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DIREITO EMPRESARIAL PROF. CABRAL AGOSTO/2008 PREPARATÓRIO PARA OAB e CONCURSOS 1

Direito Empresarial - Apostila Unificada - Prof. Cabral - Agosto de 2008

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Direito Empresarial - Apostila Unificada - Prof. Cabral - Agosto de 2008

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DIREITO EMPRESARIAL

PROF. CABRALAGOSTO/2008

PREPARATÓRIO PARA OAB e CONCURSOS

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PALAVRAS INICIAIS:

“ILUSÃO É COMBUSTÍVEL DE PERDEDORES”

E é mesmo! Ganhadores têm sonhos e visão, não têm ilusão.

Dedicação é a capacidade de se entregar à realização de um objetivo.

Não conheço ninguém que tenha progredido na carreira sem trabalhar pelo menos doze horas por dia nos primeiros anos. Não conheço ninguém que conseguiu realizar seu sonho sem sacrificar sábados e domingos pelo menos uma centena de vezes.

Da mesma forma, se você quiser construir uma relação amiga com seus filhos, terá de se dedicar a isso, superar o cansaço, arrumar tempo para ficar com eles, deixar de lado o orgulho e o comodismo.

Se quiser um casamento gratificante, terá de investir tempo, energia e sentimentos nesse objetivo.

É muito triste e doloroso sentir que atualmente, já no século XXI, enfrentamos uma terrível INVERSÃO DE VALORES sociais e morais. O errado é tido como certo e o certo como errado, a ponto de o colega, que se esforça para fazer as coisas corretas, com dignidade e honradez ser chamado de “pessoa certinha”, “pessoa sem JOGO DE CINTURA”, “pessoa que quer aparecer”... (e assim vai).

As fraudes se perpetram, logo a partir do ensino fundamental. O pai que paga para que seu filho seja aprovado, mesmo quando não tem o mérito mínimo para tal.

Aquele aluno que “COLA”, fraudando os colegas, fraudando a escola, fraudando o professor, fraudando a sua pátria e os seus pais, fraudando a sua própria “dignidade”, é o “ESPERTO”, enquanto aquele que trilha o caminho da honestidade é chamado de

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TOLO, porque tirou uma menção menor do que o “ESPERTO”.

O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem. Mas, para conseguir um resultado diferente da maioria, você tem de ser especial. Se fizer igual a todo mundo, obterá os mesmos resultados dos fracassados.

Não se compare à maioria, pois, infelizmente, ela não é modelo de sucesso. Se você quiser atingir uma meta especial, terá de estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planejar, enquanto os outros permanecem à frente da televisão vendo novelas e outros programas improdutivos. Terá de trabalhar, enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.

A realização de um sonho depende da dedicação. Há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica. Mas toda mágica é ilusão. E ilusão não tira ninguém do lugar onde está. Ilusão é combustível de perdedores.

Plante em você a dignidade e a honra. Combata os preconceitos e a tirania. Construa templos à virtude e cave masmorras ao vício.

Que o Grande Arquiteto do Universo mantenha a energia necessária aos que pretendem, no mínimo, ser um canalha a menos na face da terra e que os bons proliferem e se espalhem como os raios do sol.

Prof. Cabral

I – Pequena retrospecção do Direito Comercial

O desenvolvimento do Direito Comercial foi marcado por três fases distintas. Conforme nos ensina Fuhrer (2005, p.15), a evolução do direito comercial passou por três períodos distintos que, a título de fixação, ilustramos abaixo:

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Primeira Fase Segunda Fase Terceira Fase

Século XII ao XVIII Inicia-se com o liberalismo e se consolida com o Código Comercial Francês de 1808.

Teoria da Empresa Itália – 1942 Brasil – c/ o novo Código Civil.

Período Subjetivo –Corporativista

Período Objetivo Período Subjetivo Moderno

Direito Comercial como um direito fechado e classista

Aboliu as corporações de ofício.

Engloba, além do comércio, qualquer atividade econômica organizada, para a produção ou circulação de bens e serviços, exceto a atividade intelectual.

Conflitos resolvidos dentro da própria classe e com base nos usos e costumes do lugar

Estabeleceu liberdade de trabalho e de comércio, extensivo a todos que praticassem determinados atos previstos em lei

Art. 966, parágrafo único – as atividades intelectuais serão consideradas empresariais se forem organizadas na forma de empresa.

Direito Comercial e Direito Empresarial

Com o advento do novo Código Civil, mudou-se a concepção até então aceita no Direito Comercial quanto à teoria dos Atos de Comércio e passou-se a admitir a Teoria da Empresa. Assim, ao deixar de lado a concepção da Teoria dos Atos de Comércio, abraça-se a Teoria da Empresa, que possui conotação mais ampla, abrangendo o exercício profissional de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços.

A Teoria da Empresa teve berço na Itália em 1942, entre nós, a partir da edição do novo Código Civil, que revogou toda a 1ª parte do Código Comercial, que era composta de 456 artigos. Desta forma, o Código Comercial continuou a disciplinar apenas a matéria atinente às atividades marítimas.

TEORIA DA EMPRESA TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO

Nasceu na Itália com a promulgação do Código Civil Italiano em 1942.

Considerava-se a pessoa do comerciante a pessoa que exercesse, de forma habitual e

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profissional, alguma atividade que fosse considerada “ato de comércio”.

Para esta teoria, o importante é identificar o empresário, desconsiderando-se a espécie da atividade praticada.

No Brasil, as atividades consideradas como atos de comércio eram previstos no Regulamento n. 737/1850.

O conceito de empresa é baseado na teoria de Alberto Asquini (Profili dell’ impresa, Rivista del Diritto Commerciale, v.41, I, RDM, 104/109) - que criou 04 perfis para defini-la: objetivo, subjetivo, corporativo e funcional.

Ex. de atividades consideradas como atos de comércio: compra, venda ou troca de bens móveis ou semoventes, na forma de atacado ou varejo, atividades de indústria etc.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

“(...)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (GRIFAMOS)

(...)”

Assim, apesar do novo Código Civil, a Constituição Federal não foi alterada e, portanto, o Direito Comercial não “faleceu”.

A menos que se altere a nossa Carta Maior e a Ementa do MEC, continuaremos a estudar o DIREITO COMERCIAL.

LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002.

CÓDIGO CIVIL

LIVRO IIDo Direito de Empresa

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IV.a) - Definição de empresa.

            Referindo-se a "Direito de Empresa", o Código Civil não definiu expressamente o que é empresa. Para a doutrina, entretanto, empresa é a organização destinada a atividades de produção e circulação de mercadorias, bens e serviços, dirigida por uma pessoa física ou jurídica, denominada empresário. Neste sentido são as lições de Carvalho de Mendonça:

            "Empresa é a organização técnico-econômica que se propõe a produzir mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados à troca (venda), com esperança de realizar lucros, correndo os riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob sua responsabilidade."

            A empresa, pois, é a organização dos fatores de produção, isto é, natureza, capital e trabalho, no exercício da atividade econômica que promove a produção e a circulação de bens ou de serviços, com a finalidade lucrativa. Ela é marcada pela profissionalidade.

            Para Fran Martins (3), a empresa é objeto de direito, e não sujeito de direito. Tem-se, portanto, que a empresa é a atividade desenvolvida pelo empresário, este sim o sujeito do direito.

Se se afirma, por exemplo, que “a empresa faliu” ou que “adquiriu estoque”, a expressão é empregada erradamente, de forma não-técnica. A empresa, sendo atividade, não pode ser confundida com o sujeito de direito que a explora, o empresário. É esta pessoa (física ou jurídica) que pode ter a falência decretada ou realizar negócio jurídico de compra de mercadorias. Como destacado no item anterior, “empresa” não é o conceito jurídico apropriado para se referir ao seu perfil subjetivo. Quando se pretende fazer referência ao sujeito de direito que organiza a empresa, deve-se usar, quando explorada a atividade individualmente, “empresário individual”; e, quando explorada por pessoa jurídica, “sociedade empresária”. (FÁBIO ULHOA COELHO)

Para um dos expoentes da doutrina italiana sobre a empresa, Alberto

Asquini (1), não se deve pressupor que o fenômeno econômico poliédrico da empresa

necessariamente ingresse no direito por um esquema unitário, tal como ocorre na ciência

econômica. No emaranhado de teorias jurídicas na doutrina comercialista italiana da

primeira metade do século passado, Asquini encontra o que parecia ser a chave para a

1 Perfis da Empresa. Tradução de Fábio Konder Comparato publicada na Revista de Direito Mercantil vol. 104, outubro-dezembro de 1996, págs. 109/126.

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questão: a consideração da empresa como um “fenômeno econômico poliédrico”. Dizia o

jurista italiano:

O conceito de empresa é o conceito de um fenômeno econômico poliédrico, o

qual tem sob o aspecto jurídico, não um, mas diversos perfis em relação aos

diversos elementos que o integram. As definições jurídicas de empresa podem,

portanto, ser diversas, segundo o diferente perfil, pelo qual o fenômeno

econômico é encarado.(2)

Baseando-se, então, no multifacetado fenômeno econômico da empresa,

Asquini distinguia quatro perfis: subjetivo, funcional, patrimonial (ou objetivo) e

corporativo.

Pelo primeiro perfil, a empresa é vista como empresário, isto é, como o

exercente de atividade autônoma, de caráter organizativo e com assunção de risco. Neste

caso, a pessoa (física ou jurídica) que organiza a produção ou circulação de bens ou

serviços é identificada com a própria empresa. Corresponde este perfil subjetivo a certo uso

coloquial da palavra (“a empresa faliu”, “a empresa está contratando pessoal” etc). Segundo

Asquini:

Na economia de troca o caráter profissional da atividade do empresário é um

elemento natural da empresa. O princípio da divisão do trabalho e a

necessidade de repartir no tempo as despesas da organização inicial, de fato,

orientam naturalmente o empresário, para especializar sua função através de

uma atividade em série, dando lugar a uma organização duradoura,

normalmente, com escopo de ganho. (3)

Pelo perfil funcional, identifica-se a empresa à própria atividade. Neste

caso, o conceito é sinônimo de empreendimento e denota uma abstração (4), um conjunto de

atos racionais e seriais organizados pelo empresário com vistas à produção ou circulação de

bens ou serviços. É este perfil da empresa que a evolução doutrinária da teoria irá

prestigiar. Para Asquini, porém, ele é apenas um dos conceitos jurídicos atribuíveis ao

fenômeno:

2 Obra citada, págs. 109/110.3 Obra citada, pág. 111.4 Para Rubens Requião, “o conceito de empresa se firma na idéia de que é ela o exercício de atividade

produtiva. E do exercício de uma atividade não se tem senão uma idéia abstrata” (Curso de Direito Comercial. São Paulo, Saraiva, 1991, vol. 1, 20ª edição, pág. 57).

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Em razão da empresa econômica ser uma organização produtiva que opera por

definição, no tempo, guiada pela atividade do empresário, é que, sob o ponto

de vista funcional ou dinâmico, a empresa aparece como aquela força em

movimento que é a atividade empresarial dirigida para um determinado escopo

produtivo. (5)

Pelo terceiro perfil, a empresa corresponde ao patrimônio aziendal ou

estabelecimento. É o conceito objetivo, muitas vezes correspondente ao uso coloquial do

termo (“vou à empresa”, “a empresa fica em São Paulo”, etc), que a identifica com o local

em que a atividade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços é explorada.

Neste sentido, Asquini pondera:

O fenômeno econômico da empresa, projetado sobre o terreno patrimonial, dá

lugar a um patrimônio especial distinto, por seu escopo, do restante patrimônio

do empresário (exceto se o empresário é pessoa jurídica, constituída para o

exercício de uma determinada atividade empresarial, caso em que o patrimônio

integral da pessoa jurídica serve àquele escopo). (6)

E, por fim, pelo perfil corporativo, a empresa é considerada, na

formulação asquiniana, uma instituição, na medida em que reúne pessoas — empresário e

seus empregados — com propósitos comuns. Asquini reputava que:

O empresário e os seus colaboradores dirigentes, funcionários, operários, não

são de fato, simplesmente, uma pluralidade de pessoas ligadas entre si por uma

soma de relações individuais de trabalho, com fim individual; mas formam um

núcleo social organizado, em função de um fim econômico comum, no qual se

fundem os fins individuais do empresário e dos singulares colaboradores: a

obtenção do melhor resultado econômico na produção. (7)

A visão multifacetária da empresa proposta por Asquini, sem dúvida,

recebeu apoio entusiasmado da doutrina. Para Sylvio Marcondes, por exemplo:

Estes perfis jurídicos do conceito econômico de empresa são obra do grande

comercialista italiano Alberto Asquini, que resolveu uma pendência na

doutrina italiana, dividida em inúmeras correntes, cada qual pretendendo que

a sua fosse a verdadeira conceituação de empresa, em termos jurídicos. A tese

5 Obra citada, pág. 116.6 Obra citada, pág. 118.7 Obra citada, pág. 122.

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de Asquini, hoje generalizadamente acolhida, é de que a empresa tem um

conceito unitário econômico, mas não um conceito unitário jurídico, porque a

lei ora a trata como uma, ora, como outra. (8)

Na verdade, no direito brasileiro “empresa” deve

forçosamente ser definida como atividade, uma vez que há conceitos legais

próprios para empresário (CC, art. 966) e estabelecimento (CC, art. 1.142) (9). Estas faces do poliédrico fenômeno descrito por Asquini, entre nós, devem

ser adequadamente referidas pelos termos que o legislador a elas reservou.

Ademais, como deflui do conceito legal de empresário, “empresa” só pode ser

entendida mesmo como uma atividade revestida de duas características

singulares: é econômica e é organizada. O significado destas características

será objeto do próximo item deste Parecer.

IV.b) - Definição de empresário

            "Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços."

            O empresário é a pessoa física ou a pessoa jurídica, o sujeito de direitos que organiza a empresa e assume o risco do empreendimento, com profissionalidade.

Se o sujeito de direitos é uma pessoa jurídica, os seus sócios devem ser chamados de empreendedores e não empresários.

            A doutrina conservadora ainda insiste em distinguir atividade empresarial da atividade comercial. Por conseguinte, ainda persiste no cenário jurídico nacional a diferenciação entre empresário e comerciante.

            A distinção entre tais atividades está apoiada na antiga Teoria dos "atos de comércio", que tem seu fundamento básico na intermediação ou

8 Questões de Direito Mercantil. São Paulo, Saraiva, 1977, págs. 7/8. 9 Oscar Barreto Filho, com clareza, assinala: “ao conceito básico de empresário se ligam as noções,

também fundamentais, de empresa e de estabelecimento. São três noções distintas, mas que na realidade se acham estreitamente correlacionadas. O empresário, como vimos, é um sujeito de direito, e a empresa é a atividade por ele organizada e desenvolvida, através do instrumento adequado que é o estabelecimento. A figura do empresário é determinada pela natureza da atividade por ele organizada e dirigida; sob este aspecto, a noção de empresário é, logicamente, um corolário da noção de empresa” (Teoria do Estabelecimento Comercial. São Paulo, Saraiva, 1988, 2ª edição, pág. 115).

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interposição de trocas de bens. Neste passo, comerciante seria aquele que desenvolve atos do comércio. Desta forma, as pessoas que não praticam intermediação não seriam consideradas comerciantes; via de conseqüência, não se beneficiariam dos direitos e vantagens inerentes a essa classe.

            Quem define o comerciante, ainda com arrimo nos "atos de comércio", é o vetusto Código Comercial, de 1.850, que em seu artigo 4º, diz ser comerciante o que "faça da mercancia profissão habitual". E os ditos "atos de comércio" estão arrolados no art. 19 do Regulamento 737/1.850.

            Ocorre que este Regulamento 737/1.850 se valeu de um sistema eminentemente subjetivista, pouco claro, ao explicar o que são atos de comércio, causando dificuldades e mesmo contradições na definição e corolários de comerciante.

            Viu-se, por isso, que a "Teoria dos Atos do Comércio" era insuficiente para garantir as relações mercantis. Assim, o Brasil observou uma fase de transição em que paulatinamente veio a ser adotada a "Teoria da Empresa", deixando fora do alcance do Direito Comercial tão-somente as atividades desempenhadas pelas empresas rurais, as que envolvem transações imobiliárias e as atividades desenvolvidas em caráter intelectual/científico.

            Essa "Teoria da Empresa" dá prioridade à organização dos fatores de produção para a criação ou circulação de bens e serviços, não se importando com nomenclaturas.

            A Lei das Sociedades Anônimas, v.g., por imperativo legal, estende os efeitos comerciais às sociedades civis que adotam, na sua estrutura, este tipo de sociedade por ações. Vê-se que para esta Lei é indiferente se uma sociedade desenvolve "atos comerciais" ou "ato civis". Em sendo estruturada sob a forma de sociedade anônima, será sempre uma sociedade de cunho mercantil.

            O novo Código Civil, neste diapasão, dá ao empresário e comerciante a mesma definição. Porém, ressalva que não se considera empresário quem exerce atividade intelectual, científica, literária ou artística. Destarte, agasalha a "Teoria da Empresa".

            Neste sentido, comenta Jorge Ruben Folena de Oliveira:

            "Com o reconhecimento da teoria da empresa, em que se dá prioridade à organização dos fatores de produção para a criação ou circulação de bens e

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serviços, perdeu sentido a distinção entre as sociedades comerciais e civis, porque, como esclarece José Edwaldo Tavares Borba (1986:26), "a teoria da empresa passaria a informar esse novo critério diferenciador".

            Desse modo, doravante, quando se verificar na legislação qualquer referência à expressão "comerciante" ou "sociedade comercial", mister far-se-á interpretá-lo como "empresário" ou "sociedade empresarial".

            

V - O EMPRESÁRIO (EMPRESÁRIO INDIVIDUAL ou COMERCIANTE INDIVIDUAL) X PESSOA JURÍDICA

O empresário individual é a pessoa física (natural), titular da atividade empresa.

Artigo 966 do Código Civil vigente: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.

O artigo 985, também do Código Civil, reza acerca da aquisição da personalidade jurídica: “A sociedade (grifamos) adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos”.

Este artigo não deixa qualquer sombra de dúvida quanto à pessoa que adquire personalidade jurídica, que é a SOCIEDADE. Ora, o Empresário Individual (Comerciante Individual) não é SOCIEDADE, portanto, não está no rol daqueles que adquirem personalidade jurídica. Fazendo uma brincadeira, a firma individual só seria uma sociedade se fosse uma sociedade espírita, ou seja, corpo e alma.

O exercício da empresa pelo empresário individual se fará sob uma firma, constituída a partir de seu nome, completo ou abreviado, podendo a ele ser aditado designação mais precisa de sua pessoa ou do gênero de atividade.

Assim, pelos princípios da NOVIDADE e VERACIDADE teremos, sempre, o nome da própria pessoa natural como nome empresarial do empresário individual. Isto é óbvio, porque o empresário individual é a própria pessoa natural.

Logo, se a pessoa se chama Pedro Pereira da Silva Júnior, a sua empresa individual terá como nome empresarial Pedro Pereira da Silva Júnior (princípio da veracidade) ou, caso haja outro Pedro Pereira da Silva Júnior, que já se tenha registrado como empresário individual no Registro Público de

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Empresas Mercantis, poderá/deverá (princípio da novidade) agregar algo mais ao seu nome, para diferenciar do já inscrito, ou utilizar-se de abreviaturas em seu nome (nunca poderá abreviar o último sobrenome). Assim:

Pedro Pereira da Silva JúniorPedro Pereira da Silva Júnior Consultor TécnicoP. P. da Silva JúniorP. Pereira da Silva JúniorPedro Pereira da Silva Júnior AdvogadoP. P. da Silva Júnior sussessor de Manoel Cândido

Nesse exercício, ele responderá com todas as forças de seu patrimônio pessoal, capaz de execução, pelas dívidas contraídas, vez que o Direito brasileiro não admite a figura do empresário individual com responsabilidade limitada e, conseqüentemente, não admite, também, a distinção entre o patrimônio empresarial (o patrimônio do empresário individual afetado ao exercício de sua empresa) e o patrimônio particular da pessoa física (natural – fora da atividade empresarial).

Não há se confundir o empresário individual com o sócio de uma sociedade empresária.

São duas situações diferentes: o empresário poderá ser PESSOA FÍSICA, que explore pessoal e individualmente a empresa (EMPRESÁRIO INDIVIDUAL), ou uma PESSOA JURÍDICA (SOCIEDADE EMPRESÁRIA – conditio sine qua non para a existência de sociedade no Brasil são o affectio societatis e a PLURALIDADE DE SÓCIOS – art. 1033 – inciso IV – única exceção do Código Civil – sociedade unipessoal. Na Lei das S/A também há outra exceção – vide art. 251, da Lei 6.404/76 – “A companhia pode ser constituída, mediane escritura pública, tendo como único acionista sociedade brasileira”), a qual, detentora de personalidade jurídica própria, distinta de seus membros (que não são empresários, mas sim integrantes de uma sociedade empresária, empreendedores, investidores que, no final das contas, são credores da Pessoa Jurídica – tanto que o Capital Social aparece no Passivo, ou seja Obrigação da empresa), exerce diretamente a atividade econômica organizada

É importante salientar que, não obstante o empresário individual possuir CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, ele não passa a ser uma Pessoa Jurídica. Fazendo uma metáfora: Policial tem porte de arma. Eu tenho porte de arma. Eu sou policial? Não! Portanto, não obstante eu ter porte de arma, não sou policial, necessariamente. Assim, a Pessoa Jurídica tem CNPJ (não existe CGC desde 1998, ou antes). A firma individual tem CNPJ, mas não é Pessoa Jurídica.

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A confusão entre Empresário Pessoa Física e Empresário Pessoa Jurídica ocorre tendo como causa o fato de que, para fins tributários (fisco) e na questão de movimentação financeira (junto às Instituições Financeiras), o Empresário Individual tem tratamento de Pessoa Jurídica.

Por ter tratamento de Pessoa Jurídica não acarreta que o Empresário Individual adquira a Personalidade Jurídica. Apenas cumpre ele, como pessoa física empresária, algumas exigências referentes às pessoas jurídicas.

Fazendo mais uma brincadeira, se eu digo que tive um tratamento de rei na casa da minha sogra, não significa que me transformei em rei. Simplesmente, fui tratado como um rei e, nem por isso, passei a ser um rei. Assim são os empresários individuais: eles têm tratamento de pessoas jurídicas perante ao Fisco e perante ao Banco Central (instituições financeiras). Só tratamento, repito.

Conforme muito bem elucida o Mestre Fábio Ulhoa Coelho, em seu livro “Manual de Direito Comercial” – Editora Saraiva – atualizado de acordo com o novo Código Civil – 14ª. Edição – 2003 – página 19 – “O empresário pode ser pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, denomina-se empresário individual; no segundo, sociedade empresária.Deve-se, desde logo, acentuar que os sócios de uma sociedade

empresária NÃO são empresários. Quando pessoas naturais unem seus esforços para, em sociedade, ganhar dinheiro com a exploração empresarial de uma atividade econômica, elas não se tornam empresárias. A sociedade por elas constituída, uma pessoa jurídica com personalidade autônoma, sujeito de direito independente, é que será empresária, para todos os efeitos legais. Os sócios da sociedade empresária são empreendedores ou investidores, de acordo com a colaboração dada à sociedade (os empreendedores, além de capital, costumam devotar, também, trabalho à pessoa jurídica, na condição de seus administradores, ou as controlam).

Para ser empresário individual, a pessoa deve encontrar-se em pleno gozo de sua capacidade civil. Não têm capacidade para exercer empresa, portanto, os menores de 18 anos não emancipados, ébrios habituais, viciados em tóxicos, deficientes mentais, excepcionais e os pródigos, e, nos termos da legislação própria, os índios.

O Código Civil vigente comete alguns equívocos, ao meu ver: art. 978 – “O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus reais”. O primeiro equívoco aqui está no termo empresário. O correto deveria ser: o empreendedor, ou investidor, ou sócio-administrador de uma sociedade empresária, pode ... Segundo equívoco: considerando-se empresário como tanto

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empreendedor de pessoa jurídica, quanto o empresário individual, aí o erro seria maior, porque o empresário individual NÃO é pessoa jurídica e, sendo pessoa natural, sem personalidade jurídica, o seu patrimônio pessoal (pessoa natural, antes de ser “empresário”) será - e é - o mesmo patrimônio da empresa individual. Portanto, o artigo deveria rezar que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, desde que casado em no regime de separação absoluta, ...).

Se o empresário individual é uma pessoa natural, como de fato o é, ele, em sendo casado em qualquer regime, que não o de separação absoluta, contrariamente ao que afirma o artigo mencionado, não poderá alienar ou gravar de ônus seus imóveis, visto ser contra a lei (Código Civil – artigo 1647, inciso I). NESTE CASO, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, O LEGISLADOR ABRIU UMA ENORME BRECHA PARA QUE UM CÔNJUGE LESE O OUTRO.

Uma pergunta ingênua. O quê que o artigo 977 está fazendo ali? O Título I, do Livro II, do Código Civil, trata DO EMPRESÁRIO, que NÃO é uma SOCIEDADE. O artigo 977 deveria estar inserido no Título II, do mesmo livro e código, que trata DA SOCIEDADE. Não é óbvio?

Isso porque, confundindo-se o patrimônio do empresário individual como da sua própria empresa (que não tem personalidade jurídica), não há uma diferenciação entre o patrimônio da pessoa natural e do empresário individual. Assim, a outorga conjugal, para a alienação de imóveis (ou gravame de ônus) será necessária dependendo do regime de bens.

O artigo 985 traz mais um ponto importante, para que separemos as sociedades, QUE ADQUIREM PERSONALIDADE JURÍDICA, das firmas individuais (empresário individual), QUE JAMAIS ADQUIRIRÁ PERSONALIDADE JURÍDICA: “A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos”.

Veja-se que a SOCIEDADE adquire personalidade jurídica. Por SOCIEDADE entendemos, sem nenhum equívoco: grupo de indivíduos (mínimo dois).

Como o Empresário Individual NÃO é uma SOCIEDADE, e o Código Civil é claro e ululante, JAMAIS ADQUIRIRÁ PERSONALIDADE JURÍDICA; assim, o empresário individual, ao revés do que muitos ainda se enganam, NÃO é uma pessoa jurídica e sim uma pessoa natural (física) com atividade empresarial (art. 966 do Código Civil). Por isso, o patrimônio da pessoa natural e da empresa individual são o mesmo, respondendo ilimitadamente pelas dívidas.

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PARA SEDIMENTAR: LEI 9.841, DE 5/10/99 – ESTATUTO DE MICROEMPRESA: (ATENÇÃO! ESTA LEI ESTÁ AQUI SOMENTE COMO EXEMPLO. ELA FOI REVOGADA EM 2007, PELE LEI COMPLEMENTAR 123/2006 – INÍCIO DE VIGÊNCIA EM JANEIRO DE 2007 – “SUPER SIMPLES”).

“ Art. 2o Para os efeitos desta Lei, ressalvado o disposto no art. 3o, considera-se:

       I - microempresa, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta anual igual ou inferior a ...”

Art. 4o A pessoa jurídica ou firma mercantil individual que, antes da promulgação desta Lei, preenchia os seus requisitos de enquadramento como microempresa ...”

Ora, é ululante que, se a firma individual fosse pessoa jurídica, o legislador não necessitaria falar das duas ...”a pessoa jurídica ou firma mercantil individual...”

Metaforicamente falando, se eu disser em sala de aula: os meus alunos estão convidados para uma festa lá em casa, bem como seus cônjuges. Agora, se os cônjuges também são meus alunos, bastava eu dizer: os meus alunos estão convidados. Por óbio os cônjuges estariam, também, convidados, porque são meus alunos.

Façamos, agora, um breve comentário acerca da Lei 9.099/95 – Juizados Especiais Cíveis (e não Juizados de Pequenas Causas, que foram extintos):

Artigo 8º., § 1º.) “Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direitos de pessoas jurídicas”.

Depois, a LEI 9.841, DE 5/10/99 – ESTATUTO DE MICROEMPRESA, trouxe, em seu artigo 38, a seguinte alteração: “Apilca-se às MICROEMPRESAS (grifamos) o disposto no § 1º. Do art. 8º. Da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, passando essas empresas, assim como as pessoas físicas capazes, a serem admitidas a proporem ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de PESSOAS JURÍDICAS” (grifamos).

Perceba-se que, tanto o artigo 8º. da Lei dos Juizados, quando o artigo 38 do Estatuto da Microempresa, mantiveram a mesma linha de comando, ou seja, EXCLUÍDOS OS CESSIONÁRIOS DE DIREITO DE PESSOAS JURÍDICAS.

OBSERVAÇÕES:

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1ª.) Como as Firmas Individuais (Comerciantes Individuais, Empresários ou, ainda, Empresários Individuais) são pessoas naturais (físicas) e NÃO PESSOAS JURÍDICAS, os seus cessionários PODERÃO propor ação nos Juizados Especiais, tendo em vista que a lei proibiu somente os cessionários das pessoas jurídicas;

2ª.) O artigo 9º. Reza que as partes comparecerão PESSOALMENTE (nas causas de valor até vinte salários mínimos), podendo ser ASSISTIDAS por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.

Assim, as firmas individuais, como são pessoas naturais, enquadrar-se-ão neste artigo, ou seja, deverão comparecer pessoalmente, assistidas ou não, por advogados.

Não será cabível, portanto, a representação do Empresário Individual, por preposto ou procurador.

Já o § 4º., do artigo 9º., da lei 9.099, autoriza a representação, tanto da Pessoa Jurídica, quanto da Firma Individual, por preposto, desde que na qualidade de réu. Parece-me um pouco contrasensual, porque, sendo assim, a pessoa natural, que não empresário, também poderia se fazer representar por procurador, quando no pólo passivo, por lógica (o que não é verdade).

Quando à distribuição, as firmas individuais somente poderão fazê-lo pessoalmente, porque, sendo pessoas naturais, deverão fazê-lo de forma personalíssima, tanto quando da participação nas audiências.

Já as Pessoas Jurídicas, desde que enquadradas como MICROEMPRESAS, poderão tanto distribuir, quanto participar das audiências através de seus representantes legais (sócio-gerente, gerente devidamente nomeado ou preposto).

Agora, o grande equívoco da lei 9.099 foi o fato de proibir que cessionários de pessoas jurídicas tivessem legitimidade no pólo ativo nos Juizados Especiais.

Ora, qual foi a intenção do legislador, quando redigiu, tanto a lei 9.099, § 1º. do artigo 8º., quanto o artigo 38 do ESTATUTO DE MICROEMPRESAS? A idéia era não deixar brechas, de forma que todas as pessoas jurídicas (pequeno, médio e grande portes) pudessem ajuizar ações nos Juizados, utilizando-se do artifício do cessionário.

Porém, o microempresário não precisa desse artifício, tendo em vista que já tem legitimidade no pólo ativo.

Daí, nos dois artigos retro mencionados, no lugar de ... cessionários de pessoas jurídicas, o correto deveria ser ... cessionários de pessoas jurídicas não enquadradas como microempresas.

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Assim, data maxima venia, o artigo 38, da LEI 9.841, DE 5/10/99 – ESTATUTO DE MICROEMPRESA, deveria estar assim redigido: “Apilca-se às microempresas o disposto no § 1º. Do art. 8º. Da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, passando essas empresas, assim como as pessoas físicas capazes, a serem admitidas a proporem ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de PESSOAS JURÍDICAS NÃO ENQUADRADAS COMO MICROEMPRESAS” e o artigo 8º., em seu § 1º., da Lei 9.099, deveria estar, com a alteração do estatuto de microempresa, assim redigido: “Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direitos de pessoas jurídicas NÃO ENQUADRADAS COMO MICROEMPRESAS”.

Lembrete final: ME – Microempresa é tão somente um enquadramento legal, facultado às empresas (firma individuais ou pessoas jurídicas) que não tenham auferido Faturamento Bruto Anual não superior a R$ 433.755,14 (quatrocentos e trinta e três mil setecentos e cinqüenta e cinco reais quatorze centavos).

Praticamente, qualquer tipo empresarial mercantil (exceto as Sociedades Anônimas e Comandita por Ações), que esteja dentro do faturamento mencionado, inclusive o Empresário Individual, poderão se enquadrar como Microempresa. Não há se confundir microempresa com empresário individual.

VI - CÓDIGO CIVL (INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL)

TÍTULO IDo Empresário

CAPÍTULO IDa Caracterização e da Inscrição

- COM GRIFOS DO PROF. CABRAL -

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens

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ou de serviços. (ATENÇÃO: “ATIVIDADE ECONÔMICA ORGANIZADA”...) PALAVRA CHAVE: ORGANIZADA.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

EXEMPLO: Dois médicos alugam um imóvel e cada um atua na sua área (um é ginecologista e o outro é pediatra), ambos têm em comum uma secretária. Ainda assim, não são empresários.

Se esses dois médicos redigem um contrato e “montam” uma clínica, com, registrando o ato constitutivo no órgão competente, inscrevendo-se na Receita Federal, obtendo o CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, agora eles entram na exceção do parágrafo único. Ou seja, o exercício da profissão dos dois passa a constituir elemento de empresa.

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha:

I - o seu nome (OBS.: SEU NOME DE PESSOA NATURAL), nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens;

II - a firma (OBS.: O SEU NOME DE PESSOA NATRUAL – PRINCÍPIO DA VERACIDADE), com a respectiva assinatura autógrafa;

III - o capital;

IV - o objeto (OBJETO: OBJETO = ATIVIDADE) e a sede da empresa. (ATENÇÃO: NÃO É OBJETIVO. O OBJETIVO É O LUCRO).

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§ 1o Com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos.

§ 2o À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes.

Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.

Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.

Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.

LEI COMPLEMENTAR 123/2006 – SUPER SIMPLES.

A MICROEMPRESA será estudada mais à frente.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal

profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

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VII - SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E SOCIEDADES SIMPLES

(POR FÁBIO ULHOA COELHO – com grifos e adaptações do Prof.

Cabral)

A sociedade simples é uma das mais significativas novidades

do Código Reale (10). Cuida-se de figura de larga importância porque cumpre

três diferentes funções.

Em primeiro lugar, a sociedade simples é um dos vários tipos

societários que a lei põe à disposição dos que pretendem explorar atividade

econômica conjuntamente. Presta-se bem, por sua simplicidade e agilidade (11),

às atividades de menor envergadura. É o tipo societário adequado, por

exemplo, aos pequenos negócios, comércios ou prestadores de serviços não-

empresários (isto é, que não exploram suas atividades empresarialmente), aos

profissionais liberais (à exceção dos advogados, cuja sociedade tem

disciplina própria na Lei nº   8.906, de 4 de julho de 1994 ), aos artesãos,

artistas etc.

A segunda função que o Código Reale reservou para a

sociedade simples foi a de servir de modelo genérico para os demais tipos

societários contratuais. A disciplina da sociedade simples, que se encontra nos

10 Infelizmente, as normas do Código Civil italiano sobre società semplice não podem servir de subsídios ao estudo das sociedades simples do direito brasileiro. Lá, os empresários são classificados em comerciais e não-comerciais e as sociedades simples são as reservadas a estes últimos empresários. Não existe, portanto, no direito italiano, como claramente dispôs o legislador brasileiro, a contraposição entre sociedades simples e empresárias. Sobre a matéria, consultar Francisco Ferrara Jr., Gli Impreditori e le Società, Milão, 1994, Giuffrè, 9ª edição, especialmente os capítulos II e IX.

11 A simplicidade e agilidade das sociedades simples, em especial quando adotada o tipo societário simples, são características facilmente identificáveis. Em primeiro lugar, embora possam, por cláusula inserida no contrato social, limitar validamente a responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade (CC, art. 997, VIII), não estão obrigadas às formalidades societárias periódicas, previstas, por exemplo, para as sociedades limitadas. Tais formalidades, que exigem, por exemplo, a realização de assembléia ou reunião de sócios anual para simplesmente registrar a aprovação das contas, não precisam ser observadas pelas sociedades simples. Além disso, admitem a figura do sócio que integraliza sua participação societária com serviços (CC, art. 997, V), espécie de contribuição inadmissível nas sociedades limitadas (CC, art. 1.055, § 2º). Em terceiro lugar, não se submete à restrição que o art. 977 do CC estabeleceu para os sócios casados em regime de comunhão universal ou separação obrigatória. Aliás, é bastante provável que, em vista do significativo aumento da complexidade das sociedades limitadas, estas acabem sendo a opção de negócios de algum porte econômico, tendendo a sociedade simples a ser a escolha dos micro, pequenos e médios negócios.

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arts. 997 a 1.044 (Capítulo I do Subtítulo II do Título II do Livro II da Parte

Especial), aplica-se também, em caráter subsidiário, à sociedade em nome

coletivo (art. 1.040), em comandita simples (arts. 1.040 e 1.046) e, em regra, à

sociedade limitada (art. 1.053, caput). É também a disciplina supletiva das

sociedades cooperativas (art. 1.096).

Mas, é a terceira função da sociedade simples que interessa a

este Parecer. Além de tipo societário e de modelo geral, ela é, finalmente, uma

categoria de sociedades. Pelo art. 982 do Código Civil, transcrito acima, as

sociedades se consideram simples se não tiverem “por objeto o exercício de

atividade própria de empresário sujeito a registro”. As sociedades desta

categoria podem adotar, como autoriza o art. 983 do Código Civil, qualquer

um dos tipos das sociedades empresárias (exceto os de sociedades por ações:

anônima e comandita por ações) e, se não o fizer, subordinar-se-á às regras

que lhe são próprias.

Então, a expressão “sociedade simples” é, em decorrência

da primeira e última funções assinaladas, ambígua. Em sentido estrito

designa um tipo de sociedade (ombreia-se, neste caso, à limitada,

anônima, comandita por ações etc.); em sentido lato, designa a categoria

das sociedades não-empresárias.

Quer dizer, de acordo com o sistema adotado pelo Código

Reale, as sociedades personificadas se classificam, inicialmente, em

empresárias e simples (não-empresárias). As empresárias podem adotar

um de 5 tipos: nome coletivo, comandita simples, limitada, anônima e

comandita por ações. As simples (em sentido lato), por sua vez, também

podem adotar um de 5 tipos (em parte, diferentes): nome coletivo,

comandita simples, limitada, cooperativa e simples (em sentido estrito).

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Enquanto designação de categoria de sociedades, as sociedades

simples são definidas legalmente por exclusão. São aquelas que não têm por

objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro.

Será, portanto, a partir dos contornos da definição de empresário que se

delimitarão, por exclusão, as sociedades em regra enquadradas nesta categoria (12).

Como examinado anteriormente, a atividade típica de

empresário não se define por sua natureza, mas pela forma com que é

explorada. Quando a atividade econômica é explorada de forma organizada

(ou seja, mediante a articulação dos fatores de produção), então tem-se uma

empresa; quem a exerce é empresário; e, se pessoa jurídica, uma sociedade

empresária.

Tome-se por exemplo o comércio de algum bem qualquer:

peixe. Tanto o supermercado como o feirante adquirem peixe para o revender

ao consumidor. A atividade econômica tem, nos dois casos, a mesma natureza.

O supermercado, porém, será, via de regra, uma empresa, porque se trata de

comerciante que não consegue operar a não ser através da organização de

trabalho alheio em estabelecimento adequado, de porte, com o emprego de

controles e tecnologias apuradas. O feirante, por sua vez, pode explorar a

mesma atividade sem dotar necessariamente desta organização. É claro que se

for um feirante bem sucedido, titular de concessão em feira de grande

movimento localizada em bairro de alto poder aquisitivo, é possível que seu

movimento justifique organizar uma empresa. Não se verificando tais

pressupostos, entretanto, aquela atividade comercial poderá ser adequada e

inteiramente explorada sem a organização dos fatores de produção; ou seja,

12 Disse “em regra” porque as sociedades dedicadas a atividades intelectuais, por exemplo, são sempre enquadradas na categoria de sociedades simples (CC, art. 966, parágrafo único).

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com o trabalho pessoal e da família, sem sofisticados controles operacionais,

de estoque e de caixa, sem estabelecimento complexo.

Não é, deste modo, a natureza da atividade que define o

empresário, mas, em regra, a forma pela qual é explorada.

Quando não houver exploração empresarial de certa atividade

– isto é, quando a atividade econômica não for organizada – e o exercente for

uma sociedade, não se encontram os pressupostos que o art. 982 do Código

Civil estabeleceu para lhe atribuir a classificação de sociedade empresária. Se

não há empresa, a sociedade que se dedica à atividade econômica em questão,

pertence à categoria das simples (sentido lato).

Apenas dois tipos societários não se submetem à regra

assinalada: de um lado, as sociedades por ações, que serão sempre

empresárias, ainda que não explorem seu objeto empresarialmente; de

outro, as cooperativas, que serão sempre simples, ainda que organizem de

forma empresarial seu negócio.

As sociedades simples são registradas no Registro Civil das

Pessoas Jurídicas, e não no Registro de Empresas (Juntas Comerciais),

segundo o preceituado no art. 1.150 do Código Civil:

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao

Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas

Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas

Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele

registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade

empresária.

Esta disposição aplica-se a qualquer um dos tipos da

sociedade simples, em especial ao tipo que é necessariamente simples, a

cooperativa.

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Em relação ao registro apropriado para as sociedades

cooperativas, dúvidas poderiam surgir em razão de dois preceitos: o art. 1.093

do Código Civil, que “ressalvou a legislação especial” e o art. 18 da Lei nº

5.764/71, que menciona a intervenção da Junta Comercial no processo de

autorização de funcionamento das cooperativas. Com efeito, uma leitura

superficial destes dois dispositivos poderia levar o intérprete menos atento à

conclusão de que as cooperativas, apesar de sua classificação como sociedades

simples, deveria ser registrada na Junta Comercial, contrariamente ao que

dispõe o art. 1.150 do Código Civil.

Não se pode, porém, esquecer que o citado dispositivo da lei

das cooperativas não vigora mais desde a promulgação da Constituição

Federal de 1988. Entre os direitos e garantias fundamentais (art. 5º), o

constituinte assegura que:

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de

cooperativas independem de autorização, sendo vedada a

interferência estatal em seu funcionamento.

Em razão deste preceito constitucional, os arts. 17 a 20 da

Lei nº 5.764/71 não foram recepcionados pela ordem inaugurada em 1988.

Como o constituinte estabeleceu que a criação de cooperativas independe de

autorização e vedou a interferência do estado em seu funcionamento, as

normas de lei ordinária pré-dispostas a operacionalizarem a autorização e

controle do funcionamento das cooperativas simplesmente perderam sua

validade. Não foram, em suma, recepcionadas pela Constituição Federal.

Assim, não sobram dúvidas de que as sociedades simples,

qualquer que seja o tipo adotado (limitada, cooperativa, simples etc.), são

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sempre registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, e não na

Junta Comercial.

Pode-se afirmar que o direito brasileiro não mais distingue

sociedades comerciais de civis pelo seu objeto, mas sim distingue

sociedades empresárias e simples pela forma com que exploram a

atividade econômica.

É a organização empresarial da atividade econômica que

define a atividade própria do empresário, e não a natureza desta atividade.

Uma mesma atividade econômica pode ser explorada

empresarialmente ou não-empresarialmente. Esta é uma noção que não se

aplica a apenas alguns poucos ramos da economia. Um banco só se explora

empresarialmente; assim também uma seguradora ou operadora de plano

privado de assistência à saúde, além de exercentes de outras atividades cuja

complexidade exige uma empresa. Na maioria dos casos, contudo, tanto o

comércio como a prestação de serviços podem ser explorados

empresarialmente ou não.

A distinção entre sociedade simples e empresária dá-se,

portanto, exclusivamente em função da forma com que se exerce a

atividade econômica. É esta a regra. Estabelece a lei que,

independentemente da forma do exercício da atividade econômica, os

dedicados às atividades intelectuais, de artesanato ou artísticas, bem

como as cooperativas sempre se consideram sociedades simples.

Os exercentes de profissão intelectual de natureza científica,

literária ou artística, quando unidos em sociedade que não adote a forma por

ações, contratam necessariamente uma sociedade simples. Isto porque a lei

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ressalvou expressamente, no dispositivo citado no quesito, a hipótese. Eles

exercem, assim, atividades não-empresariais.

As sociedades simples podem ter por objeto prestação de

serviços, artesanato e comércio.

Como visto, não é a natureza da atividade econômica que

define se a sociedade que a explora deve ser simples ou empresária, mas sim a

forma como a atividade é explorada.

O Registro Civil das Pessoas Jurídicas ou a Junta Comercial

têm o dever de não aceitar para registro atos constitutivos de sociedades que

não se refiram à respectiva competência.

Se, por exemplo, o Registro Civil das Pessoas Jurídicas

registrar uma sociedade anônima ou se a Junta Comercial registrar uma

sociedade cooperativa, elas estão descumprindo o dever prescrito no

dispositivo legal lembrado pelo quesito e terão, evidentemente,

responsabilidade por terem extrapolado os limites legais de suas

competências.

As conseqüências jurídicas do registro de uma sociedade por

órgão incompetente, para a sociedade, são as da irregularidade. Uma

sociedade registrada em órgão incompetente encontra-se na mesma situação

de uma sociedade sem registro.

A sociedade que funciona sem o registro exigido em lei tem

sua disciplina, hoje, centrada na figura da “sociedade em comum”.

CAPÍTULO II

VIII - DA CAPACIDADE

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

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REQUISITOS PARA SER COMERCIANTE NO BRASIL

a. Capacidade jurídica: livre movimentação de seus bens.

b. Ausência de proibição legal.

c. Matrícula (art. 967 do CC13)

d. Exercício profissional da mercancia

Prática habitual e reiterada.

Em nome e por conta própria .

Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas.

SÃO EMPRESÁRIOS NO BRASIL

a. As pessoas físicas (PF) que exerçam profissionalmente a mercancia.

b. A sociedade mercantil que tenha por OBJETO a prática de atividade econômica.

c. A sociedade anônima (companhia) – ex vi legis (por força de lei) – art. 2º, § 1º da Lei nº 6404/7614.

OBS.: Pessoa física quando comerciante também tem CNPJ, apenas para fins de FISCO e controle do BANCO CENTRAL.

SÃO PROIBIDOS DE SEREM EMPRESÁRIOS NO BRASIL

IMPEDIMENTOS PARA SER EMPRESÁRIO – não podem ser

empresários as pessoas relacionadas abaixo:

a) as pessoas absolutamente incapazes (exceto quando autorizadas

judicialmente para continuação da empresa):

- os menores de 16 (dezesseis) anos;

13Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.14 Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 1º Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio

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IMPORTANTÍSSIMO

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- os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o

necessário discernimento para a prática desses atos;

- os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua

vontade.

b) as pessoas relativamente incapazes (exceto quando autorizadas

judicialmente para continuação da empresa):

- os maiores de 16 (dezesseis) anos e menores de 18 (dezoito) anos;

- os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência

mental, tenham o discernimento reduzido;

- os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

- os pródigos;

c) os impedidos de ser empresário, tais como:

- os Chefes do Poder Executivo, nacional, estadual ou municipal;

- os membros do Poder Legislativo, como Senadores, Deputados

Federais e Estaduais e Vereadores, se a empresa goza de favor

decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou

nela exercer função remunerada;

- os Magistrados;

- os membros do Ministério Público Federal;

- os empresários falidos, enquanto não forem reabilitados;

- as pessoas condenadas a pena que vede, ainda que temporariamente,

o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação,

peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular,

contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da

concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a

propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação;

- os leiloeiros, corretores e despachantes aduaneiros;

- os cônsules, nos seus distritos, salvo os não remunerados;

- os médicos, para o exercício simultâneo da farmácia; os farmacêuticos,

para o exercício simultâneo da medicina;

- os servidores públicos civis da ativa, federais (inclusive Ministros de

Estado e ocupantes de cargos públicos comissionados em geral). Em

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relação aos servidores estaduais e municipais observar a

legislação respectiva.

- Os servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias

Militares;

- Estrangeiros (sem visto permanente);

- Estrangeiros naturais de países limítrofes, domiciliados em cidade

contígua ao território nacional;

- Estrangeiro (com visto permanente), para o exercício das seguintes

atividades: pesquisa ou lavra de recursos minerais ou de

aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica; atividade

jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens; com

recursos oriundos do Exterior, em atividade ligada, direta ou

indiretamente, à assistência à saúde no País, salvo nos casos

previstos em lei; serem proprietários ou armadores de embarcação

nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre, exceto

embarcação de pesca; serem proprietários ou exploradores de

aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica.

OBS.: 1. Portugueses, no gozo dos direitos e obrigações previstos no

Estatuto da Igualdade, podem requerer inscrição como Empresários,

exceto na hipótese de atividade jornalística e de radiodifusão sonora e de

sons e imagens;

2. Brasileiros naturalizados há menos de dez anos, para o exercício de

atividade jornalística e de radiodifusão de sons e de sons e imagens.

PERDE-SE O STATUS DE COMERCIANTE

a. Pela morte;

b. Pela desistência voluntária ou abandono da profissão;

c. Pela revogação da autorização para a atividade comercial;d. Pela interdição, e,

e. Pela falência (enquanto perdurar o estado de falência).

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Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.

§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.

§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização.

Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes.

§ 1o Do mesmo modo será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender ser conveniente.

§ 2o A aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados.

Art. 976. A prova da emancipação e da autorização do incapaz, nos casos do art. 974, e a de eventual revogação desta, serão inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis.

Parágrafo único. O uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, quando puder ser autorizado.

ART. 977. FACULTA-SE AOS CÔNJUGES CONTRATAR SOCIEDADE, ENTRE SI OU COM TERCEIROS, DESDE QUE NÃO TENHAM CASADO NO REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS, OU NO DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA.

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GRIFO MEU: O QUE ESTE ARTIGO ESTÁ FAZENDO AQUI, SE SE TRATA DE SOCIEDADE?

CERTAMENTE, O SEU LUGAR SERIA NO TÍTULO II – “DA SOCIEDADE”.

REGIME DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA – ART. 1.641 – CC: Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:

I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;

II - da pessoa maior de sessenta anos;

III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes:

I - recusar a solene afirmação da sua vontade;

II - declarar que esta não é livre e espontânea;

III - manifestar-se arrependido.

Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.

Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.

ESTE ARTIGO, A MEU VER, GERA ALGUMAS INCONGRUÊNCIAS. SENÃO, VEJAMOS:

INCONGRUÊNCIA I – CONTRADIÇÃO COM O PRÓPRIO CÓDIGO CIVIL.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648 (Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a

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denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.), nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

INCONGRUÊNCIA II – O artigo 978 reza expressamente EMPRESÁRIO. Ora, EMPRESÁRIO é a PESSOA NATURAL. Como já dito no item V desta apostila, o EMPRESÁRIO INDIVIDUAL (FIRMA INDIVIDUAL) é PESSOA NATURAL. Assim, o patrimônio da EMPRESA INDIVIDUAL é o mesmo da pessoa do empresário. Logo, este artigo abre uma grande fenda, facilitando a fraude de algum cônjuge em detrimento de outro.

Imagine só se eu “monto” uma empresa individual e nomeio um imóvel como sendo Capital dessa empresa. A minha esposa, acreditando na minha boa-fé, dá a sua outorga. A partir daí, o imóvel (CONFORME DEIXA CRER A LEITURA DO ARTIGO) seria da EMPRESA e não mais da SOCIEDADE CONJUGAL.

Logo, esse cônjuge desonesto, poderá alienar o dito imóvel sem o consentimento do consorte.

INCONGRUÊNCIA III – NÃO EXISTE SEPARAÇÃO ENTRE O PATRIMÔNIO DA EMPRESA INDIVIDUAL E O PATRIMÔNIO DO EMPRESÁRIO. ESSA É A REGRA BASILAR NO CONCEITO DE EMPRESÁRIO.

Certamente, se o legislador redigisse o artigo dessa forma: Art. 978. O empreendedor, de sociedade empresarial ou simples, nos poderes conferidos a ele pelo ato constitutivo do tipo societário, casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da sociedade ou gravá-los de ônus real.

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INCONGRUÊNCIA IV – O artigo reza “... o patrimônio da EMPRESA...”. Ora, EMPRESA é ATIVIDADE. EMPRESA não tem patrimônio. Quem tem patrimônio é o EMPRESÁRIO ou a SOCIEDADE.

Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade.

Art. 980. A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis.

TÍTULO II

IX - DA SOCIEDADE

Sociedade - art. 981 ao 985 CC.

- As sociedades são formadas por pessoas que contratam uma obrigação recíproca, repartindo entre si os resultados, ainda que essa atividade seja restrita à realização de um ou mais negócios determinados (art. 981 CC).

-Conceito de Sociedade (Art. 981, Parágrafo único):

Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica (um ou mais negócios determinados) e a partilha, entre si, dos resultados.

Logo, não é "autônomo" nem "empresário" (já que estes atuam individualmente), mas sim, uma autêntica "sociedade", pois há reunião de pessoas com os mesmos propósitos (CONDIÇÕES, EM REGRA, NECESSÁRIAS PARA A FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE: AFFETIO SOCIETATIS e PLURALIDADE DE SÓCIOS) e objetivos econômicos, visando à realização de negócios em conjunto e a partilharem os resultados entre si.

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FIQUE ATENTO!

EXISTEM EXCEÇÕES À CONDIÇÃO “PLURALIDADE DE SÓCIOS”. TEMOS UMA ÚNICA EXCEÇÃO NO CÓDIGO CIVIL E DUAS NA LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS.

SÃO AS CHAMADAS SOCIEDADES UNIPESSOAIS.

- PRIMEIRA EXCEÇÃO (CÓDIGO CIVIL):

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:

(...)

IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; (EXCETO A COMPANHIA - S/A)

Ou seja, a sociedade pode perdurar, com um único sócio, durante o prazo peremptório de 180 (CENTO E OITENTA) dias.

ATENÇÃO!!! EM DIREITO, DIA É DIA, MÊS É MÊS, ANO É ANO.

FIQUE LIGADO

Portanto, 180 dias NUNCA serão SEIS meses.

(...)

- SEGUNDA E TERCEIRA EXCEÇÕES (LEI DAS S/A – 6.404/76):

ART. 206 – Dissolve-se a Companhia:

(...)

I – d) “PELA EXISTÊNCIA DE 1 (UM) ÚNICO ACIONISTA, VERIFICADA EM ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA, SE O MÍNIMO DE 2 (DOIS) NÃO FOR RECONSTITUÍDO ATÉ À DO ANO

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SEGUINTE, RESSALVADO O DISPOSTO NO ART. 251” (o art. 251 é a terceira exceção). (OBS.: Como as Assembléias Ordinárias ocorrem anualmente, nos primeiros quatro meses do término do exercício social, essa situação pode perdurar de 1 (um) ano a 1 (um) ano e 4 (quatro) meses.

(...)

ART. 251 – A COMPANHIA PODE SER CONSTITUÍDA, MEDIANTE ESCRITURA PÚBLICA, TENDO COMO ÚNICO ACIONISTA SOCIEDADE BRASILEIRA.

Esse tipo societário é conhecido como SOCIEDADE SUBSIDIÁRIA INTEGRAL.

- § 2°., do art. 251: “A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do art. 252.” (Art. 252 – “A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertê-la em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembléia geral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos desta lei.”

- Requisitos essenciais do empresário Uma vez positivado o Direito de Empresa a caracterização do

empresário resulta da reunião de cinco requisitos básicos, conforme Fazzio (2004, p. 21 e 22):

• Capacidade jurídica; • Inexistência de empreendimento legal ao exercício da

atividade empresarial • Efetivo exercício profissional • Regime jurídico peculiar regulador da insolência; e • Inscrição ou matrícula no Registro Público de Empresas

Mercantis. - Capacidade jurídica: o CC diz quem é capaz para os

atos da vida civil, quem pode assumir obrigações.

- Características Gerais de Sociedade (REGRA): 1- Constitui contrato entre duas ou mais pessoas. 2- A personalidade jurídica dela nasce com o registro do ATO

CONSTITUTIVO no ÓRGÃO COMPETENTE.

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OBS.: TODA PESSOA JURÍDICA É, EM REGRA (A SOCIEDADE SUBSIDIÁRIA INTEGRAL É UMA EXCEÇÃO), UMA SOCIEDADE, MAS NEM TODA SOCIEDADE É UMA PESSOA JURÍDICA (AS EM COMUM, POR EXEMPLO, SÃO SOCIEDADES E NÃO SÃO PESSOAS JURÍDICAS), BEM COMO A SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO).

3- Tem por nome uma FIRMA SOCIAL (RAZÃO SOCIAL) ou DENOMINAÇÃO SOCIAL, dependendo do tipo societário e da permissão da lei.

4- Extingue-se pela dissolução, por expirado o prazo de duração ajustado, por iniciativa de sócios, por ato de autoridade etc;

5- É uma pessoa (pessoa jurídica), com personalidade distinta das pessoas dos sócios;

6- Tem vida, direitos, obrigações e patrimônio próprios; 7- É representada por quem o ato constitutivo, ou aditivo averbado

designar; 8- Empresária é a sociedade e não os sócios (os sócios são

empreendedores); 9- O patrimônio é da sociedade e não dos sócios;

10- Responde sempre ilimitadamente pelo seu passivo;

OBSERVAÇÃO: o artigo 973 do CC adverte que, se a pessoa legalmente impedida de exercer utilidade própria de empresário o fizer, responderá pelas obrigações contraídas.

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11- Pode modificar sua estrutura, por alteração no quadro social ou por mudança de tipo;

12- A formação do nome da sociedade e a responsabilidade dos sócios variam conforme o tipo de sociedade;

13- Classifica-se em “sociedade de pessoas” quando os sócios são escolhidos preponderantemente por suas qualidades pessoais, ou “sociedade de capital” quando é indiferente a pessoa do sócio, como na sociedade anônima;

14. É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração (art. 1.126 CC);

15- Nas sociedades jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, só pode participar capital estrangeiro até o limite de 30% (art. 222 da CF, na redação da Emenda Constitucional n. 36, de 28.5.2002. V.L 10.610, de 20.12.2002).

Reflexão: As “empresas” que se constituíram ou que realizaram alterações contratuais a partir do Código Civil estavam sujeitas às novas disposições legais. Já com relação às “empresas” que já estavam constituídas, estas, tiveram o prazo de um ano, até 11/01/2004, para adequarem-se às novas regras.

Na acepção periódica “EMPRESA é o exercício de uma atividade econômica”.

A empresa nasce quando o empresário resolve iniciar, efetivamente, a atividade.

Logo, empresário - pessoa física ou jurídica - é sujeito. O empresário pode ser uma pessoa física ou pessoa jurídica de

direitos. Por isso, “empresa não é sociedade, empresa é exercício de

uma atividade”. Sociedade – pessoa jurídica, sujeitos de direitos. Empresa é atividade.

CAPÍTULO ÚNICODisposições Gerais

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.

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Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 (EM NOME COLETIVO, LIMITADA, EM COMANDITA SIMPLES, EM COMANDITA POR

AÇÕES ou ANÔNIMA); a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.

Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo.

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de

acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.

Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a transformação.

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Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).

TÍTULO IIDAS PESSOAS JURÍDICAS

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;

II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios;

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;

V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

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I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas;

V - os partidos políticos.

§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.

§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.

§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

Art. 46. O registro declarará:

I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;

II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;

III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;

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IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;

V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;

VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.

Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.

Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.

Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador provisório.

CONFORME O CÓDIGO CIVIL DE 2002, AS SOCIEDADES SE DIVIDEM EM:

1- SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA - SÃO AQUELAS SEM PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA.

AS SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS SE SUBDIVIDEM EM: SOCIEDADE COMUM E SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO.

2- SOCIEDADE PERSONIFICADA - COM PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA. AS PERSONIFICADAS SE SUBDIVIDEM EM: SOCIEDADE SIMPLES, SOCIEDADE EMPRESARIAL E COOPERATIVA.

SUBTÍTULO I

X - DA SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA

CAPÍTULO I

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X a) DA SOCIEDADE EM COMUM (ANTES, CONHECIDAS COMO IRREGULARES e DE FATO (as de fato, sequer tinham ato constitutivo). E as IRREGULARES possuíam ato constitutivo, porém, sem registro no órgão competente.

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples.

Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.

Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024 (DIREITO DE EXCUSSÃO ou BENEFÍCIO DE ORDEM – VIDE, TAMBÉM, ART. 596 CPC), aquele que contratou pela sociedade.

CAPÍTULO II

X b) DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes.

Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

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SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Não tem personalidade jurídica.

CARLOS CONTRATO ZÉ

Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito.

FIQUE ATENTO AO 993.

Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade.

Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier.

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Carlos é dono de uma empresa

individual regular.

Zé tem dinheiro e quer aplicar na

empresa de Carlos.

Papel (quirógrafo): aquele que não é garantido por direito real de garantia ou direito obrigacional (hipoteca, anticrese ou penhor) ou que não resulta de despesas realizadas, salários, honorários ou demais obrigações que gozem de preferência atribuída por lei.

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Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais.

§ 1o A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.

§ 2o A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário.

§ 3o Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.

Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais.

Art. 996. Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, o disposto para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual.

Parágrafo único. Havendo mais de um sócio ostensivo, as respectivas contas serão prestadas e julgadas no mesmo processo.

CORREÇÃO: HAVENDO MAIS DE UM SÓCIO PARTICIPANTE....

(Certamente, houve erro material do legislador).

SUBTÍTULO II

XI - DA SOCIEDADE PERSONIFICADA

CAPÍTULO I

XI a) - DA SOCIEDADE SIMPLES

Seção IDo Contrato Social

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

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I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

II – DENOMINAÇÃO (observação: veja que a denominação da sociedade simples – se simples em sentido estrito – não se exige em sua composição o OBJETO SOCIAL), objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

Art. 998. Nos trinta dias subseqüentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.

§ 1o O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato, e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade competente.

§ 2o Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição tomada por termo no livro de registro próprio, e obedecerá a número de ordem contínua para todas as sociedades inscritas.

Art. 999. As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime.

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Parágrafo único. Qualquer modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades previstas no artigo antecedente.

Art. 1.000. A sociedade simples que instituir sucursal, filial ou agência na circunscrição de outro Registro Civil das Pessoas Jurídicas, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.

Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição da sucursal, filial ou agência deverá ser averbada no Registro Civil da respectiva sede.

Seção IIDos Direitos e Obrigações dos Sócios

Art. 1.001. As obrigações dos sócios começam imediatamente com o contrato, se este não fixar outra data, e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais.

Art. 1.002. O sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social.

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.

Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora.

Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031.

Art. 1.005. O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir crédito.

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Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas.

Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas.

Art. 1.009. A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade.

Seção IIIDa Administração

Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.

§ 1o Para formação da maioria absoluta são necessários votos correspondentes a mais de metade do capital.

§ 2o Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.

§ 3o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a seu voto.

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.

§ 1o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência,

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contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

§ 2o Aplicam-se à atividade dos administradores, no que couber, as disposições concernentes ao mandato.

Art. 1.012. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade.

Art. 1.013. A administração da sociedade, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios.

§ 1o Se a administração competir separadamente a vários administradores, cada um pode impugnar operação pretendida por outro, cabendo a decisão aos sócios, por maioria de votos.

§ 2o Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria.

Art. 1.014. Nos atos de competência conjunta de vários administradores, torna-se necessário o concurso de todos, salvo nos casos urgentes, em que a omissão ou retardo das providências possa ocasionar dano irreparável ou grave.

Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir.

Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:

I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;

II - provando-se que era conhecida do terceiro;

III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

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Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções.

Art. 1.017. O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá.

Parágrafo único. Fica sujeito às sanções o administrador que, tendo em qualquer operação interesse contrário ao da sociedade, tome parte na correspondente deliberação.

Art. 1.018. Ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações que poderão praticar.

Art. 1.019. São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.

Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.

Art. 1.020. Os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas justificadas de sua administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

Art. 1.021. Salvo estipulação que determine época própria, o sócio pode, a qualquer tempo, examinar os livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira da sociedade.

Seção IVDas Relações com Terceiros

Art. 1.022. A sociedade adquire direitos, assume obrigações e procede judicialmente, por meio de administradores com poderes especiais, ou, não os havendo, por intermédio de qualquer administrador.

Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.

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FIQUE LIGADO!!

DIREITO DE EXCUSSÃO

ou BENEFÍCIO DE ORDEM.

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Art. 596 (CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL) Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da sociedade.

§ 1o Cumpre ao sócio, que alegar o benefício deste artigo, nomear bens da sociedade, sitos na mesma comarca, livres e desembargados, quantos bastem para pagar o débito.

§ 2o Aplica-se aos casos deste artigo o disposto no parágrafo único do artigo anterior.

Art. 597 – CPC- O espólio responde pelas dívidas do falecido; mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas na proporção da parte que na herança Ihe coube.

Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas sociais anteriores à admissão.

Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.

Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do

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art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação.

Art. 1.027. Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge do que se separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se liquide a sociedade.

Seção VDa Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio

Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:

I - se o contrato dispuser diferentemente;

II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;

III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.

Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.

Parágrafo único. Nos trinta dias subseqüentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.

Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.

§ 1o O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota.

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§ 2o A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.

Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.

Seção VIDa Dissolução

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:

I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;

II - o consenso unânime dos sócios;

III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;

IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;

V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando:

I - anulada a sua constituição;

II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexeqüibilidade.

Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente quando contestadas.

Art. 1.036. Ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente a investidura do liquidante, e restringir a

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gestão própria aos negócios inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente.

Parágrafo único. Dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, desde logo, a liquidação judicial.

Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese prevista no inciso V do art. 1.033, o Ministério Público, tão logo lhe comunique a autoridade competente, promoverá a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não o tiverem feito nos trinta dias seguintes à perda da autorização, ou se o sócio não houver exercido a faculdade assegurada no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único. Caso o Ministério Público não promova a liquidação judicial da sociedade nos quinze dias subseqüentes ao recebimento da comunicação, a autoridade competente para conceder a autorização nomeará interventor com poderes para requerer a medida e administrar a sociedade até que seja nomeado o liquidante.

Art. 1.038. Se não estiver designado no contrato social, o liquidante será eleito por deliberação dos sócios, podendo a escolha recair em pessoa estranha à sociedade.

§ 1o O liquidante pode ser destituído, a todo tempo:

I - se eleito pela forma prevista neste artigo, mediante deliberação dos sócios;

II - em qualquer caso, por via judicial, a requerimento de um ou mais sócios, ocorrendo justa causa.

§ 2o A liquidação da sociedade se processa de conformidade com o disposto no Capítulo IX, deste Subtítulo.

CAPÍTULO II

XII – DO REGISTRO

TÍTULO IVDos Institutos Complementares

CAPÍTULO IDo Registro

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ATENÇÃO: O REGISTRO DO ATO “CONSTITUTIVO” É UM ATO MERAMENTE DECLARATÓRIO. NÃO É UM ATO CONSTITUTIVO, NA VERDADE.

TANTO O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL, QUANTO A SOCIEDADE EMPRESÁRIA PODEM EXISTIR DE FATO, INDEPENDENTEMENTE DO REGISTRO. O QUE O REGISTRO “FAZ”, PORTANTO, É DECLARAR A SUA EXISTÊNCIA JURÍDICA (LEGAL).

Imagine uma pessoa natural, que nunca teve a sua Certidão de Nascimento, ou seja, nunca se registrou no Cartório Público de Registro de Pessoas Naturais: ela EXISTE de FATO, ou não? SIM! Portanto, o seu registro somente a DECLARA para o mundo jurídico e não a CONSTITUI (ela já estava constituída, quando foi fecundada, e ratificada com o nascimento COM VIDA).

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado.

§ 1o Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos.

§ 2o Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão.

§ 3o As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora.

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Art. 1.152. Cabe ao órgão incumbido do registro verificar a regularidade das publicações determinadas em lei, de acordo com o disposto nos parágrafos deste artigo.

§ 1o Salvo exceção expressa, as publicações ordenadas neste Livro serão feitas no órgão oficial da União ou do Estado, conforme o local da sede do empresário ou da sociedade, e em jornal de grande circulação.

§ 2o As publicações das sociedades estrangeiras serão feitas nos órgãos oficiais da União e do Estado onde tiverem sucursais, filiais ou agências.

§ 3o O anúncio de convocação da assembléia de sócios será publicado por três vezes, ao menos, devendo mediar, entre a data da primeira inserção e a da realização da assembléia, o prazo mínimo de oito dias, para a primeira convocação, e de cinco dias, para as posteriores.

Art. 1.153. Cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, verificar a autenticidade e a legitimidade do signatário do requerimento, bem como fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados.

Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente, que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei.

Art. 1.154. O ato sujeito a registro, ressalvadas disposições especiais da lei, não pode, antes do cumprimento das respectivas formalidades, ser oposto a terceiro, salvo prova de que este o conhecia.

Parágrafo único. O terceiro não pode alegar ignorância, desde que cumpridas as referidas formalidades.

DECRETO Nº 1.800, DE 30 DE JANEIRO DE 1996 .

Regulamenta a Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências.

TÍTULO I

DAS FINALIDADES E DA ORGANIZAÇÃO DO REGISTRO

PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS E ATIVIDADES AFINS

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CAPíTULO I

DAS FINALIDADES

Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais, com as seguintes finalidades:

I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma da lei;

II - cadastrar as empresas mercantis nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes;

III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento.

Art. 2º Os atos das organizações destinadas à exploração de qualquer atividade econômica com fins lucrativos, compreendidas as firmas mercantis individuais e as sociedades mercantis, independentemente de seu objeto, serão arquivados no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, salvo as exceções previstas em lei.

II - Juntas Comerciais, com funções executora e administradora dos serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.

Das Juntas Comerciais

Art. 5º A Junta Comercial de cada unidade federativa, com jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva e sede na capital, subordina-se, administrativamente, ao governo de sua unidade federativa e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC.

Parágrafo único. A Junta Comercial do Distrito Federal é subordinada administrativa e tecnicamente ao Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC.

(...)

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Art. 7º Compete às Juntas Comerciais:

I - executar os serviços de registro de empresas mercantis, neles compreendidos:

a) o arquivamento dos atos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de empresas mercantis, de cooperativas, das declarações de microempresas e empresas de pequeno porte, bem como dos atos relativos a consórcios e grupo de sociedades de que trata a lei de sociedade por ações;

b) o arquivamento dos atos concernentes a sociedades mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no País;

(...)

VI - proceder ao assentamento dos usos e práticas mercantis;

(...)

TÍTULO II

DOS ATOS E DA ORDEM DOS SERVIÇOS DE REGISTRO

PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS E ATIVIDADES AFINS

CAPíTULO I

DA COMPREENSÃO DOS ATOS

Art. 32. O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins compreende:

I - a matrícula e seu cancelamento, de:

a) leiloeiros oficiais;

b) tradutores públicos e intérpretes comerciais;

c) administradores de armazéns-gerais;

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d) trapicheiros;

II - o arquivamento:

a) dos atos constitutivos, alterações e extinções de firmas mercantis individuais;

b) das declarações de microempresas e de empresas de pequeno porte;

c) dos atos constitutivos e das atas das sociedades anônimas, bem como os de sua dissolução e extinção;

d) dos atos constitutivos e respectivas alterações das demais pessoas jurídicas organizadas sob a forma empresarial mercantil, bem como de sua dissolução e extinção;

e) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de cooperativas;

f) dos atos relativos a consórcios e grupos de sociedades;

g) dos atos relativos à incorporação, cisão, fusão e transformação de sociedades mercantis;

h) de comunicação, segundo modelos aprovados pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC, de paralisação temporária das atividades e de empresa mercantil que deseja manter-se em funcionamento, no caso de, nessa última hipótese, não ter procedido a qualquer arquivamento na Junta Comercial no período de dez anos consecutivos;

i) dos atos relativos a sociedades mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no País;

j) das decisões judiciais referentes a empresas mercantis registradas;

l) dos atos de nomeação de trapicheiros, administradores e fiéis de armazéns-gerais;

m) dos demais documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário ou à empresa mercantil;

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III - a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma da lei própria.

CAPíTULO II

DA ORDEM DOS SERVIÇOS

SEÇÃO I

Da Apresentação dos Atos a Arquivamento

(...)

Art. 36. O ato constitutivo de sociedade mercantil e de cooperativa somente poderá ser arquivado se visado por advogado, com a indicação do nome e número de inscrição na respectiva Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil.

(...)

(...)

Da Proteção ao Nome Empresarial

Art. 61. A proteção ao nome empresarial, a cargo das Juntas Comerciais, decorre, automaticamente, do arquivamento da declaração de firma mercantil individual, do ato constitutivo de sociedade mercantil ou de alterações desses atos que impliquem mudança de nome.

§ 1º A proteção ao nome empresarial circunscreve-se à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial que procedeu ao arquivamento de que trata o caput deste artigo.

§ 2º A proteção ao nome empresarial poderá ser estendida a outras unidades da federação, a requerimento da empresa interessada, observada instrução normativa do Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC.

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§ 3º Expirado o prazo da sociedade celebrada por tempo determinado, esta perderá a proteção do seu nome empresarial.

Art. 62. O nome empresarial atenderá aos princípios da veracidade e da novidade e identificará, quando assim o exigir a lei, o tipo jurídico da sociedade.

(...)

Das Certidões

Art. 79. É público o registro de empresas mercantis e atividades afins a cargo das Juntas Comerciais.

Art. 80. Qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, poderá consultar os documentos arquivados nas Juntas Comerciais e obter certidões, mediante pagamento do preço devido. ATENCAO!!!

(...)

SEÇÃO XI

Do Assentamento dos Usos ou Práticas Mercantis

Art. 87. O assentamento de usos ou práticas mercantis é efetuado pela Junta Comercial.

§ 1º Os usos ou práticas mercantis devem ser devidamente coligidos e assentados em livro próprio, pela Junta Comercial, ex officio, por provocação da Procuradoria ou de entidade de classe interessada.

§ 2º Verificada, pela Procuradoria, a inexistência de disposição legal contrária ao uso ou prática mercantil a ser assentada, o Presidente da Junta Comercial solicitará o pronunciamento escrito das entidades diretamente interessadas, que deverão manifestar-se dentro do prazo de noventa dias, e fará publicar convite a todos os interessados para que se manifestem no mesmo prazo.

(...)

LEI Nº 8.934, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1994.

Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências.

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Das Finalidades

Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, subordinado às normas gerais prescritas nesta lei, será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais, com as seguintes finalidades:

I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;

II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes;

III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento.

Art. 2º Os atos das firmas mercantis individuais e das sociedades mercantis serão arquivados no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, independentemente de seu objeto, salvo as exceções previstas em lei.

Parágrafo único. Fica instituído o Número de Identificação do Registro de Empresas (NIRE), o qual será atribuído a todo ato constitutivo de empresa, devendo ser compatibilizado com os números adotados pelos demais cadastros federais, na forma de regulamentação do Poder Executivo.

(...)

Art. 29. Qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, poderá consultar os assentamentos existentes nas juntas comerciais e obter certidões, mediante pagamento do preço devido.

Art. 30. A forma, prazo e procedimento de expedição de certidões serão definidos no regulamento desta lei.

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Art. 34. O nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade e da novidade.

XII – DO NOME EMPRESARIAL

NOME EMPRESARIAL(art. 1.155 usque 1.168 do CC)

CAPÍTULO II - CCDO NOME EMPRESARIAL

Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa.

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DA NOVIDADE- Não podem existir dois

nomes iguais dentro do mesmo Estado, em regra.

- Para garantir a exclusividade do nome, em

nível nacional, o nome deverá ser registrado no

INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

DA VERACIDADE- O nome do empresário é o nome, de fato, da pessoa

que esta empresariando.- O nome da pessoa que

é sócia e está viva.- O nome empresarial da

firma individual é INALIENÁVEL

NOME EMPRESARIAL FIRMA

DENOMINAÇÃO SOCIAL

FIRMA INDIVIDUAL

(OU RAZÃO) SOCIAL

ESPÉCIESGÊNERO NOME

SUBESPÉCIES

SUJEITO AOS PRINCÍPIOS

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Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações.

Art. 1.156. O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade.

Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e companhia" ou sua abreviatura.

Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo.

Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura. (LTDA.)

§ 1o A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social.

§ 2o A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios.

§ 3o A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

Art. 1.159. A sociedade cooperativa funciona sob denominação integrada pelo vocábulo "cooperativa".

Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente.

Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.

Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação designativa do objeto social, aditada da expressão "comandita por ações".

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Art. 1.162. A sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação.

Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro.

Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga.

Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.

Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor.

Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social.

Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.

Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial.

Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.

Art. 1.168. A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade para que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscreveu.

FIRMA INDIVIDUAL (FIRMA INDIVIDUAL É O NOME EMPRESARIAL DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL).

A Firma individual terá, necessária e obrigatoriamente, o nome do empresário individual.

Ex.: Epaminondas Figueiredo de Matos.

OBS.: Admite-se abreviatura do prenome e do sobrenome, porém, não se admite a abreviatura do último sobrenome, desconsiderando-se o agnome (filho, neto, júnior, sobrinho, etc.).

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Ex.: Se o nome civil do empresário fosse Epaminondas Figueiredo de Matos Filho, a sua firma individual poderia ser:

a. Epaminondas Figueiredo de Matos Filhob. E. F. de Matos Filhoa. E. Figueiredo de Matos Filhob. E. F. M. Filho

Admite-se, ainda, acrescentar termos que melhor identifiquem o empresário.

Ex.: Se o nome civil do empresário fosse Epaminondas Figueiredo de Matos Filho, a sua firma individual poderia ser:

1. Epaminondas Figueiredo de Matos Filho Professor.2. Epaminondas Figueiredo de Matos Filho Costureiro.3. Epaminondas Figueiredo de Matos Filho Advogado.4. Epaminondas Figueiredo de Matos Filho Consultor Jurídico;

dentre outros.

OBS.: Quando a utilização de termos que identifiquem melhor o empresário, assim como nos exemplos acima, estes não serão precedidos de nenhuma pontuação.

Será, também, admitida a forma E. F. de Matos Filho sucessor de Josevaldo Rosa (se este autorizar, expressamente, quando for feito o contrato de compra e venda), quando, por exemplo, um curso de português de renome for comprado e o novo dono quiser dar a entender que a qualidade dos serviços oferecidos continua a mesma.

FIRMA OU RAZÃO SOCIAL

A firma, ou razão, social será formada, SEMPRE, e, SOMENTE, por nome(s) de sócio(s), seguido(s), se for o caso, de & Cia ou & Companhia.

Admite-se, também, que no lugar de CIA, sejam utilizados os termos: & Irmãos, & Filhos, & Sobrinhos, etc.Ex.: Epaminondas Matos e José Rosa

a. Matos & Rosab. Matos & CIAc. Rosa & CIAd. Matos, Rosa & CIA.

OBS.:

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CERTO

ERRADO

CERTO

ERRADO

ROSA CIA&

Estaria correto se houvesse mais um sócio além dos dois nominados.

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DENOMINAÇAO SOCIAL

É formada por QUAISQUER PALAVRAS, inclusive em idiomas estrangeiros ou termos inexistentes (sem significado claro), exceto termos (palavras) que atentem contra a moral e os bons costumes.

OBS 1.: Qualquer que seja a DENOMINAÇAO utilizada, ela terá que conter o OBJETO SOCIAL – art. 1.158, § 2º do CC.

Porem, aquelas empresas que já estavam registradas, anteriormente ao novo CC, não precisam alterar suas denominações, haja vista que o nome e um direito personalíssimo e aa época, era um ato jurídico perfeito.

Ex.: Sócios: Guilherme Castro Cabral e Humberto PereiraDenominação Social: OPUS JURIS EDITORA LTDA

OBS 2.: A denominação social não está sujeita ao princípio da veracidade.

Pode conter partícula de fantasia e nome de pessoas (sócias ou não, vivas ou falecidas).

NOTAS IMPORTANTES

1. O ATO CONSTITUTIVO DEVERÁ, OBRIGATORIAMENTE, ser assinado por um advogado – devidamente qualificado (nome e nº e seção seccional da OAB na qual está inscrito) – art. 3615 do Decreto nº 1.800/96.

2. JOSÉ & CIA LTDA

Deverá constar no contrato uma cláusula dizendo ser uma sociedade limitada e que os sócios responderão limitadamente a sua quota parte – art. 1.052 do CC.

15 Art. 36 do Decreto nº 1.800/96 – O ato constitutivo de sociedade mercantil e de cooperativa somente poderá ser arquivado se visado por advogado, com a indicação do nome e número de inscrição na respectiva Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil.

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Em regra, indica o nome do gerente.

Indica que há, pelo menos, mais 1(um) sócio.

Os nomes devem ser, efetivamente, de sócios. Se um deles morrer, seu nome

deverá ser retirado (em obediência ao princípio da

veracidade).

OBJETO SOCIAL

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3. JOSÉ & CIA

Consta uma cláusula no contrato dizendo que é uma sociedade limitada e que os sócios responderão limitadamente a sua quota parte, mas na razão social não consta o termo LTDA.

Por faltar a LTDA na razão social, o vendedor terá a ilusão de que os sócios responderão ILIMITADAMENTE, pois a aparência é de uma sociedade em nome coletivo ou em comandita simples (tipos de empresas cujos sócios respondem ilimitadamente).

Como o advogado, obrigatoriamente, deve assinar o ato constitutivo, os juízes têm considerado culpada a empresa por culpa in elegendo, pois escolheram um advogado ruim.

4. JOSÉ & CIA LTDA

Consta a cláusula dizendo ser uma sociedade limitada, mas, faltou uma cláusula no contrato dizendo que os sócios responderão por sua quota parte, e, sendo assim, todos responderão ILIMITADAMENTE.

NOME FANTASIA

É uma expressão puramente emblemática, com intuito de marketing, desde que não atente contra a moral e os bons costumes.

Não tem nada a ver com o nome empresarial, não obstante poder fazer parte na composição da Denominação Social.

O nome fantasia deve observar o princípio da novidade, para ser registrado no órgão competente (Junta Comercial ou Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas).

Ex.: Big Box, Pão de Açúcar, Carrefour, Kopenhagen, etc.

LIMITADAEM NOME COLETIVO S/A OU CIA

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Híbrida, ou seja, pode optar por razão social ou denominação social.

Só admite razão social. Só admite denominação social.

EM COMANDITA SIMPLES

EM COMANDITA POR AÇÕES

EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Só admite razão social. Pode optar por razão social ou denominação social.

Não admite nome empresarial.

- Art. 1.089 do CC – “A sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código”. Vale o que está na lei.

- Art. 1.160 do CC – “A sociedade anônima opera (imperativo) sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões ”sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa”.

- Art. 3º da Lei nº 6.404/76 - A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões "companhia" ou "sociedade anônima", expressas por extenso ou abreviadamente, mas vedada a utilização da primeira ao final.

Ex.: - CIA Banco do Brasil- S/A Banco do Brasil- Banco do Brasil S/A- Banco do Brasil & CIA ERRADO

OBS.: No caso de S/A, a regra é que não pode ter nome de sócio, pois, é uma sociedade ANÔNIMA.

XIII – DO ESTABELECIMENTO

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O CC não fala isso no art. 1.039, ele remete à Lei Especial e só quando for omissa a lei especial é que

era aplicado o CC. No caso não há omissão.

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TÍTULO III - CCDo Estabelecimento

CAPÍTULO ÚNICODISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência.

Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato.

Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da

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transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante.

Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.

ESTABELECIMENTO EMPRESARIALPONTO COMERCIAL, AVIAMENTO E CLIENTELA

Art. 1.142 usque 1.149 do CC.

Estabelecimento é o conjunto de bens que o empresário reúne para exploração de sua atividade econômica. Ex.: mercadorias, máquinas, veículos, marcas e outros sinais distintivos, tecnologia, etc.

A proteção jurídica do estabelecimento visa à preservação do investimento realizado na organização da empresa.

No meio jurídico diz-se: FUNDO DE COMÉRCIO ou AVIAMENTO ou FUNDO DE EMPRESA (pode ser vendido, é alienável).

O estabelecimento comercial não pode ser confundido com a sociedade empresária (sujeito de direito – tem personalidade jurídica), nem com a empresa (atividade econômica).

ELEMENTOS DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIALArt. 1.142 e 1.143 do CC.

AVIAMENTO

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ELEMENTOS MATERIAIS ELEMENTOS IMATERIAIS

Mercadorias, estoques, mobiliário.

Bens corpóreos

Ponto, patentes de invenções, modelo de utilidade, registro de

desenho industrial, marca, nome empresarial, luvas (fama), etc.

Bens incorpóreos

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O aviamento é a aptidão do estabelecimento para gerar lucros, decorrente da boa organização dos seus elementos integrantes.

É um critérios subjetivo. Abrtange atributos pessoais do empresário, localização adequada do estabelecimento na geografia da cidade.

CLIENTELA

A clientela deriva do aviamento; é a sua dimensão exterior.

FREGUESIA ≠ CLIENTELA

TRESPASSE (alienação)

Art. 448 da CLT = “A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados”.

Art.133 do CTN = “A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão”.

ARTIGOS IMPORTANTES

Art. 1.145 do CC = “Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende

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Conjunto de pessoas que HABITUALMENTE

negociam com o estabelecimento.

Viabilidade de atrair clientes em decorrência da organização dos

fatores que compõem o estabelecimento.

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do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação”.

FONTE DE RECURSOSPASSIVO

DÍVIDAS

Art. 1.146 do CC = “O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento”.

1. Adquirente = “[...] responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que REGULARMENTE CONTABILIZADOS [...]”.

Condição sine qua non

2. Devedor primitivo = [...] continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento”.

Responde solidariamente pelo prazo de 1(um) ano:

Débitos vencidos = contando a partir da data da publicação do contrato. Débitos vincendos = contando a partir da data do vencimento.

Art. 1.147 do CC = “Não havendo AUTORIZAÇÃO EXPRESSA, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência. Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato”.

XIV – DA ESCRITURAÇÃO

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LIVROS COMERCIAIS - ART. 1.179 USQUE 1.195 DO CC

Os livros comerciais são divididos em obrigatório comum – este deve ser registrado, OBRIGATORIAMENTE, e os obrigatórios especiais – estes podem ou não ser registrados. Há livros que não são comerciais e são obrigatórios, tais como o trabalhista, o previdenciário e o tributário.

NATUREZA JURÍDICA DOS LIVROS COMERCIAIS

A natureza jurídica dos livros comerciais, mesmo sendo de particulares, são equiparados a documento público, de acordo com o art. 297, § 2º do Código Penal, que dispõe: “Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro. § 2º - Para efeitos penais, equiparam-se a documentos públicos o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.”“.

A não realização das obrigações impostas pela lei acarretará para o comerciante sanções obrigacionais, penais e profissionais, embora não lhe negue o caráter mercantil de sua atividade.

FORMALIDADES NECESSÁRIAS AOS LIVROS OBRIGATÓRIOS

Os livros obrigatórios devem seguir certas formalidades, uma vez que o não cumprimento, não dará aos mesmos o valor de força probante.

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COMERCIAIS

LIVROS NÃO COMERCIAIS

OBRIGATÓRIO COMUM: DIÁRIO - Traz a contabilidade diária

do comerciante.- Não pode ter rasura.- Independente do objeto, o

diário é obrigatório.- Registros cronológicos

OBRIGATÓRIOS ESPECIAIS:Livro de Entrada e Saída de Mercadorias, o de Balancetes Diários e Balanços, dos

estabelecimentos bancários, o de Registro de Despacho Marítimo e de Registro de

Engajamentos de Cargas, dos corretores de navios, Registro de duplicata, etc.

OBRIGATÓRIOS Trabalhista, Previdenciário e tributário.

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As formalidades podem ser extrínsecas ou externas e intrínsecas ou internas.

As formalidades extrínsecas são abarcadas no art. 13 do Código Comercial16:

- Capa;- Encadernação;- Numeração tipográfica;- Termo de abertura;- Termo de encerramento.

As formalidades intrínsecas são abarcadas no art. 14 do Código Comercial17. É o conteúdo18 do Livro.

AUSÊNCIA DE FORMALIDADES

O Código Napoleão, de 1807, já entendia que a consciência do comerciante está escrita nos seus livros, assim, não poderia deixar de ser meio de prova, de importante valor. Os romanos também apresentavam o mesmo entendimento.

16 Art. 13 do Código Comercial - Os dois livros sobreditos devem ser encadernados, numerados, selados e rubricados em todas as suas folhas por um dos membros do Tribunal do Comércio respectivo, a quem couber por distribuição, com termos de abertura e encerramento subscritos pelo secretário do mesmo tribunal e assinados pelo presidente.17 Art. 14 do Código Comercial - A escrituração dos mesmos livros será feita em forma mercantil, e seguida pela ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalo em branco, sem entrelinhas, bordaduras, raspaduras ou emendas.18 Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa. § 1o Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regularmente autenticados, para registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação. § 2o Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária. Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele. Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo que registre: I - a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma de balancetes diários; II - o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do exercício. Art. 1.187. Na coleta dos elementos para o inventário serão observados os critérios de avaliação a seguir determinados: I - os bens destinados à exploração da atividade serão avaliados pelo custo de aquisição, devendo, na avaliação dos que se desgastam ou depreciam com o uso, pela ação do tempo ou outros fatores, atender-se à desvalorização respectiva, criando-se fundos de amortização para assegurar-lhes a substituição ou a conservação do valor; II - os valores mobiliários, matéria-prima, bens destinados à alienação, ou que constituem produtos ou artigos da indústria ou comércio da empresa, podem ser estimados pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre que este for inferior ao preço de custo, e quando o preço corrente ou venal estiver acima do valor do custo de aquisição, ou fabricação, e os bens forem avaliados pelo preço corrente, a diferença entre este e o preço de custo não será levada em conta para a distribuição de lucros, nem para as percentagens referentes a fundos de reserva; III - o valor das ações e dos títulos de renda fixa pode ser determinado com base na respectiva cotação da Bolsa de Valores; os não cotados e as participações não acionárias serão considerados pelo seu valor de aquisição; IV - os créditos serão considerados de conformidade com o presumível valor de realização, não se levando em conta os prescritos ou de difícil liqüidação, salvo se houver, quanto aos últimos, previsão equivalente. Parágrafo único. Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se preceda, anualmente, à sua amortização: I - as despesas de instalação da sociedade, até o limite correspondente a dez por cento do capital social; II - os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período antecedente ao início das operações sociais, à taxa não superior a doze por cento ao ano, fixada no estatuto; III - a quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento adquirido pelo empresário ou sociedade. Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo. Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que acompanharão o balanço patrimonial, em caso de sociedades coligadas. Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da lei especial.

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Formalidades extrínsecas

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Em se tratando de comerciante, a prova pode ser destruída por documentos por onde se mostre que o que foi alegado é falso ou menos exato, e em se tratando de não comerciantes, pode se valer de qualquer gênero de prova admitido no comércio.

Força probante:

- Art. 1.180 do CC – “Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico”.

- Art. 1.181 do CC – “Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis. Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios”.

- Qual a condição sine qua non para que os livros comerciais sejam registrados na Junta Comercial? R.: Que os empresários estejam cadastrados na Junta Comercial.

- Art. 1.194 do CC = “O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados”.

- Durante quanto tempo os Livros Comerciais deverão ser guardados? R.: O empresário e a sociedade empresária deverão guardar os seus livros até que ocorra a prescrição ou decadência dos atos neles registrados. Não há prazo determinado.

-  Art. 1.195 do CC – “As disposições deste Capítulo aplicam-se às sucursais, filiais ou agências, no Brasil, do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro”.

ANALISANDO ALGUNS ARTIGOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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- Art. 378 do CPC = “Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lícito ao comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos”.

- Art. 379 do CPC =“Os livros comerciais, que preencham os requisitos exigidos por lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre comerciantes”.

- Numa lide COMERCIANTE X COMERCIANTE, se os registros estiverem corretos farão prova a favor de seu dono, caso contrário, fará prova contra. É condição sine qua non que os registros estejam preenchendo os requisitos legais para que faça prova a favor de seu dono.

- Art. 380 do CPC = “A escrituração contábil é indivisível: se dos fatos que resultam dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu autor e outros Ihe são contrários, ambos serão considerados em conjunto como unidade”.

- A indivisibilidade se refere a cada operação considerada individualmente.

O juiz deverá buscar a unidade de prova, tendo por base o princípio do livre convencimento do juiz (registros que deponham contra e os que deponham a favor).

- Ex 1.: Ivan quer provar que não comprou mercadoria. Apresenta sai situação contábil no período de agosto. O juiz é obrigado a analisar os registros e aproveitar todos aqueles à favor do autor, assim como os contra, pois, a situação contábil apresentada é INDIVISÍVEL.

- Ex 1.: Num processo de separação, o marido recusa-se a pagar 15% de pensão alimentícia. Quando da contestação o advogado relaciona as despesas de seu cliente e apresenta seu contracheque. No contracheque está o item – pensão alimentícia de 15%. O advogado do cônjuge virago alega que, se pelas provas apresentadas ele paga 15% de pensão para um filho, porque não pagará para outro? Provas a favor + provas contra apresentadas pela mesma pessoa = consideradas em conjunto.

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- Art. 381 do CPC = “O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros comerciais e dos documentos do arquivo: I - na liquidação de sociedade; II - na sucessão por morte de sócio; III - quando e como determinar a lei”

- O teor do presente artigo foi ratificado pelo Código Civil.

- Art. 382 do CPC = “O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos livros e documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções autenticadas”.

- Art. 355 usque 359 do CPC19 – versam sobre a exibição das provas (documentos ou coisas).

ANÁLISE DA SÚMULA 260 DO STF

A Súmula 260 do STF relata que o exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado as transações entre os litigantes. Assim, podemos concluir que não é cabível, pois, a apresentação do mesmo a terceiros que não sejam parte. Essa é a regra. A exceção está no art. 381 do CPC.

ANÁLISE DOS ARTIGOS 195 E 198 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL

- Art. 195 – “Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.

Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram”.

19 Art. 355 - O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache em seu poder. Art. 356 - O pedido formulado pela parte conterá: I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa; II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária. Art. 357 - O requerido dará a sua resposta nos 5 (cinco) dias subseqüentes à sua intimação. Se afirmar que não possui o documento ou a coisa, o juiz permitirá que o requerente prove, por qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade. Art. 358 - O juiz não admitirá a recusa: I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir; II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de constituir prova; III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes. Art. 359 - Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar: I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo do art. 357; II - se a recusa for havida por ilegítima.

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- Em se tratando de obrigações contraídas por escritura pública ou particular, prescreva no prazo de 10(dez) anos, se não forem intentadas ações contra o que esteja nelas ou que dos registros necessite para comprovação.

- Art. 198 – “Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades. (Redação dada pela LCP nº 104, de 10.1.2001)”.

- Os órgãos de fiscalização que têm acesso aos livros comerciais não podem divulgar as informações ali contidas.

ANÁLISE DOS ARTIGOS MAIS IMPORTANTE DO CÓDIGO CIVIL

- Art. 1.179 – “O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1o

Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970”.

- É obrigatório que op empresário e a sociedade empresária mantenha um DIÁRIO.

- Art. 1.180 – “Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico”.

- Art. 1.182 – “Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade”.

- É OBRIGATÓRIO ter um contador na empresa para fazer o registro contábil desta.

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- Art. 1.183 – “A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que constem de livro próprio, regularmente autenticado”.

- Trata das formalidades intrínsecas que se não forem observadas farão prova plena contra o comerciante.

- Art. 1.190 – “Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei”.

- Nem os juízes podem ter acesso PLENO aos Livros Comerciais, somente o fisco.

- Art. 1.191 – “O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência. § 1o O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão. § 2o Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo juiz”.

- Os juízes poderão ter acesso pleno, somente quando houver questões relativas a: sucessão, comunhão de sociedade, administração ou gestão à conta de outrem e em caso de falência.

- Art. 1.193 – “As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais”.

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- Somente as autoridades fazendárias, no exercício das fiscalização do pagamento de impostos poderão ter acesso pleno aos Livros Comerciais.

OBS 1.: Quando houver erro no registro, adicionar a palavra DIGO e, após, escrever o que é correto.

OBS 2.: A correspondência é inviolável, exceto para o síndico da massa falida que poderá ter acesso inclusive a correspondência pessoal.

SOCIEDADES PERSONIFICADAS

TIPOS SOCIETÁRIOSPERSONIFICADOS

TIPOS SOCIETÁRIOS PERSONIFICADOS

CAPÍTULO II

DA SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

É uma sociedade de pessoas que apresenta a seguinte característica fundamental: os sócios têm responsabilidade solidária ENTRE SI e ilimitada.

Responsabilidade solidária significa que cada sócio, no caso do PASSIVO ser maior que o ATIVO da sociedade, após excutidos (executados, penhorados) todo o patrimônio dela, respondem, os sócios, pelo pagamento da parte da dívida que quedar impaga.

Responsabilidade ilimitada significa que todos os bens dos sócios (exceto os absolutamente impenhoráveis – art. 649 do CPC e Lei 8009/90 – Bem de Família), serão executados os bens da sociedade, mas, se estes forem insuficientes para o pagamento da dívida, serão executados, posteriormente, os bens da pessoa física de cada sócio.

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O nome comercial deste tipo de sociedade é uma firma (FIRMA SOCIAL ou RAZÃO SOCIAL). Assim, suponhamos que a sociedade tenha três sócios: Guilherme Cabral, Rosali Amércia e Marilene Oliveira. Essa sociedade poderá adotar como firma social o nome de todos os sócios: Cabral, Amércia & Oliveira, ou Cabral, Amércia & Cia (ou Companhia), ou Cabral, Oliveira & Cia (ou Companhia). (Nome empresarial já foi estudado na primeira parte desta apostila).

        Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. (Mas não se pode esquecer dos artigos 596 do CPC e do 1.024 do CC – Direito de Excussão, ou Benefício de Ordem). Assim, não obstantes responderem solidariamente, entenda-se “solidariamente entre si”, ou, ainda, responderão de forma solidária, ilimitada e subsidiariamente.

        Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um.

Exemplo:

Sócio “A” = quota parte = R$ 30.000,00

Sócio “B” = quota parte = R$ 20.000,00

Sócio “C” = quota parte = R$ 50.000,00.

- Eles resolvem limitar as suas responsabilidades proporcionalmente às suas quotas partes. Mas isso não influenciará nos direitos dos terceiros. Ou seja, essa limitação só serve para eventuais ações regressivas entre eles. Essa limitação não retira a eficácia do caput do art. 1.039.

        Art. 1.040. A sociedade em nome coletivo se rege pelas normas deste Capítulo e, no que seja omisso, pelas do Capítulo antecedente (Sociedade Simples).

        Art. 1.041. O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a firma social.

        Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes.

        Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor.

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        Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:

        I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;

        II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório.

        Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência.

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:

I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;

II - o consenso unânime dos sócios;

III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;

IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias (SOCIEDADE UNIPESSOAL TEMPORÁRIA) – ÚNICA PREVISÃO NO CÓDIGO CIVIL. Existem duas outras exceções à pluralidade de sócio, que estão no artigo 206, I, d e 251 da Lei 6.404/76 – Lei das S/A.

V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

CAPÍTULO III

DA SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES

É a sociedade que possui dois tipos de sócios comanditários e os sócios comanditados.

Sócios comanditários.

Sócios comanditários são aqueles que entram para a sociedade com uma cota determinada de capital denominada comandita. Em caso de dívida de sua sociedade, esses sócios só respondem pelo pagamento até o limite de sua comandita, isto é, até o limite do capital por ele integralizado à sociedade. Os sócios comanditários, portanto, possuem responsabilidade limitada: seus bens particulares não serão arrecadados em caso de falência da empresa.

Sócios comanditados são aqueles que possuem responsabilidade ilimitada e solidária (ENTRE SI). Em caso de falência da sociedade, os bens particulares dos sócios comanditados podem ser arrecadados para pagar as dívidas da empresa. (SEMPRE respeitando a regra, que é o DIREITO DE EXCUSSÃO).

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A firma desta sociedade será obrigatoriamente formada pelo nome pessoal dos sócios comanditados, com acréscimo da expressão & Cia (ou & Companhia). O nome do sócio comanditário não pode entrar na firma.

Suponhamos, então, que a sociedade tenha dois sócios comanditados (Antônio Cabral e José Martins) e um sócio comanditário (Whitney Pacífico). A sociedade poderá ter a seguinte firma: Cabral, Martins & Cia . Observe que o nome de Pacífico, sócio comanditário, não apareceu na firma.

Lembretes Sócios solidários ilimitados (comanditados) e sócios de capital, limitados ao

seu capital integralizado. (comanditários) Gerência - apenas comanditados (no contrato) Firma ou razão - apenas o(s) nome(s) do(s) comanditado(s) + & Cia Comanditário - não pode ser empregado, nem procurador, mas pode

participar de deliberações e fiscalizar. Violação das normas pelo sócio comanditário - fica ilimitadamente

responsável.

        Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, PESSOAS FÍSICAS, responsáveis (ENTRE SI) solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.

        Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários.

        Art. 1.046. Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis com as deste Capítulo.

        Parágrafo único. Aos comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos sócios da sociedade em nome coletivo.

        Art. 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado.

        Parágrafo único. Pode o comanditário ser constituído procurador da sociedade, para negócio determinado e com poderes especiais.

        Art. 1.048. Somente após averbada a modificação do contrato, produz efeito, quanto a terceiros, a diminuição da quota do comanditário, em conseqüência de ter sido reduzido o capital social, sempre sem prejuízo dos credores preexistentes.

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        Art. 1.049. O sócio comanditário não é obrigado à reposição de lucros recebidos de boa-fé e de acordo com o balanço.

        Parágrafo único. Diminuído o capital social por perdas supervenientes, não pode o comanditário receber quaisquer lucros, antes de reintegrado aquele.

        Art. 1.050. No caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente.

        Art. 1.051. Dissolve-se de pleno direito a sociedade:

        I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044 (QUE REMETE PARA O 1.033);

        II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio.

- ATENÇÃO: uma sociedade em comandita simples pode chegar a ser uma UNIPESSOAL, se possuir somente um sócio COMANDITADO e somente um sócio COMANDITÁRIO e um deles venha a morrer ou a se retirar da sociedade. Porém, não necessariamente será UNIPESSOAL quando existe somente um sócio COMANDITADO ou COMANDITÁRIO e este venha a falecer ou a se retirar da sociedade.

Exemplo: se existem quatro sócios comanditados e um comanditário. Se o comanditário falece, ou se retira da sociedade, ela (a sociedade) tem 180 dias para recompor a categoria de sócio comanditário, mas não é UNIPESSOAL, haja vista que ainda existem 4 sócios (comanditados). Unipessoal é aquela que contém somente um sócio.

        Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão administrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II e sem assumir a condição de sócio, os atos de administração.

CAPÍTULO IV

DA SOCIEDADE LIMITADA

Lembretes Responsabilidade : da sociedade é ILIMITADA; a do sócio é limitada ao

capital integralizado por ele (até o limite da respectiva quota parte) - solidária perante credores p/ integralização de todo o capital na falência; ilimitada do sócio-gerente (sociedade não responde) por ato

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ilícito ou fraude (à lei ou contrato). A responsabilidade dos sócios é solidária na falência e ilimitada na fraude, violação, etc.

Nome - Firma ou denominação (menção ao ramo sempre que possível). Se omitir “LTDA”, respondem os sócios-gerentes ilimitadamente, mas não se transforma em nome coletivo.

Contrato : escritura pública ou particular, devendo prever a responsabilidade limitada dos sócios, senão estes respondem ilimitadamente (sociedade transforma-se em nome coletivo)

Sócios : dinheiro, bens ou crédito; direito de voto ao ingresso de terceiro; direito de retirada por dissidência de alteração contratual (valor proporcional ao PL).

Cessão das cotas : sócio só pode ceder a estranho, com concordância unânime dos demais. Cotas sociais são impenhoráveis por dívida do sócio. A sociedade pode adquirir cotas liberadas

Gerência : só sócio nomeado ou contrato (subst. p/ maioria). Sócio-gerente pode delegar a terceiro estranho (responderá ainda assim).

Menor : Pode ser sócio desde que não gerencie e todo o capital esteja integralizado.

Dissolução: parcial (vontade de sócio, morte, retirada, exclusão), total (vontade unânime, prazo, falência, objeto, unipessoalidade, causas do contrato), judicial (sentença), extrajudicial (distrato).

O novo Código e a sociedade limitada

Gazeta Mercantil

   Legal & Jurisprudência - Rio

14 de Setembro de 2004 - O novo Código Civil estabeleceu o delineamento e a normatização do direito de empresa, abrangendo a disciplina legal relativa à atividade empresarial e às sociedades. Trata-se, sem sombra de dúvidas, da unificação codificada do direito das obrigações, incluindo em seu âmbito o que se classifica comumente como obrigações civis e comerciais.

A unificação das obrigações pressupõe, necessariamente, o trato conjunto dos agentes profissionais que as desenvolvem. Assim, com base num conceito comum às atividades civis e comerciais, qual seja, o de atividade econômica, superou-se a dicotomia sob a figura da empresa e do empresário, regulando-se a ‘atividade negocial’ em si. A sistematização de tal atividade, circundando as figuras principais da empresa e do empresário, trouxe à baila todo um conjunto de preceitos e de balizas de interesse empresarial, das sociedades e da economia, buscando, todavia, evitar prejuízo à distinção interna ao direito privado, razão pela qual, para além do campo obrigacional, não se estendeu a unificação.

Diante deste espírito e sob a ênfase da atividade negocial, as sociedades comerciais foram normatizadas, inclusive as anteriormente denominadas sociedades por quotas de responsabilidade limitada, que receberam tratamento específico sob a denominação sociedades limitadas. Tal disciplina deve ser compreendida a partir da sistemática do novo Código Civil, uma vez que, curiosamente, mesmo após a sua entrada em vigor, remanesce a

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discussão sobre a permanência ou não da aplicabilidade do Decreto 3.708/19, norma que anteriormente disciplinava as limitadas, aplicação essa que seria feita, agora, conjuntamente com o Código.

Não há no novel diploma qualquer menção expressa, seja de forma individualizada ou genérica, acerca da revogação do referido decreto. O artigo 2.045 do Código de 2.002 revoga expressamente, apenas, o Código Civil de 1.916 e a parte primeira do Código Comercial. Já o artigo 2.037 do novo Código sinaliza serem aplicáveis aos empresários e sociedades empresárias as disposições de lei não revogadas pelo diploma, referentes a comerciantes, ou a sociedades comerciais, bem como a atividades mercantis. Em tal dispositivo pretendeu o legislador fossem aplicadas à matéria as normas sobre o assunto não revogadas pelo novo Código, fato este que aumenta de sobremaneira a importância de se estabelecer se o Decreto 3.708/19 foi ou não revogado.

Argumenta-se que o Decreto 3.708/19, por ser uma lei especial, não poderia ter sido revogada pelo Código Civil de 2.002 que é uma lei geral. Em que pese o nosso máximo respeito por tal raciocínio, entendemos que não pode prosperar, visto ser necessário analisar todo o conjunto e o conteúdo das normas à luz da "diretriz sistemática" implementada por Miguel Reale. Por isso, conquanto não tenha a lei mencionado, expressamente houve - e não só quanto ao Decreto 3.708/19 - a revogação ou derrogação tácita, seja por apresentarem incompatibilidade com a lei posterior ou pelas matérias dos diplomas anteriores terem sido reguladas de forma completa.

A Lei de Introdução ao Código Civil define as hipóteses de revogação das leis, dentre as quais a tácita quando há incompatibilidade entre as suas disposições e as da lei nova ou, quando esta regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

A análise dos institutos previstos no decreto, em comparação com o que está disposto no Livro II da Lei 10.406/02, indica que o legislador efetivou no Código de 2002 uma regulação absoluta e completa da matéria tratada no Decreto 3.708/19, tendo inclusive ampliado, em muito, o detalhamento e a abrangência da disciplina, vez que incluiu diversas previsões até então inexistentes.

O fato de haver disposições pontuais do decreto que não encontram correspondência ou tratamento exato no novo Código Civil não permite concluir que possa aquele permanecer vigente. Até porque, o Código Civil de 2002 deve ser analisado em seu conjunto normativo, vale dizer, em sua ordem sistemática, que apresenta plenas possibilidades de solucionar eventuais conflitos ou omissões concernentes às sociedades limitadas.

Além disso, quando a Lei de Introdução, em seu artigo 2º, parágrafo 1º, fala em "regular inteiramente a matéria" não exige, obviamente, que todas as proposições em perfeita similitude sejam verificadas na lei nova, mas sim, um conjunto normativo capaz de substituir e disciplinar integralmente a matéria.

É possível concluir, assim, que o Código Civil de 2002 ab-rogou tácita e globalmente o Decreto 3.709/19, restando conferir na lei nova a disciplina a ser adotada em tais sociedades.

(Gazeta Mercantil/Legal & Jurisprudência - Pág. 1)(Eduardo Schuch - Advogado do escritório Martins-Costa Advogados Associados.)

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Seção IDisposições Preliminares

        Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social (parte final é uma exceção à limitação).

EXCEÇÕES À LIMITAÇÃO:

1ª) Parte final do artigo 1052 – TODOS respondem solidariamente pela integralização do capital.

Ex.:

Sócio “A” subscreveu (comprometeu) e integralizou (realizou) = R$ 30.000,00

Sócio “B” subscreveu (comprometeu) e integralizou (realizou) = R$ 20.000,00

Sócio “C” subscreveu, mas não integralizou (não realizou) = R$ 50.000,00

CAPITAL SOCIAL = R$ 100.000,00

Em caso de falência ou insolvência, os sócios “A” e “B” perderão as suas cotas e ainda serão demandados, em conjunto com “C” ou sozinhos, pelos R$ 50.000,00 que faltaram na integralização.

2ª) DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (Disregard Doctrine)

o artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor, o artigo 18 da Lei 8.884/94; Art.28 - O Juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houve abuso de direito, excesso de poder infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.              Exige - a primeira parte do caput - a lesão dos interesses do consumidor, ao passo que a segunda reclama a má administração da pessoa jurídica como condicionante de sua desconsideração.  

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Parágrafo 5º - Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 

Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, em seu art.2º, parágrafo segundo, onde é prevista a responsabilidade solidária, para efeitos de relação empregatícia, da empresa principal e subordinadas, quando constituam um conglomerado econômico. O objetivo legal é prevenir situações onde o trabalho pudesse ser utilizado como meio de produção das várias empresas e o ônus de pagar a remuneração respectiva recaísse na empresa de patrimônio insuficiente, restando, em conseqüência, lesado o direito do empregado. Não se exige para tanto a prova de fraude ou de abuso de direito.  

O Código Tributário Nacional - CTN, art. 134, VII, em que é prevista a responsabilização pessoal do representante legal da pessoa jurídica, caso exorbite de seus poderes. Com relação a desconsideração da personalidade, se faz necessário destacar os artigos 121 e 124 do CTN: 

Posteriormente, esta teoria foi adotada pela Lei 8.884/94 (Lei da Concorrência), que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica; assim como pela Lei 9.605/98, que disciplina a responsabilidade por lesões ao meio ambiente; que praticamente repetem o teor do art. 28 do CDC.

         Art. 50 - A pessoa jurídica não pode ser desviada dos fins estabelecidos no ato constitutivo, para servir de instrumento ou cobertura à prática de atos ilícitos, ou abusivos, caso em que poderá o juiz, a requerimento de qualquer dos sócios ou do Ministério Público, decretar a exclusão do sócio responsável, ou, tais sejam as circunstâncias, a dissolução da entidade.  

Parágrafo único. Neste caso, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, responderão, conjuntamente com os da pessoa jurídica, os bens pessoais do administrador ou representante que dela se houver utilizado de maneira fraudulenta ou abusiva, salvo se norma especial determinar

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a responsabilidade solidária de todos os membros da administração.

Lei 9.605/98, que disciplina a responsabilidade por lesões ao meio ambiente o artigo 4º da nova Lei de Crimes Ambientais.

A PROTEÇÃO JURÍDICA DO CREDOR QUIROGRAFÁRIO  COM  A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA             A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (Disregard Doctrine) sempre foi de fundamental importância, por oferecer uma solução quase que perfeita para os casos, cada vez mais freqüentes, de utilização da personalidade jurídica de modo contrário à sua função e aos princípios que regem nosso ordenamento jurídico. Tal teoria é um meio bastante eficaz para impedir o divórcio entre o direito e a realidade, pois permite ignorar os efeitos da personificação jurídica em todos aqueles casos em que o respeito a ela levaria a soluções contrárias à sua função e aos princípios consagrados pelo ordenamento jurídico.             Não se trata de negação da pessoa jurídica, mas apenas da desconsideração de sua existência no caso concreto e em caso de fraude, imputando-se, ao sócio, a responsabilidade pelas obrigações pessoalmente assumidas em nome da sociedade, posto ter sido este quem auferiu real proveito quando da efetivação do negócio.

            Toda vez em que a personalidade jurídica for desvirtuada de seus objetivos, tendo por base a fraude, a prática de atos ilícitos, o abuso de poder, deve-se utilizar a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, não para extingui-la, mas justamente visando sua preservação e fundando-se na segurança do negócio jurídico.

             Por meio da desconsideração da personalidade jurídica, podemos evitar que pelo uso indevido da sociedade, materializado pela fraude ou pelo abuso de direito, se possa lesar direitos dos credores. Entretanto, na hipótese de ter o sócio agido com excesso de poderes, infração da lei ou do contrato social, caracterizando atos de malícia e prejuízos à sociedade, seus bens particulares podem ser penhorados de modo a suportar processo de execução movido por credores contra a sociedade. 

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Na Inglaterra, o primeiro caso em que se cogitou da desconsideração da personalidade jurídica, foi julgado em Londres, no ano de 1897.

2. DIREITO BRASILEIRO E A TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Diversos diplomas legislativos incorporaram o espírito da teoria da desconsideração, dos quais servem de exemplo: a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, em seu art.2º, parágrafo segundo, onde é prevista a responsabilidade solidária, para efeitos de relação empregatícia, da empresa principal e subordinadas, quando constituam um conglomerado econômico. O objetivo legal é prevenir situações onde o trabalho pudesse ser utilizado como meio de produção das várias empresas e o ônus de pagar a remuneração respectiva recaísse na empresa de patrimônio insuficiente, restando, em conseqüência, lesado o direito do empregado. Não se exige para tanto a prova de fraude ou de abuso de direito.  

O Código Tributário Nacional - CTN, art. 134, VII, em que é prevista a responsabilização pessoal do representante legal da pessoa jurídica, caso exorbite de seus poderes. Com relação a desconsideração da personalidade, se faz necessário destacar os artigos 121 e 124 do CTN: 

Art. 121 - Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.  

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;

II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei?

(...)Art. 124 - São solidariamente obrigadas: 

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I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal;

II - as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem.

           A Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76), que estabelece limites ao reconhecimento da pessoa jurídica ao elidir a distinção entre essa e seus membros pelos atos ilícitos por eles praticados.  

           No Código de Defesa do Consumidor, vale ressaltar o caput e o parágrafo 5º do art. 28, que rezam o seguinte: 

Art.28 - O Juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houve abuso de direito, excesso de poder infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

            Exige - a primeira parte do caput - a lesão dos interesses do consumidor, ao passo que a segunda reclama a má administração da pessoa jurídica como condicionante de sua desconsideração.  

Parágrafo 5º - Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 

            Também no campo do direito de família, presta, a disregard doctrine, relevantes contribuições. Destarte, em casos onde o cônjuge empresário, usando-se da sociedade da qual faz parte, transfere-lhe todos ou a maioria de seus bens, no desiderato de furtar-se à meação conjugal. Note-se, que em casos como esse, opera a disregard doctrine de forma inversa, pois desconsidera o ato para alcançar bens da sociedade e com o produto deles ressarcir o cônjuge ou credor prejudicado.              A Lei do Sistema Financeiro ( Lei 4.595/64 ) ao

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dilargar a proibição de certos negócios ou operações serem efetuados entre a instituição financeira e pessoas jurídicas cujo capital tenha sido majoritariamente constituído pelos administradores daquela instituição. Além de responsabilizar solidariamente diretores e gerentes das instituições financeiras pelas obrigações assumidas pelas mesmas durante suas gestões. 

Posteriormente, esta teoria foi adotada pela Lei 8.884/94 (Lei da Concorrência), que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica; assim como pela Lei 9.605/98, que disciplina a responsabilidade por lesões ao meio ambiente; que praticamente repetem o teor do art. 28 do CDC.

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 

         Art. 50 - A pessoa jurídica não pode ser desviada dos fins estabelecidos no ato constitutivo, para servir de instrumento ou cobertura à prática de atos ilícitos, ou abusivos, caso em que poderá o juiz, a requerimento de qualquer dos sócios ou do Ministério Público, decretar a exclusão do sócio responsável, ou, tais sejam as circunstâncias, a dissolução da entidade.  

Parágrafo único. Neste caso, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, responderão, conjuntamente com os da pessoa jurídica, os bens pessoais do administrador ou representante que dela se houver utilizado de maneira fraudulenta ou abusiva, salvo se norma especial determinar a responsabilidade solidária de todos os membros da administração.  

          4. DESCONSIDERAÇÃO E A RESPONSABILIDADE DAS SOCIEDADES                     O legislador estabelece, também, a responsabilidade das sociedades controladoras pelos atos praticados em infração aos artigos 116 e 117 da Lei nº 6.404, que tratam do acionista controlador (art. 246). Os artigos 116 e 117 prescrevem padrões, o controlador responde por danos causados pelos atos praticados, ou seja, pelo abuso de poder.

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            O artigo 117 enumera algumas modalidades de exercício abusivo de poder, enumeração esta que é meramente exemplificativa. Dentre essas modalidades, destaca-se a prevista na alínea f: contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem ou de sociedade na qual tenha interesse, em condições de favorecimento ou não eqüitativas.

             Nesse dispositivo, o legislador prevê o abuso de poder por parte do acionista controlador quando praticar os atos vedados através de uma sociedade na qual tenha interesse. Dessa forma, o controlador utilizaria a personalidade jurídica de uma sociedade, na qual tivesse interesse, para realizar aquilo que lhe fosse diretamente vedado.

            5. APLICAÇÃO JURISPRUDENCIAL

            Após esta construção jurisprudencial, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi positivada em nosso ordenamento jurídico em diversas leis, como a Consolidação das Leis do Trabalho, o artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor, o artigo 18 da Lei 8.884/94, mais recentemente, o artigo 4º da nova Lei de Crimes Ambientais. O Código Civil não ficou indiferente a esta evolução, e no texto aprovado pelo Senado Federal o artigo 50 prestigia a Teoria da disregard of the legal entity: 

                      Além disso, a desconsideração fortalece a pessoa jurídica, haja vista que tem por objetivo preservar sua principal característica, a autonomia patrimonial. Se de um lado, aparentemente a afirmação parece equivocada, de outro, se for feita uma análise mais profunda, verifica-se que apenas se aplica a teoria nos casos em que a personalidade foi desvirtuada, onde na realidade fática não se consegue diferenciar os bens da sociedade e dos sócios. 

            Cabe ressaltar que a desconsideração da personalidade jurídica não se assemelha com a dissolução da mesma, sendo inclusive tratada de maneira diversa pelo legislador do novo Código, enquanto a dissolução está prevista no caput do artigo 50, com o procedimento dos artigos 560 e seguintes do CPC de 1939, que ainda está em

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vigor por disposição expressa do CPC de 1973, a desconsideração se encontra no p.u., do artigo mencionado.

OS FUNDAMENTOS DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O NOVO CÓDIGO CIVIL.

A sociedade comercial, em sua essência, é tão antiga quanto a civilização. Começou a florescer no momento em que duas pessoas somaram esforços para a obtenção de resultados econômicos comuns.

Os primeiros documentos legislativos conhecidos datam do Direito Romano, nos quais se vislumbram as origens do direito societário, concernentes ao tratamento concebido à indivisão, entre os herdeiros, do patrimônio constitutivo da herança, para o efeito de uma administração comum (sociedade familiar).

Contudo, foi na Idade Média que as sociedades comerciais atingiram maior desenvolvimento, evoluindo de suas antigas formas para aproximarem-se de suas atuais configurações, quando a noção da separação entre o patrimônio da sociedade e o dos sócios passou a se definir.

Inicialmente, essas sociedades tomaram o contorno da sociedade em nome coletivo ou em comandita simples que, apesar de fazerem distinção entre o patrimônio da pessoa jurídica e o de seus sócios, responsabilizavam ilimitadamente o sócio, seja na forma objetiva ou através do princípio da subsidiariedade, como ainda hoje o fazem.

Posteriormente, no início do Século XVII, surgem as companhias de comércio, destinadas à exploração colonial, com características semelhantes às atuais sociedades por ações. A Companhia Holandesa das Índias Orientais teria sido a primeira dentre estas.

Advindas da necessidade de atrair capitais para tais empreendimentos, os comerciantes se associavam assegurando a limitação do risco ao total do capital investido.

Companhias estas, que passaram a se desenvolver sob o esteio da limitação do risco e que, dois séculos após, atingiram o seu apogeu como a mola propulsora da Revolução Industrial.

Após o sucesso econômico em que se tornaram as sociedades anônimas, o mesmo mecanismo de limitação da responsabilidade teve ensejo, desta vez na Alemanha, a partir de 1892, passando a Portugal em 1901 (a cujo modelo a lei brasileira se filiou), como estímulo a um novo tipo societário, incumbido de permitir a limitação do risco aos pequenos empreendedores (pois aceitava para sua constituição a união de apenas dois sócios), chamado de sociedade por cotas de responsabilidade limitada.

A limitação da responsabilidade dos sócios, portanto, constituiu-se no vínculo jurídico, lastreado no capital social, que concebeu a

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necessária segurança ao investidor, o que possibilitou o desenvolvimento econômico e social das economias de distintos países, fomentando empregos, tributos e a produção de bens e serviços para a comunidade.

Como exemplo da importância desse instituto, existem no Brasil, atualmente, quase quatro milhões de sociedades por quotas de responsabilidade limitada, e um número substancialmente menor de sociedades anônimas, exercendo atividades comerciais. Praticamente, nenhum dos outros tipos societários do antigo Código Comercial é utilizado.

Desta forma, é inegável que para haver incremento nas atividades econômicas produtivas do país, empreendimentos são necessários e imprescindível se torna a união de pessoas que, em regra geral, não estão dispostas a arriscar a totalidade de seus patrimônios.

Para tanto, o instituto da pessoa jurídica com limitação da responsabilidade ou, mesmo, a criação de sociedades personificadas se encaixou perfeitamente.

Salienta-se que, apesar da pessoa jurídica existir para gerar investimentos, atrair empregos e recolher tributos, é utópico pensarmos, no entanto, que qualquer estrutura societária esteja livre do abuso de direito, da fraude ou de qualquer outro ato ilícito.

Assim, e devido ao rápido florescimento histórico de inúmeras atividades empresariais, às vezes em velocidade superior aos devidos mecanismos de proteção legal, algumas condutas desonestas eram praticadas visando, acintosamente, o prejuízo dos credores.

Como forma de controle de tais descaminhos, surge a teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

Esta teoria desenvolveu-se inicialmente nos países da common law, teve seu leading case na Inglaterra em 1897, mas ganhou força nos Estados Unidos e na Alemanha. Concluía que, apesar do instituto da limitação da responsabilidade ser um instrumento importantíssimo para o exercício da atividade empresarial, não deveria ser usado para propósitos espúrios. Desta forma, uma vez caracterizada a utilização abusiva da forma societária, com prejuízo para terceiros, levantar-se-ia o véu da pessoa jurídica para alcançar os sócios ou os acionistas em seus patrimônios pessoais.

Portanto, a desconsideração da personalidade jurídica foi inserida no ordenamento jurídico como forma de impedir a utilização da pessoa jurídica como instrumento do dolo, da fraude e do abuso de direito nas relações comerciais.

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No ordenamento jurídico brasileiro, o art. 20 do antigo Código Civil, consagrava o princípio da separação entre a pessoa do sócio e a sociedade.

Assim sendo, e em virtude da ausência de norma legal expressa sobre a desconsideração, esta vinha sendo admitida de forma cautelosa por nossos julgadores, sempre nos casos em que o sócio ou administrador agia com evidente intuito de fraude, que resultasse, em conseqüência, prejuízo para o interessado. As decisões, em regra, visavam coibir a fraude a dever contratual; a fraude à lei, além daquelas relacionadas às hipóteses de sociedade entre marido e mulher e as chamadas sociedades unipessoais.

O primeiro texto normativo a trazer expressa previsão sobre a teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi a Lei 8.078/90 (art. 28) chamada de Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Há de ser ressaltado, no entanto, o estarrecimento que tal normativo provocou, na medida em que dispôs, a despeito de todo um fundamento histórico, que a falência por 'má administração' enseja a imputação desta teoria. Esqueceu-se o legislador, que a gênese deste instituto advém da má-fé (quando provada) dos sócios, gerentes e administradores; nunca visando atingir a segurança do investidor e, muito menos, puni-lo por assumir o risco inerente às atividades econômicas.

Posteriormente, esta teoria foi adotada pela Lei 8.884/94 (Lei da Concorrência), que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica; assim como pela Lei 9.605/98, que disciplina a responsabilidade por lesões ao meio ambiente; que praticamente repetem o teor do art. 28 do CDC.

O Novo Código Civil, na esteira dos diplomas legais acima citados, recentemente promulgados no Brasil e, ainda, seguindo a tendência que se observa atualmente nas decisões de tribunais do país, mormente na esfera trabalhista e fiscal, amplia os casos em que pode se atingir os bens particulares dos sócios das pessoas jurídicas de responsabilidade limitada, a critério do juiz.

Nesse particular, cabe ressaltar mais uma vez, que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica desenvolveu-se com o fim precípuo de prevenir o desvio de finalidade de um ente empresarial, seja através da fraude à lei, aos credores ou ao contrato social, isto é, visando única e exclusivamente responsabilizar a má fé dos sócios-administradores.

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Contudo, a redação do art. 50 do novo Código Civil inova no que se refere à responsabilidade pessoal dos sócios das sociedades quando inclui a confusão patrimonial entre as causas de abuso da personalidade jurídica, dando poderes ao juiz para decidir que obrigações da sociedade sejam estendidas aos bens particulares dos administradores e sócios da pessoa jurídica. Senão vejamos:

Art. 50 – “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”.

Destarte, vislumbra-se um campo nebuloso à espera de definições claras e definitivas, na medida em que esta redação possibilita o entendimento que a simples confusão patrimonial caracterizaria o abuso da personalidade jurídica. Assim, a indefinição criada por esta confusa redação permite a possibilidade de se atingir o patrimônio daqueles de boa-fé, como, por exemplo, as sociedades empresariais de pequeno e médio porte que, não raro, são administradas por entes familiares ou pessoas com inadequada ou nenhuma assessoria contábil.

Ademais, parece-nos que ao tirar dos sócios, inclusive dos minoritários que não participam da administração da pessoa jurídica, a proteção total da limitação de sua responsabilidade, a não ser em casos comprovados de proveito pessoal, em decorrência da violação da lei, do contrato ou de abuso de poder, o legislador e os tribunais poderão estar inibindo a iniciativa privada, instaurando a incerteza quanto à proteção do patrimônio particular, em suma, atingindo de maneira negativa a própria atividade empresarial, com prejuízo da geração de emprego e de riqueza para o País.

Ainda neste diapasão, nos causa perplexidade o fato que o Novo Código Civil, mantida esta redação (e a interpretação radical que poderá dela advir), se distancia por completo do objetivo central da teoria da desconsideração, na medida em que alarga o critério de abrangência da responsabilização, possibilitando a punição daqueles de boa-fé, como dito anteriormente.

Ademais, há de ser ressaltado o fato que tal normativo encontra-se em nítido contraponto à evolução das normas societárias e de proteção ao mercado econômico, onde persiste a constante preocupação em estimular e atrair o investidor ao risco (por meio de regras de transparência, limitação da

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responsabilidade, distribuição de dividendos mínimos, proibição de distribuição disfarçada de lucros, maior participação nas decisões da empresa, etc.), com o intuito de atrair a poupança privada inativa para os meios de produção.

Portanto, míster se faz uma revisão da norma insculpida no art. 50, ou ao menos sua interpretação consentânea com a realidade da prática econômica, para que o desenvolvimento histórico da teoria da desconsideração se cristalize, em sua amplitude e fundamento, em nosso direito positivo.

Para tanto, bastaria que o legislador deixasse claro que o uso desta teoria seria cabível - nos casos de confusão patrimonial e para se atingir o patrimônio pessoal de qualquer sócio - apenas quando praticada com abuso da personalidade jurídica, ou seja, nos casos de infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos. Assim, poderíamos ter, entre outras, a seguinte redação:“Art. 50 – As pessoas jurídicas têm existência distinta da de seus membros.§ único – Em caso de infração à lei, desvio de finalidade ou confusão patrimonial praticados com abuso da personalidade jurídica, pode o juiz decidir, a requerimento da parte prejudicada, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica, que lhes deram causa ou deles obtiveram proveito, assegurados o contraditório e a ampla defesa” .

Se assim não o fizer o Poder Legislativo, seria de todo recomendável que o Poder Judiciário, desde já, pacifique em nosso ordenamento os fundamentos históricos de tal teoria, para que possamos caminhar em igual evolução com as normas societárias, visando atrair investimentos e, por conseguinte, gerar empregos, rendas e tributos.

Por fim, não é demais frisarmos o entendimento universal segundo o qual o único solo apropriado à fertilização da atividade empresarial é aquele semeado com a garantia do valor da segurança jurídica.

3ª) Art. 1055 - § 1 o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.

4ª) Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.

5ª) Art. 1.080. As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.

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6ª) Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura.

§ 3 o A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

ATENÇÃO: Doutrinaria e jurisprudencialmente, ainda são considerada as seguintes situações:

- se faltar a cláusula contratual que reze, expressamente, que a responsabilidade dos sócios é limitada ao valor de suas cotas partes, todos RESPONDERÃO ILIMITADAMENTE, como se sócios de uma sociedade em nome coletivo fossem;

- os tribunais têm condenado todos os sócios e não só o administrador, por culpa in eligendo.

7ª) NA TRANSFORMAÇÃO – Art. 222, da Lei das S/A (6.404/76) – “A TRANSFORMAÇÃO NÃO PREJUDICARÁ, EM CASO ALGUM, OS DIREITOS DOS CREDORES, QUE CONTINUARÃO, ATÉ O PAGAMENTO INTEGRAL DOS SEUS CRÉDITOS, COM AS MESMAS GARANTIAS QUE O TIPO ANTERIOR DE SOCIEDADE LHES OFERECIA”.

8ª) EM CASO DE SOCIEDADE LIMITADA EM COMUM, ou seja, que não tem o seu ato constitutivo registrado no órgão competente – VEJA ART. 990 DO CÓDIGO CIVIL – CONSEQÜÊNCIAS.

        Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples.

        Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima.

        Art. 1.054. O contrato mencionará, no que couber, as indicações do art. 997, e, se for o caso, a firma social.

Do Contrato Social

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

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II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

Art. 998. Nos trinta dias subseqüentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.

§ 1o O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato, e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade competente.

§ 2o Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição tomada por termo no livro de registro próprio, e obedecerá a número de ordem contínua para todas as sociedades inscritas.

Art. 999. As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime.

Parágrafo único. Qualquer modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades previstas no artigo antecedente.

Serviços - de acordo com o Código Civil/2002

ORIENTAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DE CONTRATO DE SOCIEDADE LIMITADA

ELABORE O SEU CONTRATO SOCIAL CONFORME MODELO,

OBSERVANDO O SEGUINTE EM RELAÇÃO A SEUS ELEMENTOS:

1. Qualificação completa dos sócios: (art. 997, I, do CC/2002)

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  PESSOA FÍSICA: nome completo, nacionalidade, naturalidade, estado

civil, regime de bens (se casado), data de nascimento (se solteiro),

profissão, nº do CPF, documento de identidade, seu número, órgão

expedidor e UF onde foi emitida (documentos válidos como identidade:

carteira de identidade, certificado de reservista, carteira de identidade

profissional, Carteira de Trabalho e Previdência Social, Carteira Nacional

de Habilitação – modelo com base na Lei nº 9.503, de 23.9.97), domicílio

e residência (tipo e nome do logradouro, número, bairro/distrito, município,

Unidade Federativa e CEP);

solteiro menor de 18 anos: (art. 1.690, CC/2002)

  maior de 16 anos - deve ser assistido pelo pai, pela mãe ou tutor;

constar também do preâmbulo a expressão “ASSISTIDO POR”, e a

qualificação completa do(s) assistente(s);

  menor de 16 anos - deve ser representado pelo pai, pela mãe ou

tutor; constar também do preâmbulo a expressão “REPRESENTADO

POR” e a qualificação completa dos representantes.

se emancipado (maior 16 anos) constar da qualificação a forma da

emancipação, arquivando, em separado, a prova da emancipação (art.

976, do CC/2002), feita antes o registro no Registro Público no caso de

outorga pelos pais ou por sentença. (art. 9º)

sócio analfabeto: também o nome e a qualificação completa do

procurador constituído, com poderes específicos, por instrumento público.

  PESSOA JURÍDICA: nome empresarial, endereço completo da sede, e

se sediada no Brasil, NIRE (número de identificação do registro de

empresas) ou número atribuído no Cartório de Registro Civil das Pessoas

Jurídicas e o nº do CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas);

qualificação completa dos representantes da empresa no ato; (art. 997, I,

CC/2002)

sócio domiciliado no exterior: nomear procurador no Brasil, com

poderes para receber citação;

procurador: constar do preâmbulo, após o nome e qualificação completa

do sócio: “REPRESENTADO POR SEU PROCURADOR, NOME E

QUALIFICAÇÃO COMPLETA, juntado ao processo o respectivo

instrumento de mandato”.

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2. Indicação do tipo jurídico da sociedade: sociedade limitada.

3. Nome empresarial: (art. 997, II e art. 1.158, CC/2002)

  não pode conter as expressões “ME” ou “EPP”;

  não pode ser idêntico ou semelhante a nome já protegido isto é,

anteriormente registrado;

  a composição do nome deve observar as regras gerais e as próprias do

tipo escolhido (firma social ou denominação).

4. Endereço comercial da sede e de filiais declaradas: (art. 997, II,

CC/2002)

  Tipo e nome do logradouro, número, complemento, bairro/distrito,

município, UF e CEP.

5. Objeto social: (art. 997, II, CC/2002)

  Declaração precisa e detalhada das atividades a serem desenvolvidas,

mencionando gênero e espécie. (art. 56, ll, da Lei nº 8.884, de 11.7.94).

6. Capital social (art. 997, III e IV, CC/2002)

  indicação numérica e por extenso do total do capital social;

  mencionar o valor nominal de cada quota, que pode ter valor desigual;

  mencionar o total de quota(s) de cada sócio;

  declarar a forma e o prazo de integralização do capital;

  se houver sócio menor, o capital deverá estar totalmente integralizado;

  integralização com bem imóvel: descrição e identificação do imóvel, sua

área, dados relativos a sua titulação, número de matrícula no Registro de

Imóveis e autorização do cônjuge no instrumento contratual com a

referência pertinente, salvo se o regime de bens for o de separação

absoluta.

7. Responsabilidade dos sócios: (art. 1.052, CC/2002)

  Declaração da responsabilidade dos sócios ser restrita ao valor de suas

quotas e, solidariamente, pela integralização do capital social.

8.  Prazo de duração da sociedade: (art. 997, ll, CC/2002)

  Indicar o prazo de duração indeterminado ou determinado (neste caso

indicar o início e o fim da sociedade).

9.  Administração: (art. 997, VI, art. 1.060, art. 1.061, 1.062, art. 1.063 e

1.064 todos do CC/2002)

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  Designar pessoa(s) naturais, caso não se ajuste esta indicação em ato

separado, para administrador(es) da sociedade, as atribuições e poderes,

entre eles o de usar do nome empresarial. Indicar o prazo de gestão, se

determinado.

  O contrato pode estabelecer a designação de administrador NÃO sócio.

Dependerá de aprovação de todos os sócios, se o capital não estiver

integralizado e de no mínimo dois terços, se totalmente integralizado. (art.

1.061, CC/2002)

  sócio menor – somente se emancipado;

  estrangeiro, apresentar a carteira de identidade com o visto permanente.

10. Cessão de quotas. (artigos 1.003 e 1.056, CC/2002)

11. Falecimento/interdição de sócio. (artigos 1.028 e 1.031, CC/2002)

12. Data de encerramento do exercício social: indicar a data do término de

cada exercício, para a elaboração do inventário, do balanço patrimonial e

do balanço do resultado econômico (art. 1.065, CC/2002) e a referência ao

julgamento das contas no primeiro quadrimestre seguinte ao término do

exercício social pelos sócios (art. 1.078, CC/2002) e à colocação destes

documentos à disposição dos sócios não administradores, até trinta dias

antes da reunião ou da assembléia de sócios. (art. 1.078, § 1º, CC/2002 )

13. Participação dos sócios nos lucros e perdas: indicação da participação

proporcional dos sócios nos lucros se outro ajuste não for estipulado. (art.

997, Vll, CC/2002)

14. Cláusula de inexistência de impedimento para o(s) administrador(es)

se não apresentada esta declaração em separado. (art. 1.011, CC/2002)

15. Foro: indicar o domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e

obrigações deles resultantes. (arts. 53, III, “e” do Dec. 1.800/96)

16. Inserir cláusulas facultativas desejadas.

17. Local e data (dia, mês e ano).

18. Assinatura dos sócios ou dos seus procuradores no fecho do contrato

social, com a reprodução de seus nomes. Observação: sócio menor de

16 anos, o ato será assinado pelo representante do sócio; - sócio maior de

16 e menor de 18 anos, o ato será assinado, conjuntamente, pelo sócio e

seu assistente.

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19. Visto de advogado: visto/assinatura de advogado, com a indicação do

nome e do número de inscrição na OAB/Seccional (este visto é dispensado

para o contrato social de microempresa e de empresa de pequeno porte).

(art. 1º, § 2º, da Lei nº 8.906, de 4.7.94 e art. 6º, parágrafo único, da Lei

nº 9.841, de 5.10.99)

20. Rubricar as demais folhas não assinadas. (inciso I, art. 1o, Lei 8.934/94).

Observação: o documento não pode conter rasuras, emendas ou

entrelinhas sem expressa ressalva dos sócios.

Seção IIDas Quotas

        Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.

        § 1 o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.

        § 2O É VEDADA CONTRIBUIÇÃO QUE CONSISTA EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.

        Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no artigo seguinte.

        § 1o No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido.

        § 2o Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de quota indivisa respondem solidariamente pelas prestações necessárias à sua integralização.

        Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.

        Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.

        Art. 1.058. Não integralizada a quota de SÓCIO REMISSO, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e

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devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.

        Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.

Seção IIIDa Administração

        Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

        Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.

        Art. 1.061. Se o contrato permitir administradores não sócios, a designação deles dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de dois terços, no mínimo, após a integralização.

        Art. 1.062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração.

        § 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito.

        § 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão.

        Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado, não houver recondução.

        § 1o Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes, no mínimo, a dois terços do capital social, salvo disposição contratual diversa.

        § 2o A cessação do exercício do cargo de administrador deve ser averbada no registro competente, mediante requerimento apresentado nos dez dias seguintes ao da ocorrência.

        § 3o A renúncia de administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade, desde o momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante; e, em relação a terceiros, após a averbação e publicação.

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        Art. 1.064. O uso da firma ou denominação social é privativo dos administradores que tenham os necessários poderes.

        Art. 1.065. Ao término de cada exercício social, proceder-se-á à elaboração do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico.

Seção IVDo Conselho Fiscal

        Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078.

        § 1o Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis enumerados no § 1o do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.

        § 2o É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente.

        Art. 1.067. O membro ou suplente eleito, assinando termo de posse lavrado no livro de atas e pareceres do conselho fiscal, em que se mencione o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência e a data da escolha, ficará investido nas suas funções, que exercerá, salvo cessação anterior, até a subseqüente assembléia anual.

        Parágrafo único. Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes ao da eleição, esta se tornará sem efeito.

        Art. 1.068. A remuneração dos membros do conselho fiscal será fixada, anualmente, pela assembléia dos sócios que os eleger.

        Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do conselho fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes:

        I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;

        II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo;

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        III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico;

        IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade;

        V - convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes;

        VI - praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação.

        Art. 1.070. As atribuições e poderes conferidos pela lei ao conselho fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade, e a responsabilidade de seus membros obedece à regra que define a dos administradores (art. 1.016).

        Parágrafo único. O conselho fiscal poderá escolher para assisti-lo no exame dos livros, dos balanços e das contas, contabilista legalmente habilitado, mediante remuneração aprovada pela assembléia dos sócios.

Seção VDas Deliberações dos Sócios

        Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:

        I - a aprovação das contas da administração;

        II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;

        III - a destituição dos administradores;

        IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;

        V - a modificação do contrato social;

        VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;

        VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;

        VIII - o pedido de concordata.

        Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião ou em assembléia, conforme previsto no contrato

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social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato.

        § 1o A deliberação em assembléia será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez.

        § 2o Dispensam-se as formalidades de convocação previstas no § 3o do art. 1.152, quando todos os sócios comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia.

        § 3o A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas.

        § 4o No caso do inciso VIII do artigo antecedente, os administradores, se houver urgência e com autorização de titulares de mais da metade do capital social, podem requerer concordata preventiva.

        § 5o As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes.

        § 6o Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o disposto na presente Seção sobre a assembléia.

        Art. 1.073. A reunião ou a assembléia podem também ser convocadas:

        I - por sócio, quando os administradores retardarem a convocação, por mais de sessenta dias, nos casos previstos em lei ou no contrato, ou por titulares de mais de um quinto do capital, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas;

        II - pelo conselho fiscal, se houver, nos casos a que se refere o inciso V do art. 1.069.

        Art. 1.074. A assembléia dos sócios instala-se com a presença, em primeira convocação, de titulares de no mínimo três quartos do capital social, e, em segunda, com qualquer número.

        § 1o O sócio pode ser representado na assembléia por outro sócio, ou por advogado, mediante outorga de mandato com especificação dos atos autorizados, devendo o instrumento ser levado a registro, juntamente com a ata.

        § 2o Nenhum sócio, por si ou na condição de mandatário, pode votar matéria que lhe diga respeito diretamente.

        Art. 1.075. A assembléia será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes.

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        § 1o Dos trabalhos e deliberações será lavrada, no livro de atas da assembléia, ata assinada pelos membros da mesa e por sócios participantes da reunião, quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo dos que queiram assiná-la.

        § 2o Cópia da ata autenticada pelos administradores, ou pela mesa, será, nos vinte dias subseqüentes à reunião, apresentada ao Registro Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação.

        § 3o Ao sócio, que a solicitar, será entregue cópia autenticada da ata.

        Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061 e no § 1o do art. 1.063, as deliberações dos sócios serão tomadas:

        I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art.                  1.071;

        II - pelos votos correspondentes a mais de metade do capital social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIII do art. 1.071;

        III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais elevada.

        Art. 1.077. Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subseqüentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no art. 1.031.

        Art. 1.078. A assembléia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes à ao término do exercício social, com o objetivo de:

        I - tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o de resultado econômico;

        II - designar administradores, quando for o caso;

        III - tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.

        § 1o Até trinta dias antes da data marcada para a assembléia, os documentos referidos no inciso I deste artigo devem ser postos, por escrito, e com a prova do respectivo recebimento, à disposição dos sócios que não exerçam a administração.

        § 2o Instalada a assembléia, proceder-se-á à leitura dos documentos referidos no parágrafo antecedente, os quais serão submetidos, pelo presidente, a discussão e votação, nesta não podendo tomar parte os membros da administração e, se houver, os do conselho fiscal.

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        § 3o A aprovação, sem reserva, do balanço patrimonial e do de resultado econômico, salvo erro, dolo ou simulação, exonera de responsabilidade os membros da administração e, se houver, os do conselho fiscal.

        § 4o Extingue-se em dois anos o direito de anular a aprovação a que se refere o parágrafo antecedente.

        Art. 1.079. Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o estabelecido nesta Seção sobre a assembléia, obedecido o disposto no § 1o do art. 1.072.

        Art. 1.080. As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.

Seção VIDo Aumento e da Redução do Capital

        Art. 1.081. Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o capital aumentado, com a correspondente modificação do contrato.

        § 1o Até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.

        § 2o À cessão do direito de preferência, aplica-se o disposto no caput do art. 1.057.

        § 3o Decorrido o prazo da preferência, e assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião ou assembléia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.

        Art. 1.082. Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato:

        I - depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis;

        II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade.

        Art. 1.083. No caso do inciso I do artigo antecedente, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado.

        Art. 1.084. No caso do inciso II do art. 1.082, a redução do capital será feita restituindo-se parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, em ambos os casos, do valor nominal das quotas.

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        § 1o No prazo de noventa dias, contado da data da publicação da ata da assembléia que aprovar a redução, o credor quirografário, por título líquido anterior a essa data, poderá opor-se ao deliberado.

        § 2o A redução somente se tornará eficaz se, no prazo estabelecido no parágrafo antecedente, não for impugnada, ou se provado o pagamento da dívida ou o depósito judicial do respectivo valor.

        § 3o Satisfeitas as condições estabelecidas no parágrafo antecedente, proceder-se-á à averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata que tenha aprovado a redução.

Seção VIIDa Resolução da Sociedade em Relação a Sócios Minoritários

        Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa.

        Parágrafo único. A exclusão somente poderá ser determinada em reunião ou assembléia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa.

        Art. 1.086. Efetuado o registro da alteração contratual, aplicar-se-á o disposto nos arts. 1.031 e 1.032.

Seção VIIIDa Dissolução

        Art. 1.087. A sociedade dissolve-se, de pleno direito, por qualquer das

causas previstas no art. 1.044.

CAPÍTULO V

DA SOCIEDADE ANÔNIMA

Código Civil

Seção ÚnicaDa Caracterização

        Art. 1.088. Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.

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        Art. 1.089. A sociedade anônima rege-se por lei especial ( Lei 6.404/76) , aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código.

Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. (CUIDADO! HÁ UMA OMISSÃO NESTE ARTIGO DO CC, assim, vale o art. 3º da Lei das S/A – veja a seguir).

Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.

Conceito: é a sociedade em que o capital encontra-se dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios - acionistas é limitada ao preço DE EMISSÃO das ações adquiridas ou subscritas.

Atividades da S.A.: a sociedade anônima pode ter como objeto social qualquer atividade de fim lucrativo que não seja contrária à Lei e aos bons costumes.

O estatuto da sociedade anônima deverá definir de modo preciso e completo o objeto social da companhia.

Devemos destacar que, seja qual for o ramo de atividade da sociedade anônima, ela será sempre uma sociedade EMPRESARIAL (art. 982 do CC), sendo regulada pelas leis e usos do comércio. 

A denominação da S.A.: a sociedade anônima, como regra geral, não é denominada pelo nome de nenhum acionista, pois estes sócios não têm responsabilidade pessoais em relação à sociedade. É por isso que elas são sociedades anônimas; isto é, sociedades sem o nome civil dos sócios.

Permite-se, contudo, a título de homenagem, que a sociedade anônima tenha o nome do fundador ou de algum acionista especial. Mas estes casos constituem exceção. A regra geral nas denominações da sociedade anônima é o nome "fantasia", ao qual se devem acrescentar as expressões S.A ou Cia. (Advirta-se que a expressão Companhia só é permitida no começo ou no meio da denominação e nunca no seu final).

Vejamos dar alguns exemplos da denominação das sociedades anônimas:

Companhia Distribuidora de Gás do Distrito Federal

Saraiva S.A - Livreiros Editores.

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Companhia Brasileira de Livros Jurídicos.

Indústria de Cervejas Bondespachense S.A.

Administração da S.A.: a administração da sociedade anônima é atribuída ao conselho de administração e a diretoria.

O conselho de administração é a órgão da companhia que serve como elemento de ligação entre a assembléia geral dos acionistas e a diretoria da empresa.

Compete ao conselho de administração diversas funções decisórias, entre as quais destacamos as seguintes:

o Fixar a orientação geral dos negócios da companhia. o Eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as

atribuições. o Fiscalizar a atividade dos diretores, examinar, a qualquer tempo,

os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos e quaisquer atos praticados pela diretoria.

o Manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria.

A diretoria será composta por dois ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho administrativo. (Lei n.º 6.404, de 15 - 12 - 1976, art.: 143 - Lei de Sociedades Anônimas).

É função da diretoria empenhar todo seu zelo e dedicação na realidade dos negócios da empresa para que a companhia possa alcançar, de modo satisfatório, os objetivos traçados nos seus estatutos.

O administrador da companhia (incluindo-se, aqui, conselheiros e diretores) deve empregar, no exercício de suas funções, a capacidade de dedicação que todo homem ativo e honesto costuma empregar na administração dos seus próprios negócios (Lei n.º 6.404/76, art. 153) .Sociedade em nome coletivo dois ou mais sócios (não precisam ser comerciantes) Responsabilidade subsidiária (ilimitada e solidária) Razão social (nome sócio (s) + & Cia (facultativa se tiver todos os nomes)

Lembretes Aberta: CVM; c/ denominação e sempre Estatuto Responsabilidade : limite da integralização de suas ações, ilícito (dano) do

adm: responsabilidade sua. Sócios : podem retirar-se e negociar sua ação, pode ser penhorada sua

ação, ninguém pode impedir o ingresso de ninguém. Constituição : pela Assembléia-geral (1 convocação - metade do capital

social (subscritores) e em 2ª com qq número) Objeto : qualquer objeto – será SEMPRE SOCIEDADE EMPRESÁRIA

(portanto, NUNCA SIMPLES). Falecido - herdeiro sucede.

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Capital : fracionado em ações, 10% em bancos (dinheiro), resto em dinheiro ou bens.

Ação : número fixado no estatuto: ordinária (dividendos e voto), preferencial SEM DIREITO A VOTO (não pode ser maior do que 50% do total de ações emitidas e preferência por dividendos), de fruição (reembolso de capital).

Vedação - emissão de ações de valor inferior ao valor nominal. Reforma dos Estatutos : 2/3 A.G.E. das ações votantes; A.G.O. - 51% c/

direito a voto. A G.E - deliberações sobre capital . Administradores : dever de diligência, lealdade, informar. Acionista : deve pagar o preço de emissão das ações, participação nas

responsabilidades sociais, fiscalização, preferência, retirada. Dissolução : de pleno direito (término do prazo, casos do estatuto,

deliberação da AG em incorporação, fusão, cisão, por ter um só acionista, por extinção da autorização por lei), judicialmente (anulada a sua constituição por qq acionista, se não preencher seu fim por acionistas com 5% ou + do capital, em falência) decisão da autoridade (casos da lei).

Extinção : incorporação, fusão, cisão, encerramento da liquidação.

LEI N o 6.404, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1976.

CARACTERÍSTICAS DA S.A.

Art. 1º. – A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.

OBJETO SOCIAL:

OBSERVAÇÃO: Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Art. 2º. – Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes.§ 1º. – Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio.§ 2º. – O estatuto social definirá o objeto de modo preciso e completo.

Art. 3º. A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões “companhia”, ou “sociedade

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anônima”, expressas por extenso ou abreviadamente mas vedada a utilização da primeira ao final.

§ 1º. O nome do fundador, acionista, ou pessoa que, por qualquer outro modo tenha concorrido para o êxito da empresa, poderá figurar na denominação.

COMPANHIA ABERTA E FECHADA:

Art. 4º. Para os efeitos desta lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação em bolsa ou no mercado de balcão.

MERCADO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

Quando novas ações ou títulos são transacionados pela primeira vez no mercado financeiro, diz-se que são transacionados no mercado primário. Quando essa ação ou esse título é revendido, dizemos que essa transação se dá no mercado secundário.

As empresas se encaminham para a realização de operações no mercado primário quando necessitam de aporte de recursos, para o financiamento de projetos de investimento e crescimento de suas atividades.

MERCADO DE CAPITAIS

No mercado de capitais, as operações entre agentes poupadores e investidores são efetuadas através de intermediários financeiros e os financiamentos são de médio e longo prazos, ou de prazo indeterminado. É considerado um mercado de alto risco devido às fortes flutuações nos preços dos títulos. Neste mercado, são realizados os financiamentos do capital de giro e do capital fixo das empresas. Entre os principais títulos negociados estão as ações, os commercial papers e as debêntures.

Títulos e Valores Mobiliários

São operações de capital de risco, com o objetivo de fortalecer a estrutura patrimonial das empresas privadas nacionais e sua subscrição no mercado de capitais.

Ações – Características e Direitos;

As sociedades anônimas têm seu capital pulverizado em ações. Cada ação pode ter ou não um valor nominal. Além do valor nominal e patrimonial, as ações têm um valor pela qual elas são negociadas nas Bolsas de Valores, que é a sua cotação.

Art. 11 – “O estatuto fixará o número das ações em que se divide o capital social e estabelecerá se as ações terão ou não valor nominal”.

§1°. “Na companhia com ações sem valor nominal, o estatuto poderá criar uma ou mais classes de ações preferenciais com valor nominal”.

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§2°. “O valor nominal será o mesmo para todas as ações da companhia”.

§3°. “O valor nominal das ações de companhia aberta não poderá ser inferior ao mínimo fixado pela Comissão de Valores Mobiliários”.

Art. 12 – “O número e o valor nominal das ações somente poderão ser alterados nos casos de modificação do valor do capital social ou da sua expressão monetária, de desdobramento ou grupamento de ações, ou de cancelamento de ações autorizado nesta lei”.

Art. 13 – “É vedada a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal”.

(...)§2°. – “A contribuição do subscritor que ultrapassar o valor nominal

constituirá reserva de capital”.Art. 14 – “O preço de emissão das ações sem valor nominal será

fixado, na constituição da companhia, pelos fundadores, e no aumento de capital, pela assembléia geral ou pelo conselho de administração”.

ESPÉCIES E CLASSES DAS AÇÕES:Art. 15 – “As ações, conforme a natureza dos direitos

ou vantagens que confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais ou de fruição”.

§1°. – “As ações ordinárias da companhia fechada e as ações preferenciais da companhia aberta e fechada poderão ser de uma ou mais classes”.

§2°. – “O número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrições no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% (cinqüenta por cento) do total das ações emitidas”.

Art. 16 – “As ações ordinárias de companhia fechada poderão ser de classes diversas, em função de”:

I – conversibilidade em ações preferenciais;II – exigência de nacionalidade brasileira do acionista; ouIII – direito de voto em separado para o preenchimento de

determinados cargos de órgãos administrativos”.Parágrafo Único – “A alteração do estatuto na parte em que regula a

diversidade de classes, se não for expressamente prevista e regulada, requererá a concordância de todos os titulares das ações atingidas”.

Art. 17 – “As preferências ou vantagens das ações preferenciais”:I – consistem, salvo no caso de ações com direito a dividendos fixos

ou mínimos, cumulativos ou não, no direito a dividendos no mínimo 10% (dez por cento) maiores do que os atribuídos às ações ordinárias;

II – sem prejuízo do disposto no inciso anterior e no que for com ele compatível, podem consistir:

a) em prioridade na distribuição de dividendos;b) em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele;c) na acumulação das vantagens acima enumeradas”.§1°. – “Os dividendos, ainda que fixos ou cumulativos, não poderão

ser distribuídos em prejuízo do capital social, salvo quando, em caso de liquidação da companhia, essa vantagem tiver sido expressamente assegurada”.

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(...)FORMA DAS AÇÕES:Art. 20 – “As ações devem ser nominativas”.“Ação endossável: extinção pela Lei 8021/90”.Art. 28 – “A ação é indivisível em relação à companhia”.Parágrafo Único – “Quando a ação pertencer a mais de uma pessoa,

os direitos por ela conferidos serão exercidos pelo representante do condomínio”.

Art. 29 – “As ações da companhia aberta somente poderão ser negociadas depois de realizados trinta por cento do preço de emissão”.

Art. 31 – “A propriedade das ações nominativas presume-se pela inscrição do nome do acionista no livro de ‘Registro das Ações Nominativas’”.

§1°. – “A transferência das ações nominativas opera-se por termo lavrado no livro de ‘Transferência de Ações Nominativas’, datado e assinado pelo cedente e pelo cessionário, ou de seus legítimos representantes”.

(...)§3°. – “Na transferência das ações nominativas adquiridas em bolsa

de valores, o cessionário será representado, independentemente de instrumento de procuração, pela sociedade corretora, ou pela caixa de liquidação da bolsa de valores”.

Obs.: As ações endossáveis foram extintas pela Lei 8.021/90;Obs.: As ações ao portador foram extintas pela Lei 8.021/90.Art. 34 – “O estatuto da companhia pode autorizar ou estabelecer

que todas as ações da companhia, ou uma ou mais classes delas, sejam mantidas em contas de depósito, em nome de seus titulares, na instituição que designar, sem emissão de certificados”.

(...)§2°. – “Somente as instituições financeiras autorizadas pela

Comissão de Valores Mobiliários podem manter serviços de ações escriturais”.Art. 35 – “A propriedade da ação escritural presume-se pelo registro

na conta de depósito das ações, aberta em nome do acionista nos livros da instituição depositária”.

§1°. – “A transferência da ação escritural opera-se pelo lançamento efetuado pela instituição depositária em seus livros, a débito da conta de ações do alienante e a crédito da conta de ações do adquirente, à vista de ordem escrita do alienante, ou de autorização ou ordem judicial, em documento hábil que ficará em poder da instituição”.

A cotação da ação (valor de Bolsa) sofre oscilações diárias nos pregões, podendo subir ou descer (ficar acima do par ou abaixo do par), ou, ainda, permanecer sem alteração (no par).

As operações de Bolsa são consideradas operações do mercado secundário, pois a transferência de recursos é entre investidores, não existindo qualquer efeito no caixa da empresa.

As ações podem ser negociadas com direitos (ações integrais ou ações com) ou sem direitos (ações ex-direitos, ações ex ou ações limpas).

As ações novas são ações sem direito ao recebimento do próximo dividendo a ser distribuído.

As ações integrais são as ações com direito integral sobre os próximos benefícios a serem distribuídos pelas empresas.

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Ações ex-dividendos – são as que não têm direito aos dividendos que estão sendo distribuídos pela sociedade.

Ações ex-bonificação – são as que não têm direito à bonificação.Ações ex-subscrição – são as que não têm direito à subscrição.

Direitos e Proventos de uma Ação

Dividendos – distribuição de parte dos lucros de uma empresa, em moeda, aos seus acionistas.

Por lei, no mínimo 25% do lucro líquido do exercício devem ser distribuídos aos acionistas.

Juros sobre o capital próprio – foi um incentivo criado em 1996 para compensar o fim da correção monetária dos balanços das empresas. Através deste instrumento, a empresa remunera o capital do acionista até o valor da TJLP. O valor desembolsado é considerado como despesa e, portanto, descontado do lucro tributável, diminuindo o IR a ser pago pela empresa.

O valor a ser recebido pelo acionista sofre desconto de Imposto de Renda na fonte com alíquota de 15%.

No caso das empresas, o ganho tributável é de 10%, representado pela diferença entre os 25% de IR economizados e os 15% recolhidos em nome dos acionistas.

Subscrição – Direito aos acionistas de aquisição de ações por aumento de capital, com preço e prazo determinados.

Bonificação – distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, em função de aumento do capital por incorporação de reservas.

Split ou Desdobramento – distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, pela diluição do capital em um maior número de ações, com o objetivo, entre outros, de dar liquidez aos títulos no mercado.

Agrupamento ou Inplit – condensação do capital em um menor número de ações com conseqüente aumento do valor de mercado da ação, com o objetivo, entre outros, de valorizar sua imagem em mercado.

Para investir diretamente na Bolsa, adquirindo ações ou direitos de companhias de capital aberto ali negociadas, o interessado deve cadastrar-se em corretora ou distribuidora autorizada a operar em negócios da Bolsa e dar pessoalmente à corretora as suas ordens de “compra” ou “venda” de ações ou direitos.

RESUMO:

AÇÃO – título que representa a menor fração do capital de uma sociedade anônima;

ESPÉCIES DE AÇÕES:

QUANTO À NATUREZA:

AÇÃO ORDINÁRIA (ON) – menos negociada, confere ao acionista direito de voto na empresa e pode, eventualmente, proporcionar participação nos resultados da companhia;

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AÇÃO PREFERENCIAL (PN) – mais negociada, garante ao acionista maior participação nos resultados da empresa, mas não dá direito a voto, em regra. Algumas empresas diferenciam, por meio de letras (A, B), as séries de seus papéis lançados no mercado (PNA, PNB);

Os títulos e valores mobiliários envolvem:

AÇÃO - Título de propriedade, negociável, representativo de uma fração do capital social de uma S A, ou Sociedade em Comandita por Ações. São bens móveis e representam uma parte do capital social, a qualidade de sócio, e são também um título de crédito. As ações podem ser:

- Ordinárias Conforme a natureza dos direitos que conferem - Preferenciais

- de Fruição - NominativasQuanto à forma - Escriturais - Com ou sem Valor Nominal AÇÕES ORDINÁRIAS OU COMUNS - são as que conferem os direitos comuns de sócio, sem restrições ou privilégios;

AÇÕES PREFERENCIAIS - são as que dão aos seus titulares algum privilégio ou preferência, como, por exemplo, a prioridade na distribuição dos dividendos, a fixação de um dividendo mínimo, ou a prioridade de reembolso em caso de liquidação. Contudo, em troca, tais ações podem ser privadas de alguns direitos, como o do voto.

AÇÕES DE FRUIÇÃO - Às vezes, quando sobram lucros em caixa, pode a direção da S/A, ao invés de distribuir dividendos, resolver amortizar um lote de ações, geralmente por sorteio, pagando o valor nominal aos seus titulares. Em seguida permite-se que aqueles antigos titulares adquiram outras ações, em substituição. Estas últimas são as de fruição. Não representam o capital da empresa, e terão apenas os direitos que forem fixados nos estatutos ou na Assembléia.

AÇÕES NOMINATIVAS -são aquelas em que se declara o nome de seu proprietário. São transferidas por termo lavrado no Livro de Registro de Ações Nominativas, recebendo o cessionário novas ações, também com a indicação de seu nome. A PARTIR DA LEI 8.021/90, QUE ALTEROU O ART. 20 DA LEI

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DAS S/A, NÃO APENAS AS AÇÕES DE CERTAS EMPRESAS, MAS TODAS AS AÇÕES, DE TODAS AS COMPANHIAS DEVEM SER NOMINATIVAS.

AÇÕES AO PORTADOR - eram as que não continham declarado no seu texto o nome do seu titular. Sua transferência operava-se pela simples tradição manual. Não tinham direito a voto.

AÇÕES ESCRITURAIS - são aquelas em que não há emissão de certificado. São mantidas em conta de depósito, em nome de seus titulares. São mantidas em conta de depósito, em nome de seus titulares, numa instituição financeira, autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários.

CONVERSIBILIDADE DAS AÇÕES - as ações podem ser convertidas de um tipo em outro, nos termos do estatuto, como, por exemplo, de ordinárias em preferenciais, ou vice-versa (art. 22, da Lei. 6.404).

O VALOR DAS AÇÕES - o valor das ações pode ser considerado sob três aspectos. Temos primeiramente o VALOR NOMINAL, estabelecido pela S/A, sendo que a lei atual permite a emissão de ações sem valor nominal. Temos também o VALOR DE MERCADO (VALOR ATUAL, VALOR LÍQUIDO, VALOR REAL), que é o alcançado na Bolsa ou no Balcão. E, ainda, o aspecto do VALOR PATRIMONIAL OU REAL, em que se calcula o acervo econômico global da companhia em relação ao número de ações emitidas.

PARTES BENEFICIÁRIAS - são títulos negociáveis, sem valor nominal, e estranhos ao capital social. Dão direito de crédito eventual, consistente na participação dos lucros anuais, até o limite de 10% (art. 46).

DEBÊNTURES - são títulos negociáveis que conferem direito de crédito contra a sociedade, nas condições estabelecidas no certificado (art. 52). A LEI 8.021/90 PROIBIU A EMISSÃO DE TÍTULOS AO PORTADOR OU ENDOSSÁVEIS, IMPEDINDO, ASSIM, A EMISSÃO DE DEBÊNTURES, SALVO SE FOREM CRIADAS DEBÊNTURES NOMINATIVAS, CONTRARIANDO A ÍNDOLE DO TÍTULO, QUE É DE OBRIGAÇÃO AO PORTADOR.

As partes beneficiárias e as debêntures são títulos estranhos ao capital social; seus titulares são credores da empresa. Só que o crédito relativo às partes beneficiárias é eventual: será pago nos exercícios em que houver lucros, se tal situação se verificar. Ao passo que o crédito relativo às debêntures não é eventual: no vencimento, a debênture deverá ser resgatada pela companhia.

EM RESUMO, QUEM TEM UMA AÇÃO É SÓCIO-PROPRIETÁRIO DA COMPANHIA. QUEM TEM UMA PARTE BENEFICIÁRIA É CREDOR EVENTUAL, EM RELAÇÃO AOS LUCROS, SE HOUVER. E QUEM TEM UMA DEBÊNTURE É CREDOR EFETIVO E INCONDICIONAL.

BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO - são títulos negociáveis que conferem direito de subscrever ações. Podem ser emitidos até o limite de aumento do capital autorizado no estatuto (art. 168).

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Os bônus de subscrição podem ter a finalidade de facilitar a venda de ações ou de debêntures, contribuindo, em todo caso, para uma melhor programação do aumento de capital.

ACIONISTAS COMUM OU ORDINÁRIO - é o que tem direitos e deveres comuns de todo acionista. Tem o dever de integralizar as ações subscritas (art. 106), de votar no interesse da companhia (art. 115) etc. Tem direito a dividendos (participação proporcional nos lucros), a bonificações (com base na reavaliação do ativo). Tem também o direito de fiscalizar, de participar do acervo em caso de liquidação, de ter preferência na subscrição dos títulos da sociedade etc.

ACIONISTA CONTROLADOR - é a pessoa física ou jurídica que detém de modo permanente a maioria dos votos e o poder de eleger a maioria dos administradores, e que use efetivamente esse poder (art. 116). Tem os mesmos direitos e deveres do acionista comum. Mas responde por abusos praticados (art. 117).Nem sempre o acionista controlador ou “majoritário”, detém o maior número de ações. Sendo permitida a emissão de ações preferenciais sem direito a voto, até 2/3 do total das ações emitidas, pode um grupo possuidor de 16,7% das ações com direito a voto assumir o controle total da companhia.

ACIONISTA DISSIDENTE - é o que não concorda com certas deliberações da maioria, como a criação ou alteração de ações preferenciais, a modificação do dividendo obrigatório, a criação de partes beneficiárias etc. (art. 137). Tem o direito de se retirar da companhia (direito de retirada ou de recesso), mediante o reembolso do valor de suas ações, que não poderá ser inferior ao valor de patrimônio líquido das ações, de acordo com o último balanço aprovado pela Assembléia Geral (art. 45).

ACIONISTA MINORITÁRIO - é aquele que não participa do controle da companhia, ou por desinteresse ou por insuficiência de votos. É o acionista ou conjunto de acionistas que, na Assembléia Geral, detém uma participação em capital inferior àquela de um grupo oposto. A Lei das S/A (Lei 6.404/76) preocupou-se sobremaneira com a proteção às minorias, chegando quase à obsessão, como. Os meios genéricos de proteção da minoria encontram-se no elenco dos direitos essenciais de todos os acionistas, minoritários ou não, como o direito ao dividendo, à fiscalização dos negócios sociais, a preferência na subscrição dos títulos da companhia, a faculdade de convocar a Assembléia Geral quando os administradores não o fizerem etc. Como meios específicos de proteção aos minoritários podem ser apontados, por exemplo, os seguintes: a) direito de retirada ou de recesso (art. 137); b) direito de eleger um membro do Conselho Fiscal (art. 161, § 4º., “a”); c) direito de convocar a Assembléia Geral (art. 123, parágrafo único, “c”); d) dividendo obrigatório (art. 202); e) voto múltiplo (art. 141); f) direito de voto às ações preferenciais se a companhia não pagar dividendos por três exercícios consecutivos (art. 111, § 1º.) etc.

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ÓRGÃOS DA SOCIEDADE ANÔNIMA

A ASSEMBLÉIA GERAL

O poder supremo da companhia reside na Assembléia Geral, que é a reunião dos acionistas, convocada e instalada de acordo com os estatutos. A Assembléia Geral tem poderes para resolver todos os negócios relativos ao objeto de exploração da sociedade e para tomar as decisões que julgar convenientes à defesa e ao desenvolvimento de suas operações, respeitados os termos da lei. Existem vários tipos de Assembléias. A Assembléia Geral Ordinária (AGO) instala-se regularmente nos quatro primeiros meses seguintes ao término do exercício social, para os assuntos de rotina, previstos no art. 132 da Lei das S/A, como tomar as contas dos administradores, deliberar sobre a distribuição dos dividendos etc. A Assembléia Geral Extraordinária (AGE) pode instalar-se em qualquer época, sempre que houver necessidade, geralmente para o debate e votação de assuntos não rotineiros, como, por exemplo: a reforma do estatuto (art. 131). Além dessas, existem também as Assembléias Especiais, em que se reúnem apenas acionistas preferenciais, titulares de partes beneficiárias ou de debêntures, para o debate e votação de assuntos específicos e privativos dessas classes.

ADMINISTRAÇÃO

A administração da Cia. compete, conforme dispuser o estatuto, ao CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO e à DIRETORIA, sendo que nas companhias abertas e nas de capital autorizado é obrigatória a existência do CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO. Esse Conselho é que fixa a orientação geral dos negócios e, entre outras atribuições elege e destitui os diretores, fixando-lhes as atribuições. É eleito e destituível pela Assembléia Geral e compõe-se de no mínimo três acionistas (art. 1400).

A DIRETORIA

É composta por no mínimo dois membros, acionistas ou não, eleitos e destituíveis pelo Conselho de Administração, ou, se este não existir, pela Assembléia Geral (art. 143). No silêncio do estatuto, e inexistindo deliberação do Conselho de Administração, competirão a qualquer diretor a representação da companhia e a prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular (art. 144) (De acordo com a praxe, um dos membros da Diretoria será o diretor-presidente).

O CONSELHO FISCAL

É composto por no mínimo três e no máximo cinco pessoas, acionistas ou não, eleitas pela Assembléia Geral. Entre várias outras atribuições, compete-lhe principalmente a fiscalização dos atos dos administradores (arts. 161 a 165). A existência do Conselho Fiscal é

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obrigatória. Mas o seu funcionamento pode ser permanente ou apenas eventual, restrito aos exercícios em que for instalado a pedido de acionistas (art. 161).

OBSERVAÇÕES IMPORTANTÍSSIMAS, PARA A PROVA DA OAB:

ÓRGÃO DA S/A

Assembléia-Geral

A assembléia-geral, convocada e instalada de acordo com a lei e o estatuto, tem poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento.

Compete privativamente à assembléia-geral:         I - reformar o estatuto social;         II - eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia, em regra;        III - tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as demonstrações financeiras por eles apresentadas;         IV - autorizar a emissão de debêntures, em regra;        V - suspender o exercício dos direitos do acionista;         VI - deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação do capital social;         VII - autorizar a emissão de partes beneficiárias;         VIII - deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e        IX - autorizar os administradores a confessar falência e recuperação da empresa.         Obs.: Em caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido de concordata poderá ser formulado pelos administradores, com a concordância do acionista controlador, se houver, convocando-se imediatamente a assembléia-geral, para manifestar-se sobre a matéria.

Assembléia-Geral Ordinária

        Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício social, deverá haver 1 (uma) assembléia-geral para:        I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras;

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        II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos;        III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso;        IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital social.

Assembléia-Geral Extraordinária

       A assembléia-geral extraordinária que tiver por objeto a reforma do estatuto somente se instalará em primeira convocação com a presença de acionistas que representem 2/3 (dois terços), no mínimo, do capital com direito a voto, mas poderá instalar-se em segunda com qualquer número.

Conselho de Administração e Diretoria

Administração da Companhia       A administração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria.        O conselho de administração é órgão de deliberação colegiada, sendo a representação da companhia privativa dos diretores.        As companhias abertas e as de capital autorizado terão, obrigatoriamente, conselho de administração.        As atribuições e poderes conferidos por lei aos órgãos de administração não podem ser outorgados a outro órgão, criado por lei ou pelo estatuto.

Conselho de AdministraçãoComposição        O conselho de administração será composto por, no mínimo, 3 (três) membros, eleitos pela assembléia-geral e por ela destituíveis a qualquer tempo;         Obs.: O estatuto poderá prever a participação no conselho de representantes dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, organizada pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representem.

Competência

        Compete ao conselho de administração:        I - fixar a orientação geral dos negócios da companhia;        II - eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observado o que a respeito dispuser o estatuto;

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        III - fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração, e quaisquer outros atos;        IV - convocar a assembléia-geral quando julgar conveniente;        V - manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;        VI - manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir;        VII - deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição;        VIII - autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de terceiros;        IX - escolher e destituir os auditores independentes, se houver.       Diretoria

Composição

        A Diretoria será composta por 2 (dois) ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração, ou, se inexistente, pela assembléia-geral, devendo o estatuto estabelecer:        I - o número de diretores, ou o máximo e o mínimo permitidos;        II - o modo de sua substituição;        III - o prazo de gestão, que não será superior a 3 (três) anos, permitida a reeleição;        IV - as atribuições e poderes de cada diretor.        Obs.: Os membros do conselho de administração, até o máximo de 1/3 (um terço), poderão ser eleitos para cargos de diretores.        Obs. 2: O estatuto pode estabelecer que determinadas decisões, de competência dos diretores, sejam tomadas em reunião da diretoria.

     Obs.: As normas relativas a requisitos, impedimentos, investidura, remuneração, deveres e responsabilidade dos administradores aplicam-se a conselheiros e diretores.     ATENÇÃO: Poderão ser eleitos para membros dos órgãos de administração pessoas naturais, devendo os membros do conselho de administração ser acionistas e os diretores residentes no País, acionistas ou não.        

Conselho FiscalComposição e Funcionamento

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        A companhia terá (ATENÇÃO! O verbo está no imperativo. Assim, o Conselho Fiscal é obrigatório) um conselho fiscal e o estatuto disporá sobre seu funcionamento, de modo permanente ou nos exercícios sociais em que for instalado a pedido de acionistas.       - O conselho fiscal será composto de, no mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5 (cinco) membros, e suplentes em igual número, acionistas ou não, eleitos pela assembléia-geral.        - O conselho fiscal, quando o funcionamento não for permanente, será instalado pela assembléia-geral a pedido de acionistas que representem, no mínimo, 0,1 (um décimo) das ações com direito a voto, ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito a voto, e cada período de seu funcionamento terminará na primeira assembléia-geral ordinária após a sua instalação.         OBSERVAÇÃO: Na constituição do conselho fiscal serão observadas as seguintes normas:        a) os titulares de ações preferenciais sem direito a voto, ou com voto restrito, terão direito de eleger, em votação em separado, 1 (um) membro e respectivo suplente; igual direito terão os acionistas minoritários, desde que representem, em conjunto, 10% (dez por cento) ou mais das ações com direito a voto;        b) ressalvado o disposto na alínea anterior, os demais acionistas com direito a voto poderão eleger os membros efetivos e suplentes que, em qualquer caso, serão em número igual ao dos eleitos nos termos da alínea a, mais um.        - Os membros do conselho fiscal e seus suplentes exercerão seus cargos até a primeira assembléia-geral ordinária que se realizar após a sua eleição, e poderão ser reeleitos.        - Os membros do conselho fiscal e seus suplentes exercerão seus cargos até a primeira assembléia-geral ordinária que se realizar após a sua eleição, e poderão ser reeleitos.         § 7o A função de membro do conselho fiscal é indelegável. OBSERVAÇÕES ACERCA DO CONSELHO FISCAL: Somente podem ser eleitos para o conselho fiscal pessoas naturais, residentes no País, diplomadas em curso de nível universitário, ou que tenham exercido por prazo mínimo de 3 (três) anos, cargo de administrador de empresa ou de conselheiro fiscal.        - Nas localidades em que não houver pessoas habilitadas, em número suficiente, para o exercício da função, caberá ao juiz dispensar a companhia da satisfação dos requisitos estabelecidos neste artigo.        - Não podem ser eleitos para o conselho fiscal, membros de órgãos de administração e empregados da companhia ou de sociedade controlada ou do mesmo grupo, e o cônjuge ou parente, até terceiro grau, de administrador da companhia.

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      OUTRAS INFORMAÇÕES ACERCA DAS S.A.:

DEBÊNTURES CONVERSÍVEIS EM AÇÕES – Artigo 52, da Lei 6.404/76: “A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura de emissão e do certificado”.

Art. 54: “A debênture terá valor nominal expresso em moeda nacional, salvo nos casos de obrigação que, nos termos da legislação em vigor, possa ter o pagamento estipulado em moeda estrangeira”.

Parágrafo único: “A debênture poderá conter cláusula de correção monetária, aos mesmos coeficientes fixados para a correção dos títulos da dívida pública, ou com base na variação de taxa cambial”.

Art. 57 – “A DEBÊNTURE PODERÁ SER CONVERSÍVEL EM AÇÕES NAS CONDIÇÕES CONSTANTES DA ESCRITURA DE EMISSÃO, QUE ESPECIFICARÁ:

I – as bases da conversão, seja em número de ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como relação entre o valor nominal da debênture e o preço de emissão das ações;

II – a espécie e a classe das ações em que poderá ser convertida;III – o prazo ou época para o exercício do direito à conversão;IV – as demais condições a que a conversão acaso fique sujeita.

DEBÊNTURE é um título emitido apenas por sociedades anônimas não financeiras de capital aberto e fechado (as sociedades de arrendamento mercantil e as companhias hipotecárias estão autorizadas a emiti-las), com garantia de seu ativo e com ou sem garantia subsidiária da instituição financeira que as lança no mercado, para obter recursos de médio e longo prazos.

A emissão e as condições de emissão são deliberadas em AGE (Assembléia Geral Extraordinária).

Elas garantem ao comprador uma remuneração certa num prazo certo, não dando, como rege a lei, direito de participação nos bens ou lucros da empresa.

Basicamente, uma debênture é uma fonte de financiamento, por meio de empréstimo a longo prazo.

Os compradores de debêntures são credores que esperam receber juros periódicos e reembolso específico do principal (valor nominal da debênture) na data do seu vencimento.

As duas formas principais pelas quais os possuidores de debêntures estão legalmente protegidos são por intermédio da escritura de emissão e dos agentes fiduciários.

ESCRITURA DE EMISSÃO (CONTRATO) – A emissão de debêntures é regulada pela Lei 6.404/76, a qual estabelece suas condições como, por exemplo, que sua emissão deverá ter por limite máximo o valor do capital próprio da empresa e seu prazo de resgate nunca deverá ser inferior a um ano.

Após a deliberação da AGE de acionistas, a empresa emite um documento denominado Escritura de Emissão. Essa escritura deve ser registrada em Cartório.

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A Escritura de Emissão é o documento legal que declara as condições sob as quais a debênture foi emitida.

Especifica direitos dos possuidores, deveres dos emitentes e todas as condições da emissão.

AGENTES FIDUCIÁRIOS – Os debenturistas formam um condomínio, representado perante a empresa emitente por um agente fiduciário. Este deve zelar pelos diretos dos debenturistas.

É uma terceira parte envolvida num contrato de debênture. Pode ser um indivíduo, uma empresa ou um departamento de crédito de um banco.

BANCO MANDATÁRIO – É o banco responsável pela confirmação financeira de todos os pagamentos e, movimentações efetuadas pelo emissor.

Esta função só pode ser exercida por bancos comerciais ou múltiplos com carteira comercial.

A remuneração das debêntures é composta de correção, taxa de juros e prêmio.

A empresa poderá recolocar uma debênture resgatada junto a um outro investidor, porém, nas mesmas condições de repactuação não aceitas pelo debenturista anterior.

A Decisão-conjunta número 003 – BACEN e CVM, de 07.02.96, introduziu uma diferenciação nas condições de remuneração das debêntures. Fica proibido oferecer mais de um indexador como forma de remuneração. Continuam proibidas as emissões em variação cambial.

A empresa poderá resgatar antes da data determinada, porém esta antecipação deverá ser para todos os debenturistas.

O título resgatado antecipadamente é chamado de debênture em tesouraria e pode ser vendido a outro investidor, desde que pague a mesma remuneração estabelecida para os demais debenturistas.

A colocação de uma debênture em mercado pode ser direta ou por oferta pública.

DIRETA – quando é feita diretamente a um comprador ou grupo de compradores, geralmente instituições financeiras ou fundos de pensão. Não há mercado secundário para elas. Suas taxas de juros são mais altas.

OFERTA PÚBLICA – tem mercado secundário. Dependendo das alternativas dos outros títulos do mercado no momento de sua emissão, podem ser colocadas com desconto (abaixo do valor nominal) ou com prêmio (acima do valor nominal).

BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO – deverão ser utilizados em operações que exijam ajustes na participação, de acordo com o índice de performance, ou acoplados a debêntures simples, tornando o produto similar a uma debênture conversível.

Bônus de Subscrição:Art. 75, da Lei 6.404/76 – “A companhia poderá emitir,dentro do limite

de aumento do capital autorizado no estatuto, títulos negociáveis denominados bônus de subscrição.

Parág. Único – “Os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares, nas condições constantes do certificado, direito de subscrever ações do capital social, que será exercido mediante apresentação do título à companhia e pagamento do preço de emissão das ações”.

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Art. 52 (Lei 6.404/76) – “A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura de emissão e do certificado”.

Art. 53 – “A companhia poderá efetuar mais de uma emissão de debêntures, e cada emissão pode ser dividida em séries”.

Parágrafo Único – “As debêntures da mesma série terão igual valor nominal e conferirão a seus titulares os mesmos direitos”.

Art. 54 – “A debênture terá valor nominal expresso em moeda nacional, salvo nos casos de obrigação que, nos termos da legislação em vigor, possa ter o pagamento estipulado em moeda estrangeira”.

Parágrafo Único – “A debênture poderá conter cláusula de correção monetária, aos mesmos coeficientes fixados para a correção dos títulos da dívida pública, ou com base na variação de taxa cambial”.

Art. 55 – “A época do vencimento da debênture deverá constar da escritura de emissão e do certificado, podendo a companhia estipular amortizações parciais de cada série, criar fundos de amortização e reservar-se o direito de resgate antecipado, parcial ou total, dos títulos da mesma série”.

(...)§2°. – “É facultado à companhia adquirir debêntures de sua emissão,

desde que por valor igual ou inferior ao nominal, devendo o fato constar do relatório da administração e das demonstrações financeiras”.

§3°. – “A companhia poderá emitir debêntures cujo vencimento somente ocorra nos casos de inadimplemento da obrigação de pagar juros e dissolução da companhia, ou de outras condições previstas no título”.

Art. 56 – “A debênture poderá assegurar ao seu titular juros, fixos ou variáveis, participação no lucro da companhia e prêmio de reembolso”.

Art. 57 – “A debênture poderá ser conversível em ações nas condições constantes da escritura de emissão que especificará:

I – as bases da conversão, seja em número de ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como relação entre o valor nominal da debênture e o preço de emissão das ações;

II – a espécie e a classe das ações em que poderá ser convertida;III – o prazo ou época para o exercício do direito à conversão;IV – as demais condições a que a conversão acaso fique sujeita.§1°. – “Os acionistas terão direito de preferência para subscrever a

emissão de debêntures com cláusula de conversibilidade em ações (...)”.Art. 58 – “A debênture poderá, conforme dispuser a escritura de

emissão, ter garantia real ou garantia flutuante, não gozar de preferência ou ser subordinada aos demais credores da companhia”.

Art. 60 – “Excetuados os casos previstos em lei especial, o valor total das emissões de debêntures não poderá ultrapassar o capital social da companhia”.

§1°. – Esse limite pode ser excedido até alcançar:a) oitenta por cento do valor dos bens gravados, próprios

ou de terceiros, no caso de debêntures com garantia real;

b) setenta por cento do valor contábil do ativo da companhia, diminuído do montante das suas dívidas reais, no caso de debêntures com garantia flutuante.

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§3°. – “A Comissão de Valores Mobiliários poderá fixar outros limites para emissões de debêntures negociadas em bolsa ou no balcão, ou a serem distribuídas no mercado”.

ATENÇÃO! O ACIONISTA (PROPRIETÁRIO DE AÇÃO) DA COMPANHIA É UM SÓCIO DA S.A., ENQUANTO O DEBENTURISTA (PROPRIETÁRIO DE DEBÊNTURE) É UM CREDOR DA S.A.

Diferenças entre Companhias Abertas e Companhias Fechadas;

Somente as companhias de capital aberto têm suas ações negociadas nas Bolsas de Valores ou no Mercado de Balcão, após registro destes e autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Art. 4°.(Lei 6.404/76) – “Para os efeitos desta lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação em bolsa ou no mercado de balcão”.

Parágrafo Único – “somente os valores mobiliários de companhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários podem ser distribuídos no mercado e negociados em bolsa ou no mercado de balcão”.

As sociedades anônimas se classificam em abertas ou fechadas, conforme tenham, ou não, admitidos à negociação, na Bolsa ou no mercado de balcão, os valores mobiliários de sua emissão. Anote-se que o critério de identificação de uma ou outra categoria de sociedade anônima é meramente formal. BASTA QUE A COMPANHIA TENHA SEUS VALORES MOBILIÁRIOS ADMITIDOS À NEGOCIAÇÃO NA BOLSA OU MERCADO DE BALCÃO, PARA SER CONSIDERADA ABERTA. É IRRELEVANTE SE OS VALORES MOBILIÁRIOS DE SUA EMISSÃO EFETIVAMENTE SÃO NEGOCIADOS NESSAS INSTITUIÇÕES.

PARA QUE UMA COMPANHIA TENHA SEUS VALORES MOBILIÁRIOS ADMITIDOS À NEGOCIAÇÃO NA BOLSA OU MERCADO DE BALCÃO – O QUE PERMITIRÁ MAIOR LIQUIDEZ DO INVESTIMENTO REPRESENTADO POR TAIS TÍTULOS – NECESSITA OBTER DO GOVERNO FEDERAL A RESPECTIVA AUTORIZAÇÃO.

A COMPANHIA SOMENTE PODE SER ABERTA SE AUTORIZADA NESSES TERMOS. O ÓRGÃO DO GOVERNO FEDERAL ENCARREGADO PELA LEI DE CONCEDER TAL AUTORIZAÇÃO É UMA AUTARQUIA DENOMINADA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM. Essa autarquia, juntamente com o Banco Central exerce a supervisão e o controle do mercado de capitais, de acordo com as diretrizes traçadas pelo Conselho Monetário Nacional.

A companhia aberta pode estar registrada na CVM para ter os seus valores mobiliários negociados somente no mercado de balcão ou neste e na Bolsa.

A bolsa só opera com o mercado secundário, ou seja, para venda e aquisição de valores mobiliários, ao passo que o mercado de balcão opera com o mercado primário também, ou seja, para a subscrição de valores mobiliários. A emissão de novas ações, por exemplo, não poderá ser feita na Bolsa, mas poderá ser feita no mercado de balcão.

Para que uma empresa possa abrir o seu capital, o primeiro passo é estar estabelecida como sociedade anônima.

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A transformação da empresa em sociedade anônima deve ser aprovada pelos sócios nos moldes determinados pelo estatuto social, em assembléia geral ou por escritura pública.

O processo de abertura de capital e o registro da empresa na CVM são normatizados pela Lei 6.404/76 e pela Instrução CVM número 202, sendo basicamente composto das seguintes etapas:

1. Nomeação do Diretor de Relações com o Mercado;2. Contratação de Auditoria Independente;3. Apresentação à CVM dos documentos necessários,

previstos em lei;Cumpridos estes itens, a CVM terá 30 dias para a análise do

registro. Não se manifestando, o mesmo estará aprovado. Este prazo poderá ser interrompido, uma única vez, caso sejam necessários documentos e informações adicionais.

A empresa deverá enviar à CVM e à entidade que tiver seus valores negociados informações periódicas, conforme normativo da CVM.

O registro da empresa em bolsa de valores é um dos requisitos para o registro na CVM.

É o lançamento primário dos títulos, assim como sua posterior negociação em bolsa, que efetivamente caracterizam e justificam a condição de empresa aberta.

Escrituração

        Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência.

        § 1º As demonstrações financeiras do exercício em que houver modificação de métodos ou critérios contábeis, de efeitos relevantes, deverão indicá-la em nota e ressaltar esses efeitos.

        § 2º A companhia observará em registros auxiliares, sem modificação da escrituração mercantil e das demonstrações reguladas nesta Lei, as disposições da lei tributária, ou de legislação especial sobre a atividade que constitui seu objeto, que prescrevam métodos ou critérios contábeis diferentes ou determinem a elaboração de outras demonstrações financeiras.

        § 3º As demonstrações financeiras das companhias abertas observarão, ainda, as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, e serão obrigatoriamente auditadas por auditores independentes registrados na mesma comissão.

        § 4º As demonstrações financeiras serão assinadas pelos administradores e por contabilistas legalmente habilitados.

CAPÍTULO XVII

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Dissolução, Liquidação e Extinção

SEÇÃO I

Dissolução

        Art. 206. Dissolve-se a companhia:

        I - de pleno direito:

        a) pelo término do prazo de duração;

        b) nos casos previstos no estatuto;

        c) por deliberação da assembléia-geral (artigo 136, número VII);

        d) pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembléia-geral ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte, ressalvado o disposto no artigo 251; (SOCIEDADE UNIPESSOAL)

OBSERVAÇÃO: SOCIEDADE UNIPESSOAL: Subsidiária Integral

              Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionista sociedade brasileira.

        § lº A sociedade que subscrever em bens o capital de subsidiária integral deverá aprovar o laudo de avaliação de que trata o artigo 8º, respondendo nos termos do § 6º do artigo 8º e do artigo 10 e seu parágrafo único.

        § 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do artigo 252.

        e) pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.

        II - por decisão judicial:

        a) quando anulada a sua constituição, em ação proposta por qualquer acionista;

        b) quando provado que não pode preencher o seu fim, em ação proposta por acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social;

        c) em caso de falência, na forma prevista na respectiva lei;

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        III - por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma previstos em lei especial.

        Efeitos

        Art. 207. A companhia dissolvida conserva a personalidade jurídica, até a extinção, com o fim de proceder à liquidação.

SEÇÃO II

Liquidação

Liquidação pelos Órgãos da Companhia

        Art. 208. Silenciando o estatuto, compete à assembléia-geral, nos casos do número I do artigo 206, determinar o modo de liquidação e nomear o liquidante e o conselho fiscal que devam funcionar durante o período de liquidação.

        § 1º A companhia que tiver conselho de administração poderá mantê-lo, competindo-lhe nomear o liquidante; o funcionamento do conselho fiscal será permanente ou a pedido de acionistas, conforme dispuser o estatuto.

        § 2º O liquidante poderá ser destituído, a qualquer tempo, pelo órgão que o tiver nomeado.

        Liquidação Judicial

        Art. 209. Além dos casos previstos no número II do artigo 206, a liquidação será processada judicialmente:

        I - a pedido de qualquer acionista, se os administradores ou a maioria de acionistas deixarem de promover a liquidação, ou a ela se opuserem, nos casos do número I do artigo 206;

        II - a requerimento do Ministério Público, à vista de comunicação da autoridade competente, se a companhia, nos 30 (trinta) dias subseqüentes à dissolução, não iniciar a liquidação ou, se após iniciá-la, a interromper por mais de 15 (quinze) dias, no caso da alínea e do número I do artigo 301.

        Parágrafo único. Na liquidação judicial será observado o disposto na lei processual, devendo o liquidante ser nomeado pelo Juiz.

        Deveres do Liquidante

        Art. 210. São deveres do liquidante:

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        I - arquivar e publicar a ata da assembléia-geral, ou certidão de sentença, que tiver deliberado ou decidido a liquidação;

        II - arrecadar os bens, livros e documentos da companhia, onde quer que estejam;

        III - fazer levantar de imediato, em prazo não superior ao fixado pela assembléia-geral ou pelo juiz, o balanço patrimonial da companhia;

        IV - ultimar os negócios da companhia, realizar o ativo, pagar o passivo, e partilhar o remanescente entre os acionistas;

        V - exigir dos acionistas, quando o ativo não bastar para a solução do passivo, a integralização de suas ações;

        VI - convocar a assembléia-geral, nos casos previstos em lei ou quando julgar necessário;

        VII - confessar a falência da companhia e pedir concordata, nos casos previstos em lei;

        VIII - finda a liquidação, submeter à assembléia-geral relatório dos atos e operações da liquidação e suas contas finais;

        IX - arquivar e publicar a ata da assembléia-geral que houver encerrado a liquidação.

        Poderes do Liquidante

        Art. 211. Compete ao liquidante representar a companhia e praticar todos os atos necessários à liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar quitação.

        Parágrafo único. Sem expressa autorização da assembléia-geral o liquidante não poderá gravar bens e contrair empréstimos, salvo quando indispensáveis ao pagamento de obrigações inadiáveis, nem prosseguir, ainda que para facilitar a liquidação, na atividade social.

        Denominação da Companhia

        Art. 212. Em todos os atos ou operações, o liquidante deverá usar a denominação social seguida das palavras "em liquidação".

        Assembléia-Geral

        Art. 213. O liquidante convocará a assembléia-geral cada 6 (seis) meses, para prestar-lhe contas dos atos e operações praticados no semestre e apresentar-lhe o relatório e o balanço

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do estado da liquidação; a assembléia-geral pode fixar, para essas prestações de contas, períodos menores ou maiores que, em qualquer caso, não serão inferiores a 3 (três) nem superiores a 12 (doze) meses.

        § 1º Nas assembléias-gerais da companhia em liquidação todas as ações gozam de igual direito de voto, tornando-se ineficazes as restrições ou limitações porventura existentes em relação às ações ordinárias ou preferenciais; cessando o estado de liquidação, restaura-se a eficácia das restrições ou limitações relativas ao direito de voto.

        § 2º No curso da liquidação judicial, as assembléias-gerais necessárias para deliberar sobre os interesses da liquidação serão convocadas por ordem do juiz, a quem compete presidi-las e resolver, sumariamente, as dúvidas e litígios que forem suscitados. As atas das assembléias-gerais serão, por cópias autênticas, apensadas ao processo judicial.

        Pagamento do Passivo

        Art. 214. Respeitados os direitos dos credores preferenciais, o liquidante pagará as dívidas sociais proporcionalmente e sem distinção entre vencidas e vincendas, mas, em relação a estas, com desconto às taxas bancárias.

        Parágrafo único. Se o ativo for superior ao passivo, o liquidante poderá, sob sua responsabilidade pessoal, pagar integralmente as dívidas vencidas.

        Partilha do Ativo

        Art. 215. A assembléia-geral pode deliberar que antes de ultimada a liquidação, e depois de pagos todos os credores, se façam rateios entre os acionistas, à proporção que se forem apurando os haveres sociais.

        § 1º É facultado à assembléia-geral aprovar, pelo voto de acionistas que representem 90% (noventa por cento), no mínimo, das ações, depois de pagos ou garantidos os credores, condições especiais para a partilha do ativo remanescente, com a atribuição de bens aos sócios, pelo valor contábil ou outro por ela fixado.

        § 2º Provado pelo acionista dissidente (artigo 216, § 2º) que as condições especiais de partilha visaram a favorecer a maioria, em detrimento da parcela que lhe tocaria, se inexistissem tais condições, será a partilha suspensa, se não consumada, ou, se já consumada, os acionistas majoritários indenizarão os minoritários pelos prejuízos apurados.

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        Prestação de Contas

        Art. 216. Pago o passivo e rateado o ativo remanescente, o liquidante convocará a assembléia-geral para a prestação final das contas.

        § 1º Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação e a companhia se extingue.

        § 2º O acionista dissidente terá o prazo de 30 (trinta) dias, a contar da publicação da ata, para promover a ação que lhe couber.

        Responsabilidade na Liquidação

        Art. 217. O liquidante terá as mesmas responsabilidades do administrador, e os deveres e responsabilidades dos administradores, fiscais e acionistas subsistirão até a extinção da companhia.

        Direito de Credor Não-Satisfeito

        Art. 218. Encerrada a liquidação, o credor não-satisfeito só terá direito de exigir dos acionistas, individualmente, o pagamento de seu crédito, até o limite da soma, por eles recebida, e de propor contra o liquidante, se for o caso, ação de perdas e danos. O acionista executado terá direito de haver dos demais a parcela que lhes couber no crédito pago.

SEÇÃO III

Extinção

        Art. 219. Extingue-se a companhia:

        I - pelo encerramento da liquidação;

        II - pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em outras sociedades.

CAPÍTULO VI

XX - DA SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES

        Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e opera sob firma ou denominação.

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        Art. 1.091. Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade.

       § 1o Se houver mais de um diretor, serão solidariamente responsáveis, depois de esgotados os bens sociais.

        § 2o Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem no mínimo dois terços do capital social.

        § 3o O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.

        Art. 1.092. A assembléia geral não pode, sem o consentimento dos diretores, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital social, criar debêntures, ou partes beneficiárias.

CAPÍTULO XXIII – LEI 6.404/76 (S/A)

Sociedades em Comandita por Ações

        Art. 280. A sociedade em comandita por ações terá o capital dividido em ações e reger-se-á pelas normas relativas às companhias ou sociedades anônimas, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo.

        Art. 281. A sociedade poderá comerciar sob firma ou razão social, da qual só farão parte os nomes dos sócios-diretores ou gerentes. Ficam ilimitada e solidariamente responsáveis, nos termos desta Lei, pelas obrigações sociais, os que, por seus nomes, figurarem na firma ou razão social.

        Parágrafo único. A denominação ou a firma deve ser seguida das palavras "Comandita por Ações", por extenso ou abreviadamente.

        Art. 282. Apenas o sócio ou acionista tem qualidade para administrar ou gerir a sociedade, e, como diretor ou gerente, responde, subsidiária mas ilimitada e solidariamente, pelas obrigações da sociedade.

        § 1º Os diretores ou gerentes serão nomeados, sem limitação de tempo, no estatuto da sociedade, e somente

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poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem 2/3 (dois terços), no mínimo, do capital social.

        § 2º O diretor ou gerente que for destituído ou se exonerar continuará responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.

              Art. 283. A assembléia-geral não pode, sem o consentimento dos diretores ou gerentes, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital social, emitir debêntures ou criar partes beneficiárias nem aprovar a participação em grupo de sociedade. 

        Art. 284. Não se aplica à sociedade em comandita por ações o disposto nesta Lei sobre conselho de administração, autorização estatutária de aumento de capital e emissão de bônus de subscrição.

Algumas Notas Comparativas entre Possíveis Vantagens e/ou Desvantagens dos Tipos Societários Abaixo,Face ao Novo Código Civil (NCC) e Alterações

Importantíssimas da Lei das S/As (L.S/A)

LIMITADAS

S/As Fechadas

CAMPOS CENTRAIS: COMENTÁRIOS COMUNS ÀS LTDAS. E S/AS

 I.           AGUARDAR OU NÃO REFORMAS DO NCC? ADAPTAR ESTATUTOS À NOVA LEI DAS S/AS RECENTEMENTE ALTERADA? - PRAZOS

Entendemos que as adaptações dos Contratos Sociais devam ser feitas o mais rapidamente quanto possível for, eis que o NCC - Lei 10.406 de 10/01/2002 - entrou em vigor a partir de 11/01/2003 e esgota-se em 10/01/2004 o prazo fatal para tanto. Deve-se registrar também que, exceto nas sociedades entre cônjuges e nas "holdings familiares" com suporte em acordos de cotistas preexistentes ao novo CODEX, notadamente, negociações entre os sócios das Ltdas. com participações igualitárias ou diferenciadas no capital poderão vir a demandar lapso de tempo maior para a ideal composição de interesses.

Quanto às anônimas preexistentes às substanciais alterações na L.S/A ditadas pela recente Lei 10.303/01 em vigor desde 01/03/2002, o prazo esgotou-se em igual data de 2003. Contudo, em se tratando de sociedades fechadas, as alterações estatutárias cabíveis entre as partes devem, a nosso ver, serem feitas desde já, mesmo porque são elas de caráter compulsório em alguns casos e, em outros, dependerão da conveniência e oportunidade dos acionistas para implementá-las, sobretudo nas S/As sob regência de "Acordo de Acionistas" - vide item III deste - "Poder de Controle".

 II.         CAPITAL SOCIAL

Admite-se a integralização com bens, respondendo todos os sócios, solidariamente, pelos valores a eles atribuídos (bens) por cinco anos após o registro no órgão de comércio (JUCEMG) (art. 997, III, c/c 1.055m § 1º).

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Admite-se o "Condomínio de Cotistas" representado, tão só, por um dos Condôminos (art. 1.056, § 2º).

 

Caso não integralizada a quota pelo remisso - assim entendido o sócio inadimplente - os demais podem tomá-la para si ou transferi-la a terceiros (art. 1.058).

O acionista pode vir a ser executado, se e quando inadimplente for, principalmente se o Acordo de Acionistas regular o assunto, quando existente.

Sua consistência/substância econômica (do capital) não pode ser prejudicada por empréstimos a sócios; distribuição de lucros ou retiradas a qualquer título; financiamentos, aquisições e/ou vendas de ativos, que não estejam satisfatoriamente justificados os custos/benefícios destas operações; e outras cautelas afins, MESMO SE AUTORIZADOS NO CONTRATO SOCIAL, sujeitando-se o(s) faltoso(s) à plena reposição dos valores assim auferidos (art. 1.059). Pela dicção deste artigo c/c 1.082, os prejuízos operacionais podem reduzir as cotas-partes dos sócios, na ausência de reservas para tanto (princípios do aspecto social do contrato, da boa-fé, transparência, etc...) Tal faculdade deveria, a nosso ver, ser obrigatória à partir do 2º exercício social deficitário. Tais preceitos aplicam-se inteiramente às S/As fechadas, s.m.j.

 III.        CONTROLE/PODER

Somente com a titularidade de, pelo menos, 75% das cotas sociais. Casos especiais podem exigir o "quorum" de 100% do capital e/ou de todos os administradores quando houver mais de um.

Pode ser exercido com níveis mínimos das ações O.N.s, dependendo das normas do Acordo de Acionistas, hoje considerado pela nova lei como instrumento com poderes decisórios superiores às assembléias gerais, devendo suas normas serem observadas em todos os níveis dos órgãos de gestão e executivos, especialmente pelo Conselho de Administração.

Ainda, o(s) Acordo(s) de Cotistas/Acionistas, caso celebrados entre: 1) todos os sócios e/ou acionistas; 2) somente pelos detentores do controle, quando compartilhado for; 3) por bloco(s) de minoritários frente ao(s) majoritário(s); e 4)em outras circunstâncias análogas; assegurado fica aos partícipes de tais instrumentos a prevalência de suas normas nas relações "interna corpori" da sociedade.

IV.      QUORUNS/DELIBERAÇÕES 

Minoritários: maior proteção aos direitos desta categoria - 25% do capital social, representado(s) por um ou mais sócios desta classe, pode(m), em conjunto ou isoladamente, constituir(em) o(s) chamado(s) "fiel(éis) da balança", no jargão jurídico.

Em regra, a maioria simples das O.N.s decide. Admitem-se e também são exigidos "quoruns" diferenciados e qualificados para determinadas matérias de alta relevância para a Cia., no interesse de seus acionistas, na proteção de minoritários, na eventual dissidência, nas relações com credores, etc.

O Anexo II aponta, dentre outros, "quoruns" mínimos postos no NCC sobre: administradores sócios e não sócios - nomeados ou não no Contrato Social; destituição dos mesmos; exclusão de sócios; alterações contratuais; liquidação da sociedade; etc...

 

V.        REGÊNCIA SUPLETIVA DA L.S/A QUANDO ASSIM INDICADO NO CONTRATO SOCIAL DA LIMITADA

Segundo FÁBIO ULHOA COELHO in "Curso de Direito Comercial", Saraiva/2002 - V. 2, págs. 366/367, "... a Lei das Sociedades Anônimas somente é aplicável às limitadas nas matérias a respeito das quais podem os sócios contratar. Nos assuntos que escapam ao âmbito

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das negociações entre eles, não incide. As sociedades limitadas se submetem, assim, à Lei nº 6.404/76, nos assuntos não tratados pelos sócios, no contrato social, desde que sejam estes passíveis de negociação e atendido o requisito de expressa previsão contratual exigido pelo art. 1.053, parágrafo único, do CC/2002. Os sócios podem, por exemplo, convencionar que os livros da sociedade somente poderão ser consultados ao término do exercício, inserindo cláusula nesse sentido no contrato social. Pois bem, se não o fizeram (como é, aliás, usual), como não se aplica o regime da sociedade simples, em que é assegurado o exame a qualquer tempo (art. 1.021), os sócios só terão direito de acesso aos livros da sociedade limitada, nas mesmas condições em que a lei reconhece a correspondente faculdade aos acionistas; ou seja, sempre que possuírem 5% ou mais, do capital da sociedade e apontarem atos violadores da lei ou do contrato, ou demonstrarem fundada suspeita de grave irregularidade na administração da empresa (LSA, art. 105). Outro exemplo: no cômputo da maioria societária, entre os sócios da limitada, deve-se considerar o valor da quota integralizada, ou subscrita?"

Conclui, em resposta a tal indagação, o renomado jurista: "Logo, na limitada, a maioria é computada proporcionalmente às quotas subscritas, a menos que o contrato social disponha em outro sentido."

VI.      RESPONSABILIDADE. DE ADMINISTRADORES - SEGURO DE GESTÃO

Em termos de normalidade e regularidade dos atos de gestão, é limitada às cotas e/ou ações integralizadas, mormente se simples investidores forem. Podem, em determinadas hipóteses, responder com seus bens pessoais, como abaixo se verá, quando administradores; e, nestes casos, responderão de acordo com o maior ou menor grau de culpa por erros, omissões, dolo, simulação ou quaisquer atos ilícitos contrários à lei ou estatuto. Membros do Conselho Fiscal sofrem igual tratamento, nas S/As.

Note-se, também, que nas sobreditas sociedades, em razão do disposto no art. 50 (NCC) combinado com a Lei 8.078, art. 28 (Código de Defesa do Consumidor) e com os preceitos herdados da antiga lei 6.404/76, ainda em vigor (L.S/A) e robustecidos pela nova Lei 10.303/01, nos casos em que comprovados o desvio de finalidade quanto ao objeto social; abusos de poder e de direito; violação do Contrato Social ou do Estatuto e, ainda, confusão patrimonial entre bens de sócios e os da empresa; poderão ensejar a "DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA " destas sociedades e, aí, administradores, sócios ou não, responderão com seus bens pessoais, sempre sob a tutela do Juiz. A propósito, veja-se, no Anexo II, a ementa do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre o tema em questão.

QUANDO PRESENTES MOTIVOS FUNDAMENTADOS QUE TORNEM A RESPONSABILIDADE ILIMITADA, PREVALECERÃO AS FIGURAS DA SOLIDARIEDADE; SUBSIDIARIEDADE; E, EM ALGUNS CASOS, A RESPONSABILIDADE DIRETA DOS ADMINISTRADORES. EXEMPLIFICANDO:

a) Nos casos em que o sócio ou acionista subscreve ações ou cotas por R$1.000,00 e os bens capitalizados por tal valor estariam sobrevalorizados, tipificados ficam o dolo ou a má-fé daqueles subscritores, fato que se agrava se praticado ou omisso for o administrador.

b) Quando configurado o desrespeito à tutela/proteção aos credores especiais: 1) FISCO EM GERAL, 2) SEGURIDADE SOCIAL, 3) o EMPREGADO e 4) o TITULAR DE DIREITO EXTRACONTRATUAL à indenização. São os chamados, também, CREDORES NÃO NEGOCIAIS, pela não participação direta ou indireta nos negócios sociais. Ainda, da obra citada colhemos às págs. 406 a 410, em resumo, que somente os credores tributários indicados em 1 e 2 podem exigir a responsabilização dos "sócios gerentes" ilimitadamente e, de todos, quando concorrerem por práticas de atos ilícitos/irregulares perpetrados pela sociedade, passando então a responsabilidade do infrator a ser DIRETA e independentemente de se exaurir primeiro o patrimônio social.

c) São, ainda, práticas fraudulentas quando provadas convincentemente: a má-fé; inexistência de contabilidade regular; expedientes para lesar credores como empréstimos a sócios/acionistas quando não provada a origem e entrega dos numerários, agravados tais fatos por inadimplência das obrigações sociais, especialmente quanto às dívidas tributárias e previdenciárias; quaisquer operações à margem da contabilidade ou não escrituradas; valores sonegados nas declarações das pessoas jurídicas (IRPJ); a recusa dos sócios a nomear bens da empresa à penhora, alegando inexistência dos mesmos; criação de empresas seqüenciais ensejando transferências sucessivas de bens entre elas com o uso de "laranjas", dentre outras mais.

Ainda, quanto à responsabilidade dos sócios/acionistas:

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d) Empreendedores majoritários: junto aos credores especiais: ilimitada; alcança todos os administradores.

e) Investidores: aqueles que não participam da administração, direta ou indiretamente - limitada e subsidiária é a responsabilidade pela integralização das cotas subscritas, nos casos de falência, dependendo, pois, de se esgotar primeiramente o patrimônio social. Quando à integralização do capital, é solidária.

Quanto às ações, o inadimplemento poderá gerar título executivo contra o faltoso (vide item II).

Frise-se que, quanto aos trabalhadores, a Justiça do Trabalho (sem previsão legal) tem executado bens dos sócios.  

E, nossos Tribunais, sobre a temática em foco, reiteradamente têm decidido conforme se vê do sobredito Anexo II (Ementário), do qual extraímos de forma sucinta e, em resumo:

1) Bens de sócio que se afasta regularmente da empresa, transferindo suas cotas, não respondem solidariamente por dívidas fiscais, mormente se a atividade não foi descontinuada. 

2) Ainda que gerente, mas atuando tão só em áreas técnicas, não exercendo a administração nas relações com terceiros, não é o sócio responsável por dívidas tributárias. 

3) A responsabilidade de sucessores quanto à aquisição de "fundo de comércio" evidencia-se se a continuidade dos negócios pela sucedida é feita artificialmente, porque "laranjas" os sócios remanescentes; endereço falso, inexistência de bens. 

4) A obrigação de recolher tributos é da pessoa jurídica e não dos sócios/acionistas, que só respondem se administradores forem e se os atos de gestão forem contrários à lei, Contrato Social/estatuto e, caso caracterizado o excesso de mandato. 

5)  Dívida fiscal contraída ao tempo em que o ex-sócio participava com outros sócios da administração da empresa, só apurada e cobrada posteriormente, não pode ser imputada àquele, mesmo porque não ocorreu a extinção ilegal da empresa, tampouco provado o excesso de mandato, infração à lei ou ao Contrato Social/Estatuto. 

Por cautela, recomenda-se neste, o novíssimo SEGURO DE GESTÃO de largo uso nos EUA e Europa, face às imensas responsabilidades de administradores em geral, tornando-os responsáveis - em maior ou menor grau - pelos seus atos que porventura forem questionados por terceiros e/ou sócios/acionistas.

 VII.     DISSOLUÇÃO PARCIAL

Por exclusão de sócio (judicial - art. 1.030, ou extrajudicial - art. 1.004), majoritário ou não, por maioria do capital em ocorrendo justa causa para tanto, prevista no Contrato Social. Cabível a Cisão Parcial.

O judiciário tem acolhido a cisão parcial das S/As fechadas, quando minoritários, alegando quebra das relações de confiança, segurança e liquidez de seus investimentos por improdutivos, reclamam em juízo seus direitos à apuração de haveres para o definitivo desligamento do quadro acionário (vide no Anexo I, item 8 - Ementário).

VIII.   ESCRITURAÇÃO/MUDANÇAS CONTÁBEIS

As Ltdas. de porte médio ou grande devem escriturar o Livro de Reunião de Sócios para transcrição de atas, devendo estas serem levadas a registro na JUCEMG. Escrituração completa do Livro Diário, Balanços e Balancetes constituem práticas consolidadas nestas empresas. Contudo, entendemos que aquelas de rudimentar organização, inseridas no contexto do "Estatuto da Micro e Pequena Empresa" - Lei Federal - sujeitas ou não ao regime "Simples" para pagamento de impostos, estão dispensadas da contabilização corrente dos atos e fatos

s sociedades anônimas de médio e grande porte sujeitam-se, em razão de exigências fiscais, benefícios setoriais, concorrenciais, exportações, dentre outros, a um complexo sistema de gerências departamentalizadas e, em especial, as áreas de finanças, orçamentos e custos que reclamam sintonia, precisão e celeridade de informações entre elas para que se alcancem os resultados programados. Lembre-se que as S/As não podem ser enquadradas no programa Federal dito SIMPLES. Cálculo do Dividendo Obrigatório, refletindo

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administrativos, devendo proceder à escrituração somente dos livros Caixa e Registro de Inventário, com suporte em documentos hábeis e idôneos. No entanto, reuniões de sócios para determinadas decisões são indispensáveis, devendo ser lavradas as atas e assim registradas e, eventualmente, publicadas (vide item X) 

diretamente nas Reservas de Lucros a Realizar. A parcela realizada não mais será dedutível dos resultados líquidos. Assim, o cálculo do D.O. beneficiará minoritários.

IX.       FALÊNCIA/CONCORDATA

Tanto a Ltda. como a S/A gozam das prerrogativas destes institutos sob condições (a nova lei de falências e concordatas deve ser sancionada brevemente). Registre-se que, por ela, o princípio da preservação da sociedade (aspectos sociais e econômicos) levam o legislador atual a adotar a sistemática de Recuperação Judicial, que também abrangerá as atuais concordatárias, provavelmente.

  Eis um breve sumário das alterações do Projeto de Lei:  NA CONCORDATA/RECUPERAÇÃO JUDICIAL: a) Pagamento dos credores: Plano de recuperação judicial para todos os

créditos. Empresas já em concordata ou falência poderão apresentar plano.  b)  Credores trabalhistas: Incluídos no plano, se maiores que R$30.000,00

por empregado.  c)  Créditos fiscais: Há possibilidade de parcelamento.  d)  Recuperação: Dilação de prazo, cisão, fusão, incorporação, aumento de

capital, acordos coletivos de trabalho, emissão de debêntures. NA FALÊNCIA: a) Convocação de credores: Possibilita plano de recuperação extrajudicial homologado

pelo juiz.  b)  Pedido de falência: Fundado em protesto de títulos superiores a R$10.000,00.  c)  Alienação dos bens: Preferência pela venda do estabelecimento em bloco.

X.         CUSTOS ADMINISTRATIVOS: SOLENIDADES / PUBLICAÇÕES / CONTÁBEIS E JURÍDICOS

Menores; mas, complexos para as empresas em geral. Contudo, como vimos, as micro e pequenas empresas estão dispensadas de regular escrituração; atas de reuniões de sócios, registros das mesmas e publicações serão episódicas nestas, de rudimentar organização (vide item VIII). Como o Código é novo, só com o passar dos anos doutrina e jurisprudência se estabilizarão. Dúvidas e incertezas persistirão, pelo menos por uns cinco anos, quanto às questões mais polêmicas, a não ser que as alterações pretendidas nos projetos de lei em tramitação no Congresso possam dirimi-las satisfatoriamente.

Maiores. Os usuais, atualmente suportados pelas companhias. Doutrina e jurisprudência praticamente pacificadas nas sociedades, em especial as Cias. Fechadas. Quanto às abertas à C.V.M., compete dirimir as dúvidas, que são significativas, num primeiro passo. Caso persistirem, o judiciário decidirá. No entanto, cogita-se no Governo proceder a um novo projeto de lei removendo-se da L.S/A questionamentos que ainda persistem no meio empresarial, sobretudo entre investidores.  Segundo o art. 294 da Lei, a S/A constituída com menos de 20 acionistas e com patrimônio líquido inferior a R$1.000.000,00 estão dispensadas de várias exigências, tais como publicações de: anúncios, demonstrações financeiras e outros documentos mais previstos no art. 133.

 XI.       PENHORA DE AÇÕES E COTAS / POSSIBILIDADE RECONHECIDA PELO JUDICIÁRIO

Segundo a Doutrina autorizada de "De Plácido e Silva" (Vocabulário Jurídico, Ed. Florense, 10ª ed., vol. III, pág. 342), o penhor, como ato volitivo, "tecnicamente revela-se um pacto adjeto ou obrigação acessória, em virtude da qual o devedor entrega coisa móvel sua ou

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de outrem (que o autoriza a dá-la em garantia), para nela ser cumprida a obrigação principal, quando não resgatada a dívida".

Já a penhora, ainda de acordo com "De Plácido e Silva", (obra citada, pág. 343), significa "o ato judicial, pelo qual se apreendem ou se tomam os bens do devedor, para que neles se cumpra o pagamento da dívida ou da obrigação executada". É reconhecida, de há muito, pela Justiça quanto às ações,. No que concerne às cotas, vide no Anexo II, item 6, o julgado à respeito.

Tel matéria deve, a nosso ver, ser objeto de normas específicas nos Acordos de Acionistas/Cotistas.

XII.      DIREITO DE VOTO E USUFRUTO

Podem compor as salvaguardas do doador. Como nas Ltdas., estando pacificada tal questão pelo NCC.

XIII.    ARBITRAGEM

É recomendável para resolver pendências nas relações entre cotistas e/ou acionistas, nas empresas de que participem, sobretudo aquelas, ainda que de pequeno porte e, com maior razão, as médias e grandes empresas.

Anexo I - Ementário dos Acórdãos Neste Mencionados 1.       "Tributário. Execução Fiscal. Embargos. Art. 135, III, CTN. 1. Os bens do sócio de uma empresa jurídica comercial não respondem, em caráter solidário, por dívidas fiscais assumidas pela sociedade. 2. A responsabilidade tributária imposta por sócio-gerente, administrador, diretor ou equivalente só se caracteriza quando há dissolução irregular da sociedade ou se comprova infração à lei praticada pelo dirigente. 3. Não é responsável por dívida tributária, no contexto do art. 135, III, CTN, o sócio que se afasta regularmente da sociedade comercial, transferindo suas quotas a terceiro, sem ocorrer extinção ilegal da empresa. 4. Empresa que continuou em atividade após a retirada do sócio. Dívida fiscal, embora contraída no período em que o sócio participava, de modo comum com os demais sócios, da administração da empresa, porém, só apurada e cobrada três anos depois do aditivo contratual que alterou a composição societária. 5. Inexistência de responsabilidade tributária do ex-sócio. 6. Recurso especial provido." (Ac un da 1ª T do STJ - Resp 215.349/MG - Rel. Min. José Delgado - j 31.08.99 - Recte.: Milton dos Reis; Recda.: Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais - DJU-e 1 11.10.99, p 45 - ementa oficial) 2.       "Execução fiscal. Embargos. Responsabilidade tributária. Art. 135, inciso III, do CTN. Não responde pelas obrigações tributárias o sócio que, apesar de gerente nunca exerceu a função de administração da pessoa jurídica, restringindo-se sua atuação à gerência técnica." (Ac un da 2ª T do TRF da 4ª R - AC 2000.04.01.097552-4/RS - Rel. Juiz Élcio Pinheiro de Castro - j 21.09.00 - Apte.: INSS; Apdo.: Pedro Luis Sales Pedroso - DJU 2 29.11.00, p 564 - ementa oficial)  3.       "Finsocial - I) Responsabilidade dos sucessores - Caracteriza-se quando fica evidenciada, de forma inequívoca, a aquisição, por qualquer título, de fundo de comércio e a continuidade de sua exploração, a despeito dos artifícios utilizados para encobrir essa realidade, com vistas à fuga da responsabilidade pelo passivo fiscal da sucedida, nos termos do art. 133 do CTN, II) Benefício da

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ordem - Não há que se falar quando a continuidade da existência da sociedade alienante é apenas ficta, dada a condição de 'laranjas' dos sócios remanescentes, sua mudança para endereço no qual jamais operou e a inexistência de ativos, o que descaracteriza o pressuposto necessário para operar a regra do inciso II do art. 133 do CTN. III) Encargo da TRD - Não é de ser exigido no período que medeou de 04.02 a 29.07.91. Recurso parcialmente provido." (Ac un da 2ª C do 2º CC - nº 202 - 11.305 - Rel. Conselheiro Antônio Carlos Bueno Ribeiro - j 07.07.99 - DOU-e 1 25.11.99, p 16 - ementa oficial)  4.       "Tributário. Sociedade anônima e/ou sociedade por quotas de responsabilidade limitada. Limites da responsabilidade do diretor e/ou do sócio-gerente. Quem está obrigada a recolher os tributos devidos pela empresa é a pessoa jurídica, e, não obstante ela atue por intermédio de seu órgão, o diretor ou o sócio-gerente, a obrigação tributária é daquela, não destes. Sempre, portanto, que a empresa deixa de recolher o tributo na data do respectivo vencimento, a impontualidade ou a inadimplência é da pessoa jurídica, não do diretor ou do sócio-gerente, que só respondem, e excepcionalmente, pelo débito, se resultar de atos praticados com excesso de mandato ou infração à lei, contrato social ou estatutos, exatamente nos termos do que dispõe o artigo 135, inciso III, do Código Tributário Nacional. Recurso especial conhecido, mas improvido." (Ac un da 2ª T do STJ - Rel. Min. Ari Pargendler - RESP 10739/SP - DJU 1º.02.1999, p 138)5.       "Tributário. Execução fiscal. Sociedade Anônima. Responsabilidade tributária. Art. 135, III, CTN. Diretor. Ausência de prova de infração à lei ou estatuto. 1. Os bens do sócio de uma pessoa jurídica comercial não respondem, em caráter solidário, por dívidas fiscais assumidas pela sociedade. 2. A responsabilidade tributária imposta por sócio-gerente, administrador ou equivalente só se caracteriza quando há dissolução irregular da sociedade ou se comprova infração à lei praticada pelo dirigente. 3. Não é responsável por dívida tributária, no contexto do art. 135, III, CTN, o sócio que se afasta regularmente da sociedade comercial, sem ocorrer extinção ilegal da empresa, nem ter sido provado que praticou atos com excesso de mandato ou infração à lei, contrato social ou estatutos. 4. Empresa que continuou em atividade após a retirada do sócio. Dívida fiscal, embora contraída no período em que o mesmo participava, de modo comum com os demais sócios, da administração da empresa, porém, só apurada e cobrada posteriormente. 5. Não ficou demonstrado que o embargado, embora sócio-administrador em conjunto com os demais sócios, tenha sido o responsável pelo não pagamento do tributo no vencimento. Não há como, hoje, após não integrar o quadro social da empresa, ser responsabilizado. 6. Embargos de divergência rejeitados." (Ac un da 1ª S do STJ - Ediv no Resp 100.739/SP - Rel. Ministro José Delgado - j 06.12.99 - Embte.: Fazenda do Estado de São Paulo; Embdos.: Carlos Nehring Netto e outra - DJU-e 1 28.02.00, p 32 - ementa oficial)  6.       "Processo Civil e Direito Comercial. Penhorabilidade das cotas de sociedade de responsabilidade limitada por dívida particular do sócio. Doutrina. Precedentes. Recurso não conhecido. I - A penhorabilidade das cotas pertencentes ao sócio de sociedade de responsabilidade limitada, por dívida particular deste, porque não vedada em lei, é de ser reconhecida. II - Os efeitos da penhora incidente sobre as cotas sociais hão de ser determinados em atenção aos princípios societários, considerando-se haver, ou não, no contrato social proibição à livre alienação das mesmas. III - Havendo restrição

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contratual, deve ser facultado à sociedade, na qualidade de terceira interessada, remir a execução, remir o bem ou conceder-se a ela e aos demais sócios a preferência na aquisição das cotas, a tanto por tanto (CPC, arts. 1117, 1118 e 1119). IV - Não havendo limitação no ato constitutivo, nada impede que a cota seja arrematada com inclusão de todos os direitos a ela concernentes, inclusive o status de sócio" (Ac da 4ª T do STJ - mv - Resp 39.609-3-SP - Rel. Min. Sálvio de Figueiredo - j 14.03.94 - Repertório IOB de Jurisprudência, Boletim nº 5/95, Caderno 3, pág. 70, texto 3/10587). "In verbis"  7.       "A teoria da desconsideração da personalidade jurídica está cada vez mais atuante no processo falimentar, porque somente com a sua incidência o Juiz poderá evitar o desvio de bens arrecadáveis que frustra a pars conditio creditorum, fundamento do Decreto-lei nº 7.661/45; essa freqüência é consentânea [sic] com a prática cada vez mais especializada de fraude contábil, consistente na constituição de uma Segunda sociedade empresária, para, com essa aparente confusão de identidade e patrimônio, permitir que o falido em nome de outrem, continue praticando o comércio, livre da inadimplência anterior. Não-provimento." (Ac un da 3ª C de Direito Privado do TJ SP - Ag 237.168-4/4 - Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani - j 08.10.02 - Agte.: Márcio Bortolotti Lins; Agda.: Mercantil Farmed Ltda. - DJ SP I 05.12.02, p 49 - ementa oficial) "In verbis"  8.       "Direito comercial. Sociedade anônima. Grupo familiar. Inexistência de lucros e de distribuição de dividendos há vários anos. Dissolução parcial. Sócios minoritários. Possibilidade. Pelas peculiaridades da espécie, em que o elemento preponderante, quando do recrutamento dos sócios, para a constituição da sociedade anônima envolvendo pequeno grupo familiar, foi a afeição pessoal que reinava entre eles, a quebra da affecttio societatis conjugada à inexistência de lucros e de distribuição de dividendos, por longos anos, pode se constituir em elemento ensejador da dissolução parcial da sociedade, pois seria injusto manter o acionista prisioneiro da sociedade, com seu investimento improdutivo, na expressão de Rubens Requião. O princípio da preservação da sociedade e de sua utilidade social afasta a dissolução integral da sociedade anônima, conduzindo à dissolução parcial. Recurso parcialmente conhecido, mas improvido." (Ac da 4ª T do STJ - mv - Resp 111.294-PR - Rel. para o Ac Min. César Asfor Rocha - j 19.09.00 - Rectes.: Cocelpa Companhia de Celulose e Papel do Paraná e outros; Recdos.: Aurélio Fontana de Pauli - Espólio e outros - DJU-e 1 28.05.01, p 161 - ementa oficial)   Anexo II - Sociedades Limitadas / Quoruns de Deliberações - Item IV - Pág. 2  1.         UNANIMIDADE: administrador não sócio, caso não integralizado o capital totalmente (art. 1.061) e dissolução de sociedade (art. 1.033, II).  2.         3/4 DO CAPITAL: alteração do Contrato Social, que inclui, por óbvio, o administrador nele nomeado; incorporação; fusão e liquidação da sociedade (arts. 1.071, V e VI e 1.076, I).  3.         2/3 DO CAPITAL: destituição de sócio - administrador nomeado no Contrato Social que poderá registrar outro maior ou menor (art. 1.063, § 1º); designação de administrador não sócio, caso integralizado totalmente o capital (art. 1.061). 4.         MAIORIA ABSOLUTA

(MAIS DE 50% DO CAPITAL): designação de sócio-administrador por ato separado e sua

destituição; remuneração dos administradores e

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requerimento de concordata (arts. 1.071, II, III, IV e VIII, e 1.076, II); liquidação - quando por prazo indeterminado (art. 1.033, III) e exclusão de sócio por justa causa (art. 1.085).

 5. MAIORIA SIMPLES (MAIS DE 50% DOS SÓCIOS PRESENTES À REUNIÃO ): aprovação das contas dos administradores; liquidação da

sociedade (art. 1.071, I, VII e 1.076, III) e demais assuntos.   NOTA: Segundo o multicitado neste, FÁBIO ULHOA, sobre a

questão, aduz com peculiar clareza às fls. 429:  "O direito de participar das decisões da sociedade é relativo. Quanto mais o sócio contribuiu para o capital social, maior é o seu poder de influir nos negócios.  A participação dos sócios nas deliberações sociais pode ser objeto de negociação entre eles. O contrato social pode fixar quorum de deliberação diferente do legal em duas hipóteses: a) destituição de administrador sócio, que pode ser maior ou menor que os dois terços do capital social referido no art. 1.063, § 1º; b) qualquer matéria sujeita à aprovação por maioria simples, para a qual o contrato social pode exigir quorum qualificado, como dito no art. 1.076, III. Estas são as únicas hipóteses em que a deliberação pode ficar dependente de quorum diverso do legal em razão de cláusula do contrato social. Para as demais deliberações, os sócios que quiserem negociar o aumento do quorum da lei devem valer-se de mecanismo um tanto mais sofisticado: o contrato social pode obrigar, por exemplo, a observância dos termos e condições pactuados em acordo de cotista, no qual seja estruturado processo decisório que impeça qualquer deliberação relevante ou mesmo alteração do contrato social sem a concordância de todos os sócios (a chamada 'cláusula de unanimidade')"

XXI – DA TRANSFORMAÇÃO, DA INCORPORAÇÃO, DA FUSÃO E DA CISÃO DAS SOCIEDADES:

CAPÍTULO XDa Transformação, da Incorporação, da Fusão e da Cisão das Sociedades

        Art. 1.113. O ato de TRANSFORMAÇÃO independe de dissolução ou liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se.

        Art. 1.114. A transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031.

        Art. 1.115. A transformação não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores.

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        Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente a estes beneficiará.

        Art. 1.116. Na INCORPORAÇÃO, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos.

        Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo.

        § 1o A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticar o necessário à incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo.

        § 2o A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade, que tenha de ser incorporada.

        Art. 1.118. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio.

        Art. 1.119. A FUSÃO determina a extinção das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações.

        Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas sociedades que pretendam unir-se.

        § 1o Em reunião ou assembléia dos sócios de cada sociedade, deliberada a fusão e aprovado o projeto do ato constitutivo da nova sociedade, bem como o plano de distribuição do capital social, serão nomeados os peritos para a avaliação do patrimônio da sociedade.

        § 2o Apresentados os laudos, os administradores convocarão reunião ou assembléia dos sócios para tomar conhecimento deles, decidindo sobre a constituição definitiva da nova sociedade.

        § 3o É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que façam parte.

        Art. 1.121. Constituída a nova sociedade, aos administradores incumbe fazer inscrever, no registro próprio da sede, os atos relativos à fusão.

        Art. 1.122. Até noventa dias após publicados os atos relativos à incorporação, fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a anulação deles.

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        § 1o A consignação em pagamento prejudicará a anulação pleiteada.

        § 2o Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, suspendendo-se o processo de anulação.

        § 3o Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da sociedade incorporadora, da sociedade nova ou da cindida, qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas.

LEI N o 6.404, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1976.

CAPÍTULO XVIII

Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão

SEÇÃO I

Transformação

Conceito e Forma

        Art. 220. A TRANSFORMAÇÃO é a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para outro.

        Parágrafo único. A transformação obedecerá aos preceitos que regulam a constituição e o registro do tipo a ser adotado pela sociedade.

        Deliberação

        Art. 221. A TRANSFORMAÇÃO exige o consentimento unânime dos sócios ou acionistas, salvo se prevista no estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio dissidente terá o direito de retirar-se da sociedade.

        Parágrafo único. Os sócios podem renunciar, no contrato social, ao direito de retirada no caso de transformação em companhia.

        Direito dos Credores

        Art. 222. A TRANSFORMAÇÃO não prejudicará, em caso algum, os direitos dos credores, que continuarão, até o pagamento integral dos seus créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior de sociedade lhes oferecia.

        Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente a estes beneficiará.

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SEÇÃO II

Incorporação, Fusão e Cisão

        Competência e Processo

        Art. 223. A INCORPORAÇÃO, FUSÃO ou CISÃO podem ser operadas entre sociedades de tipos iguais ou diferentes e deverão ser deliberadas na forma prevista para a alteração dos respectivos estatutos ou contratos sociais.

        § 1º Nas operações em que houver criação de sociedade serão observadas as normas reguladoras da constituição das sociedades do seu tipo.

        § 2º Os sócios ou acionistas das sociedades incorporadas, fundidas ou cindidas receberão, diretamente da companhia emissora, as ações que lhes couberem.

        Protocolo

        Art. 224. As condições da incorporação, fusão ou cisão com incorporação em sociedade existente constarão de protocolo firmado pelos órgãos de administração ou sócios das sociedades interessadas, que incluirá:

        I - o número, espécie e classe das ações que serão atribuídas em substituição dos direitos de sócios que se         extinguirão e os critérios utilizados para determinar as relações de substituição;

        II - os elementos ativos e passivos que formarão cada parcela do patrimônio, no caso de cisão;

        III - os critérios de avaliação do patrimônio líquido, a data a que será referida a avaliação, e o tratamento das variações patrimoniais posteriores;

        IV - a solução a ser adotada quanto às ações ou quotas do capital de uma das sociedades possuídas por outra;

        V - o valor do capital das sociedades a serem criadas ou do aumento ou redução do capital das sociedades que forem parte na operação;

        VI - o projeto ou projetos de estatuto, ou de alterações estatutárias, que deverão ser aprovados para efetivar a operação;

        VII - todas as demais condições a que estiver sujeita a operação.

        Parágrafo único. Os valores sujeitos a determinação serão indicados por estimativa.

        Justificação

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        Art. 225. As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da assembléia-geral das companhias interessadas mediante justificação, na qual serão expostos:

        I - os motivos ou fins da operação, e o interesse da companhia na sua realização;

        II - as ações que os acionistas preferenciais receberão e as razões para a modificação dos seus direitos, se prevista;

        III - a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do capital das companhias que deverão emitir ações em substituição às que se deverão extinguir;

        IV - o valor de reembolso das ações a que terão direito os acionistas dissidentes.

        Formação do Capital

        Art. 226. As operações de incorporação, fusão e cisão somente poderão ser efetivadas  nas condições aprovadas se os peritos nomeados determinarem que o valor do patrimônio ou patrimônios líquidos a serem vertidos para a formação de capital social é, ao menos, igual ao montante do capital a realizar.

        § 1º As ações ou quotas do capital da sociedade a ser incorporada que forem de propriedade da companhia incorporadora poderão, conforme dispuser o protocolo de incorporação, ser extintas, ou substituídas por ações em tesouraria da incorporadora, até o limite dos lucros acumulados e reservas, exceto a legal.

        § 2º O disposto no § 1º aplicar-se-á aos casos de fusão, quando uma das sociedades fundidas for proprietária de ações ou quotas de outra, e de cisão com incorporação, quando a companhia que incorporar parcela do patrimônio da cindida for proprietária de ações ou quotas do capital desta.

        Incorporação

        Art. 227. A INCORPORAÇÃO é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações.

        § 1º A assembléia-geral da companhia incorporadora, se aprovar o protocolo da operação, deverá autorizar o aumento de capital a ser subscrito e realizado pela incorporada mediante versão do seu patrimônio líquido, e nomear os peritos que o avaliarão.

        § 2º A sociedade que houver de ser incorporada, se aprovar o protocolo da operação, autorizará seus administradores a praticarem os atos

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necessários à incorporação, inclusive a subscrição do aumento de capital da incorporadora.

        § 3º Aprovados pela assembléia-geral da incorporadora o laudo de avaliação e a incorporação, extingue-se a incorporada, competindo à primeira promover o arquivamento e a publicação dos atos da incorporação.

        Fusão

        Art. 228. A FUSÃO é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações.

        § 1º A assembléia-geral de cada companhia, se aprovar o protocolo de fusão, deverá nomear os peritos que avaliarão os patrimônios líquidos das demais sociedades.

        § 2º Apresentados os laudos, os administradores convocarão os sócios ou acionistas das sociedades para uma assembléia-geral, que deles tomará conhecimento e resolverá sobre a constituição definitiva da nova sociedade, vedado aos sócios ou acionistas votar o laudo de avaliação do patrimônio líquido da sociedade de que fazem parte.

        § 3º Constituída a nova companhia, incumbirá aos primeiros administradores promover o arquivamento e a publicação dos atos da fusão.

        Cisão

        Art. 229. A CISÃO é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

        § lº Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados.

        § 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a operação será deliberada pela assembléia-geral da companhia à vista de justificação que incluirá as informações de que tratam os números do artigo 224; a assembléia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida, e funcionará como assembléia de constituição da nova companhia.

        § 3º A CISÃO com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre incorporação (artigo 227).

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        § 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos administradores das sociedades que tiverem absorvido parcelas do seu patrimônio promover o arquivamento e publicação dos atos da operação; na cisão com versão parcial do patrimônio, esse dever caberá aos administradores da companhia cindida e da que absorver parcela do seu patrimônio.

        § 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus acionistas, em substituição às ações extintas, na proporção das que possuíam.

        Direito de Retirada

        Art. 230. O acionista dissidente da deliberação que aprovar a incorporação da companhia em outra sociedade, ou sua fusão ou cisão, tem direito de retirar-se da companhia, mediante o reembolso do valor de suas ações (artigo 137).

        Parágrafo único. O prazo para o exercício desse direito será contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o protocolo ou justificação da operação, mas o pagamento do preço de reembolso somente será devido se a operação vier a efetivar-se.

        Direitos dos Debenturistas

        Art. 231. A incorporação, fusão ou cisão da companhia emissora de debêntures em circulação dependerá da prévia aprovação dos debenturistas, reunidos em assembléia especialmente convocada com esse fim.

        § 1º Será dispensada a aprovação pela assembléia se for assegurado aos debenturistas que o desejarem, durante o prazo mínimo de 6 (seis) meses a contar da data da publicação das atas das assembléias relativas à operação, o resgate das debêntures de que forem titulares.

        § 2º No caso do § 1º, a sociedade cindida e as sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelo resgate das debêntures.

        Direitos dos Credores na Incorporação ou Fusão

        Art. 232. Até 60 (sessenta) dias depois de publicados os atos relativos à incorporação ou à fusão, o credor anterior por ela prejudicado poderá pleitear judicialmente a anulação da operação; findo o prazo, decairá do direito o credor que não o tiver exercido.

        § 1º A consignação da importância em pagamento prejudicará a anulação pleiteada.

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        § 2º Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, suspendendo-se o processo de anulação.

        § 3º Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da sociedade incorporadora ou da sociedade nova, qualquer credor anterior terá o direito de pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas.

        Direitos dos Credores na Cisão

        Art. 233. Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. A companhia cindida que subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão.

        Parágrafo único. O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida serão responsáveis apenas pelas obrigações que lhes forem transferidas, sem solidariedade entre si ou com a companhia cindida, mas, nesse caso, qualquer credor anterior poderá se opor à estipulação, em relação ao seu crédito, desde que notifique a sociedade no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data da publicação dos atos da cisão.

        Averbação da Sucessão

        Art. 234. A certidão, passada pelo registro do comércio, da incorporação, fusão ou cisão, é documento hábil para a averbação, nos registros públicos competentes, da sucessão, decorrente da operação, em bens, direitos e obrigações.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO- ÍNDICE –

TÓPICO PÁG.

1. Títulos de Crédito: ....................................................................... 0061.1 – Conceitos Iniciais: ................................................................. 0061.a. aceite;1.b. Título à ordem; Título nominativo e Título ao Portador......... 0101.c. devedor solidário (solidariedade e não solidariedade –a questão do “E” x “OU”; ................................................................ 0131.d. entendendo o “juridiquês” dos títulos de crédito: (Vocabulário). 014 1.e. título de natureza quérable (quesível) e portable (levável); ..... 0161.f. título de natureza pro soluto e pro solvendo;1.g. Dúvidas mais comuns acerca do Direito Cambiário ............... 017

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1.h. Características dos títulos de crédito; ..................................... 021 1.i. endosso – Circulação dos Títulos de Crédito .......................... 0211.j. Legislação Comparada ............................................................ 0331.2 – Cheque .................................................................................. 0361.3 – Letra de Câmbio ................................................................... 0441.4 – Nota Promissória .................................................................. 0541.5 – Duplicata .............................................................................. 0561.7 – Das Debêntures .................................................................... 0765. Contratos Mercantis Especiais:5.1. Da formalização de contratos e das garantias: ....................... 1355.2. – Dos Contratos e Contratos Bancários ............................... 1365.3. – Das cláusulas abusivas (ANATOCISMO e outras)........... 1415.6. Contratos De Factoring(Fomento Mercantil) .......................... 1795.8. Contratos de Leasing (Arrendamento Mercantil) .................... 187

OS TÍTULOS DE CRÉDITO (Também conhecidos como: “PAPAGAIOS”, QUIRÓGRAFOS, RECEBÍVEIS, CÁRTULAS, TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO,

EFEITOS COMERCIAIS ou, simplesmente, TÍTULOS DE CRÉDITO)

- CONFORME NOVO CÓDIGO CIVIL -

a.1. CONCEITOS INICIAIS:

“Título de Crédito é o documento formal capaz de realizar imediatamente o valor nele contido e necessário ao exercício do seu direito literal e autônomo.” (Luiz Emygdio).

“É o documento necessário para o exercício de direito literal e autônomo nele mencionado. Ou, ainda, documento representativo de uma obrigação pecuniária.” (Cesare Vivante).

Os Títulos de Crédito, quando não prescritos, devem vir acostados à Petição Inicial da Ação Cambial Executiva. Eles são títulos executivos extrajudicias, conforme CPC, artigo 585 - Do Título Executivo Extrajudicial - CPC – artigo 585 – “São títulos executivos extrajudiciais: I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque”;

O que quer dizer “título executivo extrajudicial”? Quer dizer que ele, o título, enquanto não prescrito, tem força executiva própria. Não necessita de uma ação de conhecimento (cognição).

A grande vantagem, é que a ação cambial, sendo uma ação de execução, é mais célere, enquanto a ação de conhecimento leva mais tempo.

Na ação executiva, o Juiz, ao receber a inicial, manda intimar de pronto o executado, para que pague em 24 horas ou nomeie bens a penhora.

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Na ação de conhecimento, o Juiz mandará citar o réu para que apresente contestação e, assim, inicia-se um processo de convencimento do Juiz, o que pode levar meses e até anos, dependendo do Juízo e das provas.

VIVANTE enriqueceu o conceito de título de crédito, destacando os elementos autonomia e literalidade.

O Novo Código Civil acatou o conceito de Vivante ao afirmar que “o título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”.

O EMITENTE DO TÍTULO OBRIGA-SE:a) contratualmente – com o credor primitivob) unilateralmente – com os demais credores (terceiros)

No Direito Brasileiro a emissão do título de crédito é tida como declaração unilateral de vontade.

Atualmente, o direito brasileiro reconhece 41 (quarenta e um) títulos de crédito PRÓPRIOS, assim denominados e disciplinados:

1 - LETRA DE CÂMBIO - Decreto nº 2.044 de 31 de dezembro de 1908, alterado pelo Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966 – Lei Uniforme de Genebra;

2 - NOTA PROMISSÓRIA – Idem ao item 1;3 – CHEQUE – Decreto nº 57.595, de 07.01.66 + Lei nº 7.357, de 2 de

setembro de 1985; + Decreto nº 1.240, de 15.09.94. 4 - DUPLICATA MERCANTIL - Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968,

alterada pelo Decreto-lei nº 436, de 27 de janeiro de 1969; 5 - DUPLICATA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – Idem ao item 4;6 - CONHECIMENTO DE DEPÓSITO – Decreto nº 1.102, de 21 de

novembro de 1903;7 - WARRANT – Idem ao item 6;8 - CONHECIMENTO DE TRANSPORTE – Decreto nº 19.473, de 10 de

dezembro de 1930;9 - LETRA HIPOTECÁRIA – Lei nº 7.684, de 2 de dezembro de 1988;10 - CÉDULA RURAL PIGNORATÍCIA – Decreto-Lei nº 167, de 14 de

fevereiro de 1967;11 - CÉDULA RURAL HIPOTECÁRIA – Idem ao item 10;12 - CÉDULA RURAL PIGNORATÍCIA E HIPOTECÁRIA – Idem ao item

10;13 - NOTA DE CRÉDITO RURAL – Idem ao item 10;14 - NOTA PROMISSÓRIA RURAL – Idem ao item 10;15 - DUPLICATA RURAL – Idem ao item 10;16 - LETRA IMOBILIÁRIA – Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964;17 - CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO - CDB – Lei nº 4.728, de

14 de julho de 1965;18 - CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL – Decreto-lei nº 413, de 9 de

janeiro de 1969;19 - NOTA DE CRÉDITO INDUSTRIAL – Idem ao item 18;20 - AÇÕES DE SOCIEDADE POR AÇÕES – Lei nº 6.404, de 15 de

dezembro de 1976;21 - CERTIFICADO DE DEPÓSITO DE AÇÕES – Idem ao item 20;22 - PARTES BENEFICIÁRIAS – Idem ao item 21;

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23 - CERTIFICADO DE DEPÓSITO DE PARTES BENEFICIÁRIAS – Idem ao item 21;

24 - DEBÊNTURE – Idem ao item 21;25 - CERTIFICADO DE DEPÓSITO DE DEBÊNTURE – Idem ao item 21;26 - CÉDULA DE DEBÊNTURE – Idem ao item 21;27 - BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES – Idem ao item 21;28 - CERTIFICADO DE BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES – Idem ao

item 21;29 - BILHETE DE MERCADORIA – Lei nº 165-A, de 1890;30 - CÉDULA HIPOTECÁRIA – Decreto-lei nº 70, de 21 de novembro de

1966, e Resolução nº 228, de 4 de julho de 1972, do Banco Central do Brasil;31 - CERTIFICADO DE DEPÓSITOS EM GARANTIA – Lei nº 4.728, de

14 de julho de 1965, art. 31;32 - CERTIFICADO DE INVESTIMENTO – Resolução nº 145, de 14 de

abril de 1970, do Banco Central do Brasil;33 - CÉDULA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO – Lei nº 6.313, de 16 de

dezembro de 1975, Circular do BCB 7.586, de 25 de outubro de 1977;34 - NOTA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO – Idem ao item 33;35 - CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL – Lei 6.840, de 03.11.1980;36 - NOTA DE CRÉDITO COMERCIAL – idem ao item 35;37 - CÉDULA DE PRODUTO RURAL – CPR – Lei nº 8.929, de 22 de

agosto de 1994;38 - CERTIFICADOS DE ENERGIA ELÉTRICA – Instrução nº 267, de 1º

de agosto de 1997, da Comissão de Valores Mobiliários;39 - CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS – CRI – Lei nº

9.514, de 20 de novembro de 1997;40 - CONHECIMENTO DE TRANSPORTE MULTIMODAL DE

CARGAS – Lei nº 9.611, de 19 de fevereiro de 1998;41 - CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – Medida Provisória nº 1.925-3,

de 6 de janeiro de 2000.

Legislação aplicada aos Títulos de Crédito:

- Estatuto básico do cheque – Lei 7357 de 2.09.85, ficando a lei uniforme do cheque como diploma subsidiário na parte não derrogada pela lei nova.

- Letras e Promissórias – Lei Uniforme das Letras e Promissórias (Lei Uniforme de Genebra - LUG), Decreto 2044 de 31.12.1908 na parte não derrogada, e Decreto 57.663, de 24.01.1966, que disciplinou a LUG.

CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS:

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Há varias classificações para os títulos de crédito. Os mais importantes critérios que se referem à estrutura formal e ao modo de

circulação dos títulos são:

a) Quanto ao modelo: 1- Modelo livre - cuja forma não precisa observar um padrão determinado. Ex:

Nota Promissória e Letra de Câmbio. 2- Modelo vinculado – a Lei estabelece um padrão (modelo) para o

preenchimento dos requisitos específicos de cada um. Ex: Cheque e duplicata mercantil. b) Quanto à estrutura: Sob a ótica da estrutura formal, os títulos de crédito podem assumir a feição de

ordem de pagamento ou promessa de pagamento. 1- Ordem de pagamento: nos títulos que contêm ordem de pagamento, a obrigação

deverá ser cumprida por terceiros. Exemplo desses títulos: Cheque e Letra de Câmbio. 2- Promessa de pagamento: são os títulos nos quais o saque dá origem a apenas

duas situações jurídicas: • quem promete pagar – emitente ou sacador. • e o beneficiário da promessa. Ex: Nota Promissória.c) Quanto à emissão:

- Causal: são aqueles emitidos somente quando ocorrer um fato que a Lei determinou como causa para sua emissão. Ex: a Duplicata Mercantil só pode ser emitida quando representar obrigação decorrente de compra e venda mercantil.

- Não-causal (abstrato): são aqueles cuja emissão a Lei não determina causa. Ex: Cheque, Letra de Câmbio (EM REGRA – explicação no momento oportuno) e Nota Promissória.

d) Quanto à Circulação.

Analisando-se o modo como circulam os títulos de crédito podemos dividi-los em: título ao portador e título nominativo (à ordem e não à ordem).

- Título ao portador: é aquele que circula com muita facilidade, transferindo-se de pessoa para pessoa pela simples entrega do título. Não consta deste título o nome da pessoa beneficiada. Por isso, o seu portador é, presumivelmente, seu proprietário.

Exemplo desse título: Cheque ao portador (até o valor de R$ 100,00 – cem reais).

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:A partir da Lei 8.021/90, nenhum título pode ser mais EMITIDO ao portador.

LEI Nº 8.021, DE 12 DE ABRIL DE 1990.

        Art. 1° A partir da vigência desta lei, fica vedado o pagamento ou resgate de qualquer título ou aplicação, bem como dos seus rendimentos ou ganhos, a beneficiário não identificado.

        Parágrafo único. O descumprimento do disposto neste artigo sujeitará o responsável pelo pagamento ou resgate a multa igual ao valor da operação, corrigido monetariamente a partir da data da operação até o dia do seu efetivo pagamento.

        ART. 2° A PARTIR DA DATA DE PUBLICAÇÃO DESTA LEI FICA VEDADA:

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        I - a EMISSÃO de quotas ao portador ou nominativas-endossáveis, pelos fundos em condomínio;

        II - a EMISSÃO de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-endossáveis;

(...)      

  Art. 4° O art. 20 da Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 20. As ações devem ser nominativas."

        Art. 5° As sociedades por ações terão um prazo de dois anos para adaptar seus estatutos ao disposto no artigo anterior.

       (...)

        Art. 13. Revogam-se o art. 9° da Lei n° 4.729, de 14 de julho de 1965, os arts. 32 e 33 da Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e demais disposições em contrário.

        Brasília, 12 de abril de 1990; 169° da Independência e 102° da República.

FERNANDO COLLORZélia M. Cardoso de Mello

- Título NOMINATIVO: é aquele cujo nome do beneficiário consta no registro do emitente. Trata-se, portanto, do título emitido em nome de pessoa determinada.

Observação: O TÍTULO AO PORTADOR É TRANFERÍVEL PELA SIMPLES TRADIÇÃO (TRADIÇÃO quer dizer entrega – passar de uma pessoa para outra; de mão em mão.)

ATENÇÃO! NÃO É CHEQUE NOMINAL A FULANO DE TAL. NOMINAL é o valor do título.

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O CHEQUE TAMBÉM NÃO É NOMINATIVO. O CHEQUE SERÁ À ORDEM DE ALGUÉM, OU AO PORTADOR (SE SEU VALOR FOR DE ATÉ R$ 100,00)MOTIVO 48 - cheque de valor superior a R$ 100,00 sem identificação do beneficiário - Circ. 2.444, art.1ºCIRCULAR 2.444 - Regulamenta a devolução, no Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis (SCCOP), de cheques DE VALOR SUPERIOR A R$100,00 (cem reais), sem a identificação do beneficiário. A Diretoria do Banco Central do Brasil, com base no Art. 46 da Medida Provisória nº 542, de 30.06.94, e no Art. 1º da Resolução nº 2.090, de 06.07.94, D E C I D I U:Art. 1º Os cheques de VALOR SUPERIOR A R$100,00 (cem reais), emitidos sem a identificação do beneficiário, acaso encaminhados ao Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis, deverão ser devolvidos, a qualquer tempo, pelo motivo "48 - cheque emitido sem a identificação do beneficiário - ACIMA DO VALOR ESTABELECIDO".

Parágrafo único. Será permitida a representação dos cheques de que trata o "caput" deste artigo, desde que cumprida a exigência legal de identificação do beneficiário.

(...)Art. 3º Esta Circular entra em vigor na data de suapublicação. Art. 4º Fica revogada a Circular nº 1.775, de12.07.90, e derrogada a alínea "a" do inciso I do parágrafo inicial da Carta-Circular nº 2.153, de 05.03.91.

Brasília, 06 de julho de 1994 Alkimar Ribeiro Moura Diretor de Política Monetária

Um título de MIL REAIS possui o seu valor NOMINAL de R$ 1.000,00 e será À ORDEM a determinado beneficiário/favorecido.

CUIDADO! TÍTULO NOMINATIVO X TÍTULO À ORDEM

DO TÍTULO AO PORTADOR

O título ao portador é aquele que não traz inscrito o nome do beneficiário do crédito ali afirmado.

A transferência de título ao portador se faz por simples tradição (tradição = modo aquisitivo derivado da posse).

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O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor.

A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente.

O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação (EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE).

É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial.O possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do

emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas.

O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos.

O pagamento, feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato.

DO TÍTULO À ORDEM

Tem-se um título à ordem, sempre que a cártula traz a indicação do beneficiário do crédito ali inscrito, e por ela representado, permitindo-se que o pagamento se faça a outrem, à ordem do beneficiário nomeado no documento.

Há, assim, dois elementos para a sua caracterização: a) o título não apenas afirma a obrigação certa de um devedor certo, mas também traz a indicação de um beneficiário (um credor) certo; b) faculta-se ao credor nomeado na cártula ordenar que o pagamento se faça a outrem, seja indicando essa outra pessoa (ENDOSSO EM PRETO), seja não indicando (ENDOSSO EM BRANCO).

O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no

verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante.A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente

(POSSIBILIDADE DO CANCELAMENTO DO ENDOSSO).Considera-se legítimo possuidor o portador do título à ordem com série regular e

ininterrupta de endossos, ainda que o último seja em branco.Aquele que paga o título está obrigado a verificar a regularidade da série de

endossos, mas não a autenticidade das assinaturas.Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o

endossante.É nulo o endosso parcial.O endossatário de endosso em branco pode mudá-lo para endosso em preto,

completando-o com o seu nome ou de terceiro; pode endossar novamente o título, em branco ou em preto; ou pode transferi-lo sem novo endosso.

Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título (CUIDADO COM A LEI ESPECIAL – LEI UNIFORME DE GENEBRA, que reza exatamente o oposto, e é o que prevalece (a LUG), conforme art. 903, do Código Civil) – Art. 18, do Decreto 57.595, de 07.01.1966 – regulamentou a LUG – “SALVO ESTIPULAÇÃO EM CONTRÁRIO, O ENDOSSANTE GARANTE O PAGAMENTO”.

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Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário.

Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados anteriores.

O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação.

As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída.

O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu.

Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde eficácia o endosso-mandato.

Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as exceções que tiver contra o endossante.

A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título.

O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador.

Não pode o devedor opor ao endossatário de endosso-penhor as exceções que tinha contra o endossante, salvo se aquele tiver agido de má-fé.

A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil.

O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior.

DO TÍTULO NÃO À ORDEM

Uma observação necessária a fazer é a de que o ENDOSSO é uma espécie de CESSÃO DE CRÉDITO. Daí, podermos dizer que todo endosso é uma cessão de crédito, mas nem toda sessão de crédito é um endosso.

Conforme ensina o mestre Gladston Mamede, em seu livro Títulos de Crédito, Editora Atlas, “o endosso, porém, ainda que seja uma cessão de crédito, em sentido largo, é, em sentido estrito, bastante distinto do instituto jurídico da cessão de crédito. O endosso é um ato jurídico unilateral que preserva autonomia, independência e abstração em relação ao negócio fundamental, no qual a cártula foi emitida, quando sejam essas as características dadas em abstrato ou em concreto do título; não há portanto, abrangência de todos os acessórios do crédito, tal qual estipulado pelo art. 287 do Código Civil.”

A transferência de um título NÃO À ORDEM, não é um endosso, mas sim uma cessão de crédito, com as conseqüências jurídicas desta.

Contudo, a cessão poderá ser pro soluto ou pro solvendo, cujos efeitos são distintos.

Na cessão pro solvendo, o cedente, embora transfira o crédito, continua responsável pela solvência do mesmo, ou seja, somente ficará liberto deste encargo quando o cessionário receber a importância do crédito. O que vale dizer que o cedente garante a solvabilidade do crédito cedido, como por exemplo, o que ocorre na operação de DESCONTO BANCÁRIO.

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Já na cessão pro soluto, o cedente transfere o crédito em definitivo ao cessionário, não respondendo aquele pela solvabilidade do mesmo. Ou seja, o cessionário adquire o crédito e assume o risco de sua solvabilidade, como por exemplo, o que ocorre na operação de FACTORING.

DO TÍTULO NOMINATIVO

Ao contrário do que é comum ouvir na vida prática, o título nominativo não é aquele que traz nomeado seu beneficiário (que seria um título à ordem), mas aquele que é emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente, conforme expressa disposição do Código Civil. Como diz Mamede, “Sua característica distintiva é um lastro necessário como um registro específico, de responsabilidade do emitente da cártula, ao qual se mantém vinculado o título. Note-se que o título nominativo não precisa conter o nome do beneficiário, deixa-o subentendido o art. 923, em seu § 3º, quando diz: “CASO o título original contenha o nome do primitivo proprietário, tem direito o adquirente a obter do emitente novo título, em seu nome, devendo a emissão do novo título constar no registro do emitente (GRIFAMOS)”. O essencial, portanto, é o registro peculiar mantido pelo emitente.”

É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.

Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente.

O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o nome do endossatário.

A transferência mediante endosso só tem eficácia perante o emitente, uma vez feita a competente averbação em seu registro, podendo o emitente exigir do endossatário que comprove a autenticidade da assinatura do endossante.

O endossatário, legitimado por série regular e ininterrupta de endossos, tem o direito de obter a averbação no registro do emitente, comprovada a autenticidade das assinaturas de todos os endossantes.

Ressalvada proibição legal, pode o título nominativo ser transformado em à ordem ou ao portador, a pedido do proprietário e à sua custa.

Fica desonerado de responsabilidade o emitente que de boa-fé fizer a transferência pelos modos indicados nos artigos antecedentes.

Qualquer negócio ou medida judicial, que tenha por objeto o título, só produz efeito perante o emitente ou terceiros, uma vez feita a competente averbação no registro do emitente.

A QUESTÃO DO “E/OU” – SOLIDARIEDADE E NÃO SOLIDARIEDADE:

“As conjunções são palavras invariáveis que unem termos de uma oração ou unem orações. As conjunções podem relacionar termos de mesmo valor sintático ou orações sintaticamente equivalentes – as chamadas orações coordenadas – ou podem relacionar uma oração com outra que nela desempenha função sintática – respectivamente, uma oração principal e uma oração subordinada”. (“Estudo das Conjunções” – Gramática da Língua Portuguesa – Pasquele & Ulisses – Editora Scipione – 1ª edição – 1997 – pág. 325).

“E” – a conjunção “e” une, por exemplo, dois termos equivalentes. Ex.: Nossa realidade social é precária e nefasta.

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A conjunção “e” é classificada em CONJUNÇÃO ADITIVA (exprime adição, soma).

A conjunção “ou” é classificada em CONJUNÇÃO ALTERNATIVA (exprime alternância ou exclusão).

Assim, a conclusão GRAMATICAL é que não há possibilidade de essas duas conjunções se co-existirem. Ou seja, no português, ou é “e”, ou é “ou”. Ou há adição, ou há exclusão.

“Juridiquesmente” falando, as conjunções “e” e “ou” são formas de designação de uma situação jurídica de SOLIDARIEDADE ou de SUBSIDIARIEDADE.

Ou o sujeito de direito (ou de obrigação) é SOLIDÁRIO ou SUBSIDIÁRIO. Não há como ser SOLIDÁRIO e SUBSIDIÁRIO concomitantemente.

Exemplo: O AVALISTA é, por natureza jurídica, um coobrigado SOLIDÁRIO ao devedor a quem ele avalizou. Já o FIADOR, pela regra, a sua natureza jurídica é de SUBSIDIARIEDADE.

No primeiro, AVAL, não há falar em BENEFÍCIO DE ORDEM; na segunda, FIANÇA, a regra é o direito do BENEFÍCIO DE ORDEM (subsidiariedade, complementarmente).

Assim, a conclusão JURÍDICA é que não há possibilidade de essas duas conjunções se co-existirem. Ou seja, no “juridiquês”, ou é “e”, ou é “ou”. Ou se é NÃO-SOLIDÁRIO (SUBSIDIÁRIO), ou se é SOLIDÁRIO, respectivamente.

Quer mais?Se o artigo 891, do Código Civil reza, VERBIS: “O título de crédito,

incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados”.

Bom, aqui ficou claro que não há impedimento em se preencher um título de crédito, nos campos que ficaram em branco (claro que se se comprovar a má-fé,....). Mas, veja o parágrafo único do mesmo artigo: proteção ao terceiro de boa-fé.

Ora, se eu, emitente de um cheque, coloco-o à ordem a dois credores meus, da seguinte situação:

- eu devo à Júlia de Freitas e à Terezinha de Freitas, uma soma de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sendo R$ 10.000,00 (dez mil para cada).

- eu encontro com Júlia e digo: “Júlia, você poderia levar um cheque meu, no valor de R$ 20.000,00, como quitação a você (R$ 10.000,00) e à Terezinha (R$ 10.000,00)?

- ela (Júlia) concorda. Se eu coloco o cheque à ordem a somente ela e ela for ao banco e sacar o valor total, a Terezinha poderá alegar que não recebeu os seus R$ 10.000,00 e eu terei pago mal. Quem paga mal, paga duas vezes.

- como recursos jurídico, eu coloco o cheque à ordem às duas, ou seja, JÚLIA DE FREITAS E TEREZINHA DE FREITAS. Com isso, a minha intenção é que as duas sejam NÃO-SOLIDÁRIAS, exatamente para evitar que uma delas aproprie-se indebitamente da quantia da outra. Para receberem o referido cheque, elas terão que assinar em conjunto, não deixando margem para um mal pagamento de minha parte.

- Se se é possível preencher campos em branco, em um título de crédito e se se FOSSE possível a existência da aberração “E/OU”, fatalmente, o “E” sozinho seria frágil e facilmente fraudável.

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Por isso, não resta dúvidas de que, sempre que aparecer a dobradinha “E/OU”, prevalece somente o “e”, sob pena de NUNCA ser possível a existência do “e”, como forma de se obrigar a NÃO-SOLIDARIEDADE.

O “E” seria um instituto jurídico MORTO, INÓCUO.Assim, em qualquer lide, sempre que se aparecer o ABERRATIO “E/OU”,

o juiz deverá considerar que é simplesmente um “e”.Lembre-se, “e/ou” é uma aberração, uma antijuridicidade, um afastamento

racional, do justo, do natural, conduzindo ao erro, ao absurdo, ao extravagante, ao extravio de idéias, ao raciocínio desregrado.

Um absurdo jurídico-gramatical. Um OXIMORO. Um paradoxo.

VOCABULÁRIO CAMBIÁRIO:

ACEITEÉ o ato pelo qual o sacado reconhece a obrigação cambial, assinando a letra de câmbio (ou duplicata) e assumindo, então, o dever de cumpri-la, sem impor qualquer restrição, na data de seu vencimento.- tal ato denomina-se “aceite”, sendo o sacado o aceitante. Se a letra emitida não for assinada pelo sacador, e o sacado a aceitar assim mesmo, diz-se que aceitou em branco, admitindo que outra pessoa a preencha, substituindo o credor originário. Se colocar qualquer restrição ou modificação, ter-se-á a negativa ao aceite.Aceite por intervenção – é a feita por terceiro interveniente, indicado na letra de câmbio pelo sacador ou por qualquer outro endossante, aceitando o título, antes ou depois do protesto, na recusa do sacado em acatar aquela letra. O interveniente, então, passará a ter a mesma responsabilidade cambial do sacado se este a aceitasse.Aceite de honra – ato de qualquer pessoa anuir e efetuar o pagamento de letra de câmbio, no ato de protesto por falta ou recusa do aceite pelo sacado, honrando qualquer assinatura nela lançada, evitando, assim, aquele protesto, assumindo a responsabilidade cambial.ANUENTEAquele que dá anuência. Que manifesta a sua vontade expressa de aprovação; que dá a sua autorização ou o seu consentimento necessário para a prática de um ato jurídico, imprescindível para a sua vontade.AVALÉ uma garantia literal e expressa dada por pessoa que, não sendo sacado, endossante, nem aceitante, apõe a sua assinatura no anverso (frente) ou verso de um título, assegurando o pagamento desse título (letra de câmbio, nota promissória, duplicata, cheque etc.), de forma solidária.Aval coletivoGarantia em que mais de um avalista responde em favor dos que intervieram num título cambial.Aval conjuntoO mesmo que aval cumulativo.

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Aval cumulativoAquele que, na mesma ocasião, é dado por mais de um avalista, em benefício de um mesmo obrigado.Aval de avalÉ o que se dá quando, havendo vários avalistas, um pretende avalizar o outro.Aval em brancoAquele que contém tão-somente a assinatura do avalista, não indicando o beneficiário garantido.Aval em pretoAquele que contém a locução “por aval” e a indicação da pessoa a quem se garante.Aval em separadoÉ o prestado em documento à parte, garantindo apenas aqueles beneficiários nele arrolados. Aval póstumoÉ aquele dado após o vencimento do título.CESSÃO DE CRÉDITOÉ o negócio jurídico bilateral, gratuito ou oneroso, pelo qual o credor de uma obrigação (cedente) transfere, no todo ou em parte, a terceiro (cessionário), independentemente do consentimento do devedor (cedido), sua posição na relação obrigacional, com todos os acessórios e garantias, salvo disposição em contrário, sem que se opere a extinção do vínculo obrigacional.CESSÃO DE CRÉDITO PRO SOLUTO É a que se opera quando houver quitação plena do débito do cedente para com o cessionário, operando-se a transferência do crédito, que inclui a exoneração do cedente. O cedente transfere seu crédito com a intenção de extinguir imediatamente uma obrigação preexistente, liberando-se dela independentemente do resgate da obrigação cedida. O cessionário correrá o risco da insolvência do devedor (cedido) desde que o crédito exista e pertença ao cedente, considerando-se extinta a dívida antiga a partir do instante da cessão.CESSÃO DE CRÉDITO PRO SOLVENDO É a transferência de um direito de crédito feita com o intuito de extinguir uma obrigação, que, no entanto, não se extinguirá de imediato, mas apenas se e na medida em que o crédito cedido for efetivamente cobrado.CHEQUETítulo de crédito que representa uma ordem de pagamento à vista contra um banco (sacado/devedor) para pagar certa soma, ao portador ou à pessoa indicada (tomador/favorecido), por conta de fundos que são do emitente (sacador/credor).DUPLICATATítulo de crédito causal, negociável e no qual o comprador se compromete a pagar a importância da fatura dentro do prazo avençado. “filha” da fatura e “neta” da nota fiscal de venda mercantil ou prestação de serviços.ENDOSSOTransferência da propriedade de um título de crédito, mediante declaração escrita, geralmente feita em seu próprio verso.- a regra é que o endossante garante o pagamento, salvo se expressamente declarar que não garante. (lei especial, literalmente ao contrário do que reza o código civil – art. 914, por causa do art. 903, do mesmo estatuto jurídico).Endosso em brancoTransferência de título de crédito por meio de simples aposição de assinatura do seu favorecido ou de seu mandatário especial, no dorso do mencionado título, sem designar

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o endossatário, ou seja, sem declarar a negociação e sem data. Com isso, o título se transforma em título ao portador, e quem o detiver será considerado seu real e legítimo proprietário, salvo a hipótese comprovada de furto, fraude etc.Endosso em pretoAquele em que o endossante, ao endossar o título cambial, menciona, expressamente, o nome do endossatário, ou seja, da pessoa em favor da qual se opera a transferência da propriedade do referido título, e a data em que se dá tal ato translativo. É também denominado endosso completo, pleno ou nominativo.Endosso-caução / penhor / pignoratícioDiz-se daquele que contém a cláusula “valor em penhor” ou “valor em caução”, e por meio do qual o endossante transfere tão-somente a posse do título cambial ao endossatário, que assume o dever de não deixar perecer o direito nele contido. Tal transferência é feita apenas para garantia de uma outra obrigação do endossante para com o endossatário, obrigação que, se não for cumprida, operará, então, a transformação da posse daquele título de crédito endossado em propriedade.Endosso-procuração / mandato / delegaçãoÉ o que transfere a posse e não a propriedade do título cambial.Endosso póstumoÉ aquele endosso-cessão que se realiza após o vencimento ou protesto do título de crédito, tendo o efeito de uma simples cessão de crédito (cessão civil).Endosso translativoÉ aquele em que se opera uma completa transferência do título de crédito ou do documento à ordem ao endossatário.INTERVENIENTETambém conhecido como interveniente cambiário. Terceiro que intervém no pagamento ou no ato do protesto de um título cambiário, por falta ou recusa de aceite, ou por falta de pagamento, para aceitá-lo ou pagá-lo.LEASING (ARRENDAMENTO MERCANTIL) Operação financeira entre uma empresa proprietária de determinados bens (máquina, carro, etc.) E uma pessoa jurídica, que usufrui desses bens contra o pagamento de prestações. A grande vantagem do leasing é a não imobilização de capital, sobretudo nos casos em que o valor do bem é muito alto e que terá utilização limitada. No final do contrato, a arrendatária tem a opção de adquirir definitivamente o bem arrendado.LETRA DE CÂMBIOTipo de título negociável no mercado. Consiste numa ordem de pagamento em que uma pessoa ordena que uma segunda pessoa pague determinado valor para uma terceira. Deve trazer, de forma explícita, o valor do pagamento, a data e o local para efetuá-lo.

QUÉRABLE (QUESÍVEL) X PORTABLE (LEVÁVEL) (pronucia-se “QUERRABLE”)

1. Dicionário Houaiss da língua portuguesa – Editora Objetiva – 1ª edição, 2001, pág. 2.354: “Quérable – requerível, quesível, reclamável (diz-se de dívida ou obrigação), cf. com dívida quesível; p. oposição a dívida portável. Quérable, que se deve reclamar no domicílio do devedor”.

2. Dicionário Jurídico de Plácido e Silva – Vol. III – j-p – 12ª edição, ed. Forense, 1993, pág. 392: “Portable. Vocabulário francês, que se traduz que se traslada, é geralmente empregado na terminologia jurídica para indicar as obrigações que devem ser cumpridas pelo devedor do domicílio do credor. Portable, pois, indica a condição de ser paga a dívida no domicílio do credo, levada (levável) a respectiva importância pelo

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devedor ou por outrem, a seu mando. Opõe-se ao sentido de quérable, indicativa daquela que deve ser procurada pelo credor.

3. Dicionário Jurídico, Maria Helena Diniz, ed. Saraiva, D-I, vol. 2 – 1998, página 213: “Dívida Quérable: aquela que deve ser paga no domicílio do devedor ou no local por ele determinado, competindo ao credor apresentar-se no lugar designado para efetuar a cobrança, no dia de seu vencimento, ficando a hora a seu critério. Trata-se da dívida buscável ou quesível. Também conhecida como dívida reclamável. Dívida Portáble (pág. 212), que é contraída com a cláusula de que deve ser paga pelo devedor, no seu vencimento, no domicílio do credor.

4. Vocabulário Prático de Tecnologia Jurídica e de Brocardos Latinos – Iêdo Batista Neves – FASE – 6ª edição, 1993: “Dívida Quesível ou Quérable – diz-se daquela cuja prestação o credor deve procurar na residência ou domicílio do devedor, sob pena de, não o fazendo, nada poder alegar quanto ao seu inadimplemento”. “Dívida Portável ou Portable – diz-se daquela cujo devedor se obriga a pagar na data do vencimento, no domicílio ou na residência do credor”.

5. Os títulos de crédito de maior utilização, que são o CHEQUE, a NOTA PROMISSÓRIA, a DUPLICATA e a LETRA DE CÂMBIO, têm naturezas jurídicas diferentes, respeitante à forma de cumprimento da obrigação respectiva.

6. Veja que existem DÍVIDAS de natureza jurídica quesíveis e de natureza jurídica leváveis.

7. Os títulos de crédito são documentos (quirógrafos) representativos de obrigações: artigo 887, do Código Civil: “O título de crédito, documento necessário (cartularidade – GRIFO NOSSO) ao exercício do direito literal (literalidade – GRIFO NOSSO) e autônomo (autonomia – GRIFO NOSSO) nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”.

8. A Letra de Câmbio e a Duplicata são títulos de crédito representativos, eminentemente, de dívidas de natureza jurídica levável (portable); isso, porque não há óbice legal para que elas (a Letra de Câmbio e a Duplicata) possam permanecer com o próprio devedor (é irrelevante se permanecem ou não). O que importa é que não há o óbice, haja vista que há previsão legal de o credor resolver o problema pela falta de pagamento (outro tema a ser explorado). Por isso, inquestionavelmente, tanto a Letra de Câmbio, quanto a Duplicata, são títulos de crédito de natureza jurídica portable (levável).

9. Ao revés, o Cheque e a Nota Promissória são títulos de crédito representativos, eminentemente, de dívidas de natureza jurídica quesível (quérable); isso, porque há óbice legal para que eles (o Cheque e a Nota Promissória) possam permanecer com o próprio devedor. Claro, o devedor do Cheque é o banco e o devedor da Nota Promissória é o emitente (promitente). Não há previsão legal, cambiária, de se fazer substituir esses títulos, para suas apresentações. Ou seja, não há as figuras do “ressaque” (da Letra de Câmbio), nem da “triplicata” (da Duplicata), ou o protesto por simples indicações.

10. Assim, contrariando alguns doutrinadores, não há como engendrar outro entendimento, senão o de que o Cheque e a Nota Promissória são títulos de natureza quesível (quérable) e a Letra de Câmbio e a Duplicata são títulos de natureza levável (portable).

11. Numa análise final, mesmo que de forma perfunctória, veja que o Cheque deverá ser buscado o seu recebimento junto ao devedor (que é o banco), pelo favorecido (não há confundir as relações cambiais com as relações cíveis ou comerciais, ou seja, quando eu compro um carro e emito um cheque para a concessionária, colocando-o nominativo a esta, eu sou o devedor do negócio e a concessionária é a credora do

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negócio; porém, na cártula, verificando a literalidade do quirógrafo, eu – emitente – sou o credor da quantia depositada no banco e o banco é o devedor, sendo a concessionária a favorecida do crédito). Assim também ocorre com a Nota Promissória, ou seja, o credor (favorecido, portador) deverá ir ao encontro do devedor para receber o seu produto correspondente (pecúnia). A Duplicata e a Letra de Câmbio, ao revés, obrigam o devedor a comparecer junto ao credor para quitar a sua obrigação, portanto, de natureza levável (portable).

12. O Código Civil, em seu artigo 327: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias”. Ora, ab initio pode um ingênuo, ou desavisado, crer que a natureza das dívidas é sempre QUESÍVEL. Sim, EM REGRA, foi a intenção do legislador, porém, a segunda parte do mesmo artigo traz que “salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, DA NATUREZA DA OBRIGAÇÃO OU DAS CIRCUNSTÂNCIAS (GRIFAMOS)”. A natureza da obrigação e as circunstâncias, com relação aos quatro títulos de crédito analisados, tornam evidente a legalidade (“recepção” pelo Código Civil) das naturezas diversas daqueles títulos.

13. Por fim, não há, ao meu imodesto, veemente e convicto entendimento de que, enquanto o cheque e a nota promissória são títulos de natureza QUESÍVEL (QUERÁBLE), a letra de câmbio e a duplicata são títulos de natureza LEVÁVEL (PORTABLE).

- O que é um quirógrafo?É uma prova documental de uma dívida qualquer (se eu declarar num

guardanapo que devo uma quantia a determinada pessoa e assiná-lo, ele passa a ser um quirógrafo – é uma confissão de dívida).

OBS.: TODO TÍTULO DE CRÉDITO É UM QUIRÓGRAFO, MAS NEM TODO QUIRÓGRAFO É UM TÍTULO DE CRÉDITO.

4 - Quais as características de um título de crédito?São títulos executivos extrajudiciais, não precisando o credor provar nada para

ninguém, pois o próprio crédito prova por si só.

5 - O que é um "coobrigado solidário"?São todas as pessoas que colocam a sua assinatura num título de crédito,

adquirindo a dívida para si, juntamente ao original devedor.

6 - Quando uma pessoa é caracterizada dessa maneira?Quando colocar a sua assinatura numa letra de câmbio (ou em outro título

qualquer – cheque, nota promissória e duplicata).

7 - O que o devedor admite quando dá o aceite no título de crédito?Admite a dívida, concordando com o seu valor e vencimento (com o conteúdo e

condições do título).

8 - Títulos de crédito possuem fiador?

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Não. Títulos de crédito são garantidos por aval, enquanto contratos são garantidos por fiança.

9 - O que é uma letra de câmbio?É um título de crédito abstrato, correspondendo a documento formal, decorrente

de relação ou relações de crédito, entre duas ou mais pessoas, pela qual a designada SACADORA dá ordem de pagamento pura e simples à vista ou a prazo, a outrem, denominada SACADA, a seu favor ou de terceira pessoa (tomador/beneficiário ou favorecido), no valor e nas condições dela constantes.Obs: A ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado deve ser incondicional, porque as obrigações cambiárias não podem ter a sua eficácia subordinada à ocorrência de evento futuro e incerto, para não prejudicar a circulação do título de crédito e não ferir o princípio da literalidade.

10 - O que é o saque da letra de câmbio?É o ato de emitir uma letra de câmbio.

11 - Quem é o sacado da letra de câmbio?É o devedor do título (quem deve pagar a dívida);

12 - Quem é o sacador da letra de câmbio?É o credor do título. O seu emitente.

13 - Geralmente a letra de câmbio é sacada a favor de quem?Para o próprio sacado ou a favor de uma terceira pessoa.

14 - Pode-se favorecer terceiros na letra de câmbio?Sim. Conhecido como tomador ou favorecido ou, ainda, cessionário ou

endossatário.

15 - Uma letra de câmbio pode ser sacada contra o sacador?Sim. Neste caso, a letra de câmbio perde a sua natureza jurídica (desnatura-se)

de letra de câmbio e passa a ter natureza de nota promissória.

16 - Quais os vencimentos que uma letra de câmbio pode ter?a) A dia certo (em um determinado dia) – Na própria letra se declara o dia de

vencimento do título.b) A certo tempo da data – Uma data estipulada contada em dias, a partir da

emissão (regra) ou, por exemplo, o vencimento se dará há 8 dias depois do carnaval).c) A certo tempo da vista – Ex: 30 dias após o aceite.d) À vista – Contra apresentação.

17 - Por que a letra de câmbio é levável (ou portable)?Porque o sacado (devedor) pode ficar com o título, indo até ao sacador (credor)

ou favorecido para liquidá-la. Assim também o é a Duplicata.

18 - Por que o cheque é quesível (ou quèrable)?Porque o credor (favorecido) fica com o título tendo que ir até ao devedor

(banco) para recebê-lo. Assim também o é a Nota Promissória.

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19 - Como se chama a emissão da segunda via da letra de câmbio?Ressaque.

20 - O que é ação regressiva em uma letra de câmbio?

É a ação em que o endossante ou avalista da LC entra contra os demais devedores, até 6 meses do seu pagamento (ou seja, do mesmo ter quitado a dívida) ou de ter sido acionado.

21 - Quanto tempo o credor (ou favorecido, portador) tem para protestar a Letra de Câmbio e a Nota Promissória, para se garantir contra todos os coobrigados (incluindo os endossantes e seus respectivos avalistas)?

2 (DOIS) dias úteis do vencimento.

22 - A letra de câmbio pode ser considerada moeda escritural?Não pode ser considerada como tal, visto que para alguém poder emitir moeda

escritural, tem que ter autorização para receber depósito à vista.Na verdade, nem mesmo o CHEQUE é uma moeda escritural. Ele (cheque) é um

documento representativo de uma moeda escritural. Somente as instituições financeiras bancárias podem criar moeda escritural, por meio da emissão de cheques.

23 - O que é endosso?É o ato cambial pelo qual o favorecido do título assina o mesmo transferindo, a

outrem, os direitos creditícios (ou creditórios) daquele título.

24 - O que é endosso em preto (OU ESPECIAL)?É o endosso em que se menciona expressamente a pessoa a quem se transfere o

título.

25 - O que é endosso em branco (OU GERAL)?O favorecido simplesmente assina o título, passando esse título a ser ao portador.

Ou seja, o endossante não nomina quem será o próximo favorecido.

26 - Quantos endossos a letra de câmbio pode ter?Em princípio, pode ter infinitos endossos.

Obs: Vale ressaltar que o cheque admite apenas UM endosso. Ou seja, a partir da Lei 9.311/96, não mais é admitida a cadeia de endosso no cheque. (SEJA ESSE ENDOSSO EM PRETO OU EM BRANCO).- Portanto, é admissível UM único endosso no cheque – EM BRANCO (geral) ou EM PRETO (especial).

27 - O que é o endosso uno?

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É o endosso não parcial. O endosso, como instrumento de transferência dos direitos creditórios de um título de crédito jamais poderá ser parcial.

28 - Quando uma pessoa que endossa um título de crédito não garante o pagamento deste?

Quando essa pessoa (endossante) escreve no título que não garante este pagamento. A regra é que o endossante garante o pagamento do título.

29 - A garantia de pagamento de um título de crédito poderá ser parcial no endosso. Quando?

Sim. Quando o endossante escreve no titulo de crédito que garante parcialmente o pagamento daquele título.

1.h) CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

– DA CIRCULAÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO

“O título de crédito nasce para circular e essa função de negociabilidade revela a sua importância nas áreas econômica, civil, comercial, particular e pública porque, embora disciplinado pelo direito comercial, constitui-se, na realidade, em instituto geral de direito, em instrumento de técnica jurídica, a que recorrem, para fins de financiamento o comerciante e o lavrador, o industrial e o construtor de prédios, o particular, o Estado etc.” (Luiz Emygdio).

1) INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES (ART 887, NCC):As exceções de caráter pessoal só podem ser alegadas entre os contratantes.Para o terceiro de boa-fé, a relação jurídica não poderá ser alegada. A pessoa que

recebe o título não participou da relação jurídica. Essa é uma característica fundamental dos títulos de crédito.

Ney Cheque à ordem de Juarez

Endosso Translativo ao Armazém

Armazém

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Não pode opor exceções ao terceiro de boa-fé (que, neste caso, é o armazém).

Conforme ilustração 1, Ney emitiu um título (um cheque, por exemplo) em favor de Juarez. Juarez repassou esse cheque, endossando-o ao Armazém, que é um terceiro de boa-fé.

Acontece, que Ney contratou os serviços de marcenaria de Juarez, para que este último fabricasse algumas peças para aquele.

Caio combinou que o cheque seria emitido pós-datado, ou seja, para ser apresentado ao banco 60 dias após a emissão. Juarez prometeu entregar as peças em 30 dias.

Quando transcorreram os 30 dias, Juarez não apresentou os serviços prometidos. Ney foi ao banco e sustou o pagamento daquele cheque. O Armazém, comércio varejista, foi ao banco e foi surpeendido com a notícia de que o cheque estava sustado. Telefonou para o telefone que estava no verso do cheque, que era de Ney. O mesmo atendeu e afirmou que não pagaria aquele cheque, porque Juarez não cumprira com o compromisso.

O Armazém entra com uma Ação Cambial Executiva em face de Ney (poderia executar, também, Juarez, haja vista que este endossou o cheque e, portanto, passou a ser coobrigado).

Pelo princípio da autonomia, Ney não poderá opor a exceção que alegou como embargo na referida ação cambial.

Títulos de Crédito – ampla circulação – tem que haver garantia e segurança ao terceiro de boa-fé. Ao terceiro de boa-fé, que não conhece da relação pessoal que originou o título, a ela (relação pessoal) não se vincula.

Durante a circulação do título, o emissor (do Cheque ou Nota Promissória) pode opor ao seu credor direto as exceções de direito pessoal que contra ele tiver, tais como v.g. (por exemplo), a circunstância de já lhe ter efetuado o pagamento do mesmo título, ou pretender compensá-lo com crédito que tenha para com o credor. Todavia, se o título tiver sido endossado a terceiro de boa-fé, nenhuma exceção poderá usar o devedor (emitente) contra o credor (portador, favorecido), baseada na relação pessoal anterior.

Este princípio (característica) da Autonomia das relações cartulares, pois o portador de boa-fé exercita direito próprio, e não derivado de relação jurídica anterior. No código Civil o princípio encontra-se inserido no art. 906 (“O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação”). Também se encontra, tal princípio, inserido no art. 51 do Decreto nº 2.044/08 (“Na ação cambial, somente é admissível defesa fundada no direito pessoal do réu contra o autor, em defeito de forma do título e na falta de requisito necessário ao exercício da ação”). Também no art. 17 da LUG (Lei Uniforme de Genebra relativa à Letra de Câmbio e Nota Promissória) (“As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor”).

Em todos os casos, somente podem ser opostos a qualquer portador os vícios formais ou falta de requisito necessário ao exercício da ação, como se pôde perceber.

Se o possuidor encontra-se de má-fé, em conluio com o endossante para impedir a oposição de exceções que contra este teria o devedor, v. g.(verba gratia – por

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exemplo), dívida de jogo, o devedor terá contra o portador o direito de opor-lhe a defesa que teria contra o endossante.

Desta forma, os títulos de crédito fazem parte da vida empresarial e civil, pois a utilização dos mesmos permite a eliminação da burocracia e, auxilia no fechamento das negociações.

OS TÍTULOS DE CRÉDITO PODEM CIRCULAR:

- POR MEIO DO ENDOSSO – EM PRETO OU EM BRANCO

- PELA SIMPLES TRADIÇÃO

- PELA CESSÃO DE CRÉDITO

O art. 887 do CC reza: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preenchia os requisitos da lei”.

FIQUE LIGADO - Conforme O Prof. Gladston Mamede (2003, p.55), os títulos de crédito constituem ato unilateral de declaração de vontade na sua emissão e para a eficácia do documento é necessário o preenchimento dos requisitos dos requisitos legais.

Deve o título de crédito conter, segundo o art. 889, do CC:

a. A data da emissão; b. Data de vencimento; c. A indicação precisa dos direitos que confere; d. A assinatura do emitente. e. Local (da emissão e do pagamento)

AS CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO SÃO:

- Literalidade e - Autonomia.

A literalidade: Significa que os requisitos para validade decorrem da lei, mas a obrigação nele contida é exatamente, literalmente, aquela que consta em seu teor (em seu conteúdo). Ex: a nota promissória

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A autonomia: Significa que há uma desvinculação de ordem relativa entre o título e o negocio que lhe deu causa. É possível exigir o cumprimento da obrigação contida no título de crédito sem que haja necessidade de demonstrar o que lhe deu origem. Ex: um portador de um título repassa esse título para outrem sem ter a obrigação de dizer por que recebeu (qual negócio originou o título) como cheque, nota promissória menos as duplicatas, cuja validade está na existência da nota fiscal.

Os títulos ABSTRATOS são aqueles que não fazem menção a sua origem. Ex: letras de câmbio, por que a lei não exige que no título faça referencia a negociação. - O s requisitos básicos do título de crédito, conforme a doutrina são : a) Documento necessário: O título se exterioriza por meio de um documento. A exibição deste documento é necessária e indispensável para o exercício do direito de crédito nele mencionado. b) Literalidade: o título é literal, isto é, obedece ao que está rigorosamente escrito no documento. Desta maneira, o conteúdo do direito que o título confere a seu portador limita-se ao que nele estiver formalmente escrito. c) Autonomia: o título é documento autônomo, isto é, independente de outras obrigações. Cada título vale por si mesmo. O direito de seu beneficiário atual não pode ser anulado em virtude das relações existentes entre os seus antigos titulares e o devedor da obrigação. - Outras qualidades do título de crédito : Força executiva: O título de crédito tem força idêntica a uma sentença judicial transitada em julgado, dando direito diretamente ao processo de execução. Solidariedade: Todas as obrigações constantes do título são solidárias. Cada um dos coobrigados (sacador, aceitante, emitente, endossante ou avalista) pode ser chamado a responder pela totalidade da dívida. Circulação: Característica básica dos títulos de crédito é sua circulação, vez que eles têm por fim facilitar as operações de crédito e a transmissão dos direitos neles incorporados. - Os títulos CAUSAIS são aqueles que indicam em seu conteúdo elementos que permitem aferir dados da negociação inicial. Ex: duplicatas que devem conter algumas anotações relativas à fatura que eles lhes deu causa. A transmissão dá-se regularmente pela tradição ou pelo endosso, a terceiro de boa – fé. O TÍTULO DE CRÉDITO COMO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL

. O título de crédito perfeito enseja execução com base em título extrajudicial pelo credor (CPC – art. 585).

São atributos do título de crédito a Negociabilidade, que é a facilidade de circulação e a Executividade, que é a cobrança facilitada.

Dentre os princípios do Direito Cambiário, existem três de grande relevância para as ações cambiais executivas, que são:

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a) O princípio da literalidade que significa que o direito cambiário só pode ser exercido com base nos elementos constantes do título de crédito. Só existe para o mundo cambiário o que consta no título de crédito.” (Luiz Emygdio);

b) O princípio da autonomia – (das relações jurídicas) gera a inoponibilidade (garantir circulação) de exceção contra terceiro de boa-fé (Súmula 26 STJ). Cada obrigação existe por si só. O título de crédito é um documento constitutivo de direito novo, autônomo, originário e inteiramente desvinculado da relação causal.

Tão somente na Lei de Falência, conforme artigo 82, são mitigados os princípios cambiários, obrigando a prova da origem;

c) O princípio da Abstração – reza que o título não se vincula ao negócio jurídico que levou a sua emissão, à exceção da duplicata mercantil, que é um título causal. Portanto, em nenhuma ação de execução de títulos de crédito o credor precisa provar nada em relação à origem de seu crédito (essa é a regra).

Conforme ensina o Mestre Bulgarelli: Todos os títulos de créditos são documentos de legitimação do direito, pois o possuidor de boa-fé está apto a exercer o direito neles mencionado. O possuidor se legitima como proprietário do título.

Quanto à causa de emissão, os títulos, com exceção da duplicata, são abstratos, ou seja, não decorrem de qualquer causa, amoldam-se a qualquer obrigação, porque a lei não predetermina a causa de sua emissão. Ex: letra de câmbio, nota promissória, cheque.

O titulo causal é aquele que só pode ser criado em razão de causa predeterminada em lei. Ex: duplicata.

Conforme ensina o Professor José Maria Whitaker – Título de crédito é o documento capaz de realizar imediatamente o valor que representa. Assim, não há falar em necessidade de qualquer argumentação. Toda e qualquer ação baseada em titulo executivo extrajudicial, ou seja, titulo de credito não prescrito – neste caso cheques – não existe nenhuma necessidade de se descrever quaisquer circunstancias que originaram tais cártulas, nem, muito menos, comprovar a origem do credito.

DOS TÍTULOS DE CRÉDITO NO CÓDIGO CIVIL:

TÍTULO VIIIDos Títulos de Crédito

CAPÍTULO IDisposições Gerais

        Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal(1) e autônomo(2) nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

(1) LITERALIDADE – o Título de Crédito vale pelo que nele está escrito, não se podendo alegar circunstância não escrita.

(2) AUTONOMIA – indica que o direito do titular é um direito particular, no sentido de que cada pessoa que vai adquirindo o título adquire um direito

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próprio, distinto do direito que tinha, ou podia ter quem transmitisse o Título de Crédito (Cártula).

        Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.

        Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.

ASSINATURA DO EMITENTE – se for o Cheque, o emitente (que é o credor do cheque – o devedor é o banco sacado) é o titular (ou titulares) da conta corrente, que poderão assinar separadamente, caso sejam titulares solidários, ou deverão assinar em conjunto, caso sejam titulares não-solidários; se for a Nota Promissória, o emitente é o próprio devedor, que faz uma promessa de pagamento; se for a Letra de Câmbio ou a Duplicata, o emitente é o vendedor, sacador, credor, que emite (saca) a Letra, ou a Duplicata, contra um devedor, sacado, comprador, aceitante.

Note-se que a assinatura do sacador (emitente, credor), tanto na Letra de Câmbio, quanto na Duplicata, é requisito. Isso, porque ele, credor, sacador, emitente, fica, também, solidariamente obrigado pelo pagamento do título.

       § 1o É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento.

        § 2o Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. (Contrariando a lei especial. Neste caso, vale a lei especial, conforme artigo 903 do próprio Código Civil.)

        § 3o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

        Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações.

        Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados.

Note-se que os títulos de crédito em faltar algum preenchimento, poderá ser preenchido pelo portador, desde que não haja de má-fé. A má-fé deverá ser comprovada pelo interessado.

        Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

        Art. 892. Aquele que, sem ter poderes, ou excedendo os que tem, lança a sua assinatura em título de crédito, como mandatário ou representante de outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado (AÇÃO REGRESSIVA).

        Art. 893. A transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes.

        Art. 894. O portador de título representativo de mercadoria tem o direito de transferi-lo, de conformidade com as normas que regulam a sua

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circulação, ou de receber aquela independentemente de quaisquer formalidades, além da entrega do título devidamente quitado.

        Art. 895. Enquanto o título de crédito estiver em circulação, só ele poderá ser dado em garantia, ou ser objeto de medidas judiciais, e não, separadamente, os direitos ou mercadorias que representa. (Warrant, por exemplo).

        Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação.

 Art. 902. Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o paga, antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento.

        § 1o No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial.

Observe-se que no cheque, o credor é o emitente do cheque e o banco é o devedor do cheque.

Existem duas relações no cheque: 1ª) no título, o emitente (titular da conta) é sempre o credor e o banco é sempre o devedor; 2ª) na relação jurídica que deu origem à emissão do cheque, o emitente do cheque é o devedor (do negócio jurídico) e o favorecido é o credor (do negócio jurídico).

        § 2o No caso de pagamento parcial, em que se não opera a tradição do título, além da quitação em separado, outra deverá ser firmada no próprio título.

        Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. (IMPORTANTÍSSIMO!!!)

        OBS.: O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação. (EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE).

1.2. DO CHEQUE

LEI N o 7.357, DE 2 DE SETEMBRO DE 1985.

CONCEITO: Cheque é uma ordem de pagamento à vista, sacado em benefício próprio ou de terceiros, contra fundos disponíveis em estabelecimento bancário.

Art . 1º O cheque contêm (IMPERATIVO): REQUISITOS:I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV - a indicação do lugar de pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.

INTEVENIENTES NO CHEQUE:

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É importante observarmos que SEMPRE que houver a emissão de um título de crédito, teremos, sem nenhuma exceção, DOIS ATOS jurídicos: 1) CAMBIÁRIO e 2) CÍVEL ou COMERCIAL.As relações jurídicas, na CÁRTULA são diferentes das relações CÍVEIS. Como exemplo, vejam que o cheque PÓS DATADO não tem qualquer validade no direito cambiário, porém, terá para o direito civil. Na cártula CHEQUE,  o emitente (SACADOR) será SEMPRE o credor; o BANCO (SACADO) será o DEVEDOR e o FAVORECIDO (beneficiário, portador, tomador).Vejam como a lei do cheque é expressa:Art . 1º O cheque contém (IMPERATIVO): REQUISITOS:I - a denominação ''cheque'' inscrita no contexto do título e expressana língua em que este é redigido;II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);VEJAM QUE QUEM DEVE PAGAR UM TÍTULO, DENTRO DA REGRA GERAL, É ODEVEDOR. A PRÓPRIA LEI DIZ QUE "INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE DEVEPAGAR..."IV - a indicação do lugar de pagamento;V - a indicação da data e do lugar de emissão;VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário compoderes especiais.No ato cível, paralelo ao ato cambial, pode até ser que o emitenteseja o DEVEDOR, mas no cheque, na CÁRTULA, o emitente será SEMPRE ocredor da quantia depositada.Art . 8º Pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito:I - a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ''à ordem'';(CHEQUE À ORDEM).II - a pessoa nomeada, com a cláusula ''não à ordem'', ou outraequivalente (NESTE CASO, A CIRCULAÇÃO DAR-SE-Á POR CESSÃO DE CRÉDITO);III - ao portador. (NA EMISSÃO, SOMENTE NO VALOR ATÉ R$ 100,00 – CEM REAIS – OU APÓS O PRIMEIRO ENDOSSO EM BRANCO)Parágrafo único - Vale como cheque ao portador o que não contém indicação do beneficiário e o emitido em favor de pessoa nomeada com a cláusula ''ou ao portador'', ou expressão equivalente.Art . 9º O cheque pode ser emitido:I - à ordem do próprio sacador; (A LEI DO CHEQUE É COERENTE COM O CÓDIGO CIVIL. Por isso não diz que o cheque poderá ser emitido NOMINATIVAMENTE a uma pessoa).II - por conta de terceiro;Ill - contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador.

PREENCHIMENTO:O cheque pode ser preenchido com caneta esferográfica ou tinteiro, usando tinta

de qualquer cor, porém, o uso de caneta de cor vermelha ou verde deve ser evitado para efeitos de garantir uma perfeita microfilmagem do documento. O uso de caneta hidrográfica deve ser evitado sob o aspecto de segurança. Manifestação do Banco Central, baseada em informações de peritos em grafoscopia, ressalva que cada

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estabelecimento bancário tome as suas medidas acauteladoras, no caso de acolher o cheque.

Mas, legalmente, NINGUÉM está obrigado a preencher o cheque a caneta (azul ou preta). Pode fazê-lo a lápis, carvão, batom etc. – “Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”.Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente. Art . 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir: I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão; II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente. Art . 3º O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja equiparada, sob pena de não valer como cheque. Art . 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque. § 1º - A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento. § 2º - Consideram-se fundos disponíveis: a) os créditos constantes de conta-corrente bancária não subordinados a termo; b) o saldo exigível de conta-corrente contratual; c) a soma proveniente de abertura de crédito.Art . 5º (VETADO). Art . 6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração com esse sentido.

Art . 7º Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endossado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no título. § 1º A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados. § 2º - O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma vez vencido o prazo de apresentação; e, antes disso, se o cheque lhe for entregue para inutilização. Art . 8º Pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito: I - a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’à ordem’’; (CHEQUE NOMINATIVO). II - a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente; III - ao portador. (SOMENTE NO VALOR ATÉ R$ 100,00 – CEM) Parágrafo único - Vale como cheque ao portador o que não contém indicação do beneficiário e o emitido em favor de pessoa nomeada com a cláusula ‘’ou ao portador’’, ou expressão equivalente. Art . 9º O cheque pode ser emitido: I - à ordem do próprio sacador; II - por conta de terceiro;

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Ill - contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador.Art . 10 Considera-se não escrita a estipulação de juros inserida no cheque. Art . 11 O cheque pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer na localidade em que o sacado tenha domicílio, quer em outra, desde que o terceiro seja banco. Art . 12 Feita a indicação da quantia em algarismos e por extenso, prevalece esta no caso de divergência. lndicada a quantia mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de divergência, a indicação da menor quantia. Art . 13 As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes. Parágrafo único - A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado. Art . 14 Obriga-se pessoalmente quem assina cheque como mandatário ou representante, sem ter poderes para tal, ou excedendo os que lhe foram conferidos. Pagando o cheque, tem os mesmos direitos daquele em cujo nome assinou. Art . 15 O emitente garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa garantia. Art . 16 Se o cheque, incompleto no ato da emissão, for completado com inobservância do convencionado com a emitente, tal fato não pode ser oposto ao portador, a não ser que este tenha adquirido a cheque de má-fé.

De TransmissãoArt . 17 O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’ à ordem’’, é transmissível por via de endosso. § 1º O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula ‘’não à ordem’’, ou outra equivalente, só é transmissível pela forma e com os efeitos de cessão. § 2º O endosso pode ser feito ao emitente, ou a outro obrigado, que podem novamente endossar o cheque. Art . 18 O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não-escrita qualquer condição a que seja subordinado. § 1º São nulos o endosso parcial e o do sacado. § 2º Vale como em branco o endosso ao portador. O endosso ao sacado vale apenas como quitação, salvo no caso de o sacado ter vários estabelecimentos e o endosso ser feito em favor de estabelecimento diverso daquele contra o qual o cheque foi emitido. Art . 19 - O endosso deve ser lançado no, cheque ou na folha de alongamento e assinado pelo endossante, ou seu mandatário com poderes especiais. § 1º O endosso pode não designar o endossatário. Consistindo apenas na assinatura do endossante (endosso em branco), só é válido quando lançado no verso do cheque ou na folha de alongamento. § 2º A assinatura do endossante, ou a de seu mandatário com poderes especiais, pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica, ou processo equivalente. Art . 20 O endosso transmite todos os direitos resultantes do cheque. Se o endosso é em branco, pode o portador: I - completá-lo com o seu nome ou com o de outra pessoa; II - endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa; III - transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar. Art . 21 Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.

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Parágrafo único - Pode o endossante proibir novo endosso; neste caso, não garante o pagamento a quem seja o cheque posteriormente endossado. Art . 22 O detentor de cheque "à ordem’’ é considerado portador legitimado, se provar seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo que o último seja em branco. Para esse efeito, os endossos cancelados são considerados não-escritos. Parágrafo único. Quando um endosso em branco for seguido de outro, entende-se que o signatário deste adquiriu o cheque pelo endosso em branco. Art . 23 O endosso num cheque passado ao portador torna o endossante responsável, nos termos das disposições que regulam o direito de ação, mas nem por isso converte o título num cheque ‘’à ordem’’. Art . 24 Desapossado alguém de um cheque, em virtude de qualquer evento, novo portador legitimado não está obrigado a restituí-lo, se não o adquiriu de má-fé. Parágrafo único - Sem prejuízo do disposto neste artigo, serão observadas, nos casos de perda, extravio, furto, roubo ou apropriação indébita do cheque, as disposições legais relativas à anulação e substituição de títulos ao portador, no que for aplicável. Art . 25 Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor. Art . 26 Quando o endosso contiver a cláusula ‘’valor em cobrança’’, ‘’para cobrança’’, ‘’por procuração’’, ou qualquer outra que implique apenas mandato, o portador pode exercer todos os direitos resultantes do cheque, mas só pode lançar no cheque endosso-mandato. Neste caso, os obrigados somente podem invocar contra o portador as exceções oponíveis ao endossante. Parágrafo único. O mandato contido no endosso não se extingue por morte do endossante ou por superveniência de sua incapacidade. Art . 27 O endosso posterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação produz apenas os efeitos de cessão. Salvo prova em contrário, o endosso sem data presume-se anterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação. Art . 28 O endosso no cheque nominativo, pago pelo banco contra o qual foi sacado, prova o recebimento da respectiva importância pela pessoa a favor da qual foi emitido, e pelos endossantes subseqüentes. Parágrafo único Se o cheque indica a nota, fatura, conta cambial, imposto lançado ou declarado a cujo pagamento se destina, ou outra causa da sua emissão, o endosso pela pessoa a favor da qual foi emitido, e a sua liquidação pelo banco sacado provam a extinção da obrigação indicada.

Do AvalArt . 29 O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título. Art . 30 O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente. Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente. Art . 31 O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma. Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque.

Da Apresentação e do Pagamento

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Art . 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer menção em contrário. Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação. Art . 33 O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior. Parágrafo único - Quando o cheque é emitido entre lugares com calendários diferentes, considera-se como de emissão o dia correspondente do calendário do lugar de pagamento. Art . 34 A apresentação do cheque à câmara de compensação equivale à apresentação a pagamento. Art . 35 O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões motivadoras do ato. Parágrafo único - A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do art. 59 desta Lei. Art . 36 Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito. § 1º A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem reciprocamente. § 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente. Art . 37 A morte do emitente ou sua incapacidade superveniente à emissão não invalidam os efeitos do cheque. Art . 38 O sacado pode exigir, ao pagar o cheque, que este lhe seja entregue quitado pelo portador. Parágrafo único. O portador não pode recusar pagamento parcial, e, nesse caso, o sacado pode exigir que esse pagamento conste do cheque e que o portador lhe dê a respectiva quitação. Art . 39 O sacado que paga cheque ‘’à ordem’’ é obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos endossantes. A mesma obrigação incumbe ao banco apresentante do cheque a câmara de compensação. Parágrafo único. Ressalvada a responsabilidade do apresentante, no caso da parte final deste artigo, o banco sacado responde pelo pagamento do cheque falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou culpa do correntista, do endossante ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo ou em parte, reaver a que pagou. Art . 40 O pagamento se fará à medida em que forem apresentados os cheques e se 2 (dois) ou mais forem apresentados simultaneamente, sem que os fundos disponíveis bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de emissão mais antiga e, se da mesma data, os de número inferior. Art . 41 O sacado pode pedir explicações ou garantia para pagar cheque mutilado, rasgado ou partido, ou que contenha borrões, emendas e dizeres que não pareçam formalmente normais. Art . 42 O cheque em moeda estrangeira é pago, no prazo de apresentação, em moeda nacional ao câmbio do dia do pagamento, obedecida a legislação especial. Parágrafo único. Se o cheque não for pago no ato da apresentação, pode o portador optar entre o câmbio do dia da apresentação e o do dia do pagamento para efeito de conversão em moeda nacional.

Do Cheque Cruzado

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Art . 44 O emitente ou o portador podem cruzar o cheque, mediante a aposição de dois traços paralelos no anverso do título. § 1º O cruzamento é geral se entre os dois traços não houver nenhuma indicação ou existir apenas a indicação ‘’banco’’, ou outra equivalente. O cruzamento é especial se entre os dois traços existir a indicação do nome do banco. § 2º O cruzamento geral pode ser convertida em especial, mas este não pode converter-se naquele. § 3º A inutilização do cruzamento ou a do nome do banco é reputada como não existente. Art . 45 O cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou a cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque com cruzamento especial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o sacado, a cliente seu, mediante crédito em conta. Pode, entretanto, o banco designado incumbir outro da cobrança. § 1º O banco só pode adquirir cheque cruzado de cliente seu ou de outro banco. Só pode cobrá-lo por conta de tais pessoas. § 2º O cheque com vários cruzamentos especiais só pode ser pago pelo sacado no caso de dois cruzamentos, um dos quais para cobrança por câmara de compensação. § 3º Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado ou o banco portador que não observar as disposições precedentes.

Do Cheque para Ser Creditado em ContaArt . 46 O emitente ou o portador podem proibir que o cheque seja pago em dinheiro mediante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula ‘’para ser creditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder a Iançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dispensa o respectivo endosso. § 1º A inutilização da cláusula é considerada como não existente. § 2º Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado que não observar as disposições precedentes.

Da Ação por Falta de PagamentoArt . 47 Pode o portador promover a execução do cheque: I - contra o emitente e seu avalista; II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de compensação. § 1º Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e produz os efeitos deste. § 2º Os signatários respondem pelos danos causados por declarações inexatas. § 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável. § 4º A execução independe do protesto e das declarações previstas neste artigo, se a apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de o sacado ter sido submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência. Art . 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação. Se esta ocorrer no último dia do prazo, o protesto ou as declarações podem fazer-se no primeiro dia útil seguinte.

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§ 1º A entrega do cheque para protesto deve ser prenotada em livro especial e o protesto tirado no prazo de 3 (três) dias úteis a contar do recebimento do título. § 2º O instrumento do protesto, datado e assinado pelo oficial público competente, contém: a) a transcrição literal do cheque, com todas as declarações nele inseridas, na ordem em que se acham lançadas; b) a certidão da intimação do emitente, de seu mandatário especial ou representante legal, e as demais pessoas obrigadas no cheque; c) a resposta dada pelos intimados ou a declaração da falta de resposta; d) a certidão de não haverem sido encontrados ou de serem desconhecidos o emitente ou os demais obrigados, realizada a intimação, nesse caso, pela imprensa. § 3º O instrumento de protesto, depois de registrado em livro próprio, será entregue ao portador legitimado ou àquele que houver efetuado o pagamento. § 4º Pago o cheque depois do protesto, pode este ser cancelado, a pedido de qualquer interessado, mediante arquivamento de cópia autenticada da quitação que contenha perfeita identificação do título. Art . 49 O portador deve dar aviso da falta de pagamento a seu endossante e ao emitente, nos 4 (quatro) dias úteis seguintes ao do protesto ou das declarações previstas no art. 47 desta Lei ou, havendo cláusula ‘’sem despesa’’, ao da apresentação. § 1º Cada endossante deve, nos 2 (dois) dias úteis seguintes ao do recebimento do aviso, comunicar seu teor ao endossante precedente, indicando os nomes e endereços dos que deram os avisos anteriores, e assim por diante, até o emitente, contando-se os prazos do recebimento do aviso precedente. § 2º O aviso dado a um obrigado deve estender-se, no mesmo prazo, a seu avalista. § 3º Se o endossante não houver indicado seu endereço ou o tiver feito de forma ilegível, basta o aviso ao endossante que o preceder. § 4º O aviso pode ser dado por qualquer forma, até pela simples devolução do cheque. § 5º Aquele que estiver obrigado a aviso deverá provar que o deu no prazo estipulado. Considera-se observado o prazo se, dentro dele, houver sido posta no correio a carta de aviso. § 6º Não decai do direito de regresso o que deixa de dar o aviso no prazo estabelecido. Responde, porém, pelo dano causado por sua negligência, sem que a indenização exceda o valor do cheque. Art . 50 O emitente, o endossante e o avalista podem, pela cláusula ‘’sem despesa’’, ‘’sem protesto’’, ou outra equivalente, lançada no título e assinada, dispensar o portador, para promover a execução do título, do protesto ou da declaração equivalente. § 1º A cláusula não dispensa o portador da apresentação do cheque no prazo estabelecido, nem dos avisos. Incumbe a quem alega a inobservância de prazo a prova respectiva. § 2º A cláusula lançada pelo emitente produz efeito em relação a todos os obrigados; a lançada por endossante ou por avalista produz efeito somente em relação ao que lançar. § 3º Se, apesar de cláusula lançada pelo emitente, o portador promove o protesto, as despesas correm por sua conta. Por elas respondem todos os obrigados, se a cláusula é lançada por endossante ou avalista. Art . 51 Todos os obrigados respondem solidariamente para com o portador do cheque. § 1º - O portador tem o direito de demandar todos os obrigados, individual ou coletivamente, sem estar sujeito a observar a ordem em que se obrigaram. O mesmo direito cabe ao obrigado que pagar o cheque. § 2º A ação contra um dos obrigados não impede sejam os outros demandados, mesmo que se tenham obrigado posteriormente àquele.

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§ 3º Regem-se pelas normas das obrigações solidárias as relações entre obrigados do mesmo grau. Art . 52 portador pode exigir do demandado: I - a importância do cheque não pago; II - os juros legais desde o dia da apresentação; III - as despesas que fez; IV - a compensação pela perde do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes. Art . 53 Quem paga o cheque pode exigir de seus garantes: I - a importância integral que pagou; II - os juros legais, a contar do dia do pagamento; III - as despesas que fez; IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes. Art . 54 O obrigado contra o qual se promova execução, ou que a esta esteja sujeito, pode exigir, contra pagamento, a entrega do cheque, com o instrumento de protesto ou da declaração equivalente e a conta de juros e despesas quitada. Parágrafo único. O endossante que pagou o cheque pode cancelar seu endosso e os dos endossantes posteriores. Art . 55 Quando disposição legal ou caso de força maior impedir a apresentação do cheque, o protesto ou a declaração equivalente nos prazos estabelecidos, consideram-se estes prorrogados. § 1º O portador é obrigado a dar aviso imediato da ocorrência de força maior a seu endossante e a fazer menção do aviso dado mediante declaração datada e assinada por ele no cheque ou folha de alongamento. São aplicáveis, quanto ao mais, as disposições do art. 49 e seus parágrafos desta Lei. § 2º Cessado o impedimento, deve o portador, imediatamente, apresentar o cheque para pagamento e, se couber, promover o protesto ou a declaração equivalente. § 3º Se o impedimento durar por mais de 15 (quinze) dias, contados do dia em que o portador, mesmo antes de findo o prazo de apresentação, comunicou a ocorrência de força maior a seu endossante, poderá ser promovida a execução, sem necessidade da apresentação do protesto ou declaração equivalente. § 4º Não constituem casos de força maior os fatos puramente pessoais relativos ao portador ou à pessoa por ele incumbida da apresentação do cheque, do protesto ou da obtenção da declaração equivalente.

Das AlteraçõesArt . 58 No caso de alteração do texto do cheque, os signatários posteriores à alteração respondem nos termos do texto alterado e os signatários anteriores, nos do texto original. Parágrafo único. Não sendo possível determinar se a firma foi aposta no título antes ou depois de sua alteração, presume-se que a tenha sido antes.

Da PrescriçãoArt . 59 Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador. Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado. Art . 60 A interrupção da prescrição produz efeito somente contra o obrigado em relação ao qual foi promovido o ato interruptivo.

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Art . 61 A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei. Art . 62 Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não exclui a ação fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento.

Dos Conflitos de Leis em Matéria de ChequesArt . 63 Os conflitos de leis em matéria de cheques serão resolvidos de acordo com as normas constantes das Convenções aprovadas, promulgadas e mandadas aplicar no Brasil, na forma prevista pela Constituição Federal.

Das Disposições GeraisArt . 64 A apresentação do cheque, o protesto ou a declaração equivalente só podem ser feitos ou exigidos em dia útil, durante o expediente dos estabelecimentos de crédito, câmaras de compensação e cartórios de protestos. Parágrafo único. O cômputo dos prazos estabelecidos nesta Lei obedece às disposições do direito comum. Art . 65 Os efeitos penais da emissão do cheque sem suficiente provisão de fundos, da frustração do pagamento do cheque, da falsidade, da falsificação e da alteração do cheque continuam regidos pela legislação criminal. Art . 66 Os vales ou cheques postais, os cheques de poupança ou assemelhados, e os cheques de viagem regem-se pelas disposições especiais a eles referentes. Art . 67 A palavra ‘’banco’’, para os fins desta Lei, designa também a instituição financeira contra a qual a lei admita a emissão de cheque. Art . 68 Os bancos e casas bancárias poderão fazer prova aos seus depositantes dos cheques por estes sacados mediante apresentação de cópia fotográfica ou microfotográfica. Art . 69 Fica ressalvada a competência do Conselho Monetário Nacional, nos termos e nos limites da legislação especifica, para expedir normas relativas à matéria bancária relacionada com o cheque. Parágrafo único. É da competência do Conselho Monetário Nacional: a) a determinação das normas a que devem obedecer as contas de depósito para que possam ser fornecidos os talões de cheques aos depositantes; b) a determinação das conseqüências do uso indevido do cheque, relativamente à conta do depositante; c) a disciplina das relações entre o sacado e o opoente, na hipótese do art. 36 desta Lei. Art . 70 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art . 71 Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, em 02 de setembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República. JOSé SARNEY e Dilson Domingos Funaro

1.3. DA LETRA DE CÂMBIO

“A letra de câmbio é título de crédito abstrato, correspondendo a documento formal, decorrente de relação ou relações de crédito, entre duas ou mais pessoas, pela qual a designada sacador dá ordem de pagamento pura e simples, à vista ou a prazo, a outrem, denominado sacado, a seu favor ou de terceira pessoa (tomador ou beneficiário), no valor e nas condições dela constantes.” (Luiz Emygdio, fl. 110).

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Letra de Câmbio é uma ordem (determinação que alguém faça) dada por escrito a uma pessoa para que pague a um beneficiário ou à sua ordem determinada quantia em dinheiro (Fran Martins).

O emitente da letra de câmbio é o sacador. Sacado é a pessoa que deve. Quem recebe o título é o beneficiário ou tomador. A ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado deve ser incondicional porque as obrigações cambiárias não podem ter a sua eficácia subordinada à ocorrência de evento futuro e incerto, para não prejudicar a circulação do título de crédito e não ferir o princípio da literalidade.

1) Modalidades (tipos de vencimentos) – ART 33 a 38, LUGa. A dia certo (em um determinado dia) – Na letra se declara a data do

vencimento do título.b. A certo tempo da data – Uma data estipulada contada em dias. Títulos

a prazo. ART 36, LUG. O prazo de vencimento flui a partir da data da criação do título.

c. A certo tempo de vista – Uma assinatura dada pelo sacado obrigando-se a pagar. O aceite é quando ele se vincula. Distingue-se do título à vista porque o prazo do seu vencimento flui da data da apresentação, como, por exemplo, trinta dias a contar da apresentação. ART 35, LUG.

d. À vista – contra apresentação ao devedor. No momento da apresentação o título vence. Modalidade de títulos com vencimento indeterminado. O prazo para apresentação é de um ano, a contar da data do ato cambiário que lhes dá origem, como o saque na letra de câmbio e duplicara e a emissão de nota promissória.

Saque: “É o ato cambiário pelo qual o sacador cria a letra de câmbio e dá ordem de pagamento ao sacado, e corresponde a uma declaração cambiária originária e necessária” (Luiz Emygdio, fl. 137). É originária, pois corresponde à primeira manifestação de vontade traduzida na letra de câmbio. É necessária, pois sem a assinatura do sacador o documento é inexistente e, assim, não existirá letra de câmbio.O sacador é devedor solidário e indireto – ARTS 9° e 53, al. 2a, LUG – O saque gera para o sacador uma obrigação indireta de pagamento a favor do portador do título, tomador ou terceiro adquirente.

Decreto 2044/08 Lei CambialA “letra de câmbio”, ou “letra”, é uma ordem de pagamento, sacada por um

credor contra o seu devedor, em favor de alguém, que pode ser um terceiro ou o próprio sacador.

Sacador é o que emite (saca) a letra. Sacado é o devedor contra quem se saca (emite) a letra. Aceitante é o sacado que aceita a letra, nela apondo a sua assinatura. Tomador é o beneficiário da ordem, que pode ser um terceiro ou o próprio sacador.

Endossante é o proprietário do título, que o transfere a alguém, chamado endossatário. O portador de uma letra, adquirida por endosso, pode haver dos endossantes anteriores ou do sacador o valor da letra, se o aceitante ou sacado não pagar (direito de regresso).

Requisitos essenciais, lançados por extenso, no contexto:1. a denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na língua

em que for emitida;2. a soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda;3. o nome da pessoa que deve pagá-la. Esta indicação pode ser inserida

abaixo do contexto;

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4. o nome da pessoa a quem deve ser paga.5. a assinatura do próprio punho do sacador ou do mandatário especial. A

assinatura deve ser firmada abaixo do contexto.

Obs.: Não será letra de câmbio o escrito a que faltar qualquer dos requisitos acima enumerados.

Esses requisitos são considerados lançados ao tempo da emissão da letra. A prova em contrário será admitida no caso de má fé do portador.

Se na letra a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por extenso e em algarismos, e houver divergência entre uma e outra, prevalece a que estiver feita por extenso.

Se na letra a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por mais de uma vez no extenso, prevalecerá a de valor inferior.

Obs.: de qualquer maneira, havendo dois valores numéricos e dois valores por extenso, prevalecerá o de menor valor, não deixando de observar que o extenso prepondera sobre o numérico.

Exemplo: há dois valores no numérico: R$ 30,00 e R$ 300,00.E dois valores no extenso: trinta reais e trezentos reais. Prevalece, aqui, o valor

de trinta reais.ATENÇÃO!A letra de câmbio poderá ser à ordem do próprio sacador, ou seja, o sacador é

também o tomador/favorecido;Poderá ser sacada por ordem e conta de terceiro.Poderá ser sacada sobre o próprio sacador. Neste caso, a letra desnatura-se e

torna-se uma Nota Promissória.Atenção para o Art. 5°. da Lei Uniforme relativa às Letras de Câmbio: “Numa

letra pagável à vista ou a um certo termo de vista, pode o sacador estipular que a sua importância vencerá juros. Em qualquer outra espécie de letra a estipulação de juros será considerada como não escrita”.

As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao aceite dentro do prazo de 1 (um) ano das suas datas.

A apresentação da letra ao aceite é facultativa quando certa a data do vencimento. A letra a tempo certo da vista deve ser apresentada ao aceite do sacado, dentro do prazo nela marcado; na falta de designação, dentro de 6 (seis) meses contados da data da emissão do título, sob pena de perder o portador o direito regressivo contra o sacador, endossantes e avalistas.

O aceite da letra, a tempo certo da vista, deve ser datado, presumindo-se, na falta de data, o mandato ao portador para inseri-la.

Sendo dois ou mais os sacados, o portador deve apresentar a letra ao primeiro nomeado; na falta ou recusa do aceite, ao segundo, se estiver domiciliado na mesma praça; assim, sucessivamente, sem embargo da forma da indicação na letra dos nomes dos sacados.

ATENÇÃO! A LETRA DE CÂMBIO QUE HOUVER DE SER PROTESTADA POR FALTA DE ACEITE OU DE PAGAMENTO DEVE SER ENTREGUE AO OFICIAL COMPETENTE, NO PRIMEIRO DIA ÚTIL QUE SE SEGUIR AO DA RECUSA DO ACEITE OU AO DO VENCIMENTO, E O RESPECTIVO PROTESTO TIRADO DENTRO DE TRÊS DIAS ÚTEIS.

RESSAQUE – O portador da letra protestada pode haver o embolso da soma devida, pelo ressaque de nova letra de câmbio, à vista, sobre qualquer dos obrigados.

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O ressacado que paga pode, por seu turno, ressacar sobre qualquer dos coobrigados a ele anteriores.

A LETRA DE CÂMBIO, como um título de crédito que é – é um documento formal, com força executiva (equipara-se a uma sentença judicial transitada em julgado), representativo de dívida líquida e certa, de circulação desvinculada do negócio que o originou.

Vivante: “título de crédito é um documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado”.

As cambiais genuínas ou básicas são a LETRA DE CÂMBIO e a nota promissória. Todos os demais títulos de crédito, como o cheque e a duplicata, são apenas assemelhados ou cambiariformes

As regras da LETRA DE CÂMBIO aplicam-se aos títulos cambiariformes, em tudo que lhes for adequado, inclusive a ação de execução.

Características da LETRA DE CÂMBIO:6. Cartularidade (cártula) – é a materialização do direito no papel, sem a

qual o devedor não está obrigado ao cumprimento da obrigação;7. Literalidade – a Letra de Câmbio vale pelo que nele está escrito, não se

podendo alegar circunstância não escrita;8. Autonomia – “indica que o direito do titular é um direito particular, no

sentido de que cada pessoa que vai adquirindo o título adquire um direito próprio, distinto do direito que tinha, ou podia ter quem transmitisse a Letra”.

9. Independência – Indica que aquele título não depende de outro para a sua existência.Rege-se, a autonomia, pelo princípio da inoponibilidade das exceções ao

terceiro de boa-fé: ou seja, não pode o devedor, ou qualquer outro coobrigado, opor exceções ao terceiro de boa-fé que detenha a Letra de Câmbio.

“Esse princípio, que resulta do conceito já exposto da autonomia das relações cartulares, pois o portador de boa fé exercita um direito próprio, e não derivado de relação anterior, está consagrado em algumas normas de lei. O princípio da inoponibilidade das exceções, expressa que “ao portador de boa fé, o subscritor, ou emissor, não poderá opor outra defesa além da que assente em nulidade interna ou externa da Letra, ou em direito pessoal ao emissor, ou subscritor, contra o portador”

“A inoponibilidade das exceções fundadas em direito pessoal do devedor contra o credor constitui a mais importante afirmação do direito moderno em favor da segurança da circulação e negociabilidade das Letras de Câmbio”.10. Abstração – a Letra de Câmbio é desvinculada da causa que lhe deu

origem. Não depende do negócio que deu lugar ao nascimento dela.11. Circularidade – o grande valor da Letra de Câmbio é fazer com que

facilmente circulem os direitos neles incorporados. É, assim, a Letra de Câmbio destinada, sobretudo, à circulação.

12. Formalismo (formalidade) – é o fator preponderante para a existência da Letra de Câmbio e sem ele não terão eficácia os demais princípio próprios dela. Indispensável se torna que o documento se revista de certas exigências impostas pela lei para que tenha a natureza de título de crédito e assegure ao portador os direitos incorporados no mesmo.

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Alguns autores trazem como característica, também, a independência. Esta, porém, ao nosso ver, é uma extensão da autonomia, significando a desvinculação entre os diversos coobrigados, um em relação ao outro. “Cada qual se obriga por si, e responde pelo cumprimento da obrigação contraída”.

Letra de Câmbio – Resumo das características cambialpróprioabstratoadmite aceiteordem de pagamento

Letra de Câmbio – título emitido pelo Credor/Sacador/Vendedor/Emitente, contra o Devedor/Sacado/Comprador, em favor do Tomador/Beneficiário.

VENCIMENTOS DA LETRA DE CÂMBIO:Espécies de vencimento da Letra de Câmbio (Decreto nº. 2.044, de 31.12.1980

e artigo 33 da Lei Uniforme de Genebra).À vista – ou contra apresentação – isto é, na vista que dela se dá ao devedor da

cambial, para desde logo efetuar o pagamento;A dia certo – o sacador pode ter emitido o título fixando data certa para seu

vencimento. É o vencimento “em tal dia”.A tempo certo da data – o sacador pode ter emitido o título determinando o

prazo, a partir da emissão, em que se vencerá. É o vencimento “a tantos dias desta data”.A tempo certo da vista – ocorre o vencimento a certo termo de vista quando o

sacador emite a Letra cujo prazo de vencimento se conta da data do aceite ou, na falta deste, do respectivo protesto. Não figurando no aceite a data em que foi assinado, entende-se que tenha sido dado no último dia do prazo para essa apresentação.

Ato essencial da Letra de Câmbio: saque (que é o ato de emiti-la);

Atos eventuais nas Letras de Câmbio: aval, endosso e aceite.

QUANDO OCORRE O VENCIMENTO POR ANTECIPAÇÃO, DA LETRA DE CÂMBIO?

R: Ocorre em decorrência de determinados fatos, como a recusa total ou parcial do aceite, falência do sacado, falência do sacador de uma letra não aceitável (art. 43 da Lei Uniforme). A esses casos, deve-se acrescentar a declaração de insolvência do devedor civil (art. 751 do Código de Processo Civil).

O QUE É O ACEITE?R: É o reconhecimento do débito, obrigando o aceitante cambialmente. Esse

elemento, todavia, não é indispensável para a existência da Letra de Câmbio. A recusa do aceite, inobstante, implica em que o aceitante que se nega a tal não pode ser acionado pela via executiva, podendo ser impelido ao pagamento apenas via ação ordinária ou, em certos casos, pela ação monitória.

OBS.: Lembramos que a Letra de Câmbio devidamente emitida (sacada) é um TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.

Assim sendo, a ação de execução da mesma é a AÇÃO CAMBIAL EXECUTIVA.

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O QUE É ENDOSSO?R: É o meio pelo qual se transfere a propriedade da Letra, podendo se

constituir também em simples mandato, quando teremos o endosso impróprio, chamado de “endosso-procuração”. Para a validade deste basta a assinatura do próprio punho do endossante (inadmissível a impressão digital no verso do título de crédito). O endossante, além do mais, é garante tanto da aceitação como do pagamento da Letra, salvo a cláusula excludente que acaso seja inserida na Letra. Se o endosso não puder ser lançado no verso da Letra, por falta de espaço, pode ser em folha ligada a esta.

QUAIS SÃO OS TIPOS DE ENDOSSO?

ENDOSSO TRANSLATIVO – aquele em que se opera uma completa transferência da Letra de Câmbio ou do documento à ordem ao endossatário. Pode ser em branco ou em preto.

ENDOSSO EM PRETO - que é o endosso nominativo, em que se menciona expressamente a pessoa a quem se transfere a Letra ou os direitos conservatórios;

ENDOSSO EM BRANCO - em que há omissão do nome do endossatário, ficando, por via de conseqüência, limitado à assinatura do endossante. Essa espécie de endosso não obriga cambialmente os sucessivos portadores, pela própria razão deles não se identificarem, não ser que um deles venha a exercer o seu direito de ação.

ENDOSSO POSTERIOR AO VENCIMENTO OU ENDOSSO PÓSTUMO - que, na conformidade do direito nacional era considerado como cessão civil, mas a Lei Uniforme, art. 20, estabelece que o endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior, SENDO CESSÃO DE CRÉDITO APENAS O ENDOSSO FEITO APÓS O PROTESTO DA LETRA.

Art. 20, do Decreto nº. 57.663/66: “O ENDOSSO POSTERIOR AO VENCIMENTO TEM OS MESMOS EFEITOS QUE O ENDOSSO ANTERIOR. TODAVIA, O ENDOSSO POSTERIOR AO PROTESTO POR FALTA DE PAGAMENTO, OU FEITO DEPOIS DE EXPIRADO O PRAZO PARA SE FAZER O PROTESTO, PRODUZ APENAS OS EFEITOS DE UMA CESSÃO ORDINÁRIA DE CRÉDITOS.

“A CESSÃO DE CRÉDITO é um negócio jurídico bilateral, gratuito ou oneroso, pelo qual o credor de uma obrigação (cedente) transfere, no todo ou em parte, a terceiro (cessionário), independentemente do consentimento do devedor (cedido), sua posição na relação obrigacional, com todos os acessórios e garantias, salvo disposição em contrário, sem que se opere a extinção do vínculo obrigacional”.

SALVO PROVA EM CONTRÁRIO, PRESUME-SE QUE UM ENDOSSO SEM DATA FOI FEITO ANTES DE EXPIRADO O PRAZO FIXADO PARA SE FAZER O PROTESTO”.

ENDOSSO PARCIAL - é vedado, e se tal ocorrer, o ato jurídico é acoimado de nulidade (art. 12 da Lei Uniforme).

ENDOSSO CAUÇÃO - que também é chamado de pignoratício. Admite-se desde que o endosso contenha expressa menção ao fato de que se trata de caução.

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OBSERVAÇÃO: JÁ DECIDIU O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, QUE O TÍTULO PRESO A CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO, VINCULADO A CONTA-CORRENTE, PERDE A AUTONOMIA CAMBIAL NÃO ENSEJANDO AÇÃO CAMBIAL (RT 201/203).

ENDOSSO MANDATO – é o que transfere a posse e não a propriedade da Letra. É o mesmo que endosso-delegação, ou seja, é a transferência dos poderes de procurador ao endossatário-mandatário, realizada com a cláusula “por procuração”. Trata-se de um endosso da posse da Letra ao procurador, para que ele promova a cobrança da mesma ou exerça os direitos que competem ao endossante-mandante.

Protesto: é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada na Letra e outros documentos de dívida.

O protesto chamado necessário é aquele levado a efeito perante oficial cartorário competente, quando for imprescindível (condição sine qua non) ao exercício do direito de regresso do portador da Letra contra o sacador, emitente, endossante e respectivos avalistas.

QUAIS SÃO OS PRAZOS PRESCRICIONAIS (DE PRESCRIÇÃO) DA AÇÃO DE EXECUÇÃO CONTRA O SACADO DA LC ou SEUS AVALISTAS?

R:LETRA DE CÂMBIO ........................... 3 ANOS DO VENCIMENTO

QUAIS OS PRAZOS PRESCRICIONAIS DA AÇÃO EXECUTIVA CONTRA O ENDOSSANTE E SEUS AVALISTAS?

R:LETRA DE CÂMBIO ..................... 1 ANO DO PROTESTO

QUAIS OS PRAZOS PRESCRICIONAIS DA AÇÃO EXECUTIVA DE QUALQUER COOBRIGADO CONTRA OS DEMAIS? (Ação regressiva)

R:LETRA DE CÂMBIO ..................... 6 MESES DO PAGAMENTO

DÍVIDAS DE NATUREZA QUÈRABLE (OU QUESÍVEL) – São aquelas em que o credor fica com o título, indo até o devedor para receber.

Exemplos de títulos quèrables (ou quesíveis): Cheque e Nota Promissória.

DÍVIDAS DE NATUREZA PORTABLE (OU LEVÁVEL) – São aquelas em que o devedor fica com o título, indo até o credor para cabar.

Exemplos de títulos portables (ou leváveis): Letra de Câmbio e Duplicata.

PRO SOLVENDO – O que deve ser pago; “para pagar”;PRO SOLUTO – A título de pagamento. É a entrega do que se faz a respeito

da obrigação, seja da prestação ou de coisa que lhe seja equivalente, a título de pagamento, ou seja, como pagamento.

Exemplo explicativo: uma Letra de Câmbio que vença em 30 de abril de 2001 será a título PRO SOLVENDO (que deve ser paga; para pagar). Na data do vencimento, o devedor entrega ao credor um cheque contendo o mesmo valor da Letra de Câmbio, acrescido de juros, se for o caso, para mais um mês à frente. Este cheque está sendo

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dado a título PRO SOLUTO (a título de pagamento; como pagamento à Letra de Câmbio). Porém, NÃO há que se falar em NOVAÇÃO de DÍVIDA.

NOVAÇÃO – “Especial meio extintivo de obrigações, por ser ato que cria uma nova, destinada a pôr fim à precedente, substituindo-a”.

1.4. DA NOTA PROMISSÓRIA

A nota promissória é uma promessa de pagamento e deve conter estes requisitos essenciais, lançados, por extenso, no contexto:

I – a denominação de “nota promissória” ou termo correspondente, na língua em que for emitida;

II - a soma de dinheiro a pagar;III – o nome da pessoa a quem deve ser paga;IV – a assinatura do próprio punho do emitente ou do mandatário especial.Será pagável no domicílio do emitente a nota promissória que não indicar o

lugar do pagamento.É facultada a indicação alternativa de lugar de pagamento, tendo o portador

direito de opção.Diversificando as indicações da soma do dinheiro, será considerada verdadeira

a que se achar lançada por extenso no contexto.Diversificando no contexto as indicações da soma de dinheiro, o título não será

nota promissória.OBS.: SÃO APLICÁVEIS À NOTA PROMISSÓRIA, COM AS

MODIFICAÇÕES NECESSÁRIAS, TODOS OS DISPOSITIVOS RELATIVOS À LETRA DE CÂMBIO, EXCETO OS QE SE REFEREM AO ACEITE E ÀS DUPLICATAS.

Para efeito da aplicação de tais dispositivos, o emitente da nota promissória é equiparado ao aceitante da letra de câmbio.

1.5. DUPLICATA

LEI Nº 5.474, DE 18 DE   JULHO DE 1968.

Nota Fiscal é uma relação de mercadorias vendidas, entregue ao comprador, de emissão, em regra, obrigatória (existem casos, previstos por lei especial, que dispensam a sua emissão ou a sua substituição por cupão (ou cupom) fiscal), devidamente numerada, em que são especificadas as mercadorias vendidas e os preços unitários e global.

Em existindo venda a prazo, é facultado ao comerciante a emissão da Fatura, que gera o Título de Crédito conhecido como Duplicata Mercantil (DM) ou de Prestação de Serviços (DS).

Os modelos de Notas Fiscais que as empresas comerciais estão obrigadas a emitir são:

. Nota Fiscal modelo 1 ou 1-A;

. Nota Fiscal de Venda a Consumidor, modelo 2;

. Nota Fiscal de Produtor, modelo 4.

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NOTA FISCAL MODELO 1 OU 1-A – deve ser emitida pela empresa sempre que promover saídas ou entradas de mercadorias no seu estabelecimento. A exceção é em relação aos produtores agrícolas, os quais são obrigados a emitir a Nota Fiscal de Produtor, modelo 4.

É através da Nota Fiscal que o Governo (Federal – IPI; Estadual/Distrital – ICMS etc.) fiscaliza a movimentação das compras e vendas de mercadorias efetuadas pelas empresas, permitindo-lhe a cobrança de diversos impostos, taxas e contribuições (diretamente, como é o caso do ICMS e IPI; ou indiretamente, nos demais casos)

Mesmo nos casos de algumas mercadorias que sejam imunes ou isentas de alguma tributação, ainda assim, deverá ser emitida a Nota Fiscal, que chamamos de Operações Acessórias.

DUPLICATA MERCANTILDUPLICATA E FATURA:A Duplicata, regulamentada pela Lei 5.474/68, é um título de crédito causal,

facultativamente emitido pelo empresário com base em fatura representativa de compra e venda.

É um saque representativo de um negócio preexistente. Não é possível, pois, emissão de duplicata com base em contrato de compra e venda para entrega futura.

“É facultativamente emitida, com base em fatura (esta obrigatória e discriminando as mercadorias vendidas) representativa de contrato com prazo não inferior a 30 dias, não podendo ser emitida outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador”.

Portanto, a fatura, como prova do contrato de compra e venda, é de extração obrigatória, enquanto a duplicata é facultativa.

Uma só duplicata NÃO pode corresponder a mais de uma fatura. Nos contratos de compra e venda mercantil com prazo igual ou superior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o empresário extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador, discriminando nela as mercadorias vendidas ou, quando lhe convier, indicando somente os números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas das mercadorias. Pelo art. 19, § 7º. Do convênio de criação do Sistema Nacional Integrado de Informações Econômico-Fiscais, a nota fiscal poderá servir como fatura, feita a inclusão dos elementos necessários, denominando-se, no caso, nota fiscal fatura.

SÍNTESE:. título causal (não abstrato);. título de saque facultativo;. título de modelo vinculado; e. título de aceite compulsório.

TRIPLICATA:

É o título cambiário sacado para substituir duplicata perdida ou extraviada. Trata-se de mera cópia ou segunda via da duplicata. A lei não autoriza a emissão de triplicata em caso de retenção de duplicata enviada para aceite.

Embora a Lei de Duplicatas (art. 23) proclame obrigatória a emissão de triplicata no caso de duplicata perdida ou extraviada, a própria duplicata não é título de emissão obrigatória.

EXECUÇÃO:

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Título executivo extrajudicial, a duplicata é documento hábil para instruir execução por quantia certa, nos termos do CPC, nos seguintes casos:

. de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;

. de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente: - haja sido protestada;- esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e

recebimento da mercadoria; e- não tenha, comprovadamente, havido recusa justificada do aceite pelo

sacado.

EXCEÇÕES E CAUSALIDADE:Na execução de duplicata, será sempre lícito ao devedor executado estender

sua defesa à indagação de eventuais vícios do negócio subjacente. A EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRATUS (art. 476 do CC – “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro” – Exceptio non adimpleti contratus) pode ser argüida à medida que o título é desprovido de abstratividade, ensejando ao comprador-devedor a mais ampla defesa em relação ao vendedor-credor.

Alguns exemplos de defesa estribada em vícios formais da duplicata que podem ser aduzidos:

. duplicata sem data de emissão ou com data de emissão fictícia, em descompasso com a fatura ou com a efetiva compra e venda;

. duplicata com número de ordem falso;

. duplicata com data de vencimento falso, desconforme com o negócio subjacente;

. duplicata sem remessa de mercadoria;

. duplicata sem aceite, sem comprovante de entrega da mercadoria;

. duplicata extraída para cobrança de juros e correção monetária;

. duplicata emitida para cobrança de renting;

. duplicata sem aceite;

. duplicata aceita por menor sem a assinatura paterna;

. duplicata extraída para cobrança de diferença de frete;

. duplicata emitida sobre valor de novação de dívida.

DUPLICATA SIMULADA:É crime emitir duplicata, fatura ou nota de venda que não traduza

efetivamente uma compra e venda ou prestação de serviço.

DUPLICATA FISCAL – Título emitido pelo vendedor, contribuinte do imposto sobre produtos industrializados, desde que o pagamento da venda seja a prazo superior a trinta dias, com valor equivalente ao imposto, e vencimento máximo de quarenta e cinco dias.

OBS.: O mestre Fábio Ulhoa Coelho faz a seguinte observação: “A prática comercial, amparada por alguma doutrina, tem preferido, ao protesto por indicações, a emissão da triplicata. De fato, nos termos do art. 23 da LD, a perda ou o extravio da duplicata obriga o vendedor a extrair a triplicata, nada mais que uma cópia da duplicata, uma sua segunda via, feita com base nos registros constantes da escrituração que obrigatoriamente o comerciante deve manter (art. 19). Costuma o comércio emitir a triplicata sempre que a duplicata é retirada pelo comprador. A rigor, não se enquadra esta emissão nas hipóteses legais de perda ou

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extravio, mas, desde que não importe em qualquer prejuízo para as partes, não haverá problemas em se proceder desta maneira. O que não se pode afirmar é que a emissão da triplicata, em caso de retenção da duplicata, esteja autorizada em lei. Isto não, posto que a lei, nesta situação, se limita a facultar ao credor o protesto por indicações, somente.”

III – DAS DEBÊNTURES:

Debênture é um título emitido apenas por Sociedades Anônimas não-financeiras de capital aberto (as sociedades de arrendamento mercantil e as companhias hipotecárias estão autorizadas a emiti-las), com garantia de seu ativo e com ou sem garantia subsidiária da instituição financeira, que as lança no mercado (OPERAÇÕES DE UNDERWRINTING) para obter recursos de médio e longo prazos destinados normalmente a financiamento de projetos de investimentos ou alongamento do perfil do passivo. A emissão e as condições de emissão são deliberadas em AGE. A emissão poderá ser por séries, como forma de adequar o montante de recursos às necessidades de caixa da empresa ou à demanda de mercado.

Basicamente, uma debênture é uma forma de financiamento através de empréstimos a longo prazo.

Os compradores de debêntures são credores que esperam receber juros periódicos e reembolso específico do principal (valor nominal da debênture) na data do seu vencimento.

Existe um tipo especial de debênture, chamada DEBÊNTURE PERPÉTUA, de prazo indeterminado, que só perde a validade quando uma assembléia de acionistas, por recomendação do conselho de administração, aprova o cancelamento da emissão e a liquidação dos títulos ainda em circulação. São emitidas por grupos muito fortes, normalmente subsidiários de empresas estrangeiras.

As debêntures são comercializadas através do Sistema Nacional de Debêntures da Andima – SND, que garante a liquidez e a segurança dos papéis, operacionalizado pela CETIP – Central de Liquidação e Custódia de Títulos Privados.

LEI N o 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973. – CPCArt. 585. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, A

DEBÊNTURE e o cheque; LEI N o 6.404, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1976. – LEI DAS S/A

CAPÍTULO VDebêntures

Características               Art. 52. A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado.

SEÇÃO IDireito dos Debenturistas

Emissões e Séries

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        Art. 53. A companhia poderá efetuar mais de uma emissão de debêntures, e cada emissão pode ser dividida em séries.        Parágrafo único. As debêntures da mesma série terão igual valor nominal e conferirão a seus titulares os mesmos direitos.

Valor Nominal        Art. 54. A debênture terá valor nominal expresso em moeda nacional (REGRA), salvo nos casos de obrigação que, nos termos da legislação em vigor, possa ter o pagamento estipulado em moeda estrangeira.              § 1o A debênture poderá conter cláusula de correção monetária, com base nos coeficientes fixados para correção de títulos da dívida pública, na variação da taxa cambial ou em outros referenciais não expressamente vedados em lei.         § 2o A escritura de debênture poderá assegurar ao debenturista a opção de escolher receber o pagamento do principal e acessórios, quando do vencimento, amortização ou resgate, em moeda ou em bens avaliados nos termos do art. 8o.

Vencimento, Amortização e Resgate        Art. 55. A época do vencimento da debênture deverá constar da escritura de emissão e do certificado, podendo a companhia estipular amortizações parciais de cada série, criar fundos de amortização e reservar-se o direito de resgate antecipado, parcial ou total, dos títulos da mesma série.        § 1º A amortização de debêntures da mesma série que não tenham vencimentos anuais distintos, assim como o resgate parcial, deverão ser feitos mediante sorteio ou, se as debêntures estiverem cotadas por preço inferior ao valor nominal, por compra em bolsa.        § 2º É facultado à companhia adquirir debêntures de sua emissão, desde que por valor igual ou inferior ao nominal, devendo o fato constar do relatório da administração e das demonstrações financeiras.        § 3º A companhia poderá emitir debêntures cujo vencimento somente ocorra nos casos de inadimplemento da obrigação de pagar juros e dissolução da companhia, ou de outras condições previstas no título.

Juros e Outros Direitos        Art. 56. A debênture poderá assegurar ao seu titular juros, fixos ou variáveis, participação no lucro da companhia e prêmio de reembolso.

Conversibilidade em Ações        Art. 57. A debênture poderá ser conversível em ações nas condições constantes da escritura de emissão, que especificará:        I - as bases da conversão, seja em número de ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como relação entre o valor nominal da debênture e o preço de emissão das ações;        II - a espécie e a classe das ações em que poderá ser convertida;         III - o prazo ou época para o exercício do direito à conversão;        IV - as demais condições a que a conversão acaso fique sujeita.        § 1º Os acionistas terão direito de preferência para subscrever a emissão de debêntures com cláusula de conversibilidade em ações, observado o disposto nos artigos 171 e 172.        § 2º Enquanto puder ser exercido o direito à conversão, dependerá de prévia aprovação dos debenturistas, em assembléia especial, ou de seu agente fiduciário, a alteração do estatuto para:

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        a) mudar o objeto da companhia;        b) criar ações preferenciais ou modificar as vantagens das existentes, em prejuízo das ações em que são conversíveis as debêntures.

SEÇÃO IIEspécies

        Art. 58. A debênture poderá, conforme dispuser a escritura de emissão, ter garantia real ou garantia flutuante, não gozar de preferência ou ser subordinada aos demais credores da companhia.        § 1º A garantia flutuante assegura à debênture privilégio geral sobre o ativo da companhia, mas não impede a negociação dos bens que compõem esse ativo.        § 2º As garantias poderão ser constituídas cumulativamente.        § 3º As debêntures com garantia flutuante de nova emissão são preferidas pelas de emissão ou emissões anteriores, e a prioridade se estabelece pela data da inscrição da escritura de emissão; mas dentro da mesma emissão, as séries concorrem em igualdade.        § 4º A debênture que não gozar de garantia poderá conter cláusula de subordinação aos credores quirografários, preferindo apenas aos acionistas no ativo remanescente, se houver, em caso de liquidação da companhia.        § 5º A obrigação de não alienar ou onerar bem imóvel ou outro bem sujeito a registro de propriedade, assumida pela companhia na escritura de emissão, é oponível a terceiros, desde que averbada no competente registro.        § 6º As debêntures emitidas por companhia integrante de grupo de sociedades (artigo 265) poderão ter garantia flutuante do ativo de 2 (duas) ou mais sociedades do grupo.

SEÇÃO IIICriação e Emissão

Competência        Art. 59. A deliberação sobre emissão de debêntures é da competência privativa da assembléia-geral, que deverá fixar, observado o que a respeito dispuser o estatuto:        I - o valor da emissão ou os critérios de determinação do seu limite, e a sua divisão em séries, se for o caso;        II - o número e o valor nominal das debêntures;        III - as garantias reais ou a garantia flutuante, se houver;        IV - as condições da correção monetária, se houver;        V - a conversibilidade ou não em ações e as condições a serem observadas na conversão;        VI - a época e as condições de vencimento, amortização ou resgate;        VII - a época e as condições do pagamento dos juros, da participação nos lucros e do prêmio de reembolso, se houver;        VIII - o modo de subscrição ou colocação, e o tipo das debêntures.            § 1o Na companhia aberta, o conselho de administração poderá deliberar sobre a emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações e sem garantia real, e a assembléia-geral pode delegar ao conselho de administração a deliberação sobre as condições de que tratam os incisos VI a VIII deste artigo e sobre a oportunidade da emissão.

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        § 2º A assembléia-geral pode deliberar que a emissão terá valor e número de séries indeterminados, dentro de limites por ela fixados com observância do disposto no artigo 60.        § 3º A companhia não pode efetuar nova emissão antes de colocadas todas as debêntures das séries de emissão anterior ou canceladas as séries não colocadas, nem negociar nova série da mesma emissão antes de colocada a anterior ou cancelado o saldo não colocado.

Limite de Emissão        Art. 60. EXCETUADOS OS CASOS PREVISTOS EM LEI ESPECIAL, O VALOR TOTAL DAS EMISSÕES DE DEBÊNTURES NÃO PODERÁ ULTRAPASSAR O CAPITAL SOCIAL DA COMPANHIA.        § 1º Esse limite pode ser excedido até alcançar:        a) 80% (oitenta por cento) do valor dos bens gravados, próprios ou de terceiros, no caso de debêntures com garantia real;        b) 70% (setenta por cento) do valor contábil do ativo da companhia, diminuído do montante das suas dívidas garantidas por direitos reais, no caso de debêntures com garantia flutuante.        § 2º O limite estabelecido na alínea a do § 1º poderá ser determinado em relação à situação do patrimônio da companhia depois de investido o produto da emissão; neste caso os recursos ficarão sob controle do agente fiduciário dos debenturistas e serão entregues à companhia, observados os limites do § 1º, à medida em que for sendo aumentado o valor das garantias.        § 3º A Comissão de Valores Mobiliários poderá fixar outros limites para emissões de debêntures negociadas em bolsa ou no balcão, ou a serem distribuídas no mercado.        § 4º Os limites previstos neste artigo não se aplicam à emissão de debêntures subordinadas.

Escritura de Emissão        Art. 61. A companhia fará constar da escritura de emissão os direitos conferidos pelas debêntures, suas garantias e demais cláusulas ou condições.        § 1º A escritura de emissão, por instrumento público ou particular, de debêntures distribuídas ou admitidas à negociação no mercado, terá obrigatoriamente a intervenção de agente fiduciário dos debenturistas (artigos 66 a 70).        § 2º Cada nova série da mesma emissão será objeto de aditamento à respectiva escritura.        § 3º A Comissão de Valores Mobiliários poderá aprovar padrões de cláusulas e condições que devam ser adotados nas escrituras de emissão de debêntures destinadas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, e recusar a admissão ao mercado da emissão que não satisfaça a esses padrões.

Registro           Art. 62. Nenhuma emissão de debêntures será feita sem que tenham sido satisfeitos os seguintes requisitos:         I - arquivamento, no registro do comércio, e publicação da ata da assembléia-geral, ou do conselho de administração, que deliberou sobre a emissão;         II - inscrição da escritura de emissão no registro do comércio;         III - constituição das garantias reais, se for o caso.

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        § 1º Os administradores da companhia respondem pelas perdas e danos causados à companhia ou a terceiros por infração deste artigo.        § 2º O agente fiduciário e qualquer debenturista poderão promover os registros requeridos neste artigo e sanar as lacunas e irregularidades porventura existentes nos registros promovidos pelos administradores da companhia; neste caso, o oficial do registro notificará a administração da companhia para que lhe forneça as indicações e documentos necessários.        § 3º Os aditamentos à escritura de emissão serão averbados nos mesmos registros.       § 4o Os registros do comércio manterão livro especial para inscrição das emissões de debêntures, no qual serão anotadas as condições essenciais de cada emissão.

SEÇÃO IVForma, Propriedade, Circulação e Ônus

       Art. 63. As debêntures serão nominativas, aplicando-se, no que couber, o disposto nas seções V a VII do Capítulo III.        § 1o As debêntures podem ser objeto de depósito com emissão de certificado, nos termos do art. 43.         § 2o A escritura de emissão pode estabelecer que as debêntures sejam mantidas em contas de custódia, em nome de seus titulares, na instituição que designar, sem emissão de certificados, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 41

SEÇÃO VCertificadosRequisitos

        Art. 64. Os certificados das debêntures conterão:        I - a denominação, sede, prazo de duração e objeto da companhia;        II - a data da constituição da companhia e do arquivamento e publicação dos seus atos constitutivos;        III - a data da publicação da ata da assembléia-geral que deliberou sobre a emissão;        IV - a data e ofício do registro de imóveis em que foi inscrita a emissão;        V - a denominação "Debênture" e a indicação da sua espécie, pelas palavras "com garantia real", "com garantia flutuante", "sem preferência" ou "subordinada";        VI - a designação da emissão e da série;        VII - o número de ordem;        VIII - o valor nominal e a cláusula de correção monetária, se houver, as condições de vencimento, amortização, resgate, juros, participação no lucro ou prêmio de reembolso, e a época em que serão devidos;        IX - as condições de conversibilidade em ações, se for o caso;         X - o nome do debenturista;         XI - o nome do agente fiduciário dos debenturistas, se houver;         XII - a data da emissão do certificado e a assinatura de dois diretores da companhia;         XIII - a autenticação do agente fiduciário, se for o caso. Títulos Múltiplos e Cautelas        Art. 65. A companhia poderá emitir certificados de múltiplos de debêntures e, provisoriamente, cautelas que as representem, satisfeitos os requisitos do artigo 64.

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        § 1º Os títulos múltiplos de debêntures das companhias abertas obedecerão à padronização de quantidade fixada pela Comissão de Valores Mobiliários.        § 2º Nas condições previstas na escritura de emissão com nomeação de agente fiduciário, os certificados poderão ser substituídos, desdobrados ou grupados.

SEÇÃO VIAgente Fiduciário dos Debenturistas

Requisitos e Incompatibilidades        Art. 66. O agente fiduciário será nomeado e deverá aceitar a função na escritura de emissão das debêntures.        § 1º Somente podem ser nomeados agentes fiduciários as pessoas naturais que satisfaçam aos requisitos para o exercício de cargo em órgão de administração da companhia e as instituições financeiras que, especialmente autorizadas pelo Banco Central do Brasil, tenham por objeto a administração ou a custódia de bens de terceiros.        § 2º A Comissão de Valores Mobiliários poderá estabelecer que nas emissões de debêntures negociadas no mercado o agente fiduciário, ou um dos agentes fiduciários, seja instituição financeira.        § 3º Não pode ser agente fiduciário:        a) pessoa que já exerça a função em outra emissão da mesma companhia;        b) instituição financeira coligada à companhia emissora ou à entidade que subscreva a emissão para distribuí-la no mercado, e qualquer sociedade por elas controlada;        c) credor, por qualquer título, da sociedade emissora, ou sociedade por ele controlada;        d) instituição financeira cujos administradores tenham interesse na companhia emissora;        e) pessoa que, de qualquer outro modo, se coloque em situação de conflito de interesses pelo exercício da função.        § 4º O agente fiduciário que, por circunstâncias posteriores à emissão, ficar impedido de continuar a exercer a função deverá comunicar imediatamente o fato aos debenturistas e pedir sua substituição.

Substituição, Remuneração e Fiscalização        Art. 67. A escritura de emissão estabelecerá as condições de substituição e remuneração do agente fiduciário, observadas as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários.        Parágrafo único. A Comissão de Valores Mobiliários fiscalizará o exercício da função de agente fiduciário das emissões distribuídas no mercado, ou de debêntures negociadas em bolsa ou no mercado de balcão, podendo:        a) nomear substituto provisório, nos casos de vacância;        b) suspender o agente fiduciário de suas funções e dar-lhe substituto, se deixar de cumprir os seus deveres.Deveres e Atribuições        Art. 68. O agente fiduciário representa, nos termos desta Lei e da escritura de emissão, a comunhão dos debenturistas perante a companhia emissora.        § 1º São deveres do agente fiduciário:

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        a) proteger os direitos e interesses dos debenturistas, empregando no exercício da função o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios bens;        b) elaborar relatório e colocá-lo anualmente a disposição dos debenturistas, dentro de 4 (quatro) meses do encerramento do exercício social da companhia, informando os fatos relevantes ocorridos durante o exercício, relativos à execução das obrigações assumidas pela companhia, aos bens garantidores das debêntures e à constituição e aplicação do fundo de amortização, se houver, do relatório constará, ainda, declaração do agente sobre sua aptidão para continuar no exercício da função;        c) notificar os debenturistas, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, de qualquer inadimplemento, pela companhia, de obrigações assumidas na escritura da emissão.         § 2º A escritura de emissão disporá sobre o modo de cumprimento dos deveres de que tratam as alíneas b e c do parágrafo anterior.        § 3º O agente fiduciário pode usar de qualquer ação para proteger direitos ou defender interesses dos debenturistas, sendo-lhe especialmente facultado, no caso de inadimplemento da companhia:        a) declarar, observadas as condições da escritura de emissão, antecipadamente vencidas as debêntures e cobrar o seu principal e acessórios;        b) executar garantias reais, receber o produto da cobrança e aplicá-lo no pagamento, integral ou proporcional, dos debenturistas;        c) requerer a falência da companhia emissora, se não existirem garantias reais;        d) representar os debenturistas em processos de falência, concordata, intervenção ou liquidação extrajudicial da companhia emissora, salvo deliberação em contrário da assembléia dos debenturistas;        e) tomar qualquer providência necessária para que os debenturistas realizem os seus créditos.        § 4º O agente fiduciário responde perante os debenturistas pelos prejuízos que lhes causar por culpa ou dolo no exercício das suas funções.        § 5º O crédito do agente fiduciário por despesas que tenha feito para proteger direitos e interesses ou realizar créditos dos debenturistas será acrescido à dívida da companhia emissora, gozará das mesmas garantias das debêntures e preferirá a estas na ordem de pagamento.        § 6º Serão reputadas não-escritas as cláusulas da escritura de emissão que restringirem os deveres, atribuições e responsabilidade do agente fiduciário previstos neste artigo.

Outras Funções        Art. 69. A escritura de emissão poderá ainda atribuir ao agente fiduciário as funções de autenticar os certificados de debêntures, administrar o fundo de amortização, manter em custódia bens dados em garantia e efetuar os pagamentos de juros, amortização e resgate.

Substituição de Garantias e Modificação da Escritura        Art. 70. A substituição de bens dados em garantia, quando autorizada na escritura de emissão, dependerá da concordância do agente fiduciário.        Parágrafo único. O agente fiduciário não tem poderes para acordar na modificação das cláusulas e condições da emissão.

SEÇÃO VIIAssembléia de Debenturistas

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        Art. 71. Os titulares de debêntures da mesma emissão ou série podem, a qualquer tempo, reunir-se em assembléia a fim de deliberar sobre matéria de interesse da comunhão dos debenturistas.        § 1º A assembléia de debenturistas pode ser convocada pelo agente fiduciário, pela companhia emissora, por debenturistas que representem 10% (dez por cento), no mínimo, dos títulos em circulação, e pela Comissão de Valores Mobiliários.        § 2º Aplica-se à assembléia de debenturistas, no que couber, o disposto nesta Lei sobre a assembléia-geral de acionistas.        § 3º A assembléia se instalará, em primeira convocação, com a presença de debenturistas que representem metade, no mínimo, das debêntures em circulação, e, em segunda convocação, com qualquer número.        § 4º O agente fiduciário deverá comparecer à assembléia e prestar aos debenturistas as informações que lhe forem solicitadas.        § 5º A escritura de emissão estabelecerá a maioria necessária, que não será inferior à metade das debêntures em circulação, para aprovar modificação nas condições das debêntures.        § 6º Nas deliberações da assembléia, a cada debênture caberá um voto.

Seção VIIICédula de debêntures

        Art. 72. As instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central do Brasil a efetuar esse tipo de operação poderão emitir cédulas lastreadas em debêntures, com garantia própria, que conferirão a seus titulares direito de crédito contra o emitente, pelo valor nominal e os juros nela estipulados. OPERAÇÕES DE UNDERWRITING – Oferta pública de debêntures – subscrição – é uma das operações cuja prática é explicitamente autorizada aos bancos de investimento e demais instituições integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários.

Elas intermediam a colocação (lançamento) ou distribuição no mercado de capitais: de ações, DEBÊNTURES etc., seja para investimento, seja para revenda, recebendo uma comissão pelos serviços prestados, proporcional ao volume do lançamento.        § 1º A cédula será nominativa, escritural ou não.         § 2º O certificado da cédula conterá as seguintes declarações:        a) o nome da instituição financeira emitente e as assinaturas dos seus representantes;        b) o número de ordem, o local e a data da emissão;       c) a denominação Cédula de Debêntures;         d) o valor nominal e a data do vencimento;        e) os juros, que poderão ser fixos ou variáveis, e as épocas do seu pagamento;        f) o lugar do pagamento do principal e dos juros;             g) a identificação das debêntures-lastro, do seu valor e da garantia constituída;         h) o nome do agente fiduciário dos debenturistas;        i) a cláusula de correção monetária, se houver;

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        j) o nome do titular.  SEÇÃO IX

Emissão de Debêntures no Estrangeiro        Art. 73. Somente com a prévia aprovação do Banco Central do Brasil as companhias brasileiras poderão emitir debêntures no exterior com garantia real ou flutuante de bens situados no País.        § 1º Os credores por obrigações contraídas no Brasil terão preferência sobre os créditos por debêntures emitidas no exterior por companhias estrangeiras autorizadas a funcionar no País, salvo se a emissão tiver sido previamente autorizada pelo Banco Central do Brasil e o seu produto aplicado em estabelecimento situado no território nacional.        § 2º Em qualquer caso, somente poderão ser remetidos para o exterior o principal e os encargos de debêntures registradas no Banco Central do Brasil.        § 3º A emissão de debêntures no estrangeiro, além de observar os requisitos do artigo 62, requer a inscrição, no registro de imóveis, do local da sede ou do estabelecimento, dos demais documentos exigidos pelas leis do lugar da emissão, autenticadas de acordo com a lei aplicável, legalizadas pelo consulado brasileiro no exterior e acompanhados de tradução em vernáculo, feita por tradutor público juramentado; e, no caso de companhia estrangeira, o arquivamento no registro do comércio e publicação do ato que, de acordo com o estatuto social e a lei do local da sede, tenha autorizado a emissão.        § 4º A negociação, no mercado de capitais do Brasil, de debêntures emitidas no estrangeiro, depende de prévia autorização da Comissão de Valores Mobiliários.

SEÇÃO XExtinção

        Art. 74. A companhia emissora fará, nos livros próprios, as anotações referentes à extinção das debêntures, e manterá arquivados, pelo prazo de 5 (cinco) anos, juntamente com os documentos relativos à extinção, os certificados cancelados ou os recibos dos titulares das contas das debêntures escriturais.        § 1º Se a emissão tiver agente fiduciário, caberá a este fiscalizar o cancelamento dos certificados.        § 2º Os administradores da companhia responderão solidariamente pelas perdas e danos decorrentes da infração do disposto neste artigo.

2. DO PROTESTO:

LEI Nº 9.492, DE   10 DE   SETEMBRO DE 1997.

Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.

FUNÇÕES DO PROTESTO:

1. PROVAR O INADIMPLEMENTO;2. SUPRIR O ACEITE;3. LEGITIMAR A PARTE PARA REQUERER A FALÊNCIA DO DEVEDOR;4. GARANTIR AO PORTADOR A AÇÃO EXECUTIVA EM FACE DE TODOS OS COOBRIGADOS;

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5. ANTECIPAR O VENCIMENTO DO TÍTULO PARA HABILITAÇÃO À MASSA FALIDA;6. INTERROMPER A PRESCRIÇÃO.

CÓDIGO CIVIL

Seção IIIDas Causas que Interrompem a Prescrição

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;

II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;

III - por protesto cambial;

IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;

V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.

Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.

§ 1o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

§ 2o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.

§ 3o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

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Seção IVDos Prazos da Prescrição

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Art. 206. Prescreve:

§ 1o Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;

IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo;

V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.

§ 3 O EM TRÊS ANOS:

I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;

III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;

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IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; (LOCUPLETAMENTO ILÍCITO - EXCETO O CHEQUE – 2 ANOS – LEI ESPECIAL)

V - a pretensão de reparação civil;

VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;

b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;

IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

§ 5 O EM CINCO ANOS:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; (QUIRÓGRAFOS – TÍTULOS DE CRÉDITO PRESCRITOS) – COBRANÇA OU MONITÓRIA.

II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;

III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

CAPÍTULO IIDa Decadência

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Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.

Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.

Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

4. CONTRATOS MERCANTIS ESPECIAIS

4.1. DA FORMALIZAÇÃO DE CONTRATOS E DAS GARANTIAS:

4.2. – Dos Contratos:Do Negócio JurídicoDisposições Gerais

A validade do negócio jurídico requer:I - agente capaz;II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;III - forma prescrita ou não defesa em lei.A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em

benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.

A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.

A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.

CONTRATO – O contrato constitui uma espécie de negócio jurídico, de natureza bilateral ou plurilateral, dependendo, para a sua formação, do encontro da vontade das partes, por ser ato regulamentador de interesses privados.

A essência do negócio jurídico é a auto-regulamentação dos interesses particulares, reconhecida pela ordem jurídica, que lhe dá força criativa.

PACTA SUNT SERVANDA – Os pactos (contratos) devem ser observados, ou seja, os contratos fazem lei entre as partes.

CLÁUSULA LEONINA – Aquela em que todas as vantagens são conferidas a um dos contratantes, em detrimento do outro, sendo por isso nula.

Dos Contratos em GeralDisposições Gerais

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A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (CONTRATO POR ADESÃO).

Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio (CLÁUSULA LEONINA).

Dos Contratos Aleatórios

Da Extinção do ContratoDo Distrato

O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.A resilição (EXTINÇÃO) unilateral, nos casos em que a lei expressa ou

implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito

investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Da Exceção de Contrato não Cumprido (EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS)

Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

Da Resolução por Onerosidade Excessiva

Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.

Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterada o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

4.3. CONTRATOS BANCÁRIOS:

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2. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO BANCÁRIO

Para que se considere um contrato como bancário, é necessário que uma das partes seja um banco (aspecto subjetivo) e que seu objetivo seja uma intermediação de crédito (aspecto objetivo). No contrato bancário, os sujeitos são o banco e o cliente, e o objeto é o crédito.

É apontada, ainda, como características peculiares do contrato bancário, a contabilização rigorosa, a realização em série, o dirigismo estatal das operações e o sigilo.

As instituições financeiras devem manter sigilo nas suas operações e serviços, uma vez que a Constituição Federal dispõe que são invioláveis os dados pessoais e a intimidade.

Constitui crime a quebra de sigilo. O sigilo abrange a movimentação ativa e passiva do correntista/contribuinte, bem como os serviços a ele prestados. Na vigência da legislação anterior, centrada principalmente no revogado art. 38 da lei bancária e de mercado de capitais, predominou sempre o entendimento de que a quebra do sigilo bancário somente seria possível mediante autorização prévia do Judiciário. Competência igual, embora não unânime na doutrina, tinham, como ainda têm, as Comissões Parlamentares de Inquérito.

O Fisco, independentemente de autorização judicial, poderá examinar dados das instituições financeiras, inclusive referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, havendo processo administrativo ou procedimento fiscal em curso.

O sigilo bancário pode ser quebrado nos ilícitos penais, especialmente em modalidades graves, como por exemplo, terrorismo, tráfico de entorpecentes ou crimes contra a ordem tributária. Resta observar, com o tempo, a evolução da jurisprudência sobre o tema, diante das modificações introduzidas.

3. PRÁTICAS ABUSIVAS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS

a) Capitalização de juros: forma de cálculo de juros compostos, em que os juros se integram ao capital e sofrem incidência de nova parcela destes encargos.

ANATOCISMO – contagem de juros sobre juros, contrariando ao que dispõe o Decreto nº 22.626/33, em seu artigo 4º.: “ É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta-corrente de ano a ano”.

SÚMULA 121, do STF: “É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada”.

Em síntese, não existe permissivo legal para que seja autorizada a cobrança relativa à capitalização mensal de juros, salvo as previstas em lei especial, como por exemplo o Decreto-lei nº 167/97, que admite a capitalização semestral de juros e encargos na conta vinculada ao financiamento rural.

A capitalização de juros, inserida no pacto também deve ser declarada nula.

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b) Cláusula Mandato: Condição em que o financiado outorga uma procuração (mandato) para a instituição financeira ou empresa a ela coligada criar um título de crédito em nome do financiado e seus garantidores, pelo valor que a instituição pretender cobrar. Prática vedada pela Súmula 60 do Superior Tribunal de Justiça.

c) Indexadores alternativos: Possibilidade de escolha unilateral por parte da instituição financeira, do indexador (ou pseudo-indexador) que melhor atenda aos seus interesses.

d) Flutuação de taxas: Possibilidade de majoração periódica das taxas de juros pactuadas em um contrato, sem qualquer interferência do financiado alterando, dessa forma, cláusula essencial do negócio.

e) Comissão de permanência: Prática de cumular essa verba moratória com outros encargos que são excludentes (juros contratuais, multas, honorários, correção, etc). Da mesma forma, em se tratando de taxa de juros, não se admite a cobrança de forma capitalizada como usualmente ocorre.

V.2 - CONTRATOS DE FACTORING (FOMENTO MERCANTIL):

Factoring é uma atividade comercial mista atípica = serviços + compra de créditos (direitos creditórios) resultantes de vendas mercantis.

Constou pela primeira vez no Brasil, em um texto de lei, no artigo 28, da Lei nº 8.981/95.

O fomento mercantil é uma atividade, cujos fundamentos são regidos por uma legislação ainda difusa: Circular BC 1.359/88; Lei nº 8.981/95, ratificado pelas leis 9.249/95, 9.430/96 e 9.532/97 e na Resolução nº 2.144/95, do Conselho Monetário Nacional.

Suporte Operacional: prestação de serviços – art. 594 do CC; Cessão de Crédito – art. 286 a 298 do CC; títulos de crédito: Decreto nº 57.663/66 – Convenção de Genebra); vendas mercantis – Lei 5.474/68 e 6.458/77; Ato Declaratório nº 51, de 28.09.94, da SRF; Circular 2.715, de 28.08.96, do BACEN + Resolução do CMN nº 2.118/94 e Circular do BACEN 2.511/94.

O contrato de faturização ou factoring é aquele em que um comerciante cede a outro os créditos, na totalidade ou em parte, de suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo o montante desses créditos, mediante o pagamento de uma remuneração.

A introdução do factoring no Brasil é preconizada como um meio de atender às pequenas e médias empresas, na obtenção de capital de giro, sem as dificuldades geralmente observadas no DESCONTO bancário, muitas vezes de difícil acesso aos “pequenos comerciantes”.

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“As empresas de faturização se distinguem das instituições financeiras porque estas não realizam operações especulativas e sim operações de crédito, enquanto as empresas de faturização realizam operações de risco”.

É princípio da essência do contrato de faturização o fato de não responder o faturizado, ao ceder os seus créditos, pela solvência do devedor, no caso o comprador, correndo, assim, por conta da empresa de faturização o risco do não recebimento já que a mesma não pode se voltar contra o faturizado para que esse satisfaça a obrigação não cumprida pelo comprador.

A OPERAÇÃO DE FACTORING CARACTERIZA-SE POR UMA CESSÃO DE CRÉDITO PRO SOLUTO, OU SEJA, ENQUANTO QUE NA CESSÃO PRO SOLVENDO (CASO DA OPERAÇÃO DE DESCONTO BANCÁRIO) O CEDENTE, EMBORA TRANSFIRA O CRÉDITO, CONTINUA RESPONSÁVEL PELA SOLVÊNCIA DO MESMO, OU SEJA, SOMENTE FICARÁ LIBERTO DESTE ENCARGO QUANDO O CESSIONÁRIO RECEBER A IMPORTÂNCIA DO CRÉDITO. O QUE VALE DIZER QUE O CEDENTE GARANTE A SOLVABILIDADE DO CRÉDITO.

JÁ NA CESSÃO PRO SOLUTO, QUE CARACTERIZA O FACTORING, O CEDENTE TRANSFERE O CRÉDITO EM DEFINITIVO AO CESSIONÁRIO (NO CASO À SOCIEDADE DE FACTORING), NÃO RESPONDENDO AQUELE PELA SOLVABILIDADE DO MESMO. OU SEJA, O CESSIONÁRIO ADQUIRE O CRÉDITO E ASSUME O RISCO DE SUA SOLVIBILIDADE.

Sendo característica essencial do contrato de faturização a isenção do faturizado da responsabilidade de pagar o crédito cedido caso o comprador não o faça, o que torna o contrato de factoring uma operação de risco, portanto especulativa, e NÃO uma operação de crédito, como são as operações bancárias.

Elementos do factoring: faturizador (factor); vendedor (aderente, fornecedor ou faturizado; e o comprador (cliente, devedor).

Tanto faturizador como faturizado devem ser comerciantes. A natureza do contrato de factoring é comercial.

Ambos (factor e faturizado) podem ser pessoa jurídica ou pessoa física, desde que comerciante.

O comprador (devedeor) pode ser pessoa jurídica ou pessoa física, comerciante ou não.

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A faturização pressupõe, sempre, uma venda a prazo (vendas à vista estão fora do factoring).

Obs.: Tendo sido o crédito transferido para o faturizador, deve o devedor ser notificado dessa transferência, o que pode ser feito por qualquer documento escrito, seja público ou particular.

Enfim, a operação de factoring consiste, basicamente, em um sacador (pessoa que vende seus ativos) e uma pessoa compradora – dos créditos - (factor), que fornecerá o dinheiro ao sacador, mediante um deságio sobre o valor de face deste ativo, no caso, normalmente, uma duplicata.

Existe um curso implícito nesta operação, por isso o deságio varia de acordo com as taxas de mercado para o custo do dinheiro, que pode ser balizado em CDB ou no CDI mais um spread (taxa de risco da própria casa de factoring).

Os riscos estão embutidos principalmente na idoneidade dos ativos adquiridos.

Há quatro tipos de serviços via factoring:- transação com duplicatas – envolve principalmente a

compra de duplicatas a vencer da empresa;- maturity – implica a total assunção de qualquer crédito da

empresa pela casa de factoring, ou seja, em caso de calote do devedor, a empresa que contratou os serviços do factoring não sofrerá qualquer prejuízo;

- over-advanced – é um adiantamento de recursos para a empresa comprar insumos ou efetuar investimentos de pequeno porte;

- trust – é a transferência, para a casa de factoring, da administração do negócio da empresa, envolvendo desde as operações financeiras de monitoramento do fluxo de caixa até as atividades necessárias para levar à frente a produção.

ATENÇÃO! Hoje, o factoring é uma atividade essencialmente mercantil, em que o pré-requisito é o registro na Junta Comercial, NÃO sendo fiscalizada nem regulamentada pela CVM ou BACEN.

A operação de factoring está sujeita à incidência do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), bem como à do ISS municipal (Imposto Sobre Serviços de qualquer natureza).

No Brasil, a atividade tem um órgão de classe, a ANFAC, que divulga todos os dias uma taxa representativa do fator de compra dos créditos, como orientação para seus associados.

O limite de aplicação de uma empresa de factoring é o limite do seu capital.

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SOCIEDADES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)

LEI N o 6.099, DE 12 DE SETEMBRO DE 1974.

  Art 1º O tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil reger-se-á pelas disposições desta Lei.        Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.         Art 2º Não terá o tratamento previsto nesta Lei o arrendamento de bens contratado entre pessoas jurídicas direta ou indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado com o próprio fabricante.        § 1º O Conselho Monetário Nacional especificará em regulamento os casos de coligação e interdependência.         § 2º Somente farão jus ao tratamento previsto nesta Lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais operações em um departamento especializado com escrituração própria.         Art 3º Serão escriturados em conta especial do ativo imobilizado da arrendadora os bens destinados a arrendamento mercantil.         Art 4º A PESSOA JURÍDICA ARRENDADORA manterá registro individualizado que permita a verificação do fator determinante da receita e do tempo efetivo de arrendamento.         Art 5º Os contratos de arrendamento mercantil conterão as seguintes disposições: (REQUISITOS)        a) prazo do contrato;         b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um semestre;         c) opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário;         d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada esta cláusula.         Parágrafo único - Poderá o Conselho Monetário Nacional, nas operações que venha a definir, estabelecer que as contraprestações sejam estipuladas por períodos superiores aos previstos na alínea b deste artigo.         Art 6º O Conselho Monetário Nacional poderá estabelecer índices máximos para a soma das contraprestações, acrescida do preço para exercício da opção da compra nas operações de arrendamento mercantil.         § 1º Ficam sujeitas à regra deste artigo as prorrogações do arrendamento nele referido.         § 2º Os índices de que trata este artigo serão fixados: considerando o custo do arrendamento em relação ao do funcionamento da compra e venda.

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        Art 7º Todas as operações de arrendamento mercantil subordinam-se ao controle e fiscalização do Banco Central do Brasil, segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, a elas se aplicando, no que couber, as disposições da Lei número 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e legislação posterior relativa ao Sistema Financeiro Nacional.         Art 8º O Conselho Monetário Nacional poderá baixar resolução disciplinando as condições segundo as quais as instituições financeiras poderão financiar suas coligadas ou interdependentes, que se especializarem em operações de arrendamento mercantil.        Art. 9º - As operações de arrendamento mercantil contratadas com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a ele vinculadas, mediante quaisquer das relações previstas no art. 2º desta Lei, poderão também ser realizadas por instituições financeiras expressamente autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional, que estabelecerá as condições para a realização das operações previstas neste artigo.         Parágrafo único - Nos casos deste artigo, o prejuízo decorrente da venda do bem não será dedutível na determinação do lucro real.         Art 10. Somente poderão ser objeto de arrendamento mercantil os bens de produção estrangeira que forem enumerados pelo Conselho Monetário Nacional, que poderá, também, estabelecer condições para seu arrendamento a empresas cujo controle acionário pertencer a pessoas residentes no exterior.         Art 11. Serão consideradas como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatária as contraprestações pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento mercantil.         § 1º A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei, será considerada operação de compra e venda a prestação.         § 2º O preço de compra e venda, no caso do parágrafo anterior, será o total das contraprestações pagas durante a vigência do arrendamento, acrescido da parcela paga a título de preço de aquisição.         § 3º Na hipótese prevista no parágrafo primeiro deste artigo, as importâncias já deduzidas, como custo ou despesa operacional pela adquirente, acrescerão ao lucro tributável pelo imposto de renda, no exercício correspondente à respectiva dedução.         § 4º O imposto não recolhido na hipótese do parágrafo anterior, será devido com acréscimo de juros e correção monetária, multa e demais penalidades legais.         Art 12. Serão admitidas como custos das pessoas jurídicas arrendadoras as cotas de depreciação do preço de aquisição de bem arrendado, calculadas de acordo com a vida útil do bem.         § 1º Entende-se por vida útil do bem o prazo durante o qual se possa esperar a sua efetiva utilização econômica.         § 2º A Secretaria da Receita Federal publicará periodicamente o prazo de vida útil admissível, em condições normais, para cada espécie de bem.         § 3º Enquanto não forem publicados os prazos de vida útil de que trata o parágrafo anterior, a sua determinação se fará segundo as normas previstas pela legislação do imposto de renda para fixação da taxa de depreciação.         Art 13. Nos casos de operações de vendas de bens que tenham sido objeto de arrendamento mercantil, o saldo não depreciado será admitido como custo para efeito de apuração do lucro tributável pelo imposto de renda.

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        Art 14. Não será dedutível, para fins de apuração do lucro tributável pelo imposto de renda, a diferença a menor entre o valor contábil residual do bem arrendado e o seu preço de venda, quando do exercício da opção de compra.        Art 15. Exercida a opção de compra pelo arrendatário, o bem integrará o ativo fixo do adquirente pelo seu custo de aquisição.         Parágrafo único. Entende-se como custo de aquisição para os fins deste artigo, o preço pago pelo arrendatário ao arrendador pelo exercício da opção de compra.        Art. 16 - Os contratos de arrendamento mercantil celebrado com entidades domiciliadas no exterior serão submetidos a registro no Banco Central do Brasil.         1º - O Conselho Monetário Nacional estabelecerá as normas para a concessão do registro a que se refere este artigo, observando as seguintes condições:         a) razoabilidade da contraprestação e de sua composição;         b) critérios para fixação do prazo de vida útil do bem;         c) compatibilidade do prazo de arrendamento do bem com a sua vida útil;         d) relação entre o preço internacional do bem o custo total do arrendamento;         e) cláusula de opção de compra ou renovação do contrato;         f) outras cautelas ditadas pela política econômico-financeira nacional.         2º - Mediante prévia autorização do Banco Central do Brasil, segundo normas para este fim expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, os bens objeto das operações de que trata este artigo poderão ser arrendados a sociedades arrendadoras domiciliadas no País, para o fim de subarrendamento.         3º - Estender-se-ão ao subarrendamento as normas aplicáveis aos contratos de arrendamento mercantil celebrados com entidades domiciliadas no exterior.         4º - No subarrendamento poderá haver vínculo de coligação ou de interdependência entre a entidade domiciliada no exterior e a sociedade arrendatária subarrendadora, domiciliada no País.         5º - Mediante as condições que estabelecer, o Conselho Monetário Nacional poderá autorizar o registro de contratos sem cláusula de opção de compra bem como fixar prazos mínimos para as operações previstas neste artigo.        Art. 17 - A entrada no território nacional dos bens objeto de arrendamento mercantil, contratado com entidades arrendadoras domiciliadas no exterior, não se confunde com o regime de admissão temporária de que trata o Decreto-lei nº 37, de 18 de novembro de 1966, e se sujeitará a todas as normas legais que regem a importação.        Art 18. A base de cálculo, para efeito do imposto sobre Produtos Industrializados, do fato gerador que acorrer por ocasião da remessa de bens importados ao estabelecimento da empresa arrendatária, corresponderá ao preço atacado desse bem na praça em que a empresa arrendadora estiver domiciliada.        § 2º Nas hipóteses em que o preço dos bens importados para o fim de arrendamento for igual ou superior ao que seria pago pelo arrendatário se os importasse diretamente, a base de cálculo mencionado no caput deste artigo

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será o valor que servir de base para o recolhimento do Imposto Sobre Produtos Industrializados, por ocasião do desembaraço alfandegário desses bens.         Art 19. Fica equiparada à exportação a compra e venda de bens no mercado interno, para o fim específico de arrendamento pelo comprador a arrendatário domiciliado no exterior.         Art 20. São assegurados ao vendedor dos bens de que trata o artigo anterior todos os benefícios fiscais concedidos por lei para incentivo a exportação, observadas as condições de qualidade da pessoa do vendedor e outras exigidas para os casos de exportação direta ou indireta.         § 1º Os benefícios fiscais de que trata este artigo serão concedidos sobre o equivalente em moeda nacional de garantia irrevogável do pagamento das contraprestações do arrendamento contratado, limitada a base de cálculo ao preço da compra e venda.         § 2º Para os fins do parágrafo anterior, a equivalência em moeda nacional será determinada pela maior taxa de câmbio do dia da utilização dos benefícios fiscais.         Art 21. O Ministro da Fazenda poderá estender aos arrendatários de máquinas, aparelhos e equipamentos de produção nacional, objeto de arrendamento mercantil, os benefícios de que trata o Decreto-lei nº 1.136, de 7 de dezembro de 1970.         Art 22. As pessoas jurídicas que estiverem operando com arrendamento de bens, e que se ajustarem as disposições desta lei dentro de 180 (cento e oitenta) dias, a contar da sua vigência, terão as suas operações regidas por este diploma legal, desde que ajustem convenientemente os seus contratos, mediante instrumentos de aditamento.         Art 23. Fica o Conselho Monetário Nacional autorizado a:         a) expedir normas que visem a estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento neIa previsto e limitar ou proibir sua prática por determinadas categorias de pessoas físicas ou jurídicas;         b) enumerar restritivamente os bens que não poderão ser objeto de arrendamento mercantil, tendo em vista a política econômica-financeira do País.         Art. 24 - A cessão do contrato de arrendamento mercantil a entidade domiciliada no exterior reger-se-á pelo disposto nesta Lei e dependerá de prévia autorização do Banco Central do Brasil, conforme normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional.         Parágrafo único - Observado o disposto neste artigo, poderão ser transferidos, exclusiva e independentemente da cessão do contrato, os direitos de crédito relativos às contraprestações devidas.        Art 25. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

No Brasil, as empresas de arrendamento mercantil são controladas e fiscalizadas pelo Banco Central (Lei 6.099/74).

Tipos de leasing, funcionamento, bens:Leasing, também conhecido por arrendamento mercantil, é

o contrato segundo o qual uma pessoa jurídica arrenda a uma pessoa física ou jurídica, por tempo determinado, um bem

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comprado pela primeira de acordo com as indicações da segunda, cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem arrendado findo o contrato, mediante um preço residual previamente fixado.

Verificam-se, assim, no contrato de arrendamento mercantil ou leasing as seguintes ocorrências: a) o arrendatário indica à arrendadora um bem que deverá ser por essa adquirido; b) uma vez adquirido o bem, a sua proprietária arrenda-o à pessoa que pediu a aquisição; c) findo o prazo do arrendamento, o arrendatário tem a opção de adquirir o bem, por um preço menor do que o de sua aquisição primitiva. Caso não deseje comprar o bem, o arrendatário poderá devolvê-lo ao arrendador ou prorrogar o contrato, mediante o pagamento de alugueres muito menores do que o do primeiro arrendamento.

O arrendamento mercantil ou leasing aparece, assim, como uma modalidade de financiamento ao arrendatário, facilitando-lhe o uso e gozo de um bem de sua necessidade sem ter esse de desembolsar inicialmente o valor desse bem, e com a opção de, findo o prazo estipulado para a vigência do contrato, tornar-se o mesmo proprietário do bem, pagando nessa ocasião um preço calcado no valor residual do mesmo.

MODALIDADES: Duas (DUAS ESPÉCIES E QUATRO SUBESPÉCIES) são as modalidades pelas quais podem ser praticadas as operações de leasing. O chamado leasing financeiro, ou leasing puro, e o lease-back, que poderia ser chamado de leasing de retorno.

a) Leasing financeiro ou leasing puro ou bancário – é aquele em que uma empresa se dedica habitual e profissionalmente a adquirir bens produzidos por outros para arrenda-los, mediante uma retribuição estabelecida, a uma empresa que deles necessite.

A empresa arrendadora não é produtora ou proprietária primitiva do bem que vai ser arrendado. Esse bem é escolhido e indicado pela arrendatária, que tanto entra em contato com o vendedor, podendo, inclusive, discutir o preço. Assim acontecendo, é feita a indicação do bem à empresa de leasing, que o adquire e em seguida arrenda ao cliente que o indicou.

Neste tipo de leasing (financeiro), feito o arrendamento por tempo determinado, expressamente ficará facultada, no contrato, que, findo este, o arrendatário tem uma opção, irrevogável, de compra do bem. O valor dessa compra é, em regra, fixado no contrato, podendo, entretanto, este apenas dispor sobre o modo de ser encontrado o valor do bem no momento da opção.

Tem-se em consideração, sobretudo, o tempo em que o bem pode ser útil ao arrendatário, ou seja, o prazo de sua

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utilização. Há bens que, em pouco tempo, se tornam obsoletos, pelo aparecimento de outros mais modernos, do mesmo gênero, ou pelo desgaste natural dos mesmos. Esse risco da obsolescência do bem tem muita importância no contrato do leasing, já que, uma vez formado esse, se torna o seu cumprimento obrigatório durante a vigência do contrato.

Outra característica do leasing é a obrigatoriedade do contrato no período determinado para a vigência do mesmo. Assim, todas as prestações pactuadas serão devidas, ainda mesmo que o arrendatário queira dar fim ao contrato, devolvendo o bem à arrendadora antes de terminado o prazo contratual. Em virtude desse princípio, os contratos de leasing devem ser estudados em profundidade pelos arrendatários, pois ao firmá-los, recebendo o bem arrendado, ficam com a obrigação de pagar, do modo convencionado, todas as prestações pactuadas.

No leasing puro há uma operação de financiamento por parte da empresa arrendadora, e por tal razão é que, em regra, as entidades que o praticam ficam sujeitas às normas das operações bancárias.

Em regra, quando se trata de contratos de bens móveis – máquinas etc. -, esses contratos são celebrados por um prazo médio, tomando-se em consideração o período de utilização vantajosa do bem. No leasing imobiliário, entretanto, os prazos podem ser longos, indo até 20 anos, pois geralmente a depreciação do imóvel é bem menor do que a do objeto móvel.

b) lease-back ou leasing de retorno – afora o leasing financeiro, que é a verdadeira operação de leasing, uma outra modalidade existe, chamada de lease-back, que podemos traduzir por arrendamento de retorno.

Nessa modalidade de leasing, o procedimento é mais complexo. Verifica-se ela quando uma empresa é proprietária de um bem, móvel ou imóvel, e o vende a uma outra empresa. Esta, adquirindo-o, imediatamente o arrenda à vendedora. Vê-se, assim, que no lease-back há apenas duas empresas que se envolvem na operação, já que a vendedora e, posteriormente, arrendatária já é possuidora do bem que vai servir de arrendamento; não há, dessa forma, a aquisição a um terceiro do bem dado em arrendamento.

Como acontece com o leasing financeiro, no lease-back o arrendatário, findo o prazo do contrato, tem direito de opção para a reaquisição do bem, pelo seu valor residual.

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Leasing operacional. “Renting” – alguns autores incluem entre as operações de leasing o chamado leasing operacional.

Por leasing operacional entende-se aquele em que uma empresa, proprietária de certos bens, os dá em arrendamento à pessoa, mediante o pagamento de prestações determinadas, incumbindo-se, entretanto, o proprietário dos bens a prestar assistência ao arrendatário durante o período do arrendamento. O que distingue essencialmente o leasing operacional do leasing financeiro é o fato de que, enquanto neste há sempre a cláusula da obrigatoriedade do contrato por todo o período do arrendamento, no leasing operacional o contrato pode ser rescindido a qualquer momento pelo arrendatário, desde que haja um aviso prévio.

No leasing operacional o proprietário do bem pode, havendo cláusula contratual, adquirir o mesmo no fim da locação.

No leasing operacional a propriedade do bem continua com a arrendadora, de modo que essa responde pelos riscos da coisa. Esse contrato é feito, em regra, para a utilização de bens móveis: vagões, automóveis, etc.

No Brasil, as empresas de arrendamento mercantil são controladas e fiscalizadas pelo Banco Central (Lei 6.099/74).

Partes contratantes – No contrato de arrendamento mercantil as partes contratantes são o arrendatário e o arrendador. Aparece, contudo, uma terceira pessoa, o vendedor do bem. Muito embora essa pessoa possa entrar em relações com o arrendatário, nas gestões preliminares para a feitura do contrato quando este escolhe a coisa e muitas vezes acerta o preço, na realidade a relação jurídica do vendedor se dá apenas com o arrendador.

O arrendamento mercantil extingue-se, normalmente, pelo decurso do prazo para o qual foi ajustado.

A vontade unilateral de uma das partes não pode extingui-lo, a não ser que haja ressarcimento das perdas sofridas pela parte prejudicada.

VANTAGENS DO LEASING

1. Financiamento total do equipamento ou imóvel;2. Liberação de capital de giro;3. Utilização de equipamentos com tecnologia atualizada;4. Prazo da operação compatível com a amortização econômica

do bem;5. Encargos prefixados e totalmente quantificáveis;6. Conservação de linhas de crédito;

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- como não é caracterizado como empréstimo, não é incluído no exigível da empresa como uma de suas obrigações.

7. Flexibilidade – pode amoldar-se às necessidades específicas de cada cliente;

8. Dupla economia de imposto de renda – as despesas de leasing são itens totalmente dedutíveis no lucro tributável.

9. Custo menor do que a compra;10. Não pagamento de IOF. Paga-se somente o ISS –

Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza.

Leasing (tipos, funcionamento, bens);

Leasing, também conhecido por arrendamento mercantil, é o contrato segundo o qual uma pessoa jurídica arrenda a uma pessoa física ou jurídica, por tempo determinado, um bem comprado pela primeira de acordo com as indicações da segunda, cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem arrendado findo o contrato, mediante um preço residual previamente fixado.

Verificam-se, assim, no contrato de arrendamento mercantil ou leasing as seguintes ocorrências: a) o arrendatário indica à arrendadora um bem que deverá ser por essa adquirido; b) uma vez adquirido o bem, a sua proprietária arrenda-o à pessoa que pediu a aquisição; c) findo o prazo do arrendamento, o arrendatário tem a opção de adquirir o bem, por um preço menor do que o de sua aquisição primitiva. Caso não deseje comprar o bem, o arrendatário poderá devolvê-lo ao arrendador ou prorrogar o contrato, mediante o pagamento de alugueres muito menores do que o do primeiro arrendamento.

O arrendamento mercantil ou leasing aparece, assim, como uma modalidade de financiamento ao arrendatário, facilitando-lhe o uso e gozo de um bem de sua necessidade sem ter esse de desembolsar inicialmente o valor desse bem, e com a opção de, findo o prazo estipulado para a vigência do contrato, tornar-se o mesmo proprietário do bem, pagando nessa ocasião um preço calcado no valor residual do mesmo.

MODALIDADES: Duas são as modalidades pelas quais podem ser praticadas as operações de leasing. O chamado leasing financeiro, ou leasing puro, e o lease-back, que poderia ser chamado de leasing de retorno.

No Brasil, as empresas de arrendamento mercantil são controladas e fiscalizadas pelo Banco Central (Lei 6.099/74).

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“Leasing” – é importante saber que O prazo mínimo de arrendamento é de dois anos para bens com vida útil de até cinco anos e de três anos para os demais, por exemplo: veículos, o prazo mínimo é de 24 meses e outros equipamentos e imóveis, o prazo mínimo é de 36 meses (bens com vida útil superior a cinco anos). Existe modalidade de operação em que o prazo mínimo é de 90 dias no LEASING OPERACIONAL.

O contrato de leasing tem prazo mínimo definido pelo BACEN. Em face disso, não é possível a “quitação” da operação antes desse prazo. O direito à opção pela compra do bem só é adquirido ao final do prazo de arrendamento. Por isso, não é aplicável ao contrato de arrendamento mercantil a faculdade de o cliente quitar e adquirir o bem antecipadamente. No entanto, é admitida, desde que esteja previsto no contrato, a transferência dos direitos e obrigações a terceiros, mediante acordo com a empresa arrendadora.

FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO

- Aspectos Gerais: A nova lei de recuperação de empresas nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, vem a regular a recuperação extrajudicial, judicial e a falência nos trazendo algumas mudanças importantes na atual legislação falimentar, conforme vemos de forma geral:

            1) Mudanças de termos e suas implicações. A anterior lei de falências e concordatas foi revogada pela Lei nº 11.101/2005, "Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência de devedores pessoas físicas e jurídicas que exerçam atividade econômica regida pelas leis comerciais, e dá outras providências". Seria melhor que o texto começasse falando da recuperação extrajudicial, da recuperação judicial e da falência nessa ordem, pois o primeiro caminho para se tentar solucionar as dificuldades econômicas e financeiras do devedor seria a recuperação extrajudicial e não a recuperação judicial.

            2) A nova lei visa principalmente à recuperação da média e grande empresa, sendo a recuperação das empresas de pequeno porte e microempresas vista de forma secundária. A nova lei de recuperação de empresas e falência está mais preocupada com a recuperação das médias e grandes empresas, criando para essas um procedimento ordinário e submetendo as empresas de pequeno porte e microempresas a um procedimento especial, semelhante a atual concordata preventiva, dilatando o máximo do prazo atual de pagamento dos credores quirografários de 24 para 36 meses, podendo ser prorrogado por mais um ano.

            3) Desaparecem as concordatas preventiva, suspensiva e a continuidade dos negócios do falido. As concordatas preventiva e suspensiva e a continuidade dos negócios do falido após a declaração da falência que eram mecanismos de recuperação

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judicial da empresa, passam a dar lugar a um único processo, chamado de recuperação judicial que ocorre sempre antes da falência.

            4) Nasce a recuperação extrajudicial. A recuperação extrajudicial é uma tentativa do devedor resolver seus problemas com os credores sem que haja grande necessidade da intervenção judicial.

            Na prática o processo de recuperação extrajudicial representa a primeira tentativa de solução amigável das dívidas do empresário e surgirão muitos escritórios se auto-intitulando especialistas nesse tipo de negociação, devendo os devedores estarem atentos.

            5) Da recuperação judicial. Não sendo possível a recuperação extrajudicial o próximo passo será a busca da recuperação judicial. Neste caso ocorrerá uma maior intervenção judicial e o devedor deverá apresentar um plano de recuperação judicial e irá negociá-lo com os credores reunidos em assembléia. O devedor deverá ser um bom negociante. Os credores poderão rejeitar o plano de recuperação, propondo ou não alterações. No primeiro caso o devedor se submete a aceitá-las, pois, caso contrário poderá ser declarada sua falência se as modificações não forem abusivas, como ocorre, de forma geral, no segundo caso, ou seja, o destino da empresa passa para as mãos dos credores e não fica unicamente nas mãos do devedor, como ocorre atualmente com a concordata, onde o devedor seguindo o que está estabelecido na lei se propõe a pagar seus credores à vista, em 6, 12,18 e 24 meses. Não existe mais um prazo limitado para os pagamentos. Assim, pode ser apresentado um plano propondo o pagamento da dívida em 10 anos.

            6) A falência. A falência poderá ser pedida pelo próprio devedor, pelo credor ou ela decorrerá da decisão que julgue improcedente o pedido de recuperação judicial; pela não aprovação do plano de recuperação judicial e ainda da conversão de um processo de recuperação judicial em falência quando uma obrigação essencial do empresário for descumprida, como por exemplo, pela não apresentação do plano de recuperação judicial. Para o pedido de falência será necessário, no mínimo, crédito equivalente a 40 salários mínimos.

            7) A cessão da empresa. Nasce o instituto da cessão da empresa após a falência. Dessa forma, o legislador procura preservar a empresa, ou seja, toda a atividade organizada do empresário para que ela possa ter continuidade após a falência. Não é a pessoa jurídica que é cedida e sim a empresa, por isso que a sucessão trabalhista e a sucessão tributária irão desaparecer permitindo que uma pessoa possa comprar uma empresa, sem comprar o passivo da pessoa jurídica. Assim, muitos negócios surgirão para investidores que querem comprar empresas falidas sem adquirir o passivo. É importante que a atividade seja mantida; caso contrário, se a empresa for comprada somente para ser extinta, a lei não estará sendo respeitada, tendo em vista que a finalidade na nova lei é a de manter a atividade organizada em funcionamento.

            8) Pessoas submetidas à futura lei: estão sujeitos à recuperação extrajudicial, judicial e à falência o empresário. Os termos utilizados no projeto "empresário" e "sociedade empresária" não parecem ser os mais corretos, pois o empresário pode exercer a atividade individualmente ou sob a forma de sociedade, ou seja, quando se fala em empresário se engloba a figura do empresário individual e da sociedade

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empresária, tornando-se esse segundo termo "sociedade empresária" repetitivo. A grande novidade é que a nova legislação passa a ser aplicada às companhias aéreas.

            9) Pessoas não submetidas à nova lei de recuperação de empresas e falências. Não estão sujeitos à nova lei de recuperação de empresas e falências a empresa pública e a sociedade de economia mista, instituição pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores e o profissional liberal e à sua sociedade de trabalho.

            10) Ministério Público. O Ministério Público passa a ter um papel mais importante na atual lei, porque não intervém somente após a declaração da falência, mas também antes, quando constatado indício de crime, infração à lei ou ameaça de interesse público. Como o conceito de interesse público é muito amplo, isso significa dizer que o MP terá um papel muito ativo. O Ministério Público passa a intervir em toda ação proposta pela massa falida ou contra esta.

            11) Da suspensão das ações e execuções contra o devedor. As ações e execuções contra o devedor não são suspensas no caso de pedido de recuperação extrajudicial. Somente são suspensas, de forma geral, por ocasião do deferimento do processamento da recuperação judicial e da decretação da falência. As execuções de natureza fiscal e a cobrança dos adiantamentos de contrato de câmbio não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial. No procedimento especial, as ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano não são suspensas.

            O credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, não terá seu crédito submetido aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva; não se permitindo, contudo, durante o prazo de 180 dias, a venda ou retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial, ou seja, a suspensão para esses últimos credores somente ocorre pelo prazo de 180 dias, chamado período de observação, nada impedindo que o bem possa ser apreendido pelo credor fiduciário após essa fase.

            Também não estão suspensas as ações relativas a créditos decorrentes de financiamento de valores a receber, garantidos por penhor sobre direitos creditórios, por títulos de crédito, valores mobiliários e aplicações financeiras.

            12) Obrigação de informação. As ações de natureza trabalhista, na falência, terão prosseguimento com o administrador judicial que deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo. Atualmente, a legislação falimentar não estabelece que o devedor publique seu estado de dificuldade formalmente, isto ocorrerá com a nova lei para que supostamente facilite seu crédito. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS ) serão intimados pessoalmente para que acompanhem o processamento do pedido de recuperação

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judicial. Os sócios ilimitadamente responsáveis também serão considerados falidos e por isso deverão ser citados para apresentar contestação.

            13) Direito de prioridade de recebimento dos créditos no processo de recuperação extrajudicial. No processo de recuperação extrajudicial não existe nenhuma ordem legal para o recebimento dos créditos. O pagamento deverá ser feito conforme ficar acordado entre o devedor e seu(s) credor(es) sujeito(s) ao processo.

            14) A exclusão de créditos do processo de recuperação extrajudicial. Não estão obrigados a participar do processo de recuperação extrajudicial os créditos derivados da legislação do trabalho, acidentes de trabalho e de natureza tributária, o crédito decorrente de adiantamento de contrato de câmbio (ACC) destinado à exportação, o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, não terão seus créditos submetidos aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão das ações e execuções, a venda ou retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

            15) Direito de prioridade de recebimento dos créditos no processo de recuperação judicial. Havendo débitos de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial esses devem ser pagos no prazo de 30 (trinta) dias até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador. O saldo deverá ser pago no prazo de 1 (um) ano juntamente como o crédito decorrente de acidentes de trabalho. De forma geral os demais créditos serão pagos conforme estiver previsto no plano de recuperação judicial. O crédito tributário está excluído podendo ser cobrado fora do plano, sendo que legislação específica deverá estabelecer o parcelamento.

            16) A exclusão de créditos do processo de recuperação judicial. Estão excluídos do processo de recuperação judicial o crédito tributário, os decorrentes de adiantamento de contrato de câmbio destinado a exportação e o do titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, não terão seus créditos submetidos aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva.

            17) O período de observação. O período de observação constitui-se num lapso temporal de 180 dias concedido pelo legislador para que seja analisada a viabilidade da continuidade dos negócios do empresário e durante essa fase o credor não pode vender ou retirar do estabelecimento do devedor bens de capital essenciais a sua atividade empresarial porque poderia dificultar ainda mais a suas ruins situações econômico e financeira. Aqui também estão incluídos bens móveis e imóveis não precisando estar necessariamente dentro do estabelecimento do devedor, como por exemplo, um veículo utilizado para transporte de mercadorias.

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            18) Direito de prioridade de recebimento de crédito no processo de falência . 1º.- Terão prioridade de recebimento os créditos extraconcursais. 2º.- Em segundo lugar vêm o crédito derivado da legislação do trabalho, limitado a 150 salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidente de trabalho. 3º.- Em terceiro lugar o crédito com garantia real, limitado até o valor do bem gravado. 4º.- Em quarto lugar o crédito tributário, independentemente de sua natureza e tempo de constituição, exceto as multas tributárias. 5º.- Em quinto lugar o crédito com privilégio especial. 6º.- Em sexto lugar o crédito com privilégio geral. 7º.- Em sétimo lugar o crédito quirografário, incluídos como novidades: o saldo dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento, como ocorre com o crédito com garantia real; os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite de 150 salários-mínimos; as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias e os créditos trabalhistas cedidos a terceiros. 8º.- Por último, o crédito subordinado.

            19) A exclusão de créditos na falência. Os pedidos de restituição são feitos de forma paralela ao recebimento dos créditos acima mencionados e não concorrem com esses, assim por exemplo, o adiantamento de contrato de câmbio é devolvido ao credor sem que ele concorra com os créditos concursais.

            20) Mudança dos órgãos. Institui-se a Assembléia Geral de Credores, responsável por decidir entre outros, sobre a continuidade dos negócios do falido na recuperação judicial e na falência; pela melhor forma de buscar a satisfação de seus créditos. Ela é formada por credores titulares de créditos decorrentes da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho, titulares de créditos com garantia real e titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.

            Desaparece o termo "comissário" utilizado no processo de concordata e o termo "síndico" no processo de falência; que são substituídos pelo administrador judicial, nomeado com a abertura do processo de recuperação judicial e falência e do gestor judicial, quando o administrador for afastado dos negócios durante o processo de recuperação judicial.

            Cria-se o Comitê de Credores, responsável, entre outras, pela fiscalização da gestão do devedor. Ele é formado por um representante indicado pelos credores trabalhistas; um representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais e um representante da classe de credores quirografários e com privilégios gerais. Cada classe conta com dois suplentes.

            21) Finalidade da recuperação judicial. A recuperação judicial do devedor visa a continuidade dos negócios das empresas viáveis, a manutenção de empregos e o pagamento dos credores. Enquanto que a legislação atual se preocupa somente com aspectos formais para declarar a falência da empresa, a futura lei não é tão formalista como a atual porque ela se preocupa com a função social da empresa dentro do seu meio de atuação.

            22) Da abertura do processo de recuperação judicial. Atualmente o devedor apresenta ao juízo uma proposta de pagamento que será feita a seus credores seguindo as condições estabelecidas na lei para realização de pagamentos. Uma vez preenchidos

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os requisitos estabelecidos na legislação, o julgador, sem ouvir ninguém, determina a abertura do processo de concordata.

            O legislador exige como requisito para a recuperação judicial que o empresário não tenha sido condenado por qualquer crime previsto nesta lei (art. 48, IV) e de forma errada estabelece no artigo 64, I, que o empresário não será mantido na condução da atividade empresarial se houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em recuperação judicial, ou seja, se ele foi condenado (art. 64, I) ele não poderia nem ter obtido o processamento da recuperação judicial (art. 48, IV).

            23) Da apresentação do plano de recuperação judicial. Com a nova lei, o devedor apresenta seu pedido e tem até 60 dias para apresentar um plano detalhado de recuperação dizendo de que forma o empresário vai se recuperar e pagar seus credores. O processo de recuperação judicial é aberto por uma fase preparatória e conservatória que permite uma análise profunda da situação econômico, financeira, patrimonial e social da empresa para ver se é possível sua recuperação.

            No plano, sendo necessário, o devedor mencionará se haverá cisão, incorporação, fusão ou cessão de quotas ou ações da sociedade, substituição total ou parcial dos administradores, aumento do capital social..., ou seja, de que forma ele pretende se recuperar, devendo comprovar a seus credores.

            24) Da possibilidade de ser requerida recuperação judicial com débito tributário. O projeto aprovado no Senado exigia a apresentação de certidões negativas de débito tributários para a recuperação judicial. Essa exigência deixa de ser exigida com o projeto aprovado na Câmara dos Deputados, submetendo o débito tributário a parcelamento conforme projeto que tramitará no Congresso Nacional.

            25) Do deferimento da recuperação judicial. Uma vez processada a recuperação judicial com a aprovação do plano de recuperação, o empresário permanecerá sob observação judicial, em princípio, somente por dois anos. Após este período, o processo é retirado da justiça. O plano pode ser revisto se houverem modificações substancias na situação econômico-financeira do devedor.

            26) Do descumprimento das obrigações do devedor em recuperação judicial. Atualmente o devedor que deixa de cumprir com suas obrigações pecuniárias no processo de concordata tem, em situações normais, sua falência declarada. Com a nova lei não somente pelo descumprimento de obrigações pecuniárias, mas também pelo descumprimento de outras obrigações essenciais ele terá declarada sua falência, como por exemplo, da não realização de uma fusão que era considerada essencial para a recuperação da empresa pelos credores ao aprovarem o plano de recuperação judicial.

            28) Da nulidade dos atos praticados pelo devedor que prejudicam os credores. A futura lei aumenta o prazo que era de 60 para 90 dias do período suspeito, tornando inoponível perante a massa liquidanda certos atos praticados pelo devedor que venham a prejudicar os credores, como a constituição de garantia real ou alienação de bem do ativo imobilizado. Este é o efeito real do processo coletivo, fazendo com que o patrimônio global do devedor sirva como garantia para pagamento dos credores.

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            29) Da responsabilidade penal. A nova lei é mais rigorosa no aspecto penal tipificando novos crimes e aumentando as penas, dando ensejo a prisão preventiva do devedor e ou de seus representantes.

            30) Da venda dos bens do devedor falido. Com a futura lei, os bens arrecadados do devedor serão vendidos de forma mais rápida para pagar os credores porque não é necessário esperar a formação do quadro geral de credores para ocorrer a venda.

            31) Da indisponibilidade de bens particulares dos réus. A responsabilidade solidária e ilimitada dos controladores e administradores da sociedade limitada, estabelecidas nas respectivas leis, bem como a dos sócios comanditários e do sócio oculto, previstas em lei, poderá ser engajada com a decretação da falência tornando seus bens indisponíveis.

            32) Do prazo para defesa. O prazo para defesa no processo de falência aumentou de 24 horas para 10 dias. Essa alteração não é muito significativa, pois no mínimo o prazo deveria ser de 15 dias devido a gravidade do processo falimentar. Dentro desse período a novidade é que o devedor poderá apresentar o plano de recuperação judicial para demonstrar que sua dificuldade é passageira e não é irreversível.

LEI N o 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005.

Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade

        Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.

        Art. 2o Esta Lei não se aplica a:

        I – empresa pública e sociedade de economia mista;

        II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA

        Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:

        I – as obrigações a título gratuito;

        II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.

        Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

        § 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos

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credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

Da Verificação e da Habilitação de Créditos

        Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo.     

DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

        Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

        Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:

        I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

        II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;

        III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

        IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

        Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.

        Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

        § 1o Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e     obrigados de regresso .

Do Plano de Recuperação Judicial

        Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, e deverá conter:

       Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.

        Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.

        Parágrafo único. O pedido de recuperação judicial com base em plano especial não acarreta a suspensão do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano.

DA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA

        Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:

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        I – por deliberação da assembléia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;

        II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei;

        III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do art. 56 desta Lei;

        IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei.

DA FALÊNCIA

        Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa.

        Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual.

        Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.

        Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta Lei.

               Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.

               Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.

        § 1o Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação de responsabilização prevista no caput deste artigo.

        § 2o O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível com o dano provocado, até o julgamento da ação de responsabilização.

Da Classificação dos Créditos

        Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

        I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

        II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

        III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;

        IV – créditos com privilégio especial, a saber:

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a) os previstos no art. 964 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

Art. 964. Têm privilégio especial:

I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação;

II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento;

III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis;

IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento;

V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita;

VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior;

VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição;

VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários.

        b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

        c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;

        V – créditos com privilégio geral, a saber:

a) os previstos no art. 965 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:

I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar;

II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa;

III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas;

IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte;

V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento;

VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior;

VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida;

VIII - os demais créditos de privilégio geral.

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        b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;

        c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

        VI – créditos quirografários, a saber:

        a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

        b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;

        c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

        VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

        VIII – créditos subordinados, a saber:

        a) os assim previstos em lei ou em contrato;

        b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

        § 4o Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.

        Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:

        I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência;

        II – quantias fornecidas à massa pelos credores;

        III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência;

        IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;

        V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

Do Procedimento para a Decretação da Falência

        Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

        I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

        II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

        III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:

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        a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

        b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

        c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;

        d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

        e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

        f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

        g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.

        § 1o Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo.

        § 2o Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam reclamar.

        § 3o Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9o desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica.

        § 4o Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução.

        § 5o Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas.

        Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial.

        Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar:

        I – falsidade de título;

        II – prescrição;

        III – nulidade de obrigação ou de título;

        IV – pagamento da dívida;

        V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título;

        VI – vício em protesto ou em seu instrumento;

        VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.

        § 1o Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.

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        Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:

        I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;

        II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

        III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;

        IV – qualquer credor.

        § 1o O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades.

        § 2o O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.

        Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.

        Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.

        Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença.

Da Inabilitação Empresarial, dos Direitos e Deveres do Falido

        Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações , respeitado o disposto no § 1o

do art. 181 desta Lei.

        Art. 116. A decretação da falência suspende:

        I – o exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial;

        II – o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida.

        Art. 120. O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios, cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar contas de sua gestão.

        § 1o O mandato conferido para representação judicial do devedor continua em vigor até que seja expressamente revogado pelo administrador judicial.

        § 2o Para o falido, cessa o mandato ou comissão que houver recebido antes da falência, salvo os que versem sobre matéria estranha à atividade empresarial.

        Art. 121. As contas correntes com o devedor consideram-se encerradas no momento de decretação da falência, verificando-se o respectivo saldo.

        Art. 158. Extingue as obrigações do falido:

        I – o pagamento de todos os créditos;

        II – o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinqüenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo;

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        III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;

        IV – o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei.

DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

        Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial.

        § 1o Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de créditos de natureza tributária, derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como àqueles previstos nos arts. 49, § 3o, e 86, inciso II do caput, desta Lei.

        § 2o O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem tratamento desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.

        Brasília, 9 de fevereiro de 2005. 

FINIS CORONAT OPUS(o fim coroa a obra)

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