155
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Historia Moderna e dos Descobrimentos, realizada sob a orientação científica das Professoras Doutoras Ana Isabel Buescu, Susana Münch Miranda e Eugénia Rodrigues Esta tese foi realizada no âmbito do projecto Terras além dos mares: direitos de propriedade no Império Português Moderno financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PTDC/HIS-HIS/113654/2009)

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Mestre em Historia Moderna e dos Descobrimentos, realizada sob a orientação

científica das Professoras Doutoras Ana Isabel Buescu, Susana Münch Miranda e

Eugénia Rodrigues

Esta tese foi realizada no âmbito do projecto Terras além dos mares: direitos de

propriedade no Império Português Moderno financiado pela Fundação para a Ciência e

a Tecnologia (PTDC/HIS-HIS/113654/2009)

Page 2: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 3: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

À memória dos meus avós Lucinda e Carlos

Page 4: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 5: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

v

AGRADECIMENTOS

No final da etapa académica que teve como resultado a presente tese de

mestrado não posso deixar de agradecer a algumas pessoas e instituições que, de uma ou

de outra maneira, tiveram um papel activo na sua concretização. O meu primeiro e

sentido agradecimento vai para as orientadoras, as Professoras Doutoras Ana Isabel

Buescu, Susana Münch Miranda e Eugénia Rodrigues, pelo apoio científico e

institucional, pelas críticas, conselhos e incitamento. Um agradecimento especial é

devido à Professora Doutora Eugénia Rodrigues pela forma com que generosamente me

acompanhou, me motivou e me inspirou desde que em 2009 comecei a trabalhar sob a

sua orientação no âmbito de uma bolsa de integração na investigação promovida pelo

Instituto de Investigação Científica e Tropical. A Professora Doutora Susana Münch

Miranda acolheu desde logo este projecto e já nos momentos derradeiros foi mais do

que essencial para a sua conclusão fazendo as diligencias necessárias e transmitindo-me

a dose certa de motivação.

O meu agradecimento estende-se ao Centro de Estudos de História

Contemporânea do ISCTE-IUL e ao Professor Doutor José Vicente Serrão, coordenador

do projecto FCT Terras além dos mares: direitos de propriedade no Império Português

Moderno (PTDC/HIS-HIS/113654/2009) no âmbito do qual se enquadra esta

dissertação. No Instituto de Investigação Científica e Tropical quero agradecer

especialmente ao Professor Doutor Miguel Jasmins Rodrigues a experiência de trabalho

no projecto FCT Pequena nobreza e ‘nobreza da terra’ na construção do Império: os

arquipélagos atlânticos (séculos XV a XVII). Não menos importantes foram as pistas

historiográficas e outras de carácter mais pessoal que me foi dando ao longo do

caminho. Também no Instituto de Investigação Científica e Tropical agradeço à

Professora Doutora Maria Manuel Ferraz Torrão e à Teresa Vilela a preciosa ajuda

prestada ao nível da pesquisa bibliográfica e cartográfica. De igual modo, um

agradecimento é também devido aos funcionários do Arquivo Histórico Ultramarino e

da biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, nos quais passei a maior parte do

tempo de pesquisa desfrutando de óptimas condições de trabalho.

O meu agradecimento dirige-se ainda ao Departamento de História da Faculdade

de Ciências Sociais e Humanas e aos professores e colegas com quem tive oportunidade

Page 6: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

vi

de conviver e aprender ao longo da Licenciatura em História e do Mestrado em História

Moderna e dos Descobrimentos. A minha gratidão estende-se ao Centro de História de

Além-Mar, instituição que me acolheu como investigadora impondo-se nesse sentido

um agradecimento particular à Professora Doutora Alexandra Pelúcia e ao Professor

Doutor João Paulo Oliveira e Costa. Ainda no Centro de História de Além-Mar o meu

agradecimento dirige-se muito em especial ao Professor Doutor Pedro Cardim pela

paciência e disponibilidade com que respondeu às minhas solicitações e pelo apoio que,

em geral, me dispensou em questões não directamente relacionadas com esta tese mas

igualmente importantes para o meu percurso académico. Ao Professor Doutor Paulo

Teodoro de Matos quero expressar o meu apreço pelo interesse que demonstrou pelo

meu trabalho e pela forma com que me recebeu no projecto FCT População e Império.

A Demografia e os Processos Estatísticos no Ultramar Português, 1776-1875.

No Programa Inter-Universitário de Doutoramento em História não posso deixar

de agradecer aos professores e colegas a compreensão face às ausências dos momentos

finais. Realço, muito concretamente, o apoio prestado pela Professora Doutora Mafalda

Soares da Cunha e pelo Professor Doutor José Luís Cardoso. O meu obrigada em

especial a este último pela ajuda institucional e pelas palavras de encorajamento.

Porventura desajeitadas e certamente incompletas são as palavras que aqui deixo

aos amigos e à família. Individualizando o individualizável, quero agradecer à Luísa

Coelho Sousa a disponibilidade, as conversas desopiladoras da mente e as palavras

certeiras em diferentes momentos deste percurso. Um obrigada particular à Augusta

pelo contributo gráfico, à João pelo contributo linguístico e à Maria D. pelo cuidado

constante. Aos pais o meu sentido agradecimento pelo apoio e confiança. E aos manos a

minha mais profunda gratidão pela área, pela amizade, pelo amparo e acolhimento

verdadeiramente essenciais.

Page 7: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

vii

Entre a Ilha e a Terra. Processos de construção do continente fronteiro

à Ilha de Moçambique (1763 - c. 1802)

Maria Paula Pereira Bastião

RESUMO

Palavras-chave: Ilha de Moçambique; século XVIII; territorialização; agricultura e

comércio; regime jurídico da posse da terra; império português.

O presente trabalho estuda os processos de construção da Terra Firme da Ilha de

Moçambique entre 1763 e 1802 num contexto de crescimento populacional, de

intensificação do tráfico negreiro, de reforço da actividade agrícola e, em geral, da sua

afirmação enquanto capital da capitania de Moçambique. Ainda que o desenvolvimento

das terras fronteiras à Ilha de Moçambique já tenha sido notado pela historiografia, a

forma como decorreu esse desenvolvimento encontra-se pouco estudada. Assim, num

primeiro momento, procura-se avaliar o papel desempenhado pelo comércio e pela

agricultura na territorialização da colonização portuguesa e a resistência oposta pelas

populações africanas a essa territorialização. Num segundo momento, procura-se

discutir a forma como estas terras foram incorporadas na Monarquia portuguesa,

conhecer o regime jurídico que enquadrou a sua posse e propriedade e os protagonistas

destes processos.

Apesar de o território continental sob domínio português ocupar uma área muito

limitada na segunda metade de Setecentos, verifica-se como no final do século a

presença portuguesa se alargou um pouco para além dos limites anteriores e, sobretudo,

como se intensificou a apropriação económica e política desse espaço colonial.

Page 8: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 9: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

ix

Between the Island and the mainland: construction processes of the opposite coast

of the Mozambique Island (1763 – c. 1802)

Maria Paula Pereira Bastião

ABSTRACT

Keywords: Mozambique Island; 18th

century; territorialization; trade and agriculture;

legal framework of access to land; Portuguese empire.

This work studies the construction processes of the mainland of the Mozambique

Island between 1763 and 1802 in a context of population growth, intensification of the

slave trade, strengthening of the agricultural activity and, in general, of its affirmation as

the capital of the Captaincy of Mozambique. Even though the development of the lands

facing the Mozambique Island has already been noticed by historiography, the manner

in which this development has occurred remains insufficiently studied. Hence, firstly,

an attempt is made to assess the role played by trade and agriculture in the

territorialization of Portuguese colonization and the resistance opposed by African

populations to this territorialization. Secondly, the form under which these lands were

incorporated into the Portuguese Monarchy is discussed, as well as the legal regime that

framed their possession and ownership and the protagonists of these processes.

Although the mainland under Portuguese rule occupied a very limited area in the

second half of the eighteenth century, evidence shows that, towards the end of the

century, the Portuguese presence had extended slightly beyond its previous limits and,

especially, it had intensified its economic and political appropriation of the territory.

Page 10: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 11: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

xi

ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................................................... 9

Ilha de Moçambique e Terra Firme (séculos XVI a XVIII) .............................. 9

1.1. A Ilha de Moçambique na costa leste-africana (século XV e XVI)................. 9

1.2. A Terra Firme no século XVIII...................................................................... 16

1.3. A Ilha de Moçambique na costa leste-africana (séculos XVI-XVIII) ........... 18

1.3.2. A autonomia do Estado da Índia: principais transformações políticas,

económicas e sociais ...................................................................................... 26

CAPÍTULO 2 .................................................................................................................... 33

Dinâmicas de construção da Terra Firme (1763 - c.1802) ............................... 33

2.1. Limites territoriais e documentais da Ilha de Moçambique ........................... 35

2.2. Relações comerciais e abastecimento alimentar ............................................ 38

2.2.1. “Reduzidos a huma nesecidade bem cruel” ou a dependência alimentar

da Ilha 44

2.2.2. Medidas de desenvolvimento agrícola ................................................. 47

2.3. Dinâmicas de resistência à colonização da Terra Firme ................................ 51

2.3.1. As chefaturas macuas ........................................................................... 53

2.3.2. Os xecados de Quitangonha e Sancul .................................................. 56

2.4. A Terra Firme entre discursos e práticas ....................................................... 60

CAPÍTULO 3 .................................................................................................................... 65

A posse e a propriedade da terra na Ilha e Terra Firme ................................. 65

3.1. O acesso à terra em Moçambique na segunda metade de Setecentos ............ 67

3.1.1. Os prazos da Coroa nos Rios de Sena .................................................. 69

3.1.2. Os prazos da Coroa na Ilha de Moçambique. Uma tentativa de

definição ......................................................................................................... 75

3.2. A constituição do concelho e os prazos do Senado da Câmara ..................... 79

3.2.1. Dinâmicas de apropriação da Terra Firme .................................................. 85

CAPÍTULO 4 .................................................................................................................... 89

A terra e a elite da Ilha de Moçambique ........................................................... 89

4.1. A terra na Ilha e Terra Firme. Uma visão de conjunto .................................. 90

4.2. O caso de João da Silva Guedes ..................................................................... 94

Page 12: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

xii

CONCLUSÃO ................................................................................................................... 99

FONTES E BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 105

ANEXOS ........................................................................................................................ 119

Page 13: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

xiii

ÍNDICE DE GRÁFICOS, MAPAS E TABELAS

Mapa 1 – A Ilha de Moçambique na costa oriental africana (pormenor da Ilha e Terra

Firme no século XIX) ....................................................................................................... 7

Mapa 2 – A Terra Firme em 1802 ................................................................................. 15

Mapa 3 – A Ilha de Moçambique e a Macuana ............................................................. 23

Gráfico 1 – Moradores e habitantes portugueses dedicados à agricultura (1766) ........ 41

Gráfico 2 – Instituição outorgante do aforamento (1763 - c. 1802) .............................. 91

Gráfico 3 – Distribuição da propriedade por género (1763 - c. 1802) .......................... 91

Gráfico 4 – Distribuição das propriedades foreiras à câmara por género (1763 - c. 1802)

........................................................................................................................................ 92

Gráfico 5 – Distribuição das propriedades foreiras à Coroa por género (1763 - c. 1802)

........................................................................................................................................ 92

Gráfico 6 - Distribuição dos foreiros por naturalidade (1763 - c. 1802) ....................... 93

Tabela 1 – Proprietários da Ilha de Moçambique e Terra Firme (1763 - c. 1802) ...... 119

Mapa 4 – A Terra Firme em 1802 (cálculo da área) ................................................... 137

Tabela 2 – Chãos da Cabaceira Grande aforadas pela câmara (1782) ........................ 139

Tabela 3 – Chãos de Mossuril aforadas pela câmara (1782) ....................................... 139

Page 14: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 15: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

xv

LISTA DE ABREVIATURAS

ACE – Assentos do Conselho de Estado (ed. Panduronga Pissurlencar)

AHU – Arquivo Histórico Ultramarino (fundo, série, documento)

Cit. – Citado

Cód. – Códice

Cons. Ultr. – Conselho Ultramarino

Coord. – Coordenação

Cx. – caixa

DCPM – Dicionário Corográfico da Província de Moçambique

DHP – Dicionário de História de Portugal

Dir. – Direcção

Doc. – Documento/os

Ed. – Edição

Fl. – Fólio/os

Gov. Moç. – Governo de Moçambique

HAG – Historical Archives of Goa

Km – Quilómetro

Liv. – Livro

Ord. Fil. – Ordenações Filipinas

Ord.Man. – Ordenações Manuelinas

Org. – Organização

P. – Página(s)

Pub. – Publicado

S.d. – Sem data

Segs. – Seguintes

SGL – Sociedade de Geografia de Lisboa

T. – Tomo

tt.º – Título

V. – Vide

Vol. – Volume

Page 16: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 17: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

1

INTRODUÇÃO

Na segunda metade do século XVIII a Ilha de Moçambique, capital política e

administrativa, centro mercantil e naval dos territórios portugueses da África Oriental,

viu o seu protagonismo aumentado em consequência de uma série de medidas tendentes

a afirmar a posição destes territórios no conjunto imperial português. No período

subsequente a 1752, data da separação dos territórios portugueses do leste-africano face

ao Estado da Índia, a actividade mercantil nos portos moçambicanos foi aberta aos mer-

cadores portugueses do Índico (1757) e aos demais mercadores do império português

(1763). Também em 1763 a Ilha de Moçambique, até então com o estatuto de praça, foi

elevada a vila e dotada de câmara. Empreendidas sob o signo de Sebastião José de

Carvalho e Melo, estas foram algumas das medidas que concorreram para o contexto de

notável prosperidade então experimentado na colónia. Não obstante, foi em resultado do

tráfico de escravos que Moçambique e a sua capital conquistaram um papel à escala

global, primeiro por via das relações mercantis com as colónias francesas do Índico e,

mais tarde, com a América Portuguesa e Espanhola. Um volume de tráfico regular e

sistemático foi atingido grosso modo na década de 1770 e na transição de século a Ilha

de Moçambique era já um dos principais portos mundiais de exportação de mão-de-obra

escrava1.

No seu conjunto, os momentos e as conjunturas atrás expostas promoveram o

crescimento da Ilha de Moçambique em direcção ao continente adjacente e

proporcionaram a ampliação das oportunidades de negócio da elite insular ligada ao

comércio, genericamente designada por moradores2, bem como de outros grupos que aí

se fixavam com um carácter transitório, como os baneanes de Diu e Damão. Na

denominada Terra Firme – o termo da vila constituído pelas povoações de Mossuril,

Cabaceira Grande e Cabaceira Pequena – estas elites possuíam propriedades agrícolas –

palmares, fazendas e machambas – e comerciavam com as populações africanas

vizinhas. Embora tendo no comércio a sua principal ocupação, a exploração agrícola das

terras continentais constituiu-se como uma fonte extra de receita e uma oportunidade de

diversificação de negócios. Não raro, comércio e agricultura eram actividades que 1 Capela, 2002: p. 80-87.

2 Termo usado não como sinónimo de habitantes ou de residentes, mas na acepção de homens-bons ou

nobreza da terra, aqueles que constituíam a sua elite social e económica e que ocupavam cargos na

administração colonial e concelhia.

Page 18: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

2

desenvolviam em articulação. Para a Ilha de Moçambique, o cultivo da Terra Firme

constituiu-se também como uma vantagem, já que contribuía para atenuar o problema

de abastecimento que desde sempre a afectara e que via agravado agora, na segunda

metade de Setecentos, em consequência das profundas transformações políticas,

económicas e sociais vividas na colónia.

Apesar do desenvolvimento da Terra Firme enquanto espaço complementar à

Ilha de Moçambique já ter sido notado pela historiografia, a forma como decorreu esse

desenvolvimento permanece pouco estudada. Assim, o que se propõe neste trabalho é a

investigação do processo de ocupação do termo da Ilha de Moçambique por meio da

intensificação do comércio e da exploração agrícola entre 1763 e o final do século

XVIII. Qual o papel do comércio e da agricultura na interiorização da colonização

portuguesa? Como decorreu o processo de apropriação, concessão e exploração das

terras localizadas no continente fronteiro à Ilha? Quais as causas e as consequências

destes processos considerados sob múltiplos pontos de vista (jurídico, político,

económicos, sociais, ideológicos)? Qual a principal matriz jurídica que regulou o acesso

à terra? A legislação sobre a terra foi emanada directamente de Lisboa ou

redireccionada de Goa? E qual a intervenção das autoridades locais como o governo-

geral ou o Senado da Câmara na aplicação desta legislação? Quem teve acesso a terra?

Qual a dimensão das parcela concedidas? Que posição ocuparam os detentores de terras

na sociedade e economia insulares? Como se relacionaram entre si? Como se

relacionaram com as autoridades portuguesas e com os demais actores sociais e

económicos, nomeadamente com as populações baneanes, suaílis e macuas que

habitavam os mesmos espaços ou espaços próximos? Estas são algumas das questões

orientadoras deste trabalho.

O âmbito cronológico da análise decorre entre 1763, data de criação da câmara

de Moçambique e momento a partir do qual esta passou a partilhar com a Coroa o

domínio eminente sobre o território da Ilha e Terra Firme, e 1802, ano que inaugura um

breve período de pacificação da região e também ano de produção de um largo número

de documentos relevantes para a nossa investigação3. Não obstante esta delimitação,

3 Por exemplo, “Mappa do Numero dos Habitantes Christaons, que possuem nas terras do Lumbo, Ilha de

Batû, Calundi, Apagafogo, Ampapa, Monsuril, Mapeta, Cabaceira Grande, e Cabaceira piquena, Cazas,

fazendas Escravos, e da Gente livre, e Feitores, que há nas ditas terras, as quaes são fronteiras a Ilha de

Mossambique”, 20.Ago.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 96, doc. 62; “Relação das pessoas que

possuem maxambas, e que huns anos por outros, cultivando-as, pensamos poderão tirar das mesmas a

farinha seguinte”, 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 259v-260v; “Relação dos habitantes

Page 19: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

3

sempre que julgámos necessário fizemos breves incursões em cronologias anteriores ou

posteriores de modo a facilitar a compreensão de determinadas questões apenas

perceptíveis numa duração mais longa.

Mais do que qualquer outra temática de análise, a historiografia tem centrado

atenções no estudo do regime de concessão de terras na região do vale do Zambeze. De

entre os vários autores que se debruçaram sobre a problemática dos prazos da Coroa nos

Rios de Sena, como Alexandre Lobato, Narana Coissoró, Allen Isaacman, Malyn

Newitt e José Capela4, a presente dissertação é sobretudo tributária dos trabalhos de Eu-

génia Rodrigues5. Autora que, em estreito diálogo com os investigadores citados e esco-

rada em documentação até então pouco explorada, aduz novas interpretações, actualiza

e aprofunda perspectivas anteriores. Mas se o regime jurídico que enquadrou a

territorialização portuguesa no vale do Zambeze – as capitanias-mores de Quelimane,

Sofala, Sena e Tete onde se incluíam a maior parte das Terras da Coroa – tem sido

objecto de uma ampla investigação, o estudo da posse e propriedade da terra noutros

espaços da capitania sobre os quais os portugueses exerceram também um domínio

territorial efectivo, como a Ilha de Moçambique, tem sido largamente negligenciado.

Eugénia Rodrigues aludiu já ao facto do regime dos prazos ter sido também usado nesta

região6 mas, com efeito, a história dos prazos afora o vale do Zambeze encontra-se em

grande medida por fazer, o que muito provavelmente se deve à escassez de fontes

directas como os livros de tombos. A presente investigação procura, portanto, preencher

uma parte desta lacuna pensando também a forma como os espaços da Ilha de Terra

Firme foram apropriados e enquadrados sob o regime jurídico português.

Do ponto de vista geral da história politica, militar, económica, comercial e

social do Moçambique da segunda metade de Setecentos são vários os autores e as

obras que sustentam a presente investigação. Desde logo, os trabalhos de Alexandre

Lobato, Fritz Hoppe e José Capela foram fundamentais para acompanhar as

que podem ter farinha no presente ano para dar ao provimento dos armazéns reais”, 19.Out.1802, AHU,

Gov. Moç., cód. 1353, fl. 279-279v; “Relação das pessoas a quem pertencem as Arvores de Café”,

23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262; Relação dos produtores de café que entregaram parte

da sua produção para ser enviado para o reino, 30.Out.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 92, doc. 58. 4 Respectivamente: Lobato, 1945, 1957 e 1962; Coissoró, s/d; Isaacman, 1972; Newitt, 1973; e Capela,

1995. 5 Sobretudo a tese de doutoramento Portugueses e Africanos nos Rios de Sena. Os Prazos da Coroa nos

Séculos XVII e XVIII, v. Rodrigues, 2002. A mesma autora desenvolve determinados aspectos do regime

fundiário na capitania de Moçambique em artigos parcelares, por exemplo, Rodrigues 1998a, 2011 e

2013. 6 Rodrigues, 2002: p. 413.

Page 20: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

4

transformações político-económicas desencadeadas pela reorganização administrativa

iniciada em 17527. Manolo Florentino trata a integração da costa oriental africana nas

dinâmicas escravistas dos oceanos Índico e Atlântico8, focando-se em concreto no

tráfico de escravos com destino à América Portuguesa. Edward Alpers faz uma análise

profunda e sistemática sobre o impacto do comércio de longo curso no leste-africano

abordando também, num estudo de menor fôlego mas não menos útil, as ligações às

colónias francesas vizinhas a pretexto da compra e venda de escravos9. O tráfico de

escravos é, aliás, pano de fundo de uma larga maioria de trabalhos sobre o Moçambique

dos séculos XVIII e XIX de entre os quais sobressai a investigação do já citado José

Capela, essencial para acompanhar o funcionamento geral do comércio escravista nos

portos moçambicanos entre os séculos XVII e XIX, as políticas imperiais e as

circunstâncias locais que subjazeram o desenvolvimento deste comércio e, bem assim,

os agentes que lhe deram corpo, nomeadamente, os negreiros estabelecidos na Ilha que

operavam nas rotas transíndicas e transatlânticas10

.

Na História de Moçambique e nos demais artigos de Malyn Newitt referenciados

encontrámos as bases para trabalhar os contextos político, social e económico. Na

qualidade de capital da colónia ao longo do período moderno, a Ilha de Moçambique

acaba por ocupar um papel de grande destaque nestes estudos, muito concretamente, no

que diz respeito aos contactos comerciais que estabeleceu com portos mais ou menos

próximos, ao desenvolvimento urbano da vila ou à sua população11

. Em particular,

sobre os processos sociais e as dinâmicas relacionais entre as populações presentes nos

espaços da Ilha e Terra Firme devem ser mencionados os trabalhos de Eugénia

Rodrigues relativos ao quotidiano e às representações das mulheres da elite insular e as

pesquisas de Ana Paula Wagner referentes às estruturas demográficas de Moçambique

que permitiram perceber o predomínio de reinóis e goeses entre a população cristã da

Ilha12

. Outras populações que habitavam de forma permanente ou temporária a região

foram estudadas por Luís Frederico Antunes, que se debruçou em particular sobre a

comunidade baneane oriunda do Guzerate; Nancy Hafkin, que investigou as chefaturas

7 Lobato, 1945, 1957 e 1989; Hoppe, 1970; Capela, 2002.

8 Florentino, 1997 e 2009; Florentino, Ribeiro e Domingues da Silva, 2004.

9 Alpers, 1975 e 1970, respectivamente.

10 Em particular, Capela, 2002 e 2007.

11 Newitt, 2009, 2004 e 2008.

12 Rodrigues, 2010c e 2010d; Wagner, 2009, 2007 e 2011.

Page 21: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

5

suaílis vizinhas; Joseph Mbwiliza, cujo labor contribuiu para uma maior compreensão

das populações macuas que habitavam o sertão próximo13

.

As obras e os autores atrás referenciados compõem o corpus bibliográfico

principal da nossa análise. Quanto ao corpus documental, este trabalho baseia-se

sobretudo em fontes manuscritas do Arquivo Histórico Ultramarino, designadamente

nos códices do Governo de Moçambique e na série Moçambique do fundo Conselho

Ultramarino. Os acervos da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Centro de História do

Instituto de Investigação Científica Tropical e do Arquivo Histórico Militar foram

também consultados embora mais brevemente e sobretudo a respeito da documentação

cartográfica. Por falta de oportunidade não foi possível consultar presencialmente o

Arquivo Histórico de Moçambique, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e o

Historical Archives of Goa sendo que os documentos citados pertencentes a estes

arquivos foram gentilmente cedidos pela Professora Doutora Eugénia Rodrigues. Para

além das fontes manuscritas recorreu-se também a um conjunto variado de fontes

impressas, de resto, matéria em relação à qual a história do Moçambique moderno se

encontra bem sustentada.

A ausência de livros de tombos e a escassez de outras fontes directamente

relacionadas com a concessão de terras, documentação privilegiada para o estudo dos

processos de apropriação territorial e das elites fundiárias, limitou grandemente a nossa

análise. Face a esta limitação recolhemos, por entre a documentação consultada, todos

os indivíduos que detectámos na condição de proprietários14

chegando ao resultado de

253 proprietários e 264 propriedades (v. Anexo 1, Tabela 1). Através desta abordagem

de cariz prosopográfico foi então possível construir um retrato um pouco mais completo

da sociedade insular no que se refere aos grupos sociais com acesso à terra na Ilha de

Moçambique e Terra Firme. Cremos, por isso, ter-se revelado pertinente a metodologia

adoptada, assim como a recolha de uma base empírica o mais diversificada possível, a

atenção dada à cartografia histórica e às fontes de natureza administrativa e financeira

como mapas de habitantes, relações de dívidas à Fazenda Real, correspondência trocada

13

Antunes, 2001; Hafkin, 1973; Mbwiliza, 1991. 14

Proprietários no sentido em que dispunham do acesso a determinada parcela de terra, fosse um prédio

urbano ou rústico, podendo não possuir necessariamente um vínculo legal sobre ela. Na categoria

proprietários inclui-se a elite cristã (homens e mulheres), macuas, baneanes e, eventualmente,

muçulmanos cujo nomes muitas vezes se confundem entre si. Veja-se, por exemplo, a “Lista dos

palmareiros de Mossuril” na qual ambas as situações ocorrem – “Lista de todos os palmareiros de

Mossuril com declaração dos Lugares onde são Moradores”, 17.Mar.1781, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

35, doc. 94.

Page 22: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

6

entre as autoridades portuguesas presentes em Moçambique (governadores-gerais,

câmara e outras) e entre estas e a coroa.

Quanto à estrutura interna, este trabalho desenvolve-se ao longo de quatro

capítulos. No primeiro capítulo, “Ilha de Moçambique e Terra Firme (séculos XVI a

XVIII)”, faz-se uma breve descrição das condições geográficas e morfológicas da região

e apresenta-se uma breve resenha histórica dos territórios da África oriental portuguesa

entre os séculos XVI a XVIII sobretudo com base em bibliografia secundária. No

segundo capítulo, “Dinâmicas de construção da Terra Firme (1763 - c. 1802)”,

procuramos conhecer a extensão do continente fronteiro sob domínio português, a

ocupação do território por via da intensificação das actividades comerciais e agrícolas e

os consequentes conflitos entre portugueses, suaílis e macuas. No terceiro capítulo, “A

posse e propriedade da terra na Ilha e Terra Firme”, debruçamo-nos sobre as formas de

apropriação territorial destacando o regime jurídico que enquadrou a concessão destas

terras. No quarto e último capítulo “A terra e a elite da Ilha de Moçambique” fazemos

uma breve análise do conjunto dos proprietários de terras na região e, a título de

exemplo, concluímos com o percurso de um destes proprietários, João da Silva Guedes.

Page 23: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

Mapa 1 – A Ilha de Moçambique na costa oriental africana (pormenor da Ilha e Terra Firme no século XIX)

Alpers, 1975: p. 1.

Anónimo (s.d.) [1843], “Demonstração do Porto e Ilhas de

Mossambique”, Gabinete de Estudos Arqueológicos de

Engenharia Militar/Divisão de Infraestruturas 1220 2A -24A-

111.

Page 24: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 25: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

9

CAPÍTULO 1

Ilha de Moçambique e Terra Firme (séculos XVI a XVIII)

Ao longo de cerca de quatro séculos, desde o início da fixação portuguesa no

Sudeste Africano até ao final do século XIX, a Ilha de Moçambique ocupou um lugar de

destaque no conjunto dos territórios da África oriental sob domínio português. Com

efeito, como notou Alexandre Lobato, foi da Ilha que o país que hoje conhecemos como

Moçambique tomou o nome depois de, na década de 1530, aquela ter sido escolhida

para centro das actividades portuguesas na região15

. Capital política e administrativa

desde então até cerca de 1898 foi também centro naval, mercantil, militar e religioso e

uma das principais escalas da Carreira da Índia.

O que motivou a fixação portuguesa na Ilha de Moçambique? Quais os princi-

pais momentos que marcaram o seu crescimento entre os séculos XVI e XVIII? Que

condições fizeram dela a capital dos domínios portugueses na costa oriental africana?

Neste primeiro capítulo vamos procurar explorar estas questões atendendo sobretudo à

forma como as condições geográficas, ecológicas, humanas e socioeconómicas

enquadraram o desenvolvimento da Ilha e Terra Firme.

1.1. A Ilha de Moçambique na costa leste-africana (século XV e XVI)

A 2 de Março de 1498 a Ilha de Moçambique entrava indelevelmente na história

do império português. Nesse dia, a expedição comandada por Vasco da Gama em de-

manda da Índia fundeou no canal de Moçambique junto à Ilha de Goa, depois de já na

costa oriental africana ter escalado Quelimane e antes de rumar a norte com destino a

15

Lobato, 1988: p. 67.

Page 26: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

10

Melinde. Na transição do século XV para o século XVI, a costa oriental africana inte-

grava já a complexa rede comercial do Índico, do século XIII em diante de forma parti-

cularmente activa. Esta integração fez-se por via dos mercadores muçulmanos proce-

dentes das regiões da península Arábica, do sub-continente indiano, da Indonésia e de

Madagáscar que, pelo menos desde o primeiro milénio d.C., ali se foram fixando16

. Do

sucessivo entrecruzamento biológico e cultural entre estes e as populações africanas

nativas – maioritariamente, de matriz etnolinguística bantu – com as quais

estabeleceram relações familiares nasceram as populações suaílis, maioritariamente

islâmicas, que habitavam o litoral africano à época da chegada dos portugueses.

No século XV, a costa suaíli estendia-se ao longo da faixa litoral entre o Mar

Vermelho e Sofala17

, pontuada por cidades e pequenas povoações fundadas, na maioria

dos casos, em ilhas próximas da costa e em zonas de confluência ou próximas das linhas

do comércio asiático com o sertão africano. De uma forma geral, enquanto as povoações

de maior dimensão actuavam como portos supra-regionais com ligação às principais

praças do Índico, as menores desempenhavam em relação a estas um papel de suporte

ao nível do abastecimento de produtos alimentares e outros18

. E, enquanto o comércio

costeiro era dinamizado pelos mercadores suaílis, o comércio de longo-curso estava a

cargo dos referidos mercadores muçulmanos que ali traziam as contas19

e os têxteis

indianos, ambos produtos fundamentais para o resgate das mercadorias africanas dado o

papel social e político de que se revestiam em muitas comunidades leste-africanas en-

16

M.Lobato, 1998: p. 115; M.Lobato, 1996: p. 12; Rita-Ferreira, 1996: p. 31. 17

A maioria dos autores aponta a região de Sofala como o limite inferior da costa suaíli. Michael Pearson,

considera que esta se estenderia para além de Sofala chegando até Inhambane, v. Pearson, 2002: p. 69.

Sobre Sofala, v. Roque, 2012. 18

Newitt, 2004: p.21-22 e Lobato, 1988: p.67-68. 19

As contas eram usadas para adorno e confecção de tecidos e eram feitas em materiais tão diversos

como o vidro (neste caso, sendo designadas de velório ou avelório), pedra, concha, azeviche, madeira,

sementes, barro. Nos séculos XVII e XVIII, consoante as suas características, foram conhecidas por

diferentes designações. O termo missanga, por exemplo, parece referir-se apenas às contas de vidro

grosseiro originárias de Veneza, v. Torres (no prelo) (agradeço à Andreia Torres a consulta deste artigo

em versão ainda preliminar). Em 1758, Inácio Caetano Xavier dá conta desta variedade: “As joias são

compostas de missanga de diferentes cores, e sortes, e de mais estima, as que levão mistura de coral

meudo, e uzão tambem de alguãs de calaim”, Inácio Caetano Xavier, 1758: fl. 7v. As contas comerciadas

na costa oriental africana tinham duas origens principais: Veneza, de onde era remetida por via de Lisboa

e das naus da Carreira da Índia que escalavam a Ilha de Moçambique; e Surrate chegando através dos

mercadores baneanes. As contas de barro vidrado que também circulavam na região procediam de

Balagate, zona igualmente conhecida pela produção de fazendas grosseiras de algodão. Veja-se Antunes,

2001: p.132, Rodrigues, 2010a: p.106-107, Hoppe, 1970: p.260. Alexandre Lobato dá conta da recepção

dos diferentes modelos de contas pelas populações do sudeste africano em Lobato, 1960: p. 42-47.

Page 27: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

11

quanto símbolos de poder utilizados em cerimoniais e no estabelecimento de alianças

familiares e políticas20

.

No que à Ilha de Moçambique diz respeito, para séculos anteriores ao XI, pre-

sumível data da sua ocupação, a sua história é ainda em grande medida desconhecida. À

data de chegada de Vasco da Gama, ela constituía-se como um destes centros suaíli de

pequena dimensão que viviam na dependência de cidades mais dinâmicas como Quíloa,

Zanzibar e Sofala. Apresentava uma clara organização social e económica, sendo go-

vernada por um xeque – apontado como Mussa Ibne Biki – e tendo como principal acti-

vidade a construção e reparação navais. Segundo Malyn Newitt, esta era aliás a “raison

d’être” da Ilha21

. Manuel Lobato, por seu lado, aponta-a, ainda no período suaíli, como

porto de escala quase obrigatória na rota do ouro, em consequência do desvio desta rota

do planalto zimbabweano em direcção a norte fazendo uso do Zambeze22

. Fosse en-

quanto base naval ou enquanto escala na rota do ouro, no final do século XV era já evi-

dente o lugar da Ilha de Moçambique como eixo de várias rotas marítimas e terrestres e

ponto de encontro das gentes e culturas que por elas circulavam. Uma condição aden-

sada nos séculos posteriores, que determinou invariavelmente o seu devir e que, não por

acaso, é assinalada um pouco por todos os que sobre ela têm escrito23

.

Para esta condição contribuiu a posição ocupada pela Ilha de Moçambique no

quadro da navegação do Índico oriental, a 15º 02’ 03’’ de latitude sul e 40º 44’ 09’’ de

longitude este, na que é hoje a província de Nampula. Escala intermédia para quem pro-

cede das regiões da Índia e Arábia e quer passar aos portos mais ao sul do litoral afri-

cano. E, ao contrário, paragem quase obrigatória para quem quer apanhar a monção de

sudoeste e rumar às penínsulas indostânica e arábica. Exactamente no ponto em que a

costa inflecte no sentido norte-sudoeste e se dá o voltear de monção que, praticamente

desde o início, levou a que nela invernasse um número expressivo de navios da Carreira

da Índia que chegavam com atraso à região24

. Ou seja, assinalando “o fim da monção

20

Rodrigues, 2010a: p.106-107; Antunes, 2001: p.130-134. 21

Newitt, 2004: p.25. 22

M.Lobato, 1998: p. 115. 23

A condição de cadinho cultural da Ilha de Moçambique é bastante consensual entre os autores das mais

diversas áreas que a têm pensado ao longo dos tempos. Destacamos aqui, e apenas a título de exemplo,

quatro obras nas quais ela é manifestamente assumida: Oceanos, nº 25, Janeiro/Março, 1996, Angius e

Zamponi, 1999, Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009. Também Orlando Ribeiro partilhou desta

perspectiva descrevendo-a como “maravilhoso búzio onde ressoam todas as civilizações do Oceano

Índico”, v. Ribeiro, 1961: p. 198. 24

Cortesão, 1990: p. 632. Caso a passagem pelo Cabo não fosse feita até à primeira quinzena de Julho, as

naus perdiam a monção favorável que as conduzia à costa do Malabar sendo obrigadas a invernar na

costa oriental africana, onde a Ilha de Moçambique era o porto preferencial de paragem. Neste caso, a

Page 28: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

12

para quem vinha da Índia e o início da nova monção para quem a ela quisesse regres-

sar”, nas palavras de Manuel Lobato25

.

Uma localização também privilegiada no que se refere à navegação de cabota-

gem, pois estando situada “quase ao meio de toda esta costa oriental (…) podia acudir

com facilidade a todos os lugares da sua dependência”. Ademais, naturalmente dotada

de um “porto excelente” onde podiam ancorar “navios de toda a grandeza”, a Ilha tor-

nou-se eixo fundamental na articulação do comércio com os portos próximos da mesma

costa e, bem assim, com portos mais longínquos do Índico, Europa e América26

. Em

suma, condições geográficas singulares que a transformaram numa das principais cida-

des-porto27

do Estado da Índia ao longo da época moderna.

No continente fronteiro, Cabaceira Pequena (a nordeste), Cabaceira Grande (a

norte), Mossuril (a noroeste), Lumbo (a oeste) e Sancul (a sudoeste) formam a baía de

Mossuril à entrada da qual se localiza a Ilha de Moçambique28

, separada daquele por

escassos três quilómetros e meio e orientada no sentido nordeste-sudoeste na linha de

junção das pontas de terra que a limitam, Cabaceira Pequena e Sancul. Baía alongada,

de costa intensamente recortada e repleta de esteiros que são também magníficos pes-

queiros. Serve de porto seguro a pequenas embarcações de fundo raso como, por exem-

plo, os tradicionais pangaios que sulcam as águas da costa oriental africana. Contudo, os

numerosos bancos de coral que a pontuam dificultam a passagem a embarcações de

maior calado como as naus. A estas servia-lhes de ancoradouro natural, e quase sempre

livre de perigos, um canal com cerca de quatrocentos metros de largura máxima e qua-

escala prolongava-se por quase um ano pois a viagem só poderia ser completada no mês de Maio

seguinte, v. Albuquerque, 1978. 25

M.Lobato, 1998: p.115. 26

Cit.: Carta do procurador da Fazenda Real Pedro da Cunha para o secretário de Estado D. Rodrigo de

Sousa Coutinho, 9.Out.1800, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 86, doc. 22 e Albuquerque, 1978: p.7. 27

A Ilha de Moçambique é aqui referida como “cidade-porto” com base no facto do seu desenvolvimento

se ter ficado essencialmente a dever à sua localização próxima de um porto natural que depois se

transformou num relevante porto comercial, v. Biedermann, 2009 apud Kidwai, 1992: p. 25-26. São

vários os autores que vêm perspectivando a Ilha de Moçambique na condição de “cidade-porto”, casos de

Michael Pearson, Malyn Newitt, Isabel Macieira e Eugénia Rodrigues, v. Pearson, 2002; Newitt, 2004 e

2008; Macieira, 2007; Rodrigues, 2010. 28

Em corpo de texto indicam-se apenas as localidades de maior dimensão que rodeiam a baía de

Mossuril. Acrescentam-se aqui as demais pequenas localidades que, em conjunto com as anteriores, a

compõem. De norte para sul, são elas: Cabaceira Pequena, Cabaceira Grande, Murengulo, SemIlha,

Mapeta, Namecanbe, Mondero, São João, Mossuril, Mingorine, Apaga-fogo, Naavara, Iremba, Lumbo,

Bela Vista, Ponta Quisumba e Sancul – cf.: Moçambique: carta hidrográfica do porto de

Moçambique/Missão Hidrográfica de Moçambique (1933), 2ª Edição, escala 1: 25000. Lisboa: Instituto

Hidrográfico, 1975, SGL, 7-C-57 e Hoppe, 1970: p. 71.

Page 29: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

13

renta metros de profundidade situado entre a Ilha e a ponta de São João, na direcção

sueste-noroeste29

.

A sul da Ilha, acessível a pé na baixa-mar, localiza-se o ilhéu de São Lourenço

onde, no final do século XVI, foi levantado um pequeno forte da mesma invocação, em

posição complementar à fortaleza de São Sebastião, cuja construção foi iniciada na dé-

cada de 155030

. Próximas, mas já fora da baía, encontram-se as ilhas de Goa (ou de São

Jorge, orientada a este em relação à Ilha) e de Sena (ou de São Tiago, localizada a su-

deste). Um pouco mais longe, na direcção nordeste, encontram-se as ilhas de Sete Paus,

Injaca e Injaca Pequena. Madagáscar – ou ilha de São Lourenço, como era denominada

pelos portugueses no século XVI –, a cerca de 440 quilómetros na direcção sudeste, tem

a Ilha de Moçambique como o ponto do continente africano mais próximo31

.

A Ilha mede uns meros três Km de comprimento máximo por 350 metros de

largura média e 500 metros de máxima, o que perfaz uma área de cerca de um Km2.

Segundo o governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá (1801-1805), com um

comprimento de passo de vinte e quatro polegadas, era possível percorrer o seu

perímetro em apenas 1½ hora32

. De origem coralina, apresenta um solo arenoso,

relativamente plano, pobre em vegetação natural e fontes de água. Uma situação que

contrasta com a região continental onde os terrenos são mais férteis e a paisagem é hoje

dominada por vastos palmares, hortas e árvores de fruto33

. A sua exiguidade e

esterilidade, por contraponto à maior abundância da Terra Firme, levou a que entre

ambas se estabelecesse uma relação de grande proximidade.

Com efeito, habitar a Ilha dependeu sempre do fornecimento de alimentos e

água do exterior, quer das terras ao redor da baía de Mossuril, quer de pontos mais

distantes como os Rios de Sena, Sofala, Inhambane, ilhas Querimbas (ou Cabo

Delgado), Madagáscar e ilhas Mascarenhas. Esta dependência, já visível no período

suaíli, foi continuada e intensificada no período português. Inclusive, para Alexandre

Lobato, “a ocupação das terras firmes não teve inicialmente outra razão de ser” que não

29

Brito, 1997: p. 213-214; Roque, 1999: p. 47-49; M.Lobato, 1998: p. 25. 30

Inicialmente o forte chamar-se-ia de Santo António tendo sido renomeado de São Lourenço quando

outro forte dedicado a Santo António foi construído na zona sudeste do recinto insular já no século XIX,

v. Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009: p. 72-75. 31

Brito, 1997: p. 213-214; Newitt, 1983: p. 142; Moçambique: carta hidrográfica do porto de

Moçambique/Missão Hidrográfica de Moçambique (1933), 2ª Edição, escala 1: 25000. Lisboa: Instituto

Hidrográfico, 1975, SGL, 7-C-57. 32

Brito, 1997: p. 213; Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009: p. 129. 33

Rodrigues, 2010 e Carta do governador-geral Isidro de Almeida e Sá para o secretário de Estado, AHU,

Cons. Ultr., Moç., 25.Jul.1802, cx. 93, doc. 97.

Page 30: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

14

a de abastecer de frescos a pequena, seca, estéril e rochosa Ilha de Moçambique34

. De

forma breve, procuremos então conhecer a Terra Firme através dos testemunhos dos que

nela viveram ou dos que a conheceram à época.

34

Lobato, 1945: p. 137.

Page 31: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

15

Mapa 2 – A Terra Firme em 1802

José Amado da Cunha, Carta Plana de Mossuril e Cabaceiras, 1802, AHU, CARTm, 064, D. 557

Page 32: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

16

1.2. A Terra Firme no século XVIII

Seguindo de norte para sul em redor da baía de Mossuril, a primeira das princi-

pais povoações portuguesas da Terra Firme era a Cabaceira Pequena, localizada no

braço de terra que se estende obliquamente a oeste em relação à Ilha e cujos terrenos, de

natureza estéril e alagadiça, eram descritos como pouco férteis e nos quais apenas se

cultivavam alguns coqueiros. De acordo com Luís Vicente de Simoni, físico-mor da

capitania entre 1819 e 1821, ali existia à época uma pequena aldeia habitada por pesca-

dores suaílis35

. O número de habitantes entendidos como portugueses seria inexpressivo

mesmo em décadas anteriores. A Cabaceira Pequena sequer é referida na Relação dos

Moradores Portugueses que assistem em Moçambique e seus distritos (1757) e, em

1802, nela apenas viviam três habitantes cristãos36

. Embora não se tratasse de uma

freguesia, dispunha desde a primeira metade do século XVIII da igreja de São João

Baptista, erigida em pedra e cal cerca de 176637

.

À Cabaceira Pequena seguia-se a Cabaceira Grande localizada a uma distância

de quatro a cinco quilómetros da Ilha. Era a segunda povoação portuguesa mais impor-

tante da Terra Firme sendo também freguesia da invocação de Nossa Senhora dos Re-

médios da Cabaceira38

. Ainda segundo Luís Vicente de Simoni, era a mais sadia da

povoações continentais. O seu solo, arenoso mas fértil, produzia “boa fruta” encon-

trando-se a costa da baía de Mossuril quase toda coberta por coqueiros, mangueiras e

cajueiros enquanto, no extremo oposto, a costa da baía de Condúcia era quase toda

“mato virgem”39

.

Caminhando para sul, depois de passar as praias da Mapeta e de São João che-

gava-se ao “dilatado Mossuril” separado da povoação seguinte, o Lumbo, por um es-

treito canal estreito, o rio de Mossuril40

. Apesar de ser considerada pouco saudável de-

35

Sebastião José Botelho, Memoria Estatistica (1833): p. 339 e Luís Vicente de Simoni, Tratado Medico

(1821): fl.32. Sobre Luís Vicente Simoni e o Tratado Medico sobre Clima e Enfermidades de

Moçambique, v. Rodrigues, 2006. 36

“Relação dos moradores portugueses” (1757) e “Mappa do Numero dos Habitantes Christaons, que

possuem nas terras do Lumbo, Ilha de Battû, Calundi, Apagafogo, Ampapa, Monsuril, Mapeta, Cabaceira

Grande, e Cabaceira piquena, Cazas, fazendas Escravos, e da Gente livre, e Feitores, que há nas ditas

terras, as quaes são fronteiras a Ilha de Mossambique”, 20.Ago.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 96,

doc. 62. 37

Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009: p. 131. 38

Relações do número de habitantes da capitania de Moçambique, 24.Ago.1790, AHU, Cons. Ultr., Moç.,

cx. 61, doc. 12 e Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009: p. 140. 39

Luís Vicente de Simoni, Tratado Medico (1821): fls. 32-32v. 40

Cit. Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 285; Luís Vicente de

Simoni, Tratado Medico (1821): fl. 32v.

Page 33: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

17

vido à natureza alagadiça dos seus terrenos, na segunda metade do século XVIII Mossu-

ril era a principal povoação portuguesa. Cerca de 1766, por iniciativa do governador-

geral Baltasar Pereira do Lago (1765-1779), ali foi construída uma casa apalaçada para

recreio e residência de Verão dos governadores-gerais. O complexo incluía uma cisterna

com capacidade para cerca de duas mil pipas de águas, uma horta, um pomar e uma

igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, padroeira que também dava o nome à

freguesia41

.

Mossuril, até então desprovida de água, passou a partir daí a ser a povoação mais

habitada. Em 1821, segundo Simoni, encontrava-se “cheio de casas e fazendas”. Mossu-

ril passou a ser o lugar da Terra Firme preferido pelos insulares para a construção das

suas habitações o que se explicava pela proximidade à casa de veraneio dos governado-

res, mas sobretudo pelo “motivo de ser a chave do comercio do sertão” onde se reali-

zava aquela que, na transição do século XVIII para o XIX, se tornou na maior feira de

escravos da região42

. O oficial britânico Henry Salt de passagem pela Ilha em 1809

apontava também como explicação a suposta protecção conferida pela fortaleza de São

José43

, implantada no limite interior de Mossuril no local “por onde os macuas costu-

mam invadir esta povoação”44

.

Na generalidade, a Terra Firme foi considerada por Joaquim José Varela como

um local bastante aprazível: “as povoações continentais formam hum paiz bem

agradável pelos infinitos palmares que bordam as terras em grande distancia; há

abundancia de mangueiras, de cajueiros, de que estilam muito caju, bons pomares de

laranja da China, mimosas limas doces, limoeiros, romeiras, e cidreiras de que

abundam; faz todo o país bem vistoso na estação de seus frutos”45

. A transferência do

41

Luís Vicente de Simoni, Tratado Medico (1821): fl. 32v; Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania

de Moçambique…” (1788): p. 286-287; Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009: p. 128-129. 42

Luís Vicente de Simoni, Tratado Medico (1821): fl. 32v. 43

Precisamente como forma de conter os ataques macuas, o governador-geral Francisco de Melo e Castro

(1750-1758) ali mandou levantar um forte de faxina. Perante o estado de ruína em que se encontrava,

cerca de 1776, o governador-geral Baltasar Pereira do Lago reconverteu-o numa fortaleza de pedra e cal,

protegida por um fosso e equipada com casa de oficiais, quartel para soldados e auxiliares, armazém,

prisão, cozinha e ermida. Em 1802, a construção encontrava-se novamente bastante destruída prevendo o

governador-geral Isidro de Almeida e Sá gastar na sua recuperação entre 10 a 12 mil cruzados, v. Carta

do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, AHU, Cons. Ultr., Moç.,

20.Ago.1775, cx. 31, doc. 47; Carta do governador-geral Isidro de Almeida e Sá para o secretário de

Estado, AHU, Cons. Ultr., Moç., 25.Jul.1802, cx. 93, doc. 97; Rita-Ferreira, 1982: p. 158-160; Rodrigues,

Nascimento e Rocha, 2009: p. 133-134. Para a localização da fortaleza ver, por exemplo, Gregório

Taumaturgo Brito, Carta Topográfica da Ilha de Mossambique, 1754. 44

Henry Salt, A voyage to Abyssinia (1814): p. 44 e cit. Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de

Moçambique…” (1788): p. 287. 45

Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 285-286.

Page 34: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

18

centro urbano para o continente chegou inclusive a ser equacionada como forma de

estimular o crescimento geral da capitania de Moçambique mas, face à instabilidade

militar da região, a protecção oferecida pela insularidade revelou-se uma enorme

vantagem46

.

Com efeito, a geografia foi, se não o mais, um dos mais importantes agentes da

história da Ilha de Moçambique, simultaneamente condicionando e acondicionando o

seu desenvolvimento. Se, por um lado, a insularidade impôs o seu isolamento físico face

à Terra Firme contígua e a exiguidade limitou o seu crescimento, por outro, a condição

de escala fundamental à navegação e excepcional base naval para a época fizeram dela

um elemento central da economia do império português entre os séculos XVI e XVIII47

.

E foi esta dupla realidade geográfica que enformou a construção das realidades políti-

cas, sociais e económicas da Ilha ao longo do período moderno. Realidades sobre as

quais nos debruçaremos em seguida.

1.3. A Ilha de Moçambique na costa leste-africana (séculos XVI-XVIII)

Já evidente no período suaíli, a ligação entre a Ilha e a Terra Firme irá crescer

para uma relação de grande interdependência sob domínio português, nomeadamente

em consequência da sua afirmação como centro político e económico dos territórios

portugueses na África oriental e com o notável desenvolvimento urbano que experi-

mentou a partir de meados do século XVIII em resultado das medidas tendentes a rea-

firmar a capitania de Moçambique e Rios de Sena no conjunto do empreendimento co-

lonial português. Desde logo, a passagem para administração directa de Lisboa, o

estabelecimento da liberdade de comércio nos portos moçambicanos a todos os súbditos

do império português, a elevação da praça a vila dotada de câmara e o significativo

aumento do tráfico negreiro nos seus portos sobretudo nas últimas décadas do século

XVIII48

. Estes são alguns dos momentos que acompanharemos mais adiante neste

capítulo. Antes, porém, atentemos nas estruturas políticas, sociais e económicas que se

revelam fundamentais para percebermos a Ilha de Moçambique da segunda metade do

século XVIII.

46

António Pinto de Miranda, “Memória sobre a Costa de África…” (1766): p. 272-273 e Rodrigues,

2010. 47

Rodrigues, 2010 e Lobato, 1988: p. 67. 48

Capela, 2008: p. 117 e Capela, 2002: p. 138-140.

Page 35: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

19

1.3.1. Séculos XVI a XVIII

Após um primeiro período de contactos esporádicos, a Ilha de Moçambique foi

permanentemente ocupada pelos portugueses em 1507, depois de, em 1506, a Coroa

portuguesa ter decidido criar duas feitorias e fortalezas em Quíloa e Sofala, à época dois

dos principais centros de comércio do Índico africano, nomeadamente do comércio aurí-

fero. Na Ilha os portugueses instalaram uma feitoria, construíram uma primeira

estrutura fortificada (a torre de São Gabriel49

), uma igreja, um armazém para abrigo de

mercadorias e um hospital50

. Nos anos seguintes, Quíloa foi abandonada (1513) e Sofala

afirmou-se como o centro mercantil, naval e administrativo dos interesses portugueses

no sudeste africano.

Se até à década de 1530 permaneceu na dependência de Sofala, a partir daí a

Ilha foi crescendo associada às condições de porto oceânico e de interface comercial

com outras cidades da costa suaíli, do Mar Vermelho e Índia Ocidental, assim como

com o sertão moçambicano51

. Passou a ser escala preferencial da Carreira da Índia – e

muitas vezes a única – para reabastecimentos, reparação das embarcações e descanso

das tripulações52

. Em meados do século XVI, João de Barros referia que a Ilha de

Moçambique “he hoje a maes nomeada escala de todo o mundo, e per frequentação a

maior que tem os Portugueses”. Na mesma cronologia, Malyn Newitt aponta-a como a

mais importante base naval da Carreira da Índia para além de Goa. Segundo Luís de

Albuquerque, até à década de 1610, as armadas da Índia só não a escalavam em cir-

cunstâncias excepcionais53

.

Em seu desfavor a Ilha tinha, por um lado, uma elevada taxa de mortalidade so-

bretudo decorrente de, na sua maioria, as armadas da Índia terem ali a primeira paragem

após cinco a seis meses de viagem em más condições sanitárias e de alimentação. Por

outro, a presença de correntes, baixios e rochedos mal conhecidos e uma cartografia

49

Tratava-se de uma pequena estrutura defensiva de matriz medieval que, mais do que a uma fortaleza, se

assemelhava a uma torre abaluartada. Considerada obsoleta, foi substituída pela fortaleza de São

Sebastião (c.1558-1583), mais adequada à importância da praça e mais preparada para dar resposta às

investidas militares que se perspectivavam face à crescente ameaça turca. A fortaleza de São Sebastião foi

construída no extremo noroeste da Ilha, à entrada da barra de acesso à baía do Mossuril e terá ficado a

dever o seu projecto ao arquitecto Miguel de Arruda baseado num plano prévio de D. João de Castro.

Acerca do desenvolvimento urbano da Ilha de Moçambique desde a fixação portuguesa até ao século

XVIII, veja-se: Macieira, 2007. 50

Newitt, 2009: p. 19 e Roque, 1999: p. 54. 51

Newitt, 2009: p. 18-27 e Newitt, 2004: p. 25. 52

De entre a bibliografia dedicada à Ilha de Moçambique enquanto escala da Carreira da Índia veja-se,

por exemplo, Boxer, 1961 e Domingues, 1989. 53

Newitt, 2004: p. 29 e Newitt, 2008: p. 115; Albuquerque, 1978: p. 7.

Page 36: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

20

ainda incipiente da região levavam a que, por vezes, fosse seguida a viagem por fora,

pelo Índico central, sem tocar o litoral africano. Porém, fazer escala na Ilha de Moçam-

bique possibilitava a comunicação directa e regular entre Lisboa e os domínios portu-

gueses da África oriental e, sobretudo, constituía-se como uma proveitosa oportunidade

de negócio privado para o oficialato e equipagem das armadas da Índia. Condições que

se revelaram essenciais ao seu crescimento e à sua afirmação política na segunda me-

tade do século XVI54

.

Na década de 1530, depois de um período em que dividiu com Sofala a condição

de centro dos interesses portugueses na região, a Ilha foi escolhida para residência per-

manente dos capitães de Sofala e Moçambique. A partir daí, para além de base naval,

passou também a ser a capital política e administrativa portuguesa e o centro do comér-

cio praticado na região55

. Como forma de tornar viável a sua própria presença, os

portugueses passaram a explorar os circuitos do comércio costeiro desde há longo

tempo montados pelos mercadores suaílis56

. Ao longo do século XVII, em consequência

da fixação marave no continente interior compreendido entre a Ilha de Moçambique e a

margem esquerda do Zambeze, da ocupação do sertão próximo pelas populações ma-

cuas e do redireccionamento das rotas do marfim, cresceram de forma expressiva os

trânsitos comerciais na região envolvente à Ilha, a qual se constituiu no entreposto de

origem e destino de um largo número de rotas que a ligavam, quer aos portos vizinhos,

quer às ilhas próximas do Índico, quer à vasta região do vale do Zambeze onde se situa-

vam os principais mercados abastecedores do ouro e do marfim. Os portugueses partici-

pavam mas este comércio continuou a ser dominado pelos suaílis57

.

Com o intuito de aumentar a participação neste comércio, logo desde a segunda

metade do século XVI, os portugueses ensaiaram a penetração pelo interior e o reco-

nhecimento do litoral africanos. Assim se estabeleceram nas ilhas Querimbas, a norte,

passaram a negociar a sul ao largo de Inhambane e da baía de Lourenço Marques e fun-

daram as povoações de Quelimane (1544), Sena e Tete (ambas c.1561) ao longo do

Zambeze58

. A maioria, regiões com as quais já haviam entrado em contacto por via do

54

Boxer, 1961: p. 98-100; Domingues, 1989; Guinote, 1999. 55

Capela, 1995: p. 16; Newitt, 2004: p. 29; Newitt, 2009: p. 108. 56

Thomaz, 1998: p. 179; Subrahmanyam, 1995: p. 85-86; Lobato, 1988: p. 69. 57

Mbwiliza, 1991: p. 25-26 58

Lobato, 1988: p. 69-70; Newitt, 2009: p. 110 e 119; Capela, 2008: p. 122. Ao longo de Seiscentos o

vale do Zambeze era conhecido por Rios de Sofala ou Rios de Cuama. No século XVIII, a região passou a

ser designada por Rios de Sena e, a partir de meados do século XIX até aos nossos dias, por Zambézia.

Page 37: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

21

comércio, nomeadamente do comércio aurífero praticado com os estados karanga do

Monomotapa (Mukaranga), Manica e Quiteve localizados no planalto a sul daquele rio.

A demanda do ouro, do marfim e, em particular, da prata que ali existia ou se supunha

existir – produtos imprescindíveis para a participação portuguesa nas redes mercantis

interasiáticas – estiveram na base dos programas de territorialização promovidos pela

Coroa portuguesa na segunda metade do século XVI e no decurso da centúria seguinte,

nomeadamente no vale do Zambeze59

.

Por conquista ou aliança com os chefes africanos locais em troca de auxílio mi-

litar, e ainda que por vezes apenas a título formal, os portugueses acabaram por dominar

um território que se estendia até cerca de 120 léguas ao longo do Zambeze60

. Terras que

a Coroa portuguesa incorporou como suas e que passou a aforar aos seus súbditos sob

um regime híbrido que aliava aspectos jurídicos da enfiteuse e da doação de bens da

Coroa, geralmente por um prazo de três vidas e mediante o cumprimento de determina-

das obrigações como o pagamento de um foro e a prestação de serviços militares. Os

designados prazos da Coroa tornaram-se a base do poder e estatuto social dos seus de-

tentores, os quais formaram a elite dos Rios de Sena. Não tendo um carácter obrigatório,

a concessão e sucessão destas terras em mulheres tornou-se uma prática comum, em

grande medida, como expediente para atrair colonos masculinos de origem ou de ascen-

dência europeia. De forma inusitada no império português, as donas dos prazos da

Zambézia alcançaram assim uma posição de grande influência política, económica e

social61

.

No caso da Ilha de Moçambique, uma ocupação mais efectiva do continente

fronteiro poderá também ser compreendida no âmbito deste movimento de territoriali-

zação. Se não incluída numa agenda oficial portuguesa, como resultado do seu dina-

mismo na transição do século XVI para o século XVII enquanto centro articulador de

um comércio crescente entre a costa leste-africana e o sub-continente indiano. A comu-

nidade portuguesa, a início maioritariamente composta pelo pessoal político e militar ao

serviço da coroa e, de forma temporária, pelas tripulações das armadas da Índia, au-

mentou de forma progressiva ao longo de Quinhentos. Sob a designação genérica de

Abarcava parte da actual província com o mesmo nome e das províncias de Tete, Manica e Sofala, v.

Rodrigues, 2000 e Capela, 2008: p. 119. 59

Sobre os projectos comerciais e de territorialização associados à exploração das minas de ouro e prata

empreendidos pela coroa portuguesa, v. Axelson, 1969; Ames, 1998. 60

Newitt, 2009: p. 97-99 e Rodrigues, 2000. 61

Rodrigues, 2002: p. 167-178, 236-241.

Page 38: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

22

moradores ou casados, passou a incluir a população civil de origem portuguesa mas

também indianos, luso-indianos e mestiços (descendentes de casamentos remotos de

reinóis e indianos com africanas) e assumiu-se como a elite insular nos séculos seguin-

tes precisamente na ligação ao comércio e na exploração agrícola das terras continen-

tais62

.

A ocupação portuguesa da região continental fronteira cingiu-se, contudo, a uma

estreita faixa litoral uma vez que este era um espaço fortemente disputado pelas popula-

ções suaílis – os “mouros” das fontes portuguesas – e macuas que o habitavam, já antes

aliás dos portugueses ali se fixarem. A efectivação da presença portuguesa implicou o

rearranjo dos espaços ocupados por estas populações e a reconfiguração das rotas e dos

centros mercantis africanos. Desde logo, a comunidade suaíli instalada na Ilha à data da

chegada dos portugueses transferiu-se para o continente onde fundou as povoações de

Sancul – junto à baía de Mocambo, localizada a sul da baía de Mossuril – e Quitango-

nha – a norte, na baía de Condúcia, região também conhecida por Matibane ou Mo-

sembé63

. Para além de Sancul e Quitangonha, outros núcleos populacionais islamizados

foram fundados ou redinamizados na sequência da fixação portuguesa, casos de Moma,

Sangage, Bajone e Angoche64

(v. Mapa 1).

62

Lobato, 1945: p. 9-12; Rodrigues, 2010; Newitt, 2004: p. 32. 63

Newitt, 2004: p. 31, 33-34; Rita-Ferreira, 1982: p. 91-92, 157-158; Rodrigues, 2006a: p. 60; Hakfin,

1973: p. vi-vii, 8-10. 64

Newitt, 2008: p. 112; Newitt, 2004: p. 27, 33-34; Boxer, 1961: p. 111.

Page 39: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

23

Mapa 3 – A Ilha de Moçambique e a Macuana

Desde sempre conectado com as rotas de longo-curso do Índico e, a partir de

Quinhentos também com as europeias, só no decurso do século XVIII com a participa-

ção nos circuitos do tráfico negreiro o sistema comercial do sudeste africano ganhou

uma dimensão transatlântica. Embora a compra e venda de escravos na região da Ilha de

Moçambique decorresse já em séculos anteriores ao XVI – praticada por suaílis e, a

partir desta data, também por portugueses –, um volume de negócios regular e sistemá-

tico só foi atingido de 1770 em diante por via do aumento do trato com as colónias fran-

cesas do Índico e, posteriormente, com a América portuguesa65

.

Desde as ilhas Mascarenhas onde estavam estabelecidos – Bourbon (actual Reu-

nião, 1642) e ilha de França (actual ilha Maurício, 1714) –, mas também como interme-

diários de Madagáscar, os franceses levavam mantimentos (sobretudo arroz) que troca-

vam por escravos. Datam de 1720 as primeiras abordagens à costa moçambicana em

demanda de escravos por parte dos franceses66

. Grosso modo, entre 1720 e 1770 as de-

mandas francesas acompanharam a dicotomia entre a necessidade de mão-de-obra para

o desenvolvimento nas Mascarenhas de uma economia de plantação baseada nas cultu-

ras do café, açúcar e algodão e a resistência das autoridades portuguesas a este tráfico.

65

Hafkin, 1973: p. x, 25-26 e Capela, 2002: p. 27-48. 66

O tráfico de escravos praticado pelos franceses na África oriental entre 1721 e 1810 é aprofundado por

Edward Alpers e por Jose Capela, v. Alpers, 1970 e Capela, 2002: p. 31-54, respectivamente.

Alpers, 1975: p. 154

Page 40: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

24

A compra de escravos era então esporádica e feita com a cumplicidade de alguns dos

governadores-gerais que, contra as ordens de Lisboa, facilitavam a entrada dos navios

franceses na Ilha ou por contrabando com as chefaturas macuas, suaílis e patamares

portugueses nos pequenos portos e baías do litoral próximo.

De 1771 a 1784 a prática vulgarizou-se, os franceses afirmaram a sua presença

na região e alargaram-na às Querimbas. A partir de 1785, novas directrizes do secretário

de Estado da Marinha e Negócios Ultramarinos Martinho de Melo e Castro tornaram

legal a venda de escravos a troco de mantimentos limitada, no entanto, ao porto da ca-

pital67

. A medida promoveu a expansão do tráfico francês que viveu o seu auge no perí-

odo seguinte, entre 1785 e 1794. Segundo José Capela, um primeiro pico foi atingido

em 1789 com uma exportação de escravos superior à dezena de milhar. A partir de

1794, actividade negreira francesa no leste-africano sofreu perturbações pontuais em

consequência do alargamento das guerras napoleónicas ao Índico. O tráfico com a Amé-

rica Portuguesa, porém, crescia de importância68

.

Embora os primeiros resgates de escravos nos portos moçambicanos com destino

ao Brasil recuem a 1645, até às ultimas décadas de Setecentos a demanda brasileira

manteve-se esporádica e irregular só se tornando significativa nas primeiras décadas de

Oitocentos após a instalação da corte no Rio de Janeiro (1808) e a instauração da liber-

dade de navegação directa entre todos portos ultramarinos (4 de Fevereiro de 1811)69

.

Lisboa procurava promover as ligações comerciais entre Moçambique e o Brasil como

forma de aumentar as receitas aduaneiras da colónia africana e dotar de mão-de-obra a

colónia americana. Designadamente, desde 1769 que os mercadores brasileiros

traficavam na Ilha de Moçambique. Na prática, porém, uma série de circunstâncias

obstavam a este comércio70

.

Por comparação com a costa ocidental, a viagem à costa oriental africana oferecia

mais perigos. Sendo mais demorada incorria, por isso, em taxas de mortalidade mais

67

As directrizes datam de 19 de Abril de 1785 mas só começaram a ser implementadas a partir de 1787.

O secretário de Estado Martinho de Melo e Castro instruiu o governador-geral António de Melo e Castro

(1786-1793), a fazer crer que aquela havia sido uma decisão sua, de maneira a que o comércio com os

franceses continuasse sem que fosse violada a lei geral que proibia a entrada de navios estrangeiros nos

portos ultramarinos, v. Alpers, 1970: p. 111-112 e Capela, 2002: p. 46. 68

Capela, 2002: p. 31-54. 69

Florentino, Ribeiro e Domingues da Silva, 2004. Pelas leis régias de 8.Fev.1711 e 5.Out.1715 estavam

proibidos os negócios com navios de outros estados europeus nos portos ultramarinos, excepto para

refúgio de intempéries, reparações urgentes ou extrema necessidade alimentar, v. Hoppe, 1970: p. 265-

266. 70

Rodrigues, 2011 e Capela, 2002: p. 140.

Page 41: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

25

elevadas. Ademais, dada a proximidade geográfica e relações comerciais já consolida-

das, os mercadores fixados na capital privilegiavam o contacto com os franceses71

. Os

efeitos político-militares da guerra europeia no Índico foram contornados através de

navios de pavilhão neutro e do comércio dos escravos de Moçambique através das

Comores e das Seicheles 72

. Ainda assim, provavelmente em virtude de uma conjuntura

comercial mais instável e do fortalecimento das redes que ligavam as costas oriental

africana e americana, o tráfico transatlântico foi adquirindo maior relevo. Do Rio de

Janeiro partiram cerca de quinze expedições com destino à Ilha de Moçambique entre

1795 e 1811. E, em sentido contrário, entre 1798 e 1810, pelo menos dezassete em-

barcações moçambicanas foram enviadas para a América portuguesa e espanhola73

. O

período seguinte, de 1811 em diante, é apontado por Manolo Florentino como de con-

solidação da costa oriental africana como a “grande fonte abastecedora do Brasil” com

as exportações afro-orientais a conhecerem um ritmo de expansão muito superior ao das

exportações dos portos da costa atlântica74

.

O desenvolvimento do tráfico de escravos foi, com efeito, a via pela qual então

se fez a integração da economia de Moçambique na economia do império português e a

circunstância que possibilitou a formação de um pequeno grupo de mercadores residen-

tes na Ilha de Moçambique com capacidade financeira para participar no comércio de

longa distância. Conforme José Capela, este último era um objectivo desde há muito

intentado por Lisboa. O que se pretendia, diz, “era um grupo estabelecido na Ilha de

Moçambique, senhor de armação própria, que resgatasse a capitania da dependência em

que se mantinha das praças indianas. Isto é, que aí se fizesse a acumulação de capital

sem o qual a independência administrativa de Moçambique seria uma ficção e nulo o

seu contributo para o projecto colonial”75

.

Em traços largos, debruçámo-nos a sobre a economia leste-africana e as redes

comerciais da Ilha de Moçambique entre os séculos XVI e XVIII. Centremo-nos agora

nos principais acontecimentos e na conjuntura política do século XVIII fazendo, a espa-

ços, incursões em períodos anteriores para explicitar algumas questões deixadas em

aberto. Como se posicionaram as autoridades portuguesas perante os múltiplos actores

71

Carreira, 2005. 72

Capela, 2002: p. 48-54. 73

Florentino, Ribeiro e Domingues da Silva, 2004 e Carreira, 2005. 74

Florentino, Ribeiro e Domingues da Silva, 2004: p. 93-96. 75

Capela, 2002: p. 141.

Page 42: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

26

político-económicos em cena na região? Que medidas foram tomadas no sentido de

consolidar a presença portuguesa? Quais as consequências destas medidas?

1.3.2. A autonomia do Estado da Índia: principais transformações políticas,

económicas e sociais

Por decreto régio de 19 de Abril de 1752 a capitania de Moçambique e Rios de

Sena foi subtraída à jurisdição do Estado da Índia e colocada sob administração directa

do Conselho Ultramarino e da secretaria de Estado da Marinha e dos Negócios Ultrama-

rinos. Quatro dias mais tarde, a 23 de Abril de 1752, um aditamento ao decreto anterior

criava o governo-geral de Moçambique e Rios de Sena. Conforme anunciava o próprio

diploma, a medida visava combater a “prezente decadência do Governo de Mossambi-

que”, baseava-se na suposição de que para isso “seria mais conveniente separa-lo do de

Goa para seu restabelecimento”76

e é consensualmente encarada como um ponto de

viragem na história da África oriental portuguesa pela historiografia que a ela se de-

dica77

. Era o princípio do fim da subordinação política e administrativa de quase dois

séculos e meio, iniciada em 1505 com a criação do Estado da Índia e durante a qual a

região se afirmou como uma das mais relevantes para o império português enquanto

vértice indispensável do sistema comercial mantido pelos portugueses no Índico.

Uma condição que, aliás, havia muito lhe valia o assédio das potências europeias

e asiáticas. Logo em 1604, escassos dois anos após ter sido criada, a Vereenigde Oost-

Indische Compagnie (VOC) fez uma primeira abordagem à Ilha de Moçambique

colocando-a sob cerco militar pouco depois, em1607 e 160878

. Apesar da violência dos

confrontos e da destruição parcial do espaço urbano, os portugueses conseguiram suster

as ofensivas neerlandesas graças à protecção prestada pela fortaleza de São Sebastião e

ao apoio dispensado pelas comunidades africanas e suaílis vizinhas. Desde meados do

século XVI, com a construção dos equipamentos defensivos – nomeadamente a

fortaleza de São Sebastião, considerada a segunda maior do Estado da Índia – e o

estacionamento de um contingente previsto de cerca de sessenta homens, a Ilha passou

também a ser o centro do poder militar português na África oriental79

. Frustrada a

pretensão de ali se fixarem, os neerlandeses acabaram por se instalar junto ao cabo da

76

Apud Hoppe, 1970: p. 63. 77

Cf.: Lobato, 1957 e 1989 e Hoppe, 1970. Também a historiografia mais recente se serve do ano de

1752 como ferramenta analítica para pensar a evolução histórica da região, veja-se por exemplo: Araújo,

1992; Rodrigues, 2003; Wagner, 2007; Antunes e M.Lobato, 2006; Capela, 2008. 78

Sobre os cercos neerlandeses à praça de Moçambique, v. Durão, 1952 e Axelson, 1969. 79

Newitt, 2008: p. 115-117, 119; M.Lobato, 1996: p. 20-21; Newitt, 2009: p. 169-170.

Page 43: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

27

Boa Esperança, em 1652, e ao longo do século seguinte tentaram repetidamente

conquistar bases territoriais sólidas no litoral africano a partir das quais pudessem impor

o seu próprio comércio80

.

Em igual período, o mesmo era tentado por franceses que, por via da Compagnie

française pour le commerce des Indes orientales, se estabeleceram na ilha de Bourbon

(actual Reunião, em 1642) e em Madagáscar (Fort Dauphin, 1649), e por ingleses, de-

signadamente através da East India Company (EIC) cujas embarcações usavam o porto

de Anjouan (arquipélago das Comores) como escala de descanso e negócios. Para além

das potências europeias, os portugueses enfrentavam também os árabes omanitas da

dinastia Yarubi (1624-1738) os quais, após tomarem Mascate em 1650, ensaiavam ex-

pandir-se às costas ocidental indiana e africana do Estado da Índia oriental.

A Ilha de Moçambique e as Querimbas foram cercadas na década de 167081

.

Mombaça, que havia sido conquistada em 1590 ante a ameaça turca e albergava uma

pequena comunidade portuguesa de solteiros ligados ao comércio, um corpo militar

estimado em cerca de 100 homens adstrito à fortaleza de Jesus (1593) e, desde 1597,

uma pequena comunidade de frades agostinhos, foi tomada pelos omanitas em 169882

.

Assim como, no mesmo período, outros pontos da costa suaíli sobre os quais os portu-

gueses reclamavam autoridade acabaram por ser integrados no império omanita, casos

de Pate, Zanzibar, Pemba e Melinde. Para a Ilha de Moçambique e Terra Firme em

particular, o estabelecimento dos omanitas a norte das Querimbas acabou por se tornar

vantajoso, já que as disputas políticas posteriores entre estes e as populações suaílis

levaram a que a região se afirmasse como o principal entreposto distribuidor do comér-

cio africano e asiático, sobretudo no que ao marfim diz respeito83

.

No final do século XVII, perante a crescente ameaça de neerlandeses, franceses,

omanitas e, em menor grau, de ingleses, a África oriental portuguesa atravessava então

uma conjuntura adversa. Acrescia o declínio da Carreira da India, a partir de 1650 inca-

paz de concorrer com a VOC e a EIC na rota comercial Europa-Ásia84

, isto apesar da

sua parcial reanimação com a criação da Companhia Comercial das Índias Orientais,

como nos mostra Luís Frederico Antunes85

. Porém, no espaço de apenas quatro décadas,

80

Hoppe, 1970: p. 248-252 e Newitt, 2008: p. 119. 81

Newitt, 2009: p. 167-176 e Newitt, 1983: p. 151-152. 82

Newitt, 2009: p. 24; Pearson, 2010: p. 108 e 111; Pearson, 2002: p. 133. 83

Sobre queda de Mombaça, v. Axelson, 1969: p. 155-175. 84

Guinote, 1999. 85

Em 1685, D. Pedro II propôs a fundação de uma companhia, segundo o modelo já instituído por outras

nações europeias, que explorasse em simultâneo o comércio da rota do Cabo e das rotas comerciais

Page 44: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

28

o Estado da Índia assistiu à perda das praças de Ormuz (1622), Colombo (1656), Jaffna

(1658), Malaca (1661), das fortalezas do Canará (década de 1650) e do Malabar (desig-

nadamente Cochim, em 1663), para além da já referida tomada de Mascate.

O Moçambique sob soberania portuguesa que, à data, compreendia as regiões

litorais da Ilha de Moçambique e Terra Firme, ilhas Querimbas, Inhambane e Lourenço

Marques, e, ao longo do Zambeze, as povoações de Quelimane, Sena, Tete, as feiras do

Zumbo e de Manica, constituiu-se, assim, como um dos mais relevantes territórios no

conjunto do Estado da Índia86

. Nas palavras de Malyn Newitt, na sua mais extensa e

rentável capitania87

, o que decorria sobretudo do dinamismo das rotas comerciais que a

ligavam aos portos da Província do Norte. Nomeadamente Diu, em particular depois de,

em 1686, o seu comércio externo ter sido entregue à comunidade mercantil baneane. A

denominada Companhia de Comércio dos Mazanes obteve nesse ano o monopólio das

viagens entre este porto e Moçambique e, em breve, os mercadores baneanes passaram a

dominar as ligações entre os portos portugueses do Guzerate e Malabar e a costa

oriental africana88

.

Face às dificuldades sentidas por Goa em lidar com as investidas (comerciais e

territoriais) de europeus e asiáticos que se faziam sentir desde as primeiras décadas do

século XVII – queda de Baçaim (1739) e Chaul (1740) em consequência do conflito

luso-marata (1737-40)89

–, a Coroa portuguesa separou administrativamente os

territórios Moçambique e Rios de Sena do Estado da Índia no ano de 1752. Decretada a

autonomia administrativa, política e militar, a autonomia económica, porém, só foi

decidida em 1755, já que o monopólio do comércio com o Estado da Índia continuou a

ser administrado pelo Conselho da Fazenda sediado em Goa. A “Lei sobre o

Commercio de Moçambique” de 10 de Junho de 1755 veio alterar a situação de

dependência económica abrindo o comércio nos portos moçambicanos a todos os

súbditos do Estado da Índia e a todas as mercadorias – com excepção das contas que

asiáticas. A Companhia Comercial das Índias Orientais ganhou estatuto jurídico em 1687 mas só em 1694

começou a funcionar em pleno tendo sido dissolvida apenas cinco mais tarde, em 1699 - v. Antunes,

2011. Do mesmo modo, anos antes havia sido criada a Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649-

1720). 86

Capela, 2008: p. 121-122; Rodrigues, 2003: p. 335. 87

Newitt, 2008: p. 120, 123-124 e Pearson, 2002: p. 132. 88

Antunes, 2001. 89

Antunes, 1998: p. 73-75; Antunes e M.Lobato, 2006: p. 309-313; Carreira, 2006: p. 82-83.

Page 45: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

29

permaneceram estancadas até 1763, embora a lei só tivesse sido executada a 29 de Julho

de 1757 dada a oposição interna do próprio governador-geral90

.

Em 1761 a liberdade de comércio foi estendida aos demais súbditos do império,

mais uma vez apenas tendo execução dois anos mais tarde91

. Esta era uma de entre as

muitas medidas respeitantes ao comércio da África oriental portuguesa previstas no

conjunto das Instruções Gerais de 7 de Maio de 1761 dadas ao governador-geral indigi-

tado, Calisto Rangel Pereira de Sá92

, e dos diplomas complementares de 1763. Con-

quanto este tivesse desde o início assentado num regime monopolista, até meados de

Setecentos várias formas de gestão comercial foram adoptadas em função das diferentes

conjunturas políticas e financeiras. Quer explorado directamente pela Coroa portuguesa

por intermédio dos capitães de Sofala e Moçambique (até 1592), pela Junta de Comér-

cio de Moçambique e Rios de Sena (1673-1681; 1691-1693; 1700-1719; 1722-1743),

ou pelo Conselho da Fazenda do Estado da Índia (1744-1757). Quer arrendado aos

capitães ou governadores por valor, tempo e obrigações determinados a priori – a de-

nominada “mercê de Sofala” – ou à já referida Companhia Comercial das Índias Orien-

tais (1694-1699). Ou, ainda, em regime de liberdade comercial para os súbditos do Es-

tado da Índia entre 1593 e 1595, 1682 e 1690, e, enfim, de 1755 em diante93

.

O monopólio régio do comércio exercia-se então, no que aos mercados internos

diz respeito, sobre Quelimane, Sofala e Inhambane, os chamados “portos vedados”, e

recaía apenas sobre alguns dos artigos negociados por grosso, as chamadas “fazendas de

lei” ou “vedadas”. À data, nesta categoria incluía-se o marfim, no caso das mercadorias

exportadas, e, no caso das importadas, a missanga, determinados tecidos indianos de

maior qualidade, armas de fogo e pólvora. Todas reservadas, em primeiro lugar, aos

governadores ou à Fazenda Real e sendo apenas acessíveis aos moradores a retalho ou

por revenda94

. Por oposição, as mercadorias de venda livre podiam ser comerciadas por

qualquer pessoa interessada. Relativamente ao comércio externo, este baseava-se na

ligação a Goa dinamizada pela Superintendência do Comércio de Moçambique, uma

dependência do Conselho da Fazenda do Estado da Índia na Ilha de Moçambique; na 90

Hoppe, 1970: p. 122-124, 139-142, 213; Lobato, 1989: p. 229; Rodrigues, 2003: p. 337-338; Antunes e

M.Lobato, 2006: p. 302-303. 91

Bando do governador-geral João Pereira da Silva Barba, s.d. [1763], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23,

doc. 17. 92

Calisto Pereira de Sá morreu antes de chegar a Moçambique, pelo que as instruções régias foram

empreendidas pelos governadores-gerais seguintes, nomeadamente, João Pereira da Silva Barba (1763-

1765), o governador-geral que lhe sucedeu, v. Hoppe, 1970, p. 230. 93

Araújo, 1992: p. 127 e segs.; Rodrigues, 2010a: p. 103-104; Newitt, 2009: p. 107-125; Hoppe, 1970: p.

25-38. 94

Lobato, 1989: p. 199-208; Rodrigues, 2010a: p. 103-104; Hoppe, 1970: p 122-124.

Page 46: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

30

ligação ao porto de Damão para onde era enviado um navio armado pelo castelão de

Moçambique; e na ligação a Diu, contratada pela Companhia de Comércio dos Maza-

nes95

. Fora do monopólio régio encontrava-se o trato com a Terra Firme, com a costa

norte até às ilhas Querimbas e com as ilhas do Índico (Madagáscar e Comores96

),

regiões que formavam o mercado exclusivo dos moradores. Um privilégio que lhes fora

garantido nos finais do século XVI com o intuito de abreviar o crónico problema de

abastecimento da região97

.

A ilha-capital era o centro articulador deste comércio, por onde todas as

mercadorias deviam passar de forma a serem examinadas e tributadas e a fim de se evi-

tarem irregularidades e negócios paralelos. A ela deviam dirigir-se todas as embarca-

ções da Europa, América ou Ásia de maneira a que se transformasse no “Emporio de

todo o commercio, e navegação daqueles Portos” e que fosse dotada da força e cabedais

de onde deviam “sair todos os meyos, e todas as influencias para o estabelecimento, e

para o aumento de todas as outras colonias daquelle importante Territorio”98

. Com

efeito, a centralização das actividades económicas e comerciais e a entrega do monopó-

lio do trato costeiro aos moradores tinha por objectivo a criação de um grupo de arma-

dores e comerciantes sediados na Ilha suficientemente influentes ao nível financeiro

para obstar à dependência de Moçambique do Estado da Índia e dos mercadores hindus

e muçulmanos que dominavam o seu trato externo99

.

Resumidamente, à separação da capitania de Moçambique e Rios de Sena do

Estado da Índia (1752), seguiu-se a liberdade de comércio (1757 e 1763), a interdição

de práticas comerciais aos governadores-gerais (1720) e demais oficialato, sendo tam-

bém decidido que os soldos destes fossem pagos em moeda e não em panos como era

feito até aí (1757). Finalmente, nas disposições de 1761-1763 constavam uma série de

medidas de carácter não só económico e comercial mas também político, administra-

tivo, militar e religioso tendentes a “civilizar” e “reformar” a África oriental portuguesa,

inspiradas na legislação das capitanias do Brasil e no âmbito da política ultramarina de

Pombal prevista para todo o império100

.

95

Rodrigues, 2010a: p. 103-104 e Antunes e M.Lobato, 2006: p. 301-303. 96

Sobre as redes comerciais do arquipélago das Comores antes do século XIX, v. Newitt, 1993. Sobre

Madagáscar, v. 97

Newitt, 1970: p. 147-148; Newitt, 2009: p. 177-178; Hoppe, 1970: p. 71-72. 98

Rodrigues, 2010a: p. 103; Hoppe, 1970: p. 130; Carta régia para o governador-geral Calisto Rangel

Pereira de Sá, 28.Mai.1761 apud Hoppe, 1970: p. 345-347. 99

Hoppe, 1970: p. 230 e Capela, 2002: p. 138-141. 100

Hoppe, 1970: p. 280 e segs. e Rodrigues, 2003: p. 337-343.

Page 47: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

31

Do ponto de vista económico, a reforma de 1761-1763 dava continuidade às me-

didas de reorganização das actividades comerciais e financeiras com a supressão dos

monopólios e do comércio privado praticado por oficiais régios, militares e religiosos, a

proposta de uniformização dos pesos e das medidas pelos padrões usados no reino, a

instituição da secretaria do governo e da Junta do Crime, a centralização da administra-

ção financeira no Erário Régio (22 de Dezembro de 1761) e na Provedoria, o organismo

localmente encarregue da fiscalização da receitas e despesas da Fazenda Real101

.

A nível social, em 1763, foi estendido a Moçambique o diploma que estabelecia

a igualdade legislativa entre os naturais do reino e os cristãos do Estado da Índia. No

sentido de fixar população empenhada na defesa da colónia e no serviço à coroa portu-

guesa, era incentivada a escolha preferencial de naturais para a ocupação dos ofícios

régios em detrimento de reinóis. Aplicada a Moçambique, esta legislação passou a dizer

respeito não apenas aos efectivamente originários da Índia, mas também aos naturais da

região102

.

A nível administrativo foram, por fim, estabelecidas instituições concelhias na

Ilha de Moçambique, Quelimane, Sena, Tete, Ibo, Zumbo, Sofala e Inhambane. No caso

da Ilha, a elevação a vila dotada de câmara era uma medida deste há longo tempo recla-

mada pelas autoridades locais e moradores. Estes últimos, até aí associados em torno da

Misericórdia que ali exercia parte das funções municipais atribuídas à generalidade das

câmaras103

, viam agora ser cumpridos os desejos de uma participação política eventual-

mente mais representativa e eficaz na defesa dos seus próprios interesses. Sob jurisdição

da câmara da Ilha de Moçambique foram colocadas as povoações da Terra Firme,

Mossuril, Cabaceira Grande e Cabaceira Pequena104

.

As disposições de carácter religioso iam no sentido do exercício de um maior

controlo sobre o clero, em particular o regular. Assim, apenas seria atribuída uma paró-

quia aos religiosos regulares na falta de seculares e, a uns e outros, estava proibida

qualquer prática comercial105

. De resto, mantinha-se a situação vigente desde 1612, ano

em que por Breve do papa Paulo V a circunscrição eclesiástica de Moçambique com-

preendida entre o Cabo de Guardafui e o da Boa Esperança – ou seja, Mombaça, Zanzi-

bar, Ampaza, Cabaceira, Sofala, Tete e Rios de Sena – foi separada da arquidiocese de

101

Hoppe, 1970: p. 156-171 e Rodrigues, 2003: p. 337-343. 102

Rodrigues, 2003: p. 341-343 e Wagner, 2007: p. 79-82. 103

A respeito das Misericórdias de Moçambique e funções por elas desempenhadas antes da criação dos

municípios, v. Rodrigues, 2007. 104

Lobato, 1945: p. 141; Rodrigues, 2011a; Antunes, 2006. 105

Hoppe, 1970: p. 170-173; Rodrigues, 2003: p. 342; Antunes e M.Lobato, 2006: p. 327.

Page 48: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

32

Goa passando a ser administrada por um clérigo regular ou secular provido pelo rei, por

tradição um dominicano106

. A Ordem dos Pregadores dominicanos fora a primeira a fi-

xar-se na Ilha de Moçambique (1577) desenvolvendo acção missionária de forma exclu-

siva até à chegada da Companhia de Jesus, em 1610. A Ilha era o centro coordenador de

ambas as Ordens que dali acompanharam a missionação do vale do Zambeze, ao longo

do qual fundaram igrejas. Por fim, os jesuítas foram expulsos em 1759 e os seus bens,

que incluíam um expressivo número de palmares na Terra Firme, confiscados107

.

A nível militar, as disposições incumbiam o governador-geral do provimento

alimentar, do fardamento e do pontual pagamento do contingente estacionado na Ilha de

Moçambique. Em meados de Setecentos este contingente cifrava-se em 300 dos quais

saiam ainda os destacamentos das outras praças da colónia108

.

O processo autonómico da capitania de Moçambique e Rios de Sena em relação

ao Estado da Índia estendeu-se ao longo de cerca de onze anos, entre 1752 e 1763. No

decurso deste período, a região sofreu profundas transformações. No seu conjunto, as

reformas encetadas por Lisboa, a expansão do tráfico de escravos possibilitaram a acu-

mulação de capital na Ilha de Moçambique e a criação de um corpo mercantil nela sedi-

ado já com alguma dimensão na transição de Setecentos para Oitocentos109

. E, para

além deste, continuaram os negócios do ouro e do marfim que haviam marcado as duas

centúrias anteriores.

106

Cópia do Breve In supereminenti do papa Paulo V [1612], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 32, doc. 75

(anexo da Carta da rainha D. Maria I para o governador-geral Baltasar Pereira do Lago, 18.Mar.1779); v.

também Marques, 2006: p. 338 e Lobato, 1989: p. 103-123. 107

Rodrigues, 2003: p. 341-343 e Antunes e M.Lobato, 2006: p. 326-330. 108

Hoppe, 1970: p. 160; Rodrigues, 2006a: p. 61. 109

Capela, 2002: p. 138-156.

Page 49: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

33

CAPÍTULO 2

Dinâmicas de construção da Terra Firme (1763 - c.1802)

Como notámos no capítulo anterior, a segunda metade do século XVIII foi um

período profundas transformações na Ilha e capitania de Moçambique, nomeadamente a

partir da autonomização administrativa, em 1752. A medida revelou-se o preâmbulo das

reformas promovidas na África Oriental portuguesa sob o signo de Sebastião José de

Carvalho e Melo. No âmbito da política reformista de Pombal para o conjunto imperial

português os territórios da costa oriental africana ocupavam uma posição periférica, a

que se somava a secular dependência comercial face ao Estado da Índia. América

portuguesa e Estado da Índia foram consideradas as colónias prioritárias e em proveito

das quais se organizaram os monopólios e as liberdades comerciais que caracterizaram a

política económica pombalina110

.

O diploma de 10 de Junho de 1755 abriu o comércio nos portos moçambicanos a

todos os súbditos do Estado da Índia e a todas as mercadorias com o objectivo de pro-

mover a livre circulação entre os dois espaços. Contudo, só a partir da reforma de 1761-

1763, a capitania de Moçambique mereceu particular atenção da Coroa com a aplicação

de uma nova política comercial conducente à sua activa integração na economia do

império português no cumprimento do Pacto Colonial, cuja essência residia na

subordinação do desenvolvimento das colónias aos interesses económicos do reino111

.

Em 1763, a liberdade comercial nos portos moçambicanos foi estendida a todos

os súbditos do império, limitada porém ao porto da Ilha e ficando reservado aos arma-

110

Capela, 2002: p. 138-141 e Hoppe, 1970: p. 310-315. 111

Hoppe, 1970: p. 310-315 e Carreira, 2005: p. 3.

Page 50: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

34

dores e mercadores nela residentes o comércio costeiro e com o interior africano112

. A

acumulação de capital e a fixação de um corpo de mercadores e armadores que no seu

conjunto as reformas pombalinas tentavam promover só ocorreria, todavia, nas duas

últimas décadas de Setecentos, não tanto devido aos intentos de Lisboa mas mais em

consequência da sistematização do tráfico de escravos fomentado, antes de mais, pelos

franceses das ilhas Mascarenhas113

. O desenvolvimento do tráfico de escravos na África

Oriental portuguesa foi, com efeito, a circunstância que permitiu a constituição de um

pequeno grupo de mercadores locais com capacidade financeira para armar frotas

negreiras com destino aos portos do Índico e do Atlântico, concorrendo directamente

com os armadores franceses, baneanes, reinóis, luso-brasileiros e espanhóis de Havana e

Montevideu, e a via pela qual se fez a integração da economia de Moçambique na

economia do império português114

.

Neste contexto, a que se somou a elevação da praça à dignidade de vila e muni-

cípio e tendo continuado a exportação de marfim e ouro, a Ilha de Moçambique viu re-

forçada a sua posição de capital política, administrativa, mercantil e económica dos do-

mínios portugueses da costa oriental africana. Consequentemente, crescia a população

da Ilha e da região envolvente. Quer a população residente – em particular, oficiais da

administração portuguesa, militares e comerciantes –, quer a população flutuante – es-

cravos e mercadores que ali iam por apenas alguns meses tratar de negócios115

. Alguns

autores sublinharam já que este dinamismo comercial e demográfico promoveu a

complexificação administrativa e o crescimento do espaço insular116

. Outros notam

também o desenvolvimento da Terra Firme enquanto espaço adjacente e complementar

à Ilha117

.

Dada a sua manifesta exiguidade parece, de facto, evidente que a conjuntura de

prosperidade então vivida se tenha repercutido no desenvolvimento da área continental

fronteira à Ilha e com a qual desde há longo tempo esta mantinha uma relação de grande

dependência. Pese embora a plausibilidade da asserção, faltam estudos sistemáticos que

112

Capela, 2010: p. 22-23. 113

Capela, 2002: p. 138-141. 114

Capela, 2002: p. 138-141 e Capela, 2008: p. 118-119. 115

Antunes, 2006: p. 199; Antunes e M.Lobato, 2006: p. 270. Ana Paula Wagner apresenta alguns

quantitativos da população cristã da Ilha de Moçambique e Terra Firme na segunda metade do século

XVIII. Segundo a autora, em 1777, a Ilha teria c. 245 habitantes, Mossuril c. 69 hab. e as duas Cabaceiras

c. 78. Em 1794, os quantitativos haviam na generalidade subido para c. 362 hab. na Ilha e c. 127 hab. em

Mossuril e mantiveram-se nas Cabaceiras em c. 77 hab., v. Wagner, 2007: p. 261-264. 116

Lobato, 1988; Liesegang, 1999; Antunes, 2001 e 2006; Rodrigues, 2010. 117

Lobato, 1945; Rodrigues, 1998 e 2010b; Antunes, 2001; Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009.

Page 51: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

35

a confirmem e que dêem a conhecer o processo de colonização portuguesa da Terra

Firme entre meados e o final do século XVIII. Como contribuíram o acentuar de capi-

talidade, o aumento do tráfico negreiro e o acréscimo populacional para a ocupação e

apropriação dos espaços da Terra Firme pelos portugueses? O abastecimento alimentar

da ilha-capital era agora um problema de resolução ainda mais difícil que podia ser

solucionado, ou pelo menos atenuado, pela exploração agrícola do seu termo. Assim,

até que ponto agricultura e comércio se constituíram como motores da colonização

portuguesa no continente fronteiro à Ilha de Moçambique?

2.1. Limites territoriais e documentais da Ilha de Moçambique

A exemplo do que vem sendo feito pela historiografia recente, talvez o melhor

método para responder às questões atrás levantadas fosse usar como fontes primaciais

os registos das concessões de terras feitas pela administração portuguesa. Contudo, no

estado presente da questão sobre a posse e propriedade na Ilha de Moçambique e no seu

termo, esta é uma tarefa complexa. Não se identificaram no âmbito desta pesquisa mais

do que quatro registos directamente relacionados com o aforamento de terras na Ilha e

Terra Firme118

. Uma das razões para tal parece ser o desaparecimento “dos seis

primeiros livros de cartas forais e os dois primeiros registos de aforamentos que houve

no Tombo Municipal” referido por Alexandre Lobato119

. Perante esta lacuna docu-

mental, central para a discussão do regime jurídico que enquadrou a posse e propriedade

da terra na Ilha de Moçambique120

, lancemos mão a outros testemunhos, necessari-

amente mais indirectos, para antes de mais tentarmos perceber qual era a extensão da

Terra Firme portuguesa no período em análise, isto é, entre 1763 e 1802.

118

São eles: a) Carta de confirmação do aforamento feito por D. Estêvão de Ataíde a António Ferreira,

HAG, Mercês Gerais, cód. 812, fl. 136; b) Processo de aforamento de um mato localizado em Mossuril a

Aruno Sangy, 24.Out.1755, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 11, doc. 64; c) Carta de aforamento de um chão

no Lumbo passada a Plácido José Mascarenhas e D. Maria Quitéria Teles de Carvalho de Sousa,

6.Mai.1785, AHU, Gov. Moç., cód. 1355, fls. 94-95, 264; d) Requerimento de Francisco Ferreira da

Graça ao governador-geral, ant. 20.Jun.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 291v-293v. A demais

informação sobre o regime dos prazos na Ilha de Moçambique encontra-se dispersa por documentos

variados, desde a correspondência trocada entre Lisboa e Moçambique, entre as autoridades locais,

bandos dos governadores, acórdãos camarários, entre outra documentação citada ao longo deste trabalho. 119

Lobato, 1945: p. 138-143. Para além de um dos mais prolíficos estudiosos da história de Moçambique,

Alexandre Lobato foi também director do Arquivo Histórico Moçambique na década de 1970. 120

Em 1958, Caetano Montez, à época conservador do Arquivo Histórico Moçambique, referia a

existência de um livro de registo das cartas de aforamento emitidas entre 1788 e 1815 e dois tombos de

aforamentos (1783-1788 e 1799-1852) então à guarda da câmara municipal da Ilha de Moçambique. Não

nos foi possível consultar esta documentação no âmbito da presente investigação, nem tão-pouco sabemos

se ainda se encontra conservada e disponível para consulta, v. Montez, 1958: p. 7.

Page 52: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

36

Até aí com o estatuto de praça, a Ilha de Moçambique foi elevada à categoria de

vila com os privilégios das demais vilas do reino pelas cartas régias de 7 e 18 de Maio

de 1761121

, embora a decisão só tenha tido consequência dois anos mais tarde com a

fundação da câmara de Moçambique, a 19 de Janeiro de 1763122

. As instruções de 1761,

reiteradas pelo secretário de Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos Francisco

Xavier de Mendonça Furtado (1760-1769), em 1763, determinavam que a municipaliza-

ção da capitania de Moçambique observasse, no que fosse possível, os fundamentos da

criação da capitania de São José do Rio Negro e da sua capital, Barcelos, fixados na

carta régia datada de 3 de Março de 1755 de que remetia cópia123

.

No caso da Ilha, o governo-geral João Pereira da Silva Barba (1763-1765) dava

conta da pronta execução das ordens emitidas por Lisboa, excepto no que dizia respeito

à concessão de terras na Terra Firme pois, conforme esclarecia, estando previsto que a

câmara podia fazer aforamentos até um limite de seis léguas, o termo da vila não tinha

“seis léguas de distância”. Em 1790, escrevendo à rainha sobre o “deplorável estado”

em que achou Moçambique, Manuel do Nascimento Nunes124

considerava que o espaço

ocupado pelos portugueses media, se tanto, 1,5 léguas de comprimento por 3/4

de légua

de profundidade, ou seja, 9,80 Km de extensão litoral por 4,90 Km de profundidade

interior125

. De acordo com a representação cartográfica elaborada em 1802 pelo

sargento-mor José Amado da Cunha, a Terra Firme teria cerca de 9,68 Km de

comprimento por 4,69 Km de profundidade de extremo a extremo126

. O equivalente a

121

Carta de régia para o governador-geral Calisto Rangel Pereira de Sá, 9.Mai.1761, AHU, Gov. Moç.,

cód. 1323, fls. 42-44v e Carta do governador-geral João Pereira da Silva Barba para o secretário de

Estado, 20.Jul.1763, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 59. Sobre o processo de municipalização da

capitania de Moçambique, v. Rodrigues, 1998a e Liesegang, 2001. 122

Auto de criação da câmara de Moçambique, 17.Ago.1763, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 82. 123

Carta do governador-geral João Pereira da Silva Barba para o secretário de Estado, 20.Jul.1763, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 59 e Carta régia para o governador do Grão Pará e Maranhão Francisco

Xavier de Mendonça Furtado, 3.Mar.1755, AHU, Gov. Moç., cód. 1323, fls.33-36v. A referida carta régia

de 3.Mar.1755 criava a capitania de São José do Rio Negro por desmembramento da capitania do Grão-

Pará. Vejam-se a este propósito os trabalhos de Renata Araújo, por exemplo: Araújo, 1998 e 2012. 124

Manuel do Nascimento Nunes, advogado, natural de Portugal, fora enviado em degredo para a Ilha de

Moçambique onde passou a residir com a sua mulher e filhos, v. “Denuncia do serviço de Sua Magestade

no Estado de Mosambique anno de 1790 por Manoel do Nascimento Nunes”, 10.Jun.1790, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 60, doc. 35. Adelto Gonçalves apresenta uma breve nota biográfica da personagem in

Gonçalves, 1999 e 2010. 125

Este e todos os cálculos doravante apresentados foram efectuados com base nos seguintes valores de

conversão: uma légua = 6,53594 Km e uma braça = 220 cm = 0,0020 Km – v. Marques, 2001, p. 23. 126

“Carta Plana de Mossuril, Cabaceira grande, e pequena feita por Jozé Amado da Cunha Sargento Mor

Graduado”, AHU, Cartm, 064, doc. 557 e Carta do governador-geral Isidro de Almeida e Sá para o

secretário de Estado João Rodrigues de Sá e Melo, AHU, Cons. Ultr., Moç., 25.Jul.1802, cx. 93, doc. 97.

Distâncias medidas em linha recta entre os pontos extremos da representação: o segmento de recta [AB]

de 2133,33 braças ou 4,69 Km de comprimento; e o segmento de recta [CD] com 5540 braças ou 11,97

Page 53: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

37

uma área aproximada 19,43 Km2 (v. Anexo 2, Mapa 4). Já em 1822, Frei Bartolomeu

dos Mártires estimava que o território efectivamente ocupado pelos portugueses se

estendia por cinco a seis léguas pela praia (32,7 Km a 39,4 Km) e uma ou duas léguas

pelo interior (6,54 Km a 13,08 Km)127

.

As escassas referências encontradas sobre a dimensão dos territórios ocupados

pelos portugueses no continente fronteiro à Ilha de Moçambique e, por outro lado, a

ambiguidade das descrições e a variedade de medidas de comprimento usadas para des-

crever as distâncias nos casos em que essa ocupação é dimensionada levantam

dificuldades na hora de aferir a efectiva extensão do domínio português. Não

esquecendo que os valores a que chegámos são meramente indicativos, podemos, no

entanto, a partir deles levantar algumas conjecturas sobre a extensão do termo da Ilha de

Moçambique na segunda metade do século XVIII. Desde logo, podemos deduzir que na

cronologia em estudo a Terra Firme portuguesa ocupava uma área aproximada de 10

Km de extensão litoral por 5 a 6 Km de profundidade interior128

. Um espaço limitado, a

norte, pelo xecado de Quitangonha, a sul, pelo xecado de Sancul e, a oeste, pela

Macuana.

Tendo presentes estes valores procuremos conhecer o(s) seus porquê(s). Ou seja,

procuremos conhecer as dinâmicas de construção da Terra Firme da Ilha de

Moçambique forjadas, fundamentalmente, por dois movimentos contrários: a) de

expansão territorial por via das relações de comércio e da exploração agrícola

promovidas pelas autoridades e comunidade portuguesas; b) de oposição movida a esta

expansão por parte das populações macuas e suaílis em disputa pelo mesmo espaço e

envolvidas nas mesmas redes comerciais.

Km de comprimento. A área de 19,43 Km2 foi calculada por decomposição em quadrados de 0,5 cm de

lado (v. Anexo 2, Mapa 4). 127

Frei Bartolomeu dos Mártires, Memoria Chorografica da Provincia ou Capitania de Mossambique

(1822a): fl. 34. 128

Alexandre Lobato aventou um número ligeiramente superior. Segundo o historiador, em Setecentos “a

penetração portuguesa no continente fronteiro marginava uma linha dos seus dez quilómetros” não

referenciando, porém, a “imensa documentação do século XVIII e 1ª metade do XIX” que o “prova”.

Alguns anos mais tarde, reforçou a ideia da ocupação territorial portuguesa na Terra Firme se reduzir “a

uma estreita faixa litoral cuja profundidade”, no entanto, dizia estar ainda “por determinar, em virtude de

ter desaparecido o primeiro Tombo Foral organizado pelo Senado da Câmara quando em 1763 foi

constituído o concelho”, v. Lobato, 1945: p. 11-12 e Lobato, 1957: p. 37-38, respectivamente. Baseada

em Lobato, Nancy Hafkin refere, sem mais, a reduzida extensão da penetração portuguesa: “The

Portuguese looked inward from Sena and outward from Mozambique Island, rarely venturing more than a

few miles inland from Mozambique”, v. Hafkin, 1973: p. 20­21.

Page 54: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

38

2.2. Relações comerciais e abastecimento alimentar

Se o papel da Ilha de Moçambique como entreposto articulador de uma vasta

rede comercial ao longo do período moderno tem sido amplamente sublinhado, não é

demais realçar a importância da Terra Firme no desempenho deste papel. Desde que a

Ilha se afirmara como o centro da presença portuguesa na costa oriental africana que o

palco das trocas comerciais fora o continente fronteiro aonde afluíam as mercadorias

africanas e até onde eram conduzidos os produtos importados por via marítima.

Na segunda metade de Setecentos, antes de todos os demais, os portugueses

mantinham relações comerciais com os macuas das terras vizinhas e com os ajauas do

interior próximo do lago Niassa. Aos macuas compravam mantimentos e marfim. Aos

ajauas, à época, compravam marfim, escravos, arroz “e outros efeitos mais da produção

das suas terras”129

. Produtos que trocavam por panos do Malabar, pela missanga proce-

dente de Portugal, de Surrate e de Balagate, entre outros artigos como sal e tabaco que

adquiriam junto dos navios da Carreira da India e dos mercadores baneanes de Damão,

Diu e Goa que todos os anos na monção do Norte, por altura de Março, chegavam a

Moçambique trazendo também alguns bens para consumo da Ilha e portos dependentes,

designadamente arroz, azeite de coco, manteiga, açúcar, louça e cobre130

. Separada a

parte das mercadorias creditada à Fazenda Real para pagamento das despesas adminis-

trativas e militares, os baneanes vendiam o remanescente aos mercadores portugueses,

indianos ou suaílis que se dedicavam ao comércio a retalho fazendo variar os preços em

função das afinidades ou das rivalidades sentidas em relação a estes. Os preços de venda

aos portugueses eram, por regra, mais elevados131

.

A ligação aos mercadores de Diu e Damão permitia aos baneanes oferecer me-

lhores condições de negócio, nomeadamente preços de venda dos panos indianos mais

baixos132

. Segundo Luís Frederico Antunes, a “transposição para Moçambique dos

129

Frei Bartolomeu dos Mártires, “Memoria Chorografica da Provincia ou Capitania de Mossambique…”

(1822): p. 141-144; Capela, 2002: p. 231-235; cit. Carta de José Ferreira Nobre para o secretário de

Estado, 18.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 44, doc. 46. 130

Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 295-296 e Hoppe, 1970:

p. 71-73. 131

Frei Bartolomeu dos Mártires, “Memoria Chorografica da Provincia ou Capitania de Mossambique…”

(1822): p.141-144; Hoppe, 1970: p. 176-183; Antunes, 2001: p. 127-128. 132

Sobre a influência baneane na Ilha de Moçambique e seu termo e, bem assim, sobre o comércio

desenvolvido entre a capitania de Moçambique e a região do Guzerate dinamizado pela comunidade

baneane, vejam-se os trabalhos de Luís Frederico Antunes, Antunes, 1992 e 2001. Veja-se também sobre

esta questão o artigo de síntese de Edward Alpers, Alpers, 1976. A respeito das relações comerciais entre

Moçambique e Portugal, v. Hoppe, 1970: p.207-216.

Page 55: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

39

seculares e tradicionais laços de perfeito relacionamento e profícua colaboração econó-

mica e comercial entre hindus e muçulmanos em Diu” parece ter criado as condições

necessárias para o estreito contacto com as populações suaílis. Também com os africa-

nos não islamizados os baneanes experimentaram uma convivência próxima em resul-

tado das ligações de carácter conjugal que estabeleceram com as mulheres nativas.

Deste modo, pouco tempo depois, passaram a deter a maioria do trato com estas popula-

ções133

.

Constrangidos a praticar preços superiores aos restantes mercadores nas transac-

ções com os africanos, os portugueses viam reduzidas as suas margens de lucro e, no

extremo, chegavam mesmo a endividar-se junto dos seus credores. Algumas insolvên-

cias dos mercadores portugueses redundaram na entrega de casas, palmares e escravos

aos mercadores baneanes como forma de pagamento das dívidas contraídas134

. Situação

no decorrer da qual os baneanes acabaram por se fixar na Terra Firme, de onde lograram

intensificar as suas actividades e ampliar a sua rede de relações comerciais135

.

Com efeito, a partir do estabelecimento da liberdade de comércio nos portos mo-

çambicanos a todos os súbditos do Estado da Índia, em 1757, a comunidade baneane,

até aí limitada na sua prática mercantil à Ilha de Moçambique, expandiu-se ao conti-

nente adjacente, não sem a conivência das autoridades portuguesas igualmente depen-

dentes das mercadorias e do capital baneanes. Uma conjuntura plena de consequências

para os mercadores portugueses, os quais passaram a concorrer pelos mesmos espaços

comerciais com novos e mais fortes interlocutores, e, com não menos consequências,

para o processo de construção da Terra Firme marcado pela territorialização e pelo alar-

gamento da área de influência baneane no período compreendido entre 1723 e 1770136

.

Uma vez no continente fronteiro, os baneanes puderam contactar mais de perto

com macuas, ajauas e suaílis com quem passaram a comerciar de forma directa ou atra-

vés de patamares137

, dispensando a intermediação até aí prestada pelos portugueses.

Oferecendo melhores condições de final da década de 1780, estariam já na posse de

133

Serra, 1986: p. 90-91; Hoppe, 1970: p.183-187; Antunes, 2001: p.121-128; Hafkin, 1973: p.24. 134

“Lista de todos os Palmareiros de Mussuril com declaração dos Lugares onde são Moradores”, 17.

Mar.1781, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 35, doc. 94. Em 1781 contavam-se, apenas em Mossuril, cerca de

vinte baneanes proprietários de palmares. Veja-se também a relação apresentada por Luís Frederico

Antunes in Antunes, 2001: p. 385-414. 135

Hoppe , 1970: p. 176-183 e Antunes, 2001: p. 127-128, 137-138. 136

Antunes, 2001: p. 121-142. 137

Patamares, mercadores volantes ou mussambazes (vasambadzi), assim eram chamados os agentes

africanos que se internavam no sertão para comerciar com as populações africanas, tanto em

representação de mercadores baneanes, como de mercadores portugueses, v. Rodrigues, 2011a.

Page 56: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

40

uma grande parte dos palmares de Mossuril138

. Na década de 1790, haviam estendido a

sua influência, a oeste, até às proximidades do território ajaua, a sul, até aos Rios de

Sena e, a norte, até às Ilhas Querimbas139

. Após um período de “expansão” e de

“domínio quase exclusivo” dos baneanes sobre o comércio praticado na capitania de

Moçambique entre 1770 e 1780, o desenvolvimento do tráfico negreiro promoveu signi-

ficativas alterações no mercado comercial moçambicano nas três décadas seguintes.

Conforme Luís Frederico Antunes, enquanto os mercadores de grosso trato reforçaram o

seu domínio como credores das transacções comerciais, acentuou-se a subalternização

dos pequenos mercadores que negociavam a retalho140

.

Tendo-nos desviado por momentos do nosso foco de análise, interessa esclarecer

que conhecer as actividades e o percurso da comunidade baneane no continente fron-

teiro não é de somenos, já que a sua intervenção foi decisiva para o devir da

comunidade portuguesa da Ilha, em particular, da capitania de Moçambique, em geral.

Ao longo da segunda metade de Setecentos, os baneanes alçaram-se a uma posição

hegemónica. Com acesso às fazendas indianas essenciais no trato com a costa leste-

africana acabaram por dominar o comércio praticado na capitania e assumiram-se como

credores e interlocutores privilegiados dos demais agentes económicos.

Quanto aos portugueses, o comércio praticado com macuas e ajauas era então

uma das suas principais fontes de rendimento. Dos 181 moradores e habitantes (homens

cristãos) arrolados no Mapa dos moradores e habitantes da Ilha de Moçambique e

terras firmes (1766) por ordem do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para

“examinar os modos por que viviam” e conhecer “a razão por que não exercitavam os

oficios com que foram criados” cerca de 29% estavam envolvidos neste comércio.

Especificamente, 23% participavam no “negócio de mojão” (ou seja, negociavam com

os ajauas) e 6% no “negocio de mojão e macua” (com ajauas e macuas)141

.

Dada a proximidade geográfica, os trânsitos comerciais com a Terra Firme eram

mais fáceis, mais seguros e menos dispendiosos, por isso, mas não menos pela exigui-

dade e a esterilidade da Ilha, entre ambas havia-se desenvolvido um intenso fluxo co-

138

Carta do capitão-mor da Terra Firme Francisco de Santa Teresa para o governador-geral José

Vasconcelos de Almeida, 21.Dez.1779, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 35. 139

“Denuncia do serviço de Sua Magestade no Estado de Mosambique anno de 1790 por Manoel do

Nascimento Nunes”, 10.Jun.1790, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 60, doc. 35; Hoppe, 1970: p. 179;

Antunes, 2001: p. 137-138. 140

Antunes, 2001: p. 143-151, 153-158. 141

Mapa dos moradores e habitantes da Ilha de Moçambique e Terra Firme, 30.Mai.1766, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 82.

Page 57: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

41

mercial assegurado pela deslocação diária de numerosas barquinhas. De Mossuril e das

Cabaceiras chegavam alguns alimentos cultivados nos palmares e fazendas dos

moradores, sobretudo frescos e outros produtos de consumo diário142

. A produção

agrícola e a criação de gado nas povoações portuguesas, porém, nunca foram suficientes

para alimentar a população residente e, por maioria de razão, os que ali permaneciam

em trânsito. De acordo com o citado Mapa dos moradores e habitantes de 1766, 43 dos

181 indivíduos listados dedicavam-se à exploração agrícola das suas fazendas (ou seja,

24 %) e dois à exploração dos seus palmares (1%). Actividade que a maioria desenvol-

via em paralelo com o comércio, não raro, em articulação com ele. Destes 45 somente

oito (18%) viviam exclusivamente das suas terras (7 fazendas e um palmar). Os demais

acumulavam a exploração agrícola com a prática de algum negócio (sobretudo “negócio

de mojão”) ou ofício (ver Gráfico 1)143

.

Gráfico 1 – Moradores e habitantes portugueses dedicados à agricultura (1766)

Em 1782, conforme o governador-geral Pedro Saldanha de Albuquerque, este

era “o único meio, com que [os habitantes cristãos] podiam manter-se e reparar-se dos

precisos mantimentos para o seu sustento”144

.

142

Hoppe, 1970: p. 184; A.Lobato, 1989: p. 187-189; Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009. p. 127. 143

Mapa dos moradores e habitantes da Ilha de Moçambique e Terra Firme, 30.Mai.1766, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 82. Na categoria Outros reuniram-se os moradores e habitantes não agrupáveis,

tais como aqueles que se dedicavam à “fazenda, maneio e ofício” (1), “fazenda e soldo” (1), “fazenda e

ofício” (1), “fazenda e arte” (1), “fazenda, arte e negócio” (1). 144

Bando do governador-geral Pedro Saldanha de Albuquerque, 16.Out.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç.,

cx. 40, doc. 10.

Page 58: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

42

Uma parte significativa do provimento da Ilha era obtida pelos seus habitantes

junto das referidas populações africanas que se dirigiam à Terra Firme onde estabele-

ciam feiras (também chamadas de bandicos ou bazares) para o efeito145

. Habitando o

sertão próximo, os primeiros eram presença regular e continuada ao longo do ano. Le-

vando três a quatro meses de viagem e tendo que atravessar território macua para chegar

até ao litoral, a presença dos ajauas era sazonal. Em condições normais, estanciavam

anualmente no continente fronteiro durante a estação seca, grosso modo, entre os meses

de Maio a Outubro. Quanto aos portugueses, participavam quase todos nas feiras da

Terra Firme. Segundo o testemunho de Frei Bartolomeu dos Mártires, mesmo os mora-

dores com residência na Ilha, naquele tempo, passavam “impreterivelmente” para as

suas propriedades do continente para fazerem negócio146

.

Desde c.1767 que estas feiras se fixaram em Sancul e Mossuril onde o governa-

dor-geral Baltasar Pereira do Lago mandou assinalar duas praças como os únicos locais

onde seria permitido o comércio de alimentos147

. A feira de Mossuril, em particular, tor-

nou-se bastante afamada e concorrida tendo estado na base, conforme Edward Alpers,

daquela que na década de 1780 ficou conhecida como a “feira dos mujaos”, animada

não apenas pelo comércio de alimentos mas sobretudo pelo comércio de marfim e es-

cravos. Nas décadas seguintes, segundo José Capela, ter-se-á estabelecido como o mais

constante entreposto de exportação da capitania de Moçambique mantendo-se activa,

com algumas interrupções, até ao século XIX148

.

Cerca de 1750, os ajauas eram reconhecidamente os principais fornecedores de

marfim da região. Por via da referida rota entre as imediações do lago Niassa e o

Mossuril, passando pelo rio Lúrio e atravessando a Macuana, chegava mais de 90% do

total do marfim transaccionado no continente fronteiro. A pretexto do marfim, os ajauas

traziam também alguns escravos. Este último, um comércio praticado em menor escala

até meados de Setecentos mas com procura crescente nas últimas décadas do século. De

tal forma que, segundo José Capela, os ajauas se tornaram “os primeiros e provavel-

mente os maiores abastecedores da costa em escravos provenientes do interior pro-

145

Requerimento do capitão-mor da Terra Firme Joaquim do Rosário Monteiro, ant. 30.Jun.1803, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 100, doc. 47. 146

Cit. Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 295-296 e Frei

Bartolomeu dos Mártires, “Memoria Chorografica da Provincia ou Capitania de Mossambique…” (1822):

p. 143-144, respectivamente; Hoppe, 1970: p. 71-73. 147

Bando do governador-geral Baltasar Pereira do Lago, AHU, Cons. Ultr., Moç, 13.Jan.1768, cx. 28,

doc. 4 e Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009: p. 134. 148

Alpers, 1975: p. 117-118 e Capela, 2002: p. 44.

Page 59: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

43

fundo”149

. Desde as suas terras no planalto entre os rios Lugenda e Lucheringo, teceram

relações comerciais com várias populações do interior como os maraves e os bisas, alar-

gando a sua influência até áreas próximas do Zambeze e abrindo rotas alternativas até

vários portos da costa moçambicana. Ao longo do século XVIII, controlaram o comér-

cio de marfim entre o interior e o litoral substituindo-se aos maraves que no século ante-

rior se constituíram como os principais abastecedores da Ilha de Moçambique por meio

da designada “rota da Macuana” que a ligava ao Zambeze150

.

Durante o tempo em que estanciavam na Terra Firme, os mercadores ajauas

eram acolhidos pelos negreiros, tanto portugueses como baneanes, com quem estabele-

ciam negócio. O mesmo acontecia com os escravos adquiridos para exportação que

eram mantidos em armazéns situados no recinto insular ou nas propriedades da Terra

Firme onde aguardavam, por vezes longo tempo, o embarque para os portos de destino.

Também os navios transportadores eram obrigados a deter-se na Ilha até completarem a

sua lotação com os escravos que, de forma desfasada, iam chegando do interior e dos

portos dependentes. Ambas as situações exigiam grande disponibilidade de alimentos,

quer para manter os escravos, quer para o aprovisionamento dos navios151

.

No que se refere ao aprovisionamento alimentar, afora os macuas e ajauas que se

dirigiam à Terra Firme, os moradores abasteciam-se nos portos e baías do litoral mais

ou menos próximo, junto tanto dos mesmos macuas como das populações suaílis vizi-

nhas. De entre estes últimos, destacavam-se os xecados vizinhos de Sancul e Quitango-

nha com os quais os portugueses mantinham relações particularmente próximas. Ao

longo da costa, os habitantes da Ilha são explicitamente referidos por Joaquim Varela a

comprar mantimentos no rio Curé a “cafres [macuas] e mouros seus habitantes” e arroz

e milho em um bandico localizado perto do rio Mocambo, quatro léguas a sul152

.

Tendo o capital necessário e estando dispostos a correr os riscos de viagens mais

longas e incertas, os moradores enviavam ainda as suas embarcações resgatar alimentos

a Madagáscar, às ilhas Comores, à ilha de França e aos portos dependentes como Sena,

149

Alpers, 1975: p. 64, 104-113 e cit. Capela, 2002: p. 233. 150

Rita-Ferreira, 1982: p. 122, 154-156; Alpers, 1975: p. 15-22; Antunes e M.Lobato 2006: p. 269-270. 151

Henry Salt, A voyage to Abyssinia (1814): p. 35-36; Alpers, 1970: p. 201-203, 208; Capela, 2002: p.

256-258; Rodrigues, 1998. 152

Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 284, 297. Segundo

Varela o rio Curé situar-se-ia entre os rios Pemba e Pinda; v. “Plano hidrográfico desde Cabo Delgado ao

Rio Mocambo para localizar os referidos elementos hidrográficos”, s.d. [séc.XVII], SGL, 1-G-47.

Page 60: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

44

Quelimane, Inhambane e Sofala153

. Embora deva ser encarado como uma excepção na

comunidade portuguesa, atente-se no caso de João da Silva Guedes, dono do patacho S.

Vicente Formidável e um dos principais homens de negócios da Ilha de Moçambique, a

quem pelo menos nos anos de 1801 e 1803 foi dada autorização para ir a Quelimane

carregar mantimentos154

. Ao contrário de Silva Guedes, contudo, para os pequenos

mercadores portugueses o trato com o continente fronteiro foi sempre a única fonte pos-

sível de rendimento e de abastecimento regular155

.

Quantificar o total de alimentos, marfim e escravos transaccionados pelos

portugueses afigura-se como uma tarefa inexequível atendendo às características do pró-

prio comércio que, a maioria das vezes, escapava ao controlo das autoridades portugue-

sas156

. Dada a extrema dependência dos abastecimentos externos, o comércio alimentar

constituir-se-ia como um significativo segmento de negócio. Os dois mais lucrativos e

pretendidos segmentos do comércio praticado no continente fronteiro na segunda

metade de Setecentos seriam, porém, o marfim e os escravos.

2.2.1. “Reduzidos a huma nesecidade bem cruel” ou a dependência alimentar

da Ilha

Em 1766, a preferência dos súbditos portugueses pelo comércio, em particular

pelo comércio de escravos praticado com os ajauas, motivava os lamentos do

governador-geral Baltasar Pereira do Lago: “aquy as nossas terras firmes produzem

admiráveis palmares e como deste se tirão vários frutos com boa extracção, não se cuida

de outra couza, passando deste contrato a fazer o do mujão (...) não tendo negação estas

Terras para darem todos estes mantimentos em muita abundancia”157

. Empenhados num

comércio que, para muitos, se constituía como o principal sustento – ou, pelo menos,

como o mais lucrativo e imediato –, os portugueses dedicavam pouco interesse à

agricultura – como parecia acontecer também em relação aos demais ofícios mecâni-

153

Mapa dos moradores e habitantes da Ilha de Moçambique e Terra Firme, 30.Mai.1766, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 82; Hoppe, 1970: p. 221-224. 154

Passaportes passados a João da Silva Guedes para comerciar em Quelimane, 23.Out.1801, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 41 e 12.Mar.1803, cx. 97, doc. 25. O percurso de João da Silva Guedes

será abordado no quarto capítulo. 155

Mbwiliza, 1991: p. 44. 156

Edital do Senado da Câmara proibindo a venda de mantimentos para fora da Ilha de Moçambique sem

licença camarária, 17.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 259-259v e Capela, 2002: p. 171 e ss.. 157

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 17.Ago.1766, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 67.

Page 61: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

45

cos158

. De resto, as condições edafoclimáticas do continente fronteiro tão-pouco se

adequavam à produção de arroz e trigo, cereais que constituíam a base alimentar de eu-

ropeus e asiáticos, nem os moradores portugueses se interessavam pelo cultivo dos ce-

reais tradicionais africanos como a mapira e a mexoeira159

. Em suma, ao nível alimen-

tar, sobretudo no que respeitava ao cultivo de cereais, a Ilha de Moçambique não se

bastava a si própria, pelo que a sua subsistência estava dependente de um conjunto de

mercados exteriores.

Este estado de coisas afectava não apenas a generalidade da população mas tam-

bém as próprias autoridades portuguesas, já que cabia ao governo-geral a responsabili-

dade de prover as guarnições militares, o Hospital Real e as tripulações das embarca-

ções da Coroa portuguesa estacionadas na Ilha. O governo-geral era, ainda, obrigado a

intervir no sistema geral de abastecimento em ocasiões de carência extrema160

, o que

sucedia não raras vezes. Do mercado interno da capitania de Moçambique chegava uma

parte das provisões. Quelimane, localizada no delta do Zambeze e com uma basta pro-

dução de trigo, arroz e milho, algumas frutas e legumes, constituía-se como o principal

mercado abastecedor sendo a ligação entre os dois portos conduzida em dois ou três

navios anuais. Das ilhas Querimbas, também com uma periodicidade bianual, era ex-

portado arroz e milho. Em função da maior distância à Ilha, a ligação aos portos de So-

fala e Inhambane, de onde era remetido principalmente arroz, fazia-se em regra apenas

uma vez ao ano161

.

Mas, quer pelo insuficiente número de viagens, quer pela reduzida tonelagem da

frota a que se somava o pouco espaço disponibilizado para o transporte de mantimentos

preteridos em relação aos produtos destinados à exportação como o marfim e os escra-

vos, as remessas dos portos dependentes eram manifestamente insuficientes. Por isso, o

provimento da ilha-capital dependeu também de mercados externos à própria capitania,

nomeadamente do Estado da Índia, das ilhas Comores, de Madagáscar e das ilhas

Mascarenhas. Através dos navios da Carreira da Índia Moçambique era abastecido de

vinho, manteiga, queijo, frutos secos e cacau e outros produtos de luxo direccionados 158

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1766, AHU,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 61. 159

Rodrigues, 1998. 160

Rodrigues, 1998 e Hoppe, 1970: p. 267. 161

Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 283, 300; Frei

Bartolomeu dos Mártires, “Memoria Chorografica da Provincia ou Capitania de Mossambique…” (1822):

p. 146-147; Carta do governador-geral Isidro de Almeida e Sá para o secretário de Estado, AHU, Cons.

Ultr., Moç., 25.Jul.1802, cx. 93, doc. 97; Hoppe, 1970: p. 241-243. Sobre a natureza dos produtos

alimentares importados dos portos dependentes para a Ilha de Moçambique, v. Lobato, 1989: p. 187-189.

Page 62: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

46

para a elite local. Para além de produtos alimentares, importava de Portugal vários

outros artigos fundamentais ao quotidiano dos insulares e à manutenção das redes

comerciais locais, como: missanga, materiais e ferramentas para construção e reparação

de edifícios, apetrechos para manutenção naval, armas, munições, uniformes militares,

serras, limas, tesouras, espelhos, tinteiros e papel. Ao ritmo das carreiras da Ásia, che-

gava basta quantidade de arroz dos portos indianos. Das Comores eram levadas

mercadorias como madeira, pedra para construção e, principalmente, alimentos. De

Madagáscar ia sobretudo arroz e algum gado162

.

No conjunto, a indispensabilidade destas importações para a vida na Ilha fica

evidente no facto de, frequentemente, as autoridades e comunidade portuguesas se su-

jeitarem às condições impostas pelos seus interlocutores comerciais. Por exemplo

quando, dependentes das remessas de Madagáscar, os portugueses se viam obrigados a

pagar os elevados preços pedidos pelos locais que, conforme alegava Pereira do Lago,

pelo “concurso das mais naçõens” haviam deixado de se interessar pelas “nossas quin-

quelharias querendo unicamente nosso, patacas, pessas de ouro, polvora, e armas”163

.

Todavia, o envio de embarcações em busca de alimentos a portos mais distantes era

afectado pela falta de recursos materiais (número suficiente de embarcações) e financei-

ros (dificuldades de financiamento junto dos credores) do governo-geral de Moçambi-

que. Assim, e apesar de proibido164

, o comércio com os navios franceses que se dirigiam

à Ilha de Moçambique significou frequentemente a salvação de situações de extrema

carestia. O mesmo Pereira do Lago recorreu, por diversas vezes, aos franceses para ad-

quirir arroz e legumes em troca de escravos165

.

Em 1786, o governador-geral António de Melo e Castro (1786-1793), escassos

dias após ter tomado posse, lembrava aos oficiais camarários que a Ilha não vivia “da

sua propria substancia que as terras firmes não lhe dão o mantimento necessario e que

nessecita da navegação maritima e transportes longinquos”. Havia ainda a considerar

162

Hoppe, 1970: p. 241-243. 163

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 18.Ago.1767, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 27, doc. 75; Hoppe, 1970: p. 263-268, 207-229, 278; Newitt, 1983: p. 147. 164

Pelas leis régias de 8.Fev.1711 e 5.Out.1715 estavam proibidos os negócios com navios de outros

estados europeus nos portos ultramarinos, excepto para refúgio de intempéries, reparações urgentes ou

extrema necessidade alimentar, v. Hoppe, 1970: p. 265-266. 165

Hoppe, 1970: p. 269 e 273. Ao aportar a Madagáscar, em 1742, o vice-rei D. Luís Inácio Xavier de

Meneses dá conta de ter ali desembarcado 700 homens doentes que convalesceram com “abundancia de

leite, frutas e hortaliças, e excelentes carnes de que fez largos provimentos por preços acomodados”.

Vendo-se obrigado a aportar a Moçambique achou, pelo contrário, “grande falta de mantimentos fazendo

hua despeza considerável com secenta e seis pessoas a que desde Lisboa deu mesa” durante os 42 dias em

que se deteve “naquele mau clima na costa de Africa”, cf.: ACE, vol. V, p. 636-637.

Page 63: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

47

que estes podiam “ser interrompidos /a não falar nas guerras/ por tempestades ventos e

outros acidentes, e verem se os seus habitantes reduzidos a huma nessecidade bem

cruel”166

. Com efeito, são recorrentes por parte dos oficiais portugueses as queixas sobre

a carência e insegurança alimentares e sobre o preço excessivo que os víveres atingiam

em função das condições em que eram transaccionados167

.

O défice produtivo apontado por Melo e Castro era minorado pelos fornecimen-

tos exteriores procedentes, de mais a mais, de diferentes mercados. Não obstante, a Ilha

vivia permanentemente condicionada por este défice, vulnerável perante a exiguidade

dos fretes e das embarcações disponíveis, perante quebras ou atrasos nos abastecimentos

decorrentes de guerras, catástrofes naturais e naufrágios.

2.2.2. Medidas de desenvolvimento agrícola

Que medidas foram então tomadas no sentido de resolver, ou pelo menos redu-

zir, a dependência da Ilha de Moçambique dos fornecimentos exteriores? Na conjuntura

de 1760, de acordo com o pensamento agrarista dominante168

, Lisboa dava instruções

para a promoção da agricultura na capitania. Ao governador-geral João Pereira da Silva

Barba (1763-1765) era recomendado “muito expecialmente o cuidado em promover a

lavoura”169

. Baltasar Pereira do Lago (1765-1779), o governador-geral seguinte, recebia

iguais recomendações. Para tanto, aos que se dedicassem às actividades agrícola e pecu-

ária devia ser dada uma ajuda de custo para a compra de gado e arados no primeiro ano

de trabalho. Pretendia assim o Conselho Ultramarino tornar menos onerosa a tarefa e

inspirar práticas idênticas170

. Confrontado na prática com o empreendimento, Pereira do

Lago qualificava de “milagre” a situação vivida na Ilha, pois reconhecia que “sem os

frutos que della se colhe” não podia haver “Republica que se sustente e perdure sem

milagre, o qual só se verifica em Moçambique”171

.

Logo em 1768, mandava que os moradores da Terra Firme, tanto “cristãos como

mouros”, não deixassem passar o inverno sem cultivar os alimentos necessários prome-

166

Carta do governador-geral António de Melo e Castro para o Senado da Câmara, 21.Mar.1786, AHU,

Gov. Moç., cód. 1353, fls. 62v-63. 167

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1778, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 25. 168

Cardoso, 1989: p. 67-79 e Serrão, 1993. 169

Carta do governador-geral João Pereira da Silva Barba para o secretário de Estado, 15.Ago.1763,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 80. 170

Parecer do Cons. Ultr., depois de 17.Ago.1766, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 32. 171

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 17.Ago.1766, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 67.

Page 64: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

48

tendo as “honras” devidas a quem o fizesse. Era seu objectivo tornar a Ilha menos de-

pendente dos fornecimentos externos e, antes de mais, acabar com as cada vez mais

dispendiosas importações de Madagáscar. Nesse sentido, o governador-geral procurava

fazer com que a população se dedicasse à actividade agrícola no continente fronteiro.

Não sem a consciência dos problemas que, nesse propósito, lhe causava a “invenssivel

preguiça” que dizia afectar tanto “os naturaes de Goa, como os poucos filhos da

Terra”172

. Fritz Hoppe notou já que o aproveitamento das terras dos insulares localiza-

das em Mossuril e nas Cabaceiras se activou um pouco desde a introdução da cultura da

mandioca na costa oriental africana, em 1768173

.

Com efeito, em 1769, Pereira do Lago dava conta que a cultura da mandioca era

produzida “com grande fecundidade” por alguns moradores. Mas, aparentemente, não

seria assim tão “grande” a “fecundidade” desta produção ou, pelo menos, o governador-

geral não estaria satisfeito com o número de moradores empenhados na tarefa, porque a

12 de Abril de 1769 decretava a obrigatoriedade do cultivo da mandioca sob pena de

prisão, pagamento de multas e deportação para os portos dependentes para os transgres-

sores174

. A 27 de Dezembro desse mesmo ano obrigava também todos os residentes na

Terra Firme (incluindo portugueses, muçulmanos, hindus e africanos) a arrotear estes

terrenos para o cultivo da mandioca, a prepará-los para a plantação de árvores de fruto

(videiras, figueiras, pessegueiros, laranjeiras) e a semear prados para pastagem do

gado175

.

Perante a forte oposição da população às obrigações impostas, Pereira do Lago

expediu nova legislação (10 de Outubro de 1770) que procurava, diferentemente da an-

terior, persuadir os moradores para o cultivo da mandioca através da garantia de imuni-

dade, pelo período de três anos, aos devedores que fizessem prova da plantação anual de

quatro mil pés de mandioca em terra virgem. Assim, a estes devedores não seriam

apreendidos os seus escravos, cujo trabalho podia ser direccionado para a agricultura.

Como este, outros incentivos foram dados pelo governo-geral os quais, porém, até ao

início da década de 1780 não terão suscitado uma grande adesão por parte dos

moradores.

172

Carta do governador-geral Baltazar Pereira do Lago para o capitão da Terra Firme, 20.Dez.1768, Gov.

Moç., cód. 1353, fls. 56-57v; cit. Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de

Estado, 17.Ago.1766, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 67; Hoppe, 1970: p. 224, 241-243. 173

Hoppe, 1970: p. 242. 174

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 10.Ago.1769, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 29, doc. 54; Rodrigues, 1998; Hoppe, 1970: p. 242. 175

Hoppe, 1970: p. 241-243.

Page 65: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

49

Para a forte implantação da cultura da mandioca verificada a partir daí terá antes

sido mais relevante a possibilidade de colocar a farinha produzida a partir da planta em

mercados variados – antes de mais, os Armazéns Reais para alimentação dos militares e

escravos a cargo do governo-geral – e a sua inclusão nas práticas alimentares dos

habitantes da Ilha. O cultivo da mandioca no continente fronteiro estava já definitiva-

mente firmado na década de 1780 com uma produção anual de farinha de c. 30 000 al-

queires176

. E, nas décadas seguintes, desenvolveu-se a ponto de suprir as necessidades

da guarnição militar, dos insulares e, em parte, das embarcações que aportavam a Mo-

çambique e dos portos dependentes que atravessassem períodos de maior escassez177

.

Para a Ilha de Moçambique, a cultura da mandioca desenvolvida no seu termo

resolvia parte do crónico défice alimentar que a afectava. Não só era mais acessível,

porque geograficamente mais próxima e não dependente do ritmo das monções, mas

também mais barata quando comparada com outros cereais, como o arroz e o trigo con-

sumido por europeus e asiáticos178

. Constituiu-se, ademais, móbil do desenvolvimento

agrícola e da ocupação territorial do continente adjacente promovidos pelos moradores

e autoridades portuguesas. Em 1787 foram identificados 10 moradores na Cabaceira

Grande e 12 em Mossuril a “fazer farinha de mandioca”. Farinha que, em proporção à

quantidade produzida por cada um, costumavam vender para os Armazéns Reais179

.

Alguns anos mais tarde, em 1802, o número destes produtores havia subido para um

total de pelo menos 54 com uma produção total estimada em c. 35.000 alqueires180

. No

mesmo ano, os habitantes cristãos exploravam um total de 105 fazendas – cujas produ-

ções não se reduziriam necessariamente à mandioca – dispersas pelas povoações do

Lumbo, ilha de Batu, Calundi, Apaga Fogo, Ampapa, Mossuril, Mapeta, Cabaceira

Grande e Cabaceira Pequena. Dispersão geográfica que, aliás, evidencia a (ligeira) ex-

pansão da colonização portuguesa às terras em redor da baía de Mossuril localizadas a

176

Rodrigues, 1998. Este artigo de Eugénia Rodrigues é particularmente útil para conhecer a forma como

a mandioca entrou e se desenvolveu na costa oriental africana e os usos que lhe foram dados. Veja-se

também da mesma autora o artigo relativo à nutrição dos moçambicanos onde são abordados alguns

aspectos da preparação e do valor nutricional da mandioca, v. Rodrigues, 2006. 177

Hoppe, 1970: p. 241-243 e Carta de José Ferreira Nobre para o secretário de Estado, 18.Ago.1784,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 44, doc. 46. 178

Rodrigues, 1998. 179

Mapa dos moradores e habitantes da Ilha de Moçambique e Terra Firme, 30.Mai.1766, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 82; “Rellação dos moradores que fazem farinha de mandioca e a acostumão

Vender para os Reais Armazens de Sua Magestade por Rateyo a porporção do que Cada hum Recolhia”,

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15. 180

“Relação das pessoas que possuem Maxambas, e que huns anos por outros, cultivando-as, pensamos

poderão tirar das mesmas a farinha seguinte”, 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls. 259v-260v.

Page 66: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

50

oeste/noroeste relativamente à Ilha de Moçambique, ou seja, na direcção oposta à área

de povoamento inicial, o Mossuril e as Cabaceiras181

.

Cerca de 1800, as autoridades portuguesas tentavam também incentivar a produ-

ção de café demandando aos detentores de terras na região da Ilha que o plantassem e

enviassem anualmente para Lisboa na quantia de 10 arrobas. Em 1802, contavam-se 15

produtores de café distribuídos entre Mossuril, Cabaceira Grande, Lumbo, Apaga Fogo

e Mogulumosa. Nesse ano, a soma do café recolhido não ultrapassou, porém, as 4 arro-

bas o que os oficiais camarários justificavam pelo facto de esta ser uma plantação

recente e que não havia ainda atingido uma plena produção182

.

Particularmente no período compreendido entre as iniciativas promovidas por

Baltasar Pereira do Lago para reduzir a dependência dos abastecimentos externos e o

princípio do século XIX, são manifestas as transformações nos espaços territorial, co-

mercial e social do continente fronteiro à Ilha de Moçambique. Nesse entretanto, fosse

instigado pelas autoridades portuguesas, fosse por iniciativa própria, cresceu o interesse

dos moradores pela exploração da Terra Firme. Em 1802, estes eram já proprietários de

um total de 105 fazendas dispersas pelas povoações do Lumbo, ilha de Batu, Calundi,

Apaga Fogo, Ampapa, Mossuril, Mapeta, Cabaceira Grande e Cabaceira Pequena183

.

Em suma, é possível presumir que, quer através do aumento do número de propriedades

em posse dos moradores, quer através da referida dispersão geográfica, a área dedicada

ao cultivo agrícola na Terra Firme cresceu de forma expressiva entre c. 1770 e c. 1802

e, bem assim, aumentou a comercialização dos produtos cultivados.

Uma asserção que não contradiz a conjectura atrás formulada sobre o espaço

ocupado pelos portugueses nesta cronologia não ultrapassar os 5 a 6 Km de pro-

fundidade interior, uma vez que a extensão da área cultivada parece ter sobretudo

resultado da exploração mais intensiva das parcelas já anteriormente agricultadas e do

aproveitamento das terras até então incultas e menos da apropriação de novas terras para

181

“Mappa do Numero dos Habitantes Christaons, que possuem nas terras do Lumbo, Ilha de Batû,

Calundi, Apagafogo, Ampapa, Monsuril, Mapeta, Cabaceira Grande, e Cabaceira piquena, Cazas,

fazendas Escravos, e da Gente livre, e Feitores, que há nas ditas terras, as quaes são fronteiras a Ilha de

Mossambique”, 20.Ago.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 96, doc. 62. 182

Carta do governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá para o senado da câmara, 26.Fev.1802, AHU,

Gov. Moç., Cód. 1353, fl.257v-258 e “Relação das pessoas a quem pertencem as Arvores de Café”,

23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262. 183

«Mappa do Numero dos Habitantes Christaons, que possuem nas terras do Lumbo, Ilha de Battû,

Calundi, Apagafogo, Ampapa, Monsuril, Mapeta, Cabaceira Grande, e Cabaceira piquena, Cazas,

fazendas Escravos, e da Gente livre, e Feitores, que há nas ditas terras, as quaes são fronteiras a Ilha de

Mossambique», 20.Ago.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 96, doc. 62.

Page 67: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

51

além do espaço sob jurisdição portuguesa apesar de, como veremos adiante, numa

extensão muito limitada, a área sob domínio português ter aumentado184

.

Muitos dos moradores com acesso à terra eram mercadores envolvidos no

comércio da Ilha. Por exemplo, agentes negreiros que na exploração agrícola das suas

propriedades da Terra Firme encontravam uma forma barata de alimentar os seus

escravos baixando assim os custos associados a este tráfico. Por outro lado, a agricultura

dava-lhes a possibilidade de somar aos lucros do tráfico de escravos os lucros da venda

dos excedentes de produção185

. Outros destes moradores eram produtores que, mesmo

sem grande dimensão produtiva, tomavam parte no comércio para conseguir escoar os

seus produtos. Para todos, a agricultura constituiu-se ainda como uma oportunidade de

diversificação dos seus negócios e interlocutores comerciais que os tornava menos

dependentes dos mercadores baneanes que à época dominavam os circuitos comerciais

locais e índicos.

2.3. Dinâmicas de resistência à colonização da Terra Firme

Mas se o termo da Ilha de Moçambique conheceu, em particular nas últimas três

décadas de Setecentos, um processo de expansão territorial, esta não foi, de todo, uma

expansão linear e unidireccional. Pelo contrário. Por diversas vezes, a Terra Firme viveu

“dezordens e desimquitaçoens, pelas continuadas guerras, que não deixão socegar os

habitantes moradores que os impossibilita de poderem tratar da agricultura de seus pal-

mares [e] roças de farinha de pau”186

. Relações pacíficas com as chefaturas africanas e

suaílis vizinhas eram, naturalmente, condição necessária à agricultura e ao comércio no

continente fronteiro187

. Porém, no decurso da segunda metade de Setecentos foram

recorrentes os confrontos militares entre portugueses, macuas e suaílis, sobretudo em

função do crescimento do tráfico negreiro mas também das transformações comerciais

resultantes do estabelecimento da liberdade de comércio, em 1757.

Com efeito, a ida das populações macuas e ajauas à Terra Firme era apenas uma

das formas de comerciar. Outra das formas de fazer comércio passava por enviar pata-

mares ao sertão mais ou menos distante para participarem nas feiras e povoações do

interior continental. Um procedimento que se tornou recorrente após a decisão de abrir o

184

V. Capítulo 3, em especial a alínea 3.2.. 185

Rodrigues, 1998. 186

Carta do capitão-mor da Terra Firme Francisco de Santa Teresa para o governador-geral, 21.Dez.1779,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 35. 187

Newitt, 2004: p. 33-34 e Hoppe, 1970: p. 71.

Page 68: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

52

comércio nos portos moçambicanos a todos os súbditos do Estado da Índia, em 1757. A

partir daquele ano, a comunidade baneane, até aí limitada no seu comércio à Ilha de

Moçambique, expandiu-se ao continente adjacente de onde logrou intensificar as suas

actividades e ampliar a sua rede de relações mercantis tornando-se interlocutora

privilegiada de suaílis, macuas e ajauas.

Os baneanes, no entanto, não se limitaram a comerciar no continente próximo

desencadeando significativas transformações no comércio da capitania de Moçambique.

Na expectativa de ampliar os seus lucros, aumentaram as importações de panos e contas

e passaram a enviar patamares às feiras e povoações do interior. A situação provocou a

descida dos preços destes produtos e o desvio das populações africanas que habitual-

mente se deslocavam à Ilha de Moçambique para comerciar. Os portugueses viram

assim reduzidas as transacções com macuas e ajauas, que entretanto evitavam dirigir-se

à região, e eram obrigados a pagar os preços exigidos por aqueles que ainda optavam

por o fazer188

. Naturalmente que, neste contexto, os baneanes foram tidos como a

“cauza” da desordem do comércio da Terra Firme, das “hostelidades” e das guerras

“injustas” com que os portugueses se confrontavam, pois tinham “absolutamente

co[rrom]pido os custumes dos cafres, e destruido o bom methodo com que antigamente

se comerciava com eles”189

.

Mas, para lá das alterações às relações comerciais entre portugueses, macuas e

ajauas provocadas pela crescente influência económica da comunidade banenane, a ra-

zão iminente dos conflitos no continente fronteiro à Ilha de Moçambique foi a intensifi-

cação do tráfico de escravos na região. Rodeada por chefaturas macuas e suaílis e

insuficientemente guarnecida de efectivos e material de guerra, a Terra Firme viveu

durante o período em análise sob constante pressão militar. Em diferentes conjunturas,

as autoridades portuguesas aliaram-se temporariamente a uns ou a outros com o objec-

tivo de alcançarem alguma supremacia sobre os opositores, muitas vezes, explorando as

rivalidades entre as próprias chefias políticas africanas190

.

188

Hoppe, 1970: p. 183-187; Antunes, 2001: p. 137-139. Veja-se, por exemplo, a Carta dos moradores

para o Senado da Câmara, s.d [1784], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 47, doc. 39 onde estes se queixam da

transgressão dos bandos emitidos pelos governadores-gerais David Marques Pereira (11.Mai.1758), Pedro

Saldanha de Albuquerque (1.Mai.1761) e João Pereira da Silva Barba (31.Jan.1763, 7.Mar.1765 e

7.Mar.1775) que proibiam os baneanes de comerciarem e se estabelecerem na Terra Firme. 189

Carta dos mercadores da praça de Moçambique para o Senado da Câmara, 9.Out.1782, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 40, doc. 4. 190

Hoppe, 1970: p. 183-187, 314-315; Rodrigues, 2006a: p. 60-62; Carta do governador-geral Baltasar

Pereira do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1776, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 12.

Page 69: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

53

2.3.1. As chefaturas macuas

A Macuana – ou seja, o sertão além da Terra Firme que tinha como limites pro-

váveis Memba, a norte, Angoche, a sul, e a ocidente se estendia sem limite definido –

encontrava-se grosso modo dividida em dois territórios: i) Uticulo, localizado entre 45 a

60 Km da linha de costa e tendo como principais chefes de linhagem (ou “régulos”,

como eram designados pelos portugueses) Mauruça, Morimuno e Maviamuno; ii) Cam-

bira, cujo chefe de linhagem era Macutomuno, tradicional inimigo de Uticulo que habi-

taria a região a sudoeste da Ilha191

(v. Mapa 3). Desde o início de Seiscentos que há

referências a ataques macuas às povoações do litoral fronteiro à Ilha de Moçambique,

então protagonizados pelo chefe Mauruça dado como o mais poderoso dos chefes do

Uticulo. Apesar da escassez de informações, a historiografia parece concordar que,

desde então até às primeiras décadas do século XVIII, as relações entre portugueses e

macuas se desenrolaram de forma relativamente pacífica. Na década de 1720, incidentes

idênticos aos do início de Seiscentos ter-se-ão ficado a dever à crescente afluência dos

ajauas na Terra Firme e à consequente perda de preeminência dos macuas enquanto

intermediários do comércio de marfim praticado com o interior192

.

A segunda metade de Setecentos ficou marcada por repetidos confrontos entre

portugueses e macuas, nomeadamente a partir da campanha militar dirigida pelo gover-

nador-geral Francisco de Melo e Castro (1750-1758) contra o régulo Morimuno, em

1753. A chegada a Moçambique de 315 soldados e os constantes cortes ao trânsito das

caravanas ajauas que se dirigiam a Mossuril por parte dos macuas parecem ter justifi-

cado a ofensiva. Esta contou com a colaboração dos xecados de Sancul e Quitangonha

até ao momento em o xeque de Sancul foi morto pelo oficial que comandava o contin-

gente português. Em resposta ao sucedido as forças suaílis retiraram-se. Em clara des-

vantagem militar a partir daí, os portugueses acabaram por perder pelo menos metade

dos seus efectivos193

.

Posteriores investidas do xeque de Quitangonha forçaram o deslocamento das

forças de Morimuno para o interior embora, pouco tempo depois, por acção conjunta

deste e do chefe Mauruça, os ajauas tenham estado impedidos de atravessar a Macuana

191

Rita-Ferreira, 1982: p. 157-161; Lobato, 1989: p. 107; Serra, 1986: p. 93-95. 192

Frei João dos Santos, Etiópia Oriental (1609): p. 249; Alpers, 1975: p. 82-85, 104-113; Serra, 1986: p.

93-95. 193

Rita-Ferreira, 1982: p. 158-160 e Alpers, 1975: p. 104-110.

Page 70: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

54

para ir negociar à Terra Firme durante um período de cerca de dois anos194

. Apesar das

constantes “insolências e roubos”, por temer o sucedido em 1753, o governador-geral

Baltasar Pereira do Lago só em 1766 reagiu militarmente, na sequência de novos ata-

ques ao termo da Ilha e às caravanas ajauas. A campanha de 1766 juntou portugueses, o

xecado de Quitangonha e alguns chefes macuas contra os régulos de Uticulo e Cambira

mas revelou-se inconsequente195

.

Ainda assim, a Ilha de Moçambique viveu um período de relativa tranquilidade

ao longo dos dez anos seguintes. A partir de 1776, porém, recrudesceram as hostilidades

entre portugueses e macuas. Até determinada altura, o comércio de escravos no litoral

moçambicano contribuiu para o aumento do poder militar das populações macuas. Não

só porque a aquisição de panos e de contas permitia aos chefes de linhagem recompen-

sar os seus seguidores e atrair novos aliados, mas ainda porque o resgate das mercado-

rias africanas por franceses, luso-brasileiros, suaílis e, inclusive, portugueses passou

também a correr a troco de armas e pólvora. A venda de material de guerra aos macuas

visava facilitar-lhes a captura de escravos e de elefantes para a extracção de marfim e

realizou-se de forma clandestina até 1787, ano em que as autoridades portuguesas le-

vantaram a proibição ainda que unicamente em troca de escravos196

.

Mas para o recrudescer dos confrontos na Terra Firme mais relevante ainda pa-

rece ter sido o crescente envolvimento dos macuas nas redes do tráfico negreiro na con-

dição simultânea de vendedores e escravizados. Com efeito, de acordo com José Capela,

os escravos comerciados na Ilha de Moçambique eram maioritariamente de origem ma-

cua, preferidos aos escravos comprados aos mercadores ajauas que apresentavam maio-

res taxas de mortalidade em resultado das longas viagens e da adaptação ao ambiente

litoral. Os macuas eram também os principais fornecedores de escravos, tanto dos mer-

cadores portugueses, como dos mercadores baneanes e suaílis. A aquisição de escravos

era feita pelos patamares ao serviço dos negreiros fixados na região, ou por compra

junto dos chefes de linhagem da Macuana ou dos seus representantes que os apresavam

194

Alpers, 1975: p. 104-110; Rodrigues, 2006a: p. 62; Rita-Ferreira, 1982: p. 159-160; Lobato, 1989: p.

88. 195

Cit. Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 20.Ago.1766,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 78; Carta do capitão-mor das Cabaceiras Francisco Pereira

Henriques para o governador-geral, 23.Ago.1766, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 91; Alpers, 1975:

p. 110-113. 196

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1776, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 12; Alpers, 1975: p. 150-157, 194-196; Rita-Ferreira, 1982: p. 160-161;

Capela, 2002: p. 46. Ver também nota 57.

Page 71: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

55

entre linhagens inimigas, ou ainda através de razias feitas no interior próximo pelos

mesmos negreiros portugueses, baneanes e suaílis197

.

O ataque de 6 de Janeiro de 1776 ao Mossuril parece, precisamente, ter sido a

reacção do chefe Morimuno a uma destas razias para captura de escravos na região de

Voacela198

levada a cabo pelo capitão-mor da Terra Firme João Francisco Delgado e por

Mateus Coelho Soares, então um dos mais influentes moradores da Ilha de Moçambi-

que. O xeque da Quitangonha participou no ataque como aliado de Morimuno e, em

resposta, as autoridades portuguesas reuniram o apoio de cerca de vinte régulos de

Cambira liderados por Macutomuno “que sempre forão uteis pellas suas agriculturas, e

boa amizade com os Portuguezes” e contra-atacaram Morimuno conseguindo expulsá-lo

do seu território e afastá-lo para o interior199

.

Até cerca de 1784 não cessaram, contudo, os conflitos entre portugueses e ma-

cuas. As instáveis condições vividas, tanto na Terra Firme como na Macuana, dificulta-

vam o trânsito das caravanas ajauas que tinham a Ilha de Moçambique como destino.

Frequentemente, os macuas bloqueavam a passagem dos ajauas impedindo-os de chegar

às feiras da região para negociar com os mercadores locais. Os ataques macuas diri-

giam-se também contra os patamares enviados às feiras e povoações do interior conti-

nental aos quais roubavam as mercadorias destinadas a esse comércio. Nestas circuns-

tâncias, as autoridades portuguesas decidiram organizar nova ofensiva contra os chefes

do Uticulo, mais uma vez com o apoio dos xecados de Sancul e Quitangonha e juntando

ainda as forças do chefe macua Comala (ou Inhamacoma)200

.

Com excepção do chefe Mauruça, a campanha de 1783-1784 atenuou as “supre-

zas violentíssimas” que os macuas faziam às povoações da Terra Firme e colocou os

portugueses “em huma paz pacifica” com todos os chefes do Uticulo. As condições de

paz acordadas entre ambos previam o fim das hostilidades contra os portugueses e, bem

assim, o fim das guerras entre as diferentes linhagens macuas, o apoio militar em caso

de ameaças externas, a devolução dos escravos dos habitantes portugueses refugiados na

Macuana e o livre-trânsito das caravanas ajauas. A 24 de Julho de 1784, o chefe Mori-

muno declarou-se vassalo e cedeu formalmente o seu território à Coroa portuguesa, o

197

Capela, 2002: p. 43, 247-250 e Alpers, 1975: p. 194-196. 198

Território localizado a duas léguas de Mossuril na direcção de Uticulo chefiado por Comala que,

alegadamente, se encontrava sob tutela política de Morimuno, v. Alpers, 1975: p. 152-153. 199

Alpers, 1975: p. 152-157; Rita-Ferreira, 1982: p. 160-161; Carta do governador-geral Baltasar Pereira

do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1776, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 12. 200

Rita-Ferreira, 1982: p. 154-156.

Page 72: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

56

qual incluía as povoações de Mutipa – à distância de cerca de 8 léguas da Terra Firme,

ou seja, cerca de 52 Km201

–, Namuxixi, Greja e Namusupe “com todos os seus destric-

tos e pretenças”202

.

Não obstante, cerca de 1807, as queixas dos habitantes portugueses contra os

macuas, a quem acusavam de continuar a roubar as mercadorias despachadas para o

sertão e de aquartelar os escravos fugidos das suas terras sem sequer os entregarem

contra o pagamento de vinte cruzados como era costume, motivaram nova ofensiva

contra Morimuno pois, muito embora estes fossem comportamentos comuns a “todos os

regulos, e potentados do continente”, “o mais desaforado que havia, e o [de] mais facil

acesso era Morimuno”203

.

2.3.2. Os xecados de Quitangonha e Sancul

A expansão do tráfico de escravos verificada sobretudo de 1770 em diante con-

duziu necessariamente ao enfraquecimento das populações africanas implicadas neste

comércio e à quebra de poder das chefaturas da Macuana. Para os portugueses esta situ-

ação, depois de longos esforços para suster as investidas macuas sobre a Terra Firme,

acabou por se traduzir num ganho territorial – ainda que, provavelmente, pelo menos no

curto prazo, com pouca expressão prática – e numa relativa pacificação da região da

Ilha nos onze anos seguintes, entre 1784 e 1795. Por sua vez, para as populações suaílis

vizinhas, em particular para as chefaturas da Quitangonha, a participação no tráfico de

escravos gerou novas perspectivas de negócio e um acréscimo de poder cujos esforços

de conservação colocaram de novo a região em estado de guerra. A influência suaíli

sobre o comércio praticado na região cresceu precisamente a partir do momento em que

os escravos se começaram a substituir ao marfim como principal produto de exportação

da costa oriental africana204

.

201

Carta do tenente-coronel Vicente Caetano da Maia e Vasconcelos para o Marquês de Angeja,

18.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç, cx. 44, doc. 45. Mais uma vez, tendo como referência que uma

légua equivalia a 6,54 Km (Marques, 2006: p. 23) ou a uma hora de caminho (Hoppe, 1970: p. 319). 202

Cit. Carta do tenente-coronel Vicente Caetano da Maia e Vasconcelos para o secretário de Estado,

20.Ago.1785, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 50, doc. 24 e Auto de vassalagem do régulo Morimuno,

24.Jul.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 92, respectivamente; Carta dos governadores interinos

para o secretário de Estado, 6.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 47, doc. 3; Alpers, 1975: p. 152-

157. 203

“Relatório dirigido ao Visconde de Anadia pelo coronel de milícias comunicando o estado de rebeldia

dos régulos das Terras Firmes”, 9.Out.1807, Soc. Geog. Lisboa, Res. 1 - Est. 145 - Pasta L - N.º 17 e

Alpers, 1975: p. 196. 204

Alpers, 1975: p. 194-196; Capela, 2008: p. 27; Serra, 1986: p. 126.

Page 73: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

57

No âmbito deste comércio, os mercadores suaílis, como de resto os portugueses,

prosperaram enquanto intermediários entre as populações africanas e os mercadores

externos que ali vinham abastecer-se de escravos. Contudo, no quadro legal da Monar-

quia portuguesa estavam proibidos os negócios com outras nações europeias nos portos

ultramarinos. Uma situação da qual beneficiaram os núcleos suaílis vizinhos que comer-

ciando sem restrições se tornaram interlocutores privilegiados de franceses, os primeiros

a demandarem a costa oriental africana de forma sistemática à procura de mão-de-obra

escrava para as plantações das suas colónias, mas também dos mercadores muçulmanos

das Comores, Zanzibar, Madagáscar e Península Arábica com os quais partilhavam la-

ços sociais e religiosos205

.

As relações entre suaílis e portugueses agravaram-se sobretudo a partir do mo-

mento em que a venda de escravos aos franceses foi tacitamente autorizada no porto da

Ilha de Moçambique, em 1787206

. Até então, como vimos, em quase todos os confrontos

contra as chefaturas macuas, os xeques de Sancul e Quitangonha haviam-se associado

às autoridades portuguesas. Por um lado, interessava-os o aprovisionamento de escravos

que podia decorrer desses confrontos. Por outro, contendiam para dominar um dos seus

principais concorrentes comerciais, já que os chefes macuas procuravam quebrar a in-

termediação e aumentar os seus lucros através do estabelecimento de relações directas

com os mercadores externos à região207

.

De acordo com Nancy Hafkin, nos dois séculos anteriores e ao longo dos três

primeiros quartos do século XVIII, de um modo geral, portugueses e suaílis estabelece-

ram e conservaram relações de tolerância mútua. Sob a promessa de lealdade e de pro-

tecção militar contra as chefaturas macuas do interior, os xeques de Quitangonha e San-

cul foram sendo integrados na hierarquia administrativa portuguesa. Os governadores-

gerais confirmavam a investidura de cada novo xeque, era-lhes passada uma carta-pa-

tente e pago um soldo mensal através da Fazenda, a exemplo dos demais oficiais portu-

gueses. As relações decorriam também da dependência alimentar da Ilha e do facto dos

xecados serem dois dos seus principais fornecedores. Um comércio que se exercia nos

dois sentidos, tanto com os suaílis a dirigirem-se à Terra Firme como com os portugue-

205

Mbwiliza, 1991: p. 30, 43-44; Capela, 2002: p. 108; Hafkin, 1973: p. 25-28; 51-53. 206

Capela, 2002: p. 46. 207

Mbwiliza, 1991: p. 43-44; Hafkin, 1973: p. 94-95; Serra, 1986: p. 95-96.

Page 74: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

58

ses a deslocarem-se às povoações suaílis208

. Desde a introdução da cultura da mandioca

que, para além de alimentos, o comércio com os vizinhos da Quitangonha se baseava

também na compra de escravos para mão-de-obra agrícola daquelas plantações. Artigos

adquiridos sobretudo a troco de panos indianos, os quais posteriormente eram vendidos

pelos suaílis aos macuas por, entre outras coisas, marfim e mel209

.

Apesar da inclusão na hierarquia administrativa e, de resto, da grande proximi-

dade com os portugueses, os xecados de Quitangonha e de Sancul conservaram um ele-

vado grau de autonomia. A vivência tolerada assente na partilha de interesses que mar-

cara as anteriores relações entre portugueses e suaílis alterou-se, porém, nas duas últi-

mas décadas de Setecentos com a entrada maciça dos franceses no trato da costa oriental

africana. Os lucros gerados pelo tráfico de escravos com o novo parceiro comercial in-

duziram a mudança de comportamento do xeque da Quitangonha, Toacali Hija, e pare-

cem ter-lhe fornecido a motivação e os meios necessários para reforçar a autonomia

relativamente aos portugueses e para aumentar a influência sobre as chefaturas macuas.

Após o ataque de 1776 a Mossuril em que participou como aliado de Morimuno e de

uma nova ofensiva sobre a Terra Firme em 1786, o xeque da Quitangonha empreendeu

uma guerra em larga escala contra os portugueses em 1795-1796. Movia-o a defesa da

sua autonomia e a continuidade do comércio com os franceses. O continente fronteiro à

Ilha de Moçambique foi o palco da guerra que redundou no triunfo militar e económico

suaíli com o fornecimento de escravos aos mercadores portugueses a ser largamente

afectado no momento seguinte210

.

O reconhecimento da situação e da falta de capacidade militar para a contrariar,

levaram o governador-geral recentemente empossado, Francisco G. C. Meneses da

Costa (1797-1801), a “oferecer perdão” a Toacali Hija. Ou antes, o governador-geral fez

“espalhar, não com vozes de susto, que se ele pedisse perdão (…) estaria nas circuns-

tancias de o obter atendendo á alta benegnidade de Sua Magestade, e ao muito que se

nos fazia precizo a união deste cheque, e dos vasalos portuguezes nas actuaes circuns-

tancias para a defeza do Estado, procurando até deminuir a qualidade do seu crime por 208

Passaporte passado a António da Costa Xavier para ir comprar mantimentos e madeira à Quitangonha,

15.Abr.1803, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 99, doc. 24 e Tradução da carta do xeque da Quitangonha

Toacali Hija para o governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá e sua mulher, s.d. [antes de

18.Jan.1801], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 31. 209

Hafkin, 1973: p. 91-121. Veja-se uma relação dos “empregos da Terra Firme” e dos respectivos

vencimentos pagos a cada um in “Relação do vencimento geral das folhas Ecleziasticas, Militares, Civis,

e outras abaixo declaradas, assim desta Capital; como dos Portos Subordinados”, s.d. [1797], AHU, Cons.

Ultr., Moç.,cx. 79, doc. 52. 210

Hafkin, 1973: p. 28, 91-121 e Antunes e M.Lobato, 2006: p. 271.

Page 75: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

59

se não vir a fazer tam sensivel a falta do castigo”211

. Na prática, o governador português

reconhecia a incapacidade para suster os suaílis de Quitangonha. O “perdão português”

foi aceite por Toacali Hija sob alegação de que sempre fora um “vassalo fiel” e que não

havia “feito mal nenhum contra [a] Coroa [portuguesa]”, porém, se o governador-geral

julgasse que sim, então, que o perdoasse. Não obstante, este foi um acto meramente for-

mal. No momento imediatamente seguinte, o xecado de Quitangonha continuou a inva-

dir a Terra Firme e a incorrer em práticas comerciais que os portugueses consideravam

lesivas para os seus interesses, por exemplo, convidando as populações de Zanzibar, de

Mascate, de Madagáscar e os franceses das Mascarenhas para comerciarem nas suas

praias212

.

Cerca de um ano depois, os portugueses decidiram empreender uma ofensiva em

larga escala contra aquele xecado por violação das leis gerais que regulavam o seu

comércio. As expedições de 1799-1801 contaram com o apoio das chefaturas macuas de

Morimuno, Maviamuno (sobrinho daquele) e do xeque de Sancul, e, embora sem uma

vitória militar cabal da coligação luso-macua-suaíli, terminaram com o xeque Toacali

Hija a, efectivamente, pedir perdão ao governador-geral Meneses da Costa e a reiterar a

sua condição de “fiel vassalo”.

Nancy Hafkin considera que esta terá sido a forma encontrada pelos suaílis da

Quitangonha em se acomodarem à presença portuguesa. Uma presença que estariam

dispostos a tolerar mediante a conservação de relações pacíficas que lhes permitissem

continuar o seu comércio e cujas formalidades estariam dispostos a aceitar desde que

não interferissem com a sua liberdade de acção213

. Nesta, como na já citada declaração

de vassalagem do chefe Morimuno em 1784, os portugueses fizeram uso de um dispo-

sitivo jurídico que se tornou relativamente comum no relacionamento com os potenta-

dos africanos e asiáticos entre os séculos XVII e XIX, o contrato de vassalagem, enca-

211

Carta do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa para o secretário de Estado,

24.Nov.1797, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 79, doc. 12. 212

Cit. Tradução da carta do xeque da Quitangonha para o governador-geral Francisco G. C. Meneses da

Costa, 7.Nov.1797, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 79, doc. 12; Carta do governador-geral cessante

Francisco G. C. Meneses da Costa para o novo governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá,

11.Jan.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 92, doc. 27; Hafkin, 1973: p. 97-107. 213

Cit. Tradução da carta do xeque da Quitangonha Toacali Hija para o governador-geral Isidro de

Almeida Sousa e Sá, ant. 1.Nov.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 31; Carta do governador-

geral Francisco G. C. Meneses da Costa para o secretário de Estado, 25.Ago.1799, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx.83, doc. 9; Hafkin, 1973: p. 97-107.

Page 76: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

60

rado, segundo António Vasconcelos de Saldanha como uma “solução de ordenamento e

pacificação interna das autoridades tradicionais”214

.

2.4. A Terra Firme entre discursos e práticas

Assim, na segunda metade de Setecentos a Terra Firme foi palco, não só do co-

mércio e da agricultura, mas também dos conflitos entre portugueses, macuas e suaílis.

Ao longo do período cronológico focado neste trabalho esses momentos foram pelo

menos seis: 1766, 1776, 1783-1784, 1786, 1795, 1799-1801. E se, na prática, nem todos

tiveram lugar na Terra Firme, indirectamente todos tiveram um impacto profundamente

negativo sobre o comércio e a agricultura ali praticados pelos portugueses. Com efeito,

estas foram actividades largamente afectadas pela instabilidade vivida na região na se-

gunda metade do século XVIII, quer em resultado directo dos conflitos com a conse-

quente destruição de casas, palmares e fazendas, quer em função da perda de vidas hu-

manas, do desvio da mão-de-obra escrava dos trabalhos agrícolas para os esforços de

guerra e de todas as despesas associadas, nomeadamente os saguates remetidos às che-

faturas africanas como forma de granjear apoios militares215

.

Também a simples iminência de novos ataques perturbava o trato das terras e di-

ficultava a prática diária do comércio aos habitantes da Terra Firme216

. Segundo o te-

nente-coronel e à época governador interino Vicente Caetano da Maia e Vasconcelos,

“todos os Povos da terra firme (…) bastava ouvirem dizer guerra para tudo dezamparar

suas cazas, e meterem-se nas embarcações”217

. Nessas ocasiões, os continentais

procuravam refúgio, ou no recinto insular, ou na fortaleza de São José de Mossuril, já

que nem sempre existia número suficiente de embarcações para transportar toda a po-

pulação para a Ilha. Assim, por vezes durante largos períodos, as propriedades do conti-

nente ficavam “dezamparadas” dos “seos senhorios uteis”218

. Períodos ao longo dos

quais permaneciam entregues ao cuidado do respectivo capitão ou administrador de

214

Saldanha, 2005: p. 397-398. O tratado de 1629 com o Estado do Monomotapa que havia conferido aos

portugueses a soberania formal sob um extenso território no vale do Zambeze é talvez o mais conhecido

exemplo de um destes contratos na região da costa oriental africana. 215

V. Relação da despesa feita com as Guerras de Quitangonha, 22.Dez.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç,

cx. 88, doc. 33. 216

Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1778, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 26 e Carta de José Ferreira Nobre para o secretário de Estado,

18.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç, cx. 47, doc. 46. 217

Carta do tenente-coronel Vicente Caetano da Maia e Vasconcelos para o Marquês de Angeja,

18.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç, cx. 44, doc. 45. 218

Cit. Carta do governador-geral Baltasar Pereira do Lago para o secretário de Estado, 15.Ago.1776,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 12.

Page 77: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

61

cada palmar ou fazenda ou “à administração de alguns seos captivos”219

. Com o

objectivo de evitar os prejuízos decorrentes de alertas infundados de guerras e ataques

macuas e suaílis, o governo-geral chegou a emitir bandos compelindo os foreiros da

Terra Firme a tomar as cautelas necessárias para a protecção dos seus bens e a decretar a

prisão daqueles que espalhassem falsas notícias sobre possíveis ataques220

.

Empiricamente, os conflitos registados e, não menos, os momentos de colabora-

ção entre portugueses, macuas e suaílis que caracterizaram a segunda metade de Sete-

centos testemunham os processos de expansão territorial e de extensão da influência

portuguesa um pouco mais para além da Ilha de Moçambique do que o verificado até

então221

. Estes processos decorreram de forma gradual e, mais do que por via da força,

tiveram por base a intensificação das actividades de comércio e de exploração agrícola

verificadas na Terra Firme, já que os portugueses se confrontavam com uma manifesta

inferioridade de meios humanos e militares por comparação com aquelas populações

para levarem a cabo uma política de conquista. Neste quadro, importa conhecer um

pouco melhor o ponto de vista das autoridades central e local sobre o assunto. Quais os

discursos formulados sobre as relações portuguesas com macuas e suaílis? E qual a prá-

tica destes discursos?

No rescaldo da campanha de 1783-1784 contra o chefe Morimuno, discutindo-se

o recado de Comala – chefe macua aliado que pretendia voltar ao Uticulo, arrasá-lo por

completo, colocar como régulo daquele território um sobrinho seu e, para o efeito, pedia

dois frascos de pólvora ao capitão-mor da Terra Firme João Vicente de Cardenas e Mira

–, o governo interino (1783-1786) desaconselhava o apoio e a entrega da pólvora pe-

dida. O capitão-mor da Terra Firme era ainda aconselhado a responder que aquelas

“eram novas ordens da Soberana” e que, por isso, o governo-geral não podia “dar hum

passo de adiantamento nesta matéria”222

.

No que se referia à guerra de 1799-1801 contra o xecado da Quitangonha, os

oficiais da Terra Firme consultados sobre a evolução do conflito defendiam, pelo con-

219

Cit. Bando do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa, 26.Out.1798, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 83, doc. 9. Ver também Carta do capitão de infantaria José António Caldas para o governador-

geral, 20.Set.1799, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 83, doc. 63; Carta do governador-geral Francisco G. C.

Meneses para o secretário de Estado, 9.Abr.1799, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 82, doc. 5. 220

Bando do governador-geral D. Diogo de Sousa Coutinho, 6.Mai.1795, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 70,

doc. 74 e Bando do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa, 26.Out.1798, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 83, doc. 9. 221

Mbwiliza, 1991: p. xvi. 222

Carta do capitão-mor da Terra Firme João Vicente de Cardinas e Mira para os governadores interinos,

16.Out.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 48, doc. 19.

Page 78: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

62

trário, uma postura mais agressiva do então governador-geral Francisco Guedes de Car-

valho Meneses da Costa (1797-1801) que, diziam, precisava renunciar à esperança de

conseguir “huma reconcilliação tantas vezes solicitada pelo Estado, e tantas vezes pro-

metida pelo Xeque, com o único intuito de se perpetuar na independencia, e cometer

com segurança as hostilidades que sempre maquinou”. Parecia-lhes impossível alcançar

a paz e pôr cobro a estas “hostilidades” por outra via que não a das armas e, não menos,

do que por via de uma “guerra viva” e não de uma “guerra defensiva” como a que até

então os portugueses vinham praticando e que, a longo prazo, consideravam ser mais

dispendiosa. Tanto mais que, pelo particular conhecimento que tinham dos usos e cos-

tumes dos chefes macuas vizinhos, julgavam ser mais vantajoso manter a aliança con-

juntural com estes últimos, evitando uma guerra que seria ainda mais onerosa para a

Fazenda Real do que aquela que estava em curso contra Quitangonha, pois acreditavam

que “todos os [macuas] que não combaterão para o estado, combaterão contra ele”223

.

A este propósito, o governador-geral Meneses da Costa lembrava que “a idea

dos homens, e as suas openioens não são todas igoaes”. De facto, por detrás da postura

belicosa dos oficiais da Terra Firme estaria muito provavelmente a defesa dos seus pró-

prios interesses. Os capitães-mores e demais oficiais da Terra Firme eram uns dos mais

activos agentes negreiros. Manter a região em “estado de sítio” constituía-se como uma

forma fácil de dispor de escravos para alimentar os seus negócios. Daí provavelmente,

neste caso em particular, fazerem a apologia da guerra contra o xecado de Quitangonha

cuja eventual derrota poderia, ademais, representar a perda de preeminência do principal

concorrente comercial. Daí também, de uma forma geral, as atitudes abusivas e discrici-

onárias com que eram acusados de tratar as populações macuas e suaílis vizinhas na

prossecução das suas ambições pessoais. Atitudes impostas a coberto da autoridade que

no quadro da administração portuguesa o ofício lhes conferia e em resultado das quais o

comércio da restante comunidade portuguesa foi largamente afectado, já que alguns dos

ataques e dos bloqueios à passagem das caravanas ajauas por parte dos macuas terão

sido a resposta às técnicas agressivas de comércio – mormente o confisco de escravos –

praticadas pelos oficiais da Terra Firme224

.

Também o anterior governador-geral, D. Diogo de Sousa Coutinho (1793-1797)

defendia a continuidade da guerra contra o xecado de Quitangonha. Porém, por seu

223

Carta dos oficiais da Terra Firme para o governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa,

24.Set.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 14. 224

Hafkin, 1973: p. 24-26, 89-90, 115-120 e Capela, 2002: p. 248.

Page 79: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

63

lado, como vimos atrás, o governador-geral então em exercício, Meneses da Costa, re-

conhecia que uma postura de não-agressão era a que mais interessava aos portugueses

tendo sobretudo em conta a desproporcionalidade de forças entre as partes envolvidas.

Segundo este último, o xeque Toacali Hija tinha sob o seu comando cerca de 1000 ho-

mens, enquanto no final do século XVIII na ilha-capital, onde à época estavam concen-

trados quase todos os recursos militares da colónia, o número máximo de efectivos seria

de aproximadamente 500. Quanto aos macuas, só o chefe Morimuno por ocasião do

ataque ao Mossuril em 1776 havia conseguido reunir uma força de 8000 homens225

.

Não obstante as necessárias reservas relativamente à grandeza das forças macuas e sua-

ílis, era evidente que os portugueses não dispunham dos meios suficientes para oporem

por si mesmos resistência a estas populações e que, assim sendo, para manterem a sua

posição na região foram obrigados a estabelecer alianças com uns e com outros de

acordo com as diferentes conjunturas políticas, económicas e militares.

Tal como Meneses da Costa, o governador-geral seguinte, Isidro de Almeida

Sousa e Sá (1801-1805), sustentava uma postura de não-agressão. Só nos casos em que

não lhe fosse possível “reconciliar[-se] com esta qualidade de rebeldes (…) com razoes,

e algumas dadivas” os reprimiria pela força. Não mais do que uma guerra defensiva,

portanto, pois na sua opinião aumentar os domínios portugueses na África Oriental era

gastar a Fazenda Real “sem utilidade”. E não havendo “meyos para couza algua” o in-

dispensável era que do reino fossem enviados instrumentos e mão-de-obra para a explo-

ração agrícola e também oficiais para servirem nos postos superiores da administração

militar. No intento de desenvolver a agricultura, contudo, não deixava de considerar que

o melhor seria expulsar os suaílis vizinhos de Sancul e Quitangonha pois as terras ocu-

padas por estes eram as mais próximas e as melhores pela “fecundidade de aguas nati-

vas”226

.

Pelo menos na conjuntura das duas últimas décadas de Setecentos, tendo conhe-

cimento da difícil situação político-militar vivida na capital dos domínios portugueses

na África Oriental, Lisboa recomendava a manutenção de relações pacíficas com as

225

Carta do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa para o secretário de Estado, 1.Nov.1801,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 90, doc. 2; Carta do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa

para o secretário de Estado, 24.Nov.1797, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 79, doc. 12; Hafkin, 1973: p. 102-

105. 226

Carta do governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá para o secretário de Estado, 23. Set.1801,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 11; Carta do governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá para o

secretário de Estado, 13.Jan.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 92, doc. 27; Carta do governador-geral

Isidro de Almeida e Sá para o secretário de Estado, 25.Jul.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 93, doc. 97

Page 80: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

64

populações africanas vizinhas em prol do desenvolvimento do comércio e, nesse sen-

tido, dava instruções para que não fossem feitas mais “conquistas nestas terras em bene-

fício da Coroa”227

. Também para os moradores, mercadores e generalidade da comuni-

dade portuguesa um quotidiano tranquilo e sem os recorrentes conflitos que ditavam a

destruição dos seus bens, os impediam de cultivar as suas terras e de praticar os seus

negócios era certamente mais desejado, como aliás atestam os remetidos lamentos às

autoridades portuguesas nesse sentido228

.

Assim, no cômputo geral, a postura a observar parecia ser relativamente consen-

sual: todos, ou quase todos, pareciam crer que a convivência tanto quanto possível pací-

fica era o que mais convinha aos interesses portugueses. Mas, para além dos discursos –

tantas vezes pícaros e contraditórios –, a realidade era bastante mais complexa. Na prá-

tica, confinados entre várias unidades políticas africanas e limitados pelos escassos re-

cursos demográficos, militares e financeiros, para continuarem a existir em Moçambi-

que os portugueses encontravam-se dependentes dos africanos e, por isso, praticaram

uma política circunstancial consubstanciada no constante fazer e desfazer de guerras e

alianças, ora com macuas ora com suaílis. Ou, nas palavras de Nancy Hakfin, adopta-

ram uma “política de mera sobrevivência”229

.

227

Carta do capitão-mor da Terra Firme João Vicente de Cardenas e Maia para os governadores interinos,

16.Out.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 48, doc. 19 e Carta dos oficiais da Terra Firme para o

governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa, 24.Set.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc.

14. 228

Carta dos mercadores da praça de Moçambique para o Senado da Câmara, 9.Out.1782, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 40, doc. 4 e Carta dos moradores da Ilha de Moçambique para o Senado da Câmara, s.d.

[1784], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 47, doc. 39. 229

Hafkin, 1973: p. 100, 105 e Rita-Ferreira, 1982: p. 161.

Page 81: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

65

CAPÍTULO 3

A posse e a propriedade da terra na Ilha e Terra Firme

Qual o regime de propriedade que enquadrou o acesso à terra na Ilha de Mo-

çambique e no seu termo? A quem competia dar terras? Que normas regeram a conces-

são e a sucessão destas terras? Depois de apresentados os actores e as acções de materi-

alização do domínio português e da resistência que lhe foi oposta entre 1763 e 1802, ao

longo deste capítulo centrar-nos-emos na forma como este espaço foi incorporado na

Monarquia portuguesa, nos mecanismos jurídico-institucionais utilizados nesse pro-

cesso e nas dinâmicas de apropriação da terra.

A 19 de Janeiro de 1763 a Ilha de Moçambique era, então, elevada a vila e do-

tada de Senado de Câmara conforme a directiva régia de 1761. Repetiam-se, generica-

mente, os princípios organizadores e as prerrogativas dos concelhos do reino e demais

conquistas ultramarinas. Seguia-se, em particular, a moldura legislativa da capitania

brasileira de Rio Negro, nomeadamente a já referida lei de 3 de Março de 1755230

. As-

sim, à câmara da Ilha era outorgada jurisdição administrativa, política, jurídica, fiscal e

económica sobre um território que incluía o recinto insular e “todos os lugares, povoa-

ções e fazendas que na terra firme adjacente” se achavam estabelecidos e futuramente se

estabelecessem até um limite de seis léguas em quadro231

.

Dentro deste limite a “data de terras” passava a ser uma prerrogativa da câmara

destinada a dotá-la de receitas próprias por meio da arrecadação de foros. Cada parcela

230

Carta do governador-geral João Pereira da Silva Barba para o secretário de Estado, 20.Jul.1763, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 59; Carta régia para o governador do Grão Pará e Maranhão Francisco

Xavier de Mendonça Furtado, 3.Mar.1755, AHU, Gov. Moç., cód. 1323, fls.33-36v. 231

Auto de criação da câmara de Moçambique, 17.Ago.1763, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 82.

Page 82: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

66

de terra doada não devia ser superior a meia légua em quadro de modo a permitir o de-

senvolvimento urbano e a fixação futura de habitantes232

. Com igual intuito, no mesmo

espaço das seis léguas devia conservar-se um “distrito” para “se poderem edificar novas

cazas” e para “logradouro público”. Para além das seis léguas legisladas, a dada de ter-

ras continuava a ser uma prerrogativa do governo-geral. Assim como ficava reservado

ao governo-geral “o terreno vago immediato” à fortaleza de São Sebastião233

.

Sobre os bens consignados aos concelhos e, de resto, sobre questões de ordena-

mento urbano, as Ordenações portuguesas eram vagas e pouco claras (Ord. Man., liv.

IV, tt.º 62-65 e Ord. Fil., liv. IV, tt.º 36-39)234

. Acrescia a desadequação de um conjunto

de leis que, originalmente elaborado para a América portuguesa, pouco levava em con-

sideração a realidade leste-africana. A adaptação das cláusulas relativas às terras cedidas

ao concelho suscitou, desde logo, as dúvidas de João Pereira da Silva Barba, o governa-

dor-geral a quem coube a tarefa de criar os municípios da capitania. No caso da Ilha,

não só porque, como referido no capítulo anterior, o domínio português sobre o

continente próximo não tinha seis léguas de distância, mas também porque as fazendas e

outros prédios, tanto rústicos como urbanos, eram património da Coroa “pertencendo os

foros das mesmas fazendas a Vossa Magestade”235

.

Com efeito, embora já o fosse anteriormente, a concessão de terras como uma

das competências dos governadores-gerais de Moçambique foi consagrada na legislação

de 1760. Circunstância perante a qual Silva Barba deliberou “interinamente” que a câ-

mara aforasse apenas “terra inculta e por cultivar de que não houvesse aforamento feito

a Fazenda Real” enquanto Lisboa não esclarecesse “a dúvida dos aforamentos da Ca-

mara”236

. Em 1764, o procurador da Fazenda deu deferimento à decisão do governador-

geral mantendo-se assim sob jurisdição do governo-geral as terras aforadas antes da

232

Carta do rei para o governador do Grão Pará e Maranhão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, 3.

Mar.1755, AHU, Gov. Moç., cód. 1323, fls. 33-36v. A expressão “légua em quadra” tanto podia designar

um terreno de forma quadrada com a mesma extensão de frente e de fundo, como um terreno rectangular

cujo fundo era definido em função de determinado referencial geográfico, normalmente o pelourinho, v.

Marx, 1991: p. 35-36. 233

Auto de criação da câmara de Moçambique, 17.Ago.1763, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 82. 234

Marx, 1991: p. 56-65; Raquel Glezer, 2007 apud Moura, 2010: p. 63; Rodrigues, 1998: p. 589-590. 235

Carta do governador-geral João Pereira da Silva Barba para o rei, 20.Jul.1763, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 23, doc. 59. 236

Rodrigues, 2002: 446 e Carta do governador-geral cessante Francisco G. C. Meneses da Costa para o

novo governador-geral Isidro de Almeida Sousa e Sá, 11.Jan.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 92, doc.

27.

Page 83: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

67

constituição do concelho, enquanto as prerrogativas do município em matéria fundiária

ficavam limitadas à concessão de “terras incultas e por cultivar”237

.

Logo após a criação do município tornam-se evidentes as disputas entre a câ-

mara e o governo-geral pela administração das terras da Ilha e da Terra Firme. Neste

terceiro capítulo, para além da análise do regime de posse e propriedade nos espaços

insular e continental, pretende-se também conhecer essas disputas e clarificar os espaços

administrados por cada uma destas instituições. Para já, procuremos conhecer o regime

jurídico-político que serviu de pano de fundo à posse e propriedade da terra na ilha-ca-

pital, designadamente na segunda metade de Setecentos, em particular a partir da cri-

ação do município em 1763. Não dispondo de títulos de aforamento em número

suficiente para fazer uma análise exaustiva da questão dos prazos na região da Ilha de

Moçambique procuremos, então, pensá-la no cruzamento entre os registos disponíveis e

a historiografia dedicada aos prazos dos Rios de Sena.

3.1. O acesso à terra em Moçambique na segunda metade de Setecentos

Quando na década de 1760 a capitania de Moçambique foi dotada de instituições

formais de municipalismo baseadas na experiência da América portuguesa, verificava-

se já desde 1752 uma crescente aproximação à ordem jurídica brasileira. Segundo Eu-

génia Rodrigues, a separação do Estado da Índia e a passagem para administração di-

recta da secretaria de Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos e do Conselho

Ultramarino levaram a um processo de “sesmarização” – ou de “atlantização” – do re-

gime fundiário moçambicano. Isto é, pelo menos no plano discursivo, as políticas terri-

toriais nas colónias americana e leste-africana tenderam a convergir no sentido de os

prazos de Moçambique se aproximarem das sesmarias atlânticas238

. Esta associação

entre prazos e sesmarias notada por Eugénia Rodrigues explica-se, em grande medida,

pelo vazio legal gerado após a separação do Estado da Índia e pela referida transferência

de Moçambique para a esfera do Conselho Ultramarino, instituição já responsável pela

237

Parecer do procurador da Fazenda, 22.Out.1764, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 59. 238

Em Portugal as concessões de terras em sesmaria foram adoptadas como medida de povoamento e

aproveitamento agrícola desde períodos tão recuados quanto o século XIII. As terras, geralmente incultas,

eram distribuídas com a obrigatoriedade de serem cultivadas dentro de um intervalo de tempo não

definido. Sob diferentes conformações e variantes ao longo dos séculos e dos espaços o instituto das

sesmarias foi transplantado para as Ilhas atlânticas, Angola e Brasil; v. DHP, vol. v: p. 542-544. Sobre as

sesmarias medievais, v. Rau, 1982. Sobre as sesmarias atlânticas, v. Saldanha, 1992. Para conhecer o

processo de “sesmarização” dos prazos dos Rios em maior detalhe, v. Rodrigues, 2002: p. 465-475.

Page 84: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

68

concessão de terras na América portuguesa e que passava agora a tutelar também as

concessão nos territórios leste-africanos inspirado na experiência brasileira239

.

Os anos seguintes a 1752 foram caracterizados por uma certa indefinição no to-

cante às questões fundiárias e até pela sobreposição legislativa entre as diferentes insti-

tuições que passaram a tutelar o processo de concessão de terras em Moçambique, como

o Conselho Ultramarino, a secretaria de Estado da Marinha e dos Negócios Ultramari-

nos e o próprio governo local. Mas, por fim, em 1760, Lisboa determinava que Moçam-

bique se passasse a reger pela legislação em vigor nas capitanias brasileiras. No leste-

africano a nova legislação devia ser aplicada aos prazos então vagos e aos que daí em

diante vagassem, limitava a dimensão máxima das concessões a três léguas de comprido

por uma de largo ou, tratando-se de terras minerais ou costeiras, a meia légua em qua-

dro. E, bem assim, obrigava os foreiros a ceder as suas terras em caso de criação de um

novo povoado. Ademais, as concessões passavam a ser da exclusiva competência dos

governadores-gerais em vez de serem uma competência partilhada entre estes e os te-

nentes-generais dos Rios de Sena como acontecia desde o início do século XVIII. Exi-

gia-se, ainda, o parecer das câmaras e do feitor da Fazenda Real e a confirmação do

Conselho Ultramarino dentro de um prazo de quatro anos240

.

Se, num primeiro momento, a aproximação da legislação leste-africana à legisla-

ção americana em matéria fundiária parece ter decorrido de um certo vazio legal e da

simples transposição das leis vigentes nas capitanias brasileiras, na conjuntura de 1760,

com Pombal, e sobretudo depois, já sob a magistratura dos ministros ilustrados de D.

Maria, ela traduz a tendência de uniformização institucional e legislativa delineada para

o império português241

. Contudo, à letra de lei, apenas os procedimentos burocráticos,

como a passagem das concessões de terras para a alçada única dos governadores-gerais

e a respectiva confirmação pelo Conselho Ultramarino, tiveram consequência. As trans-

formações parecem, então, ter acontecido mais a um nível discursivo do que prático

com os prazos de Moçambique a incorporarem a tónica da “sesmarização” sem que, no

entanto, essa “sesmarização” se efectivasse de forma plena. Por uma série de constran-

gimentos locais a nova legislação nunca chegou a ser totalmente aplicada e, na reali-

239

Eugénia Rodrigues sustenta que a leitura dos prazos como sesmarias feita por autores como Alexandre

Lobato e Narana Coissoró se baseou na documentação posterior à autonomia de Moçambique face ao

Estado da Índia (1752) não levando em conta os diferentes entendimentos das concessões consoante o

tempo histórico e os contextos locais, Rodrigues, 2002: p. 466. 240

Rodrigues, 2002: p. 465-470 e Rodrigues, 2013: p. 298-300. 241

Rodrigues, 2013: p. 295-296 e Hespanha, 2007.

Page 85: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

69

dade, o regime jurídico que continuou a servir de enquadramento à posse e propriedade

da terra nos territórios portugueses do sudeste africano foi o dos prazos242

.

Atentemos, pois, e ainda que de forma sintética, no regime dos prazos dos Rios

de Sena e na sua evolução desde os primeiros momentos da sua institucionalização até à

segunda metade de Setecentos, particularizando as normas que regularam as formas de

concessão e de sucessão destas terras243

.

3.1.1. Os prazos da Coroa nos Rios de Sena

A primeira concessão de terras identificada nos territórios portugueses do su-

deste africano recua a 1582 e ao espaço dos Rios de Sena244

. Tratava-se das terras Inha-

miói, Bengueira, Quitundo e Quituca cedidas perpetuamente aos dominicanos fixados

na região, uma concessão confirmada pelo vice-rei a 3 de Novembro de 1583. Para além

da perpetuidade, desconhecem-se as restantes condições de aforamento. Pelo menos

outras duas concessões foram feitas na transição do século XVI para o XVII, uma em

Tete e outra em Sena, em relação às quais se desconhecem igualmente as cláusulas

contratuais.

Contudo, só posteriormente, por alvará de 6 de Fevereiro de 1608 emitido pelo

governador da Índia D. Frei Aleixo de Meneses (1607-1609), é que as concessões de

terras em Moçambique foram regulamentadas e, a partir daí, se generalizaram tendo

como modelo as normativas emitidas para os territórios da Província do Norte e também

de Ceilão. O referido alvará de 6 de Fevereiro de 1608, que se instituirá como a “pri-

meira legislação” sobre matérias fundiárias, dispunha a cedência de terras a título de

aforamento pelo período de três vidas – ou, alternativamente, pelo tempo definido pelo

capitão-general – mediante o pagamento de um foro e em regime de remuneração de

serviços prestados à Coroa245

.

Os títulos de concessão seriam emitidos na própria capitania cabendo a sua con-

firmação ao vice-rei do Estado da Índia no prazo de três anos. Determinava-se ainda que

242

Rodrigues, 2013: p. 297-299 e Rodrigues, 2002: p. 465-470. 243

Uma vez mais, o estudo essencial é o levado a cabo por Eugénia Rodrigues que, a despeito do foco nos

séculos XVII e XVIII, recua até 1498 e traça uma panorâmica da colonização portuguesa daí em diante

sob a perspectiva da territorialização, das soluções jurídicas de apropriação e repartição da terra e das

relações entre portugueses e africanos, v. Rodrigues, 2002: p. 409 e segs.. 244

Esta posição é defendida por Eugénia Rodrigues, v. Rodrigues, 2002: p. 409-410. Opinião divergente

têm Alexandre Lobato que situa a introdução do regime dos prazos nos Rios de Sena na década de 1630

(Lobato, 1957: p. 211-217); Malyn Newitt que aponta o ano de 1646 (Newitt, 1995: p. 224); e José

Capela que considera 1618 como a data de concessão legal dos prazos (Capela, 1995, p. 27). 245

Rodrigues, 2002: p. 409-410.

Page 86: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

70

fossem elaborados um livro de tombo para registo das cartas de aforamento e um livro

de receita dos foros. As concessões posteriores a 1608 ter-se-ão baseado nesta legisla-

ção mas, mais uma vez, ignoram-se as condições e as obrigações a elas inerentes ex-

cepto no caso das terras cedidas aos dominicanos em 1582. O título que lhes era pas-

sado em 1608 continuava a prever o aforamento em regime perpétuo sublinhando-se a

impossibilidade de alienação do domínio útil sem a devida autorização régia. Possibili-

tava-se, em contrapartida, o subaforamento ou arrendamento até um máximo de três

anos246

.

Desde as últimas décadas de Quinhentos, a perspectiva da existência de minas de

ouro e prata motivava os esforços de colonização portuguesa nos Rios de Sena. Depois

da expedição de Francisco Barreto/Vasco Fernandes Homem (1569-1575) ter contribu-

ído para o alargamento da presença oficial portuguesa, aos acontecimentos de 1607 –

em que o mutapa Gatsi Rusere cedeu os direitos sobre as minas argentíferas da Chicova

à Coroa – e de 1629 – em que o mutapa Mavhura se declarou vassalo português – segui-

ram-se programas de conquista alargada da região e sucessivas disposições sobre o tra-

tamento jurídico a dar aos territórios incorporados na Monarquia portuguesa como pa-

trimónio da Coroa e, portanto, sob domínio eminente do monarca247

.

Pelo regimento dado ao capitão-general D. Nuno Álvares Pereira (1619-1623)

em 10 de Março de 1618 Lisboa determinava, sem mais, a distribuição de terras dei-

xando a cargo do governo de Goa a regulamentação da forma como essa distribuição

devia ser feita. Não obstante a ausência dos títulos de aforamento, é possível perceber

que todas as concessões feitas na década de 1620 eram confirmadas em três vidas e pre-

viam o pagamento de um foro. Quanto à forma de sucessão, ou eram omissas, ou pre-

viam a livre nomeação. As obrigações militares raramente eram discriminadas e não era

exigido que os foreiros residissem na parcela de terra aforada. E quanto a outras condi-

ções, eram bastante irregulares variando em função dos pareceres dos procuradores da

Coroa e da Fazenda que antecediam a confirmação e que passaram a ser obrigatórios a

partir de 1624. Subjacente à generalidade das concessões da década de 1620 estava a

promoção da agricultura, a necessidade de conservação do território e de contenção das

populações africanas vizinhas248

.

246

Rodrigues, 2002: p. 409-410. 247

Rodrigues, 2009 (citado sob autorização da autora) e Rodrigues, 2002: p. 409-417. 248

Rodrigues, 2002: p. 411-413.

Page 87: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

71

O alvará de 14 de Dezembro de 1633 emitido pelo vice-rei conde de Linhares

reiterava o anterior alvará de 6 de Fevereiro de 1608 acrescentando a obrigação de os

foros serem pagos em ouro. Os citados alvarás parecem ter sido a resposta das autorida-

des de Goa aos tratados de 1607 e 1629 que asseguraram a posse de uma vasta área na

região dos Rios de Sena que os portugueses pretendiam senhorear e enquadrar sob as

suas normativas249

. Entre 1633 e 1752, o regime jurídico dos prazos sofreu transforma-

ções ligeiras sobretudo em resultado das directivas de Goa e das políticas régias gizadas

para a Província do Norte posteriormente aplicadas às terras leste-africanas.

À semelhança dos emprazamentos de outros territórios do Estado da Índia, os

prazos dos Rios de Sena encerraram, então, aspectos das práticas enfitêutica e de doação

de bens da Coroa transpostas do reino incorporando, além disso, determinados

particularismos locais. Por um lado, tal como na enfiteuse250

, a Coroa portuguesa (o

proprietário directo, isto é, quem detinha o domínio directo ou eminente sobre a terra)

transferia o domínio útil de determinada unidade territorial para outrem (o foreiro) para

o possuir e desfrutar como próprio mediante o pagamento anual de uma pensão (o foro

ou cânon pago em dinheiro ou géneros). Sob o ponto de vista da enfiteuse, os prazos251

constituíam-se como um contrato jurídico entre partes (no caso, entre a Coroa portu-

guesa e os seus súbditos) que comportou várias configurações jurídicas.

Assim, quanto à duração, dividiam-se em perpétuos e temporários. Os primei-

ros, também designados prazos fateusins, eram concedidos sem limite temporal sendo

que, em princípio, o foro se mantinha inalterado ao longo das gerações. Os segundos,

também designados prazos vitalícios ou de vidas, eram concedidos por um número certo

de vidas findas as quais as terras eram devolvidas ao senhorio directo. Em regra, os em-

prazamentos dos Rios de Sena foram temporários, contratados geralmente por três vi-

das252

. Casos em que o foreiro a quem era feita a concessão usufruía dela na sua vida,

detendo a faculdade de nomear uma pessoa para lhe suceder e esta a faculdade de no-

mear uma terceira pessoa. Habitualmente, admitiu-se ainda o direito de renovação, o

249

Rodrigues, 2009 (citado sob autorização da autora). 250

Para uma síntese do regime enfitêutico no reino, v. Serrão, 2000: p. 423 e segs. e DHP, vol. II: p. 379-

383. 251

Emprazamentos, aforamentos, carta de foro ou concessões ad forum: as expressões são intermutáveis.

Assim como a designação foreiro tinha como equivalentes jurídicos: enfiteuta, proprietário útil, senhorio

útil e, mais raramente, colono e caseiro. 252

Rodrigues, 2002: p. 425- 431; Almeida, 1898: pp: 44-46. Três vidas dizia respeito às vidas de três

indivíduos, normalmente o primeiro foreiro, o cônjuge e um filho de ambos, v. Serrão, 2000: p. 436-437.

Page 88: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

72

qual possibilitava ao herdeiro da última vida obter nova concessão e declarar um suces-

sor que, por sua vez, alcançava outras três vidas253

.

Quanto à forma de sucessão, o regime enfitêutico dividia-se genericamente entre

prazos de livre nomeação, em que o foreiro de cada vida era livre de nomear a pessoa

que havia de lhe suceder fosse ela familiar ou não (Ord. Fil., liv. IV, t.º 36-37), e prazos

de nomeação restrita ou de pacto e providência, em que a nomeação devia recair na(s)

pessoa(s) indicada(s) no título de aforamento (Ord. Fil., liv. IV, t.º 38, § 2). Nestes úl-

timos, as normas de sucessão divergiam segundo a duração do aforamento. Assim, os

prazos perpétuos subdividiam-se em: a) hereditários puros, quando a nomeação recaia

sobre os herdeiros; b) familiares, quando recaia sobre filhos, descendentes ou familia-

res; c) mistos, quando recaia sobre filhos, descendentes, herdeiros ou sucessores. En-

quanto os prazos de vidas se subdividiam em: a) de providência, quando apenas podiam

ser nomeados filhos; b) de providência familiar, quando na falta de filhos podiam ser

nomeados familiares; c) providência misto, quando na falta de filhos ou familiares podia

ser nomeado quem o foreiro entendesse254

.

A designação do sucessor podia ser feita de duas formas: em vida, por um acto

de doação inter vivos através de um instrumento público, ou, em morte, por nomeação

através de um testamento. Caso não existissem sucessores válidos as terras revertiam

para a Coroa. Contudo, a transmissão da propriedade aforada encontrava-se geralmente

constrangida pelo princípio da indivisibilidade, o que significava que não podia ser di-

vidida por vários herdeiros detendo o foreiro a faculdade de nomear um (e apenas um)

sucessor. Mas enquanto os prazos de vidas passavam indivisos para esse único herdeiro,

os prazos perpétuos podiam ser divididos, por estimação, entre os vários herdeiros

sendo depois deferidos a um deles com o consentimento dos restantes (Ord. Fil., liv. IV,

t.º 36, § 1-2 e t.º 96, § 23-24)255

. Observado o princípio da indivisibilidade, por motivos

relacionados com a dificuldade de atracção de colonos para uma região periférica como

o leste-africano, com a elevada mortalidade da população europeia e porque o controlo

dos territórios se encontrava em larga medida dependente dos exércitos dos grandes

253

Rodrigues, 2002: p. 431 e segs.. José Vicente Serrão define renovação como a concessão reiterada da

enfiteuse. No reino, a renovação dos prazos começou por ser uma prática consuetudinária que se afirmou

de forma progressiva e que apenas foi confirmada, ainda que de forma incompleta, pelas leis de

4.Jul.1768, 12.Mai.1769 e 9.Set.1769 – v. Serrão, 2000: p. 454-456. 254

Almeida, 1898: p. 44-46 e Rodrigues, 2002: p. 431-432. 255

Serrão, 2000: p. 452-454 e Rodrigues, 2002: p. 431-432.

Page 89: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

73

foreiros, nos Rios de Sena prevaleceu a livre nomeação, a forma de sucessão que mais

eficazmente garantia o controlo político e territorial destas terras256

.

Porém, como referido, nos territórios portugueses da África oriental coexistiram

dois institutos jurídicos distintos: ao regime jurídico da enfiteuse justapuseram-se as

normas que regulavam a doação de bens da Coroa. Assim, enquanto bens da Coroa257

,

os prazos foram concedidos como mercês para recompensar os súbditos portugueses –

e, bem assim, os seus familiares – pelos serviços prestados à Coroa devendo, por isso,

reger-se pelos princípios da Lei Mental, a saber: indivisibilidade, inalienabilidade, con-

firmação periódica, primogenitura e masculinidade258

. Como contrapartida à concessão,

os foreiros eram constrangidos a residir nas terras aforadas e a prestar serviços, designa-

damente de natureza militar através do recurso às populações africanas que as habita-

vam. Com efeito, para os foreiros dos Rios de Sena a posse de terras significou não só a

arrecadação de rendas fundiárias, fiscais e judiciais mas também a jurisdição sobre os

africanos nativos. Mais do que mera medida de colonização interna tendo em vista a

fixação de colonos, os prazos serviram então propósitos de enquadramento das popula-

ções nativas tornando-se, nesse sentido, “instituições de administração do território e

dos seus habitantes africanos”259

.

Quer por ser inerente à enfiteuse, quer pela condição de bens da Coroa, a suces-

são regulou-se pelo já referido princípio da indivisibilidade e pelo princípio da inaliena-

bilidade, que fazia depender de autorização régia a nomeação da vida seguinte. Esta

última, uma condição imposta com o intuito de controlar os foreiros, de resto, tal como

acontecia nos outros territórios do Estado da Índia e a exemplo do que ocorria habitual-

mente com os bens da Coroa no reino260

. Quanto aos princípios da primogenitura e da

masculinidade pelos quais também se regulava a transmissão de bens da Coroa, os pra-

256

V. Rodrigues, 2002: p. 431-441 e Rodrigues, 2011: p. 135-136. A excepção foram as comunidades

religiosas, às quais pela legislação geral estavam interditas a concessão e a sucessão nos prazos. Uma

proibição introduzida nos Rios de Sena em meados de Seiscentos, embora a própria Coroa tenha

continuado a ceder e a confirmar terras tanto a dominicanos como a jesuítas, v. Rodrigues, 2002: p. 431-

433 e 449-451. 257

Segundo António Hespanha, no Portugal da segunda metade de Setecentos, os bens da Coroa – ou

seja, aqueles possuídos pela Coroa portuguesa – eram constituídos por um conjunto de bens de raiz e de

direitos reais de origem muito diversa. Assim, eram bens da Coroa: as cidades e vilas; lugares e castelos;

os maninhos; as lezírias; os direitos enumerados nas Ordenações; as pensões e rendas concedidas de juro

e herdade; o padroado régio; as jurisdições; a décima das Ilhas; outros bens (capelas, reguengos, etc.)

quando objectos de incorporação nos próprios da Coroa. Em contrapartida, não eram bens da Coroa: os

reguengos não incorporados; as sesmarias; os baldios e os pastos comuns - Hespanha, 1982: p. 286, n.

527. Veja-se também a definição de bens da Coroa in DHP, vol. I: p. 331-332. 258

Rodrigues, 2002: p. 403-404, 410, 414-417 e Miranda, 2007: p. 133-135. 259

Rodrigues, 2002: p. 409 e segs. e cit. Rodrigues, 2013: p. 295. 260

Rodrigues, 2002: p. 445-449.

Page 90: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

74

zos dos Rios de Sena divergiram em larga medida das práticas do reino e do Estado da

Índia. Neste aspecto em particular, a livre nomeação, normativa de transmissão mais

flexível consagrada pela enfiteuse, sobrepôs-se ao princípio da primogenitura abrindo

assim caminho à transmissão por via feminina, a qual passou a prevalecer na concessão

e sucessão das terras deixando a masculinidade de ser obrigatória no Estado da Índia

ainda no século XVI.

Com o objectivo de atrair reinóis para a defesa do território, uma ordem régia de

14 de Fevereiro de 1626 – renovada no essencial em 1672, 1682 e 1737 em conjunturas

de semelhante pressão militar – determinava que os prazos do Norte fossem cedidos a

mulheres na condição de casarem com portugueses de origem europeia com oito anos

de serviços militares à Coroa. A posterior introdução desta legislação em Moçambique

parece ter acontecido apenas no final de Seiscentos por iniciativa das autoridades de

Goa e por via da transposição da legislação concebida originalmente para a Província do

Norte. Porém, ao contrário do Norte, a concessão e sucessão femininas nos Rios de

Sena alcançaram um considerável relevo. Com efeito, nos Rios de Sena a concessão e

sucessão dos prazos em mulheres tornou-se uma prática comum. Eugénia Rodrigues

calcula que, entre 1692 e 1751, 31% dos emprazamentos tenham integrado a cláusula de

transmissão do prazo a uma filha e que 6,5% tenham sido deferidos a mulheres sob a

alegação de serem já casadas ou de futuramente se casarem com portugueses naturais do

reino261

. Não sendo um exclusivo feminino, pelo menos na segunda metade de Setecen-

tos um elevado número de prazos (c. 50%) estavam na posse de mulheres e estas deti-

nham uma posição de grande influência política, económica e social262

.

Em 1752, as instruções gerais dadas ao primeiro governador-geral de Moçambi-

que em 20 de Abril, complementadas no terreno pelo próprio governador, impunham

que os foreiros reinóis, goeses e “naturais” casassem as suas filhas exclusivamente com

europeus, sob pena de perderam as suas terras. A nomeação de prazos em mulheres foi

usada como expediente para fixar na região colonos masculinos de origem ou

ascendência europeia, os quais, por sua vez, encontravam por esta via uma forma de

acesso à terra. Tendo em vista estes objectivos muitos prazos dos Rios de Sena foram

261

Rodrigues, 2002: p. 431-441 e Almeida, 1898: p. 44-46. A sucessão feminina foi admitida mas, em

geral, em Portugal a constituição fundiária do Antigo Regime (António Hespanha) regeu-se pela

primogenitura e pela masculinidade seguindo de perto o direito sucessório e vincular da Monarquia

espanhola, em movimento contrário à tendência europeia que favorecia a partilha de bens entre herdeiros,

v. Monteiro, 2000: p. 74 e Hespanha, 1994: p. 402 e segs.. 262

Rodrigues, 2002: p. 431-441.

Page 91: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

75

efectivamente titulados em mulheres – designadamente mestiças e locais – mas tal não

implicou o exclusivo feminino na concessão e na sucessão destas terras continuando, de

resto, a vigorar a livre nomeação263

.

Os elementos atrás apresentados constituem apenas o traço mais largo do quadro

legal, político e social que subjazeu à formação e à evolução do regime dos prazos dos

Rios de Sena. Mas, perante a já referida lacuna documental que obsta a uma análise

mais aprofundada das questões fundiárias na Ilha de Moçambique e no seu termo, to-

memo-los como ponto de partida tentando perceber as semelhanças e as dissemelhanças

entre as duas regiões.

3.1.2. Os prazos da Coroa na Ilha de Moçambique. Uma tentativa de definição

O início da concessão de terras parece ter ocorrido de forma mais ou menos si-

multânea no conjunto dos territórios do sudeste africano sob domínio português recu-

ando, como vimos, ao final do século XVI. Porventura, na Ilha este processo terá sido

até um pouco anterior. A documentação disponível não o permite confirmar. O que pa-

rece certo é que a política de regulamentação fundiária terá principiado com os alvarás

de 6 de Fevereiro de 1608 e de 14 de Dezembro de 1633; que se dirigiu, antes das de-

mais, à região do vale do Zambeze onde o domínio territorial português era mais ex-

pressivo e se encontrava em expansão; e que, no momento seguinte, se terá estendido

aos restantes territórios.

Na Ilha de Moçambique a primeira concessão identificada data de 1610. Tra-

tava-se de um chão e de uns pardieiros velhos, com 10 braças de comprimento e quatro

braças de largura, que o capitão-general D. Estêvão de Ataíde (1610-1613) aforava a

António Ferreira a título perpétuo, contra o pagamento de 10 meticais de foro e ressal-

vando a quebra de contrato em caso de guerra264

. A respectiva carta de confirmação

passada a António Ferreira, casado e morador na fortaleza de São Sebastião, continha

ademais o treslado do alvará de 6 de Fevereiro de 1608. Assim, é inquestionável que,

pelo menos desde a década de 1610, as terras da Ilha e Terra Firme eram cedidas em

263

Rodrigues, 2002: p. 440-441. 264

Carta de confirmação do aforamento feito pelo capitão D. Estêvão de Ataíde a António Ferreira, HAG,

Mercês Gerais, 25.Nov.1610, cód. 812, fl. 136. A quebra de contrato seria provavelmente uma ressalva

comum como reflexo das frequentes ameaças externas. Recorde-se que, poucos anos antes, a Ilha passara

por três cercos militares. Atente-se também que, por ocasião das ofensivas omanitas da década de 1670

que resultaram na perda de algumas casas e palmares, o Conselho de Estado discutia a transferência da

habitação dos moradores para dentro de muros e determinava o pagamento, a expensas da Fazenda Real,

de uma ajuda de custo no valor máximo de 2 mil cruzados para os que tivessem sido afectados

reedificarem as suas casas, v. ACE, vol. IV, p. 213-214.

Page 92: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

76

regime de aforamento e que o alvará de 1608 serviu também de base legal às primeiras

concessões feitas na região.

Pouco depois, em 1618, um ex-ouvidor em carta dirigida ao monarca dava conta

das muitas terras aforadas que ali tinha encontrado, ainda que a maioria não se achasse

tombada pelo que as mandara tombar265

. Tanto quanto de momento é possível perceber,

as normas que regeram a concessão e a sucessão das terras localizadas na Ilha e no seu

termo foram fundamentalmente as mesmas que enquadraram os aforamentos dos Rios

de Sena266

, tendo a principal diferença quanto à aplicabilidade do regime residido na

porção de terra disponível. Enquanto, no período em análise, os portugueses exerciam

domínio sobre um vasto espaço ao longo do Zambeze e dos seus afluentes, na Ilha,

como vimos, ocupavam um território não superior a 10 Km de extensão litoral por 5 a 6

Km de profundidade interior medida desde a linha de costa. Uma área restrita que não

permitiu a constituição de grandes propriedades, ao contrário da região dos Rios onde

alguns prazos se estendiam por vários quilómetros267

.

Na Ilha e Terra Firme o mais vulgar parece ter sido o emprazamento de prédios

urbanos e rústicos de extensão muito variável, mas frequentemente medidos em braças

o que sugere a concessão de unidades territoriais de muito menor dimensão quando

comparadas com as do vale do Zambeze268

. A dimensão das propriedades parece tam-

bém ter tido influência directa na duração dos aforamentos. À semelhança de outras

áreas urbanas do reino, da própria capitania e do Estado da Índia269

, na Ilha e Terra

265

Rodrigues, 2002: p. 410 e Carta do ex-ouvidor de Moçambique para o rei, 30.Jan.1618 in Documentos

Remetidos da Índia, vol. VI, p. 176-182. 266

Para além da Ilha de Moçambique e da vasta região dos Rios de Sena – as capitanias-mores de Queli-

mane, Sofala, Sena e Tete onde se incluíam a maior parte das terras da Coroa – o regime jurídico dos

prazos vigorou também no arquipélago das Querimbas – v. Rodrigues, 2002: p. 413; Carta do

governador-geral Francisco C. G. Carvalho e Menezes para o capitão-mor das Ilhas de Cabo Delgado,

9.Jul.1798, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 81, doc. 55; Carta de aforamento da Ilha de Amiza a Calisto de

Morais, 26.Mai.1791, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 62, doc. 39. 267

Ver, por exemplo, a relação de terras de Quelimane, Luabo e Tete feita por António Pinto de Miranda

em 1766, v. António Pinto de Miranda, “Memória sobre a Costa de África…” (1766): p. 288-301. 268

Apenas conhecemos a dimensão exacta de alguns das terras foreiras à câmara de Moçambique. No ano

de 1782, no conjunto das machambas de Cabaceira Grande e Mossuril a mais pequena tinha uma área de

0,72 Km2, enquanto a maior ocupava uma área de 1,16 Km

2. Curiosamente, esta última tinha uma área

semelhante à da Ilha que, como vimos, ocupa pouco mais de um Km2 de área total – v. Anexo 3, Tabelas

Tabelas 2 e 3 e Acórdão da câmara de Moçambique sobre os aforamentos da Terra Firme, 19.Ago.1782,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70. As terras foreiras à Coroa teriam provavelmente áreas

semelhantes, já que a dimensão das parcelas aforadas estaria mais relacionada com o espaço disponível

do que com a instituição outorgante. 269

Serrão, 2000: p. 438-439 e Rodrigues, 2002: p. 415. Em Baçaim, na segunda metade do século XVI,

estavam em vigor um elevado número de aforamentos perpétuos, os quais terão sido limitados por ordem

régia de 1588 em favor dos aforamentos com a duração máxima de três vidas, v. Miranda , 2007: p. 133-

134 e Teixeira, 2010: p. 265. Fátima Brandão e Robert Rowland ao analisarem as questões de propriedade

Page 93: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

77

Firme seriam relativamente comuns os aforamentos perpétuos. Para além das conces-

sões feitas às ordens religiosas, a perpetuidade vigorou nos aforamentos de chãos urba-

nos para levantamento de casas e boticas, tanto nas povoações dos Rios como na Ilha de

Moçambique, tal como é revelado na carta de confirmação do aforamento de 1610 em

que se sublinhava que “os chãos para casa se costumam dar em fatiota”, ou seja, “para

sempre”270

.

Na região da Ilha também alguns prédios rústicos da Terra Firme terão sido alvo

de aforamentos perpétuos. Foi o caso de um chão baldio localizado no Lumbo deferido

pelo governo de Moçambique a Domingos de Carvalho c. 1763. Em data desconhecida

sucedeu-lhe Adrião de Carvalho, seu filho e “unico e ultimo herdeiro”, o qual vendeu o

seu domínio, em 1785, ao casal Plácido José Mascarenhas e Maria Quitéria Teles de

Carvalho de Sousa. Satisfeita a compra e pagos os respectivos laudémios e sisa271

à Fa-

zenda Real, os novos enfiteutas solicitaram carta de aforamento que confirmasse a posse

perpétua do referido chão para si e para os seus descendentes e ascendentes contra o

pagamento de uma pensão de 2.400 réis272

. “E com isso o possuirão com todas as suas

entradas e sahidas (…) e nele farão todas as benfeitorias que quiserem e por bem tive-

rem (…) e dele colherão os uzofructos e rendimentos como de couza sua própria”273

. À

morte do marido em data anterior a 1790, Quitéria de Sousa assumiu a administração da

casa e dos bens da família na qualidade de cabeça-de-casal274

. Ignora-se como se

processou a sucessão deste chão, se testamentária, se ab intestato. E tão-pouco sabemos

no Minho da primeira metade de Oitocentos notam que em todos os casos em que o regime de aforamento

é referido este tem uma natureza perpétua, v. Brandão e Rowland, 1980: p. 187. 270

Carta de confirmação do aforamento feito pelo capitão D. Estêvão de Ataíde a António Ferreira, HAG,

Mercês Gerais, 25.Nov.1610, cód. 812, fl. 136. Nos Rios de Sena o termo “fatiota” assumiu contornos

diferentes designando as terras de plena propriedade, livre de encargos como o foro e que não se

encontravam sujeitas às normas dos contratos enfitêuticos com a Coroa, v. Rodrigues, 2011. 271

Laudémio era a percentagem devida ao senhorio directo como contrapartida pela aprovação da venda

do domínio útil, sendo que em Portugal as percentagens mais comuns foram de 10%, 5% e 2,5% sobre o

preço da venda – v. Serrão, 2000: p. 451-452. A sisa era um imposto régio que incidia sobre as

transacções e cujas receitas geradas (em resultado do contrato de encabeçamento das sisas celebrado

entre a Coroa e os concelhos no século XVI) eram transferidas para os concelhos mediante o pagamento

de um quantitativo fixo anual à Coroa, o património régio. Cabia às câmaras lançar e cobrar as sisas

podendo, sob autorização régia, guardar o excedente (os sobejos das sisas) em relação ao montante

fixado. Segundo Nuno Gonçalo Monteiro, no final do Antigo Regime as receitas dos sobejos das sisas

adquiriram uma dimensão essencial na administração camarária ultrapassando em muitos casos as

receitas próprias das câmaras do reino – v. Monteiro, 1996b: p. 121 e 132. 272

Como referência note-se que, em 1766, o total dos foros pagos à Fazenda Real era de cerca de 600 000

réis, v. Requerimento do Senado da Câmara de Moçambique, s.d. [12.Ago.1766], AHU, Gov. Moç., cód.

1321, fls. 190v-191. 273

Carta de aforamento de um chão no Lumbo passada a Plácido José Mascarenhas e D. Maria Quitéria

Teles de Carvalho de Sousa, 6.Mai.1785, AHU, Gov. Moç., cód. 1355, fls. 94-95. 274

“Denuncia do serviço de Sua Magestade no Estado de Mosambique anno de 1790 por Manoel do

Nascimento Nunes”, 10.Jun.1790, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 60, doc. 35.

Page 94: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

78

se esta união deixou ou não geração. Admitindo que a exemplo dos aforamentos dos

Rios de Sena tenha prevalecido a livre nomeação, pelo menos neste caso seguiu-se tam-

bém a tendência dos Rios de dar prioridade ao cônjuge sobrevivente na sucessão dos

prazos275

.

Também perpétuo parece ter sido o aforamento feito a Aruno Sangi de um “mato

fechado de arvores agrestes” localizado em Mossuril e pelo qual devia ser pago “de

foros a Sua Magestade em cada hum anno hum cruzado”. Neste caso conhecemos o

processo, com data de 1755, mas não a carta de aforamento passada na sequência do

pedido de mercê. Ignoramos, por isso, as cláusulas relativas à duração e à transmissão

do prazo embora o teor do processo sugira tratar-se de um emprazamento a título per-

pétuo e de um terreno de reduzido valor agrícola276

.

Em tese, a duração dos aforamentos tinha influência directa na estabilidade das

relações contratuais. À partida, prazos de vidas implicavam maior instabilidade, ao

passo que os perpétuos garantiam maior segurança e reforçavam o vínculo do foreiro à

propriedade emprazada277

. Em Moçambique, pelo menos até determinado ponto, a

conjugação do princípio da indivisibilidade e do direito de renovação fez com que uns e

outros adquirissem um valor equivalente. No final do século XVIII foram introduzidas

restrições na sucessão e renovação dos aforamentos. A partir de então a nomeação dei-

xou de ser livre. Os prazos passaram a poder apenas ser nomeados em descendentes e

ascendentes o que acabou por fazer crescer o número de terras que revertiam para a Co-

roa. As restrições impostas foram particularmente sentidas pelos moradores dos Rios de

Sena que, neste processo, foram desapropriados das suas terras em favor dos homens de

negócio da Ilha de Moçambique278

.

Mas, com efeito, este terá sido um processo sobretudo sentido nos Rios de Sena.

Na Ilha, em termos práticos, a maior diferença entre prazos vitalícios e perpétuos parece

ter continuado a jogar-se ao nível da actualização dos foros por ocasião do acto de

renovação. Assim, a opção por prazos vitalícios ou perpétuos ter-se-á dado sobretudo

em função da dimensão das unidades territoriais. Enquanto nos Rios de Sena, onde

275

Rodrigues, 2002: 433-434. 276

Processo de aforamento de um mato a Aruno Sangi, 17.Set.-24.Out.1755, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

11, doc. 64. 277

V. Serrão, 2000: p. 437-438. 278

A respeito da construção de um novo discurso legal que redundou no enfraquecimento do poder dos

moradores dos Rios de Sena e na emergência de um novo grupo de foreiros sediados na Ilha de

Moçambique, veja-se Rodrigues, 2002: p. 511 e segs.

Page 95: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

79

algumas das terras passíveis de serem aforadas tinham dimensões de várias léguas, as

concessões eram feitas geralmente em três vidas como forma de garantir a actualização

periódica dos foros e a disponibilidade futura de terras, parece crível que na Ilha e Terra

Firme, onde as parcelas a aforar tinham dimensões bastante mais reduzidas, tenham sido

mais vulgarmente contratados aforamentos perpétuos.

Não obstante, dever-se-á também admitir que algumas parcelas de maior dimen-

são possam ter sido alvo de aforamentos vitalícios. A geografia terá também tido influ-

ência no período de tempo contratado. No núcleo urbano da Ilha – ou seja, o recinto

insular – constituíram-se pequenas parcelas que, muito provavelmente, dada a condição

de chãos urbanos terão sido aforadas na totalidade a título perpétuo. Por outro lado, na

Terra Firme – o espaço continental equivalente ao termo – constituíram-se propriedades

cuja dimensão279

poderia justificar a concessão a título vitalício.

3.2. A constituição do concelho e os prazos do Senado da Câmara

Mas se até à data da constituição do concelho de Moçambique o domínio emi-

nente sobre a terra na Ilha de Moçambique e no seu termo não levanta dúvidas, com o

monarca português a arrogar-se como senhorio directo e a competir aos governadores-

gerais a concessão das terras da Coroa, de 1763 em diante também esta questão se torna

de mais difícil compreensão. Ao criar o concelho, a Coroa transferia para a câmara

jurisdição sobre um território constituído pelo recinto insular e por um termo inicial-

mente fixado em seis léguas em quadro que, em 1766, viria a ser limitado a “huma le-

goa em circuito”280

. Enquanto órgão representativo do concelho, a câmara passava a ser

o senhorio directo deste espaço, a instituição reconhecedora da posse da terra e à qual,

daí em diante, devia ser solicitado o aforamento da parcela de terra desejada desde que

inculta.

As competências da câmara de Moçambique não seriam assim exercidas na to-

talidade do território que lhe fora outorgado. Desde logo porque este, na realidade, era

notoriamente inferior a seis léguas e, como referido, no tocante às formas de repartição

da terra apenas lhe era reconhecida jurisdição sobre os terrenos baldios. Mas também

porque, pelo menos uma parte das terras concedidas pelo governo-geral antes da consti-

279

V. 279. 280

Cartas do governador-geral Baltasar Pereira do Lago referentes ao seu magistério, 1766, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 32.

Page 96: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

80

tuição do concelho, manteve a natureza de terras da Coroa, como por exemplo, o chão

aforado a Plácido Mascarenhas e a Quitéria de Sousa281

.

Assim, resumidamente, no plano jurídico estatuíam-se várias categorias de terras

dentro da circunscrição concelhia282

. Uma primeira categoria era a das já mencionadas

terras concedidas a título individual em que a instituição outorgante era o governo-geral.

Foi o caso das concessões feitas até 1763 enquadradas pelo regime jurídico dos prazos

da Coroa de Moçambique com as especificidades mencionadas na alínea anterior. Uma

segunda categoria era a dos bens do concelho, lato sensu aqueles atribuídos ao concelho

para usufruto comum da população. Incluíam-se nesta definição os baldios, maninhos,

matos, pastos comuns, pegos (expressões que designavam genericamente as terras

incultas), edifícios, caminhos e determinados objectos de utilidade comum, como por

exemplo, fornos, moinhos e prensas283

. As Ordenações, porém, não fornecem elementos

que permitam perceber rigorosamente a diferença entre bens dos concelhos, baldios e

maninhos e outros incultos em geral. Embora se encontrassem sujeitos ao domínio di-

recto da Coroa pelo direito da conquista e ocupação geral do território284

, no reino uma

parte desses incultos fora sendo doada aos concelhos como fonte de receita municipal

sendo progressivamente entendidos como bens do concelho, cabendo às câmaras a sua

administração e repartição periódica285

.

A decisão do governador-geral João Pereira da Silva Barba de permitir que a

câmara de Moçambique aforasse apenas as “terras incultas e por cultivar de que não

houvesse aforamento feito a Fazenda Real para desse rendimento suprir as despezas do

mesmo concelho” ia, então, ao encontro desta prática286

. Neste caso, a instituição outor-

gante do aforamento era a câmara e as terras eram cedidas a título individual, perpétuo e 281

O mesmo aconteceu no reino onde por ocasião da constituição de determinados concelhos algumas

terras estavam já apropriadas sendo reconhecidas nos forais de acordo com as situações jurídicas em que

então se encontravam, v. Hespanha, 1982: p. 137-138. 282

Nas suas linhas gerais, segue-se aqui a categorização feita por António Hespanha a respeito das terras

concelhias no Portugal medieval e moderno, cf.: Hespanha, 1982: p. 137-138. 283

Sobre os bens dos concelhos, v. Hespanha, 1982: p. 137-138, 151-154, 280-281; DHP, vol. I: p. 331;

Serrão, 2000: 440-443. 284

As Ordenações Filipinas dispunham que “todos os bens vagos, a que não he achado senhor certo”

eram património régio, cf.: Ord. Fil., Liv. II, tt.º 26, § 17. 285

Coincide com o período em análise o alargamento da intervenção das câmaras do reino no aforamento

de terrenos baldios a particulares. Nomeadamente a partir do alvará de 23.Jul.1766 que, ao contrário do

pretendido, tendeu a transferir as competências da administração dos incultos para as câmaras embora

exigindo a consulta das instituições centrais (a Mesa do Desembargo do Paço, designadamente) no caso

de novos aforamentos. A questão da privatização dos incultos no período final do Antigo Regime tem

suscitado um largo interesse da historiografia, vejam-se, por exemplo, os seguintes trabalhos: Nunes e

Feijó, 1990; Monteiro, 1996b: p. 129-135; Neto, 1997; J.V.Capela, 1995. 286

Carta do governador-geral João Pereira da Silva Barba para o rei, 20.Jul.1763, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 23, doc. 59.

Page 97: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

81

hereditário, o que tudo indica ter acontecido na maioria das concessões feitas a partir de

1763.

Interessa entretanto distinguir entre: a) bens próprios do concelho, aqueles de

que os concelhos podiam dispor livremente e que lhes haviam sido atribuídos como

forma de obterem receitas próprias, os quais na Ilha corresponderam às “terras incultas

e por cultivar”; b) bens comuns do concelho, aqueles atribuídos para uso comum de

todos os que beneficiassem do estatuto de vizinho287

e que não podiam ser alineados

sem o devido título de doação régia. Nestes últimos, incluíam-se o “distrito para se

poderem edificar novas cazas” e o “logradouro público”. Uma categoria específica da

Ilha de Moçambique era a do terreno localizado junto à fortaleza de São Sebastião, o

campo de São Gabriel, que pelos diplomas fundadores do concelho ficava reservado ao

governo-geral com a obrigatoriedade de permanecer livre de construções para ser usado

como zona de instrução e manobras militares288

.

Mas, na prática, até que ponto a ordem jurídica contida nos diplomas fundadores

do concelho e na decisão do governador-geral foi cumprida? Em 1766, o Senado da

Câmara confrontado com a falta de receitas para fazer face às despesas do tribunal,

“obras publicas” e restante serviço comum, requeria, entre outras coisas, a mercê do

aforamento das terras baldias não obstante esta prerrogativa já lhe pertencer. Isso

mesmo alegava o Senado: “na conformidade das mais camaras” pertencia-lhe a si a data

destas terras “e não à Provedoria da Fazenda Real onde para[v]am”. O procurador da

Fazenda concordava que os “ditos chãos” pertenciam “sem duvida alguma” à câmara “e

que por ela se deviam dar os mesmos chãos huma legoa em circuito”289

.

O governador-geral Baltazar Pereira do Lago, por seu lado, contrapunha ter

permitido à câmara todas as honras e jurisdição devidas e que o facto de “os emolu-

mentos estarem na Provedoria da Fazenda era por posse anterior à camara”290

. Pouco

depois, em 1767, emitia um bando cujo objectivo parecia ser o de resolver a situação.

Uma vez que tantos moradores possuíam terras sem os necessários títulos de afora-

287

Resumidamente, possuíam o estatuto de vizinho, homens-bons ou moradores todos aqueles que

habitassem e possuíssem bens de raiz em determinado lugar, freguesia ou concelho (Ord. Fil., liv. II, tt.º

56), v. Nunes e Feijó, 1990: p. 65. 288

Auto de criação da câmara de Moçambique, 17.Ago.1763, AHU, Cons. Ultr., Moçambique, cx. 23,

doc. 82. 289

Requerimento do Senado da câmara de Moçambique, Gov. Moç., s.d. [12.Ago.1766], cód. 1321, fls.

190v-191 e Cartas do governador-geral Baltasar Pereira do Lago referentes ao seu magistério, 1766,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 32. 290

Cartas do governador-geral Baltasar Pereira do Lago referentes ao seu magistério, 1766, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 32.

Page 98: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

82

mento, não lhes sendo por isso cobrados os foros e dízimos devidos, nele se determi-

nava que os referidos títulos fossem apresentados na Provedoria da Fazenda no prazo de

um mês sob pena de comisso291

. Após este episódio e embora tivesse tido expressão em

outras circunstâncias e a propósito de outras questões292

, no tocante aos aspectos fundiá-

rios, as fontes consultadas não permitem esclarecer de forma segura o aparente conflito

jurisdicional entre o governo-geral e a câmara. Todavia, em 1785, o Senado afirmava

não ter “até ao presente aforado chão algum” que não lhe pertencesse “pelo seu fo-

ral”293

. Por isso, após alguma indefinição inicial, tudo leva a crer que a câmara assumiu

de forma plena a prerrogativa da concessão das terras incultas e por cultivar e que os

respectivos foros terão acabado por reverter para si.

Em 1783, o próprio Senado da Câmara se assumia como instituição reconhece-

dora da posse da terra: “dizemos que há anos que este Senado tem aforado muitas fa-

zendas e metido em posse delas os habitantes desta Colonia Vassalos de Sua Magestade

Fidelissima estabelecidos e casados nela”294

. Em 1788, Joaquim Varela dava conta que

“os baldios desta Ilha” estavam “todos aforados pelo Senado por merce que deles lhe

fez Sua Magestade no ano de 1761”. Varela parece referir-se apenas aos baldios locali-

zados no recinto insular, porém, não deixa de corroborar o facto de caber então à câ-

mara a concessão do domínio útil das “terras incultas e por cultivar”. E também na

Terra Firme são conhecidos vários terrenos a ela foreiros295

. Só entre 7 de Maio de 1780

e 19 de Agosto 1782, por exemplo, a câmara aforou um total de 17 machambas, quatro

na Cabaceira Grande e 13 em Mossuril296

. Em 1801, outros 16 foreiros da câmara na

posse de terrenos localizados na Ilha, em Mossuril e nas Cabaceiras eram chamados a

pagar os foros em dívida no prazo de trinta dias sob pena de comisso. Entre eles inclu-

íam-se portugueses, baneanes e um “moço forro”. E, já em 1835, Sebastião Xavier Bo-

291

Bando do governador-geral Baltazar Pereira do Lago, 14.Dez.1767, AHU, Gov. Moç. , cód. 1353, fls.

53v-54. 292

Veja-se, por exemplo, a Carta do príncipe regente para o Senado da Câmara, [s.d.], AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 80, doc. 22 advertindo o Senado por ter interferido na escolha da composição do governo

interino entre “outros procedimentos igualmente abusivos”. 293

Carta do Senado da Câmara de Moçambique para a rainha, 27.Abr.1785, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

49, doc. 42. 294

Carta do Senado da Câmara de Moçambique para o desembargador e ouvidor-geral António José de

Morais Durão, 15.Jan.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 40, doc. 70. 295

Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de Moçambique…” (1788): p. 293. 296

Acórdão da câmara de Moçambique sobre os aforamentos da Terra Firme, 19.Ago.1782, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70. Dados sintetizados no Anexo 3, Tabelas 2 e 3.

Page 99: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

83

telho dava conta que a “maior parte” dos terrenos de Mossuril eram foreiros à câ-

mara297

.

No momento seguinte a 1766 a câmara de Moçambique afirmou-se, então, como

proprietária dos baldios da Ilha e Terra Firme e, na qualidade de representante do con-

celho, como a única instituição que podia dispor do seu domínio útil. O evidente au-

mento das concessões deferidas faria supor o aumento das receitas do município associ-

adas à cobrança de foros, mas na década de 1780 constava que o seu rendimento fixo

“continuava tão diminuto” que não chegava a mil cruzados por ano298

. Um baixo nível

de rendimentos que, aliás, era comum à maioria das câmaras do reino e de outros terri-

tórios ultramarino299

. No caso de Sena, por exemplo, a câmara parecia não beneficiar

sequer das receitas dos foros porque, conforme referia, não possuía “um só palmo de

terreno” que pudesse aforar estando toda a vila circundada de prazos da Coroa de que os

governadores-gerais faziam mercê300

.

De resto, no que diz respeito à Ilha e Terra Firme, as disputas entre o governo-

geral e a câmara pela propriedade da terra parecem encontrar fundamento na desordem

em que se encontravam, em geral, os registos de aforamentos o pagamento dos foros.

Em 1779, o governador-geral Baltazar Pereira do Lago considerava que as terras da

Coroa se encontravam em ponto de se perder ou de ter “grande diminuição” se não

fosse feito novo tombo. Defendia, ademais, que as propriedades deviam ser divididas

em parcelas mais pequenas, porque a agricultura era impraticável em fazendas de mui-

tas léguas como as dos Rios de Sena, uma vez que “os possuidores e colonos” precisa-

vam de “imensa escravatura que não podem ter por lhe faltarem as forças e cabedais

para compra-la”301

.

Logo após a sua chegada a Moçambique, ao fazer o balanço dos cofres da

Fazenda Real, o governador-geral José Vasconcelos de Almeida (1779-1781) con-

297

Edital do Senado da Câmara, 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 248-249 e Sebastião

Xavier Botelho, Memoria Estatistica (1835): p. 336, respectivamente. 298

Carta do desembargador António José de Morais Durão para o Senado da Câmara, 16.Out.1784, AHU,

Gov. Moç., cód. 1353, fls. 41v-42 e Carta do governador-geral António Manuel de Melo e Castro para a

rainha, AHU, Cons. Ultr., Moç., 1.Dez.1786, cx. 52, doc. 50. As receitas fundiárias (o rendimento dos

bens próprios do concelho e os direitos cobrados pela utilização dos bens comuns) eram apenas uma de

entre várias receitas municipais. As demais relacionavam-se com o comércio e consumo e com coimas e

condenações. Para os municípios do reino, veja-se Hespanha, 1982: p. 280-281. 299

Monteiro, 1996b: p. 131. 300

Carta do Senado da Câmara de Sena para a rainha, 18.Jul.1796, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 74, doc.

68. Sobre o papel da câmara dos Rios de Sena, veja-se Rodrigues, 2002: p. 494-595. 301

Carta do governador-geral Baltazar Pereira do Lago para o secretário de Estado, c.14.Ago.1779, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 30-A, doc. 51.

Page 100: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

84

firmava a situação de desordem. Sobre a arrecadação das receitas do comércio, por

exemplo, considerava que “tem sido a mais pessima e extraordinaria, porque não há

livro algum da sua receita, acha-se em papelinhos avulsos sem ordem, e pouca clareza, e

tudo o mais assim esta”. A respeito dos “dízimos e foros” dizia não aparecer “mais que

hum velho rol por que se cobram, sem mais assento dos que pagaram, e ainda em

Mossuril se acham terras a que se não lançou foro, nem pagam dizimos”302

. O

governador-geral ordenava então que, no prazo de quinze dias, todos os enfiteutas

pagassem os foros e dízimos em dívida e, bem assim, que requeressem os títulos de

aforamento em falta na Provedoria da Fazenda. E imediatamente a seguir, em 1781, era

nomeado um juiz do tombo em Mossuril e nas Cabaceiras com a tarefa de descrever a

natureza e qualidade dos prazos – isto é, “se são fatozins prepetuos, ou prazos de vidas

de livre nomeaçam ou de huma regular sucessão” –, de arbitrar os foros, medir,

delimitar e discriminar os prazos e os seus foreiros303

. Quanto à câmara, sabe-se que

cerca de 1799 publicou editais para reformar os títulos dos prédios que lhe eram foreiros

de modo a proceder à “boa arrecadação” dos foros em dívida304

. E, não por acaso, como

referido, em 1801 foram detectados 16 enfiteutas em incumprimento.

A elaboração periódica de tombos era, com efeito, condição necessária à co-

brança dos foros e não era invulgar os foros antigos deixarem de ser cobrados na falta

de actualização dos livros de tombos305

. Segundo directriz de 1742 dirigida ao Estado

da Índia, e a exemplo do que já acontecia no reino, impunha-se a medição das proprie-

dades e a renovação dos tombos a cada vinte e cinco anos306

. Como mencionado, em-

bora não nos tenha sido possível consultá-los, conhece-se a existência de, pelo menos,

302

Carta do governador-geral José Vasconcelos de Almeida para o secretário de Estado, 26.Agos.1780,

AHU, Cons. Ultr., Moç. cx. 34, doc. 53. 303

Bando do governador-geral José Vasconcelos de Almeida, 9.Jun.1780, Gov. Moç., cód. 1341, fls. 48-

48v e Carta de nomeação de Jerónimo Francisco dos Anjos no posto de juiz do tombo em Mossuril e

Cabaceiras, 12.Fev.1781, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 34, doc. 40, respectivamente. 304

Ordem da Junta da Fazenda, 16.Ago.1799, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 222v-223 e Carta do

desembargador Manuel José Gomes Loureiro para o Senado da Câmara, 8.Nov.1799, AHU, Gov. Moç.,

cód. 1353, fls. 223v-224. 305

Monteiro, 2010: p. 73-74. De resto, a elaboração de relações circunstanciadas do património régio,

incluindo os dízimos e foros devidos à Coroa, era uma das obrigações dos governadores-gerais, v.

Instruções gerais da rainha para o governador-geral António de Melo e Castro, 5.Abr.1785, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 49, doc. 31. A realização de tombos era, contudo, uma tarefa complexa e onerosa sendo

por isso frequentemente descurada. Por exemplo, na segunda metade de Setecentos, Margarida Sobral

Neto detecta algumas situações de terras recentemente arroteadas na região de Coimbra “que não

pagavam foros devido ao facto de o arroteamento não ter sido precedido de pedido de licença, nem

legalizado, posteriormente, através da realização do contrato”, v. Neto, 1997: p. 106-107. 306

Rodrigues, 2006b: p. 453 e Instrução do governador-geral João Pereira da Silva Barba, 8.Ago.1763,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 67.

Page 101: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

85

dois tombos dos aforamentos feitos entre 1783 e 1788 e entre 1799 e 1852307

. Acrescia

que, muitas vezes, os foros estipulados nos contratos não eram pagos e as terras acaba-

vam por cair em comisso podendo ser consequentemente confiscadas308

.

Em 1856, por exemplo, alguns dos enfiteutas da Ilha e Terra Firme tinham foros

em atraso há mais de 20 anos. Perante esta situação, a câmara decidia fazer-lhes “um

desconto proporcional aos anos que tiverem deixado de pagar os respectivos foros”: aos

que devessem 5 a 10 anos de foros seria feito um desconto de 20%; os que devessem 10

a 20 anos teriam 30% de desconto; e 40% os que devessem para além de 20 anos309

. O

que perpassa em conclusão é que, fosse por indefinição jurisdicional, fosse por incum-

primento das cláusulas de aforamento ou por desorganização dos tombos das terras da

Coroa e dos bens do concelho, em matéria fundiária a Ilha de Moçambique viveu sob

uma extraordinária desordem durante boa parte do período em análise.

3.2.1. Dinâmicas de apropriação da Terra Firme

O papel da câmara enquanto instituição outorgante dos baldios é ainda evidente

no processo de ocupação dos lugares de Nandoa, Mutuamulamba e Savaçava310

, “terras

circunferentes à Coroa” que os “mouros filhos nacionais desta conquista e [os] cafres

forros” haviam habitado desde “sempre” mas que, cerca de 1782, já depois de terem

arroteado e semeado os seus chãos “com incansável trabalho”, começavam a abandonar

“por cauza do Nobre Senado [os] aforar”. A situação é exposta pelo capitão-mor da

Terra Firme Caetano de Quadros em nome das populações que “governava”, no caso,

referindo-se a suaílis (“mouros”) e africanos livres de provável origem macua (“cafres

forros”). Estes, segundo também revelava, mostravam grande empenho em alcançar o

aforamento daqueles chãos de modo a manterem as suas casas e sementeiras. Confron-

tado com a situação, Quadros escrevia então ao ouvidor-geral pedindo que fosse deter-

minado um lugar alternativo para a habitação daquelas populações e requerendo ainda

307

Montez, 1958: p. 7. 308

Edital do Senado da Câmara, 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.248-249. 309

Boletim Oficial do Governo-Geral da Província de Moçambique, n.º 20, 23.Set.1854, Parte Oficial, p.

78-79. 310

Terras próximas a Mossuril e que na transição do século XIX para o século XX são já dadas como

pertencendo à capitania mor de Mossuril. Para Mutuamulamba e Nandoa, v. Lapa e Cró de Castro, 1889:

p. 106 e 108, respectivamente. Para Savaçava, v. DCPM, 1921: p. 125.

Page 102: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

86

que fosse possibilitado o aforamento àqueles com recursos para tal, sob o argumento de

que a sua deslocação deixaria a Terra Firme à mercê dos ataques dos “inimigos” 311

.

Por sua vez, o Senado da Câmara repudiava a queixa do capitão-mor da Terra

Firme. A indignação dos oficiais camarários dirigia-se sobretudo contra os suaílis a

quem acusavam de agir como intermediários dos mercadores baneanes entendidos, a par

daqueles, como a causa do prejuízo do comércio português e, implicitamente, do

prejuízo dos seus negócios pessoais. Contra os suaílis esgrimiam também o argumento

religioso queixando-se da ofensa que faziam à fé católica e do mau exemplo que

representavam para “os nossos cafres cristãos”. Admitiam que suaílis e macuas

cultivavam aquelas terras há um grande número de anos, mas consideravam que a sua

produção agrícola era tão fraca que não justificava a sua permanência. Assim, opunham-

se veementemente a um “estabelecimento misto”, como diziam pretender os suaílis,

sugerindo, ao invés, que estes fossem mandados para Sancul ou Quitangonha, “porque

quanto mais separados de nós estiverem, mais seguros, e livres ficamos dos seus

malignos artifícios”. Quanto aos africanos macuas, achavam justa a sua manutenção

desde que fossem distribuídos pelos lugares circunvizinhos de Mossuril e desde que

passassem a viver afastados dos suaílis312

.

O ouvidor-geral António José de Morais Durão partilhava da opinião dos oficiais

camarários em relação os suaílis mas, ao contrário daqueles, considerava que nem todos

deviam ser “expulsos” para Sancul ou Quitangonha. Aos que na realidade tivessem ar-

roteado, aberto e semeado os chãos em que habitavam devia ser dada a possibilidade de

obter os respectivos títulos de aforamento. Para tanto, dava-lhes o prazo de um mês sob

pena de, passado este período, os chãos serem considerados devolutos e “se conferirem

aos portugueses que mais lançarem em leilão”. O prazo dado era porém tão limitado

que, na prática, o parecer do ouvidor-geral pouco terá beneficiado as populações suaílis

e macuas, antes terá jogado em favor do Senado da Câmara e dos portugueses. No seu

entender, não havia razão para que estes últimos, sendo inclusivamente “mais dignos de

favor”, pagassem foros anuais pelos seus prédios, enquanto as populações suaílis e ma-

311

Carta do capitão-mor da Terra Firme Caetano de Quadros para o desembargador e ouvidor-geral

António José de Morais Durão, 24.Dez.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 40, doc. 70. 312

Carta do Senado da Câmara de Moçambique para o desembargador e ouvidor-geral António José de

Morais Durão, 15.Jan.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 40, doc. 70 e Carta do desembargador e

ouvidor-geral António José de Morais Durão para o governador-geral Pedro Saldanha de Albuquerque,

18.Jan.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 40, doc. 70.

Page 103: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

87

cuas desfrutavam livremente das terras “não merecendo semelhante graça por tempo

algum”313

.

Para além de evidenciar a actuação da câmara enquanto instituição outorgante

dos baldios, este episódio em torno da ocupação dos lugares de Nandoa, Mutuamu-

lamba e Savaçava vem também dar força à conclusão anterior sobre o avanço da coloni-

zação portuguesa na Terra Firme na cronologia em análise. No mesmo sentido aponta o

pedido feito, em 1784, pelo ouvidor-geral à câmara para que lhe fosse passada uma re-

lação extraída dos tombos do Senado da Câmara dos chãos que se pediram para roças e

dos que se começaram a cultivar no sítio de Niaullá e suas vizinhanças314

.

Na qualidade de senhorio directo a câmara de Moçambique passou a desempe-

nhar um papel chave no processo de apropriação territorial. Este papel é particularmente

notório de 1780 em diante com os esforços de regularização da situação fundiária e com

a ocupação de espaços até então exteriores à circunscrição portuguesa. Como na prática,

e ao contrário do que acontecia nos Rios de Sena em que as terras incultas estavam inte-

gradas nos prazos315

, todas as terras não emprazadas na Ilha e Terra Firme terão sido

consideradas incultas, aqueles que pretendiam ver reconhecido formalmente o domínio

útil sobre determinado terreno tinham de recorrer à câmara para o obter, quer já o pos-

suíssem anteriormente, quer a ele acedessem através de nova concessão. E, como vimos

no episódio supracitado, em alguns casos de terrenos já desbravados a iniciativa do afo-

ramento coube inclusive à própria câmara que assim podia beneficiar de um aumento

das suas receitas, ao mesmo tempo que afastava elementos considerados “indesejados”.

Com efeito, se bem que, lhes fosse dada a possibilidade de aforar, sendo até

conhecido o caso de vários baneanes e de dois “cafres forros” que eram foreiros da

câmara316

, é plausível assumir que as populações não cristãs tenham sido

313

Carta do desembargador e ouvidor-geral António José de Morais Durão para o governador-geral Pedro

Saldanha de Albuquerque, 18.Jan.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 40, doc. 70. 314

Carta do desembargador e ouvidor-geral António José de Morais Durão para o Senado da Câmara,

1.Jan.1784, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 27. Não foi possível determinar a localização exacta do ”sítio

de Niaullá” mas supomos situar-se também junto a Mossuril. No mesmo ano de 1784, Niaullá é referido

como o local onde o régulo Empaia esperava licença para falar com o capitão-mor da Terra Firme. Uma

referência que remete para uma geografia próxima dos limites da circunscrição portuguesa, para Mossuril

em particular dado, como vimos, ser esta a principal porta de entrada das populações macuas - v. Carta do

capitão-mor da Terra Firme João Vicente de Cardenas e Maia para os governadores interinos,

16.Out.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 48, doc. 19 e Joaquim José Varela, “Descrição da Capitania de

Moçambique…” (1788): p. 287. 315

Rodrigues, 1998: p. 592. 316

Foi o caso, por exemplo, do baneane Nana Mulgy e dos “cafres forros” Luís Mascarenhas do Rosário e

de Teodósio João Neto, v. Acordão da câmara de Moçambique sobre os aforamentos da Terra Firme,

19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70. No mapa do número de habitantes cristãos que

Page 104: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

88

frequentemente preteridas do acesso à terra desde logo por motivos ideológicos e

religiosos. Ainda assim, tendo em conta o número de baneanes que foi possível detectar

na posse de terras na Ilha e Terra Firme e destes serem aliás apontados como uns dos

principais foreiros, o principal obstáculo para conseguir aceder ao aforamento de

determinada parcela de terra seria, porém, financeiro.

possuíam terras na Terra Firme em 1802 era referido que, para além daqueles, havia também “mouros” ali

estabelecidos mas “como os seus estabelecimentos” eram “de pouca consideração nas ditas terras” não se

fazia menção deles, v. “Mappa do Numero dos Habitantes Christaons, que possuem nas terras do Lumbo,

Ilha de Battû, Calundi, Apagafogo, Ampapa, Monsuril, Mapeta, Cabaceira Grande, e Cabaceira piquena,

Cazas, fazendas Escravos, e da Gente livre, e Feitores, que há nas ditas terras, as quaes são fronteiras a

Ilha de Mossambique”, 20.Ago.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 96, doc. 62.

Page 105: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

89

CAPÍTULO 4

A terra e a elite da Ilha de Moçambique

A despeito da desordem em matéria fundiária e da escassez de títulos de afora-

mento apontadas no capítulo anterior, entre a documentação consultada foi possível

detectar 253 proprietários e 264 propriedades, já que 11 destes proprietários estavam na

posse de mais do que uma propriedade. De igual modo, foi possível apurar alguns

elementos identificadores, como o género e a naturalidade do proprietário, o tipo de

propriedade e a instituição outorgante do aforamento (v. Anexo 1, Tabela 1)317

. Estes

são certamente valores que ficam aquém do número total de proprietários da Ilha e

Terra Firme e que tão-pouco traduzem o total das propriedades da região na cronologia

em estudo. Desde logo, em razão da evidente ausência de documentação directa como

os livros de tombos, mas também porque o número de proprietários a que chegámos diz

maioritariamente respeito à comunidade cristã portuguesa sendo evidente o défice de

detentores de terras que não se enquadram sob esta categoria como, por exemplo,

baneanes, suaílis e macuas318

. Ademais, para além dos indivíduos com terras aforadas à

coroa ou à câmara, havia ainda o caso daqueles – como, por exemplo, as populações

suaílis e macuas apontadas no capítulo anterior – que ocupavam terras e se

317

Optámos por incluir nesta recolha uma fonte de data anterior ao período cronológico em análise, cf.:

“Relação dos moradores portugueses” (1757). Uma opção metodológica que julgamos pertinente dada a

riqueza de informação da referida fonte quanto à condição social e económica dos indivíduos retratados e

à estabilidade dos bens em causa. Assumimos que todas as terras (no caso, palmares) mencionadas na

“Relação dos moradores portugueses” eram prazos da Coroa uma vez que o concelho ainda não havia

sido criado. 318

V. Lista dos palmareiros de Mossuril, 17.Mar.1781, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 35, doc. 94.

Page 106: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

90

consideravam seus proprietários sem, no entanto, possuírem sobre elas um vínculo de

posse enquadrado no regime jurídico português não sendo, portanto, foreiros319

.

Convém notar igualmente que esta é uma representação estática. Ou seja, que

não leva em consideração as sucessivas transmissões dos prédios por doação, nomeação

ou venda320

. Dado o carácter lacunar da informação, mas também dada a natureza da

investigação – necessariamente limitada no tempo –, trata-se da representação por ora

possível. Pese embora os limites enunciados e sem preocupações de exaustividade,

procuremos analisá-la nas suas linhas gerais neste quarto e último capítulo.

4.1. A terra na Ilha e Terra Firme. Uma visão de conjunto

Assim, no universo das 264 propriedades 17% eram terras foreiras à Câmara (o

correspondente a 45 prazos) e 11% à Coroa (o correspondente a 29 prazos) sendo que o

já referido chão comprado por Plácido Mascarenhas e Quitéria de Sousa é o único em

relação ao qual conhecemos o título de aforamento. Ignora-se qual a instituição outor-

gante nos restantes 72% dos casos (o correspondente a uma larga maioria de 190

prazos) (v. Gráfico 2).

319

Disso mesmo nos dá conta o capitão-mor da Terra Firme Joaquim do Rosário Monteiro ao elaborar o

“Mapa do número de habitantes cristãos” notando, à margem, que “alem dos habitantes christaons, que

possuem cazas, e fazendas nas dittas terras, há tambem moiros, estabelecidos nas mesmas, porem como

os seus estabelecimentos, são de pouca consideração nas ditas terras por essa razão senão faz menção

deles”, cf.: “Mappa do Numero dos Habitantes Christaons, que possuem nas terras do Lumbo, Ilha de

Batû, Calundi, Apagafogo, Ampapa, Monsuril, Mapeta, Cabaceira Grande, e Cabaceira piquena, Cazas,

fazendas Escravos, e da Gente livre, e Feitores, que há nas ditas terras, as quaes são fronteiras a Ilha de

Mossambique”, 20.Ago.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 96, doc. 62. 320

Percebe-se, no entanto, que existiu um expressivo mercado de compra e venda de terras. Veja-se, por

exemplo, o Inventário dos bens de Mateus Coelho Soares e D. Ana Soares da Serra 22.Agos.1783, AHU,

Cons. Ultr., Moç, cx. 44, doc. 6 e a Carta do provedor dos ausentes e defuntos Manoel José Gomes

Loureiro para o governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa, 6.Set.1799, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 83, doc. 31.

Page 107: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

91

Gráfico 2 – Instituição outorgante do aforamento (1763 - c. 1802)

No que diz respeito aos 253 proprietários, 83% eram homens (209) e 15% mu-

lheres (39). Os restantes 2% (5), agrupados como não aplicáveis (N/A), traduzem os

casos em que a posse é atribuída “aos herdeiros” de determinado proprietário (4) ou ao

casal Plácido Mascarenhas e Quitéria de Sousa (1) (v. Gráfico 3).

Gráfico 3 – Distribuição da propriedade por género (1763 - c. 1802)

No caso específico das propriedades foreiras à câmara, 89% (33) foram tituladas

em homens e 11% (4) em mulheres (v. Gráfico 4). Ao nível da distribuição por género as

propriedades foreiras à Coroa apresentam valores idênticos. De um total de 29 prazos,

86% (25) foram titulados em homens, 10% (3) em mulheres. Os restantes 4% (1) dizem

respeito ao chão aforado por Plácido Mascarenhas e Quitéria de Sousa (v. Gráfico 5).

Page 108: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

92

Gráfico 4 – Distribuição das propriedades foreiras à

câmara por género (1763 - c. 1802)

Gráfico 5 – Distribuição das propriedades foreiras à

Coroa por género (1763 - c. 1802)

Quanto à naturalidade, dos 253 proprietários 17,3% (44) eram portugueses do

reino, outros 16,6% eram originários da Província do Norte (42), 6% (15) eram goeses,

seguindo-se os naturais de Moçambique e do Rio de Janeiro que representavam,

respectivamente, 5% (13) e 2% (6) do total. Uma vez mais, desconhece-se a situação da

maioria dos casos, 53% (133) (v. Gráfico 6). Porém, neste percentual de proprietários de

naturalidade desconhecida incluem-se as 39 mulheres atrás referidas, as quais,

atendendo à configuração da sociedade insular e à reduzida colonização feminina,

podemos supor tratarem-se na sua maioria de mulheres mestiças de origem local,

descendentes de portugueses e africanas ou de portugueses e indianas321

. Assim, e

apesar de em determinados casos individuais ser visível um certo protagonismo, no seu

conjunto, as mulheres detentoras de terras na Ilha e Terra Firme desempenharam um

papel de pouco relevo, sobretudo quando comparadas às donas do Zambeze que adquiri-

ram uma posição de grande preeminência política, social e económica chegando a deter

cerca de metade dos prazos da região dos Rios de Sena322

.

321

Sobre o quotidiano e relações sociais das mulheres da elite insular v. Rodrigues, 2010b e 2010c. 322

Rodrigues, 2002: 167-178, 236-241.

Page 109: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

93

Gráfico 6 - Distribuição dos foreiros por naturalidade (1763 - c. 1802)

O retrato dos proprietários da Ilha e Terra Firme aqui traçado nas suas linhas

gerais confirma e completa o que vem sendo evidenciado pela historiografia em relação

à composição da elite insular ao longo da segunda metade de Setecentos, nomeada-

mente a preponderância da população masculina e a diversidade das suas origens geo-

gráficas323

. No conjunto daqueles que tiveram acesso à terra sobressai a emigração

masculina procedente do subcontinente indiano (Goa e Província do Norte com uma

peso de 23,6%) seguida da emigração, igualmente masculina, com origem em Portugal.

Não por acaso. Ao longo da segunda metade de Setecentos a Ilha de Moçambique foi o

porto de destino dos mercadores e negociantes atraídos pelos vigoroso ambiente comer-

cial. Na condição de capital da colónia de Moçambique e Rios de Sena foi também

ponto de chegada dos oficiais régios, religiosos e militares chamados à sua

administração e defesa. Pelo menos uma parte destes indivíduos acabou por se fixar na

região, integrando-se na sociedade insular. Uma vez na Ilha, o comércio – o tráfico de

escravos, em particular – constituiu-se invariavelmente na principal ocupação de uma

larga maioria. Mais lucrativo e imediato do que os negócios até então praticados na

costa leste-africana, o tráfico negreiro facilmente se tornou no principal interesse da

generalidade da população insular.

Não só aqueles que se dedicavam exclusivamente ao tráfico, também muitos

oficiais da administração régia, militares, clérigos, náuticos, agricultores se envolveram

na compra e venda de escravos. Não o fazendo de forma exclusiva, já que em

simultâneo desempenhavam várias outras actividades, era deste negócio que retiravam

323

Veja-se, em particular, Wagner, 2011.

Page 110: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

94

uma parte substantiva dos seus rendimentos324

. Como em outras sociedades de Antigo

Regime, estes indivíduos investiam o capital acumulado no comércio em bens de raiz,

quer pelo prestígio que decorria da sua posse, quer pelas rendas que eles podiam

facultar, quer ainda pela segurança do investimento pois este era um tipo de património

mais estável e que contrabalançava os riscos inerentes às actividades comerciais.

Ao longo das páginas seguintes, iremos acompanhar o caso de um dos

proprietários da Ilha e Terra Firme, João da Silva Guedes, que se afigura como um

exemplo paradigmático dos processos atrás descritos.

4.2. O caso de João da Silva Guedes

Natural do Porto onde terá nascido cerca de 1750, a presença documentada de

João da Silva Guedes em Moçambique data de 1778 ou 1779, altura em que iniciou

funções como escrivão maior da alfândega325

. Sabemo-lo casado com D. Rosaura Mon-

teiro de Sousa antes de 1784. E, em 1787, é já um dos maiores produtores agrícolas no

conjunto dos produtores portugueses estabelecidos no termo da Ilha de Moçambique,

cuidando das suas e ajudando no trato das fazendas de sua sogra e cunhada326

. Entre-

tanto, pelo menos desde 1789, encontramo-lo envolvido no tráfico negreiro negociando

escravos que resgatava no sertão a troco de armas e pólvora. A partir de 1791 passa a

armar navios tornando-se, inclusivamente, no primeiro armador residente na Ilha de

Moçambique a expedir uma embarcação negreira para a América portuguesa, em

1794327

.

Escrivão maior da alfândega, e portanto em contacto directo com armadores e

negreiros, João da Silva Gudes passou também ele a comprar e vender escravos sem no

entanto abandonar aquela ocupação328

, cujo exercício aliás lhe traria inúmeros benefí-

cios. Não por acaso, pelos ofícios da alfândega terão passado alguns dos principais

negreiros de Moçambique. No mesmo período, é também o caso do goês Joaquim do

324

Capela, 2002. 325

Requerimento de João da Silva Guedes para continuar a servir o ofício de escrivão maior da alfândega,

4.Jan.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 92, doc. 5 e “Auto de devassa a que mandou proceder o

dezembargador ouvidor geral Antonio Jozé de Morais Durão pelo contheudo na ordem e interrogatorios

juntos” 16.Mar.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 32, fl.24v. 326

Mapa dos baptizados, casamentos e falecimentos na Sé Matriz de Moçambique entre Janeiro de 1783 e

Agosto de 1784, 11.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 47, doc. 51 e Relação dos moradores que

fazem farinha de mandioca, 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15. 327

Capela, 2002: p. 78 e 147. 328

João da Silva Guedes requereu a serventia vitalícia do ofício de escrivão maior da alfândega, a qual lhe

foi confirmada em 1799, v. Carta de mercê do posto de escrivão maior da alfândega passada a João da

Silva Guedes, AHU, Cons. Ultr. Moç., 1.Mar.1799, cx. 82, doc. 22.

Page 111: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

95

Rosário Monteiro. De resto, João da Silva Guedes e Joaquim do Rosário Monteiro fo-

ram talvez os dois maiores armadores da Ilha de Moçambique das duas primeiras déca-

das de Oitocentos329

.

Pelo menos nos anos de 1794 e 1801 João da Silva Guedes integrou o Senado da

Câmara330

. Foi ainda mesário da Misericórdia (1793)331

, capitão-mor da companhia de

ordenanças de Moçambique332

e tornou-se um dos maiores produtores agrícolas com

várias fazendas e palmares aforados333

. Embora desconhecendo os produtos em causa,

sabemos que se envolveu também na comercialização de mantimentos. Dono do

patacho S. Vicente Formidável foi autorizado a navegar para Quelimane para carregar

mantimentos pelo menos em 1801 e 1803334

. E, bem assim, em associação com outros

mercadores, iniciou-se na pesca da baleia na costa ao largo de Lourenço Marques335

e

arrematou os dízimos da Ilha e Terra Firme336

.

A variedade de actividades desempenhadas e a diversidade de negócios em que

participou é, de resto, uma característica comum a muitos outros agentes negreiros em

actuação em Moçambique no mesmo período. A título de exemplo refira-se o caso de

António José Teixeira Tigre, sócio de João da Silva Guedes no negócio de escravos e tal

como aquele natural do Porto, que foi também tenente-coronel do regimento de infanta-

ria de Moçambique, irmão da Misericórdia, capitão-mor da Terra Firme e “um dos mais

principais moradores (…) pelo aumento de suas fazendas e propriedades de casas”337

.

329

Capela, 2002: p. 147. Veja-se, em particular, a entrada João da Silva Guedes no Dicionário de

Negreiros em Moçambique 1750-1897 para um breve resumo da sua actividade comercial – Capela, 2007:

p. 31-32. 330

Carta do Senado da Câmara para a rainha, 26.Nov.1794, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 69, doc. 46 e

Carta do Senado da Câmara para o príncipe regente, 22.Set.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 9. 331

Carta dos irmãos Misericórdia de Moçambique para o governador das Ilhas de Cabo Delgado,

6.Jul.1793, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 74, doc. 96. 332

Carta-patente de João da Silva Guedes no posto de capitão-mor da companhia de ordenanças de

Moçambique, 5.Nov.1793, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 139v-141. 333

Carta do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa para a rainha, 8.Ago.1799, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 83, doc. 40. 334

Passaportes passados a João da Silva Guedes para comerciar em Quelimane, 23.Out.1801, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 89, doc. 41 e 12.Mar.1803, cx. 97, doc. 25. 335

Carta do governador-geral D. Diogo de Sousa para o secretário de Estado, 29.Out.1796, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 80, doc.22. 336

“Auto de arrematação dos dízimos dos distritos das tres Freguezias desta vila de Moçambique e das

Cabaceiras por tres annos de 1788, 1789 e 1790”, 6.Dez.1787, AHU, Gov. Moç., cód. 1564, fls. 1-3. 337

Carta do governador-geral D. Diogo de Sousa para o secretário de Estado, 29.Out.1796, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 80, doc.22; Folha de conduta dos militares da 1ª à 9ª companhias do regimento de

Moçambique [s.d.], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 68, doc. 22; Carta dos irmãos Misericórdia de

Moçambique para o governador das Ilhas de Cabo Delgado, 6.Jul.1793, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 74,

doc. 96; Carta do governador-geral António de Melo e Castro para o Senado da Câmara, 15.Mar.1786,

AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 58v-60; Carta do capitão-mor da Terra Firme António José Teixeira

Tigre para o governador-geral, 4.Set.1797, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 78, doc. 69; Capela, 2007: p. 54.

Page 112: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

96

Quanto a João da Silva Guedes, segundo o governador-geral Francisco G. C.

Meneses da Costa, distinguiu-se “mais do que nenhum outro morador no fabrico de

varias propriedades de cazas”. Para além daquela em que habitava, a qual “mesmo na

Europa” seria reputada como “huma propriedade nobre”, Silva Guedes seria senhor de

vários prédios localizados no recinto insular. No continente fronteiro fez “aumentar o

seu patrimonio pelos meios da agricultura, tendo roteado terrenos nas terras firmes e

formado fazendas que alem dos seus grandes palmares excedem anualmente em

produção a mais de oito ou 12 mil alqueires de farinha de pau”338

. Em suma, Silva

Guedes era um homem “abonado com bens de raiz superabundantes na capital”339

. A

aplicação do capital mercantil em património fundiário era uma estratégia que obedecia,

fundamentalmente, a propósitos de afirmação social e de segurança. Tratava-se de um

tipo de investimento menos incerto e de rendas fixas que mais facilmente garantiam um

padrão de vida de acordo com os ganhos mercantis acumulados. E também João da

Silva Guedes se serviu desta estratégia.

Para além dos factores de segurança e afirmação social, na Ilha de Moçambique

a posse de terras revestia-se ainda de uma outra dimensão que decorria da extrema de-

pendência alimentar a que estava sujeita. Como vimos no segundo capítulo, sobretudo

no que se referia ao cultivo de cereais, a Ilha não se bastava a si própria encontrando-se

dependente de um conjunto de mercados exteriores. Assim, alguns dos maiores

negreiros tornaram-se simultaneamente alguns dos maiores produtores agrícolas, já que

através da exploração das suas propriedades encontravam uma forma mais barata de

alimentar os seus escravos baixando assim os custos associados a este tráfico340

. A

agricultura, não só permitia reduzir os custos com a alimentação dos escravos

traficados, como possibilitava somar os lucros da venda dos excedentes de produção aos

lucros do tráfico. A despeito dos valores apontados pelo governador-geral Francisco G.

C. Meneses da Costa, a quantidade estimada de farinha de mandioca produzida por João

da Silva Guedes no ano 1802 era de 2.000 alqueires. Também em 1802, Silva Guedes

338

Carta do governador-geral Francisco G. C. Meneses da Costa para a rainha, 8.Ago.1799, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 83, doc. 40. 339

“Auto de arrematação dos dízimos dos distritos das tres freguezias desta vila de Moçambique e das

Cabaceiras por tres annos de 1788, 1789 e 1790”, 6.Dez.1787, Gov. Moç., cód. 1564, fls. 1-3. 340

V. Relação das pessoas que possuem machambas, 20. Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

259v-260v e Rodrigues, 1998.

Page 113: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

97

tinha plantadas 37 árvores de café, cultura que então as autoridades portuguesas

tentavam introduzir na região341

.

A par da dimensão prática de alimentar a Ilha de Moçambique e o próprio

negócio de escravos, as propriedades do continente fronteiro encerravam ainda uma

dimensão simbólica. Apesar dos habitantes mais destacados terem morada principal no

recinto insular, as propriedades da Terra Firme eram por eles procuradas para recreio. A

posse destas terras permitia-lhes assim dar visibilidade à fortuna acumulada no

comércio negreiro e, simultaneamente, gozar do prestígio social que uma residência de

recreio podia conferir342

.

O percurso de João da Silva Guedes na Ilha de Moçambique prolonga-se para

além da cronologia de análise deste trabalho. Segundo a investigação realizada por José

Capela, Silva Guedes manteve-se ligado ao tráfico de escravos até cerca de 1813.

Retira-se em razão da idade mas a actividade é continuada pelos seus filhos

continuando, de resto, a ocupar o ofício de escrivão maior da alfândega pelo menos até

1819343

.

341

Relação das pessoas a quem pertencem as árvores de café, 23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fl. 262 e Relação das pessoas que possuem machambas, 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

259v-260v. 342

Rodrigues, Rocha e Nascimento, 2009. De resto, uma estratégia de promoção social comum às demais

sociedades de Antigo Regime. Como verificou Jorge Pedreira, os homens de negócio da praça de Lisboa

na segunda metade do século XXVIII investiam uma fracção do seu património em quintas em Lisboa e

nos arredores, “um investimento com finalidades simbólicas, posto que permitia uma demonstração social

das fortunas mercantis e do padrão de vida que elas proporcionavam”, v. Pedreira, 1996: p. 373. 343

Capela, 2007: p. 31-32.

Page 114: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 115: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

99

CONCLUSÃO

A segunda metade do século XVIII representou para a Ilha de Moçambique um

período de notável transformação e dinamismo, nomeadamente a partir da passagem

para administração directa de Lisboa, em 1752. Seguiu-se o estabelecimento da

liberdade de comércio nos portos moçambicanos a todos os súbditos do império

português e a elevação da praça a vila dotada de câmara. Sistematizou-se o tráfico

negreiro, o qual passou a correr de forma particularmente intensa nas últimas décadas de

Setecentos. Porém, com pouco mais de um Km2 de área total, para conseguir acolher as

transformações e o dinamismo então vividos a Ilha foi “obrigada” a fazer uso ostensivo

das terras continentais fronteiras. A Terra Firme foi o cenário privilegiado do

desenvolvimento comercial e agrícola da segunda metade de Setecentos e os moradores

e demais proprietários da Terra Firme afirmaram-se como os protagonistas deste

desenvolvimento.

Muito sinteticamente, foram estes os processos que acompanhámos ao longo do

trabalho que agora se conclui. Em primeiro lugar, observámos como na segunda metade

de Setecentos a Terra Firme ocupava uma área aproximada de 10 Km de extensão litoral

por 5 a 6 Km de profundidade interior. Valores meramente indicativos mas que, em

todo o caso, permitem perceber o quão reduzido era o espaço sob efectivo domínio

português no continente fronteiro à Ilha. Não obstante, observámos também como, no

mesmo período, em resultado da intensificação do comércio e da agricultura ali

praticados, os portugueses passaram a ocupar parcelas do território continental até então

pouco ou nada exploradas, como a região litoral situada a oeste/noroeste relativamente à

Ilha.

O processo de apropriação territorial na Terra Firme torna-se evidente nas

últimas três décadas de Setecentos, nomeadamente a partir de 1770 com a promoção de

uma política de produção e distribuição de mantimentos que permitisse aumentar a

independência da região face aos provimentos externos e que desse resposta ao aumento

populacional verificado sobretudo em função do tráfico de escravos. Introduzida cerca

de 1768, a mandioca desempenhou um importante papel neste contexto. Rapidamente se

transformou numa das principais culturas da região, contribuindo para atenuar esta

dependência e constituindo-se móbil de uma agricultura mais intensiva. Neste contexto,

Page 116: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

100

a área dedicada ao cultivo agrícola cresceu de forma expressiva e as terras continentais

tornaram-se ainda mais importantes para o abastecimento da Ilha, tanto para alimentar a

população residente e a população em trânsito, como para assegurar a manutenção dos

seus circuitos comerciais. O alargamento da área cultivada verificada nas últimas três

décadas de Setecentos decorreu, no entanto, sob constante pressão militar das

populações suaílis e macuas vizinhas e, por isso, numa segunda parte deste trabalho,

debruçámo-nos sobre as dinâmicas de resistência à colonização portuguesa focando os

principais momentos políticos e militares do relacionamento entre portugueses, suaílis e

macuas.

Uma terceira grande questão prendeu-se com os mecanismos jurídico-políticos

que regularam o acesso à terra na região da Ilha. Partimos de uma breve caracterização

do regime jurídico de concessão das terras de Moçambique nos séculos XVII e XVIII

com base na historiografia dedicada aos prazos dos Rios de Sena. Em seguida,

procurámos esboçar o quadro fundiário da Ilha e Terra Firme entre o final do século

XVI e 1763 e vimos como também aqui, embora com determinados particularismos

decorrentes em grande medida das limitações do espaço, o regime jurídico que

enquadrou a posse e propriedade da terra foi o regime jurídico dos prazos de

Moçambique. Ao longo de 1763, acompanhámos a criação da câmara e a constituição

do concelho de Moçambique. E, de 1763 em diante, verificámos como o domínio

eminente sobre o território da Ilha e Terra Firme foi partilhado entre a câmara e o

governo-geral. Enquanto os prazos anteriores à criação do concelho se mantiveram sob

tutela do governo-geral, a câmara passou a deter a prerrogativa da concessão dos

terrenos incultos.

Mas como dentro da então circunscrição portuguesa uma larga maioria do

território seria inculto, a câmara assumiu o destaque do processo de apropriação

territorial num contexto de crescimento da população, de intensificação da actividade

comercial e de afirmação geral da Ilha enquanto capital da capitania de Moçambique.

Com efeito, tudo indica que na cronologia em estudo o progresso na ocupação da Terra

Firme se ficou sobretudo a dever a uma exploração mais intensiva dos terrenos já

agricultadas e ao aproveitamento dos baldios localizados dentro da circunscrição

portuguesa. A apropriação de terras para além deste espaço que rondaria os 5 a 6 Km de

profundidade interior foi também uma realidade, como fica aliás claro no processo

protagonizado pela câmara de ocupação de Nandoa, Mutuamulamba e Savaçava, terras

Page 117: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

101

até então “circunferentes à Coroa”. Deste processo resultou um território um pouco

mais vasto a ser administrado e explorado pelos portugueses. Porém, na cronologia em

estudo, o avanço da colonização portuguesa parece ter sido efectivamente muito

escasso.

Já nas páginas finais deste trabalho, e ainda que de forma breve, tivemos

oportunidade de nos debruçar sobre outro dos protagonistas do processo de

territorialização portuguesa na Terra Firme, os proprietários. Através de uma análise de

conjunto verificámos, tal como seria expectável num espaço de encruzilhada de

múltiplas rotas comerciais como a Ilha de Moçambique da segunda metade de

Setecentos, o predomínio da população masculina e a sua grande diversidade de origens.

A concluir importa ainda sublinhar que muitas das questões levantadas neste

trabalho continuam em aberto. A manifesta escassez de títulos de aforamento representa

uma lacuna dificilmente ultrapassável por qualquer outra documentação por mais

abundante e diversificada que ela seja. Certamente a análise do livro de registo dos

aforamentos concedidos entre 1788 e 1815 e dos tombos de 1783-1788 e 1799-1852 –

que sabemos existirem mas não que nos foi possível consultar – poderá trazer novas

perspectivas sobre a questão fundiária na Ilha e Terra Firme do período moderno. Mas,

portanto, no estado presente da investigação são muitas as dúvidas que ficam por

esclarecer, tanto em resultado das referidas limitações documentais como em resultado

dos limites inerentes a uma tese de mestrado.

Quais os usos dados às terras do continente fronteiro à Ilha? Para além da

mandioca e do café, que outros produtos eram cultivados e para que fins foram usados?

Que inovações (agrícolas, fiscais, políticas ou outras) foram aplicadas no sentido de

tornar mais produtivas e rentáveis estas terras? Qual o papel dos escravos enquanto

mão-de-obra agrícola privilegiada e como é que a captação de escravos para a

agricultura da Terra Firme se articulou com as demandas do tráfico negreiro?

Interessaria também conhecer de uma forma mais aprofundada as normas que regeram a

concessão e a sucessão destas terras e, bem assim, as famílias e os indivíduos que

beneficiaram da sua posse. Não obstante a falta de resposta para estas e outras das

perguntas formuladas ao longo deste trabalho, chegados ao final ficámos a conhecer a

forma como a Terra Firme foi sendo construída por via da abertura de novos palmares,

fazendas e machambas.

Page 118: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 119: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

Fontes e Bibliografia

Page 120: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 121: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

105

FONTES MANUSCRITAS

Arquivo Histórico de Moçambique

Mártires, Bartolomeu dos (frei). 1822. Memoria Chorografica da Provincia ou

Capitania de Mossambique na Costa d'Africa Oriental conforme o estado em

que se encontrava no anno de 1822, SE a III P 9, nº. 216-a (cópia do original do

Arquivo da Casa Cadaval, cód. 826, M VI 32).

Arquivo Histórico Ultramarino

Conselho Ultramarino, Moçambique, caixas: 11, 23, 26, 27, 28, 29, 30, 30-A,

31, 32, 34, 35, 38, 39, 40, 41, 44, 47, 48, 49, 50, 52, 53, 55, 59, 60, 61, 62, 68,

69, 70, 71, 74, 75, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 85, 86, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 96,

97, 99, 100.

Governo de Moçambique, códices: 1321, 1323, 1353, 1355, 1564.

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Simoni, Luís Vicente de. 1821. Tratado Medico sobre Clima e Enfermidades de

Moçambique, Secção de Manuscritos, Fundo De Simoni, códice I-47, 23,

17.

Historical Archives of Goa

Mercês Gerais, códice 812.

Sociedade de Geografia de Lisboa

Reservados 1 – Est. 145 – Pasta L – N.º 17.

FONTES IMPRESSAS

“Relação dos Moradores Portugueses Que assistem em Moçambique e seus Distritos

(1957)” in Luiz Fernando de Carvalho Dias (org.), Fontes para a História,

Geografia e Comércio de Moçambique (Séc. XVIII). Anais de Investigação do

Ultramar: estudos de história da geografia da expansão portuguesa, vol. 9, tomo

1. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1954, p. 153-169.

Boletim Oficial do Governo-Geral da Província de Moçambique, n.º 20, 23.Set.1854,

Parte Oficial.

Page 122: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

106

Botelho, Sebastião José. 1833. Memoria Estatistica sobre os domínios portuguezes na

Africa Oriental. Lisboa: typographia de José Baptista Morado.

Durão, António. 1952. Cercos de Moçambique defendidos por D. Estêvão de Ataíde.

Lourenço Marques: Minerva Central Editora.

Mártires, Bartolomeu dos (frei). 1822. “Memoria Chorografica da Provincia ou

Capitania de Mossambique na Costa d’Africa Oriental conforme o estado em que

se encontrava no anno de 1822” in Virgínia Rau. 1963. “Aspectos étnicos-

culturais da Ilha de Moçambique em 1822” in STVDIA, n.º 11. Lisboa: Centro de

Estudos Históricos Ultramarinos, p. 123-163344

.

Miranda, António Pinto de. 1766. “Memória sobre a Costa de África (c. de 1766)” in

António Alberto Banha de Andrade (org.), Relações de Moçambique Setecentista.

Lisboa: Ministério do Ultramar, 1955, p. 231-302.

Pissurlencar, Panduronga (ed.). Assentos do Conselho de Estado. Goa: Tipografia

Rangel, 1958.

Rego, António da Silva (dir.). Documentos remetidos da India ou livro das monções,

vol. VI. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1974-1978.

Salt, Henry. 1814. A voyage to Abyssinia and travels into the interior of that country,

executed under the orders of the British Govnernment, in the years 1809 and

1810; in wich are included, an account of the Portuguese settlements on the East

Coast of Africa, visited in the course of the voyage; a conceide narrative of late

events in Arabia Feliz; and some particulars respecting the aboriginal African

tribes, extending from Mosambique to the borders of Egypt; together with

vocabularies of their respective languages. Illustrated with a map of Abyssinia,

numerous engravings, and charts. London: printed for F. C. and J. Rivington, St.

Paul’s Church-Yard by W. Bulmer and Co. Cleveland-Row, St. Jame’s.

Santos, João dos Santos (frei). 1609. Etiópia Oriental e vária história das cousas

notáveis do Oriente (introdução de Manuel Lobato; notas de Manuel Lobato e

Eduardo Medeiros). Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos

Descobrimentos Portugueses, 1999.

Varela, Joaquim José. 1788. “Descrição da Capitania de Moçambique e suas povoações

e produções pertencentes à Coroa de Portugal” in Luiz Fernando de Carvalho Dias

(org.), Fontes para a História, Geografia e Comércio de Moçambique (Séc.

XVIII). Anais de Investigação do Ultramar: estudos de história da geografia da

expansão portuguesa, vol. 9, tomo 1. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar,

1954, p. 283-310.

344

A existência de duas referência à mesma fonte explica-se em virtude da versão publicada por Virgínia

Rau não incluir determinados trechos relevantes para este trabalho. O acesso à cópia do manuscrito foi

facultado pela Doutora Eugénia Rodrigues, a quem agradeço a partilha.

Page 123: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

107

CARTOGRAFIA

Arquivo Histórico Ultramarino

Cunha, José Amado da. 1802, Carta Plana de Mossuril, Cabaceira grande, e

pequena feita por Jozé Amado da Cunha Sargento Mor Graduado, Cartm,

064, doc. 557.

Arquivo Histórico Militar

Anónimo (s.d.) [1843], Demonstração do Porto e Ilhas de Mossambique,

Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar/Divisão de

Infraestruturas 1220 2A -24A-111.

Centro de História – Instituto de Investigação Científica Tropical

Brito, Gregório Taumaturgo. 1754. Carta Topográfica da Ilha de Mossambique

terra firme da ponta de Bajona, Ilha de Qutangonha que por ordem do

Illmo. Exmo Senhor Francisco de Mello de Castro, Governador e Capitão

general tirou o ajudante engenheiro Gregório Thaumaturgo de Brito no

anno de1754. Pasta 03-001 MLITGJIU.

Sociedade de Geografia de Lisboa

Moçambique: carta hidrográfica do porto de Moçambique/Missão Hidrográfica

de Moçambique (1933), 2ª Edição, escala 1: 25000. Lisboa: Instituto

Hidrográfico, 1975, 7-C-57.

Plano hidrográfico desde Cabo Delgado ao Rio Mocambo, s.d. [séc.XVII], 1-G-

47.

BIBLIOGRAFIA

1. Dicionários e instrumentos de trabalho

Dicionário Corográfico da Província de Moçambique. 1921. 2º Fascículo, Distrito de

Moçambique. Ministério das Colónias/Comissão de Cartografia. Coimbra:

Imprensa da Universidade.

Lapa, Joaquim José e Alfredo Brandão Cró de Castro. 1889. Elementos para um

Diccionario Chorographico da Província de Moçambique. Lisboa: Adolpho,

Modesto & C.ª Impressores.

Page 124: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

108

Marques, Miguel da Silva. 2001. Cartografia Antiga. Tabela de equivalências de

medidas. Cálculo de escalas e conversão de valores de coordenadas geográficas.

Lisboa: Biblioteca Nacional.

Rafael, Saul Dias. 2002. Dicionário Toponímico, Histórico, Geográfico e Etnográfico

de Moçambique, Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique.

Soares, Torquato de Sousa. 1977. “Concelhos” in Serrão, Joel (dir.), Dicionário de

História de Portugal, volume, I [A-D]. Lisboa: Iniciativas Editoriais, p. 651-653.

2. Estudos

Albuquerque, Luís. 1978. “Escalas da carreira da Índia” in Separata da Revista da Uni-

versidade de Coimbra, vol. XXVI. Coimbra: Oficinas da Imprensa de Coimbra.

Almeida, Alfredo de Moraes. 1898. Da Emphyteuse no Moderno Direito Civil

Portuguez. Dissertação para a 9ª cadeira da Faculdade de Direito. Coimbra:

Imprensa da Universidade.

Alpers, Edward. 1970. “The French Slave Trade in East Africa (1721-1810)” in Cahiers

d'Études Africaines, vol. 10, nº. 37, p. 80-124.

Alpers, Edward. 1975. Ivory and Slaves in East Central Africa. Changing Patterns of

Internacional Trade to the Later Nineteenth Century. London: Heinemann.

Alpers, Edward. 1976. “Gujarat and the Trade of East Africa, c. 1500-1800” in The

International Journal of African Historical Studies, vol. 9, n.º 1, p. 22-44.

Angius, Matteo e Zamponi, Mario. 1999. Ilha de Moçambique: convergência de povos

e culturas. San Marino: AIEP Editore.

Antunes, Luís Frederico Dias. 1992. A actividade da Companhia de Comércio dos

Baneanes de Diu em Moçambique (1686-1777). Dissertação de Mestrado em

História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Faculdade de Ciências

Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa (policopiada).

Antunes, Luís Frederico Dias. 2001. O bazar e a fortaleza em Moçambique. A

comunidade baneane do Guzerate e a transformação do comércio afro-asiático

(1686-1810). Dissertação de Doutoramento em História dos Descobrimentos e da

Expansão Portuguesa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade

Nova de Lisboa (policopiada).

Antunes, Luís Frederico e Manuel Lobato. 2006. “Moçambique” in Joel Serrão e A.H.

de Oliveira Marques (dir.) e Maria de Jesus dos Mártires Lopes (coord.) Nova

História da Expansão Portuguesa. O Império Oriental 1660-1820, vol. V, Tomo

2. Lisboa: Editorial Estampa, p. 266-332.

Antunes, Luís Frederico. 2011. “A Companhia Comercial das Índias Orientais e os

esforços de reanimação e organização de um mercado intercolonial (1680-1700)”

in Miguel Jasmins Rodrigues e Maria Manuel Torrão (coord.), Pequena Nobreza

Page 125: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

109

de Aquém e de Além-Mar. Poderes, Patrimónios e Redes. Lisboa: Projecto FCT

Pequena nobreza e nobreza da terra na construção do império: os arquipélagos

atlânticos/Instituto de Investigação Científica Tropical/Centro de História de

Além-Mar/Direcção Geral de Arquivos, p. 269-283.

Araújo, Maria Benedita de. 1992. O Giro Moçambicano. Subsídios para a História de

Moçambique (1498-1752). Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade de

Coimbra.

Araújo, Renata Malcher de. 1998. As cidades da amazónia no século XVIII. Belém,

Macapá e Mazagão. Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.

Araújo, Renata Malcher de. 2012. “A Urbanização da Amazónia e do Mato Grosso no

século XVIII. Povoações civis, decorosas e úteis para o bem comum da coroa e

dos povos” in Anais do Museu Paulista, vol. 20, n.º 1, p. 41-76.

Axelson, Eric. 1969. Portuguese in South-East Africa 1600-1700. Johannesburg:

Witwatersrand University Press.

Biedermann, Zoltán. 2009. “Colombo versus Cannanore: contrasting structures of two

colonial port cities (1500-1700)” in Journal of the Economic and Social History of

the Orient, vol. 53, n.º 3, p. 413-459

Boxer, Charles. 1961. “Moçambique island and the «carreira da Índia»” in STVDIA, n.º

8. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, p. 95-133.

Boxer, Charles. 1973. The Portuguese seaborne empire, 1415-1825. Harmondsworth:

Penguin.

Brito, Raquel Soeiro de. 1997. “Ilha (A) de Moçambique” in No trilho dos

Descobrimentos: Estudos Geográficos. Lisboa: Comissão Nacional para as

Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, p. 213-221.

Capela, José Viriato. 1995. O Minho e os seus muncípios. Estudos económico-

administrativos sobre o município português nos horizontes da reforma liberal.

Braga: Universidade do Minho/Mestrado de História das Instituições e Cultura

Moderna e Contemporânea.

Capela, José. 1995. Donas, senhores e escravos. Porto: Afrontamento.

Capela, José. 2002. O tráfico de escravos nos portos de Moçambique: 1733-1904.

Porto: Ed. Afrontamento.

Capela, José. 2005. “Mozambique-Brazil: Cultural and Political Influences Caused by

the Slave Trade” in José C. Curto and Renéé Souloudre-La France (ed.), Africa

and the Americas: interconnections during the slave trade. Trenton and Tasmara:

Africa World Press, 2005, p. 243-257.

Capela, José. 2007. Dicionário de Negreiros em Moçambique 1750-1897. Edições

electrónicas Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.

Page 126: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

110

Capela, José. 2008. “Moçambique no século XIX” in Valentim Alexandre (coord.

cient.), O Império Africano, séculos XIX e XX. Lisboa: Edições Colibri e Instituto

de História Contemporânea/Universidade Nova de Lisboa, p. 117-134.

Capela, José. 2010. Moçambique pela sua História. Porto: Edições electrónicas Centro

de Estudos Africanos da Universidade do Porto.

Cardoso, José Luís. 1989. O pensamento económico em Portugal nos finais do século

XVIII, 1780-1808. Lisboa: Editorial Estampa.

Cardoso, José Luís. 2010. “Política Económica” in Pedro Lains e Álvaro Ferreira da

Silva (orgs.), História Económica de Portugal 1700-2000. O século XVIII, vol. I.

Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, p. 345-366.

Carreira, Ernestina. 2005. “Navegação comercial entre o Brasil e a Ásia Portuguesa

durante a estadia da corte no Brasil 1808-1821” in Actas do Congresso

Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades. Lisboa:

Instituto de Investigação Científica Tropical.

Carreira, Ernestina. 2006. “O Estado Português do Oriente. Aspectos políticos” in Joel

Serrão e A.H. de Oliveira Marques (dir.) e Maria de Jesus dos Mártires Lopes

(coord.) Nova História da Expansão Portuguesa. O Império Oriental 1660-1820,

vol. V, tomo 1. Lisboa: Editorial Estampa, p. 17-91.

Cortesão, Jaime. 1990. Descobrimentos Portugueses, vol. III. Lisboa: Imprensa

Nacional-Casa da Moeda.

Domingues, Francisco Contente. 1989. “A evolução da Carreira da Índia até aos inícios

do século XVII” in Luís de Albuquerque (dir.), Portugal no Mundo, vol. IV.

Lisboa, Alfa, p. 105-130.

Florentino, Manolo, Alexandre Vieira Ribeiro e Daniel Domingues da Silva. 2004.

“Aspectos comparativos do tráfico de africanos para o Brasil (séculos XVIII e

XIX)” in Afro-Ásia, n.º 31. Bahia: Universidade Federal da Bahia.

Florentino, Manolo. 1997. Em costas negras: Uma História do Tráfico Atlântico de

Escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). São Paulo:

Companhia das Letras.

Florentino, Manolo. 2009. “Tráfico atlântico, mercado colonial e famílias escravas no

Rio de Janeiro, Brasil, c. 1790-c. 1830” in História: Questões & Debates, n.º 51,

p. 69-119. Curitiba: Editora UFPR.

Gonçalves, Adelto. 1999. Gonzaga, um Poeta do Iluminismo. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira.

Gonçalves, Adelto. 2010. “O inconfidente que virou santo: estudo biográfico sobre

Salvador Carvalho do Amaral Gurgel” in Estudos Avançados, vol. 24, n.º 69 (São

Paulo), p. 119-141

Page 127: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

111

Guinote, Paulo. 1999. “Ascensão e declínio da carreira da Índia” in Vasco da Gama e a

Índia, vol. II. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 7-39.

Hafkin, Nancy Jane. 1973. Trade, Society, and Politics in Northern Mozambique, c.

1753-1913. PhD dissertation. Boston: Boston University (policopiada)

Hespanha, António Manuel. 1982. História das instituições : épocas medieval e

moderna. Coimbra: Livraria Almeida.

Hespanha, António. 1994. As vésperas do Leviathan. Instituições e poder político.

Portugal - Séc. XVII. Coimbra: Almedina (1ª ed. 1987).

Hespanha, Manuel. 2007. “Depois do Leviathan” in Almanack Brasiliense, n.º 5, p. 55-

66.

Hoppe, Fritz. 1970. A África Oriental Portuguesa no tempo do Marquês de Pombal

1750-1777. Lisboa: Agência Geral do Ultramar.

Liesegang, Gerhard. 1999. “Sobre o crescimento da ocupação da Ilha de Moçambique e

o desenvolvimento da estrutura a observar no fim do tempo colonial” in Matteo

Angius e Mario Zamponi (org.), Ilha de Moçambique: convergência de povos e

culturas. San Marino: AIEP Editore, p. 44-53.

Liesegang, Gerhard. 2001. “Análise das estruturas urbanas em África e especialmente

na África Oriental entre os séculos VII e XVIII e o impacte da Expansão

portuguesa” in Walter Rossa, Renata Malder de Araújo e Hélder Cartita (org.),

Actas do colóquio Internacional Universo Urbanístico Português, 1945-1922.

Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos

Portugueses, p. 139-155.

Lobato, Alexandre. 1945. A Ilha de Moçambique (monografia). Lourenço Marques:

Imprensa Nacional de Moçambique.

Lobato, Alexandre. 1957. Evolução Administrativa e Económica de Moçambique 1752-

1763. Fundamentos da criação do governo-geral em 1752, Estudos

Moçambicanos, vol. I. Lisboa: Agência Geral do Ultramar.

Lobato, Alexandre. 1966. Ilha de Moçambique: panorama estético. Lisboa: Agência

Geral do Ultramar.

Lobato, Alexandre. 1967. Colonização senhorial da Zambézia e outros estudos. Lisboa:

Junta de Investigações do Ultramar.

Lobato, Alexandre. 1988. “Ilha de Moçambique: notícia histórica” in Arquivo. Boletim

do Arquivo Histórico de Moçambique - Ilha de Moçambique nos 170 anos da

fundação da primeira cidade de Moçambique (Maputo), n.º 4, p. 66-78.

Lobato, Alexandre. 1989. Evolução Administrativa e Económica de Moçambique

(1752-1763). Lisboa: Publicações Alfa.

Lobato, Manuel. 1996. “A Ilha de Moçambique antes de 1800” in Oceanos, nº 25, p.

10-26.

Page 128: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

112

Lobato, Manuel. 1998. “Ilha de Moçambique: escala africana da Carreira da Índia nos

séculos XVI e XVII” in Catálogo Oficial. Pavilhão de Portugal. Exposição

Mundial de Lisboa, p. 115-129.

Macieira, Isabel Maria da Silva. 2007. A Ilha de Moçambique durante a Idade

Moderna: a «cidade de pedra e cal». Dissertação de Mestrado em História de

Arte. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais/Universidade do Algarve

(policopiada).

Marques, João Francisco. 2006. “O dominicano bracarense D. Fr. Amaro José de Santo

Thomaz, primeiro bispo residente de Moçambique” in Estudos em Homenagem

ao Professor Doutor José Marques, vol. II. Porto: Faculdade de Letras, p. 331-

358.

Marx, Murillo. 1991. Cidade no Brasil. Terra de quem?. São Paulo: Editora da

Universidade de São Paulo.

Mbwiliza, Joseph Frederik. 1991. A History of Commodity Production in Makuani

1600-1900. Mercantilist Acumulation to Imperialist Domination. Dar es Salaam:

Dar es Salaam University Press.

Miranda, Susana Münch. 2007. A Administração da Fazenda Real no Estado da Índia

(1517-1640). Dissertação de Doutoramento em História dos Descobrimentos

Portugueses. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de

Lisboa (policopiada).

Monteiro, Nuno Gonçalo. 1996a. “Os concelhos e as comunidades” in José Mattoso

(dir.) e António Manuel Hespanha (coord.), História de Portugal, O Antigo

Regime (1620-1807), vol. IV. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 303-323.

Monteiro, Nuno Gonçalo. 1996b. “O espaço político e social local” in César Oliveira

(dir.), História dos Municípios e do poder local. Dos finais da Idade Média à

União Europeia. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 121-175.

Montez, Caetano. 1958. “Introdução” in Inventário do Fundo do Século XVIII.

Introdução Inventário Sumários e Transcrições. Separata do Documentário

Moçambique, n.ºs 72-92. Arquivo Histórico de Moçambique. Lourenço Marques:

Imprensa Nacional de Moçambique, p. 3-8.

Moura, Denise Soares de. 2010. “Disputas por chãos de terra: expansão mercantil e seu

impacto sobre a estrutura fundiária da cidade de São Paulo (1765-1848)” in

Revista de História, n.º 163, p. 53-80.

Neto, Margarida Sobral. 1997. Terra e conflito: região de Coimbra, 1700-1834. Viseu:

Palimage Editores.

Newitt, Malyn. 1983. “The Comoro Islands in Indian Ocean Trade before the 19th

Century” in Cahiers d'études africaines, vol. 23, n° 89-90, p. 139-165.

Newitt, Malyn. 2004. “Mozambique Island: The Rise and Decline of an East African

Coastal City, 1500-1700” in Portuguese Studies, n.º 20, p. 21-37.

Page 129: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

113

Newitt, Malyn. 2008. “Mozambique Island: The Rise and Decline of a Colonial Port

City” in Liam Matthew Brockey (ed.), Portuguese colonial cities in the early

modern world. Farnham, England; Burlington, VT: Ashgate Pub. Co., p. 105-127.

Newitt, Malyn. 2009. A history of Mozambique. London: Hurst&Company (1ª ed.

Hurst, 1995).

Nunes, João Arriscado e Rui Graça Feijó. 1990. “As transformações dos «incultos» no

noroeste (1750-1900): uma proposta de reapreciação” in Cadernos de Ciências

Sociais, n.º 8/9.

Pearson, Michael. 2002. Port cities and intruders: the Swahili Coast, India, and

Portugal in the Early Modern Era. Baltimore: Johns Hopkins University Press (1a

ed. Johns Hopkins University Press, 1998).

Pearson, Michael. 2010. “Mercadores e Comunidades Mercantis no Oceano Índico:

Situar os Portugueses” in Francisco Bethencourt e Diogo Ramada Curto (dirs.), A

expansão marítima portuguesa, 1400-1800. Lisboa: Edições 70, p. 93-114 (1ª ed.

Cambridge University Press, 2007).

Pedreira, Jorge. 1996. “Tratos e contratos: actividades, interesses e orientações dos

investimentos dos negociantes da praça de Lisboa (1755-1822) in Análise Social,

vol. XXXI (136-137), (2-3), p. 355-379.

Ribeiro, Orlando. 1961. Geografia e civilização: temas portugueses. Lisboa: Centro de

Estudos Geográficos.

Rita-Ferreira, António. 1982. Fixação Portuguesa e História Pré-Colonial de Moçam-

bique. Estudos, Ensaios e Documentos n.o 42. Lisboa: Instituto de Investigação

Científica Tropical.

Rita-Ferreira, António. 1996. “Ilha de Moçambique: Cidade de um Oceano” in Ocea-

nos, n.º 25, p. 26-38.

Rodrigues, Eugénia, Aurélio Rocha e Augusto Nascimento. 2009. Ilha de Moçambique.

Maputo: Alcance Editores.

Rodrigues, Eugénia. 1998. “Do Atlântico ao Índico: percursos da mandioca em

Moçambique no século XVIII” in V Congresso Luso Afro-Brasileiro de Ciências

Sociais. Maputo (ed. CDRom)

Rodrigues, Eugénia. 1998a. “Municípios e poder senhorial nos Rios de Sena na segunda

metade do século XVIII in O Município no Mundo Português. Seminário

Internacional. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico/Secretaria

Regional de Turismo e Cultura, p. 587-608.

Rodrigues, Eugénia. 2000. “Chiponda, a ‘senhora que tudo pisa com os pés’. Estratégias

de poder das donas de prazos do Zambeze no século XVIII” in Anais de História

de Além-Mar, vol. I. Centro de História de Além Mar-Faculdade de Ciências

Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, p. 101-132.

Page 130: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

114

Rodrigues, Eugénia. 2002. Portugueses e Africanos nos Rios de Sena. Os Prazos da

Coroa nos Séculos XVII e XVIII. Tese de doutoramento em História, Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa (policopiada).

Rodrigues, Eugénia. 2003. “«Em nome do rei». O levantamento dos Rios de Sena de

1763” in Anais de História de Além-Mar, vol. IV. Centro de História de Além

Mar-Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, p.

335-380.

Rodrigues, Eugénia. 2006. “Alimentação, saúde e império. O físico-mor Luís Vicente

de Simoni e a nutrição dos moçambicanos” in Arquipélago. História, 2ª série,

vols. IX-X, p. 621-660.

Rodrigues, Eugénia. 2006a. “Cipaios da Índia ou soldados da terra? Dilemas da natura-

lização do exército português em Moçambique no século XVIII” in História:

Questões & Debates, n.º 45 (Curitiba), Editora UFPR, p. 57-95.

Rodrigues, Eugénia. 2006b. “A agricultura: entre as comunidades de aldeia e os

empreendimentos estatais” in Joel Serrão e A.H. de Oliveira Marques (dir.) e

Maria de Jesus dos Mártires Lopes (coord.) Nova História da Expansão

Portuguesa. O Império Oriental 1660-1820, vol. V, tomo 1. Lisboa: Editorial

Estampa, p. 449-510.

Rodrigues, Eugénia. 2007. “As Misericórdias de Moçambique e a administração local,

c. 1606 – 1763” in Avelino de Freitas de Menezes e João Paulo Oliveira e Costa

(coord.), O reino, as Ilhas e o mar oceano. Estudos em homenagem a Artur

Teodoro de Matos, vol. II. Lisboa/Ponta Delgada: CHAM | Faculdade de Ciências

Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa & Universidade dos Açores, p.

709-729.

Rodrigues, Eugénia. 2009. “A territorialização da presença portuguesa em Moçambique

no início do século XVII e as estruturas políticas africanas: adaptações e apropria-

ções” in XXIX Encontro da Associação Portuguesa de História Económica e

Social, Memória Social, Patrimónios e Identidades (Porto).

Rodrigues, Eugénia. 2010. “A espacialização das hierarquias sociais e políticas na Ilha

de Moçambique: balanços historiográficos e perspectivas de estudo” in Anuário

do Centro de Estudos de História do Atlântico, n.º 2, p. 1030-1052.

Rodrigues, Eugénia. 2010a. “«Com vontade prompta para o que for do seu agrado».

Redes sociais e negócios entre Goa e Moçambique entre meados de Setecentos” in

J.P. Oliveira e Costa e Vítor Rodrigues (coord.), O Estado da Índia e os Desafios

Europeus. Actas do XII Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa.

Lisboa: CHAM | Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de

Lisboa & Universidade dos Açores e Centro de Estudos dos Povos e Culturas de

Expressão Portuguesa/Universidade Católica Portuguesa, p. 79-118.

Rodrigues, Eugénia. 2010b. “Colonial Society, Women and African Culture in

Mozambique” in Clara Sarmento (dir.), From Here to Diversity: Globalization

and Intercultural Dialogues. Newcastle-Upon-Tyne: Cambrige Scholars

Publishing.

Page 131: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

115

Rodrigues, Eugénia. 2010c. “O quotidiano e a construção do imaginário colonial acerca

da Ilha de Moçambique (de meados de Setecentos a inícios de Oitocentos” in

Philip Havik, Clara Saraiva e José Alberto Tavim (coord.), Caminhos cruzados

em História e Antropologia: ensaios de homenagem a Jill Dias. Lisboa: Instituto

de Ciências Sociais, p. 51-71.

Rodrigues, Eugénia. 2011. “Prazos da Coroa e transmissão do património em

Moçambique” in Miguel Jasmins Rodrigues e Maria Manuel Torrão (org.),

Pequena nobreza de aquém e além-mar. Poderes, património e redes. Lisboa:

Projecto FCT Pequena Nobreza e nobreza da terra na construção do império: os

impérios atlânticos/Instituto de Investigação Científica Tropical/Centro de

História de Além-Mar/Direcção Geral de Arquivos p. 133-157.

Rodrigues, Eugénia. 2011a. ”Fazendo escravos: transoceânico e escravização no vale do

Zambeze na viragem para o século XIX”, in Augusto Nascimento, Aurélio Rocha

e Eugénia Rodrigues (coord.), Moçambique: Relações históricas regionais e com

países da CPLP. Maputo: Alcance Editores, p. 39-82.

Rodrigues, Eugénia. 2013. “Cruzamentos entre a história do Brasil e de Moçambique:

terra, lei e conflito no final do período moderno” in Márcia Motta, José Vicente

Serrão Marina Machado (coord.), Em Terras Lusas: conflitos e fronteiras no

Império Português. Vinhedo/S. Paulo: Editora Horizonte, p. 291-319.

Roque, Ana Cristina e Lívia Ferrão. 2006. “Reconhecimentos hidrográficos na

cartografia portuguesa da costa centro e sul de Moçambique no século XIX” in

Africana Studia, n.º 9. Edição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do

Porto, p. 187-203.

Roque, Ana Cristina e Lívia Ferrão. 2006a. “Reconhecimentos hidrográficos na

cartografia portuguesa da costa norte de Moçambique, no século XIX” in Maria

Emília Madeira Santos e Manuel Lobato (coord.), O domínio da distância.

Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, p. 109-119.

Roque, Ana Cristina. 1999. “Da Ilha de Moçambique como Porto de Escala da Carreira

da Índia, ou «Porque ao princípio era o Mar e a Ilha” in Mafalda Soares da Cunha

(coord.), Os Espaços do Império: estudos. Lisboa: Comissão Nacional para a

Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, p. 47-59.

Roques, Ana Cristina. 2012. Terras de Sofala : persistências e mudança : contribuições

para a história da costa sul-oriental de África nos séculos XVI-XVIII. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Saldanha, António Vasconcelos de. 1992. As Capitanias. O Regime Senhorial na

Expansão Ultramarina Portuguesa. Funchal: Centro de Estudos de História do

Atlântico.

Saldanha, António Vasconcelos de. 2005. Iustum Imperium. Dos Tratados como

fundamento do Império dos Portugueses no Oriente. Lisboa: Instituto Superior de

Ciências Sociais e Políticas/Universidade Técnica de Lisboa.

Page 132: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

116

Santos, Maria Emília Madeira. 2006. “A cartografia dos poderes. Da matriz africana à

organização colonial do espaço” in Africana Studia, n.º 9. Edição do Centro de

Estudos Africanos da Universidade do Porto, p. 129-143.

Serra, Carlos. 1986. Como a penetração estrangeira transformou o modo de produção

dos camponeses moçambicanos: o exemplo da zambézia (1200/1964). Maputo:

Núcleo Editorial da Universidade Eduardo Mondlane.

Serrão, José Vicente. 1993. “O quadro económico: configurações estruturais e

tendências de evolução” in José Mattoso (dir.) e António Hespanha (coord.),

História de Portugal, O Antigo Regime (1620-1807), vol. IV. Lisboa: Círculo de

Leitores, p. 71-117.

Serrão, José Vicente. 2000. Os campos da cidade: configuração das estruturas

fundiárias da região de Lisboa nos finais do Antigo Regime. Dissertação de

Doutoramento em História. Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da

Empresa (policopiada).

Subrahmanyam, Sanjay. 1995. O Império Asiático Português, 1500-1700. Lisboa: Difel

(1ª ed. Longman, 1993).

Teixeira, André de Sousa Dias. 2010. Baçaim e o seu território. Política e Economia

(1534-1665). Dissertação de Doutoramento em História, especialidade em

História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Faculdade de Ciências

Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa (policopiada).

Thomaz, Luís Filipe. 1998. De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel.

Torres, Andreia Martins (no prelo). “Beads of St. Antonio de Taná frigate” (versão

preliminar) in Monografia sobre os achados arqueologicos da fragata Santo

António de Taná. Institute of Nautical Archeology of Texas.

Wagner, Ana Paula. 2007. “Moçambique e seu «diminuto número de Habitantes»:

recenseamentos da população da áfrica oriental portuguesa, no último quartel do

século XVIII”. Diálogos, DHI/PPH/UEM, vol. 11, n.º 1/n.º 2, p. 239-266.

Wagner, Ana Paula. 2009. População no Império Português: recenseamentos na África

Oriental Portuguesa, na segunda metade do século XVIII. Dissertação de

Doutoramento em História, Universidade Federal do Paraná (policopiada).

Wagner, Ana Paula. 2011. “«Mas é preciso gente, porque sem esta, nada se anima”»

Súditos portugueses na capitania de Moçambique e Rios de Sena no último

quartel do século XVIII” in Revista de História Regional, vol.16, n.º 2, p. 517-

549.

Page 133: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

Anexos

Page 134: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 135: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

119

ANEXO 1

Tabela 1 – Proprietários da Ilha de Moçambique e Terra Firme (1763 - c. 1802)

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

1. Abdul Raimane M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 385

2. Abduraman M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

3. Agostinho Dias [a mãe de] F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1766) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

4. Alexandre Roberto

Mascarenhas M Desconhecida Cabaceira Grande (1783)

Palmar na Cabaceira Grande

(1783) Desconhecida

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

22.Agos.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç, cx. 44, doc. 6

5. Amarchande Madougi M Desconhecida Deconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 385

6. Amichande Taranes M Desconhecida Deconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

7. Amigi Amode M Desconhecida Deconhecida Terreno em Nanivaco (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

8. Amode Timaly M Desconhecida Desconhecida Terreno em Nanivaco (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

9. Ana de Sousa Mascarenhas

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279

10. Ana Joaquina Rosa F Desconhecida Desconhecida Terreno (sem indicação de

local) (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

11. Ana Maria da Costa God.ª [os

herdeiros de Dona] N/A Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 23Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262

12. Ana Monteiro de Sousa

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fls.262v e 279v

13. Anacleto Fortunato da Costa

Matoso M Desconhecida Desconhecida Machamba (1802) Desconhecida 19.Out.1802, AHU, Gov. Moç. cód. 1353, fl. 279v.

14. António Alberto Pereira M Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

15. António Caetano Pinto M Goa Moçambique (1766)

Mossuril (1800) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; Relação dos

moradores portugueses (1757): 168; 16.Mar.1783,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 32, fl.33;

Page 136: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

120

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

16. António Carvalho Corte Real M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

17. António Castro da Costa

Godinho M Portugal Moçambique Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82;

18. António Cavado das Merces

(ou Mercedes?) M Goa Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

19. António Correia Monteiro de

Matos M

Província do

Norte (Chaul)

Moçambique (1757)

Cabaceira Pequena

(1766)

Palmar (1757) Coroa 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; Relação dos

moradores portugueses (1757): 156

20. António da Costa por Tomás

(?) [a viúva de] F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

21. António da Cruz e Almeida M Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

259v. e 279

22. António da Cunha M Província do

Norte Moçambique Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 156

23. António de Figueiredo M

Moçambique

(Ilha de

Moçambique)

Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Avulsos, Moç., cx. 38,

doc. 70; AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 32, fl.43v;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

24. António Dias M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

25. António Ferreira Nazaré M Desconhecida Desconhecida Propriedade* na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

26. António Ferreira Nazaré [a

viúva de] F Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

27. António Francisco M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

28. António Gomes de Amorim

Pessoa M Portugal Moçambique (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 155

29. António José Engeitado M Portugal

(Coimbra) Cabaceira Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

16.Mar.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 32,

fls.10-10v

30. António José Pereira M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara

19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Avulsos, Moç., cx. 38,

doc. 70; 28.Fev.1800, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 85,

doc. 54

Page 137: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

121

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

31. António José Teixeira Tigre M Portugal Moçambique (1795) Fazenda (1797) Desconhecida

4.Set.1797, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 78, doc. 69;

[1794], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 68, doc. 22;

22.Ago.1795, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 71, doc. 53.

32. António Marques Coelho M Desconhecida Desconhecida Propriedade* em Mossuril

(1787) Desconhecida

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

29.Abr.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 38;

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

15.Mar.1786, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 58v-60

33. António Rodrigues M Desconhecida Desconhecida Propriedade* na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

34. António Salvador de

Abranches M Desconhecida Moçambique (1791)

Propriedade* em Mossuril

(1787)

Machamba na Cabaceira

Grande (1802)

Desconhecida

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.259v.;

25.Jun.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 93, doc. 73;

Capela, 2007: 168

35. António Teixeira M Desconhecida Desconhecida Chão na Cabaceira Grande

(1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

36. António Teixeira [a viúva de] F Desconhecida Cabaceira Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

37. António Xavier Ferreira M Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279; 29.Dez.1798, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.

191-192

38. Apolinário José Luís M Desconhecida Desconhecida Chão na Cabaceira Grande

(1782) Câmara

19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70;

20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

39. Aruno Sangi M Desconhecida Desconhecida Um mato localizado em

Mossuril Coroa

24.Out.1755, AHU, cx. 11, doc. 64; antes de

17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

40. Assani M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

41. Baltasar Manuel de Sousa e

Brito M Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

259v. e 279; 23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fl. 262, 280-280V; 25.Jun.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç.,

cx. 93, doc. 73

42. Benjamim Ferrão M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

23Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279v; 29.Dez.1798, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fl. 190-191

43. Bernarda Pais F Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

44. Bernardo Barreto M Goa Desconhecida Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

45. Bernardo Barreto [a viúva de] F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

Page 138: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

122

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

46. Bernardo de Almeida M Desconhecida Desconhecida Terreno em Napome (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

47. Bernardo Fernandes M Desconhecida Desconhecida Terreno em Mutanga (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

48. Bernardo José Coelho M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

49. Boane Sangagi M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

50. Brás Osório da Fonseca M Portugal Moçambique Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; 17.Ago.1763,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 82

51. Caetana da Sousa Salazar

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

52. Caetano de Quadros M Desconhecida Mossuril (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94; 3.Set.1787,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

53. Calangi da Mutixenda M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

54. Carlos José dos Reis e Gama M

América

Portuguesa

(Rio de

Janeiro)

Desconhecida Machamba em Ampapa

(1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fls.262v e 279v; 23.Dez.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç.,

cx. 91, doc. 18

55. Carsangi Sacargi M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 389

56. Carva Canacadas M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94; Antunes,

2001: p. 390

57. Catarina Leite Pereira F Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

58. Clemente Simões M Desconhecida Mossuril (1757) Palmar (1757) Desconhecida Relação dos moradores portugueses (1757): 157

59. Constantino António Álvares

da Silva M

Portugal

(Coimbra) Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262;

22.Ago.1795, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 71, doc. 53;

Capela (2007): 97

60. Dionísio Lopes de Castro M Moçambique Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

61. Dionísio Pereira Botelho M Desconhecida Mossuril (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

Page 139: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

123

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

62. Domingas Fernandes F Desconhecida Desconhecida Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 165

63. Domingos Carvalho

Comprido M

Província do

Norte Mossuril (1766) Fazendas (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

64. Domingos Carvalho Cozumba M Moçambique Mossuril (1766) Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

65. Domingos da Rosa M Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

66. Domingos da Silva Casão [a

viúva de] F Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

67. Domingos Ferreira da Gama M Portugal Cabaceira Pequena

(1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 168-169

68. Domingos Francisco da Silva

(“o Maconde”) M Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v

69. Domingos José Leite M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

20-23.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fls.262-262v, 279v-280v.

70. Duarte Aurélio de Meneses M Goa Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

[29.Dez.1794-5.Jan.1795] AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fls. 148-152; 29 de Abril de 1783, AHU, Cons. Ultr.,

Moç., cx. 41, doc. 32, fl.8; 11.Jul.1799, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 83, doc. 15

71. Duarte Aurélio de Menezes [os

herdeiros de] N/A Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 23Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262

72. Eleutério José Delfim M

América

Portuguesa

(Rio de

Janeiro)

Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

73. Eleutério José Delfim M

América

Portuguesa

(Rio de

Janeiro)

Desconhecida Machamba em Ampapa

(1802) Desconhecida

20-23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 262-

262v; 23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262

74. Elias José Pereira Ramos M Portugal

(Lisboa) Desconhecida

Chão na Cabaceira Grande

(1782) Câmara

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

259v e 279; 19.Agos.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

38, doc. 70; 22.Ago.1795, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

71, doc. 53

75. Ermichande Vningen M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

Page 140: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

124

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

76. Estanilão da Fonseca M Desconhecida Desconhecida Terreno em Cambira (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

77. Estêvão Francisco de

Carvalho M Desconhecida Desconhecida

Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara

20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v; ant.

20.Jun.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 291v-292;

ant. 18.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 292v-

293v

78. Eufémia de Melo Pereira

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v; (Capela, 2007: p. 118)

79. Félix das Chagas [a viúva de] F Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

80. Feliz de Castro Soares M Moçambique Mossuril

Palmar (1757)

Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 159

81. Francisca de Sousa e Brito

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Machamba em Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279

82. Francisca Rita de Cardinas

[Dona] F Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

12.Maio.1795, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 70, doc. 80

83. Francisco de Brum M Portugal Mossuril (1757)

Apaga-Fogo (1766) Fazenda (1766) Coroa

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; Relação dos

moradores portugueses (1757): 158

84. Francisco de Paula M Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279

85. Francisco de Santa Teresa M Portugal Cabaceira Grande (1766) Fazenda (1766) Desconhecida

30.Mai.1766, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 26, doc. 82;

14.Ago.1771, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 30, doc. 38

86. Francisco dos Reis M Portugal Cabaceira Grande (1766) Palmar (1757) Coroa 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; Relação dos

moradores portugueses (1757): 162

87. Francisco Ferreira da Graça e

Gama M Desconhecida Cabaceira Grande

Vários chãos no recinto

insular (“ponta da Ilha”)

(1803)

Câmara

ant. 20 de Junho de 1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fls. 291v-294; 25.Jun.1802, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

93, doc. 73

88. Francisco Ferreira da Graça e

Gama M Desconhecida Cabaceira Grande

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

259v, 262 e 279; 23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód.

1353, fl. 262, fl. 280-280v

89. Francisco Manuel de Sampaio

e Melo M Portugal Cabaceira Grande (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 160

90. Francisco Manuel Saldanha M Desconhecida Desconhecida Terreno em Napome (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

Page 141: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

125

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

91. Francisco Monteiro de Sousa M Província do

Norte Mossuril (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 159

92. Francisco Pereira Henriques M Portugal

Mossuril (1757)

Cabaceira Pequena

(1766)

Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 157-158;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

93. Francisco Xavier de Bragança M Goa Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

94. Gabriel de Araújo M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

11.Ago.1784, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 47, doc. 51;

29.Abr.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 38;

20.Mar.1783, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 14-15

95. Gita Doido M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

96. Gregório Fernandes Cardoso M Goa Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha) (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

97. Gregório Fernandes Cardoso M Goa Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279; 22.Set.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 89,

doc. 9

98. Gregório Pereira da

Cabaceira M Desconhecido Desconhecido

Propriedade* na Terra Firme

(1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

99. Gregório Taumaturgo de

Brito M Portugal

Cabaceira Pequena

(1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 164

100. Harichande M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

101. Henrique José de Matos M Portugal Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

102. Inácio de Matos Quintela M Portugal Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

103. Inácio de Melo e Alvim M Portugal

(Minho)

Cabaceira Grande (1757)

Moçambique (1766) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 1161

104. Isabel de Castro F Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v

105. Jerónimo Francisco dos

Anjos M Desconhecida

Mossuril

(1781)

Propriedade* em Mossuril

(1787) Desconhecida

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

12.Fev.1781, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 34, doc. 40;

28.Set.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 39, doc. 65

106. Jezofo de Mamudo M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

107. Joana Fernandes de

Almeida [Dona] F Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fls.262v e 279v

Page 142: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

126

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

108. João Afonso M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

109. João António M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

110. João Correia Ramos M Desconhecida Mossuril (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 158

111. João da Costa Figueiredo M Moçambique Cabaceira Grande Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

112. João da Costa Pereira M Moçambique Mapeta Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

113. João da Costa Soares M Desconhecida Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha", 1803) Câmara

20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v;

6.Jul.1805, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 100, doc. 119

114. João da Costa Soares M Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

115. João da Costa Xavier M

América

Portuguesa

(Rio de

Janeiro)

Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

12.Ago.1794, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 68, doc. 61;

29.Dez.1796, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 164v-

165v; 6.Jul.1793, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 74, doc.

96; 3 de Outubro de 1795, AHU, Cons. Ultr., Moç, cx.

86, doc. 27

116. João da Silva M Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

117. João da Silva Guedes M Portugal

(Porto) Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15;

23.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279v; 30.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fl. 280-280v

118. João da Silva Lima [a viúva

de] F Desconhecida Desconhecida

Propriedade* na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

119. João da Silva Pereira M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

120. João de Sousa Brito M Moçambique Desconhecida Chão na Cabaceira Grande

(1782) Câmara

19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70;

16.Mar.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, fl.28v;

6.Jul.1793, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 74, doc. 96

121. João Ferreira M Portugal Cabaceira Grande Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

122. João Ferreira da Cruz M Portugal Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

123. João Francisco Delgado M

América

Portuguesa

(Rio de

Janeiro)

Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; antes de

17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94; 29.Set.1796, Cons.

Ultr., Moç., cx. 75, doc. 68; 24.Ago.1779, AHU, Cons.

Ultr., Moç., cx. 32, doc. 87; 8.Mar.1766, AHU, Cons.

Page 143: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

127

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

Ultr., Moç., cx. 26, doc. 29

124. João Francisco Delgado M Portugal Desconhecida Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 157

125. João Francisco Guterres de

Lima M Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262;

23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262;

30.Jan.1799, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 82, doc. 10;

11.Jul.1799, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 83, doc. 15;

22.Abr.1797, AHU, Cons. Ultr., cx. 077, doc. 69

126. João Francisco Macambo M Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

127. João Franco M Portugal Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

128. João Freire do Prado M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

129. João Lopes de Azevedo da

Cruz M Desconhecida Ilhas Quirimbas Palmar (1799) Coroa

8.Mar.1799, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 84, doc. 44;

14.Fev.1800, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 85, doc. 11

130. João Luís da Silveira M Goa Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

131. João Malheiro de Menezes

Pereira M

Portugal

(Braga) Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v; 30.Dez.1800, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx.

97, doc. 28; 20.Abr.1799, AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fl. 216v-218.

132. João Vicente de Cardenas e

Mira [os herdeiros de] N/A Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262v

133. João Vicente de Cardinas e

Mira M Desconhecida Desconhecida

Propriedade* em Mossuril

(1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

134. João Vicente de Cardinas e

Mira M Desconhecida Desconhecida

Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279

135. João Xavier de Magalhães M Goa Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

136. Joaquim (?) do Rosário [a

viúva de] F Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

137. Joaquim António de

Mendonça M Desconhecida Desconhecida

Machamba (sem indicação

local, 1802) Desconhecida 19.Out.1802, AHU, Gov. Moç. cód. 1353, fl. 279v.

138. Joaquim António Ribeiro M Portugal

(Águas Belas) Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

23Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262;

22.Ago.1795, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 71, doc. 53

139. Joaquim da Silva Patraquim

[ou Patroquim?] M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

Page 144: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

128

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

140. Joaquim do Rosário

Monteiro M Goa Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[23Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279v; 29.Abr1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41,

doc. 38

141. Joaquim Jorge M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

142. Joaquim José da Costa

Portugal M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

143. Joaquim José de Araújo M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

144. Joaquim José de Melo e

Costa M Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.287

145. Joaquim José Rangel M Portugal Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

29.Set.1796, Cons. Ultr., Moç., cx. 75, doc. 68;

29.Abr.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 38

146. Joaquim José Rangel M Portugal Moçambique Propriedade* na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

147. Joaquim Ventura M Moçambique Cabaceira Grande (1757) Palmar (1757) Desconhecida Relação dos moradores portugueses (1757): 165

148. José Álvares M Portugal Moçambique Palmar (1757) Coroa Rellaçam dos moradores Portuguezes (1757): 154

149. José Amado da Cunha M Portugal

(Coimbra) Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

23Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262;

6.Jul.1805, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 100, doc. 119;

[1794], AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 69, doc. 100

150. José António Caldas M Portugal Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

151. José António Caldas M Portugal Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

20-23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls. 262-

262v

152. José António de Araújo e

Lima M Portugal Moçambique (1783)

Machamba na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida

16.Mar.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, doc. 32,

fl.6v; 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc.

15; 1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262, 280-

280v; 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

153. José António Vanodayk M Portugal Cabaceira Pequena Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

154. José Carlos Manoel de

Sousa Brito M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

16.Mar.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, fl.13v

155. José da Silva M Portugal Cabaceira Grande Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

Page 145: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

129

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

156. José de Almeida M Província do

Norte Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

157. José Ferreira M Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

158. José Ferreira Nobre [os

herdeiros de] N/A Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262v

159. José Francisco da Mata M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

160. José Francisco de Sequeira

Pires M Goa Moçambique Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

161. José Francisco de Sousa

Pires M Desconhecida Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

162. José Gomes Henriques M Desconhecida Cabaceira Grande (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 160

163. José Gonçalves Melgaço M Desconhecida Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha", 1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

164. José Joaquim Ferreira da

Graça M Portugal Cabaceira Pequena Fazenda (1766) Desconhecida

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82 ;3.Set.1787,

AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

165. José Joaquim Monteiro M Desconhecida Desconhecida Machamba em Ampapa

(1802) Desconhecida

[20.Mar-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353,

fl.262v e 279v

166. José Lopes Fagundes M Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

167. José Manoel Picardo M Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

168. José Manoel Vaz M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262v

169. José P.e Almeida M Desconhecida Mossuril (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

170. José Ribeiro M Moçambique Mossuril (1766) Palmar (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

171. José Rodrigues Barros M

América

Portuguesa

(Rio de

Janeiro)

Mossuril (1766) Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

172. José Rodrigues Manopla M Desconhecida Mossuril (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 157

173. José Valério Pereira M Desconhecida Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

Page 146: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

130

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

174. Josefa Maria Afonso F Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v

175. Juliana França de Sousa

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Propriedade* na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

176. Lacamichande Motichande M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

177. Lázaro de Lima de

Figueiredo M Moçambique Mossuril Palmar (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

178. Lopo da Costa Castanho M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v

179. Luís Mascarenhas do

Rosário ("cafre forro") M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

180. Luís Teles de Carvalho M Portugal Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

181. Luís Xavier do Rosário M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

[23.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279v

182. Luísa Maria da Costa Soares

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Propriedade* em Mossuril

(1802) Desconhecida 23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262

183. Maca M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1802) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

184. Mamode (“xerife de

Sancul”) M Desconhecida Desconhecida Terreno em Sancul (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

185. Mamude M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

186. Mamude Isinfo M Desconhecida Desconhecida Terreno em Ampoense (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

187. Manuel [Pereira] Botelho [a

viúva de] F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

188. Manuel Cardoso M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 23Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262

189. Manuel da Costa Pescada M Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

190. Manuel da Silva M Desconhecida Mossuril (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 158

Page 147: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

131

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

191. Manuel de Sousa Brito M Portugal Moçambique (1766) Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

192. Manuel de Sousa Guimarães M Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

193. Manuel Domingues M Portugal Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Coroa

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; Relação dos

moradores portugueses (1757): 153; 17.Ago.1763, AHU,

Cons. Ultr., Moç., cx. 23, doc. 82

194. Manuel Francisco Natanga M Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

195. Manuel Gomes M Portugal Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

196. Manuel Iansen Moller M Portugal Cabaceira Grande Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

197. Manuel Leite Pereira de

Melo Virgolino M Desconhecida Desconhecida

Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262v

198. Manuel Moreira M Desconhecida Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida

[20.Mar.-19.Out.1802], AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262 e 279

199. Manuel Pereira Botelho M Desconhecida Cabaceira Grande (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 159-160

200. Manuel Ribeiro dos Santos M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 23Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 262

201. Manuel Rodrigues Braga M Portugal Moçambique (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 155

202. Manuel Vicente [da Silva] [a

viúva de] F Desconhecida Desconhecida

Propriedade* em Mossuril

(1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

203. Manuel Vicente da Silva M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

204. Margarida Chaves F Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

205. Maria Araújo e Lima [Dona] F Desconhecida Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

206. Maria Figueiredo [o filho da

falecida Dona] M Desconhecida Desconhecida

Propriedade* na Cabaceira

Grande (1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

207. Maria Gomes F Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

208. Maria V.a de Vicen. (?) F Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

Page 148: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

132

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

209. Maria Viegas F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

210. Mateus Coelho Soares M Portugal Cabaceira Grande (1757) Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 163

211. Mateus Coelho Soares M Portugal Cabaceira Grande (1757) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; antes de

17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

212. Mateus Inácio de Almeida M Goa Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

213. Matias Machado M Portugal Cabaceira Grande (1766) Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

214. Miguel Machado M Goa Mossuril (1766) Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

215. Mofiachande Namidele (?) M Desconhecida Desconhecida Terreno (sem indicação de

local) (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

216. Mussagi (“amo de Sancul) M Desconhecida Desconhecida Terreno em Sancul (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

217. Nana Mulgi M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70;

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

218. Nangim Danior (?) M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

219. Narangi Dangi M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 402

220. Narciso José Pereira M Desconhecida Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262v

221. Narsi Ranassór M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 403

222. Narsi Ranchor M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

223. Natal Rapuchandes (?) M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

224. Nuno Anfão M Desconhecida Desconhecida Terreno em Ampoense (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

225. Páscoa da Silva [Dona] F Desconhecida Desconhecida Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 164

226. Páscoa de Sousa Salazar

[Dona] F Desconhecida Desconhecida Palmar (1757) Coroa Relação dos moradores portugueses (1757): 15164-165

227. Pascoal Dias M Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

228. Paulo de Bouto M Moçambique

(Sena) Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

Page 149: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

133

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

229. Pedro da Costa Soares M Portugal Moçambique Palmar em Mossuril (1781) Coroa antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94; Relação dos

moradores portugueses (1757): 153-154.

230. Pedro da Costa Xavier M Moçambique Desconhecida Machamba (1802) Desconhecida

19.Out.1802, AHU, Gov. Moç. cód. 1353, fl. 279v;

6.Jul.1805, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 100, doc. 119;

9.Out.1801, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 90, doc. 35-A;

30Jan.1799, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 82, doc. 10

231. Pedro Rebelo M Goa Mossuril (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

232. Plácido José Mascarenhas M Desconhecida Desconhecida Propriedade* em Mossuril

(1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

233. Plácido José Mascarenhas e

Quitéria Maria de Sousa N/A Desconhecida Desconhecida Chão no Lumbo (1785) Coroa 6.Mai.1785, AHU, Gov. Moç., cód. 1355 fls.94-95

234. Precipe [sic] Banadaique M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

235. Premochande Odougi M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 406

236. Punja Mulgi M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

237. Quitéria Maria de Sousa F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

238. Raimundo Luís de Lima M Desconhecida Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

239. Raimundo Luís de Lima M Desconhecida Desconhecida Machamba em Ampapa

(1802) Desconhecida 20.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262v

240. Ranchor M Desconhecida Desconhecida Propriedade* (sem indicação

de local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

241. Ricardo José de Lima [como

testamenteiro de Teodósio João

Neto]

M Desconhecida Desconhecida Propriedade* em Mossuril

(1787) Desconhecida 3.Set.1787, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 55, doc. 15

242. Rodrigo da Fonseca M Goa Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; antes de

17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

243. Rogunato Gangadas M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 408

244. Rosa Maria Monteiro [Dona] F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

245. Rufina Leite Pereira F Desconhecida Desconhecida Terreno na ponta da Ilha

(1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

246. Sambadane Bacar M Desconhecida Desconhecida Terreno em Ampoense (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353, fls.248-249

Page 150: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

134

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

247. Sangagi Mulgi M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril Desconhecida Antunes, 2001: p. 409

248. Sangagi Vali M Desconhecida Desconhecida Palmar (sem indicação de

local) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

249. Sebastiana do Rosário F Desconhecida Mossuril Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

250. Sebastião do Rosário M Goa Mossuril Fazenda (1766) Desconhecida 30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82

251. Sebastião José Rodrigues M Portugal Desconhecida Chão no recinto insular

("ponta da Ilha", 1803) Câmara

20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v;

Capela (2002): 148; Capela (2007): 48-49

252. Sebastião José Rodrigues M Portugal Desconhecida Machamba em Mossuril

(1802) Desconhecida

20.Mar.-19.Out.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fls.

262v e 279v

253. Silvestre Rodrigues M Desconhecida Mossuril (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

254. Silvestre Rodrigues da Costa M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

255. Silvino Avarento M Desconhecida Desconhecida Machamba (1802) Desconhecida 19.Out.1802, AHU, Gov. Moç. cód. 1353, fl. 279v.

256. Teodósio João Neto

[Muchitande] M Moçambique Mossuril (1784) Chão em Mossuril (1782) Câmara

30.Mai.1766, AHU, Moç., cx. 26, doc. 82; 19.Ago.1782,

AHU, Cons. Ultr., Avulsos, Moç., cx. 38, doc. 70; antes

de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

257. Teodósio João Neto

Muchitande [a mãe de] F Desconhecida Moçambique (1781) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

258. Tomás António Gonzaga M Portugal Desconhecida Machamba na Cabaceira

Grande (1802) Desconhecida 20-23.Mar.1802, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl.262

259. Tomás Pedro Rangel M Portugal

(Lisboa) Moçambique (1783) Palmar em Mossuril (1781) Desconhecida

antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94;;

16.Mar.1783, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 41, fl.31v.;

29.Set.1796, Cons. Ultr., Moç., cx. 75, doc. 68

260. Tomásia de Araújo e Lima

[Dona] F Desconhecida Desconhecida

Chão no recinto insular

("ponta da Ilha") (1803) Câmara 20.Jul.1803, AHU, Gov. Moç., cód. 1353, fl. 294v

261. Tomé Xavier M Desconhecida Desconhecida Terreno na Cabaceira Grande

(1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

262. Vitol Gocol M Desconhecida Desconhecida Palmar em Mossuril (1781) Desonhecida antes de 17.Mar.1781, AHU, cx. 35, doc. 94

263. Vitorino da Fonseca M Desconhecida Desconhecida Chão em Mossuril (1782) Câmara 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

Page 151: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

135

Nome Género Naturalidade Morada Propriedades

Instituição

outorgante do

aforamento

Fontes

264. Xavier Pinho M Desconhecida Desconhecida Terreno em Condúcia (1801) Câmara 9.Fev.1801, AHU, Gov. Moç, cód. 1353 fls.248-249

Page 152: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 153: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

137

ANEXO 2

Mapa 4 – A Terra Firme em 1802 (cálculo da área)

José Amado da Cunha, Carta Plana de Mossuril e Cabaceiras, 1802, AHU, CARTm, 064, D. 557

D

A B

C

Page 154: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente
Page 155: Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos ...Bastiao].pdf · propriedade no Império Português Moderno financiado pela ... Firme no século ... No período subsequente

139

ANEXO 3

Tabela 2 – Chãos da Cabaceira Grande aforadas pela câmara (1782)

Dimensões (braças) Área (Km

2)

Apolinário José Luís 300 comp. (x) 300 larg. 0,43.

Elias José Pereira

Ramos 300 compr. (x) 400 larg. 0,58

João de Sousa Brito 300 comp. (x) 300 larg. 0,43

António Teixeira 300 comp. (x) 200 larg. 0,29

Apolinário José Luís 300 comp. (x) 300 larg. 0,43

Total 2,17

Fonte: Acórdão da câmara de Moçambique sobre os aforamentos da Terra

Firme, 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70

Tabela 3 – Chãos de Mossuril aforadas pela câmara (1782)

Dimensões (braças) Área ( Km

2)

António Francisco 400 comp. (x) 400 larg. 0,77

António Carvalho

Corte Real 500 compr. (x) 300 larg. 0,72

Bernardo José Coelho 300 comp. (x) 300 larg. 0,43

Manuel Vicente da

Silva 300 comp. (x) 200 larg. 29.04

Teodósio João Neto 500 comp. (x) 300 larg. 0.72

Silvestre Rodrigues da

Costa 400 comp. (x) 300 larg. 0,58

Nana Mulgy 800 comp. (x) 300 larg. 1,16

João Freire do Prado 300 comp. (x) 300 larg. 0,43

Luís Mascarenhas do

Rosário 300 comp. (x) 200 larg. 0,29

António Dias 400 comp. (x) 300 larg. 0,58

Vitorino da Fonseca 100 comp. (x) 150 larg. 0,07

João da Silva Pereira 300 comp. (x) 200 larg. 0,29

Total 6,51

Fonte: Acórdão da câmara de Moçambique sobre os aforamentos da Terra

Firme, 19.Ago.1782, AHU, Cons. Ultr., Moç., cx. 38, doc. 70