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Figueirinhas, José Miguel Maia (2016). Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação. Millenium, 50 (jan/jun). Pp. 19-47. 19 DIRETRIZES DE METAMORFOZE PARA A IMAGEM DE PRESERVAÇÃO METAMORFOZE PRESERVATION IMAGING GUIDELINES JOSÉ MIGUEL MAIA FIGUEIRINHAS 1 1 Mestre em Fotografia Aplicada pelo Instituto Politécnico de Tomar – Escola Superior de Tecnologia de Tomar − Portugal. (e-mail: [email protected]) Resumo As Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação definem uma prática protocolar, quer ao nível dos equipamentos (fotográficos e informáticos), quer dos procedimentos de captura digital de imagem. A aplicação destas diretrizes faz-se através de uma gestão de cor altamente rigorosa, exigindo uma calibragem dos equipamentos a fim de alcançar a cor verdadeira, o tom e a densidade naturais, garantindo que o objeto que veremos, já digitalizado, estará perfeitamente igual ao objeto original, visto in loco, com as mesmas condições de luz em que foi fotografado. As Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação definem as normas de qualidade do Rijksmuseum e determinam um elevadíssimo padrão de qualidade das imagens digitais capturadas, e, acima de tudo, a obtenção de imagens dos objetos originais totalmente fidedignas. Palavras-chave: imagem de preservação, diretrizes de Metamorfoze, Rijksmuseum, cor, digitalização. Abstract The Metamorfoze Preservation Imaging Guidelines define a practical protocol to the level of equipment (photographic and computer) and digital image capturing procedures performing the implementation of these guidelines, through a highly accurate color management, consisting in a calibration of the equipment in order to achieve true color, tone and natural density, ensuring that the object that we’ll see

DIRETRIZES DE METAMORFOZE PARA A IMAGEM DE … · diretrizes faz-se através de uma gestão de cor altamente rigorosa, exigindo uma calibragem dos equipamentos a fim de alcançar

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Figueirinhas, José Miguel Maia (2016). Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação. Millenium, 50 (jan/jun). Pp. 19-47.

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DIRETRIZES DE METAMORFOZE PARA A IMAGEM DE PRESERVAÇÃO

METAMORFOZE PRESERVATION IMAGING GUIDELINES

JOSÉ MIGUEL MAIA FIGUEIRINHAS 1

1 Mestre em Fotografia Aplicada pelo Instituto Politécnico de Tomar –

Escola Superior de Tecnologia de Tomar − Portugal.

(e-mail: [email protected])

Resumo

As Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de

Preservação definem uma prática protocolar, quer ao nível dos

equipamentos (fotográficos e informáticos), quer dos

procedimentos de captura digital de imagem. A aplicação destas

diretrizes faz-se através de uma gestão de cor altamente

rigorosa, exigindo uma calibragem dos equipamentos a fim de

alcançar a cor verdadeira, o tom e a densidade naturais,

garantindo que o objeto que veremos, já digitalizado, estará

perfeitamente igual ao objeto original, visto in loco, com as

mesmas condições de luz em que foi fotografado.

As Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de

Preservação definem as normas de qualidade do Rijksmuseum

e determinam um elevadíssimo padrão de qualidade das

imagens digitais capturadas, e, acima de tudo, a obtenção de

imagens dos objetos originais totalmente fidedignas.

Palavras-chave: imagem de preservação, diretrizes de

Metamorfoze, Rijksmuseum, cor, digitalização.

Abstract

The Metamorfoze Preservation Imaging Guidelines

define a practical protocol to the level of equipment

(photographic and computer) and digital image capturing

procedures performing the implementation of these guidelines,

through a highly accurate color management, consisting in a

calibration of the equipment in order to achieve true color, tone

and natural density, ensuring that the object that we’ll see

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already digitized will be perfectly equal to the object seen in

loco with the same lighting conditions where it was

photographed.

The Metamorfoze Preservation Imaging Guidelines

define the Rijksmuseum's quality standards and determine an

extremely high quality standard of the digital images which

were collected, but, most of all, totally faithful to the original

objects.

Keywords: preservation imaging; Metamorfoze guidelines;

Rijksmuseum, color, digitization.

Introdução

O Rijksmuseum existe porque Rembrandt, pintor holandês do séc. XVII, fez

um quadro impressionante, designado por Nachtwacht (Night Watch – Ronda Noturna).

O Rijksmuseum foi mandado construir por causa deste quadro, de tal forma imponente,

que o leva a ser visitado por centenas de pessoas diariamente!

A coleção do Rijksmuseum consiste em 700.000 impressões,

gravuras/desenhos e fotografias, 8000 pinturas e, aproximadamente, 250.000 objetos,

desde cerâmicas a modelos navais, prata, ouro, objetos militares, trajes, têxteis,

esculturas, mobiliário, etc.

Os fotógrafos residentes trabalham debaixo de normas muito específicas, cumprindo um

fluxo de trabalho diário que deve obedecer a um elevado padrão de qualidade. Mas

quase todos os fotógrafos que integram o departamento de fotografia trazem já consigo

muitos anos de experiência, por exemplo em publicidade e fotografia de produto,

criando uma série de automatismos e procedimentos na produção e pós-produção das

fotografias digitais, otimizando determinadas operações nos programas informáticos de

fotografia, sem colidir nem devassar as Diretrizes de Metamorfoze.

A entidade reguladora destas normas é o Bureau Metamorfoze que, em

conjunto com a Koninklijke Bibliotheek (KB) - Biblioteca Nacional da Holanda - e os

Arquivos Nacionais (NA), definiram esta norma mínima na base da investigação.

O programa chama-se Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de

Preservação. Este complexo protocolo destina-se fundamentalmente à preservação da

herança documental holandesa em papel, podendo aplicar-se também à Pintura.

Esta prática na gestão da produção fotográfica digital é completamente

inovadora e revolucionária, garantindo uma qualidade ótima em relação ao objeto

original.

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Trata-se de um conhecimento de extrema importância, testado diariamente pelo

meu colega Henny van Beek, para um rigoroso controlo de qualidade que deverá ser

analisado por especialistas do Bureau Metamorfoze, avaliando, assim, o padrão de

qualidade obrigatório a praticar no Rijksmuseum.

As Diretrizes de Metamorfoze ainda só se praticam na Holanda, Inglaterra e

Estados Unido da América. Seria importante e interessante que esta prática protocolar

se tornasse o standard da fotografia de preservação também em Portugal, bem como em

todos os países com museus e instituições de arte que conservam e restauram os seus

artefactos.

Contexto Histórico do Rijksmuseum

O Rijksmuseum abriu as suas portas em 1800 sob o nome de Nationale

Kunstgalerij. Na época, foi alojado em Huis ten Bosch, em Haia. A coleção era

composta principalmente por pinturas e objetos históricos. Em 1808, o museu mudou-se

para a nova capital, Amesterdão, tendo ficado sediado no Palácio Real na Praça Dam.

Após a ascensão do rei Willem I ao trono, a pintura e a coleção nacional de

impressões foram transferidas para o Trippenhuis em Kloveniersburgwal, enquanto os

outros objetos foram devolvidos a Haia. O atual edifício está em uso desde 1885. O

Museu Holandês para História e Arte, sediado em Haia, mudou-se para as mesmas

instalações, formando o que se tornaria mais tarde os departamentos de história

holandesa, Escultura e Arte Aplicada.

O edifício foi completamente modernizado, enquanto, simultaneamente, se

restaurava mais design original de interiores de Cuypers: o Rijksmuseum apelidou o

empreendimento "Verder met Cuypers" [Continuando com Cuypers]. O Rijksmuseum é

um novo museu deslumbrante, capaz de satisfazer as necessidades dos seus visitantes do

século 21 (History of the Rijksmuseum, s.d.).

Contexto Histórico das Diretrizes de Metamorfoze

Antecedentes do programa Metamorfoze

Metamorfoze, o programa nacional holandês para a preservação do património

papel, começou em 1997. O programa é financiado pelo Ministério da Educação,

Cultura e Ciência, e coordenado conjuntamente pela Koninklijke Bibliotheek (KB), a

Biblioteca Nacional do Holanda, e os Arquivos Nacionais (NA). O objetivo do

programa é preservar arquivos, livros, jornais e revistas publicados antes de 1950 e que

estão ameaçados pela natural corrosão que advém com a passagem do tempo.

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A abordagem escolhida é a salvaguarda do conteúdo destes documentos,

capturando-os em imagens digitais. Além disso, os documentos originais são embalados

de forma segura, colocados em armazenamento a longo prazo e retirados de uso.

História das Diretrizes

Quando o programa Metamorfoze começou em 1997, foram definidos padrões

de qualidade para a conversão analógica por meio de microfilmagem para a sua

preservação, de modo a garantir, como parte do programa, uma ótima qualidade dos

microfilmes produzidos. Estas normas estavam de acordo com as normas internacionais

para a preservação de microfilmagem no momento. Durante a extensa prática, nos anos

seguintes, estas normas foram repetidamente reelaboradas e reajustadas, resultando em

versões consecutivas das Diretrizes de microfilmagem de preservação.

Agora, mais de dez anos após o início do Metamorfoze, o programa de

preservação nacional oferece às organizações a opção de preservar documentos por

meio da conversão digital, sob a forma de preservação de imagens.

O Fundo das Diretrizes de imagem de Preservação

Princípios básicos

A preservação da imagem é baseada no mesmo princípio que a microfilmagem

para preservação: o substituto, ou cópia de preservação, deve ser uma reprodução exata

do original. Isto significa que todas as informações disponíveis no original devem

também estar disponíveis na cópia de preservação, bem como nas imagens derivadas

feitas a partir desta cópia. Para alcançar este objetivo é essencial assegurar uma relação

verificável entre a cópia de preservação e o documento original, com base em critérios

de qualidade objetivamente mensuráveis. Estes critérios de qualidade são parcialmente

derivados de padrões e normas internacionalmente aceites e, em parte, da investigação

técnica realizada pela KB.

Os critérios de qualidade para a preservação de imagem

O núcleo destas orientações assenta em critérios técnicos de qualidade

estabelecidos para a imagem da televisão digital. O objetivo é estabelecer critérios para

avaliar a qualidade das imagens de forma objetiva, isto é, com base em normas

mensuráveis. Esta avaliação objetiva é realizada com o auxílio de miras técnicas e de

software. Além disso, as orientações preveem uma compreensão de todo o fluxo de

trabalho de digitalização e as capacidades técnicas dos vários dispositivos de captura.

A densidade ótica e cor das miras técnicas podem ser mutuamente divergentes

no momento em que estão a investigar a variabilidade e a estabilidade das miras

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técnicas a longo prazo. O conhecimento e compreensão da variabilidade das miras

técnicas são necessários para realizar uma avaliação objetiva.

Ao avaliar os critérios de qualidade individuais, a norma não estabelece o

máximo alcançável, mas um limite mínimo definido pelo Metamorfoze. Os gestores da

qualidade do programa Metamorfoze definiram esta norma mínima na base da

investigação, de tal modo que a qualidade das imagens de preservação é garantida de

forma ótima, ao mesmo tempo que permite um fluxo de trabalho realista (Dormolen,

Gillesse, & Reerink, 2007, p. 4-5).

As Diretrizes de Metamorfoze, a Diretriz FADGI e Profundidade de bits

Metamorfoze

Os “Masters” da preservação Metamorfoze (arquivos de máxima qualidade

feitos a partir da captura original) devem estar dotados do espaço de cor eciRGBv2. A

principal vantagem do eciRGBv2 é o facto de que este espaço de cor é apoiado por L *.

Isto significa que as diferenças de tom neste espaço de cor são construídas conforme as

diferenças de tons percecionadas pelo olho humano. Como resultado disso, o cinzento

médio no original permanece cinzento médio no ficheiro digital. Porque eciRGBv2 é

um espaço de cor D50, é perfeito para os arquivos usados para materiais impressos.

Mais informações sobre este espaço de cor são fornecidas no site da European

Color Initiative: www.eci.org. Os espaços de cor podem ser descarregados a partir deste

site.

Metamorfoze Light

No nível de qualidade Metamorfoze Light, os “Masters” de preservação podem

ser entregues em eciRGBv2 ou Adobe RGB (1998). Num projeto de digitalização, tem

que ser selecionado um espaço de cor. Para digitalizar o material escrito à mão

recomendamos a utilização do eciRGBv2. Infelizmente, usando o eciRGBv2, nem

sempre é possível, com certos scanners e softwares de interface existentes. De um

ponto de vista prático o Adobe RGB (1998) é, assim, tolerado.

Metamorfoze Extra Light

No nível Extra Light da qualidade Metamorfoze, ambos os arquivos RGB (cor)

e escala de cinzento (valores neutros) podem ser feitos. Arquivos em escala de cinzento

só podem ser feitos se nenhuma cor existir no original. Para fazer os arquivos em escala

de cinzento, é necessária a permissão do Bureau Metamorfoze. Para arquivos em escala

de cinzento o perfil exigido é cinzento, gama 2.2. Muitos scanners podem gerar

diretamente imagens em escala de cinzento. O Adobe RGB (1998) é o espaço de

captura de cor necessário (leia-se: primeiro espaço de cor), se um fluxo de trabalho de

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digitalização for guardado como arquivo de cores convertido em tons de cinzento, gama

2.2. O método utilizado para converter os três canais de cor num canal de escala de

cinzento não é especificado aqui. Por enquanto o método correto está a ser estudado,

prestando atenção em como a sua implementação terá de ser monitorizada. Neste nível

de qualidade, o eciRGBv2 só pode ser utilizado se nenhum arquivo em escala de

cinzento for feito dentro do projeto. Para arquivos em escala de cinzento, o balanço de

branco, tonalidade, precisão de cor e registos incorretos de tolerâncias de cor, não são

aplicáveis (Dormolen, 2012, p. 17).

As Diretrizes FADGI

As Diretrizes FADGI (Federal Agencies Digitization Guidelines Initiative)

definem intervalos numéricos para o desempenho de equipamentos de captura digital

utilizado em instituições federais, como a Biblioteca do Congresso (EUA). Devido ao

critério de pesquisa extensiva e ênfase na análise prática, essas diretrizes são usadas em

muitos ambientes não-governamentais. As diretrizes definem quatro níveis de

qualidade: 1 estrela, 2 estrelas, 3 estrelas e 4 estrelas.

Para atingir um certo nível de qualidade de captura digital, o equipamento deve

ultrapassar, comprovadamente e de forma consistente, uma variedade de métricas de

qualidade.

O Departamento de Transições Digitais do Património Cultural centra-se na

produção de soluções que satisfazem ou excedem todos os critérios para uma avaliação

FADGI quatro estrelas. Isso requer uma excecionalmente elevada eficiência de

amostragem (i.e. nitidez), erros cromáticos muito baixos (i.e. precisão de cor), alta

uniformidade de luz (i.e. iluminação uniforme) e praticamente zero de registos

incorretos de cores (Digital Transitions Department of Cultural Heritage, s. d.).

As orientações técnicas para a digitalização de materiais do Património

Cultural que podem ser reproduzidas por imagens estáticas representam as melhores

práticas seguidas pelas agências participantes na Iniciativa das Agências Federais para

as Diretrizes de Digitalização (FADGI). Este grupo está envolvido num esforço

cooperativo para desenvolver diretrizes comuns de digitalização para materiais de

imagem estática (como o conteúdo textual, mapas, impressões fotográficas e negativos)

encontrados em instituições de património cultural. Este documento baseia-se,

substantivamente, em Orientações Técnicas da Administração Nacional dos Arquivos e

Registos para a digitalização de arquivo, de Registos de Acesso Eletrónico: Criação de

Produção Master Files – Raster Images (Junho de 2004), as quais foram revistas e

atualizadas, em diversas áreas para refletir as recomendações atuais do grupo de

trabalho e para refletir as mudanças que ocorreram no campo da digitalização desde

2004. Estas orientações foram elaboradas por membros do grupo de trabalho durante o

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inverno de 2009-2010. Os leitores encontrarão secções atualizadas que abrangem

equipamentos e métricas de desempenho de imagem, gestão da qualidade, e meta dados

nesta revisão (Federal Agencies Digitization Guidelines Initiative, s. d.).

A profundidade de bits

O alcance dinâmico da biblioteca e materiais de arquivo (livros, jornais,

revistas e material escrito à mão) é geralmente muito limitado. Em geral, a densidade

máxima é inferior a um valor de densidade de 1,50, razão pela qual, os masters de

reserva destes originais podem ser produzidos em 8 bit por canal (cor). Os originais

também podem ser capturados em 16 bit e salvos em 8 bit. Originais com uma

densidade máxima superior a um valor de 1,50 devem ser digitalizados e guardados em

16 bit por canal de cor. Quando se digitaliza em 16 bit, a captura tonal do preto para o

preto profundo é mais estável e confiável do que em 8 bit. A densidade da imagem

geralmente excede 1,50 e, por isso, as imagens devem ser sempre digitalizadas e

guardadas em 16 bits por canal (Dormolen, 2012, p. 17).

Gestão de Cor - Os Modelos ou Espaços de cor CIE

Os Modelos ou Espaços de cor CIE

CIE significa Comission Internationale de l'Eclairage (Comissão Internacional

de Iluminação). A comissão foi criada em 1913 como um conselho internacional

autónomo para criar um fórum para a troca de ideias e informações e para estabelecer

normas para todas as coisas relacionadas com iluminação. Como parte desta missão, a

CIE tem um comitê técnico, Vison and Colour, em Cambridge, Inglaterra, que, desde o

primeiro momento, em 1931, tem sido uma força motriz na colorimetria para definir os

seus padrões.

O modelo de cores CIE foi desenvolvido para ser completamente independente

de qualquer dispositivo ou outro meio de emissão ou reprodução e baseia-se, tanto

quanto possível, sobre a forma como os seres humanos percecionam a cor. Os

elementos-chave do modelo CIE são as definições de fontes padrão e as especificações

para um observador padrão (Adobe Systems Incorporated, 2000d).

O espaço de cor CIE básico

O espaço de cor CIE básico, ou modelo de cor, é baseado num "Observador

Padrão e iluminante padrão (D50, D65, etc.). Este é um modelo numérico de

sensibilidade à cor, baseado em pesquisas iniciadas na década de 1920 numa amostra de

pessoas com visão normal das cores. É um "espaço de cor universal" que representa o

espectro de cores visíveis do "homem médio". A retina, sensível à luz, na parte de trás

do olho tem três tipos de recetores próximos do centro, conhecidos como cones. Eles

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são sensíveis às três cores primárias, vermelho, verde e azul. Os valores CIE XYZ são

atribuídos às curvas de vermelho, verde e azul, respetivamente (Fig. 1). Estes são os

valores aproximados aos dos cones no olho (Fig. 1 e Fig. 2). A resposta relativa de cada

um é representada graficamente num diagrama em vez do comprimento de onda em

nanômetros (Fig. 2). O olho tem também bastonetes, fora do centro da retina, que são

sensíveis à luz de comprimento de onda baixo e que apenas opera a baixos níveis de

iluminação (Cruse, s. d.).

Fig. 1 - O espaço de cor CIE básico XYZ, obtido de

<http://www.colourphil.co.uk/xyz_colour_space.shtml>

Existem dois eixos: O eixo vertical representa a resposta relativa 0 - 2.0 O horizontal representa o comprimento de onda em nanômetros,

geralmente a partir de cerca de 380 para cerca de 720.

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Fig. 2 - Diagrama de Cromaticidade (CIEXYZ)

As coordenadas cromáticas são usadas em conjunto com um diagrama de cromaticidade, sendo o diagrama de

cromaticidade CIE 1931 xyz um dos mais familiares. A coordenada z não é utilizada, mas pode ser inferida a

partir das outras duas, uma vez que a soma das coordenadas x + y + z é sempre 1 (Adobe Systems Incorporated, 2000b).

O espaço de cor CIELAB

O CIELAB é o segundo de dois sistemas adotados pela CIE, em 1976, como

modelos que melhor revelaram um espaçamento de cor uniforme nos seus valores.

CIELAB é um sistema de cores oponente ao sistema antecessor de Richard Hunter

(1942), anteriormente chamado L, a, b. A oposição de Cor correlaciona-se com

descobertas, em meados dos anos 60, em que, algures, entre o nervo ótico e o cérebro,

os estímulos de cor da retina são traduzidos em distinções entre claro e escuro,

vermelho e verde, azul e amarelo. CIELAB indica estes valores com os três eixos: L *, a

*, e b *. (A nomenclatura completa é - Espaço CIE 1976 L * a * b *).

O eixo vertical central representa a luminosidade (expressa como L *) cujos

valores vão de 0 (preto) a 100 (branco). Esta escala está intimamente relacionada com o

eixo do valor de Munsell, exceto que o valor de cada passo é muito maior. Este é o

mesmo valor de luminosidade utilizado no CIELUV.

Os eixos de cores são baseados no facto de que uma cor não pode ser resultante

da soma de valores de lados opostos do mesmo eixo, vermelho - verde e azul - amarelo,

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porque estas cores opõem-se uma à outra e qualquer soma de valores opostos do mesmo

eixo resultam em neutralização. Em cada eixo, os valores são executados a partir de

positivo para negativo. No eixo aa ', os valores positivos indicam quantidades de

vermelho, enquanto os valores negativos indicam quantidades de verde. No eixo bb ', o

amarelo é positivo e o azul é negativo. Para ambos os eixos, zero é cinzento neutro

(Fig.3).

Fig. 3 - Espaço CIE 1976 L * a * b *

Portanto, os valores só são necessários para os dois eixos de cor e para o eixo

dos tons de cinzento ou luminosidade (L *), que são separados (ao contrário do que

acontece com o RGB, CMY ou XYZ onde a luminosidade depende das quantidades

relativas dos três canais de cor).

O espaço de cor CIELAB tornou-se muito importante para a cor do ambiente

de trabalho. Como todos os modelos da CIE, este - o CIELAB - é independente do

dispositivo (ao contrário do RGB e CMYK), e é o modelo básico de cores no Adobe

PostScript (nível 2 e nível 3), que é usado para a gestão de cor como modelo

independente dos perfis de dispositivo, ICC - International Color Consortium (Adobe

Systems Incorporated, 2000a).

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Fig. 4 – Programa Leaf Capture (Leaf) Fig. 5 - Programa Phocus (Hasselblad)

As figuras 4 e 5, ilustram os dois softwares de gestão remota que usei no

Rijksmuseum, respetivamente Leaf Capture da Leaf e Phocus da Hasselblad. Estes

softwares podem ser usados, praticamente, com todo o tipo de câmaras digitais, mas

rivalizam entre si, ou seja, o software Phocus não inclui o perfil de dispositivo dos

backs digitais da Leaf e vice-versa, o que implica ter de usar dois programas diferentes

para o mesmo fim.

Perfis de Cor

Perfis de Dispositivo

Um sistema de gestão de cores deve ter à sua disposição as características de

cada dispositivo no processo de produção, ou seja, os seus "comportamentos" de cor e

gama de cores. O sistema recebe essas informações de arquivos chamados perfis de

dispositivos. Um perfil de dispositivo permite ao CMS (Color Management Systems) a

conversão entre o espaço de cores nativo desse dispositivo e um espaço de cores de

referência independente desse mesmo dispositivo (Fig. 6) (ou seja, CIELAB ou

CIEXYZ).

Cada dispositivo no sistema de produção tem o seu próprio perfil, ou fornecido

por parte do CMS, disponibilizado pelo fabricante do dispositivo, ou incluído com o

hardware/software de terceiros, ou ainda ambos. O CMS usa esses perfis para converter

um espaço de cor dependente do dispositivo no espaço de cores de referência

independente do dispositivo e, em seguida, um segundo espaço de cor dependente do

dispositivo (Fig. 6):

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Fig. 6 - CMS (Color Management Systems)

Os perfis de dispositivo caracterizam um dispositivo em particular,

descrevendo as características do espaço de cor para esse dispositivo em determinadas

condições. Alguns dispositivos possuem apenas um perfil (por exemplo, um monitor).

Outros, como impressoras, podem ter vários, desde que qualquer alteração no estado da

impressora seja considerada um perfil à parte.

Os perfis também podem ser incorporados dentro de arquivos de imagem.

Perfis incorporados permitem a interpretação automática de informação de cor ou como

a cor da imagem é transferida a partir de um dispositivo para outro.

Os Perfis de dispositivo dividem-se em três classificações:

1. Perfis de Entrada para dispositivos como scanners e câmaras digitais

(também conhecidos como perfis de origem).

2. Perfis de exibição para dispositivos como monitores e écrans de painel

plano.

3. Perfis de saída para dispositivos como impressoras, copiadoras,

gravadores/copiadores de filme e máquinas de impressão, também

conhecidos como perfis de destino (Adobe Systems Incorporated, 2000c).

Os dois tipos de perfis de cores

Existem dois tipos de perfis de cores: baseados em miras e baseados em matriz.

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Os Perfis baseados em Matriz usam fórmulas matemáticas para descrever o

espaço de cor tridimensional. Podem ser relativamente pequenos. São perfis mais

apropriados para espaços de trabalho, (estes espaços de trabalho (Working Space) são

configurados por cada utilizador do software de imagem, determinando os espaços e

perfis de cor apropriados para cada sessão fotográfica, em específico) e para serem

usados como perfis incorporados (em pastas ou ficheiros) como é o caso do perfil de cor

- Adobe RGB (1998).

Perfis baseados em miras, como o nome indica, utilizam uma ampla mira de

pontos de amostra - chamada Look Up Table ou LUT - para definir o espaço de cor

tridimensional. Estes perfis são mais personalizáveis, e são, portanto, mais eficientes ao

traduzir informações de cor de um espaço para outro, ou em descrever as características

de cor de um dispositivo em particular. Porque dependem de muitos pontos de dados,

estes perfis são muito maiores.

Espaços de cor dependente do dispositivo e independente do dispositivo

Alguns perfis de cores são puramente teóricos e descrevem uma forma de

traduzir as cores em números. Estes são independentes do dispositivo. Outros perfis são

feitos para compensar a assinatura de cor de um dispositivo como uma impressora ou

um monitor. Estes são conhecidos como espaços de cores dependentes de dispositivo

(American Society of Media Photographers, s. d.).

Processamento digital

Breve Síntese

Para todas as abordagens fotográficas anteriormente descritas, é impreterível

proceder à calibração da câmara (perfil de cor criado na qualidade Metamorfoze),

analisar a metamorfose alcançada com software dedicado ou na internet em delt.ae e

criar um perfil de cor. Para tal, usamos a mira de cores, X-rite Digital ColorChecker SG

(Fig. 7).

A partir daqui, a câmara fotográfica (Hasselblad) será totalmente controlada

pelo software interface Hasselblad Phocus, incluindo a aplicação dos perfis de cor. O

perfil desejado é-nos fornecido pelo software – basICColor imput 3 ou X-rite dng

profile manager ou ainda pelo site da Delt.ae, após uma breve análise nas Diretrizes de

Metamorfoze, apenas para verificarmos se estamos muito ou pouco fora das tolerâncias

destas diretrizes.

Depois do perfil criado (calibração de câmara), voltamos a entrar no software

interface Hasselblad Phocus e abrimos novamente o ficheiro RAW, neste caso, da mira

X-rite Digital ColorChecker SG que deu origem ao ficheiro TIFF analisado nas

diretrizes aplicando agora o perfil de cor resultante, no espaço de cor eciRGBv2.

Fazemos nova exportação deste ficheiro para o formato TIFF, já com toda a

gestão de cor embutida nele, e voltamos a fazer nova análise em Delt.ae ou no software

de análise IQ Analyzer 5. Teremos que ter a certeza de que os valores de referência de

Figueirinhas, José Miguel Maia (2016). Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação. Millenium, 50 (jan/jun). Pp. 19-47.

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cada quadrícula da mira em questão, não sairão fora das tolerâncias das Diretrizes de

Metamorfoze.

Fig. 7- Valores e tolerâncias dos neutros na Metamorfoze e no espaço de cor eciRGBv2 com a mira DCSG

Se algum valor de referência estiver fora das tolerâncias, em qualquer dos

métodos de análise, será/ão assinalada/s a vermelho a/as quadrícula/s que estejam fora

dessas balizas.

Deveremos, então, fotografar a mira outra vez, recorrendo a suaves alterações

no posicionamento das luzes e/ou focar novamente o melhor possível. Nova exportação,

novo perfil de calibragem e nova análise, até que todos os valores fiquem assinalados a

verde, considerando-se assim um ficheiro master file (ficheiro principal) de qualidade

Metamorfoze. Todas as fotografias seguintes, ou seja, a sucessão de objetos da sessão

fotográfica, ficam automaticamente com toda a estrutura de calibragem da câmara

anteriormente alcançada e embutida. Cumpre-se, deste modo, a captura digital para

arquivo, da mais elevada fidelidade ao original, tal como nós o vemos (Dormolen, 2012,

pp. 9-13).

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Fig. 8 – Mobiliário Fig. 9 - Litogravuras

Fig. 10 – Porcelana Fig. 11 - Rendas

As figuras anteriores (Fig. 8, 9, 10 e 11) ilustram alguns dos trabalhos

realizados por mim no cumprimento do workflow diário do departamento de fotografia

do Rijksmuseum.

Tal como já referi anteriormente, é nos documentos planos, em papel, que se

imprime o máximo de rigor na calibragem da câmara, ou seja, toda a ação protocolar

exigida pelas Diretrizes de Metamorfoze para alcançar as melhores performances nos

sucessivos perfis de entrada, pois cada sessão exige a criação de um perfil novo!

O conceito Metamorfoze da metamorfose

O termo pixels (pixel é uma combinação das palavras: imagem (picture) e

elemento) e refere-se aos elementos de imagem de uma fotografia digital. O número de

pixels por polegada (inch) (PPI) indica o número de elementos de imagem existentes,

tanto horizontalmente como verticalmente, numa fotografia digital. O número de pixels

por polegada indica o tamanho de intervalos por polegada com que uma imagem é feita

ou pode ser feita. O termo referente a estes intervalos de elementos de imagem

designa-se por taxa de amostragem (= número de elementos por unidade de distância).

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As Diretrizes de Metamorfoze partiram de um certo nível de detalhe e nitidez

que desejamos ter nos masters de preservação. Isso ajuda-nos a calcular a taxa de

amostragem desejada. Para determinar a nitidez pretendida, expressa em linhas por

milímetro (lp / mm), usamos o tamanho da letra «e» minúscula impressa no tamanho do

original (Fig. 14).

Para tamanhos DIN A5 até DIN A2, com a letra 'e' minúscula impressa na mira

(QA-2) maior ou igual a 1 mm, a nitidez necessária é de, pelo menos, 5 lp / mm

(Dormolen, 2012, p. 24).

Fig. 12 - Mira QA – 2, pormenor das linhas verticais/

horizontais onde se dá a metamorfose destas (300PPI)

=(5,9 lp/mm)

Fig. 13 - Mira QA – 2, pormenor das linhas verticais/ Fig. 14 – Mira Técnica QA - 2 horizontais onde se dá a metamorfose destas (600PPI)

=(11,8 lp/mm)

Conforme as linhas verticais/horizontais, bem como, de igual forma, os

intervalos entre si vão estreitando, cada vez caberão mais linhas dentro de 1 milímetro.

Observando diretamente a mira a olho nu, conseguimos distinguir até cerca de 5,6

lp/mm (Fig 12). A partir daqui, deixamos de ver linhas e veremos apenas manchas

cinzentas… é aqui que começa a metamorfose (para esta distância). Mas se nos

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aproximarmos da mira, já conseguiremos visualizar mais linhas por milímetro, ou seja,

incrementámos a resolução da imagem que se forma na retina, no caso do olho humano,

tal como, da mesma forma, acontece nos sensores das câmaras fotográficas digitais. A

metamorfose dar-se-á com mais linhas por milímetro (Fig. 13).

Procedimento de Calibração

Os passos seguintes foram apurados usando software Hasselblad Phocus 2.8,

por ser o método mais fiável para calibrar as câmaras Hasselblad.

Fig. 15 - Captura da mira x-rite DCSG no Phocus

1) Ajustamos a posição da câmara para enquadrar a mira de cores X-rite DCSG.

Devemos usar um fundo preto (Fig. 15).

2) Na aba "Capture" por baixo de "Reproduction", selecionamos Hasselblad L * RGB

(Fig. 16).

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Fig. 16 – Perfil de entrada #1

3) Na aba "Export" em "Output Preview" (Fig. 17) certificamo-nos de ajustar a câmara

para "for calibration". Se ainda não temos uma predefinição, basta criar uma nova de

exportação com as seguintes opções: TIFF 16bit, tamanho original, e SOURCE

como espaço de cores de destino. Nomeamos o preset "for calibration" (Serve

essencialmente para desativar a gestão de cor).

Fig. 17 - Perfil de saída #1

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4) Definir a curva para Padrão (Linear) (Fig. 18).

Fig. 18 - Curva de correção de exposição

5) Desativamos a vinhetagem e qualquer calibração Scene Calibration (Fig. 19).

Fig. 19 - Desativação de calibrações

6) De acordo com uma configuração de luz uniforme (duas luzes, não uma luz e um

refletor) capturamos a 1ª foto da mira DCSG e neutralizamos a câmara, clicando na

quadrícula G5 (Fig. 20). Os valores RGB deverão ser iguais e em LAB, os valores a:

e b: devem ser 0,0. Devemos usar uma abertura adequada ao trabalho que vamos

executar.

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Fig. 20 - Neutralização G5

7) Ajusta-se a exposição até chegar a um valor de L 97 para a quadrícula E5 da mira

X-rite DCSG nas leituras LAB (Fig. 21). Descobrimos rapidamente que ajustar a

potência no bloco será de mais ou de menos para obter esse valor. Então, basta fazer

pequenos deslocamentos dos flashes para trás ou para a frente para afinar a

exposição.

Fig. 21 - O branco E5 com L 97

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8) Colocamos a placa branca de calibração em cima da mira de cores X-rite DCSG,

desfocamos a câmara ligeiramente e fotografamos (Fig. 22). Só para reproduções

de papel, não para pinturas.

Fig. 22 - Fundo branco para o equilíbrio da luz em toda a superfície

9) Verificamos a consistência da luminosidade da placa canto-a-canto e centro.

Devemos ter em atenção qualquer variação de cor e/ou densidade. Ocasionalmente

os valores são menores nos limites do enquadramento. Se a luz estiver uniforme,

não pode haver uma diferença de 3L valores de canto-a-canto (Fig. 22)

10) Criamos a nossa Scene Calibration e ativamo-la; deveremos agora ter um perfeito

equilíbrio da luz em toda a superfície (Fig. 23).

Fig. 23 - Scene Calibration, equilíbrio da luz ativado

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11) Retiramos a placa branca, focamos novamente e fotografa-se de novo a mira

DCSG, neutralizamos na quadrícula G5 e verificamos se a exposição é exatamente

L 97 (muito importante!) na quadrícula E5 (Fig. 24)

Fig. 24 – Valores L a b

12) Exportamos a fotografia da mira DCSG (TIFF-16bit) e saímos do Phocus.

13) Abrimos o BasICColor Input 3, o programa lê a mira X-rite DCSG e selecionamos

os dados de referência DCSG (dados de referência espectral) (Fig. 25).

Fig. 25 - Basic Color - dados de referência espectral

14) Recortamos a mira, arrastamos o canto superior esquerdo e o canto inferior direito,

fazendo coincidir as quadrículas do programa com as da mira até estarem todas verdes.

Qualquer quadrícula mal alinhada mostrará cor amarela ou vermelha (Fig. 26).

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Fig. 26 - Basic Color – criação do perfil de entrada

15) Damos um nome ao perfil, de preferência relacionado com o nome do objeto e

data, sem espaços ou símbolos especiais por exemplo: “2014-05-25-nightwatch”

16) Selecionamos D50 na conversão espectral e deixamos as caixas desativadas para

Camera Gray e Absolute White.

17) Criamos o perfil. O perfil ICC será automaticamente guardado na pasta Colorsync

User.

18) Reabrimos o Phocus e ajustamos os settings de exportação para o nosso normal

Working Space (Fig. 27).

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Fig. 27 - Perfil de saída

19) No menu Reproduction, em Input Profile, selecionamos o perfil então criado, em

vez do default (Fig. 28).

Fig. 28 - Perfil de entrada #2

20) Verificamos a exposição no branco (precisamos, na maior parte das vezes, de

mover ligeiramente as luzes para alcançarmos o branco E5 com L 97) (Fig. 29).

Podemos ainda ajustar a exposição no programa, no máximo até nove centésimas

para cima ou para baixo em exposure.

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Fig. 29 - O branco E5 com L 97

21) Seguindo as tabelas de tolerância de exposição – Metamorfoze, no nosso Working

Space (espaço de cor) atual - eciRGBv2, verificamos se os valores neutros da mira

DCSG estão dentro das tolerâncias listadas para cada quadrícula (Fig. 30).

Nota: com a curva de exposição, linear (default), constataremos com certeza

que, certas quadrículas se encontram acima ou abaixo das tolerâncias. Até aqui tudo

bem, desde que todos os valores não caiam fora da linha de tolerância. Se virmos que

todos os valores estão num lado ou no outro dessa linha, basta ajustar a exposição um

pouco e verificar (Geffert, 2012, pp. 3-9; 14-16).

Fig. 30 - Os neutros que definem a curva de exposição

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Tolerâncias do Delta E no CIELAB

As Diretrizes de Metamorfoze descrevem tolerâncias precisas do equilíbrio de

brancos, exposição, iluminação e cor num valor de desvio, em comparação com os

valores de referência teóricos (geralmente predominantes) e reais (medidos pela mira

técnica). Os valores de referência são valores L * a * b * das quadrículas dos neutros e

das cores, obtidos pelas miras técnicas. Estes valores são usados para descrever com

precisão os tons de cinzento e cores. Os valores L * a * b * provêm do espaço de cor da

CIE 1976 L * a * b *, também referido como CIELAB. O desvio de valores L * a * b *

na imagem digital (amostra), comparados com os valores de referência, é-nos fornecido

em valores como ΔE, ΔL, ΔC e ΔH. O sinal "Δ" representa "Delta" que significa

diferença. 'L' significa luminância, 'C' representa cor (chroma) e "H" significa tom

(hue). Delta E engloba (média) todos os desvios (luminância, cor e tonalidade) da

amostra (sample) em relação ao ficheiro de referência utilizado. A fórmula utilizada

para calcular os desvios e descrever as tolerâncias nas Diretrizes de Metamorfoze é CIE

1976.

A vantagem de descrever desvios e tolerâncias em valores L * a * b * é o facto

de que estes valores estão ligados à perceção humana dos desvios do equilíbrio de

brancos, luminância e cor (Dormolen, 2012, p. 16).

Verificação on-line da qualidade, segundo as Diretrizes

Após a conclusão da calibração de câmara, ou seja, de volta ao nosso espaço de

cor (eciRGBv2) e com o perfil de entrada aplicado, voltamos a fotografar a mira x-rite

Digital Color Checker SG e exportamos o ficheiro RAW para o formato TIFF. Este

ficheiro pode ser analisado por diversos softwares dedicados, como por exemplo o

IQ-analizer, mas existe uma alternativa de análise na internet em http://delt.ae, bastando

um breve e gratuito registo no referido site (Fig. 31). Depois basta fazer upload do TIFF

(mira) e esperar pelos resultados, em especial o ∆E da totalidade da mira (média), que

não pode variar mais que 4 valores, devendo situar-se o mais próximo possível de 0

(zero).

Os valores de amostragem das quadrículas neutras devem estar compreendidos

entre -2 e +2 dos valores de referência. As quadrículas de cor poderão desviar-se até 10

valores da referência (Geffert, 2012, p. 17,18).

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Fig. 31 – Plataforma Deltae para upload

Fig. 32 – Resultado geral da análise da mira DCSG #1

A linha a vermelho à volta da mira (Fig. 32), significa que a imagem está fora

das tolerâncias exigidas, devendo por isso proceder-se a eventuais correções (muito

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pequenas) no rácio dos iluminadores e/ou posição da mira. Esta proposta de imagem

(TIFF exportado) estaria reprovada.

Na figura 33, a linha já se encontra a verde, permitindo-nos iniciar a sessão

fotográfica com total garantia de qualidade Metamorfoze, com estes últimos ajustes.

Podemos ver à direita (Fig. 33) as três Diretrizes de Metamorfoze holandesas e a diretriz

FADGI, norte americana. A Diretriz Metamorfoze é a mais exigente, se esta estiver

bem, as outras também o deverão estar.

Fig. 33 - Resultado geral da análise da mira DCSG #2

Fig. 34 - Resultado geral da análise da mira QA-62

Figueirinhas, José Miguel Maia (2016). Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação. Millenium, 50 (jan/jun). Pp. 19-47.

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A figura 34 ilustra-nos a boa análise efetuada à mira QA-62. Clicando na área

delineada pelas linhas verdes, surge um pop-up, mostrando-nos os deltas e a resolução

real, entre outros resultados, que neste caso foi de 402,7 ppi. A resolução real aumenta

ou diminui consoante aproximamos ou afastamos a câmara do objeto (Dormolen, 2012,

p. 9).

Conclusão

A preservação é a grande finalidade, o grande objetivo dos conservadores,

restauradores e fotógrafos de arte.

A fotografia, como o nível superficial de abordagem ao objeto, destina-se à

reprodução visual da camada externa da peça tal como a vemos, usando um tipo de luz

normal e, por isso, deverá possuir a maior veracidade possível em relação aos nossos

olhos. Permite-nos ainda fazer emergir determinados aspetos quando submetemos as

peças a outro tipo de “luz”, como é o caso da fluorescência ultravioleta (UV) ou do

reflexo infravermelho (IR) emitido pelo objeto.

As Diretrizes de Metamorfoze para a Imagem de Preservação trouxeram ao

mundo da fotografia aplicada o mais alto rigor no registo digital, fiel ao original,

evitando, assim, por parte dos Curadores de Arte, a título de exemplo, que tenham de

requisitar, no futuro, a peça original, para uma visualização analítica superficial,

dispondo agora, de um novo conceito visual, seja através de um monitor ou de uma

impressão, que garante a 99,99% que aquilo que veremos ao observar a imagem de

preservação digital, será o mesmo que observar o original.

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Recebido: 7 de outubro de 2015.

Aceite: 17 de dezembro de 2015.