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dissertação margarida silva

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  • Universidade de Aveiro 2010

    Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas

    Ana Margarida Tavares dos Santos Ferreira da Silva

    Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

  • Universidade de Aveiro 2010

    Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas

    Ana Margarida Tavares dos Santos Ferreira da Silva

    Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Planeamento Regional - Inovao e Polticas de Desenvolvimento, realizada sob a orientao cientfica do Prof. Doutor Jos Manuel Martins, Professor Auxiliar da Seco Autnoma de Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas e co-orientao da Prof. Doutora Filomena Cardoso Martins, Prof. Associada do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro.

  • o jri

    presidente Prof. Doutor Eduardo Anselmo de Castro Professor Associado da Seco Autnoma Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas da Universidade de Aveiro

    Prof. Doutor Jos Manuel Martins Professor Auxiliar da Seco Autnoma Cincias Sociais, Jurdicas e Polticas da Universidade de Aveiro

    Prof. Doutora Filomena Martins Professora Associada do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro

    Prof. Doutor Norberto Santos Professor Associado com Agregao da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

  • Agradecimentos

    Depois do longo caminho percorrido no desenvolvimento deste trabalho, queroagradecer aos meus orientadores pelo apoio e compreenso e em particular Prof Doutora Filomena Martins por no me deixar desistir.

    Agradeo minha colega e amiga Helena Albuquerque na reviso do corpo de texto e formatao do trabalho, uma ajuda essencial na fase final.

    Agradeo ainda Helena Soares e Lus Galiza (UNAVE) pela concepo de vrios mapas.

    Ao meu marido um agradecimento especial pela motivao, apoio e grande pacincia neste longo percurso.

  • palavras-chave

    Salinas, Sal, Biodiversidade, Inovao, Gesto Sustentvel.

    resumo

    Esta dissertao tem como objectivo contribuir para uma melhor compreenso do papel que as estratgias de gesto sustentvel, como agentes de desenvolvimento e como consequncia da novas orientaes das polticas pblicas, podem promover na capacidade competitiva dos territrios, num contexto de globalizao. O trabalho est estruturado em quatro vertentes. A primeira reconhece o papel das novas orientaes das polticas pblicas como factor promotor das estratgias de gesto sustentvel e motor de desenvolvimento. Na segunda analisam-se os casos de estudo: Gurande, Algarve e "Ria de Aveiro". Na terceira vertente apresenta-se um estudo comparativo entre os casos de estudo. Na ltima vertente apresentam-se as linhas de orientao para uma possvel estratgia de gesto sustentvel para o Salgado de Aveiro reconhecendo a inovao como factor de desenvolvimento apoiada nas novas orientaes das polticas pblicas e sustentado pela aprendizagem obtida pelo conhecimento dos casos de estudo. Neste trabalho conclui-se que fundamental envolver entidades supra-municipais, instituies pblicas e privadas e promover a cooperao regional e inter-regional e a partilha de uma viso de um futuro regional com o envolvimento dos agentes desde o incio como factor de sucesso na concepo das estratgias de gesto sustentvel.

  • keywords

    Saltpans, Salt, Biodiversity, Innovation, Sustainable Management.

    abstract

    This work aims to be a contribution to a better understanding of the role that sustainable management strategies play as development agents and with the new orientation of the public development policies can promote on the territories competitive capacity in globalisation context. The work is organised in four parts. Firstly recognise the role of development public policies as a promoter of sustainable strategies and as development motor. Secondly is the presentation of the case-studies. Thirdly its analysed a comparative study between case-studies Finally the presentation of the orientations to a development program sustained with the learning lessons from the new orientations of the development public policies and the studies-cases. In this work the conclusion is that to a successfully conception and implantation of an sustainable management strategy its necessary to involve identities supra-municipalities, public and private institutions, promote the regional and inter-regional cooperation and involve the agents since the beginning with a future common vision as a condition to the success in sustainable management strategies.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

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    NDICE NDICE DE FIGURAS................................................................................................................ III NDICE DE ANEXOS .................................................................................................................V LISTA DE ACRNIMOS ............................................................................................................VI CAPTULO I INTRODUO .................................................................................................... 1

    1. Razes para a escolha do tema .................................................................................... 3 2. Objectivos ...................................................................................................................... 4 3. Estrutura e metodologia ................................................................................................. 4

    3.1. Estrutura da dissertao.......................................................................................... 4 3.2. Metodologia ........................................................................................................... 5

    CAPTULO II ENQUADRAMENTO TEMTICO ............................................................................. 7 1. Evoluo histrica ........................................................................................................... 9 2. O Sal no Mundo ........................................................................................................... 10 3. Caractersticas da Produo ........................................................................................ 11

    CAPTULO III AS POLTICAS PBLICAS E A IMPORTNCIA DO TERRITRIO ................................ 13 1. Introduo .................................................................................................................... 15 2. Sustentabilidade no quadro das polticas pblicas...................................................... 18

    2.1. Enquadramento Global......................................................................................... 18 2.1.1. A Conveno de RAMSAR (1971) ................................................................. 20 2.1.2. Conveno sobre a Diversidade Biolgica (1992) ........................................ 22

    2.2. Situao europeia................................................................................................. 23 2.2.1. Introduo ...................................................................................................... 23 2.2.2. A Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvel (2001) .................... 23 2.2.3. A Estratgia da Comunidade Europeia em Matria de Diversidade Biolgica (1998) ...................................................................................................................... 23 2.2.4. O Sexto Programa Comunitrio de Aco em Matria de Ambiente ........... 24 2.2.5. A Rede Natura 2000..................................................................................... 25

    2.3. Situao Nacional ................................................................................................. 27 2.3.1. Introduo ...................................................................................................... 27 2.3.2. A Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel (ENDS) .................... 28 2.3.3. A Estratgia Nacional da Conservao da Natureza (ENCNB) .................... 29 2.3.4. Os Instrumentos de Gesto territorial de mbito nacional ............................ 32 2.3.5. Os documentos estratgicos de mbito nacional ........................................... 34

    2.4. A Dimenso Regional ............................................................................................ 40 2.4.1. Introduo ...................................................................................................... 40 2.4.2. Os Instrumentos de Gesto territorial de mbito regional ............................ 41 2.4.3. Instrumentos de Gesto territorial de mbito Intermunicipal ......................... 42 2.4.4. Os documentos estratgicos de mbito regional ........................................... 45

    2.5. Instrumentos de gesto territorial, estratgias e dinamizao da salicultura tradicional .................................................................................................................... 51

    CAPTULO IV CASOS DE ESTUDO ........................................................................................ 53 1. Introduo .................................................................................................................... 55

    1.1. A escolha dos casos de estudo.............................................................................. 55 2. Gurande..................................................................................................................... 55

    2.1. Introduo ............................................................................................................. 55 2.2. Breve Historial....................................................................................................... 55 2.3. Enquadramento Regional ...................................................................................... 57 2.4. O Salgado ............................................................................................................ 59

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

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    2.5. O Sal..................................................................................................................... 59 2.6. O turismo............................................................................................................... 60 2.7. Os Agentes Directos .............................................................................................. 60 2.8. Agentes Indirectos ................................................................................................. 64 2.9. Dinmicas territoriais............................................................................................. 67 2.10. Concluso ............................................................................................................ 68

    3. Contextualizao da produo de Sal Marinho Artesanal em Portugal ..................... 68 4. Os casos de estudo do Algarve ................................................................................... 72

    4.1. Breve historial e enquadramento .......................................................................... 72 4.2. Os Produtores ....................................................................................................... 72 4.3. Agentes Directos ................................................................................................... 76

    5. "Ria de Aveiro" ............................................................................................................ 77 5.1. Enquadramento Regional ...................................................................................... 77

    5.1.1. Caracterizao socioeconmica..................................................................... 78 5.1.2. Caracterizao Biofsica ................................................................................ 84

    5.2. Gesto do Salgado de Aveiro .......................................................................... 87 5.2.1. Entidades que gerem o salgado.................................................................... 87

    5.3. Enquadramento fsico do Salgado..................................................................... 89 5.3.1. Ameaas e problemas ................................................................................... 92

    5.4. O Sal..................................................................................................................... 95 5.4.1. Breve Historial da Produo de Sal na Ria de Aveiro .................................. 95 5.4.2. Evoluo da produo ................................................................................... 96

    5.5. Causas do declnio da actividade......................................................................... 97 5.6. Aces encetadas para revitalizar o Salgado ..................................................... 97

    5.6.1. As iniciativas desenvolvidas ........................................................................... 97 5.6.2. Iniciativas em curso......................................................................................... 98

    5.7. Caracterizao do mercado do sal aveirense...................................................... 99 6. Estudo Comparativo Casos de Estudo ........................................................................ 101 7. Concluso ................................................................................................................... 105

    CAPTULO V PROPOSTA DE PROGRAMA PARA O SALGADO DE AVEIRO................................... 107 1. Introduo .................................................................................................................. 109 2. Conceptualizao das Polticas de Ambiente, Conservao da Natureza e Biodiversidade ............................................................................................................... 109 3. Metodologia .............................................................................................................. 110 4. Objectivos .................................................................................................................. 110 5. reas do programa ................................................................................................... 111 6. Os Agentes................................................................................................................. 114

    6.1. Privados Individuais ............................................................................................ 114 6.3. Institucionais......................................................................................................... 117

    7. Concluses .................................................................................................................. 125 CAPTULO VI CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 127 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 131

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

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    NDICE DE FIGURAS

    Fig. 1 - Produo Mundial de Sal em 2006 ..................................................................................................10

    Fig.2 - Uso de Sal por Sectores em 2006......................................................................................................10

    Fig. 3 Salinas de Produo Artesanal..........................................................................................................11

    Fig. 4 - Salinas de Produo com Meios Mecnicos.....................................................................................11

    Fig. 5 - Procedimentos para a criao da Rede Natura 2000 .................................................................26

    Fig. 6 - Principais instrumentos da implementao da ENDS......................................................................29

    Fig. 7 Pilrito........................................................................................................................................................42

    Fig. 8 Borrelho-de-...........................................................................................................................................42

    coleira-interrompida.................................................................................................................................................

    Fig. 9 Perna-longa ...........................................................................................................................................42

    Fig. 10 Enquadramento geogrfico Salgado de Gurande...............................................................58

    Fig. 11 - Cooperativa de Sal de Gurande..................................................................................................61

    Fig. 12 Terre du Sel........................................................................................................................................62

    Fig. 13 Visita Salinas em Gurande.............................................................................................................63

    Fig. 14 Muse des Marais Salants (Batz-sur-Mer).....................................................................................63

    Fig. 15 Locais de Produo de Sal Marinho Artesanal em Portugal.....................................................68

    Fig. 16 Produo Necton ................................................................................................................................73

    Fig. 17 Mercados Necton ...............................................................................................................................74

    Fig. 18 Enquadramento geogrfico Ria de Aveiro ...............................................................................77

    Fig. 19 Populao empregada por sector de actividade em 2001 ...............................................83 Fig. 20 - Hspedes por rea de residncia em 2006.................................................................................83

    Fig. 21 - Estdios da formao e evoluo da laguna de Aveiro desde o sc.X..................................85

    Fig. 22 Zona de Proteco Especial da Ria de Aveiro".........................................................................86

    Fig. 23 Enquadramento fsico do Salgado de Aveiro...........................................................................89

    Fig. 24 - Grupos do Salgado de Aveiro.....................................................................................................90

    Fig. 25 Evoluo Regime de Uso do Salgado de Aveiro entre os anos de 1956 e 2007...............91

    Fig. 26 - Identificao das infra-estruturas desenvolvidas (SIMRIA e Ferrovia) no espao do Salgado de Aveiro. .............................................................................................................................................94

    Fig. 27 Produo de Sal Marinho em Aveiro em Toneladas ..................................................................96

    Fig. 28 Grficos de Temperatura e precipitao St Nazaire............................................................. 102

    Fig. 29 Grficos de Temperatura e precipitao Porto/Pedras Rubras .......................................... 102

    Fig. 30 Salicornia .......................................................................................................................................... 112

    Fig 31 - Dunaliella salina (microscpio)......................................................................................................... 112

    Fig. 32 - Dunaliella salina (na salina) ............................................................................................................ 112

    Fig. 33 - Pesca de lazer em Gurande ....................................................................................................... 113

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    iv

    NDICE DE QUADROS QUADRO 1 - O SAL COMO ELEMENTO CULTURAL ...................................................................................... 9 QUADRO 2 - CARACTERIZAO DAS SALINAS..........................................................................................11 QUADRO 3 - COMPARAO ENTRE SALINAS TRADICIONAIS E COM MEIOS MECNICOS ............................12 QUADRO 4 - CONVENES E ACORDOS INTERNACIONAIS COM INTERESSE NA REA DO AMBIENTE .........20 QUADRO 5 PROJECTOS PROPOSTOS NO PLANO INTERMUNICIPAL UNIR@RIA COM EFEITOS NO SALGADO DE AVEIRO ...............................................................................................................................44 QUADRO 6 - RESUMO DOS PROJECTOS INTEGRANTES NO PLANO DE INTERVENO POLIS RIA DE AVEIRO................................................................................................................................................................49 QUADRO 7 - PROPOSTAS DE LINHAS DE ACO DO GRUPO DE ACO COSTEIRA RIA DE AVEIRO .........51 QUADRO 8 - COMPARAO PRODUTORES ALGARVE (VALORES 2008) ..................................................76 QUADRO 9 POPULAO RESIDENTE NOS CONCELHOS DA "RIA DE AVEIRO" ........................................79 QUADRO 10 DENSIDADE POPULACIONAL NOS CONCELHOS DA RIA DE AVEIRO ...............................80 QUADRO 11 PODER DE COMPRA NOS CONCELHOS DA RIA DE AVEIRO............................................81 QUADRO 12 - REAS OCUPADAS POR TIPO DE REGIME DO SALGADO NO ANO DE 2007 .......................92 QUADRO 13 - CARACTERSTICAS DOS SALGADOS................................................................................ 101 QUADRO 14 - USOS DAS SALINAS ....................................................................................................... 102 QUADRO 15 - PROPRIEDADE ................................................................................................................ 103 QUADRO 16 - DESTINO DO PRODUTO (%) .......................................................................................... 103 QUADRO 17 - DISTRIBUIO (%)......................................................................................................... 103 QUADRO 18 - SNTESE COMPARAO CASOS DE ESTUDO ................................................................... 104 QUADRO 19 - SNTESE PROGRAMA DE GESTO AMBIENTAL PARA O SALGADO DE AVEIRO .................. 124

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    v

    NDICE DE ANEXOS

    Anexo 1 Mapa de Produo de sal no Europa

    Anexo 2 Objectivos da ENDS

    Anexo 3 Principios Orientadores do QREN

    Anexo 4 Curso de Formao de Marnotos Gurande

    Anexo 5 Repertrio Legislao Portuguesa respeitante Salicultura

    Anexo 6 Resumo Projecto Interreg IIIB Sal

    Anexo 7 Resumo Projecto Interreg IVB ECOSAL ATLANTIS

    Anexo 8 A- Questionrios Produtores Algarve

    Anexo 8 B Questionrios Associao/Cooperativa Algarve

    Anexo 9 A- Resposta Questionrios Produtores Algarve

    Anexo 9 B Resposta Questionrios Associao/Cooperativa Algarve

    Anexo 10 Quadro Produtos Tradicionais de Qualidade

    Anexo 11 Curso de Formao Marnotos em Aveiro

    Anexo 12 Valores de Referncia para o Desenvolvimento da Actividade de Salicultura

    Anexo 13 Quadro Sntese Agentes

    Anexo 14 Mapa com indicao das estruturas de visitao actuais e futuras

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    vi

    LISTA DE ACRNIMOS

    AHR-C Administrao da Regio Hidrogrfica do Centro AMRIA Associao de Municpios da Ria de Aveiro APA Administrao do Porto de Aveiro APMRA Associao de Produtores e Marnotos da Ria de Aveiro APROSELA Association pour la Promotion du Sel de LAtlantique ARH Administrao da Regio Hidrogrfica do Centro CAP Communaut DAglomeration de La Presqule Guerandaise CCDR-C Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional da Regio Centro CDB Conveno sobre a Diversidade Biolgica CERQUA Centre de Developpement des Certifications des Qualits Agricoles et Alimentaires CIEO Centro de Investigao sobre Espaos e Organizaes, Universidade do Algarve CIRA Comunidade Intermunicipal da Regio de Aveiro CMA Cmara Municipal de Aveiro DOP Denominao de Origem Protegida DRAP Direco Regional de Agricultura e Pescas do Centro ENCNB Estratgia Nacional de Conservao da Natureza ENDS Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel ETC especialidade Tradicional Garantida FEDER Fundo Europeu para o Desenvolvimento Rural FEP Fundo Europeu das Pescas GAC Grupos de Aco Costeira IGP Identificao Geogrfica Protegida IGT Instrumentos de Gesto Territorial INAG Instituto Nacional da gua INCB Instituto para a Conservao da Natureza e da Biodiversidade INE Instituto Nacional de Estatstica LPO Ligue por la Protection des Oiseaux du Loire Atlntique MARN Ministrio do Ambiente e Recursos Naturais OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico OEC Orientaes Estratgicas Comunitrias ONU Organizao das naes Unidas PDM Plano Director Municipal PEC Planos Estratgicos da Cidade de Aveiro PEDAL Plataforma Empresarial de Desenvolvimento do Algarve PENP Programa Estratgico Nacional para a Pesca PENT Plano Estratgico Nacional para o Turismo PEOT Planos Especiais de Ordenamento do Territrio PIBpc Produto Interno Bruto per Capita PIBs Produtos Internos Brutos PIDDAC Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administrao Central

    PMOT Planos Municipais de Ordenamento do territrio PNCA Plano Nacional para as Alteraes Climticas PNE Plano Nacional de Emprego PNI Plano Nacional para a Igualdade PNPOT Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio PO PESCA Plano Operacional Pesca POE Planos de Ordenamento dos Esturios POOC Plano de Ordenamento da Orla Costeira PRACE Programa de Reorganizao da Administrao do estado PRODER Programa de Desenvolvimento Rural PROMAR Programa Operacional de Pescas PROT Planos Regionais de Ordenamento do Territrio PROT-CL Plano de Ordenamento do Territrio do Centro Litoral PSRN2000 Plano Sectorial Rede Natura 2000 QREN Quadro de Referncia Estratgico REFER Rede Ferroviria Nacional, EP RNSCMVRSA- Reserva Natural do Sapal Castro Marim e Vila Real de St Antnio SIC Stios de Importncia Comunitria SIG- Sistema de Informao Geogrfica SIMPLEX Programa Simplificao Administrativa e Legislativa SIMRIA Sistema Multimunicipal de Saneamento da Ria de Aveiro TCP Turismo Centro de Portugal UE Unio Europeia UNEP Programa das Naes Unidas para o Ambiente UNIR@RIA Plano Intermunicipal de Ordenamento da Ria de Aveiro ZEC Zonas Especiais de Conservao ZPE Zona de Proteco Especial ZNIEFF Zone Naturelle dIntert Ecolgique, Floristique et Faunistique ZICO - Zone Importante pour la Conservation des Oiseaux ZPS - Zone de Protection Spciale

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

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    CAPTULO I INTRODUO

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    3

    1. Razes para a escolha do tema

    O sal desempenhou um papel de relevo na histria, no entanto desde meados do sculo XX que a

    produo artesanal de sal entrou em declnio devido a presses territoriais, alteraes do sistema

    hdrico e competio do sal industrial com um preo de mercado inferior. Paralelamente a esta

    regresso, desaparece todo um patrimnio natural, cultural, histrico e humano. Ao nvel europeu,

    nos anos 70, comearam a surgir algumas iniciativas de valorizao deste patrimnio,

    nomeadamente em Gurande (Frana). Em Portugal, nomeadamente no Algarve, o interesse pelas

    salinas1 de produo artesanal2, nos anos 90, foi impulsionado pela crescente procura de produtos

    naturais, de produo artesanal e tambm pelo reconhecimento da importncia das zonas hmidas,

    com a criao da Reserva Natural do Sapal Castro Marim e Vila Real de St. Antnio

    (RNSCMVRSA) e integrao na lista de stios de importncia internacional para a conservao das

    zonas hmidas (Ramsar) ou reas da Rede Natura 2000. As aces desenvolvidas nos Salgados de

    Gurande (Frana), h cerca de 30 anos atrs e mais recentemente no Algarve (Portugal), so

    exemplos de uma nova viso para uma actividade tradicional.

    Esta actividade, que at incios dos anos 70, teve uma importncia significativa na economia das

    comunidades locais e na identidade cultural da Regio de Aveiro, esteve em 2009 reduzida a nove

    salinas em produo. Tm sido de natureza diversa as dificuldades enfrentadas na Ria de Aveiro:

    manuteno das condies fsicas do espao de produo (e.g. muros); financiamento actividade

    e enquadramento legal distintivo do sal marinho artesanal e sal industrial. A preservao deste

    territrio e a manuteno das suas funes naturais (espaos de alimentao, repouso e nidificao

    de aves aquticas) e dos ecossistemas associados foi, no passado assegurada pelo

    desenvolvimento de actividades como a salicultura, desenvolvida com mtodos artesanais e pela

    apanha do molio3, actividade que foi posteriormente abandonada.

    Actualmente a orientao para a revitalizao de uma actividade, mesmo sendo ela com razes

    milenares, ter que ser atravs do desenvolvimento de aces diferenciadas de valorizao do

    produto sal, bem como o desenvolvimento de novos produtos e actividades. Desta forma, no s

    se evita o processo de declnio, como se promove a revalorizao destes espaos regionais.

    A sustentabilidade destes espaos enquadra-se nas novas preocupaes da sociedade em reas

    como a valorizao ambiental, o turismo sustentvel, a valorizao econmica e a diferenciao

    como marca das regies.

    1 Salinas ou Marinhas de Sal martimas

    Espao a cu aberto, com gua do mar, destinado a produzir sal por evaporao solar

    2 Artesanal ou Tradicional

    3 Algas usadas como fertilizante na agricultura

  • Uma estratgia de Gesto Sustentvel no Salgado de Aveiro

    4

    A escolha do tema desta dissertao prende-se com o facto da autora partilhar as preocupaes

    j amplamente debatidas sobre os espaos de produo artesanal de sal e risco inerente de

    desaparecimento de todo o patrimnio natural, cultural e histrico associado, assim como as

    potencialidades associadas ao desenvolvimento desta actividade e aos espaos de produo

    para a promoo de estratgias de desenvolvimento sustentvel. Estas preocupaes e o interesse

    pela temtica foram sendo alimentadas, por um lado pelo conhecimento dos casos de estudo e por

    outro pela experincia adquirida em projectos de cooperao transnacional, a qual permitiu o

    acesso a outras realidades e a participao no debate interno e na definio de estratgias.

    2. Objectivos

    Esta dissertao tem como objectivo principal propor um programa com orientaes que possam

    contribuir para uma gesto sustentvel do espao Salgado de Aveiro e consequentemente travar

    o processo de declnio que este salgado tem estado desde finais da dcada de 70.

    Para responder a este objectivo necessrio aprofundar, por um lado, o conhecimento sobre as

    polticas pblicas na rea do ambiente, conservao da natureza e biodiversidade aos nveis

    europeu, nacional e regional e por outro o conhecimento dos casos de estudo.

    Esta dissertao ir sugerir um conjunto de produtos e actividades complementares que podero

    ser articuladas com a actividade central de produo de sal e ir propor uma definio do papel

    dos agentes que directa ou indirectamente esto ligados temtica.

    3. Estrutura e metodologia

    3.1. Estrutura da dissertao

    A dissertao est organizada em 6 (seis) captulos com o objectivo de tornar a sua interpretao

    mais eficaz.

    No primeiro captulo introduz-se o tema e analisa-se a sua relevncia e as razes da sua escolha,

    evidenciando-se ainda os objectivos da dissertao, a sua estrutura e organizao e a

    metodologia. Formula-se o problema que ser objecto do estudo e os objectivos.

    No segundo captulo feito o enquadramento histrico, aborda-se a produo mundial e

    tipologias de produo de sal. O terceiro captulo refere-se s polticas pblicas e em particular s

    polticas pblicas na rea do ambiente, conservao da natureza e biodiversidade com uma

    perspectiva evolutiva e enquadramento europeu, nacional e regional. O objectivo deste captulo

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    5

    perceber a nova orientao das polticas pblicas. De que forma se relacionam com a temtica em

    estudo e em que medida constituem uma oportunidade ou um constrangimento.

    No quarto captulo apresentam-se os casos de estudo: Gurande (Frana), casos de estudo do

    Algarve e Ria de Aveiro. feita uma descrio evolutiva dos processos de desenvolvimento destes

    Salgados, incluindo a situao actual. Faz-se ainda uma anlise comparativa entre os casos de

    estudo.

    No quinto captulo estabelecido o programa para o Salgado de Aveiro, com as lies

    apreendidas do conhecimento dos casos de estudo e da anlise das novas orientaes das polticas

    pblicas na rea do ambiente, conservao da natureza e biodiversidade.

    No ltimo captulo faz-se uma sntese conclusiva.

    3.2. Metodologia

    O enquadramento terico e conceptual teve por base uma pesquisa bibliogrfica com seleco e

    posterior anlise de livros, artigos de revistas cientficas, legislao, relatrios e publicaes

    electrnicas disponveis na Internet, para contextualizao geral dos conceitos.

    Os casos de estudos inseridos neste trabalho resultam essencialmente do estabelecimento de

    contactos pessoais com representantes das seguintes empresas e instituies:

    Cooperativa de Sal de Gurande - Frana, Muse des Marais Salants Batz-sur-Mer - Frana,

    Cooperativa de Sal Terras do Sal Castro Marim, Associao de Produtores do Sotavento

    Algarvio Tradisal Castro Marim, Produtor Rui Simeo Tavira, Produtor Necton S.A. Olho,

    Produtor Pedaos de Mar- Castro Marim, Marnotos (produtores) de Aveiro, Instituies

    proprietrias de Salinas em Aveiro (Universidade de Aveiro e Cmara Municipal de Aveiro).

    Foram tambm utilizadas algumas fontes documentais, devidamente referenciadas na listagem da

    bibliografia consultada, as quais permitiram complementar a informao recolhida atravs dos

    contactos directos.

    O trabalho foi enriquecido pela informao produzida e experincia adquirida na participao

    em projectos, nomeadamente: Interreg IIIB SAL (2004-2007) e Sal(h)ina (2005-2008).

  • Uma estratgia de Gesto Sustentvel no Salgado de Aveiro

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  • Uma estratgia de Gesto Sustentvel no Salgado de Aveiro

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    CAPTULO II ENQUADRAMENTO TEMTICO

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

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    1. Evoluo histrica

    O Sal teve, ao longo de sculos, um papel preponderante na economia mundial e grande influncia

    na cultura dos povos a ele ligados, contribuindo para os intercmbios comerciais entre os pases. A

    primeira referncia a este produto surge no mais antigo tratado de farmacologia, na China (Penz-

    Tzao-Kan-Un, 2700 a.c.).

    Sabe-se que os Fencios utilizavam o sal na salga de peixe, que os Romanos produziam sal a um

    nvel quase industrial pagando aos seus soldados em sal (dando origem palavra salrio) e que os

    Egpcios o utilizavam para mumificar os corpos (quadro 1).

    O sal foi o motor de desenvolvimento para muitas cidades europeias. Veneza deveu a sua

    prosperidade econmica ao sal, assumindo tambm grande relevncia em cidades como Merkers

    na Alemanha, Tuzla na Bsnia-Herzegovina, Salzburg na ustria ou Wieliczka na Polnia. De um

    modo mais disseminado, as actividades relacionadas com a extraco do sal desempenharam

    tambm um importante papel em vrias regies da Pennsula Ibrica, nas faixas costeiras de

    Frana, costa do Mar Adritico e Balcs, no s como vector do crescimento econmico mas tambm

    como motor do prprio processo de desenvolvimento.

    Tambm em Portugal o sal teve um papel relevante na economia nacional. O mais antigo

    documento conhecido que menciona o sal portugus, de 959 e refere uma doao de terras e

    marinhas de sal, em Aveiro, feita pela Condessa Mumadona, ao Mosteiro de So Salvador, em

    Guimares. As Salinas eram, na sua maioria, propriedade de nobres, conventos e certas

    corporaes.

    Apesar da produo artesanal de sal estar em declnio, como referido no primeiro captulo, a

    produo industrial continua a aumentar, devido em grande parte sua utilizao na indstria

    desde meados do sculo XIX.

    Hoje, so j 14 000 as utilizaes conhecidas (Salt Institute, 2010).

    Quadro 1 - O Sal como elemento cultural

    HistriaHistriaHistriaHistria TurismoTurismoTurismoTurismo SimbologiaSimbologiaSimbologiaSimbologia EtimologiaEtimologiaEtimologiaEtimologia ToponmiaToponmiaToponmiaToponmia

    Primeira referncia

    Penz (Tzao-Kan-Mu

    (china, 2700 A.C.)

    Conferncias Longevidade Salrio Salinas

    Importncia na Antiguidade

    clssica Festivais Sabedoria Saleiro Salzburgo

    Bblia (mais de 30 referncias) Museus Verdade Salpicar Salisbury

    Fertilidade Salsicha

    Salada

    Fonte: Adaptado de Ktia Hueso, 2007 - projecto Interreg IIIB-SAL (2004-2007)

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    10

    2. O Sal no Mundo De acordo com o Salt Institute (2010), a produo mundial de sal continua a aumentar, tendo sido

    de 190 milhes de toneladas em 1994, 209 milhes de toneladas em 1999, 240 milhes de

    toneladas em 2006 (sendo 48 milhes de toneladas produzidas pela China e 46 milhes de

    toneladas pelos E.U.A.) (fig.1) e 257 milhes de toneladas em 2007 (Salt Institute, 2010).

    Fig. 1 - Produo Mundial de Sal em 2006 Fonte: Adaptado de Ktia Hueso, 2007 - projecto Interreg IIIB-SAL (2004-2007)

    Como j foi referido anteriormente, o sal tem diversos usos. Associa-se maioritariamente o sal a um

    produto alimentar, no entanto a sua maior utilizao na indstria qumica e na limpeza de

    estradas (fig.2).

    Fig.2 - Uso de Sal por Sectores em 2006 Fonte: Adaptado de Ktia Hueso, 2007 - projecto Interreg IIIB-SAL (2004-2007)

    20%

    19%

    8%7% 6%5%4%3%

    3%

    2%

    23%

    China E.U.A. Alemanha India Canad Austrlia

    Mxico Frana Brasil Reino Unido Outros

    44%

    18%11%

    27%

    Indstria qumica outras indstrias alimentao limpeza de estradas

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    11

    3. Caractersticas da Produo

    Existe uma grande diversidade de mtodos de extraco de sal que podem ser classificados tendo

    em considerao o recurso e o processo. Relativamente ao seu estado, encontramos salinas activas,

    em pousio, abandonadas, degradadas ou desaparecidas (quadro 2).

    Quadro 2 - Caracterizao das Salinas

    RecursoRecursoRecursoRecurso ProcessoProcessoProcessoProcesso EstadoEstadoEstadoEstado Mtodo de Mtodo de Mtodo de Mtodo de

    obtenoobtenoobtenoobteno

    Martimas Industrial Activa Evaporao Solar

    De Sal - Gema Semi-industrial Pousio Evaporao a

    vcuo

    Fontes Salinas Tradicional

    Artesanal Abandonada Mineira de Rocha

    Lago Salgado Primitiva Degradada Mineira de

    dissoluo

    Prado Salgado Desaparecida Combinao de

    vrios

    Estuarinas

    Fonte: Adaptado de Ktia Hueso, 2007 - projecto Interreg IIIB-SAL (2004-2007)

    Salt Institute (2010)

    Uma anlise comparativa entre o processo de produo artesanal e a produo com meios

    mecnicos de sal marinho, permite destacar algumas diferenas tanto ao nvel das tecnologias de

    produo, da transformao dos locais de produo e do impacto

    socioeconmico no local de produo (quadro 3). O sal marinho

    produzido de forma artesanal congrega um conjunto de saberes

    ancestrais, acumulados ao longo de sculos e condies de produo

    que respeitam os ecossistemas e a biodiversidade (fig 3). O

    desenvolvimento da actividade promove ainda a criao de

    emprego. Fig.3 Produo Artesanal

    A produo de sal marinho com meios mecnicos intervm no espao natural, criando grandes

    reas de produo e consequente remoo das formaes vegetais existentes. Potencia ainda a

    introduo de factores de poluio no espao (associados s tecnologias usadas) e no produto, o

    que implica sempre uma posterior lavagem do mesmo. So

    normalmente as grandes empresas que so responsveis pela

    produo industrial e dado a utilizao de meios mecnicos, no do

    origem criao significativa de postos de trabalho (fig 4).

    Fig. 4 - Produo com Meios Mecnicos

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    12

    Quadro 3 - Comparao entre salinas tradicionais e com meios mecnicos

    Salinas de Produo ArtesanalSalinas de Produo ArtesanalSalinas de Produo ArtesanalSalinas de Produo Artesanal Salinas Produo com Meios MSalinas Produo com Meios MSalinas Produo com Meios MSalinas Produo com Meios Mecnicosecnicosecnicosecnicos

    Pequenas unidades Grandes unidades

    Empresas familiares ou unipessoais Empresas / Companhias de grandes dimenses

    Colheita manual Colheita por meios mecnicos

    Sal tal qual, no lavado

    Sal lavado e gua podero ser adicionados

    agentes qumicos

    Tomadas e manobras de gua essencialmente

    por gravidade

    Tomadas e manobras de gua por sistemas

    elevatrios mecnicos (bombas)

    Colheitas frequentes Poucas colheitas anuais

    Custos de produo mais elevados Baixos custos de produo

    Sal menor teor de NaCI (92%-96%) Sal com maior teor de NaCI (+96%)

    Muitas unidades abandonadas ou degradadas Maioria das unidades em produo plena

    Fonte: Renato Neves (Interreg IIIB SAL 2004-2007)

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    13

    CAPTULO III AS POLTICAS PBLICAS E A IMPORTNCIA DO TERRITRIO

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    15

    1. Introduo

    Nos ltimos anos tem-se assistido a uma nova abordagem na concepo das polticas pblicas.

    Tradicionalmente a governao era assumida pelo estado de forma centralizada e normativa. Com

    a tendncia para a descentralizao foram criadas estruturas regionais e locais descentralizadas e

    o estado passa a assumir cada vez mais o papel de coordenador dos diferentes actores, desde a

    fase de concepo da implementao das polticas.

    Actualmente, a Comisso Europeia aborda a anlise do processo de territorializao das polticas

    pblicas e o aparecimento da governao territorial num conceito de Multi-level Governance. Esta

    abordagem permite articular as esferas sub-nacionais, nacionais e internacionais (com enfoque na

    esfera comunitria).

    De acordo com Arajo (2007) so identificadas 4 tipos de polticas centradas no territrio ou na

    territorializao das intervenes:

    - polticas pblicas sectoriais territorializadas (com articulao entre as esferas nacional,

    regional e local);

    - polticas pblicas construdas a partir de bases territoriais especficas

    - polticas pblicas correspondentes construo de planos especficos e a espaos prprios

    de planeamento (e.g polticas pblicas de planeamento regional e urbano);

    - polticas territoriais propriamente ditas que esto centradas no desenvolvimento endgeno

    ou bottom-up (provenientes por exemplo de Associaes de Municpios).

    Feio e al (2009) referem que nos pases da Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento

    Econmico (OCDE), o formato adoptado passa pela concepo da estratgia geral de

    desenvolvimento ser definida pela regio/provncia e os municpios associarem-se atravs de

    mecanismos de cooperao intermunicipal para realizao de projectos comuns.

    Esta nova abordagem das polticas pblicas promove o desenvolvimento territorial atravs do

    destaque das potencialidades do territrio possibilitando: a) integrao de estratgias locais em

    virtude da participao de actores pblicos e privados; b) a subsidiariedade atravs da adopo

    de estratgias mais ajustadas s realidades locais e que permitem a integrao de polticas

    sectoriais a uma escala territorial com complementaridade entre estas polticas.

    O conceito de Capital Territorial, adoptado pela OCDE e pela Comisso Europeia, pressupe

    que cada regio detm especificidades nos vrios tipos de capital (fsico, ecolgico, humano, social,

    institucional e econmico) ou noutras dimenses de relevo na diferenciao dos territrios (Feio e al

    2009).

    Promove-se a necessidade da busca comum de conhecimento atravs da relao de cooperao

    entre os actores (pblicos e privados, individuais e colectivos) com consequentes inovaes ao nvel

    da organizao e gesto do territrio como essenciais no novo Modelo de Inovao Territorial.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    16

    De acordo com Moulaert e al (1999) estes mecanismos de articulao entre os actores facilitam a

    identificao de diferentes aces que contribuem para o desenvolvimento de um territrio.

    Vasquez Barquero (2000) refora esta ideia referindo que nestas parcerias surgem projectos que

    utilizam os recursos e o potencial de desenvolvimento local, com condies de mobilizar os actores

    privados e obter o apoio das foras sociais, de tal forma que os agentes econmicos manifestem

    interesse em investir localmente. Resulta de um processo de concertao entre os diversos actores

    privados, sociais e institucionais locais que: (1) tm uma dimenso territorial, de carcter sub-

    regional; (2) estabelecem a hierarquia de interesses, objectivos e projectos com capacidade de

    promover o desenvolvimento integrado; (3) atribuem um papel estratgico s relaes com a

    administrao local, permitindo acelerar trmites administrativos; (4) mobilizam o conhecimento

    local mediante relaes com as instituies pblicas e privadas de formao e investigao; (5)

    identificam as fontes e as formas de financiamento que permitem realizar os projectos

    seleccionados.

    Esta valorizao do territrio reafirmada no Livro Verde sobre a Coeso Social - Perspectivas

    Futuras na aluso adopo de uma Agenda Territorial que estabeleceu trs prioridades para a

    coeso:

    Centrar as polticas nacionais e regionais de desenvolvimento territorial na valorizao dos

    recursos territoriais;

    Reforar as ligaes entre territrios e a sua integrao promovendo a cooperao e os

    intercmbios;

    Aumentar a coerncia das polticas da UE com impacto territorial

    O referido livro menciona que A poltica regional devia ser aplicada a diferentes tipos de regies, no

    sentido vulgar desta palavra ou, para usar outro termo, de territrios (Inforegio, 2008). Refere

    ainda que necessrio promover o enfoque subnacional que d nfase a polticas de base local

    que se integrem com as polticas em sectores como o desenvolvimento sustentvel e o acesso a

    servios (Inforegio, 2008).

    A poltica regional assume assim relevncia do papel decisivo dos territrios num contexto de

    globalizao. A regio assume-se como o nico palco para enfrentar os principais desafios

    actuais: a competitividade e a sustentabilidade.

    A construo de projectos comuns entre agentes regionais, desde empresas a entidades pblicas,

    institutos de investigao e universidades, permite a partilha de investimentos assim como a troca

    de experincias que valorizar o projecto, num mercado global e competitivo. Criar mecanismos

    que permitam regio atingir um estdio de desenvolvimento e competitividade elevado,

    actualmente um desafio. A eficaz combinao entre factores tradicionais e no tradicionais e o

    desenvolvimento de produtos e servios inovadores, responde a uma necessidade do mercado

    exigindo a partilha e cooperao entre uma diversidade de agentes regionais e externos regio.

    A troca de experincias e vivncias enriquece os produtos e projectos.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    17

    Sabendo que no existe um modelo pronto a aplicar a cada regio, do tipo one-size-fits-all,

    podem ser identificadas, pela anlise dos vrios casos, linhas de fora comuns para a criao de

    uma metodologia, nomeadamente em questes relacionadas com:

    - a mobilizao;

    - a cultura de cooperao;

    - a flexibilidade;

    - a dimenso regional e a sua relao com o exterior ou com outras dimenses;

    - a diversidade e dinamismo dos agentes, enquanto factores facilitadores do surgimento de

    estratgias de desenvolvimento eficazes e inovadoras (Regional Stewarship, A., 2001).

    A Ria de Aveiro uma rea com caractersticas singulares. A multi-diversidade de recursos

    faunsticos e florsticos de particular relevncia numa perspectiva ambiental e tambm

    socioeconmica, na medida em que promove o desenvolvimento de um conjunto de actividades

    tradicionais como a pesca, a apanha de bivalves e a salicultura, assim como o desenvolvimento de

    actividades relacionadas com o turismo, que envolvem meios humanos, individuais ou organizados

    em pequenas empresas.

    No entanto, ao longo das ltimas dcadas, este espao tem sofrido ameaas variadas, como

    dragagens constantes, introduo de factores de poluio, converso de salinas em aquicultura e

    construo de infra-estruturas, colocando em causa o seu equilbrio ecolgico.

    A preservao das salinas e a produo artesanal de sal, parte integrante deste territrio,

    devero ser analisadas pela sua dupla importncia, no seu contributo para a manuteno da

    biodiversidade e enquanto patrimnio cultural, paisagstico e smbolo da identidade da regio.

    Neste territrio esto situados um conjuntos de agentes diversificados (do sistema cientifico, da

    administrao regional e local, do sector empresarial, proprietrios individuais e colectivos e

    produtores) com conhecimento e trabalho desenvolvido nas diferentes vertentes de abordagem aos

    recursos, salinas, sal, produtos e actividades complementares, que numa perspectiva de integrao,

    cooperao e complementaridade podero desenvolver projectos sustentveis de dinamizao

    numa vertente de multi-funcionalidade do espao de produo.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    18

    2. Sustentabilidade no quadro das polticas pblicas

    2.1. Enquadramento Global

    A comunidade poltica internacional s comeou a ter conscincia dos problemas ambientais na

    dcada de 50. A Organizao da Naes Unidas (ONU) foi criada em 1945, mas s na dcada

    de 70 as questes ambientais integraram as suas preocupaes.

    Foi tambm nesta dcada que surgiu o conceito de ecodesenvolvimento4, que mais tarde deu

    origem ao conceito de desenvolvimento sustentvel. A definio mais usada a referida no

    relatrio Brundtland Nosso Futuro Comum, realizado em 1987, pela Comisso Mundial para o

    Meio Ambiente e Desenvolvimento, que define Desenvolvimento Sustentvel como sendo Todo o

    desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

    geraes futuras satisfazerem as suas necessidades (CNUAD, 1992).

    Em 1972 na conferncia de Estocolmo sobre ambiente humano, considerada a grande reunio

    planetria sobre ambiente, em que participaram 113 pases, foi apresentada uma Declarao do

    Ambiente que introduziu as preocupaes ambientais e a questo sustentabilidade na discusso,

    tendo sido estabelecido um acordo para adoptar uma concepo e princpios comuns ao nvel

    mundial na preservao e melhoria do ambiente. Desta conferncia resultaram a Declarao de

    Estocolmo sobre Ambiente Humano e o Programa da Naes Unidas para o Ambiente (UNEP). Aps

    esta conferncia alguns pases passaram a assumir o ambiente como direito fundamental dos

    cidados. Em alguns estados, o Direito do Ambiente passa a dispor de leis-quadro, que enquadram

    o ambiente de forma global e integrada, reforando a horizontalidade da poltica de ambiente.

    At esta fase, o direito e a poltica de ambiente eram de carcter sectorial e bastante disperso.

    Aps a referida conferncia, a proteco ambiental comeou a fazer parte da poltica comunitria.

    Foi adoptada em Paris a primeira declarao comunitria sobre ambiente pelos Chefes de Estado

    e Governo e foi feito o convite Comisso Europeia para apresentar um programa de aco. Na

    sequncia da Cimeira de Paris a 22 de Novembro de 1973 os Estados Membros adoptaram o I

    Programa de Aco das Comunidades Europeias em Matria do Ambiente.

    A primeira sesso do Conselho Governamental para o novo Programa das Naes Unidas para o

    Ambiente (UNEP), em 1973, identificou a conservao da natureza, da vida selvagem e dos seus

    recursos genticos como uma rea prioritria.

    Em 1992, na Conferncia sobre Desenvolvimento e Ambiente das Naes Unidas, realizada no Rio

    de Janeiro, foi apresentado e defendido o conceito de desenvolvimento sustentvel, tendo

    4 Conceito formulado por Maurice Strong, primeiro director executivo do Programas das Naes Unidas para o Ambiente (UNEP) e por

    Ignacy Sachs, na dcada de 70.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    19

    resultado diversos programas e acordos: a) a Declarao de Princpios do Rio; b) a Agenda 21; c)

    a Declarao de Princpios sobre o Uso das Florestas; d) A Conveno sobre a Diversidade

    Biolgica; e) a Conveno sobre as Alteraes climticas g) Acordo para negociar uma Conveno

    Mundial sobre Desertificao h) Comisso de Desenvolvimento Sustentvel.

    Na Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel Cimeira da Terra, realizada em 2002 em

    Joanesburgo, foram reafirmados os princpios da Conferncia do Rio e a Agenda 21 e foi de novo

    discutido o conceito de desenvolvimento sustentvel com o objectivo de analisar a evoluo em

    termos de desenvolvimento e ambiente os ltimos dez anos. Esta Cimeira teve como principal

    objectivo a ligao das trs dimenses do desenvolvimento sustentvel: a) desenvolvimento

    econmico b) proteco ambiental e c) desenvolvimento social e houve um consenso internacional

    relativamente aos objectivos de reduo da pobreza e proteco do ambiente. Como resultados

    foram adoptadas a Declarao de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentvel, o Plano de

    Implementao de Joanesburgo e definidas parcerias.

    Das metas aprovadas destacamos: a) inverter a actual tendncia de degradao dos recursos

    naturais b) alcanar uma reduo significativa na actual taxa de perda de biodiversidade at

    2010. A Conveno sobre a Diversidade Biolgica (CDB) foi reconhecida como instrumento principal

    nesta matria (Cimeira da Terra, Joanesburgo, 2002).

    Diversas convenes e acordos internacionais com interesse na rea do ambiente foram assinados e

    ratificados pelo Estados. Apresentamos no quadro seguinte (quadro 4) uma seleco dos que esto

    correlacionados com as reas em estudo e que foram assinados e/ou ratificados por Portugal.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    20

    Quadro 4 - Convenes e acordos internacionais com interesse na rea do Ambiente

    TtuloTtuloTtuloTtulo Local de Local de Local de Local de

    AdopAdopAdopAdopoooo

    Data de Data de Data de Data de

    adopoadopoadopoadopo SecretariadoSecretariadoSecretariadoSecretariado

    Acompanhamento Acompanhamento Acompanhamento Acompanhamento

    em Portugalem Portugalem Portugalem Portugal

    Conveno sobre as Zonas Hmidas de

    Importncia Internacional Especialmente

    como Habitats de Aves Aquticas

    RAMSAR, Iro 1971.02.02 UN / UNESCO ICNB (Ministrio do

    Ambiente)

    Conveno para a Proteco do Patrimnio

    Mundial, Cultural e Natural PARIS, Frana 1972.11.16 UN / UNESCO

    Comisso Nacional

    da UNESCO

    Conveno sobre o comrcio Internacional

    de Espcies de Fauna e Flora Selvagens

    Ameaadas de Extino (CITES)

    WASHINGTON,

    E.U.A.

    1973.03.03 UN / UNESCO ICNB (Ministrio do

    Ambiente)

    Conveno sobre a Conservao das

    Espcies Migratrias Selvagens (CMS)

    BONA,

    Alemanha 1979.06.23 CMS Secretariat

    ICNB (Ministrio do

    Ambiente)

    Conservao Relativa Conservao da

    Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da

    Europa

    BERNA, Sua 1979.06.23 Council of Europe ICNB (Ministrio do

    Ambiente)

    Conveno sobre Poluio Atmosfrica

    Transfronteiria a Longa Distncia

    GENEBRA,

    Sua 1979.11.13 UN / ECE DGA

    Conveno para a Proteco da Camada

    de Ozono - Protocolo de Montreal sobre as

    Substncias que Empobrecem a Camada

    de Ozono

    MONTREAL,

    Canad 1987.09.16

    UN / Ozone

    Secretariat

    Agncia

    Portuguesa de

    Ambiente (APA)

    Conveno Quadro sobre as Alteraes

    Climticas

    NOVA IORQUE,

    E.U.A. 1992.05.09

    UN / Climate

    Change

    Secretariat

    Agncia

    Portuguesa de

    Ambiente (APA)

    Conveno sobre a Diversidade Biolgica NAIROBI,

    Qunia 1992.05.22 UN / UNEP

    ICNB (Ministrio do

    Ambiente)

    Conveno Quadro sobre as Alteraes

    Climticas ( Protocolo de Quioto QUIOTO, Japo 1997.12.11

    UN / Climate

    Change

    Secretariat

    Agncia

    Portuguesa de

    Ambiente (APA)

    Fonte: Adaptado Relatrio Estado do Ambiente, DGA, 1999

    Das convenes e acordos internacionais referenciados, destacamos a que ficou conhecida como

    Conveno de RAMSAR e a Conveno sobre a Diversidade Biolgica, pela sua importncia para o

    territrio integrante no mbito deste estudo.

    2.1.1. A Conveno de RAMSAR (1971)

    A Conveno sobre as Zonas Hmidas, adoptada em 1971 na cidade iraniana de Ramsar, constitui

    um tratado inter-governamental e representa o primeiro dos tratados globais sobre conservao.

    Entrou em vigor em 1975.

    As zonas hmidas so reas onde a gua o factor primrio que controla o ambiente, as plantas

    associadas e a vida animal. Estas ocorrem onde os lenis de gua se aproximam da superfcie da

    terra ou onde a terra est coberta atravs de gua rasa.

    No texto da conveno de RAMSAR (Artigo 1.1), as zonas hmidas so definidas como "reas de

    pntano, charcos, terreno com turfas ou gua, natural ou artificial, permanente ou temporria, com

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    21

    gua que esttica ou corrente, doce, salgada ou salobra, inclusive reas de gua marinha a

    profundidade de qual a mar baixa no exceda seis metros".

    Entende-se ainda, que as zonas hmidas possam incorporar zonas ribeirinhas e litorais adjacentes, e

    ilhas ou corpos de gua marinha que na mar baixa fiquem mais fundo do que seis metros de

    profundidade e que fiquem sob as zonas hmidas".

    Ainda existem zonas hmidas feitas pelo homem como as salinas de produo de sal ou as

    convertidas para aquicultura.

    As zonas hmidas so consideradas dos ambientes mais produtivos que existem no mundo. So um

    reservatrio de diversidade biolgica e de onde provm importantes benefcios econmicos,

    nomeadamente: proviso de gua; pescas; agricultura; manuteno dos lenis de cheia e reteno

    de nutrientes em leitos de cheia; produo de madeira; recursos de energia, como a turfa; recursos

    de vida selvagem; transporte; recreao e oportunidades de turismo. Desempenham importantes

    funes, nomeadamente: armazenamento de gua; proteco de tempestades e de mitigao de

    inundaes; estabilizao da orla costeira e controlo da eroso; purificao da gua; reteno de

    nutrientes; reteno de sedimentos; reteno de poluentes; estabilizao das condies climticas

    locais, nomeadamente de precipitao e temperatura; entre outros (Manual RAMSAR, 4 Edio,

    2006).

    Estas reas esto tambm relacionadas com valores religiosos e convices culturais, sendo

    simultaneamente uma fonte de inspirao esttica, uma fonte de santurios da vida selvagem e a

    base de tradies locais importantes.

    Apesar da sua importncia e dos avanos verificados nas ltimas dcadas, as zonas hmidas

    continuam a ser dos ecossistemas mais ameaados no mundo, devendo-se isto, principalmente,

    drenagem contnua, converso, poluio e sobre-explorao dos seus recursos (Manual

    RAMSAR, 4 Edio, 2006).

    Como resultado da Conveno, foi assinado pelos pases participantes um Tratado com a

    finalidade de promover a cooperao internacional para a conservao e utilizao racional dos

    habitats aquticos. Com este Tratado, foi criada uma lista de zonas hmidas de importncia

    internacional, na qual integram a nvel mundial, actualmente, 159 contratantes, 1889 stios

    classificados com uma superfcie equivalente a 185.437.001 hectares (www.ramsar.org). Apesar de

    no ser possvel obter um nmero exacto da superfcie global de zonas hmidas, estima-se que seja

    cerca de 6% da superfcie terrestre do planeta (Manual RAMSAR, 4 Edio, 2006).

    Em Janeiro de 1996 os secretariados da Conveno de RAMSAR e da Conveno sobre a

    Diversidade Biolgica assinaram o primeiro acordo de cooperao e em Novembro do mesmo ano

    foi definido que ser o secretariado da Conveno de RAMSAR, como parceiro, a implementar as

    actividades da Conveno sobre a Diversidade Biolgica (CDB) relacionadas com zonas hmidas

    (Manual RAMSAR, 4 Edio, 2006).

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    22

    2.1.2. Conveno sobre a Diversidade Biolgica (1992)

    A perda de diversidade biolgica e a consequente preocupao da comunidade internacional

    levou, aps um perodo de negociao, criao de um instrumento vinculativo legal, com o

    objectivo de inverter a situao, que viria a ser reflectido com a Conveno sobre a Diversidade

    Biolgica.

    A Conveno sobre a Diversidade Biolgica tem como objectivos a conservao da diversidade

    biolgica, a utilizao sustentvel dos seus componentes e a partilha justa e equitativa dos benefcios

    provenientes da utilizao dos recursos genticos e o primeiro acordo que incorpora todos os

    aspectos da diversidade biolgica: genomas e genes, espcies e comunidades, habitats e

    ecossistemas.

    A Conveno constitui uma nova abordagem na medida em que a diversidade biolgica deixou de

    ser entendida somente ao nvel da proteco das espcies e dos ecossistemas ameaados. Existe

    uma articulao entre a necessidade de conservao com a preocupao de integrao do

    desenvolvimento econmico e social. A conciliao da actividade antrpica e a conservao da

    natureza so pela primeira vez abordadas. O patrimnio natural passa a ser considerado um

    factor importante de afirmao e diferenciao no contexto europeu e mundial, conjuntamente com

    os patrimnios histrico e cultural associados.

    Na conveno est implcita uma nova forma de cooperao entre os pases, atravs do

    estabelecimento de bases para a cooperao cientfica e tcnica, o acesso a recursos financeiros e

    genticos e a transferncia de tecnologias limpas.

    A Conveno prev que cada interveniente, de acordo com as suas condies e capacidades

    particulares, dever: a) desenvolver estratgias, planos e programas nacionais para a conservao

    e a utilizao sustentvel da diversidade biolgica ou adaptar para este fim as estratgias ou

    programas existentes; b) integrar, na medida do possvel, a conservao e a utilizao sustentvel

    da diversidade biolgica nos planos, programas e politicas sectoriais ou intersectoriais. Refere

    ainda a importncia de melhorar a educao e a sensibilizao do pblico para a importncia da

    diversidade biolgica atravs da divulgao pelos meios de comunicao social e da incluso da

    temtica nos programas educacionais. tambm realado o papel que as comunidades locais e

    populaes indgenas podem desempenhar em matria de conservao da biodiversidade, na

    medida em que dependem de forma directa dos recursos biolgicos em que as suas tradies se

    baseiam.

    Em resposta ao compromisso assumido com a Conveno sobre a Diversidade Biolgica pela

    comunidade internacional para enfrentar a perda de biodiversidade, surge em 1996 a Estratgia

    Pan-Europeia sobre a Diversidade Biolgica e Paisagstica, aprovada pelos pases abrangidos

    pela Comisso Econmica das Naes Unidas para a Europa. Esta estratgia foi preparada pelo

    Programa das Naes Unidas para o Ambiente (UNEP), pelo Conselho Europeu e pelo European

    Center for Nature Conservation e permitiu o desenvolvimento de um frum para a coordenao

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    23

    regional na execuo das decises relevantes das Conferncias das Partes da Conveno sobre a

    Diversidade Biolgica (http://www.eea.europa.eu/pt/themes/biodiversity/policy-context).

    2.2. Situao europeia

    2.2.1. Introduo

    A Unio Europeia (UE) adoptou a Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvel (EEDS)

    integrando desta forma as directrizes da Conferncia sobre Desenvolvimento e Ambiente das

    Naes Unidas, em 1992, constituindo tambm um contributo para a Cimeira da Terra de

    Joanesburgo, em 2002.

    2.2.2. A Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvel (2001)

    A presente estratgia foi apresentada pela Comisso Europeia ao Conselho Europeu de

    Gotemburgo em 2001 e defendeu uma abordagem que alterou a forma como a poltica

    ambiental vinha a ser concebida e formulada ao defender uma abordagem integrada das

    polticas que visam o desenvolvimento sustentvel: ambiente, economia e sociedade (os trs

    pilares). Esta estratgia procura promover o crescimento econmico sem prejudicar a qualidade

    do ambiente, a ponderao dos objectivos ambientais em relao aos seus impactos econmicos

    e sociais e a procura simultnea de solues benficas para a economia, o emprego e ambiente

    e define sete desafios-chave5 (www. desenvolvimentosustentavel.apambiente.pt).

    Esta estratgia foi revista e adoptada pelo Conselho Europeu em 2006.

    2.2.3. A Estratgia da Comunidade Europeia em Matria de Diversidade Biolgica (1998)

    A referida estratgia surgiu como resposta necessidade de interveno internacional concertada

    para o problema crescente da perda de diversidade biolgica e criou o quadro necessrio de

    5555 Desafios Desafios Desafios Desafios----chave da Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvelchave da Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvelchave da Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvelchave da Estratgia Europeia de Desenvolvimento Sustentvel

    1. Alteraes climticas e energias limpas;

    2. Transporte sustentvel;

    3. Produo e consumo sustentveis;

    4. Conservao e gesto dos recursos naturais;

    5. Sade pblica;

    6. Incluso social, demografia e migrao

    7. Pobreza global

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    24

    integrao das necessidades da biodiversidade no desenvolvimento e aplicao de politicas

    sectoriais.

    Esta estratgia incide sobre quatro temas6 que estaro presentes na poltica ambiental portuguesa

    e na sua articulao com a poltica europeia (www.icnb.pt).

    Esta estratgia articula-se com o Sexto Programa Comunitrio de Aco em Matria de Ambiente,

    que estabelece objectivos para 10 anos (2002-2012).

    2.2.4. O Sexto Programa Comunitrio de Aco em Matria de Ambiente

    Este programa intitulado Ambiente 2010: o nosso futuro, a nossa escolha est estabelecido para

    o perodo de 2002 a 2012 e foi desenvolvido aps a reviso do quinto programa.

    centralizado na preocupao do desenvolvimento sustentvel, sendo dirigido para os domnios

    que necessitam de uma interveno urgente, nomeadamente:

    1. Combater as alteraes climticas;

    2. Proteger a natureza e a vida selvagem;

    3. Responder s questes relacionadas com o ambiente e sade;

    4. Preservar os recursos naturais e gerir os resduos

    Relativamente ao domnio Proteger a natureza e a vida selvagem cujos objectivos so:

    Proteger, e se necessrio restaurar, a estrutura e o funcionamento dos sistemas naturais;

    Cessar a perda de biodiversidade, na Unio Europeia, e a uma escala global;

    Proteger os solos contra a eroso e a poluio

    Identifica como necessrias algumas medidas, nomeadamente a:

    Proteco dos nossos habitats mais valiosos atravs do programa comunitrio Natura

    2000;

    Estabelecimento de planos de aco para proteger a biodiversidade;

    Desenvolvimento uma estratgia para a proteco do ambiente marinho;

    Alargamento dos programas nacionais e regionais de modo a promover mais a gesto

    sustentvel das florestas;

    Introduo de medidas destinadas a proteger e restaurar as paisagens;

    Desenvolvimento uma estratgia de proteco do solo;

    Coordenao de esforos dos Estados-Membros para liderarem com os acidentes e

    catstrofes naturais. (CE, 2001)

    6 Temas principais da Estratgia da Comunidade Europeia em Matria de Diversidade BiolgicaTemas principais da Estratgia da Comunidade Europeia em Matria de Diversidade BiolgicaTemas principais da Estratgia da Comunidade Europeia em Matria de Diversidade BiolgicaTemas principais da Estratgia da Comunidade Europeia em Matria de Diversidade Biolgica

    1. Conservao e utilizao sustentvel da diversidade biolgica;

    2. Partilha dos benefcios resultantes da utilizao dos recursos genticos;

    3. Investigao, identificao, monitorizao e intercmbio de informaes;

    4. Educao, formao e sensibilizao.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    25

    Para cumprir as convenes ratificadas, a Unio Europeia desenvolveu vrias directivas ao nvel da

    poltica ambiental comunitria. Este processo levou aprovao da Directiva do Conselho n

    92/43/CE, posteriormente alterada pela Directiva do Conselho n 97/62/CE de 27 de Outubro,

    de 2 de Abril, relativa preservao dos habitats naturais e da fauna e flora selvagens,

    designada por directiva Habitats. Esta directiva, em conjunto com a Directiva do Conselho

    79/409/CEE, de 2 de Abril, relativa conservao das aves selvagens, designada Directiva Aves,

    determina as bases para a identificao, designao e gesto dos stios que constituiro a Rede

    Natura 2000.

    2.2.5. A Rede Natura 2000

    A Rede Natura 2000 uma rede ecolgica para o espao Comunitrio da Unio Europeia que

    surge da aplicao das directivas acima referidas, documentos fundamentais da Poltica de

    Conservao da Natureza da Unio Europeia. Tem por objectivo contribuir para assegurar a

    biodiversidade atravs da conservao dos habitats naturais e de fauna e flora selvagens no territrio

    europeu dos estados membros em que o Tratado aplicado. Esta rede formada por Zonas de

    Proteco Especial (ZPE) estabelecidas ao abrigo da Directiva Aves, que se destinam essencialmente

    a garantir a conservao das espcies de aves, e seus habitats, listadas no seu anexo I, e das

    espcies de aves migratrias no referidas no anexo I e cuja ocorrncia seja regular; e por Zonas

    Especiais de Conservao (ZEC), criadas ao abrigo da Directiva Habitats, com o objectivo de

    "contribuir para assegurar a Biodiversidade, atravs da conservao dos habitats naturais (anexo

    I) e dos habitats de espcies da flora e da fauna selvagens (anexo II), considerados ameaados no

    espao da Unio Europeia".

    A Rede Natura 2000 constituda por reas de importncia comunitria para a conservao de

    determinados habitats e espcies (fig. 5). Nessas reas as actividades humanas devero ser

    compatveis com a preservao dos referidos valores, atravs de uma gesto sustentvel ao nvel

    ecolgico, econmico e social.

    Para garantir a concretizao destes objectivos necessrio uma articulao das polticas

    sectoriais, nomeadamente a conservao da natureza, agro silvopastoril, turstica e de obras

    pblicas.

    A escolha das reas da Rede Natura 2000 tem por base critrios exclusivamente cientficos. No

    caso das reas designadas ao abrigo da Directiva Habitats cabe a cada Estado Membro a

    elaborao de uma proposta nacional de Stios de Importncia Comunitria (SIC), sob a forma de

    uma Lista Nacional de Stios (que em Portugal foi publicada em duas fases). A partir das vrias

    propostas nacionais, a Comisso Europeia em articulao com os Estados-Membros selecciona os

    Stios de Importncia Comunitria (SIC), que posteriormente sero classificados pelos Estados-

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    26

    Membros como Zonas Especiais de Conservao, terminando num processo faseado de co-deciso

    entre os Estados-Membros e a Comisso Europeia.

    Relativamente Directiva Aves, cabe aos Estados-Membros proceder classificao de Zonas de

    Proteco Especial, as quais, uma vez declaradas como tal Comisso Europeia, passam desde

    logo a integrar a Rede Natura 2000.

    Fig. 5 - Procedimentos para a criao da Rede Natura 2000 Fonte: ICNB, 2010

    A implementao da Rede Natura 2000, com a proteco da biodiversidade, pode trazer

    benefcios sociais e econmicos relevantes, nomeadamente a defesa do patrimnio cultural e

    natural atravs da harmonia entre a preservao dos valores naturais e o desenvolvimento de

    actividades econmicas tradicionais, venda de produtos do Stio e o desenvolvimento de estratgias

    de turismo sustentvel, com o desenvolvimento de actividades complementares e a consequente

    criao de novas reas de negcio e oportunidades de emprego, contribuindo para a melhoria das

    condies de vida das comunidades locais.

    Tambm a proteco destes espaos representa uma forma de condicionar projectos considerados

    uma ameaa para a Rede Natura 2000.

    No caso de Portugal, citamos como exemplo de um projecto com repercusses negativas, a

    construo da Ponte Vasco da Gama que atravessa o Esturio do Tejo e o seu consequente reflexo

    nas Salinas do Samouco em Alcochete.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    27

    Financiamento da Rede Natura 2000

    O financiamento desta rede foi perspectivado pela Comisso Europeia para ser suportado de

    forma horizontal, com diversos fundos comunitrios previstos para o perodo financeiro 2007-2013.

    Este financiamento pode ser concretizado atravs de fundos comunitrios como o Fundo Europeu

    para o Desenvolvimento Rural (FEADER) e o Fundo Europeu de Pescas (FEP), aplicados em Portugal

    atravs do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER) e Programa Operacional de Pescas

    (PROMAR), respectivamente. As aces que no so enquadrveis nestes fundos podero ser

    financiadas pelo instrumento financeiro para o Ambiente (LIFE+), em particular o LIFE+ Natureza e

    biodiversidade, que co-financia as aces de conservao da natureza nesta rede. Este instrumento

    financeiro funciona como complementar (http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/).

    2.3. Situao Nacional

    2.3.1. Introduo

    Em Portugal s na dcada de 80, com a entrada na Unio Europeia, se definem as linhas

    programticas de actuao ambiental nacional, que sero consolidadas nos anos 90. A primeira

    legislao foi a lei n11/87 que estabelece a Lei de Bases do Ambiente, que permite a aplicao

    da legislao comunitria.

    O Plano Nacional da Poltica de Ambiente s aprovado pelo Conselho de Ministros em 1995,

    estabelecendo as orientaes estratgicas da Poltica de Ambiente, os objectivos e aces

    especficas do ento Ministrio do Ambiente e Recursos Naturais (MARN) e os instrumentos para a

    implementao da Poltica de Ambiente.

    Em Portugal, numa primeira fase, as Polticas de Ambiente estavam orientadas para a defesa dos

    recursos naturais, com definio de reas com estatutos especiais de proteco, no tinham em

    considerao as actividades com impactos no meio natural, o que corresponde primeira gerao

    de Planos Directores Municipais (PDM). Numa segunda fase, esta poltica esteve mais direccionada

    para as medidas relacionadas com o controle da poluio, com enfoque nos agentes responsveis

    pelas actividades econmicas iminentemente poluidoras. Somente na terceira gerao de polticas

    a orientao tem sido para o desenvolvimento sustentvel com a promoo da integrao de

    medidas ambientais no planeamento territorial.

    Actualmente, Portugal semelhana de outros pases, tem a poltica de ambiente e de

    ordenamento do territrio no centro da sua estratgia de desenvolvimento. O cumprimento de

    objectivos ambientais, nomeadamente os que se referem a compromissos internacionais, como os

    relacionados com o combate s alteraes climticas estabelecidos no Protocolo de Quioto, tem

    implicaes em diversas polticas sectoriais.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    28

    A coordenao e integrao das polticas promovem a concretizao dos objectivos da poltica

    ambiental: alcanar a convergncia ambiental com a Europa e promover a coeso territorial aos

    nveis nacional e europeu.

    2.3.2. A Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel (ENDS)

    Esta estratgia foi adoptada por Portugal inserida numa iniciativa global, consequncia do

    compromisso assumido na Cimeira da Terra em 1992, para a adopo de estratgias nacionais de

    desenvolvimento sustentvel.

    Esta estratgia comeou a ser desenvolvida em 2002. Foi aprovada uma primeira verso em 2005

    e a sua verso final foi aprovada pelo XVII Governo Constitucional na reunio do Conselho de

    Ministros de 27 de Dezembro de 2006. Houve uma reflexo iniciada em 2002 com produo de

    documentos e pareceres com as orientaes e prioridades em matria de desenvolvimento

    sustentvel, nomeadamente em articulao com a Estratgia Europeia e com o Programa do

    Governo, assim como os planos e programas de aco consequentes (ENDS, 2006).

    Esta estratgia desenvolve-se em quatro domnios estratgicos7 e com sete objectivos de aco8.

    Relativamente ao terceiro objectivo Melhor Ambiente e Valorizao do Patrimnio destacamos

    com particular relevo para as zonas hmidas com reas de salinas:

    - Conservao e Valorizao de reas Protegidas e da Rede Natura e da Paisagem Rural e

    Implementao do Plano Sectorial da Rede Natura.

    O Plano Sectorial da Rede Natura 2000 (PSRN2000) um instrumento de gesto territorial e de

    conservao da diversidade biolgica que visa a salvaguarda e valorizao dos Stios e das ZPE do

    territrio continental, bem como a manuteno das espcies e habitats num estado de conservao

    favorvel nestas reas. As medidas e orientaes nele previstas devem ser inseridas nos planos

    municipais de ordenamento do territrio (PMOT) e nos planos especiais (PEOT), no prazo mximo de

    seis anos aps a sua aprovao (1 Relatrio Bienal ENDS, 2009).

    A ENDS uma referncia para as diversas polticas sectoriais ou conjunturais, estabelece um

    horizonte de longo prazo, com uma viso integrada do desenvolvimento e uma dimenso

    internacional. Neste sentido existe uma articulao desta estratgia com as prioridades definidas

    noutros documentos de orientao poltica e enquadramento estratgico, dos quais destacamos o

    7777 Domnios estratgicos ENDS Domnios estratgicos ENDS Domnios estratgicos ENDS Domnios estratgicos ENDS

    - Garantir o desenvolvimento equilibrado do territrio

    - Melhorar a qualidade do ambiente

    - Produo e consumos sustentveis

    - Em direco a uma sociedade solidria e do conhecimento

    8888 Em anexo Em anexo Em anexo Em anexo

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    29

    Programa Nacional da Politica do Territrio (PNPOT) e o Quadro de Referncia Estratgico (QREN)

    que referiremos de forma mais pormenorizada posteriormente (ENDS, 2006) (fig. 6).

    Fig. 6 - Principais instrumentos da implementao da ENDS

    Fonte: PIENDS, 2006

    2.3.3. A Estratgia Nacional da Conservao da Natureza (ENCNB)

    A Estratgia Nacional de conservao da Natureza (ENCNB) um documento orientador para as

    polticas de conservao da natureza e polticas sectoriais relevantes e articula-se com a Estratgia

    da Comunidade Europeia para a Diversidade Biolgica. Surge como resposta ao compromisso

    internacional assumido por Portugal no mbito da Conveno sobre a Diversidade Biolgica

    Adoptar estratgias, planos e programas nacionais, bem como integrar a conservao e a utilizao

    sustentvel da diversidade biolgica nos seus diferentes planos, programas e polticas sectoriais ou

    inter-sectoriais (art 6 Conveno sobre a Diversidade Biolgica) e como resposta a uma exigncia

    legal fixada na Lei de bases do Ambiente (Lei n 11/87 de 7 de Abril).

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    30

    A Estratgia Nacional da Conservao da Natureza (ENCNB) foi adoptada pelo RCM 152/2001,

    de 11 de Outubro.

    A Estratgia engloba 3 objectivos gerais:

    Conservar a natureza e a diversidade biolgica;

    Promover a utilizao sustentvel dos recursos biolgicos;

    Contribuir para a prossecuo dos objectivos visados pelos processos de cooperao

    internacional na rea da conservao da natureza.

    A concretizao destes objectivos est aplicada atravs de dez opes estratgicas9. Salientamos

    de particular relevncia para a actividade da salicultura e para a preservao das salinas, as

    medidas relacionadas com a promoo, valorizao e conservao da natureza dos stios e zonas

    de proteco especial (ZPE) integrados no processo da Rede Natura 2000, referidos na opes

    estratgicas 3 (trs), 4 (quatro) e 5 (cinco), sendo mesmo referido numa das directivas de aco da

    opo 3 (trs) a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre as actividades econmicas

    ambientalmente sustentveis, como (..) ou a prpria actividade salineira, bem como sobre os

    produtos regionais e locais e incentivar a sua manuteno atravs da certificao de origem, da

    rotulagem ecolgica e da proteco jurdica dos produtos de qualidade no abrangidos por legislao

    comunitria. A Opo 4 (quatro) na sua primeira directiva de aco afirma a necessidade de

    elaborao e aprovao do Plano Sectorial relativo implementao da Rede Natura 2000

    (INCNB, 2001).

    Outras orientaes importantes so as relacionadas com:

    9 Opes Estratgicas da Estratgia para a Conservao da natureza e da BiodiversidadeOpes Estratgicas da Estratgia para a Conservao da natureza e da BiodiversidadeOpes Estratgicas da Estratgia para a Conservao da natureza e da BiodiversidadeOpes Estratgicas da Estratgia para a Conservao da natureza e da Biodiversidade

    1) Promover a investigao cientfica e o conhecimento sobre o patrimnio natural, bem como a monitorizao de espcies, habitats e

    ecossistemas;

    2) Constituir a Rede Fundamental de Conservao da Natureza e o Sistema Nacional de reas Classificadas, integrando neste a Rede

    Nacional de reas Protegidas;

    3) Promover a valorizao das reas protegidas e assegurar a conservao do seu patrimnio natural, cultural e social;

    4) Assegurar a conservao e a valorizao do patrimnio natural dos stios e das ZPE integrados no processo da Rede Natura 2000;

    5) Desenvolver em todo o territrio nacional aces especficas de conservao e gesto de espcies e habitats, bem como de salvaguarda

    e valorizao do patrimnio paisagstico e dos elementos notveis do patrimnio geolgico, geomorfolgico e paleontolgico;

    6) Promover a integrao da poltica de conservao da Natureza e do princpio da utilizao sustentvel dos recursos biolgicos na poltica

    de ordenamento do territrio e nas diferentes polticas sectoriais;

    7) Aperfeioar a articulao e a cooperao entre a administrao central, regional e local;

    8) Promover a educao e a formao em matria de conservao da Natureza e da biodiversidade;

    9) Assegurar a informao, sensibilizao e participao do pblico, bem como mobilizar e incentivar a sociedade civil;

    10) Intensificar a cooperao internacional.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    31

    - o desenvolvimento de estudos sobre os impactes das prticas tradicionais na conservao

    da natureza (opo 1), que suportaro a importncia da actividade salineira desenvolvida

    de forma artesanal e a consequente preservao das salinas para a conservao da

    natureza, manuteno e promoo da biodiversidade;

    - a integrao da poltica de conservao da natureza na poltica de ordenamento do

    territrio e nas diferentes polticas sectoriais relevantes (opo 6), referindo como exemplo a

    poltica de turismo e em particular a potencialidade destas reas para o desenvolvimento de

    ecoturismo forma sustentvel de turismo, com potencial para contribuir para a conservao da

    diversidade biolgica dentro e fora de reas protegidas, assim como promover melhorias na

    qualidade de vida das comunidades locais e regionais (Albuquerque, H. 2004);

    - a articulao entre os vrios nveis (central, regional e local) na medida em que so os

    municpios os responsveis pelas reas integradas na Rede Natura 2000 (opo 7);

    - a promoo de actividades de formao, de informao e sensibilizao, insero dos

    temas da conservao da natureza e biodiversidade e envolvimento das universidades,

    comunidade cientfica e outras entidades neste processo formativo formal e no formal

    (opo 8 e 9), como contributo junto de vrios pblicos para as geraes presentes e futuras;

    - a intensificao da cooperao internacional nomeadamente na concretizao de projectos

    apoiados financeiramente pelos programas Interreg (opo 10), que contribuem para a

    promoo de estratgias articuladas de desenvolvimento territorial sustentvel, como se

    exemplificar posteriormente com projectos desenvolvidos e em curso.

    A referida estratgia deveria ser revista em 2010, mas apesar da reviso estar em curso, o

    Ministrio do Ambiente e Ordenamento do Territrio ir aguardar as concluses da Conferncia

    sobre a Diversidade Biolgica (CDB), que vai ocorrer em Outubro, no Japo, conferncia que tem

    como misso orientar o mundo sobre as metas e os objectivos no domnio da biodiversidade, sendo

    pois previsvel que a nova estratgia s esteja finalizada em 2011 (Rosa, 2010).

    A ENCNB, como anteriormente mencionado, constitui o instrumento fundamental para a integrao

    de polticas, sendo no entanto de referir outros instrumentos, de que se destacam os de

    ordenamento do territrio pela contribuio para uma gesto territorial equilibrada e os

    instrumentos de gesto dos fundos comunitrios como meios para a concretizao das aces

    programadas.

  • Estratgia para uma Gesto Sustentvel do Salgado de Aveiro

    32

    2.3.4. Os Instrumentos de Gesto territorial de mbito nacional

    O Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio

    O Programa Nacional da Poltica de Ordenamento do Territrio (PNPOT), aprovado pela Lei n

    58/2007 de 4 de Setembro, estabelece as grandes opes com relevncia para o territrio

    nacional, integra seis objectivos estratgicos10, define orientaes estratgicas para as vrias

    regies e apresenta a viso estratgica e o modelo territorial que servir de orientao poltica

    de ordenamento