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DIÁRIO DA REPÚBLICA 17 de Março de 1997 APÊNDICE SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO Decisões proferidas pela 2. a Secção (Contencioso Tributário) Decisões em subsecção em matéria de contencioso aduaneiro durante o 1. o trimestre de 1995

Dirio da Repblica Electr³nico

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DIÁRIO DA REPÚBLICA17 de Março de 1997

A P Ê N D I C E

SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

Decisões proferidas pela 2.a Secção(Contencioso Tributário)Decisões em subsecção

em matéria de contencioso aduaneirodurante o 1.o trimestre de 1995

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Acórdão de 11 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Objecto do recurso jurisdicional. Matéria nova.

Doutrina que dimana da decisão:

I — Os recursos jurisdicionais visam tão-só uma reapreciaçãoda decisão recorrida: a sua modificação ou por anulaçãopor sofrer de qualquer nulidade ou por revogação (e even-tual substituição) decorrente de reexame da matéria defacto ou de direito.

II — Eles não conhecem de matéria nova, não colocada aotribunal recorrido salvo se ela puder ser conhecidaoficiosamente.

III — A alteração da causa de pedir constitui matéria novade que o tribunal de recurso não pode conhecer.

Recurso n.o 5.645, em que são Recorrente Telenor — Sociedade deMáquinas e Electricidade, Lda e Recorrido o Director de Serviçode Tráfego, Armazenagem e Benefícios Fiscais. Relator oExm.o Cons. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodeste Supremo Tribunal Administrativo:

I. Telenor, Sociedade de Máquinas e Electricidade, Lda, pessoacolectiva n.o 500281890, com sede na Avenida da Boavista, n.o 301,Porto, interpôs recurso contencioso contra o despacho do Directorde Serviços da Direcção-Geral das Alfândegas, de 16/8/84, que lheindeferiu o pedido de isenção da sobretaxa de importação relativaa painéis solares, que formulou por requerimento de 23/7/84, tendoinvocado como causa de pedir o vício de violação de lei traduzidoem ofensa ao disposto nos arts.o 1o, 3o e 6o do Dec.Lei n.o 312/82,de 4/8, por o benefício aduaneiro abranger as empresas que, comoagentes dos utilizadores, procedem de imputação de tais equipamentose a recorrente se encontrar nessa situação.

II. O acórdão do Tribunal Tributário de 2a Instância, de 7/7/87,negou provimento ao recurso contencioso por haver entendido queos beneficiários da isenção da sobretaxa de importação, estatuídonos arts.o 11o e 3o do DL 312/82, de 4/8, eram apenas os proprietáriosou utilizadores das instalações de utilizações das energias renováveise não as pessoas singulares ou colectivas importadoras ou instaladorasdesses bens, pelo que o despacho recorrido ao consignar expressa-mente que a requerente ”não era directa utilizadora da mercadoria”não sofria de violação de lei.

III. Inconformada com tal decisão jurisdicional recorre agora arequerente para este Supremo Tribunal, pedindo a revogação do jul-gado, sintetizando as razões expendidas nas alegações de recurso,nas seguintes proposições conclusivas:

A) O pedido de isenção da sobretaxa de importação, formuladopela requerente, preenche os requisitos mencionados no art.o 3o doDec.Lei n.o 312/82, de 4 de Agosto.

B) Na verdade, os equipamentos em causa constam (sob a de-signação 84.17.05) da enunciação da lista anexa àquele diploma legal;e destinavam-se aos fins previstos neste diploma;

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C) A Direcção-Geral de Energia, analisando o pedido, e verificandoque a recorrente actuava como agente dos utilizadores identificadosnos contratos promessa de compra e venda anexos ao requerimentoemitiu parecer favorável à pretensão da recorrente.

D) Assim a requerente não agiu em nome próprio, mas por mandatodos utilizadores, em nome e por conta de quem se colocou (art.o 1157o

do C. Civil).E) Desta forma, juridicamente investida na posição dos destinatários

utilizadores a finalidade prosseguida visava o interesse desses uti-lizadores dos equipamentos, que beneficiava no cômputo do prazo,da isenção da sobretaxa de importação.

F) O douto acórdão recorrido, julgando improcedente o alegadovício de violação de lei, contraria e viola frontalmente os normativosinsítos nos arts.o 3o, 1o e 6o do Dec.Lei n.o 312/82, de 4 de Agosto.

IV. O Exm.o mag. do M.o P.o, junto deste Supremo Tribunal, ade-rindo à doutrina perfilhada no Acórdão, de 18/5/88, in Rec. 5539,emitiu parecer no sentido do não provimento do recurso.

V. Com os vistos dos Exms.o Juízes Adjuntos cumpre decidir.1. O acórdão recorrido deu por provada a seguinte matéria de

facto:a) A recorrente dedica-se ao comércio de máquinas, material elec-

trónico e aparelhos de acondicionamento de ar.b) Por requerimento de 23/7/84 e ao abrigo do arto 3o do Dec.Lei

312/82, de 4/8/82, solicitou ela ao Sr. ministro das Finanças a isençãoda sobretaxa de importação para o material importado indicado na-quele requerimento, painéis solares, livres de direitos, incluídos noart.o pautal 84.17.F II (bilhete de importação com o número de ordem561135 da Alfândega do Porto).

c) A D. G. E. elaborou a propósito o parecer de fls. 3 (instrutor)— que se dá por reproduzido — e no qual se consigna: ”O requerenteactua como agente dos utilizadores de energia solar identificados noscontratos-promessa de compra e venda anexos ao requerimento”.

d) Na D. G. A. foi dada a seguinte informação: ”Em consequênciacom o parecer emitido pelo D. G. E. parece de autorizar, ao abrigodo Dec. Lei n.o 312/82, de 4 de Agosto, a isenção de direito, bemcomo a sobretaxa de importação, ao abrigo do art.o 5o do Dec. Lei271-A/75, de 31 de Maio”.

e) Sobre esta informação recaiu o despacho impugnado, de 16/8/84,com invocação de delegação ministerial, que se transcreve ”Visto.Indeferido, por total falta de apoio legal (a firma importadora nãoé directa utilizadora da mercadoria)”.

2. Como se colhe das conclusões das alegações da recorrente, masque melhor se pode ver explicitado no seu discurso alegatório, a re-corrente não discorda, em ponto algum, da interpretação dada pelotribunal recorrido sobre os arts.o 1o, 3o e 6o do DL 312/82, de 4/8,bem como sobre a inclusão das mercadorias importadas na lista anexaao mesmo diploma, aceitando expressamente que os beneficiários dareferida isenção da sobretaxa de importação relativa aos referidosbens de produção de energias renováveis eram apenas e tão-só osproprietários ou utilizadores das instalações, destinatários finais, dosmesmos bens, não se incluindo na previsão do diploma as firmasimportadoras ou instaladoras.

O que a recorrente controverte é que o acórdão recorrido tivesseconcluído como se a recorrente tivesse actuado, ao requerer tais be-nefícios, em nome próprio, na qualidade de firma importadora da

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mercadoria em causa e não antes enquanto agente dos utilizadoresidentificados nos contratos-promessa, que não tivesse agido em nomepróprio, mas por mandato, em nome e por conta dos destinatários--utilizadores em cuja posição jurídica estava assim investida.

Antes de se avançar sobre o mérito das questões suscitadas norecurso, afigura-se-nos pertinente deixar registado que não será pelarazão da matéria ora suscitada no recurso envolver a prolação deum juízo probatório ou de cognição de questões de facto que a sortedo recurso se acabará prejudicada, pois que este tribunal, no casoconcreto, actua como tribunal de instância de conhecimento da ma-téria de facto, dado que se trata de recurso contencioso interpostopara o Tribunal Tributário de 2a Instância, não se verificando a hi-pótese consagrada no art.o 21o, n.o 4 do E.T.A.F. (cfr. arts.o 33o,n.o 1, al. a) e 42o, n.o 1, al. b) da mesma lei).

É claro que está implícito na decisão tirada pelo Tribunal Tributáriode 2a Instância, como ilação de facto retirada dos pressupostos emque aquela assentou, que a ora recorrente não era proprietária ouutilizadora, destinatário final, dos bens em causa, ainda que tivessesurgido ou tendo surgido na sua importação como agente do utilizadoridentificado no(s) contrato(s)-promessa(s), dado que aferindo o di-reito pelos termos acima delimitados acabou por concluir que o des-pacho recorrido não se achava inquinado do vício de violação delei ”ao consignar expressamente que a requerente não era utilizadorada mercadoria e, por isso, o seu pedido carecia de apoio legal”.

A decisão recorrida efectuou, pois, o seu juízo probatório sobrea causa de pedir que foi invocada pela recorrente na sua petiçãoinicial, ou seja sobre os acontecimentos concretos que segundo a ”fat-tispecie” jurídica, talqualmente era interpretada pela recorrente, eramsusceptíveis de gerar a anulabilidade do acto recorrido e ditou a so-lução jurídica do caso concreto. A recorrente que definiu como ca-tegoria abstracta susceptível de afectar a validade de afectar a validadedo acto administrativo certa ”fattispécie” jurídica, de certa conjugaçãolegal de certos pressupostos ou requisitos abstractos, e depois invocouos factos concretos genéticos dessa invalidade enquanto correspon-dentes à predefinição legal por si operada.

No caso concreto e resumindo ao que é determinante, a recorrenteinterpretou a lei como se ela concedesse os benefícios fiscais adua-neiros às empresas que procediam à importação de tais equipamentos,embora o estivessem a fazer como agentes dos utilizadores, sem que,todavia, se precisasse aí — mas, também, sem que daí se retirassemquaisquer fundamentos de procedência ou improcedência — o con-teúdo factício desse conceito de agente pela sua correspondência àenunciação legal dos despachantes admitidos na lei aduaneira, ondetal categoria apenas surge com o conteúdo do n.o 3 do art.o 426o

da Reforma Aduaneira, donde seguramente não se enquadra, ou entãopela sua referência ao contrato de agência regulado no DL 187/83,de 3/7, mas também aqui sem que se descrevessem quaisquer ele-mentos de facto susceptíveis de levar o julgador a tal concretizaçãoda existência dos necessários requisitos (actuação em nome e porconta doutrem; encargo de promover a conclusão de contratos numadeterminada zona e retribuição) da existência deste contrato que,de resto, também não levaria ao reconhecimento, por ele próprio,dos pressupostos da isenção e da invalidade do acto (cfr. C.J. 1987,vol 3, págs. 116).

Agora no recurso, a recorrente altera profundamente a causa depedir, quer sobre o entendimento quanto à ”fattispecie” jurídica que

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a lei admite como geradora de anulabilidade, quer sobre os acon-tecimentos concretos que dentro dessa figuração legal poderão obtero referido relevo jurídico. Em vez de afirmar que ”o legislador previua concessão de incentivos aduaneiros às empresas que como agentesdos utilizadores, procedem à importação de tais equipamentos” (pe-tição inicial n.o 25), passou a aceitar que o legislador previu a concessãode tais incentivos aos próprios proprietários ou utilizadores aos des-tinatários finais dessas mercadorias, ou seja passou a apontar umaoutra identificação dos beneficiários dos incentivos; passou a dizerque em vez de A era B. Mas mais. Tendo agora por referência quea ”fattispecie“ legal potenciadora do direito à isenção era essa assimdefinida, a recorrente passou a afirmar, nas conclusões das alegações,que não agiu em nome próprio como importador de bens, mas pormandato dos utilizadores, em nome e por conta de quem se colocou(art.o 1157o do C. Civil) que, ao fim e ao cabo ela estava investidana posição dos destinatários-utilizadores, ou seja a recorrente passoua integrar o conceito alegado de agente com toda uma série de acon-tecimentos concretos que nem sequer coincidem com os outros pos-síveis, antes apenas admitidos hipoteticamente perante uma total au-sência da sua precisão, no momento em que o tribunal ”a quo” houvede averiguar a materialidade alegada.

Eis apresentada uma outra versão de acontecimentos concretoscompletamente diferente da levada ao conhecimento do tribunal ”aquo”, — uma outra diferente causa de pedir (cfr. sobre a noção ecaracterização de causa de pedir, Anselmo de Castro, Direito Pro-cessual Civil Declaratório, vol. I, 1981, págs. 204) — de cuja con-sideração se pretende agora retirar a conclusão da invalidade do acto,e que, diga-se redundantemente (porque tal já se situaria no domíniodo seu conhecimento jurisdicional) nem sequer se afastaria dos pa-râmetros da correcta causa de pedir, porquanto a recorrente requereua concessão do beneficio aduaneiro à autoridade administrativa emnome próprio, como, inclusivé, a importação foi efectuada tambémem nome próprio (cfr. processo apenso, fls. 5) e não em nome dessesutilizadores finais, caso em que haveria de munir-se de procuraçãopara tanto nos termos do art.o 433o da Reforma Aduaneira.

De tudo flui que a recorrente vem a alegar no recurso uma outravalidade diferente da sujeitada à apreciação do tribunal recorrido,de uma realidade que não pode ser vista como estando contida dentrodo sentido que um declaratório normal (mormente o judiciário) pu-desse conferir à expressada na petição inicial, nos termos já referidosem suma de uma doutra causa de pedir.

A recorrente não pode pedir a este tribunal de recurso a apreciaçãode matéria nova não apreciada pelo tribunal inferior salvo se elafosse cognoscível ”ex officio”, mas tal não é o caso.

Neste recurso, a recorrente apenas poderia pedir a reapreciaçãoda decisão recorrida com vista à sua anulação por sofrer de qualquernulidade ou à sua revogação (e eventual substituição) após se exameda matéria de direito ou de facto. Ao invés, ela pede a reapreciaçãode matéria nova nem sequer colocada ao tribunal recorrido em qual-quer momento processsualmente permitido.

Tanto basta para concluir que o recurso não pode proceder.Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Secção

do Contencioso Tributário deste S. T. A. em negar provimento aorecurso e confirmar o douto acórdão recorrido.

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Custas pela recorrente com taxa de justiça de 70.000$00 e pro-curadoria de 60 %.

Lisboa, 11 de Janeiro de 1995. — Benjamim Rodrigues (Rela-tor) — Carlos Alberto Pereira Gouveia Horta do Valle — José JesusCosta. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 11 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Contencioso aduaneiro. Vício de forma. Violação de lei porerro nos pressupostos.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — Não padece de vício de forma o acto impugnado porse encontrar devidamente fundamentado de forma clara,congruente e suficiente.

2 — Também não padece de violação de lei por erro nos pres-supostos de facto verdadeiro ou pelo menos essa inve-racidade não informada.

Recurso no 15.923, em que são recorrente a Fábrica de Queijo EruPortuguesa, Lda e recorrido o Director da Alfândega de Lisboa,e do qual foi Relator o Exmo. Conso. Dr. Francisco RodriguesPardal.

Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

Fábrica de Queijo ERU Portuguesa, Lda, p.c. 500348782, com sedeem Abóboda, Carcavelos, veio interpor recurso de anulação do des-pacho proferido em 10.07.89, pelo Director da Alfândega de Lisboa,com delegação de poderes, pelo qual foi indeferido o seu pedidopara mandar anular o apuramento do regime respeitante a 11.573 Kgs.de queijo BKV, cuja mercadoria foi importada em regime de aper-feiçoamento activo através da autorização nos 279/88 e 313-A/88 nostermos e com os fundamentos seguintes:

«No dia 4.7.88, chegaram a Portugal procedentes da Áustria 5 ca-miões e um vagão devidamente selados contendo 148.845 Kgs. dequeijo BKV cuja abertura foi autorizada e presenciada pelos fun-cionários da própria Alfândega de Lisboa, mercadoria essa que ficouem depósito provisório e tendo a respectiva descarga tido lugar nosarmazéns de frio, em Arsica.

Em 7.12.88, quando se procedia à descarga da última parcela, cons-tatou-se a falta de cerca de 11.573 Kgs do mencionado produto, semque o mesmo houvesse alguma vez entrado na produção da signatária.

A explicação plausível para este fenómeno, poderá ter sido o factode o queijo em causa, ser fresco e, por isso mesmo passível deevaporação.

Contrariando esta matéria factual, a entidade recorrida veio fun-damentar o seu indeferimento pelos motivos constantes da informaçãodo Núcleo de Inspecção da Alfândega de Lisboa.

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Esta decisão está ferida de vício de forma por não haver fun-damentação.

Para além do vício de forma, o acto recorrido está também in-quinado de vício de violação de lei determinado por erro do factosobre os pressupostos, pois a entidade decidindo partir de falsos pres-supostos factuais cometeu o erro de facto sobre os mesmos.

O acto recorrido enferma ainda do vício de violação de lei pro-priamente dito por ofensa frontal aos seguintes preceitos le-gais — arto 3o e 4o do Reg. (CEE) no 3787/86, de 11.12.

A entidade recorrida conclui que a quantidade de queijo contro-vertido — 11.573 Kgs — entrou na posse da recorrente (R) e estanão consegue dar uma explicação plausível para o seu desapareci-mento, no acto impugnado, ao não permitir o apuramento do queijoem falta, foi legal e sobre o mesmo não recai qualquer vício de formaou de erro sobre os pressupostos.

A R apresentou as suas alegações onde conclui pela revogaçãodo acto impugnado pelos fundamentos e vícios invocados.»

O digno Magistrado do Ministério Público é de parecer que orecurso não merece provimento.

O Tribunal Tributário de 2a Instância, por acórdão de 31.03.92,negou provimento ao recurso por o acto impugnado não estar feridodos vícios alegados.

A R veio interpor recurso daquele acórdão para este S.T.A., for-mulando, em resumo, as seguintes conclusões: Não é exacto que aspartidas de queijo tenham dado entrada em regime de depósito pro-visório, pois tais partidas deram entrada num armazém alfandegado,sito em Arsica (arto 126o da Ref. Aduaneira); deve também fazer-sereferência do queijo entrado em depósito provisório proveniente daNova Zelândia — 450.000 Kgs; no armazém entraram 643.485 Kgs,sendo impossível afirmar que tal parcela física saída corresponda atal ou tal D.U.; a verificação, reverificação e saída das mercadoriasimportadas encontra-se sujeita às regras legais dos artos. 259o e segs.do Reg. das Alfândegas; a fundamentação do despacho em discussãoencontrava-se na informação do Núcleo de Inspecção, mas essa fun-damentação é insuficiente, havendo violação do arto 1o, no 3, doD.L. 256-A/77, de 17.6; a matéria de facto dada por assente peloacórdão recorrido não resulta da matéria factual derivada dos autose designadamente do processo administrativo, violando os artos 259o

e segs. do Reg. das Alfândegas; o arto 114o-A da Reforma Aduaneira(red. do D.L. 392/85, de 9.10) é violado pelo acórdão recorrido; naverdade, sancionando o acórdão a legalidade do despacho que mandaa R proceder ao apuramento do regime de aperfeiçoamento a umaparte da mercadoria que se apresentou em falta por perda duranteo depósito provisório, e que se encontra portanto em impossibilidadede ser contabilizada para o apuramento, está a sancionar a legalidadedo acto que iria servir de base à Alfândega para liquidar os direitoscorrespondentes à falta de apuramento da mercadoria em perda; sese entender que a violação do arto 114o-A da Reforma Aduaneiraainda não ocorre, pois o acto em discussão não é o da liquidaçãode direitos, sempre se terá de concluir que o acórdão viola o arto 780o,no 1, do C.C.; e visto que das pesagens efectuadas pela R à saídada Arsica na presença do guarda fiscal e o verificado presentementeresulta a mencionada falta de 11.573 Kgs.

O representante da Fazenda Pública não contra-alegou.

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O distinto magistrado do Ministério Público é de parecer que orecurso não merece provimento por o acórdão recorrido ter feitocorrecta interpretação e aplicação da lei.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.1. - O acórdão recorrido deu como provada a seguinte matéria

de facto:a) - A R procedeu à importação de 148.845 Kgs de queijo BKV

- com a classificação pautal no 04069011 — procedente da Áustria quederam entrada no regime de depósito provisório nas suas instalações,sita em Arsica (Prior Velho) em 88.07.04

b) - Nas mesmas instalações entrou em regime de depósito pro-visório queijo chegado por via marítima da Nova Zelândia.

c) - A R apresentou no Serviço de Fiscalização do Núcleo de Ins-pecção da Alfândega de Lisboa declarações sumárias de importaçãode queijo referidas nas alíneas anteriores, no total de 643.845 Kgs.

d) - A importação do produto, a que alude a alínea a) foi feitaem regime de aperfeiçoamento activo das D.Us. 1.959, de 88.10.07,21.765 de 88.11.11 (ambas da Delegação Aduaneira do Jardim doTabaco) e 129.911, 129.912, 129.913 e 129.914, de 88.11.18 da De-legação Aduaneira de Alverca.

e) - A quando da entrada em depósito provisório foi efectuadaa conferência à descarga por um funcionário da Alfândega de Lisboaà mercadoria referida na alínea a) que constatou a coincidência daquantidade de tal mercadoria com as declarações sumárias, referidasna alínea c).

f) - À data da conferência, a que alude a alínea anterior, a mer-cadoria referida na alínea a) apresentou-se ao funcionário que efec-tuou aquela conferência como não sendo toda, conforme havia sidodeclarado, “queijo cheddar” mas apresentando 15 % aspecto e corde queijo fundido e 10 % de pedaços pequenos, parte dos quais comaspecto de aparas.

g) - A mercadoria, a que alude a alínea a), saiu por parcelas dodepósito provisório a coberto das D. Us. referidas na alínea e) paratransformação (aperfeiçoamento activo).

h) - A última saída de tal mercadoria, a que alude a alínea a),do Depósito Provisório ocorreu em 88.11.29 a coberto da D. U.no 129.911 correspondente à fotocópia do doc. no 5 do processo ad-ministrativo apenso que se dá, por economia, reproduzido.

i) - Na D. U., referida anterior, ficou consignado que a quantidadede queijo saído foi de 21.137 Kgs.

j) - O regime de aperfeiçoamento activo ao abrigo do qual foiimportada a mercadoria a que alude a alínea a) foi concedido pelaautorização n.os 279/88 e 317/88 L (AA).

l) - A quando da verificação das D. Us. referidas na alínea d)através das quais a mercadoria, a que alude a alínea a), foi submetidaao regime de aperfeiçoamento activo, não foi notada pelo funcionárioda Alfândega qualquer falta de correspondência com as quantidadesnelas declaradas.

m) - A R só através do requerimento apresentado em 89.06.21no Gabinete de Apoio ao Director da Alfândega de Lisboa, participouque a quantidade de queijo constante da D. U. 129.911 não era aque dela constava mas sim menos 11.573 Kgs.

n) - Pelo requerimento referido na alínea anterior a R pediu àentidade recorrida a anulação do apuramento de regime de aper-feiçoamento activo da quantidade de 11.573 Kgs. de queijo, a que

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alude a alínea a), alegando, em síntese, como explicação que a faltaadveio de evaporação, dado tratar-se de queijo fresco.

o) - Tal requerimento, a que alude a alínea m), mereceu duasinformações sucessivas do Serviço de Fiscalização do Núcleo de Ins-pecção da Alfândega de Lisboa do seguinte teor:

“Em resposta ao despacho do Exmo Director desta Alfândega de21.6.89 informa:

1. - De facto nos termos das suas competências a Alfândega fis-calizou as saídas do Depósito Provisório do queijo mencionado nesterequerimento no total de 148.845 Kgs, assim como o queijo no totalde 490.000 Kgs. chegado por via marítima através dos D. Us. 19.371,19.509, 19.718, 21.350, 21.765, 21.870, 22.427, 22.681, 122.913 e 122.914da Delegação de Alverca.

2. - Entraram, portanto, 643.845 Kgs. de queijo no Depósito Pro-visório, autorizado na Arsica, e saíram também os mesmos643.845 Kgs.

3. - Os pesos líquidos foram conferidos à entrada, tendo sido efec-tuados os referidos relatórios de verificação, os quais se encontramjuntos à contramarca de entrada no Depósito Provisório no 172/88,dada pelo Serviço de Fiscalização, onde consta o total de 643.845 Kgs.

4. - Estes Serviços de Fiscalização têm em seu poder as declaraçõessumárias e requerimentos apresentados pela ERU, cujos totais per-fazem também 643.845 Kgs.

5. - Não se compreende que, tendo o importador acompanhadoa pesagem à entrada, venha agora “a posteriori” invocar pretensasfaltas de mercadoria. Aliás, o importador ao não solicitar a pesagemefectiva à saída do Depósito Provisório demonstra ter aceite as re-feridas pesagens à entrada.

6. - No que respeita ao ponto 7) deste requerimento, não se podeaceitar que o “sistema de contabilidade industrial da ERU” proveo que for, tanto pelo facto da mercadoria efectivamente entrada esaída da Arsica na sua totalidade, como pelos factos da empresa nãoter um sistema real de Contabilidade Industrial, e do sistema “PIN”implantado não ter sido considerado satisfatório por o Núcleo parao controlo do regime de aperfeiçoamento activo (r. a. a.).

7. - Também não são de aceitar, em meu entender, as alegaçõesda empresa para o Tribunal a quo no ponto 8), não só pelo factodo queijo em questão não ser fresco, mas sim queijo de massa durae não ser por esse facto passível de evaporação ou qualquer outrofenómeno que justifique a quebra de 11.573 Kgs.

8. - Por tudo aquilo que diz, sou de parecer que a signatária deveproceder ao apuramento da r. a. a. no que respeita ao D. U. 122.911/88,da Delegação de Alverca, o que implica dar-lhe um dos destinosprevistos no no 2 do arto 18o do Reg. (CEE) no 1.999 à mercadorianão exportada, introduzindo no consumo total de 11.573 Kgs., como consequente pagamento dos direitos e demais importações, semprejuízo da responsabilidade da empresa no âmbito do ContenciosoAduaneiro.

Em 29.06.89”“Exmo Senhor:Por falta de fundamentação factual e legal, a pretensão da re-

querente não é de atender. De facto na declaração sumária de entradano Depósito Provisório consta a totalidade do queijo que foi tambémconferido pela própria requerente.

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A declaração no ponto 8) feita pela ERU, de que o queijo erafresco, é falsa. O queijo em questão não era susceptível de quebrasignificativa.

Concordo, pois, com o verificador deste Núcleo que efectuou oServiço, pelo que o r. a. a. deve ser apurado nos termos legais.

Em 30.06.89”p) - Sobre tais informações, referidas na alínea anterior, e reque-

rimento a que alude a alínea m), o Director da Alfândega de Lisboaproferiu, em 89.07.03, o seguinte despacho:

“Indeferido face aos termos das informações prestadas pelo Núcleode Inspecções”.

q) - A R foi notificada do despacho referido na alínea anteriorpor ofício datado de 89.07.10 da Alfândega de Lisboa.

r) - A R foi autorizada, por despacho de 88.08.31 do Secretáriode Estado dos Assuntos Fiscais a utilizar o r. a. a. desde que, entreo mais, assegurasse um sistema de contabilidade analítica e imple-mentasse a ficha PIN (número de informação do produto) que deveriaconter toda a informação exigida pela Alfândega.

Perante esta matéria de facto, o acórdão recorrido negou provi-mento ao recurso, mantendo firme na ordem jurídica o acto im-pugnado.

A R interpõe recurso para este Supremo Tribunal alegando o víciode forma por insuficiência de fundamentação do despacho impugnadoe a questão da violação da lei por erro nos pressupostos de facto.

Por seu lado, o distinto magistrado do Ministério Público é deparecer que o recurso não merece provimento por o acórdão recorridoter interpretado e aplicado correctamente a lei.

2. - Toda a questão a debater neste recurso resulta do facto daR ter importado da Áustria, em 4.7.88, 148.845 Kgs. de queijo BKVo qual ficou em depósito provisório nos Armazéns de Frio, em Arsica,para efeitos do regime de aperfeiçoamento activo (r. a.a.).

Acontece que a última saída da mercadoria ocorreu em 29.11.88,tendo, mais tarde a R declarado que faltavam 11.573 Kgs. do men-cionado produto.

Em 21.6.89, a R veio requerer ao Director da Alfândega de Lisboaque mandasse anular do apuramento do r. a. a. os aludidos 11.573 Kgs.com a consequente não liquidação da parte respeitante, visto tal pro-duto não ter entrado em consumo.

A R dá como explicação plausível a evaporação, por se tratar dequeijo fresco, baseando-se num telex de 89.05.19 da exportadora(v. fls. 17).

Todavia, o técnico verificador que assistiu à descarga para o De-pósito Provisório, no seu relatório de 20.7.88, refere:

“Pela apresentação física da mercadoria, nem toda parece ser, efec-tivamente, conforme declarado “queijo cheddar”. Cerca de 15 % apa-renta aspecto e cor que o assemelha a queijo fundido.

Da totalidade do queijo cerca de 10 % são pequenos pedaços dequeijo, parte dos quais apresentam o aspecto de aparas de queijo”.

O Senhor Director da Alfândega de Lisboa indeferiu tal pedido.Foi este o despacho que foi impugnado e confirmado pelo acórdão

recorrido.A R alega os vícios já referidos.3. - A questão do vício de forma — a insuficiência da fundamentação

do despacho recorrido.A R opõe-se à matéria de facto dada por assente pelo acórdão

recorrido referido “que não é exacto que as partidas de queijo . . .

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tenham dado entrada em regime de depósito provisório em instalaçõesda R em Arsica, o que é exacto é que tais partidas deram entradanum armazém alfandegado, sito em Arsica, sujeito ao regime doarto 126o da Ref. Aduaneira”.

Trata-se de um purismo de linguagem, por ser a própria R quediz que a mercadoria ficou em depósito provisório nos Armazénsde Frio, em Arsica (no 1 da petição; doc. no 1, e requerimento de21.6.89, no Proc. Inst.), nada havendo em oposição ao estipuladopelo arto 126o da R. A..

Não há dúvidas que a mercadoria entrara em depósito provisórionos Armazéns de Frio, em Arsica.

Por outro lado, as referências que faz às alíneas a), b), d) e g)não têm relevo por serem meras precisões que resultam do contextodos autos.

No que concerne à referência à alínea h) da matéria provada, oalegado pela R não altera o seu conteúdo pela razão simples daD. U. no 129.911 ter por conteúdo 8 pallets, com o peso de 21.837 Kgs.e ser a última saída efectuada em 88.11.29, sendo o mesmo confirmadopela R no seu requerimento apresentado em 21.6.89. Não foi detectadaqualquer falta aquando da verificação da D. U. 129.911 nem a Ra invocou. Só através do requerimento de 21.6.89 é que há notícianos autos da falta de 11.573 Kgs. da mercadoria. Antes, não há qual-quer elemento que referencie tal diferença. Seria lógico que, encon-trada a falta, a R apresentasse logo ao verificador a situação queratravés de documento ou mediante qualquer auto (arto 133o, § únicoda R. A. e 259o, § 1o, do Reg. Alf.).

Não era desculpável a existência de uma diferença tão grande,tanto mais que a D. U. no 129.911 era de 21.137 Kgs., sem que houvesseimediata reacção da R a fim de se apurar a razão de semelhantediferença.

A lei prevê que desde logo, se dê conhecimento à Alfândega(arto 133o, § único, da R. A.). A R só cerca de sete meses depoisé que veio apresentar a existência da falta. Sibi imputet.

O mesmo poder-se-á dizer quanto à referência que faz da alínea l)ao alegar que não consta que tivesse havido, dos serviços aduaneiros,efectiva verificação da mercadoria imputada a cada D. Us.

A lei determina que o verificador nos despachos de mercadoriassaídas dos depósitos afiançados limitar-se-á à conferência da decla-ração (arto 259o, § 1o do Reg. Alf.). Se encontrar qualquer anomalia,deve participá-la (artos. 260o e 265o do Reg. Alf.).

Por outro lado, a verificação é efectuada na presença do interessadoou seu representante (arto 259o do Reg. Alf.), por isso, se havia qual-quer discrepância e, por qualquer razão era apontada pelo verificadorcabia ao interessado chamar-lhe à atenção.

Não há, nesse sentido, qualquer reacção por parte da R, o queseria normal e correcta se fosse encontrado qualquer lapso na actuaçãodo verificador.

A R alega ainda que a fundamentação do despacho se encontravana Informação do Núcleo de Inspecções, como refere, o acórdão re-corrido é insuficiente.

Como se alcança da matéria dada como provada (v. supra no 1,alíneas o) e p) o despacho recorrido apropriou-se das informaçõesprestadas pelo Núcleo de Inspecções — fundamentação por remis-são — que não acolheu a falta de 11.573 Kgs. a mera evaporaçãodo queijo importador por se ter verificado que se tratava de queijo

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de massa dura e não ser por esse facto passível de evaporação eo verificador constatou a entrada das mercadorias e a respectiva saídanada tendo encontrado de anormal e a R acompanhou as diligênciasdo verificador quer à entrada da mercadoria quer à saída e não apre-sentou qualquer questão no concernente à falta da mercadoria. Sóo fez quase sete meses depois com a invocação da evaporação doqueijo.

A lógica deste discurso é coerente e objectivo e a R bem com-preendeu o seu conteúdo, tanto mais que não deixou de o sindicar,argumentando que o acto repousou sobre pressupostos de facto queestavam errados.

Trata-se de fundamentação clara, congruente e suficiente para quese cumpra o dever previsto pela ordem jurídica (cfr. Professor DoutorJosé Carlos Vieira de Andrade, O Dever de Fundamentação Expressade Actos Administrativos, colecção Teses, Coimbra, Almedina, 1991,pág. 235). É uma fundamentação convincente que satisfaz o deverlegal e, por isso, não provoca qualquer vício de forma. O acto estáassim fundamentado.

Deste modo, o acórdão recorrido, nesta parte, não merece censura,não tendo violado o arto 1o, no 3, do D.L. 256-A/77, de 17.6, pornão haver falta de fundamentação nem sequer fundamentaçãoinsuficiente.

4. - Questão da violação da lei por erro nos pressupostos.A R alega que o acórdão recorrido decidiu que não houve violação

da lei por erro nos pressupostos, porque entendeu provado que houve,precedendo a saída da mercadoria do armazém do depósito provisório,efectiva verificação da quantidade, efectuada pelo verificador, dasdiversas parcelas saídas até ser esgotada a saída, quando do acórdãoresulta que não dispunha de matéria factual derivada dos autos edo processo administrativo e sancionando o acórdão a legalidade doacto que manda a R proceder ao apuramento do regime de aper-feiçoamento relativamente a uma parte da mercadoria que se apre-sentou em falta e que se encontra portanto impossibilitada de sercontabilizada para o apuramento, está a sancionar a legalidade doacto que irá servir para a liquidação dos direitos correspondentes.

Já vimos — supra no 3 — que não foi detectada qualquer faltade mercadoria quer aquando da verificação da sua entrada quer nomomento da saída. Também a R não invocou qualquer falta, es-pecialmente, em 29.11.89 quando foi verificada a última D. U. 129.911de 21.837 Kgs., não apresentando qualquer reclamação.

Assim, por nunca ter sido notada qualquer falta, aquando da ve-rificação das D. Us., a mercadoria passou a r. a. a. por correspondênciacom as quantidades nelas declaradas.

Daí que o despacho impugnado. . .assentou sobre pressupostos defacto verdadeiros ou pelo menos essa veracidade não foi infirmadacom fundamento pela R. Não utilizou o condicionalismo legal(artos. 114o-A e 133o, § único, da R. A. e 259o e segs. do Reg. Alf.).

A R só cerca de sete meses depois é que veio apresentar a faltade 11.573 Kgs., dando como explicação a evaporação do queijo porser fresco.

A verificação veio dizer que o queijo era uma massa dura, nãosendo passível de evaporação.

A própria R nas alegações para este Supremo Tribunal refere que“queijo fresco” não é o sentido do consumidor nacional, mas a ex-pressão young natured cheese que se poderá traduzir por queijo de

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fraca maturação, tratando-se de graduação de linguagem, por os di-rigentes serem holandeses e se expressarem em língua inglesa.

A conclusão que se retira é que aquando da verificação da entradae da saída da mercadoria não foi detectada a falta de mercadorianem pela verificação nem pela R.

Deste modo, não verifico a violação dos artos. 114-A da R. A.e 790o, no 1, do Cód. Civ., por não se preencher a sua moldura.

Assim, o recurso também nesta parte não merece provimento.5. - Em face do exposto, o acórdão recorrido não merece censura

pelo que é de manter.Nestes termos, acordam em negar provimento ao recurso e, em

consequência, confirmar o acórdão recorrido.São devidas custas, fixando-se a taxa de justiça em setenta

(70.000$00) mil escudos e a procuradoria em setenta (70 %) por cento.

Lisboa, 11 de Janeiro de 1995. — Francisco Rodrigues Pardal (re-lator) — Júlio Ferreira Tormenta — Manuel Fernando dos SantosSerra. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 11 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Recurso jurisdicional aduaneiro. Importação de medicamen-tos. Princípio activo. Imposto sobre o valor acrescentado.Isenção. Arto 9o, no 34, do CIVA, e no 2.4, alínea a), daLista I anexa ao CIVA e arto 2o do DL no 72/91, de 8de Fevereiro.

Doutrina que dimana da decisão:

Para efeito do disposto da isenção de IVA prevista no arto 9o,no 34, do CIVA, com refrência ao no 2.4, alínea a), daLista I anexa ao mesmo código, é de considerar medica-mento o produto denominado IODOPOVIDONA, substân-cia química utilizada em medicina como desinfectante, comacção antibacteriana e antifúngica, para aplicação local enas mucosas.

Recurso n.o 17 593. Recorrente: Paracélsia — Indústria Farmacêutica,S.A.; Recorrida: Fazenda Pública; Relator: Exmº Consº Dr. JesusCosta.

Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tri-bunal Administrativo:

I — Paracélsia — Indústria Farmacêutica, S. A., com sede na ruaAntero de Quental, 639, Porto, e os demais elementos de identificaçãodos autos, interpôs o presente recurso da sentença do senhor Juizdo Tribunal Fiscal Aduaneiro do Porto de 15 de Setembro de 1993,a fls. 24 e segs., que julgou improcedente a impugnação que a re-corrente deduzira contra a liquidação feita pelo chefe do Serviçode Despacho da Alfândega do Porto de 12.12.92, de Imposto sobre

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o Valor Acrescentado, no montante de 2 541 001$00, em relação aimportações de de IODOPOVIDONA efectuada através dos DUsnos 156 786, de 20.12.89, 42 703, de 27.3.90, e 111 420, de 2.8.90.

A recorrente alegara, em resumo, que o acto de liquidação poisque não se encontra fundamentado, nem de facto nem de direito,pelo que está ferido de vício de forma, e que não existe facto tributário,pois que o produto importado é um anti-séptico e desinfectante io-dóforo, ou seja, constitui um medicamento, com a mesma composiçãoque a BETADINE, o qual não está sujeito a IVA.

A sentença recorrida considerou, em resumo, que o acto impugnadose encontra devidamente fundamentado, de facto e de direito, peloque não ocorre vício de forma, e que o produto importado não constituium medicamento, uma vez que como tal não foi considerado pelaDirecção-Geral dos Assuntos Farmacêuticos, com a subsequente au-torização de introdução no mercado por parte do Ministro da Saúde,nos termos do disposto no arto 4o, no 1, do DL no 72/91, de 8 deFevereiro, com referência ao preceituado no arto 4o, no 1, do DLno 72/91, de 8 de Fevereiro, com referência ao preceituado no arto 2o,alínea a), do mesmo diploma, preceito este que define os me-dicamentos.

A recorrente reitera o ponto de vista sustentado na petição deimpugnação e remata as conclusões das suas alegações nos seguintestermos:

”1.a — o acto impugnado não se mostra fundamentado nem defacto nem de direito;

2.a — não constando tal fundamentação, ao contrário do que sediz na notificação, nem desta nem dos documentos que a anexam,nem da liquidação, nem do próprio acto;

3.a — sendo certo que da liquidação deviam constar as disposiçõeslegais aplicáveis, bem como a qualificação e quantificação dos factose as operações de apuramento;

4.a — mostrando-se, assim, violado o disposto nos artigos 19o, b),21o e 82o do Código de Processo Tributário;

5.a — padecendo, em consequência, o acto impugnado de insuprívelvício de forma que acarreta a sua anulação;

6.a — outrossim, a douta decisão recorrida ao fundamentar, ma-nifestamente, de modo insuficiente a decisão de inexistência daquelevício, é nula nos termos do disposto no artigo 144o daquele diplomalegal;

Por outro lado,7.a — deve ser sempre anulado o acto impugnado por inexistência

de facto tributário;8.a — é que o produto em causa — iodopovidona —, pela sua na-

tureza e finalidades médicas, é um medicamento, na importação outransmissão do qual o imposto sobre o valor acrescentado não incidia;

9.a — atenta a norma de isenção tributária estatuída no artigo 9o,no 34, do CIVA, por referência à anexa Lista I, 2.4, alínea a);

10.a — de resto, se dúvidas restassem quanto à isenção em IVAdo produto, bastaria atentar que, como se transcreve na douta decisãorecorrida, estão isentos de IVA as transmissões de ”Produtos far-macêuticos e similares e respectivas substâncias activas”, sendo exem-plo desses produtos farmacêuticos, os ”medicamentos”;

11.a — ora, está provado que a iodopovidona ”é o princípio activoque se contém no medicamento Betadine . . .”. E, só por aí, já seimporia aquela isenção!;

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12.a — está, por isso, o acto impugnado inquinado de vício de vio-lação de lei que, do mesmo modo, determina a sua anulação;

13.a — nem, salvo o devido respeito, procede a ”argumentação”do Mmo Juiz a quo para considerar o produto um ”não medicamento”;

14.a — a falta de autorização para introdução no mercado internodo medicamento ”iodopovidona” só pode ser punida em processode contra-ordenação e não por qualquer outra forma, designadamente,descaracterizando-o como medicamento ou taxando-o em IVA, es-tando a sua comercialização isenta de tal imposto”.

Sem contra-alegações subiram os autos a este STA, onde o Exmo

Procurador-Geral Adjunto emitiu o parecer de que não ocorre o ale-gado vício de forma mas que o recurso merece provimento quantoao vício de violação lei, pois que, por um lado, de nenhuma normado DL no 72/91 resulta que um produto farmacêutico só pode serconsiderado medicamento quando como tal for declarado pela Dir-recção-Geral dos Assuntos Farmacêuticos, sendo certo que aquelediploma apenas dispõe sobre a introdução no mercado, fabrico e co-mercialização de medicamentos, e, por outro, assente como está quea ”iodopovidina” é um princípio activo do medicamento ”Betadine”,a isenção tributária resulta explicitamente do arto 9o, no 34, ponto 2.4,da Lista anexa ao CIVA.

Colhidos os vistos dos adjuntos, cumpre decidir.II — 1 — Flui do exposto que as questões a decidir são as de saber

se o acto de liquidação está ou não devidamente fundamentado, defacto e de direito, e se a importação do produto iodopovidona estáou não isenta de IVA. Antes, porém, importa conhecer da arguidanulidade da sentença recorrida.

2 — São os seguintes os factos dados como provados pela sentençarecorrida e que a recorrente aceitou:

”1 — A impugnante importou de Espanha IODOPOVIDONA, emtrês momentos diferentes, tendo processado os respectivos DUs deimportação (DU no 156 786, de 20.12.89, DU no 42 703, de 27.3.90,e DU no 111 420, de 2.8.90 — documentos de fls. 14, 15, 74, 75, 90e 92 do processo administrativo — anexo II;

2 — A impugnante, considerando que o produto referido em 1.é u m m e d i c a m e n t o , c l a s s i f i c o u - o p e l o c ó d i g o p a u t a l30.04.90.10.090.900 — arto 20o da petição e alegação do representanteda Fazenda Pública (fls. 63 e 64);

3 — A IODOPOVIDONA é uma substância química utilizada emmedicina como desinfectante, com acção antibacteriana e antifúngica,para aplicação local à pele e às mucosas — depoimento das teste-munhas Walter Fridrich Oswald e José Henrique Gil (fls. 58 e 59);

4 — O produto referido em 3. destina-se a prevenir e/ou a trataras infecções sediadas na pele e nas n«mucosas — depoimento da re-ferida testemunha Walter Oswald;

5 — A IODOPOVIDONA é o princípio activo que se contém nomedicamento denominado Betadine — depoimentos citados;

6 — Estão registados no Instituto Nacional de Farmácia e dos Me-dicamentos vários medicamentos com a substância activa IODOPO-VIDONA, mas nenhum desses medicamentos assim registados per-tence à impugnante — documento de fls. 73».

III — Assentes os factos, vejamos o direito aplicável.1 — Quanto à invocada nulidade da sentença, por omissão de pro-

núncia, cabe dizer que a recorrente não tem razão. O eventual de-sacerto da sentença ao sustentar que o acto impugnado se encontra

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devidamente fundamentado constituirá erro de julgamento e não omis-são de pronúncia.

2 — Vejamos agora os fundamentos do recurso e em primeiro lugaro vício de violação de lei.

Dispõe o arto 9o, no 34, do Código do Imposto sobre o ValorAcrescentado (CIVA) que estão isentas de IVA as transmissões debens e as prestações de serviços referidas na Lista I, anexa ao código.

Por sua vez, o ponto no 2.4 da Lista I estatui o seguinte:”Produtos farmacêuticos e similares e respectivas substâncias ac-

tivas, a seguir indicadas:a) Medicamentos, especialidades farmacêuticas e outros produtos

farmacêuticos destinados exclusivamente a fins terapêuticos e pro-filáctivos;

b) ...c) ...”.Do exposto resulta que a questão que se põe é a de saber sxe

o produto importado — IODOPOVIDONA — constitui um produtoenquadrável no ponto 2.4 da Lista I anexa ao CIVA.

Ora, pode já dizer-se com segurança que assim é.Na verdade, está provado que a iodopovidona é um princípio activo

que constitui um desinfectante que se destina a prevenir e a trataras infecções da pela e das mucosas e que se contém no medicamentodenominado Betadine.

Sendo assim, tanto basta para que se deva considerar um medi-camento, nos termos e para os efeitos da citada disposição do CIVA.

O mesmo resulta, aliás, do arto 2o do DL no 72/91, de 8 de Fevereiro,que define medicamento como ”toda a substância ou composiçãoque possua propriedades curativas ou preventivas das doenças e dosseus sintomas, do homem ou do animal, com vista a estabelecer umdiagnóstico médico ou a restaurar, corrigir ou modificar as suas fun-ções orgânicas”.

Sustenta o senhor Juiz a quo que tal não é exacto, pois que oarto 4o, no 1, do mesmo diploma exige a autorização do Ministroda Saúde para que os medicamentos possam ser introduzidos no mer-cado. Donde resulta que um produto só pode ser considerado me-dicamento quando como tal for reconhecido pela Direcção-Geral deSaúde, ”com a subsequente autorização do Ministro da Saúde”, so-lução, aliás, de acordo com o que já dispunha o arto 1o do Decretono 41 448, de 18.12.57, e o arto 2o do Decreto no 19 331, de 6.2.31(o diploma é, aliás, de 10.2.31).

Mas sem razão.Com efeito, e como bem salienta o Exmo Magistrado do Mo Po,

o arto 4o do DL no 72/91 diz respeito à introdução de medicamentosno mercado. A autorização aí prescrita tem a ver apenas com a au-torização de introdução no mercado. A noção de medicamento, essaé feita no arto 2o, alínea a), do citado Dec-Lei 72/91, e de nenhumpreceito deste diploma resulta que só possa ser qualificado comomedicamento um produto como tal considerado pela DGAF e peloministro da Saúde.

O mesmo, de resto, acontecia com os diplomas invocados peloMmo Juiz na sentença recorrida.

Tanto bastava para a procedência da impugnação e por isso a sen-tença não pode manter-se.

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Termos em que se acorda em conceder provimento ao recursoe anular a liquidação impugnada.

Sem custas, por delas haver isenção.

Lisboa, 11 de Janeiro de 1995. — José de Jesus Costa (rela-tor) — Francisco Rodrigues Pardal — Ernâni Marques da Silva Fi-gueiredo. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 11 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Produtos compensadores. Direitos niveladores.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — Produtos compensadores são todos os produtos resultan-tes de operação de aperfeiçoamento activo e podem serprincipais e secundários.

2 — No caso de importação em Portugal de mercadoria depaíses terceiros à C.E.E., no regime de aperfeiçoamentoactivo, com suspensão de direitos, há lugar ao pagamentode direitos niveladores compensadores em relação aosprodutos compensadores principais após a sua exportaçãopara os Estados membros.

3 — Quando os produtos compensadores secundários são in-troduzidos em livre prática em Portugal não estão sujeitosa direitos niveladores compensadores mas, sim, a tribu-tação própria prevista no art. no 1, a), do REG (CEE)1999/85, de 16.VII.

Recurso n.o 17.938; Recorrente: Fábricas Vasco da Gama — Indús-trias Transformadoras, S.A.; Recorrida: Fazenda Pública. Relator:o Exmo. Conso Dr. Mendes Pimentel.

Acordam, em conferência, na 2.a Secção do Supremo TribunalAdministrativo:

Fábricas Vasco da Gama — Indústrias Transformadoras, S.A., comsede na Rua Sousa Aroso, 685, Matosinhos, inconformada com asentença do Tribunal Fiscal Aduaneiro do Porto que julgou impro-cedente o seu recurso de anulação do registo de liquidação de receitatributária aduaneira praticado na Declaração no 33 467, de 09/12/1991,pela Delegação Aduaneira de Leixões da Alfândega do Porto, em21/09/1993, vem até nós, concluindo a sua alegação como segue:

«1. A recorrente exportou toda a mercadoria que se havia obrigadoa exportar nos termos da autorização de importação de peixe noregime de aperfeiçoamento activo;

2. Os detritos de peixe, cuja percentagem em relação ao total im-portado foi desde logo fixada na citada autorização, destinaram-se,como aí havia ficado definido, à farinação. Assim,

3. Não foram tais detritos exportados, sendo óbvio, também que,pela sua própria natureza, não entraram na fabricação das conservas.Ora,

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4. Porque não foram exportados, nem, evidentemente, entraramna fabricação das conservas, não podem os detritos de peixe ser qua-lificados como produtos compensadores e, portanto,

5. Não pode sobre eles incidir o pagamento de direitos niveladorescompensadores.

Sem prescindir, e quando assim se não entenda,6. Os direitos niveladores compensadores têm de ser calculados

sobre o valor de tais detritos, o qual e muito simplesmente, resultada multiplicação do seu peso total (fixado percentualmente na au-torização do regime) pelo preço de venda por quilo para a farinação.

7. Assim não decidindo, a douta sentença em apreço, aliás comoa liquidação de receita tributária impugnada, violou o disposto nosartos 11 do REG (CEE) 1999/85, de 16.7, os artos 4 e 5 do REG (CEE)526/86, de 28.2 e 60 do REG (CEE) 2228/91, de 26.6, donde,

8. Dever ser anulada contenciosamente e substituída por outra ondese decida que os detritos de peixe não constituem produtos com-pensadores, ou, quando assim se não entenda, que,

9. O valor aduaneiro dos detritos de peixe não pode ser senãoo valor da sua entrada em consumo, este constituído pelo produtoresultante da quantidade percentual fixada na autorização do regime,e considera a importação efectivamente efectuada, vezes o preço doquilo da venda para a farinação.

10. Mas sempre que não é possível a aplicação simultânea de direitosniveladores compensadores (pela exportação) e IVA pela entrada emconsumo.»

A contra-alegação do Exmo Representante da Fazenda Públicaremata com as seguintes conclusões:

«1a Nas suas alegações a recorrente não atacou directamente asentença ”a quo”.

2a Mantém-se, por isso, intacta toda a fundamentação da doutasentença recorrida, a qual já apreciou e demonstrou serem impro-cedentes os argumentos da recorrente agora simplesmente reeditadosnas alegações.

3a Uma vez que ao Tribunal ”ad quem” cabe, apenas, apreciara matéria de direito, a recorrente deveria ter-se cingido à matériade facto dada provada na sentença ”a quo”.

4a Em vez disso, enuncia vários juízos imprecisos e errados, queapresenta como factos provados e nos quais baseia as suas conclusõesde direito.

5a Os detritos, agora desperdícios, de peixe resultantes de operaçõesde aperfeiçoamento activo são produtos compensadores ‹alínea i) dono 3 do artigo 1o do Regulamento (CEE) no 1999/85, do Conselho,e no de ordem 13 do Anexo VII do Regulamento (CEE) no 2228/91,da Comissão›.

6a As mercadorias importadas de países terceiros, sendo sujeitasem Portugal ao regime de aperfeiçoamento activo, sob o sistema sus-pensivo de pagamento de direitos e expedidas sob a forma de produtoscompensadores para um Estado-membro com o benefício do regimecomunitário, são sujeitas ao pagamento de direitos niveladorescompensadores.

7a Os detritos, agora desperdícios, de peixe a que se referem osautos não foram expedidos para outro país da Comunidade, peloque, em relação a esses produtos compensadores não foram pagosquaisquer direitos niveladores compensadores.

8a O valor de tais detritos foi tomado em consideração apenasna formula de cálculo dos direitos niveladores compensadores pagos

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pela mercadoria de importação exportada (melhor, expedida), soba forma de sardinha de conserva (produto compensador principal).

9a O cálculo dos direitos niveladores compensadores foi correc-tamente efectuado com base no método da chave do valor (no 2do artigo 5o do Regulamento 526/86 e artigo 59o do Regulamento3677/86 e 60o do Regulamento 2228/91, que substituiu o anterior),como se mostra na douta sentença sob recurso.

10a Consequentemente, esta fez correcta interpretação e aplicaçãodas normas comunitárias, pelo que não merece censura.»

O Exmo. Procurador-Geral Adjunto é de parecer que o recursonão merece provimento.

Corridos os vistos legais, cumpre decidir.A instância desenhou o seguinte quadro factual:a) A impugnante dedica-se ao fabrico e comercialização de con-

servas de peixe;b) A impugnante formulou, em 6/12/91, um pedido de importação

de sardinha inteira congelada no regime suspensivo de aperfeiçoa-mento activo, com o peso líquido de 1 000 000 Kgs., no valor de43 355 670$00, proveniente da U.R.S.S. — Mar Alto;

c) No pedido referido em b), ficou expresso que após as operaçõesde transformação adequadas à fabricação de sardinha, sem pele esem espinhas em azeite ou óleo, haveria um aproveitamento de 30 %(destinado totalmente à exportação) e desperdícios de 70 % (des-tinados à farinha de peixe, ao preço de 5$00/KG.).

d) Tal pedido foi autorizado em 6/12/91, sem quaisquer alteraçõesàs condições de utilização do regime proposto e solicitado pelaimpugnante;

e) Em consequência, procedeu a impugnante à declaração adua-neira conducente à importação, sob o regime autorizado, de327 600 Kgs. da mercadoria respectiva — Declaração 33ƒ467, de9/12/91 - Leixões;

f) Dentro do prazo concedido, procedeu a impugnante à fabricaçãoe exportação de toda a mercadoria, pagando os direitos niveladorescompensadores;

g) De seguida, a impugnante apresentou, em 2/9/93, a ficha paraapuramento do regime de aperfeiçoamento activo, onde constam adeclaração de exportação, suas datas e respectivos pesos;

h) Na folha 2 da declaração de importação, foi proferida informaçãono sentido que:

”Mercadoria parcialmente exportada. Liquide-se o DU nos prazosregulamentares, atendendo porém aos seguintes pontos:

1 — Deverão ser liquidadas imposições relativas a 229 320 kgs dedetritos de peixe com o valor aduaneiro de 1 146 600$00, dado queos detritos de peixe representam um produto compensador secundário;

2 — São devidos direitos niveladores compensadores no montantede esc. 1 539 580$00”

i) O valor referido em h) veio a ser o constante da liquidaçãoaduaneira tributária processada no I.L..

Estes os factos assentes.A questão de direito que nos é posta traduz-se em saber se a

liquidação aduaneira constante do IL de fls. 16 foi correctamenteefectuada.

A recorrente sustenta que os detritos de peixe não podem ser qua-lificados como produtos compensadores e, portanto, não pode sobreeles incidir o pagamento de direitos niveladores compensadores.

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Vejamos.Os autos mostram que se está perante uma r a a.Este regime foi instituído pelo Regulamento (CEE) n.o 1999/85,

de 16/VII.De acordo com o relatório deste diploma, o Regime de Aper-

feiçoamento Activo visa facilitar aos industriais da comunidade a im-portação de mercadorias de terceiros países, sem pagarem os direitosque seria devidos segundo a chamada Pauta Exterior Comum, ne-cessárias à fabricação de produtos que depois serão exportados.

Como este regime económico comunitário pretende-se atrair paraa comunidade ou manter nesta muitas actividades industriais, colo-cando ao seu alcance as matérias-primas que utilizam em condiçõesidênticas às das empresas de terceiros países.

O regime pode ser concedido com suspensão do pagamento dedireitos ou com reembolso de direitos pagos aquando da importaçãodas matérias-primas — cfr., respectivamente, os artigos 1.o, alíneas n)e p), e 16o e segs., e 23o e segs.

Da transformação das mercadorias submetidas ao r. a. a. resultamprodutos compensadores. Estes são produtos resultantes de operaçõesde aperfeiçoamento — artigo 1o, no 3, alínea i) do referido Re-gulamento.

Nos termos do disposto no artigo 1o, n.os 1, 2 e 3, do Regulamento(CEE) no 2228/91, de 26/VI, os produtos compensadores podem serprincipais ou secundários. Os primeiros são aqueles para cuja obtençãofoi autorizado o regime de aperfeiçoamento activo. Produtos com-pensadores secundários são os produtos compensadores diferentesdos principais, necessariamente resultantes da operação de aperfei-çoamento activo.

Do que vem de expor-se resulta que, no caso dos autos, a sardinhaem conserva resultante da transformação do peixe congelado impor-tado é produto compensador principal, uma vez que foi para suaobtenção que o r. a. a. foi concedido à ora Rct.

De outra banda, indubitável é que os detritos (ou desperdícios)do mesmo peixe são produtos compensadores secundários.

Aliás, claramente aponta neste sentido o no 13 do Anexo «II doRegulamento no 2228/85 ao expressamente estipular que são produtoscompensadores, resultantes de ”quaisquer operações ou transforma-ções ” — cfr. coluna 4a do Anexo VII - os ”desperdícios de pei-xe“ — De resto, estes produtos figuravam já, sob a designação de” detritos de peixe”, no no 12 do Anexo VII do Regulamento (CEE)no 3677/86, de 24/XI.

Temos, pois, que os desperdícios ou detritos de peixe são qua-lificados pela legislação comunitária como produtos compensadoressecundários.

Mas daqui não se segue que os ditos desperdícios estejam sujeitosa directos niveladores compensadores, pois estes apenas se aplicamàs mercadorias de importação entradas no fabrico dos produtos com-pensadores expedidos de um Estado-membro para outro com o be-nefício do regime comunitário ( cfr. artigos 1o, 4o e 5o do Regulamento(CEE) no 526/86, de 28/II).

Na verdade, após a exportação dos produtos para cuja obtençãoo r. a. a. foi concedido, devem ser pagos direitos niveladores com-pensadores quando as matérias-primas importadas para transformaçãonão foram sujeitas aos direitos aduaneiros previstos na Pauta ExteriorComum ( PAC ) e a encargos de efeito equivalente.

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Desta sorte, os direitos niveladores compensadores visam compen-sar os efeitos da aplicação de um regime (transitório, uma vez quePortugal, aquando da adesão à CEE, não ficou logo submetido àobrigatoriedade do pagamento dos direitos previstos na PAC) queimplica a suspensão ou o reembolso dos direitos aduaneiros ou deoutras imposições sobre a importação, ao contrário do que sucedenos restantes países comunitários.

Do que vem de dizer-se decorre que no caso de os produtos com-pensadores, principais ou secundários, serem introduzidos em livreprática em Portugal não estão sujeitos a direitos niveladores com-pensadores, antes a tributação própria (artigos 20o e 21o do Regu-lamento (CEE) no 1999/85.

Como assim, porque os detritos de peixe em causa não foram ex-pedidos para outro país da Comunidade, sobre eles não incidiramquaisquer direitos niveladores compensadores, ao contrário do quea Rct. alega. O que sobre eles incidiu foram as imposições previstasno artigo 21o, no 1, alínea a), primeiro travessão, do Regulamen-to (CEE) no 1999/85. Trata-se das imposições devidas pela introduçãono consumo interno de mercadorias importadas e não reexporta-das — v. Anexo VII do Regulamento de Execução no 2228/91, quecontém a ”Lista dos produtos compensadores a que pode ser aplicadaa tributação própria prevista no primeiro travessão da alínea a) dono 1 do artigo 21o do Regulamento de Base”, entre os quais, repete-se,figuram os detritos de peixe.

Da análise dos documentos de fls. 14 e 16 — juntos pela própriaRct, — sem esforço se alcança que foram liquidados DNCs (sobreos produtos reexportados), IVA (sobre os detritos), imposto de seloe impresso.

Não tendo, pois, a ora Rct. pago quaisquer direitos niveladorescompensadores relativamente aos detritos ou desperdícios de peixe,mas, tão-só, IVA, patente é o infundado do pressuposto dos itens4 e 5 das suas conclusões.

E é chegada a altura de nos debruçarmos sobre a questão do valordas mercadorias.

Não há que apreciar o decidido no aresto recorrido quanto aovalor dos produtos compensadores principais, considerando aplicávelo método da chave valor, pela simples razão de que isto não foialvo de ataque quer na alegação quer nas conclusões do presenterecurso. Aí, apenas se equaciona o cálculo do valor dos detritos depeixe, defendendo-se que este ”não pode ser senão o valor da suaentrada em consumo, sendo este constituído pelo produto resultanteda quantidade percentual fixada na autorização do regime, e con-siderada a importação efectivamente efectuada, vezes o preço do quiloda venda para a farinação”

Sucede que, em relação aos detritos de peixe, não há, para finsaduaneiros, que lançar mão de qualquer método de determinaçãodo respectivo valor. Há, muito simplesmente, que aplicar uma per-centagem ao valor global dos detritos de peixe.

Da análise dos autos (v. arts. 59o e 60o da p.i., docs. de fls. 11-12,13, 14, 15 e 21) verifica-se que dos 327 600 kgs. de sardinha congeladaimportada resultaram 229 320 kgs. de desperdícios (70 %) vendidosà Soc. Prod. de Óleos e Farinhas de Peixe ao preço de 5$00/kg. Ora,foi sobre o montante assim obtido — 1 146 600$00 — que precisa-mente se fez incidir a taxa de IVA de 16 % (cfr., doc. de fls. 16-IL).Neste ponto, não há, também, reparo algum a fazer à impugnadaliquidação.

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Consequentemente, improcedendo, em toda a linha, a tese da re-corrente, de manter é a sentença recorrida e, com ela, a liquidaçãoem causa. Vide, neste sentido, o Acórdão desta Secção de 2/II/1994,recurso no 16 719, que seguimos de perto, quando não transcrevemos.

Nestes termos, acordam em negar provimento ao recurso, con-firmando a sentença recorrida.

Custas pela recorrente, fixando-se a procuradoria em 70 %.

Lisboa, 11 de Janeiro de 1995. — Luís Filipe Mendes Pimentel (re-lator) — Júlio Ferreira Tormenta — José de Jesus Costa. — Fui pre-sente, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

Acórdão de 11 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Recurso dos tribunais fiscais aduaneiros. Questão de facto.Incompetência.

Doutrina que dimana da decisão:

Incluída no objecto de recurso questão-de-facto, para o co-nhecimento daquele é este Tribunal incompetente em razãoda hierarquia, sendo então competente o Tribunal Tributáriode 2.a Instância.

Recurso n.o 18 055. Recorrente: Ministério Público e Carlos José An-tas da Cunha; Recorrido: Director da Alfândega de Lisboa; Relator:Exmo. Consº. Dr. Ernâni Figueiredo.

Acordam na 2.a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

Inconformado com a sentença do Tribunal Fiscal Aduaneiro deLisboa que alterou a decisão administrativa que havia imposto a CarlosJosé Antas da Cunha a coima de 4 000 000$00 por infracção punívelno art. 35o/2/g) do RJIFA, condenando o arguido pela mesma in-fracção na coima de 500 000$00, veio o digno representante do MoPo

recorrer para o TT 2a, concluindo a sustentar que:— nos dias 19 e 20 de Outubro de 1989, através dos seus repre-

sentantes, sem proceder ao desembaraço aduaneiro, contra ordensexpressas dos funcionários da Alfândega, e sob coacção ao funcionárioCardoso, retirou dos depósitos afiançados na Quimatex, no Barreiro,as quantidades de gasóleo discriminadas no auto de notícia, a quecorrespondem os direitos aduaneiros na nota de fls. 9;

— a declaração de direitos foi feita a posteriori, mas, mesmo assim,o arguido não procedeu ao pagamento atempado dos direitos;

— a infracção praticada pelo arguido através dos seus represen-tantes e que nela comparticipou activamente ao não proceder aopagamento dos direitos, é muito grave porque violou normas atinentesao desembaraço aduaneiro e se atrasou o pagamento dos direitos,perturbando os serviços alfandegários, foi voluntária e consciente,reflectindo elevado grau de ilicitude e dolo intenso;

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— o Mmo juiz não atendeu às circunstâncias que rodearam a práticado facto, nomeadamente ao elevado grau de ilicitude, ao dolo intenso,à situação económica do arguido, ao lucro alcançado com a con-tra-ordenação e às prevenções geral e especial do descaminho dedireitos, mostrando-se incompleta e incorrecta a fundamentação dadecisão recorrida.

A sentença teria infringido os arts. 6o/1, 17o/1 e 2, 35o/1 e 2/g)do RJIFA, 32o do DL 433/82, 72o do CPenal, 208o/1 da CR e 97o/4,374o/2, o que constitui nulidade de 379o/a), do CPPenal.

O arguido contra-alegou e recorreu da decisão para este tribunal,invocando nulidade do auto de notícia, insubsumibilidade dos factosno art. 41o do DL 31 644, de 22.11.41, mas tão-só na transgressãodo art. 50o/§1o do Contencioso Aduaneiro, a amnistia do art. 1o/j)do DL 23/91, de 4.7, a ilegitimidade da ordem do Director da Al-fândega de Lisboa de proibir o arguido de retirar gasóleo do tamborreferido nos autos e a sua não intervenção directa nos factos, nemo seu instigamento doloso do empregado Ribeiro, pelo que não seriaautor dos factos da infracção e devia ter sido absolvido da acusação.

Perante a dualidade de recursos, dirigidos a tribunais diferentes,foram os autos remetidos ao Tribunal Tributário de 2a Instância, quese pronunciou, quanto ao recurso interposto pelo MoPo para essetribunal, pela incompetência do tribunal em razão da hierarquia epela competência deste tribunal, visto o mesmo envolver matéria ex-clusivamente de direito.

Em razão da tal indicação, vieram os autos remetidos a este tribunal,ao qual se impõe a apreciação do recurso interposto pelo MoPo, por-quanto foi em razão da indicação de competência do TT2a que oprocesso veio enviado.

Apreciando, aproposita-se, previamente ao conhecimento das ques-tões suscitadas no recurso, a da competência deste tribunal, face aospreceitos que a reservam para os recursos que venham fundamentadosexclusivamente em matéria de direito (arts. 33/1,/a) e 21o/4 do ETAF,e da qual se conhece oficiosamente (art. 3o da LPTA).

Na verdade, logo na conclusão 1a, que sintetiza as afirmações daalegação IV, o Rte MoPo invoca que o arguido age ”sob coacçãoao funcionário Cardoso”, referindo-se a acções do ”representante doarguido” e ao ”motorista não identificado” que ”ameaçaram o fun-cionário Cardoso em exercício de funções no local”.

Na conclusão 2a aduz que ”o arguido não procedeu ao pagamentoatempado dos direitos”, o que pretende provar por documentos queidentifica.

Tais acções são determinações da realidade, são do domínio dosfactos e propõem-se para conhecimento no recurso, na medida emque as mesmas não figuram no elenco do probatório da sentençarecorrida.

E a sua invocação pretende justificar o alegado ”dolo intenso im-posto na execução” do facto ilícito resultante da conduta do arguidoe seus representantes e o ”elevado grau de ilicitude do facto”.

Quanto ao ponto, embora se não tivesse questionado a factualidadefixada na decisão, através de invocados erros de facto em que aquelahouvesse incorrido, sempre se alinharam afirmações que se preten-diam atendíveis na formação da situação individual de facto a in-teressar o sentido jurídico que se intentava fazer vingar no recurso,o que é suficiente para que se veja instalada no âmbito do objectodaquela controvérsia a envolver matéria de facto.

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O que basta para que se considere que o recurso interposto peloMoPo não tem como exclusivo fundamento matéria de direito, mastambém inclui matéria de facto, pelo que este tribunal é incompetentepara o seu conhecimento, nos termos dos arts. 33o/1/b) e 42o/1/a)do ETAF, sendo para o mesmo competente o Tribunal Tributáriode 2a Instância.

Termos em que se decide julgar este tribunal incompetente emrazão da hierarquia para conhecer do recurso interposto pelo MoPo

Para que fique preservada a ordem de conhecimento dos recursos(do MoPo e do arguido) estabelecida nos autos, e com a qual seconcorda, é de sobrestar no conhecimento do recurso do arguido,dirigido a este tribunal, até que o recurso do MoPo alcance decisãodefinitiva (analogia com a situação de pendência de causa prejudicial— arts. 279o/1 e 284o/1/c) do CPCivil).

Sem custas.

Lisboa, 11 de Janeiro de 1995. — Ernâni Marques da Silva Figuei-redo (relator) — João José Coelho Dias — Luís Filipe Mendes Pi-mentel.

Acórdão de 18 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Custas. Recurso contencioso. Acórdão condenatório. Extinçãoda instância por inutilidade superveniente da lide. Âmbitode aplicação do art. 447.o do CPC.

Doutrina que dimana da decisão:

I — Se a interposição de recurso contencioso e do subsequenterecurso de decisão jurisdicional que rejeitou o primeiro,por irrecorribilidade do acto, ficou a dever-se exclusiva-mente a erro da Administração, não deve a recorrentepagar as custas em que fora condenada por aquela de-cisão, de acordo com o art. 447.o do CPC quando porinutilidade superveniente da lide for julgada extinta ainstância.

II — É que se a instância se inicia com a proposição da acção(art. 267.o do CPC), ou com a apresentação da petiçãoda interposição do recurso contencioso (art. 35.o daLPTA), os efeitos jurídicos da extinção da instância re-portam-se, a todo o processado, a partir da petição.

Recurso n.o 13 062. Recorrente: Armazéns da Matinha, Lda; Recor-rido: Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais; Relator: Juiz Con-selheiro Dr. Abílio Bordalo.

Acordam na 2.a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

Armazéns da Matinha, L.da, recorrente identificada nos autos, no-tificada do despacho de fls. 95, veio deste reclamar para a conferência,requerendo que nos termos do art. 9.o n.o 2 da LPTA (e não do

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ETAF como por lapso se referiu) seja apreciado o decidido na 2.a partedo referido despacho com os seguintes fundamentos:

1.o — Foi entendido manter a condenação em custas constante doacórdão de que se recorrera para o Pleno da Secção por só depoisda sua prolação ter a ora recorrente dado conhecimento a esse Su-premo Tribunal do facto que determinou a inutilidade supervenienteda lide.

2.o — O que é exacto, mas não lhe é de forma alguma imputável.3.o — O mencionado acórdão foi notificado por carta registada de

24/1/92 e a devolução de que se deu conta no requerimento de 20/2/92fora comunicada à empresa por ofício de 7/2/92.

4.o — Era pois impossível à ora requerente ter-se antecipado à pro-lação do acórdão.

5.o — Em contrapartida, deveria a entidade recorrida, ela sim hámuito mais tempo, ter comunicado o facto a esse Supremo Tribunal.

6.o — Conseguiu efectivamente o ora recorrente apurar que o ques-tionado processo de cobrança (com o n.o 1429/88) havia, pura e sim-plesmente, sido instaurado por engano.

7.o — Isto apesar de nunca ter sido respondido o pedido de cer-tificação que logo dirigiu a tal entidade (doc. n.o 1).

8.o — Veio porém ao seu conhecimento que tal engano foi de-tectado em inspecção efectuada pela Inspecção-Geral de Finançase consignado no respectivo relatório, datado de 31/7/91.

9.o — Junta, daquele relatório, a respectiva capa e a pág. 46 (doc.n.o 2) onde vem explicado o engano e proposto o reembolso queveio a ocorrer após a mencionada comunicação de 7/2/92.

10.o — Foi pois a entidade recorrida que deu azo a actividade doTribunal que afinal era desnecessária, já sem falar nas despesas eprejuízos que pelo mesmo motivo ocasionou à ora requerente.

11.o — Afigura-se assim não dever ser exigido qualquer pagamentode custas à ora requerente, tanto mais que a constatada inutilidadeda lide, verificada supervenientemente, é certo, era em bom rigororiginária.

12.o — Assim se requerendo a correspondente alteração da decisãoproferida sobre custas.

Notificada para responder, a Autoridade recorrida nada disse.O Ex.mo Procurador-Geral Adjunto concorda com a posição da

reclamante atento o preceituado no art. 447.o do Código de ProcessoCivil.

Colhidos os vistos legais cumpre decidir.Para apreciar a pretensão da reclamante, considera-se pertinente

dar como apurada a seguinte factualidade:1 — Em 18/10/90 a ora reclamante interpôs recurso contencioso

de anulação do despacho do Senhor Secretário de Estado dos AssuntosFiscais que indeferiu um pedido que tinha dirigido ao Senhor Directordas Alfândegas para que esta entidade revogasse uma decisão quelhe fora notificada e segundo a qual devia efectuar o pagamentode determinada importância, referente ao Bilhete de Despacho deImportação n.o 46613/81 da Delegação Aduaneira do Jardim doTabaco.

2 — Após os trâmites legais foi proferido Acórdão por este STAem 22/1/92 que rejeitou o recurso contencioso por o acto recorridose configurar como meramente confirmativo do anterior do SenhorChefe de Serviço de Despacho, nada inovando na ordem jurídica.

3 — Em consequência da rejeição do recurso foi a recorrente, orareclamante, pelo mesmo acórdão condenada em custas «fixando-se

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a taxa de justiça e a procuradoria em, respectivamente, 50.000$00 e50%».

4 — Inconformada com o referido Acórdão, a recorrente interpôsrecurso para o Pleno da Secção.

5 — Sem que tivesse sido admitido o recurso, veio a recorrennte,através da peça de fls. 87, trazer ao conhecimento do Tribunal quepor força do despacho da entendidade recorrida, referido no ofícioda Alfândega de Lisboa de 7/2/92 lhe foi devolvida a importânciaque havia sido liquidado, exigida pelo despacho recorrido.

6 — Na sequência do despacho de fl. 91, foi a recorrente notificadapara vir esclarecer se mantém ou não o requerimento de fls. 81 emque expressa a vontade de recorrer para o Pleno da Secção.

7 — Em cumprimento daquele despacho, em 14/4/92 veio a recor-rente dizer que após a interposição do recurso para o Pleno da Secção,verificou-se a devolução, pelos serviços da entidade recorrida, da im-portância cuja cobrança se questionava nos autos e que, por issose lhe afigurava que se «verificará a inutilidade superveniente da lide».

8 — Em 1/6/92 o Ex.mo Relator proferiu o despacho de fls. 95,ora reclamado, que julgou extinta a instância por inutilidade super-veniente da lide — alín. e) do art. 287.o do CPC.

Segundo o mesmo despacho, «a condenação em custas mantém-sedado que a recorrente deu conhecimento do facto determinativo da ex-tinção após a prolação do Acórdão».

Importa, antes do mais, definir e delimitar o âmbito da reclamação.Como se vê, o despacho reclamado (fls. 95) consta de dois pa-

rágrafos ou, se preferirmos, de duas partes distintas:Diz a primeira: «Por pura questão de economia processual e dado

que à recorrente já foi devolvida a quantia em causa, julgo extinta ainstância por inutilidade superveniente da lide — alín. e) do art. 287.odo Código de Proc. Civil».

Na segunda consta textualmente: «Todavia, a condenação em custasmantém-se dado que a recorrente deu conhecimento do facto deter-minativo da extinção após a prolação do acórdão».

Resulta claramente do anteriormente exposto que a reclamaçãoé dirigida apenas contra a segunda parte e que tem a ver, comoé óbvio, com a manutenção da condenação em custas.

Decorre também dos autos que subjacente ao acto recorrido existiaum acto de liquidação de receitas tributárias aduaneiras inserido numprocesso de cobrança.

Só posteriormente à prolação do Acórdão que rejeitou o recursopor irrecorribilidade do acto, veio a Administração Fiscal a reconhecerque o referido processo de cobrança foi instaurado por engano peloque ordenou o reembolso à recorrente da respectiva importância.

Significa que a interposição do recurso contencioso bem como dorecurso de decisão jurisdicional ficou a dever-se exclusivamente aerro da Administração, razão a que é totalmente alheia a recor-rente/reclamante.

A questão que se coloca é, pois, a de saber se a reclamante devepagar as custas em que foi condenada pelo Acórdão de que foi in-terposto recurso e não transitado em julgado.

Estabelece o n.o 1 do art. 447.o do CPC que quando a instânciase extinguir por impossibilidade ou inutilidade da lide, as custas ficama cargo do autor, salvo se a impossibilidade ou inutilidade resultarde facto imputável ao réu, que nesse caso as pagará.

Dado que o despacho reclamado julgou extinta a instância porinutilidade superveniente da lide ao abrigo da alín. e) do art. 287.o

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do CPC, a situação do caso concreto logra enquadramento na ressalvado referido n.o 1 do art. 447o.

Ou seja, provando-se, como se prova que a inutilidade supervenienteda lide resulta de facto imputável à Administração, tem-se como certoe seguro de que não deve a recorrente ser tributada em custas.

Tal como sucede no processo civil (art. 267.o do CPC) em quea instância se inicia pela proposição da acção e esta se consideraproposta, intentada ou pendente, logo que seja recebida na secretariaa respectiva petição inicial, também no âmbito do contencioso deanulação, a instância tem início com a apresentação da petição dainterposição de recurso (art. 35.o da LPTA).

E porque o Acórdão recorrido não havia transitado quando daprolação do douto despacho reclamado, entende-se que os efeitosjurídicos da extinção da instância que ficou a dever-se como se viu,exclusivamente e na totalidade à conduta errónea da AdministraçãoFiscal Aduaneira.

Não cabe, em suma, à recorrente suportar o encargo das custas.Termos em que se acorda em deferir a reclamação, assim se re-

vogando a segunda parte do despacho reclamado, ficando sem efeitoa tributação em custas constantes do Acórdão recorrido.

Sem custas.

Lisboa, 18 de Janeiro de 1995. — Abílio Bordalo (relator) — JúlioFerreira Tormenta — José Jesus Costa. — Fui presente, António Mo-ta Salgado.

Acórdão de 18 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Contencioso aduaneiro. Regime de aperfeiçoamento activo.Produtos compensadores. Direitos niveladores compensa-dores. Introdução no mercado interno dos produtos com-pensadores secundários. Detritos de peixe.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — Produtos compensadores são todos os produtos resultan-tes de operação de aperfeiçoamento activo e podem serprincipais e secundários.

2 — No caso de importação em Portugal de mercadorias depaíses terceiros à CEE, no regime de aperfeiçoamentoactivo, com suspensão de direitos, há lugar ao pagamentode direitos niveladores compensadores em relação aosprodutos compensadores principais após a sua exportaçãopara os Estados-membros.

3 — Quando os produtos compensadores secundários são in-troduzidos em livre prática em Portugal não estão sujeitosa direitos niveladores compensadores mas sim a tribu-tação própria prevista no art. 21, no 1, alínea a), doReg. (CEE) 1999/85, de 16.7.

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4 — O valor aduaneiro dos detritos de peixe é fixado nas con-dições de importação e é igual a 50 % da percentagematribuída.

Recurso n.o 17.937 em que é recorrente Fabricas Vasco da Ga-ma — Industrias Transformadoras S.A. e recorrida a Fazenda Pú-blica e de que foi Relator o Exmo Conso Dr. Rodrigues Pardal.

Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

Fábricas Vasco da Gama - Indústrias Transformadoras, SA, c.f.500105545, com sede na Rua Sousa Aroso, 685, Matosinhos, veioimpugnar a liquidação praticada na Declaração S 12943 de 27.7.89pela (Sede) Alfândega do Porto, nos termos e fundamentos seguintes:

A impugnante dedica-se além do mais ao fabrico e comercializaçãode conservas de peixe.

Pretendendo importar cavala congelada no regime suspensivo deaperfeiçoamento activo, formulou o respectivo pedido, nele ficandoexpresso que após as operações de transformação adequadas de con-servas de filetes de cavala, sem pele e sem espinha, em azeite ouóleo, haveria um aproveitamento de 30 % (destinado totalmente àexportação) e desperdícios de 70 %, sendo 50 % recuperáveis e estesao preço de 5$ para o fabrico de farinha de peixe e 20 % irrecuperáveis.

Tal pedido foi autorizado, sem quaisquer alterações às condiçõesde utilização do regime proposto e solicitado pela impugnante.

Dentro do prazo concedido, procedeu à fabricação e exportaçãode toda a mercadoria, pagando os respectivos direitos niveladorescompensadores.

Em seguida apresentou a ficha para apuramento de regime deaperfeiçoamento activo (r a a), na qual foi proferida a informaçãode que seriam pagos direitos niveladores compensadores no montante310.487$ e relativamente a 301.560.kgs de detritos de peixe com ovalor aduaneiro de 1507.800$, dado que estes representam um produtocompensador secundário ao qual pode ser aplicada a tributação pró-pria prevista no no 1 da alínea a) do art. 21 do Reg. (CEE) 1999/85,em virtude de constarem da lista referente ao anexo VII do Reg.(CEE) 2228/91.

Foi este valor que veio a ser o constante da liquidação aduaneiratributária processado no IL.

A liquidação em apreço viola manifestamente a lei, porque os des-perdícios não são passíveis de direitos niveladores, por não poderemser considerados produtos compensadores, como sempre foi enten-dimento da Alfândega.

Tal liquidação viola não só o art. 11 do Reg. (CEE) 1999/85.Certo é que o valor de tal imposto está erradamente calculado,

pois foi utilizado o método de chave valor, só que erradamente.Os direitos de importação a aplicar, no caso dos autos, sejam os

existentes à data da sujeição da mercadoria ao r a a.No caso concreto, aos produtos em causa, nessa data, a taxa a

aplicar era zero.O digno representante da Fazenda Pública, na sua resposta, ma-

nifesta-se pela improcedência da impugnação.O distinto representante do Ministério Público é de parecer que

a impugnação não pode ser julgada procedente.

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O Mo Juiz do Tribunal Fiscal Aduaneiro do Porto julgou intei-ramente improcedente a impugnação por a liquidação impugnadanão enfermar de qualquer ilegalidade, pois:

- os detritos ou desperdícios de peixe são produtos compensadoressecundários, pelo que, tendo o peixe sido importado de país terceiroe o respectivo produto compensador principal sido exportado paraEstado-membro da CEE com o benefício do regime comunitário,deverá cobrar-se ao Estado-membro de fabrico (Portugal) um direitonivelador compensador sobre a mercadoria importada que foi con-siderada incorporada no respectivo produto compensador, como es-tatui o art. 4 do Reg. (CEE) 526/86, de 28.2.86.

- tendo em conta que o produto em causa (cavala congelada) deuorigem a dois tipos de mercadorias (filetes, por um lado, e de detritos,por outro), é aplicável ao caso o disposto no no 2 do art. 5 do citadoRegulamento, pelo que o método para calcular o valor da mercadoriaimportada para efeito de sobre ele incidir a respectiva tributaçãoé o chamado método de chave valor (art. 59 do citado Reg. (CEE)3677/86).

Assim, e para aplicação correcta do método em comum, haveráde calcular-se o valor de cada um dos produtos compensadores prin-cipais e secundários, incidindo sobre os primeiros direitos niveladorescompensadores (DNCs) e sobre os segundos tributação própria, con-forme determina a alínea a) do no 1 do art. 21 do Reg. (CEE) 1999/85,o que os Serviços da Alfândega fizeram.

Relativamente à violação do art. 13, no 1, da CRP, a impugnantenão fez qualquer prova de procedimento diverso adoptado, em hi-pótese, idênticas, em qualquer das Alfândegas.

De tudo resulta que a Alfândega do Porto não alterou qualquercláusula da autorização de aperfeiçoamento activo.

A impugnante, não se conformando com a sentença proferida, in-terpôs recurso para esta Secção de Contencioso Tributário, apresen-tando as conclusões seguintes:

«1) A recorrente (R) exportou toda a mercadoria que se haviaobrigado a exportar, nos termos da autorização de importação depeixe no r a a.

2) Os detritos de peixe, cuja percentagem em relação ao total im-portado foi desde logo fixada na citada autorização, destinaram-secomo aí havia ficado definido à farinação. Assim,

3) Não foram tais detritos exportados, sendo óbvio também que,pela sua própria natureza, não entraram na fabricação das conservas.Ora,

4) Porque não foram exportados, nem evidentemente, entraramna fabricação das conservas, não podem os detritos de peixe seremqualificados como produtos compensadores e, portanto,

5) Não pode sobre eles incidir o pagamento de direitos niveladorescompensadores.

Sem prescindir, e quando assim se não entenda;6) Os direitos niveladores compensadores têm de ser calculados

sobre o valor de tais detritos, o qual e muito simplesmente, resultada multiplicação do seu peso total (fixado percentualmente na au-torização do regime), pelo preço de venda por quilo para a farinação.

7) Assim, não decidindo, a douta sentença em apreço, aliás comoa liquidação de receita tributária impugnada, violou o disposto nosarts. 11 do Reg (CEE) 1999/85, de 16.7, 4 e 5 do Reg (CEE) 526/86,de 28.2 e 60 do Reg (CEE) 2228/91, de 26.6, donde,

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8) Dever ser anulada contenciosamente e substituída por outra,onde se decida que os detritos de peixe não constituem produtoscompensadores, não estando pois sujeitos ao pagamento de direitosniveladores compensadores ou, quando assim se não entenda que,

9) O valor aduaneiro dos detritos de peixe não pode ser senãoo valor da sua entrada em consumo, este constituído pelo produtoresultante da quantidade percentual fixada na autorização do regime,e considerada a importação efectivamente efectuada, vezes o preçodo quilo da venda para a farinação.

10) Mas sempre que não é possível a aplicação simultânea de direitosniveladores compensadores (pela exportação) e IVA pela entrada emconsumo.»

O digno representante da Fazenda Pública contra-alegou, formu-lando as seguintes conclusões:

«1a Nas suas alegações a R não atacou directamente a sentençaa quo.

2a Mantém-se, por isso, intacta toda a fundamentação da doutasentença recorrida, a qual já apreciou e demonstrou serem impro-cedentes os argumentos da R, agora simplesmente reeditados nasalegações.

3a Uma vez que ao Venerando Tribunal ad quem cabe apenasapreciar a matéria de direito, a R deveria ter-se cingido à matériade facto dada como provada na sentença a quo.

4a Em vez disto, enuncia vários juízos imprecisos e errados, queapresenta como factos provados e nos quais baseia as suas conclusõesde direito.

5a Os detritos, agora, desperdícios, de peixe resultantes de operaçõesde aperfeiçoamento activo são produtos compensadores (alínea i) dono 3 do art. 1 do Reg. (CEE) 1999/85 e no de ordem de 13 doAnexo VII do Reg. (CEE) 2228/91).

6a As mercadorias importadas de países terceiros, sendo sujeitosem Portugal ao r a a, sob sistema suspensivo de pagamento de direitos,e expedidos sob a forma de produtos compensadores para um Es-tado-membro com o benefício do regime comunitário, são sujeitasao pagamento de direitos niveladores compensadores.

7a Os detritos, agora desperdícios, de peixe a que se referem osautos não foram expedidos para outro país da Comunidade, peloque, em relação a esses produtos compensadores, não foram pagosquaisquer direitos niveladores compensadores.

8a O valor de tais detritos foi tomado em consideração apenasna formula de cálculo dos direitos niveladores compensadores pagospela mercadoria de importação exportada (melhor expedida), sob aforma de filetes de cavala em conserva (produto compensadorprincipal).

9a O cálculo dos direitos niveladores compensadores foi correc-tamente efectuado com base no método da chave do valor (no 2do art. 5 do Reg (CEE) 526/85, e arts. 59 do Reg. 3677/86 e 60do Reg. 2228/91 que substituía o anterior) como se mostra na doutasentença sob recurso.

10a Consequentemente, esta fez correcta interpretação e aplicaçãodas normas comunitárias, pelo que não merece censura.»

O distinto representante do Ministério Público é de parecer queo recurso não merece provimento por não haver divergência entreo que fez a Administração aduaneira e a posição da R, não havendoliquidação de direitos niveladores sobre os detritos de peixe, masapenas tributação própria.

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Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.1. A sentença recorrida deu como provada a seguinte matéria de

factos:a) A impugnante dedica-se ao fabrico e comercialização de con-

servas de peixe.b) A impugnante formulou um pedido de importação de cavala

congelada, no regime suspensivo de aperfeiçoamento activo, com opeso líquido de 5.000.000Kgs, no valor de 313.228.000.p, provenienteda URSS-Mar Alto.

c) No pedido referido na alínea b) ficou expresso que após asoperações de transformação adequadas à fabricação de conservas defiletes de cavala, sem pele e sem espinha, em azeite ou óleo, haveriaum aproveitamento de 30 % (destinado totalmente à exportação) edesperdícios de 70 %, sendo 50 % recuperáveis destinados ao fabricode farinha de peixe ao preço 5000$ Kg. e 20 % irrecuperáveis.

d) Tal pedido foi autorizado, sem quaisquer alterações às condiçõesde utilização do regime, propostos e solicitados pela impugnante.

e) Em consequência, procedeu a impugnante à declaração adua-neira conducente à importação, sob o regime autorizado, de603120.Kgs. da mercadoria respectiva — Declaração S 12943, de27.7.89 (Sede).

f) Dentro do prazo concedido, procedeu a impugnante à fabricaçãoe exportação de toda a mercadoria, pagando os direitos niveladorescompensadores.

g) De seguida, a impugnante apresentou a ficha para apuramentodo r a a, onde constam a declaração de exportação, suas datas erespectivos pesos.

h) A Alfândega procedeu ao seguinte apuramento do regime:” A s m e r c a d o r i a s f o r a m p a r c i a l m e n t e e x p o r t a d a s

— CR/11154/90 —, devendo ser liquidados DNCs̀ no montante de3.190.487$.

Deverão ser pagas imposições relativamente a 301.560Kgs. dos de-tritos de peixe com o valor aduaneiro de 1507.800p. . .(doc no 4)”

i) O valor referido na alínea h) veio a ser o constante da liquidaçãoaduaneira tributária processada no IL.

2. As questões suscitadas pela R resumem-se a duas:- os detritos não foram exportados, nem, entraram na fabricação

das conservas, não podendo ser qualificados como produtos com-pensadores, não incidindo sobre eles direitos niveladores compen-sadores;

- o valor aduaneiro dos detritos de peixe não pode ser senão ovalor da sua entrada em consumo, sendo este constituído pelo produtoresultante da quantidade percentual fixada na autorização do regime,e considerada a importação efectivamente efectuada, vezes o preçodo quilo de venda para a farinação.

3. Mostram os autos que se está perante uma r a a.Este regime foi instituído pelo Reg (CEE) 1999/85, de 16.7.De acordo com o Relatório daquele Regulamento, o r a a é um

regime económico comunitário que visa facilitar aos industriais daComunidade a importação de mercadorias de terceiros países, sempagarem os direitos que seriam devidos segundo a chamada PautaExterior Comum, necessárias à fabricação de produtos que depoisseriam exportados.

Com este regime, pretende-se atrair para a Comunidade ou manternesta muitas actividades industriais, colocando ao seu alcance as ma-

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térias-primas que são utilizadas em condições idênticas às das em-presas de terceiros países.

O regime pode ser concedido com suspensão do pagamento dedireitos ou com o reembolso de direitos pagos a quando da importaçãodas mercadorias: cfr., respectivamente, os arts. 1, alíneas n) e p),e 16 e segts. e arts. 23 e segts.

Da transformação das mercadorias submetidas ao r a a resultamprodutos compensadores. Estes são produtos resultantes de operaçõesde aperfeiçoamento (art. 1, no 3, alínea i), do Reg. (CEE) 1999/85).

Nos termos do disposto no art. 1, nos 1, 2 e 3, do Reg. (CEE)2228/91, de 26.6, os produtos compensadores podem ser: produtoscompensadores principais - são os produtos para cuja obtenção foiautorizado o r a a; produtos compensadores secundários - são osprodutos compensadores diferentes dos produtos compensadores prin-cipais, necessariamente resultantes da operação de aperfeiçoamentoactivo.

Em face do exposto, resulta que, no caso dos autos os filetes decavala resultantes da transformação do peixe congelado importado,são produtos compensadores principais, uma vez que foi para a suaobtenção que o r a a foi concedido à R.

Por outro lado, não podem restar dúvidas de que os desperdíciosou detritos de peixes são produtos compensadores secundários.

Tudo isto é tutelado pelo Anexo VII, no 13 do Reg. 2228/85 aoestipular expressamente que são produtos compensadores: resultantesde quaisquer operações ou transformações (cfr. Anexo VII, coluna 4a)os desperdícios ou detritos de peixe, como, aliás, já figurava no no 12do Anexo VII do Reg. (CEE) 3677/86, de 24.11, anterior diplomade execução do Reg. (CEE) 1999/85.

Quer dizer: os desperdícios ou detritos de peixe são qualificadospela legislação comunitária como produtos compensadores secun-dários.

4. Note-se que os direitos niveladores compensadores só se aplicamàs mercadorias de importação quando, cumulativamente, entraramno fabrico de produtos compensadores e estes são expedidos de umEstado-membro para outro com o benefício comunitário (cfr. arts. 1,4 e 5 do Reg. (CEE) 526/86, de 28.2).

Refira-se que este Regulamento instituiu um regime transitórioresultante da adesão de Portugal e da Espanha à CEE, em cum-primento do disposto nos arts. 50, no 3, e 210, no 3, do Tratadode Adesão e do no 8 do Protocolo no 3, uma vez que estes doispaíses não ficaram logo submetidos à obrigatoriedade do pagamentodos direitos previstos na Pauta Exterior Comum (PAC).

O que a R pagou de direitos niveladores compensadores— 3.190.487$ — resultaram do facto de a mercadoria de importação(cavala congelada) originária de um país terceiro (no caso da URSS- Mar Alto) ser sujeito ao r a a — sistema suspensivo — em Portugal,e expedido sob a forma de produto compensador principal (filetesde cavala) para outro Estado-membro com o benefício do regimecomunitário (arts. 1 e 4 do Reg. (CEE) 526/86).

Estes direitos - direitos niveladores compensadores - visam com-pensar os efeitos da aplicação de um regime que implica a suspensãoou o reembolso dos direitos aduaneiros ou de outras imposições àimportação, ao contrário do que acontece com os restantes paísescomunitários - v. os considerandos 1o e 2o do citado Regulamento.

Se os produtos compensadores - quer os principais ou secundá-rios - são introduzidos em livre prática em Portugal não estão sujeitos

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a direitos niveladores compensadores mas sim a tributação própria(arts. 20 e 21 do Reg. (CEE) 1999/85).

5. De tudo isto resulta, ao contrário do que alega a R, não foramliquidados quaisquer direitos niveladores compensadores relativamen-te aos desperdícios ou detritos de peixe que foram introduzidos nalivre prática em Portugal e não expedidos para outro Estado-membro.

O que incidiu sobre os desperdícios ou detritos foram as imposiçõesprevistas no art. 21, no 1, alínea a), do Reg. (CEE) 1999/85. Trata-sedas imposições devidas pela introdução no consumo interno de mer-cadorias importadas e não reexportadas - v. Anexo VII do Reg. (CEE)2228/91 que contem a «lista dos produtos compensadores a que podeser aplicada a tributação própria prevista na alínea a) do no 1 doart. 21 do Regulamento base».

Da análise dos autos - ver IL (fls. 22) junta pela R - verifica-seque foram liquidados: imposto do selo, impresso, IVA e direitos ni-veladores compensadores. O IVA incide sobe os detritos e os DNCsatingem os produtos reexportados.

Aliás, esta afirmação está de acordo com a matéria de facto provada- v. supra no 1, alínea f) - onde se refere que a R, dentro do prazoconcedido, procedeu à fabricação e exportação de toda a mercadoria,pagando os direitos niveladores compensadores (v. doc. de fls. 41).

A R não pagou quaisquer direitos niveladores compensadores re-lativamente aos detritos ou desperdícios de peixe, mas sim IVA.

Em suma: os detritos são produtos compensadores secundários e,como entraram no consumo do País, ficaram sujeitos a IVA e nãoa DNCs.

6. O valor aduaneiro dos detritos de peixe - alega a R - não podeser senão o valor da sua entrada em consumo, sendo este constituídopelo produto resultante da quantidade percentual fixada na auto-rização do regime, e considerada a importação efectivamente efec-tuada, vezes o preço do quilo de venda para farinação.

Da análise dos autos - ver petição, art. 12 e docs. de fls. 21 e22 juntos pela R - verifica-se que havia um aproveitamento da mer-cadoria importada destinando-se 30 % a ser reexportada e 70 % dedesperdícios de peixe.

Desses 70 % de desperdícios, 50 % eram recuperáveis e eram ven-didos a 5$ o Kg. para o fabrico da farinha de peixe e outros 20 %eram irrecuperáveis.

Esses 50 % dos detritos de peixe - 301560Kgs - vendidos ao preçode 5$00 o Kg. tinham o valor aduaneiro de 1.507.800$.

Sobre este valor incidiu o IVA à taxa de 16 %, obtendo-se o mon-tante de 241.248$ (v. fls. 22).

Aliás do documento de fls. 30 junto pela R verifica-se que foramliquidadas imposições relativas a 301560Kgs. de detritos de peixe como valor aduaneiro de 1507800$ dado estes representarem um produtocompensador secundário ao qual é atribuída tributação própria a qualestá prevista no no 1, alínea a), do art. 21 do Reg. (CEE) 1999/85,em virtude de constarem da lista referente ao Anexo VII (cfr. Reg.(CEE) 2228/91).

Assim, não há que apreciar o decidido quanto ao valor dos produtoscompensadores principais pela sentença, considerando aplicável o mé-todo de chave valor (v. art. 5 do Reg (CEE) 526/86; arts. 17 e 18da Directiva 69/73, CEE, 52, 56 a 60 do Reg. (CEE) 3677/86, de24.11 e 53 e 57 a 61 do Reg. (CEE) 2228/91) pela razão simplesde a R a não ter atacado nas alegações e conclusões de recurso.

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A R apenas se refere ao valor aduaneiro dos detritos de peixe.E este, como já disse, não está sujeito a qualquer método de de-terminação do respectivo valor. Há que aplicar, simplesmente, umapercentagem ao valor global dos detritos de peixe.

7. Em seguimento do exposto, as conclusões alinhadas pela R nãoobtém qualquer provimento, pelo que a sentença recorrida não merececensura — ver, neste sentido, entre outros o acórdão de 2.2.94, recursono 16.719; e o acórdão de 9.2.94, recurso no 15.878; de 29-6-94, recursono 16.750 (que seguimos de perto, quando não transcrevemos).

Nestes termos, acordam em negar provimento ao recurso e, emconfirmar a sentença recorrida.

São devidas custas, fixando-se a procuradoria em setenta (70 %)por cento.

Lisboa, 18 de Janeiro de 1995. — Francisco Rodrigues Pardal (re-lator) — Júlio Ferreira Tormenta — José Jesus Costa. — Fui presen-te, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Interposição de recurso. Falta de procuração e de ratificaçãodo processado. Notificação da parte.

Doutrina que dimana da decisão:

I — Se a petição de recurso é subscrita por advogado semjunção de procuração forense aos autos, deve a recorrenteser notificada não só para juntar procuração como pararatificar o processado.

II — Não se cumpre o disposto no art. 40o do CPC se paraefeitos de ratificação do processado foi notificado o ad-vogado e não a recorrente.

Recurso n.o 13 000. Recorrente: Sandeman e Companhia, Lda; Re-corrida: o Director da Alfândega de Lisboa; Relator, Juiz Con-selheiro Abílio Bordalo.

Acordam na 2.a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

Nos presentes autos de contra-ordenação fiscal aduaneira, veio San-deman e Companhia Lda. ex Maceira e Companhia Lda., arguidada prática de contra-ordenação ”recorrer da coima que lhe foi aplicadapelo Sr. Director da Alfândega”.

No Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa, o M.mo Juiz, tendo-lhesido presentes os autos, ordenou que se notificasse o ”signatário dapetição de recurso para, em dois dias, vir juntar aos autos a procuraçãoforense que protestou juntar com expressa ratificação do processado (art.40o no 1 do CPC)”.

Na sequência, foi junta aos autos apenas procuração forense, semratificação do processado.

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Por despacho de 9/1/89 entendeu o M.mo Juiz dar ”sem efeito orecurso interposto” em virtude de não ter sido ratificado o processado.

Inconformada, a recorrente interpôs recurso para o Tribunal Tri-butário de 2a Instância cujas alegações concluiu como se segue:

- O douto despacho é manifestamente ilegal;O mandato ficava devidamente constituído com a junção da pro-

curação aos autos não sendo necessário a ratificação do processado;- Mas se fosse necessária a ratificação do processado então a re-

corrente teria que se notificada para proceder à ratificação.- Só se a recorrente não ratificasse o processo é que o M.mo Juiz

a quo poderia proferir despacho do teor do ora agravado;- Porém a recorrente nunca foi notificada para ratificar o pro-

cessado.Não houve contra-alegação.O Tribunal Tributário de 2a Instância por Acórdão de 6/3/90 de-

clarou-se incompetente, em razão da hierarquia, por o fundamentodo recurso versar exclusivamente matéria de direito.

Neste Supremo Tribunal, o Ex.mo Procurador-Geral Adjunto emi-tiu douto parecer no sentido do provimento do recurso pois que dainterpretação conjugada dos arts. 40o nos 1 e 2 e 41o no 3 do CPCresulta que quem deve ser notificada para os seus efeitos é a partee não o advogado.

Colhidos os vistos legais cumpre decidir.Com interesse para a decisão, apura-se no plano factual o seguinte:- Em 22/6/87 foi levantado auto de notícia pela prática de con-

tra-ordenação contra Macieira e Ca Lda. e outro, cuja coima foi pagavoluntariamente.

- Apesar do pagamento voluntário, veio Sandeman e CompanhiaSA sucessora de Macieira e Companhia Lda. interpôr recurso dadecisão que aplicou a coima.

- A petição de recurso e alegações foram subscritas por advogadoque protestou juntar procuração.

- Em 16/12/88 o M.mo Juiz do Tribunal Fiscal Aduaneiro ordenoua notificação do signatário da petição do recurso para juntar aosautos procuração forense que protestara juntar.

- Mas se ordenou que fosse notificado para ratificar o processado.- A notificação foi feita ao ilustre causídico, após o que foi junta

a procuração aos autos mas não foi ratificado o processado.- Foi proferido despacho judicial mediante o qual se deu sem efeito

o recurso interposto pela falta de ratificação do processado.- É deste despacho de 9/1/89 que vem interposto o presente recurso.Coloca-se a questão de saber a quem deve ser feita a notificação

para proceder à ratificação do processado, se à recorrente ou se aoadvogado.

Flui do exposto que foi junta aos autos petição de recurso subscritapor advogado cuja procuração só foi junta aos autos após notificaçãodaquele causídico.

Trata-se de uma situação que configura um quadro de representaçãosem poderes de acordo com o disposto no art. 268o do Código Civile que por isso exigia, em conformidade com o estabelecido no art. 40o

do CPC, não só a junção aos autos de procuração mas também aratificação do processado.

Mas para que a ratificação ocorra é necessário que se procedaà notificação da recorrente, como passa a demonstrar-se.

Segundo o referido art. 268o do CC, aplicado à situação dos autos,a ratificação é um acto que tem de ser praticado pela pessoa em

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nome de quem foi interposto o recurso que declara aprovar aquiloque foi praticado pelo mandatário. E está sujeita ao formalismo daprocuração.

Assim, para que pudesse ser praticado o acto de ratificação ne-cessário se tornava que, previamente, fosse notificada a recorrentepara o efeito, o que não sucedeu.

É uma exigência que radica na natureza ”pessoal” do próprio actoe resulta também do já mencionado art. 40o e art. 41o no 2 do CPC:

Só a notificação à recorrente, para ratificar o processado, permiteoperar com eficácia a respectiva cominação legal, ou seja a de quefica sem efeito tudo o que tiver sido praticado pelo mandatário, casonão seja ratificado.

Com a simples notificação ao ilustre advogado da recorrente, ob-viamente que não se tem por cumprida aquela exigência legal, peloque não podiam operar em relação à recorrente os efeitos da faltade ratificação.

O mesmo é dizer que não podendo operar a cominação legal, nãopodia dar-se sem efeito o que pelo advogado havia sido praticadoem nome da recorrente, isto é, a interposição do recurso para o Tri-bunal Fiscal Aduaneiro.

Demonstrado fica assim, no caso dos autos e contra o que sustentaa recorrente na segunda conclusão, que não basta a junção da pro-curação aos autos para regularizar a situação, sendo necessária tam-bém a ratificação do processado.

Procedem, no entanto, as demais conclusões.Sucede que a fls. 114-115 se mostra junto aos autos instrumento

de ratificação do processado o que, obviamente, dispensa, por inútil,se efectue a respectiva notificação para o efeito.

Porém, o despacho recorrido ao decidir que fica sem efeito o recursointerposto não pode manter-se na ordem jurídica por violação de lei.

É nestes termos que se acorda em conceder provimento ao recurso,revogar o despacho recorrido o qual deve ser substituído por outroque não seja dar sem efeito o recurso mas sim que se pronunciequanto à admissão ou não do recurso.

Sem custas.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — Abílio Madeira Bordalo (rela-tor) — Domingos Brandão de Pinho — Júlio Ferreira Tormen-ta. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A.. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursos‘per saltum’ — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

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II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõese para além do constante do probatório da decisão re-corrida, que houve uma alteração da orientação anteriorda Administração Fiscal sobre o pagamento do imposto,bem como o seu conhecimento de uma decisão judicialproferida sobre a suspensão de eficácia do acto que nãosendo explicados pelo acto de liquidação e pelo acto dasua notificação o fazem padecer de vício de forma.

Recurso n.o 15.629, em que são Recorrente Estoril-Sol, S.A. e Re-corrido o Chefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto e de quefoi Relator o Exm.o Cons.o Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I. Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, n.o 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 2.519.159$00, praticado no Bilhete de Despachon.o 200869 de 90.02.26 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Aero-porto), relativos à importação de diversos equipamentos destinadosà prática de jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é con-cessionária, alegando a sua invalidade, e pedindo consequentementea sua anulação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei,do contrato administrativo e de forma, consubstanciados, em síntese,no facto da tributação substitutiva ou especial do imposto sobre ojogo do art.o 34 do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula6a do Contrato de Concessão celebrado com o Estado que a excluide qualquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado n.o 3da cláusula 4a do mesmo contrato, — de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento —, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II. O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.05.29, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III. Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora para esta Secçãodo Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo, pe-dindo a revogação da sentença.

IV. Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversas razõesque depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nas seguintespreposições conclusivas:

”a) O art.o 34.o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o art.o 834o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário subs-titutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec. Lein.o 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

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d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f) Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade autónoma, quer como um meio material de prosse-guimento da actividade principal concessionária, sempre ela estaráabrangida por aquele regime tributário substitutivo;

g) Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h) A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de lei;e/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

m) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono art.o 84o do DL n.o 422/89, de 2 de Dezembro, no art.o 406o,n.o 1 do C.Civil e no art.o 1o do DL n.o 256-A/77, de 17 de Junho”.

V. O Exm.o Mag. do M.o P.o, junto deste Supremo Tribunal, opinou,em seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões que o re-curso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI. Com os vistos dos Exms.o Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. arts.o 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (art.o 3o da L.P.T.A.).

No art.o 33o, n.o 1, al. b) do E.T.A.F. dota-se a Secção do Con-tencioso Tributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dosrecursos interpostos das decisões dos tribunais fiscais e aduaneiros,com exclusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, poroutro lado, do art.o 42o, n.o 1, al. b), do mesmo ETAF, que essacompetência para conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributáriode 2a Instância quando eles tenham por fundamento matéria quenão seja exclusivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, arts.o 511o, n.o 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 646o, n.o 4,

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722o, ns.o 1 e 2 e 729o, n.o 2 do C.P.Civil) para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir de recurso,informada dentro do princípio do dispositivo — independentementeda pertinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pre-tendida do recurso (que se situam fora desse âmbito) —, as normasou princípios jurídicos que tenham sido pretensamente violados ouinaplicados, na sua determinação, interpretação ou aplicação, ou se,ou também, à consideração de quaisquer factos naturais ou ocorrênciasda vida real (fenómenos da natureza ou manifestações concretas davida, mesmo que do domínio do espírito ou da vontade), cujo co-nhecimento implique a elaboração de qualquer juízo probatório quenão se contenha na competência de um tribunal de revista (ou sejaque não se resolva por uma constatação sobre se houve ofensa dumadisposição legal expressa que exigia certa espécie de prova para aexistência de um facto ou que fixe a força de determinado meio deprova — casos em que a questão se reduz ”prima facie” a uma apli-cação da lei e só decorrentemente numa fixação consequencial defacto —, nos termos do art.o 722o, n.o 2 do C.P. Civil), pois, nestecaso, a competência caberá, como se disse já, ao Tribunal Tributáriode 2a Instância, por força do art.o 41o, n.o 1, al. a) do ETAF, quena fixação dos factos materiais da causa se moverá dentro do valorlegal das provas, elaborando, por regra, de acordo com elas, um juízode prova livre ou de livre convicção sobre a existência dos factosprovandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por não ser nelas que o recorrentetem de condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidadejurídica para, na sua óptica determinar uma solução da causa diferenteda decidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso qualquerdos tipos de normas enunciados nos arts.o 722o, n.o 2 do C.P.C. epelo seu confronto com os correspondentes documentos porventuraexibidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontravam instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente doutros — que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória — do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

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Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constitui uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteprescrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do art.o 33o, n.o 1, al. b),do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no art.o 42o, n.o 1, al. a) do mesmo E.T.A.F.

VI. Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noart.o 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — Benjamim Rodrigues (Rela-tor) — Júlio Ferreira Tormenta — José Jesus Costa. — Fui presen-te, Mota Salgado.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Recurso de decisão jurisdicional. LPTA. Alegações. Apresen-tação no Tribunal “a quo”. Apresentação no Tribunal Su-perior. “Lapsus calami”. Relevância. Não deserção dorecurso.

Doutrina que dimana da decisão:

I — Interposto recurso de decisão do Tribunal Fiscal Adua-neiro e admitido, nos termos do regime estabelecido naLPTA (Dec.-lei 267/85, de 16/7) — arts. 120o e segs. —,as alegações devem ser apresentadas no Tribunal “a quo”dentro do prazo legal, sem o que o recurso deve ser julgadodeserto por falta de alegações.

II — Se a apresentação das alegações do recurso no TribunalSuperior e não no Tribunal “a quo”, como devia, ficoua dever-se ao facto de nelas constarem dizeres atinentesà entidade a quem eram dirigidas e que induziram emerro a recorrente, tal situação configura “lapsus calami”que releva, nos termos do art. 249o do Código Civil.

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III — Em consequência, apresentadas tais alegações, no prazolegal, e nas circunstâncias referidas em II, devem as mes-mas considerar-se tempestivas.

Recurso no 16 034. Recorrente: SOINTAL — Sociedade de IniciativasTurísticas Algarvias; Recorrido: Chefe da Delegação Aduaneirade Alverca; Relator: Juiz Conselheiro Abílio Bordalo.

Acordam na 2a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

SOINTAL — Sociedade de Iniciativas Turísticas Algarvias SA, pes-soa colectiva, com sede em Lisboa na Rua Filipe Folque no 2, 6o

esq., veio interpor ao abrigo do art. 68o do ETAF recurso contenciosode anulação do acto de liquidação praticado pelo Chefe da DelegaçãoAduaneira de Alverca, para o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa.

Observada a tramitação processual prevista na LPTA aprovada peloDec.-Lei 267/85, de 17/7, em 9/6/92 foi proferida sentença que julgouo recurso improcedente, mantendo o acto de liquidação.

Inconformada com esta decisão, a recorrente em 22/6/92 interpôsrecurso para o Tribunal Tributário de 2a Instância através do re-querimento de fl. 52, que foi admitido por despacho de 24/6/92.

A admissão do recurso foi notificada à recorrente através de cartaregistada de 26/6/92.

Por despacho de 2/10/92 (fl. 54) foi julgado deserto o recurso porfalta de alegação da recorrente.

Através de requerimento apresentado em 8/10/92 (fl. 55), a re-corrente veio alegar que “tendo por mero lapsus calami entregueno Tribunal ad quem as alegações respeitantes aos autos à margemreferenciados, atempadamente, solicita que tais alegações sejam ad-mitidas porque tempestivas”.

O M.mo Juiz, por despacho de 9/10/92 (fl. 76) indeferiu o ditorequerimento uma vez que havia sido julgado deserto o recurso.

Em 15/10/92 (fl. 77), a recorrente, inconformada com o despachode deserção do recurso dele interpôs recurso per saltum para esteSupremo Tribunal.

Admitido o recurso, após despacho de sustentação e sem contra--alegações, subiram os autos a este Tribunal com alegações cujo quadroconclusivo é o seguinte:

a) Ao abrigo do disposto no arto 249o do Código Civil o erro decálculo ou de escrita dá direito a rectificação;

b) Este dispositivo legal é aplicável a actos judiciais ou das partes;c) A jurisprudência dominante pronuncia-se no sentido de con-

siderar que em todas as hipóteses análogas às do caso sub judiceas alegações deverão ser admitidas como atempadas;

d) As alegações constantes do documento junto aos autos provadoscomo provam que deram entrada no tempo no Tribunal ad quemdeverão ser rectificadas;

e) Por forma a que sejam tidas por tempestivas e admitidas nessaconformidade.

Termina dizendo que deverá o despacho recorrido ser alteradoe recebidas as alegações em apreço com todas as consequências legais.

O Ex.mo Procurador-Geral Adjunto, representante do MinistérioPúblico neste Tribunal, emitiu douto parecer no sentido de que orecurso merece provimento sustentando, a concluir que o lapso co-metido pela recorrente pode caracterizar-se como um justo impe-dimento (arto 146o no 1 do Código de Processo Civil) e, consequen-

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temente, deve considerar-se que a apresentação das alegações foifeita dentro do prazo.

Colhidos os vistos legais cumpre apreciar e decidir.No plano factual, e como decorre do que vem relatado, apura-se

dos autos:- A recorrente inconformada com a decisão de 1a instância que

julgou improcedente o recurso de acto de liquidação, interpôs recursode tal decisão para o Tribunal Tributário de 2a Instância.

- Notificada da admissão do recurso, por parte registada de 26/6/92,a recorrente apresentou as alegações no Tribunal Tributário de 2a Ins-tância em 15/9/92, como decorre do carimbo de entrada aposto noduplicado das alegações (fl. 56).

- Porque os presentes autos na data da conclusão (1/10/92) nãocontinham a peça das alegações, foi julgado deserto o recurso porfalta de alegações em 2/10/92.

- Em 8/10/92 a recorrente apresentou novo requerimento com oduplicado das alegações, alegando que, por mero lapsus calami, asmesmas tinham sido apresentadas no Tribunal ad quem.

- Da parte introdutória das alegações resulta que são dirigidas aoEx.mo Juiz Desembargador — Tribunal Tributário de 2a Instância ecomeça por se referir que o “recurso vem interposto do douto Acór-dão . . . ”

Previamente à apreciação do objecto do recurso, cabe observar,em primeiro lugar, que a tramitação processual seguida no recursodo acto de liquidação foi, como já se disse, a prevista na Lei deProcesso dos Tribunais Administrativos (LPTA) sempre determinadapelo M.mo Juiz através dos seus despachos.

Logicamente, e no quadro de expectativas que, nesse domínio, fo-ram criadas para a recorrente, também o recurso de decisão juris-dicional teve como pressuposto a observância de tais regras processuaisque, como é sabido, e no que concerne ao prazo para alegações sãobem diferentes das previstas no Código de Processo Tributário.

Quer isto dizer que nos termos do arto 106o da LPTA o recorrentedispõe de vinte dias para produzir e apresentar em Tribunal as ale-gações a partir da notificação do despacho que admite o recurso.

Já, porém, no âmbito do Código de Processo Tributário, segundoo arto 171o, no 3, o prazo para alegações é de oito dias a contarda notificação do despacho que admitiu recurso.

Não é, pois, indiferente seguir um ou outro regime processual nemo seguimento deste ou daquele é fruto da vontade do recorrente.Há regras legais que presidem a tais situações.

Após a entrada em vigor do ETAF e da LPTA este Supremo Tri-bunal veio a confrontar-se, segundo cremos, com ambos os regimes,nos recursos de actos de liquidação de receitas tributárias aduaneiras,ao abrigo do arto 68o do ETAF: de um lado, o Tribunal Fiscal Adua-neiro do Porto que seguia o estabelecimento no Código de Processodas Contribuições e Impostos (hoje Código Processo Tributário) oqual veio a ter acolhimento pela jurisprudência deste STA; do outro,o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa que optou pela tramitaçãoprevista na LPTA e que, naturalmente levaram tempo a aceitar eseguir o regime que estava a ser definido por este Supremo Tribunal.

Daí se compreende que, no caso dos autos reportado a uma datajá bem distante, se tivesse seguido a LPTA em vez do Código deProcesso Tributário.

Serve isto para dizer que se o recurso da decisão que julgou im-procedente o recurso do acto de liquidação fosse analisado à luz

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do Código de Processo Tributário, o mesmo teria de soçobrar perantea extemporaneidade das alegações, ainda que tivessem sido apresen-tadas no Tribunal a quo e na data em que o foram (15/9/92).

É que o prazo de oito dias previsto no arto 171o daquele Códigoterminou em 9/7 e as alegações deram entrada, excluindo as fériasjudiciais, cinco dias depois.

Caso em que não podia funcionar o disposto no arto 145o do CPCpor ultrapassar três dias úteis após o termo do prazo para alegações.

Porém, como o regime seguido foi o da LPTA de que resultaramexpectativas fundadas para a recorrente, o que se leva em conside-ração, vejamos então, no domínio deste diploma, se a apresentaçãodas alegações no Tribunal “ad quem” em vez de no Tribunal “a quo”releva para efeitos de observância do prazo legal ou se, pelo contrário,deve julgar-se, como se julgou, deserto o recurso por falta de alegações.

Dispõe o arto 102o da LPTA que os recursos de decisões juris-dicionais regem-se pela lei de processo civil com as necessárias adap-tações (. . .) sem prejuízo do especialmente disposto no ETAF e na-quele primeiro diploma.

O prazo para a apresentação das alegações que é de vinte diasvem especialmente previsto no arto 106o que, por isso, deve aplicar-seaos recursos a que se refere aquele arto 102o

Quanto ao mais, segundo este último normativo, seguir-se-á o re-gime fixado para o recurso de agravo o qual, contra o que sucedena apelação, impõe que as alegações sejam apresentadas no Tribunalde recurso e não no Tribunal “ad quem”.

A recorrente estava, pois, obrigada a, uma vez notificada da ad-missão do recurso, apresentar no prazo legal e no Tribunal FiscalAduaneiro de Lisboa, as respectivas alegações.

Decorrido o prazo estabelecido na lei aplicável, sem a apresentaçãodas alegações, cabe ao M.mo Juiz julgar deserto o recurso por faltade alegações com todas as consequências legais, como sucedeu.

Alega, porém, a recorrente, que a apresentação das alegações noTribunal Tributário de 2a Instância se deveu a mero ”lapsus calami“e invoca a seu favor o disposto no arto 249o do Código Civil e ajurisprudência que diz ser dominante, citando alguns arestos.

Para a recorrente, o “lapsus calami” materializou-se no erro deescrita por mensão expressa do Tribunal “ad quem” e consequen-temente entregue naquele Tribunal a alegação.

Vejamos.Dispõe o arto 249o do Código Civil que o simples erro de cálculo

ou de escrita, revelando no próprio contexto da declaração ou atravésdas circunstâncias em que a declaração é feita, apenas dá direitoà rectificação desta.

Importa frisar que só tem interesse discutir esta questão se se dercomo assente que as alegações, apesar de terem sido apresentadasno Tribunal Tributário de 2a Instância o foram no prazo legal previstono arto 102o da LPTA.

Ora, resulta do exposto que as alegações em causa deram entradanaquela 2a instância dentro do prazo de vinte dias a contar da no-tificação do recurso.

Posto isto, a única questão a resolver prende-se com a relevânciado invocado “lapsus calami” na apresentação das alegações.

Como já se disse e resulta dos autos, a referida peça processualestá dirigida ao “Ex.mo Senhor Doutor Juiz Desembargador do TribunalTributário de 2a instância”.

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Acresce que na mesma se refere que o recurso vem interpostodo “douto Acórdão” quanto na verdade o recurso é de sentença.

Admite-se que este conjunto de dizeres, atinente à identificaçãoda entidade a que eram dirigidas as alegações possa consubstanciar,com a relevância pretendida, um “lapsus calami” isto é, erro de escrita,tendo-se escrito uma coisa diferente daquilo que se pretendia o queterá estado na base da apresentação no Tribunal “ad quem” comotambém se admite não ser alheia ao caso dos autos a circunstânciade os recorrentes, na área fiscal aduaneira, se confrontarem com maisdo que um regime processual e que é susceptível de ocasionar idênticassituações.

Veja-se o Código de Processo Tributário (arto 171o) que permitese alegue no Tribunal Superior ou seja no Tribunal Tributário de2a Instância (à semelhança do que estabelece o parágrafo único doarto 87o do RSTA) desde que se declare a intenção nesse sentido,no requerimento da interposição do recurso.

Pode assim concluir-se que a situação dos autos configura errorelevante que, ao abrigo do disposto no arto 249o do CC, não deveproduzir outros efeitos que não sejam o de dar lugar à sua rectificação.

É de resto uma situação paralela à rectificação das sentenças deharmonia com o disposto no arto 667o do CPC.

Ora, se um erro de escrita pode ser corrigido numa sentença, pormaioria de razão deve ser corrigido numas alegações.

Propende-se, pois, mais para a solução que vem propugnada doque para o justo impedimento já que este, como decorre do arto 146o

do CPC só se verifica quando a pessoa que devia praticar o actofoi colocada na impossibilidade absoluta de o fazer por si ou pormandatário, em virtude da ocorrência de um facto independente dasua vontade e que um cuidado e diligências normais não fariam prever.

O que não parece caracterizar-se na situação presente.Porque as alegações deram entrada no prazo legal e se considera

relevante o erro que determinou a apresentação das mesmas no Tri-bunal Superior a que eram dirigidas, devem tais alegações conside-rar-se existentes nos autos e manter-se válidas, em termos detempestividade.

Face ao exposto, acorda-se em dar provimento ao recurso, revo-gando-se o despacho que julgou deserto o recurso por falta de ale-gações, devendo proferir-se despacho em conformidade com o oradecidido.

Sem custas.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — Abílio Bordalo (relator) — CastroMartins — Manuel Santos Serra. — Fui presente, Jorge Manuel Lo-pes de Sousa.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Recurso jurisdicional aduaneiro. Classificação pautal, Questãode direito. Pauta dos direitos de importação aprovada peloDL no 486/88, 30 de Dezembro. Nomenclatura combinada.

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Notas explicativas. Queijo ralado. Posições pau-tais 040 20 90 E 0406 90 11. Natureza interpretativa ou nãodo Regulamento (CEE) no 316/91, da Comissão, de 7 deFevereiro. Recurso prejudicial previsto no arto 177 do Tra-tado de Roma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A classificação pautal constitui questão de direito;II — A Pauta dos Direitos de Importação aprovada pelo DL

no 486/88, de 30 de Dezembro, para vigorar em Portugaldurante o período transitório da adesão de Portugal àCEE, está elaborada com base na Pauta Aduaneira Co-mum, aprovada pelo Reg. (CEE) no 3174/88, da Co-missão, de 21 de Setembro, e o referido DL no 486 revogouas instruções preliminares aprovadas pelo DL no 518/85,de 30 de Dezembro, alteradas pelo DL no 396/87, de31 de Dezembro;

III — Em consequência, passaram a ser aplicáveis a partir de1 de Janeiro de 1988 as regras de interpretação da PautaAduaneira Comum e as respectivas Notas Explicativaspara Aplicação Uniforme da Pauta Aduaneira Comum;

IV — Se o Supremo Tribunal Administrativo tem dúvidas sobreo carácter interpretativo ou não do Regulamento (CEE)no 316/91, da Comissão, de 7 de Fevereiro, e sobre oenquadramento pautal de queijo importado e decide emúltima instância, tem que suscitar o reenvio prejudicialprevisto no arto 177o. do Tratado de Roma.

Recurso no 16 974. Recorrente: Fábrica de Queijo Eru Portuguesa,Lda.; Recorrido: Tribunal Técnico Aduaneiro de 2a Instância; Re-lator: Exmo. Conso. Dr. Jesus Costa.

Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tri-bunal Administrativo:

I- Fábrica de Queijo ERU Portuguesa, Lda., nos autos devidamenteidentificada, interpôs o presente recurso do douto acórdão do TribunalTributário de 2a. Instância de 22.6.1992, a fls. 55 e segs, que julgouimprocedente o recurso contencioso que a recorrente deduzira pe-dindo a anulação do acórdão do Tribunal Técnico Aduaneiro de 2a Ins-tância no 665, que, no processo técnico de contestação no 24/989,decidiu que a mercadoria pela recorrente submetida a D.U. no deordem 14595/1989, da Delegação Aduaneira de Xabregas, da Alfân-dega de Lisboa -queijo designado por “Grated cheese” -, fosse clas-sificada pela posição pautal no 0406 90 11 0 00 000, e não pela posiçãono 406 20 90 0 00 000, conforme pretende a recorrente.

No recurso para o Tribunal Tributário de 2a Instância, sustentaraa recorrente, em resumo, o seguinte:

- trata-se de queijo ralado, obtido através de diversas transformaçõesindustriais de origem, desde a de raspagem para extracção de cascae de parcelas bolorentas ou deterioradas, após o que o queijo é raladoe depois embalado em sacos de plástico e prensado para reduçãode volume com extracção de oxigénio, o qual é substituído por umasolução de nitrogénio/002 injectada a fim de maior conservação. Oqueijo é depois submetido a uma rede de frio, com temperaturascompreendidas entre 2o e 5o C.

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- tais operações impossibilitam posterior utilização ou transforma-ção industrial e conferem-lhe o aspecto de produto compacto, quese configura exteriormente como uma pasta ou massa obviamentebastante diferente da normal apresentação do queijo alado expostopara venda, visto que este último não se encontra prensado nemembalado sob vácuo;

- porém, tal queijo, uma vez submetido à temperatura ambiente,desagrega-se imediatamente em partículas;

- o entendimento do verificador aduaneiro -o qual classificou amercadoria pela posição pautal 0406 90 11 0 00 000- teve por baseuma amostra de queijo que já se encontrava em estado de decom-posição, o que se deduz do facto de ele afirmar que o queijo ganhavafacilmente bolor quando não acondicionado em frio; a submissão doqueijo embalado por um período alargado de tempo a uma redede frio faz com que a respectiva humidade se eleve, o que dificultaque o mesmo se apresente com a sua aparência e textura habitual;

- assim, quando embalado nas referidas condições, o queijo raladoem questão apresenta um determinado grau de humidade que gra-dualmente vai desaparecendo com a exposição a um meio ambienteseco, resultando na fragmentação;

- no sentido de que o queijo é ralado pronunciaram-se o Institutode Qualidade Alimentar e a Agroleico, Lda;

- por outro lado, a recorrente tem importado queijo semelhanteda Holanda e que sempre tem sido classificado pelas alfândegas por-tuguesas como “queijo ralado”;

- na nota explicativa da posição pautal 0406 20 estão englobadosos queijos ralados ou em pó, de qualquer tipo, independentementedo seu envólucro exterior ou da sua habitual utilização como con-dimento; que assim é demonstra-o hoje claramente o texto designadopor “Aplicação Uniforme da Nomenclatura Combinada”, publicadono Jornal Oficial das Comunidades Europeias no N.C. 263/10, de18.10.90, o qual alterou a nota explicativa da posição 0406 20 90, nosentido de que se enquadram nesta posição “os queijos ralados, ge-ralmente utilizados como condimentos ou outros fins de indústriaalimentar. . .” e que “Estes queijos podem ter sido parcialmente de-sidratados com a finalidade de lhes assegurar a mais duradoura con-servação possível” e ainda que “Classificam-se nesta subposição osqueijos que, depois de serem ralados, são aglomerados”;

- aliás, em face do disposto no no 1 do arto 10o do RegulamentoCEE no 2658, do Conselho, de 23.7.87, o referido documento no 263/10,de 18.10.90, ao conferir nova redacção às notas explicativas da po-sição 0406 20, é vinculativo;

- o facto de o queijo ralado se apresentar em bloco em nada podecontrariar a posição da recorrente, pois é natural que o queijo raladocontido em sacos de plástico a que se retirou o oxigénio apresente,só por isso, essa compleição, além de que o seu reduzido volumese deve ao facto de ter sido prensado;

- os queijos ralados podem ser posteriormente parcialmente de-sidratados com vista à sua maior conservação, o que pode ser alcançadoatravés de outras operações como a substituição do oxigénio por ni-trogénio/002, como aconteceu no caso sub judice;

- a decisão do TT de 2a Instância fez tábua rasa das posições as-sumidas pela alfândega holandesa e dos pareceres das entidades téc-nicas atrás referidas.

O acórdão ora recorrido considerou, em resumo, o seguinte:- o recurso é de mera anulação, pelo que o tribunal não procede

à classificação da mercadoria e apenas pode anular o acto admi-nistrativo recorrido se concluir pela sua ilegalidade;

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- o momento a ter em conta para a classificação pautal da mer-cadoria é o da “sua nacionalização e submissão a despacho”, só po-dendo atender-se às normas legais em vigor nessa altura, pelo queas Notas Explicativas da Nomenclatura Combinada das ComunidadesEuropeias, com a redacção que lhes foi dada pelo Reg. CEEno 2474/90, publicadas no Jornal Oficial das Comunidades de 18.10.90,não são de considerar, por posteriores ao DU respeitante às mer-cadorias, que é de 20.3.89;

- segundo a nota explicativa da Nomenclatura Combinada referenteà posição 0406 20 90, classificam-se nesta subposição os queijos raladosutilizados geralmente como condimentos, que se obtêm a partir dequeijos de pasta dura (designadamente “grana”, “parmagiano”, “em-mental”, “reggianito”, “sbrinz”, “asiago”, “pecorino”, etc.), que depoisde ralados são parcialmente desidratados com a finalidade de lhesassegurar a mais duradoura conservação possível;

- a recorrente não fez prova da utilização a que o queijo de destinava,a partir de que queijos foi obtido, e afirma não ter sido sujeito adesidratação parcial mas sim submetido a uma operação industrialde substituição do oxigénio por uma solução de nitrogénio/002 in-jectado, sendo que o mesmo apresentava humidade elevada. Ora,estas últimas referências apontam para a necessidade de uma operaçãode alteração da composição do queijo na altura da importação demodo a restituir-lhe o oxigénio e retirar-lhe o nitrogénio injectadopara o reconduzir à sua normal constituição. E esta, como as demaiscircuntâncias não provadas acima referidas, afastam-se da obrigatóriaclassificação como queijo ralado abrangido na posição 046 20 90;

- acresce que, embora quando exposto ao ar nas condições am-bientes após desembalado o queijo se tenha desagregado em grânulosirregulares, não se mostra que tais grânulos sejam miúdos, do tamanhoque normalmente apresenta o queijo ralado apresentado no comérciode retalho:

- por outro lado, a recorrente não aprovou a veracidade da afir-mação de que as alfândegas portuguesas sempre tenham classificadoqueijo semelhante por si importado pela posição 0406 20 90.

- Assim, e porque o acórdão do Tribunal Técnico de 2a Instância,como acto administrativo que é, goza da presunção de legalidade,e porque a recorrente não demonstrou a sua ilegalidade, é de julgar“improcedente” o recurso interposto pela recorrente.

A recorrente mantém o seu ponto de vista em extensas alegaçõesde recurso para este STA, as quais conclui nos seguintes termos,em resumo:

- O acórdão do Tribunal Técnico não é um acto administrativo,mas sim um acto jurisdicional, pelo que não goza da presunção delegalidade;

- Em consequência, o aresto ora recorrido absteve-se de se pro-nunciar sobre a legalidade daquele acórdão do Tribunal Técnico, oque constitui a nulidade prevista na alínea d) do no 1 do arto 668o

do Código de Processo Civil;- O aresto recorrido fez tábua rasa da indagação da natureza das

regras constantes das Notas Explicativas para a Interpretação Uni-forme da Nomenclatura Combinada publicadas no JO de 18.10.90e da natureza das normas do Regulamento (CEE) 316/91, da Co-missão, de 7.2.1991, pelo que cometeu idêntica nulidade de omissãode pronúncia;

- ainda que se não configure nenhuma destas nulidades, o arestosob recurso comete erro de julgamento sobre as referidas questões,

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uma vez que a decisão do Tribunal Técnico está eivada do vício deviolação de lei;

- Na verdade, tal decisão viola as regras 1, a), 3, a) e 3), c) dasRegras Gerais para a Interpretação da Nomenclatura Combinadaconstantes do Título I do Anexo I ao Regulamento (CEE) 3174/88,da Comissão, de 21.9.1988, quer se entenda ou não que ao caso eraaplicável o Regulamento (CEE) 316/91, da Comissão, de 7.2.91;

- Das Notas Explicativas da Nomenclatura Combinadas referentesà posição 0406 20, na redacção em vigor à data da importação subjudice, resulta que a característica essencial do queijo ralado comoproduto completo ou acabado é exclusivamente a ralação de queijonatural (de pasta dura);

- Nos termos da regra 1 a) das citadas Regras Gerais, a referênciaao queijo ralado ou em pó, de qualquer natureza, posição 0406 20,abrange o queijo ralado ainda que não seja produto completo ouacabado, desde que apresente as características essenciais do queijoralado como se fosse completo ou acabado;

- Por outro lado, nos termos da regra 3 a) das citadas Regras-Gerais,as posições mais específicas prevalecem sobre as mais genéricas, sendocerto que a posição 0406 20 é mais específica que a posição 0406 90,a qual tem natureza residual, princípio que só cede quando duasou mais posições se refiram, cada uma, a apenas uma parte das ma-térias constitutivas de um produto misturado, caso em que ambasas posições se consideram específicas, o que não ocorre na situaçãosub judice;

- Só quando não for possível determinar a classificação por aplicaçãoda regra 3 a) é que tem aplicação a regra 3 c), a qual estipula que,verificada aquela circunstância, se aplicará a posição situada em últimolugar na ordem numérica dentre as que forem susceptíveis de seraplicadas;

- O Tribunal Técnico aplicou precisamente esta regra 3 c), o éilegal porque a classificação se pode fazer pela posição 0406 20, emvigor desde 19.10.1990;

- De qualquer modo, o Regulamento (CEE) 316/91 é de aplicaçãoimediata, em face do disposto no arto 10o, no 2, do Regulamento(CEE) 2658/87, do Conselho, de 23.7.1987;

- Ora, deste resulta que o queijo a que os autos se referem seenquadra na posição pautal 0406 20 e não na posição 0406 90;

- Caso, porém subsistam dúvidas no espírito dos julgadores sobrea aplicação imediata ou não ao caso vertente do Reg. (CEE) 316/91,e caso considerem que essa questão é prejudicial da decisão, deveo tribunal ad quem usar da faculdade de submeter a decisão da dúvida,a título prejudicial, ao Tribunal de Justiça da Comunidade EconómicaEuropeia.

O Exmo Procurador-Geral Adjunto neste STA emitiu o parecerde que se deve proceder ao reenvio prejudicial previsto no arto 177o

do Tratado CEE, como sugerido pela recorrente, uma vez que norecurso se discutem questões de interpretação dos Regulamentos(CEE) no 2658/87, do Conselho, de 23 de Julho, 3 174/88, da Comissão,de 21 de Setembro, e 316/91, da Comissão de 7 de Fevereiro, sendocerto que a Secção do Contencioso Tributário deste STA julga emúltima instância, após a entrada em vigor da Lei no 11/93, de 6 deAbril.

Convidadas as partes a pronunciar-se sobre o parecer do MoPo,veio o presidente do Tribunal Técnico de 2a Instância dizer, a fls. 124

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e segs., que o Reg. (CEE) no 316/91, é de aplicação imediata masnão é interpretativo, vigorando apenas para futuro, sendo que outroentendimento não resulta dos artos 9o e 10o do Reg. (CEE) no 2658/87,e que, mesmo que se entenda que o Reg. (CEE) 316/91 é de aplicaçãoretroactiva, nem por isso a classificação do queijo importado deveser alterada, pois que o Tribunal Tributário de 2a Instância já sepronunciou, em sede de matéria de facto, que o queijo importadoconstituía mercadoria a designar como “Outros queijos, destinadosa transformação”, a que quadra a posição pautal 0406 90 11, e quea recorrente não fez prova “de que o queijo importado à altura dasubmissão a despacho alfandegário constituísse queijo classificável co-mo ralado na nomenclatura pautal e não fosse, portanto, outro queijodestinado à transformação”, pelo que a questão se saber se oReg. 316/91 é de aplicação retroactiva é meramente académica.

Colhidos os vistos dos adjuntos, cumpre decidir.II- 1- Flui do exposto que as questões a decidir são as seguintes:- As nulidades de omissão de pronúncia imputadas ao acórdão

recorrido;- Saber se a mercadoria submetida a despacho e a que os autos

se reportam deve ser classificada pela posição 0406 90, como entendeuo Tribunal Técnico de 2a Instância, ou pela posição 0406 20, comopretende a recorrente;

- Para a decisão desta última questão importa interpretar os Re-gulamentos (CEE) 2658/87, do Conselho, de 23 de Julho, 3174/88,da Comissão, de 21 de Setembro, e 316/91, de 7 de Fevereiro. No-meadamente importa apreciar a questão de saber se este último re-gulamento é interpretativo dos anteriores.

2- Por outro lado, é de acentuar que esta Secção do ContenciosoTributário conhece de facto e de direito, em face do disposto nono 1 do arto 21o do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais(ETAF), aprovado pelo DL no 129/84, de 27 de Abril.

Assim sendo, não procede a alegação do presidente do TribunalTécnico de 2a Instância ao defender que a questão de saber se oReg. (CEE) 316/91 é ou não de aplicação retroactiva é meramenteacadémica.

De resto, sempre que se acrescentará que a classificação pautalé questão meramente de direito. Trata-se de enquadrar mercadorias,de harmonia com as suas características, na pauta aduaneira, o quedesde sempre é reconhecido constituir questão de direito.

Por outro lado ainda, cabe salientar que as suscitadas questõesde nulidade por omissão de pronúncia que a recorrente imputa aoacórdão recorrido são questões de conhecimento prévio pois que,se julgadas procedentes, implicam a baixa dos autos ao Tribunal Tri-butário de 2a Instância, de harmonia com o disposto no arto 762o,no 2, do Código de Processo Civil.

Vejamos, pois.III - 1 - O Tribunal Tributário de 2a Instância deu como provados

os seguintes factos, que não foram postos em causa e que se têmcomo assentes:

“a)- a recorrente importou, através do bilhete de despacho no 14 595,de 20.3.89, da Delegação Aduaneira de Xabregas da Alfândega deLisboa, 1110 cartões contendo queijo proveniente da Holanda, em-balado em sacos de matéria plástica com cerca de 15 Kgs. cada saco;

b)- o queijo embalado apresentava o aspecto de uma pasta oumassa compacta;

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c)- após desembalado e exposto às condições ambiente desagre-gou-se em grânulos irregulares;

d)- a factura do exportador designou-a como queijo ralado (“gratedcheese”);

e)- a recorrente atribuiu-lhe a posição pautal da P.D.I. no 0406 20 90,referente a outros queijos ralados ou em pó, de qualquer tipo, ex-ceptuados os queijos de Claris com ervas;

f)- o verificador, o reverificador, a conferência dos reverificadorese o Tribunal Técnico de 1a Instância classificaram o queijo importadona posição pautal 0406 90 11, como outros queijos destinados àtransformação;

g)- o acórdão sob recurso, Tribunal Técnico de 2a Instância, mantevea classifiação pautal atribuída na 1a instância considerando, em re-sumo, que:

1)- a mercadoria em litígio, designada na factura por “grated chee-se”, é efectivamente constituída por pasta de queijo em blocos desuperfície irregular, com o peso de 15 quilos, encerrados em sacosde matéria plástica;

2)- dizendo a subposição 0406 20 respeito a “queijos ralados ouem pó, de qualquer tipo”, isto é, a queijos reduzidos a pequenosfragmentos ou a partículas ténues, todos aqueles que se apresentemsob forma diferente (em blocos, por exemplo) estão, por contráriaaos seus dizeres, excluídos da mesma, de acordo com o disposto nasregras gerais 1 a 6 para a interpretação da Nomenclatura Combinada;

3)- segundo literatura da especialidade, o queijo ralado é um queijoobtido a partir de queijos muito secos (“gruyère”, “comté”, “par-mesão”, etc,), que geralmente se utiliza para polvilhar os pratos con-feccionados antes de irem a gratinar, mas que também pode ser servidoà parte para junção a sopas, especialmente de peixe (“Dictionairedes Fromages”, de Robert J. Courtine, Librairie Larouse, pág 196);

4)- conceito coincidente consta da nota explicativa da NomenclaturaCombinada relativa às subposições 0406 20 10 e 0406 20 90, segundoa qual os queijos ralados, geralmente utilizados como condimentos,são obtidos a partir de queijos de pasta dura (designadamente “grana”,“parmigiano-reggiano”, “emmental”, “reggianito”, “sbrinz”, “asiago”,“pecorine”, etc) que, depois de ralados, sofrem uma desidrataçãoparcial para lhes assegurar a mais duradoura conservação possível;

5)- o queijo em causa não satisfaz tais requisitos, dado que seapresenta em blocos, isto é, sob forma insusceptível de lançamentodirecto no mercado consumidor, possui elevado índice de humidadee desagrega-se em grumos irregulares por exposição ao ar, revestindo,por estes motivos, características de um produto inacabado ou emcurso de processamento, a classificar, adequadamente, pelo códi-go 0406 90 11”.

2- Considera este STA ainda provado que o queijo importado pelaora recorrente foi submetido, antes de ser importado, a uma operaçãoindustrial de substituição de oxigénio por uma solução de nitrogé-nio/002 injectado, para lhe aumentar a conservação, e depois prensadoe embalado em sacos de plástico, e que o dito queijo apresentavateor elevado de humidade-cfr. Processo Técnico de Contestação, no-meadamente o parecer do verificador, a fls. 21, parecer do relator,a fls. 30, e parecer da conferência dos reverificadores, a fls. 31.

IV- 1- Posto isto, vejamos a primeira questão, qual seja a de saberse o acórdão recorrido cometeu as imputadas nulidades por omissãode pronúncia.

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Ora, a recorrente não tem razão.1.1-O acórdão do Tribunal Tributário de 2a Instância considerou

que a decisão do Tribunal Técnico de 2a Instância constitui um actoadministrativo e que por isso goza da presunção de legalidade e quea recorrente não conseguiu demonstrar a sua ilegalidade. A recorrentesustenta que isso não é exacto, pois que o Tribunal Técnico Aduaneiroconstitui uma instância jurisdicional, não gozando, em consequência,as suas decisões da presunção de legalidade, pelo que o acórdão orarecorrido deveria ter demonstrado a legalidade da decisão do TribunalTécnico. Não o tendo feito, cometeu a nulidade de omissão de pro-núncia prevista na alínea d) do arto 668o do Código de ProcessoCivil.

Não existe omissão de pronúncia. O que se passa é que o acórdaorecorrido considerou - bem ou mal para este efeito nada importa -que a decisão do Tribunal Técnico Aduaneiro constitui um acto ad-ministrativo e por isso goza da presunção de legalidade. Se tal afir-mação não for porventura exacta, estaremos então em face de errode julgamento e não de nulidade por omissão de pronúncia.

1.2- Por outro lado, a recorrente sustenta que o acórdão recorridose absteve de indagar a natureza interpretativa do Regulamento CEEno 316/91, da Comissão, de 7.2.1991, e que por isso cometeu novanulidade por omissão de pronúncia.

Contudo, saber se isso é ou não exacto é de novo uma questãode correcção de julgamento. Se a afirmação do tribunal a quo nãofor exacta, isso constituirá um erro de julgamento e não uma omissãode pronúncia.

Improcedem, pois, as arguidas nulidades.2- Vejamos então o fundo do recurso.O que está em causa é a questão de saber se a administração

aduaneira — através do Tribunal Técnico Aduaneiro de 2a Instân-cia — classificou correctamente a mercadoria submetida a despachode importação ao inclui-la na posição pautal no 0406 90 11, referentea “outros queijos destinados à transformação” (note-se que este STAtem entendido que as decisões dos tribunais técnicos aduaneiros cons-tituem actos administrativos e não actos jurisdicionais, como pretendea recorrente; não se desenvolve a questão por se tratar de pontoassente e não se tornar necessário para a decisão do presente recurso).

Sustenta a recorrente que não, pois que se trata de “outros queijosralados ou em pó, de qualquer tipo, exceptuados os queijos de Clariscom ervas”, enquadráveis na posição pautal 0406 20 90.

2.1- Sobre a classificação da mercadoria em causa dispunha a Pautados Direitos de Importação (PDI), aprovada pelo DL no 486/88, de30 de Dezembro -diploma em vigor à data da numeração do bilhetede despacho, momento esse que determina a constituição da dívidaaduaneira, de harmonia com o preceituado no arto 3o, alínea a), doDL no 504-E/85, de 30 de Dezembro, vigente à data da importação.

Tal diploma tinha em vista aproximinar, durante o período de tran-sição, a Pauta dos Direitos de Importação portuguesa ao sistema daNomenclatura Combinada das Comunidades Europeias aprovada peloRegulamento (CEE) no 2687/87, do Conselho, de 23 de Julho, e daPauta Aduaneira Comum, aprovada pelo Regulamento (CEE)no 3174/88, da Comissão, de 21 de Setembro de 1988 (abreviadamentePAC), na sequência da Convenção de Bruxelas de 14.6.1983, queaprovou o Sistema Harmonizado de Designação e Codificação deMercadorias.

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Por outro lado, o citado DL 486/88 foi elaborado precisamentecom base na PAC. Com efeito, Portugal era obrigado a adoptar anomenclatura da PAC a partir de 1 de Março de 1986, em face dopreceituado no primeiro parágrafo do no 3 do art. 199o do mesmoTratado, podendo embora adoptar, durante o período de transição,direitos reduzidos em relação a países terceiros, nos termos do art. 197o

do Tratado de Adesão (Sobre a Nomenclatura Combinada, cfr. ”LeDroit Douanier”, de Claude Berr e Henri Tremeau, Nouvelle Edition,Económica, 1988, pág. 118, e Gomes Pais, in Alfândega, Revista Adua-neira, no 6, págs. 13 e segs.). O referido DL no 486/88 revogou dasInstruções Preliminares da Pauta aprovadas pelo DL no 518/85, de31 de Dezembro (à excepção do seu art. 39o, relativo à importaçãotemporária), instruções estas que haviam sido alteradas peloDL no 396/87, de 31 de Dezembro. Passaram então a vigorar naordem interna portuguesa as disposições preliminares e as regras geraisde interpretação constantes de regulamentos comunitários, designa-damente as da própria Pauta Aduaneira Comum.

Assim, há que considerar as regras gerais de interpretação da PAC,que constam dos citados Reg. (CEE) no 2658/87 e Reg. (CEE)no 3174/88.

Por outro lado, há que ter em conta as chamadas Notas Explicativasda Nomenclatura Combinada das Comunidades Europeias, emitidasao abrigo do disposto nos arts. 9o e 10o do Reg. (CEE) no 2658/87,quer na redacção anterior à do Reg. (CEE) no 2472/90, publicadono JO no L247, de 10.9.90, quer na redacção deste regulamento, querainda na do Reg. (CEE) no 316/91, da Comissão, de 7 de Fevereiro.Há ainda que atender à Aplicação Uniforme da Nomenclatura Com-binada a que refere o JO no C 263/10, de 18.10.90 — cfr. Berr citado,pág. 116 (no sentido de que tais Notas não são vinculativas, videa citada Revista Aduaneira, pág. 14, considerando que elas não têmforça legal por não constarem da citada Convenção de Bruxelas, apro-vada, para ratificação, pelo Decreto do Governo no 24/87, de 8 deJulho).

2.2 — Ora, a posição 0406 da referida Pauta portuguesa, aliás noseguimento da PAC, refere-se a ”queijos e requeijão” e deenvolve-seatravés de várias subposições pautais. Assim, a subposição 040610reporta-se a queijos frescos, a subposição 040620 a ”queijos raladosou em pó, de qualquer tipo”, a subposição 040640 a ”queijos empasta azul” e a subposição 040690 a ”outros queijos”.

Por sua vez, a subposição 040620 ainda é subdividida em duassubposições, uma relativa a ”queijos de Glaris com ervas . . .”, comocódigo no 04062010, e outra referente a ”outros” queijos, com o códigono 04062090. É nesta última subposição que a recorrente entendeque o queijo por si importado deve ser enquadrado. E a subposição040690, relativa a «outros queijos», comporta diversas subdivisões,entre as quais a subsposição 04069011, relativa a queijos «destinadosà transformação». Foi nesta que a administração aduaneira enquadrouo queijo a que os autos se reportam.

2.3 — Entretanto, o Regulamento (CEE) no 316/91, da Comissão,de 7 de Fevereiro de 1991, veio estabelecer disposições sobre a apli-cação uniforme, em relação a certas mercadorias, das regras geraispara a Interpretação da Nomenclatura Combinada, constantes do Ane-xo ao Regulamento (CEE) no 2658/87, do Conselho, de 23 de Julho,relativo à nomenclatura pautal e estatística e à Pauta AduaneiraComum.

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E dispôs aquele Regulamento que o «queijo ralado, que, devidoao seu elevado teor em humidade, às condições de transporte oude embalagem (parcialmente acondicionado no vácuo), se apresentasob a forma aglomerada», é enquadrável no código pautal 04062090.

Assim, se o dito regulamento for aplicável ao caso sub judice, porinterpretativo das regras gerais para a Interpretação Uniforme daNomenclatura Combinada, parece que o queijo a que os autos sereportam é de enquadrar na posição pautal 040620.

Na verdade, as notas explicativas, na redacção anterior a este Re-gulamento, aludiam a ”queijos ralados utilizados geralmente comocondimentos . . . , ao passo que tais notas, na redacção do Reg. (CEE)no 2472/90, passaram a referir-se a ”queijos ralados, geralmente uti-lizados como condimentos ou noutros fins da indústria alimentar...”,acrescentando que ”... podem ter sido parcialmente desidratados coma finalidade de lhes assegurar a mais duradoura conservação possível”e ainda que ”Classificam-se nesta subposição os queijos que, depoisde ralados, são aglomerados”.

E, face às notas explicativas na redacção do Regulamento (CEE)n.o 2472/90, parece também que o queijo a que os autos se reportamé de enquadrar na subposição pautal 04062090, como sustenta arecorrente.

3 — Só que, põe-se também aqui a questão de saber se ao casosub judice são aplicáveis as Notas Explicativas na redacção do Re-gulamento (CEE) no 2472/90.

4 — Trata-se, como se vê, de uma questão de interpretação detextos comunitários, para que é competente o Tribunal de Justiçadas Comunidades, nos termos do preceituado no art. 177o, alínea b),do Tratado de Roma, que institui as Comunidades Europeias.

Sucede que esta STA tem dúvidas sobre a interpretação dos re-feridos textos comunitários e desconhece a eventual existência dedecisões do Tribunal de Justiça das Comunidades que lancem luzsobre essa interpretação.

Assim, o esclarecimento dessas dúvidas constitui questão prejudicialà decisão do presente recurso.

Deste modo, e considerando que a recorrente solicitou que, nocaso de dúvida, fosse suscitada a intervenção do Tribunal de Justiçadas Comunidades e ainda que esta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo julga em última instância, deharmonia com o preceituado no art. 30o do Estatuto dos TribunaisAdministrativos e Fiscais, aprovado pelo DL no 1298/84, de 27 deAbril, após a redacção da Lei no 11/93, de 6 de Abril, impõe-se quese lance mão no nascimento previsto no art. 177o do Tratado deRoma.

5 — Assim, as dúvidas que este tribunal coloca ao Tribunal de Jus-tiça da Comunidades são as seguintes:

Considerando que é presente à alfândega portuguesa em 20.3.89,para introdução em livre prática ou para outro destino aduaneiro,queijo proveniente de um país comunitário, designado pelo exportadorcomo queijo ralado (”grated cheese”), que foi triturado e objectode uma operação industrial de substituição de oxigénio por uma so-lução de nitrogénio/002 injectado, para lhe aumentar a conservação,e depois embalado e prensado em sacos de plástico, com cerca de15 Kgs cada, com elevado índice de humidade, ficando com o aspectode uma pasta ou massa compacta, e que, após desembalado e exposto

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às condições ambiente, se desagrega em grânulos irregulares, per-gunta-se:

1o Em face do Regulamento (CEE) no 316/91, da Comissão, de7 de Fevereiro, o referido queijo é de classificar pela posição pautal04062090, como ”queijos ralados ou em pó, de qualquer tipo”, oupela posição pautal 04069011, como «queijos destinados à trans-formação» ?

2o O referido regulamento é interpretativo e por isso aplicávelretroactivamente à importação do queijo referido?

3o Em caso de resposta negativa a qualquer das referidas questões,são de considerar no caso as Notas Explicativas da NomenclaturaCombinada das Comunidades Europeias na redacção a que se refereo Jornal Oficial no C 263/110, de 18.10.90, ou as Notas Explicativasanteriores?

4o Num ou noutro caso, em qual das duas referidas posições pautaisdeve ser enquadrado o dito queijo?

Termos em que se acorda em suscitar a intervenção do Tribunalde Justiça das Comunidades, nos termos do disposto no art. 177o,alínea b), do Tratado de Roma, ao quel se colocam as questões acimaaludidas, sob o no IV, 5, e, ao abrigo do disposto no art. 279o doCódigo de Processo Civil, suspende-se a instância, até que aqueleTJ se pronuncie.

Sem custas, por não serem devidas.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — José Jesus Costa (relator) — JúlioFerreira Tormenta — Manuel Santos Serra (vencido, pois votei nosentido do provimento do recurso, a partir de consideração deque — conforme, aliás, foi já decidido por esta S.T.A. (Ac, de 12-01-94,rec. no 14 876, de que foi relator) — o Regulamento (CEE) no 316/91da Comissão, de 7 de Fevereiro, relativo à classificação de certasmercadorias na N.C., contém, como logo resulta do teor do seu preâm-bulo, disposições que se limitam a interpretar a N. C., no sentidode a adaptar à evolução dos processos técnicos de fabrico das mer-cadorias ali descritas.

E daí que, tratando-se de disposições interpretativas, elas devemser atendidas mesmo quanto a factos que, ocorridos embora antesda sua entrada em vigor, tenham sido praticadas sob o império dasnormas interpretadas, em que aquelas ficam integradas — art. 13o,no 1, do Código Civil).

Fui presente, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A.. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursos

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per saltum — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõese para além do constante do probatório da decisão re-corrida, que houve uma alteração da orientação anteriorda Administração Fiscal sobre o pagamento do imposto,bem como o seu conhecimento de uma decisão judicialproferida sobre a suspensão de eficácia do acto que nãosendo explicados pelo acto de liquidação e pelo acto dasua notificação o fazem padecer de vício de forma.

Recurso n.o 17 329, em que são Recorrente Estoril-Sol, S.A. e Re-corrido o Chefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto e de quefoi Relator o Exm.o Cons.o Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I. Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, n.o 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 5.122.464$00, praticado nos Bilhetes de Des-pacho n.o 201715-6 e 201793-8 da Delegação Aduaneira de Lisboa(Aeroporto), relativos à importação de diversos equipamentos des-tinados à prática de jogos de fortuna e azar, de que a recorrenteé concessionária, alegando a sua invalidade, e pedindo consequen-temente a sua anulação, por se achar afectado dos vícios de violaçãode lei, do contrato administrativo e de forma, consubstanciados, emsíntese, no facto da tributação substitutiva ou especial do impostosobre o jogo do art.o 34 do DL 48912, a que se encontra sujeita,e a cláusula 6a do Contrato de Concessão celebrado com o Estadoque a exclui de qualquer outra tributação geral ou local, sendo aimportação dos bens um dos meios materiais de dar execução aoestipulado n.o 3 da cláusula 4a do mesmo contrato, — de conservare manter em bom estado de utilização o equipamento —, e, finalmente,na falta de qualquer fundamentação do acto de liquidação.

II. O referido tribunal fiscal Aduaneiro julgou por sentença, de93.03.08, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III. Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora para esta Secçãodo Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo, pe-dindo a revogação da sentença.

IV. Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversas razõesque depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nas seguintespreposições conclusivas:

”a) O art.o 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o art.o 834o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário sub-stitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Lein.o 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusão

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dos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f) Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade autónoma, quer como um meio material de prosse-guimento da actividade principal concessionária, sempre ela estaráabrangida por aquele regime tributário substitutivo;

g) Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h) A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

m) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono art.o 84o do DL n.o 422/89, de 2 de Dezembro, no art.o 406o,n.o 1 do C.Civil e no art.o 1o do DL n.o 256-A/77, de 17 de Junho”.

V. O Exm.o Mag. do M.o P.o, junto deste Supremo Tribunal, opinou,em seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões que o re-curso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI. Com os vistos dos Exms.o Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. arts.o 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (art.o 3o da L.P.T.A.).

No art.o 33o, n.o 1, al. b) do E.T.A.F. dota-se a Secção do Con-tencioso Tributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dosrecursos interpostos das decisões dos tribunais fiscais e aduaneiros,com exclusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, poroutro lado, do art.o 42o, n.o 1, al. b), do mesmo ETAF, que essacompetência para conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributáriode 2a Instância quando eles tenham por fundamento matéria quenão seja exclusivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

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E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, arts.o 511o, n.o 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 646o, n.o 4,722o, ns.o 1 e 2 e 729o, n.o 2 do C.P.Civil) para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir de recurso,informada dentro do princípio do dispositivo, — independentementeda pertinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pre-tendida do recurso (que se situam fora desse âmbito) —, as normasou princípios jurídicos que tenham sido pretensamente violados ouinaplicados, na sua determinação, interpretação ou aplicação, ou se,ou também, à consideração de quaisquer factos naturais ou ocorrênciasda vida real (fenómenos da natureza ou manifestações concretas davisa, mesmo que do domínio do espírito ou da vontade), cujo co-nhecimento implique a elaboração de qualquer juízo probatório quenão se contenha na competência de um tribunal de revista (ou sejaque não se resolva por uma constatação sobre se houve ofensa dumadisposição legal expressa que exigia certa espécie de prova para aexistência de um facto ou que fixe a força de determinado meio deprova, — casos em que a questão se reduz ”prima facie” a uma apli-cação da lei e só decorrentemente numa fixação consequencial defacto —, nos termos do art.o 722o, n.o 2 do C.P. Civil), pois, nestecaso, a competência caberá, como se disse já, ao Tribunal Tributáriode 2a Instância, por força do art.o 41o, n.o 1, al. a) do ETAF, quena fixação dos factos materiais da causa se moverá dentro do valorlegal das provas, elaborando, por regra, de acordo com elas, um juízode prova livre ou de livre convicção sobre a existência dos factosprovandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por não ser nelas que o recorrentetem de condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidadejurídica para, na sua óptica determinar uma solução da causa diferenteda decidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso qualquerdos tipos de normas enunciados nos arts.o 722o, n.o 2 do C.P.C. epelo seu confronto com os correspondentes documentos porventuraexibidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontravam instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente doutros — que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória — do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapelo tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,

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da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constitui uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteprescrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do art.o 33o, n.o 1, al. b),do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no art.o 42o, n.o 1, al. a) do mesmo E.T.A.F..

VI. Destarte, atento todo o exposto, acordam os juizes desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noart.o 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40%de procuradoria.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — Benjamim Rodrigues (Rela-tor) — Júlio Ferreira Tormenta — José Jesus Costa. — Fui presente,Mota Salgado.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursos”per saltum“ — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõese para além do constante do probatório da decisão re-corrida, que houve uma alteração da orientação anteriorda Administração Fiscal sobre o pagamento do imposto,bem como o seu conhecimento de uma decisão judicialproferida sobre a suspensão de eficácia do acto que não

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sendo explicados pelo acto de liquidação e pelo acto dasua notificação o fazem padecer de vício de forma.

Recurso n.o 17.568, em que são Recorrente Estoril-Sol, S.A. e Re-corrido a Fazenda Pública e de que foi Relator o Exm.o Cons.oDr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I. Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, n.o 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (2o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 84.803$00, praticado no Bilhete de Despachon.o 291403-4 de 92.12.23 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Alverca),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, do contratoadministrativo e de forma, consubstanciados, em síntese, no factoda tributação substitutiva ou especial do imposto sobre o jogo doart.o 34 do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula 6a

do Contrato de Concessão celebrado com o Estado que a exclui dequalquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado n.o 3da cláusula 4a do mesmo contrato, — e conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento —, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II. O referido tribunal fiscal Aduaneiro julgou por sentença, de93.04.26, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III. Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora para esta Secçãodo Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo, pe-dindo a revogação da sentença.

IV. Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversas razõesque depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nas seguintespreposições conclusivas:

”a) O art.o 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o art.o 834o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário sub-stitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec. Lein.o 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações de material de jogo, já que,

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neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções.

f) Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade autónoma, quer como um meio material de prosse-guimento da actividade principal concessionária, sempre ela estaráabrangida por aquele regime tributário substitutivo;

g) Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual.

h) A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado.

m) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono art.o 84o do DL n.o 422/89, de 2 de Dezembro, no art.o 406o,n.o 1 do C.Civil e no art.o 1o do DL n.o 256-A/77, de 17 de Junho”.

V. O Exm.o Mag. do M.o P.o, junto deste Supremo Tribunal, opinou,em seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões que o re-curso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI. Com os vistos dos Exms.o Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. arts.o 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (art.o 3o da L.P.T.A.).

No art.o 33o, n.o 1, al. b) do E.T.A.F. dota-se a Secção do Con-tencioso Tributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dosrecursos interpostos das decisões dos tribunais fiscais e aduaneiros,com exclusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, poroutro lado, do art.o 42o, n.o 1, al. b), do mesmo ETAF, que essacompetência para conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributáriode 2a Instância quando eles tenham por fundamento matéria quenão seja exclusivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, arts.o 511o, n.o 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 646o, n.o 4,722o, ns.o 1 e 2 e 729o, n.o 2 do C.P.Civil) para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir de recurso,informada dentro do princípio do dispositivo, — independentementeda pertinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pre-

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tendida do recurso (que se situam fora desse âmbito) —, as normasou princípios jurídicos que tenham sido pretensamente violados ouinaplicados, na sua determinação, interpretação ou aplicação, ou se,ou também, à consideração de quaisquer factos naturais ou ocorrênciasda vida real (fenómenos da natureza ou manifestações concretas davisa, mesmo que do domínio do espírito ou da vontade), cujo co-nhecimento implique a elaboração de qualquer juízo probatório quenão se contenha na competência de um tribunal de revista (ou sejaque não se resolva por uma constatação sobre se houve ofensa dumadisposição legal expressa que exigia certa espécie de prova para aexistência de um facto ou que fixe a força de determinado meio deprova, — casos em que a questão se reduz ”prima facie” a uma apli-cação da lei e só decorrentemente numa fixação consequencial defacto —, nos termos do art.o 722o, n.o 2 do C.P. Civil), pois, nestecaso, a competência caberá, como se disse já, ao Tribunal Tributáriode 2a Instância, por força do art.o 41o, n.o 1, al. a) do ETAF, quena fixação dos factos materiais da causa se moverá dentro do valorlegal das provas, elaborando, por regra, de acordo com elas, um juízode prova livre ou de livre convicção sobre a existência dos factosprovandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por não ser nelas que o recorrentetem de condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidadejurídica para, na sua óptica determinar uma solução da causa diferenteda decidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso qualquerdos tipos de normas enunciados nos arts.o 722o, n.o 2 do C.P.C. epelo seu confronto com os correspondentes documentos porventuraexibidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontravam instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente doutros — que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória — do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapelo tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as acusações feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, mas certos acontecimentos históricos, que não foram consi-derados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,

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constitui uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do art.o 33o, n.o 1, al. b),do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no art.o 42o, n.o 1, al. a) do mesmo E.T.A.F.

VI. Destarte, atento todo o exposto, acordam os juizes desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noart.o 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — Benjamim Rodrigues (Rela-tor) — Júlio Ferreira Tormenta. — José Jesus Costa. — Fui presen-te, Mota Salgado.

Acórdão de 25 de Janeiro de 1995.

Assunto:

Direitos aduaneiros. Cobrança a posteriori. Prazo. Caduci-dade. IVA.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — Nos termos do art. 105 da Reforma Aduaneira, revogadapelo dec.-lei 244/87, de 16 JUN, o prazo para exigênciadas quantias recebidas a menos contava-se «da data emque deveria ter sido efectuado o exacto pagamento», comas excepções constantes do seu § único.

2 — Aquele diploma revogatório remete, para o efeito, para«as disposições da lei comunitária em vigor».

3 — E esta — regulamento CEE no 1697/79, do Conselho,de 24 JUL 79, erege como dies a quo respectivo — art.2o - a «data do registo da liquidação» ou, não a tendohavido, a da «constituição da dívida aduaneira relativaà mercadoria em causa» — arts. 2o e 3o do dec.-lei504-E/85, de 30 DEZ.

4 — Por sua vez, o art. 88 no 1 do CIVA dispõe que «sópoderá ser liquidado imposto nos cinco anos seguintesàquele em que se verificou a sua exigibilidade».

5 — Assim, aquele termo inicial não é determinado pela datade qualquer inspecção ordenada pela Administração Fis-

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cal Aduaneira nem, em consequência, pelo conhecimentoque, através da mesma, esta tenha tido da importaçãoda mercadoria.

Recurso n.o 18 233, em que são recorrente a Fazenda Pública e re-corrido José Luís Soveral & Filhos, Lda Relator o Exmo. Conso.Dr. Brandão de Pinho.

Acordam na Secção de Contencioso do Supremo Tribunal Ad-ministrativo:

Vem o presente recurso jurisdicional, interposto pela Fazenda Pú-blica, da sentença do Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa, 2o Juízo,proferida em 28-1-94, que julgou «verificada a caducidade do direitoà liquidação» e, em consequência, deu provimento ao recurso contraa mesma interposto por José L. Soveral e Filhos, Lda, anulando-a.

Fundamentou-se a decisão e a competência daquele tribunal, pora impugnação ter por objecto «um acto de liquidação de receitastributárias aduaneiras», mas ter caducado o respectivo direito, por,embora ainda em vigor o art. 105 da Reforma Aduaneira, poste-riormente revogado pelo dec.-lei 244/87, de 16-6, à data do factotributário, ocorrido em 22/1/87, se aplicar o art. 88 do CIVA, dispondoque «se o direito à liquidação não for exercido ou a liquidação nãofor notificada ao contribuinte no prazo de cinco anos contados apartir da data em que o facto tributário ocorreu, caduca tal direito».

A Fazenda recorrente formulou as seguintes conclusões:«1 — O acto impugnado e notificado a fls. 19 não é um acto de

revogação mas sim de revisão. Assim, o Tribunal Fiscal Aduaneironão era competente, pelo que a douta sentença viola o art. 68o doETAF.

2 — Ao considerar que caducou o direito à liquidação, a doutasentença interpreta e aplica mal o direito e os factos.

Deveria ter aplicado o direito aduaneiro (art. 102, 105 da ReformaAduaneira) e não o art. 88 do CIVA.

3 — Elege como acto tributário o notificado a folhas 19, quandoo acto de liquidação impugnável é o notificado em 9-5-89.

4 — O facto gerador deste acto não ocorreu em 1987 mas simem 4-1-89, momento em que a Administração tomou conhecimentoda introdução ilegal das mercadorias no consumo.

5 — Não caducou, pois, o direito à liquidação».E contra-alegou a recorrida José Luís Soveral e Filhos, Lda,

concluindo:«a) Apenas o acto praticado em 22/2/93 pode ser considerado acto

de liquidação, nos termos do art. 1o do Decreto-Lei no 504-E/85,de 30-12 e art. 1o do Regulamento (CEE) no 1854/89, do Conselho,de 14-6-89.

b) É da competência do Tribunal Fiscal Aduaneiro conhecer osrecursos dos actos de liquidação aduaneira, nos termos do art. 68no 1, alínea a) do ETAF, (Decreto-Lei no 129/84, de 27/4).

c) Tendo os alegados factos constitutivos da dívida aduaneira ocor-rido em 1987, a sentença do Tribunal Fiscal Aduaneiro ajusta-se àlei (art. 102 e 105 da Reforma Aduaneira e art. 2o no 1 do Regulamento(CEE) 1697/79, do Conselho, de 24/7/79 e art. 88o do CIVA), aoconsiderar verificada a caducidade do direito à liquidação por parte

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da Fazenda Nacional e, em consequência, ao anular o acto de li-quidação impugnado».

O Ex.mo magistrado do MP emitiu o seguinte parecer:«Como bem se salienta na sentença recorrida e nas contra-alegações

da recorrida, tendo em conta o disposto nos arts. 1o do DL no 504-E/85,de 30 de Dezembro, e 1o do Regulamento (CEE) do Conselhono1854/89, de 14-6-1989, apenas o acto praticado pela AdministraçãoFiscal em 22-2-93 pode ser considerado acto de liquidação de receitatributária aduaneira, não comungando dessa natureza o anterior, no-tificado em 9-5-1989; acresce que:

- Os tribunais fiscais aduaneiros são os únicos competentes paraconhecer dos recursos dos actos de liquidação de receitas tributáriasaduaneiras, nos termos do art. 68 no 1 al. a) do ETAF; por outrolado,

- Datando a importação em causa, de Janeiro de 1987 e a respectivaliquidação de direitos de Fevereiro de 1993, quando esta ocorreujá caducara o direito do Estado à liquidação, nos termos do art. 88no 1 do CIVA e 33 no 1 do CPT.

Como assim, não procede nenhum dos fundamentos do recurso,pelo que este deve ser julgado improcedente».

E, corridos os vistos legais, nada obsta à decisão.Em sede factual, vem apurado que:«a) Em 1987, a recorrente importou da Holanda, por via rodoviária,

diversa mercadoria constituída por tractores, semi-reboques e peças.b) A referida mercadoria foi adquirida às firmas «Van Vlief» (os

tractores) e «CRM Trailers» (os semi-reboques) — v. pág. 40 e 41.c) Para o tractor com a matrícula BH-47-JZ, foi emitida a declaração

t2 no 3002275, tendo sido desalfandegado através do bilhete de im-portação no 5.418/87, da Delegação Aduaneira de Alverca (v. fls. 21destes autos e anexos XIV e XVI, pág. 12 do processo apenso).

d) Para o semi-reboque com o no de registo OD-12-32, foi emitidaa declaração t2 no3002292, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5295/87, da mesma Delegação Aduaneira(v. fls. 22 destes autos e anexos XIV e XVI, pág. 4 do apenso).

e) Para o semi-reboque com o no de registo OV-47-21, foi emitidaa declaração t2 no3002296, tendo o mesmo sido desembaraçado pelobilhete de importação no 5292/87, da mesma Delegação Aduaneira(v. doc. de fls. 23 destes autos e anexos XIV e XVI pág. 4 do apenso).

f) Para 5 peças de eixos com peso de 10.000 Kgs. foi emitida adeclaração t2 no 3002290, tendo as mesmas sido desalfandegadas atra-vés do bilhete de importação no 5449/87, da mesma Delegação Adua-neira (v. pág. 24 destes autos e anexos XIV e XVI pág. 18 do apenso).

g) Para o tractor com a matrícula RH-85-GY foi emitida a de-claração t2 no 3002277, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5420/87, da mesma Delegação Aduaneira(v. fls. 25 destes autos e anexos XIV e XVI pág. 16 do apenso).

h) Para o tractor com a matrícula 92-PB-40, foi emitida a declaração3002270, tendo o mesmo sido desalfandegado através do bilhete deimportação no 5420/87, da Delegação Aduaneira de Alverca (v. pág.26 destes autos e anexos XIV e XVI do apenso — pág. 16).

i) Para o tractor com a matrícula RR-37-FS, foi emitida a declaraçãot2 no 3002276, tendo o mesmo sido desalfandegado através do Bilhetede Importação no 5420/87, da mesma Delegação Aduaneira (v. fls.27 destes autos e anexos XIV e XVI, fls. 16 do apenso).

j) Para o semi-reboque com o no de registo OS-85-47, foi emitidaa declaração t2 no3002294, tendo o mesmo sido desalfandegado através

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do bilhete de importação no 5416/87, da mesma Delegação A. (v.fls. 28 destes autos e anexos XIV e XVI, pág. 8 do apenso).

l) Para o tractor com a matrícula RF-54-ST, foi emitida a declaraçãono 3002274, tendo o mesmo sido desalfandegado através do bilhetede importação no 5404/87, da mesma Delegação (v. fls. 29 destesautos e anexos XIV e XVI, fls. 4 do apenso).

m) Para o semi-reboque com o no de registo OF-25-33, foi emitidaa declaração t2 no3002291, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5417/87, da Delegação referida (v. pág.30 e anexos XIV e XVI, pág. 10).

n) Para o semi-reboque com o no de registo OV-61-79, foi emitidaa declaração t2 no3002295, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5417/87, da mesma Delegação Aduaneira(ver pág. 31 destes autos e anexos XIV e XVI, pág. 10 do apenso).

o) Para cinco peças de eixos, com o peso de 10.000 Kgs., foi emitidaa declaração t2 no3002289, tendo as mesmas sido desalfandegadasatravés do bilhete de importação no 5450/87, da mesma DelegaçãoAduaneira (ver pág. 32 destes autos e anexos XIV e XVI pág. 20do apenso).

p) Para o tractor com a matrícula RD-71-YH, foi emitida a de-claração t2 no 3002272, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5419/87, da mesma Delegação Aduaneira(v. pág. 33 destes autos e anexos XIV e XVI pág. 13 do apenso).

q) Para o tractor com a matrícula RD-79-XG, foi emitida a de-claração t2 no 3002271, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5419/87, da Delegação Aduaneira deAlverca (ver pág. 33 destes autos e anexos XIV e XVI pág. 13 doapenso).

r) Para o tractor com a matrícula RD-54-JI, foi emitida a declaraçãono 3002273, tendo o mesmo sido desalfandegado através do bilhetede importação no 5419/87, da mesma Delegação (ver. pág. 33 destesautos e anexos XIV e XVI pág. 13 do apenso).

s) Para o semi-reboque com o no de registo OS-85-45, foi emitidaa declaração t2 no3002293, tendo o mesmo sido desalfandegado atravésdo bilhete de importação no 5291/87, da Delegação Aduaneira deAlverca (ver pág. 34 destes autos e anexos XIV e XVI, fls. 2 doapenso).

t) O conjunto constituído pelo tractor e semi-reboque BH-47-JZ,(OD-12-32) transportava como carga o semi-reboque OV-47-21 e 25peças de eixos, tendo dado entrada na Delegação Aduaneira de Al-verca, a coberto da declaração sumária com a contra-marca no 1213/87(v. pág., ou melhor, anexo 3 do apenso).

u) O conjunto constituído pelo tractor e semi-reboque RH-85-GI(OS-85-47) transportava como carga os tractores 92-PB-40 eRR-37-FS, tendo dado entrada na mesma Delegação, a coberto dadeclaração sumária com a contra-marca 1214/87 (v. anexo 3 doapenso).

v) O conjunto constituído pelo tractor e semi-reboque RF-54-ST(OF-25-33) transportava como carga o semi-reboque OV-61-79 e 25peças de eixo, tendo dado entrada na mesma Delegação, a cobertoda declaração sumária com a contra-marca no 1215/87 (v. anexo 3do apenso).

x) O conjunto constituído pelo tractor e semi-reboque RD-71-YH(OS-85-45) transportava, como carga, os tractores RD-XY eRD-54-JL, tendo dado entrada na Delegação Aduaneira referida a

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coberto da declaração sumária com a contra-marca no 1216/87 (v.anexo 3).

z) A mercadoria transportada a coberto da Declaração t2 no

3002288, constituída por algumas peças para semi-reboque, não foisubmetida a despacho (v. p. 14 do relatório apenso).

z1) A referida mercadoria tinha o valor tributável de 136.066$00,sobre ele incidindo o IVA e emolumentos do art. 10o da Tabela II,anexa à Reforma Aduaneira, tudo no montante de 23.594$00 (v. pág.25 do relatório constante do apenso).

z2) Por ofício de 28-4-89, (no 1307D-15) da Alfândega de Lisboa,foi a recorrente notificada para efectuar o pagamento da importânciade 4.856.182$00, assim distribuída:

Art. 10o (043) — 162.413$00;I.V.A. (179) — 2.950.524$00;Juros de Mora — 1.743.245$00, pelos fundamentos aí referidos (v.

fls. 35 e 36).z3) Na sequência dessa notificação, o despachante oficial repre-

sentante da recorrente apresentou a exposição de fls. 37 e 38 quese dão por reproduzidas.

z4) Por ofício de 5-3-93 (no 656 Proc. D-15, Livro 24, da Alfândegade Lisboa), a recorrente foi notificada para efectuar o pagamentoda quantia de 4.422.793$00, com a discriminação aí referida e pelosfundamentos já invocados no ofício indicado na alínea z2 (ver págs.19 e 20).

z5) Na Holanda, os reboques e atrelados de peso superior a 750Kgs. (tara mais carga) necessitam de livrete próprio, constituído poruma folha dobrada (cinzenta ou cor de rosa) em que figuram todosos dados técnicos, a saber: número de registo, tipo de veículo, marca,número de chassis, tipo de travão, etc., não possuindo, todavia chapade matrícula própria nem título de registo de propriedade (v. doc.de págs. 42 que se dá por integralmente reproduzido).

z6) A autoridade aduaneira, relativamente aos bilhetes de impor-tação referidos nas alíneas anteriores, procedeu ao registo de liqui-dação de todos eles, em 22-1-87, com excepção dos bilhetes nos 5449e 5450, a qual ocorreu em 23-1-87 (ver Quadro I, que se segue aoanexo 14-B do apenso).

z7) Por despacho do Snr. Director da Alfândega, foi determinadauma inspecção destinada a apurar eventuais irregularidades cometidaspela recorrente nas importações efectuadas (v. fls. 1 que se segueao índice do apenso).

z8) Tal inspecção terminou com o relatório que constitui (págs.1 a 3 do apenso).

z9) Na sequência dessa inspecção, procedeu-se à liquidação referidana alínea z2 supra.

z10) A recorrente, tendo sido notificada em 1-5-89, para efectuaro pagamento, não o fez (v. aviso de recepção do apenso — proc.de cobrança 132/89, na parte final do apenso).

z11) Entretanto, a recorrente dirigiu ao Snr. Subdirector da Al-fândega a carta no 701/89, de 11-5-89, referindo que no processode contra-ordenação provara a inexistência da dívida (v. apenso).

z12) Na sequência dessa carta, e por despacho de 17-5-89, foi so-licitada informação, a título jurídico, no sentido de esclarecer se tinhaou não sido apurada responsabilidade da recorrente (v. apenso).

z13) O Núcleo Jurídico prestou a informação constante do ofíciode 6/6/89 (no 1638, Proc. NG-F-9/7, Livro 24), que se dá por in-tegralmente reproduzido (v. apenso).

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z14) Por ofício de 28-9-92, no 23 Proc. GD, Livro 27, a Alfândegade Lisboa, voltou a notificar a recorrente para efectuar o pagamentoda dívida liquidada a que reporta a alínea z2 supra (v. ofício noapenso).

z15) A recorrente não pagou e apresentou a exposição a que sereporta a alínea z3.

z16) No processo de cobrança, foi prestada a informação constantedo apenso (folhas finais, após o que e por despacho de 19-11-92,foram ouvidos os intervenientes na inspecção acima referida z16).Estes prestaram a informação que consta do apenso, apenas alterandoa sua posição quanto à não tributação de três semi-reboques (v. in-formação, parte final, de 18-1-93).

z17) Na sequência desta informação, foi efectuada a liquidaçãonotificada a coberto do ofício de 5-3-93 à recorrente (v. apenso).

z18) A recorrente foi notificada em 12-3-93 conforme aviso derecepção junto no processo de cobrança (parte final do apenso).

z19) A referida liquidação foi registada em 22-3-93, cabendo-lheo no 900217 (v. última folha do apenso)».

Vejamos, pois:Há que apreciar, em primeiro lugar, a competência, em razão da

matéria, do TT de 1a Instância.Nos termos do art. 68 no 1, al. a) do ETAF, compete-lhes conhecer

«dos recursos de actos de liquidação de receitas tributárias adua-neiras».

E, como é sabido, a liquidação do imposto constitui o acto tributáriopor excelência.

E, em sentido amplo, ela abrange todo o complexo de actos atravésdos quais se fixa, não apenas o montante da prestação, «mas todoo conteúdo da relação jurídica tributária, nascida da conjunção dofacto concreto com a lei».

É o chamado processo de liquidação, abarcando toda a actividadedesenvolvida pela administração fiscal, até à exigência final do tributoe de que são exemplo os diversos códigos fiscais; assim, desde a de-terminação da incidência, das isenções, da matéria colectável, da li-quidação propriamente dita.

Cfr. Rodrigues Pardal e Rúben dos Anjos, CPCI, Anotado, vol.1o, pág. 42.

Termos, assim, que a exigência do tributo, ao contribuinte, se de-senvolve através de um processo típico — o processo de liquidação —,culminando num acto igualmente típico — a liquidação (em sentidoestrito).

Este, pois, o acto final do respectivo processo, como sucessão deactos interligados entre si e pré-ordenados à produção daquele, deque resulta que só a liquidação define a situação jurídica do con-tribuinte em relação ao imposto, como prestação pecuniária que é.

Cfr., o Ac. deste Tribunal Pleno, de 27-6-75 in Acs. Douts. no

168 pág. 1637.Por outro lado, só o art. 1o al. d) do dec.-lei 504-E/85, de 30 Dez.,

veio definir o que havia de entender-se por liquidação dos tributosaduaneiros.

Necessidade derivada, de imediato, além do tratado de Adesão,da nova legislação, sobre os tribunais Administrativos e Fis-cais — ETAF e LPTA —, que veio, nos sobreditos termos, consagrara admissibilidade de recurso dos actos de liquidação de receitas tri-butárias aduaneiras para os tribunais aduaneiros.

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É que, anteriormente ao ETAF, apenas se previa recurso, no art.209 do Contencioso Aduaneiro, das decisões tomadas nos bilhetesde despacho — como de outras — para os chamados tribunais técnicosaduaneiros — que aliás não eram verdadeiros tribunais — e, no art.202 do mesmo diploma, para este Supremo Tribunal, em relaçãoàs resoluções das autoridades encarregadas da fiscalização e cobrançados rendimentos das Alfândegas.

Como refere Jesus Costa, Revista da Alfândega, no 3 pág. 22, emmatéria aduaneira, «a liquidação era um processo complexo que seiniciava com a numeração do Bilhete de Despacho e se prolongava,ao longo do seu decurso», sendo «o próprio importador, por via deregra, quem procede à classificação das mercadorias, aplica as taxase calcula o imposto e demais imposições a pagar, cabendo aos serviçosaduaneiros uma atitude de controle».

O regulamento das Alfândegas prevê, com relação ao despachode importação definitiva, e como suas sub-espécies, os por declaração,por verificação e por caderneta — cfr., respectivamente, os seus arts.240, 272 e 287 e segts..

Ora, no despacho de importação por declaração — e de modo se-melhante ao que acontece na auto-liquidação do processo graciosodas Contribuições e Impostos, o acto de liquidação, era um acto pre-sumido da administração, de conformação com a declaração, e cálculo,rectius contagem dos tributos devidos.

Cfr., Alberto Xavier, Conceito e Natureza do Auto Tributário, págs.51 e segts..

No caso, é, pois, o despachante quem não só procede à classificaçãodas mercadorias importadas, como elabora a correspondente «con-tagem» dos direitos e demais imposições devidas, efectuando o res-pectivo cálculo — cfr. arts. 244 e 245 do Regulamento das Alfândegas.

Que haverá de pagar conferida tal contagem.Sem embargo de a Administração Fiscal se não conformar com

a liquidação assim efectuada, operando então nova liquidação, o quecorresponde à prolação de acto expresso de conteúdo diferente daautoliquidação.

Tal situação alterou-se, todavia, com a referida al. d), nos termosdo qual, o registo da liquidação «é o acto administrativo pelo qualé devidamente fixado o montante dos direitos de importação ou dosdireitos de exportação a cobrar pelas autoridades competentes», con-sagrando, assim, no domínio do direito aduaneiro, uma noção deacto de liquidação, em tudo semelhante à referente às contribuiçõese impostos.

Todavia, o dec.-lei 309/90 de 29 Set., veio alterar este sistema,com a revogação expressa dos decs.-leis 504-D/85 e 504-E/85.

Assim, o seu art. 1o dispõe que: «todos os montantes de direitosde importação ou de exportação liquidados pelas Alfândegas são re-gistados em livros próprios, denominados «Registo de Liquidação»,ou em suportes informáticos equivalentes, sendo o respectivo númeroaposto nos documentos que lhes digam respeito».

E o art. 2o manda aplicar, a todas as imposições cobradas pelasAlfândegas, (ainda que sem prejuízo das normas especiais sobre amatéria relativa aos impostos sobre o consumo cobrados na impor-tação), as disposições relativas ao registo de liquidação e às condiçõesde pagamento previstas no Reg. CEE no 1854/89, do Conselho.

Este diploma — art. 1o no 1 al. c) — define o registo de liquidaçãocomo «a inscrição pela autoridade aduaneira, nos registos contabi-

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lísticos ou em qualquer outro suporte que lhe seja equivalente, dosmontantes dos direitos de importação ou dos direitos de exportaçãocorrespondentes a uma dívida aduaneira».

O que significa, como a própria decisão recorrida expressa, quetal regulamento passou a ser aplicado «não só à cobrança e registode liquidação dos recursos próprios comunitários liquidados e co-brados pelos Estados membros (no caso, por Portugal), como tambémàs imposições internas cobradas pelas Alfândegas (portuguesas) mes-mo que de direitos aduaneiros se trate».

Ora, conforme resulta do probatório, a impugnante importou mer-cadorias em Janeiro de 1987 e, após inspecção à mesma, foi ordenadaa liquidação de direitos que a Administração Aduaneira consideroudevidos, tendo aquela sido notificada para o seu pagamento, em 9-5-89,sem que todavia se tivesse efectuado o competente registo.

Ora, este, como resulta dos aludidos diplomas, é constitutivo.Na verdade, o registo da liquidação é que constitui o acto ad-

ministrativo pelo qual é fixado, nos sobreditos termos, o montantedo imposto ou tributo.

Não pode, pois, aí, falar-se de verdadeira «liquidação», em sentidojurídico.

E desenvolveu-se, então, um processo gracioso, com intervençãoda impugnante, como resulta do probatório, nomeadamente com in-tervenção do núcleo jurídico.

E só então a Administração efectuou, em 22-2-93, registo da li-quidação, nos apontados termos, fixando, aliás, um montante inferiorao da predita notificação.

Ora, seja assim qual for a eficácia deste acto em relação ao anterior,não pode duvidar-se que ele constitui um acto de liquidação, ver-dadeiro e próprio.

Pois, mesmo que porventura se tratasse de um acto confirmativo,não perdia tal natureza: a confirmatividade não obstava à competênciamaterial do tribunal, mas apenas à sua recorribilidade.

Trate-se, assim, de uma revogação, revisão ou confirmação, sempreo tribunal é competente para a impugnação contenciosa respectiva.A competência afere-se, em relação à recorribilidade do acto, emmomento prévio.

É, pois, de concluir ser o TT de 1a Instância materialmente com-petente para o conhecimento da presente impugnação judicial.

Quanto à caducidade do direito de liquidar:Esta verifica-se efectivamente quer se aplicasse o art. 105 da Re-

forma Aduaneira, já revogado pelo dec.-lei 244/87, de 16 JUN, nasequência do Regulamento CEE no 1697/79, do Conselho, de 24 JUL79, quer este, quer o art. 88 do CIVA.

Na verdade, a importação teve lugar em 1987, pelo que quer setivesse em conta «a data em que deveria ter sido efectuado o exactopagamento» — art. 105 —, quer a «da constituição da dívida aduaneirarelativa à mercadoria em causa», uma vez que não houve «registoda liquidação» — art. 2o —, sempre aquele prazo está nitidamenteexcedido: o registo da liquidação impugnada é de 1993 e o prazode caducidade é de três anos.

Como pelo art. 88 do CIVA, em que aquela só pode ter lugar«nos cinco anos civis seguintes àquele em que se verificou a suaexigibilidade».

Não tem, assim, fundamento legal a asserção da recorrente de que,consistindo o facto tributário que deu origem à liquidação impugnada,

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«na introdução da mercadoria sem declaração, logo com violaçãodas disposições legais», «este facto ocorreu quando a administraçãodele tomou conhecimento na sequência da inspecção levada a efeito,ou seja, em 4-1-89».

Na verdade, não é a data em que a Administração teve conhe-cimento da importação a relevante para determinar o dies a quodo prazo de caducidade.

Pois, nos termos do art. 2o no 1 al. b), e 3o al. b), ambos do ditodec.-lei 504-E/85, o facto constitutivo da dívida aduaneira na impor-tação é «a introdução no território aduaneiro de uma mercadoriapassível de direitos de importação com violação das disposições legaisrelativas à apresentação das mercadorias às alfândegas e ao depósitoprovisório», considerando-se como momento relevante para o efeitoo da introdução da mercadoria no mesmo território.

Improcedem, assim, todas as conclusões do recurso.Termos em que se acorda negar-lhe provimento, confirmando-se

a sentença recorrida.Sem custas.

Lisboa, 25 de Janeiro de 1995. — Domingos Brandão de Pinho(relator) — João José Coelho Dias — Carlos Alberto Pereira GouveiaHorta do Valle. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 1 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Imposto especial do jogo. IVA. Decs.-Leis 48.912, de 18-3-69e 422/89 de 2-12. Art. 9o nos 32 e 33 do CIVA.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — A Tributação consagrada nos Decs.-Leis 48.912 e 422/89configura um imposto especial sobre o exercício da ac-tividade da exploração do jogo relativamente ao impostogeral sobre o rendimento. IRC.

2 — O IVA é um imposto sobre o consumo ou a despesa.3 — São passíveis deste as aquisições de material de jogo des-

tinado ao exercício da referida actividade.4 — O dito tributo especial, com exclusão de qualquer outro,

geral ou local, apenas abrange o próprio exercício daquelaactividade, que não a predita aquisição de bens.

Recurso: 18.577, em que é Recorrente a Sociedade Figueira-Praia,SA, Recorrida a Fazenda Pública, em que foi Relator o Exmo Conso

Dr. Brandão de Pinho.

Acordam na Secção do Contencioso Aduaneiro do Supremo Tri-bunal Administrativo:

Vem o presente recurso jurisdicional, interposto por Sociedade Fi-gueira-Praia, SA, com sede na Figueira da Foz, da sentença do T.T.de 1a Instância de Coimbra, proferida em 8-3-94, que julgou impro-

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cedente a impugnação judicial pela mesma deduzida contra a liqui-dação de IVA, respeitante a ”diversas aquisições de bens e serviçosdestinados ao apetrechamento e exploração da sala de jogos”.

Fundamentou-se a decisão em que a impugnante está sujeita aoimposto especial pelo exercício da actividade de jogo, com exclusãode qualquer outra tributação geral ou local, mas esta exclusão nãoabrange as aquisições de bens e serviços, ainda que destinados es-pecificamente ao exercício da mesma actividade, as quais são tribu-tadas em IVA que ”não é devido pelo exercício de uma actividadepois trata-se de um imposto geral incidente sobre o consumo, deque nem o Estado está isento”.

A recorrente concluiu pela violação dos arts. 84o nos 1 e 2 e 4da Lei do Jogo (Dec.-Lei 422/89, de 2 Dez) e 9o no 32 (parte final)e no 33 do CIVA, uma vez que a sua actividade não pode ser exercidasem o concurso dos vários elementos (bens) que integram os jogose que constituem o seu diversificado equipamento, para o que temde adquirir os bens e serviços que fazem parte integrante ou estãoafectos ao exercício da actividade respectiva, pelo que o regime fiscalda actividade do jogo tem necessariamente que ser único e individual,abrangendo o dito equipamento e serviços, verificando-se, assim, umatributação num imposto único e especial, nos termos do art. 84o doDec.-Lei 422/89, que, em consequência, preceitua, de forma peremp-tória e terminante, a isenção da actividade do jogo, de qualquer outratributação geral ou local. Assim, todos os equipamentos estão abran-gidos por aquele imposto único, beneficiando da correlativa isençãodo IVA, igualmente, aliás, nos termos dos nos 32 e 43 do art. 9o

do CIVA.O Exmo Magistrado do MoPo emitiu parecer no sentido do não

provimento do recurso, por a referida tributação do jogo não concederà recorrente qualquer isenção de IVA, já que este consubstancia umimposto sobre o consumo.

E, corridos os vistos legais, nada obsta à decisão.Em sede factual, vem apurado que:”-A impugnante esteve colectada pela respectiva Repartição de

Finanças em Contribuição Industrial, segundo o sistema do grupoA, até à entrada em vigor do código do IRC;

- Altura a partir da qual ficou sujeita às regras de tributação daqueleimposto, pelo exercício das seguintes actividades: Actividade Principal- Zona de Jogo da Figueira da Foz; outras actividades - IndustriaHoteleira e similares, cinema, espectáculos e outras;

- Pelo exercício da primeira daquelas actividades, a impugnantegozava de isenção de contribuição industrial, nos termos da alínea c)do art. 15o do revogado Código da Contribuição Industrial.

- Actualmente, a impugnante não está sujeita a tributação dos ren-dimentos directamente resultantes do exercício da respectiva activi-dade, conforme dispõe o art. 6o do Código do Imposto sobre os Ren-dimentos das Pessoas Colectivas;

- o exercício de tal actividade esteve sujeito ao pagamento de im-posto especial a que se refere, nomeadamente, o D.L. 48.912, de18-03-69 e presentemente pelo D.L. no 422/89, de 2/12, que revogouparcialmente aquele;

- sendo enunciado de tais diplomas, que pelo exercício da actividadeconcessionária, não lhe será exigível qualquer outra tributação geralou local (art. 34o e no a do art. 84o, respectivamente);

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- relativamente ao Imposto sobre o Valor Acrescentado, a impug-nante apresentou, na respectiva repartição, a declaração de registoreferida no art. 2o do D.L. no 394-A/84, de 26-12;

- Na qual indicou exercer as actividades antes aludidas, declarandoque efectuava transmissões de bens e/ou serviços prestados que con-feriam direito à dedução;

- A impugnante ficou enquadrada no regime de tributação normalde periodicidade mensal, com direito a dedução pelo total das suasactividades;

- Em resultado da declaração de alterações apresentada em03/02/88, a impugnante continuou a ser sujeito passivo do IVA noregime anteriormente referido, mas apenas em parte das suasactividades;

- tal situação ainda se verifica nesta data e continuará até 01-12-94,por opção do sujeito passivo, conforme declaração apresentada em07-12-89;

- o imposto impugnado, como se constatava dos documentos juntosà impugnação, respeita a diversas aquisições do bens e serviços des-tinados ao fornecimento e exploração de sala de jogo;

- foi liquidado e cobrado imposto sobre o valor acrescentado defacturas emitidas por entidades que, no período a que os autos aludeme o petitório se reporta, prestaram serviços ou forneceram materiaisindispensáveis ao apetrechamento e à respectiva manutenção das salasde jogo;

- que integram os documentos juntos aos autos, aqui consideradosintegralmente reproduzidos”.

Vejamos, pois:A questão dos autos é a da sujeição, ou não, da recorrente ao

IVA, liquidado relativamente aos bens adquiridos para o exercícioda actividade da exploração do jogo, de que é concessionária.

Ora, a exploração da actividade do jogo está sujeita a um regimeespecial — arts. 34o do Dec.-Lei 48.912, de 18-3-69 e 84.o doDec.-Lei 422/89, de 2-12 — imposto único e especial sobre a actividadedo jogo —, excluindo qualquer outra tributação, geral ou local, relativaà mesma actividade.

Trata-se, assim, de um imposto especial — por contraposição aosimpostos gerais sobre o rendimento que são o IRS e IRC —, umavez que tributa um determinado rendimento, justamente o exercícioda actividade da exploração do jogo.

O IVA não é um imposto sobre o rendimento mas antes sobreo consumo ou a despesa.

Mas, assim sendo, a referida aquisição de bens não está isentaou não sujeita a IVA, já que se não refere ao próprio exercício daquelaactividade, mas à aquisição de bens situada antes ou a montante desta.

E tanto assim é que a lei teve necessidade de consagrar isençõesde outros tributos, o que seria despropositado com o alcance geralque a recorrente dá à referida remissa: exclusão de qualquer outratributação.

Esta diz, pois, unicamente respeito ao próprio exercício da acti-vidade da exploração do jogo.

Daí a isenção de sisa quanto à aquisição dos prédios indispensáveisao cumprimento das obrigações assumidas no contrato de concessão— os quais, relativamente àquele exercício, estão justamente no mes-mo plano do referido equipamento de jogo; de contribuição autárquicaquantos aos prédios que estejam afectos ao dito exercício de acti-

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vidade — art. 92o do referido Dec.-Lei 422/89; e das taxas devidaspor alvarás e licenças municipais relativos às obrigações contra-tuais — art. 93o do mesmo diploma.

Daí, ainda, a isenção de IVA— art. 9o no 32, in fine, do CIVA —relativamente a ”todas as actividades sujeitas a impostos especiaissobre o jogo”.

Que, todavia, também não aproveita à recorrente quanto à indicadaaquisição de bens pois que se refere à própria actividade de exploraçãodo jogo em si e não àquela aquisição, nos referidos termos.

Como lhe não aproveita o disposto no no 33 do mesmo preceito,por não haver lugar à dedução, à mingua do respectivo condicio-nalismo legal — art. 19o do CIVA.

Improcedem assim todas as conclusões do recurso.Cfr., aliás, no sentido exposto, os Acs. deste STA, de 11-X-89 e

de 19-X-89 in Apêndice ao Diário da República (Aduaneiro) e, maisrecentemente, de 16-3-94, rec. 17.326, 26-X-94, rec. 16.658 e 21-12-94,rec. 18.576.

Termos em que se acorda negar-lhe provimento, confirmando-sea sentença recorrida.

Custas pela recorrente, fixando-se a procuradoria em 70 %.

Lisboa, 1 de Fevereiro de 1995. — Domingos Brandão de Pinho(relator) — João José Coelho Dias Carlos — Alberto Pereira GouveiaHorta do Valle. — Fui presente, António Mota Salgado

Acórdão de 15 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Contencioso aduaneiro. Tribunais técnicos aduaneiros. Prazode recurso contencioso.

Doutrina que dimana da decisão:

O prazo de recurso contencioso de deliberações dos tribunaistécnicos aduaneiros é de dois meses, contados da notificaçãodo acto recorrido, nos termos do art. 28o/1/a) da LPTA.

Recurso n.o 18.153. Recorrente: Termoplás — Produtos e Equipa-mentos para a Indústria, Lda; Recorrido: Conselho Técnico Adua-neiro; Relator, o Exmo. Cons.o Dr. Ernâni Figueiredo.

Acordam na 2.a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

Inconformado com o acórdão do Tribunal Tributário de 2.a Ins-tância que lhe rejeitou, por extemporaneidade, o recurso que paraali havia sido remetido após a declaração de incompetência do Tri-bunal Fiscal Aduaneiro do Porto, veio a Rte Termoplás — Produtose Equipamentos, L.da, recorrer, concluindo a sustentar que o prazopara interposição do recurso apresentado, de decisão proferida peloTribunal Técnico Aduaneiro de 2a Instância sobre classificação pautal,é de 90 dias, pelo que não foi extemporâneo o recurso.

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Pela decisão recorrida teriam sido infringidos os arts. 131.o da LPTAe 123o do CPTributário.

O EPGAdjunto é de parecer que o recurso não merece provimento,porquanto o recurso em causa não é impugnação judicial, mas umrecurso de mera legalidade, de acto administrativo preparatório daliquidação de direitos, e como tal destacável, a interpor no prazodo art. 28o/1/a) da LPTA.

Cumpre apreciar, em atenção aos seguintes dados colhidos na de-cisão recorrida:

A Rte interpôs recurso, nos termos do art. 42o do DL 129/84,de 27.4, do Acórdão 672, proferido pelo Tribunal Técnico Aduaneirode 2a Instância, em 28.2.91, para o Tribunal Fiscal Aduaneiro doPorto.

O qual se julgou incompetente em razão da hierarquia para co-nhecer do recurso — Despacho judicial de 27.11.91.

Notificada a Rte, esta veio requerer a remessa do processo aoTribunal Tributário de 2a Instância.

O citado acórdão do Tribunal Técnico Aduaneiro foi notificadoà Rte em 29.4.91 — doc. de fls. 53 do proc. inst. — e a petição dorecurso deu entrada no Tribunal Fiscal Aduaneiro em 16.9.91.

Aí se referindo expressamente que ”a decisão que se põe em criseclassificou no Código Pautal 8477.20.000000009 a máquina extrussoraadquirida pela Rte, submetida a processo de desalfandegamento peloDU 135 120, com a data de aceitação de 30.12.1988 da DelegaçãoAduaneira de Freixieiro da Alfândega do Porto”.

Quando deveria ter sido classificada no Código 8477.20.00.0.00.001.Controverte-se qual o prazo aplicável ao recurso (ou impugnação

em sentido geral) contencioso de uma deliberação de tribunal técnicoaduaneiro, porquanto é esse o acto que vem configurado na petiçãoinicial do procedimento como acto recorrido.

Acto regulado no livro II do Contencioso Aduaneiro, aprovadopelo DL 31 664, de 22.11.41, sucessivamente alterado por leis pos-teriores até à sua revogação pelo DL 281/91, de 9.8 (rectificado peladeclaração 200/91), que criou o Conselho Técnico Aduaneiro em subs-tituição dos referidos órgãos.

Esses órgãos, ”que não eram verdadeiros tribunais (cf. Ac. destetribunal de 28.11.90, em Ap. DR 1990, p. 655), proferiam actos ad-ministrativos (cf. Ac. de 15.11.90, cit. publ., p. 642) prejudiciais re-lativamente aos actos de liquidação de receitas tributárias aduaneiras(cf. Alberto Xavier, Conceito e Natureza (. . .), p. 254) e do respectivoprocesso destacáveis para efeitos de recorribilidade contenciosa, quea lei endereçava ao Tribunal Tributário de 2a Instância (art. 42o/1/c)do ETAF).

Ao classificar-se o acto recorrido de prejudicial e destacável re-lativamente aos referidos actos de liquidação e respectivo processo,implicitamente, já se exclui o mesmo da categoria de actos de li-quidação de receitas tributárias aduaneiras, onde se apropositaria oseguimento dos termos do processo de impugnação judicial reguladoprimeiro pelo CPCImpostos, depois pelo CPTributário, que não ostermos do recurso contencioso regulado na LPTA, de acordo coma jurisprudência uniforme deste tribunal (cf. Acs. do Pleno da Secçãode 17.3.93, rec. 13 273 e de 10.4.91, rec. 5598 e da Secção de 16.1.91,em Ap. Dr., de 16.1.93, p. 17).

Assim, de acordo com a classificação dada ao acto recorrido, omeio a usar teria que ser o comum às jurisdições administrativa e

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fiscal, dos referidos no art. 130o da LPTA, porquanto estava nestepreceito abrangido, não lhe sendo aplicável ”o disposto na legislaçãodo respectivo contencioso” — letra do art. 131o —, mormente no querespeita ao meio de reagir judicialmente do art. 89o e ss do CPCIe, depois, dos arts. 123o e ss do CPT.

Meio próprio, dos aludidos como comuns às duas jurisdições, éo do recurso contencioso dos arts. 24o e ss da LPTA, que consignao prazo de 2 meses para a interposição do procedimento, contadoda respectiva notificação do acto recorrido — art. 28o/1/a) —, e nostermos do art. 279o do CCivil — no 2 do mesmo preceito.

Atentas tais normas, que não podiam, por serem de ordem pública,vir a ser afastadas pela enunciação dos fundamentos apresentadospela Rte, é o recurso interposto em 16.9.91 extemporâneo, como cor-rectamente se decidiu no aresto sob recurso.

Termos em que se nega provimento ao recurso.Custas pela Rte, com taxa de justiça e procuradoria, respectiva-

mente, em 30 000$00 e 40 %.

Lisboa, 15 de Fevereiro de 1995. — Ernâni Figueiredo (rela-tor) — João José Coelho Dias — Rodrigues Pardal. — Fui presente,António Mota Salgado.

Acórdão de 15 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Contencioso Aduaneiro. Decisão do Conselho Técni-co — Aduaneiro. Homologação pelo Ministro das Finanças.Recurso contencioso.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — O Conselho Técnico-Aduaneiro é um órgão específicona matéria de conflitos técnicos relativos à classificaçãopautal, origem e valor das mercadorias (art. 1 doDL 281/91, de 9.8).

2 — A decisão do Conselho Técnico-Aduaneiro, depois dehomologada pelo Ministro das Finanças, é recorrível porser o acto definidor da posição jurídica contestada pelodeclarante.

3 — O conteúdo da homologação e o acto homologado, masa homologação só confere à decisão e carácter de actodefinitivo e executório.

4 — Os despachos ministeriais homologantes não são recor-ríveis, por ser um acto material e horizontalmente nãodefinitivo.

Recurso n.o 18 592 em que é recorrente CIE — Companhia Inter-nacional de Electrónica, S. A. e recorrido Secretário de Estadodos Assuntos Fiscais. Relator o Exmo Sr. Conso Dr. RodriguesPardal.

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Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

CIE — Companhia Internacional de Electrónica, S. A., que antesusava a denominação CIE — Construtor Civil, Importação e Expor-tação, Lda, p. c. 501601643, com sede na Rua Projectada à R. 3,Bloco A, 3o, A/C — Urbanização da Matinha — 1900 Lisboa, nãose conformando com os despachos do Senhor Secretário de Estadodos Assuntos Fiscais, de 2.5.94, que homologaram as decisões no 83/93,84/93 e 85/93, do Conselho Técnico-Aduaneiro (Docs 1/3), veio delesinterpor recurso ao abrigo do art. 33, no 1, alínea c), do ETAF, nostermos e com os fundamentos seguintes:

A recorrente (R) recebeu de Itália máquinas de lavar roupa comdispositivo de secagem as quais foram submetidas a despacho, naAlfândega de Lisboa, com a classificação pautal de 84501190.

Por as máquinas terem capacidade superior a 6 Kgs. mas não su-perior a 10 Kgs, as decisões recorridas atribuíram a posição pautalde 84501110, violando as regras 1 e 6 para interpretação do SistemaHarmonizado.

Competia ao Conselho Técnico Aduaneiro contraditar a posiçãoda R, demonstrando cabalmente a inexistência das característicasapontadas através de sucinta fundamentação de facto e de direito.

Enfermam, pois, os despachos recorridos do vício de falta de fun-damentação por insuficiência, incongruência e ausência de clarezaface ao imperativo legal decorrente da aplicação obrigatória do 125do Cód. do Proc. Adm.

Ao preterir a formalidade essencial para a descoberta da verdadematerial, o Conselho Técnico ofendeu os princípios da certeza e se-gurança da actividade tributária insitos no art. 17 do CPT.

Os despachos recorridos estão, ainda, viciados de incompetência,visto o seu autor ter agido no uso de uma competência própria quea lei não lhe atribui.

Termos em que os actos recorridos deverão ser objecto de anulaçãopor os mesmos enfermarem de vício de forma, violação de lei e deincompetência.

O distinto magistrado do Ministério Público junto deste SupremoTribunal é de parecer que o recurso deve ser rejeitado por o actode homologação, não sendo o acto definidor da posição jurídica daAdministração e sendo posterior é um acto material e horizontalmentenão definitivo e, consequentemente, irrecorrível, pois é o acto doConselho Técnico-Aduaneiro, o verdadeiro acto definidor da situaçãojurídica, pelo que será acto material, horizontal e verticalmente de-finitivo, embora, sem a aprovação consubstanciada na homologação,não seja executório.

Ouvida a R sobre a questão suscitada, veio dizer, em conclusão:- O acto de homologação não se identifica com o acto de aprovação;- O acto do Conselho Técnico-Aduaneiro não é definitivo mas

sim interno e preparatório do acto homologatório que poderá serou não objecto de concordância por parte do Ministro das Finançasou, por delegação, como é o caso, por parte do Secretário de Estadodos Assuntos Fiscais;

- Só depois de homologada a decisão do Conselho Técnico-Adua-neiro se torna definitiva e, nessa qualidade, é comunicada ao ad-ministrado que com ela se poderá ou não conformar;

- A eventual lesão dos direitos do administrado apenas se tornaráefectiva após homologação que, obrigatoriamente, será objecto denotificação;

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- O acto do Senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fiscaisé, no caso vertente, um acto de homologação, definidor da posiçãojurídica da Administração, lesivo dos interesses da R e, como tal,passiva de recurso contencioso.

Termos em que deve ser julgado improcedente o parecer do Mi-nistério Público, prosseguindo o recurso os seus trâmites legais.

Colhidos os vistos legais, urge decidir.1. O distinto representante do Ministério Público suscitou a questão

prévia (art. 54 da LPTA) da irrecorribilidade dos actos ministeriaisde homologação que determina o não prosseguimento do recursoe, em consequência, a rejeição do recurso (v. art. 57, § 4, do RSTA).

A R veio dizer que o despacho ministerial — o acto de homo-logação — é definidor de posição jurídica da Administração, lesivados interesses da R e, como tal, passível de recurso, contencioso.

O Conselho Técnico-Aduaneiro é um órgão especifico na matériade conflitos técnicos relativos à classificação pautal, origem e valordas mercadorias (art. 1, do DL 281/91, de 9.8) e é constituído peloDirector-Geral das Alfândegas que preside e por um representantedo Ministério da Indústria e Energia, um representante do Ministérioda Agricultura, um representante do Ministério do Comércio e Tu-rismo ou outros representantes das actividades económicas (art. 2,com a redacção do DL 324/93 de 25-9 — art. 68).

Compete ao Conselho decidir sobre as contestações de caráctersuscitadas no acto da verificação das mercadorias ou posteriormenteao seu desalfandegamento, relacionadas com a classificação pautal,ou origem ou valor das mercadorias (art. 6).

As decisões do Conselho Técnico-Aduaneiro, reunido com um mí-nimo de sete membros, incluindo o presidente, são aprovados como voto favorável da maioria dos presentes, cabendo ao presidenteo voto de qualidade (art. 8).

As decisões do Conselho serão homologadas por despacho do Mi-nistério das Finanças (art. 9), serão transmitidas às alfândegas paranotificação aos interessados e ultimação dos despachos (art. 19, no 5),pelos serviços aduaneiros não somente aos casos a que directamentedigam respeito, mas também a casos idênticos que ocorram a partirda data da homologação (art. 21) e serão publicadas, após homo-logação, em circular da Direcção-Geral das Alfândegas, mantendo-seconfidenciais os nomes dos intervenientes nos processos e a marcacomercial da mercadoria (art. 23).

Destas normas referidas depreende-se que a decisão é da com-petência exclusiva do Conselho Técnico-Aduaneiro. É este que definea posição aduaneira face às contestações surgida na verificação dasmercadorias no que respeita à classificação pautal, à origem ou valordas mercadorias.

O declarante — importador — face à discordância dos Serviçosdas Alfândegas em relação aos elementos da declaração apresentadoe não concordando, contestou a posição dos Serviços das Alfândegas.

A posição em causa é apreciada e o Conselho Técnico Aduaneirodefine o entendimento a seguir pelo declarante — contestante.

O Conselho é um órgão sem dependência hierárquica do Ministrodas Finanças, dada a sua composição, cabendo-lhe definir a situaçãojurídica em causa. A decisão do Conselho acto material horizontale verticalmente definitivo.

A homologação por parte do Ministro das Finanças confere exe-cutoriedade à decisão do Conselho que é um acto definitivo e exe-cutório, cabendo dele recurso contencioso (v. art. 25 da LPTA).

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Portanto, o acto administrativo recorrível é decisão do Conselho.A homologação apenas lhe confere executoriedade, eficácia.

O conteúdo do acto é o conteúdo da decisão do Conselho. O actohomologado continua a considerar-se como um acto próprio da en-tidade — no caso do conselho — que o proferir.

Daqui resulta que o acto de homologação às decisões do ConselhoTécnico-Aduaneiro do Senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fis-cais, embora dê eficácia à decisão, não é recorrível por não ser oacto definidor da posição jurídica da Administração. É já um actoposterior ao acto definidor da situação jurídica contestada pela R.

É um acto material e horizontalmente não definitivo, por isso, nãoé passível de recurso contencioso.

O conteúdo da homologação e o acto homologado. Mas só a ho-mologação confere a decisão o carácter de acto definitivo e executório.

Quer dizer: a R devia atacar contenciosamente as decisões do Con-selho Técnico-Aduaneiro e não os despachos ministeriais de ho-mologação.

2. Em face do exposto, a questão prévia suscitada pelo distintomagistrado do Ministério Público tinha razão de ser e ser julgadaprocedente, rejeitando-se o recurso por manifesta ilegalidade de in-terposição (art. 57, § 4, do RSTA).

Nestes termos, acordam em rejeitar o recurso por ilegalidade ma-nifesta de interposição.

São devidas custas, fixando-se a taxa de justiça em trinta (30,000$)mil escudos e a procuradoria em quarenta (40 %) por cento.

Lisboa, 15 de Fevereiro de 1995. — Francisco Rodrigues Pardal(Relator) — Ernâni Marques da Silva Figueiredo — Manuel Fernan-do dos Santos Serra. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursosper saltum — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração da orien-tação anterior da Administração Fiscal sobre o paga-mento do imposto, bem como o seu conhecimento deuma decisão judicial proferida sobre a suspensão da efi-cácia do acto que não sendo explicados pelo acto deliquidação e pelo acto da sua notificação o fazem padecerde vício de forma.

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Recurso no. 15.842, em que é Recorrente Estoril Sol, SA e RecorridoChefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto, e de que foi Relatoro Exmo. Conso. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I — Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (2o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 23.975$00, praticado no Bilhete de Despachono 84.132 de 88.09.30 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Aeroporto),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, do contratoadministrativo e de forma, consubstanciados, em síntese, no factoda tributação efectuada ofender o regime de tributação substitutivoou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89 (antesdo arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula 6a

do contrato de concessão celebrado com o Estado que a exclui dequalquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no 3da cláusula 4a do mesmo contrato — de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento —, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II — O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.06.22, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III — Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar orecurso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV — Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversasrazões que depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nasseguintes proposições conclusivas:

«a) O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário sub-stitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

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f) Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade principal concessionária, sempre ela estará abrangidapor aquele regime tributário substitutivo;

g) Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h) A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

m) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro, no arto 406o, no

1 do C. Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho».V — O Ex.mo Mago do MoPo, junto deste Supremo Tribunal, opi-

nou, no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente emrazão da hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões queo recurso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e,ainda, se assim não fosse entendido, no sentido do não provimentodo recurso por não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI — Com os vistos dos Ex.mos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 511o, no 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 666o, no 4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no 2 do C.P. Civil), para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso,informado dentro do princípio dispositivo, independentemente da per-tinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pretendidado recurso (que se situam fora desse âmbito) — , a normas ou prin-cípios jurídicos que tenham sido pretensamente violados ou inapli-cados, na sua determinação, interpretação ou aplicação, ou se, ou

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também, à consideração de quaisquer factos naturais ou ocorrênciasda vida real (fenómenos da natureza ou manifestações concretas davida, mesmo que do domínio do espírito ou da vontade), cujo co-nhecimento implique a elaboração de qualquer juízo probatório quenão se contenha na competência de um tribunal de revista (ou sejaque não se resolva por uma constatação sobre se houve ofensa dumadisposição legal expressa que exija certa espécie de prova para a exis-tência de um facto ou que fixe a força de determinado meio de prova,— casos em que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicaçãode lei e só decorrentemente numa fixação consequencial de factos —,nos termos do arto 722o, no 2 do C.P. Civil), pois, neste caso, a com-petência caberá, como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Ins-tância, por força do arto 41o, no 1, al. a) do ETAF, que na fixaçãodos factos materiais da causa se moverá dentro do valor legal dasprovas, elaborando, por regra, de acordo com elas, um juízo de provalivre ou de livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,qualificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o, no 2 do C.P.C. epelo seu confronto com os correspondentes documentos porventuraexibidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros — que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória — do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,

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igualmente, estar a actuar contra pretenção formulada pela recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do arto 33o, no 1, al. b)do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F.

VI — Destarte, atento todo o exposto, acordam os juizes desta Sec-ção do Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incom-petente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noarto 4o da L.P.T.A.

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (Re-lator) — Francisco Rodrigues Pardal — José de Jesus Costa. — Fuipresente, António Mota Salgado.

Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursosper saltum — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração da orien-tação anterior da Administração Fiscal sobre o paga-mento do imposto, bem como o seu conhecimento deuma decisão judicial proferida sobre a suspensão da efi-cácia do acto que não sendo explicados pelo acto deliquidação e pelo acto da sua notificação o fazem padecerde vício de forma.

Recurso n.o 15.843, em que é Recorrente Estoril-Sol, SA e RecorridoChefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto, e de que foi Relatoro Exmo. Conso. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I-Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (2o Juízo)

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do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 28.598$00, praticado no Bilhete de Despachono 113.381 de 89.11.17 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Aero-porto), relativos à importação de diversos equipamentos destinadosà prática de jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é con-cessionária, alegando a sua invalidade, e pedindo consequentementea sua anulação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei,do contrato administrativo e de jorna, consubstanciados, em síntese,no facto da tributação efectuada ofender o regime de tributação subs-titutivo ou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89(antes do arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláu-sula 6a do contrato de concessão celebrado com o Estado que a excluide qualquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no 3da cláusula 4a do mesmo contrato, - de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento —, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II-O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.07.07, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III-Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV-Para tanto invocada nas suas alegações de recurso diversas ra-zões que depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nasseguintes proposições conclusivas:

«a)- O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário subs-titutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b)- Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c)- O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d)- No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e)- O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, o IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f)- Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade principal concessionária, sempre ela estará abrangidapor aquele regime tributário substitutivo;

g)- Caso não se entenda - o que só por mera hipótese se admiteque o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteração

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legislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h)- A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i)- Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j)- Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l)- Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

m)- Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro, no arto 406o, no 1do C. Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho».

V- O Ex.mo Mago do MoPo, junto deste Supremo Tribunal, opinou,no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões que o re-curso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI- Com os vistos dos Ex.mos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 511o, no 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 666o, no 4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no 2 do C.P. Civil, para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto), passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso,informado dentro do princípio dispositivo, independentemente da per-tinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pretendidado recurso (que se situam fora desse âmbito), a normas ou princípiosjurídicos que tenham sido pretensamente violados ou inaplicados, nasua determinação, interpretação da aplicação, ou se, ou também, àconsideração de quaisquer factos naturais de ocorrências da vida real(fenómenos da natureza ou manifestações concretas da vida, mesmoque do domínio do espírito ou da vontade), cujo conhecimento im-plique a elaboração de qualquer juízo probatório que não se contenhana competência de um tribunal de revista (ou seja que não se resolvapor uma constatação sobre se houve ofensa duma disposição legalexpressa que exija certa espécie de prova para a existência de umfacto ou que fixe a força de determinado meio de prova, - casos

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em que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicação de leie só decorrentemente numa fixação consequencial de factos -, nostermos do arto 722o, no 2 do C.P. Civil), pois neste caso, a competênciacaberá, como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Instância, porforça do arto 41o, no 1, al. a) do ETAF, que na fixação dos factosmateriais da causa se moverá dentro do valor legal das provas, ela-borando, por regra, de acordo com elas, um juízo de prova livre oude livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,qualificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no 2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros - que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória - do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da imoralidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretenção formulada pela recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do arto 33o, no 1, al. b)

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do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F..

VI- Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noarto 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (re-lator) — Francisco Rodrigues Pardal — José de Jesus Costa. — Fuipresente, António Mota Salgado.

Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursosper saltum — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração da orien-tação anterior da Administração Fiscal sobre o paga-mento do imposto, bem como o seu conhecimento deuma decisão judicial proferida sobre a suspensão da efi-cácia do acto que não sendo explicados pelo acto deliquidação e pelo acto da sua notificação o fazem padecerde vício de forma.

Recurso n.o 15 856, em que são recorrente Estoril-Sol, S.A. e recorridoo Chefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto. Relator o Exm.oCons.o Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I. Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, n.o 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 867.158$00, praticado no Bilhete de Despachon. 72.372 de 87.10.13 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Aeroporto),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, do contrato

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administrativo e de forma, consubstanciados, em síntese, no factoda tributação efectuada ofender o regime de tributação substantivoou especial do imposto sobre o jogo do art.o 84o do DL 422/89 (antesdo art.o 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula6a do contrato de concessão celebrado com o Estado que a excluide qualquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no n.o3 da cláusula 4a do mesmo contrato — de conservar e manter embom estado de utilização o equipamento — e, finalmente, na faltade qualquer fundamentação do acto de liquidação.

II. O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.02.26, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III. Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV. Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversas razõesque depois condensou, como causa de pedir do mesmo, nas seguintespreposições conclusivas:

”a) O art.o 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o art.o84o do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributáriosubstantivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos defortuna e azar;

b) Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Lein.o 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substantivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações do material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f) Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade principal concessionária, sempre ela estará abrangidapor aquele regime tributário substitutivo;

g) Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h) A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

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i) Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado.

m) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono art.o 84o do DL n.o 422/89, de 2 de Dezembro; no art.o 406o,n.o 1 do C. Civil e no art.o 1o do DL n.o 256-A/77, de 17 de Junho”.

V. O Exm.o Magistrado do M.o P.o, junto deste Supremo Tribunal,opinou no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetenteem razão da hierarquia por resultar de algumas das suas conclusõesque o recurso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direitoe, ainda, se assim não fosse entendido, no sentido do não provimentodo recurso por não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI. Com os vistos dos Exms. Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. arts.o 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (art.o 3o da L.P.T.A.).

No art.o 33o, n.o 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do art.o 42o, n.o 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, arts.o 511o, n.o 1; 653o, 655o, 657o, 659o, 646o, n.o 4,722o, ns.o 1 e 2 e 728o, n.o 2 do C.P.Civil) para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso,informada dentro do principio dispositivo — independentemente dapertinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pretendidado recurso (que se situam fora desse âmbito) —, a normas ou prin-cípios jurídicos que tenham sido pretensamente violados ou inapli-cados, na sua determinação, interpretação da aplicação, ou se, outambém, à consideração de quaisquer factos naturais ou ocorrênciasda vida real (fenómenos da natureza ou manifestações concretas davida, mesmo que do domínio do espírito ou da vontade), cujo co-nhecimento implique a elaboração de qualquer juízo probatório quenão se contenha na competência de um tribunal de revista (ou sejaque não se resolva por uma constatação sobre se houve ofensa dumadisposição legal expressa que exigia certa espécie de prova para aexistência de um facto ou que fixe a força de determinado meio deprova — causas em que a questão se reduz ”prima facie” a uma apli-cação da lei e só decorrentemente numa fixação consequencial defactos —, nos termos do art.o 722o, n.o 2 do C. Civil), pois, nestecaso, a competência caberá, como se disse já, ao Tribunal Tributáriode 2a Instância, por força do art.o 41o, n.o 1, al. a) do ETAF, quena fixação dos factos materiais da causa se moverá dentro do valor

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legal das provas, elaborando, por regra, de acordo com elas, um juízode prova livre ou de livre convicção sobre a existência dos factosprovandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciados no art.o 722o, n.o 2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaborados sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação na al. f) das conclusões, onde sepede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectual e even-tualmente de outros — que se inserem dentro da referida actividadecognitivo-probatória — do que seja, perante as provas produzidas nosautos, a actividade de importação de material de jogo, para daí seretirar a conclusão de que sempre ela (como autónoma ou comomeio material de prosseguimento da actividade principal do jogo,como instrumental da mesma), estaria abrangida no regime tributáriodeste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangência pela tributaçãojá praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. b) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo condicionalismo de facto,uns certos acontecimentos históricos, que não foram consideradosno probatório da decisão recorrida, traduzidas na afirmação de que”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto, cons-tituiu uma alteração da orientação anterior da Administração Adua-neiras e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretado asuspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do art.o 33o, n.o 1, al.b) do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no art.o 42o, n.o 1, al. a) do mesmo ETAF.

VI. Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes, desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-

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butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noart.o 4o da L.P.T.A.

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40%da procuradoria.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Benjamim Rodrigues (rela-tor) — Francisco Rodrigues Pardal — José Jesus Costa. — Fui pre-sente, Mota Salgado.

Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Recurso per saltum. Matéria de facto. Incompetência em razãoda hierarquia. Conhecimento oficioso. Importação. Clas-sificação pautal. Liquidação adicional. Cobrança a pos-teriori.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — A questão da incompetência absoluta (em razão da hie-rarquia) do STA para um recurso jurisdicional é de co-nhecimento oficioso e prioritário; e a sua procedênciaprejudica a apreciação de qualquer outra.

2 — A Secção de Contencioso Tributário do STA carece decompetência em razão da hierarquia para conhecer derecurso interposto per saltum de sentença de um tribunalfiscal aduaneiro que não se restrinja a matéria de direito.

3 — Tal competência cabe, nos termos dos arts. 33o, no 1,alínea b) e 42o, no 1, alínea a), do ETAF (cfr. aindaarto 167o do CPT), ao Tribunal Tributário de 2a Instância.

Recurso n.o 15.886; Recorrente: TECNOVA – Apetrechamentos Téc-nicos e Industriais, Lda.; Recorrida: Fazenda Pública; Relator: JuizConselheiro Castro Martins.

Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo (STA):

1. TECNOVA — Apetrechamentos Técnicos e Industriais, L.da,com sede em Lisboa, recorreu em 15-9-88 para o Trib. Fiscal Adua-neiro de Lisboa do acto de liquidação adicional de receitas tributáriasaduaneiras cuja autoria imputam ao Senhor Director da Alfândegade Lisboa, praticado no processo de cobrança no 918/88.

Alegou, de essencial, o seguinte:a) ”A coberto da D. U. no 2.011, de 18/01/88, da Delegação do

Aeroporto, da Alfândega de Lisboa, submeteu a despacho uma partidade peças de aparelhos detectores de incêndios”.

b) Decorridos cerca de seis meses veio a entidade recorrida corrigira liquidação processada aquando do desembaraço aduaneiro porque,alegadamente, a mercadoria teria sido erradamente classificada.

c) O material que a recorrente assim importou não era «qualqueraparelho detector de fumo mas tão-só partes de detectores de fumo,

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afigurando-se correcta a classif icação pautal declarada(a. p. 85.31.900.000)» na D. U.

d) Além de ter errado quanto à classificação da mercadoria, «aentidade recorrida olvidou que existem órgãos e momentos própriospara dirimir sobre a classificação pautal”.

e) “Se ao Sr. Verificador, em face da presença física da mercadoria,não se suscitaram dúvidas em matéria de classificação, não faz sentidodecorridos seis meses, pela simples análise da factura se consiga in-verter a classificação declarada e aceite pela Alfândega”.

f) ”Ainda que se admitisse a pertinência das dúvidas quanto àclassificação das mercadorias, assistia à recorrente o direito de poderver organizado o processo técnico”.

g)“Na impossibilidade da adopção deste, impunha-se uma averi-guação mínima tendente a apurar da bondade [ou] do erro da clas-sificação oferecida”.

h) Não há cobertura legal para a alteração da classificação dasmercadorias ”através de uma simples leitura de uma factura, desa-companhada de quaisquer outros meios de prova”.

i) ”Assim sendo, sempre seria de concluir que na ausência de provasuficiente quanto ao erro da classificação, não podia o Sr. Directorproceder à rectificação da liquidação inicialmente efectuada”.

j) ”Termos em que deve ser declarado procedente o presente re-curso e revogado o acto recorrido com fundamento no vício de violaçãode lei”.

2. A sentença de fls. 34 vo e segs., daquele Tribunal Fiscal Aduaneirode Lisboa (2o Juízo), de 23-4-90, julgou provados os seguintes factos:

A — ”A recorrente importou pela D. U. no 2011 de 18.1.88 umconjunto de mercadorias destinadas à detecção de incêndios”.

B — Tais mercadorias foram declaradas pelo código pautal85 319 000 000 000, como “partes de aparelhos de alarme para pro-tecção contra incêndio” e por elas foram pagos 551.689$00 de direitos.

C — Da factura que acompanhou aquela declaração constam trêsparcelas de “smoke detector” e outras três de “smoke detector part”.

D — Tal distinção não consta da declaração.E — Ao proceder à análise da D. U. o Serviço de Conferência

Final concluiu que a mercadoria devia ter sido declarada por doisartigos pautais diferentes, cabendo aos ”smoke detector” o códigopautal 85 311 090 000 000-

F — A entidade recorrida sanciounou tal entendimento e notificoua recorrente para pagar 250.542$00 que resultavam do erro da de-claração referido.

3. Em seguida a sentença entrou na apreciação do que considerou“a questão fundamental do recurso”, consistente, segundo ela, “emsaber se a entidade recorrida podia praticar o acto ora impugnado”.E, depois de ponderar que ”não é o Serviço de Conferência Finalcom as suas competências e os seus actos que está aqui em causamas sim o acto de liquidação praticado pela entidade recorrida combase em parecer daqueles serviços” e que ”não sendo o parecer re-corrível nem estando em causa no presente recurso não há que apre-ciá-lo”, concluiu que se impunha “ver se era legal a liquidação adicionalefectuada”.

Invocou então a sentença os artos 98o a 100o da Reforma Aduaneira,2o do Regulamento (CEE) no 1697/79 do Conselho e 41o, no 2, doDL no 507/85 para sustentar que mediante o processamento de li-quidação suplementar, por virtude de “controle a posteriori” que ”leve

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à alteração dos direitos aplicados às mercadorias” e portanto à ve-rificação de ”irregularidade da liquidação anterior”, poderão as al-fândegas cobrar as importâncias pagas a menos.

Acrescentou essa instância caber aos tribunais técnicos dirimir oslitígios surgidos entre funcionários e importadores quanto à classi-ficação, taxas, valores, etc., relativos às mercadorias e carecer, pois,ela de competência para decidir se os “smoke detector” devem serou não incluídos no artigo pautal constante da declaração. E ponderouainda o julgador que, não tendo o importador suscitado a questãoem sede própria, não pode agora pretender que seja o Tribunal adecidi-la.

Por fim a sentença negou provimento ao recurso por “estar uni-camente em apreço saber se a liquidação efectuada padecia do víciode violação de lei” e se ter verificado que não.

4. De tal sentença interpôs a dita sociedade, para o Tribunal Tri-butário de 2a Instância a dita sociedade, para o Tribunal Tributáriode 2a Instância, recurso que minutou como se passa a resumir:

a) Não está em causa saber se a Alfândega tem — pois que evi-dentemente tem — competência para fazer liquidações adicionais, massim que estas não podem “ter como pressuposto”, conforme no casodos autos aconteceu, “a alteração arbitrária”, ”por entidade incom-petente e à margem da lei, da classificação pautal da mercadoria”.

b) “Não colhe o entendimento de que a recorrente deveria terrequerido a organização do processo técnico, pois que a alteraçãose processou sem esta ser vista nem achada, só tendo conhecimentode tal situação quando lhe foi comunicado o acto recorrido.

c) Os funcionários intervenientes no despacho (verificador e re-verificador) concordaram com a classificação atribuída pela recorrenteà mercadoria e autorizaram a sua saída.

d) Não surgiu, pois, qualquer litígio entre o importador e os fun-cionários aduaneiros quanto à classificação da mercadoria quandoela foi submetida a despacho, pelo que não havia que requerer aorganização de qualquer processo técnico.

e) Vários meses depois é que o Serviço de Conferência Final le-vantou dúvidas quanto à correcção da classificação pautal atribuídaà mercadoria, sugerindo que fossem ouvidos o verificador e reve-rificador intervenientes no despacho, ”o que efectivamente veio aacontecer, mas não o importador que, caso tivesse sido ouvido, ma-nifestaria a sua discordância e requereria a organização de processotécnico, já que, de acordo com o disposto no Contencioso Aduaneiro,artigos 209o e seguintes, nada impedia a sua organização nessa altura.

f) Acresce que dos elementos juntos aos autos se conclui tambémpelos errados pressupostos em que assenta o acto recorrido, pois amercadoria em causa não passa de parte de um equipamento maiscomplexo, não reunindo só por si as características essenciais do mes-mo, razão por que a classificação pautal que o despacho recorridosancionou para parte da mercadoria, alterando a atribuída pela re-corrente, é ilegal.

A entidade recorrida apresentou contra-alegação no sentido de sernegado provimento ao recurso.

5. O Trib. Tributário de 2a Instância, em Acórdão de 3-12-91, afls. 64/65, declarou-se incompetente em razão da hierarquia para co-nhecer do recurso e atribuiu tal competência a esta Secção do STApor entender que ele tinha por exclusivo fundamento matéria dedireito.

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Face a tal pronúncia da 2a instância, a recorrente pediu então seremetessem os autos a esta Secção do STA para conhecimento dodito recurso jurisdicional.

Neste STA o Mº Pº deu parecer de concordância com a sentençano que concerne à competência para apreciação da questão do en-quadramento pontual dos “smoke detectors” e quanto à legalidadeda liquidação suplementar, pelos motivos aí referidos; mas acrescen-tou: A entender-se que o interessado deveria ser ouvido, antes daliquidação suplementar, sobre a classificação pautal que lhe serviude base, então o conhecimento do recurso dependerá da apreciaçãoda matéria de facto alegada pelo recorrente no ponto 6 e seguintesdas suas doutas alegações e o STA será hierarquicamente incom-petente para o recurso.

Notificada para responder a esta questão prévia, a recorrente nadadisse.

6. A questão da incompetência absoluta - em razão da hierarquiadeste STA para o recurso, assim suscitada pelo Mo Po, é de conhe-cimento oficioso e prioritário; e a sua procedência prejudica a apre-ciação de qualquer outra - artºs 3º da LPTA e 101º e seguintes doCPC (cfr. também artº 45º do CPT).

Por isso dela se tratará imediatamente.7. No que a tal questão concerne, verifica-se que a recorrente alega

factos - pertinentes segundo certa perspectiva da solução de direito,que é a sua -, os quais a sentença não dá como provados, desig-nadamente os seguintes:

a) A alteração (da classificação pautal de parte da mercadoria)processou-se sem que ela tivesse sido notificada para se pronunciare requerer, como então requereria, por discordar dessa alteração,a organização de processo técnico.

b) Os funcionários intervenientes no despacho (verificador e re-verificador) concordaram com a classificação pautal que a recorrenteatribuíra à mercadoria e autorizaram a sua saída.

c) Dos elementos juntos aos autos conclui-se pelos errados pres-supostos em que assenta o acto recorrido, pois a mercadoria em causanão passa de parte de um equipamento mais complexo, não reunindosó por si as características essenciais do mesmo.

Assim, este recurso, directamente interposto da 1ª instância, nãose restringe a matéria de direito, pelo que para dele conhecer careceesta 2ª secção do STA de competência, a qual cabe ao Tribunal Tri-butário de 2ª Instância, conforme dispõem os artºs 33º, nº 1, alínea b),e 42º, nº 1, alínea a), do ETAF (cfr. também artº 167º do CPT).

8. Pelo exposto, acordam em declarar esta Secção do STA incom-petente em razão da hierarquia para conhecer do recurso e paratanto competente o Tribunal Tributário de 2ª Instância.

Custas pela recorrente, com taxa de justiça e procuradoria de, res-pectivamente, 10.000$00 e 5.000$00 (§único do artº 5º, por remissãodo § 3º do artº 6º, ambos da Tabela).

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Agostinho Castro Martins (re-lator) — José Jesus Costa — Horta do Valle. — Fui presente, JorgeManuel Lopes de Sousa.

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Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma. De-sistência.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros - recursos persaltum - quando estes tenham por exclusivo fundamentomatéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração da orien-tação anterior da Administração Fiscal sobre o paga-mento do imposto, bem como o seu conhecimento deuma decisão judicial proferida sobre a suspensão da efi-cácia do acto que não sendo explicados pelo acto deliquidação o fazem padecer de vício de forma.

III — A desistência da alegação de vícios do acto recorridojá não pode ter lugar em momento posterior ao das ale-gações finais.

Recurso no. 15.906, em que é Recorrente Estoril-Sol, SA e RecorridoChefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto, e de que foi Relatoro Exmo. Conso. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I- Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 37.388$00, praticado no Bilhete de Despachono 57.714 de 88.07.04 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Aeroporto),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, do contratoadministrativo e de jorna, consubstanciados, em síntese, no facto datributação efectuada ofender o regime de tributação sub stitutivo ouespecial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89 (antesdo arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula 6a

do contrato de concessão celebrado com o Estado que a exclui dequalquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no 3da cláusula 4a do mesmo contrato, - de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento -, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II- O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.07.08, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

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III- Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV- Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversas razõesque depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nas seguintesproposições conclusivas:

«a)- O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário subs-titutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b)- Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c)- O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d)- No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e)- O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, o IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f)- Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade principal concessionária, sempre ela estará abrangidapor aquele regime tributário substitutivo;

g)- Caso não se entenda - o que só por mera hipótese se admite -que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h)- A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i)- Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j)- Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l)- Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

m)- Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro, no arto 406o, no 1do C. Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho».

V- O Ex.mo Mago do Mo Po, junto deste Supremo Tribunal, opinou,no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões que o re-curso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

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VI- Com os vistos dos Ex.mos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 511o, no 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 666o, no 4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no 2 do C.P. Civil, para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso,informado dentro do princípio dispositivo, independentemente da per-tinência, merecimento ou acerto jurídico para a solução pretendidado recurso (que se situam fora desse âmbito), a normas ou princípiosjurídicos que tenham sido pretensamente violados ou inaplicados, nasua determinação, interpretação ou aplicação, ou se, ou também, àconsideração de quaisquer factos naturais de ocorrências da vida real(fenómenos da natureza ou manifestações concretas da vida, mesmoque do domínio do espírito ou da vontade), cujo conhecimento im-plique a elaboração de qualquer juízo probatório que não se contenhana competência de um tribunal de revista (ou seja que não se resolvapor uma constatação sobre se houve ofensa duma disposição legalexpressa que exija certa espécie de prova para a existência de umfacto ou que fixe a força de determinado meio de prova, - casosem que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicação de leie só decorrentemente numa fixação consequencial de factos -, nostermos do arto 722o, no 2 do C.P. Civil), pois, neste caso, a competênciacaberá, como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Instância, porforça do arto 41o, no 1, al. a) do ETAF, que na fixação dos factosmateriais da causa se moverá dentro do valor legal das provas, ela-borando, por regra, de acordo com elas, um juízo de prova livre oude livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,qualificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no 2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

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Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros - que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória - do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pela recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do arto 33o, no 1, al. b)do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F..

Já na fase dos ”vistos” veio a recorrente obtemperar, por reque-rimento quanto aos autos, que o conhecimento do vício de forma(por falta de fundamentação) era uma questão de direito para cujoconhecimento o processo continha todos os elementos necessários,mas, se assim não fosse entendido, então a consequência deveria sernão a rejeição do recurso, mas o não conhecimento do alegado víciode forma, prosseguindo os autos com o conhecimento do vício deviolação de lei também alegado.

Por fim e para o caso do tribunal entender que a invocação dovício de forma extravasava do conhecimento do processo em matériade direito, a recorrente afirmou desistir da sua invocação ”devendoter-se como vão escritas as conclusões das als. f), h) e i) das alegaçõesde recurso”.

Já acima se disse que a recorrente invocou como factualidade in-tegrante da ilegalidade do acto, por falta de fundamentação, os factosapontados nas als. h) e i) das conclusões que não constam do pro-batório da sentença recorrida, ou seja a recorrente conformou essesfactos materiais como elementos integrantes da causa de pedir tra-duzida no vício de forma por falta de fundamentação.

Na sua lógica, a sua eventual falta não lhe permitiria conhecer”o iter cognoscitivo e valorativo” prosseguido funcionalmente peloórgão que praticou o acto em termos de fixar a saber e a compreender

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a sua estatuição. Foi ela própria quem construiu o vício de formasobre certa factualidade nova, que embora alegada não fora con-siderada na sentença, não se compreendendo agora como possa ar-gumentar ser possível conhecer do vício com desprezo da realidade”acrescentada”, como se fora uma questão de direito.

Nessa medida torna-se impossível conhecer do vício de forma semlevar em linha de conta essa nova factualidade, pois que tal equivaleriaa ficar àquem da causa de pedir alegada, incorrendo no vício dafalta de pronúncia.

Mas não será possível aceitar a desistência da invocação do referidovício de forma, assim se desconsiderando juridicamente a factualidadealegada no recurso para o preencher, declarado no referido re-querimento?

A resposta é negativa.O vício de forma foi alegado como causa de pedir na petição inicial.

Sendo assim e por mor do princípio da estabilidade da instância elasó poderá ser modificada, uma vez proposto o recurso, quando alei o autorizar (artos 267o e 268o do C.P. Civil, ”ex vi” do arto 1o

da L.P.T.A.). Ora, o último momento preclude-se, no caso, com aapresentação das alegações (artos 67o do R.S.T.A. e 690o do C.P.Civil). Na verdade, ao eleger então os fundamentos dos recursos po-deria, dentro do princípio dispositivo do processo, a recorrente deixoucair a sua alegação. Agora a invocação está feita a destempo e portantonão pode ser considerada.

De resto, nem se vislumbra a utilidade de tal desistência tendoem vista a competência deste S.T.A. para conhecer do recurso.

É que, precedendo o conhecimento da matéria da competênciaabsoluta em razão da hierarquia de todas as demais questões, semprepara a sua solução haveria o alegado de ser tomada em conta. Todavia,só de seguida o outro tribunal competente é que conheceria já daquestão, mas então já vão para reflexo do julgamento da competênciado tribunal superior e anterior.

Tanto basta para se constatar que nem o requerimento ora apre-sentado salva a conclusão antes tirada da incompetência hierárquicadeste Supremo Tribunal para conhecer do recurso.

Destarte, atento tudo o exposto, acordam os juízes desta Secçãodo Contencioso Tributário, deste S.T.A. em julgá-lo hierarquicamenteincompetente para conhecer do recurso, sendo competente o TribunalTributário de 2a Instância e podendo exercer-se a faculdade estatuídano arto 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de 15.000$00 e procuradoria de45 %.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (re-lator) — Francisco Rodrigues Pardal — Agostinho Castro Mar-tins. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Recurso n.o 15.907 em que é recorrente Estoril-Sol, S. A. e recorridoFazenda Pública. Relator o Exmo Sr. Conso Dr. Benjamim Ro-drigues.

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Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I — Estoril-Sol, S. A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535,Estoril, recorrem perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa(2o juízo) do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto deselo e IVA, do montante global de 18.339$00, praticado no Bilhetede Despacho no 95.014 de 90.08.17 da Delegação Aduaneira de Lisboa(Aeroporto), relativos à importação de diversos equipamentos des-tinados à prática de jogos de fortuna e azar, de que a recorrenteé concessionária, alegando a sua invalidade, e pedindo consequen-temente a sua anulação, por se achar afectado dos vícios de violaçãode lei, de contrato administrativo e de forma consubstanciados, emsíntese, no facto da tributação efectuada ofender o regime de tri-butação substitutivo ou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o

do DL 422/89 (antes do arto 34o do DL 48912), a que se encontrasujeita, e a cláusula 6a do contrato de concessão celebrado com oEstado que a exclui de qualquer outra tributação geral do local, sendoa importação dos bens um dos meios materiais de dar execução aoestipulado no no 3 da cláusula 4a do mesmo contrato, — de conservare manter em bom estado de utilização o equipamento —, e, finalmente,na falta de qualquer fundamentação do acto de liquidação.

II — O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.07.07, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava liquidado por qualquer dos vícios alegados.

III — Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar orecurso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV — Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversasrazões que depois condenou, como causas de pedir do mesmo, nasseguintes proposições conclusivas:

”a) - O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário sub-stitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) - Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.85;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) - O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, o IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções.

f) - Quer se considere a importação de material de jogo comouma actividade autónoma, quer como um meio material de pros-seguimento da actividade principal concessionária, sempre ele estaráabrangida por aquele regime tributário substitutivo;

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g) - Caso não se entenda o que só por mera hipótese se admiteque o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual.

h) - A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) - Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente.

j) - Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificaçãode ser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) - Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação delei e/ou contrato administrativo é de vício de forma, devendo seranulado.

m) - Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro, no arto 406o, no 1do C. Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho”.

V — O Exmo Mago do Mo Po, junto deste Supremo Tribunal, opi-nou, no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente emrazão da hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões queo recurso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e,ainda, se assim não fosse entendido, no sentido do não provimentodo recurso por não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI — Com os vistos dos Exmos Juizes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P.Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S. T. A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto. E o critériojurídico, emergente de várias disposições legais (cfr. outros, artos 511o,no 1, 653o, 655o,657o, 659o, 646o, no 4, 722o, nos 1 e 2 e 720o, no 2do C. P. Civil) para apurarmos se estamos perante uma questão jurídicaou uma questão de facto, passa por saber se o recorrente faz apelo,na sua causa de pedir do recurso, informada dentro do princípiodispositivo — independentemente da pertinência, merecimento ouacerto jurídico para a solução pretendida do recurso (que se situamfora desse âmbito) —, a normas ou princípios jurídicos que tenhamsido pretensamente violados ou inaplicados, na sua determinação,interpretação ou aplicação, ou se, ou também, à consideração de quais-quer factos naturais ou ocorrências da vida real (fenómenos da na-tureza ou manifestações concretos da vida, mesmo que do domíniodo espírito ou da vontade), cujo conhecimento implique a elaboração

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de qualquer juízo probatório que não se contenha na competênciade um tribunal de revista (ou seja que não se resolva por uma cons-tatação sobre se houve ofensa duma disposição legal expressa queexija certa espécie de prova para a existência de um facto ou quefixe a força de determinado meio de prova, — casos em que a questãose reduz ”prima facie” a uma aplicação da lei e só decorrentementenuma fixação consequencial de factos —, nos termos do arto 722o,no 2 do C. P. Civil), pois, neste caso, a competência caberá comose disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Instância, por força do arto 41o,no 1, al. a) do ETAF, que na fixação dos factos materiais da causase moverá dentro do valor legal das provas, elaborando, por regra,de acordo com elas, um juízo de prova livre ou de livre convicçãosobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuir susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as operações conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no 2 do C. P. C. epelo seu conforto com os correspondentes documentos porventuraexibidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaborados sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros - que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo - probatória - do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de interpretação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como índice material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria atingida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica abrangência pelatributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se tem de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidas na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF ”e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recla-mante”, cuja existência ou verificação histórico - probatória se apre-senta como solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para

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cuja prática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do arto 33o, no 1, al. b)do ETAF, cabendo ela antes ao T.Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F..

VI - Destarte, atento todo o exposto, acordam os juizes desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noarto 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15 000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (Re-lator) — Francisco Rodrigues Pardal — José de Jesus Costa. — Fuipresente, António Mota Salgado.

Acórdão de 22 de Fevereiro de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursosper saltum — quando estes tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração da orien-tação anterior da Administração Fiscal sobre o paga-mento do imposto, bem como o seu conhecimento deuma decisão judicial proferida sobre a suspensão da efi-cácia do acto que não sendo explicados pelo acto deliquidação e pelo acto da sua notificação o fazem padecerde vício de forma.

Recurso no. 15.911, em que é Recorrente Estoril Sol, SA e RecorridoChefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto, e de que foi Relatoro Exmo. Conso. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I — Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (2o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 392.399$00, praticado no Bilhete de Despacho

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no 69.778/87 de 87.10.02 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Ae-roporto), relativos à importação de diversos equipamentos destinadosà prática de jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é con-cessionária, alegando a sua invalidade, e pedindo consequentementea sua anulação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei,do contrato administrativo e de Jorna, consubstanciados, em síntese,no facto da tributação efectuada ofender o regime de tributação subs-titutivo ou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89(antes do arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula6a do contrato de concessão celebrado com o Estado que a excluide qualquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no 3da cláusula 4a do mesmo contrato, — de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento —, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II — O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.09.23, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III — Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar orecurso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV — Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversasrazões que depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nasseguintes proposições conclusivas:

«a) O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário sub-stitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, o IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f) Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade principal concessionária, sempre ela estará abrangidapor aquele regime tributário substitutivo;

g) Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

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h) A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l) Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

m) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro, no arto 406o, no 1do C. Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho».

V — O Ex.mo Mago do MoPo, junto deste Supremo Tribunal, opi-nou, no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente emrazão da hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões queo recurso não tinha por exclusivo fundamento, matéria de direitoe, ainda, se assim não fosse entendido, no sentido do não provimentodo recurso por não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI — -Com os vistos dos Ex.mos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 511o, no 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 666o, no 4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no 2 do C.P. Civil, para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso,informado dentro do princípio dispositivo, independentemente da per-tinência, merecimento do acerto jurídico para a solução pretendidado recurso (que se situam fora desse âmbito) — , a normas ou prin-cípios jurídicos que tenham sido pretensamente violados ou inapli-cados, na sua determinação, interpretação da aplicação, ou se, outambém, à consideração de quaisquer factos naturais de ocorrênciasda vida real (fenómenos da natureza ou manifestações concretas davida, mesmo que do domínio do espírito ou da vontade), cujo co-nhecimento implique a elaboração de qualquer juízo probatório quenão se contenha na competência de um tribunal de revista (ou sejaque não se resolva por uma constatação sobre se houve ofensa dumadisposição legal expressa que exija certa espécie de prova para a exis-tência de um facto ou que fixe a força de determinado meio de prova,— casos em que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicaçãode lei e só decorrentemente numa fixação consequencial de factos —,

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nos termos do arto 722o, no 2 do C.P. Civil), pois, neste caso, a com-petência caberá, como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Ins-tância, por força do arto 41o, no 1, al. a) do ETAF, que na fixaçãodos factos materiais da causa se moverá dentro do valor legal dasprovas, elaborando, por regra, de acordo com elas, um juízo de provalivre ou de livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,qualificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no 2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros — que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória — do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pela recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do arto 33o, no 1, al. b)do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F..

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VI — Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Sec-ção do Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incom-petente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noarto 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (Re-lator) — Francisco Rodrigues Pardal — José de Jesus Costa. — Fuipresente, António Mota Salgado.

Acórdão de 2 de Março de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma. De-sistência.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros — recursosper saltum — quando estas tenham por exclusivo fun-damento matéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração anteriorda Administração Fiscal sobre o pagamento do imposto,bem como o seu conhecimento de uma decisão judicialproferida sobre a suspensão da eficácia do acto que nãosendo explicados pelo acto de liquidação o fazem padecerde vício de forma.

III — A desistência da alegação de vícios do acto recorridojá não pode ter lugar em momento posterior ao das ale-gações finais.

Recurso n.o 15 628 em que é recorrente Estoril-Sol, SA e recorridoChefe da Delegação Aduaneira de Alverca. Relator o Exmo Conso

Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso do Su-premo Tribunal Administrativo:

I — Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 9.129.342$00, praticado no Bilhete de Despachono 54600/90 de 90.06.29 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Alverca),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-

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lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, de contratoadministrativo e de forma, consubstanciados, em síntese, no factoda tributação efectuada ofender o regime de tributação substitutivoou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89 (antesdo arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula6a do contrato de concessão celebrado com o Estado que a excluide qualquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no 3da cláusula 4a do mesmo contrato — de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento —, e, finalmente, na falta dequalquer fundamentação do acto de liquidação.

II — O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.05.29, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III — Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar orecurso apenas a matéria de direito, recorre apenas a matéria dedireito, recorre agora a recorrente para esta Secção do ContenciosoTributário do Supremo Tribunal Administrativo, pedindo a revogaçãoda sentença.

IV — Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversasrazões que depois condenou, como causas de pedir do mesmo, nasseguintes proposições conclusivas:

”a) — O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto

84o do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributáriosubstitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos defortuna e azar;

b) — Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) — O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) — No domínio do sistema tributário anterior, sempre se enten-dem que, por força do citado regime substitutivo, os concessionáriosnão eram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e deimposto de transacções;

e) — O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessio-nária, ora recorrente, o IVA nas importações de material de jogo,já que, neste caso o importador se encontra numa relação directacom o Estado, à semelhança do que acontecia no imposto detransacções;

f) — Quer se considere a importação de material de jogo comouma actividade autónoma, quer como um meio material de pros-seguimento da actividade principal concessionária, sempre ela estaráabrangida por aquele regime tributário substitutivo;

g) — Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se ad-mite — que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA eos direitos aduaneiros em virtude das características especiais daqueleimposto e das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se umaalteração legislativa posterior à outorga do contrato de concessão,o que constitui violação, por parte do Estado, do princípio da boafé contratual;

h) — A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da Administração

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Aduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) — Tal facto era de perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j) — Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificaçãode ser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentoda Administração Aduaneira e não o foi;

l) — Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação delei e/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo seranulado;

m) — Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dis-posto no arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro; no arto 406o,no 1 do C.Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho”.

V — O Exmo Mago do MoPo, junto deste Supremo Tribunal, opinou,no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas condições que o recursonão tinha por exclusivo fundamento na matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI — Com os vistos dos Exmos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além do oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P.Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 514o, no 1; 653o, 655o, 657o, 659o, 646o, no 4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no 2 do C.P.Civil) para apurarmos se estamos peranteuma questão jurídica ou uma questão de facto, passa por saber seo recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso, informadadentro do princípio dispositivo — independentemente da pertinência,merecimento do acerto jurídico para a solução pretendida do recurso(que se situam fora desse âmbito) —, as normas ou princípios jurídicosque tenham sido pretensamente violados ou inaplicados, na sua de-terminação, interpretação ou aplicação, ou se, ou também, à con-sideração de quaisquer factos naturais das ocorrências da vida real(fenómenos da natureza ou manifestações concretas da vida, mesmoque do domínio do espírito ou da vontade), cujo conhecimento im-plique a elaboração de qualquer juízo probatório que não se contenhana competência de um tribunal de revista (ou seja que não se resolvapor uma constatação sobre se houve ofensa duma disposição legalexpressa que exija certa espécie de prova para a existência de umfacto ou que fixe a força de determinado meio de prova — causasem que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicação da leie só decorrentemente numa fixação consequencial de factos —, nostermos do arto 722o, no2 do C.P.Civil), pois, neste caso, a competência

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caberá como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Instância, porforça do arto 41o, no 1, al. a) do E.T.A.F., que na fixação dos factosmateriais da causa se moverá dentro do valor legal das provas, ela-borando, por regra, de acordo com elas, um juízo de prova livre oude livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no 2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaborados sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros — que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória — do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidas na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório para cujaprática este tribunal não é, como já se disse, competente, permiteperscrutar ou fixar.— Estamos, pois, perante um recurso que não tempor exclusivo fundamento matéria de direito e para cujo conhecimentoeste tribunal carece, por isso, de competência, nos termos do arto

33o, no 1, al. b) do E.T.A.F., cabendo ela antes ao T. Tributáriode 2a Instância por força do arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F.Já na fase dos ”vistos” veio a recorrente obtemperar, por requerimentojunto aos autos, que o conhecimento do vício de forma (por falta

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de fundamentação) era uma questão de direito para cujo conheci-mento o processo continha todos os elementos necessários, mas, seassim não fosse entendido, então a consequência deveria ser não arejeição do recurso, mas o não conhecimento do alegado vício deforma, prosseguindo os autos com o conhecimento do vício de violaçãode lei também alegado.

Por fim e para o caso do tribunal entender que a invocação dovício de forma extravasava do conhecimento do processo em matériade direito, a recorrente afirmou desistir da sua invocação ”devendoter-se como não escritas as conclusões das als. f), h) e i) das alegaçõesde recurso”.— Já acima se disse que a recorrente invocou como fac-tualidade integrante da ilegalidade do acto, por falta de fundamen-tação, os factos apontados nas als. h) e i) das conclusões que nãoconstam do probatório da sentença recorrida, ou seja a recorrenteconformou esses factos materiais como elementos integrantes da causade pedir traduzida no vício de forma por falta de fundamentação.

Na sua lógica, a sua eventual falta não lhe permitiria conhecer”o iter cognoscitivo e valorativo” prosseguido funcionalmente peloórgão que praticou o acto em termos de ficar a saber e a compreendera sua estatuição. Foi ela própria quem construiu o vício de formasobre certa factualidade nova, que embora alegada não fora con-siderada na sentença, não se compreendendo agora como possa ar-gumentar ser possível conhecer do vício com desprezo da realidade”acrescentada”, como se fora uma questão de direito.— Nessa medidatorna-se impossível conhecer do vício de forma sem levar em linhade conta essa mera factualidade, pois que tal equivaleria a ficar aquémda causa de pedir alegada, incorrendo no vício da falta de pronúncia.

Mas não será possível aceitar a desistência da invocação do referidovício de forma, assim se desconsiderando juridicamente a factualidadealegada no recurso para o preencher, declarado no referido reque-rimento? A resposta é negativa.

O vício de forma foi alegado como causa de pedir na petição inicial.Sendo assim e por mor do princípio da estabilidade da instância elasó poderá ser modificada, uma vez proposto o recurso, quando alei o autorizar (artos 267o e 268o do C.P.Civil, ”ex vi“ do arto 1o

da L.P.T.A.). Ora, o último momento preclude-se, no caso, com aapresentação preclude-se, no caso, com a apresentação das alegações(artos 67o do R.S.T.A. e 690o do C.P.Civil). Na verdade, ao elegerentão os fundamentos dos recursos poderia, dentro do princípio dis-positivo do processo, a recorrente deixar cair a sua alegação. Agoraa invocação está feita a destempo e portanto não pode ser considerado.De resto, nem se vislumbra a utilidade de tal desistência tendo emvista a competência deste S.T.A. para conhecer do recurso.

É que, precedendo o conhecimento da matéria da competênciaabsoluta em razão da hierarquia de todas as demais questões, semprepara a sua solução haveria o alegado de ser tomado em conta. Todavia,só de seguida o outro tribunal competente é que conheceria já daquestão, mas então já vão para segundo julgamento da competênciado tribunal superior e anterior.

Tanto basta para se constatar que nem o requerimento ora apre-sentado salva a conclusão antes tirada da incompetência hierárquicadeste Supremo Tribunal para conhecer do recurso.

Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Secçãodo Contencioso Tributário, deste S.T.A. em julgá-lo hierarquicamenteincompetente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal

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Tributário de 2a Instância e podendo exercer-se a faculdade estatuídano arto 4o da L.P.T.A.— Custas pela recorrente com taxa de 15.000$00e procuradoria de 40%.

Lisboa, 2 de Março de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (rela-tor) — Carlos Alberto Pereira Gouveia Horta do Valle — José deJesus Costa. — Fui presente, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

Acórdão de 2 de Março de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A. Vício de forma.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros - recursos persaltum quando estes tenham por exclusivo fundamentomatéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração da orien-tação anterior da Administração Fiscal sobre o paga-mento do imposto, bem como o seu conhecimento deuma decisão judicial proferida sobre a suspensão da efi-cácia do acto que não sendo explicados pelo acto deliquidação e pelo acto da sua notificação o fazem padecerde vício de forma.

Recurso n.o 16.040, em que é Recorrente Estoril-Sol, SA e RecorridoChefe da Delegação Aduaneira de Xabregas, e de que foi Relatoro Exmo. Conso. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I- Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (2o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 167.346$00, praticado no Bilhete de Despachono 50899 de 90.09.29 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Xabregas),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, do contratoadministrativo e de forma, consubstanciados, em síntese, no factoda tributação efectuada ofender o regime de tributação substitutivoou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89 (antesdo arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula6a do contrato de concessão celebrado com o Estado que a excluide qualquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dos

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bens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no

3 da cláusula 4a do mesmo contrato, - de conservar e manter embom estado de utilização o equipamento -, e, finalmente, na faltade qualquer fundamentação do acto de liquidação.

II- O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.09.21, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

III- Inconformada com o assim decidido e afirmando limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre agora a recorrente paraesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Ad-ministrativo, pedindo a revogação da sentença.

IV- Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversas razõesque depois condensou, como causas de pedir do mesmo, nas seguintesproposições conclusivas:

«a)- O arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário subs-titutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b)- Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c)- O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec.-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d)- No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendeuque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e)- O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f)- Quer se considere a importação de material de jogo como umaactividade autónoma, quer como um meio material de prosseguimentoda actividade principal concessionária, sempre ela estará abrangidapor aquele regime tributário substitutivo;

g)- Caso não se entenda — o que só por mera hipótese se admite —que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual;

h)- A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i)- Tal facto era do perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente;

j)- Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificação deser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentosda Administração Aduaneira e não o foi;

l)- Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação de leie/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo ser anulado;

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m)- Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro, no arto 406o, no 1do C. Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho».

V- O Ex.mo Mago do MoPo, junto deste Supremo Tribunal, opinou,no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razãoda hierarquia por resultar de algumas das suas conclusões que o re-curso não tinha por exclusivo fundamento matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI- Com os vistos dos Ex.mos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além de oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P. Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).

No arto 33o, no 1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no 1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 511o, no 1, 653o, 655o, 657o, 659o, 666o, no 4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no 2 do C.P. Civil) para apurarmos se estamosperante uma questão jurídica ou uma questão de facto, passa porsaber se o recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso,informado dentro do princípio dispositivo, independentemente da per-tinência, merecimento ou acerto jurídico para a solução pretendidado recurso (que se situam fora desse âmbito), a normas ou princípiosjurídicos que tenham sido pretensamente violados ou inaplicados, nasua determinação, interpretação ou aplicação, ou se, ou também, àconsideração de quaisquer factos naturais ou ocorrências da vida real(fenómenos da natureza ou manifestações concretas da vida, mesmoque do domínio do espírito ou da vontade), cujo conhecimento im-plique a elaboração de qualquer juízo probatório que não se contenhana competência de um tribunal de revista (ou seja que não se resolvapor uma constatação sobre se houve ofensa duma disposição legalexpressa que exija certa espécie de prova para a existência de umfacto ou que fixe a força de determinado meio de prova, - casosem que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicação de leie só decorrentemente numa fixação consequencial de factos -, nostermos do arto 722o, no 2 do C.P. Civil), pois neste caso, a competênciacaberá, como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Instância, porforça do arto 41o, no 1, al. a) do ETAF, que na fixação dos factosmateriais da causa se moverá dentro do valor legal das provas, ela-borando, por regra, de acordo com elas, um juízo de prova livre oude livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,qualificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto de

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liquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquerdos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no 2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaboradas sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros - que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória - do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidos na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da Administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretenção formulada pela recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo-probatório, para cujaprática este tribunal não é, como já se disse competente, permiteperscrutar ou fixar.

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência nos termos do arto 33o, no 1, al. b)do ETAF, cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do estatuído no arto 42o, no 1, al. a) do mesmo E.T.A.F..

VI- Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Secçãodo Contencioso Tributário em julgá-lo hierarquicamente incompe-tente para conhecer do recurso, sendo competente o Tribunal Tri-butário de 2a Instância e podendo-se usar da faculdade inserta noarto 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 15.000$00 e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 2 de Março de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (rela-tor) — Agostinho Castro Martins — Manuel Fernando dos SantosSerra. — Fui presente, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

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Acórdão de 2 de Março de 1995.

Assunto:

Incompetência hierárquica do S.T.A.. Vício de forma. De-sistência.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A Secção de Contencioso Tributário do S.T.A. apenastem competência para conhecer dos recursos directamenteinterpostos dos tribunais fiscais aduaneiros – recursos persaltum – quando estas tenham por exclusivo fundamentomatéria de direito.

II — Tal não será o caso quando se alegue, nas conclusõesdas alegações e para além do constante do probatórioda decisão recorrida, que houve uma alteração anteriorda Administração Fiscal sobre o pagamento do imposto,bem como o seu conhecimento de uma decisão judicialproferida sobre a suspensão da eficácia do acto que nãosendo explicados pelo acto de liquidação o fazem padecerde vício de forma.

III — A desistência da alegação de vícios do acto recorridojá não pode ter lugar em momento posterior ao das ale-gações finais.

Recurso n.o 16.172 em que é recorrente Estoril-Sol, SA e recorridoChefe da Delegação Aduaneira do Aeroporto e de que foi relatoro Exmo Sr. Conso Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I - Estoril-Sol, S.A., com sede na Rua Melo e Sousa, no 535, Estoril,recorreu perante o Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo)do acto de liquidação de direitos aduaneiros, imposto de selo e IVA,do montante global de 157.611$00, praticado no Bilhete de Despachono 64.131 de 88.07.22 da Delegação Aduaneira de Lisboa (Aeroporto),relativos à importação de diversos equipamentos destinados à práticade jogos de fortuna e azar, de que a recorrente é concessionária,alegando a sua invalidade, e pedindo consequentemente a sua anu-lação, por se achar afectado dos vícios de violação de lei, de contratoadministrativo e de forma, consubstanciados, em síntese, no factoda tributação efectuada ofender o regime de tributação substitutivoou especial do imposto sobre o jogo do arto 84o do DL 422/89 (antesdo arto 34o do DL 48912), a que se encontra sujeita, e a cláusula 6a

do contrato de concessão celebrado com o Estado que a exclui dequalquer outra tributação geral ou local, sendo a importação dosbens um dos meios materiais de dar execução ao estipulado no no3da cláusula 4a do mesmo contrato, - de conservar e manter em bomestado de utilização o equipamento -, e, finalmente, na falta de qual-quer fundamentação do acto de liquidação.

II - O referido tribunal fiscal aduaneiro julgou por sentença, de92.10.02, improcedente o recurso, por haver considerado que o actode liquidação não se achava inquinado por qualquer dos víciosalegados.

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III - Inconformada com o assim decidido e afirmado limitar o re-curso apenas a matéria de direito, recorre apenas a matéria de direito,recorre agora a recorrente para esta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo, pedindo a revogação dasentença.

IV - Para tanto invocou nas suas alegações de recurso diversasrazões que depois condenou, como causas de pedir do mesmo, nasseguintes proposições conclusivas:

”a) - o arto 34o do DL 48912, de 18 de Março de 1969 e o arto 84o

do DL 422/89, de 2 de Dezembro, criaram um regime tributário sub-stitutivo, aplicável aos concessionários da exploração de jogos de for-tuna e azar;

b) - Tal regime foi vertido para o contrato referente à zona per-manente de jogo do Estoril, firmado entre a recorrente e o EstadoPortuguês em 17.06.1985;

c) - O regime em causa, que já tinha sido consagrado no Dec-Leino 16.643, de 3 de Dezembro de 1927, institui um sistema de exclusãodos concessionários de quaisquer impostos gerais ou locais e nãosó dos impostos sobre rendimentos;

d) - No domínio do sistema tributário anterior, sempre se entendemque, por força do citado regime substitutivo, os concessionários nãoeram sujeitos passivos de pagamento de imposto de selo e de impostode transacções;

e) - O regime substitutivo abrange a não sujeição da concessionária,ora recorrente, a IVA nas importações de material de jogo, já que,neste caso o importador se encontra numa relação directa com oEstado, à semelhança do que acontecia no imposto de transacções;

f) - Quer se considere a importação de material de jogo comouma actividade autónoma, quer como um meio material de pros-seguimento da actividade principal concessionária, sempre ele estaráabrangida por aquele regime tributário substitutivo;

g) - Caso não se entenda - o que só por mera hipótese se admite -que o regime tributário substitutivo não abrange o IVA e os direitosaduaneiros em virtude das características especiais daquele impostoe das obrigações comunitárias de Portugal, verifica-se uma alteraçãolegislativa posterior à outorga do contrato de concessão, o que constituiviolação, por parte do Estado, do princípio da boa fé contratual.

h) - A notificação feita à recorrente para pagamento do impostoconstituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do STA que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF;

i) - Tal facto era de perfeito conhecimento da Administração quesabia, igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelarecorrente.

j) - Carecia, por isso, o acto de liquidação e a sua notificaçãode ser fundamentado de forma a explicar a alteração de procedimentoda Administração Aduaneira e não o foi;

l) - Por tudo, o acto recorrido padece do vício de violação delei e/ou contrato administrativo e de vício de forma, devendo seranulado.

m) - Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou o dispostono arto 84o do DL no 422/89, de 2 de Dezembro; no arto 406o, no1do C.Civil e no arto 1o do DL no 256-A/77, de 17 de Junho”.-

V - O Exmo Mago do MoPo, junto deste Supremo Tribunal, opinou,no seu parecer, no sentido deste se declarar incompetente em razão

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da hierarquia por resultar de algumas das suas condições que o recursonão tinha por exclusivo fundamento na matéria de direito e, ainda,se assim não fosse entendido, no sentido do não provimento do recursopor não ocorrerem as imputadas ilegalidades.

VI - Com os vistos dos Exmos Juízes-Adjuntos cumpre decidir.A primeira tarefa que se nos apresenta a reclamar solução centra-se

precisamente na questão de saber se este tribunal sofre de competênciaem razão da hierarquia para conhecer do recurso, pois que o seuconhecimento, além do oficioso (cfr. artos 101o e 102o do C.P.Civil),precede o de outra matéria (arto 3o da L.P.T.A.).-

No arto 33o, no1, al. b) do ETAF dota-se a Secção do ContenciosoTributário do S.T.A. de competência para ”conhecer dos recursosinterpostos das decisões dos Tribunais Fiscais Aduaneiros, com ex-clusivo fundamento em matéria de direito”, resultando, por outrolado, do arto 42o, no1, al. b), do mesmo ETAF, que essa competênciapara conhecer dos recursos cabe ao Tribunal Tributário de 2a Instânciaquando eles tenham por fundamento matéria que não seja exclu-sivamente de direito, ou seja, portanto, matéria de facto.-

E o critério jurídico, emergente de várias disposições legais (cfr.,entre outros, artos 514o, no1; 653o, 655o, 657o, 659o, 646o, no4, 722o,nos 1 e 2 e 728o, no2 do C.P.Civil) para apurarmos se estamos peranteuma questão jurídica ou uma questão de facto, passa por saber seo recorrente faz apelo, na sua causa de pedir do recurso, informadadentro do principio dispositivo, - independentemente da pertinência,merecimento do acerto jurídico para a solução pretendida do recurso(que se situam fora desse âmbito) -, as normas ou princípios jurídicosque tenham sido pretensamente violados ou inaplicados, na sua de-terminação, interpretação ou aplicação, ou se, ou também, à con-sideração de quaisquer factos naturais das ocorrências da vida real(fenómenos da natureza ou manifestações concretas da vida, mesmoque do domínio do espírito ou da vontade), cujo conhecimento im-plique a elaboração de qualquer juízo probatório que não se contendana competência de um tribunal de revista (ou seja que não se resolvapor uma constatação sobre se houve ofensa duma disposição legalexpressa que exija certa espécie de prova para a existência de umfacto ou que fixe a força de determinado meio de prova, - causasem que a questão se reduz ”prima facie” a uma aplicação da leie só decorrentemente numa fixação consequencial de factos-, nostermos do arto 722o, no2 do C.P.Civil), pois, neste caso, a competênciacaberá como se disse já, ao Tribunal Tributário de 2a Instância, porforça do arto 41o, no1, al. a) do E.T.A.F., que na fixação dos factosmateriais da causa se moverá dentro do valor legal das provas, ela-borando, por regra, de acordo com elas, um juízo de prova livre oude livre convicção sobre a existência dos factos probandos.

A identificação dos fundamentos do recurso colhe-se da análisedas conclusões das alegações, por ser nelas que o recorrente temde condensar as causas de pedir a que atribuiu susceptibilidade jurídicapara, na sua óptica, determinar uma solução da causa diferente dadecidida, da ditada na decisão recorrida.-

Percorridas as asserções conclusivas que, na óptica da recorrente,justificam uma decisão diferente, traduzida na anulação do acto deliquidação, diferente da prolatada pelo tribunal ”a quo”, vemos queem diversas delas vem solicitada ao tribunal a constatação de umacerta realidade fáctica, não constante do probatório da sentença, cujapercepção só é intuível ou determinável, não pelo recurso a qualquer

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dos tipos de normas enunciadas nos artos 722o no2 do C.P.C. e peloseu confronto com os correspondentes documentos porventura exi-bidos nos autos, mas antes pelo apelo a regras de experiência oude livre convicção elaborados sobre os meios probatórios com queos autos se encontram instruídos.

Está nesta situação a afirmação contida na al. f) das conclusões,onde se pede a ponderação, segundo critérios de avaliação intelectuale eventualmente de outros - que se inserem dentro da referida ac-tividade cognitivo-probatória - do que seja, perante as provas pro-duzidas nos autos, a actividade de importação do material de jogo,para daí se retirar a conclusão de que sempre ela (como autónomaou como meio material de prosseguimento da actividade principaldo jogo, como instrumental da mesma), estaria abrangida no regimetributário deste, o que determinaria, na sua óptica, a abrangênciapela tributação já praticada nesta.

Como introduzindo novas questões de facto, susceptíveis tambémdo ponto de vista da recorrente, de implicar um outro resultado,da invalidade do acto de liquidação, pela falta da sua fundamentação,se têm de qualificar as asserções feitas nas als. h) e i) das referidasconclusões.

Também aqui, a recorrente alega um certo circunstancialismo defacto, uns certos acontecimentos históricos, que não foram conside-rados no probatório da decisão recorrida, traduzidas na afirmaçãode que ”a notificação feita à recorrente para pagamento do imposto,constituiu uma alteração da orientação anterior da AdministraçãoAduaneira e uma violação da decisão do S.T.A. que tinha decretadoa suspensão de eficácia do acto de indeferimento do SEAF” e que”tal facto era do perfeito conhecimento da administração que sabia,igualmente, estar a actuar contra pretensão formulada pelo recor-rente”, cuja existência ou verificação histórico-probatória se apresentacomo solicitada e que só aquele juízo cognitivo - probatório paracuja prática este tribunal não é, como já se disse, competente, permiteperscrutar ou fixar.-

Estamos, pois, perante um recurso que não tem por exclusivo fun-damento matéria de direito e para cujo conhecimento este tribunalcarece, por isso, de competência, nos termos do arto 33o, no1, al. b)do E.T.A.F., cabendo ela antes ao T. Tributário de 2a Instância porforça do arto 42o, no1, al. a) do mesmo E.T.A.F.-

Já na fase dos ”vistos” veio a recorrente obtemperar, por reque-rimento junto aos autos, que o conhecimento do vício de forma (porfalta de fundamentação) era uma questão de direito para cujo co-nhecimento o processo continha todos os elementos necessários, mas,se assim não fosse entendido, então a consequência deveria ser nãoa rejeição do recurso, mas o não conhecimento do alegado vício deforma, prosseguindo os autos com o conhecimento do vício de violaçãode lei também alegado.

Por fim e para o caso do tribunal entender que a invocação dovício de forma extravasava do conhecimento do processo em matériade direito, a recorrente afirmou desistir da sua invocação ”devendoter-se como não escritas as conclusões das als. f), h) e i) das alegaçõesde recurso”.

Já acima se disse que a recorrente invocou como factualidade in-tegrante da ilegalidade do acto, por falta de fundamentação, os factosapontados nas als. h) e i) das conclusões que não constam do pro-batório da sentença recorrida, ou seja a recorrente conformou esses

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factos materiais como elementos integrantes da causa de pedir tra-duzida no vício de forma por falta de fundamentação.

Na sua lógica, a sua eventual falta não lhe permitiria conhecer”o iter cognoscitivo e valorativo” prosseguido funcionalmente peloórgão que praticou o acto em termos de ficar a saber e a compreendera sua estatuição. Foi ela própria quem construiu o vício de formasobre certa factualidade nova, que embora alegada não fora con-siderada na sentença, não se compreendendo agora como possa ar-gumentar ser possível conhecer do vício com desprezo da realidade”acrescentada”, como se fora uma questão de direito.-

Nessa medida torna-se impossível conhecer do vício de forma semlevar em linha de conta essa mera factualidade, pois que tal equivaleriaa ficar aquém da causa de pedir alegada, incorrendo no vício dafalta de pronúncia.

Mas não será possível aceitar a desistência da invocação do referidovício de forma, assim se desconsiderando juridicamente a factualidadealegada no recurso para o preencher, declarado no referido re-querimento?

A resposta é negativa.O vício de forma foi alegado como causa de pedir na petição inicial.

Sendo assim e por mor do princípio da estabilidade da instância elasó poderá ser modificada, uma vez proposto o recurso, quando alei o autorizar (artos 267o e 268o do C.P.Civil, ”ex vi do arto 1o daL.P.T.A.). Ora, o último momento preclude-se, no caso, com a apre-sentação preclude-se, no caso, com a apresentação das alegações (artos67o do R.S.T.A. e 690o do C.P.Civil). Na verdade, ao eleger entãoos fundamentos dos recursos poderia, dentro do principio dispositivodo processo, a recorrente deixar cair a sua alegação. Agora a invocaçãoestá feita o destempo e portanto não pode ser considerado.-

De resto, nem se vislumbra a utilidade de tal desistência tendoem vista a competência deste S.T.A. para conhecer do recurso.

É que, precedendo o conhecimento da matéria da competênciaabsoluta em razão da hierarquia de todas as demais questões, semprepara a sua solução haveria o alegado de ser tomado em conta. Todavia,só de seguida o outro tribunal competente é que conheceria já daquestão, mas então já vão para segundo julgamento da competênciado tribunal superior e anterior.

Tanto basta para se constatar que nem o requerimento ora apre-sentado salva a conclusão antes tirada da incompetência hierárquicadeste Supremo Tribunal para conhecer do recurso.

Destarte, atento todo o exposto, acordam os juízes desta Secçãodo Contencioso Tributário, deste S.T.A. em julgá-lo hierarquicamenteincompetente para conhecer do recurso, sendo competente o TribunalTributário de 2a Instância e podendo exercer-se a faculdade estatuídono arto 4o da L.P.T.A.

Custas pela recorrente com taxa de 15.000$00 e procuradoria de40 %.

Lisboa, 2 de Março de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (Re-lator) — Agostinho Castro Martins — Manuel Fernando dos SantosSerra — Fui presente: Jorge Manuel Lopes de Sousa.

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Acórdão de 8 de Março de 1995.

Assunto:

Transgressão aduaneira. Descarga directa. Sanção. Amnistia.Não aplicação das Leis 16/86, de 11 de Junho; 23/91, de4 de Julho. Lei 15/94 de 11 de Maio: exclusão das infracçõesfiscais e aduaneiras. Prescrição.

Doutrina que dimana da decisão:

I — De acordo com a alín. t) do art. 1o da Lei 16/86, de11/6, são amnistiadas as infracções às leis fiscais se forempuníveis apenas com multa.

II — À transgressão prevista e punida pelo art. 13o do Dec.-Lei363/81, de 31/12, não é aplicável a amnistia prevista nareferida alín. t) por ser punível com multa e suspensãode qualquer dos regimes, nomeadamente do regime dedescarga directa.

III — Tal transgressão também não é abrangida pela Lei 23/91,de 4 de Julho, que, aplicando-se embora a infracçõesde carácter aduaneiro — crimes, transgressões e contra--ordenações —, prevê a exigência de condicionalismosque excluem a sua aplicação àquela transgressão.

IV — A Lei 15/94, de 11 de Maio, não se aplica às infracçõesfiscais e aduaneiras por força da alín. ff) do art 1o destediploma que expressamente excepciona da aplicação dobenefício da amnistia àquelas infracções.

V — Tendo decorrido mais de dez anos sobre a data da práticada transgressão fiscal aduaneira, é de considerar-se extintoo procedimento quer à luz do art. 27o do ContenciosoAduaneiro aprovado pelo Dec.-Lei 31 664, de 22/11/941quer do art. 20o do Regime Jurídico das Infracções FiscaisAduaneiras aprovado pelo Dec.-Lei 376-A/89, de 25 deOutubro.

Recurso n.o 5801. Recorrente: Anivite — Alimentação Racional paraAnimais, L.da Recorrido: João Paulino Chasqueira. Relator: JuizConselheiro Dr. Abílio Bordalo.

Acordam na 2.a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

Nos autos de transgressão instaurados pela Alfândega de Lisboa,por sentença de 8/11/84 proferida pelo Tribunal Fiscal Aduaneirode Lisboa foi condenado José da Purificação Santa Marta Pico, legalrepresentante de Anivite — Alimentação Racional Lda. pela práticade transgressão p. e p. pelo art. 13o do Dec.-Lei 363/81 de 31/12,na multa de 160.000$00, 10.000$00 de imposto de justiça e selos peloque a referida sociedade é civil e solidariamente responsável.

Inconformado, veio o transgressor por si e como representantelegal da dita sociedade, interpor recurso para o Tribunal Tributáriode 2a Instância que, por Acórdão de 29/4/87, concedeu parcial pro-vimento ao recurso, condenando-o na multa de 92.500$00 pela qualé esta sociedade civil e solidariamente responsável nos termos doart. 24o do Contencioso Aduaneiro.

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Inconformada com tal decisão, a Sociedade Anivite traz o presenterecurso a este STA que alegou e formulou as seguintes conclusões:

- A infracção praticada pela ora Recorrente foi amnistiada pelaLei 16/86 de 11/6, alín. t).

- O Tribunal ”a quo” estava obrigado a declarar amnistiada talinfracção.

- Ora, o douto Acórdão agravado em violação do disposto na re-ferida lei, condenou a ora Recorrente, estando portanto inquinadode vício de violação de lei.

Preceitos violados — art. 1o alín. t) da Lei 16/86.Nestes termos e nos mais de direito deve o presente recurso merecer

provimento anulando-se o douto Acórdão agravado como é de justiça.Não houve contra-alegação.O Ex.mo Procurador-Geral Adjunto, representante do Ministério

Público neste Supremo Tribunal emitiu douto parecer no sentido deque o recurso não merece provimento já que a infracção, por quea recorrente foi condenada, não se encontra amnistiada nos termosda alín. t) do art. 1o da Lei no 16/86 de 11 de Junho.

Isto porque a infracção, como se exige neste preceito, não é punívelapenas com multa, mas também com a suspensão do regime de des-carga directa por um período de 6 a 24 meses.

Colhidos os vistos legais cumpre decidir.No Acórdão recorrido deu-se como assente a seguinte matéria de

facto:- Em 25/5/84 foi levantada participação acusando a firma Anivi-

te — Alimentação Racional, Lda. dos facctos na mesma relatados que,assim, se têm por provados uma vez que não foram contraditados.

- A firma arguida é exportadora de material para aquários e, porfalta de matéria-prima, corria o risco de não poder satisfazer com-promissos assumidos com clientes estrangeiros.

- Após insistentes e reiteradas diligências conseguiu a importaçãode mercadoria constante do bilhete de importação no de ordem 22 070de 17/4/84: 201 chapas em aço pré-lacado com o peso de 504 Kgs.

- Por força do aludido circunstancialismo e pressionada por algunsclientes, a firma arguida consumiu na sua laboração normal 60 da-quelas 201 chapas, cortando-as dos respectivos atados mantidos nomesmo local, antes do respectivo desembaraço aduaneiro.

- A firma arguida pagou de direitos e demais imposições no indicadobilhete a quantia de 11.558$00 (doc. fls. 21).

- À parte de mercadoria consumida (60 chapas) corresponderão1.715$00 de direitos e demais imposições.

Foi com base nesta factualidade, nomeadamente a de que foi con-sumida matéria-prima descarregada sob o regime de descarga directaprevista no no 1 do art. 13o do Dec.-Lei 363/81 de 31/12, antes doseu desalfandegamento que o Acórdão recorrido considerando preen-chidos os elementos tipificadores da infracção, condenou o arguidoJosé da Purificação Santa Marta Pico, representante legal da arguida,ora recorrente, Anivite — Alimentação Racional Lda. na multa de92.500$00 de que a sociedade é civil e solidariamente responsável.

O objecto do recurso, como decorre das alegações e conclusões,prende-se com a questão de saber se à situação dos autos deve ounão aplicar-se a amnistia consgrada na Lei 16/86 de 11/6 ou de qualqueroutro diploma amnistiante posterior àquele, sabido que a aplicaçãodas leis de amnistia é sempre oficiosa.

É entendimento jurisprudencial pacífico de que a amnistia é apli-cável a todas as infracções previstas pelo respectivo diploma legal.

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A recorrente invoca a seu favor a aplicação da alín. t) do art. 1o

da Lei 16/86 que pelo Acórdão recorrido teria sido violada.Vejamos.Dispõe o corpo do art. 1o conjugado com a referida alín. t):”Desde que praticadas antes de 9 de Março de 1986, são amnistiadas

as infracções às leis fiscais puníveis apenas com multa desde que estanão seja superior a 2.400 contos e a obrigação cujo incumprimentodeterminou a sua aplicação seja satisfeita e o imposto ou direitos edemais imposições e juros porventura devidos sejam pagos nos 180 diassubsequentes à entrada em vigor da presente lei, à notificação da li-quidação ou em caso de litígio, ao trânsito em julgado da sentençadecisória”.

Como decorre do no 1 do art. 13o do Dec.-Lei 363/81 de 3/12,fundamento legal da condenação da recorrente, o tipo de infracçãoem que foi condenada é punível com multa e suspensão de qualquerdos regimes, nomeadamente do regime de descarga directa por umperíodo de 6 a 24 meses.

Do confronto entre a norma amnistiante e a norma transgressionalviolada com o comportamento da recorrente, extrai-se, desde logo,que aquela não é aplicável ao caso dos autos pela evidente razãode que, para além da verificação dos demais requisitos, exige quea infracção à lei fiscal seja punível apenas com multa.

Ora, no no 1 do art. 13o do Dec.-Lei 363/81 o quadro sancionatórionão se confina à pena de multa mas também à suspensão do regimede descarga directa ou qualquer outro por período de 6 a 24 meses.

E porque as leis amnistiantes são de carácter excepcional, a suaaplicação deve fazer-se nos estritos limites da lei que a concede.

Vale por dizer que o caso vertente não cai no âmbito de aplicaçãoda referida alín. t) do art. 1o da Lei 16/86, já que a lei que punea infracção, por que foi condenada a recorrente, prevê outra sançãopara além da pena de multa.

Muito embora presentes os demais requisitos exigidos pela normaamnistiante, designadamente, a data da ocorrência da infracção, ovalor da multa, o montante dos direitos devidos e o seu pagamento,a lei de amnistia só seria aplicável à situação se se verificassem cumu-lativamente todos os requisitos legais que, como se viu, tal não sucede.

Há que concluir, pois, pela inaplicação da alín. t) do art. 1o daLei 16/86.

E porque a aplicação da amnistia é, de acordo com o entendimentojurisprudencial, de carácter oficioso importará fazer uma breve in-dagação sobre as demais normas da Lei 16/86 e ainda sobre as leisamnistiantes posteriores — Lei 23/91, de 4 de Julho e Lei 15/94, de11 de Maio —, para se poder decidir da sua eventual aplicação ouexclusão ao caso vertente.

Os nos. 1o, 2o e 3o da alín. l) do art. 1o da Lei 16/86 aplicam-sea infracções de carácter aduaneiro, mais concretamente a crimes econtra-ordenações, não abrangendo, pois, a transgressão dos autos.

O no 2o alín. x) do art. 1o da Lei 23/91 de redacção idêntica àda alín. t) da Lei 16/86 exige também que as infracções às leis fiscaissejam puníveis apenas com multa pelo que, não se aplica ao casopelas mesmas razões de inaplicação desta última lei.

Os nos. 1o, 2o, 3o e 4o da alín. j) da mesma Lei 23/91, aplicando-sea infracções de carácter aduaneiro — crimes, transgressões e con-tra-ordenações —, consagram a exegência de condicionalismos que,mannifestamente, excluem a sua aplicação à transgressão por quefoi condenada a recorrente.

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Sobre a Lei 15/94, de 11/5, há que referir que foi propósito dolegislador excluir do benefício da amnistia toda e qualquer infracçãode carácter fiscal e aduaneiro.

Basta verificar que esta lei não contém normas idênticas às dediplomas amnistiantes anteriores, como os já mencionados, respei-tantes às infracções fiscais e aduaneiras.

Por outro lado, o propósito excludente do benefício a tais infracçõesficou expresso na alín. ff) do art. 1o ao estabelecer que são amnistiadas”as contravenções puníveis com multa cujo limite máximo não exceda500 contos e as contra-ordenações puníveis com coima até 2.000 contos,com excepção das de natureza fiscal, aduaneira, financeira e bancáriae das previstas na alínea seguinte”.

A infracção dos autos não está, pois, amnistiada.Mas a grande distância temporal que nos separa da data da ocor-

rência da infracção, impõe, por ser de conhecimento oficioso, se co-loque a questão da prescrição do procedimento.

Trata-se de uma transgressão aduaneira ocorrida entre 18/4/84 e15/5/84 na vigência do Contencioso Aduaneiro aprovado pelo Dec.-Lei31 664 de 22/11/941 cujo art. 27o diz o seguinte sobre a prescrição:o procedimento por infracções fiscais prescreve decorridos cinco anosquando se trate de delitos e decorridos dois anos quando se tratede transgressões.

Refere o parágrafo único: esta prescrição corre desde o dia emque foi praticada a infracção e interrompe-se por qualquer acto queconstitua procedimento fiscal contra o infractor.

Desde a data da infracção decorreram quase onze anos, sendode salientar, o tempo decorrido após a prolação do Acórdão do Tri-bunal Tributário de 2a Instância — em 29/4/87 — do qual foi interpostorecurso para o STA, sem que durante um período superior a seteanos tenha ocorrida qualquer acto interruptivo ou suspensivo daprescrição.

O predito Contencioso Aduaneiro, mais precisamente o seu livro I,no qual se contém o referido art. 27o sobre a prescrição, foi revogadopelo art. 3o no 1 do Dec.-Lei 376-A/89 de 25/10 que aprovou o RegimeJurídico das Infracções Fiscais Aduaneiras (RJIFA).

Mas o no 2 deste art. 3o determina que os processos pendentesà data da entrada em vigor do presente diploma continuarão a reger-se,até ao trânsito em julgado da decisão que lhes ponha termo, pelalegislação que lhes era aplicável.

Daqui resulta que o prazo da prescrição do procedimento pelainfracção dos autos que é de dois anos há muito se esgotou, tendoem conta a limitação do art. 120o no 3 do Código Penal.

Porém, vista a questão à luz do RJIFA, a solução não se altera.Os factos integradores da transgressão dos autos — violação do

regime de descarga directa — encontram-se tipificados como con-tra-ordenação fiscal aduaneira no art. 35o no 2 alín. e) do RJIFA,à qual será aplicável a mesma coima cominada no no 1 do mesmoartigo e que é de 10.000$00 a 10.000.000$00.

Segundo o art. 4o alín. b) do mesmo diploma (RJIFA) são aplicáveissubsidiariamente quanto às contra-ordenações e respectivo proces-samento as disposições do Dec.-Lei 433/82 de 27/10.

O art. 20o do RJIFA, tal como o art. 27o do Dec.-Lei 433/82, pres-creve que o procedimento por contra-ordenações extingue-se por efei-to da prescrição, logo que sobre a prática da mesma sejam decorridosos prazos de dois anos, quando se trate de contra-ordenação punidacom coima superior a 100.000$00 e de um ano, nos restantes casos.

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Sem deixar de ter em conta o disposto no art. 28o do Dec.-Lei433/82, sobre os actos interruptivos da prescrição, por força do no 4do art. 20o do RJIFA, cuja relevância não anula no caso os efeitosda extinção do procedimento, é forçoso concluir que, também naóptica do Regime Jurídico das Infracções Fiscais Aduaneiras, se ve-rifica a prescrição do procedimento.

É nestes termos que se acorda em conceder provimento ao recurso,embora com outros fundamentos, e em revogar o Acórdão recorrido,declarando-se extinto o procedimento judicial por prescrição.

Sem custas.

Lisboa, 8 de Março de 1995. — Abílio Madeira Bordalo (rela-tor) — Domingos Brandão de Pinho — João José Coelho Dias. — Fuipresente, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

Acórdão de 8 de Março de 1995.

Assunto:

Contencioso Aduaneiro. Conselho Técnico Aduaneiro. Deci-sões. Homologação pelo Ministro das Finanças. Recorri-bilidade. Garantia constitucional.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — O acto homologatório do Ministro das Finanças das de-cisões do Conselho Técnico Aduaneiro, integrativo queé destas no que concerne à mera eficácia, não definea situação jurídica do interessado por aquelas confor-mada, nem nada acrescenta à sua validade, pelo que,não podendo lesar direitos ou interesses legítimos dosadministrados, não é susceptível de recurso contencioso.

2 — A garantia constitucional do recurso contencioso é as-segurada através da impugnabilidade das decisões doConselho, devidamente homologados.

Recurso: 18 583; Recorrente: CIE – Companhia Internacional deElectrónica, SA; Recorrido: Secretário de Estado dos Assuntos Fis-cais. Relator: Exmo. Cons.o Dr. Ernâni Figueiredo.

Acordam na 2a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

Inconformada com o despacho do Secretário de Estado dos As-suntos Fiscais de 2.5.94 que homologou a decisão 100/93 do ConselhoTécnico Aduaneiro, do mesmo veio CIE-Companhia Internacionalde Electrónica, SA, recorrer, concluindo a sustentar que o despachorecorrido, que havia homologado a decisão do Conselho TécnicoAduaneiro (CTA) que atribuíra à mercadoria importada o códigopostal 84501110000000, diferente do atribuído pela Rte(84501190000000), por ser de presumir, face à ausência de referênciaà delegação de poderes, ter sido praticado no uso de competênciaprópria, está viciado de incompetência por ser a mesma do Ministrodas Finanças, nos termos do art. 9o do DL 281/91;

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-E que, ao denegar a pretensão da Rte, limitando-se a dizer nãoser possível fazer uma interpolação entre os 6 e os 10 quilogramas,ficando por saber o motivo dessa impossibilidade, incorreu em víciode forma por falta de fundamentação;

-E em erros nos pressupostos de facto, ignorando elementos for-necidos pela Rte, a declaração do fabricante, assim como no errode seleccionar dois elementos que não prestavam para elucidar sobrea capacidade das máquinas, em vez de seguir o critério que resultadas Notas Explicativas e de um factor de conversão tirado da ex-periência dos fabricantes, do que resultaria que a capacidade da má-quina seria de 7,5/7,3 quilos, pelo que a posição pautal atribuída seriaa indicada por si.

O EPGAdjunto é de parecer ser o recurso de rejeitar, uma vezque a lei (art. 22o/b) do DL 281/91, de 9.8, e 42o/1/c) do ETAF)prevê a recorribilidade contenciosa, no Tribunal Tributário de 2a Ins-tância, das decisões do CTA, depois de homologadas, sendo essahomologação, que constitui o acto recorrido, acto meramente con-firmativo, e, como tal, não susceptível de recurso contencioso.

A Rte, ouvida, aduziu que o acto recorrido não é meramente con-firmativo, nem ratificação-confirmativa, nem aprovação, mas, antes,homologação em sentido próprio, que lesa, ao contrário do que sucedecom o acto homologado, a sua esfera jurídica, pelo que é seu direitofundamental dele interpor recurso contencioso, nos termos doart. 268o/4 da Constituição, sendo que a interpretação do art. 42o/1/c)do ETAF, ou de qualquer outra norma que conduza à irrecorribilidadedaquele acto significa a inconstitucionalidade do preceito em causa.

Cumpre apreciar.Controverte-se a (ir)recorribilidade contenciosa do despacho do

Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que, no eventual exercícioda competência delegada pelo Ministro das Finanças, homologa de-cisão do Conselho Técnico Aduaneiro.

Claro, que as referências adequadas à solução da questão (previsãolegal da própria recorribilidade da decisão homologada, competênciado órgão que esta emite, relacionamento entre tal órgão e a entidadehomologadora, classificação do acto de homologação) hão-de ser sur-preendidas, principalmente, na lei (DL 281/91, de 9.8, rectificado peladeclaração 200/91), que criou o CTA, em substituição dos tribunaistécnicos aduaneiros, regulados no revogado Livro II do ContenciosoAduaneiro, aprovado pelo DL 31 664, de 22.11.41 e sucessivamentealterado por leis posteriores.

Estes últimos órgãos, “que não eram verdadeiros tribunais” (cf. Ac.deste tribunal de 28.11.90, em Ap. DR 1990, p. 655), proferiam actosadministrativos (cf. Ac. de 15.11.90, cit. public., p. 642), prejudiciaisrelativamente aos actos de liquidação de receitas tributárias aduaneiras(cf. Alberto Xavier, Conceito e Natureza (. . .), p. 254), e destacáveisdo respectivo processo gracioso, para efeito de recorribilidade con-tenciosa, que a lei cometia à competência do Tribunal Tributáriode 2a Instância, nos termos do art. 42o/1/c) do ETAF.

Como decorre do preâmbulo do novo diploma, intenta-se reveras normas reguladoras dos “conflitos técnicos relativos à classificaçãopautal, origem e valor das mercadorias” e cria-se o CTA, em “subs-tituição dos tribunais técnicos aduaneiros, excluindo-se do âmbito dassuas atribuições as consultas prévias. . .”, como órgão de competênciaespecífica na matéria.

O órgão criado, com a composição diversificada, de representantesde Ministérios, da Direcção-Geral das Alfândegas e das actividades

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económicas (art. 2o) tem a competência específica que lhe designao art. 6o e as suas decisões são homologadas pelo Ministro das Finanças(art. 9o) e, se homologadas serão transmitidas às alfândegas paranotificação aos interessados e ultimação dos despachos (art. 19o/5),sendo obrigatoriamente aplicadas pelos serviços aduaneiros, “não so-mente aos casos a que directamente digam respeito, mas tambéma casos idênticos que corram a partir da data da homologação”(art. 21.o).

As decisões do Conselho, devidamente homologadas, são válidasaté que, entre outros casos de modificação por outras ou revogaçãopor regulamentos comunitários e outras determinações, sejam “anu-ladas por decisão, transitada em julgado, proferida em recurso con-tencioso” (art 22o/b).

Das referências feitas extraem-se tópicos que permitem dar pormantida a recorribilidade contenciosa das decisões do Conselho nosmesmos termos das decisões dos tribunais técnicos aduaneiros queveio substituir e a correspectiva insindicabilidade do acto de homo-logação ministerial.

No sentido daquela referida recorribilidade vai a norma doart. 22o/b), que a prevê expressamente como determinante da suaanulação.

Do teor do texto legal resulta clara a recorribilidade dos actoshomologados, que não dos homologatórios.

Sentido que se reforça na consideração da estrutura em que seinsere o Conselho, não hierarquizado na orgânica da DGA, dotadode competência independente, que aponta para uma recorribilidadecontenciosa imediata (cf., quanto ao ponto, Freitas do Amaral, Con-ceito e Natureza do Recurso Hierárquico, I, p. 60 e ss).

Depois, porque o órgão novo veio substituir órgãos com compe-tência similar, de cuja recorribilidade se não duvidava, porventura,perante a regra do art. 42o/1/c) do ETAF.

E é enformado pela autoridade legal que se define o acto ho-mologatório, não como simples acto confirmativo, nem como merahomologação de parecer ou proposta, mas como acto integrativo queé condição de eficácia do acto homologado (aliás à semelhança dahomologação pelo Ministro das Finanças dos acórdãos do tribunaltécnico de 2a instância, prevista no revogado art. 246o do ContenciosoAduaneiro, que conferia “executoriedade” aos acórdãos homologa-dos) — cf. Freitas do Amaral, Direito Administrativo, 1985, III, p. 148e ss-.

Sendo assim, a figura que se perfila é a da aprovação, como condiçãode eficácia do acto aprovado, ficando este como acto principal, per-feito, definidor da situação jurídica do interessado, não acrescentandoaquele nada à sua validade e definição jurídica.

Pelo que este, o acto de homologação, integrativo que é no aspectosecundário referido, não é susceptível de lesar direitos ou interesseslegítimos dos administrados.

Consequentemente, não é passível de recurso contencioso por ale-gados vícios de que enferme o complexo de actos (integrativo e in-tegrado) em causa, mesmo que esses vícios (alguns ou todos) lhesejam próprios.

E não se invoque a inconstitucionalidade das normas analisadas,precipitada pela interpretação que das mesmas se faz, quando am-plamente se afirmou a recorribilidade contenciosa do acto do Conselhodepois de devidamente homologado, mesmo que o recurso se fundasseem vícios da homologação, de que carecia para se tornar eficaz.

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Prevenidos nesse recurso sairiam os direitos ou interesses legítimoseventualmente lesados pelos actos da Administração.

Pelo exposto, é procedente a questão suscitada pelo Mo Po e orecurso é de rejeitar por manifesta ilegalidade de interposição(art. 57o/§ 4o do RSTA).

Neste sentido se decidiu no Ac. deste tribunal, de 15.2.95, rec. 18592.Termos em que se decide rejeitar o recurso.Custas pela recorrente, com taxa de justiça e procuradoria, res-

pectivamente, em 30 000$00 e 40 %.

Lisboa, 8 de Março de 1995. — Ernâni Marques da Silva Figueiredo(relator) — Abílio Madeira Bordalo — José de Jesus Costa (votei ape-nas a conclusão). — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 8 de Março de 1995.

Assunto:

Recurso jurisdicional. Fundamento. Matéria de facto. Incom-petência do STA.

Doutrina que dimana da decisão:

1 — No concernente aos recursos de decisões dos tribunaisfiscais aduaneiros, a competência do tribunal superioré determinada em função do fundamento do recurso res-peitar ”exclusivamente” a matéria de direito, ou não.

2 — E daí que, para esse efeito, importe tão-somente a matériacontrovertida levada às conclusões da alegação do re-curso, pois é precisamente na divergência em relação aodecidido que o recurso encontra o seu fundamento.

3 — Por conseguinte, incluída questão de facto no objectodo recurso, o fundamento deste não radica só no campodo direito, pelo que caberá ao Tribunal Tributário de2a Instância, e não ao Supremo Tribunal Administrativo,conhecer de um tal recurso (artigos 21o, no 4, 33o, no 1,alínea b), e 42o, no 1, alínea a), do ETAF).

Recurso: n.o 18 754; Recorrente: António Nunes de Nóbrega; Re-corrida: Fazenda Pública; Relator: o Exmo. Conso Dr. Santos Serra.

Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

António N. Nóbrega, L.da, recorre da sentença do Mmo Juiz doTribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo), de 10 de Março de1994, que não deu provimento ao recurso do acto de liquidação re-gistado sob o no 2784, de 02.07.93, referente ao DU no 2241, deordem, a 02.10.90, de direitos niveladores no montante de2.969.724$00, praticado pelo Chefe dos Serviços de Despacho da Al-fândega do Funchal, assim mantendo aquele acto recorrido.

Na sua alegação, a recorrente formula as seguintes conclusões:”1a - No momento em que a mercadoria foi introduzida no território

aduaneiro, encaminhada para a estância aduaneira competente, apre-

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sentada a ”declaração sumária”, feita a descarga directa e a con-ferência da mercadoria, operou-se a constituição da relação jurídicadonde emerge a dívida aduaneira;

2a - Doutro modo cair-se-ia no paradoxo de se ter de considerarque a mercadoria para uns efeitos, foi válida e licitamente introduzidaem território aduaneiro e, para outros, que essa mercadoria nuncachegou a entrar em território aduaneiro;

3a - Nesse momento, a importação estava isenta de direitosniveladores;

4a- -Mesmo que assim não fosse, e é, o importador não pode su-portar um imposto que é devido pelo consumidor final, incluído nopreço do produto, que não cobrou, por acto imputável à Administraçãoque lho não exigiu quando podia e devia, e por isso, não fez repercutirno preço;

5a - Doutro modo, deixar-se-ia sem a adequada protecção a posiçãodum dos intervenientes no circuito comercial que, em boa verdade,se limita a ser um responsável pela cobrança dos impostos que adiantaà Administração, quando importa, mas que os cobra, quando revende,como parcela íntegra e inteira do preço;

6a - Decidindo-se de forma diferente, violou-se, salvo o muito edevido respeito, o disposto no referido nas alíneas a) e b) do no 3do arto 1o do Dec.-Lei no 504-E/85, de 30 de Dezembro, alínea e)do arto 279o do Código Civil, arto 1o do Dec.-Lei no 511/85, de 31de Dezembro, alínea d) do no 1 do arto 2o, no 2 do arto 4o, artos 7o,9o, 14o e 15o do RJIFA, e alínea b) do arto 1o, e nos 1 e 3 do arto 13o

e arto 43o do Dec.-Lei no 507/85, de 31 de Dezembro . . . ”.Não houve contra-alegação.Mas o Exmo Magistrado do Ministério Público emitiu douto pa-

recer, assim finalizado: ”deve entender-se que o recurso não tempor fundamento exclusivamente matéria de direito, pelo que o Su-premo Tribunal Administrativo será hierarquicamente incompetentepara o conhecimento do recurso . . . ”.

Ouvida a recorrente sobre esta suscitada questão, nada disse.Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.E decidindo.Comecemos pela deduzida excepção da incompetência deste Tri-

bunal, questão que, de resto, é de conhecimento oficioso e lograprioridade de apreciação sobre tudo o mais.

Pertinentemente, o Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais(Dec.-Lei n.o 129/84, de 27 de Abril) dispõe:

- “A Secção de Contencioso Tributário (do Supremo Tribunal Ad-ministrativo) apenas conhece da matéria de direito nos processos ini-cialmente julgados pelos . . . tribunais fiscais aduaneiros” (arto 21o,no 4);

- “Compete à Secção de Contencioso Tributário conhecer . . . dosrecursos interpostos de decisões dos tribunais fiscais aduaneiros, comexclusivo fundamento em matéria de direito” [arto 33o, no 1, alínea b)];e

- “Compete ao Tribunal (Tributário de 2a Instância) conhecer . . .dos recursos de decisões dos tribunais fiscais aduaneiros, salvo o dis-posto na alínea b) do no 1 do artigo 33o” [arto 42o, no 1, alínea a)].

Do patenteado resulta que, no concernente aos recursos interpostosde decisões dos tribunais fiscais aduaneiros, a competência do tribunalsuperior é determinada em função do recurso respeitar “exclusiva-mente” a matéria de direito, ou não.

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E daí que, para esse efeito, importe tão-somente a matéria con-trovertida levada às conclusões da alegação do recurso — onde sefixa o objecto deste e se delimita o seu âmbito — pois é precisamentena divergência em relação ao decidido que o recurso encontra o seufundamento.

Por outras palavras, a tarefa ditada pela necessidade de, antes domais, fixar a medida da jurisdição, ou seja, a competência do tribunalde recurso em função do “quid disputatum” exposto pelo recorrente(Ac. STA, de 7-11-1990, rec. no 12707), terá em vista apurar, apenas,se o recurso foi interposto “com exclusivo fundamento em matériade direito”, ou não, ficando vedada, nesta sede averiguativa, a pro-núncia acerca do mérito do recurso ou da justiça dos seus fundamentos,juízos que, obviamente, só caberá ao tribunal para tanto competente.

Nestas condições - e como bem salienta o Ministério Público -“o que há a fazer para decidir a questão de competência hierárquica,é apenas verificar se o recorrente pede a alteração da matéria defacto ou invoca factos que não vêm dados como provados: se o faz,o recurso não tem por fundamento exclusivamente matéria de direito,e fica, desde logo, definida a competência do Tribunal Tributáriode 2a Instância, independentemente da eventualidade de, por fim,este Tribunal, então já julgado competente, vir a concluir que a dis-cordância sobre a matéria fáctica ou os factos não provados alegadossão irrelevantes para a decisão do recurso, à face da posição de direitoque entende adequada”.

Em suma, a questão da competência hierárquica - prioritária emrelação a tudo o mais - deve ser decidida abstraindo totalmente asolução de direito que o tribunal “ad quem” tomaria se fossecompetente.

Posto isto, regressemos à hipótese que nos ocupa.Do confronto das conclusões da alegação do recurso com a sentença

sob censura, vê-se que a recorrente afronta tal sentença também nocampo da factualidade que considera pertinente à adequada soluçãojurídica.

Concretizando.Na 4a conclusão da sua alegação, a recorrente sustenta que não

fez repercutir, no preço do produto, o imposto, que não cobrou, poracto imputável à Administração que lho não exigiu quando podiae devia, sendo certo que, na sentença recorrida, não foi dada comoprovada a ora sustentada factualidade.

Por conseguinte, instalada a controvérsia no ponto em evidência,estamos perante um recurso interposto de decisão de um tribunalfiscal aduaneiro, que não versa exclusivamente matéria de direito.

De modo que, nos termos das atrás mencionadas disposições legais,a competência para o conhecimento de um tal recurso cabe ao TribunalTributário de 2a Instância e não a este Supremo Tribunal Ad-ministrativo.

Pelo exposto, acorda-se em declarar esta Secção incompetente, emrazão da hierarquia, para o julgamento do presente recurso, sendocompetente, para esse efeito, o Tribunal Tributário de 2a Instância.

Custas pela recorrente, com 20.000$00 de taxa de justiça e 40 %de procuradoria.

Lisboa, 8 de Março de 1995. — Manuel Fernando dos Santos (re-lator) — Abílio Madeira Bordalo — Domingos Brandão de Pi-nho. — Fui presente, Jorge Manuel Lopes de Sousa.

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Acórdão de 15 de Março de 1995.

Recurso: 16.528; Recorrente: Briel — Indústria de Electrodomésticos,S. A.; Recorrido: o Tribunal Técnico Aduaneiro de 2a Instância;Relator: o Exmo. Conso Dr. Santos Serra.

Acordam, em conferência, na Secção de Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

O Conselho Técnico-Aduaneiro, recorrido no recurso em que foirecorrente “Briel — Indústria de Electrodomésticos, S. A.”, notificadodo acórdão desta Secção, de 94-10-26, que, concedendo provimentoao recurso jurisdicional, revogou o aresto então sob censura e, julgandoprocedente o recurso contencioso, anulou o acto administrativo im-pugnado, vem agora, por instrumento de fls. 161 a 164, “arguir, nostermos do artigo 201o, no 1, “in fine”, do C.P.C., a nulidade previstanesse C.P.C. no artigo 668o, no 1, alínea c)”, visto que, alegadamente,“os fundamentos da decisão – aplicação das Regras 1 e 2 das RegrasGerais para a Interpretação da Pauta – são incompatíveis com a de-cisão, porque se excluem mutuamente, isto é, a aplicação da Regra 1impede a aplicação da Regra “in casu”, terminando a solicitar queseja “suprida a aludida nulidade, com as devidas consequências legais”.

A parte contrária, ou seja, a recorrente respondeu para concluirque “não se verifica a nulidade arguida da oposição entre a fun-damentação e a decisão, no Acórdão, pelo que deverá indeferir-sea sua arguição pelo recorrido”.

E neste mesmo sentido – o de indeferimento – se pronunciou oExmo Magistrado do Ministério Público.

Colhidos os vistos de lei, cumpre decidir.E decidindo.No acórdão sob arguição de nulidade – a do arto 668o, no 1, alínea c),

do CPC: fundamentos em oposição com a decisão – iniciou-se o res-pectivo discurso com a enunciação das regras 1 e 2, alínea a), dasregras gerais para a interpretação da nomenclatura da Pauta dos Di-reitos de Importação, conforme bem se vê dos parágrafos do mesmoacórdão, aludidos e transcritos no instrumento apresentado pelo oraarguente.

Todavia, não obstante terem sido enunciados aquelas duas regras,foi a regra 2, alínea a), que fundamentou a decisão jurisdicional cons-tante do acórdão em causa.

Recordemos essa regra: “qualquer referência a um artefacto numadeterminada posição da Pauta abrange esse artefacto, mesmo incom-pleto ou por acabar, desde que, no estado em que se encontra, possuaas características essenciais do artefacto completo ou acabado” e“abrange também o artefacto completo ou acabado, ou como tal con-siderado de harmonia com as disposições que precedem, que se apre-sente demonstrado ou por montar”.

Ora, no aresto em questão, depois de se descrever o artefacto nosautos referenciado, afirmou-se o que se segue:

“De sorte que, no âmbito de tal descrição, cabe perfeitamente amercadoria em causa, pois esta apresentou-se à verificação aduaneira,por referência ao artefacto ali designado, de forma incompleta oupor acabar, é certo, mas possuindo já as características essenciaisdo artefacto completo ou acabado e a saber: batedeira de cozinha”.

A que se acrescentou o seguinte:“Donde a conclusão de que a questionada mercadoria deve ser

classificada pela posição pautal indicada pela recorrente, sendo, por-

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tanto, de afastar a classificação atribuída pela Administração Adua-neira”.

Quer isto dizer que, ao contrário do entendimento expresso pelorecorrido-arguente, não foi a Regra 1 que serviu de fundamento àdecisão, mas sim, como atrás ficou salientado, a Regra 2, alínea a),e, portanto, não tem aqui cabimento a arguição de que “a invocaçãoda Regra 1, que exclui a aplicação da Regra 2, visto que “in casu”a aplicação da Regra 2 vai contra os “textos das referidas posiçõese notas”, está em oposição com a decisão jurisdicional constante dodouto Acórdão de 94-10-26”.

E se a fundamentação da decisão é juridicamente incorrecta, poreventualmente a aplicação da dita regra 2 ir contra os “textos dasreferidas posições e notas”, tal incorrecção constituirá erro de jul-gamento, isso sim, mas nunca o assacado vício de lógica da decisão.

Pelo que improcede a arguição da apontada nulidade.Nestes termos, acorda-se em indeferir o formulado pedido de su-

primento de nulidade.Sem custas, por isenção do reclamante.

Lisboa, 15 de Março de 1995. — Manuel Fernando dos Santos Serra(relator) — Carlos Alberto Pereira Gouveia Horta do Valle — Do-mingos Brandão de Pinho. — Fui presente, Jorge Manuel Lopes deSousa.

Acórdão de 22 de Março de 1995.

Recurso no. 17.961, em que é Recorrente Frumar — Sociedade deProdutos Alimentares, Lda e Recorrido Fazenda Pública, e de quefoi Relator o Exmo. Conso. Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I- Frumar, Sociedade de Produtos Alimentares, Lda, pessoa co-lectiva no 501862293, com sede em Lisboa no Edifício Armadores,no 2, Docapesca, Pedrouços, dizendo-se inconformada com a sentença,de 14/4/93, do Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboa (1o Juízo), quese julgou materialmente incompetente para conhecer de recurso con-tencioso interposto do acto do Chefe da Delegação Aduaneira deXabregas, proferido a fls. 6 do D.O. no 3874, de 23.1.92, dela recorredirectamente para este Supremo Tribunal Administrativo, pela suaSecção de Contencioso Tributário, pedindo o provimento do recursocom base nas razões expendidas nas suas alegações de recurso e quesintetizou nas seguintes conclusões:

II- ”1. O acto recorrido é um acto externo e lesivo dos direitosdos particulares e, como tal, recorrível;

2. Foi objecto de registo tendo, no entanto, a sua eficácia suspensainicialmente até 23/02/92 e posteriormente até 21/05/92, findo o qualse tornou recorrível;

3. As Autoridades Aduaneiras atribuíram-lhe eficácia através doprocedimento contra-ordenacional instaurado em 3 de Março;

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4. O acto é, pois, recorrível e consequentemente o douto tribunal”a quo” é materialmente competente”.

III- O Ex.mo Mago do Mo Po, junto deste Supremo Tribunal, apósnotar que o recorrente afirma matéria de facto nas suas conclusões,promoveu que ele se declarasse incompetente em razão da hierarquia.

IV- Ouvida a parte sobre a questão prévia suscitada, nada disse.V- Com os vistos dos Ex.mos Juízes Adjuntos cumpre decidir.No desempenho desta tarefa haveremos, desde já, de tomar co-

nhecimento da questão da falta de competência hierárquica destetribunal para conhecer do recurso, suscitada pelo Ex.mo Mago doMo Po, por lograr de prioridade sobre as demais questões (artos 2o,al. b) e 45o do C.P. Tributário e 3o da L.P.T.A.).

O arto 33o, no 1, al. b) do ETAF atribui competência à Secçãode Contencioso Tributário deste Supremo Tribunal para conhecer”dos recursos interpostos de decisões dos tribunais fiscais aduaneiros,com exclusivo fundamento em matéria de direito”.

Deste modo tudo está em saber se a recorrente pede remédio ju-rídico a este Tribunal para a decisão recorrida apenas com base nasnormas ou princípios jurídicos, ou se ou também com base na con-sideração de quaisquer factos materiais ou ocorrências da vida real(fenómenos da natureza ou manifestações concretas da vida), inde-pendentemente da sua pertinência, merecimento ou acerto para asolução do recurso, cujo conhecimento implique a elaboração de umqualquer juízo probatório que não se ressalva por uma mera cons-tatação sobre se houve ofensa duma disposição expressa da lei queexija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixea força de determinado meio de prova (cfr. arto 722o, no 2 do C.P.C.),pois, neste caso, a competência pertencerá, já não a este SupremoTribunal, mas ao Tribunal Tributário de 2a Instância, por força dodisposto no arto 42o, no 1, al. a) do ETAF.

É pela análise das conclusões das alegações de recurso que passao conhecimento das causas de pedir alegadas para o seu conhecimento,pois é nelas que se sintetizam, com precisão e concisão, de funda-mentos desenvolvidos nas alegações que tenham susceptibilidade, naóptica do recorrente, para determinar a censura da decisão recorrida.

Ora na terceira conclusão das suas alegações, a recorrente faz aafirmação de um facto, através da asserção ”As autoridades aduaneirasatribuíram-lhe eficácia através do procedimento contra-ordenacionalinstaurado em 3 de Março”, que não foi conhecido na decisão re-corrida, do qual, por lhe atribuir a susceptibilidade de conferir eficáciaao acto anulado, faz derivar a sorte do recurso contencioso, por en-tender que esta se resolve na base da consideração de se estar peranteum acto administrativo definitivo e executório.

Está, pois, proposta a este Supremo Tribunal uma questão pro-batória, a resolver com base nos meios de prova, cujo resultado épressuposto, pelo recorrente, influir no acerto jurídico da decisãorecorrida cuja censura se pede a este Supremo Tribunal, para a qualeste não detém competência e que se traduz em saber se foi ounão instaurado em 3 de Março (de 1992) procedimento contra-or-denacional e se com ele as autoridades aduaneiras quiseram dar exe-cução ao acto anulado.

Temos, portanto, que concluir que o recurso não tem por exclusivofundamento matéria de direito e, sendo assim, sofre este SupremoTribunal de competência para dele conhecer, por força da disposiçãolegal acima citada, cabendo antes essa competência ao Tribunal Tri-butário de 2a Instância.

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Destarte, atento tudo o exposto, acordam os juízes da Secção doContencioso Tributário deste Supremo Tribunal Administrativo emjulgá-lo hierarquicamente incompetente para conhecer do recurso,considerando para tanto competente o Tribunal Tributário de 2a Ins-tância, podendo, porém, a recorrente exercer o direito processualconferido pelo arto 4o da L.P.T.A..

Custas pela recorrente com taxa de justiça de 6.000$00 e 50% deprocuradoria.

Lisboa, 22 de Março de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (Re-lator) — Carlos Alberto Pereira Gouveia Horta do Valle — José deJesus Costa. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 29 de Março de 1995.

Assunto:

Recurso contencioso. Competência.

Doutrina que dimana da decisão:

A Secção de Contencioso Tributário do Supremo TribunalAdministrativo carece de competência em razão da hierar-quia para conhecer de recurso contencioso de anulação deacto imputado na petição ao Subdirector-Geral das Alfân-degas e sem que jamais, durante o processo, a Rct. aceitea sua autoria pelo S.E.A.F. e, assim, errada identificaçãode lado passivo.

Recurso no 15.888 de que é recorrente Antas da Cunha Petróleos,S.A. e recorrido o Subdirector-Geral das Alfândegas e de que foirelator o Exmo Sr. Conso Dr. Mendes Pimentel.

Acordam, em conferência, na 2a Secção do Supremo TribunalAdministrativo:

Na petição de fls. 2 - 4 vo, dirigida ao Presidente do TribunalTributário de 2a Instância, Antas da Cunha Petróleos, S.A., com sedena estrada de Benfica, 730 A/B, em Lisboa, interpõe «recurso directode anulação de acto do Sr. Subdirector-Geral das Alfândegas quemandou proceder à selagem dos tanques afiançados nos 201 e 203de que a Recorrente é arrendatária e que se situam no Parque daQuimatex, no Barreiro».

No artigo 4o da mesma petição de recurso se diz que «o Sr. Sub-director-Geral das Alfândegas, Dr. Aníbal Martins da Costa, adoptouum procedimento diferente, ordenando novamente a selagem dos tan-ques, precisamente às 0,30 h. do dia 24.II.90 (Doc. 1)».

E no artigo 5o se exara que «A Recorrente teve conhecimentoda selagem pelo auto elaborado pela Guarda Fiscal, sendo do seuconhecimento que esta corporação agiu em cumprimento de ordensdaquele Sr. Subdirector-Geral, que, aliás, confirmou oralmente a au-toria da ordem de selagem».

E no arto 6o:

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«É do acto do referido Sr. Subdirector Geral que é interpostoo presente recurso com fundamento nos vícios de forma e de violaçãoda Lei».

No requerimento de fls. 13-15 vo, item 12, a recorrente reafirmaque pode «o Sr. Subdirector-Geral das Alfândegas, Dr. Aníbal MartinsCosta, ordenou a resselagem dos depósitos, a qual se verificou em24.II.90, tendo esta dado origem ao presente recurso».

No requerimento de fls. 26, a recorrente reafirma, logo no item 1,que «A autoria do acto foi originariamente assumida pelo Sr. Sub-director-Geral das Alfandegas - Dr. Martins da Costa», referindo noitem 3 que «o acto recorrido poderá não passar de um acto de meraexecução de acto do Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,que também foi impugnado contenciosamente».

No douto acórdão de fls. 81 - 82, o Tribunal Tributário de 2a Ins-tância declarou-se incompetente para conhecer do recurso em re-ferência «porque o acto recorrido, respeitante a questão fiscal, foipraticado por um membro do Governo, no caso o Secretário de Estadodos Assuntos Fiscais, deveria o recurso dele interposto ser dirigidoà Secção de Contencioso Tributário do S.T.A., por ser a competentepara dele conhecer».

A fls. 87, veio a recorrente ”requerer a remessa dos autos parao Tribunal julgado competente, nos termos prescritos no no 2 doarto 47o do C.P.T.”.

E uma vez chegados a este Supremo, o Exmo PGA emitiu doutoparecer no sentido da incompetência deste Tribunal para o conhe-cimento do Recurso, porquanto:

”Parece ser claro que o acto que a recorrente impugnou conten-ciosamente neste processo foi um acto do Subdirector-Geral das Al-fândegas que, se não existe, ela julga existir.

De nada releva, perante tal vontade da recorrente e para efeitosde determinação da competência para o recurso, que a Administraçãovenha a informar existir um acto de S.E.A.F., que a recorrente nuncaafirmou pretender impugnar neste processo.

Não poderá, sequer, falar-se em erro na identificação do autordo acto recorrido, pois o que poderá suceder é não existir o actoque a recorrente pretende impugnar.”

Este o teor do parecer do Ministério Público.Corridos os Vistos, cumpre decidir.Impõe-se apreciar, prioritariamente, a suscitada questão da incom-

petência, em razão da hierarquia, deste Tribunal, aliás, de conhe-cimento oficioso - artigo 3o da L.P.T.A.

De harmonia com o estatuído na alínea c) do no 1 do artigo 33o

do E.T.A.F., compete à Secção de Contencioso Tributário do SupremoTribunal Administrativo conhecer dos recursos interpostos de actosadministrativos do Governo e dos seus membros respeitantes a ques-tões fiscais aduaneiras.

No presente recurso contencioso, a Rct., em cumprimento da alí-nea c) do no 1 do artigo 36o da L.P.T.A, identificou, no cabeçalhoda petição, como autor do acto recorrido, o Subdirector-Geral dasAlfândegas, entidade que, ao longo da mesma peça processual, vai,sucessiva e claramente, referindo (v. artigos 4o, 5o e 6o).

E, em duas distintas intervenções, a fls. 13 - 15 vo e 26, novamentea Rct. imputa ao Subdirector-Geral das Alfandegas, cujo nome atémenciona (Dr. Martins Costa), a autoria do acto recorrido.

Neste contexto e ante a informação de fls. 37 e vo, não podemos,como bem realça o Ministério Público, concluir pela existência de

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erro na identificação do autor do acto recorrido, pois o que poderáperfilar-se é inexistência do acto que a Rct. pretende aqui impugnar.

E que ela tem, em sua mente, dois actos, um o impugnado nesteprocesso, outro do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, bemo evidencia a afirmação que a Rct. faz no item 3 do requerimentode fls. 20 de que o do referido membro do Governo ”também foiimpugnado contenciosamente”.

Aqui chegados, há que salientar, como se faz no acórdão da 1a

Secção de 15/III/1986, in Apêndice ao D.R., pags. 3313 - 3315, recursono 23658, que «o tribunal (...) não pode sobrepor-se ao recorrente,dizendo que o acto recorrido não é aquele de que efectivamentese recorreu, mas um outro, sob pena de cometer a nulidade previstana alínea d) do no 1 do artigo 668o do Código de Processo Civil,aplicável ”ex vi” do artigo 1o do L.P.T.A.”.

Visando, pois, o presente recurso contencioso a anulação de actoimputado ao Subdirector das Alfândegas e sendo a competência parao conhecimento dos recursos contenciosos determinada pela categoriada autoridade que tiver praticado o acto recorrido, ainda que nouso de delegação de poderes (arto 7o do E.T.A.F.), falece a estaSecção do S.T.A. competência em razão da hierarquia para conhecerdo mesmo recurso (cfr. predito artigo 33o, 1, c)).

São termos em que se acorda em julgar procedente a questão préviaem apreço, consequentemente se declarando este Supremo incom-petente em razão da hierarquia para o conhecimento do presenterecurso, sendo para o efeito competente o Tribunal Tributário de2a Instância, de harmonia com o preceituado artigo 42o, 1, b) doE.T.A.F.

Custas pela Rct., fixando-se a taxa de justiça em 40.000$00 e aprocuradoria em 40%.

Lisboa, 29/III/1995. — Luís Filipe Mendes Pimentel (rela-tor) — Agostinho de Castro Martins — Francisco Rodrigues Par-dal. — Fui presente, António Mota Salgado.

Acórdão de 29 de Março de 1995.

Assunto:

Contra-ordenações. Recurso judicial de decisão administrativade aplicação da coima. Ónus de alegar e de concluir.

Doutrina que dimana da decisão:

I — A lei (art.o 59o, no 3, do DL. no 433/82, de 27/10), notocante ao ónus de alegar, no caso de recurso judicialde decisão administrativa de aplicação de coima, con-tenta-se com alegações sumárias.

II — Assim sendo, esse ónus fica satisfeito quando o recorrenteinvoca, de uma forma simples e breve, as razões de factoou de direito — os fundamentos —, pelas quais pede aanulação ou a reapreciação do decidido.

III — As conclusões das alegações hão-de ser ainda mais sim-ples e breves, exigindo-se apenas que delimitem o objecto

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do recurso e a respectiva fundamentação, em termos taisque possibilitem ao juiz exercer os seus poderes de plenajurisdição e de apuramento da verdade material dentrodeles.

Recurso n.o 17 149. Recorrente: Groz — Beckert Portuguesa, L.da;Recorrido: Director da Alfândega do Porto; Relator: Exmo. Consº.Dr. Benjamim Rodrigues.

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributáriodo Supremo Tribunal Administrativo:

I — Groz — Beckert Portuguesa, L.da, com sede em Valadarinhos,Valadares, C.I.P.C. no 500 130 922, dizendo-se inconformada com odespacho, de 93.05.05, do M.tmo Juiz do Tribunal Fiscal Aduaneirodo Porto, que lhe rejeitou o recurso contencioso, interposto paraaquele tribunal, da decisão do Director da Alfândega do Porto quelhe aplicou uma coima, no montante de 150.000$00, sob fundamentode que o recurso, contendo embora alegações, não continha conclusõese tal violava o disposto no arto 59o, no 3 do Dec.-Lei no 433/82,de 23/10, dele recorre directamente para esta Secção de ContenciosoTributário do Supremo Tribunal Administrativo, pedindo a sua “anu-lação” e a devolução do processo ao tribunal recorrido para que co-nheça do mérito da causa.

II — Coroando as suas alegações, formulou a recorrente as seguin-tes proposições conclusivas das razões ali expendidas:

a) No requerimento de interposição de recurso rejeitado vêm ex-traídas e até identificadas as consequências da sucinta exposição quenele se faz, pelo que o mesmo consta de alegações sumárias econclusões;

b) Satisfaz assim essa peça o exigido pelo no 3 do arto 59o doDec.-Lei no 433/82, de 27/10, pelo que o Despacho recorrido, aorejeitá-lo, violou esta disposição legal, bem como a do no 1 do arto 63o

do mesmo diploma.III — O Digno Mago. do Mo. Po, junto deste tribunal, opinou no

sentido do recurso merecer provimento, por, a seu ver, as conclusõesdas alegações constarem do seu arto 8o, pois que nele se resumea fundamentação pela qual se pede a anulação da decisão.

IV — Com os vistos dos juízes adjuntos cumpre conhecer e decidir.A questão decidenda está só em saber se, nas alegações apresentadas

no recurso interposto para o Tribunal Fiscal Aduaneiro da decisãoadministrativa que lhe aplicou uma coima, a recorrente formulou ounão conclusões dessas alegações.

No no 3 do arto 59o do DL. no 433/82, de 27/10, na redacção dadapelo DL. no 356/89, de 17/10, à sombra do qual já se acoita a hipótese,dispõe-se que “o recurso será feito por escrito . . . , devendo constarde alegações sumárias e conclusões”.

É manifesto deste inciso legal que o legislador pretendeu apenasobrigar a que se alegasse, de forma breve, simples e resumida, asrazões de facto e/ou direito por que se não se conformou com adecisão administrativa sancionatória e se concluísse, com a mesmaexigência de estilo formal e semântico, as alegações.

Vários argumentos se podem alinhar em sufrágio deste entendi-mento legislativo.

Em primeiro lugar e no que toca somente às conclusões, uma razãode mera lógica. Contentando-se o legislador na motivação do recurso,

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no que tange à alegação dos fundamentos, com uma explanação brevee simples, não faria sentido que as conclusões não fossem igualmentesumárias, resumidas breves, simples. Por natureza, as conclusões sãoproposições que sintetizam, com precisão e concisão, os fundamentosdesenvolvidos nas alegações e dos quais se pretende extrair o resultadojurídico da anulação, revogação ou alteração da decisão recorrida.Ora exigindo a lei, utilizando até a palavra “devendo”, que a exposição,nas alegações, dos fundamentos do recurso seja sumária está irre-sistivelmente a obrigar que as conclusões se apresentem ainda maissumárias por incorporarem uma síntese daquelas.

Depois, todo um feixe de razões substanciais pelas quais o legisladorse guiou ou optou.

Por um lado, a sua deliberada intenção de conseguir, da formamais expedita, a realização da justiça material que se vê expressana previsão dos termos com que dotou o processo, todos eles a sugerirsimplicidade (cfr. artos 60o a 72o da referida lei-quadro das con-tra-ordenações).

Por outro lado, a circunstância de o tribunal não estar a agir dentrodos limites do mero contencioso de anulação, mas dentro de umcontencioso de plena jurisdição (excepcionada no arto 6o do ETAF),em que não lhe está vedada qualquer outra definição da relação ju-rídico-sancionatória diferente da pronunciada pela autoridade admi-nistrativa, o mesmo acontecendo em caso de recurso jurisdicional.Nesse campo, o tribunal não se limita a confrontar o acto praticadopela autoridade administrativa com o bloco de legalidade, para daíretirar a conclusão se tal acto deve ser mantido, anulado ou anuladoparcialmente.

Ao invés, ele pode proceder à conformação da relação jurídicasancionatória em termos completamente distintos da efectuada, emprimeira mão, pelas autoridades administrativas. Tal resulta clara-mente do disposto nos artos 220o a 223o do CPT como também dodisposto nos artos 62o, no 1, 64o, 66o, 75o e 76o do DL. no 433/82,aplicável às contra-ordenações fiscais aduaneiras por força do dispostono arto 4o, al. b) do DL. no 376-A/89, de 25/10 (que aprovou o RegimeJurídico das Infracções Fiscais Aduaneiras).

Dotado de tão vastos poderes, como aqueles que no arto 72o doDL. no 433/82 se conferem ao juiz, de promover a prova de todosos factos que considere relevantes para uma decisão correcta e dedeterminar igualmente o âmbito da prova a produzir, recusando aaceitação de meios de prova que julgue desnecessários à formaçãoda sua convicção, bem se compreende que baste ao arguido apontarsucintamente, nas alegações e conclusões, os factos ou razões de direitoque motivem o juiz a usar os seus poderes. O que o legislador quisfoi apenas rejeitar a possibilidade de uma alegação genérica e globalde ataque à decisão, mormente de facto, da 1a instância.

Por isso, e sem embargo da intelegibilidade das conclusões aparecermais impressiva, não é de exigir qualquer formulação gráfica ou es-tilística que imediatamente faça denotar a síntese dos fundamentosantes invocados.

Por último, e havendo que presumir-se que o legislador consagrouas soluções mais acertadas (arto 9o, no 3 do C. Civil) não pode deixarde exigir-se apenas tão reduzido grau de exigência de alegação econclusão quando ele admite que seja o próprio arguido e não sóo seu defensor a interpor o recurso (arto 59o, no. 2, do DL. no. 433/82),sabendo-se que aquele é, em geral, pessoa não dotada de conhe-cimentos jurídicos.

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Que se vê no caso concreto?A recorrente foi sancionada administrativamente com uma coima

sob fundamento de não ter reexportado os produtos compensadoresno prazo estipulado pela autorização e de, consequentemente, terpraticado uma contra-ordenação fiscal aduaneira p. pelo arto 35o,no 2, als. b) e c) do DL. no 376-A/89.

Ora, nas suas alegações de recurso apresentadas nos autos procuraa arguida demonstrar, nos artigos 1o a 7o, a sua discordância como decidido, afirmando, em síntese, que a autorização para reexportaros produtos compensadores que terminava em 91.09.11 lhe foi pror-rogada, por requerimento datado de 91.09.03 e deferido em 91.09.06,pelo que o prazo para a reexportação apenas terminava em 92.03.11e que tal aconteceu antes dessa data limite, ou seja em 92.01.24.Donde, conclui, nenhuma infracção teria cometido.

Depois, sob o arto 8o das alegações terminou assim: “Em face doexposto a requerente julga ter cumprido os prazos para exportar osprodutos compensadores, não estando assim incursa no arto 59o doDec.-Lei 433/82 a decisão do Ex.mo Senhor Director”.

Esta proposição encerra de forma muito sintética, mas decerto su-ficiente à luz da doutrina exposta, o sentido desenvolvido nas alegaçõesem termos de deixar bem expresso o campo de facto em que sepretende discutir o mérito do recurso. Dito de outro modo, o objectodo recurso — e sem perder de vista que ele envolverá uma indagaçãofactual —, aparece delimitado e fundamentado em termos que per-mitirão ao tribunal exercer os seus poderes de cognição, não se estandoperante uma mera discordância genérica ou global.

De tudo resulta que o recurso merece provimento.V — Destarte, atento tudo o exposto, acordam os juízes deste tri-

bunal em conceder provimento ao recurso e em revogar a decisãorecorrida, julgando não deserto o recurso interposto para o TribunalFiscal Aduaneiro do Porto, pelo que os autos deverão aí prosseguirpara o seu conhecimento.

Sem custas por não serem devidas.

Lisboa, 29 de Março de 1995. — Benjamim Silva Rodrigues (re-lator) — Agostinho Castro Martins — José de Jesus Costa. — Fui pre-sente, António Mota Salgado.

Acórdão de 29 de Março de 1995.

Assunto:

Recurso de acto de liquidação de receitas tributárias adua-neiras. Erro na forma do processo. Recurso da decisão quedetermina o regime processual a seguir. Regime de subi-da — art. 735.o do CPC.

Doutrina que dimana da decisão:

I — Estando em causa a questão de saber se o recurso deacto de liquidação de receitas tributárias aduaneiras deveseguir a forma de processo prevista na Lei de Processo

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nos Tribunais Administrativos ou no Código de ProcessoTributário, não é de invocar o disposto no art. 172.o destediploma quanto ao regime de subida do recurso interpostode decisão que determinou que a forma de processo aseguir é a da impugnação judicial estabelecida no Códigode Processo Tributário.

II — O recurso de despacho interlocutório que alterou a tra-mitação processual tem subida diferida, com o primeirorecurso que depois de ele ser interposto haja de subirimediatamente (n.o 1 do art. 735.o do CPC).

Recurso n.o 18 873; Recorrente: SOINTAL — Sociedade de Inicia-tivas Turísticas Algarvias; Recorrida: Fazenda Pública. Relator: JuizConselheiro Dr. Abílio Bordalo.

Acordam na 2.a Secção do Supremo Tribunal Administrativo:

SOINTAL — Sociedade de Iniciativas Turísticas Algarvias, SA comsede em Lisboa, interpôs junto do Tribunal Fiscal Aduaneiro de Lisboarecurso contencioso de anulação do acto de liquidação de 409 536$00praticado pelo Chefe da Delegação Aduaneira de Alverca, como de-corre da petição.

Após sucessivos requerimentos da recorrente a pedir a prorrogaçãodo prazo para efeitos de junção aos autos de documento identificadorda liquidação, conclusos que foram os autos ao M.mo Juiz, este ma-gistrado proferiu despacho dizendo que não é juridicamente correctocontinuar a seguir a forma processual prevista nos arts. 43.o e segs.do Dec.-Lei 267/85 de 16/7.

Isto porque, de algum tempo a esta parte, começou a seguir-senos Tribunais Superiores a orientação unânime no sentido de queaos processos de recurso de actos de liquidação das receitas tributáriasaduaneiras previsto no art. 68.o, n.o 1, alín. a) do Dec.-Lei 129/84,é aplicável o Código de Processo Tributário face à lacuna criada pelarevogação dos arts. 202.o a 208.o do Contencioso Aduaneiro aprovadopelo ETAF ordena, nos termos do art. 474.o, n.o 3 do CPC ex vido art. 2.o alín. f) do CPT que os autos sigam a forma de processode impugnação judicial prevista nos arts. 120.o e segs. do CPT.

Inconformada, veio a recorrente interpor o presente recurso parao Tribunal Tributário de 2.a Instância o qual, por Acórdão de 16/11/93se julgou incompetente em razão da hierarquia por o fundamentodo recurso ser matéria exclusivamente de direito.

Das suas alegações decorre o seguinte quadro conclusivo:a) A doutrina perfilhada pela douta decisão de fls. . . . não se

mostra consentânea com o disposto no art. 2.o alíns. a) e b) do CPTnem atende ao disposto no art. 3.o do mesmo diploma;

b) Decidindo conforme decidiu inverteu a mesma decisão recorridatoda a jurisprudência que vinha sendo perfilhada pelo Tribunal aquo;

c) Ao fazê-lo afectaria o legítimo direito da recorrente à suspensãodo recurso solicitado com base no art. 130.o, n.o 2 do Dec.-Lei 267/85,de 16/7;

d) O Código de Processo Tributário não poderá aplicar-se ao casovertente por meter normas gerais;

e) As normas gerais não podem integrar lacunas de normas especiaiscomo são as dos Decs.-Leis 129/84 e 267/85;

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f) O legislador de 91 prevê expressamente a aplicação supletivanos casos omissos no art. 2.o do Dec.lei 154/91, de 23 de Abril;

g) Viola a douta decisão recorrida o disposto no aludido preceitolegal e contraria o regime previsto nos arts. 9.o a 12.o do CódigoCivil.

Termina dizendo que deve dar-se provimento ao recurso.Não houve contra-alegação.Requerida a subida dos autos a este STA, ao abrigo do art. 4.o

da LPTA, aqui o Ex.mo Procurador-Geral Adjunto emitiu douto pa-recer sustentando que o presente recurso não devia ter subido ime-diatamente, como se decidiu no despacho que o admitiu, isto porforça do disposto nos arts. 734.o e 735.o do CPC aplicáveis por forçado art. 102.o da LPTA, não se aplicando o art. 172.o do CPT poisestá sob recurso o despacho que manda os autos seguir a forma daimpugnação judicial.

O recurso só devia subir com o que fosse interposto da decisãofinal pois a sua retenção não o tornaria absolutamente inútil.

Ouvida a recorrida sobre esta questão suscitada nada disse.Colhidos os vistos legais cumpre decidir.Cabe, antes de mais, apreciar esta questão que, a proceder, prejudica

as demais questões, que constituem o objecto do recurso (art. 660.odo CPC).

Avança-se, desde já que assiste toda a razão ao Ex.mo Magistradodo Ministério Público.

Com efeito, segundo o art. 735.o, n.o 1 do CPC, os agravos nãoincluídos no artigo anterior sobem com o primeiro recurso que, depoisde eles serem interpostos, haja de subir imediatamente.

Por seu turno, o art. 734.o diz-nos quais os recursos de agravoque sobem imediatamente, em cujo elenco do n.o 1 não se insereo presente recurso.

Como se extrai do despacho que admitiu o recurso, a sua subidaimediata baseou-se no n.o 2 do art. 734.o com o argumento de quea sua retenção o tornaria absolutamente inútil.

Ora, no caso dos autos a não subida imediata do recurso, ou sejaa sua retenção, jamais tornaria absolutamente inútil o recurso.

Isto devido ao princípio da aproveitabilidade dos actos previstono art. 199.o do CPC.

Subjacente ao despacho recorrido está em causa a tramitação pro-cessual a seguir, como se defende no despacho recorrido, ao abrigodo regime estabelecido no Código de Processo Tributário, em vezdo regime da LPTA.

Aliás a jurisprudência deste STA, em situações idênticas, tem de-fendido que, apesar do erro na forma de processo por o meio con-tencioso aplicável ser o de impugnação judicial e não o recurso directo,não significa, porém, a anulação de qualquer acto efectuado no pro-cesso, porquanto todos podem ser aproveitados, sem perda ou di-minuição de garantias, não determinando a anulação de qualqueracto, mas tão-só o seguimento da forma de processo própria da im-pugnação judicial (cfr. neste sentido Acórdãos do STA de15/5/91 — Rec. 13 190 e de 26/6/91 — Rec. 13 273).

Daqui decorre que a retenção do recurso no caso dos autos, nãoo tornaria absolutamente inútil, falecendo, assim fundamento legalpara subida imediata.

A sua subida não tinha, pois, que ser imediata mas sim diferidaao abrigo do art. 735.o do CPC, não sendo de invocar o art.o 172.o

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do CPT, como bem observa o Ex.mo Magistrado do Ministério Público,já que está sob recurso o despacho que manda os autos seguir aforma de impugnação judicial estabelecida no Código de ProcessoTributário.

Termos em que se acorda em ordenar a baixa dos autos ao TribunalFiscal Aduaneiro de Lisboa com vista à sua posterior subida diferido,se for caso disso, ao abrigo do art. 735.o do CPC.

Custas pela recorrente, fixando-se a taxa de justiça e procuradoria,respectivamente, em 50.000$00 e 60%.

Lisboa, 29 de Março de 1995. — Abílio Madeira Bordalo (rela-tor) — João José Coelho Dias — Domingos Brandão de Pinho. — Fuipresente, António Mota Salgado.

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DIÁRIO DA REPÚBLICA

APÊNDICE

SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVOPublicação periódica ordenada pelo Decreto-Lei n.o 267/85, de 16 de Julho

PREÇO DESTE NÚMERO 639$00 (IVA INCLUÍDO 5%)

Depósito legal n.o 25 495/89

IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA, E. P.