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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Charles Denys da Luz Alves Caracterização de um gaseificador do tipo downdraft Belém 2010

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR

    INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

    Charles Denys da Luz Alves

    Caracterizao de um gaseificador do tipo downdraft

    Belm 2010

  • Charles Denys da Luz Alves

    Caracterizao de um gaseificador do tipo downdraft

    Dissertao apresentada para obteno do Grau de Mestre em Engenharia Mecnica, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Par. rea de concentrao: Trmicas e Fluidos. Orientador: Prof. Manoel Fernandes Martins Nogueira, Ph. D.

    Belm 2010

  • Dados Internacionais de catalogao-na-publicao (CIP), Biblioteca do Mestrado em Engenharia Mecnica/ UFPA, Belm, PA

    A474c Alves, Charles Denys da Luz Caracterizao de um gaseificador do tipo downdraft/ Charles Denys da luz Alves; orientador Manoel Fernandes Martins Nogueira. Belm, 2010.

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Par. Instituto de tecnologia. Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica, 2010.

    1.converso de carbono. 2. Gaseificador .I. Ttulo.

    CDD 19 ed. 660.2

  • Charles Denys da Luz Alves

    Caracterizao de um gaseificador do tipo downdraft

    Dissertao apresentada para obteno do Grau de Mestre em Engenharia Mecnica, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Par. rea de concentrao: Trmicas e Fluidos. Orientador: Prof. Manoel Fernandes Martins Nogueira, Ph. D.

    Data de aprovao:

    Banca examinadora:

    Prof. Manoel Fernandes Martins Nogueira, Ph. D. PPGEM/FEM/ITEC/UFPA Orientador

    Prof. Caio Glauco Sanchez, Ph. D. PPGEM/Unicamp Membro externo

    Prof. Dr. Danielle Regina da Silva Guerra PPGEM/FEM/ITEC/UFPA Membro interno

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Manoel Nogueira e a todos os amigos do Departamento de

    Engenharia Mecnica da Universidade Federal do Par, pela minha agradvel e

    proveitosa permanncia durante a execuo deste trabalho.

    Aos colegas e professores da UFPA e UFSC em especial ao professor

    Humberto Jos Jorge, pela cordialidade, pelos repositrios de dados fornecidos e

    por estarem sempre dispostos a responder as minhas dvidas.

    Ao CNPq pelo financiamento de bolsas atravs do projeto Gs Limpo -

    Adaptao e eficientizao de gaseifcadores de topo aberto operantes na

    Amaznia- (processo: 520069/2006-4) e atravs do programa de ps-graduao de

    engenharia mecnica (PPGEM)-(processo: 134781/2007-4) e a todos que direta ou

    indiretamente colaboraram na execuo deste trabalho.

  • Esperar reconhecer-se incompleto.

    (Guimares Rosa).

  • RESUMO

    A gaseificao uma converso termoqumica da biomassa em gs

    combustvel, que pode ser usado como combustvel em motores de combusto

    interna ou como gs de sntese para a indstria qumica. Para checar o

    desempenho de um gaseificador temos de quantificar a energia contida no gs

    produzido e a quantidade de carbono convertido por meio dos clculos de eficincia

    energtica e de converso de carbono atravs dos dados obtidos

    experimentalmente. A eficincia energtica uma relao entre os fluxos de gs e

    biomassa e de suas respectivas quantidades de energia, no mesmo sentido, a

    converso de carbono a quantidade de compostos carbonceos presentes no gs

    convertido a partir da quantidade de carbono presente na composio da biomassa.

    O presente documento avalia a eficincia energtica e de carbono na converso de

    um prottipo de um gaseificador indiano do tipo downdraft produzido por uma

    empresa local (Florags). Os parmetros nominais do gaseificador so: capacidade

    de produo de gs de 45 kWt, consumo de biomassa (caroo de aa) de 15 kg/h.

    As dimenses do gaseificador so: DI 150 mm e altura de 2000 mm). A eficincia

    energtica e a taxa de converso de carbono foram quantificados, a queda de

    presso devido ao leito do reator e a temperatura dos gases tambm foram medidos

    na sada do reator e tambm, a concentrao de alcatro, partculas e gases no

    condensveis (CO, CO2, CH4, SO2, N2 e NOx) nos gases de combusto aps a

    sistema de limpeza.

    Palavras-chave: Gaseificador downdraft, eficincia energtica, eficincia de converso de carbono.

  • ABSTRACT

    The gasification is a thermo-chemical conversion of biomass in fuel gas which

    can be used as a fuel in internal combustion engines or as a syngas for chemical

    industry. To quantify the performance of a gasifier we must quantify the energy

    contained in the gas produced and relate to the amount of energy contained in the

    biomass that feeds the gasifier, Energy Efficiency, and even with regard to levels of

    carbon converted from biomass into the gas produced, Carbon Conversion. This

    paper assesses the energy efficiency and carbon conversion in a prototype of an

    Indian downdraft gasifier type produced by a local company (Florags). The gasifier

    nominal parameters are: gas production capacity of 45 kWt, aa seeds consumption

    of 15 kg/h. The gasifier reactor dimensions are ID 150 mm and height in 2000 mm).

    Its energy efficiency and rate of carbon conversion were quantified, the drop in

    pressure due to the reactor bed and the gas temperature were also measured at the

    reactor exit and quantified the concentration of tar, particulate and not condensable

    gases (CO, CO2, CH4, SO2, N2 and NOx) in the flue gas after cleaning system.

    Keywords: Downdraft gasifier, energy efficiency and carbon conversion.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2.1: Veculo adaptado gasognio (Martinez, 2009). ........................................ 17 Figura 2.2: Gaseificador de extrao por cima (Silva Lora, 2007). ............................... 21 Figura 2.3: Gaseificador de extrao por baixo (Silva Lora, 2007). ............................. 21 Figura 2.4: Gaseificador fluxo cruzado (Silva Lora, 2007). ............................................ 22 Figura 2.5: Gaseificador de leito fluidizado (Silva Lora, 2007). ..................................... 22 Figura 3.1: Gaseificador downdraft em operao no LABEM/UFPA ............................ 27 Figura 3.2: Ilustrao do caminho percorrido pela corrente gasosa. ........................... 27 Figura 3.3: Detalhes do gaseificador Mukunda ............................................................. 28 Figura 3.4: a) Gaseificador em corte; b) Detalhe do coletor de particulados .............. 29 Figura 3.5: a) Filtro de caroos de aa; b) Filtro automotivo. ....................................... 30 Figura 3.6: Molinete .............................................................................................................. 31 Figura 3.7: Coletor isocintico ............................................................................................. 32 Figura 3.8: Medidores de concentrao: a) Tempest-100; b) Greenline. ................ 33 Figura 3.9: Queima no gaseificador: a) Zona de reao; b) Recarga do reator. ........ 35 Figura 3.10: Resduos: a) Carvo residual; b) Soluo de lavagem de gases. .......... 36 Figura 4.1: Ponto de coleta de resduos. .......................................................................... 47 Figura 5.1: Pontos referentes coleta de dados. ............................................................ 55 Figura 5.2: Depresso esttica na sada do gaseificador. ............................................. 56 Figura 5.3: Presso gasosa x consumo de biomassa .................................................... 57 Figura 5.4: Temperatura medida no gaseificador ............................................................ 58 Figura 5.5: Relao reagentes/produtos medida no gaseificador ................................. 59 Figura 5.6: Perfil da velocidade superficial ....................................................................... 60 Figura 5.7: Concentrao dos gases medida no gaseificador ....................................... 61 Figura 5.8: Razo de equivalncia x tempo ..................................................................... 62 Figura 5.9: Concentrao x razo de equivalncia. ........................................................ 62 Figura 5.10: Eficincia medida no gaseificador ............................................................... 63 Figura 5.11: PCI e potncia trmica do gs produzido ................................................... 64

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1: Gases produzidos por gaseificadores para biomassa (Bridgwater, 1991)*. ..................................................................................................................................... 23 Tabela 3.1: Caractersticas dos equipamentos de medio de gases ......................... 33 Tabela 4.1: Medidas de presso e velocidade do ar. ..................................................... 40 Tabela 5.1: Propriedades fsico-qumicas e energticas da biomassa. ....................... 49 Tabela 5.2: Dados obtidos durante o experimento em funo do tempo. ................... 51 Tabela 5.3: Vazes e velocidades superficiais medidas e calculadas. ........................ 51 Tabela 5.4: Parmetros do experimento ........................................................................... 52 Tabela 5.5: Dados obtidos do CIPA ................................................................................... 53 Tabela 5.6: Concentrao dos gases ................................................................................ 54 Tabela 5.7: Dados obtidos do alcatro e particulado ...................................................... 65

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Ast rea total da seo transversal n Velocidade

    r Massa especfica T Tempo de operao

    arm

    Vazo mssica de ar

    gsm

    Vazo mssica de gs

    biom

    Vazo mssica de biomassa

    gsMW Peso molecular.

    [CO] Frao volumtrica da espcie estudada

    su Velocidade superficial

    trmicah Eficincia trmica

    PCI Poder calorfico inferior

    PCS Poder calorfico superior

    Y Taxa de processamento da biomassa

    trmicaPot Potncia trmica

    carbonoh Eficincia de converso de carbono

    Razo de equivalncia

    comb

    ox real

    mm

    Relao combustvel/oxidante em condies reais

    comb

    ox st

    mm

    Relao combustvel/oxidante na condio estequiomtrica

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .................................................................................................................. 15

    1.1. MOTIVAO E OBJETIVOS ...................................................................................... 15

    1.2. CONTEDO ................................................................................................................... 16

    2. REVISO DOS TRABALHOS PRVIOS .................................................................... 17

    2.1. TEORIA DA GASEIFICAO ..................................................................................... 17

    2.1.1. Cenrio histrico e atual dos gaseificadores .................................................. 17

    2.1.2. Conceito ..................................................................................................................... 19

    2.1.3. Classificao dos gaseificadores ....................................................................... 20

    2.1.4. Zonas de processo .................................................................................................. 24

    3. DESCRIO DOS EQUIPAMENTOS E MTODOS ................................................. 27

    3.1. DESCRIO DO GASEIFICADOR ........................................................................... 27

    3.1.1. Funcionamento do sistema ................................................................................... 27

    3.1.2. Reator .......................................................................................................................... 28

    3.1.3. Bomba/exaustor ....................................................................................................... 29

    3.1.4. Lavador/ciclone ........................................................................................................ 29

    3.1.5. Tubos, mangueiras e vlvulas ............................................................................. 29

    3.1.6. Filtros .......................................................................................................................... 30

    3.1.7. Flare ............................................................................................................................. 30

    3.2. APARELHAGEM DE MEDIO ................................................................................. 30

    3.2.1. Medio de velocidade ........................................................................................... 31

    3.2.2. Medio de temperatura e presso ..................................................................... 31

    3.2.3. Coleta de alcatro e particulados ........................................................................ 32

    3.2.4. Medidores de concentrao gasosa ................................................................... 32

    3.3. OPERAO DO GASEIFICADOR ............................................................................. 34

    3.3.1. Tratamento da biomassa ....................................................................................... 34

    3.3.2. Leito de carvo e recarga do reator .................................................................... 34

    3.3.3. Resduos .................................................................................................................... 35

    3.3.4. Coleta e anlise dos gases ................................................................................... 36

  • 4. METODOLOGIA EXPERIMENTAL .............................................................................. 37

    4.1. PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL.......................................................................... 37

    4.2. TEORIA APLICADA NO ENSAIO ............................................................................... 38

    4.2.1. Vazo mssica .......................................................................................................... 38

    4.2.2. Massa especfica ...................................................................................................... 41

    4.2.3. Velocidade superficial ............................................................................................ 42

    4.2.4. Eficincia e potncia trmica ............................................................................... 42

    4.2.5. Eficincia carbonfera ............................................................................................. 44

    4.2.6. Razo de equivalncia ............................................................................................ 44

    4.2.7. Medida de alcatro e particulado ........................................................................ 46

    5. RESULTADOS.................................................................................................................. 49

    5.1. RESULTADOS OBTIDOS............................................................................................ 49

    5.2. ANLISE DOS RESULTADOS ................................................................................... 55

    5.2.1. Presso ....................................................................................................................... 56

    5.2.2. Temperatura .............................................................................................................. 57

    5.2.3. Vazo ........................................................................................................................... 59

    5.2.4. Velocidade superficial ............................................................................................ 59

    5.2.5. Concentrao ............................................................................................................ 60

    5.2.6. Razo de equivalncia ............................................................................................ 61

    5.2.7. Eficincia energtica e carbonfera .................................................................... 63

    5.2.8. Poder calorfico inferior e potncia trmica ..................................................... 64

    5.2.9. Alcatro ...................................................................................................................... 65

    6. CONCLUSO E SUGESTES...................................................................................... 66

    REFERNCIAS ..................................................................................................................... 69

  • 15

    1. INTRODUO

    1.1. MOTIVAO E OBJETIVOS

    Nos anos 70, mais precisamente na segunda metade desta dcada, vrios

    pases inauguraram uma nova fase no setor energtico, devido ao aumento nos

    custos de energia eltrica, motivados por fatores tecnolgicos e ambientais e a

    recesso dos pases industrializados, bem como a crise do petrleo o que levaram

    os pases a tomarem iniciativa das reformas institucionais deste setor. Sendo que

    desta reforma abrangeria mais espao para a produo eltrica em pequena escala,

    a cogerao e o uso mais intensivo de fontes energticas renovveis (Walter e

    Nogueira, 1997).

    Dentre essas fontes energticas a gaseificao desponta como uma opo,

    pois em seu processo utiliza um gs energtico proveniente da biomassa. Este gs

    pode ser empregado a partir de sua sintetizao ou mesmo diretamente em

    aplicaes industriais tais como tratamento trmico, cermico, panificao, estufas,

    secadores, calcinao, caldeiras, fornos de fundio metlicos e etc (Costa, 2007;

    Rosenberg et al, 2005).

    Apesar da viabilidade tcnica da tecnologia de gaseificao, ocorrem inmeros

    problemas referentes ao processo e ao projeto desses gaseificadores, as quais

    tambm esto envolvidas os sistemas de limpeza do gs. Dessa forma, o

    desenvolvimento de novos gaseificadores e avaliao dos j existentes so

    imprescindveis para o aprimoramento da tecnologia.

    Esse trabalho tem por objetivo principal, caracterizar o prottipo de um

    gaseificador indiano do tipo downdraft produzido por uma empresa local (Florags).

    Os parmetros nominais deste gaseificador so: capacidade de produo de gs de

    45 kW trmicos e consumo de biomassa (caroo de aa) de 15 kg/h; tendo como

    dimenses: 150 mm de dimetro interno e altura de 2000 mm.

    Especificamente buscou-se determinar as caractersticas da biomassa e do gs

    produzido no gaseificador, quantificando a eficincia energtica e potncia trmica

    do gs e a taxa de converso de carbono. Determinou-se tambm, a queda de

    presso devido ao leito do reator e a temperatura dos gases na sada do reator, a

  • 16

    razo de equivalncia e a velocidade superficial do processo, bem como a

    concentrao de alcatro, partculas e gases no condensveis (CO, CO2, CH4, SO2,

    N2 e NOx) nos gases de combusto aps a sistema de limpeza.

    1.2. CONTEDO

    No captulo 2 apresenta-se a fundamentao terica da gaseificao de

    biomassa, fazendo um breve comentrio sobre o que e como surgiu o processo de

    gaseificao, mostrando o panorama atual, principalmente as pesquisas realizadas

    no Brasil. Comenta sobre os principais tipos de gaseificadores existentes e descreve

    sucintamente sobre as reaes envolvidas neste processo.

    No captulo 3 mostra-se a descrio dos equipamentos e mtodos

    considerados no desenvolvimento do presente trabalho. Neste captulo, faz-se uma

    descrio detalhada de cada componente do gaseificador e do funcionamento do

    sistema, tambm apresentada uma breve descrio da instrumentao utilizada

    nas medies e a metodologia de operao no gaseificador.

    No captulo 4 apresenta-se fundamentao matemtica aplicada nos ensaios,

    descrevendo as equaes e aplicaes para a aquisio de dados.

    No captulo 5 e 6 so mostrados e discutidos os resultados do experimento.

    No capitulo 7, mostram-se as concluses, recomendaes e propostas de

    pesquisa futuras a partir da experincia obtida no desenvolvimento do presente

    trabalho.

  • 17

    2. REVISO DOS TRABALHOS PRVIOS

    2.1. TEORIA DA GASEIFICAO

    2.1.1. Cenrio histrico e atual dos gaseificadores

    A primeira vez que se fez meno ao uso de gaseificadores, foram nas ltimas

    dcadas do sculo 18 e no inicio do sculo 19 em processos de destilao seca

    utilizando materiais orgnicos, tendo como finalidade a iluminao pblica. Ainda no

    sculo 19 at meados do sculo 20, foram desenvolvidos outros mtodos para

    construo de gaseificadores, os chamados modelos Bishoff e Siemens que

    utilizavam como material gaseificante carvo e turfa, materiais de grande

    disponibilidade na natureza que serviam para utilizao em gasognios que eram

    equipamentos que serviam para alimentar veculos (figura 2.1), durante a segunda

    guerra (Reed, 1988).

    Figura 2.1: Veculo adaptado gasognio (Martinez, 2009).

    Esses gasognios serviram de modelo para o desenvolvimento de

    gaseificadores de biomassa e com a crise do petrleo na primeira dcada de 70,

    alm de questes relacionadas ao aquecimento global devido queima de

    combustveis fosseis no final da dcada de 90, houve fortalecimento de linhas de

    pesquisas sobre de recursos renovveis de modo sustentvel. A partir desse

    perodo, houve um interesse maior no processo e no desenvolvimento dos

    gaseificadores (Ushima, 1999; Prins, 2005).

    Dentro os maiores interessados nessa tecnologia, a ndia segundo Purohit

    (2009) e Jorapuree (1997) desponta como sendo um dos pases que mais investem

  • 18

    em desenvolvimento de gaseificadores, respaldada pelo indicativo 320 milhes de

    toneladas de resduos industriais produzidos por ano que podem ser usados em

    aplicaes energticas, o que em termos de capacidades de plantas poderiam gerar

    mais que 290 TWh de eletricidade por ano.

    Dentre esses sistemas, est o gaseificador de topo aberto desenvolvido por

    Mukunda et al. (1993), do Instituto Indiano de Cincias, que funciona acoplado a

    motores de combusto interna. Uma modificao feita por uma empresa paraense

    desse gaseificador objeto de estudo deste trabalho. Ao redor do mundo, inclusive

    no Brasil, vrias instituies de ensino trabalham para o aprimoramento da

    tecnologia de gaseificao onde aproveitam materiais residuais como cascas,

    palhas, serragem, cavacos e especificamente resduos agroindustriais como bagao

    de cana, casca de arroz, semente de algodo e outros (Sanchez et al, 1997; Kinto et

    al, 2002)

    Fernandes et al (2000), comprovou a viabilidade econmica do uso de

    gaseificadores com a finalidade de eletrificao rural, utilizando capim-elefante e

    casca de arroz. Barriga (2002), tambm realizou experimentos utilizando casca de

    arroz em gaseificador de leito fluidizado, obtendo gases com rendimentos a frio de

    48% e PCI de 3,2 MJ/Nm3.

    Leal (2004) utilizou bagao de cana e palha em leito fluidizado, obtendo gases

    com poder calorfico inferiores em torno de 5 MJ/Nm3, concluindo que a altas

    temperaturas pode-se ter boa converso de carbono (>95%). Trs anos depois,

    Ribeiro (2007) chamou de atrativo o desempenho de grupo geradores a diesel

    destinado a eletrificao rural, utilizando um gaseificador do tipo downdraft

    estratificado, motivado por seus resultados que apontaram reduo mdia de 83%

    nas emisses de NOx, 14% nas emisses de CO2 e um aumento dobrado na

    produo de CO, usando gs de sntese comparativamente ao diesel puro.

    Martnez (2009) apresentou um estudo experimental de um gaseificador de

    leito mvel do tipo extrao por baixo contendo dois estgios de fornecimento de ar.

    A gaseificao de biomassa neste gaseificador gerou gases com PCI de 4,53

    MJ/Nm3 e potncia trmica de 50 kWt. De acordo com Martnez, a configurao de

    duplo estgio de fornecimento de ar mostrou-se como um mtodo eficiente na

    diminuio do teor de alcatro no gs produzido.

  • 19

    Coelho (2006 e 2002) apresenta bons resultados com gaseificadores do tipo

    downdraft trazidos da ndia, atravs dos projetos Gaseifamas e Gaseibras que busca

    desenvolver a tecnologia e a formao de recursos humanos na regio norte.

    Gaseificou-se cavacos de eucalipto, casca de cupuau e outras biomassas locais,

    obtendo gases com PCS de 5,7 MJ/Nm3 capazes de gerar 20 kWe e que, segundo

    Coelho, conseguiu reduzir em 80% no consumo de combustveis fsseis.

    A Universidade Federal do Par, atravs do Grupo de Pesquisa em Energia de

    Biomassa - ENERBIO participou do projeto Genipaba, que consistiu em construir e

    implantar um gaseificador de 20 kWe. Este projeto possui como finalidade,

    possibilitar o desenvolvimento sustentvel da comunidade de Genipaba atravs da

    gerao de energia eltrica. No gaseificador, que de topo aberto e utilizando como

    biomassa caroo de aa, produziu-se gases com PCS de 4,6 MJ/Nm3, no qual

    obteve-se eficincia de 80% na converso de biomassa para gs (Rendeiro e

    Elarrat, 2008).

    Seguindo a temtica das pesquisas sobre gaseificao da biomassa acima,

    este trabalho visa avaliar sistematicamente se os parmetros de um gaseificador do

    tipo downdraft de topo aberto relativos ao consumo de biomassa e a eficincia

    trmica condizem com os parmetros fornecidos pelo representante da empresa.

    Avaliaram-se tambm outros parmetros de indicao de desempenho, como a

    velocidade superficial e a taxa de converso de carbono.

    2.1.2. Conceito

    De acordo com Perry (1999), a gaseificao descrita como um processo que

    envolve a combusto parcial de combustveis carbonceos ou hidrocarbonetos para

    gerar um gs combustvel rico em monxido de carbono e hidrognio. Ou seja,

    enquanto a combusto completa apresenta como produtos CO2, H2O e N2, a

    gaseificao apresenta-se de forma incompleta, tendo como produtos CO, H2 e CH4,

    alm claro, de certa quantidade de alcatro, isto , quando o combustvel for

    biomassa, uma vez que a gaseificao de carvo mineral no produz alcatro (ou

    produz quantidades nfimas).

  • 20

    2.1.3. Classificao dos gaseificadores

    Segundo Silva Lora (2004), podemos classificar esses equipamentos da

    seguinte forma:

    Quanto ao poder calorfico do gs: considerado de baixo poder calorfico os que produzem gs com PCI at 5 MJ/Nm3, mdio poder calorficos os que

    produzem gases com PCI entre 5 at 10 MJ/Nm3 e os que produzem gases

    com PCI entre 10 a 40 MJ/Nm3 so considerados de alto poder calorfico.

    Sendo que o poder calorfico define a aplicao final deste gs (Bridgewater,

    2003; Nogueira e Trossero, 2000).

    Quanto ao agente gaseificante: que pode ser o ar, oxignio ou vapor dgua ou combinao entre eles.

    Quanto presso: que pode ser atmosfricos ou pressurizados (at 6 MPa).

    Quanto direo do movimento do combustvel e do comburente: extrao por cima (contracorrente), extrao por baixo (co-corrente), fluxo

    cruzado e leito fluidizado.

    Os gaseificadores de extrao por cima so os mais simples e antigo, sendo ainda muito utilizados na indstria qumica na gaseificao de carvo mineral. Este

    gaseificador possui como vantagem a capacidade de gaseificar lixo municipal, sendo

    dessa forma capaz de gaseificar materiais com elevado teor de gua. Todavia, sua

    simplicidade apresenta desvantagem no que diz respeito qualidade do gs, que

    apresenta elevados teores de alcatro devido aos gases no passarem pela zona de

    combusto (Ushima, 1999; Sanchez et al,1997).

    Contracorrente se refere ao fato do combustvel ser alimentado pelo topo, seja

    atravs de portinholas ou vlvulas rotativas, e desce em contracorrente ao ar ou

    oxignio que pode estar ou no misturado a vapor dgua ou CO2 introduzido atravs

    de uma grelha, localizado na base do gaseificador (Piferr, 2008). A Figura 2.2,

    apresenta as regies normalmente encontradas ao longo da altura do leito de um

    gaseificador de extrao por cima tpico.

  • 21

    Figura 2.2: Gaseificador de extrao por cima (Silva Lora, 2007).

    Os gaseificadores de extrao por baixo (figura 2.3) ao contrrio do anterior, o gs sai por baixo e tem como vantagem a baixa produo de alcatro, pois o

    mesmo craqueado na zona de combusto, sendo este mais indicado para uso em

    motores a combusto interna. Tendo como principal desvantagem a utilizao de

    combustveis com pouca umidade e de granulometria uniforme (Correia Neto, 2001;

    Rajvanshi, 1986).

    Neste tipo de gaseificador, os injetores de ar so posicionados diretamente na

    regio de combusto, objetivando distribuir uniformemente o oxidante para que seja

    atingida a temperatura adequada em toda seco afim de craquear os alcatres que

    por ela passam (Martinez, 2009).

    Figura 2.3: Gaseificador de extrao por baixo (Silva Lora, 2007).

    G

    Ar Ar

    Biomassa

    Gs

    Biomassa

    Ar

    Gs

  • 22

    Nos gaseificadores de fluxo cruzado (figura 2.4), o ar entra em alta velocidade por um nico bocal, forando a circulao e a fluncia atravs do leito de

    carvo e gases. Este gaseificador capaz de produzir altas temperaturas, o que

    minimiza a concentrao de alcatro, embora favorea produo maior de cinzas

    nessa rea. As cinzas e a grande quantidade de combustvel ao redor da zona de

    pirlise funcionam como isolantes, permitindo que o gaseificador seja construdo

    com aos moderados (Ribeiro, 2007).

    Figura 2.4: Gaseificador fluxo cruzado (Silva Lora, 2007).

    Os gaseificadores de leito fluidizado (figura 2.5) foram desenvolvidos antes da segunda guerra mundial com a finalidade de gaseificar grandes quantidades de

    carvo mineral, sendo chamados de gaseificadores Winkler, que mais mais tarde foi

    adotado por indstrias qumicas e petroqumicas para craqueamento cataltico de

    hidrocarbonetos, alm de outras aplicaes (Cenbio, 2002).

    Figura 2.5: Gaseificador de leito fluidizado (Silva Lora, 2007).

    Biomassa

    Ar

    Gs

    Biomassa

    Gs Ar

  • 23

    O que diferencia o leito fluidizado do leito fixo , basicamente, a velocidade em

    que se processa o agente gaseificante. O gaseificador de leito fixo utiliza apenas o

    necessrio para o processamento das reaes, mas no sendo suficiente para

    arrastar partculas. Dessa forma, as interaes entre as partculas so de alta

    intensidade o que reflete em uma gaseificao mais completa (Vargas, 2001; Miccio

    et al, 2007).

    A vantagem do leito fluidizado a alta capacidade volumtrica e o fcil controle

    da temperatura, tendo como desvantagens a alta quantidade de partculas de poeira

    e cinzas no gs, alm da formao de alcatro a baixas temperaturas de operao

    (Safitri, 2005; Lettner et al, 2007).

    Segundo Sanchez et al (1997), a gaseificao em leito fluidizado promissora,

    principalmente quando se trata de combustveis como bagao de cana, casca de

    arroz, etc., pois estes biocombustveis so de difcil gaseificao por mtodos

    tradicionais devidos suas caractersticas (umidade, granulometria, etc).

    Sanchez tambm faz uma comparao das caractersticas do gs em

    diferentes tipos de gaseificadores, mostrando que o tipo de gaseificador influencia

    nas caractersticas do gs produzido. A composio tpica de gases produzidos em

    diferentes gaseificadores retirados os eventuais valores de alcatro mostrada na

    tabela 2.1, a partir de um levantamento feito por Bridgwater em 1991.

    Tabela 2.1: Gases produzidos por gaseificadores para biomassa (Bridgwater, 1991)*.

    Gaseificador

    Composio do gs

    (%Vol.Base seca) PCS

    (MJ/Nm3)

    Qualidade do gs**

    H2 CO CO2 CH4 N2

    Leito fluidizado 9 14 20 7 50 5,4 Mdia

    Contracorrente 11 24 9 3 53 5,5 Pobre

    Co-corrente 17 21 13 1 48 5,7 Boa

    **Particulado e alcatro.

    *Tabela retirada de Sanches, 1997.

  • 24

    Essas composies mdias definem o tipo de gaseificador que deve ser

    utilizado para determinada finalidade, por exemplo, se quisermos produzir um gs

    rico em metano, optaremos por um gaseificador do tipo leito fluidizado por

    apresentar gases com maior teor deste gs.

    2.1.4. Zonas de processo

    Alguns autores (Ponte Filho, 1988, Knoef, 2008; Wander, 2001), descrevem a

    ocorrncia de vrias zonas de reao nos gaseificadores as quais so chamadas:

    zona de secagem, pirlise, combusto e gaseificao, alm de reaes envolvendo

    o alcatro e os produtos de pirlise.

    A zona de secagem fica localizada no topo do gaseificador a qual sofre um pr-

    aquecimento gerado pelos gases quentes, o que provoca a secagem da biomassa,

    sendo que a umidade removida ser transferida para os gases. Nesta zona a

    temperatura pode variar de 350C a aproximadamente 600C, tratando-se um

    gaseificador tipo updraft, ou seja, com a sada dos gases por cima.

    A zona de pirlise a rea em que ocorrer a desvolatizao dos componentes

    da biomassa, tais como, a destilao dos gases, leos e alcatro. A temperatura

    nessa zona varia de 600 a 800C, e pode ser descrita de acordo com a reao

    abaixo:

    Biomassa + Calor Coque + Gases + Alcatro +

    Condensveis

    (1)

    Nas zonas de combusto e gaseificao ocorrem reaes homogneas e

    heterogneas de carter oxidativas e redutivas em fases slidas e gasosa:

    Reaes Heterogneas gs-slido

    a) Oxidao do carbono

    C + O2 = CO H= -110,6 kJ/mol (2)

    C + O2 = CO2 H = -393,8 kJ/mol (3)

    b) Reao de Bouduard

  • 25

    C + CO2 = 2 CO H = 172,6 kJ/mol (4)

    c) Reao de gs de gua ou reao carbono vapor

    C + H2O = CO + H2 H = 131,4 kJ/mol (5)

    d) Reao de formao de metano

    C + 2 H2 = CH4 H = -74,93 kJ/mol (6)

    Reaes Homogneas (gasosa)

    a) Reao de troca da gua

    CO + H2O = CO2 + H2 H = - 41,2 kJ/mol (7)

    CH4 + H2O = CO + 3

    H2

    H = 201,9 kJ/mol (8)

    As reaes envolvendo o craqueamento do alcatro produzido no gaseificador

    e os produtos de pirlise que sofrem oxidao so mostradas abaixo:

    Alcatro + Vapor + Calor = CO + CO2 + CH4...etc (9)

    1/3 (CO + H2+ CH4) + O2 = 2/3 CO2 + H2O (10)

    Todas as equaes acima mostram apenas uma simplificao das reaes no

    interior do gaseificador, tendo em vista sua complexidade. Mesmo assim, elas so

    capazes de descrever a formao gasosa do processo de gaseificao (Cenbio,

    2002).

    De acordo com Sanches et al (1997), apesar da versatilidade tcnica da

    gaseificao ainda encontra-se dificuldades da transformao do potencial terico

    em uma tecnologia comercialmente competitiva. Pois, ainda residem dificuldades no

    projeto de um equipamento que deve produzir um gs de qualidade, que seja

    adaptado s condies do combustvel e de operao.

    Correia Neto (2001) cita algumas dessas dificuldades:

    A tecnologia mais complicada que a queima direta;

  • 26

    Tm-se que ter segurana especial quanto ao gs txico produzido, o que

    exige projetos estanques e em local ventilado;

    Apresenta baixa eficincia trmica quando requer lavagem do gs, perda de

    calor na instalao e potncia de ventiladores;

    Pequenas escalas apresentam falhas freqentes;

    Dificuldades no manuseio do combustvel e na limpeza dos gases;

    A presena de alcatres e particulados exige limpeza para garantir

    integridade fsica de turbinas e outros equipamentos contra corroso e

    contaminao.

    Mesmo assim, podemos perceber que a gaseificao um processo cuja

    tecnologia j se tem domnio, no qual pesquisadores, instituies e grupos

    comerciais se dedicam no apenas em desenvolver e comercializar gaseificadores,

    como tambm, testar os j existentes no mercado com novos tipos de biomassa.

  • 27

    3. DESCRIO DOS EQUIPAMENTOS E MTODOS

    3.1. DESCRIO DO GASEIFICADOR

    O gaseificador downdraft indiano Mukunda (figura 3.1) cujo modelo foi

    adaptado s condies locais pela Florags, empresa paraense incubada na PIEBT

    (Programa de Incubadora de Empresas da UFPA). O equipamento foi adquirido pelo

    Projeto Gaseificadores de topo aberto operantes na Amaznia financiado pela

    FINEP com a intervenincia da Fundao de Amparo e Desenvolvimento Pesquisa

    FADESP, e instalado no Laboratrio de Engenharia Mecnica LABEM/UFPA.

    Figura 3.1: Gaseificador downdraft em operao no LABEM/UFPA

    3.1.1. Funcionamento do sistema

    A mistura gasosa produzida no interior do reator a partir do tratamento

    trmico da biomassa e conduzido de acordo com o esquema abaixo (figura 3.2).

    Esse gs arrastado atravs do sistema de limpeza do equipamento por meio de

    um exaustor localizado prximo ao queimador de gs.

    Figura 3.2: Ilustrao do caminho percorrido pela corrente gasosa.

    Coletor de resduos Reator Ciclone Tanque de lavagem

    Desumidificador Defletor Filtros (caroo e automotivo) Flare

  • 28

    No sistema de limpeza, a corrente gasosa entra perpendicularmente a uma

    corrente aquosa, onde ocorre a lavagem deste gs, propiciada por uma bomba que

    faz a recirculao da gua. A gua contendo alcatro e particulados so retirados

    por meio de um ciclone, o gs conduzido por cima at um desumidificador e um

    defletor, cujos anteparos retm o alcatro e umidade passantes.

    O sistema ainda conta com dois filtros, um contendo caroo de aa e um

    automotivo, que complementa o sistema de limpeza do gs. A partir da, o gs

    queimado e lanado na atmosfera atravs de um flare. Na figura 3.3, est o

    esquema descritivo desse gaseificador, mostrando seus componentes originais, que

    tambm so mostrados em detalhes na seqencia.

    Figura 3.3: Detalhes do gaseificador Mukunda

    3.1.2. Reator

    O reator do gaseificador mostrado em corte na figura 3.4.a, possui um corpo

    cilndrico cujas dimenses so: 1,636 m de altura e 0,15 m de dimetro interno,

    tendo rea de seco transversal de 0,018 m2 . Foi construdo com chapas de ao

    de 3 mm de espessura, as quais esto internamente revestidas com tijolos

    refratrios, com o intuito de preservao da chapa contra o calor e processos

    corrosivos.

    Bomba

    Reator

    Lavagem

    Ciclone

    Coletor de resduos

    Filtro (automotivo)

    Filtro (caroo de aa)

    Exaustor

    Flare

  • 29

    O reator possui ainda uma grelha constituda de ferro fundido, na base do

    cilindro e abaixo do reator, tem-se um coletor de resduos, do tipo parafuso sem fim

    por onde se retira as cinzas e restos de carvo (detalhe, figura 3.4.b).

    a)

    b)

    Figura 3.4: a) Gaseificador em corte; b) Detalhe do coletor de particulados

    3.1.3. Bomba/exaustor

    Tanto a bomba de circulao de gua quanto o exaustor possuem potncia de

    CV. O ventilador que utilizado para suco do gs est posicionado antes do

    flare e aps todo sistema de limpeza do gaseificador.

    3.1.4. Lavador/ciclone

    A lavagem do gs se faz antes do ciclone, pois h uma pr-mistura da gua

    com gs a fim de separar o alcatro da corrente gasosa e resfriar o gs. A massa

    retida na lavagem fornece valores para as quantidades de alcatro e particulados, a

    vazo mxima de gua para resfriamento do gs de 6 l/min. Segundo idealizadores

    do projeto, o ciclone foi dimensionado para separar partculas acima de 0,5 mm.

    3.1.5. Tubos, mangueiras e vlvulas

    As tubulaes so feitas de ao comercial de 2 de dimetro, e as mangueiras

    de polietileno de mesmo dimetro. Foram instaladas na sada dos gases vlvulas

    globo de ao galvanizado para controle da corrente gasosa.

  • 30

    3.1.6. Filtros

    O gaseificador possui dois filtros (figura 3.5): um de caroo de aa, que retira

    boa parte do alcatro e umidade, e o outro, constitudo de um filtro automotivo para

    o particulado. O filtro de caroo de aa possui 0,25 m de dimetro por 0,3 m de

    altura. O filtro de particulado possui 0,25 m de altura e 0,25 m de largura.

    3.1.7. Flare

    O queimador constitudo de um tubo de ao com dimetro de 0,025 m e 2 m

    de comprimento, usa-se para ignio do gs, um maarico que utiliza butano, os

    gases combustveis produzidos pelo gaseificador foram queimados por questes

    ambientais. Ao longo da haste instalou-se uma placa de orifcio com a finalidade de

    medio de presso e velocidade dos gases.

    3.2. APARELHAGEM DE MEDIO

    Para realizao das medies dos parmetros importantes no gaseificador,

    utilizou-se aparelhos para medies de velocidade, temperatura, presso,

    concentrao de gases e para determinar particulado e alcatro presentes nos

    gases.

    a) b)

    Figura 3.5: a) Filtro de caroos de aa; b) Filtro automotivo.

  • 31

    3.2.1. Medio de velocidade

    Para medio de velocidade do ar, utilizou-se um molinete da marca TESTO

    350 M/Xl - TESTO 454 (Bagarel, 2008), mostrado na figura 3.6, colocado de forma

    perpendicular ao orifcio de entrada de ar no reator,e cuja faixa de medio vai de 0

    20 m/s, com preciso de 0,03%. Obtida esta velocidade, pode-se calcular a

    vazo mssica de ar que entra na zona de reao do gaseificador. Este

    equipamento tambm serviu para calibrar a placa de orifcio posta na sada do

    gaseificador, com o objetivo de obter a presso e velocidade neste ponto.

    Figura 3.6: Molinete

    3.2.2. Medio de temperatura e presso

    O conhecimento e controle da temperatura e presso em um gaseificador so

    primordiais para que o fenmeno da gaseificao acontea, pois, atravs destes

    parmetros, foi verificado o comportamento da produo de gases. Para medies

    de temperatura utilizou-se um termopar tipo ponta de imerso modelo MTK-13 da

    fabricante Minipa, cuja faixa de medio de -50C at 700C, colocado na sada do

    reator e na sada do flare. A presso dos gases na sada do reator e na placa de

    orifcio foram medidas utilizando um manmetro em U, que indica a presso em

    coluna de gua (c.a). Evitou-se utilizar manmetro digital devido concentrao de

    alcatro presente no gs, o que poderia danificar o equipamento.

  • 32

    3.2.3. Coleta de alcatro e particulados

    Uma mangueira de material resistente corroso foi ligada s vlvulas na

    tubulao de escoamento do gs produzido, a jusante do lavador, com a finalidade

    de permitir a coleta de gs. Para coleta do gs utilizou-se um coletor isocintico

    (Energtica, 2008) chamado de CIPA (figura 3.7), que capaz de determinar a

    quantidade de particulado e alcatro presentes no gs, bem como a vazo

    volumtrica de gs coletado pelo equipamento.

    O CIPA utiliza como substncia seqestrante de alcatro o isopropanol,

    possuindo um filtro de papel que captura o particulado presente no gs, sendo que a

    massa coletada no papel de filtro e na soluo de isopropanol foi pesada em uma

    balana com sensibilidade de 0,001 g. A medida do volume feito atravs de um

    gasmetro instalado antes e depois da amostragem, a diferena de leitura no tempo

    fornece o volume da amostragem, obviamente corrigido para presso e temperatura,

    segundo normas da ABNT sobre efluentes gasosos (MB-3355/NBR 12020). Quanto

    preciso do gasmetro utilizado no CIPA a incerteza de 2%.

    Figura 3.7: Coletor isocintico

    3.2.4. Medidores de concentrao gasosa

    Os equipamentos Tempest-100 e Greenline (figuras 3.8.a e 3.8.b,

    respectivamente) foram utilizados para medir a composio dos gases provenientes

    do gaseificador: SO2, NO, NOX, CO, CO2, CxHy.

  • 33

    a)

    b)

    Figura 3.8: Medidores de concentrao: a) Tempest-100; b) Greenline.

    Estes medidores foram empregados aps limpeza de gs no CIPA. O Tempest-

    100 mediu as quantidades de NO, NOX e SO2, o Greenline as concentraes de CO,

    CO2, CxHy, cujos resultados so expressos em ppm (parte por milho), utilizando o

    sensor infravermelho.

    No entanto, houve dvidas na utilizao desses equipamentos, uma vez que

    seus limites de medio poderiam no ser apropriados para utilizao com gases

    provenientes de gaseificadores, no qual tm-se elevados teores de monxido de

    carbono. A faixa de deteco e a preciso desses aparelhos so mostradas na

    tabela 3.1.

    Tabela 3.1: Caractersticas dos equipamentos de medio de gases

    Greenline Tempest 100

    Elemento Faixa Erro Elemento Faixa Erro

    CO2 O -20% +/- 0,3% SO2 0-0,2% >100 ppm: +/- 5% fsd

    CO 0-15% +/- 0,3% NO 0-0,1%

    CxHy 0-5% +/- 5% (f.s) NOx 0-0,2% >20 ppm: +/- 5% fsd

  • 34

    3.3. OPERAO DO GASEIFICADOR

    A operao do gaseificador exige aplicao de conceitos de segurana,

    conhecimento tcnico do funcionamento e princpios que envolvem desde a

    preparao da matria-prima e ignio do gaseificador gaseificao propriamente

    dita, bem como o tratamento dos gases e resduos e a manuteno do ciclo de

    funcionamento. Para operar e obter todos os dados sobre o gaseificador

    necessrio os procedimentos seguintes.

    3.3.1. Tratamento da biomassa

    A biomassa (caroo de aa) obtida mida e contendo grande quantidade de

    material particulado, proveniente da despolpagem da fruta. Este particulado deve ser

    limitado para evitar obstruo parcial ou total do leito com formao de canais

    preferenciais por onde os gases facilmente escoam comprometendo a eficincia do

    gaseificador.

    Sendo assim, estufas e balanas analticas foram utilizadas para determinao

    de umidade da biomassa e peneiras com aberturas de dimetro menor a 0,01m

    foram empregadas para adequao da biomassa ao gaseificador.

    A biomassa que passou por secagem ao sol, para atingir em torno de 16% de

    umidade, tambm recebeu tratamento de peneiramento para se obter as fraes

    granulomtricas desejadas. Foi utilizada uma peneira de acionamento manual para

    eliminao das partculas delgadas que prejudicam o funcionamento do gaseificador.

    3.3.2. Leito de carvo e recarga do reator

    Para as reaes de gaseificao se processar, necessrio antes do inicio do

    processo de converso, que se tenha um leito j formado com uma altura

    estabelecida e com temperatura adequada gaseificao. Ento, a partir da, deve-

    se efetivar o acendimento do leito de carvo. Com o exaustor ligado, queima-se

    dentro do reator cerca de 0,8 kg de carvo vegetal. A queima feita atravs do

    orifcio de entrada do ar, bem na zona de reao, vista na figura 3.9 a, utilizando

    para isto, um maarico.

  • 35

    Quando a zona de combusto estiver formada, introduz-se pela parte superior

    do sistema de alimentao (figura 3.9 b), biomassa suficiente at o nvel da borda do

    equipamento, e em seguida, fecha-se o topo do gaseificador. Decidiu-se utilizar o

    topo fechado, devido fumaa que costumeiramente escapava por cima, indicao

    clara que a depresso imposta pelo exaustor ao interior do reator era insuficiente

    para extrair todos os gases. Tambm porque a chama produzida pelo gs era mais

    intensa, o que dava a entender um melhor desempenho do equipamento.

    a)

    b)

    Figura 3.9: Queima no gaseificador: a) Zona de reao; b) Recarga do reator.

    Uma observao importante que o operador no deve fechar o topo do

    gaseificador estando diante da entrada de ar, devido produo de labaredas

    ocasionadas pelo aumento de presso no interior do reator.

    3.3.3. Resduos

    A quantidade de resduos, aps converso de uma recarga de biomassa no

    reator, depende da biomassa e do tempo de experimento. A remoo do excedente

    residual (figura 3.10) feita atravs de um parafuso-sem-fim na base do reator e no

    sistema de lavagem.

  • 36

    a)

    b)

    Figura 3.10: Resduos: a) Carvo residual; b) Soluo de lavagem de gases.

    3.3.4. Coleta e anlise dos gases

    Aps a passagem do gs pelo sistema de limpeza do gaseificador e do sistema

    de remoo de alcatro, os analisadores do gs, bem como os operadores, devem

    estar disponveis, prximo do gaseificador, para efetuar as anlises desejadas.

  • 37

    4. METODOLOGIA EXPERIMENTAL

    4.1. PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL

    A metodologia utilizada para avaliar o gaseificador baseou-se na realizao de

    testes experimentais com a finalidade de verificar as condies de eficincia e

    operao do equipamento. Neste gaseificador, consideraram-se como fatores de

    entrada no processo as vazes de ar e biomassa; como fatores de sada

    consideraram-se a concentrao volumtrica dos gases produzidos (CO e CH4), seu

    poder calorfico inferior e sua potncia, a capacidade de produo de gs e a

    eficincia a frio do processo.

    Determinou-se tambm outros fatores de relevante importncia na

    caracterizao de um gaseificador como a velocidade superficial do gs gerado ( su ),

    a taxa especifica de processamento de biomassa ( Y ), e a razo de equivalncia do

    processo (). A meta deste trabalho consiste em identificar os parmetros de

    entrada e de sada do gaseificador sem realizar qualquer variao nestes

    parmetros de tal forma manter sua configurao original.

    As medies no gaseificador foram realizadas de 10 em 10 minutos, utilizando

    exclusivamente caroo de aa como biomassa. Neste teste, considerou-se apenas

    uma corrida por tempo limitado pouco mais de 1h e 30 minutos (tempo mdio de

    funcionamento do gaseificador obtido de experimentos preliminares), devido a um

    acmulo de carvo na regio da garganta do equipamento impedindo a continuidade

    do processo.

    O experimento inicia-se com o enchimento do tanque dgua, onde feita a

    lavagem do gs, posteriormente, adequa-se ao gaseificador os equipamentos de

    medida (termopares, manmetros, coletor de partculas e medidores de

    concentrao gasosa). Adiciona-se aproximadamente 1 kg de carvo para formar a

    zona de combusto. A partir da, liga-se o gaseificador e, utilizando um maarico,

    incinera-se o carvo colocado no reator atravs do bocal de admisso de ar.

    Com o leito de carvo em combusto, adiciona-se a biomassa at nivelar-se ao

    topo. Quando a fumaa, inicialmente produzida, converter-se a gs combustvel, o

  • 38

    que acontece com o tempo aproximado de 10 minutos do incio do processo,

    porque o sistema entrou em regime e, a partir da, pode-se efetuar as medies

    necessrias.

    Efetuam-se as medies de acordo com os seguintes procedimentos: utilizando

    um molinete, mede-se a velocidade do ar e do gs produzido no orifcio de admisso

    de ar e na sada do flare (sem o distribuidor de chamas) respectivamente; verifica-se

    a temperatura na sada do reator e na sada do flare (orifcio da tomada de presso),

    bem como a variao de presso nesses pontos; mede-se a altura de leito

    consumido com uma rgua para determinao da vazo mssica. Enquanto isso,

    dois operadores devem acompanhar o desempenho do coletor de partculas (ligado

    ao gaseificador atravs do cordo umbilical do equipamento, isto , sem a sonda) e

    operar os equipamentos de medio de concentrao gasosa (Tempest e

    Greenline).

    A recarga com biomassa no gaseificador foi efetivada de 20 em 20 minutos.

    Quando o gaseificador comeou a apresentar problemas de entupimento na regio

    da garganta (diminuio da produo de gs) e na lavagem do gs (saturao da

    gua por alcatro), desligou-se o gaseificador. Aps resfriamento do equipamento,

    verificaram-se os resduos no coletor e, no leito do reator, separou-se o carvo

    (biomassa carbonizada) da biomassa no carbonizada. Com isso, puderam-se

    determinar as quantidades de carvo produzido.

    Todos os dados coletados foram organizados em uma planilha para posterior

    tratamento dos objetivos. A forma como foi feito o tratamento desses dados

    comentado minuciosamente no tpico abaixo.

    4.2. TEORIA APLICADA NO ENSAIO

    4.2.1. Vazo mssica

    A vazo volumtrica do ar na entrada do injetor do gaseificador foi determinada

    atravs da equao 4.0, onde n a velocidade e A a rea da seco por onde

    ocorre o escoamento:

  • 39

    3. (m / )ararQ v A h

    = (4.0)

    ( kg h)ar ar arm Ar n

    = (4.1)

    Para medida da vazo mssica (eq. 4.1), foi utilizada a massa especifica do ar

    igual a 1,16 kg/m3 pois a temperatura mdia do ar de 28C e a presso de 1 atm,

    sendo a rea de entrada de ar igual a 3,14.10-4 m2.

    O clculo de vazo mssica da biomassa baseou-se na equao abaixo (eq.

    4.2), onde A a seco transversal do gaseificador que corresponde a 1,8.10-2 m2, h

    a altura do leito consumido, e cuja massa especfica aparente medida para o

    caroo de aa foi de 232 kg/m3, e t o tempo de operao. A altura foi medida de 10

    em 10 minutos, utilizando uma rgua calibrada.

    2 1( ) (kg/h)st apbioA h h

    mt

    r -= (4.2)

    Em gaseificao a medio de vazo do gs sempre complicada, pois o uso

    de instrumentos eletrnicos prejudicado pela presena de alcatro no gs, o que

    torna invivel a utilizao desses equipamentos antes da limpeza eficiente desse

    gs. Na maioria das vezes utilizam-se placas de orifcio para determinar a

    velocidade do gs a partir da diferena de presso a montante e a juzante da placa,

    utilizando para essa medida um manmetro. A partir do valor da velocidade e

    conhecendo a rea de escoamento pode-se determinar a vazo volumtrica do gs.

    3. (m / )gsgsQ v A h

    = (4.3)

    Nesse sentido, procurou-se determinar a vazo de gs a partir deste preceito,

    determinando presso e velocidade do gs. Isso foi feito, colocando-se uma placa

    de orifcio na tubulao do flare, cuja relao orifcio/tubo 0,6, e fez-se a calibrao

    da placa utilizando ar. Para essa calibrao, colocou-se uma tomada de presso

    esttica a montante e a juzante desta placa e verificava-se a presso ao mesmo

    tempo em que era feita a leitura da velocidade do ar na sada do flare, utilizando um

  • 40

    molinete. Dessa forma, determinaram-se as velocidades de sada do ar variando a

    presso atravs de uma vlvula, o resultado desta calibrao est na tabela abaixo:

    Tabela 4.1: Medidas de presso e velocidade do ar.

    P(mmca) V (m/s)

    16 2,1

    12 1,7

    10 1,5

    8 1,4

    6 1,25

    4 0,9

    No entanto, durante o experimento notou-se infiltraes de ar no sistema,

    devido a deformidades do prprio equipamento, o que elevava a medida da

    velocidade e conseqentemente a vazo. Mediu-se essa quantidade de ar infiltrada

    fazendo balanos da massa de ar na entrada e na sada, verificou-se que a

    diferena dessas massas correspondem a de ar infiltrado, cujo valor corresponde a

    22% da massa de ar reacional da entrada do gaseificador, ou seja, para se obter o

    valor real da massa de ar na sada do flare, deve-se efetuar a subtrao do ar

    infiltrado. Com isso, temos:

    0, 22gs gsmedido arQ Q Q

    = - (4.4)

    Inserindo-se a massa especifica do ar e do gs, a qual calculada em tpico

    posterior, determina-se a vazo mssica do gs, mostrada na equao abaixo:

    0,22gs gsmedido arm m m

    = - (4.5)

    Onde:

  • 41

    3

    3

    vazo mssica do gs (kg/h)

    massa de gs bruta (kg/m )

    0, 22 massa de ar infiltrado (kg/m )

    gs

    gsmedido

    ar

    m

    m

    m

    =

    =

    =

    A transformao da vazo volumtrica do ar e do gs para condio normal

    dada pela equao abaixo, levando-se em considerao que tanto o ar quanto o gs

    foram trabalhados presso de 1 atm.

    ( )3( ) Nm273i

    i N iTQ xQ h

    = (4.6)

    ( )( )

    ( )

    3( )

    3

    Vazo volumtrica na condio normal Nm

    Vazo volumtrica da substncia na condio de operao m h

    Temperatura da substncia K

    i N

    i

    i

    Q h

    Q i

    T i

    =

    =

    =

    Como a massa de carvo residual, de alcatro na lavagem, nos filtros e

    tubulaes, bem como a quantidade de particulado difcil de determinar

    separadamente, decidiu-se chamar de vazo mssica residual, toda e qualquer

    massa que no se relacione a vazo de biomassa, ar e gs. Ento, tm-se:

    ( ) ( kg h)resdual biomassa ar gsm m m m

    = + - (4.7)

    4.2.2. Massa especfica

    A massa especifica do gs foi calculada a partir da equao 4.8, considerando

    a presso 101325 Pa e a constante universal dos gases 8315 J/kmol-K. Todavia,

    tornou-se necessrio o clculo do peso molecular do gs para completar a equao.

    A massa molecular determinada a partir do conhecimento das fraes

    volumtricas dos componentes do gs, que obtido a partir de sua anlise. Obtida

    3. . (kg/m )gs gsP MW R Tr = (4.8)

  • 42

    as fraes volumtricas do gs, pode-se determinar a massa molecular do gs a

    partir da equao 4.9.

    4.2.3. Velocidade superficial

    A velocidade superficial ( su ) de um gaseificador um parmetro para

    comparao de desempenho, e conseqncia da taxa de produo de gs, do teor

    energtico do gs, da taxa de consumo de combustvel, da produo de carvo e

    alcatro produzida (Reed, 2002). Nos testes de Reed, utilizam-se velocidades

    superficiais na faixa de 0,05 at 0,26 m/s em gaseificadores do tipo downdraft, e

    observou que com aumento da velocidade superficial, houve acrscimo na produo

    de gs e diminuio na produo de alcatro e carvo, sendo este parmetro

    definido de acordo com a equao abaixo:

    (m/s)sst

    QA

    u

    = (4.10)

    Onde:

    3

    2

    taxa de produo de gs ( Nm )rea da seco transversal do reator (m )st

    Q sA

    =

    =

    4.2.4. Eficincia e potncia trmica

    A eficincia trmica dada pela relao entre o calor utilizvel nas correntes

    efluentes e afluentes do reator (equao 4.11) e que pode ser mensurada tanto a

    quente quanto a frio. Preferiu-se utilizar a eficincia a frio pelo fato desta utilizar

    somente a energia qumica do gs desprezando a energia sensvel do mesmo, o

    que poderia gerar valores errneos nos clculos, segundo Martinez (2009).

    ( )2 4 2 2 228[ ] 44[ ] 16[ ] 30[ ] 46[ ] 64,1[ ] 28[ ]100

    CO CO CH NO NO SO Ngs

    X X X X X X XMW

    + + + + + += (4.9)

    Massa molecular do gs (kg/kmol)gsMW =

  • 43

    .

    .

    gsgstrmica

    biomassa biomassa

    Q PCI

    m PCIh

    = (4.11)

    O poder calorfico de um gs pode ser calculado de acordo com a equao

    4.12 abaixo:

    No entanto, como a frao de H2 e outros hidrocarbonetos no foram

    determinados, optou-se em utilizar uma equao emprica do poder calorfico do gs

    (equao 4.13) de acordo com Tiangco (1986). O poder calorfico da biomassa foi

    obtido juntamente com outras anlises fsico-qumicas mostradas na tabela 5.1 no

    prximo captulo.

    A taxa especfica de processamento de um reator ( Y ) a relao entre a

    vazo mssica da biomassa e a rea da seco transversal do reator (equao

    4.14). Para validar a equao emprica do poder calorfico do gs, a taxa de

    processamento dever estar compreendida entre 100 a 400 kg/m2h.

    ( )2 kg m hbiost

    mA

    Y = (4.14)

    Onde:

    3

    3

    vazo volumtrica do gs (Nm /h)

    vazo da biomassa (kg/h) poder calorfico inferior do gs (MJ/Nm )

    poder calorfico inferior da biomassa (MJ/kg)

    rea da seco transvers

    gs

    bio

    gs

    bio

    st

    Q

    mPCIPCIA

    =

    =

    =

    =

    = 2

    2

    al do gaseificador (m )

    taxa especfica de processamento (kg/h-m ), 100 400Y = Y

    4 4 2 2= + +...+gs i i CH CH H H CO COPCI Y PCI Y PCI Y PCI Y PCI= (4.12)

    3 35,9417 8,2893.10 ( / )gsPCI MJ Nm-= - Y (4.13)

  • 44

    A potncia trmica do gs gerada foi obtida atravs da equao 4.15 onde, o

    as unidades do poder calorfico e a vazo volumtrica, so respectivamente kJ/Nm3

    e Nm3/s.

    t. (kW )trmica gs gsPot PCI Q

    = (4.15)

    4.2.5. Eficincia carbonfera

    Na eficincia de converso de carbono, verifica-se a quantidade de carbono

    que foi convertida durante o processo. Para determin-la utilizaram-se os

    componentes que apresentam carbono presentes no gs (CO, CO2 e CH4), que

    foram identificados pelos aparelhos de medida, relacionando com a frao de

    carbono presente na biomassa (ver tabela 5.1), dessa forma, o rendimento

    carbonfero pode ser obtido atravs da equao 4.16 descrita abaixo:

    .

    .

    ..

    gs carb gscarbono

    biomassa carb bio

    m ym y

    h

    =&

    & (4.16)

    4 2.

    % %% 12 12 12. . .100 28 100 16 100 44carb gs

    CH COCOy = + + (4.17)

    Sendo gm

    a vazo mssica do gs, bm

    a vazo mssica da biomassa e .carb gsy

    a frao mssica de carbono presente no gs (4.17) e .carb bioy a frao mssica de

    carbono na biomassa (tabela 5.1), alm de %CO, %CH4 e %CO2 que so as fraes

    volumtricas medidas no gs.

    4.2.6. Razo de equivalncia

    A razo de equivalncia () comumente usada para indicar quantitativamente

    se a mistura combustvel-oxidante rica (>1, onde existe falta de oxignio), pobre

    (

  • 45

    comb

    ox real

    comb

    ox st

    mmmm

    F =

    (4.18)

    ( )

    massa do oxidante (kg)massa do do combustvel (kg)

    condio estequiomtrica

    ox

    comb

    st

    mm

    ==

    =

    Para determinar os termos da equao 4.18, torna-se necessrio a reao

    entre o combustvel e o oxidante. A partir da tabela 5.1 de anlise elementar, obtm-

    se o percentual de carbono, oxignio e hidrognio, o que deve ser divididos pelas

    suas respectivas massas molares, e com isso determina-se a frmula emprica da

    biomassa.

    3,92 6,58 2,76C H O (4.19)

    A biomassa trs consigo um teor de umidade, que segundo tabela 5.1 de

    aproximadamente 17%, a formula emprica informa que a massa molecular da

    biomassa seca de 97,78 kg/kmol. A massa molecular da gua 18 kg/kmol, e

    considerando uma base de clculo de 100 kg de biomassa mida, 83 kg sero de

    biomassa seca e 17 kg sero de gua. Em termos molares, significa 0,85 mol de

    biomassa e 0,95 mol de gua, ento, para cada 1 mol de biomassa teramos 1,12

    mol de gua, ou seja:

    3,92 6,58 2,76 2C H O + 1,12H O (4.20)

    Entretanto, para se ter combusto necessrio a biomassa reagir com um

    oxidante, que no caso o ar atmosfrico. Com isso, equaciona-se a expresso j

    com os produtos de combusto:

    ( )3,92 6,58 2,76 2 2 2 2 2 2C H O + 1,12H O + O + 3,76N aCO + bH O + cNa (4.21)

    Balanceando a equao obtm-se:

  • 46

    ( )3,92 6,58 2,76 2 2 2 2 2 2C H O + 1,12H O + 4,185 O + 3,76N 3,92CO + 4,41H O + 15,73N (4.22)

    Ento, a partir da equao acima, monta-se a relao combustvel/oxidante na

    condio estequiomtrica:

    2 2

    2 2

    ( ) ( ) bio

    ar

    + kg1 97,78 + 1,12 18 = 0,21 ( 3,76 ) 4,185(32 +3,76 28) kg

    bio s bio s H O H Ocomb

    ox ox O Nst

    n MW n MWmm n MW MW

    = = +

    (4.23)

    Para determinar a relao combustvel/oxidante real, necessrio apenas

    efetuar a razo entre as vazes mssicas da biomassa e do ar, obtidas no

    experimento. Com isso, temos:

    bio

    ar

    kg kg

    biocomb

    ox real ar

    m mm m

    =

    (4.24)

    Esses clculos foram replicados para diferentes vazes mssicas de

    combustvel e ar, de tal forma a obter-se a razo de equivalncia (equao 4.18) em

    todos os pontos medidos, e com isso, defini-se o desempenho do poder de

    converso do gaseificador.

    4.2.7. Medida de alcatro e particulado

    O CIPA (coletor isocintico de poluentes atmosfricos) possui trs pontos para

    coleta de resduos, sendo eles:

    O filtro de papel, que utilizado para reter particulado, sendo que no caso da

    gaseificao, geralmente esse particulado vem junto com alcatro;

    Uma soluo contendo isopropanol utilizada para reter alcatro que passa

    pelo filtro;

    A mangueira de conduo gasosa, onde eventualmente particulados ficam

    retidos.

  • 47

    Figura 4.1: Ponto de coleta de resduos.

    O procedimento para medir a quantidade de particulado que fica retido no filtro

    de papel do equipamento simples: o papel de filtro deve ser pesado antes e aps o

    experimento em balana de preciso, a diferena ser a massa retida de particulado

    e alcatro para determinado volume de gs.

    particuladofiltro papeldepois papelantesm m m= - (4.25)

    O particulado que fica retido na mangueira quantificado da seguinte forma: a

    mangueira aps o experimento foi lavada com soluo isoproplica, depois essa

    soluo foi passada para um recipiente limpo e posteriormente, filtrado e seco

    temperatura ambiente. Aps esse processo, fez-se a pesagem, sendo o resultado

    somado com a quantidade de particulado retida pelo filtro.

    particuladototal particuladofiltro particuladomangueiram m m= + (4.26)

    Neste trabalho, ser considerado como partcipe da massa de alcatro, o vapor

    dgua que passou pelo filtro de papel, o qual no foi possvel determinar. Ento, a

    quantidade de alcatro contida no gs a qual o texto abaixo se refere, diz respeito

    massa de alcatro propriamente dita juntamente com vapor dgua. Pois, no filtro de

    papel cria-se, ao longo do tempo, uma pelcula de alcatro, tornando-o impermevel,

    ou seja, tanto alcatro quanto vapor dgua ficam retidos neste filtro, ento, entende-

    se que a quantidade de vapor dgua passante desprezvel, uma vez que o volume

    da soluo alcolica no aumenta significativamente.

    Filtro de papel

    Soluo de isopropanol Gs contendo alcatro

    Gs isento de alcatro

  • 48

    A quantidade de alcatro contida no gs fica retida em soluo alcolica de

    isopropanol, sendo distribuda em trs garrafas, cujas solues apresentam cores

    diferentes, de amarelo escuro para um mais claro. Ao final do experimento, as

    solues devem ser misturadas, e a partir da, retira-se uma alquota, a qual deve

    ser pesada.

    Em seguida, pesa-se uma amostra branca de isopropanol de igual volume a

    que contm alcatro, ento pela diferena de densidade, determina-se a massa de

    alcatro na soluo da amostra, e conseqentemente, na soluo total. E com isso,

    determina-se a concentrao a partir do volume de gs que entra no equipamento.

    alcatro soluoalcatro soluobrancam m m= - (4.27)

    alcatro alcatro gsC m V= (4.28)

    O volume do gs de sada do CIPA obtido atravs da leitura direta em seu

    gasmetro, e com o clculo da massa especifica mdia do gs (equao 4.8)

    determinada a massa do gs que saiu do equipamento. Em posse da massa de gs

    que saiu do CIPA e a massa de alcatro (4.27), efetua-se a soma das massas, e

    com isso determina-se a massa de gs que entrou no equipamento.

    Uma vez determinada a massa de gs que entra no CIPA e a massa especfica

    media do gs, pode-se identificar o volume de gs que entrou no equipamento, e

    com isso, efetuar a medida de concentrao do alcatro. A partir das medidas da

    concentrao do alcatro e particulado, pode-se avaliar sistematicamente o

    desempenho do sistema de limpeza de gases do gaseificador, bem como, a

    capacidade da zona de combusto do equipamento em craquear as cadeias de

    alcatro.

  • 49

    5. RESULTADOS

    Assim que o gaseificador foi instalado, foram realizados testes de

    reconhecimento para entender seu funcionamento e seus possveis problemas,

    alm de verificar as dimenses do equipamento. Aps isso, foram realizadas as

    primeiras tentativas de funcionamento, sendo que, no foi operacionalmente

    possvel trabalhar com altura total do corpo cilndrico do reator de 1,65 m, devido

    aos constantes problemas com obstruo da garganta pelo carvo residual, dessa

    forma, utilizou-se apenas a parte inferior do reator de 1,65 de altura. Verificou-se

    que uma altura de 0,65 m foi suficiente para o leito de biomassa, no caso especfico

    deste gaseificador experimental. Os parmetros definidores do comportamento da

    biomassa e do prprio gaseificador foram determinados, seguindo a metodologia

    experimental estabelecida do captulo anterior.

    5.1. RESULTADOS OBTIDOS

    Uma vez estabelecidas as caractersticas energticas da biomassa e as

    condies do ar, pode-se determinar os parmetros operacionais do gaseificador,

    tais como: vazo mssica de gs produzido e consumo de biomassa e oxidante,

    bem como a capacidade energtica do gs produto. As condies do ar foram

    comentadas no capitulo anterior, enquanto as caractersticas da biomassa so

    mostradas na tabela 5.1, cujos resultados foram obtidos atravs de uma parceria da

    Faculdade de Engenharia Mecnica da UFPA com a Universidade de Santa

    Catarina atravs do seu laboratrio de anlises qumicas.

    Tabela 5.1: Propriedades fsico-qumicas e energticas da biomassa.

    Propriedade Biomassa Caroo de Aa Anlise Imediata

    Cinzas [%, b.s.1] 0,87

    Matria Voltil [%, b.s.] 71,95

    Carbono fixo [%, b.s.] 27,18

    Umidade [%, amostra bruta] 16,53

    Anlise Elementar [%, b.s.]

    C 47,00

  • 50

    H 6,58

    N 1,07

    S 0,85

    O2 44,22

    Cl 0,21

    F3 < 0,20

    P 0,067

    Poder Calorfico [Kcal.kg-1,

    PCS 4.018,0

    PCI 3.786,1

    Composio das Cinzas

    Fe2O3 0,13

    CaO 5,65

    MgO 6,82

    Na2O 1,18

    K2O 30,15

    SiO2 24,39

    Al2O3 0,31

    TiO2 0,04

    P2O5 24,53

    MnO 2,66

    SO4 4,15 1 Base seca; 2 Valor obtido por diferena; 3 No determinado pelo mtodo, limite de deteco inferior igual a 0,2 ppm.

    Fonte: Laboratrio de Anlises Qumicas UFSC

    Conhecida as propriedades da biomassa, tal qual, necessria para

    complementao e resoluo dos parmetros operacionais do gaseificador cujo

    reflexo mostrado nas tabelas seguir. Vale ressaltar, que as medidas foram

    realizadas a partir de dez minutos de funcionamento do equipamento, tempo

    necessrio para entrada em regime permanente e que as incertezas nas medidas,

    esto descritos no captulo 3 onde mostrada a preciso de cada equipamento.

    A cada dez minutos, mediu-se a altura do leito que foi consumido, necessrio

    para medio da vazo mssica da biomassa. Em todos os caroos, foram retiradas

    as fibras perifricas para uma melhor fluidez do processo, de outra forma, quando

  • 51

    se utiliza os caroos com fibras este acabam ficando retidos nas paredes do reator,

    pois formam um emaranhado bolo de caroos que acabam interferindo na medio.

    Abaixo, a tabela 5.2 apresenta os valores da variao da depresso (P1)

    exercida pelo gs na sada do reator e a variao da presso na placa de orifcio

    (P2), bem como a temperatura nestes pontos. mostrada tambm, a velocidade

    de sada do gs e a altura correspondente ao consumo de biomassa.

    Tabela 5.2: Dados obtidos durante o experimento em funo do tempo.

    As vazes mssicas de biomassa, ar, gs produzido e os valores calculados

    de massa residual e velocidade superficial so mostrados na tabela 5.3. Observam-

    se nessa tabela, dois valores para vazes volumtricas, sendo uma delas na

    condio normal de presso e temperatura, e a outra na condio ambiente.

    Tabela 5.3: Vazes e velocidades superficiais medidas e calculadas.

    t

    (min)

    ventrada

    (m/s)

    P1

    (mmca)

    Tbota

    (C)

    P2

    (mmca)

    Tsaida

    (C)

    vsaida

    (m/s)

    hbio

    (cm)

    mbio

    (kg)

    10 2 10 109 12 36 1,7 3,92 0,98

    20 2 10 132 12 36 1,7 3,92 0,98

    30 2 10 133,6 12 36 1,7 4,25 1,06

    40 1,7 8 132,1 10 36 1,5 4,17 1,04

    50 1,7 8 126,8 10 36 1,5 4,12 1,03

    60 1,6 8 121,9 8 36 1,4 3,92 0,98

    70 1,6 8 119,4 8 36 1,4 3,9 0,97

    80 1,4 4 105 6 35 1,25 3,76 0,94

    90 1,4 4 103 6 35 1,25 3,77 0,94

    100 1,1 2 89 4 34 0,9 3,24 0,81

    .m bio

    .m ar

    .Q ar

    .Q ar .

    m gas .

    Q gas

    .Q gas .

    m residual

    Vs

    (m/s)

  • 52

    Parmetros apresentados na tabela 5.4 como a razo de equivalncia, a taxa

    especfica de processamento da biomassa, a massa molecular, poder calorfico e a

    massa especifica do gs, constituram base para a determinao das eficincias de

    converso de carbono e energia, e para a quantificao da potncia energtica do

    gs. Esses parmetros so fontes primordiais para elucidao da funcionalidade e

    desempenho do equipamento.

    Tabela 5.4: Parmetros do experimento

    Y

    (kg/m2. h)

    MWgs

    (kg/kmol)

    PCIgs

    (MJ/Nm3)

    gs

    (kg/m3) energtica carbono

    Pottrmica

    (kWt)

    Eq. 4.18 Eq. 4.14 Eq. 4.9 Eq. 4.13 Eq. 4.8 Eq. 4.11 Eq. 4.16 Eq. 4.15

    1,78 327,39 29,50 3,22 1,19 0,60 0,72 15,57

    1,78 327,39 29,43 3,22 1,18 0,60 0,72 15,61

    1,93 354,96 29,60 2,99 1,19 0,51 0,78 14,48

    2,23 348,27 29,58 3,05 1,19 0,47 0,71 13,10

    (kg/h) (kg/h) (m3/h) (Nm3/h) (kg/h) (m3/h) (Nm3/h) (kg/h)

    Eq.4.2 Eq.4.1 Eq.4.0 Eq.4.6 Eq.4.5 Eq.4.4 Eq.4.6 Eq.4.7 Eq.4.10

    5,89 15,73 13,56 14,95 18,68 15,69 17,37 2,94 0,27

    5,89 15,73 13,56 14,95 18,54 15,67 17,41 3,08 0,27

    6,38 15,73 13,56 14,95 18,75 15,70 17,38 3,36 0,27

    6,26 13,37 11,53 12,71 16,65 13,95 15,43 2,99 0,24

    6,19 13,37 11,53 12,71 16,54 13,93 15,48 3,02 0,24

    5,89 12,58 10,85 11,96 15,42 12,99 14,43 3,05 0,22

    5,86 12,58 10,85 11,96 15,46 12,99 14,43 2,98 0,22

    5,65 11,01 9,49 10,46 13,88 11,64 12,89 2,77 0,20

    5,66 11,01 9,49 10,46 14,05 11,66 12,96 2,62 0,20

    4,87 8,65 7,46 8,22 10,04 8,28 9,20 3,47 0,14

  • 53

    2,20 344,10 29,54 3,08 1,18 0,48 0,72 13,29

    2,22 327,39 29,55 3,22 1,18 0,49 0,69 12,94

    2,21 325,72 29,61 3,24 1,18 0,50 0,63 13,00

    2,44 314,03 29,55 3,33 1,19 0,48 0,52 11,95

    2,45 314,87 29,98 3,33 1,20 0,48 0,58 11,99

    2,68 270,60 30,20 3,69 1,21 0,44 0,46 9,45

    A tabela 5.5 abaixo refere-se aos dados adquiridos do coletor isocinetico

    (CIPA), a qual mostra a massa de particulado residual ficante na mangueira, a

    massa de particulado embebido de alcatro retido pelo filtro de papel e o alcatro

    capturado pela soluo de isopropanol. Nesta tabela, tambm mostra o volume de

    gs utilizado pelo equipamento para anlise, partir de leitura direta no leitor do

    gasmetro, que entretanto, no o valor real do volume de gs que foi succionado

    pelo equipamento, pois houve retirada de massa (alcatro e particulado) ao longo

    deste.

    O valor real do volume de gs imprescindvel no clculo das concentraes

    do alcatro e de particulado, ento, mediante ao volume de gs na sada e a massa

    especfica mdia do gs, visto na tabela 5.4, pde-se determinar a massa de gs na

    sada do coletor. Somando-se as massas de gs de sada e do alcatro, obtm-se a

    massa total de gs que entrou no equipamento, e, utilizando a massa especifica

    mdia do gs (soma das massas especficas dividida pela quantidade das mesmas)

    determina-se diretamente o volume deste gs.

    Tabela 5.5: Dados obtidos do CIPA

    Propriedade Valor

    mparticuladomangueira (kg) 0,0001

    mparticulado e alcatro (kg) 0,0015

    Vsada (m3) 0,988

    rgs (kg/m3) 1,19

  • 54

    mgsCIPAsada (kg) 1,1757

    malcatro(kg) 0,0116

    mgsCIPAentrada(kg) 1,1873

    Ventrada(m3) 0,9977

    Os perfis das fraes volumtricas dos gases so mostrados na tabela 5.6.

    Mediram-se as fraes (com interrupo do aparelho) de CO2, CO, NO, SO2 e fez-

    se a considerao de que hidrocarbonetos na forma de CxHy seria metano (CH4). As

    fraes de H2 e H2O, no foram determinadas, devido s limitaes do equipamento

    de medida, todavia, englobaram-se essas fraes no percentual de nitrognio, este,

    obtido a partir da diferena entre o valor do volume total do gs do volume

    percentual dos elementos medidos. Esta tabela tambm mostra a temperatura do

    gs na sada do coletor isocintico (CIPA).

    Tabela 5.6: Concentrao dos gases

    t(min) T(C) Concentrao (%V)

    CO2 CO CH4 NO NOX SO2 N2

    10 29,1 9,39 16,83 1,26 0,0235 0,0234 0,415 72,0581

    20 30,3 9,35 16,17 1,84 0,0241 0,0241 0,425 72,1668

    30 29,1 10,53 18,54 2,28 0,0242 0,024 0,534 68,0678

    40 29,1 10,62 18,38 2,5 0,0239 0,0239 0,511 67,9412

    50 30,4 10,52 18,41 2,56 0,0237 0,0239 0,462 68,0004

    60 30,3 10,54 18,38 2,38 0,0236 0,0234 0,425 68,2280

    70 30,3 10,97 14,97 2,45 0,0234 0,0234 0,423 71,1402

    80 29,1 10,93 11,97 2,45 0,021 0,021 0,27 74,3380

    90 30,3 13,84 12,61 2,45 0,0194 0,0194 0,16 70,9012

    100 30,3 15,23 10,7 2,45 0,124 0,124 0,1 71,2720

  • 55

    5.2. ANLISE DOS RESULTADOS

    Para as condies anteriores, sero apresentados alguns grficos para as

    seguintes anlises: a presso esttica em funo do tempo, as medidas de

    temperatura no gaseificador, a velocidade superficial, o consumo de comburente e

    combustvel, as concentraes no gs combustvel e a relao entre concentrao

    dos gases e razo de equivalncia.

    Veremos tambm, a anlise energtica e converso carbonfera, alm das

    concentraes de alcatro e particulado presentes na mistura gasosa. Para maior

    entendimento das anlises grficas adiante, a figura 5.1 mostra os pontos de

    medida e coleta de dados:

    Figura 5.1: Pontos referentes coleta de dados.

    Onde:

    V1 ponto de medida de velocidade do ar;

    P1 ponto de medida da variao da depresso esttica;

    T1 ponto de medida da temperatura do gs que sai do reator;

  • 56

    P2 ponto de medida da variao da presso esttica na placa de orifcio;

    T2 ponto de medida da temperatura do gs que sai pelo flare;

    Particulado mangueira quantificao de particulado na mangueira do coletor;

    Particulado e alcatro Filtro quantificao de particulado no filtro do coletor;

    Alcatro-isopropanol quantificao do alcatro retido pela soluo alcolica;

    %CO, %CO2, %CxHy, %SOx e %NOx fraes volumtricas gasosa quantificadas pelos

    analisadores de gs;

    T3 temperatura do gs analisado.

    5.2.1. Presso

    A figura 5.2 abaixo mostra o comportamento da presso manomtrica

    referente ao ponto P1 (figura 5.1), que indica a depresso esttica na sada do

    reator.

    y = -0,0985x2 + 0,2106x + 9,8333R2 = 0,9233

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Tempo(min)

    P1 Polinmio (P1)

    P

    (mm

    ,H2O

    )

    Figura 5.2: Depresso esttica na sada do gaseificador.

    Na figura 5.2, pode-se observar que a depresso esttica diminui ao longo do

    tempo, ocasionado por excesso do caroo de aa j carbonizado, juntamente com

    carvo no convertido totalmente que foi utilizado na partida do processo, esses

    fatores provocaram a obstruo da garganta do reator. Notamos que em

    aproximadamente 100 minutos, ocorre obstruo quase que total da garganta, o que

  • 57

    remete na parada da operao para retirada do excesso de carvo, para somente

    ento reiniciar o processo.

    A figura 5.3 abaixo mostra a diminuio da quantidade de biomassa

    consumida em decorrncia da variao da presso, evidenciando a necessidade de

    se obter uma soluo para o problema da obstruo na garganta do reator. Nota-se

    que P1 diminui em 8 mmca que impacta no consumo mdio de biomassa, onde

    deixa-se de consumir aproximadamente 6,4 kg/h de caroo para consumir somente

    4,9 kg/h.

    y = -0,0283x2 + 0,4723x + 4,1313R2 = 0,797

    4

    4,5

    5

    5,5

    6

    6,5

    7

    1234567891011

    P (mm,H2O)C

    onsu

    mo

    de b

    iom

    assa

    (kg/

    h)

    )

    P1 Polinmio (P1)

    Figura 5.3: Presso gasosa x consumo de biomassa

    A estratgia para manter o consumo elevado, de forma a conservar a melhor

    faixa de produo gasosa, seria evitar a diminuio da depresso esttica. Ajustes

    no sistema de exausto dos gases e na garganta do gaseificador possibilitariam a

    elevao da depresso esttica, o que refletiria possivelmente em maior consumo

    de biomassa e converso a gs combustvel.

    5.2.2. Temperatura

    As temperaturas T1, T2 e T3 na figura 5.4, representam respectivamente a

    temperatura do gs logo aps o reator, a temperatura na sada do gs aps o

  • 58

    sistema de limpeza do gaseificador e a temperatura medida pelos analisadores de

    gs (conforme figura 5.1).

    y = -0,0125x2 + 1,0297x + 108,66R2 = 0,8842

    y = -0,0182x + 36,6R2 = 0,6198

    y = 0,0087x + 29,353R2 = 0,174

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100Tempo(min)

    Tem

    pera

    tura

    (C)

    (

    T1 T2 T3 Polinmio (T1) Linear (T2) Linear (T3)

    Figura 5.4: Temperatura medida no gaseificador

    A temperatura na sada do reator (T1) de 130 C um valor considerado baixo,

    tendo em vista sua proximidade da zona de reao e que no passou por nenhum

    sistema de resfriamento, comparando-se com ensaios utilizando como biomassa

    jatob, que atingiu temperaturas prximas a 400 C.

    Devido a disposio dos briquetes de jatob, a distribuio do oxignio que

    entrava na zona de combusto era mais homognea, propiciando temperaturas

    mais elevadas, ao contrrio do caroo de aa, que fica aglomerado e cria bloqueios

    impedindo a elevao da temperatura nesse ponto. Pela quantidade de alcatro

    produzido no experimento com caroo de aa, estima-se que a temperatura no

    reator esteja na faixa que propicie a pirlise (500-700), este fato comentado no

    final deste captulo (tpico 5.2.9).

    A temperatura na sada do flare (T2), mostra que o sistema de resfriamento de

    gs permitiu uma reduo na temperatura de 120C para aproximadamente 30C. A

    medio da temperatura do gs nos analisadores (T3), tinha como meta o clculo

    da massa especifica do gs.

  • 59

    5.2.3. Vazo

    A figura 5.5 uma relao entre o consumo de reagentes (ar e biomassa) e

    formao de seus produtos (gs e resduos) obtidos durante todo o experimento,

    onde consumiu-se aproximadamente 10 kg de biomassa e 21 Nm3 de ar, o que

    produziu 25 Nm3 de gs e 5 kg de resduos.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000

    2

    4

    6

    8

    10

    Ar Gs Resduo biomassa

    Vazo m

    ssica (kg/h)Vaz

    o v

    olum

    tri

    ca (N

    m3/

    h)

    tempo (min)

    Figura 5.5: Relao reagentes/produtos medida no gaseificador

    Em termos de vazo, o gaseificador consome aproximadamente 6 kg/h de

    biomassa e 14 Nm3/h de ar, produzindo 16,5 Nm3/h de gs e 3 kg/h de resduos na

    forma de alcatro, particulado e carvo no reagido. Observa-se que a quantidade

    de resduos produzida ainda muito alta, cerca de 50% em relao quantidade de

    biomassa utilizada. Sendo que 23% correspondem a carvo e o restante (27%) a

    alcatro e particulado.

    5.2.4. Velocidade superficial

    A figura 5.6 mostra o perfil da velocidade superficial em relao ao tempo de

    operao do gaseificador. Note que nos primeiros 20 minutos de operao, a

    velocidade superficial de aproximadamente 0,25 m/s, o que corresponde a 16,5

    Nm3/h de gs para uma rea de seco transversal do reator de 0,018 m2, este o

    melhor resultado utilizando caroo de aa neste gaseificador.

  • 60

    y = -1E-05x2 + 2E-05x + 0,2695R2 = 0,9241

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100Tempo (min)

    Vel

    ocid

    ade

    supe

    rfici

    al(m

    /s)

    9

    Figura 5.6: Perfil da velocidade superficial

    A velocidade de 0,25 m/s est dentro da faixa estudada por Reed (2002), no

    entanto, ele denomina de baixa velocidade superficial, quando a produo de

    carvo esta compreendida entre 20 e 30% da massa de combustvel utilizado no

    processo. Neste experimento, a taxa de produo de carvo no gaseificador foi de

    aproximadamente 23% do consumo da biomassa.

    Segundo Reed, quando a velocidade superficial baixa, isso quer dizer que

    possui altas quantidades de carvo gerado e grande quantidade de alcatro no

    craqueado, o que aumenta a quantidade de alcatro tercirio, alm do contedo

    elevado de hidrocarbonetos. Buscar a reduo da quantidade de carvo no sistema

    atravs de um ajuste no gaseificador, principalmente na rea da garganta uma

    alternativa para se conseguir melhores resultados.

    5.2.5. Concentrao

    Na figura 5.7, so mostradas as concentraes dos componentes gasosos

    medidos durante o experimento. Recordando que os valores percentuais desses

    componentes so expressos em volume, e que a frao de H2 no fora medida

    devido restrio do equipamento, bem como, a considerao de que todos os

    valores de hidrocarbonetos (CxHy) fossem metano (CH4).

  • 61

    02468

    101214161820

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    Tempo(min)

    CO2 CO CxHy NOX SO2 NO

    Con

    cent

    ra

    o (%

    )

    Figura 5.7: Concentrao dos gases medida no gaseificador

    As concentraes no perodo mais estvel apresentam aproximadamente

    picos de 18% para CO, 11% para CO2, 2,5% para CH4, 0,025% para NO2 e 0,45%

    para SO2. Observa-se que os valores de CO superam a capacidade de medio do

    equipamento, denotando uma importante condio de que este gs combustvel

    pode estar com percentuais acima do descrito anteriormente.

    Nota-se que as concentraes dos gases permanecem constantes ao longo de

    aproximadamente uma hora, e que aps isto, ocorre um decrscimo da

    concentrao de CO e um aumento na concentrao de CO2. Este aumento da

    concentrao de CO2 indica processo de combusto, ou seja, com a diminuio da

    depresso ocasionada pela obstruo na garganta do gaseificador a admisso de ar

    pelo injetor do gaseificador suprimida, ocorrendo apenas a passagem de ar por

    difuso. No entanto, a concentrao de metano no alterada, mantendo-se

    constante, o que ratifica a questo sobre hidrocarbonetos levantada nos

    comentrios da velocidade superficial.

    5.2.6. Razo de equivalncia

    De acordo com Re