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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO JOICY SUELY GALVÃO DA COSTA ENTRE A VIDA E A OBRA: MÚSICA E RELIGIÃO EM MAX WEBER Figura 1 NATAL/RN 2013

Dissertação Joicy Costa - repositorio.ufrn.br · Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para a obtenção

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

MESTRADO

JOICY SUELY GALVÃO DA COSTA

ENTRE A VIDA E A OBRA: MÚSICA E RELIGIÃO EM MAX WEB ER

Figura 1

NATAL/RN

2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

MESTRADO

JOICY SUELY GALVÃO DA COSTA

ENTRE A VIDA E A OBRA: MÚSICA E RELIGIÃO EM MAX WEB ER

NATAL/RN 2013

JOICY SUELY GALVÃO DA COSTA

ENTRE A VIDA E A OBRA: MÚSICA E RELIGIÃO EM MAX WEB ER

Dissertação de Mestrado apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.

Área de concentração: Dinâmicas Sociais, Práticas Culturais e Representações

Orientador: Prof. Dr. José Willington Germano

NATAL/RN 2013

Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Costa, Joicy Suely Galvão da. Entre a vida e a obra: música e religião em Max Weber / Joicy Suely

Galvão da Costa. – 2013. 105 f.: il. - Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2013.

Orientador: Prof. Dr. José Willington Germano.

1. Weber, Max – 1864-1920. 2. Música. 3. Religião. 4. Racionalismo. I. Germano, José Willington. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BSE-CCHLA CDU 141.132

JOICY SUELY GALVÃO DA COSTA

ENTRE A VIDA E A OBRA: MÚSICA E RELIGIÃO EM MAX WEB ER

Dissertação de Mestrado apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.

Aprovada em ___/___/___

_______________________________________________ Prof. Dr. José Willington Germano

Orientador – UFRN

_______________________________________________ Prof. Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior – UFRN

Examinador Interno ao Programa

_______________________________________________ Prof. Dr. Zilmar Rodrigues – UFRN Examinador Externo ao Programa

_______________________________________________ Profa. Dra. Lenina Lopes Soares Silva – IFRN

Examinadora Externa

A Jesus Cristo, homem-Deus que me guia, companheiro e confidente de jornada, inspiração de minha trilha de crescimento humano. Aos afetos de meu maior apreço (família): Francisco, Geonete, Saulo, Rosa, Maria Eduarda e Vinícius. Meu pequeno refúgio, meu alicerce, minha raiz.

AGRADECIMENTOS

Após uma jornada de muito trabalho, chegamos a este momento com forte

sentimento de gratidão e de dever cumprido. Sentimos a superação de um desafio

materializar-se, visto que levantar uma discussão, seja ela qual for, acerca de algum

aspecto da obra weberiana é uma atividade que impõe respeito.

Muitos foram os momentos de angústia e solidão vivenciados ao longo da

produção deste trabalho, entretanto, de uma solidão alentadora e criativa. As

decisões por tomar, o caminho enevoado que por muito tempo se mostrou na

pesquisa, levou-nos a momentos de indecisão e muito empenho por luzes e ideias

que abrissem clareira em meio à neblina do passo-a-passo.

Talvez, alguns que leiam este trabalho não imaginem o processo dolorido

(embora prazeroso) pelo qual passamos para aqui ancorar, mas de calmarias e

tempestades se fazem a ciência.

Quantas noites mal dormidas, na companhia de nossos cadernos de

anotações... E, a cada cochilo, uma ideia nova; uma impressão nova; um sentimento

novo.

Quantas autodescobertas foram acontecendo... Assim como acreditamos na

premissa de que a obra de Weber foi um ajuste de contas com a sua vida, esta

dissertação tornou-se um ajuste de contas pessoal com alguns aspectos de nossa

vivência religiosa.

Um processo de dentro para fora, tanto na produção de conhecimento

científico, quanto na nova costura de alguns significados da existência. Como bem

expressou Wright Mills (1982), o artesanato intelectual não prescinde da vida de

quem o realiza.

Contudo, queremos registrar que nossa solidão teve bom termo. Algumas

pessoas/ instituições fizeram parte, direta e indiretamente, desta jornada e a elas

oferecemos os mais sinceros agradecimentos:

A meu querido Vinícius Fernandes, pela companhia incansável e pela

paciência longa. Por emprestar seus ouvidos às minhas angústias, pelo abraço

acolhedor, pelo silêncio consolador, pelas palavras curativas. Pelo apoio

incondicional;

Ao amigo-orientador José Willington Germano, pela relação que ultrapassa as

burocracias de toda ordem. Nestes seis anos de convivência (desde a iniciação

científica) construímos uma amizade pouco provável entre orientador/orientando, um

elo de cumplicidade e de verdade. Estou feliz pelo trabalho conjunto, pela confiança

e liberdade. Nossa amizade está amadurecendo, podemos sentir isso pelo

transcorrer da pesquisa. O desafio foi vencido a contento, assim acreditamos;

Aos colegas e amigos do Grupo de Pesquisa Cultura, Política e Educação ,

pelo ambiente propício, incentivos, e companhia dos mais próximos. Em especial, a

Lenina Lopes (conselheira de todas as horas), Gllauco Smith (parceiro intelectual),

Hylana Maressa e Dalliva (companheiras inesquecíveis dos Concertos de Leitura

da Iniciação Científica).

Ao professor Orivaldo Pimentel, pela presença serena e gentil – desde o

Seminário de Dissertação – e por suas contribuições ao nosso trabalho;

Ao professor Sérgio da Mata, pelo breve, mas importante auxílio em nossa

troca de e-mails. O texto de autoria de Lepsius (2004) que compartilhou conosco foi

decisivo para a construção de parte deste trabalho;

Aos secretários Otânio e Jeferson, guardiões nossos de cada dia no

Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (UFRN);

Por fim, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) e ao Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais

(PPGCS/UFRN) que propiciaram a nossa jornada de estudos em nível de mestrado

na condição de bolsista;

E ao povo brasileiro, anônimos e cidadãos comuns que, com seus impostos

nos permitiram ter uma formação pública, e de qualidade, para o benefício da

própria nação brasileira.

Obrigada a todos pela colaboração!

Eu sou absolutamente ‘amusical’ do ponto de vista religioso e não tenho seja necessidade seja capacidade de erigir dentro de mim quaisquer ‘edifícios’ de caráter religioso [...]. Mas, após meticulosa avaliação, eu não sou nem antirreligioso, nem irreligioso. Vejo a mim mesmo, também nesta perspectiva, como um aleijado, como um mutilado, cujo destino interior é ter de admitir isto honestamente a si mesmo, conformar-se com isto – para não cair no embuste romântico. (WEBER apud MATA, 2011, p. 27). Essa é a técnica de escritura [partitura] que me faz falta. Com ela à minha disposição eu poderia finalmente fazer o que deveria: dizer muitas coisas separadas, uma ao lado da outra, mas simultaneamente. (WEBER apud COHN, 2003, p. 4).

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre música e religião na vida e obra de Max Weber, em uma perspectiva que alia suas produções intelectuais em Sociologia, nos subcampos da religião e da arte. Desenvolvemos a investigação revisitando o conceito de racionalização , presente no pensamento weberiano, discutindo também de que modo a música e a religião, enquanto esferas distintas da vida, protagonizam conflitos e alianças e constroem atitudes particulares de ação no mundo, tendo o surgimento de uma racionalidade baseada no cálculo uma posição central para compreender a construção da técnica musical no Ocidente e a autonomização do gozo estético do gozo religioso, anteriormente vinculados. No que concerne ao procedimento de análise, construímos uma cartografia simbólica, conforme Santos (2000), de obras selecionadas de Max Weber, como Rejeições religiosas do mundo e suas direções (1982), entre outras. Com a atividade, identificamos aproximações e distanciamentos entre música e religião no pensamento desse autor. Consideramos que as dimensões estudadas encontram importância nas análises weberianas da constituição da sociedade moderna e seu sistema cultural, apresentando dois enfoques distintos do problema da racionalização do ocidente. Palavras-chave: Música. Religião. Racionalização. Max Weber.

ABSTRACT This study aims to analyze the relationship between music and religion in Max Weber’s life and work, in a perspective that combines its intellectual productions in Sociology, in religion and art subfields. We developed a research in order to revisit the concept of rationalization , present in Weberian thought, and also to discuss how music and religion, as distinct spheres of life, star conflicts and alliances and build particular attitudes of action in the world, having the appearance of a rationality based on calculation in a central position to understand the construction of musical technique in the West and the autonomy of aesthetic enjoyment from religious enjoyment, previously linked. Regarding the procedure analysis, we built a symbolic cartography, according to Santos (2000), from selected works of Max Weber, as Religious rejections in the world and their directi ons (1982), among others. With the activity, we identified similarities and differences between music and religion in the author thoughts. We consider that the studied dimensions are important in Weberian analysis of the constitution of modern society and its cultural system, showing two distinct approaches to the issue of rationalization in the West. Keywords : Music. Religion. Rationalization. Max Weber.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2 PARTE I: A VIDA DE UMA OBRA ........................................................................ 21

2.1 A filosofia de uma biografia .............................................................................. 22

2.2 Os interesses intelectuais de Max Weber ....................................................... 29

2.3 Weber e religião .............................................................................................. 41

2.4 Weber e música .............................................................................................. 47

3 PARTE II: CARTOGRAFIA DE UM ENCONTRO ENTRE MÚSICA E RELIGIÃO 56

3.1 O racionalismo ................................................................................................. 57

3.2 A tensão entre música e religião ...................................................................... 71

3.3 A cartografia simbólica: aproximações e distanciamentos ............................... 85

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 97

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 101

LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Anjos – Disponível em: <http://www.google.com.br/>

Figura 2 – Max Weber – Disponível em: <http://revistacult.uol.com.br/home/2011/01/existe-uma-sociedade-weberiana/>

Figura 3 – Partitura da ópera Tristão e Isolda (R. Wagner) – Disponível em: <http://pt.cantorion.org/music/582/Tristan-und-Isolde-%28Prelude%29-Orquesta>

Figura 4 – Richard Wagner – Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.eternoretorno.com/wp-content/uploads/2009/07/richard-wagner.jpg&imgrefurl=>

Figura 5 – Representação das esferas de valor religiosa e econ ômica . Fonte: Elaboração da autora (2013). Figura 6 – Representação das esferas de valor . Fonte: Elaboração da autora (2013). Figura 7 – Relação entre autonomia, unidade e racionalização . Fonte: Elaboração da autora (2013).

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ................................................................................................................... 33

Quadro 2 ................................................................................................................... 34

Quadro 3 ................................................................................................................... 35

Quadro 4 ................................................................................................................... 36

Quadro 5 ................................................................................................................... 37

Quadro 6 ................................................................................................................... 37

Quadro 7 ................................................................................................................... 38

Quadro 8 ................................................................................................................... 40

Quadro 9 ................................................................................................................... 53

Quadro 10 ................................................................................................................. 67

Quadro 11 ................................................................................................................. 68

Quadro 12 ................................................................................................................. 68

Quadro 13 ................................................................................................................. 70

Quadro 14 ................................................................................................................. 72

Quadro 15 ................................................................................................................. 74

Quadro 16 ................................................................................................................. 87

Quadro 17 ................................................................................................................. 87

Quadro 18 ................................................................................................................. 89

Quadro 19 ................................................................................................................. 90

Quadro 20 ................................................................................................................. 91

Quadro 21 ................................................................................................................. 92

Quadro 22 ................................................................................................................. 93

Quadro 23 ................................................................................................................. 94

Quadro 24 ................................................................................................................. 95

Figura 2 - Max Weber

1 INTRODUÇÃO

Por que razão quase meio século depois de morto Max Weber desperta ainda tantas paixões? Devido a sua obra ou à sua personalidade? (ARON, 2000, p. 503).

Certamente, os questionamentos de Raymond Aron apresentados na epígrafe

acima, em alusão a Max Weber, são de difícil resposta. Contudo, buscando

interlocutores que pudessem nos auxiliar nesta tarefa, encontramos um pensamento

de enorme valia: “es clásico lo que persiste como ruido de fondo incluso allí donde la

actualidad más incompatible se impone” (CALVINO, 1994, p. 13)1.

Esse pensamento é o caminho que nos conduz a uma ideia, ainda que vaga,

acerca da presença de Max Weber nas Ciências Sociais da atualidade, tendo uma

compreensão do autor enquanto um clássico . Neste sentido, Calvino (1994) nos

caiu bem quando dedica um livro na tentativa de responder por que ler os clássicos.

Retornando a Aron (2000, p. 508), outra acepção apropriada surge ao

pensarmos na obra de Weber, como contemporânea nossa:

Estes debates sobre a personalidade de Weber ilustram, a meu ver, a multiplicidade dos sentidos em que me parece apropriado afirmar que ele é nosso contemporâneo. Primeiramente, porque pertence à família dos grandes pensadores, cuja obra é tão rica e ambígua que cada nova geração a lê, interroga e interpreta à sua maneira. Depois, porque é um cientista cuja contribuição ainda permanece atual.

Conforme o exposto, o ato de ler, interrogar e interpretar à maneira de cada

geração revela a atualidade das análises de um autor para as questões da

abordagem do real. Deste modo, o pensamento de Max Weber permanece lançando

luzes para compreendermos diversos aspectos da dinâmica da vida em sociedade.

Max Weber, assim, é considerado um autor clássico em virtude do caráter de

leitura indispensável para o entendimento da constituição da sociedade moderna e

dos ecos que dela chegam até nós.

No caso brasileiro, Weber ocupa uma posição privilegiada enquanto intérprete

dos dilemas sociais encarados no país. As discussões sobre o Estado, o poder, a

burocracia, o carisma, entre outras, realizadas pelo autor, auxilia-nos na

1 CALVINO, Ítalo. Por que leer los clasicos . México: Tusquets editores, 1994.

interpretação do “jeitinho brasileiro”, da relação público-privada e da política

brasileira em sentido amplo. Um exemplo disto é o uso corrente de seus conceitos

entre os trabalhos de pós-graduação no país sendo, “juntamente com Karl Marx, o

autor mais citado em nossas teses de pós-graduação nas ciências humanas”.

(SOUZA, 2000, p. 11).

Neste sentido, muitos são os estudos brasileiros que versam sobre aspectos

da obra weberiana ou que utilizam alguns de seus conceitos como operadores

cognitivos importantes para explicar/ compreender alguma realidade de pesquisa2.

Este trabalho, por conseguinte, não foge à regra. Ao nos inserirmos na rotina

de estudos do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, deparamo-nos com elementos da obra de Max

Weber que nos chamaram a atenção.

O encantamento pela obra foi tal que, em um dado instante, fez-se necessária

a mudança do tema de pesquisa a ser devolvido no mestrado: de repente, demo-nos

conta de que desejaríamos trabalhar a relação entre música e religião em Weber em

vez de estudarmos a vida de Tonheca Dantas, renomado músico norteriograndense,

nosso anterior sujeito de pesquisa.

Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre música e religião na

vida e obra de Max Weber, em uma perspectiva que alia suas produções intelectuais

em Sociologia, nos subcampos da religião e da arte. Desenvolvemos a investigação

revisitando o conceito de racionalização , presente no pensamento weberiano,

discutindo também de que modo a música e a religião, enquanto esferas distintas da

vida, protagonizam conflitos e alianças e constroem atitudes particulares de ação no

mundo.

Destarte, postas sob o prisma da racionalização ocidental, a Sociologia da

Religião e a Sociologia da Música em Max Weber podem apresentar um duplo

caráter, ora de rejeição, ora de aproximação visto que as religiões de salvação, 2 Nesta linha, podemos citar trabalhos em duas vertentes: os estudos interpretativos do Brasil e pesquisas acadêmicas de temáticas diversas. Na primeira vertente citamos Jessé Souza (1998; 1999), que discute a influência da teoria weberiana sobre a interpretação do Brasil. Quanto à segunda, o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), em sua tela de busca (no campo assunto), traz um demonstrativo interessante: 329 teses/dissertações usam a expressão “Max Weber”, o que denota que o autor é amplamente referenciado, ao menos entre os que se encontram disponíveis no sítio da instituição. Este indicador é interessante em virtude da relevância acadêmica do órgão supracitado no Brasil, o que traz indícios de que nosso argumento é verdadeiro quanto à presença weberiana nas produções intelectuais no país, sobretudo, entre as humanidades. Esta consulta foi realizada no dia 22/05/2013. Para outras informações, acesse: http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses.

sobretudo o Cristianismo, secundarizaram, em determinado momento, o papel da

música através da negação da forma e do gozo estético.

Ao mesmo tempo, foram essas religiões que trouxeram as bases para o

desenvolvimento da racionalidade musical do Ocidente, por intermédio das

produções, seja de composições, instrumentos musicais ou tentativas de

sistematização da linguagem sonora, no recôndito da vida religiosa.

Do ponto de vista metodológico, a pesquisa ancora-se numa proposta de

interpretação bibliográfica, no que tange ao pensamento de Weber acerca das

relações entre a música e a religião no contexto do capitalismo ocidental.

Neste sentido, temos como corpus da pesquisa a obra de Weber pertinente a

esses dois campos de conhecimento, a partir dos quais selecionamos como fontes

para análise:

a) Obras em que a música aparece como campo de análise;

b) Obras no campo dos estudos da religião, de acordo com o objetivo

desta pesquisa.

No que concerne ao procedimento de análise, elaboramos uma cartografia

simbólica (Santos, 1995; 2000; 2007) das obras selecionadas de Max Weber no

tocante aos campos de estudo já referidos, tendo em vista identificar as tensões e as

confluências entre música e religião no pensamento do autor.

A cartografia simbólica é uma metodologia que leva em conta a subjetividade

do pesquisador, visto que este constrói representações de uma realidade em

consenso com suas próprias representações do objeto em estudo, seus objetivos e

proposições.

De acordo com Santos (2000), a cartografia é uma técnica de mapeamento

de informações que consiste na formulação de quadros paralelos em contorno de

grelha. Ainda conforme esse autor, a principal característica do procedimento está

em criar mapas imaginários considerando-se três mecanismos:

1. Escala – delimitação do “espaço” alvo da análise;

2. Projeção – representação pormenorizada ou geral da realidade a ser

interpretada;

3. Simbolização – interpretação do pesquisador acerca do contexto

projetado.

A cartografia foi elaborada tendo como parâmetro de leitura o tema do

racionalismo, que perpassa a produção de Max Weber transversalmente, de modo

que tornou possível a criação de mapas localizadores dos aspectos que envolvem a

relação entre as duas dimensões citadas, mapas que denominados cartogramas .

Usamos dois modelos de cartogramas, o primeiro apresentando trechos das

obras cartografadas de Max Weber, que apontam para o nosso objetivo de estudo; e

o segundo, um mapa sintético da relação entre música e religião. Seguem os

modelos:

Modelo de cartograma 1

MODELO DE CARTOGRAMA 1 Escala Projeção Distanciamento/ Aproximação

Trecho da obra analisada

Simbolização: Fonte: Elaboração da autora (2012).

Modelo de cartograma 2

MODELO DE CARTOGRAMA 2 Tensão conciliada

Distanciamentos Aproximações Síntese da si mbolização

Fonte: Elaboração da autora (2012).

Dentre os autores que dialogaram conosco nesta discussão, temos Cohn

(1995; 2003a; 2003b), Schluchter (1997; 1999; 2005); Waizbort (1995, 2010),

Pierucci (2000; 2003; 2004; 2012), Freund (2003), Diggins (1999), Souza (1998;

1999; 2000), Ianni (2011), Mills & Gerth (1982), Aron (2000), Pollak (1996), Lepsius

(2004) e Viana (2007; s.d).

Assim sendo, esta dissertação apresenta o seguinte desenho:

a) Na Parte I: discutimos brevemente os interesses intelectuais de Max

Weber e o cruzamento entre sua vida e obra, no tocante aos temas da

música e da religião;

b) Na Parte II: analisamos os conceitos de racionalização e

desencantamento do mundo enquanto possíveis vínculos entre música

e religião no pensamento weberiano. Nesta, apresentamos a feitura da

cartografia simbólica das aproximações e distanciamentos entre as

duas esferas estudadas.

Com a cartografia simbólica concluímos este trabalho com a concepção de

que as dimensões estudadas encontram importância nas análises weberianas da

constituição da sociedade moderna e seu sistema cultural, apresentando dois

enfoques distintos do problema da racionalização do ocidente.

Por fim, encerramos esta breve introdução com uma passagem que bem

define a importância de Weber para os estudos da sociedade:

O gênio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada. (Goethe).

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