12
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA JUSTIÇA GABINETE DA MINISTRA DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE LEI QUE REGE OS CASOS E OS TERMOS DE EFECTIVAÇÃO DA EXTRADIÇÃO. MAPUTO, MAIO DE 2011

DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA JUSTIÇAGABINETE DA MINISTRA

DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA POR

OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE LEI QUE REGE OS

CASOS E OS TERMOS DE EFECTIVAÇÃO DA EXTRADIÇÃO.

MAPUTO, MAIO DE 2011

Page 2: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

Senhora Presidente da Assembleia da República,

Excelência,

Senhores Membros da Comissão Permanente da Assembleia

da República,

Excelências,

Digníssimos Deputados,

Excelências,

Senhores Membros do Governo,

Excelências,

Caros Convidados,

Minhas Senhoras,

Meus Senhores,

-2-

Page 3: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

Constitui para mim uma grande honra e renovado privilégio ter a

oportunidade de, a partir deste pódio, dirigir-me a Vossas

Excelências, dignos Mandatários do Povo, para apresentar nesta 3ª

Sessão Ordinária da Assembleia da República, a Proposta de Lei

que rege os Casos e os termos de Efectivação da Extradição.

Antes porém, permita-me Senhora Presidente da Assembleia da

República, endereçar as minhas calorosas saudações a Vossa

Excelência, aos ilustres Deputados e a todo o Povo Moçambicano,

que conjuntamente com o Governo tem contribuído para a

implementação do Programa Quinquenal do Governo.

Excelências,

A Extradição consiste “ na entrega, por um Estado a outro, e a

pedido deste, de uma pessoa que em seu território deva responder

a processo penal ou cumprir pena”.

Trata-se, na verdade, de um mecanismo que os Estados

encontraram para a prevenção e combate a criminalidade que

ultrapassa as suas fronteiras, e que permite o reforço da

cooperação entre Estados no domínio da justiça penal.

O objectivo desta Proposta de Lei é estabelecer um quadro legal

próprio para o tratamento dos aspectos relativos à solicitação a

outros Estados, de mandados de captura de pessoas que tenham

praticado crimes, bem como para as situações em que o nosso

Estado é chamado a atender pedidos de entrega de pessoas

reclamadas pela justiça dos outros Estados.

-3-

Page 4: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

Esta proposta vem, por um lado, materializar a previsão

constitucional estabelecida no artigo 67 da Constituição da

República de Moçambique (CRM), estabelecendo, em termos

concretos, os parâmetros em que pode ocorrer a extradição,

permitindo ainda que o Estado moçambicano actue neste domínio,

observando as disposições constitucionais e uma lei específica.

Por outro lado, a proposta vem dar continuidade os esforços de

Moçambique para melhorar a cooperação entre os Estados no

domínio da prevenção e combate ao crime organizado

transnacional, já demonstrados através da adesão a alguns

instrumentos internacionais multilaterais nesta matéria, quais sejam:

a Convenção sobre a Extradição entre o Estados Membros da

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),

ratificada pela Resolução da Assembleia da República

nº3/2007, de 28 de Junho; e

o Protocolo da SADC sobre Extradição, ratificado pela

Resolução da Assembleia da República nº36/2010 de 28 de

Dezembro;

A proposta de Lei contém, na sua estrutura, 40 artigos que se

subdividem em quatro capítulos, sendo:

o primeiro relativo ao âmbito e objecto da lei;

o segundo, referente as condições de extradição;

o terceiro relativo ao processo de extradição; e

o quarto e último capítulo, que versa sobre as disposições

finais.

-4-

Page 5: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

Nos termos do que se propõe, a extradição tem lugar para efeitos

de procedimento criminal ou para efeitos de cumprimento de pena

privativa da liberdade, por crime cujo julgamento seja da

competência do Estado requerente.

Portanto, ela só pode ser concedida quando o crime que motiva o

pedido tenha ocorrido no território do Estado requerente ou serem

aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado ou existir

sentença final condenatória de privação da liberdade, ou ainda estar

a prisão do extraditando autorizada pelo juiz ou autoridade

competente do Estado requerente.

Prevê-se na proposta, os casos em que a não é admissível a

extradição, são as situações em que os pedidos têm por

fundamento crimes de natureza política, crimes militares, crimes a

que corresponda pena morte ou prisão perpétua ou ainda nos casos

em que se trate de cidadão moçambicano.

Os pedidos de extradição não serão igualmente admissíveis nos

casos em que exista fundado receio de que de que os mesmos têm

por finalidade perseguir ou punir uma pessoa em função da sua

raça, religião, nacionalidade, origem étnica, sexo ou sujeição a

tortura, tratamento desumano, degradante e cruel.

Em termos de procedimento propõe-se que o pedido de extradição

seja feito por via diplomática, sendo apresentado ao sector do

Governo superintende a área da Justiça

O processo em si tem a natureza urgente e compreende duas

fases, sendo uma administrativa que é destinada a apreciação pelo

-5-

Page 6: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

Governo do pedido de extradição, e uma fase judicial que é da

exclusiva competência dos Tribunais.

Digníssimos Deputados,

Minhas Senhoras, Meus Senhores,

Vivemos hoje, num mundo cada vez mais aberto a mobilidade das

pessoas e bens, com facilidades de comunicações, existência dos

mais variados meios de deslocação. Nestas condições também

deslocam-se de um estado para outro cidadãos que tenham

cometido crimes nalgum Estado, daí justifica-se a aprovação desta

lei que será o alicerce da cooperação, no domínio do direito penal

com outros Estados.

Com a aprovação desta proposta de lei, passaremos a ter um

instrumento fundamental para regular os casos em que nos é

solicitada a entrega de indivíduos que tenham cometido crime em

outros estados e estaremos a dar o sinal de que Moçambique não é

refúgio de cidadãos estrangeiros que pretendam escapar-se da

justiça.

É com estes fundamentos que se submete a presente Proposta de

Lei que rege os Casos e Termos da Efectivação da Extradição,

solicitando a Assembleia da República a sua apreciação e

aprovação.

PELA ATENÇÃO DISPENSADA,

MUITO OBRIGADA !

-6-

Page 7: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

1. Esta proposta tem como objecto determinar os casos e condições para entregar, aos Estados que solicitarem, os acusados pelos tribunais e os condenados por delito de ordem comum (artigo 2).

2. Concedida a extradição, o país requerente não pode reextraditar para terceiro Estado a pessoa extraditada no seguimento do pedido de extradição a ser que: (i) o país requerido preste a correspondente autorização ouvido o extraditado, ou (ii) o extraditado, tendo possibilidade de abandonar o território do Estado requerente não o faça dentro de 45 dias, ou voluntariamente ai regressar após abandono (artigo 7).

3. Havendo concurso de pedidos de extradição da mesma pessoa e pelos mesmos factos, dá-se preferência ao Estado em cujo território a infracção foi cometida, e noutros casos seguem-se as regras estabelecidas no nº 2 do artigo 8 da proposta de lei.

4. O Estado requerente pode pedir a detenção provisória do extraditando, ao país requerido, mas esta detenção e a sua manutenção deve seguir as regras da lei nacional, portanto segue as regras estabelecidas na lei processual penal do Estado moçambicano no que diz respeito a detenção provisória (artigo 11).

5. O Pedido de extradição é feito por via diplomática é deve ser apresentado ao sector do Governo que responde pela área de justiça e, os documentos que o instruem, se escritos na língua do Estado requerente, devem ser traduzidos para a língua portuguesa (artigo 15 e 16).

6. Existe também a possibilidade de extradição voluntária, que é aquela que ocorre com o consentimento do extraditando, dispensando deste modo o processo formal de extradição (artigo 18).

7. O processo de extradição tem a natureza urgente e compreende duas fases, sendo uma administrativa que é destinada a apreciação pelo Governo do pedido de extradição, e

-7-

Page 8: DISCURSO DE S.EXCIA A MINISTRA DA JUSTIÇA-EXTRADIÇÃO

uma fase judicial que é da exclusiva competência dos Tribunais (artigo 22).

8. Na fase administrativa é onde o Governo verifica se o processo deve ter seguimento ou deve ser liminarmente indeferido por razões de ordem política (Ex. Se o pedido não tem motivações políticas); de oportunidade (Ex. Se o momento de pedido de extradição é o mais apropriado para se fazer o envio do extraditando ou se calhar é melhor aguardar melhor momento por razões de diversa ordem tanto no país requerente como do requerido); ou de conveniência.

9. A fase judicial, se inicia depois do Governo através do sector da justiça, remeter o processo ao Ministério Público junto do Tribunal competente (tribunal Judicial) que promoverá o cumprimento do pedido (artigo 23).

10. No processo judicial, na audição do extraditando, este deve ser sempre acompanhado de defensor ou de advogado que o auxiliará em todas as questões relativa ao processo de extradição (artigo 26 e 27).

11. Findo o processo judicial de extradição, o Estado requerente deve providenciar a remoção do extraditando do território moçambicano no prazo de 20 dias. Não ocorrendo a remoção, este é restituído a liberdade, salvo a excepção de ter havido necessidade de prorrogação do prazo de remoção, por motivo de doença do extraditando (artigo 33, conjugado com o nº 3 do artigo 9).

12. Esta proposta de lei prevê também as situações de trânsito de pessoas extraditadas de um território estrangeiro para o outro. Como regra este trânsito só se deve efectuar quando não ponha em perigo a ordem pública nacional e a infracção que motive a extradição se justifique nos termos da lei moçambicana (portanto não tenha motivações políticas, raciais, religiosas e outras condições que nos termos da lei moçambicana são causa de recusa da extradição).

13. Finalmente os processos de extradição são gratuitos e correm mesmo em tempo de férias judiciais (artigo 37

-8-