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COMANDO-GERAL DIRETRIZ PARA PRODUÇÃO DE SERVIÇOS DE SEGURANÇA PÚBLICA Nº 3.01.05/2010-CG Dezembro/2010 REGULA A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS SEGUNDO A FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS

diretriz de direitos humanos

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direitos humanos

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Page 1: diretriz de direitos humanos

COMANDO-GERAL

DIRETRIZ PARA PRODUÇÃO DE SERVIÇOS DE

SEGURANÇA PÚBLICA Nº 3.01.05/2010-CG

Dezembro/2010

REGULA A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

SEGUNDO A FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS

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2

GOVERNADOR DO ESTADO

ANTONIO AUGUSTO JUNHO ANASTASIA

SECRETÁRIO DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL

MOACYR LOBATO DE CAMPOS FILHO

COMANDANTE-GERAL DA PMMG

Coronel PM RENATO VIEIRA DE SOUZA

CHEFE DO ESTADO-MAIOR

Coronel PM MÁRCIO MARTINS SANT’ANA

COMANDANTE DA ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

Coronel PM FÁBIO MANHÃES XAVIER

DIRETOR DE APOIO OPERACIONAL

Coronel PM EDUARDO DE OLIVEIRA CHIARI CAMPOLINA

SUPERVISÃO TÉCNICA

Ten Cel PM ARMANDO LEONARDO L. A. F. DA SILVA

Chefe da Seção de Emprego Operacional do EMPM

REDAÇÃO

Cel PM QOR Jovino César Cardoso

Ten Cel PM Marcelo Vladimir Corrêa

Cap PM Cleverson Natal de Oliveira

Cap PM Sandro Heleno Gomes Ferreira

Cap PM Gilmar Luciano Santos

Cap PM Carla Cristina Marafeli

Cap PM Cláudia Herculana F. Glória

Cap PM Cláudio Duani Martins

Cap PM QOS Paola Bonanato Lopes

Pedagoga Resângela Pinheiro Sousa

COLABORAÇÃO

Sd PM Edna Márcia Costa Mendonça

Assessora Jurídica Maria Amélia Pereira

REVISÃO DOUTRINÁRIA

Maj PM Alexandre Nocelli

Cap PM Edivaldo Onofre Salazar

2º Sgt PM Luiz Henrique de Moraes Firmino

REVISÃO FINAL

Ten Cel PM Leandro Bettoni

Subcomandante da APM

Ten Cel PM Armando Leonardo L. A. F. da Silva

Chefe da Seção de Emprego Operacional do EMPM

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3

Direitos exclusivos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG).

Reprodução condicionada à autorização expressa do Comandante-Geral da PMMG.

Circulação restrita.

Ficha catalográfica: Rita Lúcia de Almeida Costa – CRB – 6ª Reg. n.1730

ADMINISTRAÇÃO

Estado-Maior da Polícia Militar

Quartel do Comando-Geral da PMMG

Cidade Administrativa/Edifício Minas, Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – 6º Andar - Bairro Serra Verde – Belo Horizonte – MG – Brasil. CEP 31.630-900

Telefone: (31) 3915-7806.

SUPORTE METODOLÓGICO E TÉCNICO

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação da PMMG

Rua Diabase, 320 – Prado, Belo Horizonte – MG – Brasil. CEP 30410–440

Tel: (0XX31) 2123-9513; Fax: (0XX31) 2123-9512

E-mail:[email protected]

Seção de Planejamento do Emprego Operacional (EMPM/3)

Quartel do Comando-Geral da PMMG

Cidade Administrativa/Edifício Minas, Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – 6º Andar - Bairro Serra Verde – Belo Horizonte – MG – Brasil. CEP 31.630-900

Telefone: (31) 3915-7799.

E-mail: [email protected]

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Diretriz para

Produção de Serviços de Segurança Pública nº 3.01.05/2010-CG:

Regula a Atuação da Polícia Militar de Minas Gerais segundo a

filosofia dos Direitos Humanos. Belo Horizonte: PMMG - Comando-

Geral, 2010. 74 p.: il.

1. Direitos Humanos – PMMG. 2. Ética policial. I. Título.

CDU 342.7 CDD 355.13

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4

DPSSP Nº 3.01.05/2010 - CG

Elaborada a partir:

Dos Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos, em especial a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que tem explícito no Art. 1º que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade;

Dos Direitos Individuais e Coletivos contidos no Art. 5º da Constituição Federal, sintetizados no princípio de que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”;

Do Princípio Normativo da Constituição Federal contido no Art 144: Segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos [...];

Do princípio constitucional da eficiência na Administração Pública, contido no Art. 37, caput, da Constituição Federal e art. 13, caput, da Constituição do Estado de Minas Gerais;

Dos Princípios da Segurança Pública Brasileira, segundo diretrizes provenientes do Governo Federal, entendendo que “direitos humanos e eficiência policial são compatíveis entre si e mutuamente necessários” e que “ação social preventiva e ação policial são complementares e devem combinar-se na política de segurança”;

Da Missão da PMMG, que é “promover e assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os direitos fundamentais [...]”;

Da Visão da PMMG, definida em “sermos excelentes na promoção das liberdades e dos direitos fundamentais [...]”;

Dos Valores Definidos para a PMMG, contidos na Diretriz Geral para Emprego Operacional da PMMG, destacando-se o “Respeito aos Direitos Fundamentais e Valorização das Pessoas”;

Dos Pressupostos e Orientações Procedimentais Básicos para Emprego da Polícia Militar, contidos na Diretriz Geral para Emprego Operacional da PMMG, dentre os quais se destaca a “Primazia dos Direitos Fundamentais e da Dignidade da Pessoa”.

Page 5: diretriz de direitos humanos

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LISTA DE SIGLAS

AFAS - Associação Feminina de Assistência Social

APM - Academia de Polícia Militar

CBMMG - Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

CF - Constituição Federal

CFarm

CFO

-

-

Centro Farmacêutico da Polícia Militar

Curso de Formação de Oficiais

CG - Comando-Geral da Polícia Militar

Cia - Companhia de Polícia Militar

CICV - Comitê Internacional da Cruz Vermelha

COdont

CPE

-

-

Centro Odontológico da Polícia Militar

Comando de Policiamento Especializado

CPM - Corregedoria de Polícia Militar

CRA - Centro de Referência do Alcoolista

CTPM

DAL

-

-

Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais

Diretoria de Apoio Logístico

DAOp - Diretoria de Apoio Operacional

DEEAS - Diretoria de Educação Escolar e Assistência Social

DEPM - Diretrizes de Educação da Polícia Militar

DPSSP

DRH

-

-

Diretriz para Produção de Serviços de Segurança Pública

Diretoria de Recursos Humanos

DS

DTS

-

-

Diretoria de Saúde

Diretoria de Tecnologia e Sistemas

EAD - Educação à Distância

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

EMEMG - Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais

EMPM - Estado-Maior da Polícia Militar de Minas Gerais

FGR - Fundação Guimarães Rosa

GRSau - Gerente (ou Gerência) Regional de Saúde

HPM - Hospital da Polícia Militar

IPSM - Instituto de Previdência dos Servidores Militares de Minas Gerais

LGBTT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

MJ - Ministério da Justiça

MP - Ministério Público

MTDPV - Método de Tiro Defensivo de Preservação da Vida

NAIS - Núcleo de Assistência Integral à Saúde

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ONG - Organização Não Governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

PIDCP - Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

PIDESC - Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

PMMG - Polícia Militar de Minas Gerais

PNDH - Programa Nacional de Direitos Humanos

PROMORAR - Programa de Apoio Habitacional dos Militares do Estado de Minas Gerais

RPM - Regiões de Polícia Militar

SAS - Seção de Assistência à Saúde

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENASP - Secretaria Nacional de Segurança Pública

SIEA - Sistema de Ensino Assistencial

SISAU - Sistema de Assistência à Saúde

TPI - Tribunal Penal Internacional

UEOp - Unidades de Execução Operacional

Page 7: diretriz de direitos humanos

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 10

2 OBJETIVOS .......................................................................................................................................... 11

3 DIREITOS HUMANOS ....................................................................................................................... 11

3.1 Breve histórico ............................................................................................................................. 11

3.2 Conceito .......................................................................................................................................... 13

3.3 Características .............................................................................................................................. 14

3.4 Juridicização e Justicialização ................................................................................................. 15

3.5 Universalismo e Relativismo Cultural ................................................................................... 15

3.6 Proteção Internacional dos Direitos Humanos ................................................................. 16

3.7 Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro ................................................. 17

4 DIREITOS HUMANOS NA PMMG .................................................................................................. 18

4.1 Trajetória histórica ..................................................................................................................... 18

4.2 Filosofia Institucional ................................................................................................................. 19

4.3 Fundamentação Teórico-Metodológica ................................................................................. 21

4.3.1 Para quem são os Direitos Humanos? ............................................................................................ 21

4.3.2 Quem deve proteger os Direitos Humanos? ................................................................................. 22

4.3.3 A validade dos Direitos Humanos no mundo ................................................................................ 22

5 EIXOS TEMÁTICOS EM DIREITOS HUMANOS .......................................................................... 23

5.1 Eixo 1: Educação ........................................................................................................................... 23

5.1.1 Educação em Direitos Humanos: Significado e Princípios ..................................................... 23

5.1.2 Educação de Polícia Militar: Espaços Formativos para uma Cultura de Direitos

Humanos ................................................................................................................................................................... 24

5.1.3 Capacitação Docente para a Educação em Direitos Humanos .............................................. 27

5.2 Eixo 2: Procedimento Policial para Proteção dos Direitos Humanos dos Grupos

Vulneráveis , Minorias e Vítimas ......................................................................................................... 29

5.2.1 Contextualização ..................................................................................................................................... 29

5.2.2 Grupos Vulneráveis ................................................................................................................................ 30

5.2.3 Minorias ...................................................................................................................................................... 31

5.2.4 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias .......................................................................... 32

5.2.5 Vítima da criminalidade e abuso de poder ..................................................................................... 33

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5.3 Eixo 3: Política Interna de Direitos Humanos .................................................................... 34

5.3.1 Contextualização ..................................................................................................................................... 34

5.3.2 Direitos do policial militar ................................................................................................................... 35

5.3.3 Programas e benefícios existentes na corporação voltados para o policial militar ...... 36

5.3.4 Órgãos Internos e Externos de Promoção dos Direitos Humanos na PMMG .................. 39

5.4 Eixo 4: Integração com Outros Órgãos e Entidades .......................................................... 43

5.4.1 Poder judiciário local.............................................................................................................................. 43

5.4.2 Ministério Público .................................................................................................................................. 43

5.4.3 Ouvidoria de Polícia ................................................................................................................................ 44

5.4.4 Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos ................................................................ 44

5.4.5 Delegacias de Polícia Civil .................................................................................................................... 44

5.4.6 Prefeituras Municipais .......................................................................................................................... 45

5.4.7 Câmara dos vereadores ......................................................................................................................... 45

5.4.8 Ordem dos Advogados do Brasil ......................................................................................................... 45

5.4.9 Órgãos Oficiais de Defesa dos Direitos Humanos ....................................................................... 45

5.4.10 Entidades Religiosas, Assistenciais, Conselhos Comunitários de Segurança

Pública e ONGs ............................................................................................................................................. 45

5.4.11 Universidades, Faculdades e Escolas Superiores ..................................................................... 46

5.4.12 Órgãos do sistema municipal e estadual de ensino ............................................................... 46

6 AÇÕES PARA OS COMANDOS NOS DIVERSOS NÍVEIS ............................................................ 46

6.1 Estado-Maior da Polícia Militar ................................................................................................ 46

6. 2 Atribuições dos Elementos Subordinados ............................................................................ 47

6.2.1 Academia de Polícia Militar (APM) ................................................................................................... 47

6.2.2 Diretoria de Apoio Operacional (DAOp) ........................................................................................ 47

6.2.3 Corregedoria de Polícia Militar (CPM)............................................................................................. 47

6.2.4 Regiões de Polícia Militar (RPM) ....................................................................................................... 48

6.2.5 Unidades de Execução Operacional (UEOp) .................................................................................. 48

6.3 Ações de Âmbito Geral ................................................................................................................ 49

7 AÇÕES DE DIREITOS HUMANOS .................................................................................................. 49

7.1 Ações Eixo 1: Educação ............................................................................................................. 49

7.1.1 Conteúdos de Direitos Humanos nos cursos de formação e na educação continuada . 49

7.1.2 Conduta no Ambiente Escolar ............................................................................................................ 50

7.1.3 Capacitação Docente .............................................................................................................................. 50

7.1.4 Atividades Extensionistas ..................................................................................................................... 51

7.2 Ações Eixo 2: Estratégias para Sensibilização do Atendimento aos Grupos

Socialmente Vulneráveis e às Vítimas da Criminalidade e Abuso de Poder ........................... 51

7.3 Ações Eixo 3: Política Interna de Direitos Humanos ....................................................... 52

7.4 Ações Eixo 4: Integração com Outros Órgãos e Entidades .............................................. 53

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7.4.1 Poder judiciário e Ministério Público .............................................................................................. 53

7.4.2 Ouvidoria de Polícia ................................................................................................................................ 53

7.4.3 Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos ................................................................ 53

7.4.4 Delegacias de Polícia Civil .................................................................................................................... 53

7.4.5 Prefeituras Municipais e Câmara dos vereadores ...................................................................... 54

7.4.6 Ordem dos Advogados do Brasil ......................................................................................................... 54

7.4.7 Entidades Religiosas, Assistenciais, Conselhos Comunitários de Segurança Pública,

ONGs e outros órgãos de Defesa dos Direitos Humanos ........................................................................ 54

7.4.8 Universidades, Faculdades e Escolas Superiores .......................................................................... 54

7.4.9 Órgãos do sistema municipal e estadual de ensino .................................................................... 54

8 PRESCRIÇÕES DIVERSAS ................................................................................................................ 55

ANEXO “A” (ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO CORRELATOS AO TEMA) À DPSSP Nº

3.01.05/2010-CG....................................................................................................................................... 56

ANEXO “B” (CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL) À DPSSP Nº 3.01.05/2010-CG ....... 60

ANEXO “C” (DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL) À DPSSP Nº 3.01.05/2010-CG ................ 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 72

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DPSSP Nº 3.01.05/2010 – CG

Regula a Atuação da Polícia Militar de Minas Gerais segundo a filosofia dos Direitos Humanos.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o Brasil está entre os países que mais possuem instrumentos jurídicos de proteção dos Direitos Humanos, como a própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha, dentre outros. Todavia, apesar de todos esses avanços no campo formal, proporcionados por duas décadas de reconstrução democrática, ainda são notórias as dificuldades que o país enfrenta para assegurar, na prática, esses direitos.

Historicamente, o país viveu, nos últimos tempos, grandes transformações políticas e sociais, fruto de anos de fomento à liberdade e igualdade. No cenário instaurado, descortina-se uma nova agenda mundial focada nos direitos individuais e coletivos. Paralelamente, surge também um grande desafio, o de operacionalizar esses direitos, inserindo-os na prática cotidiana dos cidadãos.

Compreende-se que o maior dos obstáculos para a promoção e proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana repousa sobre o desconhecimento, pois é por essa via que muitos desses direitos são ignorados e, consequentemente, desrespeitados.

Nesse cenário de incertezas sociais, a educação de Direitos Humanos surge como um candeeiro, lançando luzes sobre o mundo e construindo novos modelos de comportamento para os processos de mudança da sociedade contemporânea. É imensurável o potencial da educação, seja ela formal ou informal, na construção de uma sociedade, com base moral e ética, voltada para os princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Inserida neste contexto, encontra-se a Polícia Militar de Minas Gerais, que traz, em sua identidade institucional, princípios de respeito aos Diretos Humanos, concretizados em sua missão: “Assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os direitos fundamentais, contribuindo para a paz social e para tornar Minas o melhor Estado para se viver”. (MINAS GERAIS, 2009, p.15)

A atualização desta diretriz compõe esta macro política institucional com o propósito de sistematizar a prática de uma segurança cidadã, ampliando e consolidando aspectos teórico-práticos da educação em Direitos Humanos para policiais, levando-os ao exercício da promoção e da prática dos direitos universais junto às diversas comunidades.

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2 OBJETIVOS

2.1 Definir as conceituações teórico-metodológicas dos princípios de Direitos Humanos adotadas na prática policial, referendada nos principais documentos internacionais de Direitos Humanos e no ordenamento jurídico brasileiro.

2.2 Determinar procedimentos, deveres e funções policiais-militares segundo a filosofia dos Direitos Humanos, com base na conduta ética e legal e no respeito à diversidade social.

2.3 Divulgar aos integrantes da Instituição as políticas internas de promoção de Direitos Humanos que visam garantir e promover seus direitos.

2.4 Ser referencial teórico na educação em Direitos Humanos, em âmbito institucional.

2.5 Estabelecer uma linha de comunicação entre a Polícia Militar e a população em geral, para discutir assuntos relacionados a filosofia de direitos humanos

3 DIREITOS HUMANOS

3.1 Breve histórico

Em breve linha temporal, podemos visualizar o processo construtivo dos Direitos Humanos. Sua historiografia remonta à antiguidade com registros como o Código de Hamurabi (Séc. XVIII A. C.)1 e o Cilindro de Ciro2 (539 A. C.), perpassa pela Idade Média, na Inglaterra, com a Magna Carta3 e segue com outros instrumentos Ingleses relevantes : o Habeas Corpus Act (1698) que garante liberdade por prisão arbitrária e o Bill of Rights (1689) que retirou do monarca o poder absoluto de legislar, transferindo-o a um parlamento, até a modernidade.

Segundo Herkenhoff (2002, p.2), o termo Direitos Humanos é “[...] Um projeto histórico a ser realizado”. Esses direitos não são estáticos, eles evoluem à medida em que a ciência e seus avanços, como as pesquisas com células tronco, a clonagem humana, a sustentabilidade ambiental, os avanços cibernéticos, dentre outras tecnologias, também evoluem, ocorrendo uma natural ampliação dos

1 Khammu-rabi, Rei da Babilônia no 18º século A. C., estendeu grandemente o seu império

e governou uma confederação de cidades-estado. Erigiu, no final do seu reinado, uma enorme "estela" em diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e da justiça do Rei Marduk. Abaixo mandou escrever 21 colunas, 282 cláusulas que ficaram conhecidas como Código de Hamurábi (embora abrangesse também antigas leis).

2 Primeira Declaração dos Direitos Humanos contêm uma declaração do Rei Persa (antigo

Irã) Ciro II depois de sua conquista da Babilônia em 539 A. C. Foi descoberto em 1879 e a ONU o traduziu em 1971 a todos os seus idiomas oficiais.

3 Carta Magma das Liberdades (...) foi a declaração solene que o Rei João da Inglaterra,

também conhecido como João Sem Terra, assinou, em 15 de junho de 1215, perante o alto clero e os barões do reino._ Comparato, Fábio Konder – Afirmação histórica dos Direitos Humanos, 6. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2008.

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Direitos Humanos em uma dinâmica que acompanhará os passos da humanidade, garantindo às próximas gerações uma vida digna e próspera.

Para efeito desta diretriz, há quatro marcos históricos que merecem destaque: o Iluminismo4, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a Revolução Francesa e o término da II Guerra Mundial.

A independência das treze colônias americanas e as ideias iluministas [razão, espírito crítico e fé na ciência] impulsionaram a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada após a Revolução Francesa (1789), que, por sua vez, gerou os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade.

Segundo Comparato (2000,p.99), “A independência das antigas colônias britânicas da América do Norte [...] representou o ato inaugural da democracia moderna, combinando, sob o regime constitucional, a representação popular com a limitação de poderes governamentais e o respeito aos Direitos Humanos”.

Por fim, após o término da II Grande Guerra, surgiu a necessidade de se erradicar as atrocidades, como as cometidas pelos nazistas, onde o anti-semitismo apregoado pelo chamado Terceiro Reich negou a diversidade, a dignidade e a própria vida a milhões de pessoas, em um dos maiores genocídios da História da humanidade. A dignidade e a igualdade, entre os seres humanos, foram desconsideradas.

Após esse período, surgiram as primeiras manifestações de internacionalização dos Direitos Humanos, como o Tribunal de Nuremberg e o de Tóquio (1945 a 1949)5, a criação da Organização das Nações Unidas - ONU (1945) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 10 de dezembro de 1948, em Paris/França.

Mais tarde, surgiram outros instrumentos que deram sustentabilidade jurídica aos Direitos Humanos em nível mundial, como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1976) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1976), a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) e a Carta Africana dos Direitos dos Povos (1981).

Surgiram também outras declarações, que são manifestações de povos e culturas, cujo objetivo é despertar o mundo para a diversidade. São exemplos: a Declaração dos Direitos dos Povos (1976), a Declaração Solene dos Povos Indígenas (1975), a Declaração Islâmica Universal dos Direitos dos Homens

4 O Iluminismo é (...) uma atitude geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam

que os seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor - mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo#cite_note-4- acessado em 19nov2009.

5 Os tribunais de Nurenberg e de Tóquio causaram dois grandes impactos relativos ao

direito internacional dos Direitos Humanos: possibilitaram a responsabilização de indivíduos e apresentaram novo limite ao conceito de soberania. IKAWA, PIOVESAN, ALMEIDA - Fundamentos e história dos Direitos Humanos – formação de conselheiros em Direitos

Humanos - Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2007.

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(1991), bem como a Declaração dos Direitos da Criança (1959) e a Convenção sobre a Igualdade de Homens e Mulheres, para Remuneração de Trabalho de Igual Valor da Organização Mundial do Trabalho (1953).

Atualmente, um número cada vez mais expressivo de países tem referendado as normas e filosofias de Direitos Humanos, adotando garantias, tanto em suas constituições quanto em tratados regionais como: a Convenção Interamericana de Direitos Humanos e a Carta Africana dos Direitos dos Povos (1981).

3.2 Conceito

Direitos Humanos correspondem à somatória de valores, de atos e de normas que possibilitam a todos uma vida digna. Durante sua historiografia, esses direitos receberam várias definições. Na Revolução Francesa (1789), surgiu o termo “direitos do homem e do cidadão”, que após ter sido inserido nas Constituições de vários países, passaram a ser chamados de “direitos fundamentais da pessoa humana”, e, finalmente, quando foram previstos em Convenções, Pactos e Tratados, receberam a designação de “Direitos Humanos”. (OLIVEIRA, 2009, p.14)

Para Bobbio (1988, p. 30), “os Direitos Humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de Direito), para finalmente encontrarem sua plena realização como direitos positivos universais”.

Por sua vez, Herkenhoff (2002, p. 19) afirma que os Direitos Humanos são modernamente compreendidos como direitos fundamentais que o ser humano possui por sua própria natureza humana e pela dignidade que a ela é inerente.

Segundo Rover (2005, p. 72), Direitos Humanos são entendidos como: “[...] um título. É uma reivindicação que uma pessoa pode fazer para com outra de maneira que, ao exercitar esse direito, não impeça que outrem possa exercitar o seu. Os Direitos Humanos são títulos legais que toda pessoa possui como ser humano. São universais e pertencem a todos, rico ou pobre, homem ou mulher.”

É de se ressaltar que direitos fundamentais, segundo Comparato (2007, p. 58-59), são “os direitos humanos reconhecidos como tais pelas autoridades às quais se atribui o poder político de editar normas, [...]; são os direitos humanos positivados nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais.” (COMPARATO, 2007, p.58-59 apud OLIVEIRA, 2010, p.41)

Segundo Ramos, corroborado por Oliveira, Direitos Humanos correspondem a um conjunto mínimo de direitos necessários para assegurar uma vida, baseada na liberdade e na dignidade. (RAMOS, 2001, p.27 apud OLIVEIRA, 2003, p. 13)

Constata-se que os Direitos Humanos são próprios da natureza humana, não tem que ser concedidos, pois todo cidadão já nasce com eles. O que deve haver pelo poder político é sua garantia, ou seja, que esses direitos não sejam violados. É por este motivo que os direitos de todos os cidadãos estão prescritos

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14

em normas, tanto nacionais como internacionais, com o fim único e exclusivo de serem garantidos e respeitados.

Observa-se que os autores apresentados possuem um núcleo único sobre o conceito de Direitos Humanos. Eles concordam que os Direitos Humanos são universais e pertencem a todos pelo simples fato de serem seres humanos, sem nenhuma discriminação.

A Conferência Mundial Sobre Direitos Humanos, ocorrida em Viena - 1993, em seu parágrafo 5º, estabelece: “Todos os Direitos Humanos são universais, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os Direitos Humanos globalmente de forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com mesma ênfase.” Este preceito vem a completar o conceito que será doravante adotado por esta diretriz, servindo como padrão na Educação Policial Militar, o qual pode ser lido a seguir.

Direitos Humanos são todos os direitos que possuímos, pelo simples fato de sermos seres humanos, que nos permitem viver com dignidade, assegurando, assim, os nossos direitos fundamentais à vida, à igualdade, à segurança, à liberdade e à propriedade, dentre outros. Eles se positivam através das normas jurídicas nacionais e internacionais, tais como tratados, convenções, acordos ou pactos internacionais, leis e constituições. Estes direitos são universais, interdependentes e indivisíveis.

3.3 Características

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada com a aprovação de 48 Estados membros, presentes à Assembléia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948. Essa declaração consolidou uma visão contemporânea de Direitos Humanos, marcada pela universalidade, pela invisibilidade e pela interdependência.6

A Universalidade é uma característica de Direitos Humanos, a qual confere a todas as pessoas o reconhecimento de “sujeito de direitos” no âmbito internacional, independentemente da nação a que pertence.

A indivisibilidade implica que, para a consolidação da dignidade humana, se faz necessária a indissociabilidade dos direitos civis e políticos (direitos à vida, à liberdade e ao voto) dos direitos sociais, econômicos e culturais ( o direito à educação, à alimentação e à moradia, etc.)

6 IKAWA, PIOVESAN, ALMEIDA. Fundamentos e história dos Direitos Humanos,

Formação de Conselheiros em Direitos Humanos, Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2007.

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15

A interdependência aponta para o liame existente entre todos esses diretos fundamentais. Um exemplo é o voto (direito político) que mantém dependência com o direito à alimentação (direito social), pois, em um país onde as pessoas sofrem de desnutrição, pressupõe-se a falta de condições físicas e psicológicas para promoverem uma eleição consciente. Assim, para se exercer um direito civil e político, é necessário que os direitos sociais, econômicos e culturais sejam eficazmente satisfeitos.

3.4 Juridicização e Justicialização

Segundo Oliveira (2009, p.28), a juridicização “[...] é o mecanismo inerente ao direito por meio do qual, fatos são submetidos ao âmbito jurídico de proteção.” Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, houve a necessidade da criação de instrumentos jurídicos internacionais, sendo criados o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), os quais atualmente compõem a “Carta Internacional dos Direitos Humanos” (Internacional Bill of Rights). Através desses instrumentos, houve um processo de juridicização de Direitos Humanos, possibilitando a construção de uma ordem normativa. Outra característica desses documentos é que, se ratificados pelos Estados, estes ficam obrigados a cumpri-los.

A justicialização corresponde a:

[...] efetivação ou materialização da proteção dos direitos. No sistema global, a justicialização dos Direitos Humanos operou-se na esfera penal, mediante a criação de tribunais ad hoc e, posteriormente, do Tribunal Penal Internacional (TPI). Nessa esfera penal, a responsabilização internacional atinge indivíduos que realizaram crimes internacionais. Nos sistemas regionais, a justicialização operou-se na esfera civil mediante a

atuação das cortes européia, interamericana e africana. (OLIVEIRA, 2009, p.28)

A garantia de Direitos Humanos no plano internacional só seria implementada quando uma “jurisdição internacional se impusesse concretamente sobre as jurisdições nacionais, deixando de operar dentro dos Estados, mas contra os Estados e em defesa dos cidadãos.” (BOBBIO, 1988, p.30 apud PIOVESAN, 2007).

3.5 Universalismo e Relativismo Cultural

A Declaração e Programa de Ação de Viena (1993) afirmou a universalidade dos Direitos Humanos. Porém, ainda hoje, diversas argumentações são construídas em favor do relativismo cultural dos Direitos Humanos, o qual afirma que Direitos Humanos devem ter a legitimidade das diversas culturas, cedendo a práticas regionais. O relativismo, porém, tem se confrontado com as ideias universalistas, as quais estipulam que Direitos Humanos, sendo universais, têm primazia sobre quaisquer culturas, entre outras formas de manifestações regionais.

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Segundo KERSTING, (2003, p. 82) “Qualquer que seja o contexto cultural específico que determine a ética de condução devida dos seres humanos [...] deve-se afirmar que pressupostos fundamentais precisam ser cumpridos para que as pessoas possam levar, dentro de tais contextos, uma vida suportável, que lhes proporcione sentido.”

Santos (1995) aduz que “[...] temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.

Entretanto, inobstante as contraposições ideológicas elencadas, em um mundo globalizado, no qual existem modernos meios de comunicação e transporte, como a rede mundial de computadores, que nos permite navegar por um sem número de culturas, abrindo espaço para uma dialética universal, torna-se cada vez mais complexo o pensamento de se manter culturas intactas, livres de qualquer influência externa à sua realidade. As interações entre padrões culturais diferentes tornaram-se inevitáveis, o que resulta em um intercâmbio de valores culturais cada vez mais significativos.

Nesse contexto, deve haver uma maior predisposição à tolerância por parte dos diferentes povos no tocante ao ideal de proteção à dignidade humana em todas as suas facetas, para que, enfim, possa ser estabelecido, definitivamente, um código comum de normas, que conte com a adesão de todas as nações e que venha a proporcionar uma proteção mais eficaz dos direitos inerentes à pessoa humana, independentemente de qualquer fator cultural.

3.6 Proteção Internacional dos Direitos Humanos

Existe atualmente um sistema global, presidido pela Organização das Nações Unidas (ONU), de proteção aos Direitos Humanos, composto por vários documentos internacionais, além de outros sistemas regionais, com seus respectivos documentos de proteção aos direitos das pessoas. São eles: o Interamericano (Convenção Americana de Direitos Humanos), o Europeu (Convenção Européia de Direitos Humanos) e o Africano (Carta Africana de Direitos Humanos). Esses sistemas são complementares ao sistema normativo global e apresentam especificidades regionais de cada país.

O Brasil faz parte do sistema interamericano desde 13 de dezembro de 1951, porém, só aderiu à Convenção Americana de Direitos Humanos em 1992.

A inserção do Brasil no sistema internacional de proteção aos Direitos Humanos se deu após a promulgação de nossa Carta Magna de 1988, que inaugurou os princípios da prevalência da dignidade da pessoa humana, com base no respeito aos Direitos Humanos.

Foi a partir desse período que vários documentos foram ratificados pelo governo brasileiro, tais como: a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em 28 de setembro de 1989; a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; o Pacto

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Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995; o Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena de Morte, em 13 de agosto de 1996 e o Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), em 21 de agosto de 1996.

Em 03 de dezembro 1998, o Brasil reconheceu a competência jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos por meio do Decreto Legislativo nº 89/98. Em 07 de fevereiro de 2000, o Brasil assinou o Estatuto do Tribunal Internacional Criminal Permanente.

Segundo Piovesan (2000),“[...]uma média de 50 casos foram impetrados contra o Estado brasileiro, perante a Comissão Interamericana, no período de 1970 a 1998”.

Esses casos foram classificados em sete grupos: 1) casos de detenção arbitrária e tortura, cometidos durante o regime autoritário militar; 2) casos de violação dos direitos das populações indígenas; 3) casos de violência rural; 4) casos de violência da Polícia Militar; 5) casos de violação dos direitos de crianças e adolescentes; 6) casos de violência contra a mulher; e, 7) casos de discriminação racial.

3.7 Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro

A Constituição Federal de 1988, chamada de “Constituição Cidadã”7, abarca em seu bojo diversos artigos projetivos dos Direitos Humanos. Dentre esses artigos, alguns merecem ser destacados.

O inciso III do art. 1º estabelece que a dignidade humana é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito Brasileiro. No art. 3º, são postulados os objetivos fundamentais da República Brasileira, quais sejam: construir uma sociedade livre, justa e solidária (inciso I), erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais (inciso III) e, por fim, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (inciso IV).

No tocante às relações internacionais, o art. 4º estabelece os seguintes princípios: prevalência dos Direitos Humanos (inciso II), autodeterminação dos povos (inciso III), não-intervenção (inciso VI), igualdade entre os Estados (inciso VII), repúdio ao terrorismo e ao racismo (inciso VIII), cooperação entre os povos para o progresso da humanidade (inciso IX), concessão de asilo político (inciso X).

Os direitos e deveres individuais e coletivos, que são objeto do artigo 5º, estabelecem em seu caput que: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

7 Nome dado à Constituição por Ulisses Guimarães, que foi um dos constituintes em 1988.

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país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade”. Esse artigo elenca diversos incisos que abarcam a temática Direitos Humanos.

O parágrafo 1º do artigo 5º determina que as normas definidoras dos Direitos Humanos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. O § 2º do mesmo artigo reza que os Direitos Humanos expressos na Constituição “[...] não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Esse parágrafo inclui, entre os direitos já protegidos pela norma interna (CF/88), os direitos gerados nos tratados internacionais assinados pelo Brasil. A Emenda Constitucional 45/2004, incluiu, ainda, o § 3º ao art. 5º da CF/88 que estabelece: “Os tratados e convenções internacionais sobre Direitos Humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.

Além de todos os direitos insculpidos em nossa Constituição Federal, existem outros dispositivos infraconstitucionais, de proteção aos grupos socialmente vulneráveis, como: o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha, dentre outros.

4 DIREITOS HUMANOS NA PMMG

4.1 Trajetória histórica

A temática Direitos Humanos foi inserida nos currículos dos cursos de formação da PMMG, já no final dos anos 80, coincidentemente com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Ressalta-se, entretanto, que em 1984, a PMMG, através da Nota de Instrução nº 001/84, já destilava preciosos ensinamentos sobre direitos humanos, onde consta como algumas de suas recomendações aos policiais militares “respeitar a pessoa humana qualquer que seja a sua condição”, além de “[...] assegurar a liberdade individual e promover o bem-estar da coletividade.”

Nos anos seguintes, outros documentos foram instituídos, como a Nota Instrutiva nº 029/93, cuja finalidade era chamar a atenção para a necessidade de conferir-se à formação policial-militar um tratamento onde inexistissem influências maléficas de insensatez, de açulos à violência e de desrespeito à dignidade das pessoas, e a Nota Instrutiva nº 37/94 que orientava sobre o cumprimento da legislação estadual referente aos Direitos Humanos.

Em 1998, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), em parceria com o Ministério da Justiça e os comandos das Policias Militares, lança, em Brasília, as bases do Projeto Polícia Militar, que tinha como principal objetivo ampliar os conhecimentos teóricos e técnico-procedimentais das polícias, mormente das militares, para a atuação em concordância com as normas internacionais de Direitos Humanos, no seu contexto nacional e internacional, bem como ampliar e consolidar as noções de direito internacional humanitário.

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Ainda em 1998, na Polícia Militar de Minas Gerais, foi realizado o primeiro curso de Professores Multiplicadores das Doutrinas de Direitos Humanos, coordenados por oficiais da Instituição e contando com a participação de instrutores internacionais. Em 1999 e 2000, tivemos mais dois cursos, que, com uma dinâmica inovadora, aliavam os conhecimentos teóricos às práticas policiais reflexivas e lançavam as bases para uma profunda mudança na educação em Direitos Humanos na corporação, como adiante será mostrado.

No ano de 2004, fruto do amadurecimento da percepção acerca da importância de um direcionamento institucional no que tange aos procedimentos policiais embasados no reconhecimento e respeito aos Direitos Humanos, entrou em vigor a primeira versão da diretriz de Direitos Humanos8.

4.2 Filosofia Institucional

A identidade institucional da PMMG estabelece como missão “assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os direitos fundamentais, contribuindo para a paz social e para tornar Minas o melhor Estado para se viver.”

Assim, a PMMG procura ajustar-se à nova agenda mundial, que concita ir além do meramente formal, e de fato produzir ações que irão proporcionar à sociedade um atendimento de qualidade, que faça com que cada cidadão se sinta respeitado em seus direitos fundamentais.

A filosofia institucional para Direitos Humanos, não somente exorta ao fiel cumprimento às normas internacionais e nacionais relativas a Direitos Humanos, como também estabelece estratégias para atender com qualidade as necessidades do cidadão e da sociedade:

[...] desenvolver ações para atender o cidadão, em toda e qualquer circunstância de envolvimento, seja como vítima, agente, testemunha, envolvido e solicitante, pautado no respeito aos direitos fundamentais e na dignidade humana, praticando os valores institucionais em todas as ações desencadeadoras. (MINAS GERAIS, 2009, p.20).

Na contemporaneidade, é importante a reflexão sobre as questões concernentes à educação em Direitos Humanos, por todos os policiais militares, em sua concepção mais extensiva, isto é, aquela que contempla o apropriado conhecimento e correlação do profissional de segurança pública com sua formação ética e moral dotada de valores equivalentes à plena vivência coletiva e social.

Por ser isto da maior importância é que a Instituição estabeleceu sua Identidade Organizacional, a qual tramita no ensejo da sociedade, incorporando a planificação de preceitos fundamentais, que possam construir estratégias e ações alinhadas a todos os seus procedimentos, atitudes e tomadas de decisão em conformidade com as expectativas de paz, igualdade e fraternidade, essenciais à

8 Diretriz para Produção de Segurança Pública nº 08- Filosofia de Direitos Humanos da

Polícia Militar de Minas Gerais, 2004.

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plenitude e magnitude do princípio que fundamenta a Constituição Federal, a “dignidade da pessoa humana”, nos valores Institucionais da Polícia Militar de Minas Gerais.

Os valores institucionais como o Respeito aos Direitos Fundamentais, Valorização das Pessoas, Ética e Transparência, Excelência e Representatividade Institucional; Disciplina e Inovação; Liderança e Participação; Coragem e Justiça devem ser entendidos e exercitados no dia a dia por todos em todos os níveis da organização, tornando-se expoentes centrais do elementar ato de aplicar os Direitos Humanos no exercício de nossas ações.

Esses valores devem ser entendidos como paradigmas e referenciais éticos para todos os comportamentos e condutas legais do policial militar. Na verdade, ao se alinharem os valores institucionais estabelecidos em nossa Identidade Organizacional com normas de Direitos Humanos que delineiam as liberdades fundamentais, a dignidade da pessoa humana, asseguram-se, sobretudo, os direitos de liberdade e direitos sociais que inspiram a produção normativa interna, a qual os profissionais de segurança pública devem observar, aplicando-a em sua atividade, no que couber.

O alinhamento de nossa missão, visão e valores é, neste sentido, de fundamental importância para a adoção de padrões de comportamentos operacionais na solução de problemas e observância dos Direitos Humanos junto ao cidadão. Assim, só serão eficazes as ações e resultados das atitudes do profissional de segurança pública congruentes com as estratégias e objetivos descritos nesta Diretriz e na Identidade Organizacional.

Esses objetivos, por sua vez, deverão ser congruentes com a cultura e a missão Institucional, em relação a toda sociedade em sua diversidade. Em outras palavras, a síntese e propósito desta Diretriz será a consecução do alinhamento interno do indivíduo com a visão “Sermos excelentes na promoção das liberdades e dos direitos fundamentais, motivo de orgulho do povo mineiro.”

Esta visão ao ser observada por todo integrante da Polícia Militar – nos diversos níveis, direciona-se aos preceitos contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos – de estrutura Bipartite ou Bifronte – em Direitos de Liberdade (de 1ª Geração) e Direitos Sociais (de 2ª Geração) garantidos em outros Estatutos como a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como em nossa Constituição Federal, alinhando-se aos anseios – de servir e proteger – esperados pela comunidade.

Portanto, a instituição busca, por meio de seus Valores, três tipos de alinhamento: 1) alinhamento pessoal, no qual deverá existir uma congruência entre todas as ações individuais com os preceitos de nossa Identidade; 2) alinhamento dos processos voltados aos Direitos Humanos relativos aos objetivos estratégicos e a nossa Visão de futuro; 3) alinhamento operacional, no qual os objetivos e ações (planejamento e comunicação) de todos os policiais ou grupos ajustem-se de maneira congruente com os demais sistemas que alcançam as normas imperativas de Direitos Humanos (ambiente interno da organização e externo na comunidade, grupos vulneráveis, minorias, ONGs, Sociedade Civil Organizada etc.).

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4.3 Fundamentação Teórico-Metodológica

Para sistematização teórico-metodológica da filosofia de Direitos Humanos, será estabelecida, para fins desta diretriz, a metodologia doravante denominada TRIÂNGULO DOS DIREITOS HUMANOS. Tal metodologia estrutura-se em duas perguntas e uma reflexão sobre Direitos Humanos, conforme sugere a figura a seguir:

D IR E IT O S

H UM A N O S

Figura 1: Triângulo dos Direitos Humanos

Fonte: DPSSP- 08/04- CG, corroborado por MARTINS, Claudio Duani. Uma análise sobre a aplicabilidade prática do conteúdo trabalhado no Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais. Monografia (Especialização em Gestão de Direitos Humanos) Centro Universitário UNIEURO, Belo Horizonte, 2007.

4.3.1 Para quem são os Direitos Humanos?

Essa pergunta nos remete a várias respostas, tais como: “para todos, mas só alguns os têm”; “para todos, mas não passam do papel”, “Direitos Humanos para humanos direitos”; “para proteger marginais” ou a uma simples e direta “são para todos os cidadãos.”

A partir dessas manifestações, pode-se inferir que parece não haver uma clareza conceitual sobre a temática dos Direitos Humanos, decorrente da falta de sensibilização sobre o que é ter direito.

Na verdade, as normas de Direitos Humanos foram criadas para oferecer garantias de direitos a todas as pessoas. Essa constatação nos conduz a outra pergunta: quem realmente acredita que Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas? Muitos não acreditam totalmente, ou acreditam em parte, que os Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas. O policial, como promotor dos Direitos Humanos, deve ter a convicção de que esses direitos foram criados para todas as pessoas, inclusive para ele próprio.

Direitos Humanos não são sinônimos de direito abstrato, pelo contrário, fazem parte do dia a dia de todas as pessoas, pois abarca o direito à vida, o direito à propriedade, o direito de constituir uma família, além de tantos outros.

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Os direitos das pessoas estão garantidos na Constituição da República Federativa do Brasil, mais especificamente no art. 5º, os quais elencam direitos e liberdades individuais, fundados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Conclui-se que Direitos Humanos são para todos, integram o cotidiano de todos os cidadãos e, principalmente, do cidadão policial, o qual tem a nobre missão de servir e proteger a sociedade da qual ele faz parte.

4.3.2 Quem deve proteger os Direitos Humanos?

Se Direitos Humanos são de todos e para todos, quem deve protegê-los? Sem dúvida, está inserto na nossa Constituição Federal que a segurança pública é responsabilidade de todos e dever do Estado. Logo, todas as pessoas tem a responsabilidade de defendê-los e o Estado tem o dever de tal ação. O policial, como representante do Estado, tem papel fundamental na proteção dos Direitos Humanos, pois ele é a autoridade mais comumente encontrada nas ruas e emblematiza o Estado (BALESTRERI, 2003, p.23).

As pessoas identificam o policial como alguém em quem confiam e trazem a perspectiva de que ele solucionará seus problemas. Por isso, o policial tem o dever de estar sempre preparado tecnicamente, para agir com imparcialidade e humanismo, em todos os seus contatos com o público.

As entidades de defesa dos Direitos Humanos, governamentais ou não, contribuem para que o papel do Estado se materialize, completando sua ação de proteção.

No momento atual, quando se evidencia o recrudescimento da violência no País, principalmente nos grandes centros urbanos, é imprescindível que se faça um esforço sinérgico pela paz, congregando forças e trabalhando junto a essas entidades de Direitos Humanos, por meio de parcerias, abrindo portas para um conhecimento mútuo, trabalhando não apenas com a denúncia de ações policiais incorretas, mas dando ênfase ao anúncio de ações integradas em prol da construção da cidadania e da paz social.

4.3.3 A validade dos Direitos Humanos no mundo

Agora que foram respondidas as duas perguntas, será feita uma análise global de Direitos Humanos.

Podemos nos perguntar: por que existe então tanta miséria, fome e guerras no mundo? Por que não há uma efetividade das políticas de Direitos Humanos no mundo? Essas respostas podem ser conseguidas estudando-se a diversidade cultural e religiosa dos países, suas diferenças geográficas, seus costumes e normas, suas desigualdades sociais, os governos ditatoriais e as consequências da economia globalizada, entre outros aspectos que interferem diretamente na plenitude da prática de Direitos Humanos por toda a humanidade.

Um aspecto fundamental a ser ressaltado é que o policial deve ser um pedagogo da cidadania. Ele deverá, sempre que possível, por meio de orientações ou palestras, informar as pessoas corretamente sobre seus direitos.

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Dessa forma, elas poderão desenvolver-se, por meio de uma cooperação mútua, rumo à construção de uma sociedade consciente de seus direitos.

Atenção: Recomenda-se antes da leitura dos Eixos Temáticos o estudo do texto “Deveres e Funções Policiais” e o Texto “Conduta Ética e Legal do Policial” anexos a esta diretriz.

5 EIXOS TEMÁTICOS EM DIREITOS HUMANOS

Esta diretriz foi organizada em eixos estruturantes cada qual com uma temática diferenciada, porém transversal, de forma a facilitar o estudo, global e setorial, dos conteúdos, bem como proporcionar uma articulação com a identidade institucional e com os programas e atividades já existentes na área de Direitos Humanos.

Os eixos constituem-se de temáticas afetas ao universo policial-militar, que objetivam explicitar conceitos, correlacionando-os com a atuação policial referendada na promoção e proteção dos Direitos Humanos, seja na Educação Policial, no trato com grupos socialmente vulneráveis, nas políticas internas e no relacionamento com as entidades e órgãos ligados à defesa dos Direitos Humanos. Ao final dos Eixos, serão apresentadas as ações programáticas e estratégias institucionais recomendadas aos comandos, em seus diversos níveis, para efetivação da filosofia contida nesta diretriz.

EIXOS TEMÁTICOS EM DIREITOS HUMANOS

EIXO 1 EDUCAÇÃO

EIXO 2 GRUPOS VULNERÁVEIS, MINORIAS E VÍTIMAS

EIXO 3 POLÍTICA INTERNA

EIXO 4 INTEGRAÇÃO COM ÓRGÃOS E ENTIDADES

5.1 Eixo 1: Educação

Este eixo tem como viés a inserção dos Direitos Humanos na Educação de Polícia Militar em todos os seus níveis e modalidades (formação, treinamento, pesquisa e extensão), mediada por uma abordagem interdisciplinar e transversal, visando à construção de uma cultura humanística que reconheça na diversidade a base para o respeito aos direitos fundamentais.

5.1.1 Educação em Direitos Humanos: Significado e Princípios

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O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2003), do Governo Federal, evidencia que a educação em Direitos Humanos é um processo de socialização em uma cultura de Direitos Humanos. Socializar em Direitos Humanos implica implantar processos educativos que possam difundir, para o maior número possível de pessoas, concepções e práticas culturais para que elas se percebam e se formem como sujeitos detentores de direitos, já que se constituem em sujeitos de dignidade.

A educação em Direitos Humanos deve ser um dos eixos fundamentais da educação policial-militar, permeando o currículo dos cursos de formação, da educação continuada, da pesquisa e extensão.

A educação em Direitos Humanos deve ser estruturada na diversidade cultural e ambiental, garantindo assim a cidadania. Ela deve ser promovida em três dimensões:

a) Conceitual: compreende a temática dos Direitos Humanos e dos mecanismos existentes para a sua proteção, desencadeando atividades para a promoção, defesa e reparação das violações aos Direitos Humanos;

b) Procedimental: abrange a prática dos Direitos Humanos na vida cotidiano-profissional;

c) Atitudinal: corresponde à internalização de valores e atitudes de respeito e valorização aos Direitos Humanos.

5.1.2 Educação de Polícia Militar: Espaços Formativos para uma Cultura de Direitos Humanos

A idealização de uma política de educação em Direitos Humanos para os policiais militares de Minas Gerais não se restringe apenas à formação em seus ambientes escolares – Academia de Polícia e Companhias de Ensino e Treinamento – devendo se constituir parte integrante de todo o contexto onde haja ação policial militar, seja ela preventiva ou repressiva.

A educação em Direitos Humanos na PMMG se constitui de três pressupostos fundamentais:

1 – uma educação de natureza permanente, continuada e global;

2 – uma educação necessariamente voltada para a mudança, objetivando transformações efetivas referendadas nos pressupostos de respeito à dignidade da pessoa humana;

3 – uma introjeção de valores que pretende atingir a prática reflexiva e, não apenas, transmissão de conhecimentos restritos às salas de aula.

Para tanto, esta educação deve estar imbuída de uma postura pedagógica, que se insira nas diversas dimensões da ação educativa. Deve ser expressa no ambiente escolar e no trabalho por meio de atitudes, saberes, comportamentos e compromissos. É um exercício que não se inicia e se encerra na formação, mas

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deve ser uma constante da ação policial em todos os momentos da sua vida pessoal e profissional.

As Diretrizes de Educação da Polícia Militar (DEPM) contém em seu arcabouço filosófico-educacional artigos que intencionam propagar e disseminar uma cultura de respeito ao próximo, que promova a paz, repudiando ações e pressupostos que possam, mesmo que subliminarmente, ferir os princípios dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Em suas atividades diárias, o policial militar lida com a diversidade humana, muitas das vezes em situação de conflito. É sua missão assegurar a dignidade da pessoa humana e promover a paz social no contexto contemporâneo globalizado e de violência crescente. Para isto, ser-lhe-ão exigidos conhecimentos diversos nas áreas jurídicas, humanas, de gestão, técnico-profissionais que devem estar alinhados aos preceitos dos Direitos Humanos. Assim, é necessário proporcionar uma formação e capacitação interdisciplinar e transversal que favoreçam a interlocução entre as diversas disciplinas, consolidando temáticas centrais indispensáveis ao desempenho de suas funções. Adquirir conhecimentos, entretanto, não garante o desenvolvimento de competências procedimentais de respeito à pessoa humana. Como postula Rover (2005), esses conhecimentos deverão fazer parte da rotina deste policial, o simples conhecimento não é o bastante. Os policiais também precisam de certas habilidades técnicas e táticas, para assegurar a aplicação da lei, com respeito aos direitos e liberdades individuais. Neste sentido, depreende-se a importância de que a aprendizagem ocorra no contexto acadêmico-profissional, por meio de estudos de caso e vivências operativas que favoreçam uma aprendizagem significativa.

A visão de só reprimir, entretanto, ainda povoa as metodologias de ensino e treinamento de muitas instituições policiais, fruto de uma trajetória histórica, onde as polícias serviram de instrumento de repressão popular. No entanto, após a Constituição de 1988, o cenário transformou-se e um novo paradigma profissional emergiu fundamentado em uma prática que tem como lema “Servir e Proteger”, conforme ensina Rover (1998). Para a consolidação deste paradigma, faz-se necessário investir na Educação de Polícia Militar, em suas atividades e disciplinas curriculares, em seus procedimentos educativos e práticas docentes de maneira a propiciar uma cultura acadêmica que valorize e promova ações de cidadania e de respeito à pessoa humana.

O policial, particularmente durante o processo formativo, deve ser conscientizado da importância de sua profissão e estimulado a ser um promotor de Direitos Humanos, pois suas ações, futuramente, terão um caráter pedagógico na sociedade. As atitudes do policial se propagam na sociedade por meio de sua imagem, de suas condutas, de seu exemplo como cidadão. A percepção do profissional cooperador, solucionador de conflitos e defensor dos Direitos Humanos impacta de maneira diferente quando ele é percebido como profissional não confiável, insensível aos problemas sociais. É o que diz Balestreri (1988): “Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir Policial [...]. O Policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais abrangentes, é um pleno e legítimo educador.”

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5.1.2.1 Formação Policial

A formação dos policiais militares estrutura-se no arcabouço de conhecimentos jurídicos, técnicos e humanísticos que proporcionam o desenvolvimento das competências necessárias para as funções de operadores da segurança pública com a missão profícua de promoção da paz social. Neste sentido, os cursos da PMMG destinados à formação inicial do policial militar devem se pautar em uma educação comprometida com os ideais e valores da cidadania, da democracia e de direitos humanos, promovendo a humanização, socialização, transparência e valorização do ser humano. Os princípios de Direitos humanos devem se constituir em eixos articuladores de toda a prática policial sendo estruturados nas dimensões ética, técnica e legal que compõem a malha curricular dos cursos e se fazem presentes em todo planejamento escolar. Devem ser encarados como uma pedagogia que não quer apenas conscientizar, mas formar profissionais, agentes transformadores, cidadãos empenhados na erradicação das injustiças e na construção de um mundo verdadeiramente humano.

Neste sentido, em três princípios fundamentais é que se baseiam a atividade dos policiais sob o aspecto ético e legal: 1) o respeito e a obediência às leis; 2) o respeito pela dignidade humana; e 3) o respeito e a proteção dos Direitos Humanos. (CERQUEIRA, BARBOSA e ÂNGELO, 2001 apud OLIVEIRA, 2010, p. 94)

5.1.2.2 Educação Continuada

O objetivo central da educação continuada em Direitos Humanos é a atualização de conhecimentos, quebra de paradigmas, a reflexão acerca da prática profissional e o realinhamento de condutas e procedimentos.

No Sistema de Ensino da Polícia Militar, são consideradas como educação continuada os cursos de capacitação, aperfeiçoamento e treinamento policial, sejam na modalidade presencial, semi-presencial ou à distância.

A metodologia adequada para a educação em Direitos Humanos considera o educando no centro do processo educativo, vai da prática à teoria, para retomar e melhor qualificar a prática. Parte de casos concretos e utiliza recursos como dramatização, simulação de casos, jogos vivenciais e outra práticas de ensino, em que o processo educativo tem como ponto de partida e chegada a ação do educando na transformação da realidade na qual se insere.

Os temas de Ética Policial e Direitos Humanos serão enfatizados em todas as modalidades de educação continuada e devem ser tratados de forma transversal e interdisciplinar9, conscientizando o policial quanto às alternativas de

9 Transversalidade: [...] refere-se a temas sociais que permeiam os conteúdos das

diferentes disciplinas,exigindo uma abordagem ampla e diversificada não se esgotando num único campo de conhecimento.Interdisciplinaridade[...] questiona a segmentação dos diferentes campos do conhecimento, possibilitando uma relação epistemológica entre as disciplinas[...] (CORDEIRO e SILVA, 2005, p.31,32)

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resolução pacífica de conflitos que antecedem o uso efetivo da força e proibição da tortura e do tratamento desumano, cruel ou degradante.

5.1.2.3 Atividades Extensionistas

Atividades extensionistas humanísticas são atividades complementares que compõem o currículo da formação e da educação continuada e objetivam ambientar o discente com a prática dos Direitos Humanos junto à comunidade por meio de projetos, seminários, workshops e intercâmbio com universidades e academias do Brasil e do exterior.

5.1.3 Capacitação Docente para a Educação em Direitos Humanos

A educação de polícia militar, compromissada com os princípios éticos e de respeito à dignidade da pessoa humana e acreditando na imprescindibilidade do trabalho transversal e interdisciplinar para a consolidação do conhecimento, deverá promover a formação humanística aos seus integrantes para as atividades típicas de polícia militar e de docência.

Os cursos deverão ser desenvolvidos com base na matriz curricular da Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP/Ministério da Justiça – MJ, nas orientações teórico-metodológicas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, no Plano Nacional de Direitos Humanos – PNDH, no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, e no Plano Estadual de Direitos Humanos – PEDH.

O conteúdo programático dos cursos de Direitos Humanos, bem como as condições de funcionamento, avaliação e aprovação, obedecerão ao previsto nas DEPM.

5.1.3.1 Promoção em Direitos Humanos

5.1.3.1.1 Curso de Promotores de Direitos Humanos

Finalidade: Potencializar, nos policiais militares, os valores humanísticos para o exercício profissional de proteção e promoção de Direitos Humanos. O policial Promotor de Direitos Humanos, terá habilitação para proferir palestras e auxiliar os professores em aulas nos Cursos de Direitos Humanos e na organização de eventos.

Público alvo: Policiais militares formados no Curso de Bacharelado em Ciências Militares – Curso de formação de Oficiais (CFO) e designados pelos respectivos chefes e comandantes.10

10 Conforme a Resolução nº 3.936/2007- CG, os militares formados no Curso de Bacharelado em

Ciências Militares, CBCM/CFO, a partir do ano de 2006, são reconhecidos como Promotores de Direitos Humanos, tendo em vista a carga horária da disciplina durante o curso.

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5.1.3.2 Docência em Direitos Humanos

5.1.3.2.1 Curso de Multiplicador de Direitos Humanos

Finalidade: Destinado aos policiais militares que pretendem lecionar a disciplina de Direitos Humanos nos diversos cursos da Educação de Polícia Militar, sendo conferido a eles o título de Professor de Direitos Humanos. O Professor de Direitos Humanos terá habilitação para planejar e coordenar cursos e eventos de Direitos Humanos, além de ministrar aulas para os referidos cursos.

Público Alvo: Policiais militares possuidores do curso de Promotor de Direitos Humanos, designados pelos respectivos chefes e comandantes, observando-se os requisitos abaixo.

Pré-requisitos: Além dos previstos nas Diretrizes de Educação de Polícia Militar – DEPM, o candidato deverá:

a) ser voluntário e ter interesse em multiplicar a doutrina dos Direitos Humanos;

b) ter desenvoltura pessoal, fluência verbal e habilidades para apresentações em público;

c) ter capacidade de criar, inovar, motivar e liderar os Promotores de Direitos Humanos;

d) ter o aval, por escrito, do Comandante ou Chefe de sua Unidade, na ficha de inscrição do curso;

e) não estar preso ou à disposição da Justiça e não estar sendo processado por crime doloso previsto:

- em lei que comine pena máxima de reclusão superior a dois anos, desconsideradas as situações de aumento ou diminuição de pena;

- nos títulos I e II, nos capítulos II e III do Título III e nos Títulos IV, V, VII e VIII do Livro I da Parte Especial do Código Penal Militar;

- no Capítulo I do Título I e nos Títulos I, nos Títulos II, VI e XI da Parte especial do Código Penal.

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5.1.3.2.3 Curso de Atualização em Direitos Humanos

Finalidade: atualização em Direitos Humanos através do sistema de Educação à Distância (EAD), ficando a cargo da APM a sua construção e instrumentalização. É obrigatório a todos os professores que tenham concluído o curso de Direitos Humanos há mais de dois anos. Esse curso manterá o professor habilitado para lecionar nos cursos de formação, habilitação e especialização da PMMG. Os professores terão um prazo de 01 (um) ano, após a publicação desta DPSSP, para se adequarem a esta situação. O Curso de Atualização em Direitos Humanos será requisito para docência de Direitos Humanos.

Público alvo/Pré-requisitos: destinado aos policiais, possuidores do curso de multiplicadores de Direitos Humanos, e que tenham concluído o curso há mais de dois anos.

5.2 Eixo 2: Procedimento Policial para Proteção dos Direitos Humanos dos Grupos Vulneráveis , Minorias e Vítimas

5.2.1 Contextualização

A cultura brasileira é o resultado de um grande sincretismo que uniu costumes de diversos povos. Os caracteres genéticos que compõem as nossas raízes são frutos de uma secular miscigenação de etnias, gerando uma diversidade que nos proporciona uma imensurável riqueza cultural e social. As diferenças relacionadas à etnia, gênero, deficiência, idade, entre outros, também constituem essa diversidade.

Porém, quando essas diferenças se convertem em desigualdade, criam um ambiente propício a toda sorte de violações de direitos, tanto no espaço público quanto privado, tornando vulneráveis as pessoas que estão na condição de diferentes. É possível citar como exemplo as pessoas com deficiência, os idosos, as mulheres, as crianças e os adolescentes e a população em situação de rua. Esses grupos são chamados, assim, de grupos vulneráveis.

A busca dessas pessoas pelo reconhecimento de seus direitos é hoje um fator democrático preponderante, pois, somente através da igualdade é que se percebe a plena democracia. Foram muitos os movimentos sociais e conquistas, notadamente nos setores mais vitimados pelo preconceito e pela discriminação.

A falta de políticas públicas direcionadas a esses grupos e a desinformação da sociedade são fatores que contribuem para a vitimização, por isto, existe atualmente um grande esforço nacional no sentido de se dar mais visibilidade a esses grupos e de proporcionar mais informação à sociedade, estimulando, assim, uma co-responsabilidade na formulação de leis e políticas garantidoras dos direitos dos grupos vulneráveis, como, por exemplo, a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, entre outros.

A prática da defesa dos Direitos Humanos pelos organismos governamentais e não governamentais proporciona à sociedade e, mormente a esses grupos vulneráveis, reconhecimento e abertura de espaço político, trazendo

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a realização concreta de seus anseios, e cumprindo efetivamente o que está escrito nas leis e nos estatutos.

Dentro desse contexto, o policial, na sua atividade cidadã e de proteção social, deve conhecer a dinâmica dos grupos humanos, ou seja, descobrir seus anseios, dificuldades, necessidades e se engajar, no que for atinente à segurança pública, para a defesa e promoção dos direitos desses grupos.

Por vezes, é necessário repensar as atitudes e valores que temos, confrontando-os com a nova ordem social e política de nossa sociedade. Por exemplo, pense:

“Como agiria caso uma pessoa que usa cadeira de rodas lhe solicitasse ajuda para descer uma escada ou sair de seu carro? Como agiria se uma pessoa surda e muda tivesse sofrido uma agressão próxima ao seu setor de trabalho? Qual seria sua atitude, caso um cidadão cego lhe solicitasse ajuda, ou se deparasse com uma ocorrência de violência doméstica contra uma mulher ou abuso sexual de crianças e adolescentes?”

Com certeza, essas seriam situações embaraçosas, por fugirem da rotina de seu trabalho, pois estamos habituados a lidar com pessoas que podem se locomover normalmente, que podem entender o que lhes é solicitado, enfim, que não possuem características que dificultam suas vidas, em sociedade. Porém, quando nos deparamos com casos como os citados, ocorrem dúvidas de como atuar. Por outro lado, essas pessoas esperam ser tratadas com respeito e dignidade e reconhecidas como cidadãos sujeitos de direitos.

5.2.2 Grupos Vulneráveis

5.2.2.1 Conceito

É um conjunto de pessoas que, por questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos (MARTINS, 2007).

Os seis principais grupos são:

a) mulheres;

b) crianças e adolescentes;

c) idosos;

d) população LGBTT;

e) população em situação de rua;

f) pessoas com deficiência física e intelectual, ou sofrimento mental.

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5.2.3 Minorias

O conceito de minoria, não se refere somente a desvantagem numérica, quantitativa de determinada população, mas também diz respeito a sua posição de domínio ou dominado:

[...] um grupo de cidadãos de um Estado, constituindo minoria numérica e em posição não-dominante no Estado, dotada de características étnicas, religiosas ou linguísticas que diferem daquelas da maioria da população, tendo um senso de solidariedade um para com o outro, motivado, senão apenas implicitamente, por vontade coletiva de sobreviver e cujo objetivo é conquistar igualdade com a maioria, nos fatos e na lei [...] (DESCHENES apud MAIA, 2001, grifo nosso)

Nota-se desta forma que o conceito de minoria não está somente relacionado à questão numérica, mas também inclui a relação dominante e dominado. Por exemplo, na África do Sul, durante a colonização Inglesa, a minoria branca, que exercia o poder político, sobrepunha-se em dominação à maioria da população negra que era obrigada a se submeter às normas sociais, políticas e econômicas, estruturadas no estilo de vida inglês.

Estas minorias, conceituadas por Poulter (1986), em seus estudos, são assim identificadas:

a) Minorias étnicas;

b) minorias religiosas;

c) minorias linguísticas.

5.2.3.1 Minorias étnicas

A minoria étnica traz importantes traços culturais e históricos que farão sua destinação no tecido social. Vejamos a definição abaixo:

[...] são grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências históricas compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos culturais, que são diferentes dos apresentados pela maioria da população [...] (POULTER, 1986, p.2 apud MAIA)

O povo cigano é um exemplo de minorias étnicas. Estudos mostram que, após séculos de perseguições, discriminação e preconceitos, este grupo começa a sair da invisibilidade e a ser reconhecido, apesar de ainda serem grandes suas demandas, como o direito à cidadania brasileira, o acesso ao registro civil de nascimento e de óbito, o direito de frequentar escolas, as condições de saneamento, a assistência médica, dentre outras.

5.2.3.2 Minorias linguísticas

As minorias linguísticas são assim definidas:

[...] são grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em público, que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da adotada oficialmente pelo Estado. Não há

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necessidade de ser uma língua escrita. Entretanto, meros dialetos que se desviam ligeiramente da língua da maioria, não gozam do status de língua de um grupo minoritário. (NOWAK, 1993, p.491 apud MAIA)

5.2.3.3 Minorias religiosas

Segundo Maia (2001), vários autores se convergem na definição de minorias religiosas e afirmam que: “[...] São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente uma outra crença, como o ateísmo, e.g.)” (DINSTEIN, 1992 apud MAIA).

No Brasil, são exemplos de minorias religiosas: judeus, budistas, muçulmanos, praticantes de candomblé (religião jeje-nagô ou ioruba), umbandistas.

É importante ressaltar que as religiões cristãs formam um grande bloco, inclusas as religiões tais como: espíritas, protestantes, católicos e todas as outras que tenham como base doutrinária o cristianismo.

A nossa Constituição, em seu artigo 5º, inciso VI, reza que: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”.

Tal preceito legal abarca as religiões de matriz africana, como o Candomblé, Umbanda ou outras de manifestação afro-católica, como o Congado, assim designadas, devido à sua origem, trazida para o Brasil pelos negros vindos do continente Africano, desde o início da colonização portuguesa.

O Brasil, constitucionalmente, é um país laico (não tem religião oficial), por isso, todos têm o direito de praticar cultos religiosos e manifestações ideológicas, políticas e culturais, sem intervenções de caráter repressivo, discriminatório ou jocoso.

Assim, o Estado tem por obrigação garantir essa efetividade e punir as violações a esse direito. Não há espaço, em um país democrático, para a prática de violência e de discriminações por motivação religiosa, e que, lamentavelmente, ainda ocorrem.11

5.2.4 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias

Os “Grupos Vulneráveis” são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas, dentro dessa minoria, têm uma característica que as difere das demais e as torna parte de um outro grupo. Por exemplo, uma pessoa que faz parte de um pequeno grupo islâmico, num país católico, e é também portadora de

11 Segundo o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, em parceria

com o SESC-SP, INTECAB - Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-brasileira.

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deficiência física, pertence a uma minoria religiosa (islã) e integra um grupo vulnerável por ser deficiente física.

A diferença básica é que as minorias limitam-se aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos, enquanto os grupos vulneráveis estão relacionados com características especiais como tenra idade, gênero, idade avançada, orientação sexual e deficiência física ou sofrimento mental.

5.2.5 Vítima da criminalidade e abuso de poder

Atualmente, a legislação voltada para as vítimas da criminalidade é escassa e de pouca repercussão. O único instrumento internacional sobre a matéria é a Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e do Abuso do Poder, conhecida também como Declaração das Vítimas. Este documento fornece orientações aos Estados Membros no tocante à proteção e reparação às vítimas. Como a Declaração não é um tratado, os Estados não têm obrigatoriedade legal em relação a ela, porém alguns poucos dispositivos da Declaração das Vítimas geram obrigações legais como, por exemplo, o direito à indenização às vítimas de captura ou detenção ilegal (PIDCP, art. 14.6) e o direito de indenização justa e adequada às vítimas de tortura (Convenção contra a Tortura, art.14.1)

Dentro deste contexto, e, de acordo com a Declaração das Vítimas, no seu artigo 1º, entende-se por vítimas de crimes:

[...] as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, nomeadamente a sua integridade física ou mental, ou sofrimento de ordem emocional, ou perda material, ou grave atentado a seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou omissões que violem as leis penais em vigor em um Estado Membro, incluindo as que proíbem o abuso do poder.[...]

As vítimas do abuso de poder, à luz da Declaração das Vítimas no seu artigo 18, são assim conceituadas:

[...] entendem-se por "vítimas" as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido prejuízos, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou de omissões que, não constituindo ainda uma violação da legislação penal nacional, representam violações das normas internacionalmente reconhecidas em matéria de direitos do homem. [...]

No âmbito estadual, a legislação preocupou-se em proteger as vítimas do crime, porém a nomenclatura utilizada trata das vítimas da violência conforme aduz a Lei Estadual n°. 13188 de 21 de janeiro de 1999, que traz a definição de vítima da violência:

[...] Art. 2º - Para os efeitos desta Lei entende-se por vítima de violência:

I - a pessoa que tenha sofrido dano em consequência de crime tipificado na legislação penal vigente;

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II - o cônjuge e o dependente da vítima;

III - a pessoa que tenha sofrido dano ao intervir em socorro de outrem em situação de perigo atual ou iminente;

IV - a testemunha que sofrer ameaça por haver presenciado ou indiretamente tomado conhecimento de ato criminoso, ou por deter informação necessária à investigação e à apuração dos fatos.

Nota-se que a referida lei não trata dos casos de abuso de poder, mas também não podemos ignorar que existe, tanto na legislação nacional quanto na estadual, uma gama de instrumentos normativos que tratam da matéria, daí a necessidade de uma norma que busca proteger os direitos das vítimas do crime.

As disposições que tratam dos direitos da vítima da criminalidade previstas na Declaração das Vítimas estabelecem os seguintes direitos:

- acesso à justiça e tratamento equitativo;

- obrigação de restituição e reparação;

-Indenização;

- serviços.

No âmbito estadual, na Lei nº 13.188/99, os direitos das vítimas buscam medidas de proteção, auxílio e assistência. Reparação de danos físicos e materiais, acompanhamento de diligências policiais ou judiciais, no caso de crimes violentos, plano de auxílio e de manutenção econômica para vítimas, testemunhas e seus familiares sob ameaça, transporte, acompanhamento psicológico, dentre outros, visam minimizar os danos sofridos pelas vítimas.

5.3 Eixo 3: Política Interna de Direitos Humanos

5.3.1 Contextualização

A valorização do policial é fundamental para o sucesso da Instituição, por ser ele o seu maior patrimônio. Para que o trabalho desse profissional produza os melhores resultados possíveis, é preciso que ele seja capacitado, que haja controle sobre as pressões a que é submetido, que ele seja motivado e, acima de tudo, tenha os seus direitos respeitados.

O policial deve estar ciente de que também é possuidor de Direitos Humanos e, além disso, é um cidadão muito especial, pois além de exigir que sua dignidade e seus direitos sejam respeitados, tem a nobre missão de ser um agente de promoção dos Direitos Humanos na comunidade. Sua atuação profissional faz com que a lei seja aplicada e os direitos de todas as pessoas sejam respeitados, independente de cor, raça, sexo, classe social, enfim, sem qualquer tipo de discriminação.

O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República referencia que a desvalorização profissional dos policiais, dentre outras condições, proporciona o mau funcionamento de uma instituição policial. Esse programa propõe, como um

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dos objetivos, a criação de programas de atendimento psicossocial para o policial e sua família, a obrigatoriedade de avaliações periódicas da saúde física e mental dos profissionais de polícia e a implementação de programas de seguro de vida e de saúde, de aquisição da casa própria e de estímulo à educação formal e à profissionalização. Propõe, ainda, apoiar estudos e programas para a redução da letalidade em ações envolvendo policiais.

Atualmente, pode-se dizer que a PMMG está à frente dos tempos, pois, como citado no parágrafo anterior, a corporação tem desenvolvido programas e ações para a valorização de seu profissional.

No Plano Estratégico 2009/2011, os valores definidos para a PMMG são respeito aos direitos fundamentais e Valorização das pessoas, que inclui os deveres que temos em relação a quem serve na PMMG e a quem servimos: o cidadão e a sociedade.

A PMMG se esforça para dar aos seus servidores condições (estabilidade, benefícios, saúde, recursos, formação, capacitação) para que expressem o seu potencial de inteligência e as suas capacidades na garantia dos direitos fundamentais das pessoas. Tais valores são norteadores permanentes das ações com foco na preservação da vida e da dignidade, observância aos Direitos Humanos e às liberdades, dentro dos ditames instituídos na Constituição Federal.

5.3.2 Direitos do policial militar

Além dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988, o policial militar é possuidor de direitos previstos na Lei Estadual nº 5.301, de 1969, que contém o Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais (EMEMG) e traz em seu contexto os direitos, prerrogativas, deveres e responsabilidades dos militares do Estado, nos termos do art. 39 da Constituição do Estado. São considerados direitos dos militares:

I - exercício da função correspondente ao posto ou graduação, ressalvados os casos legais de afastamento;

II - percepção de soldo e vantagens, na forma do EMEMG e demais leis em vigor;

III - transferência para a reserva ou reforma, com proventos, na forma do EMEMG;

IV - julgamento em foro especial, nos delitos militares;

V - dispensa de serviço, férias, licença e recompensa, nas condições previstas no EMEMG;

VI - demissão voluntária e baixa do serviço ativo, de acordo com as normas legais;

VII – transporte, quando movimento, para si e sua família, nos termos do EMEMG e artigos 26 e 29 da Lei Delegada 37;

VIII - porte de arma, nos termos da legislação específica;

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IX - prorrogação por sessenta dias da licença-maternidade prevista no inciso XVIII do caput do Art. 7º. Da Constituição da República, concedida a militar.

A lei complementar estadual nº 109, de 22 de dezembro de 2009, acrescentou, dentro outros, os seguintes direitos:

1) jornada de trabalho reduzida , vinte horas semanais, para o militar responsável por cuidar de pessoas com necessidades especiais;

2) 25 dias úteis de férias anuais para os policiais militares;

3) aumento da licença maternidade para as mulheres policiais militares;

4) aposentadoria especial para as mulheres (25 anos de serviço).

5.3.3 Programas e benefícios existentes na corporação voltados para o policial militar

5.3.3.1 Programa de Prevenção e Cessação ao Tabagismo

Regulamentado através da Instrução de Saúde Nº 05/08, de 30Jul08 , considerando que o tabagismo envolve uma interação complexa, influenciada por fatores e há necessidade de conscientizar os militares e seus dependentes dos malefícios do tabagismo.

5.3.3.2 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional da Tropa

Regulamentado através da Resolução N.º 3899/06, de 14Dez06, com o intuito de promover e preservar a saúde dos policiais militares da ativa da Corporação. O programa compreende a identificação e o controle de riscos relacionados à execução das atividades policiais-militares, a realização de exames médicos periódicos, objetivando a identificação precoce de possíveis agravos à saúde, bem como a adoção de medidas técnicas e administrativas que impeçam a progressão de alterações já identificadas e/ou possibilitem a reabilitação profissional do policial militar.

5.3.3.3 Programa de Prevenção, Atendimento, Tratamento e Reintegração do Alcoolista

Regulamentado através da Resolução Nº 3.599, de 20jun01, que cria o Centro de Referência do Alcoolista (CRA) da Polícia Militar de Minas Gerais cuja missão envolve planejamento, coordenação e controle das ações relativas à prevenção, atendimento, tratamento e reintegração do alcoolista da PMMG. A prestação de assistência médica, psicológica e social aos pacientes que apresentem problemas com o uso de bebidas alcoólicas e de outras substâncias psicoativas é estendida aos familiares do policial militar.

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5.3.3.4 Programa de Prevenção e Tratamento da Obesidade

Regulamentado através da Instrução de Saúde Nº 04/09, de 10Jun09, que objetiva regulamentar e padronizar as ações de implementação e execução do Programa de Prevenção e Tratamento da Obesidade na PMMG, considerando que- a obesidade é considerada atualmente um dos mais graves problemas de saúde pública.

5.3.3.5 Programa de Preparação para a Reserva

Inserido através da Resolução Nº 3842, de 31Jan06, o programa tem como finalidade despertar e estimular o militar para a necessidade de elaborar um projeto para a nova etapa da vida, através de abordagens variadas que contemplem aspectos médicos preventivos, nutrição, atividades físicas, fatores psicológicos, contextos sociais e legais, perspectivas econômicas, relacionamento familiar e outras informações práticas.

5.3.3.6 Promorar Militar

Criado através da Lei Estadual Nº 17.949, de 22Dez08, do Fundo de Apoio Habitacional (Promorar Militar), destinado ao público da PMMG, CBMMG (ativos e inativos) e pensionistas do IPSM, para aquisição de casa própria, com regulamentação pelo Decreto Estadual Nº 45.078, de 02 de abril de 2009. O Promorar Militar tem como principal objetivo proporcionar, aos segurados do IPSM, financiamentos destinados à aquisição de imóveis, novos ou usados, em condições notoriamente mais favoráveis que aquelas praticadas no mercado de crédito imobiliário.

5.3.3.7 Programa Lares Geraes- Moradia Funcional

É regulamentado pelo Decreto Estadual Nº 44.280, de 17 de abril de 2006, que institui a Permissão Temporária de Uso de Moradia Funcional, em caráter emergencial e precário, aos policiais militares, policiais civis, bombeiros e agentes penitenciários que em razão da natureza de suas atividades e do local onde residam, tenham sua vida ou a de seus familiares em situação de risco, e que não disponham de recursos que possibilitem a mudança de moradia por meios próprios.

5.3.3.8 Programa de Orientação Financeira e Familiar

Tem como objetivo incentivar o policial militar na cultura do equilíbrio financeiro pessoal, fornecendo conhecimentos úteis e ferramentas práticas para a autogestão responsável das finanças da família, promovendo aumento do bem-estar e da qualidade de vida, e, assim gerando amplo impacto positivo na esfera familiar e profissional.

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5.3.3.9 Programa de Orientação Social

O Programa de Orientação Social é destinado ao policial militar matriculado em Curso de Formação ou Aperfeiçoamento da Corporação e tem por objetivo orientar e sensibilizar sobre as causas que podem leva-lo ao enfrentamento de vulnerabilidades sociais.

5.3.3.10 Indenização Securitária e Auxílio-Invalidez

A Resolução Nº 4070, de 30Mar10, dispõe sobre o pagamento de indenização securitária e de auxílio-invalidez aos militares da Polícia Militar de Minas Gerais. Os benefícios da indenização securitária e auxílio-invalidez decorrem das funções que apresentam alto grau de periculosidade, constantes de exposições a situações de risco ou que ocasionarem distúrbios psíquicos devido às condições ou à natureza do trabalho do militar estadual. Para fins de auxílio-invalidez, será beneficiário o militar reformado em virtude de invalidez permanente, considerado incapaz para o serviço de natureza de policial-militar ou bombeiro-militar, em consequência de acidente no desempenho de suas funções ou de ato por ele praticado no cumprimento do dever profissional. O militar, em atividade, vítima de acidentes em serviço que ocasionem reforma por invalidez, nos termos da lei previdenciária, receberá do Estado a quantia equivalente a vinte vezes o valor da remuneração mensal a que fizerem jus na data do acidente, a título de indenização securitária, e Auxílio-invalidez de valor igual à remuneração de seu posto ou graduação, incorporado ao seu provento para todos os fins. Em caso de morte, a indenização securitária será paga aos beneficiários da pensão da vítima.

5.3.3.11 Auxílio Orçamentário-Financeiro

A Instrução de Pessoal Nº 193, de 19Abr01, dispõe sobre a concessão de auxílio orçamentário-financeiro ( auxílios diversos) para os policiais militares da PMMG que se encontrem em situação de carência financeira, decorrente de uma circunstância adversa imprevisível que o desestabilize momentaneamente, tais como enchentes, temporais, incêndios, desabamentos, acidentes, em que fique caracterizada a necessidade de socorrimento urgente, com repasse financeiro como único meio para enfrentamento do problema. Objetiva também socorrer os militares que se encontrarem financeiramente desestabilizados, em razão de gastos com tratamento de saúde própria e/ou de seus dependentes, em que tenham ficado descobertas as suas despesas básicas essenciais.

5.3.3.12 Assessoria Jurídica e Assistência Judiciária na Polícia Militar de Minas Gerais

Regulamentada através da Resolução N.º 3.801, de 15Fev05, que define a prestação de assessoramento jurídico e de assistência judiciária aos militares. Considera-se Assessoria Jurídica a atividade desenvolvida pelo Assessor Jurídico em auxílio aos Comandantes, Diretores e Chefes na solução de assuntos jurídicos

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da Administração, e Assistência Judiciária a atividade desenvolvida pelo Assessor Jurídico na defesa dos direitos e interesses dos militares.

5.3.4 Órgãos Internos e Externos de Promoção dos Direitos Humanos na PMMG

5.3.4.1 Diretoria de Saúde (DS)

Unidade de Direção Intermediária da Polícia Militar , responsável pela coordenação e controle da rede orgânica de saúde da PMMG (HPM, COdont, CFarm, GRSau, NAIS e SAS). Possui entre suas funções, a responsabilidade pela definição de estratégias e diretrizes para a regulamentação, gerenciamento e avaliação das ações de atenção à saúde no âmbito do Sistema de Assistência à Saúde (SISAU); a gestão das ações de vigilância e promoção da saúde e de prevenção de doenças no âmbito do SISAU; a gestão de créditos orçamentários para atendimento das demandas das Unidades subordinadas à DS e todas as GRSau/NAIS/SAS; a aplicação dos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento das atividades administrativas da DS; a divulgação de atividades e trabalhos referentes à atenção, promoção e programas de saúde, monitorar o nível de satisfação dos beneficiários do SISAU e assessoramento do Comando da Corporação na busca de soluções para os problemas identificados e informações gerenciais com o intuito de aprimorar o processo de atendimento à saúde dos servidores militares e seus dependentes.

5.3.4.2 Diretoria de Educação Escolar e Assistência Social (DEEAS)

A Diretoria de Educação Escolar e Assistência Social é a Unidade de Direção Intermediária responsável, perante o Comandante-Geral, pelo planejamento, coordenação, controle e supervisão técnica das atividades especificas de educação escolar e de assistência social, securitária, judiciária, habitacional, cultural, desportiva e de lazer da Polícia Militar de Minas Gerais.

A educação escolar tem por finalidade propiciar, prioritariamente, aos Policiais e Bombeiros Militares, assim como a seus dependentes legais, o acesso e permanência a uma educação básica de qualidade, aliada a uma disciplina consciente e interativa.

A assistência social, prestada pela Corporação, objetiva proporcionar aos militares e a seus dependentes um padrão de vida compatível com suas necessidades essenciais, de forma a contribuir para a harmonia e a integração do policial-militar, caracterizando-se pelos benefícios, recursos e auxílios previstos em regulamento, distribuídos àqueles que, atingidos por determinadas situações de carência, se vejam impossibilitados de suprir as necessidades básicas por seus próprios meios.

A Diretoria de Educação Escolar e Assistência Social atua nas seguintes vertentes:

a) Assistência Social e Securitária no acolhimento dos policiais militares e seus dependentes legais em situação de vulnerabilidade social (ocorrência de sinistros e endividamento, entre outras) e na intermediação entre os militares

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segurados através do seguro de vida em grupo da PMMG e as seguradoras Itaú e Minas Brasil, em processos decorrentes de sinistros pessoais (acidentes, invalidez e morte). Objetiva, ainda, proporcionar aos policiais militares e seus dependentes legais um padrão de vida compatível com suas necessidades básicas essenciais, de forma a contribuir para o seu bem-estar social e da sua família. Desenvolve ainda de forma preventiva os Programas de Orientação Financeira Familiar e Social;

b) Assistência Judiciária aos militares da PMMG processado no foro criminal (comum ou militar), por delito praticado em serviço ou decorrente deste, no foro cível, nas ações de reparação do ato lesivo causado pelos respectivos autores contra militares, decorrente da atividade policial; além de promover a responsabilidade penal dos autores de denúncias improcedentes contra integrantes da Polícia Militar, mediante ação penal própria, em assuntos decorrentes da atividade policial;

c) promoção das atividades de esporte, cultura e lazer na Corporação: Concursos de poesia e fotografia, Semana de Artes Cênicas e Musicais e Mostra de Artes Plásticas da PMMG;

d) assistência na área de Habitação com a missão de participar do Programa Lares Geraes no gerenciamento das moradias funcionais e acompanhamento os trabalhos do Fundo de Apoio Habitacional-PROMORAR;

e) organização e atendimento escolar com a missão de difundir as informações educacionais e assessoramento técnico no que se refere a dados e informações estatístico-educacionais, avaliações governamentais, processo de inscrição, seleção e matrícula, documentos de registro dos alunos, gerenciamento do Sistema de Ensino Assistencial (SIEA) e da distribuição de créditos orçamentários para os Colégios Tiradentes,bem como a coordenação, elaboração e acompanhamento de normas pedagógicas que norteiam o desenvolvimento da ação educacional nas unidades de CTPM, articulando-se com a Secretaria de Educação e Conselho Estadual de Educação;

f) estabelecimento de convênios com vistas à realização de estágios de estudantes em Unidades da Polícia Militar ou que objetiva descontos em mensalidades nos cursos ofertados pelas Instituições de Ensino Superior.

5.3.4.3 IPSM

O IPSM (Instituto de Previdência dos Servidores Militares de Minas Gerais) possui a finalidade institucional de prestar assistência médica, social e previdenciária a seus beneficiários, conforme regulamento do Instituto de Previdência dos Servidores Militares do Estado de Minas Gerais a que se refere o Decreto nº 43.581, de 11Set2003 e a Lei nº 10366, de 28Dez90.

Através do SISAU, criado por meio de Convênio de Cooperação Mútua entre o IPSM, a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais, a assistência à saúde encontra um sistema bem estruturado, contando, para a efetiva prestação de serviços, com uma vasta

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rede orgânica e contratada em todo o Estado, buscando atender a todos os beneficiários de maneira rápida e eficiente.

Na área previdenciária, podemos citar os seguintes benefícios:

I - para o segurado:

a) assistência à saúde: prestada com a participação do segurado em seu custeio, compreende os serviços de natureza médica, hospitalar, odontológica e farmacêutica e a aquisição de aparelhos de prótese e órtese;

b) auxílio-natalidade devido pelo nascimento de filho de segurado;

c) auxílio-funeral: O Estado assegura o sepultamento condigno ao militar, o translado do corpo do militar da ativa falecido para a localidade, no País, solicitada pela família, através de quantitativo em dinheiro destinado à indenização das despesas com sepultamento do militar.

II - para o dependente:

a) pensão: por morte do segurado é devida aos seus dependentes a partir do óbito;

b) pecúlio: por morte do segurado será devido o pecúlio ao seu dependente regularmente inscrito;

c) assistência à saúde: compreende os serviços de natureza médica, hospitalar, odontológica e farmacêutica e a aquisição de aparelhos de prótese e órtese;

d) auxílio-reclusão: devido ao dependente do segurado detento ou recluso, não albergado e recolhido à prisão, a partir da data em que se verificar a perda total de sua remuneração.

5.3.4.4 Associação Feminina de Assistência Social – AFAS.

A Polícia Militar de Minas Gerais trabalha, também, em parceria com a AFAS na promoção social da família policial-militar. A AFAS tem como finalidade atender às necessidades de policiais militares e funcionários civis da Corporação, através de auxílios diversos, em caráter emergencial e eventual, depois de já esgotados os demais recursos oferecidos pela PMMG.

A Entidade faz doações de aparelhos ortopédicos, cadeiras de rodas, aparelhos de audição, óculos, material escolar, gêneros alimentícios, cobertores, enxovais para recém-nascidos, passagens de viagem, vale transporte, medicamentos e outros.

A Ação Feminina de Assistência Social tem como objetivo específico, regulado pelo seu Estatuto, atuar, na Capital do Estado, como articuladora em ações que visem à melhoria da qualidade de vida dos militares, civis e seus familiares, por meio do desenvolvimento de projetos de proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, assim como aos portadores de doença física; promover a integração social das famílias desprovidas de

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recursos, através da educação para o trabalho e do estímulo ao desenvolvimento das aptidões artesanais, atividades comunitárias e cursos diversos, em convênio com outras instituições; auxiliar instituições e projetos sócio-culturais e na área da saúde na Polícia Militar, bem como para a melhoria da qualidade de vida dos militares, civis e seus familiares.

A referida Associação desenvolve importantes Programas e Projetos Sociais, tais como: Projeto Capacitação; Programa 1º Emprego; Projeto de Estágio Remunerado; Projeto Aprendiz; Projeto de Geração de Trabalho e Renda, em parceria com o SENAC; Banco de Empregos; Programa de Orientação Financeira Familiar; Programa de Ações Emergenciais Básicas; Projeto de Inclusão Digital; Oficinas de Artes e Artesanato e outras atividades. A instituição é modelo no Estado de Minas Gerais no que se refere ao apoio social e atendimento das demandas de policias, bombeiros militares e de famílias da comunidade.

5.3.4.5. Fundação Guimarães Rosa – FGR

A Fundação Guimarães Rosa (FGR) é uma entidade sem fins lucrativos com autonomia administrativa e financeira. Foi instituída pela Ação Feminina de Assistência Social (AFAS) em 19 de dezembro de 2001, com a missão de contribuir para a melhoria da Segurança Pública no Estado de Minas Gerais, maximizando os recursos necessários a uma atuação mais eficaz das instituições Militares Estaduais.

Constituem objetivos da FGR, mediante apoio ao desenvolvimento institucional ou de pesquisas, o exercício e estímulo às atividades de segurança pública, habitação, saúde, educação, capacitação profissional, cultura, lazer, ação comunitária, assistência social, apoio na administração de recursos humanos e suporte administrativo.

Podemos citar vários projetos relacionados aos Direitos Humanos realizados pela Fundação Guimarães Rosa em parceria com a PMMG:

Programa Artista da Paz: Este é um desdobramento do Programa "Artistas da Paz: Cidadania e Segurança Também se Fazem com Música" - Projeto "Despertar do Canto na Terceira Idade". Seu objetivo primordial é desenvolver estratégias adequadas à integração do idoso na comunidade. Saber usufruir todos os momentos de lazer, a interação social e o desenvolvimento de hobbies e interesses diversos colaboram para que a mente mantenha-se ativa e saudável. É importante que o idoso seja respeitado como ser humano que é, com todas as limitações inerentes a sua idade.

O Programa "Bom na Escola, Bom de Bola" - Projeto Grêmio Esportivo Tiradentes, consiste em aulas esportivas para crianças e adolescentes a fim de inseri-los na interação sócio-comunitária e estimular a frequência e permanência na escola. Os alunos desenvolvem duas modalidades esportivas: Futebol de campo Masculino e Handball Feminino, com o acompanhamento de voluntários que lhes apresentam as regras do jogo, técnicas,

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táticas e treinamento das habilidades. Além disso, há uma reunião semanal na qual as crianças e adolescentes do projeto participam de uma apresentação de conteúdos ligados à cidadania, cultura, saúde e outros temas que possibilitam a discussão para o desenvolvimento social inclusivo.

5.4 Eixo 4: Integração com Outros Órgãos e Entidades

Neste eixo, devemos entender a atuação da Polícia Militar inserida no contexto do Estado Democrático de Direito, insculpido a partir da Promulgação da Magna Carta de 1988, como sendo a instituição responsável por integrar a sociedade ao Estado, na busca da paz social, principalmente no tocante à redução do tratamento desigual e acesso das pessoas às políticas públicas de inclusão social capazes de minimizar ou até mesmo extinguir a violência local.

Devemos ter em mente que os grupos vulneráveis, por sua própria tipologia específica, devem ter atenção especial na elaboração dos planejamentos locais bem como na inserção das políticas e metas a serem atingidas em conjunto, na participação efetiva da construção e fortalecimento da rede de proteção social existente em cada área de atuação.

Em face do exposto, cada policial militar deve tomar conhecimento dos diversos órgãos que constituem o aparelho de proteção social do Estado para assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os direitos fundamentais contribuindo para a paz social.

5.4.1 Poder judiciário local

O Poder Judiciário é responsável, dentro do Estado Democrático de Direito, por prestar a jurisdição no país, cabendo a ele dirimir as lides e fazer valer os direitos positivados. Neste mister, será de grande avanço a celebração de uma parceria e ter o mencionado órgão como aliado na aplicação dos preceitos de Direitos Humanos, principalmente nas comarcas que possuam apenas um magistrado.

5.4.2 Ministério Público

Conforme preconiza o Art. 127 da CF/88, o Ministério Público “é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis “, além de ser o responsável pela fiscalização externa da atividade policial. Logo, é um grande parceiro na efetivação das ações voltadas à proteção e repressão à violação dos direitos dos grupos vulneráveis, principalmente no tocante à efetivação das garantias previstas nas leis ordinárias, como por exemplo às mulheres vítimas de violência doméstica, às crianças e adolescentes vítimas de maus tratos, abandono ou qualquer forma de abuso e, ainda, acompanhamento aos direitos dos idosos.

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5.4.3 Ouvidoria de Polícia

Órgão auxiliar do Poder Executivo na fiscalização dos serviços e atividades da Polícia estadual. Compete à Ouvidoria da Polícia:

I – ouvir qualquer pessoa, diretamente ou por intermédio dos órgãos de apoio e defesa dos direitos do cidadão, inclusive de policial civil ou militar ou outro servidor público, reclamação contra irregularidade ou abuso de autoridade praticados por superior ou agente policial, civil ou militar;

II – receber denúncia de ato considerado arbitrário, desonesto ou indecoroso, praticado por servidor lotado em órgão de segurança pública;

III – verificar a pertinência da denúncia ou reclamação e propor as medidas necessárias para saneamento da irregularidade, ilegalidade ou arbitrariedade comprovada;

IV – propor ao órgão competente a instauração de sindicância, inquérito ou ação para apurar a responsabilidade administrativa e civil de agente público e representar ao Ministério Público, no caso de indício ou suspeita de crime;

V – propor ao Secretário de Estado da segurança Pública e ao Comandante-Geral da Polícia Militar as providências que considerar necessárias e úteis ao aperfeiçoamento dos serviços prestados à população pelas Polícias Civil e Militar;

VI – promover pesquisa, palestra ou seminário sobre tema relacionado com a atividade policial, providenciando a divulgação dos seus resultados;

VII – manter, nas escolas e academias de polícia, em caráter permanente, cursos sobre democracia, direitos humanos e o papel da polícia.

5.4.4 Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos possui por finalidade promover a investigações e estudos para a eficácia das normas asseguradoras dos Direitos Humanos, consagradas na Constituição Federal, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres Fundamentais do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

5.4.5 Delegacias de Polícia Civil

A Delegacia de Polícia é a unidade responsável pelo atendimento das vítimas de infrações penais e apuração das infrações, através de procedimentos técnico-científicos que objetivam a análise de provas – materiais e objetivas, da infração penal, para elaboração de inquérito. A parceria com este órgão do sistema de defesa social é de fundamental importância, particularmente no que diz respeito ao acolhimento das pessoas incluídas nos grupos vulneráveis que tiverem seus direitos violados.

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5.4.6 Prefeituras Municipais

De acordo com o Art. 30 da CF/88, os municípios gozam de autonomia política administrativa e orçamentária, sendo, portanto, um grande parceiro operacional para a implementação de ações e políticas públicas locais voltadas à filosofia dos Direitos Humanos.

5.4.7 Câmara dos vereadores

Dos instrumentos democráticos, o Poder Legislativo local é o que está mais acessível à população das cidades e, como neste eixo a premissa maior é a participação conjunta entre a PMMG e a comunidade, os vereadores serão parceiros importantes para a disseminação, promoção, efetivação e acompanhamento do trabalho de Direitos Humanos em todos os níveis daquela comunidade específica.

5.4.8 Ordem dos Advogados do Brasil

Nos termos do Art. 44 da Lei 8.906/94, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB,) tem por finalidade defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito, os Direitos Humanos,a justiça social, pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas, dentre outras.

A OAB torna-se, desta forma, um parceiro importante para a efetivação das diretrizes previstas nesta norma por ter uma função pragmática no seio da sociedade brasileira.

5.4.9 Órgãos Oficiais de Defesa dos Direitos Humanos

Por todo o país, existem conselhos, estaduais e municipais, que têm a função de zelar pelos direitos humanos, como os Centros de Referência do Cidadão e os Núcleos de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos.

5.4.10 Entidades Religiosas, Assistenciais, Conselhos Comunitários de Segurança Pública e ONGs

Estas entidades estão em contato direto com o cidadão local, conhecem suas necessidades e vulnerabilidades, logo, no presente plano, serão parceiros efetivos.

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5.4.11 Universidades, Faculdades e Escolas Superiores

As empresas e organizações responsáveis pelo ensino no Brasil possuem, em sua estrutura, projetos e mecanismos de relacionamento com a comunidade, como, por exemplo, o serviço jurídico comunitário como cadeira obrigatória da graduação do Curso de Direito ou Assistência gratuita local fornecida pelos Acadêmicos de Terapia Ocupacional, Fisioterapia, entre outros. Logo, acabam sendo parceiros importantes para a divulgação e implantação da filosofia dos DDHH e encaixam-se nas linhas de ação deste eixo.

Neste contexto, é imprescindível a parceria da PMMG com essas escolas de ensino, no intuito de abrir um diálogo permanente entre a comunidade escolar e a Polícia Militar, para discutir questões relativas à Filosofia de Direitos Humanos.

5.4.12 Órgãos do sistema municipal e estadual de ensino

Órgãos do sistema de Educação que têm como missão apoiar a elaboração da política educacional do estado e do município, coordenando sua implantação e avaliando resultados, com vistas a assegurar a excelência na Educação de maneira a contribuir para formar indivíduos autônomos e habilitados a se desenvolver profissionalmente e como cidadãos.

6 AÇÕES PARA OS COMANDOS NOS DIVERSOS NÍVEIS

De maneira a tornar efetiva a aplicação desta diretriz nos diversos níveis de gestão da PMMG, ficam estabelecidas, neste item, as ações que deverão ser implementadas, coordenadas e supervisionadas pelos respectivos comandos.

6.1 Estado-Maior da Polícia Militar

6.1.1 Estabelecer as diretrizes estratégicas no campo afeto à Filosofia de Direitos Humanos.

6.1.2 Assegurar recursos orçamentários e financeiros necessários à aquisição de equipamentos e ao constante aperfeiçoamento dos policiais-militares no que tange à prática de Direitos Humanos (seminários, cursos, tecnologia menos letal, equipamentos de autoproteção, entre outros).

6.1.3 Monitorar as atividades afetas à Filosofia de Direitos Humanos de forma a manter o constante aperfeiçoamento.

6.1.4 Difundir a filosofia de Direitos Humanos, utilizando ferramentas de comunicação de marketing, para os públicos interno e externo.

6.1.5 Adotar institucionalmente o Método de Tiro Defensivo de Preservação da Vida (MTDPV), como um módulo do treinamento com arma de fogo.

6.1.6 Implantar no currículo dos cursos de formação a disciplina referente ao armamento, munição e equipamento menos letal.

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6.1.7 Coordenar as atividades constantes nesta Diretriz, em especial as constantes dos eixos temáticos (item 5).

6. 2 Atribuições dos Elementos Subordinados

6.2.1 Academia de Polícia Militar (APM)

6.2.1.1 Revisar, atualizar e padronizar o material didático da disciplina de Direitos Humanos dos cursos realizados na PMMG, respeitando as particularidades de cada um.

6.2.1.2 Promover a transversalização das normas internacionais de Direitos Humanos com as demais disciplinas dos cursos de formação e educação continuada, no prazo de no máximo seis meses após a entrada em vigor desta diretriz.

6.2.1.3 Enviar ao EMPM até o primeiro dia útil do mês de fevereiro de cada ano as atas finais das atividades de Direitos Humanos (seminário, cursos, entre outros) realizadas pela Unidade, inclusive às referentes ao curso de atualização à distância.

6.2.1.3 Coordenar, em conjunto com o EMPM, as atividades constantes do Eixo Temático 1 ( item 5.1).

6.2.2 Diretoria de Apoio Operacional (DAOp)

6.2.2.1 Assessorar a APM na padronização, revisão e atualização do material didático, conforme item 6.2.1.1.

6.2.2.2 Planejar, implementar, coordenar, controlar e avaliar o desenvolvimento das atividades de Direitos Humanos no Estado, pela PMMG, no que se refere aos eixos temáticos 2 e 4 desta Diretriz (itens 5.2 e 5.4) .

6.2.2.3 Assessorar o Estado-Maior da PMMG nas deliberações sobre a necessidade de capacitações e definição de vagas, no que se refere às atividades de Direitos Humanos.

6.2.2.4 Representar a PMMG junto aos Órgãos de Direitos Humanos, de forma a manter um contínuo alinhamento com as práticas estabelecidas, tanto a nível internacional como nacional.

6.2.2.5 Assessorar os comandos nos diversos níveis, quanto ao desenvolvimento das ações contidas nos eixos 2 e 4 desta diretriz.

6.2.3 Corregedoria de Polícia Militar (CPM)

6.2.3.1 Monitorar e controlar a violência policial, especialmente a letalidade de seres humanos, através da gestão por indicadores.

6.2.3.2 Encaminhar semestralmente, para o EMPM, o índice de letalidade (por mês) envolvendo policiais militares (PM mortos e feridos e civis mortos e feridos).

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6.2.3.3 Coordenar, em conjunto com o EMPM, as atividades constantes do Eixo Temático 3 (item 5.3) desta Diretriz.

6.2.4 Regiões de Polícia Militar (RPM) e Comando de Policiamento Especializado (CPE)

6.2.4.1 Planejar, coordenar, controlar e avaliar o desenvolvimento de atividades de Direitos Humanos pelas UEOp subordinadas, de forma alinhada às diretrizes estabelecidas pela PMMG.

6.2.4.2 Enviar ao EMPM até o primeiro dia útil do mês de fevereiro de cada ano a ata final das atividades de Direitos Humanos (seminário, cursos, entre outros) realizadas pela Unidade.

6.2.4.3 Manter um banco de dados atualizado, por UEOp subordinada, dos policiais militares que possuem os cursos de Direitos Humanos (Multiplicador e Promotor de Direitos Humanos, Método de Tiro Defensivo de Preservação da Vida (MTDPV), Tecnologia Menos Letal, Violência Doméstica, Grupo Especializado no Atendimento à Criança e Adolescente em Situação de Risco (GEACAR), entre outros, inclusive os realizados à distância.

6.2.4.4 Encaminhar à DAOp semestralmente, diagnóstico (dados estatísticos por mês), referente a criminalidade e violência envolvendo os Grupos Vulneráveis (crianças e adolescentes, mulheres, idosos, pessoas com deficiência, população LGBTT e população em situação de rua) e Minorias (crimes violentos praticados por e contra tais grupos e minorias), por natureza e por Batalhão/Cia Ind.

6.2.4.5 Diagnosticar e propor ao EMPM a necessidade de treinamentos afetos à filosofia de Direitos Humanos.

6.2.5 Unidades de Execução Operacional (UEOp)

6.2.5.1 Planejar e executar, através da assessoria de Direitos Humanos, atividades de Direitos Humanos, conforme preceitua a Instrução que regula a prevenção ativa na PMMG, devendo enviar para a Região da Polícia Militar (RPM) tal planejamento.

6.2.5.2 Manter em arquivo próprio biblioteca de Direitos Humanos.

6.2.5.3 Premiar o(s) destaque(s) em Direitos Humanos da Unidade, a cada ano.

6.2.5.4 Manter um banco de dados atualizado dos policiais militares que possuem os cursos de Direitos Humanos (Multiplicador e Promotor de Direitos Humanos, Método de Tiro Defensivo de Preservação da Vida (MTDPV), Tecnologia Menos Letal, Violência Doméstica, Grupo Especializado no Atendimento à Criança e Adolescente em Situação de Risco (GEACAR), entre outros, inclusive os realizados à distância.

6.2.5.5 Encaminhar para a RPM ao final de cada ano, a ata final das atividades de Direitos Humanos realizadas na Unidade.

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6.2.6 DAL, DEEAS, DRH, DS e DTS

Coordenar, no que lhe compete, e em conjunto com o EMPM, as atividades constantes do Eixo Temático 3 desta Diretriz (item 5.3).

6.3 Ações de Âmbito Geral

6.3.1 Os comandos, nos diversos níveis, deverão promover no ambiente de trabalho os princípios de respeito à dignidade humana, de maneira a garantir a auto-estima do policial e criar um cultura interna de valorização profissional.

6.2.2 Os programas e projetos de diversas áreas da corporação deverão ser analisados e ajustados à filosofia de Direitos Humanos contida nesta diretriz e deverão ser encaminhados à DAOp para análise.

6.2.3 Os comandos, nos diversos níveis, deverão estimular e apoiar a participação dos policiais militares sob seu comando, em cursos, seminários e eventos que tenha como objetivo a Educação em Direitos Humanos.

6.3.4 Na localidade onde houver conselhos ou coordenadoria de defesa dos Direitos Humanos, como Conselho Municipal de Direitos Humanos, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, Conselho Municipal do Idoso, Conselho ou coordenadoria da Mulher, do Deficiente, entre outros, o comando local deverá envidar esforços no sentido de fazer participar dos referidos órgãos um policial militar, professor ou promotor de Direitos Humanos, como representante da PMMG, a fim de manter um diálogo permanente com a comunidade acerca das questões sobre Direitos Humanos, devendo relatar à DAOp, Adjuntoria de Direitos Humanos, todos os aspectos relacionados à atividade policial militar.

6.3.5 É vedada a criação e a utilização de brevês, bottoms, pinturas, cartazes, banners em viaturas ou em prédios da PMMG, canções, gritos de honra e outras manifestações que façam apologia à morte, violência ou discriminação, no ambiente institucional.

6.3.6 Qualquer participação de policiais militares em eventos relacionados à Filosofia de Direitos Humanos deverá ser encaminhado cópia da designação ou ata à DAOp.

7 AÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

7.1 Ações Eixo 1: Educação

7.1.1 Conteúdos de Direitos Humanos nos cursos de formação e na educação continuada

7.1.1.1 Os conteúdos da disciplina Direitos Humanos, nos diversos cursos de formação e educação continuada, deverão ser revisados a cada dois anos, ficando a cargo da Seção de Direitos Humanos da APM, a coordenação e controle deste trabalho.

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7.1.1.2 O conteúdo de Direitos Humanos para os cursos da educação continuada focados na atividade operacional, salvo os de multiplicador e promotor de direitos humanos, terão como conteúdo os eixos desta DPSSP, sendo reservada uma carga horária mínima de 20 % do total da carga horária do curso.

7.1.1.3 A carga horária da disciplina de Direitos Humanos do Curso Técnico de Segurança Pública (CTSP) deverá ser no mínimo à prevista no Curso de Promotor de Direitos Humanos.

7.1.1.4 O material didático da disciplina de Direitos Humanos deverá ser padronizado, respeitando as particularidades de cada curso. Para tanto, os supervisores de ensino e/ou coordenadores de curso deverão se reportar à Seção de Direitos Humanos da APM, responsável por intermediar, coordenar e assessorar a elaboração e padronização deste material.

7.1.1.5 A APM deverá promover a transversalização das normas internacionais de Direitos Humanos com as demais disciplinas dos cursos de formação e educação continuada, no prazo de no máximo seis meses após a entrada em vigor desta diretriz.

7.1.2 Conduta no Ambiente Escolar

7.1.2.1 É vedada, no ambiente educacional, qualquer demonstração, conduta ou postura violenta ou discriminatória de qualquer natureza, ou que faça apologia à violência e à discriminação ainda que de forma subliminar, conforme previsto no artigo 4º das Diretrizes de Educação da Polícia Militar (DEPM).

7.1.2.2 É vedada qualquer forma de sanção ou correção que implique castigo físico, conforme previsto no artigo 4º, § 2º das DEPM.

7.1.3 Capacitação Docente

7.1.3.1 Os Centros de execução de ensino e companhias de treinamento deverão exigir do candidato a professor de Direitos Humanos, em seus diversos cursos, os certificados de conclusão do Curso de Professor e Atualização de Direitos Humanos;

7.1.3.2 A supervisão de ensino dos centros e das Cias de Treinamento supervisionarão a docência no sentido de fazer cumprir as determinações contidas nesta diretriz, contribuindo para reforçar comportamentos e uniformizar procedimentos que coadunem com a filosofia institucional.

7.1.3.3 Para a docência das disciplinas de Direitos Humanos, técnica policial, tiro policial, defesa pessoal e disciplinas que envolvem uso da força, nos cursos de formação, habilitação e especialização da PMMG, além de possuir curso superior, será obrigatória, ao docente, ser detentor do curso de Multiplicador de Direitos Humanos.

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7.1.3.4 Os docentes das disciplinas que envolvem uso da força deverão ser capacitados a realizar a transversalização do conteúdo de sua disciplina com as normas internacionais de Direitos Humanos.

7.1.4 Atividades Extensionistas

7.1.4.1 A APM deverá fortalecer o desenvolvimento de programas já existentes como o projeto “Educadores para a Paz”12 e o “Seminário Anual de Direitos Humanos”, bem como ampliar atividades humanísticas que possam proporcionar a seus discentes a integração entre a teoria e a prática de Direitos Humanos.

7.1.4.2 As Cias de Ensino e Treinamento deverão envidar esforços no sentido de implementar atividades extensionistas, com foco no desenvolvimento de competências humanísticas, encaminhando seu respectivo programa à APM, para análise e assessoria. Os programas realizados deverão ser aprovados pelo EMPM.

7.2 Ações Eixo 2: Estratégias para Sensibilização do Atendimento aos Grupos Socialmente Vulneráveis e às Vítimas da Criminalidade e Abuso de Poder

7.2.1 As técnicas de abordagem policial a pessoas pertencentes aos grupos socialmente vulneráveis e às vítimas da criminalidade e abuso de poder deverão ser adequadas conforme os procedimentos definidos no caderno doutrinário 2 - Tática policial, abordagem a pessoas e tratamento às vítimas.

7.2.2 A sensibilização para atendimento aos grupos socialmente vulneráveis deverá ser realizada em todos os níveis de comando, devendo sempre que possível os comandantes e chefes incentivarem e apoiarem ações ligadas ao reconhecimento e à proteção dos Direitos Humanos, notadamente no que se refere aos grupos socialmente vulneráveis.

7.2.3 A sensibilização para as ações e atitudes voltadas para as vítimas da criminalidade e do abuso de poder deverá ser incluída, pela APM, no treinamento policial básico, com a finalidade de manter o policial atualizado com relação aos procedimentos a serem adotados.

7.2.4 Durante os cursos de formação, educação continuada e especialização, as estratégias metodológicas para a sensibilização deverão privilegiar o contato direito com ONGs, entidades municipais, estaduais e federais, bem como representantes dos grupos vulneráveis através de visitas in loco, seminários, workshops, dentre outros. Para tanto, deverá ser realizado um contato prévio, no sentido de conhecer os propósitos dessas pessoas e entidades. Este cuidado é

12 Programa desenvolvido pela APM, que consiste em proporcionar ao discente uma

vivência junto às escolas, como docente da temática de Direitos Humanos, utilizando uma metodologia lúdica, que abarca dinâmicas e jogos vivenciais direcionados a crianças.

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importante para evitar manifestações de cunho ideológico ou ofensivo ao público presente durante a vivência.

7.2.5 Nos currículos dos cursos de formação e da educação continuada, ao se tratar do tema grupos vulneráveis, este deverá sempre estar relacionado à temática Direitos Humanos.

7.2.6 A temática grupos vulneráveis deverá ser incluída no treinamento policial básico com a finalidade de manter o policial atualizado com relação aos procedimentos a serem adotados no atendimento a esses grupos.

7.2.7 O sistema de educação à distância da Polícia Militar deverá contemplar cursos sobre a temática.

7.2.8 Recomenda-se, nas estratégias metodológicas, aliar a teoria à prática e, a partir da sensibilização, direcionar a vivência do tema referente a grupos socialmente vulneráveis a procedimentos práticos, de forma a desenvolver, no policial, habilidade procedimental para auxiliar as pessoas. Os termos relativos a cada grupo também deverão ser explicados e refinados.

7.3 Ações Eixo 3: Política Interna de Direitos Humanos

7.3.1 Os comandos, nos diversos níveis, deverão divulgar os benefícios e programas de promoção e assistência disponibilizados para o policial militar, constantes nesta diretriz, no sentido de dar visibilidade e tornar efetivo o atendimento às demandas internas relativas ao bem-estar e a qualidade de vida da família policial militar.

7.3.2 Os comandos, nos diversos níveis, deverão promover parcerias no sentido de ampliar os benefícios e programas institucionais que visem ao bem-estar do público interno.

7.3.3 A Diretoria de saúde deverá coordenar e/ou realizar estudos sobre a vitimização primária, secundária e terciária que acomete o Policial Militar, objetivando diagnosticar e subsidiar ações que visem a aumentar a segurança no exercício profissional de maneira a reduzir o risco de morte e a incapacidade laboral.

7.3.4 Os policiais militares acometidos por doença ou deficiência incapacitante decorrente da atividade laboral ou não deverão ser acompanhados no sentido de avaliar suas condições emocionais, físicas e econômicas, prestando auxílio naquilo que for necessário.

7.3.5 A DAL e a DTS deverão manter o controle e a fiscalização da aquisição de equipamentos de proteção individual, armamento e viaturas adequadas ao enfrentamento do risco operacional.

7.3.6 Os comandos, nos diversos níveis, deverão manter controle e fiscalização do uso e aquisição dos equipamentos de proteção individual, armamentos e viaturas adequados ao enfrentamento do risco operacional.

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7.4 Ações Eixo 4: Integração com Outros Órgãos e Entidades

Os comandos em todos os níveis deverão envidar esforços no sentido de estabelecer relações com os órgãos e entidades constantes nesta diretriz, com o objetivo de planejar ações conjuntas para a promoção dos Direitos Humanos, observando as individualidades regionais e as ações abaixo.

7.4.1 Poder judiciário e Ministério Público

a) Buscar sensibilizar os magistrados e o Ministério Público (MP) local para que sejam parceiros da PMMG nas ações previstas nesta diretriz.

b) Desenvolver projetos locais visando à proteção e acompanhamento aos grupos vulneráveis existentes na cidade.

c) Criar fóruns de discussão sobre a temática Direitos Humanos envolvendo, além do magistrado e MP, outros órgãos de promoção e defesa dos Direitos Humanos, bem como a sociedade civil.

7.4.2 Ouvidoria de Polícia

a) Estabelecer parceria com o referido órgão com o intuito de realizar pesquisas e monitorar as denúncias que envolvem policiais militares, mormente as ligadas à violação dos Direitos Humanos, com vistas à agilidade das apurações e transparência das ações tomadas.

b) Criar espaços de debate e informação para a divulgação das ações da Ouvidoria de Polícia, sua missão e objetivos de maneira a tornar mais inteligível aos policiais as atividades desenvolvidas por este órgão.

7.4.3 Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos

a) Conhecer as diretrizes do Conselho a fim de estabelecer uma agenda conjunta de debates acerca dos temas de Direitos Humanos;

b) Divulgar a presente diretriz com vistas a estabelecer uma parceria na execução de ações efetivas de defesa dos Direitos Humanos.

7.4.4 Delegacias de Polícia Civil

a) Desenvolver linhas de atuações conjuntas, principalmente no tocante ao acolhimento das pessoas incluídas nos grupos vulneráveis que tiverem seus direitos violados, buscando minimizar os impactos da violência, reprimindo os agressores/violadores e mediando conflitos, dentro de cada realidade.

b) Fomentar a criação de uma agenda conjunta de debates acerca dos temas de Direitos Humanos;

c) Promover capacitações e treinamentos integrados sobre a temática de Direitos Humanos visando à socialização de conhecimentos.

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7.4.5 Prefeituras Municipais e Câmara dos vereadores

a) Estabelecer contato direito com o Prefeito, a fim de apresentar as diretrizes da organização e desenvolver um programa de sensibilização que envolva o Poder Executivo local, com vistas a elaboração de uma ação conjunta para a promoção e defesa dos Direitos Humanos;

b) Conhecer os programas e projetos realizados pelo município acerca da doutrina de Direitos Humanos;

c) Fomentar uma agenda municipal de debates dos principais temas de Direitos Humanos.

7.4.6 Ordem dos Advogados do Brasil

a) Conhecer as atividades locais da OAB, divulgando a presente diretriz com vistas a implementar uma atuação conjunta na defesa dos Direitos Humanos;

b) Fomentar uma agenda conjunta de debates e estudos locais acerca da proteção, prevenção e repressão à violação dos direitos das pessoas pertencentes aos grupos vulneráveis.

7.4.7 Entidades Religiosas, Assistenciais, Conselhos Comunitários de Segurança Pública, ONGs e outros órgãos de Defesa dos Direitos Humanos

a) Promover reuniões de sensibilização com participação das mencionadas entidades a fim de que adiram aos preceitos do presente plano e se tornem parceiros da PMMG na defesa dos Direitos Humanos;

b) Estabelecer uma agenda mensal de reuniões conjuntas com o objetivo de criar e reestruturar metas e avaliar resultados.

7.4.8 Universidades, Faculdades e Escolas Superiores

a) Estreitar as relações com as mencionadas entidades, nas cidades em que houver, apresentando a presente diretriz, como forma de visibilidade das ações da PMMG na defesa dos Direitos Humanos, a fim de firmar parceria local para o desenvolvimento da Educação em Direitos Humanos;

b) Firmar parcerias com as mencionadas instituições visando oportunizar aos policiais militares capacitação que propicie o desenvolvimento de competências humanísticas.

7.4.9 Órgãos do sistema municipal e estadual de ensino

Manter parceria com a Secretaria Estadual e Municipal de Educação no sentido de fomentar, na comunidade escolar, a discussão da temática Direitos Humanos, utilizando ferramentas pedagógicas de Educação em Direitos

Page 55: diretriz de direitos humanos

55

Humanos, como estratégia para a construção de uma cultura de Paz e cidadania nas escolas.

8 PRESCRIÇÕES DIVERSAS

8.1 Todas os serviços e atividades referentes à doutrina de Direitos Humanos na Polícia Militar devem ser reportadas ao EMPM, o qual, em trabalho conjunto e harmônico com a APM e com a DAOp; avaliará quanto à viabilidade institucional e à exequibilidade operacional.

8.2 Todas as Seções do EMPM envolver-se-ão nas atividades de consolidação das políticas de Direitos Humanos da Polícia Militar, propondo readequações que porventura sejam necessárias.

8.3 As grades curriculares dos diversos cursos da Polícia Militar deverão ser readaptadas, a partir de dezembro de 2010, de forma a contemplar as estratégias estabelecidas na presente Diretriz.

8.4 Observar-se-á, na condução das diretrizes relativas aos Direitos Humanos, as recomendações constantes na Diretriz nº 3.02.01/2009, que regula procedimentos e orientações para a execução com qualidade das operações, e as normas constantes na Diretriz nº 3.02.02/2009, que estabelece orientações básicas para as atividades de coordenação e controle.

8.5 As diretrizes estabelecidas na presente norma não devem conflitar com as demais macroestratégias previstas pela PMMG e, portanto, nas situações conflituosas, o EMPM dirimirá as dúvidas por intermédio de norma complementar.

8.6 Revogam-se as disposições em contrário, principalmente a DPSSP nº 08/2004.

Publique-se, registre-se e cumpra-se.

QCG em Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2010.

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, CEL PM Comandante-Geral

Anexo “A” - Aspectos da Legislação Correlatos ao Tema.

Anexo “B” - Conduta Ética e Legal do Policial.

Anexo “C” - Deveres e Funções do Policial.

Distribuição: TODA PMMG.

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Anexo “A” (Aspectos da Legislação Correlatos ao Tema) à DPSSP Nº 3.01.05/2010-CG

INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

1) DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São

dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com

espírito de fraternidade.

Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades

estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça,

cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional

ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política,

jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se

trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a

qualquer outra limitação de soberania.

Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o

tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,

desumano ou degradante.

Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a

igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer

discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal

discriminação.

[...]

Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo XI

Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua

família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e

Page 57: diretriz de direitos humanos

57

reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou

ataques.

[...]

Artigo XIII

Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

Artigo XVII

a) Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

b) Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e

religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade

de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela

observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este

direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber

e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de

fronteiras.

Artigo XX

a) Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

Artigo XXIX

a) Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

b) No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

c) Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Page 58: diretriz de direitos humanos

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DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO E DIREITO INTERNACIONAL

DIREITO

DECLARAÇÃO

UNIVERSAL DOS

DIREITOS

HUMANOS

(v. nota 1)

PACTO

INTERNACIONAL

DOS DIREITOS

CIVIS POLÍTICOS

(v. nota 2)

PACTO

INTERNACIONAL

DOS DIREITOS

ECONÔMICOS,

SOCIAIS E

CULTURAIS

(v. nota 3)

CONVENÇÃO

AMERICANA

SOBRE OS

DIREITOS

HUMANOS

(v. nota 4)

CONSTITUIÇAO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA

DO BRASIL

(v. nota 5)

VIDA Art. 3º Art. 6º * art. 4º * art. 5º, caput

INTEGRIDAD

E PESSOAL art. 3º e 5º art. 7º * e 10 art. 5º * art. 5º, III

PROIBIÇÃO

DA

ESCRAVIDÃO

art. 4º art. 8º (1-2)* art. 6º * art. 1º, II e art. 5º, XLVII

PROTEÇÃO À

FAMÍLIA E À

CRIANÇA

art. 16 art. 23, 24 e 25 art. 10 art. 17 * e 19* Art. 5º, LXXVI; 6º, 226, 227

e 229

GARANTIAS

JUDICIAIS art. 10 e 11 art. 14 e 15 * art. 8º, 9º * e 10

Art. 5º, incisos XXXV,

XXXVIII, XXXIX, LIII, LV,

LVII, LXXIV

IGUALDADE

PERANTE A

LEI

art. 7º art. 14 e 26 art. 24 art. 3º, IV e 5º, caput e

inciso I

ACESSO AO

JUDICIÁRIO art. 8º e 10 art. 14 e 26 art. 8.1 e 25 art. 5º, XLI, XXXV

LIBERDADE

PESSOAL art. 3º, 9º e 11.2

art. 9º, 11 * , 14.6 e

15* art. 7º, 9º e 10

art. 5º, caput, incisos LXI,

LXVII e LXXV

LIBERDADE

DE

CONSCIÊNCI

A

art. 18 art. 18 * e 27 art. 12 * art. 5º, VI e VIII

DIREITO À

SEGURIDADE

SOCIAL

art. 22 e 25 art. 9º art. 26 art. 3º, I a IV, 4º, IX, 194 a

204

DIREITO À

SAÚDE art. 25 art. 12 art. 26 art. 196

DIREITO À

MORADIA art. 25 art. 11 art. 26 art. 7º, IV

DIREITO À

EDUCAÇÃO art. 26 e 27 art. 13 e 15 art. 26 art. 205

AMBIENTE

SAUDÁVEL art. 25 art. 12 art. 26 art. 5º, LXXIII, 225, 170, VI

DIREITO DOS

ÍNDIOS art. 27 art. 231

*) Esses direitos não podem ser derrogados sob nenhuma circunstância, mesmo em estado de

exceção.

Page 59: diretriz de direitos humanos

59

NOTAS: 1. Adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, e assinada pelo Brasil, em 10 de dezembro de 1948. 2. Adotado pela Resolução nº 2200-A (XXI) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, e ratificada pelo Brasil, em 24 de janeiro de 1992. 3. Adotado pela Resolução nº 2200-A (XXI) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, e ratificada pelo Brasil, em 24 de janeiro de 1992. 4. Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de la Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, e ratificada pelo Brasil, em 25 de setembro de 1992 (Pacto de San José de la Costa Rica). 5. Promulgada pela Assembléia Nacional Constituinte, em 05 de outubro de 1988.

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, Coronel PM Comandante-Geral

Distribuição: a mesma da DPSSP nº 3.01.05/2010-CG

DIREITO

DECLARAÇÃO

UNIVERSAL

DOS DIREITOS

HUMANOS

(v. nota 1)

PACTO

INTERNACIONAL

DOS DIREITOS

CIVIS POLÍTICOS

(v. nota 2)

PACTO

INTERNACIONAL

DOS DIREITOS

ECONÔMICOS,

SOCIAIS E

CULTURAIS

(v. nota 3)

CONVENÇÃ

O

AMERICANA

SOBRE OS

DIREITOS

HUMANOS

(v. nota 4)

CONSTITUIÇAO DA

REPÚBLICA

FEDERATIVA DO

BRASIL

(v. nota 5)

LIBERDADE DE PENSAMENTO E

EXPRESSÃO

art. 19 art. 19 art. 5º, incisos IV,

VII e IX

DIREITO DE RESPOSTA

art. 19.3 (a) art. 14 art. 5º, inciso V

LIBERDADE DE REUNIÃO

art. 20 art. 21 art. 15 art. 5º, XVI

DIREITO DE PETIÇÃO

art. 5º, XXXIV (a)

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

art. 20 art. 22 art. 16 art. 5º, incisos XVII

a XX

DIREITOS POLÍTICOS

art. 20 e 21 art. 25 art. 23 * art. 1º, § único, 5º,

LXXIII, 14, 15 e 37,

I

DIREITO À HONRA E DIGNIDADE PESSOAL

art. 12 art. 17 art. 11 art. 1º, III e 5º, X

LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO

art. 9 e 13 art. 12, 13 e 24.3 art. 22 art. 5º, XV e LXVIII

INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

art. 12 art. 17 art. 11 art. 5º, XI

INVIOLABILIDADE DE CORRESPONÊNCIA E COMUNICAÇÃO

art. 12 art. 17 art. 11 art. 5º, inciso XII

PROTEÇÃO DA MATERNIDADE E

INFÂNCIA

art. 25.2 art. 24 art. 19 art. 5º, I, 6º, 227, §

1º, inciso I

LIBERDADE DE

TRABALHO

art. 23 art. 6º, 7º e 8º art. 26 art. 5º, XIII, 7º , 8º

e 9º

Page 60: diretriz de direitos humanos

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Anexo “B” (CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL) à DPSSP Nº 3.01.05/2010-CG

CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL

1 INTRODUÇÃO

A Organização Policial existe para zelar pelo cumprimento das leis. Estas foram instituídas com o objetivo de efetivar a garantia dos Direitos Fundamentais do ser humano, possibilitando a todos condições básicas de sobrevivência e convivência harmônica e pacífica, imprescindíveis ao desenvolvimento do homem na sua vida em sociedade.

A polícia tem a obrigação de obedecer à lei, inclusive às leis promulgadas para a promoção e proteção dos Direitos Humanos. Agindo assim, o policial estará não somente cumprindo o seu dever legal, como também respeitando e protegendo a dignidade da pessoa humana, mesmo que para isso tenha que fazer uso da coerção e da força, nos casos estritamente necessários e na medida exata.

O uso da força policial não deve ser indiscriminado, pois, ao contrário, pode abalar as bases da conduta ética e legal do policial, as quais são: a obediência às leis, o respeito à dignidade humana e a proteção dos Direitos Humanos. A legalidade, a necessidade e a proporcionalidade devem estar internalizadas no policial, para que sua ação não colida com os propósitos que deve defender. A comunicação deve ser a principal e a primeira intervenção do policial.

Através da qualificação ético-profissional, o policial tem como pilar de sua atuação o respeito à dignidade humana. O policial é um profissional capacitado a: manter em sigilo as informações de caráter confidencial; manifestar-se contundentemente contrário à tortura e ao tratamento desumano, cruel ou degradante; ser cuidadoso para com a saúde das pessoas privadas da liberdade e que estejam sob sua custódia; e contrapor-se aos atos de corrupção que visem a difamar o organismo policial e a denegrir a imagem da instituição perante a sociedade.

Com suas qualidades morais, psíquicas e físicas, além do adequado treinamento, o policial terá habilidades técnicas para raciocinar e atuar acertadamente, preservando vidas e cumprindo o seu papel social.

1.1 Policial defensor da dignidade humana

Os Direitos Humanos estão protegidos por leis internacionais e nacionais. Esses instrumentos interagem com a atividade policial, fornecendo-lhe direcionamentos para o desenvolvimento de um policiamento ético e legal. As normas e regulamentos internos da Polícia Militar encontram-se em consonância com as diretrizes estabelecidas pelos Direitos Humanos e as leis internas e externas, garantem a efetividade desses direitos, não podendo, jamais, serem descumpridas.

Os Direitos Humanos são fundamentos do respeito à dignidade da pessoa humana e esses direitos são inalienáveis, ou seja, ninguém pode transferi-los nem tampouco barganhá-los.

Page 61: diretriz de direitos humanos

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Quando o policial comete qualquer ato contra a dignidade da pessoa humana, responde por sanções nas esferas administrativa, civil e penal. Individualmente, o policial é o responsável pelo dano causado, porém, toda a instituição fica maculada perante a sociedade, refletindo negativamente no trabalho dos demais policiais.

Não basta somente que o policial respeite e proteja a dignidade humana, mas, também, que mantenha e defenda os Direitos Humanos, que têm as características da irrenunciabilidade 13 e da imprescritibilidade14, portanto, não são objeto de desistência, pois ninguém pode renunciar à vida, à liberdade e à dignidade. São conquistas que não podem retroagir, ou seja, os Direitos Humanos não perdem seu valor com o passar do tempo, nem podem ser extintos.

A importância da atuação do policial não se restringe somente ao cumprimento do dever legal, mas também à conduta ética de aplicação da lei, na construção da paz social e à defesa dos Direitos Humanos de todas as pessoas, independentemente da nacionalidade, sexo, orientação sexual, raça, credo, convicção política, religiosa ou filosófica.

2 POLICIAL MANTENEDOR DE SIGILO EM ASSUNTOS CONFIDENCIAIS

Os assuntos de natureza confidencial em poder do policial devem ser mantidos em sigilo, a menos que, em razão do dever legal ou necessidade de justiça, exijam atitude contrária.

Pela natureza da atividade, o policial acaba obtendo informações variadas que podem prejudicar a reputação do acusado, o que torna necessária a devida cautela com o manuseio de tais informações, para que elas não sejam reveladas com objetivos diferentes do cumprimento do dever ou da necessidade de justiça.

3 POLICIAL CONTRA A TORTURA E O TRATAMENTO CRUEL, DESUMANO OU DEGRADANTE

A sociedade reconhece como inteiramente legítimo o uso da força pela polícia, para manter e defender o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Para tanto, o policial foi investido de autoridade e poderes como o de dar buscas, deter, capturar e prender.

Quando as pessoas têm sua liberdade cerceada, elas crêem que sua integridade física será preservada. A mesma sociedade que reconhece a necessidade do uso da força pelo policial espera que não haja abuso praticado por ele. As pessoas capturadas, detidas ou presas beneficiam-se de formas específicas de proteção, com base nos seguintes princípios:

13 Os Direitos Humanos não podem ser objeto de renúncia.

14 Os Direitos Humanos não sofrem alterações com o decurso do tempo, pois têm caráter eterno.

Page 62: diretriz de direitos humanos

62

a) ninguém será submetido à tortura ou a quaisquer outros maus-tratos;

b) todos os presos fazem jus a tratamento humano e respeito à sua inerente dignidade humana;

c) todas as pessoas são presumidas inocentes, até prova contrária, de acordo com a lei.

3.1 Policial inibidor da tortura

Não existe nenhuma situação em que a tortura possa ser infligida legalmente. Nenhum policial, seja qual for seu posto ou graduação, tem justificativa ou defesa por ter cometido tortura.

Em alguns casos, pode-se entender como correto e oportuno restringir alguns direitos individuais em benefício do interesse público mais amplo, para garantir outros benefícios, tais como a ordem civil e a segurança pública. Mesmo assim, existem alguns direitos que não são derrogáveis e permanecem protegidos em qualquer circunstância. Esses direitos variam ligeiramente de acordo com as disposições de cada tratado, mas incluem sempre:

a) o direito à vida;

b) a proibição da tortura;

c) a proibição da escravidão.

A tortura foi obviamente tornada ilegal pela comunidade internacional e é definida na Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos e Punições Cruéis, Desumanos e Degradantes - ONU (1984), como: “forte dor ou sofrimento, seja físico ou mental, infligidos a uma pessoa por um servidor público, ou através de sua instigação, com os objetivos de obter, desta ou de outra pessoa, informações ou confissão, castigando-a por um ato que tenha cometido, ou seja, suspeita de haver cometido, ou intimidando esta ou outras pessoas”. A responsabilidade pela tortura inclui os policiais de todos os níveis, que possam ser responsabilizados por não terem conseguido preveni-la e/ou reprimi-la.

3.2 A responsabilidade do policial contra a tortura

A convenção contra a tortura estipula que uma ordem de um policial na função de comando não pode ser invocada como justificativa para a tortura.

Tal situação é ratificada no Código de Conduta dos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, no qual se afirma que “nenhum policial poderá invocar ordens superiores como justificativa para praticar tortura”.

A obediência a ordens superiores não constituirá defesa eficaz para o policial que sabia ser ilegal uma ordem para emprego de força ou arma de fogo, causadora de morte ou sério dano à pessoa, tendo possibilidade razoável de desobedecer a tal ordem. Tal responsabilidade recai também no superior que emitiu a ordem ilegal.

Os princípios para uso da força e arma de fogo afirmam que “nenhuma sanção criminal ou disciplinar será imposta àqueles policiais que, seguindo o Código de Conduta dos Policiais, se recusem a cumprir uma ordem para usar

Page 63: diretriz de direitos humanos

63

abusivamente força ou arma de fogo, ou relatem que há esse costume por outros policiais”.

O policial tem enorme proteção para resistir a ordens ilegais que visem à prática de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. É, portanto, definitivamente proibida ordem de policial que exerce comando sobre os demais, para autorizar ou incitar outros policiais a realizar execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias. Nesse caso, o policial comandado terá o direito e a obrigação de desafiar tais ordens. Tal procedimento deve ser enfatizado obrigatoriamente nos ensinamentos dos cursos e treinamentos realizados na Corporação.

A exigência de conduta policial ética e legal significa que os policiais, como indivíduos, devem procurar a eficácia, ao mesmo tempo respeitando a lei, a dignidade humana e os Direitos Humanos.

4 POLICIAL PROTETOR DA SAÚDE DAS PESSOAS PRIVADAS DA LIBERDADE

O cuidado e a custódia de pessoas capturadas, detidas ou presas, é aspecto extremamente importante para o policial. Apesar de o tratamento dessas pessoas estar regulamentado, tanto por leis internacionais quanto por leis nacionais, continuam a ocorrer abusos.

O tratamento humano das pessoas privadas da liberdade não exige alto grau de habilidade técnica policial, mas requer o respeito pela dignidade da pessoa humana e o cumprimento de algumas regras básicas de conduta.

A maneira como uma instituição policial trata as pessoas privadas da liberdade é um índice do profissionalismo de seus integrantes, dos padrões éticos que ela é capaz de manter e demonstra até que ponto ela pode ser vista como um serviço para a comunidade, mais do que como um instrumento de repressão. Esses fatores, em longo prazo, determinarão a eficácia da instituição policial.

5 POLICIAL INIBIDOR DA CORRUPÇÃO

5.1 Policial inibidor dos atos de corrupção na busca de informações

Nenhuma polícia trabalha com êxito sem o mapeamento de informações por sua equipe de inteligência. A busca de informações é extremamente importante e tem de contar com informantes confidenciais, e, às vezes, são os únicos meios pelos quais alguns criminosos podem ser trazidos perante a Justiça.

A busca de tais informações acarreta sérios perigos à instituição e ao policial, pelos seguintes motivos:

a) os próprios informantes confidenciais são, muitas vezes, criminosos estreitamente associados a outros criminosos;

Page 64: diretriz de direitos humanos

64

b) as informações são geralmente trocadas por dinheiro ou favores;

c) os entendimentos entre os policiais e os informantes são necessariamente conduzidos de maneira secreta.

A falta de procedimento policial eficaz sobre as maneiras de lidar com tal assunto pode acarretar corrupção de policiais e, consequentemente, o desrespeito e o abuso aos Direitos Humanos.

Dessa forma, é imprescindível a adoção de medidas que visem a:

a) formular política clara para a fundamentação de procedimentos e orientações, e maximização de benefícios com o recebimento de informações confidenciais sobre crimes e criminosos;

b) estabelecer procedimentos rígidos e orientações explícitas para os policiais subordinados entenderem exatamente a forma de conduzir o relacionamento com informantes confidenciais, e a extensão em que esse relacionamento é monitorado.

5.2 Policial inibidor da corrupção no desempenho da atividade operacional

No desempenho da construção da paz social, o policial deparar-se-á com situações em que estará do lado oposto ao do cidadão. Nesse caso, ele será obrigado a atuar contra aquele que infringir a lei. Para isso, atuará sempre respaldado pela lei, sem abusos nem arbitrariedades. Quando o policial recorre a práticas contrárias à lei ou atua além do poder e autoridade concedidos por lei, a distinção entre o suspeito e o policial já não pode ser feita.

O desenvolvimento de atitudes e comportamentos pessoais pelo policial fazem com que ele desempenhe sua atividade de forma correta. Cada cidadão coloca seu bem-estar nas mãos de outros seres humanos, necessitando de garantia e proteção para fazê-lo com confiança.

Escândalos de corrupção, envolvimento em grande escala com o crime organizado e outros desvios de conduta relacionados com policiais, abalam profundamente as fundações da instituição, a qual almeja níveis de ética prontos para efetivamente erradicar esse tipo de comportamento indesejável.

Vale ressaltar que não é suficiente que o policial saiba que sua ação deve ser pautada na lei e não na arbitrariedade. A ética pessoal do policial é que decidirá o tipo de ação a ser tomada em dada situação.

Em razão da natureza do trabalho, o policial estará atuando sempre em grupo. Trabalhar com colegas em situações difíceis e perigosas, durante grande parte do dia, pode levar ao surgimento de comportamentos típicos de grupos caracterizados por padrões subculturais. O policial terá sua ética pessoal confrontada com a ética de grupo, cabendo a esse indivíduo aceitar ou não a pressão que lhe foi imposta.

Quando nos consultamos com um médico, psicólogo ou advogado, acreditamos e esperamos que nossa privacidade seja respeitada e nosso caso seja tratado confidencialmente. A bem da verdade, confiamos na existência e no

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respeito de um código de ética profissional, visto que a natureza da atividade possui um impacto direto na qualidade de vida dos cidadãos, como também da sociedade com um todo.

6 O REFELEXO DA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS PELO POLICIAL

A atividade policial é um componente visível da prática do Estado na construção da paz social. As ações dos policiais não são vistas nem avaliadas pela sociedade como individuais. Pelo contrário, são vistas como indicador do comportamento da Instituição Policial como um todo. O policial age sob a autoridade direta do Estado que lhe conferiu poderes especiais. Por esse motivo, as ações individuais do Policial, como o abuso de autoridade, o uso excessivo da força, a corrupção e a tortura, podem ter um efeito devastador na imagem de toda a Instituição, gerando traumas, que nem sempre o tempo poderá superar.

As decisões e práticas tomadas pelo Policial devem ser vistas e aceitas como ações e decisões do Estado, que é responsável em prestar contas à sociedade de seus atos. As práticas do policial militar devem estar fundamentadas no respeito e obediência às leis do Estado. Consequentemente, o que se espera do Policial é que ele respeite, proteja e promova os Direitos Humanos de todas as pessoas sem nenhuma distinção.

O policial militar tem a capacidade individual e coletiva de influenciar a opinião pública. Quando a ação do policial militar viola os direitos e liberdades dos cidadãos, a aceitação da autoridade do Estado é questionada e desacreditada. E, sempre que o violador desses direitos não for responsabilizado, não será somente a credibilidade do Estado, com respeito às obrigações internacionais em Direitos Humanos, que estará em risco, mas o próprio conceito e a qualidade dos direitos e liberdades individuais defendidos pela Instituição Policial.

O ato individualizado do policial na violação dos Direitos Humanos poderá acarretar em responsabilidades ao Estado Brasileiro perante a Comunidade Internacional.

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, Coronel PM Comandante-Geral

Distribuição: a mesma da DPSSP nº 3.01.05/2010-CG

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Anexo “C” (DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL) à DPSSP Nº 3.01.05/2010-CG

DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL

1 INTRODUÇÃO

Em defesa de uma sociedade que adota, promove e aplica a paz social, envolvida em aspectos de solidariedade entre as pessoas, na busca contínua de uma nova consciência sobre o real significado de Direitos Humanos para os profissionais que trabalham na esfera policial da segurança pública, deve a polícia pontuar quais sãos seus deveres e sua função, para contribuir para o quadro social cada vez mais justo.

Dentro da esfera legal da polícia, é necessário conhecer seu exato dever, que é a obrigação ética e moral de fazer ou deixar de fazer algo, orientada e tutelada por leis, convenções socioculturais e preceitos deontológicos.

O policial, diante da função que lhe reserva o Estado, tem o dever legal de respeito e promoção dos Direitos Humanos do cidadão.

Não basta ser teórico em matéria de Direitos Humanos, prioritariamente na atividade policial. É indispensável ser prático, preocupado sempre em servir e proteger a sociedade, observados os deveres e a função atribuídos ao policial.

2 PRINCÍPIOS DA AÇÃO POLICIAL

O policial deve ter sempre em mente que sua presença, principalmente de forma ostensiva, inibe a ocorrência de infração penal. A experiência prática mostra-nos que o primeiro a chegar ao local da ocorrência é o policial. Assim, é fundamental sua ação inicial, pois será suporte dos passos seguintes das investigações. É imprescindível que essa providência inicial seja conduzida de forma ética e legal.

Durante a fase de rastreamento policial no levantamento de dados, padrões internacionais e nacionais de Direitos Humanos são de especial relevância.

Para que os princípios éticos sejam acatados em todos os procedimentos policiais do ciclo completo de polícia, deve haver obediência às leis e respeito aos Direitos Humanos.

Todas as informações levantadas pelo policial militar devem ser redigidas no boletim de ocorrência, o qual será útil à polícia judiciária no que tange aos aspectos investigativos e subsidiará todo o processo desencadeado, até a esfera judiciária de julgamento e solução.

Deve-se ressaltar, que o serviço policial-militar, competente para o exercício da polícia ostensiva e preservação da ordem pública, tem atuação eminentemente preventiva. Uma vez rompida essa ordem, devem ser adotadas medidas que restaurem os direitos da sociedade e socorram o cidadão. Em casos de delito, a perseguição criminal deve ser desencadeada imediatamente, com ou sem a presença da polícia judiciária. Assim, a Polícia Militar não interrompe nem cessa o

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cumprimento de seu dever de polícia administrativa em favor de outro órgão, em busca da defesa e promoção dos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. A polícia persiste, enquanto durar o estado de flagrância delituosa.

O rastreamento é a primeira ação de resposta a ser dada para localizar o suspeito, logo após o fato delituoso.

O cidadão capturado terá seus direitos e garantias preservados pelo policial.

Dentro da concepção sistêmica de defesa social, deve-se buscar a participação de outros órgãos. É prudente que a polícia judiciária esteja ciente da ocorrência e alongamento da intervenção do policial militar na realização do rastreamento.

A resposta eficiente e rápida pela polícia contribui para o aumento da sensação de segurança do cidadão que teve seus direitos desrespeitados. Para o melhor aproveitamento do aparato policial, deve ser levado em conta o tempo decorrido entre o fato e o início do atendimento policial.

A guarnição policial, durante sua atuação, deve adotar os cuidados necessários para não causar, em detrimento de resposta imediata, um mal maior à integridade física do próprio militar e dos demais cidadãos.

2.1 Presunção de Inocência das Pessoas Capturadas pela Polícia

Toda e qualquer pessoa no ato de sua captura, detenção ou prisão tem direitos que lhe assistem e devem ser respeitados. Dentre eles, a presunção de inocência, que é um direito garantido pelo inciso LVII do art. 5º da CF/88: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. A culpa ou inocência pode ser determinada somente por tribunal constituído de forma apropriada, após processo conduzido adequadamente, em que o acusado tenha todas as garantias necessárias à sua defesa. O direito de ser presumida inocente, até ser considerada culpada, é fundamental para assegurar à pessoa um julgamento justo.

3 DEVERES DO POLICIAL

O policial, no uso de suas atribuições legais, deve estar atento a cumprir e fazer cumprir o direito à liberdade e à segurança pessoal do cidadão. Ninguém pode ter sua liberdade cerceada, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos. A pessoa, ao ser capturada, deve ser prontamente avisada das acusações contra ela.

Para transparência da conduta do policial, é prudente que ele, na execução dos procedimentos, conte com a presença de testemunhas, a fim de evidenciar a lisura e a cristalinidade de seus atos.

Nenhuma pessoa é obrigada a constituir prova contra si mesma nem a confessar a culpa, o que lhe dá o direito a permanecer calada no ato da captura e posterior detenção, se assim for o caso, sem violência nem tortura, com direito a tratamento humano, especialmente pelo policial, e a consultar um advogado,

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mesmo no local de sua captura, mediante observância das regras mínimas de segurança.

Após ter passado da captura para a detenção, o detido tem direito de avisar sua família, ou pessoa por ele escolhida, acerca dessa sua situação. Ele pode, para isso, usar telefone ou qualquer outro meio de comunicação.

Para conhecimento do policial militar, no momento da ratificação da detenção pela polícia judiciária, alguns direitos devem ser preservados ao detido. Cabe, ao policial que lida com a comunidade, assegurá-los e comunicá-los ao detido, naquele momento, como promoção dos Direitos Humanos. A preservação desses direitos impõe deveres ao policial como agente do Estado. Diante de tal postura profissional, o policial deve ter em mente que, em nenhum momento, essa conduta não lhe causa descrédito nem desconforto, no que tange à ameaça de perda de autoridade. Ao contrário, o próprio detido passa a respeitá-lo, em razão de seu comportamento ético, motivo da autenticidade e legitimidade da Polícia Militar.

O policial deve saber que a detenção, antes do julgamento, é exceção, ao invés de regra. As pessoas detidas devem ser mantidas somente em locais oficialmente reconhecidos e apropriados para detenção, e sua família e representantes legais devem, sobre isso, receber todas as informações. A detenção de uma pessoa deve ser confirmada por uma autoridade judicial. Ao detido, informa-se a razão de sua detenção e qualquer acusação contra ele, e faculta-se-lhe comunicar-se, reservada e pessoalmente, com seu representante legal.

3.1 Interferência policial na privatividade

Todas as pessoas, independentemente do sexo, orientação sexual15, raça, cor, língua, idade, crença religiosa e opinião política, devem ter sua honra e reputação protegidas e preservadas.

Ninguém pode sofrer interferência em sua vida privada, em seu lar, em sua família, respeitado o rigor do sigilo de correspondência.

Nem mesmo a autoridade pública, exercida pela polícia, pode intervir em tal privatividade que é garantida às pessoas. O policial só pode interferir nesse direito em concordância com a lei, e, assim mesmo, em prol dos interesses de segurança nacional, e segurança pública, para a prevenção da ordem e do crime, proteção da saúde ou da moral, em favor da coletividade, em busca da paz social.

15 Orientação Sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra. A

orientação sexual existe num continuum que varia desde a homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva, passando pelas diversas formas de bissexualidade. Embora tenhamos a possibilidade de escolher se vamos demonstrar, ou não, os nossos sentimentos, os psicólogos não consideram que a orientação sexual seja opção consciente que possa ser modificada por um ato de vontade. CONSELHO NACIONAL DE COMBATE À DISCRIMINAÇÃO CONTRA GLTB E PROMOÇÃO DA CIDADANIA HOMOSSEXUAL. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

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O policial deve pautar sua conduta por não violar o lar, residência, veículos, nem outras propriedades, nem interceptar correspondência, mensagens telefônicas ou outras comunicações, a não ser em cumprimento legítimo do que a lei permite, como flagrante delito ou execução de mandado judicial.

O fato é que o policial, dentro da postura ética, deve se autopoliciar para o não cometimento de atos contrários à lei, aos aspectos morais e à honra das pessoas.

3.2 Como lidar com informantes confidenciais

O policial deve ter habilidade individual para lidar com informantes confidenciais, haja vista o nível de importância que a informação cedida pelo informante confidencial pode representar para a justiça. A ética, a inteligência policial, a discrição e a conduta profissional do policial passam a ser os vetores de tais informações e devem ser adotadas em virtude de poder ser o informante, até mesmo alguém integrante do crime organizado ou nele envolvido.

É importante lembrar que tais informações podem ser as únicas a contribuir com a descoberta da veracidade, alcançando a legalidade. O policial deve estar preparado para lidar com todos os tipos de situação, sem se envolver. Ao contrário, cometerá atos que contribuirão para a falta de ética e desabonarão sua conduta como policial. Tal atitude pode ser tal como a troca de favores dos mais diversos possíveis, a qual, muitas vezes, foge da alçada e competência do policial, até mesmo porque tal situação ocorre de forma secreta e pode acarretar, inclusive, atos de corrupção pelo policial que lida diretamente com esse tipo de caso.

Para evitar esse caso, que pode afetar a credibilidade da Instituição, em decorrência de ações isoladas, alguns procedimentos nesse tipo de relacionamento devem ser levados em consideração, tais como direcionar para o mesmo policial os reiterados contatos para melhor acompanhamento, dando-lhe a responsabilidade de conduzir a troca de informações para o alcance da justiça. Embora seja uma premissa a ausência de identidade desses informantes, são necessários para a segurança do próprio policial e consequentemente da instituição, seus dados em registro oficial, e que estes estejam acessíveis a uma pessoa específica na estrutura de comando. Tais dados devem ser verdadeiros, até mesmo para a própria segurança do informante, que deles deve ter conhecimento.

Não deve ser desprezado pelo policial o fato de o próprio informante ser o responsável pelo planejamento das informações prestadas. Isso deve ser cautelosamente monitorado.

O relacionamento entre a polícia e informantes transporta-nos à esfera da corrupção. Isso implica que o controle e a supervisão devem ser tratados com o mais alto grau de profissionalismo, ética e moralidade, sem deixar que a subcultura policial permeie tais situações. As políticas internas da Instituição, tratadas com bastante rigidez e lisura, devem deixar claro ao policial que não é aceitável nenhum tipo de comportamento que possa contribuir para o mínimo ato de corrupção ou desonestidade, durante o trato com as informações de caráter confidencial.

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A prevenção para não ocorrerem atos contrários aos aspectos legais, éticos e morais tem de ser clara e constante, inclusive para não contribuir para o desrespeito aos Direitos Humanos.

4 PROCEDIMENTOS NA INTERVENÇÃO POLICIAL

O policial, ao aproximar-se do local onde sua intervenção é necessária, deve ter em mente como, de que forma, com que técnica, em que formação tática, entre outros, os procedimentos indispensáveis a sua segurança e à de sua equipe. Utilizar cobertas e abrigos durante a aproximação é de vital importância para a vida do policial. Os primeiros minutos de qualquer fato em que houve a quebra da ordem pública são o instante em que o profissional deve adotar medidas para minimizar as causas geradoras do problema. O policial, em local seguro e com técnicas e formação tática adequadas, poderá utilizar a força mais razoável a aplacar a forma de agir do suspeito, sem atentar contra sua integridade física e moral.

4.1 Autoidentificação

A autoidentificação deve ser feita de modo que o policial sempre esteja praticando procedimentos de auto-salvaguarda, autodefesa e autossegurança, quando se identificar como policial ao cidadão. Demonstrar clareza, falando seu nome e posto ou graduação, não obscurecerá, em momento algum, sua autoridade de policial, mas enfatizará sua postura ética e humana. Cabe ao policial saber que sua identidade profissional deve ser pública diante de sua função revestida pelo Estado, e não pode confundir-se com sua identidade pessoal, cujos registros não podem ser expostos aleatória e indiscriminadamente.

4.2 O tratamento respeitoso para com as pessoas

O policial deve tratar as pessoas com respeito e cordialidade. O discernimento aliado ao tirocínio deve ser inerente ao policial, especialmente para utilização de técnicas e atitudes, entre as quais a forma de falar, para facilitar o entendimento e cumprimento de ordens emanadas do policial. Tratar a pessoa pelo nome demonstra respeito e, automaticamente, possibilita o surgimento de empatia entre as partes. Essa conduta humana, ética e respeitadora gera reciprocidade.

4.3 Valorização da vida acima de qualquer bem

Em todos os momentos, o bem maior de todas as pessoas é a vida, que deve ser preservada. Para isso, o policial emprega todos os recursos disponíveis. O direito à vida tem de ser respeitado e garantido pelo policial. Há momentos em que esse profissional, dotado de poderes especiais, pode usar a força letal como seu último recurso. O policial precisa usar meios menos ofensivos para alcançar seu intento, mas não pode menosprezar o uso da letalidade. A postura ética, a experiência de vida e o treinamento profissional são imprescindíveis em momentos cruciais da atuação policial.

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A integridade física e moral da pessoa tem de ser respeitada e preservada, em todas as atitudes do policial, desde a aproximação, até o último ato do atendimento a uma ocorrência.

4.4 Relacionamento adequado com a imprensa

Preservar as pessoas à veiculação, ou não, de sua imagem é responsabilidade do policial, quando essas estiverem sob sua custódia. O policial deve saber que não tem o direito de expor ninguém, independentemente do nível de seu envolvimento, a vexame ou constrangimento. Exposição da própria imagem, só se a pessoa o quiser e permitir. O policial tem o dever de assegurar a todos, o direito de não se exporem à câmera, nem à máquina de fotografia, nem ao assédio ou interrogatório por repórteres, sem ferir a integridade física ou moral dos profissionais da imprensa. O policial não pode desrespeitar direitos de pessoas em nenhuma hipótese, nem em razão do direito de outras. Ele deve oferecer tratamento polido, ético e profissional a ambas as partes.

4.5 Esclarecimento sobre os motivos de uma abordagem

O policial deve esclarecer seus atos às partes interessadas e envolvidas, e expor-lhes o porquê da abordagem, como forma de respeitar o direito de saberem o motivo da intervenção policial e seu possível desdobramento. Desta forma, o policial está, mais uma vez, criando clima de respeito, cortesia e credibilidade, para aumentar às pessoas a sensação de segurança, seja no atendimento originado pela Central de Operações, por solicitantes durante o radiopatrulhamento ou por iniciativa do próprio policial.

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, Coronel PM Comandante-Geral

Distribuição: a mesma da DPSSP nº 3.01.05/2010-CG

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