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Direito Eleitoral - 11º Edicao - JOSE JAIRO GOMES PDF 2015

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Livro indicado para profissionais do Direito, estudantes de Direito e concurseiros.

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    DIREITO ELEITORAL

    Jos Jairo Gomes

    11aEDIO

    REVISTA, ATUALIZADA E AMPLIADA

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    DIREITOELEITORAL

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    DIREITOELEITORAL

    Jos Jairo Gomes

    SO PAULOEDITORA ATLAS S.A. 2015

    11aEdio

    Revista, atualizada e ampliada

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    2010 by Editora Atlas S.A.

    As cinco primeiras edies foram publicadas pela editora Del Rey;

    6. ed. 2011; 7. ed. 2011; 8. ed. 2012; 9. ed. 2013;

    10. ed. 2014; 11. ed. 2015

    Capa: Nilton Masoni

    Composio: Set-up Time Artes Grficas

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Gomes, Jos Jairo

    Direito eleitoral / Jos Jairo Gomes. 11. ed. rev. atual. e ampl.

    So Paulo: Atlas, 2015.

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-224-9556-6

    ISBN 978-85-224-9557-3 (PDF)

    1. Direito eleitoral 2. Direito eleitoral Brasil I. Ttulo.

    10.12968

    CDU-342.8(81)

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Brasil : Direito eleitoral 342.8(81)

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS proibida a reproduo total

    ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos

    direitos de autor (Lei no9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184

    do Cdigo Penal.

    ABDR

    Editora Atlas S.A.

    Rua Conselheiro Nbias, 1384

    Campos Elsios

    01203 904 So Paulo SP011 3357 9144

    atlas.com.br

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    Sumrio

    Abreviaturas, xvii

    Nota 11aedio, xix

    Prefcio, xxiii

    I Direitos polticos, 1

    1 Compreenso dos direitos polticos, 1

    1.1 Poltica, 1

    1.2 Direito poltico, direito constitucional e cincia poltica, 3

    1.3 Direitos polticos, 4

    2 Direitos humanos e direitos polticos, 6

    3 Direitos fundamentais e direitos polticos, 84 Privao de direitos polticos, 8

    4.1 Consideraes iniciais, 8

    4.2 Cancelamento de naturalizao, 10

    4.3 Incapacidade civil absoluta, 12

    4.4 Condenao criminal transitada em julgado, 12

    4.5 Recusa de cumprir obrigao a todos imposta, 18

    4.6 Improbidade administrativa, 20

    II Direito eleitoral, 21

    1 Conceito e fundamento do Direito Eleitoral, 21

    2 O microssistema eleitoral, 23

    3 Conceitos indeterminados, 23

    4 Fontes do Direito Eleitoral, 24

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    viii Direito Eleitoral Gomes

    5 Hermenutica eleitoral, 26

    5.1 Proporcionalidade e princpio da razoabilidade, 28

    6 Relao com outras disciplinas, 33

    III Princpios de direito eleitoral, 351 Sobre princpios, 35

    2 Princpios fundamentais de Direito Eleitoral, 37

    3 Democracia, 37

    4 Democracia partidria, 41

    5 Estado Democrtico de Direito, 43

    6 Soberania popular, 44

    7 Princpio republicano, 44

    8 Princpio federativo, 45

    9 Sufrgio universal, 46

    9.1 Que sufrgio?, 469.2 Sufrgio e cidadania, 47

    9.3 Classificao do sufrgio, 48

    9.4 Sufrgio e voto, 50

    9.5 Voto, 50

    9.6 Voto e escrutnio, 53

    9.7 Voto eletrnico ou informatizado, 53

    9.7.1 Voto impresso, 54

    10 Legitimidade, 56

    11 Moralidade, 57

    12 Probidade, 58

    13 Igualdade ou isonomia, 59

    14 Princpios processuais, 59

    IV Justia eleitoral, 65

    1 Consideraes iniciais, 65

    2 Funes da justia eleitoral, 69

    2.1 Funo administrativa, 69

    2.2 Funo jurisdicional, 70

    2.3 Funo normativa, 71

    2.4 Funo consultiva, 72

    3 Tribunal Superior Eleitoral, 734 Tribunal Regional Eleitoral, 75

    5 Juzes eleitorais, 78

    6 Juntas Eleitorais, 80

    7 Diviso geogrfica da justia eleitoral, 81

    V Ministrio Pblico eleitoral, 83

    1 Consideraes iniciais, 83

    2 Procurador-Geral Eleitoral, 84

    3 Procurador Regional Eleitoral, 85

    4 Promotor Eleitoral, 86

    VI Partidos polticos, 91

    1 Introduo, 91

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    Sumrio ix

    2 Definio, 93

    3 Liberdade de organizao, 95

    4 Natureza jurdica, 96

    5 Registro no TSE, 96

    6 Financiamento partidrio, 977 Filiao e desfiliao partidria, 99

    8 Fidelidade partidria, 101

    9 Perda de mandato por infidelidade partidria, 104

    10 Vcios do sistema partidrio brasileiro, 119

    VII Sistemas eleitorais, 121

    1 Consideraes iniciais, 121

    2 Sistema majoritrio, 122

    3 Sistema proporcional, 122

    4 Sistema distrital de maioria simples, 1285 Sistema misto, 128

    VIII Alistamento eleitoral, 131

    1 Consideraes iniciais, 131

    2 Domiclio eleitoral, 132

    3 Alistamento eleitoral obrigatrio, 133

    3.1 Realizao do alistamento, 133

    3.2 Pessoas obrigadas a se alistar, 135

    3.3 Sigilo do cadastro eleitoral, 139

    4 Alistamento eleitoral facultativo, 139

    5 Inalistabilidade, 140

    6 Transferncia de domiclio eleitoral, 141

    7 Cancelamento e excluso, 144

    8 Reviso do eleitorado, 147

    IX Elegibilidade, 151

    1 Caracterizao da elegibilidade, 151

    2 Condies de elegibilidade, 152

    2.1 Nacionalidade brasileira, 152

    2.2 Pleno exerccio dos direitos polticos, 153

    2.3 Alistamento eleitoral, 1532.4 Domiclio eleitoral na circunscrio, 153

    2.5 Filiao partidria, 154

    2.6 Idade mnima, 156

    3 Elegibilidade de militar, 157

    4 Reelegibilidade, 159

    5 Momento de aferio das condies de elegibilidade, 160

    6 Arguio judicial de falta de condio de elegibilidade, 162

    7 Perda superveniente de condio de elegibilidade, 163

    X Inelegibilidade, 165

    1 Caracterizao da inelegibilidade, 165

    1.1 Conceito de inelegibilidade, 165

    1.2 Natureza jurdica e fundamento da inelegibilidade, 166

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    x Direito Eleitoral Gomes

    2 Incompatibilidade e desincompatibilizao, 169

    2.1 Desincompatibilizao e reeleio, 170

    3 Classificao das inelegibilidades, 170

    4 Inelegibilidades constitucionais, 172

    4.1 Consideraes iniciais, 1724.2 Inelegibilidade de inalistveis, 173

    4.3 Inelegibilidade de analfabetos, 173

    4.4 Inelegibilidade por motivos funcionais, 177

    4.5 Inelegibilidade reflexa: cnjuge, companheiro e parentes, 180

    4.5.1 Inelegibilidade reflexa derivada de matrimnio e unio estvel, 183

    4.5.2 Inelegibilidade reflexa e famlia homoafetiva, 187

    4.5.3 Inelegibilidade reflexa derivada de parentesco por consanguinidade ou

    adoo at o 2ograu, 187

    4.5.4 Inelegibilidade reflexa derivada de parentesco por afinidade at o

    2o

    grau, 1884.5.5 Flexibilizao da inelegibilidade reflexa, 188

    5 Inelegibilidades infraconstitucionais ou legais, 189

    5.1 Consideraes iniciais, 189

    5.2 A Lei Complementar no64/90, 190

    5.3 Inelegibilidades legais absolutas, 190

    5.3.1 Perda de mandato legislativo (art. 1o, I, b), 1915.3.2 Perda de mandato executivo (art. 1o, I, c), 1925.3.3 Renncia a mandato eletivo (art. 1o, I, k), 1935.3.4 Abuso de poder econmico e poltico (art. 1o, I, d), 195

    5.3.5 Abuso de poder poltico (art. 1o

    , I, h), 1985.3.6 Abuso de poder: corrupo eleitoral, captao ilcita de sufrgio,captao ou gasto ilcito de recurso em campanha, conduta vedada

    (art. 1o, I,j), 1995.3.7 Condenao criminal, vida pregressa e presuno de inocncia (art. 1o,

    I, e), 2015.3.8 Indignidade do oficialato (art. 1o, I,f), 2065.3.9 Rejeio de contas (art. 1o, I,g), 2065.3.10 Cargo ou funo em instituio financeira liquidanda (art. 1o, I, i), 2165.3.11 Improbidade administrativa (art. 1o, I, l), 217

    5.3.12 Excluso do exerccio profissional (art. 1o

    , I, m), 2185.3.13 Simulao de desfazimento de vnculo conjugal (art. 1o, I, n), 2195.3.14 Demisso do servio pblico (art. 1o, I, o), 2205.3.15 Doao eleitoral ilegal (art. 1o, I,p), 2215.3.16 Aposentadoria compulsria e perda de cargo de magistrado e membro

    do Ministrio Pblico (art. 1o, I, q), 2235.4 Inelegibilidades legais relativas, 224

    5.4.1 Inelegibilidade para Presidente e Vice-Presidente da Repblica, 226

    5.4.2 Inelegibilidade para Governador e Vice-Governador, 227

    5.4.3 Inelegibilidade para Prefeito e Vice-Prefeito, 228

    5.4.4 Inelegibilidade para o Senado, 228

    5.4.5 Inelegibilidade para a Cmara de Deputados, 228

    5.4.6 Inelegibilidade para a Cmara Municipal, 228

    5.4.7 Situaes particulares, 229

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    Sumrio xi

    6 Momento de aferio das causas de inelegibilidade, 236

    6.1 Inelegibilidades supervenientes: aferio durante o processo de registro de

    candidatura?, 237

    7 Arguio judicial de inelegibilidade, 238

    8 Suspenso do ato gerador de inelegibilidade, 2399 Suspenso de inelegibilidade: o artigo 26-C da LC no64/90, 242

    XI Processo eleitoral, 247

    1 O que processo eleitoral?, 247

    2 Princpio da anualidade ou anterioridade, 250

    3 Salvaguarda do processo eleitoral, 254

    XII Abuso de poder, 255

    1 Introduo, 255

    2 Abuso de poder, 257

    2.1 Abuso de poder econmico, 2592.2 Abuso de poder poltico, 261

    2.3 Abuso de poder poltico-econmico, 263

    3 Responsabilidade eleitoral e abuso de poder, 264

    XIII Registro de candidatura, 267

    1 Conveno partidria, 267

    1.1 Caracterizao da conveno partidria, 267

    1.2 Invalidade da conveno, 271

    1.3 Quantos candidatos podem ser escolhidos em conveno?, 272

    1.4 Indicao de candidato para vaga remanescente e substituio, 2721.5 Prvias partidrias ou eleitorais, 272

    1.5.1 Primrias americanas, 273

    2 Coligao partidria, 274

    3 Processo de registro de candidatura, 277

    3.1 Consideraes iniciais, 277

    3.2 Rito, 280

    3.3 Pedido de registro, 285

    3.3.1 Documentos necessrios ao registro, 286

    3.3.2 Identificao do candidato, 296

    3.4 Pedido individual de registro de candidatura, 2973.5 Candidatura nata, 297

    3.6 Nmero de candidatos que pode ser registrado por partido ou coligao, 298

    3.7 Quota eleitoral de gnero, 301

    3.8 Vagas remanescentes, 307

    3.9 Substituio de candidatos, 307

    3.9.1 Substituio de candidato majoritrio, 309

    3.9.2 Substituio de candidato proporcional, 311

    4 Impugnao a pedido de registro de candidatura, 311

    4.1 Notcia de inelegibilidade, 311

    4.2 Ao de Impugnao de Registro de Candidatura (AIRC), 313

    4.2.1 Caracterizao da ao de impugnao de registro de candidato, 313

    4.2.2 Procedimento, 314

    4.2.3 Prazos, 314

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    xii Direito Eleitoral Gomes

    4.2.4 Incio do processo, 315

    4.2.5 Competncia, 316

    4.2.6 Petio inicial, 316

    4.2.7 Objeto, 316

    4.2.8 Causa de pedir, 3164.2.9 Partes, 319

    4.2.10 Notificao do impugnado, 323

    4.2.11 Defesa, 324

    4.2.12 Desistncia da ao, 324

    4.2.13 Antecipao da tutela, 325

    4.2.14 Extino do processo, 325

    4.2.15 Julgamento antecipado da lide, 326

    4.2.16 Fase probatria: audincia de instruo e diligncias, 327

    4.2.17 Alegaes finais, 328

    4.2.18 Julgamento, 3284.2.19 Recurso, 330

    5 Audincia de verificao e validao de dados e fotografia, 333

    XIV Campanha, financiamento e prestao de contas eleitorais, 335

    1 Campanha eleitoral e captao de votos, 335

    2 Financiamento de campanha eleitoral, 336

    2.1 Consideraes iniciais, 336

    2.2 Financiamento pblico, 338

    2.3 Financiamento privado, 339

    3 Prestao de contas de campanha, 356

    4 Ao por doao irregular a campanha eleitoral, 366

    XV Pesquisa eleitoral, 371

    XVI Propaganda poltico-eleitoral, 377

    1 Propaganda poltica, 377

    1.1 Caracterizao da propaganda poltica, 377

    1.2 Novas tecnologias comunicacionais, 380

    1.3 Fundamentos da propaganda poltica, 382

    1.4 Princpios da propaganda poltica, 384

    1.5 Espcies de propaganda poltica, 3862 Propaganda partidria, 386

    3 Propaganda intrapartidria, 392

    4 Propaganda eleitoral, 393

    4.1 Consideraes iniciais, 393

    4.2 Propaganda eleitoral extempornea ou antecipada, 397

    4.3 Propaganda em bem pblico, 403

    4.4 Propaganda em bem de uso comum, 405

    4.5 Propaganda em bem cujo uso dependa de autorizao, cesso ou

    permisso do Poder Pblico, 406

    4.6 Propaganda em bem particular, 407

    4.7 Distribuio de folhetos, adesivos, volantes e outros impressos, 410

    4.8 Outdoor, 4104.9 Comcio, showmcio e eventos assemelhados, 411

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    Sumrio xiii

    4.10 Alto-falante, carro de som, minitrio e trio eltrico, 412

    4.11 Reunio e manifestao coletiva, 413

    4.12 Culto e cerimnia religiosos, 414

    4.13 Caminhada, passeata e carreata, 414

    4.14 Propaganda mediante distribuio de bens ou vantagens, 4154.15 Divulgao de atos e atuao parlamentar, 415

    4.16 Mensagens de felicitao e agradecimento, 416

    4.17 Mdia: meios de comunicao social, 417

    4.18 Mdia escrita, 418

    4.19 Mdia virtual, 419

    4.20 Rdio e televiso, 420

    4.20.1 Debate, 423

    4.20.2 Debate virtual, 425

    4.21 Propaganda gratuita no rdio e na televiso, 426

    4.21.1 Consideraes iniciais, 4264.21.2 Primeiro turno, 429

    4.21.3 Segundo turno, 434

    4.21.4 Inexistncia de emissora geradora de sinais de rdio e televiso, 435

    4.21.5 Participao de filiado a outro partido, 436

    4.21.6 Sano, 438

    4.22 Internet, 440

    4.23 Pgina institucional, 446

    4.23.1 Pgina institucional de candidato a reeleio ou a outro cargo

    eletivo, 447

    4.24 Violao de direito autoral, 4484.25 Propaganda no dia das eleies, 448

    4.26 Pronunciamento em cadeia de rdio ou TV, 449

    4.27 Imunidade material parlamentar, 450

    4.28 Telemarketingeleitoral, 4505 Propaganda institucional, 450

    6 Representao por propaganda eleitoral ilcita, 453

    6.1 Procedimento do artigo 96 da Lei das Eleies, 453

    6.2 Caracterizao da representao por propaganda eleitoral ilcita, 454

    6.3 Aspectos processuais da representao, 455

    6.3.1 Procedimento, 4556.3.2 Prazos, 455

    6.3.3 Incio do processo, 456

    6.3.4 Petio inicial, 456

    6.3.5 Objeto, 457

    6.3.6 Causa de pedir, 457

    6.3.7 Partes, 458

    6.3.8 Prazo para ajuizamento, 461

    6.3.9 Desistncia da ao, 463

    6.3.10 Competncia, 463

    6.3.11 Cautelar, 466

    6.3.12 Notificao do representado, 466

    6.3.13 Defesa, 467

    6.3.14 Interveno obrigatria do Ministrio Pblico, 467

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    xiv Direito Eleitoral Gomes

    6.3.15 Extino do processo, 467

    6.3.16 Julgamento antecipado da lide, 467

    6.3.17 Fase probatria, 468

    6.3.18 Alegaes finais, 469

    6.3.19 Julgamento, 4696.3.20 Recurso, 470

    7 Direito de resposta, 473

    7.1 Caracterizao do direito de resposta, 473

    7.2 Aspectos processuais do pedido de direito de resposta, 477

    XVII Eleio, 483

    1 Introduo, 483

    2 Garantias eleitorais, 484

    3 Preparao das eleies, 490

    4 O dia da eleio: votao, 4925 Apurao e totalizao dos votos, 4976 Proclamao dos resultados, 498

    XVIII Invalidade: nulidade e anulabilidade de votos, 501

    1 Consideraes iniciais, 501

    2 Invalidade no direito eleitoral, 504

    2.1 Delineamento da invalidade no Direito Eleitoral, 505

    2.1.1 Inexistncia, 505

    2.1.2 Nulidade, 506

    2.1.3 Anulabilidade, 513

    3 Prazos para arguio, 520

    4 Efeito da invalidade, 521

    XIX Diplomao, 523

    1 Caracterizao da diplomao, 523

    2 Candidato eleito com pedido de registrosub judice, 525

    XX Processo contencioso eleitoral I: aes judiciais, 529

    1 Introduo, 529

    2 Aes judiciais eleitorais, 530

    3 AIJE por abuso de poder, 5323.1 Caracterizao da AIJE por abuso de poder, 532

    3.2 Aspectos processuais da AIJE, 535

    3.2.1 Procedimento, 535

    3.2.2 Prazos, 536

    3.2.3 Incio do processo, 536

    3.2.4 Petio inicial, 536

    3.2.5 Objeto, 538

    3.2.6 Causa de pedir, 538

    3.2.7 Partes, 541

    3.2.8 Prazo para ajuizamento, 547

    3.2.9 Litispendncia e coisa julgada, 548

    3.2.10 Desistncia da ao, 548

    3.2.11 Competncia, 549

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    Sumrio xv

    3.2.12 Antecipao da tutela, 550

    3.2.13 Cautelar, 552

    3.2.14 Notificao do representado, 552

    3.2.15 Defesa, 553

    3.2.16 Excees processuais dilatrias: incompetncia, impedimento esuspeio, 554

    3.2.17 Extino do processo, 558

    3.2.18 Julgamento antecipado da lide, 558

    3.2.19 Fase probatria e diligncias, 559

    3.2.20 Alegaes finais, 566

    3.2.21 Relatrio, 567

    3.2.22 Julgamento, 567

    3.2.23 Anulao da votao, 570

    3.2.24 Recurso, 570

    3.2.25 Reflexos do efeito imediato do acrdo que cassa diploma, 5753.2.26 Juzo de retratao, 575

    4 Ao por captao ou gasto ilcito de recurso para fins eleitorais LE, artigo 30-A, 575

    4.1 Caracterizao da captao ou gasto ilcito de recursos, 575

    4.2 Aspectos processuais, 578

    5 Ao por captao ilcita de sufrgio LE, artigo 41-A, 584

    5.1 Caracterizao da captao ilcita de sufrgio, 584

    5.2 Aspectos processuais, 592

    6 Ao por conduta vedada a agentes pblicos LE, artigos 73 a 78, 599

    6.1 Caracterizao da conduta vedada, 599

    6.2 Aspectos processuais, 6257 Cmulo de pedidos, 632

    XXI Processo contencioso eleitoral II: Ao de Impugnao de Mandato Eletivo (AIME), 635

    1 Caracterizao da ao de impugnao de mandato eletivo, 635

    1.1 Compreenso da AIME, 635

    1.2 Inelegibilidade e AIME, 639

    2 Aspectos processuais da AIME, 641

    2.1 Procedimento, 641

    2.1.1 Segredo de justia, 642

    2.1.2 Petio inicial, 643

    2.1.3 Objeto, 645

    2.1.4 Causa de pedir, 645

    2.1.5 Partes, 645

    2.1.6 Prazo para ajuizamento, 650

    2.1.7 Litispendncia e coisa julgada, 651

    2.1.8 Desistncia da ao, 651

    2.1.9 Competncia, 652

    2.1.10 Cautelar, 652

    2.1.11 Citao, 652

    2.1.12 Defesa, 653

    2.1.13 Excees processuais dilatrias: incompetncia, impedimento e

    suspeio, 653

    2.1.14 Extino do processo, 657

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    xvi Direito Eleitoral Gomes

    2.1.15 Julgamento antecipado da lide, 657

    2.1.16 Fase probatria: audincia de instruo e diligncias, 658

    2.1.17 Alegaes finais, 663

    2.1.18 Julgamento, 664

    2.1.19 Recurso, 6662.1.20 Recurso adesivo, 669

    2.1.21 Juzo de retratao, 669

    2.1.22 Invalidao da votao: realizao de novas eleies e convocao do

    segundo colocado, 669

    XXII Processo contencioso eleitoral III: Recurso Contra Expedio de Diploma (RCED), 671

    1 Caracterizao do recurso contra expedio do diploma (RCED), 671

    2 Natureza jurdica do RCED, 673

    3 Recepo do RCED pela Constituio Federal de 1988, 674

    4 Aspectos processuais, 675

    XXIII Perda de mandato eletivo: Investidura do 2ocolocado e eleio suplementar, 685

    1 Consideraes iniciais, 685

    1.1 Causa no eleitoral de extino de mandato, 686

    2 Causa eleitoral de extino de mandato eletivo, 687

    2.1 Cassao de diploma ou mandato por abuso de poder e invalidao da

    votao, 687

    2.2 Indeferimento ou cassao de registro de candidatura e invalidao da

    votao, 688

    3 Nova eleio e investidura do 2ocolocado no pleito majoritrio, 690

    3.1 Eleio suplementar: o artigo 224 do Cdigo Eleitoral, 6903.2 Investidura do 2ocolocado nas eleies majoritrias, 693

    3.3 Na eleio suplementar h novo processo eleitoral ou mera renovao

    do escrutnio anterior?, 695

    3.4 Eleio indireta, 696

    3.5 Ao causador da invalidao da eleio vedado disputar o novo pleito, 698

    XXIV Sano eleitoral e sua execuo, 701

    1 Sanes eleitorais, 701

    2 Execuo de multa eleitoral, 702

    XXV Ao rescisria eleitoral, 707

    Referncias, 711

    ndice remissivo, 719

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    ADC Ao Declaratria de Constitucionalidade

    ADI Ao Direta de Inconstitucionalidade

    AIJE Ao de Investigao Judicial EleitoralAIME Ao de Impugnao de Mandato Eletivo

    AIRC Ao de Impugnao de Registro de Candidatura

    CC Cdigo Civil brasileiro

    CE Cdigo Eleitoral

    CF Constituio Federal

    CP Cdigo Penal

    CPC Cdigo de Processo Civil

    CPP Cdigo de Processo Penal

    CR Constituio da Repblica

    D Decreto

    DJ Dirio de Justia

    DJe Dirio de Justia eletrnico

    D-L Decreto-Lei

    JTSE Jurisprudncia do Tribunal Superior Eleitoral

    Jurisp Jurisprudncia

    JURISTSE Revista de Jurisprudncia do Tribunal Superior EleitoralTemas Selecionados

    Abreviaturas

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    xviii Direito Eleitoral Gomes

    LC Lei Complementar

    LE Lei das Eleies (Lei no9.504/97)

    LI Lei das Inelegibilidades (LC no64/90)

    LICC Lei de Introduo ao Cdigo CivilLINDB Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro

    LOMAN Lei Orgnica da Magistratura Nacional (LC no35/79)

    LOPP Lei Orgnica dos Partidos Polticos (Lei no9.096/95)

    MP Ministrio Pblico

    MPE Ministrio Pblico Eleitoral

    MPF Ministrio Pblico Federal

    MProv Medida Provisria

    MPU Ministrio Pblico da Unio

    MS Mandado de Segurana

    OAB Ordem dos Advogados do Brasil

    PA Processo Administrativo

    Pet Petio

    PGE Procuradoria-Geral Eleitoral

    PGR Procurador-Geral da Repblica

    PJ Procuradoria de JustiaPRE Procuradoria Regional Eleitoral

    PSS Publicado na Sesso de

    RCED Recurso Contra Expedio de Diploma

    RDJ Revista de Doutrina e Jurisprudncia

    RE Recurso Extraordinrio

    Res Resoluo

    REsp Recurso Especial

    REspe Recurso Especial Eleitoral

    RO Recurso Ordinrio

    Rp Representao Eleitoral

    STF Supremo Tribunal Federal

    STJ Superior Tribunal de Justia

    TJ Tribunal de Justia

    TRE Tribunal Regional Eleitoral

    TRF Tribunal Regional Federal

    TSE Tribunal Superior Eleitoral

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    On considre ainsi que le consentement au pouvoirne peut lgitimement tre obtenu qu lisseu dun actelectoral qui traduit dans les faits les valeurs dgalit et

    de libert fondatrices de nos societs. (Alain Lagarde)

    As eleies presidenciais e gerais de 2014 revelaram com muita clareza que o Brasil

    no pertence aos polticos, tampouco a este ou quele grupo ou classe social. Pertence,

    sim, a ns, o povo brasileiro. E cada voto tem o mesmo valor jurdico, emane ele de rico

    ou pobre, de intelectual ou analfabeto, de ndio ou branco, de mulher ou homem, de ido-

    so ou adolescente. Ao cabo de intensas propagandas e debates, todos exercemos o direi-

    to de sufrgio com plena liberdade, escolhendo quem bem entendermos para ocupar os

    postos governamentais. Cerca de duas horas aps a votao, conhecidos j eram os elei-tos. Posto que se reconhea a necessidade de o pas avanar em vrios setores, no se tem

    notcia de democracia real mais pujante que a brasileira.

    A propsito, vale assinalar que ser democrata no significa simplesmente viver em

    uma democracia, mas sobretudo assimilar e interiorizar certos valores democrticos es-

    senciais, que devem moldar nosso pensamento e nosso ser, condicionando o agir poltico.

    Entre tais valores esto a igualdade, a liberdade, a dignidade da pessoa humana, a trans-

    parncia, a fraternidade e o respeito ao prximo.

    A presente edio se deve sobretudo necessidade de atualizao do texto luz de

    novas diretrizes jurisprudenciais observadas nas eleies de 2014. Entre elas, cite-se a in-

    terpretao da Corte Superior Eleitoral consoante a qual a inelegibilidade superveniente

    Nota 11aedio

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    xx Direito Eleitoral Gomes

    pode ser aferida e efetivamente declarada ex officiono processo de registro de candidatu-ra enquanto o processo tramitar nas instncias ordinrias.

    Agradeo, sempre, a acolhida que esta obra tem merecido do pblico, nico respon-

    svel pelo seu sucesso.O Autor

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    No man is good enough to govern another manwithout that others consent.

    (Abraham Lincoln)

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    Quem lanar um olhar apressado sobre o Direito Eleitoral talvez se sinta impelido

    a dar razo ao alienista Simo Bacamarte, personagem do inexcedvel Machado de As-

    sis. Qui fique tentado a compreender esse ramo do Direito como uma grande concha

    em que reina o ilgico, o no racional, na qual, todavia, jaz uma pequenssima prola de

    racionalidade, organizao e mtodo. Tal impresso seria fortalecida no s pelo emara-

    nhado da legislao vigente que se apresenta sinuosa, sujeita a constantes flutuaes

    e repleta de lacunas , como tambm pelo casusmo com que novas regras so introdu-

    zidas no sistema. Sem contar a grande cpia de normas caducas, como o quarentenrio

    Cdigo Eleitoral, que data de 15 de julho de 1965, tendo sido positivado nos albores do

    regime militar!

    Na verdade, o Direito Eleitoral ainda se encontra empenhado na construo de sua

    prpria racionalidade, no desenvolvimento de sua lgica interna, de seus conceitos fun-damentais e de suas categorias. Importa considerar que a realidade em que incide e que

    pretende regular encontra-se, ela mesma, em constante mutao. Isso, alis, peculiar

    ao espao poltico. Da a perplexidade que s vezes perpassa o esprito de quem se ocupa

    dessa disciplina, bem como o desencontro das opinies dos doutores. E tambm explica o

    acentuado grau de subjetivismo que no raro se divisa em alguns arestos.

    Se, de um lado, urge compilar e reorganizar a legislao, de outro anseia-se por

    uma hermenutica eleitoral atualizada, que esteja em harmonia com os princpios funda-

    mentais, com a ideia de justia em voga e com os valores contemporneos. No campo do

    processo eleitoral, por exemplo, ainda hoje so sublimados vetustos princpios liberais,

    de indisfarvel matiz individualista e patrimonialista, h muito abandonados nas refor-

    mas operadas no Cdigo de Processo Civil. Cumpre prestigiar os direitos fundamentais, a

    Prefcio

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    xxiv Direito Eleitoral Gomes

    cidadania e a legitimidade do mandato. No regime democrtico de direito impensvel

    que o exerccio do poder poltico, ainda que transitoriamente, no seja revestido de plena

    legitimidade.

    De qualquer sorte, no se pode ignorar ser o Eleitoral um dos mais importantes ra-mos do Direito. Essencial concretizao do regime democrtico de direito desenhado

    na Lei Fundamental, da soberania popular, da cidadania e dos direitos polticos, por ele

    passam toda a organizao e o desenvolvimento do certame eleitoral, desde o alistamen-

    to e a formao do corpo de eleitores at a proclamao dos resultados e a diplomao

    dos eleitos. Da observncia de suas regras exsurgem a ocupao legal dos cargos poltico-

    -eletivos, a pacfica investidura nos mandatos pblicos e o legtimo exerccio do poder

    estatal. Indubitavelmente, o fim maior dessa cincia consiste em propiciar a legitimidade

    no exerccio do poder.

    A partir de uma abordagem terico-pragmtica, esta obra procura delinear de formasistemtica os institutos fundamentais do Direito Eleitoral e assentar a conexo existente

    entre eles. No descura das emanaes dos rgos da Justia Eleitoral, nomeadamente

    do Tribunal Superior Eleitoral. Conquanto se ambiente na dogmtica jurdico-eleitoral,

    argumentando sempre intrassistematicamente, no chega a ser acrtica.

    Por convenincia, o captulo inaugural cuida dos direitos polticos, j que se encon-

    tram umbilicalmente ligados ao Direito Eleitoral.

    Cumpre registrar que o texto da 1aedio desta obra passou pela leitura atenta da

    Professora Eliana Galuppo Rodrigues Lima, o que contribuiu para seu aperfeioamento.

    A ela, pois, meu sincero agradecimento.

    O Autor

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    1 Compreenso dos direitos polticos

    1.1 Poltica

    A palavrapolticoapresenta variegados significados na cultura ocidental. No dia adia, associada cerimnia, cortesia ou urbanidade no trato interpessoal; identifica--se com a habilidade no relacionar-se com o outro. Tambm denota a arte de tratar comsutileza e jeito temas difceis, polmicos ou delicados. Expressa, ainda, o uso ou empregode poder para o desenvolvimento de atividades ou a organizao de setores da vida so-cial; nesse sentido que se fala em poltica econmica, financeira, ambiental, esportiva,de sade. Em geral, o termo usado tanto na esfera pblica (ex.: poltica estatal, poltica

    pblica, poltica de governo), quanto na privada (e. g.: poltica de determinada empresa,poltica de boa vizinhana). Possui igualmente sentido pejorativo, consistente no empre-go de astcia ou maquiavelismo nas aes desenvolvidas, sobretudo para obteno deresultados sem a necessria ponderao tica dos meios empregados.

    Outra, entretanto, sua conotao tcnico-cientfica, onde encontra-se ligada ideiadepoder. Mas tambm nesse terreno no unvoca, apresentando pluralidade de sentidos.

    No mundo grego, a poltica era compreendida como a vida pblica dos cidados,em oposio vida privada e ntima. Era o espao em que se estabelecia o debate livre e

    pblico pela palavra e onde as decises coletivas eram tomadas. Compreendia-se a polti-ca como a arte de definir aes na sociedade, aes essas que no apenas influenciavamo comportamento das pessoas, mas determinavam toda a existncia individual. O viver

    Direitos polticos I

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    2 Direito Eleitoral Gomes

    poltico significava para os gregos a prpria essncia da vida, sendo esta inconcebvel foradapolis.

    Em suatica a Nicmacos, Aristteles (1992, p. 1094a e 1094b) afirma que a cincia

    polticaestabelece o que devemos fazer e aquilo de que devemos abster-nos. Sua finali-dade o bem do homem, ou seja, a felicidade. Deve descrever o modo como o homemalcana a felicidade. Esta depende de se seguir certa maneira de viver. Nesse sentido, otermopolticosignifica o mesmo que tica e moral, conduzindo ao estudo individual daao e do carter.

    Todavia, em outro texto, Poltica, Aristteles (1985, p. 1253a1280b) emprega otermo enfocado com significado diverso. Considera que o homem um animal social; onico que tem o dom da fala. Sua vida e sua felicidade so condicionadas pelo ambiente,pelos costumes, pelas leis e instituies. Isoladamente, o indivduo no autossuficiente,

    existindo um impulso natural para que participe da comunidade. A cidade, nessa pers-pectiva, formada no apenas com vistas a assegurar a vida, mas tambm para assegu-rar uma vida melhor, livre e digna. Nesse contexto,polticaconsiste no estudo do Estado,do governo, das instituies sociais, das Constituies estatais. a cincia que pretendedesvendar a melhor organizao social a melhor Constituio estatal , de modo que ohomem possa alcanar o bem, a felicidade. Assim, a cincia poltica deve descrever a for-ma ideal de Estado, bem como a melhor forma de Estado possvel na presena de certascircunstncias.

    Note-se que, em Aristteles, ambos os significados da palavrapolticaencontram-se

    entrelaados. A poltica tem por misso estabelecer, primeiro, a maneira de viver que levaao bem, felicidade; depois, deve descrever o tipo de Constituio, a forma de Estado, oregime e o sistema de governo que assegurem esse modo de vida.

    Apolticarelaciona-se a tudo o que diz respeito vida coletiva, sendo indissocivelda vida humana, da cultura, da moral, da religio. Em geral, ela compreendida como asrelaes da sociedade civil, do Estado, que proveem um quadro no qual as pessoas podemproduzir e consumir, associar-se e interagir umas com as outras, cultuar ou no Deus e seexpressar artisticamente. Trata-se, por outro lado, de esfera de poder, constituda social-mente, na qual se agregam mltiplos e, por vezes, contraditrios interesses.

    Porpodercompreende-se o fenmeno pelo qual um ente (pessoa ou grupo) deter-mina, modifica ou influencia decisivamente o comportamento de outrem. Varia o funda-mento do poder conforme a cultura e os valores em vigor. Nesse sentido, repousar nafora fsica, na religio, em juzos tico-morais, em qualidades estticas, dependendo doapreo que a comunidade tenha por tais fatores. Assim, o poder estar com quem enfeixaros elementos mais valorizados. Encontrando-se pulverizadas na sociedade, as relaes depoder so sempre relaes sociais, e, pois, travadas entre pessoas.

    Assim, a par do poltico, diversos outros poderes coexistem na sociedade, entre osquais se destacam o poder econmico e o ideolgico. Aquele se funda na propriedade

    ou posse de bens economicamente apreciveis, os quais so empregados como meio deinfluir ou determinar a conduta de outras pessoas. J o poder ideolgico se firma eminformaes, conhecimentos, doutrinas e at cdigos de conduta, que so usados para

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    Direitos polticos 3

    influenciar o comportamento alheio, de sorte a induzir ou determinar o modo individualde agir.

    Os poderes econmico e ideolgico no se confundem com o poltico. Segundo

    Bobbio (2000, p. 221-222), opoder polticose caracteriza pelo uso da fora, da coero.Nas relaes interindividuais, apesar do estado de subordinao criado pelo poder eco-nmico (o que se evidencia, e. g., nas relaes de trabalho, com destaque para a que seestabelece entre empregador e empregado) e da adeso passiva aos valores ideolgicostransmitidos pela classe dominante, apenas o emprego da fora fsica consegue impedira insubordinao e domar toda forma de desobedincia. Do mesmo modo, nas relaesentre grupos polticos independentes, o instrumento decisivo que um grupo dispe paraimpor a prpria vontade a um outro grupo o uso da fora, isto , a guerra. Deveras,o poder poltico o poder supremo numa sociedade organizada, a ele subordinando-se

    todos os demais.Modernamente, consolidou-se a ligao de poltica com governo. Assim, o termo

    associado ao que concerne polis, ao Estado, ao governo, arte ou cincia de governar,de administrar a respblica, de influenciar o governo, suas aes ou o processo de toma-da de decises. Nesse sentido, o socilogo ingls Giddens (2005, p. 342, 573) asseveraque poltica o meio pelo qual o poder utilizado e contestado para influenciar a nature-za e o contedo das atividades governamentais. Assinala que a esfera poltica inclui asatividades daqueles que esto no governo, mas tambm as aes e interesses concorren-tes de muitos outros grupos e indivduos.

    Estado, em definio lapidar, a sociedade politicamente organizada. a totalidadeda sociedade poltica, formalmente organizada sob a forma jurdica. Trata-se de ente abs-trato, de existncia ideal, no qual o poder enraizado e institucionalizado. Constituemseus elementos: poder poltico, povo e territrio.

    O governodenota a face dinmica, ativa, do Estado. Trata-se do conjunto de pes-soas, instituies e rgos que impulsionam a vida pblica, realizando avontade polticado grupo investido no poder. O governo, em suma, exerce o poder poltico enfeixado noEstado.

    O universo poltico abrange a direo do Estado nos planos externo e interno, a ges-to de recursos pblicos, a definio e o desenvolvimento de polticas pblicas, a imple-mentao de projetos sociais e econmicos, o acesso a cargos pblicos, a realizao deatividades legislativas e jurisdicionais, entre outras coisas.

    1.2 Direito poltico, direito constitucional e cincia poltica

    Nesse amplo quadro, Direito Poltico o ramo do Direito Pblico cujo objeto so os

    princpios e as normas que regulam a organizao e o funcionamento do Estado e do go-verno, disciplinando o exerccio e o acesso ao poder estatal. Encontra-se, pois, compreen-dido no Direito Constitucional, cujo objeto consiste no estudo da constituio do Estado,

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    4 Direito Eleitoral Gomes

    na qual encontram-se reguladas no s a ordem poltica, como tambm a social, a econ-mica e os direitos fundamentais.

    A cincia poltica tambm se ocupa do fenmeno poltico, fazendo-o, contudo, em

    outra dimenso, de maneira ampla e com maior grau de abstrao. Sem se restringir aaspectos normativos ou organizacionais de determinado Estado ou a determinada poca,cuida tal cincia mais propriamente de estudar o poder poltico, suas formas de distri-buio na sociedade, bem como seu funcionamento ou operacionalizao. Para alm deconcepes jurdico-normativas, a ela tambm aportam ideias filosficas, morais, psicol-gicas (psicologia social) e sociolgicas, as quais lhe alargam sobremodo o espectro.

    1.3 Direitos polticos

    Denominam-se direitos polticos ou cvicosas prerrogativas e os deveres inerentes cidadania. Englobam o direito de participar direta ou indiretamente do governo, da orga-nizao e do funcionamento do Estado.

    Conforme ensina Ferreira (1989, p. 288-289), direitos polticos so aquelas prer-rogativas que permitem ao cidado participar na formao e comando do governo. Soprevistos na Constituio Federal, que estabelece um conjunto sistemtico de normas res-peitantes atuao dasoberania popular.

    Extrai-se do Captulo IV, do Ttulo II, da Constituio Federal, que os direitos polticos

    disciplinam as diversas manifestaes da soberania popular, a qual se concretiza pelo su-frgio universal, pelo voto direto e secreto (com valor igual para todos os votantes), peloplebiscito, referendo e iniciativa popular.

    pelos direitos polticos que as pessoas individual e coletivamente intervm eparticipam no governo. Tais direitos no so conferidos indistintamente a todos os habi-tantes do territrio estatal isto , a toda a populao , mas s aos nacionais que preen-cham determinados requisitos expressos na Constituio ou seja, ao povo.

    Note-se que esse termo povo no deixa de ser vago, prestando-se a manipulaesideolgicas. No chamado sculo de Pricles (sculo V a. C.), em que Atenas conheceuo esplendor de sua democracia, o povo no chegava a 10% da populao, sendo consti-tudo apenas pela classe dos atenienses livres; no o integravam comerciantes, artesos,mulheres, escravos e estrangeiros. Essa concepo restritiva era generalizada nos Estadosantigos, inclusive em Roma, onde a plebe no detinha direitos civis nem polticos. A a respublicaera o solo romano, distribudo entre as famlias fundadoras da civitas, osPatresou Pais Fundadores, de onde surgiram os Patrcios, nicos a quem eram conferidos direi-tos civis e cidadania; durante muito tempo a plebe se fazia ouvir pela voz solitria de seuTribuno, o chamado Tribuno da Plebe. Para os revolucionrios franceses de 1789, o povono inclua o rei, nem a nobreza, tampouco o clero, mas apenas os integrantes do Tercei-

    ro Estado profissionais liberais, burgueses, operrios e camponeses. Na tica comunista(marxista), o povo restringe-se classe operria, dele estando excludos todos os que seoponham ou resistam a tal regime.

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    As democracias contemporneas assentam sua legitimidade na ideia de povo, na so-berania popular exercida pelo sufrgio universal e peridico. Ao tempo em que o povointegra e fundamenta o Estado Democrtico de Direito, tambm objeto de suas ema-naes. Mas bom frisar que essa integrao ideolgico-liberal no tem evitado umapronunciada diviso de classes e uma forte excluso social. que a ordem capitalista con-tempornea soube manter a esfera poltico-social bem separada da econmico-financeira.Prova disso o fato de os mercados nem sempre se abalarem seriamente por eventuaiscrises polticas. Como resultado, tem-se uma pfia distribuio de rendas (que invaria-velmente se concentra no topo), um grande nmero de pessoas alijadas dos subsistemaseconmico, trabalhista, de sade, educacional, jurdico, previdencirio, assistencial, en-tre outros. Ao contrrio do que possa parecer, esse no um problema restrito a pasespobres, perifricos, pois tambm os ricos dele padecem. Conforme assinala Mller (2000,p. 92):

    A extenso do empobrecimento e da desintegrao nos EUA infelizmente j no necessitade meno especial. Na Frana a excluso se tornou h anos o tema dominante da polticasocial. Na Alemanha a situao , ao que tudo indica, avaliada pelo governo federal de talmodo, que ele se nega at agora [...] a publicar um relatrio sobre a pobreza no pas.

    Nesse sentido, assevera Giddens (2007, p. 256-257):

    Os Estados Unidos revelam-se o mais desigual de todos os pases industrializados em ter-mos de distribuio de renda. A proporo de renda auferida pelo 1% no topo aumentousubstancialmente ao longo das ltimas duas ou trs dcadas, ao passo que os da base viramsuas rendas mdias estagnarem ou declinarem. Definida como 50% ou menos da rendamediana, a pobreza nos Estados Unidos no incio da dcada de 1990 era cinco vezes maiorque na Noruega ou na Sucia 20% para os Estados Unidos, em contraste com os 4% dosoutros dois pases. A incidncia de pobreza no Canad e na Austrlia tambm alta, respec-tivamente 14% e 13%.

    Este mesmo autor assinala que, apesar de o nvel de desigualdade de renda nos pa-

    ses da Unio Europeia ser menor que o dos EUA,

    a pobreza generalizada na UE, segundo cifras e medidas oficiais. Usando-se o critrio demetade ou menos da renda mediana, 57 milhes de pessoas viviam na pobreza nas naesda UE em 1998. Cerca de dois teros delas estavam nas maiores sociedades: Frana, Itlia,Reino Unido e Alemanha.

    Em linguagem tcnico-constitucional, povoconstitui um conceito operativo, desig-nando o conjunto dos indivduos a que se reconhece o direito de participar na formao

    da vontade estatal, elegendo ou sendo eleitos, ou seja, votando ou sendo votados comvistas a ocupar cargos poltico-eletivos. Povo, nesse sentido, a entidade mtica qualas decises coletivas so imputadas. Note-se, porm, que as decises coletivas no so

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    tomadas por todo o povo, seno pela maioria, ou seja, pela frao cuja vontade prevalecenas eleies.

    Chama-se cidadoa pessoa detentora de direitos polticos, podendo, pois, participar

    do processo governamental, elegendo ou sendo eleito para cargos pblicos. Como ensinaSilva (2006, p. 347), a cidadania um atributo jurdico-poltico que o nacional obtmdesde o momento em que se torna eleitor.

    verdade que, nos domnios da cincia social, o termo cidadaniaapresenta significa-do bem mais amplo que o aqui assinalado. Denota o prprio direito vida digna e plenaparticipao na sociedade de todos os habitantesdo territrio estatal. Nessa perspectiva,a cidadania significa que todos so livres e iguais perante o ordenamento legal, sendo ve-dada a discriminao injustificada; todos tm direito sade, locomoo, livre expressodo pensamento, crena, reunio, associao, habitao, educao de qualidade, ao lazer,

    ao trabalho. Enfim, em sentido amplo, a cidadania enfeixa os direitos civis, polticos, so-ciais e econmicos, sendo certo que sua aquisio se d antes mesmo do nascimento doindivduo, j que o nascituro, tambm ele, ostenta direitos de personalidade, tendo res-guardados os patrimoniais. No entanto, no Direito Eleitoral os termos cidadaniae cidadoso empregados em sentido restrito, abarcando to s ojus suffragiie ojus honorum, isto, os direitos de votar e ser votado.

    Cidadania e nacionalidade so conceitos que no devem ser confundidos. Enquantoaquela status ligado ao regime poltico, esta j umstatusdo indivduo perante o Esta-do. Assim, tecnicamente, o indivduo pode ser brasileiro (nacionalidade) e nem por isso

    ser cidado (cidadania), haja vista no poder votar nem ser votado (ex.: criana, pessoaabsolutamente incapaz).

    Os direitos polticos ligam-se ideia de democracia. Nesta, sobressaem a soberaniapopular e a livre participao de todos nas atividades estatais. A democracia, hoje, figuranos tratados internacionais como direito humano e fundamental.

    2 Direitos humanos e direitos polticos

    antiga a preocupao com o delineamento de um efetivo esquema de proteo dapessoa humana. A doutrina dos direitos humanos desenvolveu-se a partir da evoluohistrica desse movimento.

    O jusnaturalismo moderno concebia os direitos do homem como eternos, imutveis,vigentes em todos os tempos, lugares e naes. A declarao desses direitos significou,no campo simblico, a emancipao do homem, por afirmar sua liberdade fundamental.Teve o sentido de livr-lo das amarras opressivas de certos grupos sociais, como ordensreligiosas e familiares.

    Segundo Alexy (2007, p. 45 ss), os direitos do homem distinguem-se de outros di-reitos pela combinao de cinco fatores, pois so:(i)universais: todos os homens (con-siderados individualmente) so seus titulares; (ii)morais: sua validade no depende de

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    positivao, pois so anteriores ordem jurdica; (iii)preferenciais: o Direito Positivo devese orientar por eles e criar esquemas legais para otimiz-los e proteg-los; (iv)fundamen-tais: sua violao ou no satisfao acarreta graves consequncias pessoa; (v)abstratos:por isso, pode haver coliso entre eles, o que deve ser resolvido pela ponderao.

    Expoentes da primeira gerao de direitos, em que sobressai a liberdade, figuram osdireitos polticos nas principais declaraes de direitos humanos, sendo consagrados jnas primeiras delas.

    Deveras, a Declarao de Direitos do Bom Povo da Virgnia, de 12 de junho de1776, de autoria de George Mason, dispe em seu artigo 6o:

    As eleies de representantes do povo em assembleias devem ser livres, e todos aqueles quetenham dedicao comunidade e conscincia bastante do interesse comum permanen-te tm direito de voto, e no podem ser tributados ou expropriados por utilidade pblica,sem o seu consentimento ou o de seus representantes eleitos, nem podem ser submetidosa nenhuma lei qual no tenham dado, da mesma forma, o seu consentimento para o bempblico.

    esse igualmente o sentido expresso na Declarao de Independncia dos EstadosUnidos da Amrica, ocorrida em 4 de julho de 1776, j que, na histria moderna, nelaque os princpios democrticos so por primeiro afirmados.

    Por sua vez, a Declarao Francesa dos Direitos do Homem e do Cidado, de 1789,assevera em seu artigo 6o: A lei a expresso da vontade geral. Todos os cidados tmo direito de concorrer, pessoalmente ou atravs de mandatrios, para a sua formao.

    Reza o artigo XXI da Declarao Universal dos Direitos do Homem, de 1948:

    1. Todo homem tem o direito de tomar posse no governo de seu pas, diretamente ou porintermdio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo homem tem igual direito deacesso ao servio pblico de seu pas. 3. A vontade do povo ser a base da autoridade do go-

    verno; esta vontade ser expressa em eleies peridicas e legtimas, por sufrgio universal,

    por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade do voto.

    Ademais, o artigo 25 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos, de 1966 ratificado pelo Brasil pelo Decreto-Legislativo no226/91 e promulgado pelo Decretono592/92 , estabelece:

    Todo cidado ter o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminaomencionadas no artigo 2oe sem restries infundadas: (a) de participar da conduo dosassuntos pblicos, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos; (b) de

    votar e de ser eleito em eleies peridicas, autnticas, realizadas por sufrgio universal eigualitrio e por voto secreto, que garantam a manifestao da vontade dos eleitores; (c) deter acesso, em condies gerais de igualdade, s funes pblicas de seu pas.

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    Comentando esse ltimo dispositivo, observa Comparato (2005, p. 317) que a se en-contram compendiados os principais direitos humanos referentes participao do cida-do no governo de seu pas. a afirmao do direito democracia como direito humano.

    3 Direitos fundamentais e direitos polticos

    Direitos humanos expresso ampla, de matiz universalista, sendo corrente nos tex-tos internacionais, sobretudo nas declaraes de direitos, conforme aludido.

    J a expresso direitos fundamentais teve seu uso consagrado nas constituies es-tatais, no Direito Pblico, traduzindo o rol concreto de direitos humanos acolhidos nostextos constitucionais. A positivao de tais direitos no ordenamento jurdico estatal faz

    com que sejam institucionalizados, sendo essa medida essencial para otimizar a proteodeles.

    Assegura Canotilho (1996, p. 517) que as expresses direitos do homem e direi-tos fundamentais so frequentemente utilizadas como sinnimas. Segundo sua origeme seu significado, poderamos distingui-las da seguinte maneira: direitos do homem sodireitos vlidos para todos os povos e em todos os tempos (dimenso jusnaturalista-uni-versalista); direitos fundamentais so os direitos do homem, jurdico-institucionalmentegarantidos e limitados espao-temporalmente. Os direitos do homem nascem da prprianatureza humana e da seu carter inviolvel, atemporal e universal; j os direitos funda-mentais seriam direitos objetivamente vigentes em uma ordem concreta.

    O Ttulo II da Constituio Federal de 1988 que reza: Dos Direitos e GarantiasFundamentais abrange quatro esferas de direitos fundamentais, a saber: (1) direitos edeveres individuais e coletivos (art. 5o); (2) direitos sociais (arts. 6oa 11); (3) naciona-lidade (arts. 12 e 13); (4) direitos polticos (arts. 14 a 17). de se concluir, pois, que osdireitos polticos situam-se entre os direitos fundamentais.

    4 Privao de direitos polticos

    4.1 Consideraes iniciais

    Levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral nos albores de 2007, divulgadoem maro do mesmo ano, revela que 503.002 brasileiros estavam privados de direitospolticos na ocasio. A maior parte deles (376.949) por fora de condenao criminal;72.627, em virtude de prestao de servio militar (os chamados conscritos); 42.401, emrazo de interdio por incapacidade absoluta; 972, por motivo de condenao em im-

    probidade administrativa; 296, por terem optado por exercer os direitos polticos em Por-tugal; 176, por se terem recusado a exercer obrigao a todos imposta (servio militar);9.581, sem causa identificada.

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    Privar tirar ou subtrair algo de algum, que fica destitudo ou despojado do bemsubtrado. O bem em questo so os direitos polticos. A Constituio prev duas formasde privao de direitos polticos: perda e suspenso. Probe, ademais, a cassao dessesmesmos direitos. Veja-se o texto constitucional:

    Art. 15. vedada a cassao de direitos polticos, cuja perda ou suspenso s se dar noscasos de:

    I cancelamento da naturalizao por sentena transitada em julgado;

    II incapacidade civil absoluta;

    III condenao criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

    IV recusa de cumprir obrigao a todos imposta ou prestao alternativa, nos termos doart. 5o, VIII;

    V improbidade administrativa, nos termos do art. 37, 4o.

    A cassao de direitos polticos foi expediente largamente empregado pelo governomilitar para afastar opositores do regime. O Ato Institucional no1, editado em 9 de abrilde 1964, autorizava a cassao de mandatos legislativos. Cassar significa desfazer ou des-constituir ato perfeito, anteriormente praticado, retirando-lhe a existncia e, pois, a efic-cia. Apesar de se tratar de termo tcnico-jurdico, ficou estigmatizado.

    A seu turno, perder deixar de ter, possuir, deter ou gozar algo; ficar privado.

    Como bvio, s se perde o que se tem. A ideia de perda liga-se de definitividade; aperda sempre permanente, embora se possa recuperar o que se perdeu.

    J a suspenso na definio de Cretella Jnior (1989, v. 2, p. 1118) interrup-o temporria daquilo que est em curso, cessando quando terminam os efeitos de atoou medida anterior. Trata-se, portanto, de privao temporria de direitos polticos. Spode ser suspenso algo que j existia e estava em curso. Assim, se a pessoa ainda no de-tinha direitos polticos, no pode haver suspenso.

    A Lei Maior no fala em impedimento, embora se possa cogitar dele. Consiste o im-

    pedimento em obstculo aquisio dos direitos polticos, de maneira que a pessoa nochega a alcan-los enquanto no removido o bice. Haver impedimento, e. g., quan-do o absolutamente incapaz portar anomalia congnita, permanecendo nesse estado atatingir a idade adulta.

    Parte da doutrina tem considerado os incisos I (cancelamento de naturalizao) e IV(escusa de conscincia) do citado artigo 15 da Constituio como hipteses de perda dedireitos polticos. As demais so de suspenso. Assim era na Constituio de 1967, cujoartigo 144 separava os casos de suspenso (inc. I) dos de perda (inc. II). Nesse sentido,pronunciam-se Ferreira Filho (2005, p. 115) e Moraes (2002, p. 256). No entanto, Cre-

    tella Jnior (1989, v. 2, p. 1122, no169) afirma que, na escusa de conscincia, pode haverperda ou suspenso. Cremos, porm, que essa hiptese de suspenso ou de impedimen-to, no de perda.

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    A perda ou a suspenso de direitos polticos acarretam vrias consequncias jurdi-cas, como o cancelamento do alistamento e a excluso do corpo de eleitores (CE, art. 71,II), o cancelamento da filiao partidria (LOPP, art. 22, II), a perda de mandato ele-tivo (CF, art. 55, IV, 3o), a perda de cargo ou funo pblica (CF, art. 37, I, c.c. Leino8.112/90, art. 5o, II e III), a impossibilidade de se ajuizar ao popular (CF, art. 5o, LX-XIII), o impedimento para votar ou ser votado (CF, art. 14, 3o, II) e para exercer a ini-ciativa popular (CF, art. 61, 2o).

    A excluso do corpo de eleitores no automtica, devendo ser observado o proce-dimento traado no artigo 77 do Cdigo Eleitoral. Todavia, uma vez cessada a causa docancelamento, poder o interessado requerer novamente sua qualificao e inscrio nocorpo eleitoral (CE, art. 81), recuperando, assim, sua cidadania.

    No tocante a deputados federais e senadores (e tambm a deputados estaduais e dis-tritais, por fora do disposto nos arts. 27, 1o, e 32, 3o, da CF), a concretizao da per-da dos direitos polticos acarreta a do mandato. Mas a perda de mandato legislativo devenecessariamente ser precedida de ato editado pela Mesa da Casa respectiva, que age deofcio ou mediante provocao de qualquer de seus membros, ou de partido poltico comrepresentao no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa (CF, art. 55, IV, 3o). Anecessidade de haver pronunciamento da Mesa denota respeito independncia dos Po-deres e, pois, do Parlamento.

    A perda de mandato constitui efeito necessrio da ausncia de direito poltico, sendo,

    por isso, apenas declaradapela Mesa da respectiva Casa Legislativa. Esse rgo no gozade discricionariedade (ou liberdade) para decidir se declara ou no a perda do mandatodo parlamentar, pois trata-se de ato vinculado. Limita-se ele a confeccionar e publicar adeclarao. que, conforme j assentou o Pretrio Excelso, da suspenso de direitos po-lticos resulta por si mesma a perda do mandato eletivo ou do cargo do agente poltico(STF RE no418876/MT 1aT. Rel. Min. Seplveda Pertence DJ4-6-2004, p. 48).

    De qualquer sorte, afrontaria a razo e a tica a manuteno do mandato de par-lamentar que perdeu ou teve suspensos seus direitos polticos. fcil imaginar o con-

    trassenso que seria a situao de algum que pudesse participar de processo legislativo,debatendo, votando e contribuindo para a aprovao de leis, mas no gozasse da nacio-nalidade brasileira ou nem sequer pudesse votar em eleies gerais ou municipais porquese encontra com a inscrio eleitoral cancelada.

    4.2 Cancelamento de naturalizao

    Nacionalidade o vnculo que liga um indivduo a determinado Estado. Pela natura-

    lizao, o estrangeiro recebe do Estado concedente ostatusde nacional.A aquisio da nacionalidade brasileira por estrangeiro rege-se pelo artigo 12, II, da

    Constituio, pelo qual so brasileiros naturalizados:

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    a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originrios depases de lngua portuguesa apenas residncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral;b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na Repblica Federativa do Brasilh mais de quinze anos ininterruptos e sem condenao penal, desde que requeiram a na-

    cionalidade brasileira.

    A regulamentao desse dispositivo encontra-se na Lei no6.815/80, que estabeleceos requisitos para a concesso da naturalizao, conforme consta de seu artigo 111. O atoadministrativo que confere ao estrangeiro ostatus de nacional de competncia do PoderExecutivo, nomeadamente do Ministrio da Justia.

    A lei no poder estabelecer distino entre brasileiros natos e naturalizados, salvonos casos previstos na Constituio. Nessa ressalva encontra-se o preenchimento de cer-

    tos cargos no organismo estatal, pois so privativos de brasileiro nato os cargos: I dePresidente e Vice-Presidente da Repblica; II de Presidente da Cmara dos Deputados;III de Presidente do Senado Federal; IV de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V da carreira diplomtica; VI de oficial das Foras Armadas; VII de Ministro de Estadoda Defesa (CF, art. 12, 2oe 3o). Quanto aos portugueses com residncia permanenteno Pas, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, sero atribudos os direitos ine-rentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituio (CF, art. 12, 1o).

    Impende registrar que a outorga a brasileiro do gozo de direitos polticos em Por-tugal importar suspenso desses mesmos direitos no Brasil. O Estatuto da Igualdade(Decreto no3.927/2001), firmado entre Brasil e Portugal, prev que os que optarem porexercer os direitos polticos no Estado de residncia tero suspenso o exerccio no Esta-do de nacionalidade. esse igualmente o sentido do artigo 51, 4o, da Resoluo TSEno21.538/2003.

    O cancelamento da naturalizao traduz o rompimento do vnculo jurdico existenteentre o indivduo e o Estado. O artigo 12, 4o, I, da Constituio determina a perda danacionalidade do brasileiro que tiver cancelada sua naturalizao, por sentena judicial,em virtude de atividade nociva ao interesse nacional. Como consequncia, reassume o

    sentenciado ostatus de estrangeiro. da Justia Federal a competncia para as causas referentes nacionalidade e na-

    turalizao (CF, art. 109, X). Ademais, o Ministrio Pblico Federal tem legitimidade parapromover ao visando ao cancelamento de naturalizao, em virtude de atividade no-civa ao interesse nacional (LC no75/90, art. 6o, IX).

    Tambm ser declarada a perda da nacionalidade do brasileiro nato que adquiriroutra nacionalidade, salvo nos casos: (a) de reconhecimento de nacionalidade originriapela lei estrangeira; (b) de imposio de naturalizao, pela norma estrangeira, ao brasi-

    leiro residente em Estado estrangeiro, como condio para permanncia em seu territrioou para o exerccio de direitos civis.

    A perda da nacionalidade brasileira acarreta ipso factoa perda dos direitos polticos.

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    4.3 Incapacidade civil absoluta

    A hiptese em apreo remete ao artigo 3o, II, do vigente Cdigo Civil. A incapacidadeabsoluta implica a completa vedao do indivduo para o exerccio de atos da vida civil,j que ele se torna inapto para conduzir-se com independncia, autonomia e eficincia navida, de maneira a reger sua pessoa e seus bens. O incapaz atua por meio de seus repre-sentantes legais, que realizam os atos por ele. Conforme salientei em outra obra (Gomes,2006, seo 3.4.3), atualmente, para que uma pessoa seja considerada absolutamenteincapaz,

    no basta a existncia de enfermidadeou deficincia mental, pois a lei exige, ainda, que elano tenha o necessrio discernimento para a prtica de atos da vida civil . Em outros termos, necessrio que o indivduo apresente condies inferiores relativamente acuidade intelec-tiva, restando afetado significativamente seu entendimento ou a expresso de sua vontade,de sorte que esteja inapto para reger sua prpria vida com independncia e autonomia.

    Tornando-se incapaz a pessoa e sendo decretada sua interdio, seus direitos polti-cos ficaro suspensos. Reza o artigo 1.773 do Cdigo Civil que a sentena que declara ainterdio produz efeitos desde logo, embora sujeita a recurso. O fato de no se exigir otrnsito em julgado da sentena para o efeito de suspenso dos direitos polticos do inter-dito no atenta contra a ideia desoberania popular, porquanto ele no poderia exerc-los,dado seu estado de sade. A questo aqui eminentemente prtica.

    A hiptese em apreo refere-se asuspenso de direitos polticos e no a perda, pois,uma vez recobrada a capacidade de exerccio, tais direitos sero restabelecidos (CE,art. 81). No entanto, e se a pessoa j nascer portando doena que a torne incapaz at afase adulta ou mesmo por toda a vida? Nesse caso, imprprio falar-se desuspenso, quepressupe o gozo anterior de direitos polticos. Tampouco se pode falar de perda, poisno se perde o que no se tem. Mais correto ser pensar em impedimento, pois a incapa-cidade congnita fator obstativo para a aquisio dos direitos polticos.

    O juiz cvel que decretar a interdio dever comunicar esse fato ao juiz eleitoral ou

    ao TRE, de maneira que seja cancelado o alistamento do interditado, com a consequenteexcluso do rol de eleitores (CE, art. 71, II e 2o).

    4.4 Condenao criminal transitada em julgado

    Reza o artigo 15, inciso III, da Constituio Federal que a condenao criminal tran-sitada em julgado determina a suspenso de direitos polticos enquanto perdurarem seusefeitos. Trata-se de norma autoaplicvel, conforme pacfico entendimento jurisprudencial.

    [...] Suspenso de Direitos Polticos Condenao Penal Irrecorrvel Subsistncia de seusEfeitos Autoaplicabilidade do art. 15, III, da Constituio A norma inscrita no art. 15, III,da Constituio reveste-se de autoaplicabilidade, independendo, para efeito de sua imediata

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    incidncia, de qualquer ato de intermediao legislativa. Essa circunstncia legitima as de-cises da Justia Eleitoral que declaram aplicvel, nos casos de condenao penal irrecorr-

    vel e enquanto durarem os seus efeitos, como ocorre na vigncia do perodo de prova dosursis , a sano constitucional concernente privao de direitos polticos do sentenciado.

    Precedente: RE no179.502-SP (Pleno), Rel. Min. Moreira Alves. Doutrina (STF AgRRMSno22.470/SP 1aT. Rel. Min. Celso de Mello DJ 27-9-1996, p. 36158).

    Administrativo. Concurso Pblico. Posse. Gozo de Direitos Polticos. Bons Antecedentes.Candidato Condenado por Sentena Transitada em Julgado. Impossibilidade. I O SupremoTribunal Federal j pacificou o entendimento quanto autoaplicabilidade do art. 15, incisoIII, da Constituio Federal. II Havendo legislao especfica exigindo o pleno gozo dos di-reitos polticos e bons antecedentes para a posse no servio pblico, no h direito lquido ecerto nomeao do candidato que no cumpriu com tais requisitos, por ter sido condenadocom sentena transitada em julgado. Recurso desprovido (STJ RMS no16.884/SE 5aT. Rel. Min. Felix Fischer DJ14-2-2005, p. 217).

    1. O art. 15, III, da CF/88 auto-aplicvel, constituindo a suspenso dos direitos polticosefeito automtico da condenao. 2. A condenao criminal transitada em julgado sufi-ciente imediata suspenso dos direitos polticos, ainda que a pena privativa de liberdadetenha sido posteriormente substituda por uma restritiva de direitos. 3. Agravo regimentaldesprovido (TSE AgR-REspe no65172/SP DJe, t. 98, 28-5-2014, p. 82-83).

    Recurso Especial. Eleies 2004. Regimental. Registro. Condenao criminal transitada emjulgado. Direitos polticos. CF/88, art. 15, III. Autoaplicabilidade. autoaplicvel o art. 15,III, CF. Condenao criminal transitada em julgado suspende os direitos polticos pelo tempo

    que durar a pena. Nega-se provimento a agravo que no infirma os fundamentos da decisoimpugnada (TSE AREspe no22.461/MS PSS 21-9-2004).

    A suspenso de direitos polticos constitui efeito secundrio da sentena criminalcondenatria, exsurgindo direta e automaticamente com seu trnsito em julgado, inde-pendentemente da natureza ou do montante da pena aplicada in concreto. Por isso, no necessrio que venha gravada na parte dispositiva do decisum.

    Tal qual o registro da candidatura e a diplomao do eleito, a investidura no cargo eo exerccio de mandato poltico-eletivo pressupem que o mandatrio esteja no gozo dos

    direitos polticos. Pretende-se que os cargos pblico-eletivos sejam ocupados por cida-dos insuspeitos, sobre os quais no pairem dvidas quanto integridade tico-jurdica,honestidade e honradez. Visa-se, com isso, assegurar a legitimidade e a dignidade da re-presentao popular, pois o Parlamento e, de resto, todo o aparato estatal no podetransformar-se em abrigo de delinquentes.

    Cumpre indagar se a suspenso de direitos polticos decorrente de condenao crimi-naltransitada em julgado implica a perda automtica de mandato eletivo. A indagaojustifica-se diante da especificidade que reveste a sentena penal condenatria e seusefeitos, bem como do especial tratamento normativo conferido matria.

    No que concerne a deputado federal ou senador (e tambm a deputado estadual oudistrital, por fora do disposto nos arts. 27, 1o, e 32, 3o, da CF), reza o art. 55, VI, 2oda Constituio Federal: a perda do mandato ser decidida pela Cmara dos Deputados

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    ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocao da respectiva Mesaou de partido poltico representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. Aredao desse dispositivo foi alterada pela EC no76/2013 que suprimiu o carter secretoda votao; essa, agora, aberta. Logo, na hiptese de haver condenao criminal, a per-

    da do mandato no se concretizade forma instantnea, pois tal efeito depende de ato aser praticado ulteriormente pelo rgo Legislativo a que pertence o condenado.

    O citado 2o, art. 55, da CF enseja a interpretao de que no caso especfico decondenao criminal a Cmara dos Deputados ou o Senado decidiro, por maioria abso-luta de votos, a perda do mandato de seus respectivos membros. Portanto, esse efeito nodecorreria direta e imediatamente da condenao criminal imposta pelo Poder Judici-rio, mas do ato emanado daquelas Casas. De sorte que o ato judicial constituiria apenasum requisito ou ponto de partida para anlise e julgamentopolticodo Poder Legislativo.

    Entretanto, essa regra colide com outra de igual estatura, a saber, a prevista no 3o

    ,IV, art. 55 c.c. art. 15, III, ambos da Constituio Federal. Aqui, conforme salientado hpouco, no h propriamente decisopor parte do Legislativo, mas mera declaraoepu-blicaodo ato de perda do mandato. Isso porque a condenao criminal (entre outrascausas) provoca a suspenso dos direitos polticos (CF, art. 15, III), e essa suspenso, spor si, determina a incidncia do inciso IV e do 3odo mesmo art. 55 da Constituio,os quais s exigem a declarao da Mesa da Casa respectiva, declarao essa que pode sedar ex officioou decorrer de provocao de qualquer de seus membros ou de partido pol-tico representado no Congresso Nacional. No h, aqui, discricionariedade (ou liberdade)

    do Poder Legislativo para decidir se declara ou no a perda do mandato do parlamentarque se encontra com seus direitos polticos suspensos, pois trata-se de ato vinculado, demaneira que a Casa Legislativa se limita a declarar a perda do mandato e publicar o res-pectivo ato.

    No julgamento da Ao Penal no470, o plenrio do Supremo Tribunal Federal, pelaestreita maioria de 5 a 4, na sesso realizada em 17-12-2012, firmou a interpretao deque, havendo condenao criminal emanada do Pretrio Excelso (mormente na hipte-se de crime contra a administrao pblica), a perda do mandato parlamentar do acu-sado exsurge direta e automaticamente do trnsito em julgado do decisum. Mesa da

    Casa Legislativa cabe apenas declarara perda do mandato e no decidi-la. Distinguiu-se,portanto, a deciso da declarao. Isso porque a resoluo (= deciso) sobre a perda domandato inerente ao exerccio da jurisdio.

    [...] Perda do mandato eletivo. Competncia do Supremo Tribunal Federal. Ausncia deviolao do princpio da separao de poderes e funes. Exerccio da funo jurisdicional.Condenao dos rus. detentores de mandato eletivo pela prtica de crimes contra a Ad-ministrao Pblica. Pena aplicada nos termos estabelecidos na legislao penal pertinen-te. 1. O Supremo Tribunal Federal recebeu do Poder Constituinte originrio a competnciapara processar e julgar os parlamentares federais acusados da prtica de infraes penaiscomuns. Como consequncia, ao Supremo Tribunal Federal que compete a aplicao daspenas cominadas em lei, em caso de condenao. A perda do mandato eletivo uma penaacessria da pena principal (privativa de liberdade ou restritiva de direitos), e deve ser

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    decretada pelo rgo que exerce a funo jurisdicional, como um dos efeitos da condena-o, quando presentes os requisitos legais para tanto. 2. Diferentemente da Carta outorga-da de 1969, nos termos da qual as hipteses de perda ou suspenso de direitos polticosdeveriam ser disciplinadas por Lei Complementar (art. 149, 3o), o que atribua eficcia

    contida ao mencionado dispositivo constitucional, a atual Constituio estabeleceu os casosde perda ou suspenso dos direitos polticos em norma de eficcia plena (art. 15, III). Emconsequncia, o condenado criminalmente, por deciso transitada em julgado, tem seus di-reitos polticos suspensos pelo tempo que durarem os efeitos da condenao. 3. A previsocontida no artigo 92, I e II, do Cdigo Penal, reflexo direto do disposto no art. 15, III, daConstituio Federal. Assim, uma vez condenado criminalmente um ru detentor de man-dato eletivo, caber ao Poder Judicirio decidir, em definitivo, sobre a perda do mandato.No cabe ao Poder Legislativo deliberar sobre aspectos de deciso condenatria criminal,emanada do Poder Judicirio, proferida em detrimento de membro do Congresso Nacional.

    A Constituio no submete a deciso do Poder Judicirio complementao por ato de

    qualquer outro rgo ou Poder da Repblica. No h sentena jurisdicional cuja legitimida-de ou eficcia esteja condicionada aprovao pelos rgos do Poder Poltico. A sentenacondenatria no a revelao do parecer de umas das projees do poder estatal, mas amanifestao integral e completa da instncia constitucionalmente competente para sancio-nar, em carter definitivo, as aes tpicas, antijurdicas e culpveis. Entendimento que seextrai do artigo 15, III, combinado com o artigo 55, IV, 3o, ambos da Constituio da Re-pblica. Afastada a incidncia do 2odo art. 55 da Lei Maior, quando a perda do mandatoparlamentar for decretada pelo Poder Judicirio, como um dos efeitos da condenao cri-minal transitada em julgado. Ao Poder Legislativo cabe, apenas, dar fiel execuo decisoda Justia e declarar a perda do mandato, na forma preconizada na deciso jurisdicional. 4.

    Repugna nossa Constituio o exerccio do mandato parlamentar quando recaia, sobre oseu titular, a reprovao penal definitiva do Estado, suspendendo-lhe o exerccio de direitospolticos e decretando-lhe a perda do mandato eletivo. A perda dos direitos polticos con-sequncia da existncia da coisa julgada. Consequentemente, no cabe ao Poder Legislativooutra conduta seno a declarao da extino do mandato (RE 225.019, Rel. Min. NelsonJobim). Concluso de ordem tica consolidada a partir de precedentes do Supremo TribunalFederal e extrada da Constituio Federal e das leis que regem o exerccio do poder poltico--representativo, a conferir encadeamento lgico e substncia material deciso no sentidoda decretao da perda do mandato eletivo. Concluso que tambm se constri a partir dalgica sistemtica da Constituio, que enuncia a cidadania, a capacidade para o exerccio

    de direitos polticos e o preenchimento pleno das condies de elegibilidade como pressu-postos sucessivos para a participao completa na formao da vontade e na conduo da

    vida poltica do Estado. 5. No caso, os rus parlamentares foram condenados pela prtica,entre outros, de crimes contra a Administrao Pblica. Conduta juridicamente incompa-tvel com os deveres inerentes ao cargo. Circunstncias que impem a perda do mandatocomo medida adequada, necessria e proporcional. 6. Decretada a suspenso dos direitospolticos de todos os rus, nos termos do art. 15, III, da Constituio Federal. Unnime. 7.Decretada, por maioria, a perda dos mandatos dos rus titulares de mandato eletivo. [...](STF AP no470/MG Pleno Rel. Min. Joaquim Barbosa DJe 74, 22-4-2013).

    Todavia, esse ltimo entendimento foi revogado pelo prprio STF no julgamentoda Ao Penal no565/RO, ocorrido na sesso plenria dos dias 7 e 8-8-2013. Dessa fei-ta, tambm por maioria de votos, afirmou o Pretrio Excelso competir respectiva Casa

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    Legislativa decidir sobre a eventual perda de mandato parlamentar (no caso, de senador),por fora do disposto no artigo 55, VI, 2o, da CF. De maneira que o especfico efeito ati-nente perda de mandato polticono decorre direta e automaticamente do ato jurisdi-cional. essa a interpretao tendencialdaquela Corte Suprema.

    No que concerne a vereadores e detentores de mandato executivo (prefeito, governa-dor, presidente da Repblica e seus respectivos vices) inexistem regras excepcionais comoas dos aludidos artigos 27, 1o, 32, 3o, e 55, 2oe 3o, todos da Lei Maior. E exceesinterpretam-se restritivamente. Vale frisar que o silncio constitucional aqui relevante,eloquente, no havendo de se falar em lacuna a ser colmatada. Em tais casos, o trnsi-to em julgado da condenao criminal implica privao de direitos polticos e perda demandato.

    Nesse sentido, colhem-se na jurisprudncia da Corte Suprema os seguintes arestos:

    (i)[...] Da suspenso de direitos polticos efeito da condenao criminal transitada emjulgado ressalvada a hiptese excepcional do art. 55, 2o, da Constituio resulta por simesma a perda do mandato eletivo ou do cargo do agente poltico (STF RE no418.876/MT 1aT. Rel. Min. Seplveda Pertence DJ4-6-2004, p. 48);

    (ii) [...] Condenao criminal transitada em julgado aps a posse do candidato eleito (CF,art. 15, III). Perda dos direitos polticos: consequncia da existncia da coisa julgada. A C-mara de vereadores no tem competncia para iniciar e decidir sobre a perda de manda-to de prefeito eleito. Basta uma comunicao Cmara de Vereadores, extrada nos autos

    do processo criminal. Recebida a comunicao, o Presidente da Cmara de Vereadores, deimediato, declarar a extino do mandato do Prefeito, assumindo o cargo o Vice-Prefeito,salvo se, por outro motivo, no possa exercer a funo. No cabe ao Presidente da Cmarade Vereadores outra conduta seno a declarao da extino do mandato. Recurso extraor-dinrio conhecido em parte e nessa parte provido (STF RE no225.019/GO Pleno Rel.Min. Nelson Jobim DJ22-11-1999, p. 133);

    (iii) [...] O propsito revelado pelo embargante, de impedir a consumao do trnsito emjulgado de deciso penal condenatria valendo-se, para esse efeito, da utilizao sucessivae procrastinatria de embargos declaratrios incabveis constitui fim ilcito que desqua-

    lifica o comportamento processual da parte recorrente e que autoriza, em consequncia, oimediato cumprimento do acrdo emanado do Tribunal a quo, viabilizando, desde logo, tantoa execuo da pena privativa de liberdade, quanto a privao temporria dos direitos polticosdo sentenciado (CF, art. 15, III), inclusive a perda do mandato eletivo por este titularizado. Pre-cedentes (STF AgEDAI no177.313/MG 1aT. Rel. Min. Celso de Mello DJ14-11-1996,p. 44488).

    Note-se, porm, que em tais hipteses a concretizao da perda de mandato com oefetivo afastamento do agente pblico se d a partir de declarao emanada do respec-tivo rgo legislativo. Este no decidea perda do mandato, mas apenas a declara e torna

    pblica, inexistindo espao para reviso ou discusso dos fundamentos da deciso conde-natria. O ato do Legislativo vinculado e no discricionrio. Tal soluo encontra fun-damento no princpio de diviso dos poderes.

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    Por outro lado, no se pode olvidar a previso constante do artigo 92, I, do CdigoPenal, que estabelece como efeito secundrio da condenao a perda de mandato eletivo:(a)quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administra-

    o Pblica; (b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4(quatro) anos nos demais casos. Na seara penal, a perda de cargo pblico ou mandatopoltico deve ser motivadamente declarada na sentena. Antes de impor essa sano, ojuiz deve sopesar fatores como a natureza do evento e sua lesividade, o grau de culpa doagente, a necessidade de aplicao da sano no caso concreto. O aludido dispositivo re-gula nomeadamente a perda de mandato no mbito e para os fins do Direito Penal, e noa perda de direitos polticos. Ocorre, porm, que a s incidncia dos aludidos artigos 15,III, 55, IV, VI, 2oe 3oda Constituio Federal por si s afeta o mandato.

    Sempre que transitar em julgado condenao penal, o juiz da vara criminal deve co-municar esse fato ao juiz eleitoral para o fim de cancelamento da inscrio e de exclusodo condenado do corpo de eleitores (CE, art. 71, II). No se pode negar o exagero de sedeterminar a excluso do eleitor, pois bastaria que houvesse a suspenso de sua inscrio.

    Alguns autores insurgem-se contra a exigncia de trnsito em julgado da sentenapenal condenatria para fins eleitorais, considerando mais consentnea a s condena-o, regra, alis, esposada no artigo 135, 1o, II, da Constituio de 1946. Nessa linha,Djalma Pinto (2005, p. 84-85) assevera que a presuno de inocncia, at o trnsito emjulgado da sentena penal, para fins eleitorais, uma aberrao repelida pelo Direito Ro-

    mano, pela Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado e em qualquer lugar ondehaja preocupao com a boa aplicao dos recursos pblicos, j que significa a constitu-cionalizao da impunidade diante da eternizao dos processos no Brasil. No entanto,para muitos juristas, o requisito em apreo est em harmonia com o direito fundamentalinscrito no artigo 5o, LVII, da Lei Maior.

    A expresso condenao criminal, constante do dispositivo constitucional, genrica,abrangendo a contraveno penal. Nesse diapaso, assentou-se na jurisprudncia o en-tendimento de que: A disposio constitucional, prevendo a suspenso dos direitos pol-ticos, ao referir-se condenao criminal transitada em julgado, abrange no s aquela

    decorrente da prtica de crime, mas tambm a de contraveno penal (TSE REspeno13.293/MG PSS 7-11-1996).

    No importa a natureza da pena aplicada, pois, em qualquer caso, ficaro suspen-sos os direitos polticos. Logo, irrelevante: (1) que a pena aplicada seja restritiva dedireitos; (2) que seja somente pecuniria; (3) que o ru seja beneficiado com sursis(CP,art. 77); (4) que tenha logrado livramento condicional (CP, art. 83); (5) que a pena sejacumprida no regime de priso aberto, albergue ou domiciliar. Igualmente irrelevante perquirir quanto ao elemento subjetivo do tipo penal, havendo a suspenso de direitospolticos na condenao tanto por ilcito doloso quanto por culposo.

    E quanto sentena penal absolutria imprpria? Nesse caso, a despeito da absolvi-o, h aplicao de medida de segurana, a qual ostenta natureza condenatria. Por isso,tambm nessa hiptese haver suspenso de direitos polticos.

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    E se houver transao penal, conforme previso constante do artigo 76 da Leino9.099/95? Note-se que a proposta de transao deve ser feita antes da denncia; aaceitao e a homologao da proposta no causam reincidncia, sendo isso registradoapenas para impedir nova concesso desse mesmo benefcio no lapso de cinco anos; ade-

    mais, a imposio de sano no constar de certido de antecedentes criminais. Emborapossa haver a aplicao de pena restritiva de direito ou multa, a homologao judicial datransao no significa condenao criminal. No havendo condenao judicial transita-da em julgado, os direitos polticos de quem aceita a transao penal no so atingidos,e, pois, no se suspendem.

    E quanto aosursis processual? Impe-se, nesse caso, a mesma soluo dada tran-sao penal. Previsto no artigo 89 da Lei no9.099/95, essa medida susta o curso do pro-cesso, e, expirado o prazo sem revogao, deve ser decretada sua extino. Extinto oprocesso, impossvel se torna a condenao.

    Os efeitos da suspenso dos direitos polticos somente cessam com o cumprimentoou a extino da pena. o que reza a Smula no9 do TSE: A suspenso de direitos pol-ticos decorrente de condenao criminal transitada em julgado cessa com o cumprimentoou a extino da pena, independendo de reabilitao ou prova de reparao de danos.Logo, a propositura de reviso criminal(CPP, art. 621) por si s no faz cessar os efeitosda condenao, de maneira a restaurar os direitos polticos.

    O legislador foi mais severo em relao a alguns delitos, pois, conforme dispe o ar-tigo 1o, I, e, da LC no64/90, so inelegveispara qualquer cargo

    os que forem condenados, em deciso transitada em julgado ou proferida por rgo judi-cial colegiado, desde a condenao at o transcurso do prazo de 8 (oito) anos aps o cum-primento da pena, pelos crimes: 1. contra a economia popular, a f pblica, a administraopblica e o patrimnio pblico; 2. contra o patrimnio privado, o sistema financeiro, o mer-cado de capitais e os previstos na lei que regula a falncia; 3. contra o meio ambiente e asade pblica; 4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade; 5. deabuso de autoridade, nos casos em que houver condenao perda do cargo ou inabilita-o para o exerccio de funo pblica; 6. de lavagem ou ocultao de bens, direitos e valo-res; 7. de trfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos;

    8. de reduo condio anloga de escravo; 9. contra a vida e a dignidade sexual; e 10.praticados por organizao criminosa, quadrilha ou bando.

    Assim, no tocante a essas infraes, o agente tambm ficar inelegvelpelo prazo de8 anos, aps o cumprimento ou extino da pena.

    4.5 Recusa de cumprir obrigao a todos imposta

    Dispe o artigo 5o, VIII, da Constituio que ningum ser privado de direitos por

    motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar paraeximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa,fixada em lei.

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    J o artigo 15, inciso IV, da Constituio prev a suspenso de direitos polticos nahiptese de algum se recusar a cumprir obrigao a todos imposta ou prestao alter-nativa, nos termos do art. 5o, VIII.

    Cuidam tais dispositivos da denominada escusa ou objeo de conscincia, normal-mente fundada em crena ou convico religiosa, tica, filosfica ou poltica.

    Entre as obrigaes legais a todos impostas destacam-se o exerccio da funo de ju-rado e a prestao de servio militar.

    No que concerne ao jurado, dispe o artigo 436 do Cdigo de Processo Penal serobrigatrio o servio do jri para os cidados maiores de 18 (dezoito) anos de notriaidoneidade. Desse servio nenhum cidado poder ser excludo ou deixar de ser alis-tado em razo de cor ou etnia, raa, credo, sexo, profisso, classe social ou econmica,origem ou grau de instruo ( 1o). Note-se, porm, que o art. 437 do CPP prev vriashipteses de iseno, sendo que o inciso X contm uma clusula geral desobrigando osque demonstrarem justo impedimento.

    A recusa injustificadaao servio do jri poder acarretar multa no valor de 1 (um)a 10 (dez) salrios-mnimos, a critrio do juiz, de acordo com a condio econmica dojurado (CPP, art. 436, 2o).

    No entanto, fundando-se a recusa em convico religiosa, filosfica ou poltica,reza o artigo 438 do CPP que o cidado incide no dever de prestar servio alternativo,sob pena de suspenso dos direitos polticos, enquanto no prestar o servio imposto.

    Nesse caso, no h sano de multa. Por servio alternativo entende-se o exerccio de ati-vidades de carter administrativo, assistencial, filantrpico ou mesmo produtivo, no Po-der Judicirio, na Defensoria Pblica, no Ministrio Pblico ou em entidade conveniadapara esses fins ( 1o); o rol legal exemplificativo, podendo ser determinada a prestaoem outros rgos que no os indicados.

    Pelo 2odo aludido artigo 438, o servio deve ser fixado pelo juiz atendendo aosprincpios da proporcionalidade e da razoabilidade. de se censurar a vagueza dessanorma, porque no veicula critrio seguro para a fixao do prazo de prestao do servi-

    o. Como diz Nucci (2011, p. 772), ningum pode ser obrigado a realizar qualquer es-pcie de servio a rgos estatais por perodo indeterminado e sem qualquer parmetroconcreto. Invivel se torna deixar a cada juiz fixar o que acha conveniente [...]. Sugere oautor que o jurado deve prestar servio alternativo por apenas um dia, pois normalmente esse o tempo dedicado sesso de julgamento.

    Quanto ao servio militar, em seu artigo 143, 1o, a Lei Maior impera ser ele obriga-trio nos termos da lei, competindo s Foras Armadas atribuir servio alternativo aosque, em tempo de paz, aps alistados, alegarem imperativo de conscincia, entendendo--se como tal o decorrente de crena religiosa e de convico filosfica ou poltica, para se

    eximirem de atividades de carter essencialmente militar. A Lei no8.239/91 regulamen-ta o tema. A obrigao para com o servio militar comea no dia 1ode janeiro do ano emque a pessoa completar 18 anos de idade (Lei no4.375/64, art. 5o).

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    O alistamento eleitoral obrigatrio para os maiores de 18 anos, sendo facultativopara os maiores de 16 e menores de 18 anos (CF, art. 14, 1o, I e II, c). Destarte, muitaspessoas que esto na iminncia de prestar