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Analista Judiciário – Área Judiciária Direito Civil Prof. Marcelo Reis

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Analista Judiciário – Área Judiciária

Direito Civil

Prof. Marcelo Reis

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Direito Civil

Professor Marcelo Reis

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Edital

DIREITO CIVIL: Títulos de crédito.

BANCA: FAURGS

CARGO: Analista Judiciário – Área Judiciária

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Direito Civil

TÍTULOS DE CRÉDITO

HISTÓRICO

O desenvolvimento dos títulos de crédito sofreu enorme impulso em decorrência da comercialização entre Estados vizinhos e distantes. Várias situações marcaram o seu progresso, como as Cruzadas, as quais criaram uma conexão entre dois mundos comerciais diferentes, e a realização de negociações nas feiras do continente Europeu.

O título de crédito teve, ainda, como grandes baluartes, a prática de comerciantes que depositavam quantias junto aos banqueiros, os quais emitiam um certificado referente à importância depositada – nascedouro da nota promissória –, posteriormente, tal valor era reavido, muitas vezes com outros banqueiros, oportunidade em que os comerciantes emitiam ordens de pagamento – ação precursora da letra de câmbio.1

Esta prática fugia do controle canônico, o qual vedava a cobrança de juros, uma vez que, com o passar dos tempos, não se tinha como definir o valor originalmente depositado. Com a evolução dos institutos, não mais se verificava o saque de valores à vista, passando a ser concebida a hipótese de retirada de valores futuramente, ou seja, não havia apenas troca e depósito de valores, mas a troca de dinheiro presente por dinheiro futuro.

CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO

Em que pese a conceituação de qualquer dos institutos jurídicos ser tarefas deveras complicada, a definição de uma noção central é medida impositiva. Segundo Fábio Ulhoa Coelho “os títulos de créditos são documentos representativos de obrigações pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distinguem dela na exata medida em que a representam.”2

Salienta, ainda, que:Uma determinada obrigação pode ser representada por diferentes instrumentos jurídicos. Se uma certa pessoa, agindo com culpa, provoca, com seu automóvel, danos em bens de propriedade alheia, deste seu ato ilícito surgirá a obrigação no sentido de indenizar os prejuízos decorrentes. Se devedor e credor estiverem de acordo quanto à existência da obrigação e

1 OLIVEIRA, Jorge Alcebíades Perrone de. Títulos de Crédito – Doutrina e Jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 16.

2 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito de Comercial. 14. ed., São Paulo, 2003, p. 227.

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também quanto à sua extensão (o valor da indenização devida), esta pode ser representada por um título de crédito – cheque, nota promissória ou letra de câmbio, no caso. Se as partes concordam quanto à existência da obrigação, mas não tem condições de mensurar sua extensão, ou chegar a um acordo sobre esta, a mesma obrigação de indenizar os danos provenientes do ato ilícito poderia ser representada por um “reconhecimento de culpa”. Se, porém, não concordam sequer com a existência da obrigação (o motorista do veículo entende não ter agido com culpa, por exemplo), a obrigação de indenizar somente poderá ser documentada por um outro título jurídico – uma decisão judicial que julgasse procedente a ação de ressarcimento promovida pelo prejudicado. Nestes exemplos, uma mesma e única obrigação, decorrente de ato ilícito, foi representada por três documentos jurídicos distintos: título de crédito, reconhecimento de culpa e sentença judicial. Outros poderiam ser lembrados. O que interessa acentuar, de início, é esta natureza do título de crédito, esta sua essencialidade de instrumento representativo de obrigação.3

Cesare Vivante faz a seguinte análise: “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”.4

O direito pátrio não se furtou em realizar a definição. A Lei nº 10.406 (Código Civil), de 10 de janeiro de 2002, em seu art. 887 estabelece que: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”

RELAÇÃO DE CRÉDITO

Os títulos de créditos são os documentos representativos de uma relação de crédito, a qual está fundamentada em dois elementos: o tempo e a confiança. Desse modo, as relações que envolvem os títulos de crédito estão marcadas por essas situações. Por exemplo, uma nota promissória decorrente de uma compra e venda. O comprador emitiu 10 notas promissórias, cada uma vencendo no dia 05. Por certo, a transação somente foi feita porque há confiança entre as partes, já que ninguém irá vender um bem para outra pessoa em 10 vezes se não confiar no pagamento. Ademais, como é uma relação que demanda um parcelamento, vê-se que está presente o elemento tempo.

Dessa forma, a relação de crédito é a que envolve esses dois elementos, quais sejam, o tempo e a confiança. Tempo para o pagamento e confiança entre as partes.

FUNÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO

Criar e movimentar a riqueza: “A função do crédito é dar vida, dinamiza as riquezas existentes. Salvar da esterilidade grandes somas de dinheiro e de capital, que poderão ser utilmente empregadas na prospecção, produção, circulação e criação de novas riquezas.” 5

3 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito de Comercial. 14. ed., São Paulo, 2003, p. 227. 4 VIVANTE, Cesare apud MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. Vol. I, 13. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 5.5 ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo. Teoria Geral dos Títulos de Crédito. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1998, p. 39.

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LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AOS TÍTULOS DE CRÉDITO – REGRA DA ESPECIALIDADE

A legislação aplicável aos títulos de crédito é o Código Civil, Lei 10406/2002, principalmente entre os artigos 887 – 926. Além do Código Civil, aplicam-se as leis especiais como Decreto 57663/66 e Decreto 2044/08, os quais disciplinam a Letra de Câmbio e a Nota Promissória, a Lei nº 7357/85, conhecida com Lei do Cheque, a Lei 5474/68, que disciplina a Duplicata, e o Decreto 1.102/03, responsável pela regulamentação do Warrant e do Conhecimento de Depósito. Existem outros títulos de crédito, porém esses serão os objetos da parte inicial de nossos estudos.

Importante lembrar a existência de uma regra fundamental para a compreensão dos títulos de crédito, qual seja, a regra da especialidade. Essa regra está evidente no art. 903 do Código Civil, o qual estabelece: “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.”

Desse modo, havendo algum dispositivo diferente na lei especial e no Código Civil, aplica-se a lei especial. Verificaremos essa ocorrência na hipótese do aval parcial.

PRINCÍPIOS

Os títulos de crédito são documentos dotados de características específicas, as quais o diferenciam de um contrato. Tais elementos estão pautados em princípios, os quais possuem nuances diferentes, dependendo do intérprete. Mas podemos arrolar os princípios fundamentais dos títulos de crédito:

a) Literalidade:

O princípio da literalidade estabelece que somente um documento será considerado como título de crédito se estiver de acordo com a legislação vigente. Exemplo, só será cheque o documento que tiver a inscrição “cheque” (art. 1º, I, da Lei nº 7.357, de 2 de setembro de 1985), caso haja um problema de impressão no cheque, não constando o nome “cheque”, não se poderá considerá-lo como cheque, não devendo ser debitado da conta do emitente os valores nele constantes.

Outro exemplo, a duplicada deve ter o número da fatura que a gerou (art. 2º, § 1º, II, da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968), caso não tenha, estará em dissonância com a lei e não poderá ser considerado como um título de crédito. Para findar, a letra de câmbio deve ter o nome da pessoa a quem deve ser paga e o nome da pessoa que deve pagá-la (art. 1º, III e IV, do Decreto nº 2.044, de 31 de dezembro de 1.908).

O princípio da literalidade estabelece outro desdobramento, o qual determina que vale no título o que está escrito nele. Isso pode parecer redundante, porém se o credor possui R$ 10.000,00 (dez mil reais) para receber e somente consta no cheque R$ 5.000,00 (cinco mil reais). O credor poderá cobrar somente os R$ 5.000,00 ditos no cheque, sendo que terá de buscar outros meios judiciais para valer o seu direito de cobrança dos outros R$ 5.000,00.

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Desse modo, significa que vale o que está no título, seja o valor, conteúdo e limites. Isto é, “o que não está no título não está no mundo”. O credor só poderá exigir o que está no título e o devedor pagará o valor contido na cártula.

b) Autonomia:

O princípio da autonomia determina que uma vez elaborado o título, por exemplo, assinado um cheque, preenchidos os requisitos legais, o título se desvincula do negócio jurídico subjacente, passando a ser causa em si mesmo do direito de crédito.

Esta desvinculação passa a ser total ao passo que o título entra em circulação, por meio do endosso, quando então sequer podem ser invocadas perante o portador eventuais defesas fundadas no negócio pretérito, salvo comprovada a má-fé do terceiro.

c) Cartularidade:

O direito creditício se materializa no documento, passando a posse deste ser essencial para o exercício daquele. Por outro lado, o devedor necessita ter o título para se liberar da obrigação. O negócio jurídico anterior é chamado de relação extracartular, uma vez que está fora do título.

A cartularidade é um princípio dos fundamentais dos títulos de crédito, tanto é verdade que a posse do título pelo devedor faz presumir o pagamento da relação cambiária, nos termos do art. 324 do Código Civil:

Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

O princípio da cartularidade está representado pelo termo “documento” no art. 887 do CC. Isso remonta uma visão mais clássica, representando algo material. Essa é a linha adotada pelo Código Civil, sendo uma exceção o § 3º do art. 889, o qual define:

§ 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

Esse dispositivo abre a possibilidade para serem criados no Brasil os títulos de crédito eletrônicos. Todavia, não há efetivamente títulos no Brasil nessa modalidade.

CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS

Os títulos de crédito podem ser classificados de diversas formas, dependendo, por exemplo, do modelo, da estrutura dentre outros modos.

a) Quanto ao modelo:

Nessa forma de classificação temos uma divisão dos títulos quanto à sua maneira de formatação, ou seja, se há um padrão já estabelecido e regulamentado ou se o título não possui tais padrões legais. Evidentemente, os títulos que não possuem uma formatação estabelecida em lei possuem uma maleabilidade em sua forma, mas, mesmo assim, possuem requisitos definidos em lei, os quais deverão ser seguidos.

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Desse modo, os títulos se dividem, quanto ao modelo, em títulos de crédito livres e títulos de crédito vinculados.

a) Os títulos de créditos livres não possuem um padrão a ser seguido, deve apenas obedecer os requisitos da lei (exemplo: nota promissória). Assim, a nota promissória pode ser elaborada em uma máquina de escrever, ou seja, datilografada, digitada em um computador ou mesmo manuscrita. Por isso, é conhecido como um título de modelo livre.

Ressalta-se, porém, que mesmo os títulos de modelo livre possuem requisitos legais a serem obedecidos. Por fim, ser considerado como um título de crédito de modelo livre está vinculado somente a sua forma e material a ser impresso ou escrito. A lei deve ser seguida, portanto, quanto aos requisitos de validade.

b) Os títulos de créditos vinculados adotam um padrão especial de acordo com o previsto na lei. Tais documentos possuem uma formatação definida na lei ou por determinado órgão ou setor. Um exemplo clássico é cheque. Independentemente da instituição financeira que o elabore, todos os cheques, ao menos em âmbito nacional, possuem uma mesma apresentação.

Isto é, a formatação do cheque não está ligada ao Banco que o imprime, mas sim aos padrões estabelecidos pelo Banco Central, razão pela qual somente a instituição financeira poderá criar e imprimir o balonário de cheque, não podendo, por exemplo, um particular criar o cheque em seu computador particular e repassá-lo a terceiros.

b) Quanto à estrutura:

Essa classificação diz respeito ao modo em que está pautada a estrutura de operação do título de crédito, podendo ser definida como promessa de pagamento e ordem de pagamento.

Inicialmente, importante referir que na promessa de pagamento o devedor “diz que vai pagar”, ou seja, assume a obrigação de adimplir – cumprir – com a obrigação, e na ordem o emitente dá uma “ordem” para que outrem pague, isto é, ele repassa a obrigação de pagar para outra pessoa.

Senão vejamos:

a) promessa de pagamento: o emitente promete pagar ao beneficiário. É exemplo dessa operação a nota promissória, na qual o emitente – devedor – assina o documento que o responsabiliza pelo pagamento. Conforme o exemplo abaixo, verifica-se que na nota promissória consta a expressão “pagarei”, que pode ser modificada por “pagaremos”. Tal expressão manifesta a assunção da dívida por parte do devedor. Com isso, o emitente diz que pagará a dívida. Se a expressão fosse “pague” ou “paguem”, estaríamos diante de uma ordem, mas o modo de redação “pagarei” denota que o emitente irá cumprir com a obrigação.

Nesses termos, como o devedor não pagará o título no momento da assinatura, ele está prometendo pagar no futuro, razão pela qual estamos diante de uma promessa de pagamento.

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b) ordem de pagamento: Aqui a lógica é outra, não há a promessa do emitente no pagamento do título, mas sim uma ordem para que outrem pague. Prima facie, pode soar estranho obrigar uma terceira pessoa a pagar uma dívida sua, todavia a situação pode ser mais simples do que parece.

Pensemos no cheque! Nesse título existem três partes, quais sejam: emitente, beneficiário e sacado.

Emitente, também chamado de sacador – dá a ordem para pagamento;Beneficiário, também chamado de tomador – credor do cheque;Sacado – Banco ou instituição financeira.

O cheque constitui-se como sendo uma ordem de pagamento em que o emitente – que é o correntista – dá uma ordem para que o banco – sacado – pague o beneficiário – pessoa que é a credora do documento. Vê-se, portanto, que o emitente dá uma ordem ao banco, razão pela qual se considera o cheque como uma ordem de pagamento.

Verifica-se no exemplo abaixo a expressão “pague” constante no texto do cheque. Diferentemente da promessa de pagamento em que o emitente diz “pagarei” ou “pagaremos”, na ordem de pagamento o emitente determina que outrem pague. Cabe salientar que em alguns cheques há a expressão “pague-se”, o que também representa uma ordem de pagamento.

Logo, o título será sacado por ordem do emitente, nesse caso existem três partes: o sacador (que dá a ordem), o sacado (destinatário da ordem) e o tomador (beneficiário da ordem).

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Evidentemente, no cheque o sacado somente fará o pagamento do documento se o emitente, que é o correntista, tiver na conta bancária valor suficiente para saldar a dívida. Caso contrário o banco negará o pagamento e ocorrerá a devolução do cheque pelas alíneas 11 – na primeira devolução – e 12 – na segunda devolução –.

Todavia, não é somente o cheque que se constitui em ordem de pagamento, há outros casos, como a letra de câmbio e a duplicata.

A letra de câmbio terá uma sistemática diferenciada da do cheque, pois o sacado, que no caso do cheque é o banco, na LC poderá ser um particular. Desse modo, na LC o emitente dará uma ordem para que outra pessoa pague. Seguindo essa linha, existem três partes:

Emitente (sacador) – dá a ordem para pagamento;Beneficiário (tomador) – credor da letra de câmbio;Sacado, também chamado de aceitante – pessoa natural (física) ou jurídica.

Questiona-se então: Por que uma pessoa irá pagar a dívida de outra?

Pensemos o seguinte: João deve 10 para Mário; Mário deve 10 para Joana; Resultado: Mário é credor de João e devedor de Joana. Assim, Mário pode emitir uma letra de câmbio para Joana cobrar diretamente os 10 de João. Desse modo:

Mário será o emitente;Joana será a beneficiária;João será o sacado (aceitante).

Esclarecemos que na LC há o instituto do aceite, assim João terá de lançar no título o seu aceite, isto é, dizer que aceita pagar a dívida diretamente para Joana. Caso João não assine o aceite, Joana não mais poderá cobrar de João, mas encaminhará o título para protesto por recusa de aceite e poderá cobrar de Mário. Dessarte, João não fornecendo a assinatura no aceite não terá responsabilidade perante Joana.

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Conforme exemplo colacionado acima, pode-se analisar a existência do campo “Aceito (amos)”. Reiterando, se o sacado prestar o aceite, compromete-se a pagar, senão não precisará pagar e o beneficiário deverá cobra do emitente.

c) Quanto à emissão:

Essa classificação está vinculada a origem de emissão. Essa origem determina a causa pela qual o título foi gerado. Como regra, os títulos de crédito podem ser gerados por qualquer motivo, seja para comprar um terreno, um veículo, uma roupa, para pagar um advogado, o conserto de um computador, a entrada de uma festa, isto é, para cumprir com qualquer obrigação. Contudo, existem exceções.

Diante disso, os títulos podem ser causais e não causais.

a) títulos não causais: representam a possibilidade de o título ser emitido sem qualquer causa pré-determinada em lei, independentemente de sua origem. É a grande regra dos títulos de crédito, como, por exemplo, a nota promissória, instrumento passível de ser emitido para obrigações das mais diversas.

Relembrando, a nota promissória pode ser emitida para comprar uma roupa, pagar um almoço, comprar ingressos para um show. Isto é, a lei não define uma situação específica para a sua criação.

Por outro lado, existem os títulos causais.

b) títulos causais: esses títulos são gerados por uma causa já estabelecida pela lei. Temos, por exemplo, a duplicata mercantil, que somente pode ser emitidas em compra e venda mercantil. Compra e venda mercantil pode ser definida como a negociação entre empresário que determina a transferência de mercadoria ou a negociação entre empresário e consumidor com o mesmo fim. Desse modo, quando se compra um relógio numa loja tem-se a compra e venda mercantil, mas quando se adquire um terreno numa relação entre particulares, não teremos a compra e venda mercantil.

Nesse linear, a compra e venda mercantil acontece em compras no comércio ou mesmo entre compra de produtos entre empresários.

Portanto, quando existir um compra e venda mercantil o título a ser emitido pelo empresário como meio de cobrança do comprador será a duplicata mercantil, atualmente muito substituída pelo boleto bancário.

Claro que somente haverá cabimento a emissão da duplicata mercantil se o comprador não pagar a compra com outra forma, como em dinheiro à vista, ou cartão. A duplicata serve para compra a prazo.

Existem outros títulos, como o Warrant e o conhecimento de depósito, os quais são emitidos quando de depósito de mercadoria em armazém geral, situação regulada pelo Decreto-lei 1102/1903.

Em síntese, a criação de títulos de crédito causais depende de uma relação jurídica anterior e estabelecida em lei.

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d) Quanto à circulação:

Os títulos de crédito podem ser repassados para terceiros, bem como poderão ser transmitidos independentemente de qualquer menção no documento. Tais formas de transmissão dependem de sua classificação quanto à circulação. Desse modo, os títulos poderão ser:

a) títulos ao portador: nesse tipo de título o proprietário do título é aquele que está com a posse do documento, sem precisar haver o preenchimento do nome do beneficiário no corpo do título. É exemplo dessa possibilidade o cheque, porém somente o cheque até R$ 100,00, conforme Lei nº 9.069/1995, em seu art. 69:

Art. 69. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem REAIS), sem identificação do beneficiário.

Dessa forma, em cheques até R$ 100,00 não precisa a menção do beneficiário do cheque, porém, em valor superior a R$ 100,00 deve ocorrer a definição de quem é o credor do título.

Muito importante o fato de que em vários casos o próprio Banco, por seus funcionários, preenche o nome do beneficiário quando cheques com valor superior a R$ 100,00 são apresentados. Essa prática está totalmente contrária ao que dispõe a lei. Então, caso ocorra, está havendo uma inobservância aos termos da própria lei, por mais que a medida seja mais cômoda aos clientes da instituição financeira, não é a prática correta.

b) títulos nominativos: os títulos nominativos são os que, conforme define o Código Civil, há a menção do registro do título e do beneficiário em registro dos emitentes, seja em controle de livros ou outro meio. Assim está definido pelo art. 921 do Código Civil:

Art. 921. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.

Relevante notar que o Código Civil define que em caso de transmissão do título deverá ocorrer uma modificação nos registros do título perante o emitente, nos termos do art. 922 do Código Civil:

Art. 922. Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente.

Todavia, importante notar que não existe, no direito brasileiro, atualmente, nenhum título com essas características, por mais que a lei faça a previsão.

c) títulos à ordem: são títulos em que o endosso é permitido (art. 910 CC). Nesse tipo de título, que constituem a regra no direito brasileiro, o crédito pode ser encaminhado para terceiro.

d) títulos não à ordem: são títulos em que o endosso não é permitido, sendo sua transmissão via cessão de crédito (art. 286 CC, importante art. 290 CC).

Nos títulos não à ordem não é possível a transmissão via endosso, ou seja, o título não pode ser repassado para terceiro. Como vimos, o endosso constitui uma forma de repasse do crédito. Desse modo:

João é o credor e recebeu o título de Pedro;Pedro é o devedor e assinou um título de crédito para João;João pode repassar o título para Mário.

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Esse repasse do título de João para Mário chama-se de endosso, o qual pode ser realizado com uma simples assinatura no verso do documento. Ocorre que nos títulos não à ordem essa transmissão não é possível, pois somente aceita-se o endosso em títulos à ordem.

ATRIBUTOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Outro tema importante em matéria de títulos de crédito é quanto a seus atributos, ou seja, quanto ao que eles podem oferecer a seus portadores.

a) negociabilidade: o beneficiário pode negociar o título a qualquer momento, mesmo antes de vencer, hipótese em que se transmite o título por endosso;

b) executividade: caso o título não seja adimplido, o credor poderá executá-lo. Com isso move-se o processo de execução, o qual objetivará a penhora de bens do devedor. Essa medida é interessante, pois o processo de execução é um processo mais rápido e efetivo, diferentemente de um processo de indenização, por exemplo, que terá a oitiva de testemunhas e perícias. No processo de execução não se terá a oitiva de testemunhas, já que ele serve somente para penhorar um bem como forma de pagar a dívida.

ANÁLISE ARTIGO POR ARTIGO

Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.

É através do negócio jurídico que nascem as relações jurídicas tuteladas pelo direito. Os títulos de crédito são considerados negócios jurídicos abstratos – vinculados ao subprincípio da abstração – ou formais, pois a sua existência está desvinculada da causa que lhe deu origem, portanto produzem efeito independentemente de sua causa, como, por exemplo, uma letra de câmbio e uma nota promissória.

Havendo, portanto, alguma nulidade no título, cabe às partes a busca de seus direitos pelas vias ordinárias.

Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.

§ 1º É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento.

§ 2º Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente.

Para a sua validade, um título de crédito, deverá conter determinados requisitos essenciais, tais como:

a) a data da emissão – para determinados títulos típicos, tais como letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, a nossa lei brasileira não considera a data da emissão como requisito essencial, facultando ao portador inseri-la a qualquer momento. Porém,

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este artigo a torna obrigatória aos títulos atípicos, e esta importância provém do fato de que, somente após o documento estar revestido dos requisitos legais, é que poderá ser considerado um título que vale por si mesmo, independente da causa que lhe deu origem. A data em que o título foi passado serve para verificar se, na época, o emitente era capaz de se obrigar cambiariamente.

A data consiste em dia, mês e ano, devendo ser o mês escrito por extenso.

b) a indicação precisa dos direitos que confere – Em primeiro lugar seria o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada. É necessário que no título esteja especificado o montante da importância a ser paga, de modo que se saiba exatamente o valor total que o título representa. Não é permitido que conste no título um valor indeterminado, mas sim o valor exato do montante da importância que deverá ser paga pelo devedor.

Trata-se também de um requisito obrigatório o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem o título deverá ser pago, que será o beneficiário ou tomador. Uma vez lhe entregue o título, investe-se na qualidade de proprietário original dele e, conseqüentemente, sujeito ativo dos direitos dele emergentes.

Se o beneficiário desejar passar esses direitos, deverá fazê-lo mediante sua assinatura no título, ou seja, através de endosso.

c) a assinatura do emitente – Emitente é aquele que cria o título e que necessariamente deverá ser capaz, para poder responder pela obrigação. Porém, se for incapaz e outra pessoa lançar a sua assinatura no título, ficará esta última obrigada perante o portador pela obrigação de pagar o respectivo valor constante do documento.

No § 1º deste artigo encontramos um requisito que não é considerado essencial, que seria a época do pagamento, pois está determinado que o título que não contenha a indicação do vencimento será considerado à vista. Portanto, o título poderá circular sem esta menção expressa. A ressalva para esta validade figura no § 1º que determina que é à vista o título que não contenha indicação de vencimento.

No § 2º também encontramos um outro requisito não essencial que seria o lugar da emissão e o lugar do pagamento do título. O referido parágrafo determina que considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente.

Como pudemos observar acima, a data é um requisito essencial, porém, quanto ao lugar em que o título é passado, a lei admite, na sua ausência, que será considerado como tendo sido emitido no lugar do domicílio do emitente.

A indicação do lugar da emissão tem por finalidade saber-se qual a lei a aplicar nas relações internacionais. Assim será considerado inválido um título indicando um lugar de emissão inexistente.

Quanto ao lugar do pagamento, o legislador também não considera como requisito essencial, pois, na ausência de um outro expressamente designado, é o mencionado ao lado do nome do emitente, o lugar do seu domicílio. Porém, podemos ter diversos emitentes, e conseqüentemente diversos lugares de pagamento.

No § 3º encontramos os títulos eletrônicos ou escriturais, que são aqueles criados a partir dos caracteres em computador ou outro meio técnico equivalente, que observem os requisitos

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mínimos determinados pelo § 1º deste artigo, e que constem da escrituração do emitente. Citaremos como exemplo a duplicata escritural e as ações escriturais.

Antigamente para se fazer uma cobrança bancária, deveria-se faturar, emitir duplicata, preencher um borderô e mandar um mensageiro à instituição financeira para, assim, dar início ao processo de cobrança. Bons tempos, porém antigos, muito antigos.

Hoje, todo o serviço é on-line. Os títulos são eletrônicos ou escriturais e tudo é feito via sistema, com uma rapidez incrível e segurança absoluta. A empresa fatura, até aí continua igual. Porém não emite papéis. O borderô é eletrônico, onde os dados do faturamento são importados através de uma conecção com os computadores do Banco, usando-se um software de comunicação computador a computador.

Conectada, a empresa envia os arquivos eletrônicos para o banco, que os recebe diretamente em um centro de processamento, processa-os, emite as papeletas de cobrança e expede-as para os sacados, tudo muito simples, porém este título será considerado um título de crédito atípico, também chamado de inominado e não contará com força executiva para a sua cobrança.

Um título de crédito para valer como tal deve obedecer a determinadas formalidades previstas na legislação e a esse conjunto de regras legais denominamos de rigor cambiário.

Conforme ensinamentos de Pontes de Miranda: “O direito cambiário chegou a tão grande harmonia de técnicas e a técnica tão longe levou o seu intuito de harmonizar interesses particulares e do público, que o sacrifício de qualquer elemento significa, sempre, erro de justiça.”

Portanto para este rigor cambiário, necessitamos que os títulos de créditos estejam revestidos de certos requisitos intrínsecos e extrínsecos.

Os requisitos intrínsecos, constituem-se em elementos comuns a todas as obrigações, ou seja, a capacidade das partes, objeto lícito e consentimento.

Os requisitos extrínsecos, são aqueles de natureza formal, previstos em legislações própria e essenciais à eficácia cambial dos títulos de crédito (força executiva).

Os bancos, como se sabe, não possuem meios de comprovação adequados para que o boleto enviado aos sacados possa constituir-se numa apresentação legal do título ao pagamento. Portanto a inobservância de tais atributos transformam estes documentos em simples elementos comprobatórios, totalmente destituídos de rigor cambiário, servindo apenas como prova da existência de prováveis obrigações que possam motivar a interposição de ações de cobrança ou monitórias.

Quanto às ações escriturais, são aquelas cujos certificados não são emitidos e cuja movimentação se faz através de uma conta de depósito, aberta em nome do acionista, em instituição financeira devidamente autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários, à vista de documentos determinando a sua transferência.

Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações.

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Não devemos nos esquecer de que estas normas são aplicáveis aos títulos de crédito atípicos e este artigo contraria totalmente a nossa tradição cambiária no sentido de que as cláusulas consideradas não escritas no título, assim o eram apenas para os efeitos cambias, conforme artigo 44, do Decreto no 2.044, de 31 de dezembro de 1908, que diz: “Para os efeitos cambiais, são consideradas não escritas:

I – a cláusula de juros;

II – a cláusula proibitiva do endosso ou do protesto da responsabilidade pelas despesas e qualquer outra, dispensando a observância dos termos ou das formalidades prescritas por lei;

III – a cláusula proibitiva da apresentação da letra ao aceite do sacado;

IV – a cláusula excludente ou restritiva da responsabilidade e qualquer outra beneficiando o devedor ou o credor, além dos limites fixados por esta lei.”

Nunca ninguém duvidou de que a cláusula de juros, pactuada na cambial, pudesse ser cobrada pela via ordinária, porém com esta nova redação, determinada pelo artigo 890 do novo Código Civil, tudo nos leva a crer que os títulos atípicos, contendo tais cláusulas não produzirão efeitos de nenhuma espécie, quer cartulares ou extra-cartulares.

Tal como está redigido, o artigo implica uma curiosa contradição, pois cláusulas já permitidas, no âmbito dos títulos típicos, seriam destituídas de todos os efeitos jurídicos, relativamente aos títulos atípicos, aos quais esse Título VIII efetivamente se destina.

Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados.

Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

O referido artigo determina que o título de crédito que estiver incompleto ao tempo de sua emissão, ou seja, no momento em que entra em circulação, deverá ser preenchido conforme o que foi ajustado na época de sua criação.

Porém, se as pessoas intervenientes no título descumprirem o que foi ajustado anteriormente, e o título estiver preenchido contrariamente ao que foi estabelecido entre as partes, não constituirá motivo de oposição ao terceiro portador , a não ser que este tenha adquirido o título agindo de má-fé. Esse é a base do subprincípio da “Inoponibilidade das exceções pessoais em face do terceiro de boa-fé.”

O terceiro de má-fé será aquele que agiu com maldade, servindo a interesses ocultos ou que tinha conhecimento de vícios anteriores com relação ao título.

O terceiro de boa-fé será toda pessoa que, com a qualidade de terceiro, promova um ato jurídico sem qualquer maldade, ou sem estar servindo a interesses ocultos e prejudiciais a outrem mancomunado com a outra parte.

Em regra, a boa-fé de terceiro resulta do desconhecimento de fato anterior, que se atenta, ou se prejudica com o ato, de que participa, posteriormente.

Portanto se o terceiro portador recebeu o título em boa-fé não poderá se opor ao seu preenchimento.

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Art. 892. Aquele que, sem ter poderes, ou excedendo os que tem, lança a sua assinatura em título de crédito, como mandatário ou representante de outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado.

O que caracteriza o mandato é a representação, isto é, o fato de uma pessoa agir em nome de outra, representando-a e praticando todos os atos como se eles fossem praticados pelo mandante.

Mandante ou Outorgante é aquele que confere os poderes a outrem para a prática dos atos em seu nome.

Mandatário ou Procurador é aquele a quem tais poderes são conferidos.

Se o representante de alguém ou o seu mandatário vier a assinar um título de crédito sem ter poderes, ou exceder os que tiver, ficará pessoalmente obrigado, e, caso venha a pagar o título, passará a ter os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado.

Art. 893. A transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes.

A circulação de um título de crédito é um dos fenômenos que mais contribui para o extraordinário desenvolvimento do crédito nos últimos tempos.

Assim, ao se transferir um título de crédito estão se transferindo também todos os direitos nele contido, constituindo, igualmente, uma garantia de pagamento, já que o endossante se torna responsável pela garantia do pagamento do título, assumindo a posição de coobrigado da dívida cambiária.

Art. 894. O portador de título representativo de mercadoria tem o direito de transferi-lo, de conformidade com as normas que regulam a sua circulação, ou de receber aquela independentemente de quaisquer formalidades, além da entrega do título devidamente quitado.

Trata-se de títulos atípicos que poderão livremente surgir no mercado, tomando como paradigma o conhecimento de depósito e o “warrant”.

São títulos de crédito que representam mercadorias e que poderão circular normalmente através do endosso. Quanto as mercadorias elas poderão ser retiradas, independente de quaisquer formalidades, desde que o título seja apresentado devidamente quitado. Devemos lembrar que o portador do conhecimento de depósito, cujo “warrant” foi negociado, não poderá receber a mercadoria sem que deposite, no armazém geral, principal e juros devidos ao portador do “warrant”.

Art. 895. Enquanto o título de crédito estiver em circulação, só ele poderá ser dado em garantia, ou ser objeto de medidas judiciais, e não, separadamente, os direitos ou mercadorias que representa.

Trata-se de um título de crédito causal e que representa o crédito e o valor de determinadas mercadorias, constituindo uma promessa de pagamento.

O título de crédito será emitido acopladamente àquele que representa as mercadorias, destinando-se a eventuais operações de crédito cuja garantia seja o penhor sobre as mercadorias.

O título de crédito é um documento autônomo, pois quando este é transferido, o que é objeto de transferência é o título e não o direito contido nele.

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Como o direito cartular não pertence, em rigor, a pessoa determinada, mas a sujeito indeterminado, e só determinável pela sua relação real com o título, cada possuidor é titular do direito autônomo e originário afirmado no título e não de um direito derivado e a ele transferido pelos seus antecessores na posse do título. Sendo assim, o direito de cada legítimo possuidor do título se repassa por inteiro no próprio título, que destinado a circular, se desprende da relação fundamental que lhe deu origem, que foi a causa de sua emissão. O que circula é exclusivamente o título, no qual cada possuidor ao adquiri-lo se investe, de modo originário, autônomo e independente.

A autonomia é a desvinculação da causa do título em relação a todos os coobrigados.

Se o título de crédito estiver em circulação, somente ele, e não os direitos ou mercadorias que representa, constituirá objeto de medida judicial e poderá ser dado em garantia.

Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação.

O título de crédito adquirido de boa-fé não poderá ser reinvidicado, ou seja, não se poderá reclamar o título ou o direito, pois o portador teve a boa-fé ao consegui-lo e agiu conforme as normas que disciplinam a sua circulação.

A boa-fé no sentido de quem, confiantemente, com intenção pura, pratica por erro o ato que julgava conveniente e lícito, mas cujo resultado pode ser contrário aos seus interesses.

Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.

Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

Aval é garantia de pagamento, dada por um terceiro ou mesmo por um de seus signatários. O avalista é a pessoa que presta o aval. Para isto, basta a sua assinatura ou de mandatário especial, no verso ou no anverso do título. Não há, assim, um lugar especial para ser lançado no título a assinatura do aval. Devemos destacar que o avalista assume responsabilidade solidária pelo pagamento da obrigação. Isso significa que, se o título não for pago no dia do vencimento, o credor poderá cobrá-lo diretamente do avalista, se assim desejar.

O avalizado é o devedor que se beneficia do aval, tendo sua dívida garantida perante o credor. Se o avalizado não pagar o título, o avalista terá de fazê-lo. A lei assegura, entretanto, ao avalista o direito de cobrar, posteriormente, o avalizado.

O parágrafo único determina que o aval deverá ser total, sendo vedado o aval parcial, ou seja, o avalista não poderá garantir, apenas, uma parte da obrigação, devendo garantir o título por inteiro.

Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.

§ 1º Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista.

§ 2º Considera-se não escrito o aval cancelado.

O aval pode ser outorgado tanto na face anterior da cártula cambiária, como no seu verso. Não há, assim, lugar especial no título para ser lançado o aval.

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Produzido no anverso, ele se perfaz somente com a assinatura do avalista. Aposto no verso, a sua perfeição exige ainda o emprego da locução “bom para aval” ou o equivalente “avalista” ou “por aval”, junto à subscrição do garantidor.

O aval cancelado é considerado não escrito. Isso quer dizer que se o avalista pagar a importância do título ao endossatário ou avalista posterior, poderá riscar do título o seu aval

Art. 899. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou devedor final.

§ 1º Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores.

§ 2º Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a nulidade decorra de vício de forma.

Todas as pessoas, desde que civilmente capazes, podem ser avalistas. Mas à tal qualidade não se requer que seja uma pessoa estranha à relação cambial, podendo qualquer dos coobrigados serem avalistas.

O aval poderá indicar o nome da pessoa a quem se está avalizando, porém, não havendo indicação, entende-se que o aval foi prestado ao emitente ou ao devedor final.

O § 1º diz respeito a ação de regresso. Pela solidariedade, o avalista se equipara ao devedor principal e, na hipótese de inadimplência deste, pagará todo o título. É de se ressaltar que se o avalista pagar o título, subroga-se nos direitos dele emergentes contra a pessoa do avalizado, assim como em relação aos obrigados para com ele por virtude da cártula.

Pagando, o avalista adquire os direitos emergentes do título contra o avalizado e qualquer dos coobrigados regressivos que lhe são anteriores, podendo reclamar a quantia paga.

O § 2º determina que subsiste a responsabilidade do avalista mesmo que a obrigação esteja eivada de nulidade. Tendo em vista o princípio da independência das assinaturas e da autonomia das relações cambiárias, o aval não é atingido pela ineficácia do título que ele garante.

A obrigação do avalista mantém-se, mesmo no caso em que a obrigação garantida seja nula por qualquer outra razão que não um vício de forma.

Assim, por exemplo, um aval dado a uma assinatura falsa não é atingido pela nulidade decorrente da falsificação.

Art. 900. O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado.

Art. 901. Fica validamente desonerado o devedor que paga título de crédito ao legítimo portador, no vencimento, sem oposição, salvo se agiu de má-fé.

Parágrafo único. Pagando, pode o devedor exigir do credor, além da entrega do título, quitação regular.

O parágrafo único determina que ao receber a importância mencionada no título, ou seja, satisfeita a obrigação constante nele, o portador deve entregar o título, com a quitação regular, àquele que efetuou o pagamento, não podendo assim o portador dar outra qualquer quitação, em documento separado, pois, sendo o título um documento que vale por si só, o que significa um documento completo, quitado devidamente, atesta o recebimento pelo portador da importância nele mencionada.

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Art. 902. Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o paga, antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento.

§ 1º No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial.

§ 2º No caso de pagamento parcial, em que se não opera a tradição do título, além da quitação em separado, outra deverá ser firmada no próprio título.

O credor de um título de crédito não é obrigado a receber o pagamento antes do vencimento e aquele que o paga ficará responsável pela validade do pagamento. Assim, se pagou mal, ou a quem não tinha o direito de receber, arcará o pagante com o ônus do seu ato, devendo, se for o caso, pagar novamente.

Aquele que pagar o título poderá exigir que ele lhe seja entregue com a respectiva quitação.

O § 1º determina que, no vencimento, o credor não poderá recusar o pagamento, mesmo que seja parcial, devendo neste caso fazer menção no título e lhe dar a devida quitação parcial.

O § 2º determina que no caso de pagamento parcial, não sendo o título entregue ao devedor, o credor deverá dar uma quitação em separado e uma outra firmada no próprio título, consignando a quantia que foi paga.

Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.

CAPÍTULO IIDO TÍTULO AO PORTADOR

Art. 904. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição.

Não existe no Brasil títulos ao portador, a não ser o cheque até R$ 100,00 que pode ser transferido sem a definição do beneficiário. Nesse caso, não é necessário o endosso. Conforme art. 69 da Lei no 9.069/95.

Art. 69. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem REAIS), sem identificação do beneficiário.

Art. 905. O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor.

Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente.

Por serem títulos ao portador, a circulação é um dos seus fundamentos principais, portanto, vedar a circulação é algo inviável.

Art. 906. O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação.

O devedor, para não pagar, somente poderá opor as seguintes defesas ao portador do título:

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a) direito pessoal do emitente contra o portador, no caso de má- fé deste (roubo ou furto do título); e

b) nulidade da obrigação em razão da incapacidade do subscritor, prescrição do título, ou falsificação da assinatura do emissor.

Art. 907. É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial.

Todos os títulos de crédito precisam de fundamentação legal.

Art. 908. O possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas.

O Novo Código de Processo Civil extinguiu a ação de substituição de título, porém cabe as vias ordinárias para a satisfação do direito.

Art. 909. O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos.

Parágrafo único. O pagamento, feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato.

O Novo Código de Processo Civil também não traz a ação de anulação de título, mas cabe as vias ordinárias para a satisfação do direito.

CAPÍTULO IIIDO TÍTULO À ORDEM

Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.

§ 1º Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante.

§ 2º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.

§ 3º Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente.

Endosso é o ato cambiário que tem por objetivo transferir o direito documentado pelo título de crédito de um credor para outro. Se dá através da assinatura do proprietário no verso ou dorso do documento, com o que o endossador transfere ao endossatário o título e, conseqüentemente, os direitos nele incorporados. O endosso pode ser em branco ou em preto.

Conforme disposto no § 1º, o endossante pode identificar expressamente o nome do endossatário; seria o endosso em preto. Quando o endossatário não é identificado, temos o endosso em branco, sendo suficiente para a sua validade a simples assinatura do endossante no verso do título.

Determina o § 2º que a transferência do título por endosso se completa com a tradição do título, ou seja, pela entrega do título ao endossatário.

O § 3º dispõe que será considerado como não escrito o endosso que tiver sido efetuado e depois vier a ser cancelado, total ou parcialmente, através de traços passados sobre ele.

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Art. 911. Considera-se legítimo possuidor o portador do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos, ainda que o último seja em branco.

Parágrafo único. Aquele que paga o título está obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas.

Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante.

Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.

O endosso no título deve ser puro e simples, considerando não escrita qualquer condição a que o subordine o endossante.

O endosso consiste em uma simples assinatura do proprietário do título,no verso ou anverso dele, antecedida ou não de uma declaração indicando a pessoa a quem a soma deve ser paga. Com essa assinatura a pessoa que endossa o título chama-se endossante, que transfere a outrem, chamado de endossatário, a propriedade do título. Nessa condição, o endossatário, ao receber o título, torna- se o titular dos direitos emergentes do mesmo, podendo, assim, praticar todos os atos que se fizerem necessários para resguardar a sua propriedade.

Art. 913. O endossatário de endosso em branco pode mudá-lo para endosso em preto, completando-o com o seu nome ou de terceiro; pode endossar novamente o título, em branco ou em preto; ou pode transferi-lo sem novo endosso.

Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.

§ 1º Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário.

§ 2º Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados anteriores.

O artigo 15 da Lei Uniforme, Decreto no 57.663, de 24/01/66, determina que “O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento do título. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada.”

Determina o legislador no artigo 914 a irresponsabilidade do endossante, pois caso conste do endosso clausula expressa em contrário, ele não responderá pelo cumprimento da prestação constante do título. Existe a desvinculação do endossante ao pagamento do título.

Dispõe o § 1º que se o endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento do título, tornar-se-á devedor solidário.

Art. 915. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação.

Vejam, portanto, que não cabe a alegação de defeitos em objetos contratados, por exemplo, persistindo a obrigação.

Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

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Art. 917. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída.

§ 1º O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu.

§ 2º Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde eficácia o endosso-mandato.

§ 3º Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as exceções que tiver contra o endossante.

Endosso-mandato ou endosso-procuração é aquele que tem por finalidade exclusiva a constituição do endossatário em um mandatário do endossante. Assim, o endossatário tem poderes para realizar a cobrança e dar a quitação do título, sem no entanto dispor do valor do crédito, o qual pertence ao endossante.

O endosso-mandato não é um meio de transferência da propriedade do título e nem atribui ao endossador a responsabilidade de garantir o seu pagamento.

O endosso-mandato identifica-se pela inserção da cláusula “por procuração”, ou expressão equivalente.

Dispõe o artigo 18 da Lei Uniforme de Genebra, Decreto no 57.663, de 24/01/1966 “Quando o endosso contém a menção “valor a cobrar” (valeur em recouverment), “para cobrança” (pour encaissement), “por procuração” (por procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador.”

Determina o § 1º que o endossatário do endosso-mandato somente poderá endossar novamente o título na qualidade de procurador (mandatário), se tiver os mesmos poderes que recebeu.

O § 2º faz referência a morte ou incapacidade do endossante-mandante, dispondo que, se houver o falecimento ou a incapacidade do endossante-mandante, o endosso-mandato não se extingue, não perdendo assim a sua eficácia.

Diz o § 3º que o devedor somente poderá opor ao endossatário- mandatário as exceções ou defesa que tiver contra o endossante-mandante.

O endossante-mandante não transmite a propriedade do título ao endossatário-mandatário, mas o investe na sua posse, a fim de que promova, na condição de mandatário, a sua cobrança e passe a respectiva quitação. O endosso-mandato não priva o titular dos seus direitos cambiais, mas apenas transfere ao mandatário ou procurador o exercício e conservação desses direitos.

Art. 918. A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título.

§ 1º O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador.

§ 2º Não pode o devedor opor ao endossatário de endosso-penhor as exceções que tinha contra o endossante, salvo se aquele tiver agido de má-fé.

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Art. 919. A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil.

Se alguém vier a adquirir um título à ordem, por algum meio diverso do endosso, essa aquisição terá os mesmos efeitos da cessão civil. A cessão de crédito de caráter civil é um contrato bilateral, que não exige forma específica para ser considerado válido. Ocorrendo nulidade de uma cessão de crédito, todas as demais serão também atingidas. O devedor pode opor exceção tanto contra o cessionário quanto contra o cedente, a partir do momento em que tomar conhecimento da cessão.

Art. 920. O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior.

CAPÍTULO IVDO TÍTULO NOMINATIVO

Art. 921. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.

Os títulos nominativos são emitidos em nome de uma pessoa determinada, e sua transferência só se perfaz quando registrada nos livros da entidade emissora. Esses títulos sempre trazem no contexto o nome da pessoa indicada como beneficiária da prestação a ser realizada. Algumas vezes, os nomes dos beneficiados dos títulos nominativos devem constar de registro da pessoa que os emitiu, como no caso das ações das sociedades anônimas. Todavia, ações não representam títulos de crédito. Não há atualmente no Brasil títulos nessa modalidade.

Art. 922. Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente.

Art. 923. O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o nome do endossatário.

§ 1º A transferência mediante endosso só tem eficácia perante o emitente, uma vez feita a competente averbação em seu registro, podendo o emitente exigir do endossatário que comprove a autenticidade da assinatura do endossante.

§ 2º O endossatário, legitimado por série regular e ininterrupta de endossos, tem o direito de obter a averbação no registro do emitente, comprovada a autenticidade das assinaturas de todos os endossantes.

§ 3º Caso o título original contenha o nome do primitivo proprietário, tem direito o adquirente a obter do emitente novo título, em seu nome, devendo a emissão do novo título constar no registro do emitente.

Art. 924. Ressalvada proibição legal, pode o título nominativo ser transformado em à ordem ou ao portador, a pedido do proprietário e à sua custa.

Art. 925. Fica desonerado de responsabilidade o emitente que de boa-fé fizer a transferência pelos modos indicados nos artigos antecedentes.

Art. 926. Qualquer negócio ou medida judicial, que tenha por objeto o título, só produz efeito perante o emitente ou terceiros, uma vez feita a competente averbação no registro do emitente.