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Disciplina: Ética na Saúde Aula 9: Atendimento a pacientes especiais Apresentação Iniciaremos a aula conceituando “pacientes especiais” e analisando suas características e necessidades específicas. Veremos ainda porque o número de casos desta natureza vem caindo nas estatísticas oficiais. Analisaremos as características das chamadas Crianças com Necessidades Especiais de Saúde, ou CRIANES, e os tipos de cuidados específicos e não específicos que são necessários nesses casos. Em seguida, veremos os principais aspectos éticos que envolvem atendimentos a idosos e, finalmente, comentaremos temas como a internação involuntária em pacientes psiquiátricos e como a legislação vem sendo alterada para dar mais direitos e dignidade a estas pessoas em seus tratamentos. Bons estudos! Objetivos Identificar a definição de paciente especial; Reconhecer o conceito de Crianças com Necessidades Especiais em Saúde (CRIANES); Verificar os cuidados especiais com idosos e pacientes psiquiátricos.

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Disciplina: Ética na Saúde

Aula 9: Atendimento a pacientes especiais

Apresentação

Iniciaremos a aula conceituando “pacientes especiais” e analisando suas características enecessidades específicas. Veremos ainda porque o número de casos desta natureza vemcaindo nas estatísticas oficiais.

Analisaremos as características das chamadas Crianças com Necessidades Especiais deSaúde, ou CRIANES, e os tipos de cuidados específicos e não específicos que sãonecessários nesses casos.

Em seguida, veremos os principais aspectos éticos que envolvem atendimentos a idosos e,finalmente, comentaremos temas como a internação involuntária em pacientespsiquiátricos e como a legislação vem sendo alterada para dar mais direitos e dignidade aestas pessoas em seus tratamentos.

Bons estudos!

Objetivos

Identificar a definição de paciente especial;Reconhecer o conceito de Crianças com Necessidades Especiais em Saúde(CRIANES);Verificar os cuidados especiais com idosos e pacientes psiquiátricos.

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Trabalho com crianças comnecessidades especiaisVamos iniciar esta aula conhecendo o trabalho de Equoterapia realizado com crianças comnecessidades especiais.

Parceria em Sorocaba promove Equoterapia para crianças com necessidades especiais | Fonte: Sorocaba Web TV

https://youtu.be/uSxovGoDPyU

ConceituaçãoArmando Fourniol Filho (in Celeste, R. et al) define paciente especial, em seu livro“Pacientes Especiais e a Odontologia” (1998), como:

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Todo indivíduo que possui alteração física, intelectual, social ou

emocional – alteração essa aguda ou crônica, simples ou

complexa – e que necessita de educação especial e instruções

suplementares temporárias ou definitivamente.

Felizmente, tem sido constatada uma diminuição no número de casos definidos por“atendimentos especiais” ou registrados como PNEs (Portadores de NecessidadesEspeciais) em função de dois aspectos básicos:

1

O avanço tecnológico da medicina, que tem conseguido, através da descoberta de novosmedicamentos e tipos de tratamento, reduzir significativamente muitas patologias.

Em caso da ausência de um tratamento precoce, essas patologias poderiam vir a tornar aspessoas acometidas e, posteriormente, caracterizá-las como portadoras de necessidadesespeciais.

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Comprimidos em uma bandeja | Fonte: Fahroni / Shutterstock

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A segunda diz respeito ao próprio estímulo da sociedade em ações de inclusão social, quetêm alterado o perfil destas pessoas e de seus familiares, fazendo com que não se vejamcomo pessoas que precisem de atendimento diferenciado.

Grande parte destas pessoas pode, efetivamente, ser atendida em um ambienteambulatorial e somente alguns distúrbios ou condições especiais podem exigirinternações, equipamentos especiais ou ainda, em casos mais específicos, a utilização demedicamentos especiais ou mesmo sedação em certas deficiências mais profundas. Estas,no entanto, são condições mais raras e especiais.

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Funcionário com deficiência em um escritório | Fonte:Wavebreakmedia / Shutterstock

Naturalmente que, na área da saúde, tornam-se mais preocupantes alguns procedimentose cuidados aplicados a pacientes PNEs. Equipes multidisciplinares de modo geralconhecem melhor as necessidades destas pessoas e contam com psicólogos que auxiliamna elaboração de procedimentos, dinâmicas, no entendimento dos sentimentos dospacientes e familiares envolvidos e na compreensão dos aspectos psicodinâmicos.

Qual seria o principal problema para o atendimento a esses pacientes?

A falta de informação

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E a falta de treinamento dos profissionais de saúde

Há pouca informação técnica nos cursos de graduação e o número de profissionais querealiza tratamento especializado a pacientes com necessidades especiais é muito reduzido.

A odontologia, no Brasil, tem sido uma honrosa exceção, com um incremento grande decursos de especialização e uma série de congressos e trabalhos publicados sobre o

atendimento a pacientes especiais.

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De modo geral, os casos mais frequentes de atendimentos especiais se dividem em trêsgrupos:

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Crianças com Necessidades Especiais de Saúde (CRIANES)

2

Idosos

3

Pacientes psiquiátricos

Crianças com necessidades especiais desaúde (Crianes)O termo Crianças com Necessidades Especiais de Saúde , ou CRIANES, surgiu pelaprimeira vez em 1998 nos EUA para caracterizar uma clientela específica de hospitaispediátricos que demandavam um tipo especial de cuidados, seja de forma temporária oupermanente, e que apresentavam múltiplos diagnósticos médicos, implicando em umapermanente dependência dos serviços de saúde em diversas especialidades.

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Menino sentado em uma cadeira de rodas | Fonte: Wavebreakmedia / Shutterstock

No Brasil, a população mais carente agrava as estatísticas relativas à CRIANES em funçãoda pobreza que aumenta a exposição da criança e da gestante ao adoecimento e acronicidade de problemas de saúde.

São considerados quatro padrões específicos de demandas especiais de saúde para estaclientela. São elas:

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Crianças com disfunção neuromuscular (requerem reabilitação psicomotora e social);

2

Crianças dependentes de aparelhagem tecnológica (cateter semi-implantável, bolsas decolostomia, ureterostomia, cânula de traqueostomia etc.);

3

Crianças fármaco-dependentes (antirretrovirais, cardiotônicos, neurolépticos, etc.);

4

Crianças que dependem de modificações na forma habitual de cuidar, incluindo aquelasque necessitam de alterações específicas nas AVDs .

De modo geral, são todas as crianças que dependem, ainda que em casa, de uma atençãocomplexa e contínua. Estes cuidados domiciliares especiais são divididos em duascategorias:

O cuidado natural, que se intensifica a níveis muito acima dos necessários às crianças emgeral.

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O cuidado singular , que se refere aos cuidados próprios, específicos e inerentes àcondição particular de cada criança com necessidades especiais de saúde.

IdososA principal questão ética envolvida no trato com idosos diz respeito ao falso pressupostode que, por estar velho, o indivíduo perde sua condição decisória ou seu direito àpreservação da privacidade.

A própria família, com o argumento de “poupar” o idoso de ansiedades ou aspectosnegativos, se coloca como intermediária na relação do profissional de saúde com seupaciente.

Enfermeira atendendo a uma senhora idosa | Fonte:Halfpoint / Shutterstock

Esta intermediação só pode ser aceita mediante a comprovação da incapacidade do idosoem tomar suas próprias decisões e atitudes.

Existem meios adequados de transmitir diagnósticos ou necessidades que minimizamimpactos e danos emocionais desnecessários. Os direitos à informação, privacidade econfidencialidade do paciente não podem ser quebrados em função de sua idade e sim em

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casos de incapacidade, que o fazem necessitar de terceiros que por ele seresponsabilizem.

Nestes casos, é preciso deixar claro que a fidelidade do profissional

de saúde é com o paciente e cabe exclusivamente ao profissional

decidir que informações são essenciais para que os representantes

tomem as decisões necessárias e quais informações são

desnecessárias e dizem respeito, exclusivamente, à pessoa do

idoso.

Nesse sentido, é importante observar que:

O profissional que atende ao idoso deve preservar fundamentalmente o vínculo deconfiança com seu paciente e este vínculo está baseado na integralidade da sua pessoa.

Homem auxiliando uma senhora idosa | Fonte:Decorwithme / Shutterstock

A autonomia decisória e as convicções pessoais devem ser respeitadas ao máximo e,mesmo em situações de incapacidade temporária ou definitiva, o idoso tem direito a verrespeitadas as decisões tomadas antecipadamente.

Pacientes psiquiátricos

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Dentre os diversos aspectos éticos envolvidos no atendimento a pacientes psiquiátricos,um tema de especial complexidade diz respeito à internação e tratamentos involuntários esua conflitante prática com os princípios do consentimento informado e da autonomia dopaciente.

Paciente psiquiátrico sendo contido por enfermeiros | Fonte: ALPA PROD / Shutterstock

Historicamente, a prática de aceitar a internação involuntária de doentes mentais temrelação a dois antigos pressupostos:

1

Periculosidade destes pacientes;

2

Cronicidade de seus quadros clínicos.

A possibilidade de levar outros ou a si mesmo a riscos iminentes de ações violentas e aideia equivocada de que as patologias mentais são intratáveis ou permanentes, sendoapenas controladas temporariamente pelo uso de medicação, têm justificado este tipo deviolência contra a pessoa em casos que seriam perfeitamente tratados ambulatorialmente.Ainda que viessem necessitar de internação, esta fosse realizada com o consentimento dopaciente.

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Paralelamente à internação involuntária, vemos ainda o uso frequente de força física ouaplicação de medicamentos como expedientes utilizados na contenção de comportamentosde agressividade ou ansiedade extrema. Na maioria das vezes são pessoas que estãotendo seus direitos e dignidade sendo aviltados à sua revelia, o que por si só justificariauma atitude de desespero, ou ainda pacientes internados que vivem em condições de ócioe negligência assistencial.

Seja qual for o caso, a repressão através de violência física ou

química poderia ser muito facilmente substituída por profissionais

preparados para lidar de modo apropriado com estas manifestações

de medo e ansiedade.

Leitura

Para mais informações, leia o texto “Internação Involuntária”<galeria/aula9/anexo/internacao_involuntaria.pdf> .

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AtividadeLeia o texto abaixo:

Asile, madhouse, asylum, hospizio, são alguns dos nomes que denominam asinstituições cujo fim é abrigar, recolher ou dar algum tipo de assistência aos "loucos".As denominações variam de acordo com os diferentes contextos históricos em queforam criados. O termo manicômio surge a partir do século XIX e designa, maisespecificamente, o hospital psiquiátrico já com a função de dar um atendimentomédico sistemático e especializado.

A prática de retirar os doentes mentais do convívio social para colocá-los em umlugar específico surge em um determinado período histórico. Segundo MichelFoucault, em “a história da loucura na idade clássica”, ela tem origem na culturaárabe, datando o primeiro hospício conhecido do século VII.

Os primeiros hospícios europeus são criados no século XV, a partir da ocupação árabeda Espanha. Datam do mesmo período na Itália e surgem em Florença, Pádua eBérgamo. No século XVII, os hospícios proliferam e passam a abrigar juntamente osdoentes mentais com marginalizados de outras espécies. O tratamento que essaspessoas recebiam nas instituições costumava ser desumano, sendo considerado piordo que o recebido nas prisões.”

Fonte: HISTÓRIA dos manicômios. Reforma manicomial. Com Ciência – RevistaEletrônica de Jornalismo Científico, Campinas, n. 9, abr. 2000. Disponível em:http://www.comciencia.br/ <http://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/manicom/manicom8.htm> . Acesso em: 5 jun. 2018.

A marginalização de pacientes especiais é antiga e um tema recorrente na históriadas ciências da saúde. O texto acima nos dá uma boa pista dos motivos pelos quais asociedade até hoje conserva a ideia da necessidade do afastamento destas pessoasdo convívio sociofamiliar.

Sobre isso, analise a afirmativa abaixo e marque verdadeiro (V) ou falso (F):

O Bethlem Royal Hospital de Londres, hospital psiquiátrico mais antigo do mundoainda em atividade, durante o século XVII cobrava para que visitantes pudessemolhar os “lunáticos” em suas celas e assistir “espetáculos” de natureza sexual ouagressiva protagonizado pelos doentes. Os visitantes podiam, inclusive, cutucar osinternos com varas para irritá-los e induzir a reações “cômicas”.

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NotasCrianças com Necessidades Especiais de Saúde

Children with Special Health Care Needs.

AVDs

Atividades da Vida Diária.

Cuidado singular

Este segundo tipo implica na aprendizagem de saberes técnicos que se vinculam à rotinafamiliar através da aplicação de medicamentos, práticas fisioterápicas, utilização deaparelhagem médica e outros que elevam muito o nível de estresse destes cuidadores, namedida em que a atenção permanente e a vigilância constante de situações sintomáticas,por mais simples que possam parecer, podem representar mudanças no quadro clínico efazer a diferença entre a vida e a morte da criança.

Próximos Passos

A evolução histórica dos direitos humanos em relação a pacientes internados ou emtratamento ambulatorial;A humanização do ambiente hospitalar;A legislação sobre sanções legais a abusos e maus-tratos.

Explore mais

Leia o artigo:

• Cuidar de crianças com necessidades especiais de saúde: desafios para asfamílias e enfermagem pediátrica<http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n3/v11n3a09.htm> .

Acesse o site:

http://www.prac.ufpb.br/ <http://www.prac.ufpb.br/>

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