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Direito & Economia aula de 09/04/2013 Maria Tereza Leopardi Mello IE-UFRJ

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Direito & Economiaaula de 09/04/2013

Maria Tereza Leopardi Mello

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Antecedentes

1. Os “antigos” institucionalistas

2. A contribuição de Coase

O Problema dos Custos Sociais

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1. Os institucionalistas

EUA, início do séc. XX - autores diversos, tanto economistas quanto juristas (Veblen, Commons, Holmes, Pound, J.M. Clark etc.).

Pontos em comum:a) O comportamento econômico é fortemente

condicionado pelo ambiente institucional e, simultaneamente, afeta esse mesmo ambiente; tal interação é vista como um processo evolucionário (daí a importância da dinâmica do capitalismo e de suas regras, com atenção aos processos de mudanças institucionais)

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1. Institucionalistas ... Pontos em comumb) Conflitos são inerentes às relações econômicas;

devem ser canalizados de modo a permitir o controle social sobre a atividade econômica.Instituições são estruturas de regras que previnem que o jogo de interesses individuais se transforme numa guerra hobbesiana, e, nessa medida, produzem ordem.Ordem social não é corolário da ordem econômica de mercado, nem é espontânea; antes, é produto de ação coletiva, de processos jurídicos e políticos pelos quais os direitos e obrigações são criados (Kirat, 1999:15)

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1. ... Pontos em comum

c) Instituições vistas como um conjunto de regras que governam a vida dos homens, a produção coletiva de riqueza e sua distribuição, a ordem social.

d) Entender o comportamento dos agentes econômicos requer abordagem interdisciplinar.

(Mercuro & Medema, p.107)

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Os institucionalistas ....Commons: transações econômicas não podem ser

consideradas apenas pelo aspecto material; as trocas também envolvem direitos associados aos bens.

Não há harmonia de interesses; direitos são atribuídos pela ordem jurídica, que lhes estabelece os limites. Daí a relevância das instituições legitimadas para impor restrições à liberdade individual e à propriedade privada.

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“Um direito é um interesse juridicamente protegido” – implicações:

a definição dos interesses que merecem proteção - e, correlativamente, dos interesses sacrificados – ressalta a importância dos processos jurídicos, legislativos, regulamentares e judiciais, que, por isso, devem ser objeto de estudo da economia política.

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O direito como categoria realista

(Commons, Clark, Holmes, ...)

conceitos jurídicos não têm um sentido pré-estabelecido (lógico-abstrato); esse sentido varia conforme o contexto e a finalidade.

• o direito* tem origem na experiência; é criado de maneira experimental, num processo contínuo de adaptação – pelo juiz – das regras às transformações da vida econômica e social (Kirat, p.39).*Não é, portanto, só um ‘enunciado normativo’

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1. ... Ainda os institucionalistas...

Institucionalistas e marginalistas, do início do séc XX, discutiram a questão do direito, a partir dos debates sobre a intervenção pública pela via legislativa (legal policy) – diferentemente das análises centradas nas decisões da common law);

Preocupação: é possível obter o crescimento do bem estar social e repartição justa da riqueza por meio de uma política legislativa, capaz de controlar as forças de mercado?

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• Uso da teoria da utilidade marginal para argumentos relacionados a bem estar social.

• O objeto da economia política não seria a escolha racional de alocação de recursos escasso; deveria ser o estudo das condições de maximização das riquezas na sociedade e de maior justiça na sua distribuição, só alcançável pela intervenção das decisões de política (não se via o mercado como apto a alcançar “naturalmente” esses fins).

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2. A contribuição de Coase

• The nature of the firm (1937)

• The problem of the social costs (1960)

Os conceitos de custos de transação e direitos de propriedade e suas implicações para a análise econômica (e para a análise interdisciplinar)

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Custos de transaçãoTodos os custos decorrentes do processo de barganha necessário à realização de uma transação e à sua implementação:– custos ex-ante: negociações prévias, definição das

características técnicas e qualitativas do objeto transacionado, distribuição de responsabilidades, previsão de dificuldades que podem ocorrer durante o período de sua execução, critérios para solução de conflitos etc.;

– custos ex-post englobam o monitoramento e gestão da execução do contrato, as eventuais renegociações necessárias para adaptação a novas circunstâncias, etc.

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Custos de transação, mercados e organizações ...

• Mercados e organizações* são arranjos institucionais (ou estruturas de governance) alternativos.

• Custos de transação são determinantes para a escolha de um ou outro.

* Hierarquia; firma integrada

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Coase – O problema do custo social• Propõe considerar os fatores de produção como direitos - de

praticar determinadas ações, que (quase) nunca são ilimitados -, e não como coisas (algo que um empresário pode adquirir e utilizar).– o direito de fazer algo que produza um dano para outros (poluir,

por exemplo) também pode ser visto como um fator de produção; o custo de exercer esse direito representa uma perda para quem sofre os efeitos de seu exercício.

• Correção de externalidades pode ter soluções alternativas: uma delas consiste na troca de direitos de exercer certas ações, o que coloca a necessidade de delimitar precisamente tais direitos para que possam ser transacionados no mercado.

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Direitos de ‘propriedade’

Tenta demonstrar a existência de uma solução alternativa para correção de externalidades - alternativa seja à regulamentação, seja à taxação. Qualificada como arranjo privado, essa alternativa consiste na troca de direitos de exercer certas ações, o que coloca a questão do valor de direitos concorrentes (Kirat, 1999:58).

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• Compara as vantagens associadas a modos alternativos de alocação de direitos, num contexto de custos de transação positivos;

(mercados, ou regulação governamental ou empresas integradas são arranjos institucionais alternativos para resolver os problemas de danos e externalidades negativas).

O problema do custo social

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O “teorema” ...A hipótese de custos de transação nulos levou a uma

interpretação da proposição do autor em termos de um “teorema”: numa situação de externalidades negativas e custos recíprocos, uma solução eficiente independe* da atribuição inicial da responsabilidade por danos (i.e., dos direitos). Se CT’s são nulos, o arranjo privado é preferível a qualquer outra solução, em particular à tributação.

*i.e., o regime jurídico de atribuição de direitos não tem nenhuma consequência econômica se os CTs forem nulos..., desde que as pessoas possam negociar seus direitos**. Em tal mundo, instituições não têm substância nem propósito...

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Hipótese de CT’s = 0

Tinha a finalidade de apresentar um quadro de análise simplificado e deixar claro o papel fundamental dos custos de transação na criação de instituições que permeiam o sistema econômico (Coase, 1988:13).

A intenção do autor era introduzir CT’s positivos explicitamente na análise econômica de modo a podermos estudar o mundo real... (Coase, 1988:15)

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Teorema de Coase - interpretações possíveis (Kirat, p. 61/62)

1) ênfase na liberdade de troca: a atribuição inicial dos direitos não importa do ponto de vista da eficiência, desde que eles possam ser barganhados/ trocados livremente. Sob essa condição, toda “má” atribuição de direitos pelo sistema jurídico será corrigida pelo mercado de direitos.

2) ausência de falhas de mercado: a atribuição inicial dos direitos não importa do ponto de vista da eficiência, desde que exista um mercado concorrencial de direitos.

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Teorema de Coase - interpretações possíveis (Kirat, p. 61/62)

3) ênfase na ausência de custos de transação: a atribuição inicial dos direitos não importa do ponto de vista da eficiência, desde que os custos de transação sejam nulos. Logo, a função do direito é reduzir os custos de transação, graças aos princípios da força obrigatória dos contratos, da boa-fé, do incentivo à conciliação e à arbitragem (menos custosos que um processo judicial).

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O "Teorema” e os direitos “de propriedade”Para os formuladores do “teorema de Coase”, apenas pelo

mercado - i.e., por acordos interindividuais – a definição de direitos se opera de modo eficiente: são os agentes individuais que procedem à definição dos direitos, à atribuição destes e às respectivas trocas. Nesse quadro de análise não há necessidade de tribunais (ou qualquer outra instituição jurídica/política)pressuposto: direitos podem existir independentemente de instituições....obs: é difícil considerar a atribuição e definição dos direitos sem uma autoridade dotada de legitimidade e poderes necessários..., sem Estado, em suma. Isso remete à discussão dos velhos “contratualistas” para explicar o surgimento do Estado – mesmo os mais “liberais” (Locke, e.g.) viam a necessidade de um “terceiro imparcial” para resolver conflitos