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Santo Graal Vitaminado – Atu alizado por: Felipe Motta e César Augusto da Cunha Morais Camelo DIREITO CONSTITUCIONAL E METODOLOGIA SUMÁRIO Ponto 1.a. Constitucionalismo: trajetória histórica. Constitucionalismo liberal e social. Constitucionalismo britânico, francês e norte-americano. 7 Ponto 1.b. Poder Legislativo. Organização. Atribuições do Congresso Nacional. Competências do Senado e da Câmara. Legislativo e soberania popular. A crise da 1

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Material de estudos para o Ministério Público Federal, concurso de Procurador da República. Direito Constitucional, Santo Graal.

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  • Santo Graal Vitaminado Atualizado por: Felipe Motta e Csar Augusto da Cunha Morais Camelo

    DIREITO CONSTITUCIONAL E METODOLOGIA

    SUMRIO

    Ponto 1.a. Constitucionalismo: trajetria histrica. Constitucionalismo liberal e social. Constitucionalismo britnico, francs e norte-americano. 7

    Ponto 1.b. Poder Legislativo. Organizao. Atribuies do Congresso Nacional. Competncias do Senado e da Cmara. Legislativo e soberania popular. A crise da

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    representao poltica. 17

    Ponto 1.c. Ministrio Pblico: Histria e princpios constitucionais. Organizao. As funes constitucionais do Ministrio Pblico. 26

    Ponto 2.a. Constituio e Cosmopolitismo. O papel do direito comparado e das normas e jurisprudncia internacionais na interpretao da Constituio. 42

    Ponto 2.b. Poder Executivo. Histrico. Presidencialismo e Parlamentarismo. Presidencialismo de coalizo. Presidente da Repblica: estatuto. Competncias. Poder normativo autnomo, delegado e regulamentar. Ministros de Estado. 47

    Ponto 2.c. Hermenutica e Teorias da argumentao jurdica. 56

    Ponto 3.a. Diviso de poderes. Conceito e objetivos. Histria. Independncia e harmonia entre poderes. Mecanismos de freio e contrapesos. 61

    Ponto 3.b. Poder Judicirio: organizao e competncia. Normas constitucionais respeitantes magistratura. O ativismo judicial e seus limites no Estado Democrtico de Direito. (ponto com adio do ativismo judicial). 65

    Ponto 3.c. Estado-membro. Competncia. Autonomia. Bens. 98

    Ponto 4.a. Direitos sociais: enunciao, garantias e efetividade. Princpio da proibio do retrocesso. Mnimo existencial e reserva do possvel. 103

    Ponto 4.b. Normas constitucionais. Definio. Estrutura. Classificaes. Princpios e regras. Prembulo. Efeitos das normas da Constituio brasileira de 1988. 109

    Ponto 4.c. Lacunas e Integrao do Direito: analogia, costumes e equidade. 116

    Ponto 5.a. Poder constituinte originrio. Titularidade e caractersticas. 119

    Ponto 5.b. Supremo Tribunal Federal: organizao e competncia. Jurisdio constitucional. 123

    Ponto 5.c. Municpio: criao, competncia, autonomia. Regies metropolitanas. 126

    Ponto 6.a. Poder constituinte derivado. Limitaes reforma constitucional. Clusulas ptreas expressas e implcitas. As mutaes constitucionais. 129

    Ponto 6.b. Federalismo. Concepes e caractersticas. Classificaes. Sistema de repartio de competncia. Direito comparado. 136

    Ponto 6.c. Direitos fundamentais. Concepes. Caractersticas. Dimenses Objetiva e Subjetiva. Eficcia vertical e horizontal. 141

    Ponto 7.a. Processo legislativo. Emenda constitucional, lei complementar, lei ordinria, lei delegada, medida provisria, decreto legislativo e resoluo. O processo de incorporao dos tratados internacionais. Devido processo legislativo. 158

    Ponto 7.b. Unio Federal: competncia e bens. 171

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    Ponto 7.c. Os Princpios gerais de direito. 173

    Ponto 8.a. Poder constituinte estadual: autonomia e limitaes. 175

    Ponto 8.b. Poltica agrria na Constituio. Desapropriao para reforma agrria. 178

    Ponto 8.c. Defesa do Estado e das instituies democrticas. Estado de defesa. Estado de stio. Papel Constitucional das Foras Armadas. 184

    Ponto 9.a. Comunicao social. A imprensa na Constituio. Liberdades pblicas, acesso informao e pluralismo. 186

    Ponto 9.b - Norma jurdica e enunciado normativo. Caractersticas da norma jurdica. 190

    Ponto 9.c. Segurana Pblica na Constituio. O papel das instituies policiais. 193

    Ponto 10.a. Interpretao constitucional. Mtodos e princpios de hermenutica constitucional. 196

    Ponto 10.b. Nacionalidade brasileira. Condio jurdica do estrangeiro. 202

    Ponto 10.c. Interveno federal nos Estados e interveno estadual nos Municpios. 211

    Ponto 11.a. Liberalismo igualitrio, comunitarismo, procedimentalismo e republicanismo. Suas projees no domnio constitucional. 215

    Ponto 11.b. Princpios constitucionais sobre a Administrao Pblica. 232

    Ponto 11.c. Coliso entre normas constitucionais. Ponderao e juzo de adequao. Princpios da Proporcionalidade e da Razoabilidade. 239

    Ponto 12.a. Controle de constitucionalidade: evoluo histrica do sistema brasileiro. Direito comparado. Legitimidade democrtica. 242

    Ponto 12.b - Critrios clssicos de resoluo de antinomias jurdicas. 261

    Ponto 12.c - Princpios constitucionais do trabalho. Os direitos fundamentais do trabalhador. 263

    Ponto 13.a. Direito Constitucional Intertemporal. Teoria da recepo. Disposies constitucionais transitrias. 266

    Ponto 13.b. Regime constitucional da propriedade. Funo socioambiental da propriedade. Desapropriao e requisio. 269

    Ponto 13.c. Princpio da isonomia. Aes afirmativas. Igualdade e diferena. Teoria do impacto desproporcional. Direito adaptao razovel. 272

    Ponto 14.a. Democracia. Conceito. Histria. Fundamentos. Democracia representativa e participativa. Teorias deliberativa e agregativa da democracia. Instrumentos de democracia direta na Constituio de 1988. 278

    Ponto 14.b. Previdncia social e assistncia social. 284

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    Ponto 14.c. A evoluo do constitucionalismo brasileiro: constituies de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1969. A ditadura militar e os atos institucionais. A assembleia constituinte de 1987/88. 287

    Ponto 15.a. Controle jurisdicional e social das polticas pblicas. Servios de relevncia pblica. O papel do Ministrio Pblico. 299

    Ponto 15.b. Direitos Polticos. O papel da cidadania na concretizao da Constituio 303

    Ponto 15.c. Regime constitucional dos parlamentares. Imunidades e incompatibilidades parlamentares. 305

    Ponto 16.a. Direito fundamental educao. A educao na Constituio Federal. 312

    Ponto 16.b. Os princpios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. 319

    Ponto 16.c. O controle concreto de constitucionalidade. O Recurso Extraordinrio. 324

    Ponto 17.a. Proteo constitucional famlia, a criana, ao adolescente e ao idoso. 334

    Ponto 17.b. A metodologia jurdica no tempo. A Escola da Exegese. Jurisprudncia dos conceitos, jurisprudncia dos interesses e jurisprudncia dos valores. O realismo jurdico. Neoformalismo. O pspositivismo jurdico. 341

    Ponto 17.c. Igualdade de gnero. Direitos sexuais e reprodutivos. 348

    Ponto 18.a: Oramento pblico: controle social, poltico e jurisdicional. 352

    Ponto 18.b: Direitos das pessoas portadoras de deficincia. A Conveno da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e seu Protocolo Facultativo. 358

    Ponto 18.c: Controle abstrato de constitucionalidade: Ao Direta de Inconstitucionalidade, Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso, Ao Declaratria de Constitucionalidade e Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental. 363

    Ponto 19.a. Liberdade de expresso, religiosa e de associao. O princpio da laicidade estatal. Os direitos civis na Constituio de 1988. 463

    Ponto 19.b. Direitos das comunidades remanescentes de quilombos e de comunidades tradicionais. 476

    Ponto 19.c. Direito sade. Sistema nico de Sade na Constituio. Controle social. O direito de acesso s prestaes sanitrias. 481

    Ponto 20.a. Finanas pblicas na Constituio. Normas oramentrias na Constituio. 489

    Ponto 20.b. ndios na Constituio. Competncia. Ocupao tradicional. Procedimento para reconhecimento e demarcao dos territrios indgenas. Usufruto. 498

    Ponto 20.c. Limites dos direitos fundamentais. Teorias interna e externa. Ncleo essencial e proporcionalidade. Os "limites dos limites". 523

    Ponto 21.a. Conselho Nacional do Ministrio Pblico. Histria, composio, competncia e

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    funcionamento. 527

    Ponto 21.b. Interpretao jurdica. Mtodos e critrios interpretao. 533

    Ponto 21.c: Ordem constitucional econmica. Princpios constitucionais da ordem econmica. Interveno estatal direta e indireta na economia. Regime constitucional dos servios pblicos. Monoplios federais e seu regime constitucional. 540

    Ponto 22.a. O papel das pr-compreenses no Direito. Interpretao, moralidade positiva e moralidade crtica. 551

    Ponto 22.b. Efeitos da declarao de inconstitucionalidade. Tcnicas decisrias na jurisdio constitucional. 554

    Ponto 22.c. Direito fundamental moradia e alimentao. 559

    Ponto 23.a. Direitos fundamentais culturais. Multiculturalismo e interculturalidade. Direito diferena e ao reconhecimento. 562

    Ponto 23.b. Smula vinculante. Legitimidade e crticas. Mecanismos de distino. 578

    Ponto 23.c. Direitos fundamentais processuais: acesso justia, devido processo legal, contraditrio, ampla defesa, vedao de uso de provas ilcitas, juiz natural e durao razovel do processo. 589

    Ponto 24.a. Neoconstitucionalismo. Constitucionalizao do Direito e judicializao da poltica. 607

    Ponto 24.b. Estatuto constitucional dos agentes polticos. Limites constitucionais da investigao parlamentar. Crimes de responsabilidade. Controle social, poltico e jurisdictional do exerccio do poder. O princpio republicano. 614

    Ponto 24.c. As funes essenciais Justia: Advocacia privada e pblica. Representao judicial e consultoria jurdica da Unio, dos Estados e do Distrito Federal. A Defensoria Pblica. 623

    Ponto 25.a. Pluralismo jurdico. As fontes normativas no estatais. 628

    Ponto 25.b. Inconstitucionalidade por omisso. Ao direta e Mandado de injuno. 630

    Ponto 25.c. Conselho Nacional de Justia. Histria, composio, competncia e funcionamento. 636

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    Ponto 1.a. Constitucionalismo: trajetria histrica. Constitucionalismo liberal e social. Constitucionalismo britnico, francs e norte-americano. Obras consultadas: BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed., 2009. BARROSO, Lus Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporneo. 3. Ed., 2012. SARMENTO, Daniel. SOUZA NETO, Cludio de. Direito Constitucional: teoria, histria e mtodos de trabalho, 2012. CALABRICH, Bruno. PELELLA, Eduardo e outros. Questes Discursivas do Concurso de Procurador da Repblica 18 ao 25 - Respondidas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CHEKER, Monique e outros. Comentrios s Questes Objetivas do Concurso de Procurador da Repblica 22 ao 26. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. Smulas do STJ Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. COSTA, Mauro Jos Gomes. Smulas do STF Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CAVALCANTE. Mrcio Andr Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2013. CAVALCANTE. Mrcio Andr Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2014.

    Conceito: constitucionalismo significa, em sntese, limitao do poder (respeito a valores bsicos e direitos fundamentais, separao dos poderes, respeito ao devido processo legal). Consoante Karl Loewenstein: a histria do constitucionalismo a busca do homem poltico pela limitao do poder arbitrrio.

    Histrico: Segundo Barroso, o termo constitucionalismo data de pouco mais de 200 anos, sendo associado aos processos revolucionrios norte-americano e Francs, em oposio ao Absolutismo. Todavia, as ideias centrais do constitucionalismo remontam antiguidade clssica, no ambiente da polis grega, por volta do sculo V a.C.

    Nas palavras de Sarmento: A ideia de Constituio, tal como a conhecemos hoje, produto da Modernidade, sendo tributria do Iluminismo e das revolues burguesas dos

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    sculos XVII e XVIII, ocorridas na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Frana. Ela est profundamente associada ao constitucionalismo moderno, que preconiza a limitao jurdica do poder poltico, em favor dos direitos dos governados.

    Sarmento divide, didaticamente, a evoluo histria do constitucionalismo da seguinte forma: 1) Constitucionalismo antigo e medieval; 2) Constitucionalismo Moderno; 3) Constitucionalismo ps-moderno. Por sua vez, o Constitucionalismo Moderno foi construdo sob trs verses (inglesa; francesa; norte-americana). Ademais, no Constitucionalismo Moderno, alm do estudo das 3 verses, destacam-se 2 fases (fase do Estado liberal-burgus e fase do Estado Social). Na contextualizao temporal, preciso ter em mente que as trs verses acima mencionadas (inglesa; francesa e norte-americana) instauraram-se no seio do Estado Liberal-burgus e desenvolveram-se com a transio para a fase do Estado Social, de modo que possvel distinguir duas fases: constitucionalismo moderno do Estado Liberal-burgus e constitucionalismo moderno do Estado Social. Por fim, um novo modelo de constitucionalismo tem despontado: o constitucionalismo ps-moderno. Vejamos cada um deles:

    1) Constitucionalismo antigo e o medieval: remonta ao perodo da antiguidade clssica at final do sculo XVIII, quando surgem as primeiras constituies escritas, com predominncia do jusnaturalismo. As experincias mais importantes na antiguidade so: a) Hebreus: era Teocrtico, influenciado pela religio, os dogmas religiosos atuavam como limites ao poder do soberano. b) Grcia: vivenciou a democracia direta, com o incio da racionalizao do poder. Havia um regime poltico que se preocupava com a limitao do poder das autoridades e com a conteno do arbtrio. Contudo, esta limitao visava antes a busca do bem comum do que a garantia de liberdades individuais. A liberdade, no pensamento grego, cingia-se ao direito de tomar parte nas deliberaes pblicas da cidade-Estado, no envolvendo qualquer pretenso a no interferncia estatal na esfera pessoal. No se cogitava na proteo de direitos individuais contra os governantes, pois se partia da premissa de que as pessoas deveriam servir comunidade poltica, no lhe podendo antepor direitos de qualquer natureza. Tal concepo se fundava numa viso organicista da comunidade poltica: o cidado no era considerado em sua dignidade individual, mas apenas como parte integrante do corpo social. O cidado virtuoso era o que melhor se adequava aos padres sociais, no o que se distinguia como indivduo. A liberdade individual no era objeto da especial valorao inerente ao constitucionalismo moderno. c) Roma: Para Ihering, Nenhum outro Estado foi capaz de conceber a ideia de liberdade de uma forma to digna e justa quanto o direito romano. Em Roma j despontava a valorizao da esfera individual e da propriedade, concomitante sofisticao do direito privado romano e ao reconhecimento de direitos civis ao cidado de Roma (direito ao casamento, celebrao de negcios jurdicos, elaborao de testamento e postulao em juzo). Ademais, algumas instituies do perodo republicano romano j prenunciavam a concepo moderna de separao dos poderes, notadamente a sua repartio por instituies como o Consulado, o Senado e a Assembleia, representativas de estamentos diferentes da sociedade, de forma a propiciar o equilbrio entre eles. Tratava-se da ideia de

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    governo misto, advogada por pensadores como Polbio e Ccero. Apesar disso, no se cogitava de um constitucionalismo em sentido moderno (como frmula de limitao do poder poltico em favor da liberdade dos governados); d) Idade Mdia, iniciada com a queda do Imprio Romano, correspondeu a um perodo caracterizado pelo amplo pluralismo poltico. No havia qualquer instituio que detivesse o monoplio do uso legtimo da fora, da produo de normas ou da prestao jurisdicional. O poder poltico fragmentara-se por mltiplas instituies, como a Igreja, os reis, os senhores feudais, as cidades, as corporaes de ofcio e o Imperador.

    2) Constitucionalismo moderno: surgiu no final do sculo XVIII, como forma de superao do Estado Absolutista, sustentando a limitao jurdica do poder do Estado em favor da liberdade individual. Caractersticas histricas foram essenciais para o surgimento do constitucionalismo moderno, como a ascenso da burguesia como classe hegemnica; o fim da unidade religiosa na Europa, com a Reforma Protestante; e a cristalizao de concepes de mundo racionalistas e antropocntricas, legadas pelo Iluminismo. Sob as vozes do Iluminismo, a sociedade deixa o carter organicista e passa a centrar-se na figura do indivduo, concebido como um ser racional, titular de direitos, cuja dignidade independia do lugar que ocupasse no corpo coletivo. Evolui-se para o reconhecimento de direitos universais, pertencentes a todos. A sociedade no mais era concebida como um organismo social, formado por rgos que exerciam funes determinadas (clero, nobres, vassalos). Ela passa a ser concebida como um conjunto de indivduos, uma sociedade atomizada formada por unidades iguais entre si. Em harmonia com essa viso, desenvolveram-se as teorias de contrato social, que passaram a justificar a existncia do Estado em nome dos interesses dos indivduos. John Locke sustentava a ideia de que, ao celebrar o contrato social, as pessoas alienam para o Estado apenas uma parcela da liberdade irrestrita de que desfrutavam no Estado da Natureza, preservando determinados direitos naturais, que todos os governantes devem ser obrigados a respeitar. Esse jusnaturalismo difere daquele que predominara na Antiguidade e na Idade Mdia por no se basear na vontade divina, nem em imposies extradas da Natureza, mas em princpios acessveis razo humana, e por conferir primazia aos direitos individuais. O constitucionalismo moderno assenta-se em 3 pilares: a conteno do poder dos governantes, por meio da separao de poderes; a garantia de direitos individuais, concebidos como direitos negativos oponveis ao Estado; e a necessidade de legitimao do governo pelo consentimento dos governados, pela via da democracia representativa. O constitucionalismo moderno conheceu trs verses mais influentes: a inglesa, a francesa e a norte-americana.

    2.1. O modelo ingls de constitucionalismo: Como na Inglaterra no chegou a haver propriamente absolutismo, a histria do constitucionalismo adquire um perfil prprio. Desde o final da Idade Mdia, o poder real encontrava-se limitado por determinados costumes e pactos estamentais, como a Magna Carta de 1215, mas o constitucionalismo ingls s tem incio a partir da Revoluo Gloriosa de 1968, quando foi deposta a dinastia dos Stuarts e foi assentado o princpio da supremacia poltica do Parlamento ingls, em um

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    regime pautado pelo respeito aos direitos individuais. No curso do sculo XVII, foram editados trs documentos constitucionais de grande importncia: a Petition of Rights, de 1628; o Habeas Corpus Act, de 1679; e o Bill of Rights, de 1689, que garantiam importantes liberdades para os sditos ingleses, impondo limites Coroa e transferindo poder ao Parlamento. A ideia central do constitucionalismo ingls a de respeito s tradies constitucionais, no havendo um texto constitucional nico que os consolide e organize. Inexiste, portanto, uma Constituio escrita na Gr-Bretanha. A ideia do exerccio do poder constituinte, por meio de ruptura com o passado, com a refundao do Estado e da ordem jurdica, estranha ao modelo constitucional ingls, que se assenta no respeito s tradies imemoriais. Nesse sentido, o constitucionalismo britnico historicista, j que baseia a Constituio e os direitos fundamentais nas tradies histricas do povo ingls. Desenvolveu-se na Inglaterra o princpio constitucional de soberania do Parlamento, segundo o qual o Poder Legislativo pode editar norma com qualquer contedo. No h a possibilidade de invalidao das suas decises por outro rgo. Contudo, h na Inglaterra contempornea uma tendncia alterao deste modelo de soberania irrestrita do Parlamento, pelo menos em matria de direitos fundamentais. A mais importante expresso desta inflexo foi a aprovao, em 1998, do Humans Rights Act, que possibilitou ao Judicirio britnico a declarao de incompatibilidade de leis editadas pelo Legislativo com os direitos previstos naquele estatuto. Tal declarao no acarreta a invalidao da lei, mas cria um relevante fato poltico, gerando forte presso para a revogao da norma violadora de direitos humanos.

    2.2. O modelo francs de constitucionalismo: Tem como marco inicial a Revoluo Francesa, iniciada em 1789, sendo a constituio escrita substanciada em 1791. Sob a perspectiva da teoria constitucional, a vontade de ruptura com o passado se expressou na teoria do poder constituinte, elaborada originariamente pelo Abade Emanuel Joseph Sieys, em sua clebre obra Quest-ce que le Tier tat?. Por essa teoria, o poder constituinte exprimiria a soberania da Nao, estando completamente desvencilhado de quaisquer limites impostos pelas instituies e pelo ordenamento do passado. Ele fundaria nova ordem jurdica, criando novos rgos e poderes os poderes constitudos que a ele estariam vinculados. OBS.: destaca-se que o fundamento utilizado foi a soberania da Nao, que difere da soberania do povo. Para Sieys, a detentora do poder era a nao, e no o conjunto dos nacionais. Sendo a Nao a detentora do poder e sendo essa uma concepo etrea/ideal, a resposta para a aparente incoerncia entre a igualdade defendida e a excluso dos iguais pelo voto censitrio e masculino era justificada pelo argumento de que s podem exercer direitos polticos, na perspectiva liberal, aqueles que compem o melhor da Nao (homens mais instrudos, de melhor condio social, reuniriam as condies que lhes permitiriam expressar, por meio do seu voto, a vontade da Nao).

    A Constituio deveria corresponder a uma lei escrita, no se confundindo com um repositrio de tradies imemoriais, ao contrrio da frmula inglesa. Ela pode romper com o passado e dirigir o futuro da Nao, inspirando-se em valores universais centrados no

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    indivduo. O protagonista do processo constitucional no modelo constitucional francs o Poder Legislativo, que teoricamente encarna a soberania e visto como um garantidor mais confivel dos direitos do que o Poder Judicirio. Isto levou, na prtica, a que a Constituio acabasse desempenhando o papel de proclamao poltica, que deveria inspirar a atuao legislativa, mas no de autntica norma jurdica, que pudesse ser invocada pelos litigantes nos tribunais. Tal pensamento vem sendo superado. Foi aprovada em 2008 (regulamentada em 2010), na Frana, a chamada Questo Prioritria de Constitucionalidade, permitindo que as partes aleguem incidentalmente a inconstitucionalidade de lei, por ofensa a direitos e liberdades fundamentais garantidos pela Constituio francesa, no mbito de processos judiciais e administrativos. A questo deve ser encaminhada Corte de Cassao ou ao Conselho de Estado que, por sua vez, podem provocar o Conselho Constitucional.

    2.3. O modelo constitucional norte-americano: O fato de a colonizao dos Estados Unidos ter sido realizada em boa parte por imigrantes que escapavam da perseguio religiosa na Europa contribuiu decisivamente para que se enraizassem na cultura poltica norte-americana ideias como a necessidade de limitao do poder dos governantes e de proteo das minorias diante do arbtrio das maiorias. A Constituio dos Estados Unidos foi aprovada pela Conveno da Filadlfia, em 1787, e depois ratificada pelo povo dos estados norte-americanos, vigorando desde ento. Inovou ao instituir o presidencialismo e o sistema de freios e contrapesos, associado separao de poderes. A plasticidade das clusulas constitucionais mais importantes abriu a possibilidade de atualizao daquela Constituio pela via interpretativa, para adapt-la s novas demandas e valores que emergiam. O modelo constitucional dos Estados Unidos representa a tentativa de conciliao entre dois vetores. De um lado, o vetor democrtico, de autogoverno do povo, captado pelas palavras que abrem o prembulo da Carta americana (We, the People of the United States...). Do outro, o vetor liberal, preocupado com a conteno do poder das maiorias para defesa de direitos das minorias. Uma ideia essencial do constitucionalismo estadunidense, derivada da sua matriz liberal, a concepo de que a Constituio norma jurdica que, como tal, pode e deve ser invocada pelo Poder Judicirio na resoluo de conflitos, mesmo quando isto implique em restrio ao poder das maiorias no Legislativo ou no Executivo. Desenvolveu-se no direito norte-americano a noo de que os juzes, ao decidirem conflitos, podem reconhecer a invalidade de leis que contrariem a Constituio, deixando de aplic-las ao caso concreto. Esta posio, sustentada por Hamilton no Federalista n 78, foi formulada na jurisprudncia da Suprema Corte pelo Juiz John Marshall, no clebre julgamento do caso Marbury v. Madison, em 1803. Em suma, no modelo constitucional dos Estados Unidos, a supremacia da Constituio no apenas uma proclamao poltica, como na tradio constitucional francesa, mas um princpio jurdico judicialmente tutelado. O modelo no livre de crticas. O controle judicial de constitucionalidade das leis (judicial review) sofre at hoje contestaes nos Estados Unidos, sendo frequentemente apontado como um instituto antidemocrtico, por transferir aos juzes, que no so eleitos, o poder de derrubar decises tomadas pelos representantes do povo, com base nas suas interpretaes pessoais sobre clusulas constitucionais muitas

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    vezes vagas, que se sujeitam a diversas leituras. Contudo, a jurisdio constitucional no apenas criou profundas razes no Direito Constitucional daquele pas, como tambm acabou se disseminando por todo o mundo, sobretudo a partir da segunda metade do sculo XX.

    Fases do Constitucionalismo Moderno:

    2.1) Constitucionalismo liberal-burgus: baseou-se na ideia de que a proteo dos direitos fundamentais dependia, basicamente, da limitao dos poderes do Estado. Naquele modelo, os direitos fundamentais eram concebidos como direitos negativos, que impunham apenas abstenes aos poderes polticos. O Estado era visto como o principal adversrio dos direitos, o que justificava a sua estrita limitao, em prol da liberdade individual. Tal limitao era perseguida tambm por meio da tcnica da separao dos poderes, que visava a evitar o arbtrio e favorecer a moderao na ao estatal. Na Economia Poltica era defendido o Estado mnimo, que confiava na mo invisvel do mercado para promover o bem comum. O Estado deveria limitar-se a velar pela segurana das pessoas e proteger a propriedade, no lhe competindo intervir nas relaes travadas no mbito social, nas quais se supunha que indivduos formalmente iguais perseguiriam os seus interesses privados, celebrando negcios jurdicos. Ele combateu os privilgios estamentais do Antigo Regime e a concepo organicista de sociedade. Porm, ignorava a opresso que se manifestava no mbito das relaes sociais e econmicas, existindo uma ntida contradio entre o discurso e a prtica do constitucionalismo liberal-burgus no que tange igualdade. A ideia de liberdade alentada pelo constitucionalismo liberal-burgus era muito mais identificada autonomia privada do indivduo, compreendida como ao livre de interferncias estatais, do que autonomia pblica do cidado, associada soberania popular e democracia. Alm disso, a liberdade era concebida em termos estritamente formais, como ausncia de constrangimentos externos, impostos pelo Estado ao dos indivduos. Ademais, o foco centrava-se mais sobre as liberdades econmicas do que sobre as liberdades existenciais.

    2.2) Constitucionalismo Social: No final do sculo XIX e incio do sculo XX, a extrema explorao da classe trabalhadora tornou-se insustentvel. Na Europa Ocidental, a industrializao acentuara dramaticamente o quadro de explorao humana, que o Estado absentesta no tinha como equacionar. A presso social dos trabalhadores e de outros grupos excludos, aliada ao temor da burguesia diante dos riscos e ameaas de rupturas revolucionrias inspiradas no iderio da esquerda, levaram a uma progressiva mudana nos papis do Estado, que ensejou a cristalizao de um novo modelo de constitucionalismo. Fica evidente que a suavizao do capitalismo foi uma clara posio estratgica para evitar uma revoluo da classe operria. Sobre o contexto, Lnin afirmou que preferia o capitalismo selvagem ao estado do bem estar social, pois este tirava a energia necessria para a ecloso de uma revoluo. No plano das ideias, despontavam o pensamento marxismo, o socialismo utpico e a doutrina social da Igreja Catlica. A progressiva extenso do direito de voto a parcelas da populao at ento excludas do sufrgio tambm contribuiu para a mudana de cenrio. A democratizao poltica, ao romper a hegemonia absoluta da burguesia no Parlamento, abrira espao tambm para a democratizao social.

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    De mero garantidor das regras que deveriam disciplinar as disputas travadas no mercado, o Estado foi se convertendo num ator significativamente mais importante dentro da arena econmica, exercendo diretamente muitas atividades de produo de bens e servios, como a realizao de grandes obras pblicas. No plano terico, a sua atuao passa a ser justificada tambm pela necessidade de promoo da igualdade material, por meio de polticas pblicas redistributivas e do fornecimento de prestaes materiais para as camadas mais pobres da sociedade, em reas como sade, educao e previdncia social. A proteo da propriedade privada flexibilizada, passando a estar condicionada ao cumprimento da sua funo social. relativizada a garantia da autonomia negocial, diante da necessidade de interveno estatal em favor das partes mais dbeis das relaes sociais. H uma mudana, ainda, na leitura dos direitos, sendo desenvolvida a teoria da eficcia horizontal dos direitos fundamentais. Emergem os direitos de segunda gerao, prestacionais, para efetivao da igualdade material. Sobre o discurso da igualdade formal, Anatole Frances escreve: A majestosa igualdade das leis, que probe tanto o rico como o pobre de dormir sob as pontes, de mendigar nas ruas e de roubar po. A mudana no perfil do Estado refletiu-se tambm na sua engenharia institucional: a separao de poderes foi flexibilizada. A separao dos poderes esttica, vigente no constitucionalismo liberal-burgus d espao separao de poderes dinmica, que se atenta para alm da liberdade, para a efetividade, possibilitando uma atuao mais forte dos poderes pblicos na seara social e econmica. O arranjo federalista tambm muda: as complexas tarefas assumidas pelo Estado no so exequveis por um federalismo formal. necessrio o desenvolvimento de um federalismo cooperativo, com a participao de todos os entes federados.

    preciso, aqui, diferenciar o Estado Social do Constitucionalismo Social: A necessidade de construo de um Estado mais forte, para atender s crescentes demandas sociais, foi utilizada como pretexto para aniquilao dos direitos individuais e das franquias democrticas. Este fenmeno foi intenso nas dcadas de 1930 e 1940, com a instaurao de regimes totalitrios (Alemanha e Itlia), ou autoritrios (Brasil, no Estado Novo). Nestas situaes, pode-se falar em Estado Social, mas no em constitucionalismo social. O constitucionalismo social no renega os elementos positivos do liberalismo (preocupao com os direitos individuais e com a limitao do poder), mas pugna por concili-los com a busca da justia social e do bem-estar coletivo.

    Houve 2 frmulas diferentes de recepo do Estado Social no mbito do constitucionalismo democrtico: 1) Exemplificada pela evoluo do Direito Constitucional norte-americano a partir dos anos 30, os valores de justia social e de igualdade material no foram formalmente incorporados Constituio. Essa, no entanto, deixou de ser interpretada como um bloqueio introduo de polticas estatais de interveno na economia e de proteo dos grupos sociais mais vulnerveis. 2) Ilustrada pelas constituies mexicana, de 1917, e a alem, de Weimar, de 1919. Elas no se limitam a tratar da estrutura do Estado e da definio de direitos negativos, pois se imiscuem na disciplina de temas como a economia, as relaes de trabalho e a famlia; moradia, sade e previdncia social. A maior parte das constituies elaboradas a partir da segunda metade do sculo passado seguiu,

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    com maior ou menor sucesso, dita frmula.

    inegvel que o constitucionalismo social enfrenta crise desde as dcadas finais do sculo passado, relacionada aos retrocessos que ocorreram no Welfare State. A globalizao econmica reduziu a capacidade dos Estados de formular e implementar polticas pblicas para atender aos seus problemas sociais e econmicos, sob a influncia do pensamento neoliberal, que preconiza a reduo do tamanho do Estado, a desregulao econmica e a restrio dos gastos sociais. A populao envelheceu e cresceu, demandando maiores gastos com previdncia social, sade e educao. A partir da dcada de 80, comeam a se tornar hegemnicas propostas de retorno ao modelo de Estado que praticamente no intervinha na esfera econmica. Sob o estmulo da globalizao da economia, se inicia um processo de reforma do Estado que alcana escala mundial. Reduzem-se as barreiras alfandegrias e no alfandegrias ao comrcio internacional e ao fluxo de capitais. Os Estados diminuem ou eliminam a proteo que reservavam empresa nacional. Desterritorializa-se o processo produtivo. A nova dinmica da produo global estimula os Estados a flexibilizarem suas relaes de trabalho, com o intuito de atrair investimento produtivo e de alcanar maior competitividade no mercado global. Ameaados pela inflao, que leva necessidade de reduo dos gastos pblicos, os Estados privatizam suas empresas e extinguem monoplios pblicos. A atuao direta do Estado na economia significativamente reduzida.

    No que toca aos direitos sociais, o fim do constitucionalismo social seria moralmente inaceitvel em pases subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, caracterizados por grande injustia social e desigualdade material.

    Sobre a transio do constitucionalismo liberal para o social, Carlos Ayres Britto sustenta, na ADI 4246, que: Naquela assentada, ainda deixei explcito ser a Defensoria Pblica uma instituio especificamente voltada para a implementao de polticas pblicas de assistncia jurdica, assim no campo administrativo como no judicial. Pelo que, sob este ltimo prisma, se revela como instrumento de democratizao do acesso s instncias judicirias, de modo a efetivar o valor constitucional da universalizao da justia (inciso XXXV do art. 5 da CF/88). Fazendo de tal acesso um direito que se desfruta s expensas do estado, de sorte a se postarem (as defensorias) como um luminoso ponto de interseo do constitucionalismo liberal com o social. Vale dizer, a Defensoria Pblica faz com que um clssico direito individual de acesso Justia se mescle com um moderno direito social; isto , os mais pobres a compensar a sua inferioridade econmica com a superioridade jurdica de um gratuito bater s portas do Poder Judicirio ou da prpria Administrao Pblica. O que j se traduz na concreta possibilidade de gozo do fundamental direito de ser parte processual, ora no mbito dos processos administrativos, ora nos processos de natureza judicial. [...] Numa frase, aparelhar as defensorias pblicas servir, sim, ao desgnio constitucional de universalizar e aperfeioar a prpria jurisdio como atividade bsica do Estado e funo especfica do Poder Judicirio.

    3. Constitucionalismo ps-moderno: At meados do sculo XX, no modelo hegemnico na Europa continental e em outros pases filiados ao sistema jurdico romano-germnico, a

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    regulao da vida social gravitava em torno das leis editadas pelos parlamentos, com destaque para os cdigos, sob a premissa de que o Legislativo, que encarnava a vontade da Nao, tinha legitimidade para criar o Direito, mas no o Poder Judicirio, ao qual cabia to somente aplicar aos casos concretos as normas anteriormente ditadas pelos parlamentos. At ento, a imensa maioria dos pases no contava com mecanismos de controle judicial de constitucionalidade das leis, que eram vistos como institutos antidemocrticos, por permitirem um governo de juzes. Mesmo em alguns pases em que existia a jurisdio constitucional como o Brasil, em que ela foi implantada em 1890 e incorporada Constituio de 1891 o controle de constitucionalidade no desempenhava um papel relevante na cena poltica ou no dia a dia dos tribunais. Tal quadro comeou a se alterar ao final da II Guerra Mundial na Europa, mediante as gravssimas violaes de direitos humanos perpetradas pelo nazismo, que demonstraram a importncia de criao de mecanismos de garantia de direitos que fossem subtrados pelas maiorias de ocasio. Na Alemanha, a Lei Fundamental de 1949, instituiu diversos mecanismos de controle de constitucionalidade e criou um Tribunal Constitucional Federal, que se instalou em 1951 e passou a exercer um papel cada vez mais importante na vida alem. Na Itlia, a Constituio de 1947 instituiu uma Corte Constitucional, que comeou a funcionar em 1956. Na prpria Frana, bero de um modelo de constitucionalismo avesso jurisdio constitucional, o cenrio se modificou substancialmente sob a gide da atual Constituio de 1958, que instituiu um modelo de controle de constitucionalidade originalmente apenas preventivo, confiado ao Conselho Constitucional, e hoje envolve tambm o controle repressivo. Na dcada de 70, Portugal e Espanha se redemocratizaram, libertando-se de governos autoritrios, e adotaram constituies de carter mais normativo, garantidas por meio da jurisdio constitucional.

    Nesse contexto, Uma das caractersticas marcantes do constitucionalismo contemporneo reside na judicializao da poltica, verdadeira consequncia do modelo constitucional adotado em diversos pases ocidentais, e que deflui diretamente do constitucionalismo democrtico construdo, principalmente, a partir da segunda metade do sculo XX: Na ponta oposta, a emergncia do constitucionalismo democrtico no segundo ps-guerra, reforada pela redemocratizao, nos anos 70, do mundo ibrico europeu e americano, trazendo consigo a universalizao do judicial review e afirmao das leis fundamentais que impem limites regra da maioria, percebida como uma ampliao do conceito de soberania, abrindo para os cidados novos lugares de representao de sua vontade, a exemplo do que ocorre quando provocam o Judicirio para exercer o controle das leis. (VIANNA, Luiz Werneck. BURGOS, Marcelo. Revoluo processual do direito e democracia progressiva. extrado do Manual prtico de Direitos Humanos Internacionais).

    O que se observa atualmente uma tendncia global adoo do modelo de constitucionalismo em que as constituies so vistas como normas jurdicas autnticas, que podem ser invocadas perante o Poder Judicirio e ocasionar a invalidao de leis ou outros atos normativos. E, muitas destas novas constituies que contemplam a jurisdio constitucional so inspiradas pelo iderio do Estado Social. A conjugao do

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    constitucionalismo social com o reconhecimento do carter normativo e judicialmente sindicvel dos preceitos constitucionais gerou efeitos significativos do ponto de vista da importncia da Constituio no sistema jurdico ela assumiu uma centralidade outrora inexistente , bem como da partilha de poder no mbito do aparelho estatal, com grande fortalecimento do Poder Judicirio, e, sobretudo, das cortes constitucionais e supremas cortes, muitas vezes em detrimento das instncias polticas majoritrias. Sobre o tema, ver item 24.a (Neoconstitucionalismo).

    Para finalizar, alm da histria do constitucionalismo, preciso pontuar para onde ele caminha. O constitucionalismo moderno foi erigido a partir de um pressuposto ftico, que hoje j no se verifica plenamente o Estado nacional soberano, detentor do monoplio da produo de normas, da jurisdio e do uso legtimo da fora no mbito do seu territrio, que no reconhece qualquer poder superior ao seu. O Estado continua sendo o principal ator poltico no mundo contemporneo. Porm, com a globalizao, atualmente, o Estado nacional perdeu em parte a capacidade que tinha para controlar os fatores econmicos, polticos, sociais e culturais que atuam no interior das suas fronteiras, pois esses so cada vez mais influenciados por elementos externos, sobre os quais os poderes pblicos no exercem quase nenhuma influncia. No mundo contemporneo, os Estados nacionais, sozinhos, no conseguem enfrentar alguns dos principais problemas com que se deparam em reas como a economia, o meio ambiente e a criminalidade. Em paralelo, surgem novas entidades internacionais ou supranacionais, no plano global ou regional, que exercem um poder cada vez maior e tensionam a soberania estatal e a supremacia constitucional. Ao lado disso, se desenvolve na sociedade global, desde o final da II Guerra Mundial, um cosmopolitismo tico, que cobra dos Estados mais respeito aos direitos humanos, no aceitando a invocao da soberania ou de particularismos culturais como escusa para as mais graves violaes dignidade humana.

    Nesse cenrio, surgem fontes normativas e instncias de resoluo de conflitos alheias ao Estado, que no se subordinam ao Direito estatal, inclusive ao emanado da Constituio. O constitucionalismo em rede ou multinvel toma o lugar da tradicional pirmide Kelseniana; a emergncia do Direito Comunitrio, sobretudo no contexto europeu; o fortalecimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos; e a difuso global de uma lex mercatoria, composta por prticas aceitas pelos agentes do comrcio internacional, que se situam s margens dos ordenamentos estatais; o conflito entre o universalismo dos direitos fundamentais e o respeito s diferenas culturais, so exemplos de questes colocadas frente do constitucionalismo. Para que o constitucionalismo estatal no se torne autista, Marcelo Neves sustenta o transconstitucionalismo para manuteno do dilogo constitucional entre diferentes esferas, permitindo que as respectivas imperfeies e incompletudes sejam percebidas e eventualmente corrigidas. Esses so alguns dos desafios a serem enfrentados pelo constitucionalismo ps-moderno.

    Ponto extra: O problema da legitimidade intergeracional

    Problema tormentoso surge da questo da legitimidade intergeracional, ou seja, do fato de

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    uma gerao adotar decises vinculativas para as outras que a sucedero, principalmente no que pertine s clusulas ptreas, cuja superao, como cedio, s possvel atravs de uma ruptura da ordem jurdica. No entanto, o constitucionalismo democrtico, alm de valorar positivamente o fato de a Constituio ser dotada de supremacia, procura atribuir a importncia devida s deliberaes populares e s decises da maioria dos representantes do povo. Contudo, registre-se que cada gerao tem o direito de viver de acordo com seus valores, de forma que, cabe ao poder constituinte difuso, ou seja, a mutao constitucional deve ser a ferramenta para interpretar de forma a combinar com a realidade vigente.

    Questes Objetivas

    MPF\26 Para o neoconstitucionalismo, todas as disposies constitucionais so normas jurdicas e a Constituio, alm de estar em posio formalmente superior sobre o restante da ordem jurdica, determina a compreenso e interpretao de todos os ramos do direito assertiva correta.

    MPF\26 A Constituio brasileira de 1988 enquadra-se na categoria das constituies dirigentes, porque, alm de estabelecer a estrutura bsica do Estado e de garantir direitos fundamentais, impe ao Estado diretrizes e objetivos principalmente tendentes a promover a justia social, a igualdade substantiva e a liberdade real - assertiva correta.

    MPF\27 - O ps-positivismo contesta a separao entre Direito, Moral e Poltica, negando a especificidade do objeto de cada um desses domnios assertiva incorreta.

    LEITURA COMPLEMENTAR: BARROSO, Lus Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalizao do Direito. O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil. (artigo salvo no Dropbox, pasta n. 29).

    BARROSO, Lus Roberto. Constituio, democracia e supremacia judicial: Direito e poltica no Brasil contemporneo. (artigo salvo no Dropbox, pasta n. 29).

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    Ponto 1.b. Poder Legislativo. Organizao. Atribuies do Congresso Nacional. Competncias do Senado e da Cmara. Legislativo e soberania popular. A crise da representao poltica. Obras consultadas: Resumos do 25, do 26 e 27 CPR; LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 16 Ed, 2012. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed, 2009. FERREIRA MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 7 ed, 2012. CALABRICH, Bruno. PELELLA, Eduardo e outros. Questes Discursivas do Concurso de Procurador da Repblica 18 ao 25 - Respondidas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CHEKER, Monique e outros. Comentrios s Questes Objetivas do Concurso de Procurador da Repblica 22 ao 26. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. Smulas do STJ Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. COSTA, Mauro Jos Gomes. Smulas do STF Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CAVALCANTE. Mrcio Andr Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2013. CAVALCANTE. Mrcio Andr Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2014.

    Legislao bsica: Art. 44, 46, 48 e inciso, 49 e incisos, 51 e incisos, 58 e incisos, CRFB/88.

    a) Organizao: O Legislativo da Unio bicameral, exercido pelo Congresso Nacional (Cmara dos Deputados e Senado). Nas demais unidades da federao, o legislativo unicameral (Assembleia legislativa e Cmara de Vereadores). Trata-se de bicameralismo federativo (princpio da participao na manuteno do equilbrio federativo) e bicameralismo de equilbrio ou de equivalncia, pois no existe hierarquia entre Cmara e Senado.

    A Cmara dos deputados representa o povo. Cada unidade federativa tem entre 8 e 70 Deputados, conforme a populao (LC 78/93). Os territrios tero 4. A escolha pelo sistema proporcional. O mandato dos deputados de 4 anos. Idade mnima de 21 anos.

    O Senado representa os Estados e o DF, cada um com 3 Senadores. Idade mnima de 35 anos. So escolhidos pelo sistema majoritrio, e cada chapa dever ter um cabea e 2 suplentes. O mandato de 8 anos, renovados a cada 4 anos, na proporo de 1/3 e 2/3.

    Mesa: rgo de direo de um colegiado, encarregada pela conduo dos trabalhos legislativos e administrativos. Mesa da Cmara dos Deputados; Mesa do Senado Federal; Mesa do Congresso Nacional. O mandato de 2 anos, vedada a reeleio para o mesmo cargo. Essa no uma norma de reproduo obrigatria para Estados e Municpios, consoante decidido na ADI 792/RJ.

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    O Legislativo desempenha precipuamente 2 atribuies: a) fiscalizar; b) inovar a ordem jurdica. A fiscalizao feita atravs de: 1) Fiscalizao Econmico-Financeira (arts. 70 a 75), auxiliada pelo Tribunal de Contas; 2) Fiscalizao Poltico-Administrativa, exercida pelas Comisses.

    Comisses (art. 58) 1) Comisso Temtica ou Material: A organizao est prevista no RI. A mais importante a Comisso de Constituio e Justia - CCJ. Todo PL, obrigatoriamente, passa por ela, que faz o controle preventivo atravs de parecer sobre a constitucionalidade do PL. Se for incompatvel, inadequado, inconstitucional, arquivado. O parecer no meramente opinativo, com possibilidade de recurso previsto no RI. Depois de analisado pela CCJ, o PL endereado comisso temtica respectiva. Esta dotada da delegao interna ou imprpria: poder (art. 58, 2, I) para aprovar PL, independentemente da manifestao do Plenrio.

    2) Comisso Representativa: Art. 58, 4. mista, pois composta por deputados e senadores.

    3) Comisso Parlamentar de Inqurito: art. 58, 3; Lei 1579/52; Lei 10001/00, Regimentos Internos. Aplica-se o princpio da representao proporcional partidria (art. 58, 1).

    I) CPI PODE: a.1) Notificar testemunhas e determinar a sua conduo coercitiva (convidado ou investigado); OBS: 1) Membro do MP pode ser convocado perante CPI na condio de investigado em razo de fatos relativos ao exerccio funcional, mas no est obrigado a responder perguntas sobre fato sobre o qual tenha se manifestado no exerccio de suas atribuies. 2) ndio no pode ser obrigado a depor em CPI, pois conduzi-lo coercitivamente significa a sua retirada do seu habitat (remoo forada de sua terra), o que vedado pela CR; a.2) pode prender em flagrante, mas no pode prender o investigado por falso testemunho pois ele no testemunha; a.3) pode realizar percias, exames, vistorias; a.4) pode afastar o sigilo bancrio e fiscal, mas necessrio fundamentao (RE 389.808). OBS: CPI municipal no pode afastar o sigilo fiscal e bancrio, pois no h Judicirio municipal. CPI estadual pode.

    II) CPI NO PODE (reserva de Jurisdio): b.1) afastar sigilo de comunicaes telefnicas. art. 5., XII. A CPI no pode decretar a interceptao, mas pode requisitar quebra de dados telefnicos; b.2) expedir mandado de priso; b.3) expedir mandado de busca e apreenso. No pode proibir que o cidado deixe o territrio nacional; determinar a apreenso de passaporte.

    Requisitos para constituio da CPI: i) 1/3, no mnimo, de deputados e/ou senadores. ii) Fato determinado (especificar e circunscrever o objeto da investigao, ter relevncia pblica e estar dentre as atribuies da Casa). iii) Prazo certo. No existe CPI permanente (princpio da segurana jurdica). Preenchidos os requisitos, o parlamentar tem direito lquido e certo CPI . Trmino dos trabalhos: Elabora-se um relatrio, que votado pela CPI. Pode ser remetido ao MP para que promova as aes cabveis. Tambm pode

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    apresentar PL. Obs: Pode haver participao de membro do MP acompanhando os trabalhos da CPI, designado pelo PGR/PGJ.

    b) Atribuies do Congresso Nacional. Competncia do Senado e da Cmara: O art. 48 da CR traz as atribuies do Congresso, com a necessidade de sano presidencial. J o art. 49 descreve competncias exclusivas do Congresso. Via de regra, estas so exercidas mediante decreto legislativo ou resolues. O art. 51 prev competncias privativas da Cmara que, via de regra, so exercidas por resoluo. A Competncia privativa do Senado est prevista no art. 52.

    c) Legislativo e soberania popular: Bodin, em 1576, teorizou Soberania (poder acima dos demais, centralizado nas mos do Rei). No sculo XVIII, o constitucionalismo conduziu separao entre Estado e Monarca, passando a soberania a ser s do Estado. Em 1762, Rosseau adjetiva o conceito: Soberania Popular. Para Kelsen, a soberania qualidade do poder do Estado, sendo absoluta, j que nenhuma outra manifestao pode se contrapor vontade estatal. Suas caractersticas so: Una; indivisvel; inalienvel; imprescritvel.

    d) Crise da representao poltica: Para Bobbio, a democracia um mtodo, um conjunto de regras de procedimentos para que decises polticas sejam tomadas. Nas democracias ocidentais, possvel identificar as assembleias parlamentares, periodicamente eleitas, como expresso concreta da Representao poltica. Esta um fenmeno complexo, cujo ncleo consiste num processo de escolha dos governantes e de controle sobre sua ao atravs de eleies competitivas. um conceito multidimensional que abarca o fenmeno da seleo de lideranas, de delegao de soberania popular, de controle, de participao indireta e de questionamento poltico. Atualmente, a democracia representativa encontra-se na penumbra, diante da quebra global da confiana, marcada pela corrupo, descrdito quanto capacidade das instituies e dos agentes polticos de agir de modo funcionalmente adequado. A crise da representao poltica no Brasil se insere no interior de um quadro mais amplo e que reflete, de forma quase planetarizada, os mesmos problemas da (1) diminuio da participao eleitoral, (2) declnio da relao de identificao entre representantes e representados e (3) o aumento das taxas de alienao eleitoral conjugado com o crescimento do processo de excluso social; para alguns autores ainda h as questes relativas crise da democracia e o declnio da importncia dos partidos polticos nas democracias contemporneas. Concomitantemente, verificada uma crescente crise de representatividade, legitimidade e funcionalidade no mbito do Legislativo, alimentando o Judicirio na direo do ativismo judicial, em nome da Constituio, com a prolao de decises que suprem omisses e, por vezes, inovam na ordem jurdica, com carter normativo geral. (BARROSO, Lus Roberto. Judicializao, ativismo judicial e legitimidade democrtica. Salvo na pasta 29 do Dropbox). Sobre o dficit democrtico das instituies representativas, SARMENTO afirma: Em que pese a universalizao do direito de voto alcanada ao longo do sculo XX, hoje uma srie de fatores - que vo da influncia do poder econmico nas eleies, at a apatia e distanciamento do cidado em relao res publica - tende a segregar os representantes dos representados, minando a crena de que os primeiros vocalizariam na esfera poltica a

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    vontade dos segundos. O problema universal, mas, no Brasil, h componentes que o agravam de forma exponencial, abalando profundamente a credibilidade das instituies de representao popular. [...]. Neste quadro preocupante, a objeo democrtica contra o ativismo judicial se arrefece, sobretudo quando o Judicirio passa a agir em favor de causas simpticas aos anseios populares, como a proteo dos direitos sociais. (A proteo judicial dos direitos sociais. Salvo na Pasta 29 do Dropbox).

    Ponto extra perda do mandato

    Perda do mandato em caso de condenao criminal de Deputado Federal ou Senador

    Se uma pessoa perde ou tem suspensos seus direitos polticos, a consequncia disso que ela perder o mandato eletivo que ocupa, j que o pleno exerccio dos direitos polticos uma condio de elegibilidade (art. 14, 3, II, da CF/88).

    A CRFB/88 determina que o indivduo que sofre condenao criminal transitada em julgado fica com seus direitos polticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenao (art. 15, III).

    A condenao criminal transitada em julgado NO suficiente, por si s, para acarretar a perda do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador.

    O STF, ao condenar um Parlamentar federal, NO poder determinar a perda do mandato eletivo. Ao ocorrer o trnsito em julgado da condenao, se o ru ainda estiver no cargo, o STF dever oficiar Mesa Diretiva da Cmara ou do Senado Federal para que tais Casas deliberem acerca da perda ou no do mandato, nos termos do 2 do art. 55 da CRFB/88.

    O Cdigo Penal prev que a pessoa condenada criminalmente perder o cargo, funo pblica ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos:

    Art. 92. So tambm efeitos da condenao:

    I - a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo:

    a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica;

    b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

    Ex: se um Prefeito condenado criminalmente a 2 anos de deteno pela prtica de um crime contra a Administrao Pblica, no prprio acrdo j dever constar a determinao, fundamentada, de que ele perder o mandato eletivo. Vale ressaltar que, para Prefeito, por exemplo, no necessria nenhuma outra providncia adicional, alm da determinao na deciso condenatria. Assim, em caso de condenao criminal transitada em julgado, haver a perda imediata do mandato eletivo no caso de Vereadores, Prefeitos, Governadores e Presidente da Repblica.

    Alm da previso expressa no Cdigo Penal, a perda do mandato eletivo encontra

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    justificativa na CF/88. Isso porque, para a pessoa exercer um mandato eletivo, ela precisa estar no pleno gozo de seus direitos polticos e o indivduo condenado criminalmente fica com seus direitos polticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenao. Tal concluso est prevista expressamente no art. 15, III c/c art. 14, 3, II:

    Art. 15. vedada a cassao de direitos polticos, cuja perda ou suspenso s se dar nos casos de:

    III - condenao criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

    Art. 14 (...)

    3 So condies de elegibilidade, na forma da lei:

    II - o pleno exerccio dos direitos polticos;

    A grande controvrsia que se debate atualmente reside no caso de condenao criminal de Deputados Federais e Senadores. A discusso jurdica a seguinte: A condenao criminal transitada em julgado suficiente, por si s, para acarretar a perda do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador? O STF, ao condenar um Parlamentar federal, poder determinar a perda do mandato eletivo?

    1 corrente: NO. Quem decide se haver a perda a Cmara ou o Senado.

    Para a primeira corrente, a regra acima explicada no se aplica no caso de Deputados Federais e Senadores. Isso porque, segundo defendem, no caso desses parlamentares h uma norma especfica que excepciona a regra geral.

    Trata-se do art. 55, VI e 2 da CF/88:

    Art. 55. Perder o mandato o Deputado ou Senador:

    VI - que sofrer condenao criminal em sentena transitada em julgado.

    2 - Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato ser DECIDIDA pela Cmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocao da respectiva Mesa ou de partido poltico representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

    Logo, para esta primeira corrente, mesmo o Deputado Federal ou o Senador tendo sido condenado criminalmente, com sentena judicial transitada em julgado, ele somente perder o mandato se assim DECIDIR a maioria absoluta da Cmara dos Deputados ou do Senado Federal, por meio de votao secreta, assegurada ampla defesa.

    Obs: Tese defendida por: Min. Ricardo Lewandowski, Min. Rosa Weber, Min. Dias Toffoli, Min. Crmen Lcia, Min. Teori Zavaski, Min. Roberto Barroso.

    O STF adotou esta corrente no julgamento do Senador Ivo Cassol (AP 565/RO, rel.Min. Crmen Lcia, 7 e 8.8.2013).

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    2 corrente: SIM. A Cmara ou o Senado ir apenas formalizar a perda que j foi decretada.

    Para a segunda corrente, o 2 do art. 55 da CF/88 no precisa ser aplicado em todos os casos nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas hipteses em que a deciso condenatria no tenha decretado a perda do mandato parlamentar por no estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi proferida anteriormente expedio do diploma, com o trnsito em julgado em momento posterior.

    Em outras palavras:

    Se a deciso condenatria NO determinou a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato somente poder ocorrer se a maioria absoluta da Cmara ou do Senado assim votar (aplica-se o art. 55, 2 da CF/88);

    Se a deciso condenatria DETERMINOU a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato ocorrer sem necessidade de votao pela Cmara ou Senado (no se aplica o art. 55, 2).

    O procedimento estabelecido no art. 55 da CF disciplinaria circunstncias em que a perda de mandato eletivo parlamentar poderia ser decretada com base em juzo poltico. No entanto, esse procedimento no aplicvel quando a aludida perda foi determinada em deciso do Poder Judicirio como efeito irreversvel da sentena condenatria.

    A deliberao da Casa Legislativa, prevista no art. 55, 2, da CF, possui efeito meramente declaratrio, sem que possa ser revista ou tornada sem efeito a deciso condenatria final proferida pelo STF.

    Logo, para esta segunda corrente, se o Deputado Federal ou o Senador foi condenado criminalmente, com sentena judicial transitada em julgado, o STF poder determinar a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP.

    Nessa hiptese, no ser necessria votao pela respectiva Casa (no se aplica o art. 55, 2 da CF/88).

    A condenao j tem o condo de acarretar a perda do mandato.

    Defendida por: Min. Joaquim Barbosa, Min. Luiz Fux, Min. Gilmar Mendes, Min. Marco Aurlio, Min. Celso de Mello.

    O STF adotou esta corrente no julgamento do Mensalo (AP 470/MG, rel. Min.

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    Joaquim Barbosa, 10 e 13.12.2012).

    Obs1: como se observa acima, houve uma mudana de entendimento do STF. Isso ocorreu em virtude do ingresso de dois novos Ministros na Corte (Teori Zavaski e Luis Roberto Barroso) que votaram no sentido de que no h perda automtica, devendo haver deliberao da Cmara ou do Senado. Obs2: o tema ainda no est consolidado porque o prprio Min. Luis Roberto Barroso (que havia adotado a primeira corrente acima) proferiu, em 02/09/2013, deciso monocrtica recente na qual acena com a possibilidade de ser construda uma terceira posio (MS 32.326/DF). Segundo essa deciso liminar, que ainda no foi submetida ao Plenrio, em caso de condenao de Deputado Federal ou Senador, a Casa Legislativa ir decidir sobre a perda ou no do mandato, nos termos do 2 do art. 55 da CRFB/88. No entanto, para o Min. Barroso, se o regime de cumprimento da pena for o fechado e a quantidade da pena superior ao mandato, a Casa Legislativa, obrigatoriamente, dever determinar a perda desse mandato, considerando que as condies do regime fechado so logicamente incompatveis com o exerccio do mandato parlamentar. Veja a ementa da deciso do Min. Barroso: (...) 1. A Constituio prev, como regra geral, que cabe a cada uma das Casas do Congresso Nacional, respectivamente, a deciso sobre a perda do mandato de Deputado ou Senador que sofrer condenao criminal transitada em julgado.

    Esta regra geral, no entanto, no se aplica em caso de condenao em regime inicial fechado, que deva perdurar por tempo superior ao prazo remanescente do mandato parlamentar. Em tal situao, a perda do mandato se d automaticamente, por fora da impossibilidade jurdica e ftica de seu exerccio.

    Como consequncia, quando se tratar de Deputado cujo prazo de priso em regime fechado exceda o perodo que falta para a concluso de seu mandato, a perda se d como resultado direto e inexorvel da condenao, sendo a deciso da Cmara dos Deputados vinculada e declaratria. (...) Obs3: existe uma PEC tramitando para alterar o 2 do art. 55 da CF/88 (determinando a perda automtica em caso de determinadas condenaes criminais), tendo ela j sido aprovada no Senado e encaminhada apreciao da Cmara dos Deputados (PEC 18/2013).

    Vejamos agora o caso concreto julgado pelo STF na AP 565/RO, noticiada neste Informativo.

    O STF condenou o Senador Ivo Cassol (RO) pela prtica do crime descrito no art. 90 da Lei 8.666/93 pena de 4 anos, 8 meses e 26 dias de deteno em regime inicial semiaberto.

    Discutiu-se se o STF poderia determinar expressamente a perda do cargo quanto ao

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    ru/Senador. A maioria dos Ministros entendeu que NO.

    Decidiu-se que compete ao Senado Federal deliberar sobre a eventual perda do mandato parlamentar do Senador, nos termos do art. 55, VI e 2 da CF/88. Ao ocorrer o trnsito em julgado da condenao, se o ru ainda estiver no cargo, o STF dever oficiar Mesa Diretiva da Cmara ou do Senado Federal para que tais Casas deliberem acerca da perda ou no do mandato.

    INFORMATIVO

    STF

    a) CPI estadual e quebra de sigilo fiscal.

    Em concluso de julgamento, o Plenrio, em virtude da perda superveniente de objeto, assentou o prejuzo de pedido formulado em ao cvel originria, processada segundo o rito do mandado de segurana. A ao havia sido ajuizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro Alerj contra ato coator do Chefe da Superintendncia Regional da Receita Federal na 7 Regio Fiscal. Na espcie, questionava-se deciso da mencionada autoridade, que, com base no dever do sigilo fiscal, negara pedido de transferncia de dados fiscais relativos aos principais investigados em comisso parlamentar de inqurito - CPI, criada pela autora, destinada a apurar a ao de milcias no referido Estado-membro v. Informativo 578. Na presente assentada, em voto-vista, o Ministro Dias Toffoli julgou prejudicado o pedido diante do encerramento das atividades da mencionada CPI. No obstante, ressalvou seu entendimento quanto possibilidade de CPI estadual obter informaes dessa ordem, desde que observado o mbito de poder e das competncias que um Estado-membro teria. O Ministro Joaquim Barbosa, relator e Presidente, reajustou seu voto no sentido do prejuzo. ACO 1271/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.2.2014. Plenrio. (Informativo 735).

    Questes objetivas

    MPF\27 - A soberania popular ser exercida, inclusive, nos termos da lei complementar, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular, sendo da competncia exclusiva da Cmara dos deputados, composta por representantes do povo, autorizar referendo, plebiscito e a iniciativa popular - assertiva incorreta.

    MPF\27 - A soberania popular ser exercida, inclusive, nos termos da lei complementar, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular, sendo esta admitida somente para elaborao de leis federais assertiva incorreta.

    Smulas STF

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    Smula vinculante 3 - Nos processos perante o tribunal de contas da unio asseguram-se o contraditrio e a ampla defesa quando da deciso puder resultar anulao ou revogao de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciao da legalidade do ato de concesso inicial de aposentadoria, reforma e penso.

    Smula 6 - A revogao ou anulao, pelo poder executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo tribunal de contas, no produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a competncia revisora do judicirio.

    Smula 347 - o tribunal de contas, no exerccio de suas atribuies, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder pblico.

    Smula 653 - no tribunal de contas estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela assemblia legislativa e trs pelo chefe do poder executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do ministrio pblico, e um terceiro a sua livre escolha.

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    Ponto 1.c. Ministrio Pblico: Histria e princpios constitucionais. Organizao. As funes constitucionais do Ministrio Pblico. Obras consultadas: Resumos do 25 e do 26 CPR; BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed, 2009. FERREIRA MENDES, Gilmar.Curso de Direito Constitucional. 7 ed., 2012. SANTINI, Valter Foleto. O Ministrio Pblico na Investigao Criminal. 2. ed., 2007; MAZZILLI, Hugo Nigro. Introduo ao Ministrio Pblico, 8 ed., 2012. Resumo do Manual do Procurador da Repblica. CALABRICH, Bruno. PELELLA, Eduardo e outros. Questes Discursivas do Concurso de Procurador da Repblica 18 ao 25 - Respondidas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CHEKER, Monique e outros. Comentrios s Questes Objetivas do Concurso de Procurador da Repblica 22 ao 26. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. Smulas do STJ Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. COSTA, Mauro Jos Gomes. Smulas do STF Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CAVALCANTE. Mrcio Andr Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2013. CAVALCANTE. Mrcio Andr Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2014.

    Legislao bsica: Art. 127 a 132 da CRFB/88; LC n.: 75/93 e Lei n.: 8.625/93.

    a) Histria - A histria do Ministrio Pblico no muito clara. Tem-se relatos do seu surgimento no Egito h mais de 4000 anos a.C, na figura dos Magiais, funcionrios do real poder. Na Grcia antiga, aponta-se o Temsteta ou Tesmoteta, cuja misso era a de denunciar os delitos Assemblia do Povo ou Senado, para que este designasse um acusador. Contudo, h quem acredite que a origem dessa instituio se acha no direito francs, nas ordenanas de 25 de maro de 1302, de Felipe IV, o Belo, que imps aos seus procuradores o mesmo juramento dos Juzes, proibindo-lhes o patrocnio de negcios que no fosse o do rei. Na Idade Mdia, especificamente na Frana, os Procuradores, a princpio, eram denominados Advogados do Rei, com atribuies em aes civis, na defesa dos desprotegidos e hipossuficientes. No Brasil, no perodo colonial, o MP funcionava na fazenda pblica e na promoo de ao penal, poca em que deixou de ser privada e passou a ser pblica. A institucionalizao do MP em uma Constituio s ocorreu em 1934, que detalhadamente previu a organizao do MPU, no Distrito Federal e nos Territrios, atravs de leis federais, bem como a instituio do Ministrio Pblico nos Estados, mediante leis locais. Com o CPP de 1941, o MP conquistou o poder de requisio de inqurito policial e de diligncias, recebeu como regra, a titularidade na promoo da APP, embora ainda se permitisse o procedimento judicialiforme (art. 26 do CPP), abolido pela CR/88. O perodo ureo do MP comeou com a Lei 7347/85. At ento, o MP desempenhava basicamente funes na seara criminal. Com a CR/88 foi-lhe atribuda a funo de proteger o patrimnio pblico e social, meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos.

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    Histrico nas Constituies: 1) 1891: citava to somente que o PGR seria designado entre os membros do Supremo Tribunal Federal. 2) 1934: dizia que o MP era um rgo de cooperao nas atividades governamentais e a escolha do PGR exigia aprovao do Senado; criou impedimentos ao exerccio do cargo e garantias aos Procuradores. 3) 1937: somente disse que o PGR seria chefe do MPF. 4) 1946 o MP ganhou um ttulo autnomo na Constituio, e imps investidura no cargo atravs de concurso pblico. 5) 1967 foi inserido no Captulo do Judicirio e a EC 1/69 colocou-o entre os rgos do Executivo. 6) 1988 atribuiu ao MP funes essenciais, concedendo-lhe autonomia administrativa, financeira e independncia funcional.

    b) Princpios constitucionais: O art. 127 da Constituio. Estes princpios sinalizam de forma expressa a nova roupagem constitucional do MP, apresentando-se como instituio autnoma no s topograficamente. O MP detm autonomia institucional, quer do ponto de vista institucional, como do ponto de vista administrativo.

    1) Princpio da Unidade: no instante em que um membro do MP fala, ele se manifesta em nome da instituio. S existe um MP. Por isso, ele no representa, mas presenta, a instituio, pois a prpria instituio no exerccio de suas funes. O MP deve ser observado como uma instituio nica e seus membros integram um s rgo sob a direo de um Procurador Geral.

    2) Princpio da Indivisibilidade: corolrio do princpio da unidade e encontra limites na independncia funcional. Os membros do MP podem ser substitudos por outros no exerccio da mesma funo sem que tenhamos um bice na atividade desenvolvida. No se vinculam aos processos em que atuam, podendo ser substitudo, pois falam em nome da instituio.

    3)Membros do MP agem com independncia funcional: o MP rgo constitucional independente, a servio do cidado. Se o constituinte lhe atribuiu tantas incumbncias e lhe conferiu poderes e prerrogativas, f-lo com a expectativa de que a instituio seja realmente instrumento do povo na defesa de seus direitos, at mesmo contra o Poder Pblico. Nesse contexto, a independncia se insere para garantir a consecuo da finalidade da instituio. O MP detm tambm autonomia administrativa e autonomia financeira (arts. 127, 2 e 168, 3).

    c) Organizao: O MPU divide-se em 4 vertentes: MPF, MPT, MPM, MPDFT. H 26 Ministrios Pblicos Estaduais.

    Proibio do exerccio de atividade poltico-partidria: O art. 29 do ADCT apresenta norma de transio, estabelecendo que os membros que ingressaram antes da CR/88 poderiam optar pelo regime anterior, no qual o MP poderia exercer atividade poltico-partidria. H 2 correntes: 1a. NO: proibio absoluta. 2a. SIM: com fundamento no artigo 29, 3o, ADCT, (HUGO NIGRO MAZZILI e ALEXANDRE DE MORAES).

    STF: o direito opo pelo regime anterior CF/88 foi assegurado ao membro do MP admitido antes da promulgao da Constituio, apenas. A demora na aprovao e

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    promulgao da lei complementar relativa ao MP no gerou direito de opo aos membros do MP admitidos j no novo regime institudo pela CF/88, com garantias e vedaes prprias da magistratura.

    Tribunal de contas: Art. 130 da CF. A Lei 8443/92 cria MP especial para o TCU. O STF, na ADI 789/DF, manifestou-se que esse MP destitudo de autonomia administrativa e financeira. E mais: no dispe de nenhuma autonomia institucional, j que se encontra na intimidade da corte de contas. Os membros tm prerrogativas, mas os rgos no tm uma instituio prpria. Deve existir um concurso especfico para o cargo de MP do Tribunal de Contas, mas quem organiza o prprio TC. Esse MP ingressa na estrutura do prprio tribunal.

    e) Funes constitucionais do MP: Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico:

    I - promover, privativamente, a ao penal pblica, na forma da lei; na APP encontram-se as razes histricas da instituio MP. atravs dela que exerce uma parcela direta de soberania do Estado. Segundo MAZZILLI, o Ministrio Pblico d a palavra final do Estado soberano no quando acusa, mas quando deixa de acusar. [...] Longe de ser um simples acusador pblico, obrigado a processar a qualquer preo, o Ministrio Pblico acabou constituindo hoje o primeiro fator da imparcialidade judicial dos julgamentos, j que assegura, com sua iniciativa, o princpio da inrcia da jurisdio penal. (p. 134)

    II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Pblicos e dos servios de relevncia pblica aos direitos assegurados nesta Constituio, promovendo as medidas necessrias a sua garantia; O MP um ouvidor geral da coletividade, zelando pelos direitos constitucionais do povo. Recebe dos cofres pblicos para a proteo do interesse pblico at mesmo contra o prprio Poder Pblico. Mais que um defensor do povo, o MP tem a funo de levar s barras dos tribunais os responsveis pela violao (MAZZILLI, 140).

    III - promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; O STJ admite que o MP interponha ACP para a defesa de direitos individuais homogneos quando os interesses defendidos tenham forte conotao social ou repercusso no interesse pblico. Nesse sentido, o seguinte julgado da Corte Especial:

    ERESP 114908/SP; EMBARGOS DE DIVERGENCIA NO RECURSO ESPECIAL 1999/0110356-8, DJ 20/05/2002, Rel. Min. ELIANA CALMON, Corte Especial: PROCESSO CIVIL - AO CIVIL PBLICA - MINISTRIO PBLICO - LEGITIMIDADE. 1. O MINISTRIO PBLICO FEDERAL est legitimado a recorrer instncia especial nas aes ajuizadas pelo MINISTRIO PBLICO ESTADUAL. 2. O MP est legitimado a defender direitos individuais homogneos, quando tais direitos tm repercusso no interesse pblico. 3. Questo referente a contrato de locao, formulado como contrato de adeso pelas empresas locadoras, com exigncia da Taxa Imobiliria para inquilinos, de interesse pblico pela repercusso das locaes na sociedade. 4.

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    Embargos de divergncia conhecidos e recebidos.

    A interpretao sistemtica da Constituio torna claro que o MP poder propor ACP no s para a defesa de interesses transindividuais (difusos, coletivos, ou individuais homogneos), como tambm para defesa de interesses sociais e individuais indisponveis (MAZZILLI, 142).

    IV - promover a ao de inconstitucionalidade ou representao para fins de interveno da Unio e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituio; legitimidade do PGR (art. 103, VI e 2). No mbito estadual, a legitimidade recai sobre o PGJ. (ver Lei 12562/11).

    V - defender judicialmente os direitos e interesses das populaes indgenas; A disputa sobre direitos indgenas matria de competncia dos juzes federais, que alcana questes de interesse global dos indgenas (ver itens 19.b e 20.a).

    VI - expedir notificaes nos procedimentos administrativos de sua competncia, requisitando informaes e documentos para instru-los, na forma da lei complementar respectiva; No caso de investigao acerca do desvio de verbas pblicas, o STF decidiu, no MS 21729, pela possibilidade de pedido de informaes acobertadas pelo sigilo bancrio diretamente pelo MP ao Banco do Brasil. Segundo Alexandre de Moraes, ao erigir o MP como garantidor e fiscalizador da separao de poderes e, consequentemente, dos mecanismos de controle estatais (CF, art. 129, II), o legislador constituinte conferiu Instituio funo de resguardo ao status constitucional do cidado, armando-o de funes, garantias e prerrogativas que possibilitassem o exerccio daquelas e a defesa destes. Incorporou-se em nosso ordenamento, portanto, a pacfica doutrina constitucional norte-americana sobre a teoria dos poderes implcitos, pela qual no exerccio de sua misso constitucional enumerada, o rgo executivo deveria dispor de todas as funes necessrias, ainda que implcitas, desde que no expressamente limitadas, consagrando-se, dessa forma, aplicvel ao MP o reconhecimento de competncias genricas implcitas que possibilitem o exerccio de sua funo constitucional.

    VII exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; Resoluo n. 20 do CNMP; art. 9 da LC 75/93. o conjunto de normas que regula a fiscalizao exercida pelo MP em relao polcia, na preveno, apurao, investigao de fatos tidos como criminosos, na preservao dos direitos e garantias constitucionais dos presos que estejam sob custdia da autoridade policial e na fiscalizao do cumprimento das determinaes judiciais. Esse controle externo decorre do sistema de freios e contrapesos inerente ao regime democrtico e no acarreta qualquer subordinao dos organismos policiais ao MP. Existem duas formas de controle externo: a) controle difuso ( aquele exercido por promotores com atribuio criminal, realizado atravs: Controle das ocorrncias policiais; Verificao de prazos de IP; Verificao da qualidade dos IP; Verificao de bens apreendidos; Controle da proposta de medidas cautelares, como o pedido de priso; b) controle concentrado ( aquele exercido pelo rgo do MP com atribuies especficas para o controle externo da atividade policial. Medidas a serem adotadas: Ao de improbidade administrativa; ACP na defesa de

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    interesses difusos; Requisies; Recomendaes; Termo de ajustamento de conduta; Visitas s unidades prisionais; Comunicaes de prises em flagrante).

    VIII requisitar diligncias investigatrias e a instaurao de inqurito policial, indicados os fundamentos jurdicos de suas manifestaes processuais; Ver abaixo o tema investigao pelo Ministrio Pblico.

    IX - exercer outras funes que lhe forem conferidas, desde que compatveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representao judicial e a consultoria jurdica de entidades pblicas. Trata-se de norma de encerramento, possibilitando o acrscimo de funes ao MP, desde que compatveis com suas finalidades institucionais, ao mesmo tempo em que veda-lhe a representao judicial e a consultoria jurdica de entidades pblicas. Com isso, vedado ao MP no s a defesa de interesses meramente fazendrios, como tambm a de interesses exclusivamente individuais disponveis.

    INVESTIGAO CRIMINAL PELO MINISTRIO PBLICO

    Investigao direta pelo MP atenta contra o sistema acusatrio, pois cria um desequilbrio entre a acusao e a defesa (paridade de armas)

    No h violao ao sistema acusatrio porque: i) os elementos colhidos pelo MP sero submetidos ao contraditrio judicial; ii) a defesa tambm pode realizar investigaes, porm sem poderes coercitivos (investigao criminal defensiva)

    MP pode requisitar diligncias e a instaurao de IP, mas no pode presidi-lo. (Marco Aurlio)

    Teoria dos poderes implcitos: surge no direito norte-americano, no precedente McCulloch x Maryland (1819) ao conceder uma atividade fim a determinado rgo ou instituio, a CF tambm concede a ele os meios necessrios para atingir tal objetivo. O STF adotou expressamente essa teoria no HC 91661.

    A atividade investigatria exclusiva da polcia judiciria (art. 144, 1, IV, da CF).

    Polcia judiciria no se confunde com polcia investigativa. Polcia investigativa a polcia quando investiga infraes penais. A expresso polcia judiciria ocorre quando a polcia cumpre determinaes do Judicirio. Alm disso, o CPP demonstra que a investigao no atividade exclusiva da polcia: art. 4, pargrafo nico.

    No h previso legal de instrumento para as investigaes do MP.

    Se a Constituio nada falou, h um silncio eloquente: no quis atribuir tal atividade ao MP.

    Existe o procedimento investigatrio criminal (PIC): o instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo MP, cuja finalidade apurar a ocorrncia de infraes penais de natureza pblica, fornecendo elementos para o oferecimento, ou no, de denncia.

    Resoluo n. 13 do CNMP

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    Demais desses argumentos, rememorar que a investigao pelo Ministrio Pblico, muito mais que um dever, consequncia lgica do dever de proteo. No sistema Interamericano de Direitos Humanos, h 2 tratados relevantes quanto ao dever de investigar: a Conveno Americana de Direitos e Deveres do Homem e do Cidado (Pacto de So Jos da Costa Rica) e a Conveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a Mulher (Conveno de Belm do Par).

    No caso VELAZQUEZ RODRIGUEZ, a Corte Interamericana de Direitos Humanos entendeu que a primeira obrigao assumida pelos Estados Partes [...] a de respeitar os direitos e as liberdades reconhecidas na Conveno. [...] Como conseqncia dessa obrigao, os Estados devem prevenir, investigar e sancionar toda violao aos direitos reconhecidos pela Conveno [...]. No mesmo sentido, ao examinar o caso 12.051 (MARIA DA PENHA Maia Fernandes), a Corte Interamericana de Direitos Humanos reafirmou a responsabilidade e o dever do Estado em assegurar vtima uma investigao pronta, exaustiva, por rgo autnomo e independente. Pode-se concluir, pois, que a investigao pelo MP representa verdadeiro direito da vtima a uma investigao imediata, completa e imparcial.

    Os Tribunais brasileiros oscilam, mas em sua maioria tm se posicionado favoravelmente investigao pelo MP. No STJ, smula 234: A participao de membro do Ministrio Pblico na fase investigatria criminal no acarreta o seu impedimento ou suspeio para o oferecimento da denncia.

    No STF, h Ministros contrrios: Marco Aurlio, Cesar Peluso, Ricardo Lewandovski, Dias Toffoli. De outro lado, Gilmar Mendes, Ayres Brito e Celso Melo e Luiz Fux. Ver HC 89837e RE 593727 (com repercusso geral), com julgamento sobrestado aps o pedido de vista pelo Min. Ricardo Lewandovski (Informativo 693).

    A Cmara dos Deputados rejeitou, em 25/06/2013, a PEC 37/2011: a investigao atividade exclusiva da polcia. Sobre a PEC 37, Lenio Streck discorre: No necessrio sustentar, tecnicamente, que o MP tem legitimidade para investigar. Alis, at as pedras sabem que o STF j vem decidindo desse modo. Tambm as pedras as que estudaram e as que so nscias sabem que no restante do mundo o MP tem o poder de investigar. Ento, no necessrio entrar no mrito. Temos que ver as razes polticas desse tipo de PEC. (PEC 37 A emenda da insensatez e os ps de curupira. http://www.conjur.com.br/2012-jun-21/senso-incomum-pec-37-emenda-insensatez-pes-curupira)

    Bruno Calabrich cita as palavras de Ferrajoli, proferidas em palestra ministrada pelo mestre italiano na cidade de Porto Alegre, em 01.05.2007: Eu acredito que no existam contradies entre o papel de investigao, de defesa da segurana, e o papel garantista em relao aos direitos, no sentido em que somente a aplicao das garantias processuais, somente os vnculos garantistas impostos tambm ao Ministrio Pblico e polcia que a meu ver deveria depender do Ministrio Pblico, no somente no plano constitucional, mas no plano da investigao -, somente o respeito s garantias da defesa, de garantias processuais muito rgidas, as provas, as contraprovas, podem assegurar a verificao da

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    verdade, uma verificao plausvel, de verdade, e das funes de segurana. Porque a segurana depende da aplicao da eficincia e esta, por sua vez, existe e vlida quando possui condies de verificar a verdade processual [...].

    Ponto extra - O MPF um dos ramos do MPU. PR o membro do MPF no primeiro nvel da respectiva carreira, constituda ainda dos cargos de Procurador Regional da Repblica (segundo nvel) e Subprocurador-Geral da Repblica (ltimo nvel), conforme estabelece o art. 44 da LC 75.

    Os PR oficiam junto aos Juzes Federais (primeira instncia da JF) e aos Tribunais Regionais Eleitorais onde no h sede de Procuradoria Regional da Repblica (art. 70 da LC 75). Os Procuradores Regionais da Repblica oficiam junto aos TRFs (art. 68) e os Subprocuradores-Gerais junto ao TSE, STJ e STF, atuando junto ao STF e TSE por delegao do PGR (art. 66). Os dispositivos legais acima mencionados atribuem ainda ao CSMPF competncia para autorizar os membros de todos os nveis a atuar em rgos jurisdicionais diversos dos previstos para a categoria.

    O ingresso na carreira do MP faz-se mediante concurso pblico de provas e ttulos. As promoes na carreira observam, no que couber, os critrios aplicados magistratura, ou seja, alternadamente por antiguidade e merecimento, sendo este apurado mediante critrios objetivos fixados em regulamento elaborado pelo CSMPF (art. 200, LC 75).

    No h, no MPF, seguindo o modelo da JF, escalonamento da carreira em entrncias, como acontece no MP e magistratura estaduais. Assim, a lotao em capitais no depende de promoo, mas to somente de vaga e de antiguidade na carreira suficiente para obt-la por meio de concurso de remoo. Tambm no h, no MPF, o cargo de PR substituto, como ocorre na magistratura federal por exemplo. O ingresso, desde o incio, ocorre em "titularidade".

    O MPF chefiado pelo PGR (art. 45, LC 75), cuja escolha cabe ao Presidente da Repblica, que o nomeia dentre integrantes da carreira, maiores de 35 anos, aps a aprovao de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de 2 anos, permitida a reconduo (art. 128, 1, CF). No h, pois, o limite de uma reconduo existente para os PGJs, chefes dos MPs estaduais, embora ele venha sendo observado desde 2003. Ao PGR, alm da chefia do MPF e do MPU, incumbe exercer as funes do MP junto ao STF e ao TSE, na qual exerce a funo de Procurador-Geral Eleitoral. Cabe-lhe, ainda, designar os Subprocuradores-Gerais que atuaro no STF e no TSE, dentre estes o Subprocurador-Geral Eleitoral.

    Nvel Cargo Atuao processual

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