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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIONANOCOMPÓSITOS DE FÉCULA DE MANDIOCA E ARGILA BENTONITA ORGANOFILIZADA POR MISTURA DE TENSOATIVOS Mayra Kerolly Sales Monteiro Orientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto Natal Julho/2017

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - repositorio.ufrn.br · mayra kerolly sales monteiro obtenÇÃo e caracterizaÇÃo de bionanocompÓsitos de fÉcula de mandioca e argila bentonita organofilizada

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    CENTRO DE TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA

    DISSERTAO DE MESTRADO

    OBTENO E CARACTERIZAO DE BIONANOCOMPSITOS DE

    FCULA DE MANDIOCA E ARGILA BENTONITA

    ORGANOFILIZADA POR MISTURA DE TENSOATIVOS

    Mayra Kerolly Sales Monteiro

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto

    Natal

    Julho/2017

  • MAYRA KEROLLY SALES MONTEIRO

    OBTENO E CARACTERIZAO DE BIONANOCOMPSITOS DE

    FCULA DE MANDIOCA E ARGILA BENTONITA

    ORGANOFILIZADA POR MISTURA DE TENSOATIVOS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Engenharia Qumica da

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

    como requisito para obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia Qumica, sob a

    orientao do Prof. Dr. Eduardo Lins de

    Barros Neto.

    Natal/RN

    Julho/2017

  • UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

    Catalogao da Publicao na Fonte

    Monteiro, Mayra Kerolly Sales.

    Obteno e caracterizao de bionanocompsitos de fcula de mandioca e argila bentonita

    organofilizada por mistura de tensoativos / Mayra Kerolly Sales Monteiro. - 2017.

    103 f. : il.

    Dissertao (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

    Tecnologia - Departamento de Engenharia Qumica, Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia Qumica. Natal, RN, 2017.

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto.

    1. Filmes bionanocompsitos - Dissertao. 2. Fcula de mandioca - Dissertao. 3. Argila

    - Dissertao. 4. Tensoativos - Dissertao. I. Barros Neto, Eduardo Lins de. II. Ttulo.

    RN/UF/BCZM CDU 620.1:678.7

  • Monteiro, Mayra Kerolly Sales Obteno e caracterizao de bionanocompsitos de fcula de

    mandioca e argila bentonita organofilizada por mistura de tensoativos. Dissertao de Mestrado,

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Ps-Graduao em Engenharia

    Qumica, rea de Concentrao: Engenharia Qumica, Linha de Pesquisa: Cincia e Tecnologia

    de Tensoativo, 2017, Natal-RN, Brasil.

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto

    RESUMO: Biofilmes e revestimentos comestveis so camadas finas de materiais biodegradveis

    aplicados sobre produtos alimentares que desempenham um papel importante na sua preservao,

    distribuio e comercializao. A fcula de mandioca um dos melhores candidatos preparao

    de revestimentos comestveis, por ser um polmero completamente biodegradvel no solo e na

    gua e de fcil obteno. No entanto, a fcula possui limitaes em suas propriedades fsico-

    qumicas quando comparada aos polmeros sintticos. Por sua vez, o melhoramento destas

    propriedades foi proposto neste estudo a partir da adio de 5%, em massa, de argila em relao

    massa seca de biopolmero. A compatibilizao superficial da argila com a matriz biopolimrica

    foi realizada por modificao superficial na presena de trs tipos de tensoativos (brometo de

    cetiltrimetil amnio, dodecil sulfato de sdio e lcool laurlico etoxilado). O efeito de trs

    modificaes sequenciais e cumulativas na argila foi caracterizado por Difrao de Raios X

    (DRX), Transformada de Fourier por Radiao Infravermelha (FTIR), Microscopia Eletrnica de

    Varredura (MEV), Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raios X (EDS), ngulo de Contato

    (AC), Potencial Zeta (ZETA) e Anlise Termogravimtrica (TGA). A argila modificada

    sinergicamente na presenta dos trs tensoativos evidenciou o maior distanciamento basal entre as

    camadas de silicato, cerca de 10 nm a mais em relao argila natural. Os filmes de fcula de

    mandioca com argila natural e modificada foram caracterizados como bionanocompsito

    intercalado ou esfoliado atravs das anlises de Microscopia de Fora Atmica (AFM),

    Microscopia ptica (MO), DRX, FTIR, MEV e AC. A influncia da argila modificada e da

    natural na mudana das propriedades fsico-qumicas dos filmes de fcula original foi investigada

    quanto permeabilidade ao vapor dgua, ductibilidade, opacidade, estabilidade trmica e

    solubilidade em gua. Por fim, a argila modificada sinergicamente na presenta dos trs tensoativos

    foi o material de reforo que mais contribuiu para o melhoramento das propriedades fsico-

    qumicas do filme de fcula controle, dentre as quais reduziu 90,6% da permeabilidade ao vapor

    dgua, bem como 77,43% da dissoluo mxima.

    Palavras-chave: filmes bionanocompsitos; fcula de mandioca; argila; tensoativos

  • Mayra Kerolly Sales Monteiro

    Obteno e Caracterizao de Bionanocompsitos de Fcula de Mandioca

    e Argila Bentonita Organofilizada por Mistura de Tensoativos

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa

    de Ps-Graduao em Engenharia Qumica -

    PPGEQ, da Universidade Federal do Rio Grande do

    Norte - UFRN, como parte dos requisitos para

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia

    Qumica.

    Aprovado em 28/07/2017

    Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto

    Orientador UFRN

    Prof. Dr Shirlle Ktia da Silva Nunes

    Membro externo ao programa UFRN

    Prof. Dr. Andr Ezequiel Gomes do Nascimento

    Membro externo a instituio

    Prof. Dr. Francisco Klebson Gomes dos Santos

    Membro externo a instituio UFERSA

  • Monteiro, Mayra Kerolly Sales Obtention and Characterization of Bionanocomposits of

    Cassava Starch and Bentonite Clay Organophilized by Mixing Surfactants. Masters Dissertation,

    Federal University of Rio Grande do Norte, Graduate Program in Chemical Engineering,

    Concentration area: Chemical engineering, Research line: Surfactant Science and Technology,

    2017, Natal-RN, Brazil.

    Adivisor: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto

    ABSTRACT: Biofilms and edible coatings are thin layers of biodegradable materials applied

    to food products that play an important role in their preservation, distribution and

    commercialization. Cassava starch is one of the best candidates for the preparation of edible

    coatings, because it is a completely biodegradable polymer in soil and water and easy to

    obtain. However, the starch has limitations in its physical-chemical properties when compared

    to the synthetic polymers. In turn, the improvement of these properties was proposed in this

    research from the addition of 5%, by mass, of clay in relation to the dry mass of biopolymer.

    The surface compatibilization of the clay with the biopolymer matrix was performed by

    surface modification in the presence of three types of surfactants (cetyltrimethyl ammonium

    bromide, sodium dodecyl sulfate and ethoxylated lauryl alcohol). The effect of three

    sequential modifications on the clay was characterized by X-ray Diffraction (XRD), Fourier

    Transform by Infrared Radiation (FTIR), Scanning Electron Microscopy (SEM), Dispersive

    Lightning Spectroscopy (DLS), Contact Angle (AC), Zeta Potential (ZETA) and

    Thermogravimetric Analysis (TGA). The clay modified synergistically in the presence of the

    three surfactants showed the greatest basal space between the silicate layers, about 10 nm

    more than the natural clay. The cassava starch films with natural and modified clay were

    characterized as bionanocomposite intercalated or exfoliated through Atomic Force

    Microscopy (AFM), Optical Microscopy (MO), XRD, FTIR, SEM and AC analyzes. The

    influence of modified and natural clay on the change in the physical-chemical properties of

    the original starch films was investigated for water vapor permeability, ductility, opacity,

    thermal stability and water solubility. Finally, the synergistically modified clay in the

    presence of the three surfactants was the reinforcing material that contributed the most to the

    physical-chemical properties of the control starch film, among which it reduced the

    permeability to water vapor by 90.6%, as well as 77.43% of the maximum dissolution.

    Keywords: bionanocomposite films; cassava starch; clay; surfactants

  • minha prima amada,

    Saionara Nobre de Almeida

    (in memoriam).

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, primeiramente, por sua infinita misericrdia perante minha vida.

    A Nossa Senhora, Maria Santssima, pois tenho a plena convico que minha consagrao a

    Jesus Cristo por intermdio dela foi de suma importncia para o alcance dos meus objetivos.

    Passe frente da minha vida sempre, me amada!

    Aos meus pais, Monteiro e Vlbia, pelo apoio e confiana em minha capacidade de realizar

    coisas. Amo vocs!

    Aos meus irmos, Magno e Mayara, saibam que a vontade de orgulha-los com a minha

    realizao profissional uma das minhas maiores motivaes.

    Ao Professor Dr. Klebson Gomes pela oportunidade a mim concebida no momento em que

    mais precisei. Jamais esquecerei! Que Deus o abenoe sempre!

    Ao meu orientador, Professor Dr. Eduardo Lins, pela confiana. Ao senhor meu respeito e

    admirao!

    Aos meus amigos Joo Miller, Rayane, Michael, Nathallye e Paulinha pela amizade. A

    presena de todos vocs em meu cotidiano tornou essa conquista menos difcil.

    Aos Laboratrios de caracterizao estrutural de materiais (UFRN), de processos qumicos

    (UFERSA), de tecnologia de alimentos (UFERSA), de ensaios mecnicos (UFERSA), da

    central analtica de anlise trmica (UFRN), de peneiras moleculares (UFRN), de materiais

    multifuncionais e experimentao (UFRN) e do ncleo de ensino e pesquisa em petrleo e gs

    (UFRN) pela ajuda na concretizao deste trabalho. Muito obrigada!

    Aos Professores e servidores do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Qumica da

    UFRN, todos, sem exceo, contriburam para a concluso deste trabalho.

    Aos colegas Victor Oliveira, Tiago Fernandes, Paula Fabiane, Kak, Giselle e Diego pela

    companhia. Vocs so timos!

    A todos os familiares.

    A todos que direta e indiretamente contriburam para a construo deste trabalho, que aqui

    no esto citados, mas que jamais sero esquecidos.

  • SUMRIO

    1. Introduo ............................................................................................................................. 14

    2. Objetivos ............................................................................................................................... 17

    2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 17

    2.2 Objetivos especficos ...................................................................................................... 17

    3. Reviso bibliogrfica ............................................................................................................ 19

    3.1 Biofilmes ......................................................................................................................... 19

    3.1.1 Fcula de mandioca ................................................................................................ 21

    3.2 Elaborao de filmes biodegradveis .............................................................................. 23

    3.2.1 Plastificantes ........................................................................................................... 23

    3.3 Material de reforo .......................................................................................................... 25

    3.3.1 Argila natural e modificada ................................................................................... 25

    3.4 Tensoativos ..................................................................................................................... 28

    3.5 Compsitos e bionanocompsitos ................................................................................... 29

    3.6 Tcnicas de caracterizao de material polimrico ......................................................... 31

    3.7 Formao dos filmes ....................................................................................................... 35

    3.8 Mtodos de avaliao dos filmes .................................................................................... 35

    4. Materiais e mtodos .............................................................................................................. 46

    4.1 Material ........................................................................................................................... 46

    4.2 Argila bentonita ............................................................................................................... 47

    4.2.1 Determinao da capacidade de troca inica (CTC) ....................................... 47

    4.2.2 Modificao Superficial ......................................................................................... 48

    4.2.3 Caracterizao ........................................................................................................ 49

    4.3 Filmes de fcula de mandioca e argila bentonita natural ou modificada ........................ 53

    4.3.1 Obteno dos filmes ................................................................................................ 53

    4.3.2 Caracterizao dos filmes ...................................................................................... 54

    4.3.3 Anlise das propriedades fsico-qumicas dos filmes .......................................... 56

    5. Resultados e Discusso ......................................................................................................... 61

    5.1 Primeira Parte: caracterizao de argila bentonita organofilizada .................................. 61

    5.1.1 Difrao de Raios X ................................................................................................ 63

    5.1.2 Transformada de Fourier por Radiao Infravermelha .................................... 64

    5.1.3 Microscopia Eletrnica de Varredura.................................................................. 66

    5.1.4 Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raios X .............................................. 67

    5.1.5 ngulo de Contato .................................................................................................. 69

    5.1.6 Potencial Zeta ......................................................................................................... 70

    5.1.7 Teste de Inchao de Foster .................................................................................... 71

  • 5.1.8 Anlise termogravimtrica .................................................................................... 72

    5.2 Segunda Parte I: Caracterizao dos filmes .................................................................... 73

    5.2.1 Difrao de Raios X ................................................................................................ 75

    5.2.2 Transformada de Fourier por Radiao Infravermelha .................................... 76

    5.2.3 Microscopia de Fora Atmica ............................................................................. 78

    5.2.4 Microscopia Eletrnica de Varredura .................................................................. 80

    5.2.5 Microscopia ptica ................................................................................................ 82

    5.2.6 ngulo de Contato .................................................................................................. 84

    5.3 Segunda Parte II: Anlise das propriedades fsico-qumicas dos filmes ........................ 85

    5.3.1 Propriedades Mecnicas ........................................................................................ 85

    5.3.2 Propriedade de Barreira ........................................................................................ 86

    5.3.3 Propriedades ticas ............................................................................................... 88

    5.3.4 Propriedades Trmicas .......................................................................................... 90

    6. Concluso ............................................................................................................................. 92

    Referncias bibliogrficas ........................................................................................................ 94

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Biopolmeros de ocorrncia natural com utilizao em filmes e revestimentos

    biodegradveis. ......................................................................................................................... 20

    Figura 2 (a) Estrutura da amilose [polmero linear composto por D-glicoses unidas em -(1-

    4)] e (b) Estrutura da amilopectina [polmero ramificado composto por D-glicoses unidas em

    -(1-4) e -(1-6)]. ..................................................................................................................... 22

    Figura 3 Estrutura cristalina da montmorilonita. ................................................................... 26

    Figura 4 Modificao de superfcie de argila atravs da reao de troca inica, substituindo

    os ctions de Na+ com ctions do tensoativo. .......................................................................... 27

    Figura 5 - Estruturas idealizadas para compsitos polmero-argila. ........................................ 30

    Figura 6 Ilustrao do fenmeno de difrao de raios-x sobre um material cristalino. ........ 32

    Figura 7 Diagrama esquemtico mostrando vrios dos efeitos causados pela interao de um

    feixe de eltrons com um alvo slido. ...................................................................................... 34

    Figura 8 Esquema representativo das tenses superficiais e do ngulo de contato entre uma

    gota e uma superfcie. ............................................................................................................... 35

    Figura 9 Mecanismo de intercalao da argila montmorilonita na presena de tensoativos

    catinicos e aninicos. .............................................................................................................. 40

    Figura 10 Mecanismo de intercalao de tensoativos aninicos e no inicos na regio

    interlamelar da montmorilonita. ............................................................................................... 41

    Figura 11 Mecanismo de intercalao dos tensoativos no inicos nas camadas de silicato.

    .................................................................................................................................................. 42

    Figura 12 Ilustra o mecanismo de intercalao sequencial de tensoativos inicos e no

    inicos. ...................................................................................................................................... 42

    Figura 13 Mostra a borda azulada ao redor da gota de argila fazendo referencia ao ponto de

    CTC mxima da Bent-Ca. ........................................................................................................ 48

    Figura 14 Fluxograma das etapas de cada modificao efetuada na Bent-Ca....................... 49

    Figura 15 Esquema ilustrativo do gonimetro usado para as medidas de ngulos de contato.

    .................................................................................................................................................. 51

    Figura 16 Fluxograma das etapas de preparao dos filmes. ................................................ 54

    Figura 17 Clula de permeao ............................................................................................. 57

    Figura 18 Esquema ilustrativo do ensaio de trao feito nos filmes. .................................... 59

    Figura 19 Mecanismo proposto para obteno da OBent tipo III. ........................................ 61

    Figura 20 Sobreposio dos padres de DRX da OBent-I, OBent-II, OBent-III e Bent-Ca. 63

  • Figura 21 Espectros na regio do infravermelho da Bent-Ca e de cada OBent. ................... 64

    Figura 22 Microscopia eletrnica de varredura: (a) Bent-Ca, (b) OBent-I, (c) OBent-II e (d)

    OBent-III. Magnitude: 1500x ................................................................................................... 66

    Figura 23 Mapeamento da composio elementar das amostras: (a) Bent-Ca, (b) OBent-I,

    (c) OBent-II e (d) OBent-III. .................................................................................................... 67

    Figura 24 ngulos de contato para a Bent-Ca e para cada OBent. ....................................... 69

    Figura 25 Valores do potencial zeta da Bent-Ca e de cada OBent. ....................................... 70

    Figura 26 ndice de inchao da Bent-Ca e de cada OBent antes e depois de agitao.......... 71

    Figura 27 Curvas termogravimtricas da Bent-Ca, OBent-I, OBent-II e OBent-III. ............ 72

    Figura 28 Esquema Ilustrativo do mecanismo de formao dos filmes compsitos. ............ 73

    Figura 29 Padres de DRX dos filmes controle, FB, FOBI, FOBII, FOBIII e o da Bent-Ca.

    .................................................................................................................................................. 75

    Figura 30 Sobreposio dos espectros na regio do infravermelho do filme de fcula

    controle, FB, FOBI, FOBII e FOBIII. ...................................................................................... 76

    Figura 31 - Micrografias de fora atmica e valores de rugosidade mdia das superfcies dos

    filmes: (a) Controle, (b) FB, (c) FOBI, (d) FOBII e (e) FOBIII. 5 x 5 [m] ........................... 78

    Figura 32 - Micrografias eletrnicas de varredura dos filmes: (a) Controle, (b) FB, (c) FOBI,

    (d) FOBII e (e) FOBIII. ............................................................................................................ 80

    Figura 33 - Micrografia ptica dos filmes: (a) Controle, (b) FB, (c) FOBI, (d) FOBII e (e)

    FOBIII. ..................................................................................................................................... 82

    Figura 34 Imagens da gota dgua sobre a superfcie dos filmes: (a) Controle, (b) FB, (c)

    FOBI, (d) FOBII e (e) FOBIII. ................................................................................................. 84

    Figura 35 Mostra a curva de tenso versus deformao dos filmes de fcula controle, na

    presena da Bent-Ca (FB), da OBent-I (FOBI) , da OBent-II (FOBII) e da OBent-III

    (FOBIII). ................................................................................................................................... 85

    Figura 36 Efeito da modificao na Bent-Ca sobre a permeabilidade dos filmes de fcula de

    mandioca. Letras diferentes indicam a diferena estatstica (p

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Mostra variaes de amido com suas respectivas composio e temperatura de

    gelatinizao. ............................................................................................................................ 22

    Tabela 2 Composio qumica da Bent-Ca. .......................................................................... 62

    Tabela 3 Resultados da EDS das amostras de Bent-Ca e de cada OBent. ............................ 68

  • NOMENCLATURA

    DRX Difrao de Raios X

    FTIR Transformada de Fourier por Radiao Infravermelha

    MEV Microscopia Eletrnica de Varredura

    EDS Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raios X

    TGA Anlise Termogravimtrica

    AFM Microscopia de Fora Atmica

    MO Microscopia ptica

    AC ngulo de Contato

    ZETA Potencial Zeta

    PVA Permeabilidade ao Vapor d'gua

    CTAB Brometo de CetilTrimeil Amnio

    SDS Dodecil Sultado de Sdio

    ALEO lcool Laurlico Etoxilado

    Bent-Ca Bentonita Clcica

    OBent Bentonita Organofilizada

    OBent-I Bent-Ca modificada com CTAB

    OBent-II Bent-Ca modificada com CTAB+SDS

    OBent-III Bent-Ca modificada com CTAB+SDS+ALEO

    FB Filme de Fcula com Bent-Ca

    FOBI Filme de Fcula com OBent-I

    FOBII Filme de Fcula com OBent-II

    FOBIII Filme de Fcula com OBent-III

  • CAPTULO 1

    INTRODUO

  • Introduo 14

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    1. Introduo

    A maioria dos materiais utilizados para embalagens de alimentos so materiais no

    biodegradveis que no atendem s demandas crescentes da sociedade para a sustentabilidade

    e segurana ambiental. Assim, inmeros biopolmeros foram explorados para desenvolver

    materiais de embalagem de alimentos biodegradveis (Reddy et al., 2013). O uso dessas

    embalagens como revestimentos e filmes comestveis tem crescido constantemente na

    indstria de alimentos. Ambos ajudam a satisfazer muitos desafios relacionados com o

    armazenamento e a comercializao de produtos alimentcios (Rhima et al., 2013). O

    revestimento deve reduzir a respirao e a produo de etileno pelo produto, alm de carrear

    aditivos qumicos que auxiliem na manuteno da qualidade e que reduzam a deteriorao por

    microorganismos (Othman, 2014). A funcionalidade e o desempenho dos biofilmes e

    revestimentos dependem de suas propriedades mecnicas, ticas, trmicas e de barreiras, que

    por sua vez dependem da composio do filme, do processo de formao e do mtodo de

    aplicao no produto (Wihodo et al., 2013).

    O amido de mandioca ou fcula de mandioca, produto barato e acessvel, considerado

    como um dos materiais candidatos mais promissores para a fabricao de filmes

    biodegradveis. No entanto, as baixas propriedades trmicas, ticas, mecnicas e de barreira

    ao vapor dgua limitam os filmes base de amido a serem utilizados em muitas reas. Com

    efeito, no biofilme original, as molculas de gua atacam facilmente as ligaes de hidrognio

    da estrutura de amido, enfraquecendo assim os valores de resistncia da ligao e diminuindo

    as propriedades funcionais do material (Zhu, 2015). Uma opo para melhorar essas

    propriedades a incorporao de argilominerais como material de reforo matriz

    biopolimrica formando bionanocompsitos (Kotal & Bhowmick, 2015; Chiu et al., 2014).

    Nessa perspectiva, filmes bionanocompsitos apresentam propriedades fsico-qumicas

    melhoradas em relao ao biofilme original, tendo em vista que argilominerais de escala

    nanomtrica so dispersos matriz do biopolmero dando a ele um carter de barreira (Zhao

    et al., 2017). Porm, a simples mistura de biopolmero e argilominerais nem sempre resulta na

    gerao de um bionanocompsito, tendo em vista que o grau de disperso do argilomineral na

    matriz biopolimrica est diretamente relacionado obteno de um filme com propriedades

    ideais uniformizadas. Esta dificuldade devido s interaes fracas entre o biopolmero e a

    argila natural, resultando em uma disperso intercalada do material de reforo na matriz

    biopolimrica (Barbosa et al., 2012; Ferreira et al., 2013).

  • Introduo 15

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    A soluo disto, por sua vez, se dar pela argila natural apresentar contra ons na superfcie

    intercalar das camadas de silicato, que favorece a reao de permuta inica com

    modificadores orgnicos atravs de ligaes de hidrognio (Silva et al., 2016). Tais

    modificadores orgnicos fornecem espao e compatibilidade para a estrutura biopolimrica se

    entrelaar e assim esfoliar as camadas de silicato da argila dispersando-as uniformemente

    formando bionanocompsitos (Kotal & Bhowmick, 2015). O espao decorrente do aumento

    do distanciamento basal causado pelo volume dos grupos funcionais presentes entre as

    camadas de silicato e a compatibilizao decorrente da polimerizao instvel de

    monmeros na estrutura biopolimrica atrada eletrostaticamente estrutura dos grupos

    funcionais do modificador (Chiu et al., 2014).

    Os modificadores orgnicos mais utilizados na preparao de argilas organoflicas so os

    sais quaternrios de amnio de cadeias longas. Porm, estes sais apresentam algumas

    limitaes que o no inico no apresenta, tal como elevada resistncia degradao quando

    descartados no meio ambiente (Liao et al., 2016; Yuan et al., 2016). Por outro lado, os

    tensoativos no inicos mais utilizados so aqueles com alto teor de hidrocarbonetos

    aromticos, tais como a famlia dos alquilfenol e nonilfenol etoxilados, mas estes so

    altamente poluentes, o que conduziu procura de tensoativos com nveis mais baixos de

    aromticos poluentes. A famlia dos lcoois laurlicos etoxilados, exemplo, so lcoois

    graxos alifticos derivados de gorduras e leos naturais, originrios de plantas, mas tambm

    sintetizados em animais e algas (Priac et al., 2014). No mais, comparando os tensoativos

    inicos tem-se que o aninico tem melhor estabilidade trmica, porm no conseguem

    sozinhos intercalar as camadas de silicato (Xia et al., 2013; Sanqin et al., 2014).

    Por fim, neste estudo foi proposta a obteno de uma argila bentonita organofilizada por

    mistura sinrgica de trs tensoativos (catinico, aninico e no inicos), visando obteno

    de um excelente material de reforo, tendo em vista que a organofilizao do argilomineral

    por tensoativos combinados sinergicamente resulta em compostos com as caractersticas

    individuais agrupadas. De posse disso, a influncia de argilas bentonita natural e modificada

    de maneira sequencial e cumulativa por trs tensoativos, no melhoramento das propriedades

    fsico-qumicas do filme de fcula de mandioca foi investigado utilizando tcnicas de

    caracterizao.

  • CAPTULO 2

    OBJETIVOS

  • Objetivos 17

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    2. Objetivos

    2.1 Objetivo geral

    O presente estudo teve como objetivo geral obter o melhoramento das propriedades fsico

    qumicas dos filmes de fcula de mandioca original e na presena de argila natural ou com

    modificao convencional, a partir da utilizao da argila bentonita modificada por mistura

    sinrgica de trs tensoativos (CTAB, SDS e ALEO) como material de reforo.

    2.2 Objetivos especficos

    Realizar modificao sequencial e cumulativa na bentonita clcica a partir de trs tipos

    de tensoativos (CTAB, SDS e ALEO), sendo o ALEO com elevado nmero de grupos

    etoxilados, visando aumentar o distanciamento basal entre as camadas de silicato

    observado por Liao et al. (2016).

    Caracterizar por DRX, FTIR, MEV, EDS, AC, teste de inchao e potencial zeta, que a

    modificao feita na argila bentonita com mistura sinrgica de trs tensoativos a

    tornou o melhor material de reforo quando comparada argila natural e a outras duas

    modificaes, uma com CTAB e a outra com CTAB e SDS.

    Incorporar em filmes de fcula de mandioca os quatro materiais de reforo obtidos e

    caracterizados, resultando na obteno de quatro filmes de fcula na presena de

    argilas modificadas e natural.

    Obter o filme de fcula controle em paralelo aos demais filmes para efeito de

    comparao, somente, na presena de solvente, fcula e plastificante.

    Caracterizar os filmes de fcula obtidos em bionanocompsitos esfoliados ou

    intercalados a partir de tcnicas como DRX, FTIR, AFM, MEV, MO e AC.

    Investigar a influncia do grau de esfoliao do material de reforo sobre o filme de

    fcula de mandioca na melhoria das propriedades fsico-qumicas observadas em

    relao ao filme de fcula controle atravs das anlises de PVA, solubilidade,

    ductibilidade e estabilidade trmica.

  • CAPTULO 3

    REVISO BIBLIOGRFICA

  • Reviso Bibliogrfica 19

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    3. Reviso bibliogrfica

    O presente captulo mostra os diversos conceitos que sero abordados nesse estudo e que

    serviro de base para a estruturao dos mtodos de avaliao e discusso.

    3.1 Biofilmes

    As embalagens para revestimento de produtos diversos, produzidas com os polmeros

    convencionais de fonte petroqumica degradam-se muito lentamente no ambiente, pois so

    bastante resistentes s radiaes, ao calor, ao ar, gua e ao ataque imediato de micro-

    organismos. Isso gera problemas ambientais, visto que a degradao desses materiais leva

    centenas de anos (Othman et al., 2014). Vrias alternativas tm sido investigadas para

    minimizar o impacto ambiental dos polmeros convencionais, incluindo a utilizao de

    polmeros biodegradveis. Em comparao com os polmeros sintticos, os polmeros naturais

    como materiais de embalagens de alimentos, por exemplo, tm as vantagens da

    biodegradabilidade, obteno a partir de recursos renovveis e serem potencialmente

    comestveis (Cordeiro et al., 2013).

    O desenvolvimento de recobrimentos e pelculas comestveis tem sido objeto de

    numerosos estudos de pesquisa nos ltimos anos (Cyras et al., 2008; Chivrac et al., 2010;

    Muller et al., 2011; Introzzi et al., 2012; Alboofetileh et al., 2013; Crtois et al., 2014;

    Castillo et al., 2015; Romero-Bastida et al., 2016; Monteiro et al., 2017). Sem dvida, devido

    prtica de recobrir o alimento para melhorar sua qualidade e aumentar seu perodo de

    armazenamento. Assim, a aplicao direta de revestimentos em frutos para evitar sua

    desidratao e proporcionar brilho, provavelmente aplicao mais eficaz dos

    recobrimentos comestveis (Wihodo et al., 2013).

    Essas pelculas tambm podem ser denominadas como filmes. Por sua vez, estes quando

    so completamente degradados por micro-organismos, so considerados biodegradveis,

    sendo denominados biofilmes. Os biofilmes so materiais finos, preparados a partir de

    macromolculas biolgicas, que agem como barreira a elementos externos (umidade, gases e

    leos), protegendo os produtos e aumentando sua vida de prateleira. Adicionalmente, podem

    carrear compostos antimicrobianos e antioxidantes, sendo denominados biofilmes ativos

    (Reddy et al., 2013).

    Dentre os materiais pesquisados, os biopolmeros naturais, como os polissacardeos e as

    protenas, so os mais promissores, devido ao fato de serem abundantes, renovveis, e capazes

  • Reviso Bibliogrfica 20

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    de formar uma matriz contnua (Othman et al., 2014). Filmes obtidos a partir dessas matrias-

    primas so econmicos, devido ao baixo custo das mesmas e ao fato de serem biodegradveis.

    Ainda apresentam outras vantagens, como poderem ser consumidos em conjunto com o

    produto, reterem compostos aromticos, carrear aditivos alimentcios ou componentes com

    atividades antimicrobiana e/ou antioxidante (Cordeiro et al., 2013).

    O uso de polmeros a partir de fontes renovveis para embalagens de alimentos crescente.

    No entanto, em comparao com os polmeros sintticos termoplsticos, eles apresentam

    problemas quando processados com as tecnologias tradicionais e mostram desempenhos

    inferiores em termos de propriedades funcionais e estruturais (Romero-Bastida et al., 2016).

    De acordo com Wihodo et al. (2013), um bom material de embalagem deve preencher

    alguns pr-requisitos:

    Propiciar barreira seletiva a gases (CO2) e vapor dgua;

    Criar uma atmosfera modificada no que diz respeito composio interna de gases,

    regulando assim o processo de amadurecimento de frutas e hortalias, levando a um

    aumento da vida de prateleira;

    Manter a integridade estrutural, servindo como um veculo para incorporar aditivos

    alimentares (corantes, aromatizantes, antioxidantes, antimicrobianos, etc.) e,

    Evitar ou reduzir a contaminao microbiolgica durante armazenamento prolongado.

    Os diversos biopolmeros que ocorrem naturalmente e que, podem ser utilizados na

    produo de filmes e revestimentos esto ilustrados na Figura 1. Estas biomolculas so

    compatveis entre si e com outros hidrocolides, tensoativos e aditivos. Os polissacardeos so

    conhecidos pela sua complexidade estrutural e diversidade funcional (Cordeiro et al., 2013).

    Estruturas lineares de alguns polissacardeos como, por exemplo, a celulose, amido,

    quitosana, originam filmes resistentes, flexveis e transparentes.

    Figura 1 Biopolmeros de ocorrncia natural com utilizao em filmes e revestimentos biodegradveis.

    Fonte: Ugalde (2014)

  • Reviso Bibliogrfica 21

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    No mais, as coberturas possuem teores de umidade baixos e so teis para proteger

    alimentos secos e de umidade intermediria. No entanto, perdem suas melhores qualidades

    quando no se encontram nestas condies, pois podem inchar e dissolver ou desintegrar

    quando em contato com a gua proveniente da alta umidade. Quando um produto apresenta

    alto teor de umidade o alimento se encontra com alta atividade de gua na superfcie.

    Portanto, a fim de garantir a melhor qualidade e aceitabilidade do produto sua atividade deve

    ser mantida baixa (Takele, 2015).

    A aplicao de uma cobertura feita segundo as caractersticas de cada alimento. Por

    exemplo, para um alimento rico em lipdios insaturados seria interessante que fosse aplicada

    uma cobertura resistente ao transporte de oxignio. A mesma situao no se aplica s frutas e

    hortalias que necessitam de certo grau de permeabilidade de oxignio e dixido de carbono

    para evitar a respirao anaerbica, que causa certas desordens fisiolgicas e perda da

    qualidade do produto (Oymaci, 2014).

    Os filmes comestveis so comumente usados e pesquisados quanto sua aplicabilidade,

    principalmente em produtos crneos, frutas e verduras ps-colheita. Podem ser utilizados

    inclusive quando estes se encontram congelados, suscetveis fragmentao ou desintegrao

    durante o manuseio, reduzindo o escurecimento causado pelas injrias das clulas da

    epiderme e outros danos como o encolhimento, conferindo uma melhor textura e aparncia

    final do produto (Wang et al., 2014).

    3.1.1 Fcula de mandioca

    Amplamente utilizado pela indstria alimentcia, de bens de consumo, qumica,

    farmacutica, papeleira, de construo civil, txtil e petrolfera, o amido um carboidrato

    encontrado nos vegetais. H uma grande representatividade do amido e seus derivados na

    nutrio humana, sendo ele responsvel por cerca de 70% da energia consumida.

    Globalmente, do ponto de vista comercial, a extrao do amido realizada a partir de duas

    principais fontes: a primeira por cereais - como milho, arroz e trigo; e a segunda por razes e

    tubrculos - como a mandioca e a batata. No Brasil, em virtude da alta disponibilidade do

    cereal, da facilidade para estocagem aps a colheita, da melhor adequao s condies

    climticas; do aproveitamento de praticamente todas as partes do gro (leo, fibra, protena e

    amido) e principalmente, pelo alto percentual de amido contido no gro, o milho uma das

    fontes mais utilizadas. Outra fonte amplamente utilizada no pas a mandioca. No Brasil, os

  • Reviso Bibliogrfica 22

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    amidos extrados de tubrculos, razes e rizomas so comumente denominados como fcula

    (Coativy et al., 2015).

    Estruturalmente, o amido um homopolissacardeo composto por cadeias de amilose (ver

    Fig. 2a) e amilopectina (ver Fig. 2b). A amilose formada por unidades de glicose unidas por

    ligaes glicosdicas (14), originando uma cadeia linear. J a amilopectina formada por

    unidades de glicose unidas em (14) e (16), formando uma estrutura ramificada ( Zhu,

    2015).

    Figura 2 (a) Estrutura da amilose [polmero linear composto por D-glicoses unidas em -(1-4)] e (b) Estrutura

    da amilopectina [polmero ramificado composto por D-glicoses unidas em -(1-4) e -(1-6)].

    Fonte: Zhu (2015)

    As propores em que estas estruturas aparecem diferem entre as diversas fontes, entre

    variedades de uma mesma espcie e, ainda, em uma mesma variedade, de acordo com o grau

    de maturao da planta. Estas variaes podem resultar em grnulos de amido com

    propriedades fsico-qumicas e funcionais diferenciadas, o que pode afetar sua utilizao em

    alimentos ou aplicaes industriais (Romero-Bastida et al., 2016). A variao da espcie de

    amido mais estudada, bem como suas respectivas caractersticas intrnsecas evidenciada na

    Tabela 1.

    Tabela 1 Mostra variaes de amido com suas respectivas composio e temperatura de gelatinizao.

    Fonte Teor de Amilose (%) Teor de Amilopectina (%) Temperatura de

    Gelatinizao

    Milho Dent 25 75 62-80C

    Milho Waxy (ceroso) 99 63-72C

    Mandioca 17 83 52-65C

    Batata 20 80 58-65C

    Trigo 25 75 52-85C

    Arroz 19 81 65-73C

    Fonte: Zhu (2015)

    (a) (b)

  • Reviso Bibliogrfica 23

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    A compreenso da estrutura dos grnulos de amido de extrema importncia para o

    entendimento de suas propriedades fsico-qumicas, as quais determinam o comportamento do

    amido natural, nos mais diversos processos industriais a que normalmente so submetidos. As

    propriedades do amido abrangem as suas caractersticas fsicas, qumicas e funcionais, quanto

    estrutura, forma, poder de inchamento, solubilidade e viscosidade estando muitas delas

    associadas entre si. Como exemplo tem-se a solubilidade do amido que uma propriedade de

    extrema importncia neste contexto, na medida em que as enzimas no atuam sobre o amido

    slido, mas sim sobre o amido gelatinizado (Reddy et al., 2013; Rhima et al., 2013).

    3.2 Elaborao de filmes biodegradveis

    Na literatura, os termos recobrimento (coating) e pelcula (filme), so utilizados

    frequentemente como sinnimos, mas estritamente considera-se pelcula comestvel quando a

    mesma pr-formada antes da sua aplicao, podendo ser utilizada para conter ou separar

    superfcies distintas. Por outro lado, o recobrimento comestvel se forma diretamente sobre a

    superfcie do alimento, sendo considerada parte integrante do produto final (Lavorgna et al.,

    2010).

    A elaborao de biofilmes envolve a utilizao de diversos componentes, cada qual com

    sua finalidade especfica. Tais formulaes so constitudas de pelo menos um agente

    formador de filme (macromolculas), solvente (gua, metanol, etanol, acetona, entre outros),

    plastificante (glicerol, sorbitol, etc.) e agente ajustador de pH (Lavorgna et al., 2010).

    De acordo com o tipo de biopolmero utilizado (protenas, polissacardeos, lipdios) que

    compe a pelcula ou recobrimento, suas caractersticas e funes sero diferentes, j que

    esto ligadas composio qumica e estrutural do mencionado biopolmero (Muller et al.,

    2011). Vrios materiais podem ser incorporados nos filmes comestveis para melhorar suas

    propriedades mecnicas, de proteo, sensoriais ou nutricionais.

    A influncia de um aditivo nas propriedades do filme depender da concentrao

    utilizada, da estrutura qumica, do seu grau de disperso e da extenso desta interao com o

    polmero (Chivrac et al., 2010; Liu et al., 2011).

    3.2.1 Plastificantes

    A Unio Internacional de Qumica Pura e Aplicada (IUPAC) define plastificante como

    uma substncia incorporada em um material com o intuito de melhorar a sua funcionalidade e

  • Reviso Bibliogrfica 24

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    manuseio. Reduz a tenso de deformao, dureza, viscosidade, ao mesmo tempo em que

    aumentam a flexibilidade da cadeia do polmero e sua resistncia fratura a depender da

    concentrao utilizada.

    Das teorias que explicam o efeito da plastificao duas so particularmente teis em se

    tratando de filmes comestveis, a teoria gel e do volume livre. A teoria gel diz respeito rgida

    estrutura tridimensional dos polmeros. As molculas do plastificante ligam-se ao longo da

    estrutura do polmero, reduzindo a rigidez da estrutura por enfraquecer e/ou impedir ligaes

    do tipo Van der Walls, pontes de hidrognio, ligaes covalentes, etc., alm de facilitarem o

    movimento das molculas do polmero, resultando em aumento da flexibilidade do gel. A

    teoria do volume livre trata da capacidade do plastificante em ocupar os espaos

    intermoleculares livres do polmero, o que tambm resulta em uma maior mobilidade do filme

    formado (Muller et al., 2011).

    A adio de plastificantes necessria para melhorar a flexibilidade dos biofilmes.

    Diversos materiais plastificantes podem ser adicionados aos filmes, como os mono e

    oligossacardeos (glicose, sacarose), lipdios (cidos graxos saturados, monoglicerdeos e

    surfactantes) e os poliis (glicerol, sorbitol, eritritol). Destes, os poliis so os mais utilizados

    para filmes com polissacardeos, melhorando sua flexibilidade pela reduo das interaes

    polmero-polmero (Chivrac et al., 2010; Liu et al., 2011).

    A escolha do plastificante a ser adicionado aos filmes deve ser realizada de acordo com a

    compatibilidade deste com o polmero e o solvente utilizado, isto , deve ser miscvel ao

    solvente e polmero, de forma a evitar a separao prematura no decorrer do processo de

    secagem, causando uma diminuio na flexibilidade do filme. Os plastificantes, quando

    utilizados em quantidades muito pequenas, produzem o efeito denominado antiplastificante, o

    qual atribudo a vrios mecanismos tais como a reduo do volume livre do polmero e a

    presena de molculas plastificantes rgidas adjacentes aos grupos polares (Lavorgna et al.,

    2010).

    O plastificante interage com a matriz polimrica, mas no est em quantidade suficiente

    para aumentar a mobilidade molecular, fenmeno tambm dependente das condies de

    armazenamento. Geralmente isto ocorre quando so empregadas quantidades abaixo de 20

    g/100 g de matria seca. Os plastificantes so geralmente adicionados na proporo de 10 a 60

    g/100 g de matria seca, dependendo do grau de rigidez do material (Chivrac et al., 2010).

  • Reviso Bibliogrfica 25

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    3.3 Material de reforo

    3.3.1 Argila natural e modificada

    A definio clssica designa argila como um material natural, terroso, de granulao fina

    que quando umedecido com gua apresenta plasticidade, e quimicamente, so materiais de

    reforo/enchimento formados essencialmente por silicatos hidratados de alumnio, ferro e

    magnsio, denominados argilominerais (Oliveira et al., 2016).

    O tipo de argila que vem sendo muito estudado a esmectita por ser um material

    constitudo por um, ou mais, argilominerais e alguns minerais acessrios (principalmente

    quartzo, cristobalita, micas e feldspatos). Esses argilominerais so alumino-silicatos de sdio,

    clcio, magnsio, ferro, potssio e ltio, que inclui: montmorilonita, nontronita, saponita,

    hectorita, sauconita, beidelita, volconsota e caulinita (Silva et al., 2016; Oliveira et al., 2016).

    Os argilominerais esmectitcos so argilas caracterizadas por apresentarem cristais

    elementares com uma folha de octaedros, com alumnio no centro e oxignios ou hidroxilas

    nos vrtices, entre duas folhas de tetraedros, com silcio no centro e oxignios nos vrtices,

    formando camadas denominadas de 2:1 (trifrmicas). Substituies isomrficas do Al3+

    por

    Si4+

    na folha de tetraedros e Mg2+

    ou Fe2+

    por Al3+

    na folha de octaedros acontecem na

    formao geolgica das argilas, resultando em carga negativa na superfcie das mesmas. Essas

    cargas negativas caracterizam as duas principais funcionalidades da argila que o

    empilhamento das camadas de silicato e a capacidade de modificao superficial.

    Por sua vez, o empilhamento das camadas regido por foras polares relativamente fracas

    e por foras de Van der Waals e entre essas camadas existem lacunas denominadas galerias ou

    camadas intermedirias nas quais residem os ctions trocveis como Na+, Ca

    2+, Li

    +, fixos

    eletrostaticamente. Esses ctions de compensao, adsorvidos na superfcie das partculas,

    podem ser trocados por outros ctions, conferindo a estes argilominerais a propriedade de

    troca inica. A Figura 3 mostra a estrutura cristalina da montmorilonita constituinte principal

    das argilas esmectitcas (Barbosa et al., 2012).

  • Reviso Bibliogrfica 26

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    Figura 3 Estrutura cristalina da montmorilonita.

    Fonte: Barbosa et al. (2012)

    O nmero total de ctions trocveis que uma argila pode reter (quantidade de sua carga

    negativa) chamado de capacidade de troca (adsoro) de ctions (CTC). Quanto maior a

    CTC da argila, maior o nmero de ctions que esta pode reter. A capacidade de troca

    catinica de argilas esmectticas varia de 80 a 150 meq/100g (Huski et al., 2013).

    Tecnologicamente as argilas esmectticas so geralmente denominadas por bentonitas. O

    nome bentonita oriundo da descoberta de um depsito de argilas em camadas cretceas,

    em 1898, com caractersticas tecnolgicas particulares no Fort Benton, Wyoming, EUA.

    Geologicamente, bentonita uma rocha constituda essencialmente por um argilomineral

    esmecttico (montmorilonita), formado pela desvitrificao e subsequente alterao qumica

    de um material vtreo, de origem gnea, usualmente um tufo ou cinza vulcnica, cida de

    preferncia (Barbosa et al., 2012).

    As bentonitas apresentam um amplo uso industrial, sendo utilizadas, como viscosificantes

    em fluidos de perfurao, como adsorvente de molculas orgnicas e de metais pesados em

    gua contaminada e como material de reforo para filmes biopolimricos visando o

    melhoramento de propriedades de barreira a vapor dgua, trmica, mecnica e etc. (Ferreira

    et al., 2013).

    As bentonitas contendo o sdio como ction interlamelar so as mais utilizadas na

    indstria, mas pode vir a ser encontrada com outros tipos de ctions inorgnicos

    predominantes. Quando estes argilominerais so colocados em guas ou em ambientes

    midos, os ctions trocveis se hidratam, entra gua e o espaamento basal aumenta (distncia

  • Reviso Bibliogrfica 27

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    basal (d001)). Nessas condies, os ons interlamelares so suscetveis de serem trocados por

    outros ons por uma reao qumica estequiomtrica (Liu et al., 2014).

    Argilas bentonticas contendo ction de troca podem ser modificadas com sais quaternrios

    de amnio para obteno do complexo: argila/composto orgnico, passando-a de hidroflica

    para organoflica (Ferreira et al., 2013). A parte catinica das molculas do sal quaternrio de

    amnio ocupa os stios onde anteriormente estavam os ctions inorgnicos e as longas cadeias

    orgnicas se situam entre as camadas do argilomineral. A Figura 4 mostra o aumento do

    distanciamento basal entre as camadas de silicato devido presena do sal quaternrio.

    Figura 4 Modificao de superfcie de argila atravs da reao de troca inica, substituindo os ctions de Na+

    com ctions do tensoativo.

    Fonte: adaptado Chiu et al. (2014)

    Este tipo de complexo apresenta grande interesse industrial e tem sido amplamente

    estudado. A preferncia quanto ao uso de argilas esmectticas para a sntese de complexos

    argila/compostos orgnicos deve-se s pequenas dimenses dos cristais e elevada

    capacidade de troca de ctions desses argilominerais (Silva et al., 2016).

    A efetiva intercalao dos sais quaternrios de amnio entre as camadas dos argilominerais

    pode ser acompanhada por difrao de raios X dos materiais organoflicos, observando-se o

    aumento da distncia interplanar d001, que passa de valores geralmente situados entre 1,2 e 1,6

    nm (dependendo da umidade da amostra) para valores situados geralmente entre 2,0 e 4,0 nm.

  • Reviso Bibliogrfica 28

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    O valor da distncia d001 vai variar com o comprimento da molcula e com o grau de

    inclinao que a mesma apresenta em relao ao plano ab do argilomineral (Priac et al.,

    2014).

    Os ctions das molculas do sal diminuem a tenso superficial das bentonitas e melhoram

    seu carter molhante com materiais diversos. Alm disso, os ctions alquilamnio e

    alquifosfnio podem ter grupos funcionais e reagir com matrizes polimricas ou, em alguns

    casos, iniciar a polimerizao de monmeros, melhorando a resistncia da interface entre as

    partculas de argila e a matriz polimrica em nanocompsitos argila-polmero (Motawie et al.,

    2014). O tipo de sal quaternrio utilizado, a quantidade incorporada e o processo de obteno

    da argila organoflica iro definir grande parte das propriedades finais desses materiais.

    3.4 Tensoativos

    Tensoativo um tipo de molcula que apresenta uma parte com caracterstica apolar ligada

    a outra parte com caracterstica polar. Dessa forma, esse tipo de molcula polar e apolar ao

    mesmo tempo. A parte apolar de um tensoativo normalmente tem origem em uma cadeia

    carbnica (linear, ramificada ou com partes cclicas) e a parte polar deve ser formada por

    alguns tomos que apresentem concentrao de carga. (Daltin, 2011).

    No presente estudo, a contribuio do tensoativo est na associao da argila com o meio,

    contribuindo para a argila se esfoliar e garantir um carter de barreira no sistema aplicvel,

    consequentemente, a bentonita no seu estado natural carregada negativamente e passa a no

    interagir com meios orgnicos ou interagir pouco em meio hidroflico por seu estado de

    compatibilizao (Silva et al., 2016).

    Os compostos orgnicos mais utilizados na preparao de argilas organoflicas so os sais

    quaternrios de amnio de cadeias longas. De fato, tem sido demonstrado que a substituio

    dos ctions trocveis inorgnicos nas cavidades ou "galerias" da estrutura do silicato por

    tensoativos de alquilamnio pode compatibilizar a qumica da superfcie da argila e da matriz

    polimrica. Porm, estes sais apresentam algumas limitaes que os no inicos no

    apresentam, tais como elevada resistncia degradao quando descartados no meio ambiente

    (Huski et al., 2013).

    Nessa perspectiva, as argilas organoflicas produzidas com tensoativos no inicos podem

    apresentar maior estabilidade trmica e qumica do que aquelas que contm tensoativos

    inicos. Alm do mais, maiores espaamentos basais e quantidades mais elevadas de carbono

  • Reviso Bibliogrfica 29

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    pode ser obtido em bentonitas organofilicas usando tensoativos no inicos (Ferreira et al.,

    2013).

    Por outro lado, os meios de disperso orgnicos (tensoativos no inicos) mais usados so

    aqueles com alto teor de hidrocarbonetos aromticos, tais como a famlia dos alquilfenol e

    nonilfenol etoxilados, mas estes materiais so altamente poluentes, o que conduziu procura

    de alternativas com nveis mais baixos de energia e aromticos poluentes, como os

    biotensoativos (Barbosa et al., 2012).

    Os biotensoativos apresentam vrias vantagens sobre os tensoativos sintticos. Sua

    principal vantagem est relacionada com aceitao pelos consumidores, visto que so

    produtos ecologicamente corretos por ser biodegradveis, apresentarem baixa toxicidade

    possibilitando tambm a produo a partir de recursos renovveis e de resduos

    agroindustriais. Um exemplo a famlia dos lcoois laurlicos etoxilados que so lcoois

    graxos alifticos derivados de gorduras e leos naturais (lipdios), originrios de plantas, mas

    tambm sintetizados em animais e algas (Priac et al., 2014).

    No mais, fazendo uma comparao entre os tensoativos catinicos e aninicos quando

    utilizados como modificadores de argilominerais, tem-se que o aninico tem melhor

    estabilidade trmica, mesmo que repelido da superfcie do argilomineral devido mesma

    carga negativa. No entanto, existem alguns estudos que afirmam que as espcies aninicas

    penetram no espao intercalar apenas se forem capazes de criar complexos de coordenao

    estveis com ctions metlicos carregados positivamente ou na presena de solvente capaz de

    quebrar as foras de Van der Waals que mantm as camadas de silicato empilhadas (Liao et

    al., 2016).

    3.5 Compsitos e bionanocompsitos

    Os compsitos podem ser definidos como materiais que contm duas ou mais substncias

    combinadas, que produzem um material com propriedades funcionais e estruturais diferentes

    daquelas de seus constituintes individuais. uma classe de materiais heterogneos e

    multifsicos, sendo que um dos componentes descontnuo, denominado de estrutural ou de

    reforo, que fornece resistncia ao material, e outro, que representa o meio de transferncia

    desse esforo, denominado de matricial ou fase contnua (Kotal & Bhowmick, 2015).

    Os compsitos polmero/argila foram muito estudados nos anos 60 e no comeo dos anos

    70; porm, s recentemente, no final da dcada de 80, que pesquisadores da Toyota Central

    Laboratories, descobriram a possibilidade de produzir nanoestruturas de um polmero e de

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    uma argila organoflica (Giannakas et al., 2014). A nanotecnologia pode ser definida como a

    sntese, processamento, caracterizao e utilizao de materiais com dimenses da ordem de

    0,1 a 100 nm, nos quais so apresentadas melhorias nas propriedades fsicas, qumicas e

    biolgicas (Huski et al., 2013).

    Os nanocompsitos so, portanto, uma classe de materiais que apresentam propriedades

    muito superiores s dos compsitos polimricos convencionais ou polmeros puros. Essas

    melhorias so alcanadas com uma frao de carga muito pequena ( 5% p/p) de silicato

    (Castillo et al., 2015).

    Os nanocompsitos de argila podem ser classificados em trs categorias gerais: os

    intercalados, onde ocorre a insero da matriz polimrica de forma regular entre as lamelas do

    mineral; os convencionais, onde o mineral age como um enchimento convencional; e os

    esfoliados ou delaminados, onde as camadas do mineral so esfoliadas na matriz polimrica

    contnua. Os esfoliados permitem a obteno de propriedades melhores em relao aos

    intercalados, porque maximizam a interao polmeromineral (Chen et al., 2015). Os trs

    tipos de nanocompsitos esto esquematizados na Figura 5.

    Figura 5 - Estruturas idealizadas para compsitos polmero-argila.

    Fonte: Chiu et al. (2014)

    Os reforos mais utilizados nos nanocompsitos so os silicatos lamelares naturais, argilas

    como a montmorilonita, hectorita e saponita. Os silicatos so naturalmente hidroflicos, o que

    torna difcil a interao e a capacidade de mistura com matrizes polimricas. Sendo assim, o

    Convencional Intercalado

    Esfoliado

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    processo de troca inica frequentemente empregado para o desenvolvimento dos

    nanocompsitos. Argilas organoflicas apresentam compatibilizao melhorada entre a argila

    e a matriz polimrica. O papel dos agentes de compatibilizao o de tornar fcil a disperso

    do polmero na argila. Esses agentes so substncias anfiflicas tais como os tensoativos, ou

    seja, os agentes de compatibilizao tm grupos funcionais hidroflicos e organoflicos.

    Atualmente, ons alquilamnio (H3N+(CH2)nCOOH) vm sendo muito empregados porque

    podem substituir facilmente os ctions presentes nas camadas das argilas (Saberi et al., 2017).

    Os nanocompsitos biodegradveis, que consistem em polmeros biodegradveis e silicatos

    (com modificao orgnica ou no), exibem frequentemente propriedades mecnicas e vrias

    outras propriedades notavelmente melhoradas quando comparadas quelas dos polmeros

    sozinhos (Chiu et al., 2014). As melhorias geralmente incluem o mdulo elstico elevado,

    maior resistncia ao calor, maior resistncia mecnica, baixa permeabilidade a gs e

    biodegradao aumentada dos polmeros biodegradveis. A razo principal para essas

    propriedades, encontradas em compsitos de silicato em camadas organicamente modificadas,

    so as interaes interfaciais mais fortes entre a matriz e o silicato, ao contrrio dos

    compostos convencionais (Kotal & Bhowmick, 2015; Zhao et al., 2017).

    O grau de melhoria das propriedades depende do grau de intercalao/esfoliao do

    nanocompsito. Assim, a presena de partculas nanoestruturadas dispersa de maneira

    uniforme melhora as propriedades dos materiais. Essa melhoria revela-se na reduo da

    permeabilidade a gases e no aumento da resistncia a solventes, especialmente em

    embalagens. Uma justificativa para o decrscimo da permeabilidade em estruturas

    nanomtricas sob forma lamelar seria a de que, quando elas estivessem dispersas no polmero,

    criariam uma espcie de labirinto, o que dificultaria a difuso de gases atravs do polmero.

    muito provvel que a fina disperso de nanopartculas sob forma de placas aumente o

    percurso para o caminho da difuso do gs ou solvente (Kotal & Bhowmick, 2015; Chen et

    al., 2015).

    3.6 Tcnicas de caracterizao de material polimrico

    3.6.1 Difrao de raios X

    A difrao de raios-X a principal tcnica analtica utilizada na caracterizao

    microestrutural de materiais, permitindo anlises precisas e eficientes, sendo sua principal

    funo a identificao de materiais cristalinos, possibilitando a obteno de informaes

  • Reviso Bibliogrfica 32

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    importantes como a natureza qumica do material, seus parmetros de rede, presena de

    defeitos na estrutura cristalina, assim como a determinao do tamanho dos cristalitos (Sena,

    2016).

    Quando um feixe de raios-X, com um determinado comprimento de onda, incidido sobre

    um material slido, os eltrons dos tomos localizados em certo plano cristalogrfico

    absorvem a energia associada radiao emitida e, posteriormente, emitem os ftons

    absorvidos, de maneira que a radiao incidida difratada com o mesmo ngulo ao qual foi

    atingido pelo plano cristalogrfico conforme mostrado na Figura 6. A intensidade da difrao

    ser dependente da densidade de eltrons contidos no plano atingido.

    Figura 6 Ilustrao do fenmeno de difrao de raios-x sobre um material cristalino.

    Fonte: Sena (2016).

    Quando o feixe de radiao emitido sobre uma amostra slida com tomos regularmente

    espaados em um reticulo cristalino, a Lei de Bragg descreve bem o espalhamento do mesmo,

    conforme descrita na Equao 1.

    Onde o ngulo entre os planos reticulares e o feixe difratado, n ordem de difrao

    (nmero inteiro), o comprimento de onda da radiao e d o espaamento interplanar.

    Os raios-X difratados atingem um detector que permite a identificao do ngulo de

    incidncia e da intensidade do feixe. Estes resultados so normalmente apresentados na forma

    de picos que constituem o difratograma (Sena, 2016). A partir do difratograma possvel

    identificar as fases presentes no material, comparando-se o perfil de difrao com outros

    perfis contidos na literatura.

    (1)

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    3.6.2 Espectroscopia no infravermelho

    De maneira geral, as ligaes qumicas presentes em diferentes substncias possuem

    frequncias de vibrao especficas, frequncias estas, que esto relacionadas aos nveis de

    energia dos eltrons presentes na ligao.

    Portanto, se uma molcula for alvo de uma radiao eletromagntica com frequncia

    prxima da frequncia de vibrao especfica de uma, ou vrias, de suas ligaes qumicas,

    parte da energia da radiao ser absorvida, o que ir gerar a vibrao da molcula. Estes

    fenmenos so base da espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR,

    de acordo com a sigla em Ingls).

    Para medir a quantidade de energia absorvida, o espectrmetro de infravermelho emite um

    feixe de luz infravermelha e dividi-o em dois, de forma que um destes novos feixes incidir

    diretamente no detector de luz infravermelha, e o outro ir incidir na amostra antes de se

    direcionar, atravs de um jogo de espelhos, para o detector. Com este artifcio possvel

    quantificar a energia eventualmente absorvida pela amostra, sendo esta a resposta da tcnica

    de espectroscopia de infravermelho (Moriyama, 2011).

    3.6.3 Microscopia eletrnica de varredura

    A tcnica de microscopia eletrnica de varredura permite a obteno de uma imagem

    ampliada e tridimensional da amostra a partir da interao de um feixe de eltrons com o

    material, desde que este seja no transparente aos eltrons. O feixe de eltrons (eltrons

    primrios) gerado por efeito termo inico acelerado atravs de uma diferena de potencial e

    colimado atravs de uma coluna tico eletrnica sendo conduzido cmara que contm a

    amostra. Este feixe de eltrons ao focalizar um ponto da amostra gera sinais que so captados

    e amplificados fornecendo um sinal eltrico que gera a imagem. Conforme o feixe varre a

    rea em anlise, uma imagem virtual vai sendo formada ponto a ponto.

    Para a garantia do livre caminho mdio dos eltrons, necessrio um sistema de alto

    vcuo (933 - 1333 Pa) nas partes que compem o equipamento. A interao do feixe de

    eltrons com a amostra gera uma variedade de sinais conforme pode ser observado na Figura

    7. Na microscopia eletrnica de varredura para a obteno da imagem so captados eltrons

    secundrios, eltrons retroespalhados e raios-X caractersticos.

  • Reviso Bibliogrfica 34

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    Figura 7 Diagrama esquemtico mostrando vrios dos efeitos causados pela interao de um feixe de eltrons

    com um alvo slido.

    Fonte: Callister & Rethwisch (2016).

    3.6.4 ngulo de contato

    O ngulo de contato ou de molhabilidade representa o valor, em graus, que uma

    determinada substncia lquida forma com a superfcie, a exemplo, o ngulo formado de uma

    gota de gua sobre a superfcie de um filme. Os valores para os ngulos de contato dos filmes

    dependem da constituio do material, do tipo de solvente, da rugosidade do filme, entre

    outros (Oliveira, 2017). Para Kim et al. (2014), o ngulo de contato est correlacionado

    principalmente com a rugosidade da superfcie dos biofilmes, e que este aumenta com o

    aumento da rugosidade.

    Portanto, o mtodo de ngulo de contato utilizado para determinar a hidrfila superficial

    de filmes, j que quando se utiliza gua ou outro solvente polar, o ngulo de contato ir

    aumentar com o aumento da hidrofobicidade da superfcie. Com isso, baixo ngulo de contato

    ( 65) so caractersticos de superfcies de menor

    interao (Hosseini et al, 2016).

    O conceito de ngulo de contato, ilustrado por uma pequena gota de lquido repousando

    sobre uma superfcie plana, como mostra a Figura 8, nesta S, LV, e SL so a energia de

    superfcie do slido, a tenso superficial do lquido em equilbrio com o vapor, e a energia da

    interface slido lquido, respectivamente.

  • Reviso Bibliogrfica 35

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    Figura 8 Esquema representativo das tenses superficiais e do ngulo de contato entre uma gota e uma

    superfcie.

    Fonte: adaptado Oliveira (2017)

    Jaramilo et al. (2015) sintetizaram filmes de fcula de mandioca com incorporao de

    antioxidante e perceberam que essa incorporao alterou a natureza hidroflica para

    hidrofbica nos sistemas de permeabilidade ao vapor de gua e da molhabilidade, sendo esses

    biofilmes, promissores como cobertura de alimentos, pois mostraram controlar a possvel

    transferncia de umidade do alimento para o ambiente ou vice-versa.

    3.7 Formao dos filmes

    Quando todos os constituintes necessrios formao do filme esto em soluo, esta

    chamada de soluo filmognica ou soluo formadora de filme. Neste contexto, o processo

    de casting uma das tcnicas mais utilizadas na formao de filmes biopolimricos. Essa

    tcnica consiste em depositar um volume conhecido de soluo filmognica num suporte de

    rea especfica, que permite, entre outras coisas, controlar a espessura.

    Oliveira (2017) avaliou que a produo de filmes pela tcnica de casting efetuada a partir

    de uma soluo filmognica e se dar por duas etapas: (I) solubilizao da macromolcula em

    um solvente; nessa etapa possvel incorporar aditivos; (II) espalhamento da soluo

    filmognica em recipiente para uma posterior secagem.

    3.8 Mtodos de avaliao dos filmes

    Os mtodos utilizados para avaliao dos filmes so derivados dos mtodos clssicos,

    aplicados aos materiais sintticos, os quais sofreram adaptaes em funo das caractersticas

    dos biofilmes como, por exemplo, sua sensibilidade umidade relativa e temperatura.

  • Reviso Bibliogrfica 36

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    A funcionalidade e o desempenho dos filmes biodegradveis dependem de suas

    propriedades pticas, trmicas, mecnicas e de barreira, e essas caractersticas, por sua vez,

    so dependentes da composio do filme, do processo de formao e do alimento no qual

    sero aplicados (Nascimento, 2016).

    3.8.1 Espessura

    A espessura dos filmes depende do mtodo utilizado na produo e a forma como este foi

    disposto nos moldes ou aplicados nos alimentos. De forma geral eles devem mostrar uma

    textura homognea independentemente do mtodo ou da finalidade de aplicao a fim de no

    acarretar problemas mecnicos e de conservao.

    A espessura dos filmes um importante parmetro de medida. usada na anlise de outras

    propriedades como caractersticas mecnicas, permeabilidade ao vapor dgua e

    transparncia. Takele (2015) relata que o aumento da espessura de biofilmes elaborados com

    gelatina provoca um aumento linear da fora de ruptura do filme. Galus et al. (2015) justifica

    este resultado devido ao aumento da quantidade de matria seca por superfcie, o que implica

    em aumento de nmero de cadeias proteicas superficialmente e consequentemente do nmero

    de interaes moleculares.

    3.8.2 Propriedade tica

    Visualmente os filmes devem apresentar opacidade e colorao atrativas e que no se

    modifiquem com o passar do tempo, para que a aceitao do produto no seja prejudicada

    pelo tempo de armazenamento Ruiz-Hitzky et al. (2013).

    A opacidade a caracterstica inerente aos materiais de no permitir a passagem de luz de

    forma significativa. Quando os raios de luz interagem com um material estes podem ser

    absorvidos, refletidos ou transmitidos. Uma substncia opaca transmite pouca luz, em

    contramo absorve grande parte dela. possvel, portanto, conhecer a opacidade de um

    material, como os biofilmes produzidos, medindo sua capacidade em transmitir energia

    radiante, sua transmitncia, ou sua capacidade em absorver esta energia, sua absorbncia

    (Rastogi et al., 2015).

    A transparncia e opacidade de um polmero esto relacionadas sua morfologia ou

    estrutura qumica dependente da massa molecular do material. Filmes contendo materiais

  • Reviso Bibliogrfica 37

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    lipdicos so mais opacos e, portanto, a proporo de lipdio usada deve ser controlada se a

    transparncia for um fator determinante em sua aplicao.

    3.8.3 Propriedade de barreira

    As propriedades de barreira dos biofilmes usados em embalagens dependem do tipo de

    alimento ou produto no qual ser empregado. A migrao de vapor de gua um dos fatores

    que mais alteram a qualidade sensorial e a estabilidade durante a estocagem. Alteraes ou

    redistribuio da umidade em produtos alimentcios podem limitar sua vida de prateleira

    acelerando reaes qumicas, fsicas e enzimticas que podem comprometer caractersticas

    como valor nutritivo, textura, aroma e outras propriedades organolpticas. A conservao dos

    alimentos deve ser feita atravs da utilizao de embalagens que limitem as trocas entre os

    alimentos e o ambiente (Takele, 2015).

    A permeabilidade dos filmes pode ser definida como a medida da transferncia de um

    permeante de um lado de um filme para outro quando expostos a diferentes concentraes de

    permeante em um tempo determinado, onde so conhecidas a rea de exposio do filme, sua

    espessura, umidade relativa e diferena de presso parcial (Nascimento, 2016). A

    permeabilidade comumente medida usando um mtodo gravimtrico e gradiente de 100-0%

    de umidade relativa, da mesma forma como medida para filmes sintticos. Um filme

    selado na abertura superior de um recipiente contendo um dessecante. O recipiente disposto

    em uma cmera com temperatura e umidade relativa constante e conhecida. O ganho de peso

    no recipiente registrado periodicamente registrando a taxa de transmisso de gua atravs do

    filme, onde a umidade relativa maior para aquele onde a umidade menor, uma vez que o

    dessecante mantm a umidade relativa baixa e constante dentro do recipiente (Ugalde, 2014).

    A transferncia de gases e vapores pode ocorrer por meio de dois mecanismos: difuso

    ativa ou molecular e difuso capilar. A difuso capilar ocorre predominantemente em

    materiais porosos ou que possuem imperfeies. A difuso ativa se deve a solubilidade do gs

    no filme, em seguida ocorre difuso atravs do filme e por ltimo sua liberao no lado

    oposto do filme (Wang et al., 2014).

    O processo de difuso depende do tamanho, formato e polaridade das molculas

    penetrantes e do movimento segmentado da cadeia polimrica na matriz do filme. Entre os

    fatores que afetam os movimentos das cadeias polimricas esto s foras atrativas

    intermoleculares como pontes de hidrognio e interaes de Van der Waals, grau de interao

    molecular e taxa de cristalizao (Ugalde, 2014).

  • Reviso Bibliogrfica 38

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    Filmes proteicos geralmente apresentam barreira de vapor de gua reduzida. A

    permeabilidade diminui com o aumento da hidrofobicidade da matriz. A adio de substncias

    hidrofbicas em uma soluo filmognica de origem proteica aumenta a propriedade de

    barreira ao vapor dgua, j que as protenas so parcialmente imobilizadas na interface

    devido s partculas lipdicas emulsionadas, o que faz com que as cadeias polimricas tenham

    menor mobilidade, consequentemente a difusividade da gua atravs da protena interfacial

    diminui e, portanto, a permeabilidade ao vapor dgua reduzida (Rastogi et al., 2015).

    3.8.4 Propriedades mecnicas

    Os filmes devem possuir propriedades mecnicas adequadas sua finalidade, resistncia

    ruptura e abraso, a fim de que o alimento seja protegido sem que sua qualidade seja

    reduzida por motivos de manuseio e armazenamento. Deve ainda possuir a flexibilidade

    necessria adaptao a eventuais deformaes dos alimentos sem que estes sofram danos

    mecnicos (Introzzi, 2012).

    As propriedades mecnicas de um biofilme so importantes na caracterizao uma vez que

    estas so determinantes na aplicao do filme. Entre as propriedades a serem observadas a

    resistncia trao e a elongao mxima so as mais estudadas. A resistncia trao a

    tenso mxima suportada pelo filme at o momento de ruptura. Elongao a medida da

    habilidade que o filme possui em se distender e pode ser considerada a caracterstica que

    avalia a habilidade do filme em deformar antes que ocorra sua ruptura. Filmes com valores de

    elongao baixos so quebradios (Ruiz-Hitzky et al., 2013).

    As propriedades mecnicas so diretamente afetadas pela formulao e as condies de

    obteno do filme, ou seja, a natureza da matriz filmognica e a coeso da matriz polimrica,

    que por sua vez esto relacionadas com a distribuio e concentraes intermoleculares e

    intramoleculares na estrutura filmognica.

    Filmes preparados base de hidrocolides possuem elevada resistncia, j os filmes

    produzidos base de lipdios possuem baixa resistncia. Alguns lipdios podem ser

    adicionados a filmes para aumentar a flexibilidade, pois so capazes de diminuir as foras

    intermoleculares entre as molculas de polmeros vizinhas. No entanto esta prtica tem a

    desvantagem de aumentar a permeabilidade de gases do filme (Takele, 2015).

  • Reviso Bibliogrfica 39

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    3.8.5 Propriedades trmicas

    Anlise trmica representa um conjunto de tcnicas que permite medir as mudanas de

    uma propriedade fsica de uma substncia e/ou de seus produtos de reao em funo da

    temperatura e do tempo, enquanto a substncia submetida a uma programao controlada de

    temperatura. Com base nesta definio trs critrios devem ser considerados para que a

    tcnica seja considerada termoanaltica, primeiro que uma propriedade fsica deve ser medida,

    segundo, que a medida deve ser expressa em funo da temperatura e, por ltimo, que a

    medida deve ser realizada com um programa controlado de temperatura (Ruiz-Hitzky et al.,

    2013; Nascimento, 2016).

    A termogravimetria (TGA) uma tcnica de anlise trmica, na qual a variao da massa

    da amostra (perda ou ganho) determinada em funo da temperatura e/ou tempo, enquanto a

    amostra submetida a uma programao controlada de temperatura. Esta tcnica possibilita

    conhecer as alteraes que o aquecimento pode provocar na massa das substncias,

    permitindo estabelecer a faixa de temperatura em que comeam a se decompor, acompanhar o

    andamento da desidratao e de reaes de oxidao, combusto, decomposio, etc. (Takele,

    2015).

    Em materiais polimricos, a TGA tem sido largamente utilizada para avaliao da

    estabilidade trmica, determinao do contedo de umidade e aditivos, estudos de cintica de

    degradao, anlise de sistemas de copolmeros, estabilidade oxidao e temperaturas de

    degradao (Introzzi, 2012).

    3.9 Estado da arte

    Neste item, sero abordados os trabalhos na rea de caracterizao de argilas modificadas e

    de filmes e coberturas, a fim de apresentar resultados slidos de pesquisas anteriores que

    motivaram a ideia do presente estudo, bem como deram o respaldo aos resultados obtidos.

    Yuan et al. (2016), props a modificao superficial da argila na presena da mistura

    sinrgica de tensoativos catinicos e aninicos, no intuito de aumentar o grau de

    distanciamento basal das camadas de silicato tradicionalmente observado na presena do

    tensoativo catinico. O estudo props um mecanismo com dois caminhos possveis para obter

    o aumento do distanciamento basal, ambos iniciados com a intercalao do tensoativo

    catinico por entre as camadas lamelares da argila o que favoreceu a agregao do tensoativo

  • Reviso Bibliogrfica 40

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    aninico no primeiro caminho, porm este apresentou um aumento do distanciamento menor

    quando comparado ao segundo caminho que teve a agregao sinrgica do tensoativo

    catinico e aninico. O esquema do mecanismo mostrado na Figura 9.

    Figura 9 Mecanismo de intercalao da argila montmorilonita na presena de tensoativos catinicos e

    aninicos.

    Fonte: Yuan et al. (2016)

    Fu et al. (2015), estudou a influncia que modificadores sinergicamente combinados entre

    tensoativos catinicos e no inicos poderiam acarretar na superfcie da argila bentonita,

    sendo observado que a combinao dos tensoativos resultou numa estruturao interna por

    entre as camadas de silicato mais ordenada em relao a intercalao observada na presena

    dos tensoativos individualmente, embora apresenta-se um distanciamento basal menor. Este

    resultado propiciou na formao de um modificador que aumentou a resistncia ao calor e

    melhorou a compatibilidade da argila com o meio.

    Zhuang et al. (2015), estudou a influncia que modificadores sinrgicos combinados entre

    tensoativos aninicos e no inicos poderiam acarretar na superfcie da argila bentonita, sendo

    observado que a combinao dos tensoativos aumentou o grau de distanciamento das camadas

    de silicato em relao a modificao somente do tensoativo aninico, bem como aumentou a

  • Reviso Bibliogrfica 41

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    hidrofobicidade da superfcie da argila. O modificador sinrgico teve melhor estabilidade

    trmica do que a modificao convencional na presena do tensoativo catinico. O

    mecanismo de modificao superficial proposto evidencia que o tensoativo no inico por

    apresentar alto BLH quebra com sua parte hidroflica as foras de van der waals que mantm

    as camadas de silicatos compatibilizadas, e com a parte hidrofbica fornece um ambiente

    compatvel para o tensoativo aninico se agregar aumentando assim o distanciamento basal. O

    esquema do mecanismo mostrado na Figura 10.

    Figura 10 Mecanismo de intercalao de tensoativos aninicos e no inicos na regio interlamelar da

    montmorilonita.

    Fonte: Zhuang et al. (2015)

    Wu et al. (2017), estudaram a influncia das estruturas e propriedades dos tensoativos no

    inicos sobre as estruturas e propriedades da montmorilonita, e percebeu que ao modificar a

    montmorilonita com trs tensoativos no inicos em diferentes graus de BLH, os tensoativos

    com menor BLH no conseguiram intercalar por entre as camadas de silicato da

    montmorilonita por ter carcter lipoflico, e no ser assim compatvel com a estrutura do

    argilomineral, j o tensoativo de elevado BLH aumentou o distanciamento basal das camadas

    de silicato por apresentar um carcter hidroflico responsvel em quebrar as foras que as

    compatibiliza, com isso o tensoativo deslocada para o interior das camadas acarretando no

    aumento do distanciamento basal devido ao volume dos grupos funcionais. O esquema do

    mecanismo mostrado na Figura 11.

  • Reviso Bibliogrfica 42

    Mayra Kerolly Sales Monteiro, Julho/2017

    Figura 11 Mecanismo de intercalao dos tensoativos no inicos nas camadas de silicato.

    Fonte: Wu et al. (2017)

    Liao et al. (2016), props uma modificao da argila montmorilonita na presena sinrgica

    de trs tipos de tensoativos sendo estes aninico, catinico e no inico. Foi observado um

    aumento sequencial do distanciamento basal entre as camadas de silicato, da presena

    somente do tensoativo catinico at a presena combinada de tensoativos catinicos e

    aninicos, quanto argila modificada pela presena dos trs tensoativos percebeu-se uma

    reduo do distanciamento basal entre as camadas de silicato, onde se concluiu que o baixo

    BLH do tensoativo no inico influenciou a no intercalao do tensoativo por entre as

    camadas de silicato. O esquema do mecanismo mostrado na Figura 12.

    Figura 12 Ilustra o mecanismo de intercalao sequencial de tensoativos inicos e no inicos.

    Fonte: Liao et al. (2016)

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