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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL JAQUELINE FATIMA PREVIATTI VEIGA O CENÁRIO DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE CANOINHAS 2013

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

JAQUELINE FATIMA PREVIATTI VEIGA

O CENÁRIO DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES EM MUNI CÍPIOS DA

REGIÃO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE

CANOINHAS

2013

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JAQUELINE FATIMA PREVIATTI VEIGA

O CENÁRIO DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES EM MUNI CÍPIOS DA

REGIÃO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE

Dissertação apresentada como registro para obtenção do titulo para o Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional (PMDR), da Universidade do Contestado (UnC), sob a orientação da Profª. Drª. Maria Luiza Milani.

CANOINHAS

2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me norteado para este mestrado. Por

conta dele eu encontrei pessoas e instituições que me fizeram crescer muito

intelectualmente.

Agradeço aos meus pais Itelva Izidora Previatti e Carlos Adir Previatti, por

terem me dado às bases para me tornar uma adulta com princípios éticos,

mostrando a importância do trabalho e das atitudes corretas.

Ao meu esposo Paulo Veiga pelo apoio necessário durante o curso, sempre

com palavras e atitudes de incentivo incondicional.

As minhas queridas sobrinhas Pamela Vanessa Sauer, Bianca Previatti e

Milena Fruchting quais me auxiliaram na coleta de dados.

A professora Drª. Maria Luiza Milani, por sua disponibilidade, compreensão e

sabedoria. Você sabe orientar muito usando poucas palavras e denota uma ampla

bagagem de conhecimento.

Aos responsáveis pelas Delegacias de Polícia, por terem aberto a porta,

disponibilizando integralmente os dados que solicitei. Também a toda a equipe da

Delegacia, que me recebeu de braços abertos, atendendo prontamente às minhas

solicitações.

A boa vontade de todos (as) os (as) profissionais da instituição Pronto

Atendimento que compreenderam me apoiaram nos momento em que tive que me

ausentar. Principalmente a colega Elenir Cardoso que ao assumir varias

responsabilidades durante a minha ausência, facilitou enormemente a realização

desta pesquisa.

Page 4: dissertação final jaqueline pdf

“Hoje eu recebi flores. Não era o meu aniversário ou algum dia especial. Na noite passada tivemos a nossa primeira discussão. E ele disse coisas cruéis que realmente me magoaram. Eu sei que ele se arrependeu e que não queria fazer isso. Porque ele me mandou flores hoje. Hoje eu recebi flores. Não era nosso aniversário de casamento ou algum dia especial. Na noite passada, ele me jogou na parede e começou a me sufocar. Tudo parecia um pesadelo. Eu não podia acreditar que aquilo era real. Eu acordei nessa manhã com dores e toda arranhada. Eu sei que ele deve estar arrependido. Porque ele me mandou flores hoje. Hoje eu recebi flores. Não era o dia das mães ou algum dia especial. Na noite passada ele me bateu de novo. E foi muito pior do que todas as outras vezes. Se eu o deixar, o que farei? Como posso cuidar dos meus filhos? Como vou ter dinheiro? Tenho medo dele e tenho receio de deixá-lo. Mas eu sei que ele deve estar arrependido. Porque ele me mandou flores hoje. Hoje eu recebi flores. Hoje foi um dia muito especial. Foi o dia do meu funeral. Na noite passada ele finalmente me matou. Ele me bateu até eu morrer. Se eu somente tivesse tido a coragem suficiente e a força para deixá-lo... Eu não teria recebido flores… Hoje.”

Autora: Kelly Paulette

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RESUMO

A dissertação tem como tema: O Cenário das Violências Contra as Mulheres em Municípios da Região do Planalto Norte Catarinense. Para o desenvolvimento do estudo classificamos a pesquisa em exploratória e descritiva. Os municípios pesquisados foram; Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo. O objetivo geral foi estudar o cenário das violências que as mulheres dos municípios que compõem o Planalto Norte Catarinense, foram expostas no período de 2009 a 2012 e das Políticas Públicas que tratam desta questão. Para concretizarmos o conhecimento do território estudado pesquisamos 3.769 boletins de ocorrências, em cinco Delegacias de Policia Civil e duas Delegacias de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso. Quanto ao resultado da pesquisa de campo, observamos que em municípios estruturados na rede de atenção ao atendimento às mulheres os números de denúncias aumentaram. Naqueles que a rede permanece desordenada ou em construção as denúncias diminuíram. Quanto aos dados socioeconômicos, as mulheres encontram-se em condições de vulnerabilidade social. Observamos que os espaços em que a violência esta presente mantem-se o privado, dito como familiar. A violência doméstica permanece evidente no espaço estudado, a forma de violência prevalente é a moral seguida pela psicológica tendo como agressor, homens que em algum momento efetivaram laços familiares. Fica evidente após análise dos dados, que as políticas públicas para o enfrentamento da violência contra as mulheres buscam a erradicação desta, evoluíram orientando articulação entre os espaços de atenção as mulheres vitimas de violência. Porém, não estão efetivamente sendo implantadas pelas mais variadas questões, desinteresse, desconhecimento e da vontade política para efetivá-las.

Palavras Chaves : Mulheres, Violência contra a Mulher, Políticas Públicas.

Linha de pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional.

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ABSTRACT

The dissertation has as theme: The Scenery of Violence Against Women in Cities of the Northern Plateau Region of Santa Catarina. To the development of the study we classified the research in exploratory and descriptive. The municipalities were surveyed; Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva and Monte Castelo. The general objective was the study of the scenery of the violence that the women of the towns that compose 25th SDR, were exposed in the period from 2009 to 2012 and of the Public Politics that are about this subject. To concretize the knowledge of the studied territory we researched 3.769 bulletins of occurrences, in five Police Stations from Civil Police and two Police Stations of Protection the Child, Adolescent, Woman and Senior. With relationship to the result of the field research, we observed that in municipal districts structured in the net of attention to the attendance to the women the numbers of accusations increased. In those that the net stays disordered or in construction the accusations decreased. With relationship to the socioeconomic datas, the women meet in conditions of social vulnerability. We observed that the spaces in that the violence this present stays the private, said as family. With predominance of some neighborhoods which it deserves more studies. The domestic violence stays evident in the studied space, the form of violence prevalent is the morals proceeded by the psychological tends as aggressor, men that in some moment accomplished family ties. It is evident after analysis of the data, that the public politics for the coping of the violence against the women look for the eradication of this, they developed guiding articulation among the spaces of attention the women you slay of violence. Even so, they are not indeed being implanted by the most varied subjects, indifference, and ignorance and of the will politics for effective them.

Keywords : Women, Violence Against Women, Public Policies.

Research Line : Public Policy and Regional Development.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Municípios estudados no Planalto Norte Catarinense. ............................. 61

Quadro 1 – Perfil socioeconômico das denunciantes no Planalto Norte Catarinense

(2009 a 2012). ........................................................................................................... 63

Quadro 2 – Fatores que contribuíram para a violência contra a mulher coletados por

meio dos BOs nos municípios, Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo

Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo (2009 a 2012).................................. 89

Figura 4 – Organização da rede nos Municípios no recorte do Planalto Norte

Catarinense. .............................................................................................................. 93

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos de agressões mais comuns no Brasil ............................................ 30

Tabela 2 – Mulheres agredidas por motivo declarado no Brasil. ............................... 31

Tabela 6 – Faixa etária prevalente das denunciantes no Planalto Norte Catarinense

(2009 a 2012). ........................................................................................................... 62

Tabela 8 – Distribuição das ocorrências por bairros em Mafra entre 2009 a 2012. .. 76

Tabela 9 – Distribuição das ocorrências por bairros em São Bento do Sul entre 2009

a 2012. ...................................................................................................................... 76

Tabela 10 – Distribuição das ocorrências por bairros em Rio Negrinho entre 2009 a

2012. ......................................................................................................................... 76

Tabela 11 – Distribuição das ocorrências por bairros em Campo Alegre entre 2009 a

2012. ......................................................................................................................... 76

Tabela 12 – Distribuição das ocorrências por bairros em Itaiópolis entre 2009 a 2012.

.................................................................................................................................. 76

Tabela 13 – Distribuição das ocorrências por bairros em Papanduva entre 2009 a

2012. ......................................................................................................................... 77

Tabela 14 – Distribuição das ocorrências por bairros em Monte Castelo entre 2009 a

2012. ......................................................................................................................... 77

Tabela 15 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Mafra no

período de 2009 a 2012. ........................................................................................... 78

Tabela 16 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – São Bento

do Sul no período de 2009 a 2012. ........................................................................... 78

Tabela 17 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Rio Negrinho

no período de 2009 a 2012. ...................................................................................... 79

Tabela 18 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Campo

Alegre no período de 2009 a 2012. ........................................................................... 79

Tabela 19 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Itaiópolis no

período de 2009 a 2012. ........................................................................................... 80

Tabela 20 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Papanduva

no período de 2009 a 2012. ...................................................................................... 80

Tabela 21 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Monte

Castelo no período de 2009 a 2012. ......................................................................... 80

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Tabela 22 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e

agressor – Mafra (2009 a 2012). ............................................................................... 83

Tabela 23 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e

agressor – São Bento do Sul (2009 a 2012). . .......................................................... 83

Tabela 24 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e

agressor – Rio Negrinho (2009 a 2012). ................................................................... 83

Tabela 25 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e

agressor – Campo Alegre no período de 2009 a 2012. ............................................. 84

Tabela 26 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e

agressor – Itaiópolis no período de 2009 a 2012. ..................................................... 84

Tabela 27 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e

agressor Papanduva no período de 2009 a 2012. ................................................... 84

Tabela 28 – Prevalência das violências físicas por área do corpo afetada - Mafra

(2009 a 2012). ........................................................................................................... 85

Tabela 29 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – São

Bento do Sul (2009 a 2012)....................................................................................... 86

Tabela 30 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Rio

Negrinho (2009 a 2012). ........................................................................................... 86

Tabela 31 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Campo

Alegre (2009 a 2012). ................................................................................................ 86

Tabela 32 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Itaiópolis

(2009 a 2012). ........................................................................................................... 86

Tabela 33 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada –

Papanduva (2009 a 2012). ........................................................................................ 86

Tabela 34 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Monte

Castelo (2009 a 2012). .............................................................................................. 87

Page 10: dissertação final jaqueline pdf

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em MAFRA por ano. ..... 67

Gráfico 3 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em SÃO BENTO DO SUL

por ano. ..................................................................................................................... 67

Gráfico 4 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em RIO NEGRINHO por

ano. ........................................................................................................................... 68

Gráfico 5 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em CAMPO ALEGRE por

ano. ........................................................................................................................... 69

Gráfico 6 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em ITAIÓPOLIS por ano.

.................................................................................................................................. 69

Gráfico 7 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em PAPANDUVA por ano.

.................................................................................................................................. 70

Gráfico 8 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em Monte Castelo por

ano. ........................................................................................................................... 70

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LISTA DE ABREVIATURAS

BO – Boletins de Ocorrência

DEAM – Delegacias Especializadas no Atendimento a Mulher

DP – Delegacia de Polícia

DPCAMI- Delegacias de Proteção a Crianças, Adolescentes, Mulher e Idoso

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

WHO – World Health Organization

CFB – Constituição Federal Brasileira

SUS – Sistema Único de Saúde

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

SPM – Secretaria de Políticas para as Mulheres

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

Page 12: dissertação final jaqueline pdf

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................. ........................................................ 19

2.1 CARACTERÍSTICAS DA (AS) VIOLÊNCIA(S): DEFINIÇÕES E A QUESTÃO DE

GÊNERO ................................................................................................................... 19

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 53

3.1 DEFINIÇÕES GERAIS DOS PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ..................... 53

3.2 ESPAÇOS DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ....................................... 54

3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ..................................................... 58

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS .............. ................................... 61

4.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO ESTUDADO ............................ 61

4.2 PERFIL DA POPULAÇÃO ESTUDADA NO ESPAÇO DO PLANALTO NORTE

CATARINENSE ......................................................................................................... 62

4.3 BOLETINS DE OCORRÊNCIAS REGISTRADOS NAS DPs E DPCAMI NO

PLANALTO NORTE CATARINENSE ........................................................................ 65

4.4 TERRITORIALIZAÇÃO DOS ATOS VIOLENTOS CONTRA O GÊNERO

FEMININO NO PLANALTO NORTE CATARINENSE (2009 a 2012) ........................ 75

4.5 CENÁRIOS DA VIOLÊNCIA CONTRA O GÊNERO FEMININO NO ESPAÇO

ESTUDADO .............................................................................................................. 77

4.6 FATORES QUE CONTRIBUIRAM PARA OS ATOS VIOLENTOS CONTRA O

GÊNERO FEMININO ................................................................................................ 88

4.7 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO AS MULHERES NOS

MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O PLANALTO NORTE CATARINENSE .................... 90

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 95

REFERENCIAS ....................................................................................................... 100

APÊNDICES ........................................................................................................... 105

APENDICE A – Questionário .................................................................................. 106

APENDICE B – Carta de Apresentação .................................................................. 109

ANEXOS ................................................................................................................. 111

ANEXO A – Boletim de ocorrência .......................................................................... 112

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1 INTRODUÇÃO

O tema deste estudo refere-se ao fenômeno da violência de gênero praticada

contra as mulheres, mulheres residentes no território do Planalto Norte Catarinense.

O objeto de estudo emergiu da vivência profissional da pesquisadora na unidade de

pronto atendimento de Mafra, no qual atua como enfermeira, local este, em que as

mulheres vítimas de atos violentos são encaminhadas para atendimento de

emergência. Em determinados atendimentos estas mulheres vítimas de violência

não sobreviveram, devido à agressão sofrida. Quando sobrevivem não encontram

uma sequência para o atendimento que as possa apoiá-las. Para tanto, diante da

lacuna percebida pela pesquisadora quanto aos atendimentos às mulheres vítimas

da violência, gerou inquietudes estimulando para o desenvolvimento deste estudo

para que se produzisse produzir viés de analises e discussão da problemática no

território estudado.

Para o desenvolvimento do tema, utilizamo-nos como base referência as

políticas públicas para enfrentamento da violência contra as mulheres, quais

apresentam em seu conteúdo, conceitos, diretrizes definidas, normas e estratégias

para as ações, objetivando fortalecer e estruturar a atenção às mulheres, garantindo

o direito a saúde, igualdade a vida, expressos na Constituição Federativa do Brasil

de 1988.

Segundo a Organización Panamericana de La Salud (2002), o termo violência

tem origem da palavra latina vis, significando força. Tomado como referência o

constrangimento, a dominação por meio da força física sobre o outro, a violência é

tema amplo, discutido nas sociedades, porém é norteado por fenômenos complexos

de difícil conceituação teórica, cuja definição não tem exatidão cientifica. A violência

sofre influencias culturais e modificações diante do desenvolvimento dos valores

sociais e das normas convencionais de relação entre as sociedades.

Dessa forma, percebemos que o fenômeno da violência sofre mutações na

história da humanidade, influenciada pela história e espaços geográficos, norteados

por circunstâncias das realidades diferenciadas. Existiam violências toleradas e as

condenadas nas sociedades, pois, desde os primórdios da existência humana a

violência é uma manifestação humana. Porém, a violência adquiriu nas sociedades

diferentes formas, cada vez mais complexas e organizadas. Para Minayo (2006), a

violência decorre de ações realizadas por indivíduos, classe, nações ou omissões

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dessas mesmas instâncias, que destes atos geram danos físicos, emocionais,

morais a si e outros, enraizados nas estruturas sociais e políticas bem como na

consciência dos indivíduos.

A violência apresenta-se de forma complexa e multifacetada, corroborando

para a identificação da violência de gênero. Segundo Morgado (2008), violência de

gênero não é um fenômeno recente. Está presente em todas as classes sociais e

sociedade, se compõe de conjunto de relações sociais, tomados de complexa

compreensão. Desta forma, diante da violência de gênero podemos inferir que se

trada de um fenômeno de natureza social, produto de um conjunto de determinantes

que derivam da convivência dos grupos e na estruturação das sociedades.

Diante das formas de violências instituídas nas sociedades, devemos analisar

estudos aprofundados sobre as variadas definições da violência de gênero visando

de conceitualizar tal fenômeno. Segundo Alberdi et al. (2002), para que possamos

entender a denominação de violência de gênero, devemos levar em conta a

condição de homens e mulheres na sociedade e o caráter social dos traços

atribuídos para ambos. Observa-se que na construção cultural, os traços do feminino

e do masculino, são constituídos como produto da sociedade e não da evolução

biológica da humanidade.

Como descreve Nogueira (2001), diferentemente do que pressupõe o

essencialismo, as diferenças entre homens e mulheres não são devidas à

naturalização de atributos de um e de outro, mas sim às relações sociais

estabelecidas durante a construção social. A violência de gênero no contexto social

é um fenômeno, resultante do comportamento humano no convívio social. Vista

como multicausal a violência é reflexo das condições sociais e culturais, gerando

recortes populacionais em situação de vulnerabilidade e desigualdade.

Na constituição do modelo familiar tradicional as mulheres assumiram papéis

diferenciados dos homens. Então as condições de gênero atribuídas ao diferentes

sexos, legitimaram a dominação do homem sobra à mulher, mantendo-as diferentes

socialmente. Desta forma, as violências às quais as mulheres vêm sendo

submetidas durante a história da sociedade, estão as mais variadas formas, estão

as intrafamiliares. Segundo o documento de Nacional de Políticas Públicas para as

Mulheres (2011), quanto às denominações violência doméstica e violência familiar, a

Lei Maria da Penha, no seu Art. 5º, descreve a violência conjugal como aquela que

se dá em qualquer relação íntima de afeto, no qual agressor permanece convivendo

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ou conviveu com a ofendida, independendo de coabitação. A lei define como

violência contra a mulher, qualquer ato de violência de gênero que resulte em

qualquer ação física, sexual ou psicológica, incluindo a ameaça.

As questões de violência que envolvem as mulheres, passam a serem

discutidas no âmbito governamental. Porém medidas para proteger as mulheres e

coibir a violência são garantidas por meio das políticas públicas. Os espaços devem

ser organizados para o acolhimento das mulheres vitimizada por atos perversos e

complexos de violência. O Estado passa a intervir nas situações provocadoras de

violência, aplicando medidas de proteção às mulheres vítimas da violência. Como

descreve Foucault (1978), diante de uma nova administração, organiza-se uma nova

rede de conhecimento das populações, os quais demonstram à realidade da

sociedade e desta forma as prioridades políticas ganham novos rumos.

Durante a construção da política pública de proteção as mulheres no Brasil,

vários dispositivos foram implantados para estabelecer o respeito aos sujeitos de

direito, como cidadão de pertencerem a uma nação. Desta forma as leis são

submetidas a fatos, e nem sempre se considera o direito a vida dos membros de

uma comunidade política, ficando obscura a individualidade dos grupos sociais.

Segundo Arendt (1993), o sujeito político foi identificado com o domínio das

necessidades vitais o corpo deixa de ser alguém com individualidades para ser

transformado em elemento na mecânica geral dos seres vivos que passa a dar

suporte aos processos biológicos.

Para tanto, as discussões e mobilizações políticas foram para a mudança

deste paradigma histórico, para que a mulher assumisse seu papel de componente

de uma sociedade transformadora. Segundo Furegato (2006), a mobilização da

sociedade e dos governantes é evidente a partir do século XX, quando várias

conferências internacionais foram realizadas, resultante dos direitos humanos

mínimos para todos os seres humanos, os quais tiveram impacto sobre a

problemática da violência de gênero contra a mulher.

Diversas foram às mobilizações e discussões para dar conta da problemática

da violência contra as mulheres no Brasil e mundialmente. Segundo Schraiber et al.

(2003), as conferências realizadas no século XX, quais discutem os direitos

humanos para os habitantes do mundo, contribuíram para a detecção e investigação

da violência de gênero contra a mulher percebida em ordem temporal pelos

seguintes documentos: Carta das Nações Unidas (1945); Convenção contra o

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genocídio (1948), Pacto internacional dos direitos civis e políticos (1966), Pacto

internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais (1966), Convenção sobre a

eliminação de todas as formas de discriminação racial (1965), Convenção para a

eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (1979), Convenção

contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes

(1984), Convenção sobre os direitos da criança (1989) e, Convenção interamericana

para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher em Convenção de Belém

do Pará em 1994. A partir da legislação nacional vigente a Constituição Federal do

Brasil (1988) e, acordos internacionais, estas discussões emergiram delas, leis que

garantissem na atualidade os direitos das mulheres a uma vida sem violência.

No Brasil, o marco para enfrentamento da problemática relacionada à

violência contra a mulher, ganha visibilidade no final dos anos 1970, quando foram

instituídos os grupos de SOS Mulheres. Nestes grupos haviam representantes dos

variados grupos feministas, aliados a grupos políticos e distintas correntes

ideológicas. No Brasil em 1985, foram criadas as Delegacias Especiais de

Atendimentos às Mulheres (DEAMs), por meio do Decreto número 2170 de

24/10/85, resultante de pressões exercidas pelos movimentos sociais. Para Bandeira

(2002), as delegacias se constituíram nas primeiras respostas institucionais

colocadas à disposição das mulheres no enfretamento da problemática da violência

exercida contra elas. Esta política foi criada com o objetivo de atender a uma

clientela específica: as mulheres em situação de violência, especialmente a violência

doméstica.

As discussões sobre a elaboração de políticas públicas para proteção das

mulheres vítimas de violência permanecem constantes no Brasil. Na perspectiva de

se estabelecer mecanismos para mapear e identificar os atos violentos aos quais as

mulheres estão expostas, para a integração das diferentes áreas da sociedade, em

24 de novembro de 2003, foi promulgada a Lei 10.778, torna-se obrigatório à

notificação dos casos de violência contra a mulher, dá responsabilidade aos serviços

de saúde, em notificar casos suspeitos ou confirmados de violência de qualquer

natureza contra a mulher. No ano de 2006, entra em vigor a Lei Maria a Penha (Lei

nº 11.340/2006). Marco importante para a sociedade brasileira dispor de

mecanismos punitivos aos agressores, denotando enfim, a gravidade dos atos de

violência ao qual a mulher é vitimizada.

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Para a consolidação das estratégias de enfrentamento das violências contra

as mulheres, as políticas públicas de prevenção e combate as formas de violências

a este grupo populacional, encontram-se em fase consolidação no Brasil. A

mobilização da sociedade para trabalhar ações efetivas no enfrentamento a

violência contra a mulher é evidente. Diante dos desafios para consolidar as políticas

públicas de enfrentamento as violências contra as mulheres nos municípios que

compõem o Planalto Norte Catarinense, o mapeamento do cenário da violência

atenta para o reconhecimento da situação dos atos violentos aos quais as mulheres

estão expostas nesse território.

O que fazemos acerca dos atos violentos é que denotam a forma como a

sociedade visualiza a violência, nas mais variadas condições. Na

contemporaneidade a mulher que é submetida aos atos violentos, percorrer a rede

para acolhimento e atenção, que objetiva também tratar também do agressor, com

base nas políticas publicas de prevenção e combate às violências. Porém, esta

sequência nem sempre está constituída é operante. Perante as formas de relação

social que julgamos ocorrem sob as influências de inúmeras crenças, que levam as

mulheres agredidas a vivenciarem o desamparo solitariamente. Mediante este

panorama questiona-se: qual o cenário das violências que as mulheres dos

municípios que compõem o Planalto Norte Catarinense, foram expostas no período

de 2009 a 2012?

Desta forma, o desenvolvimento deste estudo tem como questões

norteadoras; Como se caracteriza a violência contra o gênero feminino no cenário

atual dos direitos? Quais são as principais políticas públicas emergidas após a

Constituição Federal Brasileira de 1988, direcionadas ao escopo da violência contra

as mulheres? Quais as formas de violências preponderantes contra as mulheres nos

registros dos Boletins de Ocorrências das Delegacias Civis e Especializadas dos

municípios do Planalto Norte Catarinense no período de 2009 a 2012? Estão sendo

aplicadas as políticas públicas especificas para o enfrentamento da violência contra

o gênero feminino, no território estudado?

Diante destas questões definiu-se como objetivo geral: estudar o cenário das

violências sobre as mulheres residentes nos municípios do Planalto Norte

Catarinense no período de 2009 a 2012.

São objetivos específicos:

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- Estudar o conjunto de políticas públicas sociais desde a Constituição Federal

Brasileira de 1988 que enfocam a mulher e a violência sobre o gênero;

Identificar as formas de violências preponderantes contra as mulheres nos

registros dos Boletins de Ocorrências das Delegacias Civis e Especializadas dos

municípios do Planalto Norte Catarinense desde 2009 a 2012;

- Analisar a organização dos espaços de atenção a as mulheres vitima de

violências e em situação de vulnerabilidade nos municípios do Planalto Norte

Catarinense, perante os dados de campo e as políticas públicas destinadas

ao problema da violência do gênero.

Como justificativa da realização da pesquisa, constatamos a distâncias

existentes entre as políticas públicas para o enfrentamento a violência contra as

mulheres propostas e as vigentes, nos espaços de atenção as vítimas de violências.

É notório que as políticas públicas para a promoção, proteção e empoderamento da

mulher em situação de vulnerabilidade ou vitima da violência doméstica e também

de outras formas de violência evoluíram em muitos aspectos. Mas é inegável

também que a implementação destas políticas ainda padece com muitos problemas,

dentre eles os agentes deste processo não estão preparados para implanta-las,

devido esta desestruturação as políticas de enfrentamento a violência contra as

mulheres tornam-se ineficientes e fragmentadas. Tudo isso se torna ainda mais

preocupante quando levamos em consideração as formas brutais de violência quais

as mulheres vêm sendo expostas na atualidade, dentre estas agressões físicas que

marcam seu corpo e até levam a morte, as violências psicologias marcam a sua vida

cotidiana e afetam as relações sociais.

Acresce-se esta problemática as dificuldades econômicas e sociais as quais

as mulheres estão inseridas, que estão intrinsecamente ligadas às regiões menos

desenvolvidas no país. Este panorama as políticas públicas sociais formuladas,

porém, não implantadas em sua totalidade, denotam a situação de abandono em

que as mulheres, vítimas das mais variadas formas de violência, encontram-se ainda

no século XI, diante destas discussões da sociedade civil para proteger as mulheres,

a violência continua em evidência.

Contudo, o impulso maior para a elaboração deste estudo é a fragilidade do

processo de implantação do Pacto de enfrentamento a violência contra mulher, bem

como o desconhecimento das características e das formas de violência às quais as

mulheres do Planalto Norte Catarinense estão sendo submetidas. Pela vivência da

Page 19: dissertação final jaqueline pdf

18

pesquisadora no cotidiano da assistência a saúde, os profissionais desconhecem a

rede de atenção a estas mulheres. Sendo assim, a relevância desse tema somada a

preocupação e comprometimento profissional, com a melhoria da assistência

integral a mulher, considerando as suas especificidades locais e a rede de atenção.

Como podemos ver, o estudo diz respeito não somente à uma área

especifica, mas sim abrange várias áreas que trabalham com a mulher vítima de

violência, como saúde, educação, assistência social e segurança. Portanto, este

estudo justifica-se pela necessidade de evidenciarmos o cenário da violência para

ampliarmos o conhecimento dos profissionais que acolhem estas mulheres. Para se

ampliar a rede de atenção à mulher entre outros aspectos relacionados com o bem

estar da população feminina.

Na primeira parte desta dissertação é apresentado o referencial teórico o qual

trata das violências no contesto geral, discutidas na sequência as violências de

gênero, as políticas públicas e seus desdobramentos. A segunda parte é composta

pela metodologia e discussão dos dados coletados e confrontados com o referencial

teórico. Na terceira parte da dissertação são apresentadas as considerações finais.

Esta dissertação é elaborada conforme a normalização da UnC.

Page 20: dissertação final jaqueline pdf

19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CARACTERÍSTICAS DA (AS) VIOLÊNCIA(S): DEFINIÇÕES E A QUESTÃO DE

GÊNERO

A violência de forma globalizada está presente em nosso cotidiano,

considerada uma situação social, que tem se mostrado frequente na

contemporaneidade. Desta forma, manifesta-se atualmente nas escolas, no trânsito,

nas ruas, contra a criança, contra a mulher e também idoso. É evidenciada nos mais

variados espaços, tanto público quanto privado afetando os grupos sociais. Para

Nascimento (2007), a violência ameaça a vida, altera a saúde, produz enfermidade

podendo levar a morte, ou como possibilidade próxima. Nas sociedades a violência

apresenta-se de forma banal e corriqueira na rotina diária da população brasileira,

configurando-se como um problema de saúde pública. O tema requer discussão

ampla, pois, nesse contexto estão todas as formas de violências que envolvem as

sociedades.

Diante deste, devemos também suas considerar representação no Brasil

pelas causas externas, as quais compreendem os acidentes e as violências. Estas

consideradas como a segunda causa de morte, descritas pela Organização Mundial

da Saúde (OMS) (2002), que aponta em estudos a notável tendência ao crescimento

dos índices das violências por causas externas. Contudo, os aspectos da violência

necessitam de conhecimentos básicos sobre sua magnitude, suas características e

impactos causados a população afetada. Na grande maioria, os dados

epidemiológicos não contemplam informações que levam a compreensão adequada

das violências, sendo necessário dados variados para mapear seus impactos. As

causas externas de morbimortalidade compreendem as lesões decorrentes de

acidentes e de violências como agressões, homicídios, suicídios, abuso físico,

sexuais e psicológicos, condições que implicam em desafio para as sociedades e

seus governantes, devido ao impacto nos anos vividos da população.

Nas populações as manifestações e distribuições das violências apresentam-

se de forma diferenciadas, segundo dados consolidados pela Organização Mundial

da Saúde (2000), as principais manifestações da violência podem ser ilustradas

pelos homicídios e suicídios.

Page 21: dissertação final jaqueline pdf

20

No cenário das violências a magnitude desse agravo é percebida

mundialmente. Segundo World Health Organization (WHO) (2010), as causas

externas são responsáveis por mais de 5 milhões de mortes em todo o mundo,

representando cerca de 9% da mortalidade mundial. Porém, a representação das

violências não afeta as populações de forma uniformizada. Em determinados grupos

populacionais mais vulneráveis as mortes por causas externas estão mais

presentes, sofrendo um impacto maior nos anos perdidos de vida. Como descreve

Dahlberg et al. (2006), as taxas de mortalidade por homicídio entre os homens são

três vezes mais altas do que entre as mulheres, com incidência mundial nos homens

de 15 a 29 anos, seguidos de perto por homens de 30 a 44 anos.

Em todo o mundo, os suicídios são responsáveis pelos anos perdidos de vida

cerca de 820 mil pessoas em 2000. Mais de 60% de todos os suicídios ocorreram

entre homens, e mais da metade na faixa etária de 15 a 44 anos. Tanto para

homens quanto para mulheres, as taxas de suicídio aumentam com a idade e são as

mais altas entre os indivíduos com 60 anos. Segundo dados informados e copilados

pelo no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), em 2009 foram notificadas

1.103.088 mortes, das quais 12,5% foram decorrentes de causas externas,

denotando a terceira causa de morte no Brasil. Contudo a distribuição não se

apresenta uniforme nas regiões brasileira, no Norte, Nordeste e Centro Oeste

apresentam-se como a segunda causa, quarta, na Região Sudeste, e a terceira, na

Região Sul.

A violência de forma abrangente sofre influências de amplos fatores, deste os

o fator de vulnerabilidade, que para muitos autores torna-se apropriados para

descrever a situação das sociedades ditas pobres, ou em desenvolvimento, esta

afirmação se dá, devido à capacidade de apreensão da dinâmica dos fenômenos

que o conceito abstrai das relações sociais.

Segundo Castel (1997), define a vulnerabilidade social como uma zona

intermediária instável que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos

suportes de proximidade.

Quando a economia permanece estável as relações permanecem sólidas,

porém, bastam oscilações neste campo, dilatando assim, a zona de vulnerabilidade.

Os estudos que tomam como base a vulnerabilidade social, principalmente os que

se debruçam sobre a realidade dos países menos desenvolvidos, associam a zona

Page 22: dissertação final jaqueline pdf

21

de instabilidade frente à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção

social.

Desta forma, a vulnerabilidade social no mundo da violência do gênero

feminino, é ressaltada pelo amplo conceito que a vulnerabilidade proporciona para

entendimento dos eventos que vulnerabilizam as pessoas. A vulnerabilidade não é

definida somente por determinantes de natureza econômica, são considerados

também fatores como; a fragilização dos vínculos afetivos, as discriminações sociais

e seu vinculo com a violência, relações territoriais e políticas dentre outros.

Situações estas que afetam as pessoas. Segundo Oliveira (1995) as situações de

vulnerabilidade podem ser geradas pela sociedade e podem ser originárias das

formas como as pessoas lidam com as perdas, os conflitos, a morte, a separação, as

rupturas.

As dimensões da vulnerabilidade social, que incidem sobre a violência do

gênero feminino, são expressas por Katzman (2001, p.173):

As situações de vulnerabilidade social devem ser analisadas a partir da existência ou não, por parte dos indivíduos ou das famílias, de ativos disponíveis e capazes de enfrentar determinadas situações de risco. Logo, a vulnerabilidade de um indivíduo, família ou grupos sociais refere-se à maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem estar, ou seja, a posse ou controle de ativos que constituem os recursos requeridos para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade. Estes ativos estariam assim ordenados: (i) físicos, que envolveriam todos os meios essenciais para a busca de bem estar. Estes poderiam ainda ser divididos em capital físico propriamente dito (terra, animais, máquinas, moradia, bens duráveis relevantes para a reprodução social); ou capital financeiro, cujas características seriam a alta liquidez e multifuncionalidade, envolvendo poupança e crédito, além de formas de seguro e proteção; humanos, que incluiriam o trabalho como ativo principal e o valor agregado ao mesmo pelos investimentos em saúde e educação, os quais implicariam em maior ou menor capacidade física para o trabalho, qualificação etc; sociais, que incluiriam as redes de reciprocidade, confiança, contatos e acesso à informação. Assim, a condição de vulnerabilidade deveria considerar a situação das pessoas a partir dos seguintes elementos: a inserção e estabilidade no mercado de trabalho; a debilidade de suas relações sociais e, por fim, o grau de regularidade e de qualidade de acesso aos serviços públicos ou outras formas de proteção social.

Entretanto, como já foi explicito anteriormente vulnerabilidade não é o mesmo

que pobreza. Em alguns casos a vulnerabilidade está inclusa na pobreza, o grupo

social vulnerabilizado transcende as condições de empobrecido. Conforme tal

definição, determinados grupos estão expostos a maior ou menor perigo social, que

neste caso, se expressam e se encontram nas dimensões das mulheres, assim

Page 23: dissertação final jaqueline pdf

22

como na sociedade e em situações de violencia do gênero. A vulnerabilização

quando associada às condições expressas das posições que as mulheres ocupam

na sociedade atualmente, instituem-se de forma a expressar às especificidades do

seu contexto cotidiano. No caso, as relações baseadas nas desigualdades do

gênero, nas dificuldades enfrentas pelas mulheres pela subordinação econômica ao

marido, na chefia familiar, no trabalho, na vida pessoal, na vida sexual e reprodutiva

da familia ou na politica.

Tendo em vista, os atores envolvidos, e as condições de vulnerabilidade

social, indicadores denotam os riscos da vulnerabilidade para violência intrafamiliar.

Segundo Sagot (2006), a violência que ocorre no contexto familiar, ou seja, a

violência intrafamiliar, representa um problema de grandes dimensões, produto de

uma organização social estruturada com base na desigualdade de gênero e idade.

Afetam especialmente mulheres, meninos e meninas. Na maioria dos casos, essa

exercida por homens contra as mulheres, sejam elas crianças ou adultas, mas numa

relação de poder entre o mais forte e o mais fraco. Desta forma, a identificação de

diferentes situações de vulnerabilidade social, devem levar em conta os indivíduos,

famílias e comunidades. Assim, a vulnerabilidade social decorre de fenômenos

diversos, com causas e consequências distintas dos riscos sociais que atingem os

vários segmentos populacionais, no caso as condições que predispõem as mulheres

a estarem vulneráveis ás violências. Como afirma Strey (2001, p. 48):

A violência contra a mulher é também chamada de violência de gênero e embora possa incidir sobre homens é entendida quase como sinônimo de violência contra a mulher, seja ela doméstica ou familiar. As mulheres são maciçamente as maiores vítimas da violência de gênero, sendo que esta não conhece fronteiras, nem de classe, nem de nível de industrialização de uma região ou país, nem do tipo de cultura ou grupo étnico, constituindo-se ‘no mais democrático de todos os fenômenos sociais’.

Dessa forma, para podermos entender como a vulnerabilidade social incide

sobre a violência contra as mulheres, torna-se pertinente elencar os principais

indicadores que denotam vulnerabilidade social das famílias. Nesse contexto, é

necessário observar a constituição familiar, dinâmica das relações familiares,

estrutura econômica, nível de escolarização, aspectos de saúde da família,

caracterização do domicílio, antecedentes criminais de algum membro do grupo

familiar, existência de violência familiar, mendicância, prostituição entre outros que

corroboram para a perpetuação das barbáries infringidas as mulheres. Contudo,

Page 24: dissertação final jaqueline pdf

23

ressaltamos que o olhar feminino diferencia-se do masculino na configuração das

relações sociais, construídas numa aprendizagem elaborada ao longo da história da

humanidade. Estas relações são advindas do interior dos grupos, mediadas por

conflitos sociais, identificando relações desiguais de poder no espaço das relações

familiares. Nesta perspectiva, evidencia-se a dificuldade dos grupos sociais em

desenvolver habilidades para trabalhar com tais contextos sociais na dinâmica das

relações humanas. Dantas et al. (2005), descreve que devido a uma ordem social de

tradição patriarcal por muito tempo se consentiu um certo padrão de violência contra

as mulheres, designando ao homem o papel ativo na relação social e sexual entre

os sexos. Ao mesmo tempo se restringiu à mulher e a ela, coube a passividade e

reprodução, construções sociais que ancoraram condições de representação destas

mulheres no convívio social.

Ao focarmos a interface das desigualdades sociais que afetam as relações de

gênero, corroborando para a violência, depara-mo-nos com amplas implicações

relacionadas ao fenômeno. Devemos considerar neste contexto, que a maioria da

vitimas permanecem coagidas a manterem relacionamentos baseados na

dependência financeira, social e emocional. Isto favorece para eventos cíclicos

mantenedores de violência. Segundo Zuma (2005), a violência pode ser dividida em

três categorias: violência autoinfligida, violência interpessoal e violência coletiva.

Cada uma delas contem subtipos. A violência que ocorre nas relações familiares é

um subtipo da violência interpessoal e, por sua vez, é dividida em violência entre

parceiros íntimos, condição esta denominada de violência doméstica.

Para tanto, no âmbito da denominação da violência do gênero feminino, há

cerca de três décadas, vem sendo estudada a violência intrafamiliar, no Brasil, qual

é descrita como forma de violência cometida pela família ou responsável. Tanto pela

magnitude, como pelas repercussões do problema, há uma alta prevalência de

violência contra mulheres, na violência intrafamiliar com consequências para a

saúde, conforme a literatura. Heise (1994), aponta índices que variam de 25 a 30%

de mulheres acima de 15 anos que na vida adulta experimentaram pelo menos um

episódio de violência física, em países como os Estados Unidos ou Canadá, até

índices de 75%, como na índia. Também conforme a literatura tal violência mostra-

se sobretudo como evento das relações de gênero. Assim, complexo fenômeno

presente na violência social, é norteado por fatores que corroboram para seu

crescimento e, alguns grupos ditos vulneráveis, como as mulheres são acometidas

Page 25: dissertação final jaqueline pdf

24

de forma brutal pela violência. Esta situação, expressa nos índices de violência

pelos quais, as sociedades tornam-se vulneráveis na atualidade, contribuindo para

elevar os índices de violência contra a mulher nas sociedades em desenvolvimento.

Diante da forte presença da violência, toda a forma de violência deve ser

estudada, em suas inúmeras manifestações e as populações afetadas. Segundo a

Organização Mundial da Saúde, a violência é entendida na sua forma mais ampla

como; ameaça, pela utilização intencional da força física e/ou da força psíquica, que

pode ser usada contra si mesmo, contra outros ou contra um grupo ou uma

comunidade; que ameaça ou coloca fortemente em risco de um traumatismo, ou de

prejuízo para as suas funções psicológicas.

Segundo Monteiro (2004), a violência nega valores considerados universais,

tais como liberdade, igualdade e a própria vida, reduzindo o exercício da cidadania

de quem a ela é submetida e, principalmente, o gozo da liberdade. A violência é

também uma ameaça permanente à vida dos seres humanos, por constituir-se em

constante alusão à morte, pela magnitude dos atos, pela crueldade do agressor e

pela passividade e silêncio do agredido.

Para efetivação deste estudo discutiremos as questões de violência que

afetam o gênero feminino. Assim, o entendimento quanto a gênero se faz pertinente.

Segundo Farah (2002), o termo gênero foi incorporado pelo feminismo, devido à

produção científica que começava a descrever as situações que as mulheres

vivenciaram durante a evolução das sociedades. Desde então gênero recebe várias

interpelações influenciadas pela corrente feminista. Carvalho (1998) enfatiza que a

definição de gênero, segue a proposta da corrente feminista da diferença,

referenciada como qualquer diferença entre homens e mulheres. Estas são

aceitáveis somente diante das questões biológicas sexuais e não as diferenças

impostas pela sociedade, as quais durante sua conformação contribuíram para

enfatizar diferenças entre ambos os sexos, de ordem cultural.

Desta forma, as questões das diferenças entre homens e mulheres

estabelecem relações entre os polos masculino e feminino, produção versus

reprodução. Nas reflexões de Farah (2002), para o feminismo da diferença, as

condições do gênero concentram-se na esfera pública, devido à origem histórica da

subordinação da mulher na sociedade. Também se destacam as questões de

caráter histórico das diferenças de gênero advindo da própria construção social da

percepção da diferença sexual. As diferenças permeiam, os atributos e os papéis de

Page 26: dissertação final jaqueline pdf

25

gênero favorecem o homem em detrenimento da mulher, legitimando as relações de

poder entre ambos os sexos.

Devemos levar em consideração ao discutirmos gênero, as referências ao

conceito difundido pelas ciências sociais, para explicar a evolução histórica das

identidades, masculina e feminina. Segundo Salzsman (1992), os discursos

justificam a hierarquização dos homens no termo masculino e das mulheres no

termo feminino qualificação essa, adotado nas sociedades, cada qual conforme a

sua cultura, resultando nas diferenças sociais. São sistemas de crenças que

especificam as características de cada sexo e, a partir destas, determinam os

direitos, os espaços, as atividades e as condutas próprias de cada. Tais

considerações, que envolvem gênero enfatizam as relações sociais entre os sexos,

efetivando das desigualdades entre homens e mulheres.

Para tanto, o conceito de gênero é amplo e interfere no cotidiano feminino.

Suas nuances advém das relações entre homens e mulheres. A discussão desta

questão é norteado por peculiaridades, resultante das relações históricas sociais,

sobre qual a sociedade atua e corrobora para sua conceituação, conforme a

ideologia daquela sociedade. Para Saffiotti:

O gênero está longe de ser um conceito neutro. Pelo contrário, ele ‘carrega uma dose apreciável de ideologia’, justamente a ideologia patriarcal, que cobre uma estrutura de poder desigual entre mulher e homens. Porque o conceito de gênero, na sua visão, não atacaria o coração da engrenagem de exploração-dominação, alimentando-a (SAFFIOTI, 2004, p. 136).

Neste sentido, a representação do gênero feminino denota uma categoria

social, que historicamente vem tomando interpretação do caráter relacional do

gênero com a sociedade. Então, as discussões sobre gênero perpetuadas

atualmente, são resultantes das mobilizações dos grupos socias, incentivadas

também pela violência contra o gênero feminino. Esta advém das relações humanas

e suas incursões na conformação política e histórica das sociedades. É favorecida,

devido à cultuação dos traços atribuídos a homens e mulheres, que são percebidos

como produto da sociedade e suas influências culturais. Para Blay (2003), a

violência de gênero é um problema mundial e antigo, a violação dos corpos

femininos são fatos que vem acontecendo ao longo da história das relações entre as

mulheres e a sociedade.

Page 27: dissertação final jaqueline pdf

26

As menções à violência de gênero vêem sendo percebidas diariamente nos

noticiários, perpassando as reflexões das sociedades para determinar os fatores

condicionantes desta situação. Saffioti (2004), realiza sobreposições ao tema,

conceitua as especificidades de cada fenômeno para designar a violência.

Caracteriza a violência e os contextos em que ocorrem, principalmente, as formas de

violência contra o gênero feminino.

No que tange ao significado da violência e todas as consequências que surgem da ocorrência deste fenômeno, na sociedade patriarcal em que vivemos, existe uma forte banalização da violência de forma que há uma tolerância e até certo incentivo da sociedade para que os homens possam exercer sua virilidade baseada na força/dominação com fulcro na organização social de gênero. Dessa forma, é ‘normal e natural que os homens maltratem suas mulheres, assim como que pais e mães maltratem seus filhos, ratificando, deste modo, a pedagogia da violência’ (SAFFIOTTI, 2004, p. 74).

A violência de gênero constituiu-se em negação dos direitos humanos, na

qual a mulher tornou-se vitima. Assim, violência contra a mulher recebe

denominação atualizada de violência de gênero, que contempla as diferentes formas

de agressões que as mulheres vivenciam na vida social e privada. Segundo a

Organização das Nações Unidas (ONU) (2006), a violência contra a mulher é

descrita como qualquer ato que tem por base o gênero, e que resulta ou pode

resultar em dano ou sofrimento de natureza física, psicológica ou sexual, inclusive

ameaças, coerção ou privação da liberdade, quer se produzam na vida pública ou

privada.

Portanto, como se percebe, a violência contra a mulher tem conformação

direta com as relações entre o direito e a cultura da inferioridade da mulher diante do

homem. Baseado nos modelos familiares vigentes durante a evolução da sociedade,

o modelo composto por pai, mãe e filhos com ligações consanguíneas, forma

tradicional de constituição das famílias, notadamente vigente por varias décadas na

sociedade brasileira, foi superado. Observa-se a reorganização do núcleo familiar,

construído por grau de parentesco ou afeto, assim, violência contra a mulher,

família, gênero e cultura são coisas indissociáveis.

A violência contra as mulheres assume diferença das outras formas de

violência, pois, a mesma é repressora e nem sempre se dá de forma evidente, e

frequentemente está no cotidiano das mulheres. Embutida e disfarçada pelo

pensamento dominante de que a mulher é propriedade do homem, a realidade da

Page 28: dissertação final jaqueline pdf

27

violência contra as mulheres é produto de uma cultura dominantemente masculina.

As formas variadas de violências a que este grupo está exposto, tem sofrido

modificações durante a evolução das sociedades, principalmente em

desenvolvimento, como a brasileira.

Quanto às formas de violência contra a mulher a Organização Panamericana

de Saúde (2007), descreve que a violência doméstica e familiar contra a mulher, é

um fenômeno que atinge inúmeras mulheres em todo o planeta. Destaca que é um

problema social que acontece em todo mundo, em todos os níveis sociais, sendo na

maioria dos casos práticado com certa frequência por homens conhecidos da vítima,

pelas mais variadas formas e intensidades, ocorrendo desde a violência psicológica,

sexual até a física, que em alguns casos leva a mulher à morte.

A violência doméstica é a forma mais ampla de violência, abrangendo

pessoas que vivem sob o mesmo teto, mas não necessariamente vinculadas pelo

parentesco. A Lei 11.340/2006, denominada como Maria da Penha, define a

violência familiar e doméstica em seu art. 5º, configurando como qualquer ação ou

omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou

psicológico e dano moral ou patrimonial. Que é registrada no âmbito da unidade

doméstica, no âmbito da família.

Desta forma, vários fatores permeiam a violência doméstica, dentre este a

condição de subordinação e maus tratos intrafamiliar, levam as situações de

violência que afeta um grupo expressivo de mulheres. A sociedade indiretamente

também se omite diante desta situação, contribuindo para que a mulheres

permaneçam escondidas, vivenciando a violência no âmbito das relações familiares.

Deixam espaços para que o homem por meio da força domine a mulher. Esta

situação acontece nos espaços privados, condicionante para denominação de

violência domestica.

Como descreve Nascimento (2002, p. 02):

As causas da violência doméstica contra a mulher estão relacionadas com as desigualdades entre homens e mulheres e com a hierarquia de gênero, onde o masculino domina o feminino o isolamento doméstico leva as mulheres ao desconhecimento de seus direitos, e isso se soma à violência social e a perda de valores éticos, como o respeito e a solidariedade. A violência praticada pelos homens contra as mulheres demonstra a intenção explícita de submeter à mulher às suas vontades, pois, a violência representa um abuso físico, psicológico e sexual, deixando marcas no corpo e na vida das mulheres. A violência física toma forma quando o homem esbofeteia, belisca, morde, dá socos e pontapés, espanca, maltrata,

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28

esfaqueia, alveja a tiros e até mesmo mata a mulher (NASCIMENTO, 2002, p. 02).

No Brasil a violência contra a mulher também contempla as relações entre

os sexos, o poder arraigado à cultura da violência sobre as mulheres. A violência

doméstica contra as mulheres vem se alastrando nas diferentes classes da

sociedade, realidade esta que não está expressa somente às mulheres que vivem

em situação de pobreza, evidência constante no cotidiano. A violência perpassa

ideologias, classes sociais, raças e etnias. Culturalmente esta situação afeta as

mulheres impedindo o seu desenvolvimento humano e restringindo sua participação

na sociedade.

A cultuação das relações familiares nas quais a sociedade descreve a

mulher que convive com o seu agressor, como sendo conivente com determinada

situação infracional s sobre seu corpo, porque gosta de apanhar. Este é um fato

culturalmente explicável, pois, em determinados momento históricos da humanidade

as mulheres receberam papéis distintos, diferenciando-as dos homens, trazendo

representações a estes sujeitos sociais e seus respectivos direitos. Estes adicionam

as mulheres toda uma carga de culpabilização pela violência, socialmente

disseminada. Se o homem cometeu tantos crimes durante a construção da

humanidade assim, o fez pelo bem da sociedade.

A Fundação Perseu Abramo1 (2001), com base numa amostra de 2.504

entrevistadas, estima que a cada 15 segundos uma mulher sofra agressão e que

mais de dois milhões de mulheres sejam espancadas anualmente no país, sendo

que uma em cada cinco brasileiras declarou já ter sofrido algum tipo de violência por

parte do público masculino. Em mais da metade (53%) dos casos a violência foi

praticada pelo marido ou companheiro da vítima e em 70% incluiu além do esposo e

namorados outros homens com quem a mulher já havia mantido relações de afeto.

A violência contra as mulheres passa identificada na legislação e

posteriormente julgada, assim, a violência contra a mulher prevista na Lei

11.340/2006, estabelece as formas de violência doméstica contra a mulher como

física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Segundo Krantz et al (2005), a

violência física caracteriza-se pelos atos infligidos intencionalmente, como chutes,

mordidas, bofetadas, espancamentos, ou até mesmo estrangulamentos. Lesões que

1 Instituto de Pesquisa Fundação Perseu Abramo (FPA). Fundado em 1996, pelo Partido dos

Trabalhadores. Desenvolve projetos de caráter político cultural.

Page 30: dissertação final jaqueline pdf

29

podem ser dissimulada como acidentes corriqueiros causando ocasionalmente

lesões graves levando ao óbito.

A violência psicológica segundo a Lei Mara da Penha (2006), caracterizada

por condutas aplicadas com o objetivo de desconstruir a identidade da vitima,

atribulando a saúde. O ato de violência neste caso é expresso na utilização da

manipulação e formas de ameaças. Quanto o entendimento de violência sexual, esta

descrito na literatura ação que ocorre o controle e a subordinação da sexualidade da

mulher. Estatisticamente esta forma de violência é descrita como a mais comum e

mulheres do mundo inteiro sofrem por conta deste ato, que na maioria das vezes é

perpetrada pelo próprio parceiro intimo, não descaracterizando a participação por

outros agressores. Esta modalidade de violência não é contida na legislação, sendo

incorporada nesse conceito de violência desde a Convenção Interamericana para

Prevenir e Punir e Erradicar a violência Doméstica, tal violência não necessita estar

comprovada mediante laudos, ficando a critério do Juiz o entendimento do contexto

e posterior julgamento.

Outra forma de violência é a sexual descrita no artigo 7º inciso III da Lei

11.140/2006, como constrangimento como propósito de limitar a autodeterminação

sexual e reprodutiva da vitima, inclusive a obrigá-la à prostituição, impedindo a

mulher de usar métodos anticoncepcionais, tanto pode ocorrer mediante violência

física como por meio de grave ameaça (violência psicológica). Segundo Rotania et

al. (2003), a violência sexual de forma ampla, classifica-se por atos variados desde

estupro até mesmo atentado violento ao pudor.

Assim a ocorrência da violência sexual, fica caracterizada como qualquer

conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de relação

sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a

induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade; que a

impeça de usar qualquer método contraceptivo; que a force ao matrimonio, à

gravidez, ao aborto ou à prostituição mediante coação, chantagem, suborno ou

manipulação ou ainda; que a limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e

reprodutivos.

O avanço em considerar a ocorrência de violência sexual no âmbito

intrafamiliar foi alvo de resistência entre os legisladores, está conquista na legislação

pretende estimular a autonomia da mulher em relação ao seu corpo. Esta foi inserida

Page 31: dissertação final jaqueline pdf

30

na legislação considerando também que esta forma de violência não acontece de

forma isolada e consuma com outros tipos de violência.

Seguindo a descrição das formas de violência podemos referenciar a

violência patrimonial, no artigo 7º inciso IV da Lei Maria da Penha, classificada como

qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de

seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e

direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades.

A última forma prevista pelo legislador artigo 7º inciso V da Lei Maria da

Penha, porém não menos relevante, a violência moral é entendida como qualquer

conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. A calúnia, segundo Greco

(2010), é o mais grave de todos os crimes contra a honra previstos pelo vigente

Código Penal Brasileiro (1940), ocorrendo com o ato de imputar falsamente a

alguém fato definido como crime. Por outro lado, a difamação se caracteriza com a

imputação de fato ofensiva à reputação de outrem. Já a injúria se dá com ofensa da

dignidade ou decoro da vítima. Então se entende como crime; a calúnia, a

difamação ou injuria e normalmente acontece concomitante à violência psicológica.

As demonstrações destas formas de violência estão descritas em pesquisa

realizada pelo instituto Avon/Ipsos (2011), que descrevem os tipos de agressão mais

comuns no Brasil. À mulher esta exposta a vários tipos de violência, além da

violência física e podemos observar a psicológica em evidência. Diante da realidade

brasileira retratada, observa-se a evidência dos tipos prevalentes das agressões

sofridas pelas mulheres. No quadro abaixo segue as formas mais evidentes de

agressões.

Tabela 1 – Tipos de agressões mais comuns no Brasil VIOLÊNCIA FÍSICA 80%

Agressão física/soco/chute/porrada do companheiro / marido / parente 77%

Agressão que pode até causar a morte da esposa / matar 3% VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA 62%

Agressões verbais/xingamento/gritos do companheiro/marido/parente 41%

Humilhar a companheira/esposa/ Falta de respeito do companheiro/marido 11%

Agressão psicológica/atingir a autoestima da companheira/esposa 5%

Ciúmes/desconfiança exagerada do companheiro/esposo 4%

Companheiro ameaçar a companheira se o deixar/denunciar 3%

Companheiro prender a esposa em casa/proibir de sair de casa/tirar a liberdade 3%

Ameaçar a companheira com arma/de morte 2%

Page 32: dissertação final jaqueline pdf

31

Abuso de autoridade/tratar a esposa como escrava 2%

VIOLÊNCIA MORAL 6%

Constranger/xingar a companheira em público 4%

Difamar/caluniar a esposa/companheira/mulher 2%

VIOLENCIA SEXUAL 6%

A mulher ser obrigada a fazer sexo/estuprada 6%

Fonte: Pesquisa Instituto Avon/Ipsos Percepções sobre a Violência Doméstica Contra a Mulher no Brasil (2011).

Quanto a percepção ou entendimento das mulheres em relação a atos

violentos, a pesquisa da Avon/Ipsos (2011), com o tema a Percepções sobre a

Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, em que 1,8 mil pessoas de cinco

regiões brasileiras foram entrevistadas, mostram que 27% das mulheres

entrevistadas declaram ter sofrido agressões graves. Como segue no quadro abaixo,

os motivos pelos quais a violência contra o gênero foi gerada, são derivados dos

relacionamentos humanos, denotando a idéia do poder mantenedor do homem

sobre a mulher e, também fatores que se enquadram nas questões de

vulnerabilidade social.

Tabela 2 – Mulheres agredidas por motivo declarado no Brasil.

Motivos % Ciúmes 48

Bebidas/Alcoolismo 43

Falta de Respeito 25

Desconfiança 20

Traição 20

Desentendimento 19 Problemas econômicos/financeiros 18

Desequilíbrio Emocional 18

Fonte: Pesquisa Instituto Avon/Ipsos Percepções sobre a Violência Doméstica Contra a Mulher no Brasil (2011).

Outro ponto interessante da pesquisa sobre a percepção sobre a Violência

Contra a Mulher no Brasil (2011), está na identificação dos diversos tipos de

violência as quais a mulher está exposta. A mais evidente é a violência física em

80% dos casos. Não obstante, está à violência psicológica em 79% dos casos,

anteriormente não tematizada, denotando a capacidade dos sujeitos em identificar e

expressar situações que os colocam em situação de vulnerabilidade. Richardson et

al, (2002), pontua que a violência emocional refere-se a eventos psicológicos

agressivos contínuos na vida da mulher. Geralmente são abusos que propiciam a

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32

depreciação da autoestima e bem estar da vítima, afetando sua vida e seus

relacionamentos sociais. Qualquer situação de controle sobre a mulher que a

coloque emocionalmente vulnerável ao cônjuge, caracteriza-se como violência

emocional.

Para tanto, estas formas de violência repercutem em termos de condição de

saúde das mulheres. Para Filho (1999), nos últimos anos a violência passou a ser

considerada como um problema de saúde pública. O interesse da área da saúde

deve-se, sobretudo, aos efeitos nas condições gerais de saúde e bem estar

populacional. Porém, Schraiber et al (1999), afirmam ainda haver dificuldades para

se reconhecer a real magnitude do fenômeno. Segundo as autoras, os entraves

devem-se em função da carência de políticas públicas de intervenção, práticas

sociais eficazes e estudos que enfoquem a complexidade das interações do

fenômeno buscando seus determinantes e suas consequências. Minayo et al.

(1999), pontua que no Brasil, o tema insere-se como parte da agenda da saúde

pública principalmente a partir da década de 1980, tendendo a se consolidar no final

dos anos 1990.

Portanto, a subnotificação das violências contra as mulheres nos serviços de

saúde, geram dados imprecisos quanto à magnitude da problemática da violência.

Pois, há evidências na associação dos problemas de saúde e violência contra a

mulher, quando os dados não são coletados e copilados de forma fidedigna geram

estimativas imprecisas das complicações físicas e psicológicas, diante da

importância da problemática para a saúde pública.

Para conceitualizarmos o panorama e as complexidades da evolução da

violência contra as mulheres e suas nuances que evolvem a complexa relação do

gênero feminino, tomamos como base estudo realizado pelo Instituto Sangari2

(2012), a qual aponta para novas preocupações. Os dados apontam para as taxas

dos homicídios femininos, quais permanecem em evidência entre os anos de 1980 a

2010, período estudado naquela pesquisa. Denotando a importância dos estudos

relacionados às violências sofridas pelas mulheres para saúde pública. Dados estes,

que contribuem para elaboração e aplicação de políticas públicas efetivas e

direcionadas para o atendimento das mulheres vitimas de violências.

2 Instituto Sangari de pesquisa, fundado em 2003 pela empresa Sangari Brasil. Integra o grupo

internacional, presente em 17 países e desenvolve soluções para Ensino em Ciências.

Page 34: dissertação final jaqueline pdf

33

Pela análise dos dados que compõem o gráfico 1, pesquisa realizada pelo

Instituto Sangari (2012), fica evidente o crescente aumento no período de 1980 a

1995. Neste período se percebe a duplicação dos homicídios femininos de 2,3 para

4,6 homicídios para cada 100 mil mulheres. As taxas permanecem estáveis até

2006, apresentando tendência de queda, em torno de 4,2 homicídios para cada 100

mil mulheres. Leve decréscimo no primeiro período de vigência efetiva da lei Maria

da Penha, possibilitando leve decréscimo nas as taxas em 2007, e posterior

aumento no ano de 2010.

Gráfico 1 : Taxas de homicídios femininos no Brasil entre 1980/2010

Fonte: Mapa da Violência/MJ/Instituto Sangari 2012.

O cenário nacional descreve um pouco da situação da violência a qual as

mulheres brasileiras estão expostas. Porém, o território estudado está localizado

espaçialmente no Estado de Santa Catarina. Este é um pequeno recorte do espaço

geográfico pertencente às vite e sete unidades federativas do Brasil.

Assim, apresentamos a situação de Santa Catarina em relação à violência

contra as mulheres em breve apanhado. A conformação favorável do espaço social,

econômico e geografico de Santa Catarina, não confere situação favoravel a

violência no gênero feminino.

Estatisticamente o Estado de Santa Catarina ocupa a 23a colocação em

relação aos Estados brasileiros, em relação a violência que acomentem as mulhres

nos Estado. O estudo foi realizado pelo Instituto Sangari (2012), o qual apresenta

Page 35: dissertação final jaqueline pdf

34

taxas de 3,6 homicídios femininos, baseado nos indicadores de 2010. Considerando

que a média de homicídios femininos no Brasil está em torno de 4,92%, Santa

Catarina encontra-se no grupo dos Estados que apresentam taxas de acréscimo em

28,57%, nos homicídios femininos. Dados comparados de 2008 com 2010 mostram

que em 2 anos, houve um aumento da taxa de homicídios femininos em mais de

10%. Condição está que contribui para a permanência do Estado em posição não

confortável diante dos Estados brasileiros. Segundo Sagot et al (2000), os

homicídios decorrentes de conflitos de gênero feminino têm sido denominados

femicídios, termo de cunho político e legal para se referir a esse tipo de morte.

Para Carcedo et al (2000), o termo femicídio foi usado pela primeira vez em

tribunal de direitos humanos, para caracterizar qualquer manifestação ou exercício

de relações desiguais de poder entre homens e mulheres que culmina com a morte

de uma ou várias mulheres pela própria condição de ser mulher. Esse tipo de crime

pode ocorrer em diversas situações, incluindo mortes perpetradas por parceiro

íntimo com ou sem violência sexual, crimes seriais, violência sexual seguida de

morte, femicídios associados ou relacionados à morte ou extermínio de outra

pessoa.

Neste contexto a pobreza das famílias, a disparidade de idade entre os

cônjuges e a situação marital não formalizada, são exemplos de condições

favoráveis para violência. Segundo Dantas (2004), em vários países, um terço das

mulheres tentava obter a separação ao serem assassinadas, especialmente nos três

meses que antecederam o crime, e possuíam histórias repetidas de violência e

agressões. As condições para os eventos de femicídios têm forte ligação com as

situações de desigualdade e discriminação de gênero.

O padrão do femicídio que se repete na maioria dos países indica que as

mulheres possuem risco muito maior que os homens de serem mortas pelo parceiro

íntimo e que esse risco aumenta quando existem desavenças entre o casal. Para

tanto, podemos observar pelos dados à condição da violência. Nestes casos os

homicídios femininos em Santa Catarina em relação aos Estados brasileiro, podem

ser visualizados na tabela 3, a qual descreve a situação de Santa Catarina em

relação aos femicídios (tomado como femicídio os homicídios relacionados aos

conflitos de gênero feminino) no Estado.

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35

Tabela 3: Homicídios femininos por unidade federativa do Brasil 2008/2010 UF TAXA % POSIÇÃO

Espírito Santo 9,4 10

Alagoas 8,3 20

Paraná 6,3 30

Paraíba 6,0 40

Mato Grosso do Sul 6,0 50

Pará 6,0 60

Distrito Federal 5,8 70

Bahia 5,6 80

Mato Grosso 5,5 90

Pernambuco 5,4 100

Tocantins 5,1 110

Goiás 5,1 12

Roraima 5,0 130

Rondônia 4,6 140

Amapá 4,6 150

Acre 4,7 160

Sergipe 4,2 170

Rio Grande do Sul 4,1 180

Minas Gerais 3,9 190

Rio Grande do Norte 3,8 200

Ceara 3,7 210

Amazonas 3,7 220

Santa Catarina 3 3,6 230

Maranhão 3,4 240

Rio de janeiro 3,2 250

São Paulo 3,1 260

Piauí 2,6 270

Fonte: Mapa da Violência/MJ/Instituto Sangari (2012).

A situação que coloca Santa Catarina em 23º em relação aos outros Estados,

esta atribuída ao aumento no número de homicídios femininos no Estado. Condição

3 A tabela acima permite verificar a grande heterogeneidade existente entre os estados do país.

Relacionados às suas taxas de homicídio feminino por 100 mil mulheres por UF.

Page 37: dissertação final jaqueline pdf

36

atrelada aos dados da tabela 4, que demonstra o acréscimo nos números dos

homicídios de mulheres no Estado, estes dados foram obtidos por meio da pesquisa

realizada pelo Instituto Sangari (2012), demonstra que entre 2008 a 2010 aumento

neste período nos índices de 2,8% para 3,6% nas taxas de homicídios de mulheres

no Estado.

Tabela 4: Evolução dos homicídios femininos por Estado entre 2008/2010 UF 2008 2010 %

Acre 4,1 4,7 4,63%

Alagoas 5,2 8,3 59,62%

Amapá 4,3 4,8 11,63%

Amazonas 3,8 3,7 -2,63%

Bahia l 4,2 5,6 33,33%

Ceará 2,7 3,7 37,74%

Distrito Federal 5,4 5,8 7,41%

Espírito Santo 10,9 9,4 -13,76%

Goiás 5,5 5,1 -7,27%

Mato Grosso do Sul 5 6 20,00%

Maranhão 2,6 3,4 30,77%

Mato Grosso 5,8 5,5 - 5,17%

Minas Gerais 3,7 3,9 5,41%

Pará 4,5 6 33,33%

Paraíba 4,4 6 36,36%

Paraná 5,7 6,3 10,53%

Pernambuco 6,6 5,4 -18,18%

Piauí 2,5 2,6 4,00%

Rio de Janeiro 4,5 3,2 -28,89%

Rio Grande do Norte 3,8 3,8 0,0%

Rio Grande do Sul 3,9 4,1 5,13%

Rondônia 5,3 4,8 -9,43%

Roraima 7,7 5 -35,06%

Santa Catarina 2,8 3,6 28,57%

São Paulo 3,2 3,1 -3,13%

Sergipe 3,4 4,2 23,53%

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37

Tocantins 3,3 5,1 54,55%

Médias entre os anos 2008/20 10 4,62 4,92 10,82%

Fonte: Mapa da Violência/MJ/Instituto Sangari (2012).

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS

A sociedade é formada por um conjunto de indivíduos que contribuem para

modificação das condições sociais individuais e coletivas, dotados de recursos e

poder diferenciado. Dentre as diferentes comunidades a principal característica das

sociedades é a diferenciação social, pois, cada membro possui atributos

diferenciados, também possuem valores diferenciados e, desempenham papeis

diferentes no decorrer de sua existência.

Segundo Rua (1998), a sociedade é diferenciada por interesses, estes devido

a sua valoração podem resultar em necessidades materiais ou em ideais. Podem

confirmar-se de forma objetiva e subjetivas e destes resultar em ações conjuntas

para o bem comum. As diferenças fazem com que a vida em sociedade seja

complexa e ao mesmo tempo potencialmente, formada por inúmeras modalidades

de cooperação e potenciais conflitos. Desta forma a cooperação é norteada pela

capacidade de gerar ações conjuntas em beneficio de um grupo, contrapondo o

conflito que, também pode ser considerado como modalidade de interação social e,

envolve indivíduos e grupos organizando-se de forma coletiva.

Porém pode-se dizer que o conflito é próprio da vida coletiva, para que a

sociedade possa viver harmonicamente, esse conflito deve ter limites administráveis,

evitando-se assim o confronto. Para tanto, é necessário estabelecer consensos em

relação às regras e aos limites do bem-estar coletivo. Os consensos não ocorrem de

forma natural, nem são automáticos e sim precisam ser construídos. Para que

possamos administrar o conflito e os consensos serem estabelecidos pode-se

elaborar e aplicar as políticas públicas, como estratégia organizadora. Segundo Rua

(1998), a política pública corresponde à força do Estado para materializar o direito.

Como a força pode gerar situações em que a população venha a reagir e a coerção

pode ser desgastante para um grupo social a política pública seria a modalidade

adequada para organizar os grupos sociais. Então as sociedades recorrem às

possibilidades para construir consensos e controlar conflitos, na qual a política

Page 39: dissertação final jaqueline pdf

38

pública é uma das estratégias. Schmitter (1984), define de forma simples, que a

política pública, refere-se, a resolução pacífica dos conflitos em sociedade.

Devido o conceito do autor acima citado ser amplo é possível delimitar e

estabelecer segundo Rua (1998), que a política pública consiste em procedimentos

formais e informais que expressarem relações de poder e que se destinam à

resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos. Desta forma devido o uso

diversificado do temo políticas públicas, o primeiro desafio que se apresenta para

estudo é a de esclarecer o conceito de políticas públicas, baseado na perspectiva da

ciência política. No sentido mais amplo, a população fora do meio acadêmico, refere-

se à política pública pensando no momento eleitoral, expressando a disputa entre

candidatos a um cargo público, fazendo promessas em termos de promoção do bem

estar da população, levando os indivíduos a creditarem nas promessas de melhora

política das condições sociais para sua região.

O marco político para a melhoria, qualificação e participação pública social no

processo de organização das políticas públicas foi a partir do processo de

democratização, iniciou-se uma movimentação social para estabelecer eficácia e

efetividade das ações governamentais, com a descentralização e a participação do

cidadão na formulação e implantação das políticas públicas.

Desta forma, a descentralização como um modelo e foco governamental,

incorpora a metodologia de redistribuição de poder, favorecendo a democratização

das relações entre o Estado e a sociedade, articula novos modelos decisórios,

destes originando os conselhos para controle e novos padrões de acesso a

sociedade civil na conformação das políticas públicas.

Segundo Farah (2001), está associada a essa nova construção a inclusão dos

atores sociais no processo de elaboração e execução de políticas públicas voltadas

para o interesse da sociedade e dos grupos da sociedade civil organizada. Somando

capacidades que ultrapassam a ação isolada do Estado, para resolução dos

conflitos de interesse público, envolvendo a sociedade civil e os cidadãos articulados

politicamente para a formulação de políticas pública.

Como descrito na Constituição Federal Brasileira (1988), o modelo de gestão

atual do Estado a sociedade civil organizada tem fundamental participação, na

construção das políticas públicas e, os grupos beneficiados atingem visibilidade

expressiva, chamando a atenção ao leque de atores envolvidos na atuação social,

no desenvolvimento e no controle social das políticas públicas. Embora todo o

Page 40: dissertação final jaqueline pdf

39

processo necessite de vários atores para que a política pública venha a contemplar

as necessidades do maior grupo populacional, o processo envolve atores racionais e

nem sempre o exercício da racionalidade, mediada por interesses e preferenciais

individuais, conduz as resultados desejados pela coletividade.

Desta forma, as sociedades são compostas por várias experiências culturais.

Destas advém a capacidade de desenvolvimento desses grupos. Para tal, a

constituição da democracia forma-se pela pluralidade de respostas que a sociedade

exige de seus governos para resolver seus gargalos. A vida democrática expressa o

encontro de varias problemáticas que a realidade denota. O Estado pode agir dando

espaço a respostas efetivas a problemática social, concretizando atos como a

realização de políticas públicas, centradas nas pessoas, entendendo essa como

protagonista e sujeito de direito do seu próprio desenvolvimento.

Para Samaya (2006), a política pública que tem a centralidade da pessoa em

toda a sua integralidade, como ponto de partida fundamental visará compartilhar

com a pessoa atendida as suas necessidades e o sentido da vida. Isso requer o

encontro e o diálogo com as pessoas atendidas e, conhecimento detalhado da sua

condição de vida, valores e cultura. Contudo, para a implementação das políticas

públicas centradas nas pessoas e que venham a combater a violência inferida a um

grupo especifico no caso, as mulheres, implica a coexistência de diferentes atores e

práticas sociais em contextos institucionais muito variados.

Assim, vários teóricos definem políticas públicas entre eles Mead (1995) que

define a política pública como campo no estudo da política que analisa o governo à

luz de grandes questões públicas. Para Lynn (1980), as políticas públicas é um

conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Dye (1984),

define a política pública como o que o governo escolhe fazer ou não fazer. As

definições de políticas públicas nos guiam para a observação de que elas surgem

das necessidades dos grupos sociais, porém a decisão de como serão implantada é

do governo e redefinidas pelo controle social.

A política pública e política social representam atuações do poder político

visando o bem estar da população. Behring et al (2008), evidenciam que a origem

das políticas públicas sociais está ligada à ascensão dos movimentos sociais e ao

capitalismo monopolista. Salientam esses autores, que em função da ideologia

neoliberal, estas políticas públicas são focalizadas, fragmentadas, centralizadas e

Page 41: dissertação final jaqueline pdf

40

privatizadas, cabendo ao Estado a responder apenas parte das demandas postas a

ele, como forma de amenizar as tensões sociais.

Diante do processo de formulação das políticas sociais, o fortalecimento dos

grupos ditos vulneráveis torna-se evidente. Devido à evolução das medidas

protetivas e por meio de políticas públicas sociais empregadas no cenário brasileiro,

o combate à violência contra mulher. vincula-se aos direitos humanos que permeiam

as formulações das políticas públicas sociais, situação fundamental para a

existência pacifica entre todos os povos. Quanto os direitos humanos, Santos (2006,

p. 17) descreve que:

No século XX os direitos humanos emergiram, como uma necessidade humana fundamental, depois da segunda guerra mundial, no âmbito das relações internacionais entre os países. Naquele momento histórico da Guerra Fria, os direitos humanos assumiram seu caráter de universalidade com força normativa por meio da adoção e Proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelas Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. Esta magna declaração é hoje reconhecida pela comunidade internacional e esta pautada na dignidade e na igualdade de todos os seres humanos.

A adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a que foi

complementada em 1966 pelo Pacto dos Direitos Civis e Políticos, pelo Pacto dos

Direitos Econômicos e Sociais, marcaram as coquistas no enfrentamento das

diferenças sociais, qual compreende como direitos humanos; os direitos civis,

políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais, e também os direitos dos povos,

Servem de modelo ético e normativo para a convivência humana, que direciona leis

a serem implementadas posteriormente.

Porém, apenas em 1988, os princípios da Declaração dos Direitos Humanos

(1948) foram incorporados e assumidos na Constituição. Após este importante

processo de organização para a proteção dos direitos humanos, os governos

adotaram novas práticas para dar conta das questões humanas. No Brasil, está

Declaração refletiu na formulação dos Direito da Nação Brasileira, previstas na

Constituição Brasileira Federal de 1988, esta garante os direitos fundamentais nas

organizações sociais.

Deste modo, com a promulgação da Constituição Federal Brasileira (1988),

fica expresso e assegurado a todos os cidadãos o direito à vida, à liberdade, à

igualdade, dentre outro direito humanos fundamentais. Diante dos direitos

fundamentais para assegurar a vida do cidadão brasileiro, estes garantidos pela

Page 42: dissertação final jaqueline pdf

41

Constituição Federal Brasileira, se faz a construção da cidadania e a

operacionalização efetiva dos direitos humanos, quais são possíveis somente,

quando passam pela existência de um Estado de direito, acompanhados de uma

cultura política moderna capaz de valorizar as sociedades civis organizadas.

Para tal, a transformação social está vinculada à construção e efetivação dos

diretos humanos e da cidadania, os sujeitos coletivos são seus protagonistas. No

contexto da evolução humana social e de direito, destacamos as conquistas sociais

das mulheres, fortalecidas à partir da Constituição Brasileira Federal (1988). As

mulheres construíram e fortaleceram seus direitos, garantidos por leis e com estas

foram percebidas como sujeito social transformador de sua história.

Segundo Gregori (2006), no Brasil, estes esforços iniciaram desde o período

da abertura democrática nos anos 1980. Os movimentos feministas assumiram o

protagonismo para as mudanças que repercutiram de forma significativa nas lutas

contra a violência de gênero, alcançados pelas esferas governamentais, as

legislações, as representação de governos e a sociedade civil.

Anteriormente à CFB (1988), a mobilização das mulheres já era evidente,

discutindo questões relacionadas ao direito ao voto e a educação. Segundo Santos

(2006), em meados de 1850, as organizações discutem e reivindicam o direito ao

voto e a educação para as mulheres. Nos anos 1930, as mulheres passam a ter

acesso a direitos humanos como, direito a voto e a ser votada, acesso a educação

em nível médio e superior. Na Constituição Federal de 1934, o movimento feminista

conseguiu a isonomia entre os sexos. Neste período surgem os direitos trabalhistas

femininos. Nos anos 1950 as mulheres lutam e conquistam os direitos civis, no

Código Civil Brasileiro de 1940.

No que tange aos direitos referentes à proteção social das mulheres, Laqueur

(2001), descreve que a Organização das Nações Unidas (ONU), iniciou seus

esforços contra a violência do gênero feminino, na década de 1950, estabelecendo a

Comissão de Status da Mulher que formulou entre os anos de 1949 e 1962, tratados

que afirmam expressamente os direitos iguais entre homens e mulheres, contidos e

na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Em 1979, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotaram a Convenção

para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW),

conhecida como a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Essa Convenção visou à

Page 43: dissertação final jaqueline pdf

42

promoção dos direitos da mulher na busca da igualdade de gênero, bem como, a

repressão de quaisquer discriminações.

Para tanto, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil de 5 de

outubro de 1988, que se deu por conta da mobilização do movimento feminista e

demais setores organizados das sociedades civis. Essa CFB foi uma conquista no

que tange aos direitos humanos das mulheres no Brasil. Declara que todos os

direitos e liberdades humanos devem ser aplicados igualmente a homens e

mulheres, sem distinção de qualquer natureza.

Para tanto, após a Constituição Federal Brasileira (1988), houve importante

evolução nas políticas públicas socias, a criação de políticas públicas para as

mulheres, traduzindo a mudança das condições de vida das mulheres. As políticas

públicas que sejam de promoção da igualdade e justiça social, implicou na

elaboração de inovações institucionais brasileiras na área de atenção a mulher, com

importante repercussão tanto no meio nacional como internacional.

A partir da CFB de 1988, a violência doméstica é reconhecida no seu Capitulo

VII, artigo 226, o Estado assegurará à assistência a família e de cada um dos que a

integram, elaborando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas

relações. Assim, a elaboração de políticas públicas para mulheres quais visavam à

redução, a proteção e empoderamento das mulheres, o Estado inícia o processo de

responsabilização no tratamento das questões que envolvem a violência de gênero.

Elaborando e implantando políticas públicas para o enfrentamento a violência contra

a mulher, como estratégias na luta contra a violência, buscando atender as

mulheres em suas mais diferentes necessidades como; a inserção ao mercado de

trabalho, resgate da autoestima, nas questões sociais.

No Brasil, é importante se destacar os compromissos no âmbito internacional

dos temas de eliminação das discriminações de gênero, tornou-se papel do Estado

fazê-los instrumentos de garantia da condição de cidadania das mulheres. As

políticas públicas para as mulheres tornaram-se evidentes com a reafirmação desse

conceitos, ações e recursos em que todos os ministérios e seus setores que

apontassem soluções para a problemática da violência contra a mulher. pela tabela

5, demonstramos os documentos que culminam em políticas públicas voltada as

mulheres, elaboradas e implementadas na sociedade para a melhorar a qualidade

de vida e estímulo a cidadania das mulheres após a Constituição Federal Brasileira

de 1988.

Page 44: dissertação final jaqueline pdf

43

Tabelas 5 – Documento e Políticas Públicas para as mulheres após a Constituição Federal Brasileira (1988).

Políticas Ano Lei nº. 8.009, de 20 de março de 1990 . Estabelece que o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

1990

Lei nº. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social e assegura entre outros direitos às beneficiárias da, o pagamento do salário-maternidade.

1991

Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991. Regulamenta os planos de benefícios da Previdência Social das mulheres, como a aposentadoria diferenciada e o salário-maternidade.

1991

Lei nº. 8.408, de 13 de fevereiro de 1992. Estabelece o prazo para a separação judicial e determina que a mulher, ao separar-se, volte a usar o nome de solteira, a menos que a alteração do nome acarrete sérios prejuízos. Dá nova redação aos dispositivos da Lei nº. 6.515, de 26.12.1977.

1992

Lei nº. 8.560, de 29 de dezembro de 1992 . Regulamenta a investigação de paternidade e a forma de reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento; de filhos com registro de nascimento apenas pela mãe e sobre a ação de investigação de paternidade, nesses casos.

1992

Comissão de Direitos Humanos 1992

Lei nº. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 . Dispõe sobre a regulamentação de dispositivos da Reforma Agrária e no Art. 19 assegura que o título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente de estado civil, com preferência aos chefes de família numerosa.

1993

Lei nº. 9.100, de 02 de outubro de 1995 . Estabelece normas para a realização das eleições municipais de 03.10.1996, e dá outras providências. No parágrafo 3º do Art. 11 estabelece a cota mínima de 20% das vagas de cada partido ou coligação para a candidatura de mulheres.

1995

Lei nº. 9.046, de 18 de maio de 1995 . Acrescenta parágrafos ao Art. 83 da Lei nº 7.210, de 11.07.84 (Lei de Execução Penal). Determina que os estabelecimentos penais destinados a mulheres sejam dotados de berçários, onde as condenadas possam amamentar seus filhos.

1995

Lei nº. 9.029, de 13 de abril de 1995 . Proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos de admissão ou de permanência da Relação Jurídica de Trabalho. A proibição inclui exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou estado de gravidez; indução ou instigação à esterilização, controle de maternidade etc. e determina penas para tais casos.

1995

Secretaria Nacional de Direitos Humanos no Ministério da Justiça 1996

Programa Nacional dos Direitos Humanos 1996

Delegacia de Proteção á Mulher 1996

Lei nº. 9.278, de 10 de maio de 1996 . Regulamenta o parágrafo 3º do Art. 226 da Constituição Federal, que considera como entidade familiar a união estável. Vetados os artigos 3º, 4º e 6º, que possibilitariam aos cônjuges registrarem contrato, regulamentando seus direitos e deveres.

1996

Estratégias de Igualdade 1997

Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres 1997

Lei nº. 9.799, de 26 de maio de 1999 . Insere na Consolidação das Leis do Trabalho regras sobre o acesso da mulher ao mercado de trabalho.

1999

Lei nº. 9.797, de 06 de maio de 1999 . Dispõe sobre a obrigatoriedade da cirurgia plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do Sistema Único de Saúde - SUS nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer.

1999

Lei nº. 9.601, de 21 de janeiro de 1998 . Estabelece no contrato temporário a fixação do prazo mínimo como três meses e estabelece que ele é prorrogável por dois anos.

1999

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44

Esse prazo mínimo e, além do mais a existência de um banco de horas contratuais, na maioria das vezes inviabiliza duas das “garantias” previstas neste mesmo instrumento: o gozo da licença gestante e a estabilidade provisória da gestante. Emenda Constitucional nº. 29. Disposições Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde, beneficiando o atendimento à mulher.

2000

Lei nº. 10.048, de 08 de novembro de 2000 . Garante tratamento especial aos portadores de deficiências, aos idosos, às gestantes, às lactantes e às pessoas portadoras de crianças de colo em repartições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos logradouros e banheiros públicos e transportes coletivos, estabelecendo penalidades aos infratores.

2000

Direitos Humanos e Violência Intrafamiliar 2001

Lei nº. 10.244, de 28 de junho de 2001 . Revoga o Art. 376 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943 e passa a permitir a realização de horas-extras por mulheres.

2001

Lei nº. 10.224, de 15 de maio de 2001 . O Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar acrescido do Art. 216- A (“Assédio Sexual”) no qual é estabelecida a pena de detenção de 1 a 2 anos para quem constranger outra pessoa com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou com ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função.

2001

Lei nº. 10.223, de 15 de maio de 2001 . Altera a Lei nº. 9.656, de 3 de junho de 1998, para dispor sobre a obrigatoriedade de cirurgia plástica reparadora de mama por planos e seguros privados de assistência à saúde nos casos de mutilação decorrente de tratamento de câncer.

2001

Programa de Prevenção, Assistência e Combate a violência contra a mulher. 2003

Decreto Legislativo nº. 270, de 14 de novembro de 2 002. Aprova o texto da Convenção Internacional nº. 171, da Organização Internacional do Trabalho, relativa ao trabalho noturno.

2002

Decreto nº. 4.228, de 13 de maio de 2002 . Institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa Nacional de Ações Afirmativas.

2002

Decreto nº. 4.316, de 30 de julho de 2002 . Aprova o texto do Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher.

2002

Lei nº. 10.516, de 11 de julho de 2002 . Institui a carteira nacional de saúde da mulher no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.

2002

Lei nº. 10.455, de 13 de maio de 2002 . Modifica o parágrafo único do Art. 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Exigindo fiança e impondo prisão em flagrante do agressor nos casos de violência doméstica.

2002

Lei nº. 10.421, de 15 de abril de 2002. Estende à mãe adotiva o direito à licença maternidade e ao salário-maternidade, alterando a Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991.

2002

Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 . Institui o Código Civil e dispõe sobre diversos interesses da mulher.

2002

Projeto Segurança Pública 2003 Decreto nº. 4.625, de 21 de março de 2003 . Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, órgão integrante da Presidência da República, e dá outras providências.

2003

Decreto nº . 4.773, de 07 de julho de 2003 . Dispõe sobre a composição, estruturação, competências e funcionamento do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, e dá outras providências.

2003

Emenda Constitucional nº. 41, de 19 de dezembro de 2003. Dispõe sobre diversos temas da Reforma da Previdência de interesse para a Mulher.

2003

Lei nº. 10.778, de 24 de novembro de 2003 . Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados.

2003

Lei nº. 10.745, de 09 de outubro de 2003 . Institui o ano de 2004 como o “Ano da Mulher” e determina que o Poder Público promoverá a divulgação e a comemoração

2003

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45

deste Ano mediante programas e atividades, com envolvimento da sociedade civil, visando estabelecer condições de igualdade e justiça na inserção da mulher na sociedade. Lei nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003 . Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e apresenta uma série de assuntos que interessam à mulher idosa.

2003

Lei nº. 10.714, de 13 de agosto de 2003 . Autoriza o poder executivo a colocar à disposição, em nível nacional, número telefônico destinado a atender denúncias de violência contra a mulher.

2003

Lei nº. 10.710, de 05 de agosto de 2003 . Altera a Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, para restabelecer o pagamento, pela empresa, do salário maternidade devido às seguradas empregada e trabalhadora avulsa gestante.

2003

Lei nº. 10.683, de 28 de maio de 2003 . Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, dentre outros da Secretaria Especial de Política para as Mulheres e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.

2003

Lei nº. 10.678, de 23 d e maio de 2003 . Cria como órgão de assessoramento imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

2003

Lei nº 10.778 Implanta a Notificação Compulsória das Violências Contra as Mulheres. 2003

Lei n º. 10.886, de 17 de junho de 2004 . Acrescenta parágrafos ao Art. 129 do Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal, criando o tipo especial denominado “Violência Doméstica”.

2004

Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 2004

Lei nº 11.340 Maria da Penha 2006

Pacto nacional pelo enfrentamento á violência contra mulher segundo recomendações do ministério da saúde.

2006

Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher. 2011

Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher. 2011

Fonte: Veiga (2012/2013).

A tabela acima demonstra a complexidade do processo de construção de

políticas públicas que direcionadas as necessidades das mulheres para a vida em

sociedade. Por meio destas leis e das políticas públicas observamos a evolução na

construção de uma sociedade capaz de entender o papel da mulher na construção

de um país. Na sequência enfatizamos as políticas públicas brasileiras que tratam

do enfretamento à violência contra mulher e quais nortearam este estudo. As

políticas públicas de proteção e segurança são essenciais para o enfrentamento à

violência contra a mulher. Sobre estas se pode destacar a criação das Delegacias

Especializadas como marco na visibilidade da violência contra a mulher. Em 1985,

foi institucionalizado O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), que

originalmente foi vinculado ao Ministério da Justiça e nesse mesmo ano ocorreu a

criação das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs).

Segundo Bandeira e Suárez (2002), a institucionalização das delegacias foi

longa e difícil, consolidando-se somente com a Constituição de 1988. Assim, a

criação da DEAM foi fruto das reivindicações feministas concretizados pelos acordos

internacionais firmados na Convenção de Belém do Pará. Deste modo, com a

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46

promulgação da referida constituição assegurou-se a todas as cidadãs o direito à

vida, à liberdade, à igualdade, dentre outro direito humanos fundamentais nos

artigos da Declaração do Direitos Humanos de 1948.

As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher são instrumentos

vinculados às secretarias estaduais de Segurança Pública, às quais integram a

Política Nacional de Prevenção, Enfrentamento e Erradicação da Violência contra a

Mulher. São consideradas respostas que representam Estado brasileiro à violência

contra as mulheres e, nesse contexto, as ações são efetivadas no âmbito das

delegacias tratando das violências no cenário local.

As delegacias especializadas no atendimento à mulher vítima de violência

constituem-se na parte mais importante política pública de gênero implantada no

Brasil na área da Segurança Pública. São fundamentais para efetivação da Política

Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (2011), consideradas as

portas de entrada das mulheres vitimas de violência, assumem o papel de

repressores da violência contra as mulheres. Estas delegacias contribuíram para

que a violência contra a mulher saísse da invisibilidade e da aceitação socias para

se tornar um crime. Efetivam as solicitações dos movimentos sociais (feministas),

para que os crimes contra as mulheres fossem julgados e punidos conforme os

demais crimes previstos pelas legislações.

A mulher vitima de violência, tem como porta de entrada as delegacias

especializadas ao atendimento a mulher, para que possam registrar os boletins de

ocorrência. Esta é a denominação do registro das violências. Nas delegacias que se

registram tais crimes em boletim de ocorrência, a autoridade policial é responsável

por determinar a realização do exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal

(IML) para comprovar a ocorrência e o tipo de lesões sofridas de qualquer natureza,

identificando e dando encaminhamento às formas de violências quais as mulheres

registram.

Para que as formas de violências registradas pelas DEAMs possam ser

julgadas, a Lei Maria da Penha (11.340/2006) modificou o cenário dos

encaminhamentos das violências contra as mulheres. Essa nova lei, cuja sanção

constitui-se em uma vitória histórica na luta do movimento feminista, não só

estabelece uma legislação especifica de proteção aos direitos da mulher, como

altera o processo judicial e o Código Penal de 1940, agrava em muito o caráter da

punição por ofensas na violência contra a mulher. A Lei 11.340/2006 emerge da

Page 48: dissertação final jaqueline pdf

47

necessidade e da fragilidade da lei anterior vigente, conhecida como Lei 9.099/1995,

que estabelecia como pena para a punição dos crimes cometidos contra a mulher o

pagamento de cestas básicas, multa ou prestação de serviço comunitário mantendo

a sensação de impunidade diante das violências qual acometiam as mulheres.

A prática de violência domestica e familiar era somente punível por meio dos

dispositivos previstos na Lei 9.099/1995 e passíveis de aplicação de penas nela

previstas quase impuníveis. Os crimes de lesão corporal e ameaças, violências mais

constantes no âmbito da violência doméstica e familiar, era conceituado como crime

de menor relevância. Quando a mulher não desistia da representação, o julgamento

do criem se dava por penas alternativas. Em 2002, a Lei 10.455 acrescenta ao

parágrafo único do art. 69 da Lei 9.099/1995, a previsão de uma medida cautelar de

natureza penal, prevendo o afastamento do agressor do lar por ter cometido

violência doméstica, qual era julgado pelo Juizado de causas especial criminal. Em

2004, a Lei nº 10.886, criou no art. 129 do Código Penal de 1940, um subtipo de

lesão corporal leve, decorrente de violência doméstica, aumentando a pena de três

meses, para seis meses.

Assim, em 22 de dezembro de 2006, a Lei nº 11.340, passou a vigorar,

considerada pela a sociedade brasileira, uma resposta mediante a situação de

impunidade, aos crimes sofridos pelas mulheres. A redação dessa lei de punição

como crime para a violência doméstica, a Lei Maria da Penha trata da violência

doméstica familiar de gênero com mais rigor. O objetivo da lei é tratar de forma

diferenciada a violência doméstica contendo-a, por meio de penas mais severas e

tratamento punitivo ao agressor. Segundo Souza (2007), esta lei desdobra-se em

dois aspectos, objetivo e subjetivos: 1) quanto ao aspecto objetivo coíbe e previne a

violência doméstica e familiar contra a mulher, direcionando ao combate dos fatos

ocorrido no ambiente doméstico, familiar e intrafamiliar, 2) quanto aos subjetivos, a

preocupação é a proteção da mulher contra os atos violentos praticados por homens

e mulheres.

Um ponto importante a destacar é que a Lei Maria da Penha define

legalmente e amplia os conceitos de violência doméstica e contra a mulher;

reconhecendo a necessidade de medidas de prevenção à violência, executadas de

maneira integral, vinculadas aos sistemas de saúde pública e educação. Apresenta

as atribuições das autoridades ao Ministério Público no processo criminal de

violência contra a mulher. Assim, as definições de violência contra a mulher são

Page 49: dissertação final jaqueline pdf

48

contempladas pela lei que reorganiza o processo de punição. Segundo o artigo 7º,

da Lei nº 11.340/2006, são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,

entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Cabe salientar que as delegacias e a Lei Maria da Penha, fazem parte do

sistema de segurança pública, os quais assumem atribuições de agentes punitivos

das violencia contra mulher, articulados com a Política Nacional de Enfrentamento a

Violência contra a mulher e, também ao Pacto Nacional de enfrentamento da

violência contra a mulher (2011). Este último documento apresenta aos brasileiros

diante da preocupação da sociedade e dos goevernantes em validar a equidade

social e, garantir a igualdade de gênero. O conteúdo expresso no texto do Pacto,

denota um conjunto de compromissos sanitários, explicitos em objetivos, resultantes

de um processo de inúmeras pesquisas sobre a situação de saúde da mulher no

Brasil. Conta também com prioriedades definidas pelos governos em nível Federal,

Estadual e Municipal

Cabe salientar que quando os governos estabelem ações definidas em forma

de pacto, discute-se conteudos obrigatórios, ações obrigatórias que em outros

momentos as politicas públicas não deram conta de implementar por razões

multiplas. Desta forma, após a pactuação torna-se prioritária as ações no campo

Page 50: dissertação final jaqueline pdf

49

pactuado e, deveram que ser executada com foco em resultados e, com a

explicitação dos compromissos com previsão em orçamentos financeiro para o

obtenção desses resultados.

O Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher de 2011,

parte do entendimento de que a violência constitui-se em um fenômeno de caráter

multidimensional, que requer a implementação de políticas públicas amplas e

articuladas nas mais diferentes esferas da vida social, como na educação, no mundo

do trabalho, na saúde, na segurança pública, na assistência social, na justiça, na

assistência social. Esta conjunção de esforços deve resultar em ações que,

simultaneamente, desconstruam as desigualdades e combatam as discriminações

de gênero.

Desta forma, o Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a mulher,

em seu conteúdo estabelece a organização e as metas específicas para seu

desenvolvimento. Agrega as ações para proteção e, empoderamento da mulher no

meio social ao qual hábita. Contempla, em seu conteúdo, objetivos para o

enfrentamento a todas as formas de violência contra mulher na garantia dos seus

direitos. Segundo o Pacto Nacional de enfrentamento a violência contra a mulher de

2011, devido o conceito de enfrentamento utilizado pela Política Nacional de

Enfrentamento a Violência contra a Mulher, visa à implementação de políticas

amplas e articuladas, que venham dar conta da complexidade da violência de

gênero em todas as dimensões.

O Pacto é a materialização da preocupação dos grupos sociais organizados e

do Governo Federal em organizar essas ações para o enfretamento da situação de

ineficiências das políticas quee atendem às mulheres. Como descreve o Instituto

Sangari, em pesquisa divulgada em 2010, no período de 1997 a 2007, morreram

41.532 mulheres vitima de homicídios (índice 4.2 assassinadas por 100.000 mil

habitantes). Indicador este denota a preocupação da sociedade e, dos governantes,

em organizar as ações para o embate das questões de violência, as quais as

mulheres estão expostas. As propostas contidas no Pacto vêm ao encontro à

necessidade de interrupção na situação de violência, a qual as mulheres estão

expostas.

Segundo a Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher de

2011, as ações voltadas à transversalidade de gênero, a intersetorialidade e a

capilaridade, visam garantir a discussão das questões de violência contra a mulher e

Page 51: dissertação final jaqueline pdf

50

de gênero, perpassando as mais diversas políticas públicas sociais setoriais. Na

intersetorialidade, o trabalho envolve, de forma horizontal ministérios, secretarias e

coordenadorias das câmaras técnicas dentre outros. Na dimensão vertical o trabalho

deve envolver diferentes áreas como: a saúde, justiça, educação, trabalho,

segurança pública. Decorrente desta articulação emerge a terceira premissa, à

capilaridade destas ações resultando em programas e políticas, para aplicação em

níveis locais como em municípios.

Para que o enfrentamento a violência contra a mulher o Pacto deve ser

efetivado, e para essa efetivação torna-se necessário a ação conjunta dos diversos

setores envolvidos na atenção à mulher, aplicando-se assim o conceito de

intersetorialidade, o qual nas ações e discussões os setores da saúde, segurança

pública, justiça, educação, assistência social entre outros.

A contextualização de intersetorialidade cristalizou-se na CFB de 1988,

surgindo como um dos pilares doutrinários e organizacionais do Sistema Único de

Saúde (SUS), definidos pelas leis federais 8.080 e 8.142, de 1990. De fato, as

questões de inserção social, atuação intersetorial, contemplação do sujeito ao direito

à saúde estão amplamente interligadas. Constitui-se num dos fatores essenciais ao

pleno exercício dos direitos de cidadania, e reveladora do estágio de evolução

democrática de nossa sociedade.

Para garantir a consolidação das políticas públicas e sua implantação o pacto

prevê quatro áreas estruturantes: a primeira trabalha a implantação da Lei Maria da

Penha, já desenvolvida por meio do setor de segurança pública e justiça, envolve a

área da saúde. A segunda contempla a Proteção dos Direitos Sexuais e

Reprodutivos e Enfrentamento da Feminização da AIDS. A terceira cabe também a

segurança pública e justiça efetivarem o Combate à Exploração Sexual de Meninas

e Adolescentes e ao Tráfico de Mulheres. Para dar conta da quarta área, cabe a

assistência social a, Promoção dos Direitos Humanos das Mulheres em Situação de

Prisão.

Assim seguindo o Pacto de 2011 a rede de atenção às mulheres vitima de

violência devem estar estruturados para trabalhar intersetorialmente, os serviços

com suas funções para que juntos desenvolvam os quatros eixos estruturantes

contemplados no Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra as

Mulheres.

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51

No texto do pacto, vemos contemplado as instâncias de gestão, foco e

competências das esferas de governo na coordenação do Pacto. O foco descrito no

pacto contempla às mulheres rurais, negras e indígenas, em função das múltiplas

situações, que as colocam em situação de discriminação e maior vulnerabilidade

social. O Pacto de 2011, prevê para o processo de implantação, a criação ou

fortalecimento de organismos de políticas públicas para as mulheres em nível

estadual e municipal, a elaboração de um Projeto Básico Integral com diagnóstico,

definição de municípios pólos e o planejamento das Ações do Pacto, também a

assinatura do Acordo de Cooperação Federativa. Constituição do Comitê Gestor e

Câmara Técnica Estadual e Municipal de Gestão e Monitoramento do Pacto, para

planejamento, monitoração e execução das ações, previstas pelo Pacto.

Segundo o Pacto (2011), para a aprovação das propostas e projetos no

âmbito da Câmara Técnica Estadual e encaminhamento para a Câmara Técnica

Federal, descrito como, projeto Básico Integral e, último o credenciamento dos

estados e municípios no Portal Nacional de Convênios para envio de projetos.

Também nível dos Governos Municipais, por seus Organismos Municipais de

Políticas para Mulheres, prestar contas as instituições envolvidas na pactuação,

manter a execução dos projetos, participar da Câmara Técnica de Gestão Estadual;

promover a constituição e o fortalecimento da rede de atendimento à mulher em

situação de violência nas vária esferas.

Tal necessidade de articulação é reforçada a partir das diretrizes que

conforme diz Camargo e Aquino (2003), as políticas de proteção e segurança são

essenciais para o enfrentamento à violência, mas é preciso avançar tanto em

políticas de prevenção como na ampliação de políticas que articuladamente para

que trabalhem para uma reversão da dependência financeira, elevação da

autoestima das mulheres, fortalecimento da capacidade de representação e

participação na sociedade, enfim, criem condições favoráveis à autonomia pessoal e

coletiva das mulheres.

Com o objetivo de garantir aplicabilidade das políticas, de forma organizada

para promover às condições de atenção as mulheres, o Pacto de 2011 esta

organizado em cinco eixos; eixo I: Garantia da Aplicabilidade da Lei Maria da Penha:

eixo II: Ampliação e Fortalecimento da Rede de Serviços para Mulheres em Situação

de Violência; eixo III: Garantia da Segurança Cidadã e Acesso à Justiça; eixo IV:

Garantia dos Direitos Sexuais e Reprodutivos, Enfrentamento à Exploração Sexual e

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52

ao Tráfico de Mulheres; eixo V: Garantia da Autonomia das Mulheres em Situação

de Violência e Ampliação de seus Direitos.

A estruturação do Pacto de Enfrentamento a Violência contra a Mulher,

apresenta possibilidade de estabelecermos diretrizes seguras para o enfrentamento

das situações de vulnerabilidade e condições de violências, quais as mulheres estão

expostas. Também oferece meios teóricos para a construção de políticas concretas

para atendimento as mulheres em situação de violência de forma tripartite,

trabalhando o fluxo de cuidado nas três esferas, Federal, Estadual e Municipal,

garantido acesso e cuidado integral as usuárias do sistema.

Page 54: dissertação final jaqueline pdf

53

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 DEFINIÇÕES GERAIS DOS PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Tendo em vista o objeto investigado, o estudo foi desenvolvido por meio das

pesquisas classificadas como exploratória e descritiva, as quais estão sustentadas

pela abordagem quanti-qualitativa. Esses tipos de pesquisa (exploratória e

descritiva) foram definidos por ambas se complementarem e por permitirem desvelar

os vários aspectos que configuram o universo pesquisado.

Pela orientação da abordagem quantitativa se processou o levantamento e a

organização dos dados obtidos nos documentos institucionais, que registraram a

situação da violência contra o gênero feminino no recorte territorial estudado. Os

valores quantitativos se referiram à faixa etária e o bairro de ocorrência da violência.

Também, nesta coleta de dados, e, para a mensuração de outros dados sobre o

cenário da violência, tomou-se por base a classificação das formas de violência do

referencial teórico e se procedeu ao apontamento quantitativo de ocorrências dos

seguintes dados: fatos comunicados, responsável pela violência, lesões corporais e

parte física do corpo na qual a mulher foi agredida. Esse levantamento de dados

esteve orientado pelas formas de violência descritas na Lei 11.340/2006, ou Lei

Maria da Penha. Portanto, a abordagem quantitativa foi efetivada para concretizar

parte da pesquisa do tipo exploratória. Essa exploração ocorreu pela pesquisa

documental, que perseguiu o cumprimento do objetivo específico, que visou o

mapeamento das formas de violências preponderantes contra as mulheres nos

registros dos Boletins de Ocorrências das Delegacias Civis e Especializadas dos

municípios do Planalto Norte Catarinense entre 2009 a 2012.

Pela abordagem qualitativa, inicialmente, processou-se o referencial teórico,

pela aplicação da pesquisa de tipo bibliográfica. Na elaboração do referencial

teórico, procedeu-se a descrição dos conhecimentos relativos ao conjunto de

políticas públicas sociais desde a Constituição Federal Brasileira de 1988, que

enfocam a mulher e a violência sobre o gênero e sobre o conjunto de políticas

públicas sociais desde a Constituição Federal Brasileira de 1988 que enfocam a

mulher e a violência sobre o gênero.

Ainda, a abordagem qualitativa é a referência da análise dos dados

quantitativos.

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54

A coleta de dados em campo foi auxiliada pela realização da observação

sistemática do ambiente no qual se pesquisou os documentos denominados de BO,

obtidos nas instituições pesquisados. A observação revelou a interação dos sujeitos

envolvidos no processo da violência contra o gênero feminino, pela vivência diária

dos profissionais da segurança pública que realizam os registros dos fatos ocorridos.

A interlocução com esses profissionais, mesmo que sem um roteiro intencional de

coleta de dados, permitiram entendem o cenário das denunciantes, do acolhimento

da denúncia e dos encaminhamentos subsequentes.

Assim, a seguir, descreve-se aspectos específicos dos procedimentos

metodológicos aplicados na elaboração desta dissertação.

3.2 ESPAÇOS DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Para o desenvolvimento da pesquisa foi delimitado o recorte territorial do

Planalto Norte Catarinense, sendo composto por sete municípios, compreendendo:

Mafra, Papanduva, Itaiópolis, Monte Castelo, São Bento do Sul, Rio Negrinho e

Campo Alegre. Neste recorte territorial foram identificadas e delimitadas as

instituições de segurança pública existentes em cada município, nas quais de

procedeu a coleta de dados relativos à violência praticada contra o gênero feminino,

registradas.

As instituições públicas pesquisadas foram as quatro Delegacias Civis de

Policia de Papanduva, Itaiopolis, Rio Negrinho, Campo Alegre. Para atender a

demanda populacional a Comarca de Papanduva atende também o município de

Monte Castelo. Nos município de Mafra e São Bento do Sul, a pesquisa foi realizada

nas duas delegacias especializadas ao atendimento mulheres, crianças e idosos,

denominadas Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso

(DPCAMI), perfazendo um total de seis instituições.

As Delegacias Civis de Polícia integram as estruturas de segurança pública

nacional, com função precípua, conforme a Constituição Federal Brasileira de 1988,

art. 144, inciso 4º a policia civil apura infrações penais, com função administrativa na

preservação da ordem pública a incolumidade dos sujeitos e do patrimônio.

Considera-se então a polícia civil como órgão administrativo para apuração das

infrações penais. Dessa forma, na Delegacia de Polícia são acolhidas e registradas

Page 56: dissertação final jaqueline pdf

55

todas as ocorrências dos cidadãos, entre elas as de violências, contra todos e contra

as mulheres.

As Delegacias de Polícia Civil, são órgãos com peculiaridades distintas dos

diversos órgãos públicos, atendem diretamente pessoas, consideradas vitimas ou

não e com os mais variados problemas particulares ou de ordem pública. Imputa-se

a este órgão a responsabilidade principal de aplicar as Leis Penais vigentes. As

Delegacias de Polícia estão organizadas no sentido de atenderem as necessidades

da população relacionadas diretamente às criminalidades, por isso possuem, além

da autoridade policial, os setores de Plantão, Cartorário e de Investigação. O

cidadão para registrar um fato ou crime, procura o Setor de Plantão para informar o

ocorrido, podendo ou não gerar um processo investigatório. Na estrutura da

segurança pública, observam-se várias Delegacias de Polícia que atendem os mais

variados tipos de ocorrências policiais.

A constituição do serviço de segurança pública no quadro de delegacia de

polícia civil encontramos duas forma para caracterizá-las; primeiramente como

delegacias comuns onde todas as denuncias são registradas em um mesmo espaço

e atendidos por uma mesma pessoas, nestas não existe diferenciação para o

acolhimento das denunciantes. Segundo observamos a existência das delegacias

especializadas em delitos específicos, considerados crimes que necessitam de

abordagens diferenciadas, descritas como delegacias especializadas de

atendimento às mulheres (DEAM). No caso de Mafra e São Bento do Sul foram

criadas as Delegacias Especializadas em atendimento a mulher, criança,

adolescente e idoso. As delegacias especializadas nesses atendimentos, priorizam o

registro das ocorrências da comarca que estão inseridas, desenvolvem

procedimentos legais relativos a apuração de atos infracionais, conforme previsto no

Estatuto da Criança e do Adolescente; apuram fatos criminais referentes às

violências contra a mulher (moral, física e sexual).

Comumente essas delegacias são identificadas como Delegacia da Mulher,

mas que atendem os atos infracionais dos adolescentes; atendem crianças e

adolescente que sofreram violência sexual e maus tratos; mulheres vítimas de

violência doméstica e os seus ofensores, conforme prevê a Lei Maria da Penha.

Ainda, apuram os atos infracionais que comprometam a integridade do idoso. Essas

delegacias possuem um contingente de profissionais concursados e qualificados

para a prestação de serviços policiais judiciários. Para atender aos usuários dessas

Page 57: dissertação final jaqueline pdf

56

instituições de segurança pública, as delegacias especializadas têm fluxos

organizados e direcionados seguindo a premissa fundamental do registro do fato

ocorrido.

Para tanto, o primeiro contato do usuário com a Delegacia Especializada se

faz por meio do profissional de plantão que identifica a necessidade do reclamante e

presta as informações necessária. Este processo resulta em registros de violência

contra a mulher, infrações cometidas por adolescentes ou situações que expõe a

riscos adolescentes e crianças.

Na sequência ocorre o registro do fato ocorrido, gerando o que se denomina

de Boletins de Ocorrência, que são analisadas pela autoridade policial, a qual

encaminha às providências administrativas adequadas para o caso. Ou instaura

Inquérito Polícial ou instaura o Termo Consubstanciado ou Auto de Prisão em

flagrante.

Para que o estudo desta dissertação pudesse responder aos variados

questionamentos decorrentes do tema e do problema, organizou-se o

desenvolvimento do estudo de campo, pelas etapas a seguir descritas:

A realização da pesquisa de campo, no primeiro momento, apresentou a

proposta da pesquisa; primeiramente por contato telefônico e na sequência pela

realização de visitas para apresentar o documento nominado como carta de

apresentação da pesquisa, diretamente ao responsável pela Delegacia no caso, os

Delegado de Polícia Civil, para que fosse obtido a liberação para início imediato da

pesquisa documental. Essa visita institucional ocorreu no mês de setembro de 2012.

Assim, inicia as pesquisas nos Boletins de Ocorrência (Bos) nas delegacias dos

municípios que compões a 25ª SDR. Concomitante a este processo organizamos

com o responsável a forma de trabalho e definidas as datas, horários e espaços

para o acesso aos Boletins de Ocorrência (BO) registrados no período de 2009 a

2012.

Depois de conseguida liberação para iniciar a pesquisa de campo e da

organização do processo da coleta de dados, na seqüência foi realizado o segundo

momento da pesquisa. A leitura e separação dos documentos impressos

denominados BOs. A seleção dos BOs para a pesquisa se deu pela leitura e

posterior identificação do tipo de ocorrências registradas. Selecionou-se os que

tinham descrito como fato ocorrido a menção de Violência Contra Mulher,

registrados nas Delegacias não Especializadas de Itaiópolis, Papanduva, Rio

Page 58: dissertação final jaqueline pdf

57

Negrinho e Campo Alegre e nas Delegacias Especializadas (DPCAMI) de Mafra e

São Bento mesmo que se tenha manuseado todos os documentos relacionados às

ocorrências contra crianças, adolescentes, idosos e mulheres.

Assim, foram separados os BOs cujos registros continham a evidência de

ocorrência de violência contra o gênero feminino, relativos ao período de 2009 a

2012. Ao final, entre os BO com estas indicações nas seis instituições de segurança

pública, obteve-se 3.769 BOs registrados, o que se configurou no universo de

pesquisa.

A localização dos dados em cada documento foi orientada pela definição

constante na Lei Maria da Penha a qual preceitua a violência doméstica, em seu

artigo 5º (Lei 11.340/2006), a qual define-se como: qualquer ação ou omissão

baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou

psicológico e dano moral ou patrimonial, praticada no âmbito doméstico, familiar ou

em qualquer relação intima de afeto, independente de orientação sexual e as

violências de origem física, patrimonial, moral, sexual ou psicológica.

O texto escrito nos BO baseou-se nos depoimentos de mulheres que

registraram ocorrências nas instituições pesquisadas (delegacias civil e ou

especializadas) dos municípios que compõem o Planalto Norte Catarinense. As

ocorrências foram registradas em forma de documento denominado Boletins de

Ocorrência, seguindo uma sequencia administrativa adequada.

A compilação dos dados dos BO foi organizada pela sequência dos tópicos

dos documentos. Todo o trabalho de leitura, seleção, compilação dos dados, foi

realizado no ambiente físico da instituição, tendo em vista o caráter sigiloso do

material, como não foi possível reproduzir o documento foi necessário copiar os

campos para que pudéssemos reproduzir a sua sequência.

Para esta sistematização foi construído um formulário com campos

obedecendo a sequências iguais aos dos boletins de ocorrência (BOs) conforme

anexo A, os quais são utilizados nas delegacias. Destacam-se os itens de interesse

para a pesquisa: fato comunicado, data da ocorrência, local, informante, dados de

identificação da vitima (ocupação, idade, escolaridade e estado civil), histórico do

fato comunicado, local da agressão e tipo de agressão, endereço da ocorrência e

também qual o espaço que ocorreu a agressão.

Com os dados coletados e sistematizados pelo formulário, passou-se ao

próximo passo, o tratamento dos dados coletados qual apresentaram relevância ao

Page 59: dissertação final jaqueline pdf

58

estudo. As datas consideradas para distribuição das ocorrências nos anos em

pesquisa (2009 a 2012). A idade das vítimas foi calculada em função dos dados do

campo data de nascimento, ou seja, a idade no dia em que foi registrado o BO.

Foram registrados os dados de identificação que apareciam nos campos

como não informados, porem estes não foram significativos para o estudo. O

histórico do fato comunicado foi utilizado para fornecer parte relevante dos dados,

tais como as informações das violências, cujos resultados estão apresentados em

gráficos e tabelas na sequência deste estudo.

Com relação o objetivo específico que analisou a organização dos espaços de

atenção a as mulheres vitima de violências e em situação de vulnerabilidade nos

municípios do Planalto Norte Catarinense, perante os dados de campo e as políticas

públicas destinadas ao problema da violência do gênero. O procedimento de

sistematização apresentação e análise de dados seguiu o parâmetro de análise de

conteúdo, conforme orientação de Triviños (1987) apud Bardin, definindo o conceito

sobre análise de conteúdo, como sendo um conjunto de análise das comunicações,

utilizando procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo, do

resultado podendo produzir indicadores quantitativos ou não.

3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Os procedimentos metodológicos de apresentação e análise de dados,

seguiram as orientações de Minayo (2000), a qual descreve que na análise de dados

quantitativos, há que se seguir operações estabelecendo primeiramente as

categorias para análise, codificação das informações, tabulação e distribuição dos

dados em tabelas ou gráficos e, apresentação dos dados em sequência.

Assim, organizaram-se os dados agrupados em:

- Breve caracterização do Planalto Norte Catarinense; discutimos neste grupo

as características individuais de cada município, como número populacional,

características socioeconômicas entre outras. Organizados os municípios

por ordem de coleta de dados;

- Perfil da População estudada no espaço do Planalto Norte Catarinense;

neste item, analisamos os dados socioeconômicos da população estudada.

Apresentando a distribuição das denunciantes por faixa etária prevalente por

município e logo abaixo na tabela o número de mulheres em cada faixa

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59

etária por ano (2009 a 2012), ambos dados organizados em uma mesma

tabela. Em outra tabela apresentamos; o estado civil, escolaridade e

profissão, considerando também a sequência dos municípios já citada e os

anos em ordem crescente;

- Boletins de ocorrências registrados nas DPs e DPCAMI no Planalto Norte

Catarinense; este grupo apresenta o número de BOs registrados por anos

nas delegacias, foi organizado em gráficos, seguindo a mesma ordem de

apresentação inicial dos municípios, apresentados nos quatro anos

agrupados em um mesmo gráfico;

- Territorialização dos atos violentos contra o gênero feminino no Planalto

Norte Catarinense; neste grupo discutimos a territorialização dos espaços

que evidenciam as denúncias de violência nos municípios estudados. Para

organizar este utilizamos os seguintes itens descritos nos BOs, via de

ocorrência da violência, seguido pelo endereço e bairro. Nas tabelas

organizamos a sequência dos bairros com maior incidência, seguido pelo

número de casos por município em separado e por anos (2009 a 2012);

- Cenários da violência contra o gênero feminino no espaço Planalto Norte

Catarinense; este grupo foi construído com uma frequência maior de dados

estes discutido na sequência por município. A primeira sequencia de tabelas,

apresenta o fato comunicado, as formas de violências sofridas pelas

mulheres, tabela intitulada distribuição de ocorrências por fato comunicado.

Na sequencia de tabelas apresentamos a distribuição de ocorrências

segundo relação entre a mulher e seu agressor, considerando nesta os

casos de violência doméstica e não domésticas. As tabelas que seguem

discutem, os dados relacionados a prevalência das agressões físicas por

área do corpo afetada. Todos os dados referidos seguem a ordem pré-

estabelecida para apresentação dos municípios e os anos definidos (2009 a

2012);

- Fatores que contribuíram para os atos violentos contra o gênero feminino.

Esta tabela foi elaborada com base nos relatos dos BOs organizados

conforme a repetição. Salientamos que não separamos por município, nem

por ano e sim em uma tabela única os relatos predominantes descritos pelas

denunciantes. A organização da tabela segue grupos como; fatos vinculados

Page 61: dissertação final jaqueline pdf

60

a comunidade, no âmbito das relações pessoais, aspectos individuais

relativos ao agressor;

- Organização dos serviços de atenção as mulheres nos municípios do

Planalto Norte Catarinense; estes dados foram organizados em duas figuras

elaboradas pela pesquisadora, apresentando nesta a composição dos

serviços de atenção a mulheres vítima de violência, conforme a estruturação

atual. Os dados foram coletados durante as visitas nas delegacias, por meio

de entrevista sem roteiro escrito ao funcionário presente na intuição no

momento, usando da seguinte abordagem; quando a mulher é vitima de

violência como o município atende e encaminha, quais os serviços que você

tem disponível no município para encaminhar a vitima?

- Políticas públicas sociais para o enfrentamento da violência contra a mulher;

para apresentação deste grupo, organizamos em tabela após revisão

bibliográfica as políticas disponíveis considerando como marco a

Constituição Federal Brasileira de 1988.

Para a análise dos dados seguimos a forma descrita:

Primeiramente organizamos a ordem de apresentação dos municípios

iniciando pelo município de Mafra, devido à pesquisadora residir neste e a coleta de

dados ter iniciado por este, organizamos os outros municípios na sequência de

discussão dos dados conforme ordem de coleta dos dados. Na sequência

realizamos a contagem dos dados por campo, utilizando o impresso construído com

base no BO, tabulamos todos os dados, ano por ano, e em números inteiros por

ordem da frequência de aparecimento dos dados. Após iniciamos a construção das

tabelas e gráficos utilizando o programa Excel, organizado conforme metodologia de

sequência dos dados acima apresentada. Para realizarmos a discussão dos dados e

correlacionarmos com o referencial teórico, seguimos a ordem das categorias

organizadas previamente, analisamos todas as categorias em separado, município

por município.

Page 62: dissertação final jaqueline pdf

61

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

O estudo apresentado na seqüência tem por base um território de estudo bem

definido o qual denota a realidade de cidades consideradas interioranas. A violência

contra a mulher é percebida com mais evidencia nas grandes cidades. Pois esta

aliada à violência do cotidiano sendo elemento importante que denota índices

elevados as estatísticas.

4.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO ESTUDADO

Santa Catarina é um pequeno recorte do espaço geográfico pertencente às

vinte e sete unidades federativas do Brasil. Segundo o IBGE (2011). Santa Catarina

é o Estado do Brasil que ocupa a décima primeira posição em relação aos demais

Estados Brasileiros referente a economia, estatisticamente classificado como um

Estado bastante povoado, é composto por 295 municipios, localiza-se no centro Sul

do país. A dimenssão territorial do Estado abrange área de 95.346.181 Km2.

Figura 1 – Municípios estudados no Planalto Norte Catarinense.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde <www.saude.gov.br> (2012).

Apresentamos na sequência descrição breve dos municípios do Planalto

Norte Catarinense onde foi desenvolvido o estudado. Na composição do recorte de

52.912 hab.

17.928 hab.

20.301 hab.

11.748 hab.

39.846 hab.

74.801hab.

8.346 hab.

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62

estudo iniciamos por Mafra, que segundo dados do IBGE (2010), conta com 52.912

habitantes. Suas principais atividades socioeconômicas são a agropecuária e a

indústria. Quanto a distribuição populacional por gênero em Mafra, segundo dados

do IBGE (2010) aponta que, no município o numero de homens é de 26.251 da

população feminina de 26.661seguindo uma tendência nacional. Seguido pelo

município de São Bento do Sul, apresenta uma população segundo IBGE (2010),

estimada em 75.520 habitantes, no município a população residente de homens

representando 36.254 e as mulheres 36.052. Conforme IBGE (2010), a população

geral de Itaiópolis compreende no total de 20.301 sendo masculina 10.409 e

feminina 9.892. No município de Papanduva a população gira em torno de 17.928

segundo IBGE 2010, desta o gênero masculino é de 9.172 e feminino de 8.756.

Enquanto no município de Campo Alegre, dados do IBGE 2010, a população

habitante é de 11. 748 deste o gênero masculino 5.970 e feminino 5.778. Em Monte

Castelo conforme IBGE 2010, a população habitante é de 8.346 habitantes sendo

masculino 4.283 e feminina 4.063.

4.2 PERFIL DA POPULAÇÃO ESTUDADA NO ESPAÇO DO PLANALTO NORTE

CATARINENSE

Na pesquisa de campo se coletaram dados que permitem apresentar o perfil

mínimo das denunciantes. Os dados referentes à faixa etária das mulheres (Tabela

6) foram agrupados em idades definidas as décadas. A partir dos dados observamos

que a concentração de denúncias de violência sofridas pelas mulheres recai sobre a

dos 21 a 30 anos (Tabela 6) nos municípios estudados. Este aspecto é considerado

no estudo realizado pelo Data Senado (2011), (durante o período de 2005 e 2011),

mostra que o grupo mais vulnerável em relação à violência doméstica está

concentrado na faixa etária as mulheres com idade entre 20 e 29 anos. Estes dados

denotam que as ações preventivas em relação à violência contra a mulher devem se

voltar principalmente para atingir mulheres de tais idades.

Tabela 6 – Faixa etária prevalente das denunciantes no Planalto Norte Catarinense (2009 a 2012).

Município Faixa etária 2009

Faixa etária 2010

Faixa etária 2011

Faixa etária 2012

Mafra 31 a 40 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos Nº de mulheres 115 106 126 65 São Bento do Sul 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos Nº de mulheres 55 39 70 79 Rio Negrinho 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos

Page 64: dissertação final jaqueline pdf

63

Nº de mulheres 56 55 47 29 Campo Alegre 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos Nº de mulheres 8 12 11 19 Itaiópolis 31 a 40 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 31 a 40 anos Nº de mulheres 11 15 18 23 Papanduva 31 a 40 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos Nº de mulheres 36 25 43 41 Monte Castelo 21 a 30 anos 31 a 40 anos 31 a 40 anos 21 a 30 anos Nº de mulheres 10 8 29 18 Fonte: Dados da pesquisa (2013). Quadro 1 – Perfil socioeconômico das denunciantes no Planalto Norte Catarinense (2009 a 2012).

Município Ano Estado civil Escolaridade Profissão 2009 Casadas 1º grau incompleto Do Lar

Mafra 2010 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2011 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2012 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2009 União estável 2º grau incompleto Do Lar

São Bento do Sul 2010 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2011 Casadas 2º grau completo Do Lar 2012 Casadas 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar

Rio Negrinho 2010 União estável 2º grau incompleto Do Lar 2011 União estável 2º grau incompleto Do Lar 2012 União estável 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 2º grau incompleto Do Lar

Campo Alegre 2010 União estável 2º grau completo Do Lar 2011 Casadas 2º grau completo Do Lar 2012 Casadas 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar

Itaiópolis 2010 Casadas 1º grau completo Do Lar 2011 Casadas 1º grau completo Do Lar 2012 Casadas 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar

Papanduva 2010 União estável 1º grau incompleto Do Lar 2011 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2012 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar

Monte Castelo 2010 União estável 1º grau incompleto Do Lar 2011 União estável 1º grau incompleto Do Lar 2012 Casadas 1º grau incompleto Do Lar

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Por outro lado, associado à faixa etária, neste breve perfil da população

(mulheres a partir dos 18 até 60 anos), identificou-se dados sobre a ocupação,

escolaridade e estado civil das mulheres denunciantes de violências contra o gênero

feminino. Para a coleta destas informações utilizamos os campos descritos no BOs

que marcavam: ocupação, escolaridade e estado civil. Conforme informação

relatada pela denunciante, (estado civil das denunciantes), podemos observar a

prevalência da união estável em todos os municípios, aspecto que indica a

organização familiar similar ao modelo clássico, constituído de pais, mães e filhos.

Page 65: dissertação final jaqueline pdf

64

Conforme Dias (2007), a ocorrência de uniões estáveis pode ser explicada

pelo fato de que a base da maioria dos núcleos familiares do Brasil é formada por

indivíduos que vivem aos pares, mas não registram sua união em cartório civil. Esta

situação é amparada pelas mudanças no Código Civil brasileiro, no qual, segundo

Fujita (2000), a união estável que pode ser conceituada como a união entre pessoas

de sexo diferente, que, sem haverem celebrado casamento civil e/ou religioso, vivem

como se casadas fossem, de forma contínua e duradoura. Esse autor reforça que

neste tipo de união o que importa, para sua caracterização, é a intenção dos

conviventes de, efetivamente, constituírem uma família.

Outro dado do perfil populacional – segmento eleito para este estudo - refere-

se à escolaridade. Ao observarmos o quadro 1 a escolaridade das mulheres que

registraram denúncia de violência contra elas, fica evidente a prevalência de sua

pouca escolaridade. Constata-se que a maioria das mulheres atendidas pelas

delegacias não contemplaram nem o ensino fundamental. Outro aspecto refere-se à

questão cultural sobre a violência que é infiltrada nos segmentos populacionais mais

empobrecidos, fator que manteve um preconceito de classe, ou seja, relação natural

entre violência, pobreza e economia. Tal constatação vai ao encontro do que foi

evidenciado pelo estudo de Campos (2008), pelo qual aponta para as possibilidades

de as mulheres com maior escolaridade, recorrerem a serviços alternativos ou

privados de assistência, sem recorrer às denúncias em delegacias.

Podemos também discutir a questão da educação e o processo da violência

de gênero. Salienta-se que os serviços de ensino no fundamental, médio e superior

podem não estar cumprindo o seu dever na abordagem eficaz das questões de

gênero e igualdade de direitos. Com isto a presença do conhecimento dos direitos,

de igualdade de gênero destas mulheres, as faz mais vulneráveis dependentes dos

sistemas para garantir-lhes.

Desde a Constituição Federal Brasileira de 1988 há ações, programas,

políticas públicas que elegeram a violência contra a mulher como foco central. No

entanto, percebe-se que as barreiras culturais podem ter influenciado na demora em

se perceber que essa situação é “coisa pública”. Com esta conotação o Pacto

Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres definiu, como estratégia

a implementação de políticas públicas amplas e articuladas nas mais diferentes

esferas da vida social, como na educação, no mundo do trabalho, na saúde, na

segurança pública, na assistência social e na justiça, para assumirem

Page 66: dissertação final jaqueline pdf

65

prioritariamente e complementarmente esta expressão de questão social sobreposta

aos direitos humanos.

Sob o ponto de vista da profissão que exercem as mulheres vitimas de

violências observamos a concentração de respostas em ocupações relacionadas às

tradicionalmente ditas como femininas. Pelo quadro 1 fica evidente ainda, o caráter

de prestadora de serviços domésticos, ou seja, aquelas atividades exercidas no

âmbito privado do domicilio. Nos BOs a mulher declara-se como tendo a profissão

“do lar”. Desta forma, independentemente do grau de escolaridade fica evidente que

essas mulheres trabalham sem remuneração (denominadas do lar), condição esta

que deixa evidente a dependência financeira da denunciante em relação ao seu

agressor.

4.3 BOLETINS DE OCORRÊNCIAS REGISTRADOS NAS DPs E DPCAMI NO

PLANALTO NORTE CATARINENSE

A violência contra as mulheres faz parte dos demais tipos de infrações

denunciadas, que aos poucos se torna visível perante o complexo mundo das

violências. Nessa violência direcionada a um recorte populacional, é destacada

certas especificidades nas relações de gênero. Está relacionada ao contato intimo e

privado das relações entre homens e mulheres. Quando os episódios de violência

tornam-se públicos estes vêm de várias formas, adquirem visibilidade pelos registros

nas instituições sociais, como nos serviços de saúde, assistência social, sistema

jurídico e pelo sistema de segurança pública.

Para darmos conta de quantificar o número de registros de violências contra

as mulheres, consultamos todos os BOs, das Delegacias Civis de Polícia nos

municípios de Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis,

Papanduva e Monte Castelo, as quais são denunciadas os atos de violência contra a

mulher.

Somente em Mafra e São Bento do Sul há delegacias especializadas no

atendimento à mulher. Mafra contou primeiramente com o Centro de Proteção a

Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, criado em março de 2008, passando a ser

denominada Delegacia somente em abril de 2009. Em São Bento do Sul já surgiu

denominada Delegacia no ato de sua criação, em 2008. Atualmente ambas

delegacias trabalham como espaços especializados denominados Delegacias de

Page 67: dissertação final jaqueline pdf

66

Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e idoso (DPCAMI), nas quais foram

coletados os dados deste estudo. Este serviço tornou-se via de fácil acesso e para a

visibilidade da violência de gênero. Conforme Smigay (1986), a criação das

delegacias da mulher, além de aumentarem a visibilidade da violência, aumentam a

abrangência dos fatos e sua conceituação.

A coleta de dados que se deu sobre 3.769 BOs registrados nessas

instituições no território estudado, tem no registro principal (fato denunciado) a

violência contra a mulher de todas as faixas etárias. No entanto, neste estudo

separaram-se os BOs cujo registro de violência abrangia a mulher com mais de 18

anos. Nas delegacias, ao serem elaborados os BOs é realizada uma categorização

por segmento etário, que menciona no fato comunicado, se ele refere-se à criança,

adolescente ou mulher, considerando as definições etárias das legislações (ECA:

até 12 crianças e de 12 a 18 adolescentes) e idosos, aqueles com mais de 60 anos.

Assim, ocorreu a exclusão dos BOs com registros de violência contra as mulheres

com menos de 18 anos, tendo em vista os encaminhamentos distintos que se dá aos

casos de violência contra a criança e adolescentes.

Também, é preciso se recuperar duas definições: violência doméstica e

violência de gênero. Consideramos como violência doméstica, a ocorrência em

qualquer relação intima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com

a ofendida, independentemente de coabitação conforme a Lei nº 11.340 (Lei Maria

da Penha), portanto, consideramos as violências não domésticas, que são as outras

formas de violência contra a mulher.

Assim computamos neste estudo a violência não doméstica, levando em

consideração os registros que tinham como autor das violências o sexo masculino e

os lugares públicos, ou seja, fora do domicílio. Ressaltamos que estes dados não

representam a totalidade da violência contra as mulheres nos municípios estudados.

Também, afirmamos que há violências que não foram registradas nas DPs e

DPCAMI. Reiteramos que se sabe de antemão que o cenário atual da violência

doméstica e de gênero não é completamente denunciado, tendo em vista que nem

todas as mulheres procuram estes serviços para realizarem denúncias, devido a

situações que permeiam a violência, tais como: o medo do agressor, a vergonha, a

dependência do agressor, entre outras justificativas que as impedem de denunciar.

Levantamos nos BOs os dados relacionados à violência esses foram

computamos por ano em separado (2009 a 2012). Em seguida os dados dos

Page 68: dissertação final jaqueline pdf

67

municípios selecionados foram apresentados em gráficos para dar conta do cenário

da violência contra a mulher para este estudo. Sobre eles fizemos a respectiva

análise, considerando em especial dois blocos de gráficos, os quais caracterizam

dois cenários da violência contra as mulheres. Há municípios cujos dados mostram

um cenário de significativa ascendência dos números de registros e outro cenário,

certo declínio dos casos registrados, ano por ano. Estes dois aspectos podem levar

a múltiplas explicações no contexto da violência contra o gênero feminino.

Gráfico 2 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em MAFRA por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Gráfico 3 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em SÃO BENTO DO SUL por ano.

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68

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Gráfico 4 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em RIO NEGRINHO por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

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69

Gráfico 5 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em CAMPO ALEGRE por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Gráfico 6 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em ITAIÓPOLIS por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

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70

Gráfico 7 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em PAPANDUVA por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Gráfico 8 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em Monte Castelo por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Constatamos, observando os gráficos 3, 5, 6 e 7 que entre 2009 e 2012, o

aumento nos registros de BOs é significativo em Monte Castelo. Relacionamos a

Page 72: dissertação final jaqueline pdf

71

significância no aumento dos números de ocorrências desta natureza registradas

nas delegacias, á condições que favoreceram tal situação. Pode-se relacionar essas

intensificação da problemática da violência contra a mulher por meio de campanhas

para informar a população, veio referenciada nos avanços e na elaboração de

políticas públicas para o enfrentamento da violência e empoderamento da mulher.

A contribuição da sociedade para a modificação das condições sociais e

coletivas na formulação das políticas públicas para a organização do Estado,

objetivam enfrentar e punir os atos violentos, cometidos contra as populações

vulneráveis (crianças, mulheres, idosos). Isso pode ter aumentado a confiabilidade

das mulheres na organização social e desta forma contribuiu para o aumento das

denúncias por parte das vítimas. Segundo Rua (1998), uma política pública consiste

em procedimentos formais e informais que expressão a relação de poder e que se

destinam a resolução pacifica dos conflitos diante de bens públicos. No entanto,

Peters (1984), anos antes já discutia política pública relacionando-a a soma das

atividades governamentais, que agem diretamente ou por meio de delegação, para

influenciar a vida de uma população.

Outra situação que pode ter intensificado o aumento dos registros nos BOs é

o fato de as políticas públicas sociais, terem fortalecido os grupos ditos vulneráveis.

Diante do desenvolvimento das políticas públicas empregadas no cenário brasileiro

para o combate à violência contra a mulher, podemos citar medidas de suma

importância para a sociedade que desde então, retiraram a violência contra a mulher

do cenário privado e a fez “coisa pública”.

Entre os marcos sociais e legais citamos: a promulgação da Lei de

Internacional de Direitos da Mulher (1979), que visou reprimir formas de

discriminação e promover os direitos da mulheres. A implantação do Conselho

Nacional dos Diretos das Mulheres (1985), também foi criada a primeira Delegacia

de Defesa das Mulheres e posteriormente, as Delegacias Especializadas ao

atendimento da Mulher foram implantadas com o objetivo de organizar os espaços

de atenção às vitimas de violência, estabelecendo uma escuta qualificada e maior

agilidade no julgamento dos agressores.

Segundo Soares (1999), muitas eram as expectativas em torno da mais

ampla política pública relacionada à violência contra mulher já criada no país. Para

grupos formados por mulheres, a delegacia significaria que aquela violência invisível

e sem importância social, finalmente se tornaria pública e notória. Diante das

Page 73: dissertação final jaqueline pdf

72

mudanças no atendimento às vítimas, as delegacias especializadas tornaram-se a

porta de entrada para registro das ocorrências destas violências. A implantação

deste tipo de estrutura especializada deu-se por meio de esforços entre a Secretaria

Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), e a Secretaria Nacional de

Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP/MJ).

Estabelece-se de forma organizada, as competências de cada agente público,

norteados pela Medida Provisória nº 103, de 2003 e pelo Decreto nº 2.315, de 4 de

setembro de 1997, e com o objetivo de assegurar aplicação das legislações

anteriores, para a proteção das mulheres vitima de violência ou em situação de

vulnerabilidade.

A Constituição Federal do Brasil (1988), garantiu a igualdade de direitos entre

homens e mulheres. O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2003), norteou

a elaboração da Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres

que subsidiou a Lei 11340/2006, denominada Maria da Penha a qual se evidencia

como uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, pois, instituiu medidas

punitivas para os agressores. Em 2006, foi criado o Pacto Nacional pelo

Enfrentamento à Violência Doméstica contra a Mulher, o qual tem como um dos

seus objetivos a implementação da Lei Maria da Penha e a ampliação da rede de

atendimento à mulher.

Diante dessa organização, o contexto histórico das políticas públicas contra a

violência do gênero feminino, tem na Lei 11340/2006 um marco conceitual sem

precedente, para o tratamento dos casos de violência contra as mulheres. Tal lei

surgiu devido à Lei 9.099/1995 ser branda com relação a aplicação das penas para

o agressor, atribuindo a pena com cestas básicas, multa e prestação de serviço

comunitário. A lei em vigência atualmente contempla em seu texto, penalidade para

coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Já lei Maria da Penha torna a punição a este crime mais severa,

determinando a prisão em flagrante e a detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos

para o agressor. Diante do novo cenário legal, a Lei Maria da Penha, assegura às

mulheres denunciantes a confiabilidade no sistema judiciário brasileiro,

proporcionando medidas para que o agressor venha a ser punido conforme o crime

cometido. Essa lei pode um ser fator contribuinte para o empoderamento das

mulheres, estimulando as vítimas de agressão a realizarem esses registros e a

buscarem apoio à situação de vítima.

Page 74: dissertação final jaqueline pdf

73

No contexto da organização da rede de atenção as mulheres e a violência

que as tornam vítimas, em 1998, o Ministério da Saúde deu prioridade à saúde da

mulher, trabalhando três linhas principais de ação para atender, de forma plena esse

segmento do gênero, contemplando as necessidades de atenção qualificada para as

mulheres brasileiras. Para tanto, a terceira linha de ação refere-se à participação das

políticas públicas de saúde para dar conta da violência contra a mulher, qualificando

o atendimento às vítimas de violência, de forma articulada com outras políticas

públicas como a assistência social, educação, justiça, segurança publica, para as

atenção as mulheres.

A influência da organização da rede de atenção às mulheres por meio do

amparo legal das políticas públicas sociais, pode explicar os dados do gráfico 3, o

qual tem maior aumento de casos registrados nos BOs, que se dá de forma

significativa entre os anos de 2009 a 2012. Tal influência, pode ser observada em

São Bento do Sul, no qual, entre os 7 (setes) municípios pesquisados, é o único com

rede estruturada em conformidade com o disposto nas políticas públicas de amparo

às mulheres vítimas de violências. Alertamos que essa rede de atenção é composta

por: delegacia especializada (DPCAMI), Centros de Referencia da Assistência Social

(CRAS), Centros de Referencia Especializado da Assistência Social (CREAS), Casa

Abrigo, unidades de urgência e emergência, Instituto Médico Legal e Conselho

Municipal da Mulher. Partindo-se do pressuposto de que a mulher tem múltiplas

possibilidades de recorrer aos serviços estruturados para atendê-la de forma

humanizada e acolhedora, com segurança para apoiar e efetuar as denúncias.

No século XXI, a temática violência vem sendo incessantemente debatida, em

decorrência do aumento de sua incidência tanto nos espaços da vida pública como

da vida privada. Uma das manifestações que mais tem preocupado a sociedade

brasileira é a violência inferida contra a mulher. Porém, no contexto estudado

podemos observar outro cenário, o qual demonstra a redução significativa dos

registros nos BOs visualizado pelos gráficos 2, 4 e 8. Isto sugere várias questões.

Primeiramente instiga uma hipótese relacionada a possíveis fragilidades do

sistema de atenção as mulheres vítimas de violência. Faz-se necessário mencionar

tais fragilidades; a rede de atenção à mulher encontra-se fragmenta, a qual deveria

estar articulada entre os serviços previstos pelo MS em 1998, pelo Pacto de

enfrentamento a Violência Contra a Mulher, em 2006. Segundo, a Política Nacional

de Enfrentamento a Violência contra a Mulher (2011), a formação da rede de

Page 75: dissertação final jaqueline pdf

74

atendimento refere-se à atuação articulada entre as instituições, os serviços

governamentais, não governamentais e a comunidade. Se a rede estivesse

articulada trabalharia questões relacionadas à ampliação dos serviços com

qualidade, agilidade na identificação e encaminhamento dos casos, efetivando as

ações de prevenção na comunidade. A rede segue uma organização multidiciplinar

entre as esferas da: saúde, educação, justiça e segurança pública, atuando sobre a

complexidade da violência contra as mulheres. O que se pôde observar nos

municípios em que ouve redução nas denúncias, é de que ainda há falta da

organização da rede de atendimento, pois, ainda não se contemplou o que

preconizam as políticas públicas em especial o Pacto.

Também podemos destacar uma indagação quanto à organização dos

horários de atendimento das instituições públicas para acolher as mulheres vítimas

de violência. Todas as delegacias visitadas trabalham de forma padronizada,

atendendo no período da manhã e durante a tarde. Não há atendimento de porta

aberta durante a noite e nos finais de semana. Esta situação pode contribuir para

que a mulher não registre o BO posteriormente a violência sofrida, pois, dependendo

do tempo que ocorreu a violência, cessa o sentimento de dor dando ênfase ao

sentimento de medo e ela pode pensar mais na sua dependência emocional de

mulher vitima de violência para o com seu agressor. Segundo Nascimento (2002), a

subordinação, opressão, discriminação da mulher não é própria do gênero, mas está

relacionada às formas de convívio, na dominação mantida pelas sociedades,

legitimando o controle do homem sobre as mulheres.

Tais situações citadas podem estar também vinculadas com a relação de

dependência financeira destas mulheres para com seus agressores. Foi observado

neste estudo, que a maioria das mulheres denunciantes não exercem trabalho

remunerado, situação mantenedora da sua condição de dependente que pode, de

algum modo, ser relacionado aos atos violentos. Como descreve Velzeboer et al.

(2003), a violência contra as mulheres é influenciada por fatores vinculados à

comunidade tal como a pobreza, baixa posição socioeconômica, desemprego,

associação com companheiros delinqüentes, isolamento da mulher e da família.

Quando destacamos as relações pessoais, podemos observar os conflitos conjugais,

o controle que o parceiro exerce sobre o patrimônio familiar e a não participação da

mulher na tomada de decisão em relação às situações familiares, hegemonia

masculina na gestão familiar.

Page 76: dissertação final jaqueline pdf

75

Pode-se discutir o número de BOs em relação ao município pelo número de

mulheres que nela habita. Segundo o IBGE (2010), Mafra possui 52.912 habitantes

e a população feminina gira em torno 26.661. Ao observarmos que a tendência as

denuncias apresentou queda no ultimo ano estudado. Tal tendência pode estar

associada a estrutura deficitária do serviço de atenção as mulheres em situação de

violência, qual se encontra fragmentada, fragiliza o sistema, dificulta a rede de

atenção à mulher trabalhar conectada, contribuindo com a resolutibilidade, o que

reduz a confiança das mulheres no sistema.

Em contrapartida podemos observar que serviços organizados tendem a obter

sucesso e efetividade nas ações como São Bento do Sul, que obteve aumento nos

registros de violências contra as mulheres. Levando em consideração que o

município apresenta uma população, segundo o IBGE (2010), de 75.520 habitantes

e, a população residente de mulheres é 36.052. Referendando a tendência nacional

de pouca diferença para a masculina, podendo ser fator contribuinte para aumento

da violência contra a mulher e aumento das denúncias.

4.4 TERRITORIALIZAÇÃO DOS ATOS VIOLENTOS CONTRA O GÊNERO (2009 a

2012)

Para darmos visibilidade a territorialização (recorte de pesquisa no Planalto

Norte Catarinense) dos atos violentos inferidos sobre as mulheres, discutimos na

sequência outro dado importante, que indica os bairros nos quais há maior

ocorrência das violências contra a mulher. Para a coleta destes dados, utilizamos

dos BOs, o espaço que descreve o local de ocorrência do fato, dado este registrado

pelas denunciantes. Na sequência organizamos os dados em tabelas, distribuídas

por ano.

Neste sentido, a importância de descrevermos esta informação, nos dá

subsídios para que possamos apontar os locais nos quais deve-se intensificar as

ações educativas e informativas para a população. Contudo, fazer-se entender as

diferenças sutis entre estes locais torna-se tarefa difícil, pois, não nos detemos a

todas as características especificas destes espaços territoriais. Mas a importância

deste aspecto dessa pesquisa, nos municípios, pode indicar que as gestões

municipais poderão trabalhar efetivamente, para reduzir o número de ocorrências

registradas, com aumento das denúncias. Diante deste mesmo cenário podemos

Page 77: dissertação final jaqueline pdf

76

constatar que a violência denunciada contra a mulher, caracteriza mais a esfera

privada, o local mais frequente da violência familiar. Do total de 3.769 BOs

consultados, 2.182 continham no registro o espaço privado como o lugar qual

ocorreu o ato violento. Nos outros 1.585 BOs continham no registro do espaço

público como o lugar do ato violento.

Tabela 8 – Distribuição das ocorrências por bairros em Mafra entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Vila Ivete 78 Vila Ivete 69 Vila Ivete 74 Vila Ivete 54 Centro 39 Centro 58 Centro 66 Centro 39 Interior 29 Interior 54 Interior 59 Interior 37 Outros 143 Outros 209 Outros 195 Outros 86 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 9 – Distribuição das ocorrências por bairros em São Bento do Sul entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 20 10 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Colonial 42 Brasília 35 Serra Alta 61 Cruzeiro 87 Cruzeiro 20 Colonial 28 Oxford 42 Centenário 63 Brasília 17 Serra Alta 19 Cruzeiro 39 25 de julho 52 Outros 60 Outros 35 Outros 73 Outros 247 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 10 – Distribuição das ocorrências por bairros em Rio Negrinho entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº

Cruzeiro 39 Industrial

Norte 29 Vila Nova 31 Vila Nova 23

Vista Alegre 27 Vila Nova 22 Cruzeiro 29 Industrial

Sul 21

Vila Nova 21 Vista Alegre 19 Industrial

Norte 21

Industrial Norte

19

Outros 77 Outros 41 Outros 57 Outros 42 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 11 – Distribuição das ocorrências por bairros em Campo Alegre entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 11 Centro 12 Centro 16 São Miguel 12 São Miguel 9 São Miguel 9 Cascatas 10 Centro 11

Cascatas 8 Cascatas 6 Bateias de

Baixo 7 Cascatas 9

Outros 7 Outros 15 Outros 13 Outros 16 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 12 – Distribuição das ocorrências por bairros em Itaiópolis entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 12 Paraguaçu 7 COHAB 16 COHAB 11 Moema 10 Centro 5 Paraguaçu 7 Rio Vermelho 8 Rio das Antas 3 COHAB 5 Centro 4 Centro 3

Page 78: dissertação final jaqueline pdf

77

Outros 36 Outros 48 Outros 51 Outros 64 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 13 – Distribuição das ocorrências por bairros em Papanduva entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 18 Centro 12 Rural 23 Centro 25 São Cristovão 12 São Cristovão 11 São Cristovão 20 São Cristovão 22 Passo Ruim 11 COHAB 9 Centro 16 COHAB 16 Outros 68 Outros 31 Outros 68 Outros 76 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 14 – Distribuição das ocorrências por bairros em Monte Castelo entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012

Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 7 Centro 7 Centro 15 Centro 17 Rio das Antas 5 Rural 6 Rural 12 Rio das Antas 12 Olaria 4 Rio das Antas 6 COAHB 10 COAHB 9 Outros 3 Outros 2 Outros 18 Outros 12 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Porém, ao se adentrar aos territórios locais dos municípios pesquisados,

identificamos a dispersão das denúncias em diferentes microáreas municipais.

também há certa concentração das quantidades nos mesmos locais em que ocorreu

a violência, ano a ano. A violência é concentrada, o que facilitaria intervenção sobre

ela.

Outro dado refere-se à incidência dos atos violentos tanto no espaço urbano

como rural, questão que indica outra alteração na assunção da problemática seja

pelas vítimas ou seus familiares, que apóiam a denúncia.

Mas de modo geral, esses dados evidenciaram que há territorialmente locais

mais violentos em todos os municípios.

Outra questão que se evidencia refere-se a Mafra. Neste município o território

da violência concentra-se em um único bairro. Há que se destacar ainda que essa

afirmação toma como base o cenário da violência identificado pelos Bos,

pesquisados neste estudo sobre as mulheres vítimas, com idade superior a 18 anos,

sobre qual fizeram queixa registrada em BO na DPCAMI de Mafra.

4.5 CENÁRIOS DA VIOLÊNCIA CONTRA O GÊNERO FEMININO NO ESPAÇO

ESTUDADO

Page 79: dissertação final jaqueline pdf

78

Apresentamos dados do estudo que desvelam o cenário da violência contra o

gênero feminino no recorte territorial. O grupo de dados a seguir apresentados foi

identificado nos BOs registrados nas delegacias, especificamente no espaço do

formulário que descrevia o fato comunicado, os participantes do episódio e o relato

do ato de violência.

Os dados desses campos dos BOs nos deram subsídios para organizarmos,

em tabelas, um cenário da violência contra a mulher. Para a organização e

apresentação das tabelas usamos como sustentação teórica a Lei 11.340/2006 (Lei

Maria da Penha), a qual tipifica e define violência doméstica e, estabelece suas

formas como: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Também

agrupamos os dados conforme a abrangência das formas de violências descritas na

lei acima mencionada.

O primeiro conjunto de dados refere-se as formas de violências sofridas pelas

mulheres que as levou até as delegacias e a pronunciarem suas denúncias.

Tabela 15 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Mafra no período de 2009 a 2012.

Fato Comunicado Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Física 4 131 128 119 87 Soco 43 36 54 24 Empurrão 22 24 4 22 Tapa 20 18 38 13 Puxão de Cabelo 19 17 2 11 Asfixia - 14 1 5 Chute 18 11 36 5 Aranhão 9 8 1 7 Violência Psicológica 99 218 199 124 Ameaça 99 218 199 124 Violência Moral 126 207 180 97 Injuria 65 171 102 69 Difamação 61 36 78 28 Violência Patrimonial 38 19 62 37 Dano 38 19 62 37 Violência Sexual 4 8 15 6 Relação Forçada 1 6 4 - Assedio 3 2 11 6 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 16 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – São Bento do Sul no período de 2009 a 2012.

Fato Comunicado Nº casos

2009 Nº casos

2010 Nº casos

2011 Nº casos

2012 Violência Física 27 30 39 108 Soco 11 12 14 39

4 São usadas as referências nos BOs em função de não descaracterizar e manter a fidelidade. Usado

o termo violência física conforme os BOs, conforme a classificação da Lei Maria da Penha Lei 11340/2006. Salientando que toda agressão pode gerar ferimento ou lesão.

Page 80: dissertação final jaqueline pdf

79

Empurrão 4 6 7 27 Tapa 4 4 5 23 Puxão de Cabelo 3 4 - 9 Asfixia - - 1 4 Chute 3 - 6 3 Aranhão 2 4 6 3 Violência Psi cológica 75 96 144 283 Ameaça 75 96 144 124 Violência Moral 31 24 95 244 Injuria 16 12 52 170 Difamação 15 12 43 74 Violência Patrimonial 12 13 24 23 Dano 12 13 24 23 Violência Sexual 4 7 19 27 Relação Forçada 1 4 2 4 Assedio 3 3 17 23 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 17 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Rio Negrinho no período de 2009 a 2012.

Fato Comunicado

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Física 56 34 57 22 Soco 18 10 19 9 Empurrão 11 7 15 6 Tapa 11 7 13 3 Puxão de Cabelo 5 - 4 1 Asfixia 1 2 2 1 Chute 8 5 2 1 Aranhão 2 3 2 1 Violência Psicológica 101 71 89 76 Ameaça 101 56 76 60 Ameaça de Morte - 15 13 16 Violência Moral 55 27 33 23 Injuria 35 17 19 13 Difamação 20 10 14 10 Violência Patrimonial 4 10 9 9 Dano 4 10 9 9 Violência Sexual 2 5 4 4 Relação Forçada - 1 - 1 Assedio 2 4 4 3 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 18 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Campo Alegre no período de 2009 a 2012.

Fato Comunicado Nº casos

2009 Nº casos

2010 Nº casos

2011 Nº casos

2012 Violência Física 23 23 18 25 Soco 6 5 5 7 Empurrão 4 5 3 5 Tapa 4 5 3 5 Puxão de Cabelo 3 4 3 4 Asfixia - - - - Chute 3 4 3 4 Aranhão 2 4 1 - Violência Psicológica 13 11 9 11 Ameaça 12 11 8 9 Ameaça de Morte 1 - 1 2 Violência Moral 21 31 17 20

Page 81: dissertação final jaqueline pdf

80

Difamação 9 14 8 12 Injuria 7 10 6 5 Calunia 5 7 3 3 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 19 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Itaiópolis no período de 2009 a 2012. Fato Comunicado

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Física 26 22 21 32 Soco 11 9 10 13 Empurrão 5 5 3 6 Tapa 4 4 3 6 Puxão de Cabelo 3 2 2 4 Asfixia - - - - Chute 3 2 2 3 Aranhão - - 1 - Violência Psicológica 15 19 17 20 Ameaça 14 19 17 20 Ameaça de Morte 1 - - - Violência Moral 20 24 41 34 Difamação 9 15 18 17 Injuria 6 6 16 13 Calunia 5 3 7 4 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 20 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Papanduva no período de 2009 a 2012.

Fato Comunicado

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Física 26 18 28 23 Soco 11 4 8 10 Empurrão 5 4 8 7 Tapa 4 2 8 5 Puxão de Cabelo 4 2 4 - Asfixia - 2 - - Chute 2 2 - 1 Aranhão - 2 - - Violência Psicológica 73 40 101 83 Ameaça 73 40 101 83 Violência Moral 27 18 62 34 Injuria 22 12 39 28 Difamação 3 3 12 11 Calunia 2 3 11 4 Violência Patrimon ial - - 2 2 Tentativa de Homicídio - - 2 2 Violência Sexual - - 1 1 Estupro - - 1 1 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 21 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Monte Castelo no período de 2009 a 2012.

Fato Comunicado

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Física 10 8 21 16 Soco 2 4 7 3 Empurrão 2 1 5 3 Tapa 2 1 5 3

Page 82: dissertação final jaqueline pdf

81

Puxão de Cabelo - 1 4 3 Asfixia - - - - Chute 2 1 - 2 Aranhão 2 - - 2 Violência Psicológica 12 18 43 41 Ameaça 12 18 43 41 Violência Moral 17 17 34 42 Injuria 10 11 27 32 Difamação 5 6 7 7 Calunia 2 - - 3 Violência Patrimonial - - - 1 Tentativa de Homicídio - - - 1 Violência Sexual - - - 4 Estupro - - - 2 Tentativa de Estupro - - - 1 Assedio Sexual - - - 1 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Com base nos dados acima descritos realizamos a análise seguindo a ordem

das tabelas. Discutimos primeiramente as formas de violências. Na maioria dos

casos, as formas de violência previstas no art. 7º da Lei Maria da Penha, não se

apresentam de forma isolada, mas em associação. Assim, é comum que a mulher

sofra, ao mesmo tempo, violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.

Dessa forma, para dar maior visibilidade ao cenário da violência, foram

contabilizadas separadamente, mesmo que uma mesma mulher tenha sido vitima de

múltiplas formas de violências, todas registradas em uma mesma ocorrência em um

mesmo BO dessa vítima.

Podemos observar, quando discutimos as formas de violência, que a violência

moral e psicologia aparecem com certa regularidade em alta incidência. Estas

formas de violência predominam em todos os municípios estudados. Este estudo

demonstra que na violência moral, a atitude mais expressiva é a injúria, seguida pela

difamação e calúnia. Nesta forma de violência o Art. 7º da Lei Maria da Penha, prevê

em linhas gerais, que se considera essas atitudes violentas crime proferido contra a

honra da mulher (calúnia, injúria ou difamação).

Esta forma de violência pode causar prejuízo para a mulher, podendo resultar

em dano de natureza física e para sua estima, que pode gerar doenças orgânicas,

negar valores considerados universais, limitar a liberdade e a igualdade. A violência

moral pode progredir para outras formas de violência. Para Monteiro et al. (2007), a

violência é uma escala perigosa que tende a crescer, geralmente inícia com

agressões verbais, passando para as físicas, psicológicas e sexuais, podendo

culminar em homicídio.

Page 83: dissertação final jaqueline pdf

82

Assim, a violência que aparece predominante na seqüência da classificação

das violências indicadas nesse estudo, é violência psicológica, registrada pelo termo

ameaça. A violência psicológica é aquela faz com que a mulher se perceba em

situação de inferioridade. Gradualmente vai colocando a mulher em situação de

invisibilidade, desqualificando os seus sentimentos, suas conquistas deixando-a

impotente perante seu agressor. Ademais, o ponto forte desta forma de violência são

os danos invisíveis causados à mulher vítima. Consideramos que esta forma de

violência é mais difícil à sua recuperação (da mulher), requerendo apoio técnico e

profissional.

A denúncia a estas formas de violência, antes tida como inofensiva e

naturalizada nas relações sociais e humanas, pode ter sido estimulada pelo amparo

legal da Lei Maria da Penha, que define e subsidia o julgamento da violência moral e

psicológica. Indicação evidenciada pelo número de denúncias realizadas nos anos

estudados, percebida pelo possível reconhecimento das mulheres sobre o que é

violência e quando esta se percebe sendo agredida.

No entendimento de Cunha et al. (2007), “[...] a agressão emocional em

determinadas situação torna-se tão mais grave quanto a física, diminuindo e

inferiorizando o outro [...]”. para dar conta das manifestações da natureza da

violência psicológica, a Secretaria de Vigilância em Saúde (2005), pontua exemplos

rotineiros na violência contra a mulher, quando esta é impedida de trabalhar, sofre

manipulação financeira, não recebe apoio para a educação dos filhos, como também

enfrenta ameaças constantes ou espancamento ou morte.

Observamos, pela análise dos dados coletados, a presença da violência física

que pode estar relacionada com o crescimento gradativo das formas de violência.

Inicialmente a violência é verbal evoluindo para agressão física. São expressivas as

denúncias registradas por agressão física indicadas, por meio: de tapas, socos,

empurrões, pontapés cometidas por homem, e com vinculo familiar.

Ao refletir-se sobre a violência física a qual as mulheres do espaço estudado,

estão expostas podemos considerar as condições sociais e históricas

predominantes, a violência como um fenômeno social. Porém, a violência física, por

sua vez, desperta sentimentos de raiva e impotência nas mulheres, perpetuando o

ciclo das violências. Além das marcas deixadas no corpo da mulher a violência física

provoca outras formas de violências que não são percebidas no momento da

agressão e sim tendem a apresentar-se posteriormente, manisfestando-se em

Page 84: dissertação final jaqueline pdf

83

doenças orgânicas e emocionais; sentimento de culpa, baixa estima, estado de

depressão, mantendo a mulher isolada e desestimulada a lutar para livrar-se das

manifestações de violência física.

A justificativa para tanto reside do fato de este crime apresenta nuances

diferenciadas inerentes à sua prática, devendo ser estudado e analisado de maneira

específica e em separado.

Tabela 22 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Mafra (2009 a 2012).

Classificação da violência e responsável pela violência

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Doméstica 210 289 308 181 Marido 36 127 145 111 Ex-marido 24 115 118 49 Ex-namorado 18 21 19 10 Namorado 17 13 15 7 Filho 14 13 11 4 Violência não doméstica 79 101 86 33 Vizinho 25 19 11 7 Colega 17 14 6 5 Outros 37 68 69 21 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 23 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – São Bento do Sul (2009 a 2012). .

Classificação da violência e responsável pela violência

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Doméstica 96 85 166 347 Marido 47 32 78 152 Ex-marido 29 23 49 139 Ex-namorado 11 15 21 27 Namorado 8 4 11 10 Filhos 1 11 7 19 Violência não doméstica 43 32 49 102 Vizinho 6 4 13 15 Colega 6 3 12 15 Outros 31 25 24 87 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 24 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Rio Negrinho (2009 a 2012).

Classificação da violência e responsável pela violência

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Doméstica 102 69 86 66 Marido 46 39 54 37 Ex-marido 33 16 19 15 Ex-namorado 13 9 11 8 Namorado 5 2 - 3 Filhos 5 3 2 3 Violência não doméstica 62 42 52 39 Vizinho 12 10 10 9 Colega 5 5 3 7 Outros 45 27 39 23 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Page 85: dissertação final jaqueline pdf

84

Tabela 25 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Campo Alegre no período de 2009 a 2012.

Classificação da violência e responsável pela violência

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Doméstica 15 15 17 19 Ex-marido 9 8 7 11 Marido 3 4 6 4 Filhos 3 3 4 4 Violência não doméstica 31 27 18 29 Vizinho 6 5 6 6 Outros 25 22 12 23 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 26 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Itaiópolis no período de 2009 a 2012.

Classificação da violência e responsável pela violência

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Doméstica 23 25 43 52 Ex-marido 11 14 21 33 Marido 7 8 11 12 Filhos 5 3 11 7 Violência não doméstica 38 40 35 34 Vizinho 10 11 12 10 Outros 28 29 23 24 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 27 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor Papanduva no período de 2009 a 2012.

Classificação da violência e responsável pela violência

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência Doméstica 82 38 96 92 Marido 48 23 59 47 Ex - marido 30 14 24 40 Namorado 4 - 10 5 Filhos - 1 3 7 Violência não doméstica 27 25 31 40 Vizinho 14 8 9 15 Outros 13 17 22 25 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Ao discutirmos estes dados podemos observar a constante presença da

violência doméstica nos municípios estudados. A Lei Maria da Penha tipifica e define

a violência doméstica e familiar em seu Art. 5º configurando-a como qualquer ação

ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,

sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial. Também se refere ao vinculo que o

agressor tem com a vítima, seguindo como em qualquer relação intima de afeto, na

qual o agressor conviva ou tenha convivido com a vítima, independente de

coabitação. Tal Lei deixa clara a proteção da mulher diante da violência doméstica.

Observa-se pelas tabelas anteriores, que a grande maioria dos homens

autores das agressões denunciadas vive, ou já viveu, uma relação conjugal, nem

Page 86: dissertação final jaqueline pdf

85

sempre legalizada com a vítima. Situação esta observada pelos dados da tabela 2,

quando as mulheres indicam a união estável para caracterizar seu relacionamento.

Os autores das violências geralmente são os maridos, ex-maridos e namorados.

Mas uma situação preocupante é a indicação da agressão realizada pelos filhos. Isto

mostra que mesmo as relações de consanguinidade com a vítima, não impedem as

práticas de violência geracional.

Diante do contexto da violência doméstica do século XI, essa se dá pelas

várias formas de relação afetiva das mulheres com seus agressores. Segundo

Saffioti (1997), a violência cometida no âmbito familiar, recobre o universo das

pessoas relacionadas por laços consanguíneos ou afins. Atualmente, essa relação

permanece presente, abrangendo pessoas que vivem ou viveram sob o mesmo teto.

É forte a presença da violência doméstica contra a mulher, está situação se mantém

hoje devido a cultura das sociedades relacionando a naturalidade da violência que

acontece intrafamiliar.

Esta forma de violência (doméstica), deixa marcas profundas na vida dessas

mulheres, embora a grande maioria dos atos violentos não estejam estampados no

corpo das mulheres vítimas, mas provocam traumas profundos. A violência

doméstica expressa a magnitude das relações de poder ainda existentes na

sociedade, que sempre naturalizou a violência intrafamiliar.

A violência doméstica incide diretamente sobre a vida da mulher. Uma prova

desta afirmação refere-se ao histórico da criação da Lei Maria da Penha (2006),

devido à fragilidade do serviço de segurança pública para adentrar o intimo familiar e

julgar a violência doméstica como crime. Portanto, a criação de um dispositivo

jurídico para coibir exclusivamente a violência doméstica evidencia a gravidade da

questão.

Discutimos a seguir o terceiro conjunto de dados que caracterizam os atos

violentos contra as mulheres no espaço estudado. Estes dados foram coletados nos

BOs no espaço em que a mulher relata como aconteceu a violência física e suas

outras formas. Estes dados contemplam a realidade da violência física contra a

mulher, pelas marcas deixadas no corpo da vítima, para que ela perceba a relação

de poder que o agressor tem sobre o seu corpo, mantendo o ciclo da violência.

Tabela 28 – Prevalência das violências físicas por área do corpo afetada - Mafra (2009 a 2012). Área do corpo afetada pela

Violência física Nº casos

2009 Nº casos

2010 Nº casos

2011 Nº casos

2012

Page 87: dissertação final jaqueline pdf

86

Violência física 131 128 119 87 Face 49 57 32 29 Membros Superiores 37 41 27 26 Cabeça 36 31 23 21 Pescoço 24 27 21 19 Tronco 15 27 21 17 Membros Inferiores 15 19 19 8 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 29 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – São Bento do Sul (2009 a 2012).

Área do corpo afetada pela Violência física

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência física 27 30 39 108 Cabeça 19 15 21 56 Face 15 11 17 39 Tronco 13 7 13 27 Outras Áreas 8 10 10 19 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 30 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Rio Negrinho (2009 a 2012).

Área do corpo afetada pela Violência física

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência física 56 34 57 22 Face 22 29 27 19 Cabeça 19 17 21 17 Tronco 10 17 15 13 Outras Áreas 9 12 10 11 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 31 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Campo Alegre (2009 a 2012).

Área do corpo afetada pela Violência física

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência física 23 23 18 25 Face 9 12 11 15 Cabeça 7 9 7 9 Tronco 7 7 7 8 Outras Áreas 9 11 9 11 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 32 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Itaiópolis (2009 a 2012). Área do corpo afetada pela

Violência física Nº casos

2009 Nº casos

2010 Nº casos

2011 Nº casos

2012 Violência física 26 22 21 32 Face 13 11 15 19 Cabeça 9 10 9 13 Tronco 9 7 7 9 Outras Áreas 9 10 11 13 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 33 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Papanduva (2009 a 2012).

Área do corpo afetada pela Violência física

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Page 88: dissertação final jaqueline pdf

87

Violência física 26 18 28 23 Cabeça 15 16 15 14 Face 12 8 7 8 Pescoço 7 4 4 - Outras Áreas 4 5 4 6 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Tabela 34 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Monte Castelo (2009 a 2012).

Área do corpo afetada pela Violência física

Nº casos 2009

Nº casos 2010

Nº casos 2011

Nº casos 2012

Violência física 10 8 21 16 Cabeça 8 7 8 12 Face 6 3 5 7 Pescoço 5 3 5 4 Outras Áreas 4 3 9 4 Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Na sequência da análise das tabelas, podemos observar que os locais

preferenciais afetados pelas agressões contra as mulheres são a face e a cabeça.

Várias indagações permanecem quando discutimos estes dados: o porquê de

agredir a mulher na face? Uma hipótese que poderia explicar essa situação pode

estar relacionada às marcas que se tornam marcas das relações de poder e das

relações afetivas. As marcas desta forma de violência são lembradas com maior

facilidade, pois, as lesões demoram em cicatrizar e toda vez que a mulher olhar-se

no espelho lembrar-se-á das agressões, mantendo a violência psicológica presente.

Para destacar tal fato, a literatura indica a dificuldade de estabelecer a relação

existente entre a violência doméstica à mulher e os traumatismos de face e cabeça.

Tal dificuldade pode ser justificada pela frequente omissão da mulher quanto a um

motivo dos ferimentos a ela acometidos. Dificilmente a mulher agredida em casa

relata com exatidão de detalhes a causa que proporcionou as lesões em sua face

quando procura ajuda em serviços de saúde.

Poderíamos inferir que as marcas, de modo subjetivo deixadas pelo agressor

no corpo da mulher vítima de violência física, refletem a magnitude das ditas

relações de poder. Consideramos que são corpos violados pela violência do seu

parceiro, e em muitos casos as cicatrizes permaneceram para toda a vida da mulher,

provocando vergonha e trazendo a tona lembranças dos momentos de medo e dor.

A condição de mulheres marcadas pela agressão expõe seus relacionamentos

familiares tumultuados, frágeis e com alto caráter repressivo. As mulheres

encontram dificuldades para expor e receber o acolhimento de suas queixas, até

porque quando são submetidas a exames de corpo delito para comprovar a

Page 89: dissertação final jaqueline pdf

88

ocorrência destas agressões, há uma sequencia de sofrimento a qual ela se

expõem.

4.6 FATORES QUE CONTRIBUIRAM PARA OS ATOS VIOLENTOS CONTRA O

GÊNERO FEMININO

Na sequencia discutiremos dados sobre os fatores que contribuem para a

manutenção da violência. Estes dados foram extraídos do BOs, no campo relato das

denunciantes. É evidente que neste conjunto de dados, a violência contra a mulher

pode ser entendida pelos fatores contribuintes para a sua manifestação e

perpetuação. É sabido que a violência contra a mulher é permeada por fatores

multicausais.

Devemos considerar a relevância social desse quadro, considerando as

vulnerabilidades sociais da população. Tais vulnerabilidades estão relacionadas às

condições econômicas, trabalho, renda e, relações sociais e familiares entre as

pessoas. A forma como a sociedade é estruturada e organizada, com relações

desiguais de poder entre homens e mulheres, significa a continuidade e sustentação

da violência contra a mulher. A construção de papéis diferenciados é baseada em

normas sociais e valores morais arraigados ao longo do tempo, que atribuem à

mulher uma posição de inferioridade perante o homem, que se utiliza da violência

como recurso maior para fazer valer sua supremacia.

Os fatores vinculados à comunidade incluem pobreza, posição

socioeconômica, desemprego, associação com companheiros delinqüentes, que

levam ao isolamento da mulher e da família. Por isso é uma das atribuições da

política pública de assistência social o resgate dos vínculos familiares e sociais de

todos os integrantes das comunidades, em especial dos recortes mais

vulnerabilizados.

Como relações pessoais se consideram os conflitos conjugais, o controle do

patrimônio e a tomada de decisões da família pelo parceiro. Os aspectos relativos ao

agressor individual incluem: são homens, fazem uso de drogas licitas ou ilícitas, e

condição socioeconômica.

Observamos a presença destes fatores nos relados das denunciantes nos

municípios estudados, os quais dão aporte para a efetivação de ações previstas

pelas políticas públicas que devem se voltar para a educação, a organização

Page 90: dissertação final jaqueline pdf

89

familiar; a formalização dos trabalhadores assalariados; fortalecimento das

estruturas familiares, tratamento da dependência química; questões citadas nos

relatos das denunciantes. Se há a organização da rede de atenção às vítimas das

violências, haverá intervenção no perpetuado ciclo da violência contra a mulher e na

violência doméstica.

Também, há que se indicar aos profissionais envolvidos a importância da

atenção no acolhimento desta vítima, encaminhando-as para uma sequencia correta

de atendimento conforme preconiza o Pacto de Enfrentamento a violência contra a

mulher e as demais políticas públicas relativas à temática.

Quadro 2 – Fatores que contribuíram para a violência contra a mulher coletados por meio dos BOs nos municípios, Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo (2009 a 2012).

FATOS RELATADOS

Fatores Vinculados a Comunidade. Relação de dominação do parceiro por ser detentor da renda familiar.

Situação de pobreza da família, sobrevivência por meio de bolsa família.

Situação econômica familiar desfavorável. Situação de desemprego do companheiro.

Associação do esposo com companheiros delinquentes. Interferindo na relação.

Isolamento da mulher e da família.

Relação de poder do companheiro sobre a família.

No âmbito das relações pessoais.

Conflitos conjugais como: separação, união estável, transição conflituosa do processo de divorcio, relação de poder sobre o corpo da parceira,

O controle do patrimônio familiar.

Relacionamento familiar conflituoso, envolvendo o casal e os filhos.

Relacionamento extraconjugal por parte do parceiro.

Relacionamentos longos com mais de 20 anos desfeitos por interferência de álcool, drogas e relacionamentos extrafamiliares.

Os aspectos relativos ao agressor individual Ser homem.

Presenciar violência conjugal durante a sua infância, pai ausente ou que o rejeita, sofrer abusos durante a infância e consumo de álcool e drogas.

Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Page 91: dissertação final jaqueline pdf

90

4.7 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO AS MULHERES NOS

MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O PLANALTO NORTE CATARINENSE

A violência praticada contra as mulheres é multifacetada, necessitando da

organização dos espaços/serviços para o enfrentamento da violência contra as

mulheres. A Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres

(2011), adota o conceito de “enfrentamento” a violência contra a mulher, como a

implementação de políticas articuladas para dar conta das complexas relações que

permeiam a violência contra a mulher. Para que a política de atenção à mulher seja

operacionalizada de forma articulada e de forma organizada está requer a

participação dos serviços envolvidos na rede, estimulando a organização dos

setores prioritários como; saúde, educação, segurança pública, justiça e assistência

social. Portanto, a conceituação de enfrentamento no contexto do combate a

violência contra a mulher vai muito além do combate e sim trabalha as dimensões da

prevenção, assistência e garantia dos direitos.

Seguindo a orientação da Política Nacional de Enfrentamento a Violência

contra a (2011) e também do Pacto de Enfrentamento a Violência contra a Mulher

(2011), que no momento, são duas políticas públicas com expressão e nortes

definidos para adoção de estratégias no combate a violência, discutiremos na

seqüência do texto a organização dos serviços de atenção à violência contra a

mulher nos municípios estudados. Desta forma, é imperativo que os municípios

adotem medidas multissetoriais atuando de forma conjunta, seja na prevenção,

repressão, assistência e garantia de direitos, envolvendo as áreas prioritárias para

organização dos serviços de assistência às mulheres vitimas ou em situação de

vulnerabilidade diante da violência de gênero.

Considerando que os governos de forma tripartite e a sociedade civil possuem

atribuições para o enfrentamento à violência contra a mulher e, observado a

construção histórica brasileira que a estruturação e o trabalho dos serviços de

atenção às mulheres se deram e continuam de forma isolada, o conceito de rede

surge como estratégia para recompor esta desarticulação e incentiva as medidas

para o enfrentamento a violência contra a mulher por meio de ações coordenadas.

Para dar conta da problemática da violência contra a mulher, conforme as políticas

que nos orientam teoricamente, a definição de Rede de Atendimento se aplica na

Page 92: dissertação final jaqueline pdf

91

medida em que são criadas as interfaces entre as ações desenvolvidas pelos

diversos setores voltados para os direitos das Mulheres.

Segundo a Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher

(2011) e o Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher (2011), a

necessidade de criação de uma Rede de Atendimento leva em conta o caminho que

a mulher percorre após ser vitima de violência, na tentativa de encontrar respostas

das instituições públicas e sociais frente à violência vivenciada. Esse caminho é

composto por várias portas de entrada, que devem atuar de forma articulada no

sentido de prestarem uma assistência qualificada, integral à mulher que sofreu

violência. No âmbito do Estado, a Rede de Atendimento à Mulher em situação de

Violência está dividida em 4 (quatro) principais setores/áreas:

- Saúde;

- Segurança Pública;

- Justiça;

- Assistência Social.

Os serviços são apresentados em dua categorias de serviços que se

caracterizam como as principais portas de entradas, procuradas pelas mulheres

vítimas de violência ou em situação de vulnerabilidade:

A Primeira categoria é dos serviços não especializados;

- Hospitais Gerais;

- Serviços de Atenção Básica;

- Programas de Saúde da Família – PSF;

- Delegacias Comuns;

- Policia Militar;

- Policia Federal;

- Centros de Referência de Assistência Social CRAS;

- Ministério Público;

- Defensoria Pública.

A segunda categoria é composta pelos serviços especializados de

atendimento as mulheres, aqueles que atendem exclusivamente as mulheres em

situação de violência:

- Centros de Referência de Atendimento à Mulher;

- Núcleos de Atendimento à Mulher em situação de Violência;

Page 93: dissertação final jaqueline pdf

92

- Centros Integrados da Mulher;

- Casas Abrigo;

- Casas de Acolhimento Provisório (Casas de Passagem);

- Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM);

- Núcleos especializados de atendimento às mulheres nas delegacias

comuns; Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas;

- Promotorias Especializadas;

- Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;

- Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180;

- Ouvidoria da Mulher;

- Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência

sexual e doméstica;

- Serviços de Atendimento em Fronteiras Secas (Núcleos da Mulher na Casa

do Migrante).

Para que pudéssemos descrever a composição atual da rede de serviços

para atenção às mulheres vítimas de violência nos municípios, elaboramos uma

figura para lustrar os serviços disponíveis nos municípios de Mafra, São Bento do

Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo. A figura

descrita foi organizada com dados coletados durante a pesquisa de campo e, visitas

às delegacias de polícia. Solicitamos as informações para funcionário (policial),

presente na delegacia no momento da coleta de dados e desta forma podemos

descrever a organização dos serviços.

Page 94: dissertação final jaqueline pdf

93

Figura 4 – Organização da rede nos Municípios no recorte do Planalto Norte Catarinense.

Fonte: Dados da pesquisa,(2013).

Na figura 4, podemos observar que a constituição da rede de cuidados no

enfrentamento a violência contra as mulheres, apresentam-se constituídas por

serviços classificados como não especializados, somente dos municípios Mafra e

São Bento do Sul contam com serviço especializado, especificamente as delegacias

SÃO BENTO DO SUL DPCAMI CRAS Policia Militar CREAS Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade Polícia Federal Conselho da Mulher Casa Abrigo

MAFRA DPCAMI CRAS Policia Militar CREAS Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade Polícia Federal

ITAIÓPOLIS Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade

PAPANDUVA Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade

MONTE CASTELO Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar Ministério Público Assistência Social Hospital Geral

CAMPO ALEGRE Delegacia de Policia civil CRAS Policia Militar Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade

RIO NEGRINHO Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar CREAS Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade Polícia Federal Conselho da Mulher Casa Abrigo

Page 95: dissertação final jaqueline pdf

94

especializadas de policia civil. Embora os órgãos da Rede de Atendimento às

mulheres em situação de violência, estejam estruturados com poucos componentes

especializados, as mulheres procuram estes serviços para efetuarem as denúncias

de violência sofridas. Porém, o que não evidenciamos é a articulação entre estes

serviços. A fragilidade no encaminhamentos e nos fluxos, assistência prestada a

estas mulheres vitimas de violência, ainda é realizada de forma fragmentada,

fazendo com que as mulheres percorram o mesmo circulo várias vezes.

Desta forma, seria necessária a mobilização da sociedade civil organizada

para sensibilizar os gestores locais para a implantação de serviços ditos

especializados, atendendo as mulheres vitimas de violência, identificando os nós

críticos da rede já existente, e os problemas relacionados à efetivação frente aos

serviços públicos prestados.

Page 96: dissertação final jaqueline pdf

95

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação apresenta o resultado do estudo sobre o cenário da violência

contra a mulher aplicada no território de abrangência do Planalto Norte Catarinense.

Também demonstra uma trajetória da formação no conhecimento que percorremos

na qual realizamos descobertas jamais imaginadas. Viajamos por um mundo cheio

de descobertas que provocou o anseio de entender os pormenores deste cenário.

O estudo colaborou para a nossa construção do entendimento das

circunstancias que permeiam a vida das mulheres vitimas de violência. Também

aguçou nossa curiosidade para entender futuramente o porquê da permanência do

ciclo social da violência, apesar de tantos meios ou estratégias para contê-lo.

Ao concluirmos as etapas anteriores do estudo desta dissertação,

apresentam-se as conclusões finais, para tal, retomamos a questão que norteou

todo o estudo: qual o cenário das violências que as mulheres dos municípios que

compõem o Planalto Norte Catarinense, foram expostas no período de 2009 a 2012

e das Políticas Públicas que tratam desta questão. Do objeto em questão derivam

outras questões que estão interligadas e ajudaram no desenvolvimento do trabalho.

A resposta a essa questão emergiu ao longo da coleta de dados seguidos de

reflexões e análises. As violências vivenciadas por estas mulheres no cenário

estudado assumem múltiplas matizes, observamos que a permanência dessas

mulheres no contexto da violência é frequentemente agravada, pelas formas de

violência inferidas contra o seu reduto (corpo), ou seja, sofrendo agressões físicas,

moral ou psicologia, que no estudo apareceram com menos evidencia. Porém, essas

deixam marcas em consequência da violação dos seus direitos humanos, marcado

por suas condições de exclusão social.

A violência está presente nas relações interpessoais, afetando diretamente as

condições de vida das mulheres. O ciclo da violência doméstica perfaz toda a rotina

de vida diária destas mulheres, uma vez iniciada a ruptura torna-se processo difícil,

devido à dinâmica familiar e nem sempre o apoio e a segurança necessária estão

prontas para atender esse segmento.

Essa condição de sofrimento para as mulheres vitimas de violência, é

antecipada por uma rotina marcada por desentendimentos, relações conturbadas

por ciúmes, agressões constantes praticadas por agressor após ter ingerido álcool

ou drogas. Também pela característica do perfil agressivo do seu companheiro ou

Page 97: dissertação final jaqueline pdf

96

agressor, a situação da mulher vítima de violência, permanece em uma constante

alternância de cenas de violência e visitas às instituições especializadas ou com

atribuições para atendê-las. A condição da violência contra as mulheres está

interligada com as questões de vulnerabilidade social. Nos municípios estudados

pelo perfil das mulheres e pelos fatores que favorecem a violência fica evidente que

elas pertencem a um recorte população de clara presença da vulnerabilidade.

A vulnerabilidade pode estar relacionada com a capacidade das famílias ou

dos grupos sociais enfrentarem as condições adversas. Vulnerabilidade não é

somente questão de pobreza e sim a vulnerabilidade pode estar inclusa na pobreza.

Assim, determinados grupos estão expostos a maior ou menor risco social

(vulneráveis). No território estudado as questões de vulnerabilidade social estão

presentes na dinâmica das relações familiares, nível de escolarização, subordinação

financeira da mulher em relação ao seu companheiro, aspecto de saúde na família

(uso de drogas e comportamento agressivo) e espaço domiciliar. Ficou evidente que

neste espaço territorial pesquisado, a vulnerabilidade social incide sobre a violência

contra as mulheres.

Como mecanismo de proteção à mulher, o marco legal que demarca essa

ênfase no tratamento da questão é a Lei Maria da Penha. Antes desta lei não existia

lei especifica. Com a lei a intolerância sobre a violência contra as mulheres passou a

ser requisito principal das políticas públicas. Com a lei se passou a tipificar essa

violência tida até certo ponto como cultural, como crime. Definem-se penas e

aumentando a pena para a prisão do agressor. Esta lei define mecanismos para

coibir a desistência da vitima após o registro da ocorrência, que pode ser acionada

quando a violência doméstica, punindo com rigor o agressor.

Devemos destacar que a lei não contempla de modo efetivo as violências

necessitam de mais articulação entre as políticas públicas voltadas a prevenção e

erradicação da violência contra a mulher.

Outro ponto a ser mencionado é a rede de serviços para a atenção das

mulheres que foram vitimas e denunciam a violência nos municípios. Com base no

aporte teórico que as políticas públicas podemos avaliar, que após

aproximadamente 25 anos de estruturação na linha de atenção as mulheres vítimas

de violência, encontramos várias legislações e estratégias organizadas. Mas que na

prática ainda são incipientes.

Page 98: dissertação final jaqueline pdf

97

Também há recursos financeiros federais disponíveis para o tratamento da

violência contra as mulheres. Questionamos-nos o porquê destes mecanismos não

estarem sendo implantados na região estudada.

Salientamos que o município no qual a rede encontra-se mais estruturada

alcançou índices maiores no crescimento das denúncias. Esta situação nos dá duas

possibilidades de explicação: há mais violências neste município ou a rede está

assegurando maior confiabilidade para as denúncias!

Ainda, pode estar havendo subnotificação nos outros municípios, pois,

quando a mulher é estimulada pelos mecanismos a falar sobre a violência que

sofreu e não tem apoio da rede, ela fica fragilizada e intimidada para efetuar a

denúncia.

Diante do cenário pesquisado, os dados nos levam a apontar para uma

imprescindível reflexão sobre o termo desenvolvimento. Na discussão do contexto

da violência contra as mulheres apontaríamos que a redução dos índices que

revelam essa problemática, o desenvolvimento não contempla o humano, social,

local, regional. Há questões do cumprimento das políticas públicas que estão

negligenciados e interferem no processo do desenvolvimento, pois consomem

recursos, não dão suporte a inclusão social e perpetuam problemáticas.

Entendemos que o desenvolvimento humano se dá por meio do caminhar

contínuo, não determinado por processos biológicos e genéticos, mas pelo

desenvolvimento socioeconômico. Este é mais amplo e é determinado pela cultura,

relações sociais, pelo acesso a todos os bens socialmente construído, na qual todos

são igual perante a lei e perante os direitos.

Por outro lado, o desenvolvimento social vai ao encontro do paradoxo que

define a nova face da sociedade atual. Esta é permeada pelas diferenças conforme

a localização ou delimitação geográfica e cultural, as quais influenciam as políticas

públicas, as condições socioeconômicas, na qual os sujeitos coabitam um espaço

interinfluenciado.

A soma dos desenvolvimentos acontecem num local, por isso o cenário

territorial se apresenta como desafio frente às disparidades e desigualdades sociais.

Temas como políticas públicas locais, sustentabilidade e responsabilidade social,

estão cada vez mais difundidas nos debates, em práticas que objetivam a

sustentabilidade perante ações efetivas e políticas públicas.

Page 99: dissertação final jaqueline pdf

98

Diante do crítico cenário da violência contra as mulheres e do

desenvolvimento necessário, é imperioso que os aspectos primordiais para que as

iniciativas e políticas realizadas contribuam realmente na diminuição das

disparidades locais. É a própria consciência dos fatores que resultaram em tais

situações de não desenvolvimento. Isso implica na conscientização, na elaboração e

aplicação de processos políticos para reduzirmos os fatores que contribuem para

que não alcancemos desenvolvimento local esperado, quando a violência retira dos

sujeitos de uma sociedade a livre circulação e o senso de pertencimento, acuados

pelo medo.

Este estudo nos mostra apontamentos que não foram elucidados durante o

desenvolvimento do estudo, mas que são conclusões decorrentes dele. Diante dos

propósitos do estudo concluído, pontuamos questões que não contemplavam no

objeto de estudo, porem nos provoca a discutir as seguintes questões no espaço

estudado (Planalto Norte Catarinense):

- Devemos instigar a discussão do tema com os gestores locais e de

instituições privadas ou públicas que fazem parte da rede de serviços de

atenção às mulheres vítimas de violência. Entre elas a saúde, educação,

segurança publica, justiça e ação social, discutindo o cenário da violência

nos seus espaços de abrangência. Articular a rede para que a mesma seja

efetiva no atendimento às mulheres.

- Há que se discutir com os técnicos que compõe a rede de cuidados, no

enfrentamento a violência contra a mulher, estimulando a discussão da

efetividade dos serviços e também o conhecimento das políticas públicas

que estão à disposição para o enfrentamento a violência contra a mulher.

- Há que se discutir a estruturação da rede de serviços voltada para atenção

da mulher vitima de violência, com base nas políticas públicas disponíveis

para o enfrentamento da violência.

- Estudar as vulnerabilidades sociais existentes nos bairros com maior

incidência de violência contra a mulher no recorte do Planalto Norte

Catarinense.

Desse modo, podemos também sugerir estratégias para empoderar as

mulheres, tanto as que vivem em situação de violência como também as

profissionais que prestam assistência. Assim, podemos sugerir como estratégia para

o enfrentamento a violência contra as mulheres no espaço estudado, a elaboração

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de cartilha educativa para trabalharmos oficinas para as mulheres, com temas

relacionados à violência contra a mulher, despertando no grupo a origem da

violência contra as mulheres, as nuances que a permeiam e formas para o

enfrentamento. Utilizando como método a educação e o conhecimento para

ultrapassarmos tais desafios. Qual só será possível com o engajamento e

comprometimento de todos os atores envolvidos na efetivação do trabalho,

especialmente, a participação popular, que nesse ponto, é vista como pertinente

para garantir a integralidade do corpo feminino.

Referente ao aprendizado, podemos citar que somos profissionais em

constante transformação, em muitos momentos o meio nos torna o que somos o

comodismo, a preguiça intelectual faz com que nos tornemos autômatos,

representando o que a sociedade nos solicita. Este estudo fez com que a

pesquisadora repensasse o trabalho, atitudes diante do atendimento as mulheres,

em seu espaço de trabalho. Contribuiu para a orientação diferenciada e

encaminhamento das mulheres que necessitam de apoio independente de ser

identificada alguma forma de violência. Também despertou a vontade de trabalhar

as questões de violência contra a mulher no município de Mafra.

Pontuação final, devemos observar que não basta existirem políticas públicas

sociais estruturadas se não estiverem amparadas pela responsabilidade política dos

gestores públicos e privados e dos profissionais em implementá-las.

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100

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APÊNDICES

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APENDICE A – Questionário

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DADOS PESQUISA VIOLENCIA CONTRA A MULHER ANO: MUNICÍPIO:

Bairros Número de registros

ESPAÇOS DE OCORRENCIA DAS VIOLENCIAS Espaço Número de registros Privado Público

FATO COMUNICADO

FAIXA ETÁRIA Idade (anos) Número de registros 15 a 20 31 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 Acima de 61

ESTADO CIVIL Casada Solteira Separada União estável Amaziada Viúva Não Informado

ESCOLARIDADE Tipo Número de registros Primeiro grau incompleto Primeiro graus completo Segundo grau incompleto Segundo graus completo Ensino superior incompleto Ensino superior completo

PROFISSÃO Descrição da Profissão Número de registros

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TIPO DE AGRESSÃO

Descrição da Profissão Número de registros

MATERIAL UTILIZADO NA AGRESSÃO Descrição Número de registros

AGRESSOR Responsável pela agressão Número de registros Esposo Ex-marido Vizinho Enteado Filho Namorado Colega Irmão Padrasto Outros

ÁREA DO CORPO AFETADA Área Número de registros Face Cabeça MMSS MMII Tronco Pescoço

ESTADO DO AGRESSOR Tipo Número de registros Agressor em uso de álcool Agressor em uso de droga Agressor com perfil agressivo Agressor com transtornos mentais

OUTROS REGISTROS

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APENDICE B – Carta de Apresentação

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ANEXOS

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ANEXO A – Boletim de ocorrência

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Boletim de Ocorrência

REGISTRO: ORIGEM: COMUNICAÇÃO:

FATO

Data: Hora:

Local do fato: (via pública / via privada)

Fato Comunicado

Participantes

Comunicante

Nome: Data de Nascimento: Idade: Cidade de Nascimento:

Mãe: Pai:

Sexo: Estado Civil: Nacionalidade: Grau de Instrução:

Profissão: Local de T rabalho:

CPF:

Carteira de Identidade: UF: Emissão:

Carteira de Habilitação:

Validade: Categoria:

Endereço Residencial:

Telefone Comercial:

RELATO

ASSINATURAS