, e a de terceiros, e a nossa ca-

pacidade de serviços de implemen-

tação de soluções para resolvermos

muitos destes problemas. Este é,

talvez, o nosso maior marco estraté-

gico do momento, porque, de facto,

representa uma belíssima oportuni-

dade de negócio. até aqui foram as

tecnologias de informação, o sector

automóvel, o petróleo, os sectores

que determinaram o século XX e que

foram determinantes na evolução

do mundo. Eu penso que no futuro

há três grandes áreas de grande de-

senvolvimento e impacto e que vão

marcar o futuro do mundo, são elas:

a saúde, que é outra área onde nós

estamos muito aplicados

em todos os países, com

projectos de vanguarda na

melhoria quer dos cuidados

de saúde, quer como esses

cuidados são prestados aos

utentes, quer na investiga-

ção científica, quer no do-

mínio terapêutico; a energia

e as cidades. a saúde porque todos

querem aumentar a sua longevidade

e isso passa por resolvermos pro-

blemas de epidemias e doenças que

ainda não têm solução, sendo para

isso precisa muita capacidade de

computação para em laboratório se

desenvolverem as soluções adequa-

das. a energia porque a humanidade

vai enfrentar um desafio muito grande

nas próximas décadas que é como

encontrar uma alternativa ao petróleo.

Esta fonte de energia vai acabar e é

preciso encontrar uma via alternativa.

o petróleo não é substituível apenas

por energias renováveis e é preciso

descobrir novas fórmulas. É uma pre-

ocupação de todas as organizações

e pessoas responsáveis e a ibm está

muito empenhada nisso. E as cida-

des por aquilo que falei anteriormen-

te, porque são onde nós vamos viver.

a maioria das pessoas vai viver em

cidades e é preciso criar qualidade

de vida. portanto, a nossa estratégia

passa por estes sectores porque é aí

que se vai jogar o futuro do mundo e

da sociedade. n

ESTAMOS RODEADOS DE TRANSÍSTORES E CHIPS EM TUDO O QUE É OBJECTO

a. pinto

Page 82: Diplomática n.º7

82 • Diplomática - julho/setembro 2010

Varela Afonso - presidente da crédito agrícola seguros

“Fazemos uma gestão criteriosa e temos uma carteira de seguros muito equilibrada”

Iniciou a carreira em 1981 na Tranquilidade Seguros. Passou entretanto por outras segu-

radoras, onde desempenhou tarefas referentes essencialmente à área dos seguros de vida

e fundos de pensões. Em 2004, Varela Afonso assumiu a presidência da CA Seguros e o

crescimento tem sido notável. Destaca a qualidade e gestão da companhia o motivo para

se classificar como a melhor seguradora Não Vida naquele segmento de dimensão. ➤

Gestores internacionais

Page 83: Diplomática n.º7

83julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ Uma pequena biografia sua.

Como surgiu à frente da Crédito

Agrícola Seguros?

iniciei a minha carreira em 1981

na tranquilidade. Depois tive a

passagem para outras segurado-

ras por convite. Durante uma fase

inicial, e prolongada até há seis

anos atrás, andei essencialmente

pela área dos seguros de vida e

fundos de pensões. e desde há

seis anos que sou presidente da

ca seguros (ex-rural seguros),

uma área para os seguros Não

Vida. o grupo crédito agrícola

tem duas seguradoras: a crédito

agrícola Vida, um projecto em

que participei na sua constituição,

lançamento e gestão durante seis

anos, e a crédito agrícola segu-

ros para os seguros Não Vida a

que presido desde maio de 2004.

estive ligado a outras segurado-

ras, nomeadamente, a Garantia,

a europeia e a bonança. estive

também como administrador-

delegado da Fungest, uma socie-

dade gestora de fundos pensões.

portanto tenho um passado de 29

anos de actividade em segurado-

ras. Vim para a crédito agrícola

a convite do então presidente da

prosegur, hoje, ca seguros, que

tinha sido também o presidente

na companhia de seguros bo-

nança, onde eu também estive

e, portanto, convidou-me para vir

para este projecto para constituir

uma companhia nova, uma segu-

radora Vida.

Está então a chefiar o ramo Não

Vida?

portanto, sou presidente do con-

selho de administração da segu-

radora Não Vida, que era a rural

seguros, a agora crédito agrícola

seguros. Quase sempre estive

ligado à dinamização e ao lança-

mento da estratégia de banca-

seguros. ou seja, colocar o canal

bancário a comercializar seguros.

Como foi criar e desenvolver

esse projecto da CA Seguros?

criar uma empresa a partir do

zero é um desafio sempre muito

aliciante, tanto mais que neste

caso do crédito agrícola era criar

absolutamente do zero, inclusi-

vamente com colaboradores que

muitos deles iniciaram a activida-

de profissional na própria empre-

sa. É completamente diferente

comprar uma companhia chave-

na-mão, eventualmente com ne-

cessidades de tomar medidas de

reorganização e reestruturação,

mas no caso de partir do zero é

criar tudo. Desde as simples con-

dições de apólice aos modelos de

documentos, à organização, aos

manuais, entre outros. portanto,

constituir uma seguradora desde

a raiz, como aconteceu com a

crédito agrícola Vida, com pesso-

as jovens, é um desafio muito ali-

ciante. Felizmente neste projecto

estiveram inseridas pessoas que

quase todas elas se empenharam

e se dedicaram a cem por cento

e que, no fundo, hoje, continuam

a maior parte delas nas compa-

nhias. isso é bom sinal, é porque

o ambiente e a organização são

positivos.

É importantíssimo conquistar a

confiança dos clientes. Aposta-

ram em quê para o conseguir?

No caso da crédito agrícola, à

partida, há uma vantagem porque

os clientes da crédito agrícola

têm ligações muito estreitas às

caixas de crédito agrícola mu-

tuo. já foram mais de duzentas

caixas de crédito agrícola mutuo,

todas elas autónomas, com di-

recção e estatutos próprios. hoje

são 89 porque têm havido fusões,

de qualquer forma há essa vanta-

gem porque o cliente já conhece

a instituição e a entidade caixa

agrícola. No seu todo, a nível

nacional, o crédito agrícola tem

cerca de um milhão de clientes,

dos quais quatrocentos mil são

associados. o Grupo é conhecido

e torna-se mais fácil abordar e

cativar o cliente porque já conhe-

ce a organização em si. É acres-

centar mais uma prestação de

serviço, uma solução financeira

que é o seguro, quer seja para

a protecção deles como pesso-

as ou dos seus bens, quer seja

para dar cobertura em termos de

responsabilidade civil, porque

temos toda a oferta de seguros

Não Vida.

Qual a visão, missão e valores

da CA Seguros?

a nossa missão é clara: nós exis-

timos para prestar um serviço de

qualidade e excelência aos clien-

tes da crédito agrícola na área

da protecção dos seguros Não

Vida. a nossa visão é sermos

reconhecidos por esses mesmos

clientes como a sua seguradora

de eleição, isto é, que todos nos

reconheçam como a sua segura-

dora privilegiada.

As agências e delegações exis-

tem pelo país todo? Quantas

são?

temos representação de norte

a sul de portugal e na região

autónoma dos açores. são cerca

de setecentos balcões, tantos

quantos os balcões do crédito

agrícola no país.

Têm uma meta em número de

balcões?

em balcões não depende de nós.

Nós temos o produto e o serviço

onde estão os balcões das caixas

agrícolas, portanto nós não temos

nenhum balcão propriamente dito.

Como se estabelecem as ➤

Page 84: Diplomática n.º7

84 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ relações entre as várias agên-

cias e delegações?

Nós dividimos o país em onze

regiões comerciais, uma delas

é a região autónoma dos aço-

res. No continente temos dez

e onde nessa região reside um

colaborador nosso, efectivo no

nosso quadro do pessoal, que

é o delegado comercial que dá

apoio a um conjunto de caixas

agrícolas aos seus respectivos

balcões. como eu disse, exis-

tem 89 caixas agrícolas, mas

há setecentos balcões. a missão

destes colaboradores é dar apoio

a esses balcões em tudo o que é

formação, lançamento de acções,

motivação e tudo o resto que

está relacionado com os segu-

ros. portanto, estamos presentes

com esse apoio. temos depois a

nossa estrutura de marketing que

prepara toda a parte de suportes

comerciais e folhetos de comu-

nicação. colaboramos e desen-

volvemos ainda sinergias com a

caixa central (instituição que faz

parte das caixas agrícolas para

as quais colabora no sentido de

as ajudar a organizar) quer ao

nível da formação, quer ao nível

de planos de marketing.

Falou em Portugal Continental

e nos Açores como regiões co-

merciais. E a Madeira?

Na madeira, neste momento, não

existe nenhuma caixa agrícola, o

que não quer dizer que não venha

a acontecer.

É um objectivo?

Não compete à seguradora, mas

sim à parte bancária esse objec-

tivo. se abrir estaremos lá a dar

apoio.

Quais os produtos e serviços

que a Crédito Agrícola Seguros

coloca ao dispor dos clientes?

Nós, seguradora Não Vida, neste

caso a ca seguros, temos prati-

camente todos os seguros, com

a excepção do crédito e caução e

seguro aéreo. os nossos clientes

são empresas, mas sobretudo os

particulares. É tradição da crédito

agrícola ter a base em clientes

particulares. e para o segmento

dos particulares temos todo o tipo

de seguros, desde o seguro auto-

móvel até ao seguro de acidentes

de trabalho, saúde, habitação,

entre outros.

O que distingue a CA dos seus

concorrentes?

Dada a nossa dimensão não nos

preocupa tanto

compararmo-nos

com a concorrên-

cia em termos de

preços. a nossa

aposta é mais no

sentido de prestar

um serviço de qua-

lidade, garantindo e

aumentando aquela

relação que a crédito agrícola já

tem com os seus clientes. inclu-

sivamente temos vindo a crescer

em termos de cota de mercado,

mas não é isso que nos preocupa

tanto. o que nos preocupa mais

é sentirmos a cota de mercado

interna, ou seja, aquilo que de-

signamos de taxa de penetração.

isto é, fazer com que, cada vez

mais, os clientes da caixa agrí-

cola sejam também clientes da

seguradora do crédito agrícola.

portanto, essa é a nossa primei-

ra preocupação. Nós medimos

a nossa performance por essa

taxa de penetração e, também,

pelo índice de capitação (número

médio de apólice seguro que os

clientes têm connosco). estes são

os dois parâmetros essenciais.

Não olhamos tanto para o merca-

do exterior, mas sim mais para o

interior. isto porque estamos per-

to de atingir uma taxa de penetra-

ção de vinte por cento, ou seja,

vinte em cada cem clientes da

caixa agrícola já têm pelo menos

um seguro connosco, mas que-

remos mais. Digamos que esta

margem de progressão de vinte

para quarenta ou sessenta ainda

é enorme. olhamos para dentro e

fundamentalmente temos aí uma

grande capacidade de cresci-

mento endógeno sem ter que

nos preocupar tanto em ir buscar

clientes de outras instituições.

Queremos fundamentalmente, e

é essa a nossa missão,

prestar um bom serviço

e um serviço de quali-

dade aos nossos clien-

tes. Distinguimo-nos

pela qualidade e gestão

e, por algum motivo,

durante dois anos con-

secutivos fomos eleitos

(2008 e 2009), pela

revista exame, como a melhor

seguradora Não Vida no nosso

segmento de dimensão. Não vou

dizer que se houvessem dois seg-

mentos não seríamos a melhor de

todas. provavelmente até sería-

mos, mas como estão criados os

segmentos acima dos cem mi-

lhões e abaixo dos cem milhões,

no qual nos classificamos, fomos

considerados a melhor e dois

anos seguidos. Não foi por acaso.

isto denota efectivamente que

fazemos uma gestão criteriosa e

temos uma carteira de seguros

muito equilibrada. colocamos

para os seguros de automóveis,

habitação, comércio e serviços,

acidentes de trabalho, saúde ob-

jectivos específicos de crescimen-

to exactamente para não haver

uma carteira enviesada. isto

leva-nos a ter uma carteira ➤

Varela Afonso

Presidente da Crédito Agrícola Seguros

O SUCESSO PASSA POR ESTE GRANDE ENTRO-SAMENTO QUE TEMOS CRIADO COM AS CAIXAS AGRÍCOLAS.

Page 85: Diplomática n.º7

85julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ equilibrada e que nos tem dado

não só sucesso no crescimento

como também sucesso nos re-

sultados e garantias financeiras.

Fechámos o ano de 2009 com 230

por cento de rácio de margem de

solvência. o que é muito acima

da média de mercado. É isso que

pugnamos, ter uma seguradora que

ela própria seja solvente, porque

assim garante as responsabilidades

assumidas perante os clientes.

Para conquistarem esses clien-

tes, que já são clientes da

Caixa, vão usar formação para

quem trabalha nos balcões do

banco?

exactamente. para além da for-

mação e deste apoio que referi

(de um coordenador comercial em

cada região para os apoiar no seu

dia-a-dia), temos outros mecanis-

mos como planos de incentivos.

por exemplo: em 2009 houve dois

mil e trezentos colaboradores

das caixas agrícolas que tiveram

um papel activo comercialização

de seguros Não Vida. portanto,

temos vindo a criar um sistema de

incentivos que os alicie, motive e,

também, colocar a solução segu-

ro como uma solução financeira e

uma prestação de serviço inte-

grada ao cliente. Não prestar só

ao cliente a simples abertura de

conta ou um simples crédito, mas ➤

Varela afonso

Page 86: Diplomática n.º7

86 • Diplomática - julho/setembro 2010

➤ dar a cobertura para esse mes-

mo crédito.

Neste momento como avalia o

mercado nacional e global no

ramo das seguradoras?

Desde há cinco anos a esta

parte, o mercado tem vindo em

termos reais a perder cota. o

mercado Não Vida tem vindo a

decrescer em termos de volume

montante global de prémios. No

nosso caso estamos a crescer.

No ano passado crescemos 2,5

por cento em relação ao ano

anterior. eventualmente teríamos

crescido 4,2 por cento em vez de

2,5 mas temos uma área na qual

ainda temos algum peso, que é

a área dos seguros de colheitas,

que vem da nossa ligação ao

mundo agrícola, tendo os capitais

vindo a decrescer. Decresceu

catorze por cento os prémios nos

seguros de colheitas, daí que

isso amorteceu o nosso cresci-

mento. De qualquer forma, nós

estamos a crescer, ao contrário

do mercado que decresceu em

Não Vida 4,2 por cento em ter-

mos nominais. relativamente ao

mercado aquilo que eu penso é

que ainda pode crescer muito.

muitas vezes há mais entre as

redes agenciarias uma rotação

de carteira do que propriamente

uma promoção de novas apóli-

ces. mas a capitação de seguros

em portugal ainda está longe de

outros países. eu diria que não

era preciso que seja um negócio

de circulação, mas existe ainda

uma protecção a fazer a clientes.

ou seja, podemos crescer e essa

é a nossa aposta interna – fazer

crescer a cobertura dos nossos

clientes – que tenham cobertura

desde os acidentes pessoais, os

seguros de saúde, de habitação,

de responsabilidade civil familiar,

entre outros. temos assim todas

as soluções para crescer.

Disse que o crescimento ficou

à quem devido ao decrescimen-

to dos seguros agrícolas de

colheitas. Nesse decréscimo

estão implícitas as catástrofes

naturais decorrentes deste In-

verno rigoroso?

Não crescemos mais por duas

razões: o mercado está mergulha-

do numa crise, a matéria segu-

rável ao nível das empresas não

tem crescido e ao nível familiar

é natural que haja alguns condi-

cionalismos; e o facto de o nosso

crescimento ter ficado atenuado

deve-se ao seguro agrícola de

colheitas ter capitais seguros me-

nores, porque a própria actividade

agrícola também tem decresci-

do. portanto, isso reflecte-se na

nossa companhia e no próprio

mercado. o seguro de colheitas

este ano no mercado decresceu

também relativamente ao ano an-

terior. É provável que com estes

fenómenos que têm acontecido

possa haver uma maior procura.

o que não é tão verdade, e que

às vezes se diz no mercado, é

que não há seguros de colheitas

ou seguros de estufas. há! e nós

tivemos sinistros de seguros de

estufas, porque temos seguros

de estufas, inclusivamente nestas

tempestades que houve na zona

do oeste a 23 de Dezembro, onde

tivemos três estufas de grande

dimensão sinistradas. esses se-

guros existem.

Pois, mas se calhar a conjuntu-

ra é que faz com que as pes-

soas não invistam, ou porque

estão sempre na esperança que

nenhuma tragédia os atinja.

a verdade é que ainda há muitas

estufas que pela sua natureza

não são seguráveis, sendo as

suas estruturas e coberturas

muito frágeis. a verdade é que

há também nessa área alguma

profissionalização muito grande.

existem empresas agrícolas a

investirem milhões, e essas fa-

zem projectos que seguram todos

esses projectos.

Quais foram as razões desse

sucesso no meio desse cenário

que é de crise global?

o sucesso passa por este grande

entrosamento que temos criado

com as caixas agrícolas. temos

tido algumas iniciativas interes-

santes, tal como: a quinta conven-

ção para os colaboradores que

ultrapassam determinado tipo de

plataformas que lançamos todos

os anos como desafio. Vamos ter

duzentos colaboradores nessa con-

venção em madrid. são desafios

que fazemos para envolver as pes-

soas, pois ajuda a sentir que têm

este produto e, se não for de forma

directa, é de forma indirecta, ajuda

a prestar esse serviço ao cliente.

Projectos futuros para a Crédi-

to Agrícola?

continuar a linha de inovação que

temos tido nos últimos anos com

o lançamento de novos produtos,

desde o seguro de saúde, de pro-

tecção financeira, lançámos agora

um serviço complementar na área

da saúde que é um cartão que

tem uma cobertura de acidentes

pessoais, mas também um con-

junto de prestação de serviços clí-

nicos com preços regulamentados

e definidos. tem tido uma adesão

fantástica. Queremos, sobretu-

do, continuar a melhorar a nossa

prestação de serviços. Nesse as-

pecto, a nossa preocupação é tal

que iniciámos este ano o projecto

de gestão da qualidade com vista

à certificação. n

Varela Afonso

Presidente da Crédito Agrícola Seguros

j. m. teixeira

Page 87: Diplomática n.º7

87julho/setembro 2010 - Diplomática •

1. No Dia Nacional da itália o embaixador luca de

presenzano, aconpanhado pelo consul Gionanni no

uso da palavra

2. À entrada da embaixada italiana uma orquesta dava

as boas-vindas ao som de uma ópera italiana

3. a nossa Directora ladeada pelo embaixador da

tunísia, Farhaie e pelo embaixador do luxemburgo

alain de muyser

4. embaixatriz da turquia, Nurdan türkmen e a em-

baixadora da Noruega inga magistad

5. maria da luz de bragança aconpanhada pelo

embaixador de malta, joseph cassar no Dia Nacional

da Noruega

6. o embaixador da república da islâmica do paquis-

tão, Gul haneff e sua mulher, nas comenorações do

Dia Nacional do seu país

7. Kaya e Nurdan türkmen ofereceram uma festa de

despedida na sua residência oficial, no restelo, onde

compareceram amigos e convidados dos mais diver-

sos meios diplomáticos, políticos, culturais e empre-

sariais, numa homenagem aos diplomatas turcos que

souberam granjear as maiores simpatias e amizades

entre nós. o embaixador e a embaixatriz estão em

portugal desde março de 2007 e, agora, vão represen-

tar o estado turco no chipre.

8. os embaixadores da república da hungria, attila e

andrea Gecse, ofereceram uma festa de despedida na

sua residência oficial para agradecerem todo o apois

recebido durante a sua permanência em portugal.

1 2

3 4 5

6

7 8

Vida diplomática

Page 88: Diplomática n.º7

88 • Diplomática - julho/setembro 2010

Para os polacos, cujo país desapareceu por comple-

to do mapa da europa durante cerca de 150 anos, a

cultura e a tradição nacionais desempenharam, desde

sempre, um papel fundamental na preservação da sua

identidade. os maiores criadores polacos, especial-

mente os da época do romantismo, produziram as

suas obras não só na polónia, mas também no exílio.

este foi o caso de alguns dos mais destacados poetas

românticos como adam mickiewicz, juliusz słowacki

e cyprian Kamil Norwid. o mesmo se passou com

Fryderyk chopin, que depois de ter saído da polónia,

em 1830, nunca mais regressaria à sua pátria. mesmo

no século subsequente, em pleno século XX, poetas e

artistas polacos continuaram a criar as suas obras fora

de território nacional, como é exemplo czesław miłosz,

prémio Nobel da literatura em 1980.

É óbvio que a influência de outras culturas e costumes,

bem como o contacto com ambientes mais cosmopo-

litas, contribuiram para que a mensagem dos artistas

polacos adquirisse o cunho da universalidade. chopin

é um desses artistas universais, um dos maiores do

mundo. a sua obra reúne muitos admiradores não só

na europa, como também nos mais recônditos recantos

do globo, sendo particularmente apreciado na ásia, em

especial no japão e na china.

o compositor nasceu em Zelazowa Wola, num modesto

solar polaco, situado, pitorescamente, entre os prados

e bosques da mazóvia, à beira do rio utrata. para nós,

polacos, o reflexo das paisagens e da cultura do nosso

país na música de chopin parece-nos óbvio. Quando

ouço as suas mazurkas identifico distintamente as ima-

gens dos campos da mazóvia e dos seus chorões...

para responder ao crescente interesse dos admira-

dores internacionais de chopin em visitar os lugares

relacionados com a sua vida, em 2009, o governo

polaco renovou a casa natal do compositor, onde expôs

um novo espólio de objectos pessoais. em março deste

ano foi inaugurado o museu Fryderyk chopin, em Var-

sóvia, que é já muito visitado.

convido todos os entusiastas e apreciadores da música

de chopin a viajar até à polónia e a seguir os cami-

nhos por ele percorridos há dois séculos atrás. Nessa

viagem poderão tomar parte de inúmeros eventos

culturais organizados no âmbito do ano que celebra o

bicentenário do nascimento deste que é um dos maio-

res compositores de todos os tempos. n ➤

Chopin um artista universaltexto: embaixadora da polónia Katarzyna skórzynska

Na embaixada da polónia,

Kataryzyna skórzynska

junto ao quadro de

um concerto de chopin

Arte & CulturA

Page 89: Diplomática n.º7

89julho/setembro 2010 - Diplomática •

chopin. Quadro de ludwik Wawrynkiewicz segundo eguène Delacroix

Page 90: Diplomática n.º7

90 • Diplomática - julho/setembro 2010

O ano de 2010, aclamado como o ano de cho-

pin, comemora o bicentenário do nascimento do

famoso compositor polaco, e na polónia, como

por todo o mundo, multiplicam-se iniciativas que

celebram a sua memória e legado. No mun-

do, realizar-se-ão cerca de duas mil iniciativas

comemorativas do ano de Fryderyk chopin,

concentrando-se mais de 1200 na polónia. ape-

sar de se lhe dedicar todo um ano, é controversa

a tentativa de precisar o dia do nascimento de

chopin. há quem lhe atribua o dia 22 de Feve-

reiro e quem defenda que terá nascido alguns

dias mais tarde, a 1 de março. Na impossibilida-

de de consenso e de irrefutável prova histórica,

mais de 250 músicos e cantores interpretaram

noite e dia, em Varsóvia, a música de chopin

durante 171 horas, o tempo que separa as duas

possíveis datas de nascimento do compositor,

há 200 anos atrás. a obra de chopin inspirou,

desde sempre, as mais variadas manifesta-

ções artísticas e, assim sendo, as actividades

comemorativas a serem levadas a cabo, desen-

volvem-se num espectro tão alargado quanto a

própria imaginação, oscilando entre o clássico e

o contemporâneo, passando pelo registo experi-

mental. 2010 conhecerá concertos e recitais de

música clássica, jazz, blues e rock, além de es-

pectáculos de teatro, bailado, exposições, filmes

e cinema de animação.

Ano de Chopin na PolóniaAinda que a todas as celebrações seja reconhe-

cido um cunho especial, aquelas que se realizam

na polónia, terra natal do compositor, revestem-

se de uma força ainda maior. como já foi referi-

do, em território polaco, registar-se-ão cerca de

1200 eventos associados ao ano de chopin, de-

vendo ser destacadas cinco inciativas principais,

pelo seu renome e dimensão internacional. entre

1 de agosto e 3 de setembro de 2010, realizar-

se-á o Festival internacional de música chopin

e a sua europa, em Varsóvia, que pretende

promover a obra de Fryderyk chopin num largo

espectro cultural. os concertos e recitais do fes-

tival abrangem várias obras e estilos musicais,

desde as composições do século XViii, recriadas

com os instrumentos tradicionais e históricos,

até ao seu reflexo nos trabalhos dos artistas das

gerações contemporâneas, por exemplo, em

edições jazz. em agosto, entre os dias 6 e 14,

terá lugar o Festival internacional da música de

chopin, em Duszniki-Zdrój, o mais antigo festival

de piano do mundo que decorre no mesmo palco

que acolheu chopin, com a participação dos

mais prestigiados intérpretes de piano, sendo

também palco de estreias para os mais talento-

sos jovens pianistas. o evento central do festival

são as masterclasses dadas pelos mais aclama-

dos maestros e celebridades musicais. este ano

o festival contará com a participação de maria

joão pires. o XXiX Festival de música chopin

em cores de outono, em antonin, que decorre-

rá de 16 a 18 de setembro 2010, é o segundo

mais importante festival da música de chopin na

polónia. ao lado dos mais prestigiados nomes do

panorama musical, o festival de antonin pro-

move também os jovens artistas. a sua grande

atracção são os concertos nocturnos, “chopin no

veludo da noite”, que contam com a participação

de todos os intérpretes do festival e que nesta

sua edição de 2010, incluirá um recital de pia-

no do vencedor português do concurso jovens

pianistas 2010 do Festival chopin do teatro

municipal são luiz de lisboa. ainda no domínio

dos concursos pode, finalmente, referir-se o XVi

concurso internacional de piano de Fryderyk

chopin de Varsóvia (2 a 23 de outubro de 2010)

é um dos mais antigos e prestigiados do mundo.

organizado de cinco em cinco anos, tornou-se

numa espécie de jogos olímpicos para os maio-

res talentos de piano, desempenhando um papel

indispensável no desenvolvimento das suas car-

reiras, permitindo o acesso às melhores salas de

concerto do mundo. ainda na polónia, ressalta

como um dos principais acontecimentos do ano

de chopin 2010, a inauguração do museu e cen-

tro de Fryderyk chopin no palácio de ostrogski,

em Varsóvia. projectado por dois arquitectos de

milão, migliore e servetto, e inaugurado no dia

1 de março, é o mais moderno museu biográfico

da europa central, com 1,3 mil metros quadra-

dos. Nele está exposta uma colecção inestimável

de manuscritos e objectos pessoais/lembranças

do compositor. ➤

Ano de Chopin 2010Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco

Page 91: Diplomática n.º7

91julho/setembro 2010 - Diplomática •

1

2

3

3

1. jacek Krenz 2. mariola landowska 3. Kasia Wrona 4. joanna latka 5. Kasia Gubernat 6. henryka Woerle

4

5 6

Page 92: Diplomática n.º7

92 • Diplomática - julho/setembro 2010

Ano de Chopin em PortugalEm portugal, o ano de chopin foi inaugurado

com o concerto da orquestra polaca sinfonia

iuventus, que contou com a participação do pia-

nista janusz olejniczak, sob direção de tadeusz

Wojciechowski, no centro cultural de belém,

em lisboa, no dia 8 de março, em simultâneo

com uma exposição de cartazes polacos sobre a

vida e obra de Fryderyk chopin, também paten-

te no ccb. a segunda iniciativa mais marcante

decorreu no espaço da Fundação sousa pedro,

no chiado, onde a exposição colectiva ouvindo

chopin, de trabalhos de artistas polacos residen-

tes em portugal, inspirados na obra de chopin, foi

apresentada ao público entre os dias 21 e 27 de

maio. a exibição resultou do esforço concertado

dos artistas: henryka Woerle, pintora e escultora,

jacek Krenz, pintor, arquitecto e docente na uni-

versidade da beira interior, joanna latka, pintora

e docente na escola superior de arte e Desgin

das caldas da rainha, Kasia Gubernat, pintora e

docente na Faculdade de arquitectura da univer-

sidade lusófona do porto, Kasia Wrona, artista,

pintora e desenhadora residente no algarve, e

mariola landowska, pintora residente em lisboa.

para o resto do ano estão programados uma série ➤

Ano de Chopin 2010

Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco

museu de Fryderyk chopin, em Varsóvia

Page 93: Diplomática n.º7

93julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ de eventos, entre os quais se destaca (entre

16 e 19 de junho) o concurso jovens pianistas

2010, inserido no Festival chopin do teatro muni-

cipal são luíz, em lisboa, que dará ao vencedor

do concurso a possibilidade de assistir e participar

no Festival “chopin em cores de outono”, em

antonin, na polónia. ainda no mesmo mês de

junho, serão organizados dois recitais da música

de chopin, interpretados por tomasz pawłowski.

um dos recitais terá lugar na inauguração da

conferência internacional da universidade católi-

ca portuguesa, no dia 24 de junho, no estoril, e o

outro acontecerá dois dias mais tarde, nos cur-

sos internacionais de Verão de cascais, a 26 de

junho. em setembro, também os açores assina-

larão o bicentenário pela celebração dos dias da

polónia nas ilhas terceira e Faial, com um con-

certo de piano e a projecção do filme "chopin – a

Vontade de amar", do realizador jerzy antczak. a

ter início a 30 de setembro e estendendo-se até

ao dia 19 de maio de 2011, o ccb promoverá um

ciclo de nove recitais de piano em homenagem

a Fryderyk chopin pelo pianista artur pizarro.

outubro contará com dois eventos principais, o

recital de piano de Krzysztof jabłonski, no dia 2

de outubro, no centro olga cadaval, em sintra, e

a cerimónia de inauguração do busto de Fryderyk

chopin em lisboa, na avenida da liberdade,

iniciativa que se repetirá em mais de 25 cidades

espalhadas por todo o globo. o mês de Dezembro

será marcado pela projecção de um documentário

sobre a vida e a obra do compositor, no cineclube

de Faro e por um concerto do trio jagodzinski, e

interpretação de canções de chopin, encerrando

oficialmente o ano de chopin.

em portugal, como em todos os países que se

associaram às comemorações do bicentenário,

foram constituídas comissões de honra para

organizar e dirigir as celebrações. Nacionalmen-

te, a comissão de honra para o ano de chopin

conta com a participação da ministra da cultura

da república portuguesa, Gabriela canavilhas, e

do seu homólogo polaco, o ministro da cultura da

república da polónia, bogdan Zdrojewski, nomes

aos quais se somam os de antónio mega Fer-

reira, Director do ccb, e Katarzyna skórzynska,

embaixadora da república da polónia em lis-

boa, na qualidade de co-presidentes executivos,

josé antónio pinto ribeiro, ex-ministro da cultu-

ra da república portuguesa, rui Vilar, presidente

da Fundação calouste Gulbenkian, josé manuel

Dias da Fonseca, presidente da Fundação casa

da música, Fernando andersen Guimarães, pre-

sidente da comissão Nacional uNesco, mário

soares, presidente da Fundação mário soares e

ex-presidente da república portuguesa, Guilher-

me d’oliveira martins, presidente do tribunal de

contas, antónio costa, presidente da câmara

municipal de lisboa, Waldemar Dabrowski, pre-

sidente da comissão para o ano de chopin na

polónia, andrzej Wajda, realizador de cinema, Kr-

zysztof penderecki, compositor, Krystian Zimer-

man, pianista, paweł potoroczyn, presidente do

instituto de adam mickiewicz e josé sequeira e

serpa, embaixador de portugal em Varsóvia.

transversalmente às comemorações do bicente-

nário do nascimento de Fryderyk chopin, foram

publicados alguns livros que sublinham a persis-

tência da sua memória. em portugal, imbuídos

no espírito de ano de chopin 2010, foram lan-

çados três livros, entre eles o de cristina carva-

lho, «Nocturno - o romance de chopin», uma

biografia romanceada da vida do compositor que

segue a verdade histórica de uma existência que

a autora considera ter sido curta, porém “incrivel-

mente apaixonada e apaixonante”. josé jorge

letria, na sua «Última Valsa de chopin» leva-nos

numa viagem pela vida, pelo amor e pela música

daquele que foi um dos maiores compositores

da história. «uma biografia original e a vários

títulos memorável», escreve antónio Victori-

no D´almeida no prefácio. o jornal expresso,

diringindo-se aos mais novos, lançou a colecção

Grandes compositores, integrada por seis livros

distintos, cada um referente a um compositor di-

ferente. chopin foi o primeiro a merecer esta pu-

blicação que se fez acompanhar de um cD com

excertos da sua obra. No mesmo registo infantil,

também miguel sousa tavares, publicou «isma-

el e chopin» onde conta a história da amizade

improvável entre o coelho bravo ismael e o jovem

músico chopin, numa descoberta do mundo da

música e, sobretudo, da figura do memorável

compositor. como em tantas outras histórias

infantis, também esta termina com um mistério e

um segredo por revelar.

ao longo deste ano de 2010 cada um de nós

pode desvendar os mistérios da música de cho-

pin e os segredos que encerrou em cada nota

musical, pela participação nos eventos agenda-

dos para celebrar o bicentenário do seu nasci-

mento, tanto em portugal como na polónia. n

Page 94: Diplomática n.º7

94 • Diplomática - julho/setembro 2010

English & French texts

6. “What sovereignty to Europe in economic, political, diplomatic and defense?”the Diplomática magazine launched another challenge to the Diplomatic corps (european) accredited in

portugal. We wanted to know what is the opinion of ambassadors regarding sovereignty following the

european continent.

What economy? What policy? What diplomacy? What Defense? learn about the opinions of czech,

lithuania, France, italy and belgium, Greece, Finland, ukraine and turkey. ■

6. «Que la souveraineté de l’Europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?”Diplomática a lancé un autre défi au corps diplomatique (européen) accrédités au portugal. Nous voulions

savoir quelle est l’opinion des ambassadeurs suivants concernant la souveraineté sur le continent européen.

Quelle économie? Quelle politique? Quelle diplomatie? quel moyen de défense? en savoir plus sur les avis de la

république tchèque, la lituanie, la France, l'italie, la belgique, la Grèce, la Finlande, l'ukraine et la turquie. ■

22. Visit of President Lula da Silva of Portugalcloser economic ties and increasing the universalism of the portuguese language were the main topics

discussed in the passage of the brazilian president in lisbon

in the final months of the two terms of eight years and with record approval ratings at home, the busy

brazilian president luiz inacio lula da silva, in lisbon ended an expedition of eight days by five countries of

the european and asian continents. ■

22. Visite du président Lula da Silva du Portugalle resserrement des liens économiques et l’augmentation de l’universalisme de la langue portugaise ont été

les principaux thèmes abordés lors du passage du président brésilien à lisbonne

Dans les derniers mois des deux termes de huit ans et avec des taux d’approbation record, la rue animée

président brésilien luiz inacio lula da silva, à lisbonne se terminait un voyage de huit jours a travers cinq

pays des continents européen et asiatique. ■

28. A journey that can change the image of Bento XVIin the private visit of bento XVi to portugal, we will, at a distance, the ability to perceive the outlines of those

days that stood out. there is no doubt that the emotion was the master figure of a pope deeply rational.

bento XVi is presented in portugal in the year that marks the founding of the republic and spell this point

in his first speech. Diplomatically erase the ghosts that were in the minds of some for, then a few hours, to

celebrate the mass in the plaza where the event took regicide. ■

28. Un voyage qui peut changer l’image de Bento XVIlors de la visite privée de bento XVi au portugal, nous allons, à distance, la capacité à percevoir les

contours de ces jours qui se détachaient. il ne fait aucun doute que l’émotion a été la figure principale d’un

pape profondément rationnel. bento XVi est présentée au portugal dans l’année qui marque le centenaire

de la fondation de la république et sort ce point dans son premier discours. Diplomatiquement effacer les

fantômes qui se trouvaient dans l’esprit de certains depuis quelques heures, pour célébrer la messe sur la

place où l’événement a eu lieu le régicide. ■

33. Visit to the Maghreb - Portugal looking to North Africa“betting on exports, the internationalization of our economy, support our businesses that are fighting

for exports in all these markets,” were the wishes of the prime minister in rabat, by way of a general

balance of the trip to four countries maghreb. josé socrates traveled to libya, algeria, tunisia and

morocco to show the “new priority in its foreign policy and economic objectives with those countries.

socrates highlighted the geostrategic importance of bilateral relations and also argued that portu-

guese entrepreneurs should take an attitude of confidence in investment and the internationalization,

taking advantage of ongoing developments in the markets of North africa. ■

33. Visite du Maghreb - Portugal cherche à l’Afrique du Nord«miser sur l’exportation, l’internationalisation de notre économie, soutenir nos entreprises qui se battent ➤

Page 95: Diplomática n.º7

95julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ pour les exportations sur tous ces marchés,” ont été la volonté du premier ministre à rabat, par le biais

d’un équilibre général de ce voyage pour quatre pays du maghreb. josé socrates, s’est rendu en libye, al-

gérie, tunisie et maroc pour montrer la priorité “nouvelle dans sa politique étrangère et les objectifs écono-

miques avec ces pays.

socrates a souligné l’importance géostratégique des relations bilatérales et a également fait valoir

que les entrepreneurs portugais devrait prendre une attitude de confiance dans l’investissement et

l’internationalisation, en tirant parti des développements en cours sur les marchés d’afrique du Nord. ■

36. Mohamed Ridha Farhat - Ambassador of the Republic of Tunisiain lisbon since 2005, mohamed ridha Farhat praised the relationship, common history and bilateral

relations between tunisia and portugal.

the ambassador of tunisia began his career as a diplomat in the ministry of Foreign affairs of his country.

before coming to portugal, played diplomatic positions in brussels and paris, but his first posting was as

ambassador in lisbon.

mohamed Farhat welcomed us for an interview in which they addressed issues of historical, political,

economic, among others. ■

36. Ridha Farhat Mohamed - Ambassadeur de la République de TunisieÀ lisbonne, depuis 2005, mohamed ridha Farhat a loué la relation, l’histoire commune et des relations

bilatérales entre la tunisie et le portugal.

l’ambassadeur de la tunisie a commencé sa carrière en tant que diplomate au ministère des affaires

Étrangères de son pays. avant de venir au portugal, a occupé des postes diplomatiques à bruxelles et à

paris, mais sa première affectation d’ ambassadeur a ete à lisbonne.

mohamed Farhat nous a accueillis pour une entrevue dans laquelle il aborde les questions d’ordre

historique, politique, économique, entre autres. ■

42. For a free and secure Africa - The hope of the OAU ineffective AUthe desire was not forthcoming. When the may 25, 1963, 32 independent african countries signed the

constitution of the organization of african unity (oau) initiative of the ethiopian emperor haile selassie, it

proclaimed, “that this convention will last 1000 years!” however, this was not to be . it took only 39 years for

unity crumble.

Given this inefficiency and ineffectiveness, the heads of state and Government decided at the 38th and last

oau summit, putting an end to the organization and erect a new union, chaired by south african president

thabo mbeki. arises formally the african union (au), which held its first summit on 9 and july 10, 2002.

the most recent pan-african organization is led by Gabonese diplomat jean ping.

the ambassador of tunisia opened the doors of the embassy of their country to commemorate africa Day.

mohamed ridha Farhat received all diplomats from african countries accredited in portugal, presenting them

with a magnificent cocktail. the portuguese government also was represented by secretary of state for

Foreign affairs.

mohamed Farhat spoke on the occasion, and cite a few sentences from the speech of president of the

african union commission, jean ping. ■

42. L’espoir de l’inefficace OUA UAle désir ne vient pas. lorsque le 25 mai 1963, 32 pays africains indépendants ont signé la constitution de

l’organisation de l’unité africaine (oua) initiative de l’empereur éthiopien hailé sélassié, elle a proclamé,

«que cette convention 1000 dernières années!” toutefois, cela ne devait pas être . il a fallu seulement 39

ans pour voir l’unité s’effriter.

compte tenu de cette inefficience et inefficacité, les chefs d’etat et de gouvernement ont décidé au

sommet de la 38e et dernière de l’oua, de mettre fin à l’organisation et la construction d’un nouveau

syndicat, présidé par président sud-africain thabo mbeki. se pose officiellement l’union africaine (ua), qui a

tenu son premier sommet le 9 juillet et 10 mai 2002.

l’organisation la plus récente pan-africaine est dirigée par un diplomate gabonais jean ping.

l’ambassadeur de tunisie a ouvert les portes de l’ambassade de son pays pour commémorer la journée ➤

Page 96: Diplomática n.º7

96 • Diplomática - julho/setembro 2010

English & French texts

➤ africaine. mohamed ridha Farhat a reçu tous les diplomates des pays africains accrédités au portugal, en

les présentant avec un cocktail magnifique. le gouvernement portugais a également été représenté par le

secrétaire d’etat aux affaires étrangères.

mohamed Farhat a parlé à l’occasion, et de citer quelques phrases du discours du président de la commis-

sion de l’union africaine, jean ping. ■

46. 65 Years of Great Victorythe next anniversary of Victory in World War ii is the most important political event. For us, as repeatedly

stressed the russian president, Dmitry medvedev, that date is sacred. a mention of the Victory Day inadver-

tently makes painfully hit the heart of every citizen of russia. as they say in the song dedicated to the Vic-

tory, “Victory Day is a holiday with tears in his eyes.” it is unlikely that even now - 65 years later - in russia,

there is a family that had not been affected by the fires of war. Victory is a great spiritual heritage common to

all peoples of the former soviet union. our parents and grandparents were not only defending our freedom

and saved the motherland - they liberated europe from Nazi enslavement. ■

46. 65 ans de la grande victoirela prochaine date anniversaire de la Victoire de la seconde Guerre mondiale est l’événement politique le plus

important. pour nous, comme souligné à plusieurs reprises le président russe, Dmitri medvedev, cette date est

sacrée. une mention de la Fête de la Victoire par inadvertance fait douloureusement frappé le cœur de chaque

citoyen de la russie. comme on dit dans la chanson dédiée à la victoire, “jour de la Victoire est un jour férié

avec des larmes dans ses yeux.” il est peu probable que, même aujourd’hui - 65 ans plus tard - en russie, il

n'y a pas une famille qui n’est pas été touchée par les incendies de la guerre. la Victoire est un grand patri-

moine spirituel commun à tous les peuples de l’ex-union soviétique. Nos parents et grands-parents n’ ont pas

seulement défendu notre liberté et sauvé la patrie -, ils ont libéré l’europe de l’esclavage nazi. ■

52. Eduardo Gonzalez Lerner - Cuban Ambassador in Portugalhe was an active member in the pre-cuban revolution and continues to do so after the revolution. edward

lerner represents the first time his country as ambassador, the european continent and portugal considers

a “friendly country”, highlighting the “90 years of relations” between the two countries.

the ambassador spoke of the close bilateral relations that the two states in political, commercial, health and

investment, and analyzed the relationship divergent cuba / usa was the first year of obama, “the expecta-

tions and hopes pointed to an improvement in the relationship. unfortunately this did not happen. “ ■

52. Eduardo Gonzalez Lerner - Ambassadeur de Cuba au Portugalil a été un membre actif de la révolution cubaine de pré, et continue de l'etre après la révolution. edward

lerner représente la première fois son pays en qualité d’ambassadeur, le continent européen et le portugal

considère un pays «ami», en soulignant les «90 ans de relations” entre les deux pays.

l’ambassadeur a parlé des relations bilatérales étroites que les deux États dans les domaines politique,

commercial, de la santé et de l’investissement, et analysé la relation divergentes cuba / etats-unis a été la

première année d’obama, “les attentes et les espoirs souligné une amélioration de la relation. malheureuse-

ment, cela ne s’est pas produit." ■

60. European Union - Spanish presidency marked by crisiscame to an end the legacy of the spanish eu presidency. it was a half black and plagued by deteriorating

financial and economic crisis in the eurozone. as for the term starting rotation.

josé luis rodríguez Zapatero had in hand a new and important dossier to apply in europe of 27 - the trea-

ty of lisbon. but the main issue that marked the spanish presidency was a crisis. the difficulty of states to

obtain credit and the consequent decline of their economies, with unemployment rising sharply, put europe

in alarm. even in economic terms, Zapatero and spain have always been in check because of the possibility

of the eu and the international monetary Fund (imF) have to resort to a backup plan to help the country.

it was a presidency marked by the decline in the economic recovery of europe. ■

60. L’Union européenne présidence espagnole marquée par la crisela fin de l’héritage de la présidence espagnole de l’ue. c’était un deminoir et en proie à la détérioration ➤

Page 97: Diplomática n.º7

97julho/setembro 2010 - Diplomática •

➤ de crise la financière et économique dans la zone euro. Quant à la rotation terme de départ pour preparer

la suite.

josé luis rodríguez Zapatero avait en main un dossier nouveau et important d’appliquer á l’ europe des 27,

le traité de lisbonne. mais la question principale qui a marqué la présidence espagnole a été une crise. la

difficulté des etats à obtenir des crédits et la baisse conséquente de leurs économies, avec un chômage en

forte hausse, et l’europe s’alarme. même sur le plan économique, Zapatero et l’espagne ont toujours été

en échec en raison de la possibilité de l’union européenne et du Fond monétaire international (Fmi) d’avoir

recours à un plan de sauvegarde pour aider le pays.

ce fut une présidence marquée par le déclin de la reprise économique de l’europe. ■

62. Enrique Santos - President of the Chamber of Commerce and Industry Luso Spanish - A look at the Spanish Presidency of the European Unionenrique santos took the comment: to what the spanish presidency of the european union a year with some

difficulties of addressing the circumstances that faced the spanish presidency. First there were two strong

constraints that inevitably hampered the performance of the spanish presidency. on the one hand, the

recent entry into force of the treaty of lisbon after several years of tough negotiations and the second

constraint is the strong economic crisis ravaging europe and the international markets. ■

62. Enrique Santos - président de la Chambre de commerce et d’industrie luso espagnol - Un regard sur la présidence espagnole de l’Union européenneenrique santos a eu ce commentaire: la présidence espagnole de l’union européenne l’annee derniere a

eu quelques difficultés a aborder les circonstances qui ont confronté la présidence espagnole. premièrement

il y avait deux contraintes fortes qui, inévitablement ont entravé l’exercice de la présidence espagnole.

D’une part, la récente entrée en vigueur du traité de lisbonne, après plusieurs années d’âpres négociations

et la deuxième contrainte est la forte crise économique qui ravageait l’europe et les marchés internationaux. ■

64. José Mínguez - Officer of Air Europa by Jose Manuel Pinto TeixeiraDelegate of the airline air europa in portugal since last year, josé mínguez has 23 years experience in the

tourism sector. a native of madrid, studied at the Faculty of economics and business. he began working

in the travel marsans, where he served in various departments of tasks related to the general public and

directly with management of companies. however also played for carlson Wagonlit travel in spain in 1998.

in 2002 began his career at the corporation where it is today - globally - for the Division of air europa air

corporation. ■

Now with the challenge of launching air europa in portugal, josé mínguez told us of several plans in motion.

64. José Mínguez - Officier de Air Europa par José Manuel TeixeiraDélégué de la compagnie aérienne air europa au portugal depuis l’année dernière, josé mínguez a 23

ans d’expérience dans le secteur du tourisme. originaire de madrid, a étudié à la Faculté d’economie et

de l’entreprise. il a commencé à travailler acec marsans Voyage, où il a servi dans divers départements de

tâches liées au grand public et directement avec la direction des entreprises. mais aussi travaillé pour carl-

son Wagonlit Voyage en espagne en 1998. en 2002 a commencé sa carrière au sein de la société où elle

est aujourd’hui - dans le monde - pour la division de air europa air corporation.

maintenant, avec le défi de lancer air europa au portugal, nous a dit josé mínguez avec plusieurs plans en

action. ■

68. Luís Palha da Silva - Chairman of the Board of Jerónimo Martinsahead of a major multinational portuguese with food and services, luís palha da silva is the chairman of

the board of jerónimo martins, and has also encompassed the secretary of state for trade.

in this interview, he explained why poland was the target of the economic expansion of the Group, where,

today, assumes a position of great leadership. “poland had a very special charm. it was a country

accustomed to private enterprise and the largest country in population, throughout eastern europe. “

68. Luís Palha da Silva - Président du Conseil de Jerónimo MartinsDevant un portugais avec les grandes multinationales alimentaires et des services, luís palha da silva ➤

Page 98: Diplomática n.º7

98 • Diplomática - julho/setembro 2010

English & French texts

➤ est le président du conseil jerónimo martins, et a également associe le secrétaire d’État chargé du com-

merce.

Dans cette interview, il explique pourquoi la pologne a été la cible de l’expansion économique du groupe, et,

aujourd’hui, prend une position de leadership. “la pologne a un charme très particulier. elle a été un pays

habitué à l’entreprise privée et le plus grand pays en matière de population, à travers l’europe." ■

76. José Joaquim Oliveira - Managing Director and Chairman of IBM Portugalthe managing Director and chairman of ibm portugal is a deep knowledge of the reality of the

company, which already brings three decades of service. before assuming the leadership of the

american representative in london was responsible for business area in the software division of ibm for

the iberian peninsula.

a native of lisbon, josé joaquim oliveira speaks of the presence of ibm in luso land and new business

areas for the future: cities, energy and health. ■

76. José Joaquim Oliveira - Directeur Général et Président d’IBM Portugalle directeur général et président d’ibm portugal est une connaissance profonde de la réalité de la

société, qui regroupe déjà trois décennies de service. avant d’assumer la direction du représentant

américain à londres a été responsable de la zone d’affaires de la division logiciels d’ibm pour la

péninsule ibérique.

originaire de lisbonne, josé joaquim oliveira parle de la présence d’ibm à luso terres et nouveaux

secteurs d’activité pour l’avenir: des villes, la santé et de l’énergie. ■

82. Alfonso Varela - President of the Agricultural Credit Insurancehe began his career in 1981 at the tranquility insurance. passed them by other insurers, where he played

tasks relating mainly to the area of life insurance and pension funds. in 2004, afonso Varela became

president of ca insurance and growth has been remarkable. highlights the quality and management of the

company reason to classify as the best non-life insurer in that segment size. ■

82. Alfonso Varela - Président de l’assurance-crédit agricoleil a commencé sa carrière en 1981 à l’assurance tranquillité. adopté par les autres assureurs, où il a joué

principalement des tâches liées au domaine de l’assurance-vie et fonds de pension. en 2004, afonso

Varela est devenu président du ca d’assurance et la croissance a été remarquable. Faits saillants de la

qualité et la gestion de l’entreprise à raison de classer comme le meilleur assureur non-vie dans cette taille

de segment. ■

88. Chopin a universal artistFor the poles, whose country has completely disappeared from the map of europe for about 150 years, the national

culture and tradition played always had a key role in preserving their identity. the largest polish farmers, especially

those of the romantic era, they produced their works not only in poland but also in exile. this was the case of the

most famous romantic poets as adam mickiewicz, juliusz słowacki and cyprian Kamil Norwid. the same is true of

Fryderyk chopin, who after leaving poland in 1830, never would return to their homeland. even in the subsequent

century, in the twentieth century polish poets and artists continued to create their works outside the national terri-

tory, such as czeslaw milosz, the Nobel prize for literature in 1980. ■

88. Chopin un artiste universelpour les polonais, dont le pays a complètement disparu de la carte de l’europe pour environ 150 ans, la

culture nationale et de la tradition avait toujours joué un rôle clé dans la préservation de leur identité. le

plus grand des compositeurs polonais, en particulier á l’époque romantique, il a produit ses œuvres non

seulement en pologne mais aussi en exil. ce fut le cas des plus célèbres poètes romantiques comme adam

mickiewicz, juliusz slowacki et cyprian Kamil Norwid. la même chose est vraie de Frédéric chopin, qui

après avoir quitté la pologne en 1830,il n'est jamais retourner dans sa patrie. même dans le siècle suivant,

chez les poètes polonais du XXe siècle et les artistes ont continué à créer leurs œuvres en dehors du terri-

toire national, tels que czeslaw milosz, prix Nobel de littérature en 1980. ■

Page 99: Diplomática n.º7
Page 100: Diplomática n.º7