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UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística Reversa nas Redes de Suprimentos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração. NEUSA MARIA DE ANDRADE São Paulo 2017

Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

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UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO

DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística

Reversa nas Redes de Suprimentos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração.

NEUSA MARIA DE ANDRADE

São Paulo

2017

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UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO

DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística

Reversa nas Redes de Suprimentos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Flávio R. Macau

NEUSA MARIA DE ANDRADE

São Paulo

2017

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Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa nas redes de suprimentos. / Neusa Maria de Andrade. - 2017. 123 f.: il.

Dissertação de Mestrado Apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista, São Paulo, 2017.

Área de concentração: Redes. Orientador: Prof. Dr. Flávio Romero Macau. 1. Ciclo da Gestão do Conhecimento. 2. Comunidades de Prática.

3. Redes de Suprimentos. 4. Logística Reversa. 5. Política Nacional de Resíduos Sólidos I. Macau, Flávio Romero (orientador). II. Título.

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NEUSA MARIA DE ANDRADE

COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO

DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística

Reversa nas Redes de Suprimentos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração.

Aprovado em:

Banca Examinadora:

__________________________________________________/___/_____

Orientador: Prof. Dr. Flávio R. Macau

Universidade Paulista – UNIP

__________________________________________________/___/_____

Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblum

Universidade Paulista – UNIP

__________________________________________________/___/_____

Prof. Dr. André Saito

SBGC- Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento

Page 5: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

DEDICATÓRIA

Aos meus Mestres

Aos meus pais Celso e Lourdes,

In Memoriam

Aos meus avós Cesário e Ladislau

Pedro Araújo, Marina Galvão, Fernando Siqueira Marques, Zarcy Casagrande

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador Prof Flávio Macau.

Aos professores da banca examinadora Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblun e Prof.

Dr. André Saito.

Aos professores da UNIP: Ernesto Giglio, Renato Telles, Márcio Machado,

Celso Rimoli e João Maurício Boaventura.

Aos amigos da UNIP do Mestrado em Administração.

Aos amigos, secretárias e professores da UNIP do doutorado em Engenharia

de Produção: Pedro Luiz Costa Neto, Oduvaldo Vendrametto, Márcia Terra, João

Gilberto, Rodrigo Franco Gonçalves.

Às famílias Andrade e Araujo e suas redes de conexões que a cada dia nos

enche de alegria, amizade e amor.

Às forças do universo que nos conectam a amigos e companheiros preciosos

na jornada.

Page 7: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

EPÍGRAFE

“A little knowledge that acts is worth infinitely more than much knowledge that

is idle.”

“Um pouco de conhecimento em ação vale infinitamente mais do que muito

conhecimento parado.”

Kahlil Gibran (1883-1931)

Page 8: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

RESUMO

Comunidades de Prática apresentam-se como oportunidade de estudo enquanto

ambientes e instrumentos para difusão de práticas de Gestão de Conhecimento nas

organizações, que têm suas redes e cadeias de suprimentos afetadas pelas

demandas de uma sociedade mais consciente e um consumidor mais exigente. Os

requisitos de descarte e remanufatura da logística reversa, que no Brasil é

normatizada pela PNRS (lei nº 12.305/10) e traz o conceito de responsabilidade

compartilhada, pode gerar economias e vantagens competitivas, mas exige soluções

integradas entre empresas e sociedade para atender aos parâmetros do

desenvolvimento sustentável. Esse trabalho tem como objetivo investigar resultados

da conversão do conhecimento observados em Comunidades de Prática de

Logística Reversa baseadas nos Ciclos da Gestão do Conhecimento de Dalkir, que

elenca como ocorre a aplicação e a reutilização do conhecimento. A revisão da

literatura está sustentada pelos principais conceitos sobre Comunidades de Prática,

Logística Reversa e Ciclos da Gestão do Conhecimento e contextualizada numa

rede que propicia o intercâmbio de informações e conhecimento entre os membros.

A pesquisa foi realizada na cidade de São Paulo, através de um survey exploratório

e a coleta de dados ocorreu em dez grupos compostos por cooperativas de

reciclagem, fabricantes de insumos, beneficiadoras e especialistas em logística

reversa que formam a rede. Os resultados mostraram que o grupo interage e

compartilha informações que possibilitam a colaboração, o reuso e a aplicação de

conhecimentos que geram novos processos, artefatos, produtos e redes

considerados como evidências para este trabalho.

Palavras-chave: Ciclo da Gestão do Conhecimento. Comunidades de Prática.

Redes de Suprimentos. Logística Reversa. Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Page 9: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

ABSTRACT

Communities of Practice present themselves as an opportunity to study as

environments and instruments for the dissemination of KM practices in organizations,

which have their networks and supply chains affected by the demands of a more

conscious society and a more demanding consumer. The reverse logistics disposal

and remanufacturing requirements, which in Brazil is regulated by Brazilian´s policy

on solid waste determinate by law No. 12,305/10 and brings the concept of shared

responsibility can generate savings and competitive advantages, but requires

integrated solutions between companies and society to meet the parameters

sustainable development. This work aims to investigate results of the knowledge

conversion observed in Reverse Logistics Practice Communities based on the

Dalkir´s Knowledge Management Cycles that covers how the application and reuse

of knowledge occurs. The review of the literature is supported by the main concepts

on Communities of Practice, Reverse Logistics and Knowledge Management Cycles

and contextualized in a network that fosters the exchange of information and

knowledge among members. The research was carried out in the city of São Paulo,

through an exploratory survey and data collection took place in ten groups composed

of recycling cooperatives, manufactures, beneficiaries and reverse logistics

specialists that form the network. The results showed that the group interacts and

shares information that enables collaboration, reuse and application of knowledge

that generate new processes, artifacts, products and networks considered as

evidence for this work.

Keywords: Knowledge Management Cycle. Communities of Practice. Supply Chain.

Networks. Reverse Logistics. Brazilian Policy on Solid Waste.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Dimensões da conversão do conhecimento ............................................. 25

Figura 2 – A espiral do conhecimento ....................................................................... 27

Figura 3 – A espiral de Ba ......................................................................................... 28

Figura 4 – Gestão do Conhecimento e Negócios ...................................................... 30

Figura 5 – Modelo do Ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir .......................... 36

Figura 6 – Espiral do Ciclo da GC de Dalkir .............................................................. 37

Figura 7 – Inter-relação dos três elementos estruturais das CoP .............................. 44

Figura 8 – Fluxo do descarte consciente de resíduos ............................................... 60

Figura 9 – Características da rede ............................................................................ 81

Figura 10 – Tipo de participação no grupo ou comunidade ...................................... 88

Figura 11 – Conhecimento sobre o tema .................................................................. 89

Figura 12 – Importância do tema Logística Reversa para a sociedade ..................... 89

Figura 13 – Questão 1 – O Tema da LR é amplamente discutido no grupo ou

comunidade? ............................................................................................................. 90

Figura 14 – Questão 2 – A PNRS é amplamente debatida? ..................................... 90

Figura 15 – Questão 3 – A discussão do tema produz resultados práticos? ............. 91

Figura 16 – Questão 4 – O grupo pode ser considerado uma rede que auxilia nas

tarefas diárias? .......................................................................................................... 92

Figura 17 – Questão 5 – O aconselhamento e a troca de experiências facilitam nas

tarefas do dia a dia? .................................................................................................. 93

Figura 18 – Questão 6 – As experiências já se transformaram em soluções? .......... 94

Figura 19 – Questão 7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas na

rede? ......................................................................................................................... 94

Figura 20 – Questão 8 – Novos Integrantes trazem novos interesses e soluções? .. 95

Figura 21 – Questão 9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas

no seu trabalho? ........................................................................................................ 96

Figura 22 – Questão 10 – O grupo facilita que novos processos e políticas sejam

incorporados na rotina? ............................................................................................. 96

Figura 23 – Questão 11 – O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas

maneiras de realizar as tarefas? ............................................................................... 97

Figura 24 – Questão 12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para

facilitar a divulgação das informações para seus membros? .................................... 98

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Figura 25 – Questão 13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente

atualizados pelos membros do grupo? ...................................................................... 98

Figura 26 – Questão 14 – A minha experiência profissional já foi ou pode ser

aproveitada no grupo ou comunidade? ..................................................................... 99

Figura 27 – Questão 15 – O grupo ou a rede de CoP já criou novos produtos e

serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na

organização em que trabalho? ................................................................................ 100

Figura 28 – Importância da Logística Reversa para a sociedade............................ 105

Figura 29 – Você concorda com a frase? ................................................................ 105

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Categorias de busca SPELL e SCIELLO ................................................ 21

Tabela 2 – Categorias de busca EBSCO RESEARCH ............................................. 21

Tabela 3 – Cooperativas conveniadas a PMSP ........................................................ 82

Tabela 4 – Materiais encontrados no lixo .................................................................. 83

Tabela 5 – Volumes coletados pela limpeza urbana em São Paulo .......................... 84

Tabela 6 – Responsabilidades pelo recolhimento do lixo .......................................... 86

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – As Oito Dimensões do Conhecimento (Tácito e Explícito) ..................... 25

Quadro 2 – Resumo dos Modelos de Gestão do Conhecimento .............................. 32

Quadro 3 – As principais abordagens sobre Ciclo da Gestão do Conhecimento ...... 33

Quadro 4 – As duas fases do processo no Ciclo de GC de Dalkir ............................ 37

Quadro 5 – Benefícios para os membros da comunidade ........................................ 42

Quadro 6 – Comparação resumida das estruturas de associação ............................ 43

Quadro 7 – Elementos estruturais que caracterizam as CoP .................................... 44

Quadro 8 – Características Comuns das CoP ........................................................... 45

Quadro 9 – Grau de engajamento nas CoP .............................................................. 45

Quadro 10 – As CoP ao longo do tempo nas organizações ...................................... 48

Quadro 11 – Resultados de experiências obtidas com as CoP ................................. 49

Quadro 12 – Vantagens e desvantagens das experiências obtidas com as CoP .... 50

Quadro 13 – Primeiro Ciclo – Indicadores de valor imediato da CoP ........................ 52

Quadro 14 – Segundo Ciclo – Indicadores de capital de conhecimento ou de valor

potencial .................................................................................................................... 53

Quadro 15 – Terceiro Ciclo – Indicadores de conhecimentos aplicados à prática .... 54

Quadro 16 – Quarto Ciclo – Indicadores de valor potencial das CoP ....................... 55

Quadro 17 – Quinto Ciclo – Indicadores de valor que refletem o sucesso ................ 56

Quadro 18 – Evolução da necessidade do desenvolvimento sustentável ................. 61

Quadro 19 – Sistemas de logística reversa em implantação pela PNRS .................. 62

Quadro 20 – Impactos da Lei nº 12.305/10 ............................................................... 63

Quadro 21 – Características do survey ..................................................................... 68

Quadro 22 – Passos para aplicação do survey ......................................................... 68

Quadro 23 – As fases da pesquisa ........................................................................... 69

Quadro 24 – Principais conceitos e autores para elaboração do questionário .......... 71

Quadro 25 – Questões e indicadores de conhecimentos aplicados à prática ........... 73

Quadro 26 – Procedimento da coleta de dados ........................................................ 79

Quadro 27 – Grupos de respondentes ...................................................................... 87

Quadro 28 – Resumo de percentuais das questões 1 a 6 ...................................... 101

Quadro 29 – Resumo de percentuais das questões 7 a 13 .................................... 101

Quadro 30 – Resumo das evidências ..................................................................... 104

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APQC – American Productivity & Quality Center

CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem

CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals

CoP – Comunidade de Prática

CRA – Conselho Regional de Administração

GE.LOG – Grupo de Excelência em Logística Reversa

GC – Gestão do Conhecimento

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

KM – Knowledge Management (Gestão do Conhecimento)

LR – Logística Reversa

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento

SCC – Supply Chain Council

SCM – Supply Chain Management

SCOR – Supply Chain Operations Reference

SCM – Supply Chain Management

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15

1.1 Contextualização e problema de pesquisa .................................................... 17

1.2 Justificativa .................................................................................................... 18

1.3 Objetivos ....................................................................................................... 19

1.4 Estrutura do trabalho ..................................................................................... 20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 21

2.1 Revisão bibliográfica ..................................................................................... 21

2.2 Estudos sobre o Conhecimento..................................................................... 24

2.3 Conhecimento Organizacional....................................................................... 26

2.4 A Gestão do Conhecimento .......................................................................... 31

2.5 O Modelo de avaliação da GC de Dalkir ....................................................... 35

2.6 Redes e Comunidades de Prática ................................................................. 38

2.7 Redes de Aprendizado e Conhecimento ....................................................... 40

2.8 Comunidades de Prática ............................................................................... 41

2.9 Comunidades de Prática e resultados para as organizações ........................ 47

2.10 Comunidades de Prática e indicadores dos Ciclos da GC ........................... 50

2.11 Comunidades de Prática de Logística Reversa ............................................ 56

2.12 Logística Reversa e a PNRS ........................................................................ 57

3 METODOLOGIA ................................................................................................... 65

3.1 Plano metodológico ....................................................................................... 65

3.2 O Método Survey ........................................................................................... 67

3.3 Pré-teste: versão piloto do questionário ........................................................ 70

3.4 O refinamento do questionáro ....................................................................... 72

3.5 Modelo de questionário refinado ................................................................... 74

3.6 Grupos de respondentes ............................................................................... 75

3.7 A Coleta de dados ......................................................................................... 79

3.8 Análise dos dados ......................................................................................... 80

4 RESULTADOS ..................................................................................................... 81

4.1 Contexto e características da rede ................................................................ 81

4.2 Perfil dos respondentes ................................................................................. 86

4.3 Percepção sobre Logística Reversa .............................................................. 88

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4.4 Conexões nas redes ou comunidades .......................................................... 91

4.5 Práticas e Aprendizados ................................................................................ 93

4.6 Coleta de evidências ..................................................................................... 99

4.7 Proposições ................................................................................................. 100

5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 107

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 113

APÊNDICE I - CARTA CONVITE ........................................................................... 118

APÊNDICE II - QUESTIONÁRIO PILOTO .............................................................. 119

APÊNDICE III - QUESTIONÁRIO REFINADO ....................................................... 122

Page 17: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

15

1 INTRODUÇÃO

As civilizações passam periodicamente por rupturas que tendem a reorganizar

instituições, valores, políticas e estruturas, de modo a afetar os posicionamentos das

organizações e suas respectivas vantagens competitivas, interferindo na maneira

como as mesmas realizam negócios, sendo o conhecimento a ferramenta que

habilita transformar informação eficaz em ação e que se converte em resultados e

produtividade (DRUCKER, 2002).

O modo como observamos e aprendemos se traduz em novos

conhecimentos, conforme Hessen (2000), e esse pensamento mantém coerência

com as novas demandas da sociedade que tem necessidade de buscar soluções

eficazes e atender um consumidor exigente e informado, requisitando cada vez mais

das organizações que os processos sejam eficientes e continuamente melhorados.

O conhecimento reside no indivíduo, para Nonaka, Takeuchi (1997), e no

ambiente organizacional para Davenport, Prusak (1998) pode ser considerado tanto

ativo intangível quanto recurso estratégico, além de vetor para a melhoria da

competitividade empresarial, sendo que transferência e o compartilhamento de

conhecimentos podem transformar empresas, sociedade e a economia.

A Gestão do Conhecimento (GC) segundo Nonaka, Takeuchi (1997) baseia-

se no pressuposto da conjugação entre conhecimentos implícitos (tácitos) e

conhecimentos declarados (explícitos), que ao serem conectados criam um

processo espiral capaz de gerar novas redes de conhecimento capaz de ampliar

tanto horizontes organizacionais, quanto individuais.

A GC propicia ainda a formação de alianças estratégicas, sendo a troca de

informações para aquisição, produção, distribuição, disseminação e

compartilhamento de conhecimentos que permitem gerar benefícios entre eles:

exploração de economias de escala, melhorias de custos de entrada em novos

mercados ou segmentos e diversos diferenciais de competitividade (HUBER, 1991;

DRUCKER, 2002; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; KOGUT, 2000).

A complexidade das transações no mundo moderno é um fator determinante

para as organizações que passaram a operar em rede e não de forma isolada,

segundo Nohria (1992). Novas demandas da sociedade pós-industrial, de acordo

com Gulati (1998), incidem numa intensa necessidade de trocas, compartilhamentos

e alianças para o desenvolvimento conjunto de produtos, serviços e tecnologias.

Page 18: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

16

As redes podem ser estudadas por diversos ângulos, aspectos e ou campos

de estudo segundo Sacomano Neto, Truzzi (2004), mas não existe um consenso

sobre as mesmas, que dependentem das condições de formação, intenções,

recursos e estratégias, além de governança, regras de conduta e interações.

Comunidades de Prática (CoP) é um termo utilizado para designar redes ou

grupos informais que têm por essência o uso do conhecimento para promover o

processo de aprendizado a partir de aplicações práticas que aparece nas obras de

Lave, Wenger (1991) e Wenger et al. (2011). As CoP formam-se através de um

domínio de interesse, cujo objetivo e afinidades auto selecionam os participantes a

partir da identificação e de conhecimentos especializados e tem a finalidade de gerar

e trocar conhecimentos de forma duradoura, gerando compromisso e senso de

identificação entre os membros que passam a produzir novos produtos ou serviços

para a comunidade.

A APQC (American Productivity & Quality Center) mostra em recente

pesquisa de 2016, que mais de dois terços das organizações utilizam comunidades

de prática para implantação da GC e diversas empresas como: Xerox, Monsanto,

Accenture, British Petroleum trazem exemplos bem sucedidos de lições aprendidas

a partir de Comunidades de Prática (APQC, 2016; DALKIR, 2005).

Ao inter-relacionar as atividades das Comunidades de Prática (CoP) com as

principais abordagens sobre GC, Dalkir (2005) criou um modelo de avaliação que

permite identificar dentro de uma organização quais são as fontes e respectivos

ciclos de conhecimento, de modo que uma vez que possam ser identificados, podem

ser mensurados, reaplicados e reutilizados.

O modelo do Ciclo da GC de Dalkir (2005) apresenta sete etapas distintas em

duas fases: A primeira compreende aspectos qualitativos e não mensuráveis que

consistem na captura, criação, codificação, compartilhamento e acesso, e a

segunda, com aspectos considerados quantitativos e mensuráveis, que versam

sobre a aplicação e reutilização do conhecimento.

Estes conhecimentos quando aplicados ou reutilizados em determinado

contexto podem ser entendidos como resultados tangíveis, mas isso não ocorre de

forma sequencial e é importante assegurar a retroalimentação e a conversão dos

mesmos em novos produtos, processos, etc. (DALKIR, 2005).

Os conceitos sobre Logística Reversa (LR) apontados por Reis et al. (2015)

mostram que trata-se de um processo estratégico que vai além dos fluxos de

informação capaz de gerar novos conhecimentos imprescindíveis para as

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17

organizações e aprendizado no gerenciamento adequado para as demandas dos

clientes. A incorporação da logística reversa nas redes de suprimentos e em suas

cadeias engloba todo o ciclo de vida do produto, incluindo-se, por exemplo, o

descarte, o tratamento dos resíduos, a reutilização, a reciclagem e em alguns casos,

aspectos reversos de devolução que visam atender a novas exigências da

sociedade (REIS et al., 2015; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

No Brasil, em virtude da exigência legal ditada pela Lei nº 12.305/10, que

regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), empresas de diversos

portes estão sendo requisitadas a implantar a logística reversa em suas operações,

redes de suprimentos e respectiva cadeia produtiva (PNRS, 2010).

O presente estudo visa investigar resultados da conversão do conhecimento

observados em Comunidades de Prática de Logística Reversa, conforme a segunda

fase do modelo proposto por Dalkir (2005) de modo que os mesmos possam ser

aplicados ou reutilizados em determinado segmento ou contexto organizacional.

O método de condução de pesquisa foi realizado através de um survey

exploratório, que segundo Forza (2002) caracteriza-se como adequado quando há a

necessidade de obtenção de informações preliminares sobre um tema que se

encontra ainda em estágio inicial de investigação, de modo que possa fornecer

bases e profundidade para futuros trabalhos.

1.1 Contextualização e problema de pesquisa

Por motivações éticas, como uma sociedade em busca de novos valores e

sustentabilidade, ou por disposições legais, como a Lei nº 12.305/10 (PNRS), as

organizações tendem a se adaptar, seja simplesmente para continuar sobrevivendo,

para alinhar a estratégia com as novas exigências ou para atender melhor seus

clientes, tornando-se mais produtivas e competitivas. Desse modo, buscam novos

conhecimentos e instrumentos capazes de garantir esses resultados, mas segundo

Nonaka, Takeuchi (1997, p. 116), “Em termos restritos, o conhecimento só é criado

por indivíduos, e uma organização não pode criar conhecimento sem indivíduos.”.

Os paradigmas da Sociedade em Rede exigem a criação de novas formas de

atuação das organizações, sendo que as Comunidades de Prática são ambientes

colaborativos e de interação que ajudam seus membros a se conectar, compartilhar

informações e conhecimentos e transformam-se em instrumentos para difusão e

Gestão do Conhecimento.

Page 20: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

18

O problema de pesquisa deseja identificar se tais comunidades contribuem

para o desenvolvimento de novos produtos, serviços, processos, e se essas

contribuições práticas e resultados que possam ser evidenciados e utilizados em

determinado segmento ou contexto organizacional.

1.2 Justificativa

O conhecimento representa a base determinante para o comportamento

inteligente, competente do indivíduo, grupo e organizações, mas apenas uma

reflexão consciente das lições aprendidas e melhores práticas permitirá que as

empresas alavanquem esses ativos. Estudos sobre a transição entre “Sociedade de

Consumo” e “Sociedade do Conhecimento” estão presentes na obra de Castells

(2005), que fala do paradigma do uso massivo de comunicações em redes e da

propagação da informação que se transforma em conhecimento, recurso difícil de

capitalizar nas organizações, que conta com alguns instrumentos para ajudar no

gerenciamento, sendo o modelo do Ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir

apropriado para analisar se esses conhecimentos tornam-se novos ativos, recursos

ou processos.

A Sociedade Brasileira da Gestão do Conhecimento (SBGC) diz que as

práticas de GC devem apoiar o negócio para se obtenham resultados mensuráveis e

almejados pelas organizações, mas que novos estudos que interligam a GC com

Comunidades de Prática estão ainda em desenvolvimento. A APQC (American

Productivity & Quality Center) entende que várias empresas já utilizam Comunidades

de Prática (CoP) como instrumentos para implantar a Gestão do Conhecimento, uma

vez que essas agregam pessoas em torno de interesses comuns, especialmente

sobre um assunto ou tema, e tem como principal finalidade a aplicação prática do

aprendizado, a promoção do conhecimento e de responsabilidades no grupo,

através da geração de novos produtos, processos, etc. (SBGC, 2016; APQC, 2016).

As Redes de Suprimentos, pela ótica tradicional, dividem a logística em

atividades primárias (ou chaves) e de suporte (ou apoio), mas Brito et al. (2004) e

Rogers, Tibben-Lembke (1998) mostram que a Logística Reversa (LR) depende de

toda a informação disponível e de forma organizada de modo a assegurar os

controele do processo, que é iniciado quando um cliente declara a necessidade de

devolução de um produto para seu fabricante. O tema da logística reversa, que é

uma exigência legal ditada pela Lei nº 12.305/10 que regulamenta a Política

Page 21: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

19

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), proporciona discussões estrategicamente

importantes para as organizações e suas Redes de Suprimentos (PNRS, 2010).

O desenvolvimento de novos conhecimentos está relacionado com a

capacidade da organização de processar essas informações de forma organizada e

uma vez que as relações e fluxos de conhecimentos possam ser vistos, avaliados e,

segundo Dalkir (2005) é possível mudar a gama de comportamentos e com isso

seus respectivos resultados, o que faz das Comunidades de Prática instrumentos

para empresas de diversos portes requisitadas a implantar a logística reversa em

suas operações, a fim de atender à obrigatoriedade da Lei nº 12.305/10 (PNRS).

Este trabalho apresenta as seguintes proposições: Comunidades de prática

de Logística Reversa propiciam a criação e transferência de conhecimentos em suas

redes?; Há evidências sobre experiências da comunidade que foram transformadas

em soluções para a rede?; O tema de domínio logística reversa é fonte de

informação e conhecimento e interesse dos membros da comunidade?; A Política

Nacional de Resíduos Sólidos proporciona discussões estratégicas para a

comunidade e respectiva rede?

O tema justifica-se como oportunidade de estudo, uma vez que as CoP

tornam-se ambientes para difusão de práticas de GC. A proposta é apresentar os

principais conceitos sobre Comunidades de Prática, Logística Reversa e ciclos de

Gestão do Conhecimento (GC) e evidenciar se houve a conversão de

conhecimentos em novos artefatos, processos, iniciativas e negócios nos grupos

pesquisados.

1.3 Objetivos

Este trabalho tem como objetivo geral investigar resultados da conversão do

conhecimento observados em Comunidades de Prática de Logística Reversa e tem

como objetivos específicos:

1. Apresentar conceitos sobre Comunidades de Prática.

2. Apresentar conceitos de Logística Reversa.

3. Apresentar os ciclos de Gestão do Conhecimento.

4. Inter-relacionar os conceitos CoP e GC, LR e PNRS.

5. Identificar contribuições da GC para as CoP.

6. Apontar a influência da Lei nº 12.305/10 nos resultados e soluções.

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20

1.4 Estrutura do trabalho

O primeiro capítulo é formado pela introdução, que apresenta as premissas

que sustentam a pesquisa, os objetivos do estudo, o problema e a justificativa. O

capítulo seguinte traz a fundamentação teórica que trata da Gestão do

Conhecimento e apresenta os temas tratados e respectivos autores, além de uma

breve visão sobre a inter-relação entre Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS) e Logística Reversa no Brasil que contextualiza como essa lei rege e gera

responsbilidade compartilhada na gestão de resíduos. O capítulo 3 descreve o

método e as etapas de realização da pesquisa, que utilizou a aplicação de um

survey piloto que foi refinado a fim de atingir os objetivos propostos. O capítulo 4

contextualiza a rede e os grupos que formam a comunidade e apresenta os

resultados de acordo com as proposições. O capítulo 5 apresenta a conclusão, as

limitações do estudo e recomendações para futuras pesquisas. O último capítulo

mostra as referências utilizadas.

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21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Revisão bibliográfica

Este capítulo apresenta os estudos e abordagens que dão sustentação

teórica à pesquisa e tem por objetivo mostrar as teorias e autores que se conectam

ao longo do trabalho.

A tabela 1 mostra os resultados obtidos do passo inicial de busca desses

trabalhos, tanto pelos títulos quanto pela indexação das palavras-chaves e

combinação dos termos compostos, realizada nos portais Scielo e Spell, que são

reconhecidos no Brasil como fontes de dados para artigos científicos. As respostas

foram tabuladas em 06 de abril de 2016 e a pesquisa foi realizada somente com

palavras em língua portuguesa.

Tabela 1 – Categorias de busca SPELL e SCIELLO

Categorias de busca Resultados totais

no Spell

Resultados

totais no Scielo

Logística Reversa 41 38

Comunidades de Prática 19 193

Gestão do Conhecimento 191 851

Logística Reversa + Comunidades de Prática 0 0

Logística Reversa + Gestão do Conhecimento 0 0

Fonte: Elaboração da autora.

As buscas realizadas no Ebsco Research também ocorreram no dia 06 de

abril de 2016, com os mesmos critérios anteriores, sendo que os termos compostos

foram colocados entre aspas. O resultado está listado na tabela 2.

Tabela 2 – Categorias de busca EBSCO RESEARCH

Categoria de busca Resultados

Reverse Logistics 2.227

Knowledge Management 80.665

Communities of practice 14.788

Reverse Logistics + Knowledge Management 5

Communities of practice + Reverse Logistics 0

Fonte: Elaboração da autora.

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22

A revisão da pesquisa foi realizada através de uma nova busca repetida nos

mesmos portais em 06 de janeiro de 2017, retornando valores similares aos

apresentados nas tabelas 1 e 2 da combinação das palavras-chaves: Logística

Reversa + Gestão do Conhecimento, Logística Reversa + Comunidades de Prática

(Scielo, Spell) e Reverse Logistics + Knowledge Management, Communities of

practice + Reverse Logistics (Ebsco), com exceção de um único artigo de 2015

apontando a combinação de Logística Reversa e Gestão do Conhecimento, mas

tratava-se de uma pesquisa sobre o conhecimento da importância do descarte de

materiais perigosos e seus impactos no meio-ambiente, realizada no distrito de São

Luiz, Canoas, no Rio Grande do Sul, o qual não resultou em novas contribuições.

A primeira verificação dos termos indicou também que os conceitos

pesquisados apresentavam teorias e nomenclaturas variadas sobre Gestão do

Conhecimento (GC), sendo que a escolha dos autores adotados teve como

finalidade atender aos objetivos do trabalho.

A conceituação de Comunidades de Prática (CoP) é dada por Wenger (1998),

que diz que as mesmas são redes e não simplesmente equipes de trabalho, e

formam-se por interesses e afinidades entre os membros em torno de um tema de

domínio comum com o objetivo de gerar e trocar conhecimentos de forma prática.

Segundo Wenger (2011) esses arranjos estão fundamentados em quatro

pilares: 1) a identidade, que traz o significado e traduz a capacidade para encontrar

sentido; 2) a prática social, que exprime a vivência partilhada de recursos e as

perspectivas dos indivíduos participantes; 3) a formação da comunidade e 4) o

reconhecimento da legitimidade da participação dos membros.

Os aspectos da criação e difusão do conhecimento foram colhidos a partir de

Nonaka, Takeuchi (2008) e o conhecimento organizacional a partir de Davenport,

Prusak (1998), no qual se encontra o conhecimento enquanto subsídio para a

melhoria do capital intelectual que contribui para melhoria da competitividade.

A interação contínua e dinâmica entre conhecimento tácito e explícito

apresentada por Nonaka, Takeuchi (1997) é utilizada para ilustrar os aspectos da

GC e a criação do conhecimento organizacional como a capacidade que uma

organização tem de criar, disseminar e incorporar conhecimento a produtos,

serviços, sistemas, etc.

O conceito de Ba de Nonaka, Takeuchi (2008), enquanto contexto

compartilhado se inter-relaciona com Wenger et al. (2002) que elencam como

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23

componentes estruturais das Comunidades de Prática: o domínio, a comunidade e a

prática.

O Ciclo da Gestão do Conhecimento nas Comunidades de Prática está

fundamentado na teoria de Dalkir (2005) que diz que esse processo passa pelas

etapas de criação e captura, contextualização, compartilhamento e disseminação,

aquisição e aplicação, avaliação, atualização e reutilização de conhecimento.

Os conceitos sobre logística são apontados por Reis et al. (2015, p. 141) e

também em Slack et al. (2002), Brito et al. (2004) como um processo de

gerenciamento estratégico, do transporte à armazenagem, que depende dos fluxos

de informação a ele relacionados, cujo conhecimento é fundamental para melhoria

do atendimento e redução de custos nas empresas.

As definições de Logística Reversa (LR) estão em Brito et al. (2004), Rogers,

Tibben-Lembke (1998), Lambert (2008) e basicamente referem-se ao controle de

entradas e processo iniciado quando um cliente declara a necessidade de devolução

de um produto. Leite (2003) trata a LR como um ciclo produtivo e de negócios, com

o retorno de bens de pós-venda e pós-consumo, de forma a agregar as

organizações valores de imagem, econômicos, legais, etc.

As características das Redes de Suprimentos e sua cadeia são vistas a partir

de Lambert (2008) e a definição será a do Council of Supply Chain Management

Professionals (CSCMP) citado por Reis et al. (2015, p. 28) “uma cadeia de

suprimentos é representada por uma série de agentes interligados por uma

operação logística que tem a finalidade de entregar um produto que tenha valor

perante o consumidor final”. E por Kogut (2000) que destaca sete pontos que

cooperam para melhorar a competitividade:

1) Interconectividade: dispositivo de conexão que forma grupos e estruturas

mais complexas, os quais criam redes.

2) Interdependência: necessidade de dependência recíproca para enfrentar

desafios com a finalidade de auxílio mútuo entre as partes.

3) Fluxo rápido: presença de alto tráfego e volume de informações.

4) Tempo curto de resposta: que visa atender a um consumidor cada vez

mais exigente.

5) Flexibilidade de produção: variabilidade das saídas e uso de tecnologias

para atender ao processo produtivo.

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6) Uso do conhecimento coletivo: que visa tornar os recursos cada vez mais

competentes e eficazes na solução dos problemas.

7) Compartilhamento e trocas significativas: contempla a capacidade de se

criar, trocar e disseminar dados e informações.

2.2 Estudos sobre o Conhecimento

A obra An essay concerning human understanding, de John Locke, em 1690

tratou de questões referentes à origem e essência do conhecimento, que mais tarde

foram abordadas por Hessen (2000) e Davenport, Prusak (1998), os quais dizem

que o conhecimento é uma mistura fluida, que combina informações, insights,

valores e experiências, e permite incorporar e avaliar novas experiências, num ciclo

contínuo.

No século XVI, surgiu uma linha de pensamento que deu origem à

investigação racional que se propunha a encontrar conhecimento embasado em

dados, de acordo com as leis da natureza, de modo que pudesse ser confrontado

com a realidade (HESSEN, 2000).

O conhecimento pode ser classificado em duas frentes distintas: como

explícito, quando está declarado, podendo ser articulado na linguagem formal, por

meio de expressões matemáticas, linguagem, manuais, internet, filmes, etc. e como

tácito, quando é difícil de ser formalmente expressado ou exteriorizado, possui baixa

ou nenhuma documentação ou registro, sendo que esse segundo tipo é incorporado

à experiência individual e envolve fatores intangíveis como: crenças, perspectivas e

sistemas de valores (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Nonaka, Takeuchi (2008) afirmam que existem diferenças básicas entre o

pensamento japonês e o ocidental sobre o conhecimento, sendo que os orientais

consideram que sua criação não ocorre a partir de um processo sequencial, mas

depende de uma interação contínua e dinâmica entre conhecimento tácito e explícito

ao longo do tempo e de quatro fatores: externalização, combinação, internalização e

socialização, que formam uma espiral, conforme ilustra a figura 1, a seguir.

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25

Figura 1 – Dimensões da conversão do conhecimento

Fonte: Nonaka, Takeuchi (1997).

O conhecimento só pode ser criado por indivíduos, mas para se transformar o

conhecimento tácito (pessoal e informal) em conhecimento explícito (formal e

sistemático) são necessárias metodologias, tecnologias e estruturas capazes de

captar, atualizar e transferir o conhecimento que segundo Nonaka, Takeuchi (1997),

ocorre em oito dimensões, conforme quadro 1.

Quadro 1 – As Oito Dimensões do Conhecimento (Tácito e Explícito)

CONHECIMENTO TÁCITO CONHECIMENTO EXPLÍCITO

Simultâneo e análogo. Difícil de ser codificado. Sequencial. Classificado em documentos,

práticas e treinamentos.

Subjetivo, intuição e palpites (enraizado na ação).

Armazenado em rotinas, práticas e

procedimentos.

Objetivo. Pode ser facilmente expressado por

palavras e números.

Não pode ser totalmente comunicado, mas

apenas percebido.

Codificado e estruturado, transmissível em

linguagem formal e sistemática.

Talentos, habilidades e experiências acumuladas. Racional, agregado facilmente por dedução

lógica ou estudo formal.

Fonte: Adaptado de Nonaka, Takeuchi (1997).

Os conhecimentos tácitos e explícitos são indissociáveis, ou seja, para que

haja criação e transferência de conhecimento é necessário que haja interação entre

essas duas formas, e também entre o indivíduo e o ambiente. Nonaka, Takeuchi

(2008) definem isso como conversão do conhecimento e afirmam que a Gestão do

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Conhecimento abrange dados, informações e conhecimento e aborda formas tácitas

e explícitas dos mesmos (NONAKA; TAKEUCHI, 2008).

É importante notar que nos dias atuais a Sociedade faz uso massivo da

combinação de dados e informações. Dados, enquanto elementos diretamente

observáveis ou verificáveis e conhecimento, como informação interpretada,

categorizada, aplicada e revisada, sendo a análise dessas informações que

produzem o conhecimento.

O conhecimento então necessariamente passa pela interpretação de dados

que se convertem em informações, as quais são somadas a experiências e

conduzem a tomada de decisão. Por exemplo: a razão da escolha de um filme pode

ser derivada da combinação de vários dados (ator, tema, mensagem), a escolha do

cinema pode ser pelo horário, localização, etc., e a decisão de ir àquele cinema

naquele horário e utilizar o metrô, pode se dar pela experiência anterior (não

necessariamente do mesmo agente), de que não é possível encontrar lugar para se

estacionar no local (HESSEN, 2000; DALKIR 2005).

O conhecimento tácito reside “apenas na cabeça das pessoas” e é derivado

de experiências pessoais, por isso é difícil de ser articulado e até mesmo de ser

traduzido em palavras e gráficos, o que contrasta com o conhecimento explícito, que

pode ser capturado em imagens, gravações e documentos diversos (DALKIR, 2005).

O conhecimento pode ser considerado como ativo intangível que se tornou

fundamental para o desenvolvimento da economia e da sociedade. A importância do

processo de transferência e circulação do conhecimento é um atributo capaz de

produzir inovação intensiva, desse modo, a Gestão do Conhecimento passa a ter

importante papel para as organizações e se constitui como ferramenta para o

incremento da pesquisa e inovação, especialmente no contexto de intercâmbio de

informações e redes de empresas (GUECHTOULI et al., 2013).

2.3 Conhecimento Organizacional

Se quiserem sobreviver ou ganhar competitividade, as empresas precisam se

adaptar e se ajustar de algum modo, e para isso devem considerar suas bases de

conhecimento e seu modelo de aquisição e tratamento do conhecimento emergente

como estratégia de valor, a fim de maximizar a eficiência e a eficácia em toda a

organização (SBGC, 2016).

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27

Historicamente foi o sucesso das inovações das empresas japonesas o fator-

chave que levou Nonaka, Takeuchi (1997) a pensar e criar o modelo em espiral e

suas estratégias de captura e codificação do conhecimento. Os autores então

identificaram quatro processos de conversão do conhecimento:

1) Socialização: De conhecimento tácito para conhecimento tácito.

2) Exteriorização: De conhecimento tácito para conhecimento explícito.

3) Combinação: De conhecimento explícito para conhecimento explícito.

4) Interiorização: De conhecimento explícito para conhecimento tácito.

A espiral do conhecimento (figura 2) inicia-se no nível individual e vai

ascendendo e ampliando a interação que cruza fronteiras entre pessoas, seções,

divisões, organizações, transformando-se numa rede de conhecimentos

entrelaçados em níveis ontológicos superiores que se transformam. Nessa rede, a

interação entre conhecimento tácito e conhecimento explícito terá uma escala cada

vez maior.

Figura 2 – A espiral do conhecimento

Fonte: Nonaka, Takeuchi (1997).

O conhecimento humano é criado e expandido através da interação social

entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, sendo o conhecimento tácito

mobilizado e ampliado organizacionalmente através dos quatro modos de conversão

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28

No entanto, “uma organização não pode criar por si só conhecimento” (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997, p. 82).

O conceito de lugar que dá significado ao conhecimento foi denominado por

Nonaka, Takeuchi (2008) como Ba, ou seja, um contexto compartilhado em

movimento que cria e utiliza o conhecimento dos indivíduos, conforme mostra a

figura 3. O Ba deve ser entendido como interações que ocorrem em determinado

lugar e como uma organização não é capaz de criar conhecimento sem os

indivíduos, ela pode ser vista como uma configuração orgânica de vários Ba.

Figura 3 – A espiral de Ba

Fonte: Nonaka, Takeuchi (2008).

O conhecimento pode ser considerado um recurso intangível para as

organizações, sendo que o conhecimento individual complementa o conhecimento

organizacional tornando-o mais forte e amplia a base do repositório organizacional,

através de habilidades, competências, pensamentos, ideias, além de criar inovações

(NONAKA; TAKEUCHI, 2008; PRAHALAD; HAMEL, 1997).

O conhecimento empresarial para Davenport, Prusak (1998) refere-se a como

as organizações gerenciam seu capital intelectual e tratam da criação do

conhecimento, que ocorre em três níveis: individual, no grupo e organizacional.

Prahalad, Hamel (1990) afirmam que uma organização não pode tornar-se

competitiva sem indivíduos. Dutra (2011) diz que as pessoas, ao desenvolverem

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29

suas próprias capacidades, transferem para a organização seu aprendizado, e

desse modo ganham condições para enfrentar novos desafios.

Se por um lado temos as organizações, com um conjunto próprio de

competências e patrimônio de conhecimento, por outro lado temos as pessoas, que

interagem de forma ininterrupta, formando-se a espiral de conhecimento, da qual as

organizações não podem prescindir (DUTRA, 2001; NONAKA; TAKEUCHI, 1997;

PRAHALAD; HAMEL, 1990).

Na década de 1990, a principal preocupação do empresariado concentrava-se

principalmente em qualidade e produtividade, mas o foco deslocou-se para um

padrão mais sustentável incluindo-se a GC como instrumento para enfrentar novos

desafios. A necessidade das organizações de criarem vantagens competitivas,

compreender e atender novas exigências da sociedade mostra que cada vez mais

as empresas dependem da transformação do conhecimento individual em

conhecimento normativo organizacional (FRANCO, 2008).

A GC enquanto mobilização sistemática do conhecimento incorpora cinco

atividades principais: identificação, criação, armazenamento, compartilhamento e

aplicação do conhecimento, numa forma espiral (NONAKA; TAKEUCHI, 1997;

DAVENPORT; PRUSAK, 1998; WENGER et al., 2002).

A Gestão do Conhecimento (GC) é um ativo que propicia também a formação

de alianças estratégicas e troca de informações entre parceiros. Quando os atores

das organizações participam das etapas de aquisição, produção, distribuição,

disseminação e compartilhamento do conhecimento isso permite criar benefícios

como: exploração de economias de escala; melhoria de custos de entrada em novos

mercados ou segmentos e diferenciais de competitividade (HUBER, 1991;

WENGER, 2002).

O enfoque na gestão do conhecimento leva a empresa a rever suas

estratégias, sua estrutura e seus valores e promove diferencial competitivo ao

valorizar e utilizar estrategicamente ativos intangíveis como o conhecimento

individual e organizacional (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; NONAKA; TAKEUCHI,

2008):

À medida que as companhias buscam novas formas de alavancar seus recursos para ganhar mais vantagens competitivas, a consciência de que o conhecimento que existe dentro de uma empresa é um de seus recursos mais importantes tem aumentado (NONAKA; TAKEUCHI, 1994).

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Os conceitos base da Gestão do Conhecimento presentes nos trabalhos de

pesquisadores como Nonaka, Takeuchi (1997) e Davenport, Prusak (1998)

trouxeram grande impulso para as organizações ao enfatizarem a importância do

conhecimento como elemento para o desenvolvimento e a competitividade, gerando

valor agregado a produtos, serviços e processos (SBGC, 2016).

Entre os benefícios das boas práticas de Gestão do Conhecimento estão:

aumento da produtividade, lucratividade, desenvolvimento de competências

individuais e organizacionais, melhoria de processos, solução de problemas e

inovação (SBGC, 2016).

No encontro SBGC, que discutiu o tema da maturidade em Gestão do

Conhecimento, realizado em 25 de agosto de 2016, em São Paulo, o tema da GC foi

apresentado como uma área de estudo cujos conceitos, métodos e práticas ainda

estão em evolução. Postulou-se que um dos desafios das empresas está em “aplicar

a gestão do conhecimento de forma alinhada aos negócios" a fim de gerar

resultados sempre incrementais, confome figura 4.

Figura 4 – Gestão do Conhecimento e Negócios

Fonte: SBGC (2016).

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31

2.4 A Gestão do Conhecimento

Drucker (2002) cunhou o termo trabalhador do conhecimento e Nonaka,

Takeuchi (1997) apontaram a correlação entre competitividade das empresas e

ativos de conhecimento e são trabalhos e autores que também balizam a criação de

uma disciplina chamada Gestão do Conhecimento (GC).

Baseadas no capital intelectual e do conjunto de conhecimentos existentes

nos indivíduos que auxiliam as organizações, as práticas de GC surgiram na década

de 1990, inicialmente como modelo gerencial para empresas que visavam

desenvolver produtos e serviços inovadores em busca de vantagens competitivas

(NONAKA; TAKEUCHI, 2008).

O modelo de Gestão do Conhecimento de Nonaka, Takeuchi (1995) centra-se

em espirais de conhecimento que explicam a transformação do conhecimento tácito

em conhecimento explícito e, em seguida, transformam-se novamente como base

para o indivíduo, grupo e inovação organizacional.

Cada etapa dos principais processos de GC que contemplam descrições

detalhadas permitirá identificar e localizar as principais fontes de conhecimento

dentro das empresas, de modo que o conhecimento possa ser recriado e validado

por meio de experiências reais (DALKIR, 2005).

A GC deve passar por cinco fases ou processos, segundo Dalkir (2005), que

vão desde obtenção ou criação do conhecimento (e ocorre por meio de projetos,

experimentação, raciocínio, contratação de pessoas, etc.); análise (que trata da

seleção de temas e conceitos para aprofundamento); síntese ou reconstrução

(capacidade de gerar hipóteses); codificação e modelagem (que implica num modelo

coerente para futuras pesquisas) até a formação de repositório (que pressupõe que

o armazenamento seja corretamente documentado em livros, manuais, etc.).

Huber apud Macau (2010) apresenta a gestão do conhecimento

organizacional como: aquisição de conhecimento, distribuição e interpretação de

informações, além de memória organizacional. O autor afirma que a capacidade de

uma empresa de processar informações está relacionada ao desenvolvimento do

conhecimento, mudando a sua gama de comportamentos possíveis, resultando em

uma ampla gama de opções para atuar através de processos que são

frequentemente interpessoais ou sociais. No entanto, é importante ressaltar que

existem diversos e variados modelos de GC, conforme mostrado no quadro 2.

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Quadro 2 – Resumo dos Modelos de Gestão do Conhecimento

AUTOR MODELOS DE GESTAO DO CONHECIMENTO

Beer (1981); Bennet e Bennet (2004)

Partem do pressuposto de que a organização é um sistema inteligente complexo e adaptativo, tratando-a como uma entidade viva. A gestão do conhecimento está relacionada à criatividade, resolução de problemas, tomada de decisão e implementação.

Wiig (1993) Sense-making – parte do princípio de que para o conhecimento ser útil e valioso precisa estar organizado; desta forma, o foco está na definição de diferentes níveis de internalização do conhecimento.

Nonaka, Takeuchi (1995)

SECI – baseia-se na crença de que conhecimento (tácito e explícito) pode ser codificado, armazenado e transmitido e de que a criação do conhecimento não se dá por um processo linear, sendo dependente de contínua interação entre conhecimento tácito e explícito. Segundo os autores, a gestão do conhecimento se desenvolve por meio de: socialização, externalização, compartilhamento e internalização do conhecimento.

Von Krogh e Roos (1995)

Fazem a distinção entre conhecimento individual e conhecimento social, trazendo uma visão epistemológica da gestão do conhecimento.

Choo (1998) Tem como foco a relação entre os elementos da informação e a efetividade na tomada de decisão.

Boisot (1998) I-Space – é baseado no conceito de "boa informação", de bens de informação que são altamente dependentes dos seus receptores e emissores num processo de comunicação. O compartilhamento de conhecimento exige que remetentes e receptores estejam integrados em um contexto comum sob um esquema de codificação da informação. Os dados são compreendidos por meio da relação entre receptores e emissores via processos de codificação e abstração.

Heisig (2001) O modelo é composto de quatro processos: criação, armazenamento, distribuição e aplicação.

McElroy (2002) O conhecimento existe apenas depois de ser produzido e depois disso pode ser capturado, classificado e compartilhado. Divide a criação do conhecimento em dois grandes processos: produção do conhecimento e integração do conhecimento. Introduz dois novos conceitos: o lado da demanda e o lado do fornecimento.

Probst, Raub e Romhart (2002)

A gestão do conhecimento é dinâmica em constante evolução. Envolve oito componentes que formam dois ciclos, um interno e outro externo. O ciclo interno é composto pelas etapas de: identificação, aquisição, desenvolvimento, distribuição, utilização e preservação. Existindo dois outros processos no ciclo externo que fornecem a direção para todo o ciclo de vida da gestão do conhecimento: os alvos do conhecimento e a avaliação do conhecimento.

Fonte: Sohn et al. (2014).

A GC também pode ser entendida como método de mobilização do

conhecimento com a finalidade de alcançar objetivos estratégicos e melhorar o

desempenho da organização por meio da interação e integração de pessoas,

tecnologia e processos, de forma a criar, compartilhar e aplicar conhecimento de

maneira sistemática e integrada para alcançar resultados pretendidos, além de

aumentar a capacidade de conhecimento coletivo dos indivíduos, equipes e de toda

a organização, sendo que algumas das principais abordagens que dissertam sobre

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33

ciclos da GC estão resumidamente descritas no quadro 3 (BATISTA, 2012;

NONAKA; TAKEUCHI, 2008; DALKIR, 2005).

Quadro 3 – As principais abordagens sobre Ciclo da Gestão do Conhecimento

Fonte: Adaptado de Batista (2012); Evans et al. (2015).

Wiig (1993) apud Evans at al (2015, p. 14) foi o primeiro a falar da

necessidade de um modelo prático para GC, sendo que os autores dizem que o

conhecimento é "um dos conceitos mais nebulosos e difíceis encontrados nos

esforços pragmáticos para a realização de negócios”.

O modelo de Wiig (1993) está baseado no princípio de que, para que o

conhecimento seja útil e valioso deve ser organizado, e isso pode ser feito por meio

de formulários, por exemplo (DALKIR, 2005).

Os estudos de Wiig (1993) pontuam que a construção do conhecimento passa

pelo aprender com a experiência pessoal, com a educação formal, o treinamento, os

meios de comunicação, livros, pares, etc., que se tornam instrumentos para o

CICLOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO Principais Abordagens

AUTOR (A) OBRA ANO CONSTRUTOS

WIIG Knowledge management foundations: Thinking about thinking. How people and organizations create, represent and use knowledge

1993 Desenvolver, reter, compartilhar e usar. A construção do conhecimento pressupõe aprender com a experiência pessoal, com a educação formal e treinamento; fontes de inteligência, meios de comunicação, livros e pares.

MEYER e ZACK

The design and development of information products

1996 Focam mais aspectos da arquitetura de produtos e ferramentas de informação. Aquisição / Repositório de pesquisa / Resultados. Fontes / Refinamento / Armazenamento / Distribuição / Apresentação.

BUKOWITZ WILLIAMS

Manual de Gestão do Conhecimento: Ferramentas e Técnicas que criam valor para a empresa

2002 Processos Táticos: obtenha, utilize, aprenda e contribua. Processos Estratégicos: avalie, construa, mantenha e descarte.

McELROY The new knowledge management: Complexity, learning, and sustainable innovation

2003 Aprendizagem individual e coletiva. Formulação de asserções de conhecimento. Aquisição da informação. Validação do conhecimento. Integração do conhecimento.

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armazenamento, uso e intercâmbio do conhecimento. E tanto a retenção quanto o

compartilhamento permitem sua reutilização de diversas maneiras, de acordo com o

contexto e finalidade, levam a novos desenvolvimentos (DALKIR, 2005; BATISTA,

2012; EVANS et al., 2015).

Meyer e Zack (1996) apud Dalkir (2005) falam que a ênfase da GC deve se

concentrar nos aspectos inerentes à arquitetura de produtos, ferramentas de busca,

informação, aquisição, repositórios, fontes de refinamento, armazenamento,

distribuição e apresentação de resultados.

Os processos táticos e estratégicos estão descritos na obra de Bukowitz e

Williams (2002) que estruturam a GC como: os processos táticos decompostos em:

obtenção, utilização, aprendizagem e contribuição, e os processos estratégicos

decompostos em: avaliação, construção, manutenção e descarte (DALKIR, 2005).

Aspectos complexos da aprendizagem individual e coletiva são tratados por

McElroy (2003), que fala sobre formulações, processos de aquisição e validação da

informação, e de que modo se transformam em novos conhecimentos que passam a

integrar as experiências (DALKIR, 2005).

O modelo de Von Krogh e Roos (1995) adota uma abordagem de

epistemologia organizacional que enfatiza que o conhecimento reside tanto na

mente dos indivíduos quanto nas relações que se formam com outras pessoas.

Choo e Weick (1998) adotaram uma abordagem que se concentra em como

os elementos de informação são alimentados em ações organizacionais, criando

conhecimento que ajude nas tomadas de decisão. Dalkir (2005) indica que o modelo

proposto por Choo (1998) é um dos mais viáveis e realísticos encontrados na

literatura e tem como ponto forte o tratamento das etapas do ciclo de vida da gestão

do conhecimento e sua influência na tomada de decisão organizacional para o

desenvolvimento de estratégias.

O entendimento de que uma organização funciona e depende de sistemas

inteligentes, adaptativos e complexos de Beer (1981), Bennet e Bennet (2004) é

particularmente adequado e parte do pressuposto de que uma empresa é uma

entidade viva e a gestão do conhecimento estaria relacionada à criatividade para

auxiliar na resolução de problemas, tomadas de decisão e implementação de

soluções.

O conhecimento pode estar tanto na cabeça dos indivíduos, quanto

armazenado em um banco de dados segundo Dalkir (2005) que diz que o mesmo

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35

deve ser visto como base para originar novas reivindicações e resultar em novos

ciclos como condição para as organizações conduzirem seus negócios, mas isso

depende de que a empresa disponha de estrutura que contemple produtos e ou

serviços, clientes, recursos, pessoas, capital, estrutura e instalações.

O aprofundamento da autora nas abordagens de Wiig (1993), Bukowitz e

Williams (2000), McElroy (2003), Meyer e Zack (1996), segundo Batista (2012),

permitiu a formulação de um modelo bem sucedido de avaliação para os Ciclos da

Gestão do Conhecimento.

2.5 O Modelo de avaliação da GC de Dalkir

Os principais modelos teóricos de GC enfatizam que os mesmos podem

ajudar as organizações a encontrar uma fórmula ou roteiro válido para que a gestão

do conhecimento consiga produzir artefatos de acordo com objetivos estratégicos

dos negócios, ainda que só parcialmente (BATISTA, 2012).

Um programa sustentável de GC tem como elementos-chave a gestão

eficiente e efetiva de memória organizacional, além de papéis e responsabilidades

bem definidos. Um modelo coerente de processos, baseado no conhecimento, é

crucial para a GC, sendo que modelos ajudam a juntar as diferentes peças de um

quebra-cabeça levando a uma melhor compreensão de todo o panorama, que não

ocorre de forma sequencial, e por isso é importante assegurar que o conhecimento

seja sustentado, mas é preciso atualizá-lo e retroalimentá-lo de forma permanente,

gerando assim novos conhecimentos, produtos, processos, etc. (DALKIR, 2005).

Os modelos de GC selecionados por Dalkir (2005) consideram uma

abordagem que leva em consideração pessoas, processos, organização e

tecnologia, além de literatura amplamente criticada e discutida por profissionais,

acadêmicos e pesquisadores, bem como testes de campo que trazem confiabilidade

e validade.

O modelo de avaliação dos Ciclos da Gestão do Conhecimento de Dalkir

(2005) visa à identificação de novos conhecimentos considerados como resultados

tangíveis reaplicados de acordo com contexto e finalidade. O desenvolvimento do

conhecimento se relaciona com a capacidade da organização de processar

informações, mudando a gama de comportamentos possíveis e com isso seus

respectivos resultados, que passam pelas etapas de criação, captura,

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36

contextualização, compartilhamento e disseminação, aquisição e aplicação,

avaliação, atualização e reutilização, conforme apresentado na figura 5.

Figura 5 – Modelo do Ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir

Fonte: Dalkir (2005).

Ao se identificarem as fontes de retroalimentação do conhecimento é possível

visualizar uma espiral cujo polo forma uma curva plana que gira em torno de um

ponto central. Dalkir (2005) afirma que é possível medir de forma explícita como os

conhecimentos são transferidos, quais redes, práticas e incentivos estão instituídos,

e como a aquisição, testes e reaplicação desses conhecimentos permitem a

identificação da efetividade do know-how transferido para o repositório de

conhecimento organizacional.

Da captura até a retroalimentação do conhecimento, conforme indica a figura

6, considera-se que o conhecimento tácito é o know-how, o saber fazer, e o

conhecimento explícito, aquele que representa a documentação dos processos,

métodos, técnicas, etapas e ou ferramentas que foram empregados para se chegar

ao resultado final, transformando-se em um produto, serviço, processo, etc.

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37

Figura 6 – Espiral do Ciclo da GC de Dalkir

Fonte: Elaborado pela autora com base em Dalkir (2005).

A proposta da autora destaca-se por considerar que o conhecimento torna-se

útil e valioso para as organizações quando está organizado, e uma vez que as

relações sociais e esses fluxos possam ser vistos, também podem ser mensurados e

avaliados. O modelo em questão totaliza sete etapas apresentadas em duas fases,

conforme mostra o quadro 4.

Quadro 4 – As duas fases do processo no Ciclo de GC de Dalkir

FASE REQUISITO DO CICLO DA GESTÃO DO

CONHECIMENTO ATRIBUTO

FASE I DO

CICLO DA GC

Captura

Criação

Codificação

Compartilhamento

Acesso

Qualitativos e não

mensuráveis.

FASE II DO

CICLO DA GC

Aplicação do conhecimento

Reutilização do conhecimento

Quantitativos e

mensuráveis

Fonte: Adaptado de Dalkir (2005) e Batista (2012).

Normalmente, o conhecimento tácito tende a ser muito valioso, mas

apresenta um paradigma que reside no fato de que é mais difícil articulá-lo como

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38

conceito, como, por exemplo, "memória organizacional", "história", etc., evidenciado

apenas como referência, mas sem resultados ou dados observáveis.

A autora propõe que para a avaliação dos ciclos da GC é necessário a

criação de modelos e linguagens claras que contemplem taxonomias e conceitos

chaves como: formação de capital intelectual, memória e aprendizagem

organizacional, resultados que podem ser observados nas comunidades de prática.

Para a autora, a GC tem uso bastante apropriado nas Comunidades de

Prática, que são diferentes de outros tipos de associações, cujo objetivo primário é

desenvolver e partilhar conhecimentos, a partir de três pilares:

− Domínio de conhecimento – que se relaciona com a ideia de que seus

membros devem se aperfeiçoar num domínio de conhecimento

− Resultados Práticos – que se relaciona a partilha de experiências,

criação e desenvolvimento de repertórios e as pessoas só se tornarão

especialistas se vivenciarem práticas comuns.

− Retorno à comunidade – que se relaciona ao grupo social em que ocorre

a partilha de conhecimento, no qual a identidade e as perspectivas são

mais ou menos similares.

2.6 Redes e Comunidades de Prática

O conceito de redes é utilizado por vários campos de estudos, como a

Antropologia, a Ciência Política, a Psicologia, a Sociologia e os Estudos

Organizacionais e não há como negar a abrangência e a subjetividade do termo

redes (SACOMANO NETO; TRUZZI, 2004).

Autores como Guechtouli et al. (2013) interessam-se por estudos que falam

sobre a importância das redes e suas propriedades, mostrando que as inúmeras

transações repetidamente produzidas pelas interações entre os diversos indivíduos

(atores ou membros) constituem-se como elementos centrais para a efetiva

transferência de conhecimentos.

Existem diversas abordagens, como apontam Grandori e Soda (1995), que

propõem que as redes se formam e apresentam basicamente três abordagens (i)

econômica; (ii) organizacional; e (iii) social. Castells (2005) é um auor que enfatiza

mais aspectos sociais e afirma que o atual modo de organização da sociedade já

está em rede e é a tecnologia de comunicação que possibilita isso, sendo o

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39

conhecimento tanto o paradigma quanto a ferramenta de uma nova sociedade em

formação (GIGLIO; CARVALHO, 2013).

Pesquisas sobre redes também se interessam pelas transações entre os

atores, fluxos de conteúdos, informações, transparência, velocidade, constância,

além das relações de poder, sinais sociais de cooperação e de confiança, bem como

de parâmetros que indiquem o grau de engajamento e desenvolvimento dos

membros e atores. As organizações procuram operar em rede para enfrentar novos

paradigmas da sociedade que traz novos desafios e também novas oportunidades

(GIGLIO; CARVALHO, 2013).

No campo organizacional, segundo Sohn et al. (2014) as redes podem ser

aplicadas através de joint-ventures, alianças e parcerias estratégicas, distritos

industriais, etc. Augusto de Franco (2008) fala que através de uma rede pessoal

várias redes poderão estar conectadas, mesmo que todos membros não estejam

cientes da existência disso (e de sua rede de relacionamentos) e que muitas redes

se formam porque os participantes estão empenhados em algum tipo de ligação, ou

ainda domínio de interesse especial (FRANCO, 2008).

A sociedade em rede está então caracterizada por novas configurações de

espaço e tempo, relações de negócios, de produção, consumo, poder e de

experiências compartilhadas que são regidas por condições de interdependência e

entrelaçamento indissociável entre fatores sociais e econômicos, tecnologia de

informação e identidade de grupo (GIGLIO; CARVALHO, 2013):

[...] o paradigma a ser seguido pelo pesquisador determinará seus argumentos em busca da essencialidade do fenômeno, mas todos já estamos em rede, variando a estrutura e os conteúdos dos fluxos, uma vez que as mudanças são imprevisíveis e constantes (GIGLIO; CARVALHO, 2013, p. 253).

Segundo Giglio, Carvalho (2013), o tema Redes é bastante amplo e ainda se

encontra em aberto. Essa afirmação também está nos estudos de Nohria, Ecles

(1992), Gulati (1998), Castells (2005) e Balestrin (2006) e esse fenômeno, do ponto

de vista do conhecimento, é observado por diferentes ângulos em Castells (2005) e

está conectada com a afirmação de Nonaka, Takeuchi (1995) que diz que o

conhecimento pode tornar-se uma fonte de vantagem competitiva e que tem impacto

crítico para o sucesso das organizações, portanto das redes.

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40

2.7 Redes de Aprendizado e Conhecimento

A lógica da Sociedade em Rede induz as organizações a incluir em seus

modelos de negócios o conhecimento como recurso estratégico e dessa perspectiva

nascem novas formas de agir, gerir, compartilhar e converter o conhecimento

(HIMANEN, 2001).

O construtivismo social vê o conhecimento não como uma entidade objetiva.

Membros de um grupo produzem conhecimento por suas interações e desse modo

uma memória coletiva é criada, mas o conhecimento é produzido por meio de

entendimentos compartilhados que emergem por meio de interações sociais

(DALKIR, 2005).

O conhecimento como ativo intangível, segundo Wenger et al. (2011), evolui a

partir do reconhecimento e da validação dos pares nas comunidades das quais

participamos, de modo que sem o contexto de comunidades, o conhecimento

humano não faz sentido.

Numa perspectiva de rede, as conexões funcionam como laços, fornecendo

acesso aos fluxos de informação e intercâmbio de aprendizagem, sendo que a

conectividade e a difusão das informações expandem-se de forma exponencial. E se

isso aumenta a chance de acesso útil, também potencializa o nível de ruído que

pode implicar na perda da mensagem (FRANCO, 2008).

O senso comum diz que, se por um lado redes ajudam a difundir

conhecimento (considerado como recurso de aprendizagem) e permitem alta

conectividade, também cobram seu preço, por conta do elevado nível de

espontaneidade e imprevisibilidade sendo os fluxos de informação captados,

interpretados e propagados de forma inesperada (FRANCO, 2008).

No contexto de redes, Guechtouli et al. (2013) consideram as CoP como um

tipo específico de rede, com características similares às apontadas pelos principais

estudiosos do assunto, do ponto de vista de topologia, dinâmica, relacionamentos,

interatividade e diversidade entre os atores, tornando-se um ambiente bastante

apropriado para se gerenciar e compartilhar conhecimentos.

O reempacotamento do conhecimento é um valor importante, que pode

envolver as pessoas, a tecnologia da informação, ou a mistura dos dois. O valor de

aprendizagem em uma rede deriva da capacidade de desenvolver uma intenção

coletiva para promover o conhecimento em torno de um tema ou domínio, sendo

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41

esse o principal desafio e que mantém viva uma comunidade de prática, na qual o

valor deriva de acesso a ricas fontes de informação, oferecendo múltiplas

perspectivas, diálogos, respostas, consultas e ajuda de terceiros.

2.8 Comunidades de Prática

O termo “Redes” é usado para descrever uma teia cujas relações, interações

e conexões têm diversos motivos para se conectar. O termo “Comunidade de

Prática” também define uma rede, só que formada por pessoas que gravitam em

torno de aprendizagem, fluxos de informação e domínio de interesse, cujas ligações

e resoluções se dão para resolver problemas e produzir novos conhecimentos.

CoP e Redes apresentam processos de estruturação distintos. As redes

levam a várias perspectivas de conexão, e as CoP agregam participantes mais

comprometidos com um aprendizado específico, no qual o principal valor é a

aquisição de novas habilidades, competências ou conhecimentos.

Para cunhar o termo Comunidade de Prática, Wenger (1998) partiu do

conceito de que o aprendizado é um ato social e de que as CoP oferecem um

ambiente de aprendizado forte, baseado em trocas de informação tanto síncronas

quanto assíncronas, permitindo que o conhecimento organizacional se desenvolva e

promova o aprendizado coletivo e a inovação organizacional.

Questões como assimetria, densidade e número de interações estão

presentes em todas as redes e Comunidades de Prática, mas estas últimas

conferem também aos participantes (atores ou membros), a sensação de

pertencimento a partir da identificação com um tema ou interesse específico

(WENGER, 2011; GUECHTOULI et al., 2013).

O assunto CoP estuda a reunião informal de pessoas que se agregam por

interesses comuns, especialmente um assunto ou tema, e que têm como principal

finalidade a aplicação prática do aprendizado e a promoção do conhecimento no

grupo, promovendo responsabilidades no processo.

Organizações diversas como Xerox, Monsanto, Accenture, British Petroleum

trazem exemplos bem sucedidos de implantação de GC a partir de Comunidades de

Prática, sendo que algumas delas propiciam especialmente a criação de ferramentas

para aproveitamento de lições aprendidas, como é o caso da Chevron, que utiliza

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42

em seus processos de perfuração as lições disponíveis para novas operações com

características semelhantes (DALKIR, 2005).

Essas empresas introduziram sistemas pelos quais aprendem antes, durante

e após a realização de um projeto, que proporciiona economia concreta de custos ao

introduzir a GC nos processos de aprendizagem e que trazem benefícios e valores

que se propagam a curto e longo prazo.

As CoP, quando funcionam adequadamente, tornam-se exemplos para o

desenvolvimento e aprendizado em grupo ao longo do tempo, conforme apresentado

no quadro 5, promovendo benefícios e valores de impacto na difusão de

conhecimentos, tanto para as organizações quanto para os membros da rede, que

se torna uma comunidade.

Quadro 5 – Benefícios para os membros da comunidade

Para as organizações Para a comunidade

valo

res a

curt

o p

razo

Acesso ao conhecimento;

Maior capacidade para contribuir com a equipe;

Confiança para sua abordagem dos problemas;

Participação mais significativa;

Sentimento de pertencimento;

Capacidade para desenvolver novas estratégias;

Surgimento de capacidades não planejadas.

Ajuda para fazer contato com especialistas;

Estímulo ao aprendizado;

Enfrentamento dos desafios cotidianos no

trabalho;

Aumento da autoconsciência;

Aumento da autoconfiança;

Propicia espaço não ameaçador que

propicia a geração de novas ideias e ações.

valo

res a

lo

ngo p

razo

Fórum para a expansão de habilidades e

competências;

Rede para manter-se atualizado sobre um

campo de estudo;

Melhor reputação profissional;

Aumento da liquidez e da empregabilidade;

Forte senso de identificação profissional.

Aumenta o compromisso;

Aumenta a reputação profissional dos

membros.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2002) e Batista (2012).

O modelo de Wenger (1998) pressupõe que as CoP formam um grupo de

pessoas que compartilham paixão por alguma coisa, e que isso promove uma

interação regular e fomenta o aprendizado, permitindo aos membros realizar suas

tarefas cada vez melhor, de modo que isso constrói e gera gestão do conhecimento.

O trabalho da Comunidade de Prática é desenvolver a parceria de

aprendizagem que cria uma identidade em torno de uma agenda comum. O trabalho

na rede consiste em melhorar a conectividade entre as pessoas, de forma a

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43

aumentar a extensão e a densidade da rede por reforçar as conexões já existentes,

permitindo novas conexões e respostas rápidas.

Uma CoP pode ser entendida de maneira distinta de outras estruturas e pode

ter como propósito, por exemplo, desenvolver produtos e serviços que possam servir

a um determinado segmento de mercado ou contexto organizacional. As CoP

diferem de outros tipos de associações, conforme quadro 6.

Quadro 6 – Comparação resumida das estruturas de associação

ESTRUTURA PROPÓSITO

OU OBJETIVO

FORMA DE

PARTICIPAÇÃO

FORMAS DE

AGREGAÇÃO

DURAÇÃO

PERENIDADE

COMUNIDADES

DE PRÁTICA

Definir seu

lugar ou papel

na comunidade;

desenvolver

expertise de

seus membros.

Autosselecionado

por interesses

comuns.

Afinidades,

envolvimento e

identificação

com a expertise

ou base prática.

Enquanto houver

interesse em melhorar

a prática ou

compromisso tácito.

EQUIPE DE

TRABALHO

FORMAL

Realizar

determinado

trabalho que foi

definido para o

time.

Qualquer um que

foi determinado

para compor a

equipe.

Por tarefa,

performance e

metas

contínuas.

Prazo determinado até

a conclusão.

EQUIPE DE

PROJETO E/OU

FORÇA-TAREFA

Visa atender

tarefa

específica.

Definido pela

gerência.

Por marcos do

projeto e metas

bastante claras.

Até que o projeto ou a

tarefa seja encerrado,

normalmente durante

tempo determinado

REDES NÃO

FORMALIZADAS

Coletar e

compartilhar

informações de

interesse

comum.

Entendimento de

valor recíproco e

aceitação.

Percepção de

valor na

conexão.

Desejo de

pertencer e

participar da

Rede.

Enquanto houver

razões para conexão e

compartilhamento de

informações.

Fonte: Adaptado pela autora a partir de Wenger, Mcdermott & Snyder (2002).

Os elementos estruturais das CoP, cujo entrelaçamento está ilustrado na

figura 7, têm suas descrições elencadas segundo Wenger, McDermott e Snyder

(2002), no quadro 7.

O domínio é o que legitima a comunidade pela afirmação dos propósitos e

valores dos participantes, inspira seus membros a contribuir, participar, e orienta

seus aprendizados, trazendo significado para as ações e atividades.

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44

Figura 7 – Inter-relação dos três elementos estruturais das CoP

Fonte: Wenger (2002).

Quadro 7 – Elementos estruturais que caracterizam as CoP

ELEMENTO DESCRIÇÃO

DOMÍNIO

Quais temas, tópicos e assuntos de interesse auxiliam os membros a

desenvolverem uma compreensão compartilhada criando um senso de identidade

comum, por quais motivos as pessoas se reúnem, a temática tratada no grupo e os

tópicos que atraem seus membros.

COMUNIDADE

A frequência dos encontros, as formas de interação entre os membros, a mediação

de conflitos e as políticas para novos admitidos, a fim de criar um ambiente propício

para o aprendizado, por meio de interação e relacionamentos.

PRÁTICA

Os membros das CoP desenvolvem algum tipo de prática, repertório de recursos

(experiências, histórias, ferramentas) que são compartilhados entre os membros,

incluindo-se o acesso ao conhecimento persistido, as normas para seus membros e

outros que possam se beneficiar dessas habilidades.

Fonte: Wenger (2002).

A comunidade é formada por pessoas – por meio da definição de papéis que

se engajam em atividades conjuntas – as quais se auxiliam mutuamente ao

compartilharem informações, de forma a produzir confiança e equilíbrio entre vários

interesses que se transformam em prática a partir das interações entre membros, do

conjunto de ideias, das ferramentas, informações, estilos, linguagens, histórias e

documentos.

As características básicas das CoP estão descritas no site do Banco Mundial,

conforme mostra o quadro 8. Seus estágios de desenvolvimento passam pelo nível

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45

de engajamento de seus membros e diferentes graus de participação, conforme

ilustra o quadro 9, baseado em Wenger, McDermott e Snyder (2002) que sugerem

que o engajamento é uma das principais características desses arranjos.

Quadro 8 – Características Comuns das CoP

CARACTERÍSTICAS

BÁSICAS DESCRIÇÃO

EMPREENDIMENTO AGREGADOR

Os membros estão lá para realizar algo de forma contínua, algum tipo de trabalho em comum, e enxergam claramente o propósito de seu trabalho como uma “missão”.

ENGAJAMENTO MÚTUO

Os membros da comunidade interagem uns com os outros não apenas no curso do que estão realizando, mas para entender o trabalho, para definir como é feito o mesmo, para mudar o como está sendo feito. Por meio desse engajamento mútuo os membros também estabelecem suas identidades no trabalho.

REPERTÓRIO COMPARTILHADO

Os membros da comunidade não apenas têm um trabalho em comum, mas também métodos, ferramentas e mesmo linguagem, histórias e padrões de comportamento como contexto cultural do trabalho.

Fonte: Perguntas frequentes sobre CoP – Banco Mundial. Disponível em <http://www.ecvet-team>. Acesso em 16 de fevereiro de 2016.

Quadro 9 – Grau de engajamento nas CoP

ENGAJAMENTO DEFINIÇÃO

Grupo principal Grupo com menor número de pessoas cujo envolvimento fundamental traz valor para a CoP.

Participação completa Indivíduo reconhecido como praticante ou especialista, que é atraído por ter interesse nos temas tratados pela CoP.

Participação periférica Indivíduo pertencente a CoP, mas com grau menor de envolvimento. Geralmente são novatos ou ainda com baixo compromisso com as práticas.

Participação transacional Indivíduo fora da CoP que interage ocasionalmente.

Acesso passivo Universo de pessoas com acesso aos artefatos produzidos pela CoP.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger, McDermott e Snyder (2002).

Ao discutir como incentivar o aprendizado dentro de uma comunidade,

Wenger (1998) alerta sobre as dificuldades com que se pode deparar quando se

pretende extrair o conhecimento de uma prática e afirma que o aprendizado está tão

ligado à prática que normalmente não é percebido, e que ocorre a partir das

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46

interações na rede com outros indivíduos. E, conforme aponta Granovetter (1985),

também depende do grau da variável imersão (embedded) do ator.

São as atividades dos participantes e o grau de entendimento comum e de

participação que possibilitam o engajamento que determina o funcionamento das

CoP e não seus limites físicos, presença, fronteiras. Numa CoP, a prática deve ser

indissociável da teoria, e os novatos devem aprendem com veteranos e com o

tempo (WENGER et al., 2002).

Lave e Wenger (1991) falam da legitimidade da participação dos atores nas

CoP e sua estrutura específica depende de um corpo de pessoas experientes ou

especialistas que serão fonte de conhecimento para os novatos que poderão, no

futuro, tornar-se especialistas a partir da prática, incrementando suas competências

a partir de sua participação, mas isso não ocorre de forma isolada, desse modo os

autores apresentam sete princípios fundamentais para se desenhar, implantar e

cultivar uma CoP de sucesso. São eles:

1. Projetar ou elaborar um desenho que permita ou contribua para

evolução permanente. Isso pressupõe identificar quais elementos são

catalisadores e a presença constante de coordenadores e especialistas.

2. Contemplar perspectivas internas e externas e estabelecer diálogo.

Demanda que indivíduos que ainda não pertençam à comunidade sejam

subsídios valiosos para engajar a participação desses elementos

externos.

3. Motivar e atrair diferentes níveis de participação. Pressupõe que o

interesse pessoal não seja o único motivo de atração.

4. Desenvolver espaços públicos e privados para a comunidade.

Pressupõe criar atividades tanto em nível aberto quanto em nível restrito.

5. Concentrar e manter foco no valor. Pressupõe produzir resultados que

atraiam os integrantes. É desejável que a comunidade descubra seu

potencial.

6. Combinar familiaridade e motivação. Pressupõe oferecer um ambiente

favorável para o compartilhamento de ideias, busca de ajuda e

atualização técnica de forma confiável.

7. Criar ritmo. Refere-se ao estágio de desenvolvimento da comunidade.

Isso inclui atividades como encontros, conferências, web site, almoços,

projetos e eventos especiais.

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47

2.9 Comunidades de Prática e resultados para as organizações

Segundo Batista (2012), as CoP trazem benefícios para as organizações,

como o desenvolvimento de novas estratégias, geração de novas ideias, linhas de

negócio, resolução de problemas, transferência de melhores práticas, recrutamento

e manutenção de talentos, desenvolvimento de competências e isso requer a

presença de três traços principais: 1) Compromisso mútuo assumido entre os

membros; 2) Empreendimento e repertório comum de rotinas; 3) Conhecimentos e

regras tácitas de conduta.

Por meio das ações das CoP, as empresas podem obter vantagens como a

realização de novas alianças e parcerias estratégicas, compartilhamento de

conhecimentos. As CoP propiciam resoluções mais rápidas de problemas,

minimizando retrabalhos e reduzindo limitações geográficas e esforços, ao oferecer

opções para colaboração e permitir o auto-desenvolvimento, estimulando a criação,

disseminação e compartilhamento de informações (WENGER et al., 2002).

Uma comunidade de prática é caracterizada, sobretudo, pela oportunidade de

seus membros desenvolverem suas capacidades, construindo conhecimento por

meio do intercâmbio mútuo de múltiplas experiências, bem como por meio da

incorporação de uma competência socialmente legitimada (WENGER, 1998;

WENGER et al., 2002).

Desse modo, organizações que consigam incorporar em sua estratégia o

conhecimento como elemento unificador podem construir novas capacidades

organizacionais baseadas na aprendizagem. Assim, as CoP podem emergir do

espaço social entre equipes de projeto e de diversas redes (SBGC, 2016).

No documento do Banco Mundial Taking Communities of Practice Global

Session Brief, as comunidades de prática foram identificadas como um excelente

caminho para que os grupos pudessem aprender e compartilhar conhecimento,

melhorar suas práticas e apoiar a colaboração, tanto dentro como entre as

organizações, sendo esse um dos motivos pelos quais as empresas se interessam

por criar e implantar CoP (WORLD BANK, 2016).

No Banco Mundial, as CoP são extremamente numerosas e diversificadas,

com mais de 100 grupos temáticos (TGs) a fim cobrir grande variedade de tópicos.

Além disso, existe um grupo específico criado pela necessidade de partilhar ideias e

boas práticas entre as CoP (WORLD BANK, 2016).

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48

No Banco Mundial os grupos temáticos são criados a partir de lacunas de

conhecimento em uma área específica e desse modo, muitas comunidades de

prática são criadas e avaliadas de diferentes maneiras e diferentes indicadores, a

fim de capturar, organizar, disseminar conhecimentos e experiências sobre temas de

específicod em todo o mundo. Embora haja diificuldades ao se medir, alguns

indicadores mostram que o conhecimento compartilhado é amplamente utilizado e

as boas práticas e lições aprendidas são disseminadas e tem importância para os

membros e organizações, conforme mostra o quadro 10 (WORLD BANK, 2016):

Como promotor de conhecimento globalmente, o Banco Mundial facilita a interação regular das equipes e suporta o compartilhamento de conhecimentos práticos, decorrentes da experiência do programa. Por sua vez, esse conhecimento experiencial então pode ser usado para moldar a política, ou o desenho ou a evolução de um programa (WORLD BANK, 2016).

Quadro 10 – As CoP ao longo do tempo nas organizações

IMPORTÂNCIA NO CURTO PRAZO IMPORTÂNCIA NO LONGO PRAZO

mem

bro

s Ajuda para enfrentar desafios;

acesso ao conhecimento de especialistas;

trabalho agradável;

reconhecimento da importância do trabalho

realizado.

Desenvolvimento pessoal;

melhoria da reputação;

identidade profissional;

formação de redes de relacionamento;

confiança em si próprio.

org

an

ização

Solução de problemas;

economia de tempo;

compartilhamento do conhecimento;

sinergia entre unidades, equipes;

reutilização de recursos.

Melhoria da capacidade estratégica;

tendência a inovação;

retenção de talentos;

novas estratégias;

manter-se no mesmo nível da concorrência.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2002) e Batista (2012).

A liderança e associação às CoP é voluntária e aberta a todos os funcionários

do banco mundial e, por vezes, ao público. Algumas recebem financiamento e a

rede abriga mais de três mil comunidades de prática, com a intenção de reunir um

grupo de pessoas que resolvem se aglutinar para realizar empreendimentos comuns

em torno de um domínio de conhecimento, especialmente ligados ao

desenvolvimento e ao bem estar da humanidade (WORLD BANK, 2016).

Ao longo do tempo, organizações de diversos segmentos experimentaram

implementar Comunidades de Prática, tanto para atender suas próprias

necessidades quanto para compartilhar ou atrair novos conhecimentos de

especialistas. O quadro 11 exemplifica algumas experiências das organizações ao

longo do tempo.

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49

Quadro 11 – Resultados de experiências obtidas com as CoP

Organizações Área de atuação Ano de

implantação

Experiências

IBM Serviços de tecnologia

1995 Mais de 60 CoPs criaram novos conhecimentos diversos.

BANCO MUNDIAL

(WORLD BANK)

Instituição financeira

1996 Mais de 120 CoPs com cerca de 2.000 membros e resultados globais.

ANDERSEN CONSULTORIA

Consultoria 1996

Aquisição de uma cultura baseada na colaboração e no trabalho em equipe economizando em custos e aumentando a produtividade.

ERNEST E YOUNG Consultoria 1997 Reutilização de informações e documentos criados para casos anteriores e semelhantes.

FORD Automotiva 1999 Aumento de eficiência na produção.

SCHUMBERGER Serviços de tecnologia

2000 Criação de cultura de compartilhamento do conhecimento.

XEROX Serviços de tecnologia

2000 Geração do conhecimento e inicialização do processo de identificação de competências centrais.

WATSON WYATT Consultoria 2000 Compartilhamento do conhecimento entre diferentes ambientes da organização.

DEPARTAMENTO DE DEFESA (USA)

Administração pública

2001 Aceleração das decisões corporativas, economia de custos e aumento de produtividade.

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO E TECNOLOGIA (IBICT)

Administração pública

2007 Melhoria da aprendizagem organizacional.

Fonte: Adaptado de Roberts (2006) e Wenger et al. (2002).

Alguns trabalhos sobre CoP também falam da sua importância ao longo do

tempo, dos benefícios para seus membros e para a organização ou, ainda, como

ajudar a enfrentar desafios e agregar valor ao permitir compartilhamentos entre

profissões ou situações de trabalho, equipes, estruturas organizacionais, unidades

de negócios, formando novos relacionamentos e redes.

O quadro 12 mostra que as CoP podem apresentar uma série de vantagens

como um ambiente específico para as organizações e suas redes e uma ferramenta

para desenvolvimento, compartilhamento e gerenciamento de conhecimento

Page 52: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

50

especializado. A adoção de CoP pode trazer desvantagens, especialmente para

organizações que não se adaptam a mudanças constantes.

Quadro 12 – Vantagens e desvantagens das experiências obtidas com as CoP

VANTAGENS DESVANTAGENS

Ferramenta para desenvolvimento,

compartilhamento e gerenciamento de

conhecimento especializado e fórum para

benchmarking.

Propicia assumir riscos com o apoio da

comunidade.

Permite a realização de pesquisas para

implementar estratégias.

Ambiente para resolução de problemas,

aumento da coordenação, padronização e

sinergia.

Melhoria nos padrões de qualidade,

conhecimentos repetitivos e retrabalho.

Dissolução de barreiras departamentais.

Flexibilidade da comunicação.

Geração de novos conhecimentos.

Necessidade da cultura do voluntarismo.

Manutenção permanente de conteúdos.

Alguns temas demandam alta dependência de

tecnologia.

Estabelecimento de ligações conforme os

objetivos (econômicos, ou sociais).

Dependente da natureza das relações

(doméstica, pública, ou comercial).

Sucesso pode estar vinculado ou depender do

tamanho ou do número de atores, da

densidade ou do número de ligações na rede.

A estabilidade ou perenidade é dependente do

domínio, do assunto ou do tema de interesse.

Necessidade constantes de mudanças.

Análise de mudanças.

Fonte: Adaptado pela autora com base em Wenger (1998) e Batista (2012).

A aplicação e a disseminação de conhecimento nas redes formadas pelas

CoP dependerá do grau de maturidade, de forma que permita ajudar a organização

a aprender e a responder com eficácia a problemas como a alocação de recursos,

tomada decisões, alinhamento de obrigações, etc.

2.10 Comunidades de Prática e indicadores dos Ciclos da GC

Desde a construção até a manutenção de uma CoP é preciso que alguns

elementos sejam permanentemente avaliados ao longo do tempo, por exemplo:

atenção às tendências e questões-chave sobre o domínio ou tema, número mínimo

ou ideal de pessoas e participantes, requisitos de admissão de membros e

patrocinadores, funções dos líderes e facilitadores, ferramentas e tecnologias de

suporte e atividades de divulgação e catálise.

Capturar dados e indexá-los permite criar indicadores que podem ser

comparados ao longo do tempo e isso possibilita avaliar efeitos, minimizar riscos ou

maximizar resultados, sendo uma tarefa de avaliação que precisa ser levada em

Page 53: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

51

consideração nas CoP. Wenger et al. (2011) criaram um quadro conceitual que

fornece exemplos de indicadores divididos em cinco ciclos e que tem como objetivo

promover um sistema de avaliação que indica atalhos para a construção de

Comunidades de Prática.

Uma visão geral sobre o modelo conceitual de Wenger et al. (2011) estão

elencadas nos quadros 13 a 17 que mostra que para serem construídos os

indicadores, dependem de várias fontes de dados e instrumentos e de uma estrutura

para captação, conforme o objetivo do respectivo ciclo.

O primeiro ciclo procura captar indicadores que analisam as atividades,

participação e interatividade nas CoP e seu alcance na Rede, levando-se em

consideração aspectos que podem ser afetados pela aprendizagem social.

O segundo ciclo pretende captar indicadores de capital de conhecimento, ou

seja, qual é seu valor potencial e como ele é produzido. O terceiro ciclo busca

capturar o valor de como essa aprendizagem é aplicada, isto é, que diferença as

CoP fazem na vida prática das pessoas e, de algum modo, em que contexto.

O quarto ciclo analisa aspectos de desempenho relacionados ao uso de

conhecimento, das relações sociais, como esse valor é realizado e que diferença

isso faz para as pessoas e organizações. O ponto aqui é encontrar métricas de

desempenho relacionadas com as contribuições potenciais das comunidades e

redes.

O quinto ciclo interessa-se especialmente em entender o relacionamento com

os diversos públicos ou stakeholders, de modo que a compreensão desses

indicadores possibilite a avaliação dos sucessos obtidos, e quais alterações devem

ser levadas em conta, tanto em relação aos participantes quanto em relação ao

ambiente.

− Ciclo 1 – Indicadores de atividades e participação na rede ou valor imediato

Os indicadores para esse ciclo referem-se às atividades das comunidades e

das redes. Aqui a intenção é capturar em números qual o valor imediato, ou seja, o

que acontece e qual intensidade de discussões e desafios resulta das experiências

das CoP em termos de ligações e conexões nas redes, quais são as interações e

participações dos membros e como isso se reflete em reputação para a comunidade

(quadro 13).

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52

Quadro 13 – Primeiro Ciclo – Indicadores de valor imediato da CoP

INDICADOR

INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS

Nível de Networking Listas de contatos. Número total de pessoas.

Novas conexões feitas.

Características dos participantes ativos.

Nível de participação

Participação em reuniões.

Logs e estatísticas do site.

Listas de participantes.

Sistemas de teleconferência.

Número de inscrições.

Pessoas que se inscreveram.

Nível de atividade ou responsividade

Quantidade de respostas.

Pontualidade das respostas.

Número de consultas.

Periodicidade das reuniões.

Nível de engajamento Intensidade de discussões.

Desafios dos pressupostos.

Número de consultas.

Periodicidade das reuniões.

Qualidade das interações Debates sobre questões importantes.

Feedback sobre a qualidade das respostas a consultas.

Nível de diversão.

Experiência da prática para o espaço de aprendizagem.

Participação e valor da participação

Formulário de feedback. Pessoas que retornam para a Comunidade

Valor das conexões Relatórios pessoais.

Freqüência de interações.

Nível de colaboração Projetos. Projetos comuns e número de projetos em co-autoria.

Reflexos na comunidade Meta-conversas sobre a rede. Reputação da rede.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).

Ciclo 2 – Indicadores de capital de conhecimento ou de valor potencial

Indicadores para esse ciclo refletem os vários tipos de conhecimento

produzidos pela CoP. Esses conhecimentos têm o valor potencial de mudar ou

ampliar competências e habilidades dos membros participantes através da

aprendizagem? Elas ocorrem pelo caráter social, humano, ou ainda em decorrência

do uso da estrutura? (quadro 14).

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53

Quadro 14 – Segundo Ciclo – Indicadores de capital de conhecimento ou de valor potencial

INDICADOR

INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS

Competências adquiridas

Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.

Testes e pesquisas.

Informações recebidas Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.

Reflexões da própria comunidade.

Mudança de perspectiva

Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.

Interesse em atividades de aprendizagem e liderança.

Inspiração Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.

Taxas de retenção de membros.

Confiança Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.

Iniciativas e ou riscos assumidos trazendo problemas difíceis e falhas da prática. Tipos e intensidade das

relações sociais Técnicas de análise de redes sociais (SNA)

Número de amigos, blogs, links.

Forma estrutural da rede

Gráficos de densidade de rede.

Agrupamentos distintos dentro de uma rede mais ampla.

Pessoas que agem como gargalos entre agrupamentos ou conectores.

Determinadas métricas podem ser aplicadas, por exemplo, removendo certas pessoas influentes ou certos tipos de links.

Nível de confiança Links/ Formulário de feedback/ entrevistas.

Número de referências ou recomendações da rede.

Produção de ferramentas

Quantidade e tipos de saída. Documentos que informam resultados práticos.

Qualidade de saída Avaliação de produtos.

Freqüência de downloads.

Avaliação de produtos.

Freqüência de downloads.

Documentação Resumos de eventos e discussões.

Perguntas frequentes.

Arquivos e bases de dados.

Reputação na Comunidade

Cobertura de temas relevantes. Comentários de partes interessadas.

Links para o site da comunidade.

Novas aprendizagens Autorrelato / Interesse em atividades de aprendizagem e liderança.

Sistemas de avaliação.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).

Ciclo 3 – Indicadores de conhecimentos aplicados à prática

O uso de conhecimento, suas ferramentas e relações requer melhor

sondagem qualitativa, uma vez que a informação não está prontamente disponível,

sendo que a coleta e a organização desse tipo de informação podem ajudar os

participantes a refletirem sobre como eles realizam suas relações sociais, o que

delas deriva, como aprendem com os outros, como isso é aplicado na prática e que

diferença isso faz no contexto das suas vidas (quadro 15).

Page 56: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

54

Quadro 15 – Terceiro Ciclo – Indicadores de conhecimentos aplicados à prática

INDICADOR

INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS

Implementação de

conselhos, soluções e

insights

Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Acompanhamento de como os

membros têm se adaptado ou

utilizado o aconselhamento de

uma comunidade ou rede. Desta

forma o aprendizado coletivo

continua através da aplicação na

prática.

Inovação na prática Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Novas maneiras de fazer as

coisas.

Novas perspectivas.

Adoção de linguagem e ou novos

conceitos.

Uso de ferramentas e

documentos para informar

a prática

Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Feedback sobre documentos e

ferramentas de pessoas que as

tenham utilizado são indicadores

de valor.

Reutilização de produtos

ou serviços

Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Estimativa de reutilização e

proporção dos mesmos.

Uso de conexões sociais Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Arranjos colaborativos.

Aproveitando conexões nas

realizações das tarefas.

Inovação Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Emprego de novos processos ou

políticas.

Transferência de práticas

de aprendizagem

Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Uso das comunidades, redes ou

outros processos e ferramentas

para a aprendizagem em outros

contextos.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).

Ciclo 4 – Indicadores de melhoria de desempenho ou de valor realizado

Os aspectos de desempenho, tanto dos membros da rede quanto das

organizações em que estão engajados, podem ser afetados pelo uso intensivo da

aprendizagem social, e aqui o que se busca é saber qual a influência da rede em

que estão inseridos e quais resultados finais são encontrados, de modo que há

diferentes medições possíveis, dependendo dos segmentos e setores a que serão

aplicados (quadro 16).

Page 57: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

55

Para agências governamentais, por exemplo, interessa medir a melhoria de

desempenho nos níveis de velocidade e qualidade do serviço ou satisfação do

cidadão. Para organizações educacionais, a satisfação e realizações dos alunos, e

para organizações sem fins lucrativos, a melhoria da qualidade de vida, saúde, etc.

Empresas comerciais podem querem medir melhorias como: participação de

mercado, rentabilidade, produtividade e uso de ativos. Índices esses que, muitas

vezes, já são objetos de medição, mas saber a influência da rede ou da comunidade

nessas métricas pode ser de grande valor.

A reputação dos membros da comunidade pode “respingar” na reputação

organizacional e as métricas e indicadores desse ciclo podem ainda ser comparadas

aos resultados obtidos nos ciclos 2 e 3.

Quadro 16 – Quarto Ciclo – Indicadores de valor potencial das CoP

INDICADOR

INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS

Desempenho

pessoal

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Velocidade e precisão.

Feedback dos clientes.

Realizações.

Desempenho

organizacional

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Satisfação do cliente.

Métricas de negócio.

Resultados do indicador.

Avaliações de projeto.

Reputação

organizacional

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Capacidade de atrair projetos

relacionados ao domínio ou tema.

Produtos do

conhecimento

como desempenho

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Novos clientes.

Clientes interessados em

conhecimento.

Entrega direta de produtos de

conhecimento aos clientes.

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).

Ciclo 5 – Indicadores de valor que refletem o sucesso

Indicadores para este ciclo refletem o que conta como sucesso tanto para os

participantes quanto para o ambiente em que estão engajados e que diferença isso

faz para as partes interessadas, de modo que os valores obtidos possam ser

avaliados e reformulados (quadro 17).

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56

Quadro 17 – Quinto Ciclo – Indicadores de valor que refletem o sucesso

INDICADOR

INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS

Aspirações da

Comunidade

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Nova agenda de aprendizagem.

Novo discurso sobre o valor.

Nova visão.

Avaliação Autorrelato / Formulário de

feedback/ entrevistas.

Follow-up.

Novas métricas.

Novos processos de

avaliação.

Relacionamentos com as

partes interessadas

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Diferentes conversas com as

partes interessadas.

Envolvimento das partes

interessadas

Novos conjuntos de

expectativas.

Mudanças institucionais Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Novas direções estratégicas

que refletem o novo

entendimento.

Surgimento de novos

modelos

Autorrelato / Formulário de feedback/

entrevistas.

Follow-up.

Novos sistemas sociais,

institucionais, jurídicos ou

políticos (emergentes ou

criados).

Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).

2.11 Comunidades de Prática de Logística Reversa

As fronteiras entre as CoP e redes não são fixas e estão continuamente

mudando. Mesmo pequenas organizações podem beneficiar-se de uma comunidade

de prática específica, que pode fazer parte de um grande número de constelações,

de onde surgem inúmeras interações e práticas. “Comunidades interorganizacionais

de prática ajudam a manter a experiência interna reforçando relacionamentos com

parceiros” (WENGER et al., 2002, p. 220).

Inicialmente o valor principal de uma CoP pode ser apenas encontrar

soluções para pequenos problemas de seus membros, mas, com o tempo, ao

promover interação com outras redes, compartilhando experiências, eventos,

atividades e conhecimento a todos os integrantes, tende a trazer, criar ou

implementar novas soluções para desafios como os impostos por uma lei que

afetará o cotidiano da sociedade, das empresas e toda sua cadeia produtiva.

Dentro das organizações que precisam utilizar a LR, as práticas de GC

podem apoiar negócios que desejam utilizar melhor seus recursos de aprendizagem,

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57

gerar valor e obter resultados produtivos. Isso está expresso no site da SBGC que

tem por finalidade:

[...] promover a integração entre academia, terceiro setor e organizações públicas e privadas interessadas em praticar, desenvolver e pesquisar o tema Gestão do Conhecimento para o aumento da efetividade das organizações, a competitividade do País e a qualidade de vida das pessoas (SBGC, 2016).

A conexão entre uma Comunidade de Prática que tem a Logística Reversa

como domínio ou tema está no atendimento de fatores como: interconectividade,

interdependência, fluxo rápido, tempo curto de resposta, flexibilidade, uso do

conhecimento coletivo, constância de compartilhamento e trocas.

Organizações que se beneficiarem do processo de logística reversa podem

obter melhor vantagem competitiva, economias ou ainda construção ou preservação

da imagem. A LR aborda aspectos do ciclo de vida do produto, inclusive os reversos,

que devem retornar para o ponto de origem onde podem ser descartados,

reparados, reutilizados ou reciclados, e isso implica em práticas que podem tornar-

se estratégicas para as organizações e a sociedade atual (ROGERS; TIBBEN-

LEMBKE, 2001; BRITO et al., 2004).

Seguindo esses critérios, as CoP que praticam a LR de resíduos sólidos

precisarão estar conectadas com empresas, tecnólogos, governos, cooperativas,

catadores, etc. para gerar novos conhecimentos para atender à lei 12.305/10, que

estabelece a PNRS:

Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange [...] recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa [...] (Cap. III, Seção II, Art. 31, IV, PNRS, 2012).

2.12 Logística Reversa e a PNRS

Uma economia baseada no conhecimento traz maior complexidade aos

mercados, que devem incorporar a velocidade das mudanças, evolução das

tecnologias, aumento da concorrência, expansão, melhoria das condições de

fornecimento e a tendência de que as organizações não estejam limitadas apenas

às suas cadeias produtivas.

Page 60: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

58

As responsabilidades do grupo e dos indivíduos em relação aos resultados

finais obtidos nas organizações são temas apresentados por Davenport et al. (1990).

Lambert et al. (1998) que mostram uma estrutura conceitual e um modelo normativo

que evidencia que uma cadeia de suprimentos abrange vários processos-chave a

serem gerenciados e controlados.

A cadeia de suprimentos, segundo Slack et al. (2002), envolve

necessariamente a interligação entre empresas e pessoas dentro e fora da

organização, formando-se assim redes, o que está em total sinergia com processos

de Gestão do Conhecimento nas organizações.

A cadeia ou rede de suprimentos incorpora três grandes conjuntos de

atividades empresariais, entre eles processos de negócios, organização e pessoas,

tecnologias, iniciativas, práticas e sistemas. Organizações que almejam alcançar

qualidade em suas redes de suprimentos devem considerar a qualidade dos cinco

aspectos de suas operações: planejamento, suprimento, produção, entrega e retorno

(COSTA NETO; CANUTO, 2010).

Durante um longo período, a logística reversa tinha pouca importância frente

às demais atividades das organizações, mas devido a fatores tecnológicos que

permitem maior cobrança e à conscientização da sociedade, a LR vem adquirindo

novo status nas atividades das cadeias de suprimento (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,

1998; BRITO et al., 2004).

A logística empresarial, conforme Ballou (2006) foi muitas vezes tratada de

modo fragmentado pelas organizações, que inicialmente focavam apenas nas

funcionalidades, sem lidar com o gerenciamento do conhecimento e os autores do

tema que na época apenas discutiam custos de transações e benefícios para se

ofertar produtos e serviços no lugar e tempo apropriado e apenas dois tipos de

logística: 1) logística de abastecimento ou interna; 2) distribuição física ou externa.

As atividades-chave da logística são a gestão de estoques; o processamento de

pedidos e o transporte. As atividades de suporte ou apoio são a armazenagem,

compras, gestão de informações, o manuseio de materiais e embalagem (BALLOU,

2006; COSTA NETO; CANUTO, 2010).

Desse modo, a logística consiste numa atividade integradora que influencia o

ambiente de negócios e abrange toda a cadeia de suprimentos, oferecendo

oportunidades de otimização de custos e melhorias no serviço, especialmente no

atendimento aos clientes. A cadeia de suprimentos traz consequências para todo o

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59

meio-ambiente na gestão de seus fluxos materiais (sólido, líquido, gasoso e

energético), sendo que os processos devem considerar todo o ciclo de vida, desde o

desenvolvimento, embalagem, armazenagem, transporte, uso, reparo,

reaproveitamento e descarte, ou seja, em todas as fases da produção.

O ciclo de vida de um produto pode ser visto como uma série de etapas que

vão desde o seu desenvolvimento, a obtenção de matérias-primas e insumos, o

processo produtivo, o consumo e até a disposição final. A integração dos processos

de negócios, desde o consumidor final até o fornecedor primário, que interliga

clientes e fornecedores, é uma das técnicas que trazem inovação para gestão de

fluxos de materiais e seu reuso.

A logística reversa apresenta definições que foram evoluindo ao longo do

tempo e visa também reduzir os resíduos, desde sua origem até seu consumo, e

reutilizar todos os materiais possíveis, aumentando seu ciclo de reutilização. Nos

anos 80, Rogers, Tibben-Lembke (1998) apresentaram um conceito de logística que

modificou o modo de ver o ciclo de vida do produto, incluindo o movimento contrário

ao fluxo direto na cadeia de suprimentos que permite a redução dos resíduos, a

recuperação de materiais descartados, ou seu respectivo retorno ao mercado,

através de reprocessamento e reinserção no ciclo produtivo (figura 8):

O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999, p. 121).

A evolução do conceito está apresentado em Reis et al. (2015) que fornece a

definição de logística do Council of Supply Chain management Professionals

(CSCMP), como sendo a parte do Supply Chain Management (SCM) que planeja,

implementa e controla o fluxo e o armazenamento eficiente e eficaz direto e reverso

de bens, serviços e das informações relacionadas, desde o ponto de origem até o

ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes,

produtividade e qualidade final.

O modelo SCOR (Supply Chain Operations Reference) desenvolvido pelo

Supply Chain Council (SCC) enfatiza a ideia de que cada nó da rede deve

desempenhar seu papel para garantir a satisfação dos seus clientes e que uma

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60

única ligação fraca prejudica a qualidade de desempenho de toda a rede e,

consequentemente, dos seus produtos e serviços.

Figura 8 – Fluxo do descarte consciente de resíduos

Fonte: Adaptado pela autora de Rogers, Tibben-Lembke (1998) e OCDE (1987).

A sociedade moderna espera das organizações que elas conheçam bem e

possam gerenciar suas atividades logísticas, com especial atenção ao “efeito

chicote”, no qual uma pequena perturbação em qualquer ponta da cadeia pode

causar distúrbios cada vez maiores, podendo trazer graves consequências para toda

a rede (REIS et al., 2015).

As redes de suprimentos podem se utilizar da logística reversa como parte de

suas estratégias de negócios. A preocupação com o meio ambiente, a intensificação

da fiscalização, as exigências no cumprimento de normas e leis estimulam as

empresas a abarcar aspectos de sustentabilidade em seus processos reversos.

Ballou (2006, p.26), diz que “a Logística Empresarial é um campo relativamente

novo do estudo da gestão integrada, das áreas tradicionais das finanças, marketing

e produção”, que reúne um conjunto de processos de negócios e componentes

gerenciais integrados e compartilhamento de informações integradas.

Os novos paradigmas da sociedade enfatizam também que as organizações

devem formular suas estratégias de forma a atender toda a cadeia de valor e

respectivos rastros, também conhecido como “pegada ambiental”.

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61

As extremas mudanças climáticas, os desastres ambientais e o alto consumo

acenderam um alerta que fez a sociedade entender que é preciso viver em

ambientes mais saudáveis e aproveitar melhor os recursos disponíveis na natureza,

isso afeta os processos e desenvolvimento de produtos nas empresas que, de certo

modo, podem contribuir para a conscientização e difusão de boas práticas, ao

estabelecer estratégias que atendam premissas do desenvolvimento sustentável. O

quadro 18 mostra a evolução desse conceito.

Quadro 18 – Evolução da necessidade do desenvolvimento sustentável

Ano Evento

1986 Acidente nuclear da usina Chernobyl.

1988 Constatação de graves desastres ambientais.

1988 Primeira reunião entre governantes e cientistas sobre as mudanças climáticas.

1990 Painel intergovernamental sobre mudanças climáticas.

Protocolo de Kyoto com propósito de reduzir em 5,2% a emissão de gás em relação ao índice de 1990 e estabilizar as emissões de dióxido de carbono.

1992 Eco 92 impulsionou a preocupação com o desenvolvimento sustentável.

1999 Criação do Índice Dow Jones de Sustentabilidade.

2002 Eco 2002 ou Rio +10 acertos e falhas das ações relativas ao meio ambiente mundial.

2012 Eco 2012 – evolução do conceito de sustentabilidade e práticas de controle ambiental.

Fonte: Elaborado pela autora.

A logística reversa entra em sintonia com as premissas do conceito de

Desenvolvimento Sustentável apresentado pela World Comission Environment and

Development (WCED) que traz a seguinte recomendação: “atender as necessidades

do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender as

suas próprias necessidades” (OCDE, 1987).

A LR modifica também o conceito de lixo, sua necessidade de tratamento e

disposição final, e nasce de uma sociedade marcada por intenso desenvolvimento

industrial e tecnológico que, segundo Franco (2000), tem uma produção de resíduos

sem precedentes na história da humanidade e precisa lidar corretamente com o

descarte.

A logística reversa no Brasil parte do conceito de responsabilidade

compartilhada, que é um dos temas centrais capaz de fomentar novos negócios e

mudanças para empresas brasileiras, redes e respectiva cadeia produtiva e pode

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62

gerar economias em remanufatura e isso vai exigir um trabalho conjunto, como

descrito na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Ao tratar do lixo urbano, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é

considerada um marco histórico da gestão ambiental no Brasil, tendo como princípio

a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população,

impulsionando o retorno dos produtos às indústrias fabricantes.

A PNRS traz impacto e obrigações legais, mas também oportunidades ao

fundamentar quais são as responsabilidades compartilhadas que cria novas

demandas, processos, negócios, empresas, associações e traz vantagens para a

sociedade e grupos de diversos setores, que podem se beneficiar da lei que rege o

funcionamento da logística reversa no Brasil.

São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos: [...] integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (Cap. II, art. 6º, XII).

Em seu capítulo III, Seção I, a PNRS traz desafios como a implantação de

instrumentos que encorajam a coleta seletiva e seus respectivos sistemas de

logística reversa, entre outras ferramentas relacionadas à implementação da

responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos definidos pelos

planos de gestão integrada nos munícipios e respectivos acordos setoriais com

status de implantação, conforme quadro 19.

Quadro 19 – Sistemas de logística reversa em implantação pela PNRS

Cadeia Produtiva Status de implantação

Embalagens plásticas de óleos lubrificantes

Acordo setorial assinado em 19/12/2012. Publicado em 07/02/2013.

Lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista

Acordo setorial assinado em 27/11/2014. Publicado em 12/03/2015.

Embalagens em geral Acordo setorial assinado em 25/11/2015. Publicado em 27/11/2015.

Produtos eletroeletrônicos e seus componentes

10 propostas de acordo setorial recebidas até junho de 2013. Proposta unificada em negociação desde janeiro de 2014 com próxima etapa de consulta pública.

Medicamentos 03 propostas de acordo setorial recebidas até abril de 2014 e ainda em negociação para novas operações nas redes de suprimentos. Projeto em etapa de consulta pública.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2016).

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63

A PNRS tem como objetivos manter a qualidade ambiental, a redução,

reutilização, reciclagem e padronização de produtos sustentáveis, o

desenvolvimento de tecnologias limpas, a redução do volume de resíduos perigosos,

o fomento do uso de recicláveis e reciclados, o incentivo a gestão integrada, a

cooperação técnica e financeira, a capacitação em resíduos sólidos, a regularidade

no manejo de resíduos e a prioridade nas contratações sustentáveis (materiais

recicláveis e reciclados), a integração de catadores de recicláveis, a análise do ciclo

de vida do produto, melhoria do processo produtivo e a rotulagem ambiental. O

quadro 20 ilustra impactos da adoção da lei 12.305/10 para empresas, sociedade e

governo e respectivas responsabilidades de cada parte.

Quadro 20 – Impactos da Lei nº 12.305/10

PARA AS EMPRESAS PARA A SOCIEDADE PARA O GOVERNO

É obrigatório controlar custos e medir a qualidade do serviço.

Reciclagem deve avançar. Prefeituras passam a fazer a compostagem.

Marco legal estimulará ações empresariais.

Geração de mais negócios com impacto na geração de renda.

Novos instrumentos financeiros impulsionarão a reciclagem.

Mais produtos retornarão à indústria após o uso pelo consumidor.

Catadores reduzem riscos à saúde e aumentam renda em cooperativas.

Cooperativas são contratadas pelos municípios para coleta e reciclagem.

Aumento na quantidade e melhoria da qualidade da matéria prima reciclada.

Os lixões precisarão ser erradicados.

Municípios farão plano de metas sobre resíduos com participação dos catadores.

Trabalhadores deverão ser treinados e capacitados para ampliar produção.

Responsabilização pelo descarte correto.

Conscientização sobre o descarte correto.

Fonte: PNRS (2012).

Existem vários modelos para tratamento de resíduos, como o uso de aterros

sanitários, que é uma técnica que basicamente consiste da compactação dos

resíduos no solo periodicamente coberto com terra ou outro material inerte. Os

resíduos coletados, dependendo de suas propriedades e características físico-

químicas, formas de contenção e disposição, em especial os resíduos perigosos,

exigem cuidados específicos, que no Brasil são determinados pelas normas da

ABNT: NBR 10004:2004 e NBR 12808:1993.

A reciclagem é a finalização de vários processos pelos quais passam os

materiais que seriam descartados e se inicia apenas após a coleta, separação e

processamento por meio de um conjunto de procedimentos que possibilita a

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64

recuperação do material descartado, que é reintroduzido no ciclo produtivo visando à

produção de novos bens (ALVES, 2003).

Um exemplo ainda fora da regulamentação é o controle e fiscalização da

cadeia de produtos farmacêuticos e medicamentos, cuja destinação final desses

resíduos e suas respectivas boas práticas de fabricação são regulamentadas pela

ANVISA e pelo CONAMA, essas normas não tratam ainda da responsabilidade

compartilhada de cada ente da cadeia farmacêutica e não abordam a questão dos

resíduos de medicamentos domiciliares.

O take-back de medicamentos está implantado de forma diferente em países

como Alemanha, Espanha, França, Itália, Portugal, Suécia, Austrália, Canadá e

Estados Unidos. É importante notar que experiências de pós-consumo, fluxo reverso

e reinserção de materiais no ciclo produtivo ocorrem tanto com o fim da vida útil do

produto quanto por questões ambientais (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016).

Para exemplificar, somente quanto à questão dos resíduos eletrônicos são

produzidas no Brasil 370 mil toneladas ao ano, ou seja, quase 2 kg de resíduo por

habitante, sendo que apenas 2% desse montante são reciclados de forma

responsável. Nesse cenário, a participação e conscientização dos consumidores

para o descarte adequado de computadores, celulares, eletrodomésticos e outros

aparelhos depende também do apoio dos lojistas e fabricantes (PREFEITURA DE

SÃO PAULO, 2016).

Assim vale frisar que novas oportunidades de negócio podem estar ligadas à

criação de modelos que privilegiam a aprendizagem organizacional (como atributo

da Gestão de Conhecimento), a criação e inovação no ciclo produtivo e a sistemas e

controles do fluxo na cadeia de suprimentos que dependem da formulação de

estrátegias de negócios que atendam aos parâmetros do desenvolvimento

sustentável.

Dessa forma, o debate do tema da Logística Reversa nessas Comunidades

de Prática (que por sua natureza conseguem interligar teoria e prática) pode

potencializar processos importantes para a prosperidade organizacional e sociedade

(WENGER, 2011; DRUCKER, 1999).

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65

3 METODOLOGIA

3.1 Plano metodológico

A utilização de métodos científicos pode ser entendida como um conjunto de

atividades sistemáticas e racionais que permite alcançar os objetivos propostos por

meio de conhecimentos válidos (LAKATOS, 1991).

O método científico é a teoria da investigação, que alcança seus objetivos

quando se propõe a cumprir as etapas que vão desde o descobrimento do problema,

passando pelos instrumentos, soluções, até a correção de hipóteses, teorias,

procedimentos, que dão início a um novo ciclo de investigação (YIN, 1994).

A pesquisa é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo,

que requer rigor científico e constitui o caminho para se conhecer a realidade, ainda

que parcialmente. Consiste das seguintes fases: escolha do tema, levantamento de

dados, formulação do problema, definição dos termos, construção das hipóteses ou

proposições, indicação de variáveis, delimitação da pesquisa, amostragem, seleção

de métodos e técnica, organização do instrumental, teste de instrumentos e

procedimentos (LAKATOS; MARCONI, 1991).

Uma pesquisa tem como requisito básico permitir que seus resultados sejam

passíveis de comparação e replicação. Para isso ela deve ser objetiva e confiável

em todas as fases e utilizar uma terminologia comum sobre o significado de

variáveis e sua operacionalização (GIL, 2007).

Os métodos, técnicas e instrumentais devem estar adequados e ser

selecionados de forma a atender diretamente os requisitos do problema a ser

estudado, e a coleta de dados só pode ser iniciada após a elaboração dos

instrumentos, que deve ter ligação com a teoria (LAKATOS; MARCONI, 1991).

Todos os métodos ou multimétodos apresentam vantagens e desvantagens,

mas na medida em que um problema específico é examinado como fenômeno

contemporâneo deve estar diretamente associado ao objetivo da pesquisa e dentro

de seu contexto (YIN, 1994).

De acordo com a natureza da pesquisa, então, se escolhem as técnicas que

serão empregadas e a determinação da amostra, que deverá ser representativa o

suficiente para apoiar as conclusões e partir para a coleta e registro dos dados, para

posterior análise.

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66

A escolha do método e da estratégia metodológica deve-se ao pressuposto

de que será possível a obtenção de dados em níveis, perspectivas e fontes de

evidência, podendo-se incluir diversas sistemáticas que não foram ainda totalmente

estudadas (YIN, 1994).

A criação de um método de investigação é importante na elaboração de um

trabalho científico e visa a conseguir informações sobre determinados aspectos da

realidade, levando a uma melhor compreensão de uma situação dentro de seu

contexto. É importante determinar qual metodologia melhor esclarece e cria

condições para realizar tal investigação, qual lente e estratégia serão adotadas,

tanto para as premissas do método, quanto para os objetivos e a pergunta de

pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 1991).

A pesquisa de campo é utilizada quando o objetivo do investigador é

conseguir informações e conhecimentos acerca de um problema para o qual se

procura uma resposta, para a descoberta de novos fenômenos ou, ainda, das

relações entre fenômenos conhecidos. Consiste também na observação de fatos e

fenômenos que se presume relevante analisar (YIN, 1994).

A primeira fase de uma pesquisa de campo é a realização de uma

investigação bibliográfica que serve para identificar o status de trabalhos já

realizados sobre o tema e as opiniões mais contundentes sobre o assunto. O tema

da pesquisa é o assunto que se deseja provar ou desenvolver e, ao se formular um

problema, diz-se de maneira explícita, clara e compreensível com qual dificuldade

deverá se deparar e como será resolvida (YIN, 1994).

Na fase de execução da pesquisa procede-se a coleta, elaboração, análise,

interpretação e representação dos dados e conclusão. A amostra nada mais é que

uma parcela ou subconjunto selecionado da população a ser pesquisada, escolhida

por conveniência.

Os estudos exploratórios têm por objetivo descrever o fenômeno

detalhadamente e de forma sistemática, através de amostragens flexíveis. As

pesquisas de campo não podem abrir mão dos pré-testes que convergem para

estudos de grupos, instituições, indivíduos ou comunidades, e o método de

abordagem hipotético-dedutivo, com procedimento estruturalista como parte da

investigação de um fenômeno concreto, é analisado a partir de um modelo dentro de

uma realidade estruturada, a fim de que a análise possa explicar a totalidade do

fenômeno, assim como sua variabilidade aparente (LAKATOS; MARCONI, 1991).

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67

Uma variável pode ser considerada uma medida ou classificação que

apresenta valores ou propriedades passíveis de mensuração. No universo da ciência

ocorrem observações de fatos, fenômenos, comportamentos, etc., de onde se

buscam hipóteses, proposições, e daí surgem teorias, fatores determinantes e as

relações de causa-efeito ou correlações.

3.2 O Método Survey

O método de pesquisa Survey refere-se a um tipo particular de pesquisa

social empírica que pode incluir censos demográficos, de mercado, sociais, etc. É

classificada, quanto ao seu propósito, em explanatória, exploratória ou descritiva e

pode ser realizada principalmente através de questionários e guias de entrevistas e

descrita como a obtenção de dados ou informações e características, opiniões ou

ações de determinado grupo, através de um instrumento de pesquisa. O survey

constitui-se num método apropriado para pesquisas que ainda se encontram em

estágios iniciais de investigação e que tenham por objetivo a obtenção de

informações preliminares sobre um tema, de modo que possa oferecer bases e

profundidade para futuras pesquisas (FORZA, 2002).

O instrumento serve para responder questões do “o que?”, “por que?”,

“como?” e “quanto?” através de questionários de múltipla escolha em que se

escolhem ou completam os dados (com ou sem assistência) e ou entrevistas, que

podem ser estruturadas ou semiestruturadas e aplicadas de forma pessoal, por

telefone ou por sistemas de mensagens (BABBIE, 1999).

O quadro 21 mostra um resumo das características de um survey que,

quando objetiva a busca de relações causais com uma teoria, denomina-se

explanatório. É exploratório quando deseja familiarizar-se ou identificar-se com

conceitos, ou com um tópico, e é descritivo quando visa identificar quais situações,

eventos, atitudes ou opiniões se manifestam numa determinada população (FORZA,

2002).

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Quadro 21 – Características do survey

CARACTERÍSTICAS OBJETIVOS

Tamanho da população Coleta de informações de muitas pessoas ou de número relativo.

Tipo de amostra Investigação de todos os membros de um grupo ou apenas de

uma amostra da população alvo.

Tipo de coleta de dados Direta, de forma padronizada, por meio de questionários ou

entrevistas.

Quando utilizar Resultados de programas e políticas sociais ou levantamentos e

avaliação de processos.

Para que Inferências sobre a população alvo ou sobre aspectos

influenciadores.

O que perguntar Atitudes, crenças, opiniões, conhecimentos, comportamentos,

planos e experiências.

Fonte: Adaptado pela autora de Babbie (1999).

O quadro 22 mostra os passos para condução do instrumento e como pode

ser usado como recurso inicial para uma investigação que permite ultrapassar ideias

e conexões sobre a temática, tornando-a mais rigorosa à medida que vai sendo

produzida (BABBIE, 1999; FORZA, 2002).

Quadro 22 – Passos para aplicação do survey

PASSO ETAPA TAREFAS

1 Relacionamento com nível teórico Definiir construto (definições operacionais).

Criar proposições (hipóteses).

Definir fronteiras (unidade de análise e população).

2 Projeção do survey Considerar principais restrições.

Especificar necessidades de informação.

Designar amostra alvo.

Selecionar método para coleta de dados

Desenvolver instrumentos de mensuração

3 Realização de teste piloto Testar procedimentos de aplicação do survey.

Testar procedimentos de tratamento dos que não

responderam, dados perdidos e limpeza dos mesmos.

Avaliar a qualidade da mensuração

4 Coleta de dados para o teste da

teoria

Aplicar o survey

Tratar os que não responderam e dados perdidos.

Entrar com dados e fazer limpeza.

Avaliar a qualidade da mensuração.

5

Análise de dados Analisar dados de forma preliminar.

Testar as hipóteses.

6 Geração de relatório Desenhar as implicações teóricas.

Prover informações para a replicação.

Fonte: Adaptado pela autora de Forza (2002).

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69

Nos estágios preliminares de um survey exploratório, a pesquisa pode ajudar

a determinar os conceitos a serem medidos em relação ao fenômeno de interesse,

bem como melhor medi-los, a fim de descobrir novas facetas do fenômeno. O

instrumento prevê o uso combinado de técnicas diversas como questionários on-line,

entrevistas estruturadas, não estruturadas, sejam elas aplicadas face a face, por

telefone, skype, whatsapp, etc.

O modelo teórico pretende relacionar as ligações entre os conceitos e

posteriormente pode ajudar a descobrir ou fornecer evidências da associação entre

os conceitos e validar limites de uma teoria. Forza (2002) indica que um survey

precisa ser aplicado em número adequado de respondentes e buscar um

refinamento, que é realizado através do pré-teste. Desse modo, este trabalho está

dividido em duas fases que se complementam e compreende as tarefas descritas no

quadro 23.

Quadro 23 – As fases da pesquisa

FASE TAREFAS

1 Realizar pesquisa bibliográfica e de conceitos.

Identificar CoP de LR.

Elaborar questionário de acordo com a teoria.

Convidar participantes selecionados.

Aplicar questionário pré-teste.

Analisar os dados resultados do pré-teste.

Ajustar e refinar o questionário.

2 Designar amostra alvo.

Selecionar o método para a coleta de dados.

Convidar base expandida para participação.

Enviar questionário refinado on-line.

Aplicar entrevistas estruturadas.

Coletar dados capturados.

Analisar dados.

Apresentar resultados.

Escrever conclusões.

Fonte: Elaborado pela autora.

Para este estudo, escolheu-se a pesquisa de campo do tipo exploratória

descritiva, como método de investigação empírica, uma vez que o objetivo é

aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente e fenômeno, a fim de se

clarificar os conceitos através de procedimentos sistemáticos. Para a condução da

pesquisa será utilzado como instrumento um survey, que visa realizar o

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levantamento de fases iniciais da investigação do fenômeno (nas quais geralmente

não há nenhum modelo e os conceitos precisam ainda ter melhor entendimento) a

fim de descobrir novas possibilidades e dimensões da população de interesse.

O método foi escolhido por convergir com a finalidade de identificar-se e

familiarizar-se com os conceitos, uma vez que pretende investigar questões que

ocorrem no momento presente ou recente, trata de situações reais do ambiente para

as quais não é possível determinar variáveis dependentes e independentes. A

aplicação feita de forma impressa ou eletrônica através de instrumento pré-definido

para obter descrições quantitativas de determinada população, sendo em alguns

casos passível de assistência no preenchimento.

A intenção neste trabalho é que os fatos descobertos pela pesquisa empírica

possam esclarecer os conceitos mostrados nas teorias, como um meio para

interpretar, criticar ou revelar, compreender ou explicar o fenômeno de forma mais

ampla.

3.3 Pré-teste: versão piloto do questionário

A versão piloto do questionário teve origem a partir da teoria, e o modelo de

questionário está disponível no apêndice II. A oportunidade de testar o questonário

piloto surgiu a partir dos resultados da combinação dos termos “reciclagem +

logística reversa” realizada no Google dia 01 de junho de 2016 às 14h 59min, que

redirecionou para os sites www.recicleiros.org.br e www.rotadareciclagem.com.br e

desencadeou as seguintes ações:

1. Elaborar listagem das empresas que apareceram.

2. Entrar em contato por e-mail solicitando telefones de contato.

3. Contatar por telefone para obter indicações.

4. Ligar para contato indicado e confirmar visitação.

5. Visitar contato indicado e aplicar questionários.

6. Analisar dificuldades de preenchimento e entendimento.

A partir desses passos surgiu a indicação da Cooperativa Central Tietê de

reciclagem, cujos gestores, dirigentes e cooperados já participam de uma rede de

comercialização de materiais descartados e fazem a separação de produtos pós-

consumo e logística reversa para diversas organizações como: Tetrapak e Pepsi-Co.

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Foi então contatada a Central Tietê, que aceitou participar da pesquisa, sendo

que a cooperativa recebe, recicla ou reaproveita lixo descartado, faz coleta, triagem,

reciclagem, processamento, beneficiamento e comercialização de sucatas e

resíduos sólidos urbanos como: embalagens longa vida, metais, papel branco,

plástico e vidro, agendou-se a aplicação do piloto, que teve por objetivo detectar

possíveis dificuldades de preenchimento e de entendimento, além de medir a

resistência dos respondentes.

No dia 14 de junho de 2016, a versão do questionário piloto (disponível no

apêndice II) foi então aplicada de forma presencial em 21 cooperados da Central

Tietê, localizada na Av. Salim Farah Maluf, 179, no bairro do Tatuapé, na cidade de

São Paulo. As questões foram elaboradas a partir da teoria, com escala de Likert

com 5 alternativas, conforme mostra o quadro 24.

Quadro 24 – Principais conceitos e autores para elaboração do questionário

CONCEITO TEORIAS OU MODELOS

Comunidades de Prática como paradigmas de rede. Lave, Wenger (1991); Sacomano Neto, Truzzi (2004); Nohria (1992); Gulati (1998).

Logística Reversa como tema de domínio que legitima a comunidade pela afirmação dos propósitos e valores dos participantes.

Wenger et al. (2002); Reis et al. (2015);

Rogers, Tibben-Lembke (1998);

PNRS (2012).

Legitimidade da participação dos membros na comunidade/rede.

Lave, Wenger (1991); Wenger et al. (2002).

Práticas e aprendizados. Dalkir (2005); Wenger (2011); Nonaka Takeuchi (1997);

Davenport, Prusak (1998).

Ciclos da Gestão do Conhecimento:

Ciclo 2. Indicadores de capital de conhecimento ou de valor potencial.

Ciclo 3. Indicadores de conhecimentos aplicados à prática.

Dalkir (2005); Reis et al. (2015);

Rogers, Tibben-Lembke (1998);

PNRS (2012).

Fonte: Elaborado pela autora.

A aplicação do pré-teste pôde então detectar que o número inicial de trinta e

quatro questões era excessivo, tornando cansativa a aplicação (que na versão

refinada do questionário ficou reduzida a quinze). Outra observação coletada

informalmente refere-se à percepção do grupo, que desconhece o que seja uma

comunidade de prática, apesar de o trabalho realizado oferecer todos os elementos

estruturais de uma CoP propostos por Wenger (2011), e de redes propostos por

Kogut (2000): interconectividade, interdependência, tempo curto de resposta,

flexibilidade de produção, uso do conhecimento coletivo, compartilhamento e trocas

significativas.

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3.4 O refinamento do questionáro

O questionário foi inicialmente concebido para ser aplicado em duas etapas

com vinte e nove questões e cinco níveis de concordância pela escala de Likert, e

cinco questões para a entrevista que visava coletar evidências, quando as duas

últimas perguntas indicassem que houve reutilização e conversão de conhecimentos

em novos produtos, serviços, processos. Esse projeto inicial não se mostrou muito

prático e adequado para aplicação na realidade das cooperativas e isso gerou a

necessidade de criar uma nova versão mais concisa.

Uma vez refinadas as questões, o survey foi gerado de forma eletrônica por

meio do Google Forms, ferramenta gratuita oferecida pelo Google para

desenvolvimento de questionários online e disponível em:

<https://www.google.com/intl/pt-BR/forms/about/>.

A versão refinada está disponível no apêndice III e, a seguir, é apresentado

como foram desenvolvidas as novas questões. A questão 1 visa relacionar a

comunidade com seu tema de domínio. A questão 2 refere-se especificamente ao

impacto da PNRS, e a questão 3, conforme Dalkir (2005), visa entender se existem

resultados práticos.

As questões 4 a 7 foram formuladas para entender o funcionamento do grupo

e se o mesmo trabalha em conjunto, de forma a produzir experiências que se

transformam em prática a partir das interações entre os membros (WENGER et al.,

2011). As questões 8 a 11 tratam de aspectos de aprendizagem, novos membros e

ferramentas que contém implícitas novas ideias, informações, linguagens, histórias e

documentos e norteiam-se pelos conceitos de Dalkir (2005) de que as CoP

contribuem com esses elementos de forma prática. As questões 11 a 13 baseiam-se

em Davenport, Prussak (1997) que tratam do conjunto de repositórios.

Para captar o perfil dos grupos de respondentes o apoio teórico foi

encontrado em Wenger et al. (2002), que fala que o domínio legitima a comunidade

pela afirmação dos propósitos e valores dos participantes e isso inspira os membros

a contribuir, participar e orientar seus aprendizados, trazendo significado para as

ações e atividades. A reformulação resultou então em 13 questões de múltipla

escolha pela escala likert e cinco níveis de concordância e 2 questões para

entrevistas das evidências, sendo que o quadro 25 apresenta um resumo de como

foi elaborada cada uma delas, sua relação com a teoria, tema e indicador.

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Quadro 25 – Questões e indicadores de conhecimentos aplicados à prática

QUESTÃO PROPOSTA TEMA INDICADOR BASE TEÓRICA

1 – O tema Logística Reversa é amplamente discutido no grupo ou comunidade?

Logística Reversa

Domínio do tema Logística Reversa

Wenger (1998); Wenger et al. (2002)

2 – A Política Nacional de Resíduos Sólidos é amplamente debatida no grupo ou comunidade?

Logística Reversa

Conhecimento da PNRS

Rogers, Tibben-Lembke (1998);

Brito et al. (2004)

3 – A discussão do tema produz resultados práticos, propostas e novas soluções para o dia a dia?

Resultados Práticos

Conversão de conhecimento em soluções

Dalkir (2005)

4 – O grupo de trabalho pode ser considerado uma rede que permite diversas conexões que auxiliam nas realizações das tarefas diárias?

Redes enquanto arranjos sociais colaborativos

Uso de conexões sociais e respectivo

aproveitamento

Castells (2005); Guechtouli et al. (2013);

Reis et al. (2015)

5 – O aconselhamento e a troca de experiências com diversos especialistas no grupo facilita a realização das tarefas?

Comunidade de Prática

Aconselhamento e troca de experiências entre especialistas e membros da comunidade

Wenger (1998); Wenger et al. (2002);

Wenger (2011); Dalkir (2005)

6 – As experiências trocadas no grupo já se transformaram em alguma solução prática aplicada na sua vida profissional?

Comunidade de Prática

Implementação de soluções práticas

Wenger (1998); Wenger, McDermott e Snyder (2002)

7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas nas suas redes e relacionamentos? profissionais?

Comunidade de Prática

Admissão de novos membros na CoP

Wenger (1998); Wenger, McDermott e Snyder (2002)

8 – Novos integrantes trazem novos interesses e soluções para o grupo?

Comunidade de Prática

Admissão de novos membros na CoP

Wenger (1998); Wenger, McDermott e Snyder (2002)

9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?

Uso das comunidades para promover aprendizagem

Melhoria nas práticas de aprendizagem e aprendizagem organizacional

Wenger, McDermott e Snyder (2002)

Wenger (2011)

10 – O grupo facilita que novos processos ou novas políticas sejam incorporados na sua rotina?

Inovação de processos

Uso da ferramenta de rede para incentivar novos conceitos

SBGC (2015); Dalkir (2005); Davenport, Prussak (1997)

11 – O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?

Inovação na prática

Uso da rede como ferramenta para incentivo à Inovação

Nonaka, Takeuchi (1997);

Davenport, Prussak (1997)

12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?

Transformação do conhecimento tácito em explícito

Uso das redes como ferramentas de incentivo

Nonaka, Takeuchi (1997, 1998); Dalkir (2005)

13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?

Repositórios Documentos atualizados

Wenger (2011); Dalkir (2005); Davenport, Prussak (1997)

Fonte: Elaborado pela autora.

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74

3.5 Modelo de questionário refinado

O questionário mostrado a seguir foi aplicado via web (na forma online) e

presenciamente (na forma impressa), com assistência aos respondentes. A

elaboração das perguntas foi balizada pelas definições de Guechtouli et al. (2013),

Dalkir (2005), Lave, Wenger (1991), Wenger et al. (2011), Brito et al. (2004), Reis et

al. (2015), Rogers, Tibben-Lembke (1998).

Identificação do grupo ou comunidade

Nome do grupo ou comunidade:

Número de total de participantes: ( )

Identificação individual do respondente

Nome do respondente

E-mail:

Tipo de participação no grupo/ comunidade:

( ) Especialista ( ) Líder ( ) Coordenador ( ) Membro ( ) Convidado ( ) Cliente ( ) Patrocinador

Tema Logística Reversa

Conhecimento do tema: ( ) Especialista/Profissional da área ( ) Estudioso/Curioso ( ) Parte interessada

Importância do tema para a sociedade: ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Obrigatória ( ) Não sei

Você concorda com a frase?

“A Logística Reversa pode ser entendida como movimento contrário ao fluxo direto

de produtos na cadeia de suprimentos, capaz de gerar ambientes mais saudáveis e

melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, contribuindo para melhorar a

sustentabilidade”. ( ) Concordo: ( ) Discordo ( ) Não Sei

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Responda as alternativas a seguir de acordo com o quanto você concorda ou discorda que elas afetam o

desenvolvimento de tarefas no seu dia a dia.

TEMA DE DOMÍNIO E CONHECIMENTOS

Legenda: CT = Concordo totalmente; C = Concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = Discordo totalmente

1 – O tema Logística Reversa é amplamente discutido no grupo ou comunidade?

2 – A Política Nacional de Resíduos Sólidos é amplamente debatida no grupo ou comunidade?

3 – A discussão do tema produz resultados práticos, propostas e novas soluções para o seu dia-dia?

4 – O grupo de trabalho pode ser considerado uma rede que permite diversas conexões que auxiliam nas realizações das tarefas diárias?

5 – O aconselhamento e a troca de experiências com diversos especialistas no grupo facilita a realização das tarefas do dia a dia?

6 – As experiências trocadas no grupo já se transformaram em alguma solução prática aplicada na sua vida profissional?

7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas nas suas redes e relacionamentos profissionais?

8 – Novos integrantes trazem novos interesses e soluções para o grupo?

9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?

10 – O grupo facilita que novos processos ou novas políticas sejam incorporados na sua rotina?

11- O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?

12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?

13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?

ENTREVISTA COLETA DE EVIDÊNCIAS

14. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP Tipo: ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças

Quais: ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem

15. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho

Tipo: ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças

Quais: ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem

3.6 Grupos de respondentes

Para participar da pesquisa foram convidados grupos e associações que

lidam com o tema da logística reversa, participam de redes ou comunidades que

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76

atendiam aos requisitos da pesquisa e se mostraram disponíveis. A coleta dos

dados e informações de campo foi realizada por amostragem por conveniência. A

seguir apresentam-se as nomenclaturas dos grupos divididos por tipo de

participação na comunidade. São considerados especialistas: GE.LOG (CRA-SP),

Ibaplac Produtos Recicláveis, Sinctronics Centro de Inovação. Como parte

interessada foram consideradas as empresas TetraPak e PepsiCo, que apoiam as

ações do Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), e como membros,

as cooperativas Coopercaps, Nossos Valores e Central Tiet que fazem parte da

Rede de comercialização zona sul.

GE.LOG (CRA-SP)

http://crasp.gov.br/wp/grupos_de_excelencia/adm-de-operacoes-empresariais-e-

logistica-2/

O Grupo de Excelência em Administração de Cadeias Produtivas e Logística

Empresarial (GE.LOG) do Centro do Conhecimento do Conselho Regional de

Administração de São Paulo (CRA-SP) tem como objetivo gerar e compartilhar

conhecimentos relativos às áreas de atuação profissional, servindo como um

ambiente para fomento e discussões sobre temas e tendências. Fundado em 2009,

é uma comunidade de empresários, executivos, administradores e sociedade em

geral que tem por objetivo o desenvolvimento de análises sobre logística empresarial

e cadeias produtivas de diferentes setores.

IBAPLAC

www.ibaplac.com.br

A Ibaplac Produtos Recicláveis desenvolve e aplica tecnologias para

reaproveitamento do lixo, por exemplo, embalagens longa vida como matéria-prima

para criar novos produtos, entre eles telhas ecológicas feitas de material 100%

reciclável recebido de cooperativas. O processo de produção consiste em colocar o

material numa prensa eletrotérmica de 150º C que funde plástico e alumínio. A

transformação cria um produto barato de alta resistência e durabilidade, que oferece

garantia de 30 anos, capaz de permitir isolamento térmico, e o processo de

vulcanização permite que se necessário o produto possa ser novamente reciclado.

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77

Para alimentar a produção, são retiradas por mês do meio-ambiente em média dois

milhões de embalagens de longa vida para produção dessas telhas.

SINCTRONICS

www.sintronics.com.br

A Sinctronics é um centro de inovação em tecnologia sustentável que faz

coleta, identificação de materiais, recomposição, reciclagem, reinserção e gestão da

coleta e logística reversa, além do rastreamento de todo o processo, a fim de

garantir a adequada destinação e atender aos requisitos governamentais e tem

processos de GC implantados.

CEMPRE

http://cempre.org.br/sobre/id/1/institucional

O Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) foi fundado em

1992 e funciona como uma associação sem fins lucrativos, mantida por empresas

privadas de diversos setores. Dedica-se à promoção da reciclagem e do conceito de

gerenciamento integrado do lixo, com a finalidade de conscientizar a sociedade

sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem por meio de publicações,

pesquisas técnicas, seminários e bancos de dados. Os programas de

conscientização são dirigidos principalmente para formadores de opinião, empresas,

acadêmicos e organizações não governamentais (ONGs). As empresas que apoiam

o CEMPRE e concordaram em participar da pesquisa foram a TetraPak e a PepsiCo.

REDE DE COMERCIALIZAÇÃO ZONA SUL

http://www.redecomzonasul.com.br/index.php/sobre-a-rede-4/

Composta por cooperativas de catadores com grande experiência na coleta,

triagem e venda de resíduos recicláveis foi criada em setembro de 2014 e

atualmente é integrada por 17 cooperativas, 10 na cidade de São Paulo e 7 na

região de Campinas. A rede surgiu a partir de projeto patrocinado pela PepsiCo que

possibilitou a aquisição de recursos e melhorias nas condições de trabalho, além da

criação de um modelo de negócio com propósito de ampliar, profissionalizar e

fortalecer a comercialização por meio de parcerias entre as cooperativas

associadas. Realiza encontros, reuniões, capacitações e estudos de mercado para

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os membros. O impacto social da atividade se traduz em inclusão e cidadania para

desempregados, jovens, idosos e egressos do sistema carcerário. Aceitaram

participar da pesquisa as cooperativas Coopercaps, Central Tietê e Nossos Valores

e destacam-se para essa pesquisa alguns objetivos dessa rede:

Realizar estudos de mercado e prospectar compradores para o setor de

resíduos pós-consumo.

Articular cooperativas de Catadores de Resíduos Sólidos para realizarem

comercialização em conjunto e gerar melhores oportunidades de negócios

no setor de reciclagem, viabilizando a comercialização em rede.

Contribuir para a profissionalização dos catadores organizados em

cooperativas

Auxiliar as empresas na implantação de ações de responsabilidade

compartilhada na gestão dos resíduos, atendendo as determinações da

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10).

COOPERCAPS

www.coopercaps.com.br

A COOPERCAPS – Cooperativa de Coleta Seletiva de Capela do Socorro,

surgiu em 2001 no bairro Capela do Socorro, após um curso de capacitação para 30

desempregados. Expandiu-se a partir de 2002, quando o autódromo de Interlagos

autorizou a coleta de recicláveis em evento da Fórmula I, que viabilizou a coleta de

cinco toneladas de material reciclável e a aquisição de uma prensa manual. Conta

com 93 catadores e processa em média 200 toneladas por mês, que geram, após

pagar despesas de INSS, em torno de R$ 1.400,00 para cada cooperado.

NOSSOS VALORES

A cooperativa não possui site e utiliza um galpão emprestado da Prefeitura de

São Paulo. Possui 42 cooperados e processa em torno de 80 toneladas por mês de

material reciclado o que proporciona a renda de R$ 800,00 para seus colaboradores.

CENTRAL TIETÊ

A Central Tietê não possui site. A coleta seletiva gera faturamento mensal

aproximado de R$ 40.000,00 ao processar 150 toneladas mês de material reciclado

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que é retirado do meio ambiente e proporciona renda para 41 colaboradores e suas

famílias. Disponibilizou informações e contatos com a Prefeitura, além da aplicação

do teste piloto o que viabilizou a adaptação do mesmo também para o público de

catadores.

3.7 A Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada no período de 26 de setembro de 2016 a 07

de dezembro de 2016, obtida por conveniência dos que responderam aos convites

de participação, conforme modelo no apêndice I.

A operação foi realizada da seguinte forma: nas cooperativas, os

questionários foram aplicados de forma presencial, de acordo com a disponibilidade

de agenda das partes. Visando principalmente facilitar a interlocução com os grupos

de especialistas (que tem menor disponibilidade de agenda), os mesmos foram

convidados a responder o formulário on-line, através do envio de um link por e-mail.

Após o envio do link foi realizado um acompanhamento por telefone para obtenção

de um retorno mínimo desejado para aplicação pelo menos em 40% dos

convidados. O quadro 26 mostra quais foram os procedimentos adotados que

permitiram realizar a coleta de dados que viabilizou a pesquisa. Os dados foram

posteriormente inseridos numa base de dados para tabulação e relatórios e análise.

Quadro 26 – Procedimento da coleta de dados

Objetivo Indicação da Teoria Procedimentos

População Coleta de informações de muitas pessoas ou de número relativo

Envio de 221 convites para 10 grupos selecionados

Amostra Investigação de todos os membros de um grupo ou apenas de uma amostra da população alvo.

Aplicação do survey com 92 respondentes

Tipo de coleta de dados Direta, de forma padronizada, por meio de questionários ou entrevistas.

Questionários e entrevistas

Tipo de pergunta Atitudes, crenças, opiniões, conhecimentos, comportamentos, planos e experiências.

Opiniões e experiências

O que Resultados de programas e políticas sociais ou levantamentos e avaliação de processos.

Levantamento de resultados

Para que Inferências sobre a população alvo ou sobre aspectos influenciadores.

Aspectos influenciadores

Fonte: Elaborado pela autora.

Page 82: Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa

80

3.8 Análise dos dados

Para garantir resultados robustos e válidos relacionados ao modelo

conceitual, a pesquisa deve assegurar as seguintes etapas que foram realizadas:

tabulação dos dados, análise das respostas, formatação dos resultados, elaboração

e apresentação das conclusões, redação final e defesa. A tabulação dos dados e a

geração das figuras foram realizadas através do Google.Forms e os dados

percentuais apresentados nos gráficos tiveram as casas decimais excluídas nos

textos que são apresentados em blocos para facilitar o entendimento.

O trabalho em questão é um survey exploratório, com corte tranversal (a

coleta de dados ocorreu num determinado momento), com amostra por conveniência

(os participantes foram escolhidos por estarem disponíveis), cujo tamanho da

amostra foi delimitado no momento em que não houve mais contribuições agregadas

na aplicação dos questionários. As análises a seguir mostram as variáveis nominais,

isto é, os elementos foram agrupados por atributo dos percentuais de concordância

obtidos.

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81

4 RESULTADOS

O presente trabalho se propõe a investigar contribuições de Comunidades de

Prática de Logística Reversa baseadas nos Ciclos da Gestão do Conhecimento,

para isso foi necessário examinar, além dos grupos pesquisados, suas inter-

relações, características, estrutura e contexto que determina as possibilidades de

intercâmbio de informações entre as partes, uma vez que os respectivos níveis de

maturidade em relação ao conhecimento e sua respectiva gestão são muito

diversos. Os resultados apresentados a seguir oferecerem uma visão geral do

contexto, a caracterização da rede e os percentuais obtidos e analisados na

aplicação do survey nas cooperativas de reciclagem, fabricantes de insumos,

empresas beneficiadoras e especialistas da área.

4.1 Contexto e características da rede

A rede é formada por cooperativas de reciclagem, fabricantes de insumos,

empresas beneficiadoras e especialistas da área, elementos que têm uma

identidade entrelaçada pelo domínio logística reversa, conforme mostra a figura 9.

Figura 9 – Características da rede

Fonte: Elaborada pela autora.

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82

Caracterizada pela necessidade de troca de conhecimentos sobre a PNRS, a

rede forma uma comunidade de interessados sobre o assunto, com pessoas que

trabalham, têm histórias, experiências, ferramentas, formas diversas de resolução de

problemas e algumas práticas compartilhadas.

No Brasil, as cooperativas de reciclagem têm importante papel e os catadores

de lixo ganham destaque tanto como agentes ambientais quanto de uma economia

solidária. Para atender à legislação, a Prefeitura de São Paulo passou a dividir as

responsabilidades da coleta seletiva com essa parcela da sociedade e atualmente o

município de São Paulo contempla um universo de 907 pessoas, distribuídas em 21

cooperativas conveniadas, conforme tabela 3 (PREFEITURA DE SÃO PAULO,

2016).

Tabela 3 – Cooperativas conveniadas a PMSP

Rede Cooperativa Ton/dia Total de cooperados

Redesul Nova Esperança 1,31 15

Redesul Coopermiti 1,04 25

Redesul Cooperpac 1,88 33

Redesul Central Tietê 3,79 41

Redesul Nossos Valores 2,84 42

Redesul Coopermyre 7,56 43

Redesul Cooperleste 13,63 50

Redesul Nova conquista 5,97 58

Redesul Cooper vivabem 10,95 70

Redesul Coopercaps 12,9 93

Redesul Coopere centro 9,92 126

Paulista Coopervila 2,59 29

Paulista Chico Mendes 0,78 33

Paulista Vira lata 6,40 53

Não informado Ágape Fênix 2,40 16

Não informado Cooperunião 1,10 18

Não informado Crescer 3,49 28

Não informado Vitória da Penha 4,06 33

Não informado Sem fronteiras 4,17 49

Não informado Cooperação 8,81 52

Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).

Nas cooperativas os processos, a produtividade e a lucratividade, além do

rendimento de seus cooperados, dependem de troca permanente de conhecimentos

em torno do domínio de interesse (separação correta de materiais para logística

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83

reversa) com empresas de reciclagem, produtores de embalagens e órgãos

governamentais.

Segundo a PNRS (2010), a preferência na realização da segregação dos

resíduos sólidos deve ser dada às cooperativas ou associações de catadores, que

podem ser remuneradas pelo serviço e pela comercialização dos materiais e, apesar

de a logística reversa reunir atividades de pós-venda ou pós-consumo, como o

conserto em garantia, troca, reuso, o foco desse trabalho concentra-se na

remanufatura, descarte apropriado ou aspectos de reciclagem de materiais como

papel, papelão, vidro, metais e plásticos e também alguns produtos industrializados,

que após o término de sua vida útil são classificados como recicláveis, ou

reutilizáveis, e geram grande quantidade de resíduos sólidos, conforme mostra a

tabela 4.

Tabela 4 – Materiais encontrados no lixo

Material Itens

Plásticos Garrafas, embalagens de produtos de limpeza

Potes de cremes, xampus

Sacos, sacolas e saquinhos de leite

Brinquedos

Não recicláveis Papéis plastificados, metalizados ou parafinados (embalagens de biscoito) Cerâmicas, vidros pirex e similares e acrílico

Alumínio Latinhas de cerveja e refrigerante

Esquadrias e molduras de quadros

Metais ferrosos Molas e latas

Papel e papelão Jornais, revistas, impressos em geral

Caixas de papelão

Embalagens longa vida

Vidro Frascos, garrafas

Vidros de conserva

Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).

Na cidade de São Paulo, pesquisas indicam que o senso comum não faz

distinção na separação do lixo e resíduos orgânicos, embalagens, resíduos

altamente contaminantes como: pilhas, baterias, pneus, equipamentos eletrônicos e

medicamentos são descartados da mesma forma, o que inviabiliza a coleta

inteligente e posterior tratamento. Estima-se ainda que cada habitante do planeta

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84

produza aproximadamente 1,5 kg de lixo por dia, resultando em volumes cujo

manejo se torna cada vez mais oneroso e desafiador (FRANCO, 2000).

Observa-se como tendência mundial nas grandes cidades a necessidade de

se apresentar crescentes ganhos ambientais que são dependentes de operações de

infraestrutura e logística para coleta de resíduos sólidos. Dados de 2013 da

International Solid Waste Association (ISWA) indicam que mais de 50% da

população mundial não tem acesso a serviços de coleta de lixo. A fase inicial da

logística que compreende a coleta e o transporte do lixo representa entre 40% a

60% dos custos, sendo o investimento nesta etapa, que resulta em melhor avaliação

dos serviços por parte da população.

A logística e as tecnologias são adotadas de forma variada em cada local e

dependem da realidade e do contexto, não existindo uma receita única, pois a

extensão territorial, a mão de obra disponível, o nível de conscientização ambiental,

o engajamento da população e o orçamento de cada município são determinantes

para tais escolhas.

O município de São Paulo é a maior cidade do país, o que por si só constitui

um diferencial que deve ser considerado e se reflete nos expressivos números e

volume de resíduos gerados, conforme a tabela 5 apresentada a seguir.

Tabela 5 – Volumes coletados pela limpeza urbana em São Paulo

(jan a dez 2015)

Tipo de lixo Coleta em toneladas

Alimentos vencidos 8

Animais 509

Diversos 350.480

Entulho 484.930

Feira livre 92.846

Poda 42.075

Rejeito 8.284

Resíduos de boca de lobo 9.867

Resíduos de córregos 141.339

Resíduos de piscinões 181.232

Varrição 106.815

Resíduos de saúde 288.047

Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).

A coleta seletiva é uma escolha que requer destinação correta e uma lógica

de consumo e descarte, com atividades que compreendem a reciclagem de papel,

plástico, vidro e metais, resíduos, que depois de serem recolhidos devem ser

encaminhados para as centrais de coleta.

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85

Com tecnologia europeia e adaptada para a realidade brasileira, capaz de

identificar e separar automaticamente os resíduos de acordo com sua composição,

São Paulo conta com duas Centrais Mecanizadas de Triagem (CMT), cada uma com

capacidade para processar 250 toneladas de resíduos por dia. Em poucos bairros

existem sistemas de contêineres para a coleta mecanizada, que permitem à

população a liberdade de horários para dispor resíduos (PREFEITURA DE SÃO

PAULO, 2016).

Um bom exemplo de material reaproveitado e de grande valor, tanto para as

cooperativas quanto para os catadores individuais, são as embalagens Tetrapak que

permitem estocar alimentos por longo tempo e passaram a ser produzidas no Brasil

em 1978. O produto, quando descartado corretamente, tem alta durabilidade. A

empresa investe em soluções para a reciclagem e oferece apoio técnico para

cooperativas de catadores e parcerias com o governo. Nos centros de triagem, os

diferentes tipos de materiais recicláveis são separados, compactados em fardos e

enviados para a indústria recicladora. Após o consumo, as embalagens seguem

para a coleta seletiva e as fibras de papel recicladas podem transformar-se em

caixas de papelão, chapas, entre outros (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016).

Na seção de sustentabilidade do site da Tetrapak está descrito o processo

que ensina como polietileno e o alumínio podem ser destinados à fabricação de

placas e telhas para a construção civil, matéria-prima que também poderá servir

posteriormente para a confecção de canetas, vassouras etc. O polietileno, quando

submetido à separação térmica, é transformado em parafina, que pode ser usada

como combustível ou aditivo em lubrificantes e detergentes. O alumínio é

recuperado na forma de pó ou lingotes de alta pureza e retorna para a indústria de

fundição (TETRAPAK, 2016).

O município de São Paulo possui diversos instrumentos que versam sobre a

organização de sistemas de coleta seletiva para os fabricantes e geradores de

resíduos sólidos, como a lei municipal nº 14.973/09 e a lei nº 15.572/12, que dispõe

sobre adoção dos critérios socioambientais no desenvolvimento e implantação de

políticas e programas como o plano de gestão integrada de resíduos sólidos

(PGIRS), mas é a lei federal de 2010, 12.305/10, ou PNRS, que estabelece a

obrigação de fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores,

empresas de serviços públicos de limpeza urbana e sociedade e rege como deverá

ser a recuperação dos resíduos a fim de minimizar problemas decorrentes do não

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aproveitamento, da não reutilização ou reciclagem dos materiais, sendo que outras

dezenas de resoluções caracterizam os prejuízos ambientais, sociais e econômicos

(PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016).

A PNRS (2010), além de indicar a responsabilidade compartilhada pela

gestão dos resíduos sólidos, como mostra a tabela 6 a seguir, também considera

que cada parte – indústria, comércio, distribuidores e cidadãos – deve obedecer ao

mote: “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos

sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.

Tabela 6 – Responsabilidades pelo recolhimento do lixo

Tipos de lixo Responsável

Domiciliar Prefeitura

Comercial Prefeitura

Público Prefeitura

Serviços de Saúde Prefeitura

Industrial Gerador

Portos, aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários Gerador

Entulho Gerador

Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).

No país, os modelos adotados para logística reversa e comunicação com a

sociedade sobre os efeitos do lixo são ainda precários e não oferecem infraestrutura

adequada para que o sistema funcione, e assim a população não se sente

responsável por fazer a separação correta dos resíduos. A qualidade do material

descartado também conta com poucas empresas, salvo exceções, que assumem

responsabilidade pela destinação das embalagens de seus produtos; além do que

isso ainda não é visto como um negócio que pode se diversificar e ter escala. O

tópico a seguir mostra os resultados de aplicação da pequisa.

4.2 Perfil dos respondentes

Neste tópico serão apresentados os respectivos percentuais das respostas

obtidas no survey agrupados por blocos: a) perfil dos respondentes, b) percepção do

grupo sobre o tema da logística reversa, c) participação dos membros na rede e

comunidade, d) práticas e aprendizados, e) evidências de conversão de

conhecimentos. Nessa versão do questionário não foi prevista a inserção de

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87

perguntas sobre idade, sexo e escolaridade dos respondentes, porém foram dados

colhidos para identificação dos grupos e o tipo de participação na comunidade.

Foram convidadas a participar da pesquisa diversas empresas, organizações

não governamentais, associações, cooperativas e grupos que de alguma forma têm

atividades relacionadas à logística reversa conceitualmente ou na prática, ou que de

algum modo são afetadas, motivadas, tentam solucionar ou aprimorar processos de

descarte de resíduos sólidos, por meio de diversas iniciativas.

Entre os que sinalizaram positivamente para responder a pesquisa

encontram-se especialistas, recicladores, beneficiadores, cooperativas de catadores,

fabricantes de insumos, comerciantes e consumidores, que totalizaram 221

(duzentos e vinte e um) convites e 92 (noventa e dois) respondentes que

efetivamente participaram e estão elencados no quadro 27.

Quadro 27 – Grupos de respondentes

Rede Organização Tipo Amostra Respondentes

Comunidade GE.LOG Grupo de especialistas 9 8

Reciclador SINTRONICS Empresa especializada 10 2

Reciclador IBAPLAC Empresa especializada 2 2

Cooperativa Central Tietê Cooperativas 41 19

Cooperativa COOPERCAPS Cooperativas 93 38

Cooperativa Nossos Valores Cooperativas 42 10

Insumos TetraPak Fabricante 2 2

Insumos PepsiCo Fabricante 2 2

Outros Pão de Açucar/

Ponto de coleta

Ponto de coleta no

comerciante

1 1

Outros Diversos Sociedade Civil 19 10

TOTAIS 221 92

Fonte: Elaborado pela autora.

A participação no grupo indica como os membros percebem sua inserção na

rede, sendo que, ao utilizar um discurso compartilhado, isso se reflete nas

respectivas perspectivas sobre o mundo e na definição das identidades individuais, o

que torna as relações sustentáveis e implica no modo como ocorre a transferência

de práticas de aprendizagem para crescimento e sustentação da própria

comunidade (LAVE; WENGER 1991; SACOMANO NETO; TRUZZI, 2004; NOHRIA;

1992; GULATI, 1998).

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88

Figura 10 – Tipo de participação no grupo ou comunidade

Fonte: Elaborado pela autora.

O tipo de participação na rede foi indicado pelos próprios respondentes e

apresenta os seguintes valores: 1% se dizem especialistas, 2% líderes, 7%

coordenadores, 84% membros e 6% se apresentam como convidados. Nenhum

respondente se identificou como patrocinador ou cliente, apesar de as empresas

Tetrapak e PepsiCo, que adotam um modelo de participação e incentivo, serem

efetivamente patrocinadoras dessas comunidades.

4.3 Percepção sobre Logística Reversa

As respostas desse questionamento mostram a importância do tema da

logística reversa, partindo-se da premissa que a mesma pode ser considerada como

um processo capaz de planejar e controlar custos e fluxo de matéria-prima, estoque,

produto acabado e informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o

ponto de origem, de forma eficiente e eficaz, produzir o fluxo reverso ou ainda o

descarte apropriado de bens (pós-vendas ou pós-consumo), por meio dos canais de

distribuição reversos, agregando-lhes valor, seja por natureza legal, econômica,

ecológica, de imagem etc. (LEITE, 2003; REIS et al., 2015; ROGERS; TIBBEN-

LEMBKE, 1998).

Quanto ao conhecimento ou domínio do tema da logística reversa, que

representa a identidade, o interesse da comunidade, e como os membros participam

de atividades e discussões, se ajudam e compartilham informações, a pesquisa

apresenta os resultados conforme mostra a figura 11. Dos 92 respondentes, 7%,

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89

denominam-se especialistas, 89% consideram-se empresa ou parte interessada no

tema, e 4% estudiosos ou curiosos pelo tema de domínio.

Figura 11 – Conhecimento sobre o tema

Fonte: Elaborado pela autora.

Também foi questionada a importância da Logística Reversa para a

sociedade, sendo que 20% responderam que consideram importante, 20% muito

importante, 26% obrigatório e 34% não souberam informar, conforme a figura 12.

Figura 12 – Importância do tema Logística Reversa para a sociedade

Fonte: Elaborado pela autora.

Um dos grandes desafios para a implantação da logística reversa no Brasil é

o nível de organização da cadeia econômica de reciclagem, quando comparada a

experiências de gestão especialmente de Áustria, Holanda e Bélgica, que têm as

mais altas taxas de reciclagem de resíduos e que recebem suporte de ações que

visam a apoiar a criação e o fortalecimento de organizações do setor. Para viabilizar

o alcance das metas propostas de recuperação de resíduos secos no Brasil e elevar

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90

os índices atuais dos produtos e embalagens gerados pós-consumo e garantr a

efetividade da recuperação dos resíduos, como prevê a PNRS, o primeiro

questionamento deseja saber se o tema é amplamente debatido no grupo e

apresentou os seguintes índices: 11% disseram que discordam totalmente, 9%

dizem ser indiferentes ou desconhecer, 13% discordam, 20% concordam totalmente

e 47% concordam, conforme indicado na figura 13.

Figura 13 – Questão 1 – O Tema da LR é amplamente discutido no grupo ou comunidade?

Fonte: Elaborado pela autora.

Do mesmo modo a pergunta 2 é sobre o quanto a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS) é debatida no grupo que como demonstrado pela figura

14, obtiveram-se os seguintes resultados: 6% disseram que discordam totalmente,

12% desconhecem ou se dizem indiferentes, 11% discordam, 20% concordam

totalmente e 51% concordam.

Figura 14 – Questão 2 – A PNRS é amplamente debatida?

Fonte: Elaborado pela autora.

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91

A questão número 3 foi elaborada em conformidade com os ciclos da Gestão

do Conhecimento de Dalkir (2005), especialmente a terceira etapa, que passa pela

identificação de novos conhecimentos como resultantes do aprendizado no dia a dia,

os quais se transformam em soluções, de acordo com o contexto e finalidade.

Essa questão está também entrelaçada aos objetivos da pesquisa, que

pretende saber se discutir o assunto ou tema de domínio da logística reversa

promove resultados práticos no grupo. A figura 15 mostra os seguintes resultados:

6% disseram que discordam totalmente e 6% discordam que discutir o tema não traz

resultados práticos, 11% dizem que são indiferentes ou não sabem opinar. No

entanto, 55% concordam e 22% concordam totalmente e afirmam que discutir o

tema produz resultados práticos.

Figura 15 – Questão 3 – A discussão do tema produz resultados práticos?

Fonte: Elaborado pela autora.

4.4 Conexões nas redes ou comunidades

Participar ativamente de uma rede permite conhecer o que outros membros

da rede sabem, o que podem fazer e como contribuem. Tais conhecimentos são

detectados através de histórias compartilhadas, conversas e interações, jargões e

atalhos para as comunicações que criam um processo contínuo de engajamento

(LAVE; WENGER, 1991; WENGER et al., 2002; GUECHTOULI et al., 2013).

As redes podem ser vistas como arranjos sociais colaborativos, construídas

através de relacionamentos e conexões dos membros, que permitem que os

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92

mesmos aprendam entre si. O aspecto interessante é que para haver

aproveitamento dessas conexões não é necessário que todos os membros

compartilhem o mesmo espaço, se conheçam ou trabalhem diariamente juntos

(CASTELLS, 2005; GUECHTOULI et al., 2013; FRANCO, 2016).

A questão número 4 investiga se o grupo se considera uma rede e se isso

auxilia na realização de tarefas. 2% disseram que discordam totalmente, 17% se

dizem indiferentes ou desconhecem o assunto e 5% discordam, 24% concordam

totalmente e mais da metade do grupo, ou seja, 52% concordam que o grupo é uma

rede e auxilia nas tarefas diárias, e que isso melhora os resultados organizacionais,

produz respostas rápidas, redução de tempo e custos e melhoria na qualidade das

decisões, conforme indica a figura 16.

Figura 16 – Questão 4 – O grupo pode ser considerado uma rede que auxilia nas tarefas diárias?

Fonte: Elaborado pela autora.

Os dados que serão apresentados a seguir mostram aspectos do

funcionamento e dinâmica da rede. A questão de número 5 destina-se a investigar

se a troca de experiências facilita o cotidiano e parte dos conceitos de Wenger,

(2011) e Dalkir (2005), que dizem que o aconselhamento e a troca de experiências

com diversos especialistas no grupo facilitam a realização das tarefas nas

Comunidades de Prática.

Apenas 1% discorda totalmente da questão apresentada, 4% disseram que

discordam, 17% se dizem indiferentes ou não sabem, 51% concordam e 27%

concordam totalmente com a premissa apontada, conforme a figura 17.

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93

Figura 17 – Questão 5 – O aconselhamento e a troca de experiências facilitam nas tarefas do dia a dia?

Fonte: Elaborado pela autora.

4.5 Práticas e Aprendizados

Entre os objetivos específicos do estudo está apresentar o conceito sobre

Comunidades de Prática, de modo a ilustrar como esses organismos permitem que

seus membros possam aprender continuamente a fim de implementar soluções

práticas para o grupo (WENGER, 1998; WENGER; MCDERMOTT; SNYDER, 2002).

As práticas e aprendizados estão intrinsecamente ligados aos valores de

curto e de longo prazo, à cultura e dinâmica da rede, que permitirá ou não, a

conversão de conhecimentos em soluções, velocidade nas decisões, discussões e

fluxo de informações e criação e propagação de ambientes de inovação ou

ferramentas específicas e outros artefatos (DALKIR, 2005; WENGER et al., 2011;

NONAKA; TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT; PRUSAK, 1998).

A questão número 6 relaciona-se ao entendimento do grupo sobre se

experiências convertem-se em soluções práticas e se as mesmas são utilizadas na

vida profissional. A pergunta utilizada foi: As experiências trocadas no grupo já se

transformaram em alguma solução prática aplicada na sua vida profissional?

Os resultados indicados na figura 18 mostram que mais de metade dos

respondentes, ou seja, 56% concordam e 23% concordam totalmente; apenas 4%

disseram que discordam, 17% se dizem indiferentes ou desconhecem. Não houve

quem discordasse totalmente.

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94

Figura 18 – Questão 6 – As experiências já se transformaram em soluções?

Fonte: Elaborado pela autora.

A questão 7 foi elaborada a partir dos conceitos de Wenger (2011), a fim de

se compreender se o grupo valoriza a admissão de novos membros na CoP, algo

que permite a circulação de ideias, interesses e conhecimentos que, ao serem

socializados, podem criar novas soluções que transbordam para toda a rede. A

figura 19 mostra os valores obtidos e apresentados no gráfico com 62% dos

respondentes dizendo que concordam que o grupo facilita que novas pessoas sejam

incorporadas a rede, 13% concordam totalmente, 20% se dizem indiferentes ou

desconhecem se isso ocorre, e apenas 5% discordam.

Figura 19 – Questão 7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas na rede?

Fonte: Elaborado pela autora.

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95

A questão 8 foi elaborada a partir de Wenger (2011). Por meio dela se deseja

compreender se esses novos integrantes são vistos como ativos de conhecimento

para o grupo. Os percentuais apresentados na figura 20 mostram que 22% dos

respondentes não sabem se novos membros podem acrescentar novos interesses e

soluções para o grupo, 6% discordam da afirmação, 1% discorda totalmente, 54%

concordam e 17% concordam totalmente, o que mostra que a maior parcela dos

respondentes está de acordo com a mesma.

Figura 20 – Questão 8 – Novos Integrantes trazem novos interesses e soluções?

Fonte: Elaborado pela autora.

Produzir sinergia no grupo é algo importante para as comunidades de prática.

Saberes, tecnologias e ferramentas são vistos como recursos para implementação

de estratégias e propiciam uma melhor coordenação e padronização dos

procedimentos a serem adotados pela equipe (LAVE; WENGER, 1991).

O uso de tecnologias pode ser importante para a troca de experiências sobre

um tema tão dinâmico e pode facilitar a criação de alianças baseadas na

informação, de acordo com os quatro modos de conversão do conhecimento

propostos por Nonaka, Takeuchi (1997). A questão 9, então, foi elaborada para

entender se o grupo promove ou incentiva o aprendizado por meio do emprego de

novas tecnologias e ferramentas, e se isso incentiva aos membros a buscar novos

conhecimentos. A figura 21 mostra que 20% dos respondentes concordam

totalmente, 48% concordam, 29% não sabem ou são indiferentes, 3% discordam;

não houve quem discordasse totalmente.

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96

Figura 21 – Questão 9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?

Fonte: Elaborado pela autora.

Davenport, Prussak (1998) falam da importância de se manter os repositórios

de documentos atualizados para a padronização de processos, estabelecimento e

disseminação de melhores práticas e rotinas de trabalho. Essas teorias subsidiaram

a elaboração das questões 10 a 13.

Segundo Dalkir (2005) e Wenger (2011), o sentimento de pertencer a um

grupo viabiliza que novos processos ou políticas, membros e ferramentas sejam

incorporados ao dia a dia. Assim, a questão 10 pergunta se o grupo facilita a

ocorrência de produção e a rotina de trabalho, sendo que 60% disseram que

concordam, 14% concordam totalmente, 21% dizem ser indiferentes ou

desconhecer, 4% discordam e 1% discorda totalmente, conforme mostra a figura 22.

Figura 22 – Questão 10 – O grupo facilita que novos processos e políticas sejam incorporados na rotina?

Fonte: Elaborado pela autora.

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97

As definições de Wenger, McDermott e Snyder (2002) sobre as CoP enquanto

grupos de pessoas que compartilham um tema, uma preocupação, um conjunto de

problemas ou a busca de soluções, nos quais aprofundam conhecimento e

experiências práticas por meio de contínuas interações ilustra os resultados

mostrados na figura 23, sendo que 2% disseram que discordam totalmente, 21% se

dizem indiferentes ou desconhecem se isso realmente ocorre. 3% discordam e 14%

concordam totalmente, 60% concordam.

O uso das redes como ferramenta pode incentivar e introduzir novos

conceitos, práticas e processos que induzem e fomentam a inovação. A questão 11

destina-se a entender se o grupo promove essas ideias junto a seus membros

apresentando novas perspectivas ou maneiras de realizar suas tarefas (DALKIR,

2005; SBGC, 2016; DAVENPORT; PRUSSAK, 1997).

Figura 23 – Questão 11 – O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?

Fonte: Elaborado pela autora.

A questão 12 enfatiza se o grupo ou a comunidade incentiva o uso da

documentação para facilitar a transferência de conhecimento (tácito para explícito).

Os números revelam que quase metade dos respondentes, ou seja, 41% dizem que

desconhecem esses processos formais ou escritos, 3% disseram que discordam

totalmente, 14% discordam e dizem que não existem, 34% concordam e 8%

concordam totalmente, conforme a figura 24.

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98

Figura 24 – Questão 12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?

Fonte: Elaborado pela autora.

Wenger et al. (2002) dizem da necessidade de haver ampla discussão sobre

o tema de domínio dentro do próprio grupo de atuação para melhorar as

experiências da comunidade. Dalkir (2005) enfatiza que existe uma necessidade

permanente de se fomentar a produção de documentos para consulta e é importante

que os mesmos estejam permanentemente atualizados, sejam de fácil acesso e

organizados em reposiórios, para que possam ser incorporados à cultura e ao

debate. A questão 13 mostra que os números obtidos referentes a essa afirmação

apontam que 19% discordam e 4% discordam totalmente; 45% não sabem ou

desconhecem e 5% concordam totalmente e 27% concordam que esses

documentos estejam atualizados, conforme mostra a figura 25.

Figura 25 – Questão 13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?

Fonte: Elaborado pela autora.

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99

4.6 Coleta de evidências

As questões 14 e 15 visam saber se quando os membros ou integrantes

desses grupos interagem de alguma maneira, trabalham em conjunto ou socializam

conhecimentos, são possibilitadas a geração de novas soluções, artefatos, produtos

que podem ser consideradas evidências para toda a rede.

O ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir (2005) prevê que é possível

medir os resultados de captura e criação, contextualização e atualização, aquisição

e aplicação, compartilhamento para disseminação de uma cultura de conhecimento,

de modo que desperte nos membros da rede a capacidade de desenvolver e

multiplicar expertises específicas em torno de práticas e processos.

Desse modo a questão 14 buscou investigar se a experiência profissional foi

(ou pode ser) aproveitada. O resultado é que quase metade dos respondentes, ou

seja, 47% disseram que já tiveram aproveitadas algumas de suas experiências

profissionais e acreditam que isso possa se reverter em novos produtos e serviços,

mudanças, novos processos, criação de parcerias e alianças, entre outros, conforme

indica a figura 26.

Figura 26 – Questão 14 – A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada no grupo ou comunidade?

Fonte: Elaborado pela autora.

O aproveitamento das experiências e o reconhecimento de seus profissionais,

inclusive fomentando a participar e interagir de forma variada com outras empresas

e organizações estão nos planos de empresas como PepsiCo e Tetrapak, que

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100

investem em parcerias e na lógica de trabalho em rede, focando-se nas próprias

expertises, mas sem deixar de apoiar projetos que possam de alguma forma trazer

para essas empresas novas ideias. A figura 27 mostra os resultados para a pergunta

15, que busca saber se o grupo já criou novos produtos ou serviços que vale a pena

colocar em prática na organização em que trabalha. Os números indicam que

apenas 23% acreditam nisso.

Figura 27 – Questão 15 – O grupo ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho?

Fonte: Elaborado pela autora.

4.7 Proposições

As proposições formuladas visam chegar ao entendimento sobre a

importância das comunidades de prática e o respectivo uso das ferramentas de

gestão do conhecimento no processo de criação, aquisição e transformação de

conhecimentos enquanto alavanca para demais processos, garantindo

aprendizagem contínua de forma integrada ao trabalho, que se converte em

resultados.

Os quadros a seguir mostram um panorama dos percentuais das respostas

obtidas de acordo com a respectiva abordagem principal. Foi obtido um valor médio

de 69% (somando-se aqueles que concordam e concordam totalmente) para a

maioria das afirmações. Vale ressaltar que essa média cai pela metade (37%) para

as duas últimas questões que estão diretamente ligadas à documentação, ou à

conversão de conhecimento tácito em explícito.

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101

Quadro 28 – Resumo de percentuais das questões 1 a 6

Questao 1 2 3 4 5 6 7 ABORDAGEM TEMA LR PNRS RESULTADOS COP TAREFAS SOLUÇOES NOVOS

MEMBROS

C totalmente 21% 20% 22% 24% 27% 23% 13%

Concorda 47% 51% 55% 52% 51% 57% 62%

Indif/não sabe 9% 12% 11% 17% 19% 17% 20%

Discorda 13% 11% 7% 4% 2% 3% 5%

Dtotalmente 11% 7% 6% 2% 1% 0% 0%

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

Quadro 29 – Resumo de percentuais das questões 7 a 13

Questao 8 9 10 11 12 13 SOMA ABORDAGEM NOVOS

INTERESSES NOVAS

FERRAMENTAS

NOVOS PROCESSOS

NOVAS PERSPECTIVAS

CONVERSÃO DE CONHECIMENTO

REPOSI TORIOS

VALOR MÉDIO QUESTÕES

C totalmente 17% 20% 14% 14% 8% 5% 17%

Concorda 54% 48% 60% 60% 34% 27% 52%

Indif/não sabe 22% 29% 21% 21% 41% 45% 22%

Discorda 5% 3% 4% 3% 14% 19% 7%

D totalmente 1% 0% 1% 2% 3% 4% 2%

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

As respostas a seguir mostram a análise dos valores percentuais

apresentados nos quadros acima para cada uma das proposições apresentadas.

P1. Comunidades de prática de logística reversa propiciam a criação e a

transferência de conhecimentos em suas redes?

As CoP têm como princípio o caráter intangível do conhecimento e

disponibilizam um ambiente para conectar pessoas, incentivando o desenvolvimento

e o compartilhamento de ideias e estratégias, exigindo interação contínua e

desenvolvimento de valores similares, compartilhamento de metas e interesses

comuns; troca e desenvolvimento de novos conhecimentos; aplicação de práticas

comuns (WENGER, 1998; WENGER et al., 2002).

Pode-se considerar que a proposição é válida e tem resulltado afirmativo,

uma vez que o grupo em questão é caracterizado pela interação em torno do tema

que permite a construção de novos conhecimentos por meio do intercâmbio de

experiências e atividades conjuntas, o que, conforme Nonaka, Takeuchi (1997), faz

com que os membros se auxiliem mutuamente.

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102

Os conhecimentos são articulados segundo a necessidade e o nível de

participação na comunidade. A GE.LOG, a Sintronics, a ibaplac, a TetraPak e a

PepsiCo constituem-se como especialistas e empresas que formam um grupo de

profissionais experientes e qualificados com o domínio de saberes teóricos, e que se

beneficiam da Logística Reversa.

Foi possível evidenciar durante o período de entrevistas nas cooperativas

Central Tietê, Coopercaps e Nossos Valores (e entre outras participantes da rede)

que elas trocam experiências diárias referentes às metas de produção, produtividade

dos cooperados, dificuldade de busca de materiais, formação de preço e diversos

problemas que necessitam da articulação, compartilhamento e troca de

conhecimentos e experiências por diversas razões, tanto entre as próprias

cooperativas, quanto entre os pontos de coleta de material reciclado.

A PepsiCo mostrou-se exemplo de empresas que investe em ações de

conscientização sobre coleta seletiva e reciclagem e oferece apoio, inclusive

financeiro, para capacitação e treinamento das cooperativas de catadores, para que

nos centros de triagem os diferentes tipos de materiais sejam separados

corretamente e retornem a indústria.

A Tetrapak compartilha conhecimentos em todos os níveis, tanto através de

sua equipe de engenheiros, quanto de terceiros. As embalagens tetrapak são

compactadas em fardos são corretamente aproveitadas na indústria recicladora que

as transforma em novos produtos, como exemplo, as ecotelhas que são

comercializadas pela Ibaplac.

A criação e comercialização do produto EcoTelha, desenvolvido pela empresa

Iblapac, nasce a partir de materiais reciclados da caixa de leite Tetrapak. O

conhecimento dos engenheiros sobre os tipos materiais e suas propriedades

térmicas fizeram ocorrer o transbordo para os catadores, que passaram a utilizar a

EcoTelha em suas próprias construções e de acordo com o conceito de Ba de

Nonaka, Takeicuhi (2008), transforma a organização num espaço compartilhado,

que serve também como instrumento para as relações e fornece uma plataforma

para o avanço do conhecimento individual e coletivo.

Existe ainda uma necessidade de alta interação diária entre a Prefeitura

Municipal de São Paulo, as empresas que fazem a coleta e os catadores que se

integram às cooperativas, sendo necessário articular conhecimentos entre

profissionais diversos para mapear setores, emitir relatórios, cumprir metas, etc. Mas

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103

o problema aqui é que, apesar de existir necessidade de documentar as

experiências e resultados, grande parte dos colaboradores tem baixa formação

escolar e por esse motivo prefere o conhecimento tácito em detrimento do explícito.

Isso fica evidenciado pelos números obtidos para a questão 13, que trata dos

reposítórios e documentação, na qual 45% dizem não saberem ou serem

indiferentes e 5% desconhecem e metade da população pesquisada não dá

importância para a existência de documentação.

Outro valor não esperado da pesquisa e para o qual é necessário fazer uma

ressalva é que apesar da coleta de evidências ter mostrado experiências bastante

positivas de conversão de conhecimentos, os resultados apresentados para a

pergunta 15 do survey, indicam que apenas 23% acreditam que o grupo já criou

novos produtos ou serviços que vale a pena implementar na organização em que

trabalham. Esse número pode mostrar tanto descrença, quanto falta de

conhecimento dessas iniciativas, o que pode se caracterizar por uma falha de

comunicação em relação à divulgação de resultados práticos. Isso pode também,

sinalizar para a necessidade de aprofundamento da pesquisa ao longo do tempo.

P2. Há evidências sobre experiências da comunidade transformadas em

soluções para a rede?

De acordo com Wenger, McDermott, Snyder (2002) a interação ocorre entre

os membros da rede ao compartilharem informações que passam a incorporar novas

competências socialmente legitimadas. Os resultados das questões 6, 8, 10 e 11

trazem uma média de 58% de concordância de que o grupo propicia novas

soluções, interesses e processos para o grupo.

Em termos de conhecimentos, as cooperativas formaram uma comunidade

que atrai especialistas do setor e interesse de investimento e parcerias com

empresas como a PepsiCo e Tetrapak, que oferecem máquinas, dinheiro e

capacitação. Isso amplia a visão dos seus cooperados e profissionaliza a gestão.

Um exemplo dessas experiências é o surgimento e formalização da Rede de

Comercialização Zona Sul, que emergiu da necessidade das cooperativas de se

associarem e criarem um modelo de parcerias e arranjos produtivos com metas

estratégicas compartilhadas de crescimento e comercialização coletiva, tanto para

sobreviver quanto para crescer.

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104

Essa proposição é válida e foi possível evidenciar a produção de novos

conhecimentos, práticas e processos, que estão listadas como resultados e

expeiências e aparecem de forma resumida no quadro 30.

Quadro 30 – Resumo das evidências

Grupo Problema Solução Resultado

TETRAPAK

Estabelecer prática de recompensas para reconhecimento de comportamentos desejados de acordo com estratégia da organização.

Criação de arena para a resolução de problemas.

Execução de um planejamento estratégico.

Reputação junto aos clientes.

Alianças baseadas no conhecimento.

Garantia de qualidade reforçada.

IBAPLAC

Desenvolvimento de novo produto para aproveitar oportunidades de mercado de acordo com a capacidade produtiva.

Parceria com cooperativas para recebimento de matéria-prima.

Criação do produto Ecotelha com sucesso.

COOPERCAPS

Recursos para implementação de estratégias de comercialização.

Aquisição de novos conhecimentos.

Formação de Rede.

Parceria com PepsiCo e projeto Gaia de capacitação.

Criação da Rede Sul de comercialização.

Recebimento de recursos não planejados.

Fonte: Elaborado pela autora.

P3. O tema de domínio da logística reversa é fonte de informação e

conhecimento e interesse?

A primeira questão do survey buscou saber o quanto o tema é debatido,

sendo que 20% afirmaram que concordam totalmente e 47% concordam que o tema

é debatido na comunidade. Nas entrevistas também foi detectado que existem

reuniões periódicas para se debater a logística reversa e suas implicações com a

PNRS e isso ajuda as empresas na formulação das estratégias de negócios,

projeção, adequação e concepção de produtos e para maximizar o ciclo de vida e

atender princípios do desenvolvimento sustentável.

A logística reversa ganha status ao incluir no ambiente de negócios o fluxo

reverso da cadeia de suprimentos, desde sua produção até o consumidor final, tanto

para materiais quanto para informações, o que é reforçado pela visão do grupo

sobre a importância do tema para a sociedade, sendo que 20% responderam que

consideram importante, ou muito importante, 26% consideram obrigatório e 34% não

souberam informar, conforme a figura 28.

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105

Figura 28 – Importância da Logística Reversa para a sociedade

Fonte: Elaborado pela autora.

Para reforçar a proposição e obter qual o entendimento do grupo sobre o

conceito ou tema de domníio foi apresentada a seguinte frase “A Logística Reversa

pode ser entendida como movimento contrário ao fluxo direto de produtos, sendo

capaz de gerar ambientes mais saudáveis através do aproveitamento dos recursos,

contribuindo assim para melhorar a sustentabilidade”. 50% concordaram com a

afirmação, 4% discordaram e 46% não souberam responder, conforme mostra a

figura 29.

Figura 29 – Você concorda com a frase?

Fonte: Elaborado pela autora.

importante 20%

muito importante

20%

obrigatório 26%

não souberam informar

34%

Importância da Logística Reversa para a sociedade

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106

P4. A PNRS proporciona discussões estratégicas para a comunidade e

respectiva rede?

A pergunta 2 do survey é sobre o quanto a Política Nacional de Resíduos

Sólidos é debatida no grupo, sendo que 20% concordam totalmente e 51%

concordam. A pergunta 3 quer saber se discutir o tema traz resultados práticos,

sendo que 55% concordam, e 22% concordam totalmente.

As entrevistas mostraram que o grupo oferece oportunidade de debater sobre

a importânica da redução de resíduos desde sua origem até seu consumo e

reutilização, e que isso se torna fonte de discussão entre os membros, de modo que

a PNRS gera para o grupo empregos, renda, diminuição do impacto ambiental, além

de conhecimento sobre atribuições de papéis e responsabilidades.

A PNRS tem importante papel ao normatizar as responsabildades

compartilhadas, criando potencial estratégico para a geração de vantagens

competitivas e desse modo, atende um consumidor mais exigente, que também

requer outra visão de mercado das organizações e precisa cuidar do descarte

apropriado. Esse consumidor requer das empresas uma visão completa do ciclo de

vida do produto, de forma a gerar novos conhecimentos, o que é feito por meio da

troca entre especialistas e novatos que se interessam pelo tema da PNRS e acabam

por aprender e compartilhar informações pertinentes ao tema.

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107

5 CONCLUSÕES

O objetivo geral dessa pesquisa foi investigar possíveis contribuições de

Comunidades de Prática de Logística Reversa baseadas nos Ciclos da Gestão do

Conhecimento alcançado através da coleta de evidências, as quais foram

detalhadas no capítulo de resultados que traz como um dos exemplos, a criação de

um novo produto feito de materiais reciclados (Ecotelha), que nasce a partir da troca

de conhecimentos e experiências entre especialistas e novatos.

O primeiro objetivo específico foi conceituar Comunidades de Prática, o que

permitiu descrever seu funcionamento, forma de organização, níveis de participação,

e resultou na descoberta da importância das experiências e resultados práticos do

tema para o contexto organizacional. Isso também permitiu Identificar que as

práticas dessas comunidades proporcionam benefícios aos seus membros, entre

eles a expansão das habilidades e competências por meio do acesso a outras

experiências alinhadas ao domínio de conhecimento, que reforçam a identidade

profissional e a capacidade de contribuir com a equipe, o que cria um sentimento de

pertencimento.

O objetivo levou ainda a encontrar fontes de estudo de entidades como APQC

e SBGC que foram utlizadas para ilustrar o trabalho. Ambas afirmam que as CoP

estão assumindo papel-chave na gestão do conhecimento e viabilizam um ambiente

que permite abrir diálogo entre perspectivas internas e externas. A APQC afirma que

existem ainda diversas perguntas a serem feitas sobre como projetar comunidades

eficazes e mantê-las ativas ao longo do tempo, de forma a atender seus propósitos e

a SBGC entende que é fundamental que isso esteja alinhado à maneira como as

organizações geram seus negócios (APQC, 2016; SBGC, 2016).

O segundo objetivo específico foi apresentar conceitos de Logística Reversa

como atividade integradora nas organizações que afeta toda a cadeia de

suprimentos, e cujasatividades vão desde a gestão de estoques até o manuseio de

materiais, embalagens e informações que influenciam todo o ambiente de negócios,

oferecendo oportunidades para otimização de custos ou melhorias nos serviços,

especialmente no atendimento aos clientes, em consonância com as necessidades

de uma sociedade mais exigente e consciente (BALLOU, 2006; COSTA NETO,

CANUTO, 2010).

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A revisão da literatura desse tópico mostrou que o conceito apontado por

Rogers, Tibben-Lembke (1998) introduziu nas organizações um novo modo de ver o

ciclo de vida do produto, incluindo o movimento contrário ao fluxo direto na cadeia

de suprimentos, de modo a permitir a redução dos resíduos, a recuperação de

materiais descartados ou respectivo retorno ao mercado, através de

reprocessamento e reinserção no ciclo produtivo. Assim constatou-se que

organizações que almejam alcançar qualidade em suas Redes de Suprimentos se

beneficiam ao tratar a logística reversa de modo integrado, ou como parte da

estratégia de negócios, para alcançar a qualidade em suas operações de

planejamento, suprimento, produção, entrega e retorno.

A logística reversa está ainda em sintonia com o conceito de

Desenvolvimento Sustentável fornecido pela World Comission Environment and

Development (WCED) e modifica também o atual conceito de lixo, sua necessidade

de tratamento e disposição final em uma sociedade marcada por intenso

desenvolvimento industrial e tecnológico, cuja produção de resíduos precisa lidar

corretamente com altos volumes de descarte. A LR tem evoluído nos últimos anos,

principalmente em virtude de seu potencial estratégico para a criação de vantagens

competitivas e sustentáveis como área da logística empresarial que engloba tanto o

ciclo logístico de materiais quanto de informações das atividades da cadeia de

suprimentos, desde a fonte de produção até o consumidor final.

A logística reversa visa também reduzir resíduos desde sua origem até seu

consumo, e reutilizar todos os materiais possíveis, aumentar o ciclo na produção e

evitar a destruição ambiental, que não se resume apenas a emissão de poluentes

industriais na natureza, mas também a correta destinação desses itens, que pode

ser o retorno ao mercado, o reprocessamento, a reinserção, para a qual a gestão do

conhecimento pode contribuir muito, incluindo-se a minimização de custos.

O terceiro objetivo específico foi o de apresentar os ciclos de Gestão do

Conhecimento, que visa a explicitar e medir como os conhecimentos são

transferidos, quais redes, práticas e incentivos estão instituídos e como é realizada a

aquisição e a reaplicação dos mesmos, de modo a criar know-how a ser transferido

para o repositório de conhecimento organizacional. Novos conhecimentos permitem

mudar o modo de pensar e agir e tornam os indivíduos mais capacitados, ajudando

na compreensão do próprio ambiente, atividades e processos, e criam novas

soluções e resultados.

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O quarto objetivo especifíco foi inter-relacionar os conceitos CoP e GC, LR e

PNRS, sendo que a revisão da literatura permitiu mostrar que os conceitos de

Nonaka, Takeiuchi (1997) e Davenport, Prusak (1998) sobre a criação do

conhecimento organizacional, Wenger et al. (2011) sobre Comunidades de Prática,

Dalkir (2005) sobre os ciclos da GC, e Rogers, Tibben-Lembke (1998), Brito et al.

(2004), Reis et al. (2015) sobre logística reversa encontram pontos de convergência

a partir de elementos da conversão do conhecimento e sua externalização (por meio

da escrita) e internalização (através de experiências compartilhadas e socializadas

por meio da interação). Esses conceitos se conectam com o tema logística reversa,

que privilegia aspectos e elementos que estão também presentes na CoP, como a

interconectividade, interdependência, fluxo rápido, tempo curto de resposta,

flexibilidade.

O quinto objetivo específico foi identificar contribuições da GC para as

Comunidades de Prática. A GC a princípio tinha como ênfase o uso de tecnologias e

ferramentas, e entre 2000 e 2005 passou a focar nas experiências dos indivíduos e

no conhecimento tácito, foi quando surgiram as comunidades de prática descritas

por Wenger, Mcdermott e Snyder (2002), cuja função principal era conectar as

pessoas para compartilhamento de experiências profissionais e aprofundamento em

determinado domínio do saber. Após 2005, a GC passa a focar na produção

coletiva, que além de resolver problemas pode trazer inovações através das lições

aprendidas, assim as organizações passam a enxergar a necessidade do

conhecimento como fonte de retroalimentação, compartilhamento e trocas

significativas. Assim a Gestão do Conhecimento pode transformar-se em importante

instrumento capaz de facilitar na conscientização sobre papéis e responsabilidade

compartilhada (tratada pela PNRS), de modo que o descarte do lixo e a logística

reversa possam passar a ser vistas como negócio, e assim assumir caráter

estratégico.

O sexto objetivo específico foi apontar a influência da Lei nº 12.305/10 nos

resultados e soluções, o que pode ser encontrado no exemplo da Coopercaps,

cooperativa que se beneficiou e se beneficia diretamente da normatização da PNRS

e, em virtude disso, recebeu recursos e sofreu processo de incubação apoiado pela

PepsiCo, com acompanhamento e plano de ação fundamentado na sustentabilidade.

Isso fez com que a mesma assumisse uma posição de liderança no relacionamento

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com outras cooperativas e com os demais atores da cadeia produtiva de resíduos,

criando a Rede de Comercialização Zona Sul.

As proposições apresentadas estão devidamente detalhadas no capítulo de

resultados, mas é possível afirmar que as proposições 1 e 2 se interligam e que

comunidades de prática de logística reversa propiciam a criação e transferência de

conhecimentos em suas redes. Foram encontradas evidências sobre essas

experiências transformadas em soluções, como a formação de uma nova rede de

comercialização, cuja parceria entre as cooperativas proporcionou aos membros

novas capacitações e criou novos processos com efetiva troca dados, informações e

conhecimentos que trazem benefícios, como a formação de preço conjunto para a

comercialização de materiais reciclados, e ainda compartilhamento de recursos para

atender as demandas do mercado.

Do mesmo modo, as proposições 3 e 4 estão interconectadas, sendo que o

tema de domínio logística reversa é fonte de informação e conhecimento e interesse

dos membros, tanto que o grupo faz reuniões periódicas para análise de parcerias,

produtos e modelos de serviços. Por estarem diretamente ligadas à Política Nacional

de Resíduos Sólidos essas reuniões proporcionam também discussões estratégicas

para a comunidade, que precisa estar constantemente atualizada sobre novas

regras, acordos setoriais e respectivas mudanças na legislação que impactam

diretamente nas cooperativas, na indústria e nos beneficiários da logística reversa.

Entretanto, uma das dificuldades encontradas consistiu na pouca ou nenhuma

formação escolar da maioria dos trabalhadores das cooperativas, o que demandou

assistência na aplicação dos questionários. Outra dificuldade foi obter a participação

do setor privado (que não deseja ou não pode) compartilhar suas lições aprendidas

para maximizar o ciclo de vida de produtos, desde sua concepção, o que de certo

modo fomentaria uma produção mais responsável.

A pesquisa sinaliza que foi possível articular parcerias através da formação de

redes, mas é necessário que estratégias de políticas de reuso, reciclagem e

tratamento de resíduos e processos ambientalmente sustentáveis ocorram dentro de

um plano de ampliação na oferta de serviços e gestão compartilhada das demandas,

para as quais são necessários conhecimentos que podem ser propiciados por

comunidades de prática.

Uma possível contribuição desse trabalho é que esse tipo de grupo possibilita

a conexão entre profissionais altamente qualificados e especialistas (ou que já

possuem prática e experiência) com novatos (ou gente ainda em processo de

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aprendizagem), o que segundo Nonaka, Takeuchi (1997), também não deixa de ser

uma preocupação, uma vez que os mais experientes e qualificados acham difícil

articular, compartilhar e trocar conhecimentos com mais jovens, por diversas razões.

Outra contribuição pode estar relacionada ao espaço que existe para futuros

estudos sobre a inter-relação do ciclo da GC (capturar e criar, contextualizar,

atualizar, adquirir e aplicar, compartilhar e disseminar) no desenvolvimento e

multiplicação de expertises, práticas e processos, de modo que a estratégia de

implantação da GC nessas comunidades depende muito da relação com zeladores,

especialistas e multiplicadores de conhecimentos que podem fomentar a melhoria

contínua na qualidade por meio da criação de ferramentas de incentivo atreladas ao

cumprimento de metas que já estão determinadas pela PNRS.

A PNRS fomenta também ações de educação ambiental e a implantação do

processo de logística reversa, que conta com iniciativas de financiamento

governamental como o Fundo Paulistano de Coleta Seletiva, Logística Reversa e

Inclusão de Catadores, que incentiva empresas do setor a fazer uso de programas

com essa finalidade.

O estudo sobre as CoP de Logística Reversa propicia avançar no

detalhamento de processos para produzir novos conhecimentos que sejam capazes

de atrair investimentos e tecnologias sobre destinação do lixo e conversão em novos

produtos e serviços, de modo a atender a sociedade e suas demandas. O setor

privado pode ainda gerar novas lógicas de negócios, garantir e incentivar a

participação da sociedade no processo, sendo que organizações como PepsiCo e

Tetrapak propiciaram transformações nas cooperativas, mas que ainda precisam

vencer o desafio de transformar conhecimento tácito em conhecimento explícito.

Essas comunidades tendem a constituir a GC como uma ferramenta para o

trabalhador, sendo um meio para facilitar suas atividades profissionais, mas é

importante observar que a produtividade deve privilegiar quesitos de qualidade em

vez da quantidade, de modo que o conhecimento faça com que os colaboradores

sejam mais produtivos, responsáveis e cientes da sua própria contribuição,

autonomia e capacidade de inventividade contínua (DRUCKER, 1999).

Limitações

Este trabalho está limitado a um instrumento de coleta que não contempla

sistemas de governança, modelos de gestão e maturidade em GC, além de

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indicadores diversos e de aspectos legais. Os atributos das redes também não

foram devidamente medidos e não foram utilizados softwares para tanto.

Sugestão de futuros trabalhos

O trabalho mostrou vertentes que podem apresentar-se como oportunidades

para vários novos estudos sobre o tema. Na área de gestão de conhecimento, por

exemplo, a criação de interfaces e tecnologias: geração de planos de gestão da

comunidade, lições aprendidas e melhores práticas que permitam elencar

conquistas e alavancar ativos de conhecimento; propostas para mapeamento da

maturidade e estágios de evolução a fim de indicar aos responsáveis as melhores

práticas para a comunidade, pontos fortes e fragilidades e sistemas de indicadores

de sustentabilidade, como instrumento que pode contribuir com a sociedade.

Áreas como a Engenharia, por exemplo, podem contribuir com o

desenvolvimento de inovações que permitam melhorar a vida do trabalhador,

ampliar ganhos de escala na cadeia econômica da reciclagem ou aproximando a

indústria de transformação. Na área de educação, a sociedade também carece de

conscientização sobre o descarte correto, sendo que existem fundos disponíveis

para planos de negócio e ativação da rede de participantes, sendo necessário

integrar universidades, associações e patrocinadores para dar suporte e efetividade

à implantação da logística reversa de embalagens, incluindo-se no processo os

catadores de material reciclável. Enfim existe uma gama de opções que podem ser

exploradas, tanto como estudo como quanto oportunidade de negócio.

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113

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APÊNDICE I - CARTA CONVITE

CARTA CONVITE PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA

Programa de Pós-graduação em Administração

São Paulo, 26 de Outubro de 2016.

Prezados Senhores,

Esta carta tem por objetivo convidá-los a participar de uma pesquisa sobre o tema:

COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO

Resultados da Logística Reversa nas Redes de Suprimentos

A pesquisa compõe a dissertação de mestrado de NEUSA MARIA DE ANDRADE, aluna do Programa

de Pós- Graduação da UNIP, reconhecido pelo MEC e recomendado pela CAPES.

Gostaríamos de ressaltar alguns pontos importantes:

1) Garantia de sigilo absoluto das informações conforme Código Internacional de Ética em

Pesquisa;

2) A pesquisa on-line contém 15 questões e levará até 15 minutos do seu tempo;

3) A pesquisa tem caráter exploratório e as respostas serão consideradas de forma agregada;

4) A pesquisa está dividida em duas partes e eventualmente os resultados poderão conduzir a

uma eventual entrevista não obrigatória.

5) Os resultados serão disponibilizados aos participantes e poderão ser replicados nos seus

sites ou em materiais que desejar.

Agradecemos antecipadamente sua disposição e esperamos que o conhecimento obtido e a análise

dos resultados possam contribuir para o entendimento e a aplicação prática dos temas.

Neusa Maria de Andrade

Pesquisadora

Orientador: Professor Doutor Flávio R. Macau

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119

APÊNDICE II - QUESTIONÁRIO PILOTO

PRIMEIRA VERSÃO DE QUESTIONÁRIO PILOTO

PERFIL DO RESPONDENTE

(*) campos obrigatórios

Nome da CoP:

Papel/Responsabilidade:

Tipo de participação (*): ( ) núcleo ( ) especialista ( ) líder ( ) coordenação ( ) outro

Participante desde: ------/------/---------

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nome da Empresa/Organização:

Atividade principal da organização:

Produtos ou serviços da organização

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nome do Respondente (*):

E-mail (*):

Cargo:

Telefone Celular:

Participante de outras CoP ou Redes (*)? ( ) sim ( ) não

Formação:

Escolha UMA alternativa que mais traduz sua percepção sobre as questões a seguir:

TEMA DE DOMÍNIO E CONHECIMENTOS

Legenda: CT = Concordo totalmente; C = concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = discordo totalmente

1. O tema LR proporciona discussões sobre temas que são estrategicamente importantes para mim como profissional.

2. Ao participar de uma COP de LR sinto que estou envolvido em algo GRANDE em relação ao tema tratado.

3. A CoP de LR já me propiciou a criação de novos conhecimentos sobre LR

4. Utilzo a CoP como fonte de informação e conhecimento

5. A CoP me agrega novos conhecimentos sobre o assunto

6. Os documentos sobre o tema na CoP estão permanentemente atualizados pelos membros

7. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP

8. O modo como o tema LR é abordado na CoP é apaixonante e agrega valor para a organização em que atuo

9. Posso contribuir com novos conhecimentos na CoP

10. O Acesso ao conhecimento na CoP é fácil e prático

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PARTICIPAÇÃO DOS MEMBROS NA REDE E COMUNIDADE

Legenda: CT = Concordo totalmente; C = concordo; I = Indiferente; D = Discordo; DT = discordo totalmente

11. Os coordenadores e os membros da comunidade assumem voluntariamente responsabilidades gerenciais, permitindo assim que a comunidade cresça de forma ordenada.

12. O grupo de especialistas e formadores de opinião atualiza e compartilha informações permanentemente

13. É importante a presença de especialistas e um respeitado membro da comunidade deve atuar como coordenador.

14. A CoP se inter-relaciona com outras CoPs formando novas redes

15. O sucesso DEPENDE de uma pessoa ou grupo chave que detém alguma responsabilidade ativa na condução da CoP

16. Novos membros são atraídos porque têm algo a aprender e a contribuir

17. As ligações entre os membros estimulam o estreitamento de relacionamentos, debates e troca de experiências face a face ou via WEB tanto entre os membros aumenta a coesão da CoP

18. As conexões entre os integrantes ocorrem tanto em ambiente público (fóruns e encontros), quanto de forma privada

19. Novos integrantes trazem sempre novos interesses e soluções

20. A CoP propicia RICA INTERAÇÃO entre os membros.

PRÁTICAS E APRENDIZADOS

Legenda: CT = Concordo totalmente; C = concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = discordo totalmente

21. Os assuntos abordados na CoP ou a rede de CoP estão presentes no dia a dia do negócio no qual estou envolvido

22. A CoP ou a rede de CoP propicia e auxilia na atualização técnica de seus membros

23. É possível compartilhar práticas e aprendizados com outros membros através da CoP

24. A CoP incentiva novas práticas de LR e os membros do COP aprendem coisas novas e se preparam para futuros trabalhos

25. A CoP propicia e auxilia na atualização técnica de seus membros.

26. A CoP ou a rede de CoP me permite melhor especialização no assunto LR

27. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho

28. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a minha organização

29. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a sociedade

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COLETA DE EVIDÊNCIAS

30. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP

Assinale o Tipo: ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças

Assinale quais ? ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da Gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria do transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem

outros descreva_________________________

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

31. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho

Assinale o Tipo. ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças

Assinale quais. ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem

outros descreva_________________________

32. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a minha organização

Tipo: ( ) produtos ( ) serviços ( ) produtos e serviços ( ) processos ( ) novas parcerias e alianças ( ) outros

outros descreva_________________________

33. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a sociedade

Tipo: ( ) produtos ( ) serviços ( ) produtos e serviços ( ) processos ( ) novas parcerias e alianças

outros descreva_________________________

34. A minha expeirência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP

Tipo: ( ) produtos ( ) serviços ( ) produtos e serviços ( ) processos ( ) novas parcerias e alianças

( ) outros descreva_________________________

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APÊNDICE III - QUESTIONÁRIO REFINADO

QUESTIONÁRIO VERSÃO REFINADA

Identificação do grupo ou comunidade

Nome do grupo ou comunidade:

Número de total de participantes: ( )

Identificação individual do respondente

Nome do respondente

E-mail:

Tipo de participação no grupo/ comunidade:

( ) Especialista ( ) Líder ( ) Coordenador ( ) Membro ( ) Convidado ( ) Cliente ( ) Patrocinador

Tema Logística Reversa

Conhecimento do tema: ( ) Especialista/Profissional da área ( ) Estudioso/Curioso ( ) Parte interessada

Importância do tema para a sociedade: ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Obrigatória ( ) Não sei

Você concorda com a frase?

“A Logística Reversa pode ser entendida como movimento contrário ao fluxo direto

de produtos na cadeia de suprimentos capaz de gerar ambientes mais saudáveis e

melhor aproveitamento dos recursos disponíveis contribuindo para melhorar a

sustentabilidade”.

( ) Concordo: ( ) Discordo ( ) Não Sei

Responda as alternativas a seguir de acordo com o quanto você concorda ou discorda que elas afetam o desenvolvimento de tarefas no seu dia a dia.

TEMA DE DOMÍNIO E CONHECIMENTOS

Legenda: CT = Concordo totalmente; C = Concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = Discordo totalmente

1 – O tema Logística Reversa é amplamente discutido no grupo ou comunidade?

2 – A Política Nacional de Resíduos Sólidos é amplamente debatida no grupo ou comunidade?

3 – A discussão do tema produz resultados práticos, propostas e novas soluções para o seu dia-dia?

4 – O grupo de trabalho pode ser considerado uma rede que permite diversas conexões que auxiliam nas realizações das tarefas diárias?

5 – O aconselhamento e a troca de experiências com diversos especialistas no grupo facilitam a realização das tarefas do dia a dia?

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6 – As experiências trocadas no grupo já se transformaram em alguma solução prática que pode aplicada na sua vida profissional?

7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas nas suas redes e relacionamentos profissionais?

8 – Novos integrantes trazem novos interesses e soluções para o grupo?

9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?

10 – O grupo facilita que novos processos ou novas políticas sejam incorporados na sua rotina?

11- O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?

12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?

13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?

ENTREVISTA COLETA DE EVIDÊNCIAS 14. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP Tipo. ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças

Quais: ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem

15. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho

Tipo. ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças

Quais. ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem