DISSERTAÇÃO_IntervençãoEdificaçõesInteresse

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    INTERVENOEM EDIFICAES DE INTERESSE HISTRICO

    COM ELEMENTOS METLICOS - ESTUDO DE CASO: MUSEU

    DAS MINAS E DO METAL, BELO HORIZONTE, MG

    Ouro Preto, Maro de 2012.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    INTERVENO EM EDIFICAES DE INTERESSE HISTRICO

    COM ELEMENTOS METLICOS - ESTUDO DE CASO: MUSEU

    DAS MINAS E DO METAL, BELO HORIZONTE, MG

    FRANCIELE MARIA COSTA FERREIRA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao do Departamento de Engenharia

    Civil da Escola de Minas da Universidade

    Federal de Ouro Preto, como parte integrante

    dos requisitos para obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia Civil, rea de

    concentrao: Estruturas Metlicas.

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Henor Artur de Souza.

    Ouro Preto, Maro de 2012.

  • Catalogao: [email protected]

    F383i Ferreira, Franciele Maria Costa.

    Interveno em edificaes de interesse histrico com elementos metlicos

    [manuscrito] : estudo de caso : Museu das Minas e do Metal, Belo Horizonte,

    MG / Franciele Maria Costa Ferreira - 2012.

    x, 129f.: il. color.; grafs.; tabs.

    Orientador: Prof. Dr. Henor Artur de Souza.

    Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de

    Minas. Departamento de Engenharia Civil. Programa de Ps Graduao em

    Engenharia Civil.

    rea de concentrao: Construo Metlica.

    1. Ps-ocupao (Arquitetura) - Teses. 2. Edifcios histricos -

    Conservao e restaurao - Teses. 3. Acessibilidade - Teses. 4. Arquitetura e

    deficientes fsicos - Teses. 5. Psicologia ambiental - Teses. I. Universidade

    Federal de Ouro Preto. II. Ttulo.

    CDU: 624.014.2:727:069

    CDU: 669.162.16

    mailto:[email protected]
  • Aos meus pais por me dedicarem o tempo precioso das suas vidas,

    Aos meus irmos que dividem comigo todas as horas e todos os momentos...

    I

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por preencher a minha existncia de oportunidades e crescimento,

    Aos professores da Universidade Federal de Ouro Preto pelo conhecimento e aprendizado,

    minha famlia pelo incentivo, por me ensinarem que no existe vitria sem dedicao e

    persistncia!

    Ao meu querido orientador Henor por inteira pacincia e por compartilhar comigo a sua

    sabedoria,

    Aos funcionrios do Museu das Minas e do Metal, em especial Suely e Luiza, por toda

    colaborao e respeito,

    Aos colegas da Prefeitura Municipal de Ouro Branco por compreenderem minha ausncia,

    Ao apoio dado pela FAPEMIG,

    s minhas amigas Fernanda e Marcela que aqui nasceram na minha histria, que dividiram

    suor e lgrimas, companheirismo, conselhos e apoio. Que abriram no s as portas das suas

    casas, mas tambm das suas vidas... E que pela extenso do abrao sincero tantas vezes

    recebido eu vou levar na minha memria e no meu corao!

    Muito Obrigada!

    II

  • RESUMO

    O ao apresenta-se como grande aliado nas intervenes em edifcios existentes, das mais

    variadas naturezas, principalmente pela facilidade em se destacar da construo original

    dialogando harmonicamente com ela. Diferenciar claramente o novo do antigo, afinal,

    praticamente consenso entre os arquitetos quando se trata de interferncias em edifcios

    histricos. Sob esta perspectiva Paulo e Pedro Mendes da Rocha transformaram o antigo

    prdio da Secretaria de Estado da Educao de Minas Gerais construdo em 1895 e

    tombado pelo Iepha-MG em 02 de junho de 1977, no Museu das Minas e do Metal

    inaugurado na segunda quinzena de junho de 2010, fazendo hoje parte do projeto do

    Circuito Cultural Praa da Liberdade, em Belo Horizonte. Mas como analisar a aceitao e

    apropriao deste novo espao pelo usurio? Como identificar o grau de satisfao do

    pblico frente s questes de funcionalidade, conforto ambiental e acessibilidade do

    edifcio antigo requalificado? Este trabalho trata-se de uma avaliao ps-ocupao do

    Museu das Minas e do Metal situado na cidade deBelo Horizonte, Minas Gerais,analisando

    a satisfao de seu pblico quanto utilizao de elementos metlicos na interveno do

    edifcio histrico e verificando a questo da acessibilidade aps a reabilitao. Como

    metodologia foram levantados dados histricos sobre a edificao, em seguida, uma ficha

    tcnica contendo aspectos construtivos e espaciais e por ltimo realizada uma anlise sobre

    a acessibilidade fsica e satisfao do usurio aps a interveno. Os resultados mostraram

    pequenas restries em relao aos quatro componentes da acessibilidade: orientao

    espacial, comunicao, deslocamento e uso. As entrevistas com os profissionais J

    Vasconcellos, Pedro Mendes da Rocha e Renato Souza afirmaram certa resistncia inicial

    da populao geral quanto interveno. No entanto, verificou-se que 90,62% do pblico

    encontram-se satisfeitos com o resultado final do edifcio, o Museu das Minas e do Metal.

    Palavras chave: avaliao ps-ocupao, interveno em edifcios histricos, elementos

    metlicos, acessibilidade, ambiente x comportamento.

    III

  • ABSTRACT

    The steel itself as a major ally in the interventions in existing buildings, the most varied

    kinds, especially for the ability to stand out from the original construction in harmony with

    her talking. Clearly differentiate the new from the old, after all, is almost a consensus

    among architects when it comes to interference in historic buildings. From this perspective

    and Pedro Paulo Mendes da Rocha turned the old building of the Ministry of Education of

    Minas Gerais built in 1895 and listed by IEPHA-MG on June 2, 1977, the Museum of

    Mining and Metal opened the second half of June 2010, making the project now part of the

    circuit Cultural Freedom Square in Belo Horizonte. But how to analyze the acceptance and

    appropriation of this "new" user-space? How to identify the degree of public satisfaction in

    the face of issues of functionality, environmental comfort and accessibility of the old

    building reclassified? This work is a post-occupancy evaluation of the Museum of Mining

    and Metal located in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais, analyzing the satisfaction of

    his audience on the use of metallic elements in the intervention of the historic building and

    gain accessibility provided the same. The methodology was collected historical data on the

    building, then a technical and constructive aspects of space and finally an analysis on the

    physical accessibility and user satisfaction after the intervention. Results showed small

    restrictions on the four components of accessibility: wayfinding, communication,

    transportation and use. The interviews with professionals Joe Vasconcellos, Pedro Mendes

    da Rocha and Renato Souza said some initial resistance from the general population about

    the intervention. However, it was found that 90.62% of the public are satisfied with

    thefinal building, the Museum of Mining and Metal.

    Keywords: post-occupancy evaluation, intervention in historic buildings, metallic

    elements, accessibility, environment x behavior.

    IV

  • SUMRIO

    Resumo................................................................................................................................III

    Abstract...............................................................................................................................IV

    Lista de Figuras...............................................................................................................VIII

    Lista de Tabelas/Quadros...................................................................................................X

    Lista de Grficos................................................................................................................IX

    CAPTULO 1- INTRODUO..........................................................................................1

    1.1. Objetivo ..........................................................................................................................3

    1.2. Justificativa .....................................................................................................................3

    1.3. Metodologia ....................................................................................................................4

    1.4Avaliao Ps-Ocupao Estado da Arte......................................................................4

    1.4.1 Aplicao e vantagens...................................................................................................4

    1.4.2. Trabalhos Realizados...................................................................................................7

    1.5. Estrutura da dissertao.................................................................................................10

    CAPTULO 2 - REFERENCIAL TERICO..................................................................12

    2.1Passado, presente ou futuro?..........................................................................................12

    2.1.1 A histria da restaurao.............................................................................................12

    2.1.2 Algumas carta patrimoniais.........................................................................................15

    2.1.3 A teoria da restaurao no Brasil................................................................................17

    2.1.4 Principais conceitos.....................................................................................................20

    2.1.5 O ao como elemento de interveno..........................................................................23

    2.2 Acessibilidade................................................................................................................26

    2.2.1 Principais conceitos.....................................................................................................26

    2.2.2 Acessibilidade ambiental e a legislao......................................................................30

    CAPTULO 3 ESTUDO DE CASO: MUSEU DAS MINAS E DO METAL............34

    V V

  • 3.1. Metodologia adotada.....................................................................................................34

    3.2O edifcio........................................................................................................................34

    3.2.1 Levantamento histrico...............................................................................................35

    3.2.1.1Tombamento.............................................................................................................35

    3.2.1.2 Implantao..............................................................................................................35

    3.2.1.3A histria do edifcio................................................................................................37

    3.2.2 Ficha Tcnica do Edifcio............................................................................................42

    3.2.2.1Fachada Principal.....................................................................................................45

    3.2.2.2 Fachadas Laterais.....................................................................................................48

    3.2.2.3 Terceira Etapa Construtiva a criao do museu....................................................49

    3.2.2.4 Sistema Estrutural Proposto.....................................................................................57

    3.2.3 Arranjo Espacial..........................................................................................................58

    3.2.3.1 As instalaes...........................................................................................................58

    3.3 A avaliao ps-ocupao (acessibilidade e usurio x interveno)..............................64

    CAPTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSO...........................................................66

    4.1 Anlise da acessibilidade................................................................................................66

    4.2 Entrevistas com o pblico..............................................................................................71

    4.2.1Conhecendo sua opinio sobre o museu e a interveno............................................71

    4.3 Entrevista com os profissionais......................................................................................74

    4.4Anlise da satisfao do pblico....................................................................................79

    4.5Discusso........................................................................................................................84

    CAPTULO 5 CONSIDERAES E SUGESTES.................................................87

    5.1 Consideraes Finais......................................................................................................87

    5.2 Sugestes........................................................................................................................89

    REFERNCIA....................................................................................................................90

    VI

  • ANEXOS ............................................................................................................................97

    Anexo A Fotografias de apresentao do Museu .............................................................98

    Anexo B Questionrio aplicado......................................................................................103

    Anexo C Entrevista J Vasconcellos..............................................................................105

    Anexo D Entrevista Pedro Mendes da Rocha.................................................................107

    Anexo E Entrevista Renato Souza (IEPHA-MG)...........................................................112

    Anexo F Planilhas: Visitas Exploratrias.........................................................................115

    Anexo G Grfico de Pareto..............................................................................................130

    VII

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Orientabilidade ................................................................................................26

    Figura.2.2 Deslocamento...................................................................................................27

    Figura.2.3 Comunicao....................................................................................................27

    Figura.2.4 Uso...................................................................................................................27

    Figura 3.1 O museu e seu entorno a Praa da Liberdade...............................................36

    Figura 3.2 Fotografia do edifciooriginal..........................................................................38

    Figura 3.3 - Croqui de implantao das duas primeiras etapas construtivas do edifcio.....42

    Figura 3.4 Hall principal com acesso pela Praa da Liberdade.........................................43

    Figura 3.5 Hall da escada ligando o nvel Liberdade ao primeiro pavimento...................43

    Figura 3.6 Detalhe construtivo trilhos duplo T..............................................................44

    Figura 3.7 Fachada principal simtrica.............................................................................46

    Figura 3.8 Semi-cpula central.........................................................................................47

    Figura 3.9 Pilastras com capitis dricos..........................................................................48

    Figura 3.10 Fachada lateral...............................................................................................49

    Figura 3.11 Elevao Sudeste...........................................................................................50

    Figura 3.12 Elevao Nordeste.........................................................................................50

    Figura 3.13 Elevao Sudoeste.........................................................................................50

    Figura 3.14 Elevao Noroeste.........................................................................................50

    Figura 3.15 Terrao de Exposies...................................................................................51

    Figura 3.16 Acabamento externo diferenciado em pintura na cor vermelha....................53

    Figura 3.17 Elevador de cargas e passageiros permitindo a acess.do edifcio.................55

    Figura 3.18 Planta Embasamento......................................................................................59

    Figura 3.19 Mapa nvel Liberdade....................................................................................59

    Figura 3.20 Mapa do primeiro pavimento.........................................................................60

    Figura 3.21 Mapa do segundo pavimento.........................................................................61

    Figura 3.22 Vista da Praa da Liberdade pelo terrao......................................................62

    Figura 3.23 Novo pavimento criado em forma de U.........................................................63

    Figura 3.24 Cobertura envidraada...................................................................................64

    Figura 4.1 Barreiras fsicas criadas posteriormente..........................................................85

    VIII

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 4.1 - Nvel de satisfao do pblico quanto s visitas.............................................71

    Grfico 4.2 - Opinio quanto acessibilidade aps interveno.........................................72

    Grfico 4.3 - Opinio quanto percepo do pblico em relao interveno.................73

    Grfico 4.4 - Opinio sobre a interveno...........................................................................74

    Grfico 4.5 - Satisfao do pblico......................................................................................79

    Grfico 4.6 Grfico de Pareto avaliao dos itens pelo pblico....................................80

    Grfico 4.7 Anlise sobre a sinalizao............................................................................81

    Grfico 4.8 Anlise sobre o conforto................................................................................81

    Grfico 4.9 Anlise sobre as informaes.........................................................................82

    Grfico 4.10 Anlise sobre a iluminao..........................................................................82

    Grfico 4.11 Anlise sobre o acolhimento........................................................................83

    Grfico 4.12 Anlise sobre a acessibilidade......................................................................83

    Grfico 4.13 Anlise sobre a interveno.........................................................................84

    IX

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 2.1 Terminologia para interveno em edificaes ..........................................21

    Quadro 4.1 Componentes da acessibilidade...................................................................66

    Quadro 4.2(a) reas de acesso ao edifcio .....................................................................66

    Quadro 4.2(b) reas de acesso ao edifcio ....................................................................67

    Quadro 4.3 Sagues, salas de recepo e espera.............................................................68

    Quadro 4.4 Circulaes Horizontais...............................................................................68

    Quadro 4.5 - Circulaes verticais.....................................................................................69

    Quadro 4.6 - Sanitrios para deficientes fsicos.................................................................69

    Quadro 4.7 - Museu e galeria de arte.................................................................................70

    Quadro 4.8Mdia dos itens avaliados............................................................................80

    LISTA DE TABELAS

    Tabela3.1 reas Construdas.........................................................................................56

    Tabela3.2 Ficha Tcnica................................................................................................56

    X

  • 1

    CAPTULO 1. INTRODUO

    e negar contemporaneidade seu prprio direto

    RIEGL, 1984

    A reciclagem de edifcios de interesse histrico para fins culturais uma experincia que

    vm sendo realizada no Brasil nos ltimos anos, numa saudvel atitude de conservao

    do patrimnio histrico por meio de novos usos que viabilizem a conservao e

    sustentabilidade dos antigos edifcios. Por ser mais flexvel que o processo de

    restaurao, o processo de reabilitao pode ser aplicado a diversas edificaes histricas

    que, embora sem condies de serem mantidas integralmente em seu estado original,

    necessitam ser preservadas, quer em funo do estado de conservao do edifcio, quer

    pelas necessidades decorrentes de seu uso.

    A reabilitao deve se basear na modernizao e na regenerao geral do imvel,

    atualizando seus equipamentos, organizando os espaos existentes e melhorando seu

    desempenho funcional, tornando o edifcio apto para sua completa e atualizada

    reutilizao (PRUDNCIO e RIBEIRO, 1998). Neste contexto o ao apresenta-se como

    grande aliado nas intervenes em edifcios preexistentes, das mais variadas naturezas,

    principalmente pela facilidade em se destacar da construo original dialogando

    harmonicamente com ela. Diferenciar claramente o novo do antigo, afinal, praticamente

    consenso entre os arquitetos quando se trata de interferncias em edifcios histricos.

    Como em um processo de reabilitao recomendvel identificar as deficincias do

    edifcio e estabelecer critrios necessrios para sua interveno, a Avaliao Ps-

    Ocupao ganha destaque com seu carter interdisciplinar e por considerar o desempenho

    dos edifcios nos seus aspectos tcnico, funcional e comportamental fundamentando sua

    anlise, principalmente, na opinio dos usurios do ambiente edificado.

    Segundo Brando e Silva (2009) no existe um conjunto dado de antemo, pronto para

    ser utilizado pelo arquiteto, nem um corpo de conhecimentos esttico que supre as

    necessidades do qual ele deve estar munido para fazer projeto. Para ter algum corpo de

    conhecimentos, o arquiteto tem que constru-lo.Assim a Avaliao Ps-Ocupao

  • 2

    sendoum procedimento posterior ao planejamento, ao projeto e construo da

    edificao ou espao urbano servir para a sua realimentao, seja no que se refere a

    melhorias e modificaes, seja no que se refere a novos projetos do mesmo tema. Esta

    avaliao tem como finalidade ainda, aps uma minuciosa anlise, possibilitar melhorias

    nas edificaes e na qualidade de vida/trabalho dos ocupantes/usurios, ou de qualquer

    pessoa que entre em contato com estes, direta ou indiretamente (CASTROet al., 2004).

    Sob esta perspectiva Paulo e Pedro Mendes da Rocha transformaram o antigo prdio da

    Secretaria de Estado da Educao de Minas Gerais construdo em 1898 e tombado pelo

    Iepha-MG em 02 de junho de 1977, no Museu das Minas e do Metal inaugurado na

    segunda quinzena de junho de 2010 fazendo hoje parte do projeto do Circuito Cultural

    Praa da Liberdade, em Belo Horizonte. Volumes envidraados, que contm elevador e

    escadas, e blocos em forma de U, com revestimento metlico em tom vermelho, foram as

    solues encontradas.

    Mas como analisar a aceitao e apropriao deste novoespao pelo usurio? Como

    identificar o grau de satisfao do pblico frente s questes de funcionalidade, conforto

    ambiental e acessibilidade do edifcio antigo requalificado? O desejo que o arquiteto

    possui em projetar visando atender as necessidades dos usurios e tornar o espao a ser

    concebido adequado aos mesmos, faz com que diversos pesquisadores procurem

    respostas para suas perguntas em estudos de caso via Avaliao Ps-Ocupao. Estes

    estudos aproximam mais o arquiteto da realidade para qual ir projetar, permitindo-o

    definir com mais clareza quais sero os determinantes de novos projetos.

    Parece ser ento urgente que as questes relacionadas com a reabilitao, revitalizao,

    restaurao e principalmente com a interveno de edificaes de interesse histrico

    sejam encaradas no s como legtimas, mas tambm como indispensveis formao

    dos futuros arquitetos urbanistas, cada vez mais fadados a atuar em contextos edificados

    pr-existentes, muitos deles de inestimvel valor histrico.

  • 3

    1.1. Objetivo

    O objetivo destetrabalho identificar, por meio da Avaliao Ps-Ocupao, os

    principais questionamentos que envolvem edificaes de relevante carter histrico

    reabilitadas a partir da interveno dos elementos metlicos, utilizando como objeto de

    anlise o Museu das Minas e do Metal, situado na praa da Liberdade, na cidade de Belo

    Horizonte, MG.

    1.2. Justificativa

    As intervenes em suas variadas formas como a restaurao, revitalizao ou

    reabilitao so cada vez mais comuns na contemporaneidade, principalmente em

    edificaes antigas (tombadas ou no pelo Patrimnio Histrico) que tm que se adequar

    s atuais normas de acessibilidade, preveno contra incndio, reforo estrutural ou a

    mudanas e atualizaes de programa arquitetnico (MORAES e RIBEIRO, 2010).

    Sem a pretenso de abordar as diversas problemticas que envolvem o restauro e suas

    questes inerentes este trabalho visa levantar, principalmente, a possibilidade da

    utilizao de elementos metlicos no processo de retrofit.

    Em todo mundo, mas com maior expressividade naEuropa, o ao empregado em

    diversas obras deinterveno. Sua utilizao, quando comparado aoutros materiais,

    preferida devido a uma srie desvantagens. De acordocom os regulamentos

    internacionais, o ao um materialcontemporneo, mantendo clara a distino entre

    osmateriais originais e o material atual usado nainterveno, enfatizando a poca em que

    foi utilizado ecom possibilidade de manter a harmonia do conjunto (TEOBALDO, 2007).

    Como observam Heidtmann Jr. e Afonso (2007), citando o saber popular, que onde os

    mais velhos falam os mais novos no devemgritar. Mas ser conveniente tirar por

    completo, o direito dos mais novos de comunicarem a expresso de seus prprios

    tempos? E por que no promover o dilogo entre os novos e os velhos como forma de

    apaziguar suas diferenas e comunicar as mensagens de ambos aos usurios da

    edificao? A partir dessa linguagem elementos metlicos so referncia nos projetos de

  • 4

    reciclagem, recuperao, revitalizao, etc., ganhando leveza, plasticidade, agilidade de

    execuo e uma sbria diferenciao da construo original.

    1.3. Metodologia

    Esta pesquisa consta de trs etapas principais: 1 - avaliao histrica de uso

    arqueologia de arquivos e registros considerando o edifcio anteriormente ao

    funcionamento do Museu das Minas e do Metal; 2 - levantamento da ficha tcnica do

    edifcio aps a interveno com a avaliao dos aspectos tcnico/construtivo e/ou arranjo

    espacial; 3 anlise da acessibilidade fsica e satisfao do usurio quando da

    interveno.

    A terceira etapa est baseada na abordagem multimtodos citada por Pinheiro e Gnther

    (2008) e est dividida em dois momentos: os mtodos centrados na pessoa herdados da

    psicologia social com a utilizao de questionrios, entrevistas, observao ou auto-

    relatos e os mtodos centrados no ambiente como o walk-around-the-block e/ou walk-

    through definido por percurso dialogado complementado por fotografias, croquis gerais,

    gravao de udio e de vdeo, alm de mapeamento visual e leituras espaciais

    (RHEINGANTZ, et al. 2009).

    1.4.Avaliao Ps-Ocupao Estado da Arte

    1.4.1 Aplicao e vantagens

    A Avaliao Ps-Ocupao um instrumento fundamental que fornece respostas para os

    arquitetos sobre a qualidade do ambiente construdo, aps a ocupao e apropriao deste

    pelos usurios (ORNSTEIN et al., 1995).Elatem sua origem na dcada de 1950 na

    Europa, numa viso multi e interdisciplinar para atender o nvel de exigncia dos

    usurios, reunindo psiclogos, socilogos e antroplogos. A partir da dcada de 1960, a

    Psicologia Ambiental trabalha a Avaliao Ps-Ocupao para pesquisas sobre o binmio

    Ambiente Construdo x Comportamento Humano e se torna mtodo para a corrente

    de arquitetos que trabalha o Projeto Participativo, onde a participao do usurio

    inserida no processo de anlise dos subsdios do projeto.

  • 5

    No Brasil, a aplicao sistemtica de Avaliao Ps-Ocupao em projetos arquitetnicos

    se inicia em 1975, quando o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas de So Paulo -

    IPTpublica o resultado de uma primeira pesquisa sobre nveis de satisfao dos

    moradores de conjuntos habitacionais da Grande So Paulo(MOTTA, 1975).De acordo

    com Rheingantzet al. (1997) a Avaliao Ps-Ocupao focaliza os ocupantes do edifcio

    e suas necessidades, a partir das quais elabora insights sobre as consequncias das

    decises de projeto no desempenho da edificao, e constituindo-se como base para a

    criao de edifcios melhores no futuro.

    A Avaliao Ps-Ocupao sem dvida um mtodo atuante tanto na rea tecnolgica

    quanto nas cincias sociais e humanas preocupando-se no apenas com o espao fsico,

    mas tambm com o uso e a percepo ambiental. De fato, o trabalho em avaliao ps-

    ocupao corresponde, necessariamente, a uma atividade multi ou transdisciplinar,

    envolvendo inmeros aspectos, dentre os quais sedestacam os fsicos, funcionais e

    comportamentais (RABINOWITZ, 1984).

    Segundo Elali (2006)os aspectos fsicos ou tcnicos esto relacionados s caractersticas

    da(s) rea(s)edificada(s) analisada(s), tais como suas dimenses, aspectosconstrutivos

    (estabilidade, estanqueidade, materiais e tcnicas utilizados, e similares), condies de

    conforto (iluminao, insolao, ventilao, temperatura, nvel de rudo), segurana

    (estrutural, roubos, incndio) econsumo energtico entre outros, trabalho que costuma ser

    realizado porengenheiros e arquitetos preocupados com a qualidade e o desempenho

    daedificao.

    Os aspectos funcionais dizem respeito s atividades ocorridas no local,abarcando, entre

    outros, principais usos e fluxos presentes(pessoas, materiais, mercadorias, etc), mobilirio

    e equipamentos necessrios, quantidade de pessoas presentes e suas atividadesnaquele

    contexto, desempenho organizacional e da acessibilidade. O grande interesse dos

    arquitetos por esse tipo de estudo advmde seu imediato rebatimento na projetao.

    Os aspectos comportamentais se referem dinmica ocupacional do edifcioou conjunto

    edificado, ou seja, como os usurios percebem e relacionam-se com oambiente, relaes

    pblico/privado, as atividades que realizam no local e os papis sociais assumidos aofaz-

    lo.

  • 6

    Outro fator importantssimo da anlise da qualidade do ambiente construdo em que a

    Avaliao Ps-Ocupao mostra-se como mtodo relevante diz respeito problemtica

    do Desenho Universal que recai diretamente sobre a vivncia daqueles que iro ocupar o

    espao projetado. De acordo com Romcy e Santiago (2010) a Avaliao Ps-Ocupao

    identifica barreiras arquitetnicas e as reais necessidades do usurio com dificuldades de

    apropriao do espao construdo.

    Para Story (2001) o conceito arquitetnico de Desenho Universal prope o espao com

    uso democrtico, para diferentes perfis de usurios: prega que todas as pessoas, de

    crianas a idosos, passando por quem possui limitaes fsicas (temporria ou

    permanente), tenham condies igualitrias na qualidade de uso de uma casa ou de um

    ambiente construdo, seja este interno ou no mbito da cidade.

    Luck (2003) mostra que a ideologia do projeto inclusivo similar ideologia do projeto

    participativo onde ocorre a interao arquiteto/usurio e um processo social de dilogo

    e troca de informaes. As exigncias dos usurios so reveladas, criadas e transformadas

    durante o processo, cuja questo principal a complementaridade entre Arquitetura e

    Psicologia (ELALI, 1997).

    Recentemente Cmaraet al., (2010) perceberam que por meio da identificao do grau de

    satisfao e comportamento de seu usurio, bem como da avaliao fsica do edifcio, os

    profissionais arquitetos avaliam os erros e acertos de projeto, a fim de encontrar solues

    para garantir seu melhor desempenho, bem como buscar propor, na fase de concepo de

    novos projetos, estratgias mais eficazes que melhorem a funcionalidade, durabilidade e

    conforto ambiental das edificaes.

    Segundo Kowaltowski e Moreira (2008) a avaliao pelo prprio usurio de uma

    edificao considerada importante no levantamento da complexidade do uso e da

    satisfao do ambiente construdo. Um estudo utilizando a Avaliao Ps-ocupao

    viabiliza um contato direto com o ambiente avaliado e a forma como ele est sendo

    utilizado, o que permite a avaliao de seus aspectos positivos e negativos, buscando

    propostas de melhorias embasadas em uma situao real(ROMCY;SANTIAGO, 2010).

  • 7

    De acordo com Ornstein e Romero (1992) as principais vantagens da avaliao ps-

    ocupao, de um modo geral so:

    propor recomendaes sobre problemas tcnico-construtivos, funcionais e

    comportamentais para o objeto de estudo;

    envolver projetistas, clientes e usurios no prprio processo de avaliao e de

    deciso, sejam elas de carter fsico ou organizacionais;

    conscientizar os principais agentes (usurios-chave) envolvidos no uso, operao

    e manuteno do ambiente objeto de avaliao, no sentido da conservao e

    otimizao do desempenho do patrimnio imvel, pois este fator est associado

    ao bem-estar e produtividade dos ocupantes;

    controlar a qualidade do ambiente construdo no decorrer de seu uso,

    minimizando os custos de manuteno e de intervenes fsicas propostas;

    desenvolver manuais de manuteno e operao para ambientes construdos em

    uso;

    desenvolver plano diretor de rearranjo, flexibilizao e/ou expanso dos espaos

    de ambientes construdos j em uso, para maior adequao destes a funes

    diferenciadas e a avanos tecnolgicos, na rea de comunicao e de informtica;

    desenvolver manuais/diretrizes de projeto, critrios, padres e normas para

    projetos futuros de ambientes construdos semelhantes.

    1.4.2. Trabalhos j realizados

    Segundo Elali e Veloso (2004) os estudos na rea de Avaliao Ps-Ocupao

    inicialmente centrados nos aspectos fsico-construtivos, funcionais ecomportamentais tm

    gradativamente incorporadooutras preocupaes, sobretudo aquelas voltadas para o papel

    de fatores econmicos, esttico-visuais,morfolgico-tipolgicos, perceptivos e culturais-

    contextuais, no desempenho e na concepo de edifcios ouconjuntos edificados.

    No que se refere aos aspectos fsico-construtivos, a grande gama de itens envolvidos

    torna habitual o surgimentode anlises centradas em um ou dois aspectos (materiais e

    sistemas de construo, por exemplo),verificando o grau de determinao dos mesmos no

    conforto e na satisfao dos usurios em relao aoambiente. Tambm forte a tendncia

    de surgirem anlises voltadas para o conforto (trmico, luminoso eacstico), sendo

  • 8

    evidente a evoluo desse setor na busca de uma abordagem mais qualitativa e integrada,

    do que nos resultados objetivo-quantitativos provenientes de medies tcnicas

    relacionados a outros aspectos queinterferem na sensao de conforto do indivduo no

    ambiente (morfolgicos, perceptivos, comportamentais e/ou funcionais) (ELALI;

    VELOSO, 2004)

    De acordo com uma anlise realizada com textos de congresso abordando os pontos nos

    quais tem se concentrado os trabalhos na rea de Avaliao Ps-Ocupao ocorridas entre

    1996 a 2002 no NUTAU (Ncleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e

    Urbanismo) ficou evidente um aumento significativo da quantidade de trabalhos a cada

    nova edio do evento indicando uma crescente visibilidade dessa rea. No que se refere

    ao objeto de estudo os trabalhos apresentados tem se concentrado em torno de alguns

    temas, notadamente a habitao (45% do total de textos, aumentando nos ltimos

    eventos), prdiosadministrativos e/ou de escritrios (15%), edifcios escolares (9%). Por

    sua vez, os textos analisados estomajoritariamente centrados na apresentao de

    resultados de pesquisa (75% destes, proporo que temaumentado nos ltimos anos) e,

    secundariamente, no mtodo utilizado para a coleta de dados (preocupao de 16,5% dos

    trabalhos, existindo em maior quantidade nas primeiras edies do evento).

    Fazendo tambm um levantamento nos trabalhos apresentados no Encontro Nacional e

    Encontro Latino Americano de Conforto no Ambiente Construdo (ENCAC/ELACAC)

    no perodo de 2001 a 2011 pode ser observado que as pesquisas concentram-se nas reas

    de ergonomia, acessibilidade ou desenho universal, conforto ambiental, psicologia

    ambiental voltada principalmente para percepo e satisfao dos usurios, segurana

    contra incndio e aspectos fsico/ocupacionais. Dentre os objetos de estudo verificou-se

    que de 2001 a 2005 foram presentes edifcios de escritrio e comerciais, escolas,

    habitaes de interesse social, hotis, auditrios, shoppings, bancos e hospitais. Uma

    presena maior de prdios e espaos pblicos, destinados muitas vezes a crianas e

    idosos, bem como de edifcios de interesse cultural e patrimnio histrico comea a ser

    observada no ano de 2007 a 2011.

    Ressalta-se que, s pesquisas relacionadas percepo ambiental somam-se tcnicas de

    anlise visual e semitica; nos estudos direcionados compreensodo uso de um local,

    confrontam-se as informaes dos usurios anlise morfolgica e/ou sinttica e

  • 9

    aomapeamento comportamental; e em trabalhos com o patrimnio histrico edificado

    inclui-se uma perspectivaligada memria do lugar (seus usos e usurios) como

    elemento fundamental para a avaliao do presente(ORNSTEIN; ROMER,1992).

    Os trabalhos apresentados no ENTAC 1993 a 1998(Encontro Nacional de Tecnologia do

    Ambiente Construdo) trouxeram contribuies nas reas de materiais de construo e

    processos construtivos, gesto da qualidade do trabalho, insero urbana e polticas

    pblicas, desempenho e conforto ambiental. No ano de 2000 o evento ampliou sua linha

    de pesquisa incluindo tambm as reas de eficincia energtica, sustentabilidade, recursos

    renovveis, meio ambiente e gesto. De 2002 a 2008 as pesquisas consideraram tambm

    planejamento e controle de produo, patologias, recursos humanos e resduos na

    construo civil. OENTACdo ano de 2010, na linha de Desempenho e Avaliao Ps-

    Ocupao visou principalmente estudos sobre acessibilidade, conforto ambiental

    considerando trmico, acstico e luminoso, valores estticos e formais bem como anlise

    patolgica da edificao. Dentre os diversos objetos apresentados foram destacados

    edifcios escolares, habitaes de interesse social, prdios pblicos, auditrios,

    hospital/asilo e ambientes de escritrio.

    Este trabalho, por sua vez, visa contribuir com um novo olhar dentro da Avaliao Ps-

    Ocupao, entendendo e respeitando o contexto de atuao de um projeto de interveno,

    suas limitaes e suas potencialidades enquanto adequao ao desenho universal e

    acessibilidade. Ao mesmo tempo em que recebe do pblico respostas referentes

    aceitao da contemporaneidade, com os novos materiais utilizados, dentro de um cenrio

    consciente do seu passado e repleto de histrias.

    Portanto, a Avaliao Ps-Ocupao pode tornar-se um eficiente mtodo no

    desenvolvimento do produto (edifcio) e tambm do seu processo (projeto). Por meio do

    conhecimento prvio do padro cultural, das necessidades dos clientes (proprietrios e

    usurios) declaradas e reais, percebidas ou mesmo atribuveis a usos inesperados e da

    identificao antecipada dos nveis de satisfao pretendidos pelo cliente com o produto;

    por meio do estudo comportamental, no ser difcil identificar suas insatisfaes, suas

    mudanas de hbitos, ou at mesmo as suas fontes de necessidades.

  • 10

    Segundo Kowaltowskiet al. (2000) as pesquisas existentes na rea de Avaliao Ps-

    Ocupao de edificaesconcentram-se principalmente nas deficincias de projeto

    enquanto problemas dedimensionamento, conforto, manuteno e sistemas construtivos.

    Aspectos dapsicologia ambiental e do comportamento humano so abordados mais na

    teoria do quena prtica. A complexidade do comportamento humano em relao ao

    ambiente que ocupa dificulta tanto a avaliao das observaes como a interpretao e

    transformaode resultados viveis para projetos arquitetnicos futuros. O

    desenvolvimento demtodos que facilitem a interpretao das observaes dos gestos e a

    anlise de atitudesde usurios de edificaes pode evitar interpretaes errneas na rea

    profissional econtribuir para a melhoria dos projetos desenvolvidos.

    Desse modo a Avaliao Ps-Ocupao pode se tornar uma base essencial de respostas

    em todo o questionamento levantado por pesquisadores referentes ao objeto/ambiente

    analisado. Assumindo como foco as relaes ambiente/uso/usurio/comportamento e

    visando melhoria dos espaos edificados as pesquisas na rea de Avaliao Ps-

    Ocupao devem ser incentivadas e divulgadas no apenas no meio acadmico, mas junto

    aos profissionais enriquecendo sua compreenso de projeto/construo e fornecendo

    informaes e contribuies preciosas para a criao de futuros projetos.

    (MEDVEDOVSKI,2008)

    1.5. Estrutura da Dissertao

    Este trabalho est dividido em 5 captulos. No Captulo 1, Introduo, faz-se uma

    explicao geral do problema levantado e do estudo de caso. Neste captulo encontram-se

    tambm os objetivos e justificativas da relevncia do estudo voltado para o

    comportamento x ambiente e uma rpida introduo do modo de abordagem a ser

    utilizada na pesquisa. Faz-se ainda uma colocaodas necessidades da Avaliao Ps-

    Ocupao e a evoluo dos estudos utilizando-a como mtodo de pesquisa.

    No Captulo 2, Referencial Terico, define-se patrimnio histrico e acessibilidade

    espacial bem como tem-se um estudo de leis e normas especficas referentes a esses

    temas.

  • 11

    No Captulo 3, Estudo de caso: Museu das Minas e do Metalso realizados

    levantamentos da histria do edifcio original, suas reformas, ampliaes etc;

    levantamento de sua ficha tcnica, bem como apresentao do seu atual arranjo espacial e

    instalaes enquanto Museu das Minas e do Metal e por ltimo apresentao dos dados

    sobre acessibilidade e relao de satisfao do pblico x interveno.

    NoCaptulo 4, Resultados e Discusso, so apresentados os resultados referentes ao

    levantamento tcnico da acessibilidade do edifcio, da satisfao dos funcionrios e

    pblico em relao aos servios disponibilizados e prpria interveno alm da

    discusso sobre as entrevistas realizadas com os tcnicos Pedro Mendes da Rocha, J

    Vasconcellos e Renato de Souza. Nesse contexto acontece uma relao entre o estudo de

    caso e o conhecimento terico.

    No Captulo 5, Consideraes Finais e Sugestes, encontra-se uma sntese dos

    resultados da pesquisa e algumas sugestes para trabalhos futuros.

    Por fim, seguem as Referncias Bibliogrficas utilizadas no desenvolvimento

    dotrabalho e os anexosproduzidos.

  • 12

    CAPTULO 2. REFERENCIAL TERICO

    2.1. Passado, presenteou futuro?

    2.1.1A histria da restaurao

    Segundo Medeiros (2002), foi na Europa no sculo XIX, que houve o perodo de

    consagrao do patrimnio histrico cultural. A Frana e a Gr-Bretanha deram incio

    institucionalizao do patrimnio histrico, inventando a prtica de preservao

    patrimonial, luz de uma mesma sociedade industrial e de um Estado-Nao nascentes,

    mas cada qual ao seu tempo e sua maneira, segundo interpretaes variadas de um

    mesmo contexto.

    A origem da preservao de edificaes representativas da cultura de um povo, o

    chamado patrimnio histrico, surge de forma mais consolidada no contexto da era

    industrial, em resposta destruio em massa de edifcios ligados ao passado aliada a

    uma rpida evoluo de costumes e tcnicas, gerando tanto insegurana quanto apego a

    smbolos tradicionais. As intervenes, praticamente, nascem em resposta aos problemas

    ligados preservao desses bens edificados.

    De acordo com Khl (2006) as intervenes feitas em edifcios j existentes foram, ao

    longo do tempo, voltadas, em geral, para sua adaptao s necessidades da poca e

    ditadas por exigncias prticas e de uso. No entanto, noes que floresceram, isolada e

    esporadicamente, a partir do Renascimento e amadureceram entre os sculos XV e XVIII,

    foram posteriormente conjugadas na formao das vertentes tericas da restaurao: o

    respeito pela matria original; a idia de reversibilidade e distinguibilidade da

    interveno; a importncia da documentao e de uma metodologia cientfica; o uso

    como um meio de preservar os edifcios e no com afinalidade da interveno; o interesse

    por aspectos conservativos e de mnimainterveno; a noo de ruptura entre passado e

    presente.

    H vrias correntes de pensadores sobre o tema, porm consenso que existam duas que

    se destacam por serem as primeiras e por embasarem muitas das outras discusses

    posteriores. So os discursos de John Ruskin, na Inglaterra, ao qual se contrape o de

    EugneViollet-le-Duc, na Frana (PICANO, 2009). Na Inglaterra, o restauro romntico,

    como ficou conhecida a interveno teorizada por Ruskin, pregava uma espcie de

  • 13

    antiintervencionismo, ou seja, as marcas do tempo presentes no edifcio fazem parte de

    sua essncia enquanto monumento histrico e qualquer interveno neste processo no

    poderia ser legtima. No entanto, Ruskin, percebendo a necessidade de uma manuteno

    dos monumentos para que sua degradao no fosse acelerada, aconselha pequenas

    intervenes cotidianas imperceptveis. Com uma viso diferente, o terico francs

    Viollet-le-Duc afirmava que restaurar um edifcio restitu-lo a um estado completo que

    pode nuncater existido num momento dado. Partindo desta premissa, a chamada escola

    francesa caracterizada por uma concepo ideal dos monumentos histricos,

    fundamentada noresgate das tcnicas tradicionais, canteiro de obra e estilos

    arquitetnicos, produzindoum tipo de restauro estilstico, quase fantasioso, que resgata a

    aparncia original ouidealizada da edificao, onde reside seu verdadeiro valor histrico

    (CHOAY, 2001).

    O primeiro passo em direo conciliao dessas duas tendncias e formao da

    restaurao contempornea foi dado pelo arquiteto italiano Camillo Boito (1835-1914).

    Da doutrina antiintervencionista Boito elaborou o que ele denomina noo de

    autenticidade, que prope que a preservao deve considerar os sucessivos acrscimos

    pelo tempo. Da escola francesa, Boito defende a prioridade do presente em relao ao

    passado, afirmando que a restaurao uma tcnica legtima, mas que s deve ser

    praticada caso todos os outros meios no forem adequados. Neste aspecto, para no haver

    descaracterizao da obra, toda interveno deve ser marcada por meio de artifcios

    como: materiais diferentes, cor diferente, aplicao de inscries e de sinais simblicos

    nas partes restauradas indicando as condies e datas das intervenes. Alm disso, deve-

    se providenciar a documentao do trabalho, a conservao das peas substitudas em

    local prximo, alm do respeito unidade de estilo da obra (TEOBALDO, 2004).

    Segundo Khl (2006) Camillo Boito preconizava o respeito pela matria original, pelas

    marcas da passagem do tempo e pelas vrias fases da obra, alm de recomendar a mnima

    interveno e, no caso de acrscimos, a distinguibilidade da ao contempornea, para

    que esta ltima no fosse confundida com aquilo que subsistia da obra, o que poderia

    levar o observador ao engano de consider-la como antiga.

  • 14

    Estes critrios contemporneos comeam a se delimitar com maior clareza a partir do

    trabalho do italiano Cesare Brandi1 (1906-1987) que afirma que o restauro constitui o

    momento metodolgico do conhecimento da obra de arte na sua consistncia fsica e na

    dupla polaridade esttica e histrica, em vista de sua transmisso ao futuro. Brandi

    trabalha com um restauro crtico, baseado no trip reconhecimento da obra de arte,

    restaurao da matria e restabelecimento da unidade potencial da obra de arte. Segundo

    o autor, a obra conta duas histrias, a do ato de sua criao e a de seu tempo histrico. A

    unidade potencial da obra de arte a integrao dessas partes por meio da conservao da

    matria para o futuro.

    Por isso Khl (2006) afirma que a restaurao deve ter em vista trs princpios

    fundamentais, sempre pensados de forma concomitante:

    distinguibilidade: pois a restaurao (que vinculada s cincias histricas) no

    prope o tempo como reversvel e no pode induzir o observador ao engano de confundir

    a interveno ou eventuais acrscimos com o que existia anteriormente, alm de dever

    documentar a si prpria;

    reversibilidade: pois a restaurao no deve impedir, tem, antes, de facilitar

    qualquer interveno futura; portanto, no pode alterar a obra em sua substncia,

    devendo-se inserir com propriedade e de modo respeitoso em relao ao preexistente;

    mnima interveno: pois a restaurao no pode desnaturar o documento

    histrico nem a obra como imagem figurada.

    Mas a questo da conservao demonumentos histricos deve ser discutida e enfrentada

    dentro da realidade e com osinstrumentos de cada poca, e o fato de, no futuro, as

    posturas serem diversas istonoexime da responsabilidade pela preservao dos bens

    culturais e nem danecessidade de se agir em relao ao legado de outras pocas. Como

    exposto na abertura da Carta de Veneza2, 1964:

    Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada

    povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradies seculares.

    A humanidade, cada vez mais consciente da unidade dos valores humanos, as

    considera um patrimnio comum e, perante as geraes futuras, se reconhece

    1 Crtico de arte e terico da restaurao foi diretor do Instituto Centrale Del Restauro di Romaentre os

    anos de 1939 e 1961, professor de Histria da Arte da Universidade de Palermo e da Universidade de

    Roma, autor da Teoria Del Restauro (1963). 2 II Congresso Internacional de Arquitetos e de Tcnicos de Monumentos Histricos, realizado em Veneza,

    de 25 a 31 de maio de 1964.

  • 15

    solidariamente responsvel por preserv-las, impondo a si mesma o dever de

    transmiti-las na plenitude de sua autenticidade.

    E tambm por isso, imperioso que a anlise que guia a interveno seja muito bem

    fundamentada, pois se responsvel pelos atos perante o presente e perante as

    geraesfuturas.

    2.1.2Algumas cartas patrimoniais

    As Cartas Patrimoniais, frutos de encontros nacionais e internacionais mostram o

    desenvolvimento dos princpios da restaurao, adequados s diversas localidades e

    situaes. A Carta de Atenas3detm pelo menos dois escritos distintos sendo o primeiro

    elaborado em 1931 no 1 Congresso Internacional de Arquitetos e Tcnicos de

    Monumentos Histricos e o segundo o manifesto urbanstico resultante do VI

    Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em 1933, que trata

    da chamada Cidade Funcional, em que preconiza a separao das reas residenciais, de

    lazer e de trabalho, propondo, em lugar do carter e da densidade das cidades

    tradicionais, uma cidade-jardim, na qual os edifcios se desenvolvem em altura e

    localizam em reas verdes, por esse motivo, pouco densas. Tais preceitos influenciaram o

    desenvolvimento das cidades europias aps a Segunda Guerra Mundial e a criao do

    Plano Piloto de Braslia por Lcio Costa.

    Dentre as diversas temticas expostas na Carta de Atenas importante salientar o

    pensamento do manifesto sobre as intervenes realizadas dentro de reas consideradas

    de grande relevncia histrica. A carta sugere o respeito s transformaes ocorridas no

    decorrer do tempo e autenticidade dos materiais originais. Exige, portanto, a distino

    dos novos materiais aplicados restaurao e condena, de consequencia, qualquer

    tentativa de reconstruo, falseamento, ou imitao do aspecto primitivo.

    Uma maior e mais criteriosa abordagem sobre restauro aconteceu no II Congresso

    Internacional de Arquitetos e de Tcnicos de Monumentos Histricos, em 1964, com a

    elaborao da Carta de Veneza. Dentre todos os dezesseis artigos vale destacar os de

    nmero 10 e 13 que consideram nesta ordem, o uso de tcnicas modernas de conservao

    3A carta de Atenas. Disponvel em: . Acesso em 13 jun.2011.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_Jardim_(teoria)http://pt.wikipedia.org/wiki/Europahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Pilotohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%ADliahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%BAcio_Costahttp://portal.iphan.gov.br/
  • 16

    e construo na consolidao dos monumentos histricos quando as tcnicas tradicionais

    se revelarem inadequadas e a tolerncia de acrscimos na medida em que forem

    respeitadas todas as partes interessantes do edifcio principalmente quando do equilbrio

    de sua composio4. Segundo Teobaldo (2004) de acordo com as definies dacarta,

    percebe-se a importncia dada diferenciao do material utilizado na restauraoe sua

    identificao, para que possa ficar bem claro a poca em que foi empregado, o

    quecontribui para a veracidade da obra restaurada.

    A Conferncia de Quito (1967)procura adequar os princpios da Carta de Veneza s

    culturas latino americanas valorizando tambm o acervo sociolgico. Dentre as

    recomendaes propostas esto aquelas que so mais especficas ao continente sul

    americano:

    Valorizar um bem histrico ou artstico equivale a habilit-lo com as condies

    objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza ressaltem suas caractersticas e

    permitam seu timo aproveitamento;

    Os valores propriamente culturais no se desnaturalizam nem se comprometem ao

    vincular-se com os interesses tursticos e, longe disso, a maior atrao exercida pelos

    monumentos e a fluncia crescente de visitantes s contribuem para afirmar a conscincia

    de sua importncia e significao nacionais.

    A Carta Europia do Patrimnio Arquitetnico (1975) reafirma a vontade de promover

    uma poltica comum e uma ao concentrada de proteo do patrimnio, sendo estes

    alguns de seus princpios:

    o testemunho do passado documentado pelo patrimnioarquitetnico constitui um

    ambiente essencial para oequilbrio e o desenvolvimento cultural do homem;

    o patrimnio arquitetnico constitui um capital espiritual,cultural, econmico e

    social de valor insubstituvel;

    a estrutura do conjunto de edifcios histricos favorece oequilbrio harmnico das

    sociedades;

    o patrimnio arquitetnico tem um valor educativodeterminante;

    a conservao integrada minimiza a destruio e requermeios jurdicos,

    administrativos, financeiros e tcnicos;

    4 A carta de Veneza. Disponvel em: . Acesso em 13 de jun. de 2011.

    http://portal.iphan.gov.br/
  • 17

    a colaborao de todos indispensvel para o sucesso daobra de conservao

    integrada.

    Dentre as outras cartas internacionais, muitas so as citaes acerca da utilizao de

    materiais. Na Conveno sobre a Proteo do Patrimnio Mundial, Cultural e Natural,

    aprovada pela Conferncia Geral da UNESCO em 1972 em Paris, no artigo 24, h o

    incentivo do uso das mais novas tcnicas quando dito:

    Uma assistncia internacional de grande vulto somente poder

    serconcebida aps um pormenorizado estudo cientfico, econmico

    etcnico. Esse estudo dever recorrer s mais avanadas tcnicas

    deproteo, conservao, valorizao e reabilitao do

    patrimniocultural e natural.

    No manifesto de Amsterd, citada a importncia do entorno da obra, sendo necessrio

    que as edificaes contemporneas nele presente tambm obedeam a regras, entre elas o

    respeito s propores, forma e disposio dos volumes, alm dos materiais

    tradicionais. Porm, quando se trata dos materiais, importante que seja feita uma aluso

    aos mesmos, contudo, uma obra contempornea no deve ser construda com materiais

    que supostamente imitem as edificaes histricas ali existentes. Tais caractersticas

    contemporneas tendem a valorizar a edificao antiga existente no local pela

    diferenciao das prprias edificaes. Deve haver o respeito e no a cpia.

    Por meio das cartas internacionais, percebe-se que o ao um material, se no o mais

    adequado, admissvel para grande parte das intervenes em edificaes antigas. O

    material possui caractersticas favorveis relacionadas nas cartas, dentre elas a

    contemporaneidade, enfatizando a diferenciao do material novo com o antigo e

    permitindo autenticao histrica do monumento; a possibilidade de trabalhar

    harmonicamente com a edificao antiga, devido flexibilidade do material alcanada

    por caractersticas tcnicas que proporcionam leveza; e a facilidade de execuo e

    reversibilidade do material (TEOBALDO, 2004).

    2.1.3. A Teoria da restaurao no Brasil

    No Brasil, a institucionalizao da prtica preservacionista aconteceu na segunda metade

    da dcada de 1930, em um momento em que o mundo, entre a primeira e a segunda

    guerra grande mundial, j vivia o movimento modernista que tambm despontava

  • 18

    nacionalmente. Embora ocorresse em momento distinto do da Europa, aqui no Brasil a

    modernidade foi buscada de modo a fazer com que a institucionalizao da prtica

    preservacionista coincidisse com a busca pela identidade nacional. Desde ento o

    patrimnio e a preservao so conceitos em constante construo (PICANO, 2009).

    O Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional SPHAN instalado no Brasil

    em 1936, sendo responsvel pela elaborao da primeira lei de preservao, o Decreto-

    Lei 25, de 30 de novembro de 1937. A preocupao com o restauro mais

    especificamente a da arquitetura colonial - ganhou desde cedo maior peso, j que foi

    considerado pelos modernistas um mecanismo de resgate de particularidade, identidade e

    histria nacionais.

    Na dcada de 1960 a recomposio das partes afetadas por outras da mesma espcie, para

    que os sistemas de construo originais fossem mantidos, era a tcnica de restaurao

    mais difundida, sendo a utilizao de materiais e tcnicas modernas extremamente

    limitada, aplicadas somente em casos onde o seu uso era estritamente indispensvel.

    Para Khl (2006) principalmente a partir dos anos de 1970, aps a releitura crtica

    dasexperinciasrealizadas pelo SPHAN em sua fase pioneira com vrias intervenes

    queprivilegiaram uma dada leitura da histria da arquitetura brasileira, que

    noconsideravam como vlidas as diversas fases por que passou um monumentohistrico,

    e o desprezo generalizado por grande parte da produo arquitetnica dosculo XIX e

    incio do sculo XX , houve certa convergncia para os princpiosamadurecidos nas

    posturas conceituais, em especial italianas, do sculo XX,incorporadas na Carta de

    Veneza, de 1964, documento base do International Councilon Monumentsand Sites

    Conselho Internacional de Monumentos e Stios (ICOMOS), ligado UNESCO, da qual

    o Brasil signatrio.

    Nesse mesmo perodo acontece o primeiro encontro nacional sobre Preservao do

    Patrimnio Histrico e Artstico, que resultou no Compromisso de Braslia ressaltando a

    necessidade de classificao de bens culturais de interesse nacional e regional (estados e

    municpios). Em 1976 so criadas diretorias regionais e a nova poltica de tombamento

    voltada para conjuntos urbanos. A criao de cursos para formao profissional de

    conservadores e restauradores tambm data desta poca. Em 1995 o documento regional

    do Cone Sul sobre Autenticidade expresso pela Carta de Braslia. Estabelece que novos

  • 19

    usos devam ser precedidos de um diagnstico para estudo de viabilizao, com elementos

    introduzidos reversveis e harmnicos (SPHAN, 1980). Complementando, diz-se que em

    edifcios e conjuntos de valor cultural, as fachadas, a mera cenografia, os fragmentos, as

    colagens, as moldagens so desaconselhados porque levam perda da autenticidade

    intrnseca do bem.

    Segundo Teobaldo (2004) o campo da restaurao no Brasil passa por recente

    desenvolvimento, devido, sobretudo preocupao com a revitalizao de conjuntos

    histricos, acompanhada de adaptaode diversas edificaes para novos usos. No

    entanto, as intervenes so quase semprefeitas em moldes tradicionais sem que haja

    ousadia tanto dos restauradores quanto dosrgos de preservao, o que est relacionado

    com a pouca tradio neste campo.

    Um trabalho nacional importante o do Conselho Municipal de Preservao do

    Patrimnio Histrico, Artstico, Paisagstico e Cultural do Municpio de So Jos dos

    Campos5 que trabalha com algumas terminologias baseadas na Carta de Veneza. Dentro

    do conceito de restauro ou restaurao citada a utilizao de materiais diferentes que

    possam ser distinguidos quando vistos de perto.

    Restauro ou Restaurao: O conceito de restaurao traduz o conjunto

    de operaes destinadas a restabelecer a UNIDADE da edificao do

    ponto de vista de sua concepo e legibilidade originais, ou relativas a

    uma dada poca. um tipo de ao com algumas dificuldades ticas,

    que deve ser baseada em investigaes e anlises histricas

    inquestionveis e utilizar materiais que permitam uma distino clara,

    quando observados de perto, entre original e no original.

    Outro ponto essencial a ser discutido em todo o mundo acerca do patrimnio edificado

    diz respeito a sua acessibilidade. No Brasil o Instituto do Patrimnio Histrico e

    Artstico Nacional, o IPHAN, lanou a instruo normativa n1 de 25 de novembro de

    2003 que dispe sobre a acessibilidade aos bens culturais imveis acautelados em nvel

    federal. Esta Instruo Normativa do IPHAN, que por fora do contido na Lei

    5O Conselho Municipal (COMPHAC) foi criado por lei municipal em 1984. Sua criao impulsionada pela

    abertura poltica e pela influncia da legislao do IPHAN que sugeria aos municpios a criao de seus

    prprios rgos preservacionistas e que estes seguissem a legislao federal em mbito municipal. A lei de

    criao do Conselho de n2869/84 de 20 de setembro de 1984 e foi atualizada vrias vezes para insero

    de novos membros. O COMPHAC trabalha hoje em conjunto ao Departamento de Patrimnio Histrico na

    Fundao Cultural Cassiano Ricardo.

  • 20

    10.048/2000 (norma geral sobre acessibilidade) e no art. 30 do Decreto 5.296/2004,

    aplica-se tambm aos bens acautelados pelos Estados, Distrito Federal e Municpios

    (CF/88, art. 24, 1o.), estabelece diretrizes, critrios e recomendaes para a promoo

    das devidas condies de acessibilidade aos bens culturais imveis, a fim de equiparar as

    oportunidades de fruio destes bens pelo conjunto da sociedade, em especial pelas

    pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida. O mesmo rgo est

    criando o Programa Nacional de Mobilidade e Acessibilidade Urbana em reas tombadas.

    No ano de 2010, Braslia sediou a Oficina Tcnica sobre Mobilidade e Acessibilidade

    Urbana em reas tombadas gerando quatro projetos pilotos em fase de elaborao nas

    cidades de Ouro Preto (MG), So Francisco do Sul (SC), Laguna (SC) e Paranagu (PR)6.

    2.1.4. Principais conceitos

    Para facilitar a compreenso acerca de algumas terminologias j citadas e outras que

    surgiro no decorrer desta pesquisa foram selecionados alguns conceitos sobre tipos

    bsicos de interveno em edificaes apresentados no Quadro 2.1.

    As metodologias de interveno mais frequentes no Brasil so a preservao, a

    reabilitao, a restaurao, a reconstruo, a conservao, a reciclagem, a requalificao,

    a reutilizao e a revitalizao.

    De acordo com Teobaldo (2004) a preservao est relacionada proteo preferencial

    dos elementos construtivos, que devem ser retidos e preservados, sendo utilizadas

    medidas preliminares de proteo e estabilizao antes de se realizar qualquer tipo de

    interveno na construo. A preservao no permite alteraes extensivas e acrscimos,

    tampouco a remoo de elementos, mesmo que para revelar um tempo anterior. Os

    reparos nesse tipo de tratamento so realizados com o mesmo material e documentados,

    porm, devendo ser feitos de maneira a distinguir o velho do novo.

    J a reabilitao segundo os documentos do IEPHA-MG (Instituto Estadual de

    Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais) o processo de recomposio do bem

    6IPHAN. Disponvel em: Acesso em 13 de jun. de 2011.

    http://portal.iphan.gov.br/
  • 21

    e de sua efetiva reutilizao, seja para os usos tradicionais ou para uma nova utilizao.

    Podem-se utilizar materiaiscontemporneos em locais onde no seriam possveis a

    utilizao dos pr-existentes. Areabilitao tem o potencial de alterar o carter histrico

    da obra devido a essa ligao com novos usos e com a mudana.

    Quadro 2.1 Terminologia para interveno em edificaes

    CONCEITO DEFINIO FONTE

    Anastilosi [...] a recomposio de partes existentes,

    mas desmembradas.

    Carta de Veneza

    Conservao De origem latina, com o significado de

    guardar; conjunto de aes preventivas

    destinadas a manter, restabelecer e prolongar

    a sade fsica e a permanncia dos objetos

    culturais para transmiti-los ao futuro.

    Carta Italiana de 1987

    (SEGARRA,1992,

    p.53).

    Preveno Conjunto de aes de conservao

    motivadas por conhecimentos que possam

    prever o estado futuro das condies do

    objeto e do seu contexto ambiental.

    Carta Italiana de 1987

    (SEGARRA,1992,

    p.53).

    Reabilitao Na jurisprudncia a ao de recuperar a

    estima e a considerao, ou seja, refere-se ao

    restabelecimento de direitos.

    Choay (2001)

    Reabilitao arquitetnica Significa requalificar, mantendo-se as

    caractersticas arquitetnicas, a identidade.

    Refere-se a Obras que tem por fim a

    recuperao e beneficiamento de uma

    construo, resolvendo as anomalias [...]

    procedendo de uma modernizao que

    melhore o seu desempenho at prximo dos

    atuais nveis de exigncia.

    FRANCE, 2001

    Reciclagem Recuperao de espaos FRANCE,2001

    Restaurao

    Qualquer interveno que, com respeito aos

    princpios da conservao e baseada em

    investigaes prvias, esteja destinada a

    restituir ao objeto, dentro do possvel, sua

    relativa legibilidade e, se for o caso, seu uso.

    Carta Italiana de 1987

    SEGARRA,1992, p.53.

    [...] uma operao que deve ter carter

    excepcional. Tem por objetivo conservar e

    revelar os valores estticos histricos do

    monumento e fundamenta-se no respeito ao

    material original e aos documentos

    autnticos.

    Carta de Veneza de

    1964

    CURY, 2004, p.93.

    Revitalizao

    Dar vida ao que se encontra sem vida.

    Implica trazer novas atividades econmicas,

    em zonas com ou sem identidade.

    VASCONCELLOS;

    MELLO, 2002.

  • 22

    A restaurao, segundo o IPHAN, o conjunto de intervenes em um determinado

    edifcio, conjunto de edifcios ou conjunto urbano, stio ou paisagem que se fazem

    necessrias quando as obras ou servios de conservao se mostram insuficientes para

    garantir a sua integridade. No documento do IEPHA-MG definida como o processo

    de recomposio do edifcio da maneira como historicamente ele se constitui.

    J a reconstruo, segundo o IEPHA-MG,

    (...) acontece em casos de grande deteriorao de imveis ou aps

    algum tipo de sinistro. Todo trabalho de reconstruo deve ser excludo

    a priori, admitindo-se, somente, a anastilose (recomposio das partes

    existentes, mas desmembradas). Os elementos de integrao devero ser

    sempre, reconhecveis e reduzir-se ao mnimo necessrio para assegurar

    condies de conservao do monumento e restabelecer a continuidade

    de suas formas. No caso de monumento desaparecido, este somente

    poder ser substitudo por sua cpia se o seu remanescente, avaliado por

    juzo crtico rigoroso, justificar tal reproduo. A reconstruo deve ser

    efetivada quando constituir condio si nequanom de sobrevivncia de

    um bem cuja integridade

    tenha sido comprometida por desgastes ou modificaes ou quando

    possibilitar restabelecer ao conjunto de um bem uma significao

    cultural perdida.

    A conservao tambm segundo o IEPHA-MGpressupe umConjunto de prticas de

    variadas naturezas (administrativa, tcnica,etc.) de natureza permanente que visa

    salvaguardar os bens culturaisem suas diversas categorias, considerando tanto a obra de

    arte quantoseu testemunho histrico. Quando a conservao se faz de formacurativa, ou

    seja, quando o processo de deteriorao j se instalou, necessrio um tratamento direto

    no objeto. Na sua acepo mais ampla,inclui medidas de segurana e manuteno, bem

    como disposies queprevejam sua futura destinao. O mesmo documento entende o

    processo de reciclagem como restaurao ou reforma e visa um novo uso ou o resgate do

    edifcio para uma nova funo. Considerando a grande mudana nas dinmicas sociais e

    modos deproduo, a reciclagem se faz bastante presente na atualidade. Em geral

    preservam-se as fachadas externas como garantia da manuteno de uma imagem

    conhecida sendo os interiores radicalmente modificados.

    J a requalificao de edifcios compreende toda a gama de aes que, sob esse nome

    genrico engloba desde a restaurao propriamente dita at a reconverso da edificao

    para novos usos diferentes do original (TEOBALDO, 2004).

  • 23

    Segundo as Diretrizes para a proteo do patrimnio cultural de Minas Gerais do

    IEPHA-MG, a reutilizao indicada para aqueles bens em processo de degradao e

    que, por seu significado, justifiquem interveno que vise sua requalificao e,

    principalmente, sua preservao. As obras de adaptao para novo uso devem se limitar

    ao mnimo indispensvel destinao, que dever ser compatvel com o bem. As

    destinaes compatveis so as que implicam em ausncia de qualquer modificao ou,

    apenas, em modificao reversvel em seu conjunto ou, ainda, em modificao cujo

    impacto sobre as partes da substncia que apresentam significao cultural seja a

    menorpossvel enquanto que a revitalizao (...) refere-se recuperao e reutilizao

    de trechos urbanos degradados sem vida, embora o senso comum aplique esse termo

    indiscriminadamente a qualquer requalificao urbana mesmo em locais plenos de

    atividades, que apenas necessitariam de um reordenamento fsico-espacial e de usos. A

    revitalizao tem sido o instrumento utilizado em diversos locais onde h um grande

    potencial de localizao associado a um extensivo patrimnio construdo. Muitas vezes,

    este um instrumento de grande reduo de economias urbanas e de criao de novas

    reas de importncia e afluncia turstica ou da prpria populao das cidades.

    Como pode ser percebido, os conceitos definidos pelo IEPHA-MG e IPHAN, revelam a

    mesma necessidade das cartas internacionais de distino de materiais e reversibilidade

    das intervenes nas obras histricas. Se a arquitetura produto tanto da memria quanto

    da inveno, ento as aes de preservar o antigo e construir o novo no podem ser

    consideradas antitticas. necessrio, ao contrrio, reconhecer que estratgias de

    preservao precisam estar absolutamente entrelaadas com as dinmicas de inovao.

    Improcedente, portanto, a defesa de posies extremadas , como se fosse possvel

    preservar tudo, ou seu contrrio, destruir tudo para construir o novo.

    2.1.5. O ao como elemento de interveno

    Observa-se, hoje em dia, que o ao est sendo cada vez mais utilizado nareabilitao,

    modernizao e recuperao de edificaes histricas. Os antigosedifcios de alvenaria,

    danificados, muitas vezes pelo tempo de uso e pelasintempries, requerem sua

    reabilitao funcional que passa por sua recuperaoestrutural. Isto tambm acontece nas

    edificaes mais novas devido ao mau estadode conservao e manuteno. Dentre as

    principais vantagens da utilizao deestruturas de ao na reabilitao de estruturas pode-

  • 24

    se citar a resistncia, a leveza ea facilidade de montagem que estas proporcionam. Estas

    vantagens so levadas emconsiderao, principalmente, devido importncia

    arquitetnica e histrica da edificao em questo (CAMPOS, 2006).Segundo Teobaldo

    (2004) em todo mundo, mas com maior expressividade na Europa, o ao empregado em

    diversas obras de interveno. Sua utilizao, quando comparado a outros materiais,

    preferida devido a uma melhor condio estrutural e baixo peso prprio permitindo o

    reforo das fundaes de antigos edifcios.

    Reforar representa melhorar o desempenho estrutural a fim de permitir que aedificao

    atenda s novas exigncias funcionais, como por exemplo, novo tipo decarregamento ou

    a condies ambientais. As operaes de reforo podem sersubdivididas em dois casos

    distintos. O primeiro compreende operaes demelhorias simples, que envolvem uma

    variedade de trabalhos em elementosestruturais individuais de uma edificao a fim de se

    conseguir um nvel maiselevado de segurana sem modificar de forma significativa sua

    composio. Osegundo diz respeito s operaes que levam a um sistema estrutural

    diferente dooriginal fazendo com que a estrutura suporte novas solicitaes de projeto,

    isto ,adies verticais e/ou horizontais, e casos onde a mudana de uso envolve aumento

    do carregamento original (CAMPOS, 2006).

    A produo do ao em srie e por meio de tcnicas industriais lhe proporcionam

    dimenses bastante precisas, garantindo ao material maior previsibilidade e rapidez s

    obras, bem como maior disposio de peas para obras de carter emergencial. A rapidez

    de montagem, devido composio da estrutura de peas pr-fabricadas, relevante nos

    casos onde, por exemplo, a estrutura original estiver comprometida ou a edificao se

    mantenha em funcionamento. As estruturas metlicas tm considervel aplicabilidade

    quando utilizadas em intervenes de edificaes preexistentes, principalmente as de

    cunho histrico e carter preservativo, pois possibilitam a reversibilidade, ou seja, a

    substituio das peas em uma futura obra. Ela permite maiores vos que as estruturas

    convencionais e ao mesmo tempo leveza esttica. Pode-se dizer que a linguagem do

    ao confere s obras pr-existentes um dilogo com a contemporaneidade. Trata-se no

    apenas de inovaes tecnolgicas, mas tambm conceituais. Alm disso, a linguagem

    arquitetnica do ao estabelece o contraste entre o antigo e o contemporneo,

    preservando a autenticidade da obra (MORAES e RIBEIRO, 2010).

  • 25

    Outra caracterstica do ao a possibilidade de desmontagem e reaproveitamento,

    principalmente em estruturas com ligaes parafusadas, importante para a reversibilidade,

    requisito exigido em regulamentos internacionais, e consequente aceitao de futuras

    alteraes e adaptaes dos elementos estruturais, tais com o reforo, ampliao ou

    modificao de uso. A estrutura de ao pode ainda ser construda e montada

    independentemente da estrutura original, absorvendo apenas os esforos desejveis, sem

    interferir em questes visuais, construtivas e conceituais da edificao, causando um

    menor impacto sobre o conjunto (TEOBALDO, 2004).

    De acordo com os regulamentos internacionais, o ao, alm de atender s

    exignciascitadas, um material contemporneo, mantendo clara a distino entre os

    materiaisoriginais e o material atual usado na interveno, enfatizando a poca em que

    foiutilizado e com possibilidade de manter a harmonia do conjunto.O emprego do ao em

    obras de restaurao demonstrou ser inicialmente restringido as intervenes estruturais

    visando consolidao esttica, tendo, sempre que possvel dissimulada sua estrutura

    aparente. Este conceito comeou a se transformar no momentoem que a restaurao

    ampliou seus conceitos e critrios e passou a demandar que oelemento arquitetnico

    preservado ou adaptado, deveria estabelecer um elo entrepassado e presente. A obra

    restaurada deveria ser capaz de vincular dados histricoscom veracidade, mas tambm

    agregar dados do perodo em que foi efetuada arestaurao.

    Por outro lado, os critrios de restaurao tambm passaram a exigir dos novoselementos

    a capacidade de remoo ou reversibilidade, ou seja, a propriedade degarantirem a

    integridade do bem preservado e permitir uma eventual remoo futura doselementos

    utilizados no processo de interveno.Arquitetonicamente, elementos como a clareza

    formal, a expressividade figurativa, variao de formas possveis, conseguem vincular

    uma contemporaneidade formalcontrastante com a esttica das edificaes histricas.

    Dado importante quando se querdelimitar claramente o que esta sendo preservado e o que

    esta sendo acrescido aoconjunto. Em qualquer interveno a legibilidade e a

    autenticidade devem ser buscadas,permitindo a contemporaneidade da ao e a

    identificao da mesma, no falsificando aobra. O ao um material que possibilita esse

    marco da contemporaneidade da obra,atendendo s normas internacionais e seguindo as

    polticas modernas de interveno.

  • 26

    2.2. Acessibilidade

    Acessibilidade a possibilidade de acesso a um lugar. A

    acessibilidade (...) influencia fortemente sobre o nvel dos

    valores essenciais/fundamentais. (...) A formulao que mais

    satisfaz aquela na qual podemos ponderar as acessibilidades

    por diferentes tipos de oportunidades (emprego, locais de

    compra, locais de lazer, etc.). (CHOAY,2001)

    2.2.1. Principais conceitos

    O estudo dos diversos conceitos que envolvem o termo acessibilidade permite demonstrar

    como as pessoas com algum tipo de limitao, seja temporria oupermanente, fazem o

    uso do direito de ir e vi7 na atualidade.

    A norma NBR9050 (ABNT, 2004), define acessibilidade como a possibilidade e

    condio de alcance, percepo e entendimento para utilizao com segurana e

    autonomia de edificaes, espao, mobilirio, equipamento urbano e elementos.

    Dischinger e Bins Ely (2005) definem como espao acessvel aquele de fcil

    compreenso, que permite ao usurio comunicar-se, ir e vir e participar de todas as

    atividades que o local proporcione, sempre com autonomia, segurana e conforto,

    independente das habilidades e restries de seus usurios. A partir dessa definio so

    estabelecidos ainda quatrocomponentes essenciais para a obteno de boas condies de

    acessibilidade espacial: orientabilidade, deslocamento, comunicao e uso.

    A Orientabilidade faz saber onde se est, e para onde ir, a partir das

    informaes arquitetnicas e dossuportes informativos (placas,

    sinais, letreiros etc.) de forma independente e autnoma, figura 2.1.

    O espaopermite sua compreenso (legibilidade espacial) por

    meioda configurao arquitetnica, da visibilidadede suas partes,

    7O direito de ir e vir garantido na Constituio Federal do Brasil (1988) por meio do Art. 5- Trata do

    direito de ir e vir, livre locomoo no territrio nacional em tempo de paz. Ainda no caput do referido

    artigo destacado o Princpio da Isonomia ou Direito Igualdade - Todos so iguais perante a lei, sem

    distino de qualquer natureza.

    Fig.2.1 Orientabilidade

    Fonte: ANDRADE;

    BINS ELY, 2009

  • 27

    da sua organizao funcional e das informaes adicionais

    existentes.

    O Deslocamento, figura 2.2,d condies ideais de movimento ao

    longo de percursos horizontais ou verticais eseus componentes

    (salas, escadas, corredores, rampas, elevadores). O deslocamento

    garantidoatravs da supresso de barreiras fsicas8, propiciando

    assim segurana, conforto e autonomia a todosos usurios.

    A Comunicao, figura 2.3, a possibilidade de obter boas

    condies de troca e intercmbio de informaes, seja interpessoal,

    ou entre pessoas e equipamentos de tecnologia assistiva(como

    terminais de computadores e telefones com mensagensde texto),

    permitindo o ingresso e o uso dos ambientes e equipamentos.

    O Uso, figura 2.4, dado pela possibilidade de participao do

    indivduo nas atividades desejadas, utilizando osambientes e

    equipamentos, sem que seja necessrio um conhecimento prvio, e

    de forma autnoma,confortvel e segura.

    Cabe ressaltar que as informaes adicionais devem ser acessveis a todos, como textos

    em Braillepara o deficiente visual e pictogramas para analfabetos e crianas, por

    exemplo. A ausncia destasinformaes gera situaes constrangedoras, pois acentua as

    restries, causando excluso ereduzindo a acessibilidade ao ambiente. Quando no h o

    cumprimento deste princpio, a pessoacom restrio sensorial visual e/ ou cognitiva

    uma das mais prejudicadas.

    A acessibilidade espacial depende destes quatro componentes: o no cumprimento de um

    delescompromete todos os demais, dificultando ou at mesmo impedindo o acesso de

    pessoas comrestries aos ambientes.

    8A Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade 2008, p.244, definebarreiras como

    fatores ambientais que, por meio de sua ausncia ou presena, limitam a funcionalidadee provocam a

    incapacidade. Esses incluem aspectos como um ambiente fsico inacessvel, falta detecnologia de

    assistncia apropriada, atitudes negativas das pessoas em relao incapacidade, bemcomo servios,

    sistemas e polticas inexistentes ou que dificultam o envolvimento de todas as pessoascom uma condio de

    sade em todas as reas da vida.

    Fig.2.4Uso

    Fonte: ANDRADE;

    BINS ELY, 2009

    Fig.2.3Comunicao

    Fonte: ANDRADE;

    BINS ELY, 2009

    Fig.2.2Deslocamento

    Fonte: ANDRADE;

    BINS ELY, 2009

  • 28

    Ao analisar espaos de uso coletivo, como os centros culturais, com grande diversidade

    defrequentadores, deve-se compreender as limitaes e necessidades apresentadas por

    uma parceladesta populao usuria, que pode apresentar restries no uso do espao

    oriundas ou no dedeficincias. Cabe, portanto, entender a diferena entre os dois termos

    - restrio e deficincia (BINS ELY; OLIVEIRA, 2005).

    Segundo o que est estabelecido na norma NBR 9050(ABNT,2004) pessoa

    comdeficincia aquela que (temporria ou permanente) tem limitada sua capacidade de

    relacionar-secom o meio e utiliz-lo. O termo deficincia refere-se reduo, limitao

    ou inexistncia dascondies de mobilidade, de percepo das caractersticas do ambiente

    e de utilizao dasedificaes, espao, mobilirio, equipamento urbano e elementos, em

    carter temporrio oupermanente.

    Dischinger, Bins Ely e Piardi (2009) utilizam o termo deficincia para [...] designar o

    problema especfico de uma disfuno no nvel fisiolgico do indivduo (por exemplo,

    cegueira, surdez, paralisia). Fvero (2004) define deficincia como [...] uma limitao

    significativa fsica, sensorial ou mental e no se confunde com incapacidade. A

    incapacidade para alguma coisa (andar, subir escadas, ver, ouvir, etc) uma consequncia

    da deficincia, que deve ser vista de forma localizada [...]. A Organizao Mundial da

    Sade, por meio da Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e

    Sade(OMS,2008) considera que deficincias so problemas na funo ou estrutura do

    corpo, tais como um desvio ou uma perda significativa.

    As restries so utilizadas para designar, segundo Dischinger, Bins Ely e Piardi (2009),

    a dificuldade existente para a realizao de atividades desejadas resultantes da relao

    entre as condies dos indivduos e as caractersticas ambientais. Isto significa dizer que

    sofrer uma restrio estar impossibilitado de realizar determinadas tarefas, temporria

    ou permanentemente.

    Por exemplo, uma pessoa cega possui a incapacidade de enxergar, entretanto, se o espao

    possui pisos tteis e outros referenciais no visuais, a pessoa pode se orientar e se

    deslocar de forma independente eautnoma. J uma criana, sem deficincia alguma,

    pode sofrer diversas restries por sua baixaestatura, como alcanar um livro em uma

  • 29

    prateleira alta, puxar a descarga, utilizar equipamentossanitrios de tamanho

    convencional, etc.

    Novamente a Organizao Mundial da Sade, por meio da Classificao Internacional de

    Funcionalidade, Incapacidade e Sade (OMS,2008) complementa que a presena da

    restrio de participao determinada pela comparao entre a participao individual e

    aquela esperada de um indivduo sem deficincia naquela cultura ou sociedade. Define

    ainda que limitaes de atividades so dificuldades que um indivduo pode ter na

    execuo de atividades. Uma limitaode atividade pode variar de um desvio leve a

    grave, em termos da quantidade ou daqualidade na execuo da atividade, comparada a

    maneira