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UNIVERSIDADE DO PORTO
Faculdade de Letras
Departamento de Histria e de Estudos Polticos e Internacionais
DISCURSOS E CONTEXTOS
NA AFIRMAO DA ECONOMIA DO MAR
-- 2 METADE DO SC. XX E TRANSIO PARA O SC. XXI
2
2/733 Texto provisrio de 31.12.2014 revisto em 15.05.2015
3
INDICE
Agradecimentos 9
Em Memria 11
Acordo(s)Ortogrfico(s) 13
Resumo 14
Abstract 15
Prefcio: explicao de motivaes 16
CAPTULO I
1. APRESENTAO E MBITO CRONOLGICO 25
1.1 Tema central Objecto da tese
1.2 Delimitao/conteno cronolgica e temtica
1.3 Principais questes partida. Metodologia
2. PERTINNCIA E UTILIDADE SOCIAL DO TEMA 44
3. DEFINIO PRVIA DE CONCEITOS 48
.
3.1 Economia do Mar
3.2 Desgnio estratgico (nacional)
3.3 Discursos polticos: vrias formas e contedos
3.4 Hypercluster do Mar
4. ESTADO DA ARTE: MULTIPLICIDADE DE INFORMAO 71
5. PRODUO DE PENSAMENTO ESTRATGICO
PARA A AFIRMAO DA ECONOMIA DO MAR 81
4
CAPTULO II 85
PARA A AFIRMAO DA ECONOMIA DO MAR
CONTEXTOS E ENQUADRAMENTOS POLTICOS
ECONMICOS -- CIENTFICOS -- JURDICOS
1. Soberania do Estado no Mar: Geoestratgias de Mahan e Truman 87
1.2 Ps II Guerra Mundial (1945): Reconstruo em terra, liberdade nos Mares
Globalizao Guerra Fria Descolonizao 97
1.3 Um tempo e um pas. O Portugal europeu de 1986 115
1.4 Nasce uma poltica europeia para os assuntos martimos 122
2. Quadro jurdico/institucional da Poltica para o Mar 132
2.1CNUDM/ONU CEE/UE Portugal
2.2 I Conferncia Internacional UP sobre Ambiente e Direito Martimo 162
2.3 Direito Internacional Martimo e soberania dos oceanos 171
2.4 Penria em terra e riqueza nos oceanos?
Utilizao dos recursos dos mares depende da Cincia e da Lei 176
2.5 Direito e Cincia e o caso das Ilhas Selvagens 194
2.6 Defesa e Segurana instrumentos do quadro jurdico 199
3. O Mar como desafio investigao cientfica 215
na transio do sculo XX para o sculo XXI
4. Potencial econmico dos oceanos e explorao dos recursos marinhos 254
4.2 Cincia e Economia e preparao para o futuro 261
4.3 Economia do Mar (Portugal e UE) ainda sem o peso expectvel 266
4.4 Associaes empresariais e perspectiva para a Agenda do Mar: 270
4.5 Terra Nutica: potencialidades e comunidades martimas locais 286
5
CAPTULO III 305
O MAR COLONIAL EM 4 REGIMES POLTICOS 1900 -- 1945
-- Monarquia I Repblica Ditadura Nacional 1 perodo do Estado Novo
1. Pensamento poltico do mar colonial 307
Final da Monarquia (1910) e I Repblica
Ditadura Nacional (1926 a 1933) e Estado Novo (perodo de 1933/45)
Estado Novo (perodo de 1945 a 1974). III Repblica (1974-2010)
2.1 No final da Monarquia ( a 1910) e na I Repblica (1910 a 1926) 310
Os grandes debates parlamentares e a defesa do Imprio colonial
2.2 Defesa militar e diplomtica do Imprio colonial 315
Dcadas de (18)70-80 e 90. Presso externa, ambio imperial.
Mapa Cor-de-Rosa e incapacidade para ocupao efectiva
Travessias (poltica e cincia) de frica (Angola e Moambique)
Expedies militares de Angola e Moambique (1895 )
I Guerra Mundial (1914 1918). Em Moambique e em Angola
2.3 Protagonistas na investigao cientfica e/ou na poltica 326
D. Carlos de Bragana, pioneiro, naturalista e oceangrafo
Oliveira Martins, Apelo ao Portugal dos Mares
Adolfo Loureiro e Baldaque da Silva bibliografias (portos e pescas)
Ministros da Marinha com projectos e obra
Tentativa de regulao do sector porturio 352
3.0 Ditadura Nacional (1926/33) e Estado Novo (perodo de 1933/45) 355
3.1 Em tempos de simbolismos imperiais e definio ideolgica:
Constituio de 1933 Acto Colonial (1933) -- Exposies
3.2 Anos 30: Discurso do acadmico e poltico A. Gonalves Pereira
a favor da Estratgia Martima Nacional 365
3.3 Transio e continuidade da Ditadura nacional para o Estado Novo
Dois Guardies de Salazar: A.Thomaz e H. Tenreiro 367
6
CAPTULO IV 369
A PARTIR DA II GUERRA MUNDIAL (1945)
01. ESTADO NOVO (2 perodo, 1945 a 1974) 373
RENOVAO DA MARINHA MERCANTE
APOIO S LIGAES COM AS COLNIAS
ORGANIZAO DAS PESCAS E DAS CONSERVEIRAS
1.1 Continuidade dos mitos, de quadros institucionais e de polticas.
Constituio de 1933, Acto Colonial e simbolismos histricos.
Polticas nas Pescas e para a Marinha. Relaes econmicas com as
colnias. Condicionalismos externos
1.2 Renovao da Armada e da Marinha Mercante: Despacho 100/45
Amrico Thomaz 375
1.3 Pescas: Henrique Tenreiro, Patro das Pescas
e Guardio de Salazar-- 1936 a 1974 392
1.4 A Marinha Mercante, instrumento nas relaes com as colnias 407
1.5 Anos 50 e 60: inteno de internacionalizar a Economia 413
Planos de Fomento: ideias novas, tradicionalismo e interesses
Planos de Fomento: I (1953-1958); II (1959-1964)
Plano Intercalar (1965-1966)
Planos de Fomento (1967 -- 1973); e IV Plano de Fomento 1974
(at 1979, previso inicial)
7
02. III REPBLICA: 1974 2010 () 424
DA DESCOLONIZAO (1974/75) ADESO
2.1 Contexto de mudana com o 25 de Abril/74:
Democracia Descolonizao -- Desenvolvimento
Junta de Salvao Nacional.
Agitao revolucionria (PREC). Reivindicaes laborais
Novos parceiros internacionais
Reflexo institucional (militar e civil)
Transio para os governos provisrios
2.2 Instituies do Estado com responsabilidade constitucionais na
definio da Poltica do Mar (Constituio da Repblica de 1976)
Presidncia da Repblica (PR) Assembleia da Repblica (AR) e
Governo da Repblica 436
2.3. Espao para o contraditrio: Houve sucessivos erros trgicos
(J. J. Brando Ferreira) 445
2.4 Proposta (1979) do PS para os anos 80 e moo sectorial de 2010
para a Poltica do Mar 448
2.5 O Mar nas mentalidades nacionais, segundo Mrio Ruivo 460
2.6 Conhecimento cientfico como garante da explorao do mar 464
03. PROGRAMAS DE GOVERNOS (1974 a 2014 ) 469
DISCURSOS DE PRESIDENTES DA REPBLICA
3.1 Os seis Governos Provisrios 1974 1975 -- 1976 469
3.2 Os catorze Governos Constitucionais de 1976 a 2002 -- I a XIV 476
3.3 Cinco Governos Constitucionais de 2002 a 2014/15 XIV a XIX 515
3.4 Objectivos dos Governos Regionais (Madeira e Aores) 520
3.5 Discursos de Presidentes da Repblica:
Mrio Soares (ONU e Fundao). Anbal Cavaco Silva 524
8
04. INSTITUIES FUNDADORAS DA POLTICA DO MAR539
4.1 Protagonistas histricos
Convergncia da Poltica do Mar com a Economia e a Cincia
4.2 Sociedade de Geografia de Lisboa (1875): reflexo e interveno 544
4.3 Instituto Hidrogrfico (1960 ) e a Cincia Aplicada (1900) 548
4.4 Marinha: relevncia histrica e formas de interveno 552
Protagonistas. Academia, Escola Naval, Clube Militar Naval,
Museu da Marinha, Comisso Cultural e Escola Nutica Infante
D. Henrique. Projecto Revival
4.5 Expo 98 Os Oceanos, um Patrimnio para o Futuro (1998) 560
A Cincia e a divulgao ldica massificada
4.6 Universidades e Centros de Investigao (na transio dos sculos): 564
I & D + i. Ensino Formao e Investigao
4.7 Oceano Nosso Futuro. Proposta/Relatrio/Recomendao da ONU
Comisso Mundial Independente para os Oceanos (1998) 600
4.8 Estrutura de Misso para a Plataforma Martima Continental (EMEC)
Candidatura Proposta ONU 602
4.9 Hypercluster e subsectores econmicos: Relatrio/Proposta
de Ernni Lopes para a Associao Comercial de Lisboa 607
4.10 Comunidades locais martimas 712
CONCLUSES 713
ANEXOS
Quadro--sntese cronolgico e contextual 731
Quadro--sntese de Cincia aplicada Instituto Hidrogrfico 745
Bibliografia geral 749
Fontes diversas e referncias. Conferncias e Publicaes peridicas 766
ndice de grficos/gravuras 767
Referncias electrnicas/webgrafia 768
Arquivos/Bibliotecas 771
Siglas e abreviaturas 772
9
AGRADECIMENTOS
-- COM MAIS EMOO QUE FORMALISMO
Permita-se-me romper com um certo formalismo no modelo de Agradecimentos
porventura habitual. que as minhas circunstncias, com toda uma vida que foi ficando
para trs, levam-me a reflectir no tanto sobre o imediato, mas invocando pessoas e
vivncias que se foram somando, ao longo de mais de sete dezenas de anos, para me
moldarem, para o bem e para o mal, a sensibilidade, os princpios e os valores.
Da que os meus agradecimentos, no protocolares mas com emoo e racionalidade,
tenham que ir tanto para os professores de quem fui aluno, como para os alunos de
quem fui professor, para os amigos e companheiros dos variados contextos
profissionais, tanto na aldeia como na cidade, ou nas remotas savanas africanas, nas
terras asiticas e sob as luzes parisienses. Mas a lio das lies recebia-a e partilhei-a,
na convivncia diria e annima da autenticidade das gentes mais diversas.
Esta quebra do convencionalismo tambm consequncia do facto de que muitos
daqueles que me marcaram a personalidade, os valores e as opes, j no esto entre
ns, cumprindo-se, dolorosamente, o fatalismo das leis da natureza.
Seria arriscado tentar uma listagem porque as omisses seriam muitas como muitos
seriam os que, no sendo expressamente invocados, j no poderiam lembr-lo: em
muitos casos tambm nem saberiam da influncia que exerceram em relao ao
adolescente, ao jovem e ao homem que permanente e quase anonimamente, os
escutavam, nas salas de aulas, nas ruas, deambulando nos arepagos, nas agora, nos
corredores palacianos visitados pelo jornalista ou nos ambientes do cho de fbrica.
Elaborei uma tal listagem mas acabei por decidir resguard-la e proteg-la no anonimato
dos meus pertences pessoais. Com duas excepes, que aqui expresso
-- O agradecimento pelo apoio e solidariedade da minha Famlia prxima, que aceitou
com pacincia e estmulo, a ocupao que fiz dos meus tempos livres.
Os nomes so muitos, mas citarei, para que conste e cada um sua maneira, a Isabel,
e tambm a Helena, a Alexandra, a Carla Isabela, a Susana, a Fernanda Jorge
(simbolicamente Jorge, da Me, Adelaide Jorge) e o Fernando Miguel. Para os netos,
que so muitos e de muitas idades, tambm fica uma palavra de afecto.
10
-- E o agradecimento que devo ao orientador destes meus trabalhos, o Professor Doutor
Jorge Fernandes Alves, da FLUP, e aos Professores Doutores Lus Miguel Duarte,
Amlia Polnia e Maria Conceio Meireles, da Direco do 3 ciclo do Departamento
de Histria e Estudos Polticos e Internacionais.
De todos recebi o apoio cientfico, a solidariedade e o estmulo pessoal que fortemente
agradeo. Mas terei que ter uma palavra muito especial, para com o Professor Jorge
Fernandes Alves que, indo muito para alm da relao formal orientador--orientando, se
tornou, para mim, pelo seu perfil pessoal, cientfico e pedaggico, um testemunho do
saber e da capacidade de anlise e um smbolo de estimulante solidariedade.
Gostaria que estas minhas palavras fossem tomadas no seu pleno significado e
autenticidade porque se compreender que estou numa fase da vida em que no quero
utiliz-las somente para cumprir um protocolo. No poderia ser de outro modo.
Afinal h uma terceira excepo: quero recordar o meu Pai e a minha Me, que
mantenho sempre presentes pelo afecto inesquecvel, o exemplo das suas vidas e o meu
dever de profunda gratido.
Porventura tambm no ser muito curial ou habitual mas, porque o significado das
coisas importantes se mantm, de ontem para o presente e para o futuro, reproduzo
um texto que inclui na minha dissertao de mestrado, apresentada na FLUP, em 1999.
O texto, em Memria de meu Pai, permanece em toda a perenidade e pode contribuir
para melhor se entender o perfil e as motivaes de quem escreve estas linhas. O que
valeu quando do mestrado, em 1999, continua a valer, hoje.
11
EM MEMRIA
Meu Pai nasceu quando a Monarquia, de 800 anos, chegava ao fim.
Cresceu com a I Repblica.
Emigrou para frica, com 19 anos, logo aps o 28 de Maio.
Ali fez a sua vida de trabalho, quando do Estado Novo.
Ainda pode assistir ao 25 de Abril, observar e comentar as vicissitudes revolucionrias e
a gradual estabilizao da sociedade portuguesa. Porventura com a ansiedade e a
preocupao de quem j vivera outras longnquas revolues.
Nascera em terras e famlia do reviralho, que o marcaram para sempre.
Sem que o conhecesse como militante poltico, transmitiu-me a mensagem dos
princpios.
Lembro-me -- e so pormenores significativos -- do modo respeitoso como falava do
conselheiro Teixeira de Sousa, ltimo presidente de Ministrio da Monarquia.
Conhecera-o desde mudo, na figura patriarcal que passeava por Sanfins do Douro, onde
meu Pai nascera e onde o poltico se exilara. Mas lembro-me tambm de o ouvir utilizar
uma palavra, de uso popular, que, referida a algum, mantinha um sentido crtico:
Reizeiro! Aprendi com meu Pai que, a par das opes polticas, se respeitavam as
pessoas.
Coerentemente, meu Pai proporcionou-me, com naturalidade, desde muito pequeno e
marcando-me indelevelmente, o convvio com os amigos.
Foi a, em terras africanas de Moambique, muito longe da agitao do poder poltico da
capital imperial que, na convivncia do quotidiano, aprendi a respeitar a dignidade
daqueles que se tinham batido por ideias e princpios, at que o 28 de Maio os
empurrara para bem longe.
Os princpios mantiveram-se sempre quando a interveno poltica lhes ficara vedada:
foram uma das minhas escolas de valores, no dia-a- dia da infncia.
Por tudo isto aqui fica a Memria de meu Pai e a recordao daqueles que coagidos,
foram emigrando (ou foram deportados) para frica, pela Ditadura nacional. ().
Recordo, a ttulo de exemplo e pela heterogeneidade, o ento j velho o mais velho
professor Aurlio Quintanilha, Homem de Cincia e de passado poltico
revolucionrio; o engenheiro Sousa Dias, filho do general Sousa Dias, que encabeara
as revoltas contra a Ditadura nacional, em 1927 e em 1932; o capito Furtado Montanha
que, vindo de Bragana, fora obrigado a deixar o Exrcito porque tinha o estigma de ter
12
sido um dos cadetes da Rotunda, no 5 de Outubro; o mdico Afonso Pais, filho de
Sidnio Pais, figura pelos vistos da pouca simpatia dos vencedores do 28 de Maio; e o
professor Cardigos, outro exilado poltico afastado do ensino superior, cuja pedagogia e
saber transmitidos nas aulas do Liceu Salazar, de Loureno Marques (Maputo) as
contingncias da vida me encaminharam, na Faculdade, para a Histria.
Junto ao passado mais distante a figura do ento comandante Marques Esparteiro
depois almirante que conheci entre os amigos de meu Pai e que j ento me despertou
para as histrias que, muito mais tarde reconheci, perpetuadas e resguardadas, em
letra de forma, em Lisboa, na Biblioteca Central da Marinha, onde se testemunha a sua
vasta bibliografia sobre a Histria da Armada Portuguesa.
13
O(s) Acordo(s) Ortogrfico(s)
-- a justificao de uma opo
A todos, nomeadamente ao respeitvel jri, agradeo a boa vontade em aceitarem
presumo -- a minha necessria opo pelo antigo Acordo Ortogrfico (AO).
No invoco consideraes de linguistas ou literatos, com densos argumentos de
especialistas sobre uma questo que ainda continua a ser objecto de polmicas
internacionais interminveis, com pases e governos dos PALOPs a manterem-se
irredutveis na permanncia do antigo AO e, pelo menos, adiando o novo AO.
Porque, ento a minha afirmada como necessria opo: simplesmente, porque depois
de cerca de 70 anos a ler e escrever, diariamente, no Portugus antigo, seria uma
violncia fsica e psicolgica, porventura excessiva, obrigar-me a optar pelo novo e
polmico Acordo Ortogrfico, que muitos no aceitam. E em que que isso iria
valorizar esta dissertao? Por mim, a resposta , em nada.
Acrescento, nas minhas razes, um pormenor/pormaior: inscrevi-me neste
doutoramento, na FLUP, em Setembro de 2010, e, entretanto, como sempre fizera, li
centenas de publicaes e escrevi centenas e centenas de pginas de apontamentos e
textos, cumprindo o AO em vigor.
Seria, agora, na fase final destes trabalhos, em 2014, que teria que mudar tudo,
reconvertendo-me ao novo AO? Por mim, a resposta volta a ser no, presumindo,
entretanto, a compreenso e concordncia ou aceitao -- do respeitvel jri.
PS. O AO entra em vigor seis anos aps o depsito do documento como Tratado
Internacional, em 13 de Maio de 2009. Portanto o prazo para aplicao do AO acaba a
13 de Maio de 2015, ainda que o Conselho de Ministros de 9 de Dezembro de 2010,
tenha aprovado uma resoluo, antecipando a entrada em vigor na Administrao
Pblica, no Dirio da Repblica e no sistema de ensino (Expresso, 18/04/2015,
pgs. 18 e 19).
14
RESUMO
O histrico da relao/vocao de Portugal com o Mar incluiu projectos realistas,
modelos cclicos, euforias mobilizadoras, frustraes colectivas e vcios previsveis.
Nesse mar imenso, na presente tese, a opo, quanto cronologia, comea no final da II
Guerra Mundial e alonga-se at transio para o sculo XXI.
A questo central projecto-a numa pergunta inicial: como se tem afirmado, aps a II
Guerra Mundial, a Economia do Mar, face s potencialidades dos oceanos e aos
diferentes discursos polticos?
Procurei recordar antecedentes e contextos, de proximidade temporal e inclui o final do
sculo XIX e a primeira metade do sculo XX, invocando discursos de figuras e
instituies do Imprio colonial. Imprio defendido pela Monarquia, pela I Repblica,
Ditadura Nacional e Estado Novo. Neste contexto equacionei temas mais significativos:
-- A soberania do Estado sobre o Mar; o Direito Martimo; a reafirmao poltica do
Imprio colonial, ligado pelo mar, para defesa da Histria espelhada nos simbolismos,
invocados na dcada de 30; o Mar e o domnio econmico e poltico das colnias;
-- O Despacho 100/1945, visando a renovao da Armada e da Marinha Mercante, nos
anos 50 e 60, os anos da relao com a NATO e o Plano Marshall;
-- As Pescas e a indstria conserveira, sectores guardies do regime (1936/74);
-- Internacionalizao e o desenvolvimento da Economia, com os Planos de Fomento.
-- A alterao substancial e histrica da relao com as colnias, a partir do 25 de Abril.
-- O processo de substituio da centralidade atlntica pela adeso CEE/UE, em 1986.
Aps o 25 de Abril, a Marinha Mercante e a Armada envelheceram, perdidas as
colnias; e a frota pesqueira veio a optar pela poltica de abates.
-- O Mar ressurge na dcada de 90 com condicionalismos relacionados com o quadro
jurdico institucional (ONU e UE), o desenvolvimento da Cincia, o protagonismo das
universidades, o reconhecimento do potencial econmico dos oceanos, as preocupaes
ambientais, a dinmica das comunidades martimas costeiras e do turismo, uma nova
viso empresarial e a valorizao da defesa e da segurana da navegao martima.
-- Na transio dos sculos evoluiu-se da EXPO 98 para a candidatura da Plataforma
Martima Continental, para o conceito empresarial do Hypercluster do Mar e para a
poltica da Estratgia Nacional do Mar. Empenharam-se nos discursos e na aco,
governos e presidentes da Repblica, instituies empresariais, comunidades martimas
costeiras e autarquias, afirmando a vocao martima de Portugal
15
Abstract
The historical interrelationship of Portugal and Sea has always gone through models
and cycles well defined.
Within this thesis, the chronologic scope extends from the end of World War II to
transition to the 21st century.
The primary concern of this study is to examine how the Economy of the Sea is being
perceived, taking into account the potential of the Oceans and different Speeches.
I have tried to remember the historical and political background of the Economy of the
Sea. As close background, I have mentioned the late 19th.century and the first half of
the 20th. century, citing individual and institutions speeches from the Colonial Empire.
Within this study the following topics were selected as the most significant ones:
--The concept of States sovereignty over the Sea; The Law of the Sea;
--The political reaffirmation of the Colonial Empire, linked by the Sea;
--The dispatch 100/1945, which aimed the renewal of the Fleet and Merchant Navy (in
50s and 60s). The same years of the relationship with NATO and the Marshall Plan;
-- The Fishing and Canning industries, designated as guardians of the regime, due its
importance to National Economy (1936 to 1974);
--The Estado Novo, the economic internationalization and the economic development,
-- The vast changes occurred in the relationship after April 25, 1974.
-- The option to replace the Atlantic centrality with the membership of the EEC/EU in
1986. The decreasing power of the Merchant Marine and the Navy after the
decolonization process; and the decision for a demolish policy.
--The increasing importance of Sea in the 90s, under a new legal institutional
framework (UN and EU), the development of Science, the increasing role of
universities, the recognizing of the potential economic power of oceans, the
environmental concerns, the dynamics of maritime coast communities and also of the
tourism sector, a new corporate vision and appreciation of the defense and security of
shipping.
--The progress from EXPO 98 to the application to the Continental Maritime Platform,
to a business increasing interest on the concept of Hypercluster and to the
creation of Sea National Strategic Policy. Governments and Republic Presidents
increased their speeches about the Sea.
16
PREFCIO
EXPLICAO DE MOTIVAES
a hora de ouvir a voz que vem do mar.
Mas esta voz no chamada de tempos idos, um apelo do futuro.
Manuel Alegre
O Mar desperta sentimentos e emoes intensas, esmaga pela beleza poderosa mas
tambm provoca perplexidades Cincia e cobias Poltica e Economia, conhecidas
ou adivinhadas as suas realidades.
Ora pacfico, ora indomvel, sempre imenso e multifacetado na serenidade e na
contradio. Esvai-se na praia e perde-se na distncia intangvel e misteriosa dos
horizontes.
Literatura e Filosofia, terra de poetas e prosadores, fonte de vida, de inspirao,
imaginrio e reflexo. um mito e um smbolo.
Histria de povos navegadores e marinheiros dos oceanos e dos pescadores sofredores
da agreste Terra Nova e outros mares, mas tambm de religiosos, comerciantes e
militares.
Cincia e objecto de pesquisa laboratorial, vivenciada por investigadores/cientistas.
Economia de gestores, investidores e empresrios, polticos e trabalhadores de
profisses, tantas delas sofridas.
espao imenso e aberto navegao de superpetroleiros e portacontentores, como foi,
outrora, para galees, caravelas e naus, lugres bacalhoeiros e dories, de angstias e
sofrimentos nos mares de gelo.
Sofrimentos em todos os mares e tempos espelhados em relatos pessoais e bibliografia
extensa e intensa. Mas tambm sofrimentos e mortes em naufrgios, nos oceanos, nos
rochedos litorais ou nos traioeiros icebergs.
Mas este mesmo mar tambm auto-estrada para as voadoras do trfico mortal e
esconderijo de submarinos nucleares, ameaadores e letais, portadores de engenhos de
destruio massiva.
Na sua grandeza, o mar exuberante nas foras mais visveis e indomveis mas tambm
esconde traioeiros recifes que rasgaram, outrora o travejamento de madeira das naus, e
17
tambm o ao de navios contemporneos, no obstante todas as tecnologias que o
Homem foi criando.
bem-estar, desenvolvimento sustentvel mas, nele, a vida ameaada pela poluio
ambiental e pelas foras predadoras onde se inclui o Homem.
lazer e imaginao para lendas, incgnitas e mitos na neblina fsica dos sculos, mas
tambm medonho nas tempestades, tsunamis, vulces submarinos e anis de fogo do
Pacfico.
Afunda-se nas fossas abissais espera que a tecnologia dos robs, a investigao da
Cincia e a ambio da Economia as devasse.
Tudo nele grandiosidade, inclusive com a biodiversidade surpreendente, desconhecida
e desafiante de milhes de espcies marinhas ainda por estudar.
Foi com este Mar que, desde muito cedo, me cruzei, interiorizando-se na memria, com
clareza ou difuso, mas sempre marcante e criando laos indissolveis. De meu Pai e
meu Av materno, ambos ligados, profissionalmente, s artes do mar, ouvi, com a
imaginao de criana, estrias reais vivenciadas no Atlntico, no ndico e no
Pacfico.
Este no ser o espao para pormenorizar notas pessoais excessivas mas um enunciado
sumrio contribuir para se entender o porqu da opo pelo tema destes trabalhos,
depois de muitas dezenas de anos a percorrer outros caminhos.
Nos muito distantes anos da dcada de 40, no sculo passado, viajava-se e viajei, de
Moambique para Lisboa e vice-versa, nos paquetes das Companhias Colonial e
Nacional de Navegao. Geraes o fizeram.
Cada viagem, de 30 dias, constitua uma mostra viva dos multifacetados Oceanos ndico
e Atlntico: partida, ainda no ndico, sabia-se e sentia-se, nesses idos tempos da II
Guerra Mundial, a presena dos submarinos alemes U2, que procuravam controlar as
rotas martimas da Cidade do Cabo da Boa Esperana e deixavam, aqui e ali, no Canal
de Moambique, um rasto de baleeiras com nufragos, em sofrimento, que vi recolher.
Era tambm um tempo onde, na foz do imenso rio Zambeze, na pequena vila do Chinde,
ainda acostava um barco tpico o Tete -- do longnquo Mississpi, com ps laterais
para a sua locomoo. Viveu ali, numa misso simblica e sem maior cumprimento, at
1972.
Prosseguindo a viagem, j na costa Ocidental de frica e deixado o ndico para trs para
se navegar nas guas do Atlntico, deparava-se a perplexidade de um mundo de
biodiversidade: abundavam, aps o porto do Cabo Cape Town -- numerosas e
18
pacficas focas, cardumes de incontveis peixes voadores, as baleias que, aos pares, lado
a lado e a curta distncia, acompanhavam os navios, nas cercanias das costas da
Nambia e de Angola para, mais adiante e j frente cidade-ilha de S. Tom, se tornar
prxima, de abundncia bem visvel nas guas lmpidas, a presena ameaadora de
tubares, predadores pacientes na espera.
A viagem prosseguia, dias e dias, para norte e, aps o Funchal, entrava-se em reas da
Batalha do Atlntico. Eram visveis, num horizonte prximo, os extensos comboios de
navios mercantes aliados que transportavam contingentes militares americanos e
abastecimentos. Acompanhavam-nos poderosas escoltas navais porque se navegava em
guas infestadas de submarinos alemes U2. Submarinos que tinham como alvos
indiferenciados quaisquer navios mercantes ou militares. Afinal o Dia D, o 6 de Junho
de 1944, aproximava-se.
A Histria estava, ali e ento, a acontecer e havia conscincia fsica disso. Mesmo para
as crianas que viajavam nos navios portugueses e para quem os frequentes exerccios
de salvamento, realizados num silncio arrepiante, j tinham perdido qualquer sentido
ldico.
Dando um salto no tempo, as leituras de ento vivenciavam como prprias, as emoes
e os mistrios das aventuras de Ferno Mendes Pinto e dos naufrgios da Histria
Trgico-Martima. E tambm as lutas dos piratas Coja Acm (Acm, no norte de
Samatra, dos recentes e devastadores terramotos e tsunamis) e Bad el Mandeb.
Malaca era tambm um mito, incluindo as vizinhas florestas de arvoredo tropical que
medeiam entre a cidade do Portuguese Setlement, da porta muralhada Preciosa, e a
moderna, segura, rica e porturia Singapura. Anos passados, em dias solitrios, fiz
questo de percorrer estradas florestais de arvoredo imponente, que me levaram de
Malaca a Singapura, tudo ainda numa vivncia de Terceiro Mundo, e sentindo na pele o
simbolismo de outras eras.
Fora-se a adolescncia, viera a juventude. Aqui os horizontes passaram por quilmetros
de navegao ao longo de rios africanos, como o Zambeze (da transnacional e cobiada
riqueza mineira, da barragem Cahora Bassa e da vila de Chinde que marcou a disputada
foz do rio); e o rio dos Bons Sinais, dos mangais onde aportara Vasco da Gama. Incluo
os rios Messalo, Lugenda e Rovuma, do Planalto dos Macondes, mas tambm da
Frelimo combatente e independentista. No Planalto eram ainda donos e senhores os
elefantes, os lees e inmeros predadores astutos que procuravam gua, ora to rara em
19
poas poludas, ora de abundncia tropical devastadora, onde se acoitavam, esperando
as desprevenidas vtimas.
Nas baixas do Planalto havia que vencer as densas florestas, enquanto na extenso
cimeira do planalto tudo era savana aberta.
Outrora, nas margens do Rovuma, milhares de soldados portugueses, na guerra de
1914/18, tinham ali enfrentado o exrcito alemo, do Tanganica, depois Tanznia,
deixando centenas e centenas de companheiros mortos na violncia da guerra e pela
inclemncia da natureza rude.
Esto ainda ali as marcas, que vo sendo ignoradas com os tempos e outras histrias, da
dureza dos combates, esto ali as marcas, nas margens e nas ilhas do extenso, ora
caudaloso ora pacfico Rovuma.
Hoje em dia o Rovuma, certamente fronteira aberta, est disponvel para enriquecer
mais e mais as sete irms do petrleo, com a explorao de vastas reservas de gs
encontradas no largo esturio do rio que viramos salpicado de pequenas ilhas. Terras
quase desertas, apesar da sua beleza e riquezas, nunca o proclamado Imprio Colonial
as descobriu. Terras quase desertas no interior, mas do Planalto dos Macondes, os
guerreiros, animistas e artistas, e dos Macuas do litoral comerciante e pescador, que
acolheram os rabes vindos do norte e os portugueses navegadores de quinhentos que
tinham ultrapassado o Cabo das Tormentas, a sul. Mas todos interessados no comrcio,
ainda que uns islamitas e outros cristos.
Na foz dos rios africanos sempre marcaram presena pequenos portos de cabotagem do
genuno comrcio local da costa centro e norte de Moambique. Faltou-me a passagem
para as prximas ilhas de Zanzibar e Maurcias, que se sentiam e de onde chegavam, ao
continente, ilha de Moambique e s ilhas Querimbas, notcias pormenorizadas e
gentes. Gentes que nos idos da dcada de (19)60 viveram grande turbulncia e agitao
revolucionria que a Tanznia acabou por absorver,
Experincia nova e culturalmente enriquecedora sentia-se, nesses portos sem cais de
acostagem para navios, com a convivncia de religies, com cristos (catlicos e
protestantes), hindus e islamitas, todos em bom entendimento com animistas.
Era, no entanto, surpreendente a propalada portuguesa evangelizao crist: o mato,
afinal, era de missionrios e missionrias holandeses, brasileiros, ingleses, irlandeses,
suios e italianos. Os portugueses preferiam as sedes das dioceses, com funes de
quadros da hierarquia, de Estado-Maior.
20
De todas estas e outras vivncias pessoais, fsicas e emotivas, somadas nos mares e ilhas
do sul da China, na fronteira China-Vietenan, nas Filipinas, em Malaca e nos estreitos
de Java e Singapura, amadurecera, com naturalidade e com tempo longo, a transio
para a reflexo.
A que junto, sem detalhes, o simbolismo, a confrontao e a convivncia de
civilizaes, religies, modelos polticos, econmicos e militares que tambm vivenciei
e senti nas margens do rio Danbio, quando na antiga Jugoslvia. Modelos polticos,
econmicos e militares onde incluo a NATO, o Pacto de Varsvia, a CEE, o
COMECON. O Danbio que j fora fronteira dos Imprios Romano do Ocidente e do
Oriente, e tambm fronteira de catlicos e ortodoxos, com o Islo s suas portas. O
estranho que tudo isto se sente naquelas paragens, apesar dos sculos que foram
passando. Guerras recentes nos Balcs e a sua tradicional fragmentao tnica,
lingustica, poltica e cultural confirmam as tradicionais dores daqueles povos.
vivncia do passado (pessoal) somaram-se, num tempo mais actual, as experincias
profissionais recolhidas em 20 anos de Jornalismo, da escrita, rdio e da televiso, em
trs continentes, a leitura assdua e a observao directa, sobre temas e actividades
ligadas ao mar.
Uma questo que me parece, a propsito, pertinente: qual o valor dos testemunhos
presenciais e pessoais, quando da avaliao de factos de interesse histrico, feita anos e
anos depois.
Socorro-me da expresso utilizada pelos juristas, a propsito da recolha de testemunhos
para memria futura.
De facto, com o tempo, a prova testemunhal perde frescura. Constato que ao longo
dos anos, como prprio da natureza humana, os pormenores vo-se esbatendo,
enquanto a testemunha, ouvindo e lendo relatos novos e verses mais completas, recebe
mais e diferentes informaes.
Mas no se julgue com demasiada certeza a leitura de fontes que tambm tm os seus
vcios, por vezes deliberados e enganadores: quantas vezes se sente que h discursos
polticos intencionalmente feitos para a Histria, em favor da imagem dos seus autores,
e que nem correspondem prtica de quem os formula. Depois, distncia, a memria
histrica fica inquinada. Como algum dizia, os ideais so de Paz mas a Histria de
Violncia. Com as devidas reservas!...
21
Tudo se foi somando at que chegou a minha oportunidade para uma reflexo apoiada e
valorizada pela convivncia acadmica e que permitisse um conhecimento mais
aprofundado, organizado e creditado, num estmulo intelectual.
Muitos so os temas sedutores que poderiam ser equacionados mas houve que fazer
opes. Nos temas e nos tempos. Com, alm do mais, o realismo imposto pelos limites
de tempo porventura disponvel, no futuro do presente (pessoal). uma sensao que
tomei como nova mas motivadora, sabendo que estou a trabalhar, serenamente, sem
dramas e com gosto, em algo que vai ficar, presumindo e sabendo de um fim sem data
mas que se vai aproximando, inexorvel. Navego como as caravelas nas costas
africanas, com a costa vista.
Neste contexto surgiu a oportunidade de trabalhar, metdica e organizadamente, com o
apoio essencial e determinante e compreenso -- do Ncleo de Professores
responsveis pelo 3 ciclo de Histria da Faculdade de Letras da UP: os Professores
Amlia Polnia, Conceio Meireles e Lus Miguel Duarte. Apoio essencial e
determinante que sabia encontrar, no dia a dia, na relao orientador--orientando e que
simbolizo no Professor Jorge Fernandes Alves, pelo seu perfil humano, pessoal,
cientfico e pedaggico.
Tudo se somou e o desafio aqui est, juntando o Mar, a Histria, a Poltica, a Economia,
o Direito, a Cincia Pura e a Cincia Aplicada sob o chapu das Cincias Sociais e
Humanas.
Excessivo? Impus-me um desafio sem meta final, que vai sendo foi sendo --
construdo cada dia.
Somaram-se experincias pessoais vivenciadas aos conhecimentos adquiridos no estudo
e na audio de especialistas qualificados e dos mais diversificados investigadores,
polticos, autarcas, empresrios, trabalhadores do cho de fbrica -- e procurei organizar
a informao acumulada, tornando-a inteligvel. A que somei uma preocupao e
perspectiva: a da utilidade social do trabalho que encetei.
Fui e irei at onde me for possvel, em que cada pgina uma vitria pessoal. Se a
Universidade aceitar o resultado, melhor. Ser o contributo possvel para a produo de
reflexo estratgica, como me incentivou, pessoalmente, o professor, marinheiro e
poltico Manuel Pinto de Abreu. a, na produo de reflexo estratgica, que a
utilidade social tambm se evidencia.
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23
CAPITULO I
SUMRIO
1. APRESENTAO E MBITO CRONOLGICO 25
Tema central -- Objecto da tese
Delimitao/conteno cronolgica e temtica
Principais questes partida. Metodologia
2. PERTINNCIA E UTILIDADE SOCIAL DO TEMA 40
3. DEFINIO PRVIA DE CONCEITOS 43
Economia do Mar
Desgnio estratgico/Estratgia nacional
Discursos polticos (vrias formas e contedos)
Hypercluster do Mar
4. ESTADO DA ARTE: FONTES E BIBLIOGRAFIA 68
5. PRODUO DE PENSAMENTO ESTRATGICO
PARA A AFIRMAO DA ECONOMIA DO MAR 81
24
25
1. APRESENTAO E MBITO CRONOLGICO
TEMA CENTRAL -- OBJECTO DA TESE
CONTENO CRONOLGICA E TEMTICA
QUESTES PARTIDA. METODOLOGIA
O tema central, o objecto do trabalho que pretendo desenvolver como tese, com o
exagero de uma sntese e numa palavra, o Mar. Depois surgem os detalhes.
O objecto do trabalho tende a evoluir na presena e aceitao do Mar como afirmao
histrica e geogrfica, plena de contedos e recursos que a investigao cientfica revela
e o Homem cobia e de que tenta apropriar-se, tornando-o objectivo central do
desenvolvimento da Economia dita Martima.
O desafio patenteado pelas riquezas conhecidas ou adivinhadas nas guas do mar,
quer superfcie que nas profundezas dos oceanos, provoca os investigadores e desafia
os investidores. E obriga os polticos a debaterem opes estratgicas e a afirmarem
solues, com vista ao crescimento econmico e desenvolvimento. Obriga-os a saber
transformar discursos polticos, com contedo, em aces mobilizadoras e rentveis,
concretizando os seus poderes de Governo. Ou at de Oposio.
No Prefcio desta tese indico, numa explicao prvia, com o seu qu de emotivo que
juntei ao racional, as minhas motivaes pessoais, em relao ao Mar. Pode faltar ao
texto do Prefcio alguma estruturao formal mas sobrar autenticidade de que no quis
abdicar.
lvaro Garrido traduz esta conjugao de relaes numa expresso que adopto e
assumo, quando fala num apelo de envolvimento afectivo e de cidadania em relao s
coisas do mar1.
No seu artigo lvaro Garrido reconhece que a expresso Cultura do Mar depende da
perspectiva que o sujeito constri sobre o objecto. Pessoalmente aceito bem a doutrina
mas tenho alguma dificuldade, por mera questo de sensibilidade, na expresso: Cultura
do Mar. como se o Mar ficasse reduzido a algo demasiado livresco e assptico. O que,
por outro lado, no implica um limitado pobre entendimento () puramente
contemplativo.
1 GARRIDO, lvaro -- A Cultura do Mar, Perspectivas e Desafios. In Polticas Pblicas, coordenao
de MATIAS, Nuno Vieira; e outros. Pg.277. Lisboa: Editora Esfera do Caos, 2010.
26
Mas, ultrapassados estes pruridos, retomo o entendimento de Garrido sobre a Cultura
do Mar, at porque o autor entende a cultura portuguesa num sentido aberto, no
apenas erudito ou acadmico e invoca as dinmicas que conciliam a herana com a
criao.
O autor refere-se ao naturalismo do sculo XIX que indica como tendo elegido como
fulcro de uma Sciencia ou sabedoria do mar, com a observao dos peixes e da vida
marinha, em geral, e a experincia da navegao, primeira forma de domnio do mar
pelo Homem.
Na busca de uma definio, Garrido privilegia, como me parece apropriado e a linha
de rumo que procuro seguir, uma relao slida e dinmica das sociedades com o
mar, reconhecendo que a Cultura do Mar , antes de mais, a linguagem social das
comunidades martimas. Da que ter que se partir das realidades contemporneas
mais desafiantes para se fazer da Cultura do Mar um factor de desenvolvimento do
pas. Isto no obstante a Cultura do Mar ser, em Portugal, um campo sociocultural
frequentemente marginalizado2 .
O autor refere uma circunstncia que, porventura, l na actualidade e que o leva a
afirmar:
O mar e a vida martima, que lvaro de Campos apurou na Ode Martima, so
realidades que a sociedade e a opinio portuguesa pouco cuidam de observar e entender.
Por to omnipresentes no plano da evocao simblica, acabam por ser realmente
ausentes. Domnio favorito das memrias oficiais que se reclamam identitrias, o Mar
vivido e representado (a Cultura do Mar) acaba por ser objecto de omisso e
esquecimento.
Nesta realidade o mar surge como pura manifestao simblica () mero cenrio ou
moldura () e simples alegoria para os discursos.
O Mar portugus, neste contexto, deixado ao definhamento () decadentista , ou,
num contraste completo, salvfico e tecnocrata, como soluo estratgica para dobrar
o problema histrico do atraso econmico do pas.
Os ciclos do Mar, no quadro da Histria recente do pas, so clara e sucintamente
definidos por Garrido quando, de modo muito sinttico, afirma.3 :
2 Id. pg. 279. 3 Id. pg. 280.
27
Nos primeiros 30 anos de regime democrtico, de 1976 ao comeo do sculo XXI
isto , de 1976 a, sensivelmente, 2006 o mar e as suas realidades foram domnios
quase ocultos na agenda poltica portuguesa.
As modas, nos discursos polticos, oscilam entre a militncia nostlgica em rituais
cerimoniosos e bastante hierarquizados em que a participao do povo como
espectador e, perante celebraes do elitismo da cultura nutica e comemoraes
histricas associadas s viagens de descobrimento, tantas vezes numa lgica de mera
evocao do pitoresco ou mesmo do extico4.
H, no entanto, que salvaguardar que a ZEE foi definida por lei em 1977, abrindo
caminhos jurdicos, econmicos e mesmo culturais, na relao com o mar. Mas a vaga
aspirao de retorno ao mar () ainda se ficou numa ambio pouco estratgica e
pouco sistmica, a ponto de, nos anos 80 e seguintes, decarem as actividades
martimas tradicionais, como a pesca, o transporte de mercadorias e a construo naval
Restou sempre nas comunidades locais a expresso social e cultural da maritimidade.
Nesta mesma herana residiu uma identidade perene, at que surgiu o grande apelo da
Expo 98, com o slogan Os Oceanos um Patrimnio para o Futuro. Foram meses
de fulgor cultural e meditico, com efeitos persistentes que levaram incluso dos
Oceanos em programas pblicos de educao cientfica: o efeito da Expo 98 penetrou
nas instituies e, em menor parte, na sociedade civil () tornou-se um mbil e uma
referncia da Cultura do Mar5.
Foi, portanto, no final do sculo XX, que, em Portugal, se consolidou a ideia de que os
Oceanos formam uma nica entidade dinmica, ajudando a depor as velhas noes de
mar nacional e mar soberano. Revalorizaram-se as culturas locais martimo-fluviais
viveiros da Cultura do Mar -- despertou-se a conscincia social, gerou-se mais
conhecimento em torno da Cultura do Mar.
A partir deste circunstancialismo pretendo perceber qual o multiforme enquadramento
histrico, dentro dos limites cronolgicos definidos previamente (1945 2010 ) e
quais as potencialidades plurais do Mar que justificam um proclamado desgnio
estratgico nacional de vocao martima, com incidncia na Economia do Mar e nas
Cincias do Mar.
Procurei ter em conta o contexto histrico onde se enquadrem os discursos polticos que
no se esgotam nas intervenes parlamentares mas vo muito mais alm, utilizando-se
4 Id.pg. 281. 5 Id.pg. 283.
28
outros meios de divulgao, com frmulas e contedos especficos. Diria que a grande
maioria dos discursos polticos e com maior repercusso no decorrem nos
hemiciclos parlamentares mas nos media, nas universidades, nas autarquias, na
bibliografia publicada, em artigos de revistas, nos debates pblicos, em seminrios,
conferncias e exposies empresariais.
A inteno partir dos contextos histricos, referenciar discursos polticos num amplo
sentido, com se especifica, e determinar como se fez ou faz a sua traduo em aces
concretas. Que estratgias se defenderam e como se foi capaz de executar as estratgias,
resultando as intenes e as afirmaes polticas em prticas concretas que cobiam o
aproveitamento econmico do Mar.
Numa iniciativa, de 2011, do CITCEM, da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, encontrei uma sntese explicativa do Encontro O Mar Patrimnios, Usos e
Representaes em que me revejo e me ajudou a melhor definir os objectivos desta
tese. Da que tenha decidido depurar o essencial da Nota Introdutria do Encontro6, que
assim comea:
O Mar desempenhou, desde a Antiguidade, um papel central na Histria e na
Economia da Europa e do Mundo, afirmando-se como a via, por excelncia, de
articulao intercontinental e revelando-se essencial de um mundo global.
Hoje, o Mar assume-se como um recurso estratgico e um factor-chave em dinmicas de
desenvolvimento. A sua explorao e os seus usos envolvem reas como a geopoltica, a
diplomacia, a economia, a ecologia e a gesto de recursos.
Explorao de recursos marinhos, comrcio e transportes so sectores que mantm o
Mar no epicentro das atenes. Ordenamento das linhas de costa e de frentes martimas,
gesto ambiental, turismo e lazer so sectores que, e de igual modo, elegem o Mar como
centro das atenes e o promovem os seus usos numa activa relao de cidadania.
Gesto ambiental, biodiversidade, biotecnologia azul, gesto de recursos marinhos
mobilizam, em paralelo, uma investigao dinmica, centrada no Mar e nos seus
recursos, no mbito da economia, da gesto e das cincias da natureza
Prossegue a Nota do CITCEM considerando que, partindo-se da valorizao do Mar
como fonte de riqueza e de conhecimento se foi conduzindo constituio de clusters
do mar () multiplicando-se as iniciativas e realizaes internacionais, numa
perspectiva de desenvolvimento sustentvel.
6 Nota Introdutria do Encontro O Mar Patrimnios, Usos e Representaes, CITCEM, FLUP, Porto,
2011.
29
Face a este contexto, o CITCEM, num enfoque que procura articular o passado e o
presente e numa perspectiva cronologicamente transversal e geograficamente global
() convocou a comunidade cientfica para um debate interdisciplinar, historicamente
orientado sobre o Mar e incidindo em temas como: paisagens martimas e ordenamento
martimo; portos e actividades porturias; recursos martimos; a economia do mar e
usos econmicos do mar; populaes martimas; patrimnios martimos; memrias e
identidades martimas; dinmicas martimas e globalizao; urbanismos em frentes de
mar; viagem, turismo e lazer; e representaes do mar.
Tenhamos agora em considerao o quadro cronolgico: tenho como presente que no
possvel entender uma poca sem referenciar o antepassado mas considero o mesmo em
relao ao imediato. Da procedimentos que sero encontrados neste trabalho.
Optar por iniciar esta cronologia no final da II Guerra Mundial, em 1945, tem a ver com
o facto de se verificar que a partir de ento foram criadas condies, a nvel global, para
uma profunda transformao das funes econmicas dos oceanos que correspondem
a dois teros da superfcie terrestre e uma alterao da geografia mundial das
actividades a ele ligadas, conforme afirma o almirante Vieira Matias7 .
Resumi o quadro cronolgico deste trabalho reservando a ateno e as intenes em
referncias respeitantes 2 metade do sculo XX, como o fim da II Guerra Mundial, a
retoma do comrcio martimo internacional, o Plano Marshall, o Despacho 100/45 (que
levou renovao das Marinhas portuguesas, de Guerra e Mercante), a Revoluo de
1974, a descolonizao (1975), a integrao na Unio Europeia (1986) e as suas
consequncias, quando o projecto europesta tomou o lugar do projecto africanista.
Tambm integro no quadro cronolgico apontado o desenvolvimento de factores
essenciais que incluo na Economia do Mar, como a investigao cientfica e
tecnolgica, bem como as novas definies jurdicas internacionais (ONU e CEE/UE).
Ao relacionar os oceanos com a globalizao, como factor determinante, o almirante
recorda a especial relevncia de cinco funes principais: transporte e logstica;
energia; defesa e segurana; pesca e alimentao; e lazer e turismo. Desenvolvo estes
mesmos temas mais adiante (captulo IV), a propsito do hypercluster do mar.
Como desgnio estratgico entende-se a existncia elaborada e afirmada de um projecto
complexo e plurisectorial com capacidade de mobilizao social, visando a valorizao
do Mar como potencial de riquezas, complexas e diversificadas.
7 MATIAS, NunoVieira -- Polticas Pblicas do Mar, pg 22. Esfera do Caos, Lisboa. 2010.
30
Isto porque os grandes projectos que se pretende se traduzam num consciente e forte
envolvimento das mais diversas foras sociais tero que se desenvolver a partir do
empenhamento mobilizador de instituies e lideranas.
Estas tm argumentos prprios, com uma forte exposio de contedos capaz de
corresponder a motivaes gerais para serem eficazes. Tero que apresentar
convergncias com os interesses ou sensibilidades de diferentes extractos sociais para
que uma boa teoria no se fique num rol de intenes inconclusivas.
Os argumentos explicativos sobre a oportunidade do aproveitamento estratgico do Mar
irei procur-los, sobretudo, nos discursos dos poderes, sejam dos polticos, dos
cientistas, dos militares, dos empresrios e representantes de classes trabalhadoras,
como sejam pescadores, estivadores e tripulantes de navios.
Todos podero defender a valorizao e explorao das potencialidades do mar mas os
discursos de ampla capacidade de mobilizao tero sempre, na base, a soma de
motivaes e interesses prprios. Motivaes e interesses diversos de cada povo e cada
pas.
A propsito e antes de avanar pelos caminhos que pretendo, h uma questo central
que devo invocar, ainda que aqui, no mediato, sem desenvolvimento. Traduzo-a numa
pergunta:
Em que se legitima o direito posse, acesso investigao, livre navegao, uso e
explorao das potencialidades econmicas do Mar/Oceano, com as suas guas, coluna
de gua, fundo martimo e respectivo subsolo, riqueza geolgica e biolgica?
A partir da aceitao e legitimao desses direitos ficam criadas as condies para a
definio de estratgias nacionais e a sua implementao.
Para os dias de hoje a resposta pergunta enunciada relativamente fcil: h legislao
nacional convencionada, doutrina e directivas comunitrias, e, na generalidade,
respeitada a autoridade da Organizao das Naes Unidas e seus organismos
especializados.
No subcaptulo designado por Quadro Jurdico especifico doutrina e legislao
internacionais, a este propsito. No entanto, h aspectos controversos, recuados no
tempo, que pretendo deixar aqui ainda que somente aflorados porque cit-los j pode
contribuir para a reflexo sobre controversas contingncias histricas em que os poderes
militar, poltico, econmico e comerciais se cruzaram.
A relao de Portugal com o mar resulta de motivaes histricas e de condicionalismos
geogrficos reafirmados por um quadro jurdico internacional que respeita direitos
31
ancestrais. O pormenor jurdico ficar para o captulo II mas, desde j se torna oportuno
recordar que o documento bsico e central a Conveno das Naes Unidas sobre o
Direito do Mar (CNUDM), que entrou em vigor a 16 de Novembro de 1994, quando o
60 signatrio a assinou.
Doze anos antes, a 10 de Dezembro de 1982, em Montego Bay, na Jamaica, tinham
terminado 14 anos de estudos e negociaes, envolvendo 150 pases, entrando-se no
processo de assinatura do documento.
Portugal depositou, nas Naes Unidas, a 3 de Novembro de 1997, o instrumento de
ratificao da Conveno, juntando-se comunidade internacional.
A CNUDM ainda hoje respeitada como sendo a Constituio Poltica para os
Oceanos, apesar de lhe serem reconhecidas algumas lacunas, de origem ou provocadas
pela eroso dos tempos.
Tendo invocado, acima, motivaes histricas e condicionalismos geogrficos nas
relaes de Portugal com os oceanos, pretendo referir, a propsito, um cruzamento da
Histria com a Geografia e o Direito onde apresentada uma verso (ou doutrina?) que
nem sempre tida como curial pelo politicamente correcto.
Refiro-me, pontualmente, a um artigo intitulado O sistema jurdico portugus perante
o condicionalismo dos descobrimentos e da colonizao, da Revista Bimestral
Portuguesa e Brasileira Scientia Iuridica (Editorial Scientia & Ars)8, com referncia
ao Terceiro Colquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Foi seu autor
Waldemar Ferreira, poca professor emrito de Direito Internacional, da Faculdade de
Direito da Universidade de S. Paulo, no Brasil.
No artigo citam-se situaes, em pleno sculo XVII, de posse dos mares e respectivo
suporte jurdico e poltico:
Gnova intitulava-se dominadora do Mar Ligrico. Veneza consorciava-se anualmente
com o Adritico. E a Inglaterra apelidava a Mancha de British Channel e, por trs vezes,
iria guerra com a Holanda a fim de assegurar o respeito aos seus direitos senhoriais
(). Imporia a saudao do pavilho britnico quando cruzassem navios de Sua
Majestade nos estreitos de Saint Patrik, Bristol, So Jorge, em guas da Irlanda ou no
Atlntico Norte. E no era s.
8 FERREIRA, Waldemar O sistema jurdico portugus perante o condicionalismo dos descobrimentos e
da colonizao. Revista Bimestral Portuguesa e Brasileira Scientia Iuridica, Editorial Scientia & Ars, n
30/32, de Julho/Dezembro de 1957. Rio de Janeiro. Tomo VI, pgs. 341-352.
32
A Espanha reclamaria direitos absolutos sobre o mar do Sul. A Rssia imporia a sua
jurisdio plena sobre o Mar Cspio e aspirava dominar, aqui j posteriormente, no
sculo XVIII, no Mar de Bering; a Dinamarca pretendia apropriar-se do estreito, entre
as terras gronelandesas e a Islndia. () As repblicas italianas disputavam os direitos
senhoriais sobre as faixas de mar adjacentes s suas costas.
O conferencista referiu-se aos negociadores de 1494 que dividiram o Mar Oceano e
condicionaram o comrcio martimo:
Sobre estas guas e litorais, Portugal e Espanha fizeram pairar o pacto colonial. Isto :
o fechamento dos portos ao comrcio estrangeiro, o regime que fazia depender o direito
mercancia da prvia autorizao do Conselho Ultramarino, ou da Casa das ndias. E,
por vezes, o monoplio, em benefcio das Companhias Gerais do Comrcio, as grandes
autarquias da poca (). Ainda aqui, tal preceito se harmonizava com o Direito
Internacional, ento vigente () e as leis dos estados colonizadores o comprovavam:
el-rei concedia apenas aos senhores donatrios a liberdade de comerciar com outra
capitania. O escambo internacional continuava defeso. E mesmo o comrcio com a
Metrpole vivia gravado de nus fiscais e de restries quantitativas. Algo que,
modernamente, se chamaria de contingentes de exportao.
Especificando as clusulas do Tratado de Tordesilhas, prossegue o conferencista,
porventura contrariando, de novo, verses do politicamente correcto:
Tordesilhas representava uma vitria diplomtica de Portugal. Vitria, porm
incompleta e imprecisa. Incompleta pois apenas afrouxara o predomnio martimo, que
as bulas de 1493 atribuam Espanha. Imprecisa porque se partilhara o vago, o
desconhecido (). No se sabia, ao menos, o ponto de partida para o cmputo das
longitudes nem o comprimento da lgua que medeia o espao entre esse ponto de
partida e o crculo mximo, previsto no Acordo. E sabe-se como a lgua martima
variava ento, segundo os pases e as diferentes pocas 9.
Em Scientia Jurdica citado Oliveira Martins, contrariando-se a geralmente aceite e
proclamada expresso, segundo a qual os navegadores portugueses quando partiam a
decifrar o enigma do mar tenebroso levavam as armas de guerreiro numa das mos e na
outra a cruz de Cristo. Em SJ l-se e na outra mo as balanas do mercador,
acentuando que no lusco-fusco do sculo XV e no amanhecer do sculo XVI
prevalecia o sentido mercantilista.
9MATTOS, Jos. D. F. Belfort --O Recuo do Meridiano de Tordesilhas em face do Direito Internacional.
In Scientia Iuridica & Ars, Rio de Janeiro, 1957.
33
A explicao acentuava que onde os navegadores tocaram ergueram cadeias de
feitorias e portos de reabastecimentos defendidos por fortalezas, isto em pontos
geogrficos dominantes das rotas comerciais de ento (). O fim da colonizao
portuguesa era a posse do comrcio das ndias sob a gide das bulas dos sumos
pontfices.
A perspectiva acentuada em SJ justifica a criao de toda uma estrutura jurdica que
teve a ver com a criao das capitanias, a forma de doao de terras, a estrutura de
governos-gerais, o modelo econmico, a escravatura e a importao do Santo Ofcio.
Estariam aqui deslocadas mais consideraes sobre este modelo de organizao poltica
e econmica. O que pretendo acentuar e fui buscar a ptica de um jurista brasileiro
que, naturalmente, havia necessidade de todo um quadro jurdico, nacional e
internacional, que viabilizasse as relaes e os interesses. Isto a par de penalizantes
determinaes polticas que eram mantidas sigilosas e fora do quadro jurdico de
conhecimento geral. Refiro 10 as instrues reservadas, de cinco de Janeiro de 1785,
enviadas pelo governo de Lisboa para os governadores das capitanias do Brasil,
enaltecendo as riquezas agrcolas produzidas pela terra brasileira, para, em
contrapartida, reconhecer, com alarme e preocupao, que a produo das indstrias e
artes estava a deixar de ser importada da Metrpole. Da que se determinava, por
ordens sigilosas, que se tornava absolutamente necessrio acabar com todas as fbricas
e manufacturas do Brasil.
Uma forma de colonialismo que volta, claramente, antes e nos anos do Estado Novo, em
que se condicionava, de modo semelhante, a economia de Angola e de Moambique.
Ao longo da Histria do pas, a relao com o Mar, na sua vocao martima, passou
por mltiplas e profundas vicissitudes mas, cronologicamente, e como j referi, reservo
a ateno e as intenes aos desenvolvimentos especficos da 2 metade do sculo XX,
tomando como referncias o final da II Guerra Mundial (1945), o Despacho 100/45 da
Renovao de Frota Mercante, a Revoluo do 25 de Abril de 1974, e a adeso de
Portugal ento CEE (1986), para me alongar at ao fim do sculo.
Para melhor compreenso de factos respeitantes 2 metade do sculo XX procurei
razes anteriores, ainda que sumariamente, indo buscar encadeamentos, numa viso
panormica, desde o final do sculo XIX e ao longo da 1 metade do sculo XX. Isto na
perspectiva de que no estando perante uma temtica sem passado haver que
10 Id. SI, pg. 351.
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determinar quando e como foi havendo, ao longo do tempo, alteraes mais ou menos
acentuadas, quantitativas e/ou qualitativas.
Nos dois ltimos decnios do sculo XIX sucederam-se factos histricos significativos,
com facetas inovadoras mas insuficientes para definirem e se assumirem como
integrando um eventual desgnio estratgico, na Economia do Mar e nas Cincias do
Mar.
O centro dos debates polticos estava ento condicionado situao e evoluo nas
colnias africanas, para onde se procurava transferir um modelo ultrapassado. Tudo isto
quando o Brasil se tornara independente, as relaes econmicas com o jovem pas se
esbatiam com os condicionalismos impostos s remessas de poupanas de emigrantes, o
comrcio com a escravatura e o trabalho servil chegavam ao fim, implicando
ajustamentos no modelo social e econmico. E tambm quando a conflitualidade
provocada por interesses terceiros tornava insustentveis as presses polticas e
militares.
Entretanto tambm ganha protagonismo, ainda que pontualmente, a Oceanografia, com
trabalhos cientficos sobre oceanos, nomeadamente produzidos e divulgados pelo rei D.
Carlos.
No final do sculo XIX, foram motivo de frequentes e acesos debates parlamentares
projectos polticos antagonistas onde se defendiam, ora a ocupao e desenvolvimento
de colnias ultramarinas, ora a venda de territrios como Moambique, entre outros.
No pas foi possvel avanar com importantes investimentos relacionados com o mar,
como a construo, ciclpica para a poca, do porto de Leixes. De 1884 a 1892
decorreu a construo dos molhes exteriores, iniciando-se a implementao do actual
porto de Leixes, com aproveitamento do rio Lea.
Avanando no tempo entra-se na marcada e sofrida 1 metade do sculo XX, com
desenvolvimentos que oportunamente sero objecto de algum cuidado porque integram
o contexto nacional e internacional que procuro e tiveram implicaes ideolgicas,
polticas e econmicas em Portugal
O contexto para o comrcio internacional e para assegurar a liberdade dos mares estava
longe de ser o melhor, pelo que se continua a no poder falar numa clara opo poltica
no sentido do desgnio estratgico nacional.
Por outro lado e para melhor compreenso de factos respeitantes ao final do sculo XX,
ser til prolongar a recolha e anlise de elementos informativos que esclaream como
vieram a ser implementadas proclamadas intenes anteriores, bem como o destino de
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diversos discursos contidos em debates, estudos, propostas e projectos relevantes
apresentadas e, porventura, objectos de decises polticas e empresariais nos dois
ltimos decnios do sculo XX.
partida afigura-se que na segunda metade do sculo XX e na transio para o sculo
XXI encontramos uma Histria mais rica, com a assumpo e concretizao dos
conceitos de Economia do Mar e de Cincias do Mar.
A riqueza da historiografia da 2 metade do sculo XX e da transio para o sculo XXI,
quanto Economia do Mar e s Cincias do Mar, vai implicar a centralidade do estudo
desta poca.
H sobressaltos, no tempo, na Poltica e na Economia, com recuos e avanos histricos
que ser essencial reportar, mas no caminhar e avanar da 2 metade do sculo XX
que encontramos maior progresso, com articulao entre os diversos sectores.
Sobretudo no que diz respeito s Cincias do Mar. Com repercusso e uso pela
Economia.
Referenciei 1945 como um marco cronolgico inicial porque, terminada a II Grande
Guerra (ou II Guerra Mundial), estabelecida a Paz, a Humanidade ganhara condies
para a sua dignificao e para a convivncia pacfica e solidria entre os povos. E para
voltar ao crescimento e ao desenvolvimento econmico, recuperar as cidades e os
campos e abrir os mares livre circulao do comrcio internacional. Os discursos
polticos foram nesse sentido e a Economia do Mar foi ganhando espao de afirmao.
Mas e h aqui reticncias que no posso esquecer, j que os tempos que se seguiram
Paz de 1945 no foram de felicidade generalizada e sem fim. Ao longo da cronologia
da segunda metade do sculo XX e incio do sculo XXI foi feita a prova dolorosa de
que a promoo do bem comum, na ordem europeia do ps-guerra, deixava a desejar.
Mas no necessrio fazer a constatao somente ao longo dos tempos: imediatamente
aps o final da guerra, em meados de 1945, os dramas humanos continuaram a ser
medonhos e no quererei ficar pelas estatsticas macroeconmicas positivas, ignorando
os sofrimentos das pessoas. Teoria que, ciclicamente, volta aos discursos polticos
encomisticos, arrogantes e de violncia chocante, como quando se diz, algures, com
satisfao boal, que o pas est melhor mas as pessoas esto pior. Em quantos pases
a riqueza estatstica sobe vertiginosamente, com a explorao do petrleo e dos metais
preciosos, enquanto a distribuio dos lucros provoca a misria para milhes de
cidados?
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De facto, a partir de 1945 tudo ainda continuou mal e doloroso para milhes e milhes
de pessoas. Recentemente (2013) o historiador R.M.Douglas, da Universidade de
Colgate, de Nova Iorque, publicou The expulsion of the germans after the Second
World War (traduo de Adelaide Cabral sobre um texto de Paul Wilson, em New
York Review of Books) onde reabriu o drama das multides de desalojados, de famlias
destroadas com os lares destrudos e as cidades desmoronadas, que ficaram sem
regresso e obrigadas a um movimento contnuo e sem destino.
O drama atingiu todos os palcos de guerra porque era a guerra e os homens assim
quiseram, quer na Europa quer na sia, mas na obra de R. M. Douglas a ateno incidiu
nos 12 a 14 milhes de civis alemes desalojados, nomeadamente desde 1944, quando o
Exrcito Vermalho empurrou a Wehrmacht para Ocidente e vastos enclaves de colonos
de etnia alem fugiram ao avano das tropas soviticas. Muitos outros milhes de seres
humanos, de outras terras e outros povos, ficaram fora da obra do autor.
Lembra o historiador que, desde Maio de 1945 a 1947, foi desencadeado outro tipo de
expulses que tinha sido congeminado durante a guerra e acordado entre os governos de
Londres, Moscovo e Washington e, mesmo depois dessas datas, aconteceu o mesmo a
milhes de alemes residentes na Checoslovquia, na Polnia e na Hungria e, em menor
nmero, na Romnia, na Bulgria e na Jugoslvia.() Foram despojados da sua
cidadania e bens, expulsos das suas terras, a p ou empilhados em carros de bois, sem
levarem mais do que aquilo que pudessem carregar consigo e obrigados a seguir em
direco s regies ocupadas de uma Alemanha devastada.
No possvel haver qualquer tolerncia pela violncia, a brutalidade e os horrores
hitlerianos que desencadearam a II Grande Guerra mas tambm no possvel ignorar
as deportaes que ambas as partes em litgio provocaram, ou pelas contingncias da
guerra ou deliberadamente.
At finais da dcada de (19)70 manteve-se uma verso das expulses enquanto algo
benigno e criador de naes, mas o historiado eslovaco Jn Mlynrik publicou ento
um ensaio inovador em que declarou que as expulses constituram um
comportamento brutal () um treino macio, prtico e quotidiano de desprezo pela
noo da pessoa humana, com toda a sua dignidade e os seus direitos. Mlynrik veio e
ser preso na Checoslovquia, em 1981, acusado do crime de perturbao da ordem
pblica. Libertado, sem julgamento, em 1983, emigrou para a Alemanha Ocidental.
Como afirmou o historiador R.M.Douglas, a euforia da vitria de 1945, a pressa e a
confuso da reconstruo e a iminente Guerra Fria, combinaram-se para lanar um vu
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sobre as expulses que, em breve, foram esquecidas por grande parte do mundo.()
As expulses so inevitavelmente acompanhadas pela brutalidade, injustia e
sofrimento desnecessrios e no devem ser empreendidas nem, to pouco sequer
contemplados .
Suponho que ainda ningum teve o distanciamento temporal, porventura necessrio,
para fazer comparaes com os dramas das populaes obrigadas ao retorno
provocado pelas descolonizaes de meados do sculo XX. Mas estas so outras
polmicas, para lhes chamar somente assim.
Voltemos ao contexto da Economia do Mar: violncias no ps-1945 no ficaro
esquecidas ainda que no possam ser aqui pormenorizadas. Mas fica uma nota quanto
doutrina actual sobre as expulses, recordando que a Carta dos Direitos Fundamentais
da Unio Europeia probe, especificamente, as expulses colectivas.
A estrutura da tese que aqui apresento privilegiar o facto de ter sido nos dois ltimos
decnios do sculo XX que se evidenciaram as preocupaes sobre o ambiente e a
poluio, as alteraes climticas, o degelo das zonas polares, a regulao dos recursos
hdricos, a proteco das zonas costeiras, a segurana dos mares, o aumento do nvel das
guas martimas, a salvaguarda do Direito Martimo (ainda tido como subalterno), a
pesquisa e explorao de hidrocarbonetos e minerais no fundo dos oceanos, a definio
das plataformas continentais, a preservao das espcies martimas e a regulao das
pescas.
As Naes Unidas (Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar, 1994) e a
Unio Europeia (definio genrica de princpios e directivas sectoriais) intervenientes
em relao a estas matrias, tm definido regras internacionais, alis acompanhadas,
estimuladas e pressionadas por activas ONGs.
nesta perspectiva que compartimento mas relaciono entre si, nas suas diversidades e
afinidades um perodo histrico que comea no final da 2 Guerra Mundial (1945),
indo, numa viso panormica mas esclarecedora, s bvias razes anteriores, na
Monarquia Constitucional e na I Repblica.
O ncleo duro deste trabalho o Mar como desgnio estratgico nacional pretendo
situ-lo nos contextos determinantes traduzidos nos diferentes discursos, formais ou
informais das lideranas, no Estado Novo, aps a II Guerra Mundial e na III Repblica
que, vinda do sculo XX, se prolonga pelo sculo XXI.
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Tudo isto est, fsica e temporalmente, muito prximo? Acautelarei o distanciamento da
observao e da anlise, bem como das concluses, quando for caso disso. Terei em
conta a distino entre o factual e o ideolgico, salvaguardando a creditao das fontes.
Pretende-se que no final deste trabalho resultem respostas possveis mas fundamentadas
face s questes problematizadas decorrentes dos objectivos ambicionados e dos
circunstancialismos contextuais.
partida h uma questo porventura com algo de preconceituoso: se no acreditasse
exactamente, o verbo acreditar que j h muito trabalho feito (poltico, cientfico,
tcnico e empresarial) em ordem definio e implementao do ambicionado desgnio
estratgico, onde encontraria uma motivao mobilizadora para este trabalho? Para
chegar ao fim e concluir que, afinal, estamos diante de uma utopia de tempos, que se
avizinham, de vacas gordas ou de um novo e esperanoso Mapa Cor-de-Rosa? No
prevejo que seja assim.
Vejamos a problematizao colocada e para qual se procuram respostas creditadas pela
anlise de plurais fontes, bibliografia e observao pessoal directa:
-- Do contexto polidrico, com os diferentes poderes objectivado nos discursos
polticos, econmico, religioso, militar, internacional, cientfico e social/laboral/sindical
da 2 metade do sculo XX -- perodo atravessado por regimes polticos nem sempre
estabilizados na sua prpria matriz -- resultaram desgnios estratgicos, definidos e
assumidos, na relao de Portugal com o Mar, e no que diz respeito, especificamente,
Economia do Mar e s Cincias do Mar?
-- Como surgiram, se construram e concretizaram os conceitos estratgicos
equacionados?
-- Como se relacionaram entre si a Economia do Mar e as Cincias do Mar,
considerando o objectivo (final?), isto o desenvolvimento sustentado do pas?
-- Detectam-se razes relacionadas com o processo identitrio do pas?
-- A progressiva e sucessiva definio e afirmao do conceito estratgico constitui a
base de um projecto vivel de desenvolvimento sustentado ou um mito exagerado e
inconsistente quanto sua viabilizao?
-- A Histria dos dois ltimos decnios do sculo XX lanou as bases estruturais para a
concretizao do desgnio afirmado, favorecendo o seu desenvolvimento no 1 decnio
do sculo XXI ?
-- Aceite o Mar como imperativo nacional, como chegar, com debates e definio de
projectos, aos benefcios econmicos, sociais e culturais? Como passar do diagnstico
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aos projectos, s estratgias e implementao das intenes? Com que meios, com que
competncias?
Especificado e fundamentado o Objecto e a sua evoluo no sentido dos Objectivos,
localizada a Cronologia, enunciadas a Problematizao inicial e as Questes formuladas
partida, concretizo como pretendo desenvolver os Objectivos.
A clarificao dos Objectivos gerais dever evoluir no sentido das componentes
essenciais da investigao. Que so:
01. Enquadramento para compreenso do contexto histrico--pluritemtico (poltico,
ideolgico, social, cultural/cientfico, religioso, militar, internacional, colonial ) que,
no perodo cronolgico em questo, explique a existncia do desgnio estratgico
nacional centrado no mar. Desgnio que evoluiu e se foi ajustando no tempo por factores
diversos mas com forte dinmica prpria e ultrapassando os limites convencionais da
Economia e da Cincias.
02. Inventariao, localizao e qualificao das potencialidades do Mar e a sua
explorao em benefcio do desenvolvimento econmico sustentado do pas
Economia do Mar bem como referenciao do Mar como objecto de pesquisa
cientfica, pura e aplicada Cincias do Mar -- conferindo o mtuo relacionamento,
complementaridade e influncia, em ordem capacidade conjunta para contriburem,
durante a 2 metade do sculo XX, para o desenvolvimento sustentado do pas.
03. Conhecido o contexto histrico do desgnio estratgico e referenciadas as
potencialidades do Mar, haver que perceber a evoluo do conceito globalizante e
estratgico, integrando vrios e diversificados sectores de actividade, estes, por sua vez,
reunidos e organizados no hypercluster do mar.
Sectores de actividades como sejam:
-- a biotecnologia, a rea da prospeco e explorao dos hidrocarbonetos e das
aglomeraes mineiras, o turismo de cruzeiro, a gesto porturia, a construo naval, a
intermobilidade dos diferentes transportes, a logstica, as auto-estradas do mar, a nutica
de recreio, a pesca e as indstrias conexas, a arqueologia martima, as energias
renovveis, a hidrografia, a piscicultura e a aquacultura, a defesa e a segurana dos
mares, a ecologia, o ambiente/poluio e outras.
Os Objectivos genricos abrangidos neste projecto vo entroncar na escolha das
Metodologias de investigao, no sentido de:
-- Inventariar fontes de diverso tipo relacionadas com as polticas e empreendimentos
vocacionados para o mar.
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-- Reconhecer situaes institucionais ligadas ao mar, atravs de visitas de estudos de
entrevistas/conferncias com responsveis diversos de modo a aceder ao conhecimento
experimental de protagonistas.
-- Recolher a bibliografia disponvel relacionada com as questes do mar.
-- Aprofundar conhecimentos atravs da explorao de fontes e bibliografia e do
ensaio escrito, atravs da produo de artigos e participao em conferncias e
seminrios.
-- Caracterizar as configuraes discursivas observadas em relao ao mar como
desgnio estratgico.
A anlise diacrnica implica o estudo do encadeamento dos contextos sociais histricos,
dos processos concretos seleccionados e respectiva dinmica, quando se substituem, no
tempo, uns aos outros. Pode dizer-se que se trata de um mtodo estruturalista na medida
em que se desmonta e torna a montar os factos para se entenderem as suas
caractersticas e funcionamento.
As componentes e as causas que levaram definio e implementao do desgnio so
mltiplas, sendo de ordem poltica, social, religiosa, econmica, militar, cientfica e
internacional.
Referenciada a contextualizao, seleccionados os factos concretos e acontecimentos
fornecidos pela documentao, somada a experincia vivida pela histria pessoal em
outros contextos que no acadmicos, desenvolve-se a anlise diacrnica, favorecendo a
compreenso da dinmica e progresso dos sucessos.
Para concretizar este projecto, com um itinerrio dos principais caminhos de
investigao e interpretao, h que procurar definir Metodologias de trabalho.
Pretendo proceder a uma anlise diacrnica sobre a vocao martima do pas na 2
metade do sculo XX, procurando definir a Histria dos usos da Cincia do Mar ao
servio da Economia do Mar.
Procurarei proceder anlise dos discursos, com perspectivas antagnicas ou
convergentes, dos poderes poltico, acadmico/cientfico, empresarial, militar, religioso
e social/laboral/sindical, mas tambm recorrendo observao directa, exposies em
seminrios, conferncias e entrevistas
Aqui volta a surgir a relevncia da compilao e anlise dos discursos especficos das
instituies e lideranas i