5
ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA 1/5 Grupo Municipal do Partido Socialista de Santa Maria da Feira . [email protected] Facebook/gm.ps.feira Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário do 25 de Abril de 1974 Decorridos 40 anos do 25 de Abril de 1974 a pergunta que muita gente se coloca é se ainda valerá a pena comemorar esta data. As datas históricas, como esta, celebram-se para assinalar momentos marcantes da história de um povo cujos resultados fazem parte da sua identidade cultural. Para melhor podermos responder à questão sobre a pertinência da comemoração do 25 de Abril, temos que nos lembrar dos valores e das causas subjacentes à revolução e se as mesmas foram alcançadas. Na verdade, o 25 de Abril de 74 permitiu-nos sair de um regime político autoritário para uma democracia, com tudo o que isso implicou. Destacando desde logo o facto de no regime ditatorial não haver liberdade de expressão e de pluralidade política; de as mulheres serem consideradas, em direitos, pessoas com estatuto inferior ao dos homens, traduzindo-se nomeadamente no acesso limitado a algumas profissões e na impossibilidade de viajar para o estrangeiro sem autorização do marido. Tudo isto se alterou com a implantação do regime democrático. Os três objectivos a alcançar com o 25 de Abril foram: descolonizar, democratizar e desenvolver. Os designados 3 “D”. A Descolonização aconteceu. A Democratização do regime consumou-se. Sabemos, no entanto, que as leis e as práticas governativas, muitas vezes, não têm sido suficientemente eficazes, nem têm força bastante, para gerar no íntimo de todos a consciência de que a justiça social e as oportunidades são iguais para todos os cidadãos, evidenciada pela crescente desigualdade entre ricos e pobres. Reconhecemos, portanto, que muito há a fazer neste campo, para que toda a sociedade possa sentir-se portadora daqueles direitos e daquelas garantias, que se entenderam como fundamentais num regime democrático.

Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário do 25 de Abril de 1974

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Intervenção realizada pela Margarida Gariso, pelo Grupo Municipal do Partido Socialista, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira.

Citation preview

Page 1: Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário  do 25 de Abril de 1974

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA

1/5

Grupo Municipal do Partido Socialista de Santa Maria da Feira . [email protected]

Facebook/gm.ps.feira

Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário do 25 de Abril de 1974

Decorridos 40 anos do 25 de Abril de 1974 a pergunta que muita gente se coloca é

se ainda valerá a pena comemorar esta data.

As datas históricas, como esta, celebram-se para assinalar momentos marcantes da

história de um povo cujos resultados fazem parte da sua identidade cultural. Para

melhor podermos responder à questão sobre a pertinência da comemoração do 25

de Abril, temos que nos lembrar dos valores e das causas subjacentes à revolução

e se as mesmas foram alcançadas.

Na verdade, o 25 de Abril de 74 permitiu-nos sair de um regime político autoritário

para uma democracia, com tudo o que isso implicou. Destacando desde logo o

facto de no regime ditatorial não haver liberdade de expressão e de pluralidade

política; de as mulheres serem consideradas, em direitos, pessoas com estatuto

inferior ao dos homens, traduzindo-se nomeadamente no acesso limitado a

algumas profissões e na impossibilidade de viajar para o estrangeiro sem

autorização do marido. Tudo isto se alterou com a implantação do regime

democrático.

Os três objectivos a alcançar com o 25 de Abril foram: descolonizar, democratizar e

desenvolver. Os designados 3 “D”. A Descolonização aconteceu. A

Democratização do regime consumou-se. Sabemos, no entanto, que as leis e as

práticas governativas, muitas vezes, não têm sido suficientemente eficazes, nem

têm força bastante, para gerar no íntimo de todos a consciência de que a justiça

social e as oportunidades são iguais para todos os cidadãos, evidenciada pela

crescente desigualdade entre ricos e pobres. Reconhecemos, portanto, que muito

há a fazer neste campo, para que toda a sociedade possa sentir-se portadora

daqueles direitos e daquelas garantias, que se entenderam como fundamentais

num regime democrático.

Page 2: Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário  do 25 de Abril de 1974

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA

2/5

Grupo Municipal do Partido Socialista de Santa Maria da Feira . [email protected]

Facebook/gm.ps.feira

No que respeita ao Desenvolvimento, este foi-se realizando a vários níveis,

nomeadamente ao nível das infraestruturas básicas (água canalizada, saneamento

e rede viária) e dos direitos sociais: educação, saúde, habitação e segurança social.

Com o desenvolvimento do país observaram-se grandes benefícios para o aumento

da qualidade de vida da população portuguesa (que os indicadores estatísticos

comprovam) destacando-se a enorme diminuição da taxa de mortalidade infantil, o

aumento da esperança média de vida e uma melhoria significativa da qualificação

das pessoas.

É justo, por isso, concluir que o Portugal do antes 25 Abril pouco tem a ver com os

níveis de desenvolvimento do pós 25 de Abril.

Com a adesão do país à Comunidade Económica Europeia e mais tarde à moeda

única, criou-se a confiança num Portugal mais desenvolvido, evoluído, que jamais

voltaria aos níveis de pobreza existente no passado. Um Portugal que ao integrar o

conjunto de Estados membros da União Europeia (UE), se foi aproximando dos

seus níveis de desenvolvimento, assente na crença da solidariedade partilhada

entre os Estados da UE e que permitiu que este projeto nos garantisse tantos anos

de paz e prosperidade no espaço europeu. Contudo, tem-se vindo a cristalizar no

espírito dos portugueses a nefasta ideia de que essa realidade não passou de pura

ilusão e de que agora, no confronto das realidades concretas do europeísmo,

estamos a sofrer uma enorme descrença nesse mesmo projecto europeu.

Passou-se da ilusão para a desilusão, tal é o efeito de uma consciência cada vez

mais sólida de que o fosso existente entre os países do norte e os países do sul é

cada vez mais profundo. Em tempos de crise, resultante da rédea solta que foi

dada aos grandes interesses financeiros e oligárquicos, surgem os individualismos

dos Estados, contribuindo para que o princípio da solidariedade entre os países seja

cada vez mais uma miragem.

A crise financeira, económica e social que nos fustiga desde 2008, tornou evidente

que não há soluções nacionais para problemas de dimensão europeia. Sem

alarmismos excessivos ou armados em eurocépticos, que não somos, pois desde a

Page 3: Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário  do 25 de Abril de 1974

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA

3/5

Grupo Municipal do Partido Socialista de Santa Maria da Feira . [email protected]

Facebook/gm.ps.feira

primeira hora sempre acreditamos neste projecto da “União Europeia”, compete-

nos a todos assumirmos a nossa condição de cidadãos europeus de pleno direito,

contribuindo ativamente para a construção de um futuro melhor para todos os

portugueses. Esta contribuição pode começar pelo voto nas eleições europeias que

se vão realizar no próximo dia 25 de Maio (justamente de hoje a um mês). Estas

eleições são particularmente importantes, pelo que decorre do Tratado de Lisboa,

que aumentou os poderes do Parlamento Europeu, tornando assim mais decisiva a

sua eleição. Finalmente, porque o cargo de presidente da Comissão Europeia vai

resultar da maioria que for eleita do Parlamento Europeu.

Por todas estas razões, as eleições europeias podem conferir maior peso ao voto

dos cidadãos nacionais, pois este servirá não só para eleger os eurodeputados que

nos representarão no Parlamento Europeu, mas também para escolher o presidente

da Comissão Europeia e as respectivas opções políticas. Pela primeira vez, está nas

mãos dos cidadãos europeus estabelecer diretamente os caminhos da integração

europeia.

Nestes tempos difíceis para tantos de nós, a história avisa-nos que os sistemas

democráticos e o desenvolvimento dos países não são realidades garantidas nem

lineares, pelo que urge estarmos sempre atentos e ativos para construirmos

sociedades mais equilibradas. Uma cidadania activa é dever de todos nós, de modo

a evitarmos rupturas sociais que se vão verificando com o crescimento das

desigualdades entre os ricos e os pobres e a desequilibrada distribuição de riqueza,

concentrada cada vez mais em menos pessoas, como está a acontecer neste

momento em Portugal, em particular e no Mundo, em geral.

De igual modo, não podemos deixar de nos indignar e exigir mais e melhor Justiça,

quando esta é rápida e implacável em processos de “pilha-galinhas”, mas lenta e

fraca nos crimes de “colarinho branco”. A prescrição escandalosa de processos de

milhões, envolvendo grandes grupos financeiros, tem-se revelado um prejuízo

gigantesco para o Estado e concomitantemente para todos nós, contribuintes

Page 4: Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário  do 25 de Abril de 1974

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA

4/5

Grupo Municipal do Partido Socialista de Santa Maria da Feira . [email protected]

Facebook/gm.ps.feira

pagadores. Este vazio de justiça é um drama para a credibilidade da

mesma e para a segurança que dela esperamos.

De acordo com um estudo recente coordenado pelo Instituto Social Europeu onde o

tema da democracia foi abordado num Inquérito Social Europeu a cidadãos de 30

países (num estudo bienal que existe desde 2002), os portugueses valorizam

eleições livres e justas, mas valorizam ainda mais a noção de igualdade perante a

lei e a ideia de que o combate à pobreza por parte dos governantes faz parte da

democracia tal como a redistribuição de rendimentos. Esta situação é mais sentida

num tempo em que a pobreza e as desigualdades sociais em Portugal crescem

dramaticamente, pondo em causa o equilíbrio e a coesão social.

Conforme o estudo acima mencionado, passo a citar, “Portugal vive neste

momento histórico o ponto mais baixo de satisfação com o

funcionamento da democracia" (Magalhães, Pedro - Jornal Expresso,

22/03/2014). Esta insatisfação indicia que, continuo a citar, “há um défice

democrático muito acentuado na avaliação que é feita à capacidade do

regime para assegurar o combate à pobreza, à igualdade do ponto de

vista económico e perante a lei”.

Não obstante todos os constrangimentos destes 40 anos de democracia, um outro

estudo, desta feita realizado por iniciativa conjunta do Expresso/SIC Notícias sobre

os 40 anos do 25 de Abril, revela que esta data se tornou um momento de

união dos portugueses, já que 80% da população se orgulha do que a

transição para o regime democrático permitiu. 43% dos inquiridos teme,

todavia, os efeitos nocivos que esta política de austeridade pode provocar

no Estado social e na consolidação da democracia, justamente os dois

grandes legados do 25 de Abril que os cidadãos mais valorizam.

Face a tudo o que foi exposto, entendemos que continua a justificar-se a

comemoração do 25 de Abril num sentido de reafirmação dos valores de Abril e do

desenvolvimento sustentado do país, com vista a um país próspero e mais rico.

Page 5: Discurso nas Comemorações Oficiais do 40º aniversário  do 25 de Abril de 1974

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA

5/5

Grupo Municipal do Partido Socialista de Santa Maria da Feira . [email protected]

Facebook/gm.ps.feira

A perspectiva de consolidação e desenvolvimento depende de cada um de nós,

cidadãos capazes de transformar as realidades mais difíceis em iniciativas criadoras

de entusiasmo e de esperança no futuro, tendo como meta a construção de um

PORTUGAL MAIS DESENVOLVIDO, MAIS JUSTO E IGUALITÁRIO, NO QUADRO DO

SISTEMA DEMOCRATICO.

Santa Maria da Feira, 25 de Abril de 2014

A Líder do GM/PS

Margarida Gariso