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DIRETRIZES DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE (DAEA-BH) Documento de Trabalho 1 INTRODUÇÃO 1- A Arquidiocese de Belo Horizonte, cumprindo o tempo quadrienal para a realização de sua Magna Assembleia, numa feliz coincidência com a celebração dos cinquenta anos de abertura do Concílio Ecumênico Vati- cano II, realiza a IV Assembleia do Povo de Deus: “Deus convocou a Assembleia dos que em Jesus veem, com fé, o Autor da Salvação e o princí- pio da unidade e da paz, e com Eles constituiu a Igreja, a fim de que ela seja, para todos e cada um, o sacramento visível desta unidade salvadora.” 2 Tendo em vista o Reino de Deus, toda a ação evangelizadora da Igreja advém do Filho 3 , o Cristo Jesus, como resposta ao amor do Pai 4 . O Espíri- to configura nosso pensar, agir e sentir ao pensar, agir e sentir de Cristo. 5 2- Pelo Batismo somos todos discípulos do Senhor. Por isso, fiéis à Palavra de Deus, esforçamo-nos para ser testemunhas vivas “da verdade e da liber- dade, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo novo”. 6 Não há, pois, como pensar e realizar a evangeliza- ção em nossa Arquidiocese e definir os rumos pelos quais deve caminhar a nossa ação pastoral, sem antes dirigir nosso olhar a Jesus Cristo. Em ati- tude orante, contemplativa, fraterna e servidora, somos chamados a respon- der ao seu apelo, permanecendo com Ele para sermos enviados em missão. 7 1. O presente Documento de Trabalho foi elaborado pela Comissão de Publicações do Vicariato Episcopal para a Ação Pastoral, tendo por referência os relatórios das Assembleias realizadas nas Paróquias e Foranias, sintetizadas pelas quatro Regiões Episcopais. Ao lado desses, tam- bém embasam esse texto, a síntese da análise dos relatórios paroquiais e forâneos confeccionada pelo Secretariado Executivo da IV Assembleia do Povo de Deus, bem como o resultado do Seminário sobre a IV APD. 2- Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n.9. 3- Cf. Concílio Vaticano II, Ad Gentes, n.5. 4- Cf. Mc 1,15. 5- Cf. Fil 2,5. 6- Cf. Missal Romano, Oração Eucarística VI-D. 7- Cf. Mc 3,14.

DIRETRIZES DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA …arquivo.arquidiocesebh.org.br/site/downloads/2012/livretoapd3.pdf · 6- Cf. Missal Romano, Oração Eucarística VI-D. 7- Cf. Mc 3,14. 2

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DIRETRIZES DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE

(DAEA-BH)Documento de Trabalho1

INTRODUÇÃO

1- A Arquidiocese de Belo Horizonte, cumprindo o tempo quadrienal para a realização de sua Magna Assembleia, numa feliz coincidência com a celebração dos cinquenta anos de abertura do Concílio Ecumênico Vati-cano II, realiza a IV Assembleia do Povo de Deus: “Deus convocou a Assembleia dos que em Jesus veem, com fé, o Autor da Salvação e o princí-pio da unidade e da paz, e com Eles constituiu a Igreja, a fim de que ela seja, para todos e cada um, o sacramento visível desta unidade salvadora.”2

Tendo em vista o Reino de Deus, toda a ação evangelizadora da Igreja advém do Filho3, o Cristo Jesus, como resposta ao amor do Pai4. O Espíri-to configura nosso pensar, agir e sentir ao pensar, agir e sentir de Cristo.5

2- Pelo Batismo somos todos discípulos do Senhor. Por isso, fiéis à Palavra de Deus, esforçamo-nos para ser testemunhas vivas “da verdade e da liber-dade, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo novo”.6 Não há, pois, como pensar e realizar a evangeliza-ção em nossa Arquidiocese e definir os rumos pelos quais deve caminhar a nossa ação pastoral, sem antes dirigir nosso olhar a Jesus Cristo. Em ati-tude orante, contemplativa, fraterna e servidora, somos chamados a respon- der ao seu apelo, permanecendo com Ele para sermos enviados em missão.7

1. O presente Documento de Trabalho foi elaborado pela Comissão de Publicações do Vicariato Episcopal para a Ação Pastoral, tendo por referência os relatórios das Assembleias realizadas nas Paróquias e Foranias, sintetizadas pelas quatro Regiões Episcopais. Ao lado desses, tam-bém embasam esse texto, a síntese da análise dos relatórios paroquiais e forâneos confeccionada pelo Secretariado Executivo da IV Assembleia do Povo de Deus, bem como o resultado do Seminário sobre a IV APD. 2- Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n.9.3- Cf. Concílio Vaticano II, Ad Gentes, n.5.4- Cf. Mc 1,15.5- Cf. Fil 2,5.6- Cf. Missal Romano, Oração Eucarística VI-D.7- Cf. Mc 3,14.

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3- A Igreja, movida pelo Espírito Santo, realiza Assembleias como expressão de comunhão, colegialidade e corresponsabilidade pastoral.8 A Arquidi-ocese de Belo Horizonte as realiza nas várias instâncias, entre as quais, as de maior relevância são as Assembleias do Povo de Deus (APD). Delas resul-tam as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Belo Horizonte (DAE-ABH). Os Vicariatos Episcopais Especiais com suas respectivas Comissões e Organismos, as Instituições vinculadas à Arquidiocese de Belo Horizonte e as Regiões Episcopais se deixam marcar, conforme sua natureza, pelas Diretrizes da Ação Evangelizadora que emanam dessa Assembleia do Povo de Deus.

4- As Diretrizes são Princípios que norteiam a ação evangelizadora para toda a Arquidiocese. Delas, decorrem os Planos de Pastoral específicos, com seus objetivos, metas e ações, tendo em vista a concretização das DAE-ABH e o fortalecimento das Regiões Episcopais, segundo suas respectivas necessidades evangelizadoras e pastorais. As Foranias e Paróquias devem planejar e realizar suas ações em fidelidade ao Plano de Pastoral Regional.

5- O Vicariato Episcopal para a Ação Pastoral, com seus Conselhos Pastorais em todos os níveis e as Comissões Arquidiocesanas, deve zelar para que os Planos Pastorais sejam realizados e as Diretrizes para a Ação Evangelizadora sejam respeitadas, evitando fragmentação e dispersão das forças vivas da Igreja Arquidiocesana.

EVANGELIZAR SEGUINDO A HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE

6- Movida pelo Espírito Santo e unida a Jesus Cristo, esta Igreja Arquidiocesana procura reconhecer os sinais dos tempos 9 e se empenhar, de verdade, no serviço ao Evangelho 10 , à luz da Sagrada Escritura e da Tradição. Será, portanto, compro-misso dos agentes da ação evangelizadora o exercício da escuta e do discerni-mento, a partir das instâncias eclesiais e da sociedade na qual estão inseridos.

7- A Arquidiocese trabalhará com os múltiplos instrumentos institucio-nais que possui, em prol da evangelização: Sociedade Mineira de Cultura, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Colégio Santa Maria, So-ciedade Civil Espírito Santo, Fundação Mariana Rezende Costa, Fundação

8- Cf. At 15,28.9- Cf. Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n. 11.10 - Cf. Missal Romano, Oração Eucarística VI-C.

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Hospitalar Nossa Senhora de Lourdes, Obras Sociais Nossa Senhora da Boa Viagem, Fundação Cultural João Paulo II, Providênc i a N o s s a S e n h o ra d a Co n ce i ç ã o. 8- Desde 1996, cada APD enfatizou algum aspecto da vida da Igreja, que ficou gravado no nome do Projeto de Evangelização subsequente: a necessidade de “construir a esperança” (I APD), de ser uma “Igreja viva, povo de Deus em comunhão” (II APD), de estar “sempre em missão” (III APD).11 Da mesma forma, no presente, as Diretrizes da Ação Evangelizadora de nossa Arquidiocese devem trazer consigo um acento próprio que se exprimirá no Plano Pastoral de cada Região Episcopal. Assim, na pluralidade das expressões se estabe-lecerá e resplandecerá a unidade desta “Igreja Viva.”

EVANGELIZAR EM SINTONIA COM A CONFERÊNCIA DE APARECIDA E AS DIRETRIZES DA CNBB

9- Em comunhão com a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe e com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, a Arquidiocese de Belo Horizonte assume o compromisso de “Evangeli-zar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo”. 12

10- Assume, igualmente, as cinco urgências evangelizadoras definidas pelas DGAE da CNBB13:

1) Igreja em estado permanente de missão; 2) Igreja: casa da iniciação cristã; 3) Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; 4) Igreja: comunidade de comunidades; 5) Igreja a serviço da vida plena para todos.

11- As novas Diretrizes insistem nos quatro princípios evangelizadores apon-tados pelo Documento de Aparecida: missionariedade; conversão pastoral e pessoal; escuta e seguimento à Palavra de Deus; promoção e defesa da vida14 . Reafirmando esse caminho pedagógico da evangelização no Brasil, a

11- Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Projeto de Evangelização Igreja Viva, sempre em missão, p.7.12- Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, p.9.13- Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, n. 29.14- Cf. DAp, nn. 347-379.

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Arquidiocese de Belo Horizonte, referenda sua escolha por três dimensões da vida cristã e eclesial: Espiritualidade Encarnada; Renovação da Vida Comu-nitária; Inserção Social.15

EVANGELIZAR NOS PASSOS DA IV ASSEMBLEIA DO POVO DE DEUS

12- A IV Assembleia do Povo de Deus, portanto, ESTABELECE COMO DIRETRI- ZES DA AÇÃO EVANGELIZADORA NA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE:

DIRETRIZES PARA A ESPIRITUALIDADE ENCARNADA:A CENTRALIDADE DE JESUS CRISTO NA VIDA CRISTÃ,

COMO PALAVRA E SABEDORIA DE DEUS

13- Garantir a liturgia como lugar de encontro com o Senhor. “A Igreja fun-da-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela.”16 Por isso é necessário es-cutar o Senhor, para redescobrir o mistério de sua presença na história, no mundo e na vida das pessoas. A vida litúrgica, regida em nossa Arquidiocese pelo Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental17, é lugar especial, ainda que não exclusivo, do encontro com o Senhor. Por ela, a comunidade cristã faz ex-periência do Verbo do Pai – Jesus Cristo – e o proclama ao mundo: “Vimos o Senhor.” 18 Quando celebra, a Igreja é enriquecida com os dons que provêm do Filho. 19 Desenvolva-se especial atenção à oração da Igreja – Ofício Divino – em suas duas versões: a Liturgia das Horas e o Ofício Divino das Comunidades.

14- Investir amplamente na formação litúrgica. O incentivo à vida e à formação litúrgicas nas comunidades deve ser constante, valorizando a ritualidade como linguagem por meio da qual a Palavra se faz carne. Para que isso ocorra, urge qualificar a presidência das celebrações, romper com as improvisações, evitar os modismos, devolver à liturgia seu caráter estético. O valor da Pastoral Litúrgica em seus vários níveis - Arquidiocesano, Regional, Forâneo e Paroquial – deve ser reconhecido, para que a mesma seja organizada e incentivada, a fim de bem cumprir sua missão.20

15- Fortalecer e multiplicar os Círculos Bíblicos em sua variedade de formas.A espiritualidade cristã se nutre da Revelação expressa tanto nas Sagradas Es-

15 - Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Projeto de Evangelização Igreja Viva, sempre em missão, n.3.16 - Verbum Domini, 3 (p. 6).17 - Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental. Belo Horizonte: FUMARC, 2007. 147p.18- Jo 20,25; Cf. tb. 20,18. Sobre esta questão, insistia São Leão Magno na sua homilia sobre a Ascensão: “Aquilo que era visível em nosso Redentor, passou para os ritos.”19 - Cf. Igreja Católica, Instrução Geral da Liturgia das Horas, n.7.20 - Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental, n. 103.

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crituras quanto na Tradição da Igreja. Além das celebrações litúrgicas, a ex-periência da Palavra de Deus se prolonga e se fortalece por meio dos Cír-culos Bíblicos, sobretudo quando esses promovem uma profunda inter-ação entre a Bíblia e a Vida, e são iniciados no método da Leitura Orante.21

16- Buscar a excelência no ministério da Palavra. Os Bispos, padres, diá-conos, os leigos e leigas que assumem o serviço catequético ou os min-istérios da proclamação da Palavra de Deus (Leitores, Salmistas e cantores) são convocados a qualificar seu serviço para o bem da Igreja. Dê-se espe-cial atenção à homilia, para que seja sempre verdadeira pregação cristã.22

17- Priorizar a catequese como educação da fé. A Catequese deve aprofundar sua relação com o Ministério da Palavra. Dessa forma, não se substitua a sabedo-ria do evangelho pelo dogma, pois o primeiro é fonte do segundo.23 Além de a Catequese levar em consideração a realidade concreta de cada comunidade, no intuito de responder às suas necessidades, deve primar pela fidelidade ao processo de iniciação à vida cristã. Por isso, considere-se o Sacramento do Batis-mo como um acontecimento vinculado à totalidade da vida cristã, um evento fontal, que se aperfeiçoa com a Confirmação e se plenifica com a Eucaristia.24 A Catequese, ao primar pela integralidade da educação na fé, conforme propõe os Diretórios Geral e Nacional da Catequese e o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), bem como as Diretrizes do Processo Catequético da Arquidio-cese de Belo Horizonte 25, confirma o Evangelho como norma para vida cristã. 26

18- Viver a espiritualidade cristã na comunidade de fé e no serviço aos sofredores. Para ser genuína, a experiência espiritual cristã deve conduzir à comunhão, à convivência fraterna, à solidariedade e ao diálogo, como valores evangélicos, pois a Igreja é ícone da Trindade. Por esta razão, todo grupo de fomento à espiritualidade cristã - grupos de oração, movimentos, associações, irmandades e demais manifestações da piedade popular - deve, unidos à comunidade de fé, conduzir e frutificar em boas obras, no cuidado com os pobres, em suas muitas expressões, sendo presença da comunidade junto aos que sofrem.27

21-Com este intuito, a Comissão de Publicações do Vicariato disponibiliza, mensalmente, roteiros para os grupos de Círculos Bíblicos.22-Por meio da Comissão de Publicações do Vicariato Episcopal para a Pastoral a Arquidiocese de Belo Horizonte oferece instrumentos para a qualificação do Ministério da Palavra: Caderno de Sugestões para a Liturgia Dominical, Círculos Bíblicos, Novena de Natal, Campanha da Fraternidade e Via Sacra, dentre outros.23- Cf. Concílio Vaticano II, Dei Verbum, n. 7.24- Cf. Sacramentum Caritatis, 17: “devemos interrogar-nos (...) se as nossas comunidades cristãs têm suficiente noção do vínculo estreito que há entre Batismo, Confirmação e Eucaristia; de fato, é preciso não esquecer jamais que somos batizados e crismados em ordem à Eucaristia. Este dado implica o compromisso de favorecer na ação pastoral uma compreensão mais unitária do percurso da iniciação cristã”.25- Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Diretrizes do Processo Catequético na Arquidiocese de Belo Horizonte, nn.12-16.26- Cf. Orígenes (sec. II, Carta contra Celso, n.41).27 - Cf. Tg 2,14-17.

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19- Ir, decididamente, ao encontro das pessoas e acolhê-las em Cristo. A identidade cristã se fortalece na escuta, na meditação, na oração e na contem-plação. Somente ouvindo os apelos do Evangelho, que nos chegam através dos clamores humanos, e enxergando para além das aparências, poderemos servir mais e melhor. Precisamos ir ao encontro das pessoas, iluminados pela Palavra de Deus, e participar de suas vidas, acompanhá-las em seu camin-har, acolher suas angústias e compartilhar suas esperanças.28 Este gesto de acolhida deve alcançar a todos, frequentes ou não na comunidade de fé, demonstrando a interação entre as pastorais e movimentos com o ambiente que as cercam.

20- Fortalecer o exercício da vocação batismal na comunidade de fé. As paróquias e comunidades devem ser espaços vitais nos quais os leigos e lei-gas encontrem o lugar privilegiado para seu apostolado, em reciprocidade com os presbíteros, diáconos e religiosos que ali atuam. Os fiéis “por força da sua condição batismal e da sua vocação específica, na medida própria de cada um, participam do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo”.29

Deste modo, não se esqueçam os ministros ordenados que seu ministério “é essencialmente finalizado no sacerdócio de todos os fiéis e a ele ordenado.” 30

21- Tornar os Santuários verdadeiros centros de evangelização. Os Santuári-os Arquidiocesanos são pólos de irradiação do Evangelho. Devem ser valoriza-dos para além de seu significado devocional, para que se tornem espaços nos quais se edifique a vida cristã, onde a formação seja oferecida com abundância, ajudando a desenvolver a consciência da vocação batismal, tendo como eixo o encontro com Jesus Cristo. Neste mesmo espírito, entenda-se o valor e a urgência da edificação da Catedral Cristo Rei. Símbolo de unidade e comunhão, a Catedral torna-se “Casa do Povo de Deus”, lugar de convergência e irradiação da fé.

DIRETRIZES PARA A VIDA COMUNITÁRIA:A COMUNIDADE COMO LUGAR DA EXPERIÊNCIA DE JESUS CRISTO 22 - Ser Igreja, Povo de Deus. O Senhor nos constituiu – desde o alvorecer da fé cristã – assembleia de seguidores de Jesus Cristo, isto é, Igreja.

28 - Cf. Lc 24,13-35.29 - Cf. João Paulo II, Exortação apostólica Christifideles laici (1988), n.23. Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n.10.30 - Idem, n.22.

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Deste modo, a vida comunitária é para nós exigên-cia e, ao mesmo tempo, expressão do amor de Cristo que une e reúne os fiéis. Numa palavra, a Igreja é Sacramento de Cristo,31 pois Sua presença se realiza quando dois ou três estão reunidos em seu nome. 32 O convívio fraterno que tem por fundamento Cristo Jesus, torna-se, então, o distintivo eclesial mais genuíno, uma realidade da qual não se pode descuidar. Assim, pode-se dizer dos cristãos que “sua maneira de viver é sempre admirável e passa aos olhos de todos como um prodígio.” 33

Não é possível a espiritualidade cristã sem a vida fra-terna numa comunidade de fé, de modo que a Igre-ja se configure verdadeiro sinal do Reino de Deus.34 Não existe experiência de Jesus sem vida comunitária. Por essa razão, é funda-mental reafirmar a eclesiologia do Concílio Vaticano II, que funda suas raízes na compreensão da Igreja como Povo de Deus em comunhão.35

23- Garantir a organização e o funcionamento dos Conselhos Pastorais e Administrativos. Os Conselhos Pastorais e Administrativos são responsáveis por promover a experiência de comunhão e participação. Os Conselhos são instrumentos imprescindíveis para conferir cidadania eclesial aos leigos e leigas. Por sua importância, devem ter caráter consultivo e deliberativo. Nesse caso, o Manual dos Conselhos pode precisar essas competências. A duração dos mandatos deve ser seguida, conforme orienta o Manual. 36

24- Praticar, em caráter de urgência evangelizadora, os muitos ministérios suscitados pelo Senhor. A fim de nos reafirmarmos como uma Igreja “sinal do Reino de Deus”, urge redescobrir e impulsionar nossa vocação ministerial. Os diversos Ministérios Leigos que mantêm e promovem a vida cristã têm sua raiz na consagração batismal e não são mera concessão. São uma riqueza para a Igreja e devem ser reconhecidos, oficializados e ampliados, segundo as necessidades da própria Igreja. Configuram-se elementos cruciais no exercí-cio da cooperação com o Ministério Ordenado no serviço ao Evangelho. Em todos eles, reconheça-se, valorize-se e se incentive o trabalho das mulheres. 25- Consagrados e consagradas em comunhão com a Igreja Arquidiocesa-na. As Ordens, Congregações e Institutos, para além de suas Constituições e 31- Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n.1.32- Cf. Mt 18,20.33- Cf. Carta a Diogneto (sec. II), n.5.34- Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n.1.35- Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, nn. 7-9.36- Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Manual dos Conselhos Pastorais, n. 2.

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vocação específica, devem ter em conta as presentes Diretrizes que animam e orientam a vida cristã em nossa Igreja Particular, a fim de possam se integrar e assumir com afetividade e efetividade o seu papel nas comunidades de fé. As Novas Comunidades37 e movimentos com suas comunidades de aliança e de vida recebam atenção especial neste mesmo intuito, para que o caris-ma que lhes caracteriza seja vivido em relação estreita com o caminhar da Arquidiocese.26- Implementar a Igreja como Rede de Comunidades. Recupere-se o vigor da Rede de Comunidades a partir da originalidade das comunidades ecle-siais de base38 e na vivência do evangelho. Nas Redes de Comunidades: os leigos e leigas exerçam o protagonismo, coordenem, participem ativamente dos seus conselhos; a ministerialidade seja vivida e promovida em interação com o ministério presbiteral. A pedagogia da Rede de Comunidades39 pro-voca a necessária superação da acirrada competição interna nas paróqui-as, pois promove a unidade entre Comunidades, Pastorais e Movimentos.

27- Valorizar os ministros ordenados para que se dediquem ao específico de sua missão. Na configuração eclesial da Rede de Comunidades, os Pres-bíteros são, sobretudo, animadores e evangelizadores de comunidades e não meros administradores.40 Ligados estreitamente ao Arcebispo e irma-nados no Presbitério, participam de seu múnus pastoral. Sua missão, como cooperadores dos bispos, orienta-se para o aumento do povo de Deus, seu crescimento na fé e a promoção da dignidade e participação dos leigos e lei-gas na vida da Igreja.41 Da mesma forma, os diáconos são chamados a ser-vir na Caridade, na Palavra e na Liturgia, em comunhão com o Arcebispo e o Presbitério. Nesse sentido, promova-se cada vez mais a vocação a esse ministério, ressalte-se sua importância mesmo quando transitório - no caso dos que se tornarão presbíteros - e, em especial, o Diaconato Permanente.

28- Oferecer formação integral e de qualidade para todos. Para que seja pos-sível o amadurecimento da vida cristã na Comunidade, de modo que se for-taleçam os laços que unem os cristãos, torna-se imprescindível uma formação adequada, segundo as diversas necessidades e realidades. As Comissões Arquidiocesanas específicas devem oferecer, cada uma, segundo sua especi-ficidade, suporte e subsídios para as comunidades, paróquias e foranias, no intuito de promover uma formação teológico-pastoral que responda às exi-37 - DAp nn.311-313.38 - Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, n.102.39 - Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, nn. 104-105.40 - Cf. Arquidiocese de Belo Horizonte, Diretório Presbiteral, nn.25-40.41 - Cf. Concílio Vaticano II, Presbyterorum Ordinis, sobre o Ministério e a vida dos Presbíteros, nn. 2-9.

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gências de nosso tempo. Para tanto, constitua-se, de fato, o Secretariado de Formação em nível Arquidiocesano, vinculado ao Vicariato para a Ação Pas-toral, de modo a integrar iniciativas e coordenar as ofertas de formação. Pro-cure-se integrar no processo de formação permanente padres e leigos, numa perspectiva mais unitária, uma vez que todos são evangelizadores.42 Nesta mesma direção, o Projeto “Teologia Viva” seja divulgado para que se consolide, integrando-se com outros espaços de formação.43 Nessa perspectiva, merecem especial atenção a formação bíblica, teológica, pastoral e de algumas ciências humanas e sociais importantes à compreensão da pessoa e da sociedade. Há muitas contribuições consignadas em documentos da Igreja, que devem ser utilizados, com grande proveito para todos. É importante ressaltar que a for-mação deve considerar e conduzirà experiência da fé, e não se deter apenas ao aspecto intelectual. Haja todo o empenho por uma linguagem que seja simples, direta, interpelativa e adequada aos destinatários.

29- Cuidar da família. Em nosso contexto, escutar a família, seus anseios e per-sectivas e dela cuidar, pois, a Igreja ocupa um lugar de destaque como nortea-dora da família diante de uma nova e, cada vez mais, diversa realidade social.

30- Praticar a opção pelos jovens. Nesta dinâmica, procure-se concretizar a opção preferencial pelos jovens, promovendo um diálogo fecundo entre a Igreja e as juventudes.44 Que sejam acolhidos e respeitados, segundo os traços que lhes são próprios. Entretanto, não se descuide de lhes assegurar os meios para que possam progredir e amadurecer na fé, como todo cristão, integran-do-se à vida da comunidade e assumindo, progressivamente, as exigências do Evangelho. Nesta perspectiva, a família traz consigo um papel indispensável e insubstituível.

42- Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n.10.43- O ANIMA, Sistema Avançado de Formação do Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa da PUC Minas; o Instituto de Filosofia e Teologia dos Religiosos, Santo Tomás de Aquino (ISTA), a Faculdade de Filosofia e Teologia dos Jesuítas (FAJE); o Serviço de Ani-mação Bíblica das Paulinas (SAB) e tantas outras iniciativas em curso na Arquidiocese.44 - Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, n.81.

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DIRETRIZES PARA A INSERÇÃO SOCIAL: SEJA A OPÇÃO PELOS POBRES NOSSO PROFÉTICO TESTEMUNHO DE FÉ

31- Exercitar atitudes ecumênicas na Arquidiocese. A Igreja tem “diante dos olhos o mundo dos homens, ou seja, a intei-ra família humana, com todas as realidades no meio das quais vive”.45

Na fidelidade ao vigor que o Espírito Santo lhe transmite, e por meio do testemunho de fé vivido na comunidade eclesial, ela deve estar em estado permanente de missão.46 Esse dinamismo próprio da Igreja de Cristo se forta-lece também na medida em que o Ecumenismo e o Diálogo inter-religioso47 se tornam imperativos para o serviço que devemos realizar no mundo. Por meio do amor que se dedicam mutuamente, a presença de Deus se faz notar com maior intensidade no interior da história humana.48

32- Escolher os pobres com Cristo e a Igreja. 49 A opção preferencial pelos pobres, 50 enquanto não for total e amorosamente incorporada em nossa vida cristã, precisa ser reafirmada na Arquidiocese de Belo Horizonte, pois o serviço solidário e o compromisso com eles é expressão fundamental da espiritualidade encarnada, como também sinal do frescor e vigor da vida comunitária. Ainda mais, são os pobres que constantemente convertem a Igreja à fidelidade a Jesus Cristo. Os pastores e as lideranças da Igreja são os primeiros a dar exemplo, como o fez Jesus ao lavar os pés de seus discípulos . 51

33- Oferecer formação sobre a Doutrina Social da Igreja. As comunidades eclesiais da Arquidiocese sejam estimuladas ao comprom-isso social, por meio de adequada formação sobre a Doutrina Social da Igre-ja, aplicada à sociedade de hoje. Esta formação seja ofertada aos cristãos de modo transversal, isto é, ligada às diversas iniciativas e grupos promotores de formação, como explicitado anteriormente. No nível arquidiocesano, haja cooperação estreita entre os Vicariatos Episcopais para a Ação Pastoral, para a Ação Social e Política e para a Comunicação e Cultura. Esta sinergia entre os Vicariatos pode frutificar na criação de grupos interdisciplinares que, em nome da Igreja, acompanhem segmentos específicos da sociedade como, por

45 - Cf. Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n. 2.46 - Tenha-se em consideração o Projeto Nacional de Evangelização “O Brasil na Missão Continental”, segundo as intuições do Documento de Aparecida.47 - Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, nn.82-83.48 - Cf. Aclamação ao Evangelho do XXVII Domingo do Tempo Comum.49 - Cf. Papa Bento XVI, Discurso inaugural da V CELAM em Aparecida. João Paulo II, Novo Millenium Ineunte. Cf. Tb. Lc 4; 7. 50- DAp, nn.391-398.51 - Cf. Jo 13,1ss.

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exemplo, mundo do trabalho, setor judiciário, parlamentares, meio artístico, comunicações, dentre outros. 52

34- Promover a participação cidadã por uma sociedade justa e solidária. É de extrema importância a ativação e rearticulação dos Grupos de Fé e Política em todas as Paróquias da Arquidiocese, no intuito de promover a participação con-sciente dos fiéis na sociedade, e na perspectiva do exercício da cidadania como testemunho de fé.53 Neste sentido, oriente-se os cristãos e cristãs a integrarem os diversos Conselhos Públicos, que visem ao bem comum.54 Por meio dos Grupos de Fé e Política, os cristãos sejam orientados para acompanhamento ao Legislativo de maneira sistemática e consistente. O NESP – Núcleo de Estu-dos Sociopolíticos55 continue a incentivar e subsidiar estas atividades. Tenha-se em conta que a Igreja não permite posicionamentos e apoios explícitos a quaisquer candidatos a cargos públicos em nome da instituição.

35- Desenvolver e acompanhar Projetos Sociais. A Arquidiocese de Belo Horizonte desenvolve muitas atividades e programas de defesa e promoção da vida. Nossa ação política e social necessita de maior visibilidade, com a finali-dade de ajudar na sua propagação e desenvolvimento, superando o assisten-cialismo ainda presente em comunidades e ampliando a dimensão da solidarie-dade. A Assessoria de Comunicação e Marketing da Arquidiocese dê visibilidade aos diversos programas de promoção social desenvolvidos e/ou apoiados pelo Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política, nas Paróquias e demais instân-cias da Arquidiocese. Dê-se atenção especial à prevenção do uso de drogas. Cuide-se, também, da atuação dos seminaristas no campo social, como elemento constitutivo da formação, objetivando futuros presbíteros mais sensíveis e comprometidos com os pobres e as questões sociais.

52 - Cf. CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, nn.106-114.53 - Cf. Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n.43.54 - CNBB, Diretrizes Gerais ...; cit.; doc. 94, nn.115-116.55 - O NESP – Núcleo de Estudos Sociopolíticos - é uma instância de formação e capacitação de agentes pastorais, lideranças comunitárias, sacerdotes, religiosos, lideranças cristãs em funções públicas e assessores de outras denominações religiosas, para formação de uma consciên-cia crítica e para fomentar, ampliar e fortalecer ações sociais transformadoras nos 28 municípios da Arquidiocese de Belo Horizonte. É um órgão da PUC Minas.

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36- Qualificar a comunicação para evangelizar e promover a cultura. A Rede Catedral de Comunicação Católica deve ser reconhecida como instância importante na ação evangelizadora da Arquidiocese e como veículo primordial de diálogo com a cultura contemporânea. Seus conteúdos e formas devem estar em sintonia com a ação evangeli-zadora da Igreja no Brasil e responder às demandas da Arquidiocese. Intensifique-se a divulgação das atividades das paróquias, comunidades e entidades da Arquidiocese, bem como as ações culturais, educacion-ais e de humanização da sociedade. A linguagem da fé, própria do am-biente eclesial, deve ser apreendida por parte dos profissionais que prestam serviço nos programas da Rede Catedral, evitando confusões e conflitos. Recorde-se que é responsabilidade de todos, o sustento da Rede Catedral, através de um amplo apoio e adesão à campanha “Faço Parte”.