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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELTON REIS MONEZI
DA INDÚSTRIA AO DESIGN UTÓPICO DOS FAB LABS:
Uma análise de experiências na cidade de São Paulo
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
São Paulo, fevereiro/2018
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELTON REIS MONEZI
DA INDÚSTRIA AO DESIGN UTÓPICO DOS FAB LABS:
Uma análise de experiências na cidade de São Paulo
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design.
Orientadora: Profa. Dra. Mirtes Marins de Oliveira
São Paulo, fevereiro/2018
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ELTON REIS MONEZI
DA INDÚSTRIA AO DESIGN UTÓPICO DOS FAB LABS:
Uma análise de experiências na cidade de São Paulo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design. Aprovado pela seguinte Banca Examinadora:
Profa. Dra. Mirtes Marins de Oliveira Orientadora
Mestrado em Design Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Luisa Angélica Paraguai Donati Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Profa. Dra. Priscila Almeida Cunha Arantes
Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Rachel Zuanon Dias Universidade Anhembi Morumbi
São Paulo, fevereiro/2018
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do orientador.
ELTON REIS MONEZI
Mestrando em Design. Professor de Design de Interiores, Arquitetura e Urbanismo, Design Gráfico e Moda, há 4 anos. Arquiteto com 15 anos de experiência em projetos de interiores corporativo, residencial e comercial; design de mobiliário; design gráfico. Empreendedor e artista plástico.
Ficha Catalográfica
M751d Monezi, Elton Reis
Da indústria ao design utópico dos Fab Labs: uma análise de experiências na cidade de São Paulo/ Elton Reis Monezi. – 2018.
112f.: il.; 30 cm.
Orientadora: Profa. Dra. Mirtes Marins de Oliveira. Dissertação (Mestrado em Design) – Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, 2018. Bibliografia: f. 98-104.
1. Design. 2. Cultura Maker. 3. Fab Lab. 4. Inovação.
I. Título. CDD 741.6
AGRADECIMENTOS
Este trabalho não existiria se não fosse a colaboração destas pessoas que
foram muito significativas nestes dois anos de disciplinas, textos, artigos, leituras,
pesquisa, entrevistas e escritas. Gostaria de agradecer especialmente: minha família
que me incentivou a prestar o mestrado; minha orientadora Mirtes que me acolheu e
me revelou a luz no meio de muitas indagações; minhas amigas Letícia e Silvia que me
apoiaram neste processo de altos e baixos, ao Roni que, pacientemente, compreendeu
minha escolha durante todo o período e, sobretudo, ao apoio da fundação CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) que me proporcionou
bolsa de estudos, que foi fundamental para eu concluir esta titulação.
RESUMO
Esta pesquisa investiga os meios de produção industrial em contraponto à
proposta emergente de modelo contemporâneo de fabricação digital, na qual está
inserida a cultura Maker e sua admissível interferência na materialização de
mercadorias e sua relação com design, indústria e consumidor. Tem como objetivo
avaliar a relevância dos laboratórios de fabricação digital (Fab Labs), na cidade de São
Paulo, como ambientes propícios à inovação disruptiva e ao empreendedorismo, no
cenário produtivo e de inserção social. Existe uma demanda prática nos Fab Labs, nos
quais se permite aos frequentadores, construir elementos sem conhecimento prévio
de projeto ou de softwares de desenho. O método adotado, na pesquisa, é o
qualitativo, e inclui um levantamento de dados por meio de entrevistas aos
responsáveis de quatro laboratórios selecionados na cidade de São Paulo; e, na
sequência, faz-se a análise crítica dos dados. Questiona-se se a cultura de fabricação
provocaria mutações substanciais em um sistema capitalista e qual seria a prática mais
adequada à sociedade.
Palavras-chave: Design, industrialização, cultura Maker, Fab Lab, inovação.
ABSTRACT
This research investigates the meaning of industrial production as a
counterpoint to the emerging proposal of digital manufacturing contemporary model,
which includes the Maker culture and its admissible interference in the materialization
of goods and its relationship with design, industry and consumer. It aims to evaluate
the relevance of Fabrication Laboratories (Fab Labs), in the city of São Paulo, as being
auspicious environments to disruptive innovation and entrepreneurship, in the
productive and social insertion scenario. There is a practical demand into Fab Labs,
where visitors are allowed to build elements without prior design knowledge or
drawing software. The method adopted in the research is qualitative and includes a
data survey through interviews with the heads of four laboratories selected in the city
of São Paulo, and, subsequently, the critical analysis of the data is made. It is
questioned if the culture of manufacture would cause substantial mutations in a
capitalist system and what would be the most appropriate practice to society.
Keywords: Design, industrialization, Maker culture, Fab Lab, innovation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Robôs trabalhando na linha de montagem. Fonte:
Reprodução/The New York Times. ................................................................................. 26
Figura 2 – Evento no MIT Media Lab em abril de 2012. Fonte:
https://www.flickr.com/photos/mitmedialab/6965222400 ......................................... 28
Figura 3 – CNC trabalhando. Fonte:
https://www.thingiverse.com/thing:1750276 ............................................................... 29
Figura 4 – Exemplo de página do portal Thingiverse. Fonte:
https://www.thingiverse.com ........................................................................................ 33
Figura 5 - Amostra de modelagem no software Tinkercad. Fonte: do autor.
........................................................................................................................................ 34
Figura 6 – Variados tipos de placas de Arduino. Fonte:
https://www.arduino.cc/en/Main/Products. ................................................................ 35
Figura 7 – Cortadora a laser. Fonte:
http://www.garagemfablab.com.br/maquinas/ ............................................................ 38
Figura 8 – Plotter de recorte. Fonte: http://fablablivresp.art.br/nossas-
maquinas ........................................................................................................................ 39
Figura 9 – Fresadora CNC de precisão para circuito impresso. Fonte:
http://www.ttp.ind.br/ ................................................................................................... 40
Figura 10 - Impressoras 3D em ação no Fab Lab Galeria Olido no centro de
São Paulo. Fonte: foto do autor. .................................................................................... 41
Figura 11 – Exemplo de comida sendo impressa. Fonte:
http://foodink.io/gallery/ ............................................................................................... 43
Figura 12 - Impressora XYZ Printing DaVinci Color. Fonte:
http://makezine.com/2017/09/01/full-color-3d-printing-comes-desktop-davinci-color/
........................................................................................................................................ 44
Figura 13 - Gráfico revelando o processo de impressora 3D CLIP. Fonte:
https://www.carbon3d.com/clip-process ...................................................................... 45
Figura 14 – Impressão de sola de tênis com impressora 3D CLIP. Fonte:
https://www.carbon3d.com/stories/adidas .................................................................. 46
Figura 15 – Impressora HP Jet Fusion 3D. Fonte:
http://www8.hp.com/us/en/printers/3d-printers.html?jumpid=sc_ge3snmp6ha. ..... 47
Figura 16 – Exemplo de equipamentos existentes num Fab Lab básico.
Fonte: http://www.3dfactory.com.br/3dnews/fab-lab-faca-voce-mesmo-1 ................ 49
Figura 17 – Localização da rede pública Fab Lab Livre SP. Fonte:
http://fablablivresp.art.br/onde-tem ............................................................................ 50
Figura 18 – Entorno Fab Lab Livre SP. Fonte:
http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br ........................................................................... 53
Figura 19 – Exemplos de produção do Fab Lab Livre SP com os sistemas de
encaixe. Fonte: https://www.instagram.com/p/BUxsarggJP_/?taken-by=fablablivresp
........................................................................................................................................ 56
Figura 20 - Entorno Garagem Fab Lab. Fonte:
http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br ........................................................................... 60
Figura 21 – Estante com objetos produzidos no Garagem Fab Lab. Fonte: do
autor. .............................................................................................................................. 63
Figura 22 – Mesa de pinball produzida no Garagem Fab Lab. Fonte: do autor
........................................................................................................................................ 64
Figura 23 - Entorno Porto Fab Lab. Fonte:
http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br ........................................................................... 67
Figura 24 – Entrada do Porto Fab Lab. Fonte:
https://www.fablabs.io/labs/portofablab ..................................................................... 71
Figura 25 – Exemplo de matriz de xilogravura produzida com auxílio de corte
a laser. Fonte: http://cultcultura.com.br/arte-e-entretenimento/artesvisuais/arte-e-
foco-dos-projetos-do-porto-fab-lab/ ............................................................................. 72
Figura 26 - Entorno Fab Lab SP. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br
........................................................................................................................................ 75
Figura 27 – Molde produzido em fabricação digital para o projeto Calçadas
Drenantes da FAUUSP. Fonte: https://zlvortice.wordpress.com/2017/10/01/testes-no-
fablab-sp-fauusp/ ........................................................................................................... 79
Figura 28 – Corte esquemático do projeto de extensão Calçadas Drenantes
da FAUUSP. Fonte: https://zlvortice.wordpress.com/2016/03/10/canteiro-fablab-usp/
........................................................................................................................................ 80
Figura 29 – Fab Lab Livre SP (A) e Garagem Fab Lab (B). Fonte:
www.geosampa.prefeitura.sp.gov.br............................................................................. 83
Figura 30 – Porto Fab Lab (C) e Fab Lab SP (D). Fonte:
www.geosampa.prefeitura.sp.gov.br............................................................................. 84
Figura 31 – Exemplos de cursos ofertados no site do Fab Lab Livre SP. Fonte:
http://fablablivresp.art.br/cursos/por-fablab?og_group_ref_target_id=74&title= ..... 89
Figura 32 – Exemplo de cursos oferecidos pelo Porto Fab Lab. Fonte:
http://www.espacoculturalportoseguro.com.br/programacao-em-cartaz.html .......... 90
Figura 33 – Site com os cursos disponíveis do Garagem Fab Lab. Fonte:
http://www.garagemfablab.com.br/cursos/ ................................................................. 90
Figura 34 – Evento SP Maker Week. Fonte:
http://www.facebook.com/pg/spmakerweek/posts/?ref=page_internal .................... 91
Figura 35 – Cartaz da última edição do evento Tinta Fresca. Fonte:
http://www.espacoculturalportoseguro.com.br/programacao/realizados/2018/tinta-
fresca-maio2018.html .................................................................................................... 92
Figura 36 – Divulgação do III The Wrong New Digital Art Biennale em mídia
social. Fonte: https://www.facebook.com/TheWrongSP/............................................. 93
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Tabela comparativa de dados técnicos dos Fab Labs visitados.
Fonte: do autor. .............................................................................................................. 86
Tabela 2 – Tabela comparativa das respostas dos entrevistados. Fonte: do
autor. .............................................................................................................................. 94
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABCIC - Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABS - Acrilonitrila Butadieno Estireno AI - Artificial intelligence - Inteligência Artificial CAD - Computer-aided Design - Desenho Auxiliado por Computador CAM - Computer Aided Manufacturing - Manufatura Auxiliada por Computador CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBA - Center for Bits -Centro de Bits e Átomos CEI - Centro Educacional Infantil CEU - Centro Educacional Unificado CLIP - Continuous Interface Liquid Production – Produção Líquida em Superfície
Contínua CMYK - Cyan, Magenta, Yellow and Black – Ciano, Magenta, Amarelo e Preto CNC - Computer Numeric Control - Controle Numérico por Computador CNT - Carbon Nanotube - Nanotubos de Carbono CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos CTECH - Comitê Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação CYTED - Ciencia y Tecnología para el Desarrollo DFL - Digital Fabrication Laboratory DIGI-FAB - Tecnologias digitais de fabricação aplicadas à produção do Design e
Arquitetura Contemporâneos DIY - Do It Yourself - Faça Você Mesmo E.E. - Escola Estadual ECA-USP - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo EMEI - Escola Municipal de Educação Infantil EMESP - Escola de Música do Estado de São Paulo Etec - Escola Técnica Estadual EUA - Estados Unidos da América FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado Fab Lab - Fabrication Laboratory - Laboratório de Fabricação Digital Fatec - Faculdade de Tecnologia de São Paulo FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FDM - Fused deposition modeling - Modelagem por Deposição de Material Fundido FIB - Fédération Internationale du Béton IED - Istituto Europeo di Design Insema - Instituto Educacional Seis de Maio IoT - Internet of Things - Internet das Coisas ITS - Instituto de Tecnologia Social MDF - Medium Density Fiberboard - Fibra de Média Densidade MicroCAD - Microconcreto de Alto Desempenho para o Desenvolvimento da Pré-
Fabricação Leve
MIT - Massachusetts Institute of Technology - Instituto de Tecnologia de Massachussetts
ONGs - Organizações não Governamentais OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat PETG - Politereftalato de Etileno Glicol PLA - Ácido Polilático PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPGDesign - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Doutorado e Mestrado em
Design PUC-Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Senac - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Sesc - Serviço Social do Comércio SLA - Stereolithography - Estereolitografia SLS - Selective Laser Sintering - Sinterização Seletiva a Laser USP - Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
1 PROCESSOS DE FABRICAÇÃO, CULTURA MAKER E DESIGN ......................................... 20
1.1 Colaborativismo ................................................................................... 30
1.2 Open source e digitalização de objetos ............................................... 33
1.3 Cultura Maker ...................................................................................... 36
1.4 Materialização de objetos ................................................................... 37
2 INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DOS FAB LABS ................................................................. 48
ESTUDOS DE CASOS ................................................................................... 51
2.1 Fab Lab Livre SP ................................................................................... 52
2.2 Garagem Fab Lab ................................................................................. 58
2.3 Porto Fab Lab ....................................................................................... 66
2.4 Fab Lab SP ............................................................................................ 73
3 ANÁLISE DE CASOS ....................................................................................................... 81
3.1 Análise da localização .......................................................................... 81
3.2 Análise de dados técnicos ................................................................... 85
3.3 Análise de cursos oferecidos e divulgação .......................................... 88
3.4 Análise das respostas........................................................................... 93
3.5 Análise política e social dos Fab Labs .................................................. 95
3.6 Análise crítica ao design utópico dos Fab Labs ................................... 97
CONCLUSÃO .................................................................................................................. 101
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 106
15
INTRODUÇÃO
Este trabalho investiga centros de fabricação digital na cidade de São Paulo,
designados pela expressão em inglês Fab Lab1 e sua intervenção na cadeia produtiva
de elementos manufaturados e, sobretudo, nas relações com Design e designers. O
tema se constitui socialmente relevante pela hipótese da cultura Maker e os Fab Labs
poderiam motivar permutas substanciais no capitalismo, no modo de fabricação de
mercadorias e no papel do designer. Existe uma demanda prática para os Fab Labs, ou
seja, os usuários não dispõem de conhecimento prévio de projeto ou de softwares de
desenho, entretanto partilham o intuito de construir um objeto.
Os Fab Labs estão intrinsicamente conectados à cultura Maker2, portanto, a
lógica empregada no presente trabalho é explicar primeiramente como se originou o
movimento Maker, e, na sequência, dilatar o conceito de Fab Lab, em uma exposição
de quatro estudos de casos na cidade de São Paulo. Prossegue-se com a realização de
análise crítica desses Fab Labs levando em consideração os seguintes aspectos:
comparação de dados técnicos e de respostas recebidas, postura dos entrevistados,
influência e perspectivas dos Fab Labs.
O método de pesquisa adotado tem natureza qualitativa e inclui um
levantamento de dados, por meio de entrevistas com os responsáveis pelos Fab Labs
selecionados, e seu tratamento. O período estudado da bibliografia específica se
encontra entre os anos 20053 a 2017. Restringiu-se a pesquisa à cidade de São Paulo
por abranger a maior concentração de Fab Labs do país e ser considerada como
expressivo centro econômico e financeiro.
1 Abreviatura para Fabrication laboratory, em inglês.
2 Cultura Maker refere ao movimento de produzir utensílios e resolver situações domesticamente.
3 Foi escolhido como marco inicial, em 2005, o evento promovido pela Z Corporation que lança a primeira impressora 3D colorida de alta definição, a Spectrum Z510 (MAGRI, 2015).
16
A trajetória trilhada na investigação, durante o mestrado, foi um processo
não linear. A intenção inicial para o ingresso ao PPGDesign4 da Universidade Anhembi
Morumbi foi “Design de Mobiliário Compacto para Micro Apartamentos”, que foi
substituída pela pesquisa denominada “Cultura Maker e o Design de Mobiliário
Corporativo” devido ao aprofundamento teórico no decorrer das disciplinas.
A temática inicial se apresentou muito restrita, por isso a pesquisa foi
alterada para “Cultura Maker em Design de Interiores” com o objetivo de se aproximar
da experiência profissional do autor. Todavia houve nova modificação para “Cultura
Maker, Design e Mobiliário”, como resposta à reflexão após o Exame de Qualificação
de que o melhor caminho a ser seguido era se concentrar na questão dos Fab Labs,
que remetia aparentemente principal ao debate crítico de certos procedimentos
produtivos na atualidade.
A inspiração para este trabalho foi concebida, em parte, pela vivência do
autor e seu histórico familiar: o pai herdou algumas ferramentas e o ofício da
carpintaria de seu avô e mantinha uma mini oficina de marcenaria no quintal de sua
residência, em uma pequena cidade do interior do estado do Paraná; as avós do
mestrando detinham a habilidade da costura, e sua mãe apreciava artesanato,
especialmente, crochê e tricô. Neste cenário imersivo, de reparos caseiros e trabalhos
manuais, raramente se adquiria um novo item, ou aparelho eletrodoméstico, sem
antes experimentar construi-lo ou consertar o antigo domesticamente. Sendo assim, a
escolha da temática cultura Maker incidiu de forma coerente em esta história pessoal.
Enuncia-se que o tema está fundamentado na ideia de DIY - Do It Yourself
(faça você mesmo) que instiga indivíduos, conforme relato anterior, e compreende o
hábito de, antes de procurar um técnico ou um profissional especializado, tentarem
resolver suas adversidades sozinhos, como consertar uma pia vazando, trocar um
chuveiro elétrico e assim por diante.
Este fenômeno se denomina bricolagem, sendo costumeiro nos Estados
Unidos da América (EUA) e Europa devido ao encarecimento da mão de obra. Nestas
sociedades é mais atrativo financeiramente os próprios moradores executarem uma
4 Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Doutorado e Mestrado em Design.
17
tarefa de reparo ao invés de contratarem um serviço terceirizado5. Da bricolagem ao
universo Maker transcorre um passo quase natural. Maker traduzido literalmente
significa “fazedor”, todavia se preferiu, na presente pesquisa, empregar a locução em
inglês, seguindo prática usual na bibliografia específica, que denota um sentido mais
amplo que simplesmente um construtor, e sim um cidadão que consegue criar e
produzir peças, mesmo utilizando equipamentos profissionais, sem depender da
indústria.
Chris Anderson, autor do livro eletrônico “Makers: The New Industrial
Revolution” (2012), descreve que o surgimento do movimento Maker se deve à
concatenação de ideias de um grupo que já praticava o DIY e se conectaram
globalmente, via internet, sendo que a maioria dos propósitos do Makers representa
ideias compartilhadas da coletividade (ANDERSON, 2012, p. 13).
Declara-se como uma promessa para atuação o desapego do direito de
propriedade intelectual de criações e seu partilhamento por meio da rede para que
qualquer pessoa possa usar ou alterar o código digital de um objeto, utilizando
softwares abertos. A colaboração é a chave para efetuar projetos perenes, com
objetivos claros e específicos (CABEZA, 2014, p. 75). A importância do Fab Lab se
constrói na geração de expectativa em se consistir um grande laboratório de ativação
de planos coletivos.
Trata-se de um movimento recente (o Manifesto Movimento Maker lançado
por Hatch pertence a 20146 e da obra citada de Anderson é de 20127), embora a
customização de produtos esteja relacionada às décadas de 1980 e de 1990 no
ocidente, propicia que participantes se envolvam nos processos de design de artefatos.
Desde o período, se admite produzir elementos individualizados, elaborados de forma
5 Com ascensão da economia e moedas fortes, na Europa e Estados Unidos, valoriza-se todo tipo de trabalhador, mesmo nas funções mais simples, consequentemente, os nativos recusam a trabalhar por remunerações abaixo do preço praticado no mercado, sendo mais vantajoso a própria pessoa realizar pequenos reparos.
6 Este manifesto lista as diretrizes do movimento Maker como: criar, compartilhar, aprender, participar, conceder suporte e transmudar.
7 Comenta sobre a cultura Maker desde seu surgimento até 2012 exemplificadas por meio das experiências pessoais e profissionais do autor.
18
descentralizada (das indústrias), cujos propósitos consentem se intercambiar pela
internet (BURDEK, 2010, p. 417).
Esta ação poderia deslocar a produção de mercadorias de empresas ou
indústrias para o cidadão comum que viabiliza alterar relações individuais de
produção. A habilidade consentida em manufaturar localmente ou globalmente
comprime três séculos de Revolução Industrial em um clique (ANDERSON, 2012, p.26),
ou seja, a manufatura de apetrechos, exclusiva das indústrias, torna-se possível de ser
criada virtualmente, sendo produzidos em centros de fabricação digital ou na
residência do interessado. Decorre o trunfo deste movimento contemporâneo
consentir em ampliar as trocas sinérgicas entre indivíduos cultural, social, econômica e
tecnologicamente.
É essencial manifestar uma conceituação teórica à questão da cultura Maker
e o primeiro capítulo “Processos de Fabricação e Cultura Maker” situa como a
tecnologia das máquinas analisará as relações culturais contemporâneas em relação ao
consumo e à produção de utensílios incluindo seus processos de digitalização e
materialização.
O segundo capítulo “Introdução às práticas dos Fab Labs” expõe estudos de
caso de quatro Fab Labs da cidade de São Paulo: Fab Lab Livre SP, público municipal;
Garagem Fab Lab, privado sem fins lucrativos; Porto Fab Lab, privado e Fab Lab SP,
institucional (USP).
Optou-se por revelar as entrevistas na ordem que se sucederam pelo fato de
terem ocorrido pequenas alterações durante o andamento, tais como se houve casos
de indisciplinas dentro do laboratório8 e se depois da experiência de imersão social
houve retorno dos frequentadores9, ou com os entrevistados e os ajustes foram
incorporados aos questionários seguintes, em um processo orgânico.
No capítulo seguinte “Análise de Casos” se analisa os Fab Labs citados com
relação à cultura Maker e quais consistem as suas perspectivas. Há no imaginário
popular a ideia utópica de que os laboratórios de fabricação digital compreenderão
8 Ocorrida durante entrevista com o Fab Lab Livre SP.
9 Presente na entrevista do Porto Fab Lab.
19
papel transformador dos meios de produção, de maneira disruptiva10, conquanto a
tendência observada conserva inovação gradual e pontual, de acordo com nichos
específicos de públicos.
Por último, há a “Conclusão” que concebe análise crítica da relevância da
pesquisa sob a ótica do Design.
10 Refere-se às inovações disruptivas aquelas que não procuram trazer produtos melhores para clientes existentes em mercados estabelecidos, em alternativa, elas oferecem uma nova definição do que é adequado (Disponível em: <https://www.christenseninstitute.org/publications/ensino-hibrido/?_sft_topics=disruptive-innovation&post_types=publications&sf_paged=2>. Acesso em: 2 jan. 2018).
20
1 PROCESSOS DE FABRICAÇÃO, CULTURA MAKER E DESIGN
Primeiramente, com o intuito de contextualizar a magnitude dos objetos
para a sociedade contemporânea, se retrata a origem dos utensílios. Observa-se nos
sítios arqueológicos exemplos de esqueletos de hominídeos acompanhados de
elementos por eles produzidos atestando-se a relevância que haviam àqueles seres.
Flusser (2015, p.34) designa “homo faber” às espécies de antropoides que fabricam
algo, sendo que esta denotação decorre mais representativa ao gênero humano que
Homo Sapiens, pois, o ato de construir itens e alterar o ambiente natural sucede
inerente à humanidade.
Tomando-se em consideração que os locais utilizados pelo ser humano para
engendrar artefatos se constata variadas tipologias de fábricas. Flusser (2015, p. 36)
classifica a história da fabricação conforme os instrumentos utilizados: mãos,
ferramentas, máquinas e aparelhos eletrônicos. O ato de fabricar significa se apropriar
de matéria prima da natureza, converte-la em produto manufaturado e atribuir uma
aplicabilidade ao novo constituinte.
Reflete-se que em todos os locais nos quais há ocupação humana, sem
distinção, há alteração do meio. A saber, as civilizações ou agrupamentos de entes
humanos tem a particularidade de modificar, sem precedentes e sem culpa, o meio
que habitam seja momentaneamente ou por longos períodos. Desta forma,
imediatamente, deixam de constituir ambientes naturais para serem artificializados.
Desde o abrigo rudimentar aos adornos de etnias indígenas há modificações das
condições primordiais da natureza. Portanto, é habitual, ao ser humano intervir no
meio que o rodeia, ou seja, domesticar a natureza conhecida.
O homem utilizou suas próprias mãos e criou elementos que o auxiliassem a
sobreviver e a conquistar novos territórios, competindo por espaço com outros
agrupamentos humanos, outros animais e contra as intempéries naturais. A
transformação de matérias primas, naturais, em utensílios iniciou-se com a
potencialidade que a mão humana exerceria até o ponto que ferramentas se tornaram
convenientes para auxiliar no manuseio de múltiplos materiais tanto para ampliar a
21
força e torque (construção de objetos grandes e pesados) como para manipular
elementos muito pequenos (microscópicos como estruturas feitas em CNT - nanotubos
de carbono11).
Na busca pela perfeição de apetrechos sofisticados, de forma artesanal, o
ser humano esmiuçou as ferramentas à exaustão, porém a excelência pretendida foi
sendo adquirida com a implementação de engenhos e engrenagens que progrediram
em máquinas, das mais complexas, que replicariam a peça pretendida em série e
idêntica infinitas vezes.
Diante disto, o marco que definitivamente transformou as condições de
relação entre o homem e seu meio, mundialmente, foi a Revolução Industrial que
ocorreu na Europa, sobretudo na Inglaterra12, no final do século XVIII e início do século
XIX13. Transformou paradigmas de produção e marcou a ruptura entre as atividades
realizadas artesanalmente para aquelas produzidas por máquinas a vapor operadas
por homens14 treinados a esta função. Foi, portanto, um divisor de águas entre o modo
de produção de itens consumíveis: da fabricação executada pelas mãos à
industrialização feita por máquinas.
A Revolução Industrial não só modificou os modos de vida e de trabalho
como interferiu consideravelmente nos movimentos artísticos. Entretanto na segunda
11 CNT, do inglês carbon nanotube. Consistem de espécies de fibras atômicas e ostentam fartas configurações moleculares, cada uma destas estruturas se comporta de modos até mesmo opostos às moléculas de mesma composição (Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/nanotecnologia/2640-o-que-sao-nanotubos-de-carbono-.htm>. Acesso em: 5 set. 2017).
12 Especialmente na cidade de Manchester que possuía as vantagens de: abranger copiosos espaços vazios para construir as fábricas e alojamentos, próxima a rios que se estendiam ao Atlântico (rio Mersey) e conexão a ferrovias (ANDERSON, 2012, p.42).
13 Houve numerosas Revoluções Industriais na Europa. Não há uma data precisa que marque o início da Revolução industrial, mas os livros de História chegam a um consenso pelo ano de 1760, na Inglaterra, que havia todas as condições propícias a este acontecimento: maior acúmulo de capitais; abundância de ferro e de carvão; hegemonia nas navegações; facilidade de acesso à matéria prima; disponibilidade de mão de obra; florescimento da máquina a vapor e fatores políticos e religiosos. No início do século XIX a industrialização ganha abrangência mundial pelo aprimoramento das máquinas e pela aplicação em outros países (Material didático de História do Sistema de Métodos de Aprendizagem Objetivo de 2017).
14 E atualmente similarmente por inteligência artificial.
22
metade do século XIX houve o movimento Arts and Crafts15 que contestou a Revolução
Industrial exaltando o artesanato criativo como alternativa à mecanização. Ademais, o
movimento Art Nouveau16 revaloriza a estética pela inspiração nas linhas sinuosas e
assimétricas da natureza e o uso de novos aparatos proporcionados pela indústria
como o ferro forjado, vidro e cimento. De outro ponto de vista, a favor da linguagem
industrial, houve movimentos do início do século XX que continham o gene modernista
como: Cubismo, Futurismo, Dadaísmo17, De Stijl18, Construtivismo19, Art Deco20 entre
outros.
Esta transfiguração não se refletiu somente nas artes plásticas,
sincronicamente, ocorreu na arquitetura, decoração, moda, música, teatro e literatura
que remetiam aos mecanismos das máquinas e fábricas e expressavam o ideal de
progresso, futuro e prosperidade. “Ao eliminarem todos os ornamentos, os arquitetos
15 Por volta dos anos 1860 um grupo de artistas, arquitetos e designers propunham novas perspectivas ao design e às artes decorativas. Destaca-se as personalidades John Ruskin e William Morris (Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/t/the-arts-and-crafts-movement/>. Acesso em: 2 jan. 2018).
16 Estilo que dialoga e acompanha de perto os rastros da industrialização e o fortalecimento da burguesia. Mas sua adesão à lógica industrial e à sociedade de massas se dá pela subversão de certos princípios básicos à produção em série, que tende aos constitutivos industrializáveis e ao acabamento menos sofisticado. A "arte nova" revaloriza a beleza, colocando-a ao alcance de todos, pela articulação estreita entre arte e indústria (Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo909/art-nouveau>. Acesso em: 2 jan. 2018).
17 Cubismo: deixou suas marcas ao imprimir novas técnicas narrativas que fragmentavam a realidade e consentiam uma desconstrução da visão clássica sobre o momento e o espaço; Futurismo: difundido por meio de manifestos, foi o movimento mais radical e subversivo; Dadaísmo: surgiu como resposta ao clima de instabilidade provocado pelo conflito bélico, permeada pelo deboche e pelos ilogismos dos textos (Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/vanguardas-europeias.htm>. Acesso em: 5 set. 2017).
18 Formou toda uma tipologia de construção derivada da análise dos padrões de distribuição de espaço correspondentes às diferentes situações funcionais (ARGAN, 2010).
19 Para o construtivismo, a pintura e a escultura refletem-se como construções e não como representações, guardando proximidade com a arquitetura relativamente a de constituintes, procedimentos e objetivos (Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3780/construtivismo>. Acesso em: 2 set. 2017).
20 Predominam as linhas retas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o design abstrato (Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo352/art-deco>. Acesso em: 2 set. 2017).
23
romperam, de fato, com a tradição de muitos séculos” (GOMBRICH, 1999, p. 386).
Criou-se o estilo internacional na arquitetura, com base no funcionalismo dos
arquitetos Le Corbusier21 e Mies Van der Rohe22, no qual as formas geométricas e o
racionalismo imperaram nas construções e decoração. No universo da Moda, a
Inglaterra elegeu a fibra de algodão (plantada nas colônias da América) como matéria
prima aos teares mecânicos (a vapor, inicialmente) e foram mecanizadas as técnicas de
estamparias.
Estes movimentos foram praticáveis devido às condições físicas e
psicológicas que a Revolução Industrial proporcionou à sociedade europeia, como por
exemplo, alternâncias no modo de vida as quais “propõem-se a interpretar, apoiar e
acompanhar o esforço progressista, econômico-tecnológico, da civilização industrial”
(ARGAN, 2010, p. 185).
Surgiram novas questões em relação ao modo de vida e trabalho, nas quais
Forty (2007 p. 137) explica: “a fábrica e o escritório não apenas separaram fisicamente
o trabalho do lar, como suas características expressivas estimularam as pessoas a
manter mentalmente os dois espaços separados”. Antes as residências compreendiam
locais de morar, comer, dormir e, até mesmo, de trabalho, no qual os artesãos ou
comerciantes igualmente vendiam seus produtos (FORTY, 2007 p. 138). Os artistas
mais habilidosos foram requisitados a desempenhar funções de treinamento de outros
operários dentro das fábricas e os menos talentosos exerciam tarefas de repetição,
como apertar parafusos ou conectar peças.
21 A construção que serviu de ícone ao movimento Moderno na Arquitetura foi a Villa Savoye, situada em Poissy, na França. Segundo Le Corbusier a casa é uma máquina de morar. A construção foi suspensa sob pilotis que deixa o térreo livre e a fachada é isenta da estrutura e as janelas são em fita (Disponível em: <https://www.archdaily.com/84524/ad-classics-villa-savoye-le-corbusier>. Acesso em: 23 jan. 2018).
22 Com destaque ao pavilhão alemão para a Feira Mundial de 1929 em Barcelona que aplicava o uso de novos elementos industriais como aço e vidro. A inovação é uma planta-baixa livre, fachada de vidro, estrutura de pilares esbeltos de aço, em forma de cruz, dentro do ambiente e laje plana no lugar do telhado.
24
A organização do trabalho e a profusão de novos produtos instituíram a
sociedade de consumo, estruturada pelo modelo fordista23 de produção e consumo de
massa que começa nos anos 1880 e termina na Segunda Guerra Mundial (LIPOVETSKY,
2007 p. 27) e que coincide com o movimento Modernista, na década de 1910. No
século XIX conjuntamente surgiram abundantes invenções fundamentais à
produtividade industrial e comercial tais como: estradas de ferro, telégrafo e telefone.
Os aparatos se tornam impessoais, transcorrem a produção em massa e a
inevitabilidade de consumir permanece crescente. Após a Segunda Guerra, cria-se um
novo ciclo de consumo: uma coletividade de desejo que impunha a felicidade plena,
libertação sexual, sedução, hedonismo e ademais outras características corrompíveis
relacionadas ao consumo (LIPOVETSKY, 2007 p. 35).
A Revolução Industrial ocorreu sem saltos, em um processo darwinista24.
Para compreender melhor como aconteceram estes fatos, remontaremos à época pré-
revolução industrial europeia, antes de 1820 (DRUCKER, 2000, p. 112-126), quando os
indivíduos, que começaram a produzir objetos utilizando ferramentas, necessitaram de
um lugar fixo na própria natureza, pois, as ferramentas sucederiam maiores e mais
robustas, assim como, os artefatos produzidos por elas (1ª Revolução Industrial25).
Havia a indispensabilidade de criar um local de trabalho para moldar tijolos, fundir
metais e tecer; tudo mediado, em conjunto, pelas mãos e ferramentas.
23 O Fordismo é um modo de produção em massa elaborado por Henry Ford consistindo no aumento da produção que possibilita a baixa nos preços que, por sua vez, aumentam as vendas e ajudam o produto a se manter com preços baixos (Disponível em: <http://educacao.globo.com/geografia/assunto/industrializacao/fordismo.html>. Acesso em: 2 set. 2017).
24 Em alusão à teoria da evolução de Darwin que é um processo lento e gradual (Disponível em: <https://www.allaboutscience.org/portuguese/teoria-da-evolucao-de-darwin.htm>. Acesso em: 10 dez. 2017).
25 Não é permissível datar precisamente este fato, com efeito, considera-se que o ser humano revolucionou o meio em que vive a partir do momento que deixa de utilizar as mãos como explica Flusser (2015, p. 37): “somente com dificuldades conseguimos reconstruir a primeira Revolução Industrial, aquela em que ocorre a substituição da mão pela ferramenta”. Portanto, remeteria à Pré-história com o advento do machado de sílex (Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/as-ferramentas-na-pre-historia.htm>. Acesso em: 30 ago. 2017).
25
No movimento subsequente (2ª Revolução Industrial, por volta de 1820) as
máquinas a vapor impuseram uma nova logística26 (FLUSSER, 2015, p. 40) forçando a
arquitetura a submeter-se ao design das máquinas em todas as esferas (industrial,
comercial e residencial). Para o autor, idealizam-se agrupamentos de máquinas e
parques industriais que constituem locais próprios ao avanço da atividade industrial.
As máquinas produziam as peças dos aparatos, entretanto se imperava que os
trabalhadores as operassem, as abastecessem, montassem as peças, transportassem
os produtos acabados e os estocassem, depois de limpar a área de produção. Sem
contar nos diretores, gerentes e administradores fundamentais a gerir todo o processo
de fabricação. Doravante, os conhecimentos aplicados nas escolas voltam a instruir o
manejo, manutenção e construção de máquinas (FLUSSER, 2015, p.40-42).
Na 3ª Revolução, de acordo com Flusser, a dos aparelhos eletrônicos
(consistiriam de todos os artefatos que detêm uma placa com circuitos ou chip de
computador), o local físico perde importância, pois, se transportam os aparelhos
próximos aos operários (FLUSSER, 2015, p.41). Flusser (2015, p.38) menciona que:
“aparelhos eletrônicos podem ser também aplicações, teorias e hipóteses da
neurofisiologia e da biologia” ao basearem no mecanismo de funcionamento do corpo
humano, que foi modelo para grande parte das invenções, não com formas orgânicas
da natureza, contudo geometrizadas e sistematizadas. Os aparelhos eletrônicos se
convertem “em coisas as simulações cada vez mais perfeitas de informações genéticas,
herdadas” (FLUSSER, 2015, p.38). A relação ser humano aparelho torna-se mais
complexa e “ambos só podem funcionar conjuntamente” (FLUSSER, 2015, p.40). A
humanidade cria a tecnologia, mas se converge refém da mesma.
Anamaria de Moraes (1999, p. 159) adverte: “A revolução industrial, no
entanto, ao fazer dos operários simples executantes, (...) impede qualquer
possibilidade de enfoque criativo entre o homem e o objeto de seu trabalho”, como
26 Thomas Savery elaborou em 1698 a primeira máquina a vapor de interesse industrial, porém explodia constantemente. Por volta de 1712, o inglês Thomas Newcomen aperfeiçoou a máquina de Savery e em 1765 James Watt elaborou uma máquina com um condensador que minimizava as perdas de calor e continha movimento de rotação, tendo maior aplicabilidade (Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/~leila/vapor.htm>. Acesso em: 30 ago. 2017).
26
ocorre com um operário que produz uma peça e não questiona sua utilidade ou não
procura enxergar o todo.
Este inconveniente de existirem operários (evadidos a pensar e refletir suas
conjunturas) como se passassem por robôs27 (Figura 1) foi preenchida pelo movimento
que Flusser (2015, p. 43) previu e que processaria a 4ª revolução, a digital, que
promove a fusão entre os meios físico, digital e biológico. Flusser (2015, p. 42) indica
que a fábrica do futuro sucederia como escolas, na qual os artefatos ensinariam aos
indivíduos e haveria a descentralização das fábricas por meio de códigos genéticos dos
utensílios, partilhados digitalmente (via internet) e produzidos em laboratórios de
fabricação28. A robótica, cibernética e inteligência artificial consentem que artefatos
criados pela humanidade ganhem personalidade própria, executem tarefas complexas
sozinhos e se inter-relacionam socialmente e nos ensinem como executar tarefas.
Figura 1 - Robôs trabalhando na linha de montagem. Fonte: Reprodução/The New York Times.
27 Equivalentes no que ocorre nas indústrias automobilísticas, que mais beneficiam de robôs, nas quais os funcionários humanos apenas supervisionam. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/a-fabrica-do-futuro/>. Acesso em: 5 set. 2017.
28 Fab Labs.
27
A revolução digital, conforme Rossi29 (2016), subdivide em computacional,
biotecnologia e quântica. A parte computacional é verificada com a popularização da
internet no início de 1980 e a Web em 1990 (ANDERSON, 2012, p. 40). A combinação
do acesso a máquinas e ferramentas complexas e difusão da informação por meio da
internet tornou-se ilustre subsídio à instalação do movimento Maker. Este promove
que usuários comuns se conectem, em rede, e requeiram soluções de dificuldades
individuais ou coletivas, prescindivelmente sem dispor de conhecimento técnicos
específicos para a função.
A cultura Maker congrega três características tal qual discorre Anderson
(2012, p. 21): pessoas que utilizam ferramentas digitais para criar novos designs para
novos produtos e prototipá-los, conduta cultural de compartilhamento e o envio de
seus produtos criados para serviços de manufatura para produzi-los em qualquer
quantidade (ANDERSON, 2012, p. 21).
O movimento Maker conta com o expressivo número30 de participantes: em
2017 mais de 190 minifeiras Maker e mais de 30 feiras grandes ocorreram ao redor do
mundo. Os componentes do movimento se engajam na produção criativa de artefatos
e dividem digitalmente e fisicamente os processos de criação e execução entre a
comunidade Maker (HALVERSON, 2014, p. 496), que se detecta pela participação em
eventos da área, pela publicação de projetos na rede e pela utilização de Fab Labs.
A cultura Maker viabilizaria descentralizar a produção de artefatos das
fábricas e das grandes corporações ao cidadão comum pela justificativa de que
facilitaria a logística de entrega de mercadorias, isto é, a produção da peça pretendida
ocorre sem deslocamentos. A distribuição na rede de códigos abertos possibilitaria a
sua utilização para produzir objetos nas instalações de um Fab Lab ou no próprio local
29 Professor de Design da Unesp de Bauru.
30 Original: In 2017, over 190 independently-produced “Mini Maker Faires” plus over 30 larger-scale Featured Maker Faires will have taken place around the world, including Tokyo, Rome, Shenzhen, Taipei, Seoul, Paris, Berlin, Barcelona, Detroit, San Diego, Milwaukee, and Kansas City (Disponível em: <https://makerfaire.com/makerfairehistory/>. Acesso em: 3 set. 2017).
28
do consumidor-produtor31. Para Anderson (2012, p. 18) a questão considerável é quem
está produzindo as peças, pois, antes somente as fábricas detinham esta prerrogativa.
Conhecimentos de computação e informática são fundamentais ao processo
da revolução digital, para os Makers, tanto em softwares como hardwares. Os
computadores amplificam o potencial humano para desempenhar qualquer atividade
e criam infinitas oportunidades (ANDERSON, 2012, p. 14).
Figura 2 – Evento no MIT Media Lab em abril de 2012. Fonte: https://www.flickr.com/photos/mitmedialab/6965222400
Convivemos presentemente entre os mundos digital e físico, dos bits e dos
átomos. Basta refletir sobre o tempo gasto com redes sociais que o cidadão comum
utiliza. A avaliação sobre esta dualidade se originou de um grupo de pensadores do
MIT32 Media Lab (analisar Figura 2) com seu fundador Nicholas Negroponte. Os
conceitos de software e hardware ou tecnologia da informação (digital) e mundo
material, respectivamente, interagem com ampliação do número de artefatos
31 Referindo-se à dialética contemporânea em que o comprador torna-se produtor ou prestador de serviços alternadamente de modo randômico.
32 Massachusetts Institute of Technology - Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
29
cotidianos contendo eletrônicos e conectados com outros objetos (por meio da
tecnologia IoT33, ou seja, internet das coisas) (ANDERSON, 2012, p. 14). Os Fab Labs
consistem um tipo especial de makerspace que derivam do modelo urdido no Neil
Gershenfeld’s Center for Bits and Atoms34 que continham um mínimo de ferramentas
e equipamentos para fabricação digital35.
A autoprodução de aparatos, proposta pela cultura Maker, interviria na
cadeia produtiva de inúmeros nichos industriais, por exemplo. Simplifica-se o processo
de produção pelo uso de impressoras 3D e CNC36 (ver Figura 3) e a rede de Fab Labs
tem se expandido. Organizam-se a maioria das concepções a partir de plataformas
open design37 e que foram concebidos em softwares open source38 (código aberto),
sendo assim, permissível a alteração de ambos pelo usuário.
Figura 3 – CNC trabalhando. Fonte: https://www.thingiverse.com/thing:1750276
33 Internet of Things.
34 Pertencente ao MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
35 Os quais explicaremos mais detalhadamente no próximo capítulo.
36 Computer Numeric Control, espécie de torno digital para esculpir substratos de madeira, como o MDF ou outros componentes como resinas, aço, alumínio, etc.
37 Design aberto.
38 Código aberto, que é solidarizado na rede e consente alterar conforme imprescindibilidades pessoais de cada indivíduo.
30
Quando se tornarem viáveis as impressoras 3D mais ágeis e maiores,
assentir-se-iam agregá-las na produção de peças de mobiliário39 ou como sinaliza a
startup “Print the Future”40 que investirá em lojas descentralizadas, nas quais
englobar-se-ão impressoras 3D de larga escala que possibilitarão imprimir móveis
inteiros, sem nenhuma emenda, em resinas plásticas de alta densidade, conforme
informações obtidas no site da empresa. O controle das impressoras sucederá
mediado por AI41 (inteligência artificial), uma probabilidade de simplificar o manuseio
de softwares de desenho CAD42. O empreendimento promete flexibilizar a logística de
entrega da mercadoria pelo fato de desfrutar de lojas próximas ao cliente final.
Na sequência, esmiúçam-se alguns pontos relevantes que serviram de base
à cultura Maker: princípios de colaboração e design aberto. Aprofunda-se sobre as
práticas Maker e como frutificam materialmente os artefatos em variadas máquinas.
1.1 Colaborativismo
Chega-se a um ponto de convergência dos interesses individuais ao coletivo.
Preocupa-se com o meio ambiente, recicla-se mais, amplia-se o uso da criatividade e
crescem ações de trabalhos voluntários. Cidadãos estão se reunindo para trocar
“tempo, espaço, habilidades e dinheiro” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 62). A este
novo modo de vida se chama colaborativismo.
Das atuações colaborativas originou-se o design colaborativo ou design
participativo, no qual inúmeras pessoas em locais distintos colaboram uns com os
39 Atualmente as impressoras 3D comuns imprimem camada por camada em resina plástica em ritmo lento, além de dispor de dimensões reduzidas que permitem que se fabriquem pequenos apetrechos.
40 A startup iniciará com uma loja de aproximadamente 278,70 m² em Vancouver, Canadá, que abrigará espaço para discussões e workshops (Disponível em: <https://printthefuture.today/>. Acesso em: 19 jul. 2017).
41 Artificial Intelligence – Inteligência Artificial.
42 Computer-aided design que significa desenho auxiliado por computador.
31
outros na criação de um esboço. A criação se torna coletiva e reduz a individualidade.
“Num processo de co-creation, é o método indicado em atividades para as quais se
requisita a formação de uma equipe criativa multidisciplinar” (SAKURAI, 2012, p. 37).
Observam-se, despretensiosamente, estas ações em makerspaces e em Fab Labs,
ambientes propícios à colaboração e à sintonia de ideias e seus frequentadores estão
propensos a expandir atitudes altruístas. “A ascensão da criatividade como força
econômica ao longo das últimas décadas gerou novos modelos sociais e econômicos
que aliviaram a tensão até certo ponto, mas não a eliminaram completamente”
(FLORIDA, 2011, p.22). Para empresas que dependem da criatividade de seus
trabalhadores (agências de publicidade, escritórios de design, arquitetura, games,
mídias digitais etc.) o processo de criação é tão notável quanto o produto gerado.
Um fator que motiva as ações colaborativas é a prova social de que se trata
de “um instinto primitivo e de atalho cognitivo que nos permite tomar decisões com
base em copiar as ações ou os comportamentos dos outros” (BOTSMAN; ROGERS,
2011, p. 69). Processa-se quando se sente segurança a optar por escolhas com base na
consciência coletiva, ou seja, quando o indivíduo está inserido no grupo e pensa com
base nos interesses da coletividade, dentro das regras impostas pela sociedade.
Portanto, quanto mais participantes aderirem ao colaborativismo, mais o movimento
crescerá.
A inquietação e instabilidade da contemporaneidade possibilitou se
repensar o consumismo e como se procedem as trocas interpessoais e entre empresas,
e se apreendeu que subsistem outros paradigmas. De acordo com Botsman (2011, p.
xv): “o consumo colaborativo não é uma tendência de nicho, nem uma mudança
insignificante em reação à crise financeira global de 2008”, nota-se seu merecimento,
mas que não interfere substancialmente na economia.
“Os sistemas de serviços de produtos, os mercados de redistribuição e os
estilos de vida colaborativos estão relacionados com a desmaterialização” (BOTSMAN;
ROGERS, 2011, p. 156) pelo reuso de artefatos e implicam em uma comutação de
postura de cada indivíduo perante os atos de consumo, modificando os hábitos e
criando consciência coletiva.
32
O modo de vida e trabalho colaborativo provocariam soluções diferenciadas
tanto para produtos de design duráveis, usados e reutilizados, como para projetos de
espaços mais inteligentes e flexíveis que poderiam adequar-se facilmente a
abundantes tipologias.
Para se obter um grande ganho comunitário, é necessário resignação e abrir
mão de algumas conquistas individuais. Provavelmente no futuro “seremos definidos
pela reputação, pela comunidade e por aquilo que podemos acessar, pelo modo como
compartilhamos e pelo que doamos” (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. xviii).
Segundo Lipovetsky (2004, p. 29): “até os anos 1880, os produtos eram
anônimos, vendidos a granel, e as marcas nacionais, muito pouco numerosas”.
Coincidentemente, o movimento Maker propõe o retorno a este estilo de vida
colaborativo e orgânico, sem influência da mídia de massa e propondo multiplicidade
de escolha. No âmbito do colaborativismo, a cultura Maker impõe-se como uma
expectativa para atuação que propõe o desapego do direito de propriedade intelectual
de criações e sua distribuição por intermédio da rede.
Entretanto o propósito do colaborativismo no procedimento de reutilização
dos aparatos é influente na reestruturação do paradigma atual. Reflete-se que para
aproveitar melhor os recursos físicos seria relevante caso houvesse mini usinas de
reciclagem de componentes (plásticos, tecidos sintéticos, metais, etc.) nos
makerspaces. Constituiria, portanto, uma união da repair culture com cultura Maker, a
saber, uma crítica ao movimento Maker que se processa na produção de utensílios
sem precedentes, fato que contrabalançaria caso se reciclassem os itens dispensáveis
ou se tentassem consertar um artefato antes de produzir outro análogo. Se cultivasse
o reparo como valor social, permutando a forma como se pensa e se atua em relação
aos acontecimentos e como se porta diante das redes de colaboração, haveria suporte
logístico ao partilhamento de informações43.
43 Disponível em: <https://www.cultureofrepair.org>. Acesso em: 7 jan. 2018.
33
1.2 Open source e digitalização de objetos
Aliado às ações colaborativas observamos que “o conceito de abertura tem
abarcado diferentes campos do conhecimento, como a filosofia, a política, as artes, a
psicologia, as ciências naturais e a inovação, entre outros” (CABEZA, 2014, p. 57). Esta
ideologia migrou -se para a informática e em 1991 é criado o sistema operacional
aberto Linux pelo então estudante Linus Torvalds44. Este software foi um marco para o
conceito de open design e open source, design aberto e código aberto
respectivamente.
Figura 4 – Exemplo de página do portal Thingiverse. Fonte: https://www.thingiverse.com
Os programas de computador são escritos ou em linguagem de máquina
(código objeto em sistema binário) ou em programação (código-fonte, um sistema
alfanumérico que forma instruções do programador ao computador). O processador
44 Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/sistema-operacional/4228-a-historia-do-linux.htm>. Acesso em: 30 ago. 2017.
34
de um computador traduz código-fonte em código de máquina. Um software livre
portaria os códigos-fonte plausíveis de serem “conhecidos, estudados, utilizados
copiados, melhorados, redistribuídos e adaptados às necessidades de cada usuário”
(COSTA, 2011, p. 82-89). Este fato possibilitou que a cultura Maker encontrasse um
nicho seguro para prosperar e fossem criados sites de distribuição de apetrechos com
códigos abertos como o portal “Thingiverse” (Figura 4), sendo o principal portal que os
Makers utilizam para buscar, baixar e alterar itens.
Para arquitetar os projetos em softwares de modelagem 3D, observa-se o
uso do “Tinkercad”45 46 (veja Figura 5), da empresa desenvolvedora Autodesk. O
programa aposta na aprendizagem constante de maneira intuitiva com plataforma
amigável de fácil manuseio.
Figura 5 - Amostra de modelagem no software Tinkercad. Fonte: do autor.
Estes softwares tornam-se mais frequentes, além disso a cultura Maker
propõe que os usuários idealizem programação, de fluxo incessante, criando novidades
no setor, como novos aplicativos e a utilização da placa “Arduino”47 (uma plataforma
eletrônica de código aberto baseada em hardware e software fáceis de usar). O
45 Disponível em: <https://www.tinkercad.com/>. Acesso em: 29 ago. 2017.
46 Tinker significa funileiro, em inglês. Anderson (2012) se apropriou desta locução comparando os Makers aos funileiros por criarem aparatos com a próprias mãos (mesmo que eles façam usos de computadores, não deixa de tratar-se uma ferramenta).
47 Disponível em: <https://www.arduino.cc>. Acesso em: 2 set. 2017.
35
sistema conta com múltiplas tipologias de placas (Figura 6) extremamente
simplificadas, nas quais se consegue adquirir gratuitamente códigos de programação48
e customizar estes códigos recorrendo a softwares da companhia49.
Figura 6 – Variados tipos de placas de Arduino. Fonte: https://www.arduino.cc/en/Main/Products.
O emprego da placa “Arduino” permite aos Makers florescer uma infinidade
de planos com fartas aplicações: programação, eletrônica, robótica, internet das
coisas, automação, instrumentos musicais, experimentos científicos entre outras.
Consiste em um mini processador de dados aberto à programação dos usuários.
48 São elaboradas, por exemplo, desde coisas simples como movimentação de carrinhos de controle remoto à aplicação de sensores biométricos em vestuário com a finalidade de mapear as funções vitais de uma pessoa.
49 Arduino Create platform.
36
Outorgaria, assim, que qualquer pessoa utilizaria ou converteria o código da
criação. Esta ação deslocaria a produção de mercadorias de empresas ou indústrias ao
indivíduo comum. Trata-se de um simples ato que substituiria todas as cadeias
produtivas. Configuraria a contribuição do conceito de open design à cultura Maker.
1.3 Cultura Maker
Segundo Hatch (2014, p. 15): “Nascemos para criar”50 e as conquistas da
humanidade nutriram gênese criativa, envolvendo pesquisadores curiosos o suficiente
para desvendar as lacunas da ciência. “Construir é fundamental para o que significa ser
humano. Devemos construir, criar e nos expressar para nos sentirmos completos”51
(HATCH, 2014, p. 11).
“A cultura Maker tornou uma maneira de expressar o impulso criativo e
público”52 (HALVERSON, 2014, p. 495). Sintetiza um “movimento organizado,
estruturado a partir da noção de mínimos recursos e máxima partilha de ideias, de
projetos e de concepções” (SAMAGAIA, 2015, p. 2), sendo que os adeptos “produzem
seus próprios equipamentos, através do suporte oferecido pela rede colaborativa”
(SAMAGAIA, 2015, p. 3). Dividir conhecimento é atitude extremamente respeitável:
obtém-se “muita satisfação em construir coisas, mas a recompensa real é em
compartilhar”53 (HATCH, 2014, p. 15).
A geração web começou a se preocupar a dispor de coisas palpáveis e úteis
(ANDERSON, 2012 p. 18). Por mais que o mundo virtual permaneça mais complexo e
abastado de informações, se respeita a sensação de guardar itens físicos. Resgatam-se
50 Interpretação de: “We were born to make”.
51 Original: “Making is fundamental to what it means to be human. We must make, create, and express ourselves to feel whole”.
52 Livre tradução de: “Maker culture has become a way to express creative and communal drive”.
53 “We get a lot of satisfaction out of the making, but the real payoff is in sharing”.
37
memórias afetivas a utensílios antigos, que pertenceram à avó, por exemplo54
(REQUENA, 2014). Os aparatos trazem segurança aos indivíduos ao se acreditar que
pertencem a um local.
Nacionalmente há a unicidade da “inventividade que seria particular das
culturas do Brasil” (FONSECA, 2014, p. 12) como o “mutirão” (ação colaborativa e
mútua em prol da construção de casas populares de uma comunidade, que os próprios
moradores promovem à execução) e “gambiarra” (que une inventividade com
improviso, aplicando componentes alternativos) nas quais se “transforma a
precariedade em recurso criativo” (FONSECA, 2014, p. 12). O país passou por copiosos
momentos de crise em que a criatividade do brasileiro foi primordial para superá-los.
O aproveitamento máximo dos artefatos, limitou o consumo e incentivou o artesanato
nacional. Esta inventividade concedeu aos brasileiros o reconhecimento mundial pela
brasilidade como representam os móveis dos irmãos Campana55.
O denominador comum, na cultura Maker, se mantém na distribuição de
ideias, de tempo, de projetos e de métodos. O importante, neste caso, compete à
coletividade poder concretizar suas intenções pessoais e, eventualmente, sociais.
1.4 Materialização de objetos
As máquinas fundamentais à materialização de aparatos, nos Fab Labs,
consistem: cortadora a laser, cortadora de vinil, fresadora CNC de grande formato para
móveis e fresadora pequena para placas de circuitos, equipamentos eletrônicos
54 Refere-se ao que Guto Requena defende em manter utensílios com memórias afetivas nos lares quando ocorrem processos de reformas de ambientes (Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gutorequena/2014/01/1402596-objetos-com-memoria.shtml>. Acesso em: 6 set. 2017).
55 Disponível em: <https://artrianon.com/2016/12/07/irmaos-campana-levando-a-brasilidade-mundo-a-fora/>. Acesso em: 1 set. 2017.
38
básicos e impressora 3D (ANDERSON, 2012, p.46), ademais máquina de costura
doméstica (para complementos dos artefatos produzidos).
“Cortadoras laser são máquinas que permitem recortar ou fazer gravações
em diversos materiais - chapas de madeira, metal, acrílico ou outros materiais - a partir
de arquivos digitais” (FONSECA, 2014, p.60). Englobam as mais profusas aplicações
desde maquetes de faculdade, brinquedos, óculos ou roupas. Produzem rapidamente
itens com arremates ao término do processo (veja Figura 7).
Figura 7 – Cortadora a laser. Fonte: http://www.garagemfablab.com.br/maquinas/
A plotter de recorte ou cortadora de vinil (Figura 8) comete analogia a uma
impressora de jato de tinta, conquanto, no lugar da tinta há uma fina lâmina que
39
“permite cortar materiais como vinil, papéis, filmes do tipo transfers, certos tecidos e
adesivos de cobre usados na criação de circuitos impressos” (EYCHENNE; NEVES, 2013,
p.28).
A fresadora CNC de grandes dimensões consiste em um equipamento que
contém uma fresa na ponta que corta ou desbasta a madeira, utilizando programas de
CAD, nos quais se concebem planos de corte e, ordinariamente, recorre ao MDF em
decorrência de dispor relativa resistência e descomplicado manuseio. Certas máquinas
aceitam uma prancha inteira de MDF (2750 x 1840 x 15 mm)56, habitualmente
detectadas em comércio de produtos para marcenaria.
Figura 8 – Plotter de recorte. Fonte: http://fablablivresp.art.br/nossas-maquinas
Uma fresadora CNC de precisão (Figura 9) “é uma máquina por comando
numérico dotada de uma fresa em sua extremidade que se movimenta sobre três eixos
(X, Y e Z)” (EYCHENNE; NEVES, 2013, p.30). Aplicada, costumeiramente, em fabricação
56 Disponível em: < http://www.leomadeiras.com.br/Produtos/36992/mdf-branco-liso>, Acesso em: 20 dez. 2017.
40
de placas de circuitos pela técnica de subtração em um molde virgem de fibra de vidro
protegido com cobre57 que é removido pela fresadora de acordo com o desenho
desejado do circuito.
Figura 9 – Fresadora CNC de precisão para circuito impresso. Fonte: http://www.ttp.ind.br/
Dentre as ferramentas elétricas básicas58 estão: serra tico-tico, lixadeira
orbital, furadeira, parafusadeira, furadeira de bancada e micro retífica.
A máquina símbolo do movimento Maker compete à impressora 3D (Figura
10). Traduz, no imaginário popular, como sendo equipamento exclusivo presente nos
Fab Labs. Ela autoriza materializar de forma simples elementos complexos. Por este
motivo carrega o encargo de tratar de uma caixa mágica, que tudo é executável sem
pós-trabalho. Este maquinário “traduz um modelo tridimensional feito no computador
57 Produzem-se as placas de circuito impresso ou PCB (do inglês polychlorinated biphenyl) a partir de uma base não condutiva, como fenolite ou fibra de vidro e cobertas por uma camada de cobre, que é um excelente condutor. Durante a preparação da placa, todo o cobre, exceto aquele que implementará as conexões dos componentes, é retirado. Ou seja, é um processo subtrativo (Disponível em: <http://blog.fazedores.com/como-fazer-suas-proprias-pcbs-placas-de-circuito-impresso/>. Acesso em: 15 dez. 2017).
58 Fonte: http://fablablivresp.art.br/nossas-maquinas.
41
em um objeto do mundo real”59 (FONTICHIARO, 2012, p.90). Depois da impressão, é
imperativo realizar os arremates fundamentais do item produzido: cortar rebarbas,
cortar hastes de apoio60 e lixar, porém nem sempre se consegue o acabamento
desejado, isto é, depende do material utilizado e da geometria do aparato que deveria
planejar minimamente para não provocar erros de execução. Há basicamente três
tipos de impressoras 3D: FDM61 (Modelagem por Deposição de Material Fundido),
SLA62 (Estereolitografia) e SLS63 (Sinterização Seletiva a Laser).
Figura 10 - Impressoras 3D em ação no Fab Lab Galeria Olido no centro de São Paulo. Fonte: foto do autor.
A impressora 3D FDM corresponde tecnológica, eletrônica e mecanicamente
a sua ancestral jato de tinta, a diferença se refere ao líquido (resina plástica derretida,
59 Livre interpretação do original: “translate a three-dimensional computer model into a real-world object”.
60 Há situações em que a impressora se encarrega de acrescentar hastes para dar sustentação enquanto imprime, mas que não existiam originalmente no plano do item. Regularmente ocorre quando há partes suspensas (em balanço) do elemento.
61 Fused Deposition Modeling.
62 Stereolithography.
63 Selective Laser Sintering.
42
e não tinta) e ao acréscimo de um motor para controlar a altura (ANDERSON, 2012,
p.58). As mais comuns utilizam filamentos plásticos de PLA (Ácido Polilático64), ABS
(Acrilonitrila Butadieno Estireno65) e PETG (Politereftalato de Etileno Glicol66).
Presentemente, se concebe imprimir em quase qualquer material: comida67 (veja
Figura 11), vidro, metal, concreto (se permite construir casas impressas), grafeno68,
roupas e calçados 3D e futuramente órgãos e tecidos humanos.
Há pesquisa distendida pelo Instituto de Medicina Regenerativa Wake
Forest (Estados Unidos) para imprimir tecidos humanos69 a partir das próprias células
dos pacientes, evitando a chance de rejeição no momento do transplante. Atualmente
é factível efetivar um planejamento cirúrgico de alta qualidade imprimindo órgãos,
64 É um termoplástico biodegradável derivado de fontes renováveis como amido de milho, raízes de mandioca e de cana, à vista disto, constituiria a opção mais ecologicamente amigável. Indicado para produção de protótipos que não sejam submetidos às condições de esforços mecânicos, atritos ou altas temperaturas (Disponível em: <http://www.impressao3dfacil.com.br/conheca-os-diferentes-tipos-de-materiais-para-impressao-3d-fdm/>. Acesso em: 2 set. 2017).
65 É um termoplástico derivado do petróleo amplamente utilizado na indústria. Produz peças fortes, mas não tão dimensionalmente precisas, não produz os cantos tão acentuados e nem oferece tantos detalhes quanto o PLA (Disponível em: <http://www.impressao3dfacil.com.br/conheca-os-diferentes-tipos-de-materiais-para-impressao-3d-fdm/>. Acesso em: 2 set. 2017).
66 É um termoplástico derivado do petróleo, contudo reciclável assim como o PET. Produz peças tão resistentes a impactos quanto ao ABS, mas com flexibilidade e resistência ligeiramente superior a este (Disponível em: <http://www.impressao3dfacil.com.br/conheca-os-diferentes-tipos-de-materiais-para-impressao-3d-fdm/>. Acesso em: 2 set. 2017).
67 A empresa Food Ink é uma espécie de restaurante itinerante e já passou pela Espanha, Holanda e agora segue para o Reino Unido. Há impressoras capazes de criar doces e salgados, como homus, massa de pizza e até mousse de chocolate (Disponível em: <http://foodink.io>. Acesso em: 7 jan. 2018).
68 Leve, forte e excelente condutor de calor e eletricidade, o grafeno abrange inúmeras aplicações. Em 2017 pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology imprimiram um modelo de grafeno em 3D altamente preciso (Disponível em: <http://www.jornalciencia.com/grafeno-impresso-em-3d-por-cientistas-do-mit-e-10-vezes-mais-forte-do-que-o-aco/>. Acesso em: 4 set. 2017).
69 Mais informações: disponível em: <http://veja.abril.com.br/ciencia/cientistas-desenvolvem-impressora-3d-capaz-de-fabricar-tecidos-para-transplantes-em-humanos/>. Acesso em: 4 set. 2017.
43
estruturas ósseas e outras partes do corpo humano por intermédio de impressoras
3D70.
Figura 11 – Exemplo de comida sendo impressa. Fonte: http://foodink.io/gallery/
Uma desvantagem das impressoras 3D FDM consiste em operarem com
uma única cor, por conta de o filamento plástico ser monocromático, fato que foi
suprido recentemente pelo lançamento de uma impressora 3D totalmente colorida, ou
seja, que é uma síntese entre impressora 3D com impressora jato de tinta. Ela utiliza
filamento transparente e no momento da impressão cores são aplicadas no padrão
CMYK71 na superfície do elemento (Figura 12).
70 Disponível em: <http://veja.abril.com.br/tveja/em-pauta/impressora-3d-moldes-para-o-corpo-humano/>. Acesso em: 3 set. 2017.
71 Cyan, Magenta, Yellow and Black - ciano, magenta, amarelo e preto.
44
Figura 12 - Impressora XYZ Printing DaVinci Color. Fonte: http://makezine.com/2017/09/01/full-color-3d-printing-comes-desktop-davinci-color/
Outra tecnologia para impressoras 3D compete à estereolitografia (SLA) ou
produção líquida em superfície contínua (CLIP)72 que utiliza “projeção de luz digital,
ótica permeável ao oxigênio e resinas líquidas programáveis para produzir utensílios
com excelentes propriedades mecânicas, resolução e acabamento superficial”73 74
(CARBON 3D, 2017), observável na Figura 13.
72 Orginalmente: Continuous Interface Liquid Production.
73 Tradução para: “is a breakthrough process that uses digital light projection, oxygen permeable optics, and programmable liquid resins to produce parts with excellent mechanical properties, resolution, and surface finish” (Disponível em: <https://www.carbon3d.com/clip-process>. Acesso em: 28 ago. 2017).
74 A marca Carbon utiliza profusos componentes entre eles poliuretano flexível e material dentário (Disponível em: <https://www.carbon3d.com/clip-process>. Acesso em: 28 ago. 2017).
45
Figura 13 - Gráfico revelando o processo de impressora 3D CLIP. Fonte: https://www.carbon3d.com/clip-process
A peça emerge de um líquido mediante processos óticos e, segundo os
desenvolvedores, a máquina acelera mais que a impressora 3D por camadas e encerra
um acabamento mais acurado. Abrange muitas aplicações como produzir
componentes de vestuários ou solado único para calçados com propriedade flexíveis
(veja Figura 14).
A impressora 3D SLS consiste em dois equipamentos, um de abastecimento
de matérias primas que se utiliza de elementos recicláveis e outro no qual ocorre a
impressão voxel por voxel75. A operação sucede em duas etapas contínuas: através de
dispersão uma camada do material é aplicada na área de trabalho, e em seguida esta
camada é exposta à altas temperaturas por um dispositivo que provoca a fusão do
material, promovendo unicidade na peça final e acabamento superior. Esse processo
se repete ininterruptamente até o término da produção do objeto, camada por
camada. Um exemplo desta técnica de impressão é o modelo 3D Multi Jet Fusion do
75 Representa um valor de unidade em uma grade tridimensional assim como acontece com o pixel, mas com volume (Disponível em: <http://www8.hp.com/us/en/printers/3d-printers.html?jumpid=sc_ge3snmp6ha>. Acesso em: 3 set. 2017).
46
fabricante HP76 (Figura 15) que propõe programar as propriedades mecânicas que o
elemento final adquirirá, mediante o controle da duração de fusão. Idealiza-se o
maquinário em código aberto para que os próprios usuários possam criar novos
materiais. Por conseguinte, a tecnologia transcorre mais eficiente que as máquinas de
corte a laser e impressoras 3D por extrusão.
Figura 14 – Impressão de sola de tênis com impressora 3D CLIP. Fonte: https://www.carbon3d.com/stories/adidas
76 Tradicional fabricante de impressoras jato de tinta.
47
Figura 15 – Impressora HP Jet Fusion 3D. Fonte: http://www8.hp.com/us/en/printers/3d-printers.html?jumpid=sc_ge3snmp6ha.
Compreende-se que pelos modelos citados, em um futuro próximo, as
fábricas imensas seriam substituídas, em boa parte, por minicentros de manufaturas
organizados por startups ou microempreendedores. Isso possibilitaria uma mudança
na economia caso as indústrias entrassem em crise, ou por outro lado as próprias
indústrias seriam influenciadas a aderir à tecnologia de impressão digital. A
participação dos consumidores decorreria mais ativa, tanto na cocriação de novos
materiais como na decisão recíproca de novas aplicações que tendem à produção
colaborativa em escala global.
48
2 INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DOS FAB LABS
Antes de dissertar sobre os estudos de casos, é relevante explicar sobre
como a cultura Maker organiza o aparato tecnológico em espaços de
compartilhamento de ideias e profusão de técnicas chamados de: hackerspaces,
makerspaces ou Fab Labs. Dependendo do ponto de vista e da instituição
mantenedora se definem de uma maneira que, generalizando, são locais abertos a
indivíduos multidisciplinares para idealizarem, criarem e construírem artefatos a partir
da experimentação, aplicando técnicas de design thinking77.
Os hackerspaces se referem a uma espécie de local que reinventa “questões
de colaboração, produção e aprendizagem, articulando comunidades locais físicas e
uma rede global virtual” (MATTOS, 2014, p. 25), ou seja, que referencia e valoriza a
aquisição de conhecimento na prática.
Os makerspaces “podem realmente ser qualquer lugar no qual as pessoas se
reúnem para criar e participar de projetos de faça-você-mesmo, que vão desde a
criação de eletrônicos até desenvolver softwares para projetar suas próprias roupas”78
(FONTICHIARO, 2012, p.90). Há populações múltiplas que comungam do mesmo
espaço e eventualmente das mesmas expectativas, como médicos, designers,
advogados, engenheiros, estudantes etc.
A locução Fab Lab foi concebida pelo Centro de Bits e Átomos (CBA) do MIT,
como um meio de divulgação educacional que forma uma rede de laboratórios
mundialmente conectada. Esta rede abrange trinta países pelo mundo e é
administrada pela organização sem fins lucrativos Fab Foundation79 criada em 2009.
77 Uma tradução viável significaria “pensar em design”, ou em outras palavras, pensar, externar, planejar num processo criativo de retroalimentação. O autor mais conceituado é Tim Brown com a obra “Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias”.
78 Originalmente: “Can really be any place where people gather to create and participate in do-it-yourself projects, ranging from creating electronics to writing software to designing their own clothing”.
79 Disponível em: <http://fabfoundation.org/index.html>. Acesso em: 5 set. 2017.
49
“Ele se destina aos empreendedores que querem passar mais rapidamente da fase do
conceito ao protótipo” (EYCHENNE; NEVES, 2013, p.30). Os locais pesquisados
cotidianamente se apropriam da expressão Fab Lab, mesmo se adequando a outra
classificação.
“Fab Labs coloca o foco de aprendizagem em princípios de engenharia,
robótica e design”80 (HALVERSON, 2014, p. 499). Nestes locais uma infinidade de
ferramentas e maquinário especiais podem ser encontrados. A Figura 16 revela um
laboratório de fabricação digital básico, no qual se mostram, da esquerda para a
direita: bancada de eletrônica, CNC de grandes dimensões, ferramentas manuais,
computadores e softwares, scanner 3D, impressoras 3D, cortadora a laser, cortadora
de vinil, máquina de costura e materiais variados. Nos Fab Labs populares os
frequentadores precisam levar os componentes com os quais trabalharão como os
filamentos plásticos para usar nas impressoras 3D, reservando previamente os
instrumentos que utilizarão. Nos laboratórios privados há comercialização tanto pelo
uso do espaço e máquinas como pela matéria prima.
Figura 16 – Exemplo de equipamentos existentes num Fab Lab básico. Fonte: http://www.3dfactory.com.br/3dnews/fab-lab-faca-voce-mesmo-1
80 Tradução livre de: “Fab Labs place the learning focus on principles of engineering, robotics, and design”.
50
Desta maneira são criados agrupamentos de aprendizes, educadores,
tecnólogos, pesquisadores, Makers e inovadores. Na cidade de São Paulo há seis
unidades vinculadas à organização Fab Foundation81: Fab Lab Escola Sesi SP, Fab Lab
SP, Garagem Fab Lab, Insper Fab Lab, Mirante Fab Lab e Porto Fab Lab.
A rede pública Fab Lab Livre SP (Figura 17) é uma exceção, mantida pela
prefeitura de São Paulo. Oferece cursos com a finalidade de fomentar novos planos
pessoais ou coletivos a qualquer interessado, basta entrar em contanto com uma
unidade mais próxima e se atentar aos horários e às regras de convivência e de uso da
equipagem. Os cidadãos devem levar os materiais que irão utilizar. Nos locais há
instrutores, mas como em todo makerspace, o objetivo compete estimular a criação a
partir da experimentação.
Figura 17 – Localização da rede pública Fab Lab Livre SP. Fonte: http://fablablivresp.art.br/onde-tem
Os hackerspaces e os Fab Labs denotam locais específicos para praticar e
experimentar ações criativas que despontariam inovações tecnológicas, contudo
81 Dado retirado do site Fab Foundation (Disponível em < https://www.fablabs.io/labs/map>. Acesso em 12 de novembro de 2017).
51
parece utópico pensar que ações dispersas possam revolucionar o sistema produtivo
(FONSECA, 2014 p.55).
ESTUDOS DE CASOS
Em seguida, se exibem as principais características de quatro Fab Labs
selecionados (em ordem cronológica nos quais ocorreram as entrevistas) em que
foram aplicados o mesmo questionário aos responsáveis das instituições. Conquanto,
houve sutis alterações durante o andamento das conversações. Exprimem, a princípio,
o levantamento de dados e posteriormente o comentário das respostas dadas às
questões. Foram visitados: Fab Lab Livre SP, Garagem Fab Lab, Porto Fab Lab e Fab Lab
SP. Todos dispõem um open day aberto à população em geral. Constatou-se que nos
Fab Labs, com exceção ao da USP, havia pouca movimentação de participantes.
Foi estabelecido o seguinte questionário, aplicado similarmente aos
dirigentes ou responsáveis pelos quatro laboratórios:
a) Qual o propósito dos projetos executados pelos usuários (uso próprio,
comercial ou outro)?
b) Dentre os objetos produzidos, quantos, em porcentagem, foram
desenvolvidos inteiramente no Fab Lab, ou seja, que o processo criativo
ocorreu durante a utilização das instalações ou durante os cursos?
c) Qual a porcentagem de criações individuais e em grupos?
d) Dos projetos em grupos, quantos, em porcentagem, foram compostos de
grupos que já havia sua formação completa antes do laboratório e
quantos grupos foram criados espontaneamente ou por intermédio dos
técnicos dentro das instalações do laboratório?
e) Estimula-se o compartilhamento de ideias e processos entre os
frequentadores?
f) Quantos, em porcentagem, dos projetos possuem âmbito social?
52
2.1 Fab Lab Livre SP
Dados técnicos:
Categoria
Público municipal (prefeitura de São Paulo)
Data de inauguração
17/12/2015 (primeira unidade da rede)
Entrevistado
Diego Gonçalves do Prado.
Técnico de laboratório.
(não foi exequível encontrar informação de bibliografia sobre o técnico)
Data da entrevista
16/10/2017
Total de projetos
Seiscentas propostas (toda a rede conta com doze laboratórios)
Espaço físico
82,00 m². Acessível com rampas.
Localização
Centro Cultural Olido
Avenida São João, 473 – República – São Paulo – SP (Figura 18).
Website
http://fablablivresp.art.br/
53
Trata-se um portal que compreende todos os doze laboratórios da rede
municipal, contendo localização, informações de acesso, relação de equipamentos e
cursos disponíveis por unidade. Recomenda-se que o interessado se inscreva no site e
preencha um formulário com os dados do seu esboço.
Figura 18 – Entorno Fab Lab Livre SP. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br
Máquinas
Impressora 3D FDM Sethi3D Modelo Shethi Ex;
Cortadora laser de Grande Formato ECNC Modelo L1060;
Mini Fresadora Gois Robótica Modelo CNC G-Forte;
Serra Tico-Tico DEWALT Modelo DW300;
Lixadeira Orbital DEWALT Modelo DWE6411;
Furadeira / Parafusadeira à Bateria DEWALT Modelo DCD700;
Micro Retífica Dremel 3000 Modelo 3000-N/10;
Máquina de Costura Doméstica Sun Special Modelo SS-988
54
Softwares usados
Abertos e de desenho digital com CAD.
Quantos funcionários/ instrutores/ colaboradores
35 técnicos para as doze unidades dos Fab Lab Livre SP, que se alternam
entre as unidades. Constituem funcionários da ITS Brasil82, empresa terceirizada que
presta serviço à prefeitura de São Paulo.
Doze cidadãos envolvidos em funções administrativas (da ITS Brasil).
Cursos oferecidos:
Marcenaria básica;
Inkscape com corte a laser;
Práticas de eletrônica;
Modelagem e Impressão 3D (começando do zero);
Modelagem de Silicone;
Oficina: Clube de Arduino (ministrada pela Garoa Hacker Club);
Programação Criativa com Processing;
Pingentes e Acessórios.
Formas de uso
Segunda a sexta das 9:00 às 18:00
Sábado das 9:00 às13:00
Domingo fechado
A idade mínima para uso das oficinas limita a dez anos.
Usuários
Público diversificado, sendo a maioria adultos, autodidatas, masculino,
acadêmicos em geral, desde professores até alunos de graduação, pós-graduação e
mestrado.
82 Disponível em: <http://fablablivresp.art.br/o-que-e/equipe-its>. Acesso em: 2 jan. 2018.
55
Raio de abrangência
Atende escolas do entorno, moradores da região e população flutuante do
centro.
Escolas: Escola de dança de São Paulo, Colégio INACI & Faculdade FINACI,
SENAC83, INSEMA - Instituto Educacional VI de Maio, Colégio Técnico Santa Maria
Goretti, Escola Santos Dumont.
Centros Culturais: SESC84 24 de Maio, Praça das Artes, Centro Cultural
Correios, Teatro Municipal de São Paulo.
Entrevista:
Esta entrevista ocorreu no Fab Lab que há no interior do centro cultural
Galeria Olido85, um complexo multicultural localizado no centro de São Paulo,
satisfatoriamente servido de transporte coletivo como duas estações de metrô
(República e São Bento) num raio de quatrocentos metros e fartas linhas de ônibus (34
linhas). Há aproximadamente seis escolas privadas próximas, bibliotecas e centro
culturais.
O espaço (uma vitrine de vidro voltada ao corredor interno da galeria)
abriga um balcão de recepção à entrada com exemplos de itens produzidos pelo
laboratório e, em seguida sem divisórias, há duas grandes mesas para trabalhos
regulares sendo o local da marcenaria, rodeadas por: CNC, cortadora a laser e
numerosas ferramentas manuais.
Na sala ao lado (igualmente exposta à galeria por vidro fixo) estão os
computadores, impressoras 3D PLA, caixas com fios elétricos, circuitos e placas
Arduino. Neste ambiente se promovem cursos que mesclam tecnologia digital e
práticas manuais.
83 Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
84 Serviço Social do Comércio.
85 A Galeria Olido passou a funcionar como um centro cultural em setembro de 2004, após reformas. Além de cinema, o local conta com duas salas dedicadas à dança, dois andares expositivos, o Centro de Memória do Circo, um ponto de leitura e um telecentro (Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/galeria_olido/espacos/>. Acesso em: 20 dez. 2017).
56
Figura 19 – Exemplos de produção do Fab Lab Livre SP com os sistemas de encaixe. Fonte: https://www.instagram.com/p/BUxsarggJP_/?taken-by=fablablivresp
Todos os móveis e caixas organizadoras foram executados no local,
utilizando CNC e corte a laser, com destaque ao sistema de fixação por encaixe dos
mobiliários (Figura 19).
A entrevista sucedeu em uma segunda-feira, dia de manutenção, em torno
de uma das mesas da marcenaria. Não haviam outros participantes. O entrevistado foi
o técnico de laboratório Diego Gonçalves do Prado, funcionário (assim como os demais
técnicos) do ITS Brasil (Instituto de Tecnologia Social), que presta serviço à prefeitura
57
de São Paulo e administra da rede Fab Lab Livre SP, que contém doze laboratórios
distribuídos pela cidade de São Paulo (veja Figura 17 neste mesmo capítulo).
Diego relatou que além dos 35 técnicos (que se alternam entre as unidades)
que ministram as oficinas dos laboratórios existem colaboradores (que se envolvem
com as oficinas e auxiliam, voluntariamente, os outros participantes). Não há um
número exato de colaboradores em decorrência da inconstância da participação deles.
Ele destacou que há alguns cursos fixos na grade e oficinas itinerantes que passam
pelas unidades da rede, sendo indispensável se inscrever no site antes de acompanhar
uma aula em um dos locais da rede.
Curiosamente, comentou sobre a procura de usuários para coworking86 nas
dependências do laboratório, embora que não se admite esta prática devido à
restrição tanto de espaço físico como de agenda de uso.
A população habitual que se constata, em geral, são: autodidatas,
universitários (professores e alunos da graduação, pós-graduação e mestrado),
residentes e estudantes das escolas das imediações. Autoriza-se qualquer interessado,
sem restrição (exceto pela idade mínima de dez anos), a usufruir da infraestrutura dos
laboratórios, sendo essencial cadastrar a intenção no site do Fab Lab e aguardar
orientações de uso e horários, entretanto “pode usar a qualquer momento desde que
não interfira em alguma atividade que esteja acontecendo no laboratório”, como
explicou o entrevistado. A maioria das propostas decorre de uso próprio dos
frequentadores e ocasionalmente há aplicações para uso comercial.
Setenta por cento (420) dos trabalhos, de um total de seiscentos de toda
rede Fab Lab Livre SP constituem-se de projetos universitários de média duração e são
executados em grupos. Sendo que cinquenta por cento (trezentos casos) destes são
autorais e a outra metade partilhada na rede, a partir do momento que se registra no
site, e se torna aberta e colaborativa aos indivíduos. A formação de grupos
86 O sistema de coworking outorga a autônomos trabalharem em ambientes estimulantes, nos quais viabiliza construir networking com cidadãos de áreas profusas e dispor toda a estrutura para receber seus clientes com um custo menor do que tivesse ao alugar uma sala comercial (Disponível em: <https://coworkingbrasil.org/como-funciona-coworking/>. Acesso em: 7 jan. 2018).
58
espontâneos é facilitada em oficinas de média e longa duração, por conta do convívio
das pessoas no qual se solidariza conhecimento e se estimula intercâmbio de ideias e
processos.
Reverencia-se o caráter social da iniciativa em alguns exemplos como:
doação de próteses dentárias fabricadas nas impressoras 3D; um caso de uma
frequentadora com movimentação limitada que efetivou e executou, ela própria,
próteses para seu ofício de confeitaria (distribuídas abertamente) e auxílio a alunos da
rede municipal e estadual pela cooperação de ONGs87.
A inovação e o empreendedorismo são estimulados no espaço e Diego
Prado conclui que “o laboratório é feito para criar coisas que são benéficas, e não o
contrário a isso”.
2.2 Garagem Fab Lab
Dados técnicos:
Categoria
Início: Privado
Atualmente: associação sem fins lucrativos (Associação Garagem Fab Lab)
Data de inauguração
19/09/2013
Entrevistado
André Guerreiro Junior
Diretor comercial do Garagem Fab Lab.
Sócio Diretor na empresa Micron Technology Corp Ltda.
87 Organizações não governamentais.
59
Engenheiro eletrônico, especialista em hardware e semicondutores, atuou
na indústria eletrônica e de TI hardware por trinta anos.
Data da entrevista
25/10/2017
Total de projetos
88 unidades
Espaço físico
100,00 m². Sem acessibilidade (contém três pavimentos sem rampas e sem
elevadores).
Localização
Rua Dr. Ribeiro de Almeida, 166 – Barra Funda, São Paulo – SP (Figura 20).
Website
http://www.garagemfablab.com.br/
O site do Garagem Fab Lab conserva uma aba contando o histórico da
criação dos Fab Labs e seus princípios, nomes de sua equipe multidisciplinar, horários
de funcionamento, informações de contato, relação de aparatos e cursos. São expostas
algumas propostas em destaque e empresas parceiras.
60
Figura 20 - Entorno Garagem Fab Lab. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br
Máquinas
Impressora 3D Machine Air (área 200 x 200 x 150 mm);
Cortadora a laser Duplotech 1080 (área 1000 x 800 mm);
Fresadora CNC iModela pequeno formato (86 x 55 mm);
Fresadora CNC MechMate grande formato (1830 x 3000 x 100 mm)
Softwares usados
Repetier (impressora 3D);
Modela Player 4 CAM (fresadora CNC pequeno);
Arduino;
SketchUp;
Rhinoceros;
Fusion 360.
61
Quantos funcionários/ instrutores/ colaboradores
Dois instrutores;
Dois estagiários;
Sete pessoas envolvidas em funções administrativas
Cursos oferecidos
Introdução a CNC;
Iniciação ao Corte a laser;
Impressão 3D na Prática.
Formas de uso
Segunda à sexta: das 14:00 às 18:00
Open Day: quarta, das 14:00 às 18:00
Usuários
Universitários, majoritariamente masculinos, dos dezenove aos 35 anos.
Raio de abrangência
Região metropolitana de São Paulo, interior e outros estados e escolas da
região.
Escolas: Instituto de Educação José de Paiva Netto, CEI88 Indir Bom Retiro,
EMEI89 Antônio Figueiredo Amaral, Faculdade Impacta Tecnologia.
Centro Cultural: Centro de Memória Senac São Paulo.
Entrevista:
Respeita-se historicamente este Fab Lab: diz respeito ao primeiro
laboratório privado implantado na cidade de São Paulo. Seu endereço inaugural se
localizava na sobreloja do edifício Viadutos, no centro, próximo à Câmara de
88 Centro Educacional Infantil.
89 Escola Municipal de Educação Infantil.
62
Vereadores. Atualmente está situado no bairro da Barra Funda, no qual predominam
instalações industriais com ruas estreitas de pouco movimento de pedestres. Detém
quatro escolas próximas e um centro cultural. O local figura distante de estações de
metrô e trem, mas há catorze linhas de ônibus no entorno.
Constitui-se de um edifício de três pavimentos, portas e janelas fechadas,
com uma discreta placa enunciando “oficinalab”90, que é uma escola de marcenaria
que ocupa o térreo e compartilha uma máquina CNC de grandes dimensões com o
Garagem, que apesar do nome ocupa os andares superiores. O acesso ocorre por uma
longa escadaria com reduzida largura, que dificulta o fluxo de diversos indivíduos
simultaneamente e impossibilita o acesso a pessoas cadeirantes.
Saindo do primeiro lance de escada, no primeiro pavimento, há uma espécie
de hall com uma estante na parede, que abriga alguns artefatos executados no
laboratório (Figura 21), todavia não há balcão de informações ou cartazes. O
pavimento permanece compartimentado em três salas pequenas que são mobiliadas,
cada uma, de acordo com funções específicas: impressoras 3D, cortadora a laser e
mesas de trabalho (uma dedicada à estagiária que presta às funções administrativa e
financeira e outra mesa para reuniões, no qual ocorreu a entrevista). Há mais outro
andar, acima, com mais espaço de trabalho.
O fundador do Fab Lab foi Eduardo Lopes91, porém ele não participa mais da
diretoria. O entrevistado foi André Guerreiro, diretor comercial e oriundo da indústria
eletrônica, especializado em áudio e vídeo. A diretoria compõe de membros de uma
associação sem fins lucrativos que administra o local e não dispõem de salários. Ele exibiu
as instalações do laboratório e da marcenaria e comentou que toda mobília foi
executada por eles.
90 É escola, no qual os alunos aprendem a criar, executar e ao final levam um apetrecho para casa, equivalente a coworking, espaço de permanência e troca para os Makers de todas as áreas (Disponível em: <www.oficinalab.com.br/sobre.php>. Acesso em: 28 dez. 2017).
91 Em 2013 fundou o Garagem Fab Lab e desde março de 2016 é COO do Olabi, laboratórios de fabricação digital pertencentes a rede mundial iniciada pelo MIT (Disponível em: <https://www.linkedin.com/in/eilopes/>. Acesso em: 28 dez. 2017).
63
Figura 21 – Estante com objetos produzidos no Garagem Fab Lab. Fonte: do autor.
O entrevistado citou os momentos primordiais da cultura de DIY nos Estados
Unidos e frisou que Maker trabalha colaborativamente e utiliza todos recursos da
internet.
O laboratório conta com abrangência nacional pelo fato de atuarem há um
período maior. Utilizam o espaço universitários para se prototiparem trabalhos e
microempreendedores, que não desfrutariam acesso à produção industrial por se
tratar de ínfimas quantidades (menor que cem unidades). Aplicam softwares livres, de
64
CAD e CAM (Manufatura auxiliada por Computador)92. Eles comercializam o uso das
máquinas e defendem o empreendedorismo, com efeito, parcela do público constitui
de microempresários.
O processo criativo ocorreu dentro das instalações do Fab Lab em cinquenta
por cento (44) dos artigos gerados, como por exemplo, caixa de som portátil feita em
MDF, pinball mecânico de madeira e elástico (Figura 22), vending machine de madeira
(uma réplica em miniatura de uma máquina automática de vender bebidas) e outros.
Figura 22 – Mesa de pinball produzida no Garagem Fab Lab. Fonte: do autor
92 Computer Aided Manufacturing.
65
Andre Guerreiro articulou que “o objetivo do Garagem Fab Lab é disseminar
a tecnologia ao alcance de todos” e que as vantagens da cultura Maker sintetizam na
experimentação e prototipação imediatas.
Destacou que sessenta por cento (53) dos esquemas executados foram
concebidos em grupo, sendo que trinta por cento (26) se formaram espontaneamente
nas dependências. Retém parceria com IED (Istituto Europeo di Design) e os alunos
prototipam suas ideias no recinto.
Estimula-se o compartilhamento de ideias entre os frequentadores,
interagindo e indicando quem seria apto a colaborar num determinado plano. Desfruta
intenção de captar empresas que financiem ações em prol da coletividade, numa
estratégia futura. Alertou que as empresas se assustam sobre o mito da impressora 3D
“como se fosse uma caixinha mágica, e não é”, pois, há considerável número de
defeitos provocados pelo processo de fabricação e a necessidade de dispor um nível de
conhecimento apurado. Ao processar uma peça muito esbelta, por exemplo, na
impressora 3D corre-se o risco de se obter um produto frágil que acaba se rompendo.
Aconselha-se que se faça curso referente às máquinas antes de confeccionar o
produto.
O diretor comercial relatou que trinta por cento (26) do total de propostas
executadas pelos laboratórios constituem de âmbito social. Exemplificou com o evento
BioHack Academy, que foi uma parceria com Waag Society93, Instituto de arte, ciência
e tecnologia, com sede em Amsterdam, cujo objetivo foi produzir em dez
semanas máquinas essenciais e montar uma biofábrica pessoal94. Outra amostra se
refere ao caso de uma empresa que adotou uma casa que acolhe adolescentes
abandonados e os padrinhos, juntamente com as crianças envolvidas, idealizaram o
mobiliário para sala de equipamentos e brinquedoteca deles.
93 Disponível em: <http://waag.org/en/project/biohack-academy-biofactory>. Acesso em: 02 jan. 2018.
94 Disponível em: <http://www.garagemfablab.com.br/portfolio/biohack-academy-2015/>. Acesso em: 2 jan. 2018.
66
2.3 Porto Fab Lab
Dados técnicos:
Categoria
Privado (mantenedor Instituto Porto Seguro)
Data de inauguração
12/05/2016
Total de projetos
26 itens
Entrevistada
Juliana Harrison Henno
Coordenadora Porto Fab Lab
Designer com habilitação em programação visual e pesquisadora na área de
arte, design e mídias digitais. Graduada em Desenho Industrial pela FAAP95. Mestre em
Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). Doutora em Artes
Visuais pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP).
Graduada em 2017 pelo Fab Academy96. Membro da Rede Fab Lab Brasil97.
Data da entrevista
10/11/2017
Espaço físico
40,00 m².
95 Fundação Armando Álvares Penteado.
96 Disponível em: <http://fabacademy.org>. Acesso em: 2 jan. 2018.
97 Disponível em: <http://redefablabbrasil.org/>. Acesso em: 2 jan. 2018.
67
Possui rampas de acesso.
Localização
Espaço Cultural Porto Seguro
Alameda Barão de Piracicaba, 610 (Figura 23)
Campos Elíseos - São Paulo – SP
Figura 23 - Entorno Porto Fab Lab. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br
Website
https://www.fablabs.io/labs/portofablab
http://www.espacoculturalportoseguro.com.br/portofablab.html
Foram fornecidos dois sites. O primeiro, tange à organização internacional e
desvela mais informações, contudo está em inglês. Há relação das máquinas, do
quadro de funcionários, dados de contato e horários de funcionamento. O segundo
endereço eletrônico sintetiza, na verdade, uma aba do Espaço Cultural Porto Seguro
que apenas explica seu propósito e exibe as informações de acesso.
68
Máquinas
Cortadora a laser;
Fresadora CNC de precisão Modela MDX 40A;
Plotter cortadora de vinil;
Impressora 3D FDM;
Impressora 3D SLA;
Scanner 3D;
Ferramentas manuais;
Eletrônicos básicos.
Softwares usados
Softwares abertos e de modelagem 2D e 3D.
Quantos funcionários/ instrutores/ colaboradores
Dois instrutores.
Uma coordenadora.
Cursos oferecidos
Orientação de projetos;
Estêncil paramétrico;
Fabricação digital;
Cortadores de biscoito (para crianças).
Formas de uso
terças a sábados, das 10:00 às 19:00
domingos e feriados, das 10:00 às 17:00
Open Day: sextas das 10:00 às 19:00
PortoFabKids: atividades esporádicas com programação variada
69
Usuários
Usufruidores do Espaço Cultural Porto Seguro, habitantes da região e
estudantes, de todas as idades, até mesmo crianças.
Raio de abrangência
Região metropolitana de São Paulo, interior, outros estados e escolas da
região.
Escolas: Fatec98 Sebrae99, E.E.100 Conselheiro Antônio Prado, Etec101 Doutora
Maria Augusta Saraiva, CEI Campos Elíseos, Escola Particular Dino Bueno, E.E. João
Kopke, Escola de Negócios Sebrae, Colégio Boni Consilii, Liceu Coração de Jesus, Centro
de Referência em Educação Mario Covas, Escola Senai102 de Informática.
Centros culturais: Espaço Cultural Porto Seguro, EMESP103 Tom Jobim,
Complexo Cultural Funarte SP, Sala São Paulo, Oficina Cultural Metropolitana, Sesc
Bom Retiro.
Entrevista:
É o Fab Lab mais recentemente inaugurado entre os pesquisados
(inaugurado em 2016) e se localiza no subsolo do Espaço Cultural Porto Seguro, que
promove manifestações artísticas multidisciplinares e abriga local para exposições,
ateliê experimental (que trabalha com gravuras) e o Fab Lab propriamente dito. O
edifício de aproximadamente dez metros de altura, de arquitetura contemporânea,
utiliza tantos constituintes nos acabamentos como concreto, madeira, vidro e metais
cromados e se destaca na vizinhança. Pertence ao complexo de prédios, que há no
bairro, da seguradora Porto Seguro, que mantem o Espaço Cultural e as outras
98 Faculdade de Tecnologia de São Paulo.
99 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
100 Escola Estadual.
101 Escola Técnica Estadual.
102 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
103 Escola de Música do Estado de São Paulo.
70
atividades. Quase a totalidade das construções da região são residências, comércio
local e barracões industriais, raramente com mais de três andares. Engloba onze
escolas, seis centros culturais e 26 linhas de ônibus nas adjacências, todavia estações
de trem e metrô estão distantes.
O Porto Fab Lab está entre dois sítios herdeiros de problemáticas sociais
históricas e relacionadas com as linhas férreas da CPTM104: nas imediações da estação
Júlio Prestes, há dependentes químicos que ocupam ruas e praças e a Favela do
Moinho sob o viaduto Orlando Murgel que carrega um imbróglio judicial da posse do
terreno que pertencia ao antigo moinho Fluminense.
O acesso ao laboratório, que se situa no pavimento inferior, permeia-se por
uma pequena praça entre o centro cultural e um edifício de vidro espelhado da Porto
Seguro por meio de escada ou rampa (que permanece bloqueada até que alguma
pessoa com carências especiais solicitar seu uso). Chega-se a um amplo ambiente
protegido das intempéries, no qual são expostas as atividades geradas pelo Fab Lab e
Ateliê Experimental. A compartimentação se processa por divisórias de vidro que se
aproximam das vigas, deixando um vão de ventilação entre as vigas e a laje de
concreto. Assim se cria uma caixa de vidro que deixa à mostra o que está acontecendo
internamente. A entrada aos ambientes se dá por uma abertura na divisória de vidro
(Figura 24).
Consiste em dois ambientes separados: o primeiro que se adentra pertence
ao Fab Lab com 40,00 m² e, aos fundos, um salão menor referente ao Ateliê
Experimental que trabalha múltiplas linguagens gráficas como xilogravura, gravura em
metal, carimbos e cianotipia105. As máquinas do Fab Lab contornam o perímetro do
salão e ao centro há uma mesa com notebooks dos técnicos e na qual ocorreu a
entrevista.
104 Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
105 A Cianotipia é uma técnica de impressão do século XIX que utiliza uma mistura de substancias químicas (usadas em diferentes concentrações para a obtenção tonalidades e contrastes diferentes), e da sua consequente exposição a uma fonte UV, para criar imagens em tons de azul impressas em suportes diferentes dos habituais (Disponível em: <http://imagerie.imagerieonline.com/processos-alternativos/cianotipia/>. Acesso em: 5 jan. 2018).
71
Figura 24 – Entrada do Porto Fab Lab. Fonte: https://www.fablabs.io/labs/portofablab
Quem ofereceu a entrevista foi a coordenadora do Fab Lab Juliana Henno,
formada em Design e doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes
(ECA-USP). Graduada em 2017 pelo Fab Academy e membro da Rede Fab Lab Brasil. A
conversação sucedeu com adição de comentários do instrutor técnico Vinícius Juliani.
São três funcionários no total: dois instrutores e a coordenadora e são prestadores de
serviço ao Instituto Porto Seguro que funciona recorrendo a financiamentos e
incentivos à cultura. O Instituto Porto Seguro mantém o Complexo Cultural Porto
Seguro106, um espaço multiuso que compreende: sede da Porto Seguro, Teatro Porto
Seguro, restaurante e Espaço Cultural Porto Seguro.
O local não detém um registro dos usuários e a entrevistada comentou que
o perfil dos frequentadores constitui-se de interessados em trabalhar com artes
híbridas, devido ao Ateliê Experimental que permite mixar processos artesanais e
106 Disponível em: <http://espacoculturalportoseguro.com.br/complexo-cultural/index.html>. Acesso em: 5 jan. 2018.
72
digitais, do Fab Lab, (Figura 25). Participam moradores da região e estudantes, de todas
as idades, inclusive crianças que são atraídas pelo evento esporádico PortoFabKids ou
por visitas guiadas de escolas em dias livres.
Figura 25 – Exemplo de matriz de xilogravura produzida com auxílio de corte a laser. Fonte: http://cultcultura.com.br/arte-e-entretenimento/artesvisuais/arte-e-foco-dos-projetos-do-
porto-fab-lab/
Segundo os entrevistados, a instituição abrange a região metropolitana de
São Paulo, interior e outros estados. Atende as escolas da região.
Não autoriza o propósito comercial, ainda assim, apoia o processo criativo e
consente ao responsável do produto arquitetar o protótipo e futuramente incluir um
destino lucrativo.
Oitenta por cento (21 unidades) das propostas executadas detinham o
processo criativo florescido dentro do laboratório. Há poucos exemplos de criações em
grupo. Foram citados somente dois casos, um deles envolveu o grupo de artistas que
compõe a exposição em cartaz no Espaço Cultural, que produziram parcialmente as
obras expostas, e o outro foi uma feira de publicações independentes, chamada Tinta
Fresca. Trabalham com parceiros do Espaço Cultural da Porto Seguro.
Sobre a formação de grupos espontâneos foi informado que não se percebe
esta ocorrência. Atenta-se, contudo, que há contaminação de ideias entre os
73
indivíduos, ou seja, um cidadão acaba influenciando o plano do outro, sendo que há
mais frequência disto suceder nos dias livres, em que há maior volume de
participantes.
Instiga-se o partilhamento de ideias e processos e segundo Juliana Henno “é
essa a intencionalidade, o fato de ter pessoas de várias áreas com uma busca na parte
da criação”.
Foi comentado que houve casos de projetos com âmbito social, como por
exemplo, um grupo de estudantes de Design que criaram uma série de cartazes com a
técnica estêncil para um festival que a Missão Paz, vinculada à Igreja Nossa Senhora da
Paz no Glicério, promoveu a refugiados estrangeiros. O Instituto Porto trabalha com as
crianças da comunidade do Moinho aplicando atividades dirigidas a elas.
A coordenadora acrescentou que o Porto Fab Lab consiste no único
laboratório da cidade de São Paulo em que há uma coordenação com o diploma do
Fab Academy e que passou por uma seleção rigorosa para participar da rede
internacional como: obter aval de três laboratórios influentes desta rede, concordar
em ocorrer interdisciplinaridade e dispor um dia livre.
2.4 Fab Lab SP
Dados técnicos:
Categoria
Institucional (USP)
Data de inauguração
06/12/2011
Total de projetos
116
74
Entrevistado
Prof. Dr. Paulo Eduardo Fonseca de Campos
Coordenador Fab Lab SP.
Professor Livre-Docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAUUSP). Coordena o Grupo de Pesquisa DIGI-FAB107.
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Campinas108 (1981). Mestre em
Engenharia de Construção Civil e Urbana pela Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (1989). Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP (2002). Foi
superintendente do Comitê Brasileiro da Construção Civil (CB-02) da ABNT 109(2012-
2015). Atuou no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-
H) do Ministério das Cidades, no qual foi membro do Comitê Nacional de
Desenvolvimento Tecnológico da Habitação (CTECH). Diretor Técnico da Associação
Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) (Biênio 2003-2004).
Consultor internacional em tecnologia para habitação do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) (2006). Coordenador internacional do Projeto de
Pesquisa MicroCAD110 do Programa Ibero-americano de Cooperação CYTED111 (2008-
2013). Membro correspondente do Grupo de Trabalho sobre Pré-fabricação da FIB,
Fédération Internationale du Béton.
Data da entrevista
16/11/2017 (via Skype)
Espaço físico
35,00 m².
Contém rampa.
107 Tecnologias digitais de fabricação aplicadas à produção do Design e Arquitetura Contemporâneos.
108 Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
109 Associação Brasileira de Normas Técnicas.
110 Microconcreto de Alto Desempenho para o Desenvolvimento da Pré-Fabricação Leve.
111 Ciencia y Tecnología para el Desarrollo.
75
Localização
Prédio do LAME112 da FAUUSP.
USP - Universidade de São Paulo.
Rua do Lago, 876 – Butantã (ver Figura 26)
Website
http://digifab.fau.usp.br/
O site traz informações sobre o Fab Lab, o grupo de pesquisa DIGI-FAB e o
LAME. Há uma relação de equipamentos do laboratório, regras de utilização e
informações de contato. Não há cursos nem propostas executadas.
Figura 26 - Entorno Fab Lab SP. Fonte: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br
Máquinas
Cortadora a laser Legend 36EXT Epilog 120W;
Fresadora CNC de 3 eixos;
112 Laboratório de Modelos e Ensaios da FAUUSP.
76
Impressora 3D Cubex;
Impressora 3D RapMan 31;
Modela CNC Roland MDX 40 A;
Plotter de recorte a laser.
Softwares usados
Livres;
SketchUp;
Grasshopper;
RhinoCAM;
AutoCAD.
Quantos funcionários/ instrutores/ colaboradores
Cinco técnicos;
Um coordenador.
Cursos oferecidos
Não há.
Formas de uso
Dedicado aos estudantes da FAU e da USP prioritariamente.
Open Day: às quartas das 9:30 às 12:00.
Usuários
Estudantes da FAU e pesquisadores da pós-graduação, iniciação científica,
iniciação tecnológica e trabalhos de extensão.
Atividades circunstanciais direcionadas à crianças e adolescente e
habitantes da região.
77
Raio de abrangência
Estudantes da USP e residentes da região.
Apoio à implementação de laboratórios populares no país.
Ademais da USP, há escolas: Escola Estadual Alberto Torres e CEU113 Jaguaré
Professor Henrique Gamba.
Entrevista:
Este laboratório de fabricação digital foi o primeiro114 introduzido no Brasil
vinculado à rede mundial Fab Lab. Atualmente funciona como uma plataforma de
apoio ao ensino e pesquisa, primordialmente aos alunos de graduação e pós-
graduação dos cursos de Arquitetura, Design, Artes, Física e Engenharia115.
Localiza-se dentro do Laboratório de Modelos e Ensaios (LAME), ao lado do
edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAUUSP), uma construção
de aproximadamente nove metros de altura com formato triangular no centro do
campus da USP, no bairro do Butantã.
A estação de metrô mais próxima consiste na Butantã e a de trem a
Pinheiros. Há nove linhas de ônibus que atendem o local. Como a cidade universitária é
extensa, em comparação à escala urbana dos demais laboratórios desta pesquisa, o
raio de abrangência de dissipadores culturais é excepcional, não obstante, se constata
que há uma escola e um centro cultural na vizinhança que caracteriza pela
predominância de residências.
Não há recepção na entrada e imediatamente há uma rampa que dá acesso
ao piso do laboratório, que se concentra no subsolo. Assenta-se em um espaço amplo,
sendo que a maior área destina à marcenaria, que estabelece separadas por paredes
de alvenaria, sem teto, de acordo com a função desempenhada e ao centro há
bancadas de madeira. As máquinas do Fab Lab ocupam a parcela abaixo do mezanino
113 Centro Educacional Unificado.
114 Disponível em: <http://www5.usp.br/4837/tecnologia-de-fabricacao-digital-concretiza-ideias-de-arquitetos-e-designers/>. Acesso em: 5 jan. 2018.
115 Disponível em: <http://digifab.fau.usp.br/>. Acesso em: 20 jul. 2017.
78
e delimitada por vidros transparentes. Admitem-se os usuários em ambos os espaços.
Há salas de apoio para guardar ferramentas manuais e para funções administrativas.
Técnicos auxiliam os frequentadores e zelam pelo funcionamento das máquinas.
Foi entrevistado, via Skype, o coordenador do Fab Lab SP e professor do
curso de Arquitetura e Urbanismo da USP, Dr. Paulo Eduardo Fonseca de Campos,
graduado em Arquitetura e Urbanismo, mestre em Engenharia de Construção Civil e
Urbana pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, doutor em Arquitetura e
Urbanismo pela USP e coordenador do Grupo de Pesquisa DIGI-FAB. Pelo contexto
político em que se insere, o professor se porta como servidor estatal defendendo a
questão pública. Não se trata de conduta do laboratório conservar controle dos
participantes e nem dos projetos executados. A abordagem da entrevista foi crítica.
Há cinco técnicos distribuídos ao longo do dia. O laboratório é voltado aos
alunos da graduação da FAU ou de outros cursos da USP com o intuito de pesquisa da
pós-graduação, iniciação científica, iniciação tecnológica e trabalhos de conclusão e
extensão. A população utiliza-o, sem taxa, somente sob a condição de ser um
pressuposto de interesse da comunidade e que os resultados se sucedam abertos. Há
dias que elaboram atividades voltadas a crianças e adolescentes.
O propósito da maioria das criações decorre de pesquisa acadêmica (alunos
da FAU e da USP), até mesmo a Juliana Henno, que hoje coordena o Porto Fab Lab116,
frequentava o laboratório e foi aluna do professor entrevistado. Consente a leigos e
empreendedores submeterem suas intenções e utilizar o laboratório com a condição
que o resultado seja dividido e se transforme em tecnologia de livre acesso. Houve a
colaboração com a exposição Zaha Hadid que ocorreu no Instituto Tomie Ohtake em
São Paulo.
Alguns projetos de extensão (da universidade) compreende alcance social
como, por exemplo, o plano de calçadas drenantes (Figura 27 e Figura 28), para
infraestrutura na várzea do Tietê em áreas de ocupação que existem no Jardim
116 Terceiro Fab Lab analisado na pesquisa.
79
Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, local que ostenta alagamentos recorrentes117.
Propõe a união de fabricação digital com técnica leve de concreto de alto
desempenho. A população e os agentes comunitários acompanham o andamento do
planejamento e recebem treinamento para depois replicar o que está sendo urdido na
vizinhança.
Citou outro trabalho orientado à prótese de baixo custo, que foi escopo de
estudo de um aluno do professor com parceria com o Fab Politec, da Politécnica de
São Petersburgo.
Figura 27 – Molde produzido em fabricação digital para o projeto Calçadas Drenantes da FAUUSP. Fonte: https://zlvortice.wordpress.com/2017/10/01/testes-no-fablab-sp-fauusp/
117 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1854099-jardim-pantanal-na-zona-leste-de-sp-tem-ruas-alagadas-ha-duas-semanas.shtml>. Acesso em: 5 jan. 2018.
80
Figura 28 – Corte esquemático do projeto de extensão Calçadas Drenantes da FAUUSP. Fonte: https://zlvortice.wordpress.com/2016/03/10/canteiro-fablab-usp/
Apoiaram a concepção de laboratórios pelo país, principalmente de
instituições públicas, como por exemplo, a rede Fab Lab Livre SP em São Paulo118 e
conjuntamente deram suporte ao primeiro laboratório independente que foi o
Garagem Fab Lab119. Mantém cooperação com o laboratório DFL120 (Digital Fabrication
Laboratory) da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, que encerram um
viés com a robótica.
O ambiente do Fab Lab propicia a formação de redes de grupos que se
aglutinam e formam outros grupos. “As relações vão sendo criadas muito
rapidamente”, comentou Paulo Fonseca e complementa que “a rede tem que ser
fundamentada no multi-interesse”. A sintonia de ideias e processos permanece
constante.
118 Primeiro Fab Lab analisado na pesquisa.
119 Segundo Fab Lab analisado na pesquisa.
120 Digital Fabrication Laboratory.
81
3 ANÁLISE DE CASOS
Neste capítulo se analisa os dados obtidos dos Fab Labs pesquisados, de
forma comparativa. Inicialmente, se avalia a localização geográfica dos laboratórios; na
sequência, os dados técnicos, para que foi elaborada a Tabela 1; posteriormente são
analisados os cursos e eventos oferecidos pelos Fab Labs; após são consideradas as
respostas ao questionário (Tabela 2); na sequência se delibera sobre a significância dos
laboratórios e a real interferência econômica e política na sociedade e suas
perspectivas e, por último, as considerações críticas que o professor Paulo Fonseca, da
USP, apontou durante o processo de coleta de informações para análise, que
configuraram como um alerta sobre o campo de atuação e reflexão sobre os Fab Labs
quanto indicaram novas possibilidades críticas sobre essas práticas.
3.1 Análise da localização
Antes de analisar os dados coletados, observa-se que a localização implica
na relevância da abrangência da atuação de cada Fab Lab selecionado, todos na cidade
de São Paulo. Essa questão não é de menor importância, já que a localização na cidade
implica, e determina, os públicos que acessam os aparelhos, mas também configuram
uma ambiência em termos de relações com outros agentes no entorno, criando
facilidades e dificuldades não apenas físicas, mas simbólicas. O Fab Lab Livre SP (A)
situa-se na Avenida São João, 473, no bairro da República. O Garagem Fab Lab (B) fica
na Rua Doutor Ribeiro de Almeida, 166, na Barra Funda. O Porto Fab Lab (C) localiza-se
na Alameda Barão de Piracicaba, 610, Campos Elíseos. E, o Fab Lab SP (D) está na Rua
do Lago, 876, Butantã, dentro da USP Cidade Universitária. Essas localizações já
habilitam ou desabilitam determinadas frequências e, mesmo, premissas de ativação
desses espaços, como exemplo um espaço mais ao centro da cidade aparentemente
82
seria convidativo para um público mais geral e um espaço dentro da Cidade
Universitária já impõe uma perspectiva acadêmica ou minimamente de pesquisa.
Elaborou-se mapas comparativos (Figura 29 e Figura 30), na mesma escala
gráfica, no qual cada laboratório está destacado conforme a legenda. Observa-se que o
Fab Lab Livre SP (A) é o mais servido em diversidade de transportes que sugere maior
oferta de públicos oriundos de toda região metropolitana. Essa é outra questão
imposta pela localização: suas possibilidades de acesso ou dificuldades impostas aos
frequentadores. São Paulo é uma metrópole imensa e com ampla circulação da
população, que a cruza para trabalhar, divertir e descansar. Essa movimentação é
impactada também pelas possibilidades financeiras desses habitantes e claro, pela
disponibilidade de tempo social exigida para esses deslocamentos.
O Porto Fab Lab (C) possui influência na região por estar imerso às unidades
educacionais e está próximo ao terminal de ônibus Santa Isabel.
O Fab Lab SP (D) fica isolado dentro do campus da USP Cidade Universitária,
fato que percebe-se pela ausência de equipamentos de transporte e educação.
Ao analisar os aspectos favoráveis de mobilidade, observa-se nesta ordem:
Fab Lab Livre SP (A), Porto Fab Lab (C), Garagem Fab Lab (B) e Fab Lab SP (D).
83
Figura 29 – Fab Lab Livre SP (A) e Garagem Fab Lab (B). Fonte: www.geosampa.prefeitura.sp.gov.br
84
Figura 30 – Porto Fab Lab (C) e Fab Lab SP (D). Fonte: www.geosampa.prefeitura.sp.gov.br
85
3.2 Análise de dados técnicos
Como premissa da constituição dos Fab Labs está implicada a relação em
rede que é a própria definição desse tipo de relação e agenciamento. Isso é claramente
verificável na constituição e menos nas práticas dos Fab Labs estudados. Existe uma
espécie de genealogia entre os equipamentos, e principalmente um contato
permanente entre seus colaboradores, ainda que pouco se verifica em termos de
trabalhos compartilhados.
Considera-se que o Fab Lab SP, pertencente à USP, é o laboratório matriz
aos demais criados, seja ou por sua influência acadêmica que a universidade emana ou
por sua iniciativa de vanguarda ao principiar no país se afiliando à rede mundial Fab
Foundation, do MIT, em 2011. Possui acessibilidade e consiste sendo o menor em área
(35,00 m²), se cogitar o local em que exclusivamente as máquinas de manufatura
digital se encontram, contudo se fosse agregada a área do laboratório LAME
(maquinário de marcenaria e mesas de trabalho) amplificaria três vezes mais.
O Garagem Fab Lab foi o segundo estabelecido em São Paulo (em 2013) e
está em sua sede nova, que angariou recursos para reforma do local por meio de
financiamento coletivo121. A obra não contemplou as questões de acessibilidade
(rampas e elevadores), pois, é acessado exclusivamente por escadas. Detém a maior
área (100,00 m²) dos laboratórios analisados e compete a uma associação que não visa
lucro.
O terceiro que foi criado, em 2015, o Fab Lab Livre SP pertence a uma rede
municipal de doze laboratórios e é mantido pela prefeitura de São Paulo, com recursos
municipais. Permanece disponível ao uso a qualquer cidadão, todavia,
excepcionalmente, se omite à rede Fab Foundation. Retém área de 82,00 m² e se
revela totalmente acessível.
121 Disponível em: <https://www.catarse.me/garagemfablab>. Acesso em: 5 jan. 2018.
86
Tabela de dados técnicos
Fab Lab Livre SP Garagem Fab Lab Porto Fab Lab Fab Lab SP
Categoria Público municipal Privado Privado Institucional
Entidade Prefeitura de São
Paulo
Associação Garagem Fab Lab
Centro Cultural Porto Seguro
USP
Início 17/12/2015 19/09/2013 12/05/2016 06/12/2011
Área 82,00 m² 100,00 m² 40,00 m² 35,00 m²
Bairro República Barra Funda Campos Elíseos Butantã
Acessível Sim Não Sim Sim
Máquinas
Impressora 3D; Cortadora laser; CNC de precisão;
Micro Retífica; Máquina de Costura
Impressora 3D; Cortadora a laser; CNC de precisão;
CNC grande
Impressora 3D; Impressora 3D SLA; Cortadora a laser; Cortadora de vinil; CNC de precisão;
Scanner 3D
Impressora 3D; Cortadora a laser; Cortadora de vinil; CNC de precisão;
CNC grande
Softwares Softwares abertos de desenho digital
com CAD
Softwares abertos; SketchUp; Repetier;
Modela CAM; Arduino; Fusion 360
Softwares abertos de modelagem 2D e
3D
Softwares abertos; AutoCAD; SketchUp;
RhinoCAM; Grasshopper
Funcion. 35 técnicos/ 12
unidades; 12 admin. 2 instrutores; 2
estagiários; 7 admin. 2 instrutores;
1 coordenadora 5 técnicos;
1 coordenador
Cursos
Modelagem e Impressão 3D;
Inkscape com corte a laser; Marcenaria básica; Eletrônica;
Modelagem de Silicone; Arduino;
Programação Criativa e Pingentes
Impressão 3D na Prática; Iniciação ao
Corte a laser; Introdução a CNC
Cortadores de biscoito (para crianças com
impressora 3D); Fabricação digital;
Orientação de projetos;
Estêncil paramétrico
Não há
Usuários
Universitários de graduação, pós-
graduação e mestrado, adultos,
autodidatas, masculinos
Universitários, majoritariamente
masculinos, dos 19 aos 35 anos
Público do Espaço Cultural Porto
Seguro, residentes da região e
estudantes, de todas as idades e
crianças
Universitários de graduação, pós-
graduação, iniciação científica e extensão,
comunidade da região
Abrangência
Escolas do entorno, moradores da
região e população flutuante do centro
Região metropolitana de
São Paulo, interior e outros estados e escolas da região
Região metropolitana de
São Paulo, interior, outros estados e escolas da região
Estudantes da USP e habitantes da
região. Apoio à criação de
laboratórios públicos no país
Escolas 6 4 11 2
C. Culturais 4 1 6 0
Metrô 2 0 0 1
Trem 0 0 0 1
Ônibus 34 14 26 9
Tabela 1 – Tabela comparativa de dados técnicos dos Fab Labs visitados. Fonte: do autor.
87
O laboratório mais recente dentre os analisados (inaugurado em 2016),
Porto Fab Lab, é sustentado pelo Instituto Porto Seguro que recebe recursos por
financiamentos e incentivos à cultura e comercializa assessoria técnica e uso da
equipagem, sendo considerada empresa privada. Dispõe 40,00 m² de área, é acessado
por rampa e permanece dentro das normas de segurança e acessibilidade.
Nota-se que todos os laboratórios atendem as escolas do entorno, embora
no da USP há a particularidade de servir de suporte às disciplinas do curso de
Arquitetura e Urbanismo. Não foi informado pelo entrevistado se o Fab Lab da
prefeitura abrangeria a outras cidades e estados, uma possibilidade a este fato seria a
insuficiência da divulgação, que aparentemente é estritamente local, e por não estar
associado à rede mundial, sendo que nos demais há considerável alcance nacional e
regional.
Em relação à cultura e educação, o da Porto Seguro descortina a maior
expressão numérica com onze escolas e seis centros culturais próximos. O Fab Lab SP
guarda o menor número, porém ele se situa inserido dentro da universidade de São
Paulo, que se trata de um campus de grandes proporções e com inúmeras faculdades,
circunstância que o ressalva de conferência com os demais laboratórios.
Quanto aos sistemas de transportes, o laboratório da Galeria Olido, na
República, é o mais servido com duas estações de metrô e 34 linhas de ônibus nas
proximidades, sendo que o da Barra Funda encerra apenas catorze linhas de ônibus e
não conta com acesso a estações de metrô e trem ao redor.
A maioria possui uma média de dois técnicos ou instrutores por laboratório,
exceto o do Butantã que há cinco funcionários. Em relação ao laboratório municipal,
considera-se uma média de dois a três funcionários (35 técnicos para doze
laboratórios), sendo administrado por empresa terceirizada. Ademais, os instrutores e
técnicos do Garagem Fab Lab doam seus tempos ao ministrar cursos e auxiliar os
frequentadores.
Em todos os locais analisados há três máquinas em comum: Impressora 3D
FDM, Cortadora laser e CNC de precisão, que se constituem os equipamentos básicos
de um laboratório desta categoria. O proprietário da maior variedade de máquinas,
88
apesar do exíguo espaço físico, pertence ao Porto Fab Lab, com mais três além das
mencionadas: Impressora 3D SLA (estereolitografia), Cortadora de vinil e Scanner 3D. E
o Fab Lab Livre SP se ocupa o único em que há máquina de costura doméstica.
Cursos de impressão 3D são comuns a três laboratórios, sendo que o
institucional não oferece cursos. O municipal apresenta a maior gama de cursos que
segundo o entrevistado transcorre alternados entre as unidades espalhadas pela
cidade. A vocação do da Porto Seguro se traduz relacionado às artes, pelo
compartilhamento com o Ateliê Experimental.
Percebe-se que em todos os pesquisados há aplicação de softwares livres de
modelagem 2D e 3D e a predominância de adultos masculinos, que se constituem de
estudantes, sendo que em três são citados como universitários (de graduação e pós-
graduação). No Porto Fab Lab não há restrição de idade ao uso do espaço e eles
possuem oficinas dedicas às crianças.
3.3 Análise de cursos oferecidos e divulgação
Um fator relevante quanto à presença social dos laboratórios é a divulgação
de seus cursos e eventos, principalmente pelos sites e mídias específicas, porém nem
todos dos laboratórios analisado possuem esta preocupação, como é o caso do Fab
Lab SP, por conta de sua característica acadêmica, não há qualquer divulgação de sua
produção e não oferece cursos abertos à comunidade.
O site do Fab Lab Livre SP, traz um buscador (Figura 31) no qual pode-se
selecionar cursos em qualquer laboratório pertencente à rede municipal. Os cursos são
sazonais e há grande procura por serem totalmente gratuitos. Na unidade pesquisada
são ofertados os seguintes cursos, por exemplo: Modelagem e Impressão 3D:
Introdução com FreeCAD; Ateliê de Marcenaria: Construção de Mobiliário; Jovens BT;
Ateliê Arte e Tecnologia; Grupo de Estudos: Clube do Arduino; Usinagem CNC:
Introdução Inkscape; entre outros.
89
Figura 31 – Exemplos de cursos ofertados no site do Fab Lab Livre SP. Fonte: http://fablablivresp.art.br/cursos/por-fablab?og_group_ref_target_id=74&title=
Um outro laboratório que mantém uma gama de cursos considerável é o
Porto Fab Lab (Figura 32). A maioria dos cursos tem aderência artística pela
proximidade ao ateliê de artes gráfica que é conjugado fisicamente ao espaço do Fab
Lab. Entre os cursos disponíveis destacam-se: Orientação de projetos; Vivências
gráficas; Construção Tridimensional com corte a laser; Experiências e capturas;
Imagens atravessadas e outros. A diferença aos laboratórios municipais, estes cursos
possuem um custo monetário.
90
Figura 32 – Exemplo de cursos oferecidos pelo Porto Fab Lab. Fonte: http://www.espacoculturalportoseguro.com.br/programacao-em-cartaz.html
O Garagem Fab Lab mantém alguns cursos (Figura 33) oferecidos aos seus
frequentadores como os seguintes: Impressão 3D na prática; Introdução ao corte a
laser; Acessórios criativos com corte a laser; Ateliê aberto; entre outros.
Figura 33 – Site com os cursos disponíveis do Garagem Fab Lab. Fonte: http://www.garagemfablab.com.br/cursos/
91
Quanto aos eventos promovidos pelos laboratórios, destacam-se: “SP Maker
Week” (Figura 34), promovida pelo Fab Lab Livre SP para divulgação da tecnologia
digital, sendo gratuito e “Tinta Fresca” (Figura 35), organizado pelo Espaço Cultural
Porto Seguro, mantenedor do Porto Fab Lab, que dissemina a cultura e tecnologia por
meio de oficinas gratuitas. Estes eventos citados possuem frequência anual e divulgam
as atividades dos laboratórios entre a população.
Figura 34 – Evento SP Maker Week. Fonte: http://www.facebook.com/pg/spmakerweek/posts/?ref=page_internal
92
Figura 35 – Cartaz da última edição do evento Tinta Fresca. Fonte: http://www.espacoculturalportoseguro.com.br/programacao/realizados/2018/tinta-fresca-
maio2018.html
O Garagem Fab Lab participou do “III The Wrong – New Digital Art Biennale”
(Figura 36) que evidenciou a influência que as novas tecnologias exercem sobre a arte
e ocorreram atividades multidisciplinares com base na experimentação. Durante este
evento ocorreram oficinas práticas, residência artística “Homeostase” e exposição
artística derivada da residência artística e foi realizado pelo Ministério da Cultura.
Nota-se que todos, exceto o Fab Lab SP, dos laboratórios analisados,
possuem agenda de eventos com objetivo de divulgar tecnologia e angariar mais
frequentadores. Este isolamento do Fab Lab SP pode-se ser explicado pelo caráter
institucional mais voltado à pesquisa e apoio às atividades disciplinares da FAU-USP.
93
Figura 36 – Divulgação do III The Wrong New Digital Art Biennale em mídia social. Fonte: https://www.facebook.com/TheWrongSP/
3.4 Análise das respostas
A seguir, é elaborada a análise das respostas dos Fab Labs ao questionário
apresentado no capítulo Estudo de Casos. Para facilitar o entendimento foi
esquematizada a Tabela 2. As quantidades de projetos em números estão em
parênteses.
A primeira questão que foi concebida se refere à finalidade das propostas
executadas e o uso próprio foi apontado como o mais recorrente. No Porto Fab Lab é
94
vetado o uso das máquinas comercialmente, tolera-se, no máximo, a experimentação
criativa e a prototipagem de empreendedores, mas a produção em série deve ser
executada em outro local. No da USP, consente-se o uso comercial com a condição de
compartilhar os resultados abertamente à coletividade.
O próximo assunto foi se o processo criativo incidiu dentro das instalações
do laboratório: o municipal (trezentos) e o Garagem (44) responderam que cinquenta
por cento ocorreram desta maneira. E oitenta por cento (21) das concepções da Porto
Seguro aconteceram dentro do laboratório, este alto índice incube que a maioria dos
participantes utilizam o serviço de orientação de projeto. Não foi viável levantar este
dado no Fab Lab da USP.
Tabela das respostas dos entrevistados
Fab Lab Livre SP Garagem Fab Lab Porto Fab Lab Fab Lab SP
Propósito dos projetos
A maioria decorre uso próprio e
alguns comercial
Uso próprio (trabalhos de faculdade) e
comercial (microempreende
dores)
Uso próprio, a maioria artes
híbridas (mixar processos
artesanais e digitais)
A maioria uso próprio (pesquisa
acadêmica) e empreendedores
(dividir resultados)
Processo criativo indoor
50 % do processo criativo ocorreu
dentro do Fab Lab (300)
50 % do processo criativo ocorreu
dentro do Fab Lab (44)
80 % do processo criativo ocorreu
dentro do Fab Lab (21)
Não respondido
Projetos individuais e em grupos
70% em grupos (420)
60% em grupo (48)
90 % individual (23)
Não respondido
Grupos espontâneos
Facilitada em oficinas de média e
longa duração
30% se formam espontaneamente nas dependências
(26)
Não há ocorrências
Propicia a formação de redes
de grupos
Compartilhamento de ideias
Sim Sim Sim Sim
Âmbito social
Doação de próteses dentárias e auxílio de alunos da rede pública por
ONGs
30% do total executados pelos laboratórios são de âmbito social
(26)
Trabalha com as crianças da
comunidade do Moinho
Prótese de baixo custo e calçadas
drenantes em áreas de ocupação
do Tietê
Total de projetos 600 88 26 116
Tabela 2 – Tabela comparativa das respostas dos entrevistados. Fonte: do autor.
95
Em relação às criações individuais ou em grupo, o Fab Lab Livre SP e o
Garagem Fab Lab mostram uma expressiva resposta, setenta por cento (420) e
sessenta por cento (48), respectivamente, em situações delineadas em grupos.
Opostamente o laboratório dos Campos Elísios ostenta a marca de noventa por cento
(23) de propósitos pessoais, enquanto o do Butantã não respondeu esta questão.
As respostas mais divergentes foram relacionadas à formação de grupos
espontâneos: no mantido pela prefeitura se percebeu que este evento ocorre em
oficinas de média e longa duração; no da Barra Funda divulgou-se a taxa de trinta por
cento (26); no institucional foi comentado que o local propicia a formação de redes e
de grupos e no Porto Fab Lab não há ocorrências.
Quanto ao compartilhamento de ideias, é unânime a afirmação entre todos
os entrevistados e este é o intuito de um laboratório de fabricação digital. Sobre o
âmbito social dos Fab Labs, obteve-se resposta em porcentagem em um caso, que foi o
Garagem Fab Lab que afirmou que trinta por cento (26) das propostas contêm este
caráter. Nos outros laboratórios foram elencados alguns projetos sociais pontuais e se
conclui que não perfazem número abundante. O da prefeitura e o da USP relataram
dois exemplos, cada um. O Porto Fab Lab divulgou que trabalha com as crianças da
comunidade Moinho localizada próxima ao local.
3.5 Análise política e social dos Fab Labs
Nota-se que, em geral, os Fab Labs não dispõem de uma vocação social
significativa, ainda que se proponham a isto. Percebe-se que a manifestação social se
conserva apenas na teoria, como pré-requisito para adentrar à rede Fab Foundation122.
Externa pouca participação efetiva nas questões coletivas, como se atenta nos poucos
122 “A Fundação trabalha para reunir e fornecer dados de avaliação crítica, bem como fornece ferramentas para rastrear o impacto de Fab Labs em contextos educacionais, empresariais e sociais” (Disponível em: <http://www.fabfoundation.org/index.php/about-fab-foundation/index.html>. Acesso em: 7 jan. 2018).
96
exemplos citados pelo Fab Lab Livre SP e mesmo o da USP, que são casos de projetos
de extensão de alunos da universidade, e não propriamente de iniciativas do
laboratório. O Porto Fab Lab e o Garagem Fab Lab apontaram poucas circunstâncias
com envolvimento social, embora André Guerreiro, do laboratório da Barra Funda, foi
enfático em expor que eles contam com a cifra de trinta por cento (26) de cenários
com este âmbito.
Não foi mencionado que há ações ativas, como de marketing, para
incentivar o acréscimo de novos frequentadores aos espaços dos laboratórios.
Posicionam-se comedidos, à espera do usufruidor sem perspectivas futuras. Não há
uma política de lucratividade, igualmente, não há amplitude social no conjunto das
obras. Quando ocorrem ações sociais são à título assistencialista (doação de próteses
de baixo custo) ou recreativas (visitação de grupos para conhecerem o local). Seria
primordial que se promovesse a inserção social por meio de cursos gratuitos à
população carente, por exemplo, e que estes cursos oferecessem real empregabilidade
a estas pessoas. Essa seria, de fato, uma contribuição mais relevante por, caso
oferecida de forma sistemática e, relativamente, massiva com claros benefícios sociais,
sendo estes últimos, afinal, um pressuposto das práticas em rede, mas em especial da
perspectiva dos labs e suas experimentalidades.
Em contrapartida Eychenne e Neves (2013, p. 68) apontam que os processos
deste segmento “são reconhecidos por todos como um espaço capaz de prototipar e
realizar pequenas séries; a fabricação em grande escala continua a ser prerrogativa da
maioria das indústrias atuais”. Compreende-se, portanto, que atualmente a influência
dos Fab Labs na coletividade permanece voltada à experimentação de
empreendedores, porém sem muita pretensão de expansão e mesmo de produção em
massa, o que faz sentido em virtude de, em geral, suas perspectivas críticas e de
alternativa aos processos do capital.
Anderson (2012, p. 15) relata que o meio de produção permanece sendo
alterado, pois, a indústria (grande empregadora do século XX) não está criando novos
empregos no ocidente por conta da automação e pela competição global que usa
fábricas pequenas. Esta sentença reforça a ideia que o movimento Maker e,
97
sobretudo, os Fab Labs incrementariam a economia com a descentralização e
personalização da produção, entretanto não é a realidade verificada nos estudos de
caso.
Seria creditada à cultura Maker a qualidade de arquitetar inovação a partir
das experimentações de novos produtos como postula Eychenne e Neves (2013, p. 63)
em: “a publicação de códigos, de projetos, a possibilidade de se replicar, de melhorar o
projeto para beneficiar os outros, permite uma inovação rápida e incremental”, que se
processa como quesito a favor do movimento. Contudo não se constata nos estudos
de caso exemplos de inovação, pelo contrário, apenas há réplicas de modelos da
internet, como assinala Gomes (2016): “por mais que os números de crescimento da
rede no mundo nos últimos anos impressionem, ainda há muito desconhecimento em
relação ao potencial de fomento à inovação” que há nestes laboratórios. Cabe
perguntar a validade do exercício da cópia, em virtude do caráter experimental dos
Fab Labs. Seria isso uma distorção das premissas sociais dos Fab Labs? Ou uma
adequação aos modelos do capital, e, portanto, é possível considerar esse alinhamento
como uma cooptação desses aparelhos, no sentido de dissolver sua potência mais
crítica e relevante?
3.6 Análise crítica ao design utópico dos Fab Labs
Algumas questões que foram levantadas pelo professor Dr. Paulo Fonseca,
do Fab Lab SP da USP, estão fora do contexto das perguntas do questionário, mas se
entendeu que são relevantes à esta pesquisa. Antes de iniciar as perguntas, o
professor sinalizou sua posição crítica em relação ao movimento Maker, embora o
laboratório seja o primeiro filiado à Fab Foundation do Brasil. O professor é graduado
em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Campinas, mestre em Engenharia de
Construção Civil e Urbana pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, doutor
em Arquitetura e Urbanismo pela USP e trabalha com as questões presentes na
98
dissertação há pelo menos sete anos, o que torna suas reflexões mais relevantes e
instigantes.
Um dos primeiros questionamentos que ele recomenda, aponta repensar a
origem das novas tecnologias em relação à tradição e adiante ele retorna a questão
manifestando que é presumível desfrutar cognição sem o auxílio das máquinas.
Compreende-se, desta maneira, que sua opinião é ponderada em aplicar as novas
técnicas.
Recomendou, e enfatizou copiosamente durante a entrevista, o artigo “A
Ilusória Emancipação por meio da Tecnologia”123, de Johan Söderberg (da universidade
de Gotemburgo, na Suécia) publicado na revista eletrônica “Le Monde Diplomatique”.
Este texto caminha na direção oposta à tecnologia e postula as seguintes afirmações:
os Makers configuram-se em amadores; a máquina CNC foi criada pelo MIT e o
objetivo era automatizar a produção industrial; há contradição no movimento Maker
que promove o empreendedorismo, todavia que se segue herdeiro da demissão em
massa na indústria; critica open design e open source; que as impressoras 3D tirariam
os postos de trabalho da indústria, e que somente ela fabrica peças previstas no
catálogo.
O texto de Söderberg comenta que os Makers estabelecem o resultado
histórico da negação do movimento operário por conta da origem relacionada ao MIT.
Este instituto foi responsável pela ideação das máquinas CNC, que elas são uma das
percussoras da automatização nas fábricas e consequentemente de demitir
trabalhadores. Ele argumenta que o conhecimento adquirido no local de trabalho
consiste de uso público, direcionado aos trabalhadores, e que quando se codifica o
conhecimento isto se perde. Entretanto o autor sueco desconhece que a maior parte
dos produtos criados e solidarizados pelos Fab Labs é de código aberto, sob outra
perspectiva, o perfil sociológico de operários de fábricas não se refere ao mesmo dos
Makers.
123 Disponível em: <https://diplomatique.org.br/a-ilusoria-emancipacao-por-meio-da-tecnologia/>. Acesso em: 7 jan. 2018.
99
Entende-se que a mensagem de Söderberg se traduz retrógrada, pois, não
leva em consideração que a tecnologia possa promover o progresso dos meios de
produção; que existem outras modalidades de trabalhadores além dos operários e as
profissões prosperam com o advento de novas necessidades que emergem da
humanidade e outras desaparecem, num processo histórico.
Na sequência da entrevista, Paulo Fonseca aponta para a questão ecológica
por produzir objetos “inúteis” a pretexto de ser Maker. Reclama da tradução que foi
atribuída à palavra inglesa “empowerment”, que literalmente significa “capacitação”,
mas que se usa “empoderamento” como sinônimo a indivíduos que se sentem capazes
de empreender. Ele se refere às pessoas que permanecerem por conta própria e usam
o movimento Maker como solução às taxas de desemprego do país.
Uma questão indicada pelo professor é que há manipulação ideológica pelas
mídias sobre fabricação digital porque ela não existe sem pós-trabalho, como por
exemplo, o ofício de lixar um componente após ser manufaturado por uma impressora
3D, isto é, ela não produz peças com acabamento final. Contesta os apetrechos
partilhados pelo Makers em virtude de design, usabilidade, ergonomia, antropometria,
como o caso de tecnologia invertida, que obriga cidadãos a se adequarem à tecnologia.
Outro comentário apontado é que os interessados em difundir o
pensamento tecnicista são: fabricantes de máquinas e softwares, consultores destas
empresas e exploradores políticos, que se unem para fortalecer o discurso de
mistificação. Citou o uso inapropriado da locução “Fab city” que algumas cidades
usam, apesar disso não mantêm Fab Labs, se aproveitando politicamente da situação.
Argumenta que o Brasil está em um processo intencional de
desindustrialização e não há política industrial com o objetivo de criar uma
dependência a outras potências industriais. Relata que encontrou uma oportunidade
para aplicar tecnologia digital nos setores fora da formalidade, sendo que a política
interna do laboratório tange aprender com os equipamentos em um processo não
linear de incorporação da técnica para o conhecimento subsistir à instituição. Nota-se
a visão politizada do professor que discursa raciocinando em benefício à universidade.
100
Comentou que a USP se situava em crise e sobre os dois planos de demissão
voluntária que houveram e saíram alguns técnicos do laboratório. Expõe que é insigne
os artistas se fazerem presentes nos laboratórios devido suas características
transgressoras que se ajuíza à ciência se espelhar na arte para quebrar paradigmas.
Uma contribuição do professor para a pesquisa foi a explicação sobre
formação de redes espontâneas que ele relacionou com a teoria de redes com laços
fortes e fracos. As de laços fortes transcorrem em grupos fechados, rígidos e não
autorizam interação com outros grupos. As pontes que se estabelecem entre grupos,
basicamente por meio dos laços fracos, expandem a rede e reciclam as informações
(BOVO, 2014, p. 143). Constitui a estratégia das redes sociais, por exemplo, que se
baseiam nos laços fracos e é o que se percebe ocorrer nos laboratórios, que se viabiliza
a formação de grupos espontâneos.
Quando foi questionado sobre o âmbito social dos Fab Labs, citou os casos
dos projetos sociais que utilizam a “favela” como pano de fundo em atitude
exibicionista, que as propostas desta magnitude deveriam provocar inserção social nas
comunidades afetadas. Discorre sobre a seriedade do envolvimento dos participantes,
que é diferente de participação, nestas ocasiões.
Compreende-se que o professor defende a indústria tradicional e o trabalho
tradicional (permanecer em uma única empresa), que causa um paradoxo pelo fato de
se tratar de um coordenador de Fab Lab, que incentivaria novos meio de produção
aliados à tecnologia.
101
CONCLUSÃO
Resumidamente, o objetivo desta pesquisa é analisar uma proposta de
modelo contemporâneo de fabricação de aparatos. Diante disto, foi vital compreender
como se desenvolveram os processos fabris até o momento e analisar os locais em
que, atualmente, esta atuação pode acontecer.
É indispensável uma reflexão para “entender melhor os artefatos que
produzimos e consumimos” (CARDOSO, 1998, p.19). A história do design se situa
interligada ao consumo de massa e “o principal objetivo da produção de artefatos, um
processo que abrange o design, é dar lucro para o fabricante” (FORTY, 2007, p.13). A
ideologia do design se perdeu para a indústria há longa data.
Havia a visão romântica de “John Ruskin e William Morris, de que o design
ou a arte poderiam elevar a existência humana a um nível espiritual mais alto” (FORTY,
2007, p.305), em uma época em que não havia fabricação digital, o designer era o
sujeito que intermediaria a indústria capitalista e os anseios (e carências) dos
consumidores, mesmo indiretamente. Posteriormente ao Arts & Crafts, e com o design
já institucionalizado, o designer recebia o briefing do marketing e da engenharia e
deveria criar algo atrativo ao consumo. É nessa brecha criativa que surge a
possibilidade da utopia, na qual o designer poderia se preocupar mais com a qualidade
de vida do consumidor. Conquanto não se torna atrativo aos designers englobarem
este viés filantrópico porque não reteriam retorno financeiro e muito menos
visibilidade social com estas ações, ele prefere seu sustento.
Os elementos de design, os indivíduos apreendem involuntariamente, ou
seja, “a coisa projetada reflete a visão de mundo, a consciência do projetista e,
portanto, da sociedade e da cultura às quais o projetista pertence” (CARDOSO, 1998,
p.37). Todavia quem detém este conhecimento e seu manuseio são os designers que
receberam carga teórica e intelectual sobre este assunto e se prepararam na prática.
Portanto, cabe aos designers o encargo de considerar o alcance que os objetos
projetados terão na sociedade e na vida das pessoas.
102
Seria pertinente “examinar qual o contributo que cada um de nós pode dar
em função da sua atividade na sociedade” (PAPANEK, 2007, p. 17), visando o que seria
mais sustentável. O designer investigaria novas tecnologias e aplicaria nos utensílios
para que eles possuíssem usabilidade e aplicabilidade coerentes com a função e o
público alvo. Os empresários industriais adotariam materiais ecológicos, duráveis e
seguros. O comprador se conscientizaria do item que está escolhendo, considerando
se realmente é crucial adquiri-lo, quais matérias primas e condições da mão de obra
foram utilizadas e quais as causas sociais e ambientais que a empresa defende, tendo,
assim, o controle de selecionar mercadorias. Esse seria o design utópico que a
presente dissertação aponta.
Entretanto “os papéis do designer, fabricante e consumidor não são papéis
que escolhemos. Eles são dados a nós pelas lógicas do capitalismo”124 (JACOB, 2015) e
para modificar esta situação, seria preciso flexibilizar estes papéis, ou seja, o fabricante
tornar-se-ia o designer; haveria consideração em relação ao fabricante e o cliente; e o
designer empreenderia suas criações. Esta inversão seria benéfica aos agrupamentos
humanos.
É perceptível que o comportamento do comprador alterou e “a maior
mudança da última década foi a mudança no tempo que as pessoas gastam
consumindo conteúdo amador em vez de conteúdo profissional” 125(ANDERSON, 2012,
p.66), por esta razão o grande sucesso das redes sociais. Isso abre portas à manufatura
personalizada de objetos e a descentralização promovida pela cultura Maker, segundo
seus defensores, que assentiria a racionalização de recursos físicos (matérias primas),
operacionais (mão de obra e logística) e preencheria as necessidades de cada freguês.
À expectativa restaria encontrar nos Fab Labs ambientes propícios à inovação e ao
empreendedorismo.
124 Tradução livre para: The roles of designer, manufacturer, and consumer are not roles we choose. They are given to us by the logics of capitalism (Disponível em: <http://www.metropolismag.com/ideas/arts-culture/what-makes-a-maker/>. Acesso em: 7 jan. 2018).
125 Originalmente: The greatest change of the past decade has been the shift in time people spend consuming amateur content instead of professional content.
103
Os Fab Labs se portam, no contexto estudado, com reduzida expressividade
no cenário de inovação tecnológica e empreendedora diante da potencialidade que
contém. É uma promessa que poderia “se referir amplamente às empresas focadas
mais na qualidade de seus produtos do que no tamanho do mercado”126 (ANDERSON,
2012, p.78). Os laboratórios comportar-se-iam como incubadoras tecnológicas127
atraindo microempresários e agências de fomento128 para atuar com startups
inovadoras, mas que necessitariam de suporte de planejamento estratégico e
financeiro.
Logo, “o movimento Maker se baseia na fabricação digital de alta tecnologia
e possibilita que pessoas comuns explorem a capacidade” (GOMES, 2016) que este
modo de produção potencializa e os Fab Labs surgem como alternativa a estas
questões, outrossim, sucederiam locais adequados à propulsão de inovações
disruptivas129, que criariam novos nichos de mercado e oportunidades reais de
negócios, impulsionando o empreendedorismo local.
Entretanto é questionável a cultura de fabricação, mesmo a digital, de
produzir sem precedentes, levando em consideração a exponencial produção de
resíduos (físicos e eletrônicos) e a irrisória reciclagem. Decorreria mais oportuna se
houvesse uma cultura de consertar130, ou repair culture (FONSECA, 2014, p. 59),
126 Versão original em inglês: “it can broadly refer to businesses focused more on the quality of their products than on the size of the market”.
127 As Incubadoras de empresas de base tecnológicas consistem em ambientes favoráveis e facilitadores, no qual convergem três relevantes fenômenos da economia contemporânea: empreendedorismo, inovação e relações universidade-empresa (NORO, 2011).
128 Agência de fomento se trata da instituição com o objetivo principal de financiar capital fixo e de giro para empreendimentos previstos em programas de desenvolvimento (Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/agencia_fomento.asp>. Acesso em: 8 jan. 2018).
129 Para explicar a seguinte teoria: quando uma empresa lança uma tecnologia mais barata, acessível e eficiente, mirando margens de lucros menores, cria uma revolução. Deixa obsoleto quem antes era líder de mercado (Disponível em: <https://www.napratica.org.br/o-que-e-inovacao-disruptiva/>. Acesso em: 7 jan. 2018).
130 Como por exemplo, o Governo da Suécia quer estimular a cultura do reparo, na contramão das políticas de incentivos fiscais para o estímulo do consumo, para os governantes do país, tange mais interessante que a população consertar suas próprias roupas, bicicletas e eletrodomésticos (Disponível em: <http://www.trendnotes.com.br/cultura-do-reparo/>. Acesso em: 8 jan. 2018).
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justificando o propósito que os objetos foram criados, ambientalmente e
economicamente.
Outra proposta seria o princípio de upcycling131 (ressignificação pelo uso)
que sobre isso Rafael Cardoso (2013, p. 159) comenta: “ao adquirirem novos usos,
para além do primeiro descarte, os artefatos ganham uma sobrevida às vezes muito
maior do que a ‘vida útil’ que lhes fora destinada”. Essa premissa é oposta à da
obsolescência programada, muito aplicada no sistema fabril, que projeta alguns
pontos frágeis num aparato com o objetivo obscuro de danificar propositalmente para
que o consumidor se obrigue a adquirir um novo item. Com a reutilização, um mesmo
objeto poderia proporcionar diversas funcionalidades.
Todavia o que se atenta, principalmente, quanto à abrangência das ações
sociais que os Fab Labs exerceriam, em comunidades carentes, não há um plano
estratégico de ações para atingir tanto propósitos de impacto social quanto para
implementar inovação. Aparentam-se que estas atuações tem a pretensão de somente
completar os requisitos exigidos pela associação Fab Foundation, que são associados, e
não agregam um resultado relevante às comunidades.
A promessa do movimento era de criar-se alternativas ao modelo de
produção industrial e o movimento Maker abrangeria condições tecnológicas e sociais
de se revelar a 4ª Revolução Industrial (que muitos autores avistam como potencial
latente que existe nos laboratórios). Havia vantagens, por exemplo, de se situar
próximo ao consumidor final, menores custos de transporte, flexibilidade, qualidade e
confiabilidade associadas à marca (ANDERSON, 2012, p.156).
Sem embargo, os Fab Labs, veículos de expedição da cultura Maker,
exteriorizam, contemporaneamente, um comportamento apático e ameno em relação
ao mercado, à tecnologia e à sociedade. Aparentam consciência de seu potencial,
contudo não há esforço ou planejamento visível, de seus gestores, para colocá-lo em
131 Upcycling não é a mesma coisa que reciclagem, na verdade sintetiza em algo como uma evolução (que surgiu em 1990, se tornando mais conhecido em 2002) em cima do conceito de reaproveitamento e da continuidade do ciclo de vida da mercadoria (Disponível em: <https://trendr.com.br/a-nova-moda-upcycling-f6cab05628c3>. Acesso em: 8 jan. 2018).
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prática, como se um elemento externo seria necessário para que iniciasse o estopim
de amadurecimento.
Conclui-se que estes laboratórios estão mais propensos ao âmbito da
experimentação de seus usuários do que concorrer com a produção industrial.
Percebeu-se, por meio da investigação, que mesmo possuindo as mesmas máquinas e
softwares, cada Fab Lab se comporta de uma determinada maneira, mas,
praticamente todos, não instigam suficientemente os frequentadores no
desenvolvimento de inovação, pois os Fab Labs, que atuam, em geral, ao contrário do
próprio discurso coletivista, ainda são os detentores dos meios de produção, assim
como ocorria com os proprietários das indústrias. Os maquinários de ponta, de
fabricação digital, continuam nas mãos de poucos agentes, pois os usuários comuns,
não possuem acesso a estas máquinas, tornando-se reféns da disponibilidade limitada
(horários, materiais, etc) dos Fab Labs, mesmo sob a forma de clientes, não
experimentam plenamente as todas as potencialidades desta tecnologia. Além disso,
pode-se considerar que são centros de produção individual e amadora, não
impactando substancialmente a matriz produtiva.
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