Discurso Do Reitorado_Heidegger[1]

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    A AUTO-AFIRMAO DA UNIVERSIDADE ALEM

    Martin Heidegger (trad. Alexandre Franco de S)

    A assuno do reitorado a obrigao conduo espiritual desta alta escola. O squito dos professores e dos alunos s desperta e se fortalece a partir do enraizamento, verdadeiro e comunitrio, na essncia da universidade alem. Mas esta essncia s vem luz, a um plano elevado e ao poder, se previamente e de cada vez os prprios guias [Fhrer] forem os guiados guiados pela inexorabilidade deste encargo espiritual que comprime o fado [Schicksal] do povo alemo no cunho da sua histria.

    Sabemos deste encargo espiritual? Quer sim, quer no, a pergunta permanece inaltervel: estaremos ns, professorado e estudantado desta alta escola, enraizados verdadeira e comunitariamente na essncia da universidade alem? Ter esta essncia, para a nossa existncia [Dasein], uma fora de cunho genuna? Sim, mas s se quisermos esta essncia a partir do fundo. Mas quem poderia a ter dvidas? Comummente, v-se o carcter essencial predominante da universidade na sua auto-administrao; esta deve ser mantida. No entanto ser que tambm pensmos completamente naquilo que este direito auto-administrao exige de ns?

    Auto-administrao quer dizer certamente: pormo-nos a ns mesmos a tarefa e determinarmos ns mesmos o caminho e o modo da sua efectivao, para nisso sermos ns mesmos aquilo que devemos ser. Mas saberemos ento quem somos ns mesmos, esta corporao de professores e de alunos da mais alta escola do povo alemo? Poderemos de todo sab-lo, sem a mais constante e severa auto-meditao [Selbstbesinnung]?

    Nem o conhecimento das condies hodiernas da universidade, nem sequer a familiaridade com a sua histria anterior, garantem j um saber suficiente da sua essncia ento preciso que, em primeiro, lugar, circunscrevamos esta essncia para o futuro, com clareza e severidade, que a queiramos em tal auto-limitao e que nos afirmemos a ns mesmos em tal querer.

    A auto-administrao s ganha consistncia sobre o fundamento da auto-meditao. Mas a auto-meditao s acontece na fora da auto-afirmao da universidade alem. Ser que a realizaremos? E como?

    A auto-afirmao da universidade alem a vontade originria, comunitria da sua essncia. A universidade alem para ns a alta escola que, a partir da cincia e atravs da cincia, leva os guias e os guardies do fado do povo alemo educao e ao cultivo. A vontade da essncia da universidade alem a vontade da cincia, enquanto vontade do encargo histrico espiritual do povo alemo como um povo que se sabe a si mesmo no seu Estado. A cincia e o fado alemo tm por uma vez de, no querer essencial, chegar ao poder. E s l chegaro se, e s se, ns professorado e estudantado , por um lado, expusermos a cincia sua mais ntima necessidade [Notwendigkeit] e, por outro lado, nos radicarmos no fado alemo, na sua mais extrema carncia [Not].

    Certamente no experimentaremos a essncia da cincia, na sua mais ntima necessidade, enquanto, falando do novo conceito de cincia, conferirmos a uma

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    cincia demasiado hodierna a auto-suficincia e a ausncia de pressupostos. Este acto meramente negador, e que quase no remonta para alm das ltimas dcadas, torna-se, precisamente por isso, na aparncia de um esforo verdadeiro pela essncia da cincia.

    Se quisermos captar a essncia da cincia teremos, antes de mais, de colocar diante dos olhos a pergunta decisiva: ser que a cincia deve, para ns, continuar ainda a ser, ou devemos deix-la ser arrastada para um fim repentino? No incondicionalmente necessrio que a cincia em geral deva ser. Mas se a cincia deve ser, e se ela deve ser para ns e atravs de ns, sob que condio que ela pode verdadeiramente permanecer?

    S se novamente nos colocarmos sob o poder do inicio [Anfang] da nossa existncia espiritual-histrica. Este incio a irrupo da filosofia grega. A, o homem ocidental levanta-se pela primeira vez, por fora da sua linguagem, a partir de uma nacionalidade [Volkstum], diante do ente no seu todo [Seiendes im Ganzen], perguntando e concebendo-o enquanto o ente que ele . Toda a cincia filosofia, quer ela o saiba e o queira quer no. Toda a cincia permanece presa a este incio da filosofia. a partir dele que ela cria a fora da sua essncia, posto que ainda permanea em geral altura deste incio.

    Queremos aqui retomar, para a nossa existncia, duas propriedades distintivas da essncia grega originria da cincia.

    Corria entre os gregos um conto antigo, segundo o qual Prometeu tinha sido o primeiro fi1sofo. squilo faz este Prometeu dizer uma sentena que enuncia a essncia do saber:

    (Prometeu. 514)

    Mas o saber de longe mais impotente que a necessidade. Isto quer dizer: cada saber acerca das coisas permanece, partida, entregue ao super-poder [bermacht] do fado e nega-se diante dele.

    Precisamente por isso, para se negar efectivamente, o saber tem de desenrolar a sua suprema obstinao, sendo para ela que pela primeira vez emerge o poder do estar-encoberto [Verborgenheit] do ente. Assim, o ente abre-se justamente na sua inalterabilidade infundvel e empresta ao saber a sua verdade. Esta sentena acerca da impotncia criadora do saber uma palavra dos gregos, nos quais se gostaria de encontrar demasiado facilmente o modelo para um saber que puramente se pe a si mesmo, e que nisso se esquece a si mesmo, o qual nos referido como atitude teortica. Mas o que a para o grego? Diz-se: a considerao [Betrachtung] pura que s coisa [Sache], na sua plenitude e exigncia, permanece vinculada. Esta conduta de considerao deve acontecer, aludindo aos gregos, por si mesma. Mas esta aluso no tem razo. Pois, por um lado, a teoria no acontece por si mesma, mas unicamente na paixo de permanecer prximo do ente enquanto tal e sob a sua perturbao. Mas, por outro, lado, os gregos combateram precisamente por conceber e realizar este perguntar de considerao como um modo da , e mesmo como o supremo modo da , do estar-em-obra do homem. O seu sentido no estava em igualar a praxis teoria, mas, ao contrrio, em compreender a prpria teoria como a suprema efectivao da prtica genuna. A cincia no , para os gregos, um bem cultural, mas o meio mais intimamente determinante de toda a existncia popular-estatal. A cincia tambm no para eles o simples meio

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    de consciencializao daquilo que era inconsciente, mas o poder que segura e envolve toda a existncia.

    A cincia o firmar-se a perguntar no meio do ente no seu todo, o qual constantemente se encobre. nisso que este perseverar a agir sabe acerca da sua impotncia diante do fado.

    Isto a essncia inicial da cincia. Mas este incio no se encontra a j dois sculos e meio de distncia? O progresso do agir humano tambm no alterou a cincia? Certamente! A interpretao do mundo teolgica-crist, que veio depois, assim como o posterior pensar tcnico-matemtico da modernidade, afastou, no que toca ao tempo e coisa, a cincia do seu incio. Mas, com isso, o prprio incio no est de modo nenhum superado ou mesmo aniquilado. Pois posto que a cincia grega originria algo grande, ento o incio deste algo grande permanece o seu maior. A essncia da cincia no poderia alguma vez ser esvaziada e desactivada, como o hoje apesar de todos os resultados e organizaes internacionais, se a grandeza do incio no permanecesse ainda. O incio ainda . Ele no se encontra atrs de ns como algo que foi h muito, mas est diante de ns. O incio passa antecipadamente, enquanto aquilo que maior, sobre tudo o que vem e, deste modo, tambm j sobre ns. O incio invadiu o nosso futuro; ele encontra-se l sobre ns, como a ordem longnqua para recuperar novamente a sua grandeza.

    A cincia tornar-se-nos- na necessidade mais ntima da existncia se e s se nos concertarmos decididamente com esta ordem longnqua para retomar a grandeza do incio. De outro modo, ela permanece um acidente no qual camos ou o prazer tranquilo de uma ocupao incua para o fomento de um simples progresso de conhecimentos.

    Contudo, se nos concertarmos com a ordem longnqua do incio, a cincia ter de se tornar um acontecimento fundamental da nossa existncia espiritual-popular.

    E quando a nossa existncia mais prpria, ela mesma, estiver diante de uma grande transformao, quando for verdade o que disse o ltimo filsofo alemo que procurou apaixonadamente Deus, Friedrich Nietzsche Deus morreu; quando tivermos de ser srios com este abandono do homem hodierno no meio do ente, o que se passar ento com a cincia?

    Ento o perseverar dos gregos diante do ente, que inicialmente se espanta, transforma-se num estar completamente exposto, sem cobertura, ao que encoberto e incerto, isto , ao digno de ser questionado [Fragwrdige]. O perguntar j no ento apenas o nvel elementar, ultrapassvel pela resposta enquanto saber, mas o prprio perguntar tornar-se- na suprema figura do saber. O perguntar desenrola ento a sua fora mais prpria de abertura daquilo que em todas as coisas essencial. O perguntar obriga ento mais extrema simplificao do olhar sobre aquilo que incomum.

    Tal perguntar quebra o enclausuramento da cincia em disciplinas espartilhadas, recupera-a a partir da disperso sem margens nem meta por campos e zonas singularizados, voltando a pr a cincia imediatamente a partir da fecundidade e da prosperidade de todas as potncias formadoras do mundo da existncia humana-histrica, como o so: natureza, histria, linguagem; povo, costume, Estado; poetar, pensar, crer; doena, loucura, morte; direito, economia, tcnica.

    Se quisermos a essncia da cincia no sentido do firmar-se a perguntar, sem cobertura, no meio da incerteza do ente no seu todo, ento esta vontade da essncia alcanar para o nosso povo o seu mundo do perigo mais ntimo e mais extremo, isto , o seu mundo verdadeiramente espiritual. Pois esprito no nem sagacidade vazia, nem um jogo de palavras descomprometido, nem o impulso sem margens de uma desmontagem s mos do entendimento, nem mesmo a razo universal, mas o esprito a resoluo originariamente disposta e sapiente essncia do ser. E o mundo espiritual

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    de um povo no a super-estrutura de uma cultura, nem mesmo como o museu para conhecimentos e valores utilizveis, mas o poder da mais profunda conservao das suas foras de terra e de sangue enquanto poder da excitao mais ntima e do abalo mais vasto da sua existncia. S um mundo espiritual garante ao povo a grandeza. Pois ele obriga a que a constante deciso entre a vontade da grandeza e o consentir da queda [Vefall] se torne na guia de marcha para a marcha que o nosso povo iniciou em direco sua histria futura.

    Se quisermos esta essncia da cincia, ento o professorado da universidade ter de efectivamente avanar para os postos mais exteriores do perigo da constante incerteza do mundo. Se ele se firmar a, isto , se lhe crescer a partir de l na proximidade essencial da perturbao de todas as coisas o perguntar comunitrio e o dizer comunitariamente determinado, ento tornar-se- forte o bastante para guiar. Pois o que no guiar decisivo no o simples ir frente, mas a fora de poder ir s, no por teimosia ou por desejo de dominar, mas por fora de uma determinao que a mais profunda e de uma obrigao que a mais vasta. Tal fora vincula ao que essencial, faz a seleco dos melhores e desperta o squito genuno daqueles que so de uma nova coragem. Mas no precisamos de primeiro despertar o squito. O estudantado alemo est em marcha. E quem ele procura so aqueles guias atravs dos quais ele quer elevar verdade fundamentada e sapiente a sua determinao prpria e p-la na claridade de uma palavra e de uma obra que seja indicadora e actuante.

    A partir da resoluo do estudantado alemo de firmar-se no fado alemo, na sua carncia mais extrema, vem uma vontade da essncia da universidade. Esta vontade uma vontade verdadeira, na medida em que o estudantado alemo, atravs do novo Direito dos Estudantes, se coloca a si mesmo sob a lei da sua essncia e, deste modo, pela primeira vez, circunscreve esta essncia. Dar-se a si mesmo a lei a mais elevada liberdade. A muito apregoada liberdade acadmica repudiada da universidade alem; pois esta liberdade no era genuna, porque era apenas negadora. Ela significou preponderantemente o descuido, a casualidade das intenes e impulsos, a desvinculao de tudo o que se faz. O conceito de liberdade do estudante alemo reconduzido agora sua verdade. A partir dela, desenrola-se futuramente o vnculo e o servio do estudantado alemo.

    O primeiro vnculo o vnculo comunidade do povo. Ele obriga a uma participao, que transporta e age em comum, nos esforos, aspiraes e capacidades de todos os estados e membros do povo. Este vnculo de agora em diante solidificado e enraizado na existncia estudantil atravs do servio de trabalho.

    O segundo vnculo o vnculo honra e ao destino [Geschick] da nao no meio dos outros povos. Ele exige a preparao, assegurada no saber e no poder, e centrada atravs do cultivo, para a mobilizao at ao ltimo. Este vnculo abrange e penetra futuramente toda a existncia estudantil como servio militar. O terceiro vnculo do estudantado o vnculo ao encargo espiritual do povo alemo. Este povo actua no seu fado na medida em que coloca a sua histria na manifestao do super-poder de todas as potncias formadoras de mundo da existncia humana, combatendo sempre de novo pelo seu mundo espiritual. Assim exposto mais extrema dignidade de ser questionada [Fragwrdigkeit] da existncia prpria, este povo quer ser um povo espiritual. Ele exige de si e para si, nos seus guias e guardies, a mais severa clareza do saber mais elevado, mais vasto e mais rico. Uma juventude estudantil que, desde cedo, ouse entrar na virilidade, desfraldando o seu querer sobre o destino futuro da nao, fora-se desde o fundo ao servio neste saber. Para ela, o servio do saber j no poder ser o adestramento aptico e rpido para uma profisso distinta. porque o poltico e o professor, o mdico e o juiz, o proco e o arquitecto guiam a

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    existncia popular-estatal, vigiando-o e fixando-o solidamente nas suas relaes fundamentais s potncias formadoras de mundo do ser humano, que estas profisses e a educao para elas so da responsabilidade do servio do saber. O saber no est ao servio das profisses, mas ao contrrio: as profisses actualizam e administram aquele saber supremo e essencial do povo acerca de toda a sua existncia. Mas este saber no para ns a tomada de conhecimento tranquila de essencialidades e valores em si, mas o risco mais agudo da existncia no meio do super-poder do ente. A dignidade de ser questionado do ser em geral comprime o povo ao trabalho e ao combate, e comprime-o para dentro do seu Estado aonde pertencem as profisses. Os trs vnculos no encargo espiritual, atravs do povo, ao destino do Estado so co-originrios essncia alem. Os trs servios que resultam da servio de trabalho, servio militar e servio do saber so igualmente necessrios e esto ao mesmo nvel. O saber acerca do povo, agindo em comum, e o saber acerca do destino do Estado, mantendo-se preparado, s juntamente com o saber acerca do encargo espiritual, cuja efectivao nos est entregue, fazem a essncia originria e plena da cincia posto que nos concertemos com a ordem longnqua do incio da nossa existncia espiritual-histrica. Esta cincia visada quando a essncia da universidade alem for circunscrita como a alta escola que, a partir da cincia e atravs da cincia, leva os guias e os guardies do fado do povo alemo educao e ao cultivo. Este conceito originrio da cincia no apenas obriga objectividade [Sachlichkeit], mas, partida, essencialidade e simplicidade do perguntar no meio do mundo histrico-espiritual do povo. Sim s a partir daqui a objectividade se pode verdadeiramente fundamentar, isto , encontrar o seu tipo e as suas fronteiras. Neste sentido, a cincia tem de se tornar no poder que d a figura da corporao da universidade alem. Nisto encontra-se duas coisas: por um lado, o professorado e o estudantado, cada um no seu modo, tm de vez de ser agarrados e permanecer agarrados pelo conceito de cincia. Mas, ao mesmo tempo, este conceito de cincia tem de intervir de um modo transfigurador nas formas fundamentais dentro das quais os professores e alunos, respectivamente, agem cientificamente em comunidade: nas faculdades e nas especialidades. A faculdade s faculdade se se desenrolar numa capacidade de legislao espiritual enraizada na essncia da sua cincia, para configurar as potncias da existncia que a perturbam em direco ao mundo espiritual uno do povo. A especialidade s especialidade se se colocar de antemo no domnio desta legislao espiritual, derrubando assim os limites da disciplina e ultrapassando o mofo e a ausncia de genuinidade do adestramento superficial da profisso.

    No instante em que as faculdades e as especialidades desencadearem as perguntas essenciais e simples da sua cincia, os professores e os alunos estaro tambm j envolvidos por aquelas necessidades e inquietaes ltimas da existncia popular-estatal. A configurao da essncia originria da cincia exige uma tal escala em rigor, responsabilidade e pacincia superior que, de certo modo, diante dela o cumprimento certo ou a alterao solcita dos modos de procedimento acabados quase no tm importncia. Mas se os gregos precisaram de trs sculos apenas para tambm trazerem a pergunta sobre o que o saber ao solo certo e ao caminho seguro, ns no poderemos certamente achar que o aclaramento e o desenrolar-se da essncia da universidade alem suceda no presente ou no prximo semestre.

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    Contudo, a partir da essncia que se mostrou da cincia, sabemos certamente uma coisa: que a universidade alem apenas chegar figura e ao poder quando os trs servios servio de trabalho, servio militar e servio do saber se encontrarem em conjunto numa mesma fora de cunho. Isto quer dizer: A vontade essencial do professorado tem de despertar e de se fortalecer para a simplicidade e vastido do saber acerca da essncia da cincia. A vontade essencial do estudantado tem de se forar suprema clareza e cultivo do saber, e a cincia-com [Mitwissenschaft] acerca do povo e do seu Estado tem de se configurar, de um modo exigente e determinado, na essncia da cincia. Ambas as vontades tm de se colocar em combate uma contra a outra. Toda a aptido volitiva e pensante, todas as foras do corao e todas as capacidades do corpo tm de ser desenroladas atravs do combate, de ser aumentadas no combate e de permanecer conservadas enquanto combate. Escolhemos o combate sapiente dos que perguntam e reconhecemos, com Carl von Clausewitz: No quero saber da esperana descuidada de uma salvao pela mo do acaso. S se o professorado e o estudantado institurem a sua existncia de um modo mais simples, mais severo e mais generoso do que todos os outros camaradas do povo [Volksgenossen], a comunidade de combate dos professores e dos alunos trar a universidade alem ao estado da legislao espiritual e, nela, conseguir os meios da mais rigorosa reunio para o supremo servio do povo no seu Estado. Toda a conduo tem de conceder ao squito a fora prpria. Mas cada seguir traz em si a resistncia. Esta oposio essencial no guiar e no seguir no pode nem desvanecer-se nem ser extinta. S o combate mantm a oposio aberta e implanta, em toda a corporao de professores e alunos, aquela disposio fundamental [Grundstimmung] a partir da qual a auto-afirmao, que a si mesma se delimita, autoriza a auto-meditao resoluta genuna auto-administrao.

    Queremos a essncia da universidade alem ou no a queremos? connosco, se e at onde nos esforamos pela auto-meditao e auto-afirmao a partir do fundo, e no apenas de passagem, ou se na melhor das hipteses s alteramos velhas instituies e acrescentamos novas. Ningum nos vai impedir de faz-lo.

    Mas tambm ningum nos vir perguntar se queremos ou no queremos, quando a fora espiritual do Ocidente se nega e este rebenta nas suas articulaes, quando a pseudo-cultura moribunda se desmorona em si e todas as foras escapam na confuso e se deixam sufocar na loucura. Tal acontecer ou no acontecer, depende apenas disto: se ns, como povo histrico-espiritual, ainda e novamente nos queremos a ns mesmos ou se j no nos queremos. Cada singular co-decide sobre isso, tambm quando e precisamente quando se esquiva diante dessa deciso. Mas ns queremos que o nosso povo cumpra o seu encargo histrico. Ns queremo-nos a ns mesmos. Pois a nova e a mais nova fora do povo, que passa por cima de ns, j decidiu sobre isso. Contudo, s compreenderemos totalmente a magnificncia e a grandeza desta irrupo se transportarmos em ns aquela profunda e vasta prudncia a partir da qual a velha sabedoria grega disse a palavra:

    Toda a grandeza est na tormenta

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    (Plato. Repblica, 497 d, 9)