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49 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 15, MAIO 2002 Química na cabeça Quantos não se fascinaram, quando criança ou jovem, com as cores e explo- sões que a química proporciona? Quantos não misturavam coisas ao acaso, em busca do resultado mais sensacional? Brincadeira às vezes perigosa… O leitor curioso, crian- ça ou não, tem às mãos um inestimado apoio para suas aventuras pirotécnicas e coloridas. Química na cabeça vai guiá-lo pelo mundo colorido e multiforme da Quí- mica. São vários experimentos simples e de fácil execução, muitos com grande im- pacto visual, que você pode realizar na cozi- nha ou no quintal de sua casa. Solte a criati- vidade e venha brincar de fazer melecas, origamis coloridos, tingir camisetas etc. Mas não pense você que vai apenas fazer mágica. A química por trás dos vários “truques” é explicada por Alfredo de forma simples e direta. Assim, sem grandes esfor- ços e de uma maneira divertida, o leitor estará aprendendo a química da água, com suas propriedades fascinantes; do mundo multiforme dos polímeros – plásticos, géis, melecas, papel, celulose; do mundo colo- rido dos corantes e pigmentos; e das solu- ções e cristais maravilhosos que delas emergem. Conheci Alfredo quando ele se tornou professor do Colégio Técnico da UFMG, em 1998. Desde então, temos convivido cotidianamente nas ações do FoCo – Formação Continuada de Professores de Química e Ciências, da UFMG. A grande intimidade de Alfredo com as demonstra- ções encanta os professores de Química que participam de seu curso sobre o tema, ministrado por esse Brasil afora nos Encon- tros de Ensino de Química e nas Reuniões da Sociedade Brasileira de Química. Alfredo tira proveito dessa experiência com formação de professores ao escrever o livro. Os que lecionam Química e Ciências encontrarão um repertório rico de experiên- Resenhas cias, as quais podem ser facilmente reali- zadas pelos seus alunos ou como demons- trações em sala de aula. Alfredo tem talento para lidar com a juventude. Organizou o primeiro “Show da Química” em Belo Horizonte, com estu- dantes de graduação e pós-graduação em Química da UFMG. A brincadeira evoluiu e, o hoje grupo, sem perder o prazer e a garra originais, faz teatro científico de qualidade, apresentando a Química e a Física ao público jovem de forma quase hilariante. O fino senso de humor de Alfredo encanta os jovens que trabalham com ele. E, certamente encantará o leitor que ingressar de cabeça neste Química na cabeça. Boa viagem. (Eduardo Fleury Mortimer - UFMG) Química na cabeça . Alfredo Luis Mateus. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001. 128 p. ISBN 85-7041-291-6. R$30,00. Disciplinas e integração curricular: história e políticas As disciplinas escolares têm sido consideradas as grandes “vilãs” da escola moderna. Para muitos, tanto a fragmen- tação dos conhecimentos quanto a pouca interlocução destes com a realidade dos alunos são fruto, em grande parte, da orga- nização disciplinar de nossos currículos. Tais afirmações são problematizadas no li- vro Disciplinas e integração curricular: his- tória e políticas, organizado pelas profes- soras Alice Casimiro Lopes (UFRJ) e Eliza- beth Macedo (UERJ) e contendo artigos das duas autoras e de Luciano Mendes de Faria Filho, Dominique Juliá, Silvina Gvirtz, Angela Aisenstein, Alejandra Valerani, Jorge Cornejo, José Augusto Pacheco e Alfredo Veiga-Neto. Os vários textos, de forma dis- tinta, nos fornecem elementos para desna- turalizar os mecanismos que acabam por constituir as disciplinas escolares, nos ins- tigando a uma reflexão consistente sobre a persistência dessa forma de organização curricular a despeito das inúmeras tenta- tivas de formulação de currículos não-disci- plinares. Focalizando os mecanismos de sele- ção e de organização do conhecimento es- colar em espaços que vão da sala de aula às políticas curriculares, os artigos nos per- mitem compreender a dinâmica de consti- tuição das disciplinas escolares como fruto de disputas e conflitos que ocorrem dentro e fora do sistema escolar. Desse processo participam tanto fatores relacionados aos contextos político, social e econômico quanto aspectos que dizem respeito às condições de trabalho na própria comu- nidade disciplinar: surgimento de diferentes grupos de liderança intelectual, criação de centros de prestígio atuando na formação de professores e organização de associa- ções profissionais e de uma política edito- rial. Como todos esses grupos não neces- sariamente compartilham idéias, interesses e objetivos comuns, os conflitos gerados acabam favorecendo a manutenção e a estabilidade do currículo disciplinar. Não é por acaso, portanto, que enfrentamos tan- tas dificuldades na transformação dos con- teúdos e práticas que têm historicamente povoado o universo escolar. O livro interessará tanto os leitores de Química Nova na Escola que atuam nas es- colas e universidades quanto aqueles que pesquisam no campo da Educação em Ciências, já que possui artigos que anali- sam especificamente a disciplina Ciências. Além disso, uma compreensão diferencia- da dos processos de criação e de manuten- ção das disciplinas escolares tanto nos cur- rículos escolares quanto nas reformas edu- cacionais servirá, em ambos os casos, para repensarmos as dificuldades e limites en- frentados nas tarefas cotidianas de ensinar e pesquisar. Tais problemas não são fixos, mas foram produzidos por ações conflitan- tes e interessadas de atores sociais histo- ricamente posicionados. Resta-nos, por- tanto, questionar certos consensos histori- camente construídos e conhecer um pouco melhor as diferentes versões não-hegemô- nicas de seleção e de organização do conhecimento escolar. Os textos reunidos pelas duas autoras certamente nos auxilia- rão nessa tarefa. (Marcia Serra Ferreira - Faculdade de Educação / UFRJ) Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo (orgs.). Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 224 p. ISBN 85-7490-129-6. R$20,00 (http://www.dpa.com.br).

Disciplinas e integração curricular: história e políticasqnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a11.pdf · 2007. 4. 3. · apoio para suas aventuras pirotécnicas e coloridas. Química

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Page 1: Disciplinas e integração curricular: história e políticasqnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a11.pdf · 2007. 4. 3. · apoio para suas aventuras pirotécnicas e coloridas. Química

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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 15, MAIO 2002

Química na cabeçaQuantos não se fascinaram, quando

criança ou jovem, com as cores e explo-sões que a química proporciona? Quantosnão misturavam coisas ao acaso, em buscado resultado mais sensacional? Brincadeiraàs vezes perigosa… O leitor curioso, crian-ça ou não, tem às mãos um inestimadoapoio para suas aventuras pirotécnicas ecoloridas. Química na cabeça vai guiá-lopelo mundo colorido e multiforme da Quí-mica. São vários experimentos simples ede fácil execução, muitos com grande im-pacto visual, que você pode realizar na cozi-nha ou no quintal de sua casa. Solte a criati-vidade e venha brincar de fazer melecas,origamis coloridos, tingir camisetas etc.

Mas não pense você que vai apenasfazer mágica. A química por trás dos vários“truques” é explicada por Alfredo de formasimples e direta. Assim, sem grandes esfor-ços e de uma maneira divertida, o leitorestará aprendendo a química da água, comsuas propriedades fascinantes; do mundomultiforme dos polímeros – plásticos, géis,melecas, papel, celulose; do mundo colo-rido dos corantes e pigmentos; e das solu-ções e cristais maravilhosos que delasemergem.

Conheci Alfredo quando ele se tornouprofessor do Colégio Técnico da UFMG,em 1998. Desde então, temos convividocotidianamente nas ações do FoCo –Formação Continuada de Professores deQuímica e Ciências, da UFMG. A grandeintimidade de Alfredo com as demonstra-ções encanta os professores de Químicaque participam de seu curso sobre o tema,ministrado por esse Brasil afora nos Encon-tros de Ensino de Química e nas Reuniõesda Sociedade Brasileira de Química.Alfredo tira proveito dessa experiência comformação de professores ao escrever olivro. Os que lecionam Química e Ciênciasencontrarão um repertório rico de experiên-

Resenhas

cias, as quais podem ser facilmente reali-zadas pelos seus alunos ou como demons-trações em sala de aula.

Alfredo tem talento para lidar com ajuventude. Organizou o primeiro “Show daQuímica” em Belo Horizonte, com estu-dantes de graduação e pós-graduação emQuímica da UFMG. A brincadeira evoluiu e,o hoje grupo, sem perder o prazer e a garraoriginais, faz teatro científico de qualidade,apresentando a Química e a Física aopúblico jovem de forma quase hilariante. Ofino senso de humor de Alfredo encanta osjovens que trabalham com ele. E, certamenteencantará o leitor que ingressar de cabeçaneste Química na cabeça. Boa viagem.

(Eduardo Fleury Mortimer - UFMG)Química na cabeça. Alfredo Luis

Mateus. Belo Horizonte: Editora da UFMG,2001. 128 p. ISBN 85-7041-291-6. R$30,00.

Disciplinas e integração curricular:história e políticas

As disciplinas escolares têm sidoconsideradas as grandes “vilãs” da escolamoderna. Para muitos, tanto a fragmen-tação dos conhecimentos quanto a poucainterlocução destes com a realidade dosalunos são fruto, em grande parte, da orga-nização disciplinar de nossos currículos.Tais afirmações são problematizadas no li-vro Disciplinas e integração curricular: his-tória e políticas, organizado pelas profes-soras Alice Casimiro Lopes (UFRJ) e Eliza-beth Macedo (UERJ) e contendo artigosdas duas autoras e de Luciano Mendes deFaria Filho, Dominique Juliá, Silvina Gvirtz,Angela Aisenstein, Alejandra Valerani, JorgeCornejo, José Augusto Pacheco e AlfredoVeiga-Neto. Os vários textos, de forma dis-tinta, nos fornecem elementos para desna-turalizar os mecanismos que acabam porconstituir as disciplinas escolares, nos ins-tigando a uma reflexão consistente sobrea persistência dessa forma de organizaçãocurricular a despeito das inúmeras tenta-tivas de formulação de currículos não-disci-plinares.

Focalizando os mecanismos de sele-ção e de organização do conhecimento es-colar em espaços que vão da sala de aulaàs políticas curriculares, os artigos nos per-mitem compreender a dinâmica de consti-tuição das disciplinas escolares como frutode disputas e conflitos que ocorrem dentroe fora do sistema escolar. Desse processoparticipam tanto fatores relacionados aoscontextos político, social e econômicoquanto aspectos que dizem respeito àscondições de trabalho na própria comu-nidade disciplinar: surgimento de diferentesgrupos de liderança intelectual, criação decentros de prestígio atuando na formaçãode professores e organização de associa-

ções profissionais e de uma política edito-rial. Como todos esses grupos não neces-sariamente compartilham idéias, interessese objetivos comuns, os conflitos geradosacabam favorecendo a manutenção e aestabilidade do currículo disciplinar. Não épor acaso, portanto, que enfrentamos tan-tas dificuldades na transformação dos con-teúdos e práticas que têm historicamentepovoado o universo escolar.

O livro interessará tanto os leitores deQuímica Nova na Escola que atuam nas es-colas e universidades quanto aqueles quepesquisam no campo da Educação emCiências, já que possui artigos que anali-sam especificamente a disciplina Ciências.Além disso, uma compreensão diferencia-da dos processos de criação e de manuten-ção das disciplinas escolares tanto nos cur-rículos escolares quanto nas reformas edu-cacionais servirá, em ambos os casos, pararepensarmos as dificuldades e limites en-frentados nas tarefas cotidianas de ensinare pesquisar. Tais problemas não são fixos,mas foram produzidos por ações conflitan-tes e interessadas de atores sociais histo-ricamente posicionados. Resta-nos, por-tanto, questionar certos consensos histori-camente construídos e conhecer um poucomelhor as diferentes versões não-hegemô-nicas de seleção e de organização doconhecimento escolar. Os textos reunidospelas duas autoras certamente nos auxilia-rão nessa tarefa.

(Marcia Serra Ferreira - Faculdade deEducação / UFRJ)

Disciplinas e integração curricular:história e políticas. Alice Casimiro Lopes eElizabeth Macedo (orgs.). Rio de Janeiro:DP&A, 2002. 224 p. ISBN 85-7490-129-6.R$20,00 (http://www.dpa.com.br).