Direito Processual Civil

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Curso completo para concurso de direito: processal civil.

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  • DIREITO PROCESSUAL CIVIL Intensivo II

    Profs. Fernando Gajardoni, Daniel Assumpo e Fredie Didier _______________________________________________________________________________________________________

    2010

    Todos os Direitos Reservados proibida a reproduo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos direitos do autor (Lei 9.610/908) crime estabelecido pelo art. 184 do Cdigo Penal. Contato: [email protected]

    AO RESCISRIA Bibliografia Introduo aos Recursos Cveis e Ao Rescisria Bernardo Pimentel Souza Saraiva. 1. PANORAMA DOS MEIOS DE CONTROLE DA COISA JULGADA 1.1. Rescisria A rescisria serve para rever a coisa julgada. Vamos tentar enquadrar a rescisria no painel dos meios de controle da coisa julgada. A rescisria o mais importante, o mais famoso meio de reviso, de controle da coisa julgada. o principal instrumento de controle da coisa julgada e se caracteriza, basicamente, pelo seguinte: a rescisria uma ao de competncia originria de tribunal. J uma coisa que voc tem que aprender. A rescisria sempre tribuna, sempre! Tem um prazo de dois anos para ser ajuizada. So caractersticas gerais, para vocs contextualizarem a coisa. E o mais importante, que vocs mais confundem, que a rescisria instrumento de controle da coisa julgada por questes formais e substanciais. Isso o mais importante: eu posso me valer da rescisria para rescindir uma coisa julgada por questes formais (porque a deciso invlida, nula, tem algum problema formal), ou porque ela injusta, por questes substanciais, de injustia. A nossa ao rescisria muito ampla. No uma ao que cabe s quando a deciso tiver algum defeito, algum problema formal de validade. A nossa rescisria cabe, tambm, em alguns casos, para rever decises injustas, equivocadas. E por que esse o ponto que vocs mais erram, mais se confundem? Vocs tem uma tendncia de achar que a rescisria se parece com ao anulatria, que a rescisria serve para anular sentenas, quando no isso. Rescisria no serve para anular sentena. Serve para rescindir sentena. E rescindir, aqui, desfazer por defeito ou por injustia. A vai depender. Eu digo isso direto pra minha mulher porque ela toda vez se confunde. Ela pensa que, porque tem nulidade cabe rescisria e s cabe rescisria porque tem nulidade. Isso uma confuso! As hipteses de rescisria so vrias, inmeras. Algumas relativas validade, outras relativas injustia. Isso para mim, o mais importante do ponto de vista panormico para que vocs aprendam a rescisria. 1.2. Querela Nullitatis E qual o segundo instrumento de reviso e controle da coisa julgada? instrumento bem famoso, a querela nullitatis. A querela tem como marco o fato de ser instrumento de reviso da coisa julgada sem prazo. No h um prazo determinado de exerccio e, a sim, ser um instrumento de controle da coisa julgada s por questo formal. A querela instrumento de reviso da coisa julgada, apenas por questo formal e uma s: questo formal relacionada falta ou nulidade de citao em

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    processo que correu revelia. Est previso no CPC, no art. 475-L, I e no art. 741, I. E ns j estudamos quando vimos os pressupostos processuais. E h outro erro terrvel que vocs cometem: vocs perguntam se cabe rescisria. Eu digo, no. E vocs, ah, ento cabe querela! No tem nada a ver! Querela no subsidiria da rescisria! A querela no para os casos em que no cabe rescisria. Querela um instrumento que cabe nas hipteses tpicas e so essas previstas no art. 475-L, I e no art. 741. Ento, ela no instrumento que cabe quando no couber rescisria. No assim. A querela um instrumento tpico. 1.3. Reviso de Sentenas fundadas em ato normativo tido pelo STF como inconstitucional Percebam que esse instrumento de reviso da coisa julgada um instrumento que no tem nome ainda. Eu vou apelid-lo para simplificar: a reviso de sentenas fundadas em ato normativo tido pelo Supremo como inconstitucional. A reviso das sentenas que se fundam em atos normativos tidos pelo Supremo como inconstitucionais se d por instrumento outro, que no nem a rescisria e nem a querela. um terceiro instrumento, com outro regramento. regramento separado. O legislador criou outro modelo de reviso da coisa julgada quando a sentena se funda em ato normativo tido pelo Supremo como inconstitucional. No tem prazo,a lei no prev prazo para isso e aqui caso de reviso da coisa julgada por questo substancial. Quer dizer, se rev a coisa julgada aqui por questo de justia. o contedo da deciso que se discute. Isso est previsto no CPC, no art. 475-L, 1 e art.741, nico. 1.4. Correo de Erros Materiais A correo de erros materiais a quarta forma de controle da coisa julgada que estudamos no semestre passado. Essa correo pode, inclusive, ser ex officio e a qualquer tempo, conforme vimos. A rescisria no o nico instrumento de reviso da coisa julgada. H outros, mas o mais amplo instrumento de reviso da coisa julgada, o mais famoso e o mais utilizado. Isso no tem dvida. , tradicionalmente, o meio tpico de reviso da coisa julgada. Por que? A um dado histrico para vocs entenderem. Nos primrdios os variados direitos iam prevendo vrias formas de reviso da coisa julgada. Se o juiz era suspeito, havia um instrumento para desfazer esse caso de coisa julgada, se a prova era falsa tinha um outro instrumento de reviso da coisa julgada. Iam sendo criados instrumentos de reviso da coisa julgada a partir dos problemas que justificassem essa reviso. A nossa ao rescisria reuniu todos esses problemas num instrumento s. Ela se transformou num instrumento nico. Para que no houvesse um instrumento para cada problema, a evoluo dos tempos no desenvolvimento do tema fez com que ns brasileiros crissemos essa ao rescisria. Essa ao rescisria brasileira. Ela nossa! Diferente de vrios outros modelos estrangeiros, nossa ao rescisria realmente ecltica. Serve para rever a coisa julgada pelas mais variadas razes.

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    2. CONCEITO DE AO RESCISRIA Ao rescisria uma ao autnoma de impugnao que tem por objetivo rescindir deciso judicial transitada em julgado e, se for o caso, e s se for o caso, dar ensejo a um novo julgamento da causa. Reparem bem: a rescisria pode servir a dois propsitos:

    O propsito da resciso da deciso. O propsito do rejulgamento da causa.

    Ento, costuma acontecer que na ao rescisria haja dois pedidos: um pedido de resciso cumulado com o pedido de rejulgamento da causa. Vocs dizem assim: Seu tribunal, eu quero rescindir a deciso transitada em julgado e, j que foi desfeita, rejulgue a causa. Vocs vero os casos que no se admite rejulgamento, casos em que s cabe resciso. Sempre cabe resciso. Sempre! Quase sempre cabe rejulgamento. Quando vocs forem se preparar para concurso que pea uma ao rescisria, lembre-se que o pedido de resciso vem antes. Primeiro se pede a resciso e depois o rejulgamento at porque o pedido de resciso preliminar ao de rejulgamento. Isso porque s pode haver o rejulgamento se houver resciso. Tanto que pode acontecer uma coisa curiosa. O autor da rescisria pode ganhar na resciso e quando for resultar, ele perde. O tribunal diz que rescinde e diz que vai rejulgar, s que rejulga do mesmo modo da deciso anterior. No tem nenhum problema isso. perfeitamente possvel. Ganha a resciso, desfaz-se o julgamento anterior e rejulga. E rejulga do mesmo modo que a deciso anterior. Ou piora, se for o caso. Reparem bem: no concurso o pedido de resciso e o pedido de rejulgamento aparecem com nomes pedantes que precisam ser anotados:

    Pedido de resciso Iuditio Rescindens - o juzo de resciso, de desfazimento. O tribunal, no iuditio rescindens negou o pedido da rescisria. O que quer dizer isso? Que o tribunal rejeitou o pedido de resciso. O iuditio rescindens o juzo de resciso.

    Rejulgamento Iuditio Rescissorium

    Isso no tem jeito. No adianta a gente lutar contra isso. Eu sei que isso d para confundir na hora da prova, mas temos que nos esforar: rescindens-resciso e rescissorium rejulgamento. E se o examinador estiver de sacanagem, ele ainda pode fazer uma perversidade, colocando:

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    Juzo rescindente Juzo de resciso.

    Juzo rescisrio Rejulgamento. Ento, j vimos o conceito de rescisria e, no conceito que dei, vejam que a rescisria uma ao autnoma de impugnao, ou seja, pela rescisria, d-se ensejo a um novo processo. Ela d origem a um novo processo para desconstituir a deciso. Rescisria no recurso! Por isso,e u fiz questo de colocar no conceito que ao autnoma de impugnao. A rescisria d origem a um novo processo para desconstituir a deciso transitada em julgado. Vamos agora ao ponto que vai nos levar at o final da aula. 3. PRESSUPOSTOS DA AO RESCISRIA 3.1. SER DECISO RESCINDVEL O primeiro pressuposto da ao rescisria a presena de uma ao rescindvel e que, de todos os assuntos de hoje o mais importante. Se no quiser estudar nada, s estude esse assunto, deciso rescindvel, que o mais importante e traz as decises aptas a serem rescindidas por ao rescisria. Quais so as aes que podem ser alvo de ao rescisria. A regra geral que deciso rescindvel a deciso de mrito transitada em julgado. Quando eu falo em deciso de mrito, bom deixar claro que pode ser:

    l Sentena l Acrdo l Deciso interlocutria

    Vocs j esto carecas de saber, e eu falei isso durante um semestre inteiro, que deciso interlocutria pode ser de mrito e pode ser definitiva, naquelas chamadas decises parciais, quando o juiz decide parte do mrito sem encerrar o processo. Se o juiz faz isso, ns temos uma deciso interlocutria de mrito e, se transitar em julgado, ser alvo de ao rescisria. E qual a peculiaridade concursal? que essas decises parciais de mrito, que estou dizendo que so interlocutrias (e muita gente diz isso), outros dizem que se trata de sentena parcial. Para muitos, as decises parciais de mrito, por no serem decises que extinguem o processo, so interlocutrias, mas para outras pessoas, por serem decises de mrito so sentenas. Ento, as decises parciais ou so interlocutrias ou so sentenas parciais. Eu j falei isso bem umas dez vezes de janeiro para c e estou falando de novo. De um jeito ou

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    de outro, sendo interlocutria de mrito ou sendo sentena parcial de mrito, quer dizer, pouco importa o nome que voc d, so rescindveis porque so decises de mrito. Por isso que num concurso que teve para o Paran h mais ou menos dois anos, uma das perguntas da prova aberta foi: rescisria de deciso interlocutria. A pergunta era: Cabe rescisria de deciso interlocutria? A pergunta era essa. Voc tinha que, exatamente, examinar esse problema das decises parciais de mrito que, para muitos, deciso interlocutria e, portanto, alvo de rescisria. Se as coisas parassem por a, seria uma maravilha. O problema que esse ponto contm 800 mil problemas. Como a viagem longa, vamos comear passo a passo e examinar as diversas polmicas em torno desse assunto. So inmeras. s vezes no nem polmico, mas merecem registro porque fogem da regra. a) No cabe rescisria de julgamento de ADI, ADC e ADPF So decises que, embora de mrito, no podero ser objeto de rescisria por expressa disposio legal. Quer dizer, o legislador opta pela permanncia da coisa julgada. b) Decises proferidas em Juizado Especial Estadual so inimpugnveis por ao rescisria. A lei do Juizado Estadual veda a ao rescisria das decises em juizado. O problema est nos Juizados Federais. E por qu? Entendam isso aqui, uma questo muito polmica e que no est pacificada ainda. A lei dos juizados federais no fala nada sobre o tema. No caso dos juizados estaduais tm vedao expressa. E, diante disso, qual seria, portanto, a interpretao mais natural? Ora, se a Lei dos Juizados Federais no fala nada e a Lei dos Juizados Especiais fala, ela se aplica por analogia, por expressa previso legal, aos Juizados Federais. Ento, como no silncio da Lei dos Juizados Federais, a prpria lei prev que se v buscar no sistema dos Juizados Estaduais a soluo, a primeira interpretao seria: No cabe rescisria tambm nos Juizados Federais. Essa a interpretao que eu acho a melhor e a mais correta, s que a questo muito complexa. Por qu? Olhe o que aconteceu na prtica: As causas dos Juizados Federais so causas que chegaram ao supremo, coisa que difcil acontecer com as causas dos Juizados Estaduais. E a o Supremo vai e julga um recurso extraordinrio do mbito dos Juizados Federais. E a o Supremo julgou essas aes e depois aceitou rescisria do seu julgado. H precedente do Supremo admitindo rescisria de um julgado dele proveniente dos Juizados Federais. E alguns tribunais federais passaram a admitir isso. Mas isso ainda muito polmico. Vejam como isso polmico: Existe um encontro anual dos coordenadores dos Juizados Federais. Eles se encontram todo ano para fazer um balano dos Juizados Federais. Esse encontro se chama FONAJEF (Frum Nacional dos Juizados Especiais Federais) e eu acho que convm vocs anotarem isso pelo seguinte: O FONAJEF tem um conjunto de enunciados interpretativos da Lei dos Juizados Federais. Eles editam um conjunto de

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    enunciados interpretando a Lei dos Juizados Federais. Enunciados que correspondem ao entendimento desse frum, que rene os coordenadores de juizados no Brasil todo. So quase 100 enunciados. Eu recomendo a leitura desses enunciados para quem vai fazer concurso federal. uma excelente fonte de estudo, porque ele traz jurisprudncia consolidada no mbito dos Juizados Federais. E o Enunciado 44 do FONAJEF diz que no cabe rescisria nos Juizados Federais, exatamente naquela interpretao que eu disse a vocs e que me parece a mais correta. Ento, no obstante haja deciso do Supremo admitindo e decises de alguns tribunais admitindo, o tema polmico, vejam que o Enunciado 44 do FONAJEF em sentido contrrio, e da a pergunta que no quer calar: Prova de marcar: eu, se tivesse fazendo concurso, no hesitaria seguir o enunciado 44. Acho que algo consagrado, reiterado, j vem desde os primeiros fruns. Eu marcaria isso, embora, v saber o que passa na cabea do examinador. c) Rescisria e jurisdio voluntria Aqui o problema antiqussimo e srio. A grande questo a seguinte: deciso em jurisdio voluntria faz coisa julgada? Jurisdio voluntria produz coisa julgada material? Se deciso em jurisdio voluntria produzir coisa julgada material caber rescisria. Se eu puder falar de coisa julgada material em jurisdio voluntria, caber rescisria. Se eu no puder falar isso, no caber rescisria. Essa a premissa. E como fica? tema ultrapolmico. A doutrina se divide. 1 Corrente: Uns no admitem coisa julgada em jurisdio voluntria e porque pensam assim, no admitem rescisria. Esse o pensamento tradicional e, eu diria, majoritrio. O pensamento tradicional esse: a jurisdio voluntria no produz coisa julgada e, portanto, a deciso no pode ser objeto de ao rescisria. 2 Corrente: Sucede que h uma tendncia revisionista na doutrina que tem fora. Quer dizer, as ltimas manifestaes doutrinrias vo no sentido de dizer que a jurisdio voluntria produz coisa julgada e, portanto, suas decises so rescindveis. O tema polmico. Numa prova de marcar, eu seguiria o entendimento de que no cabe rescisria, salvo se a redao da questo fosse um pouco mais complexa. O que isso? Se a redao fosse assim: no cabe rescisria de deciso proferida em jurisdio voluntria. Eu marcaria verdeira porque a viso tradicional da doutrina. Agora, se fosse assim: de acordo com o entendimento que vem se manifestando na doutrina, a juridio voluntria pode produzir coisa julgada e, portanto, suas decises podero ser objeto de ao rescisria. Vejam que um enunciado mais complexo, com a redao mais complexa, eu colocaria certo. Mesmo sendo um enunciado contrrio ao outro que eu disse que tambm certo. Isso em concurso acontece. Voc no sabe quem est fazendo a prova e no adianta depois querer recorrer. Quando a questo for polmica, voc tem que ficar atento para a forma como a questo colocada. Se vier de forma simples, singela, fique com o tradicional, com o majoritrio. Se a redao for um pouco mais complexa, v

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    nela porque o cara fazendo a prova querendo mostrar que ele segue outro entendimento. Isso psicologia concursal bsica, voc entrar na mente do examinador! Ele quer que voc faa uma carncia pedaggica nele. Mostre que ele conhece do assunto, que um cara atualizado. Ele gosta disso. d) Decises que podem ser impugnadas por querela nullitatis tambm podem ser impugnadas por rescisria? - Deciso alvo de querela nullitatis pode tambm ser alvo de rescisria? A dvida a seguinte: h uma fungibilidade entre rescisria e querela? Minha opinio: h. Deciso que querelvel rescindvel. Eu sigo esse entendimento doutrinrio. Sucede que h uns dois anos o STJ entendeu que no h essa possibilidade. Querelvel querelvel, rescindvel rescindvel. H uns dois ou trs anos atrs o STJ decidiu isso. Aquilo que querelvel no pode ser objeto de rescisria at mesmo por uma questo de competncia. As competncias so diferentes. Ento, embora haja na doutrina manifestao em sentido contrrio, certo que o STJ j decidiu isso (e meu posicionamento aqui no isolado. No sou s eu que digo isso). Esse no um assunto rotineiro. o tipo do tema esparso que acabou chegando ao STJ e como o STJ decidiu assim, acaba pesando um pouco mais, j que no se trata de um assunto que vai e vem com frequncia. e) Smula 514, do STF Outro problema diz respeito a uma smula do Supremo. Na verdade no bem um problema. Eu quero que vocs aprendam a ler uma smula do STF cuja redao equvoca e pode fazer com que voc se embanane todo na hora da prova. Falo da Smula 514.

    STF Smula n 514 -DJ de 12/12/1969 - Admite-se ao rescisria contra sentena transitada em julgado, ainda que contra ela no se tenham esgotado todos os recursos.

    Quando voc l essa smula voc pode, a depender de como a interprete, ficar estupefato. Ora, se ainda cabe recurso, como que transitou em julgado? S que no isso que ela quer dizer. O que ela quer dizer outra coisa: que cabe rescisria contra deciso que transitou em julgado, mesmo que tenha transitado em julgado no tendo voc se valido de nenhum recurso. Transitou em julgado porque voc simplesmente no recorreu. Saiu a sentena, voc no recorreu. Cabe rescisria? Cabe. Cabe rescisria pelo fato de ter transitado em julgado, pouco importa se o trnsito em julgado veio aps voc ter recorrido incessantemente ou veio porque voc simplesmente no recorreu. Ou seja, outra forma de explicar: o esgotamento dos recursos no pressuposto para a rescisria. Voc no precisa esgotar toda a possibilidade de impugnao recursal para poder entrar com a rescisria. Exemplo que aconteceu comigo: me veio um sujeito com um acrdo de um tribunal para eu poder recorrer, querendo que eu preparasse o recurso para ele. S que como era acrdo de tribunal, o recurso era um recurso extraordinrio. E a gente viu, h pouco tempo atrs, no dia 11 de julho, que os tribunais no permitem a reviso de prova. Ento, o recurso extraordinrio nunca ia ser admitido. O que eu sugeri a ele?

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    Eu disse: seu processo est todo embolado. No vamos recorrer e, no dia seguinte ao trnsito em julgado, a gente entra com a rescisria porque, na rescisria recomea de novo. A gente faz a petio inicial, recomea e pode rejulgar a causa. Vamos ressuscitar o processo. No vamos dar um remdio para prolongar a vida desse moribundo. Foi o que fizemos. No pressuposto algum para voc entrar com a rescisria o esgotamento recursal. O pressuposto que tenha havido trnsito em julgado. isso que quer dizer a smula 514 que, embora mal escrita, est correta. f) Cabe rescisria das decises proferidas em incidentes processuais? - Essa a pergunta. Por exemplo: incidente de exceo de suspeio, incidente de impedimento, conflito de competncia. A deciso sobre um conflito de competncia, sobre uma arguio de suspeio rescindvel? Tradicionalmente no cabe. Tem uma deciso do STJ no admitindo rescisria de conflito de competncia. No esse, porm, o pensamento de alguns outros autores que dizem que nos incidentes processuais h um mrito do incidente e se for resolvido, teoricamente poderia ser rescindido, uma vez preenchidos os pressupostos da rescisria. Vejam que no semestre passado, quando eu falei de arguio de suspeio, eu at disse que a deciso na suspeio vale para outros processos. Se o juiz for considerado suspeito para atuar num processo que eu fao parte, num outro processo de que eu faa parte com aquele mesmo juiz, ele j est suspeito. J h coisa julgada de que ele suspeito em relao aos processos que eu fao parte. Ora, se uma deciso de suspeio pode se aplicar a outros processos porque ela tem um efeito que o da coisa julgada, quer dizer, ela torna indiscutvel o que foi decidido. Por isso, me parece muito mais correta a idia de admitir rescisria de julgamentos dos incidentes processuais, obviamente, para decidir a deciso de mrito desses incidentes. Se o mrito desses incidentes tiver sido apreciado, essa deciso poderia ser rescindida. Agora, essa uma viso nova. No uma viso tradicional. Tradicionalmente, se vocs procurarem nos julgados do STJ, vero que no se admite, por exemplo, rescisria de conflito de competncia. g) Cabe rescisria de deciso que no conhece de um recurso? - Essa uma pergunta perversa. Se voc bater comigo na rua e me perguntar isso, eu vou dizer: no! No deciso de mrito, por isso no cabe. Isso o que todo mundo dizia: no cabe porque no deciso de mrito. O problema que o STJ tem vrias decises admitindo rescisria de decises que no conhecem do recurso. Ento, a jurisprudncia construiu essa ao rescisria (a verdade essa) e o fundamento o seguinte: permite-se rescisria de deciso que no conhece do recurso porque ela impede que voc discuta aquele tema de novo. Voc entrou com recurso, o tribunal no conheceu daquele recurso, isso impede a impede a discusso da deciso recorrida. Ento, essa deciso que impede a discusso da deciso recorrida poderia ser rescindida por rescisria. um argumento um pouco mirabolante, mas esse o argumento utilizado. Repito, h jurisprudncia farta admitindo rescisria de deciso que no conhece de recurso, embora isso parea absurdo e no possa ser extrado literalmente do Cdigo.

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    h) Cabe rescisria de apenas um ou alguns captulos da deciso? - Eu posso rescindir uma parte da deciso? Eu no quero rescindir toda a deciso. No estou a fim de destruir tudo. possvel? . Cabe rescisria de uma parte da deciso. E qual a importncia prtica e concursal disso? Reparem bem: imaginem vocs que a deciso tenha trs captulos, A, B e C. Eu s quero rescindir o captulo C. Por mim, captulos A e B devem permanecer ntegros, s que o captulo C diz respeito a Joo, enquanto que o B a Antnio e o captulo A a Jos. Ora, eu quero rescindir o captulo que diz respeito a Joo. Vou citar quem na rescisria? Vejam que na ao originria eram Jos, Antnio e Joo litigando contra mim. Jos ganho no A, Antnio ganhou no B e Joo ganhou no C. Eu quero rescindir o captulo de Joo, vou propor rescisria contra quem? Contra os trs, que foram autores do processo contra mim? Eu perdi nos trs pedidos, mas s quero rescindir o captulo C. Minha rescisria vai ter que ser proposta contra quem? Apenas contra Joo. O que Antnio e Jos tm a ver com isso? Por que seriam parte nessa rescisria se eu no quero rescindir o captulo que lhes diz respeito? Eu vou citar na rescisria aquele que vai se prejudicar com a minha rescisria. Vou dar um exemplo concreto. J aconteceu isso duas vezes na minha vida. Uma vez me procuraram para que eu defendesse uma rescisria proposta pelo INSS para rescindir apenas o captulo de honorrios. O INSS no queria rescindir o captulo principal. Ele queria rescindir o captulo dos honorrios, que ele estava achando muito alto. A condenao foi em 20% e o INSS achava que por ele ser Fazenda Pblica deveria ser em 5%. O captulo dos honorrios pertence ao advogado. Quem que vai ser ru dessa rescisria? O advogado. S que a ao foi proposta contra o antigo cliente. O que o cliente tem a ver com isso? Por mim rescinde, eu no gostava daquele advogado mesmo.... Para ele irrelevante. Ele j est com o dinheiro dele. O direito aos honorrios no dele. Ento, quem tinha que ser ru na rescisria era o advogado, ou seja, aquele que tem o direito discutido. Outro exemplo para mostrar a importncia da rescisria parcial. Cinco gerentes propuseram uma ao trabalhista contra o Banco do Brasil em litisconsrcio. O Banco do Brasil perdeu para os cinco. S que cada gerente fazia uma coisa, cada gerente tinha uma movimentao, cada um ganhou uma quantia diferente. O Banco do Brasil props uma rescisria para rescindir de dois gerentes. No props para rescindir dos outros trs. Esses dois alegaram que os outros trs eram litisconsortes necessrios. Eram? No. Os outros trs no so alvo da rescisria. A rescisria parcial e no integral. Mais uma vez reforo o que eu disse no semestre passado: a idia de rever a sentena em vrios captulos, como um feixe de decises e no como uma deciso unitria indispensvel para resolver uma srie de problemas, inclusive para resolver o problema da rescisria parcial. A estrada longa e ainda falta coisa para examinar. i) Cabe rescisria de sentena terminativa? - Ou seja, sentena que extingue o processo sem exame de mrito? Resposta tradicional: no porque no de mrito. Mas voc no pode ficar nisso! Pontes de Miranda, j h setenta anos, defendia o cabimento de rescisria contra deciso terminativa. Era o pensamento dele, muito tradicional, pensamento que no vingou inicialmente na doutrina. Prevaleceu que contra deciso terminativa no caberia rescisria. Sucede que, a

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    gente viu no semestre passado, que algumas sentenas terminativas impedem a repropositura da demanda. So sentenas terminativas esquisitas porque elas produzem um efeito semelhante ao de uma sentena de mrito, na medida em que impedem que se reproponha a demanda. O art. 268, do CPC, cuida disso. E ele, expressamente, fala da sentena terminativa prevista no art. 267, V. Ele diz que a sentena terminativa do art. 267, V, impede a repropositura. E que sentena terminativa essa? a sentena que extingue o processo em razo de coisa julgada, litispendncia ou perempo. Essa seria uma sentena terminativa esquisitssima. Vimos tambm que essa previso acabou sendo estendida a outros casos do art. 267 pela jurisprudncia. A jurisprudncia pegou a previso do art. 268, que se referia ao inciso V, do art. 267 e estendeu a outros casos do art. 267. a jurisprudncia disse que outros casos que extinguem sem exame de mrito tambm impedem a repropositura. So os casos de extino sem exame de mrito quando houvesse um defeito no processo. O processo era extingo porque tem um defeito e voc s pode repropor a demanda, se corrigir o defeito. Sem corrigir o defeito, no pode repropor. So os casos dos incisos I, IV, VI e VII. Alm do V, que j estava previsto. Ento, o art. 268 prev um caso de sentena terminativa curioso porque impede a repropositura. Vem a jurisprudncia e estende essa caracterstica a outros casos de sentena terminativa (incisos I, IV, VI e VII). O que a doutrina comeou a dizer? Que nos casos de sentenas terminativas que impedem a repropositura, cabe rescisria porque elas so sentenas terminativas curiosas, esquisitas, com efeito semelhante ao de uma sentena de mrito. Ento, nos casos de sentena terminativa que impede a repropositura (inciso V, expressamente e os outros, por extenso), como so sentenas terminativas curiosas porque tm efeito semelhante ao da coisa julgada, isso permitiria que houvesse a rescisria. Muita gente na doutrina defende isso. A jurisprudncia ainda no est seguindo esse entendimento ( mais tradicional), s que na doutrina isso tem sido cada vez mais forte. E no me assustaria uma questo de concurso (prova aberta) pedindo dissertao sobre rescisria e sentena terminativa. O cara que no estudou, s vai falar isso em um pargrafo. Valendo 10, ele tira 3. Isso porque se o sujeito pergunta da relao entre rescisria e sentena terminativa o que ele quer que voc faa esse panorama! um tema cada vez mais debatido por conta dessa percepo de que o art. 268 cria uma situao de sentena terminativa com efeito semelhante ao de sentena definitiva. Lembre-se ainda, e seu caderno deve ter essa informao, que a seguinte: H um autor chamado Luiz Eduardo Mouro que chega a dizer uma coisa que me parece correta. Eu at cito esse entendimento no meu livro, mas o entendimento dele. Mouro diz o seguinte: o que o art. 268 faz criar um caso de coisa julgada, rigorosamente de coisa julgada de questo processual, que ele chama de coisa julgada formal. a coisa julgada de questo processual. A soluo daquela questo processual que gerou a extino do processo sem julgamento de mrito se torna indiscutvel. Haveria, verdadeiramente, uma coisa julgada, s que em vez de ser material no material porque no de mrito. uma coisa julgada da questo processual, que no poder mais ser discutida. E verdade. E, por conta disso, caberia rescisria. j) Rescisria de sentena citra petita pergunta que eu reputo difcil. A gente sabe que a sentena citra petita a sentena omissa. Uma sentena omissa

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    quando ela deixa de examinar um fundamento relevante ou quando deixa de examinar um pedido. A gente viu que quando a sentena deixa de examinar um fundamento, uma sentena nula. Ela tem um defeito de motivao. H um vcio de motivao. E quando ela deixa de examinar o pedido, ela inexistente porque no houve deciso. Se o juiz no examina o pedido, a deciso no existe em relao quele pedido. Vem a pergunta: Cabe rescisria de sentena citra petita? Depende! Se a sentena citra petita porque no examinou um fundamento, cabe! deciso defeituosa, caber rescisria por ofensa ao dever de motivar. Se a deciso omissa em relao a um fundamento cabe, sim, rescisria, porque deciso que existe, embora seja deciso viciada. Agora, deciso citra petita que no examina um pedido no pode ser rescindida. Eu no posso rescindir a no-deciso, eu no posso rescindir aquilo que no foi decidido. Como que eu vou rescindir o nada? Eu gosto de comparar isso a um dente com crie e uma boca banguela (eu falei isso no semestre passado). Se voc pensar a rescisria como uma broca de obturao, no d para pegar uma broca e colocar na banguela do cara porque no h o que obturar. Se no existe, no tem o que quebrar, no d, portanto, para rescindir. Eu no posso partir o que no existe. Se o pedido no foi decidido, no houve deciso, no h coisa julgada, no cabe rescisria. caso de repropor a demanda. Uma vez em concurso perguntaram o seguinte (prova aberta): pedido formulado no apreciado pode ser renovado? claro! Se ele no foi apreciado, no h coisa julgada. Agora, se o processo estiver pendente ainda, o que eu fao? Vai atravessar uma petio nos autos e dizer o seguinte: Sr. Juiz, estou at agora esperando uma resposta ao meu pedido. Com isso, a gente termina o primeiro pressuposto da ao rescisria. Vamos ao segundo pressupostos da ao rescisria, que o prazo. 3.2. PRAZO Reparem bem: o prazo da rescisria de 2 anos contados do trnsito em julgado. E esse prazo decadencial. decadencial porque o direito de rescindir uma deciso um direito potestativo. No h prazo diferenciado para a Fazenda Pblica. O prazo para a Fazenda Pblica propor rescisria o mesmo. J houve at uma tentativa de diferenciao, mas o Supremo entendeu que era inconstitucional. Por medida provisria se tentou dobrar o prazo da rescisria para o Poder Pblico, mas o Supremo entendeu que era inconstitucional. Peculiaridade: Existe um caso em que o prazo da rescisria de 8 anos, que o prazo previsto no art. 8-C da Lei 6.739/79. um prazo de 8 anos para rescindir sentena que diga respeito transferncia de terra pblica rural. Muitos acham desproporcional, mas eu acho que no. Acho que foi um juzo de ponderao que o legislador fez tendo em vista a peculiaridade brasileira. O sistema agrrio no Brasil um verdadeiro mangue. Tem gente que se apropriou de terreno pblico, trocando por engradado de cerveja toda sexta-feira porque o chefe do cartrio era alcolatra e registrava um hectare por cada engradado. verdade isso! Tem gente que dono,

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    no Brasil, de um Portugal. Como o cara adquiriu isso? Engradado de cerveja toda sexta-feira. Ento, as fraudes, a grilagem de terra pblica, grilagem essa feita com deciso judicial, fez com que o legislador tomasse uma providncia. Como a fiscalizao muito difcil, vamos estender o prazo da rescisria a. E estendeu o prazo para oito anos. E isso caiu no ltimo concurso de promotor da Bahia. Eu encontrei com o examinador e perguntei como que ele cobrava aquilo numa prova de marcar, que sacanagem era aquela? E ele disse que tinha lido meu livro! Difundam essa informao! Tanta coisa para se preocupar, vai se preocupar com isso! J que caiu, fica aqui o registro dessa ultrapeculiaridade. Quanto contagem do prazo da rescisria, h dois grandes problemas que mexem com a cabea do concursando: 1 Problema No semestre passado a gente viu que possvel que de um mesmo processo surjam vrias coisas julgadas. Vrias coisas julgadas so produzidas em um mesmo processo. Imagine a seguinte hiptese: sai uma deciso em 2000 com trs captulos: A, B e C. O sujeito apela, mas s apela dos captulos A e B. Ora, se so trs e ele s apela de A e B, quer dizer que o C transitou em julgado. Em 2000. O tribunal, em 2004, julga o recurso dos captulos A e B. Voc recorre, s que s recorre do captulo A. O que aconteceu? O captulo B transitou em julgado em 2004, o captulo C em 2000 e o captulo A vai transitar em julgado em 2008. Ento, olha o que aconteceu: houve trs coisas julgadas a. No so trs coisas julgadas que se sobrepem, mas cada uma relativa a um captulo, uma de 2000, uma de 2004 e uma de 2008. Qual a pergunta do concurso? Qual o prazo para rescisria no caso de coisas julgadas sucessivas, que aconteam durante o processo? Como se conta o prazo da rescisria? H duas interpretaes:

    1 Interpretao Na doutrina unnime (no h discusso sobre isso), o entendimento que cada coisa julgada d origem a um prazo para rescisria. Isso, na doutrina, muito tranquilo. At porque o mais lgico de todos. Se j h coisa julgada com relao a A, eu tenho que me preparar para rescindir.

    2 Interpretao Sucede que isso chegou uma vez ao STJ e nesse julgamento, pelo STJ, antigo j, se disse que o prazo nico e se conta da ltima coisa julgada sob o fundamento de que iria ser muito confuso se no fosse assim. Ento, vejam que absurdo. O sujeito, em 2010, poderia propor uma rescisria para rescindir um acrdo de 2000! isso muito complicado, voc dizer que o prazo um s, que a coisa julgada s poderia ser proposta uma vez, abrangendo todas as coisas que aconteceram ao longo do processo. E se durasse vinte anos? Esse entendimento do STJ foi criticado de maneira unnime pela doutrina, revelando um desconhecimento muito claro do sistema dos captulos de sentena. Como deciso velha, quando ainda no se discutia muito captulo de sentena no Brasil, eu no acho que algo que vai vingar, mas eu sei que algo que se cobra em concurso. Esse pensamento do STJ foi algo que ficou muito famoso, embora na doutrina no tenha sido aceito.

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    Dica: tem doutrinador que chamou esse fenmeno de vrias coisas julgadas acontecendo sucessivamente, de coisa julgada progressiva. Eu odeio esse nome. Acho esquisitssimo. No acho que seja progressiva, mas sim que h vrias coisas julgadas. Mas se vier no concurso, rescisria e coisa julgada progressiva: como se conta o prazo? Voc tem que dizer: h duas correntes: o prazo se conta para cada coisa julgada (pacfico na doutrina) e h um posicionamento do STJ no sentido de que a rescisria se conta uma nica vez. (...) ela no tem eficcia retroativa, portanto, o trnsito em julgado ser o trnsito em julgado dela, portanto, em 2008. E h quem adote uma posio intermediria no sentido de que a deciso que no conhece do recurso no produz efeito retroativo, salvo em duas hipteses. Ou seja, em duas hipteses, essa deciso teria efeito retroativo e a o transito em julgado seria l atrs. Duas hipteses: intempestividade e manifesto incabimento. Qual a posio que prevalece? Reparem como tudo muda. Se prevalecer a primeira corrente, numa situao como essa, em que a sentena foi em 2004 e o acrdo que no conheceu da apelao foi em 2008, o prazo da rescisria j teria acabado em 2006 e voc, coitado, nem sabia porque estava esperando sua apelao. Quando vem, a apelao nem foi conhecida. Voc j se deu mal! Na verdade, voc j se dera mal h dois anos atrs e nem sabia. Por isso, esse tipo de pensamento no rola, quer dizer, ele geraria uma insegurana terrvel, absurda. Eu avisei para vocs no semestre passado e repito: para mim, no retroage nunca. Eu adoto a segunda corrente que eu mencionei a. Para mim, no retroage nunca. Quer dizer, o prazo da rescisria comearia a contar do trnsito em julgado da ltima deciso, seja ela qual for. Mas a corrente que prevalece a terceira, a mista, a intermediria. Se a ltima deciso no conheceu do recurso, o prazo da rescisria conta-se dela, salvo nos casos de intempestividade e manifesto incabimento, quando o trnsito em julgado foi l de trs. O que as pessoas comeam a fazer por conta disso, na prtica? Pelo menos eu j vi casos assim. Exemplo: voc apela e est se discutindo a tempestividade da apelao. O sujeito v o tempo passar e nada da apelao ser examinada. Ele fica com medo e entra com ao rescisria sob condio. Eu estou entrando com a rescisria porque vai que depois voc diz depois que minha apelao no conhecida por intempestividade, eu j estou me preservando aqui. Quer dizer, no tem necessidade disso. Por isso, eu adoto a segunda corrente, para deixar as coisas mais tranquilas. Pois bem. Qual o smbolo da corrente intermediria que revela como ela a majoritria? a Smula 100, do TST. Meus caros, algumas palavras: Rescisria um assunto que tem que ser estudado luz da jurisprudncia do TST. Eu sei que a aula aqui processo civil, eu sei que muita gente odeia direito do trabalho, mas ao rescisria, especificamente este assunto, tem que ser estudado luz da jurisprudncia do TST. Por uma razo, o TST o tribunal no Brasil que mais julga ao rescisria. Porque, por uma peculiaridade da legislao trabalhista, o TST julga ao rescisria como instncia ordinria, como se julgasse uma apelao. A rescisria julgada pelo TST em grau de apelao. No apelao, mas como se fosse uma apelao, em grau de recurso ordinrio. Quer dizer, em qualquer rescisria ajuizada em qualquer TRT do Brasil, cabe recurso ordinrio para o TST, como se fosse uma apelao. E funciona

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    como segunda instancia de qualquer rescisria de qualquer rescisria ajuizada em qualquer TRT do Brasil. Ento, o nmero de rescisria no TST impressionante. Tanto que existe um nmero de interminvel de smulas do TST sobre rescisria. Vejam que o STJ no tem nenhuma smula sobre rescisria. Ele tem quase 400 smulas. Nenhuma delas sobre rescisria. Quase no se julga rescisria no STJ. Tem rescisria, mas um nmero muito insignificante. Por isso, vamos comear as examinar as smulas do TST, mas vamos comear com a Smula 100, que imprescindvel para vocs. E para quem no tem muito contato com as smulas do TST, vai um alerta: O TST redige smula como se estivesse escrevendo um livro. As smulas do TST tem ponto de seguimento, tem orao subordinada. So smulas extremamente complexas. E tem incisos!! A Smula 100, por exemplo, tem 10 incisos. Nos interessa os primeiros:

    TST Enunciado n 100 - Prazo de Decadncia - Ao Rescisria Trabalhista I - O prazo de decadncia, na ao rescisria, conta-se do dia imediatamente subseqente ao trnsito em julgado da ltima deciso proferida na causa, seja de mrito ou no.

    Voc l isso e parece ser a corrente que eu adoto, quer dizer, aquela que no retroage nunca. Quer dizer, o trnsito em julgado da ltima deciso, seja qual for ela. S que, conforme eu disse essa smula tem vrios incisos. Vamos continuar:

    II - Havendo recurso parcial no processo principal, o trnsito em julgado d-se em momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ao rescisria do trnsito em julgado de cada deciso (aquele problema da coisa julgada progressiva que eu mencionei e que aqui est certo!), salvo se o recurso tratar de preliminar ou prejudicial que possa tornar insubsistente a deciso recorrida, hiptese em que flui a decadncia a partir do trnsito em julgado da deciso que julgar o recurso parcial. (alterada pela Res. 109/01, 20.04.01)

    A parte em negrito confunde todo mundo. Vamos com calma. Eu disse a vocs, quando falei na coisa julgada progressiva, conta-se o prazo a partir de cada coisa julgada. O TST confirmou isso! Se o recurso parcial, coisa julgada parcial, j comea a contar o prazo para a rescisria. S que ele colocou aqui um salvo. Est errado esse trecho. Por uma razo simples: Se o recurso trata de preliminar ou prejudicial que pode tornar insubsistente toda a deciso recorrida, ele no um recurso parcial. um recurso total. Ento, esse 'salvo' a, no uma exceo ao que foi dito. Rigorosamente, no porque se voc pensar bem, se o recurso trata de tema que pode comprometer toda a deciso, esse recurso no parcial, um recurso total! Ento, a idia a mesma. Se um recurso parcial, ou seja, se ele s atinge parte da deciso, a parte no atingida faz coisa julgada cujo prazo para a rescisria conta-se imediatamente. Se se tratar de recurso que atinja toda a deciso, ele no parcial,

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    ele um recurso total. No h trnsito em julgado. Ento, impugnou tudo, no h trnsito em julgado. Ento, no ache que esse trecho em negrito excepciona o que eu disse. Ele no excepciona. Ele confirma o que eu disse, isso porque se o recurso pode tornar insubsistente toda a deciso porque ele total e no parcial.

    III - Salvo se houver dvida razovel, a interposio de recurso intempestivo ou a interposio de recurso incabvel no protrai o termo inicial do prazo decadencial. (ex-Smula n 100 - alterada pela Res. 109/2001, DJ 20.04.01)

    A est a corrente mista que eu mencionei para vocs. Embora a redao no seja clara. uma redao que j comea com um 'salvo' e isso acaba confundindo, o inciso III confirma que o TST adota a concepo mista, ou seja, se o recurso intempestivo ou incabvel, ele no impede o trnsito em julgado. Portanto, o trnsito em julgado vai ser l de trs. Se eu interpus aqui atrs um recurso incabvel ou intempestivo, ele no impede o trnsito em julgado (que vai ser l atrs). aquilo que eu falei: recurso intempestivo, recurso incabvel, para a corrente majoritria no impedem o trnsito em julgado. Por isso que a Smula do TST simblica, emblemtica para a concepo majoritria que a concepo trs que eu mencionei e voc encontra essa concepo nos incisos I e III da Smula 100 do TST. Terminamos, ento, o segundo pressuposto da ao rescisria. Vamos, ento, ao terceiro pressuposto da ao rescisria. 3.3. CONDIES DA AO Na rescisria, como em qualquer ao, precisa que se preencham as condies da ao. a) Possibilidade jurdica do pedido

    Est intimamente relacionada deciso rescindvel, queles problemas que examinamos no estudo da deciso rescindvel. Aqueles problemas todos giram em torno da possibilidade jurdica do pedido na ao rescisria. Portanto, no precisamos voltar a esse tema. E as discusses em torno da possibilidade jurdica do pedido na ao rescisria so as discusses em torno do objeto rescindvel na ao rescisria. b) Legitimidade

    Mais significativa, realmente, a discusso sobre a legitimidade na ao rescisria. Essa, sim, uma discusso que merece anotao.

    Legitimidade ATIVA

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    1 Hiptese: Quem pode propor ao rescisria? Pode propor ao rescisria a parte no processo originrio, que foi derrotada, ou seus sucessores. Isso o mais bvio dos bvios dos bvios. Se eu no dissesse, vocs teriam que saber.

    2 Hiptese: Tambm pode propor rescisria o terceiro prejudicado com a

    deciso. E aqui algum que NO fez parte do processo originrio. Se ele fez parte do processo originrio, ele deixa de ser terceiro e vira parte. A entra na primeira parte.

    3 Hiptese: Alm disso, pode propor ao rescisria o Ministrio Pblico custos

    legis. Por que estou batendo na tecla de que o Ministrio Pblico custos legis? Porque se o Ministrio Pblico parte, a, obviamente, j cai na primeira hiptese. Agora, vejam bem, o Cdigo, no art. 487, III, diz que o MP custos legis pode propor rescisria em dois casos.

    Art. 487 - Tem legitimidade para propor a ao: III - o

    Ministrio Pblico: a) se no foi ouvido no processo, em que lhe era

    obrigatria a interveno; b) quando a sentena o efeito de coluso das

    partes, a fim de fraudar a lei. Coluso conluio, mfia, tramania. Se as partes fizeram um conluio e a sentena fruto dessa tramania que as partes fizeram, numa fraude processual, cabe rescisria proposta pelo Ministrio Pblico. No s pelo MP, mas tambm pelo MP. Qual a grande dvida que fica a? A legitimidade do Ministrio Pblicos custos legis para propor a rescisria se limita a esses dois casos ou esses dois casos so meramente exemplificativos? O entendimento que se tem que so meramente exemplificativos. Eles no exaurem a legitimidade do Ministrio Pblico. Sobre o assunto, convm ver a Smula 407, do TST:

    Smula n 407 - TST - DJ 22, 23 e 24.08.2005 - Converso da Orientao Jurisprudencial n 83 da SDI-II - Ao Rescisria - Ministrio Pblico - Legitimidade "Ad Causam"- A legitimidade "ad causam" do Ministrio Pblico para propor ao rescisria, ainda que no tenha sido parte no processo que deu origem deciso rescindenda, no est limitada s alneas "a" e "b" do inciso III do art. 487 do CPC, uma vez que traduzem hipteses meramente exemplificativas. (ex-OJ n 83 - inserida em 13.03.02)

    Uma outra questo relativa rescisria proposta pelo MP est no inciso VI, da Smula 100, do TST (mais uma vez ela), que diz o seguinte:

    VI - Na hiptese de coluso das partes, o prazo decadencial da ao rescisria somente comea a fluir para o Ministrio Pblico, que no interveio no processo

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    principal, a partir do momento em que tem cincia da fraude. (ex-OJ n 122 da SBDI-2 - DJ 11.08.03)

    Essa uma novidade: o prazo da rescisria nos casos de coluso, para o MP que no fez parte do processo, comea a correr quando o MP tem cincia da fraude, e no da data do trnsito em julgado. Foi uma forma que a jurisprudncia criou de modular o incio do prazo para dar utilidade ao prazo. Sim, porque se o MP no fez parte do processo, empregado e empregador simulam um processo e geram uma fraude, o MP nem viu, s tomou cincia anos depois, seria um pouco injusto que j tivesse comeado a contar um prazo de rescisria se no houve nem a possibilidade de o MP ter cincia daquilo que ficou decidido. Ento, o TST editou esse inciso da Smula 100 para modular o incio do prazo decadencial para o ajuizamento da rescisria no caso de coluso quando o MP no interveio no processo.

    Legitimidade PASSIVA

    A legitimidade passiva na ao rescisria a seguinte: ser ru na ao rescisria todo aquele e somente aquele que puder sofrer uma consequncia negativa com a resciso da deciso. aquilo que eu expliquei: eu s vou citar os que se prejudicam. Se outras pessoas que esto fazendo parte do processo no tm a ver com o que est sendo rescindido, elas no vo ser citadas. A est a grande chance de vocs errarem. No fiquem achando que a rescisria vai ser ajuizada contra todo mundo que fez parte do processo menos eu que propus. No assim. Eu vou propor contra todo mundo que fez parte do processo e que se beneficiou com aquilo que eu quero rescindir. O pessoal que ganhou alguma coisa com aquilo que eu quero rescindir a galera que vai se prejudicar com aquilo que eu quero rescindir. Vamos dar uma olhada numa smula do TST importante sobre o tema (reparem como o texto parece um livro):

    Smula n 406 - TST - Res. 137/05 - DJ 22, 23 e 24.08.2005 - Ao Rescisria - Litisconsrcio Necessrio Passivo e Facultativo Ativo - Substituio pelo Sindicato

    I - O litisconsrcio, na ao rescisria, necessrio em relao ao plo passivo da demanda, porque supe uma comunidade de direitos ou de obrigaes que no admite soluo dspar para os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto (O LISTICONSRCIO NECESSRIO SE MAIS DE UMA PESSOA FOR A BENEFICIADA COM A DECISO SE S TIVER UMA PESSOA BENEFICIADA COM A DECISO, NO VAI HAVER LITISCONSRCIO). J em relao ao plo ativo, o litisconsrcio facultativo ( COMO EU J EXPLIQUEI PRA VOCS: NO EXISTE LITISCONSRCIO NECESSRIO ATIVO), uma vez que a aglutinao de autores se faz por convenincia, e no pela necessidade decorrente da natureza do litgio, pois no se pode

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    condicionar o exerccio do direito individual de um dos litigantes no processo originrio anuncia dos demais para retomar a lide. (ex-OJ n 82 - inserida em 13.03.02)

    II - O Sindicato, substituto processual e autor da reclamao trabalhista, em cujos autos fora proferida a deciso rescindenda, possui legitimidade para figurar como ru na ao rescisria, sendo descabida a exigncia de citao de todos os empregados substitudos, porquanto inexistente litisconsrcio passivo necessrio. (ex-OJ n 110 - DJ 29.04.03)

    Meu medo, quando vocs lem essa smula 406 vocs acharem que sempre haver litisconsrcio passivo necessrio em rescisria. Vocs no podem achar isso! No isso! Se mais de uma pessoa tiver se beneficiado com a deciso, a sim, haver litisconsrcio e ser necessrio, realmente. Esse inciso I um texto de livro, literalmente, e est certssimo. O inciso II muito interessante. Meus caros, esse inciso importantssimo porque ele prev um caso de legitimidade passiva na ao rescisria extraordinria. legitimao extraordinria passiva! O sindicato, legitimado extraordinrio ativo na ao trabalhista, ser legitimado extraordinrio passivo em futura rescisria. E, percebam bem, vai uma dica: nesse semestre vocs estudaro processo coletivo. um dos temas. E um dos assuntos da moda o processo coletivo passivo, que o processo coletivo contra uma coletividade e no a favor de uma coletividade. Ou seja, a coletividade, ao invs de ser titular de um direito, ela titular de uma situao passiva. E um tema muito novo no Brasil, ainda amadurecendo. Um exemplo inquestionvel de ao coletiva passiva esse caso aqui. Indiscutvel, ao rescisria de uma ao coletiva. A ao rescisria de uma ao coletiva uma ao coletiva passiva, porque ela proposta contra uma coletividade. E a est a dica: quando vocs forem estudar o processo coletivo passivo, repito, um dos temas da moda em processo coletivo (estou repetindo isso), esse exemplo muito importante porque h falta de exemplo. A doutrina no tem muito exemplo para dar. Ento, um exemplo j consagrado em smula muito interessante. Quem porventura tenha o volume IV da minha coleo (que o de processo coletivo), veja que tem um capitulo l s sobre processo coletivo passivo. Dem uma olhada. c) Interesse de Agir Quanto ao interesse de agir, na rescisria no h nenhuma peculiaridade digna de nota, razo pela qual a gente pode comear a estudar o quarto e ltimo e imenso pressuposto da ao rescisria. 3.4. HIPTESES DE RESCINDIBILIDADE

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    O que isso? A rescisria no cabe sempre. Eu no posso entrar com rescisria alegando qualquer coisa. No cabe rescisria por qualquer fundamento, em qualquer caso que me venha cabea. No isso.

    A rescisria uma ao tpica! Anotem essa expresso! uma ao tpica, ou seja, uma ao cuja causa de

    pedir predeterminada pelo legislador. A rescisria tem que seguir o modelo, o tipo previsto em lei. No cabe rescisria atipicamente. No cabe rescisria atpica, ou seja, fora das hipteses.

    Rescisria atpica (e quero que vocs anotem essa expresso. Acabou de sair

    um livro, Ao Rescisria Atpica) nada mais do que o movimento de relativizao da coisa julgada de que falei para vocs no semestre passado. O movimento de relativizao da coisa julgada prope uma rescisria atpica, ou seja, prope que se possa rescindir a coisa julgada fora dos modelos predeterminados. Aquela discusso toda sobre relativizao da coisa julgada que permite, segundo esses autores, que se possa rescindir a coisa julgada fora das hipteses tpicas. A seria uma ao rescisria atpica. Mas s pra quem admite aquilo.

    A nossa ao rescisria, fcil constatar, uma ao tpica, ou seja, s cabe

    em hipteses predeterminadas, de acordo com modelos previamente definidos. E esses tipos que permitem a rescisria esto em dois artigos: 485 e 1030, sendo que o art. 1030 cuida da rescisria em partilha e no o que vamos estudar aqui. A gente vai estudar o art. 485, que o artigo geral de cabimento da rescisria. Traz vrias hipteses.

    As hipteses de rescisria so taxativas e cada uma delas suficiente para

    rescindir a deciso. Existem vrias hipteses. O rol taxativo, mas cada uma das hipteses basta para que eu possa rescindir a deciso.

    O que pode acontecer e, muitas vezes acontece, eu alegar mais de uma

    hiptese de rescindibilidade. Eu entro com a rescisria alegando mais de uma hiptese de rescindibilidade. Isso acontece. Quando o autor invocar mais de uma hiptese de rescindibilidade, o que ele est fazendo, na verdade, cumulando aes rescisrias. H a uma cumulao de aes rescisrias porque cada hiptese gera uma ao rescisria. Se eu reno, numa mesma petio vrias hipteses, eu estou, na verdade, cumulando aes rescisrias. Eu quero rescindir a deciso por vrias razes. No h nenhum problema em relao a isso. Reparem bem: ns j vimos que a rescisria uma ao tpica (no cabe sob qualquer fundamento). Eu tenho que encaixar a rescisria em um dos fundamentos previstos em lei. Esses fundamentos esto no art. 485 ou no art. 1030. O art. 485 o artigo que vamos estudar. Vimos que cada um dos fundamentos suficiente para rescindir, no obstante eu possa cumular vrias hipteses numa mesma petio de rescisria, o que seria o caso de cumulao de pedidos.

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    Prestem ateno porque agora ns vamos entrar na nica coisa que razoavelmente difcil nesta aula. Vamos com calma. Reparem bem: Cada hiptese de rescindibilidade uma causa de pedir. A hiptese de rescindibilidade, nada mais , do que uma causa de pedir. E, para ser ainda mais rigoroso, cada hiptese de rescindibilidade uma causa de pedir remota. E aqui vamos nos lembrar: trs e quatro. Causa de pedir remota o fato jurdico. Causa de pedir prxima o direito que se afirma ter.

    Na rescisria, qual o direito que se afirma ter? o direito resciso da deciso. o direito a rescindir a deciso. Agora, qual o fato jurdico desse direito? O que gera esse direito resciso? Uma das hipteses de rescindibilidade. Uma das vrias hipteses. Em toda rescisria, eu tenho que alegar a hiptese de rescindibilidade e pedir a resciso da deciso. A hiptese de rescindibilidade gera direito resciso e, portanto, eu quero a resciso.

    Percebam. Se eu estou dizendo que a hiptese de rescindibilidade causa de

    pedir remota da rescisria, estou dizendo que ela um fato jurdico. um fato jurdico. causa de pedir remota. Vocs jamais podem esquecer disso. Jamais! uma informao que parece insignificante, mas que tem muita significao. Por que? Vou aplicar agora para vocs entenderem. Para aplicar isso que eu acabei de dizer, eu tenho que comear a examinar as hipteses do art. 485. Vou comear a examinar. S que aqui eu vou fazer uma subverso da ordem. Ao invs de examinar na ordem, vou examinar, primeiro, o inciso V porque o inciso V a grande estrela da companhia. Ele pode ser utilizado como um parmetro para voc compreender todos os outros. E diz o inciso V (prestem ateno!):

    Art. 485 - A sentena de mrito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

    V - violar literal disposio de lei; Cabe rescisria quando a deciso violar literal disposio de lei. Cabe rescisria

    por violao literal disposio de lei. Vamos examinar esse inciso V, e a eu vou chegar no final desse meu exame, vou fazer uma pergunta, que s vai acertar quem se lembrar dessa premissa que eu acabei de dizer. Ento, para dificultar mais, eu vou falar no final, que o tempo de vocs esquecerem o que eu disse. Vamos ver se vocs vo errar.

    Qual o primeiro problema em relao a esse dispositivo? saber o que lei a.

    Lei a qualquer espcie de norma jurdica. lei em sentido amplo, bem amplo, que inclui medida provisria, lei estadual, decreto, qualquer tipo de norma jurdica geral. Discutiu-se outrora (outrora!), se cabia rescisria por violao a princpio. Essa discusso de uma poca em que o princpio no era visto como norma. Hoje em dia isso absolutamente superado. claro que cabe rescisria por violao a princpio. Claro! Princpio norma, portanto, eu posso rescindir.

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    Agora, vejam bem: o que literal? um grande problema. A idia a

    seguinte: s admitir rescisria quando a violao fosse flagrante, absurda. Essa era a idia inicial. Por conta disso, surgiu uma smula do STF que um verdadeiro clssico: Smula 343:

    STF Smula n 343 - 13/12/1963 - No cabe ao

    rescisria por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a deciso rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretao controvertida nos tribunais.

    Qual a idia da smula? A idia a seguinte: Se havia divergncia

    jurisprudencial e o tribunal acolheu uma das hipteses, uma das correntes porque literal a violao no foi. Tanto no era literal que havia divergncia sobre o tema. Quer dizer, se havia divergncia jurisprudencial, a adoo pelo tribunal, de uma ou outra corrente, no implica violao literal. Esse o entendimento, quer dizer, de que violao literal seria o seguinte: todo mundo pensa de um jeito, a o sujeito vai e decide de outro. Essa a violao literal. Se havia divergncia, e ele adota uma das correntes, no haveria. Essa smula, conforme eu disse, antiqussima, um clssico, estruturou a mente de todo mundo sobre o que violao literal. Sucede que, de uns dez anos para c, o Supremo passou a no aplicar mais esta smula (percebam bem isso!) nos casos de violao Constituio quando o Supremo j tem um posicionamento a respeito. Se os tribunais divergiam sobre a interpretao da Constituio, mas o Supremo tinha um entendimento, cabe rescisria para fazer prevalecer o pensamento do Supremo, mesmo se houvesse divergncia poca. Quer dizer, havia divergncia, todo mundo discutia, mas o Supremo tinha um entendimento, caber rescisria para fazer prevalecer o posicionamento do Supremo em matria constitucional. A smula 343 comeou a no ser aplicada em tema constitucional. Mas veja bem: comeou a no ser aplicada em matria constitucional se o Supremo tivesse o seu posicionamento firmado. Ento, a rescisria a passava a ser um instrumento para fazer valer o pensamento do Supremo, como um instrumento de controle de constitucionalidade, para fazer valer o que o Supremo pensa.

    At que chegou o STJ deu um outro passo. O STJ disse o seguinte: que a mesma

    interpretao deve ser dada nos casos em que havia divergncia em torno da lei, mas que o STJ pacificou. Se havia divergncia em torno da lei federal e o STJ pacificou, tambm caber rescisria para fazer prevalecer o pensamento do STJ. O STJ, seguindo a linha do Supremo, relativizou a Smula 343 nos casos em que, embora houvesse divergncia em matria legal, o STJ houvesse firmado sua orientao em outro sentido. H um julgado emblemtico do STJ: REsp 1026234 relatado por Teori Zavaski. Est no material da aula, que est colocado na internet. Neste REsp esse tema examinado e traz uma deciso paradigmtica. Realmente, uma mudana grande de jurisprudncia porque relativiza ainda mais a j moribunda, a essa altura do campeonato, Smula 343 (porque ela vai mal das pernas no STF e comeou a ir mal das pernas tambm no STJ).

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    REsp 1026234 / DF - Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI - T1 1 TURMA - DJ 11/06/2008 PROCESSUAL CIVIL. AO RESCISRIA. VIOLAO LEI FEDERAL. MATRIA CONTROVERTIDA NOS TRIBUNAIS POCA DA PROLAO DA DECISO RESCINDENDA. JURISPRUDNCIA DO STJ EM SENTIDO CONTRRIO. SMULA 343/STF. NO-APLICAO. REVISO DA JURISPRUDNCIA A RESPEITO.

    1. A smula 343/STF, editada antes da Constituio de 1988, temorigem na doutrina (largamente adotada poca, inspiradora tambm da smula 400/STF) da legitimidade de interpretao razovel da norma, ainda que no a melhor, permitindo assim que a respeito de um mesmo preceito normativo possa existir mais de uma interpretao e, portanto, mais de um modo de aplicao.

    2. Ao criar o STJ e lhe dar a funo essencial de guardio e intrprete oficial da legislao federal, a Constituio imps ao Tribunal o dever de manter a integridade do sistema normativo, a uniformidade de sua interpretao e a isonomia na sua aplicao. O exerccio dessa funo se mostra particularmente necessrio quando a norma federal enseja divergncia interpretativa. Mesmo que sejam razoveis as interpretaes divergentes atribudas por outros tribunais, cumpre ao STJ intervir no sentido de dirimir a divergncia, fazendo prevalecer a sua prpria interpretao. Admitir interpretao razovel, mas contrria sua prpria, significaria, por parte do Tribunal, renncia condio de intrprete institucional da lei federal e de guardio da sua observncia.

    3. Por outro lado, a fora normativa do princpio constitucional da isonomia impe ao Judicirio, e ao STJ particularmente, o dever de dar tratamento jurisdicional igual para situaes iguais. Embora possa no atingir a dimenso de gravidade que teria se decorresse da aplicao anti-isonmica da norma constitucional, certo que o descaso isonomia em face da lei federal no deixa de ser um fenmeno tambm muito grave e igualmente ofensivo Constituio. Os efeitos da ofensa ao princpio da igualdade se manifestam de modo especialmente nocivos em sentenas sobre relaes jurdicas de trato continuado: considerada a eficcia prospectiva inerente a essas sentenas, em lugar da igualdade, a desigualdade que, em casos tais, assume carter de estabilidade e de continuidade, criando situaes discriminatrias permanentes, absolutamente intolerveis inclusive sob o aspecto social e econmico. Ora, a smula 343 e a doutrina

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    da tolerncia da interpretao razovel nela consagrada tm como resultado necessrio a convivncia simultnea de duas (ou at mais) interpretaes diferentes para o mesmo preceito normativo e, portanto, a cristalizao de tratamento diferente para situaes iguais. Ela impe que o Judicirio abra mo, em nome do princpio da segurana, do princpio constitucional da isonomia, bem como que o STJ, em nome daquele princpio, tambm abra mo de sua funo nomofilcica e uniformizadora e permita que, objetivamente, fique comprometido o princpio constitucional da igualdade.

    4. relevante considerar tambm que a doutrina da tolerncia da interpretao razovel, mas contrria orientao do STJ, est na contramo do movimento evolutivo do direito brasileiro, que caminha no sentido de realar cada vez mais a fora vinculante dos precedentes dos Tribunais Superiores.

    5. Por todas essas razes e a exemplo do que ocorreu no STF em matria constitucional, justifica-se a mudana de orientao em relao smula 343/STF, para o efeito de considerar como ofensiva a literal disposio de lei federal, em ao rescisria, qualquer interpretao contrria que lhe atribui o STJ, seu intrprete institucional. A existncia de interpretaes divergentes da norma federal, antes de inibir a interveno do STJ (como recomenda a smula), deve, na verdade, ser o mvel propulsor para o exerccio do seu papel de uniformizao. Se a divergncia interpretativa no mbito de tribunais locais, no pode o STJ se furtar oportunidade, propiciada pela ao rescisria, de dirimi-la, dando norma a interpretao adequada e firmando o precedente a ser observado; se a divergncia for no mbito do prprio STJ, a ao rescisria ser o oportuno instrumento para uniformizao interna; e se a divergncia for entre tribunal local e o STJ, o afastamento da smula 343 ser a via para fazer prevalecer a interpretao assentada nos precedentes da Corte Superior, reafirmando, desse modo, a sua funo constitucional de guardio da lei federal.

    6. Recurso especial provido. S que esse inciso V tem outros problemas. Reparem bem: h uma tendncia

    (tendncia!) jurisprudencial de dar rescisria do inciso V um tratamento semelhante ao de um recurso extraordinrio. A jurisprudncia acaba tratando a rescisria do inciso V, como se fosse um recurso extraordinrio. uma coisa curiosa! No um recurso extraordinrio, ao rescisria, mas recebe um tratamento semelhante ao de um recurso extraordinrio. E h duas smulas do TST que confirmam isso. A Smula 298 do TST diz que a rescisria do V exige prequestionamento. Ou seja, eu s posso entrar com

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    a rescisria por violao lei, se a lei, supostamente violada, tiver sido examinada na deciso rescindenda. Ou seja, o prequestionamento, que examinamos como requisito dos recursos extraordinrios, pela smula 298 do TST, passa a ser exigido como pressuposto da rescisria.

    II - O prequestionamento exigido em ao rescisria

    diz respeito matria e ao enfoque especfico da tese debatida na ao e no, necessariamente, ao dispositivo legal tido por violado. Basta que o contedo da norma, reputada como violada, tenha sido abordado na deciso rescindenda para que se considere preenchido o pressuposto do prequestionamento. (ex-OJ n 72 da SBDI-2 - inserida em 20.09.00)

    Ou seja, eles criaram um pressuposto para a rescisria do inciso V idntico ao

    pressuposto dos recursos extraordinrios. O STJ, embora a pequena jurisprudncia, no exige o prequestionamento. A jurisprudncia do STJ, conforme eu disse, sempre pequena.

    Uma outra demonstrao dessa tentativa de aproximar rescisria do inciso V

    com recursos extraordinrios tambm uma outra smula do TST, Smula 410. Vejam como essa smula tambm uma tentativa do TST de equiparar as coisas:

    Smula n 410 - TST - Res. 137/05 - DJ 22, 23 e

    24.08.2005 - A ao rescisria calcada em violao de lei no admite reexame de fatos e provas do processo que originou a deciso rescindenda. (ex-OJ n 109 - DJ 29.04.03)

    Ou seja, pegando aquilo que ns j vimos em recurso extraordinrios, de no

    admitir rediscusso de fatos e de provas, e aplicando a rescisria do inciso V. Eu no conheo jurisprudncia do STJ enfrentando essa questo. um tema complexo. Eu, particularmente, no concordo com isso, mas o certo que h essa smula do TST equiparando nitidamente uma coisa com outra.

    Vamos agora testar o conhecimento de vocs. Vamos anotar um exemplo e

    vamos trabalhar com ele: O sujeito entra com a ao rescisria alegando violao ao art. 70 da Lei 1000. Eis o exemplo. Vamos trabalhar com ele. Dentro desse exemplo, primeiro problema: o tribunal, na deciso, diz o seguinte: o art. 70 no foi violado. Violado foi o art. 90. O tribunal julga procedente a rescisria, dizendo que violado foi o art. 90. Pergunta: o tribunal pode fazer isso? Prestem bem ateno. Pergunta dificlima que, se cair em concurso, derruba mais da metade. Percebam bem: violao ao art. 70 causa de pedir? . Violao ao art. 90 uma outra causa de pedir, como a violao ao art. 730 seria uma outra causa de pedir. O tribunal no poderia fazer isso. O tribunal no poderia fazer isso porque, ao fazer isso, est decidindo com base em outra causa de pedir. Est, portanto, extrapolando os limites da demanda porque est julgando fora da causa de pedir que foi deduzida. Ah,

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    Fredie, mas eu aprendi que o juiz sabe o direito. Se o autor diz que foi violado o art. 70, o tribunal pode corrigir para o art. 90 Violao ao art. 90 trs! O tribunal pode corrigir 2, a hiptese normativa. S que a violao ao art. 70 aqui no a hiptese normativa, o fato que gera o direito de rescindir.

    Olhe como tudo muda (vou dar trs exemplos com base nesse caso): o sujeito

    alega violao ao art. 70, mas pede a resciso da sentena com base no inciso I, do art. 485, no com base no inciso V, do art. 485. Vem o tribunal e diz assim: meu querido, violao ao art. 70, no inciso I, do art. 485, inciso V, do art. 485, portanto, julgo procedente e acolho o pedido. Ou seja, o tribunal disse o seguinte: Voc disse que o art. 70 foi violado, quis encaixar isso no art. 485, I, mas no . inciso V, do art. 485. A corrige e julga. O tribunal pode fazer isso? Pode! A pode! Por qu? Porque no mudou a causa de pedir. A causa de pedir permanece a mesma: violao ao art. 70! O que muda a, para quem se lembra daquele esquema que a gente viu de causa de pedir o 2. No o trs. A muda a hiptese normativa. Ao invs de ser inciso I, inciso V. A pode! Mudar hiptese normativa, pode! Reparem que nesse segundo caso o tribunal no est alterando a causa de pedir. No est trazendo novo fato ao processo.

    A vem o terceiro problema. Esse terrvel! Sem querer assustar, mas esse

    terrvel! Ateno: o tribunal rejeita o pedido do cara. Diz que o art. 70 no foi violado e julga improcedente a rescisria. O tribunal rejeita a ao rescisria dizendo que o art. 70 no foi violado. Prestem ateno: se o tribunal diz que o art. 70 no foi violado, o tribunal est dizendo que no aconteceu o fato apontado como fato gerador do direito do autor. O tribunal diz: o fato que voc diz como violador do seu direito no aconteceu. No houve a violao que voc afirma ter ocorrido. No aconteceu o fato, no aconteceu 3, no aconteceu a causa de pedir remota que voc afirmou e o pedido foi julgado improcedente. Qual o problema? O autor, indignado, entra com um recurso especial contra essa deciso alegando o seguinte (anotem tudo!): STJ, o tribunal ao dizer que no houve violao ao art. 70, violou o art. 70. E eu quero entrar com recurso especial por violao ao art. 70 porque o tribunal aqui embaixo disse que o art. 70 no foi violado e ao dizer isso, o tribunal est violando o art. 70. Ao no proteg-lo, est violando. Quer dizer, ao dizer que no foi violado, est violando o art. 70. Esse o raciocnio do sujeito, que entra com recurso especial sob o fundamento de que o artigo supostamente violado foi violado na medida em que o tribunal disse que ele no foi violado. Pergunta: Pode? Esse recurso especial cabvel por violao ao art. 70? Essa a pergunta que no quer calar! Pergunta dificlima. Olhem s: o que a doutrina diz? No cabe esse recurso especial! E por que no cabe? Porque seria um recurso especial para discutir fato! Seria um recurso especial para discutir fato. Para discutir se houve ou no violao ao art. 70, portanto, fato! E no cabe recurso especial para discutir fato. Ento, o que a doutrina diz? No cabe, em rescisria, recurso extraordinrio (em sentido amplo) por violao ao artigo que causa de pedir da ao rescisria porque a seria discutir fato em recurso extraordinrio. Seria transformar o recurso extraordinrio em uma apelao para rediscutir a causa de pedir. Saber se a causa de pedir aconteceu ou no aconteceu

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    na rescisria. Eu no poderia, na rescisria, querer, via recurso extraordinrio ressuscitar a discusso sobre a lei supostamente violada (causa de pedir da rescisria).

    A voc poderia perguntar: quando que cabe recurso extraordinrio da

    rescisria? Cabe quando voc alegar uma violao na prpria rescisria. Por exemplo, o tribunal no motivou o acrdo, no houve motivao. A voc entra com recurso especial por violao ao artigo da motivao. O tribunal, por exemplo, diz que no cabe rescisria por violao a princpio a voc entra com recurso especial porque o tribunal aplicou mal o inciso V, ao proibir a rescisria por violao ao princpio. Quer dizer, voc teria que descobrir uma violao lei na prpria rescisria. Voc no poderia, no recurso especial, no recurso extraordinrio, querer ressuscitar a discusso sobre a causa de pedir remota. Isso o que a doutrina diz!

    STJ. O que o STJ diz? Aqui que o problema. O STJ vinha no sentido da

    doutrina. At porque est correto isso. At porque segue o que o prprio STJ diz que no cabe recurso especial para discutir matria de fato. O STJ vinha nessa toada, mas, mudou. De uns trs anos para c passou a admitir recurso especial para discutir a violao causa de pedir da rescisria. Passou a considerar possvel esse recurso especial nesse terceiro problema que eu mencionei aqui. Os outros dois, no, mas esse terceiro problema o nico que suscita polmica. Na doutrina, no caberia recurso especial nesses casos, porque questo de fato. Na jurisprudncia, era assim que se entendia, mas de uns tempos para c mudou.

    Na rescisria por inciso V, que a gente est examinando, o autor tem que dizer

    qual o artigo violado. Se ele no disser, inpcia. Se ele no disser: foi violada a norma tal, foi violado o art. tal, inpcia. Eu no posso disser assim: tribunal, eu quero rescindir a deciso porque ela violou o direito brasileiro. Descubra o direito. Eu no posso fazer isso. Eu tenho que dizer: violou o direito brasileiro na norma tal. Se eu no disser, inpcia por falta de causa de pedir.

    Para arrematar esse ponto, vamos dar uma olhada na Smula 408, do TST:

    Smula n 408 - TST - DJ 24.08.2005 - Ao Rescisria - Petio Inicial - Causa de Pedir - Capitulao - "Iura Novit Curia" - No padece de inpcia a petio inicial de ao rescisria apenas porque omite a subsuno do fundamento de rescindibilidade no art. 485 do CPC ou o capitula erroneamente em um de seus incisos. Contanto que no se afaste dos fatos e fundamentos invocados como causa de pedir, ao Tribunal lcito emprestar-lhes a adequada qualificao jurdica ("iura novit curia"). (O SEGUNDO PROBLEMA QUE EU MENCIONEI ESSE! EU ALEGO VIOLAA AO ART. 70 E ENCAIXO NO INCISO I. O TRIBUNAL VAI DIZER: NO. VIOLAA AO ART. 70 INCISO V. ELE NO EST SE AFASTANDO DA CAUSA DE PEDIR. EST APENAS ENQUADRANDO CORRETAMENTE) No entanto, fundando-se

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    a ao rescisria no art. 485, inc. V, do CPC, indispensvel expressa indicao, na petio inicial da ao rescisria, do dispositivo legal violado, por se tratar de causa de pedir da rescisria, no se aplicando, no caso, o princpio "iura novit curia". (ex-OJs ns 32 e 33 - ambas inseridas em 20.09.00)

    Quer dizer, se eu no disser qual o artigo violado, o tribunal no pode dizer por

    mim porque se o tribunal disser por mim, estar decidindo fora da causa de pedir.

    a) Rescisria no caso de sentena dada por prevaricao, concusso

    ou corrupo do juiz

    Art. 485 - A sentena de mrito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi dada por prevaricao, concusso ou corrupo do juiz;

    Inciso I - Percebam a que o caso de rescisria em razo de a sentena ter

    sido produto de uma atividade criminosa do rgo julgador. O rgo julgador proferiu uma sentena por prevaricao, concusso ou corrupo. Essa rescisria no pressupe condenao anterior no mbito penal. Eu posso propor a rescisria sem prvia condenao penal. possvel apurar na prpria rescisria a ocorrncia de qualquer desses crimes. possvel, no bojo da rescisria, apurar o cometimento do crime.

    A surge um tema que bem interessante, que o da produo de provas em

    rescisria. Quer dizer, na rescisria possvel produzir provas. uma ao como outra qualquer! Prova testemunhal, por exemplo. E a produo de provas em rescisria pode se dar no mbito do prprio tribunal (o relator colhendo as provas), como pode se dar da seguinte maneira: o relator expede carta de ordem para que juzes de primeira instncia colham as provas. Isso pode acontecer. A prova pode ser produzida, em tribunal, como pode o relator expedir essa carta de ordem. O certo, que a prova desse ato ilcito pode ser produzida no bojo da prpria rescisria.

    claro que se j houve processo penal a respeito do tema com sentena

    absolutria por negativa de autoria ou de materialidade, a no caber rescisria porque j h coisa julgada penal de que no houve o crime ou de que o juiz no foi o agente. Essa coisa julgada repercute no cvel e impede futura rescisria. Eu no preciso da sentena penal condenatria para propor a rescisria, mas se j houver uma sentena penal absolutria (negativa de autoria ou materialidade) no caber a rescisria tendo em vista a fora da coisa julgada penal na esfera cvel.

    b) Rescisria no caso de sentena dada por juiz impedido ou

    absolutamente incompetente

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    Art. 485 - A sentena de mrito, transitada em

    julgado, pode ser rescindida quando:II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;

    Inciso II S cabe rescisria por juiz impedido (no suspeito!) ou

    absolutamente incompetente. No qualquer juiz incompetente. o absolutamente incompetente! mais uma demonstrao de que mesmo a sentena contaminada com um vcio gravssimo, que o vcio do impedimento ou o vcio da incompetncia absoluta, so vcios que autorizam rescisria. Ou seja, passado o prazo da rescisria, um abrao! A grande pergunta, a mais complicada que podem lhe fazer no concurso sobre esse inciso II saber:

    A rescisria por incompetncia absoluta permite rejulgamento da causa? Ou

    seja, cabe iudicium rescissorium na rescisria por incompetncia absoluta? Cabe pedido de rejulgamento na rescisria por inco