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Revista Científica do UniRios 2020.2 |113 DIREITOS HUMANOS ENTRE OS MUROS DA ESCOLA: As nuances entre o direito à educação Bruna Santana de Oliveira Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia UNEB Mestranda em Educação do PPGED pela Universidade Federal de Sergipe- UFS E-mail: [email protected] Kelly Gianezini Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Direito e em Sociologia pela UFRGS. Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioeconômico da UNESC e líder do Grupo de Estudos sobre Universidade (GEU) E-mail: [email protected] Vinicius Silva Santos Professor da Universidade do Estado da Bahia UNEB. Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Sergipe UFS. E-mail: [email protected] RESUMO Neste artigo se discute o direito à educação prevista como direito fundamental, evidenciando os paradoxos de sua prática no âmbito escolar, demonstrando as “nuances da reprodução sociológica” na escola de Educação Infantil entre os muros da escola, de modo a entender a importância do processo de luta para a evolução dos direitos e garantias nesse campo de atuação. A pesquisa de abordagem qualitativa foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica. Constatou-se que é possível perceber que a legislação educacional possui critérios e objetivos que são fulcrais para o desenvolvimento da educação voltada para os Direitos Humanos. A escola como um espaço importante para o desenvolvimento da sociedade deve priorizar o desenvolvimento da educação e humanização do indivíduo. Ademais, esse espaço social possui desafios que transcedem as garantias legislacionais. Palavras-chave: Educação Infantil. Direito Fundamental. Reprodução. DERECHOS HUMANOS ENTRE MUROS ESCOLARES: Los matices entre el derecho a la educación RESUMEN En este artículo se discute el derecho a la educación prevista como derecho fundamental, evidenciando las paradojas de su práctica en el ámbito escolar, demostrando los matices de una reproducción en la escuela de educación infantil entre los muros de la escuela, para entender la importancia del proceso de lucha para la evolución de los derechos y garantías en ese campo de actuación. La investigación de abordaje cualitativo fue realizada por medio de una revisión bibliográfica. Se constató que es posible percibir que la legislación educativa tiene criterios y objetivos que son fundamentales para el desarrollo de la educación orientada hacia los Derechos Humanos. La escuela como un espacio importante para el desarrollo de la sociedad debe priorizar el desarrollo de la educación y

DIREITOS HUMANOS ENTRE OS MUROS DA ESCOLA: As ......entre los muros de la escuela, para entender la importancia del proceso de lucha para la evolución de los derechos y garantías

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    DIREITOS HUMANOS ENTRE OS MUROS DA ESCOLA: As nuances entre o direito

    à educação

    Bruna Santana de Oliveira Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB

    Mestranda em Educação do PPGED pela Universidade Federal de Sergipe- UFS

    E-mail: [email protected]

    Kelly Gianezini Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Direito e em

    Sociologia pela UFRGS. Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento

    Socioeconômico da UNESC e líder do Grupo de Estudos sobre Universidade (GEU)

    E-mail: [email protected]

    Vinicius Silva Santos Professor da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.

    Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Sergipe – UFS.

    E-mail: [email protected]

    RESUMO

    Neste artigo se discute o direito à educação prevista como direito fundamental,

    evidenciando os paradoxos de sua prática no âmbito escolar, demonstrando as

    “nuances da reprodução sociológica” na escola de Educação Infantil entre os

    muros da escola, de modo a entender a importância do processo de luta para a

    evolução dos direitos e garantias nesse campo de atuação. A pesquisa de

    abordagem qualitativa foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica.

    Constatou-se que é possível perceber que a legislação educacional possui critérios

    e objetivos que são fulcrais para o desenvolvimento da educação voltada para os

    Direitos Humanos. A escola como um espaço importante para o desenvolvimento

    da sociedade deve priorizar o desenvolvimento da educação e humanização do

    indivíduo. Ademais, esse espaço social possui desafios que transcedem as

    garantias legislacionais.

    Palavras-chave: Educação Infantil. Direito Fundamental. Reprodução.

    DERECHOS HUMANOS ENTRE MUROS ESCOLARES: Los matices

    entre el derecho a la educación

    RESUMEN

    En este artículo se discute el derecho a la educación prevista como derecho

    fundamental, evidenciando las paradojas de su práctica en el ámbito escolar,

    demostrando los matices de una reproducción en la escuela de educación infantil

    entre los muros de la escuela, para entender la importancia del proceso de lucha

    para la evolución de los derechos y garantías en ese campo de actuación. La

    investigación de abordaje cualitativo fue realizada por medio de una revisión

    bibliográfica. Se constató que es posible percibir que la legislación educativa tiene

    criterios y objetivos que son fundamentales para el desarrollo de la educación

    orientada hacia los Derechos Humanos. La escuela como un espacio importante

    para el desarrollo de la sociedad debe priorizar el desarrollo de la educación y

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    humanización del individuo. Además, ese espacio social tiene desafíos que

    transceden a las garantías legislativas.

    Palabras clave: Educación infantil. Derecho Fundamental. Reproducción.

    1 INTRODUÇÃO

    A importância dos avanços na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) sobre a

    educação como direito social e sequentemente na Educação Infantil como direito

    fundamental, mostra a importância da aplicabilidade desse direito no que classifica a

    educação como primordial na formação do homem enquanto sujeito protagonista do processo

    de humanização e cidadão em formação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos,

    reconhece que todo ser humano tem direito à instrução, doravante, garante nos graus

    elementares e fundamentais, bem como, seja gratuita, obrigatória e universal, corroborando a

    democratização desse espaço e a inclusão, cabendo ao Estado assegurar o seu acesso.

    Na conjuntura brasileira, a Constituição Federal de 1988 (CF/1988), possui inquestionável

    relevância para os avanços no campo educacional. A legislação brasileira evidencia a

    responsabilidade da sociedade e do poder público sobre desenvolvimento integral da criança e

    possui o dever de promover o bem-estar desde o seu nascimento, garantindo uma educação

    que deve ir além do mero assistencialismo e indissociando o ato de educar e o de cuidar.

    Não obstante, é interessante um estudo minucioso do espaço escolar a respeito dos diferentes

    mecanismos universais desse campo que abrigam variáveis secundárias. Bourdieu (1983),

    sustenta que é necessário analisar as especificidades do campo educacional onde seguem

    interesses específicos. Embora tenha realizado suas pesquisas em outros países de contexto

    social e cultural distintos dos nossos, é importante salientar que o método sociológico é

    universal porque quando se usa a contextualização os resultados são os mesmos.

    É nesse limiar que este artigo baseado em uma abordagem qualitativa de pesquisa e utilizando

    variados estudos por intermédio da revisão bibliográfica tem o objetivo de discutir o direito à

    educação prevista como direito fundamental e os paradoxos solidificados entre os muros da

    escola. Toda essa dinâmica ocasiona uma reprodução na prática que evidencia os paradoxos

    entre a garantia e a oferta, enfatizando a importância das garantias do direito à educação e um

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    olhar sobre a reprodução do campo escolar, em destaque aqui, a escola de Educação Infantil

    na legislação brasileira.

    O artigo foi estruturado em seis partes. Na primeira contextualizou-se os aspectos que

    contemplam a educação como um direito humano e também como um direito fundamental.

    Nas demais, consecutivamente, promoveu-se a descrição da: a) do direito à educação e o uso

    do conceito “a reprodução” de Bourdieu na Educação Infantil; b) relevância tanto da escola

    quanto da Educação Infantil; c) vigência do direito à Educação Infantil no Brasil; e, d)

    contextualização do conceito infância. E, na última parte, constataram-se os distanciamentos

    entre as garantias e as práticas no que concerne o direito à educação, possibilitando entender a

    construção desse direito no limiar do processo histórico de luta; que por meio de tessituras

    práticas solidifica um distanciamento entre as garantias e a verdadeira dinâmica no campo

    escolar.

    2 CONTEXTO HISTÓRICO DA INFÂNCIA: BREVE ANÁLISE

    Na Idade Média a visão adultocêntrica17 direcionada à criança anunciava a lembrança perdida

    de sua infância. Em contraste, Ariès (1978, p. 06) afirma que “[...] aquilo que nasce é

    chamado de enfant (criança), que quer dizer não-falante, pois nessa idade a pessoa não pode

    falar”. De fato, a criança silenciada, era vista como sinônimo de algo trabalhoso e que não

    tinha domínio da vida real, tinha a lembrança perdida, evidenciando, a extinção por um longo

    tempo a noção de criança e infância.

    A concepção de infância na Idade Média era associada à noção de dependência, pois de

    acordo com as exigências daquela época, a criança deveria se tornar independente no decorrer

    de seu crescimento, pois a mesma deveria aprender rapidamente, iniciando o processo de

    emancipação por meio do desenvolvimento da fala. Porquanto, o conceito de infância e

    criança possuíam as mesmas derivações que segundo Freitas (2003, p. 23) “as ‘crias’ nem

    sempre eram assumidas inteiramente ou parcialmente pelas próprias famílias, visto que, havia

    um intenso abandono e um alto índice de infanticídio”. Com isso, a criança teve sua essência

    17 Cambi (1999) afirma em “a História da Pedagogia” que não há visão ‘adultocêntrica’ porque neste período a

    criança é tida como animal, ou seja, não existe, por isso os “não falantes”. Até então, são os ‘adultos em

    miniatura’ para crianças entre 5-12 anos e adoecidos (adolescentes) 13-19 anos. A ideia de criança como ser só

    começa a ser formulada no século XVII com Comenius (Didática Magna) e é implantada no século XIX.

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    negada, e não era considerada digna de lembrança, pois sua sobrevivência era tida como

    problemática, não havendo separação entre o mundo do adulto e o mundo da criança.

    Com o passar do tempo, a escola em seu processo histórico determinou a hierarquização do

    ensino, onde o direito à instrução era apenas direcionado para os dirigentes da classe alta,

    além disso, tida como privilégio para aqueles que tinham melhores condições. Desta forma, a

    criança ainda não tinha visibilidade, independente de classe, sua necessidade de instrução

    ainda prosseguia negada e “[...] a criança concebida como um objeto descartável, sem valor

    intrínseco de ser humano” (RIZZO, 2003, p. 37), tornando evidente a invisibilidade e

    exclusão da criança enquanto ser humano e social independente de sua posição social.

    Dahlberg, Moss e Pence (2003) sustentam que para melhor compreender o universo infantil, é

    necessário perpassar o contexto histórico, pois é essencial para discernir as mais variadas

    conquistas da conjuntura macro à específica que hoje são asseguradas por meio da legislação.

    No decorrer das transformações sociais, políticas, econômicas e culturais no dos séculos, a

    escola transmitiu instrução básica para os proletariados em prol da revolução industrial. Logo

    após, a Educação Infantil que antes, simplesmente, não existia, deixou seu caráter

    assistencialista e passou a ter um novo olhar sobre a criança passando a vê-la como sujeito

    integrante do espaço social ao qual estava inserida (ARIÈS, 1978).

    Nesse sentido, torna-se relevante destacar a escola de Educação Infantil como espaço de

    importância fulcral para formação da criança. Tendo em vista uma análise minuciosa entre

    processo histórico e o desenvolvimento de políticas públicas educacionais como abordado do

    tópico a seguir.

    3 A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL

    Anteriormente com viés assistencialista a Educação Infantil priorizava atender apenas às

    necessidades das mulheres inseridas no mercado de trabalho. Com isso, a instituição voltada

    para os cuidados com criança, durante muito tempo priorizou o cuidar, no sentido de

    substituir as incumbências das mães ocupadas com as demandas de um novo modelo

    econômico, concretizando essa função por longos períodos.

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    Após um longo período de tempo, a escola de Educação Infantil – instituição anteriormente

    considerada sem importância na esfera social, ou melhor, com finalidade apenas

    assistencialista – desencadeou um processo de valorização, sobretudo, de reconhecimento da

    criança enquanto ser social, protagonista dos espaços nos quais estão inseridas. Nesse sentido,

    observando, acima de tudo, a natureza das questões políticas e sociais originárias de seu

    tratamento, a escola de Educação Infantil avança enquanto espaço de humanização e

    desenvolviemento do processo de ensino-aprendizagem.18

    Corsaro (2011) corrobora sobre a importância de reconhecer que as crianças são agentes

    sociais, por isso a Educação Infantil deve enxergar as crianças como ativos, criativos,

    contando com as interações como algo crucial para as decisões e formações na inserção em

    contextos sociais. As crianças, enquanto atores dos processos de desenvolvimento nas mais

    diversificadas vertentes são capazes de produzir sua própria história, contribuindo para a

    formação da produção da sociedade adulta, contrário de ser vista apenas com um meio de

    amenizar as mazelas dos demais níveis de ensino.

    Com efeito, a Educação Infantil tem papel fundamental na formação da criança enquanto

    sujeito protagonista de sua formação, o contato com o corpo escolar transforma as relações

    em seu aprendizado imprescindível para o desenvolvimento da criança: motor, cognitivo,

    social, dentre outros. Por esta razão, é primordial compreender o conceito de infância para

    melhor discernir o significado da Educação Infantil, enquanto espaço de importância ímpar

    para o desenvolvimento da criança.

    Ao compreendermos que infância não significa um simples conjunto de crianças, mas uma

    categoria social, não podemos nos esquecer de que não se trata apenas daquilo que as instituições

    inventam para ela, mas sim, de que há algo naquilo que a criança faz de si e naquilo que se faz

    dela, como ser ‘criança’ ou ser ‘aluno’ (MEDEIROS, 2009, p. 26).

    A Educação Infantil propicia situações de convívio das crianças com professores, interação

    essa que possibilita melhor entender a importância das regras, soluções de conflitos, de

    condições iguais e desiguais. Desta maneira, a escola é um espaço que transcende a visão

    conteudista, pois proporciona vivências nas práticas diárias, não deixando de lado a

    importância de ter um olhar sobre as práticas educativas que incluam e oportunize a criança

    entender de forma coletiva as representações nesse ambiente e fora dele.

    18 Somente no final do século XIX esta ideia começou a surgir, ganhou destaque com o Movimento

    Escolanovista, mas foi efetivo após a Declaração Universal dos Direitos da Criança pela UNICEF. Até então,

    escola para crianças era somente um espaço no qual eram “depositados” os pequeninos.

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    Em suma, as situações devem ser contextualizadas com a realidade da criança tendo uma

    aproximação positiva, que não se limite apenas em projetos de datas comemorativas,

    eminentemente, compartilhar experiências que possibilite melhor entender os valores sociais

    básicos nas práticas diárias.

    Para tanto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010),

    aponta as garantias que a Escola de Educação Infantil deve assegurar. Assim como o direito à

    saúde, à proteção, entre outros, o direito à brincadeira na Educação Infantil, sobretudo, tem

    que ser priorizado, pois possibilita a criança ter acesso aos processos de apropriação de

    mundo, havendo também, a apropriação de conhecimentos e aprendizagens, não só de

    maneira individual, mas também coletiva.

    Isto posto, Vygotsky (2007) enfatiza a importância do brincar para o desenvolvimento da

    criança, e explica que o brincar é uma situação imaginária, onde a criança pode assumir

    papéis, podendo ser personagens imaginários, muitas vezes com situações de

    responsabilidades adultas, assumindo papel de pessoas mais velhas como alguém da família

    ou até mesmo da própria escola. Isto é, o brincar, inserido nas dimensões do cuidar e educar

    na Educação Infantil propicia à criança sentimentos e situações se tornando um grande

    instrumento para o processo de evolução da criança.

    Transcendo a dimensão das possibilidades de oferta dentro deste espaço, Karlsson (2008)

    acentua a relevância dos agentes da escola a entender a criança em seus pequenos gestos,

    permitindo uma permuta conjunta e colaborativa. Com isso sustenta:

    Se realmente queremos entender e conhecer as crianças e aprender sobre suas culturas nas suas

    perspectivas, devemos mergulhar na cultura e no mundo das crianças. Elas são atores sociais

    ativos e competentes. Uma criança não pensa exatamente como um adulto. Suas palavras e modo

    de agir, suas formas de pensar e refletir são [...] mais complexos do que geralmente nós pensamos.

    Se nós queremos que as crianças nos contem algo sobre elas próprias, precisamos levá-las a sério e

    tratá-las equitativamente (p. 165-166).

    De contrapartida, os desafios na escola de Educação Infantil evidenciam uma distância entre o

    que deve ser oferecido e o que é ofertado na prática. Com isso, é necessário ampliar os

    cuidados na Educação Infantil que não deve se limitar apenas em educar, mas também de

    cuidar. Tudo isso por meio da organização de espaços, possibilitando ainda, interações e

    aprendizagens de acordo com a fase da criança, e o professor, agente principal desse espaço,

    deve contribuir com o desenvolvimento integral da criança.

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    Por outro lado, ainda é necessária a efetivação positiva de políticas públicas (CROCETTA;

    GIANEZINI, 2017) voltadas para escola de Educação Infantil, embora esteja inclusa nos

    direitos e garantias, há um distanciamento das práticas. Mediante o exposto, o próximo tópico

    evidencia o direito à Educação Infantil no Brasil em vigor, como uma conquista às

    necessidades fundamentais da criança enquanto ser humano e social.

    4 DIREITO À EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL EM VIGOR

    Tendo em vista os avanços na Educação Infantil, a importância da Declaração Universal dos

    Direitos Humanos e, logo após a Declaração Universal dos Direitos da Criança, todos de

    exímia pertinência para reconhecer a criança enquanto ator/protagonista dos âmbitos quais

    estão inseridas. Em destaque a Declaração Universal dos Direitos da Criança, já que a mesma

    estabelece que as crianças têm o direito à igualdade sem distinção, raça, religião ou

    naturalidade, abordando de forma detalhada em seus princípios as necessidades fundamentais

    da criança.

    Nesse sentido, a perspectiva da Educação Infantil no Brasil, enquanto direito da criança, foi

    resultado da conquista dos Direitos Humanos no plano sócio histórico. Dentre estes, se

    destaca o acesso a educação da criança de zero a seis anos, surgindo de um processo histórico

    de luta que deixa de ter um caráter de cunho assistencialista para ter como meta atual conduzir

    e educar a criança a entender melhor suas especificidades e particularidades.

    Nesse intuito, Constituição Federal de 1988, garante no inciso I, do art. 206, a igualdade de

    condições para acesso e permanência na escola e no inciso IV, o atendimento em creche e pré-

    escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. A Constituição assegura que a criança inserida na

    Educação Infantil tenha igualdade de direitos e condições de acesso para que permaneçam nos

    demais níveis de ensino.

    Logo após isso, houve a necessidade de uma lei que abrangesse as diretrizes educacionais

    garantidas na Constituição. Sendo assim, surgiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

    (LDBEN),19 Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e por isso, o destaque da Educação

    19 É pertinente fazer um breve esclarecimento: embora a sigla desta Lei seja utilizada no documento oficial como

    LDBEN, a mesma é usualmente referida no meio acadêmico como LDB. Neste artigo optou-se por utilizar a

    forma como ela é frequentemente utilizada: LDB (MADER; ALFREDO; GIANEZINI, 2016).

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    Infantil, inexistente anteriormente, encontra-se evidente na Seção II da LDB, em seu capítulo

    II, onde abrange a Educação Básica, apresenta os seguintes termos:

    Art. 29 A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem com finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico,

    intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

    Art. 30 A Educação Infantil será oferecida em: I - creches ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II – pré-escolas para crianças de quatro a seis anos de idade.

    Art. 31 Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.

    A LDB sustenta a importância da Educação Infantil – enquanto primeira etapa da educação

    básica – e com isso, as finalidades institucionais para melhor desenvolvimento da criança

    enquanto ser em formação nos seus aspectos social, psicológico etc. Para tanto, a LDB em sua

    redação promove o desenvolvimento integral da criança e consequentemente a exigência de

    profissionais qualificados, descaracterizando esse espaço como uma instituição de caráter

    assistencialista, mas sim, um espaço que transcende essa funcionalidade.

    Desta maneira, surgem dentro do campo educacional de Educação Infantil vários desafios

    para o cumprimento de garantias mencionadas na LDB, pois as práticas nesse espaço

    evidenciam um distanciando. Por isto, a perspectiva contemporânea da Educação Infantil,

    ainda necessita de um olhar de melhoria dos espaços, de profissionais capacitados e de

    práticas que pedagógicas voltadas para o desenvolvimento da criança de forma integrada.

    Saviani (1997) defende que a legislação não deve ser analisada com algo inócuo, mas sim em

    suas intencionalidades que descaracteriza na prática seus verdadeiros objetivos. Mediante o

    exposto, o campo da Educação Infantil é um espaço de interações, estas consideradas

    essenciais para o desenvolvimento e aprendizagem da criança - etapa fundamental da

    educação básica, e tem em seus princípios pedagógicos o educar e cuidar, contudo, mostra as

    fragilidades em sua função, tornando a criança vulnerável às ações pedagógicas paradoxais.

    Não obstante, ainda que esteja assegurado o direito da criança por meio da legislação

    Brasileira, para formar a criança para a cidadania. Bourdieu (2004) enfatiza que o campo

    educacional, bem como outros espaços, deve ser analisado em sua eficácia, que de certa

    forma, é atribuída às leis que é regida por particularidades em seu exercício, se submetendo ao

    funcionamento macro que estão inseridos. É nesse sentido que o tópico a seguir destaca o

    direito à educação entre os muros da escola tendo como consequência o distanciamento entre

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    Revista Científica do UniRios 2020.2 |121

    o que é ofertado e a prática dentro desse espaço, uma espécie de reprodução na escola de

    Educação Infantil.

    5 ENTRE OS MUROS DA ESCOLA: AS NUANCES ENTRE O DIREITO À

    EDUCAÇÃO E A REPRODUÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

    A afirmação de um descompasso entre o que a lei garante e a sua aplicação nas escolas de

    Educação Infantil, a torna protagonista na reprodução social, enquanto primeira fase da

    educação básica, que se remete a constituição de práticas que não são consolidadas de

    maneira positiva. Em vista disso, a reforma na educação brasileira, trouxe diversas mudanças

    com a inclusão da Educação Infantil (creche e pré-escola), na LDB que define a Educação

    Infantil como primeira etapa da educação básica (art. 29) ampliou a importância social da

    criança ao inseri-la como indivíduo de formação necessária para o exercício da cidadania,

    detalhando os direitos e organizando os aspectos gerais do ensino.

    Por outro lado, sobre a aplicação da LDB, Saviani (1997, p. 226) diz que “é uma lei com a

    qual a educação ficará aquém, além ou igual à situação anterior”, enfatizando as contradições

    entre os objetivos e as práticas do campo escolar.

    [...] os objetivos proclamados tendem a mascarar os objetivos reais. [...] dado um texto da LDB, os

    objetivos proclamados fluirão diretamente dos que consubstanciam as diretrizes [...] já a

    identificação dos objetivos reais exigirá o exame dos títulos relativos às bases [...] Ora, a função de

    mascarar os objetivos reais através dos objetivos proclamados é exatamente a marca distintiva da

    ideologia liberal, dada a sua condição de ideologia típica do modo de produção capitalista o qual

    introduziu, pela via do ‘fetichismo da mercadoria’, a opacidade nas relações sociais (SAVIANI,

    1997, p. 190-191).

    Dessa forma, a situação da educação do país, sobretudo, na Educação Infantil, evidencia o

    revés da aplicabilidade de suas políticas públicas que mostra as propriedades de como o

    campo educacional funciona (GIANEZINI; et al. 2017). Conforme Bourdieu (1983) destaca, é

    preciso ter objetos de disputas e pessoas prontas para dissimular, implicando no conhecimento

    e reconhecimento das leis imanentes.

    A antinomia da LDB na Educação Infantil retoma o processo de reprodução no sistema

    escolar e a ineficácia da aplicabilidade da legislação educacional infantil, que mostra as

    variações da estrutura escolar que consolidam as distribuições e competências em sua relação

    pedagógica. Logo, ao inserir a Educação Infantil na educação básica, deixando de lado o seu

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    caráter assistencialista, e tendo por intenção o desenvolvimento integral da criança em seus

    aspectos físico, intelectual, social, cultural e psicológico. Para tanto, deve ter em sua função

    avanços positivos, mas, consequentemente, seu fim prático está aquém e refém das

    apreciações em sala de aula.

    A isonomia perante a legislação educacional depende diretamente dos fatores externos do

    campo escolar, que deve ser retraduzida a forma de sua aplicação para análise profunda das

    estruturas de relações que traz diferentes agentes com posições e objetivos adversos. “[...] São

    questões que na prática se configuram de forma clara e penso que atualmente, existe uma

    enorme demanda concernente ao sistema de educação que ninguém formula e, sobretudo

    ninguém quer entender” (2004, p. 82). Para isso, Bourdieu (2004) aconselha a análise

    detalhada das teorias educacionais que são garantidas pelo Estado por meio da lei, mas que na

    prática mostram resultados que estão não esperados.

    De acordo com Oliveira (2011), as pesquisas sobre o desenvolvimento da criança revelam que

    a proposta da LDB para as creches e pré-escolas deve propiciar de maneira positiva as

    condições de interação com os adultos e crianças. Essa interação tem que ser voltada para

    uma construção positiva de suas significações acerca do mundo e de si mesmas e,

    concomitantemente, buscar desenvolver os mais diversos sentidos do sentir, pensar, falar e

    desenvolver sua autonomia, se constituindo como sujeito histórico de sua construção.

    Em contrapartida, Bourdieu (1989, p. 57) enfatiza que “a análise do discurso legislativo,

    permite explicar os discursos e estratégias em seus antagonismos, dos diferentes ‘golpes’

    desferidos que são bem-sucedidos na estrutura escolar objetiva”. Por sua vez, a Educação

    Infantil que seria uma educação complementar, priorizando a formação da criança, de modo a

    refletir na sociedade a qual está inserida, mostra o crivo dos obstáculos em sua função na

    prática.

    Barreto (1998) diz que há uma diferença entre oferecer uma igualdade de acesso às crianças e

    a prática de uma educação de qualidade, em que a mesma deve reconhecer a criança em seus

    primeiros anos de vida, surgindo diversos desafios ao atendimento positivo desse direito, que

    foi concedido em um processo histórico de luta. A LDB assegura no art. 22, que a educação

    básica tem por atribuição desenvolver o educando a assegura-lhe a formação comum

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    indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e

    em seus estudos posteriores. Não obstante, Barreto sustenta:

    As instituições de Educação Infantil no Brasil, devido à forma como se expandiu, sem os

    investimentos técnicos e financeiros necessários, apresenta, ainda, padrão [...] aquém dos

    desejados [...] insuficiência e inadequação de espaços físicos, equipamentos e materiais

    pedagógicos; a não incorporação da dimensão educativa nos objetivos da creche; a separação entre

    as funções de cuidar e educar, a inexistência de currículos ou propostas pedagógicas são alguns

    problemas a enfrentar (1998, p. 25).

    Dito isto, a escola de Educação Infantil em sua proposta pedagógica deve considerar a

    importância do contexto socioeconômico local da criança, priorizando o desenvolvimento da

    mesma, atendendo às necessidades do meio que ela faz parte. Por isso, a LDB, em suas

    disposições gerais, art. 23, em seu texto aborda § 2º, “o calendário escolar deverá adequar-se

    às peculiaridades locais climáticas e econômicas”, evidenciando a importância de uma análise

    preliminar para a construção e proposições de práticas planejadas para a escola de Educação

    Infantil.

    Partindo desse pressuposto, no contexto prático, sobre as ações pedagógicas Bourdieu (2007)

    reconhece que a ação pedagógica em sua relação prática possui em sua dinâmica mensagens

    carregadas de estigmas, já que inevitavelmente há imposições em seu cotidiano. Por esse

    ângulo, a escola de Educação Infantil se torna o ambiente ideal, pois envolve diferenciados

    tipos de respostas com um público nas idades iniciais da infância, com interações díspares e

    partilha as mais variadas experiências.

    No tocante, a LDB em seus princípios destaca em seu art. 3º, inciso II, que “a liberdade de

    aprender, ensinar, pesquisar e divulgar cultura, o pensamento, a arte e o saber20” são direito de

    todos. Em sua prática intrínseca e escola como um campo que possui práticas nos princípios

    de seu funcionamento, dispõe a legitimação das diferenças sociais, em sua essência particular

    que tende a ser reprodutiva. Bourdieu ressalta (2007, p. 131):

    Em seu plano mais profundo, basta levar em conta a função de legitimação das diferenças sociais

    cumprida pelas diferenças culturais e, em particular, as diferenças que o sistema de ensino

    reproduz e sanciona, a fim de perceber a contribuição social que as instâncias de conservação

    cultural trazem à conservação social, em sua qualidade de depositárias e guardiãs da legitimidade

    cultural.

    20 Documento eletrônico. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf .

    Acesso em: 06 fev. 2019.

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    Desse modo, a LDB garante a educação em suas diretrizes, mas deixa a desejar na qualidade

    de sua prática. “[...] corre-se o risco de nunca virmos a ter tal atendimento, visto que ainda

    não conseguimos, sequer, adotá-lo para as crianças do Ensino Fundamental” (BRANDÃO,

    2007, p. 82). Esses conflitos do sistema escolar perduram no processo de reprodução das

    relações sociais dentro dela, implicando diretamente no desconhecimento do traço arbitrário

    da LDB.

    Portanto, todos os indivíduos que compõe o âmbito escolar estão à mercê das relações

    reprodutivas de conservação e consagração social, em seus princípios práticos e obrigatórios

    que inclui a todos de forma “igualitária” e garante por meio de prerrogativas a submissão da

    legislação educacional. Nessa perspectiva, Bourdieu (2007, p. 131) discorre sobre a

    arbitrariedade legislacional:

    Dentre os efeitos ideológicos produzidos pelo sistema de ensino, um dos mais paradoxais e mais

    determinantes reside no fato de que ele consegue obter dos que lhe são confinados (isto é, sob um

    regime de escolaridade obrigatória, todos os indivíduos) o reconhecimento da lei implicada no

    desconhecimento arbitrário desta lei.

    Na prática do ensino, a LDB garante também no artigo 3º, inciso IV, o respeito à liberdade e

    apreço à tolerância. Para tanto, a função do professor de Educação Infantil é fulcral para

    necessidades básicas reconhecidas por meio da lei. A mesma visa oferecer cuidados essenciais

    para o desenvolvimento das experiências e aprendizagens da criança. Oliveira (2011) diz que

    as relações básicas em sala de aula, podem internalizar regras e comportamentos que a

    criança, além disso, estão expostas a procedimentos básicos, tais como: regras, espaço,

    comunicação, transmissão de conteúdo entre outros, pratica restrições que competem ao

    professor a responsabilidade desse universo simbólico.

    Por conseguinte, é preciso considerar os tipos de origem sociais das crianças, que influenciam

    diretamente nas relações em sala de aula. Atinente as intencionalidades das práticas

    pedagógicas ocasionadas pelo professor, sobremaneira, numa causalidade estrutural seletiva

    que inclui e exclui em diversos momentos, sendo capazes de agir nas categorias, que são

    classificatórias e decisivas, distintivas na distribuição dos resultados de sucesso e fracasso

    escolar.

    Na perspectiva totalizante sobre as conquistas no campo escolar, Didonet (2001) estabelece

    que a criança, um ser humano pequeno, está diante das contrariedades do sistema educacional

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    que vai muito além de uma instituição, que possui suas qualidades e defeitos, necessidades

    sociais que antecede a importância educacional. Por isso, nas práticas intrínsecas no sistema

    educacional deixa a desejar em seus diversos aspectos, sobre isso Bourdieu (2015 em suas

    obras destaca a necessidade de se ter uma visão ampla na concepção entre o que a escola tenta

    oferecer e o que ela realmente oferece, em sua condição de gratuita, universal e obrigatória,

    pois possui efeitos decisórios no destino dos alunos.

    Portanto, a legislação pressupõe critérios e objetivos que não são aplicados de forma positiva

    dentro da Educação Infantil. Sobre essa questão Bourdieu (2014) estabelece que a primeira

    educação, ou seja, a primeira experiência da criança deve ser consolidada por meio dos

    direitos que lhe são garantidos, um fator determinante por intermédio das práticas e atitudes

    coercitivas ligadas às origens de classe que é necessário uma releitura dos determinismos

    garantidos mediante a aplicação da lei que ocorre nas relações e práticas da Educação Infantil.

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Ante a discussão abordada, é possível entender o processo de luta e os passos largos que a

    Educação Infantil conquistou por meio da legislação brasileira, contudo, ainda há resquícios

    de sua desvalorização, principalmente, tratando-se da distância entre o direito garantido em

    sua função fundamental e a verdadeira prática no âmbito esolar. Dessa forma, é possível

    perceber que a legislação educacional voltada para essa etapa da educação básica direcionada

    à criança, possui critérios objetivos que são essenciais para o desenvolvimento da educação,

    no entanto, entre os muros da escola não são aplicados de maneira positiva para a formação

    social e humana da criança no contexto de sua prática, fazendo surgir um distanciamento entre

    a oferta e aquilo que se espera perante tantos problemas observados no cotidiano do ambiente

    educacional.

    Sendo assim, é cabível ampliar as pesquisas dentro do espaço escolar, para além de suas

    garantias, de modo a investigar os fatores que levam a esse distanciamento que interferem

    diretamente no processo de ensino-aprendizagem e socialização dentro da sala de aula. Diante

    dos desafios vividos pela escola na atualidade em seus níveis de ensino, nota-se a existência

    de um paradoxo entre sua função universal, gratuita e obrigatória. Dessarte, a escola como um

    espaço significativo para o desenvolvimento da sociedade deve priorizar o desenvolvimento

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    da educação em seu aspecto humanitário e social em prol dos indivíduos inseridos nesse

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