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1 Direito de Empréstimo Público: a Directiva Comunitária e suas Transposições Helena Simões Patrício Lisboa, 29 de Maio de 2007

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Direito de Empréstimo Público:a Directiva Comunitária e

suas Transposições

Helena Simões Patrício

Lisboa, 29 de Maio de 2007

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SumSumáário:rio:

1. Direito de comodato público

2. Harmonização comunitária

3. Acções por incumprimento: França, Bélgica, Itália, Espanha, Portugal

4. A reacção dos bibliotecários

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1. Direito de comodato p1. Direito de comodato púúblicoblico

1.1 Conceito de comodato:

“Comodato é o contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à outra certa coisa, móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a obrigação de a restituir”

Artigo 1129ºdo Código Civil

“Acto de colocar à disposição do público, para utilização, o original ou cópias da obra durante um período de tempo limitado e sem benefícios económicos ou comerciais directos ou indirectos, quando efectuado através de estabelecimento acessível ao público”

Art. 3º do DL 332/97, de 27.11

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1. Direito de comodato p1. Direito de comodato púúblicoblico

1.1 Conceito de comodato:

• Não abrange a transmissão de obras em rede (entrega da coisa)

• Abrange a consulta presencial?

• Abrange o empréstimo entre bibliotecas?

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1. Direito de comodato p1. Direito de comodato púúblicoblico

1.2 Contexto histórico:

� 1946: Dinamarca

�1954: Suécia

�1961: Finlândia

�1971: Países Baixos

�1972: Alemanha

�1979: Reino Unido

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2. Harmoniza2. Harmonizaçção comunitão comunitááriaria

Directiva 92/100/CEE, de 9.11

Relativa ao direito de aluguer, ao direito de comodato e a certos direitos conexos aos direitos de autor em matéria de propriedade intelectual.

Motivação:

Diferenças ao nível da legislação e práticas dos Estados-membros que obstam ao comércio e provocam distorções da concorrência que dificultam o correcto funcionamento do mercado interno;

O aluguer e o comodato de obras protegidas tem uma importância crescente, sobretudo quanto aos fonogramas e filmes, cada vez mais ameaçados pela pirataria;

O trabalho criativo e artístico dos autores e artistas exige uma remuneração adequada na perspectiva da continuação desse trabalho criativo e artístico.

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2. Harmoniza2. Harmonizaçção comunitão comunitááriaria

Directiva 92/100/CEE, de 9.11

Comodato

Colocação à disposição de originais e cópias de obras protegidas pelo direito de autor, para utilização, durante um período limitado, sem benefícios económicos ou

comerciais, se for efectuado por estabelecimentos acessíveis ao público

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2. Harmoniza2. Harmonizaçção comunitão comunitááriaria

Directiva 92/100/CEE, de 9.11

Direito exclusivo de comodato

Direito de autorizar ou proibir o comodato de cópias de obras protegidas deverá ser previsto pelos Estados-membros

Desde que os autores recebam uma remuneração pelo comodato público, os Estados-membros podem derrogar o direito exclusivo de comodato

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2. Harmoniza2. Harmonizaçção comunitão comunitááriaria

Directiva 92/100/CEE, de 9.11

Remuneração pelo comodato público

Os Estado-membros podem determinar livremente a remuneração devida pela derrogação do direito exclusivo previsto para o comodato público, tendo em conta os

seus objectivos de promoção da cultura

Os Estados-membros poderão isentar determinadas categorias de estabelecimentos do pagamento da remuneração

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2. Harmoniza2. Harmonizaçção comunitão comunitááriaria

Directiva 92/100/CEE, de 9.11

Autor, artista, intérprete, executante, produtor de fonogramas, realizadores de filmes e produtores das primeiras fixações de filmes

Beneficiário

Bibliotecas públicasEstabelecimentos abertos ao público

Liberdade dos Estados-membrosCálculo da remuneração

Obras protegidas pelo Direito de Autor: livros, música, filmesObjecto

Liberdade dos Estados-membrosBibliotecas universitárias e escolares, nos casos de boas redes de bibliotecas públicas

Comissão Europeia

Excepções

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3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

12 de Setembro de 2002:

“Relatório da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu e ao ComitéEconómico-Social sobre o Direito de Comodato Público na União Europeia” (COM (2002) 502 final) esclarece que a intenção do legislador comunitário ao prever um direito de comodato público foi, justamente, abranger as bibliotecas públicas

16 de Janeiro de 2004:

A Comissão Europeia pede formalmente informações a Espanha, França, Itália, Irlanda, Luxemburgo e Portugal quanto à transposição nacional da Directiva 92/100/CEE

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3.1 Bélgica

Acórdão do Tribunal de Justiça de 16.10.2003

Processo C-433/02 contra a Bélgica, por falta de decisão de execução que fixasse o montante das remunerações.

Nesta sequência foi aprovado o Arrêté royal de 25.4.2004

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

Bibliotecas escolares, de cuidados de saúde e destinadas a deficientes

Excepções

1 ou 0,50 � por adulto ou criança inscritos nos estabelecimentos visados, desde que tenham feito um empréstimo anual

Cálculo da remuneração

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3.2 França

Processo contra a França arquivado.

Aprovação do Décret 2004-920, de 2.9, que altera o Código da Propriedade Intelectual

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

Bibliotecas escolares, de cuidados de saúde e destinadas a deficientesExcepções

Bibliotecas municipais, universitárias, públicas, de organismos públicos de carácter científico, cultural e profissional, de sindicatos, qualquer biblioteca disponível ao público desde que metade dos livros sejam destinados ao empréstimo organizado

Estabelecimentos

O Estado paga por utilizador inscrito nos estabelecimentos visados.Os livreiros pagam 6% do volume de vendas para os estabelecimentos visados

Cálculo da remuneração

Estado+LivreirosResponsável

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3.3 Espanha

Lei 43/1994, de 30.12 (art. 37º)

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

Museus, arquivos,bibliotecas, hemerotecas, fonotecas, filmotecas de estabelecimentos públicos ou de carácter científico, cultural ou educativo desde que não visem o lucro

Excepções

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3.3 Espanha

Acórdão do Tribunal de Justiça, de 26.10.2006

Processo C-36/05

“Ao isentar da obrigação de remuneração devida aos autores pelo comodato efectuado pela quase totalidade, se não pela totalidade, das categorias de

estabelecimentos que praticam comodato público o Reino de Espanha não cumpriu as obrigações que lhe incumbem por força dos artigos 1º e 5ºda Directiva 92/100/CEE.”

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

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3.4 Itália

Acórdão do Tribunal de Justiça de 26.10.2006

Processo C-198/05

“Ao isentar de comodato público todas as categorias de estabelecimentos de comodato público (...) a República Italiana não cumpriu as obrigações que lhe

incumbem por força dos artigos 1º e 5º da Directiva 92/100/CE”

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

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3.4 Itália

Lei 262, de 24.11.2006 – Art. 132

Altera o art. 69 da Lei 633, de 22.04.1941, eliminando a isenção das bibliotecas e fonotecas do Estado

250.000 � (2006), 2,2 M� (2007) e 3M� (2008) para o pagamento das remunerações pelo Ministério da Cultura

Isenção das bibliotecas universitárias e escolares

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

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3.5 Portugal

Decreto-Lei 332/97, de 27 de Novembro

3. Ac3. Acçções por incumprimento / Correcões por incumprimento / Correcçção de transposião de transposiççõesões

Bibliotecas públicas, escolares, universitárias, museus, arquivos públicos, fundações públicas e instituições privadas sem fins lucrativos

Excepções

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.1 Associações internacionais: IFLA

Abril de 2005

IFLA (International Federation of Libraries and Archives) aprovou uma tomada de posição sobre o empréstimo público, em que afirma que a liberdade de acesso àinformação pode ser colocada em causa se os regimes legais que estabelecem o pagamento de remunerações aos autores pelo comodato público das suas obras não forem concebidos com a colaboração das bibliotecas.

Este documento defende que a despesa da referida remuneração não pode ser inscrita no orçamento das bibliotecas, devendo ser suportado pelo Estado, como apoio financeiro à cultura.

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.2 Associações internacionais: EBLIDA

Março de 2004

A EBLIDA expressou junto da Comissão Europeia necessidade de a mesma reconhecer que, em certas circunstâncias, os Estados-membros possam isentar as bibliotecas acessíveis ao público do pagamento relativo ao empréstimo de certas obras

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.3 Associações nacionais: Espanha

FESABID

Manifesto pelo empréstimo público (Março 2004) – 2226 apoiantes (Ass., bib e prof)

Manutenção das isenções legais

Declaração (Nov.2006)

Colaboração com o MC no cumprimento da legislação comunitária, criando um sistema de remuneração sem efeito negativo sobre as bibliotecas

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.3 Associações nacionais: Espanha

FESABID

Declaração (Nov.2006)

Não afectação dos orçamentos das bibliotecas

Não pagamento pelos utilizadores

O empréstimo público e a promoção da leitura

Possibilidade de renúncia dos autores

Isenção das bibliotecas escolares, universitárias, de organismos públicos de investigação, de localidades com menos de 5000 habitantes, etc

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.3 Associações nacionais: Espanha

FESABID

Declaração (Nov.2006)

Obras objecto de empréstimo

Dedução das quantias despendidas com o apoio à edição, à promoção das obras, etc

Participação das associações profissionais na negociação, controlo, avaliação e revisão do sistema de remuneração

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.3 Associações nacionais: Espanha

FESABID

Declaração (Nov.2006)

Pressão ao nível comunitária para a alteração da directiva

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3. Reac3. Reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

3.4 Associações nacionais: Itália

AIB

(Associazione Italiana Biblioteche)

Campanha “Não Pago para Ler” (artigos, cartas, tomadas de posição)

Manifesto de Novembro 2006

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3. Reac3. Reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

3.4 Associações nacionais: Itália

AIB - Associazione Italiana Biblioteche

Manifesto de Novembro 2006

Revogação da disposição 132 da Lei 286, de 24.11.2006

Audiência no Parlamento Italiano

Campanha internacional para a alteração da Directiva 92/100/CE:

Acção junto da EBLIDA e das associações profissionais europeias

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.5 Associações nacionais: Portugal

2004

Tomada de posição do CDN da BAD

Manifesto em favor do empréstimo público

Petição apresentada ao Governo pela BAD, solicitando a manutenção das isenções de bibliotecas, arquivos e museus contempladas no DL 332/97

Mais de 20100 assinaturas

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.5 Associações nacionais: Portugal

Julho de 2005

BAD envia cartas à Direcção-Geral dos Assuntos Comunitário (MNE) e ao Gabinete do Direito de Autor (MC):

Solicitando as informações possíveis sobre o andamento do processo no Tribunal de Justiça,

nomeadamente no que respeita à estratégia de defesa adoptada por Portugal

e à fase em que o contencioso se encontra presentemente.

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.5 Associações nacionais: Portugal

Caso a acção seja julgada procedente e, assim, não seja possível manter as actuais isenções,

advertiu-se para o facto de o regime “geral” previsto no número 2 do artigo 6º do Decreto-Lei 332/97 ser lesivo para as bibliotecas:

•pois é o proprietário do estabelecimento que é responsável pelo pagamento da remuneração

•caso não haja acordo na fixação do respectivo montante, o mesmo seráfixado por via arbitral.

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.5 Associações nacionais: Portugal

Assim solicitou-se que:

O pagamento das remunerações pelo direito de comodato não venha a recair sobre os já debilitados orçamentos das bibliotecas

Os critérios para a fixação do respectivo montante sejam previstos na legislação e não por negociação, nem por acordo arbitral

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4. A reac4. A reacçção dos bibliotecão dos bibliotecááriosrios

4.5 Associações nacionais: Portugal

Aguarda-se a aprovação da alteração do Decreto-Lei 332/97, de 27 de Novembro, pela Assembleia da República, executando o disposto no Acórdão do Tribunal de Justiça.